Você está na página 1de 45

TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL

Direito público – através das competências e hierarquias que dão autonomia publica.
Direito privado – através da igualdade e liberdade que dão autonomia privada.

NEGÓCIO JURÍDICO

Um negócio jurídico é ato de autonomia privada ao qual o direito associa a


aquisição, modificação, transmissão e extinção de direitos e deveres e que pressupõe
liberdade de celebração e estipulação para todas as partes do negócio.

Artigo 24º CRP – Direito à vida:


No caso do direito à vida, sabemos que este nos é concedido por estar expresso, em
forma de norma jurídica na Constituição Portuguesa. Estas normas são concedidas,
no seu todo, pela comunidade. Trata-se de um trabalho coletivo que tem por objetivo
pautar as leis pelas quais toda a sociedade se guiará.

Nos casos de posse de objetos, algo não nos pertence simplesmente porque a lei
assim o diz, isto é, não existe efetivamente legislação que indique claramente que um
determinado objeto pertence a alguém.

Os negócios surgem devido às infinitas necessidades do ser humano, e para que as
possa satisfazer tem de recorrer a bens.
Distingue-se:
 Lei - ato heterónimo. A comunidade cria leis exteriores e gerais que serão
aplicadas a todos.
 Negócio - Ato de vontade criador de direitos e deveres para o Homem;
Autónomo; Individual.

Negócio e sistema jurídico – Enquadramento


Como cada ser humano tem múltiplas necessidades e em múltiplos casos o acesso
aos bens de satisfação depende de terceiros ou apenas está acessível com apoio de
outros, não basta os bens, é necessário afetar os bens às pessoas e para tal o direito
intervém para afetá-los. (Há necessidades que são satisfeitas pela lei)

Necessidades  Bens  Outro  Direito

Normas de Conduta – norma que diz o que cada um pode (direito subjetivo), tem de
fazer (obrigação) e não pode fazer (dever genérico).  as normas de conduta surgem
heteronomamente da lei ou autonomamente dos negócios.

O negócio jurídico é fruto do reconhecimento da liberdade das pessoas. No entanto,


há variadas formas de liberdade que não criam direitos nem deveres. O negócio cria
direitos e deveres  ato livre e jurígena.

Um negócio jurídico não se autolegitima, precisa da lei/Constituição (artigo 405º,


CC)  Liberdade contratual: “dentro dos limites da lei”.
Exemplos:
- O ato autónomo é um ato de vontade de cada um; só é admitido na estrita medida do
ordenamento jurídico:
1. O avô morre e deixa em testamento um palacete ao neto de 10 anos. O neto
quer oferecer o seu palacete a uma menina de 8 anos. Pode fazê-lo? Tratar-
se-á de um negócio jurídico?
Não, porque existe vontade, mas é desregrada e fora do ordenamento
jurídico, logo não se pode considerar um negócio jurídico.

Artigo 124º  Suprimento de incapacidade de menores


2. Um professor propõe publicamente a uma pessoa que vive com dificuldades
económicas vender-lhe um quadro extremamente valioso por apenas 100€,
para que a pessoa o vende e resolva os seus problemas. O comprador aceita o
valor. Mais tarde vem a saber-se que a vontade do professor não era ajudar a
pessoa, nem vender-lhe o quadro, era apenas parecer caridoso perante a
plateia. Em que termos se realizará o negócio?

De acordo com a lei, não importa qual era a real intenção por trás da proposta
do vendedor. A partir do momento em que o valor é acordado o vendedor não
pode alterá-lo, alegando a sua intenção. Há negócio jurídico, de acordo com o
acordo prévio. ou seja, é obrigado a vender, porque declarou vontade
Artigo 244º - reserva mental

3. O António contrata um homem para que este mate a sua mulher, que o traiu.
Existe vontade de ambas as partes e está tudo acordado, mas o ato que vão
cometer vai contra o ordenamento jurídico, logo não se trata de um negócio
jurídico.

Nem sempre existiu negócio jurídico:


 Fruto da importância da liberdade de cada um;
 Necessidade e esforço de concretizar liberdades individuais.

Autonomia privada

Espaço de liberdade jurígena atribuído pelo direito às pessoas, podendo ser definida
como uma permissão normativa genérica, que produz efeitos jurídicos.

 Sentido amplo: Espaço de liberdade que é concedido a cada um dentro da ordem


jurídica e que inclui tudo o que as pessoas podem fazer.
 Sentido restrito: corresponde a um espaço de liberdade jurídica; uma área
reservada onde as pessoas podem desenvolver as atividades jurídicas que
entenderem.

Facto jurídico: Todo o acontecimento de origem natural ou humana que gera


consequências jurídicas

Facto voluntário: Facto cuja ocorrência depende da vontade humana e da qual podem
resultar 2 situações permissivas distintas:
 Liberdade de celebração – A autonomia privada permite praticar ou não certo
ato jurídico.
 Liberdade de estipulação – selecionar os efeitos que se vão produzir.
 Quando temos liberdade de celebração estamos perante um ato jurídico em
sentido restrito.
 Quando temos as 2 liberdades acima indicadas estamos perante um negócio
jurídico, pois este pressupõe estas 2 liberdades.

A autonomia privada é o instituto geral do Direito privado. Neste âmbito vamos


encontrar diferentes áreas de incidência, sendo que há áreas onde o peso da
autonomia privada é maior ou menor.

Negócio Jurídico

 Postula quer liberdade de celebração, quer de estipulação.

4 teorias:
1. O negócio jurídico surge como um ato de vontade dirigido à produção de certos
efeitos;
2. Ato de vontade tendente a um fim protegido pelo ordenamento jurídico;
3. Ato de autorregulamentação de interesses;
4. Ato de autonomia privada a que o direito associa a:
 Constituição;
 Transmissão;
 Modificação;
 Extinção.

Eficácia Jurídica

 A produção de efeitos jurídicos é a dimensão dinâmica das situações jurídicas:

 Eficácia constitutiva – Quando se forma uma situação jurídica nova.


 Eficácia transmissiva – Quando uma situação jurídica que já existente se
transmite da esfera jurídica de alguém para a de outrem.
 Eficácia modificativa – Quando há um negócio com um determinado vicio* e é,
consequentemente, anulável.
 Eficácia extintiva – Quando uma ordem jurídica desparece de uma situação
antes existente: cumprida uma obrigação esta extingue-se.
 Eficácia pessoal – Diz respeito a situações em que a situação jurídica se
constitua, transmita, modifique ou extinga, mas que não têm natureza
patrimonial, fazendo com que a situação jurídica tenha natureza pessoal;
 Eficácia obrigacional – Quando as vicissitudes se reportem a situações
jurídicas obrigacionais
 Eficácia real – Quando as vicissitudes se reportem a situações jurídicas reais;
 Eficácia sucessiva - Na sucessão, a situação jurídica mantém-se estática, o
que acontece é que há uma pessoa que vem ocupar uma esfera jurídica.

*Falha ou defeito oculto existente no objecto de uma venda, que o torna menos próprio 
para o uso a que se destina ou que diminui o seu valor, e do qual o comprador não tev
e conhecimento no momento da transação.
Transmissão vs. Sucessão

Verifica-se a passagem de uma Substituição de uma pessoa por outra,


situação jurídica da esfera mantendo-se estática uma situação jurídica, a
jurídica de uma pessoa para a qual, que estava inicialmente na esfera de uma
de outra. pessoa, surge depois da troca na de outra.

Modalidades do negócio jurídico

 Negócio unilateral – Quando tem uma única parte (não é a pessoa). Ex.:
Testamento – artigo 2179º; Renúncia – artigo 1476º; Confirmação – artigo 288º; …
 Negócios conjuntos – várias pessoas são titulares de posições jurídicas que
só podem atuar em conjunto. Ex.: copropriedade – todos os coproprietários
são chamados a uma atuação conjunta.
 Deliberações – várias pessoas são titulares de posições jurídicas
congruentes, mas que podem atuar em sentidos divergentes, no entanto, a
posição final é definida pela maioria.
 Negócio multilateral / contrato – Produto de 2 ou mais partes. Ex.: Contratos
compra e venda – artigo 874º
 Contratos sinalagmáticos – Obrigações recíprocas, ficando as partes,
simultaneamente, como devedores e credores.
 Contratos não-sinalagmáticos – Apenas facultam uma prestação. (ex.:
doação).

 Monovinculantes – 1 parte obrigada;


 Bivinculantes – Apresentam vinculações para ambas as partes.

 Promessa unilateral – Ex.: pode apenas o vendedor se comprometer a vender ou o


comprador a comprar – contrato compra e venda 411º

 Inter vivos – produzem os seus efeitos em vida dos seus celebrantes.


Ex.: seguro.
 Mortis causa – Dependem da morte de alguém, ou seja, manifestam-se apenas
com a morte do seu autor.
Ex.: Testamento (artigo 2179º).

 Negócios formais – Para a sua conclusão a lei exige uma forma especial.
Ex.: Escrituras publicas sobre bens imóveis (artigo 875º)
 Negócios consensuais – Conclusão por simples consenso (artigo 219º) *; simples
manifestação de vontade
*Os negócios jurídicos só requerem forma especial quando a lei assim o exija – Princípio do
consensualismo

 Negócios reais quanto à constituição (quoad constitutionem):


Relativamente a negócios reais
Aqueles cuja celebração depende da tradição de entrega de uma coisa.
Ex.: Penhor (669º); Comodato (1129º); Depósito (1185º); mútuo empréstimo (1142º)
 A doação pode ser formal ou não-formal (sujeita à tradição da coisa)

 Negócios reais quanto aos efeitos (quoad effectum):


Quando afirmamos que estamos frente a um negócio real quanto aos efeitos, esse
negócio opera a transmissão da propriedade ou de qualquer outro direito real
Podem classificar-se em pessoais, obrigacionais ou reais (quoad effectum), consoante
o tipo de eficácia a que deem lugar:
 Negócios obrigacionais  Todos os que têm eficácia obrigacional de fazer
algo.
Ex.: Contrato de promessa de compra e venda.
 Negócios pessoais  Os que não têm eficácia real; não há transmissão de
propriedade.
Ex.: Direitos de personalidade.
 Negócios reais  Quando está em causa o direito de propriedade ou de
usufruto;
Ex.: compra e venda, há́ uma eficácia transmissiva/translativa do direito real da
coisa que passa do vendedor para o comprador. A compra e venda no direito
português não é um contrato real quanto à constituição.

 Negócios abstratos  A sua eficácia produz-se e consagra-se


independentemente de qualquer causa.
Ex.: Deposito de um cheque no banco.
 Negócios causais  A sua origem tem que ser explicada para que a sua eficácia
se manifeste e subsista.

 Negócio atípico  Engendrado pelas partes; não consta da lei


 Negócio típico  Regulamentação consta na lei
 Nominado: Quando a lei designa o negócio jurídico pelo seu nome
(nomen iuris).
Ex.: compra e venda; doação; sociedade.
 Inominado  Quando o negócio jurídico tem regulação supletiva legal,
mas não seja apelidado senão pela doutrina.
Ex.: “contrato de associação” (166º/168º)

 Negócio misto (405º)  exemplo: Contrato de concessão - não está previsto na lei,
mas já existe tipicidade social.
 Negócio oneroso  Quando implica esforços económicos para ambas as partes,
em simultâneo e com vantagens correlativas.
 Negócio gratuito  Quando uma das partes tire só vantagens ou só sacrifícios –
esforço económico de 1 parte e benefícios da outra:
 A vontade livre do sacrificado determina uma intenção de doar.

 Negócio de Administração  implica modificações secundarias no conteúdo da


situação jurídica.
 Negócio de disposição  Põe em causa a própria subsistência da situação
jurídica.

 O corte de arvores poderá ser um ato de administração quando se tratar de um


prédio afeto à exploração de madeira e se tal não acontecer o corte das arvores
põe em causa a subsistência da situação jurídica- ato de disposição.
 A venda de um automóvel é um ato de administração para o estabelecimento da
especialidade que tenha dezenas de automóveis para tal efeito. Mas pode ser um
ato de disposição para o cidadão comum.

 Negócio parciário  Quando implica a participação dos celebrantes do negócio


jurídico em determinado resultado.
Ex.: contrato de sociedade (980º)
 Negócio de organização  Visa montar uma estrutura de cooperação permanente.
Ex.: contrato de sociedade
 Negócio de distribuição  Visa percorrer o circuito económico, ligando a produção
ao vendedor final.
 Negócio de consumo  Aquisição de bens pelo consumidor final.
 Negócio aleatório  Quando no momento da celebração sejam desconhecidas as
vantagens patrimoniais que vão resultar para as partes. Ex.: Contratos de jogo e
apostas (1245º)

 Negócios instrumentais, preparatórios e acessórios:


Podem fazer sentido por se articularem com outros negócios;
Pode-se discernir um negócio principal/final, surgindo os restantes como
acessórios:
 Instrumental – Contrato-quadro: definirá os perfis de negócios
posteriores que regularão os interesses em jogo.
 Preparatórios – Contrato promessa, pacto referencia, opção, carta de
intenção e outros – preparação do negócio definitivo
 Acessórios – Fiança e diversos protocolos laterais.

Os contratos em causa só ganham sentido dentro do conjunto mais amplo em que
se insiram.

Elementos e pressupostos negociais


 3 elementos relativamente ao negócio jurídico:
 Essenciais – necessariamente presentes em cada negócio jurídico e que
podem abranger:
 Gerais  devem surgir em todos os negócios jurídicos para que
estes sejam validos e são:
 A capacidade das partes
 Declaração/declarações de vontade
 Objeto possível
 Específicos  variam consoante o tipo negocial
 Naturais – Efeitos que, pela sua natureza, os negócios produzem, mas que
as partes podem afastar ao abrigo da autonomia privada.
 Acidentais – Estipulações que não são necessárias para a consistência de
um negócio; as partes podem, ao abrigo da autonomia privada incluir nos
negócios que celebrem.
Formação do negócio jurídico

Declaração de vontade/negocial
 O negócio jurídico, enquanto manifestação última da vontade humana, assenta em
declarações de vontade.
 Efetivamente apenas a vontade exteriorizada, de modo a ser reconhecida, pode
provocar efeitos jurídicos.

 A declaração é um pressuposto do NJ.


 Pode ser multilateral quando requeira, na sua completude, mais de 1 declaração
de vontade. Nos unilaterais o negócio jurídico surge como efeito resultante da
declaração.

Elementos e natureza da declaração:


 Vontade humana:
 Vontade de comportamento  permite constatar a presença de uma efetiva
vontade humana
 Vontade / consciência da declaração o sujeito age voluntariamente,
conhecendo a dimensão jurídica da atuação
 Vontade do negócio  desejo de desencadear os efeitos/conteúdo do
negócio em causa.
 a declaração

Natureza da declaração
 Teoria da vontade (Savigny) “a vontade deve ser pensada como a única
realidade, eficaz e importante”. Assim, havendo erro já não haveria vinculação.
 Teoria da declaração  valida a exteriorização da opção
Opções entre concessões subjetivistas (relevância da vontade) e objetivistas
(relevância da exteriorização).

 Mais tarde estas teorias evoluíram:


 Teoria da comunicação
 Teoria da confiança

 relação de concordância que se estabelece entre ambas

Modalidades de declarações

Distinção entre declarações expressas e declarações tácitas.


 Declaração expressa - Artigo 217, no1 – a declaração negocial é expressa
quando feito por palavras, escrito ou qualquer outro meio direto de manifestação
de vontade.
 Declaração tacita – A declaração é tácita quando se deduz de factos que, com
toda a probabilidade, a revelam. (Vamos admitir que se trata de um negócio formal
– há́ que referir que a natureza formal de um negócio não impede que a
declaração seja tacitamente emitida – ver artigo 219.)

Ausência de declaração.
 O silêncio, por natureza e definição, implica ausência de declaração, seja qual
for o seu tipo. Regra geral, o silêncio não permite a formação de um negócio
jurídico (não há́ exteriorização ou comunicação da vontade.) No entanto, a lei
(artigo 218) admite em certos casos que o silêncio valha como declaração
negocial (não o é, mas pode valer como tal.) Quais os casos? Artigos 923 no2
e 1163. É previsto este valor de declaração negocial relativamente a usos
(pratica reiterada). É previsto também na situação de convenção (artigo
celebrado ao acordo da autonomia privada) – o silêncio vale se estiver
estipulado através da vontade das partes.

Distinção entre declarações recipiendas e declarações não recipiendas.


 Declarações são recipiendas ou não recipiendas consoante tenham ou não
destinatário. Normalmente, as declarações são recipiendas (têm sempre um
destinatário). Mas casos há́ também em que pode ser feita uma declaração a
uma generalidade de pessoas, não tendo assim um destinatário determinado
(declaração não recipiendas).

 Distinguir o momento em que a declaração se torna eficaz. Para isto,


definiram-se cinco teorias:
 Teoria da exteriorização – de acordo com esta, a eficácia verifica-se logo que a
declaração é exteriorizada; (artigo 224, no2)
 Teoria da expedição – a eficácia verifica-se logo que a declaração seja enviada
para o destinatário;
 Teoria da receção – vem afirmar a eficácia da declaração negocial quando a
mesma chega ao poder do destinatário; (artigo 224, no1) não podendo ter uma
certeza quando a esta, privilegia-se a teoria do conhecimento;
 Teoria do acolhimento ou da posse – a eficácia da declaração negocial ocorre
quando esta chega ao poder efetivo do destinatário;
 Teoria do conhecimento – a eficácia da declaração só́ surge quando a mesma
chega ao conhecimento do destinatário. (artigo 224, no1) Nota – consagradas
duas teorias no mesmo artigo, é relevante o que acontecer primeiro.

 Distinção entre as declarações presumidas e as declarações fictas


A lei associa a um determinado comportamento uma declaração negocial. Esta
presunção podia ser afastada pelo interessado nas declarações presumidas, mas
não nas fictas. (Distinção, no entanto já́ abandonada.)

 Distinção entre declarações subsequentes e contradeclarações


 As declarações subsequentes incidem sobre declarações prévias.
 As declarações típicas subsequentes: na base de atos ou negócios
unilaterais visam modificar ou extinguir a eficácia de declarações
anteriores;
 As declarações atípicas subsequentes: são acordadas pelas partes
ou geradas pela situação negocial;

 As contradeclarações são declarações reportadas a outras declarações com o


âmbito de suprimir ou revogar a eficácia dessas declarações.
 Declarações não negociais
 são as declarações que não comportam a liberdade de estipulação, mas somente a
liberdade de celebração (definição do professor Paulo Cunha). São, em regra,
declarações unilaterais subsequentes.
Exemplo: a ratificação, a confirmação, a validação, etc. Segundo o Professor
Menezes Cordeiro, o relevo desta categoria é o de alguma clarificação linguística, de
modo a uma mais fácil compreensão de declarações que não tenham liberdade de
estipulação.

TGDC – 12/10/18
O SURGIMENTO DO NEGÓCIO

O modelo básico = contrato entre ausentes:


O negócio opera num nível muito elevado de abstração – formação implica atividades
de complexidade variada:
 Pode ocorrer de imediato – simples consentimento;
 Pode implicar atividades preparatórias complexas.

 O modelo básico permite fixar regras que são utilizáveis para compor modelos
mais simples ou mais complexos.
 O surgimento do negócio é o resultado de uma atividade jurídico-científica,
operada a partir do modelo básico.
 O negócio jurídico pode ter, em termos da sua formação, uma complexidade muito
variável. Pode ocorrer de imediato com a manifestação da vontade, mas também
pode envolver atividades preparatórias (algumas complexas), traduz-se numa
complexidade necessariamente maior.

Processo – há processo quando diversos atos jurídicos se encadeiem, de modo a


proporcionar um objeto final.

 A natureza processual de uma determinada sequência faculta 2 conclusões:


 O resultado final depende da verificação dos diversos atos processuais;
 Cada um dos atos processuais em si só faz sentido, tendo em vista o resultado
final para que tendam.

Negócios Comuns
Formam-se entre presentes por adesão a fórmulas apresentadas a todos os
interessados.

3 formas de formação:

 Aquisição por apreensão ou por indicação seguidas de pagamento:


 É habitual nos negócios correntes de consumo
 Ex.: o adquirente apreende num supermercado os bens que lhe interessem,
devidamente etiquetados. O negócio conclui-se com o pagamento, na caixa.
 O consenso entre as partes antecipa as declarações, caso as haja: a
concordância é que prova as declarações.
 Contratação por escolha em lista, seguida pela utilização ou pelo consenso e
posterior pagamento
 Recorrente em restaurantes.

 A adesão a clausulas contratuais gerais


 Adesão a contratos que já estão elaborados – contratos de transporte ou da
banca de seguros

negócios bilaterais ou contratos


 a formação do negócio implica o acordo de duas vontades:
 Recorre-se à ideia de processo - esta ideia permite explicar a formação do negócio
jurídico; em Direito, há́ processo quando diversos atos jurídicos se encadeiam de
modo a proporcionar um resultado final. Vai significar que o resultado final
depende dos atos do processo e da lógica funcional de cada ato.
 Vamos encontrar, no processo do negócio jurídico, fases necessárias e fases
eventuais.

Técnica da contratação
1ª fase - obtenção de informação
2ª fase – minuta do projeto do contrato
3ª fase – aplicação hipotética do contrato
4ª fase – superação dos conflitos de objetivos
5ª fase – negociações contratuais
6ª fase - instrução e aconselhamento
7ª fase - elaboração do documento contratual

Escolha das melhores opções de técnica:


 Caminho mais seguro – eleger as vias que gerem menos riscos de
responsabilidade;
 Caminho menos dispendioso – jogam os custos fiscais, custos de transação e
os da sua execução;
 Caminho mais praticável – evitar remeter para o futuro aspetos que se saiba
suscitarem duvidas ou que possam pôr em jogo a validade do contrato;
 Caminho mais flexível – numa realidade mutável / de evolução insegura, inserir
clausulas adequadas de proteção;
 Celebração de contratos preparatórios convenientes.

 Na prática, segundo Menezes Cordeiro, a contratação das partes realiza-se de tal


maneira que tudo se passa entre presentes, ou seja, no final quando chegamos à
elaboração do documento contratual não é possível apontar um proponente e um
destinatário já que ambos assumem.
 Relativamente à contratação encontramos referência á tipicidade. Nomeadamente:
 Processos típicos:
 Sede legal; tipicidade legal
 habitualmente adotados pelas partes; tipicidade social

 Processos atípicos:
 Todos os demais
 Podem prescindir de algumas das fases
 Podem prever e adotar fases para alem daquelas referidas
 Não seguem uma sequência típica
duas fases essenciais – proposta e aceitação

Princípio do consensualismo 219º- liberdade de forma


 Substanciam-se com a mera exteriorização da vontade
 No entanto há certos casos em que o direito estabelece regras – artigo 875º- é
necessário cumprir a forma especial

A FORMA DA DECLARAÇÃO

Forma vs. Formalidade

Forma de negócio - Modo utilizado para exteriorizar as declarações de vontade; dá a


corpo a uma exteriorização da vontade
Formalidade – Atuações ou desempenhos que não revelam a vontade, mas são
exigidas para a legalidade de certos negócios jurídicos

Exemplo: artigo 410º, nº3 - Exige-se que determinados contratos-promessa celebrados


por escrito (forma) se apresentem com reconhecimento presencial da assinatura e
certificação, pelo notário, da existência de licença de habitação ou de construção
(formalidade).

Forma ad substantiam vs. Ad probationem

 Ad Substantiam - Exigida pelo direito para a subsistência /legalidade do negócio


em si; na sua falta há nulidade.

 Ad probationem – Exigida para demonstrar a existência de negócio; na sua falta, o


negócio não pode ser comprovado, por o Direito não admitir qualquer outro modo
de prova quanto à sua existência
Artigo 364º, nº2 – quando resulte claramente da lei que uma certa forma é, apenas,
ad probationem, é possível demonstrar o negócio atingido ‘’...por confissão
expressam judicial ou extrajudicial, contando que, neste último caso, a confissão
conste de documento de igual ou superior valor probatório’’

Quais as razões que justificam a exigência de forma?


 3 razões justificativas, normalmente apontadas pela doutrina, da forma quando
esta for exigida:
 Solenidade – ato e efeito de dar a conhecer certas ações ao publico; certos
negócios são eficazes quando sejam conhecidos pelos elementos da
comunidade jurídica;
 Reflexão – se a forma de negócio é mais exigente, maior é a reflexão feita
pelas partes o que propicia uma decisão mais consciente. A reflexão é
especialmente importante quando estão em causa bens com maior valor
económico. A lei é mais exigente com bens imoveis do que com bens moveis.
 Publicidade – os negócios devem ter por princípio a transparência, sendo
conhecido por terceiros. A maior exigência de forma implica uma maior
facilidade no conhecimento.
 Prova – demonstração da ocorrência dos factos.
Segundo Menezes Cordeiro, as razões para a justificação das exigências de forma
não podem ser sempre entendidas como efetivas e racionais, pelo contrário em termos
tendenciais e históricos. Valem a inconstância histórica e geográfica:
 A desarticulação existente entre o valor dos negócios e a forma por que eles
devam ser celebrados pode bloquear a possibilidade de lhe fazer corresponder:
solenidade, reflexão ou prova.

C.C. prevê regras que vão mitigar a exigência de forma legal:


 221º nº2 – validade de clausulas acessórias que não observaram a forma legal;
admite a validade das clausulas acessórias independentemente de terem
adotado as formas legais
 232º - as partes têm de acordar as clausulas que acharam necessário o seu
acordo.
 293º - permite converter o negócio num outro formalmente menos rigoroso
para o salvar.

Outra forma de limitar a exigência:


Instituto do abuso de direito (334ºCC).

Forma legal, forma voluntaria e forma convencional


As declarações de vontade e os negócios jurídicos delas derivados alargam-se, por
vezes, abrangendo diversos aspetos, de natureza derivada. O cerne do negócio pode
assim ser complementado por clausulas acessórias – dispositivos que, não
constituindo embora os essenciais pretendidos pelas partes venham, no entanto,
ajudar num ou noutro sentido.
Desta forma pergunta-se até onde vão as exigências de forma e, designadamente, em
que medida se devem aplicar as clausulas acessórias, as regras dirigidas ao núcleo
negocial. Regulando o assunto, distingue o C.C.:

 Forma legal - É aquela que é exigida por lei para determinada declaração negocial;
casos em que a lei exige uma determinada forma para a declaração negocial

 Forma voluntaria - Aquela que foi livremente adotada pelas partes; verbalmente,
oralmente, escrito, …
Artigo 222º, nº1 e 2 – nulidade artigo 220º

 Forma Convencional - Convenção quanto à forma que as partes tenham pactuado


adotar. Artigo 223º

Artigo 221º e seguintes:


 221 – Clausulas acessórias mesmo que não adotem a forma legal podem ser
aproveitas se corresponderem à vontade do autor da declaração e as razoes não
lhes sejam aplicadas.
 222º - Aproveitamento de formas legais acessórias desde que correspondam à
vontade do autor e não seja exigida por lei a forma escrita
 223 – Havendo uma convenção quanto à forma outra qualquer forma não é valida,
pode ser qualquer coisa em prova em contrário
Formas especiais
CC e o Código do notariado
Distinguem os seguintes documentos escritos:
 Documentos autênticos: aqueles que são exarados pelo notário ou outras
entidades publicas. – Artigo 363º
 Documentos particulares: autenticados pelos particulares, com a exigência mínima
de assinatura:
 Simples: sem outra exigência para além da assinatura
 Reconhecidos – reconhecimento da letra ou da assinatura, atualmente só pode
ser presencial – exigem uma certificação publica do conteúdo ou da identidade
dos contraentes
 Não reconhecidos – documentos provados com reconhecimento de assinaturas
 Podem ser autenticados (CN) – quando são confirmados pelas partes perante
o notário; têm a mesma força probatória dos documentos autênticos (363º/2);
no entanto não substituem o documento autêntico para efeitos da validade de
negócio

CULPA NA FORMAÇAO DO CONTRATO


Artigo 405º
A autonomia privada concretiza se em termos positivos e negativos
+ liberdade de escolher o contrato
- Liberdade de não contratar

Na formação do contrato existem algumas regras ou as partes são completamente


livres?
- Existem regras e têm diferentes origens:

Origem contratual
quando as partes celebram factos preparatórios ficam vinculadas a esses factos
preparatórios

Origem legal especifica


surgem de diversas leis: lei das causas contratuais gerais (ex.)

Origem legal genérica


227º - regra de boa fé
Como é que surge este instituto? Autor alemão- não presença de negócios nulos em
que poderia haver danos cujo não ressarcimento seria injusto
Deveria indemnizar pelo interesse contratual negativo recolocando na posição em que
estaria se nunca tivesse acontecido o tal contrato

TDGD -15/10/18
A culpa na formação dos contratos é uma descoberta científica – Rudolf von Jhering.:
Por vezes perante a celebração de contractos nulos há a verificação de danos e o
sistema jurídico tem de responder que, não obstante o contrato ser invalido, não deve
haver uma indemnização destes danos que uma parte eventualmente sofreu?

 Jhering afirmava que deveria haver indemnização dos danos sofridos, mas pelo
interesse contratual negativo, ou seja, que a pessoa que sofreu danos devia ser
posta na situação que estava se não houvesse celebração de qualquer contrato/
se não tivesse havido qualquer negociação.
No BGB o legislador não consagrou a culpa en contrahendo, mas o nosso código civil
português no artigo 227º prevê este instituto. O que significa que o legislador
português admite a indemnização quando na formação do contrato as partes não
agiram de boa fé e devem indemnizar as partes lesadas.
Convém referir que se encontram 2 propostas de enquadramento: as soluções
negociais e as soluções legais.

Soluções negociais- procuram reconduzir a culpa na formação dos contratos e dos


deveres pré-contratuais ao próprio negócio jurídico; os deveres das partes, no decorrer
do processo de negociação, já são deveres contratuais.
2 propostas da doutrina alemã:

 A doutrina de Franz Leonard assenta na ideia de pré-eficácia dada a formação de


deveres pré-contratuais
 A doutrina foi criticada porque dizer que algo tem eficácia prévia pressupõe
caráter ilógico e contraditório - Como é que algo que ainda não foi celebrado já
tem efeitos? - supõe contradição ilógica.
 A doutrina de Heinrich Siber filia os deveres pré-contratuais numa espécie de
contrato preparatório que seria celebrado no início das negociações.
 Esta Doutrina foi criticada por ser ficcional (pressupõe uma ficção) – no início
das negociações não há qualquer contrato.
É a critica às soluções negociais que fez emergir as soluções legais.

Soluções legais - reconduzem à lei; no período pré-contratual e independentemente da


posterior celebração do contrato válido – resultam da própria lei; a origem dos deveres
pré-contratuais é a própria lei.

Apelo a este instituto da culpa na celebração do contrato:


O primeiro grupo de casos resultou da jurisprudência alemã e vem permitir o
ressarcimento e danos causados a pessoas ou bens.
1º grupo de casos:

 Linóleo:
 Um duas pessoas dirigem-se a um estabelecimento comercial e um rolo de
linóleo cai e causa danos à integridade física.
 Violação por danos pré-contratuais de segurança.

 Caso da casca de banana:


 Ainda não tinha entrado no estabelecimento comercial e está uma casca de
banana que faz com que a pessoa caia e sofra danos à sua integridade
física
 Falta de segurança pré-contratual

 O caso do iate:
 Uma pessoa coloca o iate numa oficina, mas só pede um orçamento, sem
saber ainda se o vai reparar. Os funcionários deixam cair o barco e o
mesmo sofre danos patrimoniais.
 Deveres de segurança; danos pré-contratuais

2º grupo de casos:
 Respeita à necessidade de circulação entre as partes de todas as informações
necessárias para a contratação.
 Deveres pré-contratuais de informação que se filiam à lei. – Artigo 227º.

3º grupo de casos:
 Põe em causa uma atuação.
 Alguém convence outra parte de que vai celebrar negócios e depois não o
faz, recuando.
 Deveres de lealdade

Deveres de informação (1) vs. de lealdade (2)


1 - Estamos perante uma questão de comunicação
2 – Para além de deveres de informação, temos também os deveres de atuação.

A culpa em contrahendo deve ser aproximada da boa fé, pois pressupõe que nos
preliminares contratuais, se devem empregar os bons valores sociais.
Comunicação e conduta – Não podem as partes tirar partido de elementos obtidos nas
negociações preliminares para quebrar o segredo comercial ou para desencadear
ações concorrentes.

BOA-FÉ:
Encontra-se presente em cerca de 70 artigos do código civil vigente.
Como surge?
A boa fé atual surge primeiramente da fides (a palavra dada, o compromisso, é a base
da sociedade e da ordem política – conceito romano de fides) humana. A ações sem
lei expressa, o direito romano classifica-as como ações ex bona fides. O termo boa fé
no direito romano é também utilizado para descrever o estado de um sujeito em
relação a certos regimes possessórios.
Durante a idade média, a conceção subjetiva liga-se ao sentido cristão de ausência de
pecado.

Alemanha:
No direito germânico, vai-se desenvolver uma conceção objetiva de boa fé, ligada
sobretudo à confiança e ao respeito pela palavra dada.
No código civil alemão (BGB), é consagrada a conceção subjetiva ligada à consciência
de não prejudicar outrem e a conceção objetiva ligada ao facto de que é necessário
observar um princípio de boa conduta, no cumprimento das obrigações.

França:
No código civil de Napoleão de 1804, o legislador francês consagra tanto a conceção
objetiva como subjetiva.

Portugal:
O código Seabra (Portugal – 1867) só têm referências à boa fé subjetiva. No código
civil vigente, temos regras referentes à boa fé subjetiva (origem românica), mas
também temos regras pautadas pela boa fé objetiva (origem germânica)
Compreender no condigo civil vigente a diferença

Boa-fé objetiva – remete para regras/princípios – 3º; 227º; 239º; 278º; 374º; 437º;
762º, nº2.
5 institutos de filiação germânica:

 Culpa em contrahendo
 Integração dos negócios 239
 Abuso de direito 334
 Resolução modificação de contratos por alteração das circunstâncias 437
 Complexidade obrigacional ou no âmbito do cumprimento obrigacional devem as
partes proceder de boa fé 762º

Boa-fé subjetiva:

 O que está em causa é o estado de espírito do sujeito. Pode ser caracterizado


como:
 um mero desconhecimento ou ignorância de certos factos (119º, nº3; 243º, nº2;
1260º;1340º, nº4).
 um desconhecimento sem culpa ou uma ignorância desculpável (291º, nº3;
1648º, nº1).

2 conceitos:
 boa fé puramente psicológica - conceito de ignorância; desconhecimento de facto
ou estado das coisas.

 boa fé ética - conceito de desconhecimento não culposo - sendo mais exigente que
a boa fé psicológica, pois a conceção ética da boa fé subjetiva postula a presença
de deveres de cuidado e de indagação.

 Face a estes conceitos, o professor Menezes Cordeiro vem dizer que, não
obstante o legislador português ter várias referências legais à boa fé psicológica,
deve importar para o sistema a boa fé subjetiva ética – aquela em que as pessoas
cumpriram todos os deveres de cuidado e indagação. A boa fé enquanto conduta
necessita de princípios concretizadores.
Surgem 2 subprincípios da boa fé:
Princípio da tutela de confiança
No direito português, a tutela de confiança efetiva-se através de 2 vias:
 Disposições legais especificas Artigos 179º,291º, 1301º.
 Institutos gerais (a culpa em contrahendo, abuso de direito, etc…)

Quando falamos neste subprincípio, referimos também os seus pressupostos:


 Situação de confiança – respeita à boa fé subjetiva ética própria pessoa que, sem
violar deveres de cuidado, ignora estar a lesar posições jurídicas de outrem.
 Justificação para a confiança – respeita à presença de elementos objetivos
capazes de causar uma confiança plausível. (A situação em concreta tem a
presença de elementos objetivos que são suscetíveis de originar uma confiança
plausível).
 Investimento de confiança – respeita ao assentar efetivo de atividades nessa
confiança que foi criada.
 Imputação da situação de confiança à outra parte – Respeita à conduta de uma
pessoa que, por ação ou por omissão, terá justificado a confiança induzida.

Precisões para poder usar os pressupostos num caso concreto:


 Quando há lugar para precisões leais especificas, não é necessária a presença de
todos estes pressupostos.
 Os requisitos ou pressupostos articulam-se entre si com base na ideia de sistema
móvel (1950 – Walter Wilburg):
 aplicável ao sistema jurídico que concretiza a ideia de que nenhum dos
pressupostos tem hierarquia (são todos importantes).
 Relativamente a estes pressupostos, podem não estar todos presentes na
situação em concreto e mesmo assim serem aplicados, sob o princípio da
tutela de confiança.
 Todos estes pressupostos têm um peso relativo e a maior intensidade de
um pressuposto pode compensar a menor intensidade de um pressuposto

Princípio da primazia da materialidade subjacente:


 O direito, enquanto sistema jurídico, através dos seus preceitos, visa a obtenção
de certas soluções efetivas. Não é suficiente a adoção de certas atuações que só
formalmente correspondam aos objetivos do direito, o direito preocupa-se com
soluções substantivas e efetivas e não só formais.

 Se alguém se obriga a entregar um conjunto de tijolos num determinado prédio


é relevante se essa pessoa concluiu a entrega no local razoável para o credor
dessa situação ou se se limitou a entregar formalmente no fundo de um poço.
As atuações substantivas são relevantes e são as que são levadas em consideração
neste subprincípio.
Realização deste princípio:

 Conformidade material das condutas - Apelo aos valores fundamentais do sistema.


 Idoneidade valorativa – Pensar esses valores em termos de harmonia do sistema.
 Equilíbrio do exercício e controlo das posições jurídicas:
 Senhorio procede a despejo de um arrendatário por não pagar 5 euros da
renda – quantia ínfima em relação à renda, faria com que fosse
desproporcionado o despejo – permite controlar o exercício das posições
jurídicas - direito de despejar- por considerar que há uma desproporção
quando não houve apenas o pagamento de 5 euros da renda.

TGDC – 19/10/18
No âmbito dos preliminares contratuais é fundamental fazer apelo ao respeito por
valores da ordem jurídica que se encerram quer no subprincípio da tutela da confiança
quer no subprincípio da primazia da materialidade subjacente.

A própria boa fé e a culpa en contrahendo podem ter um papel na correção de


contratos injustos, porque se um contrato é manifestamente desequilibrado significa
que algo poderá ter corrido mal na formação e respetivos preliminares do contrato.
 Portanto, para alem da violação de deveres pré-contratuais de segurança, de
lealdade, de proteção e de informação, também poderá haver um papel para a boa
fé e para a culpa en contrahendo relativamente a contratos
injustos/desequilibrados.

Doutrina portuguesa quanto à matéria da culpa en contrahendo:


Segundo o professor Menezes Cordeiro, a doutrina portuguesa tem contribuído para o
desenvolvimento deste instituto – Prof. Vaz Serra, o próprio professor Menezes
Cordeiro.

Mas será que a jurisprudência tem aplicado o instituto da culpa in contrahendo?


 MC – divide a jurisprudência em 3 grupos:

 1º grupo: aplica o instituto – aplicam o artigo 227º; várias decisões jurisprudenciais,


sentenças, acórdãos, … em que é aplicada a culpa in contrahendo.

 Áreas em que a jurisprudência recorre à aplicação do artigo 227º:


 rotura das negociações;
 violação dos deveres pré contratuais;
 quando uma parte cria uma convicção na outra parte de que está a celebrar
um contrato válido, mas na verdade o contrato tem um problema de
validade/nulidade.

 5 grandes grupos de casos de aplicação da culpa in contrahendo:


 Vulnerabilidade pré-negocial
 Situações de contratação ineficaz
 Interrupção injustificada das negociações
 Tutela da parte mais fraca
 Responsabilidade de terceiros

 2º grupo: refere o instituto

 3ºgrupo: nega a aplicação do instituto.

 Nos termos do artigo 227º o que se trata com este instituto desde Jhering é
permitir indemnizar danos que tenham sido causados porque houve nos
preliminares da formação do contrato uma violação do princípio da boa fé –
objetiva como grande regra de conduta; como apelo aos valores fundamentais do
sistema.
O que significa que se trata de indemnizar danos, ora se se têm de indemnizar
danos – um dano é a supressão de uma vantagem juridicamente tutelada –
estamos no instituto da responsabilidade civil, que pode ser distinguida por:
 responsabilidade delitual/factos ilícitos e culposos - prevista no artigo 483º, CC (1)
 responsabilidade obrigacional por incumprimento - prevista no artigo 799º, CC (2)

 Distinções fundamentais entre 1 e 2:


 Na responsabilidade obrigacional há uma presunção de culpa relativamente ao
devedor faltoso, enquanto na responsabilidade delitual é o lesado que tem o ónus
da prova do preenchimento de todos os pressupostos/elementos da
responsabilidade delitual: ação, licitude, culpa, nexo causalidade e dano.

 O artigo 227º respeita a responsabilidade civil, mas deve ser enquadrado como
uma responsabilidade delitual ou obrigacional?
MC  A culpa in contrahendo tem natureza obrigacional, por assentar na violação de
deveres específicos (os deveres pré-contratuais são deveres específicos) e assim,
devido à sua natureza jurídica, devia ser aproximada da responsabilidade obrigacional
e não da responsabilidade delitual.

 Jhering quando faz a descoberta científica chega analisa que não presença de
certos contratos inválidos foram provocados danos, sendo necessário indemnizar
esses danos.
E a solução dada por Jhering foi no sentido de alguma maneira essa indemnização
cobrir o interesse contratual negativo, o que significa que seria uma indemnização
que colocaria a pessoa que sofreu danos na situação que se encontraria se não
tivesse entrado em negociações.

Mas houve uma evolução doutrinária e jurisprudencial desde Jhering:


 Agora a culpa in contrahendo em termos de obrigação de indemnizar que resulta
do artigo 227º nº1 deve cobrir o interesse contratual negativo à semelhança do que
era defendido inicialmente por Jhering ou se deve cobrir o interesse contratual
positivo (respeitante ao próprio benefício que surgiria com a celebração do negócio
jurídico)?

 Primeiramente a jurisprudência alemã e mais recentemente a jurisprudência


portuguesa tem vindo a admitir a indemnização pelo interesse contratual
positivo, ou seja, aquele benefício que surgiria com a própria celebração do
negócio. Também na linha de alguma jurisprudência portuguesa mais recente,
a posição do Prof.MC vai no sentido da culpa in contrahendo poder cobrir o
interesse contratual positivo.

Coordenadas de evolução
Já falamos nos deveres pré contratuais e afirmamos que estes deveres se encontram
presentes no âmbito da formação do contrato e devem ser cumpridos, tendo a sua
fonte na própria lei.
Mas estes deveres pré-contratuais estão também presentes na frase da execução do
contrato e por vezes depois da sua cessação, nós encontramos estes deveres pós-
contratuais.
Assim, podemos afirmar que para alem destes deveres pré-contratuais, também
surgem em espelho deveres pós-contratuais, que surgem no âmbito da cessação do
contrato. Podemos também dizer que na fase de execução do contrato (depois do seu
início, mas antes do seu fim) também têm deveres de informação e lealdade.
O que nos leva a uma construção doutrinaria:

 A teoria unitária dos deveres de proteção de lealdade e informação:


 Defendida por Canaris (alemão) que diz que ao longo da vida do contrato e depois
da sua morte podemos também encontrar estes deveres. Portanto, construções
que surgiram a propósito da culpa in contrahendo são agora utilizadas na fase de
execução do contrato e até na fase de cessação do mesmo. – Alguma expansão
de realidades que estão no âmbito da culpa in contrahendo.
 Mas também temos a situação inversa:
Podemos dizer que há alguma expansão em termos de coordenadas de evolução,
mas também assistimos a alguma limitação da aplicação do instituto da culpa in
contrahendo:
 Surge uma limitação do âmbito de aplicação do artigo 227º a propósito da
contratação mitigada e quando surge uma vinculação das partes através de
atos preparatórios, sendo que quando surgem estas situações o que
estamos a fazer é limitar o alcance da aplicabilidade do instituto da culpa in
contrahendo. Mas não só nestas 2, também vamos encontrar no
ordenamento jurídico português áreas legais especificas - lei das clausulas
contratuais gerais, valores dos mobiliários e legislação do direito bancário -
onde surgem por lei deveres de informação específicos. Assim, sempre que
temos estas leis especiais em estabelecer deveres de informação
específicos, não necessitamos de recorrer ao instituto geral do artigo 227º.
– Fazem regredir a culpa in contrahendo.
A culpa in contrahendo tem potencial para resolver casos concretos e deve sempre
ser aplicada num equilíbrio entre por um lado a autonomia privada e por outro lado a
proteção da confiança das partes.

Atos preparatórios
Atos preparatórios são todos aqueles que inserindo-se no processo de formação do
contrato não possam reconduzir-se à proposta, à aceitação ou à rejeição.

 Atos preparatórios materiais vs. Atos preparatórios jurídicos


 Os atos preparatórios materiais são os que se traduzem na modificação do mundo
material. (Incluem -se os contactos preliminares em que as partes pretendem
conhecer-se melhor)
 Os atos preparatórios jurídicos são os que implicam atividades de puro significado
jurídico.
Assim podemos dizer que tanto é preparatório o ato que se traduz no arrumar de uma
sala para uma futura reunião no âmbito de negociações contratuais como a celebração
de uma pacto quando à forma de um contrato

 Atos preparatórios vinculativos vs. Atos preparatórios não-vinculativos


 É vinculativo o contrato-promessa (410 e seguintes), porque obriga à celebração
do contrato definitivo.
 É não-vinculativo a proposta de um pacto preparatório, pois temos apenas uma
proposta, não há ainda uma aceitação.

 Minuta
 Documento no qual as partes vão exarando os diversos pontos a inserir no futuro
contrato à medida que vão alcançando acordo.
As partes já estão vinculadas aquilo que foram exarando na minuta?
 Problema de interpretação jurídica, a resolver pelos artigo 236º e seguintes do CC,
para saber se relativamente aquela minuta as partes já estão vinculadas aos
acordos parcelares que foram sendo exarados naquela minuta ou se estes
acordos parcelares ficaram condicionados por uma aprovação global final.

 Contratos instrumentais
Não visam regular de modo direto o conteúdo do contrato final, mas apenas alguns
dos seus aspetos.
 Convenção das partes sobre a forma do futuro contrato – forma convencional
artigo 223º, CC
 Convenção das partes sobre o valor do silencio – valor do silêncio no âmbito
do artigo 218º
 Convenção das partes sobre o prazo de duração/de subsistência de eventuais
propostas - artigo 228º, nº1, a)
 Contrato-promessa - artigo 410º e seguintes
 Pacto de preferência, 414 e seguintes – convenção entre as partes que se
alguém quiser vender um determinado objeto dará preferência à outra parte
desde que essa pessoa desde que dê o equivalente a que resulte uma outra
oferta.
 Concurso para a celebração de um contrato – corresponde a um ou mais atos
jurídicos destinados a promover uma pluralidade de interessados na conclusão
de um contrato e depois a facultar a sua escolha por seleção de um deles para
celebrar o respetivo contrato com essa pessoa que tenha sido selecionada.

 Benefícios:
 Escolha do parceiro mais idóneo;
 Aproveitamento dos mecanismos da concorrência;
 Procura da melhor gestão;
 Legitimidade/transparência da escolha;

 Classificações fundamentais para a compreensão do regime do concurso:


Concurso contratual vs. Unilateral
1. Quando todos os envolvidos acordam previamente os termos a seguir na
contratação
2. Apenas o dono do concurso procede à sua competente abertura e aprova os seus
termos

Concurso indicativo vs. Vinculativo


1. O que resulta do concurso é apenas uma recolha de informação
2. Insere-se no processo com vista à formação do contrato – quem leva à abertura do
concurso vincula-se à celebração desse contrato

O concurso apresenta-se como proposta ou como solicitação conforme dos seus


termos resulte o aparecimento do contrato logo que algum candidato preencha as
suas condições – proposta - ou a situação inversa em que os interessados que se
limitam a apresentar propostas que o autor do concurso poderá aceitar em certo
condicionalismo – solicitação.

Regime face estas classificações:


A regra é de que o regime do concurso vincula o seu autor. E será apenas indicativo
se o autor na sua abertura tiver declaro a expressamente que o concurso era apenas
indicativo.
 Isto porque:
1. Princípio do cumprimento das vinculações unilateralmente assumidas – alguém
assume uma vinculação unilateral, é vinculativo, tem de cumprir.
2. Princípio da boa fé – apelo aos valores fundamentais do sistema (objetiva)
3. tutela da confiança pré-contratual
Admitindo que há um incumprimento de um concurso lançado, há imputação de danos
sendo necessário indemnizar os lesados. O que significa que a responsabilidade civil
(799 ou 483) é sistematicamente chamada a resolver sempre que há lesados.
MC Em certos casos relativamente a eventuais lesados pode levar à execução
especifica do concurso. Regime complexo a propósito do contrato-promessa, previsto
no artigo 830º, CC. Mas em termos de alguma facilidade a ideia é que através de uma
sentença poderá haver a substituição da declaração do faltoso/autor.

Contratação mitigada
Resulta como uma limitação da aplicação da culpa in contrahendo (artigo 227º, CC)

 Carta de intenção:
Uma carta em que se manifesta uma vontade sedimentada de contratar
Documento pré-contratual, que tem um conteúdo variável e que surge no tráfego do
ordenamento jurídico aquando da preparação de negócios jurídicos complexos.
O ordenamento jurídico em que surgiu mais esta figura da carta de intenção foi nos
EUA, particularmente no domínio de aquisição de empresas (negócios de alguma
dimensão), posteriormente teve também outras utilizações, como é o caso do
comercio internacional, onde existem as tais negociações complexas onde havia a sua
necessidade.
 Pode assumir 2 variantes:
 Forma epistolar: quando assumo esta forma a carta tem uma direção, um
destinatário, um texto e uma saudação final com assinatura (forma de uma
carta);
 Forma de acordo

 São utilizadas nas transações relativas a grande empresas nas quais só se vai
avançar quando há o mínimo de intenção formalizada.
 Para alem destas transações, também são utilizadas nos acordos comerciais
de grande porte que vão necessitar de acertos técnicos ao longo da formação
destes grandes acordos.
 Um outro domínio é o dos mútuos bancários (empréstimos bancários) onde há
necessidade de preparação de garantias, de discussão de juros e, de alguma
maneira, de realização de estudos e negociações prévias ao contrato definitivo.
 Finalmente, usam-se em contratos que implicam a participação de entidades
publicas. Por vezes há contratos, até por questões de concorrência, que
requerem autorização de organismos de regulação e supervisão. Assim, as
partes redigem uma carta de intenção que exprima tal vontade sedimentada de
contratar.
 Pela negativa, podemos dizer que a carta de intenção é particularmente útil nos
casos em que as partes ainda não pretendem a vinculação do contrato
definitivo.
Ex.:
1. casos em que há importantes acertos e que se houvesse logo contrato, sendo que
ainda faltam acordar importantes partes do núcleo contratual, haveria um problema
de invalidade/ nulidade por indeterminabilidade do objeto, porque faltam aspetos
significativos.
2. O facto de não haver acordo sobre pontos importantes e as partes entendem que
vale a pena prosseguir com o negócio.

 Conteúdo das cartas de intenção:


Carta registo funciona como uma minuta onde são consignados os pontos onde já
haja acordo.
Carta seriedade  Manifesta uma intenção tranquilizadora relativamente ao
prosseguimento das negociações. Surgiu no ordenamento inglês, porque não
conhecia o dever de negociar segundo o princípio da boa fé.
Cartas procedimentais  as partes alinham os passos negociais subsequentes
normalmente depois de fixarem alguns pontos que alcançaram na negociação. Do
ponto de vista do conteúdo, é uma regulação do procedimento de negociações
subsequente.
Carta quadro  para alem de se estabelecer os pontos que ainda se encontram
aberto, mas também aqueles que já se alcançaram em termos de pontos fechados na
negociação, há também em anexo na carta quadro diversos contratos suplementares.
Carta execução  permite-se às partes ou apenas a uma iniciar de imediato os atos
de execução referentes ao contrato definitivo.
Carta de hardship  obrigam as partes a negociar dando para isso mais ou menos
elementos; resulta a ideia de que as partes devem continuar a negociação fornecendo
para isso alguns elementos.

 Força vinculativa das cartas de intenção


Cartas de intenção fraca  apenas são consignadas informações;
Do ponto de vista do regime podemos ainda chamar à colação nas cartas de intenção
fraca o regime da responsabilidade por informações constante do artigo 485º CC,
porque se encontram lá consignadas informações.
Cartas de intenção media  comporta deveres instrumentais e eventualmente
padrões de conduta futura; ainda que os deveres instrumentais não conduzam ao
contrato definitivo devem ser observados sob pena de responsabilidade.
Cartas de intenção forte  formaliza acordos firmes e, portanto, já tem um caracter
mais significativo de vinculatividade por essa mesma razão.
O combinado deve ser cumprido, em última instância pode haver recurso à figura da
execução especifica (830º - através de uma sentença pode haver substituição do
faltoso)

 Em todos estes tipos de carta, cuja variação depende do grau de vinculatividade,


opera o instituto da culpa in contrahendo.

 Quando se subscrevem documentos e se pretende que estes não tenham carater


vinculativo é fundamental que tal fique explicito no teor do documento para que
não se criem situações de confiança que justificariam situações de indemnização.

 Acordo de cortesia e acordo de cavalheiros:


Estas duas figuras podem não corresponder a atos preparatórios, podem surgir sob a
forma de atos definitivos.
Acordo de cortesia  é um convénio relativo a matéria não patrimonial (pessoal) e que
releva do mero trato social. Assim sendo, este convénio de cortesia está fora do
direito, mas se originar danos pode de alguma maneira uma obrigação semelhante à
culpa em contrahendo.
Acordo de cavalheiros  Temos um convénio que as partes pretendem colocar fora
da área do direito, mas pode recair sobre assuntos pessoais ou patrimoniais. Tem uma
característica fundamental: assenta apenas na palavra dada e na honra de quem deu
essa palavra. São acordos vinculativos, porque se as pessoas se comportarem como
verdadeiros cavalheiros terão de honrar a palavra que deram.

 Acordo de negociação:
Ocorre normalmente em negociações complexas e consigna uma vontade comum das
partes de prosseguir negociações dentro de determinados parâmetros.

 Acordo de base:
À semelhança do acordo de negociação, surge em negociações complexas em que há
acordo sobre uma área central da negociação continuando as negociações em
aspetos secundários

 Acordo quadro:
É uma figura que no âmbito de negociações tendentes ao surgimento múltiplos
contratos, as partes acordam num núcleo comum a todos estes contratos.

 Protocolo complementar:
Verifica-se quando as partes, tendo em vista um contrato nuclear, concluem com
convénio acessório tendente a completá-lo.

Processo de formação de contratos


O contrato implica 2 ou mais declarações de vontade confluentes, tornando-se
necessário encontrar o consenso entre celebrantes, mas é comum haver interesses
opostos que têm necessidade de harmonização.

 Contrato entre ausentes vs. Contrato entre presentes (critério jurídico, não é
geográfico)
Contratos entre presentes  Não há entre as declarações de vontade das partes um
intervalo de tempo juridicamente relevante.
Teoria do conhecimento
Contrato entre ausentes  As diversas declarações de vontade são separadas por um
intervalo de tempo do qual emergem consequências jurídicas. (as partes podem estar
no mesmo local)
Para a celebração de um contrato há sempre uma dependência do esquema proposta
aceitação  Fundamental para a existência de contrato
 Proposta
Fase necessária no processo tendente à formação do contrato.
Pode ser definida como a declaração feita por uma das partes e que uma vez aceite
pela outra parte ou demais partes dá lugar ao aparecimento do contrato.
Proposta  aceitação  contrato imediato
Em termos de declaração negocial, a proposta precisa do preenchimento de 3
requisitos:
 Tem de ser completa - no sentido em que tem que conter todos os elementos:
identidade das partes, o objeto a vender (numa compra e venda) e o preço do
negócio de compra e venda.
 Tem de revelar uma intenção inequívoca de contratar – não pode ser apresentada
em termos duvidosos, nem em termos alternativos, tem que ser firme.
 Tem de revestir a forma requerida para o negócio em jogo, nos casos em que
estamos perante negócios formais – ex.: compra e venda bem imóvel tem que
cumprir o artigo 875º.
 Portanto, a proposta tem de surgir de tal forma que a simples aceitação dará de
imediato origem a um contrato.

 Eficácia e duração
A eficácia da proposta contratual consiste essencialmente em fazer surgir na esfera do
seu destinatário um direito potestativo – posição jurídica ativa que permite
unilateralmente alterar a esfera jurídica/ alterar a situação da outra pessoa. Isto porque
o destinatário da proposta contratual sabe que através da aceitação conclui o contrato
que quando exercido permite a alteração da ordem jurídica.
A duração da eficácia da proposta está prevista no artigo 228º, CC. Segundo esse
mesmo artigo, nº1 a duração da proposta contratual pode depender de 2 situações:
 O preponente ter fixado um prazo – “esta proposta contratual dura 7 dias”
 Acordo entre as partes – acordam as partes que a proposta dura 7 dias.
228º, nº1, a) - A proposta mantém-se até ao fim do prazo estabelecido
228º, nº1, b) – admitindo que não foi fixado um prazo e o preponente vem pedir
resposta imediata, o legislador afirma que a proposta mantém-se até que em
condições normais quer a proposta, quer a aceitação cheguem ao seu destino.
“condições normais” – dependem do meio utilizado. Se for utilizado pelo preponente o
meio carta (ex.), podemos, diz a doutrina, que podemos recorrer apo artigo 248º e
considerar o prazo de 3 dias para concretizar este prazo de “condições normais”.
Não faz sentido aplicar este prazo de 3 dias se a carta for enviada com aviso de
receção, então faz sentido usar a data que foi posta no aviso de receção.
228º, nº1, c) – não houve prazo, não houve acordo das partes e não foi pedida
resposta imediata, então a proposta subsiste pelo período em que em condições
normais permite que a proposta e aceitação cheguem ao seu destino acrescidos 5
dias.
TGDC – 26/10/18

Duração da proposta contratual no âmbito da sua extinção – modos de extinção:

 Decurso do prazo – nos termos do artigo 228º (aula anterior)

 Revogação da proposta – ato unilateral praticado pelo proponente que tem por
conteúdo a extinção da proposta previamente emitida. Ex.: A – propõe vender o
telemóvel a B, mas, entretanto, pretende a revogação, ou seja, já não quer vender
o telemóvel por x.
Só é possível se ainda não houver contrato, porque se A faz proposta contratual a
B e B aceita, fazendo surgir o contrato – exercício do direito potestativo – já não
pode haver o ato unilateral. Era necessário o acordo de ambos para tal revogação.
 Viável em 2 hipóteses:
 Quando o proponente se reservou a faculdade de revogar - 230, nº1;
 Quando a revogação se dê em modos tais que seja recebida antes da proposta
ou ao mesmo tempo - 230, nº2.
 A envia por carta a proposta da venda do automóvel a B; envia uma carta em
correio azul ou telefona para que a revogação chegue antes de receber a própria
proposta.

 Aceitação/rejeição:
A aceitação faz desaparecer a proposta e surgir o contrato, portanto extingue-se a
proposta.

 Outros modos:

 A proposta ainda se extingue:


 Por morte ou incapacidade do proponente se for a sua vontade presumível ou
resultar da própria contratual. - 226º, nº1 CC
 Morte ou incapacidade do destinatário – 231º, nº2 CC
 Ilegitimidade superveniente (era titular do bem sob a qual incidiu a proposta no
momento em que a fez, mas, entretanto, perde a titularidade, portanto torna-se
numa situação de ilegitimidade superveniente) do proponente desde que anterior à
receção da proposta. E, neste caso, quando houver essa ilegitimidade desde que
anterior à receção da proposta à uma extinção da proposta

Oferta ao publico
É uma modalidade particular de proposta contratual caracterizada por ser dirigida a
uma generalidade de pessoas.
Ex.: A pergunta a todo o anfiteatro se alguém está interessado em comprar o seu
carro.

 Tem que reunir todos os 3 pressupostos da proposta contratual:


 Completa
 Firme – caracter não dubitativo
 Forma exigida para o contrato

Oferta ao publico vs.:

 Convite a contratar – Quando não estão reunidos todos os elementos da proposta


contratual. Se a uma declaração faltar o aspeto da completude ou se for dubitativa
ou não revestir a forma, teremos a figura de um convite a contratar.
Ex.: convite publicitário – falta um elemento da proposta contratual.

 Convite à oferta – modalidade de convite a contratar; a pessoa que o profere


declara-se pronto a receber propostas que depois pode aceitar.
Ex.: leilão – o leiloeiro apresenta o bem para depois receber propostas de outrem;
é uma técnica de contratação em que o oferente representado pelo leiloeiro
declara contratar com o interessado que ofereça o preço melhor. (não está
regulada no CC (não é um tipo legal de contratação, mas um tipo social), mas no
BGB já refere este instituto)

 Proposta feita a um desconhecido ou alguém com paradeiro ignorado - proposta


feita a uma determinada pessoa que não sabemos identificar; Proposta comum
com destinatário específico, só não se conhece a sua identidade ou paradeiro,
sendo necessário recorrer ao anúncio publico (225º).
Ex.: “Dou 200€ a quem encontrar o meu cão.”

 Clausulas contratuais gerais - generalidade e rigidez (não podem ser alteradas) –


podem não surgir como propostas, mas em termos de aceitação. Se a oferta ao
publico é uma proposta, as CCG devem ser afastadas desta.

ACEITAÇAO, REJEIÇAO E CONTRA-PROPOSTA:

 Aceitação – declaração recipienda formulada pelo destinatário da proposta


contratual ou qualquer interessado quando haja uma oferta ao publico.
Duas características:
 Traduzir uma concordância total e inequívoca com a proposta;
 Tem de revestir a forma exigida para o contrato.

 As declarações podem ser tacitas ou expressas (217º, CC), tal como a aceitação
que também pode ser tácita.
 A aceitação é uma declaração recipienda (tem destinatário) estando dependente, a
sua eficácia, do regime do artigo 224º, CC. (teoria do conhecimento, receção, …)
 A aceitação pode começar a produzir efeitos quando a proposta já não tenha
eficácia/já se extinguiu/ já caducou.
 Se a aceitação só produz efeitos quando a proposta já não tem eficácia temos,
nessa situação, um problema de receção tardia da aceitação, nos termos do artigo
229º, CC:
 Determina que se a aceitação for expedida fora de tempo o proponente nada
pode fazer, se quiser o contrato o proponente terá de fazer nova proposta;
 Pode ainda ser expedida a tempo a eficácia, mas chega posterior ao término
eficácia, neste caso o proponente tem que avisar o aceitante que não chegou a
concluir-se qualquer contrato, sob pena de responder pelos respetivos
prejuízos.
 No entanto, se pretender realizar o contrato basta considerar aquela aceitação
tardia como eficaz porque ainda foi enviada em tempo útil – 229º, CC.

234º, CC – dispensa de aceitação:


No passado, foi considerada pela doutrina como havendo uma situação de aceitação
tácita. Esta dispensa de aceitação está restrita a situações limitadas:
 Atos de apropriação e atos de cumprimento
 Os usos venham prever a dispensa de declaração de aceitação.

O artigo 234º respeitava a uma aceitação que podia ser tacita, mas MC vem contrariar
a doutrina:
 A aceitação pode ser tacita pelo 217º, o que significa que o artigo 234º está a
regular uma situação diferente, entendendo que nestas situações delimitadas pela
circunstância do negócio ou de usos, o que temos no 234º é uma
autodeterminação do aceitante sem qualquer comunicação ao proponente –
verdadeira dispensa de declaração.
Mas perante uma proposta contratual, o seu destinatário para alem de aceitar pode
não estar minimamente interessado na aquisição desses bens.  Rejeição.

 Rejeição:
 É um ato unilateral recipiendo, pelo qual o destinatário da proposta recusa essa
mesma proposta renunciando ao direito potestativo que a mesma dava lugar.
 Pode ser expressa ou tácita – 217º
 Pode ser revogada desde que através de uma aceitação chegue ou seja
conhecida ao mesmo tempo ou primeiro da rejeição. – 235º, nº1.
 Pode haver uma aceitação da proposta contratual, mas esta tenha aditamentos,
limitações ou modificações. Se sob a forma de aceitar o aceitante “acrescenta
qualquer coisa” temos uma rejeição – 233º.
 Pode acontecer que, nos termos do artigo 233º, 2ª parte, que essa modificação
acrescentada/aceitação aparente seja suficiente precisa e revista os elementos da
proposta contratual. Neste caso para alem da rejeição surge a figura da
Contraproposta

 Contraproposta
 Proposta contratual que tem como particularidade implicar a rejeição de uma
primeira proposta de sinal contrário ou distinto. - Tem que preencher os requisitos
da proposta contratual.
 Sempre que temos aceitação parcial não temos na verdade a formação de um
contrato, mas se houver apenas uma aceitação parcial também não temos a figura
da contraproposta.
 Natureza jurídica destas figuras:
MC. – todas estas figuras são negócios jurídicos unilaterais – perante liberdade de
celebração e estipulação – assim, as regras negociais aplicam-se à aceitação, rejeição
e contraproposta.

CONTRATAÇÃO AUTOMATICA E COMERCIO ELETRONICO


Contratação automática
Máquinas de venda automática (recurso a autómatos): formação de contratos –
equipamento onde um utente pretende adquirir um bem que se encontra nesse
equipamento.
A doutrina tem desenvolvido 2 teorias relativamente a contratação com recurso a
autómatos:

 Teoria da oferta automática – aquilo que temos relativamente ao autómato é uma


oferta ao público, que quando é aceite pelo utente, o utente coloca o dinheiro e
está a aceitar o contrato. O que significa que se a pessoa coloca o dinheiro e não
recebe o bem há um incumprimento do contrato.
 Teoria da aceitação automática – quem propõe é o utente ao introduzir a moeda, o
que significa que se o bem não for entregue pelo autómato, traduz-se numa não
aceitação da proposta contratual do utente, ou seja, há uma rejeição e o dinheiro
terá de ser devolvido porque não houve qualquer conclusão do contrato.
 Mas MC diz que depende de como o autómato está programa, podendo estar
programado para propor ou para aceitar.

Comercio eletrónico
Podemos adquirir pela internet bens ou serviços, muitas vezes com recurso a cartões
bancários. Esta realidade do comercio eletrónico leva os Estados, no âmbito da EU, a
adotar regras de proteção daqueles que realizam o comercio eletrónico (utentes e
consumidores).
 Em 1997, foi aprovada uma diretiva comunitária (diretriz segundo MC) que vem
regular a matéria do comercio eletrónico:
 Foi transposta por legislação interna – decreto de lei 143/2001 de 26 de abril 
nesta diretiva à essencialmente a proteção dos consumidores (pessoas
singulares, pessoas coletivas não têm o estatuto de consumidores segundo o
direito europeu).
 MC – diz que a maior parte da disciplina jurídica já resultaria dos princípios gerais
que resultam do CC.
Mas, como linhas gerais relativamente a este regime jurídico do comercio eletrónico,
há um reforço dos deveres de informação, com vista à proteção dos consumidores, no
âmbito das transações do comercio eletrónico e um reforço do direito de
arrependimento, ou seja, estabelecendo-se a possibilidade que mesmo depois da
celebração do contrato haver um arrependimento por parte do consumidor.
A generalização do comercio eletrónico levou ao aparecimento de legislação
relativamente a documentos eletrónicos e à assinatura digital, sendo esta última
realizada a partir de uma chave que permite autenticar uma sequência digital
proveniente do autor de uma missiva digital.

Diretiva comunitária 2000/31/CE – relativamente à sociedade de informação –


transposta pelo decreto de lei nº7/2004 de 7 de janeiro (regula a sociedade de
informação e o comercio eletrónico:

 A contratação eletrónica é livre (mais uma área de funcionamento da


autonomia privada)
 As declarações eletrónica satisfazem a exigência de forma escrita valendo a
assinatura eletrónica
 Devem ser dadas informações prévias aos destinatários – incremento do dever
de informação;
 A ordem de encomenda eletrónica deve ser sempre confirmada pela mesma
via – não basta um único teclar para aceitar, é necessário sempre uma
confirmação pela mesma via relativamente à ordem de encomenda para
garantir a formação do contrato.

TGDC – 29/10/18

CLÁUSULAS CONTRATUAIS GERAIS

As sociedades atuais traduzem-se por um significativo aumento de negócios jurídicos,


surgindo o conceito de tráfego negocial de massas que aponta para um número muito
significativo de negócios desde que acordamos até que nos deitamos. (metro, via
verde, multibanco, …)
Este ritmo muito acelerado dos negócios jurídicos torna impossível um consciente
exercício das liberdades de estipulação e celebração.
Com efeito, as pessoas aceitam ou recusam negócios jurídicos, deixando de haver
liberdade de estipulação através da discussão de contrapropostas. (ex.: limitamo-nos a
entrar no metro e não discutimos em concreto aquele contrato de transporte oferecido
pelo ML)
A própria celebração dos negócios passa por comportamentos contundentes que
apenas exprimem um comportamento. (ex.: entramos no metro e estamos a
demonstrar que pretendemos celebrar aquele negócio).

O que são cláusulas contratuais gerais?


São proposições pré-elaboradas que proponentes ou destinatários individuais se
limitam a propor ou a aceitar. – Ou seja, podem surgir da parte do proponente ou do
aceitante.

Características das clausulas contratuais gerais


No passado MC, considerava que havia 2 características essenciais:

 Generalidade – presente porque as clausulas contratuais gerais são destinadas a


proponentes ou destinatários indeterminados. (ex.: todas as pessoas que usam o
metro têm um contrato semelhante)
 Rigidez – elaboradas sem prévia negociação individual. (já estão pré-elaboradas e
não há possibilidade de negociação individual)
Houve alguma evolução, considerando agora necessária a presença de 4 elementos:

 Juridicidade – preposições negocialmente significativas.


 Pré-formulação (o mesmo que pré-elaboradas)
 Multiplicidade - Utilizadas numa multiplicidade de contratos.
 Rigidez - Não admitem negociação nem modificação do seu teor.
A doutrina e MC afirmam que podem também estar presentes (não são necessárias):

 Desigualdade entre as partes – normalmente à uma superioridade económica e


científica de quem utiliza as clausulas em relação ao aderente (ex.: há uma
superioridade económica e científica (gabinete jurídico do metro) em relação ao
simples aderente)

 Complexidade- normalmente as clausulas contratuais cobrem em minucia todos os


aspetos contratuais do negócio.

 Natureza formulária – constam de documentos escritos muito extensos, às vezes


em letra diminuta (Ex.: quando abrimos conta num banco dão-nos um contrato
muito extenso que nos limitamos a assinar).

 Com a ideia de tráfego negocial de massas, atualmente, a utilização das clausulas


contratuais é incontornável, ou seja, é um dos aspetos das sociedades modernas
que têm necessidade de recurso às clausulas contratuais gerais.
 O direito tem de intervir porque certas clausulas pela sua generalidade e feição,
uma vez que são oferecidas a uma generalidade indeterminada de destinatários,
são injustas ou inconvenientes e por isso devem ser bloqueadas pelo sistema
jurídico e é para isso que surge, por parte do legislador, a necessidade de criação
de uma disciplina jurídica.
 A nível europeu surgiu uma diretiva comunitária sobre esta matéria – diretiva 93-
13/do conselho de 5 de abril de 1993-, mas Portugal, ainda antes desta diretiva
comunitária, já tinha aprovado no ordenamento jurídico legislação sobre as
clausulas contratuais gerais. – encontra-se na legislação avulsa e não no CC.
Decreto-lei 446-85 de 25 de outubro, sofreu já alterações, porque a diretiva de 93
tinha de ser transposta, quer pelo decreto-lei 220-95/31 de agosto, quer também
pelos decreto de leis 249-99/7 de julho e ainda mais recentemente pelo decreto-lei
323-2001/17 de dezembro.

Pontos fundamentais deste regime jurídico que surgem em legislação avulsa:

 Âmbito de aplicação do diploma – aplica-se a todas as C.C.G., não importando a


forma como é comunicada ao público.
 Aplica-se independentemente da extensão que assumam (número de clausulas).
 Aplicável independentemente do conteúdo regulado pela C.C.G.
 Aplicável independentemente de terem sido elaboradas pelo proponente,
destinatário ou terceiros.

No entanto, algumas matérias/áreas estão subtraídas à aplicação do regime das CCG:


O legislador determina que certos contratos de direito publico, bem como as
convenções coletivas de trabalho, que regulam relações entre o empregador e os
trabalhadores, são matérias que se encontram subtraídas do âmbito de aplicação do
diploma. – Ou seja, há uma delimitação negativa; independentemente de terem certa
generalidade e rigidez certos contratos públicos/ áreas como as convenções coletivas
de trabalho não se inserem neste regime.

As CCG são inseridas nos contratos através da respetiva aceitação, mas a lei vem
determinar que as mesmas pressupõem:

 Efetiva comunicação (art.5º, CCG) – pressupõe que a comunicação seja na


integra, adequada e atempada. (ex.: são obrigados a dar-nos algum tempo para ler
todas as clausulas do contrato bancário antes de assinar)

 Efetiva informação (art.6º, CCG) – é fundamental todos os esclarecimentos


solicitados desde que os mesmos sejam razoáveis.

 São ambas manifestações do instituto do artigo 227º ao nível dos deveres de


informação, no entanto há uma diferença do regime que resulta do artigo 227º
e destes dois artigos, porque se houver cumprimento do artigo 5º e 6º, as
clausulas são consideradas clausulas excluídas do contratos; Enquanto no
artigo 227º temos artigos pré-contratuais de informação, nos artigos 5º e 6º
das CCG temos um encargo que necessita de ser exercido sob pena das
clausulas não se considerarem incluídas no contrato singulares em causa.
 O artigo 227º prevê um dever de indemnização devido ao incumprimentos dos
deveres pré-contratuais e por isso pode haver cumulação da culpa en
contrahendo, se forem preenchidos todos os requisitos deste instituto, e dos
artigos 5º e 6º.
 Inexistência de clausulas prevalentes (art.7º, CCG) – se as partes negociarem
certas clausulas, estas vão prevalecer sobre as clausulas CCG, que por sua vez
ficam excluídas do contrato.

Artigo 8º alíneas c e d – também são consideradas, pelo legislador, excluídas do


contrato:

 Clausulas surpresa – clausulas que pela sua forma/pela sua apresentação não
sejam percetíveis.
 Clausulas que constem do formulário depois da respetiva assinatura – que surgem
depois da assinatura do aderente.

Admitindo que 1 ou 2 clausulas ocorre de uma das situações acima referidas, elas são
excluídas como se nunca tivessem existido – não há invalidade das mesmas,
simplesmente desaparecem. Isto pode significar que há um contrato singular e que
temos que saber se aquele contrato na sua globalidade deve ser aproveitado ou não,
porque existem clausulas que não se encaixam em nenhuma das situações de
exclusão.  contrato esburacado, onde não estão presentes as clausulas excluídas.
Pode existir dúvidas em relação ao aproveitamento - em nome de um princípio do
aproveitamento do negócio jurídico - ou não, se deve ser considerado invalido, porque
alguma das clausulas não estão incluídas no contrato.
No omisso, as partes do contrato que foram consideradas excluídas, podemos recorrer
às regras supletivas legais (uma vez que a autonomia privada não funcionou) que vão
preencher o facto daquela clausula ter sido excluída do contrato porque não respeita o
regime das CCG.
Em segundo lugar pode não haver regras supletivas legais e nesse caso temos que
recorrer às regras sobre a integração de negócios jurídicos, que resolve o problema
das lacunas negociais – temos pontos omissos/lacuna negocial temos que recorrer às
regras do artigo 239º para o instituto da integração negocial resolver o facto destas
clausulas terem sido excluídas.
No caso de haver regras supletivas legais ou se através do instituto da integração
negocial se resolver o problema, pode-se aproveitar o negócio jurídico. Mas ainda que
recorrendo a estas regras, os resultados do contrato podem ser contrários à boa-fé e
assim o legislador determina no artigo 9º nº2 que o contrato não pode ser aproveitado
e é nulo.
No âmbito das CCG, também existem regras que se relacionam com a interpretação e
a integração dos negócios jurídicos que utilizam CCG. Estas regras encontram-se nos
artigos 236º e seguintes quanto à interpretação e no artigo 239º relativamente à
integração negocial.
Temos também algumas regras neste regime jurídico relativamente à interpretação e
integração dos contratos que tenham CCG:

 As próprias clausulas do contrato não podem engendrar outras regras de


interpretação, ou seja, há um aspeto de imperatividade, de subtração à autonomia
privada, porque os contratos que recorrem a CCG não podem criar essas regras.

 Artigo 10º, CCG – a interpretação negocial deve ter em conta aquele contrato
singular onde são inseridas as CCG, o que aponta para uma tendência
individualizadora da justiça.

Atualmente MC considera que temos de ter em conta 3 situações distintas:

 CCG de negócios correntes de execução instantânea


 CCG em negócios duradouros em áreas dominadas pela normalização (seguros,
transportes, direito bancário)
 CCG em negócios duradouros altamente personalizados – não vigora a tal
normalização (ex.: negócios de seguro pouco habituais.

 Na 1ª e 2ª situação a interpretação deve ser o mais objetiva possível, ou seja, uma


tendência mais generalizadora e na 3ª situação a tendência individualizadora tem
plena aplicação.
As clausulas podem ser injustas ou inconvenientes e, portanto, intervêm na autonomia
privada criando um regime jurídico para as CCG. O legislador vem definir 3 núcleos de
clausulas proibidas:

1. Clausulas contrárias à boa fé – artigo 15º e 16º das CCG

2. Clausulas nas relações com empresários ou equiparados – artigos 17º e seguintes


das CCG

3. Clausulas nas relações com consumidores finais – artigos 20º e seguintes das
CCG
 Temos uma proteção diferenciada menos relevante que é aplicada a todos, uma
vez que temos proibições quanto a empresários ou equiparados, mas temos
também proibições relativas a consumidores finais. As normas dos artigos 17º e
seguintes, também se aplicam aos consumidores finais.
 Mas os artigos 20º e seguintes já não se aplicam aos empresários, porque tais não
precisam da mesma proteção dos consumidores finais.

Clausulas absolutamente proibidas


Nunca podem ser inseridas nos contratos por pena de nulidade.

Clausulas relativamente proibidas


Podem ou não ser inseridas nos contratos dependente do quadro negocial
padronizado (não é o tipo contratual).
Ex.: há clausulas que são razoáveis num contrato de compra e venda de um
automóvel em 1ª mão, que, no entanto, não são razoáveis num contrato de compra e
venda de automóvel em segunda mão.
 Os núcleos relacionam-se com os 3 núcleos anteriormente referidos.
 Relações com empresários: Artigos 18 – absolutamente proibidas / Artigo 19º
 Relações com consumidores: Artigo 21º - absolutamente proibidas / Artigo 22º -
relativamente proibidas

Ação inibitória
Esta nulidade pode não ser suficiente para a proteção dos consumidores finais e, por
isso, a CCG insere uma ação inibitória, faculta que os tribunais estabeleçam uma
proibição judicial de certas causas independentemente da sua inserção em contratos
singulares. Regulada no artigo 25º e 26º das CCG e vem permitir associações
sindicais, associações de defesa dos consumidores, associações profissionais e o
ministério publico pedir a proibição destas clausulas atribuindo-lhes legitimidade para a
ação inibitória.
Depois de judicialmente proibidas, elas não mais poderão ser utilizadas em contratos
singulares sob pena de aplicação de sanções pecuniárias compulsórias (artigo 32º,
nº1 e 33, lei das CCG) – uma sanção pecuniária compulsória é uma quantia em
dinheiro que vai ter de ser paga diariamente se se manter a clausula considerada nula
por parte de um tribunal.
Após a diretiva comunitária, o legislador português afirmou que o regime jurídico das
CCG não é só aplicável a situações com CCG que tenham a tal rigidez,
generalidade/multiplicidade, mas também é aplicável aos contratos pré-elaborados,
que se distinguem dos contratos com CCG porque têm a tal rigidez, mas não têm a
generalidade/multiplicidade. Artigo 1º, nº2.
MC  deve ser entendida em termos restritivos e defende que só faz sentido esta
aplicação aos contratos pré-elaborados quando se trate de contratos com
consumidores, porque surge sobre a égide da defesa do consumidor

TGDC – 2/11/18

CONTEUDO DO NEGÓCIO JURÍDICO


(depois da formação – “como é feito?”, damos agora o conteúdo – “o que nos diz o
contrato?”)
O conteúdo do negócio são as regras que as partes estão a criar – também podem ser
designadas por preceitos negociais/judiciais
Ex.: Numa compra e venda um exemplo de regra é o dever de entregar a coisa ao
comprador.
Os efeitos que os negócios jurídicos produzem já são conteúdo.

Enquadramento:
Vamos estudar condições/requisitos da validade do negócio no que diz respeito ao seu
conteúdo, quando faltam esse requisitos o negócio é nulo quanto conteúdo.
Direito é a normatividade que de alguma forma radica na comunidade e, por isso a
comunidade é que tem o monopólio para rejeitar ou aceitar certa norma como sendo
uma norma jurídica.
A comunidade faz isto quando às leis do estado, nem todo o ato do estado é idóneo
para criar direito, e a comunidade também faz isto quanto ao contrato.
Ex.: um contrato compra e venda entre 2 pessoas diz respeito a essas mesmas duas
pessoas, mas a comunidade intervém, porque quando celebram esse contrato
pretendem ter os seus direitos salvaguardados no mesmo/na tutela da comunidade.
Ou seja, cada um deles quer que, caso não sejam cumpridas algumas das regras do
contrato celebrado, a comunidade – através dos tribunais/policia – obrigue a outra
parte a cumprir os seus deveres.
1. Para criar leis é necessário um procedimento constitucional para que essa mesma
lei crie direito
2. Só certas entidades podem criar Direito, no entanto têm também de seguir esse tal
procedimento já referido
3. Mesmo que uma entidade que pode criar direito o faça e mesmo que obedeça a
todo o procedimento, se a comunidade não aprova o conteúdo da lei porque o
mesmo viola a Constituição.
 No negócio passa-se mais ou menos o mesmo.

Conteúdo: conjunto das regras/regulação trazida pelo negócio. A própria lei utiliza a
expressão “objeto do negócio” – artigo 280º - que é igual a conteúdo na sua totalidade,
ou seja, é o conjunto das regras (e os bens a que essas regras se referem
Ex.: contrato compra e venda de um par de óculos:
Prof: “vendo-lhe os óculos por 5 euros. Aceita?”
Tiago: “Aceito”
 celebração de um contrato compra e venda que traz regras:
 1ª regra: transmite-se o direito de propriedade para o Tiago.
 2ª regra: o vendedor tem o dever de entregar os óculos consoante o acordo entre
as partes ou segundo a lei.
 3ª regra: o Tiago pode exigir a entrega dos óculos.
 4ª regra: obrigação do Tiago de entregar os 5 euros.
 5ª regra: o vendedor tem o direito de exigir os 5 euros.

 Se não acordarem onde e quando será feita a entrega dos óculos e do dinheiro, a
lei por normas supletivas esclarece esses pontos através dos artigos 772º e 777º
do CC.
 O conteúdo do negócio não inclui apenas regras combinadas entre as partes, inclui
também regras legais supletivas e normas e injuntivas (obrigatórias) que não
podem ser afastadas por vontade negocial (ex.: compra e venda de uma casa –
necessidade de escritura publica)
 Pode haver clausulas combinadas que não são especificas da compra e venda,
que são eventuais.
Objeto do negócio jurídico, segundo MC: é o conjunto das realidades sobre que
recaem os direitos e deveres presentes no conteúdo.
Ex.: transmite-se o direito sobre os óculos para o Tiago.
O objeto é o conjunto dos bens sobre que incidem direitos e deveres, constituídos ou
transmitidos pelo negócio.
Artigo 762, nº2 – ao consagrar a boa fé está a consagrar princípios que uma vez
ponderados resultam em normas, as quais são chamadas de deveres acessórios na
vigência do contrato.
É este conteúdo na sua totalidade que abrange os bens que tem requisitos, para que a
comunidade atribuir o “selo” da juridicidade.

Explicitações:

 Clausula, segundo MC:


 Aceção material – a clausula é uma regra/preceito contratual ex.: dever de
entregar a coisa
 Aceção formal – ou escritas ou orais e são os “pedaços” da declaração.
As clausulas formais estão para as regras contratuais(conteúdo)/clausulas materiais
como os artigos de uma lei estão para as normas legais. Os artigos são unidades do
artigo legal, é necessário interpretá-los globalmente consideradas e depois é que
chegamos à norma – podemos ter artigos sem norma, como por exemplo no artigo
203º não se encontra uma norma, mas somado a outro artigo dá uma norma, o
mesmo acontece às clausulas de um contrato.

 Se somarmos os elementos voluntários necessários aos elementos normativos


dispositivos e injuntivos, temos um tipo contratual. Ex.: compra e venda.

 Frequentemente em Portugal os contratos têm poucas clausulas porque como


temos muitas leis as partes estabelecem o núcleo de um contrato e depois
remetem para normas supletivas.

2 expressões:
Ex voluntate – vem da vontade das partes.
Ex lege – vem da lei – supletivas ou injuntivas

Requisitos: - o que é necessário para que o negócio seja valido no que respeita ao
seu conteúdo (artigo 280º e 281)

 Possibilidade:
O conteúdo do objeto do negócio tem de ter esta característica que consiste em serem
exequíveis/passiveis de serem operados/executados.
Esta possibilidade tem de ser contemporânea da celebração do negócio. Se há
problemas quanto à possibilidade, posteriores à celebração do negócio, já não
estamos perante as condições de validade do negócio, a validade do negócio afere-se
no momento de celebração do negócio.
A invalidade é a consequência de um vicio contemporâneo da celebração do negócio.
Então estamos a falar da possibilidade originaria, no momento inicial do contrato e não
da possibilidade superveniente. Ou em relação ao vicio, não estamos a falar da
impossibilidade superveniente, mas sim da impossibilidade originaria.
Ex.: António vende ao jantar a B um cavalo, mas o cavalo tinha morrido uma hora
antes – há um problema de impossibilidade de facto/matéria/física quanto ao
conteúdo, porque o cavalo já não existe.
Também podemos ter impossibilidade legal quando a própria lei estabelece um
obstáculo equiparável à morte do cavalo do exemplo, ou seja, não pode vender algo
que não existe ou que pela qual já não há interesse. Ex.: não pode vender apenas a
casa de banho de uma casa.
MC quanto ao que é impossível e ao que não é impossível:
A impossibilidade abrange os negócios absurdos, que são negócios que racionalmente
são prestações impossível  ex.: A feiticeira obriga-se a fazer truques mágicos para
que B se divorcie – prestação impossível de um negócio absurdo do ponto de vista
racional, há uma impossibilidade do conteúdo.
Pode não ser uma impossibilidade efetiva, mas económica, como por exemplo,
quando para o devedor demasiado oneroso para este cumprir a sua obrigação. Ex.:
deixa cair o relógio prometido numa barragem; não tem como recuperar;
impossibilidade económica.
Impossibilidade moral – Ex.: cantora lírica obriga-se a cantar num evento, mas não
cumpre porque o filho está a morrer naquela noite, deixa então de cumprir a sua
obrigação com essa justificação – MC diz que é impossibilidade moral. Trata-se do
que é excessivamente oneroso, moralmente inexigível.

Não se confunde impossibilidade com:

 Em regra, não está na impossibilidade a impossibilidade subjetiva – aquele


devedor não pode cumprir, mas pode fazendo-se substituir pagando a outra
pessoa para que cumpra o seu dever.
 Regimes especiais, como o dever de coisas futuras – não é impossível, apenas
tem um regime especial – artigos 399º e 880º.

Consequência da impossibilidade:
Em regra, é a nulidade do negócio (280º), mas há luz da boa-fé e das particularidades
do caso, pode a nulidade afetar apenas a obrigação principal e as obrigações
acessórias/secundarias não são afetadas.
Também podemos ter casos em que o dever principal é substituído por outro dever, ou
seja, a nulidade pode não fazer desaparecer totalmente aquele negócio, pode haver
subsistência de deveres, substituição de deveres ou dever de indemnizar, no caso
concreto à luz da boa fé se resolverá.

 Determinabilidade:
Possibilidade de identificar o conteúdo (inclui o objeto) - as regras e bens sobre o
princípio de direitos e deveres dessas regras.
Quando não é determinável, ele tem um vicio: indeterminabilidade, cuja consequência
é a nulidade.
Ex.: António presta uma fiança a favor de B por todas as dividas que o B tenha ou
venha a ter junto de um banco; a cada momento ele pode estar a criar obrigações por
empréstimos celebrados, não sendo determinável o objeto; concluindo -se que o
negócio é nulo.
1- A justificação desta determinabilidade é evitar direito e deveres sobre coisas
incertas. A comunidade cria normas jurídicas para evitar equívocos entre as pessoas.

2 – Não confundir indeterminabilidade com indeterminação – o negócio até pode ter


regras ou objetos indeterminados, como por exemplo obrigações genericas539º ou
obrigações facultativas 543º. O que é necessário é ser determinável, há processos
legais para a indeterminação.

TGDC – 5/11/18

 Licitude
Temos uma acessão ampla de licitude, o que significa que o NJ surge na área da
autonomia privada.
Também temos uma acessão restrita de licitude e quando falamos nestas estamos a
afirmar que o NJ não viola normas jurídicas.
Ilicitude
A proibição de negócio ilícitos encontra-se no artigo 280, nº1 e 294º do CC.
Esta ilicitude pode resultar dos meios do próprio NJ ou do efeito/resultado do mesmo.
Fim
O fim do negócio jurídico pode depender das próprias partes, sendo que cada uma
das partes pode ainda ter um fim diferenciado quanto ao NJ. Distingue-se quanto ao
fim:
 Fim expresso/Fim acordado/Fim clausulado – o próprio negócio no seu
preâmbulo ou no seu clausulado fixa o objetivo do mesmo, ou seja, o NJ indica
o fim do mesmo.
 Fim exterior implícito – Resulta das próprias circunstâncias do próprio NJ.
 Fim interior implícito – a parte celebra o negócio com fim indecifrável mas
revela-o à outra parte.
 Fim íntimo – interiores, não transparecem, nem são revelados à outra parte.
artigo 281º do CC – se apenas o fim for contrário à lei, o negócio só é nulo se o fim
for comum a ambas as partes. Ex.: se alguém aluga o barco para traficar droga,
apenas este negócio de aluguer é nulo se o fim for comum a ambas as partes.
No entanto MC diz, colocando maior exigência:
Por exemplo no contrato de compra e venda de uma arma para cometer um crime isto
significaria, por aplicação literal do artigo 281º, que a ilicitude só ocorreria se ambas as
partes pretendessem cometer este crime e assim existiria nulidade. Ora isto não é
possível, o que é defensável é que basta que o crime seja o fim de uma das partes,
mas seja expresso ou implicitamente conhecido da outra para que seja defendida a
ilicitude do fim deste negócio jurídico e por isso a nulidade ao abrigo do artigo 281º do
CC.

 Conformidade legal:
Requisito residual relativo à validade de negócios jurídicos específicos.
Encontramos normas no código civil que vêm estabelecer requisitos de validade para
aquele tipo de negócios jurídicos. Como por exemplo o artigo 877º do CC que vem
estabelecer certas condições para que os pais e avós possam vender a filhos e a
netos, o que significa que temos aqui um requisito específico quanto a este negócio
jurídico que vai conformar a tal conformidade legal.
Também a conformidade legal encontra-se presente no artigo 294º do CC quando
determina que os negócios celebrados contra preceitos legais imperativos são nulos
(negócios celebrados em sentido contrário ao que resulta no artigo 287º, por exemplo,
se não houver uma consequência estabelecida no conceito da anulabilidade, utiliza-se
o artigo 294º).

 Fraude à lei:
É um forma de ilicitude que envolve a nulidade no NJ.
Particularidade: As partes tentaram, através de artifícios formais, conferir ao negócio
que celebram uma feição inócua.
Em princípio os pais não podem vender a filhos e o avós não podem vender a netos
(877º), (1) mas imaginemos que um pai vende a um terceiro para que este venda ao
filho, ou seja, as partes engendram artifícios formais para se subtrair a regras
imperativas.
Podemos ter apenas uma violação de lei, uma violação do artigo 877º. E se assim
fosse isso levou MC no passado a considerar que a figura da fraude à lei não teria
autonomia sobre a violação de lei.
Atualmente MC defende que a fraude à lei é uma manifestação particular da ilicitude,
tendo assim autonomia quanto à mera violação da lei. Aspetos em que há esta
manifestação particular de ilicitude:
 Aparência inócua – exemplo (1)
 Intenção especifica de prosseguir um objetivo proibido pela lei.
 Efetiva obtenção desse objetivo - no caso do exemplo (1) há obtenção do fim
quando A vende a terceiro e o terceiro vende ao filho.

Artigo 280, nº2 – conceitos de bons costumes e ordem publica: é nulo o NJ contrário à
ordem publica e ofensivo aos bons costumes.
Estes dois costumes são indeterminados e portanto precisam de concretização
jurisprudencial ou doutrinaria.
Normalmente quanto a estes conceitos à evolução quanto à sua concretização.
 Bons costumes:
No passado: Oscilou-se entre um referência abstrata à moral e uma referência
concreta a uma conceção sociológica.
Entretanto considerou-se que remetia para questões de política económica suscetíveis
de concretização jurisprudencial ao longo do tempo.
E recentemente, MC considera que há na referência essencialmente uma dimensão
extrajurídica abrangendo código deontológicos, bem como regras de moral
relativamente à conduta familiar e sexual. Ex.: negócio contrário aos bons costumes –
prostituição.

 Ordem pública:
Limitação à autonomia privada - a autonomia privada é limitada por normas
imperativas, no entanto o sistema jurídico não se limita a normas, também abrange
princípios.
A ordem pública configura o conjunto de princípios e normas injuntivas que em caso
algum podem ser afastados pela autonomia privada.
Por exemplo, são negócios contra a ordem pública aqueles que restringem demasiado
a liberdade pessoal. Ex.: alguém admite ficar preso numa jaula a troco de uma quantia
– negócio contrário à ordem pública e por isso é nulo.
Também os negócios que põem em causa direitos de personalidade, por serem
contrários à ordem pública são necessariamente nulos, porque os direitos de
personalidade têm um carácter de indisponibilidade, o que significa que estão
subtraídos à autonomia privada.

 Ordem pública internacional:


Incluem-se os seguintes pontos:
 Direitos fundamentais constitucionalmente garantidos.
 Posições patrimoniais atingidas de forma insuportável – expropriações do
direito de propriedade sem ficar consagrada uma indemnização; situações em
que se preveem danos punitivos desproporcionais.

CLAUSULAS TIPICAS:
 Condição
 Termo
 Modo
 Sinal
 Clausula penal
CONDIÇÃO
Conceito – é uma clausula contratual típica que vem subordinar a eficácia de uma
declaração de vontade/NJ a um evento futuro e incerto – artigo 270º e seguintes do
CC.
 Condição suspensiva: quando o negócio jurídico só produz efeitos apos a eventual
verificação da ocorrência.
 Condição resolutiva: o negócio deixa de produzir efeitos após a eventual
verificação da ocorrência.

 Condições casuais: quando o facto é alheio aos participantes. Ex: pode defender
de facto da natureza: “vendo-te se chover amanha” ou de facto de terceiro: “vendo-
te o telemóvel se casares”
 Condição potestativa: quando o facto/evento depende da vontade de um dos
celebrantes do negócio jurídico

Ainda que o evento seja sempre incerto o momento pode ser incerto ou certo:

 Condição de momento certo: Ex.: alguém vende o telemóvel quando B fizer 30


anos – eventualmente fará 30 anos, apesar de poder morrer antes dessa data, a
partir do momento que alguém nasce haverá um momento em que fará 30 anos.
 Condição de momento incerto: Ex.: “vendo o telemóvel quando A contrair
casamento” – pode ou não contrair casamento e não sabemos a data quando o
fará.

A condição opera, normalmente, automaticamente, no entanto distingue-se:

 Condições automática – não necessitam de manifestação de vontade para


operarem os seus efeitos
 Condições exercitáveis – necessitam de uma manifestação de vontade para operar
os seus efeitos.

Condições improprias
Em alguns casos, sob a aparência de uma condição, falta o requisito da incerteza,
então fala-se de condições improprias. Temos condições improprias relativamente a
condições presentes ou passadas.
Se dissermos que a condição vai fazer depender a eficácia do NJ de um evento futuro
a algo que já ocorreu, não temos aqui verdadeiramente uma condição. Subordinar a
eficácia a algo passado, há uma condição imprópria. – Falta o requisito do caracter
futuro do evento.
Pode também pode subordinar a eficácia ao conhecimento desse evento presente ou
passado e assim estamos perante um conhecimento futuro – clausula contratual típica
qualificada como a condição.

 Condições impossíveis – ex.: “vendo-te este telemóvel se conseguires tocar na


lua”: há uma impossibilidade; há a certeza de não conseguir realizar esta conduta
e é por isso uma condição impropria.
 Condições necessárias – ex.: alguém doa se a outra pessoa morrer – não há
incerteza sobre a morte e por isso temos uma condição impropria.
 Condições legais: Não resultam do contrato, resultam da lei.
Condição resolutiva tacita - permite que em caso de incumprimento do contrato por
uma parte, a resolução do contrato pela parte que não incumpriu. Neste caso
temos uma condição impropria porque se baseia na lei e não no contrato.

Termo vs. Condição: Faz a eficácia do NJ depender de um evento futuro certo.


Modo vs. Condição: Clausula típica própria dos negócios gratuitos e postula uma
atuação do beneficiário.

Regime jurídico da condição:


Havendo uma condição todo o negócio é condicionado, o que vai, em princípio,
significar que a invalidade da condição implica a invalidade do negócio jurídico – artigo
271º - configurando assim uma teoria da unidade. Todavia há exceções como por
exemplo em matéria de casamento - artigo 1618º, nº2, de perfilhação – artigo 1852,
nº2, de testamento - artigo 2230º, nº1 e de doação – artigo 967º.
No entanto, segundo MC, estas regras que configuram exceções ao princípio de que a
invalidade da clausula contratual típica implica a invalidade do NJ, são contrárias à
autonomia privada.
Ex.: “caso contigo quando fizeres 80 ano” – o casamento seria logo eficaz; é sinal que
não está interessada, sendo isto uma violência da autonomia privada - sendo
necessária uma avaliação do caso concreto.
O regime da condição procura um equilibro entre por um lado a condição que deve ser
respeitada envolvendo todo o negócio jurídico e por outro, não pode haver a
paralisação do comercio jurídico na expectativa de que o condição/evento vá ocorrer.
Para tal recorre-se:

 Princípio da autonomia privada


 Princípio da boa fé (princípio da tutela da confiança e da primazia da materialidade
subjacente)
 Distribuição dos riscos – uma situação condicionada é por natureza uma situação
instável, o que significa que as partes podem sofrer danos. Temos assim a
pendencia da condição, que pode ser resolutiva e destrói o negocio jurídico ou ser
suspensiva e inicia a eficácia do NJ, sendo necessário encontrar regras: artigo
275º, nº2 – estabelece que se a verificação da condição for impedida contra as
regras da boa fé, por aquele a quem a verificação da condição prejudica, a
condição tem-se por verificada; se a verificação for provocada por aquele a quem
aproveita, considera-se como não verificada.
Artigo 275, nº2 – está patente a boa fé nos seguintes aspetos:

 Tutela da confiança - Implica que na pendencia da condição as partes não possam


agir contra, o que pelas suas opções contratuais ou pela ordem contratual, iria
suceder.
 Primazia da materialidade subjacente - Obriga a que a condição não se possa
transformar num jogo formal de meras proposições, devendo exprimir no seu
funcionamento a vontade das próprias partes, ou seja, nunca nenhumas das
partes pode impedir ou provocar condições.

Você também pode gostar