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Teoria Geral do Direito Civil

Washington Luiz Junior


7 - Fatos, Atos Jurídicos e Negócios
Jurídicos
• 7.1 - Fato jurídico
• 7.2 - Ato lícito
• 7.3 - Ato ilícito
• 7.4 - Negócio Jurídico
Conceito
• O direito tem sua origem como um fenômeno social
em FATOS;
• As relações jurídicas procedem sempre de um fato;
• Contudo não são todos os fatos que ocorrem no
meio social que interessam ao direito, mas aqueles
que conduzem a um efeito jurídico;
• Desta forma interessam ao mundo jurídico os fatos
capazes de causar a consequência prevista na ordem
jurídica.
• O CCB após dispor sobre sujeitos de direito
(pessoas físicas e jurídicas) e sobre o objeto do
direito (bens), passa a regular os fatos
jurídicos, que são os acontecimentos em
virtude dos quais as relações jurídicas nascem,
subsistem e se extinguem.
• Com efeito FATO JURÍDICO em sentido amplo
(LATO SENSU)é aquele que dá origem a uma
relação jurídica.
• “São acontecimentos em virtude dos quais as
relações de direito nascem, se modificam ou
se extinguem” (Savigny).
Classificação dos fatos jurídicos
• Classificam-se em fatos naturais e fatos
humanos.
Naturais
• Originados de um acontecimento natural, fato da
natureza, sem interferência da vontade humana,
mas que produz efeitos jurídicos.

• Ordinários: nascimento, morte, maioridade, etc;

• Extraordinários (caso fortuito ou força maior):


desabamento de prédio em virtude de furacão,
incêndio de prédio causado por raio, etc.
• Os fatos acima embora advindos da natureza
trazem consequências (por via de alterações
em estado pré concebidos - alterações) para o
direito;
• Ex.: o nascimento marca o início da
personalidade; a morte extingue a
personalidade;
• Na força maior há sempre um acidente que
provoca um prejuízo e a força que dá origem
ao evento é a natureza;
• No caso fortuito, o acidente que gera um dano
advém de uma causa desconhecida e
totalmente imprevisível.
• O fato humano é o que ocorre em virtude do engenho
humano, abrangendo tanto os atos lícitos quanto os ilícitos;
• Pode ser:
• VOLUNTÁRIO – se produzir os efeitos desejados por
quem produziu o ato (negócio jurídico ou ato jurídico);
• INVOLUNTÁRIO – se acarretar consequências jurídicas
não almejadas pelo agente (ato ilícito), tendo como efeito
uma sanção prevista em lei. Este fato não origina direitos a
quem o pratica, mas somente deveres que variam em razão
do prejuízo causado.
Obs.
• Ato lícito gera direitos;
• Ato ilícito não;
Negócio jurídico
• “Negócio jurídico é aquela espécie de ato jurídico que, além de
se originar de um ato de vontade, implica a declaração
expressa da vontade, instauradora de uma relação entre dois
ou mais sujeitos, tendo em vista um objetivo protegido pelo
ordenamento jurídico. Tais atos, que culminam numa relação
intersubjetiva, não se confundem com os atos jurídicos em
sentido estrito, nos quais não há acordo de vontade, como, por
exemplo, se dá nos chamados atos materiais, como os da
ocupação ou posse de um terreno, a edificação de uma casa
no terreno apossado, etc. Um contrato de compra e venda ao
contrário, tem a forma específica de um negócio jurídico...”
(Miguel Reale)
Finalidade negocial
• No negócio jurídico a manifestação de
vontade tem finalidade negocial, que abrange
a aquisição, conservação, modificação ou
extinção de direitos.
Curiosidade
• O art. 81 do código de 1916 referia-se a “ato” jurídico o
que hoje temos como “negócio” jurídico:

TÍTULO I
DOS ATOS JURÍDICOS
CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES GERAIS
• Art. 81. Todo o ato lícito, que tenha por fim imediato
adquirir, resguardar, transferir, modificar ou extinguir
direitos, se denomina ato jurídico.
Aquisição de direitos
• Ocorre a aquisição de um direito com a sua
incorporação ao patrimônio e à personalidade do titular;
• Originária: quando se dá sem a interferência do titular
anterior. Ex.: ocupação da coisa sem dono (res nullius);
• Derivada: quando decorre de transferência feita por
outra pessoa, caso em que o direito é adquirido com
todos os defeitos e qualidades do titulo anterior;
• Ex.: compra de imóvel, situação em que o adquirente
adquire o imóvel na situação em que se encontra, se
hipotecado o recebe nesta condição;
Extinção de direitos
• Ocorre via de regra quando estes saem do
domínio do titular.
• Após a extinção a vontade manifesta sobre
determinado bem ou direito não é capaz de
alterar a relação jurídica pré existente por
ausência de vínculo entre o sujeito e o objeto;
• Exs.: perecimento do objeto, alienação,
renúncia, falecimento de titular de direito
personalíssimo, prescrição, decadência, etc.;
A tricotomia
Existência-Validade-Eficácia
• É possível distinguir no mundo jurídico os
planos de
• existência;
• validade;
• (e) eficácia do negócio jurídico;

• Importante ressaltar que os vocábulos não


podem ser usados como sinônimos;
• Fundamentalmente, é necessário se apurar se
o negócio a ser criticado existe;
• A partir de sua existência, apurar-se-á se o
mesmo é válido e partir de sua validade se
produz os efeitos desejados no mundo jurídico
– eficácia;
• Mister ressaltar que a partir da existência é
possível se deparar com um ato licito ou ilícito;
Existência
• O plano da existência diz respeito aos
elementos que integram o ato, posto que
elemento é tudo que integra a essência de
algo;
Validade
• O plano da validade é o dos requisitos
(preceitos legais) do negócio jurídico, porque
estes são condição necessária para o alcance
de certo fim;
Eficácia
• O plano da eficácia refere-se a alcançar o
efeito pretendido e aguardado a partir da
manifestação de vontade referente ao
negócio.
Negócio existente, válido e eficaz:
• Casamento entre homem e mulher capazes;
• Sem impedimentos;
• Realizado perante autoridade competente;
Negócio existente, válido e ineficaz:

• Testamento realizado por pessoa capaz;


• Feito com observância das formalidades
prescritas em lei;
• Sem que contudo tenha ocorrido a morte do
testador;
Negócio existente, inválido e eficaz:

• Casamento putativo;
• Negócio jurídico anulável, antes da decretação
da anulabilidade;
Negócio existente, inválido e ineficaz:

• Doação efetuada por pessoas absolutamente


incapazes, sem a devida e necessária
representação.
Classificação dos negócios jurídicos
• Quanto ao tempo em que se devam produzir
efeitos:
• Inter vivos: produzem efeitos em vida dos
interessados (adoção, casamento, doação);
• Causa mortis: produz efeito após a morte dos
interessados (testamento);
Quanto as vantagens
• Gratuito: quando dão vantagens sem a exigência de
contraprestação, e apenas uma das partes se
beneficia (do ponto de vista patrimonial) – doação;
• Oneroso: quando resultam em vantagens e
sacrifícios recíprocos (compra e venda); Estes podem
ser comutativos se as prestações de ambas as
partes são equivalentes do ponto de vista
patrimonial ou aleatórios, quando não há, em
princípio equivalência nas prestações (contrato de
seguro).
Em suma:
• Gratuita: quando só o adquirente aufere
vantagens. Ex.: sucessão hereditária;

• Onerosa: quando existe contraprestação;


Quanto a manifestação de vontade
• Unilaterais: quando a declaração de vontade
emana de uma só pessoa (promessa de
recompensa);
• Bilaterais: dependem do concurso de duas ou
mais pessoas. Podem ser simples – vantagem
apenas para uma parte (doação) – ou
sinalagmáticos – vantagens e ônus recíprocos
(compra e venda)
Quanto ao destinatário
• Receptícios: dependem do conhecimento do
destinatário para produzir efeitos (rescisão de
contrato);
• Não receptícios: os que não dependem de
conhecimento do destinatário (testamento);
Quanto às formalidades
• Solenes ou formais – com forma prevista em lei;
• Não solenes – quando não há necessidade de
forma especial;
• Obs.: O CCB assevera que a forma dos negócios é
livre, a não ser que haja previsão legal de uma
forma especial, sem a qual o ato não tem
validade. Assim o casamento exige forma especial,
a compra e venda de bens móveis, não.
Interpretação do negócio jurídico
• É possível que alguma cláusula contratual
venha a trazer dúvidas, obscuridades,
contradições, de maneira que terá que ser
interpretada, a fim de que se chegue à real
intenção das partes.
A seguir, algumas regras:
• Nas declarações de vontade, dá-se a prevalência à
intenção (vontade) sobre a declaração (o sentido
literal, gramatical, do texto); o que importa é a
verdade real, e nãoa declarada;

• Art. 112. Nas declarações de vontade se atenderá


mais à intenção nelas consubstanciada do que ao
sentido literal da linguagem.
• Há presunção juris tantum de que o vínculo
negocial foi firmado de boa fé. Esta se
presume, mas não é absoluta, de sorte que a
má fé pode ser comprovada.

• Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser


interpretados conforme a boa-fé e os usos do
lugar de sua celebração.
• Os negócios jurídicos benéficos e a renúncia devem
ser interpretados restritamente. Assim, os atos que
envolvam uma liberalidade, assim como aqueles que
representam uma renúncia a um direito, em caso de
dúvida ou obscuridade, consideram-se de maneira
restrita, não podendo o Juiz interpretá-los
extensivamente.

• Art. 114. Os negócios jurídicos benéficos e a


renúncia interpretam-se estritamente.
• Os negócios devem ser entendidos de maneira
menos onerosa para o devedor.

• Assim como:

• Nas cláusulas duvidosas, prevalecerá o


entendimento de que se deve favorecer a
quem se obriga.
• As cláusulas contratuais devem ser
consideradas como um todo sistemático, e
não isoladamente;
• As regras de interpretação dos negócios
jurídicos não se esgotam nestes artigos,
especialmente na parte dos contratos onde
outros princípios são encontrados;

• No CDC também são explicitadas normas


sobre interpretação dos contratos,
favorecendo o devedor.

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