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Direitos fundamentais e

Bioética
Luiza Matte*

L INTRODUÇÃO determinante da ética nos dias atuais e


sobre sua vinculação às demais
O crescente interesse do staff ciências.
jurídico, mormente da comunidade Uma vez estabelecidos pontos
acadêmica, nas questões bioéticas, por comuns entre direitos fundamentais e
si só justificaria o presente artigo. Bioética, analisa-se o caso específico de
De outra banda, a íntima conexão nosso país, passando-se a estudar, de
entre uma "ética da vida" e o maior forma breve, concisa e exemplificativa,
princípio do ordenamento constitucional o elenco de direitos fundamentais
brasileiro, qual seja, o Princípio da constantes da Constituição brasileira de
Dignidade da Pessoa Humana, centra 1988. Com isto, busca-se identificar os
o foco deste trabalho nas relações entre problemas e as conseqüências trazidos
os direitos fundamentais, derivados de pelo avanço da técnica biomédica em
tal dignidade, e a Bioética. relação a estes direitos, e procura-se
Assim, necessário se faz que definir o papel do sistema de direitos
iniciemos por conceituar e definir os fundamentais da Constituição frente às
campos próprios aos direitos funda- questões bioéticas.
mentais e à Bioética. Antes, porém, de Chega-se, deste modo, à conclusão
debruçar-nos sobre as conexões entre de que, para além da importante função
estes campos, é preciso que se que desempenha a própria Constituição
dediquem algumas palavras ao papel Federal, seus princípios e sua

·Bacharel em Direito pela UFRGS; mestre pela PUCRS; professora de Direito na PUCRS e
na Faculdade de Direito São Judas Tadeu, em Porto Alegre.
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interpretação pelos tribunais neste doutrina e de caráter acessório ao tema


assunto, é urgente a instauração do principal que aqui pretendemos abordar.
debate sobre o desenvolvimento de Esclarece-se, então, que usaremos a
normas infraconstitucionais e insti- expressão "direitos fundamentais" por
tuições aptas a permitir a concretização, ser esta a empregada na Constituição
em termos jurídicos, das soluções para brasileira e por considerar-se sua ampla
os problemas em tela. aceitação no meio jurídico.
Como se disse, a Constituição
2. DEFINIÇÕES E ALCANCE brasileira de 1988 traz, como sempre
DOS CAMPOS DA BIOÉTICA E trouxeram nossas constituições, uma
DOS DIREITOS declaração de direitos e garantias
FUNDAMENTAIS considerados fundamentais. Segundo
LuizAraújo e Vidal Nunes Júnior,"[ ... ]
2.1 Dos Direitos Fundamentais o termo fundamental destaca a impres-
cindibilidade desses direitos à condição
Ao iniciarmos o tópico acerca dos humana." 1 Estes direitos são consi-
direitos fundamentais, o primeiro ponto derados fundamentais porque, sem eles,
a que devemos atentar é a questão da a pessoa não tem as condições mínimas
terminologia. Há, em verdade, grande de viver em sociedade.
celeuma em relação a este ponto, Como ensina José Afonso da Silva, 2
apontando a maioria dos autores outras o pensamento cristão e a concepção de
expressões, que, ainda que guardem di- direitos naturais são as principais fontes
ferenças, são corriqueiramente usadas de inspiração das declarações de direitos
como sinônimos de "direitos funda- e muitos entendem que os direitos
mentais". Entre essas expressões fundamentais são direitos que derivam
podemos citar: direitos humanos, direitos diretamente da natureza humana.
individuais, liberdades públicas, direitos Na verdade, podemos compreendê-
públicos subjetivos, direitos naturais, etc. los como "irradiações" da dignidade da
No presente trabalho, opta-se por pessoa humana, como vários autores
não aprofundar tal questão, vez que fazem. 3 Assim, eles não são
suficientemente esclarecida pela "concedidos" pelo Estado, o Estado

1 ARAÚJO, Luiz Alberto David e NUNES JÚNIOR, Vidal Serrano. Curso de Direito
Constitucional. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 92.
2 SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional positivo. 22. ed. São Paulo,
Malheiros, 2003, p. 172.
3 Neste sentido: "Os direitos fundamentais podem ser conceituados como a categoria
jurídica instituída com a finalidade de proteger a dignidade humana em todas as
dimensões." (ARAÚJO; NUNES JÚNIOR, op. cit.).
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simplesmente tem de reconhecer a sua Outra conseqüência desta


existência, se objetivar ser um Estado ampliação dos direitos fundamentais é
democrático e que efetivamente sirva a abertura material do catálogo
a seu fim: a própria pessoa humana. constitucional destes direitos. Como
O fato de virem enunciados na se vê da sua própria evolução, os
Constituição em primeiro lugar, antes direitos fundamentais são também
mesmo da organização do Estado, direitos históricos, que surgem aos
evidencia que a pessoa humana é o poucos das lutas por liberdade e pelo
fim do Estado, é sua causa ma- aprimoramento das condições de vida,
terial, ontologicamente superior ao sendo produto da civilização e do
ente "Estado". progresso humanos. A idéia de
Como os direitos fundamentais liberdade, por exemplo, foi se
historicamente derivam do liberalismo tornando cada vez mais específica,
individualista, outra dificuldade a diferenciando-se a idéia abstrata, de
superar é a sua identificação com os liberdades concretas (de expressão, de
direitos de defesa do indivíduo em associação, etc.). O mesmo ocorreu
relação ao Estado, os direitos individuais com relação aos titulares dos direitos,
por excelência, e os primeiros a serem que, de genéricos, passaram a ser cada
incorporados às Constituições. Entre- vez mais específicos, diferenciando-se
tanto, sabe-se que tais direitos individuais mulheres de homens, crianças de idosos
de cunho negativo provaram-se insufi- e assim por diante. Nota-se, ainda, um
cientes para garantir o pleno desenvolvi- aumento na quantidade de bens
mento da personalidade de cada um e considerados merecedores de tutela.
do bem comum em sociedade. Assim, E, por fim, ocorreu a passagem dos
foram sendo paulatinamente incluídos chamados direitos de liberdade para os
sob a efígie de fundamentais, outros direitos políticos e sociais, que requerem
direitos de feição econômica, social, intervenção direta do Estado.
cultural, etc., enriquecendo a enunciação Os direitos fundamentais, portanto,
clássica dos primeiros tempos do consti- estão em permanente renovação, daí a
tucionalismo. Tal caminho é adotado abertura preconizada na Constituição
também na Constituição brasileira, como ser algo lógico, pois, com relação ao
se observa da análise dos capítulos conteúdo ou à quantidade dos direitos
listados sob o título de direitos e garantias elencados, as declarações consti-
fundamentais (direitos e deveres tucionais de direitos não podem ter
individuais e coletivos, direitos sociais e pretensão de ser definitivas. Neste
de nacionalidade, e direitos políticos). sentido, conforme o § 2· do art. s· da
É, aliás, da ampliação da gama de Constituição, o catálogo de direitos
direitos fundamentais que derivam as fundamentais não se esgota na
várias classificações que encontramos enumeração feita por este artigo, pois
na doutrina. admite-se a possibilidade de existência
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de outros direitos fundamentais perante a lei. Os desdobramentos da


decorrentes dos próprios princípios liberdade e da igualdade (liberdade de
enunciados na Constituição ou de expressão, de crença, de associação,
tratados internacionais adotados igualdade entre sexos, raças, etc.)
pelo Brasil. incluem-se nesta primeira geração, bem
Uma vez adjetivados os direitos como os direitos de participação política
fundamentais como históricos e e algumas garantias constitucionais a
evolutivos, uma das classificações mais estes direitos, como o habeas corpus e
difundidas modernamente é a que o devido processo legal. São, em suma,
atenta justamente a estes fatores, os chamados direitos civis e políticos.
organizando os direitos fundamentais A segunda geração de direitos
em gerações ou dimensões, conforme compreende aqueles direitos reivindi-
tenham sido reconhecidos ao longo do cados a partir da constatação da inefi-
tempo pelas constituições. cácia do sistema liberal clássico, das difi-
A doutrina, então, tem dividido os culdades advindas da industrialização e
direitos fundamentais em três gerações de idéias socialistas, que são os chama-
e cogita-se, atualmente, de uma quarta dos direitos sócio-económicos e culturais.
geração. Vejamos uma por uma, A nota distintiva destes direitos é a
conforme colocadas na obra de Ingo sua dimensão positiva, pois não mais
Wolfgang Sarlet. 4 se busca evitar a intervenção do Estado
Os direitos de primeira dimensão, na esfera de liberdade individual. O
ou a primeira geração de direitos são que se busca é uma ação positiva do
aqueles que surgiram da filosofia liberal, Estado para que todos possam
inspirada no individualismo, são direitos participar do bem-estar social. O Estado
de defesa do indivíduo perante o deve garantir prestações sociais como
Estado, direitos que servem para criar previdência social, saúde, educação,
uma esfera de autonomia ao indivíduo trabalho, etc. As liberdades sociais
onde o Estado não possa intervir. Por envolvem o direito de greve, a liberdade
este motivo, diz-se que estes direitos são de sindicalização e os direitos dos
de cunho negativo, pois exigem do trabalhadores, como férias, salário
Estado uma abstenção (não intervir) e mínimo, limitação de jornada, etc. Não
não uma ação positiva. São direitos é mais uma questão de liberdade
baseados também, como vimos, no perante o Estado, mas, sim, de
jusnaturalismo e na filosofia cristã, liberdade por intermédio do Estado.
ressaltando-se o direito à vida, à Os direitos sociais buscam
liberdade, à propriedade e à igualdade equilibrar o interesse do grupo e o

4 Cf. SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. Porto Alegre: Livraria
do Advogado, 1998.
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interesse particular do homem; são, porque são transindividuais e por


portanto, direitos meta-individuais. exigirem esforços e responsabilidade
No Brasil, são direitos relativamente em escala até mundial para a sua
novos, que passaram a ser regulados efetivação. São exemplos destes
principalmente a partir da Constituição direitos o direito à paz, à autode-
de 1934. A Constituição de 1988 trouxe terminação dos povos, ao meio-
algumas conquistas legislativas, como, ambiente e à qualidade de vida, bem
por exemplo, a licença paternidade, o como o direitos à conservação e
direito ao lazer e outras. utilização do patrimônio histórico e
Como se disse, os direitos sociais cultural e o direito de comunicação.
têm cunho positivo, ou seja, na maioria Ainda quanto à terceira dimensão,
das vezes, requerem ações por parte muitos dos direitos que a compõem
dos poderes públicos e o sujeito passivo ainda não têm previsão constitucional,
destes direitos é o Estado. Daí que,
estando, por outro lado, em fase de
como ensina Ingo Sarlet, 5 a efetividade
consagração no âmbito do direito
destes direitos enfrenta uma série de
internacional, principalmente no que
problemas, pois depende da tomada de
tange à qualidade de vida e ao meio-
providências por parte do Estado.
ambiente, que, como se disse, são
Precisamos frisar que, ainda que
questões mundiais.
sejam chamados de direitos sociais, os
direitos da segunda geração ainda E é neste ponto que surge uma
contemplam o indivíduo e não zona de direitos que causa dúvida
podem ser confundidos com os direitos na doutrina, alguns sustentando que
difusos ou coletivos, que integram a já se trataria de uma quarta geração
terceira dimensão. de direitos, e outros colocando dentro
Então, os direitos da terceira da terceira geração aqueles direitos
dimensão ou geração são aqueles que relativos às novas tecnologias
se desprendem da figura individual biomédicas e de informação. Outros,
como seu titular, visando a proteção de ainda, como o jurista cearense
grupos humanos (família, nação, povo) Paulo Bona vides, 6 dizem que a
e caracterizando-se, conseqüentemente, quarta geração de direitos diria respeito
como direitos de titularidade difusa ao direito à democracia, que envolve
ou coletiva. direito de pluralismo e de informação.
Os direitos da terceira geração são A quart~ geração seria fruto da
também chamados de direitos de globalização dos direitos e valores
solidariedade ou fraternidade, fundamentais à pessoa humana.

5 SARLET, A eficácia...
6 BONAVIDES, Curso de ... , p. 525.
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Na realidade, todos os direitos Já no que tange ao alcance da


fundamentais derivam da dignidade da Bioética, adentramos em seara mais
pessoa humana e das tentativas que se controversa, eis que a opinião dos
fazem de respeitá-la sempre e cada vez autores costuma dividir-se neste tópico.
mais; portanto, sejam três, quatro ou A julgar por algumas posições e pelo
cinco dimensões ou gerações, isto é um próprio sentido da palavra "Bioética",
pouco secundário. O importante é que derivado da soma das palavras gregas
vemos o direito evoluindo neste sentido "bios" (vida) e "ethiké" (ética), seu
da preservação da dignidade da pessoa objeto seria extremamente amplo.
humana, incorporando e especializando Parece-nos, contudo, que tal posicio-
novos direitos, aceitos, na maior parte namento não seja o mais adequado
das vezes, de forma mundial. no sentido do desenvolvimento
desta ciência.
2.2 Da Bioética Há unanimidade quanto a
considerar-se a Bioética, metodolo-
O termo Bioética surgiu no início gicamente, como um saber multi e
da década de 1970, 7 construindo-se~ a interdisciplinar, denotando a impor-
partir daí e até hoje, o seu conceito. tância do valor "vida" para todos os
Trata-se, portanto, de um termo novo e campos do conhecimento humano.
de um conceito novo da ciência Assim, muita vez se vêem incluídos em
contemporânea. A preocupação com as seu esteio questões relativas a todas as
questões que ela sucita, porém, nada formas de vida, por exemplo, à vida
tem de nova, remetendo-nos, por animal e ao meio ambiente. Tal visão
exemplo, ao famoso médico grego não é errônea. Crê-se, entretanto, que
Hipócrates, que viveu no século V a.C. a Bioética poderia ser melhor
De acordo com Joaquim Clotet, que desenvolvida, especialmente na sua
nos traz um conceito simples e abran- ligação com o Direito, se os assuntos
gente, "a Bioética poderia ser definida por ela tratados fossem de certa
brevemente como a abordagem dos maneira restringidos. Esta restrição
problemas éticos ocasionada pelo dar-se-ia, primeiramente, no sentido de
avanço extraordinário das ciências relacionar a Bioética especialmente à
biológicas, bioquímicas e médicas." 8 forma de vida humana. Ainda assim,

7 A doutrina aponta o médico americano Van Rensselaer Potter como criador do termo,
utilizado pela primeira vez em um artigo intitulado "Bioethics, the science of survival",
publicado em 1970. (cf. DURAND, Guy. Introdução geral à Bioética: história, conceitos
e instrumentos. Tradução Nicolás Nyimi Campanário.São Paulo: Editora do Centro
Universitário São Camilo e Edições Loyola, 2003. p. 19).
8 CLOTET, Joaquim. Bioética: uma aproximação. Porto Alegre: Edipucrs, 2003, p. 27.
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restam nebulosos os limites entre vida Os temas periféricos seriam:


humana e outras formas de vida a ela
- contracepção;
interligadas inevitavelmente. Por isso,
-controle demográfico;
achamos especialmente interessantes
- pesquisa e desenvolvimento de
as idéias de Guy Durand neste ponto.
armas biológicas e químicas;
Este~ autor canadense, ao tratar do
- guerra, tortura e pena de morte;
objeto da Bioética, divide os temas por
- patenteamento de seres vivos;
ela abraçados em um núcleo central,
- pesquisa com animais;
temas periféricos e questões subjacentes.9
- ecologia e meio ambiente.
O núcleo central da Bioética, para
Durand, trata dos seguintes temas: Como questões subjacentes,
surgem:
- aborto, diagnóstico pré-natal, acon-
selhamento genético, eutanásia fetal; - concepção da saúde e da doença;
- inseminação artificial, fecundação - sentido do corpo humano;
artificial, bancos de esperma, bebês de - sentido da reprodução;
proveta, "barriga de aluguel"; - sentido da medicina;
- manipulação genética, registro de - relação entre ética e direito;
genes, clonagem; - relação entre ética e tecno-
-critérios de esterilização, eugenismo; ciências, etc.
- transexualismo; A classificação de Durand leva em
- doação de órgãos humanos, trans- consideração, obviamente, os problemas
plantes entre espécies diferentes; com que nos deparamos no momento
-HIV, AIDS; atual, sem pretensões de esgotá-los.
- tratamentos no fim da vida, E, como se disse, o autor reconhece,
obstinação terapêutica, interrupção de como aqui também se faz, a dificuldade
tratamento, eutanásia, suicídio assistido; em precisar os limites entre estas áreas.
- neurocirurgia, psicotrópicos, quí- De qualquer modo, parece-nos
mica do sistema nervoso; adequada a fixação de um núcleo
- experimentação com o ser hu- central de temas objeto da Bioética,
mano, com o embrião, com os tecidos para que o seu estudo não se perca em
humanos; um espaço por demais amplo e para que,
- pesquisa sobre o genoma; no afã de integrar as ciências e os
- saúde pública, pesquisas epide- diversos ramos destas ciências,
miológicas, etc. ; terminemos por descentralizar a
- alocação de recursos e políticas discussão a ponto de não conseguirmos
da saúde. aprofundá-la.

9 DURAND, Introdução ... , p.ll5-116.


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3. A ÉTICA E AS CIÊNCIAS Hans Jonas é um dos autores que


procura responder por que a técnica
Antes de passarmos a abordar a modema é objeto da filosofia, questão que
ligação da Bioética e dos direitos inaugura o primeiro capítulo de seu livro
fundamentais, quando começaremos a Técnica, Medicina e Ética. Desta obra,
pensar no papel do Direito em relação retiramos as seguintes passagens, por
à biotecnologia, parece-nos interes- considerá-las bastante esclarecedoras:
sante dedicar algumas palavras sobre
a aplicação da Ética à técnica e às Dado que hoy en día la técnica
ciências em geral. alcanza casi todo lo que concierne a
los hombres - vida y muerte,
Na fase histórica em que nos pensamiento y sentimiento, acción y
encontramos atualmente, parece haver padecimiento, entorno y cosas, deseos
um renascimento da Ética, fato que não y destino, presente y futuro - en
escapa à maioria dos filósofos contem- resumen, dado que se há convertido
porâneos, vide, no Direito, por exemplo, en un problema tanto central como
o crescente interesse na ética aristo- apremiante de toda la existencia
humana sobre Ia ti erra, ya es un asunto
télico-tomista e nos conceitos de phronesis
de la filosofía, y tiene que haber algo
ou prudência, 10 muito úteis, aliás, ao así como una filosofía de la
deslinde das questões Bioéticas. tecnología. 12
A própria existência da Bioética Dicho de forma muy general, que
evidencia, após décadas de rigor e Ia ética tiene algo que decir en Ias
"neutralidade" científicos, um apelo às cuestiones relacionadas com la técnica
considerações filosóficas e axiológicas. o que Ia técnica está sometida a
consideraciones éticas se desprende
María Casado ressalta este aspecto, dei sencillo hecho de que Ia técnica es
dizendo que "resulta claramente cons- un ejercicio de poder humano, es decir,
tatable una tendencia a la revalorización una forma de actuación, y toda
de todo aquello que tiene que ver com actuación humana está expuesta a su
la Ética". 11 examen moral. 13

10 Destaca-se o trabalho do filósofo do Direito e professor Luís Fernando Barzotto, em,


por exemplo, Prudência e jurisprudência - uma reflexão epistemológica sobre a
;urisprudentia romana a partir de Aristóteles (BARZOTTO, Luís Fernando. Prudência e
jurisprudência: uma reflexão epistemológica sobre a iurisprudentia romana a partir de
Aristóteles. ln: ROCHA, Leonel Severo (Org.). Anuário do programa de pós-graduação
em Direito/ Unisinos. São Leopoldo, 1999).
11 CASADO, María. Nuevo derecho para Ia nueva genética. ln: CASADO, María (Org.).
Bioética, derecho y sociedad. Valladolid: Simancas, 1998.
12 JONAS, Hans. Técnica, medicinay ética, Barcelona, Paidós, 1997, p. 15.
13 JONAS, Técnica ... , p. 33.
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A antiga incomunicabilidade da geral, completando-se, assim, a


ciência com os valores, portanto, vem evidente ligação entre estes saberes. 16
sendo visivelmente substituída pela Por outro lado, as ciências sociais,
procura de pautas éticas de compor- e mesmo aquelas de natureza mais
tamento, vicejando nas diversas áreas "técnica", estão condicionadas por
do conhecimento os comitês de ética, epistemologias e modelos filosóficos. O
os códigos profissionais de ética e o método e a epistemologia de uma
ensino da ética nas universidades. ciência dependem de respostas no
No dizer de Edna Hogemann, "o campo da filosofia na sua feição de
interesse nas questões éticas surge a saber teórico.
partir das situações nas quais os Deste modo, como hoje parece
indivíduos não se sentem completa- imperar o relativismo e a fragmentação
mente seguros em relação a qual moraC sente-se a necessidade de
direção é a correta a seguir" .14 dialogar sobre grandes temas que
A busca de modelos de compor- afetam a humanidade, buscando
tamento, de respostas para como agir princtptos que possam ser
em relação aos conhecimentos frente compartilhados por pessoas e culturas
a casos concretos, denota que o diferentes, o que é o grande desafio da
profissional e o cientista realmente nossa época. 17
operam sua ciência ou técnica através A função do Direito neste horizonte
desta função valorativa, que, em última é essencial e inegável, bem como, para
análise, busca o bem comum. Surge, o desagrado dos racionalistas
então, a filosofia moral, que, como tradicionais, o resgate da metafísica, no
estudo da conduta humana, visando momento em que a real idade fundante
ordená-la a seu fim, 15 possui caráter destas ciências, técnicas e princípios é
informativo das demais ciências, em a pessoa humana. Na verdade, de outra
especial das ciências práticas. Sabe-se, forma não poderia ser, pois, sendo o ser
ainda, que a filosofia moral está humano o mais perfeito dos entes e
condicionada pela ética e pela filosofia estudando a metafísica o ser enquanto

14 HOGEMANN, Edna Raquel Rodrigues Santos. Conflitos bioéticos: o caso da clonagem


humana. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2003, p. 4-5.
15 A tridimensionalidade que se observa no Direito também pode se aplicar à normatividade
ética. Segundo Guy Durand, "o fato não é normativo em si mesmo. Para que ele se tome
normativo deve ocorrer um julgamento de valor, um julgamento ético." (DURAND,
Introdução... ,. 128) A razão opera sobre o fato, reconhecendo sua natureza e normatizando-o.
16 Sobre a ligação dos diversos saberes com a Ética e a Filosofia, vide MASSINI, Carlos
Ignacio. La prudenciajurídica. Buenos Aires, Abeledo-Perrot, 1982.
17 Cf. CLOTET, Bioética ... , p. 30.
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ser, fica claro que temos que recorrer traduzem as opções políticas e valora-
a ela. A transcendência do ser humano, tivas fundamentais da Constituição e do
o que o faz pessoa, nos remete, então, povo, já que captados da moralidade
não somente à ética, mas também à dominante na sociedade. 21
metafísica. 18 A Constituição espanhola foi a
primeira a inserir em seu texto a
4. CONEXÕES ENTRE OS expressão "valores superiores". Estes
DIREITOS FUNDAMENTAIS E "valores superiores" referidos pela Lei
A BIOÉTICA Maior da Espanha constituem-se,
segundo Gregorio Peces-Barba, em
É o apelo feito à metafísica 19 que uma "moralidade legalizada" ,2 2 pauta
nos conduz ao próximo tópico deste axiológica esta, portanto, aceita
trabalho: as conexões entre os direitos majoritariamente.
fundamentais e a Bioética. Isto porque Isto significa que, desde que dizem
vamos tratar diretamente com a com a dignidade da pessoa humana, os
questão da dignidade da pessoa humana valores superiores e especialmente a
e porque, neste particular, concordamos própria dignidade presentes nas
com José Luis dei Barco, quando afirma Constituições são o substrato donde se
que: "la pura vida biológica es demasiado extraem "as razões éticas para a
pocu para dar cuenta hasta el fondo de obediência ao direito". 23 Eles são,
]a digna vida humana". 20 portanto, a base e ao mesmo tempo o
Nos artigos 1° a 4° da Constituição fim de todo o sistema jurídico.
brasileira encontram-se seus princípios Certo é, contudo, que, mt.:smo que
fundamentais, os "princípios dos não sejam expressamente mencionados
princípios", ou seja, aquelas notmas que valores, é claro o conteúdo axiológico

18 Vide CATURELLI, Alberto. Premissas metafísicas da Bioética. ln: LADUSÃNS,


Stanislavs (Coord.). Questões atuais de Bioética. São Paul9: Loyola, 1990 e MONDIN~
l3attista.Amctafisica da pessoa como fundamento da Bioética. In: LADUSÃNS, Stanislavs
(Coord.). Questões atuais de Bioética. São Paulo,: Loyol1, 1990.
19 Para Tomás Me lendo, "sin metafísica no cabe fundamentación definitiva de la bioética"
(MELENDO, Tomás. Dignidad humanay bioética. Navarra, Eunsa, 1999, p. 184).
20 DEL BARCO, José Luis. Bioética de la persona: fundamentos éticos y antropológicos.
Santafé de Bogotá D.C.: Universidad de La Sabana, 1998, p. 319.
21 São claramente valores morais, por exemplo, os incisos III e IV do art. 1°; o art. 3° e seus
incisos I e IV; e os incisos VI, VII, VIII e IX do art. 4° da Constituição de 1988.
22 DEL BARCO, José Luis. Bioética de la persona: fundamentos éticos y antropológicos.
Santafé de Bogotá D.C.: Universidad de La SabJna, 1998, p. 41.
23 Ibidem, p. 44-45.
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das constituições democráticas oci- a dignidade da pessoa humana tem


dentais atuais, manifestado justamente várias implicações, a começar por ser
pelo reconhecimento da dignidade fim e fundamento do Direito e do
da pessoa humana e dos direitos que Estado. Ela surge como um valor, um
dela derivam. fim ontológico que transcende o mundo
O art. 1°, III da Constituição da jurídico, mas dele não deixa de fazer
República Federativa do Brasil, ao parte. É, portanto, também, valor
consagrar a dignidade da pessoa jurídico, pois, além de positivada, a
humana como fundamento de nosso dignidade da pessoa humana faz parte
Estado democrático de direito, adere a integrante do conteúdo da justiça. É,
uma filosofia determinada, comum à ademais, princípio constitucional e, como
maioria dos Estados ocidentais: o Brasil tal, norma jurídica.
realiza uma constitucionalização de Por seu turno, a Bioética,
valores a partir deste artigo, e não só compreendida como aqui o fazemos,
em relação à dignidade da pessoa enquanto ética voltada à vida humana,
humana, mas também em relação a lida diretamente com a noção de pessoa
outros valores a ela conexos, tais como e da sua dignidade. Conforme del
a liberdade, a igualdade, a justiça, os Barco, "el origen de la Bioética nos
"valores sociais do trabalho e da livre sefíala su destino. Nos dice qué fin
iniciativa" (art. 1°, IV) e outros. persigue. Nos indica el objetivo:
Ao constitucionalizar valores, o mantener digna la vida. " 25
nosso país, assim, dota sua Constituição Para exemplificar o que dizemos,
de conteúdo material, como bem coloca trazemos à colação o Código de Ética
o professor Ingo Sarlet, ao referir Médica brasileiro, cujas disposições são
que os direitos fundamentais, que similares às dos demais códigos,
"correspondem a explicitações em resoluções e comitês de ética da área
maior ou menor grau, do princípio da da saúde em geral no país:
dignidade da pessoa humana", integram
"um sistema axiológico que atua como Art. 6° O médico deve guardar
absoluto respeito pela vida humana,
fundamento material de todo o atuando sempre em benefício do
ordenamento jurídico" .24 paciente. Jamais utilizará seus
No Direito em geral e no conhecimentos para gerar sofrimento
ordenamento jurídico brasileiro, então, físico ou moral, para o extermínio do

24 SARLET, A eficácia... , p. 115-161.


25 SARLET, A eficácia... , p. 318. Dei Barco faz este comentário após observar como a
Bioética irrompeu com vigor no cenário público, derivada de uma necessidade de
tratamento ético dos problemas biomédicos.
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ser humano, ou para permitir e seus "princípios básicos para toda


acobertar tentativa contra sua investigação médica", dispõe:
dignidade e integridade. 26
1O[... ] es deber del médico proteger
V árias diretivas nacionais e la vida, la salud, la intimidad y la
declarações internacionais ligadas à dignidad de! ser humano. 28
saúde corroboram este posicionamento, E a Declaração Ibero-Latino-
como, por exemplo, os arts. 1° e 2° da Americana sobre ética e genética aduz:
Declaração universal sobre o genoma
humano e os direitos humanos: 2. A reflexão sobre as diversas
implicâncias do desenvolvimento
Art. 1o O genoma humano cons- científico e tecnológico no campo da
titui a base da unidade fundamental de genética humana deve ser feita l,evando
todos os membros da família humana, em consideração: a) o respeito à
assim como do reconhecimento de sua dignidade, à identidade e à integridade
inerente dignidade e diversidade. Em humanas e aos direitos humanos
sentido simbólico, é o legado da
reafirmados nos documentos jurídicos
humanidade.
internacionais; b) que o genoma
Art. 2° A) Toda pessoa tem o direito
humano constitui parte do patrimônio
de respeito à sua dignidade e seus
comum da humanidade como uma
direitos, independentemente de suas
características genéticas. B) Essa realidade e não como uma expressão
dignidade torna imperativo que meramente simbólica; c) o respeito à
nenhuma pessoa seja reduzida a suas cultura, às tradições e aos valores
características genéticas e que sua próprios dos povos. 29
singularidade e diversidade sejam
Com relação à doutrina, como se
respeitadas. 27
sabe, a idéia de dignidade da pessoa é
Também a Declaração de Helsinki um conceito que exsurge do
da Associação Médica Mundial, em cristianismo. 30 Sabe-se, contudo, que na

26 CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA. Código de Ética. Disponível em: <http://


www.cfin.org.br/codetic.htm>. Acesso em: maio 2004 (grifo nosso).
27 UNESCO. Declaração universal sobre o genoma humano e os direitos humanos.
Paris, 1997. Disponível em: http://conselho.saude.gov.br/docs/doc_ref_eticapesq/
GENOMA_DIREITOS_HUMANOS. Acesso em: maio 2004 (grifo nosso).
28 ASSOCIAÇÃO MÉDICA MUNDIAL (WMA). Declaração de Helsinki. Edimburgo,
2000. Disponível em: <http://www.bioetica.ufrgs.br>. Acesso em: maio 2004 (grifo nosso).
29 Declaração feita no México, em Manzanillo, em 1996 e revisada em Buenos Aires em
1998. ln: http://www.bioetica.ufrgs.br (grifo nosso).
30 Benda é dos que sustentam tal afirmação, dizendo que: "historicamente, a garantia da
dignidade humana se encontra estreitamente ligada ao cristianismo. Seu fundamento
radica no fato de que o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus." (BENDA,
Ernst et al. Manual de derecho constitucional, Madri, Marcial Pons, 1996, p. 117.) tradução
livre do espanhol pela autora.
Revista da Faculdade de Direito da UFRGS- no 25, 2005 187

esteira de uma separação desneces- dignidade da pessoa humana.


sária e de uma antinomia inverídica O alicerce ético de ambas as searas é
entre fé e razão, 31 os cientistas evidente. Neste sentido, e no que tange
afastaram-se da metafísica e a moral ao Direito, corrobora María Casado,
secularizou-se para ingressar na "pós- sinalando que "los derechos humanos
modernidade". Mas, ainda que a constituyen las bases jurídicas y, a la
moralidade temporal e a ciência natural vez, el mínimo ético irrenunciable, sobre
de hoje desprezem os ensinamentos e las que deben asentarse las sociedades
argumentos de fundo religioso, a occidentales." 33 E, quanto à Bioética,
dignidade da pessoa persiste nelas recorremos uma vez mais a José Luis
profundamente arraigada, e desponta, dei Barco, que crê "que es el espíritu,
em pleno terceiro milênio, como núcleo efecti~amente, el que toca la melodía

central deste novo campo que é a en el teclado dei ADN, no ai revés." 34


Bioética. Como bem observa Clotet: Muitos, aliás, são os indícios desta
estreita ligação entre Bioética e direitos
A Bioética, independentemente fundamentais, a começar pelo fato de
dos diferentes credos religiosos e
que, ao início de nosso estudo, ao
correntes filosóficas, reconhece,
através dos seus maiores apresentarmos a classificação dos
representantes, como Engelhardt, direitos fundamentais em gerações ou
Veatch, Beauchamp, Gracia, Abel, dimensões, notamos que o avanço das
Cuyás, entre outros muitos, a validade ciências biomédicas é por muitos
da tese kantiana ao afirmar que as apontado como fator que justifica o
coisas têm preço, enquanto que a nascimento de uma quarta geração de
pessoa está acima de todo e qualquer direitos, conexa intimamente a estes
preço, pois só ela tem dignidade para
problemas.
não ser usada apenas como meio. 32
Evidente também é a correlação
A correlação entre os dois campos, que os princípios bioéticos encontram
Bioética e direitos fundamentais, no mundo jurídico. Neste sentido, Lívia
mostra-se, então, de fato intensa, eis Haygert Pithan, 35 ao tratar do
que ambos têm por base e fim a surgimento e do desenvolvimento do

31 Vide Papa JOÃO PAULO II (Papa). Carta encíclica sobre as relações entre a fé e a
razão, Porto Alegre: EDIPUCRS, 1998.
32 CLOTET, Bioética... , p. 199.
33 CASADO, Nuevo derecho ... , p. 69.
34 Dei Barco, Bioética... , p. 335.
35 PITHAN, Lívia Haygert. A dignidade humana como fundamento jurídico das "ordens
de não-ressucitação" hospitalares. Porto Alegre: Edipucrs, 2004, p. 32.
188 Revista da Faculdade de Direito da UFRGS- no 25, 2005

que se tem convencionado chamar de genericamente falando, nos direitos


"biodireito", ensina que, para alguns fundamentais de liberdade e autode-
juristas, "seria adequada uma incor- terminação, tais como a liberdade de
poração dos princípios da bioética como ação, ligada ao princípio da legalidade,
princípios de Direito", se é que isto já liberdade de opinião e de manifestação
não ocorre na prática. do pensamento, entre outros.
Para que este ponto se torne mais Os princípios da não-maleficência
claro, é necessário que discorramos e da beneficência são inter-
brevemente sobre os princípios relacionados e expressam, respec-
bioéticos. Deste modo, esclarece-se tivamente, o dever do médico de não
que existem várias abordagens ou inflingir o mal a seu paciente e o dever
modelos possíveis para a Bioética e de fazer o bem a outrem, que, no plano
que, dentre eles, destaca-se indubita- médico, requer a avaliação de riscos
velmente o chamado "principialismo". e benefícios para o paciente. Estes
Através desta abordagem principio- princípios, por sua vez, guardam
lógica, apresentam-se quatro princípios correspondência com o direito à vida
basilares a serem aplicados aos dilemas e à integridade física e moral.
bioéticos: o princípio do respeito à Por fim, quanto ao princípio da
autonomia, o princípio da não-malefi- justiça, por seu próprio nome faz-se
cência, o princípio da beneficência e o quase desnecessário o estabe-
princípio da justiça. lecimento de ligação com o mundo
Para conceituar tais princípios, nos jurídico ... De qualquer maneira, tem-
utilizaremos das lições contidas sob o se que o princípio bioético da justiça
verbete "bioética", do Dictionnaire refere-se, por um lado, ao tratamento
d'éthique et de philosophie mora/e, eqüitativo para todos, e por outro, à
em sua recente versão gaúcha. 36 "justa distribuição de recursos
O princípio do respeito à autonomia destinados à saúde", 37 ligando-se à
se traduz pela capacidade do indivíduo justiça distributiva. No Direito, fazem
de decidir por si mesmo (a partir do companhia a este princípio os direitos
recebimento racional de informações), de igualdade, o direito social à saúde
sem que influências externas deter- e a própria eqüidade como princípio
minem sua ação. Ele encontra paralelo, geral do direito.

36 PARIZEAU, Marie-Hélene. Bioética: ln: CANTO-SPERBER, Monique (Org.). Dicionário


de ética e filosofia moral. São Leopoldo, Unisinos, 2003, v. 1, p. 168.
37 Cf. PITHAN, A dignidade ... , p. 28.
I

Revista da Faculdade de Direito da UFRGS- no 25, 2005 189

5. A CONSTITUIÇÃO fundamentais e liga-se a vários


BRASILEIRA DE 1988 E A problemas de natureza bioética, tais
BIOÉTICA como clonagem e eugenia. Outra
questão conexa à dignidade surge no
5.1 Indagações derivadas da momento em que a fecundação
subsunção de problemas bioéticos heteróloga, via bancos de esperma,
aos direitos fundamentais da impede o conhecimento de quem se é,
Constituição pátria das origens da pessoa, fazendo com
que, por exemplo, uma vez adulta, a
Ab initio, cabe o esclarecimento de pessoa possa vir a casar-se com seu
que o que se visa, aqui, é fornecer irmão biológico ou ter problemas de
exemplos do enfrentamento de nossas saúde evitáveis com o conhecimento da
áreas de estudo, pois o presente linhagem genética, e assim por diante.
trabalho não pretende e nem é sede O uso do corpo humano como objeto
propícia a esgotar a questão. Outra para beneficiar terceiros, o que, em
premissa deste ponto é que seu objetivo certos casos, até poderia ser aceito sob
é justamente levantar questiona- o prisma da liberdade, esbarra na
mentos, chamar a atenção aos pro- dignidade, em casos como a venda de
blemas com os quais já nos deparamos órgãos, a venda do próprio corpo como
ou nos depararemos em breve, dada a cobaia e o uso de embriões para
velocidade dos avanços da biotec- pesquisas e tratamentos.
nologia e das biociências. Salienta-se, - O direito à vida, disposto no
ainda, que os exemplos expostos muitas caput do art. 5° da Constituição, é
vezes referem-se a vários dispositivos confrontado com itens como o aborto,
constitucionais e não somente àqueles a eutanásia e suas variantes, a cessação
a que aparecem diretamente ligados. de tratamentos e o "descarte" de
Realizadas estas observações, a embriões não implantados no útero ou
exemplo do que fizemos em relação aos utilizados em pesquisas. Há, ainda, a
princípios bioéticos e os direitos funda- relativização do valor "vida" em casos
mentais, passam a ser expostos alguns de deficiências, doenças incuráveis,
destes direitos constitucionalmente velhice, etc., bem como relativiza-se a
previstos, os principais dispositivos que vida na produção de embriões para fins
os elencam, e os temas problemáticos diversos do que seu desenvolvimento
da Bioética que os atingem. Opta-se normal.
por uma exposição em tópicos para - Os direitos de igualdade,
facilitar a compreensão: previstos no art. 5°, caput e incisos I,
- O princípio da dignidade da VIII, XLI e XLII, deparam-se com a
pessoa humana, contido no art. 1°, III eugenia, a discriminação genética e a
da Constituição, é, como dito anterior- análise do genoma para fins contratuais
mente, a fonte dos demais direitos (contratos de seguro ou laborais, por
190 Revista da Faculdade de Direito da UFRGS- no 25, 2005

exemplo). Também aqui se enquadram informações contidas no genoma. Por


os problemas da seleção de embriões outro lado, não podemos deixar de
para serem "descartados" ou se considerar a liberdade de investigação
desenvolverem (pelos mais variados científica, eis que também a ciência e
motivos, desde a escolha de sexo até a tecnologia encontram-se constitucio-
doação de órgãos a terceiro) e da nalmente protegidas no art. 218.
discriminação no acesso aos recursos e -O direito à saúde, previsto no art.
técnicas de sanidade (saúde pública e 6° da Constituição, envolve o direito a
privada, listas de espera para doações informações genéticas para poder-se
de órgãos, escolha entre um ou outro buscar tratamento; o confronto da saúde
paciente para salvar, critérios de controle pública ante o fornecimento de
populacional via esterilização, etc.). tratamentos de alto custo para alguns
- O direito à integridade física e e a ausência de condições mínimas de
moral do art. 5°, III, XLIII e XLIX da saúde para outros; o "uti Iitarismo
Constituição relaciona-se com a econômico"; 38 a alocação de recursos;
esterilização, a manipulação genética, a tomada de decisões que tenham por
a eugenia, as experiências em seres conseqüência a vida ou a morte de uma
humanos e mesmo problemas de danos ou mais pessoas. Ainda no plano social,
morais devido à divulgação de ressurgem pontos como critérios de
informações genéticas. controle populacional via esterilização,
- A proteção à intimidade, consa- o prolongamento da vida e suas
grada no art. 5°, X da Constituição, traz conseqüências econômicas e de
à tona o dever de confidencialidade do seguridade social, a igualdade no acesso
profissional da saúde e os critérios para aos recursos e técnicas. Por fim, em
a divulgação de dados sobre o genoma sua conexão com o Estado, os direitos
das pessoas, envolvendo inclusive o da família, especialmente aqueles
direito do paciente de optar por não contidos no art. 226, § 7° da
saber determinadas informações. Constituição, são confrontados com
-Os direitos de liberdade, postos questões relativas ao direito de se
no art. 5°, caput, e vários de seus reproduzir e à esterilização.
incisos, como o II, o IV e o VI, da O respeito à diversidade, que,
Constituição, enfrentam os questiona- além de ser uma combinação dos
mentos derivados do direito de decidir direitos de igualdade, liberdade e da
sobre tratamentos, inclusive de recusá- dignidade da pessoa, está presente em
los ou interrompê-los (surge a escusa diferentes passagens da Constituição,
de consciência do art. 5°, VIII) e como no respeito ao pluralismo (arts.
também do direito de decidir sobre 17, 170, 206, III, 215, 216, 220, caput

38 Cf. SGRECCIA, Elio. Manual de bioética. São Paulo: Loyola, 1997, v. 2, p. 16.
Revista da Faculdade de Direito da UFRGS- no 25, 2005 191

e § 5°), preocupa-se com tópicos como hermenêutica constitucional, não deixa


a eugenia, a clonagem, a engenharia de de ser verdadeiro que a Constituição
linhagem germinal, a discriminação também deve inspirar toda e qualquer
relativa à opção sexual, a alteração e o legislação infraconstitucional relativa à
controle comportamental e social pela Bioética, legislação esta, aliás, ainda
neurofarmacologia, a manipulação muito incipiente no Brasil.
genética e os critérios de controle Além disso, a Constituição brasileira
populacional via esterilização. assume tarefa diferenciada em relação
Por fim, alerta-se para o fato de que à Bioética, representando não só seu
papel natural de norteadora das
muitas vezes os direitos fundamentais
são colocados em oposição em função decisões judiciais, mas sendo
de problemas bioéticos. Assim, diretamente invocada por estas, que,
comumente afrontam-se direitos como dada a escassez de normas sobre o
liberdade (autodeterminação) e respeito assunto, muitas vezes têm de apelar à
à vida, intimidade e vida de um terceiro, possibilidade ventilada no art. 5°, § 1o
e assim por diante. da Lei Maior, que determina a
aplicabilidade imediata das normas
5.2 O papel da constituição definidoras de direitos fundamentais.
brasileira ante os dilemas bioéticos Como máxima expressão legislativa
da vontade popular, a Constituição de
Após demonstrarmos a íntima fato coloca a todos um "mínimo ético
ligação da Bioética com os direitos irrenunciável", nas palavras já citadas
fundamentais e de apresentarmos temas de María Casado, estendendo sua
bioéticos que podem gerar situações de influência às normas deontológicas. Isto
conflito com a declaração de direitos da significa que, mesmo no campo
Constituição brasileira, partimos em deontológico próprio à área da saúde,
busca de resoluções a estas questões. ela não pode ser desprezada pelos
Neste sentido, a Constituição, por si só, operadores destas e das demais
desponta como instrumento para a ciências e técnicas não-jurídicas, já que
solução dos embates expostos. sua força normativa e seu véu de
O próprio elenco de direitos funda- legitimidade e legalidade se desdobra
mentais da Constituição funciona como sobre todos na sociedade.
o maior limite aos exageros da biotec- Ao lado deste papel fundamental da
nologia. A Lei Maior apazigua os temo- Constituição, está a tarefa da
res que o avanço desmesurado da téc- hermenêutica constitucional, pois
nica intlige à sociedade, que assiste à sabemos que a Constituição necessita,
ficção tornando-se realidade e aproxi- como as demais normas componentes
mando-se da vida quotidiana de todos. do ordenamento jurídico, de
Tanto quanto é bem verdade que concretização, mediante a ação do
as normas setoriais inspiram a Poder Judiciário. A interpretação
192 Revista da Faculdade de Direito da UFRGS- no 25, 2005

principio lógica da Constituição ganha intervir para proteger a pessoa humana


espaço e a ponderação de princípios se que se abriga em seu seio. E, neste
faz necessária na realidade das lides. diapasão, vimos que a Constituição
A conexão destas realidades jurídicas exerce importante papel.
com os problemas da Bioética mais uma Não cremos, entretanto, que a
vez é verdadeira e se apresenta como Constituição, sozinha, possa dar conta
uma via de mão dupla, pois há quem de orientar satisfatoriamente a
defenda que "a discussão metodológica jurisprudência para a solução dos casos
em Bioética deveria seguir o modelo concretos e defendemos a necessidade
da argumentação jurídica quando de leis sobre a matéria e de instituições
aborda o conflito entre princípios". 39 que a regulem.
Esta opinião é esposada por Judith Quanto à criação de leis, basta
Martins-Costa, quando apresenta levantar -a idéia para encontrar
"o Direito como construção de modelos opositores. Em primeiro lugar, porque
de respostas", apontando como os povos estariam fartos de leis,
"ilustrativa deste modelo a Constituição argumento a que, inicialmente, não
Federal". 40 podemos nos opor. É verdade que há
excesso de leis, muitas delas distantes
6. CONCLUSÃO da sociedade. Todavia, como enfatiza
María Casado, "en aspectos como los
Para finalizar nosso estudo, que atafíen a la Bioética, la tendencia
procuraremos apresentar algumas vias es justamente la contraria". A aceitação
de ação necessárias à prevenção e à de novas normas, neste caso, dá-se por
solução dos dilemas aqui apresentados. várias razões:, entre elas a dificuldade
Para tanto, vamos recorrer com fre- em encontrar-se consenso nos diversos
qüência às idéias de Francis Fukuyama, setores sociais, cabendo, então, ao
já que nos identificamos com vários Direito, lançar uma diretriz. Também
aspectos do seu pensamento. porque são problemas ligados aos
É oportuno dizer que partimos do valores mais caros da sociedade e trata-
pressuposto da democracia, ou seja, do se de mudanças de paradigma radicais,
papel do Estado democrático de direito, polêmicas e nunca dantes vistas, o que
que, garantindo ao máximo a liberdade leva, ainda no dizer de Casado, a uma
possível em sociedade, tem o dever de demanda de legislação por parte da

39 Cf. MARTÍ, Francesca Puigpelat. Bioética y valores constitucionales. ln: María


CASADO. Bioética, derecho y sociedad Valladolid: Simancas, 1998, p. 52, tradução livre
do espanhol pela autora.
40 MARTINS-COSTA, Judith. As interfaces entre a Bioética e o Direito. ln: CLOTET,
Joaquim (Org.) Bioética. Porto Alegre: Edipucrs, 2001. p. 68 e 71.
Revista da Faculdade de Direito da UFRGS- no 25, 2005 193

sociedade, sendo que, "a menudo los Creo que hubiese sido más
colectivos implicados directamente por conveniente esperar a que los casos
los problemas son los que tratan de se planteasen ante los tribunales y que
la opinión pública hubiese podido
forzar el cambio a través dei dictado
manifestar sus preferencias valorativas
de normas jurídicas". 41
sin la presión de que ciertas conductas
Obviamente, a promulgação de leis estén ya etiquetadas de ilegales. 44
não resolve de vez a problemática, nem
encerra as discussões, que, muitas Com a devida vênia, não podemos
vezes até se acirram. 42 Isto não é aceitar este tipo de posicionamento.
motivo, porém, para defender-se o Primeiramente porque, sem desprezar
império do casuísmo, como fazem a indubitável importância da análise
alguns estudiosos. O modelo casuística caso a caso, não se pode deixar tudo a
é, inclusive, ao lado do principialismo, cargo-do Poder Judiciário sob pena de
uma das mais difundidas abordagens desestabilizar-se o Estado democrático
propostas para a Bioética. de direito, já que quem determina o que
A espanhola Francesca Puigpelat é o bem comum é o povo e não o Poder
Martí, por exemplo, é defensora do Judiciário. E, em segundo lugar, porque
modelo casuística, como se observa da não parece a atitude mais sábia esperar
seguinte passagem: para reagir depois de ter-se dado espaço
para conseqüências nefastas. Fukuyama,
[... ] la vía legislativa en matéria
bioética no parece todavía la más ao comentar a legislação americana
prudente. [... ] AI ser estas cuestiones sobre experimentos em seres humanos,
tan personales y nuevas, la mejor forma conta que "mais uma vez, a regulação
de abordarias es a través dei análisis foi impelida por escândalo e tragédia",
de cada caso. No hay experiencia referindo-se a conhecidos casos, onde
suficiente sobre las nuevas situaciones células cancerígenas foram injetadas em
para que pueda hablarse de un con- pacientes debilitados, pacientes negros
senso social sobre su tratamiento."43
e pobres foram deixados sem trata-
E continua a autora, ao comentar a mento para sífilis para que os efeitos
legislação espanhola, defendendo: fossem estudados, e assim por diante. 45

41 CASADO, Nuevo derecho ... , p. 65-66.


42 Vide as várias polêmicas em tomo da chamada Lei de Biossegurança, aprovada em
nosso país em 2005.
43 MARTÍ, Bioética ... , p. 53.
441bidem.
45 Cf. FUKUYAMA, Francis. Nosso futuro pós-humano: conseqüências da revolução da
biotecnologia. Rio de Janeiro: Rocco, 2003, p. 209.
194 Revista da Faculdade de Direito da UFRGS- no 25, 2005

O Poder Legislativo é repre- em relação à verdade. O fundamento


sentativo da sociedade e, ainda que a da verdade permanece sempre na
democracia, como regime político coisa, na realidade, sendo o consenso
criado por homens imperfeitos, seja um instrumento pelo qual a razão
também imperfeita, "não há também prática pode encontrar essa verdade.
nenhum conjunto alternativo O próprio consenso só pode ser
obviamente melhor de instituições que apreendido pela razão prática e isso só
possa capturar a vontade do povo de é possível na democracia. Daí defender
maneira justa e legítima". 46 Por isso, Andrés Ollero "nenhuma democracia
cabe à esfera política, com a sem direito natural e nenhum direito
imprescindível colaboração dos natural sem democracia. " 48
cientistas, a palavra final em termos de Afora a elaboração de leis, é de se
legislação, e não o contrário, eis que "a pensar, c-omo sugere Fukuyama, na
ciência não pode estabelecer por si criação de instituições reguladoras para
mesma os fins a que serve" .47 a biotecnologia e, neste particular, abre-
Defendemos, assim, a criação de se a pauta internacional, já que, em um
leis infraconstitucionais que regulem os mundo globalizado como o atual, a
problemas bioéticos, leis estas homogeneidade das regulações dos
emanadas da esfera política, que deve diferentes Estados se faz necessária.
decidir sobre fins (valores) apropriados Estas instituições ou agências seriam
para a biotecnologia, embasada por especialmente úteis para distinguir o
informações científicas dadas, estas que efetivamente é progresso para a
sim, pela comunidade científica. Tudo vida e a dignidade humanas e o que é
com base no trabalho prévio de comis- ameaça a elas.
sões interdisciplinares, buscando identi- É claro que também se pode duvidar
ficar, através do diálogo democrático e da eficácia do controle da biotecnologia
na medida do possível, o consensual e por instituições reguladoras, mas é de
o real no que diz respeito a estes assuntos. se salientar que não se trata de uma
A menção expressa à realidade, quimera, visto que regras deste tipo já
aqui, assume posição essencial ao lado são realidade, por exemplo, relativa-
do consenso social, porque se entende mente à experimentação em seres
que o consenso tem caráter instrumental humanos, e isto internacionalmente.

46 Ibidem, p. 194.
47 Ibidem, p. 193.
48 OLLERO Tassara, Andrés. A crise do positivismo jurídico: paradoxos teóricos de uma
rotina prática. ln: COLÓQUIO INTERNACIONAL DIREITO NATURAL E DIREITOS DO
HOMEM NOALVORESCERDO SÉCULO XXI, Roma, 1991.
Revista da Faculdade de Direito da UFRGS- no 25, 2005 195

Do mesmo modo, eventuais falhas nos humanidade escrava do progresso


sistemas regulatórios são inevitáveis, o tecnológico, mesmo quando este não se
que não ilide sua valia. Mais uma dirige a fins que salvaguardem e
vez, buscamos auxílio na obra de beneficiem o humano. 50
Francis Fukuyama para fortalecer Concluímos ressaltando, por fim e
nossos argumentos: uma vez mais, que é fundamental agir,
[... ] nenhum regime regulador é no Direito e na Bioética, sempre tendo
jamais completamente invulnerável, e em vista a enorme dignidade da pessoa,
se selecionamos um intervalo que faz de cada um de nós um ser ao
suficientemente longo, a maioria das mesmo tempo único e universal em sua
tecnologias acaba sendo desenvol- humanidade. Se nos for permitida uma
vida. Mas isso não é compreender a
"metáfora artística", a dignidade da
regulação social: nenhuma lei é jamais
plenamente imposta. Todo país faz do pessoa- humana é o ponto de fuga a
assassinato um crime e associa penas partir do qual se traçam os horizontes
severas ao homicídio e, ainda assim, do Direito e da B ioética. Estando este
assassinatos ocorrem. Isso nunca foi horizonte traçado, que venham os
razão para se desistir da lei ou de tenta- avanços da biotecnologia e complete-
tivas para impor o seu cumprimento. 49 se um belo quadro de longevidade,
Já não agir significa legitimar as qualidade de vida e cura para as
mudanças biotecnológicas e tornar a pessoas de hoje e de amanhã.

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49 Ibidem, p. 197.
50 Cf. FUKUYAMA, Nosso futuro ... , p. 225.
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