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Aula 1

Personalidade e Capacidade; pessoas e bens


No estudo do Direito Civil, os sujeitos de Direitos são a primeira e mais essencial
definição do nosso sistema de Direito e estão na base de toda e qualquer relação
jurídica, porque definem pessoa, estabelecem as suas características e determinam
a capacidade civil – ou capacidade de interação das pessoas no universo;
definem bens e patrimônio e fundamentam o mundo econômico e negocial;
as obrigações e os contratos estabelecem as diretrizes para a segurança dos
negócios em sociedade e, finalmente, a responsabilidade civil identifica os atos
ilícitos civis, os danos e as indenizações ou reparações deles decorrentes, garantindo
a própria perpetuação da vida em sociedade.

Sujeitos de Direitos, pessoa, personalidade

O primeiro dos institutos do Direito: o Sujeito de Direitos, o detentor de direitos e


de deveres em esfera jurídica e social, o destinatário do conjunto de normas de
conduta que conhecemos por Direito, aquele de quem se pode exigir determinado
comportamento conforme a lei ou a quem se pode aplicar determinada sanção pela
sua inobservância.
Assim, temos que o Sujeito de Direitos apresenta uma dimensão biológica – o ser
humano, que é o indivíduo considerado em si mesmo, o indivíduo, dotado das
características que o tornam titular de direitos e deveres inerentes à humanidade, e
uma dimensão social – a pessoa, que é a representação dessa humanidade em planos
coletivos, no curso da vida em sociedade.
É o seguinte o teor do artigo 1º de nosso Código Civil:
Art. 1º Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil.

À condição essencial da pessoa no Direito chama-se personalidade.

Assim, personalidade será a medida da aptidão da pessoa para tornar-se titular de


direitos e de obrigações em planos jurídicos e sociais.
Temos, portanto, que serão os Sujeitos de Direitos assim estruturados: em sua
dimensão biológica, de concretude, os seres humanos considerados em si mesmos,
com seu conjunto de características específicas que os identifica e distingue de todos
os demais componentes do Universo; em sua dimensão social, abstrata, ideal, as
pessoas, a cuja representação dinâmica denominamos personalidade – e que é o
canal de interação com o mundo.

AS ESFERAS DA PERSONALIDADE
CORPO FISICO + PATRIMÔNIO + ALMA + TEMPO + VIDA VIRTUAL

Homem era apenas corpo físico, só possuía concreta sua dimensão da física.
Depois passou a se compreender além da sua esfera física para sua concepção
patrimonial mesmo sendo ele o patrimônio de alguém.
Passou também a ser dotado com alma.
Depois passou a compreender a esfera temporal de sua personalidade tanto pelo
ponto de vista econômico como jurídico.
Agregou sua vida virtual.
Sob o critério da dinamicidade, a personalidade (que é esfera de investidura, esfera
dinâmica, de movimento) será exclusividade da pessoa, que representa idealmente o
sujeito de Direitos, cuja acepção física se integra ao ser humano – ou seja, a
personalidade será atributo da pessoa, que corresponde à esfera social do ser
humano, a personalização do sujeito de direitos e deveres, o destinatário de
qualquer norma social.

As pessoas poderão ter duas formas de existência:

EXISTÊNCIA NATURAL, FÍSICA OU CONCRETA


Forma plasticamente compreendida no ser humano.

EXISTÊNCIA IDEAL OU ABSTRATA


Criação artificial do Direito na medida em que não corresponde a um estado encontrado
na natureza.

Essas pessoas serão: a pessoa física, ou pessoa natural, cuja dimensão concreta e
externa será o próprio ser humano, e a pessoa jurídica, denominação que se
empresta usualmente à pessoa ideal, à pessoa abstrata, que é uma criação humana,
uma ficção a que se empresta personalidade permitindo a prática de determinados
atos ou negócios e que possui vida distinta de seus componentes.
Exemplos desse tipo de pessoa (da pessoa jurídica) serão todas as empresas, todas as
companhias, quaisquer que sejam as suas respectivas áreas de atuação e de
funcionamento; serão pessoas jurídicas os bares, os restaurantes, os bancos, as
instituições de ensino; a elas se atribui personalidade sob certas condições previstas
em lei e para a prática de atos predeterminados em seu instrumento de constituição,
que via de regra é o contrato social; elas poderão contratar entre si e com terceiros,
ter funcionários, fazer investimentos, agindo por meio de seus representantes.

Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado:


I. as associações;
II. as sociedades;
III. as fundações;
IV. as organizações religiosas;
V. os partidos políticos;
VI. as empresas individuais de responsabilidade limitada.
§ 1º São livres a criação, a organização, a estruturação interna e o
funcionamento das organizações religiosas, sendo vedado ao poder
público negar-lhes reconhecimento ou registro dos atos constitutivos
e necessários ao seu funcionamento.
§ 2º As disposições concernentes às associações aplicam-se
subsidiariamente às sociedades que são objeto do
§ 3º Os partidos políticos serão organizados e funcionarão conforme o
disposto em lei específica.

Coisas, Bens

Chegamos, então, à primeira e à principal distinção que fazemos em Direito e a que


chegamos por exclusão: aquela que, literalmente, divide todo o Universo em duas
modalidades, em dois tipos de seres: as pessoas e as coisas – e foi justamente essa
distinção que permitiu que chegássemos ao atual estágio dos direitos das coisas
(direitos de propriedade), ao direito comercial, ao direito tributário, entre outros
tantos.
OBS: coisa será tudo aquilo que não for pessoa, considerando pessoa como
destinatária das normas de direito e coisa como objeto a ser apropriado e sobre o
qual incidirão as normas de que se fazem titulares as pessoas – e aí encontramos
outra distinção: entre as coisas que possuem valor econômico e aquelas que não o
possuem.

Tipologia e classificação dos Bens


Diferentemente das pessoas, os bens podem revestir-se de características tão
distintas entre si como um tijolo e um passarinho, razão pela qual são analisados em
suas subdivisões, a saber:

a. Bens Móveis - São aqueles que se podem transportar de um ponto a outro sem
que percam as suas características físicas. Exemplo: uma cadeira.
b. Imóveis - São aqueles que não se podem transportar de um ponto a outro sem
que percam as suas características físicas. Exemplo: uma casa
c. Semoventes - São aqueles que se movem de um ponto a outro por seus
próprios meios ou forças. Exemplo: um cão.
d. Fungíveis - São aqueles que se podem substituir por outros de igual
quantidade, qualidade e forma. Exemplo: dinheiro.
e. Infungíveis - São aqueles que não se podem substituir por outros de igual
quantidade, qualidade e forma. Exemplo: uma pintura de determinado autor.
f. Materiais, corpóreos ou concretos - São os que possuem esfera concreta,
física. Exemplo: um automóvel.
g. Imateriais, incorpóreos ou abstratos - São os que não possuem esfera
concreta, física. Exemplo: o software.
h. Presentes - Aqueles que já existem no momento do contrato. Exemplo: um
animal já existente.
i. Futuros - Aqueles que ainda não existem no momento do contrato, mas têm
sua existência previsível. Exemplo: um animal ainda em gestação.
j. Estimáveis- Aqueles cujo valor pode ser estimado. Exemplo: uma escultura
que se encontre em comércio.
k. Inestimáveis - Aqueles cujo valor não pode ser estimado. Exemplo: a
escultura O Pensador, de Rodin.
l. Bens no comércio - Aqueles que podem ser objeto de apropriação pelas
pessoas e consequentemente de negócios jurídicos entre elas. Exemplo: um livro.
m. Fora de comércio - Aqueles que não podem ser objeto de apropriação pelas
pessoas e consequentemente de negócios jurídicos entre elas. Exemplo: órgãos
humanos.
n. Públicos - Aqueles que ainda não existem no momento do contrato, mas têm
sua existência previsível. Exemplo: as praias.
o. Privados - Aqueles que pertencem a indivíduos particulares. Exemplo: um
terreno partícula.

Início e fim da personalidade

A personalidade, que permite ao sujeito de direitos interagir socialmente, possui


delimitação temporal definida; vale dizer, possui início e final; a personalidade
humana se inicia no momento do nascimento com vida e se extingue no momento da
morte. Durante esse lapso de tempo – a própria vida – o indivíduo será pessoa, estará
apto a agir socialmente, apreendendo os bens e se relacionando com os demais.
Assim, antes do nascimento e depois da morte não existe personalidade, já que seu
início ou ainda não se verificou ou já ocorreu a sua cessação. Portanto, o nascituro e
o cadáver não são pessoas – e, assim, por exclusão, são coisas.

Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito


privado com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro,
precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder
Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por que
passar o ato constitutivo.
Parágrafo único. Decai em três anos o direito de anular a constituição
das pessoas jurídicas de direito privado, por defeito do ato
respectivo, contado o prazo da publicação de sua inscrição no
registro.
(...)
Art. 51. Nos casos de dissolução da pessoa jurídica ou cassada a
autorização para seu funcionamento, ela subsistirá para os fins de
liquidação, até que esta se conclua.
§ 1º Far-se-á, no registro onde a pessoa jurídica estiver inscrita, a
averbação de sua dissolução.
§ 2º As disposições para a liquidação das sociedades aplicam-se, no
que couber, às demais pessoas jurídicas de direito privado.
§ 3º Encerrada a liquidação, promover-se-á o cancelamento da
inscrição da pessoa jurídica.

Nosso Direito estende às pessoas jurídicas a proteção dos direitos da personalidade, que
representam o substrato mínimo necessário para a existência da própria pessoa, nos
termos seguintes:
Art. 52. Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos
da personalidade.
Para a teoria concepcionista a personalidade se inicia com a concepção e não
quando do nascimento com vida. Todavia, esta não é a orientação de nosso
Código Civil, que adota a teoria natalista do início da personalidade.
Nem sempre o nascimento com vida foi suficiente para a determinação do
início da personalidade – em algumas sociedades, como na grega, ou na
romana, exigia-se, além disso, forma humana (aparência exterior de pessoa) e
viabilidade (possibilidade de manutenção da vida por si só) para a apreensão
da personalidade. Caso não preenchesse tais requisitos, o recém-nascido não
a adquiria. Animal – tal era a definição de monstro – como o Minotauro, misto de
homem e touro e que, portanto, não deveria ser sujeito de direitos e deveres.

Importante destacar que a sociedade humana, diferentemente de outros


grupamentos animais, não se rege apenas e tão somente pelas implacáveis leis
naturais, mas sim por normas e regras sociais, que são uma abstração concebida e
mantida pelos seres humanos.

Capacidade

A essa condição se denomina capacidade, e consiste em poder a pessoa, por si


só e sem a participação de quem quer que seja, gerir sua vida e seus bens e
praticar livremente todos os atos da vida, tais como casar-se, comprar,
vender, exercer uma profissão, entre inúmeros outros.
Desta forma, teremos dois graus de restrições à plena capacidade: aqueles
decorrentes da inexperiência presumida, ou seja, que são empregados à
proteção dos menores, e aqueles decorrentes da enfermidade ou da má
formação, que levam à impossibilidade, de fato, do exercício pleno da vida
negocial, como na hipótese dos portadores de enfermidades ou deficiências
mentais.
Art. 3o São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os
atos da vida civil:
I. os menores de dezesseis anos;
II. os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o
necessário discernimento para a prática desses atos;
III. os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua
vontade.
Art. 4o São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de
os exercer:
I. os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;
II. os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência
mental, tenham o discernimento reduzido;
III. os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo;
IV. os pródigos.
Parágrafo único. A capacidade dos índios será regulada por legislação
especial.

A tutela da incapacidade se dá pela representação ou pela assistência: a


representação, que se dá nas hipóteses da incapacidade absoluta, impõe que
os atos da vida civil que toquem ao incapaz sejam praticados por seu
representante, enquanto que a assistência determina que o incapaz praticará
o ato que lhe toque, porém não o poderá fazer sozinho, sendo assistido por
alguém capaz, que supra a sua incapacidade relativa.
O incapaz, ainda quando o seja absolutamente, pratica atos da vida civil – ele
compra, vende, aluga, herda, doa, enfim, pratica todos os atos da vida em
sociedade – apenas não o faz por si próprio, ou sem a participação de seu
representante ou assistente.

Domicílio

Para a realização de sua vida negocial, a pessoa possui um local que será o de sua
residência ou o de seu estabelecimento, aquele onde exercerá os atos jurídicos e
onde demandará e será demandada judicialmente; a esse local se chama domicílio
civil, e pode coincidir ou não com o endereço residencial ou comercial.
O Código Civil regulamenta o estabelecimento do domicílio das pessoas na forma
seguinte:
Art. 70. O domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece a sua residência
com ânimo definitivo.
Art. 71. Se, porém, a pessoa natural tiver diversas residências, onde,
alternadamente, viva, considerar-se-á domicílio seu qualquer delas.
Art. 72. É também domicílio da pessoa natural, quanto às relações concernentes à
profissão, o lugar onde esta é exercida.
Parágrafo único. Se a pessoa exercitar profissão em lugares diversos, cada um deles
constituirá domicílio para as relações que lhe corresponderem.
Art. 73. Ter-se-á por domicílio da pessoa natural, que não tenha residência habitual,
o lugar onde for encontrada.
Art. 74. Muda-se o domicílio, transferindo a residência, com a intenção manifesta de
o mudar.
Parágrafo único. A prova da intenção resultará do que declarar a pessoa às
municipalidades dos lugares, que deixa, e para onde vai, ou, se tais declarações não
fizer, da própria mudança, com as circunstâncias que a acompanharem.
O domicílio não será sempre voluntário. Algumas pessoas têm seu domicílio
determinado por lei, portanto terão domicílio necessário. Nos termos do Código
Civil:
Art. 76. Têm domicílio necessário o incapaz, o servidor público, o militar, o marítimo
e o preso.
Parágrafo único. O domicílio do incapaz é o do seu representante ou assistente; o do
servidor público, o lugar em que exercer permanentemente suas funções; o do
militar, onde servir, e, sendo da Marinha ou da Aeronáutica, a sede do comando a
que se encontrar imediatamente subordinado; o do marítimo, onde o navio estiver
matriculado; e o do preso, o lugar em que cumprir a sentença.
Finalmente, mas não menos importante, existe o domicílio de eleição, que é aquele
estabelecido pelos contratantes como sendo o foro, o local onde deverão ser
dirimidas as questões eventualmente suscitadas pelo negócio jurídico. É usualmente
empregado nas atividades empresariais e o Código Civil o regulamenta na forma
seguinte:
Art. 78. Nos contratos escritos, poderão os contratantes especificar domicílio onde se
exercitem e cumpram os direitos e obrigações deles resultantes.
É de extrema relevância o estabelecimento e a determinação do domicílio, tanto
para os atos da vida civil como para os atos empresariais; ele determina, como já
vimos, onde a pessoa será demandada judicialmente em termos espaciais (sendo a
medida do alcance da lei, como vimos anteriormente), bem como onde será
tributada ou onde realizará as suas atividades empresariais.
No tocante às pessoas jurídicas, a disposição é a seguinte:

Art. 75. Quanto às pessoas jurídicas, o domicílio é:


I. da União, o Distrito Federal;
II. dos Estados e Territórios, as respectivas capitais;
III. do Município, o lugar onde funcione a administração municipal;
IV. das demais pessoas jurídicas, o lugar onde funcionarem as respectivas
diretorias e administrações, ou onde elegerem domicílio especial no seu
estatuto ou atos constitutivos.
§ 1o Tendo a pessoa jurídica diversos estabelecimentos em lugares diferentes, cada
um deles será considerado domicílio para os atos nele praticados.
§ 2o Se a administração, ou diretoria, tiver a sede no estrangeiro, haver-se-á por
domicílio da pessoa jurídica, no tocante às obrigações contraídas por cada uma das
suas agências, o lugar do estabelecimento, sito no Brasil, a que ela corresponder.
### Para aprofundar o conhecimento dessa matéria, estude o tópico 6 do
livro Direito Civil: Introdução, Pessoas e Bens (RS – EDUCS), de Alexandre Cortez
Fernandes.

OBS – de dois grupos


1- Pessoas dotadas de personalidade jurídica = somos nós sujeitos de
diretos e obrigações.
2- Coisas que não são sujeitas de direito = engloba os demais seres que
existe , que não são seres humanos.

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