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04/08/2022

Diferença dos direitos: apenas para base teórica

Direitos Reais x Direitos Obrigacionais

DIREITOS REAIS DIREITOS OBRIGACIONAIS


Absoluto (eficácia erga omnes) Relativo (eficácia inter partes)
Atributivo (só um sujeito) Cooperativo (conjunto de sujeitos)
Imediatividade Mediatividade
Permanente Transitório (prazos p/ cumprir)
Direito de Sequela Apenas tem o patrimônio do devedor
como garantia (perdas e danos/inde)
Numerus Clausus (rol taxativo) Numerus Apertus (rol aberto)
Jus in re (direito à coisa) Jus ad rem (direito a uma coisa)
Objeto (da relação jud): a coisa Objeto (da relação jud): a prestação

Direitos Reais x Direitos Obrigacionais

Há três distinções apresentadas pela doutrina entre os direitos reais e os


direitos patrimoniais.

Quanto à Eficácia:
Direitos Reais: Erga omnes
Direitos obrigacionais: Relativa (entre as partes)

Quanto ao Objeto:
Direitos Reais: A coisa;
Direitos Obrigacionais: A prestação (é a obrigação que é pactuada, seja
obrigação de dar, fazer ou não fazer).

Quanto ao Exercício:
Direitos Reais: Direta e imediatamente, sem auxílio ou intervenção de
terceiros.
Direitos Obrigacionais: O credor depende da colaboração do devedor
para a sua satisfação (obrigação de dar, fazer, ou não fazer).
Flexibilização da relatividade dos direitos obrigacionais. Absoluto vs. Relativo

No estágio atual da ciência do Direito, contudo, não se pode


mais enaltecer a dicotomia entre direitos reais e obrigacionais.
Há uma necessária mitigação da eficácia entre os dois grandes
direitos subjetivos patrimoniais, a ponto de se afirmar o caráter
unitário da relação patrimonial, com base no princípio
constitucional da solidariedade que demanda o respeito por
parte de todos às situações jurídicas regularmente
estabelecidas, sejam elas reais ou obrigacionais. Haverá, em
qualquer situação, um especial cuidado em relação às situações
jurídicas existenciais. A flexibilização do princípio da
relatividade das obrigações e a consideração da possibilidade
de oposição do direito ao crédito em face de quem não foi
parte da relação obrigacional - a ponto de lhe impor um
dever de abstenção - demonstram a necessidade de um
reexame do ordenamento sob uma perspectiva relacional.
(FARIAS, ROSENVALD, e NETTO, 2021, p. 970)

No direito obrigacional, não tem um numero taxativo de contratos que podem


ser celebrados porque o que rege a norma é a liberdade das partes
contratarem. Caso eu não encontre o contrato que eu quero celebrar
denominado no código civil, o meu contrato recebe o nome de contrato atípico,
a lei permite essa situação.
A coisa é um bem jurídico porem existe diferença entre os dois, sendo que o
bem pode ser corpóreo ou incorpóreo (honra) com ou sem apreciação
econômica. A coisa, nós necessariamente temos que ter algo concreto,
corpóreo dotado de valor econômico (que pode ser levado em conta em uma
possível ação de indenização).
A nossa matéria trata sobre direitos reais e direitos das coisas (sendo este
mais abrangente, porque falamos sobre posse).
O código traz um conceito para os direitos só que também elenca quais são os
direitos reais e também traz a previsão em leis esparsas.
1) Conceito de Direitos Reais
A doutrina de Clóvis Beviláqua (apud FARIAS, ROSENVALD, e NETTO, 2021,
p. 969) conceitua Direitos Reais como sendo “o complexo das normas
reguladoras das relações jurídicas referentes às coisas suscetíveis de
apropriação pelo homem”.
Ainda, há posicionamentos no sentido de que o Direito das Coisas possui
amplitude maior do que os Direitos Reais, uma vez que também se destinam
ao estudo de institutos que possuem natureza jurídica controvertida, como a
posse e direito de vizinhança.

2) Características fundamentais dos Direitos Reais


• Absolutismo
Os Direitos Reais outorgam ao titular direitos absolutos sobre o objeto. Esse
poder de agir sobre a coisa é oponível erga omnes, ou seja, efeito contra todos
(coletividade indeterminada). Logo, impõe o dever de abstenção sobre a prática
de qualquer ato de interferir na atuação do titular sobre o objeto.
Em suma, é o poder total sobre a coisa sendo bem móvel ou imóvel, como
exemplo: a propriedade. Há doutrinas que vão mitigando esse absolutismo,
falando mesmo que eu seja o proprietário do imóvel não posso usar ele da
forma que eu quiser, eu posso explorar o imóvel, mas sem causar danos a
terceiros.
Os direitos subjetivos reais apresentam três elementos (estamos falando da
relação jurídica):
Sujeitos: Titular do direito real vs. Comunidade; (não determinados. É uma
relação entre sujeitos, o vendedor e comprador, aí o dono x a coletividade.
Então essa relação jurídica é entre o sujeito, objeto e a obrigação de não fazer
que é imposta a toda coletividade.)
Objeto: O bem em que o titular exerce a ingerência socioeconômica (é sempre
uma coisa concreta com a possibilidade de atribuir um valor.)
Relação Jurídica: Vínculo jurídico entre o Sujeito e o Objeto (móvel ou imóvel).
Destaca-se que do princípio do absolutismo, surge o princípio da publicidade,
imposto aos bens imóveis. Deste modo, o exercício dos direitos reais do titular
do direito em relação à coisa, impõe a publicidade irrestrita aos demais,
justificando seus efeitos erga omnes.
Art. 1.227. Os direitos reais sobre imóveis constituídos, ou transmitidos por atos entre
vivos, só se adquirem com o registro no Cartório de Registro de Imóveis dos referidos
títulos (arts. 1.245 a 1.247), salvo os casos expressos neste Código.
Em suma, se eu compro uma casa eu tenho que registrar para ser dono e esse
registro mostra os meus direitos sobre a propriedade, e eu preciso mostrar
esse direito para a coletividade, mostrando que é minha e ninguém pode tomar
(obrigação de não fazer). Um dos mecanismos de publicidade é o registro.
(existe a possibilidade de transferir essa propriedade, vide usucapião, sem o
registro, mas depende de uma previsão legislativa.)

• Sequela
Como o direito real impõe um dever de abstenção (não fazer) de todos, a
sequela traduz-se na possibilidade de buscar o bem do poder daquele que
viola o referido dever, ou seja, quem pratica algo ilícito sobre a coisa de
titularidade de outrem.
Vincula-se ao princípio da inerência ou aderência, no sentido de o direito real
vincular-se à coisa e a perseguir independentemente da posse de quem
estiver.
Em suma, a sequela é o direito que a lei impõe a abstenção aos outros de não
fazer e a possibilidade de buscar aquele bem, móvel ou imóvel, na posse de
quem esteja, ou seja, posso buscar daquele que violou o direito ou se ele
vendeu, posso pegar do comprador mesmo que esse terceiro compre de boa-
fé.
Exemplo: Penhor agrícola. Se aquela coisa incerta (grão) fosse garantia
outorgada em penhor, e outro sujeito que não o titular o direito real de garantia
estiver com o produto, poderá ser obrigado a devolvê-lo, independentemente
de sua relação jurídica com o devedor. (o penhor, é algo que pode vir a existir
então a certidão negativa, é feita pelo CPF, porem isso pode ser facilmente
passado para um laranja).
Exemplo 2: Hipoteca. A garantia não impede a alienação(venda) do imóvel,
mas o novo proprietário, mas o imóvel poderá ser utilizado para saldar as
obrigações (o dono do imóvel tem uma hipoteca registrada, mesmo assim ele
pode vender, o comprador tem a ciência desse debito e não pode alegar boa-
fé, a mesma coisa se forem 10 compradores).

• Preferência
Os Direitos Reais, em especial os de garantia, possuem preferência em relação
a outros créditos. Nesse sentido, em havendo concurso entre credores, a coisa
dada em garantia real prefere às demais garantias previstas em lei.
Em suma, a legislação precisa de mecanismos para especificar quem tem a
preferência sobre determinada prestação ou bem, porque pode acontecer da
pessoa ter um grande número de credores, então qual recebe primeiro? Nesse
caso, os de garantia. Então é por isso que na pratica antes de ser feita a venda
é feita primeiro a certidão de penhor, por causa da ordem de preferência ou da
importância de receber o valor.
Art. 958. Os títulos legais de preferência são os privilégios e os direitos reais.
Art. 961. O crédito real prefere ao pessoal de qualquer espécie; o crédito pessoal
privilegiado, ao simples; e o privilégio especial, ao geral. (segundo esse art. Primeiro
vem o de garantia (hipoteca, penhor e anticrese) e depois o de privilegio).
Art. 1.422. O credor hipotecário e o pignoratício têm o direito de excutir a coisa
hipotecada ou empenhada, e preferir, no pagamento, a outros credores, observada,
quanto à hipoteca, a prioridade no registro.
Parágrafo único. Excetuam-se da regra estabelecida neste artigo as dívidas que, em
virtude de outras leis, devam ser pagas precipuamente a quaisquer outros créditos.

• Taxatividade
Diante das características dos Direitos Reais, em especial por seus efeitos erga
omnes, não é possível deixar sua enumeração aberta, ou seja, ser numerus
apertus. Nesse sentido, há uma taxatividade dos Direitos Reais (esses direitos
tem que estarem expressos, se não estiver não é direito real), os quais
dependem de previsão legal (numerus Clausus).
Isso é denominado aos direitos reais por causa de que se eu for fazer algo que
pertence aos direitos reais, tem que seguir os passos determinados pela lei e
fazer o registro.

Art. 1.225. São direitos reais:


I - A propriedade;
II - A superfície;
III - as servidões;
IV - O usufruto;
V - O uso;
VI - A habitação;
VII - o direito do promitente comprador do imóvel;
VIII - o penhor;
IX - A hipoteca;
X - A anticrese.
XI - a concessão de uso especial para fins de moradia;
XII - a concessão de direito real de uso; e (Redação dada pela Lei nº 13.465,
de 2017)
XIII - a laje. (Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017)

Todos os Direitos Reais serão objeto de estudo durante o curso.

Comentário:
Apenas o proprietário pode entrar com ação de reivindicação.
O conteúdo da prova é todo o material.
O proprietário é a única pessoa que pode constituir uma hipoteca sobre o
imóvel porque só ele tem poderes ilimitados. O terceiro não pode fazer isso.
Fim do comentário -----------X----------

3) A Relação Jurídica de Direito Real


Não há relação jurídica entre coisa e o sujeito, uma vez que se somente se
admite entre sujeitos, ou seja, em função do homem em sociedade. O que
ocorre, conforme exposto acerca do absolutismo, que os sujeitos titulares dos
direitos reais exercem poder e domínio sobre a coisa, das quais decorrem as
faculdades de usar, gozar e dispor.
Há uma subordinação de coisas a pessoas.
Assim sendo, a relação jurídica de direito real pressupõe o cumprimento do
dever de abstenção (obrigação de não fazer) pela comunidade indeterminada,
e o exercício dos direitos do sujeito titular do direito. Haverá a pretensão diante
do descumprimento de tal dever, ou seja, violação dos direitos reais.
Se perguntarem a relação jurídica de direitos reais, a reposta é entre sujeito e
uma coletividade indeterminada que tem o dever de abstenção. O que eu
espero de toda a coletividade quando eu exerço os meus direitos reais sobre a
minha propriedade, é uma prestação, uma obrigação jurídica que é o dever de
abstenção, sendo isso, algo que não posso esperar de uma coisa (livro) por
isso a relação é entre sujeitos.

4) Classificação dos Direitos Reais


A classificação desses direitos se divide em duas classificações principais:
propriedade e direitos reais sobre coisa alheia ou direitos limitados (que são
todos os demais direitos, como por exemplo na hipoteca ou penhor, eu não
tenho a propriedade, mas tenho direitos reais de garantia sobre aquela coisa
de patrimônio alheio).
• Propriedade
Direito real originário, de manifestação obrigatória em nosso sistema jurídico
(ou você tem ou não tem a propriedade). Do Direito de Propriedade desdobram
os demais (surgem os outros direitos) poderes dominiais, quais sejam, uso,
gozo, disposição e reivindicação (então se você é proprietário, você tem o
acesso ilimitado a coisa, tem o domínio absoluto e pode buscar com quem quer
que esteja).
• Direito na coisa alheia ou direitos limitados
São manifestações facultativas e derivadas dos direitos reais, pois resultam da
decomposição dos diversos poderes jurídicos contidos na esfera dominial. Ex:
Usufruto, em que o nu-proprietário não possui todos os poderes de uso e gozo
da coisa (nesse direito o proprietário não tem todos os poderes sobre a coisa,
por isso chama-se direito limitado, como por exemplo: o credor pignoratício não
pode fazer o que quiser com o imóvel, a lei vai definir o que pode fazer para
saldar a dívida).
São os direitos reais de gozo e fruição; direitos reais de garantia; e direito real à
aquisição.

5) Obrigações Propter Rem


São obrigações impostas ao titular de determinado direito real, pelo simples
fato de assumir tal condições, independentemente de sua capacidade volitiva.
Em suma, a obrigação, tal como a relação jurídica é sempre imposta ao titular
de direitos reais (proprietário) e não a coisa porque ela é inanimada. Quando
falamos de obrigação Propter Rem, falamos daquela aderência a coisa
vinculada ao direito e sequela, em que são obrigações previstas para quem é o
proprietário. Uma diferença importante é que no direito obrigacional um dos
elementos necessários é a capacidade volitiva/vontade das partes, então só
formaliza o contrato quem tem vontade e capacidade. Aqui, pode ter
obrigações e não ter a capacidade civil plena, por exemplo: um menor é
proprietário de um imóvel, ele pode entrar no polo passivo de uma ação judicial
para obriga-lo a cumprir uma ação propter rem, por ex: uma questão ambiental,
a regularidade ambiental é uma obrigação propter porque esta ligada ao
imóvel. Outra situação são as prestações do condomínio. Os tributos também
são propter rem (IPTU). Em suma, são as obrigações que você tem quando
compra um imóvel, tal como, atender a função social.
Trata-se de uma relação jurídica de direito das coisas que tem origem
normativa, como explica Maurício Bunazar. A Propter rem é fonte não negocial
de obrigações, o que, no plano prático, afasta a discussão acerca da
capacidade do agente para figurar na relação jurídica. Nesse caso, a assunção
de obrigações desvinculadas de qualquer manifestação da vontade do sujeito.
A obrigação nasce com o direito real e com ele se extingue.
Importante destacar também que o “novo” adquirente de imóveis rurais é
responsável pelo cumprimento das obrigações oriundas de normas ambientais,
independentemente de ter sido o causador do dano.

Súmula n° 623 do STJ: As obrigações ambientais possuem natureza propter rem,


sendo admissível cobrá-las do proprietário ou possuidor atual e/ou dos anteriores, à
escolha do credor.
PROCESSUAL CIVIL E AMBIENTAL. PREQUESTIONAMENTO. AUSÊNCIA.
DANO AO MEIO AMBIENTE. OBRIGAÇÃO. NATUREZA PROPTER REM.
IMÓVEL ADQUIRIDO EM HASTA PÚBLICA. ARREMATANTE.
RESPONSABILIDADE. RECONHECIMENTO.
(…)
3. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, pacificada no verbete da Súmula
623 desta Corte, reconhece que a responsabilidade civil por danos ambientais adere à
propriedade, como obrigação propter rem, sendo possível cobrar do atual proprietário
do bem sua reparação, independentemente de ter sido ele o causador do dano.
4. Caso em que a Corte Regional manteve decisão que, em cumprimento de sentença,
determinou a averbação na matrícula do imóvel adquirido em hasta pública da
obrigação de recuperação dos danos ambientais fixados no título judicial.
5. Entendeu que a existência de boa-fé no ato de arrematação não afasta a
responsabilidade do novo proprietário do imóvel, em razão da natureza propter rem das
obrigações decorrentes de danos ambientais, expressa no art. 2º, § 2º, do no Código
Florestal, verbis: "as obrigações previstas nesta Lei têm natureza real e são transmitidas
ao sucessor, de qualquer natureza, no caso de transferência de domínio ou posse do
imóvel rural."
6. O aresto recorrido espelha o entendimento há muito firmado no Superior Tribunal de
Justiça de que a obrigação de recompor a degradação ambiental transmite-se ao novo
titular da propriedade, dada a sua natureza propter rem, "independentemente de
qualquer indagação a respeito de boa-fé do adquirente ou de outro nexo causal que não
o que se estabelece pela titularidade do domínio." (REsp 1.179.316/SP, Rel. Ministro
TEORI ALBINO ZAVASCKI, Primeira Turma, julgado em 15/06/2010, DJe
29/06/2010).
(…)
(AgInt no REsp n. 1.869.374/PR, relator Ministro Gurgel de Faria, Primeira Turma,
julgado em 4/10/2021, DJe de 19/10/2021.)
Súmula n° 614 do STJ: O locatário não possui legitimidade ativa para discutir a
relação jurídico-tributária de IPTU e de taxas referentes ao imóvel alugado nem para
repetir indébito desses tributos.

11/08/22
Posse
A posse é elencada no Código antes dos direitos reais, porque são diferentes.

1) Teorias e Definição da Posse


Inicialmente, destacam-se duas posições doutrinárias acerca da posse, sendo
a primeira a Teoria Subjetiva, proposta por Friedrich Karl Von Savigny, para o
qual a posse apresenta dois elementos constitutivos: corpus e animus.
Logo, para tal teoria, a posse seria uma equação matemática, onde P(posse) =
C (corpus, coisa) + A (animus, a vontade de possuir aquela coisa como se
minha fosse). Para essa teoria só tem posse quem exerce ela com o aspecto
subjetivo, da vontade do sujeito seja culpa ou dolo. (animus).
Corpus: É o elemento que se traduz no controle material da pessoa sobre a
coisa.
Animus: Elemento volitivo, que consiste na intenção do possuidor exercer o
direito como se proprietário fosse, sentir-se dono da coisa, mesmo não sendo.
Para as relações jurídicas que não houvesse tal animus, haveria a mera
detenção da coisa, e não sendo a posse. Exemplos de detenção: Locação,
comodato, usufruto etc.

Já para Rudolf Von Ihering, a posse seria o exercício de fato sobre a coisa (só
que traz consequências jurídicas), ou seja, a visibilidade do domínio. Assim,
para a Teoria Objetiva, a diferença entre posse e detenção não dependeria do
elemento anímico da vontade de possuir, e sim por uma opção de política
legislativa. (para teoria não precisa ter a vontade de exercer a posso como se
proprietário fosse, ela dispensa o animus).
Logo, haveria a detenção apenas para os casos em que a legislação
especificasse, em razão da forma pela qual o sujeito ingressou na coisa.

Para a definição da posse precisamos do controle material da pessoa sobre a


coisa e essa pessoa exerce plenamente ou não um dos poderes inerentes a
propriedade.

O Código Civil, bem como a legislação anterior, adotou o posicionamento da


Teoria Objetiva, afastando a necessidade do animus – elemento volitivo:
Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou
não, de algum dos poderes inerentes à propriedade.
Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de
reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha.
Comentário:
Existe a responsabilidade objetiva e a subjetiva:
A responsabilidade objetiva independe de culpa ou dolo, então independe da
vontade do agente.
A responsabilidade subjetiva existe a necessidade de caracterizar dolo ou
culpa.
A teoria subjetiva é aplicável para as questões de usucapião.
Devido à grande discussão sobre a posse não há uma definição de qual é a
sua natureza jurídica!!
A desapropriação é quando a pessoa tem a propriedade de determinado bem e
por um dos fundamentos permitidos (algo que vá beneficiar a sociedade,
interesse social) o Estado intervém e afasta o direito de propriedade por meio
de uma indenização.
A composse é prevista no art. 1.199 do CC: “Se duas ou mais pessoas
possuírem coisa indivisa, poderá cada uma exercer sobre ela atos
possessórios, contanto que não excluam os dos outros compossuidores”. Ou
seja, não tem uma divisão clara e concreta da posse para os indivíduos, todos
ocupam a área de maneira indivisível. Em um exemplo, um casal exercia a
composse, porem morreram e os 2 filhos ficaram com essa composse, só que
com o passar do tempo eles dividiram o terreno, então houve a extinção da
composse e passou a existir posses diversas (divisões de posse), este é uma
das formas de extinção da composse. E a outra forma de extinção da
composse é quando ela não é mais ocupada por 3 indivíduos em conjunto, e
ela passa a ser ocupada apenas por um individuo que passa a ter a posse
total, aí aqui eu falo daquele caso de colocar também o conjugue no polo
passivo da ação.
Invasão: é quando um imóvel que está sendo usado é invadido com o uso de
violência, precariedade ou clandestinidade. Qual a consequência jurídica? É
em relação a detenção e a posse. Quando eu utilizo a invasão, ou seja, a
violência, isso gera somente a detenção (a pessoa é detentora) que não gera a
prescrição aquisitiva (o prazo para a usucapião não ocorre), mas pode haver a
intervenção de injusta para justa e assim corre o lapso temporal.
Ocupação: é entrar em um lugar desocupado e dar função social. Qual a
consequência jurídica?

Fim do comentário --------X----------

2) Natureza da Posse
Há grande divergência doutrinária acerca da natureza jurídica da posse.
Nesse sentido, para a Teoria Subjetiva a posse teria natureza dúplice, sendo
uma situação fática, é o controle material sobre determinado objeto (pois
considerada isoladamente é um fato), e ao mesmo tempo, certas condições
atribuem efeitos jurídicos (porque traz consequências jurídicas, por conta dessa
vontade de exercer).
Logo, por unir fato e direito, denomina-se tal teoria como sendo eclética.
Para Ihering (Teoria Objetiva), a posse seria a condição econômica de
utilização do direito de propriedade. Para o teórico, a posse seria um direito
subjetivo real. (atualmente, os teóricos ou juízes não caracterizam a posse
como sendo de direito real, porque existem inúmeras características dos
direitos reais que não se aplicam a posse, por exemplo: o direito de sequela
existe para o direito real mas no âmbito da posse não, a posse de boa-fé vai
ser tutelada conforme o dispositivo da lei essa perda seria restituída em perdas
e danos para quem perdeu, salvo má-fé pode ser tutelada o pedido de
reintegração de posse.)
Todavia, há fortes posições acerca da ausência da natureza de direito real em
relação à posse. Porque faltam esses elementos:
• Taxatividade: Inicialmente, destaca-se que a posse não foi elencada
como direito real pelo art. 1.225 do Código Civil;
• Sequela: O art. 1.212 do Código Civil indica a ausência do direito de
reintegração em face do terceiro possuidor, caso o último tenha adquirido a
posse de boa-fé, ignorando o vício da posse anterior.
Art. 1.212. O possuidor pode intentar a ação de esbulho, ou a de indenização, contra o
terceiro, que recebeu a coisa esbulhada sabendo que o era.
• Publicidade/Registrabilidade: Irregistrabilidade da posse no Ofício
Imobiliário.
• Situação topográfica: A posse é prevista antes dos Direitos Reais, na
organização do Código Civil.
• Opção legislativa: O Código de Processo Civil elenca a posse como
direito obrigacional, uma vez que dispensou a obrigatoriedade de participação
do cônjuge do autor e réu nas ações possessórias, exceto nas hipóteses de
composse (posse de mais de uma pessoa, só que é uma posse unificada).
Art. 73. O cônjuge necessitará do consentimento do outro para propor ação que verse
sobre direito real imobiliário, salvo quando casados sob o regime de separação absoluta
de bens. (…)
§ 2º Nas ações possessórias, a participação do cônjuge do autor ou do réu somente é
indispensável nas hipóteses de composse ou de ato por ambos praticado.

A doutrina elenca a desnecessidade de classificar a posse isoladamente, de


modo que propõe seu dimensionamento de 03 (três) formas diferentes (segue
a forma como alguns doutrinadores classificam a natureza da posse):
• Quanto o proprietário é o possuidor de seu próprio bem, sendo um
direito real;
• Relação jurídica de direito real ou obrigacional. Será determinada pela
origem da relação jurídica, como contrato de usufruto, penhor, enfiteuse,
locação, promessa de compra e venda ou comodato.
• Situação fática e existencial: Decorre da função social do imóvel, quando
não é possuído pelo proprietário, e representa um efetivo aproveitamento
econômico dos bens para o alcance de interesses sociais e existenciais
merecedores de tutela.

3) Função Social da Posse (é uma obrigação da CF).


Isso foi definido porque não adianta ter um grande número de imóveis e não
destinar uma função social a propriedade, ou seja, não o tornar produtivo.
Então a doutrina buscou elencar a função social da posse:

Tutela a posse como direito especial, pela própria relevância do direito de


possuir, em atenção à superior previsão constitucional do direito social primário
à moradia (art. 6° da Constituição), e o acesso aos bens vitais mínimos hábeis
a conceder dignidade à pessoa humana (art. 1°, III, da CF). A oponibilidade
erga omnes da posse não deriva da condição de direito real patrimonial, mas
do atributo extrapatrimonial da proteção da moradia como local de resguardo
da privacidade e desenvolvimento da personalidade do ser humano e da
entidade familiar. (isso quer dizer que em alguns casos a posse vai ser
oponível em face de todos da sociedade, inclusive do estado e essa
oponibilidade decorre de outros direitos fundamentais, como por exemplo,
direito à moradia. Então, a proteção da posse decorre da própria CF.)
(pág. 978)
Enunciado n° 492 do Conselho de Justiça Federal: A posse constitui direito autônomo
em relação à propriedade e deve expressar o aproveitamento dos bens para o alcance de
interesses existenciais, econômicos e sociais merecedores de tutela.

3.1) A desapropriação judicial indireta (ou desapropriação privada)


É o caso em que há uma ocupação do imóvel e ela se da com a utilização, com
o uso e a destinação desse imóvel e há o interesse social e econômico
relevante pode haver a desapropriação judicial indireta (ou desapropriação
privada). Em suma, a desapropriação judicial indireta: o processo de
desapropriação ocorre quando o particular não concorda com o decreto de
desapropriação e a administração publica entra com a ação de desapropriação
judicial. E ação judicial indireta: ocorre quando o proprietário do bem busca a
reivindicação da posse, ou seja, eu tenho uma propriedade que não está sendo
ocupada por mim, mas um numero indeterminado de pessoas ocuparam
aquele lugar, logo eu tenho a possibilidade de entrar com ação de
reivindicação, nesta hipótese a pretensão do proprietário pode ser julgada
improcedente se eu tiver um numero de pessoas ocupando a área por mais de
5 anos e essas pessoas utilizam aquela área com um interesse social
relevante, ou seja, as pessoas tornam produtiva uma área que estava
desocupada e fazendo obras de interesse social e econômico a critério do juiz
e o proprietário vai ser indenizado. Vale ressaltar que isso não é usucapião.
Art. 1.228. (…)
§ 4° O proprietário também pode ser privado da coisa se o imóvel reivindicado consistir
em extensa área, na posse ininterrupta e de boa-fé, por mais de cinco anos, de
considerável número de pessoas, e estas nela houverem realizado, em conjunto ou
separadamente, obras e serviços considerados pelo juiz de interesse social e econômico
relevante.
§ 5° No caso do parágrafo antecedente, o juiz fixará a justa indenização devida ao
proprietário; pago o preço, valerá a sentença como título para o registro do imóvel em
nome dos possuidores.

Trata-se de desapropriação judicial indireta, e não usucapião, ou seja,


prescrição aquisitiva da propriedade. Logo, há a necessidade de pagamento de
indenização, uma vez que a desapropriação é a privação do proprietário de seu
direito subjetivo em razão de indenização.
A problemática se evidencia a partir dos seguintes questionamentos: Quem
procederá o pagamento? Como será o pagamento? O que acontecerá quando
não houver o pagamento da indenização ao proprietário?
Inicialmente destaca-se que se se tratar de possuidores de baixa renda, deverá
o Município ou o Estado figurar no polo passivo do processo, como litisconsorte
necessário, sendo órgão expropriante e pagador.

(…)
11. O Município de Rio Branco, juntamente com o Estado do Acre, constitui sujeitos
passivos legítimos da indenização prevista no art. 1.228, § 5º, do CC/2002, visto que os
possuidores, por serem hipossuficientes, não podem arcar com o ressarcimento dos
prejuízos sofridos pelo proprietário do imóvel (ex vi do Enunciado 308 Conselho da
Justiça Federal).
(…)
(REsp n. 1.442.440/AC, relator Ministro Gurgel de Faria, Primeira Turma, julgado em
7/12/2017, DJe de 15/2/2018.)

Todavia, não sendo possuidores de baixa renda (o Estado não tem


necessidade de pagar o proprietário, então as pessoas que ocuparam
pagamento), segundo a doutrina, deverão os primeiros serem responsáveis
pelo pagamento da indenização, de modo que este é condição imprescindível
para a transferência do imóvel.

Enunciado n° 241 do CJF: O registro da sentença em ação reivindicatória, que opera a


transferência da propriedade para o nome dos possuidores, com fundamento no interesse
social (art. 1.228, § 5º), é condicionada ao pagamento da respectiva indenização, cujo
prazo será fixado pelo juiz. (ou seja, só vai haver a transferência da propriedade após o
pagamento)
O pagamento deverá ocorrer em dinheiro, não se tratando de desapropriação
sanção, e sim desapropriação por interesse social.

3.2) A legitimação da posse


Quando falamos de regularização fundiária, mas dando um enfoque para
imóveis urbanos nós temos um instrumento que é a legitimação de posse.

Reurb significa a Regularização Fundiária Urbana, procedimento previsto na


Lei n° 13.465/2017, que tem como objetivo regularizar núcleos urbanos
informais, em atendimento ao direito fundamental de moradia, bem como da
função social do imóvel urbano.
Em suma, a Reurb acontece quando tenho a ocupação de uma área urbana e
ai forma uma favela e nessas regiões a pessoa não tem segurança jurídica por
falta do registro do bem e ai diversas legislações estão avançando no sentido
de regularizar isso (Reurb) através desse instrumento que não é um título, é
um ato público que o agente vai no local, pergunta quem ocupa, a quanto
tempo ocupa, qual a área de ocupação, condição financeiro para legitimar essa
posse.

Art. 25. A legitimação de posse, instrumento de uso exclusivo para fins de regularização
fundiária, constitui ato do poder público destinado a conferir título, por meio do qual
fica reconhecida a posse de imóvel objeto da Reurb, com a identificação de seus
ocupantes, do tempo da ocupação e da natureza da posse, o qual é conversível em
direito real de propriedade, na forma desta Lei.
§ 1º A legitimação de posse poderá ser transferida por causa mortis ou por ato inter
vivos.
§ 2º A legitimação de posse não se aplica aos imóveis urbanos situados em área de
titularidade do poder público.
Art.26. Sem prejuízo dos direitos decorrentes do exercício da posse mansa e pacífica no
tempo, aquele em cujo favor for expedido título de legitimação de posse, decorrido o
prazo de cinco anos de seu registro, terá a conversão automática dele em título de
propriedade, desde que atendidos os termos e as condições do art. 183 da Constituição
Federal, independentemente de prévia provocação ou prática de ato registral.
§ 1º Nos casos não contemplados pelo art. 183 da Constituição Federal, o título de
legitimação de posse poderá ser convertido em título de propriedade, desde que
satisfeitos os requisitos de usucapião estabelecidos na legislação em vigor, a
requerimento do interessado, perante o registro de imóveis competente.
§ 2º A legitimação de posse, após convertida em propriedade, constitui forma originária
de aquisição de direito real, de modo que a unidade imobiliária com destinação urbana
regularizada restará livre e desembaraçada de quaisquer ônus, direitos reais, gravames
ou inscrições, eventualmente existentes em sua matrícula de origem, exceto quando
disserem respeito ao próprio beneficiário.
(a legitimação não vai ser cobrada em prova)

3.3) A posse e os conflitos multitudinários

Quando houver divergência entre os anseios do


proprietário que deseja a posse, mas nunca lhe deu
função social, e, de outro lado, o possuidor, que mantém
a ingerência econômica sobre o bem, concedendo função
social à posse, será necessário priorizar a interpretação
que mais sentido possa conferir à dignidade da pessoa
humana. Optar cegamente pela defesa da situação
proprietária, em detrimento da situação do possuidor,
implica a validação do abuso do direito de propriedade
como negação de sua própria função social, importando
mesmo ratificação de ato ilícito, na dicção do art. 187 do
Código Civil. Duas ordens se colocam em tensão: a da
garantia e conservação de bens (estatuto patrimonial) e a
de acesso aos mesmos bens (estatuto existencial).
(pág. 984)

Nesse sentido, destaca-se a observância do art. 178, inc. III, do Código de


Processo Civil:

Art. 178. O Ministério Público será intimado para, no prazo


de 30 (trinta) dias, intervir como fiscal da ordem jurídica
nas hipóteses previstas em lei ou na Constituição Federal
e nos processos que envolvam:
(…)
III - litígios coletivos pela posse de terra rural ou urbana.

De igual modo, a participação da Defensoria Pública em conflitos


multitudinários é notória, uma vez que as ocupações ocorrem por sujeitos que
possuem as qualidades necessárias para a assistência jurídica gratuita. Ou
seja, quando houver muitas demandas sobre um determinado bem o MP e a
DF devem ser notificados, para agir caso necessário, MP para acusar e
investigar e o DF para ajudar os necessitados no processo.
3.4) Invasões coletivas

A propriedade e a função social do imóvel devem ser compatibilizadas, uma


vez que representam interesses legítimos. Todavia, não se pode esperar que o
ordenamento jurídico tutele a prática de ilícitos, em especial, de invasões a
imóveis rurais.
Revela-se contrária ao Direito, porque constitui atividade à margem da lei, sem qualquer
vinculação ao sistema jurídico, a conduta daqueles que - particulares, movimentos ou
organizações sociais - visam, pelo emprego arbitrário da força e pela ocupação ilícita de
prédios públicos e de imóveis rurais, a constranger, de modo autoritário, o Poder
Público a promover ações expropriatórias, para efeito de execução do programa de
reforma agrária. - O processo de reforma agrária, em uma sociedade estruturada em
bases democráticas, não pode ser implementado pelo uso arbitrário da força e pela
prática de atos ilícitos de violação possessória, ainda que se cuide de imóveis
alegadamente improdutivos, notadamente porque a Constituição da República - ao
amparar o proprietário com a cláusula de garantia do direito de propriedade (CF, art. 5º,
XXII) - proclama que "ninguém será privado (...) de seus bens, sem o devido processo
legal" (art. 5º, LIV).
(STF, ADI-MC2213/DF, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 23.4.2004)

Súmula n° 354 do Superior Tribunal de Justiça: A invasão do imóvel é causa de


suspensão do processo expropriatório para fins de reforma agrária.

3.5) As ocupações coletivas


De início, destaca-se que invasão e ocupação possuem significados distintos,
sendo a primeiro esbulho possessório, mediante a força e com violência. Já a
segundo seria ato-fato de ingresso em bens abandonados por seus titulares.
A importância da função social do imóvel, em especial em razão da eficácia
horizontal dos direitos fundamentais (sua extensão às relações particulares),
exaure a pretensão possessória ou petitória do proprietário que abandonou a
coisa, segundo a doutrina:
Quando o abandono do da propriedade imobiliária for constatado no bojo de
uma ação petitória ou possessória, o proprietário perderá a pretensão à
recuperação do bem, mesmo sem estar privado do direito subjetivo de
propriedade – pois ainda não houve a usucapião. (pag. 986)

4) OBJETO DA POSSE
A doutrina destaca que o posicionamento majoritário acerca do objeto da posse
refere-se apenas coisas corpóreas, ou seja, que tenham materialidade e sejam
suscetíveis de valor econômico, uma vez que somente desta forma seria
possível exteriorizar o poder fático.
Todavia, há avanços teóricos no sentido de admitir a tutela possessória de
bens incorpóreos, como por exemplo direitos autorais e até mesmo linha
telefônica.
Súmula n° 193 do Superior Tribunal de Justiça: O direito de uso de linha
telefônica pode ser adquirido por usucapião.
Nessa linha, a posse não significa apenas a preensão física do bem, mas vem
a ser importante instrumento para a garantia de titulação de bens imateriais.
Porém, não haverá posse sobre as coisas postas fora do comércio, que nem
ao menos podem ser objeto de propriedade particular, eis que insuscetíveis de
apropriação, como os bens públicos de uso comum do povo e de uso especial,
afetados em prol da coletividade ou do exercício de alguma atividade pública
(art. 100 do CC) (pág. 987).

5) Desdobramento da posse

A doutrina elenca que a existência da posse direta e da posse indireta depende


da existência da outra.
Os desdobramentos da posse é quando tem a posse direta e a indireta, sendo
a posse o exercício material do sujeito sobre a coisa. A posse direta é aquela
em que a pessoa está utilizando de modo pleno ou não uma das faculdades
(uso, gozo e fruição) da propriedade (quem mora na casa ou está usando a
coisa). A posse indireta, acontece quando por meio de uma relação jurídica
você pactua (contrato) que haverá a transferência da posse direta de
determinado bem, por exemplo: locação, o locador não tem a posse direta, mas
continua com a posse indireta.
Vale ressaltar, que a doutrina fala que quando você não tem a posse indireta
você não fala em posse direta, você só tem a posse, então antes do contrato
de locação o dono tem só a posse.

• Posse Direta: O poder fático que incide imediatamente sobre a coisa


corpórea. (é o sujeito que detém a materialidade/objeto). (há casos em que há
sublocação por um locador, por ex: eu sou dono e alugo, a pessoa que alugou
decide sublocar a casa para outro, isso é permitido por lei, nesse caso o
sublocatário teria a posse direta, e o dono e a pessoa que alugou teriam a
posse direta).
• Posse Indireta: Decorre da uma relação jurídica de direito real ou
pessoal. Ex. locação.

Segundo a doutrina, somente é possível em fazer em posse direta se houver a


indireta e vice-versa. Nos demais casos, há apenas a posse.

Art. 1.197. A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder, temporariamente,
em virtude de direito pessoal, ou real, não anula a indireta, de quem aquela foi havida,
podendo o possuidor direto defender a sua posse contra o indireto.

Logo, há a transferência das faculdades da propriedade, e não sua


transferência propriamente dita, sendo possível a coexistência entre as posses,
ao contrário da coexistência de propriedades.

Exemplo:
Locador (posse indireta)  Locatário (posse direta)

Locador (posse indireta)  Locatário (posse indireta)


Seta para baixo
Sublocatário (posse direta)

6) Composse

Art. 1.199. Se duas ou mais pessoas possuírem coisa indivisa, poderá cada uma exercer
sobre ela atos possessórios, contanto que não excluam os dos outros compossuidores.

A extinção da composse ocorrerá quando:


1) Houver a divisão consensual ou judicial da coisa em proporções
perfeitamente identificadas;
2) Quando a posse for concentrada em apenas um dos compossuidores.

7) Detenção
A detenção é a posse degradada, juridicamente desqualificada pelo
ordenamento vigente. A detenção é a pratica de atos de posse em nome de
terceiro.
Em virtude da adoção da Teoria Objetiva (Ihering), o ordenamento jurídico
reconhece 04 (quatro) hipóteses, taxativas, de detenção.
Na detenção eu não tenho a mesma tutela e as mesmas consequências de
uma relação jurídica em decorrência da posse. Se eu tenho a detenção, eu não
tenho a posse e se eu não tenho a posse, não ocorre a prescrição aquisitiva,
essa é uma das principais diferenças entre posse e detenção.
As quatro hipóteses são (lembrando que nesse caso não há usucapião):

• Os servidores da posse

Art. 1.198. Considera-se detentor aquele que, achando-se em relação de dependência


para com outro, conserva a posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou
instruções suas.
Parágrafo único. Aquele que começou a comportar-se do modo como prescreve este
artigo, em relação ao bem e à outra pessoa, presume-se detentor, até que prove o
contrário.

Os detentores são aqueles que detêm o poder físico sobre a coisa em razão de
uma relação subordinativa para com o terceiro (caseiro). Deste modo, não
atuam em nome próprio, e sim em nome de terceiro, também conhecidos como
fâmulos da posse. Ex: Caseiro perante o imóvel que pratica atos de diligencia
ou de cuidado em relação a coisa.

Art. 1.204. Adquire-se a posse desde o momento em que se torna possível o


exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à
propriedade.
É possível a transferência da detenção para a posse quando aquela pessoa
começa a praticar os atos em nome próprio, não representando mais a pessoa
que contratou ele, deixando de seguir as ordens, nesse sentido, surge o
animus da teoria subjetiva e a partir desse momento pode se falar em
prescrição aquisitiva ou seja contar o prazo para a usucapião. Vide, 1.204.

• Atos de permissão ou tolerância


Art. 1.208. Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim como
não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar
a violência ou a clandestinidade.
Enquanto a permissão nasce de autorização expressa do verdadeiro possuidor
para que o terceiro utilize a coisa, a tolerância resulta de consentimento tácito
ao seu uso, caracterizando-se ambas pela transitoriedade e pela faculdade de
supressão do uso. (pág. 990),
Então há no primeiro ex: há uma autorização expressa, no segundo você sabe
que a pessoa está utilizando e tolera a utilização por determinada pessoa e
isso não vai caracterizar a perda da posse do bem.
Os atos violentos ou clandestina dizem respeito a detenção que só vai se
tornar posse quando cessar esses atos tornando possível a prescrição
aquisitiva.

• A prática de atos de violência ou de clandestinidade

Art. 1.208. Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim como não
autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a
violência ou a clandestinidade.

Os atos violentos ou clandestina dizem respeito a detenção que só vai se


tornar posse quando cessar esses atos tornando possível a prescrição
aquisitiva

• A atuação em bens públicos de uso comum do povo ou de uso especial

Art. 100. Os bens públicos de uso comum do povo e os de uso especial são inalienáveis,
enquanto conservarem a sua qualificação, na forma que a lei determinar.
Art. 101. Os bens públicos dominicais podem ser alienados, observadas as exigências da
lei.
Art. 102. Os bens públicos não estão sujeitos a usucapião.
Súmula n° 619 do Superior Tribunal de Justiça: A ocupação indevida de bem
público configura mera detenção, de natureza precária, insuscetível de retenção ou
indenização por acessões e benfeitorias.
Nesse caso da sumula 619, na posse a pessoa que faz benfeitorias ela tem
que ser indenizada ao perder a posse. Nessa sumula a pessoa perde, mas o
estado não indeniza as benfeitorias
Existem áreas do estado que não tem nenhuma função social e assim como o
estado cobra isso da sociedade ele também pode ser cobrado, nesse caso tem
um ilícito por parte do estado, mas também está expresso na lei que fala que
esses bens não são passiveis de usucapião. Então as pessoas que usam as
áreas do Estado têm a detenção, podendo a policial despejar quando quiser,
porem com o avanço da doutrina existem bens especiais que de fato não da
pra caracterizar a posse, somente a detenção, mas tem outros imóveis públicos
que eu posso tutelar a posse, a única questão é que essa posse não traria o
efeito jurídico em relação a prescrição aquisitiva. Um exemplo: umas pessoas
ocupam um lugar aí outras pessoas invadem, usam violência e
clandestinidade, em regra o detentor anterior não poderia entrar com ação
possessória por não ter posse e sim a detenção, nesse caso de conflito entre
os particulares é possível a tutela da posse. Agora quando for é o estado que
busca a reintegração aí estaria caracterizado a detenção, o estado ganha
porque sempre tem fundamento nobre (interesse social).

18/08/22
1) CLASSIFICAÇÃO DA POSSE
Pode ser:
a) Posse Justa: É aquela cuja aquisição não repugna ao direito, isenta de
vícios de origem (como ex: ato ilícito), posto não ter sido obtida pelas formas
enunciadas no art. 1.200 do Código Civil. Um exemplo de posse justa: é o de
comodato, porque as pessoas acordaram.

b) Posse Injusta: (esta elencada no 1.200) É aquela que se instala no


mundo fático por modo proibido e vicioso, ou então, mesmo iniciada de forma
pacífica e pública, se converte em viciosa em momento posterior.

Art. 1.200. É justa a posse que não for violenta, clandestina ou precária.

Subdivide-se em(ou invasão violenta, clandestina ou precária):

b.1) Posse Violenta: Adquire pelo uso da força (vis absoluta ou seja, violência
física) ou pela ameaça (vis compulsiva, ou seja, algo que pode ocorrer).
Conforme exposto anteriormente, acerca da detenção, a “posse” propriamente
dita somente seria adquirida quando o possuidor esbulhado não mais resistir à
ocupação, pacificando-se a ocupação que se inicial de forma violenta.
Exemplo: invasão a mão armada, mesmo que não atire já configura ameaça.
b.2) Posse clandestina: adquire-se às ocultas de quem exerce a posse atual,
(acontece de forma sorrateira) sem publicidade ou ostensividade. Para a sua
caracterização, não basta o desconhecimento do possuidor, e sim demonstrar
que o arrebatador agiu sorrateiramente, pois deseja camuflar o ato de
subtração.
Ex: aumentar a minha cerca e utilizo mecanismo para esconder. Essa
publicidade ocorre perante terceiros, mas não para o dono do terreno.

Isso significa que, malgrado originariamente clandestina a apropriação se torna


pública e ostensiva, precisamente no instante em que a vítima já tenha
condições reais de conhecer a violação de seu direito. (pág. 993)

b.3) Posse precária: Resulta do abuso de confiança do possuidor que


indevidamente retém a coisa além do prazo avençado para o término da
relação jurídica de direito real ou obrigacional que originou a posse. (ela tem
uma origem justa, mas depois de um tempo se torna injusta. Ex: comodato)

Destaca-se que a posse será marcada por seu vício originário e permanecerá
como injusta até o fim de seus dias, preservando o seu carácter pelo qual foi
adquirida (a menos que tenha a interversão).

Art. 1.203. Salvo prova em contrário, entende-se manter a posse o mesmo caráter com
que foi adquirida.

Umas das principais consequência da posse injusta, resulta na impossibilidade


da prescrição aquisitiva por meio de algumas espécies da usucapião.
Os referidos vícios são denominados de vícios objetivos, relacionando-se com
a coisa, e não com o sujeito. Logo, por exemplo, a violência pode ser realizada
em face detentor (caseiro) e não possuidor, e mesmo deste modo caracterizar-
se-á posse injusta.
Outrossim, os vícios objetivos são relativos, sem efeitos erga omnes, sendo
oponíveis apenas por aquele sofreu o esbulho em virtude da aquisição ilícita da
posse. Ou seja, os vícios praticados são contra os possuidores, mas eles não
apegam a relação dos terceiros.
Vícios objetivos da posse: violência, clandestinidade e precariedade.
Vício Subjetivo da Posse

A principal diferença é que nos temos uma posse de má-fé e uma de boa-fé.
Essa diferença é importante em razão das consequências jurídicas. Aqui vale
lembrar do direito de sequela que independente de boa ou má-fé eu poderia ir
pegar o que é meu com quem estivesse. Agora nessa hipótese que eu falo de
posse e não de direito real, justamente pelo 1.201 o possuidor for de boa-fé ele
não pode ser prejudicado, porque não a publicidade para a posse, então eu
vou atras de quem vendeu meu bem. Agora se houve má-fé eu posso ir atras
do bem e o comprador devolve.

Art. 1.201. É de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que


impede a aquisição da coisa.
Parágrafo único. O possuidor com justo título tem por si a presunção de boa-fé, salvo
prova em contrário, ou quando a lei expressamente não admite esta presunção.

Segundo a doutrina, “o possuidor de boa-fé é aquele que ao adquirir a posse


ignorava não culposamente o fato de lesar o direito de outrem (…). Cuida-se de
um engano aceitável (uma negligencia da pessoa em verificar a propriedade),
dentro das circunstâncias.

Justo título:

Convém observar que o conceito de justo título para posse é mais amplo que o de justo
título para fins de usucapião. Para se alcançar a modalidade ordinária da usucapião (art.
1.242 do CC), requer-se um ato jurídico em tese formalmente perfeito a transferir a
propriedade (v.g. Escritura de compra e venda, formal de partilha). Já o justo título para
a posse demanda que a causa de sua posse é legítima (v.g. contrato de locação ou de
cessão de direito possessórios).

A doutrina mais atualizada admite que a essência da boa-fé se assenta em um erro – de


fato ou de direito – do possuidor que, por meio de uma incorreta análise da realidade,
pensa estar agindo nos limites de um direito. (pág. 995)
Alguns doutrinadores falam que justo titulo é só a escritura pública, mas por algum
motivo eu não consigo fazer a transferência da propriedade, este seria um justo titulo
para aquisição de um imóvel acima de 30 salários mínimos. Outros doutrinadores falam
que um contrato particular por mais que não seja lavrado por escritura pública também
pode ser caracterizado como justo título. Vamos ver isso melhor na usucapião.
Comentários:
Os atos de violência, clandestinidade e precariedade em determinadas
hipóteses, não são tutelados pelo direito como sendo posse e sim detenção,
mas tanto na aula quanto no material, descrevemos essa situação como posse,
porque em determinado momento essa violência cessa e continuo na área, e
eu tenho a possibilidade de interversão, ou seja, de detenção passa para posse
podendo assim falar de usucapião.
Fim dos comentários ---------------------X-------------------------

2) INTERVERSÃO (CONVALESCIMENTO) DA POSSE

Situação de hipótese de a posse passar de injusta para justa: Fato de natureza


jurídica ou Fato de natureza material.

Conforme já apresentado, a detenção, que é a posse desqualificada


juridicamente, passa-se para posse injusta com a cessação dos vícios
(violência, clandestinidade e precariedade), permanecendo com seu caráter até
o seu fim.

Art. 1.203. Salvo prova em contrário, entende-se manter a posse o mesmo caráter com
que foi adquirida.

Contudo, a doutrina destaca que há duas hipóteses em que a posse injusta


perderá o seu caráter e haverá a mutação para a posse justa.
• Fato de natureza jurídica:

Suponha-se que alguém tenha obtido a posse violentamente e posteriormente venha a


adquirir o imóvel por contrato de compra e venda ou, então, após obter a posse precária,
permaneça no local mediante um novo contrato de comodato. (pág. 995). Ex: comodato,
locador. O que importa é o fato jurídico que mudou a natureza da posse, era injusta e
passou a ser justa.

• Fato de natureza material:

É a manifestação por atos exteriores e prolongados do possuidor da inequívoca intenção


de privar o proprietário do poder de disposição sobre a coisa. (pág. 995).
Isso trouxe muita insegurança jurídica porque é difícil mostrar quando efetivamente
esses atos ocorreram. Esses atos ocorrem quando a pessoa usa o bem de tal forma que
preenche todos os requisitos e depois do lapso temporal a pratica de benfeitorias, a
destinação da função social e etc... eu começo a ter uma posse mansa e pacifica,
podendo assim perder o caráter de posse injusta e se transformando em injusta.
Após todos esses atos praticados poderia ocorrer a interversão e é claro que deve ser
depois de um lapso temporal considerável. A principal consequência jurídica disso é
para fins da prescrição aquisitiva, porem a doutrina e a legislação não destacam como
seria esse lapso, se é de 5, 10 ou 20 anos. A depender do lapso temporal eu perco a
utilidade dessa interversão porque eu já vou ter preenchido os requisitos para a
usucapião. O professor não conseguiu compreender muito bem o que seriam esses atos,
mas colocou aquele “conceito”.

Enunciado n° 237 do CJF: É cabível a modificação do título da posse - interversio


possessionis - na hipótese em que o até então possuidor direto demonstrar ato exterior e
inequívoco de oposição ao antigo possuidor indireto, tendo por efeito a caracterização
do animus domini.

3) MODOS DE AQUISIÇÃO DA POSSE DE BENS IMÓVEIS – ESTADO


DA ARTE

• Modos clássicos de aquisição e perda da posse

Art. 1.204. Adquire-se a posse desde o momento em que se torna possível o exercício,
em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à propriedade. (teoria objetiva, a
aquisição de moveis é a tradição, a aquisição da posse imóvel geralmente é
contrato. Em regra, a posse são os atos materiais efetivos, ser autorizado a
usar não é posse.

Posse natural: Aquisição originária da posse, em razão do apossamento, da


ocupação do bem, caracterizada como tomada de controle material da coisa
por parte de uma pessoa, em que não há qualquer relação jurídica entre o novo
possuidor e o antigo. Aqui nos temos a diferença entre ocupação e invasão. Ex:
ocupação, a pessoa ocupa um imóvel desocupado e não tem relação com o
dono anterior.
Posse civil ou jurídica: Aquela que se transmite ao novo possuidor. A pessoa
não se apodera da coisa, recebe-a de quem exercia a posse anteriormente.
(ex: comprando, locação, comodato).
Art. 1.205. A posse pode ser adquirida:
I - Pela própria pessoa que a pretende ou por seu representante (procuração);
II - Por terceiro sem mandato, dependendo de ratificação.

Enunciado n° 236 do CJF: Considera-se possuidor, para todos os efeitos legais, também
a coletividade desprovida de personalidade jurídica (herdeiros ou posses coletivas, em
que é difícil elencar cada indivíduo possuidor, então coloca a coletividade como
possuidor.).
Art. 1.206. A posse transmite-se aos herdeiros ou legatários do possuidor com os
mesmos caracteres. (ou seja, se a pessoa adquiriu a posso por meio de violência, essa
posse vai ser transmitida aos herdeiros, mas estes continuarão com a posse injusta).
Art. 1.207. O sucessor universal continua de direito a posse do seu antecessor; e ao
sucessor singular é facultado unir sua posse à do antecessor, para os efeitos legais. (aqui
temos as duas situações elencadas a baixo em latim.)

Sucessio possessionis: não propriamente uma aquisição da posse, mas a


passagem de um patrimônio inteiro. Ex: Quando determinado bem imóvel é
transmitido aos herdeiros, não se destaca a posse nova da antiga.
Art. 1.784. Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros
legítimos e testamentários.
Também poderá ocorrer por meio de ato entre vivos, como casamento
(comunhão universal de bens) e incorporação/fusão de pessoas jurídicas.
Acessio possessionis: Sempre se verifica inter vivos, por meio de uma relação
jurídica (ex. compra e venda), o sucessor singular tem a faculdade de unir a
sua posse à do antecessor. (Na pratica as vezes a posse não preenche os
requisitos se considerar somente o ultimo possuidor, só que se somar essa
posse do possuidor atual a posse do possuidor anterior e for verificado que
essa posse foi transferida por instrumento jurídico, ou seja, ato entre vivos para
a transferência, podemos usar o lapso temporal das duas posses por conta do
1.207. aqui tem que existir uma posse jurídica.)

Art. 1.223. Perde-se a posse quando cessa, embora contra a vontade do possuidor, o
poder sobre o bem, ao qual se refere o art. 1.196.

Art. 1.224. Só se considera perdida a posse para quem não presenciou o esbulho,
quando, tendo notícia dele, se abstém de retornar a coisa, ou, tentando recuperá-la, é
violentamente repelido.
4) EFEITOS

• Direito aos frutos (é a decorrência e a destinação de determinado bem).

Art. 95. Apesar de ainda não separados do bem principal, os frutos e produtos podem
ser objeto de negócio jurídico. (então uma colheita pode ser usada para penhor agrícola,
pode ser alineada).

Frutos vs. Produtos: Frutos são as utilidades econômicas que a coisa


periodicamente produz, sem alterar ou perder a sua substância. Já os produtos
determinam a progressiva diminuição da coisa principal (jazidas, a coisa fica
descaracterizada ou sofre danos, ou seja, os recursos minerais são produtos).
Vamos dar enfoque nos frutos naturais.

Art. 79. São bens imóveis o solo e tudo quanto se lhe incorporar natural ou
artificialmente.

Frutos naturais: Aqueles provenientes diretamente da coisa, em decorrência de


sua força orgânica (colheitas, é mais voltado para a questão orgânica);
Frutos Industriais: Sua produção decorre do engenho humano sobre a natureza
(produção de uma fábrica/industrialização).

Art. 1.215. Os frutos naturais e industriais reputam-se colhidos e percebidos, logo que
são separados; os civis reputam-se percebidos dia por dia.

Frutos Civis: rendas periódicas provenientes da concessão do uso e gozo de


uma coisa frutífera (juros, aluguéis).

Art. 1.216. O possuidor de má-fé responde por todos os frutos colhidos e percebidos,
bem como pelos que, por culpa sua, deixou de perceber, desde o momento em que se
constituiu de má-fé; tem direito às despesas da produção e custeio.

Art. 1.214. O possuidor de boa-fé tem direito, enquanto ela durar, aos frutos percebidos.
Parágrafo único. Os frutos pendentes ao tempo em que cessar a boa-fé devem ser
restituídos, depois de deduzidas as despesas da produção e custeio; devem ser também
restituídos os frutos colhidos com antecipação.

Frutos Percebidos: São os frutos que já foram separados da coisa principal. O


de má-fé tem que indenizar. Agora enquanto houver boa-fé a pessoa pode
usufruir daquele imóvel.
Frutos Pendentes: São os frutos que ainda aderem naturalmente à coisa e não
podem ser colhidos. (quando cessar a boa-fé e eu souber de alguma pretensão
judicial para a restituição da posse, esses frutos pendentes não pertencem
mais a esse possuidor. O possuidor vai ser indenizado nos custos da produção,
por ex: eu plantei, coloquei fertilizante fiz tudo, mas aí recebi a notificação eu
não posso colher então tenho que receber o que eu investi.)
Frutos colhidos com antecipação: São os frutos colhidos prematuramente,
quando ainda eram pendentes. (a pessoa tem que pagar uma indenização
caso ela tenha praticado algum ato que separe os frutos antes do tempo
correto).
Frutos percepiendos: os que deviam ou podiam ter sido colhidos, mas não o
foram. (cabe indenização em decorrência de negligencia, porem só vai ocorrer
se tiver que pagar os percebidos. Então os percepiendos, só serão cobrados
daquele de má-fé.)

Responsabilidade civil do possuidor

Art. 1.217. O possuidor de boa-fé não responde pela perda ou deterioração da coisa, a
que não der causa. (se for doloso, aí responde).
Art. 1.218. O possuidor de má-fé responde pela perda, ou deterioração da coisa, ainda
que acidentais, salvo se provar que de igual modo se teriam dado, estando ela na posse
do reivindicante. (o possuidor de má-fé paga e ainda tem o ônus probatório de
provar que aqueles danos ocorreriam mesmo se o possuidor reivindicante este
na posse do bem imóvel).

A primeira hipótese trata-se de responsabilidade civil subjetiva, de modo que é


necessário comprovar a culpa do possuidor de boa-fé.

Já no art. 1.218, temos uma responsabilidade civil objetiva pelo risco integral
(ou agravada), uma vez que as hipóteses de isenção da responsabilidade são
restritas pelo legislador. Comparou-se com o devedor em mora pela
impossibilidade da prestação.
Art. 399. O devedor em mora responde pela impossibilidade da prestação, embora essa
impossibilidade resulte de caso fortuito ou de força maior, se estes ocorrerem durante o
atraso; salvo se provar isenção de culpa, ou que o dano sobreviria ainda quando a
obrigação fosse oportunamente desempenhada.

5) BENFEITORIAS
Temos 3 hipóteses:
Benfeitorias necessárias: são aquelas imprescindíveis para a manutenção e
preservação de determinado bem, ex: muro
Benfeitoria útil: é quando eu aumento a utilização de determinado bem tornado
ele mais eficaz, porem o bem funcionaria sem essa melhoria. Ex: elevador.
Benfeitoria voluptuária: é algo para melhorar a estica, uma decoração.

Art. 1.219. O possuidor de boa-fé tem direito à indenização das benfeitorias necessárias
e úteis, bem como, quanto às voluptuárias, se não lhe forem pagas, a levantá-las, quando
o puder sem detrimento da coisa, e poderá exercer o direito de retenção pelo valor das
benfeitorias necessárias e úteis. (se eu estou de boa fé e faço as 3 melhorias, ai for
chegando o fim do contrato e eu tenho que devolver o imóvel, eu posso exigir o
pagamento por todas as benfeitorias e posso ficar na detenção do imóvel ate o
pagamento das uteis e necessárias.)

Art. 1.220. Ao possuidor de má-fé serão ressarcidas somente as benfeitorias necessárias


(porque ele cuidou do bem); não lhe assiste o direito de retenção pela importância
destas, nem o de levantar as voluptuárias. (em regra as benfeitorias devem ser
indenizadas, só que também existe a hipótese de que essas benfeitorias sofreram danos
ou por conta da minha má-fé causei danos a uma pessoa e ela a minha mitigante, então a
pessoa pode compensar, ex: uma indenização compensa as benfeitorias se sobrar tem
que pagar).

Art. 1.221. As benfeitorias compensam-se com os danos, e só obrigam ao ressarcimento


se ao tempo de a evicção ainda existirem. (as vezes as benfeitorias foram feitas mas
depois de um lapso temporal ela foram exauridas, então quando é decretada a evicção
essas benfeitorias não existem, então não há dever de indenizar, indeniza somente as
que ainda existem.
Art. 1.222. O reivindicante, obrigado a indenizar as benfeitorias ao possuidor de má-fé,
tem o direito de optar entre o seu valor atual e o seu custo; ao possuidor de boa-fé
indenizará pelo valor atual. (então quando há benfeitorias elas podem ter valores
diferentes por conta do lapso temporal se for de má-fé o reivindicante pode optar por
pagar o valor atual ou o valor da época da benfeitoria, se fizer de boa-fé indeniza pelo
valor atual). O objetivo do legislador era beneficiar o de boa-fé, então se o valor de hoje
for menor do que o da época, paga o da época.

6) Ações possessórias

Juízo possessório: são exercidas as faculdades jurídicas oriundas da posse


em si mesma, não se cogitando de qualquer relação jurídica subjacente.
(discute a proteção da posse).
Juízo petitório: a proteção da posse decorre do direito de propriedade ou de
outro direito dela derivado. (já vincula a propriedade).

Vedação da exceção de propriedade


Essa vedação, veda a alegação de “eu sou proprietário do imóvel” no juízo
petitório. Então quando estou discutindo a posse não posso alegar que eu sou
proprietário. O ordenamento jurídico desconsidera essa alegação.

Art. 1.210. § 2° Não obsta à manutenção ou reintegração na posse a alegação de


propriedade, ou de outro direito sobre a coisa.
Art. 557. Na pendência de ação possessória é vedado, tanto ao autor quanto ao réu,
propor ação de reconhecimento do domínio, exceto se a pretensão for deduzida em face
de terceira pessoa.
Parágrafo único. Não obsta à manutenção ou à reintegração de posse a alegação de
propriedade ou de outro direito sobre a coisa.

25/08/2022
REINTEGRAÇÃO DE POSSE

Só pode entrar com essa ação se o possuidor era possuidor da área ou ainda é, isso no
caso de outra pessoa ter a detenção do imóvel. Ex: a pessoa não quer devolver a casa,
isso no contrato de aluguel. Se houver uma justificativa legitimidade não cabe ação de
reintegração.
Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação,
restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser
molestado. (a redação desse art. Trata das ações possessórias, ex: ação de reintegração,
ação de manutenção e interdito proibitório. O que nos interessa é restituição no caso de
esbulho).

Código de Processo Civil


Art. 560. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação e
reintegrado em caso de esbulho. (ou seja, a manutenção da posse está vinculada a
turbação e a reintegração no caso de esbulho.)

Frisa-se que o esbulho não é apenas consequente de um ato de força ou ameaça contra a
pessoa do possuidor ou de seus detentores. Portanto, há esbulho no ato daquele vizinho,
que arreda as divisas do imóvel, de modo a alterar-lhe os limites os limites
(clandestinidade). Também se vislumbra o esbulho na conduta de quem se recursa a
restituir o imóvel após o término da relação contratual que lhe conferi a posse direta
(precariedade). (pag. 1007)

Reintegração de posse é a medida judicial para o reestabelecimento da posse


pelo possuidor esbulhado.
Logo, no esbulho há a privação, total ou parcial, do poder físico do possuidor
sobre a coisa. Então aqui eu tenho uma limitação por causa dos vícios
objetivos, atos de violência e afins. Vou ter esbulho quando houver uma
privação do possuidor sobre a coisa.

Art. 1.212. O possuidor pode intentar a ação de esbulho, ou a de indenização, contra o


terceiro, que recebeu a coisa esbulhada sabendo que o era.

Posse A)  B) (má-fé)  C) (boa-fé).

Na boa-fé o terceiro se livra.

MANUTENÇÃO DE POSSE
A manutenção de posse destina-se a tutela jurisdicional em razão da turbação
da posse, ou seja, quando não há efetiva privação do exercício sobre a coisa,
mas um manifesto interesse de outra pessoa em prejudicar a sua posse
(derrubada uma cerca limítrofe, trânsito de pessoas e máquinas, etc...).
(quando alguns atos prejudicam o meu exercício pleno e efetivo da posse,
então antes de perder a posse eu entro com uma ação judicial para ser
mantido na posse, isso porque diligente, eu quero continuar exercendo a
função social da posse).
Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação,
restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser
molestado.

INTERDITO PROIBITÓRIO

CPC
Art. 567. O possuidor direto ou indireto que tenha justo receio de ser molestado na
posse poderá requerer ao juiz que o segure da turbação ou esbulho iminente, mediante
mandado proibitório em que se comine ao réu determinada pena pecuniária caso
transgrida o preceito. (nesse caso as pessoas ficam rondando a área falando que
vão invadir, neste caso nos temos a possibilidade do ingresso judicial
relacionado ao interdito proibitório em que buscara uma tutela jurisdicional para
que aquelas ameaças não se concretizem, ou seja, vou entrar com a ação com
base no que a lei já fala que é a obrigação de abstenção da coletividade, em
que aqui eu não tenho um dano efetivo, mas tenho um receio justo. Um dos
pressupostos do interdito proibitório, você demonstrar que está na iminência de
ser esbulhado. O juiz vai impor uma multa a esses agressores.)

Nesta hipótese, trata-se de ameaça da prática de atos que violem o exercício


regular da posse, sendo a agressão eminente.

Art. 1.210. O possuidor tem direito (…) e segurado de violência iminente, se tiver justo
receio de ser molestado.
A agressão iminente não significa agressão imediata, porém próxima,
excluindo-se a ideia de um futuro distante e remoto.

Autoexecutoriedade
§ 1° O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria
força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do
indispensável à manutenção, ou restituição da posse.

A defesa da posse poderá ocorrer por meio da legítima defesa da posse (atos
de turbação), ou do desforço imediato (esbulho consumado).

A defesa privada é excepcional e deve ser exercida com presteza e moderação, sob pena
da conduta do possuidor converter-se em ato ilícito, como delito de exercício arbitrário
das próprias razões (art. 345 do CP). (pág. 1010)

Aspectos gerais das ações possessórias

A competência para a propositura da ação possessória imobiliária é absoluta, devendo


ser ajuizada no foro de situação da coisa.

Art. 47. § 2º A ação possessória imobiliária será proposta no foro de situação da coisa,
cujo juízo tem competência absoluta.

Em relação ao procedimento adotado, caso a ação seja proposta dentro de ano


e dia (ações de força nova), serão aplicadas as normas do art. 554 e seguintes
do Código de Processo Civil. Caso ultrapassado o prazo, deverão seguir o
procedimento comum na legislação processual. (um dos pressupostos para a
concessão dessa liminar é que a ação possessória tem que ser ajuizada dentro de um
lapso temporal de ano e dia, então se passou dois anos eu não posso pedir uma liminar
da sua reintegração de posse ou a manutenção da posse. Mesmo que eu esteja no prazo
o juiz vai verificar a minha situação para saber se concede ou não.)
(caso a pessoa entre com uma ação judicial e o juiz verifique que falta os elementos
efetivos para a concessão da liminar, portanto ele pode fazer uma audiência de
justificação previa, podendo chamar testemunhas, escutar a parte que está sofrendo o
esbulho, então nessa hipótese o juiz marca essa audiência no inicio do processo e isso
não ocorre no procedimento comum, é uma das características do procedimento
específico das ações possessórias. Se for uma posse nova nós teríamos o rito próprio e
se for uma velha rito comum.)
Art. 558. Regem o procedimento de manutenção e de reintegração de posse as normas
da Seção II deste Capítulo quando a ação for proposta dentro de ano e dia da turbação
ou do esbulho afirmado na petição inicial.
Parágrafo único. Passado o prazo referido no caput, será comum o procedimento, não
perdendo, contudo, o caráter possessório.
Art. 562. Estando a petição inicial devidamente instruída, o juiz deferirá, sem ouvir o
réu, a expedição do mandado liminar de manutenção ou de reintegração, caso contrário,
determinará que o autor justifique previamente o alegado, citando-se o réu para
comparecer à audiência que for designada.
Parágrafo único. Contra as pessoas jurídicas de direito público não será deferida a
manutenção ou a reintegração liminar sem prévia audiência dos respectivos
representantes judiciais.

Natureza Dúplice

Como por exemplo, eu entro com uma ação para dizer que não sou dono de
determinada linha telefônica, mas o juiz julga improcedente porque eu sou sim
dono daquela linha e essa improcedência gera a declaração da existência da
relação jurídica.
Art. 556. É lícito ao réu, na contestação, alegando que foi o ofendido em sua posse,
demandar a proteção possessória e a indenização pelos prejuízos resultantes da turbação
ou do esbulho cometido pelo autor. (é quando uma pessoa entra com algo, por ex:
dizendo que a minha posse era injusta e descobre que na verdade, essa pessoa está
errada e o réu está certo e aí o réu vai poder ser indenizado. Nessas hipóteses temos uma
resolução de mérito.)

Fungibilidade das possessórias

Art. 554. A propositura de uma ação possessória em vez de outra não obstará a que o
juiz conheça do pedido e outorgue a proteção legal correspondente àquela cujos
pressupostos estejam provados. (o juiz aplica a fungibilidade para aceitar uma demanda
e julgar como fosse outra, o advogado fez o pedido errado, mas isso não vai gerar
consequências.)

Cumulação de pedidos

Art. 555. É lícito ao autor cumular ao pedido possessório o de:


I - Condenação em perdas e danos;
II - Indenização dos frutos.
Parágrafo único. Pode o autor requerer, ainda, imposição de medida necessária e
adequada para:
I - evitar nova turbação ou esbulho;
II - cumprir-se a tutela provisória ou final.

IMISSÃO NA POSSE

Trata-se de demanda petitória, em que o proprietário, adquirente do bem, o


qual nunca exerceu a posse sobre o imóvel, busca a imissão, ou seja, haver a
coisa pela primeira vez.

AÇÃO DE NUNCIAÇÃO DE OBRA NOVA

A ação em questão visa assegurar direitos de vizinhança, evitando-se que a


prática de atos materiais em imóveis vizinhos ocasione danos aos demais, em
especial aquele que possui vínculo com o autor da ação.
(a pessoa que sofrer danos em relação a essa obra, pode entrar com ação
para impedir aquela construção porque afeta o direito de vizinhança.)

Comentários:
(google =Qual a diferença entre turbação e esbulho? A turbação acontece quando a
posse é somente ameaçada, perturbada. Em contrapartida, no esbulho, (perda da posse
efetiva) a posse é retirada do seu legítimo possuidor).
Fim dos comentários -------------------------X-----------------

01/09/2022
Nesse dia eu faltei.

1) CONCEITO DE PROPRIEDADE

Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o


direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou
detenha.
§ 1° O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas
finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de
conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas
naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como
evitada a poluição do ar e das águas.

Inicialmente, destaca-se que o direito de propriedade é previsto na Constituição


Federal como direito fundamental, na forma do art. 5°, inc. XXII. Ademais, o inc.
XXIII dispõe que “a propriedade atenderá a sua função social”.

Em igual sentido prescreve o Código Civil, ao prever as faculdades da


propriedade, mas também a obrigação de seu exercício ocorrer em
consonância com as finalidades econômicas e sociais. Logo “(…) o direito de
propriedade consiste no direito real de usar, gozar ou fruir, dispor e reivindicar
a coisa, nos limites da sua função social”.

FUNÇÃO SOCIAL

A função social deve ser compreendida a partir da relação com a sociedade e o


meio em que está inserida, sendo um conceito evidentemente aberto e
indeterminado.

Nesse sentido, o cumprimento da função social da propriedade decorrerá da


análise de sua interação com a sociedade, do cumprimento das normas
constitucionais e infraconstitucionais, do exercício de atividade lícita, e a sua
importância para a coletividade.

Vedação de atos emulativos

Art. 1.228 (…) § 2° São defesos os atos que não trazem ao proprietário
qualquer comodidade, ou utilidade, e sejam animados pela intenção de
prejudicar outrem.

A doutrina critica o aspecto subjetivo de tal vedação, uma vez que se trataria
de um abuso do direito de propriedade, que o legislador diferenciou do abuso
de direito “geral”, com a presença da subjetividade.
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo,
excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social,
pela boa-fé ou pelos bons costumes.

Ato emulativo é um ato vazio, sem utilidade alguma para o agente que o faz no
intuito de prejudicar terceiro.

Poderes inerentes à propriedade

a) Jus utendi: direito de tirar do bem todos os seus proveitos, sem que haja
alteração em sua substância, ou seja, usar a propriedade de todas as formas
previstas ou não vedadas em lei;
b) Jus fruendi: direito de perceber os frutos e de utilizar os produtos da coisa,
ou seja, de fruir ou gozar todos os benefícios lícitos que a propriedade possa
proporcionar;
c) Jus abutendi ou disponendi: direito de dispor da coisa. Por dispor, entenda-
se a prerrogativa de transferir o bem, a qualquer título, o que também abarca a
possibilidade de consumi-lo. Esclareça-se, de logo, que inexiste um “direito ao
abuso”.
d) Jus reivindicatio ou rei vindicatio: direito que tem o proprietário de buscar o
bem de quem injustamente o detenha.

Características do Direito de Propriedade

a) complexo: pois é formado por um conjunto de poderes ou faculdades (usar,


gozar, dispor, e reivindicar), sendo o mais completo de todos os direitos reais;

b) absoluto: não no sentido de que se possa fazer dele o que bem entender,
mas porque a oponibilidade é erga omnes, podendo o seu titular desfrutar do
bem como lhe aprouver, sujeitando-se às limitações constitucionais e legais;

c) perpétuo: não se extingue, simplesmente, pelo não uso, podendo ser


transmitido indefinidamente por gerações;
d) exclusivo: ressalvadas certas situações, a exemplo do condomínio e da
multipropriedade, o poder dominial de alguém exclui o de outrem,
concomitantemente, sobre a mesma coisa, sendo essa, portanto, a regra geral;

e) elástico: pode ser distendido ou contraído na formação de outros direitos


reais sem perder sua essência.
Exemplo: mediante ajuste de vontades e o devido registro, podem ser
destacadas as faculdades de usar e fruir um imóvel, em favor do usufrutuário,
permanecendo o titular com um direito limitado de propriedade (nua-
propriedade). Uma vez extinto o usufruto, aquelas faculdades retornam,
consolidando o direito pleno de propriedade.

Propriedade Resolúvel e “ad tempus”

Art. 1.359. Resolvida a propriedade pelo implemento da condição ou pelo


advento do termo, entendem-se também resolvidos os direitos reais
concedidos na sua pendência, e o proprietário, em cujo favor se opera a
resolução, pode reivindicar a coisa do poder de quem a possua ou detenha.

Propriedade resolúvel é aquela que tem, em seu próprio título constitutivo, um


elemento que limita potencialmente a sua duração, como uma condição
resolutiva.

Art. 1.360. Se a propriedade se resolver por outra causa superveniente, o


possuidor, que a tiver adquirido por título anterior à sua resolução, será
considerado proprietário perfeito, restando à pessoa, em cujo benefício houve a
resolução, ação contra aquele cuja propriedade se resolveu para haver a
própria coisa ou o seu valor.

Trata-se de uma modalidade de propriedade que, a priori, é constituída para


ser definitiva e perpétua. Todavia, por um fato superveniente, ocorre a sua
extinção, como é o caso da revogação da doação por ingratidão do donatário.

EXTENSÃO

Art. 1.229. A propriedade do solo abrange a do espaço aéreo e subsolo


correspondentes, em altura e profundidade úteis ao seu exercício, não
podendo o proprietário opor-se a atividades que sejam realizadas, por
terceiros, a uma altura ou profundidade tais, que não tenha ele interesse
legítimo em impedi-las.

Art. 1.230. A propriedade do solo não abrange as jazidas, minas e demais


recursos minerais, os potenciais de energia hidráulica, os monumentos
arqueológicos e outros bens referidos por leis especiais.
Parágrafo único. O proprietário do solo tem o direito de explorar os recursos
minerais de emprego imediato na construção civil, desde que não submetidos a
transformação industrial, obedecido o disposto em lei especial.

Constituição Federal
Art. 20. São bens da União:
(…)
VIII - os potenciais de energia hidráulica;
IX - os recursos minerais, inclusive os do subsolo;
X - as cavidades naturais subterrâneas e os sítios arqueológicos e pré-
históricos;

Art. 176. As jazidas, em lavra ou não, e demais recursos minerais e os


potenciais de energia hidráulica constituem propriedade distinta da do solo,
para efeito de exploração ou aproveitamento, e pertencem à União, garantida
ao concessionário a propriedade do produto da lavra.

CLASSIFICAÇÃO

• Quanto à extensão do direito do titular (alcance subjetivo)


Quanto se tem todos os poderes inerentes à propriedade com seu titular, se
convencionou denominar de propriedade plena.
Quando houver limitações e transferências de desses poderes para outrem,
fala-se em propriedade limitada ou restrita. Ex. “nu-propriedade” quando
ocorrer o usufruto.

• Quanto à perpetuidade do domínio (alcance temporal)


Propriedade perpétua
Propriedade resolúvel

• 8.3. Quanto à localização e destinação da propriedade (alcance


finalístico)
A classificação deve ser realizada não com fundamento na localização, mas
sim, em função da sua destinação econômica.
Propriedade Urbana
Propriedade Rural

TUTELA PROCESSUAL DA PROPRIEDADE

Ação reivindicatória: Ação que se destina a buscar a coisa e devolvê-la ao


proprietário, decorrente do direito de sequela dos direitos reais.

PROPRIEDADE FIDUCIÁRIA

Conceito

Art. 1.361. Considera-se fiduciária a propriedade resolúvel de coisa móvel


infungível que o devedor, com escopo de garantia, transfere ao credor.

Alienação Fiduciária em Garantia

Conceitualmente, pois, trata-se de negócio jurídico bilateral, por meio do qual


se realiza a transferência da propriedade de uma coisa ao credor, em caráter
resolúvel, com a finalidade de garantir uma determinada obrigação.

A referida relação jurídica se caracteriza com 03 (três) sujeitos: Alienante,


devedor fiduciante, credor fiduciário.
Difere-se dos direitos reais de garantia, uma vez que haverá a transferência da
propriedade, embora em caráter resolúvel, e nos primeiros o patrimônio
continua sendo de propriedade do devedor.

Art. 1.364. Vencida a dívida, e não paga, fica o credor obrigado a vender,
judicial ou extrajudicialmente, a coisa a terceiros, a aplicar o preço no
pagamento de seu crédito e das despesas de cobrança, e a entregar o saldo,
se houver, ao devedor.

Vedação ao pacto comissário

Art. 1.365. É nula a cláusula que autoriza o proprietário fiduciário a ficar com a
coisa alienada em garantia, se a dívida não for paga no vencimento.
Parágrafo único. O devedor pode, com a anuência do credor, dar seu direito
eventual à coisa em pagamento da dívida, após o vencimento desta.

Terceiro interessado ou não e a sub-rogação

Art. 1.368. O terceiro, interessado ou não, que pagar a dívida, se sub-rogará de


pleno direito no crédito e na propriedade fiduciária.

Ao contrário da regra geral do Código Civil, em que diferencia terceiro


interessado e não interessado, em relação à propriedade fiduciária, não haverá
qualquer diferença, ocorrendo a sub-rogação de pleno direito no crédito.

Teoria do adimplemento substancial

Pela referida teoria, veda-se a resolução do contrato em decorrência do


inadimplemento de parcelas mínimas, quando considerado o valor total do
negócio jurídico.

Ocorre que, conforme posicionamento do Superior Tribunal de Justiça, a


referida teoria não se aplica aos negócios jurídicos firmados com alienação
fiduciária:
(…) 4. A teoria do adimplemento substancial tem por objetivo precípuo impedir
que o credor resolva a relação contratual em razão de inadimplemento de
ínfima parcela da obrigação. A via judicial para esse fim é a ação de resolução
contratual. Diversamente, o credor fiduciário, quando promove ação de busca e
apreensão, de modo algum pretende extinguir a relação contratual. Vale-se da
ação de busca e apreensão com o propósito imediato de dar cumprimento aos
termos do contrato, na medida em que se utiliza da garantia fiduciária ajustada
para compelir o devedor fiduciante a dar cumprimento às obrigações faltantes,
assumidas contratualmente (e agora, por ele, reputadas ínfimas). A
consolidação da propriedade fiduciária nas mãos do credor apresenta-se como
consequência da renitência do devedor fiduciante de honrar seu dever
contratual, e não como objetivo imediato da ação. E, note-se que, mesmo
nesse caso, a extinção do contrato dá-se pelo cumprimento da obrigação,
ainda que de modo compulsório, por meio da garantia fiduciária ajustada.
4.1 É questionável, se não inadequado, supor que a boa-fé contratual estaria
ao lado de devedor fiduciante que deixa de pagar uma ou até algumas parcelas
por ele reputadas ínfimas mas certamente de expressão considerável, na ótica
do credor, que já cumpriu integralmente a sua obrigação, e, instado extra e
judicialmente para honrar o seu dever contratual, deixa de fazê-lo, a despeito
de ter a mais absoluta ciência dos gravosos consectários legais advindos da
propriedade fiduciária. A aplicação da teoria do adimplemento substancial, para
obstar a utilização da ação de busca e apreensão, nesse contexto, é um
incentivo ao inadimplemento das últimas parcelas contratuais, com o nítido
propósito de desestimular o credor - numa avaliação de custo-benefício - de
satisfazer seu crédito por outras vias judiciais, menos eficazes, o que, a toda
evidência, aparta-se da boa-fé contratual propugnada.
4.2. A propriedade fiduciária, concebida pelo legislador justamente para conferir
segurança jurídica às concessões de crédito, essencial ao desenvolvimento da
economia nacional, resta comprometida pela aplicação deturpada da teoria do
adimplemento substancial.
5. Recurso Especial provido.
(REsp n. 1.622.555/MG, relator Ministro Marco Buzzi, relator para acórdão
Ministro Marco Aurélio Bellizze, Segunda Seção, julgado em 22/2/2017, DJe de
16/3/2017.)

Art. 1.368-A. As demais espécies de propriedade fiduciária ou de titularidade


fiduciária submetem-se à disciplina específica das respectivas leis especiais,
somente se aplicando as disposições deste Código naquilo que não for
incompatível com a legislação especial. (Incluído pela Lei nº 10.931, de 2004)
Art. 1.368-B. A alienação fiduciária em garantia de bem móvel ou imóvel
confere direito real de aquisição ao fiduciante, seu cessionário ou sucessor.
(Incluído pela Lei nº 13.043, de 2014)

Parágrafo único. O credor fiduciário que se tornar proprietário pleno do bem,


por efeito de realização da garantia, mediante consolidação da propriedade,
adjudicação, dação ou outra forma pela qual lhe tenha sido transmitida a
propriedade plena, passa a responder pelo pagamento dos tributos sobre a
propriedade e a posse, taxas, despesas condominiais e quaisquer outros
encargos, tributários ou não, incidentes sobre o bem objeto da garantia, a partir
da data em que vier a ser imitido na posse direta do bem.

MODOS DE AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE

Aquisição da propriedade originária


Decorrem de fato jurídico strito sensu, seja pelo decurso do tempo ou
fenômenos da natureza. Ex. Usucapião, aluvião, e a avulsão.

Aquisição da propriedade derivada


Oriunda de negócios jurídicos, da autonomia das partes. Seja pelo registro no
cartório competente, ou pela tradição, para bens imóveis e móveis,
respectivamente.

PROPRIEDADE APARENTE

Com efeito, a propriedade aparente resulta de uma situação de fato em que


uma pessoa age, em relação a um bem, como se sua proprietária fosse
gerando, a partir daí, efeitos jurídicos.

Pagamento indevido

Art. 879. Se aquele que indevidamente recebeu um imóvel o tiver alienado em


boa-fé, por título oneroso, responde somente pela quantia recebida; mas, se
agiu de má-fé, além do valor do imóvel, responde por perdas e danos.
Parágrafo único. Se o imóvel foi alienado por título gratuito, ou se, alienado por
título oneroso, o terceiro adquirente agiu de má-fé, cabe ao que pagou por erro
o direito de reivindicação.

Enfim, a aparência jurídica é tutelada pelo princípio da confiança, que no


Código Civil é, por excelência, a forma de interpretação dos negócios jurídicos.
A diretriz da eticidade se revela, dentre outras maneiras, pela proteção da boa-
fé daquele que extraiu um certo significado de uma declaração, que seria o
comum dentro do tráfego jurídico. Para que se possa atender a um ideal de
segurança dinâmica nas relações negociais, há a necessidade de se preservar
os comportamentos honestos e leais dos que se conduzem com diligência e se
investem na titularidade formal de bens.

MODOS DE AQUISIÇÃO DE IMÓVEIS

Art. 1.245. Transfere-se entre vivos a propriedade mediante o registro do título


translativo no Registro de Imóveis.

§ 1° Enquanto não se registrar o título translativo, o alienante continua a ser


havido como dono do imóvel.

Da mesma forma, a acessão, entendida como um aumento natural ou artificial


do volume ou extensão do objeto da propriedade (por qualquer umas das
formas conhecidas: formação de ilhas; aluvião; avulsão; o abandono de álveo,
plantações ou construções de obras), é, segundo o Código Civil, uma
modalidade exclusiva de aquisição de propriedade imóvel. (pág. 225).

MODOS DE AQUISIÇÃO DE MÓVEIS

A propriedade de bens móveis se dá pela TRADIÇÃO, que representa a


entrega da coisa ao adquirente, com a intenção de transferir a sua propriedade.
Também há a aquisição pela usucapião, ocupação, confusão, comissão e
adjunção, entre outros, que serão estudados em tópicos específicos.

Art. 1.267. A propriedade das coisas não se transfere pelos negócios jurídicos
antes da tradição.

08/09/2022
AULA 05 – DA USUCAPIÃO

1) CONCEITO

A usucapião é forma de aquisição originária da propriedade, em razão do


decurso de tempo, previsto em lei, com o exercício da posse de forma mansa e
pacífica.

Os fundamentos para a ocorrência da usucapião são: segurança jurídica e


função social.

Prescrição (perda da pretensão do titular de um direito que não o exerceu em


determinado lapso temporal) aquisitiva:

Art. 1.244. Estende-se ao possuidor o disposto quanto ao devedor acerca das


causas que obstam, suspendem ou interrompem a prescrição, as quais
também se aplicam à usucapião.

Art. 202. A interrupção da prescrição, que somente poderá ocorrer uma vez,
dar-se-á:
I - por despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a citação, se o
interessado a promover no prazo e na forma da lei processual;
II - por protesto, nas condições do inciso antecedente;
III - por protesto cambial;
IV - pela apresentação do título de crédito em juízo de inventário ou em
concurso de credores;
V - por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor;
VI - por qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe
reconhecimento do direito pelo devedor.

AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. USUCAPIÃO


EXTRAORDINÁRIA. CITAÇÃO. CONTESTAÇÃO. INTERRUPÇÃO DA
CONTAGEM DO PRAZO. IMPOSSIBILIDADE. RECONHECIMENTO NO
CURSO DO PROCESSO. POSSIBILIDADE. NOTIFICAÇÃO EXTRAJUDICIAL.
INTERRUPÇÃO. NÃO IMPLEMENTAÇÃO DOS REQUISITOS LEGAIS.
AGRAVO INTERNO DESPROVIDO.
1. Não obstante seja possível a contagem do prazo da prescrição aquisitiva da
usucapião durante a tramitação processual, existindo notificação extrajudicial
prevista no art. 202 do CC/2002, considera-se interrompido o transcurso do
lapso temporal.
2. Agravo interno desprovido.
(AgInt no REsp n. 1.789.463/MG, relator Ministro Marco Aurélio Bellizze,
Terceira Turma, julgado em 18/5/2020, DJe de 26/5/2020.)

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO


ESPECIAL. AÇÃO DE USUCAPIÃO. PREQUESTIONAMENTO. AUSÊNCIA.
SÚMULA 211/STJ. AÇÃO POSSESSÓRIA JULGADA IMPROCEDENTE.
PRESCRIÇÃO AQUISITIVA. NÃO INTERRUPÇÃO.
1. Cuida-se, na origem, de ação de usucapião de imóvel urbano.
2. A ausência de decisão do Tribunal de origem acerca dos argumentos
invocados pelo recorrente em suas razões recursais impede o conhecimento
do recurso especial.
3. Segundo a jurisprudência desta Corte, a citação efetuada em ação
possessória julgada improcedente não é hábil à interrupção da prescrição
aquisitiva. Precedentes.
4. Agravo interno no agravo em recurso especial não provido.
(AgInt no AgInt no AREsp n. 1.863.294/RS, relatora Ministra Nancy Andrighi,
Terceira Turma, julgado em 23/5/2022, DJe de 25/5/2022.)

Requisitos: i) posse; ii) tempo; iii) animus domini.


O exercício da posse deve ser manso e pacífico, ou seja, sem a apresentação
de resistência. Todavia, a jurisprudência do C. Superior Tribunal de Justiça
considera o lapso temporal durante o curso do processo:

RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. USUCAPIÃO


EXTRAORDINÁRIA. PRESCRIÇÃO AQUISITIVA. PRAZO.
IMPLEMENTAÇÃO. CURSO DA DEMANDA. POSSIBILIDADE. FATO
SUPERVENIENTE. ART. 462 DO CPC/1973. CONTESTAÇÃO.
INTERRUPÇÃO DA POSSE. INEXISTÊNCIA. ASSISTENTE SIMPLES. ART.
50 DO CPC/1973.
1. Recurso especial interposto contra acórdão publicado na vigência do Código
de Processo Civil de 1973 (Enunciados Administrativos nºs 2 e 3/STJ).
2. Cinge-se a controvérsia a definir se é possível o reconhecimento da
usucapião de bem imóvel na hipótese em que o requisito temporal (prazo para
usucapir) previsto em lei é implementado no curso da demanda.
3. A decisão deve refletir o estado de fato e de direito no momento de julgar a
demanda, desde que guarde pertinência com a causa de pedir e com o pedido.
Precedentes.
4. O prazo, na ação de usucapião, pode ser completado no curso do processo,
em conformidade com o disposto no art. 462 do CPC/1973 (correspondente ao
art. 493 do CPC/2015).
5. A contestação não tem a capacidade de exprimir a resistência do
demandado à posse exercida pelo autor, mas apenas a sua discordância com
a aquisição do imóvel pela usucapião.
6. A interrupção do prazo da prescrição aquisitiva somente poderia ocorrer na
hipótese em que o proprietário do imóvel usucapiendo conseguisse reaver a
posse para si. Precedentes.
(…)
(REsp n. 1.361.226/MG, relator Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, Terceira
Turma, julgado em 5/6/2018, DJe de 9/8/2018.)

Código de Processo Civil


Art. 493. Se, depois da propositura da ação, algum fato constitutivo,
modificativo ou extintivo do direito influir no julgamento do mérito, caberá ao
juiz tomá-lo em consideração, de ofício ou a requerimento da parte, no
momento de proferir a decisão.

Já em relação ao elemento subjetivo, o animus domini é a intenção de ter a


coisa como proprietário, de exercer todas as faculdades inerentes à
propriedade (uso, gozo e fruição). (o caseiro, não pode pedir prescrição
aquisitiva do imóvel porque ele apenas detinha o imóvel e não tinha o aspecto
subjetivo. Se eles quisessem ele ia falar para os outro que a casa é dele, ia
passar as contas para o nome dele e afins. Vale ressaltar que a legislação
protege muito a pessoa que tem a posse mansa e pacifica, por isso, apenas a
citação desse possuidor não é suficiente para falar que interrompeu a
prescrição aquisitiva. Essa prescrição só é interrompida em alguns casos.

Art. 1.243. O possuidor pode, para o fim de contar o tempo exigido pelos
artigos antecedentes, acrescentar à sua posse a dos seus antecessores (art.
1.207), contanto que todas sejam contínuas, pacíficas e, nos casos do art.
1.242, com justo título e de boa-fé.

Accessio possessionis – Soma de posses

A soma da posse decorre da possibilidade jurídica da pessoa utilizar a posse


do possuidor anterior, acrescendo-se ao tempo do exercício manso e pacífico
sobre a coisa, atingindo-se, assim, o lapso temporal necessário para a
usucapião. E existe também a sucessão da posse, por exemplo alguém morre
e esses direitos sucessórios serão transmitidos para os sucessores,
preenchendo assim os requisitos da usucapião.

Vedação da usucapião em imóveis públicos.

CF/88
Art. 183. Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e
cinqüenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem
oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o
domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. (…)
§ 3º Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião.

Art. 191. Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua
como seu, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra, em zona
rural, não superior a cinqüenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho
ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade.
Parágrafo único. Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião.
Imóveis públicos não são adquiridos por usucapião, diante da vedação
expressa prevista na Constituição Federal.

USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIA

Art. 1.238. Aquele que, por quinze anos, sem interrupção, nem oposição,
possuir como seu um imóvel, adquire-lhe a propriedade, independentemente
de título e boa-fé; podendo requerer ao juiz que assim o declare por sentença,
a qual servirá de título para o registro no Cartório de Registro de Imóveis.

15 anos, sem oposição ou interrupção.


É denominada extraordinária, por dispensar título e boa-fé.

Parágrafo único. O prazo estabelecido neste artigo reduzir-se-á a dez anos se


o possuidor houver estabelecido no imóvel a sua moradia habitual, ou nele
realizado obras ou serviços de caráter produtivo.

USUCAPIÃO ORDINÁRIA (comum)

Art. 1.242. Adquire também a propriedade do imóvel aquele que, contínua e


incontestadamente, com justo título e boa-fé (posse), o possuir por dez anos.

10 anos
Justo Título
Boa-fé
Justo título:
O ato jurídico, em tese, hábil a transferir o domínio ou a posse, mas que, em
concreto, não produz esse efeito em razão de algum vício em sua constituição"
(TEPEDINO, Gustavo; MONTEIRO FILHO, Carlos E. do R.; RENTERIA, Pablo.
Direitos Reais. Fundamentos do Direito Civil. Volume 5. 1ª edição. Rio de
Janeiro: Forense, 2020, pág. 51).
(…)
2. A falta de registro de compromisso de compra e venda não é suficiente para
descaracterizar o justo título como requisito necessário ao reconhecimento da
usucapião ordinária.
(…)
(REsp n. 1.584.447/MS, relator Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, Terceira
Turma, julgado em 9/3/2021, DJe de 12/3/2021.)

Jurisprudência em teses - Edição n° 133

Boa-fé:

Art. 1.201. É de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo


que impede a aquisição da coisa.

USUCAPIÃO ORDINÁRIA COM PRAZO REDUZIDO (TABULAR OU DE


LIVRO)
Aqui a pessoa tinha a propriedade em razão de um cartório. No entanto, esse
título foi cancelado por motivo que não tem nada a ver com o dono atual
Tabular ou de livro por se referir a um imóvel já registrado ou tabulado no livro
registral.

Parágrafo único. Será de cinco anos o prazo previsto neste artigo se o imóvel
houver sido adquirido, onerosamente, com base no registro constante do
respectivo cartório, cancelada posteriormente, desde que os possuidores nele
tiverem estabelecido a sua moradia, ou realizado investimentos de interesse
social e econômico.

05 anos
Aquisição onerosa (não pode ser uma alienação gratuita).
Registro cancelado
Estabelecimento de moraria ou investimentos de interesse social e econômico.

USUCAPIÃO CONSTITUCIONAL (OU ESPECIAL) RURAL OU PRO LABORE

CF/88
Art. 191. Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua
como seu, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra, em zona
rural, não superior a cinqüenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho
ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade.

05 anos (tem que ser posse mansa e pacifica)


Imóvel rural
Igual ou inferior a 50 ha (cinquenta hectares)
Torná-lo produtivo/moradia
Não possuir outros imóveis (urbanos ou rurais)

Módulo Rural

USUCAPIÃO CONSTITUCIONAL (OU ESPECIAL) URBANA OU PRO


MISERO

CF/88
Art. 183. Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e
cinqüenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem
oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o
domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.
§ 2º Esse direito não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez.

Código Civil
Art. 1.240. Aquele que possuir, como sua, área urbana de até duzentos e
cinqüenta metros quadrados, por cinco anos ininterruptamente e sem oposição,
utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio,
desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.

Estatuto da Cidade
Art. 9° Aquele que possuir como sua área ou edificação urbana de até
duzentos e cinqüenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e
sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o
domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.

05 anos
Imóvel urbano
De até 250m²
Constituir moradia
Não ser proprietário outros imóveis (urbanos ou rurais)

Legislação municipal acerca da fração mínima do imóvel.

USUCAPIÃO ESPECIAL URBANA COLETIVA (ART. 10 DO ESTATUTO DA


CIDADE)

Art. 10. Os núcleos urbanos informais existentes sem oposição há mais de


cinco anos e cuja área total dividida pelo número de possuidores seja inferior a
duzentos e cinquenta metros quadrados por possuidor são suscetíveis de
serem usucapidos coletivamente, desde que os possuidores não sejam
proprietários de outro imóvel urbano ou rural.

§ 1° O possuidor pode, para o fim de contar o prazo exigido por este artigo,
acrescentar sua posse à de seu antecessor, contanto que ambas sejam
contínuas.

§ 2° A usucapião especial coletiva de imóvel urbano será declarada pelo juiz,


mediante sentença, a qual servirá de título para registro no cartório de registro
de imóveis.

§ 3° Na sentença, o juiz atribuirá igual fração ideal de terreno a cada possuidor,


independentemente da dimensão do terreno que cada um ocupe, salvo
hipótese de acordo escrito entre os condôminos, estabelecendo frações ideais
diferenciadas.
§ 4° O condomínio especial constituído é indivisível, não sendo passível de
extinção, salvo deliberação favorável tomada por, no mínimo, dois terços dos
condôminos, no caso de execução de urbanização posterior à constituição do
condomínio.

§ 5° As deliberações relativas à administração do condomínio especial serão


tomadas por maioria de votos dos condôminos presentes, obrigando também
os demais, discordantes ou ausentes.

05 anos
Núcleo urbano informal (aquele clandestino, irregular ou no qual não foi
possível realizar, por qualquer modo, a titulação de seus ocupantes, ainda que
atendida a legislação vigente à época de sua implantação ou regularização)
Resultado da divisão da área pelo número de possuidores seja inferior a 250m²
Não serem proprietários de outro imóvel

USUCAPIÃO FAMILIAR

Art. 1.240-A. Aquele que exercer, por 2 (dois) anos ininterruptamente e sem
oposição, posse direta, com exclusividade, sobre imóvel urbano de até 250m²
(duzentos e cinquenta metros quadrados) cuja propriedade divida com ex-
cônjuge ou ex-companheiro que abandonou o lar, utilizando-o para sua
moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio integral, desde que não
seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.
§ 1° O direito previsto no caput não será reconhecido ao mesmo possuidor
mais de uma vez.

2 anos
Posse direta e com exclusividade
Imóvel urbano de até 250m²
Proprietário de fração do imóvel
Abandono do lar pelo outro proprietário
Moraria
Não ser proprietário de outro imóvel urbano ou rural

VIMOS efetivamente ate aqui.

USUCAPIÃO INDÍGENA

Estatuto do Índio
Art. 33. O índio, integrado ou não, que ocupe como próprio, por dez anos
consecutivos, trecho de terra inferior a cinquenta hectares, adquirir-lhe-á a
propriedade plena.
Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica às terras do domínio da
União, ocupadas por grupos tribais, às áreas reservadas de que trata esta Lei,
nem às terras de propriedade coletiva de grupo tribal.

10 anos
Área inferior a 50 ha

USUCAPIÃO EXTRAJUDICIAL

Art. 216-A. Sem prejuízo da via jurisdicional, é admitido o pedido de


reconhecimento extrajudicial de usucapião, que será processado diretamente
perante o cartório do registro de imóveis da comarca em que estiver situado o
imóvel usucapiendo, a requerimento do interessado, representado por
advogado, instruído com:

I - ata notarial lavrada pelo tabelião, atestando o tempo de posse do requerente


e de seus antecessores, conforme o caso e suas circunstâncias, aplicando-se o
disposto no art. 384 da Lei no 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de
Processo Civil;

II - planta e memorial descritivo assinado por profissional legalmente habilitado,


com prova de anotação de responsabilidade técnica no respectivo conselho de
fiscalização profissional, e pelos titulares de direitos registrados ou averbados
na matrícula do imóvel usucapiendo ou na matrícula dos imóveis confinantes;

III - certidões negativas dos distribuidores da comarca da situação do imóvel e


do domicílio do requerente;

IV - justo título ou quaisquer outros documentos que demonstrem a origem, a


continuidade, a natureza e o tempo da posse, tais como o pagamento dos
impostos e das taxas que incidirem sobre o imóvel.

§ 1° O pedido será autuado pelo registrador, prorrogando-se o prazo da


prenotação até o acolhimento ou a rejeição do pedido.

§ 2° Se a planta não contiver a assinatura de qualquer um dos titulares de


direitos registrados ou averbados na matrícula do imóvel usucapiendo ou na
matrícula dos imóveis confinantes, o titular será notificado pelo registrador
competente, pessoalmente ou pelo correio com aviso de recebimento, para
manifestar consentimento expresso em quinze dias, interpretado o silêncio
como concordância.

§ 3° O oficial de registro de imóveis dará ciência à União, ao Estado, ao Distrito


Federal e ao Município, pessoalmente, por intermédio do oficial de registro de
títulos e documentos, ou pelo correio com aviso de recebimento, para que se
manifestem, em 15 (quinze) dias, sobre o pedido.

§ 4° O oficial de registro de imóveis promoverá a publicação de edital em jornal


de grande circulação, onde houver, para a ciência de terceiros eventualmente
interessados, que poderão se manifestar em 15 (quinze) dias.

§ 5° Para a elucidação de qualquer ponto de dúvida, poderão ser solicitadas ou


realizadas diligências pelo oficial de registro de imóveis.

§ 6° Transcorrido o prazo de que trata o § 4o deste artigo, sem pendência de


diligências na forma do § 5o deste artigo e achando-se em ordem a
documentação, o oficial de registro de imóveis registrará a aquisição do imóvel
com as descrições apresentadas, sendo permitida a abertura de matrícula, se
for o caso.
§ 7° Em qualquer caso, é lícito ao interessado suscitar o procedimento de
dúvida, nos termos desta Lei.

§ 8° Ao final das diligências, se a documentação não estiver em ordem, o oficial


de registro de imóveis rejeitará o pedido.

§ 9° A rejeição do pedido extrajudicial não impede o ajuizamento de ação de


usucapião.

§ 10. Em caso de impugnação justificada do pedido de reconhecimento


extrajudicial de usucapião, o oficial de registro de imóveis remeterá os autos ao
juízo competente da comarca da situação do imóvel, cabendo ao requerente
emendar a petição inicial para adequá-la ao procedimento comum, porém, em
caso de impugnação injustificada, esta não será admitida pelo registrador,
cabendo ao interessado o manejo da suscitação de dúvida nos moldes do art.
198 desta Lei.

§ 11. No caso de o imóvel usucapiendo ser unidade autônoma de condomínio


edilício, fica dispensado consentimento dos titulares de direitos reais e outros
direitos registrados ou averbados na matrícula dos imóveis confinantes e
bastará a notificação do síndico para se manifestar na forma do § 2o deste
artigo.

§ 12. Se o imóvel confinante contiver um condomínio edilício, bastará a


notificação do síndico para o efeito do § 2o deste artigo, dispensada a
notificação de todos os condôminos.

§ 13. Para efeito do § 2o deste artigo, caso não seja encontrado o notificando
ou caso ele esteja em lugar incerto ou não sabido, tal fato será certificado pelo
registrador, que deverá promover a sua notificação por edital mediante
publicação, por duas vezes, em jornal local de grande circulação, pelo prazo de
quinze dias cada um, interpretado o silêncio do notificando como concordância.

§ 14. Regulamento do órgão jurisdicional competente para a correição das


serventias poderá autorizar a publicação do edital em meio eletrônico, caso em
que ficará dispensada a publicação em jornais de grande circulação.
§ 15. No caso de ausência ou insuficiência dos documentos de que trata o
inciso IV do caput deste artigo, a posse e os demais dados necessários
poderão ser comprovados em procedimento de justificação administrativa
perante a serventia extrajudicial, que obedecerá, no que couber, ao disposto no
§ 5o do art. 381 e ao rito previsto nos arts. 382 e 383 da Lei no 13.105, de 16
março de 2015 (Código de Processo Civil).

Revisão: min 13 do áudio 045.


A prova vai ser discursiva.

06/10/22
03/11/22
Aula 08.
Direito de vizinhança.

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