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Resenha

A evolução dos Direitos Humanos nas constituições brasileiras

VARISCO, Alessandra. A evolução dos direitos humanos nas constituições brasileiras,


Revista Científica do Instituto de Ensino Superior de Itapira.
Aluno: Thiago Alves de Medeiros

Inicialmente, a autora traz uma realidade marcante a respeito da história humana,


especialmente da brasileira: Nem sempre os seres humanos foram considerados igualmente
dignos e merecedores de direitos. A partir desta constatação é discorrido uma breve introdução
do que seriam os direitos humanos, que seriam aqueles direitos que são de natureza e finalidade
humana, em contraponto às dogmáticas trazidas pelas revelações divinas. Tendo em vista tal
argumento, Carlos Enrique Ruiz Ferreira em sua obra Direitos Humanos e cristianismo: a
igualdade entre os homens e o princípio da universalidade, usa a seguinte afirmativa:

O princípio da igualdade entre os seres humanos, pedra de abóboda da


arquitetura dos Direitos Humanos, pode ser encontrada em diversos
trechos da doutrina da Igreja Católica, a qual teve papel fundamental
em sua propagação.

Visto isso, podemos dizer que tal afirmativa da autora pode ser contraposta, dado que os
alicerces dos direitos humanos como os conhecemos hoje, a saber a igualdade entre os homens,
independentemente de sua cor, religião e outros aspectos de escolhas individuais do ser, podem
ser encontrados na revelação divina Cristã.
Logo após, é mostrado alguns tratados precursores dos que definimos hoje como
documentos dos direitos humanos. Alguns dos citados são a Carta Magna da Inglaterra de 1215
outorgada pelo rei João sem Terra, A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão,
proclamada durante a revolução francesa em 1789, o Código de Hamurabi, instituído pelo Rei
babilônico, que o código homenageia seu nome, entre 1792 e 1750 a.C., dentre outros. Além
de documentos históricos, a autora também apresenta algumas convenções e pactos
internacionais que são de extrema importância hodiernamente, particularmente em especial o o
Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional de direitos Econômicos,
Sociais e Culturais, de 1966, também a Convenção de Salvaguarda dos Direitos do Homem e
Liberdades Fundamentais, criada na Europa em 1950 e a Convenção Americana de Direitos
Humanos, o chamado Pacto de San José, na Costa Rica, de 1969.
A partir de então, dá-se maior ênfase ao desenvolvimento dos direitos humanos no
Brasil, sobretudo em suas constituições. Nesta etapa, a autora se atém em três divisões: A
primeira é a do Brasil império e implantação da república, a segunda é o governo Vargas,
findando no Estado Novo, e, por fim, a ditadura militar e a redemocratização. A parte inicial,
tratando da emancipação do Brasil, que deixara de ser colônia portuguesa e, consequentemente,
precisaria de uma nova constituição, já que também se desvencilharia de sua antiga metrópole,
é sucinta e não oferece muitos detalhes, porém ressalta a congruência que a constituição
outorgada em 1824 tinha com o a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, adotando
o sistema democrático de divisão de poderes e, para os entes destes, eram dados maiores
liberdades e concessões democráticas. Assim sendo, é visto que, por mais que tenha sido um
avanço para o antigo Brasil Colônia, a constituição referida ainda traria liberdades de maneira
tímida para a população em geral. Ainda nesta primeira divisão, tratando da proclamação da
República no Brasil, é visto que não houve maiores avanços nos direitos humanos e, da mesma
maneira, é mencionado que não era garantida a proteção dos direitos promulgados nela. Maria
Claudia Maia trata este período da seguinte maneira:

Nesta fase histórica, os direitos fundamentais ainda se restringiam aos


direitos individuais e visavam proteger a liberdade, a segurança
individual e a propriedade, conforme previsão do “caput” do artigo 72.
Assim, estavam previstos, os princípios da legalidade, da igualdade,
liberdade de culto, inviolabilidade de domicílio, sigilo de
correspondência, direito de propriedade, livre exercício de profissão,
ensino leigo, direitos de reunião e associação, ampla defesa, etc.

Logo após, a segunda divisão é onde a autora mais se atém, trazendo um panorama das
evoluções dos direitos humanos nas constituições na era Vargas, quer essas evoluções sejam
benéficas ou maléficas. A princípio, na constituição de 1934, há um avanço nos direitos
humanos, principalmente no que diz respeito ao sufrágio para as mulheres e também à criação
de diversos direitos trabalhistas, que depois seriam organizados na Consolidação das Leis do
Trabalho (CLT), vigente até hoje. Além disso, a autora também enfatiza a garantia do direito
adquirido, presente no artigo 113 da referida constituição. Já no Estado Novo, instituindo a
constituição de 1937, há um retrocesso no que se diz respeito aos direitos individuais e aos
direitos humanos, visto que muitos deles foram suprimidos e as garantias da democracia e de
diversas liberdades foram extintas. Maria Claudia Maia se refere à constituição de 1937 assim:

Das Constituições existentes até então, foi a mais autoritária. Era


inspirada no modelo fascista e outros modelos autoritários existentes na
Europa, como a Constituição Polonesa, de 1935, da Constituição
portuguesa, de 1933 e da italiana fascista “Carta Del Lavoro”. A
Constituição restringiu os direitos fundamentais até então conquistados,
pois além do poder absoluto do ditador, que governava por meio de
decretos, não previu o mandado de segurança, nem o princípio da
legalidade e irretroatividade das leis.

Imediatamente após, na terceira parte, a autora trata da abolição do Estado Novo, da


volta à democracia e da promulgação, em 1967, da Carta Maior, ampliando os direitos e
garantias previstos na constituição de 1937. Porém, houve uma crise política durante a ditadura
militar em 1968 que culminou com o Ato Institucional nº 5, onde voltou-se à um período
sombrio de repressão de direitos. Por fim, a autora aborda a redemocratização e a constituição
de 1988 como o período de maiores avanços na questão democrática, pois houve uma grande
ampliação nas garantias fundamentais e direitos humanos da população, sendo estes cláusulas
pétreas da constituição, ou seja, não podem ser alterados por emendas constitucionais.
Varisco traz uma obra bastante objetiva e de fácil compreensão, tanto para o público
acadêmico para os que estão fora deste meio, sendo assim um objeto que pode ser difundido e
estudado. Mesmo tendo pouco aprofundamento histórico, ela consegue de maneira adequada e
não cansativa mostrar uma tendência evolutiva nas constituições brasileiras, ficando claro a
percepção de avanço da sociedade brasileira no que diz respeito às garantias dos direitos
humanos.

REFERÊNCIAS:
Varisco, Alessandra Gomes. A evolução dos direitos humanos nas constituições
brasileiras. Disponível em:
https://www.uniesi.edu.br/instituto/revista/arquivos/2016/julho/21-86-1-PB.pdf
Ferreira , Carlos Enrique Ruiz. Direitos Humanos e cristianismo: a igualdade entre os
homens e o princípio da universalidade. Disponível em:
https://cartainternacional.abri.org.br/Carta/article/download/522/274/1649

Maia, Maria Cláudia. História do Direito no Brasil - os direitos humanos fundamentais


nas Constituições Brasileiras. Disponível em:
https://revistas.fibbauru.br/jurisfib/article/download/151/134

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