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Direito Civil I

Prof.a: Lara Gabrich

DIREITOS DA PERSONALIDADE - ARTS. 11 a 21 do CC/02


- Natureza jurídica
- Conceito e posição no direito civil
- Fenômeno da personalização do direito privado
- Atributos do direito da personalidade

1.1 Natureza jurídica

CRFB/88  dignidade da pessoa humana como princípio básico. (art 1º, III)

CF, art. 1º. A República Federativa do Brasil, formada pela união


indissolúvel dos Estados e municípios e do Distrito Federal, constitui-se em
Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: III – a dignidade
da pessoa humana.

DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA – cada um se vê no espelho


Fundamento de todos os direitos fundamentais (justificativa)
Espécie humana única  Possui ESTIMA
Princípio  o HOMEM em sua dignidade própria de ser humano
(HUMANIDADE) é sujeito de direito e tem PERSONALIDADE

PERSONALIDADE – aptidão para ser sujeito de direitos


 Confere ao ENTE a qualidade de SUJEITO de direitos  isso o faz
PESSOA (art 1º ao 6º do CC/02)

SUJEITO DE DIREITOS Pessoa Física


 Capacidade para
adquirir direitos e
contrair obrigações

Pessoa Jurídica

Só têm CAPACIDADE JURÍDICA os que gozam de PERSONALIDADE


(pessoas naturais – art.1º ao 6º - e pessoas jurídicas – art. 45, CC/02)
ATENÇÃO!
Trata-se de SUJEITO DE DIREITOS! Não OBJETO DE DIREITO!

O objeto são os bens jurídicos tutelados pelo sistema jurídico para atender às
necessidades desse sujeito!

Direito da personalidade

O que são?
São situações jurídicas existenciais que tutelam os atributos essenciais do ser
humano e do livre desenvolvimento da vida em relação.

Qual o objeto do titular dos direitos da personalidade?


O objeto é o nosso modo de ser, ou seja, são os nossos atributos existenciais
(são os nossos bens jurídicos essenciais – intrínsecos), nos particularizando
(atributos da personalidade) de qualquer outro ser humano.

Há um certo consenso de que esses atributos são tripartidos (tutelam integridade


física, psíquica e moral), porque o ser humano é corpo, alma e intelecto.
- VIDA
- POTÊNCIA VEGETATIVA (forças naturais, crescimento, procriação, etc)
- POTÊNCIA SENSITIVA (senso comum, fantasia, memória, cognição)
- POTÊNCIA LOCOMOTIVA (ambulação)
- POTÊNCIA APETITIVA (vontade)
- POTÊNCIA INTELECTIVA (inteligência, liberdade, dignidade)
- POTÊNCIA REALIZADA (atos)

Quem é o sujeito passivo da relação jurídica dos direitos da personalidade?


É o erga omnes, porque a sociedade e o Estado têm o dever de respeitar o
exercício das situações jurídicas existenciais.

O princípio maior do direito civil é o princípio da autonomia privada, que é o


cerne do direito civil. Este princípio revela o poder de autodeterminação do
indivíduo, poder do indivíduo regrar e regulamentar sua vida.

Essa autonomia se divide em autonomia patrimonial e existencial. No que


concerne à patrimonial, pode-se fazer negócio de cunho econômico (contrato).
Pela autonomia existencial, é a liberdade de realizar projetos de vida,
determinar os caminhos da existência.
Posição do direito da personalidade (topografia)

Os direitos da personalidade estão nos arts. 11 a 21 do CC. Nesses artigos são


tratados só alguns dos direitos (direito ao corpo, nome, honra, imagem e
privacidade). Esses direitos são vistos em alguns aspectos.

Isso se deve, porque o rol dos direitos da personalidade é meramente


exemplificativo (ilustrativo), uma vez que não é nos arts. 11 a 21 que terão a
mais ampla proteção, mas no art. 1º, III, cláusula geral da dignidade da
pessoa humana.
Cláusula geral da dignidade da pessoa humana porque são normas que o
legislador cria de forma VAGA (imprecisa), porém essa vagueza é intencional.
Essa norma é polissêmica e, à medida que a cultura da sociedade evolui, a
dignidade abarca todas as novas situações jurídicas merecedoras de tutela e
dignas de proteção.
Por isso diz-se de uma cláusula geral da personalidade, ou seja, esse art. 1º,
III cria cláusula geral de tutela à pessoa humana. Portanto, existe um direito
geral da personalidade (cláusula geral de tutela da pessoa humana).

Exemplo: CUIDADO AFETIVO. Idosos, crianças.

CURIOSIDADE!

Informativo 496, STJ, de 4 de maio 2012 firmou-se o entendimento de que em


direito da personalidade não se discute o “amar” (faculdade), mas a imposição
de cuidar.

DANOS MORAIS. ABANDONO AFETIVO. DEVER DE CUIDADO.


O abandono afetivo decorrente da omissão do genitor no dever de cuidar da
prole constitui elemento suficiente para caracterizar dano moral compensável.
Isso porque o non facere que atinge um bem juridicamente tutelado, no caso,
o necessário dever de cuidado (dever de criação, educação e companhia),
importa em vulneração da imposição legal, gerando a possibilidade de pleitear
compensação por danos morais por abandono afetivo. Consignou-se que não há
restrições legais à aplicação das regras relativas à responsabilidade civil e ao
consequente dever de indenizar no Direito de Família e que o cuidado como
valor jurídico objetivo está incorporado no ordenamento pátrio não com essa
expressão, mas com locuções e termos que manifestam suas diversas
concepções, como se vê no art. 227 da CF. O descumprimento comprovado da
imposição legal de cuidar da prole acarreta o reconhecimento da ocorrência de
ilicitude civil sob a forma de omissão. É que, tanto pela concepção quanto pela
adoção, os pais assumem obrigações jurídicas em relação à sua prole que
ultrapassam aquelas chamadas necessarium vitae. É consabido que, além do
básico para a sua manutenção (alimento, abrigo e saúde), o ser humano precisa
de outros elementos imateriais, igualmente necessários para a formação
adequada (educação, lazer, regras de conduta etc.). O cuidado, vislumbrado em
suas diversas manifestações psicológicas, é um fator indispensável à criação e à
formação de um adulto que tenha integridade física e psicológica, capaz de
conviver em sociedade, respeitando seus limites, buscando seus direitos,
exercendo plenamente sua cidadania. A Min. Relatora salientou que, na
hipótese, não se discute o amar – que é uma faculdade – mas sim a imposição
biológica e constitucional de cuidar, que é dever jurídico, corolário da liberdade
das pessoas de gerar ou adotar filhos. Ressaltou que os sentimentos de mágoa e
tristeza causados pela negligência paterna e o tratamento como filha de segunda
classe, que a recorrida levará ad perpetuam , é perfeitamente apreensível e
exsurgem das omissões do pai (recorrente) no exercício de seu dever de cuidado
em relação à filha e também de suas ações que privilegiaram parte de sua prole
em detrimento dela, caracterizando o dano in re ipsa e traduzindo-se, assim, em
causa eficiente à compensação. Com essas e outras considerações, a Turma, ao
prosseguir o julgamento, por maioria, deu parcial provimento ao recurso apenas
para reduzir o valor da compensação por danos morais de R$ 415 mil para R$
200 mil, corrigido desde a data do julgamento realizado pelo tribunal de
origem. REsp 1.159.242-SP , Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 24/4/2012.

Os direitos da personalidade são direitos fundamentais?


Sim, todo direito da personalidade é direito fundamental em razão da
essencialidade dos direitos da personalidade, porque são intrínsecos à pessoa.
Contudo, nem todo direito fundamental é direito da personalidade. Isso
porque existem direitos fundamentais que não se aplicam ao direito privado,
mas ao direito fundamental público (relação entre particular e Estado). Os
direitos da personalidade são direitos fundamentais que se aplicam aos
particulares.
Não podemos esquecer que existem direitos fundamentais na CF que são
direitos fundamentais patrimoniais (e não da personalidade). Ex.: direito de
propriedade, direito de greve etc.
ATRIBUTOS DA PERSONALIDADE  elementos de individualização das
pessoas.

São 5:
 CAPACIDADE
 STATUS (individual, familiar e social)
 FAMA
 NOME
 DOMICÍLIO

CARACTERÍSTICAS:

Absolutos
 Gerais
Extrapatrimoniais
 indisponíveis
imprescritíveis
impenhoráveis
vitalícios

ATRIBUTOS/CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS DA


PERSONALIDADE

CC, art. 11. Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da
personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu
exercício sofrer limitação voluntária.

Portanto, os direitos da personalidade são dotados de três principais atributos:


intransmissíveis, insuscetíveis de limitação voluntária e irrenunciáveis.

INTRANSMISSIBILIDADE
Significa que os direitos da personalidade estão fora do comércio jurídico,
porque não podem ser cedidos (nem onerosa, nem gratuitamente). Não é
possível fazer negócio jurídico sobre direitos da personalidade. Isso se deve
porque os direitos existenciais são indestacáveis da pessoa humana - nossos
bens essenciais são inseparáveis do titular (ex.: não se pode ceder a honra).
Porém, se o direito da personalidade em si é intransmissível, nada impede que o
seu CONTEÚDO ECONÔMICO seja passível de cessão. Ex.: contratos de
cessão do exercício econômico do direito de imagem.
Ex.: direitos de autor. Transfere-se para a editora o conteúdo econômico da
obra, os resultados financeiros do livro.
Pergunta-se: é possível transmitir à editora a paternidade da obra?
DIREITO ECONÔMICO x DIREITO MORAL

Como consequência da intransmissibilidade, NÃO se pode constranger alguém


a obrigação de fazer ou não-fazer em se tratando de direitos da personalidade,
vedada a execução específica, possibilitando tão somente a tutela genérica
(perdas e danos).

COM A MORTE a mesma coisa!

Insuscetíveis de limitação voluntária


“não podendo seu exercício sofrer limitação voluntária”. Pode-se autolimitar o
direito da personalidade?

A limitação legal de direito da personalidade é possível (nada impede que o


legislador, em razão de interesses públicos predeterminados, restrinja nossos
direitos).

Ex.: revista de malas com lingerie.

Nesse caso, a intimidade cede espaço a outros interesses, como segurança,


ordem econômica (cessão de espaço com doses de razoabilidade).

CUIDADO!!!
Com o art. 11!!!
É possível que uma pessoa possa autolimitar os direitos da personalidade!!!

Quando o Anderson Silva está no ringue, ele faz uma autolimitação da


integridade física.

Quando você se utiliza faceboook, instagram, configura-se autolimitação da


intimidade.

Ilegalidade? Não, são atos perfeitamente válidos. Tais exemplos de restrição ao


direito da personalidade (de autolimitação) são espaços pelos quais a pessoa
deseja PROMOVER AS SUAS SITUAÇÕES EXISTÊNCIAIS (livre
desenvolvimento da personalidade), mesmo que restringindo direitos da
personalidade;
São legítimos do ponto de vista jurídico, se cumpridos 4 requisitos:
a) esse ato é socialmente justificável? Sim. Ex.: Lutar e redes sociais.
b) esses atos atendem ao interesse próprio de quem os pratica? Sim. Ex.: seja
para ganhar dinheiro ou se afirmar como pessoa.
c) são revogáveis? Sim. No momento em que quiser, exclui-se ou se abandona.
d) não podem ofender interesses de terceiros determinados. Ex.: a luta lesa
interesse do próprio lutador e de seu oponente, apenas. Rede social: veda ofensa
a honra de terceiros.
Ex.: implantação de microchip intracutâneo (restringe a integridade física) –
obedece os vetores.
Ex.: patrão mandou colocar microchip intracutâneo para saber onde o
empregado se encontra, o que está fazendo – viola os vetores.

Aduz o Enunciado 04, CJF – o exercício dos direitos da personalidade pode


sofrer limitação voluntária, desde que não seja permanente nem geral.

LOGO: A limitação, além de não ser de caráter permanente nem de caráter


geral, deve observar o grau de restrição da personalidade.

Irrenunciabilidade
Em princípio os direitos da personalidade são irrenunciáveis (essencialmente
irrenunciáveis).
Contudo, podemos afirmar que irrenunciável de forma ABSOLUTA é a
dignidade da pessoa humana (incondicionada).
Não se pode permitir que o pagamento de uma dívida seja a escravização de
uma pessoa ou a transferência de órgão como adimplemento de uma obrigação.
A dignidade da pessoa humana é irrenunciável. Mas é possível em
determinadas situações conferir legitimidade a um ato de renúncia de direitos da
personalidade.
Renuncia é diferente de limitação voluntária.

Os exemplos da luta, redes sociais, microchip são atos de limitação voluntária,


uma vez que são atos basicamente revogáveis (“a hora que quiser, pode
desistir”).

Entretanto, renúncia de direito da personalidade tem caráter DEFINITIVO


(perene). Mas mesmo assim, admite-se renúncia em certos casos.

Os direitos da personalidade têm tutela positiva (além da tutela negocial


[direitos de proteção], existem os direitos de promoção). O ordenamento
jurídico deve conceder instrumentos e situações existenciais onde possamos
promover a nossa personalidade (construir nossa trajetória de vida).
E como podemos promovê-los? Como se dá o livre desenvolvimento da
personalidade? O livre desenvolvimento ocorre quando nós realizamos os
direitos da personalidade e desenvolvemos nossa essência, construindo o que
somos.

Muitas pessoas decidem promover a sua personalidade renunciando aos direitos


da personalidade. Seja essa a renúncia parcial, seja total. Isso se deve, porque
muitas vezes só quando se renuncia ao direito da personalidade é que se afirma
a dignidade.
Ex.: imagine um sujeito chamado Roberto, que sempre teve cabeça de Roberta
– transexual.

CC, art. 13 CC. Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do
próprio corpo, quando importar diminuição permanente da integridade
física ou contrariar os bons costumes.

O transexual tem direito à cirurgia de transgenitalização, porque há uma


inadequação psicofísica. Assim, quando se dirige ao judiciário, depois da
cirurgia, para fins de alterar nome e sexo, há uma questão ética, envolvendo a
promoção da dignidade da pessoa humana (direito a liberdade e orientação
sexual e reafirmação de identidade).

O que o beneficia é questão ÉTICA, e não diagnóstico.

Segundo o STJ, é permitida a alteração do prenome e a alteração do estado


sexual, porque os documentos têm que ser fiéis à condição humana (promoção a
dignidade da pessoa humana).
E para que esse transexual reafirmasse sua personalidade, não teve que
renunciar a integridade física de forma permanente? Sim. (Ver informativo 415,
STJ – 13/Nov/09 e informativo 411, STJ - 16/out/09).

Para conciliar o interesse do transexual sem que isso lese a sociedade, a cirurgia
de transgenitalização fica registrada no livro de cartório, não podendo haver
expedição de certidão com a informação de dados de alteração de sexo.

É possível hoje alterar o prenome ou alterar o sexo, mesmo antes de fazer a


cirurgia de transgenitalização?
Sim, porque há vários julgados de que a cirurgia é ato final de um
procedimento. O diagnóstico é preciso, pois ele respalda os direitos da
personalidade, resultando em vedação de discriminação.
Portanto, temos que nos apoiar em direitos fundamentais, e não em pretextos
médicos.

A cirurgia de transgenitalização é uma renúncia parcial aos direitos da


personalidade. Mas pode haver ato de renúncia total a direitos da personalidade
que seja digno de merecimento do ordenamento jurídico? Sim. É o caso da
morte assistida.
Ex.: paciente terminal (em estado grave, crônico e incurável). Incurável é
aquele que entrou em processo de morte (processo é irreversível).
Existem 3 comportamentos médicos:
a) eutanásia: é uma conduta ativa e intencional do médico no sentido de
abreviar a vida do paciente, em razão de um ato piedoso do médico.
b) distanásia (mistanásia*): é um ato médico de prolongamento da vida do
paciente. Já está na “hora de morrer”, mas o médico, imbuído da necessidade de
salvar, prolonga a vida da pessoa além do tempo naturalmente esperado. A
distanásia está ligada à obsessão clínica no sentido de utilizar mecanismos
artificiais para o prolongamento da vida (é a utilização de meios
desproporcionais e fúteis para manter o ser humano em vida). *Mistanásia:
porque provoca morte miserável.
c) ortotanásia: é a morte no tempo certo. Isso porque não é ato médico, mas ato
de autonomia existencial do paciente, porque ele utiliza seu consentimento para
que a morte ocorra de forma natural – que a vida siga seu curso normal. Quando
o paciente sugere a ortotanásia, ele não quer provocar a morte, mas espera-la no
tempo adequado, em razão da doença incurável. A ortotanásia cuida no sentido
de manter a vida digna, até quando puder.
A ortotanásia tem duas diretrizes:
a) LCT (limitação consentida de tratamento): o paciente não deseja tratamentos
fúteis e desproporcionais, para que a vida tenha seu regular andamento.
b) cuidados paliativos: tratamento médico se dê de forma minimamente
invasiva – alimentação e minimização de dor.
A dignidade deve se sobrepor a todos os momentos em que a vida seja isolada.
A dignidade é um qualificativo da vida.

Com relação às diretivas antecipadas de vontade (é errado dizer “testamento


vital ou biológico”), são determinações escritas dadas pela pessoa para serem
cumpridas no futuro, quando aquela for incompetente para decidir o cuidado de
si mesmo em razão de qualquer causa psicofísica que lhe subtraia
discernimento.
Estas diretivas antecipadas formam um gênero que contém 2 espécies:
a) declarações prévias de vontade: caso amanhã estiver inconsciente em razão
de doença ou acidente, e por isso não puder manifestar livremente o
consentimento, determina que o médico não pratique atos fúteis e
desproporcionais para prolongar a vida (ato válido hoje, mas que produzirá
eficácia quando ocorrer o evento).
b) mandato duradouro: ocorre quando uma pessoa elege um procurador para
cuidados da saúde (caso esteja inconsciente, em razão de doença ou acidente,
quem comunicará meu tratamento será meu amigo).

O Enunciado 527 CJF diz que é válida a declaração de vontade expressa em


documento autêntico, também chamado “testamento vital”, em que a pessoa
estabelece disposições sobre o tipo de tratamento de saúde, ou não tratamento,
que deseja no caso de se encontrar sem condições de manifestar a sua vontade.

Imprescritbilidade
Os direitos da personalidade são imprescritíveis, porque são permanentes, ou
seja, são inseparáveis da pessoa (é evidente que os direitos da personalidade não
se perdem pelo seu não uso).

Ao contrário dos direitos patrimoniais, o não uso do direito da personalidade


não gera seu perecimento, não gera usucapião (prescrição aquisitiva ou
extintiva).

Pergunta-se: como os direitos da personalidade são imprescritíveis, sofrendo


hoje um ilícito, daqui a 15 anos posso ajuizar ação de dano moral?

Não. Pois uma coisa são os direitos da personalidade (imprescritíveis), outra


questão são as pretensões que deles decorrem.

Quando o direito da personalidade sofre um dano, surge uma pretensão, cujo


conteúdo é econômico (reparação do dano moral), submetendo aos prazos de
prescrição (3 anos).

Há pretensão de reparação de dano moral imprescritível? Sim, é a pretensão por


reparação de danos decorrentes de crimes praticados durante o período de
exceção (ditadura). Ex.: tortura no período militar. Em se tratando de tortura
(crime universal e ilícito consagrado em convenção internacional de direitos
humanos), pelo critério da supralegalidade, é tratada acima das normas
infralegais. Por isso que o CC e a pretensão nele prevista não se aplicam ao
crime de tortura.

A ação de investigação de paternidade igualmente não prescreve, porque o que


se busca é a paternidade (acesso à origem genética).

IMPENHORABILIDADE
GENERALIDADE

ABSOLUTOS

ILIMITADOS

VITALICIEDADE

 SUBJETIVOS: são inerentes à condição humana; é de natureza


existencial. Não há pessoa humana sem personalidade.
 ESSENCIAIS: são imprescindíveis para a existência humana.
 INATOS: independem de qualquer previsão legal para serem
reconhecidos.
 PERMANENTES: perduram por toda a vida da pessoa.
 FUNDAMENTAIS: porque fundamentais para o ser humano ter
uma existência digna

1.5 Direitos da personalidade em espécie

1. Direito à vida

Direito mais precioso do ser humano.

Se reveste de todas as características gerais do direito da personalidade.

Proteção a qualquer ameaça que seja à sadia qualidade de vida.

Polêmicas do aborto, eutanásia (necessidade de atestar por dois médicos morte


inevitável ou consentimento do paciente ou herdeiro necessário).

Direito a alimentos do nascituro.

2. Integridade física (direito ao corpo, direito à voz)

Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a


tratamento médico ou a intervenção cirúrgica. (art 15/CC)
Prerrogativa de recusar tratamento!

Respeito à liberdade religiosa.

CUIDADO! Casos de EMERGÊNCIA com paciente inconsciente x


omissão de socorro!

Direito ao corpo – dentro da integridade física

A) transplante de órgãos post-mortem

A disposição post-mortem de órgãos contém três períodos legislativos:


a) disposição presumida de órgãos: quando a Lei n. 9.434/97 entrou em vigor,
dispunha que na omissão na declaração quanto à doação, presumia-se doador de
órgãos (sistema da disposição presumida). Doutrinadores argumentaram ser
inconstitucional, porque o corpo humano seria estatizado (haveria uma
publicização do corpo, tornando-o objeto das finalidades do Estado).

b) disposição consentida de órgãos: disciplina o art. 4. Lei 9.434/97

art. 4º. A retirada de tecidos, órgãos e partes do corpo de pessoas falecidas


para transplantes ou outra finalidade terapêutica, dependerá da
autorização do cônjuge ou parente, maior de idade, obedecida a linha
sucessória, reta ou colateral, até o segundo grau inclusive, firmada em
documento subscrito por duas testemunhas presentes à verificação da
morte.

Portanto, nessa fase, quem autoriza a doação é a família do morto. Observa-se


que a autonomia existencial para disposição de corpo em vida não se aplica,
porque a autonomia existencial é instrumentalizada pelos interesses da família.
Ocorre uma subversão axiológica, pois a família é instrumento para o exercício
dos direitos da personalidade.

c) art. 14 e seu parágrafo único CC:

CC, art. 14. É válida, com objetivo científico ou altruístico, a disposição


gratuita do próprio corpo, no todo ou em parte, para depois da morte.
Parágrafo único. O ato de disposição pode ser livremente revogado a
qualquer tempo.
Esta fase derrogou a tese da disposição consentida de órgãos. Isso se deve,
porque a partir da vigência do art. 14, CC só se aplica o art. 4º da Lei 9.434/97
naqueles casos em que a pessoa morreu em silêncio. Contudo, caso em vida
afirmasse que doaria órgãos, a família não poderia obstaculizar – a atual fase
enaltece a autonomia existencial.

Essa disposição do corpo post-mortem de forma gratuita se perfaz para fins


altruístas, bem como para fins científicos (universidade). Tal desiderato pode
ser feito através de testamento.

Antigamente o que prevalecia era o princípio da beneficência, no qual o médico


tinha o dever de salvar a vida do paciente, sendo este considerado mero objeto.
Ocorre que na era da dignidade da pessoa humana, o princípio da beneficência
passou a ser mitigado pelo princípio da bioética do consentimento informado
(em decorrência da autonomia existencial sobre deliberar o próprio corpo,
somente se legitima intervenção clínica, mediante consentimento informado do
paciente).

O consentimento informado pode ser utilizado em qualquer recusa a tratamento


médico.
Ex.: tratamento para micose (não há risco de morte).
Erroneamente estabelece o art. 15, CC:

CC, art. 15. Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de
vida, a tratamento médico ou intervenção cirúrgica

O consentimento informado é a base para ortotanásia.


Há exceção, isto é, em que o consentimento informado cede espaço ao princípio
da beneficência.

São três casos em que o princípio da beneficência prevalece:


a) tratamento compulsório: quando o paciente chega ao médico desacordado em
situação emergencial - o princípio da beneficência deve prevalecer, mesmo que
a família do paciente seja contrária.
b) exigência médica ou jurídica: imagine uma moléstia contagiosa, com grande
risco de disseminação e letalidade. Nessa situação não cabe recusa, devendo ser
conduzido coercitivamente (exigência médica). No caso de exigência jurídica,
podemos elencar a imposição judicial (sentença) determinando medida de
segurança (tratamento psicanalítico).
c) quando há recusa do paciente ao consentimento informado: “não quero saber
o que tenho, deixo nas mãos do médico”– é renúncia a qualquer ato de
autonomia.

Pergunta-se: como se dá o consentimento informado nos casos de objeção de


consciência?

Temos como exemplo de objeção de consciência o “Testemunha de Jeová” (são


gerações de milhares de pessoas que aderem ao mesmo credo – levíticos – eles
não podem receber sangue humano de outras pessoas).

E se houver a situação em que a testemunha de Jeová tenha que fazer transfusão


de sangue como único tratamento de sobrevida, porém, ela se recusa? Diante
dessa situação, como vivemos numa democracia que enaltece o pluralismo,
precisamos compatibilizar as diversas opiniões de vida. E dentro desse
pluralismo esta a diferença. Portanto, na pauta axiológica da Testemunha de
Jeová, a liberdade religiosa está acima do direito à vida. Desse modo, em
matéria de consentimento informado, sendo a Testemunha de Jeová maior de
idade e capaz, sua decisão deve ser respeitada.
Entretanto, caso a Testemunha seja menor de idade, a família não tem
legitimidade para decidir sobre sua existência. Portanto, nesse caso médico
deve intervir, bem como em situações de emergência. Nesses casos, a escolha
cabe ao médico.

QUESTÃO
Dados do concurso: MPE - MS - Promotor de Justiça Substituto
Numa maternidade nasceram, simultaneamente, três crianças: Adauto, Carlos e
Marcos. Adauto nasceu com hidrocefalia e faleceu apenas 03 (três) horas
depois; Carlos nasceu morto, em virtude de complicação antes do parto; Marcos
nasceu sem complicação. Assinale a alternativa CORRETA.
a) Apenas Marcos adquiriu personalidade civil;
b) Adauto não adquiriu personalidade civil, uma vez que sua vida era inviável;
c) Carlos adquiriu personalidade civil, quando na concepção, mas a perdeu
quando nasceu
morto;
d) Apenas Adauto e Marcos adquiriram personalidade civil..

QUESTÃO
Dados do concurso: TJ - SC - 2010 - TJ - SC
Segundo o Código Civil, é uma característica dos direitos da personalidade:
a) São alienáveis.
b) São incomensuráveis.
c) São irrenunciáveis..
d) São transferíveis.
e) São disponíveis.

3. INTEGRIDADE PSÍQUICA

Pessoa  Ser psíquico atuante  interações sociais  pensa  inteligência


sentimento

Liberdade
Intimidade  INCOLUMIDADE DA MENTE HUMANA
Segredo

LIBERDADE

Art 5º da CRFB/88 várias proteções a várias formas de liberdade.

- CIVIL
- POLÍTICA
- RELIGIOSA
- SEXUAL
- DE ORGANIZAÇÃO SINDICAL

Liberdade nada mais é que a faculdade do homem para agir em obediência a


sua VONTADE, lembrando que na convivência social, o homem coletivizado,
há restrições sociais e legais.

LIBERDADE DE PENSAMENTO

EXPRESSÃO da individualidade

Art 5º, IV, CRFB/88 – é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o


anonimato.

 Liberdade de foro íntimo: pensar


 Liberdade de consciência e crença
AUTORIA CIENTÍFICA, ARTÍSTICA E LITERÁRIA

Resultado cultural do gênio humano nas diversas áreas do conhecimento.

Leis infraconstitucionais de proteção (Direitos autorais, Lei da Propriedade


Industrial, Patente)

 Podem sofrer licenciamento, cessão, concessão  proveito econômico

PRIVACIDADE

Vida privada é o “direito da pessoa controlar os seus dados pessoais e


livremente exercer as suas escolhas existenciais”.

Vida privada é gênero que se divide em duas espécies (teoria dos círculos
concêntricos):
(i) privacidade
(ii) intimidade.
Teoria dos círculos concêntricos (esferas)

O círculo maior é o da vida pública, convivendo com a sociedade e o Estado.

Há o círculo intermediário da privacidade, que concerne àqueles fatos que


dizem respeito às pessoas, bem como os entes mais próximos. A privacidade se
relaciona a fatos entre marido e mulher, filhos e melhores amigos.

Já o círculo menor é o da intimidade, que alude a fatos que só interessam


exclusivamente à pessoa e a mais ninguém (âmbito da reserva, segredo).
Ex.: discussão de DNA – atinente à intimidade.
Ex.: filmagem de uma pessoa dentro da sua casa – invasão de intimidade da
pessoa.

Não se deve pensar que só há vida privada “dentro de casa”. Pode e deve haver
privacidade no espaço público, cuja proteção reclama a vida privada. Ex.:
quadro televisivo chamado “sandálias da humildade” (há indevida invasão de
privacidade).

privacidade “é o direito de estar só”.


Hoje, vivenciamos outro conceito de privacidade. Esse conceito incorpora uma
dimensão ativa (positiva) da privacidade. Essa dimensão se decompõe em dois
aspectos:
a) privacidade está intimamente relacionada ao livre desenvolvimento da
personalidade:
quando se fala em privacidade, remete-se a ideia de autonomia existencial para
escolher a trajetória de vida, de pautar a caminhada sem interferência do Estado
ou da sociedade (é a visão de privacidade como aptidão para a pessoa escrever
sua própria bibliografia, sem intervenções externas).

b) a possibilidade de toda pessoa controlar a circulação de dados pessoais:


temos, em razão da vida privada (privacidade), o poder de gerir os nossos dados
pessoais (escolha sexual, orientação religiosa, dados patrimoniais - nós é que
temos que decidir amplitudes de circulação).

SEGREDO PESSOAL, PROFISSIONAL E DOMÉSTICO

 Interceptação telefônica
Médicos, advogados, psicólogos
O lar e sua vida privada

4. INTEGRIDADE MORAL

DIREITO À IDENTIDADE

Proteção aos elementos distintivos da pessoa no seio da sociedade.

Direito ao nome

Nome

Nome é o “elemento individualizador da pessoa, seja física ou jurídica,


designando e distinguindo todo o sujeito na sociedade civil”.

O nome é o elo que vincula pessoa e sociedade  atributo mais evidente do


direito da personalidade.

Sua essência tem duas dimensões:

A) pública: não existe um direito ao nome, mas dever ao nome. Perante a


sociedade o nome é um dever porque se trata de segurança jurídica, pois
as pessoas precisam nos identificar (necessidade de individualização). A
tendência do nome é a IMUTABILIDADE, porque quanto menos
mudança de nome melhor para a segurança jurídica, melhor para
proteção de terceiros.

B) privada: no aspecto privado, o nome é um direito da personalidade, um


atributo existencial da pessoa humana. Nesse campo, o nome se revela
como direito, porque é pelo nome que nós livremente desenvolvemos
nossa personalidade. O nome por várias vezes acompanha nossa
trajetória de vida. Assim, a tendência é a MUTABILIDADE.

Percebe-se que o grande desafio é conciliar a dimensão pública com a dimensão


privada.

A legislação prega uma ponderação à respeito do instituto nome, regulada pelo


princípio da INALTERABILIDADE RELATIVA DO NOME, que será
discutido em vários artigos do CC (há tendências de ampliar as alterações do
nome).

LRP – Possibilidade de alteração! Lei 6015/1973

Art. 55.

        Parágrafo único. Os oficiais do registro civil não registrarão prenomes


suscetíveis de expor ao ridículo os seus portadores. Quando os pais não se
conformarem com a recusa do oficial, este submeterá por escrito o caso,
independente da cobrança de quaisquer emolumentos, à decisão do Juiz
competente.

        Art. 56. O interessado, no primeiro ano após ter atingido a maioridade
civil, poderá, pessoalmente ou por procurador bastante, alterar o nome, desde
que não prejudique os apelidos de família, averbando-se a alteração que será
publicada pela imprensa. 

        Art. 57.  A alteração posterior de nome, somente por exceção e


motivadamente, após audiência do Ministério Público, será permitida por
sentença do juiz a que estiver sujeito o registro, arquivando-se o mandado e
publicando-se a alteração pela imprensa, ressalvada a hipótese do art. 110 desta
Lei. 
CC, art. 16. Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e
o sobrenome.

O legislador se refere a “direito ao nome”. Isso porque é uma emanação da


identidade da pessoa. Entretanto, esse mesmo legislador disse pouco, porque
além do nome e prenome, temos o agnome. Ex.: Júnior, Neto, primeiro etc.

Portanto, é a pessoa que faz o nome, devendo este acompanhar sua atividade
existencial.

Prenome
Quantas são as possibilidades de alteração? Há seis possibilidades:

Veja o seguinte dispositivo:

Art.58, Lei 6.015/73. O prenome será definitivo, admitindo-se, todavia, a


sua substituição por apelidos públicos notórios.

Apelidos públicos notórios: são três as possibilidades que se pode extrair.

Vejamos:

(i) hipocorístico: Maria das Graças Xuxa Meneguel – esses apelidos incorporam
a personalidade da pessoa, passível de registro.
(ii) prenome de uso: nasceu do costume e passou a ser por ele reconhecido. Ex.:
Francisca (nome), mas toda a comunidade a chamava de Fátima (prenome de
uso).
(iii) nome social: aquele pelo qual travestis e transexuais se reconhecem, bem
como são identificados por sua comunidade e em seu meio social. Há inúmeras
resoluções no sentido de acolher o nome social.
(iv) prenome que possa colocar a pessoa em exposição ao ridículo,
constrangimento.
(v) e a proposta veiculada no parágrafo único, art. 58, Lei 6.015/73.

Parágrafo Único, art. 58, Lei 6.015/73. A substituição do prenome será


ainda admitida em razão de fundada coação ou ameaça decorrente da
colaboração com a apuração de crime, por determinação, em sentença, de
juiz competente, ouvido o Ministério Público.
Este dispositivo se refere às situações em que a pessoa passa a ser parte do
programa de proteção de testemunhas e vítimas.

(vi) entendimento difundido no art. 47, §5º, Lei 8.069/90. Nesses termos:

Parágrafos 5º art. 47 Lei 8.069/90 – A sentença (de adoção) conferirá ao


adotado o nome do adotante e, a pedido de qualquer deles, poderá
determinar a modificação do prenome

A lei menciona “a pedido de qualquer deles”, porque a iniciativa em regra é dos


adotantes.

Mas, se porventura o adotado estiver com mais de 12 anos, ele tem autonomia
existencial para mudar seu prenome.

Ocorre que a LRP resolveu colocar um freio nisso no art. 56:

Art.56, Lei n.6.015/73. O interessado, no primeiro ano após ter atingido a


maioridade civil, poderá, pessoalmente ou por procurador bastante,
alterar o nome, desde que não prejudique os apelidos de família,
averbando-se a alteração que será publicada pela imprensa.

Há dois erros nesse dispositivo:


a) impôs um prazo decadencial de “1 ano”, a contar da maioridade para
alteração do prenome (dos 18 aos 19 anos). Esse limite vem sendo superado
pela jurisprudência do STJ. Se a alteração visa a construção da personalidade
(que leva uma vida a ser desenvolvida), existe, portanto, uma flexibilização
deste prazo.
b) “só é possível alterar prenome”: desde 1973, muito se alterou. Hoje também
é possível a alteração do sobrenome (não é a regra). Em casos excepcionais a
alteração do sobrenome é factível.
b.1 possibilidade de inclusão do sobrenome da madrasta ou padrasto, desde que
estes façam a anuência, bem como não resultar supressão de sobrenome.
Vejamos:
art.57, §8º, Lei 6.015/73. O enteado ou a enteada, havendo motivo
ponderável e na forma dos §§ 2º e 7º deste artigo, poderá requerer ao juiz
competente que, no registro de nascimento, seja averbado o nome de
família de seu padrasto ou de sua madrasta, desde que haja expressa
concordância destes, sem prejuízo de seus apelidos de família.

Outra alteração do sobrenome é no instante do casamento. Vejamos:


CC, art. 1565, §1º. Qualquer dos nubentes, querendo, poderá acrescer ao
seu o sobrenome do outro.

Primeira correção: “qualquer dos nubentes”


a) não é apenas a mulher que pode adotar o nome do marido, mas ambos podem
conjuntamente se servir dessa faculdade.
b) não é apenas acrescer, mas também suprimir um dos sobrenomes. Isso é
importante nos casos em que houver cacofonia (som desagradável).
c) se um cônjuge quer adotar o sobrenome do outro antes do casamento, este
procedimento se faz na habilitação. Mas, e se passados 18 anos de casados, um
deles resolve adotar o sobrenome do outro? Nesse caso, o cônjuge interessado
deve se valer da ação de retificação de registro (Informativo 503, STJ, de 6 de
setembro de 2012).
Essa possibilidade de acrescer o sobrenome se aplica somente ao casamento ou
se estende à união estável? Estende-se, uma vez que a união estável tem as
mesmas prerrogativas institucionais do casamento, havendo a exigência de
prova documental dessa união (Informativo 506, STJ de 17 de outubro de
2012).

Pseudônimos

O que seria “Silvio Santos”, “José Sarney”, “Suzana Vieira”? São pseudônimos
(nome falso). Ele se incorpora à personalidade, sendo arbítrio existencial da
pessoa. Assim, merece igualmente proteção legal, prescindindo de registro,
desde que seja o pseudônimo usado área artística, literária etc.

CC, art. 19. O pseudônimo adotado para atividades lícitas goza da


proteção que se dá ao nome.

Heterônimo

Assim como o pseudônimo, o heterônimo recebe proteção. Heterônimo diz


respeito às situações em que um autor, escritor, incorpora várias personalidades
em sua obra, cada um com personalidade diferente. Ex.: Álvaro Reis, Caeeiro
(de Fernando Pessoa).
O nome tem caráter patrimonial-financeiro.

CC, art. 18. Sem autorização, não se pode usar o nome alheio em
propaganda comercial
Vale ressaltar que a proibição não se restringe à propaganda comercial, mas a
todos os setores.
Quando se diz que ninguém pode utilizar nome para fins de propaganda sem
autorização, isso significa que não se pode utilizar o nome tanto de forma direta
quanto de forma indireta.
Ex.:
cursinho divulga nos meios de informação que aprovou em 1º lugar no
concurso “x” (apesar de não utilizar o nome, refere-se à pessoa identificável).

O Enunciado 278 CJF aduz que a publicidade que venha a divulgar, sem
autorização, qualidades inerentes a determinada pessoa, ainda que sem
mencionar seu nome, mas sendo capaz de identificá-la, constitui violação a
direito da personalidade.

3. Direito à imagem

“Imagem é toda a sorte de representações da individualidade da pessoa”.

Existem dois grupos de direitos à imagem:

(i) imagem retrato: é a nossa representação gráfica (plasticidade da


pessoa). Ela simboliza todas as formas de manifestação física da
pessoa. Ex.: voz do Lombardi, pulo do Pelé, pinta da Angélica, etc. –
imagem externa.
(ii) imagem atributo: é o “conjunto de atributos da pessoa identificados no
meio social”. É o modo pelo qual a pessoa se apresenta em sociedade.
Ex.: religião, opção sexual, escolha desportiva. É a forma pela qual é
reconhecido e identificado em sociedade.

CC, art. 20 CC. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da


justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a
transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da
imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem
prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama
ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais.

 Utilização indevida – não autorizada


 Desvio de finalidade do uso autorizado

Admite-se cessão de uso, mas AUTORIZAÇÃO DEVE SER EXPRESSA.


IMAGEM ATRIBUTO X HONRA
Uma pessoa pode ser ofendida no aspecto “imagem atributo” sem ter havido
violação da honra.
Ex.: postagens de fotos nuas de terceira pessoa, identificando (falsamente) na
chamada da revista o nome de tenista reconhecida mundialmente.

A honra é a consideração social negativa da pessoa. Diz o art. 5º, V, CF:

CF, art. 5º, V. É assegurado o direito de resposta,proporcional ao agravo,


além da indenização por dano material, moral ou à imagem;

Por que distinguir dano material, do dano moral e dano à imagem? A CF


tripartiu os bens jurídicos.

CF, art. 5º, X. São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a


imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material
ou moral decorrente de sua violação;

A imagem é um bem jurídico autônomo, não tendo relação com honra,


intimidade ou privacidade. Pode haver ofensa à imagem, sem que outros bens
sejam atingidos. Ex.: Maitê Proença (imagem utilizada por revista sem seu
consentimento prévio - só foto).

Nada obsta que haja dano à imagem e dano à honra. Ex.: foto de aluno
dormindo divulgada em revista. Dano à imagem é a ausência de autorização de
cessão, sendo este dano autônomo dos demais.

Imagem é direito da personalidade, bem como direito fundamental, tendo


caráter relativo, no sentido de que quando há tensão de direitos da
personalidade, devemos fazer a regra da ponderação (proporcionalidade),
a fim de verificar qual prevalecerá.

Tal tensão não pode ficar no decisionismo (ao alvedrio do juiz), devendo partir
de critérios objetivos de ponderação.

Pode-se proibir a publicação da imagem, salvo em três casos, isto é, a imagem


poderá ser divulgada, mesmo contra a vontade do titular:
(i) administração da justiça: prisão
(ii) manutenção da ordem pública: filmagem em aeroporto.
(iii) consentimento do titular: é claro que se o titular conceder consentimento
expresso, pode-se exibir sem qualquer restrição.

Ocorre que, normalmente se fala em consentimento tácito, “alimentado” por


três mitos: lugar público; pessoa pública e interesse público. Portanto,
depreende-se que a questão de consentimento não foi tratada a contento pelo
CC, diploma que se mostra carecedor de parâmetros objetivos de ponderação.
Contudo, podemos elencar como parâmetros objetivos:
a) contexto de captação (ex.: político no comício). Diferentemente de quando
estiver numa praia.
b) grau de utilidade para o público: há interesse na captação da imagem? Qual a
intimidade daquela imagem ao público? Contexto de informação e leviandade.
c) grau de consciência do retratado: a pessoa tinha consciência que estava sendo
fotografada?
Ex.: Daniela Cicarelli.
d) grau de identificação da exposição: banhista numa praia lotada x uma
banhista de topless.
Ocorre que a ponderação principal está na tensão entre direito à imagem vs.
liberdade de imprensa (situação não retratada no CC).

Nesse caso, a jurisprudência, subsidiada pela doutrina, entende que temos que
criar o DUPLO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE, isto é, o
primeiro controle foi feito pelo legislador (art. 20, CC), cabendo ao intérprete
fazer o segundo controle.

Vejamos o Enunciado 279 CJF – A proteção à imagem deve ser ponderada


com outros interesses constitucionalmente tutelados, especialmente em face
do direito de amplo acesso à informação e da liberdade de imprensa. Em caso
de colisão, levar-se-á em conta a notoriedade do retratado e dos fatos
abordados, bem como a veracidade destes e, ainda, as características de sua
utilização (comercial, informativa, biográfica), privilegiando-se medidas que
não restrinjam a divulgação de informações.

Abuso do direito à imagem


Ocorre o abuso quando a pessoa utiliza-se do direito de imagem de forma
excessiva, negando a função social desse direito. Hoje os direitos são
funcionalizados e, portanto, só se tornará legítimo o direito caso o exercício
desse direito apresente uma função relevante.
CC, art. 20, parágrafo único. Em se tratando de morto ou de ausente, são
partes legítimas para requerer essa proteção o cônjuge, os ascendentes ou
os descendentes.
É a chamada proteção póstuma da imagem.

Pergunta-se: quando não se terá direito à imagem?


Nas situações quem envolvam atletas. O direito de imagem do atleta cede diante
do direito de arena.

CF, art. 5º, XXVIII - são assegurados, nos termos da lei:


a) a proteção às participações individuais em obras coletivas e à
reprodução da imagem e voz humanas, inclusive nas atividades
desportivas;

Seria inadmissível que o jogador pudesse proibir sua imagem nos 90 minutos
em campo. O direito de arena prevalece. Contudo, este direito se limita aos 90
minutos. Após, é cessão de direitos de imagens (todo o ganho patrimonial do
direito de imagem é exclusivo do atleta).

Não confundir direto à imagem com direito autoral.

No caso da Maitê Proença, ela sofreu dano à imagem, e a revista que havia sido
autorizada a postar as fotos sofreu violação de direito autoral (direito imaterial –
propriedade intelectual).

QUESTÃO
Dados do concurso: FCC - 2011 - TRE - AP - Analista Judiciário -
Administrativa
Terá legitimidade para reclamar perdas e danos a direito da personalidade de
pessoa morta
a) apenas o cônjuge sobrevivente.
b) o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o
segundo grau.
c) apenas os descendentes e ascendentes até o segundo grau.
d) o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o
quarto grau..
e) o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o
terceiro grau.
DIREITO À HONRA

É a “dignidade da pessoa refletida na consideração dos outros ou no sentimento


da própria pessoa”. Esse conceito faz uma diferenciação entre honra objetiva e
honra subjetiva.

Honra objetiva é a consideração social, ou seja, é a imagem que a sociedade


tem da nossa pessoa – credibilidade.

Honra subjetiva diz respeito a como esse abalo em nossa reputação afeta nossa
estima.

Segundo Schopenhauer, “honra é objetivamente o que os outros pensam a nosso


respeito, e subjetivamente é o nosso medo sobre essa opinião”.

CF, art. 5º, X. São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a


imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material
ou moral decorrente de sua violação;

Este dispositivo concede autonomia aos direitos da personalidade. Ex.:


fotografia de pessoa conhecida publicamente em momento íntimo - violação da
imagem (sem autorização), violação da intimidade (topless) e posterior
publicação em periódicos (dano à honra, porque sua reputação ficou exposta
para a sociedade).

Tipos de honra:
a) honra subjetiva: é aquela exclusiva da pessoa humana.
b) honra objetiva: é aquela que detém pessoa física e pessoa jurídica. Quanto à
pessoa jurídica, a honra objetiva diz respeito à credibilidade (identidade)
perante a sociedade – ex.:imagem, nome etc.

ATENÇÃO: A HONRA OBJETIVA DA PESSOA JURÍDICA NÃO


CONSTITUI DIREITO DA PERSONALIDADE

c) honra coletiva: se verifica quando determinada categoria de profissionais se


sente ofendida com determinado fato.

Onde no CC se fala em proteção da honra?


CC, art. 17. O nome da pessoa não pode ser empregado por outrem em
publicações ou representações que a exponham ao desprezo público, ainda
quando não haja intenção difamatória.

Segundo o CC, nenhuma pessoa pode aviltar nossa credibilidade através da


publicação, ainda que não haja intenção difamatória (responsabilidade
objetiva). Ex.: reportagem sobre fatos inverídicos.

Ocorre que a afirmativa acima está ERRADA, porque quando balanceamos


direitos de liberdade de imprensa e honra, temos que aplicar a PONDERAÇÃO,
no sentido de aquilatar o caso concreto mediante critérios objetivos (e equação
do balanceamento de tensões não pode ser fundamentada via deciosionismo!).
Os critérios são:
a) matéria deve ser verdadeira.
b) o contexto/finalidade deve ser lícita.
c) só haverá responsabilidade civil se no caso concreto ficar provado que o
meio de comunicação (veículo de imprensa) teve a intenção de injuriar, caluniar
e difamar. Só se torna ilícito o ato se intencionalmente houve proposta de
menosprezar a honra. A imprensa, nas publicações de matérias, não tem o
mesmo dever que o judiciário na questão da fundamentação completa de seus
atos. Portanto, a probabilidade de veicular matérias inverídicas ou errôneas é
mais evidente. Assim, não se aplica à imprensa a responsabilidade civil, salvo
se o agente divulgador conhecia ou poderia conhecer a falsidade da informação
propalada (informativo 524, STJ).
Pessoa Jurídica. Conceito. Início e fim. Natureza Jurídica. Teorias.
Desconsideração da personalidade jurídica. Pessoas jurídicas.
Classificação. Associações. Sociedades e Fundações.
Referência Legislativa: artigos 40 ao 69 da Lei n. 10.406/02 (Código Civil)

São entidades diversas da pessoa natural, solenemente constituídas pela reunião


de pessoas naturais ou de patrimônios, independentes da pessoa jurídica,
inclusive com patrimônio e personalidade distintas das pessoas que a
constituem, com determinado objetivo ou finalidade previsto no seu ato
constitutivo, cuja ordem jurídica reconhece como sujeito de direitos e
obrigações.
São grupos de pessoas (corporação) ou de bens (fundação) dotados de
personalidade jurídica própria e constituídos na forma da lei para consecução de
fins comuns. Têm individualidade própria com patrimônio e responsabilidade
independente de seus membros, pois a lei lhes confere capacidade de serem
sujeitos a direitos e deveres na esfera civil.

Finalidade: separação patrimonial, ou seja, o titular dos direitos e deveres da


pessoa jurídica não se confunde com a de seus membros, pois será dotada de
personalidade e patrimônio próprio.

Requisitos de formação
a) vontade humana criadora: agrupamento de pessoas ou de bens;
b) observância dos requisitos legais: ato constitutivo, registro e autorização (se
o caso);
c) licitude do objeto social;
d) finalidade.
NATUREZA JURÍDICA
São várias as teorias que buscam explicar a existência da pessoa jurídica. São
elas:
1. Teoria da ficção legal: a pessoa jurídica é uma ficção, uma criação da lei.
2. Teoria da equiparação: a pessoa jurídica é um patrimônio equiparado, no seu
tratamento, às pessoas naturais.
3. Teoria da realidade objetiva ou orgânica: a pessoa jurídica é uma realidade
social que o direito reconhece como organismo físico diverso das pessoas que a
constituem.
4. Teoria da realidade das instituições jurídicas: a personalidade jurídica seria
um atributo conferido pelo Estado.
5. Teoria da realidade técnica: a personalidade jurídica seria um atributo
conferida pela vontade humana criadora, dada a finalidade social atribuída a
nova pessoa.
Nosso código civil adotou uma teoria hibrida entre a realidade objetiva e
da realidade técnica , pois constitui pela vontade com determinada
finalidade e a lei reconhece como organismo distinto de seus membros.

INÍCIO DA PERSONALIDADE JURÍDICA

Personalidade Jurídica da pessoa jurídica  registro do seu ato constitutivo no


órgão competente
Antes do efetivo registro a pessoa jurídica existe de fato, mas não existe de
direto e, logo, não gozará das prerrogativas da separação patrimonial que
permeia a distinção entre os titulares das obrigações da pessoa jurídica e
natural.
Destarte, o registro tem efeito constitutivo (ex nunc) e não meramente
declaratório como o registro civil da pessoa natural (ex tunc).
 Início da existência legal da pessoa jurídica de direito público: decorre de
fatos históricos, de criação constitucional, de lei ou de tratados
internacionais.
 Início da existência legal da pessoa jurídica de direito privado: para sua
constituição passa por duas etapas:

o A primeira fase (ato constitutivo) decorre de uma manifestação da


vontade de criar uma entidade diversa de seus membros. Esta 1ª
fase compreende dois elementos: o material e o formal (objeto e
forma - Há pessoas jurídicas que necessitam de autorização especial
do governo, como as seguradoras e as administradoras de
consórcio).
o A segunda fase é a do Registro Público. O registro do contrato da
sociedade comercial é feito da Junta Comercial. As outras pessoas
jurídicas devem efetuar seus registros no Cartório de Registro Civil
das Pessoas Jurídicas.

CLASSIFICAÇÃO
Podem ser classificadas:
- Quanto à nacionalidade: nacionais e estrangeiras;
- Quanto à estrutura interna: conjunto de pessoas ou corporação (universitas
personarum, as associações, sociedades) e conjunto de bens ou fundação
(universitas bonorum, no caso, as fundações);
- Quanto à função e capacidade (art. 40 CC): pessoas jurídicas de direito
público e pessoas jurídicas de direito privado.
- As pessoas jurídicas de direito público, por sua vez,
subdividem-se em: pessoas jurídicas de direito público externo
(ONU, Nações Estrangeiras, Santa Sé), e pessoas jurídicas de
direito público interno de administração direta (União, Estados,
Municípios e Distrito Federal) e de administração indireta
(autarquias e fundações públicas).
- As pessoas jurídicas de direito privado compreendem (art.
44 CC): Corporações: agrupamento de pessoas com finalidade
comum dos membros. São elas:
a) Associações: não têm fim lucrativo, mas tão-somente
religioso, moral, cultural ou recreativo;
b) Sociedades Civis: grupos de pessoas que visam o lucro
com a atividade da pessoa jurídica formada;
c) Sociedades Comerciais ou empresariais: como nas
sociedades civis, também visam o lucro, mas se diferenciam
porque praticam atos de comércio;
d) Empresário individual: A empresa individual de
responsabilidade limitada (EIRELI) é aquela constituída por
uma única pessoa titular da totalidade do capital social,
devidamente integralizado, que não poderá ser inferior a 100
(cem) vezes o maior salário-mínimo vigente no País. O titular
não responderá com seus bens pessoais pelas dívidas da
empresa. (Fonte: Portal do empreendedor)
e) Fundações: universalidade de bens destinados a um
determinado fim (moral, assistencial, religioso ou cultural),
estipulado por seu fundador, a que a ordem jurídica reconhece
como pessoa jurídica; No caso específico das Fundações, a
sua criação passa por quatro fases e não apenas duas. A
primeira consiste da reserva de bens com indicação dos fins a
que se destinam pelo seu titular/fundador, através de escritura
pública ou testamento. A segunda fase é a elaboração do seu
estatuto social. A terceira é a aprovação do estatuto pelo
Ministério Público. E, a quarta, é a do registro público.
Podem ser:. 3.1.2 De direito privado - todas as demais (que não são previstas
em lei):

Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado: I - as associações; II - as


sociedades; III - as fundações IV – as organizações religiosas; (Incluído pela
Lei nº 10.825, de 22.12.2003) V – os partidos políticos. (Incluído pela Lei nº
10.825, de 22.12.2003) VI – Empresas Individuais de Responsabilidade
Limitada – EIRELI

DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA

A pessoa jurídica é titular de direitos e deveres e possui personalidade jurídica


distinta de seus membros, logo, possui responsabilidade própria e patrimônio
próprio para responder por seus deveres civis.
Separação patrimonial: os bens das pessoas naturais membros da pessoa
jurídica não se confundem com os da pessoa jurídica.
Entretanto, nos casos de comprovada confusão patrimonial entre o patrimônio
dos sócios com os da pessoa jurídica ou em caso de desvio de finalidade
ocorrerá o abuso da personalidade jurídica e, logo, poderá o juiz a requerimento
de interessado aplicar a desconsideração da personalidade jurídica para alcançar
o patrimônio pessoal dos membros com a finalidade de responder por seus
deveres legais.
Teoria do disregard (desconsiderar). Trata de ato meramente processual que não
desconstitui a personalidade jurídica da pessoa jurídica, mas a desconsidera a
fim de retirar a proteção patrimonial, naquele caso específico, para alcançar o
patrimônio de seus sócios e, assim, dar efetividade a uma obrigação ou um
dever não cumprido. (Enunciado 51 CJF) Requisitos: requerimento (parte ou
MP); intervenção judicial; desvio de finalidade ou confusão patrimonial (abuso
de direito, fraude a lei, excesso de poder, violação dos estatutos, falência ou
insolvência civil). Responsabilidade do autor do ato fraudulento: somente quem
tenha praticado o ato (Enunciado 7 CJF). Desconsideração inversa: Enunciado
283 CJF: transferência de bens do patrimônio pessoal ao patrimônio da pessoa
jurídica para prejudicar terceiros. Aplica-se a teoria ao revés para garantir o
cumprimento das obrigações civis.
ENTES DESPERSONIFICADOS

Alguns entes não possuem personalidade jurídica, mas dada a peculiaridade de


seu surgimento e sua natureza jurídica o ordenamento jurídico lhes atribui
representação processual e regras de administração.
São eles:
a) massa falida;
b) espólio;
c) herança;
d) condomínio.

Fim da personalidade jurídica da pessoa jurídica

Por se tratar de pessoa constituída por ato de vontade humana nada mais do que
aceitável que da mesma forma se extinga, pois bem a pessoa jurídica pode ser
extinta de maneira convencional por vontade de seus membros; extinção legal:
por determinação de lei, extinção administrativa: determinação do poder de
policia ou extinção judicial mediante processo de dissolução ou liquidação.

REQUISITOS:
Formalidades legais: art 45 e 46
- Ato constitutivo:
Associação  Estatuto
PJ com fins $$  Contrato Social
Fundações  Testamento ou Escritura Pública (doação)
- Registro do ato constitutivo:
Sociedades Civis (SIMPLES)  CRCPJ (Lei Registros Públicos)
Sociedades Comerciais (EMPRESÁRIAS)  Junta Comercial
Sociedades de Fato  Sem registro
- Autorização do governo: art 20, CC/02  seguradoras, caixas econômicas,
consórcios

CLASSIFICAÇÃO
1. NACIONAIS/ESTRANGEIRAS

2. CORPORAÇÕES OU FUNDAÇÕES

3. DE DIREITO PÚBLICO/DE DIREITO PRIVADO


3.1 DIREITO PÚBLICO:
a) DIREITO PÚBLICO INTERNO: poder público constituído
(União, Estados, DF, Municípios, Territórios, suas autarquias e
fundações). Art. 41. São pessoas jurídicas de direito público interno: I - a
União; II - os Estados, o Distrito Federal e os Territórios; III - os
Municípios; IV - as autarquias, inclusive as associações públicas; V - as
demais entidades de caráter público criadas por lei.
b) DIREITO PÚBLICO EXTERNO: submetidas ao direito
internacional público (as diversas nações, inclusive a Santa Sé, e os
organismos internacionais como a ONU, a OEA, a FAO, a UNESCO etc)
– art. 42, CC Art. 42. São pessoas jurídicas de direito público externo os
Estados estrangeiros e todas as pessoas que forem regidas pelo direito
internacional público
3.2 DIREITO PRIVADO (ASSOCIAÇÕES, SOCIEDADES,
FUNDAÇÕES, ORGANIZAÇÕES RELIGIOSAS, PARTIDOS
POLÍTICOS):
a) ASSOCIAÇÕES: sem fins $$ e geralmente não tem fim
patrimonial. Com fins: religiosos, morais, desportivos ou recreativos
(clubes) - O estatuto das associações conterá:
- a denominação, os fins e a sede da associação;
- os requisitos para a admissão, demissão e exclusão dos
associados;
- os direitos e deveres dos associados; d) as fontes de
recursos para a sua manutenção;
- o modo de constituição e funcionamento dos órgãos
deliberativos e administrativos;
- as condições para alteração das disposições estatutárias
e para a dissolução.
* Os associados devem ter direitos iguais, mas o estatuto poderá
instituir categorias com vantagens especiais.
* Nenhum associado poderá ser impedido de exercer direito ou função
que lhe tenha sido legitimamente conferido. - Compete privativamente
à assembléia geral: a) eleger os administradores; b) destituir os
administradores; c) aprovar as contas; d) alterar o estatuto. Para as
últimas duas deliberações necessário voto de 2/3 dos presentes.
Primeira convocação: maioria absoluta. Mais de 1/3 nas seguintes.
b) SOCIEDADES CIVIS (SIMPLES): com fins $$, visam lucro.
Mas a atividade principal não é comércio.

c) SOCIEDADES COMERCIAIS (EMPRESÁRIAS): com fins $


$, visam lucro. A atividade principal é comércio. I) tem por objeto o
exercício de atividade própria de empresário (art. 966); Art. 966.
Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade
econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de
serviços. Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce
profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda
com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da
profissão constituir elemento de empresa. II) Registro no Registro Público
de Empresas (Junta Comercial).

d) FUNDAÇÕES: acervo de bens, que recebe personalidade para


realizar fins determinados. Seus elementos são: patrimônio e fim
(estabelecido pelo instituidor e não lucrativo).
São sempre civis.
Universalidade de bens. Art. 62. Para criar uma fundação, o seu
instituidor fará, por escritura pública ou testamento, dotação especial de
bens livres, especificando o fim a que se destina, e declarando, se quiser,
a maneira de administrá-la. Parágrafo único. A fundação somente poderá
constituir-se para fins religiosos, morais, culturais ou de assistência.
- Etapas para a criação de uma fundação - há uma série ordenada de
etapas que devem ser observadas, a saber:
1º) Afetação de Bens Livres por meio do Ato de Dotação
Patrimonial, seja mediante Escritura Pública (para atos inter
vivos) ou Testamento (para atos causa mortis – público,
particular ou cerrado). O ato de instituição, acaso realizado
por mecanismo inter vivos, é irretratável.
2º) Elaboração dos Estatutos (não é contrato social); - Pode
ser: a) Direta: feita pelo próprio instituidor. b) Indireta ou
Fiduciária: quando nomeia alguém para fazê-lo.
3º) Aprovação dos Estatutos Quem aprova é o MP, na dicção
do art. 65 do CC: Art. 65. Aqueles a quem o instituidor
cometer a aplicação do patrimônio, em tendo ciência do
encargo, formularão logo, de acordo com as suas bases (art.
62), o estatuto da fundação projetada, submetendo-o, em
seguida, à aprovação da autoridade competente, com recurso
ao juiz.
4º) Realização do Registro Civil do Estatuto (no Cartório de
Pessoa Jurídica) A Alteração do Estatuto - Art. 67: Art. 67.
Para que se possa alterar o estatuto da fundação é mister que
a reforma: I - seja deliberada por dois terços dos competentes
para gerir e representar a fundação; II - não contrarie ou
desvirtue o fim desta; III - seja aprovada pelo órgão do
Ministério Público, e, caso este a denegue, poderá o juiz
supri-la, a requerimento do interessado. A minoria de
gestores vencida (aqueles 1/3 que opinaram em desfavor da
alteração), terão o prazo de 10 dias para impugnar a
modificação estatutária. Art. 68: Art. 68. Quando a alteração
não houver sido aprovada por votação unânime, os
administradores da fundação, ao submeterem o estatuto ao
órgão do Ministério Público, requererão que se dê ciência à
minoria vencida para impugná-la, se quiser, em dez dias. A
Fiscalização (§2°, art. 66) das fundações deve ser feita pelo
MP Estadual, ainda que as referidas as Fundações tenham
abrangência nacional, sendo a competência a da localização
da fundação.
e) EMPRESA INDIVIDUAL DE RESPONSABILDIADE
LIMITADA (EIRELI): é uma natureza jurídica criada por lei em
julho de 2010 e que pode ser constituída desde o dia 9 de janeiro de
2012. Ela possibilita a solução de vários problemas atuais, como a
situação de responsabilidade ilimitada do empresário individual e a
formação de sociedades limitadas com a participação de sócios, tais
como filho(a), mulher ou marido, ou terceiros com um percentual
mínimo, somente para atender o requisito de se ter um segundo sócio.
A EIRELI deve ter um titular, pessoa física maior de 18 anos (ou
menor antecipado), brasileiro ou estrangeiro, e capital mínimo de 100
vezes o maior salário-mínimo do País – totalmente integralizado,
sendo a responsabilidade do titular limitada ao valor do capital. O
titular pessoa física não poderá ter mais de uma EIRELI. A
administração deve ser exercida por uma ou mais pessoas podendo o
administrador ser o próprio titular ou não (confira os impedimentos
no Portal do Empreendedor). O titular, brasileiro ou estrangeiro,
residente e domiciliado no exterior deverá ter um representante no
País com poderes para receber citação judicial. O registro da EIRELI
será efetuado pelas Juntas Comerciais, órgãos executores do Registro
Público de Empresas Mercantis, mediante arquivamento de ato
constitutivo que observará, no que couber, as regras da sociedade
limitada. 
DOMICÍLIO CIVIL

Territorialidade  competências para obrigações

Lugar onde estabelece residência com ânimo definitivo, convertendo-o, em


regra, em centro principal de seus negócios jurídicos ou de sua atividade
profissional.

 Vida privada: relações internas (local de residência)


 Vida externa: social e profissional (local centro dos negócios jurídicos ou
ocupações habituais)

Podem ou não coincidir: art 70 e 72, CC/02.

MORADA  Lugar onde a pessoa natural se estabelece provisoriamente.

RESIDÊNCIA  noção de estabilidade. Local onde se estabelece


habitualmente.

DOMICÍLIO  abrange residência e morada. Ânimo definitivo, com


centro de seus negócios jurídicos e atividades profissionais.
 animus manendi : propósito de permanecer
 Necessidade e fixidez

ELEMENTOS DO DOMICÍLIO
a) OBJETIVO: fixação em um local determinado
b) SUBJETIVO: ânimo de permanência definitiva

A pessoa pode ter várias residências e um domicílio ou várias residências e


vários domicílios  PRINCÍPIO DA PLURALIDADE DOMICILIAR

 DOMICÍLIO APARENTE: ocasional. Art. 73 do CC/02: “ter-se-á por


domicílio da pessoa natural, que não tenha residência habitual, o lugar
onde for encontrada”. (Circo, andarilhos, ciganos)

 DOMICÍLIO DA PJ: Em regra, a SEDE. Se não localizada, onde


funcionam as diretorias e administrações. Se possuir filiais, cada um é
considerado domicílio para atos nele praticados. Nas PJ de Direito
Público, o art 75 determina os domicílios (União-DF; Estados/Territórios-
Capitais; Municípios-Adm. Municipal)

ESPÉCIES DE DOMICILIO

a) Voluntário: livre vontade do sujeito.


b) Legal ou necessário: mandamento da lei, por condição especial. Ex:
Incapaz (do seu representante ou assistente); Servidor Público (funções);
Militar (onde serve); Marítimo (lugar matrícula do navio); preso (onde
cumpre sentença).
c) De eleição: ajuste entre as partes. Famoso foro de eleição.
BENS

BENS: tanto algo material quanto algo imaterial.

Ex: cadeira ela é um bem tangível. (Podemos fazer negócios com ela.)
Direitos autorais são imateriais, ainda assim podem-se fazer negócios
com eles.

Coisas seriam, apenas, os bens materiais. Logo, coisa é um tipo de bens.


 

CLASSIFICAÇÕES

Os bens se classificam, pela própria lei, sob três aspectos: de acordo com sua
titularidade, por meio de comparação com outros bens, ou através da
consideração do bem isoladamente.
 
1- bens considerados em si mesmos:
 
a) Corpóreos são aqueles que têm existência física (material), perceptível pelos
sentidos (móveis, imóveis); incorpóreos são aqueles que têm existência
meramente abstrata, ideal, jurídica (p. ex. direitos autorais). A importância da
distinção reside no fato de haver diferença para a transmissão. Os bens
materiais são transferidos por meio de contrato de compra e venda ou doação;
os imateriais por cessão. Não existe a possibilidade de aquisição de bens
incorpóreos por meio de usucapião.

b) Imóveis (ou bens de raiz), segundo o art. 79 do CC são “o solo e tudo


quanto se lhe incorporar natural ou artificialmente”. A doutrina esclarece que
são aqueles que não se podem transportar sem alteração de sua essência, de sua
substância. Móveis são, de acordo com o art. 82, “os bens suscetíveis de
movimento próprio (semoventes), ou de remoção por força alheia, sem
alteração de sua substância ou da destinação econômico-social”.

A importância da distinção entre bens móveis e imóveis é verificada em


vários aspectos.

1- Quanto à forma de alienação: é livre em relação aos móveis, mas em


relação aos imóveis exige escritura pública para os bens de valor superior a
30 salários mínimos.

2- Quanto à necessidade de autorização do cônjuge: Via de regra as


negociações relacionadas aos bens imóveis exige anuência do cônjuge, sob
pena de anulabilidade do ato (art. 1647, com a ressalva de que a
autorização não será exigida se o regime de bens for de separação
absoluta); quanto aos bens móveis a exigência não existe.

3- Outro aspecto da distinção reside no tipo de direito real de garantia que


poderá ser constituído sobre o bem: em regra, os bens móveis podem ser
oferecidos em penhor, e em relação aos imóveis poderão ser objeto de
hipoteca.

Os imóveis podem ser:

1- Por natureza: solo e tudo que nele se incorporar naturalmente (subsolo,


árvores, espaço aéreo, etc.).

2- por acessão física, industrial ou artificial: é tudo que o homem


incorporar permanentemente ao solo (sementes, construções, edifícios).
Nos termos do art. 81 não perdem o caráter de imóveis as edificações que,
separadas do solo, mas conservando sua unidade, forem removidas para
outro lugar (ex. casa de madeira) e os materiais provisoriamente separados
de um prédio para nele reempregarem;

3- Por acessão intelectual ou por destinação do proprietário. Ex.


maquinários agrícolas, escada de emergência, ar-condicionado, armários
embutidos). Pelo novo CC são chamados de pertenças (art. 93), que
constituem uma categoria de bens acessórios.

4- Por determinação legal: Por imperativo de segurança jurídica, a lei


opta por tratar determinados bens como imóveis, embora não se pudesse
falar, em razão de sua natureza, em bens móveis ou imóveis. De acordo
com o art. 80, são considerados imóveis para efeitos legais: os direitos
reais sobre imóveis e as ações que os assegurem e o direito à sucessão
aberta.

Os bens móveis, por sua vez, podem ser classificados em:

1- Por sua própria natureza: são aqueles que podem ser transportados
sem deterioração de sua substância, por força própria ou externa.

2- Por antecipação: São aqueles bens que, embora ainda incorporados ao


solo são destinados a ser destacados e convertidos em móveis. Exemplo:
árvores destinadas a corte.
3- Por determinação legal: Também há bens que são considerados móveis
em razão da vontade do legislador, embora sejam bens incorpóreos. Trata-
se das hipóteses previstas no art. 83 do CC.

c) Fungíveis são os bens móveis que podem ser substituídos por outros da
mesma espécie, qualidade e quantidade. Infungíveis são os insubtituíveis. Os
imóveis, em princípio, serão sempre considerados bens infungíveis. Porém, é
possível que sejam tratados num determinado negócio como bens fungíveis.

d) Consumíveis são os bens móveis cujo uso importa destruição imediata da


própria substância, bem como aqueles que são destinados à alienação.
Inconsumíveis são aqueles que admitem uso reiterado, sem destruição imediata
de sua substância, ainda que haja possibilidade de sua destruição em
decorrência do tempo.

A presente classificação não se confunde com aquela que consta do art. 26 do


CDC (bens duráveis e não duráveis) e que envolve tempo maior ou menor do
consumo de determinado bem.

e) divisíveis e indivisíveis

f) Singulares são os bens que, embora reunidos, se consideram de per si,


independente dos demais. Os bens singulares podem ser: simples, quando suas
partes componentes encontram-se ligadas naturalmente; compostos, quando
seus elementos são unidos por ato humano. Os bens coletivos, universais, ou as
universalidades, são, por sua vez, aqueles que são compostos por vários bens
singulares, que, considerados em conjunto, formam um todo homogêneo. A
universalidade pode ser de fato, que é a pluralidade de bens singulares com
destinação unitária, ou de direito, que é o complexo de relações jurídicas de
uma pessoa, dotadas de valor econômico e que por isso, a ordem jurídica atribui
caráter unitário (espólio, patrimônio, massa falida). Etc.

II – Bens reciprocamente considerados: principal e acessório

De acordo com esta classificação os bens podem ser principais ou acessórios. O


bem principal (art. 92) é aquele que existe por si mesmo, que tem existência
própria (ex. o solo). Acessório é aqueles cuja existência supõe a do principal.

Os bens acessórios podem ser de vários tipos:

1- Frutos: São as utilidades que a coisa principal periodicamente produz e cuja


percepção não diminui a sua substância. Costuma-se dizer que são as utilidades
que nascem e renascem.
2- Produtos: São as utilidades que se retiram da coisa, diminuindo-lhe a
quantidade, e que não se renovam (pedras, metais, petróleo)

3- Pertenças: São os bens móveis que são afetados de forma duradoura ao uso,
serviço ou aformoseamento de outro bem, sem que sejam considerados suas
partes integrantes (art. 93).

4- Benfeitorias: São obras ou despesas realizadas pelo homem na estrutura da


coisa principal, com o propósito de conservá-la (benfeitorias necessárias),
melhorá-la (benfeitorias úteis) ou embelezá-la (benfeitorias voluptuárias).

III - bens quanto à titularidade do domínio:

A lei classifica os bens de acordo com sua titularidade, os quais podem ser
públicos ou particulares.

Existem três classes de bens públicos (art. 99):

1- Os de uso comum do povo, tais como rios, mares, estradas, ruas e praças. É
indiferente para a caracterização dos bens de uso comum que o uso seja gratuito
ou retribuído.

2- Os de uso especial, tais como edifícios ou terrenos destinados a serviço ou


estabelecimento da administração federal, estadual, territorial ou municipal,
inclusive os de suas autarquias. São aqueles bens públicos que se destinam
especialmente à execução dos serviços públicos e são utilizados exclusivamente
pelo poder público.

3- Os dominicais, que constituem o patrimônio das pessoas jurídicas de direito


público. São os bens públicos que não são afetados a uma atividade pública
específica. Os bens de uso comum e os de uso especial são inalienáveis; já os
dominicais podem ser alienados, nos termos da lei.
Os bens imóveis, para serem transferidos, precisarão de mais formalidades. Para
transferir a propriedade de uma casa, deve-se não apenas entregar a chave ao
novo dono, mas também fazer uma escritura pública. Essa formalidade é
chamada de ato de transcrição. Ao entregar a chave, apenas a posse está sendo
passada, não a propriedade.

E os bens móveis? Quando vendemos um carro, precisamos fazer escritura


pública ou apenas passar a documentação? Passa-se a documentação, que
também é um tipo de formalidade, mas não é escritura pública, portanto não
consideramos que se trata de uma formalidade propriamente dita. Formalidade
= escritura pública.

Nos móveis, o passar da propriedade é chamado classicamente de tradição.


Formalidade, para o direito, é a exigência da escritura pública.

Há três tipos de bens imóveis:

1. Por natureza
2. Por acessão natural
3. Por acessão industrial.

Art. 79

LIVRO II
DOS BENS

TÍTULO ÚNICO
Das Diferentes Classes de Bens

CAPÍTULO I
Dos Bens Considerados em Si Mesmos

Seção I
Dos Bens Imóveis

Art. 79. São bens imóveis o solo e tudo quanto se lhe incorporar natural ou
artificialmente.

O imóvel por natureza é o solo, a terra. Uma árvore veio a nascer nele, sozinha,
sem a interferência do homem. Aquela árvore será considerada um bem imóvel
natural ou por interferência do homem? Natural, obviamente. 
Acessão significa “incorporação”. Quando falamos em acessão, se queremos
tirar a árvore, haverá destruição. Se deseja-se desmembrar aquela acessão do
solo, obrigatoriamente ocorrerá uma destruição.

Aquela árvore, para o Direito, é considerada um bem imóvel por acessão


natural. Essa classificação de “natural“ é para os bens onde não existe a
interferência do homem. 

Se a árvore for plantada ou a casa for construída naquele terreno, aquela casa
agora será um bem imóvel por acessão industrial, chamado pelo Código de
“artificial”.
 

Art. 82

Apenas depois veremos o art. 81.

Seção II
Dos Bens Móveis

Art. 82. São móveis os bens suscetíveis de movimento próprio, ou de remoção


por força alheia, sem alteração da substância ou da destinação econômico-
social.

O artigo traz dois tipos de bens móveis. Os de locomoção própria e os que


dependem de pessoa para se locomover. Cachorros e animais em geral são os
semoventes. Mas também dizemos que existem os bens móveis que precisam de
força alheia para se locomover. São os “bens móveis propriamente ditos”.

Art. 83

Art. 83. Consideram-se móveis para os efeitos legais:

I - as energias que tenham valor econômico;

II - os direitos reais sobre objetos móveis e as ações correspondentes;

III - os direitos pessoais de caráter patrimonial e respectivas ações.


De novo há a preocupação do legislador em determinar a classificação de certos
bens móveis.

O inciso I não estava no antigo Código. A energia, por exemplo, é entendida,


pela doutrina, como bem móvel. Este inciso deve ser interpretado de forma
ampliativa, pois também se aplica para os casos de furto de wi-fi, linha
telefônica, TV a cabo, etc.

Fala também do direito real sobre um bem móvel. Garantia de bem móvel =
penhor. O penhor é um direito real, mas, como ele está ligado a bens móveis,
ele também será considerado bem móvel.

Por último neste artigo: fala-se também dos direitos pessoais de caráter
patrimonial. A fiança é um direito pessoal. Será equiparada a bens móveis. Para
isso, há uma regra: os direitos pessoais não entram nos bens moveis por regra,
apenas por determinação legal.

Art. 81

Art. 81. Não perdem o caráter de imóveis:

I - as edificações que, separadas do solo, mas conservando a sua unidade,


forem removidas para outro local;

II - os materiais provisoriamente separados de um prédio, para nele se


reempregarem.

O inciso II do art. 81 terá que ser comparado ao art. 84. O art. 81 trabalha com
bens imóveis. Por edificações, podemos tomar como exemplo certas casas de
madeira, que conseguem ser transportadas, desde que não sejam destruídas.
Assim, elas continuam como bens imóveis. Trailers não se encaixam aqui
porque não são edificações.

Art. 81, inciso II. Vamos primeiro para o art. 84, que fala de bens moveis.
Comprei uma janela para botar em casa. Ela não foi fixada ainda. Ela é
considerada bem móvel. Ao colocá-la, ela passa a ser bem imóvel por acessão
industrial. Em caso de reforma, em que a janela certamente voltará ao seu lugar,
ela continua sendo considerada bem imóvel. Se a reforma for tal que a janela
nunca mais será reaproveitada, ela voltará a ser móvel. São, portanto, três
situações:

1. A janela recém comprada, aguardando sua fixação – bem móvel;


2. A janela fixada em seu lugar – bem imóvel;
3. A janela temporariamente removida para uma eventual reforma – bem
imóvel

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