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Maria Carlota Pinto da Fonseca
Teoria Geral do Direito Civil II
O que é então o objeto da relação jurídica? É aquilo sobre que incide a relação jurídica. Se
quisermos ser mais precisos, podemos dizer que o objeto da relação jurídica é aquilo sobre
que incide o direito subjetivo de que é titular o sujeito ativo dessa relação jurídica. Portanto,
nós temos na relação jurídica o senhor A que é identificado como o titular ativo, o titular do
direito; e temos o senhor B que é o titular passivo.
O titular do direito tem um direito sobre alguma coisa, esse quid sobre que incide o direito
subjetivo, sobre que incide a relação jurídica é o objeto da relação jurídica.
A doutrina costuma dentro do objeto da relação jurídica, distinguir entre o chamado objeto
mediato e o objeto imediato. O que os distingue?
Esta distinção entre o objeto mediato e o objeto imediato é uma distinção que pode ser
relevante de algum modo, mas que só é relevante por referencia a alguns direitos,
designadamente ele só é relevante por referencia aos direitos de crédito, em que nós temos
um objeto mediato que é a coisa- por exemplo, se estivermos a falar de um arrendamento,
temos a coisa como um objeto mediato, mas temos um objeto imediato que é a prestação- a
conduta do devedor sobre qual incidem os meus poderes enquanto credor. Estamos aqui a
falar de direitos de crédito, de uma coisa certa e determinada.
Nos outros direitos esta distinção entre objeto mediato e objeto imediato não faz particular
sentido, ou não faz sentido.
Outra nota importante e que nós somos confrontados no CC, com o art 202º. Este artigo fala-
nos de objeto da relação jurídica, fazendo equivaler este à coisa. A verdade é que nós
podemos confrontar-nos com muitos mais objetos do que simples coisas, nós vamos ver que a
coisa é apenas um dos possíveis objetos da relação jurídica.
Vamos tentar perceber quais são os possíveis objetos da relação jurídica com que nos
podemos deparar. Notem que estes possíveis objetos correspondem no fundo a diferentes
tipos da relação jurídica, e correspondem aos diferentes tipos de direitos subjetivos com que
nos já nos confrontamos.
1. As pessoas podem ser objeto de relações jurídicas. Como? Quais são os direitos que
têm como objeto as pessoas? São os chamados poderes funcionais, direitos
funcionais. Estes têm como objeto as pessoas de outrem. Isto não equivale, já
sabemos, a uma objetivação da pessoa, a uma menorização da pessoa, a uma
degradação da pessoa. Se assim fosse o direito tinha que nos dar um sinal de alerta, e
não nos permitiria configurar este tipo de direitos. Estes direitos funcionais ao ser
exercidos em função e no interesse da própria pessoa, de que é objeto desses mesmos
direitos
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Esta coisa é o que? Ao nível do direito, e ao nível do direito civil nós temos que saber definir
precisamente coisa. Isto porque o conceito de coisa para a linguagem comum não corresponde
ao conceito de coisa para o direito, e não corresponde ao conceito de coisa para o direito civil.
Há determinados entes que nós não qualificamos como coisa, mas são-no para o direito- a
eletricidade é um exemplo típico.
Ao nível do direito penal, colocou-se durante vário tempo o problema de saber se era possível
ou não naquelas situações em que há desvio da eletricidade através de umas ligações
primarias, saber se era possível ou não considerar o crime de furto- este que implica a
subtração de uma coisa alheia com a intenção de apropriação dela. À época, de acordo com o
pensamento positivista, era muito difícil considerarmos a eletricidade como uma coisa.
No entanto, não existe hoje a dúvida de qualificar juridicamente a eletricidade como uma
coisa.
Então o que é uma coisa para o direito? O que é coisa do ponto de vista jurídico?
Do ponto de vista jurídico as coisas são definidas como bens, de caracter estático- é
importante para distinguirmos as coisas das prestações (tendo estas um caracter dinâmico).
Estes bens de caracter estático são desprovidos de personalidade e não integram o conceito,
ou o conteúdo necessário dessa personalidade. Está segunda nota é importante para
distinguirmos a coisa das pessoas e dos bens da personalidade.
2. Têm que ser apropriáveis de forma exclusiva por alguém, suscetíveis de apropriação
exclusiva por alguém.
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Estas são as 3 características essenciais, para que um bem de caracter estático e desprovido
de personalidade possa ser considerado objeto de relações jurídicas privadas. Dentro das
coisas, podemos ter diversas qualificações.
Essas qualificações estão exatamente contidas no artigo 203º do CC, e depois são explicitadas
nos artigos subsequentes.
O artigo 203º diz-nos o que são coisas e que as coisas podem ser moveis ou imoveis,
simples ou compostas, fungíveis ou não fungíveis, consumíveis ou não consumíveis, divisíveis
ou não divisíveis, principais ou acessórias, presentes ou futuras. Estas diferentes modalidades
de coisas depois estão todas elas definidas nos artigos 204º e ss, até ao artigo 219º.
Distinção entre coisas moveis e imoveis: é extremamente relevante. Estão taxados no artigo
204º, tudo aquilo que não for coisa imóvel é considerada coisa móvel.
Distinção entre as coisas corpóreas e as coisas não corpóreas: esta não consta do elenco
classificativo do código civil, sendo também extremamente importante. As coisas corpóreas
são aquelas que têm existência exterior podendo ser apercebidas pelos sentidos. Ao contrário,
as coisas incorpóreas correspondem a meras criações do espírito.
Esta distinção é extremamente relevante pois, por exemplo, só podem ser objeto de
propriedade as coisas corpóreas. As coisas incorpóreas serão objeto de outros tipos de
direitos, designadamente os direitos de propriedade intelectual, direitos de propriedade
industrial.
Outra questão para a qual devemos prestar atenção: há uma serie de regimes ligados à
responsabilidade civil e à responsabilidade do produtor que envolvem algumas considerações
atinentes às coisas corpóreas e incorpóreas, isto porque a responsabilidade do produtor só se
efetiva quando o dano é causado ou na vida ou na integridade de uma pessoa, ou então numa
coisa diferente, numa coisa tida por defeituosa. Coloca-se o problema de saber hoje em dia,
relativamente a determinado tipo de bens, se podem ou não se configurar como um elemento
integrante de uma coisa ou não.
5. Os próprios direitos subjetivos podem ser objeto de relações jurídicas, como o penhor
de direitos, o usufruto de direitos, a hipoteca de um usufruto (o senhor A é titular de
um direito de usufruto, pede um empréstimo ao banco e este exige a constituição de
uma garantia, o que ele dá em hipoteca é um usufruto, não sobre o objeto, mas sobre
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o direito de usufruto que ele tem sobre a coisa). Temos aqui direitos que têm como
objeto outros direitos subjetivos;
6. Este não existia até há pouco tempo, existindo apenas a partir de 2017. Estes são os
animais- artigo 201º B do CC. Este diz-nos que os animais são seres vivos dotados de
sensibilidade e objeto de proteção jurídica em virtude da sua natureza. Ver 201º B e
201º D. Até 2017 então os animais eram considerados como coisas, tendo os animais
em si mesmo as características próprias das coisas, são bens desprovidos de
personalidade e não são integradores do conceito necessário desta; não têm um
carácter dinâmico como as prestações; são suscetíveis de existência autónoma; podem
ser apropriados exclusivamente por alguém e são aptos a satisfazer interesses e
necessidades humanas. E, portanto, eram considerados coisas para todos os efeitos
jurídicos.
Hoje em dia deixam de ser classificados como coisas, mas depois há aqui quase que
um paradoxo normativo pois não são qualificados como coisas, mas são tratadas
como coisas.
Continuando assim a ser objeto de direitos reais, tais como as coisas. Isto significa,
que nós hoje não podemos dizer, à partida, que o direito real tem todo ele objetos
como coisas.
Há direitos reais que podem não ter como objeto coisas, mas animais. É claro que
alguns autores contestam esta ideia, como Professor Pais Vasconcelos, que continua a
afirmar que os animais devem ser qualificados como coisas, sendo coisas semoventes.
A Doutora Mafalda pensa que este raciocínio tem sentido, pois estar a criar uma
categoria intermedia entre as pessoas e as coisas apenas para uma ideia de libertação
animal, parece não fazer sentido, até porque isto não traz consequências ao nível da
proteção que é dispensada aos animais.
7. Direitos potestativos 1. Há aqui uma divergência na doutrina, pois há muitos autores
que dizem que o direito potestativo não tem objeto, seriam direitos sem objeto.
Outros autores entendem que os direitos potestativos têm efetivamente um objeto-
esse objeto seria o próprio efeito jurídico que se veria produzido.
Outros autores ainda, entendem que o objeto dos direitos potestativos não seria o
efeito jurídico produzido, mas seria a relação jurídica que se constituiria, que se
extinguiria ou modificaria. É claro que no caso da relação jurídica constitutiva isto
acaba por implicar a própria ausência do objeto, ou pelo menos a confluência entre o
objeto e o efeito daquele direito, ou do exercício do direito.
Seja como for, o mais importante é nós percebermos e relembrarmos sempre que os
direitos potestativos são direitos que não implicam um poder ou uma faculdade de
exigir um determinado comportamento de alguém, mas são direitos ou poderes de
desencadearem determinados efeitos jurídicos, daí esta diferença e esta subtileza
também ao nível da compreensão do próprio objeto da relação jurídica.
Muitas vezes nós pensamos na linguagem corrente, no senso comum, que o património
constitui um conjunto de coisas que a pessoa tem- a pessoa tem um grande património porque
tem muitas casas, e muitos carros. No senso comum, há muitas vezes esta ideia. Esta ideia do
ponto de vista jurídico não é uma ideia correta.
1
O direito potestativo corresponde ao poder ou à faculdade de, por um ato de livre vontade só de per si ou
integrado por um ato de uma autoridade, produzir/desencadear determinados efeitos que inevitavelmente se vão
fazer sentir na esfera jurídica da contraparte do sujeito que está do lado passivo da relação jurídica
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Para falarmos corretamente de património, temos que pensar no património como o conjunto
de todas as relações jurídicas avaliáveis em dinheiro de que um sujeito é titular. E se nós
definirmos o património como um conjunto das relações jurídicas, ou de todas as relações
jurídicas avaliáveis em dinheiro, de que um sujeito é titular, então nós vamos perceber que o
património não é em si mesmo objeto de relações jurídicas porque ele é o conjunto das
relações jurídicas (de natureza de patrimonial) de que o sujeito é titular.
Esta nota é extremamente importante porque nos permite perceber que não existe um direito
sobre o património. Ao não existir um direito sobre o património, eu não posso dizer que ao
ser lesado um interesse patrimonial se vai desencadear responsabilidade civil. Muitas vezes,
um determinado sujeito pode ser afetado nos seus interesses patrimoniais, e se essa lesão dos
seus interesses patrimoniais não for acompanhada da lesão concreta de um direito dotado de
eficácia absoluta, erga omnes, então a conclusão a que nós vamos chegar é que não haverá, à
partida, direito a uma indemnização, exatamente porque não existe um direito com eficácia
absoluta sobre o património.
Nós temos várias aceções para o termo património, como o património bruto ou o património
ilíquido. O património bruto ou património ilíquido é efetivamente o conjunto de todas as
relações jurídicas avaliáveis em dinheiro de que um sujeito é titular, portanto nós vamos no
fundo, no património ilíquido, considerar o ativo do sujeito. Se nós descontarmos ao ativo do
sujeito o seu passivo, então nos vamos encontrar o património líquido. Só estamos a
contemplar o ativo do sujeito, já descontado o passivo. Se nós juntarmos o passivo e o ativo,
então confrontamo-nos com o património global.
Esquematicamente:
Este património que pode ser um dos enunciados, não é objeto de relações jurídicas.
Porque garantia geral das obrigações? O A é credor, o B é devedor. O B não cumpre, não paga
a divida, o que é que o A pode fazer? Ora se este não paga a divida, o A pode recorrer a
tribunal com uma ação de condenação para condenar B a pagar. E se aí ainda B insistir e não
pagar, então pode executar o património do B. O tribunal vai apreender alguns dos bens do B,
penhorando-o, vende-o judicialmente através de uma venda executiva e vai pagar ao devedor
- à custa do dinheiro que obteve com aquele bem, pertencente ao património do devedor- B.
Isto significa que o património vai funcionar como a garantia geral das obrigações, pode haver
garantias especiais, mas se elas não existirem, então em última instância há essa garantia geral
das obrigações.
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1. Pelas dividas da herança apenas vão responder os bens da herança (artigo 2071º do
CC- sendo a herança aceite a benefício de inventario, só respondem pelos encargos
respetivos os bens inventariados, salvo se os credores ou legatários provarem a
existência de outros bens). O número 1 e 2 dizem o mesmo, no que respeita a
limitação da responsabilidade da herança pelas dividas do decuius.
Se o senhor A falecer, e tiver deixado uma conta bancaria com 100 mil euros, deixando
também dividas no valor de 200 mil euros, os herdeiros apenas vão ter que responder
pelas dividas até ao valor de 100 mil euros. A partir destes não há responsabilidade. O
número 1 e 2 do artigo 2071º apenas diferem no que diz respeito à prova, se houver
aceitação a título ou benefício de inventario são os credores que têm que provar que
existem outros bens; se a herança for aceite pura e simplesmente então será o
herdeiro que terá que provar que não existem valores suficientes na herança para o
cumprimento dos encargos devidos.
Portanto, pelas dividas da herança só respondem os bens da herança.
2. A herança vai responder pelas dividas da herança, e só quando estas não existirem
depois poderá responder pelas dividas dos próprios herdeiros. Ver a este propósito o
artigo 2070º.
Património conjunto
No património conjunto nós temos uma outra realidade. Nós temos um só património e esse
património único é titulado por mais do que um sujeito, tem mais do que um titular. Não se
trata aqui apenas e só de uma situação de compropriedade, pois nesta cada um dos
comproprietários é titular de uma quota ideal da propriedade.
No caso do património conjunto, nós estamos perante aquilo que se designa de comunhão de
mão comum. Nesta, o património é tratado globalmente como unitário embora tenha mais do
que um titular.
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II
O facto jurídico é qualquer facto humano ou qualquer acontecimento natural que seja
produtor de efeitos jurídicos. Ou seja, estamos a falar de factos jurídicos, estamos a falar de
um evento que produz a relação jurídica, o evento de onde promana a relação jurídica.
Este facto jurídico distingue-se, portanto, dos factos irrelevantes para o direito.
Tradicionalmente a doutrina apontava uma serie de factos irrelevantes para o direito, dizia por
exemplo: convidar alguém para dar um passeio/fazer uma visita de cortesia/ usar uma gravata
de uma cor ou de outra cor, seriam factos irrelevantes para o direito, não se podendo
qualificar como factos jurídicos. A verdade é que, sendo absolutamente certa esta ideia, de
que há factos irrelevantes para o direito e um convite para passear é, à partida, um facto
irrelevante para o direito, nós não devemos ser aqui absolutistas, e contundentes.
Isto porque, é facto que um convite para um passeio é neutral do ponto de vista da eficácia
jurídica, mas pode não ser totalmente desprovido de relevância jurídica ( A convida B para
passear numa zona montanhosa cheia de cobras e serpentes, sendo B uma pessoa debilitada
com uma condição cardíaca grave, e tendo A consciência exata de que toda aquela situação
pode vir a desencadear a morte ou o agravamento do estado de saúde de B, não sendo assim
totalmente irrelevante do ponto de vista jurídico).
Há então factos irrelevantes para o direito, não tendo eficácia jurídica, mas não devemos ser
contundentes na exclusão de alguns factos dessa relevância. Só o caso concreto é que nos
permitirá dizer se estamos ou não perante um facto jurídico.
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Estes cujos efeitos se produzem ex lege. Não há um regime específico, aquilo que a lei nos diz,
aquilo que o CC nos diz, é que na medida em que a analogia o justifique vamos aplicar as
regras próprias dos negócios jurídicos- artigo 295º CC.
Será o negócio jurídico que vai ele próprio determinar quais são as regras que eventualmente
se poderão também aplicar aos simples atos jurídicos. Isto tudo para dizer que a nossa atenção
desde este momento até ao final do ano letivo se vai centrar no negócio jurídico.
O negócio jurídico pode definir-se como o facto jurídico voluntário, ou ato jurídico, cujo
núcleo essencial é integrado por uma, ou mais, declarações de vontade tendentes à produção
de determinados efeitos práticos que os sujeitos pretendem que sejam juridicamente
vinculantes ou juridicamente tutelados. O núcleo central do negócio jurídico é integrado por
uma declaração negociada, e esta declaração negocial ou uma declaração de vontade.
A questão agora debatida é a questão de saber que efeitos são estes que se produzem?
A primeira resposta que se deu a este problema foi uma resposta que correspondeu a um
período de exaltação da vontade e da liberdade individual, ou seja, da liberdade entendida
em termos individualísticos. E, portanto, os efeitos que aqui estão em causa são os efeitos
jurídicos, ou seja, entendia-se que os efeitos jurídicos que eram produzidos, que eram
determinados por lei, eram exatamente os mesmos correspondentes ao conteúdo da vontade
das partes.
As partes diziam X e tal correspondia exatamente ao que era determinado por lei, havia uma
total coincidência. Esta chamada teoria dos efeitos jurídicos não pode hoje ser aceite.
1. Se assim fosse, isso significaria que só um jurista com uma formação completa
poderia celebrar negócios jurídicos. Porque só um jurista com uma formação
absolutamente completa seria capaz de antecipar todo e qualquer efeito que através
da manifestação da vontade das partes se poderia desencadear. E, hoje em dia, com a
complexificação do ordenamento jurídico, se calhar ninguém conseguiria dominar os
negócios jurídicos.
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Foi na tentativa de superar estas dificuldades que alguns autores propuseram uma
compreensão do negócio jurídico centrada na produção de efeitos práticos.
Chegamos assim à segunda teoria, a teoria dos efeitos práticos. De acordo com esta, a
vontade já não seria dirigida à produção de efeitos jurídicos, mas seria dirigida à produção de
efeitos práticos aos quais depois seriam associados determinados efeitos jurídicos.
1. Esta teoria deixa-nos sem critério para distinguir um negócio jurídico de outros
acordos da vida social. Que acordos são estes?
a. Os chamados negócios de pura obsequiosidade: estes são combinações da
vida social às quais é estranho o intuito de criar/modificar/extinguir um
vínculo jurídico. Ou seja, às quais é estranho o intuito de criar uma vinculação
jurídica.
b. Acordos dos cavalheiros: são combinações sobre matéria que normalmente é
objeto de negócio jurídico, mas naquele caso concreto não foram
acompanhadas da intenção de criar um negócio jurídico, ou seja não foram
acompanhadas da intenção de criar essa tal vinculação jurídica que lhes é
própria.
2. Os efeitos práticos podem ser, muitas vezes, obtidos por mais que uma via jurídica.
Cabe às partes que celebram o negócio saber qual dessas vias jurídicas pretende
seguir. Às vezes há discrepâncias entre o efeito prático que se pretende obter e a via
jurídica que se lança para obter esse efeito pratico.
Houve assim autores na Alemanha e em Portugal que propuseram uma terceira teoria. Esta 3ª
teoria é a chamada teoria dos efeitos práticos jurídicos.
Isto significa que os efeitos que se pretendem realizar são efetivamente efeitos práticos, mas
com o objetivo de que sejam realizados sobre a tutela do direito, havendo aqui a intenção de
vinculatividade, intenção de proteção jurídica.
A luz desta teoria dos efeitos pratico jurídicos, ainda é sobre determinado ponto de vista
tributario de uma visão liberal. Uma visão liberal que olha para o negócio jurídico como
domínio privilegiado de criação de uma normatividade particular, em que as partes se
assumem como senhoras e mandadoras, reconhecendo depois o ordenamento jurídico a
vinculatividade decorrente do exercício de uma liberdade que se invoca.
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Esta compreensão do negócio jurídico parece não permitir ainda explicar todas as soluções
predispostas pelo ordenamento jurídico, não permitindo ainda lidar com todas as situações em
que se pretende excluir a vinculatividade. Há uma serie de hipóteses em que se questiona se é
ou não possível afastar a vinculatividade de um acordo que à partida é negocial.
Mas verdadeiramente, parece ser ela a que melhor nos garante o entendimento acerca do
negócio jurídico.
O negócio jurídico é um ato voluntário ou ato jurídico, cujo núcleo essencial é integrado por
uma ou mais declarações de vontade tendentes à produção de determinados efeitos práticos
que se pretende que sejam juridicamente vinculantes e que o ordenamento jurídico tutelará
em nome de uma autonomia ético axiologicamente conformada, e da confiança normativizada
pela boa-fé.
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Esta distinção entre contratos unilaterais e bilaterais tem relevância pratico normativa grande,
na medida em que há determinados institutos que são privativos dos contratos bilaterais. É o
caso da exceção do não cumprimento do contrato (num contrato de compra e venda, que é
um contrato bilateral, geram-se obrigações para ambas as partes. Se as obrigações deverem
ser cumpridas no mesmo tempo, então eu posso não entregar a coisa enquanto B não me
pagar o preço. Eu que estou obrigada a cumprir posso não o fazer, excecionando o
cumprimento da contraparte para justificar o meu não cumprimento. Só fazendo isto sentido
num contrato bilateral.)
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Há, porém, determinados negócios reais quanto à constituição que escapam estas
considerações.
É o caso do penhor e da doação de coisas moveis não celebrada por escrito. Pois para estes
há uma razão de ser para a imposição da entrega, do ato da entrega. No caso do penhor a
função é a publicidade, no caso das doações de coisas moveis cumpre aqui a função de fazer
entender ao doador o perigo para o seu património daquela doação.
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Esta tarefa de classificação muitas vezes não se dirige a tipos puros, mas a negócios concretos
que foram celebrados. Isto significa que, muitas vezes, o mesmo tipo negocial, pode assumir-
se como oneroso ou gratuito consoante aquilo que seja acordado entre as partes.
Por exemplo o mútuo, este é um empréstimo em dinheiro, podendo este ser oneroso ou
gratuito- se eu tenho que pagar ou não juros pelo empréstimo.
Imaginemos que o senhor A tem um sobrinho que lhe quer criar um benefício. Vendendo o seu
automóvel de topo de gama ao seu sobrinho por um preço simbólico.
Neste caso nós estamos a mobilizar um negócio que é oneroso (compra e venda) para
prosseguir finalidades próprias de um negócio gratuito- encontramos aqui um fenómeno de
complexidade contratual (uma doação mista). O que faz este negócio gratuito não é o preço
ser baixo.
Eu posso vender um apartamento que tem o preço de mercado de 100 mil euros, vendê-lo por
30 mil pois não tenho jeito para fazer negócios, porque estou a precisar desesperadamente de
dinheiro, ou então posso vender por este baixo preço porque quero criar um benefício, tendo
aqui inerente um negócio misto de compra e venda.
Este equilíbrio das prestações, que se fala a nível de negócio jurídico, é um equilíbrio subjetivo.
Aqui não teremos que aplicar situações como altruísmo ou egoísmo, os chamados,
sentimentos/intenções ocultos.
Nós muitas vezes pensamos que estamos a celebrar negócios gratuitos quando eles na
realidade não o são, ou podem não ser. Pensando num tema colocado hoje em dia: o
Facebook, plataforma de utilização gratuita, existe aqui um contrato aparentemente gratuito,
pois em troca cedemos dados pessoais, estes que podem vir a ser transacionados. Estes dados
pessoais podem ser vistos como um bem transacional- commodity. Se assim for, perdemos
aquela logica de gratuitidade que nós achamos que existe nesta plataforma gratuita.
Se nós tivermos em conta o número de obrigações que se gera, o contrato de mútuo oneroso
só gera obrigações para uma das partes, sendo um contrato não sinalagmático- contrato
unilateral. Mas este contrato é oneroso, porque do ponto de vista das prestações eu tenho
duas prestações. Prestação do banco que emprestou dinheiro, e a prestação de juros de A, por
exemplo. Estão unidas pelo nexo de correspetividade. Estas prestações não equivalem a
obrigações do contrato, pois a prestação do banco, que faz com que o negócio seja oneroso, é
um ato material da entrega que faz parte do contrato- um contrato de mútuo, um contrato
real quanto à constituição.
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• negócios onerosos aleatórios: são aqueles em que as partes se submetem a uma aleá
– um risco. Não há uma ideia de troca, não se sabe verdadeiramente qual das partes
vai ganhar no negócio. E é esta sujeição à aleá que faz com que o negócio seja
oneroso.
o Negócio em que há apenas uma prestação, mas as partes não sabem à priori
quem é que as vai ter que efetuar: contrato de jogo e aposta.
A faz uma aposta com B, só um é que vai ter que realizar uma prestação, mas
não se sabe qual dos dois o fará.
o Situações em que há duas prestações, sendo que uma delas é certa e a outra
é incerta.
Exemplo: um contrato de seguro de responsabilidade civil automóvel. Quando
nós celebramos com uma seguradora um contrato deste tipo, há uma
prestação que é certa- aquela que nós prestamos à seguradora. A da
seguradora é incerta, pois está só tem que efetuar uma prestação se se
verificar o evento de risco que esta coberto pela apólice do seguro.
o Situações em que há duas prestações certas, mas uma é incerta quanto ao
montante.
Exemplo: contrato de seguro de vida. As duas prestações são certas, pois a
pessoa vai morrer. A prestação que nós efetuamos à seguradora é certa
quanto ao montante, sabemos quanto é que pagamos. A prestação que a
seguradora vai realizar é incerta pois vai ficar dependente da capitalização e
do nosso tempo de vida.
O professor Menezes Cordeiro a este propósito apresenta algumas críticas a este critério
tradicional, afirma que o critério não nos satisfaz totalmente, pois as partes ao abrigo da
autonomia privada podem estipular que os negócios apenas produzam efeitos com a morte de
alguma delas- contrato de seguro de vida.
O contrato de seguro de vida é um negócio inter vivos pois assenta num tipo de regulação que
se destina a reger as relações de participação naquele negócio. Segundo o professor Menezes
Cordeiro, este critério distintivo que aponta para os negócios inter vivos e os negócios mortis
causa, não nos satisfaria totalmente. Teríamos negócio inter vivos, como por exemplo, o
contrato de seguro de vida que produz efeitos depois da morte do sujeito.
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Temos que olhar para o artigo 1700º do CC. Porquê? O artigo 1700º diz que uma convenção
antenupcial- entes celebram antes do casamento visando determinar, entre outras coisas, qual
o regime de bens que vai vigorar entre o casal.
Nós temos que tentar perceber como é que vamos qualificar estas disposições, feitas na
convenção antenupcial, mas que visam produzir efeitos com a morte de um dos esposados.
No que diz respeito à instituição de herdeiro ou legatário, feita por qualquer um dos
esposados em favor de terceiro, temos que distinguir duas situações:
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O que será um ato de conservação? Imaginemos que o senhor A tem uma quinta e
resolveu, com base no rendimento que obteve nas colheitas deste ano, fazer obras
num muro que estava a construir que poderia vir a ruir. Ou então, à custa do que
ganhou com a venda das maças, vai comprar adubo para poder voltar a frutificar.
Ainda noutras circunstâncias, o senhor A vendeu a madeira dos pinheiros que
derrubou na sua propriedade, e com aquele dinheiro comprou sementes para passar a
produzir tomates, alterando completamente a cultura daquele terreno.
Podem ainda integrar-se aqui os negócios de melhoramento, desde que, mais uma
vez, sejam feitos à custa dos rendimentos do próprio bem.
Aqui temos que ter algum cuidado, pois dependendo do destino que nós possamos
atribuir ou reconhecer para um determinado bem, assim podemos estar perante mera
administração ou negócio de disposição.
Muitas vezes pode não ser fácil distinguir onde é que está um negócio de mera administração
e onde é que está um negócio de disposição.
Caso o legislador não se tenha mobilizado, vamos usar este critério distintivo.
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Tendo em conta esta relevância da relação jurídica, os negócios jurídicos podem ser:
Não basta que o A diga em tribunal que B lhe deve 1000 euros, é necessário que o A explique
por que razão é que ele lhe deve esses 1000 euros. Quer dizer que a relação que está na base
da celebração do negócio é relevante. Isto não é assim em alguns negócios- por exemplo no
caso da letra, no caso da livrança e no caso do saque do cheque.
Estes são caracterizados pelo princípio da abstração, valem independentemente da causa que
lhes deu origem.
Imaginemos que o A preenche um cheque e o entrega a B, e fá-lo porque lhe devia os tais
1000 euros a B. B endoçou esse cheque a C. Nós temos um C que não tem nada a ver com o A,
e que passa a ser portador daquele cheque. Se aquele C for ao banco para levantar o dinheiro
inscrito naquele cheque, o A não vai poder opor ao C quaisquer exceções. O cheque abstrai
completamente daquilo que esteve na base no seu preenchimento, e não pode ser aposta a
qualquer exceção a um terceiro que não faça parte da relação inicial – A e B. Funciona de igual
modo nas letras e nas livranças.
Exemplo de letra: Eu pedi dinheiro a B para garantir uma divida, pedi uma letra. Uma letra é
uma divida de crédito em que o B pode executar para que eu pague aquilo que devo. Se ele o
fizer e não tiver motivos para isso, pois eu pago regularmente, posso opor isso a B. Mas se B
tiver transmitido aquele título de crédito a C, eu já não vou poder opor-me a C em nenhuma
destas exceções. Se o C me vier exigir o pagamento, eu vou ter de arcar com essa execução.
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• elemento interno: corresponde à vontade. Esta vontade negocial, por seu turno, pode
ser tripartida, pode ser analisada em 3 tipos de vontade que têm de estar sempre
presentes.
o vontade de ação: o comportamento tem de ser voluntario. Sem
voluntariedade do comportamento não há declaração. Há determinadas
situações patológicas em que esta voluntariedade está ausente- coação física.
o vontade de declaração: não basta que o comportamento seja voluntario, é
necessário que haja a consciência que ao meu comportamento voluntario é
atribuído o sentido de uma declaração negocial. Eu tenho de ter a consciência
de que o meu comportamento é entendido como uma declaração negocial,
como um meio de transmitir uma vontade de produção de efeitos práticos
para que sejam juridicamente relevantes.
Também há situações em que a vontade desta declaração pode não estar
presente.
Imaginemos que o senhor A está a assinar um cartão de boas festas aos seus
clientes, e no meio destes estava lá metido uma carta de uma aceitação de
uma proposta negocial, tendo ele assinado. Assim, o seu comportamento foi
voluntário, mas não consciente.
o vontade de negociar: consiste na vontade de se celebrar um negócio com o
conteúdo que corresponda ao comportamento exteriorizado. Este também
pode falhar, como por exemplo, numa situação de erro.
Eu quero comprar 100 pares de sapatos para revender, mas eu enganei-me e
em vez de declarar que quero comprar 100 pares de sapatos eu declaro que
quero comprar 1000. Ora, o meu comportamento é voluntario, eu tenho
consciência do sentido da declaração negocial, mas o conteúdo não
corresponde à informação exteriorizada.
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duas perspetivas que vêm desde Savigny e Ihering, que terão que ser
questionadas.
Vamos sempre ter uma tensão entre subjetivismo e objetivismo. Entre a
declaração propriamente dita e a vontade subjacente à declaração.
Vamos, tendencialmente, dar sempre uma primazia à visão objetivista,
embora seja uma perspetiva objetivista mitigada, compreendida à luz da
tutela de boa-fé e da confiança.
• elemento externo: corresponde à declaração propriamente dita, áquilo que se diz.
• Expressas: se forem feitas por palavra, por escrito ou por qualquer meio direto da
manifestação da vontade;
• Tácitas: quando se deduzem de factos que com toda a probabilidade as revela.
Pressupõe um comportamento concludente.
Vamos imaginar que, o António prepõe vender o chocolate ao Bernardo por 5 euros. Bernardo
não diz absolutamente nada, mas o chocolate é aberto e este começa a comer o chocolate. A
partir deste comportamento concludente podemos concluir com toda a probabilidade que a
resposta é no sentido da aceitação.
• Protesto: é uma declaração negocial que visa esclarecer sempre que o sujeito tenha
medo de que o seu comportamento declarativo seja associado a um sentido que ele
não quer, que não é esse o seu intuito.
A emite uma declaração negocial, tem medo que a essa declaração negocial seja atribuído um
determinado sentido que ele não quer, pensando que pode suscitar alguma dúvida. Emite um
protesto, visando esclarecer sempre que haja esta situação de medo.
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infiltrações. O senhorio tem medo que se passar a aceitar e levantar os 200 euros, seja
visto como uma renúncia ao seu direito de 500 euros. Assim emite uma reserva, no
sentido de esclarecer que o seu comportamento não visa, de modo algum, a renuncia
de um direito ou o reconhecimento de um abatimento do valor da renda.
Artigo 218º- o silencio não vale como uma declaração negocial. O silêncio, do ponto de vista
jurídico, não é apenas estar calado- é nada dizer e nada fazer. Envolve necessariamente uma
omissão. Não confundir, portanto, o silêncio com uma declaração tácita.
E, o problema que se coloca é o de saber se o silêncio pode ou não valer como declaração
negocial, e o artigo 218º do CC, vem nos dizer que, em regra, o silencio não vale como uma
declaração negocial.
Entende-se perfeitamente que assim seja, face à perfusão de negócios jurídicos celebrados no
nosso quotidiano, tornar-se-ia absolutamente inviável exigir-se uma forma para a celebração
dos negócios jurídicos. No entanto há situações em que o legislador impôs determinada forma.
Noutra situações, o legislador não impôs uma determinada forma, mas partes convencionaram
uma exigência de forma.
Isto significa que o nosso ordenamento jurídico admite os chamados pactos determinativos da
forma, em que se refere o artigo 223º (as partes podem estipular uma forma especial para a
negociação).
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Importância da forma:
❖ Impor uma maior reflexão as partes
❖ Garantir um maior grau de certeza em relação à celebração do negócio
❖ Garantir uma maior certeza relativamente aos termos em que o negócio foi celebrado
❖ Facilitar a prova de celebração de negócio jurídico
❖ Dar publicidade ao ato
❖ Separar a fase pré contratual da efetiva celebração do negócio
Ao formalizar-se o negócio nós temos muito mais consciência de que o negócio foi celebrado,
quem foram os contraentes, quais os termos efetivos em que o negócio foi celebrado, qual é o
objetivo específico, quais as clausulas acessórias que foram estipuladas pelas partes,
garantindo também uma maior reflexão.
Podemos estar a falar de uma forma escrita que dá origem a documentos, estes que podem
ser:
Curiosidades:
Exemplo prático: vamos pensar que o António celebrou um contrato de compra e venda com
Bernardo. O objeto deste contrato é um imóvel. No momento da celebração do contrato, o
António e o Bernardo acordaram que o preço seria pago nestes moldes: naquele momento
restavam uns minutos de outorgar a escritura publica, pagar-se-iam 50 mil naquele momento,
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e outros 50 mil ao fim de um ano e meio- sendo assim que o valor do imóvel eram 100 mil
euros.
Isto ficou acordado, mas não consta da escritura, sendo apenas um acordo verbal.
A questão que se coloca é: outorgada a escritura publica, o Bernardo pagou os 50 mil euros,
estando à espera do decurso do prazo para pagar os restantes. No entanto, Bernardo veio
exigir a António os restantes 50 mil no prazo de um mês, afirmando que este estava já em
mora.
Bernardo não concorda devido ao acordo verbal supracitado. António invoca que na escritura
nada disso esta estabelecido, portanto esse acordo não é valido por não obedecer à forma
legal exigida.
O artigo 221º, diz que estas estipulações acessórias são nulas salvo se a razão determinante da
forma não se lhes aplicar, e salvo se for comprovado que corresponde à vontade do autor da
declaração.
Podemos concluir que, elas não são validas exceto se se verificarem três requisitos:
No que diz respeito às estipulações acessórias posteriores, ou seja, aqueles que vão modificar
o negócio ou que vão abolir parte do negócio. Nesse caso, temos que aplicar o artigo 221º/2,
que nos diz que as estipulações posteriores só estão sujeitas à forma legal se as razões de
exigência especial da lei lhe forem aplicáveis. Não somos tao exigentes nesta matéria.
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Qual é a consequência quando falta a formalidade ad substantiam? Artigo 220º do CC, gera-se
a nulidade do negócio.
1. Uma posição que sustenta a natureza imperativa das normas formais impede o
recurso ao abuso do direito
2. É possível obstar à invocação da nulidade com base no referido abuso do direito-
parece que é de facto possível que isto aconteça, por parte do contraente que deu
origem à validade informal.
É necessário, no entanto, que se possa discernir à situação concreta um
comportamento que compactue com um venire contra factum próprium, não sendo
toda e qualquer situação que dê origem a esta situação de abuso. É necessário que
haja aqui uma violação dos ditames impostos pela boa-fé, da confiança e que se
consubstancie num venire contra factum proprium.
Já vimos que era possível a celebração de pactos determinativos da forma do negócio, mas
qual é a sua violação? – artigo 223º.
Concluímos que quando as partes estipulam essa forma especial, impõem uma forma especial
que o legislador não tinha determinado, elas só se quiseram vincular através dela. Portanto,
significa que o negócio só será valido se se cumprir aquela forma, admitindo-se prova em
contrário. O número 2 do artigo 223º, admite que se a forma for apenas convencionada
depois do negócio estar concluído, ou no momento da sua conclusão, então as partes
quiseram-se vincular desde logo, querendo no fundo sedimentar e consolidar o negócio
jurídico, não pretendendo substituí-lo.
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Perfeição Negocial
Quando é que o negócio jurídico começa a produzir efeitos? Temos que fazer uma distinção
entre os:
• Contrato: Para que haja celebração é necessário que haja uma proposta e uma
aceitação. Considera-se perfeito quando a resposta, contendo a aceitação entra na
esfera de poder do proponente.
Exemplo: A emite uma proposta dirigida a B. B redige uma carta, dirigida a A, a dizer
sim eu aceito. No momento em que coloca a carta no correio ainda não temos
contrato- este é o momento da emissão. Temos um outro momento que é quando ele
sai de casa para ir ao correio- momento da expedição, ainda não temos contrato. Só
com o terceiro momento- recessão. É o momento em que, a resposta contendo a
aceitação entrou na caixa do correio do preponente, que ainda não conhece aquela
resposta, mas tem condições materiais para vir a conhecer- aqui temos a perfeição do
negócio jurídico.
Há um quarto momento, que é o momento do conhecimento, este é um momento
posterior. Nós não exigimos este conhecimento efetivo, exigimos apenas que o
contraente tenha condições de vir a conhecer.
Vamos imaginar que não houve recessão, a carta extraviou-se, não chegou à caixa de correio.
Mas o destinatário, o preponente, tomou dela conhecimento por outra via (por exemplo:
telefonou). Neste caso não temos recessão, a carta não entra na sua esfera de poder, mas
temos conhecimento por outra via. Assim, não temos recessão, mas temos conhecimento.
Aqui o negócio é na mesma assim perfeito, começando também a produzir efeitos.
Este processo de formação dos contratos, só faz sentido entre ausentes. Se eu estiver a
negociar face a face (contrato entre presentes), não faz sentido eu estar a escautilizar estas
diferentes fases.
A proposta que eu envio, no sentido de celebrar um negócio, tem de ser completa. Para além
de ser completa, tem que relevar e revelar inequivocamente a intenção de contratar. Além
disso tem de revestir a forma exigida para a celebração do negócio.
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Estes requisitos são exigidos, para que, com a simples aceitação o negócio se tenha concluído,
isto permite-me distinguir a proposta do convite a contratar.
Uma dessas situações prende-se com a exposição de produtos nas prateleiras das grandes
superfícies comerciais, ou então, com a exposição de produtos nas máquinas que dispensam
bens alimentos/bens/bebidas. Estas situações têm colocado duvidas na doutrina.
A doutrina tem entendido que, quando haja indicação do preço, elas devem ser vistas como
verdadeiras propostas e não como convites a contratar. De tal maneira, se nós retirarmos um
produto qualquer de um supermercado, o negócio considera-se celebrado quando eu chego à
caixa para pagar. Pois o declarante- a superfície comercial, não reserva para si a última palavra
em matéria de vinculação contratual. Já não dependente dele a vinculação ou não.
A proposta torna-se irrevogável depois de ser recebida pelo destinatário ou depois de ser por
ele conhecida- artigo 230º do CC. Só perde o seu efeito, se esse mesmo destinatário receber
uma retratação ao mesmo tempo que recebe a proposta ou antes de receber a proposta.
Significa que na esfera jurídica do destinatário, criou-se um direito potestativo de chegar à
conclusão do contrato. Esfera do destinatário da proposta, que emitirá a aceitação.
Não basta que haja uma proposta para que o contrato se celebre, esta tem que ser aceite,
sendo a aceitação completa. Eu tenho que aceitar tudo. Tem que haver acordo sobre todos os
aspetos que as partes reputem como essenciais. E se eu aceitar com modificações, limitações
ou aditamentos?
✓ Exemplo: eu proponho vender o meu automóvel por 5 mil euros, e alguém diz aceito
comprar por 2,500 euros. Esta aceitação com modificações corresponde a uma
rejeição da proposta.
Ao mesmo tempo que eu estou a rejeitar a proposta, eu modifiquei-a, de tais modos precisos,
que pode valer como nova proposta. Esta nova proposta, para que o negócio se celebre, tem
que ser aceite.
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Esta interpretação vai ser importante para qualificar o próprio comportamento como
declaração negocial, e determinar o sentido juridicamente relevante do negócio. Esta
questão da interpretação do negócio jurídico, vai ficar dependente do modo como nós
perspetivamos o negócio jurídico. Se eu conceber o negócio jurídico de um prisma
subjetivista, dando mais importância à vontade, então eu vou ter que aderir a uma posição
mais subjetivista em matéria de interpretação. Se eu reforçar o papel da declaração negocial,
o caminho será uma teoria objetivista da interpretação.
Em teoria, eu posso procurar saber qual é a vontade real do declarante. Estou então, perante
uma posição subjetivista. Ou então, eu vou interpretar de acordo com o sentido objetivo da
declaração. Então nesse caso, estou perante uma teoria objetivista.
O nosso código civil vai consagrar uma teoria objetivista mitigada- teoria da impressão do
destinatário, consagrada no artigo 236º.
A declaração vai ter o valor, o sentido, que seria atribuído por um declaratário normal
colocado na posição do real declaratário. Eu tenho de ter em conta aquilo que o declaratário
conhecia e aquilo que ele deveria conhecer. Isto quer dizer, que temos de olhar para aquela
declaração e pensar: o que é que a pessoa medianamente sagaz, inteligente e experiente teria
entendido desta declaração. Temos que olhar para esta pessoa, tendo em conta todas as
circunstâncias que eram conhecidas pelo real declaratário. Eu tenho que ter em conta aquilo
que o declaratário conhecia, e aquilo que ele devia conhecer.
Esta teoria sofre um limite, na parte do final do artigo 236º/1: o sentido da impressão do
destinatário tem que ser imputável ao declarante.
O que é que acontece se não houver coincidência? Duas respostas são possíveis:
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O número 2 do artigo 236º, vem nos dizer que, se por acaso o declaratário conhecer a vontade
real do declarante, então é de acordo com a vontade real que nós temos que interpretar a
declaração.
É neste ponto que não há qualquer desvio no sentido de um subjetivismo, isto porque, a
vontade real é considerada porque ela é conhecida do declaratário real e passa a ser aquela
que deve ser compreendida pelo declaratário normal colocado na sua posição.
O artigo 237º dá-nos a resposta do que fazer nos casos duvidosos. Em caso de dúvida, se o
negócio for um negócio gratuito o sentido que prevalece é aquele que for menos oneroso
para o disponente, por exemplo, para o doador. Se o negócio for oneroso, o sentido que
prevalece é aquele que corresponde, ou que conduz, ao maior equilíbrio das prestações.
Nas situações em que, com estes critérios, ainda assim não conseguimos eliminar duvidas e
determinar o sentido realmente relevante? Nesses casos o negócio é nulo porque é
indeterminado, de acordo com o artigo 280º.
Isto significa que nos estamos a desviar num sentido de maior objetivismo. Isto em nome da
solenidade/formalidade do próprio negócio. Se o negócio tem que ser formal, nessa forma tem
que estar impressa, ainda de que de forma imperfeita, sentido daquela declaração. Em última
instância estamos perante um problema relativo à forma do negócio jurídico. O legislador
exige uma forma para aquele negócio, então não pode admitir que as partes se venham a
exprimir com uma linguagem diferente daquela que se inscreve no próprio documento.
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O número dois do artigo 2187º vem admitir a prova complementar: nós vamos poder recorrer
a provas complementares (documentos, papeis que o testador haja escrito) para conseguir
reconstituir a vontade do testador.
Por vezes, mesmo depois de interpretar um negócio jurídico, este não me diz tudo. As partes
no negócio, não preveem às vezes todos os aspetos que possam vir a suscitar-se a propósito
do negócio jurídico. Quando assim seja, quando através da interpretação nós concluímos que a
regulamentação criada pelas partes não permite resolver um problema que se suscite a
propósito do contrato, nós estamos perante um outro problema- um problema de integração
de uma lacuna.
Se eu estiver perante uma falha/lacuna no plano que foi gizado pelas partes, eu vou ter que
lançar mão de expedientes que me permitam integrar essas lacunas. Esses expedientes
constam no artigo 239º do CC.
Vamos primeiro recorrer às normas dispositivas do ordenamento jurídico. Vou ter que ver se o
ordenamento jurídico consegue, ou não, solucionar esse problema.
Vamos imaginar que essa norma não existe. Se esta não existir teremos que a integrar com
recurso de um segundo expediente, que será a vontade hipotética ou conjuntural das partes.
Vamos integrar/solucionar aquela lacuna, eu vou solucionar aquele problema, de acordo com
a vontade das partes como se estas tivessem previsto o ponto omisso.
Contudo esta vontade hipotética ou conjuntural das partes não pode valer, não pode ser
atendida, se contrariar as exigências da boa-fé. Isto significa que a boa-fé não vai funcionar
como um terceiro expediente, mas vai limitar a própria importância da vontade hipotética ou
conjetural das partes.
Agora vamos ter que lidar com um problema que já não tem a ver com uma normalidade do
negócio jurídico, mas com uma anomalia.
O negócio jurídico é integrado por declarações negociais, essas declarações são integradas por
dois elementos:
Quando tudo é normal, a declaração propriamente dita corresponde com a vontade. Porém,
há determinadas situações em que o elemento externo não coincide com o elemento interno,
em que eu digo uma coisa, mas queria dizer outra. Este problema está intimamente ligado
com a forma como nós interpretamos o negócio jurídico.
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Nós podemos encontrar diversas respostas, ao longo dos tempos foram-se forjando
determinadas respostas:
1. Teoria da vontade: a teoria da vontade dizia-nos que o peso primordial deve ser dado
á vontade e, portanto, sempre que haja uma divergência nós devemos tentar afastar a
validade do negócio.
2. Teoria da confiança: esta ideia corresponde a uma ideia voluntarista que hoje não
pode ser aceite. Isto porque nós não podemos esquecer do peso e da importância da
confiança e expectativas da contraparte. Aquele que confia na declaração deve de
alguma forma se protegido. A teoria da confiança vem assim determinar a invalidade
de um negócio jurídico, apenas e só, quando a divergência seja conhecida ou
cognoscível pelo declaratário.
Aquela que nós vamos tendencialmente adotar é uma teoria que se baseia na proteção da
confiança. Mas isto não quer dizer que haja uma posição uniforme, ou seja, não conseguimos
estar a determinar uma mesma solução para todos os problemas relativos às divergências
entre a vontade e a declaração.
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Qual é o valor do negócio simulado? Artigo 240º/1- O negócio simulado é sempre nulo.
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A prova da simulação está sujeita a restrições. Quando a simulação seja invocada pelos
simuladores proíbe-se a prova testemunhal, no entanto, a doutrina e a jurisprudência têm
tentado mitigar de algum modo o rigor desta solução.
Entende-se que isto pode ser de tal modo exigente que nunca se poderia comprovar a
simulação. Admite-se o recurso à prova testemunhal, naquelas situações em que há um
princípio de prova por escrito. Naquelas situações em que nos encontrássemos um qualquer
escrito, proveniente do simulador, que fizesse tornar verosímil aquele facto que estava a ser
alegado.
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Há aqui que ter em atenção ao aspeto particular da reserva mental inocente, dita benemérita,
feita com o intuito de ajudar determinado sujeito.
Divergências não intencionais: são aquelas que não são voluntariamente provocadas, não são
queridas.
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Nestes dois exemplos nós estamos perante a coação física ou coação absoluta.
Para haver coação física ou coação absoluta não basta que haja uma mera
ameaça ou uma ameaça física.
Se António apontar uma pistola à cabeça de Bernardo, dizendo “ou me vendes
o teu apartamento ou eu mato-te”, não será uma coação absoluta ou física,
apesar de ser uma ameaça contra a integridade física.
No entanto, o Professor Menezes Cordeiro discorda, entendendo que numa
situação como esta nós estamos perante uma hipótese de coação física ou
coação absoluta.
Esta coação física está prevista no artigo 246º do CC, diz-nos que a declaração
não produz qualquer efeito se o declarante for coagido pela força física a
emiti-la.
O artigo 246º é mais amplo, no entanto só a parte enunciada é que diz
respeito à coação física ou à coação absoluta.
Perante uma hipótese de coação física o negócio não produz efeitos porque o
negócio vai ser considerado inexistente. Nós vimos logo no primeiro semestre
que os negócios podiam ser válidos ou inválidos (nulos- nos casos mais graves
ou anuláveis-nos casos menos graves). Estamos agora a deparar-nos com uma
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situação onde o negócio jurídico não vai ser só nulo como inexistente, não
produzindo mesmo qualquer efeito (isto porque, os negócios nulos podem vir
a produzir alguns efeitos. Relembrando o artigo 291º do CC, da proteção de
terceiros de boa-fé). Se o negócio for inexistente nós nem podemos mobilizar
esse artigo 291º.
Esta categoria da inexistência não é unanimemente aceite por toda a
doutrina, há autores que recusam a autonomização desta categoria da
inexistência.
Ela surgiu no âmbito do direito da família, inicialmente como sanção para
determinados casamentos que eram celebrados sem as condições necessárias
(impedimentos dirimentes absolutos- casamento de duas pessoas do mesmo
sexo determinava a inexistência do casamento), assim a doutrina entendeu
que para além disto, sendo que o problema surge inicialmente no
ordenamento jurídico francês, era possível aproveitar esta categoria para fazer
face a outras situações.
Neste caso concreto, deveremos aceitar a inexistência deste negócio, pois
não chega a apresentar um corpus mínimo para poder olhar para ele de um
ponto de vista da formação do próprio negócio. A ausência da vontade é total,
e sem declaração negocial não é possível falar de negócio, não é possível
encontrar o corpus mínimo que vem permitir a corporização de negócio
jurídico.
b. Falta de consciência da declaração: também é uma divergência não
intencional entre a vontade e a declaração.
Mas aqui está não correspondência resulta do facto de o sujeito declarante
não se aperceber que o seu comportamento que é voluntario tem o valor de
declaração negocial. Em regra, a vontade que aqui falta é a chamada vontade
de declaração.
Em regra, o comportamento é voluntário, mas não há consciência de que
àquele comportamento se atribui o valor de declaração negocial.
Esta falta de consciência da declaração tem como exemplo o caso do senhor
que está a assinar postais de boas festas e no meio destas cartas o senhor
assinou, sem ter consciência de que o estava a fazer, uma carta contendo a
aceitação de uma proposta negocial que lhe foi proposta. Neste caso estamos
assim perante uma falta de consciência da declaração.
Esta está também prevista no artigo 246º. Encertado no meio do artigo que
nos já tínhamos lido parcialmente para tratar a coação física ou coação
absoluta, nós encontramos a provisão do legislador no que diz respeito falta
de consciência de declaração.
Aquilo que se diz é que, no negócio celebrado havendo falta de consciência de
declaração, havendo esse desconhecimento de que o comportamento que foi
voluntario cria uma declaração negocial, então não, esse negócio não
produzirá qualquer efeito.
Só que aqui a situação é menos grave na coação física, pois há voluntariedade,
faltando a vontade de declaração. Então a não produção de efeitos devido à
falta de consciência de declaração deve ser interpretada no sentido da
nulidade.
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Tenho assim de bifurcar o artigo 246º, no que diz respeito à coação física ou
absoluta, o que está em causa é a sua inexistência; no caso da falta de
consciência o que está em causa é a nulidade.
Se houver culpa do sujeito nessa falta de consciência da declaração, então terá
que indemnizar a contraparte com base no interesse contratual negativo.
Na prática judiciaria, os nossos tribunais, têm muitas vezes questionado o
critério distintivo entre esta falta de consciência da declaração e determinadas
situações de incapacidade acidental do sujeito, que repristinaremos mais em
diante.
Há determinadas situações que podem ser mais graves, de falta de consciência
da declaração, em que pode estar ausente a vontade de ação. Se assim for a
consequência será a inexistência, serão casos residuais, mas podem existir.
Não obstante, o artigo 246º retira-lhe esse valor. Parece que há um desvio no
sentido de dar um maior peso já não à ideia de confiança, mas à ideia de
vontade.
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Se o negócio é anulável, temos que saber quem e dentro de que prazo é que
se pode arguir à anulabilidade do negócio.
• Remissão do artigo 247º para o artigo 287º do CC.
É o artigo 287º que nos diz, consagrado o regime geral da anulabilidade, quem e durante que
prazo pode arguir a anulabilidade.
Quid iuris se o erro foi culposo? O negócio continua a ser anulável, mas pode haver
responsabilidade do errante. Poderá ter que indemnizar a contraparte pela confiança
frustrada.
Mas vamos imaginar que ele sabia isso, dando particular atenção às cores, conhecendo a
essencialidade do elemento. A vem tentar anular o negócio, e B afirma que aceita vender o
automóvel azul em vez de vender o automóvel vermelho. Nesse caso o negócio é válido- artigo
248º do CC.
Não poderá haver a aplicação deste artigo quando não se verifiquem as exigências formais
nas declarações negociais emitidas.
Por que razão é que nós impomos este requisito do conhecimento ou da cognoscibilidade da
essencialidade do elemento sobe a qual incide o erro, para que o negócio seja anulável? Para
proteção da contraparte, para garantir que a confiança da contraparte é de algum modo
protegida.
Vamos imaginar que A emite uma declaração negocial a dizer Y, mas o que A queria era dizer
X, portanto temos A a dizer uma coisa, a querer dizer outra- por engano. Estamos perante
uma situação de erro obstáculo ou erro na declaração. B, o declaratário, vai compreender Z,
um terceiro sentido. O declaratário compreende um terceiro sentido que é diferente da
vontade declarada, que é diferente da vontade real.
Num caso como este, nós não temos nenhuma confiança digna de tutela. Num caso como
este, nós vamos considerar que o negócio é anulável, sendo anulável sem mais requisitos. É a
chamada teoria da aparência eficaz.
No fundo nós estamos aqui perante uma forma especial de dissenso, que só por si gera a
invalidade do negócio.
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António enviou um email a Bernardo, em que lhe perguntava «pretendes comprar 100 pares
de sapatos ao preço unitário de 5,4 euros o par?» No mesmo email dizia, «caso aceites, o valor
final da proposta é de 530 euros.» Temos aqui António a dizer 530, quando queria dizer 540
euros.
Temos aqui um erro obstáculo. A diferença entre este erro obstáculos e os até aqui
estudados, é que este erro acaba por ser revelar no próprio contexto da declaração. Dentro do
próprio contexto da declaração, quando eu consigo perceber o erro, eu vou-lhe dar um
tratamento especial, que está previsto no artigo 249º.
Vamos agora imaginar que António queria vender 100 pares de sapatos pelo valor unitário de
4,5 euros, quando na realidade queria dizer 5,4 euros. Neste caso, apesar de estarmos perante
uma hipótese muito parecida- um erro de escrita- o regime que vamos ter que aplicar é o de
erro obstáculo ou erro na declaração (artigo 247º). Isto porque, no contexto da declaração eu
não me apercebo do erro.
O artigo 250º trata ainda de outra hipótese, chamado erro na transmissão da declaração.
Vamos imaginar que António em vez de enviar um email a Bernardo a propor-lhe a venda do
seu automóvel, pediu a Bernardo que transmitisse a Carlos, que estava disposto a vender o
automóvel por 5 mil euros, mas Bernardo enganou-se no valor. Em vez de dizer 5 mil disse por
4 mil. Diz-nos o art. 250º que numa situação como esta a declaração pode ser anulada nos
termos do artigo 247º, aplicando o mesmo regime do erro obstáculo ou erro da declaração.
Vícios da vontade
Há determinadas situações em que aquilo que o declarante diz coincide exatamente com
aquilo que ele quer dizer.
A diz que quer comprar um cão de raça pastor alemã o, sendo que efetivamente o que ele
quer. No entanto, a sua vontade, que coincide com a declaração, não foi formada de um
modo natural, nem de um modo são, foi de alguma modo perturbada. São essas perturbações
que se designam por vícios da vontade.
Se o meu problema for de formação e não formulação, a minha vontade não foi formada de
modo natural. Se o problema for na formação da vontade é um problema relativo aos vícios
da vontade.
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Quando nos deparamos com o erro vicio, vamos ter que operar uma tarefa qualificativa
porque há várias modalidades (não só para saber o regime jurídico aplicável, mas
também porque o vicio só é relevante se atingir os motivos determinantes da vontade
que se refiram a 3 elementos – à pessoa do declaratário, o erro sobre o objeto e o erro
sobre os motivos):
1. Erro sobre a pessoa do declaratário: neste nós integramos:
▪ Erro da identidade do declaratário: A declara que quer arrendar um
apartamento a Miguel, porque acha que Miguel é filho do seu melhor
amigo de infância, quando na verdade não é.
▪ Erro das qualidades do declaratário: António celebrou um contrato
de prestação de serviços com Bernardo, para que este lhe pudesse
construir uma mesa e umas cadeiras, convencido que ele tinha uns
especiais dotes enquanto carpinteiro, quando na verdade não tinha.
➢ Nota: Em algumas situações pode não ser fácil distinguir o erro
sobre a pessoa do declaratário, quando diga respeito à
identidade, do erro obstáculo ou erro na declaração.
2. Erro sobre o objeto:
▪ Erro sobre a identidade do objeto: a doutrina tem colocado o
problema de saber se o erro sobre o preço pode ser ou não
considerado um erro sobre o objeto.
Algo que não devemos concluir, isto porque o valor do mercado de
um objeto não faz parte das suas características intrínsecas,
incindivelmente ligadas ao objeto. Pelo contrário, ele é flutuante em
função das condições do mercado, em função de determinadas
circunstâncias externas, etc.
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Para que o erro possa ser relevante é necessário que este apresente dois elementos essenciais
os chamados requisitos gerais de relevância do erro:
• o erro tem que ser essencial: quando ele é determinante da vontade de celebrar um
negócio. Sem o erro o sujeito jamais teria celebrado aquele negócio.
Em determinadas situações o erro não é irrelevante, ele condiciona a vontade do
declarante, mas não é determinante da vontade de celebrar o negócio. Nesses casos, em
que o erro não é determinante da vontade de celebrar o negócio, mas apenas influencia
os termos em que o negócio foi celebrado, nós estamos perante um erro que não é
essencial, mas sim incidental.
Nós podemos distinguir 3 tipos de erros:
• Irrelevante (não é determinante de nada);
• Essencial (quando é determinante da celebração do próprio negócio);
• Incidental (isto se, for determinante dos termos em que o negócio foi
celebrado). Este erro incidental não é fundamento da anulação do negócio, ele
apenas vai determinar a modificação dos termos do negócio. O negócio passa a
valer, se for possível, com os termos que teria sido celebrado sem o erro.
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Então B vem invocar o erro sobre as qualidades do declaratário, portanto o erro sobre o
declaratário, dizendo que se soubesse que A era menor jamais teria celebrado este negócio.
Neste caso, embora o erro incida sobre um requisito de validade do negócio, que é a
capacidade das partes, porque o B não se pode beneficiar desse regime, para se desvincular
do negócio, considera-se que este erro é próprio.
✓ Nota: não se exige que o erro seja individual ou singular, não se exige também que o
erro seja desculpável. No entanto, se houver culpa no erro pode haver lugar a um
dever de indemnizar.
✓ Nota: Alguns autores entendem que no domínio de atuação de pessoas coletivas, se
poderia justificar que o erro fosse desculpável, porque sobre estas recai um dever mais
intenso de autoinformação.
Para além destes requisitos gerais da relevância do erro, nós temos que cumprir determinados
requisitos especiais de relevância. Estes que já não dizem respeito a toda e qualquer forma de
modalidade de erro, mas dizem respeito apenas, ou são específicos, de cada uma das
modalidades de erro concretamente em causa já estudadas.
❖ Regime do erro sobre motivos. Vimos que o erro sobre os motivos englobava duas
hipóteses:
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• Dolo: O dolo está previsto no artigo 253º do CC. Entende-se por dolo qualquer sugestão
ou artificio que alguém utiliza com a intenção/consciência de induzir em erro outro
sujeito, que vai emitir a declaração. Bem como a dissimulação pelo declaratário, ou pelo
terceiro, do erro do declarante.
O que é que nos podemos concluir a partir desta leitura do artigo 253º/1?
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O artigo 253º/1 ainda vais mais longe, e ainda permite qualificar como dolo aquelas situações
em que o tal declaratário, ou o tal terceiro, mantêm o declarante em erro, apercebem-se que
ele está em erro e não o esclarecem. Ou então, quando dissimulam o próprio erro.
É claro que, nestas hipóteses o declarante apenas poderá invocar o dolo se o declaratário tinha
o deve de o esclarecer.
Mas nós temos aqui uma atuação positiva, no sentido de induzir ou manter em erro. Ou
podemos ter uma atuação negativa, no sentido de omitir um dever de esclarecimento,
dissimulando assim o erro que já existia da parte do próprio declarante.
Para que nós possamos falar de dolo, e para que este possa relevar enquanto vicio da vontade,
é necessário que se preencham determinados requisitos.
Podemos, como resulta deste artigo 253º fazer uma distinção entre:
Nós estamos a falar de dolo, enquanto vicio da vontade, mas nós já falamos de dolo enquanto
forma de culpa- pressupostos ou requisitos da responsabilidade civil.
Nós não podemos confundir o dolo, que nós estamos a falar, com esse outro dolo. Tendo em
conta esta diferença, os autores têm entendido, tradicionalmente, que o dolo que estamos a
tratar, o dolo do vicio da vontade, implica necessariamente o dolo enquanto forma de culpa.
Porque o dolo de que estamos a falar, implica a intenção de induzir ou manter em erro.
Portanto, implica sempre um comportamento intencional da parte de quem engana.
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Bastaria, é certo, segundo a doutrina tradicional, o dolo eventual, mas exigir-se-ia que
houvesse essa correspondência, entre dolo vicio da vontade e dolo em forma de culpa.
Não o induz em erro porque intencionalmente o queira induzir em erro, mas porque presta
informações erradas. Ele não tem verdadeira consciência da inexatidão das informações, mas
age com diligência.
Tradicionalmente, perante uma situação como esta entendia-se que não havia dolo. Então
qual seria a única hipótese para o declarante? Tradicionalmente, a única hipótese seria tentar
invalidar o negócio com base no erro vicio. Só que já vimos que temos requisitos apertados
para invalidar negócios com base em erro vicio. E pode acontecer que esses requisitos não
estejam verificados em concreto. Começaram assim os autores «a perguntar será que
podemos tentar proteger o nosso declarante, que foi negligentemente induzido em erro»?
1. Um leque de autores veio dizer que numa situação como esta, de facto, não há dolo.
Mas, há culpa da parte do declaratário, que foi negligente. O que é que o declarante
poderia fazer? Poderia vir exigir uma indemnização com base na responsabilidade pré
contratual- art. 227º do CC. Na responsabilidade pré-contratual o primeiro remédio
será a reconstituição natural, só se não for possível é que nós podemos recorrer à
indemnização em dinheiro.
A reconstituição natural operar-se-ia na desvinculação do próprio contrato, isto
porque, através dela nós estávamos a colocar o lesado na situação em que ele estaria
se não tivesse confiado na celebração do contrato sem erro.
Esta solução, tem alguns problemas, nomeadamente gera algumas antinomias e
algumas contradições no sistema. Pois, se o negócio fosse anulável por dolo, nos
temos 1 ano a contar da cessão do vicio para o fazer. Aqui vamos ter 3 anos para que
o direito à indemnização prescreva. Parece que teria mais tempo para agir, aquele que
se integraria numa situação menos grave.
Assim, dizem alguns autores que se deve corrigir esta situação, designadamente
através de uma articulação com outro tipo de prazos.
2. Um segundo grupo de autores vem dizer que nós podemos recolocar esta questão ao
nível do dolo, apesar de não existir dolo em forma de culpa, podemos tratar uma
situação como esta, como um problema de dolo.
Isto porque apesar de faltar essa intenção, parece que se consegue estabelecer uma
analogia bastante com as hipóteses de dolo.
Temos duas hipóteses: uma hipótese de erro, gerando a invalidade de negócio porque
a vontade foi malformada. Essa invalidade não é automática, pois fica dependente da
verificação de alguns requisitos, para se tutelar a confiança da contraparte.
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No caso do dolo, porque também temos uma vontade que não foi formada de um
modo são, o negócio também vai ser considerado anulável. Mas vais considerado
anulável, independentemente da verificação de requisitos adicionais.
Isto porque se há um comportamento do declaratário de induzir o declarante em erro,
então nós não temos expectativas dignas de confiança para tutelar na contraparte, no
declaratário.
Estes autores dizem que embora o sujeito não tenha atuado intencionalmente, ao ter
agido de forma negligente, ao ter violado determinados deveres impostos pela boa-
fé, então ele também não é detentor de uma confiança que seja digna de proteção.
A confiança que nos protegemos não é fáctica, mas normativamente densificada. Quer
isto dizer que, ainda que o sujeito confie na validade do negócio, por esta confiança
ser meramente fáctica, ele não é merecedor de tutela.
Nós podemos fazer aqui uma interpretação corretiva e podemos integrar no âmbito de
relevância do artigo 253º estas hipóteses de indução negligente em erro.
Qual é o critério que nos permite distinguir o Dolus Bonus do Dolus Malus?
Se o nosso padrão fosse quantitativo, sendo essas práticas abundantes, teríamos que concluir
que o dolo seria lícito, e não é isso que o legislador nos quer transmitir, quando fala deste
padrão de normalidade ou usualidade. O critério de normalidade deve ser valorativamente
densificado. E é porque ele é valorativamente ou normativamente recortado, que nós
podemos assistir a variações históricas nas fronteiras entre Dolus bónus e dolos malus. Eu não
consigo delinear uma fronteira estanque entre o que é Dolus Bonus e Dolus Malus. Devemos
até dizer que hoje em dia a intensificação de deveres de proteção e deveres de informação na
fase pré contratual determina o recuo do Dolus Bonus e uma expansão são relevância do Dolus
Malus.
Se cada vez mais, ao nível da fase pré contratual, os profissionais onerados com deveres de
informação, então cada vez mais deixa de ser legitimo a utilização de determinados
expedientes que poderiam convencer a contraparte a contratar. Estas considerações têm
sobretudo razão de ser sobretudo no âmbito do direito do consumidor.
Neste, há autores que entendem que o Dolus bónus foi mesmo afastado pelo dever de
informar que resulta da lei. Por vezes, em determinados domínios os deveres de informação
são avassaladores. Mas isto não significa que desaparece o relevo da distinção, até porque fora
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Quando nós falamos sobre a distinção entre o erro essencial e o erro incidental, nós dissemos
que apenas era causa de invalidade do negócio o erro essencial. O erro incidental pode ter
como consequência a modificação dos termos do contrato, poderia eventualmente em casos
excecionais conduzir à invalidade desse mesmo concreto: quando não se conseguisse
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determinar com um grau de precisão razoável quais os termos de contrato teriam sido
celebrados sem o erro, quando a contraparte viesse provar que naqueles termos jamais teria
celebrado aquele negócio.
Preenchidos todos estes requisitos que configuram o dolo enquanto dolo, a sua consequência
será, nos termos do artigo 254º/1 a anulabilidade do negócio. O negócio é anulável.
Remissão para o artigo 287º do CC. Este artigo vai-nos dizer quem é que pode arguir a
anulabilidade e dentro de que prazo.
Pode arguir a anulabilidade aquele no interesse em que a qual foi estabelecida- o que foi
engando. No prazo de um ano a contar do momento em que descobriu a provocação dolosa
do erro. Já não é um ano a partir de que descobriu que a realidade era outra, mas sim em que
descobriu que alguém o enganou. Eu posso descobrir que o automóvel que comprei não tem
as características que achava que tinha, mas posso descobrir que só daqui a uns meses eu me
enganei porque alguém me induziu em erro.
Se o dolo for proveniente de um terceiro, o regime será ligeiramente diverso, não estando
previsto no artigo 254º/1, mas sim no artigo 254º/2.
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• Coação moral ou coação relativa: está prevista o artigo 255º do Código Civil.
Vamos distinguir a coação moral ou relativa da coação física.
A coação física determinava que o sujeito era submetido a uma força de tal modo
irresistível, que era transformado num autómato, a vontade de ação desaparecia.
Na coação moral aquilo que se verifica é o receio de um mal que resulta de uma ameaça
ilícita, ameaça ilícita que é essa feita com o objetivo de extorquir uma declaração
negocial. Apesar de o sujeito ter a sua vontade condicionada, ela não é totalmente
eliminada.
✓ Exemplo: Imaginemos que António descobriu que Bernardo tinha
praticado um crime há uns anos. Então António ameaça a Bernardo
que ou ele lhe vende por um determinado valor o seu apartamento ou
então ele vai denunciá-lo às autoridades.
Para que eu possa falar de coação moral, e para que esta possa ser relevante, têm de se
verificar determinados pressupostos:
1. É necessário que haja uma ameaça
2. É necessário que esta seja ilícita: a ameaça pode ser ilícita em duas situações:
▪ ou porque são ilícitos os meios utilizados
➢ exemplo: António ameaçou Bernardo que o matava se ele não
lhe vendesse o seu apartamento. A amaça de morte é sempre
ilícita, portanto o meio utilizado é em si mesmo ilícito.
▪ ou porque é ilegítima a prossecução daquele fim, com aquele meio.
➢ Exemplo: A ameaça B que o denunciaria aos órgãos de polícia
criminal por força de um desfalque que ele tinha cometido, se
ele não lhe vendesse aquele apartamento. Ora, a denuncia de
um crime não é ilícito, o que o transforma esta ameaça ilícita é
a ilegitimidade de prosseguir aquele fim com aquele meio.
Não há ilicitude da ameaça, e, portanto, não há coação moral, se o sujeito apenas ameaçar o
declarante com o exercício normal de um direito.
Também não há coação moral, quando o medo resulte do chamado temor reverencial, este
traduz-se naquela sensação de receio, de medo de desagradar alguém que esteja numa
posição superior.
Ou seja, a nossa coação tem de ser essencial, sendo determinante da vontade de celebrar um
negócio. Sem esta coação não haveria negócio.
Se a coação for incidental ela releva nos mesmo termos do que o dolo e o erro incidentais.
➢ Aquele que foi coagido, no prazo de um ano a contar da cessação de vicio (quando a
ameaça deixa de surtir efeito).
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Celebrou o negócio em janeiro de 2020, hoje ainda nem sequer começou a contar o prazo para
arguir a anulabilidade, porque aquela ameaça continua a surtir efeito. Quando é que cessa o
vicio? Quando a ameaça deixa de surtir efeito, ou seja, quando aquela ameaça já não serve
para nada. Quando a mulher de António já sabe que ele tem uma amante, quando eles se
divorciam, quando já não há impacto, quando já lhe é indiferente.
A ameaça pode não provir do declaratário, mas sim de um terceiro, tendo dois requisitos
adicionais:
• Estado de necessidade: este está previsto no artigo 282º do CC. Este traduz-se naquelas
situações em que o sujeito celebra um determinado negócio jurídico pela necessidade de
remover um perigo que existe, verificando-se que a contraparte explora essa situação de
necessidade, obtendo dela benefícios excessivos ou injustificados.
Temos aqui requisitos objetivos e requisitos subjetivos, e é necessário que todos eles se
verifiquem para que possa falar-se de estado de necessidade.
Quando há uma desproporção clara entre as prestações. Quando no fundo, o benefício que eu
retiro com a celebração do negócio, atentas as circunstâncias ultrapassa o limite do razoável, e
do que era justificável.
Alguns autores vêm propor aqui o critério do dobro do valor como o limite a partir do qual se
deve averiguar se existe ou não os demais requisitos, para que se possa falar uma situação de
usura, ou de estado de necessidade.
Pode haver lugar à modificação do contrato nos termos do artigo 283º do CC. Há, no entanto,
uma situação especial.
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Vamos imaginar que a pessoa que explora a situação de necessidade tinha o dever legal ou
moral de agir, de auxiliar. Nesse caso, mais do que a anulabilidade o negócio deve ser
considerado nulo nos termos do artigo 280º do CC.
O que é que determina que haja estado de necessidade? É o facto de ele estar exigindo algo
que é excessivo e injustificado.
Neste caso concreto, porém, o medico tem o dever moral e legal para agir. Numa situação
como esta devemos considerar que o negócio é nulo nos termos do artigo 280º do CC, pois
viola os bons costumes.
Incapacidade acidental: tivemos que recorrer a este vicio da vontade quando falamos do
problema dos maiores acompanhados, antes do registo de ação de acompanhamento, antes
da prepositura daquela ação. Esta incapacidade é efetivamente um vicio da vontade, presente
no artigo 257º do CC.
Este oferece-nos todos os requisitos de relevância, sendo necessário em primeiro lugar, que a
pessoa se encontre acidentalmente incapacitada. Isto significa que a pessoa, naquele
momento, em que está a celebrar o negócio, não fosse capaz de entender a sua declaração, ou
então não conseguisse determinar a sua vontade de acordo com o pré-entendimento que
tivesse à cerca da realidade.
O declaratário tem ainda de conhecer o facto, essa incapacidade acidental, ou então tem de
ser notório (diz-nos o número 2 do artigo 257º que o facto é notório quando um homem de
comum diligencia o teria podido notar). Se estes requisitos se verificarem o negócio é anulável
(art.257º e 287º).
Vamos imaginar que António declara vender o seu automóvel por 200 euros, fá-lo num
momento em que se encontra visivelmente embriagado. Bernardo declara que o compra por
200 euros, num momento em que também estava visivelmente embriagado. António
arrependeu-se, e então quer anular esta declaração com base em incapacidade incidental. É
necessário que Bernardo tenha tido conhecimento disso, não estando em condições de
perceber a incapacidade incidental de António. Ainda assim, o negócio vai ser considerado
anulável, pois o facto apesar de não conhecido é notório.
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Este problema surge porque a realidade não é inerte, é dinâmica. Logo, as circunstâncias que
estiveram na base do negócio podem modificar-se no futuro, por exemplo, A e B celebram
hoje um contrato de arrendamento que vai ser executado ao longo de 10 anos e as
circunstâncias mudam. Estamos perante erro quando as partes pensavam uma realidade
diferente daquela que efetivamente é no momento da celebração do negócio, ou seja, diz
respeito ao passado, por outro lado, estamos perante uma pressuposição quando estamos a
falar do futuro.
• Alteradas as circunstâncias, o contrato que foi celebrado entre A e B no dia pode ser hoje
outro contrato. Em face da alteração das circunstâncias, o negócio que foi celebrado
pode não já corresponder àquilo que as partes quiseram e pode já não corresponder ao
exercício da autonomia privada;
• Quando uma pessoa celebra um contrato ela assume um risco, portanto, o contrato, de
certo modo, é um instrumento de gestão de risco. A pessoa pressupõe certas
circunstâncias, mas sabe que estas podem mudar, assumindo um risco que pode ser
maior ou menor. Logo, só porque as circunstâncias mudaram o negócio não pode ser
anulado, visto que a pessoa no momento de celebração do negócio sabe que corre o
risco;
• Tutela da confiança/segurança do comércio jurídico.
Tendo em conta estes três vetores, este problema existe, tem de ser resolvido, mas não com
atitudes extremas. Estes vetores levam-nos a excluir duas posições extremas de resolução do
problema:
1. A afirmação do princípio pacta sunt servanda - posição formalista que entende que
independentemente da alteração que pudesse existir, o certo é que o contrato teria de
ser cumprido até ao fim.
2. Cláusula rebus sic stantibus - qualquer alteração das circunstâncias deveria levar à
extinção do negócio (ideia correspondente ao subjetivismo liberal, que acentua o
momento da celebração do contrato).
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2º Hipótese: se as partes não estabelecerem a cláusula temos de ser nós a resolver, surgindo
várias teorias:
o Não tem em conta que as partes quando celebraram o negócio podem ter
previsto o risco de alteração das circunstâncias, mas escolheram correr esse
risco;
o Torna demasiado fácil a extinção do negócio.
1. A primeira versão (Oertmann) diz que se a alteração das circunstâncias ocorrer na base
do negócio então o contrato deve dar-se por extinto. A base do negócio corresponde à
representação que uma das partes tem acerca da existência de uma circunstância,
desde que a outra parte a aceite como importante.
2. Segunda versão (Lehmann – 1876-1963): sustentou-se que a alteração só é relevante
se a base do negócio for cognoscível pela outra parte no momento da celebração do
negócio.
3. Terceira versão (Professor Manuel de Andrade – 1899-1958): a alteração na base do
negócio pode ser igualmente relevante se, no momento em que o problema se coloca,
a boa-fé exigisse esse resultado (extinção do negócio).
• Quando a alteração das circunstâncias determina aquilo que ele chama de turbação da
equivalência (vem de perturbação do equilíbrio) – a prestação e a contraprestação
deixam de ser equivalentes.
• Quando há frustração do escopo contratual
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Um contrato aleatório pode ser resolvido com base na alteração superveniente das
circunstâncias, desde que a alteração verificada não faça parte dos riscos próprios do contrato
(ex.: A e B celebraram um contrato de aposta sobre o jogo de futebol entre a equipa X e Y; se
ganhasse a equipa X, pagava o senhor A ao senhor B uma quantia; se ganhasse a equipa Y,
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Representação
Já falamos de representação quando tivemos que lidar com os menores e com os maiores
acompanhados.
A representação é o instituto pelo qual um sujeito atua em nome do outro sujeito. O que é
que significa atuar em nome de alguém? Isto significa que A atua, mas que os efeitos jurídicos
dessa atuação se vão produzir na esfera jurídica de B, que é o representado.
Esta dissociação, entre quem age (entre A, o representante) e entre aquela pessoa, cuja esfera
jurídica se vão produzir os efeitos dessa ação (representado). Esta dissociação não implica
qualquer limitação da autonomia do sujeito ou da sua capacidade de exercício.
Em rigor, a representação de que nós agora estamos a falar, surge exatamente como uma
forma de exercício da capacidade do sujeito, e como uma forma de exercício da autonomia
do sujeito.
Isto mostra-nos que nós estamos a falar de uma representação, que se distingue da
representação de que nos falamos no 1 semestre.
Estas diferentes modalidades também se distinguem pela sua intencionalidade, que depois
subjaz a cada uma delas.
No caso da representação voluntaria não tem que ser necessariamente assim. Os poderes de
representação podem ser conferidos no interesse do representado, ou no interesse do próprio
representante, ou no interesse de um terceiro. Tudo vai depender da finalidade de atribuição
desses poderes de representação.
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• É necessário que haja uma atuação em nome de outrem, isto significa que alguém que
atua e os efeitos jurídicos se produzem na esfera jurídica do representado. Não se exige a
atuação no interesse de outrem. Os poderes de representação podem ser atribuídos ou
no interesse do representado, ou no interesse do representante ou mesmo no interesse
de um terceiro;
• Não se exige que haja atuação por conta de outrem, isto permite-nos distinguir a
representação do mandato.
O mandato é um contrato nos termos do qual uma pessoa se obriga a praticar um ou
mais atos jurídicos por conta de outrem, e eu posso encarregar alguém de praticar atos
jurídicos por minha conta, atribuindo-lhe para isso poderes de representação, e temos
atuação por conta e atuação em nome de outrem; mas também é possível que eu
encarregue alguém de praticar atos jurídicos por minha conta sem lhe atribuir poderes
de representação. Isto permite depois, poder distinguir o chamado mandato com
representação e o mandato sem representação.
Vamos pensar no mandato sem representação:
1. Exemplo: mandato sem representação. O mandato pelo qual uma das partes
se obriga a praticar atos jurídicos por conta de outrem. Eu quero comprar um
automóvel, não tendo disponibilidade para o fazer, vou então vou encarregar
B de adquiri o automóvel por minha conta.
Eu vou entregar os meios necessários a B, para que B compre por minha conta
o automóvel, para que possa satisfazer as minhas necessidades como lhe
indiquei. B vai adquirir, enquanto meu mandatário, aquele automóvel, com o
dinheiro que lhe entreguei. Ele atua por minha conta, mas não atua em meu
nome.
Então quando ele adquire o automóvel, é ele o proprietário do automóvel.
Depois fica obrigado a transferir para a minha esfera jurídica os direitos
adquiridos em execução do mandato, ou seja, ele fica obrigado a transferir
para a minha esfera jurídica a propriedade do automóvel. Diz-se que existe
aqui uma dupla transferência. Portanto, nós temos um primeiro negócio
jurídico em que B adquire o automóvel, e temos ainda um segundo negócio
jurídico para transmitir o direito de propriedade para a minha esfera jurídica.
Este segundo negócio seria um negócio alienatório específico da execução do
mandato.
Então já vimos que o primeiro elemento essencial é a atuação no nome de outrem, que não se
confunde com a atuação em nome, ou por conta, de outrem.
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Quanto à capacidade do procurador (artigo 263º): o procurador não necessita de ter mais do
que a capacidade de entender e querer exigida pela natureza do negócio. Por isso, não se
exige a plena capacidade de exercício, exige-se mais do que se exige ao núncio porque o
representante vai decidir em última instância se celebra ou não o negócio, mas basta a
capacidade para entender e querer exigida pelo negócio.
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Vamos imaginar que não há procuração, e A celebrou em nome de B um negócio, sem ter para
tanto poder. É possível que B, em nome do qual aquele negócio foi celebrado, venha conferir
aqueles poderes superveniente, através de um ato designado de ratificação.
Esta tem eficácia retroativa, e tem que obedecer à mesma forma que é exigida para a
procuração (artigo 268º/2).
Se não for de todo ratificado, se A celebra um negócio jurídico em nome de B sem ter poderes,
o negócio é ineficaz em relação ao representado (artigo 268º/1).
Numa hipótese como esta o representante, vai ser chamado a responder, vai emergir aqui
uma obrigação de indemnizar. Esta indemnização, que funciona aqui como uma tutela
negativa da confiança, pode estender-se ao próprio representado. O próprio representado
pode vir ter que responder, no termo do artigo 800º do CC.
Há situações onde se pode ir um bocadinho mais longe, onde se pode tutelar positivamente a
confiança. Significa que nessas situações excecionalíssimas nós podemos conferir eficácia ao
negócio.
Vamos encontrar o fundamento para esta solução no artigo 23º do decreto-lei 178/86, que
estabelece o regime legal do contrato de agência. Este artigo no âmbito do contrato de
agência vem conferir eficácia, às situações de tutela da aparência em que há um agente que
atua sem poderes de representação, em nome do principal, e um terceiro com quem ele
celebra o negócio, é titular de uma confiança que é justificada e que merece tutela.
A doutrina tem entendido que este artigo deve ser alargado, pelo menos a todos os casos em
que a representação existe no quadro de contratos de índole de cooperação comercial. Mas,
em regra, nas hipóteses de representação sem poderes a finalidade é a ineficácia.
Este surge quando o representante atuando dentro dos poderes de representação que lhe
foram conferidos, contraria os fins de representação. Nestas hipóteses nós já não vamos
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aplicar o artigo 268º, mas vamos aplicar o artigo 269º. O artigo 269º diz-nos que, se vai aplicar
a estas hipóteses, o regime da falta de poderes de representação.
Mas exige-se agora que a outra parte conhecesse ou devesse conhecer o abuso, o terceiro com
quem o representado vai celebrar o negócio.
▪ Exemplo: imaginemos que António conferiu a Bernardo poderes para que ele
adquirisse em seu nome um imóvel, explicando que precisa deste para montar o seu
escritório de advocacia. Nós temos aqui poderes de representação que legitimam
Bernardo em nome de António, mas temos uma finalidade especifica daquela
representação. Bernardo vai comprar, formalmente dentro dos poderes de
representação que lhe são conferidos, compra um terreno para cultivo de trigo.
Neste caso ele atua dentro dos poderes de representação, mas materialmente não
segue o seu fim, contrariando-o.
Celebrado o negócio consigo mesmo fora destas hipóteses, o negócio será considerado
anulado (artigo 287º), quem tem legitimidade para arguir a anulabilidade será o próprio
representado.
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Acórdão 28/11/2013: o STJ veio considerar que também não havia negócio consigo mesmo, na
hipótese em que A outorga poderes de representação a B, e B em nome de A, vende um
imóvel a sua filha.
O que é que esta interpretação do artigo 261º feita pelo STJ nos suscita?
Ainda que a separação de bens tenha sido o regime escolhido, naturalmente, nós não
podemos de deixar ter em conta que a relação matrimonial que implica uma plena comunhão
de vida, e necessariamente poderá existir aqui uma tentação de beneficiar a mulher ou o
marido em detrimento daqueles que o representante devia estar a acautelar.
No que diz respeito que o negócio representou com o filho: se este fosse menor, é inequívoco
que o negócio seria celebrado consigo mesmo, pois o filho estaria a ser representado também
por ele. Se nós tivermos a falar de um maior, embora em termos formais não exista um
negócio consigo mesmo, nós devemos sustentar novamente esta interpretação extensiva do
artigo 261º. A relação a pai filho é estabelecida por laços podendo impedir a isenção que
deveria existir para o representante, e pode impedir que o representante se identifique com o
representado e queira defender os seus interesses.
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❖ O negócio jurídico tem de ser física e legalmente possível. Tem de existir o objeto e
tem que poder cumprir a finalidade inerente ao negócio que foi celebrado.
Esta impossibilidade que gera a nulidade do negócio, é uma impossibilidade objetiva e
não subjetiva. Ou seja, não basta que a impossibilidade se verifique em relação ao
devedor para que o negócio seja considerado nulo, tem que ser uma impossibilidade
que diga respeito a toda a gente.
Há, no entanto, uma hipótese em que uma possibilidade subjetiva se equipara à
impossibilidade objetiva: todas aquelas situações em que está em causa uma
prestação de facto não fungíveis, só eu é que a posso realizar.
Por outro lado, o negócio tem de ser legalmente possível, temos que ter não só está
possibilidade física, mas também a possibilidade legal. Não haverá possibilidade legal
quando a lei ergue um obstáculo insuperável àquele objeto.
Vamos imaginar que A e B celebraram um contrato promessa relativo a um negócio
jurídico que era ilegal, então neste caso temos uma impossibilidade legal.
✓ Nota importante: a possibilidade ou impossibilidade de que se está
aqui a falar, consoante a perspetiva, originária. Só está é que
determina a nulidade do negócio. Se a impossibilidade for
superveniente, ou seja, se ela só vier a ocorrer depois do negócio estar
celebrado, o negócio é válido, a consequência será outra:
o caso a impossibilidade não seja imputável ao devedor conduz
à extinção de obrigação, ele deixa de ficar vinculado;
o se houver culpa, ou seja, se for imputável ao devedor então
desencadeia-se uma situação de incumprimento;
Vamos pensar na impossibilidade superveniente não imputável que conduz à extinção: ela não
se confunde, nem se pode confundir com a mera dificuldade de prestação. A prestação pode-
se ter tornado mais gravosa, mas não é suficiente para desvincular o devedor.
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No entanto, há situações em que a prestação não se tornou inviável, eu posso ainda realizar
aquela prestação, mas em que a sua realização envolve um sacrifício demasiado elevado para
o devedor que parece contrariar os ditames da boa-fé. Uma coisa é a dificuldade ou a
impossibilidade económica, outra coisa são estas situações em que a realização da prestação
vai envolver esse sacrifício demasiado elevado, e isso vai contrariar os ditamos impostos pela
boa-fé.
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Teoria Geral do Direito Civil II
O que é um negócio em fraude à lei? É um negócio que A e B celebram, e com base no qual
tentam contornar uma proibição legal. Eles tentam chegar ao mesmo resultado que a lei
proibia, através de um caminho diferente.
É nesta segunda hipótese que nós efetivamente temos um negócio em fraude à lei.
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O negócio jurídico surge como um instrumento de exercício da autonomia privada, que não é
compatível com a assunção de obrigações cujos contornos não se conhece nem se venham a
conhecer.
Os bons costumes não equivalem aos usos dominantes, não são sinónimos de simples
costumes. Isto percebe-se, pois, muitas vezes, sobretudo em épocas de crise, os consensos
maioritários podem não nos conduzir a um ideal de justiça, que é aquele que tem de estar
presente na determinação da validade do objeto do negócio.
É difícil nos dias de hoje, concretizarmos esta clausula dos bons costumes por referência a uma
moral predominante. A jurisprudência alemã tem procurado definir a clausula dos bons
costumes por referência a uma ideia de decoro e de dignidade de todos aqueles que pensam
de forma equitativa e justa. Mas verdadeiramente, este conceito acaba por continuar a ser
muito fluido.
Então como é que nós devemos compreender os bons costumes? Como o conjunto de
referências valorativas que traduzem a matriz civilizacional a que pertencemos.
Não está aqui em causa a simples dignidade da pessoa. Aquilo de que se trata a nível dos bons
costumes é de concretizações pontuais e setoriais a nível da matriz civilizacional.
O Doutor Menezes Cordeiro entende que seriam concretizações desta clausula geral dos bons
costumes, algumas regras no âmbito do código deontológico de certas ordens profissionais.
Há determinadas clausulas que são designadas por clausulas acessórias típicas. Isto porque
não são essenciais para a celebração do contrato, mas são típicas pela frequência com que são
apostas no contrato. E por serem muito frequentes, embora não essências, importa estudá-las.
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1. Condição: é uma clausula acessória típica, por meio da qual as partes subordinam a
eficácia do negócio jurídico à verificação de um acontecimento futuro e incerto. Está
prevista no artigo 270º e ss do CC. As partes vão sujeitar/submeter os efeitos do
negócio jurídico a um evento, que é um evento futuro e incerto.
Esta condição pode ser uma condição suspensiva ou pode ser uma condição resolutiva.
É suspensiva quando o negócio é celebrado, não produz logo os seus efeitos, e só
passa a produzir os efeitos se o evento condicionante se verificar, se aquele evento
futuro e incerto, previsto pelas partes, se verificar.
É resolutiva se A e B celebram o negócio, nesse está aposta uma condição, prevendo-
se que o negócio jurídico produz os seus feitos desde logo e deixa de os produzir a
partir do momento em que se verifica aquele acontecimento futuro e incerto.
Para que haja condição eu tenho que ter alguns elementos essenciais:
a. Subordinação a um evento futuro e incerto: isto parece uma repetição do
supracitado, mas não é. Porque há condições que se referem ao passado ou ao
presente, estas são improprias, ou seja, verdadeiramente não são condições.
Imaginemos que A e B celebram um negócio e no momento de celebração
combinam entre eles que aquele negócio só produz efeito quando o João se
deslocar para a figueira da foz, em trabalho. Mas a entidade patronal já o
decidiu, no passado se o João vai ser ou não transferido para a figueira. Mas
eles não tiveram tempo de verificar se a entidade patronal já tinha decidido.
Se assim for, eu não tenho uma condição verdadeira, eu tenho uma condição
impropria, porque o evento condicionante não é relativo ao futuro, é referido
ao passado, ou está já presente no momento de celebração do negócio.
Por outro lado, também não se poderá falar de condição, mas apenas de
condição impropria, naquelas situações de condições necessárias. Onde o
evento futuro se irá verificar de qualquer forma.
Por exemplo, o negócio começa a produzir efeitos se A morrer, o A vai morrer,
apenas não sabemos quando. O evento é certo, não sabemos qual o momento
dessa ocorrência.
b. A subordinação tem que resultar por vontade das partes e não pela lei: se eu
estiver perante uma condição imposta pelo legislador, não estou perante uma
verdadeira condição, estou perante uma condição imprópria.
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Se a condição for potestativa e arbitraria à parte creditoris, ela é inútil, pois o evento
condicionante fica dependente da vontade do credor, sendo ela arbitrária é um simples
querer, um facto insignificante. O credor pode desencadear, a qualquer instante, a eficácia do
negócio. Sendo arbitraria, esse facto é um puro crer, sendo insignificante.
Por outro lado, a doutrina entende que se a condição for potestativa, arbitraria e à parte
debitoris é inadmissível. Sendo potestativa fica dependente da vontade de uma das partes,
neste caso, do devedor. Sendo também arbitrária, baseando-se num facto insignificante.
Isto quereria dizer que o negócio acabava por quase não ser vinculativo, pois o devedor por
um puro querer podia desencadear ou não a eficácia do negócio.
Quais são os negócios aos quais pode ser aposta uma condição? Em regra, são todos.
Resultando do artigo 405º do CC. Há porem, determinados atos que não podem ser
condicionados.
Há determinados negócios em relação aos quais, a lei proíbe a existência de uma condição
(848º, 1852/1º, 1618º/2).
Para alem destes negócios, para os quais não pode ser aposta uma condição, porque a lei
assim o determina, há outros negócios em relação aos quais a doutrina tem entendido que
também não é possível apor uma condição. Isto porque, entende que estamos perante
negócios cuja disciplina legal procura ser garantisitca, tendo em conta a existência de uma
parte mais frágil. O legislador para proteger essa parte mais débil, para garantir ou procurar
alcançar uma igualdade material que não existe, estabelece regras protecionistas para a parte
mais frágil.
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E dentro desta logica garantistica deve-se também negar a possibilidade de uma aposição de
condição ao contrato, como por exemplo o contrato de trabalho, ou a um contrato de
arrendamento sujeito a um regime vinculistico.
Quid iuris se apusermos uma condição ilícita? As condições ilícitas determinam a nulidade do
negócio- 271º/1.
No caso das condições impossíveis, temos que fazer uma distinção entre as condições
suspensivas e as condições resolutivas.
967º- este artigo diz respeito às condições físico ou legalmente impossíveis no que diz respeito
aos contratos de doação, e manda-nos aplicar as regras respeitantes aos testamentos,
presente no artigo 2233º. Nós temos aqui que fazer uma distinção: se a condição for
impossível, ela é nula, mas mantem-se a validade do testamento, ou da doação, a não ser que
o testador ou o doador tenham dito o contrário, ou seja, tenham dito que o testamento ou a
doação não se deveriam manter como validos.
Se a condição for ilícita, contrária à lei, à ordem publica ou aos bons costumes, a condição é
nula, o restante negócio mantém valido e o testador ou o doador não podem vir dizer o
contrário, não podem vir excluir a validade do ato.
Entre A e B foi celebrado um negócio, a esse negócio foi aposta uma condição suspensiva.
Entre o momento da celebração do negócio e a verificação desse evento condicionante, nós
dizemos que a condição esta pendente. Durante esse período de dependência, o sujeito que
adquire o direito ainda não é titular do direito, mas de uma expectativa jurídica. E aquele que
alienou o direito, A, deve agir segundo a boa-fé, ou seja, deve abster-se da prática de todo e
qualquer ato que ponha em causa o direito que vai ser adquirido pela outra parte. (ver o artigo
272º do CC, 274º, 273º).
Entretanto verifica-se o evento condicionante, sendo a nossa condição suspensiva, o que é que
acontece? Os efeitos do negócio que estavam suspensos tornam-se efetivos, ganham eficácia
retroativa (artigo 276º).
No caso da condição resolutiva, o negócio produz logo os seus efeitos, mas deixa de os
produzir, e deixa de os produzir com eficácia retroativa, se se verificar o tal evento futuro e
incerto.
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Termo
O termo é tal como a condição, uma clausula acessória típica, nos termos da qual as partes do
contrato vão subordinar a eficácia do negócio jurídico à verificação de um evento futuro e
certo. Aqui conseguimos vislumbrar a diferença entre o termo e a condição. Na condição a
eficácia do negócio jurídico ficava dependente de um evento futuro e incerto, agora o evento
que vai condicionar a produção de efeitos jurídicos do negócio, é também futuro, mas é certo.
O termo, por seu turno, pode ser um termo certo ou pode ser um termo incerto.
O termo é certo quando à priori se sabe quando vai acontecer. Se, apesar de ser certa a
verificação daquele evento, eu não sei quando é que ela irá ocorrer, o termo diz-se incerto.
Por outro lado, tal como a condição pode ser suspensiva ou resolutiva, nós também podemos
qualificar o termo como suspensivo ou inicial, ou então um termo resolutivo ou final.
Quando é que o termo se diz suspensivo ou inicial? Quando as partes estabelecem o momento
a partir do qual o negócio começa a surtir efeitos jurídicos.
Pelo contrário, o termo diz-se resolutivo ou final, se a produção dos efeitos do negócio jurídico
cessar com a verificação do termo.
Uma outra qualificação possível, permite-nos distinguir o termo como termo expresso ou
próprio, ou como termo tácito ou improprio.
Se o termo for expresso ou próprio significa que ele existe por vontade das partes. Se ele for
tácito ou improprio, significa que existe por imposição da lei.
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Ainda outra qualificação dentro do termo. O termo pode ser essencial ou pode ser não
essencial. Isto significa que se o termo for essencial a prestação deve ser efetuada até à
verificação do termo. Quid Iuris se for ultrapassada essa data ou se for ultrapassado o
momento previsto no contrato? Nesse caso, porque o termo é essencial, a não realização da
prestação é equiparada à impossibilidade definitiva da prestação, com as consequências que
nos já conhecemos para as hipóteses de impossibilidade.
O termo não essencial, é aquele mesmo que se chegue aquele momento convencionado, a
prestação pode continuar a ser efetuada depois disso.
• Em regra, o termo pode ser aposto a qualquer contrato. Pois é aquilo que resulta da
liberdade contratual, esta permite-nos concluir que em regra qualquer contrato pode
ter aposto um termo. Mas há exceções. Há negócios aos quais não pode ser imposto
um termo. Por exemplo, o casamento, não se celebra um casamento a prazo.
Artigo 279º, este estabelece as regras para o computo do termo, ou seja, como é que no fundo
contamos os prazos. Este artigo é um artigo ao qual já tínhamos recorrido, ao estudar as
incapacidades. Se o António fizesse 18 anos no dia 3 de janeiro de 2021, ele só atingia a
maioridade às 24h do dia 3 de janeiro. Essa solução resulta exatamente das regras relativas ao
cômputo do termo.
Outra clausula acessória típica é chamada a clausula modal ou modo. Estamos perante uma
clausula acessória típica, esta só pode ser aposta nas doações e nas liberalidades
testamentarias, e de acordo com esta cláusula, o doador ou o testador impõe ao beneficiário
uma determinada obrigação, ou um determinado encargo. Este encargo pode ser imposto no
interesse do doador/testador, no interesse do próprio beneficiário ou no interesse de um
terceiro.
Esta clausula acessória típica não se confunde com a condição. A doutrina tem sido
particularmente cautelosa a distinguir as duas figuras.
• Quando é aposta uma condição suspensiva o negócio não produz efeitos até à
verificação do evento futuro e incerto. Quando nós estamos perante um modo, o
negócio produz automaticamente e imediatamente efeitos;
• A condição não nos obriga a nada, o modo obriga-nos à adoção de um determinado
comportamento;
• Se confrontarmos o modo com a condição resolutiva, temos que considerar que
ocorrendo o evento condicionante há automática resolução do negócio com eficácia
retroativa, portanto, todos os efeitos se destroem. Ao invés, estando em causa um
modo, se não for cumprido o encargo o disponente, ou seja, o doador ou os herdeiros,
podem requerer a resolução da liberalidade, mas só em certas circunstâncias.
Portanto temos aqui 3 indícios que nos permitem distinguir a condição do modo. Este
problema de distinção, é no fundo um problema de qualificação que o contrato tenha inserido.
Redunda num problema de interpretação do próprio negócio.
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Quid Iuris, quando apesar destes índices de diferenciação, não conseguimos distinguir a
condição do modo?
Se eu não conseguir distinguir, vou, na dúvida, qualificar aquela clausula como um modo. Isto
pelo princípio da conservação dos negócios jurídicos. Pois o negócio jurídico se mantém, ou se
mantém em mais situação e hipóteses do que se qualificássemos a clausula como uma
condição.
Quid Iuris se a clausula modal for impossível, ou seja, se a clausula modal estabelecer um
encargo que é física ou legalmente impossível?
Nesse caso, devemos considerar que ela é nula, mas que se mantém a validade do testamento
ou da doação. Porém, tal como nos tínhamos visto no caso das condições, o doador ou o
testador podem excluir a validade do ato, e, portanto, gera-se a nulidade total quer da doação
quer do testamento. (artigo 967º, artigo 2245º, artigo 2230º/1)
Se o modo for ilícito, por esta remissão em cadeia, teremos que concluir que a clausula, ou
seja, o modo é nulo, mas ao contrário daquilo ocorre no caso de clausula modal impossível, o
doador ou o testador não podem excluir a validade do ato. Não é possível excluir a nulidade de
todo o testamento, ou a nulidade de toda a doação.
Quid Iuris em caso de não cumprimento desse encargo que foi imposto?
O professor Menezes Cordeiro entende que em nome da boa-fé se deveria defender que este
direito à resolução pode existir mesmo quando o contrato não o indique, ou seja, a boa-fé
pode impor uma informação diversa daquela que o artigo 966º consagra.
São clausulas acessórias típicas nos termos das quais os contraentes estipulam limitar ou
excluir a responsabilidade do devedor, pelo não cumprimento de uma obrigação. Ou seja,
perante a hipótese de surgimento de uma pretensão indemnizatória fundada no não
cumprimento do contrato, o dever indemnizatório que resultaria dessa responsabilização é
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excluído ou é limitado. Sobre esta designação comum, temos várias clausulas. Desde logo,
temos uma diferença das clausulas de exclusão e as clausulas de limitação da
responsabilidade.
Os problemas suscitados por cada um destas clausulas não são os mesmos. Estas clausulas de
limitação ou de exclusão, para além de incidirem sobre a responsabilidade contratual, podem
também incidir sobre a responsabilidade extracontratual.
O que vamos avaliar, é saber se estas clausulas são ou não são validas. Isto porque, nós somos
confrontados com o artigo 809º do CC, que nos diz que é nula a clausula pela qual o credor
renuncia antecipadamente a qualquer dos direitos que lhe são facultados nas divisões
anteriores em caso de incumprimento ou mora do devedor.
Quais são os direitos a que este artigo se refere? São no fundo, os direitos que o credor tem
em caso de não cumprimento, ou cumprimento defeituoso, ou mora pelo devedor. Isto é,
direito a exigir o cumprimento, direito à resolução do contrato, direito a uma sanção
pecuniária compulsória, ou direito a uma indemnização.
Alguns autores, presos ao teor literal, afirmam que estas clausulas de exclusão de
responsabilidade configurariam a uma renúncia antecipada dos direitos do credor, e por isso,
ela não poderia ser considerada valida. Havia uma exceção, prevista no artigo 800º/2.
A questão que nós temos de colocar, é se de facto este artigo 809º, em que muitos autores se
baseavam para afirmar a nulidade destas clausulas, de facto nos condena à afirmação da
nulidade das clausulas de exclusão à limitação da responsabilidade.
O professor Pinto Monteiro veio logo esclarecer que o artigo 809º não abrangeria no seu
âmbito de relevância as clausulas de limitação da responsabilidade, quando muito abrangeria
as clausulas de exclusão de responsabilidade.
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Ainda o artigo 810º admite a chamada clausula penal, sendo que esta permite-nos que as
partes fixem por acordo o montante da indemnização.
▪ Exemplo: A e B apuserem no contrato uma clausula penal, que prevê uma pena de 3
mil euros em caso de não cumprimento. Vamos imaginar, na situação 1 que foram
apuados danos de 5 mil euros. A indeminização que A tira direito será 3 mil euros,
indemnização fixada. Se o dano verificado for de mil e quintos, a indeminização a que
o credor tem direito é de 3 mil euros, porque a pena é aquela.
Isto significa, que esta clausula prevista no artigo 810º, pode funcionar tanto como uma
penalidade pode agravar a indemnização devida, como pode limitar a indemnização. Assim, é
um bocado estranho que o legislador permita a limitação da indemnização através do
funcionamento da clausula penal, e vede totalmente a limitação por via de uma clausula de
limitação da responsabilidade.
Então se assim é, esta exclusão só deve existir no que respeita às clausulas de exclusão por
dolo ou culpa grave, porque só nesses casos é que estávamos a deixar à merce das partes uma
regra que não pode ficar submetida ao seu livre-arbítrio.
Se isto e assim, num quadro de contrato de adesão, em que há fortes limitações à liberdade
contratual, seria aprofundamento estranho que num domínio de limitações menores, depois
não fossem permitidas as clausulas de exclusão e limitação de responsabilidade por culpa leve.
Esta conclusão é reforçado pelo artigo 12 e 18, alínea c, do decreto-lei 446/85- decreto lei que
regula entre nós as clausulas contratuais gerais. Isto porque o artigo 12 deste decreto-lei, vem
considerar que as clausulas contratuais gerais proibidas por este diploma são nulas nos termos
nele previsto.
Então, entre as clausulas proibidas temos o artigo 18/c a afirmar que são em absoluto
proibidas as clausulas que excluam ou limitam de modo direito ou indireto a responsabilidade
por não cumprimento definitivo, mora, ou incumprimento defeituoso, em caso de dolo ou de
culpa grave.
À contrário, eu posso concluir que elas são validas se restritas à culpa leve. Se isto é assim num
quadro de contrato de adesão em que há fortes limitações à liberdade contratual, seria
profundamente estranho que num domínio onde essas limitações são muito menores, no
âmbito dos contratos negociados, depois não fossem permitidas as clausulas de exclusão e de
limitação de responsabilidade por culpa leve.
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A este propósito o professor Pinto Monteiro também faz uma distinção, entre atos de
auxiliares independentes relativamente aos quais se poderia admitir a validade das clausulas
mesmo em caso de dolo, e as hipóteses de responsabilidade por atos de auxiliares
dependentes em relação as quais se haveria de cumprir as mesmas condições para as clausulas
de exclusão de responsabilidade por ato próprio.
Clausula penal
É também uma clausula acessória típica, e no âmbito desta clausula, as partes convencionam
uma determinada prestação (que normalmente corresponde ao pagamento de uma
determinada quantia em dinheiro), que o devedor terá de realizar em caso de não
cumprimento, cumprimento defeituoso ou mora.
De acordo com a doutrina tradicional, esta clausula penal era uma figura unitária, e ela
cumpria simultaneamente duas funções:
No entanto, a doutrina mais recente, passou a distinguir várias modalidades de clausula penal,
pois nem sempre a clausula penal cumpre estas funções em simultâneo. Cada uma destas
modalidades cumpre uma função, e a cada uma corresponde um regime jurídico diferenciado.
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Em sentido próprio, ou sem sentido estrito, a ineficácia implica a não produção de efeitos,
por força de uma circunstância extrínseca que integra a situação complexa que deveria
conduzir à produção de efeitos jurídicos. Nós temos um negócio jurídico, estando esse
envolvido numa situação complexa, que é uma situação externa.
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Assim, para além dos elementos próprios do negócio jurídico há outros elementos que
rodeiam o negócio jurídico, e se houver algum problema numa dessas circunstâncias externas,
que integra a tal situação produtora de efeitos jurídicos, então diz-se que o negócio é ineficaz
em sentido estrito.
Nós vimos desde o início, por exemplo, quando falamos da proteção de terceiros de boa-fé e a
distinção de terceiros para efeitos de registo, afirmamos que a falta de registo retiraria a
ineficácia quanto a terceiros. Aqui não há nada que afete o negócio jurídico em si mesmo, mas
há um elemento extrínseco, que integra a tal situação complexa.
Por isso é que, quando nós nos confrontamos com o artigo 246º que fala da falta de
consciência da declaração, e da coação absoluta ou coação física, o artigo diz que o negócio
não produz efeitos. A falha encontrando-se num elemento interno e essencial do negócio
temos que qualificar está situação como uma invalidade.
A ineficácia é absoluta quando ela opera erga omnes, ou seja, quando é relativa a toda e
qualquer pessoa, e, portanto, ela pode ser invocada por qualquer interessado. Também já nos
confrontamos com uma situação destas- condição suspensiva.
Vamos imaginar que num negócio jurídico a qual foi aposta uma condição suspensiva, o evento
condicionante, o tal evento futuro e incerto não chega a acontecer. Assim, não produzindo
efeitos, para todo e qualquer membro da comunidade jurídica. Estamos assim, perante uma
ineficácia absoluta.
Por outro lado, a ineficácia é relativa se apenas se verificar em relação a uma determinada
pessoa, ou a algumas pessoas. E aqui fomo-nos confrontando com diversos exemplos.
Essa maior gravidade, vai-se traduzir em diferenças de regime. A nulidade pode será invocada
a todo o tempo, pelo contrário, a anulabilidade só pode ser invocada durante um determinado
período de tempo (um ano a conta da cessação do vicio, aplicando-se este prazo apenas caso o
legislador não tenha estabelecido algum prazo especial).
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Quando nós queremos saber qual o prazo que temos para arguir a anulabilidade do negócio,
temos que primeiro ver se o legislador estabeleceu algum prazo especial, caso não tenha
estabelecido nenhum prazo especial vamos ao prazo regra, contido no artigo 287º- um ano a
contar da cessação do vicio.
A nulidade pode ser conhecida oficiosamente, significa que o juiz, ou o notário, ou outro
funcionário publico no âmbito das funções que está a exercer, pode por sua própria iniciativa
conhecer desta nulidade. Por exemplo, a nulidade não foi invocada pelas partes, mas o juiz
apercebe-se que o negócio é nulo. Então poderá decidir o caso com base na nulidade do
negócio. Se eu pretendo que o notário outorgue uma escritura publica de compra e venda de
um imóvel. Se ele se aperceber que aquele negócio é nulo, por algum vicio que o afete
intrinsecamente, ele tem que obrigatoriamente recusar a prática do ato.
A nulidade pode ser invocada por qualquer interessado, a anulabilidade só pode ser invocada
por aquele no interesse da qual ela foi estabelecida. Esta formulação do artigo 287º, por
confronto do artigo 286º, suscita por vezes algumas dúvidas aos estudantes.
Temos aqui uma panóplia de interessados, que depois se tem que confirmar em concreto se
têm ou não interesse, mas há uma panóplia de interessados.
No caso da anulabilidade ela só pode ser invocada pela pessoa no interesse para qual a
anulabilidade foi estabelecida.
Pensemos num negócio que esta ferido por erro vicio, quem pode invocar a anulabilidade será
aquele que se enganou, será o errante. O errante, pois, porque aquela anulabilidade foi
estabelecida no interesse deste. Haverá situações em que o próprio legislador pode
estabelecer quem é que tem legitimidade para arguir a anulabilidade, por exemplo, no caso
dos menores. Nesse caso seguimos as regras especiais que o legislador estabelece, em nome
daquele princípio que afirma que a norma geral é derrubada pela norma especial.
Esta distinção entre nulidade e anulabilidade, tem que ser compreendia com alguma cautela,
nomeadamente porque o legislador tem vindo a estabelecer situações de invalidades mistas,
ou seja, situações de invalidade que cunha de nulidade ou de anulabilidade, mas que depois
em termos de regime acabam por conjugar diferentes regras de diferentes regimes.
A verdade é que, quando se diz que a nulidade é mais grave que a anulabilidade se pretende
com isto dizer, que normalmente, em via de regra, o negócio nulo não produz qualquer efeito
e que o negócio anulável pode ainda vir a produzir alguns efeitos.
A verdade é que esta afirmação não corresponde completamente à verdade, pois o negócio
nulo pode ainda produzir alguns efeitos.
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Ao longo deste ano de estudo de teoria geral do direito civil, nós fomo-nos confrontando com
hipóteses de produção de efeitos jurídicos por negócios nulos.
Vamos começar por um negócio nulo celebrado entre A e B, uma compra e venda de um
automóvel, sendo que B nunca tendo adquirido a propriedade, transmitiu a propriedade de C.
C que estava de boa-fé, registou, já se tendo passado 3 anos desde a celebração do negócio
invalido. O artigo 291º vai proteger o nosso terceiro de boa-fé, e assim fazer com que o
negócio nulo produza efeitos.
O mesmo se pode dizer do artigo 243º, que nos oferece um mecanismo muito semelhante
com este descrito para o artigo 291º. Contudo, específico para as hipóteses de simulação.
E podemos ainda dizer que o efeito central de registo vai possibilitar que o negócio jurídico
nulo produza efeitos.
Há determinados negócios que estão de tal modo feridos por um vicio de tal modo grave, que
não devem produzir efeitos, e é em nome dessa consciência, que parte da doutrina
autonomizou uma outra categoria. Outra categoria, com qual nós nos confrontamos já, mas
que, não obstante não gera unanimidade na doutrina- a inexistência. Falámos já de
inexistência nas situações de coação física, e também quando falamos da falta de consciência
da declaração naquelas hipóteses em que falamos na falta de vontade da declaração. E
falamos também de inexistência a propósito das declarações não sérias.
A verdade é que, se a categoria foi pensada primeiramente para o casamento, depois viu
alargada a sua influência para o direito civil. E hoje em dia é aceite como uma categoria em
termos genéricos, não apenas especifica do direito da família, mas abrangente de todo o
direito civil, com um local especial ao nível do estudo de teoria geral do direito civil.
Isto acontece sempre que falha um elemento essencial do negócio, e pode falhar esse
elemento essencial do negócio ou porque ele efetivamente não existe ou porque a sua mera
presença acaba por não ser materializada.
É de notar que quando queremos aplicar o artigo 291º, este artigo não é aplicável se aquele
primeiro negócio da cadeia de transmissões for um negócio inexistente.
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Para além destes efeitos residuais e laterais do negócio jurídico, todos os outros efeitos são
destruídos. A declaração de nulidade e de anulabilidade têm eficácia retroativa, é o que resulta
do artigo 289º do CC. Ou seja, vamos repristinar o status quo.
Há situações, porém, em que não é possível a devolução da coisa, objeto do negócio. Desde
logo, estarão aqui em causa situações em que havendo uma cadeia de transmissões aquele
bem já foi alienado a um terceiro. E esse terceiro, vai ser protegido pelo artigo 291º, por
exemplo. Mas também há situações em que o bem não existe, já pode ter sido consumido, ou
destruído. Então, nestas situações porque o comprador não pode entregar a coisa deve
entregar o valor correspondente ao que tinha que devolver.
Por outro lado, o número 2 do artigo 289º, diz que se a coisa tiver sido alienada
gratuitamente, e não podendo, tornar-se efetiva a restituição do valor dela, tem que ser
devolvido o valor correspondente ao seu enriquecimento- que pode ser menos.
E o número 3 do artigo 289º manda aplicar o disposto nos artigos 1069º e ss. Imaginemos que
aquele que tem de devolver, por exemplo, o automóvel, se estiver de boa-fé não vai responder
pela deterioração ou destruição dela. E há coisas que geram frutos naturais e geram frutos
civis- traduzem-se nos rendimentos da coisa que não se gerem naturalmente.
Há outras situações, em que pela natureza do próprio negócio, esta eficácia retroativa não se
pode cumprir. Quando não se possa cumprir nós vamos apenas restituir o valor da coisa
correspondente, mas já não estamos aqui naquelas hipóteses em que a coisa foi
destruída/danificada. Estamos aqui a falar de situações em que a própria natureza do negócio
jurídico torna inviável esta restituição.
Estas situações são diferentes porque podem ar origem à chamada compensação de créditos.
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Depois, há outros negócios que pela natureza dos próprios bens envolvidos é obvio que não
pode haver essa eficácia retroativa. Vamos imaginar que A e B celebraram um contrato de
compra de um rim de B. Este negócio é nulo porque é contrário aos bons costumes, o que
determina a nulidade nos termos do artigo 280º do CC. A declaração de nulidade tem eficácia
retroativa, o A terá que devolver a B a quantia que pagou a título de cumprimento do
contrato, simplesmente não é viável exigir ao B a devolução do rim. Seria absurdo porque
poria em causa a tutela de personalidade, e o sentido axiológico do próprio direito civil.
Se na situação anterior nós tínhamos uma aparente falta de retroatividade, porque ela
efetivamente existia, agora aquilo que nós temos é uma retroatividade que é travada pelos
princípios fundamentais do ordenamento.
Há outros efeitos que o negócio jurídico nulo pode produzir: a redução e a conversão dos
negócios jurídicos.
A redução dos negócios jurídicos esta prevista nos artigos 202º do CC. Nós estamos a
considerar que são nulos ou anuláveis, mas apenas em termos parciais, e portanto como a
invalidade apenas diz respeito a parte do negócio, o legislador diz que nós apenas podemos
aproveitar a restante parte.
Só não haverá redução, se a outra parte que se opõe à redução vier provar que não teria
concluído o negócio sem a parte viciada.
• Vamos pensar que o A vendeu a B um terreno, com 600 metros quadrados. Mais
tarde, descobre-se que afinal A apenas é proprietário de 400 metros quadrados.
Temos aqui um terreno, objeto de um negócio jurídico, em que 400 metros quadrados
são efetivamente propriedade do vendedor, 200 metros quadrados não pertencem ao
vendedor.
Relativamente a estes 200 m quadrados temos uma venda de coisa alheia, que é nula.
Mas nós não temos que considerar que todo o negócio jurídico é nulo, pois há
efetivamente 400 m quadrados que pertenciam ao sujeito. Então vamos reduzir o
negócio jurídico, e reduzindo o negócio jurídico nós passamos a ter um negócio valido
de 400 metros quadrados e depois, temos um negócio nulo por venda de coisa alheia
relativo a 200 m quadrados. Com isto nós estamos a salvar aquele negócio jurídico, ou
parte daquele negócio jurídico.
A contraparte poderia vir provar que sem aqueles 200 m jamais teria celebrado o
negócio.
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Portanto, a única forma de nós obstarmos à redução é provar que a vontade hipotética das
partes é contrária a essa redução. Notem, porém, que há situações em que essa prova é
produzida e, não obstante, terá que haver obrigatoriamente redução do negócio. Acontece
isto quando tal for imposto pela boa-fé, é o que resulta da matéria da integração do negócio
jurídico, que consta do artigo 239º do CC.
Há ainda outras hipóteses em que a redução é obrigatória, ou seja, mesmo que a vontade
hipotética apontasse no sentido da invalidade total do negócio esta redução tem que ter lugar,
e, portanto, temos que aproveitar aquele ou, parte daquele negócio.
1. Redução teleológica: esta redução não tem nada a ver com um dos resultados
interpretativos estudado na Introdução ao Direito (extensão teleológica e redução
teleológica). Esta redução teleológica surge naquelas situações em que a invalidade
parcial resulta da infração de uma norma, que tem como finalidade proteger uma das
partes contra a outra.
Pensemos no âmbito de um contrato de arrendamento, ou no âmbito de um contrato
de trabalho, são contratos que têm regimes protetivos da parte considerada mais
fraca. Eu tenho normas que visa proteger a parte mais fraca, e quando violadas geram
muitas vezes a nulidade, estabelecida para proteção da parte mais fraca. Não sendo
possível, que o senhorio que viola uma norma de ordem publica cujo intuito era
proteger o arrendatário, que agora se venha ele próprio se opor à redução do negócio.
nesse caso, a redução teleológica terá que ter lugar.
2. No âmbito dos contratos de adesão, quando haja violação daquelas clausulas, ou
quando haja uma clausula abusiva, nós não vamos considerar todo o contrato invalido,
vamos apenas considerar a clausula invalida e expurgá-la. Obrigatoriamente eu tenho
aqui uma redução. A finalidade é, mais uma vez, a proteção da parte mais fraca, a
proteção do consumidor.
Para além da redução, podemos ter ainda lugar à conversão- artigo 283º. O que é que se
questiona ao nível deste artigo 293º? Uma vez declarado nulo o negócio, ou uma vez sendo
anulado o negócio, se pode reconstituir um outro negócio jurídico a partir dos elementos do
negócio invalido.
Há, porém, uma outra perspetiva com que se pode olhar para a conversão do negócio jurídico,
a perspetiva do Professor Menezes Cordeiro. Que nos diz que sempre que se verifica uma falha
que determine a anulabilidade ou a nulidade do negócio jurídico, esta conversão pode ser
determinada pela interpretação que se faça do negócio jurídico. Ou seja, a interpretação do
negócio jurídico leva-nos a olhar para aquele negócio jurídico que foi celebrado, não no
sentido do negócio invalido, mas num sentido de um negócio que tenha um conteúdo que não
suscite problemas de validade.
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É de reparar que aqui há uma inversão subjacente à logica relativa à redução. Enquanto na
redução nós partimos do princípio da divisibilidade do negócio, e, portanto, a regra é a
redução exceto, se se vier provar que a vontade hipotética conjetural é contrária a essa
redução. Aqui só pode haver conversão se eu provar a vontade hipotético conjetural, no
sentido da conversão.
Mas tal como na redução, há situações em que a conversão pode ser obrigatória. Quais são
essas situações? São as situações em que a boa-fé o imponha.
Fundamentamos estas hipóteses no artigo 239º, que nos fala da integração do negócio
jurídico, e no artigo 334º do CC.
Haverá situações em que o negócio é totalmente válido e eficaz, mas não obstante há um dia
em que o contrato termina porque, como tudo, os contratos conhecem um fim.
1. Resolução: está prevista nos artigos 432º e ss. é admitida com base num fundamento
previsto na lei, ou em convenção das partes, e os seus efeitos são equiparados à
nulidade ou à anulabilidade, ou seja, têm eficácia retroativa. Contudo, esta eficácia
retroativa pode ter exceções. Não haverá retroatividade se contrariar a vontade das
partes, ou se contrariar a finalidade da resolução. Por outro lado (número 2 do artigo
434º) os contratos de execução continuada ou periódica, ela não vai afetar as
prestações já efetuadas;
2. Revogação: implica a cessação dos efeitos do negócio jurídico, com base na vontade
das partes, ou com base num fundamento previsto na lei. Esta revogação tem eficácia
ex nunc, ou seja, apenas tem eficácia para o futuro.
3. Caducidade: a caducidade ocorre quando ocorre um facto a que a lei atribui eficácia
extintiva (1051º);
4. Denuncia: a denuncia traduz-se na faculdade que um contraente tem de fazer cessar
os efeitos do negócio mediante mera declaração. Na maior parte das vezes, não é
sequer necessário, invocar para este efeito qualquer fundamento, então fala-se uma
denuncia ad nutum. Em nome da proibição de vínculos perpétuos criou esta figura da
denuncia, através de uma mera comunicação à contraparte eu possa fazer cessar os
efeitos do contrato, na maioria das vezes, sem necessidade de qualquer fundamento.
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Hipóteses Práticas
Bernardo, conferindo a Carlos plenos poderes de disposição em relação a bens moveis
e plenos poderes de administração dos seus bens. Carlos em março de 2020, vendeu
em nome de Bernardo a Miguel um apartamento, e arrendou um outro apartamento
de Miguel pelo prazo de 3 meses a Filipe. Qual o valor dos atos celebrados?
Quid Iuris?
Estamos no âmbito da representação, a atuação em nome de outrem. Quem atua aqui
é o Carlos, mas os efeitos jurídicos irão produzir-se automaticamente na esfera jurídica
de Bernardo. Para alem, de haver essa atuação em nome de outrem é necessário que
haja legitimação representativa, através de um ato que é a procuração.
A procuração é um negócio jurídico unilateral, não receticio que tem como
destinatário um terceiro, com quem o negócio vai ser celebrado (Miguel e filipe, e
todos os outros terceiros com quem Carlos venha a celebrar o negócio em nome de
Bernardo).
Estamos aqui perante uma representação sem poderes. O valor deste negócio será
ineficaz em relação ao representado. O negócio, é valido, mas para Bernardo tudo se
passa como se aquele negócio não existisse. Gera-se responsabilidade de Carlos, este é
responsável perante Miguel. Carlos vai responder pelo interesse contratual negativo,
se desconhecia com culpa a falta de poderes de representação. Se ele conhecia a falta
de poderes de representação, vai responder pelo interesse contratual positivo.
No segundo ato, o negócio vai ser eficaz porque Carlos tem amplos poderes de
administração sobre todo o património de Bernardo. Um negócio de mera
administração é aquele que corresponde a uma gestão prudente e comedida, não
envolve grandes riscos, nem a potencialidade de grandes ganhos. De for um negócio
de disposição, potenciará eventual grandes ganhos, mas envolves riscos e riscos
consideráveis. Há determinadas situações em que é o legislador que nos diz se é um
ato de mera administração ou disposição.
Este arrendamento é um ato de mera administração, sendo assim um negócio eficaz,
estando dentro dos poderes conferidos a Carlos. (1024º/1)
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Vamos reduzir este negócio jurídico, para tentar aproveitar de algum modo a
procuração. Vai valer como procuração que outorga poderes de disposição sobre bens
moveis. Não haverá assim representação legitimária originária.
Caso não haja ratificação, o negócio é ineficaz.
Na segunda hipótese, Bernardo em nome de António vendeu ao francisco um
automóvel. Este negócio é valido eficaz.
António livreiro do Porto, acordou com Bernardo a venda do único exemplar de uma
edição rara de os Maias de 1988. Ao contactar com a livraria, foi informado que tal
exemplar foi destruído por um incendio na véspera.
a) qual o valor do contrato
b) qual o valor do contrato se este se referisse a um exemplar recente de “Os Maias”
é nulo por impossibilidade física, pois no aquando da celebração do negócio o livro já
não existia.
Na alínea B, o negócio é valido porque não há uma situação de impossibilidade física. A
impossibilidade física tem de ser objetiva, e não subjetiva. Neste segundo caso, mesmo
que ele não tenha no armazém em stock aquele livro, ele tinha como o arranjar.
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b) aqui nós temos uma divergência entre aquilo que ele diz e aquilo que ele quer dizer,
estamos perante um erro obstáculo ou erro na declaração.
Devemos agora aplicar o artigo 247º, para averiguar se António teria de conhecer a
essencialidade sobre a qual incidiu o erro.
António vendeu a Bernardo uma serigrafia de Picasso, pelo valor de mercado de 30 mil
euros em janeiro de 2020. O contrato pretendia ocultar a doação do referido quadro.
a) podem os filhos de António invalidar o negócio?
b) podem os credores de António impugnar o negócio?
c) qual o valor da doação? Seria possível pedir a transmissão da propriedade para
Bernardo?
c) aqui qualifica-se o negócio como uma simulação relativa, assim por detrás do
negócio simulado existe um outro negócio real ou dissimulado. Sendo o valor do
negócio real, em geral, ser valido ou invalido consoante o tratamento que teria se não
estivesse escondido. Temos que aplicar este critério à doação, ou seja, temos que
olhar para a doação como olhamos para qualquer outro negócio jurídico.
Em termos materiais, pelo que o enunciado nos diz, não há nada que afete este
negócio. mas o artigo 241º diz-nos mais alguma coisa, se o negócio for de natureza
formal só e valido se obedecer aos requisitos que a lei determina para a sua validade.
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Nós temos que olhar para este negócio do ponto de vista formal, não só do ponto de
vista substancial.
Artigo 247º
A tradição da coisa: entrega da coisa.
Substancialmente não há nada que afete esta doação, formalmente depende de ter
havido ou não tradição da coisa, entrega da coisa. se ele tiver entregado a dita
serigrafia, então não há problema, caso não tiver entregado a serigrafia então já
poderá haver problema. Isto porque seria necessário um escrito particular, e esse pode
não existir porque o enunciado não nos esclarece esse ponto.
Se nós constatarmos uma falha na forma, significa que este negócio dissimulado
também é nulo por vicio de forma.
Vamos imaginar agora que António declarou vender a dita serigrafia a Bernardo, não
tendo real intenção de o fazer. Mas apenas, para enganar a sua contraparte que
insistia em adquirir aquele bem e, portanto, não parava de o atormentar.
Quid Iuris?
Estamos perante o regime da reserva mental.
Em regra, a reserva mental é irrelevante, não afeta a validade do negócio, em nome
das espectativas da contraparte. Mas, ela pode ser relevante quando seja conhecida
da contraparte. Se ela for conhecida vai-se aplicar o mesmo regime que se aplicaria na
hipótese de simulação. Significa isto que, se essa reserva mental for conhecida de
Bernardo, que o negócio é nulo.
Tudo dependeria de saber se aqui Bernardo tinha ou não conhecimento dessa
simulação.
António declarou vender a Bernardo a referida serigrafia porque temia que Bernardo,
seu superior hierárquico, conhecido pelo seu temperamento colérico, pudesse de
alguma forma prejudicá-lo caso reusasse celebrar o negócio.
Quid Iuris, sabendo que hoje António se quer desvincular do contrato, uma vez que
Bernardo passou a trabalhar noutra empresa do grupo.
O problema que aqui se coloca, já não um problema entre a vontade e a declaração,
mas a propósito da formação da vontade, mas a vontade pode não ter surgido de um
modo natural e de um modo são. Coloca-se o problema de saber se eventualmente
poderíamos estar aqui perante uma hipótese de coação moral, receio de um mal com
que o declarante é ilicitamente com vista a extorquir dele uma determinada
declaração negocial. No caso concreto, falha na existência de uma ameaça ilícita. Isto
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a) este caso envolve um problema de erro vicio, ele diz que quer comprar aquela
gravura, sendo efetivamente isso que quer. No entanto, apenas a quer comprar
porque acha que a gravura é original. O erro vicio deve ser essencial e próprio, e este
vicio incide sobre as características intrínsecas do objeto. Por isso, estamos perante
um erro sobre o objeto, que nos termos do artigo 251º do CC, conjugado com o artigo
247º, determina a anulabilidade do negócio. Teresa não desconhece o erro ou a
cognoscibilidade da essencialidade do elemento sobre o qual incidiu o erro, sendo
assim o negócio é anulável.
b) Aqui ele diz uma coisa, e quer dizer outra, tendo por isso aqui presente um erro
obstáculo que resulta de um lapso. António declara X, a contraparte entende também
X, não há qualquer dissenso. O problema é que o dissenso que existe é entre aquilo
que ele diz e aquilo que ele quer dizer. Temos um erro obstáculo, ou erro na
declaração.
A doutrina tem vincando e evidenciado, que nem sempre é fácil distinguir o erro vicio
que recai sobre a identidade do objeto, do erro obstáculo ou erro na declaração. Em
termos práticos isto não nos aflige muito, porque o artigo 251º que prevê o erro vicio
sobre o objeto ou sobre a pessoa do declaratário acaba por nos remeter para o mesmo
artigo- 247º, o mesmo regime.
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Miguel convenceu Pedro, que Maria era filha de um grande amigo de infância que,
entretanto, tinha falecido em condições trágicas. Fê-lo por pretender que Pedro,
celebrasse um contrato de seguro de vida, que tivesse como beneficiaria Maria. Algum
tempo depois, Pedro descobre que Miguel o tinha enganado, e que Maria era uma
perfeita desconhecida. Pretende por isso, desvincular-se do negócio. poderá fazê-lo?
Temos presente um contrato de seguro de vida, sendo um contrato aleatório com
duas prestações pecuniárias, só que uma é fixa no seu montante e outra é incerta no
seu montante. Este celebrado entre Pedro e a seguradora, a companhia de seguros. A
maria surge aqui como beneficiaria do seguro, aparecendo ainda Miguel que vai
convencer Pedro que a Maria é uma pessoa que não é. E é por estar convencido que a
Maria é uma pessoa que não é, que Pedro celebra este contrato.
Nitidamente há uma má formação da vontade, a vontade não foi celebrado de um
modo natural ou de um modo são. Mas de todo o modo, este erro não é um erro em
que o Pedro incorra espontaneamente, não foi ele que se enganou foi alguém que o
enganou a ele. Temos aqui uma situação de dolo, porque este erro é qualificado. Há
uma inexata representação da realidade porque alguém induziu em erro o Pedro,
alguém utilizou artimanhas no sentido de induzir em erro o Pedro.
Este dolo é um dolos malus, é um dolo essencial, mas é um dolo de terceiro. Quem
engana o Pedro não é a contraparte, não é a companhia de seguros.
Sendo Miguel um terceiro, vamos ter que aplicar o regime do artigo 254º/2, que nos
diz que quando o dolo previr de um terceiro a declaração só é anulável se o
destinatário tinha ou devesse ter conhecimento dele, sendo o destinatário no caso
concreto a companhia de seguros. A companhia de seguros, não tinha conhecimento
do dolo nem lhe era exigível que tivesse. É de relembrar que estamos a falar de uma
contratação em massa e impessoal, por parte da companhia de seguros de vida.
Mas, caso alguém tenha adquirido um direito por virtude de declaração, está é
anulável em relação ao beneficiário, ou seja, em relação à Maria.
Miguel convenceu Pedro, que Maria era grande amiga de infância do segundo, que,
entretanto, tinha falecido em situação trágica. Fê-lo por pretender que Pedro
arrendasse o seu apartamento a Maria por um baixo custo. Pedro celebrou o contrato
de arrendamento com Maria, que desconhecia por completo a situação, e não tinha
sequer a noção mínima de que Pedro lhe estava a locar aquele imóvel por aquele
motivo. Porém, Miguel de acordo com o contrato, teria direito a uma percentagem da
renda, pela intermediação do negócio. Poderá hoje, Pedro, descoberto o equívoco
desvincular-se do contrato?
Nós temos um contrato celebrado entre Pedro e Maria, agora Maria é contraparte. E
mais uma vez, temos aqui uma personagem, Miguel, a induzir Pedro em erro. Então
mais uma vez temos aqui dolo de terceiro. Voltando para o artigo 254º/2.
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Parece que maria não conhecesse, nem era exigível que conhecesse o equívoco. de
notar ainda que Miguel por virtude da declaração teve direito uma condição, sendo
que esta é anulável sendo o próprio autor do dolo. Podemos concluir que, o Pedro não
pode invocar dolo em relação a Maria para se desvincular do negócio, mas pode
invocar dolo de terceiro para anular aquela clausulas do contrato, que determina que
Miguel tem direito a um determinado valor.
Isto não contenta muito Pedro, pois continua vinculado a Maria. Poderá Pedro fazer
algo?
Aqui já poderia invocar o erro sobre a pessoa do declaratário, pois ele acha que Maria
é uma pessoa e afinal é outra pessoa, esse erro é essencial e é próprio. Mas depois
temos que aplicar o regime do artigo 251º, que nos remete para o artigo 247º. O artigo
247º exige o conhecimento ou a cognoscibilidade da essencialidade do elemento sobre
o qual incidiu o erro, e é este requisito que será difícil de provar. Assim, Pedro corre o
risco de ficar vinculado a Maria.
Porém, se nos percebermos que há aqui um arrendamento a baixíssimo custo, poderia
haver aqui um sentido de exigibilidade. Mas isso já era especular demasiado.
Miguel, celebrou com Pedro um contrato nos termos do qual o primeiro empresta
dinheiro ao segundo, que se obriga a devolver o capital e o pagamento de juros.
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Maria, saturada do confinamento a que foi sujeita, resolveu passear num centro
comercial mal as lojas reabriram. Passando por uma das superfícies comerciais, viu
numa montra um vestido, com indicação de um determinado preço, e resolveu
comprá-lo. Dirigiu-se ao balcão de pagamentos e indicou que queria pagar aquele
vestido e levá-lo consigo. Marta funcionária da loja, disse-lhe então que aquele
produto não estava à venda, e em segundo lugar, que mesmo que estivesse o preço
correto não seriam 20 euros como indicado, mas 200 euros.
Pronuncie-se sobre cada um dos argumentos de Marta.
O primeiro argumento da Marta aponta-nos no sentido em que aquele vestido ali
estava como demonstração para chamar à atenção do publico. O contra-argumento de
Maria seria a exposição deste vestido numa montra com indicação precisa do preço,
corresponde a uma proposta negocial. No entanto, marta afirma entre linhas que
aquilo não era uma proposta, mas apenas um convite a contratar.
No entanto, estamos perante uma proposta. Pode haver dificuldades em distinguir
uma proposta de um convite a contratar nestas situações em que há uma declaração
que é dirigida ao publico em geral. Contudo, nós estamos aqui perante uma declaração
que é suficientemente clara, suficientemente precisa e que intenciona a vontade do
sujeito de se vincular com a mera aceitação da contraparte. A doutrina tem entendido
que tudo aquilo que aplique exposição de produtos em montras e em prateleiras, com
um determinado valor, deve ser visto como uma proposta.
O que é que uma superfície comercial, que quer colocar na montra o dito vestido, mas
só para atrair o publico, não querendo que aquela exposição do produto com a
indicação de um preço seja entendido como uma proposta negocial, teria que fazer
uma contradeclaração a explicar que a sua declaração inicial não devia ser entendida
naquele sentido.
No segundo argumento de Marta, relativo ao preço, faz-nos concluir que aqui temos
um erro na declaração ou erro obstáculo, tendo que aplicar aqui o regime do artigo
247º do CC. O negócio é anulável, desde que o declaratário conhecesse ou não
devesse ignorar, desde que houvesse conhecimento ou cognoscibilidade da
essencialidade do elemento sobre qual incidiu o erro.
É de notar ainda que esta anulabilidade não teria lugar se o negócio, pudesse valer
como o declarante o queria. Imaginemos que a maria aceitava pagar 200 euros pelo
vestido, o negócio aqui passaria a valer como a Marta queria.
perímetro da cidade não era possível, por uma questão de proteção da população mais
idosa, funcionar qualquer tipo de diversão a partir das 20h.
Pretende por isso, desvincular-se do negócio. Terá fundamento para isso?
Estamos perante um erro vicio, ele acha que a realidade é uma quando é outra. Este
erro é essencial, se ele não achasse que a realidade era uma diferente daquilo que ela
é efetivamente, ele já teria celebrado o negócio. A essencial é aferida em termos
subjetivos, nos sabemos se o erro é essencial ou não em função daquilo que o próprio
declarante entenda e veja no negócio. O erro é próprio.
Temos agora que qualificar a modalidade de erro vicio concreta, para depois lhe
aplicarmos o regime específico. O erro incide sobre os motivos.
No quadro do âmbito do erro sobres os motivos, temos 2 regimes: o erro sobre os
motivos propriamente dito, e o erro sobre a base do negócio.
No caso concreto estamos perante um erro sobre a base do negócio, pois estamos
perante um erro sobre determinada circunstância pressuposta pelos dois. Ou então,
tendo sido apenas pressuposta por um, mas que não poderia deixar de ser tida em
consideração pela contraparte à luz da boa-fé, se lhe tiver sido proposto o
condicionamento do negócio com base nessa mesma circunstância.
Vamos assim aplicar o artigo 252º/2, que nos remete para o artigo 437º do CC, que
fala por seu turno da alteração superveniente das circunstâncias, dizendo respeito ao
futuro. Prevê-se nesse artigo, que quando haja uma alteração superveniente das
circunstâncias a consequência seja a resolução do contrato, ou modificação dos
termos do contrato.
Ora, se nós estamos a falar de erro, de uma situação que afeta o negócio desde a sua
origem, não faz sentido a resolução do negócio.
Assim, deveremos pensar que a remissão feita para o artigo 437º, é uma remissão
meramente parcial. Remete para a hipótese da norma, mas já não para a sua
estatuição.
O que é que nos vamos buscar ao artigo 437º? A noção de base do negócio.
A consequência será a anulabilidade do negócio.
António comprou a Bernardo um terreno que julgava que era abastecido pela rede
elétrica. Mais tarde, já depois da celebração do negócio, descobre que afinal aquele
terreno não era abastecido eletricamente, e quer desvincular-se do negócio. Pode
fazê-lo?
Temos um erro sobre o objeto, porque apesar do erro incidir sobre um elemento que
no fundo configura um pressuposto externo da coisa, trata.se de um pressuposto
externo que não é mutável ao longo do tempo, que condiciona o empenho da coisa, e
por isso se assemelha às qualidades intrínsecas dessa coisa.
Então estamos perante um erro sobre o objeto.
António e benedita viveram 23 anos em união de facto, dois anos depois do início
desta situação de união António adquiriu uma ração autónoma de um edifício sujeito
ao regime de propriedade horizontal. No decurso da união de facto, António vendeu
metade da sua fração a benedita sob ameaça de que se não o fizesse esta o
abandonaria.
Ao fim de 20 anos, António e Benedita põe termo à sua relação. António pretende vir
invalidar o negócio. Quid Iuris?
Estamos perante uma situação de coação moral, porque António diz que quer vender e
efetivamente o quer fazer, mas a sua vontade foi determinada pelo receio ou medo de
um mal com que foi ilicitamente ameaçado com vista a extorquir uma declaração
negocial.
Esta coação moral é essencial ou principal, significa que sem ela não teria sido
celebrado um negócio, e, portanto, dá origem à anulabilidade do negócio, dentro do
prazo de 1 ano a contar do momento da cessação do vicio. Apenas a partir do termo
da relação é que o prazo começa a contar.
António comprou a Bernardo, joalheiro, uns brincos para oferecer à sua namorada. Os
brincos só podiam ser utilizados por quem tivesse as orelhas furadas. Hoje, António,
pretende desvincular-se do negócio, uma vez que descobriu que a namorada não tinha
qualquer furo nas orelhas.
Quid Iuris?
Estamos perante um erro vicio. Não é um erro obstáculo porque para isso teria de
haver uma diferença entre aquilo que foi dito e aquilo que ele queria dizer.
A modalidade em causa será erro sobre os motivos propriamente dito. Tem que haver
um acordo entre declarante e declaratário, no sentido de reconhecerem a
essencialidade desse motivo. Isso significa que quando António foi à loja, teria que ter
dito que se a namorada não usasse os brincos não os quereria, e o joalheiro teria que
assentir, no fundo, aquele negócio só faria sentido se Catarina usasse os brincos. Sem
este acordo não seria possível celebrar o negócio. perante um enunciado como este, a
única coisa que podemos dizer é depende da existência deste acordo.
Pedro, descobriu que Filipe seu devedor, tinha cometido adultério. Ameaça-o então,
de que se ele não constituir a seu favor uma hipoteca sobre o seu apartamento por
forma a reforçar o crédito de que era titular, conta tudo o que sabe a teresa mulher de
filipe. Fê-lo por temer que filipe, esbanjasse todo o seu património com a amante. Hoje
filipe, divorciado pretende desvincular-se do negócio.
Poderá fazê-lo?
Filipe, constituiu por documento particular Eduardo como seu procurador. Atribuindo-
lhe amplos poderes de administração. Eduardo, em nome de Filipe, vende um
apartamento a Maria. Passado uns dias, Eduardo em nome de Filipe, recebe as rendas
de outro apartamento deste, e com elas manda realizar obras de conservação.
Pronuncie-se sobre o valor dos negócios enunciados.
Relativamente ao primeiro negócio podemos concluir que há uma situação de
representação sem poderes, portanto o negócio é ineficaz em relação ao
representado. Em relação ao segundo, já é eficaz pois é celebrado dentro dos poderes
conferidos pelo procurador.
Há duas grandes posições na doutrina. Há autores que entendem que o dolo enquanto
vicio da vontade pressupõe o dolo enquanto forma de culpa, e isso quer dizer que ..
A sociedade renda e alugueres limitada, enviou uma carta aos diversos arrendatários
de Miguel, esclarecendo que a renda que teriam de pagar deveria ser atualizada a
partir dos mês de abril. Fê-lo por indicação do Miguel, que tinha contratado os seus
serviços para gestão dos diversos arrendamentos. A 30 de abril de 2021, a sociedade
rendas e alugueres, celebrou em nome de Miguel um contrato de arrendamento por
10 anos, com Francisco que já anteriormente tinha arrendado aquele imóvel. Miguel,
nunca havia conferido poderes de representação à sociedade rendas e alugueres.
Quid Iuris?
O negócio é ineficaz em relação a Miguel.
António confere a seu pai, uma procuração nos termos da qual lhe confere plenos
poderes para prometer comprar ou comprar, prometer vender ou vender a referida
fração autónoma, tal procuração autorizava a celebração de negócios consigo mesmo.
Ela foi conferida no interesse do mandatário. Por escritura publica de 29 de fevereiro
de 2009, António representado por Bernardo, declarou adquirir a fração autónoma X
pelo valor de 100 mil euros.
Tendo a aquisição subjacente, um mútuo bancário, Catarina surge como fiadora de
António.
Por escritura publica de 15 de maio de 2008, António representado por Bernardo,
declarou vender a fração X a Catarina, por 120 mil euros.
No processo, ficou provado que o contrato de compra e venda celebrado em 29 de
fevereiro de 2009, foi aparentemente celebrado entre António na qualidade de
pretenso comprador, e os donos do prédio, na qualidade de efetivos vendedores,
quando na verdade, foi Bernardo quem adquiriu o imóvel em questão.
Bernardo pretendia na verdade esconder da sua mulher, de quem se estava a
divorciar, que aquele bem pertencia ao acervo dos bens do casal a partilhar.
Pronuncie-se sobre o caso concreto.
Sabemos que esta procuração foi conferida no interesse do mandatário, ou seja, foi
conferida no interesse do representante e não no interesse do representado. Isto é
possível, pois a representação voluntária implica a atuação em nome de outrem, mas
não implica a atuação no interesse de outrem.
Não implica sequer a atuação por conta de outrem, embora no caso concreto porque
nós temos uma representação voluntaria associada a um contrato de mandato, nós
vamos ter aqui também a atuação por conta de outrem.
Porque é que esta A aparece aqui? Surge porque B tem interesse em que as pessoas
acreditem, designadamente a sua mulher, considerasse que aquele bem estava a ser
adquirida pelo seu filho e não por ele. Se B aparecesse no negócio como representante
aparentemente a propriedade pertenceria a A e não a B.
Qual é aqui a questão? Temos aqui uma divergência entre aquilo que é dito e aquilo
que se quer dizer. O que é que B quer dizer? Eu quero comprar. E o que é que ele
acaba efetivamente por dizer? Eu quero comprar em nome de A.
Neste caso, aquilo que o Tribunal da relação de Lisboa esteve a discutir é se nós
poderemos ter ou não uma simulação. Será que podemos ter efetivamente uma
simulação? Temos uma divergência intencional, no entanto não podia haver uma
simulação no caso concreto. Isto porque não havia um conluio com os vendedores do
prédio, falta-nos aqui esse elemento essencial, falta-nos o pacto simulatório.
A segunda perspetiva que se tentou discutir ao nível do tribunal de relação de Lisboa, é
se estaríamos aqui perante outra divergência intencional. Então vamos imaginar que
consideramos que efetivamente havia aqui uma reserva mental. Qual é o valor deste
negócio? em regra, é irrelevante, não provoca qualquer invalidade do negócio exceto
se for conhecida da contraparte. Se for conhecida da contraparte então terá o mesmo
efeito que a simulação. Seria necessário, que os tais vendedores conhecessem a
reserva mental. Não conhecendo a reserva mental, então ela é irrelevante, o que quer
dizer que não vamos conseguir invalidar este negócio.
António, trabalhador declara que reconhece que a sua entidade patronal não era
devedora de quaisquer montantes adicionais, estando liquidadas todas as contas
naquele momento em que celebravam um acordo de cessação de contrato de
trabalho. No momento em que faz esta declaração, António diz oralmente que não
concordava com o teor das informações.
Mais tarde, António pretende impugnar aquele acordo dizendo que estamos diante de
uma declaração não séria da sua parte.
Quid Iuris?
Este caso foi decidido pelo acórdão do tribunal de relação de Évora, de 20 de setembro
de 2016.
A discussão do tribunal de relação de Évora baeou.se nas declarações não serias. A
verdade é que, parece que não existe aqui uma verdadeira declaração não séria. Isto
porque, para termos uma declaração não seria temos de ter uma divergência
intencional entre a vontade e a declaração. Essa divergência intencional tem de
resultar da ausência de intenção de enganar a minha contraparte, de enganar o
declaratário, e da expectativa de que o declaratário se aperceberia da minha falta de
seriedade da minha declaração. Ora, neste caso concreto, não é exatamente disso que
se trata.
O António não tem essa intenção, ele tinha intenção efetivamente de atribuir eficácia
negocial, até porque ele recebe um determinado montante a partir daquele acordo
revogatório. O que ele não concorda é com o teor exato das declarações que está a
proferir.
Portanto podemos pensar que, ele diz uma coisa, ele quer efetivamente dizer essa
coisa, parecendo que nem sequer há aqui uma divergência. O problema é que ele só
tem vontade de aceitar aquele montante porque de algum modo a entidade patronal o
forçou a isso. E, portanto, se assim é, aquilo que se teria de questionar, era se poderia
ser ou não relevante algum vicio da vontade. Ainda assim com muitas reservas, até
porque há jurisprudência no sentido de entender que em situações análogas a estas
não seria propriamente relevante uma ideia de coação moral.
Bernardo aceita, e uns meses mais tarde foi citado numa ação executiva para
pagamento de quantia certa, porque tinha subscrito uma livrança não sendo fiador,
mas mutuário.
Quid Iuris?
O fiador também vai responder pela divida, só que o fiador responde
subsidiariamente, só se o devedor não cumprir é que o fiador é chamado a comprar. O
fiador tem chamado o benefício da execução previa, eu pago, mas primeiro vamos
tentar executar o património do devedor. Se ele subscreve uma livrança, ele passa a
ser o primeiro titular, porque o título executivo passa a ser subscrito por ele. Portanto,
na falha do pagamento de um mútuo é sobre o seu património que o credor vai agir.
Ele acha que a natureza da garantia que está a prestar é uma, e afinal a natureza da
garantia que está a prestar é outra.
Temos aqui, portanto um erro vicio, um erro sobre o objeto, pois é um erro sobre a
natureza do negócio. Um erro sobre o objeto incide num erro sobre a identidade do
objeto, as qualidades do objeto e a natureza do negócio.
O regime deste erro seria o artigo 247º, não sendo este aplicável de imediato, por
remissão do artigo 251º.
mesma circunstância), ou erro sobre os motivos propriamente dito. Sendo este último
o regime aplicado, regime do artigo 252º/1.
Depois, tudo passaria por saber se houve ou não um acordo à cerca da essencialidade
do motivo.
António celebrou com Bernardo, um contrato nos termos do qual se obrigava a pintar
as paredes de casa do segundo, até ao dia 3 de maio de 2020. No contrato, foi aposta
uma clausula nos termos da qual António se obrigava a pagar a quantia de 5 mil euros
por cada semana de atraso na realização do trabalho completo. Bernardo, que não
necessita da obra pronta com rapidez pretende, em face do atraso na entrega da
mesma, cobrar o valor estipulado. António contesta dizendo que não entregou até
agora a obra, pois está de quarentena forçada em virtude do COVID-19.
Quid Iuris?
Temos aqui uma clausula penal, esta tem diversas modalidades e dependendo desta
assim será diferente o regime aplicável. Vamos imaginar que é para compelir o
devedor a cumprir, estaremos perante uma clausula puramente compulsória. Se for
uma clausula penal puramente compulsória, ele tem direito a exigir os 50 mil euros?
Sim, pode exigir a pena e acrescentar a indemnização especifica, e não é necessário
que se verifiquem danos para que ele exija a pena. Mas há uma coisa que se exige, a
culpa. Não é possível assim, exigir a pena, mesmo numa clausula penal estritamente
compulsória sem culpa, pois se o objetivo é compelir ao cumprimento, se ele não
cumpre por um facto que não lhe é imputável, estar a exigir a pena é ir além do que é
o plano da justiça.
Seria claramente abusivo exigir aqui o pagamento desta pena. Falta aqui, então, um
elemento para exigir o pagamento dos 50 mil euros, falta a culpa.
Imaginemos então que não existe esta clausula, o problema que se colocava de ele não
cumprir, e de não pintar até à data acordada, não era um problema de alteração
superveniente das circunstâncias, pois não estamos perante uma mera dificuldade
económica para cumprir, há mesmo uma impossibilidade para cumprir, ele não pode
sair de casa.
António celebrou com João, um contrato nos termos do qual o segundo se obriga a
pagar uma quantia em dinheiro, em troca da realização de uma pintura a óleo que
João queria oferecer à sua noiva. Acordaram entre ele que case o quadro não estivesse
pronto na data prevista, João teria direito ao pagamento de 4 mil e quinhentos euros.
Chegado ao dia em questão, o quadro não estava pronto. António, contudo, recusa-se
a efetuar o pagamento, argumentando que João não sofreu qualquer dano.
Quid Iuris?
Estamos aqui perante uma clausula penal, pois estamos antecipadamente a
convencionar uma quantia caso não se cumpra. Neste caso concreto esta clausula
penal moratório isto porque não visava cobrir o incumprimento, mas visava cobrir
exatamente a mora, o atraso no cumprimento. Podia desencadear-se o direito à pena
em caso de mero atraso na realização da obra.
Na clausula puramente compulsória, existe a verificação da culpa do devedor. Se o
devedor vier provar que de facto não existiu qualquer dano, não terá direito à pena
por parte do credor.
Só terá direito se estivermos a tratar de uma cláusula penal em sentido estrito, não há
sequer a problemática da verificação porque o interesse do credor é satisfeito por
outra via. Tudo redunda no caso, que estamos a analisar, em saber qual é a clausula
penal concretamente em causa.
Se o enunciado não nos esclarece suficientemente podemos lançar mão de uma
presunção, na dúvida vamos presumir que a cláusula estipulada pelas partes é aquela
que está prevista no código civil.
De todo o modo, na resolução de um caso como este deveríamos explicitar as
consequências praticas diferentes, segundo cada uma das modalidades.
António, doou a Bernardo, um automóvel, mas para tal era necessário que Bernardo o
fosse visitar a Lisboa. Bernardo não o foi visitar a Lisboa. Quid Iuris?
Estamos perante uma clausula potestativa, sendo um ato de uma das partes.
Estaremos perante um modo ou uma condição? Para entender temos de interpretar o
contrato. Como não temos uma formulação exata do contrato, temos dúvidas. Na
dúvida vamos determinar através do princípio da salvaguarda da manutenção dos
contratos até ao máximo que pudermos. Os efeitos do contrato matem-se mais sendo
um modo, pois neste pode nem sequer haver direito à resolução só se o contrato o
previr expressamente.
Joaquim pretende vender as arvores do quintal de sua casa. Qual a forma do contrato?
Temos aqui uma compra e venda, sabemos que se tiver como objeto um imóvel não
tem qualquer formalidade, se tiver como objeto um bem movel será necessário
escritura publica ou escrito particular autenticado. Temos que determinar então se as
arvores são bens moveis ou bens imoveis. Temos que ir ao elenco do artigo 204º do
CC.
Neste caso seria uma coisa movel, porque as arvores não estão ligadas ao solo.
Bernardo, incumbe Pedro de comprar um imóvel para que depois ele o possa utilizar.
Para tanto, entrega-lhe uma quantia em dinheiro necessária para o pagamento, mas
não lhe confere poderes de representação através de uma procuração. Bernardo,
pretende agora formalizar a sua posição em relação à coisa.
Quid Iuris?
Foi celebrado um contrato de mandato, neste caso, mandato sem representação.
Significa isso que quando Pedro compra o imóvel o faz em nome próprio e não em
nome de Bernardo. Tem que haver um negócio de transmissão da propriedade de
Pedro para Bernardo que é o negócio de concretização e de cumprimento daquele
mandato.
António morreu, e deixou como património uma conta bancária com um saldo de 12
mil euros, um automóvel, e diversos bens moveis. As despesas de funeral ascenderam
a 9 mil euros. Bernardo, credor, vem exigir o pagamento de uma divida de 10 mil
euros. Os herdeiros de António, opõem-se a pagar o montante da divida a Bernardo.
Quid Iuris?
Só têm que pagar as dividas da herança, até as forças da própria herança. Isto porque a
herança configura-se como um património autónomo.
Ao valor da herança tínhamos que descontar 9 mil euros, portanto eles teriam que
pagar a Bernardo até ao montante que fosse coberto pelo valor da própria massa
hereditária- artigo 2071º.
E podíamos ainda pensar que, numa sexta hipótese, foi aposta uma clausula nos
termos da qual, a propriedade volta à esfera jurídica do António, se a CM não construir
uma biblioteca municipal naquele terreno. Neste caso, teríamos novamente uma
condição, só que agora seria uma condição resolutiva.
Isto permite-nos concluir que não é possível, nós oferecemos uma resposta definitiva e
concreta, sem olharmos para todas as particularidades do caso. E estas
particularidades passam por saber se foram ou não apostas clausulas ou estipulações
acessórias típicas; caso não tenham sido, saber se o destino do bem se integra dentro
do próprio contrato, de acordo com que foi aquela vontade das partes; e saber em que
momento é que se alterou o destino a dar ao bem.
António, comprou à garagem X com sede no Porto, um Renault laguna do ano de 2004
cujo conta Kl marca cerca de 143 mil k. O preço acordado foi de 10 mil euros. Já na
posse do veículo, pode contatar através da consulta do livro de assistência, que
aquando da última revisão, o veículo tinha registado cerca de 800 mil kl como
quilometragem percorrida.
Pode, António desvincular-se do negócio?
Quid Iuris se o automóvel tivesse efetivamente percorrido apenas 143 mil k, mas
contra o que tinha sido dito pelo proprietário da garagem X, já tivesse sofrido um
acidente tendo em conta que o referido comerciante, ao dar a resposta, não tinha a
certeza do que afirmara.
Aqui o que nós temos é um comportamento que já não é deliberado, tendo aqui uma
indução em erro causada por negligencia. Isto coloca o problema de saber se nós
podemos ou não equiparar esta negligencia a uma hipótese de dolo, enquanto vicio da
vontade. Já sabemos que a doutrina se divide, e que há autores que respondem
negativamente. Mas depois, ao responderem negativamente vêm permitir através do
regime da responsabilidade pré contratual, a desvinculação do contrato, isto porque
haveria aqui responsabilidade pré contratual.
Outros autores, vêm afirmar que é possível equiparar estas hipóteses ao dolo
enquanto vicio da vontade. Parecendo a melhor posição à Doutora Mafalda.
Neste caso concreto, e de acordo com o enunciado, nos tínhamos ainda a hipótese de
considerar que haveria efetivamente dolo enquanto forma de culpa e não meramente
uma indução em erro. Pois, tudo dependeria do estado psicológico do sujeito.
Filipe, entregou na loja X, uma peça de um serviço de jantar para que a partir daquela
pudessem reproduzir uma jarra com os mesmos desenhos. No momento em que
entregou a peça do serviço, obrigaram-no a assinar um documento no qual constava o
seguinte: não nos responsabilizamos por quaisquer danos que ocorram na peça em
que foi entregue. O prato em questão partiu-se.
Quid Iuris?
Temos uma hipótese em que temos um contrato a qual é aposta uma clausula de
exclusão de responsabilidade, o problema que nós temos de colocar é da validade
desta clausula da exclusão de responsabilidade. Só será valida se excluir a
responsabilidade por culpa leve, será nula se excluir a responsabilidade por culpa
grave.
Se nós olharmos para esta clausula na sua literalidade, parece que ela abrange o dolo e
a culpa grave. Para salvar esta clausula temos que a reduzir, ou pelo menos interpretá-
la por forma a reduzi-la. Isto significa que se o prato se partiu por culpa leve, não
haverá direito a uma indemnização. Se o prato se partiu por culpa grave haverá direito
a uma indemnização.
António ameaçou Francisco, de que mataria o seu cão de estimação se ele não lhe
vendesse o automóvel. É válido este negócio?
É um caso de coação moral, aqui a declaração é emitida por força de afastar um vicio,
uma ameaça ilícita que é feita com vista a extorquir essa mesma declaração negocial. A
ameaça é ilícita porque os próprios meios são ilícitos.
Quid Iuris, se João não ameaçasse Francisco, mas lhe dissesse que ou ele lhe vendia o
automóvel ou ele enquanto bombeiro, não resgataria o seu cão de estimação que
estava num penhasco prestes a cair ao mar.
Aqui temos uma hipótese de estado de necessidade. Reparemos agora que o perigo já
não resulta da ameaça, mas o perigo é anterior a qualquer atuação de João, e a única
coisa que João faz é usar esse perigo pré-existente para tentar obter uma vantagem
que de outra forma não obteria.
Há autores que entendem que, numa hipótese como esta, não podemos recorrer ao
estado de necessidade. Parecendo à doutora Mafalda totalmente descabido.
Temos aqui uma hipótese de necessidade em concreto, que faz necessariamente com
que a vontade do sujeito esteja diminuída naquele caso em concreto.
António, instaurou uma ação declarativa de condenação contra Bernardo, pedindo que
seja declarada a transação efetuada na ação julgada pelo tribunal de relação de vila
verde, e que a ré seja condenada a pagar a quantia de 8 mil euros, a título de
indemnização pela paralisação do seu veículo.
Fundamente este pedido, de um acidente de viação que ocorreu em 20 de setembro
de 2018.
Na sequência desse acidente de viação, António instaurou contra o reu uma ação de
indemnização a qual terminou com uma transação homologada por sentença. Na qual
António, aceitou receber a quantia de 2.500 euros. Sucede, porém, que apos o acordo
realizado, recebeu do hospital faturas por liquidar resultantes dos tratamentos a que
foi sujeito e que totalizaram a quantia de 3.900 euros. Bem como faturas da oficina
onde tinha mandado concertar o automóvel, que ascendiam a 5 mil euros e que não
foram até hoje pagas, por falta de capacidade a pagar.
Como é que poderemos julgar esta nova ação que foi instaurada contra o Bernardo?
Há uma incorreta ou inexata representação da realidade. Mas neste caso concreto, o
erro não é sobre a base do negócio, é mais do que isso, é erro sobre o objeto-
montante indemnizatório.
António acordou com Filipa, que ele levaria todos os dias de manhã ao seu local de
trabalho, já que este fica situado ao lado do seu local de trabalho. Contudo, por
diversas vezes, António não comparecia à hora combinada, fazendo com que filipa