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Teoria Geral do Direito Civil:

• Objeto da relação jurídica


o Noção: é o quid sobre que incidem os poderes do seu titular ativo, todo o bem
sobre que podem recair direitos subjetivos. Também se pode definir como
objeto de direito subjetivo que constitui o lado ativo da mesma relação
o Modalidades: o objeto pode ser mediato ou imediato
O objeto imediato é aquilo que diretamente está submetido aos poderes
ideias que integram um direito subjetivo
O objeto mediato é aquilo que só de uma forma mediata ou indireta, isto é,
através de um elemento mediador, está submetido àqueles poderes
o Possíveis objetos de relações jurídicas: podem ser objeto as pessoas,
prestações, coisas materiais ou corpóreas, coisas incorpóreas ou imateriais,
direitos subjetivos, a própria pessoa
• Coisas e património
Art 202.º dá a noção de coisa
Art 203.º dá a classificação das coisas
o Noção:
A noção de coisa pode ser definida num sentido amplo (tudo o que pode ser
pensado, ainda que não tenha existência real e presente) num sentido físico (é
tudo o que tem existência corpórea) ou num sentido jurídico (tem de se ter
em consideração o art 202. Define-se coisa como os bens de caracter estático,
desprovidos de personalidade e não integradores do conteúdo necessário
desta, suscetíveis de constituírem objeto de relações jurídicas)
A palavra património pode ter várias aceções. Estas podem ser:
O património global tem em vista o conjunto de relações jurídicas ativas e
passivas (direitos e obrigações) avaliáveis em dinheiro de que uma pessoa é
titular
O património bruto ou ilíquido tem em vista o conjunto de direitos avaliáveis
em dinheiro, pertencentes a uma pessoa, abstraindo das obrigações.
O património líquido é o saldo patrimonial (relações jurídicas ativas ou
direitos – relações jurídicas passivas ou obrigações)
O património autónomo ou separado conclui que existe titularidade do
mesmo sujeito, alem do seu património geral, um conjunto de relações
patrimoniais submetido a um tratamento jurídico particular, tal como se fosse
de pessoa diversa. Este património será o que responde por dividas próprias,
ou seja, só responde ele por certas dividas (art 2070.º e art 2071.º)
O património coletivo apresenta-se quando um único património tem vários
sujeitos. Duas ou mais pessoas, que possuem (cada uma) o seu património que
lhes pertence globalmente.
• Factos jurídicos
o Noção: é todo o ato ou acontecimento natural juridicamente relevante, ou
seja, que produz efeitos jurídicos
o Classificação: pode dividir-se entre factos jurídicos voluntários (atos jurídicos)
e factos jurídicos involuntários.
Os factos jurídicos voluntários resultam da vontade como elemento
juridicamente relevante, são manifestações ou atuações de vontade. Estes
ainda podem ser lícitos ou ilícitos. E ainda podem ser classificados como
negócios jurídicos e simples atos jurídicos.
Os atos jurídicos lícitos são conformes à ordem jurídica e por ela consentidos
Os atos jurídicos ilícitos são contrários à ordem jurídica e por ela reprovados.
Dá lugar a uma sanção ao infrator
Os negócios jurídicos são factos voluntários cujo núcleo essencial é integrado
por uma ou mais declarações de vontade a que o ordenamento jurídico atribui
efeitos jurídicos concordantes com essa vontade
Os simples atos jurídicos são factos voluntários que se produzem mesmo não
tendo sido previstos ou queridos pelos seus autores. Podem dividir-se em:
 Quase negócios jurídicos: traduzem-se na manifestação exterior de
uma vontade
 Operações jurídicas: traduz-se na efetivação ou realização de um
resultado material ou factual a que a lei liga determinados efeitos
jurídicos

Os factos jurídicos involuntários resultam de causas de ordem natural ou a sua


eventual voluntariedade não tem relevância jurídica, são independentes da
vontade

• Aquisição, modificação e extinção de relações jurídicas


o Conceito: é quando alguém se torna titular de um direito novo. É a ligação de
um direito a uma pessoa
o Modalidades de aquisição: a aquisição pode ser originaria ou derivada
o Aquisição originaria: o direito adquirido não depende da existência ou da
extensão de um direito anterior. A extensão do direito adquirido depende
apenas do facto ou título aquisitivo. Exemplo: usucapião (art 1287.º)
o Aquisição derivada: o direito adquirido funda-se ou filia-se na existência de um
direito na titularidade de outra pessoa, a existência anterior desse direito e a
sua extinção ou limitação é que geram a aquisição do direito pelo novo titular
o Importância da distinção de aquisição originaria e derivada: na aquisição
originaria a extensão do direito adquirido depende apenas do facto ou título
aquisitivo. Na aquisição derivada a extensão do direito do adquirente depende
do conteúdo do facto aquisitivo, mas depende ainda da amplitude do direito
do transmitente
o Aquisição derivada translativa: o direito adquirido é o mesmo que já pertencia
ao anterior titular. Transfere o direito.
o Aquisição derivada constitutiva: adquire-se um direito à custa de outro,
limitando-o ou comprimindo-o
o Aquisição derivada restitutiva: a aquisição vai repor as coisas no estado
anterior à constituição do direito real que se extingue. a
o Aquisição derivada e Sucessão:
A sucessão é o subingresso de uma pessoa na titularidade de todas as relações
jurídicas ou determinadas relações jurídicas de outrem. Rigorosamente
coincide apenas, portanto, com a aquisição derivada translativa, pois só nesta
é que o direito adquirido é o mesmo do anterior titular.
o Regra “nemo plus juris…”
O princípio nemos plus júris ad alium transferre potest quam ipse habet é a
regra geral da aquisição derivada. E este princípio diz que ninguém pode
transferir mais direito do que ele próprio tem.
o Exceções à regra:
a) Institutos do registo: por força destes institutos devem ser inscritos,
com o fim de lhes dar publicidade, em livros existentes em repartições
especiais, os diversos atos inerentes a bens imoveis, a veículos
automóveis ou aos restantes bens indicados, em particular os atos de
que resulte a aquisição de direito reais sobre os mesmos bens. O
registo não é meio de aquisição dos direitos, sendo o ato plenamente
eficaz. Apenas conserva os direitos
b) Da inoponibilidade da simulação a terceiros de boa-fé: os negócios
simulados são nulos e não produzem quaisquer efeitos. (art 243.º)
c) Da eventual inoponibilidade das nulidades e anulabilidades a terceiros
de boa-fé: está previsto no art 291.º e a lei só protege o terceiro se
forem verificados os seguintes pressupostos: tem de ter passado mais
de 3 anos sobre o negócio, o negócio tem de ser nulo ou anulável, ter
registo antes da anulação, e desconhecimento sem culpa
o Modificação de direitos:
A modificação de direitos acontece quando um dos elementos do direito
muda permanecendo o direito todo o mesmo. O direito é o mesmo. A
modificação ainda pode ser classificada como subjetiva ou objetiva
A modificação é subjetiva quando tem lugar uma substituição do respeito
titula, permanecendo a identidade objetiva do direito
A modificação é objetiva quando se muda o conteúdo ou o objeto do direito,
permanecendo este idêntico
o Extinção de direitos :
A extinção de direitos acontece quando um direito deixa de existir na esfera
jurídica de uma pessoa. A extinção pode classificar-se como subjetiva (ou
perda de direitos) e objetiva
A extinção pode ser subjetiva se o direito sobrevive em si, apenas mudando a
pessoa do titular. O direito mudou de titularidade, ou seja, extingue-se +ara
aquele sujeito, mas subsiste na esfera jurídica de outrem
A extinção é objetiva se o direito desaparece, deixando de existir para o seu
titular ou para qualquer outra pessoa
Há uma força particular de extinção de direitos são os institutos da prescrição
(art 300.º) e da caducidade (art 328.º)
• Negócio jurídico e simples ato jurídico
o Conceito:
Os negócios jurídicos são atos jurídicos constituídos por uma ou mais
declarações de vontade, dirigidas à realização de certos efeitos práticos, com
intenção de os alcançar sob tutela do direito, determinando o ordenamento
jurídico a produção dos efeitos jurídicos conformes à intenção manifestada
pelo declarante ou declarantes
o Elementos:
Os elementos do negócio jurídico podem ser essenciais, naturais e acidentais
Os elementos essenciais são os requisitos ou condições gerais de validade de
qualquer negócio, ou seja, a capacidade das partes, a declaração da vontade
sem anomalias e a idoneidade do objeto
Os elementos naturais são os efeitos negociais derivados de disposições legais
supletivas. Não é necessário que as partes configurem qualquer clausula para
a produção destes efeitos, podendo ser excluídos por estipulação adrede
formulada
Os elementos acidentais são as clausulas acessórias dos negócios jurídicos.
Trata-se das estipulações que não caracterizam o tipo negocial em abstrato,
mas se tornam imprescindíveis para que o negócio concreto produza os efeitos
a que elas tendem
o Importância:
Esta figura é importante por ser um meio de auto-ordenação das relações
jurídicas de cada sujeito de direito. É o instrumento principal para a realização
do princípio da autonomia da vontade ou autonomia privada
o Relação entre a vontade e os efeitos jurídicos:
Existem duas teorias: a teoria dos efeitos práticos e a teoria dos efeitos
pratico-jurídicos
A teoria dos efeitos práticos diz que as partes manifestam apenas uma
vontade de efeitos práticos ou empíricos, normalmente económicos e sociais,
sem caracter ilícito. A estes efeitos práticos ou empíricos manifestados, faria a
lei corresponder efeitos jurídicos concordantes
A teoria dos efeitos pratico-jurídicos diz que os autores dos negócios jurídicos
visam certos resultados práticos ou materiais e querem realizá-los por via
jurídica
o Classificação dos negócios jurídicos:
▪ Negócios Unilaterais ou negócios bilaterais (contratos):
Nos negócios unilaterais há uma só declaração de vontade ou várias
declarações de vontade, mas paralelas, formando um só grupo.
Exemplos: Testamento, renuncia à prescrição, procuração
Nos negócios bilaterais ou contratos há duas ou mais declarações de
vontade, de conteúdo oposto, mas convergente, ajustando-se na sua
comum pretensão de produzir resultado jurídico unitário, embora com
um significado para cada parte. Há assim a oferta ou proposta e a
aceitação, que se conciliam num consenso. Exemplo: compra e venda
Os contratos podem dividir-se em contratos unilaterais (geram
obrigações apenas para uma das partes. Exemplo: doação) e contratos
bilaterais (geram obrigações para ambas as partes, obrigações ligadas
entre si por um nexo de causalidade. Exemplo: compra e venda)
▪ Negócios entre vivos e negócios “mortis causa”
Os negócios entre vivos destina-se a produzir efeitos em vida das
partes
Os negócios mortis causa destinam-se a só produzir efeitos depois da
morte da respetiva parte ou de alguma delas. Exemplo: testamento
▪ Negócios consensuais e negócios formais
Os negócios consensuais são os que podem ser celebrados por
quaisquer meios declarativos aptos a exteriorizar a vontade negocial,
porque a lei não impõe uma determinada roupagem exterior para o
negócio
Os negócios formais são aqueles para os quais a lei prescreve a
necessidade da observância de determinada forma, o acatamento de
determinado formalismo ou de determinadas solenidades. Exemplo:
compra e venda de imoveis (art 875.º)
▪ Negócios reais
São aqueles negócios em que se exige, alem dadas declarações de
vontade das partes, formalizadas ou não, a pratica anterior ou
simultânea de um certo ato material. Exemplos: deposito, comodato,
mútuo, penhor
▪ Negócios obrigacionais, negócios reais, negócios familiares, negócios
sucessórios
Os negócios obrigacionais resultam da vinculação das partes à
execução de prestações, isto é, a comportamentos devidos. Exemplo:
arrendamento, comodato
Os negócios reais são negócios que tem efeitos de direitos reiais
(eficácia real) e, por outro, os que se materializam com a entrega de
coisa que constitui o seu objeto. Exemplo: venda ou doação de certa
coisa e determinada
Os negócios familiares são aqueles que tem por conteúdo a
constituição, modificação ou extinção de situações ou relações
jurídicas familiares. Exemplos: casamento, adoção
Os negócios sucessórios tem por conteúdo a constituição, modificação
ou extinção de situações e relações jurídicas sucessórias e cuja eficácia
se desenvolve no âmbito da instituição da sucessão por morte e que o
código civil inclui. Exemplo: testamento, pactos sucessórios
▪ Negócios patrimoniais e negócios pessoais
Os negócios patrimoniais são os negócios pelos quais as partes regem
sobre bens da sua esfera jurídica patrimonial, ou seja, sobre bens
avaliáveis em dinheiro
Os negócios pessoais são negócios pelos quais são instituídos ou
modificados estados pessoais das partes. exemplo: casamento
▪ Negócios onerosos e negócios gratuitos
Os negócios onerosos são aqueles em que é estipulado um sistema de
contrapartidas. Exemplo: compra e venda, o preço é a contrapartida
da coisa vendida
Os negócios gratuitos são aqueles em que à prestação principal não
corresponde uma contrapartida, em cujo conteúdo se estipula numa
atribuição patrimonial unilateral
▪ Contratos comutativos e contratos aleatórios
Nos contratos comutativos a onerosidade é, em princípio, perfeito.
Isto significa que à atribuição patrimonial de uma das partes
corresponde uma atribuição patrimonial da outra parte de valor
equivalente
Nos contratos aleatórios as partes submetem-se a uma possibilidade
de ganhar ou perder. A onerosidade consiste na circunstância de
ambas as partes estarem sujeitas ao ressico de perder, embora, no
final de contas só venha uma a ganhar
▪ Negócios de mera administração e negócios de disposição
Os negócios de mera administração são aqueles que correspondem a
uma atuação prudente, dirigida a manter o património donde estão
afastados os atos arriscados
Os negócios de disposição são aqueles que afetam a substância do
património administrado, alteram a forma ou a composição do capital
administrado. São aqueles que ultrapassam os parâmetros de atuação
correspondente a uma gestão de prudência
• Elementos essenciais do negócio jurídico
o Capacidade e legitimidade:
São requisitos gerais de validade dos negócios jurídicos a capacidade e a
legitimidade. Nos negócios jurídicos fala-se de capacidade negocial de gozo e
capacidade negocial de exercício
A capacidade negocial de gozo é a suscetibilidade de ser titular de direitos e
obrigações derivados de negócios jurídicos. Contrapõe-se-lhe a incapacidade
negocial de gozo que representa um absoluto impedimento ou proibição da
titularidade de tais e é insuprível
A capacidade negocial de exercício é a idoneidade para atura juridicamente,
exercendo ou adquirindo direitos, cumprindo ou assumindo obrigações, por
atividade própria através de um representante voluntário. Contrapõe-se-lhe a
incapacidade negocial de exercício que representa um impedimento ou
proibição não absoluta da realização de negócios e é suprível pelos institutos
da representação ou acompanhamento
A legitimidade é uma relação entre o sujeito e o conteúdo do ato. Contrapõe-
se lhe a ilegitimidade, ou seja, a falta dessa relação de tal modo que o sujeito
não pode com a sua vontade afetar esse direito ou obrigação
o Noção:
são os requisitos ou condições gerais de validade de qualquer negócio, ou seja,
a capacidade das partes, a declaração da vontade sem anomalias e a
idoneidade do objeto
o Importância:
Os elementos essenciais são importantes para que um negócio jurídico seja
válido
o declaração negocial:
▪ noção
define-se como o comportamento que, exteriormente observado,
queria a aparência de exteriorização de um certo conteúdo de vontade
negocial, caracterizando a vontade negocial com uma intenção de
realizar certos efeitos práticos, com ânimo de que sejam juridicamente
tutelados e vinculantes
▪ importância
esta figura é importante porque manifesta a vontade, desde que esta
seja formada sem anomalias e coincidente com o sentido
exteriormente captado do comportamento
▪ atos jurídicos de natureza não negocial
o art 295.º diz que aos atos não negociais seguem as disposições da
doutrina geral do negócio jurídico
▪ elementos constitutivos normais da declaração negocial
na declaração negocial é possível distinguir-se os elementos em:
interno(a vontade) e externo (a declaração propriamente dita)
o elemento externo consiste no comportamento declarativo
o elemento interno consiste no querer, na realidade volitava que
normalmente existirá e coincidira com o sentido objetivo da
declaração. Este pode decompor-se em três subelementos:
a vontade de ação consiste na voluntariedade do comportamento
declarativo
a vontade da declaração ou vontade da relevância negocial da ação
consiste em o declarante atribuir ao comportamento querido o
significado de uma declaração negocial.
A vontade do conteúdo da declaração ou intenção do resultado
consiste na vontade de celebrar um negócio jurídico de conteúdo
coincidente com o significado exterior da declaração
▪ declaração expressa vs. declaração tacita
esta distinção está prevista no art 217.º
a declaração é expressa quando feita por palavras, escrito ou
quaisquer outros meios diretos, frontais, imediatos de expressão da
vontade
a declaração é tacita quando do seu conteúdo direto se infere um
outro, isto é, quando se destina a um certo fim.
▪ valor do silencio
O silêncio não vale como declaração negocial exceto quando tal
for convencionado, quando a lei tal determinar, quando o uso
por criar a convicção das pessoas de boa-fé. Está consagrado
no art 218.º
▪ declaração presumida vs. declaração ficta
a declaração presumida tem lugar quando a lei liga a determinado
comportamento o significado de exprimir uma vontade negocial, em
certo sentido, podendo ilidir-se tal presunção mediante prova em
contrário
a declaração ficta tem lugar sempre que a um comportamento seja
atribuído um significado legal tipificado, sem admissão de prova em
contrário
▪ protesto
o protesto acontece quando emitido certo comportamento
declarativo, pode o seu autor recear que lhe seja imputado, por
interpretação, um certo sentido. Para impedir, o declarante afirma
abertamente não ser esse o intuito
▪ reserva
a reserva consiste na declaração de que um certo comportamento que
não significa renuncia a um direito próprio, ou reconhecimento de um
direito alheio
▪ forma de declaração negocial vantagens e desvantagens
Vantagens:
- Maior reflexão das partes, ou seja, maior tempo para repensar
o negócio, medindo a importância e os riscos do ato;
- Separa os termos definitivos do negócio da fase pré-contratual;
- Permite uma formulação mais completa e precisa da vontade
das partes;
- Proporciona um maior grau de certeza sobre a celebração do
negócio;
- Possibilita uma certa publicidade do ato, o que interessa ao
esclarecimento de terceiros.

Desvantagens:
- A forma, a sua exigência, provoca um muito maior atraso, falta
de celeridade nos negócios;
- A falta de forma implica a nulidade dos negócios, podendo
provocar prejuízos ou injustiças.

Forma convencional:
Art 223.º
As partes não podem, por acordo, prescindir da forma legal
exigida.
No entanto as partes podem reforçar as formas legais por
convenções entre elas.
A forma convencional é aquela que as partes acordam entre si.
A forma convencional vincula as partes, obriga a que nos
negócios futuros a forma tenha que ser seguida pelas partes,
sendo que quando não for obedecida os negócios são nulos.

Inobservância da forma legal:


A doutrina estabelece a distinção entre formalidades “ad
substantia” e formalidades simplesmente “ad probationem” artº
364º).
As formalidades “ad substantia” são insubstituíveis por outro
género de prova, gerando a sua falta a nulidade do negócio.
As formalidades “ad probationem” podem ser supridas por
outros meios de prova mais difíceis de conseguir (confissão).
Sempre que a lei exigir determinada forma as partes não
poderão convencionar cláusulas acessórias que estão fora da
forma exigida.
A inobservância da forma legal gera a nulidade (artº 289º) e não
a mera anulabilidade (artº220º).
A nulidade deixará de ser sanção para a inobservância da forma
legal sempre que, em casos particulares, a lei determine outra
consequência.
As declarações verbais anteriores ao documento são nulas (artº
221º) exceto se a lei não exigir forma determinada – forma
voluntária (artº 222º).
Se não for exigida a forma escrita as declarações verbais
anteriores e posteriores ao negócio são válidas desde que
respeitem a vontade do declarante e a lei não obrigue à forma
escrita (artº 222º).
Há autores (prof. Mota Pinto) que consideram que a invocação
da nulidade por uma das partes pela inobservância da forma
negocial está a agir de má fé pelo que admitem a utilização do
abuso do direito em casos excecionais (artº 334º)
▪ perfeição da declaração negocial

A declaração negocial com um destinatário ganha eficácia logo que


chegue ao seu poder ou é dele conhecida. As declarações não reptícias
tornam-se eficazes logo que a vontade se manifesta na forma adequada.
Do artigo 224º, nº1 do código civil, decorre, para os contratos, ter a nossa lei
optado pela doutrina da receção quanto ao momento da sua conclusão. Quer dizer: o
contrato está perfeito quando a resposta, contendo a aceitação, chega à esfera de ação do
proponente, isto é, quando o proponente passa a estar em condições de a conhecer.

• interpretação e integração dos negócios jurídicos


o interpretação:
▪ problema
A interpretação nos negócios jurídicos é a atividade dirigida a
fixar o sentido e alcance decisivo das declarações negociais,
interpretação das cláusulas negociais.

A teoria da interpretação dos negócios tem dado lugar a


conceções opostas:
Posição subjetivista
O intérprete deve buscar a vontade real do declarante (elemento
psicológico), ou seja, o negócio valerá como foi querido pelo
autor da declaração.
Posição objetivista
O intérprete não vai pesquisar a vontade efetiva do declarante,
mas sim o teor das declarações (comportamento exteriorizado).
É uma interpretação normativa e não uma interpretação
psicológica.
Dentre as doutrinas objetivistas destaca-se a teoria da
impressão do destinatário (artº236º):
Esta teoria é a posição adotada pela nossa doutrina.
A declaração deve valer com o sentido que um destinatário
razoável (homem médio), colocado na posição concreta do real
declaratário, lhe atribuiria, salvo se a conclusão a que este fosse
chegar nunca fosse conclusão razoável, não puder
razoavelmente contar com ele.
▪ posição adotada pelo cc

A doutrina da impressão dos destinatários é a preferível para a generalidade dos negócios. É a


posição mais razoável e a mais justa, pois dá tutela plena à legítima confiança da
pessoa em face de quem é imitida a declaração. O código civil define o tipo de sentido
negocial decisivo para a interpretação nos termos daquela posição objetivista

o integração:
▪ noção
A integração é a resolução de casos omissos, coisas não
previstas
▪ posição adotada pelo cc
o critério que se utiliza para o efeito de realizar a integração dos
negócios jurídicos lacunosos está consagrado no art 239.º
existem três fases na integração:
1 A integração é feita por uma norma concreta se existe
disposição especial sobre o caso omisso. Ex: existe uma norma
supletiva no código sobre o local de pagamento quando este
não esteja previsto no negócio.
2 Pela vontade hipotética ou conjetural das partes, ou seja, se
as partes tivessem previsto o caso omisso, o que é que teriam
decidido.
3 Aplica-se o princípio da boa-fé para evitar conclusões
completamente contrárias ao razoável.
Se a aplicação da norma supletiva levasse a uma ofensa ao
princípio da boa-fé deve-se aplicar a norma supletiva. Só em
casos excecionais se pode recorrer ao princípio do abuso do
direito (artº 334º).
A integração nunca pode levar à ampliação do negócio jurídico.
• divergência entre a vontade e a declaração
o formas possíveis de divergência
A divergência entre a vontade (elemento interno) e a declaração
(elemento externo) pode ser intencional ou não intencional.
As formas de divergência intencional são: simulação, reserva mental e
declarações não serias
As formas de divergência não intencional podem ser: erro na
declaração, falta de consciência da declaração, coação física
o substrato teleológico
Esta divergência entre a vontade e a declaração pode levantar dois problemas:
a) saber se o negócio jurídico poderá valer com o sentido correspondente à
vontade real- estamos perante um problema de interpretação dos
negócios jurídicos, de fixação do sentido e alcance com que o negócio
deve valer; é o problema da relevância positiva da vontade real em caso
de desacordo entre a vontade e a declaração
b) o problema de saber se o dissidio entre o querido e o declarado dá origem
à invalidade do negocio jurídico- perante o problema de interpretação dos
negócios jurídicos, não aderimos a uma posição que atribui
exclusivamente relevância à vontade real, isto é, se em sede interpretativa
optarmos por um sentido objetivo, abre-se então o problema autónomo
da divergência entre a vontade e a declaração, ou seja, o problema de
saber se a declaração não virá a ficar desprovida de efeitos em virtude de
não coincidir com a vontade real; é o problema da relevância negativa da
divergência entre a vontade e a declaração
- Para se encontrar a solução mais razoável neste problema importa
conhecer o substrato teleológico, ou seja, importa saber o esquema dos
interesses em jogo
o teorias

Teoria da Vontade
Se a declaração não corresponde à vontade o negócio é inválido.
Predomínio da vontade desde que se prove que o que foi declarado não foi aquilo que
é querido.

Teoria da culpa “in contrahendo”


O negócio é inválido se a declaração não corresponde à vontade, mas existe a
obrigação de indemnizar pelos danos causados se houver culpa (artº 227º).

Teoria da responsabilidade
Se o declarante atuou com culpa ou dolo e estando o declaratário de boa-fé, o negócio
é válido.

Teorias da declaração

• Teoria da Confiança: O negócio só será inválido se o declaratário conhecia ou


devia conhecer a divergência da declaração do declarante.
• Teoria da aparência eficaz: O negócio será válido se o declaratário confiou em
que o negócio se realizaria.
o critérios propostos

As soluções dadas a cada uma das formas esta divergência reveste (artigos 244º, 245º,
246º e 247º do C. Civil), mostram estar subjacente ao sistema do atual código uma solução
declarativista.

• simulação
o conceito
O declarante emite uma declaração não coincidente com a vontade real,
conluio com o outro declarante com o intuito de enganar terceiros (credores).
o elementos
Os elementos que integram o conceito de simulação são a intencionalidade de
divergência, o acordo ou conluio e o intuito de enganar. Estão previstos no art
240.º nº1
o importância
frequência da sua verificação pratica e complexidade da problemática
respetiva
o modalidades
- Simulação inocente e simulação fraudulenta
A simulação inocente é feita só para enganar, não existe prejuízo para
ninguém.
A simulação fraudulenta é feita para enganar e dessa simulação existe
prejuízo para terceiros
- Simulação absoluta e simulação relativa
Na simulação absoluta as partes fingem celebrar o negócio e na
realidade não querem celebrar nenhum negócio. Há apenas o negócio
simulada, não existe nada de verdadeiro, não há nenhum negócio real.
Na simulação relativa por detrás do negócio simulado existe um
negócio real.
- Modalidades de simulação relativa
- Simulação subjetiva ou dos sujeitos:
Pode ser por interposição de pessoas simulando um dos sujeitos
Pode ser por supressão de um sujeito real
- Simulação objetiva ou sobre o conteúdo do negócio:
Pode ser por simulação sobre a natureza do negócio
Pode ser por simulação de valor
o efeitos da simulação absoluta:
A simulação importa a nulidade do negócio simulado(art 240.º nº2), aqui só
interessam os interesses de terceiros de boa-fé que tenham confiado na
validade do negócio simulado
o efeitos da simulação relativa:
Na simulação relativa é aplicado ao negócio o regime que teria se o
negócio fosse realmente verdadeiro (artº 241º nº 1)
O negócio dissimulado poderá ser plenamente válido ou inválido
consoante as consequências que teriam lugar se tivesse sido
abertamente concluído.
Se o negócio for formal, mesmo respeitando a forma, se a declaração
não corresponde com a verdade o negócio é nulo (artº 241 nº 2).
Há um negócio válido se as partes fizerem constar as declarações que
integram o seu núcleo essencial de uma contradeclaração com os
requisitos formais exigidos para esse negócio.
A contradeclaração é um documento que os simuladores fazem com a
intenção de salvaguarda dos simuladores.
O negócio simulado é nulo por simulação, o negócio dissimulado é nulo
por vício de forma.
o terceiros na simulação
para efeitos de invocação da simulação, normalmente, definifo de forma a
abranger quaisquer pessoas, titulares de relação jurídica ou praticamente
afetada pelo negócio simulado e que não sejam os próprios simuladores ou
herdeiros
o interpretação do art 243.º
A lei protege os terceiros de boa-fé, não podendo a nulidade ser
arguida pelo simulador contra terceiros de boa fé
A finalidade do artigo 243º do C. Civil é a de proteger a confiança dos terceiros,
a solução mais acertada é a que impede que a invocação da simulação possa causar,
originar vantagens ou lucros que nada legitima

o meios de prova admitidos


A prova do acordo simulatório e do negócio dissimulado por terceiros é livre, podendo ser feita
por qualquer dos meios admitidos na lei: confissão, documentos, testemunhas,
presunções, etc.
A prova da simulação pelos próprios simuladores, a lei estabelece, quando o negócio
simulado conste de documento autêntico ou particular, a importante restrição
constante do artigo 394º, nº2 , já do nosso conhecimento: não é admissível o
recurso à prova testemunhal e, consequentemente, estão também excluídas as
presunções judiciais (artigo 351º).

• reserva mental
o noção
O art 244.º nº 1 define o que é reserv mental.
Quando existe divergência intencional entre a declaração negocial e a
vontade sem qualquer conluio com o declaratário com o intuito de
enganar o declaratário.
o regime jurídico
o seu regime está previsto no art 244.º e prevê a nulidade
• declarações não serias
o noção
O declarante emite uma declaração sem intenção de enganar qualquer
pessoa. O autor está convencido que o declaratário se apercebe do
carácter não sério da declaração.
o regime jurídico
o regime jurídico está consagrado no art 245.º e a consequência é a
indemnização
• divergências não intencionais
o coação física ou absoluta
▪ noção
O declarante emite uma declaração de vontade contra a sua
vontade, sem intenção, por força do emprego da força física.
O declarante é obrigado a dizer ou a escrever aquilo que não
quer por força do emprego da força física.
▪ regime jurídico
o regime jurídico está previsto no art 246.º
o falta de consciência
▪ noção
O declarante emite uma declaração sem sequer ter a
consciência de fazer uma declaração negocial.
A falta de consciência na declaração não produz nenhum efeito,
mas poderá ter de indemnizar.
▪ regime jurídico
o regime jurídico estabelecido no art 246.º
o erro na declaração ou erro obstáculo
▪ noção
O declarante emite a declaração divergente da vontade real,
sem ter consciência dessa falta de coincidência, por descuido,
por lapso, por lapsus linguae, por engano ou por negligência.
▪ regime jurídico
regime jurídico previsto no art 247.º
o erro na transmissão da declaração

Esta hipótese está prevista no artigo 250º do C. Civil, que a disciplina nos mesmo
termos do erro-obstáculo. O erro na transmissão da declaração não tem, portanto, relevância
autónoma; desencadeará o efeito anulatório apenas nos termos do artigo 247º .
Estabelece-se, porém, uma exceção a este regime geral no nº2 do artigo 250º,
admitindo-se a anulação sempre que o intermediário emita intencionalmente (com dolo) uma
declaração diversa da vontade do dominus negotii. O declarante suporta o risco de transmissão
defeituosa, de uma deturpação ocorrida enquanto a declaração não chega à esfera do
declaratário; uma adulteração dolosa deve, porém, considerar-se como extravasando o
círculo normal de riscos a cargo do declarante.
• vícios da vontade
o noções
Os vícios da vontade são erros na formação da vontade enquanto a
divergência entre a vontade e a declaração é um erro na formulação da
vontade.
Declara-se aquilo que se quer, mas a vontade não se forma de uma
maneira normal, sã.
o erro como vicio da vontade
▪ noção

O erro-vício traduz-se numa representação inexata ou na ignorância de uma qualquer


circunstância de facto ou de direito que foi determinante na decisão de efetuar o
negócio.
▪ modalidades
Erro sobre a pessoa do declaratário (artº 251º): É o erro sobre a
outra parte interveniente no negócio.
Erro sobre o objeto do negócio (artº 251º)
Erro sobre os motivos (artº 252º):É uma noção residual, ou seja,
é por exclusão de partes. Se não cabe nos outros erros é erro
sobre os motivos.
▪ erro e pressuposição
A pressuposição é uma figura muito próxima do erro vício, a
diferença é que o erro vício diz respeito a circunstâncias
presentes ou passadas enquanto a pressuposição diz respeito a
circunstâncias futuras.
▪ condições gerais de relevância do erro-vicio
Essencialidade, ou seja, determinante para fazer o negócio, sem
ele o negócio não se teria feito, ou pelo menos naqueles
moldes.
Propriedade, ou seja, o erro tem de ser próprio, tem que incidir
sobre uma circunstância que não seja a verificação de qualquer
elemento de validade do negócio

▪ condições especiais

o erro sobre os motivos: casos em que o erro não se refere à pessoa do


declaratário nem ao objeto do negócio. Trata-se de uma noção definida por cia
negativa, que corresponde ao erro acerca da causa (art 252.º)
o erro sobre a pessoa do declaratário: abrange o erro sobre a identidade e o
erro sobre as qualidades (art 251.º)
o erro sobre o objeto do negócio: abrange o erro sobre a identidade e o
erro sobre as qualidades (art 251.º)

o dolo
▪ noção

Trata-se de um erro determinado por


certo comportamento da outra parte. Só existirá dolo quando se verifique o
emprego de qualquer
sugestão ou artifício com a intenção ou consciência de induzir ou manter em erro o autor da
declaração
(dolo positivo ou comissivo), ou quando tenha lugar a dissimulação, pelo declaratário
ou por terceiro, do
erro do declarante (dolo negativo, omissivo ou de consciência)

▪ modalidades
→ Dolo positivo e dolo negativo:
O dolo positivo leva a intenção de enganar através de uma
atitude positiva.
O dolo negativo acontece no caso de silêncio quando sabe e
tem o dever de informar.
→ Dolo bónus e dolo malus:
As sugestões ou artifícios usuais considerados legítimos
constituem dolo bónus. Só é relevante para efeitos de
anulabilidade o dolo malus.
→ Dolo inocente e dolo fraudulento:
No dolo inocente há um mero intuito enganatório enquanto que
o dolo fraudulento há uma intenção de enganar com a
consciência de causar prejuízo.
Dolo essencial e dolo incidental:
O dolo essencial é aquele sem o qual o negócio jurídico não se
teria feito, dá origem à anulação do negócio.
O dolo incidental é aquele que influi nos termos do negócio.
▪ condições de relevância

1) Deve tratar-se de um dolus malus (artigo 253º, nº2).


2) Deve ser essencial ou determinante, embora o dolo incidental também
possa vir a conduzir à anulação. Este requisito tem algum vago apoio no artigo 254º,
nº1, na hipótese de dolo negativo trata-se de uma causalidade hipotética.
3) Existência no deceptor da intenção ou consciência de induzir ou manter em
erro. É um elemento da definição de dolo, constante do nº1 do artigo 253º. Segundo
ele, basta a consciência de criar ou manter uma situação de erro, mesmo que esse não
seja o propósito de quem a cria ou mantém. Se essa consciência existe e, apesar dela, se
prossegue ou mantém o comportamento que gera ou faz perdurar o erro, há dolo ilícito.
4) Ao contrário do que exigem algumas legislações e a própria tradição jurídica, não
é necessário que o dolo seja unilateral. O dolo bilateral ou recíproco pode ser invocado
como fundamento da anulação. Na verdade, na 2ª parte do nº1 do artigo 254º, dispõe,
textualmente, que “a anulabilidade não é excluída pelo facto de o dolo ser bilateral”.
Tal solução é a que logicamente resulta do facto de o fundamento da anulabilidade
por dolo ser a viciação da vontade.

▪ fundamento jurídico

O fundamento da anulabilidade por dolo não consiste numa ideia de reparação


do prejuízo sofrido pelo enganado (o próprio dolo inocente ou altruístico revela), mas na
adulteração da vontade do deceptus, tal como sucede com o erro simples.

o coação moral ou relativa


▪ noção
é a perturbação da vontade, traduzida ni medo resultante de
uma ameaça ilícita de um dano, cominada com o intuito de
extorquir a declaração negocial. (art 255.º)
▪ modalidade
- Coação física e coação moral

a coação física, absoluta ou ablativa reduz o coagido à situação


de mero instrumento ou autómato. A coação moral ou relativa ou
compulsiva reduz a liberdade do coagido, mas não a elimina, sendo
o coagido ameaçado de um mal se não emitir a declaração
A primeira dá lugar à inexistência do negócio (artigo 246º do), a
segunda à mera anulabilidade (artigo 256º).

- Coação principal e coação incidental


A distinção poe-se nos termos expostos a propósito do dolo e do erro
e o seu interesse é idêntico
- Coação dirigida à pessoa ou à honra ou à fazendo do declarante ou
de terceiro

A ameaça pode dizer respeito à pessoa como à honra ou fazenda do


declarante ou de terceiro (artigo 255º, nº2)
- Coação exercida pelo declaratário e coação exercida por terceiro

A lei estabelece uma ligeira diferença entre as condições de


relevância da coação, como motivo de anulabilidade, num e noutro
caso (artigo 256º, 2ª parte)
▪ regime jurídico
o estado de necessidade e outras situações (art 282.º)
▪ noção

Situação de receio ou temor gerada por um grave perigo que determina o


necessitado a celebrar um negócio para superar o perigo em que se encontra.

▪ Modalidades
Modalidades possíveis, consoante a natureza do facto que lhe dá
origem: facto natural ou facto humano.
▪ requisitos
requisitos objetivos: benefícios excessivos ou injustificados
requisitos subjetivos: exploração de situações tipificadas e
situação de necessidade, inexperiência, ligeireza, dependência,
estado mental ou fraqueza de caracter
▪ consequências
a consequência é a anulabilidade (art 282.º), todavia a requerimento
do necessitado ou da parte contraria ser substituída (art 283.º) pela
modificação do negócio, segundo juízos de equidade
o incapacidade acidental
▪ noção
é um desvio no processo formativo da sua vontade em relação às
circunstâncias normais do seu processo deliberativo
▪ regime jurídico
o seu regime jurídico encontra-se no art 257.º e que prevê a
anulabilidade
• representação nos negócios jurídicos
o noção
Prática dum ato jurídico em nome de outrem, para na esfera desse
outrem se produzirem os respetivos efeitos. Para ser eficaz o
representante tem de atuar dentro do que lhe compete.
o espécies
legal: É aquela que resulta da lei ou também pode resultar duma
decisão judicial como é o caso do tutor nomeado. O representante é
indicado pela lei ou por decisão judicial em conformidade com a lei.
representação voluntaria: Na representação voluntária os poderes do
representante e a respetiva extensão provém da vontade do
representado manifestada na procuração.

Representação direta e representação indireta:


A representação direita é a representação propriamente dita
A representação indireta ocorre quando alguém pode atuar em nome de
outrem, mas pode atuar em nome próprio

Representação ativa e representação passiva


A representação ativa ocorre quando alguém atua em nome de outrem na
emissão de declarações negociais.

A representação passiva ocorre quando há uma procuração para receber uma


declaração negocial.

o confronto com institutos afins

Não há contradição entre a representação e o princípio da autonomia privada, mas sim traduz
um alargamento das possibilidades contidas na referida autonomia.
As possibilidades de atuação jurídico-negocial própria do representado não são restringidas
pelo facto de ter passado a outrem uma procuração.
A representação não se confunde com mandato (artº 1157°).
O mandato traduz-se no facto de alguém se comprometer a realizar um ato jurídico por conta
de outrem. A representação só existe se for em nome de outrem. Na representação o
representante (tem sempre algum poder deliberativo, há sempre atuação em nome do
representante.
O mandato é uma modalidade de prestação de serviço e refere-se a catos jurídicos.
Pode haver representação sem mandato, ou seja, a representação resulta de um ato
(procuração), que pode existir autonomamente ou coexistir com um contrato que
normalmente será o mandato, mas pode ser outro.
Pode haver mandato sem representação quando o mandatário não recebeu poderes para agir
em nome do mandante. Age por conta do mandante, mas em nome próprio.
A representação também não se confunde com o simples núncio.
O simples núncio é uma pessoa que transmite uma declaração de outrem, alguém que
simplesmente transmite a intenção de quem lhe solicita a transmissão. Pode ser qualquer
pessoa desde que tenha entendimento suficiente para transmitir uma mensagem, basta que
tenha capacidade natural para entender a transmissão da declaração de outrem.
Não são representantes aqueles que praticam operações meramente materiais - operários,
arquitetos engenheiros, etc.
A representação também não se confunde com a simples autorização ou consentimento para
atos de outrem. O representante atua e na simples autorização ou consentimento inibe-se ou
aprova-se uma iniciativa ou atuação de outrem.
A representação também não se confunde com o contrato a favor de terceiros.

o admissibilidade da representação e pressupostos

A representação própria é regulada nos artigos 258º e seguintes do C. Civil,


enunciando-se
alguns princípios gerais, comuns à representação legal e à representação voluntária, isto é,
aquela que
promana do ato voluntário denominado de procuração.
a) Representação legal. A sua admissibilidade e o seu domínio de aplicação
resultam das
disposições que a consagram para o efeito de se suprir as incapacidades.
b) Representação voluntária. É admitida nos artigos 262º e seguintes do C. Civil. O
mandato
com representação (artigo 1178º do C. Civil), no qual está convolvida uma procuração, é a
fonte mais frequente da representação voluntária.
Pressupostos:

- Quem atua, atua em nome do representante;


- Representante tem sempre poder deliberativo;
- É necessário que o representante tenha algum poder decisório e tem de atuar dentro dos
poderes que lhe são confiados (eficácia).
Para a representação ser eficaz o ato deve estar integrado nos limites dos poderes que
competem ao representante.

o regime jurídico
nulidade e anulabilidade art 259.º

• objeto negocial
o noção
O objeto do negócio jurídico pode ser mediato que consiste no quid
sobre que incide os efeitos do negócio e pode ser imediato que consiste
nos efeitos jurídicos a que o negócio tende (conteúdo).
o requisitos
objeto do negócio jurídico tem que obedecer a determinados requisitos
(artº 280º):
Ninguém pode realizar negócios jurídicos contrários à ordem pública e
ofensivos dos bons costumes;
O objeto do negócio jurídico tem de ser determinável, ou seja, tem de
saber o que é que constitui o objeto do negócio jurídico. O objeto deve
estar individualmente concretizado no momento do negócio ou pode vir
a ser individualmente determinado, segundo o critério estabelecido no
contrato ou na lei.
Não se pode fazer um negócio jurídico indeterminável;
O objeto do negócio jurídico tem que ser física e legalmente possível
Ex: Não se pode vender algo que não exista.
Pode-se vender coisas futuras, por ex: vender as maçãs que
determinado pomar vai dar.
O negócio tem que estar de acordo com a lei, tem de ser lícito.
O negócio em fraude à lei é ilícito
o consequências legais
A infracção de qualquer dos requisitos do objecto negocial implica a
nulidade do negócio jurídico.
Também poderá haver lugar à responsabilidade civil pré negocial (artº
227º).
• Elementos acidentais
o Condição
▪ Noção
A condição é um dos elementos acidentais do negócio jurídico.
O art.° 405 CC consagra o princípio da liberdade contratual que
se traduz na possibilidade de acrescentar ou eliminar elementos
ou celebrar um negócio condicional.
▪ Modalidades
A condição pode ser suspensiva se a verificação da condição
importa a produção dos efeitos do negócio, não tendo estes
lugar de outro modo e pode ser resolutiva se a verificação
importa a destruição dos efeitos negociais.
o Termo
▪ Noção
Os negócios jurídicos têm termo, ou para começar ou para
acabar.
Difere da condição porque é um acontecimento futuro mas certo
enquanto que a condição é incerto.
Existe um termo quando as partes celebram um negócio jurídico
relativo a acontecimento futuro mas certo.
Em caso de dúvidas o termo conta-se de acordo com as regras
previstas no artº 279º
▪ Modalidades
→ Termo inicial suspensivo ou dilatório e termo final, resolutivo
ou peremptório:
O termo pode ser inicial, suspensivo ou dilatório quando se
marca um prazo para o negócio jurídico produzir efeitos.
Pode ser final, resolutivo ou peremptório quando se marca um
prazo a partir a partir do qual cessam os efeitos do negócio
jurídico.
→ Termo certo e termo incerto:
O termo pode ser certo quando se sabe antecipadamente o
momento exacto em que se verificará.
O termo pode ser incerto quando esse momento é
desconhecido.
→ Termo expresso ou próprio e termo tácito ou impróprio:
O termo pode ser expresso ou próprio quando o termo, a
clausula acessória existe por vontade das partes.
O termo pode ser tácito ou impróprio quando o termo resulta de
imposição da lei.
→ Termo essencial e termo não essencial:
O termo é essencial quando a prestação deve ser efetuada até à
data estipulada pelas partes ou até um certo momento tendo em
conta a natureza do negócio e/ou a lei.
o Modo, encargo ou cláusula modal
▪ O modo é uma cláusula acessória pela qual nas doações (artº
963º) e liberalidades testamentárias (artº 2244º) o disponente
impõe ao beneficiário da liberalidade um encargo, isto é, a
obrigação de adotar um determinado comportamento no
interesse do disponente, de terceiro ou do próprio beneficiário.
o Clausula penal
▪ Noção
É uma cláusula acessória, que poderá existir ou não.
É a estipulação em que as partes convencionam
antecipadamente uma determinada prestação, normalmente
uma quantia em dinheiro, que o devedor terá que satisfazer ao
credor em caso de não cumprimento, ou de atraso no
cumprimento da obrigação. (art 810.º)
▪ Espécie

- Cláusula de fixação antecipada da indemnização àquela em que as


partes, ao estipulá-la, visam, tão só, liquidar antecipadamente, o
dano futuro.
- Uma outra espécie de cláusula modal é aquela em que o escopo é puramente
coercitivo e a sua índole, por isso, exclusivamente compulsivo-sancionatória.
A finalidade da mesma é de ordem exclusivamente compulsória

- A cláusula penal em sentido estrito, ou cláusula penal


propriamente dita. Em sentido estrito, a pena visa compelir o
devedor ao cumprimento – nisto se distingue ela da oena como
liquidação do dano e se aproxima da pena estritamente compulsória.

o Clausulas limitativas e de exclusão de responsabilidade civil


▪ Noção

Cláusulas limitativas de responsabilidade são estipulações através das quais só os contraentes,


no momento da celebração do contrato – ou posteriormente, desde que antes da
verificação do facto gerador da responsabilidade – acordam em limite, de alguma forma, a
responsabilidade do devedor pelo não cumprimento, cumprimento defeituoso ou mora das
obrigações assumidas
• Ineficácia e invalidade dos negócios jurídicos
o Inexistência, Ineficácia, Invalidade

A ineficácia em sentido amplo tem lugar sempre que um negócio não produz, por impedimento
decorrente do ordenamento jurídico, no todo ou em parte, os efeitos que tenderia a
produzir, segundo o teor das declarações respetivas
A invalidade é uma espécie do género ineficácia: enquanto a ineficácia lato sensu
compreende todas as hipóteses em que, por causas intrínsecas ou extrínsecas, o negócio
não deve produzir os efeitos a que tendia, a invalidade é a apenas a ineficácia que
provém de uma falta ou irregularidade dos elementos internos (essenciais,
formativos) do negócio.
Na invalidade, a ausência de produção dos efeitos negociais resulta de vícios ou de
deficiências do negócio, contemporâneos da sua formação.
o Resolução, revogação, caducidade, denuncia

A resolução não resulta de um vício da formação do contrato, mas de um facto


posterior à sua celebração, normalmente um facto que vem ilidir a legítima expetativa de
uma parte contratante, seja um facto da contraparte (inadimplemento de uma
obrigação), seja um facto natural ou social. Os seus efeitos estão regulados nos artigos
433º e seguintes do C. Civil, onde se determina a equiparação da resolução, quanto a
este ponto, à nulidade ou anulabilidade do negócio
A revogação tem apenas a consequência de extinguir os efeitos do negócio para o futuro (ex nunc),
não opera, portanto, retroativamente
A cessação dos efeitos negociais pode ter lugar, sem caracter retroativo, sob forma de
caducidade

A denúncia carateriza-se especificamente por ser a faculdade existente na titularidade de


um contratante de, mediante mera declaração, fazer cessar uma relação contratual ou
obrigacional em sentido amplo, a que está vinculado, emergente de um contrato bilateral ou plurilateral

o Redução
▪ Noção

Trata-se de saber se, no caso de um fundamento de invalidade ser


relativo apenas (afetar apenas) a uma parte do conteúdo negocial, o negócio deve valer
na parte restante (não afetada) ou deve ser nulo ou anulável na sua totalidade

▪ Regime
Está previsto no art 292.º e pode ser nulo ou anulável parcialmente
o Conversão
▪ Noção

Trata-se de saber se, declarado nulo ou anulado totalmente um negócio, este não produzirá
quaisquer efeitos negociais ou se, dades certos requisitos, não poderá reconstituir-se,
com os materiais do negócio totalmente inválido, um outro negócio, cujo resultado
económico-jurídico, embora mais precário, se aproxime do tido em vista pelas partes com a
celebração do contrato totalmente inválido

▪ Regime
Está previsto no art 293.º

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