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Tomo IV - As Pessoas
I. A pessoa no Direito Civil
Todo o Direito existe por causa dos Homens. Todo o Direito é pessoa, apesar de
o Direito admitir que possa ser consideradas pessoas outras realidades não
correspondentes a seres humanos: associações, fundações, sociedades e o próprio
estado (exemplos jurídicos do conceito de “Pessoas coletivas”).
Personalidade singular - dimensão jurídica do ser humano, enquanto realidade
racional, dotada de liberdade.
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Os bens de personalidade:
Apresentámos o “bem” como uma realidade capaz de satisfazer necessidades
(sentido objetivo) ou apetências (sentido subjetivo) da pessoa. Assim, a própria
pessoa representa um bem para si.
Bens de personalidade:
- ao ser humano biológico: vida, integridade física e saúde
- ao ser humano moral: integridade moral, nome, identidade
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I. A absolutidade
Os direitos de personalidade são apresentados como direitos absolutos, por
dois aspetos - é, primeiro, por ser um direito oponível a todos (aspeto externo) e, numa
aceção interna, no sentido que a pessoa pode exercer o seu direito de personalidade
livremente, dispondo totalmente dele: o direito de personalidade típico carateriza-se
pela permissão de aproveitamento de um bem de personalidade, não havendo aqui
nenhuma relação. São, também, absolutos por terem de ser respeitados por todos,
caindo aqui na responsabilidade aquiliana do 483º1.
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Este pode, contudo, ser limitado, caso da colisão de direitos; pode ainda ser
auto limitada (A.81). Esta inerência é ainda quanto ao objeto, i.e, estando o bem onde
estiver, os outros têm sempre de respeitá-lo – ideia de que o direito persegue o bem
IV. O problema da prevalência - não a podemos apresentar como caraterística
dos direitos de personalidade, segundo MC
No conflito entre prevalência de direitos de personalidade sobre quaisquer
outros, prevalecerá o primeiro. No entanto, nenhuma regra o obriga. A jurisprudência
apela para o A.335.
Direitos de personalidade que nunca podem ser postos em causa: direito à
vida: os negócios assim celebrados são nulos.
Direitos necessários e eventuais
Direitos de personalidade necessários: estão presentes desde que exista uma
pessoa singular; caso do direito à vida e à integridade física. Quanto ao ónus da prova,
a sua mera invocação é bastante.
Direitos de personalidade eventuais: dependem da existência dos respetivos
bens de personalidade (caso do direito à confidencialidade de certas cartas missivas
derivar de estas terem sido escritas e por aí adiante). Quanto ao ónus, há que alegar e
provar a existência do bem protegido
Classificações dos bens de personalidade:
Círculo biológico, que abrangem a vida e a integridade física da pessoa - direito
à vida, integridade física, saúde e sono etc ( “””)
Círculo moral - integridade moral, bom nome e reputação da pessoa
(normalmente não têm conteúdo patrimonial)
Círculo social, que se prende com as relações entre sujeito e os demais - direito
à intimidade privada, ao nome e à imagem.
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(Aula Teórica)
Direitos especiais de personalidade (dimensão mais significativa) identifica
vários bens jurídicos de personalidade que corresponde a um direito subjetivo
autónomo (escola de Lisboa). O Direito Civil reconhece e protege um conjunto de bens
jurídicos que são estruturantes para os vices. A estes bens pode ser reconhecido tutela
penal, que assenta num critério essencialmente político, o que difere dos bens que são
tutelados pelo direito civil. No entanto, muito dos bens civis fundamentais são
simultaneamente bens penais. No entanto, quando falamos do direito à vida falamos de
um direito jusprivado, e não de uma tutela penal: o que nos importa é o ilícito civil.
Exemplo: ninguém vai preso por violar um contrato, mas no âmbito civil este pode
ser responsabilizado por incumprimento contratual.
Bens de personalidade que identificamos a partir da tutela geral de
personalidade: lidamos com um conceito agnóstico de pessoa, mas não com um
conceito de agnóstico de personalidade. O bem jurídico que o direito tutela é a
realidade ôntica.
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O A.70º1 garante a proteção concedida por lei, aos indivíduos “contra qualquer
ofensa ilícita ou ameaça de ofensa à sua personalidade física” - garante o direito à
vida.
Outro atentado ao sofrimento que não o da preservação das funções vitais do
organismo biológico humano, atingirá outros direitos de personalidade que não o direito
à vida. O direito à vida não admite compreensão: em caso de colisão de direitos, o
mesmo nunca pode ceder. Apenas de põe em causa quando estiverem em causa direitos
à vida de diversas pessoas.
O direito à vida é indisponível. Significa isso que o seu titular não pode aliená-lo
nem proceder à sua supressão, através da morte ou suicídio. Qualquer ato que vise a
morte ou se relacione com o suicídio é nulo. Se for perpetrado por um terceiro,
equivale a uma violação do direito à vida. O auxílio ao suicídio é assim civilmente
ilícito.
Ilicitude da eutanásia
Argumento ético - incentivar ao cumprimento da inteligência. i-e, de nos
mantermos vivos.
Argumento social - com a morte de alguém, a sociedade perde um apoio e parte
dos seus objetivos, pois todo o Direito existe pelo homem e para o homem.
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Assédio e bullying
Em termos civis o problema não é de discriminação mas antes de atentado à
integridade física e moral das pessoas e do direito à honra.
Caso:
Um jovem, abandonado pelos pais, vem a ser acolhido e criado pelos avós. Por
ato ilícito, injustificado e culposo de terceiros, vem a falecer. A quem caberá a
indemnização prevista no A.496? Seguramente, aos avós.
Como aponta MC, também o direito máximo deve ser indemnizado: o direito
à vida: pela sua supressão. Esta opinião, apesar de contrariada por Antunes Varela e
Oliveira Ascensão veio a ser adotada pela jurisprudência.
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Não vale afirmar, como aponta MC, que a morte é computada no sofrimento
dos terceiros, porque isso seria um dano próprio destes. MC aponta 4 razões para
sustentar a impossibilidade da indemnização:
(POUCO IMPORTANTE)
1. Com a morte cessa a personalidade jurídica: logo não se pode constituir um
direito em algo que não existe;
Contra argumento: Se a morte não é ressarcivel, então a vida não é um
direito subjetivo; o que implicaria um retrocesso na Humanidade
2. Os trabalhos preparatórios do CC mostra essa impossibilidade
Contra argumento: estes trabalhos mostram apenas a intenção subjetiva de
quem os fez
3. O A.496 esgota o universo dos danos indemnizáveis e dos seus beneficiários
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O Direito à honra
A honra constitui a consideração pela integridade moral de cada ser humano.
A honra social /externa exprime o conjunto de apreciações valorativas de que cada um
disfruta na sociedade, em contraposição com a regra interior, que corresponde à
autoestima ou imagem que cada um faz das suas próprias qualidades. Constitui, assim,
uma base para juízos éticos dos seus semelhantes, sendo que esses juízes se repercutem
na autoestima de cada um. No seu conjunto, isto dá corpo à formalidade do A.70º1 que
versa sobre a integridade moral.
A honra social comunica-se automaticamente às representações verbais de cada
pessoa, i.e, ao seu nome. A consideração de que cada um disfrute, na sociedade,
exprime o seu bom nome: este, na razão direta das valorações positivas que concite, dá
azo à reputação do sujeito.
Mc fala em autotestiama.
a. Reputação pessoal – envolve juízos valorativos positivos quanto à
integridade, seriedade e moralidade do sujeito
b. Reputação familiar
Entre outras…
A honra é hoje defendida e promovida não como bem absoluto em si, mas como
fonte de outras vantagens, de ordem social e patrimonial.
Para além deste preceito se integrar no A.70, está presente também no A.484 –
aqui, a ofensa do crédito ou do bom nome exige, em regra, medidas de correção e de
reposição da verdade, que não se esgotam na responsabilidade civil (a Const refere-o
no A.26…)
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Tudo o que amputar a verdade, transmiti-la a sugerir algo diverso do que dela
resulte, redigi-la de modo a provocar valorações tendenciosas, levantar dúvidas ou
reticências, não pode reivindicar a veritas. Assim, será ilícito desde que atinja a honra
de alguém. Contudo, a firmação totalmente verdadeira pode atentar contra a honra
das pessoas. A afirmação falsa, tendenciosa ou incompleta é indicada para atingir a
honra. Todavia, a afirmação verdadeira também poderá sê-lo: a exceptio veritais, por
si só, não é justificativa.
1. O da absoluta veracidade
2. O do interesse político-social
Nenhuma liberdade de comunicação justifica notícias inverídicas; pelo contrário:
a liberdade de informar e de comunicar exige uma verdade pura, sem equívocos e
sem sombras.
Para além disso, a mesma tem de corresponder a um interesse político-social.
Direito ao nome
Cada ser humano é uma individualidade autónoma. Cada pessoa dispõe de uma
figuração vocabular, primeiro oral e depois escrita, que permite identifica-lo com
facilidade e segurança: o seu nome. O nome, é assim, uma representação linguística de
um ser humano. Ele é vocativo, porquanto permite designar a pessoa que o use, e
distintiva, por facultar destrinça-lo dos demais.
O direito ao nome é considerado um direito de personalidade: um direito
subjetivo absoluto e privado, com a proteção civil daí decorrente.
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2. O nome sobrevive à pessoa, não se extinguindo com ela, como sucede com
os direitos de personalidade: refutação: há direitos de personalidade com
uma pós eficácia
As cartas-missivas confidenciais
O CC dedica quatro artigos à tutela das cartas-missivas confidenciais.
As cartas confidenciais integram-se no âmbito dos bens protegidos pelo direito
à intimidade da vida privada ou aos segredos das pessoas. O facto de constarem de
documento dirigido a terceiros levou o legislador a uma regulamentação com certa
minúcia, sendo que esta é ainda um manifesto de grande relevo ético e social.
Uma carta traduz-se num texto, exarado em papel e com um destinatário. É
confidencial quando contenha matérias que não possa ser comunicada fora do círculo
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A confidencialidade
Direito de personalidade atípico
Quando a lei fala de “carta-missiva confidencial” a lei vai mais longe do que um
mero documento entregue de uma pessoa para outra. Segundo o A.75º1
1. O destinatário deve guardar reserva sobre o seu conteúdo
2. O destinatário não pode aproveitar os elementos de informação que ela
tenha levado ao seu conhecimento
Em suma: o destinatário de uma carta-missiva confidencial fica na
contingência de receber, tomar conhecimento, eventualmente responder e, depois
esquecer.
Teoria subjetivas: a natureza confidencial de uma carta resultará da vontade do
seu autor, devidamente declarada
Teoria objetivista: a confidencialidade teria de resultar do próprio teor da carta,
independentemente da vontade do remetente.
Teoria do direito de personalidade: a confidencialidade resultará do teor da
carta, embora o seu autor, dentro dos limites, possa interferir.
A pessoa que remeta uma carta, a outra, vai, na esfera e no espírito desta, criar
determinadas adstrições, sendo estas maiores quando se trate de carta confidencial.
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O Direito à imagem
Ideia de imagem: representação de uma pessoa na sua configuração exterior.
Esta ganhou bastante impacto com a fotografia, pois permiti que qualquer pessoa,
munida de uma câmara fotográfica pudesse copiar e reproduzir a imagem alheia. Esta
possibilidade deu uma dimensão pessoal – de personalidade- à imagem humana
A imagem materializada de uma pessoa é um bem de personalidade
fortemente objetivado. Nela recaem direitos reais – o direito de propriedade, mas no
que tange ao “direito à imagem” não é, todavia, esse o nível em causa. A imagem
permite a imediata identificação da pessoa de que se trate. O destino que se dê à
imagem é, de certo modo, um tratamento dado à própria pessoa. A imagem faz, assim,
a sua aparição no placo dos bens de personalidade. Em termos unitários a imagem é um
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O direito à reserva sobre a intimidade da vida privada é, antes de mais, um direito
contra o Estado: este só pode interferir nesse campo com cobertura de leis
constitucionais e na estrita medida do necessário. É importante ainda reconhecer que o
Direito Civil reconhece, na privacidade, a existência de um valor autónomo. A
privacidade traduz um círculo de liberdade independente do Estado e de terceiros e
que o sujeito interessado poderá tratar como entender.
O regime vigente
A vida privada nunca é privada de um; é, no entanto comum a mais alguém. A
intimidade de alguém nunca é uma intimidade solitária, dependendo do caso e da
pessoa (A.80º2). Neste âmbito inserem-se também as esferas, para se saber, através
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O A.81 não pode limitar algumas coisas; o nível biológico nem o nível moral; o
círculo social admite limitação com exceções.
Há que interpretar a ordem pública do A.81 em sentido amplo, integrando os bons
costumes (A.280).
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O começo da personalidade
Apesar de não haver relação direta, o A.66 e 68 são indissociáveis.
O CC não refere a regra básica de que todo o ser humano é pessoa. Todavia
fixou o seu início no A.66º1 “no momento do nascimento completo e com vida”. Este
preceito pretendeu pôr termo a querelas anteriores, que aventavam, ainda, como
possíveis requisitos da personalidade, a viabilidade do recém-nascido e o ter ele figura
humana. Fica claro que tanto os nados vivos portadores de deficientes como os
monstros (i.e, os irmãos siameses ligados) são pessoas.
Pergunta-se depois em que consiste o sentido do “nascimento completo”. Em
termos rigorosos, o nascimento fica completo com o corte do cordão umbilical. No
entanto, o A.66 padece de demasiadas anomalias para dele se retirar, em definitivo,
um comando sobre o início da personalidade. Prudente é aqui enunciar o A.24 da CRP
sobre a inviolabilidade da vida humana.
Em termos dogmáticos, podemos dizer: se a personalidade se contenta com a
titularidade de um único direito, o nascituro é uma pessoa desde a conceção: tem,
como vimos, o direito à vida. Em relação à capacidade para deter outros direitos, ele
depende do nascimento: adiante veremos que entender por esta expressão e se ela
reforça ou não a personalidade do nascituro.
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O nascituro tem, assim, direito à vida, e, por essa vida, personalidade jurídica. A
sua capacidade geral de gozo também ocorre: mas sujeita à condição suspensiva do
nascimento
p.427 e ss
Domicílio
O CC não define domicílio. Limita-se, nos seus, A.82 ss, a indicar diversos
domicílios: voluntário, geral, profissional, eletivo, dos menores e interditos, dos
empregados públicos e agentes diplomáticos portugueses. Podemos inferir, todavia,
que o domicílio é o lugar no qual, juridicamente e para diversos efeitos, é suposto
encontrar-se determinada pessoa; é o lugar onde o cidadão tem a sua residência
permanente.
No domicílio está em causa a determinação de um local a que se associa, em
termos jurídicos, determinada pessoa singular. As pessoas coletivas não têm
“domicílio”.
O domicílio releva em quatro áreas:
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b. Ele pode intentar as ações que não possam ser retardadas e contestar as
intentadas contra o ausente – A.94º2
c. Ele pode alienar ou onerar imóveis, objetos preciosos, títulos de crédito,
estabelecimentos comerciais e quaisquer outros bens cuja alienação ou
oneração não seja ato de administração – A.94º3 – desde que com
autorização do Ministério Público, a conceder no A.94º4.
O curador provisório deve ainda prestar contas do seu mandato ao tribunal
(A.95º1) ou curadores definitivos, quando seja deferida a curadoria definitiva (A.95º2).
Ele tem direito a uma remuneração equivalente a 10% da receita líquida que realizar
(A.96): um preceito a complementar em sede de integração de lacunas, já que
determinada curadoria pode ser essencial para defesa dos interesses do ausente e,
todavia, não originar quaisquer receitas líquidas. Aplicar-se-á então o regime de
remuneração do mandatário, previsto no A.1158º2.
Com base neste regime, podemos considerar que o curador provisório é um
representante legal do ausente, inserindo-se num regime próprio, decalcado do
regime do mandato. ´
A curadoria provisória termina segundo as cinco alíneas do A.98:
a. Pelo regresso do ausente
b. Quando o ausente providencie acerca da administração dos bens
c. Quando compareça a pessoa que legalmente represente o ausente ou um
procurador bastante
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A menoridade
Pelo nascimento a pessoa adquire uma capacidade de gozo tendencialmente
plena – e isso sem prejuízo da acima exposta tutela pré-natal. Não pode, porém, agir
pessoal e livremente: trata-se de uma incapacidade de exercício, ditada pela natureza
das coisas.
Proliferam, no Direito dos menores, as posições funcionais e os poderes-
deveres.
Segundo o A.128 “os menores carecem de capacidade para o exercício de
direitos”. Tratar-se-ia uma incapacidade geral de exercício, a suprir pelo poder
paternal ou pela tutela – 124. A “incapacidade” não é, em rigor, geral. Com efeito, o
A.127 apesar de epigrafado “exceções à incapacidade dos menores”, estabelece
termos tão amplos que inverte o dispositivo legal, por admitir uma lata capacidade.
Segundo o A.127º1 o menor pode celebrar:
º1.b – os negócios jurídicos próprios da sua vida corrente, ao alcance da sua
capacidade natural e que impliquem despesas ou disposições de bens de pequena
importância
Aqui a “pequena importância” deve ser prudentemente ponderada pelo
julgador, de acordo com o caso concreto e, particularmente, com a condição económica
do menor em jogo.
Em compensação, a grande maioria dos negócios que todos (maiores ou
menores) celebram são os “próprios da vida corrente” que implicam “despesas ou
disposições de bens de pequena importância”. A sua acessibilidade aos menores põe, só
por si, em crise a ideia de incapacidade geral de exercício.
Situações perante as quais os menores têm capacidade de exercício:
1. Capacidade para ser representante, desde que possa entender e querer o
negócio concretamente em causa – A.263
2. Capacidade para efeitos de responsabilidade civil, a partir dos sete anos –
A.488º2
3. Capacidade para adquirir por usucapião, sem limites -1281
(entre outras)
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da adolescência. Além disso, ninguém pode dispor dos seus direitos à vida ou
integridade pessoal, invocando representação legal, salvo nos casos em que isso
imponha no interesse estrito do próprio menor
º1.c – os negócios jurídicos relativos à profissão, arte ou ofício que tenha sido
autorizado a exercer e os praticados no exercício dessa profissão, arte ou ofício
A celebração dos contratos de trabalho por menores está, hoje, muito
restringida: ela é possível desde que o menor tenha completado os 16anos de idade,
tenha concluído a escolaridade obrigatória e disponha de capacidades físicas e psíquicas
adequadas ao posto de trabalho – A.68º1 CT
º1.a – os negócios relativos à administração ou disposição de bens que o menor de
dezasseis anos tenha adquirido pelo seu trabalho.
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integre o exercício desse poder, presume-se que age com o acordo do outro, salvo se a
lei exigir o consentimento de ambos ou se se tratar de um ato de especial importância
– A.1902º1. Estando um dos pais impedido, o exercício cabe unicamente ao outro
progenitor – A.1903 – o mesmo se observando na hipótese da viuvez – A.1904.
Nos casos de divórcio, separação judicial de pessoas ou bens, declaração de
nulidade ou anulação de casamento, o poder paternal é regulado por acordo dos
progenitores, a homologar pelo tribunal, em função dos interesses do menor; não
havendo acordo, o tribunal decide em função dos mesmos interesses – A.1905.
Quando o filho seja confiado a uma terceira entidade, cabem a esta os poderes e
deveres dos pais que forem exigidos pelo adequado desempenho das suas funções –
A.1907º1. Os outros aspetos são tratados nos A.1908 e ss, havendo, neste tema,
bastante casuística. A regulação do poder paternal deve ser feita tendo em conta os
interesses do menor.
O poder paternal pode ser inibido ou limitado, nos termos dos A.1913 e ss
A inibição opera de pleno direito – portanto, automaticamente – nas hipóteses do
A.1913º1: i) condenação por crime a que a lei atribua esse efeito e ii) interdição ou
inabilitação por anomalia psíquica. Esta pode ocorrer, ainda, por ação específica a tanto
destinada, quando os pais infrinjam culposamente os deveres para com os filhos, com
grave prejuízo para estes – A.1915º1
As decisões relativas ao poder paternal estão sujeitas a registo obrigatório,
devendo ser oficiosamente comunicadas à repartição do registo civil competente –
A.1920ºB
A adoção dá azo, igualmente, ao poder paternal. Estes mecanismos funcionam
sempre e beneficiam o menor.
155. A tutela
A tutela é subsidiária em relação ao poder paternal -A124. Segundo o A.1921º1,
o menor está obrigatoriamente sujeito a tutela:
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designado pelos pais ou pelo tribunal de menores – A.1927. Pelos pais, para o caso de
virem a falecer ou de se tornarem incapazes – A.1928º1; pelo tribunal, nos restantes
casos – A.1931º1.
Posto isto, a lei prevê:
1. Inibições: pessoas que não podem ser nomeadas tutoras, segundo a lista do
A.1933º1
2. Escusas: pessoas que podem escusar-se da tutela – A.1934º1
156. A anulabilidade
Os atos jurídicos praticados pelos menores são anuláveis. Os A.125 e 126
estabelecem um regime especial de anulabilidade: donde a necessidade de ressalvar,
logo no A.125º1, o disposto do A.287º2, que permite invocar a anulabilidade a todo o
tempo, enquanto o negócio não estiver cumprido.
A anulabilidade em causa é estabelecida no interesse do menor. Como tal, ela
só pode ser invocada pelo próprio menor ou pelo representante – A.287º1: e nunca
pela contraparte
Assim, a anulabilidade pode ser alegada pelo progenitor que exerça o poder
paternal, pelo tutor ou pelo administrador de bens, nas seguintes circunstâncias do
A.125º1 a):
1. Dentro do prazo de um ano a contar do conhecimento que o requerente
haja tido do negócio
2. Nunca depois de menor atingir a maioridade ou ser emancipado, altura,
naturalmente, em que ao próprio caberá agir, salvo se estiver pendente
ação de interdição
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A interdição e a inabilitação
161. A interdição
O CC veio ocupar-se das interdições – A.138 a 151 – e das inabilitações – A.152
a 156 – em duas distintas subseções, uniformizadas, com a menoridade, sob a genérica
designação de “incapacidades, tratando-se, a meu ver, um ponto de eventual reforma
legislativa.
O CC não define a interdição; contudo pode extrair-se a ideia dos A.138 e 139
de que se trata do instituto aplicável a maiores que, por anomalia psíquica, surdez-
mudez ou cegueira, se mostrem incapazes de governar suas pessoas e bens,
equiparando-o, com as necessárias adaptações, ao menor.
A lei refere, como deficiências conducentes à interdição, a anomalia psíquica, a
surdez-mudez ou a cegueira. Trata-se de uma enumeração que temos como
exemplificativa e que aqui surge por razões de tradição histórica, que remonta aos
romanos. O que é decisivo é o facto de os visadores se mostrarem “incapazes de
governar as suas despesas e bens” – A.138º1, in fine. Se compararmos esse preceito
com o A.152, referente à inabilitação, verificamos que este último considera as
mesmas “anomalia psíquica, surdez-mudez ou cegueira”; permanentes mas não tão
graves que justifiquem a interdição: a pedra de toque está, pois, na gravidade da
deficiência e nas suas consequências.
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163. A inabilitação
Ela visa pessoas cuja anomalia psíquica, surdez-mudez ou cegueira, embora
permanentes, não sejam de tal modo graves que justifiquem a sua interdição –
A.152º1. A inabilitação aplica-se ainda àqueles que, pela habitual prodigalidade ou
pelo ab(uso) de bebidas alcoólicas ou de estupefacientes, se mostrem incapazes de
reger convenientemente o seu património – A.152º2
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O Termo da Personalidade
A morte
165. A comoriência
A morte de uma pessoa é constatada pelo seu cadáver. E o momento da morte
deriva da precisa ocasião em que tenham cessado as funções vitais e a atividade
do tronco cerebral. A determinação deste momento, é, assim, importantíssimo para
desencadear de diversos efeitos jurídicos.
Pode acontecer que várias pessoas morram em idênticas circunstâncias sem que,
concretamente, se possa apurar por que ordem. Esse fator poderia ser relevante,
em especial, tratando-se de pessoas sucessíveis entre si: o jogo das transmissões por
morte depende de quem sobreviva a quem.
Não sendo possível fazer a prova concreta da ordem dos falecidos, faz-se
presunções.
As consequências da morte
O termo da personalidade jurídica
A morte há de ser algo inequívoco, mas não o : é diferente morrer aqui, nos EUA,
na China ou no Japão.
Classicamente, a morte era a falência cardiorrespiratória; no entanto, colocou-
se o problema do pense maker. Seguidamente houve uma alteração do critério: passou
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legitimidade, seja pre ou post mortem. O A.73, relativo ao direito ao nome, di-lo de
modo expresso, em termos que possa ser generalizado.
Vamos centrar-nos nas ofensas port mortem: importa distinguir os direitos de
personalidade que não possam ser eficazes, como o próprio direito à vida, daqueles
que representem bens perenes, como o direito ao nome, às cartas missivas, à imagem
e à reserva da vida privada
Quanto a estes últimos temos duas hipóteses:
1. Ou se trata de direitos de proteção absoluta – p.e, o bom nome – altura em que
qualquer violação desencadeia a legitimidade prevista no nº2
2. Se se tratar de direitos que admitem restrição, se for dada determinada
autorização – p.e: publicação de cartas – aplica-se, então, o nº3: só as pessoas
que, conjunta ou separadamente, tenham legitimidade para dar a autorização
em causa podem reagir perante a violação.
O A.71º2 dá legitimidade para requerer a tutela da personalidade, ao cônjuge
sobrevivo ou a qualquer descendente, ascendente, irmão, sobrinho ou herdeiro do
falecido. De forma a que este direito não seja paralisado, MC complementa-o com o
A.496º2, por patente analogia valorativa de situações, acrescentando-se os herdeiros.
A legitimidade prevista no primeiro daqueles preceitos assistirá, assim:
1. Ao cônjuge não separado judicialmente de pessoas e bens e aos filhos ou
outros descendentes
2. Na falta destes, ao cônjuge não separado judicialmente de pessoas e bens e
aos pais e outros ascendentes
3. Na falta destes, aos irmãos ou sobrinhos que os representem
4. Na falta destes, aos herdeiros do falecido. No limite o Estado.
Pergunta-se, depois, se a legitimidade conferida para a tutela post mortem diz
respeito, apenas às “providências adequadas” ou, também, ao pedido de
indemnização. Uma interpretação literal do A.71º2, º1ª parte, apontaria para a
exclusão da indemnização (Palma Ramalho adota esta posição literal); MC diz-nos
que esta posição acarreta dois equívocos:
1. O de que está em jogo a personalidade do falecido, que já nada pode
compensar
2. O de que o dinheiro é inadequado para resolver a situação.
De facto, já nada pode incomodar o falecido, por muito que se macule a sua
memória: a tutela post mortem é, necessariamente, uma defesa dos vivos. Não se
trata evitar atribuir indemnizações ao falecido, antes, iure próprio, aos familiares
legitimados para agir
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Evolução histórica:
Ø Os Romanos não tinham o conceito de pessoa coletiva, pois o conceito
metafísico e ontológico da pessoa coletiva não existia na antiguidade clássica.
Contudo, os mesmos resolviam os mesmos problemas em relação à pessoa
coletiva que nós hoje tentamos resolver
Ø Na tradição canónica houve vários pontos de evolução:
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As pessoas coletivas vão ter direito à vida, à morte, etc., porque são fenómenos
jurídicos.
Atualmente, não podemos desenvolver a nossa personalidade se não nos
relacionarmos com as pessoas coletivas. A pessoa singular não pode, atualmente, fazer
nada sem a pessoa coletiva.
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2º O que fiscaliza – a pessoa coletiva é perigosa e por isso deve ter alguém que a
controle (fiscalização dentro da pessoa)
3º O que delibera
Quanto mais personificada é a pessoa coletiva, entre os sócios, mais intensos são
os poderes dos sócios.
Posição adotada
Referir em Direito “pessoa” é considerar a presença de uma entidade
destinatária de normas jurídicas e, portanto, capaz de ser titular de direitos subjetivos
ou de encontrar adstrita a obrigações. A afirmação da personalidade será, pois, a
consideração de que o ente visado pode autodeterminar-se, no espaço de legitimidade
conferido pelos direitos de que seja titular, devendo agir no campo das suas adstrições.
Isto quer dizer que, considerar “pessoa”, é sempre considerar um determinado campo
de imputação de normas e relações jurídicas. Ela é singular quando esse centro
corresponda a um ser humano; o será coletiva, em todos os outros casos.
As pessoas coletivas são, assim, “centros coletivos de imputação de normas
jurídicas” que não a de “pessoa”. Normas que atribuem direitos ou reconhecem
deveres, etc. A pessoa coletiva é sempre o resultado de um determinado regime
jurídico.
Elementos da pessoa coletiva:
1. Substrato humano – caso, patente, p.e, nas associações civis; não é sempre
necessário: caso da fundação
2. Elemento organizacional/ institucional – nas associações civis, traduz-se em
haver órgãos
3. Elemento finalístico/final – ela serve para prosseguir um determinado fim,
um fim que é humano.
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A personalidade judiciária
O A.5/1 do CPC define a personalidade judiciária como a suscetibilidade de ser
parte. O nº2 explicita que quem tiver capacidade jurídica tem, igualmente,
personalidade judiciária. A contrário, poderá haver entidades com personalidade
judiciária mas sem personalidade jurídica – A.6 do CPC.
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Quanto a sociedades civis puras umas são pessoas coletivas plenas, e outras
acolhem a figura de personalidade rudimentar.
As sociedades irregulares que não tenham personalidade coletiva caem nos A.36
ou A.52 do CSC. Elas produzem, ainda, alguns dos efeitos próprios da personalidade, seja
por remissão para as sociedades civis puras, seja por reenvio para um regime de
liquidação. A personalidade rudimentar é, sempre, a figura explicativa geral.
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da mesma forma que uma única pessoa pode deter mais de uma empresa. A asserção
opera apenas por via do destino produtivo unitário.
A empresa, quando tomada em sentido subjetivo, operará como uma esfera de
afetação que, não se encontrando personalizada, dá corpo a uma “pessoa rudimentar”.
Da mesma forma opera o estabelecimento.
Figuras Afins
A chave da personalidade coletiva reside no modo coletivo de regulação jurídica.
O Direito determina condutas a entidades que, não sendo humanas, nunca as poderiam
acatar; todavia, tais regras são imputadas ao “ente coletivo”.
Quando o modo coletivo atinja toda a entidade considerada, teremos uma
pessoa coletiva. Quando ele apenas atinja parcialmente teremos, ou falaremos, em
pessoa rudimentar.
Contudo, uma 3ª categoria: a de situações em que o Direito trata, em conjunto,
realidades atinentes a várias pessoas, sem, todavia o fazer total ou parcialmente, sem
todavia o fazer como se de uma única pessoa se tratasse. Falaremos, aqui, em modo
coletivo imperfeito, sendo que as entidades daí decorrentes constituirão figuras afins às
pessoas coletivas. Este modo coletivo imperfeito está previsto no A.28 do CPC.
A mão-comum e a comunhão
De entre as figuras afins da personalidade coletiva encontramos a mão-comum
ou comunhão e a comunhão simples.
Na comunhão em mão-comum, duas ou mais pessoas detêm um direito em
conjunto, podendo exercer atuações restritas enquanto membros do grupo. Toda a
sua atuação passa pela mediação do grupo, não podendo estas dispor da sua parcela
ou pedir a divisão da situação.
Na comunhão simples duas ou mais pessoas são titulares de direitos sobre o
mesmo objeto, sendo esses direitos representados por quotas. A matéria vem a ser
tratada a propósito da compropriedade – A.1403 e ss – sendo aplicáveis a outras formas
de comunhão – A.1404. Embora hajam direitos que só em conjunto possam ser usados,
cada titular mantém uma individualidade, podendo alienar a sua quota ou pedir a
divisão da coisa.
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….
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Será comum, a associação que se reja, de modo direto, pelo CC; será especial a
associação de estudantes que, além do CC, se irá reger pela legislação específica relativa
a associações de estudantes.
Assim, infere-se que uma pessoa coletiva possa ser “comum” ou “especial”,
consoante o ângulo por que haja sido abordada.
Importância desta distinção: permite, quando faltem normas vocacionadas para
regular a pessoa “especial”, fazer apelo subsidiário às regras comuns.
Este tipo não tem se ser referenciado pela lei, sendo apenas exigido que a lei o
preveja
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2. Fundações – A.185 e ss
As fundações têm o sentido de entregas em vida ou de deixas por morte do
interessado
Elementos Essenciais
A aplicabilidade dos requisitos do NJ
Os elementos essenciais da pessoa coletiva são aqueles cuja presença é
necessária para o seu surgimento.
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- a denominação
- o fim
- a sede
- o seu funcionamento
- a sua duração
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- Elemento Teleológico
O fim da pessoa coletiva – A.167º1 e 186º1 – tende a ser considerado o
fator fundamental. O fim da pessoa vai aditar:
- a sua idoneidade
- a sua capacidade
- o seu reconhecimento útil público
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Organização e funcionamento
O elemento organizacional é o fator base da personalidade coletiva: ele
consubstancia o modo coletivo de aplicação das normas, base da personalidade coletiva.
A organização e funcionamento de uma pessoa coletiva cobrem a generalidade da sua
compleição e dos seus modos internos de funcionamento. Considerando:
- a denominação e a sede -> a denominação da pessoa coletiva equivale ao nome
das pessoas singulares, tendo este uma natureza legal de identificação
- a orgânica
- os titulares dos órgãos e a sua responsabilidade
Os órgãos
Os órgãos das pessoas coletivas são as estruturas de organização humana
permanentes, que permitem à pessoa coletiva autodeterminar-se, exercer os seus
direitos e cumprir as suas obrigações.
Cumpre aos estatutos da pessoa coletiva determinar quais os seus órgãos e qual
a sua composição – A.162, A.167º1 e 186º2.
Nas associações haverá uma assembleia geral de associados – A.170 – órgão que
faltará, naturalmente, nas fundações.
Em matéria de órgãos, podemos identificar os seguintes princípios:
1. Divisão de poderes
2. Colegialidade
3. Livre aceitação
4. Responsabilidade
O A.162 aponta para a existência separada de um órgão de administração e de
um órgão de fiscalização. A ideia é a de cindir posições, dotando o órgão de fiscalização
de um distanciamento mínimo para ser eficaz.
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normalmente faz com que a representação seja pela administração. A gestão, para ser
eficaz, deve ser apoiada em poderes de representação.~
O A.163º1 admite que a própria administração possa designar representantes.
Isso sucede, normalmente, para determinar negócios específicos ou situações nas quais
os administradores designados sejam insuficientes para celebrar todos os negócios
necessários.
Do D.163º2 resulta um princípio: o que de que as “anomalias” na representação
só são oponíveis a quem as conhecesse.
- a designação de representantes – em regra os próprios administradores – feita
pelos estatutos é oponível erga omnes;
- a designação de representantes pela administração só é oponível aos terceiros
que conhecessem ou deviam conhecer: é imponível a terceiros de boa-fé ou terceiros
que sem culpa desconhecessem.
O A.266º1, a propósito das modificações e da revogação da procuração, também
só as considera oponíveis quando levadas ao conhecimento de terceiros por meios
idóneos ou quando se mostre que delas tinham conhecimento, no momento da
conclusão do negócio. Daqui retira-se uma regra geral: as limitações introduzidas no
poder de representação dos administradores ou de qualquer representante só são
oponíveis a terceiros que conheçam ou devessem conhecer: são inoponíveis a terceiros
de boa fé, i.e, que sem culpa desconheçam ou que não tenham de conhecer.
A fiscalização
Segundo o A.162, os estatutos das pessoas coletivas devem prever um conselho
fiscal, constituído por um número impar de pessoas. Quanto a associações, o A.171º1
dispõe que o conselho fiscal seja convocado pelo respetivo presidente e só possa
deliberar estando presente a maioria dos seus membros. Funciona, em princípio, por
maioria – idem nº2.
Capacidade e atuação
As pessoas têm capacidade jurídica: será a concreta medida de direitos e
obrigações de que sejam suscetíveis. No que toca às pessoas singulares, essa capacidade
de gozo é plena. Elas podem ser titulares da generalidade dos direitos admitidos pelo
ordenamento e podem ficar adstritas à generalidade dos deveres que a ordem em causa
conheça. Já quanto a pessoas coletivas, uma orientação com certa tradição pretende
que a sua capacidade seja limitada pelo princípio da especialidade: este princípio
especial admite que apenas abrangeria os direitos e obrigações necessários ou
convenientes à prossecução dos seus fins, segundo o A.160º1.
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Há que dizer que este princípio da especialidade não restringe a capacidade das
pessoas coletivas: tal como emerge do A.160º1, ele diz-nos que todos os direitos e
obrigações são, salvo exceções abaixo referidas, acessíveis às pessoas coletivas.
1. limitações ditadas pela natureza das coisas – a violação destes limites implica
a nulidade do negócio – A.280º1
2. limitações legais – as limitações legais à capacidade de gozo das pessoas
coletivas referidas na primeira parte do A.160º2 “vedados por lei”. A
inobservância das limitações legais à possibilidade de prática, pelas pessoas
coletivas, de certos atos, conduz à nulidade do ato por violação de lei
expressa (A.294) ou por ilicitude (A.280º1)
3. limitações estatutárias – os estatutos podem limitar tanto pela positiva como
pela negativa os atos da pessoa coletiva. Mas as competentes disposições
estatutárias não podem limitar a capacidade de gozo da pessoa coletiva. As
limitações estatutárias são meras regras de conduta internas. Elas
adstringem os órgãos da pessoa coletiva a não praticar os atos vedados sem,
contudo, limitarem a capacidade da sociedade. A violação desses limites
estatutários conduz à anulabilidade prevista no A.177 e 178.
4. limitações deliberativas – o mesmo regime das limitações estatutárias deve
ser aplicado às limitações deliberativas: i.e, ás limitações que deliberações
internas da própria pessoa coletiva ponham à prática, por ela, de certos atos.
Há uma responsabilidade do autor, mas a capacidade da pessoa coletiva
mantém-se inata.
Segundo o A.160º2, excetuam-se ao âmbito da capacidade de gozo das pessoas
coletivas os direitos e obrigações “inseparáveis da personalidade singular”. Trata-se, por
exemplo:
- de situações jurídicas familiares que visam apenas pessoas singulares
- de situações de personalidade centradas nas pessoa singulares
… etc
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A pessoa coletiva responde diretamente pelos atos ilícitos dos titulares dos seus
órgãos, desde que tenham agido nessa qualidade. Perante o teor literal do A.165,
articulado com o A.6º/5 CSC (remissão), a doutrina tem sido levada apensar que, para
efeitos de “responsabilidade aquiliana, a pessoa coletiva é um comitente, sendo o seu
órgão um “comissário”, de modo a aplicar o A.500
A pessoa coletiva é uma pessoa. Logo, se o é, ela pode integrar “aquele que com
dolo ou mera culpa” referido no A.483. A culpa é-lhe diretamente aplicável.
O A.165 não se prende com a responsabilidade das pessoas coletivas por atos
dos seus órgãos: antes dos seus representantes eventualmente constituídos para
determinados efeitos, dos eus agentes e mandatários, fazendo, aqui, sentido aplicar a
imputação ao comitente.
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A subcapitalização
Verifica-se uma subcapitalização relevante para efeitos de levantamento de
personalidade sempre que uma sociedade tenha sido constituída com um capital
insuficiente. A insuficiência é aferida em função do seu próprio objeto ou da sua atuação
surgindo, esta, como tecnicamente abusiva.
1. Subcapitalização nominal – a sociedade considerada tem um capital
formalmente insuficiente para o objeto ou para os ato a que se destina,
podendo, contudo, acudir com capitais alheios.
2. Subcapitalização material – aqui há uma efetiva insuficiência de fundos
próprios ou alheios.
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As Teorias do Levantamento
Apuradas as constelações de casos a propósito dos quais se tem suscitado o
problema do levantamento, cumpre analisar as diversas explicações para ele
apresentadas.
Sistematizações que existem:
Teoria Subjetiva – a autonomia da pessoa coletiva deveria ser afastada quando
houvesse um abuso da sua forma jurídica, com vista a fins não permitidos
Teoria Objetiva – exclusão de considerações subjetivas para efetuar o
levantamento da pessoa. Estas orientações dizem-se também institucionais
Teoria de Aplicação das Normas – nesta Teoria, o “levantamento” não traduziria
um problema geral de personalidade coletiva; tratar-se-ia, antes, de uma questão de
aplicação das diversas normas jurídicas. Elas aplicar-se-iam quando, por via do escopo,
visassem atingir a realidade subjacente à própria pessoa coletiva.
Orientações negativistas – estas teorias negam, direta ou indiretamente, a
autonomia ao levantamento da personalidade e a sua consideração enquanto instituto
autónomo. Deve-se, em oposição, determinar os deveres concretos que, em certos
casos, incidam sobre os membros das pessoas coletivas.
Posição Adotada
Como aponta MC, a total falta de unidade interna do instituto do levantamento
leva muitos autores a abandonar o interesse por este.
O levantamento é um instituto de enquadramento, de base aparentemente
“geográfica”. No fundo, o levantamento traduz uma delimitação negativa da
personalidade coletiva por exigência do sistema. Ou, se se quiser: ele exprime situações
nas quais as normas que firmam a personalidade coletiva são substituídas por outras
normas.
Levantamento amplo – abrange todas as situações de levantamento
Levantamento estrito – reporta-se às situações que apenas se reportam ás
exigências da boa-fé.
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Secção I – Associações
Caraterísticas gerais
A associação constitui o tipo paradigmático da pessoa coletiva de tipo
associativo. O seu substrato compõe-se de duas ou mais pessoas
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A invalidade da Constituição
O ato constitutivo e os estatutos têm natureza contratual.
Este preceito significa que é nula a constituição de uma associação cujo objetivo
seja físico ou legalmente impossível, contrário à lei ou indeterminável ou, ainda,
contrário à ordem pública ou ofensivo aos bons costumes. Posto isto, o Ministério
Público tem o dever de promover a declaração judicial de nulidade; contudo, qualquer
outro interessado o poderá fazer, nos termos gerais. Este vício atinge, tanto a
constituição como os estatutos.
Como tal, a declaração judicial da nulidade aqui em causa pode implicar a
extinção ou a liquidação da associação. Pode a invalidade reportar-se apenas a um ponto
setorial dos estatutos ou do ato de constituição, que não ponham em causa a
subsistência coerente do conjunto. Aplicam-se as regras do A.292, de tal modo que seja
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Aqui, distingue-se:
1. Direitos especiais dos associados – os especiais são aqueles que conferem,
pelo estatuto a algum ou alguns sócios.
2. Direitos gerais dos associados – direitos que assistam, por igual, a todos os
associados
1. Direitos participativos
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3. Direitos honoríficos
3. Deveres acessórios
As obrigações participativas prendem-se com imposições estatutárias de
participação: nos órgãos associativos, nas atividades correntes ou em eventualidades.
Os deveres acessórios decorrem da boa-fé. À partida, eles adstringem os
associados a manter uma postura conforme a sua posição, não prejudicando a imagem
ou os interesses da associação e não atendendo contra os outros associados, nessa
qualidade.
Quando os estatutos nada especifiquem, eles retiram-se do A.762º2,
cristalizando-se em deveres de lealdade, sigilo, de oportunidade.
O princípio da igualdade tem uma projeção útil: a da proibição do arbítrio. Na
atuação da associação e na postura desta e dos seus órgãos perante os associados, não
podem ser adotadas posições que não tenham cobertura legal ou estatutária.
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estatutos. Os estatutos, podem, contudo, elevar esse número: mas não ao ponto de
tornarem inviável a convocação feita por associados, à margem da administração
Quando a administração não convoque a assembleia, nos casos em que deva
fazê-lo, qualquer associado pode efetuar a convocação - A.173º3.
Segundo o A.174º1 a assembleia é a convocada por meio de aviso postal,
expedido para cada um dos associados com antecedência mínima de oito dias. No aviso
deve indicar-se o dia, a hora e o local da reunião e a sua ordem do dia – idem , 2ª parte.
O A.174º2 dispensa o aviso postal quando os estatutos prevejam a sua
publicação, nos termos previstos para os atos das sociedades comerciais.
A convocatória é uma declaração recipienda, com os seguintes efeitos:
Funcionamento
A Assembleia não pode deliberar, em primeira convocação, sem a presença de,
pelo menos, metade dos seus associados: i.e, dos associados que nela tenham assento
com direito de voto – A.175º1 – o chamado quórum constitutivo. Em segunda
convocação a assembleia poderá deliberar com qualquer número de associados
presentes: o quórum deliberativo.
As deliberações são tomadas por maioria absoluta dos associados presentes –
A.175º2. (VER A.175 – restantes artigos – Funcionamento)
O associado pode-se fazer representar na assembleia: seja através de outro
associado seja através de terceiro. A possibilidade de representação por outro associado
está prevista no A.176º1
A representação é uma possibilidade geral que só deve ser afastada por normas
expressas que o determinem. Segundo o A.262º2 a procuração nem teria de assumir
qualquer forma solene. De todo o modo, como o presidente da mesa e a própria
assembleia podem exigir a justificação dos poderes do representante – A.260º1 -,
justificação essa que deve ser produzida na altura, é conveniente que a procuração
conste de instrumento escrito e assinado pelo representado.
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Competência
A competência de um órgão incide sobre as matérias em que o mesmo pode
decidir ou deliberar. No que toca à assembleia geral, distinguimos:
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A extinção
O A.182 enumera as causas da extinção. Este deve ser cotejado com o A.1007
que enumera as causas da extinção da sociedade.
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Efeitos da extinção
A extinção da associação não pode fazer desaparecer instantaneamente todas as
situações jurídicas que dela dependam. Abra-se assim um período de liquidação que
visa:
- o exato apuramento do ativo e do passivo da associação
- a satisfação do passivo
- atribuição dos bens remanescentes de acordo com o A.166
Os órgãos da associação extinta mantêm-se em funções. Todavia, os seus
poderes ficam limitados à prática dos atos meramente conservatórios e necessários,
quer à liquidação do património social, à ultimação dos negócios pendentes – A.184º1/
1ª parte. Os restantes atos responsabilizam solidariamente os administradores que os
pratiquem – idem, 2ª parte. A associação só responde perante terceiros de boa-fé se à
extinção não tiver sido dada a devida publicidade
No tocante a associações civis, mantém-se, também, a sua personalidade: mas
apenas na medida do necessário, como se infere do facto de não ficarem vinculadas,
perante terceiros, por novos atos dos administradores e salvo boa-fé e falta de
publicidade da extinção – A.184º2. Assim, podemos considera-las pessoas
rudimentares.
Secção II – Fundações
Caraterísticas gerais
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1. A Instituição
É um negócio unilateral, entre vivos ou mortis causa. Através desse negócio, uma
pessoa afeta um património a uma pessoa coletiva a criar, com determinados objetivos
de tipo social. Em rigor, a declaração não é recipienda.
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3. O Reconhecimento
As fundações não surgem como expressão de liberdade de associação. Elas não
correspondem, pelo menos à primeira vista, a uma forma de exercício de livre iniciativa
económica.
O reconhecimento pode ser pedido – A.185º2
- pelo próprio instituidor
- pelos seus herdeiros ou executores testamentários
- pela autoridade competente, oficiosamente
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A modificação
A modificação da fundação pode traduzir-se numa mera alteração dos aspetos
regulamentares dos estatutos ou numa verdadeira transformação, assente numa
mudança de fins.
A alteração dos estatutos é possível a todo o tempo, pela entidade competente
para o reconhecimento e por proposta da administração. Com dois limites importantes
– A.189:
1. O respeito pelo fim essencial da fundação
2. O respeito pela vontade ou fundador do instituidor
Nos termos gerais (A.185º5 + 168º3) a alteração só produz efeitos, perante
terceiros, após a sua publicação.
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A extinção
As causas de extinção das fundações constam do A.192: um preceito claramente
paralelo ao A.182, relativo à extinção das associações.
Assim a extinção é aparentemente automática na hipótese de ser alcançado o
termo, sendo temporária ou na de verificação de qualquer outra causa extintiva prevista
no ato de instituição – A.192º1 a) e b). A extinção ocorre ainda na hipótese da falência.
O A.193 prevê no entanto, em todos estes casos, que a administração da fundação
comunique o facto à autoridade competente para o reconhecimento: está irá declarar a
extinção “… e tomar as providências que julgue convenientes para a liquidação do
património”
O A.182º2 elenca as causas de extinção que exigem uma tomada de iniciativa
por parte da entidade competente para o reconhecimento: esgotamento ou
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Natureza
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Comissões especiais
Estas comissões vêm tratadas nos A.199 e 200 e 201.
A lei não dá uma noção direta. Refere apenas “comissões constituídas para
realizar qualquer tipo de plano de socorro ou beneficência. São agremiações restritas a
pessoas que visam fins diferentes dos do lucro dos envolvidos; surge contudo uma
condição negativa: A.199 2ª parte “não pedirem o reconhecimento da personalidade de
associação ou não a obtiverem.
Elas não têm o substrato organizatório e pessoal que faria delas umas ASP
Do A.200 infere-se ainda que as comissões recolhem fundos de terceiros,
afetando-os aos tais fins não lucrativos.
Segundo o A.201 os membros da comissão e os encarregados de administrar os
fundos respondem pessoal e solidariamente pela sua conservação e pela afetação ao
fim assumido. Para além disso, respondem pessoal e solidariamente pelas obrigações
contraídas em nome dela -A200º2
Por seu turno, os subscritores só podem exigir o próprio valor subscrito quando
não se cumpra o fim para que a comissão foi constituída – A.200º3
O A.201 dispõe sobre a possibilidade de aplicação dos bens a outro fim. Prevê
três hipóteses:
1. Os fundos angariados serem insuficientes para o fim anunciado
2. Esse fim mostrar-se impossível
3. Restar algum saldo
Natureza
A natureza jurídica das comissões especiais presta-se a uma interessa discussão,
entre três teorias:
3. Teoria dualista/mista ~
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Estas não têm personalidade jurídica plena; apenas para certos fins limitados
surgem como pessoas rudimentares.
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Originariamente o título não valia, mas a lei convalida-o, torna-o válido - mas
para isso, o direito tem que ter entrado na esfera daquele que o dispôs. O título
supervenientemente se convalidou.
è A.897
A ignorância útil de não ser proprietário - a boa fé passa a estar associada a um
conhecer (dever conhecer), mas não a um dever de agir, do 226. Está relacionada com
o saber ou dever saber. Há assim uma tutela do terceiro de boa fé, impondo, o Direito,
um dever de conhecimento para conseguir aproveitar o negócio e proteger o terceiro.
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è A.288
Temos de ler lá a palavra legitimidade. Tem legitimidade para confirmar aquele
que pode requerer a anulação. Quem pode confirmar é quem pode anular. Ele pode
superar a nulidade, confirmando o negócio - Princípio do Aproveitamento Máximo do NJ
através da confirmação.
Exercício jurídico
Sentido amplo: atuação humana relevante para o Direito - abrange-se, pois,
todos os atos jurídicos, lícitos e ilícitos, bem como todas as práticas negociais.
Sentido estrito: concretização, por uma pessoa, de uma situação, ativa ou
passiva, que lhe tenha sido conferida pelo Direito.
O exercício jurídico implica uma decisão do agente - este procede a uma concreta
aplicação jurídico-normativa, dando lugar a uma nova situação jurídica. Esta situação:
1. Resulta da posição exercida e dos fatos que haviam presidido o seu surgimento
2. Do tipo de exercício decidido.
No entanto, este tipo de exercício, por ser muito diversificado, é só apreensível
abstratamente. Tipos de exercício
- Exercício de direitos (corresponde a atuações possibilitadas pela permissão
específica de aproveitamento do bem em causa) e o cumprimento de obrigações
(concretização da conduta a que o sujeito estava adstrito)
- Exercício de liberdades gerais (o sujeito move-se ao abrigo de permissões
genéricas; ex: celebração de um contrato)
- Exercício de outras posições (atuação de um poder ou faculdade, um ato de
posse, uma exceção material)
Temos:
Exercício puramente jurídico - condutas significativas para o campo do Direito;
ex: aceitação de uma proposta, invocação de um prazo, a ratificação de um negócio.
Exercício material - implica imediatas modificações do tipo físico: um ato de
consumo alimentar ou uma edificação.
Exercício direto - o exercício é levado a cabo pelo próprio agente interessado
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legitimação por parte do representado e para com terceiro, pois o mesmo tem de
explicar a razão da sua legitimidade
Exercícios legais/ contratuais (consoante a natureza da posição em jogo)
A situação mais imediata, em termos de exercício, é a atuação de posições ativas,
particularmente do direito subjetivo
A legitimidade (MC)
Mc - Legitimidade - qualidade de um sujeito que o habilite a agir no âmbito de
uma situação jurídica considerada. Enquanto as liberdades podem ser exercidas por
todos, as situações jurídicas só são atuáveis pelos sujeitos a que respeitem ou que
disponham de habilitação jurídica
Legitimidade não se confunde com:
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A representação
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O fenómeno representativo
A representação é um instituto jurídico que consiste no exercício jurídico em
nome de outrem com imputação jurídica na esfera da pessoa em cujo nome se atua.
Aqui, uma pessoa atua, manifestando uma vontade que depois se vai repercutir direta
e imediatamente na esfera jurídica de outrem. Na representação há uma separação
entre quem age (o representante) e aquele em cuja esfera jurídica se produz a eficácia
jurídica da ação (representado) e a quem é imputada a autoria do agir representativo -
o autor. O ato praticado ou celebrado pelo representante é juridicamente imputado à
autoria do representado.
Para que esta seja eficaz, torna-se necessário que o representante atue “nos
limites dos poderes que lhe competem” -> A.258 ou que o representado realize,
supervenientemente, uma ratificação. Estes poderes de representação podem ser
atribuídos por um ato voluntário pelo representado ao representante, falando-se, aqui,
de representação voluntária. Este “ato voluntário” pelo qual se atribui os poderes é
designado por procuração. Este pode resultar dos estatutos de uma pessoa coletiva
(representação orgânica ou estatutária) ou ser concebido pela lei a representantes
legais (curadores ou tutor)
Isto faz com que, com a representação, se alargue o âmbito de autonomia
privada, na medida da atribuição de poderes.
Os menores ou interditos, aqui, no caso de representação legal, não têm
autodeterminação de capacidade, i.e, não desfrutam de autonomia privada. Então, o
ordenamento jurídico fornece um sucedâneo da capacidade de exercício de direitos
inexistente
A representação equivale a um direito potestativo do representante, direito esse
que lhe permite através da contemplatio domini, produzir efeitos jurídicos na esfera do
representado - sendo-o, a situação do representante enquanto tal é ainda um direito
funcional; o representante não é inteiramente livre dentro da permissão básica que lhe
assiste. Ele antes se enquadra numa função, devendo prosseguir o interesse do
dominus.
O funcionamento da representação depende da presença de um negócio
jurídico. A representação implica ainda uma atividade jurídica. Vale a dimensão jurídica
daquilo que, com legitimidade e consentimento do representado, o representante pode
produzir, por agir sobre o representado, na esfera deste. Trata-se também de uma
atividade humana (manifestação da autonomia privada)
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Fenómeno de substituição
Na representação ocorre um fenómeno de substituição. O representante
substitui o representado no exercício jurídico -> Principal utilidade da representação.
Caso o representado esteja impedido, a representação permite suprir o impedimento,
fazendo agir outra pessoa em nome do representado - não é necessário impedimento,
pode ser mais conveniente, apenas. Ex paradigmático: a representação em tribunal pelo
advogado ou os menores. Na representação, embora a autoria jurídica seja do
representado, o agir material é o do representante, que o substitui.
A.606, caso da sub-rogação, em que o credor pode exercer direitos do devedor -
caso em que a inércia do devedor no exercício de um seu direito patrimonial o deixe em
situação de não poder pagar ao seu credor.
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Hipóteses:
1. Pode haver mandato sem haver representação, quando o mandatário não
recebeu poderes para agir em nome do mandante; age por conta do mandante (pelo
interesse de), mas em nome próprio - A.1180
2. Pode haver representação sem haver mandato. A representação voluntária
resulta de um ato - a procuração A.262 - que pode existir autonomamente - negócio
unilateral - como não.
Representação e legitimação
Para haver representação tem de ter havido atuação em nome de outrem. 1
coisa é perguntar se estamos perante a representação, outra é a se tinha ou não a
possibilidade de agir por conta de outrem (aqui implícito está a legitimação).
Os efeitos da representação
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Representação e interposição
Na representação existe um fenómeno de interposição de pessoas. Entre o
representado e a outra parte introduz-se uma outra pessoa: o representante. Ocorre
com frequência a interposição de um terceiro no caso do mandato sem representação
(A.1180), em que o mandatário age em nome próprio e se produz na sua própria esfera
jurídica a respetiva eficácia. É designado, por vezes, por representação indireta.
Há uma intermediação não representativa no caso núncio; o núncio limita-se a
transmitir, e não a emitir.
Atuação em nome de outrem (comtemplatio domini) e atuação por conta de
outrem
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Representação orgânica
Há aqui mais um esquema de imputação de efeitos às pessoas coletivas
Para Savigny, a pessoa coletiva seria incapaz de agir, ficando numa situação similar
à dos menores -> Teoria da representação
Teoria orgânica -> a pessoa coletiva traduz uma realidade autónoma, tendo vias
próprias de atuação; assim, ela agirá através de órgãos próprios
Representação legal
Na representação legal, o representante é indicado, verificada certa situação
pela lei. São poderes de grande amplitude traduzindo-se em legitimidade para
representarem o menor ou o interdito em todos os seus assuntos pessoais ou
patrimoniais. Verificam-se, porém, limitações.
Na representação legal a lei impõe a representação - caso das incapacidades - O
Direito entende que as pessoas não estão em condições suficientemente boas para se
autodeterminarem. A.123. Nos casos da representação legal a interposição do
representado é muito relevante
Conjunto de esquemas destinados a suprir a incapacidade dos menores:
compete aos pais: A.1878 e 1881 ou ao tutor 1935.
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Representação voluntária
Na representação voluntária, os poderes do representante e a respetiva
extensão provêm da vontade do representado, manifestada na procuração.
A258 a 261 -> Matéria virada para a representação voluntária
Segundo o A.260 pode-se exigir que o representante faça prova dos seus poderes
dentro de um prazo razoável “sob pena de a declaração não produzir efeitos”, Revelado
que a atuação é em nome de outrem, os seus efeitos nunca poderão produzir-se na
esfera jurídica do representante. A outra parte está consciente que o representante nao
age em nome próprio e por isso nunca 1podem contar com a produção dos efeitos
juridicos do agir representativo na esfera do representante. Se ao representante
faltarem os necessários poderes (representação sem poderes) a sua atuação, segundo
o 268º, é ineficaz.
Atuar em nome alheio é diferente de atuar por conta de outrem. O
representante atua em nome do representado e por conta do representado.
É lícito atuar por conta de outrem sem representação: assim sucede no mandato
sem representação (A.1178 a 1184), em que o mandatário age em nome próprio mas
por conta do mandante. -> a eficácia dos atos do mandatário sem representação produz-
se na sua própria esfera jurídica, ficando este obrigado (A.1181) a transferir para o
mandante as situações e posições adquiridas sem execução do mandato.
Na gestão dos Negócios (A.464 a 472) em que uma pessoa age sobre “negócio
alheio” no interesse e por conta do respetivo dono, sem para isso estar autorizada, se
dá licitamente um caso de atuação por conta de outrem.
Sentido de agir por conta de outrem: atuar sobre bens ou interesses de outra
pessoa que não os daquela que age
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O mandato
Representação voluntária -> A.262 a 269.
Para surtir os seus efeitos, a procuração postula um negócio subjacente, que a
complete e lhe dê um sentido. No entanto, o negócio tipicamente subjacente à
procuração é o contrato de mandato. Assim, o estudo da representação voluntária deve
ser precedido por uma análise prévia do mandato.
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A. 1159
º1 mandato geral - abrange uma generalidade não especificada de atos que
compreende apenas os atos de administração ordinária
º1 mandato especial - reporta-se a concretos atos nele referidos, abrangendo
ainda os necessários à sua execução.
A.1160
1º parte - a pluralidade de mandatários dá lugar a tantos mandatos quantas as
pessoas designadas
2º parte - assim o não será quando o contrato exare que eles devam agir
conjuntamente: co-mandato0
A.1161
A) deveres de atuação (constituem o núcleo do mandato - visa-se a prática dos
atos previstos no contrato
B) Deveres de informação e comunicação (os deveres de comunicação referem-
se à execução ou há hipotética não execução do mandato e às razões que o possam
eventualmente ter levado a)
C) Deveres de informação e comunicação (“””)
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A.1162 -> ius variandi -> i.e, permite-lhe não executar o mandato ou afastar-se das
instruções recebidas, excecionalmente
1170º2 -> passam-se procurações relativas a negócios concretos, no interesse do
representante, irrevogáveis e eficazes pos mortem. O terceiro aqui é protegido.
Pergunta-se o que se pode entender por “também no interesse do mandatário ou de
terceiro”. Como vimos no mandato, o “Interesse” reporta-se aqui a um direito subjetivo
do representante ou de terceiro. Esse direito subjetivo resulta não da procuração mas
da relação subjacente: p.e, pelo mandato
Espécies
A representação imprópria não é uma verdadeira representação.
Representação ativa - atuação em nome de outrem na emissão de declarações
negociais
Representação passiva - receber declarações negociais em nome de outrem
Admissibilidade da representação
Tanto a representação legal como a representação voluntária promanam do ato
voluntário denominado procuração.
Na representação legal, o seu domínio de aplicação resulta das disposições que
a consagram para o efeito de se suprir a capacidade dos menores - A.124, 139 e 154.
Na representação voluntária - 262 ss o mandato com representação (A.1178), no
qual se convalida a procuração, i.e, a fonte mais frequente de representação voluntária.
A procuração e o negócio-base
Negócio-base - para quê, os modos, daquela situação jurídica em representação;
é este que vai responder às perguntas que possam ser feitas no âmbito representativo;
se há abuso ou não, se há ou não representação sem poderes, etc.
A procuração é um negócio unilateral. Implica liberdade de celebração e de
estipulação e surge perfeita apenas com uma declaração de vontade. Não é necessário
aceitação para que produza efeitos, basta a declaração de vontade. O mesmo não tem
de dizer se quer ou não: se não a recusar, é o representante. O beneficiário basta a
renunciar a ela, extinguindo-a - 265º1. Esta pode ser tácita.
Salvo disposição legal em contrário, a procuração pode ter por objeto a prática
de quaisquer atos. Caso do testamento -2182º1. A procuração tem que ter em conta os
A.280 ss; ela é nula se o objeto for indeterminável. Para o negócio se realizar, a
procuração deve revestir a forma exigida por lei - A.262º2; a procuração deve ser verbal
quando vise negócios consensuais, devendo ser passada por escrito sempre que essa
seja a forma requerida para o negócio a celebrar.
1. Se o representado o permitir
2. Se a faculdade de substituição resultar do conteúdo da procuração
3. Se essa mesma faculdade resultar da relação jurídica que a determina
Substituição com reserva - o procurador não é excluído; ele mantém os poderes
que lhe foram conferidos
Substituição sem reserva - aqui verifica-se a exclusão
No A.264º2 o regime supletivo é o da substituição com reserva: o procurador
primitivo não é excluído.
A cessação da procuração
265º1 e 2 -> Fórmulas de extinção da procuração:
1. Renúncia do procurador
2. Cessação do negócio-base
3. Revogação pelo representado
O procurador pode sempre renunciar à procuração. Apesar da liberdade, a renúncia
súbita a uma procuração pode prejudicar o representado. Assim temos de perceber que,
sem prejuízo para a regra de livre renunciabilidade aos poderes, por parte do
procurador, este poderá ter de indemnizar se causar danos e a sua responsabilidade
emergir da relação-base. Se estiver em causa um mandato com representação, a
renúncia à procuração implica a sua revogação - A.1179 - aplicando-se o 1172 quanto à
obrigação de indemnizar.
A irrevogabilidade da procuração só é válida quando encontre fundamento na
relação subjacente e não na teia de interesses que dela emirja. Este pode ser do
procurador ou de terceiro, mas também do constituinte ou contra este. Assim, o
constituinte só pode revogar livremente a procuração quando seja o titular exclusivo
do interesse que lhe é subjacente e que emerge da relação fundamental
A irrevogabilidade, contudo, nunca é absoluta. Mesmo quando resulte do interesse
primário do procurador ou de terceiro, a procuração pode sempre ser revogada com o
consentimento de todos os titulares dos interesses e quando corra justa causa de
revogação
Constitui a “justa causa de revogação” da procuração irrevogável a violação pelo
procurador, no exercício representativo, dos deveres emergentes da relação
fundamental. O incumprimento ou o abuso por parte do procurador dos poderes que
lhe foram conferidos confere ao constituinte o poder de revogar unilateralmente a
procuração. Este regime cessa, o da irrevogabilidade, com a extinção da relação
fundamental.
A cessação do negócio-base acarreta o termo da procuração que, em princípio, não
se mantém sem aquele (sem o mandato, normalmente) No entanto, a lei admite que a
procuração subsiste se “se outra for a vontade do representado” Tratando-se de
mandato, ele caduca A.1174 -> por morte ou interdição do mandante ou do mandatário
ou pela inabilitação do mandante
A.1171 -> Consubstancia uma modalidade de revogação tácita. Se esta norma for
aplicável à procuração, o representado que designe outro procurador para a prática dos
mesmo atos está, implicitamente, a revogar a procuração primeiro passada.
A.267º1 -> Refere a hipótese de a procuração ter “caducado”; subjacente temos a
ideia de que a extinção atinge o negócio subjacente, o que arrasta a caducidade da
procuração
A tutela de terceiros
O terceiro é parte quando o representante negoceia com ele.
A procuração serve para o terceiro poder constatar os efetivos poderes do
representante
A.260 - permite exigir, do representante, a prova dos seus poderes, prova essa
que, se não for feita num prazo razoável, deixa a declaração sem efeitos. Compreende-
se que a tutela da aparência exija uma prévia procuração, manifestando-se quando
sobrevenham modificações ou extinções (266)
Procuração institucional - surge sempre que uma pessoa, de boa fé, contrate com
uma organização em cujo nome atue um agente em termos tais que seja tranquila a
existência de poderes de representação.
Procuração post mortem
A.265 -> Reporta-se à extinção da procuração; ela ocorre por renúncia ao
procurador, por revogação do representado ou pela cessação da relação subjacente.
Serra irrevogável se tiver sido concedida no interesse do procurador ou terceiro. Infere-
se, aqui, que a morte do representado não implica a caducidade da procuração.
No caso do mandato, a procuração caduca com a morte do representado, em
virtude da cessação da relação subjacente - 1174ºa, envolvendo o termo da procuração
que o acompanhe - 265º1; 1175.
Subestabelecimento
O procurador pode conferir a outra pessoa os poderes de representação que lhe
foram conferidos pela procuração. Trata-se de uma subprocuração, designada por
subestabelecimento. O A.264 admite-o “se o representado o permitir ou se faculdade
de substituição resultar do conteúdo da procuração ou da relação jurídica que o
determina”
Este pode ser feito com reserva, caso em que o procurador mantém os poderes
de representação que tinha, ou sem reserva, caso em que cessam os poderes do
procurador inicial que subestabeleceu os seus poderes.
Segundo o nº2 este entende-se como sendo feito COM RESERVA.
O nº3 fala-nos em culpa in eligendo/instruendo, i.e, o procurador é responsável
pela sua escolha, ou in contrahendo, quanto às instruções que lhe tenha dado.
Há doutrina, como Antunes Varela e Pires de Lima, que exigem para o regime do
abuso a consciência do mesmo pelo representante. Contudo, isto não tem muita lógica,
como aponta o STJ, pois a própria ideia de abuso tem inerente uma reprovabilidade e
uma consciência.
- A prescrição -º1
- O não-uso - º3 – aplica-se aos direitos reais que a lei exclui da prescrição e opera
em casos especiais – A.1569º1
Secção II – A Prescrição
Na Prescrição interrompe-se judicialmente a capacidade do exercício de um
direito. Esta aplica-se a todos os direitos que não sejam indisponíveis (como o de
personalidade); aplica-se a direitos de crédito e reais.
Esta é um efeito jurídico da inércia prolongada do titular do direito no seu
exercício, traduzindo-se em o direito prescrito sofrer um enfraquecimento pela pessoa
vinculada poder recusar o cumprimento ou a conduta a que esteja adstrita. Assim, o
devedor invoca a prescrição, i.e, a recusa a um cumprimento, se o credor deixar de
exercer durante um certo tempo o seu direito. Está é, assim, um meio de defesa do
devedor e que ele opõe ao direito do credor. Tem a utilidade de dispensar o devedor de
cumprir, depois de esgotado o prazo legal.
Segundo o A.300, “são nulos os negócios jurídicos destinados a modificar os
prazos legais da prescrição ou a facilitar/dificultar por outro modo as condições em que
ela opere os seus efeitos”. É também proibida a renúncia antecipada à prescrição –
A.302º1. Ela é, por sua vez, só possível, de modo expresso ou tácito, quando decorrer o
prazo prescricional e desde que operada por quem tenha legitimidade para dispor do
benefício que a prescrição tinha criado – A.302/ º2 e 3.
Assim, a prescrição torna-se um instituto integralmente imperativo, podendo as
partes somente fixar prazos mas de caducidade – A.330º1
Fundamentos da prescrição:
è Fundamentos atinentes ao devedor: aqui a prescrição visa relevar o
devedor de prova; caso das situações em que, com o passar do tempo,
no caso dos recibos, e por ninguém os guardar, torna-se difícil a prova
do pagamento que se tenha efetuado. A não haver prescrição, qualquer
pessoa poderia a todo o tempo ser demandada por quase tudo o que
pagou ao longo da vida
è Fundamento de ordem geral: atinente à paz jurídica e segurança. No
entanto, o tribunal não pode, de ofício, constatar a prescrição – A.303
Contudo, é unânime que a opinião que a prescrição visa tutelar o interesse do
devedor, tal como o usucapião (pela qual a posse prolongada por longo tempo
causa a titularidade do direito, normalmente de propriedade) . A prescrição é
uma posição privada concedida no interesse do devedor. Este usá-la-á ou não
Em suma, o Direito Civil sabe o quão difícil é dar-se o que não se tem. Por isso,
defende as pessoas limitando a autonomia privada.
77. Natureza das normas sobre prescrição; a rigidez dos prazos
Quando fixe um prazo, a norma torna-se autossuficiente: vale por si, esgotando-
se na missão de fixar um prazo predeterminado
78. Renúncia à invocação da prescrição
A prescrição não pode ser dificultada ou excluída, nem mesmo por acordo das
partes: só depois de ter decorrido o seu prazo e de se ter constituído o direito
potestativo de a invocar, é que se admite a renúncia -> 302º1 ; em rigor, o simples
decurso do tempo dá lugar ao aparecimento de um direito potestativo: o de invocar a
prescrição.
A renúncia será, assim, uma declaração unilateral que visa a extinção do direito
potestativo de invocar a prescrição. A renúncia pode ser, contudo, tácita. Renuncia
tacitamente à prescrição quem, depois de decorrido o prazo prescricional, reconheça a
dívida exequenda (em execução), obrigando-se a pagá-la.
Segundo o A.305º1 esta também pode ser invocada por terceiros com “o
legítimo interesse na sua declaração” – esta tem, contudo, a sua sede geral, no âmbito
da legitimidade que é dada aos credores para exercer certos direitos relativos ao
devedor, no A.605 e ss. – Remissão. Assim, ela pode ser invocada por outrem que não
o seu direto beneficiário.
Segundo o 305º2, o caso julgado, em si, só é eficaz entre quem tenha sido parte
no processo que o originou.
80. Início do prazo
Sistema objetivo -> o prazo começa a correr assim que o direito possa ser
exercido e independentemente do conhecimento que tenha ou possa ter o respetivo
credor
Sistema subjetivo -> só se dá quando o credor tenha conhecimento dos
elementos essenciais relativos ao seu direito
A.306º1 adotou o esquema objetivo: dispensa qualquer conhecimento por parte
do credor. A prescrição só se conta depois de o direito poder ser exercido.
79. Beneficiários e invocação
A.301 diz-nos que a invocação aproveita a todos os que dela possam tirar
benefícios, sem exceção dos incapazes.
PPV – a) prescrição comum e presuntiva
Prescrição comum – o beneficiário só precisa de invocar e demonstrar a inércia
do titular do direito no seu exercício durante o tempo fixado na lei. Este regime é
neutro quanto à relação de cumprimento ou incumprimento: a prescrição ocorre, quer
o devedor tenha ou não cumprido. Se já tiver cumprido, o devedor deixa de ter de
invocar e demonstrar o cumprimento, basta-lhe invocar a prescrição; é de destacar que
a prescrição não extingue o direito nem a vinculação – a pessoa recusa-se, simplesmente,
a cumprir: apenas confere ao obrigado o poder de recusar o cumprimento.
Interrupção da prescrição
Enquanto que a suspensão permite o aproveitamento do prazo que tenha decorrido
antes dela, a interrupção inutiliza todo o prazo anterior, obrigando a nova contagem
a partir do zero
A interrupção mais não será do que a ausência súbita do processo de
prescrição.
Podemos definir a interrupção da prescrição como o ato ou o efeito de pôr termo
ao processo prescricional. A interrupção, quando ocorra, inutiliza todo o prazo
porventura já decorrido. Se verificados os requisitos poderá haver depois, apenas, um
reinício. Não obstante, a interrupção da prescrição corresponde a uma evidência lógica
e por isso sempre se impõe. Basta ver que, se estão sujeitos a prescrição pelo seu não
exercício durante o lapso de tempo estabelecido na lei, determinados direitos – A.298º1
-, o processo cessa logo que eles sejam exercidos – para Dias Marques, fala-se aqui de
“prescrição extintiva”.
Tipos de caducidade:
1. Caducidade legal ou convencional, seja ela predisposta por lei ou
pelas partes – A.330º1
2. Caducidade relativa a matéria disponível (as partes podem alterar o
regime legal) e indisponível (as partes não podem alterar o regime
legal)
a. Perante direitos disponíveis surge o reconhecimento do
direito como facto impeditivo (331º2)
3. Caducidade relativa a ações judiciais (A.332) – propõe-se uma ação
em juízo.
Início e suspensão:
O prazo da caducidade, salvo se a lei fixar outra data, começa a correr
no momento em que o direito puder legalmente ser exercido – A.329. Esta
norma distingue-se, em dois pontos quanto à prescrição – A.306
1. Prevê que a lei possa fixar outra data
2. Não associa o início do decurso do prazo à exigibilidade – a que se
deve, no caso inverso, da prescrição estar ligada geneticamente às
obrigações
No domínio da caducidade não se aplicam as regras sobre suspensão e
interrupção do prazo que funcionam perante a prescrição – A.328. O CC, só a propósito
da prescrição, anuncia isto expressamente – 318 e ss e 323 e ss
O A.328 ressalva a hipótese de a lei determinar a aplicação, ao prazo de
caducidade, das regras sobre a suspensão e a interrupção – casos de caducidade
convencional A330º2; aqui funciona, tal como na prescrição, o instituto da suspensão:
melhor exemplo é o do 2308/3
A caducidade só é detida pela prática, dentro do prazo legal ou convencional, do
ato a que a lei ou a convenção atribuam o efeito impeditivo.
A caducidade do direito de pedir a rescisão do contrato de trabalho não é afetado
pela suspensão desse mesmo contrato.
Dúvida: remissão 332º1 – 327º3
Tratando-se de caducidade convencional ou caducidade relativa a direito
disponível, o A.331º2 admite que ela seja detida pelo reconhecimento do direito por
parte daquele contra quem deva ser exercido
Reconhecimento oficioso: No que toca à apreciação oficiosa é fundamental
saber-se se a matéria em jogo é disponível ou indisponível. Perante situações excluídas
da disponibilidade das partes, a caducidade é apreciada oficiosamente, podendo ser
alegada a qualquer fase do processo- A.333º1
O A.331º2 remete para o 303 -> o tribunal não pode suprir, de ofício, a
prescrição.
O Não Uso
Não uso equivale ao não exercício do direito real em jogo; devia dizer-
se “não gozo”
Surge como um dos três institutos legalmente previstos que traduzem a
repercussão do tempo nas situações jurídicas.
Infere-se do não-uso
2. O Não uso tem uma aplicação taxativa aos direitos enunciados no
A.298º3: todos eles direitos reais e de gozo
3. Ainda então exigindo uma nova e especial previsão – que emerge
das caraterísticas próprias dos direitos reais: a extinção de um
direito faz, em regra, surgir direitos noutra esfera: isto deve estar
explicitado na lei, tendo em conta o princípio da tipicidade
(A.1306º1)
Direitos reais sujeitos ao não uso : 1476º1C
Perde a posição jurídica a pessoa que não a exerça por um período de tempo
e em circunstâncias tais que não mais seja de esperar tal exercício.
Abuso de Direito
Controlo direto da justiça material do caso: ter cuidado, claro, com a utilização e com
o ónus de fundamentação do caso.
è Verine Contra Factum Proprium (vir contra o facto próprio a nível literal e
materialmente falando contradizer o seu próprio comportamento)
– “Nada é concedido àquele que vem contra o seu próprio facto”; pressupõe
dois comportamentos contraditórios diretamente:
1. Um facto proprium (um comportamento próprio do sujeito)
2. Um outro comportamento que entra em colisão com o anterior
I.E: Eu faço A e em momento posterior venho fazer não A
Tipos de Venire:
1. Venire positivo – uma pessoa manifesta uma intenção ou gera uma convicção
de que não irá praticar certo ato e depois pratica-o
o Exercício de direitos potestativos
o Exercício de direitos comuns
o Atuações no âmbito de liberdades gerais
ao caso caibam, ignore estar a lesar posições alheias; aqui, para relevar o Venire
tem que se atender à normalidade típica- A.236
2. Uma justificação para essa confiança (objetiva) – expressa na presença de
elementos objetivos capazes de provocarem uma crença plausível e de adesão
de uma pessoa normal; o tal elemento subjetivo de que o confiante aderiu, de
facto, ao facto gerador de confiança. Do ponto de vista do declaratário, o que o
declaratário conferiria.
3. Um investimento de confiança – a pessoa desenvolveu uma atuação baseada na
própria confiança; atuação essa que não possa ser desfeita sem prejuízos
inadmissíveis (neste caso, uma confiança puramente interior); em consequência
do factum proprium que aderiu, o confiante ter desenvolvido uma atividade tal
que o regresso à situação anterior seja impossível em termos de justiça; o
investimento de confiança deve merecer tutela: na prática de atos materiais ou
jurídicos que tenha por fundamento a confiança justificada.
4. A imputação da situação de confiança – implica a existência de um autor a quem
se deva a entrega confiante do tutelado. Ao proteger-se de uma pessoa vai-se,
em regra, onerar outra: isto implica que a outra seja a responsável pela situação
criada.
Isto tudo, claro, articulado enquanto sistema móvel.
O tu Quoque exprime a regra geral pela qual a pessoa que viole uma norma
jurídica não pode depois, sem abuso:
è Suprecio surretio
Supressio -Posição do direito subjetivo – ou melhor, de qualquer situação jurídica –
que, não tendo sido exercida, em determinadas circunstâncias e por um certo lapso
de tempo, não mais possa sê-lo por, de outro modo, ser contrária à boa fé.
Pressupostos e exigências
è Inalegabilidades formais
è Exercício em desequilíbrio
Sistema interno – a relação entre estes dois sistemas é um fator complexo e profundo.
Sistema interno é fundamentalmente a falar princípios de valorações axiomáticas que
dão identidade ao próprio ordenamento. É o que dá a solução ao problema, ao caso.
Sistema móvel – recorremos ao sistema móvel sempre que para aplicar uma
determinada solução dizemos que os critérios que têm de estar verificados para a sua
aplicação, é mais a intensidade dos critérios que se apresentam do que a exaustão da
sua verificação; um conjunto de critérios que preenchem a aplicação do instituto, pode
algum deles não pode estar preenchido, porque a intensidade problemática dos outros
elementos é de tal modo intensa, presente, que ainda assim a solução que o instituto
faculta deve ser aplicada ao caso. Na figura das inalebagilidades formais, esta
modalidade ganha mais esteticidade, porque estamos perante normas absolutas
(Menezes Cordeiro). É, assim, a última válvula de escape do sistema.
COISAS - TOMO IV
NOÇÃO E PAPEL
A designação tradicional era a de coisas ou cousas; referia-se, embora e por
vezes, com um sentido semelhante, a “bens”. O bem traduz a utilidade que a coisa pode
proporcionar ao homem, exprimindo as coisas efetivamente apropriadas.
O termo “coisa” é, tecnicamente, o mais adequado para traduzir a realidade em jogo
nos artigos 202º e seguintes. O termo “bem” pode ser usado em paralelo, embora com
conotações próprias:
AS DIMENSÕES DE COISA
Em torno de coisa podemos tecer inúmeras considerações sociológicas,
antropológicas, físicas e, mesmo, filosóficas.
Uma primeira ideia a reter é a de que “coisa” se contrapõe a “pessoa”.
Pires de Lima, criticando o Código de Seabra pela latitude da sua noção, propôs a
definição hoje inserida no artigo 202º:
“Diz-se coisa tudo aquilo que pode ser objeto de relações jurídicas”
“economizem” tudo aquilo em que toquem. Há coisas que, de fato e nas condições
reinante, não têm teor económico.
Mas podemos ir mais longe. Com a sua materialidade, a coisa evidencia o mundo
exterior, pelo qual o ser humano se debate. O Direito disciplina-o. Mas fá-lo tendo, em
vista as figurações reais. A ordenação dos bens assenta numa dogmática dirigida para o
objeto: principalmente, para a coisa. Nos planos ordenadores e significativo-ideológicos,
a coisa, tem, também, um papel fulcral.
REGIME E NATUREZA
O Direito público não é um Direito codificado. Assim, muitos dos regimes que
nesse surgem têm uma generalização problemática. Estas considerações aplicam-se ao
domínio público. As diversas hipóteses dominiais têm as suas regras.
Como vetores normativos gerais atinentes ao domínio público, encontramos os
seguintes:
ü A constituição, a transmissão, a modificação e a extinção da situação dominial
pública regulam-se pelo Direito público e, designadamente: (a) só a lei pode
determinar a publicização de um bem ou a sua desafetação, (b) a
O uso comum é, muitas vezes, gratuito. Mas pode implicar o pagamento de taxas ou
de portagens, de acordo com o que esteja legalmente estabelecido. O uso comum do
domínio público integra uma liberdade de atuação.
público, o Estado foi promovendo certas regras especiais que vêm perturbar a própria
lógica da existência de um domínio privado do Estado.
Na falta de norma específica que satisfaça os apontados requisitos, o regime
geral do Código Civil encontra aplicação: nesse sentido dispõe o artigo 1304º.
É comum, no domínio privado, a distinção entre domínio disponível e
indisponível. Como explica Marcello Caetano, esta distinção não deve ser tomada à
letra. Em principio, o domínio privado disponível reporta-se a bens que não servem
nenhuma especial função especificamente administrativa do Estado. Intensificam-se,
aqui, os vetores que levam à aplicação do Direito civil.
O domínio privado indisponível já respeita a bens que, embora não incluídos,
pela lei, no domínio público, têm a ver com funções do Estado, sendo indispensáveis. A
lei pode, então, prever um regime específico que designadamente, restrinja as hipóteses
de alienação.
Na falta de normas em contrário, todo o domínio privado é disponível. A sua
alineação deve, contudo, operar por concurso ou equivalente: trata-se de um esquema
clássico destinado a assegurar a imparcialidade do Estado nos seus negócios e a
proporcionar os melhores resultados.
MODALIDADES DE COISAS
A noção de coisa é muito ampla. O artigo 203º do Código Civil, precisamente
epigrafado “classificação das coisas”, vem dispor.
A doutrina é unânime: trata-se de um preceito não exaustivo. O próprio artigo
202º, no seu nº2, subentende uma contraposição entre coisas no comércio e fora do
COISAS CORPÓREAS
À partida, as coisas corpóreas têm existência exterior, sendo percetíveis pelos
sentidos. Pelo contrário, as incorpóreas correspondem a meras criações do espírito.
Apesar de omitida no campo das classificações “oficiais” de coisas, o Código Civil
pressupõe a presente classificação e em troços importantes, no artigo 1302º.
O “direito de propriedade” é usado, aqui, no sentido intermédio de “direitos
reais”. As coisas corpóreas, recordam, desta forma, todo esse importante ramo do
Direito civil.
As coisas corpóreas correspondem, ainda, a um autonomização requerida pela
natureza, tal como é vivida pelo sentir social. As coisa corpóreas são delimitáveis e
domináveis. Enquanto realidades exteriores percetíveis pelos sentidos, as coisas
corpóreas sofrem a atuação humana direta, no sentido mais imediato de atuação física.
O ser humano pode controlá-las, com ou sem base jurídica, excluindo os seus
semelhantes de fazer outro tanto.
COISAS INCORPÓREAS
As coisas incorpóreas são criações do espírito humano. Elas podem ser
comunicadas através da linguagem e ser incorporadas em documento.
Os direitos que recaiam sobre imóveis têm o regime jurídico correspondente aos
direitos sobre imóveis.
poderiam passar por prédios. O artigo 204º não é, pois, taxativo. Mas constitui uma
base legal que apenas por outra lei ou por apoiado desenvolvimento jurídico-científico
pode ser afastada. Afigura-se-nos feliz o apelo, feito pelo Prof. Coelho Vieira, à
tolerância do preceito.
De todo o modo, há que ter presente o seguinte: o conceito técnico de prédio é mais
extenso do que o seu uso comum. A margem de imóveis que escapam ao artigo 204º é
pequena. Mas existe.
Ø Teoria do fracionamento;
A teoria do fracionamento parte da afetação económica. Simplesmente, quando
se apure que quer o terreno, quer a construção têm autonomia económica, opta
pelo fracionamento: haveria dois prédios, sendo um rústico e outro urbano
O Código Civil, no artigo 1334º faz as suas considerações. Muitos códigos tratam
este problema a propósito da propriedade.
OS PRÉDIOS URBANOS
Os prédios urbanos são, fundamentalmente, edifícios ou casas. A lei não define
edifício, tendo-se entendido que remete para a conceção comum. Deve, todavia, ser
uma construção de certo relevo. Além disso, o artigo 204º/2, 2ª parte, exige a
“incorporação” no solo: ficam excluídos barracões, tendas ou construções elementares,
meramente assentes, no terreno.
AS ÁGUAS
O Código Civil enumera, como segunda categoria de coisa imóvel, as águas.
Trata-se de águas particulares, suscetíveis de comportar apropriação privada.
Com efeito, o artigo 1385º distingue as águas públicas e particulares. Apenas
esta últimas se sujeitam à dogmática privada.
PARTES INTEGRANTES
As partes integrantes vêm definidas, no nº3 do artigo 204º. As partes
integrantes não têm autonomia: elas inserem-se no imóvel a que pertençam.
Apenas na medida em que sejam possíveis negocio jurídicos autónomos sobre
“partes integrantes”, a natureza imóvel destas assumiria um papel independente. Em
principio, tais negócios não são possíveis.
O REGIME: CONSEQUÊNCIAS
Os imóveis dispõem de um regime bastante diferenciado. Os negocio relativos a
imóveis estão, em princípio, sujeitos a forma solene e, designadamente, a escritura
pública ou o documento particular autenticado.
A legitimidade para a celebração de negócios relativos a imóveis torna-se, por
vezes, mais exigente requerendo-se, ainda certas autorizações.
Os imóveis sujeitam-se a um esquema de publicidade racionalizada, organizada
pelo Estado: o registo predial. Aplica-se-lhes, assim, todo um complexo normativo de
relevo, com princípios próprios e regras pormenorizadas.
É um lugar comum a afirmação de um crescente valor dos móveis, em
detrimento dos imóveis. Essa deslocação confirma-se com a supremacia do sector
secundário e, sobretudo, do terciário, sobre o primário.
As coisas imóveis traduzem, no essencial, uma parcela da superfície do Planeta.
À escala humana, elas são praticamente imutáveis. Não se podem esconder e não
escapam nem à vista de todos, nem à soberania do Estado. O seu valor é intrínseco: não
depende de regras jurídicas nem de convenções. Em regra, os imóveis exprimem um
tipo de apropriação duradouro, suscetível, pela sucessão hereditária, de sobreviver a
cada um.
As coisas móveis podem ter muito valor.
Os imóveis, embora batidos como riqueza absoluta, mantêm, pela natureza das
coisas, um elevado valor. Além disso, eles correspondem a uma evidente realidade física
e sociológica, dotada de características inconfundíveis e à qual o Direito não pode eixar
de dispensar um tratamento diferenciado. Finalmente: eles comportam regras
matriciais que são, depois, a base de normas aplicáveis noutras fórmulas de apropriação.
Num curioso retorno histórico: parece estar em curso uma “reabilitação” da
propriedade imobiliária. E assim sendo, as especialidades jurídicas dirigidas aos imóveis,
além de explicáveis, têm justificação e futuro.
OS MÓVEIS
CATEGORIA GERAL
Nos termos do artigo 205º/1, a categoria das coisas móveis é residual: abrange todas
as coisas que o Direito não considera imóveis. Ficam particularmente em causa:
Os objetos materiais;
A energia;
Os móveis sujeitos a matrícula e registo;
As coisas representativas.
A ENERGIA
A energia, em muitas das suas formas, pode ser apreendida pelos sentidos.
Noutros casos, tal é indiretamente possível, com recurso a instrumentos científicos
adequados.
O Código Civil não refere a energia entre as coisas, embora se lhe reporte, a
propósito da responsabilidade e dos privilégios creditórios.
“da sorte” não são fungíveis; precisamente a mesma moeda, noutras circunstâncias, sê-
lo-á. Note-se que a fungibilidade, não sendo evidente, deve ser invocada e
demonstrada.
A classificação entre coisas fungíveis e não fungíveis pode ser transportada para
o domínio das obrigações. Aí, a “prestação fungível” é aquela que tanto possa ser
executada pelo devedor como por terceiro, o que permite, a este, realizar o
cumprimento (767º, onde se mantém a ideia de uma possível não-fungibilidade
convencional). O artigo 828º fala em “fato fungível”. Prestações essencialmente
fungíveis são as que constituam o objeto de obrigações genéricas (539º).
Temos, em abstrato, duas situações bastante diversas. Por um lado, pode haver
coisas objetiva (Biondi) ou absolutamente (Castro Mendes) futuras: coisas que não
existem, ainda, na facticidade mas que se espera venham a surgir. Por outro, pode-se
lidar com coisas subjetiva ou relativamente futuras, isto é, coisas que já existem, mas
que não se encontram no património do disponente. Esta última situação absorve a
primeira: quando o disponente adquira a coisa, é porque esta, além do mais, já existe.
É, então, seguramente presente.
Quando se celebrem negócios sobre coisas futuras, o disponente fica obrigado
às diligências necessárias para que elas se tornem presentes – artigo 880º/1.
É possível apresentar os seguintes traços próprios do regime jurídico das coisas simples.
Assim:
COISAS COMPOSTAS
No Direito romano, distinguiam-se, opostas às simples, as coisas compostas.
Estas podiam ser compostas ex contingentibus ou ex distantibus.
As antigas coisas compostas ex contingentibus são, hoje, coisas simples. Por seu
turno, as universalidades de direito traduzem patrimónios de afetação: não são coisas,
sem prejuízo de, em certos casos, o Direito admitir um seu tratamento unitário.
Temos pois: por um lado coisas simples, que abrangem as coisas com várias
peças, cuja autonomia ficou perdida com a junção, isto é, as antigas ex contingentibus;
por outro, as compostas, que englobam várias coisas simples, pertencentes à mesma
pessoa e com um destino unitário: estas absorvem as antigas ex distantibus, bem como
as subsequentes universalidades de fato.
As coisas compostas podem ser objeto de ato jurídicos unitários, para
comodidade do titular e da comunidade; todavia, implicam direitos autónomos sobre as
coisas componentes, podendo haver especialidades. Os exemplos são clássicos: o
rebanho, a biblioteca ou a coleção de moedas. As coisas compostas conservam-se como
tal enquanto operar o elemento que aglutine as coisas que as componham.
Não nos parece viável estabelecer uma diferença de fundo entre coisas
acessórias e pertenças (MC): há uma equiparação de regimes – e não, apenas, de
qualificações – que não vemos possa ser afastada. Quanto ao costume contra legem:
tanto quanto sabemos, o artigo 210º/2 tem sido aplicado sempre que invocado; falta
uma prática reiterada de afastamento.
Quedam-nos, então, os seguintes instrumentos de normalização sistemática:
Pois bem: à luz desta regra, a coisa deverá sempre ser vendida com o seu acessório,
quando ele seja necessário para realizar a sua função.
FRUTOS
O Código Civil fez as seguintes opções essenciais:
v Definiu fruto como o que a coisa produza periodicamente, sem prejuízo da sua
substância – artigo 212º/1;
v Distinguiu, apenas, frutos naturais e civis: os naturais provêm diretamente da
coisa, enquanto os civis correspondem a “rendas ou interesses” que a coisa
produza “em consequência de uma relação jurídica” – artigo 212º/2;
v Precisa o que entender por furtos de universalidades de animais – artigo 212º/3.
Todo o regime dos frutos está moldado à ideia de que, regularmente, eles vão
surgindo: só assim é possível dispor sobre a partilha dos frutos (artigo 213º), sobre os
frutos colhidos prematuramente (artigo 214º) e sobre a restituição de frutos (215º).
Uma indeminização por privação indevida de uma coisa não pode ser considerada fruto.
A determinação dos frutos naturais deve ser feita em concreto.
Os frutos naturais seguem a coisa: só com a colheita ganham autonomia. A ideia
do Direito é a de respeitar os processos produtivos naturais; por isso, os frutos
pertencem a quem tiver direito a eles, no momento normal da colheita; se forem
colhidos prematuramente, devem ser restituídos a quem, naquele momento, tenha o
direito em causa (artigo 214º). Tendo alguém direito a frutos naturais até um certo
momento faz seus os frutos percebidos na vigência do seu direito, em nova
manifestação daquele princípio (artigo 213º/1). Já tratando-se de frutos civis, a partilha
é proporcional à duração do direito de cada interveniente (idem, nº2).
Os frutos são pendentes ou separados, consoante estejam ou não ligados à
coisa produtora; quando separados por ação humana, dizem-se percebidos, sendo
percebiendos os frutos que, devendo ser percebidos, o não foram. Os frutos extantes
BENFEITORIAS
O Código Civil acolheu a matéria em sede geral das coisas, mas apenas para
definir benfeitorias (artigo 216º/1) e para as classificar, de acordo com a apontada
tripartição (idem, nº2 e nº3).
Segundo a definição legal (216º/1), benfeitorias são todas as despesas feitas
para conservar ou melhorar a coisa. A jurisprudência permite precisar esta noção:
assim, não são benfeitorias as despesas feitas com sementeiras, limpeza de matos e
árvores, adubação destas e retirada de ramada; também um pequeno barraco de
madeira para WC não é considerado uma benfeitoria útil; despesas de transporte e de
deslocação não são benfeitorias: não se encorporam na coisa. As benfeitorias
necessárias equivalem a reparações.
TEORIA DO PATRIMÓNIO
A teoria romana das coisas encarava-as em si mesmas, isto é:
independentemente da posição que ocupassem perante as pessoas, sujeitos de Direito.
TEORIA MODERNA
A conceção clássica de património suscitou diversas criticas. Na origem
encontramos Gény, que sublinha a teoria clássica do património é uma pura conceção
do espírito; ela parte de uma constatação para erguer um edifício do qual retira
consequências práticas. Estas, fixadas a priori, não correspondem ao verdadeiro regime
jurídico-positivo em jogo e impedem inovações jurisprudenciais importantes, como as
que admitem patrimónios de afetação.
No essencial, ela entende que o património é algo de objetivo, relativamente
independente da pessoa do seu titular. Poderia haver pessoa com vários patrimónios
distintos. No fundo, o património isolar-se-ia pelo seu fim ou pela sua destinação.
POSIÇÃO ADOTADA
A doutrina mais recente apresenta-se com desânimo perante O tema do
património. Este é entendido como uma noção não definida na lei, suscetível de diversas
aplicações. Fundamentalmente consistente num conjunto de direitos e deveres, o
património tem, todavia, uma aceção a determinar caso a caso, pela interpretação.
Podemos apresentar o património como um conjunto de posições ativas
patrimoniais unificado em função de determinado ponto de vista.
TEORIA DA EMPRESA
Em sentido objetivo, o interesse traduz uma relação de apetência entre o sujeito
considerado e as realidades que ele entenda aptas para satisfazer as suas necessidades
ou os seus desejos; em sentido objetivo, interesse traduz a relação entre o sujeito com
necessidades e os bens aptos a satisfazê-las. A noção de interesse, porém, só terá algum
relevo quando se defira, ao próprio sujeito, a função de definir quais os interesses e
como os prosseguir. Doutra forma, a lei mandaria, ad nutum, adotar certa atuação: seria
uma mera norma de conduta.
A noção de interesse não é, dogmaticamente, aproveitável, no estado atual da
Ciência do Direito. “interesse” tem, no Direito civil, uma vocação multifacetada, a
determinar, pela interpretação, em cada norma: não permite avançar no domínio aqui
em causa.
A doutrina portuguesa tem reconduzido o interesse da sociedade ao interesse
comum dos sócios. Brito Correia vem dizer que o chamado interesse da sociedade se
reconduz a interesses de pessoas físicas relacionadas com a sociedade.
Oliveira Ascensão considera, de fato, um interesse da sociedade, contraposto ao
dos sócios, assente numa visão institucional de empresa.
Aqui temos a chave do artigo 64º do CSC. Os “interesses”, nele referidos, são,
simplesmente, normas e princípios jurídicos. Os administradores devem usar de
determinada diligência, acatando as normas e princípios relativos à sociedade, isto é,
aos sócios e aos trabalhadores, mas em modo coletivo, ou seja, através da particular
técnica da personalidade coletiva.
O ESTABELECIMENTO
A teoria da empresa aproxima-se pois, da da personalidade coletiva: as leis usam
a expressão empresa para designar, global e praticamente, os agentes económicos e as
suas organizações.
Muitas das classificações inseridas no Código Civil e das regras a elas inerentes
têm aplicação.
OS ANIMAIS
A própria natureza das coisas diz-nos que o animal não é idêntico à planta ou ao
mineral. Ele tem, pelo menos, a faculdade de se mover por si.
O Código Civil não dedicava preceitos aos animais, exceto a propósito da
ocupação e noutros domínios periféricos. Tão-pouco existe, na lei civil, qualquer norma
especificamente destinada a protegê-los, com exceção do artigo 1124º que, todavia,
tem uma estrutura de pura proteção contratual dos interesses do dono do animal.
A proteção dos animais constitui, já hoje, um valor estruturante das modernas
sociedades pós-industriais, quer a nível interno, quer a nível internacional. Abre-se,
assim, uma problemática no seio do Direito civil. O Direito civil deve acompanhar a
evolução dos tempos, incentivando-a ou corrigindo-a conforme as circunstâncias.
FUNDAMENTAÇÃO ÉTICA
Existe, hoje, um consenso sócio-cultural alargado no sentido de se dever uma
proteção aos animais. À partida, não haveria proteção. As grandes religiões sempre
FUNDAMENTAÇÃO SÓCIO-CULTURAL
A sensibilidade é um todo. Não é pensável ser-se cruel para os animais e bondoso
para as pessoas: uma coisa implicará a outra. O respeito pela vida é uma decorrência
ética do respeito pelo seu semelhante. Condenar os animais pela não inteligência é abrir
a porta à morte dos deficientes e dos incapazes. Há um fundo ético-humanista que se
estende a toda a forma de vida, particularmente à sensível. O ser humano sabe que o
animal pode sofrer; sabe evitar fazê-lo. A sabedoria dá-lhe responsabilidade. Nada disso
o deixará indiferente.
A biologia explica, hoje, que o homem não é estruturalmente diferente dos
diversos animais: há muitas mais semelhanças do que diferenças, em termo genéticos.
Têm antepassados comuns. E estarão, provavelmente, juntos no futuro, até ao fim da
vida na Terra.
A PROTEÇÃO JURÍDICA
A TUTELA EM PORTUGAL
A tutela dos animais tem tradições antigas. Por diversas vezes, os Reis de
Portugal proibiram as touradas: houve leis do Marquês de Pombal e de Passos Manuel,
nesse sentido.
Hoje releva a Lei de Proteção dos Animais. A Lei de Proteção dos Animais é um diploma
sintético, com dez artigos, ordenados em três capítulos:
Capítulo I – Princípios gerais – artigo 1º;
A PROTEÇÃO CIVIL
No seu conjunto, a ordem jurídica portuguesa dispõe de múltiplos instrumentos
de tutela dos animais. Torna-se desejável o seu desenvolvimento e a complementação
da lei básica de 1995.
O Direito civil deve exercer a sua função de reflexão, de conceitualização e de
afeiçoamento do sentimento jurídico geral.
Não sendo os animais coisas, como qualificá-los ? Não se vislumbra qualquer
intenção legislativa de os equiparar às pessoas: em sentido jurídico, só o ser racional
pode ser destinatário de deveres – e, logo, de direitos. A exata qualificação dos animais
ficou, pois, em aberto, seno apenas seguro que disfrutem de proteção. A alteração
legislativa tem, de todo o modo, efeitos práticos globais, nunca devendo ser tomada
contra os valores humanos: antes a favor da vida no Planeta.
No Direito Português, o problema não se põe, ainda, com tanta acuidade. Uma
proposta de modificação do Código Civil, no sentido de proclamar que os animais não
são coisas, foi bloqueada por pruridos políticos. De todo o modo, a proteção existente
permite:
v Ou qualificar os animais como um tipo específico de coisa;
v Ou pôr em causa a estrita dicotomia pessoa/coisa.
ANOMALIAS IBÉRICAS
A proteção dos animais surge como uma decorrência cultural do mundo
civilizado. Afigura-se um ponto pacífico, que o passar dos anos tem vindo a sedimentar
e a pacificar. Todavia, na Península Ibérica, com uma projeção limitada na América
Latina, mantêm-se duas práticas cruentas: as touradas e o tiro aos pombos.
Nas touradas procede-se à “lide” e, em certo casos, à morte de touros. O touro
é um herbívoro não violento mas que, quando espicaçado, investe. A “lide” consiste em
provocar um sofrimento crescente no animal, com recurso a técnica experimentadas
que não lhe dão qualquer hipótese, desnorteando-o, ainda, com imagens que ele não
sabe (nem pode) interpretar: capas, cavalos e sons. No final, com o ser esgotado e
mutilado, procede-se à sua morte ou à “pega”: tudo em público.
No tiro aos pombos – por vezes, pudicamente, dito “tiro em voo” – também
admitido apenas em Portugal e em Espanha, o atirador, travestido de desportista, tenta
abater pombos, largados para o efeito. Antes de largado, o pombo, previamente
enfraquecido pela fome e pela sede, é mutilado, através do arrancamento das penas
traseiras. Supostamente para ter um voo irregular.
TOURADAS
As touradas foram, ao longo da História, proibidas diversas vezes. Mas renascia,
sob diversos pretextos, ainda que sem estruturas organizadas.
O atual sistema político-partidário joga contra a defesa dos animais. Nenhum
dirigente político corre o risco d perder um voto que seja, por semelhante coisa. Há,
assim, que percorrer um caminho longo, com pedagogia e paciência. Seria decisivo que
os “agentes tauromáquicos” fizessem evoluir o espetáculo, de modo a manter os
aspetos coreográficos mais animados, banindo, progressivamente as práticas cruentas.
A cultura teria, com isso, tudo a ganhar.
De todo o modo, cumpre-nos rebater os três grandes argumentos pró-touradas:
(a) a cultura; (b) a ancestralidade; (c) a existência de outros males. Assim:
ü A cultura que exista numa tourada não pode ter a ver com a tortura pública de
um herbívoro; residirá, antes, na cor, nos trajos, na equitação e na música; ora
este aspetos podem ser ressalvados, sem os resquício cruentos;
ü A ancestralidade não se documenta com clareza; há uma tradição muito antiga
de proibição de espetáculos sangrentos, particularmente em Portugal; de todo
o modo, cabe às leis combater as práticas inadequadas, por antigas que sejam:
para isso a Humanidade criou o Direito;
ü Outros males, como o sofrimento dos animais nos matadouros, não se justificam
coisa nenhuma: a não ser a necessidade de, também aí, a lei intervir, para evitar
sofrimentos inúteis.
Aulas práticas
Caso Prático 63
Segundo MC, para estarmos perante um fenómeno representativo há três
pressuposto que têm de ser preenchidos: primeiro, tem que haver uma atuação em
nome de outrem (contemplatio domini), i.e, o representante (Bártolo) deve agir em
nome do representado - esclarecendo a contraparte e todos os demais interesses que
age nessa qualidade – segundo as diretrizes do A.258- ; seguidamente, tem que se agir
por conta dessa pessoa, i.e, a representação visa a esfera jurídica do representado e é
aí que a mesma produz efeitos “… produz os seus efeitos na esfera jurídica deste
último…” parte final do A.258 designada por “nomine alieno” (sendo que a repercussão
dos negócios na esfera do representado dão-se de forma imediata e automática); e, por
fim, o representante tem que dispor de poderes para o fazer: sendo que, aqui, Analecto
confere a Bártolo poderes para o mesmo vender a vivenda X
1º Hipótese:
O fenómeno representativo envolve também um fenómeno de legitimação, i.e,
o representante (Bártolo), nesta hipótese, agiu em nome do representado (Anacleto)
mas, agiu sobre bens e interesses não prescritos no documento que ambos assinaram,
i.e, na procuração. A procuração é um negócio unilateral onde não é necessário
aceitação para que a mesmo produza efeitos. A mesma pode produzi-los por
entendimento tácito ou por renúncia : A.265º1. Neste caso, Anacleto ao redigir o
documento e ao conferir a Bártolo poderes para este somente vender a vivenda x,
estamos perante uma procuração que concede poderes especiais – aplicação analógica
do A.1159. Há que entender, contudo, que sob a procuração a lei pressupõe que exista
2º Hipótese
Contrariamente à hipótese anterior, Bártolo, tendo os mesmos poderes de
representação e legitimidade – A.258 -, agiu, não em representação sem poderes, mas
em abuso de representação – A.269. A diferença residual que existe entre a
representação sem poderes e o abuso de representação incide no campo de atuação do
representante e a sua conexão com a outorga de poderes na procuração e no negócio
base: quando nos referimos a representação sem poderes há uma atuação, por parte
do representante (Bártolo), geneticamente inabilitada, comprovada pelo negócio base
ou pela procuração, para o exercício de uma certa ação: como tal, o representante
pratica um ato sem estar habilitado para tal, isto é, sem ter os devidos poderes. Por sua
vez, quando nos referimos a abuso de representação, referimo-nos, não a uma
inabilitação por parte do representante, uma falta de poderes num determinado campo,
mas um num desvio notório em relação à base em que as partes contrataram, agindo
em desconformidade com as instruções acordadas na procuração.
Em ambas as figuras há também divergências quanto ás consequências jurídicas
do interesse prosseguido: enquanto que na representação sem poderes pode admitir
um regime superveniente de validação representativa (a ratificação) por partes do
dominus, se a este for proveitoso o negócio, e por isso, se não for, ao terceiro pode
pesar uma certa “exigência” ao lhe ser exigido que comprove os poderes do
representante (A.260), não admitindo que o mesmo pode e deve ser protegido (A.266),
no regime do abuso de representação o negócio é sempre válido, independentemente
da validação ética da conduta do terceiro, acabando por se proteger mais o terceiro
devido ao investimento de confiança que o mesmo criou na competência de poderes do
representante. A lei aqui é clara: o negócio apenas é ineficaz (POR REMISSÃO DO A.268)
se o terceiro tivesse a cognoscibilidade da falta de poderes representativos do
representante; se não tiver a cognoscibilidade desses poderes, nem o dever de a ter, o
negócio é valido.
No âmbito da relação subjacente, relação interna, e não externa, como o abuso
de representação, insere-se o mandato. O mandato é uma relação de base (um interesse
ínsito numa relação). Nós temos, antes da procuração, um mandato. A.1161 a) segunda
parte -> ANACLETO pode recorrer ao A.798. Em princípio essa indemnização seria 250mil
(metade do preço)
3º Hipótese
261 – Age em dupla qualidade: ele é em i) representante; e ii) ele não é
representante, age em nome próprio e por conta própria.
Quanto ao negócio celebrado entre Bártolo e Celso, o nº2 do 257 diz-nos que o
facto só se considera notório “quando uma pessoa de normal diligência o poderia
notar“. É possível aqui haver divergência quanto ao ónus de diligência do declaratário
(aqui o terceiro) em entender que a mesma estava a ser proferida por um incapaz.
Contudo, como o enunciado não nos revela mais pormenorizadamente a atuação de
Bártolo, é impossível aferir este critério à luz do A.236.
Há ainda, contudo, uma via que pode desenvolver-se pelos caminhos da
Representação sem poderes, por parte de Bártolo, apesar de o mesmo não ter agido
dolosamente ou de má fé, sendo ela aplicável tanto a representante na ação de má ou
boa fé.
Se o A desconhece com culpa, o NJ é válido. Não pode ser anulável, porque o A fica
vinculado ao negócio; tendencialmente ele é aplicável. O 259º2 apoia-nos.
Se ele não soubesse que era menor, o Nj podia ser anulado ou ser confirmado.
A logica formal e estrutural da representação assenta na anulação sempre. No entanto,
tem que haver uma redução teleológica.
=/ estado subjetivo, que é o conhecimento ou desconhecimento
263 o rep não tinha de entender e querer suficientes para atender aos interesses do
dono tendo em conta o negócio
A representação legal do 263nº1 não supre a sua incapacidade. Não pode porque a
relação de base pressupõe confiança: ela só se constitui em relação aquelas pessoas que
fazem parte da relação.
Mas mesmo que fosse maior, ele não podia substituir 264 segundo os 3 pressupostos.
O negócio cairia no 268.
Anacleto tinha um encargo de indagar Bártolo.
259 Pressupõe um problema. Se ele ´valido, não se aplica o 259.
DL 178/86 - Na agência podemos, alem de atos jurídicos, ter atos materiais Promover a
situação futura de negócios entre duas pessoas – a pessoa que o incumbiu e o terceiro
– aplicável maioritariamente só nos casos comerciais.
Caso Prático 64
Houve uma procuração outorgada por Adélio conferido poderes a Braulio, mas
sem que este expressasse o seu consentimento. No entanto, estamos perante uma
outorga de poderes representativos, sendo que a esta é aplicado o regime da
unilateralidade: i.e, para a procuração ser válida não é necessário a assinatura de ambos
os sujeitos, bastando que ela seja conferida por A a um determinado representante; esta
pode ainda ser conferida, segundo o presente caso prático, sem nenhuma forma
legalmente exigida (A.262 º2). Ficou ainda estipulado na relação subjacente que o bem
em causa podia ser vendido pelo preço que Braulio entendesse – isto reporta à
prestação geral do mandato – A.1159 nº1. Adélio, ao contactar Bráulio e referindo-se a
este que pretendia o pagamento integral do preço, e Adélio sabendo isto, este rompe
as obrigações que o mesmo tinha, e por isso vai contra o A.1161 A. Este desvio
representativo praticado por Bráulio, cai no regime do abuso de representação – A269.
Depois do acidente provocado por Celso, e estando num caso de reserva de Abuso de
representação específico, a Celso não era expectável nem presumível que exigisse a
verificação das clausulas do mandato a que Bráulio estava adstrito .Assim, a Celso não
se poderia imputar o regime do A.260 pelo seu desconhecimento sem culpa e pelo sua
incapacidade de ter o dever de conhecer o abuso de Bráulio. O terceiro estava de boa
fé. Estando de boa fé, há que tutelar a confiança que o mesmo depositou no
Caso 64 nº2
A situação jurídica que ele está a exercer abusivamente é o crédito
indemnizatória.
O abuso de direito insere-se no A.483
Boa fé objetiva e conta nas duas feições.
64 º2
Quanto mais tempo passar, este serve para tornar mais justificável
Não é Surretio porque não é o nada fazer, ele agiu.
Não temos elementos suficientes no caso para dizer que Celso investiu na
confiança.
Salvar a hipótese: sistema
A tipicidade ajuda-nos a perceber e fundamentar a situação do caso. O A.334 é
uma CCG.
Há fortíssimas razões para proteger a posição do Celso
Caso nº66
Manuel, depois de ter emprestado a Nuno uma certa quantia, pelo prazo de um
mês, há 19 anos, aceitando a alegação de Nuno de que este não poderia pagar apesar,
inclusive, de manter conversas diárias com este, vem hoje alegar a restituição do capital
em dívida. Manuel, ao agir nestes parâmetros, incorre em abuso de direito (A.334). No
presente caso, a restituição do capital em dívida, por não ter sido exercido em
determinadas circunstâncias e por um certo lapso de tempo, vir agora exigi-lo é
contrário à boa fé. Aqui, o factum proprium foi a omissão / abstenção de Manuel por
não ter exercido o Direito. Isto faz com que estejamos perante a modalidade Suprecio
Surretio. Esta modalidade de decisão destina-se a proteger a confiança de um
beneficiário, através das seguintes proposições: i) um não exercício-prolongado – na
medida em que a pessoa em causa, i.e, um confiante normal colocado na posição do
real confiante, compreenderia que a posição em causa não iria ser mais exercida.
Seguidamente ii) é necessário que haja uma situação de confiança (subjetiva); neste
caso, o elemento subjetivo a que o confiante aderiu não consta presente no caso, ou
podendo este fundir-se com a justificação para a confiança criada (iii), i.e, uma confiança
objetiva, expressa na presença de elementos tais, capazes de provocarem a crença
plausível de adesão de uma pessoa normal, sendo que aqui o facto gerador de confiança
fora o silêncio prolongado de Manuel. Tem, também, que haver um investimento nessa
confiança criada, que aqui resulta na confiança nesse factum propium omisso, i.e, no
silêncio prolongado e no investimento na confiança do que esse silêncio significava: i.e,
a absolvição do pagamento. Esta confiança deve, por fim, ser imputada a alguém, de
forma objetiva, neste caso entregando a responsabilidade da situação criada ao Manuel.
No presente caso, a adquirição da posição de vantagem ex bona fide, i.e, na
supressio, é o não cumprimento da prestação a que Nuno estava vinculado. Contudo,
Manuel age dentro do prazo legal de prescrição comum (i.e, 20 anos), o que faz com que
ao mesmo, enquanto credor, não possa, pela parte do devedor (Nuno), ser arguido a
recusa do cumprimento da prestação contraída, pois este situa-se ainda dentro do prazo
prescricional (A.309). Não sustento que a prescrição em causa possa ser presuntiva, pois
de acordo com o A.316, esta apenas diz respeito a determinados créditos.
Assim, dá-se que Manuel tem o direito de exigir a prestação contraída por Nuno,
pois esta encontra-se dentro do prazo legal, i.e, não excede os 20anos. No entanto, a
meu ver, o mesmo caiu no regime de abuso de direito, e por isso, não pode, depois de
tanto tempo e daquilo que deu a entender, exigir o pagamento da prestação. Posto isto,
dá-se uma colisão de direitos (A.335) onde, na minha opinião, se terá que tutelar mais a
posição de Nuno e a confiança a que este aderiu, e com razão.
Obrigações puras -obrigações exigidas pelo seu cumprimento a qualquer momento pelo
credor
OBRIGAÇÕEs sujeitas a prazo - só podem ser exigidas quando o cumprimento só
possa ocorrer decorrido….
Neste caço só podia ser exercido passado 1 mês.
Aqui o facto era o prazo prescricional.
Caso nº71
No presente caso, ao Birmínio estabelecer um diálogo, com Asdrúbal, sobre a
sua vida pessoal e familiar, gravando, inclusive, a conversa que este tivera com Asdrúbal,
e sem o consentimento deste nem conhecimento deste, para depois reproduzir a
conversa no seu programa de rádio, faz com esta atuação colida com o respeito pela
teoria das esferas, i.e, pela delimitação objetiva da tutela, neste caso, do direito à
intimidade da vida privada (A.80). Ao falar “sobre a sua vida pessoal e familiar”, a
presente expressão refere-se ao âmbito privado da esfera de Asdrúbal, o faz com que
esta apenas possa ser publicitada num programa de rádio se o mesmo o consentir e tiver
conhecimento (o que não se sucede).
Há que atender, neste âmbito, aos pressupostos que o A.80º2 refere. Quanto à
natureza do caso (que se confere como os valores que, objetivamente e in concreto,
conduziram à intromissão na esfera privada) que facilmente se depreende que os
valores subjacentes à privacidade se sobrepõe ao comportamento de Birmínio, e
quanto à condição das pessoas, sendo que aqui este pressuposto é analisado por um
vetor subjetivo, e por isso, varia conforme os sujeitos. Isto faz com que a esfera privada
de políticos ou celebridades não desapareça totalmente e que por isso seja lícito, por
exemplo, documentar, numa rádio, a vida pessoal do primeiro-ministro. No presente
caso, isso não se sucede. Asdrúbal pode requerer as providências adequadas com o fim
2ª hipótese
O nome corresponde a uma representação linguística de um ser humano, sendo
vocativo porquanto permite designar a pessoa que o use, e distintivo, por permitir
facultar a destrinça dos demais. Torna-se assim um direito subjetivo absoluto e privado,
com proteção civil daí decorrente, considerando-se, pois, como um direito de
personalidade.
4ª hipótese
Dentro da tutela post mortem importa distinguir os direitos de personalidade
que não possam ter efeito prático, como o direito à vida, daqueles que representam
bens perenes, como o direito ao nome, às cartas missivas, à imagem e à reserva da vida
privada. Quando Birmínio faz divulgar na comunicação social que o pai de Asdrúbal
enriqueceu com o tráfico de estupefacientes, esta acusação representa uma prejuração
feita ao nome do agora morto pai de Asdrúbal. Como tal, o A.71 prescreve que, apesar
da morte do titular, os direitos de personalidade usufruem de tutela post mortem: eles
mantêm uma proteção mesmo depois da morte do titular. Contudo, cabe discernir que
quando as ofensas perpetradas ocorram antes da morte do visaso, as consequências da
violação e a competência de agir recai na esfera jurídica do ofendido; quando este esteja
morto ou na pendência de, cabe agir aos herdeiros previstos com legitimidade para tal
(A.71ºb), servindo este artigo como uma espécie de prevenção para um hipotético
conflito de legitimidade entre herdeiros Como referi, se se tratar de direitos de proteção
absoluta, como o direito ao bom nome – o que é o caso - , é desencadeado o nº2; se se
tratar de direitos que admitem restrições, aplicasse o nº3.
Caso nº 73
1ª
Direito em causa: intimidade à vida privada
Princípio da necessidade
liberdade de escolhe nos próprios fins da pessoa. Como pode o direito subjetivo
contrario a um fim prévio? Só acontece em poderes funcionais (caso do pai poder pôr o
filho em castigo
Caso nº78
1ª hipótese
Anulabilidade do negócio “no interesse do menor ou do representante” -
a.287º1, e nunca pela contraparte. Esta pode ser alegada pelo progenitor (Pedro) que
exerção poder paternal, dentro do prazo de um ano a contar do conhecimento que o
requerente (Nuno) haja tido (teve) do negócio – A.125º1a). É de enunciar, também, que
o exercício dos poderes paternais engloba a administração dos bens do filho A-
A.1878º1.
Outra hipótese: vender um PC a um miúdo que parecia melhor. Pode ou não pode fazer.
Se a menoridade gera apenas a validade do negócio mas também aquele que o menor
tiver contratado – aplicação do A.251.
3ª hipótese
A125. Nº1 alínea c)
Manda ter em conta, para a arguição da anulabilidade pelos herdeiros (neste
caso, não tendo, presumo que seja o poder paternal) o prazo de um ano. Ora, a mesma
pode ser arguida, pois encontra-se dentro do prazo de um ano (11 meses que vai de
Junho e 88 a Maio de 89). Contudo, ressalva que a mesma tem de ter ocorrido antes de
expirado o prazo para o próprio menor a poder invocar. E, neste sentido, a anulabilidade
a requerimento do próprio menor pode suceder-se se a mesma ocorrer no prazo de um
ano a contar a sua maioridade
+36 ou emancipação. Ora, se for a contar da sua maioridade, definitivamente que a
anulabilidade pode ser arguida pelos herdeiros (pais, neste caso); contudo, se tomarmos
em conta o critério da emancipação como decisivo ( já que o mesmo se emancipa aos
“prossecução ao fim”::… ato potencialmente apto a atender o fim, mesmo uma abstrata
que se possa porventura ser regulado. Pensamos em última rácio no longo prazo. E ele
quase nunca é indiferente, inútil ou prejudicial, tendo em conta a finalidade da pessoa
coletiva em vista – A.160. Entender a “capacidade” em termos muito amplos. Seria uma
capacidade de gozo, não de exercício
Conhecimento adquirido por uma pessoa fortuita – não releva mas pode
justifica-se os princípios