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1. Como os Direitos Humanos são tratados na Constituição Federal de 1988?

As idéias de Constituição e direitos fundamentais são manifestações paralelas e


unidirecionadas, dado que os direitos fundamentais, ao lado da definição da forma de Estado,
do sistema de governo e da organização do poder, formam a essência do Estado
constitucional, salvaguardada na lei fundamental do Estado, a Constituição.

De tal sorte, que a imbricação dos direitos fundamentais com a idéia de Constituição é aspecto
que impende que seja ressaltado na nossa constituição vigente, isto é, a Constituição
promulgada em 1988. Visto que, segundo Wolfgang Sarlet, pela primeira vez na história do
constitucionalismo pátrio, a matéria concernente aos Direitos Humanos foi tratada com a
merecida relevância, adquirindo o status jurídico que lhes é intrínseco.

Para se entender a posição de destaque ocupada pelos Direitos Humanos em nossa


constituição hodierna, faz-se mister referência às circunstâncias históricas abarcadas pela
nossa Assembléia Constituinte no momento da feitura do texto constitucional. Dessa forma, a
umbilical vinculação entre os direitos fundamentais e nossa Carta Magna diz respeito ao fato de
ter sido precedida por um período de forte dose de autoritarismo que caracterizou os 21 anos
de ditadura militar, constituindo por parte da nossa Carta Magna, e das forças políticas e
sociais nelas representadas, ‘’uma reação ao regime de aniquilação das liberdades
fundamentais’’[1]. Afirmando-se, como referencial jurídico, a Carta de 1988, desde o seu
preâmbulo, alargou sobremaneira a abrangência dos direitos e garantias fundamentais,
prevendo a instauração de um Estado Democrático de Direito.

No tocante à disposição dos Direitos Humanos Fundamentais no texto constitucional, eles são
elencados no Título II na Constituição, sendo subdivididos em cinco capítulos:

 direitos individuais e coletivos: correspondentes aos direitos diretamente ligados ao


conceito de pessoa humana e de sua própria personalidade.
 direitos sociais: caracterizados como liberdades positivas, tendo por finalidade a
melhoria das condições de vida.
 direitos de nacionalidade: capacita o indivíduo a exigir proteção, ao passo que o obriga
ao cumprimento dos deveres impostos.
 direitos políticos: regras que disciplinam a atuação da soberania popular.
 direitos relacionados à existência, organização e participação em partidos políticos.

A doutrina ainda reconhece outras classificações, como a que divide os Direitos Humanos em
gerações, de acordo com a ordem cronológica a que passaram a ser constitucionalizados.

Bibliografia:

MORAES, Alexandre de. Direitos Humanos Fundamentais.

SARLET, Ingo Wolfgang. A Eficácia dos Direitos Fundamentais.

LEAL, Rogério Gesta. Direitos Humanos no Brasil.

2. Quais os avanços trazidos pela Constituição à matéria dos Direitos Humanos ?

Diversos foram os avanços ostentados pela Constituição de 1988 acerca dos Direitos
Humanos, em virtude da mudança da conjuntura brasileira, que passava de regime autoritário
para uma administração democrática. Para a efetiva consolidação da democracia, é notória,
segundo Scott Mainwaring[2], a existência de eleições competitivas e a asseveração de uma
cidadania. Assim, para a conclusão deste último, os organismos democráticos devem proteger
os direitos das minorias e, ao mesmo tempo, resguardar a liberdade civil, princípios estes
característicos dos Direitos Humanos.
Por conseguinte, surgiu a Carta de1988, com o intuito de instaurar um regime político
democrático no Brasil, introduzindo indubitavelmente progressos na concretização legislativa
das garantias e direitos fundamentais. Desde o seu preâmbulo, a Constituição de 1988
apresenta um sistema de direitos e garantias fundamentais. No entanto, é a primeira vez que
uma Carta destaca os objetivos básicos do Estado, todos consagrados no art. 3o, no qual uns
se preocupam em assegurar os valores da dignidade e do bem-estar da pessoa humana, ou
seja, promover a dignidade da pessoa humana, princípio previsto no art. 1o e comum ao Estado
Democrático de Direito brasileiro e aos direitos fundamentais. Ainda mais, a dignidade da
pessoa humana representa a unidade do sistema de valores sociais constitucionais. Enfim,
desde os primeiros artigos (arts. 1o e 3o), a Carta ratifica os princípios que delineiam os
alicerces e os objetivos do Estado de Direito do Brasil.

Devido à tentativa da promoção e do resguardo da dignidade, dos invioláveis e do


desenvolvimento da pessoa humana, encontrados no art. 10 (1) em conexão com o art. 9o (2),
a Carta privilegia a temática dos direitos humanos, chegando ao ponto de elevá-los a cláusulas
pétreas, centro intangível da Constituição. O art. 60, parágrafo 4, expõe as cláusulas pétreas:
‘’I) a forma federativa de Estado; II) o voto direto, secreto, universal e periódico; III) a separação
dos poderes e IV) os direitos e garantias individuais. ‘’ Vale salientar que a Constituição anterior
não fazia qualquer pronunciamento em volta dos direitos e garantias fundamentais.

A Carta Magna pátria de 1988, além dos direitos civis e políticos, inova ao introduzir à coleção
de direitos fundamentais os direitos sociais (capítulo II do título II da Carta de 1988), ampliando
a abrangência dos direitos e garantias. Vale evidenciar que a Carta 1988 se dedica inicialmente
aos princípios e direitos fundamentais, para então tratar da organização estatal, enquanto que
a Constituição anterior tratava primeiramente da organização, e depois se voltava aos direitos.

Além do mais, a Carta de 1988 é a pioneira, entre as Constituições brasileiras, a elencar uma
pluralidade de princípios inovadores e reger o Estado brasileiro em suas Relações
Internacionais, consagrando preceitos contidos no art. 4o. Os valores previstos nos incisos do
art. 4osão, em síntese, os seguintes: independência nacional; prevalência dos direitos
humanos; autodeterminação dos povos; não intervenção; igualdade entre Estados; defesa da
paz; solução pacífica dos conflitos; repúdio ao terrorismo e ao racismo; cooperação entre os
povos para o progresso da humanidade e concessão de asilo político. As demais Cartas
anteriores, ao dedicarem-se às relações no plano internacional, limitavam-se à matéria da
independência e da preservação da unidade nacional, ou ainda, do interesse pela paz do
Brasil, proclamando o mérito da colaboração internacional da mesma. Ao alegar a prevalência
dos direitos humanos como princípio a delinear a conduta do Estado brasileiro no palco
internacional, admite-se, por conseguinte, que a tônica dos direitos e garantias fundamentais
são tema de suma importância e de interesse do Estado, mas também da comunidade
internacional, contribuindo para a assimilação de instrumentos internacionais de proteção dos
direitos humanos ao ordenamento jurídico interno, assim ocorreu com a Convenção Americana
dos Direitos Humanos, o Pacto de San José.

Enfim, a Constituição inovou ao incorporar ao seu texto todos os princípios dos Direitos
Humanos.

Bibliografia:

PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito constitucional internacional.

3. É consabido que a Carta Magna pátria é também chamada de ‘’Constituição Cidadã’’.


Que considerações você faria sobre essa expressão e o que justifica seu emprego ?

Constituição Cidadã, na expressão de Ulisses Guimarães, Presidente da Assembléia Nacional


Constituinte que a produziu, deve-se ao fato de que, na sua feitura, houve ampla participação
popular e, especialmente, porque ela se volta decididamente para a plena realização da
cidadania.
A expressão reflete o momento de euforia vivido pela Assembléia Constituinte, que reproduz a
vitória pela luta democrática que começara com a instauração do golpe de 64 e especialmente
após o AI-5. De tal forma, que a própria Constituição auto- justifica sua designação por
Constituição Cidadã, devido aos largos espaços destinados ao tratamento dos direitos e
garantias fundamentais, tão necessários ao pleno desenvolvimento da cidadania.

Não obstante a explicitação, no texto constitucional, dos Direitos Humanos Fundamentais, falta
muito para se pôr em prática suas diretrizes, seus mandamentos.

De tal maneira, que não é suficiente uma mera declaração solene de uma série de direitos, se
não existem meios para consegui-los. De nada é válido assegurar juridicamente uma liberdade,
se não existem meios para gozá-la. Assim, o direito de inviolabilidade do domicílio implica a
prévia existência de uma casa, de uma morada; o direito de livre expressão tem de ser
acompanhado de meios que capacitem e assegurem sua divulgação; e, ainda, de que valeria o
direito à educação, se não existissem meios materiais para a sua consecução? Dessa forma, a
Constituição pode até ser cidadã, mas os próprios cidadãos não o são em sua plenitude,
principalmente, no que tange aos direitos sociais e econômicos.

Bibliografia:

SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo.

4. Como os dispositivos constitucionais que contemplam os direitos do Homem e do


cidadão devem ser utilizados na aplicação das leis pelos profissionais do Direito ?

Os dispositivos constitucionais que apreciam os direitos humanos servem de princípios


jurídicos que ordenam todo o sistema jurídico. Esses princípios, encabeçados pelo valor dos
direitos e garantias fundamentais, ‘’incorporam as exigências de justiça e dos valores éticos’’[3],
transformando-se em ‘’suporte axiológico a todo o sistema jurídico brasileiro’’[4]. Enfim, essa
espécie de dispositivo constitucional representa a ordem coercitiva da Constituição brasileira, já
que estão imbuídos pelos valores éticos e de justiça.

No entanto, costuma-se incumbir a esses dispositivos o oficio de fundamentar a elaboração de


normas, sendo assim chamadas de norma normarum. Tal função é legítima, mas não única.
Em virtude do princípio da aplicabilidade imediata das normas que traduzem direitos e
garantias fundamentais, nos termos do art. 5o, parágrafo 1o da Constituição de 1988, essas
mesmas normas valem per si, adquirindo uma eficácia imediata e máxima tão necessária para
a concretização dos direitos e garantias fundamentais. Sendo então chamadas de norma
normata, isto é, normas de força vinculante nas relações humanas.

Concluindo, os aplicadores do Direito não só devem se guiar à luz dos dispositivos que
invocam os direitos do homem e do cidadão, mas também respeitá-los, já que também são
imperativos jurídicos, para, só assim, construir uma sociedade justa e igualitária.

Bibliografia:

PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito constitucional internacional.

5. Faça um breve comentário sobre cada expressão abaixo, atribuindo e contemplando


significados próprios ( qual o significado de cada uma dessas expressões para você ? )

Solidariedade - É o liame moral que vincula o indivíduo aos interesses e responsabilidades de


outrem, no mais das vezes, estabelecido entre pessoas unidas por interesses comuns,
pertencentes a uma mesma classe. Essa relação se dá de uma forma tal que impede cada
elemento do grupo a se sentir, ainda que em seu espectro moral, na obrigação de apoiar os
outros, de aderir a determinado princípio.
Cidadania - É a situação jurídica na qual o indivíduo a que este status é conferido, o cidadão,
goza dos direitos civis e políticos estabelecidos pelo ordenamento jurídico de um Estado, ao
mesmo tempo em que desempenha deveres para com este. Existem alguns pré - requisitos
para que a situação de cidadão se aplique aos indivíduos, assim como existem diferentes
patamares ou graus de exercício dessa cidadania.

Igualdade - É a condição de não - dominância entre os indivíduos que os Direitos Humanos


tanto tentam resgatar. Poderíamos avançar a idéia de que tudo aquilo a que visam combater os
Direitos Humanos é oriundo da não aceitação desse preceito básico por parte dos homens. Da
igualdade existente entre os homens decorre a necessidade de que todos sejam respeitados,
tenham seus direitos garantidos e igual tratamento, tanto pelos outros indivíduos como pela lei.

Liberdade - É a ação humana isenta de restrições e influências. Ocorre quando a cada


indivíduo é dada a faculdade do livre arbítrio. É aspecto de relevante complexidade, pois, em
se tratando de um direito individual, encontra seu limite no direito inerente aos demais
indivíduos. Há de ser implementada, para melhor compreensão desse conceito, a noção do
conceito de respeito. Uma vez que todos têm a liberdade de enxergar o mundo a sua maneira,
todos devem respeitar a forma com que os demais o enxergam.

Democracia - É a forma de Governo dita do povo, ou ainda, de todos aqueles que gozam do
direito de cidadania, a qual, por isso, distingue-se da monarquia, como governo de um só, e da
aristocracia, como governo de poucos. Esta última forma de governo, juntamente com a
democracia, perfazem o orbe de formas de exercício da república. No decurso da história, tal
fator tem gerado um grande intercâmbio entre os ideais republicanos e os ideais democráticos,
o qual abre espaço para que o governo genuinamente popular, a Democracia, seja chamado,
não raramente, de República. É mister distinguir tais termos, que designam, respectiva e
distintamente, espécie e gênero.

Dignidade Humana - "a ressalva da dignidade humana (no campo de que a inspeção judicial a
não pode ofender) aponta para a defesa daqueles sentimentos individuais que pairam acima do
mero poder ou decoro pessoal, na escala axiológica corrente de valores individuais e sociais:
exs.: liberdade de convicções, de práticas religiosas, de relacionamento social' (ªVarela, Man.
Proc. Civil, 1a Ed. 588, not6a 3; 2a ed 605, nota 2).[5] É o valor intrínseco da pessoa humana
enquanto tal, que impõe dever de respeito por parte dos demais membros da coletividade, e
proteção contra as situações que a agridem, como os abusos de ordem moral, e as
necessidades de ordem material, que lhe reduzem a auto- estima, e comprometem sua própria
existência.

Progresso Social - É a acumulação de aquisições materiais e de conhecimentos objetivos


capazes de transformar a vida social e de conferir-lhe maior significação e alcance no contexto
da experiência humana, condicionada por fatores como desenvolvimento e ampliação do senso
de justiça. É o objetivo- mor de toda sociedade: evoluir a um estágio de bem-estar, em que haja
a plena satisfação dos interesses coletivos e a asseguração das garantias fundamentais à
vivência humana.

Respeito- É uma atitude de tolerância ou complacência, em que se atacam as desigualdades


existentes entre os indivíduos. Embora muitos a vejam como uma atitude passiva, é mais do
que válido exaltar o seu caráter ativo. Deve partir de cada indivíduo para com que o rodeia, e é
fator primordial para a convivência humana, visto que as divergências sempre existirão. Não se
concebe outra idéia de convívio entre as divergências, que não a pautada no respeito. Ao se
falar em respeito próprio, remete-se à busca da dignidade humana.

Ética - É o conjunto de padrões de conduta formulado com base nos valores vigentes em cada
sociedade, o qual regulamenta o exercício das atividades humanas, garantindo a convivência
salutar entre os homens.

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