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IREITOS DA PERSONALIDADE
1. PERSONALIDADE JURÍDICA
1.1. TEORIA TRADICIONAL
 Historicamente conceituou-se a personalidade jurídica como a aptidão para titularizar relações jurídicas,
isto é, ser sujeito de direitos. Haveria uma relação implicacional: toda pessoa tem personalidade jurídica e
quem possui personalidade jurídica possui aptidão para ser sujeito de direitos (aptidão para titularizar
relações jurídicas)
 Capacidade jurídica: é a medida da personalidade, vez que é a aptidão para praticar atos pessoalmente.

1.2. NOVA TEORIA (PONTES DE MIRANDA)


1.2.1. Crítica de Pontes de Miranda à teoria tradicional
 Pontes de Miranda (foi o primeiro autor a se insurgir contra a teoria tradicional) demonstrou a fragilidade
do histórico conceito de personalidade jurídica. Como explicar que os entes despersonalizados não
dispõem de personalidade, mas dispõem da mesma aptidão de quem a possui.
 Exemplo: condomínio pode ser contratante, consumidor, empregador, contribuinte, podendo, inclusive
ser parte num processo. Ora, se o ordenamento permite que o condomínio possa tudo isso, não há como
negar que o condomínio titulariza relações jurídicas, tal qual todo e qualquer ente despersonalizado.

1.2.2. Novo conceito de personalidade jurídica


 Toda pessoa tem personalidade jurídica, e ter personalidade é titularizar uma proteção essencial, que são
os Direitos da Personalidade.
 Direitos da Personalidade: constituem a proteção básica elementar reconhecida a todo aquele que
dispões de personalidade
 Personalidade jurídica: quem possui personalidade possui proteção aos direitos da personalidade e
possui capacidade. Somente quem possui personalidade jurídica pode ser titular de direitos existenciais.
 Entes despersonalizados: não possuem personalidade jurídica, não gozando de proteção essencial.

1.2.2.1. O reconhecimento dos direitos da personalidade implicou na valorização do conceito de personalidade.


 Os direitos da personalidade, de construção recente (ninguém falava neles antes da Segunda Guerra
Mundial) tendem a proteger a pessoa. Antes dos direitos da personalidade, não havia diferença de
titularização de direitos de uma massa falida ou de uma pessoa natural.

1.2.2.2. Ente despersonalizado pode sofrer dano moral?


 Não sofre dano moral, pois este é uma violação da personalidade, e somente pessoas possuem-na

1.2.3. Novo conceito de capacidade jurídica ( não é mais sinônimo de personalidade)


 É a aptidão para ser sujeito de direito, que pode ser plena ou limitada.
 Plena: se o sujeito puder praticar os atos pessoalmente.
 Limitada: se o sujeito não puder praticar os atos pessoalmente.
 O titular somente de capacidade jurídica não pode ser titular de relações existenciais, mas somente de
direitos patrimoniais.
 Entes despersonalizados: possuem capacidade jurídica.

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1.2.4. Conclusão ( para a Teoria Moderna)
 Quem dispõe de personalidade, dispõe também de capacidade, mas a recíproca não é verdadeira. Ex:
entes despersonalizados.
 Toda pessoa tem capacidade, mas nem todo aquele que tenha capacidade é uma pessoa.
 Personalidade: aptidão para titularizar relações existenciais
 Capacidade: aptidão para titularizar relações patrimoniais

2. CONCEITO DE DIREITO DA PERSONALIDADE


 São direitos subjetivos, (aqueles que conferem ao titular a prerrogativa de exigir de alguém um
comportamento) de construção recente, reconhecendo uma proteção mínima à essência da
personalidade.

2.1. ROL DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE


 Se os direitos da personalidade são todos aqueles inerentes à essência da personalidade, não há como
conferir exaustividade ao seu rol. O Direito Brasileiro estabeleceu uma cláusula geral de proteção da
personalidade ou direito geral da personalidade, que é a dignidade da pessoa humana.
 A proteção à dignidade da pessoa humana é a pedra angular (cláusula geral de proteção à personalidade)
da proteção aos direitos da personalidade.
 Os direitos da personalidade reconhecem o direito a uma vida digna nas relações privadas (não confundir
com os direitos inerentes à dignidade que sejam relacionadas à vida pública, como o direito à educação).

2.2. DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA


 Dignidade da pessoa humana não comporta um conceito fechado e hermético, mas é possível apresentar
um conteúdo mínimo, ou seja, um núcleo duro.

2.2.1. Conteúdo jurídico mínimo da dignidade humana


2.2.1.1. Integridade física e psíquica
 Exemplo: a lei 11.346/06 reconhece o direito à alimentação adequada

2.2.1.2. Liberdade e igualdade


 Exemplo: STJ REsp 820.475/RJ em que se reconheceu possibilidade jurídica do pedido de união familiar
homossexual.

2.2.1.3. Direito ao mínimo existencial


 Chamado também direito ao patrimônio mínimo
 Exemplo: a lei 11.382/06 modificou o art. 649, do CPC implantando o conceito de bem de família móvel
com base no padrão médio de vida digna: (a) possibilidade de penhora de bens móveis de elevado valor;
(b) impenhorabilidade da caderneta de poupança somente até 40 SM
 Veto do Presidente: vetou o artigo da lei que aplicava o conceito de padrão médio aos bens imóveis,
assim, quanto aos imóveis a impenhorabilidade do bem de família não possui limite.
o Exemplo: devedor que possua imóvel único que valha R$ 8.000.000,00 e o credor que esteja
morrendo de fome. O devedor não terá seu imóvel penhorado. Marinoni defende que se deve aplicar
diretamente o princípio da dignidade no caso para a penhora do bem de elevado valor. STJ: afastou a
tese de Marinoni.

2.3. DIREITOS DA PERSONALIDADE X DIREITOS FUNDAMENTAIS X DIREITO HUMANOS


 Direitos da personalidade são os direitos essenciais da pessoa na relação privada.

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 Direitos humanos dizem respeito a relações jurídicas internacionais.
 Direitos fundamentais são tanto para o direito público, quanto para o privado
 STF RE 201.819/RJ: aplicação dos direitos fundamentais às relações privadas. (eficácia horizontal dos
direitos fundamentais)

2.3.1. Direitos da personalidade X direitos fundamentais


 A perspectiva dos direitos fundamentais é estatal
 A perspectiva dos direitos da personalidade é privada

3. MOMENTO AQUISITIVO DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE


 Teoria condicionalista e concepcionista: o momento aquisitivo dos direitos da personalidade é a
concepção.

3.1. MOMENTO DA CONCEPÇÃO


 Historicamente o conceito de concepção, inclusive, harmonizando direito civil com direito penal
(tratamento jurídico crime de aborto) sempre se afirmou que o conceito de concepção é a nidação, ou
seja, o prendimento do embrião fecundado no útero materno.
 Logo é possível dizer que o momento aquisitivo dos direitos da personalidade é com a nidação.

Tribunal constitucional alemão


Assim como não cabe ao direito dizer quando a vida se inicia, não cabe às outras ciências dizer quando se inicia a
proteção jurídica da vida

3.2. QUESTÕES POLÊMICAS RELACIONADAS À AQUISIÇÃO DA PERSONALIDADE


3.2.1. Natimorto
 É aquele que foi concebido, mas não nasceu com vida.
 Direitos da personalidade do natimorto: se o momento aquisitivo dos direitos da personalidade é a
concepção, e se a concepção também é reconhecida ao natimorto, evidentemente, o natimorto possui
direitos da personalidade.
 Exemplo: imagem, nome, sepultura. (enunciado nº1 da Jornada de Direito Civil)

3.2.2. Direito sucessório do embrião congelado cujo pai faleceu antes da implantação no útero (art. 1798)
Art. 1.798. Legitimam-se a suceder as pessoas nascidas ou já concebidas no momento da abertura da sucessão.

 Alguns autores como Caio Mário negam direito sucessório ao embrião laboratorial, sob o argumento de
que o conceito de concepção é uterino. De outro lado, Maria Berenice Dias e Giselda Hironaka defendem
o direito sucessório do embrião congelado com base o princípio constitucional da igualdade entre os
filhos.

4. MOMENTO EXTINTIVO DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE


 Os direitos da personalidade se extinguem com a morte.
 Se a morte extingue a personalidade, extingue também os direitos da personalidade.
 Os direitos da personalidade são intransmissíveis e vitalícios. Não são perpétuos, porque se extinguem
com a morte e não são transmitidos aos herdeiros.

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4.1. SITUAÇÕES POLÊMICAS RELATIVAS À EXTINÇÃO DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE
4.1.1. Sucessão processual (art. 43, CPC)
CPC, Art. 43. Ocorrendo a morte de qualquer das partes, dar-se-á a substituição pelo seu espólio ou pelos seus
sucessores, observado o disposto no art. 265.

 Hipótese: o titular de direito da personalidade sofre um dano ainda vivo, promove a ação e falece no
curso do procedimento.
 Resposta jurídica: com a morte do autor da ação, há suspensão do processo (art. 265, CPC) e os
sucessores se habilitam no processo e dão continuidade à demanda.
 Não há transmissão dos direitos da personalidade, mas apenas uma sucessão dentro do processo.

4.1.2. Transmissão do direito à reparação de danos


Art. 943. O direito de exigir reparação e a obrigação de prestá-la transmitem-se com a herança.

 Hipótese: titular de direito da personalidade sofreu lesão ainda vivo, e faleceu sem promover a ação
 Legitimidade: deve-se observar a ordem de vocação hereditária.
 Imposto: incide ITCMD
 Resposta jurídica: transmite-se ao seu espólio o direito de requerer indenização no lugar do morto.
 Não há transmissão do direito da personalidade, mas apenas o direito patrimonial de requerer a
indenização por violação de direito da personalidade. É a indenização devida ao falecido se vivo fosse.
 Pressupõe a inocorrência de prescrição, visto que ninguém pode transmitir mais do que tem.

4.1.3. Lesados indiretos


Art. 12. Pode-se exigir que (1) cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e (2) reclamar perdas e danos,
sem prejuízo de outras sanções previstas em lei
Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a medida prevista neste artigo o cônjuge
sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau. (reta ou colateral até quarto grau).

 Hipótese: dano a direito da personalidade que ocorre depois do óbito do titular atingirá diretamente o
morto. Atingindo o morto não produzirá qualquer efeito jurídico, tendo em vista já extinta sua
possibilidade. Contudo, além de atingir diretamente o morto este dano atinge também indiretamente os
seus familiares vivos.
 Resposta jurídica: os efeitos que decorrem são titularizados pelos lesados indiretos (familiares).
 A situação jurídica encaixa-se nos chamados danos reflexos ou de ricochete.
 Legitimação: trata-se de legitimação ordinária, vez que atua em nome próprio defendendo direito próprio
 Imposto: não incide ITCMD

4.1.3.1. Lesados indiretos


 Legitimidade: Cônjuge/companheiro/parceiro homoafetivo sobrevivente ou qualquer parente em linha
reta, ou colateral até 4º grau
o Importante: não se aplica a ordem de vocação hereditária, são legitimados concorrentes.
 Rol de lesados indiretos: meramente exemplificativo, admitindo-se a inclusão de outras pessoas ligadas
afetivamente ao morto, como a namorada, noiva, enteado.
 Violação do direito à imagem: O rol dos lesados indiretos sofrerá a exclusão dos colaterais quando se
tratar de violação do direito à imagem. (importante concurso )É a diferença do art.12 para o 21 do CC.

4.1.3.2. Caso concreto julgado pelo STJ

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 Companhia aérea fez acordo com pais da vítima, mas não com irmã do falecido. O STJ concedeu-lhe, pois
o seu prejuízo ainda não havia sido indenizado. Não se trata de direito de sucessão, mas indenização por
lesão a direito da personalidade. (Provada, logicamente, a efetiva relação afetiva)

5. FONTES DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE


 Fonte: origem, nascedouro.

5.1. CORRENTES
5.1.1. Corrente majoritária
 Maria Helena Diniz, Pablo
 Os direitos da personalidade advêm do jusnaturalismo.
 Os direitos da personalidade não são concedidos pelo ordenamento, mas por uma ordem natural
preconcebida, não possuindo, por dado fato, natureza jurídica.
 Exemplo: o Tribunal de Nuremberg condenou os oficiais Nazistas com base na existência de um direito
maior que a lei alemã.

5.1.2. Corrente minoritária


 Pontes de Miranda e Gustavo Tepedino.
 Sustentam o caráter normativo dos direitos da personalidade.
 Crítica ao jusnaturalismo: fossem naturais, seriam universais, o que não ocorre. Muitos países do mundo
permitem pena de morte ou penas degradantes e cruéis. Logo, os direitos da personalidade
correspondem às opções normativas de cada sistema jurídico.
 Exemplo1: se os direitos da personalidade fossem naturais, porque na época imperial o negro era coisa?
 Exemplo2: se os direitos da personalidade são inatos, donde consta a permissão para a pena de morte
em tempo de guerra?

6. DIREITOS DA PERSONALIDADE E LIBERDADES PÚBLICAS


 Os direitos da personalidade são vistos sob uma óptica visivelmente privada, portanto, os direitos da
personalidade asseguram o direito à vida digna nas relações privadas. Entretanto, não é difícil perceber
que eventualmente o exercício de um direito da personalidade exige a imposição de obrigações positivas
e negativas ao poder público. Toda vez que se impuser ao poder público uma obrigação positiva ou
negativa, para garantir o exercício de um direito da personalidade, chama-se isso de liberdades públicas.
 Exemplo: direito de locomoção e HC. Enquanto o direito de locomoção é visto sob a óptica privada, a
existência do HC é conseqüência da imposição ao Estado de obrigação para o exercício do direito de
locomoção.
 Tanto os direitos da personalidade como as liberdades públicas, eventualmente podem figurar no rol de
direitos e garantias fundamentais da CF.

7. DIREITOS DA PERSONALIDADE DA PESSOA JURÍDICA


7.1. POSSUEM AS PESSOAS JURÍDICAS DIREITOS DA PERSONALIDADE?
Enunciado 286 – Art. 52. Os direitos da personalidade são direitos inerentes e essenciais à pessoa humana,
decorrentes de sua dignidade, não sendo as pessoas jurídicas titulares de tais direitos.

 É certo que existem mais de uma opinião


 Posição predominante: os direitos de personalidade estão sustentados pela cláusula geral de proteção da
pessoa humana, que é a dignidade da pessoa humana, sendo assim, não podem ser reconhecidos às
pessoas jurídicas.

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7.2. PROTEÇÃO DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE À QUEM NÃO POSSUI DIREITOS DA PERSONALIDADE
Código Civil Art. 52. Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da personalidade.

 Aparente conflito: de qualquer sorte, a pessoa jurídica possui personalidade. Essa é uma realidade
incontroversa. Ora, como combinar tal entendimento com a premissa de que “toda pessoa tem
personalidade, e quem tem personalidade tem direito a proteção essencial”.
 Resposta: os direitos da personalidade estão baseados na dignidade humana, por isso não podem ser
atribuídos à pessoa jurídica. O Código Civil, entretanto, buscando aumentar a proteção jurídica delas,
confere-lhes a proteção dos direitos da personalidade. O artigo evidencia que os direitos da
personalidade foram construídos pelo homem e para o homem, mas sua proteção é aplicável à pessoa
jurídica.
 Atributo de elasticidade: é uma qualidade dos direitos da personalidade. É o que permite que os direitos
da personalidade, embora não alcancem de ordinário as pessoas jurídicas, a sua proteção seja aplicável às
pessoas jurídicas no que couber.

7.2.1. “No que couber”


 Significa naquilo que a sua falta de estrutura biopsicológica permita exercer.
 Exemplo: direito ao nome cabe em sua estrutura
 Exemplo2: direito à proteção da privacidade (segredo empresarial) cabe em sua estrutura
 Exemplo3: direito à imagem (imagem-atributo) cabe em sua estrutura
 Exemplo4: direito autoral cabe em sua estrutura
 Exemplo5: integridade física não pode ser reconhecida
 Exemplo5: intimidade não pode ser reconhecida

7.3. DANO MORAL DA PESSOA JURÍDICA


SÚMULA 227 STJ A PESSOA JURÍDICA PODE SOFRER DANO MORAL

 Considerando dano moral um dano a direito da personalidade, a princípio, não poderia a Pessoa Jurídica
sofrê-lo. Entretanto, dada a disposição do art. 52 do Código Civil de que “cabe a proteção aos direitos da
personalidade no que couber” há de se reconhecer que a violação a tal proteção é um dano moral. Por tal
motivo o STJ editou a súmula 227 que corrobora tal entendimento.

8. CONFLITO ENTRE DIREITOS DA PERSONALIDADE E DIREITO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL


 Direito de comunicação social: liberdade de imprensa + liberdade de expressão.
 Exemplo de conflito: imagem ou privacidade em conflito com a liberdade de imprensa.

8.1. SOLUÇÃO DO CONFLITO: PONDERAÇÃO DE INTERESSES


8.1.1. Ponderação de interesses não é sinônimo do princípio da proporcionalidade
 Razoabilidade: uso da proporcionalidade como princípio interpretativo das normas (vedação ao absurdo)
 Ponderação de interesses: uso da proporcionalidade como técnica de solução de conflitos normativos.
 Toda ponderação de interesses é proporcionalidade, mas nem toda proporcionalidade é ponderação de
interesses.
 Exemplo: STJ disse que fere a proporcionalidade a proibição em cláusula condominial de entrada que
todo e qualquer animal, vez que estaria proibindo até peixe em aquário. (proporcionalidade em sentido
de razoabilidade)

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 Exemplo2: STJ vem admitindo o uso de prova ilícita em processo penal pelo réu para provar sua
liberdade, vez que a garantia de liberdade supera a proibição de provas ilícitas. (proporcionalidade em
sentido de ponderação de interesses)

8.2. DIREITO DA PERSONALIDADE X DIREITO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL


 A solução depende do caso em concreto, a ser resolvido pela técnica da ponderação de interesses. A
solução não é à priorística.
 Densidade valorativa: a solução do conflito de ponderação de interesses é uma solução para saber qual
dos valores conflitantes tem maior densidade valorativa no caso em concreto.
 Não existem direitos absolutos, assim tanto os direitos da personalidade, como os de comunicação social
podem sofrer mitigação.

8.2.1. Exemplo
 Notícia1: “Ministro de Estado possui amante com cargo de confiança no Ministério.” Ora, a liberdade de
imprensa possui maior densidade valorativa.
 Notícia2: “Dona Elza, presidente de associação de bairro possui amante de 20 anos.” Ora, a privacidade
possui, neste caso uma maior densidade valorativa

8.3 “HATE SPEECH”


 Tradução jurídica: discurso do ódio ou intolerância.
 Conceito: são as manifestações de desprezo por outras pessoas ou por grupos sociais.
 O direito brasileiro não admite, ao contrário do direito norte-americano
 HC 82.424-2/RS: o STF admitiu o processamento de ação penal contra Elvender, que publicou obra
antissemita com linguagem dura e odiosa. O MP ajuizou ação penal por crime de racismo. Elvender
impetrou HC no STF buscando ver o trancamento da ação penal sob argumento de que estava agindo
conforme sua liberdade de expressão.

8.4. RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANO CAUSADO PELA IMPRENSA


Súmula 221 São civilmente responsáveis pelo ressarcimento de dano, decorrente de publicação pela imprensa, tanto
o autor do escrito quanto o proprietário do veículo de divulgação.
Súmula 281 A indenização por dano moral não está sujeita à tarifação prevista na Lei de Imprensa.

 STJ criando solidariedade: sempre se disse que a solidariedade advém da Lei ou vontade das partes. A
súmula 221 estabelece solidariedade por vontade do STJ.

9. CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE


Art. 11. Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis,
não podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária.

9.1. INDISPONIBILIDADE E INTRANSMISSIBLIDADE


ART. 11: OS DIREITOS DA PERSONALIDADE PODEM SOFRER LIMITAÇÕES, AINDA QUE NÃO
ESPECIFICAMENTE PREVISTAS EM LEI, NÃO PODENDO SER EXERCIDOS COM ABUSO DE DIREITO DE SEU
TITULAR, CONTRARIAMENTE À BOA-FÉ OBJETIVA E AOS BONS COSTUMES.

 Os direitos da personalidade são relativamente indisponíveis, podendo sofrer limitação voluntária


somente nos casos previstos em lei.
 Exemplo: doação de sangue e órgãos, cessão de imagem, participação no “big brother”.
 Cuidado: embora os direitos em si sejam intransmissíveis, o direito à reparação ao dano causado a eles é!

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9.1.1. Limites ao ato de restrição voluntária a direito da personalidade
Enunciado 4 da Jornada
O EXERCÍCIO DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE PODE SOFRER LIMITAÇÃO VOLUNTÁRIA, DESDE QUE NÃO
SEJA PERMANENTE NEM GERAL.

9.1.1.1. Ato de restrição não pode ser permanente


 Deve ser temporário, ou seja, a pessoa não pode abdicar de seu direito da personalidade.
 Exemplo: segundo dizem Ronaldo teria contrato de cessão de imagem perpétuo com a Nike. Existindo tal
contrato e tendo sido ele celebrado no Brasil poderia Ronaldo denunciar o contrato a qualquer tempo.
 Lei de direitos autorais: prazo máximo de 5 anos, porém renováveis.

9.1.1.2. Ato de restrição não pode ser genérico


 O ato deve especificar precisamente quais direitos serão restringidos pelo ato.
 Exemplo: big brother. Cedem os participantes direito da imagem e privacidade. Havendo dano a sua
honra, caberá plenamente indenização.

9.1.1.3. Ato de restrição não pode violar a dignidade do titular, mesmo com seu consentimento
 Exemplo: arremesso de anão.

9.2. ABSOLUTOS
 No sentido de oponíveis erga omnes

9.3. INATOS
 Posição majoritária é que advêm do direito natural, ou seja, ordem preconcebida.

9.4. EXTRAPATRIMONIAIS
 Dizer que eles são extrapatrimoniais é dizer que seu conteúdo não tem valor econômico.
 Não impede, porém, que sua eventual violação gere reparação econômica.

9.5. VITALÍCIOS E INTRANSMISSÍVEIS


 Os direitos da personalidade se extinguem com o titular
 Transmissível, entretanto, os direitos de reparação.

9.6. IMPRESCRITÍVEIS
 Não há prazo extintivo para o seu exercício, ou seja, não há prazo para que o titular exerça o seu direito
da personalidade.
 Prazo para a indenização: haverá (3 anos).
 RESP 816.209/RJ: imprescritível é a pretensão da indenização contra tortura. STJ entendeu que, se a
tortura é imprescritível, também o é a ação civil.
o Problema: tortura sofrida por negros na época da escravidão deverá ser indenizada?

10. PROTEÇÃO JURÍDICA DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE


10.1. EVOLUÇÃO
 Historicamente, a proteção jurídica de direitos esteve baseada no binômio lesão/sanção. A sanção
resumia-se a perdas e danos. A toda violação de direito correspondia uma sanção que eram as perdas e
danos.

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 CDC e Reforma processual de 94: começou-se a discutir a idoneidade do binômio, ou seja, se ele se
mostrava suficiente para garantir os direitos. A vítima de uma violação a direito não estava interessada
somente na sanção do agente, mas também na efetiva proteção do seu direito. Ex: não basta a
indenização, faz-se necessária a retirada do nome do consumidor colocado indevidamente em cadastro
de inadimplentes.
 Código Civil 2002: rompeu o binômio lesão/sanção, ampliando a proteção dos direitos da personalidade.

10.2. PROTEÇÃO JURÍDICA DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE


Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem
prejuízo de outras sanções previstas em lei.

 “Outras sanções”: seriam a tutela penal, administrativa e os casos de auto-tutela (ex: embargo
extrajudicial, chamado também “jato de pedra” em nunciação de obra nova)

10.2.1. Proteção preventiva


 Dizer que a proteção aos direitos à personalidade é preventiva, é dizer, processualmente, que ela se
estabelece por meio da tutela específica (art. 461 CPC e 84 CDC)
 Despatrimonialização dos direitos da personalidade: é efeito do reconhecimento de uma tutela
preventiva para os direitos da personalidade.

10.2.1.1. Tutela específica – art. 461, CPC


§ 5o Para a efetivação da tutela específica ou a obtenção do resultado prático equivalente, poderá o juiz, de
ofício ou a requerimento, determinar as medidas necessárias, tais como a imposição de multa por tempo de
atraso, busca e apreensão, remoção de pessoas e coisas, desfazimento de obras e impedimento de atividade
nociva, se necessário com requisição de força policial. (Redação dada pela Lei nº 10.444, de 7.5.2002)

 É o provimento judicial adequado para a solução de um conflito de interesses específicos, ou seja, é a


solução concreta de um caso.
 Rol exemplificativo de medidas de tutela preventiva: a tutela preventiva dos direitos da personalidade se
materializa através da tutela específica do art. 461, CPC, cujo rol é meramente exemplificativo. Dentro da
tutela específica hospedam-se diferentes providências: inibitória, sub-rogatória, remoção do ilícito e etc...
(enunciado 140 da Jornada de Direito Civil)
 Modificação das medidas de ofício: todas as em tutela específica podem ser concedidas, ampliadas,
diminuídas, substituídas ou revogadas de ofício.

a) Concessão de mandado de distanciamento


 Também será encontrado com o nome “restrição da liberdade de ir e vir”.
 Permite-se ao juiz conceder o mandado de distanciamento a titulo de tutela específica.
 STJ: a distância deve ser fixada pelo juiz considerando as particularidades de cada localidade.
 Exemplo: Dolabela estava no camarote no Carnaval e Luana Piovani chegou após. A polícia corretamente
retirou ele, vez que ele sofreu a restrição e não ela. Caso ela abuse do seu direito caberá medidas
judiciais.

b) Uso de prisão civil a título de tutela específica


 Autores clássicos: não é possível o uso da prisão civil a título de tutela específica por conta da vedação
constitucional.

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 Autores modernos (Diddier e Marignoni): diferentemente dos autores clássicos, admite a prisão civil
como meio de tutela específica sob o argumento de que, nesse caso, o juiz não está determinando a
prisão por dívida, mas sim por descumprimento espontâneo de decisão judicial.
o Inconveniente: qual o prazo dessa prisão?

10.2.2. Tutela compensatória


 Dá-se por meio de indenização por danos morais (art. 5º, V, X e XII da CF)
 Não há dúvidas de que a indenização por danos morais corresponde à violação da dignidade da pessoa
humana. Aproximação entre direitos da personalidade e dano moral, de modo que dano moral não é
mais dor, vexame, humilhação, sofrimento, ou vergonha, ou seja, não corresponde mais a sentimentos
negativos.
 Meros dissabores não geram dano moral: somente a violação da dignidade é que enseja o dano moral.
(ex: mau atendimento em loja ou fila em banco)
 Não pode ser concedida de ofício: depende sempre de provocação da parte, tendo em vista que tem
caráter patrimonial.
 Não pode o MP requerer para o interessado: não possui legitimidade para litigar quanto a direitos
disponíveis, salvo na hipótese de ação civil ex delito, por permissão legal do art. 69 do CPP e
relativamente ao litigante pobre.
o STF 135.328/SP: inconstitucionalidade progressiva do dispositivo do CPP.

10.2.2.1. Prova do dano moral


 In re ipsa, ou seja, ínsita na própria coisa

10.2.2.2. Autonomia do dano moral


Súmula 37 STJ
É LÍCITA A CUMULAÇÃO DE DANO MATERIAL COM DANO MORAL

 Já é pacífico tal entendimento.

10.2.2.3. Cumulação de dano moral com dano moral


 Dano moral é a violação aos direitos da personalidade. Havendo inúmeros direitos da personalidade que,
violados, geram dano moral. Assim, dano moral é tanto gênero como espécie (dano à honra), ao lado do
dano à imagem ou dano estético. O correto seria chamar o dano moral no sentido de gênero como “dano
extrapatrimonial” e deixar o termo “dano moral” somente para a lesão à honra.
 Logo, diferentes os bens jurídicos tutelados será possível a cumulação de danos morais.
 Caso determinado fato ofenda a imagem e a honra haverá dois danos morais (extrapatrimoniais): o “dano
à imagem” e o “dano moral”.
 A cada bem jurídico personalíssimo violado há de corresponder uma indenização

DANO MORAL
Dano Dano à Dano
moral imagem Estético

SÚMULA 387 STJ: É LÍCITA A CUMULAÇÃO DE INDENIZAÇÃO DE DANO ESTÉTICO E DANO MORAL

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10.2.2.4. Polêmicas relativas à tutela compensatória
a) Indenização por dano moral possui natureza punitiva?
 Genericamente a resposta é não, pois sua natureza é essencialmente compensatória. Sequer pode se
dizer reparatória, pois o bem jurídico lesado não pode ser recomposto.
 “Punitive damage”: tal instituto norte-americano não se aplica no Brasil, porém o STJ tem como critério
para a fixação da indenização a “teoria do desestímulo”, ou seja, fixação de valor com caráter pedagógico.
 Conclusão: o dano moral não tem natureza punitiva, mas deve ser calculado também visando à punição.

b) Dano moral contratual?


 Em regra, o descumprimento de contrato gera apenas danos materiais, muitas vezes calculados por
cláusula penal pré-fixada. Não se pode olvidar, entretanto o STJ, a partir do REsp 202.564, passou a
sustentar a possibilidade de dano moral contratual nos casos em que o descumprimento contratual
atinge a dignidade do contratante.
 Natureza: aquiliana, vez que decorreu da lesão à dignidade, assim não é vinculado ao valor do contrato.
 Ex: companhia de água que desliga indevidamente a conexão; companhia de seguro que se nega a
cumprir determinada cláusula

c) Dano moral difuso ou coletivo


Código de Defesa do Consumidor
Art. 6º São direitos básicos do consumidor:
VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos;

Lei 7.347/85
Art. 1º Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de responsabilidade
por danos morais e patrimoniais causados: (Redação dada pela Lei nº 8.884, de 11.6.1994)
III – a outros direitos difusos ou coletivos

 Dano moral difuso: viola a dignidade de todos e de ninguém ao mesmo tempo.


 Dano moral coletivo: viola a dignidade de uma categoria.
 Toda dano moral difuso ou coletivo só pode ser cobrado por meio de ação civil pública, com liquidação e
execução coletivas. O dano moral individual pode ser cobrado em ação individual ou, atingindo a duas ou
mais pessoas, por ação civil pública para a defesa de direito individual homogêneo, com liquidação e
execução individuais.

1ª corrente: possibilidade de indenização de dano moral coletivo


Doutrina e alguns Julgados do STJ (REsp 1.057.274 de 2009). Fundamenta-se na existência de “consciente
coletivo”, ou seja, existem certos valores que são da coletividade e não do indivíduo.
Os primeiros precedentes vêm admitindo o dano moral coletivo.
Exemplo1: por problema de distribuição de água, cidade fica 5 dias de água.
Exemplo2: apagão aéreo
Atualização aula 27.03.2012: A 3ª turma do STJ admitiu dano moral coletivo nas relações de consumo.
(1.221.756/RJ) de 02.02 de 2012

2ª corrente: posição majoritária (Resp 598.281 de 2006)


Negou a existência de dano moral coletivo, afirmando que a coletividade não sente dor.
Não existe dano moral coletivo, vez que a moral é atributo individual.

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11. DIREITOS DA PERSONALIDADE DAS PESSOAS PÚBLICAS
 Pessoas públicas: são as celebridades (artistas, jogadores de futebol, políticos)
 A publicidade de suas carreiras não lhes subtrai os direitos da personalidade, todavia, dado seu
conhecimento notório, sofrem uma relativização no exercício deles, porque seu ofício ou profissão impõe
uma exposição de sua personalidade.
 Direito de imagem: é o mais relativizado dentre os direitos da personalidade.
 Privacidade e intimidade: merecem intensa proteção

11.1. INEXISTÊNCIA DE DESVIO DE FINALIDADE


 É pressuposto para a relativização.
 Exemplo: artista de televisão foi a uma festa promovida por uma marca de remédios genéricos em que se
fornecia uma camiseta com o logo da marca. Foi fotografado com ela por uma revista de fofoca. A
empresa de remédios utilizou a foto para seus comerciais. Cabe indenização, porque houve desvio de
finalidade qual seja exploração comercial da foto.

11.1.1. Comunicabilidade da mitigação


 Juntamente com a flexibilização dos direitos da personalidade das pessoas públicas, serão relativizados os
direitos daqueles que as estão acompanhando.
 Exemplo: Chico Buarque saiu com mulher casada e foi flagrado por jornal. Ela veiculou ação contra o
jornal, porque enquanto a imagem dele era pública a dela não. Ora, pela comunicabilidade da
flexibilização dos direitos da personalidade, sua pretensão não tinha procedência.

IREITOS DA PERSONALIDADE EM ESPÉCIE


 O rol não é taxativo, tendo em vista a cláusula geral de proteção à personalidade (dignidade da pessoa
humana). De qualquer maneira, entretanto, o ordenamento se preocupou em tipificar alguns deles para
discipliná-los minuciosamente.

1. CRITÉRIO CLASSIFICATÓRIO DO CÓDIGO CIVIL


 Os critérios classificatórios correspondem exatamente à composição do ser humano: (a) corpo, (b) alma e
(c) intelecto.
 Direito à vida: está presente nos três critérios, vez que direito à vida pode ser traduzido como direito à
vida digna, que não se resume tão somente à integridade física.

1.1. INTEGRIDADE FÍSICA


 Tutela jurídica do corpo humano

1.2. INTEGRIDADE PSÍQUICA


 Tutela dos valores humanos imateriais
 Honra, privacidade

1.3. INTEGRIDADE INTELECTUAL


 Inteligência humana; criação do homem.

2. DIREITOS DA PERSONALIDADE EM ESPÉCIE NO CÓDIGO CIVIL


 Art. 13: direito ao corpo vivo

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 Art. 14: direito ao corpo morto
 Art. 15: autonomia do paciente ou livre consentimento informado
 Art. 16 a 19: direito ao nome civil
 Art. 20: direito à imagem
 Art. 21: direito à privacidade.

3. DIREITO AO CORPO VIVO


Art. 13. Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio corpo, quando importar diminuição
permanente da integridade física, ou contrariar os bons costumes.
Parágrafo único. O ato previsto neste artigo será admitido para fins de transplante, na forma estabelecida em lei
especial.

 É a proteção do corpo humano como um todo, mas também das partes separadas.

3.1. DANO ESTÉTICO – Não precisa de seqüelas para que se configure


 É a violação da integridade física.
 Desnecessária a formação de seqüelas permanentes para sua caracterização, importando somente na
quantificação da indenização.
 Súmula 387 STJ: pode ser cumulado com dano moral

3.2. VEDAÇÃO AO ATO DE DISPOSIÇÃO DO PRÓPRIO CORPO


 Interpretação à contrariu sensu: se não gerar diminuição permanente ou contrariar os bons costumes
não é proibido o ato de disposição do próprio corpo
 “Bons costumes”: está no sentido de ética social (comportamento socialmente esperado) e não de moral.

3.2.1. Exemplos
 Piercing e tatuagem: não contrariam os bons costumes ou geram diminuição permanente, logo são
permitidos pelo art.13.
 “Wannabe”: é um grupo de pessoas que tem repulsa a determinado órgão humano e deseja amputá-los.
Gera diminuição permanente, portanto o art. 13 proíbe tal conduta.
 Acidente que exija a amputação: por ser exigência médica, o art. 13 permite tal conduta.

3.3. QUESTÕES POLÊMICAS ATINENTES À INTEGRIDADE FÍSICA


3.3.1. Cirurgia de mudança de sexo
 Embora diminua a integridade física, por ser ato de exigência médica é aceita.
 Resolução 1.652/02 CFM: reconhece natureza patológica ao transexualismo. Em outras palavras é uma
condição médica. A medicina recomenda tratamento psicológico com psicólogo e psiquiatra. Estes, caso
disserem que o quadro é irreversível parte-se para o tratamento físico.
o Transexualismo: é uma patologia físio-psíquica. Há dicotomia entre o fenótipo e o biótipo. Sob o
ponto de vista da orientação sexual, o transexual é heterossexual.
o Homossexualismo e bissexualismo: dizem respeito à orientação sexual.
 Transgenitalização: é o nome da cirurgia, que pode ser para ambos os sexos.
 SUS: está autorizado a realizar a cirurgia de conversão de homem para mulher

3.3.1.1. Direito à modificação do registro


 Diagnosticada a patologia e falho o tratamento psicológico, é feita a cirurgia de transgenitalização. Agora,
possui a pessoa corpo e mente do mesmo sexo

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 Necessária ação judicial
 Novo entendimento do STJ (SE 1.058 ITA): o transexual operado tem direito de mudar tanto o nome,
quanto o sexo em seu registro civil, independentemente da demonstração do motivo.
 Maria Berenice Dias: defende a tese de que o transexual tem direito de modificar o registro mesmo sem
a cirurgia, porque não se pode obrigar a realização da cirurgia para a modificação do direito.
 Vara de família: considera-se que se trata de ação de estado e não ação registral.

3.3.1.2. Casamento do transexual com o registro modificado


 É possível, pois haverá sexos opostos. Não será caso do proibido casamento homossexual.
 Poderá, entretanto, ocorrer anulação do casamento por erro sobre a pessoa caso descubra o cônjuge a
condição posteriormente.

3.3.1.3. Participação em competições esportivas


 O próprio comitê internacional já regulou a situação, permitindo a competição no sexo para o qual a
pessoa mudou.

3.3.1.4. Intersexual
 Intersexual é o hermafrodita, aquele que nasceu com ambigüidade sexual. Assim, nasceu com
características morfológicas masculinas e femininas.
 Seu caso não é de transgenitalização, mas de preponderância no tempo, porquanto num determinado
momento haverá prevalência de algum dos sexos. Podendo haver antecipação por meio de indução de
hormônios.

a) Registrado com um sexo, vindo a prevalecer outro sexo


 Haverá simples retificação de registro, de acordo com o art. 109 da lei de registros públicos. Não há
redesignação, mas mera retificação.
 Competência da vara de registros públicos: tendo em vista ser hipótese de simples modificação

3.3.2. Barriga de aluguel


 Gestação não é diminuição permanente, logo é possível.
 Nome técnico: gestação em útero alheio.
 Como fica a presunção de maternidade? A barriga de aluguel é uma exceção à presunção de
maternidade da gestação, que decorrerá do procedimento.

3.3.2.1. Limites à possibilidade de barriga de aluguel (resolução 1.957 CFM)


a) Maioridade e capacidade
b) Pessoas parentes entre elas (se não forem necessitam autorização do conselho regional de medicina)
c) Impossibilidade gestacional da mãe biológica: não se admite barriga de aluguel por capricho.
d) Gratuidade do procedimento: na verdade seria “barriga de comodato”.

3.3.2.2. Conflito de desejo da criança


 O conflito positivo é resolvido para a mãe biológica (critério biológico). Afinal, sequer há tempo suficiente
para um possível debate sobre filiação afetiva; trata-se de recém-nascido, ora!
 No caso de conflito negativo (nenhuma das duas quiser ter o filho) é caso de encaminhamento para a
adoção.

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3.3.3. Proteção às partes separadas do corpo
3.3.3.1. Caso Glória Trevez Reclamação 2.040/DF
 Os policiais federais resolveram provar que não foram eles os que a engravidaram. Pegaram sua placenta
sem sua autorização e fizeram o exame.
 Cristiano Chaves: houve lesão, porque a lei protege também as partes separadas do corpo humano.
 STF: admitiu tal situação defendendo que não houve lesão à integridade física.
 Corte Européia de Direitos Humanos: admite a realização de exame pericial com parte do corpo sem o
consentimento do cedente.

3.3.3.2. Sêmen concebido


 Brasil não respondeu à questão, mas Europa e EUA disseram, que, após inseminado, o sêmen é da
mulher.

3.3.4. Transplantes em vida - Lei 9.434/97.


3.3.4.1. Requisitos
a) Órgãos dúplices ou regeneráveis
b) Pessoas de uma mesma família
c) Gratuidade
d) Intervenção do MP de maneira administrativa.
a. Basta que se comunique ao promotor da comarca do doador. Que instaurará o procedimento para
verificar a presença dos requisitos. Não deve autorizar, cabe-lhe somente a possibilidade de impedir a
doação, caso irregular.

3.3.4.2. Inexigência dos requisitos


 Leite, sêmen, óvulo, medula e sangue

4. DIREITO AO CORPO MORTO


Art. 14. É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição gratuita do próprio corpo, no todo ou
em parte, para depois da morte.
Parágrafo único. O ato de disposição pode ser livremente revogado a qualquer tempo.

 O art. 14 autoriza a disposição gratuita do corpo para depois da morte.


 Extensão da tutela: o corpo como um todo e suas partes separadas
 Revogabilidade do ato de disposição do corpo: a qualquer tempo pode haver a revogação.

4.1. PODE HAVER ESCOLHA DE BENEFICIÁRIO?


 O beneficiário dos transplantes post mortem não pode ser escolhido, por respeito à fila dos transplantes.
Assim, nula toda e qualquer indicação de beneficiário para transplantes post mortem

4.2. TESTAMENTO VITAL OU “LIVING WILL”


 Não é aceito pelo ordenamento brasileiro
 É a disposição de vontade do titular de não permanecer vivo em determinadas condições (ex: estado
vegetativo). “Ninguém pode dispor em vida sobre a morte”
 Direito à morte digna: é o argumento principal daqueles que defendem a possibilidade do testamento
vital. Seria o direito à morte digna um corolário do direito à vida digna.

4.3. CÓDIGO CIVIL X LEI DE TRANSPLANTES (9.434/97)


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 Conflito: existe uma colisão entre o Código Civil e pela lei de Transplantes
 Código Civil: o ato de disposição do corpo após a morte depende de vontade do titular
 Lei de transplantes: a redação original adotava o presumed consent, que estabelecia que todos eram
doadores, salvo expressa manifestação contrária; entretanto, o Congresso voltou atrás e o ato de
disposição do corpo após a morte passou a depender da vontade da família.
 Enunciado 277 jornada: (a) se houve declaração de vontade, vale a vontade do titular; (b) se não houve, a
vontade é da família.
 Corrente prevalecente: utilizando os critérios de solução de antinomias de 2º grau, entende-se que a
vontade é da família, pois no conflito entre o critério cronológico e o da especialidade, é o da
especialidade que prevalece.

4.4. CORPO DO INDIGENTE


 Não pode haver extração para fins de transplantes, mas pode o corpo inteiro ser encaminhado para fins
de pesquisa a faculdades de medicina.

5. LIVRE CONSENTIMENTO INFORMADO OU AUTONOMIA DO PACIENTE


Art. 15. Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou a
intervenção cirúrgica.

 Toda e qualquer intervenção médica e cirúrgica depende do consentimento do paciente. Só podendo


haver intervenção médica forçada quando houver necessidade.

5.1. EFEITOS JURÍDICOS DO ART. 15


a) Impossibilidade de internação forçada: (a) exigência médica ou (b) vontade do paciente.
b) Direito de indenização ao paciente por violação do direito do paciente: desdobramento da boa-fé objetiva
(deveres anexos)

5.2. TESTEMUNHA DE JEOVÁ


 Alguns autores dizem incorretamente que haveria conflito entre direito à vida e liberdade religiosa.
 Cristiano: o conflito de verdade é entre a indisponibilidade do direito à integridade física X direito à
liberdade de crença, vez que a liberdade de crença e a integridade física estão contidos no direito à vida
digna.
 Opinião majoritária: resolve-se o conflito em favor da proteção à integridade física.
 Opinião minoritária (Tepedino, Ribeiro Bastos, Chaves): testemunha de Jeová tem direito a se recusar à
transfusão de sangue forçada, tendo em vista que a liberdade de crença assume magnitude superior à
integridade física. Transmiti-la forçosamente é tornar sua vida indigna. Direito das minorias.
o Em se tratando de (a) incapaz ou (b) urgência médica: não se aplica esse entendimento.

6. DIREITO AO NOME CIVIL


Art. 16. Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e o sobrenome.
Art. 17. O nome da pessoa não pode ser empregado por outrem em publicações ou representações que a
exponham ao desprezo público, ainda quando não haja intenção difamatória.
Art. 18. Sem autorização, não se pode usar o nome alheio em propaganda comercial.
Art. 19. O pseudônimo adotado para atividades lícitas goza da proteção que se dá ao nome.

 Diz respeito à individualização da pessoa.

6.1. SENDO DIREITO DA PERSONALIDADE NÃO SERIA O TITULAR QUEM DEVERIA ESCOLHÊ-LO?

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 Na verdade, é o titular quem escolhe seu próprio nome. Sua escolha, tendo em vista ser direito da
personalidade é pessoalíssima.
 Mudança imotivada do nome: prazo decadencial de 1 ano contados a partir da maioridade civil desde
que não prejudique o nome da família. (artigo 56 da LRP)

6.2. ELEMENTOS COMPONENTES DO NOME


a) Prenome: identifica a pessoa
a. Gêmeos com o mesmo prenome: deverão ter prenome duplo diferenciado
b) Sobrenome ou Patronímico: identifica a origem familiar
c) Agnome: partícula diferenciadora para homônimos da mesma família.

6.2.1. Não compõem o nome


a) Títulos: Doutor, Dom,
b) Pseudônimo ou heterônimo ou cognome

6.3. PSEUDÔNIMO OU HETERÔNIMO OU COGNOME


 Nome utilizado para atividades profissionais apenas
 Pseudônimo: é apenas um nome distinto do original.
 Heterônimo: é algo mais complexo; há criação de personalidade distinta.
 Art. 19: merece a mesma proteção do nome, ainda que não integre o nome
 Exemplos: Sílvio Santos, Zezé di Camargo.

6.3.1. Pseudônimo X Hipocorístico


 Pseudônimo: utilizado para identificação profissional
 Hipocorístico: apelido notório, alcunha notória. Identifica não só profissionalmente, mas também
pessoalmente.
o Art. 58 da lei de registros público: pode ser acrescentado ou mesmo vir a substituir o nome. Assim
poderá se tornar elemento componente do nome. “o prenome será definitivo, admitindo-se, todavia, a
sua substituição por apelidos públicos notórios”.

A Lei de Registros Públicos, em seu artigo 55 e parágrafo único, permite a recusa do oficial de registro civil em
registrar prenomes suscetíveis de expor ao ridículo os portadores, e em caso de inconformismo do pai deverá o
caso ser encaminhado à decisão do juiz competente.

6.4. ALTERAÇÃO DO NOME


 Vige o princípio da inalterabilidade, vez que só se autoriza a mudança do nome (a) nos casos previstos em
lei ou (b) com justificação judicial.

6.4.1. Exemplos de mudança de nome por previsão legal


a) Adoção Art. 47, § 5o  A sentença conferirá ao adotado o nome do adotante e, a pedido de qualquer deles, poderá
determinar a modificação do prenome.  
b) Lei 11.924/09 – Lei Clodovil: Acréscimo de nome de padrasto ou madrasta por decisão judicial e com
consentimento das pessoas envolvidas.
c) Lei 9.807/99 – programa de proteção às testemunhas
d) Casamento e união estável: é o exemplo mais clássico.

6.4.2. Exemplos de mudança de nome por decisão judicial

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a) Transexual
b) Inclusão de sobrenome de ascendente que não lhe foi concedido
c) Viuvez
d) Retirada de sobrenome em caso de abandono afetivo
e) Erro de grafia
f) Exposição do titular a ridículo

6.5. DIREITO À MANUTENAÇÃO DO NOME NO DIVÓRCIO


6.5.1. Emenda Constitucional 66
 No divórcio a pessoa somente perde o nome do titular se quiser, vez que no processo de separação
judicial ou divórcio não mais se discute culpa, cabível somente (para parte da doutrina) na fixação de
alimentos e responsabilidade civil.

6.5.2. Regramento no Código Civil


Art. 1.578. O cônjuge declarado culpado na ação de separação judicial perde o direito de usar o sobrenome do outro,
desde que expressamente requerido pelo cônjuge inocente e se a alteração não acarretar:
I - evidente prejuízo para a sua identificação;
II - manifesta distinção entre o seu nome de família e o dos filhos havidos da união dissolvida;
III - dano grave reconhecido na decisão judicial.

 Em regra, o cônjuge culpado perde o direito de usar o sobrenome do outro, salvo se na hipótese dos
incisos do art. 1.578

6.5.2.1. Requisitos
a) Pedido expresso da parte
b) Culpa grave de cônjuge
c) Não prejuízo à identificação dos filhos
d) Não prejuízo à identificação do próprio titular

 STJ: por mais grave que seja a culpa, o cônjuge tem direito de manutenção do nome se prejudica a
identificação (REsp 358.598/PR)

6.5.3. Nome dos filhos havidos pelo casal


 É direito do cônjuge que decidir voltar a ter o nome de solteiro modificar o registro dos filhos

7. DIREITO À IMAGEM
Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à manutenção da ordem pública,
(função social da imagem) a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a
utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que
couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais.
Parágrafo único. Em se tratando de morto ou de ausente, são partes legítimas para requerer essa proteção o
cônjuge, os ascendentes ou os descendentes. (lembrar a diferença com os legitimados para a tutela da reparação
de direito da personalidade).

7.1. TRIDIMENSIONALIDADE DO DIREITO À IMAGEM


 O direito à imagem é um só, apenas compreendido em três dimensões. Assim, violação à mais de uma
dimensão gera apenas um dano.
 Imagem-retrato: são as características fisionômicas
 Imagem-atributo: é a identificação pela adjetivação, pelas qualidades da pessoa.
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o Muito comum para as pessoas jurídicas: “aquela empresa faz o transporte mais rápido”
 Imagem-voz: timbre sonoro identificador.

7.2. AUTONOMIA DO DIREITO À IMAGEM


7.2.1. Nível constitucional
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à
imagem;
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização
pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;

 Prevê expressamente a autonomia do direito à imagem.

7.2.2. Nível infraconstitucional ( é diferente da proteção ao nome)

 Escapando da evolução constitucional do direito à imagem, afirma que só haverá proteção quando
houver (a) exploração comercial ou (b) violação da honra.
 Assim, pessoa pode utilizar a fotografia de outra pessoa no Orkut. Não tendo violado a honra nem havido
exploração comercial, a indenização somente pode se dar com base constitucional, vez que tal fato não é
ilícito segundo o regramento do Código Civil

7.3. FLEXIBILIZAÇÃO DO DIREITO À IMAGEM


7.3.1. Função social da imagem (art. 20)
 Quando necessária (a) à manutenção da ordem pública ou (b) à administração da justiça haverá
flexibilização do direito à imagem.
 Exemplo: Linha Direta mostrava a imagem dos procurados pela polícia.

7.3.2. Consentimento do titular


 Não precisa ser expressa, pode ser tácita. Inclusive, na maioria das vezes é tácita.
 Exemplo: câmera no carnaval passa no rosto da menina que sorri. Consentiu.

7.3.3. Pessoas públicas


 Vide acima
 Também é caso de flexibilização do direito à imagem

7.3.4. Lugares públicos


 Somente para a captação de imagens gerais.

7.3.5. Direito de arena


 É quando a imagem de determinado profissional é utilizada em razão de seu ofício.
 Ex: jogador de futebol tem direito a retribuição do uso de sua imagem em partidas de futebol
televisionadas. Compõe a remuneração trabalhista.

7.4. LESÃO A DIREITO À IMAGEM

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STJ 403: INDEPENDE DE PROVA DO PREJUÍZO A PUBLICAÇÃO NÃO AUTORIZADA DA IMAGEM DA PESSOA
COM FINS ECONÔMICOS OU COMERCIAIS

 Dano in re ipsa: a Súmula 403 do STJ deixa claro que o simples uso para fins comerciais ou econômicos
configura dano, independendo da prova do prejuízo

8. DIREITO À PRIVACIDADE
Art. 21. A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a requerimento do interessado, adotará as
providências necessárias para impedir ou fazer cessar ato contrário a esta norma.

8.1. ASPECTOS DA PRIVACIDADE


 Privacidade: são as informações que pertencem ao titular e a mais ninguém. Abrange segredo e
intimidade
 Segredo: são as informações do titular que eventualmente podem ser compartilhadas com terceiro em
nome do interesse público (Ex: movimentação bancária e fiscal)
 Intimidade: são as informações que pertencem ao titular e a mais ninguém, que ele só compartilha
querendo. (ex: opção sexual e religiosa)

8.2. TEORIA DOS CÍRCULOS CONCÊNTRICOS

Intimidade

Segredo

Privacidade

 Toda informação íntima é privada, mas nem toda informação privada é íntima, pois pode ser secreta

8.2. AUTONOMIA DO DIREITO À PRIVACIDADE


 Independe da violação da honra
 Exemplo: publicação da biografia de Garrincha em que se afirma que ele possuía o pênis grande. Os
familiares requereram indenização por violação à privacidade, ainda que não tenha havido violação à
honra. Houvesse dito que seu pênis era pequeno poderia haver uma cumulação do pedido de violação à
privacidade com violação à honra.
 Cicarelli: por estar em lugar público houve violação a sua imagem, não a sua privacidade.

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