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INTRODUÇÃO

AO DIREITO
CONSTITUCIONAL
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A) OBSERVAÇÕES INICIAIS
ͫ Fala minha aluna e meu aluno! Sou o professor Diogo Medeiros, Delegado de Polícia do
Estado de Santa Catarina. Tenho bastante experiência em concursos públicos policiais,
já fui aprovado em 06 concursos de polícia, sendo 03 deles de delegado. Então, a partir
de agora, vem comigo nessa jornada de direito constitucional que cai em qualquer prova
de concurso público.
ͫ A primeira preocupação é estudar a Lei Seca. A maioria das questões da sua prova vai
cobrar os artigos constitucionais neste ponto.
ͫ Lembre-se que normalmente cai NOÇÕES de direito constitucional. Cuidado para não
aprofundar com doutrinas desnecessárias. Apesar que no último edital PRF 2021, o exam-
inador suprimiu a expressão NOÇÕES no bloco de direito.
ͫ Constituição Federal em áudio. Site do Senado Federal.

B) CONCEITO DE DIREITO CONSTITUCIONAL E CONSTITUCIO-


NALISMO
O professor José Afonso da Silva observa que o direito constitucional “configura-se como Direito
Público fundamental por referir-se diretamente à organização e funcionamento do Estado, à arti-
culação dos elementos primários do mesmo e ao estabelecimento das bases da estrutura política”.
Constituição é o conjunto de normas fundamentais e supremas, que podem ser escritas ou
não, responsáveis pela criação, estruturação e organização político-jurídica de um Estado.
Canotilho define o constitucionalismo como uma “... teoria (ou ideologia) que ergue o princípio
do governo limitado indispensável à garantia dos direitos em dimensão estruturante da organização
político-social de uma comunidade. Neste sentido, o constitucionalismo moderno representará uma
técnica específica de limitação do poder com fins garantísticos.
A Constituição decorre da ideia de constituir, organizar, ou seja, trata dos elementos constitu-
tivos do Estado, de modo que não existe um País sem uma Constituição, isto é, sem uma estrutura
mínima de organização.
O constitucionalismo é um movimento político, cultural e jurídico de limitação do poder do
Estado. Em sentido amplo, é a existência de uma Constituição em cada País. Em sentido estrito,
trata da garantia de direitos e separação de poderes. O art. 16 da Declaração de Direitos do Homem
e do Cidadão, de 1789, na época da Revolução Francesa, preceituou:
Art. 16º. A sociedade em que não esteja assegurada a garantia dos direitos nem estabe-
lecida a separação dos poderes não tem Constituição.
O conceito ideal de Constituição, na visão de Canotilho, possui os seguintes elementos:
ͫ Documento escrito;
ͫ Garantia de liberdades e participação política do povo;
ͫ Separação de poderes.
É relevante destacar que toda Constituição tem supremacia material, no sentido de tratar dos
assuntos mais importantes de um País – separação dos poderes, direitos fundamentais, princípios
estruturantes, forma de governo, sistema de governo, forma de Estado.
A nossa Constituição, além de supremacia material, também tem uma supremacia formal,
de modo que o processo para alteração das normas constitucionais é mais rígido, dificultoso do
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que a elaboração ou alteração das leis abaixo das normas constitucionais, denominadas de leis
infraconstitucionais.

B.1) O CONSTITUCIONALISMO NA HISTÓRIA


A evolução histórica do constitucionalismo divide-se em quatro grandes eras: idade antiga,
idade média, idade moderna e idade contemporânea.

Fase da Antiguidade
ͫ Na antiguidade destacam-se códigos de comportamento baseado no amor e respeito
ao outro.
ͫ Na Suméria antiga, o Rei Hammurabi da Babilônia editou o Código de Hammurabi, que é
considerado o primeiro código de normas de condutas, preceituando esboços de direitos
dos indivíduos (1792-1750 a.C.), em especial o direito à vida, propriedade, honra, consol-
idando os costumes e estendendo a lei a todos os súditos do Império. Chama a atenção
nesse Código a Lei do Talião, que impunha a reciprocidade no trato de ofensas (o ofensor
deveria receber a mesma ofensa proferida) – o famoso olho por olho, dente por dente.
ͫ Grécia: herança grega na participação política de cidadãos na vida política da “Polis”
(democracia direta). Ideário de liberdade. Glorificavam o homem como a mais importante
criatura do universo. Democracia ateniense. Já se falava em direitos naturais – Lei escrita
era fundamento da sociedade política. A lei não escrita era fruto da vontade divina. De
maneira que a lei escrita não poderia contrariar a lei divina.
ͫ Roma: consagração de direito como propriedade, direitos privados. Surge em Roma, a
Lei das 12 tábuas; (séc. V a.C.). Cícero entendeu que cabia ao homem bom e justo des-
respeitar leis postas que contrariassem a justiça universal.

Fase da Idade média


ͫ Poder dos governantes ilimitado, fundado na vontade divina. Primeiros documentos de
reivindicação da liberdade.
ͫ Cristianismo contribuiu para os direitos humanos: vários trechos bíblicos que pregam
igualdade e solidariedade com o semelhante
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Obs.: A principal inovação na Magna Carta se deu no fato de reconhecer que direitos próprios
de dois estamentos livres – nobreza e clero – existiam, independente do consentimento do monarca,
e não podiam ser por ele modificado de forma unilateral.
Declaração das Cortes de Leão, 1188
Península Ibérica. Consistiu em manifestação que consagrou a luta dos senhores feudais contra
a centralização e o nascimento futuro do Estado Nacional.

Fase da idade moderna (constitucionalismo clássico/liberal e so-


cial)
Constitucionalismo Liberal: a terminologia decorre da positivação daqueles primeiros direitos
– tidos como naturais - e que passam a serem positivados em documentos em alguns países euro-
peus. É fruto das revoluções liberais - inglesa, americana e francesa, marcam a primeira afirmação
dos direitos humanos – Direitos Civis e políticos. A revolução inglesa foi a primeira delas.
Surgem os primeiros documentos de pedido de liberdade na Inglaterra, mais precisamente no
que se refere a limitação dos poderes absolutos do Rei e a expansão dos poderes do Parlamento.
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Obs.: A revolução Gloriosa foi um movimento pacífico inglês, de conteúdo religioso, ocorrido
em 1688, substituiu o Rei Jaime II Stuart por Guilherme III de Orange, resultando no triunfo do
Parlamento.
O “Bill of Rights” foi o documento imposto pelo parlamento como condição do príncipe Gui-
lherme III de Orange assumir o trono inglês.
- Act of Settlement, de 1701 – Reafirma a vontade da lei, resguardando os súditos da tirania.
- Portanto, conforme visto, na Revolução Inglesa, tivemos os seguintes documentos:
ͫ Petition of Rights;
ͫ HC Act;
ͫ Bill of Rights;
ͫ Act of Setlement.
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O Pacto de Mayflower de 1620 foi escrito pelos peregrinos que cruzaram o Atlântico a bordo
do navio Mayflower. É uma espécie de contrato social, um acordo de vontades entre as pessoas
que iriam para o EUA para começar a colonização.
A independência das antigas 13 colônias britânicas da América do Norte em 1776, reunidas
primeiro sob a forma de confederação e constituída, em seguida, em Estado Federal, em 1787,
representou o ato inaugural da democracia moderna, combinando sob o regime constitucional
a representação popular com a limitação de poder governamentais e respeito a alguns direitos.
Os governos são instituídos entre os homens para garantir seus direitos naturais, de tal forma
que “toda vez que alguma forma de governo torna-se destrutiva (dos fins naturais de vida em
sociedade) é direito do povo alterá-la ou aboli-la e instituir nova forma de governo”.
“Consideramos as seguintes verdades como auto evidentes, a saber: que todos os homens
são criaturas iguais, dotadas pelo seu Criador de certos direitos inalienáveis, entre os quais a vida,
a liberdade e a busca da felicidade.”
As 10 emendas protegem liberdades fundamentais como a de expressão, a de religião, a de
guardar e usar armas, a de assembleia e de petição. Assegura a igualdade de todos, de maneira
livre e independente como um direito nato. Proíbe busca e apreensão sem razão alguma, o castigo
cruel e a confissão forçada, entre outros direitos.
Na França
- Declaração Francesa dos direitos do homem e do cidadão de 1789:
Consagra liberdade, igualdade e fraternidade. Levou a abolição de privilégios de várias castas
e a emancipação de poder pelo povo em substituição ao monarca.
Liberdade e igualdade entre os homens, necessidade de conservação de seus direitos naturais,
ou seja, liberdade, propriedade, segurança e resistência a opressão, autonomia da nação, legalidade,
participação popular, entre outros.
A Declaração Francesa foi referência para diversas Constituições no mundo.
A declaração francesa e direitos e deveres do homem e do cidadão e a declaração americana
resultam na emancipação do indivíduo perante grupos sociais, os quais sempre se submeteu: famí-
lia, estamento e religião.
A sociedade liberal, a partir de então, oferece o princípio da legalidade como norteador da
sociedade política.
Fase do Constitucionalismo Social
A fase do denominado constitucionalismo social marca o surgimento dos direitos de 2ª geração:
direitos sociais, econômicos e culturais.
O liberalismo político e econômico à época resultou em desigualdade. Dessa maneira, a socie-
dade começou a demandar do Estado uma intervenção – direitos prestacionais - para diminuir tais
desigualdades.
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Constituição Mexicana, 1917


Primeira a atribuir aos direitos trabalhistas a qualidade de direitos fundamentais – positivados
na Constituição.
Ex.: Limitação da jornada de trabalho, desemprego, proteção da maternidade, idade mínima
de admissão de empregados nas fábricas e o trabalho noturno de menores.
Constituição de Weimar (alemã), 1919
Previsão de direitos civis e políticos e direitos sociais.
Estabeleceu pela primeira vez na história, a regra da igualdade jurídica entre marido e mulher,
equiparou os filhos ilegítimos aos legítimos (havidos no matrimônio). Família e juventude postas
sob a proteção do Estado. Previsão de educação pública e direitos trabalhistas. Função social da
propriedade: “a propriedade obriga”.
Organização Internacional do Trabalho, 1919 (OIT)
A OIT foi instituída como uma agência da Liga das Nações após a assinatura do Tratado de
Versalhes (1919), que deu fim à Primeira Guerra Mundial. Trata, portanto, de Direitos trabalhistas
de cunho universal. Direitos sociais e econômicos.

C) NEOCONSTITUCIONALISMO – IDADE CONTEMPORÂNEA


No início do século XXI, a doutrina começa a falar do denominado neoconstitucionalismo,
visando, não somente, conferir a ideia de limitação de poder do Estado, mas, acima de tudo, bus-
cando conferir eficácia as normas constitucionais. O fenômeno influenciou a nossa CF e promoveu
o fortalecimento dos direitos fundamentais, notadamente os direitos sociais.
Com o neoconstitucionalismo, temos uma constituição com as seguintes características:
ͫ Existência de normas jurídicas: regras e princípios;
ͫ Dignidade da pessoa humana como núcleo axiológico de todo o sistema jurídico;
ͫ Existência de um estado democrático de direito;
ͫ Fortalecimento do poder judiciário;
ͫ Força normativa da Constituição.

D) ESTRUTURA DA CONSTITUIÇÃO
No interior da Constituição Federal, temos duas espécies de normas constitucionais:
» Normas constitucionais originárias: São aquelas decorrentes da edição da própria
Constituição. Manifestação do poder constituinte originário.
» Normas constitucionais derivadas: São aquelas que surgem pelo processo de alte-
ração formal da Constituição, pelas Emendas Constitucionais (art. 60 da CF). São
manifestações do poder constituinte derivado reformador.
Obs.: Não há hierarquia entre normas constitucionais originárias e derivadas. A única diferença é que as normas
constitucionais originárias não podem passar pelo controle de constitucionalidade.
A Constituição é estruturada em três partes:
ͫ Preâmbulo: é um protocolo de intenções, viés político e não jurídico. O STF entendeu
que não tem relevância jurídica.
ͫ Parte permanente (250 artigos, divididos em nove títulos).
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Título I - Dos Princípios Fundamentais (arts. 1º a 4).


Título II - Dos Direitos e Garantias Fundamentais (arts. 5º a 17).
Título III - Da Organização do Estado (arts. 18 a 43).
Título IV - Da Organização dos Poderes (arts. 44 a 135).
Título V - Da Defesa do Estado e das Instituições Democráticas (arts. 136 a 144).
Título VI - Da Tributação e do Orçamento (arts. 145 a 169).
Título VII - Da Ordem Econômica e Financeira (arts. 170 a 192).
Título VIII - Da Ordem Social (arts. 193 a 232).
Título IX - Das Disposições Constitucionais Gerais (arts. 233 a 250).
ͫ Ato das disposições constitucionais transitórias.
Título X - Ato Das Disposições Constitucionais Transitórias (arts. 1º a 114).

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