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Características dos Direitos de Personalidade

1. Absolutidade
Os direitos de personalidade são apresentados como direitos absolutos. Podem ser
apresentados em 3 aceções:
1ª ACEÇÃO 2.ª ACEÇÃO 3.ª ACEÇÃO

O que é que é um direito Nesta aceção (estrutural), Independentemente do


absoluto? dos direitos de modo de efetivação ou da
 Um direito personalidade seriam estrutura que apresentam,
absoluto é um absolutos por não os direitos de
direito oponível a postularem relações personalidade deveriam
todos ou erga jurídicas: ser sempre respeitados por
omnes. todos.
O direito absoluto  O direito de
distingue-se do direito personalidade Todos os direitos
relativo. O que é o direito analisa-se numa subjetivos, por o serem,
relativo? permissão de devem ser respeitados por
 O direito relativo é aproveitamento de todos  daí desfrutarem
apenas oponível um bem de de uma tutela aquiliana
inter partes. personalidade. (artigo 483.º/1 do CC).
Logo, não há aqui
PROBLEMA: nenhuma relação
configurável entre
Se os direitos de dois sujeitos.
personalidade são
absolutos, tal implicaria PROBLEMA:
exigir a qualquer pessoa o
acatamento de condutas É que certos direitos de
necessárias à sua personalidade
efetivação. estruturalmente relativos:
embora reportados a bens
Ora, neste sentido, os de personalidade, eles
direitos de personalidade concretizam-se em situação
não são sempre absolutos. pedido/cumprimento:
exemplo da
Por exemplo, o direito de confidencialidade.
confidencialidade é uma
pretensão dirigida ao
destinatário da carta. Se o
próprio autor da carta a
lançar na comunidade,
não lhe caberá, depois,
queixar-se de quebras de
confidencialidade.
2. A natureza não-patrimonial
Os direitos de personalidade são normalmente apresentados como não
patrimoniais: não teriam alcance económico, de modo a serem avaliáveis em dinheiro.
Porém, tal afirmação, sem mais, não é correta.
A própria lei, a propósito do direito à imagem – artigo 79.º/1 – admite que a
mesma seja “lançada no mercado”.
Também o direito ao nome pode ter componentes comerciais.
Em suma: já há toda uma disciplina relativa à comercialização dos bens de
personalidade.
MAS DEVEMOS PROCEDER À SEGUINTE DISTINÇÃO:
a. Direitos de personalidade não-patrimoniais em sentido forte : o Direito não
admite que os correspondentes bens sejam permutados por dinheiro: o direito à
vida, à saúde, à integridade corporal;

b. Direitos de personalidade não-patrimoniais em sentido fraco : eles não


podem ser abdicados por dinheiro, embora, dentro de certas regras, se admitam
que surjam como objeto de negócios patrimoniais ou com algum alcance
patrimonial. Por exemplo, o direito à saúde ou à integridade física, desde que
não sejam irreversivelmente atingidos, nos termos que regem a experimentação
humana.

c. Direitos de personalidade patrimoniais: representam um valor económico, são


avaliáveis em dinheiro e podem ser negociados no mercado: nome, imagem e
fruto da atividade intelectual.

3. A dupla inerência
A inerência à pessoa é uma característica particular dos direitos de personalidade. O
direito de personalidade respeita a uma pessoa: não pode, sem quebra de identidade,
reportar-se a pessoa diversa.
a. 1.ª vertente da inerência = é constituída pela intransmissibilidade da sua posição
ativa. O direito de personalidade nasce na esfera de um titular e aí ficará até à
sua extinção.

b. O direito atinge o bem, sem intermediários, não sendo possível alterar o objeto
do direito, substituindo-o por outro.
Dupla inerência = dupla e indissociável ligação do direito de personalidade ao seu
titular e ao seu objeto.
4. A prevalência
O tema da prevalência coloca-se em dois planos:
a. Os direitos de personalidade prevalecem, em caso de conflito, sobre
quaisquer outros direitos de natureza diferente?
Em caso de conflito entre direitos de personalidade e outros direitos de natureza
diferente há uma apetência de princípio para reconhecer que os direitos de
personalidade têm prevalência.
Nestas situações, a Jurisprudência apela aos critérios do artigo 335.º do CC e do conflito
de direitos.
Adiantam-se, porém, 2 vetores:

⇢ Há direitos de personalidade que nunca podem ser postos em causa: prevalecem


sobre quaisquer outros, por exemplo, o direito à vida;

⇢ A lei não admite certas limitações convencionais aos direitos de personalidade;


os negócios que a tanto conduzam são nulo.
Por tudo isto, considera MC que a prevalência não é uma característica dos direitos de
personalidade.
b. Quando os direitos de personalidade concorram entre si, haverá uma hierarquia
ou atender-se-á ao mais antigo?
Vamos recorrer aqui ao artigo 335.º do CC. Deve proceder-se à seguinte ponderação:
 ANTIGUIDADE RELATIVA – o direito primeiro constituído tenderá a
prevalecer sobre os demais;
 DANOS PELO NÃO EXERCÍCIO – será dada prevalência àquele cujo não
exercício acarrete maiores danos;
 LUCROS DO EXERCÍCIO – é dada àquele cujo exercício acarrete maiores
benefícios pessoais e sociais.
Se forem insuficientes estes critérios – temos mais 2:
 PREVALÊNCIA EM ABSTRATO – no seio dos direitos fundamentais há uma
hierarquia abstrata que poderá ser invocada – o direito à vida, por exemplo,
prevalece sobre todos os demais;

 IGUAL SACRIFÍCIO – a cedência mútua poderá sempre ser aplicada se, em


concreto, os direitos comportarem exercícios parcelares.

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