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Área de Formação: 762: Trabalho Social e Orientação  

Itinerário de Formação: 762190 Assistente Familiar e de Apoio à Comunidade


Nível de Formação: 2  
Modalidade de desenvolvimento: Formação Modular Certificada_VIDA ATIVA

UFCD 3539
Deontologia e Ética Profissional no
Apoio à Comunidade

Duração: 25 horas
Índice

Introdução…………………………………………………………………………………………..3

1- Objetivos e conteúdos.............................................................................................4

2- Os princípios fundamentais …………………………………………………………………….5

2.1- A deontologia e a ética profissional…………………………………………………….5

3- Código ético e deontológico dos agentes em geriatria………………………………….9

4- Os atos lícitos e ilícitos, atos legítimos e ilegítimos ……………………………………..13

5- A responsabilidade do cuidador de idosos..............................................................14

6- Segredo profissional................................................................................................14

7- A comunicação humana e as relações interpessoais: os estilos comunicacionais...15

7.1- O que é comunicar e como se processa a comunicação……………………………15

7.2- Estilos e atitudes comunicacionais ……………………………………………………..18

8- Direitos da pessoa humana e da pessoa idosa em particular…………………………..20

8.1- A Declaração Universal dos Direitos do Homem……………………………..20

8.1.2- A Declaração Universal dos Direitos do Homem – Valores …………24

8.2- Direitos dos idosos ………………………………………………………………….25

8.3- Respostas sociais ao idoso ………………………………………………………..26

9- A vida e a morte…………………………………………………………………………27

9.1- O Agente em Geriatria e a morte …………………………………………………29

Conclusão …………………………..……………………………………..…………………………30

Bibliografia …………………………………………………………………………………………...31

Anexos
I- Critérios de Avaliação – Documento de apoio para os formandos
II- Excerto da CRP – Versão 2004
III-“Direitos Humanos e Pessoas Idosas” - ONU

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Introdução

O presente manual pretende constituir uma ferramenta de trabalho para os formandos, no


âmbito da UFCD 3539 “Deontologia e Ética Profissional no apoio à Comunidade”.
Tem como objetivo acompanhar a abordagem aos conteúdos da UFCD e poder,
futuramente, servir de instrumento de consulta no decorrer da atividade profissional do
Assistente Familiar e de Apoio à Comunidade, sempre que sinta necessidade ou de recorrer
ao suporte bibliográfico para o seu desempenho. De um modo geral, pretende-se que os
formandos, que venham a desenvolver funções nesta área, conheçam os conceitos e
metodologias de trabalho mais eficazes para aplicar na área da institucionalização de
pessoas idosas.
A sociedade actual, caracteriza-se pela longevidade e pelo envelhecimento da população, o
que suscita diversos desafios às famílias, à comunidade em geral e ao Estado. O
envelhecimento da população em diversos países e, também, em Portugal fez emergir
consequências de várias ordens, mas não significa, que seja algo negativo. O
prolongamento da esperança de vida, a longevidade, tem aspetos muito positivos e resultou
de um desenvolvimento da ciência e da medicina, e da evolução social em vários outros
domínios, nomeadamente económico, social e cultural. O importante é garantir as condições
para que todas as pessoas possam usufruir das diferentes etapas da sua vida com
qualidade e dignidade, nomeadamente aqueles que atingem um estádio mais avançado do
seu percurso de vida: os idosos.

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1- Objetivos e conteúdos

Objetivos

 Reconhecer e aplicar os princípios fundamentais da deontologia e ética profissional, na


função de acompanhamento de pessoas idosas.

 Reconhecer e respeitar os direitos da pessoa humana.

Conteúdos*

 Princípios Fundamentais

Deontologia e ética profissional


Actos lícitos e Ilícitos
Actos legítimos e ilegítimos
Responsabilidade
Segredo profissional

 Direitos da pessoa humana

Direitos da pessoa humana e da pessoa idosa em particular


A vida e a morte
O Agente em Geriatria e a morte

*
De acordo com Catálogo ANQEP (762190 – Assistente Familiar e de Apoio À Comunidade)

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2- Os princípios fundamentais
2.1- A deontologia e ética profissional
A Ética é a parte da filosofia que se ocupa com o valor do comportamento humano.
Investiga o sentido que o homem imprime à sua conduta para ser verdadeiramente feliz.
Ética é a parte da filosofia que estuda a moralidade do agir humano; quer dizer;
considera os actos humanos enquanto são bons ou maus.
Sendo uma disciplina prática, a Ética procura responder a questões do género - Que devo
fazer? Como devo ser? Como devo agir?
Quando essas questões éticas são colocadas pelos indivíduos e respondidas pelas suas
consciências, surgem as normas morais.
Desta forma, podemos estabelecer a seguinte diferença entre normas morais e normas
jurídicas - As normas morais são regras de conduta que têm como base a
consciência moral das pessoas ou de um grupo social. As normas morais podem
estender-se por toda uma colectividade por meio dos costumes e tradições predominantes
em determinado meio social.
As normas jurídicas são regras sociais de conduta que têm como base o poder
social do Estado sobre a população que habita seu território. Assim, uma das
principais características da norma jurídica é a coercibilidade. Isto é, a norma
jurídica conta com a força e a repressão potencial do Estado para ser obedecida pelas
pessoas.
Quando alguém desrespeita uma norma moral, como, por exemplo, um dever de cortesia, a
sua atitude ofende apenas a moralidade convencional de um determinado grupo, que não
tem poderes energéticos para promover uma punição.
Ao contrário, se uma pessoa desrespeita uma norma jurídica prevista, por exemplo, no
Código Penal, a sua atitude provoca a coacção do Estado, que tem poderes efectivos para
impor uma pena ao infrator.
Os princípios éticos constituem-se enquanto diretrizes, pelas quais o homem rege o seu
comportamento, tendo em vista uma filosofia moral dignificante.
Razões da necessidade de um código de conduta
Os códigos de ética são dificilmente separáveis da deontologia profissional, pelo
que não é pouco frequente os termos ética e deontologia serem utilizados indiferentemente.
Existem inúmeros códigos de deontologia, sendo esta codificação da responsabilidade de
associações ou ordens profissionais.

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Regra geral, os códigos deontológicos têm por base as grandes declarações universais e
esforçam-se por traduzir o sentimento ético expresso nestas, adaptando-o, no entanto, às
particularidades de cada país e de cada grupo profissional.
Apesar de alguns códigos não apresentarem funções normativas e vinculativas, oferecendo
apenas uma função reguladora existem códigos que propõem sanções, segundo princípios e
procedimentos explícitos, para os infratores do mesmo.
Como podemos aplicar a Ética e a Deontologia no contexto profissional?
Porque todo o trabalho é digno e independentemente da designação, tem uma dupla
dimensão – ninguém é profissional para si próprio, toda a profissão possui uma
dimensão social, de utilidade comunitária, que suplanta a concreta dimensão
individual, ou um mero interesse particular.
Não vivemos isolados, e o velho ditado “com o mal dos outros posso eu bem”, não só traduz
um mesquinho egoísmo, como está profundamente errado.
Parece evidente que todas as profissões implicam uma ética, pois todas se relacionam direta
ou indiretamente com os outros seres humanos.
Tanto a ética como a deontologia são aplicadas a nível profissional , através das
normas profissionais.
Cada profissão possui, ou deveria possuir, um conjunto de normas que regulem e norteiem
as condutas dos seus profissionais. São normas fundamentais para a concretização
equilibrada e harmoniosa da conduta de um profissional. Estas normas encontram-se
registadas no chamado Código Deontológico de cada profissão.
Um código ético (ou uma declaração de princípios, um ideário, uma carta de
intenções, etc.) é um documento em que uma organização estabelece certos objetivos de
caráter ético que deseja alcançar, dentro e fora da mesma, isto é, com os fornecedores de
capital de risco, trabalhadores, e/ou com clientes, fornecedores, instituições financeiras,
comunidade local, economia nacional, etc..
Contém, de uma maneira ou de outra, uma declaração de objectivos - a que se
costuma chamar a missão da organização - os princípios éticos fundamentais e
uma certa concretização daquela missão e destes objectivos em áreas específicas,
de particular interesse.
Razões para a introdução de um código ético
É bom que se diga desde já - a imposição de códigos de conduta ética, só por si, não
garante que as organizações sejam éticas; isso só se consegue se as pessoas que as
integram forem íntegras, isto é, possuidoras de todas as virtudes morais.

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Razões de ordem geral, que se podem apontar, para justificar a criação de um
código ético.
Antes de mais, a necessidade que a organização tem de responder à nobre função
de ajudar ao desenvolvimento humano e profissional dos seus membros.
Se os empresários/gestores/diretores se esquecem desta função e não fazem o possível por
incentivá-la, falham no mais nobre dos aspectos da sua profissão - o (auto) aperfeiçoamento
(através do orgulho pelo trabalho bem feito e pelo valor do serviço prestado aos outros) dos
membros da organização.
Toda a organização que no futuro queira ter bons profissionais não pode prescindir do
desenvolvimento ético dos mesmos. Um profissional tecnicamente muito preparado pode ser
perigoso se o seu nível ético, por desconhecimento ou má-fé, for reduzido.
Muitas vezes, a introdução de um rigoroso código ético - como o reconhecem altos
executivos - pode evitar que a organização negoceie com certo tipo de clientes ou utilize
determinadas práticas, que aos seus concorrentes causaram graves dissabores, evitando-se,
assim, perdas (financeiras e humanas) consideráveis.
Há, contudo, outras razões:- Imperativos legais ou inclusive a necessidade de
autorregulação por parte das organizações;
- A credibilidade face ao meio ou à própria organização, também, pode justificar a
elaboração de um código de conduta, tendo em vista "criar" uma imagem externa
(e interna) de responsabilidade, seriedade e excelência;
- O caráter punitivo e, portanto, dissuasor dos códigos, com o objectivo de evitar
(ou pelo menos dificultar) atuações fraudulentas ou condutas indesejáveis dos
membros da organização;
- Por último, pode dizer-se que os códigos de conduta se podem revelar úteis
instrumentos para a busca da identidade organizacional e para o reforço de uma
determinada "cultura de organização ".
Existem inúmeros códigos de deontologia, sendo esta codificação da responsabilidade de
associações ou ordens profissionais.
São várias as profissões que possuem um código deontológico, cujas regras os indivíduos
que exercem essa profissão devem cumprir.
Todos já ouvimos falar do código deontológico dos médicos ou jornalistas, mas
também os farmacêuticos, biólogos, enfermeiros, intérpretes de conferências,
psicólogos, engenheiros, técnicos oficiais de contas ou técnicos de radiologia são
outros profissionais cuja prática diária é pautada por um código deontológico.

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Os valores éticos, configuram-se como bússolas que orientam as condutas dos indivíduos,
para que as ações sejam consideradas boas, justas, dignas e responsáveis.
Estes valores ajudam a respondermos à questão “que devo fazer?” numa determinada
situação para que as nossas opções sejam as mais corretas e justas.
Regra geral, os códigos deontológicos têm por base as grandes declarações universais e
esforçam-se por traduzir o sentimento ético expresso nestas, adaptando-o, no entanto, às
particularidades de cada país e de cada grupo profissional.
Para além disso, estes códigos propõem sanções, segundo princípios e procedimentos
explícitos, para os infratores do mesmo.
Códigos de conduta no contexto laboral
ÉTICA
Do Grego “ethiké”, deriva de “Ethos” usos e costumes adotados numa sociedade para se
evitar a barbárie e a vontade de um violar os direitos de todos; ou do latim “ ethica” ciência
relativa aos costumes. Conjunto, de princípios morais e valores que governam o
comportamento de uma pessoa ou grupo no que se refere ao que é correto ou incorreto.
A ética inclui os princípios de conduta orientadores da vida pessoal ou de uma profissão,
bem como os padrões de comportamento.
A ética, num primeiro sentido, é um tipo de saber prático, preocupado em averiguar qual
deve ser o fim da nossa ação, para que possamos decidir que hábitos devemos assumir,
como definir as metas intermédias, quais os valores que nos deverão orientar, que modo de
ser ou caráter temos que incorporar, com o objetivo de atuar com prudência, isto é, tomar
decisões acertadas.
DEONTOLOGIA

Surge das palavras gregas “ déon, déontos” que significa dever e “lógos” que se traduz por
discurso ou tratado. É o estudo dos deveres especiais de uma situação
determinada, particularmente dos das diversas profissões. Sendo assim, a
deontologia seria o tratado do dever ou o conjunto de deveres, princípios e
normas adoptadas por um determinado grupo profissional.
A deontologia é uma disciplina da ética especialmente adaptada ao exercício de uma
profissão.
CONDUTA: A significação de procedimento.
CÓDIGO: Compilação metódica e articulada de disposições relativas a um assunto. Reunião
de preceitos de qualquer género.

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ÉTICA E CÓDIGOS DE CONDUTA - PARA QUÊ?
Os códigos de conduta têm vindo a merecer crescente atenção nos últimos anos. Na
realidade atual a ética pessoal e profissional reveste-se de particular relevância: de todos
quantos colaboram numa entidade/empresa, respeitando, mediante uma adequada conduta,
a deontologia do setor em que operam, e regendo a sua conduta por princípios que
respeitem os valores que permitam uma correta atuação na sociedade em que está inserida.
As entidades/empresas em geral devem pois operar com políticas e procedimentos
consistentes com os valores e os padrões de conduta que defendem e que determinam a sua
orientação estratégica e o seu comportamento perante os clientes/utentes.
Os códigos de conduta ou códigos éticos são mais que um guia para o
comportamento dos colaboradores. Definem a filosofia da entidade/empresa
perante terceiros.
CÓDIGOS DEONTOLÓGICOS
Existem inúmeros códigos de deontologia, sendo esta codificação da
responsabilidade de associações ou ordens profissionais. Regra geral, os códigos
deontológicos têm por base as grandes declarações universais e esforçam-se por
traduzir o sentimento ético expresso nestas, adaptando-o, no entanto, às particularidades de
cada país e de cada grupo profissional.
Para além disso, estes códigos propõem sanções, segundo princípios e procedimentos
explícitos, para os infratores do mesmo.
Alguns códigos não apresentam funções normativas e vinculativas, oferecendo
apenas uma função reguladora.
ÉTICA ORGANIZACIONAL
As organizações têm a obrigação de responder pela conduta dos seus colaboradores e por
todas as decisões e resultados da sua ação. A organização é responsável perante a
sociedade (no seu todo) pela qualidade e impacto da sua ação.
3- Código ético e deontológico dos agentes de geriatria

O assistente familiar e de apoio à comunidade, é toda a pessoa habilitada, desde que


legalmente reconhecido com certificação profissional legalmente reconhecida.
O trabalho em geriatria tem em consideração os aspectos deontológicos da conduta profissional
e do exercício da profissão de acordo com este código, assenta em quatro princípios
interdependentes:

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1. Respeito pelos direitos e dignidade da pessoa
2. Competência
3. Responsabilidade
4. Integridade

Respeito geral

Os profissionais na área de AFAC defendem e promovem o desenvolvimento dos direitos


fundamentais, dignidade e valor de todas as pessoas. Respeitam os direitos dos indivíduos à
privacidade, confidencialidade, autodeterminação e autonomia. No exercício da profissão deve:

 Respeitar a diversidade individual e cultural, nomeadamente, decorrente da raça,


nacionalidade, etnia, género, orientação sexual, idade, religião, ideologia, linguagem e
estatuto socioeconómico dos idosos com quem se relaciona;
 Respeitar o conhecimento e experiência de todos os idosos com quem se
 relaciona;
 Respeitar a diversidade individual resultante das incapacidades dos idosos, garantindo,
assim, igualdade de oportunidades;
 Não impor o seu sistema de valores perante as pessoas.

Privacidade e Confidencialidade

No exercício da profissão respeita o direito à privacidade e à confidencialidade dos idosos. Este


tem o dever de manter a confidencialidade, e fornecer apenas a informação estritamente
relevante para o assunto em questão.
Limites da Confidencialidade

No exercício da profissão, deve informar os idosos, quando considerar apropriado, acerca dos
limites legais da confidencialidade, divulga informação dos relatórios a terceiros quando tal lhe
seja imposto com legitimidade jurídica e, neste caso, informa, obrigatoriamente o idoso. No
exercício da profissão tem o dever de informar, de forma compreensível para o idoso e para
terceiras partes relevantes, todos os procedimentos que vai adotar e obter destes o
consentimento explícito. Quando a relação com o idoso for mediada pela terceira parte
relevante é a esta que compete o consentimento informado.
Autodeterminação

No exercício da profissão deve:

• Respeitar e promover a autonomia e o direito à autodeterminação dos idosos; Assegurar-se


de forma fundamentada que é respeitada a liberdade de escolha do idoso no estabelecimento
da relação profissional;

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Respeitar e promover o direito do idoso de iniciar, continuar ou terminar a relação profissional;
• Ter em conta que a autodeterminação do idoso pode ser limitada pela idade, capacidades
mentais, nível do desenvolvimento, saúde mental, condicionamentos legais ou por uma terceira
parte relevante.
Os profissionais empenham-se em assegurar e manter elevados níveis de competência na sua
prática profissional.
Reconhecem os limites das suas competências particulares e as limitações dos seus
conhecimentos. Proporcionam apenas os serviços e técnicas para os quais estão qualificados
mediante a educação, treino e experiência;
• Ter um conhecimento aprofundado e atualizado deste Código Deontológico.
• Ter uma reflexão crítica contínua sobre a sua conduta e em qualquer contrato que estabeleça,
deve ter em conta o preconizado no Código Deontológico, tendo um conhecimento aprofundado
e atualizado da lei geral, no que concerne na sua prática ;
• Fornecer apenas os serviços para os quais está legalmente habilitado e estando atento às
suas limitações pessoais e profissionais, sempre que não tenha necessária competência
profissional ou pessoal para trabalhar com determinados idosos deve, na medida do possível,
encontrar soluções alternativas;
• Apenas utilizar métodos e técnicas cientificamente validadas e ter obrigatoriamente em conta
as limitações dos métodos e técnicas que utilizam, bem como os dados que recolhe, e deve
manter-se actualizado a nível profissional e justificando a sua conduta profissional á luz do
estado atual da ciência;
• Estar particularmente atento às limitações físicas e psicológicas, temporárias ou impeditivas
de uma adequada prática profissional. Caso estas existam, não deve dar início ou manter
qualquer actividade profissional;
• Evitar causar prejuízo e ser responsável pelas suas próprias ações, assegurando eles próprios
e tanto quanto possível que os seus serviços não sejam mal utilizados;
• Evitar causar dano ou prejuízo a qualquer pessoa, deve ponderar de forma sistematizada os
prejuízos que a sua ação possa vir a causar, utilizando todos os dispositivos para os minimizar.
Nas circunstâncias em que o prejuízo seja inevitável, estes profissionais devem avaliar de forma
fundamentada a relação custo/ benefício da sua ação.

Aptidão necessária

• Maturidade e capacidade de adaptação (trabalhar para o idoso e não só com o idoso;

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• Empatia e sensibilidade (colocar-se no lugar do outro para melhor compreender o que ele
sente, aceitá-lo e respeitá-lo);
• Amor pelos outros (o idoso é um ser humano global cujo potencial é necessário conhecer);
• Objetividade e espírito crítico (estas qualidades permitem que os A.G. tenham uma visão
alargada dos problemas ligados ao envelhecimento e á morte e que possam estabelecer
soluções adequadas);
• Sentido social e comunitário (trabalhar de forma a manter a população idosa no máximo de
autonomia facilitando a abolição de atitudes sociais negativas);
• Flexibilidade e polivalência (ser capaz de se adaptar ao ritmo do idoso e trabalhar em parceria
com profissionais de saúde);
• Criatividade (campo em que cada um deve exercer a sua criatividade).
Responsabilidade alargada

No exercício da profissão, o Assistente Familiar e de Apoio à Comunidade, é também


responsável pelo cumprimento do Código Deontológico por parte daqueles que com ele
colaboram, colegas de profissão hierarquicamente superiores ou inferiores apoiando-os, nas
necessidades deontológicas e profissionais.
Resolução de dilemas

No exercício da profissão deve ter consciência da potencial ocorrência de dilemas éticos e da


sua responsabilidade para os resolver de uma forma que seja consistente com o Código
Deontológico. No exercício da profissão, quando confrontado com um dilema ético, o
profissional deve procurar com os colegas o objetivo de encontrar a melhor solução. Se ocorrer
um conflito de interesses entre as obrigações para com o idoso ou terceiras partes relevantes e
os princípios do Código Deontológico, este é responsável pelas suas decisões. Se estas
contrariarem o Código Deontológico, tem o dever de informar os idosos e/ou as terceiras partes
relevantes fundamentando a sua relação.
Reconhecimento das limitações profissionais

No exercício da profissão deve evitar situações que possam levar a juízos enviesados e
interfiram com a sua capacidade para o exercício da prática profissional. Assim, deve procurar
apoio profissional e/ou supervisão para a resolução de situações pessoais que possam
prejudicar o exercício da profissão.
Honestidade e Rigor

No exercício da profissão deve:

• Reger-se por princípios de honestidade e verdade;

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• Assegurar-se que as suas qualificações são entendidas de forma inequívoca pelos outros;
• Ser objectivo perante terceiras partes relevantes, acerca das suas obrigações sob o Código
Deontológico, e assegurar-se que todas as partes envolvidas estão conscientes dos seus
direitos e responsabilidades;
•Assegurar que terceiras partes relevantes ou outros (pessoas ou entidades) estão conscientes
de que as suas principais responsabilidades são, geralmente, para com o idoso;
• Expressar as suas opiniões profissionais de forma devidamente fundamentada.
Franqueza e sinceridade

No exercício da profissão deve:

• Fornecer aos idosos e terceiras partes relevante, de forma clara e exata, informação sobre a
natureza, os objectivos e os limites dos seus serviços;
• Tentar, por todos os meios possíveis, minimizar a ocorrência de erro.Se este ocorrer deve, de
forma clara e inequívoca, acionar os mecanismos para a sua correção;
• Evitar todas as formas de logro na sua conduta profissional.
Conflito de interesses e exploração

No exercício da profissão, não se pode servir das suas relações profissionais com os idosos com
o objetivo de promover os seus interesses pessoais ou de terceiros.
Relações entre colegas

As relações entre os colegas de profissão devem basear-se nos princípios de respeito recíproco,
lealdade e solidariedade. Devem apoiar-se mutuamente e corresponder sempre que lhe
solicitem ajuda para situações relacionadas com a prática profissional.
Quando um profissional tem conhecimento de uma conduta deontologicamente incorreta por
parte de um colega deve, de forma fundamentada, apresentar-lhe a sua crítica e tentar, com
ele, estabelecer formas para a corrigir. Se esta conduta se mantiver deve informar a instituição,
dando, disso, conhecimento ao colega.

4- Os atos lícitos e ilícitos


Os atos legítimos e ilegítimos
O critério de distinção é o de conformidade com a lei, projeta-se esta distinção igualmente no
regime dos efeitos jurídicos do ato, é uma distinção privativa dos atos jurídicos. A razão de ser
desta delimitação reside na circunstância de a ilicitude envolver sempre um elemento de
natureza subjetiva que se manifesta num não acatamento, numa rebeldia à Ordem Jurídica
instituída. Envolve sempre uma violação da norma jurídica, sendo nesse sentido a

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atitude adoptada pela lei a repressão, desencadeando assim um efeito tipo da
violação – a sanção.
Assim, podemos dizer que:

Os atos ilícitos envolvem sempre uma violação da norma jurídica, sendo nesse sentido a
atitude adotada pela lei a repressão, desencadeando assim um efeito tipo da violação – a
sanção.
São contrários à Ordem Jurídica e por ela reprovados, importam uma sanção para o seu autor
(infrator de uma norma jurídica).
Os atos lícitos são conformes à Ordem Jurídica e por ela consentidos. Não podemos dizer que
o ato ilícito seja sempre inválido.
 Um ato ilícito pode ser válido, embora produza os seus efeitos sempre acompanhado de
sanções. Da mesma feita, a invalidade não acarreta também a ilicitude do ato.
Os atos legítimos são uma ação fundada no direito e na razão, com caráter legal, válido,
genuíno, verdadeiro e justo.
Os atos ilegítimos são uma ação não fundada na razão, com carácter inválido, falso e ilegal.

5- Responsabilidade do cuidador de idosos

Responsabilidade define-se como a obrigação que o individuo tem em dar conta dos seus atos e
suportar as consequências do mesmo. Diz-se que alguém é responsável quando age com
conhecimento e liberdade dos atos e estes possam ser considerados dignos, devendo responder
por eles, dentro de um grupo. A relação entre o Profissional/Utente resulta na forma
como deve cuidar do utente, com respeito, como uma pessoa que tem direito de
tomar as suas decisões de ser autodeterminação e que merece a defesa ou a
confidencialidade das suas informações.
6- Segredo Profissional

A palavra sigilo está relacionada à ideia de segredo, ou ainda, com algo que precisa de ser
guardado frente a uma verdade. Assim, definido o sigilo podemos concluir que se procura
estabelecer vínculos de confiança. Contudo, o sigilo não é só um imperativo técnico ou moral
na relação que mantemos com o outro, mas sim uma dimensão ética da própria relação.
Manter sigilo é silenciar frente a algo que se encontra posto. A partir deste contexto,
podemos entender que o sigilo parece indicar antes de um uso técnico, uma ação
que se prolonga no mundo como espaço para a escuta do silêncio. Este silêncio
torna o homem detentor de uma verdade ao mesmo tempo que aberto para outras

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possibilidades de constituir sentido e significado ao vivido. Do sigilo ao silêncio
parece ser a postura esperada. Portanto, podemos afirmar que constitui obrigação
do profissional:
 A salvaguarda do sigilo sobre os elementos que tenha recolhido no exercício da sua
atividade profissional, porém, se utilizar alguns desses elementos deverá ter o cuidado
de não identificar as pessoas visadas;
 Obrigação de, quando o sistema legal exige divulgação de dados, fornecer apenas a
informação relevante para o assunto em questão e, de outro modo, manter
confidencialidade;
 O sigilo é referido à difusão oral, ou escrita da informação.
Assim:
- A violação da confidencialidade é o desrespeito por uma determinada pessoa, é uma
irresponsabilidade do profissional, já que o seu papel é responsabilidade perante a sociedade;
- Manter o sigilo profissional ajuda o utente a manter a sua própria integridade moral.
Deveres do Profissional

1) Exercer com competência e zelo a atividade, no campo que tiver confiado;


2) Observar e fazer observar rigorosamente as leis e regulamentos, defendendo-os em
todas as circunstâncias;
3) Honrar os seus superiores na hierarquia administrativa, tratando-os em todas
circunstâncias com consideração e respeito;
4) Guardar segredo profissional sobre todos os assuntos que por lei não estejam
expressamente autorizados a revelar;
5) Desempenhar, com pontualidade e assiduidade, o serviço que lhe estiver confiado.
Em suma: Respeito e dignidade;
Promoção da saúde, prevenção da doença.

As decisões e conduta colectiva das organizações devem basear-se nos princípios da


visibilidade e transparência.

7- A comunicação humana e relações interpessoais: Os estilos


comunicacionais

7.1 - O que é comunicar e como se processa a comunicação


A palavra “comunicar” provém do latim Comunicare e significa “pôr em comum”.
Comunicar é um ato fundamental da vida humana, não podemos não comunicar, estamos
sempre em interação com alguma coisa ou com alguém. Significa, assim, transmitir uma
mensagem (ideias, sentimentos e experiências) entre pessoas que conhecem o significado
daquilo que se diz e faz.
Por outro lado, a comunicação é o mecanismo através do qual as relações humanas existem e
se desenvolvem. A forma de comunicar tem raízes no passado, aprendemos com as pessoas

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com quem nos relacionamos. Uma grande parte do tempo das pessoas é passada a relacionar-
se com os outros: a Comunicar.
Quando penso em silêncio... posso não estar a comunicar mas... se eu estarei a
comunicar

Comunicação é o processo pelo qual os seres humanos trocam entre si informações. Nesta
breve definição temos já implicitamente presentes os elementos nucleares do ato comunicativo:
o emissor, o recetor ("seres humanos") e a mensagem ("informações"). De facto, em
qualquer ato comunicativo encontramos alguém que procura transmitir a outrem uma dada
informação.
Além destes três elementos nucleares, é habitual considerar outros três: o código, o canal e o
contexto. Nenhum ato comunicativo seria possível, na ausência destes elementos. De facto, é
necessária a intervenção de, pelo menos, dois indivíduos, um que emita, outro que receba; de
algo a ser transmitido pelo emissor ao recetor; e para que o emissor e o recetor comuniquem é
necessário que esteja disponível um canal de comunicação; a informação a transmitir tem que
estar "traduzida" num código conhecido, quer pelo emissor, quer pelo recetor; finalmente todo
o ato comunicativo realiza-se num determinado contexto e é determinado por esse contexto.
• Emissor, transmissor ou comunicador (sujeito que envia a mensagem);
• Recetor, destinatário ou intermediário (sujeito que recebe a mensagem);
• Mensagem (conjunto de informações transmitidas), que veicula a finalidade, o objectivo da
comunicação;
• Código (conjunto de sinais e regras que permite transformar o pensamento em informação,
capaz de ser entendida, na sua globalidade, pelo recetor).

O emissor utiliza o código para construir a sua mensagem - operação de codificação - enquanto
que o recetor utiliza o código para compreender a mensagem - operação de descodificação;

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• Meio - suporte onde a mensagem é levada do emissor ao recetor;
• Contexto - é o conjunto das variáveis que rodeiam e influenciam a situação de comunicação;
• Canal (todo o suporte que serve de veículo a uma mensagem), ou veículo da transmissão,
que possibilita o dinamismo da comunicação. O canal mais vulgar é o ar. Existem outros, tais
como: a carta, o livro, o telefone, o rádio, a televisão, a internet, etc.

Síntese:

Elementos da comunicação

O esquema da comunicação, atrás descrito, pode ser representado da seguinte forma:

    Contexto    
    Código    
Emissor —> Mensagem —> Receptor
    Canal    

Feedback

A comunicação efetua-se através de:

Comunicação Verbal

(códigos definidos, no sentido literal de palavras ou sinais, é a mais concreta e precisa na


partilha de ideias e observações)

 Oral – rádio, telefone, palestras, …


 Escrita – livros, jornais, revistas, circulares, cartas, sms…
 Audiovisual – televisão, cinema, publicidade, …

Comunicação Não Verbal

Dá significado ao que é dito. O corpo fala, não verbalmente partilha-se o sentido que se dá à
mensagem– qualquer mensagem só tem significado dentro de um contexto, que é dado pela
relação existente entre os intervenientes.
Gestual – linguagem gestual, gestos dos sinaleiros,…
Codificada ou Simbólica – código de sinais de trânsito…
Tátil – linguagem táctil dos cegos, leitura ou exame com a ponta do dedos…
É possível melhorar as relações uns com os outros desde que tenhamos disponibilidade e
abertura para conhecer e darmo-nos a conhecer aos outros.

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Os nossos comportamentos e a nossa postura também comunicam, através dos gestos,
posturas, expressões faciais e silêncios, tom de voz, pronúncia, e mesmo através das roupas e
de adornos.

Comportamento Interpretação
Jovial, alegre, postura vertical Confiança
Sentado de pernas cruzadas, dando pequenos Aborrecimento
pontapés
Sentado com as pernas afastadas Abertura, descontracção

É através da Linguagem não Verbal que transmitimos muitas das nossas emoções e dos
nossos sentimentos.

Não podemos impedir a comunicação não verbal

NÃO PODEMOS NÃO COMUNICAR

Não falar, é já uma forma de comunicar. Uma vez que, a nossa comunicação pode ser
silenciosa, mas percetível ao outro. Assim, não podemos não comunicar.

7.2- Estilos e atitudes comunicacionais: Agressivo, passivo, manipulador,


assertivo
O estilo agressivo

A agressividade observa-se através de comportamentos de ataque contra as


pessoas e os acontecimentos.
• O agressivo prefere submeter os outros a fazê-los curvar;
• O agressivo fala alto, interrompe e faz barulho com os seus afazeres enquanto
os outros se exprimem;
• Ele desgasta psicologicamente as pessoas que o rodeiam. Pensa que é sempre
ganhador através do seu método, mas não entende que se o fosse, não necessitaria
de ser agressivo;
• O agressivo torna-se um cego no seu meio, porque evitam falar-lhe francamente
e de forma verdadeira.

O estilo passivo

18
A atitude passiva é uma atitude de evitamento perante as pessoas e os
acontecimentos.
• Em vez de se afirmar tranquilamente, o passivo afasta-se ou submete-se, não
age;
• Porque não se afirma, ele torna-se, geralmente, numa pessoa ansiosa que
apresenta dores de cabeça com frequência e sofre de insónias;
• O passivo não age, porque tem medo das deceções. É tímido e silencioso.

O estilo manipulador

Os indivíduos que revelam uma atitude manipuladora consideram-se


hábeis nas relações interpessoais.
• Estudam discursos diferentes consoante o interlocutor;
• Apresentam-se como intermediários. Raramente se assumem como
responsáveis;
• Agem por interposta pessoa para atingir objetivos;
• Tiram partido das leis e das regras;
• Criam conflitos no momento oportuno;
• Utilizam a simulação, negam factos e inventam histórias;
• Parecem, fisicamente, um “ator de teatro”.

O estilo assertivo

As pessoas assertivas (autoafirmativas) são capazes de defender os seus direitos, os seus


interesses e de exprimir os seus pensamentos e as suas necessidades de forma aberta,
direta e honesta.
• Estas pessoas para afirmarem os seus direitos, não pisam os direitos dos outros;
• A pessoa afirmativa tem respeito por si própria e pelos outros, está aberta ao
compromisso e à negociação;
• Aceita que os outros pensem de forma diferente de si; respeita as diferenças e
não as rejeita.

Definição de Assertivo
 Conjunto de atitudes e comportamentos que permitem ao indivíduo afirmar-se
social e profissionalmente sem violar os direitos dos outros. (Dic. Língua
Portuguesa, 2001).

19
 Comportamento que permite a afirmação dos próprios direitos, sem violar os
direitos dos outros, através de uma expressão de opiniões e sentimentos de uma
forma livre e apropriada. (Ken e Black citados por Sequeira, 2000:49).
Conclusão:
 O comportamento assertivo é adequado para evitar e lidar com conflitos, nas
relações interpessoais, nas organizações e no trabalho. Contribuí para a gestão do
stress profissional.
 Os estilos comunicacionais adotados, por cada um, têm uma influência significativa nas
relações interpessoais em contexto de trabalho A comunicação assertiva pode
contribuir para uma comunicação eficaz em contexto de trabalho.

8- Direitos da pessoa humana: Direitos da pessoa humana e da


pessoa idosa em particular
8.1- A Declaração Universal dos Direitos do Homem
Perante as atrocidades cometidas durante a 2.ª Guerra Mundial, nas várias
conferências que prepararam a paz surgiu a criação de uma organização internacional,
cujos objectivos eram evitar a guerra, promover a paz e a democracia e fortalecer os
direitos humanos. Para garantir este último objetivo, a Assembleia Geral da ONU
(Organização das Nações Unidas) proclamou em 10 de Dezembro de 1948 a
Declaração Universal dos Direitos do Homem (o dia 10 de Dezembro foi
estabelecido como o dia internacional dos direitos humanos).
A Assembleia Geral
Proclama a presente Declaração Universal dos Direitos do Homem como ideal comum
a atingir por todos os povos e todas as nações, a fim de que todos os indivíduos e
todos os órgãos da sociedade, tendo-a constantemente no espírito, se esforcem, pelo
ensino e pela educação, por desenvolver o respeito desses direitos e liberdades e por
promover, por medidas progressivas de ordem nacional e internacional, o seu
reconhecimento e a sua aplicação universais e efetivos tanto entre as populações dos
próprios Estados membros como entre as dos territórios colocados sob a sua
jurisdição. 
ARTIGO 1.º
Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados
de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de
fraternidade.
ARTIGO 2.º
Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamados na
presente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo,

20
de língua, de religião, de opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de
fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situação.
Além disso, não será feita nenhuma distinção fundada no estatuto político, jurídico ou
internacional do país ou do território da naturalidade da pessoa, seja esse país ou
território independente, sob tutela, autónomo ou sujeito a alguma limitação de
soberania.  
ARTIGO 3.º
Todo o indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.  
ARTIGO 4.º
Ninguém será mantido em escravatura ou em servidão; a escravatura e o trato dos
escravos, sob todas as formas, são proibidos.  
ARTIGO 5.º
Ninguém será submetido a tortura nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos
ou degradantes.  
ARTIGO 6.º
Todos os indivíduos têm direito ao reconhecimento em todos os lugares da sua
personalidade jurídica.  
ARTIGO 7.º
Todos são iguais perante a lei e, sem distinção, têm direito a igual protecção da lei.
Todos têm direito a protecção igual contra qualquer discriminação que viole a presente
Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação.
ARTIGO 8.º
Toda a pessoa tem direito a recurso efectivo para as jurisdições nacionais
competentes contra os actos que violem os direitos fundamentais reconhecidos pela
Constituição ou pela lei.  
ARTIGO 9.º
Ninguém pode ser arbitrariamente preso, detido ou exilado. 
ARTIGO 10.º
Toda a pessoa tem direito, em plena igualdade, a que a sua causa seja equitativa e
publicamente julgada por um tribunal independente e imparcial que decida dos seus
direitos e obrigações ou das razões de qualquer acusação em matéria penal que contra
ela seja deduzida.
ARTIGO 11.º
1. Toda a pessoa acusada de um acto delituoso presume-se inocente até que a sua
culpabilidade fique legalmente provada no decurso de um processo público em que
todas as garantias necessárias de defesa lhe sejam asseguradas.
2. Ninguém será condenado por acções ou omissões que, no momento da sua
prática, não constituíam acto delituoso à face do direito interno ou internacional. Do
mesmo modo, não será infligida pena mais grave do que a que era aplicável no
momento em que o acto delituoso foi cometido.  

21
ARTIGO 12.º
Ninguém sofrerá intromissões arbitrárias na sua vida privada, na sua família, no seu
domicílio ou na sua correspondência, nem ataques à sua honra e reputação. Contra
tais intromissões ou ataques toda a pessoa tem direito a protecção da lei.  
ARTIGO 13.º
1. Toda a pessoa tem o direito de livremente circular e escolher a sua residência no
interior de um Estado.
2. Toda a pessoa tem o direito de abandonar o país em que se encontra, incluindo o
seu, e o direito de regressar ao seu país.
ARTIGO 14.º
1. Toda a pessoa sujeita a perseguição tem o direito de procurar e de beneficiar de
asilo em outros países.
2. Este direito não pode, porém, ser invocado no caso de processo realmente
existente por crime de direito comum ou por actividades contrárias aos fins e aos
princípios das Nações Unidas.  
ARTIGO 15.º
1. Todo o indivíduo tem direito a ter uma nacionalidade.
2. Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua nacionalidade nem do direito de
mudar de nacionalidade.  
ARTIGO 16.º
1. A partir da idade núbil, o homem e a mulher têm o direito de casar e de constituir
família, sem restrição alguma de raça, nacionalidade ou religião. Durante o casamento
e na altura da sua dissolução, ambos têm direitos iguais.
2. O casamento não pode ser celebrado sem o livre e pleno consentimento dos
futuros esposos.
3. A família é o elemento natural e fundamental da sociedade e tem direito à
protecção desta e do Estado. 
ARTIGO 17.º
1. Toda a pessoa, individual ou colectivamente, tem direito à propriedade.
2. Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua propriedade.  
ARTIGO 18.º
Toda a pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião;
este direito implica a liberdade de mudar de religião ou de convicção, assim como a
liberdade de manifestar a religião ou convicção, sozinho ou em comum, tanto em
público como em privado, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pelos ritos.
ARTIGO 19.º
Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o
direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir,
sem consideração de fronteiras, informações e ideias por qualquer meio de expressão.

ARTIGO 20.º

22
1. Toda a pessoa tem direito à liberdade de reunião e de associação pacíficas.
2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação.  
ARTIGO 21.º
1. Toda a pessoa tem o direito de tomar parte na direcção dos negócios públicos do
seu país, quer directamente, quer por intermédio de representantes livremente
escolhidos.
2. Toda a pessoa tem direito de acesso, em condições de igualdade, às funções
públicos do seu país.
3. A vontade do povo é o fundamento da autoridade dos poderes públicos; e deve
exprimir-se através de eleições honestas a realizar periodicamente por sufrágio
universal e igual, com voto secreto ou segundo processo equivalente que salvaguarde
a liberdade de voto.
ARTIGO 22.º
Toda a pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança social; e pode
legitimamente exigir a satisfação dos direitos económicos, sociais e culturais
indispensáveis, graças ao esforço nacional e à cooperação internacional, de harmonia
com a organização e os recursos de cada país.  
ARTIGO 23.º
1. Toda a pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha do trabalho, a condições
equitativas e satisfatórias de trabalho e à protecção contra o desemprego.
2. Todos têm direito, sem discriminação alguma, a salário igual por trabalho igual.
3. Quem trabalha tem direito a uma remuneração equitativa e satisfatória, que lhe
permita e à sua família uma existência conforme com a dignidade humana, e
completada, se possível, por todos os outros meios de protecção social.
4. Toda a pessoa tem o direito de fundar com outras pessoas sindicatos e de se filiar
em sindicatos para a defesa dos seus interesses.  
ARTIGO 24.º
Toda a pessoa tem direito ao repouso e aos lazeres e, especialmente, a uma
limitação razoável da duração do trabalho e a férias periódicas pagas.  
ARTIGO 25.º
1. Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à sua
família a saúde e o bem-estar, principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao
alojamento, à assistência médica e ainda quanto aos serviços sociais necessários, e
tem direito à segurança no desemprego, na doença, na invalidez, na viuvez, na velhice
ou noutros casos de perda de meios de subsistência por circunstâncias independentes
da sua vontade.
2. A maternidade e a infância têm direito a ajuda e a assistência especiais. Todas as
crianças, nascidas dentro ou fora do matrimónio, gozam da mesma protecção social.  
ARTIGO 26.º
1. Toda a pessoa tem direito à educação. A educação deve ser gratuita, pelo menos a
correspondente ao ensino elementar fundamental. O ensino elementar é obrigatório. O

23
ensino técnico e profissional deve ser generalizado; o acesso aos estudos superiores
deve estar aberto a todos em plena igualdade, em função do seu mérito.
2. A educação deve visar à plena expansão da personalidade humana e ao reforço
dos direitos do homem e das liberdades fundamentais e deve favorecer a
compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e todos os grupos raciais
ou religiosos, bem como o desenvolvimento das actividades das Nações Unidas para a
manutenção da paz.
3. Aos pais pertence a prioridade do direito de escolher o género de educação a dar
aos filhos.
ARTIGO 27.º
1. Toda a pessoa tem o direito de tomar parte livremente na vida cultural da
comunidade, de fruir as artes e de participar no progresso científico e nos benefícios
que deste resultam.
2. Todos têm direito à protecção dos interesses morais e materiais ligados a qualquer
produção científica, literária ou artística da sua autoria.
ARTIGO 28.º
Toda a pessoa tem direito a que reine, no plano social e no plano internacional, uma
ordem capaz de tornar plenamente efectivos os direitos e as liberdades enunciados na
presente Declaração.
ARTIGO 29.º
1. O indivíduo tem deveres para com a comunidade, fora da qual não é possível o
livre e pleno desenvolvimento da sua personalidade.
2. No exercício destes direitos e no gozo destas liberdades ninguém está sujeito
senão às limitações estabelecidas pela lei com vista exclusivamente a promover o
reconhecimento e o respeito dos direitos e liberdades dos outros e a fim de satisfazer
as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar numa sociedade
democrática.
3. Em caso algum estes direitos e liberdades poderão ser exercidos contrariamente
aos fins e aos princípios das Nações Unidas.  
ARTIGO 30.º
Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada de maneira a
envolver para qualquer Estado, agrupamento ou indivíduo o direito de se entregar a
alguma actividade ou de praticar algum acto destinado a destruir os direitos e
liberdades aqui enunciados.

8.1.2- A Declaração Universal dos Direitos do Homem – Valores


A PESSOA
Este valor implica - Assumir  que todo o ser humano é distinto das coisas que o
rodeiam, dado que tem uma natureza própria, fundamentada numa identidade própria.
Cada ser humano é único e irrepetível.  É um ser dotado de consciência e liberdade
de decisão e como tal deve ser tratado.

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A DIGNIDADE HUMANA
A dignidade que atribuímos a qualquer outro ser humano decorre do facto de o
reconhecermos como igual a nós próprios e, por conseguinte, dele nos suscitar igual
respeito pela sua singularidade individual, de não o considerarmos como coisa, como
simples meio, como mercadoria. De lhe reconhecermos também a capacidade para
definir as suas próprias ações com consciência e com a noção das consequências que
os seus atos podem provocar. Este valor desdobra-se nos seguintes direitos -
- Integridade moral do ser humano - direito ao bom-nome, à imagem, à intimidade,
abolição dos maus tratos ou situações degradantes; 
- Integridade física do ser humano - direito à vida, garantias face à tortura, abusos
do Estado, etc. 
A LIBERDADE
É um dos valores fundamentais que esteve ligado à modernidade europeia. Este valor
desdobra-se numa série de direitos -
- Liberdade pessoal - Liberdade em matéria de religião, de política, de residência e
circulação, de expressão, de reunião, de manifestação, de associação, de ensino, etc.;
- Liberdade civil - garantias jurídicas e penais;
- Liberdade política - direitos de participação política, de representação política nos
vários órgãos de decisão do Estado, etc..
A IGUALDADE
Este valor desdobra-se numa série de direitos económicos, sociais e culturais que
implicam a recusa de todo o tipo de discriminações entre seres humanos.

A SOLIDARIEDADE
Este valor talvez mais do que nenhum outro coloca em evidência a interdependência
de todos os seres humanos e a necessidade de harmonizarem as suas relações de
forma a evitarem ou minorarem o sofrimento.
Recusa-se desta forma o princípio da força ou do egoísmo como norma nas suas
relações.  Este valor impele-nos a que assumamos a solidariedade como dever que visa
criar, por contrato, uma associação livremente consentida, mútua e solidária entre os
homens, que os proteja dos riscos comuns.

8.2- Direitos dos idosos

(Princípios das Nações Unidas para o Idoso, Resolução 46/91 - Aprovada na


Assembleia Geral das Nações Unidas, 16/12/1991)

INDEPENDÊNCIA

1. Ter acesso à alimentação, à água, à habitação, ao vestuário, à saúde, a ter apoio familiar e
comunitário.
2. Ter oportunidade de trabalhar ou ter acesso a outras formas de geração de rendimentos.
3. Poder determinar em que momento se deve afastar do mercado de trabalho.

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4. Ter acesso à educação permanente e a programas de qualificação e requalificação
profissional.
5. Poder viver em ambientes seguros adaptáveis à sua preferência pessoal, que sejam passíveis
de mudanças.
6. Poder viver em sua casa pelo tempo que for viável.
PARTICIPAÇÃO

7. Permanecer integrado na sociedade, participar activamente na formulação e implementação


de políticas que afectam directamente o seu bem-estar e transmitir aos mais jovens
conhecimentos e habilidades.
8. Aproveitar as oportunidades para prestar serviços à comunidade, trabalhando como
voluntário, de acordo com seus interesses e capacidades.
9. Poder formar movimentos ou associações de idosos.
ASSISTÊNCIA

10. Beneficiar da assistência e protecção da família e da comunidade, de acordo com os seus


valores culturais.
11. Ter acesso à assistência médica para manter ou adquirir o bem-estar físico, mental e
emocional, prevenindo a incidência de doenças.
12. Ter acesso a meios apropriados de atenção institucional que lhe proporcionem protecção,
reabilitação, estimulação mental e desenvolvimento social, num ambiente humano e seguro.
13. Ter acesso a serviços sociais e jurídicos que lhe assegurem melhores níveis de autonomia,
protecção e assistência
14. Desfrutar os direitos e liberdades fundamentais, quando residente em instituições que lhe
proporcionem os cuidados necessários, respeitando-o na sua dignidade, crença e intimidade.
Deve desfrutar ainda do direito de tomar decisões quanto à assistência prestada pela instituição
e à qualidade da sua vida.
AUTO-REALIZAÇÃO

15. Aproveitar as oportunidades para o total desenvolvimento de suas potencialidades.


16. Ter acesso aos recursos educacionais, culturais, espirituais e de lazer da sociedade.
DIGNIDADE

17. Poder viver com dignidade e segurança, sem ser objecto de exploração e maus-tratos
físicos e/ou mentais.
18. Ser tratado com justiça, independentemente da idade, sexo, raça, etnia, deficiências,
condições económicas ou outros factores.

8.3- Respostas sociais ao idoso


O Estado e a sociedade civil têm criado uma multiplicidade de respostas sociais para à pessoa
idosa. Entre as principais, encontram-se:
• Centros de Convívio são uma resposta social, dinamizada em equipamento de apoio a
actividades sociorrecreativas e culturais, organizadas e dinamizadas pelos idosos de uma
determinada comunidade;

26
• Centros de Dia são uma a resposta social dinamizada num equipamento que assenta na
prestação de um conjunto de serviços que contribuem para a manutenção dos idosos no seu
contexto sociofamiliar;
• Lares para idosos são estabelecimentos em que se desenvolvem actividades de apoio social a
pessoas idosas através do alojamento colectivo, de utilização temporária ou permanente,
fornecimento de alimentação, cuidados de saúde, higiene, conforto, fomentando o convívio e a
ocupação dos tempos livres dos utentes. São a "casa" do idoso;
• Residências são uma resposta social desenvolvida em equipamento constituído por um
conjunto de apartamentos, com serviços de utilização comum, para idosos com autonomia total
ou parcial;
• Serviços de Apoio Domiciliário são uma resposta social que consiste na prestação de
cuidados individualizados e personalizados no domicílio, a indivíduos e famílias quando, por
motivo de doença, deficiência, velhice ou outro impedimento, não possam assegurar
temporariamente ou permanentemente, a satisfação das suas necessidades básicas e/ou
actividades da vida diária;
• Acolhimento Familiar de Idosos é a resposta social que se sustenta na integração,
temporária ou permanente, em famílias consideradas idóneas ou tecnicamente enquadradas, de
pessoas idosas;
• Centros de Acolhimento Temporário de Emergência para Idosos são a resposta
social desenvolvida em equipamento, de preferência a partir de uma estrutura já existente, que
consiste no acolhimento temporário a idosos em situação de emergência social, perspetivando-
se, mediante a especificidade de cada situação, o encaminhamento do idoso ou para a família
ou para outra resposta social de caráter permanente;
• Centros de Noite são a resposta social desenvolvida em equipamento, de preferência a
partir de uma estrutura já existente, dirigida a idosos com autonomia que desenvolvem as suas
atividades da vida diária no domicílio mas que durante a noite, por motivos de isolamento
necessitam de algum suporte de acompanhamento.
9- A vida e a morte

Todos os seres vivos, incluindo os humanos, estão sujeitos ou condenados à morte. Nascer é
começar a morrer. Todavia, embora se possa morrer em qualquer idade e sem aviso prévio, os
idosos, sabem com certeza que não lhes resta muitos anos de vida (segundo a sabedoria
popular: quem não vai de novo, de velho não escapa; hoje com saúde, amanhã no ataúde;
contra a morte não há remédio).

 O que é a morte?

27
A morte, ainda hoje, é um tabu, a nível pessoal, embora seja um assunto bastante abordado.
Todo o ser humano, mais cedo ou mais tarde, confronta-se com esse drama existencial e mais,
ainda, à medida que a vida vai declinando, assumindo o morrer e a morte não apenas como
uma dimensão biológica (de doença e cuidados contínuos), mas também psicológica
(consciência da finitude e fragilidades da vida) e sociológica (isolamento do moribundo e outros
problemas sociais).
Em todo o caso, preparar a própria morte é uma das tarefas mais importantes, senão a mais
importante, de todo o ser humano e mais ainda o idoso. A morte deve ser encarada com
naturalidade e não como um fatalismo ou fracasso da medicina. Para além de que a aceitação
ou não desta fase terminal depende, com frequência, do grau com que a pessoa idosa continua
a situar-se em relação à família, aos amigos, à sua comunidade, assim como aos seus valores e
à sua consciência de continuar a ser útil aos outros.
Apresenta-se mesmo uma perspectiva (positiva, mas não sem algumas apreensões) quanto à
velhice no século XXI, supondo-se que a ansiedade face à morte pode evoluir positivamente em
alguns aspectos, mas também negativamente noutros; por exemplo, no futuro pode-se ter mais
medo de ser vítima de violência e também, a nível mais pessoal, de ficar suspenso entre a vida
e a morte, considerado nem vivo nem morto, dadas as possibilidades da tecnologia e da
medicina. Mas em geral, pode supor-se que o envelhecimento e a morte se tornarão menos
marginais e mais integrados socialmente.

Os idosos podem beneficiar com o pensamento consciente sobre as suas preferências a


respeito da qualidade vs quantidade de vida ou sobre o género específico de tratamento e do
contexto que preferem a sua morte.

Ainda, a respeito do pensamento da morte, os idosos tendem também a fazer mais seguros de
vida, a preocupar-se com o testamento, a fazer (alguns deles) uma autobiografia ou pelo
menos a transmitirem oralmente as suas vontades, para além de outros comportamentos
psicossociais, como voltar-se mais para si mesmos, relativizar certos acontecimentos, etc.

 Medo da morte

O medo da morte relaciona-se, na maior parte das vezes, com o seu processo, o facto de ser
destruído, de deixar as pessoas mais significativas, medo do desconhecido, da sorte do corpo. A
morte acontece não só aos idosos, como também aos jovens. É comum a todas as idades,
embora o jovem espere durar ainda muito tempo, enquanto tal expetativa não a pode ter o
idoso, pois este encontra-se em melhor situação, por já ter alcançado o que esperou. Uma boa
atitude face à morte leva a uma melhor vivência do tempo no presente: passam as horas, os
dias, os meses, certamente os anos; o tempo que passou já não volta e desconhecemos o
futuro; deve cada um contentar-se com aquela porção de tempo que lhe foi dada para viver.
Mais importante que a quantidade é a qualidade do tempo: o tempo para se viver, ainda que
breve, é suficientemente longo para se viver bem e com honra.

28
9-1- O Agente em Geriatria e a morte

A aceitação da morte e do luto são processos complexos. Muitas pessoas estão sós quando se
encontram perante a morte. Aqui o agente de geriatria desempenha um papel fundamental no
acompanhamento na morte, ou no auxílio à ultrapassagem do luto. Estas duas experiências,
embora muito dolorosas, podem conduzir o indivíduo a um estado sereno face à morte ou a um
novo período da sua vida no qual se sente psicologicamente mais forte. A morte é
incontornável e as nossas sociedades devem reintegrá-la, a fim de auxiliar os idosos a partir
dignamente. É importante que o profissional se consciencialize que numa fase em que a morte
está perto, se deve transmitir serenidade e paz interior ao moribundo. Para o auxiliar a atingir
este estado, é necessário que o cuidador esteja sereno perante a morte e suficientemente
equilibrado relativamente a esta questão. Para que o idoso ultrapasse o estado de angústia e
chegue a uma fase de aceitação, são necessárias muitas horas de diálogo e escuta. É também
de extrema relevância um trabalho de aconselhamento e de apoio aos pais, filhos amigos, etc.
Na maior parte dos casos, o idoso apenas reclama apoio e atenção.
Qualquer que seja a sua forma, o acompanhamento na morte faz parte do direito que toda a
pessoa tem de morrer em dignidade.

 Etapas do processo da morte e do luto:

- Negação: o idoso não quer acreditar que vai morrer e rejeita a ideia da morte.
- Revolta: o idoso indigna-se e questiona-se “porquê eu?”.
- Melancolia: período de tristeza (dita depressiva), o idoso desliga-se do seu meio e
isola-se.
- Medo: depois da tristeza vem o medo ligado ao sentimento de abandono, o medo
geralmente manifesta-se por sintomas físicos, angustia ou reações agressivas.
- Negociação: o idoso aceita a morte mas dá-se conta de que o tempo lhe falta, que a
sua vida está a acabar e tenta ganhar tempo negociando. Ex. “sim, eu vou morrer mas
falta algum tempo”.
- Aceitação: não é feliz nem infeliz é um estádio da paz e conformismo “a minha hora
vai chegar em breve e estou pronto”.
- Reajustamento da rede social: o idoso tenta encontrar outras pessoas fontes
positivas de energia para encher o seu vazio interior.
- Perdão: o idoso torna-se capaz de se desligar concretamente de alguém ou de alguma
coisa e de se desprender, o que lhe permite integrar o que vive da sua experiência
pessoal.

 Meios para reforçar o sentido da vida nos idosos:

- Reminiscência: através de uma discussão orientada, facilitar o exame da vida


passada, de modo a resolver os conflitos latentes, realçar os êxitos/ talentos e
transmitir as lições da experiência.
- Compromisso: dar aos idosos ocasiões de consagrar/ dedicar o seu tempo e
energias a uma tarefa ou a outra pessoa.

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- Optimismo: Evocar acontecimentos em perspectiva e manter a esperança de
um futuro melhor. “É olhando para o futuro que se tem melhores oportunidades de
ultrapassar as dificuldades presente.”
- Religião: encorajar as crenças religiosas e as práticas enriquecedoras.
“Quando tudo está perdido, incluindo a saúde, a faculdade espiritual de tender para
Deus continua a ser um meio eficaz de combater o absurdo da vida e o desespero.”

Conclusão

Procurou-se com este manual transmitir a necessidade da existência de uma consciência ética,
que oriente a atividade profissional de quem trabalha na área do acompanhamento de pessoas
idosas.
Teve-se como objectivo sensibilizar para a importância e o papel da ética profissional em
atividades que influenciam diretamente a vida das pessoas. Definiu-se a diferença entre ética e
deontologia, salientando o papel da ética profissional e chamando a atenção para a
necessidade de uma reflexão ética sobre a função que se desempenha e o eu papel na
sociedade atual. Espera-se, por parte de cada um, uma abertura para a interiorização destes
conceitos.
O cumprimento da ética profissional não deve começar no conjunto de regras, que os códigos
de ética compilam, mas na consciência de quem tem do dever de os pôr em prática.

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