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mjardim@fd.uc.pt
Tudo o que é passível de satisfazer necessidades é um bem. Todas as coisas são bens,
mas nem todos os bens são coisas, isto porque podemos satisfazer necessidades com
uma pessoa (e esta é um bem, mas não é uma coisa).
Ex: se A quiser vender a casa a B, por mero efeito do contrato a propriedade transfere-
se, mas é necessária forma, que tem que ser dada por um notário, advogado ou
conservador. Tendo a forma, transmitiu-se o direito, a seguir, solicita-se o registo e
este é feito ...
O Direito das Coisas surge porque o Homem necessita de meios de sobrevivência que
são escassos, o que gera disputas sobre a apropriação e utilização das coisas.
Isto acaba por ser a razão de ser do Direito Patrimonial.
A grande diferença entre DC e o DO é que o último regula o acesso às coisas, o
caminho e não a sua direta e imediata utilização.
Mesmo quando, no âmbito das obrigações, um sujeito tenha acesso a uma coisa, só
acede a ela porque a outra pessoa cumpriu uma obrigação.
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Direito das Coisas I 2022/2023
O Direito das Coisas, já não regula apenas o acesso aos bens, mas sim o domínio, no
sentido de poder autónomo, independente, direto e imediato sobre uma coisa,
independentemente do cumprimento de qualquer obrigação e de qualquer
compromisso.
O DC regula a atribuição das coisas, e põe a eficácia perante todos – erga omnes – e
estabelece um regime dos diversos direitos reais, como a propriedade, usufruto,
hipoteca.
O DO por seu turno, rege apenas o caminho para as coisas e as relações creditórias
(intersubjetivas), e não a atribuição.
2. Além disso, tem que ser algo presente, atual, já existente e autónomo,
individualizado. Os frutos que há de gerar, ou seja, algo que lhe esteja ligado,
não pode ser visto como uma coisas, mas sim como uma parte, porque, apesar
de existir, não é individualizado.
3. Temos que estar perante algo apto a satisfazer necessidades (ex: uma gota de
água não é uma coisa).
4. Tem que ser algo suscetível de apropriação exclusiva. Isto conduz a que se
afaste tudo o que é insuscetível de apropriação, como, por exemplo, o sol ou
bens do domínio público.
O DC talvez seja dos direitos que mais revela a ideologia à volta da qual a sociedade
civil se organiza e se estrutura. O nosso DC não equivale ao dos outros países.
Ex: num país comunista não há propriedade privada, ela pertence ao Estado, ao
contrário do que acontece no nosso país.
Encontramos os direitos reais no Livro III e Livro II nos direitos reais de garantia; direitos reais de aquisição. O direito
real de habitação periódica, está fora do código. Vários diplomas da propriedade horizontal também estão fora do
CC.
Depois existem dois códigos muito relacionados, que são o Código Notarial, a CRP.
No que toca aos direitos reais, ao longo dos anos, foram surgindo teorias:
- teoria realista ou clássica: de acordo com esta, o direito real traduzia-se no poder
direto e imediato de uma pessoa sobre uma coisa. O direito real exprimia uma relação
entre uma pessoa e uma coisa. Ao contrário do direito de crédito que se traduz numa
relação entre pessoas.
No direito real não há intermediários entre o titular do direito e a coisa, ao contrário
dos direitos de crédito em que o credor só acede ao bem, quando o devedor cumpre a
obrigação.
Um direito real envolve uma estrutura simples, linear e não intersubjetivas, que não
envolve cooperação e nem uma prestação. Um direito de crédito tem uma relação
complexa, triangular (credor, objeto e devedor) e intersubjetiva.
Esta conceção surgiu com o Direito Romano, esta ideia estava subjacente ao processo
romano. Esta depois foi desenvolvida.
Nos direitos reais não há mediação.
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Esta categoria dos personalistas pensa no poder direto e imediato como um poder de
gozar.
Ora, a hipoteca, é um direito real de garantia que tem como objeto imóveis e nesta
não há um poder de uso, pelo que este argumento deles é um argumento fraco. O
domínio dos direitos reais varia em função da sua categoria. Ser proprietário é uma
coisa e ser credor hipotecário é outra.
O penhor é um direito real de garantia que tem como objeto móveis ou direitos. Ex: A
dirigiu-se ao banco e pedir um empréstimo. O banco pediu uma garantia, mas ele não
tinha imoveis, então não podia ter uma hipoteca, mas tem um quadro muito valioso,
pelo que se constitui um penhor. Na perspetiva dos personalistas não é pelo facto que
o credor ter a coisa em seu poder que satisfaz o seu interesse. Esta critica não é de
peso, porque ela supõe que em todos os direitos reais, a soberania é a mesma, e não
é.
Quanto ao último exemplo, os personalistas dizem que essa não pode ser
característica distintiva, porque o poder direto e imediato existe em direitos que não
são reais.
- teoria eclética ou mista: esta aproveita elementos das duas teorias anteriores. Esta
vem dizer que os realistas só tinham em conta o lado interno do direito real e os
personalistas só tinham em conta o lado externo, a perspetiva da sanção. E os direitos
têm sempre dois lados.
Pelo lado interno, dizem que o direito real é um poder direito e imediato sobre uma
coisa. O poder de crédito é o poder de alguém exigir de outrem uma prestação.
Pelo lado externo, o direito real é o poder de excluir toda e qualquer pessoa de
qualquer ingerência com o direito. É esse poder de afastar que tem eficácia erga
omnes. Ao invés, os direitos de crédito, direcionados a uma pessoa só, têm uma tutela
estrita e só se impõe a uma pessoa.
Esta teoria tem os dois elementos, e é defendida pela maior parte dos autores. Esta
também parte do pressuposto de que o direito real é uma relação intersubjetiva, ou
seja, entre pessoas.
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Esta teoria distancia-se das outras. Em relação à personalista, para o Dr. Mesquita, o
núcleo é a soberania. Ele nega a existência de uma relação intersubjetiva. Sendo esta a
grande distinção, afasta-se, pelo mesmo motivo, da teoria eclética.
Em relação à teoria realista clássica, a inovação surge, por um lado, porque o Dr.
Mesquita não esquece a sanção, afirma que quem não é titular do direito real não se
pode imiscuir na relação de soberania, mas isso, para ele, não é uma obrigação, é um
dever geral de abstenção. Também se afasta desta teoria no preceito género.
Esta é a posição adotada pela Dr. Mónica Jardim
O núcleo essencial do direito real traduz-se no domínio ou soberania de uma pessoa
sobre uma coisa. Daqui resultam duas consequências. Por um lado, o lado positivo da
soberania: a coisa fica subordinada ao domínio; e a uma soberania negativa: todos os
outros estão proibidos de se imiscuir naquela área. O direito real é absoluto, é
autónomo, que prescinde de colaboração.
Ex: imaginemos que saímos da aula e vamos ao Cartola e pedimos um café. Quando
pedimos e nos dirigimos à mesa, sentimo-nos proprietários do café, podemos bebê-lo,
deitá-lo fora.
Quando a ordem jurídica diz que quem não é proprietário não se pode imiscuir na
coisa e está vinculado a abster-se, ela não quer criar relações.
Estas teorias só fazem sentido para fazer a distinção entre direitos reais e direitos de
crédito.
Durante largos anos, houve quem entendesse que, havendo conflitos de direitos reais,
os mesmos só estavam resolvidos pelo legislador, através de relações intersubjetivas.
Os conflitos de direitos reais existem em duas hipóteses:
- concurso de direitos reais: quando sobre uma coisa incide mais do que um
direito real, que pode ser do mesmo tipo e conteúdo diferente ou de tipo diferente
com o mesmo conteúdo. Temos direitos reais de gozo, de garantia e de aquisição. Os
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Então, existe concurso quando, sobre uma coisa, incide mais que um direito real.
Nestas hipóteses de concurso, havia a ideia de que estes se resolvem porque se
estabelece uma relação intersubjetiva. O que d Dr. Mónica afirma é que as coisas não
têm que ser vistas dessa forma, porque, para melhor se aproveitar as coisas, se
constituíram direitos reais sobre elas. Mas, não basta ao legislador dizer quais são as
categorias de direitos reais e o seu conteúdo, é preciso fixar limites.
A relação que existe entre titulares de direitos reais sobre a mesma coisa, é a esma
que existe entre um titular de direito real e um terceiro. O terceiro tem que respeitar,
devido ao dever geral de abstenção, que comprime os seus poderes, mas não existe
uma relação intersubjetivas entre eles.
A prova de que existência de múltiplos direitos reais não pressupões uma relação
intersubjetiva existe. Se forem direitos reais de gozo podem ser constituídos por
usucapião. Esta supõe que alguém exerça posse, mas não supõe qualquer relação com
o proprietário, o titular de direito real.
Além disso, os direitos reais de gozo, mesmo quando nascem de contrato ou negócio
jurídico, depois, mal surgem, autonomizam-se. O contrato ou negócio tem apenas uma
relação genética, porque o regime de direito decorre da lei.
Também o facto de um direito real menor não se extingue quando se extingue o
direito real maior. Ex: Posso constituir o direito de usufruto sobre um pinhal e, a seguir,
posso renunciar a propriedade. Se fizer isso, o direito de usufruto mantém-se.
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Outras vezes, temos normas que dizem “pode emitir-se fumos, barulhos que
invadam o prédio do vizinho, desde que não causem risco substancial”.
Isto não implica que exista uma relação intersubjetiva.
O que falamos muito nesta matéria é de restrições (que não devem ser
confundidas com obrigações e, muito menos, com obrigações reais).
Quanto à teoria realista clássica, afastamo-nos na medida em que esta não se referia à
sanção. Segundo a teoria que seguimos nós temos isso presente.
Outro aspeto é que conseguimos fazer a distinção entre direitos reais e direitos
pessoais de gozo. Nós dizemos que os direitos pessoais de gozo são um terceiro
género, que se aproxima dos direitos reais e dos direitos de crédito, mas também se
afastam destes. O que caracteriza estes direitos é que temos um direito complexo que
parece ter uma zona periférica e depois um gozo. A zona periférica é composta por
múltiplas obrigações (ex: celebramos um contrato de arrendamento e por força desse,
o proprietário tem que entregar a chave. Depois disso, o inclino satisfaz o seu interesse
com o gozo da coisa). Portanto, esta zona periférica poderia ser como que esquecida.
A particularidade dos direitos pessoais de gozo é que não há uma obrigação positiva
permanente. Ex: Quando se arrenda uma casa, pretende-se que o senhorio entregue a
chave e desapareça de cena.
Há um poder direito e imediato, de facto e, nessa medida, há uma aproximação com
os direitos reais, mas, a diferença é que a fonte dos poderes inerentes a um direito real
é o domínio, a soberania e não uma qualquer relação jurídica ou compromisso.
Depois temos a questão dos efeitos. Um direito real, porque se traduz no tal domínio,
em consequência impõe o dever geral de abstenção. Um direito pessoal de gozo é
apenas eficaz, inter partes.
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2. Forte Tutela: só faz sentido a eficácia erga omnes se se conceder uma forte
tutela.
Os direitos reais beneficiam numa forte tutela, pois, caso haja violação do
dever geral de abstenção, por parte de um qualquer terceiro que se imiscua na
esfera de soberania, o titular do direito real, passa a ter um direito de crédito
sobre esse terceiro – para ser reposta a situação concreta que existia antes (ou,
se não for possível, em conformidade com esta).
Da violação do direito real, nasce uma pretensão real, que tem na sua génese
essa violação e que visa tutelar a efetividade do direito real e é uma verdadeira
relação creditória.
As pretensões reais, surgem desde que exista a violação do dever real de
abstenção, mesmo que o terceiro tenha atuado sem culpa e mesmo que não
tenha causado qualquer dano. Ex: A tem um terreno que não está delimitado e
autorizou B a depositar lá material. B deslocou-se lá e depositou material, mas
enganou-se no prédio e depositou no prédio de Y. B violou um dever geral de
abstenção. Ele atuou sem culpa e pode não ter causado dano, mas essa
violação ocorreu, pelo que nasce na sua esfera jurídica o dever de repor a
situação. Na esfera de Y nasce a pretensão real.
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- a restituição da coisa;
Ex: suponhamos que temos uma bicicleta e que alguém pega nela e a leva, e
nós sabemos que é que a levou.
A ação negatória, não está prevista na lei, mas ninguém nega que o titular do
direito real, possa recorrer a esta.
Estas pretensões reais são inseparáveis do direito real. Por outro lado, são
imprescritíveis, elas não prescrevem. Enquanto existir direito real, tem que
haver forma de o tutelar.
A obrigação que decorre da violação do dever geral de abstenção, é diferente
das obrigações comuns.
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Em qualquer destas hipóteses, A vendeu coisa que já não era sua e, não obstante, C
adquiriu-a.
No entanto, a consequência normal seria a de que C não adquiria, de acordo com o
princípio do nemo plus iuris. Aqui, há, então, uma exceção ao nemo plus iuris.
O resto da doutrina diz que há uma exceção à sequela. Mas esta não existe, desde logo
porque não poderia ser, em simultâneo, uma exceção à sequela e uma exceção ao
princípio nemo plus iuris. Quando, por força do registo, C adquire, B era titular do
direito de propriedade, apesar de não ter registado. Como tal, C passa a ser titular do
direito de propriedade. Dizer que era exceção à sequela, era dizer que B ainda teria o
direito de propriedade.
O art.291º CC é apresentado como uma exceção ao princípio nemo plus iuris, mas,
também, como uma exceção à sequela (sendo que não o é). Porque dizem que A tem
que ir reivindicar a coisa a C, mas não o pode fazer, porque C tornou-se proprietário e
A deixou de o ser.
Numa situação triangular – aplicamos o art.5º Código Registo Predial. Aqui o terceiro é
protegido, perante negócio anterior registado.
Numa situação linear - aplicamos o art.291ºCC. O terceiro é protegido perante um
negócio anterior inválido, tendo este sido registado ou não.
Outra hipótese apresentada como exceção à sequela, mas também não o é – não
ocorre em Portugal. A generalidade dos países tem esta regra da “posse vale título”
que se traduz na hipótese de alguém de boa-fé que adquire coisa não sujeita a registo
a um comerciante ou em mercado aberto, torna-se proprietário da coisa.
Ex: em Espanha, se alguém comprar um livro numa livraria, e alguém vier dizer que o
livro não estava à venda, que apenas o deixou lá, o outro torna-se proprietário. Pode é
a livraria ter que indemnizar a outra pessoa, por vender coisa que não era sua.
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Os interesses dos titulares dos direitos reais de garantia sobre uma coisa,
são conflituantes e, no entanto, podem existir vários direitos reais sobre
uma coisa.
Ex: A é dono de um grande palacete muito valioso e há uns anos celebrou
um contrato de mútuo com o banco para fazer obras e o banco exigiu a
constituição de uma hipoteca sobre o palacete. Porem, o valor da hipoteca
é baixo sobre o palacete. Agora, ele quer montar um negócio, pode voltar a
dar uma outra hipoteca sobre o palacete. Neste caso, prefere a hipoteca
primeiramente constituída.
Mas no caso da hipoteca, há uma exceção ao princípio da consensualidade,
visto que esta só se constitui com registo. Então, é a data do registo que
conta.
As exceções são:
- privilégios por justezas de justiça – quer sejam mobiliários ou imobiliários, têm
preferência não só sobre os outros privilégios, mas ainda sobre quaisquer outras
garantias, mesmo que anterior – art.743ºCC.
- art.745º/2CC – havendo créditos com igual privilégio dá-se rateio entre eles, na
proporção dos respetivos montantes, sem se ter em conta a data em que se
constituíram. Ex: o Estado tem um privilégio creditório e a autarquia local tem outro,
do mesmo tipo. Dá-se rateio do pagamento, isto é um credor tem mais que outro.
Imaginemos que, na venda, não se atingir o valor necessário. Então, será pago a cada
um, na proporção dos seus respetivos montantes.
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Por último e, sobre a preferência, também esta existe nos direitos pessoais de gozo.
Não há preferência nos direitos pessoais de crédito. Em matéria de direitos pessoais de
gozo prefere um direito primeiramente constituído – art.407º(?) É a única norma em
que o legislador fixa uma regra de prioridade. Não se fala de prioridade propósito dos
direitos reais.
Esta norma traz de novo é que consagra uma solução justa.
Ex: A celebrou um contrato de arrendamento para férias, no mês de agosto, com B,
num apartamento X e celebrou, no mesmo apartamento com C. O arrendatário é
titular de um direito pessoal de gozo, mas é preciso haver entrega da coisa. Neste caso,
quem vai passar as férias no apartamento é aquele que primeiro tiver recebido a chave
(entrega da coisa), ou, quem ocupar previamente a casa.
1.4. SÍNTESE:
Quanto à fonte, os direitos de Crédito envolvem relações intersubjetivas. Os
direitos reais são direitos absolutos, autónomos, mesmo quando o direito real
nasce em virtude de um contrato, depois, deliga-se dele.
Um direito real tem eficácia erga omnes e um direito de crédito tem eficácia
inter partes.
Quando ao objeto, um direito real pode ter por objeto uma coisa
indeterminada, certa, atual. Um direito de crédito pode ter por objeto uma
coisa indeterminada ou futura.
Um direito de crédito pode ter por objeto mais que uma coisa. Um direito real, em
regra, apenas tem por objeto, uma coisa (exceto as hipotecas).
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Nota: fica obrigado a uma prestação de conteúdo positivo (facere; dare (?))
As obrigações reais fazem parte do conteúdo do Direito Real, mas não se pode dizer
que são, estruturalmente reais, que sejam relações de natureza real. Elas fazem parte
de um estatuto do direito real, mas são verdadeiras obrigações.
A expressão “obrigação” revela a sua natureza, o objetivo “real” revela a sua origem.
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As obrigações reais têm sempre um conteúdo positivo – dare – (ex: arts.1430º; 1424º)
- ou de facere – (ex: obrigação de dar preferência – art.1409º; obrigação do
usufrutuário de proceder a reparações ordinárias).
Nota-se, porém, que pode acontecer que a uma obrigação real corresponda uma
pretensão real (ex: como no caso dos vizinhos em que um abre a janela).
Fora das obrigações reais, ficam também as obrigações que não decorrem de um
estatuto de direito real – art.492º - há quem apresente esta obrigação, como sendo
uma obrigação real, como o Dr. Santos Justo faz. Porém, nota-se que esta não é uma
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obrigação real. Tanto assim é, que, não é pelo simples facto da pessoa ser proprietária
que vai responder.
Não é uma obrigação real o art.1240º - que surge em matéria de acessão. Esta
obrigação também não é uma obrigação real, aliás, nem é, verdadeiramente, uma
obrigação. Aqui, o que acontece é que se vai pagar para adquirir a coisa, ou seja, é
mais uma contraprestação.
Fora das obrigações reais, ficam também, as restrições, que aparecem no âmbito das
relações de vizinhança. Estas traduzem-se em proibições de praticar determinados
atos (ex: abrir janelas no extremo), no âmbito das relações de vizinhança ou dever de
non facere.
Quando estamos perante um titular de direito real que está vinculado a facere,
podemos estar perante uma obrigação real. Quando está adstrito a non facere, temos
uma restrição (conteúdo negativo) e não uma obrigação real.
Fora das obrigações reais ficam, ainda, os casos em que alguém, titular do direito real
está vinculado a assumir um comportamento positivo, mas esse comportamento não
se integra numa verdadeira relação obrigacional. Isto acontece com violação do direito
urbanístico – ex: um proprietário de um terreno constrói sem licença. A Câmara, por
força da lei, está obrigada a demolir. Mas, esta, não pode intentar uma ação para
exigir a demolição. Ela pode é aplicar uma sanção contraordenacional. Neste primeiro
momento, não há qualquer obrigação real.
O que a Câmara pode fazer é, além da sanção contraordenacional, substituir-se ao ... e
demolir a obra. Se o fizer passa a ter um direito de crédito. neste segundo momento já
há uma relação obrigacional, mas esta não tem cariz real.
Não é assim, porque as obrigações reais fazem parte do Direito Real e os direitos reais
são aqueles previstos na lei. Para os direitos reais, as obrigações reais, fazendo parte
deste, estão sujeitas ao princípio da taxatividade.
Em regra, diz-se que as obrigações reais são taxativas porque, se depois for
transmitido o direito, a obrigação acompanha-o. As obrigações reais são
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Nota: nas orais é normal perguntar-se a distinção entre obrigações reais e restrições.
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feita. Então, seria injusto para o terceiro ser ele a pagar o valor, uma vez
que ele acabaria por pagar duas vezes.
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Ex2: A, em 2022, era titular do direito real de habitação periódica. Chegou a altura de
pagar a prestação e não o fez (em dezembro). Agora, transmitiu este direito para B. É
uma obrigação de dare que corresponde a um uso já ocorrido. Ao transmitir o direito
para B, não transmitiu a obrigação, que se tornou autónoma.
O dono do alojamento, pode exigir a prestação a A, visto que esta não se transmitiu,
mas também pode penhorar o direito de habitação periódica, e promover a sua venda
judicial, mesmo que este já se encontre na esfera jurídica de B.
A obrigação não é ambulatória, mas existe um direito real de garantia a favor do
credor, perante a coisa, que, no caso, é o direito de habitação periódica.
Art. 212º- coisa é tudo aquilo que pode ser objeto de relações jurídicas.
Esta é uma má e demasiado ampla definição, porque nem tudo aquilo que pode ser
objeto de relações jurídicas é uma coisa (p.e.: as pessoas, as prestações (como são
comportamentos das pessoas, não são coisas), situações económicas vantajosas que
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Nota: forma não tem nada a ver com o registo. O registo não é constitutivo em
Portugal (não é imprescindível para que sejam verificados os efeitos) ex:
Imaginemos que A quer vender a B um imóvel. A forma deste negócio tem de ver a
mencionada no art. 857º, o que quer dizer que as partes têm de se dirigir ao
cartório (ou advogado ou solicitador) para formalizar o negócio. Dada a forma, a
propriedade transmite-se. Depois quando o negócio já está finalizado e a
propriedade transferida, o novo proprietário vai ao cartório registar a sua
propriedade (no registo leva-se o título feito anteriormente).
Só os automóveis e os móveis equiparados são suscetíveis de serem registados,
dentro da categoria dos bens móveis (são chamados bens móveis equiparados).
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Isto interessa para motivos de tutela perante terceiro (se não estivermos a falar de
bens imóveis ou de bens móveis equiparados, não há lugar a esta tutela).
- Coisa alheia: Já existe, mas não está na esfera do disponente e este não tem a
legítima expectativa de a adquirir. O negócio é, nestes termos, nulo.
- Coisa inexistente: Coisa que não existe nem há legítima expectativa que esta vá a
existir.
As partes integrantes são coisas móveis que estão ligadas materialmente, com
carácter de permanência, a um prédio. Servem para aumentar ao prédio comodidade,
segurança, produtividade. Também podem ser separadas da coisa, mas, se o forem, a
coisa não perde a sua função principal nem a sua capacidade de exercer a sua função
principal.
O regime das duas diz que, enquanto forem partes, enquanto tiverem materialmente
ligadas à coisa com carácter de permanência, ou constituírem a coisa, o negócio que
tiver como objeto a coisa, abrange-as.
Os negócios que tenham por objeto algumas destas partes (sim, isto é possível. Eu
posso vender o painel solar que está afixado na minha casa, mesmo que ele ainda lá
esteja), apenas tem efeitos obrigacionais. Os efeitos reais deste negócio apenas
concorrerão quando esta parte que está em causa se autonomizar.
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Ao mesmo tempo que os negócios com estas partes integrantes só têm efeitos reais
quando forem autonomizadas, o inverso também vale. Se um painel solar, por
exemplo, autonomizado, for anexado a uma casa, este painel deixa de ser uma coisa e
passa a ser parte integrante da casa, extinguindo-se assim quaisquer efeitos reais que
existissem perante o painel. (P.e.: foi constituída uma reserva de propriedade de um
elevador. Assim que ele é anexado a um prédio, este elevador deixa de existir como
coisa autónoma e, portanto, a cláusula de reserva da propriedade perde toda a sua
força).
Art. 213º- partilha de frutos- ex: imaginemos que durante parte do ano, o proprietário
da fruição constitui usufruto.
Benfeitorias- art. 216º- são todas as despesas feitas para conservar ou melhorar a
coisa.
Existem três tipos:
- necessárias (despesas que são feitas na coisa para evitar a sua perda ou
deterioração);
- úteis (despesas feitas na coisa, não para evitar a sua perda ou deterioração, mas que
aumentam o seu valor);
- voluptuárias (não visam evitar a perda e também não aumentam o valor, servindo
apenas para recreio do bem-feitorizante).
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1.6.6. Animais
Ante da Lei nº8/2017(?) os animais eram considerados coisas. Com esta lei, foi
introduzido o art. 201º-B, que passou a definir animais como seres dotados de
sensibilidade e objetos de proteção jurídica, em virtude da sua natureza. Como os
animais são dotados de sensibilidade, foi no intuito de lhes conceder um estatuto e
proteção própria, em virtude da sua importância e sensibilidade.
Porém, e apesar destas alterações, os animais continuam a ser objetos relações
jurídicas e objetos de relações jurídico materiais (do direito de propriedade, do
penhor, etc.), e o estatuto, na verdade, não trouxe grandes modificações. As normas
especiais sobre os animais são escassas, não foram alteradas nem ampliadas e, por isso
mesmo, no art. 201º-B que, na ausência de lei especial, serão aplicadas aos animais as
disposições das coisas, desde que estas não sejam incompatíveis com a sua natureza.
Para além dos arts. 201º-B até ao 201º-D, há outras alterações ao CC que valem a pena
ser referidas: art. 1202º- podem ainda ser objetos de direito de propriedade os
animais; art. 1305º-A- este artigo é altamente criticado, uma vez que o art. 1305º
deveria ser aplicado aos animais também. O facto de o direito de propriedade ser
indeterminado, na medida em que concede ao proprietário um direito pleno de retirar
todas as vantagens da coisa, não significa que este detém um poder ilimitado (este
tem de ser exercido dentro dos limites e restrições naturalmente impostas). Portanto,
nós não podemos dizer que o 1305º dava poderes indiscriminados ao proprietário.
Para além disso, este artigo tem também inerente uma construção social, e, portanto,
os animais não seriam tratados como uma coisa qualquer mesmo à luz deste artigo.
Por último, com o 1305º-A, o legislador parece que se esqueceu do art. 1334º relativo
à proibição do abuso do direito. Posto isto, este acrescento do art. 1305º- A era
escusada.
Quanto ao número 1 e número 2 do art. 1305º, estes não trouxeram absolutamente
nada de novo. Acresce que, não sendo reconhecida (e bem) personalidade jurídica aos
animais, as vinculações que estão previstas aos proprietários, não concedem reais
deveres/obrigações integrados numa relação jurídica (os animais não são sujeitos a
direitos).
O direito de propriedade do animal não é justificação para os maus-tratos a estes, por
analogia ao art. 1334º.
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Por fim, o art. 1305º prevê uma série de comportamentos, mas depois não há sanções
a quem não os cumpre.
Art. 1323º: os animais, apesar de não serem coisas, podem ser ocupados (objeto de
propriedade de ocupação). P.e.: se alguém encontrar um animal perdido, deve tentar
identificar se tem dono. Se não conseguir encontrar, deve informar a polícia e pode
ficar com o animal. Durante 1 ano, se o dono não aparecer, a pessoa pode ficar com o
animal. Se aparecer, o animal deve ser restituído ao dono. Antes estava prevista uma
indemnização para estas situações, que agora desapareceu (a dra. não percebe
porquê, porque o dono novo teve certamente gastos com ele).
Nº7: Aquele que achar que o animal é vítima de maus-tratos, a pessoa que o encontrar
pode retê-lo. Na opinião da Dra. isto não faz sentido, porque, apesar de o animal
aparecer maltratado, como é que se sabe que foi o dono anterior a maltratá-lo? Para
além disso, este direito a reter é tratado no seu âmbito jurídico? Não parece que a
retenção tenha sido utilizada na frase neste sentido. Se o foi, foi mal, na opinião da
Dra. Mónica.
Concluindo, os animais têm um estatuto próprio, mas, como não há desenvolvimento
deste estatuto, estes são praticamente tratados como coisas. Para a Dra. Mónica, faria
muito mais sentido que se criasse um regulamento para os animais de companhia ou
um estatuto novo para os animais. Parece à doutora que fomos todos muito civilizados
em Portugal para deixarmos de considerar os animais coisas, mas depois, na prática,
nada se fez. Foi uma oportunidade perdida.
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O que acontece é que este título tem que ser válido, ele não pode padecer de
invalidade – princípio da causalidade.
O título tem que ser válido, não pode padecer de vícios. Não vigora o princípio da
consensualidade, mas vigora o princípio da causalidade.
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Direito das Coisas I 2022/2023
- penhor de coisa móvel: o penhor é um direito real de garantia que tem por
objeto móveis ou direitos. Quando tem por objeto móveis, ele só se constitui com a
entrega da coisa – art.699º.
Ex: vamos a uma casa de penhores. A garantia do crédito é aquilo que entregamos,
como um relógio, por exemplo. O credor penhoratício só se torna titular da coisa,
quando esta lhe é entregue.
Não há aqui nenhuma exceção, porque este artigo é um corolário da noção de coisa
objeto de direito real, que nos diz que a coisa tem que ser atual, já existente, certa e
determinada e já tem que estar juridicamente autonomizada.
Isto não é mais do que o corolário da noção de coisa para efeitos de direito real
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Direito das Coisas I 2022/2023
Escolhidos os tipos pelo legislador, temos uma tipologia taxativa, pois são aqueles e
mais nenhuns. As partes não podem criar direitos reais, para além dos previstos na lei
e também não podem aplicar a um direito não real, o regime do direito real.
Ex: em matéria de usufruto, o legislador diz que o usufrutuário pode usar
temporariamente coisa ou direito alheia sem prejudicar a sua forma ou substância. Se
A e B quiserem constituir um direito, admitindo a violação da forma ou substância, não
o podem fazer.
Para sabermos se um direito é real ou não, têm que estar previsto na lei, mas não tem
que ser de forma expressa. Ex: o legislador não define o direito de propriedade e nem o
qualifica como direito real; a hipoteca e o penhor estão no livro das obrigações, mas
aquilo que estabelecem não causam dúvidas de que são direitos reais.
A nossa tipologia de direitos reais é taxativa, porque se entendeu que quantos menos
direitos reais pudessem recair sobre uma coisa, maior aproveitamento dessa coisa
poderia haver. Além disso, isso aumentaria o número de conflitos. Ainda, o sistema de
registos é muito mais simples.
Segundo a Dr. Mónica, esta opção passou sobretudo pelos terceiros. Estes têm que
saber, de algum modo, que o direito real existe. Estes têm que ser acautelados, assim
como os custos subjacentes a qualquer negociação.
O regime dos direitos reais, em tudo o que seja imperativo, também é taxativo. As
partes não podem convencionar algo contrário ao previsto na matéria de direitos reais,
caso o legislador não permita.
O regime de cada direito real, naquilo que o concretiza e distancia de outros direitos,
também é taxativo. Os elementos essenciais do tipo de cada direito real, é fixado pelo
legislador, mas, apesar disso, este atribuiu liberdade às partes para modificar o regime:
as partes podem moldar aqui e ali (exceto no caso da propriedade).
Ex1: em matéria de compropriedade – art.1406º - as partes podem convencionar que
ou só um usa, ou que um usa às terças e outro às quintas.
Ex2: Em matéria de propriedade horizontal está prevista a forma de como os
condóminos devem participar, mas podem haver alterações.
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Direito das Coisas I 2022/2023
Ex3: em matéria de servidões, qualquer utilidade pode ser objeto de uma servidão, por
isso se diz ser um tipo aberto. Também, o próprio regime das servidões é aquele que
for convencionado – art.1564º.
Quanto aos tipos dos direitos dos direitos reais - modificação, constituição e extinção -
também são aqueles previstos na lei.
Para os direitos reais menores, a consequência não é a regra geral, mas sim uma regra
que nos diz que toda a restrição (direito real de gozo ou menor) tem natureza
obrigacional.
Aqui surge a polémica. Há quem diga que o legislador impõe a conversão, que dizem
ser automática.
O Dr. Antunes Varela defende algo diferente, que é mais satisfatória para as partes. A
ideia é de que, constituindo-se um direito real menor, diferente dos previstos na lei, o
negócio é nulo, mas não se impõe automaticamente às partes a conversão, o negócio
obrigacional. O que se diz é que o legislador não impõe uma conversão, o que ele faz é
presumir que as partes, caso tivessem previsto a nulidade do negócio, teriam
celebrado um negócio obrigacional (presume a vontade conjetural das partes).
Na prática a diferença é que não há conversão automática da lei. Vai haver conversão
nos termos do art.293º, mas se a vontade conjetural das partes assim o presuma.
Como, em regra, os elementos de forma e substância, para o negócio obrigacional se
verificam-se, pelo que, em regra, a conversão ocorre. Mas, pode ser que não ocorra,
caso a presunção seja ilidida.
Os não titulares dos direitos reais, com mais facilidade podem violar um direito real do
que um direito de crédito, porque estão obrigados a um direito geral de abstenção.
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Direito das Coisas I 2022/2023
Foi criado um sistema de registo que nos diz que se não registar não consolida a
oponibilidade perante certos e determinados terceiros. O registo não é constitutivo,
mas protege quem o faz.
Além do registo não ser forma, ele também nada tem a ver com finanças. Uma coisa é
a inscrição feita nas finanças e outra coisa é o que consta do registo.
A obrigatoriedade do registo não tem nada a ver com o registo constitutivo. O registo é
obrigatório quando deve ser feito, sob pena de uma sanção pecuniária.
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Direito das Coisas I 2022/2023
2. POSSE
Se alguém for titular de um direito real, pode defender-se, também, pelos meios de
defesa da posse.
Mas o que nos interessa verdadeiramente, é a posse autónoma, que, pode conduzir,
depois, à aquisição do direito, por usucapião.
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Direito das Coisas I 2022/2023
Não falamos aqui da convicção de se ser proprietário. O animus não tem que se
manifestar por palavras, mas tem que existir algum comportamento que manifeste a
intencionalidade, por isso é que este é presumido.
Ex: A imigrou há vários anos e não voltou mais à terra. O vizinho que cultivava o
terreno ao lado, começou a cultivar todo o terreno de A. o vizinho exerce poderes de
facto sobre a coisa, mas bem sabe que não é o proprietário.
Ex2: na baixa, houve um furto. O ladrão levou um telemóvel e está a usá-lo. Está a
exercer poderes de facto sobre ela, com intenção de agir com titular do direito de
propriedade, mas bem sabe que não o é.
Entre nós (países que adotam a conceção subjetiva da posse) – art.1253º - existem
pessoas que não são possuidores, como por exemplo, os detentores, como consta
deste artigo.
Art.1253º/c) – todos os que exercem poderes de facto sobre a coisa com base num
vinculo jurídico (locatário, mandatário, etc...)
O possuidor tem tutela, mas cai sempre sobre o titular do direito. A tutela é limitada
a quem não seja titular do direito.
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Direito das Coisas I 2022/2023
O facto de existirem casos de extensão da tutela possessória, isso não significa que o
nosso CC consagra uma conceção objetiva da posse.
Os efeitos da posse não passam apenas pela tutela sucessória.
Outra questão prévia sobre a posse é que esta pode ser exercida em termos de que
direito? Ou seja, quais são os direitos suscetíveis de posse?
Normalmente, associámo-la ao direito de propriedade, mas não é o único. O que
acontece é que todos os direitos de gozo são suscetíveis de posse: propriedade,
usufruto, superfície, servidão.
Depois, existem especificidades, designadamente, se exercer posse em termos de uso
e de habitação, nos quais não pode haver posse por usucapião, esta não é forma de
aquisição desta posse.
Quanto aos direitos reais de aquisição, estes atribuem ao titular o poder de adquirir
um outro direito real. Logo que são exercidos, estes direitos extinguem-se, não existe
uma relação duradoura entre o titular e a coisa e por isso, não ode ser exercida posse
em termos de um direito real de aquisição.
Quanto aos direitos reais de garantia, se pensarmos nos dois elementos da posse
(corpus e animus), não existe posse de alguns direitos reais de garantia – aqueles que
não envolvam um poder de facto sobre a coisa. Ex: quando falamos de uma hipoteca,
se alguém pedir um empréstimo ao banco e este exigir uma hipoteca sobre a casa, o
banco não fica com a coisa no seu poder, não tem nenhum poder de facto sobre a
coisa, então, não há posse.
Quem afirma que não há posse no penhor de coisa e no direito de retenção, diz que se
o credor penhoratício ou o detentor, fossem possuidor, o legislador não teria
necessidade de afirmar que eles têm o direito de recorrer a ações de defesa da posse.
Quem, ao invés, afirma que haja verdadeira posse em termos de penhor de coisa e de
direito de retenção, dizem que se o legislador quisesse atribuir uma faculdade ao
credor ou detentor, não utilizaria a expressão “tem o direito de intentar estas ações”.
A Dra. Mónica entende que pode haver posse, desde que se verifiquem os seus dois
elementos.
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A Dra. Mónica, na linha do Dr. Orlando Carvalho, entende que não existe um direito
real, o que existe é uma situação de facto juridicamente relevante.
Isto porque a Dra. Mónica entende que independentemente de ser uma posse causal
ou formal, não é verdade que a posse seja eficaz erga omnes, pois se a posse for
formal, se o titular do direito for um e o possuidor for outro, a posse cai sempre
perante a titularidade do direito. ex: se eu ocupar o prédio do vizinho há 10 anos e
provar a posse, sou possuidor, mas, se o vizinho é proprietário, tenho que sair, a não
ser que funcione a usucapião. Além disso, não é verdade que a posse seja obrigada a
registo, o que a lei exige é o registo da mera posse e havendo este registo, depois os
prazos de usucapião são reduzidos. A mera posse traduz-se numa posse pacífica e
pública que dure há 5 anos, e em que existe um escrito justificatório ou um processo a
decorrer em conservatória.
A posse pode, de facto ser defendida e ser negociável inter vivos e transmissível mortis
causa, mas isso não indica que a posse seja um direito. porque até, se o fosse, seria
estranho exercer a presunção daquele direito – o legislador consagra a posse como
uma presunção da titularidade daquele direito.
O que acontece é que, se a posse for pacífica e pública e dure há certo tempo, pode
levar à aquisição de um outro direito, o que faria dela um direito de aquisição. Mas,
quem a classifica como direito, classifica-a como direito real de gozo.
A posse tem formas particulares de aquisição – ex: alguém exerce poderes sobre a
cpos como arrendatário, mas convence-se que afinal é o proprietário do imóvel. ora,
se se começar a comportar como tal, muda o animus.
2. Acessão;
Ex: se alguém construir de boa-fé num prédio alheio, e se a nova realidade é que
passou a valer mais que o dobro da antiga realidade. Pode, pagando, adquirir o solo.
Não pagando, mas se se comportar como se fosse titular da propriedade do prédio, já
exerce poderes de facto – adquire posse em termos de propriedade sobre o prédio.
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3. Aquisição Paulatina;
Permite que alguém pratique atos materiais, com publicidade, de forma reiterada,
como se fosse titular de um direito real.
Ex: A proprietário de um imóvel, emigrou e o seu vizinho começou a cultivar o seu
terreno, começou a praticar atos materiais de forma reiterada, com alguma
durabilidade. A propriedade não adquire por aquisição paulatina, mas a posse sim.
Supõe que o mero detentor (que exercer poderes de facto) como titular de um direito
de crédito, mude a sua intencionalidade e passe a exercer esses poderes de facto
como titular de um direito real. Ex: o arrendatário, que encontra um julgamento que
julga ser válido e não qual lhe é deixada a casa de que é inquilino, ele passa-se a
comportar como titular. Mudou de animus.
É implícita quando não haja ato de intimação ou notificação, mas exista outro ato que
não deixa dúvidas de que a pessoa se está a convocar como titular de um direito real e
não de um direito de crédito.
Por ato de terceiro – é a hipótese menos típica. Ex: suponhamos que A é proprietário e
possuidor de um imóvel e deu-o de arrendamento a B, detentor. Agora, aparece C a
convencer B que ele é proprietário, celebra um negócio jurídico com vista à
transmissão do direito e o, até aí detentor, muda de animus e passa a comportar-se
como titular do direito real. B adquire posse e a forma como a adquiriu é a mudança de
animus e não o negócio.
O terceiro não é possuidor, não pode transmitir a posse.
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- por ato de terceiro: o terceiro não praticou qualquer ato capaz de transferir posse. O
terceiro não é possuidor e nem detentor. Quando existe uma inversão do título de
posse por ato de terceiro, este terceiro aparece a convencer o detentor de que ele é
titular do direito real.
A causa da aquisição da posse é a mudança de animus. O facto que conduz à mudança
de animus é o negócio com o terceiro.
5. Usurpação (cabe aqui tudo o que não couber nas quatro primeiras).
O herdeiro sucede na posse do de cuius. Não existe uma nova posse. Neste caso, o
que acontece é que não há um novo título de posse e nem novas características.
Sempre que encontremos uma sucessão mortis causa, as características da posse
do herdeiro são as mesmas que a posse do de cuius tivesse.
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Hipótese Prática
A passou numa ourivesaria e viu um relógio valioso. Entrou e falou com o gerente e
disse que comprava. Pagou, mas disse que não podia levá-lo já para casa e pediu que
o dono ficasse com ela lá, ao qual este concordou.
A adquiriu ou não a propriedade? Sim, pelo princípio da consensualidade.
A tornou-se possuidor? Posse supõe corpus e animus. Neste caso, tem posse em
termos de direito de propriedade. Adquiriu-a derivadamente, porque a adquiriu do
anterior possuidor e não independentemente ou contra o antigo possuidor. É um
negócio inter vivos.
A antes não era detentor, então, não há traditio brevi manu. Só sobra o constituto
possessório, que, neste caso, é bilateral – o possuidor transmite a posse, o dono da
ourivesaria transmitiu a posse do relógio para A, mas, em virtude do negócio
subsequente, torna-se detentor, porque houve um depósito.
Não é um título em concreto, mas sim em abstrato. O título pode padecer de vícios,
que fazem com que, afinal, o direito não seja adquirido. Mas a posse é adquirida,
apesar do direito não o ser. Se assim não fosse, a posse só seria titulada, se fosse posse
causal. No fundo, diz-se que titulada é a posse fundada num título em abstrato, idóneo
à aquisição do direito real, em que, nos termos, possui.
Quem adquire a posse por aquisição paulatina, adquire uma posse titulada ou não
titulada? É não titulada.
A aquisição, nos casos de ser originária, só pode ser titulada nos casos de ocupação e
acessão. De resto, é sempre não titulada.
Olhando para a segunda parte do artigo, esta só vale quando o título seja um negócio
jurídico e não pode ser como é o caso da ocupação e acessão. Ex: A furtou um relógio e
vendeu-o a C. C adquire posse derivadamente. Ela é titulada? O título é uma compra e
venda então parece que sim, até porque o é independentemente do direito do
transmitente. Portanto, esta posse é titulada.
Então, á contrário, se os vícios substanciais não assumem relevância, aqueles que têm
relevância são os vícios formais. O negócio não pode padecer de vício formais. Se não
houver vício formal, a posse seria tutelada. Mas isto é quando existe negócio jurídico.
Nota: temos que fazer duas ressalvas – os vícios substanciais não assumem relevância,
mas só em principio, porque há exceções, nomeadamente no caso da simulação
absoluta e da reserva mental.
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Estes assumem relevância porque não se pode verdadeiramente dizr que a posse é
não titulada; o que acontece é que não há posse, então, assumem relevância porque
afastam a própria posse.
Ex: a tem um imóvel, mas tem múltiplos credores e a qualquer momento sabe que
estes podem intentar uma ação executiva, nomear o seu bem à penhora, etc.... Então,
falou com B, seu amigo para simular que lhe vende o imóvel e para dar mais realidade
deixa de lá viver. Não há um negócio jurídico, existe uma compra e venda que é nula.
Então não há posse, o B não tem animus, não atua como titular do direito de
propriedade.
Os vícios substanciais, para assumirem relevância, têm que ser aqueles que conduzem
à inexistência – falta de vontade na ação ou na declaração; coação física, etc...
Realce-se que, uma posse titulada presume-se de boa-fé. uma posse não titulada
presume-se de má-fé.
O art.1254º/2 diz-nos que o facto de alguém ser possuidor hoje, não faz presumir
posse anterior, a não ser que a posse seja titulada.
Agora, existe parte da doutrina, que diz que o critério tem que ser ético-jurídico e
alguma jurisprudência já segue esse critério.
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Se a posse contrária for oculta ou violenta, o prazo para a ação só começa a contar a
partir do momento em que se tornou pacífica ou pública.
4 - pública ou oculta: art.1262º. A posse pública é aquela que se exerce (mas devemos
ler “adquire” à vista de todos. Ela é exercida de modo a poder ser conhecida, mas não
se exige o conhecimento efetivo, basta a cognoscibilidade.
Ex: A emigrou e não voltou mais à terra. Entretanto B começou a cultivar o terreno de
A. B adquiriu posse por aquisição paulatina, posse não titulada, que é presumida de
má-fé. É uma posse pacífica, e também pública, porque o Homem médio, colocado na
real situação do interessado, se emigrasse teria possibilidade de saber.
Ex: o interessado em concreto estava em coma. Nesta situação, a posse era suscetível
de ser conhecida, mas, o Homem médio colocado na posição do real interessado,
desconheceria. Por isso, esta posse é oculta.
Para além desta ação de ... podem ser intentadas ações de simples apreciação negativa
ou positiva. Ou seja, sempre que não se justifique intentar uma ação de reivindicação
nem uma ação negatória, porque não ocorreu uma alteração da situação fáctica ou
jurídica, pode intentar-se uma ação de simples apreciação positiva ou negativa.
Ex: alguém anda a dizer, que é o proprietário do imóvel e não é.
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A ação negatória não está prevista na lei, mas ninguém nega que se pode ser
intentada, sob pena de se estar a negar tutela. Esta tem, basicamente, três pedidos:
pede-se que se declare que o réu não é tutelar de um qualquer direito que legitime o
comportamento que assumiu; pede-se que seja respostas a situação material em
conformidade com o estatuto do direito real; pede-se (com cariz preventivo) que a
pessoa em causa nunca mais volte a praticar um ato como aquele.
A estes três pedidos, pode somar-se um pedido de indemnização. Mas, para este outro
pedido ter que ser feita a prova nos termos gerais da responsabilidade civil.
A ocupação é uma forma de aquisição originária, de bens móveis apenas, que nunca
tiveram dono ou que foram abandonados (ou perdidos e escondidos), salvas as
restrições.
A lógica é que há uma coisa ou animal que nunca teve dono, ou que foi abandonada e
que alguém ocupa/ exerce posse sobre essa coisa, voluntariamente. Não é preciso que
haja a vontade de ocupar ou de adquirir a propriedade, basta que haja vontade de
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possuir. A pessoa que adquire basta que tenha capacidade de gozo, nem é necessário
o uso da razão – art.1366º. Temos um elemento pessoal – capacidade de gozo – e um
elemento real, e, ainda, um elemento “formal”, que é a tomada de posse.
A acessão pode ser natural ou industrial. Dá-se acessão quando uma coisa é
propriedade de alguém e se une e incorpora em outra coisa que pertence a outrem
(no fundo dá origem a outra coisa).
É natural quando resulta das forças da natureza – art.1326º. Há dois tipos de acessão
natural, a ludião e a avulsão. No caso da primeira, as coisas juntam-se devagar, sendo
arrastadas, por águas por exemplo. Na segunda, esta supõe que haja uma ação natural
violenta.
Pode ser industrial quando resulta de facto praticado pelo Homem sobre coisa própria
ou alheia ou quando alguém aplica o seu trabalho, a matéria pertencente a outrem -
união ou por especificação, respetivamente.
Pode ser, ainda, mobiliária ou imobiliária.
Ex: juntar um quadro a uma moldura, de donos diferentes - juntar coisa própria a coisa
alheia – união ou conclusão. Esta é apenas para a ação mobiliária. Está-se a pensar na
junção de coisa própria a coisa alheia.
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Temos um solo que pertence a uma pessoa e outra, de boa-fé, constrói nesse prédio,
desconhecendo que o prédio era alheio. Apesar do legislador falar sempre no valor de
obras, não nos interessa os valores dos tijolos e do cimento, o que interessa é quando
valia a antiga realidade, na altura em que foi construída e quanto vale a nova realidade
real.
A letra da lei não é clara. Se o valor da nova realidade predial, for mais do dobro da
antiga, o dono da nova realidade predial, fica com a coisa, pagando a realidade antiga.
Se for inferior, é o dono do solo, para quem fica a construção.
Se for igual dá-se licitação.
Ainda há muita gente casada em regime de comunhão geral e cada vez mais, há
divórcio mais tardios. Em todos eles, o terreno foi doado, para construir casa. Em
todos a doação é nula e como é que atuam para tentar adquirir? Ou recorrem à
acessão ou invoca-se a usucapião.
Os tribunais, de há uns anos para cá, entendiam que não podia invocar a acessão, um
possuidor. No Código de Seabra só podia o possuidor, mas com a mudança de código
deixou de haver este entendimento.
A Dra. Mónica não concorda nada com esta ideia, porque na acessão industrial
imobiliária, quem desconhecer que o terreno é alheio, está a exercer como possuidor,
como que inevitavelmente.
Se a pessoa construiu a casa por força da relação jurídica não se aplica a acessão. Mas
caso não seja em virtude de qualquer relação jurídica, não faz sentido afastarmos a
acessão.
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Ninguém pode ser privado do direito de propriedade, salvo nos casos previstos na lei –
expropriação e ... – e sempre mediante uma indemnização.
Na expropriação, estão em causa imóveis, que passam a ser adquiridos pelos
expropriandos.
A requisição é u ato administrativo, pelo qual um órgão impõe a um particular,
verificadas as circunstâncias previstas na lei e mediante indemnização, a obrigação de
prestar serviços, ceder coisas móveis ou semoventes ou consentir na utilização
temporária de quaisquer bens.
A diferença entre as duas, está em que podem ser requisitados móveis ou imóveis. O
requisitado pode ser requisitados para prestar serviços. Tem duração de 12 meses
seguidos ou ... (?).
- direito privado:
Art.1346º - emissão de fumo, produção de ruido e factos semelhantes. Temos que ter
cautela com este artigo, porque, na verdade, o proprietário não se pode opor ao fumo,
exceto se ocorra uma de duas circunstâncias: ou lhe causem prejuízo substancial, ou
não resultar de utilização normal do prédio.
O prejuízo substancial é aferido tendo em conta o tipo de imóvel concreto. É evidente
que o som elevado, pode causar um prejuízo a uma moradia e não a uma fábrica – daí
ter-se em conta.
Podemos fazer barulho em nossa casa, desde que seja normal. Prejuízo substancial
também tem que ser apurado tendo em conta o tipo de prédio/edifício em questão.
Ex: o proprietário de um edifício está com uma enxaqueca terrível e na casa do vizinho
há uma festa de anos. Neste caso, não se pode opor, porque a festa de anos,
corresponde ao uso normal, apesar de lhe causar um certo prejuízo.
Estas emissões que são licitas são emissões de matérias incorpóreas ou corpóreas, mas
muito pequenas (ex: som, poeira, cinza). Se forem emissões de outros elementos
corpóreos, já o vizinho se pode opor.
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Direito das Coisas I 2022/2023
Estas emissões só são licitas quando ocorram naturalmente, quando não sejam
direcionadas. Ex: um churrasco – se o fumo se espalhar, a emissão é lícita; agora se
fizessem uma chaminé direcionada à casa do vizinho – é ilícito.
As restrições podem deixar de existir se começar a existir, por exemplo, uma servidão
– servidões desvinculativas. Estas não se extinguem por desnecessidade, o que a Dra.
Mónica considera que deveriam ser.
Art.1349ºCC – a lei permite a acessibilidade a outro prédio para fazer obras, se for
indispensável – neste caso, o dono do prédio é obrigado, até. No entanto, esta
faculdade, lá está, só existe quando seja indispensável. Ou seja, se existir outra fora de
fazer as obras, mesmo que seja mais ou menos económico, já não há direito de aceder
ao prédio do vizinho.
Quando há este direito, caso sejam causados prejuízos, há direito a indemnização.
Diferentes das portas, janelas ou varandas, são as frestas – 1.8m de altura e não
devem ter mais de 15 cm de dimensão. Se tiverem mais que 15cm pode-se constituir
uma servidão desvinculativa.
Se abriu uma fresta, essa depois pode vir a desaparecer.
Art.1365º - o proprietário que construir o que quer que seja e que tenha um telhado,
não pode deixar o telhado a gotejar sobre o prédio do vizinho. Ou aplica caleira ou tem
que deixar 50cm.
Pode constituir-se uma servidão de estilicídio.
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6. Compropriedade
Existe compropriedade, quando duas ou mais pessoas são, simultaneamente, titulares
do direito de propriedade sobre uma só coisa.
Ou seja, a compropriedade, não é mais que a comunhão do direito de propriedade. A
comunhão supõe que um direito patrimonial, de natureza real, pertença em
compropriedade, a dois ou mais sujeitos.
As normas em matéria de compropriedade, valem para os direitos reais, pode haver
compropriedade com usufruto, superfície.
Outros autores, como Orlando de Carvalho e Paulo Mota Pinto, diz que, na
compropriedade temos vários sujeitos, cada um deles titular de um direito próprio,
mas, cada um destes direitos próprios, incide apenas sob uma quota-parte real da
coisa.
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- uma doação
Antigamente era bastante vulgar, haver paredes de ambos. Mas agora, mesmo nas
moradias em banda, é difícil que os muros sejam de ambos. Por antigamente ser muito
vulgar, o legislador. Consagrou situações em que possa haver situações de
compropriedade – presume-se que a parede é um muro que pertence a ambos, salvo
se houver um espigão em madeira, que sinaliza a propriedade do muro.
A segunda hipótese é existirem cachorros de pedra, que também excluem a presunção
de comunhão/ de compropriedade.
- decisão judicial (ex: art.1370ºCC, que diz que o proprietário de pedro confinante com
parede ou muro alheio, pode adquirir ... – mas tem que exercer este direito
judicialmente).
- usucapião.
Temos que fazer uma distinção muita clara entre a quota (que é de cada um dos
comproprietários) e a coisa (que é de todos).
O art.1408º/3 diz-nos que a disposição da quota está sujeita à forma exigida para a
disposição da coisa.
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A obrigação de preferência não existe nos casos de doação. Também não há direito de
preferência, em regra, em caso de troca, porque dificilmente, o obrigado seria
colocado nas mesmas condições.
Um outro direito de todos os comproprietários, além do de alienar, é o presente no
art.1412º, segundo o qual o comproprietário pode pedir a divisão a qualquer
momento. A coisa não pode ser considerada indivisa. O que podem fazer, é acordar a
indivisibilidade durante 5 anos, mas esta só tem efeitos em relação a terceiros se for
registada.
Se for previsto um prazo de mais de 5 anos, há redução e são considerados apenas, os
5 anos.
Além disso, qualquer um dos comproprietários pode usar toda a coisa, mas, pode ser
convencionado o contrário, que é o que geralmente acontece quando compramos um
apartamento com amigos, por exemplo, visto que normalmente não vamos poder usar
o quarto deles.
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Se, em causa, estiver um ato de administração, que realize uma benfeitoria necessária,
qualquer um deles pode praticar o ato sozinho, sem pedir autorização aos demais e,
depois, poe apresentar a conta aos outros, porque todos estão obrigados a participar
nas despesas com benfeitorias necessárias, na proporção das suas quotas.
Mas, pode acontecer que, antes de realizar o ato de administração ordinária, o
comproprietário dê conta da sua intenção aos outros. Se o fizer, os outros ou um
deles, podem opor-se. Se houver oposição, de acordo com o art.985º/2, cabe à maioria
decidir sobre o mérito da oposição (e não sobre o ato que seria praticado).
Para que haja, porém, a maioria para que o ato não seja praticado, o art.1407º, diz que
é necessário o apoio da maioria per capita dos comproprietários e essa maioria por
cabeça deve corresponder a, pelo menos, 50% das quotas. Quando não seja possível
formal esta maioria legal, a qualquer um dos consortes é lícito recorrer a tribunal, que
vai pronunciar-se – isto é mais comum em casos de dois comproprietários.
Mas isto só ocorre se ele informar os outros.
Na verdade, nem se pode alienar parte especificada da coisa comum. Ex: alguém deixa
por testamento o prédio rustico a A e B. este dois, fizeram uma divisão entre o lado
direito e o lado esquerdo. Essa divisão não é válida e, enquanto substituir a
compropriedade, não podem alienar nem onerar parte da coisa.
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A alienação judicial está prevista nos arts.925º e ss.CC. O comproprietário que queria
pode fim á indivisão, intenta a ação e deve, no pedido inicial, dizer se a coisa é ou não
suscetível de divisão material.
Sendo suscetível de divisão material, o que vai acontecer é que a coisa é dividida
materialmente, e depois, uma parte é atribuída a um e outra a outro. na falta de
acordo sobre que parte fica para qual, é feito um sorteio.
Se a coisa for insuscetível de divisão material, vai acontecer que um fica com a coisa e
o outro fica com o valor que correspondia com a quota. Na falta de acordo sobre quem
fica com o bem, este é posto à venda, sendo entregue a quer der maior valor (podendo
até, ser um terceiro e não um comproprietário).
7. Propriedade Horizontal
Está prevista nos arts.1414º e ss.CC.
Cada uma das frações, autónomas, têm que ser distintas e isoladas entre si e com
saída para uma zona comum ou para a via pública. Mas, o que é certo é que elas
dependem de partes que servem todas as frações, quer do ponto de vista estrutural,
quer do ponto de vista funcional (ex: telhado, alicerces; escadas; elevador).
O legislador, numa primeira leitura, parece entender que a propriedade é uma soma
de propriedade com compropriedade – propriedade sobre a fração e compropriedade
sobre as coisas comuns.
No entanto, não é assim que resulta. O que resulta é que há um direito próximo de
propriedade, mas um direito que tem dois objetos – cada proprietário tem
propriedade horizontal, tantos como o número de frações. O objeto dessa propriedade
horizontal é um objeto complexo: a fração e as partes comuns, que não existem. Não
fazem sentido uma sem a outra.
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Ex: nos casos das moradias em banda – não há propriedade horizontal, pois não existe
dependência funcional e estrutural.
O negócio jurídico unilateral tem que ser celebrado por escritura pública ou
documento particular autenticado, logo, perante um notário ou solicitador.
Deste negócio unilateral, pode participar mais do que uma pessoa e ele continua a ser
unilateral – ex: se o prédio tiver vários comproprietários.
- decisão judicial
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O valor de cada fração, não tem, absolutamente, nada a ver como valor económico de
cada fração. O legislador não impõe qualquer critério para fixar o valor.
Habitualmente, utiliza-se o critério da área.
ex: A. atribui ao prédio o valor 1000. A fração A, em percentagem, vale em 10%, a
fração B vale 15%... até fazer os 100%.
O valor tem grande importância para efeito de votos, de rendimentos, de despesas e
até de ruína do prédio.
Numa assembleia de condóminos, a mão vale - art.1430º - o número na medida fixada
para as frações.
Quando ao solo, ele é comum. Mas pode acontecer para além do solo em que esteja
construído o edifício, que é comum, haja à volta um solo, que seja próprio.
Quanto aos sótãos, se nada for dito, eles são comuns. As únicas hipóteses em que
admitiu, mesmo não estando declarado como próprio, é o caso em que só se pode
aceder se se passar por uma fração e desde que assim já fosse á data da constituição.
Ou seja, tudo o que não esteja como fração autónoma ou como parte de fração
autónoma, é tido como comum.
Podem ser adquiridas por usucapião partes comuns? Sim, é, aliás, mais comum do que
imaginamos. A modificação do título, segundo o art.1419º pode ocorrer com o acordo
de todos, porque é no título constitutivo que constam os direitos de cada qual. No
entanto, desde o ano passado, o legislador permite a mudança de título, havendo
oposição de 10% dos condóminos, desde que as alterações não respeitem a partes
comuns e que tais alterações não afetem o uso, o valor e o fim das frações.
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Os níveis de restrições para as frações são muito mais elevados. Depois há uma
restrição muito própria, que é a questão do fim: se ele não constar do título
constitutivo, é o primeiro proprietário que o vai fixar.
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