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Resumo Direitos Fundamentais

Na apreciação da génese dos direitos fundamentais podem considerar-se vários níveis


de análise:

• Nível filosófico-cultural (o movimento das ideias)


• Nível político-constitucional (movimentos políticos e a aprovação de
documentos constitucionais)
• Nível técnico-jurídico (o domínio da ciência do Direito)

No plano das ideias:

Os valores da dignidade, da autonomia individual e da participação política são


oriundos da filosofia grega. O valor do Homem e a construção da ideia do Direito
Natural muito devem ao pensamento romano. O Cristianismo acrescentou a ideia de
que todos os homens e a centralidade do homem encontra-se assente no
renascimento.

No plano das ideias existe a vertente absoluta mais relacionada com as posições de
John Locke e a vertente relativa mais relacionada com o posicionamento de Thomas
Hobbes.

No plano político-constitucional

O reconhecimento dos direitos individuais na Europa e no mundo foi decisivamente


marcado por algumas grandes reformas políticas, nomeadamente:

1. Um dos marcos muitas vezes assinalado como um antecedente dos direitos


fundamentais corresponde ao Edicto de Milão, na parte em que se
determinava que cada um fique livre na sua vontade e na sua decisão quanto
ao modo como pretende prestar o seu culto a Deus
2. A génese próxima dos direitos fundamentais encontra-se antes nas guerras
religiosas dos séculos XVI e XVII e, de um modo muito direto, em três
revoluções que não deixa de lhes estar associadas: a Revolução Inglesa (século
XVII a culminar na Glorious Revolution de 1688); Americana (com o culminar da
Declaração da Independência de 1776) e a Francesa (1789)
3. Revolução Inglesa – vem surgir a lei do Habeas corpus de 1679 e a Declaração
de Direitos – Bill of Rights – que atribui direitos fundamentais a todos os
inglesas, e não apenas a uma certa classe social
4. Revolução Americana e Francesa – aparecimento dos direitos fundamentais
universais, ou seja, estas revoluções deram origem ao fenómeno da
Globalização dos Direitos Fundamentais. Isto foi a positivação, mas sem
justicidade – uma vez que os direitos só podem ser positivados se houver
tribunais para proteger esses mesmos direitos, para em caso de violação,
houver algo que garanta justiça (isto só aparece depois)

No plano técnico-jurídico:

Não se pode falar de direitos fundamentais antes do século XVI-XVII sem a prévia
personalização jurídica do Estado, não poderia ser concebida uma figura que
pressupunha precisamente um relacionamento entre duas entidades jurídicas: uma
pessoa individual e o Estado.

A magna carta sendo o primeiro tratado com direitos fundamentais, mas tratou-se
apenas de direitos fundamentais destinados aos Ingleses, sendo atribuídos a certas
classes sociais da época. Mas, no entanto, é um documento escrito que limitou o poder
da altura, sendo o primeiro texto de direitos fundamentais interno. Progressivamente
estendido pelos tribunais à generalidade dos ingleses, já se descobrem: a essência da
garantia do habeas corpus e a essência de outras garantias, nomeadamente
enunciadas no Bill of Rights e ainda elementos como o rule of law.

São precisamente esses “direitos dos ingleses” que vão surgir (mais tarde) como
direitos dos homens, como direitos do homem e do cidadão e como direitos e
garantias individuais. Foi em virtude do processo de positivação e de
institucionalização destes direitos do homem que a moderna categoria dos direitos
fundamentais veio a obter a configuração que atualmente apresenta, podemos
considerar que na génese próxima dos direitos fundamentais se encontramos seguintes
marcos jurídicos fundadores: o habeas corpus e o Bill of Rights, a declaração de direitos
da virgínia e a declaração dos direitos do homem e do cidadão.

O processo de positivação e de institucionalização

Para que se desse a transformação dos direitos do homem, que eram sobretudo
direitos pré-estatais de validade ético-social em direitos fundamentais, e para que se
pudesse dizer que os direitos básicos da pessoa humana gozam de um padrão elevado
de efetividade jurídica, muito ocorreu em dois séculos. A validade jurídica dos direitos
do homem está desde logo condicionada pelo Estado e pelo direito do estado.

A história política e constitucional dos ordenamentos da matriz ocidental revela um


processo que não é linear, nem uniforme: a positivação dos direitos fundamentais não
é um fenómeno universal.

O processo de positivação, institucionalização e garantia efetiva dos direitos do homem


acompanhou o desenvolvimento do constitucionalismo, tendo, num primeiro
momento, surgido dois paradigmas relativamente diferenciados:

• O francês – caracterizado pelo corte radical com o passado, onde as liberdades


proclamadas revelam uma positividade dúbia, uma vez que estão a meio
caminho entre a política e a filosofia, vigorando nos limites da lei, sem jamais
contarem com a assistência de mecanismos de controlo da constitucionalidade
ou de garantias específicas de efetividade
• O Americano – acolhimento nas estruturas sociais e no próprio common law, o
reconhecimento dos direitos e liberdades, mantendo uma forte radiação
juracionalista, não deixou de evoluir no sentido de afirmação constitucional de
garantias jurídicas fortes, que se impõem a todos os poderes do estado e ao
serviço dos quais foi colocado um sistema jurisdicional que conhece não só o
controlo da constitucionalidade, mas também mecanismos específicos de
proteção

Em termos muito gerais, desenvolvem-se, desde o século XVIII, pelo menos quatro
linhas independentes entre si:

✓ A positivação dos direitos em constituições escritas, formais e rígidas


✓ O reconhecimento de novos tipos de direitos, nomeadamente direitos de
primeira geração – direitos de defesa do indivíduo perante ao Estado
associadas ao ideal de liberdade, direitos de segunda geração – direitos
associados ao direito de igualdade e direitos de terceira geração – direitos de
solidariedade entre povos e gerações associadas ao ideal de fraternidade. A
passar pelo aprofundamento e extensão dos direitos políticos e a prosseguir no
reconhecimento de direitos sociais e nos direitos da idade tecnológica
✓ O desenvolvimento e a progressiva transformação qualitativa do tipo jurídico de
estado (estado de direito liberal, estado democrático de direito e estado social
e democrático de direito)
✓ O aperfeiçoamento de toda a série de mecanismos jurídicos operacionais
dirigidos à tutela efetiva dos direitos fundamentais (desde o princípio da
separação de poderes até à criação dos tribunais constitucionais e pela
melhoria da tutela jurisdicional)

Além do Estado que outras Gerações reconhecem Direitos Fundamentais?

• União Europeia
• ONU
• Concelho das Nações Unidas
• Concelho da Europa
Terminologia e tipos de direitos fundamentais

Nas suas correspondentes dimensões principiais, os direitos de liberdade são


determinados o juridicamente determináveis e, por isso, diretamente aplicáveis,
enquanto os direitos sociais são indeterminados e, por isso, para serem exigíveis,
carecem de previa determinação por parte do legislador.

Diferenças no:

1. Plano histórico-filosófico – são características diferenciadoras dos DESC, a


juventude, a instrumentalidade, e a debilidade
2. Plano constitucional positivo – a distinção deve ter em conta que os DLG têm
uma estrutura essencialmente negativa, já os DESC são na generalidade direitos
a prestações positivas dos Estados. Os direitos, liberdades e garantias (artigos
24º a 57º da CRP) articulam-se de forma privilegiada com os princípios da
liberdade, da igualdade formal e do estado de direito, ao passo que os direitos
económicos, sociais e culturais (artigos 58º a 79ª) se articulam
preferencialmente com os princípios da solidariedade, da igualdade material e
bem-estar.

Direitos fundamentais de natureza análoga

Recordamos os direitos fundamentais de natureza análoga como os direitos


fundamentais que, não estando previstos nos arts. 24o a 57o da CRP, por força de um
critério jurídico de qualificação, tenham um objeto e mereçam um tratamento análogo
aos dos direitos, liberdades e garantias.

1. O art. 17o surgiu, no inicio da vigência da CRP, como formula do compromisso


constitucional entre varias forças politicas: uns para promoverem os direitos e
liberdades dos trabalhadores, outros para tentarem garantir as liberdades económicas.
O art. 17o, fonte de enorme insegurança, desde logo quanto ao respetivo âmbito de
aplicação: para alguns autores, ele apenas serviria para os direitos extraconstitucionais,
não sendo aplicável a direitos previstos na CRP; para uma segunda corrente, pelo
contrario, seria unicamente aplicável a direitos constitucionais, com exclusão dos
direitos extraconstitucionais; para uma terceira, seria essencialmente aplicável aos
direitos previstos na CRP, mas sem excluir eventuais direitos extraconstitucionais que
se mostrem equivalentes aos direitos, liberdades e garantias.

Há funções básicas e funções suplementares quanto à função dessa clausula na


constituição.

✓ Função básica: é uma função de sinalização: o art. 17o afirma o principio da


diversidade dos direitos fundamentais, bem como o caracter relativo da sistemática
constitucional;

função de sistema: este artigo acaba por corroborar uma solução intermedia, nos

termos do qual se reconhece o caracter jurídico efetivos dos DF sociais, na parte em qe

estruturalmente o permitam – a crp não permite um puro divorcio entre os direitos de

liberdade e os direitos sociais, mas ao mesmo tempo pressupõe que muitos destes

direitos sociais não são tecnicamente assimiláveis aos direitos, liberdades e garantias.

(Sentido do art.17o)

✓ Função suplementar: destacam-se duas: a possibilidade de existirem direitos de tipo

híbrido (direitos que reunam em si as características tanto dos direitos, liberdades e

garantias como dos direitos económicos, sociais e culturais) e a dificuldade que advém

para a tese de que todos os direitos económicos, sociais e culturais têm um conteúdo

mínimo, ideia contraria não só a existência como à própria ratio do art.17o.

Quais são então os direitos fundamentais de natureza análoga e qual é o critério


jurídico que permite a respetiva qualificação como tal?
Constituem estes direitos os seguintes artigos:

• Art. 20o, no1 e 2;

• Art. 21o e 22o

• Art. 58o, no2 e 59o

• Entre outros...

Para determinar a natureza análoga de um direito, há que considerar dois momentos

relativamente autónomos:

1. Num primeiro momento, impõe-se a identificação de um direito que sirva o estatuto


básico da pessoa na sua relação com o estado ( tem de se tratar de um DF) e a
ostentação, ao nível do objeto do direito, de um nível significativo de
fundamentalidade material (tem de se tratar de uma expressão qualificada da igual
dignidade de todas as pessoas, por intermediação de alguns dos elementos
estruturantes materiais ou, excepcionalmente, instrumentais do sistema);

2. Num segundo momento, a analogia pressupõe a satisfação de uma medida de


equivalência aos direitos, liberdades e garantias, valendo então ai o critério de
determinabilidade constitucional do conteúdo, nos termos do qual será análogo aquele
direito cujo conteúdo possa ser extraído imediatamente por interpretação das normas
constitucionais que o reconhecem.

Direitos fundamentais dispersos

Expressão da doutrina para designar os direitos fundamentais consagrados na


Constituição, mas fora da parte comum da mesma, em princípio são direitos
fundamentais de natureza análoga

Direitos fundamentais extravagantes

Expressão da doutrina para designar os direitos fundamentais que são recebidos para
cláusula do artigo 16 nº1 da CRP
Conceito de Direitos Fundamentais

Os Direitos Fundamentais são garantias jurídicas concretas, positivadas na constituição


(material – conjunto de normas de qualquer natureza que lhes acrescentam novos
direitos ou formal - Constituição), dotadas de vinculabilidade plena e protegidas por
mecanismos de tutela. Constituem, igualmente, uma posição jurídica ativa por parte
das pessoas singulares tendencialmente ao poder, visando a preservação da dignidade
da pessoa humana.

Direitos fundamentais implicam 3 pressupostos/condições:

• Não existem verdadeiros direitos fundamentais sem que as pessoas estejam em


uma relação imediata com o poder político, beneficiando de um estatuto
comum e não separadas em razão dos grupos ou das instituições a que
pertencem. Não há direitos fundamentais em o Estado, ou, pelo menos, sem
comunidade política integrada; não há direitos fundamentais sem um estado
que os respeite e proteja
• Não há direitos fundamentais sem o reconhecimento de uma esfera própria de
autonomia das pessoas frente ao poder, não absorvendo este a sociedade em
que eles se movem. Não existem regimes totalitários
• Não há direitos fundamentais sem constituição – a constituição enquanto
fundação ou refundação do ordenamento jurídico estatal e de um poder
constituinte

Os direitos fundamentais visam:


• Proteger poderes e esferas de liberdade das pessoas
• Proteger as pessoas, antes demais, na sua relação com o Estado
• Esta proteção traduz-se no impedimento de ingerências do Estado, não
estando, todavia, excluído que essa proteção se possa também traduzir noutro
tipo de vínculos (deveres de proteção e na configuração da própria ordem
jurídica)

Os direitos fundamentais são necessariamente situações jurídicas:

✓ Fundamentais – definindo relações qualificadas do homem e do estado, esses


direitos desempenham respostas e necessidades fundamentais e constantes do
ser humano, relativas à esfera da existência, da autonomia e do poder
✓ Universais – são direitos de todas as pessoas
✓ Permanentes – são direitos que não podem ser e deixar de ser, apenas se
extinguindo pela morte do titular…
✓ Pessoais – ligados a cada pessoa, à sua vida e personalidade
✓ Não patrimoniais – intransmissíveis e inexpropriáveis
✓ Indisponíveis

O que significa que vivemos num Estado de direito? – artigo 2º CRP e artigo 16 da
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão

O que não são direitos fundamentais?

Direitos de personalidade

Os direitos de personalidade são:

• Posições jurídicas fundamentais do homem que ele tem pelo simples facto de
nascer e viver; são aspetos imediatos da exigência de integração do homem ou
da subjetividade; são condições essenciais ao seu ser e dever; revelam o
conteúdo necessário da personalidade
• Emanações da personalidade humana em si
• Direitos de exigir de outrem o respeito da própria personalidade

Os direitos de personalidade têm por objeto, não algo exterior ao sujeito, modos de ser
físicos e morais da pessoa ou bens da personalidade física, moral e jurídica ou
manifestações parcelares da personalidade humana ou defesa da própria defesa da
dignidade. Mas sobretudo, são distintos o sentido, a projeção, a perspetiva de uns e
outros direitos. Os direitos fundamentais pressupõem relações de poder, os direitos de
personalidade relações de igualdade. Os direitos fundamentais pertencem ao domínio
do direito constitucional e os direitos de personalidade ao domínio do direito civil

Os direitos de personalidade não têm uma projeção especial face ao Estado, ao passo
que os direitos fundamentais pressupõem sempre um relacionamento direto e uma
especial vinculação do Estado. Se há direitos de personalidade que têm objeto idêntico
aos dos direitos fundamentais, há muitos direitos fundamentais que não têm uma
relação direta com bens de personalidade.

Direitos fundamentais e direitos do homem

Os direitos do homem são situações jurídicas que resultam da natureza ou da condição


do homem e que o direito internacional reconhece. Em termos práticos, os direitos do
homem são os direitos da pessoa humana reconhecidos pelas normas de direito
internacional em vigor (normas de costume, de tratados ou por princípios de direito
internacional). Os direitos do homem não se diferenciam dos direitos fundamentais:
nem pelo exclusivo da referência a valores superiores, nem pela fundamentalidade,
nem pela finalidade (ambos visam defender e promover a dignidade, a autonomia e o
poder das pessoas concretas). O que distingue uns e os outros são os seguintes traços:

• Os direitos do homem podem ser direitos puramente morais, ao passo que os


direitos fundamentais são sempre direitos jurídicos – em consequência, podem
registar-se dois fenómenos – por um lado haver direitos fundamentais que não
tenham evidente valia moral ou que não decorram de forma direta dos valores
supremos, por outro lado, haver direitos do homem que sejam realidades
jurídicas
• Os direitos do homem apresentam uma pretensão de vinculatividade universal
(obrigar todos os sujeitos, públicos e privados, todos os ordenamentos), ao
passo que os direitos fundamentais vinculam sobretudo o Estado, no âmbito de
uma ordem jurídica concreta, situado no espaço e no tempo
• Os direitos do homem são, em regra, direitos abstratos, os direitos
fundamentais incorporam tradicionalmente garantias jurídicas concretas e
delimitadas
• Nada impede que os direitos do homem possam ser concebidos como fins ou
como programas morais de reforma ou de ação políticas, ao passo que os
direitos fundamentais necessitam sempre de determinados mecanismos de
garantis jurisdicional

Situações funcionais

Sob a denominação genérica de situações funcionais englobamos as situações


jurídicas, ativas e passivas, dos titulares dos órgãos e, porventura, de certos agentes do
Estado e de quaisquer entidades públicas enquanto tais. Englobamos as situações
jurídicas em que se subjetivam os estatutos inerentes aos cargos desempenhados por
essas pessoas no Estado e noutras entidades públicas.

Diferenças:

1. Os direitos fundamentais implicam diferenciação, separação ou exterioridade


diante do Estado
2. As situações funcionais são situações jurídicas de membros do Estado-poder ou
do Estado-parelho, os direitos fundamentais são situações jurídicas de
membros do Estado-comunidade, das pessoas que o constituem
3. As situações funcionais são consequência da prossecução do interesse público e
este prevalece sempre sobre o interesse dos titulares, os direitos fundamentais
só existem onde haja um interesse das pessoas que valha por si, autónomo,
diferenciado

Interesses difusos

Os interesses difusos correspondem a necessidades comuns a conjuntos mais ou


menos largos e indeterminados de indivíduos que somente podem ser satisfeitos numa
perspetiva comunitária – ambiente coletivo e não individual. Os mesmos (saúde
pública, proteção do ambiente) nem são direitos, nem são interesses simplesmente
individuais, nem tão-pouco interesses públicos. Distinguem-se dos direitos
fundamentais por não constituírem situações jurídicas ativas das pessoas, por faltar o
caracter funcional e pessoal

A internacionalização dos Direitos Fundamentais

• O estado foi o berço dos Direitos Fundamentais, mas, nos dias de hoje, o Estado
não tem o monopólio de defesa destes direitos
• Com os horrores da 2ª Guerra Mundial dá-se uma transição e os direitos
fundamentais iniciam um processo de internacionalização (se prejuízo de que já
existiam alguns indícios antes)
• Exemplos: a Carta das Nações Unidas (1945) a Convenção Europeia para a
Proteção dos Direitos do Homem do Conselho da Europa (1950)

Princípio da dignidade da pessoa humana


O conceito de dignidade humana surge na Carta das Nações Unidas como resposta aos
regimes que degradam a pessoa humana. Sendo que atualmente a dignidade humana
encontra-se mencionada nos artigos 1o; 26o, no 2 e 3; 59o, no 1, alínea b), entre
outros, demonstrando que a República se baseia na dignidade da pessoa humana.

A Constituição confere uma unidade de sentido, de valor e de concordância prática ao


sistema jurídico, baseada na dignidade, o que faz com que os direitos, liberdades e
garantias e os direitos sociais e culturais tenham como finte ética e dignidade.

A dignidade é um princípio que envolve todos os outros princípios relativos aos direitos
e aos deveres do Estado perante as pessoas. Este princípio é relativamente aberto, uma
vez que se pode ponderar a dignidade de uma pessoa e a dignidade de outra, mas não
deixa de encerrar um valor absoluto.

A dignidade da pessoa humana é da pessoa individual e concreta não de um ser


ideal e abstrato. É o homem ou mulher, tal como existe, que o ordenamento
jurídico considera insubstituível e irrepetível. Implica a dignidade da vida, ou
seja, toda a vida humana tem um valor em si própria e toda a vida tem o
mesmo valor – sendo a vida humana inviolável (artigo 24º nº1 CRP) e no artigo
26º nº2 da CRP –“refere que a lei estabelecera garantias efetivas contra a
utilização abusiva…” artigo 33º nº6 / artigo 32º nº6 / artigo 19 nº6

• Artigo 1º Declaração Universal – a dignidade é um princípio que


coenvolve todos os princípios relativos aos direitos e também aos
deveres das pessoas e à posição do Estado perante elas

A dignidade da pessoa é tanto da pessoa já nascida como da pessoa desde a conceção


– porque a vida humana é inviolável (artigo 24º nº1), porque a constituição garante a
dignidade pessoal e a identidade genética do ser humano (artigo 26º nº1) e a
procriação assistida é regulamentada em termos que salvaguardem a dignidade da
pessoa humana (artigo 67º nº2)
A dignidade da pessoa é da pessoa em qualquer dos géneros, masculino e feminino.
Em cada homem e em cada mulher estão presentes todas as faculdades da
humanidade. Respeito e garantia da intimidade das pessoas = art. 26o, no 1, 2a parte;
art. 26o, no 2; art. 35o, no 1; art. 35o, no 2; art. 35º nº 3 e 4 art. 41o, no 3; art. 34o e
art. 65o, no 1.

A dignidade determina o respeito dos direitos de liberdade.

A dignidade da pessoa exige condições de vida capazes de assegurar liberdade e bem-


estar (arts. 22º, 23º e 25º da Declaração Universal). O respeito da dignidade justifica,
repetimos, a criminalização da ofensa de bens jurídicos subjacentes aos direitos
fundamentais, de acordo com a sua consciência jurídica geral em princípio de
proporcionalidade, e requer a proteção da vítima.

O ofendido tem o direito de intervir no processo nos termos da lei (art. 32o, no7) e de
obter adequadas medidas de proteção e segurança. A dignidade da pessoa permanece,
independentemente dos seus comportamentos, mesmo quando ilícitos e sancionados
pela ordem jurídica. Por isso, nenhuma pena envolve como efeito necessário a perda
de quaisquer direitos civis, profissionais ou políticos (art. 30o, no 4), nenhuma tem
caráter infame; e os condenados a quem sejam aplicadas penas ou medidas de
segurança privativas da liberdade mantêm a titularidade dos direitos fundamentais,
salvas as limitações inerentes ao sentido da condenação e às exigências próprias da
respetiva execução (art. 30o, no 5).Por seu turno, o ofendido tem o direito de intervir
no processo (art. 32o, no 7) e de obter adequadas medidas de proteção e reparação.

Princípio da Universalidade

O primeiro princípio comum aos direitos fundamentais e também aos demais


direitos existentes na ordem jurídica portuguesa é o da universalidade: todos
quantos fazem parte da comunidade política fazem parte da comunidade
jurídica, são titulares dos direitos e deveres aí consagrados; os direitos
fundamentais têm ou podem ter por sujeitos todas as pessoas integradas na
comunidade política, no povo.

• Os artigos 12º, 13º, 14º, 15º da CRP dizem respeito à atribuição


subjetiva dos direitos fundamentais
• Os dois primeiros (12º e 13º) possuem uma vocação genérica e os dois
seguintes (14º e 15º) têm uma aplicação mais limitada, respeitando
apenas as pessoas cuja situação apresente uma determinada conexão
internacional

Por um lado, em relação a todos os cidadãos portugueses, ainda que se encontrem fora
do território nacional, e por outro lado todos os estrangeiros que residam em território
português, são titulares de direitos fundamentais.

Há determinadas situações, por exemplo portugueses que não se encontram em


território português e querem exercer um cargo político, não podem.

Os estrangeiros que estão em Portugal também tem exceções como se pode ver no art.
15o, no 2 CRP. Ideia de que as pessoas coletivas também têm direitos fundamentais
(ex: direito ao nome, imagem, propriedade, etc.), desde que se adeque, ou seja que
são compatíveis com a sua natureza.

Numa leitura sobre o artigo 12º nº1: os direitos fundamentais erguem-se como
direitos dos portugueses, mas a maior parte dos autores não faz uma leitura literal da
norma e entende que os direitos fundamentais são os direitos de todos e não apenas
dos portugueses, exceto nos casos em que a constituição ou a lei estabelecem uma
reserva de direitos para os cidadãos nacionais.

Será que todos os cidadãos portugueses são titulares dos mesmos direitos? Em termos
de titularidade de um português rico tem sempre os mesmos direitos que um
português pobre? – há muitos direitos que não são de todas as pessoas nem sequer de
todos os cidadãos portugueses, mas apenas de algumas categorias de pessoas
determinadas em função de diversos fatores: situação familiar (direito dos pais dos
filhos, dos cônjuges), a idade (direitos das crianças, dos jovens e dos idosos) a posição
no sistema económico (direitos dos trabalhadores)
E as pessoas coletivas?

O artigo 12º nº2 refere que as pessoas coletivas gozam dos direitos e são sujeitas aos
deveres compatíveis com a sua natureza. Algumas observações:

• As pessoas coletivas, cuja personalidade tenha caracter instrumental, regem-se


pelo princípio da especialidade (artigo 160 nº1 do CC)
• Os direitos fundamentais não configuram respostas históricas a problemas ou
necessidades das pessoas coletivas
• As pessoas coletivas só têm direitos compatíveis com a sua natureza, ao passo
que as pessoas singulares têm todos os direitos
• Pessoas coletivas são um conjunto de pessoas singulares que colaboram na
prossecução de finalidades comuns pelo que tudo o que afeta a empresa, afeta
as pessoas envolvidas. Por exemplo, negar direitos de defesa a uma pessoa
coletiva pode ter impacto negativo em pessoas singulares. Por isso, são-lhes
reconhecidos direitos fundamentais na medida em que estas são criadas por
pessoas individuais, na esfera da autonomia privada
• Ou seja, a pessoa coletiva deve ser encarada como um instrumento de
realização da dignidade da pessoa humana

Princípio da Igualdade

Concebe-se a igualdade como uma intenção normativa que a lei é chamada a realizar,
devendo ser usado como instrumento ativo de igualização, de promoção da justiça
social e da igualdade efetiva de oportunidades.

O principio da igualdade tem sido expressamente qualificado como estruturante pelo


TC, tendo chegado mesmo a afirmar que o principio da igualdade constitui um valor
supremo do ordenamento.
Correspondendo a um valor constitucional que modela todo o ordenamento jurídico,
designadamente como critério de interpretação desse ordenamento e da constituição.
Mas a igualdade é também um requisito do estado de direito, pois este pressupõe a
igual proteção dos direitos.

Quanto ao conceito de igualdade, o TC tem entendido que se trata de um conceito


histórico, relativo e relacional, que tem de ser construído atendendo aos valores
constitucionais no seu conjunto, não havendo por isso lugar a uma resposta mecânica.

O principio da igualdade irradia para todos os mais importantes domínios do direito


constitucional, desde os direitos de liberdade e os direitos sociais, à democracia
política, aos direitos de proteção, à universalidade dos direitos, até aos mecanismos de
controlo.

A interpretação do art.13 da CRP

A Constituição prescreve expressamente o respeito do princípio da igualdade pelos


órgãos e agentes administrativas, a par dos princípios da proporcionalidade, da
imparcialidade e da boa-fé (art. 266o, no 2).

O princípio da igualdade não vincula apenas o Estado e as demais entidades públicas


nas relações entre particulares, embora seja necessário - tal como o respeito da sua
vinculação aos direitos, liberdades e garantias (art. 18o, no 1) e os direitos económicos,
também ele consagrado constitucionalmente (arts. 26o, no 1; 47o, no 1; 56o, no 4;
61o, no 1 e 62o).

Princípio da proporcionalidade

Artigo 18º e 19ª

O principio da proporcionalidade é um critério verdadeiramente inafastavel, em


matéria de restrições aos direitos económicos, sociais e culturais, quer na afetação de
direitos a prestação derivados da lei pelo legislador ordinário, quer na afetação, por
ofensa aos princípios da razoabilidade e da proibição do défice, do próprio conteúdo
principal dos direitos fundamentais sociais; tem-se afirmado, por outro lado, que a
insuficiência do limite negativo da proibição do arbítrio para aferir o fundamento das
diferenciações de tratamento pode ser colmatada, em grande medida e com sucesso,
pelo principio da proporcionalidade.

A ideia de proporcionalidade é conatural às relações entre as pessoas: a relação deve


ser proporcional à ação e a distribuição das coisas deve fazer-se com justiça. O apelo à
proporcionalidade surge quando há dois ou mais bens jurídicos carecidos de realização
e sobre os quais, acorra ou não conflito, tenha de procurar-se o equilíbrio, a
harmonização, a ponderação, a concordância prática.

As Gerações Futuras

Quando hoje se fala em direitos das gerações futuras ou em deveres para com elas, o
cerne do problema não se situa aí, mas sim em âmbitos diversos – no da justiça entre
gerações e no da sustentabilidade.

Incindível do olhar para as gerações futuras, é o olhar para a sustentabilidade:

• Sustentabilidade ambiental;
• Sustentabilidade cultural;
• Sustentabilidade laboral;
• Sustentabilidade financeira e dos serviços sociais.

De onde virá o dever do Estado de proteger as gerações futuras?

“(…) a vinculação do Estado a um dever de atuação em favor das gerações futuras


resulta da imperiosa necessidade de salvaguardar todos aquele que se achem
ameaçador nos seus bens mais elementares e não têm, por razões óbvias, qualquer
capacidade para se defender a si próprio. Ou, o mesmo é dizer, que decorre do
imperativo de proteção de todos os que, em virtude da sua posição de fragilidade,
estão colocados numa situação de absoluta dependência relativamente à conduta de
terceiros”

Aceitam-se direitos das gerações futuras ou considerem-se tão só deveres das gerações
presentes para com elas, sem dúvida existe um princípio de solidariedade entre as
gerações proclamado a respeito do ambiente (art. 66o), mas que decorre do objetivo
fundamental assumido pela constituição de construção de uma sociedade livre, justa e
solidária (art. 1o).

Por outro lado, essa solidariedade ou equidade intergeracional não pode deixar de
estar voltada para as gerações vindas do passado, para os idosos (art. 72o), o que
implica que as políticas de sustentabilidade dos sistemas de segurança social tenham
de respeitar o princípio da proteção da confiança.

Dificuldades práticas:

• Os sistemas políticos democráticos não dispõem de instrumentos que


permitam proteger capazmente as gerações futuras em face aos perigos que se
adivinham
• Por várias razões, mas sobretudo porque há uma discrepância entre o tempo da
decisão política e o tempo em que se fazem sentir as suas consequências
• Há várias dificuldades dos sistemas políticos: participação (as gerações futuras
não participam), responsabilização (as gerações futuras não chegam a tempo de
efetivar a responsabilidade dos governantes que tomaram decisões lesivas dos
seus interesses), a regra da maioria (enquanto instrumento de decisão
democrática foi pensada para funcionar sincronamente e não diacronicamente)
O regime específico dos Direitos, Liberdades e Garantias

O artigo 18º da CRP, contém as mais importantes regras e os mais relevantes princípios
que integram o regime material dos DLG ao qual se refere também o artigo 17º

a) Aplicabilidade imediata dos preceitos constitucionais


b) Vinculabilidade de todas as entidades públicas
c) Vinculação das entidades privadas
d) Dever estatal de proteção

O artigo 18º não esgota o regime constitucional dos direitos, liberdades e garantias e
deve ser lido em sintonia com o regime orgânico (artigo 165º) e de revisão
constitucional (artigo 288º), bem como outras regras e princípios como o da proteção
da confiança (artigo 2º), o do carácter excecional de suspensão (artigo 19º) e o da
proteção jurídica e jurisdicional (artigo 20º)

Aplicabilidade imediata

A aplicabilidade direta significa que os preceitos que enunciam DLG são normas
suscetíveis de execução imediata, podendo ser diretamente invocada pelos seus
beneficiários.

A aplicabilidade direta é sobretudo uma consequência: por um lado: uma


consequência de “vinculatividade plena” dessas normas de direitos fundamentais; por
outro, consequência de o conteúdo de certos direitos fundamentais estar
imediatamente configurado na constituição: pode chegar-se à determinação do
conteúdo do direito (determinabilidade) por mera interpretação das normas
constitucionais.

Os DLG conferem posições jurídicas subjetivas que os seus titulares podem invocar
perante as autoridades públicas. Não é absoluta e tem limites, portanto para certos
direitos fundamentais, o legislador tem de atuar e, de certo modo, complementar o
que diz a CRP, exemplo desta complementação legislativa (artigo 26ª nº2)
Vinculabilidade de todas as entidades públicas

Depois de declarar a aplicabilidade direita dos preceitos dos DLG, a constituição


estabelece, na parte final do art. 18o, no1, que os mesmos “vinculam as entidades
publicas e privadas.” Os direitos fundamentais nasceram e desenvolveram-se como
garantias concretas da liberdade e autonomia das pessoas contra o Estado, evolução
que veio a desembocar na moderna sugestão de que os direitos fundamentais são
trunfos contra o Estado (art.o4, IV). É esta ideia que pretende exprimir o art. 18o, no1,
ao reconhecer que as entidades publicas são as primeiras destinatárias (o sujeito
passivo) das normas de DLG.

Todas as entidades públicas e não apenas o Estado ou entes estaduais, seja qual for a
sua forma jurídica e seja qual for o modo de atuação

Em termos esquemáticos:

• Quanto ao elenco dos deveres, há deveres de respeito, de proteção e de


promoção;
• No plano das relações externas do estado: o Governo, a Assembleia da
República não deve aprovar e o Presidente da República, não deve ratificar um
tratado internacional que ofenda os DLG
• No plano interno, na sua ação política, nenhum órgão do Estado se pode
comprometer politicamente em procedimentos, praticar atos ou exercer
atividades que impliquem ofensa aos DLG. O facto de essas atuações poderem
não ter uma sanção jurídica efetiva não significa que não exista uma vinculação
constitucional estrita neste domínio.

Quanto à administração pública, a sua subordinação às regras e aos princípios


constitucionalmente está prevista no art. 266o, no2 da CRP, nos termos do qual “os
órgãos e agentes administrativos estão subordinado à constituição e à lei e devem
atuar, no exercício das suas funções, com respeito pelos princípios de igualdade, de
proporcionalidade, da justiça, da imparcialidade e da boa-fé.”
Toda a atividade administrativa e todos os órgãos e agentes da administração têm um
duplo dever de respeitar os DLG.

Em caso de desrespeito por um desses direitos há pelo menos três institutos a reter:

✓ Por um lado, é de admitir o exercício de poder de substituição por parte de


órgãos hierarquicamente superiores (que podem e devem revogar o ato
subalterno);
✓ Segundo o art. 133o, no2, al. D) do CPA, um ato administrativo que ofenda o
conteúdo de um DLG e garantia é nulo;
✓ Nos art. 109o a 110o, 131o e 142o do CPTA, prevê-se uma série de providências
cautelares e urgentes que podem ser decretadas pelos tribunais administrativos
em caso de violação ou iminência de violação de DLG.

Estando perante uma lei inconstitucional, por violação de DLG, poderão os órgãos
administrativos recusar-se a aplicar essas normas legais (Desaplicação)?

A resposta é não, em princípio:

➢ Em primeiro lugar porque da observação do texto constitucional deriva que o


legislador constituinte não quis estender o poder de desaplicação de normas
inconstitucionais à administração publica (podem ter poderes funcionais para
requerer a fiscalização sucessiva abstrata da constitucionalidade). Pelo
contrário, o legislador constituinte ergue uma dificuldade adicional a esse
poder de desaplicação pela administração ao submetê-la ao principio da
legalidade. (Art. 266o);

➢ Em segundo, porque da observação da estrutura da CRP se verifica a intermediação


de um novo princípio constitucional estruturante, o principio da separação de poderes.
O quadro apresenta-se claro no confronto com a solução pensada para os tribunais:
estes também estão vinculados à lei (art.202o, no2 e 203o), do ponto de vista
funcional, viram reforçada a respetiva vinculação à Constituição através da expressa
previsão de um poder de desaplicar as normas que infrinjam as regras ou os princípios
constitucionais (art. 204o). Semelhante poder não foi pensado, nem poderia, para a
administração pública.

No entanto, para alguns autores é imperioso reconhecer à administração um poder de


não aplicação:

1. Quando estiverem em causa direitos suscetíveis de suspensão mesmo em


estado de sítio (artigo 19ª nº6) e cuja especial valorização constitucional se
deva projetar também sobre a atuação dos órgãos e agentes administrativos
2. Quando, sem revisão constitucional, seja substancialmente reproduzida uma
norma declarada inconstitucional com força obrigatória geral (artigo 282º)
3. Cessação do dever de obediência hierárquica sempre que o cumprimento das
ordens ou instruções implicar a prática de qualquer crime (artigo 271º nº3)

Vinculação das entidades privadas

O artigo 18º, nº1 diz também que os preceitos constitucionais respeitantes aos DLG
vinculam as entidades privadas. Uma vez que não se compreenderia uma sociedade e
uma ordem jurídica em que o respeito da sociedade e da autonomia da pessoa fosse
procurados apenas nas relações contra o Estado, não basta limitar o poder político, é
também importante assegurar o respeito das liberdades de casa pessoa pelas demais
pessoas e agentes sociais.

Tipicamente são duas teorias para explicar o sentido do artigo 18º nº1:

1. A teoria da eficácia indireta


2. A teoria da eficácia direta

Para a doutrina da eficácia direta (Hans Carl Nipperdey), os preceitos dos DLG têm
uma eficácia geral, vinculando diretamente, e de forma imediata, as pessoas singulares
e coletivas privadas: “aplicam-se também às relações entre particulares e, em principio,
nos mesmos termos em que se aplicam às relações entre os particulares e o Estado”, e
este dever geral de respeitar e não infringir os direitos alheios constituiria mesmo,
implicitamente, “o primeiro dos deveres fundamentais da CRP”. Além disso, a
vinculação impor-se-ia à luz da verificação da natureza objetiva das normas de DF
(enquanto valores comunitários, que seriam transformador em princípios objetivos da
ordem civil).

Para a doutrina da eficácia indireta, os preceitos constitucionais de DLG não se podem


dirigir diretamente, mas sim só de forma mediata, aos particulares, em especial através
da lei e dos princípios e regras do Direito privado: são os princípios da liberdade, da
autonomia e do desenvolvimento da personalidade que devem constituir a regra
básica a observar neste domínio. Admitir o contrário significaria inverter o sentido da
vinculação fundamental, transformando os direitos em deveres e esvaziando aqueles
da sua força.

Já o modelo dos deveres de proteção, defende que é através do cumprimento


legislativo dos deveres estatais de proteção que se processa a vinculação dos sujeitos
privados aos DLG, cabendo aos tribunais o suprimento de eventuais défices
normativos. Afirmando que os preceitos de DLG se dirigem, em primeira linha, aos
poderes públicos, “mas estes, para alem do dever de os respeitarem (absterem-se de
os violar) e de criarem as condições necessárias para a sua realização, teriam ainda o
dever de os proteger contra quaisquer ameaças, incluindo as que resultam da atuação
de outros particulares.”

Qualquer solução deverá conciliar a qualidade de valores superiores da ordem jurídica


que cabe aos DLG, com a necessidade de um mínimo de separação entre Estado e
sociedade civil, bem como preservar as diferenças irredutíveis entre o direito público e
o direito privado. Aí a busca de um equilíbrio, de concordância prática, e se possível, de
realização simultânea dos DLG, por um lado e, por outro, da autonomia privada.

Na jurisprudência dos tribunais abundam situações em que os DLG são invcados e


aplicados na regulação das relações entre sujeitos privados, em especial quando não
há condições de direitos:

➢ Liberdade de expressão e direito de informação


➢ Liberdade de iniciativa económica versus direito ao ambiente e qualidade de
vida
➢ Direito de propriedade versus direito à saúde

Restrições legais

O artigo 18º contém as regras e os princípios mais relevantes do regime material dos
direitos, liberdades e garantias e, em especial, o regime constitucional das restrições
legais a estes direitos:

➢ Princípio do carácter restritivo das restrições (nº2 e 3)


➢ Reserva de lei restritiva (nº2, 1ª parte)
➢ Necessidade de autorização constitucional das restrições (nº2, 2ª parte)
➢ Princípio da proporcionalidade
➢ Generalidade e abstração
➢ Proibição da retroatividade da lei restritiva
➢ Intangibilidade do conteúdo essencial do direito

Restrição VS suspensão

➢ A restrição atinge um direito a título permanente em situação de normalidade


constitucional: a suspensão, provocada por situações de necessidade
constitucional absolutamente excecionais, atinge um direito a título transitório
➢ A restrição nunca é total, a suspensão paralisa ou impede, durante algum
tempo o seu exercício

Restrição VS demarcação no âmbito da proteção

➢ Remarcação do âmbito de proteção significa que a liberdade de expressão não


permite insultar outrem, e os direitos de reunião não autorizam o uso de
violência nem compreende a possibilidade de uniões armadas: a liberdade de
profissão não protege a prostituição ou a atividade contrabandista. Portanto, há
sempre condutas, ações ou pretensões cuja localização fora do âmbito de
proteção é incontroversa
➢ Restrição, que acontece sempre no confronto com os outros direitos ou
interesses constitucionalmente selados, só começa onde termina a demarcação
do âmbito da proteção

Reserva de lei restritiva (artigo 18º, nº2, 1ª parte)

O princípio do carácter restritivo das restrições tem na reserva de lei o seu pressuposto
fundamental: as restrições aos DLG só podem ser efetuadas por lei, por lei parlamentar
ou por decreto-lei devidamente autorizado

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