Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Personalidade Jurídica
Há muitas figuras importadas para o OJ português, que em outras jurisdiçõ es sã o consideradas
pessoas jurídicas, e no nosso nã o.
O que faz uma pessoa ser reconhecida como pessoa jurídica? Requere um reconhecimento
da lei e uma atribuiçã o de personalidade jurídica.
Toda a pessoa jurídica tem personalidade jurídica e judiciá ria (fazer parte de um litígio). Mas
nem todas as entidades que têm personalidade judiciá ria têm personalidade jurídica – ex:
condomínios; herança jacente.
Associações, fundações e sociedades – pessoas coletivas. Há outras pessoas fora destas
pessoas coletivas que outros OJs lhes reconhecem personalidade jurídica – fundos de
investimento (enviamos dinheiro para o fundo que depois investe em algo para nó s; ambos
somos comproprietá rios do dinheiro dos fundos. O fundo nã o tem personalidade jurídica, entã o
é preciso uma sociedade para fazer essa gestã o do fundo.).
Nos OJs onde nã o é necessá rio a intervençã o de uma sociedade para gerir esses fundos, em
alguns países existe uma entidade que é um mercado que tem personalidade jurídica. No nosso
OJ é necessá ria uma entidade jurídica que atue em nome do mercado.
A deposita dinheiro numa conta para beneficiar B, mas C é que regula o dinheiro – trust fund. É
uma figura do direito anglo-saxó nico.
1
Uma pessoa que nasça de forma completa e com vida adquire personalidade jurídica. Quando é
que o nascimento é considerado completo? É quando ainda está ligado ao cordã o? Está
completo antes ou depois do cordã o? Resposta: Basta sair do ú tero de forma completa. Se
acontecer alguma coisa ao bebé durante o parto, nã o adquiriu personalidade jurídica.
Nã o há definiçã o de vida na lei, mas há de morte. A definiçã o de vida é feita com aquilo que os
médicos consideram sê-lo e a sua definiçã o opõ e-se à de morte – está vivo o que nã o está morto.
Concepturo e nascituro
Concepturo: é a criança que ainda nã o foi concebida. PPV: a expetativa de alguém vir a ser
gerado no futuro.
À pessoa do concepturo há muito pouca proteçã o. Posso fazer negó cios jurídicos com
concepturos, todos os efeitos decorrentes desse negó cio jurídico sã o efeitos condicionais ao
nascimento completo e com vida. A lei reconhece a possibilidade de celebrar negó cios jurídicos
a favor do concepturo.
2
Art.68º/2 Presunçã o ilidível – chama-se presunçã o de comodiência. Em caso de dú vida,
consideramos que duas pessoas morrem ao mesmo tempo, se dependerem da sobrevivência
uma da outra.
Art.68º/3 Muitas vezes nã o se encontra o cadá ver, mas se for manifesta a sua morte, considera-
se falecido.
Também se discute a proteção legal do morto. Ex: proteçã o de imagem. A pessoa já nã o tem
personalidade jurídica, é possível alguma compensaçã o? A quem e a que tipo?
Difamaçã o de cadá ver é crime. O cadá ver é uma coisa, que tem uma proteçã o especial. O
cadá ver, quer do seu bem, quer a sua representaçã o, é feita através dos sucessores/familiares.
O direito civil protege pessoas falecidas, ingerências que essas pessoas teriam em vida pelos
seus sucessores, que têm legitimidade para pedir alguma compensaçã o, sendo titulares dessa
compensaçã o.
Capacidade jurídica
Implica a aquisiçã o da personalidade. A capacidade jurídica, há dois conceitos:
3
Capacidade de exercício
A capacidade de exercício, também chamada capacidade de agir, é a suscetibilidade que a
pessoa tem de exercer pessoal e livremente os direitos e cumprir as obrigaçõ es que estã o na sua
titularidade, sem a intermediaçã o de um representante legal ou o consentimento de um
assistente. É a possibilidade que cada pessoa tem de agir pessoal e diretamente. É praticar um
ato jurídico de forma livre e consciente.
Capacidade de exercício é saber se determinada pessoa naquele momento da sua vida tem o
discernimento para celebrar aquele negó cio em concreto, se a sua vontade é livre, esclarecida e
madura.
Um menor nã o tem capacidade de exercício, mas tem capacidade de gozo para fazer negó cios
jurídicos. Nã o pode fazê-lo sozinho. No fundo, é sobre perceber se naquele caso concreto a
pessoa específica pode exercer algo dentro da sua capacidade de gozo sozinho, de forma clara e
esclarecida. Ex: Um menor de 17 anos tem capacidade de exercício para celebrar um exercício,
mas nã o tem capacidade de gozo. Quem assina o contrato é o representante legal, porque a lei
lhe atribui poderes representativos. Quem é titular do negó cio de compra e venda é o menor.
28.02
Com exceçã o da incapacidade acidental, as outras formas de incapacidade podem ser supridas.
Na menoridade, a incapacidade de exercício é suprida pelos representantes legais.
À partida os atos praticados por quem nã o tem capacidade de exercício sã o nulos e quem nã o
tem capacidade de exercício sã o anulá veis.
Direitos de personalidade
Têm proteçã o civil e constitucional.
Sã o direitos absolutos – direitos oponíveis erga omnes (por qualquer pessoa contra
todos). Nã o sã o relacionais. A posiçã o minoritá ria doutriná ria, que inclui o MM, defende
que a oponibilidade a terceiros é uma vertente do carater absoluto dos DP, mas nã o
corresponde a todos eles.
4
Direitos de personalidade tipificados na CRP:
Art.24º CRP – direito à vida.
Art.34º CRP – inviolabilidade do domicílio e da correspondência.
Art.35º CRP – utilizaçã o informá tica.
Art.37º CRP – liberdade de expressã o.
Art.42º CRP – liberdade de criaçã o cultural.
Tutela da Personalidade
Art.70º/1 – coloca-se a questã o de se existe uma clá usula geral de proteçã o destes direitos por
força deste artigo ou nã o - clá usula geral de reconhecimento de direitos de personalidade
atípicos.
Alguns direitos estã o tipificados no có digo e outros na constituiçã o. Porém, nem todos os bens
de personalidade estã o protegidos por força de tipificaçã o legal, entã o fica a questã o de saber se
esta regra é de proteçã o geral de todos os direitos de personalidade, incluindo os atípicos.
Este artigo é uma clá usula geral de tutela dos DP – protege a personalidade física e moral, sendo
ainda possível proteger bens jurídicos nã o previstos no CC através da clá usula geral.
A doutrina nã o reconhece por força do art.70º/1 a existência de uma clá usula geral de
proteçã o de direitos de personalidade atípicos.
5
Art.70º/2 – temos legitimidade para pedir uma providência cautelar para impedir outrem de
danificar a minha imagem.
Pessoas falecidas
Art.71º/1 – Depois da morte existe proteçã o de determinados direitos sem prejuízo de lhe ter
extinguido a personalidade jurídica. A pessoa falecida nã o pode exercê-los, mas se houver
violaçã o dos seus direitos de personalidade, por força dos seus herdeiros, essa consegue obter
alguma proteçã o.
Art.71º/2 – nã o enumera quem tem legitimidade por ordem, qualquer um pode requerê-lo. Só
as pessoas que têm legitimidade é que podem requerer as providências.
Art.71º/3 – Só quem tem legitimidade para requerer providências é que pode, em nome do
falecido, dar o seu consentimento.
Direito ao nome
6
Se nã o existir o nome, nã o há direito ao nome. Nã o há um direito a ter nome, mas a partir do
momento que o nome existe, existem direitos que o protege.
Há dois tipos de nome: nome civil e profissional. Estes podem nã o ser o mesmo, e muitas vezes
nã o o sã o.
A forma como a lei protege o nome é tã o intensa, que podemos requerer que o tribunal todas as
providências necessá rias para que um terceiro nã o abuse da utilizaçã o do nosso nome e tudo
aquilo que nos identifique enquanto pessoa.
A proteçã o que o OJ dá à alcunha é extensível do nome. A alcunha pode ser protegida assim
como nome, se através daquela alcunha nã o se consegue identificar outra pessoa.
Art.72º/2 – nã o nos podemos aproveitar de ter um nome parecido a pessoa para obter um
benefício.
Em Portugal nã o somos livres de escolher qualquer nome, existe uma lista de nomes que nã o
podemos usar, nomes estrangeiros, etc…
7
No direito privado nã o se pode atribuir um benefício sem o seu consentimento. No caso da
relaçã o pais-filhos, os pais emitem ordens porque tem poderes funcionais; no caso do
trabalhador este consente no contrato de trabalho.
No caso das cartas confidenciais pode-se colocar legitimamente a questã o de saber se o
destinatá rio da carta fica automaticamente obrigado a nã o transmitir a um terceiro a
informaçã o por mera imposiçã o unilateral do emitente da carta.
Ex: envio um e-mail e digo que o destinatá rio tem de tratar a informaçã o como confidencial. Se
ficamos automaticamente obrigados a nã o transmitir essa informaçã o a terceiros, estamos no
fundo a limitar a esfera jurídica de outrem.
Há uma outra tese que junta as duas – a carta ou escrito tem natureza confidencial se o
emitente assim o exprime (expressa ou implicitamente) ou se, objetivamente, naquele
caso concreto devemos tratar a carta como confidencial de forma tratar os interesses do
emitente como confidenciais. – tese mista.
Há matérias que pela sua natureza nã o podem ser tratadas como confidenciais. Mesmo nos
contratos ou nas clá usulas contratuais em que as partes se comprometem a um dever de
confidencialidade, há sempre uma exceção – podem ser divulgadas certas informaçõ es em caso
de prá tica de atos ilícitos, ou por pedido de autoridades fiscais ou tribunais (nã o posso me
recusar a dar informaçõ es se uma autoridade o exigir). A confidencialidade, portanto, tem certos
limites.
Há pessoas que estã o, por força deontoló gica, sujeitas a deveres de confidencialidade – ex:
advogados; psicó logos.
8
Art.75º/1 – O destinatá rio de carta confidencial deve guardar reserva sobre o conteú do, nã o
podendo retirar algum benefício do seu conhecimento.
Art.75º/2 – Se quem receber a carta confidencial morrer, o seu autor pode pedir a remissã o
dessa informaçã o.
Qualquer pessoa do art.71º/2 pode requerer a restituiçã o da carta, protegendo o extravio ou
divulgaçã o da informaçã o.
Art.76º Este artigo tem uma regra que pode causar alguma dú vida quanto à sua legitimidade.
As cartas confidenciais só podem ser publicadas com o consentimento do autor. Ou com
suprimento judicial do consentimento:
Art.76º/2 - neste artigo quando remete o art.71º/2 exige-se que se siga a ordem, ao contrá rio
dos artigos anteriores. Quando o autor morre pode ser publicado sem o seu consentimento por
essas pessoas nele elencadas, seguindo a sua ordem.
9
O art.77º manda adaptar à s memó rias familiares e pessoais. Enquanto o art.76º aplica-se a
documentos que têm destinatá rio, aqui só se tem o autor. Por isso, neste caso só podem ser
publicadas com:
O legislador entende que memó rias familiares têm objetivamente natureza confidencial sempre.
Cartas de natureza nã o confidencial só podem ser divulgadas de forma que nã o contrarie uma
expectativa (vontade presumível) do autor.
Desta forma, há também uma proteçã o de informaçã o nã o confidencial.
Direito à imagem
10
Nota: Este artigo nã o se refere a outra coisa que nã o o retrato, a identificaçã o da pessoa. Nã o
quer dizer liberdade de fazer o que se quer com a aparência – tatuagens/piercings.
Art.79º/1 – o retrato de uma pessoa nã o pode ser ‘’lançada’’ no comércio se essa nã o prestou
consentimento. Isto inclui a captaçã o e utilizaçã o de imagem sem consentimento, que sã o à
partida puníveis. O consentimento pode ser dado depois da pessoa falecer pelas pessoas do
art.71º/2, seguindo a ordem.
Art.79º/2 – nã o é necessá rio o consentimento da pessoa retratada, por em casos excecionais:
Art.79º/3 – Contudo, a imagem nã o pode ser reproduzida nos casos excecionais se resultar em
prejuízo à honra ou reputaçã o.
1
2. Inclui outros familiares e alguns nã o familiares (amigos) que consideremos muito
pró ximos.
3. Inclui outras amizades, nã o tã o pró ximas – inclui até conhecidos com quem podemos
partilhar informaçã o pessoal. Nã o inclui relaçõ es profissionais.
11
Intimidade da vida privada é um conceito indeterminado e amplo – sã o situaçõ es em que
determinados contextos podem ser ingerências ilícitas na intimidade da vida privada.
O legislador procura dizer que devemos analisar cada caso do ponto de vista objetivo e
subjetivo para perceber qual a extensã o da reserva:
A revogaçã o tem efeitos retroativos, como se nunca tivessem sido limitados, e é unilateral
porque nã o depende da outra parte.
Nã o se deve confundir com o direito ao arrependimento, que é dado aos consumidores para
certos produtos nos termos dos quais em certas condiçõ es temos o direito de nos arrepender de
uma determinada compra e devolver o produto – tem uma regulaçã o pró pria.
Domicílio
Todas as pessoas devem ter um domicílio, quer pessoal quer profissional. A residência habitual
é muitas vezes o domicílio pessoal e portanto corresponde à pessoa. Esta informaçã o por vezes
é importante – para notificar, entregar um bem. Por essa razã o todos nó s temos de ter registado
nas finanças uma certidã o de domicílio fiscal para onde sã o enviados notificaçõ es, etc…
Dimensões do domicílio:
Domicílio eletivo – para certos atos podemos escolher um domicílio específico. art.84º
12
Ex: assino um contrato de compra e venda com alguém e normalmente nos contratos
existe uma clá usula de comunicaçõ es que indica a morada para comunicar – podemos escolher
uma qualquer.
13
Regime da ausência
Há 3 ‘’fases’’ da ausência:
Ausência definitiva;
Morte presumida.
O legislador confere proteçõ es diferentes conforme a ‘’fase’’. MM discorda com essa expressã o
porque o regime nã o é, propriamente, faseado; podemos ‘saltar fases’.
Ausência provisória
Se a pessoa que está ausente, ninguém sabe o seu ‘paradeiro’. Muito provavelmente existem
obrigaçõ es a cumprir e se a pessoa está ausente, este regime procura assegurar que, pelo
menos, há direitos que possam ser exercidos e assegurar que obrigaçõ es possam ser cumpridas
ainda na sua ausência.
A ausência implica também a inexistência de notícias – é necessá rio nã o saber onde está o seu
paradeiro e além disso nã o podem haver informaçõ es de onde a pessoa pode estar.
Art.89º/1 - Para se aplicar este artigo o ausente nã o pode ter deixado representante legal ou
procurador. Adicionado a isto, se há uma necessidade de administraçã o de bens deve o tribunal
nomear curador provisó rio.
Art.89º/2 -A procuraçã o é um negó cio unilateral, portanto nã o é necessá rio o consentimento e
por isso o procurador pode recusar-se a exercer funçõ es. Nesses casos deve o tribunal nomear
alguém.
Art.89º/3 - Pode ser um amigo, mas pode nã o ter expertise para um determinado negó cio, e
portanto para esse caso o tribunal nomeia um curador especial.
14
O Ministério Pú blico ou qualquer interessado pode requerer que o tribunal nomeie um curador
Conectar este artigo ao art.1678º/2/f. Cada um dos cô njuges pode administrar os bens do outro
cô njuge em ausência ou se nã o se souber o seu futuro.
Relaçã o de bens é uma expressã o jurídica que significa identificaçã o de bens. Vamos identificar
os bens do ausente e entregar ao curador provisó rio.
15
A curadoria é um ato sujeito a registo e toda a gente pode ver que aquela pessoa é curadora
provisó ria – atos registá veis. É com o registo e com a determinaçã o do tribunal que o curador
pode exercer certos atos.
Art.94º/2 – O curador tem de zelar pelos interesses do ausente – deve conservar os seus bens e
representá -lo em açõ es propostas contra ele.
Art.94º/3 – O curador só pode alienar ou onerar bens ou coisas com autorizaçã o judicial.
Art.94º/4 – A autorizaçã o judicial só é concedida para evitar a deterioraçã o dos bens.
Remeter ao art.1157º limitado nos termos do art.1159º.
O curador provisó rio deve prestar contas – justificar o que andou a fazer.
16
O curador pode ser remunerado por 10% da receita líquida que realizar.
Menezes Cordeiro – nem sempre se fazem atos que geram receita, entã o deve estar aberta a
possibilidade de remuneraçã o dele mesmo para atos que nã o envolvam a receita. Pode poder
exigir uma compensaçã o.
07.03
O regime da ausência provisó ria tem como objetivo proteger o ausente. O seu mecanismo de
suprimento é a curadoria provisória.
O regime da ausência definitiva o legislador pretende acima de tudo proteger os herdeiros. O seu
mecanismo de suprimento é a curadoria definitiva.
Ausência definitiva
Art.99º - Justificação da ausência
17
Na ausência provisó ria, nã o existe um limite temporal mínimo, podemos ficar como curador
provisó rio para sempre.
Na ausência definitiva, um dos critérios é 2-5 anos – carater temporal obrigató rio que nã o
existe na ausência provisó ria. Passado esse período de tempo assume-se que essa pessoa
provavelmente nã o vai voltar.
Art.100º - Legitimidade
18
As obrigaçõ es do ausente mantêm-se exigíveis durante toda a ausência provisó ria. Porém, na
ausência definitiva dá -se uma suspensã o das obrigaçõ es do ausente.
Art.107º - Caução
Existe a possibilidade de cauçã o. O tribunal pode exigir cauçã o tendo em conta o valor dos bens
e rendimentos.
Art.110º: Os poderes de curadores definitivos – o regime que lhe é aplicá vel é o mesmo
aplicado aos curadores provisó rios - art.100º que remete para o art.94º que remete para o
regime do mandato.
Quando alguém morre, a abertura da herança é feita à queles que sã o chamados à herança
(herdeiros)que por sua vez podem aceitar ou repudiar – nã o podem aceitar nem repudiar em
parte.
Herança cheia de encargos – casos em que faz sentido repudiar.
Repú dio ou aceitaçã o: sã o atos unilaterais que sã o feitos pelos herdeiros como um todo, nã o é
preciso evidências da morte para que os herdeiros possam aceitar ou repudiar a herança.
Art.109º/2 - a disposiçã o ou repú dio é resolutiva se o ausente reaparecer.
19
Só os descendentes e os ascendentes e o cô njuge que sejam nomeados curadores
definitivos têm direito, a contar da entrega dos bens, à totalidade dos frutos percebidos.
Se quiser, passado o prazo mínimo (art.99º), posso colocar uma açã o de curadoria definitiva, a
nã o ser que seja declarada morte presumida, nos termos do art.114º.
Morte presumida
A.114º - requisitos
20
Art.119º - regresso
A.115º - efeitos
Menoridade
Nã o existe definiçã o jurídica de criança. Os instrumentos que temos de proteçã o da
criança/jovens sã o de natureza convencional e internacional.
21
Incapacidade de exercício – incapacidade que a pessoa tem naquele momento de praticar um
negó cio de forma clara e esclarecida.
Menores – aqueles que têm menos de 18 anos.
Menores emancipados – menores que casaram e que têm idade mínima de 16 anos.
Os menores sã o incapazes de exercício por regra, mas há exceçõ es que permitem que o menor
pratique negó cios sem os pais a agir em representaçã o:
Soluçã o dos que defendem alteraçã o de regime: o CC foi escrito numa altura em que a
família tinha um peso grande, todo o paternalismo jurídico nã o toma em conta os vá rios
está gios de maturidade – vistos pela ciência que sustenta colocar em vá rios está gios
etá rios as diferentes etapas da maturidade. É possível ilidir de forma etá ria a
maturidade, e atribuir a cada patamar a capacidade para celebraçã o de certos negó cios
jurídicos.
Outra crítica: todos somos incapazes, mas há exceçõ es. Deve ser recomposta pela ideia
que os menores sã o capazes, mas incapazes como exceçã o, e nã o regra. Ou seja, inverter
a ló gica.
Art.122º - menores
Menor – quem já adquiriu personalidade jurídica, mas nã o atingiu 18 anos.
“É menor quem nã o tiver ainda completado dezoito anos de idade.”
Este artigo considera que os menores sã o, por regra, incapazes. Nã o têm capacidade para o
exercício de direitos.
Sã o incapacitados genericamente de exercer os seus direitos, por isso precisam dessa “mã o” que
aja por sua conta, em seu nome, em sua representaçã o, para celebrar esses negó cios.
22
Discute-se a questã o da capacidade de exercício do menor que para aquele negó cio tem
capacidade de gozo.
Tem capacidade jurídica? -> Tem capacidade de gozo? -> Tem capacidade de exercício?
Açã o de menor acompanhado antes de fazer 18 anos -> incapacidade de exercício mesmo apó s
maioridade.
23
Art.127º - exceções à incapacidade do menor
Este artigo elenca as exceçõ es à incapacidade dos menores, para que possam celebrar negó cios
jurídicos sozinhos. A contrario, todos os atos praticados pelos menores que nã o caiam neste
artigo sã o invá lidos. Portanto, excecionalmente vá lidos (anulabilidade).
Art.127º/1/a – o legislador quis distinguir atos de disposiçã o e de administraçã o – coisas que o
menor pode fazer com os bens adquiridos com o seu trabalho.
O menor que tenha 16 anos pode trabalhar. Adquiriu patrimó nio e desse patrimó nio adquirido
ele pode administrar ou dispor da forma que quiser. O sentido “trabalho” tem sentido amplo –
todo e qualquer prestaçã o de serviço. Nã o é preciso ter um contrato de trabalho, para usufruir
deste artigo.
Art.127º/1/b – alínea mais abrangente; valida negó cios jurídicos praticados por menores. A
forma como está escrita, indefinida, suscita em alguns casos questõ es sobre a sua aplicabilidade.
24
Ninguém discute que o negó cio que o menor faça para ir à cantina comprar comida seja
invá lido; Porém, se um menor comprar uma bicicleta de 15000 pode levantar problemas.
Se calhar, o poder financeiro que os poderes do filho do CR7 têm é diferente da média das
pessoas – para eles, se calhar, comprar essa bicicleta é de pequena importâ ncia. Se só olharmos
para o contexto social e financeiro do menor, podemos encontrar casos em que ao menor faça
sentido fazer um negó cio jurídico de menor importâ ncia, ainda que para outras pessoas seja de
maior importâ ncia.
Esta alínea diz “capacidade natural” – ninguém sabe o que é. Estando ao alcance da sua
capacidade natural, se implica despesa ou disposiçã o de bens – o menor também tem um acervo
patrimonial.
Nota: Os menores podem adquirir por usucapiã o; aderir a associaçõ es de natureza política.
Art.127º/1/c – os bens que respondem pelos atos praticados pelo ofício sã o os bens que o
menor vem adquirir em resultado dessa atividade. O que há é uma delimitaçã o à
responsabilidade dos menores.
Art.127º/2 – regra específica sobre responsabilidade. Todo o nosso patrimó nio responde pelas
nossas dívidas, mas para proteger o menor as suas dividas só incidem sobre os bens do menor
que resultam da sua profissã o/arte/ofício.
Nã o é incomum que os menores atuem com dolo em determinados atos que devem ser punidos
pelo desvalor - para o facto de ter agido em culpa. Portanto, o menor que agiu em dolo nã o pode
usufruir do mecanismo da anulabilidade do negó cio se contribuiu de forma dolosa para aquela
situaçã o; mas os pais podem.
25
O menor emancipado nã o deixa de ser menor, tem um regime especial. O legislador assegura um
regime equilibrado do casamento dos menores. O legislador dá poderes ao juiz para perceber se
há motivo para os pais nã o permitirem o casamento. Os menores que casam sem autorizaçã o, o
contrato é vá lido.
Caso prático 1
Isabel vive sozinha em Lisboa, no seu apartamento, no 5.º andar, esquerdo. Farta de estar em
quarentena preventiva, Isabel passa os dias a tocar piano. No entanto, preocupada pelo
bemestar dos seus vizinhos, Isabel toca apenas das 11h à s 20h.
a) Joã o e Maria, casados, vivem com a sua filha de 1 ano, Francisca, no 5.º andar, direito. Os
horá rios de sono de Francisca estã o trocados – como é, aliá s, habitual, em alguns bebés.
Joã o e Maria estã o furiosos com Isabel porque querem descansar durante o dia –
juntamente com a sua filha – e nã o conseguem. Por diversas vezes tentaram contactar
Isabel explicando-lhe a situaçã o e pedindo que reduza substancialmente, quer o nú mero
de horas que passa ao piano, quer o volume. Isabel nã o alterou o seu comportamento,
dizendo expressamente que está em estrito cumprimento da lei. Joã o e Maria querem
propor uma açã o em Tribunal com vista ao ressarcimento dos danos que esta conduta
causou à sua família.
Quid iuris?
26
b) Mafalda e Ana vivem no 4.º andar, esquerdo. Mafalda vivia nesse apartamento, sozinha,
desde 2014. No final de 2016, Mafalda passou a viver em uniã o de facto com Ana,
partilhando, naturalmente, a residência habitual com aquela. Devido à quarentena
preventiva de Isabel, e porque esta passa o dia inteiro a tocar, ainda por cima sempre a
mesma mú sica, Ana nã o consegue estudar de forma adequada. Ana dirige-se ao
apartamento de Isabel para pedir “esclarecimentos” e esta dá -lhe nota que, em 2015,
assinou um contrato com Mafalda nos termos do qual esta lhe dava a plena liberdade de
tocar a qualquer hora, mediante uma contribuiçã o mensal de EUR 50,00. Disse-lhe
também que, como vive agora com Mafalda, Ana apenas tem de aceitar a eficá cia do
contrato. Ana diz que, agora que se encontra num estado aná logo ao casamento, tem
poderes fazer extinguir, de forma unilateral e com efeitos imediatos, a renú ncia feita
pela sua unida de facto, Mafalda.
Pronuncie-se sobre todas as questõ es de Direito das Pessoas e Família que lhe pareçam
pertinentes.
Há um contrato celebrado por Isabel e Mafalda, em que Mafalda recebe 50 euros e Isabel toca a
mú sica. É um contrato de limitaçã o voluntá ria dos direitos de personalidade – art.81º. Devemos
interpretar o contrato, interpretando a clá usula que diz que pode tocar a qualquer hora
legalmente permitida.
O contrato apesar de vá lido, tem efeitos apenas e só para Mafalda; nã o pode afetar terceiros.
Celebramos um contrato vá lido e eficaz – mas afeta mú ltiplas pessoas. Nas relaçõ es internas
entre Mafalda e Ana esta tem de lhe explicar sobre o contrato feito. Ana nada pode fazer para
cessar o contrato de Isabel e Mafalda. O que Ana pode fazer é, pela mesma via que vimos à
pouco, mas de forma externa ao contrato, exigir que Isabel toque mais baixo ou nã o toque em
determinadas horas.
08.03
Grupo II
A Ana tem personalidade jurídica e capacidade de gozo para o exercício desse direito. Sendo
menor – art.122º tem incapacidade genérica de exercício – art.123º. No entanto, existem
diversas exceçõ es -art.127º.
Temos atos aquisitivos e atos dispositivos de bens. A forma mais fá cil é olharmos
cronologicamente para cada um dos atos.
Receber 500eur:
No seu patrimó nio, Ana recebeu 500 euros.
27
Equipa de voleibol amadora – nã o estamos no contexto de uma atividade profissional.
Art.127º/1 limita a atividade profissional para os 16 anos e só por isso estaria fora do â mbito de
aplicaçã o desse artigo.
Ela integra esta equipa – juridicamente está em causa poder haver um contrato de prestaçõ es de
serviços escolares, nos termos dos quais estã o diversas atividades incluídas – voleibol. É no
contexto desse contrato que surge essa remuneraçã o com natureza jurídica de prémio que tem
um tratamento jurídico pró prio. Para este efeito o sentido de prémio deve ser feito conforme os
usos. Os pais é que assinaram o contrato em seu nome.
Se é lícito que a Ana receba 500 euros pelo seu esforço – sim. Há uma aquisiçã o e um aumento
do seu patrimó nio.
Quando se fala de negó cios jurídicos entre menores, temos de olhar para as duas partes.
Art.127º/a – Ana nã o tem 16 anos – idade mínima. Para aplicar esta alínea teríamos de
fazer uma interpretaçã o extensiva para o “trabalho” e para a idade. É difícil fazer uma
interpretaçã o extensiva no sentido ampliar a idade apenas para um caso.
Art.127º/b – atos de gestã o corrente: Mike tem dú vidas que possamos o art.127º/1/b,
pois ninguém anda correntemente a vender medalhas. Esta alínea tem o problema de
nã o ser um negó cio decorrente da profissã o/arte/ofício. Mesmo assim, Mike acha que
esta seria a melhor soluçã o.
É um regime que nã o conseguimos utilizar o art.127º/1/a, b) nem c). A lei nã o nos dá uma
resposta só lida de qual alínea certa para aplicar.
O negó cio é um negó cio que nã o é da vida corrente – ela está a alienar um patrimó nio em troca
de dinheiro.
28
O legislador prefere que os menores tenham dinheiro do que tenham outros bens. Um menor
nã o pode fazer nada com uma medalha. Comprar uma medalha é menor ó bvio que se pudesse
fazer. A Ana está a trocar um bem que ganhou por algo que se esforçou. Ter demasiada liquidez
nã o é bom, mas é preferível ter liquidez para poder usá -la como método.
Perspetiva do Hugo: o Hugo é menor, pode comprar por 100 euros, visto que está quase na
maioridade. Nã o há jurisprudência que considere que Hugo nã o pode fazê-lo. Hugo tem
discernimento para fazer este negó cio.
Mais vale pensar na maturidade concreta de cada um – discernimento – e nã o há razã o para
dizer que o negó cio seria invá lido.
Compra do Kayak:
Ana pode comprá -lo?
Art.127º/1 – Ana nã o tem 16 anos.
Art.127º/b - Nã o é um negó cio da vida corrente; nem de pequena importâ ncia.
Art.127º/c – nã o tem nada a ver com comissã o.
É anulá vel nos termos do art.125º. A ú nica forma de dizer que o contrato é vá lido, é pela alínea
a) do art.127º - argumentar que é trabalho e desconsiderar a idade fazendo uma interpretaçã o
extensiva (de muito difícil argumentaçã o).
14.03
29
(que apenas devemos utilizar em termos de capacidade jurídica). Por isso resolveu-se substituir
os dois regimes por um só mais adaptá vel.
Interdito era aquele que sofria de uma anomalia física ou psíquica grave e cujo suprimento da
incapacidade era feita por representaçã o legal. Por sua vez, os inabilitados, que por serem
incapazes de algumas coisas ou por serem prodigalizados (incapazes de gerir o seu patrimó nio)
caiam dentro do escopo da inabilitaçã o – cujo suprimento era feito através curadoria.
Regime aberto permeá vel à situaçã o concreta. É um regime que protege manifestamente o
beneficiá rio do pró prio regime – o acompanhado.
Encontra-se nos art.138º e ss. Há determinados princípios nos quais o legislador assentou esta
reforma.
Art.138º - acompanhamento
Este regime só se aplica a maiores. As impossibilidades podem ser de saú de, do foro psicoló gico
ou físico, ou do comportamento (prodigalidade). Portanto, o maior de idade nã o consegue
exercer de forma plena e individual os seus direitos ou cumprir os seus deveres.
Aqui encontramos o princípio da necessidade: só e apenas só se aplica estas normas à s
pessoas que efetivamente necessitam deste regime para que consigam exercer os seus direitos e
cumprir os seus deveres.
A capacidade de exercício das pessoas a quem o regime se aplica – o beneficiá rio – é
judicialmente reduzida.
30
Princípio da judicialidade: regime do maior acompanhado pressupõ e a intervençã o do tribunal.
A natureza do acompanhamento é judicial – tem de ser feito um requerimento ao juiz (ó rgã o
judicial) e este olha para os factos, aprecia-os e faz uma ponderaçã o adequada face à s
circunstâ ncias concretas.
Nã o se pode beneficiar do regime do maior acompanhado de forma nã o judicial.
Princípio da necessidade: O requerimento já tem que conter provas que o beneficiá rio sofre de
alguns problemas.
A primazia do acompanhado indica que as medidas têm sempre como funçã o primá ria a
salvaguarda dos interesses do acompanhado – mas nã o só , como também que estas medidas
terminem com o tempo se tal for possível – princípio da supletividade. A primazia do
acompanhado gravita ao longo de todos os princípios.
O regime tem como vista a sua extinçã o: se for possível que o acompanhado recupere (volte a
adquirir a capacidade de exercer plena, livre e conscientemente os seus direitos) deverá ser
extinto o acompanhamento.
Este regime só será aplicado ú ltima ratio, se nã o houverem outros mecanismos de proteçã o
daquela pessoa em concreto.
Art.140º/1:
Art.140º/2:
31
Se a ú nica coisa que o potencial beneficiá rio precisar resulte do cumprimento direto do
dever de cooperaçã o do cô njuge nos termos gerais, entã o nã o se precisa deste regime,
porque já existe alguém juridicamente obrigado a dar auxílio. (isto resulta do
casamento)
Art.141º - legitimidade:
Art.141º/1:
O pró prio potencial acompanhado tem legitimidade para pedir ao tribunal este regime –
pode requerer unilateralmente e voluntariamente.
Art.141º/2:
Os jogos Santa Casa dã o a possibilidade de autoexclusã o para proteger a pró pria pessoa que se
quer autoexcluir.
Art.142º - menoridade:
Podemos colocar uma açã o de maior acompanhado, ainda no decorrer da menoridade para que,
assim que o menor fizer 18 anos, se aplique o regime do maior acompanhado, um ano antes de
atingir a maioridade.
O regime nã o é aplicá vel a menores emancipados.
32
Art.143º - acompanhante:
Elenca quem pode ser acompanhante.
Princípio da idoneidade – nem todos elencam como um princípio per se – Mike discorda. O
acompanhante tem de ser sempre alguém que é idó neo e que seja capaz de proteger a pessoa no
caso concreto.
Este princípio diz que devemos sempre respeitar a vontade real ou presumível do
acompanhado.
Art.143º/1 – O acompanhante é escolhido, regra geral, pelo acompanhado (ou o seu
representante legal no caso dos menores do art.142º) – princípio da primazia do
acompanhado. O juiz é que tem poderes para decidir, em ultima ratio, quem é o
representante.
Art.143º/2 – regra supletiva usada no caso de falta de escolha. Nã o deve ser interpretado de
forma linear, deve ser interpretado como “guidelines” – no caso concreto temos de ver quem é a
pessoa mais adequada. Porque há um princípio de proteçã o dos interesses do acompanhado, o
tribunal tem um dever de ofício de pessoas que nã o sejam idó neas.
O que se quer em ú ltima instâ ncia é a salvaguarda do melhor interesse do acompanhado. Assim,
sem prejuízo de se ter ouvido o acompanhado, o tribunal pode recusar e escolher outra da lista,
seguindo por ordem.
Art.143º/3 – podem ser designados vá rios acompanhantes para diferentes funçõ es.
33
Art.144º/1 – À partida temos a faculdade de recusar, a nã o ser que seja cô njuge, descendente ou
ascendente.
Art.144º/2 – Os descendentes podem ser exonerados apó s 5 anos se existirem outros
descendentes - rotatividade.
PPV: “o acompanhamento se deve limitar ao necessá rio e que é decidido em funçã o de cada
caso”.
34
e) Qualquer outro caso que seja necessá rio, se devidamente explicitado.
Como é que o acompanhante deve exercer as suas funçõ es? O acompanhante deve agir de forma
zelosa e diligente, como um bom pai de família. (art.487º/2).
Primazia do acompanhado.
Ló gica de continuidade e indefiniçã o do momento de cessaçã o. O regime é diferente – tem-se a
vista a recuperaçã o do beneficiá rio e quer-se a sua recuperaçã o. Assim que se vejam melhorias,
cessa automaticamente.
Art.146º/2 – deve visitá -lo, no mínimo, uma vez por mês. Pode ser mais.
Nem todos os negó cios e nem todos os direitos do acompanhado podem ser exercidos pelo
acompanhante, ainda que num regime de representaçã o geral – o legislador põ e um “travã o” aos
atos de natureza pessoal – atos jurídicos que se interligam com a ló gica do aumento da
capacidade de gozo das pessoas.
35
Sã o atos pessoais que ao longo da maturaçã o o ordenamento vai permitindo à s pessoas – o
acompanhante nã o se pode substituir ao acompanhado. Esses atos pessoais continuam a ser
livres e exclusivos do acompanhado.
Esses atos estã o elencados no art.147º/2: o acompanhante nã o pode “usar”: casar, perfilhar,
adotar, cuidar e educar filhos, escolher profissã o, descolar para outro país ou mudar de
residência…
Art.148º - internamento:
36
Art.151º - retribuição do acompanhante e prestação de contas:
Art.153º - publicidade:
Durante o processo poderá ser dado segredo, porque é de matéria de intimidade das pessoas.
A decisã o judicial é sempre pú blica e o maior acompanhado é sujeito a registo – princípio da
publicidade para todos terem o conhecimento que a pessoa beneficia do regime. Portanto, o
processo de acompanhamento é levado a registo que vai fazer fé pú blica (tornar pú blico) para
que terceiros que queiram negociar com o acompanhado possam saber que tipo de atos pode
fazer.
Os atos praticados pelo maior acompanhado que nã o respeitem as medidas que o tribunal
decretou sã o invá lidos pela anulabilidade – anulá veis.
MC – aplica o art.125º e 126º por analogia.
37
Art.156º - mandato com vista o acompanhamento:
Ex: Doença degenerativa – a pessoa pode ainda nã o estar impedida, mas pode celebrar um
contrato de mandato nos termos do qual diz a uma pessoa que fica mandatada para assumir as
funçõ es de acompanhante nestes termos. Assim, quem desenha as medidas de
acompanhamento será , neste caso, o acompanhado. Na altura em que se celebra o contrato de
mandato o acompanhado tem capacidade plena de exercício – pelo que as limitaçõ es que o
tribunal enfrenta para recusar aquilo que o acompanhado diz sã o maiores.
Pessoas coletivas
As associaçõ es sem personalidade jurídica nã o sã o pessoas.
As pessoas podem ser pú blicas ou privadas; singulares (seres humanos) e coletivas.
38
A figura da pessoa coletiva nasce da pandectista alemã como conceito abstrato, mas já existia
indícios desta materialidade desde o direito romano – polis como pessoa coletiva; o Estado
como figura sujeita a ser titular de direitos e estar adstrita a deveres.
Pessoa coletiva:
Sujeitas ao princípio da tipicidade – nã o podem ser constituídas outras entidades que nã o
estejam previstas na lei, porque a atribuiçã o de personalidade jurídica é uma prerrogativa do
Estado.
Nas sociedades comerciais, há tipos societá rios definidos pelo legislador que nã o podem ser
ultrapassados para criar um novo.
Ex: o trust nã o é uma pessoa coletiva, nã o tem personalidade jurídica.
Cará ter institutivo: instituiçã o de uma nova entidade que à partida se separa, de alguma
forma, dos seus constituintes.
A pessoa coletiva, embora seja para o direito uma pessoa, ela é administrada, representada,
gerida por uma multiplicidade de pessoas para diversos fins – lucrativos, nã o lucrativos,
proteçã o social, etc.
Toda a pessoa coletiva tem personalidade jurídica – fica adstrita a deveres e passa a ser titular
de direitos. A diferença está no momento de aquisiçã o da personalidade (nas pessoas singulares
é no momento do nascimento completo e com vida). Nas sociedades esse momento é com o
registo, na fundaçã o com o reconhecimento e nas associaçõ es depende.
Meios:
Os constituintes ou as pessoas que em momento anterior adquiriram os direitos de
associados/só cios/fundadores têm de colocar meios para que as pessoas possam agir em prol
do direito pú blico, atingindo os fins a que se destinam. Os meios sã o:
Indú stria;
Espécie.
39
As sociedades comerciais precisam de ter um capital social, e é a partir deste capital que vai
iniciar a atividade e que vai servir como o patrimó nio da pessoa coletiva.
Entã o e se for uma só pessoa a constituir uma sociedade – sociedades unipessoais, sociedades
constituídas por uma só pessoa em que o capital é todo do mesmo só cio. Nã o é uma
coletividade.
A ideia de coletividade baseia-se no que é o mais comum, mas há pessoas coletivas que nã o sã o
coletividades.
Substrato:
PPV: A personalidade coletiva é atribuída pelo Direito perante a verificaçã o do respetivo
substrato.
As pessoas coletivas têm um substrato fundamental.
PPV: O substrato é a realidade social que suporta a personalizaçã o. É constituído por um
complexo de realidades que têm que ser reunidas e que se traduzem em 3 momentos:
Pessoas;
Substrato;
Personalidade jurídica;
Fim lícito;
40
PPV:
Elemento pessoal:
Fundaçõ es: concentra-se na pessoa do fundador que institui a pessoa coletiva e lhe fixa o
fim que prossegue. O papel do fundador resume-se ao ato de fundaçã o. Os fundadores
muitas vezes mantêm o controlo.
Elemento patrimonial:
As pessoas coletivas carecem de meios para a prossecuçã o dos seus fins. Os meios sã o os bens
que os fundadores dotam a fundaçã o no ato da sua constituiçã o. Os bens constituem o
patrimó nio e sã o instrumentais à atividade da pessoa coletiva ou para a realizaçã o dos fins.
Sem patrimó nio as pessoas coletivas deixam de existir.
Capacidade jurídica
Capacidade de exercício:
PPV: As PC nã o têm consciência nem vontade pró prias como as pessoas humanas. A
formaçã o e a expressã o da vontade funcional necessita do suporte de ó rgã os. As pessoas
coletivas sofrem de uma genérica incapacidade de exercício, que será suprida por um
regime de representaçã o.
41
Capacidade de gozo:
Todas as pessoas coletivas estã o registadas no RNPC. Todas as PC têm um NIPC – nú mero de
identificaçã o. Por regra, o NPCC corresponde ao NIF.
Regime de aplicação:
O regime das pessoas coletivas no Direito Privado está dividido numa parte geral – art.157º a
166º; e depois temos partes especiais relativas à s associaçõ es, fundaçõ es e sociedades.
Os art.157º a 166º (parte geral) sã o sempre aplicá veis subsidariamente se nã o existirem regras
especificas, quer no Có digo das Sociedades Comerciais, quer em lei avulsa.
As associaçõ es que nã o tenham por fim lucro econó mico – entende-se que as associaçõ es podem
ter lucro, mas o seu fim nã o é lucro econó mico. As associaçõ es podem ter rendimento, e os
associados podem até ser remunerados, apesar de nã o ter expectá vel.
As associaçõ es, por regra, nã o podem ter açõ es de sociedades comerciais – por regra. No direito
alemã o, as associaçõ es podem distribuir lucros.
O objetivo é dizer que as associaçõ es se opõ em à s sociedades (que têm interesse em ter lucro).
42
Regra relevante ao momento de aquisiçã o de personalidade jurídica.
Art.158º/1 – o ato de constituiçã o de uma associaçã o por escritura pú blica, ou outro meio
legalmente admitido, resulta na aquisiçã o de personalidade, pendente o seu registo.
Sociedades: registo tem um papel mais pesado. O ato de elaboraçã o do contrato pode nã o
coincidir com o registo. Durante o período de tempo que medeia entre a celebraçã o do contrato
e o registo da sociedade comercial, a sociedade adquire ou nã o personalidade jurídica? Durante
esse período temos a pré-sociedade, que é um regime onde se reconhece que a sociedade já
existe, mas em relaçõ es com terceiros quem responde sã o os só cios (porque os terceiros nã o
“sabem” da sua existência).
Em todos, falamos de atos de natureza negocial, logo o art.280º seria, por si só , aplicado. Há
quem diga que este artigo é redundante.
Se interpretarmos este artigo tendo em conta apenas o objeto, excluímos o fim – por isso vamos
fazer uma interpretaçã o extensiva para incluir também um fim que seja contrá rio à lei. Assim,
sempre que o ato de constituiçã o da pessoa coletiva tenha por objeto ou fim algo contrá rio à lei,
pode o MP promover a declaraçã o da sua nulidade -> nã o é qualquer interessado, mas uma
autoridade.
Art.159º - Sede
43
As PC também têm domicilio – sede.
A sede deve ser o local onde está a direçã o efetiva da PC – os ó rgã os de direçã o. Mas, muitas
vezes a direçã o efetiva nã o é feita no local da sede e isto é relevante para efeitos fiscais. Na
prá tica, usualmente, a sede das sociedades comercias nã o corresponde ao lugar de direçã o
efetiva da PC (onde estã o os ó rgã os diretivos).
A sede é a que os estatutos fixam, ou o local onde funciona a administraçã o principal.
Art.160º - capacidade:
A capacidade de exercício das pessoas coletivas é suprida através dos diretores que
representam a sociedade. Mas é dú bio se as pessoas coletivas têm ou nã o capacidade de
exercício. Agora, o que é estabelecido é que tem capacidade de gozo.
Os fins de cada PC está definido no seu objeto no CAE.
A capacidade de gozo é definida no objeto. O objeto nã o inclui todos os atos assessó rios e
complementares que a pessoa coletiva precisa de fazer para prosseguir o seu fim – pelo que
encontramos o universo da capacidade de gozo quando cruzamos o objeto com todos os atos
que estas precisam de fazer para atingir os seus fins.
Isso nã o quer dizer que as pessoas coletivas só possam fazer o que está estritamente explícito.
Por exemplo, podem doar determinadas coisas – havendo algumas liberalidades para além do
fim estrito.
Há atos principais que sã o tendentes à prossecuçã o do fim, e há atos assessó rios que também
podem ser praticados. Ex. Crio uma associaçã o que tem como objetivo dar apoio a refugiados. É
preciso abrir uma conta bancá ria, para as pessoas fazerem doaçõ es. O ato de abrir a conta
bancá ria, que implica a celebraçã o de negó cios jurídicos, nã o está no objeto, mas é um ato
acessó rio ao objeto da sociedade;
Art.160º/2: remete-nos para determinados direitos que, por estarem vedados por lei ou por
serem insepará veis da sua personalidade jurídica, nã o podem fazer parte da sua capacidade de
gozo. Por exemplo, as sociedades nã o poderem ter herança.
Apesar de poderem receber da herança de pessoas por terem capacidade sucessó ria –
art.º 2033.
44
Bem, quando analisamos o art.º 2033/2/b) vemos que autonomiza pessoas coletivas de
sociedades. Quer isso dizer que as pessoas coletivas nã o sã o sociedades? O conceito de
sociedade do CC pode ser dú bio de interpretaçã o em determinados sentido, e por isso o có digo
esclarece que sã o os vá rios tipos de sociedade que as pessoas que interpretam poderiam pensar
(e achar a que nã o se referiam). ( Nsei se o MM falou)
Art.162º - órgãos:
Apesar de nã o estar aqui incluído, nã o existem associaçõ es nem sociedades sem ó rgã os
deliberativos. Existem vá rios argumentos para isto:
Porque a vontade dos associados é relevante para tomar decisõ es importantes (e isto
nã o se confunde com a competência dos ó rgã os de decisã o);
Porque estes artigos, sendo da parte geral, se aplicam à s associaçõ es, fundaçõ es e
sociedades – e como as fundaçõ es nã o têm assembleia geral, nã o se previu o ó rgã o
deliberativo na parte geral pese embora seja um ó rgã o necessá rio.
O que nã o está aqui previsto, mas que se discute muito é a questã o da mesa da Assembleia. Nã o
há dú vida que a Assembleia é um ó rgã o, mas será a mesa um ó rgã o autó nomo? A mesa tem
funçõ es muito relevantes (especialmente o presidente da mesa):
45
Convoca a assembleia;
15.03
Ontem vimos que há 3 tipos principais de pessoas jurídicas sujeitas ao princípio da tipicidade –
estã o tipificadas na lei.
O conceito de personalidade jurídica e capacidade de gozo e de exercício também se aplica à s
pessoas coletivas.
Art.163º - representação:
Publicidade:
46
No caso dos estatutos estes sã o pú blicas, o que significa que a associaçã o, sociedade ou
fundaçã o nã o tem a obrigaçã o ou o ó nus de demonstrar.
Art.164º e art.165º - responsabilidade dos membros da administraçã o e das PC. As PC, hoje em
dia, podem ser responsabilizadas criminalmente.
Quando aprovamos os estatutos definimos as competências dos ó rgã os (com os devidos limites,
sendo que nã o podemos simplesmente atribuir competências de administraçã o ao ó rgã o
fiscalizador, por ex.). Podemos definir, nos termos da autonomia, as competências e
responsabilidades, e também os tipos de relaçõ es obrigacionais que as estes tenham perante a
sociedade.
Nas sociedades comerciais há uma listagem de competências dos só cios e dos ó rgã os
que nã o podemos ultrapassar. Sã o critérios de imperatividade mínima que tenho de
assegurar, para além dos quais posso acrescentar outros.
Qual é o tipo de relaçõ es jurídicas que os titulares dos ó rgã os têm com as sociedades? A relaçã o
é muito parecida com a do mandato com representaçã o – os titulares sã o, por regra,
mandatá rios da sociedade. Isto coloca vá rias questõ es – um diretor de uma associaçã o é
47
remunerado através da sociedade com um contrato de trabalho, ou realiza prestaçã o de
serviços?
Art.165º - responsabilidade da PC
As pessoas coletivas podem ser responsabilizadas criminal e civilmente. Este artigo trata da
responsabilidade civil, e indica que a pessoa coletiva responde civilmente perante os atos das
pessoas que a representam nos mesmos termos em que os comitentes respondem pelos atos ou
omissõ es dos seus comissá rios. O art.165º remete para o art.500º da responsabilidade do
comitente e comissá rio.
Mas se o mandato é um negó cio jurídico que tem natureza obrigacional, porque é que utilizá mos
a responsabilidade extra-obrigacional e nã o a obrigacional? Na prá tica, porquê a remissã o ao
art.500º em vez do art.800º para aferir a responsabilidade sem culpa, quando reconhecemos no
art.164º que estamos a falar de um mandato? A doutrina minoritá ria fala da aplicaçã o do
art.800º através da derrogaçã o da letra da lei pela natureza obrigacional do mandato referido
no art.164º. Ex. de autor, Mota Pinto.
A relaçã o interna é uma relaçã o contratualista de mandato (obrigacional), mas em termos de
relaçã o com terceiros faz todo o sentido aplicar a relaçã o extra-obrigacional.
48
Assumimos, ao falar de associaçõ es, que sã o pessoas coletivas com personalidade jurídica. Se
nã o a tiverem, deve-se referir sob risco de se assumir que a têm.
Art.167º/1: mençõ es obrigató rias sob pena de nulidade. Inclui o ato constitutivo e o conteú do
estatutá rio.
Art.167º/2 – mençõ es optativas.
Património:
A PC, tal como a pessoa singular, tem de ter um patrimó nio. O patrimó nio é relevante para
efeitos de proteçã o dos credores. No caso das associaçõ es, quando se constituem, há
49
determinados bens/serviços que vã o integrar o patrimó nio da associaçã o ou o seu patrimó nio
social (nã o é das sociedades). Os associados sã o separados da associaçã o. Os associados criam
uma conta bancá ria que vai ser o patrimó nio da associaçã o e através dele sã o pagas as contas.
Porquê que é preciso ter patrimó nio? Para desenvolver a atividade e se poder manter. Até o
legislador proíbe a compensaçã o, mas os associados podem e devem colocar bens na associaçã o
que vã o ser usados na atividade.
Quotas - forma que a associaçã o tem para aumentar o seu patrimó nio.
O legislador entende que a assembleia geral nã o é um ó rgã o (mas o mikezã o já disse que é quase
unâ nime considerar como um ó rgã o – costume contra legem).
50
Este artigo deve ser conjugado com o art.162º. A eleiçã o deve ser feita pelos só cios na
assembleia, exceto se for estabelecido outro processo de escolha.
Posso constituir um ó rgã o com competência para nomear os titulares dos outros ó rgã os (ex.
conselho de associados e nã o associados). A designaçã o pode ser feita pela administraçã o ou
estatutariamente. Já a eleiçã o é feita pela assembleia geral.
Art.170º/2: há determinados direitos que posso ter assegurado no ato constitutivo e que, mais à
frente, a AG venha a revogar (≠destituir com justa causa). Aí, consigo assegurar que estes
direitos que obtive no ato de constituiçã o ficam salvaguardados.
Eleiçã o (vai a atos) vs designaçã o (ato direto de indicaçã o dos membros). Atençã o: o ato de
designar pode ir a votos.
21.03
Os ó rgã os sã o colegiais por natureza (com exceçã o do fiscal ú nico) e implica que os ó rgã os
deliberativos, à partida, têm 3 pessoas – manifestam a sua vontade através de deliberaçõ es, que
acabam por resultar de um conjunto de votaçõ es/vetaçõ es/opiniõ es pelas pessoas que fazem
parte dele.
Mesmo que nas reuniõ es seja permitida a participaçã o de entidades externas, nã o fazendo parte
da administraçã o nã o podem participar na votaçã o -> só os membros podem votar.
Quórum:
Art.171º/1 : Quó rum constitutivo – nú mero mínimo de presenças necessá rias para que o ó rgã o
colegial se possa considerar constituído e funcionar.
Art.171º/2: Quó rum deliberativo – nú mero mínimo de pessoas que compõ e o ó rgã o necessá rios
para que o ó rgã o delibere.
51
O presidente tem direito a voto de desempate.
Regra geral: maioria simples.
Membros não executivos: chamados para reuniõ es de plená rio; nã o têm funçõ es de
gestã o corrente. Têm 2 funçõ es: participam de decisõ es mais estratégicas do ó rgã o de
decisã o e, por outro lado, supervisionam e controlam a atividade dos executivos
(comum nas associaçõ es e grandes sociedades).
52
Art.173º - convocação da assembleia:
Retira-se por analogia da AR, que todos os administradores saibam previamente que pontos é
que se vã o discutir na reuniã o. Quem convoca tem de remeter atempadamente (prazo razoá vel)
os documentos necessá rios de suporte à ordem dos trabalhos.
Associaçõ es: o ó rgã o da administraçã o tem de ter competência para convocar a assembleia
geral.
Messa da Assembleia Geral:
A mesa da AG nã o é um ó rgã o.
Funçõ es: dá início à reuniã o, dirige os trabalhos, conta as votaçõ es mas pouco mais faz.
Quando as coisas estã o mal – divergências entre associados e só cios – o Presidente da
Mesa controla a assembleia e averigua sobre a legalidade de adicionar um ponto, é ele
que recebe pedidos dos só cios ou associados sobre adicionar ou retirar pontos, é ele que
ouve os associados no início…
Art.173º/1: A periodicidade das reuniõ es é o que está definido nos estatutos. Mas, devem haver,
pelo menos, uma reuniã o por ano.
Reuniõ es ordiná rias: previstas pelos estatutos e sã o exigidas por lei – pelo menos uma
vez por ano. – art.173ª/1.
53
As reuniõ es anuais sã o as reuniõ es ordiná rias, mas podem ser convocadas mais – reuniõ es
extraordiná rias ou ad hoc.
Art.173º/3:
Regra geral compete à administraçã o convocar. Vá lvula de escape: a qualquer associado é licito
efetuar a convocaçã o se a administraçã o nã o convocar a Assembleia nos termos em que devia
fazê-lo -> protege os associados se a administraçã o for omissa quanto ao ato de convocar;
associado pode convocar a AG de forma extraordiná ria.
O legislador pretende dar um nível de proteçã o aos associados (também se aplica à s sociedades
comerciais) no sentido de lhe dar transparência quanto ao que está a acontecer na vida da
pessoa coletiva: têm de saber o que se passa, o seu conteú do e os pontos da ordem de trabalho
que vã o ser discutidos na AG.
54
Conteúdo da convocatória: que informaçõ es é que a convocató ria deve ter sob pena de
impugnar uma AG:
Forma de votaçã o: depende do que está nos estatutos, se nã o, por regra nã o é secreta, a
nã o ser que seja um tema sensível que pressuponha que deva ser secreto – ex: exclusã o
de associados. A maioria das vezes, o voto é por consentimento -> na prá tica o que
acontece é que o presidente da mesa pergunta “quem vota a favor” e “quem vota contra”.
Mas também pode ser por “há alguém contra?”.
Pontos que dizem “outros assuntos”: qual o risco desse ponto? Os pró prios associados
tomam decisõ es sobre ir ou nã o à AG e ficam sem saber se vai ser abordado um ponto
importante nesses pontos indefinidos. Existe um ó nus de ir à s votaçõ es de pontos
definidos, mas nã o dos indefinidos. Tem-se entendido que “outros assuntos” é um ponto
da ordem de trabalho cujas deliberaçõ es possam ser impugnadas mais tarde – a nã o ser
que estejam todos presentes -> assembleias universais -> posso deliberar qualquer
assunto que nã o esteja na ordem de trabalhos pois estã o todos presentes. Exceçã o da
exceçã o: no entanto, se o ponto em concreto necessitar de um período de reflexã o das
pessoas, nã o é possível. O período de 8 dias prevê este período de reflexã o, que nã o será
possível em pontos nã o definidos que desse período necessitem.
Opinion del Mikel Mourati: se estivesse estado presente teria tido oportunidade de discutir e
participar na deliberaçã o, influenciando a decisã o. Nã o tive a oportunidade e por esse motivo
posso impugnar.
Art.174º/2: sã o anulá veis as decisõ es sobre matérias estranhas à ordem do dia, salvo se todos
os associados estiverem presentes e concordarem com a deliberaçã o/discussã o de outros
assuntos. Prevalece o principio da autonomia privada.
Art.175º – funcionamento:
55
Art.175º/1 – este artigo indica que há a necessidade de um quó rum constitutivo para se poder
deliberar.
O que acontece na prá tica é que logo no primeiro aviso da convocató ria se diz quando será a
reuniã o, e que caso nã o haja quó rum constitutivo a segunda convocaçã o fica desde já feita para
o mesmo dia umas horas depois. Apesar de se fazer muito isto na prá tica, o objetivo da lei é que
esteja presente a maioria dos associados – e é muito difícil (na maior parte dos casos) que os
associados possam aparecer entre um período tã o curto de tempo. Assim, entende-se que deve
haver um prazo razoá vel.
A ideia é permitir que o ó rgã o tenha deliberaçõ es com pelo menos a maioria dos seus membros.
Esta regra procura despachar o funcionamento das assembleias. O que se tem entendido é que
tem de existir um período de tempo razoá vel entre a primeira convocaçã o e a segunda – por ex:
48 horas, 1 dia, 2 dias etc…
Se nã o aparecerem na segunda convocaçã o, iniciam-se normalmente os trabalhos.
Normas de imperatividade mínima – a lei determina um nú mero, mas os estatutos podem exigir
um nú mero superior (ex: unanimidade):
Art.175º/3: alteraçõ es de estatutos – é necessá rio maioria qualificada (¾) dos associados
presentes.
Situaçã o jurídica dos que nã o estã o presentes: ó nus. É um ó nus estar, se nã o estou sujeito-me ao
que acontecer na reuniã o.
56
Art.175º/5: alteraçõ es de maiorias. Norma imperativa mínima – os estatutos podem afastar a
norma e podem exigir um nú mero superior aos anteriores.
Em primeiro lugar, devemos recordar que as deliberaçõ es sã o negó cios jurídicos, e por isso o
princípio geral é o da anulabilidade.
57
Qualquer deliberaçã o que seja tomada nã o respeitando as formalidades prévias e contra os
estatutos e a lei, pode ser impugnada e é viciada pela anulabilidade – art.178º.
Se o objeto for contrá rio à lei aplica-se a regra do art.280º - deliberaçã o é nula.
Prazo: 6 meses.
Legitimidade para arguir: associado que nã o votou na deliberaçã o ou ó rgã o da administraçã o.
Se um associado que nã o foi regularmente notificado, o prazo só começa a contar quando ele
conhecer que ele teve da deliberaçã o da assembleia.
Atas:
Documento com vá rias funçõ es: controlar as presenças; documento probató rio do que se
passou na reuniã o e em especial das decisõ es tomadas. É com a ata que se vai ao registo ver a
quem nomear o administrador.
Deve ser específica ao ponto de refletir o que se passou nas AGs.
Quem escreve os atos, por regra, é o secretá rio – lavrar a ata, interpreta o que a pessoa está a
dizer, parafraseando as interpretaçõ es. Quem tem legitimidade para escrever os atos, é o
secretá rio da mesa. Só que a perceçã o que as pessoas têm daquilo que foi transmitido pode nã o
corresponder à intençã o da declaraçã o da pessoa. Entã o, é dada sempre a possibilidade da ata
poder circular pelos presentes para que eles possam, se possível, reescrever ou sugerir
intervençõ es de texto das suas intervençõ es (que nã o podem ser manifestamente diferentes
daquilo que disseram). Em momentos de conflito o texto da ata é fundamental, e por isso, os
associados/só cios/membros recusam assinar a ata por entenderem que o que está escrito na
ata nã o corresponde ao que se passou -> gera conflitos, nã o assinatura da ata faz com que nã o
seja eficaz e todos devem assinar -> sançõ es para quem nã o assina sem explicaçã o.
58
O problema das atas e o texto: quem escreve as atas é, por regra, o secretá rio de mesa (tem
legitimidade) - só que a perceçã o que as pessoas têm daquilo que foi transmitido é muitas vezes
diferente da intençã o da declaraçã o da pessoa. Entã o, é dada sempre a possibilidade da ata
poder circular pelos presentes para que eles possam, se possível, reescrever ou sugerir
intervençõ es de texto nas suas intervençõ es (que nã o podem ser manifestamente diferentes
daquilo que disseram). Em momentos de conflito o texto da ata é fundamental, e por isso, os
associados/só cios/membros recusam-se a assinar a ata por entenderem que o que está escrito
na ata nã o corresponde ao que se passou -> gera conflitos, nã o assinatura da ata faz com que
nã o seja eficaz e todos devem assinar -> sançõ es para quem nã o assina sem explicaçã o.
1ª parte: norma supletiva. A nã o ser que haja norma estatutá ria ou legal que diga o estado do
associado possa ser transmissível, ele é intransmissível porque tem natureza pessoal (mortis
causa e entre vivos).
2ª parte: norma imperativa (até ao ponto e vírgula). Quaisquer direitos pessoais que resultem
da qualidade de associado, o associado nã o pode incumbir a terceiro para exercê-los.
A qualidade de associado é um estado (ex. estado de solteiro). E essa qualidade tem uma
natureza estritamente pessoal – isto é, nã o a posso transmitir a outro (ex. transmitir mortis
causa). Esta regra é, no entanto, supletiva. Já a segunda parte é injuntiva – se eu tiver adquirido
direitos que estejam intrinsecamente ligados à minha qualidade de associado nã o posso fazer
com que um terceiro seja beneficiado por eles.
59
Art.181º - efeitos da saída ou exclusão:
60
Nã o é pelo facto de existir a declaraçã o de extinçã o que os ó rgã os sociais automaticamente se
extinguem. Por exemplo a liquidaçã o do patrimó nio social pode nã o estar prevista nos estatutos
e necessitar de intervençã o dos ó rgã os. Também para a ultimaçã o de negó cios pendentes
podem intervir (ex. já tinha realizado um negó cio de entrega de coisa, e vou ter que a entregar
mesmo já estando extinta).
Os administradores que praticarem estes atos nã o vã o ser individualmente responsabilizados,
havendo uma responsabilidade solidá ria de todos.
Diferenças:
1. Personalidade jurídica:
Nas associaçõ es sem personalidade jurídica há uma ausência da obrigatoriedade de
registo – nã o têm, portanto, um NIPC. É um corolá rio da liberdade associativa
constitucionalmente prevista.
2. Natureza do patrimó nio:
Nas associaçõ es com personalidade jurídica, os associados contribuem para o
patrimó nio e a partir dele constituem uma pessoa jurídica (associaçã o) e desenvolvem a
sua atividade. Os associados que nã o contribuírem para o patrimó nio nã o sã o
comproprietá rios do patrimó nio social, e nã o têm direito a uma quota parte, a nã o ser
em caso de liquidaçã o. É um patrimó nio autó nomo que nã o se confunde com o
patrimó nio dos associados.
Nas associaçõ es sem personalidade jurídica o regime é diferente. Nã o temos patrimó nio
social nem compropriedade. Têm um fundo comum que é diferente do patrimó nio social
– nesse os associados comungam do fundo na medida da sua participaçã o.
61
Art.195º - organização e administração:
Art.195º/1 – em bom rigor a admissibilidade das associaçõ es sem personalidade jurídica resulta
de um preceito da CRP – Liberdade de associaçã o (art.46º), que nã o indica expressamente a
necessidade de ter personalidade jurídica.
Por outro lado, também há casos de associaçõ es que procuram ter personalidade jurídica e por
algum motivo a conservató ria nã o deixou (foram barradas), e ficam como associaçõ es sem
personalidade jurídica. Assim, mantêm a estrutura de associaçã o, mas aplica-se-lhes o regime
dos art.195º e seguintes.
Assim, nestas associaçõ es sã o aplicadas as regras estabelecidas pelos associados (tipo
estatutos), e podem nem sequer ter documentos formais.
Art.195º/2:
Registo: numa associaçã o com personalidade jurídica assume-se que se sabe quem sã o os
administradores, pelo que os terceiros nã o se podem opor. Mas numa associaçã o sem
personalidade jurídica nã o há registo – como é que os terceiros sabem quem é que sã o os
administradores? Os terceiros podem opor – a nã o ser que saibam.
O sentido desta norma é que nã o tenho o dever de saber quem sã o os administradores de uma
associaçã o sem personalidade jurídica.
É mais uma das distinçõ es entre associaçõ es com e sem personalidade jurídica – a falta de
publicidade obrigató ria em determinados assuntos. Art.º 201-A
62
As associaçõ es com personalidade jurídica têm ‘patrimó nio autó nomo’ face aos associados,
enquanto nas associaçõ es sem personalidade jurídica há a figura do ‘fundo comum’ – que está
no meio dos regimes do patrimó nio e da compropriedade. É isso que está previsto no art.196º.
Ao contrá rio das associaçõ es com personalidade jurídica que têm patrimó nio social obrigató rio,
nã o é obrigató rio as associaçõ es sem personalidade jurídica terem um fundo comum.
Ao contrá rio da compropriedade em que temos uma quota de um bem, no fundo comum, temos
uma percentagem de todo o ‘bolo’ – nã o se é comproprietá rio do bem, temos direito a uma
percentagem que é igual a todos os outros.
O processo de distribuiçã o dos bens chama-se divisã o de coisa comum, que é diferente da
compropriedade.
É um patrimó nio autó nomo, constitui o patrimó nio dos associados para efeitos de créditos -> o
que o associado tem direito depende da percentagem que contribuiu. Ex: contribui com 5000
euros, e o fundo comum é 500 000 euros, o associado fica com a percentagem disso que
contribuiu.
No regime da compropriedade vou olhar de forma singular e ver qual é a quota que cada uma
das partes tem, na compropriedade só posso olhar para bens individualizados e nã o para todo o
bolo – o credor de forma singular pode ir a cada um deles. No fundo comum, o credor está
limitado à percentagem total da sua participaçã o – os credores olham para o bolo e nã o para
cada um dos bens.
63
Solidariedade: se a dívida é de 100, o credor nã o quer saber qual devedor é que deve o quê, ele
escolhe qualquer associado e exige-lhe os 100 -> vai a um qualquer devedor exigir o
cumprimento total da dívida, e depois os associados é que, entre si, decidem quem é que deve o
quê.
Solidariedade ativa do credor. Solidariedade passiva do devedor.
Comissões especiais:
Art.199º - comissões especiais:
Fundações
As normas do CC sobre as fundaçõ es estã o replicadas na Lei-Quadro das Fundaçõ es – Lei
24/2012.
As leis quadro estabelecem uma cú pula (ingleses chamam de umbrella) – ‘chapéu’ que regula os
atos normativos sobre aquele tema (fundaçõ es, neste caso).
64
Hierarquia:
Se houverem normas no Có digo Civil contrá rias à Lei-Quadro, prevalece esta ú ltima.
Tipos de fundações:
Há três tipo de fundaçõ es – pú blicas per se, mistura de capital pú blico e privado (quem é
que tem influência dominante) e privadas per se. A LQ indica os tipos de fins que as
Fundaçõ es podem prosseguir.
Fundaçõ es privadas: podem ser instituídas pela Administraçã o mas nã o podem exercer
influência dominante. Sã o criadas por negó cios jurídicos unilaterais, por um ou mais
fundadores, que têm de alocar um patrimó nio e autonomizá -lo em momento anterior ao
momento de instituiçã o de personalidade.
A vontade do fundador deve ser tida em conta, mas no momento em que o fundador aloca o
patrimó nio à fundaçã o, ele nã o deve, salvo raras exceçõ es, participar na sua vida
corrente/administraçã o,
65
resolução dos problemas habitacionais das populações; y) O combate a qualquer forma de
discriminação ilegal.
3 - Para efeitos da presente lei-quadro, consideram-se: a) «Instituição» ou «criação», a atribuição
de meios patrimoniais à futura pessoa coletiva fundacional; b) «Fundador» ou «instituidor», a
entidade que realiza a atribuição de meios patrimoniais à futura pessoa coletiva fundacional; c)
'Apoio financeiro', todo e qualquer subsídio, subvenção, auxílio, ajuda, patrocínio, garantia,
concessão, doação, participação, vantagem financeira ou qualquer outro financiamento
independentemente da sua designação, temporário ou definitivo, que sejam concedidos pela
administração direta ou indireta do Estado, regiões autónomas, autarquias locais, outras pessoas
coletivas da administração autónoma e demais pessoas coletivas públicas; d) 'Rendimentos', os
aumentos nos benefícios económicos durante o período contabilístico, na forma de influxos ou
aumentos de ativos ou diminuições de passivos que resultem em aumentos nos fundos
patrimoniais.
4 - Para efeitos do disposto na alínea c) do número anterior, não se consideram financiamento os
pagamentos efetuados a título de indemnização ou derivados de obrigações contratuais, nem as
verbas decorrentes de candidaturas a fundos comunitários.
Art.3º/2: Lista nã o exaustiva dos fins de interesse social. O fundador nã o pode constituir uma
fundaçã o da qual venha a beneficiar – pois o objetivo é ser altruístico.
Art.3º/3: Fundador é a futura pessoa coletiva.
66
exclusivamente por pessoas coletivas públicas nos termos da lei quadro dos institutos públicos,
aprovada pela Lei n.º 3/2004, de 15 de janeiro, alterada pela Lei n.º 51/2005, de 30 de agosto,
pelo Decreto-Lei n.º 200/2006, de 25 de outubro, pelo Decreto-Lei n.º 105/2007, de 3 de abril, pela
Lei n.º 64-A/2008, de 31 de dezembro, pelo Decreto-Lei n.º 40/2011, de 22 de março, pela
Resolução da Assembleia da República n.º 86/2011, de 11 de abril, pela Lei n.º 57/2011, de 28 de
novembro, e pelo Decreto-Lei n.º 5/2012, de 17 de janeiro, doravante designada por lei quadro dos
institutos públicos; c) «Fundações públicas de direito privado», as fundações criadas por uma ou
mais pessoas coletivas públicas, em conjunto ou não com pessoas de direito privado, desde que
aquelas, isolada ou conjuntamente, detenham uma influência dominante sobre a fundação.
2 - Considera-se existir «influência dominante» nos termos do número anterior sempre que exista:
a) A afetação exclusiva ou maioritária dos bens que integram o património financeiro inicial da
fundação; ou b) Direito de designar ou destituir a maioria dos titulares do órgão de administração
da fundação.
3 - Persistindo dúvidas sobre a natureza privada ou pública da fundação, prevalece a qualificação
que resultar da pronúncia do Conselho Consultivo, nos termos da alínea c) do n.º 6 do artigo 13.º
4 - Caso as pessoas coletivas públicas deixem, supervenientemente, de deter influência dominante
sobre uma fundação pública de direito privado, a fundação pode ser requalificada na sequência de
pronúncia nesse sentido, mediante parecer obrigatório e vinculativo, do Conselho Consultivo.
Fundaçõ es privadas: criadas por 1 ou mais pessoas de Direito Privado (capital privado) ou
Pessoa Pú blica q nã o exerça influência dominante.
Fundaçã o publica: regime especial. Se a pessoa coletiva for de direito pú blico, se exercer
influência dominante ou tiver o direito de designar os ó rgã os da administraçã o.
Fundaçã o pú blica de direito privado: capital pú blico ou de influência pú blica dominante.
Art.20º - reconhecimento:
67
1 - Sem prejuízo das competências das regiões autónomas nos termos do disposto nos respetivos
estatutos político-administrativos, o reconhecimento de fundações privadas é da competência do
Primeiro-Ministro, com a faculdade de delegação, e observa o procedimento estabelecido nos
artigos seguintes.
2 - O reconhecimento de fundações importa a aquisição dos bens e direitos que o ato de instituição
lhes atribui.
3 - Instituída a fundação e até à data do seu reconhecimento, o instituidor, os seus herdeiros, os
executores testamentários ou os administradores designados no ato de instituição têm
legitimidade para praticar atos de administração ordinária relativamente aos bens e direitos
afetos à fundação, desde que tais atos sejam indispensáveis para a sua conservação.
4 - Até ao reconhecimento, o instituidor, os seus herdeiros, os executores testamentários ou os
administradores designados no ato de instituição respondem pessoal e solidariamente pelos atos
praticados em nome da fundação.
5 - A delegação referida no n.º 1 abrange todas as competências atribuídas à entidade competente
para o reconhecimento na presente lei-quadro.
Nem todas as fundaçõ es privadas têm estatuto de utilidade pú blica (isto tem outros benefícios
fiscais).
Art.26º – órgãos:
68
1 - Constituem órgãos obrigatórios das fundações privadas: a) Um órgão de administração, a
quem compete a gestão do património da fundação, bem como deliberar sobre propostas de
alteração dos estatutos, de modificação e de extinção da fundação; b) Um órgão diretivo ou
executivo, com funções de gestão corrente; c) Um órgão de fiscalização, a quem compete a
fiscalização da gestão e das contas da fundação.
2 - As fundações podem ainda ter um ou mais órgãos facultativos, nomeadamente um conselho de
fundadores ou de curadores, com a missão de velar pelo cumprimento dos estatutos da fundação e
pelo respeito pela vontade do fundador ou fundadores.
3 - Os mandatos dos membros dos órgãos da fundação não podem ser vitalícios, exceto os dos
cargos expressamente criados pelo fundador ou fundadores com essa natureza no ato de
instituição.
Ó rgã os obrigató rios – Art.26º/1: ó rgã o de deliberaçã o; fiscalizaçã o; diretivo ou executivo. Nas
fundaçõ es nã o há AG. O ó rgã o executivo pode integrar o ó rgã o administraçã o.
Ó rgã os facultativos – Art.26º/2: ó rgã os consultivos.
Art.26º/3: os mandatos dos membros dos ó rgã os de fundaçã o nã o podem ser vitalícios, regra
geral.
Grupo III
Perdidos 4Ever (P4E) é uma associação de direito privado com personalidade jurídica, constituída
em 2015, e que tem como fim associativo, o apoio, a promoção e o desenvolvimento de atividades
fotográficas dos seus membros em viagens a “locais exóticos”.
De acordo com os Estatutos da P4E, no momento da inscrição todos os associados têm de
contribuir com EUR 250,00 (joia de inscrição) e devem pagar uma quota anual de EUR 50,00.
Grande parte do dinheiro recolhido com as joias e quotizações serve para apoiar as viagens que os
69
associados fazem anualmente. Compete à administração da P4E – composta por seis membros,
tendo o Presidente (Guilherme) o voto de qualidade – a decisão sobre a alocação do dinheiro em
face das candidaturas apresentadas.
Em contrapartida, e de acordo com os Estatutos, os membros que beneficiam deste apoio
financeiro devem, no prazo máximo de 10 meses a contar do regresso, fazer circular pelos
restantes associados um breve slideshow das fotografias tiradas com indicações das técnicas
fotográficas usadas. O não cumprimento deste dever constitui causa de exclusão da associação,
devendo o membro excluído devolver a totalidade dos montantes auferidos.
Em reunião da administração da P4E, na qual estiveram presentes todos os membros, foram
tomadas as seguintes deliberações:
(i) clarificar o sentido do conceito estatutário de “local exótico” e, em consequência, notificar todos
os associados através do envio da seguinte mensagem: “a administração da P4E clarifica que
qualquer viagem que tenha como destino um país da União Europeia se encontra
automaticamente excluída do conceito de local exótico” (deliberação tomada por unanimidade);
(ii) excluir a associada Sónia, com efeitos imediatos, por ter incumprido o dever de apresentar o
slideshow técnico (deliberação aprovada com 3 votos a favor incluindo Presidente e 3 votos
contra).
Maria, que tinha apresentado a sua candidatura no período exigido, planeando uma viagem aos
alpes alemães, contesta, dizendo que a deliberação tomada pela administração é inválida e
ineficaz.
Sónia contesta a sua exclusão. Em primeiro lugar, refere que, embora não haja regra estatutária
sobre o tema, essa não é matéria da competência da administração. Em segundo lugar, ainda que
assim fosse, o voto do Presidente da administração da P4E não poderia ser contabilizado por se
encontrar a decorrer em tribunal um processo judicial de responsabilidade civil extra-
obrigacional, proposto por Sónia contra o Guilherme (Presidente da administração da P4E), por
este ter atropelado Sónia ao sair da garagem da sede da associação. Quid juris?
Uma joia e uma quota sã o duas obrigaçõ es: uma como uma obrigaçã o inicial (a joia) e outra
como uma obrigaçã o perió dica. Esta associaçã o obriga os seus associados a um pagamento
perió dico e um pagamento inicial e nã o existe nenhum tema jurídico aqui.
Mostrar o tipo de associaçã o: de direito privado, com personalidade jurídica, pessoa coletiva,
falar da capacidade. Regulada no art.157º e ss. do CC na parte geral e xx na parte especifica.
Regulaçã o privatística a partir dos estatutos.
O fim associativo é ou nã o contrá rio à lei? Nã o há problema em termos de fim nem de objeto. Se
fosse uma associaçã o de maus-tratos aos animais era um fim contrá rio à lei e remetia para o
art.280º do CC.
Mas as associaçõ es nã o sã o pessoas jurídicas sem fins lucrativos? Como justificamos a joia e as
quotas -> para apoiar as viagens aos associados -> nã o há lucro distribuído aos associados, há o
aumento do patrimó nio associativo decorrente do recebimento destes valores.
Art.162º/1 do CC: tem uma lei estatutá ria contraria à lei -> necessá rio nú mero ímpar de
membros -> regra nula. Problema: o facto de o presidente ter o voto de qualidade já tem uma
aproximaçã o à finalidade da norma -> evitar situaçõ es de impasse (empate). A composiçã o deve
ser ímpar, mas neste caso ela é par e é atribuída um voto de qualidade ao presidente. No
70
período em que é alterada a norma as deliberaçõ es mantém-se vá lidas por o presidente ter voto
de qualidade.
Objeto: Art172º do CC – cabendo à administraçã o de acordo com os estatutos entã o ela tem
competência sobre as matérias.
3º paragrafo: nã o tem nenhum problema -> é possivel este tipo de obrigaçã o por parte dos
associados. A exclusã o é equilibrada. Nã o há aqui nenhum tema jurídico.
Exclusã o de Só nia:
Só nia nã o está a contestar que apresentou nã o devia ter apresentado -> assumir que ela viajou e
nã o apresentou o que devia. Ela diz que nã o é competência da administraçã o e, mesmo sendo,
existe uma situaçã o de conflito de interesses em que ele votou e nã o devia votar.
A competência: art.172º do CC -> diz-nos o que é da competência da assembleia, se nã o está lá
entã o, estando previsto nos estatutos (como vimos que está ) é da competência da
administraçã o.
Art.176º do CC – aplica-se por interpretaçã o extensiva à s votaçõ es dos titulares dos ó rgã os. O
resultado dessa interpretaçã o é que o voto foi relevante para a tomada de decisã o -> sem o voto
do presidente a decisã o era de nã o exclusã o. Qual a consequência jurídica? Deliberaçã o é
invá lida, anulá vel. A Só nia pode impugnar ou pedir a anulaçã o da deliberaçã o com base no
fundamento do conflito de interesses.
Devolver a totalidade dos montantes auferidos -> em bom rigor, qual o objeto da deliberaçã o? A
exclusã o. Qual deveria ter sido o objeto da deliberaçã o? Confirmar ou nã o confirmar que ela nã o
apresentou o slide show em dez meses porque a exclusã o seria automá tica. Nã o é suposto a
administraçã o estar ou nã o a aprovar a exclusã o – deveria ver se ela apresentou ou nã o o slide
show em dez meses.
Direito da Família
O direito da família é, em primeiro lugar, um sub-ramo do direito civil – só que na verdade, pelas
suas especificidades e pela forma como se liga com as relaçõ es humanas, também tem algumas
ramificaçõ es (toca) noutros ramos de direito privado e pú blico.
71
Embora os especialistas de direito da família sejam privatistas, a verdade é que cada vez mais se
utilizam normas de direito pú blico relevantes para certas matérias que estã o dentro do direito
da família. Ex. convençõ es internacionais dos direitos das crianças.
Mas, no geral, é regido pelo CC, tendo também uma série de leis avulsas. O direito da família
português ao reconhecer o casamento cató lico como uma das modalidades de casamento, aplica
também o direito cató lico – por exemplo para efeitos de declaraçã o de invalidade de um
casamento cató lico. Assim as concordatas que versam sobre direito da família também se
aplicam.
Pela sua natureza o direito da família é um direito muito sensível à cultura, à s regras dos bons
costumes e ao pensamento moral que se vive numa determinada sociedade num determinado
momento. Olhando para a histó ria do direito da família português (especialmente desde a
entrada em vigor da CRP) podemos ver alteraçõ es significativas. Por isso mesmo as normas de
direito da família sã o permeá veis - basta ver a diferença de conceçã o de família do Estado Novo
para cá . De resto, todas aquelas que nã o tenham sido alteradas, devem ser interpretadas de
forma atualista.
O que é que houve, na prá tica, com a entrada em vigor da CRP? Em primeiro lugar, a ascensã o da
tutela constitucional determinadas matérias que eram meramente civis (ex. princípio da
equiparaçã o entre os unidos de facto e os cô njuges, inseparabilidade dos filhos e dos pais,
igualdade entre irmã os), e em segundo lugar a adaptaçã o ao nível da lei ordiná ria a outros
princípios constitucionais (readaptaçã o das regras do CC a uma nova realidade). Mas nã o
deixam de existir algumas desigualdades, e por isso o Livro da Família é muito criticado, quer
por conceçõ es políticas quer por conceçõ es legais.
As normas do direito da família têm uma natureza um pouco diferente das restantes do CC, em
especial aquelas que se relacionam com o nã o cumprimento de deveres ou obrigaçõ es
decorrentes de relaçõ es jurídico-familiares. Algumas têm também uma natureza estritamente
pessoal.
O direito da família nã o é puramente privado, tem uma vertente pú blica e uma privada.
72
Conceito de família:
Nã o há definiçã o legal sobre o que é família. O CC tem uma visã o mais restritiva do que é família
e do que sã o as relaçõ es jurídico-familiares, comparativamente à CRP. O CC deve ser
interpretado conforme a CRP, e o conceito de família na CRP é mais amplo.
As normas constitucionais sobre o direito da família muitas vezes abrangem a uniã o de facto
(que nã o está no CC). Também já há doutrina que inclui os animais de estimaçã o no conceito de
família.
A ideia do legislador é: queres casar? Segues este regime. Nã o queres, nã o há problema, tens
outro regime como a uniã o de facto. Ló gica do casamento é muitas vezes criticada pelos autores
como uma imposiçã o legal, mas o legislador também nos dá outras opçõ es.
Sempre que virmos a expressã o “família” devemos interpretá -la à luz da constituiçã o? Nã o.
Quando o legislador diz “constituir família” é restritivo e queria dizer casar e ter filhos à
legislador conservador.
28.03
Civil – nesta modalidade há um caso especial que sã o os casamentos civis sob forma
religiosa. Casamentos de outras religiõ es que sã o reconhecidos à luz do direito, com
especificidades quanto à forma e à celebraçã o.
Cató lico – há normas de direito civil que se aplicam ao casamento cató lico e há
especificidades quanto à anulaçã o do casamento cató lico cuja competência é do tribunal
eclesiá stico.
73
As regras de direito da família nã o podem ser afastadas. O legislador impõ e um determinado
regime.
A imperatividade pode ser:
Relativa: nã o se pode derrogar a regra, mas há vá rios caminhos que se podem adotar.
Ex: há 3 regimes de bens, nã o há outro e podemos optar por um deles.
5. Numerus clausus:
Os direitos familiares estã o sujeitos ao numerus clausus – princípio da tipicidade – nã o se
podem inventar outros direitos familiares que o direito nã o determina.
De acordo com este princípio o leque dos direitos familiares sã o fechados.
74
As relaçõ es de parentesco podem criar relaçõ es de filiaçã o, e as relaçõ es de filiaçã o e parentesco
sã o perpétuas porque sã o sanguíneas.
O casamento nã o tem de ser perpétuo, mas a forma como o legislador concebeu o contrato de
casamento e a forma como protege os cô njuges de situaçõ es de rutura (procurando primeiro a
conciliaçã o, e usando o divó rcio como ú ltimo recurso) leva a entender que o vê como
tendencialmente perpétuo.
75
Art.1576º – sã o fontes das relaçõ es jurídicas familiares o casamento, parentesco, a afinidade e a
adoçã o.
Parentesco (o que todos os parentes têm em comum é o sangue) por ser fruto da
relaçã o sanguínea, há quem diga que nã o é considerado uma fonte, o legislador diz que
é.
Afinidade (MM tem duvidas se é uma fonte) é o elo que liga o conjuge aos parentes do
outro. Para ter uma relaçã o de afinidade é preciso um casamento, e o casamento já é
uma fonte. A afinidade nã o é uma fonte por si mesmo, mas ela resulta de uma.
Parentesco:
Art.1578º - noçã o de parentesco:
A relaçã o familiar de parentesco integra as relaçõ es consanguiná rias, que advêm do facto de as
pessoas terem o mesmo sangue.
As relaçõ es de parentesco sã o feitas em linha reta ou em linha colateral. Ou porque se descende
diretamente (linha reta) ou, nã o existindo esta verticalidade de parentesco, existindo entre duas
pessoas um progenitor comum (linha colateral), sempre para cima (ex: primos que têm os avó s
comuns, irmã os). Embora possa haver graus para baixo, há de chegar a uma altura na á rvore
genealó gica em que existirá um parente comum.
76
Ex: os primos direitos sã o parentes em quarto grau na linha colateral (2ª grau irmã os, 3ª grau
tios e sobrinhos, 4ª grau primos, tios-avó s, sobrinhos-netos).
Linha vertical: uma linha reta, com sentido ascendente e descendente. É usada para
parentes diretos.
77
Afinidade:
Art.1584º - noçã o de afinidade:
Afinidade é o vínculo que liga cada um dos cô njuges aos parentes do outro. Os parentes de um
dos cô njuges sã o afins do outro cô njuge e vice versa.
O grau de contagem é o mesmo que para o parentesco. Ex: os sogros sã o afins em primeiro grau
em linha reta; os cunhados sã o afins em segundo grau em linha colateral.
Nã o existem direitos sucessó rios automá ticos. Existe em alguns casos a possibilidade de a lei
impor a obrigaçã o de alimentos a apenas dois (madrastas e padrastos).
Anulaçã o;
Divó rcio;
Separaçã o de facto;
Promessa de casamento:
Para o direito civil, a promessa de casamento é sempre um contrato, um negó cio jurídico. Isto é
relevante para o direito civil, porque para o direito canó nico a promessa de casamento pode ser
feita de forma unilateral.
78
Para o direito civil a promessa de casamento é o contrato em que duas pessoas se
comprometem a contrair o matrimó nio. Este contrato nã o dá direito a exigir a celebraçã o do
casamento, ou seja, à execuçã o específica, nem a reclamar, na falta de cumprimento da
promessa outras indemnizaçõ es que nã o as previstas – art.1594º.
Conservar os donativos, sendo que se o fizer nã o pode pedir aos herdeiros para receber
os donativos que fez ao promitente que faleceu -> princípio da reciprocidade.
79
Devolver os donativos: neste caso já pode pedir aos herdeiros a restituiçã o dos
donativos por si efetuados.
Art.1593º/2 – as cartas ou retratos têm natureza real, por isso podem estar sujeitas a doaçã o.
Pode entã o o promitente sobrevivo pedir aos herdeiros que devolvam a correspondência e, se o
fizer, estes têm de devolvê-la, para proteçã o e tutela dos seus direitos de personalidade, Isto
porque, ao contrá rio do que acontece com os donativos, nã o há nenhum interesse dos herdeiros
em manter esta correspondência, enquanto que para o promitente sobrevivo já existe esse
interesse.
Art.1594º - indemnizações:
Ló gica: o legislador tenta procurar evitar situaçõ es em que os nubentes pensem que casar é
melhor que pagar uma indemnizaçã o. O legislador procura ajustar ou proteger o interesse dos
nubentes que desembolsaram e pagaram o casamento (catering, fotó grafos) e que por culpa,
nã o sua, acabaram por nã o casar e ainda proteger o outro nubente que se quer desvincular do
casamento de forma unilateral sem estar coagido a nã o ter de pagar indemnizaçã o.
Por culpa sua der motivo para que o outro se retrate – um faz algo que provoca o outro a
se retratar.
Entã o:
O que tiver culpa ou romper justamente, tem de indemnizar o outro, se já tiver efetuado
despesas.
80
Tipos de danos que nã o sã o indemnizá veis:
Danos morais;
Lucros cessantes: lucros que eram expectá veis que acontecessem mas que nã o
aconteceram;
Art.1595º - caducidade:
Caducidade: 1 ano para pedir indemnizaçã o desde a data do rompimento ou morte de um dos
noivos.
12.04
Nã o há conceito de impedimento expresso na lei – é um facto previsto pelo legislador que obsta
a celebraçã o do casamento e a depender do tipo de impedimento há determinadas
consequências.
Impedimentos dirimentes.
- absolutos;
- relativos.
81
Tem capacidade quem nã o tiver impedimentos.
Em bom rigor só os impedimentos dirimentes é que impedem definitivamente. Embora o
impedimento impediente resulte na falta de capacidade de gozo, é ultrapassá vel através da
dispensa. Ou, mesmo que nã o haja dispensa, pode haver alguma sançã o pela lei.
Inscriçã o: registo segundo qual o conservador anota o facto diretamente por registo –
inscreve-se o facto diretamente. Do casamento civil.
Transcriçã o: O facto já está registado e vai transcrever esse facto pro registo civil. Do
casamento cató lico.
82
Impedimentos dirimentes relativos: ao contrá rio dos impedimentos absolutos, nã o têm a ver
com a pessoa, têm a ver com a relaçã o que os nubentes têm entre si. Nã o tem a ver com ela
pró pria, mas com a relaçã o com o potencial cô njuge.
Se o casamento foi dissolvido de forma voluntá ria, a afinidade cessa e nã o se aplicam estas
regras. Se o casamento foi dissolvido por mortis causa, nã o cessa a afinidade e aplicam-se estes
impedimentos.
1
Art.1585º: a afinidade nã o cessa por morte no casamento.
83
Pronúncia:
O processo penal tem vá rias fases: fase de inquérito -> se houverem indícios ou suspeitas ->
acusaçã o apreciada no juízo de instruçã o -> fase instruçã o -> juiz vê se há indícios para levar a
julgamento -> emite despacho de pronú ncia ou despronú ncia:
Se emite o despacho -> fase de julgamento feito outro juiz ou coletivo a apreciar;
Nã o é pra sempre – até um ano do termo da incapacidade e até estarem aprovadas as contas.
Art.1609º - dispensa:
Sã o suscetíveis de dispensa os impedimentos impedientes:
Art.1609º/1/a): o parentesco de terceiro grau de linha colateral.
Art.1609º/1/b): vínculo de tutela, curatela ou administraçã o legal de bens.
Art.1609º/2: a dispensa é feita pelo conservador do registo civil. Só pode ser feito se existirem
motivos sérios que justifiquem a celebraçã o do casamento.
Art.1609º/3: se o nubente for menor, entre os 16 e 18, o conservador deve ouvir os pais ou
tutores. Contudo, nem sempre é necessá ria a autorizaçã o dos pais – art.1612º; o conservador
pode dar dispensa se perceber que o nubente tem maturidade física e psicoló gica para fazê-lo e
se os pais que estã o a impedir o casamento nã o têm motivos justificados.
84
Sanções
Art.1649º – casamento de menores:
O menor que casar sem autorizaçã o dos pais – significa que pode casar sem autorizaçã o. Tem é
uma sançã o – sançã o é que considerado menor para todos os efeitos e nã o se emancipa. Os pais
gerem os bens mas se os bens geram frutos esse dinheiro é subtraído ao substrato do casal.
18.04
Nota: Nubentes, esposos e esponsais desde o contrato promessa até ao casamento, a partir daí
passam a ser cô njuges.
85
Processo preliminar de casamento
Art.1610º - necessidade e fim do processo preliminar de casamento:
As regras dos art.1610º a art1614º estã o reguladas e desenvolvidas no Có digo do Registo Civil.
86
Art.134º CRC - competência para a organização:
Os conservadores tinham poderes territoriais na questã o do casamento e hoje em dia nã o é
assim. Hoje podemos contratar algum conservador do registo civil de Braga para casar em
Algarve.
87
Contrato pré-nupcial: contrato que os nubentes fazem anterior ao casamento com efeitos
patrimoniais apó s o casamento.
Separaçã o de bens;
Comunhã o geral.
Abre-se o processo;
Dã o-se os emolumentos;
Escolhe-se o regime.
88
Art.142º CRC - declaração de impedimentos:
Qualquer pessoa pode invocar impedimentos e é um dever dos funcioná rios do registo.
Se houver impedimento há uma declaraçã o de impedimento que suspende o processo
preliminar até à :
Cessã o do impedimento;
89
Nã o se verificando nenhum impedimento, emite-se o despacho final do conservador que
identifica a:
Inexistência de impedimentos
Capacidade matrimonial
Prazo de um dia para emitir o despacho a autorizar o casamento apó s a ú ltima diligência
necessá ria.
90
Art.148º CRC – conhecimento superveniente de impedimentos:
Apó s o despacho final e antes do ato de casar, se por conhecimento oficioso houver a existência
de impedimentos, a conservató ria tem o dever de os declarar.
Celebração do casamento
Ato solene e formal.
Art.153º CRC e ss. – ato de casamento.
É registado;
O legislador exige que os casamentos sejam pú blicos (nã o no sentido que que qualquer
pessoa pode “entrar”), porque quer evitar casamentos obscuros.
91
Procurador – o ato de casar embora seja pessoal ou pessoalíssimo (Mike discorda) pode ser
sujeito a representaçã o voluntá ria unilateral. Ou seja, pode-se ter um casamento com
procuraçã o, mas só um dos nubentes pode fazê-lo – os dois nubentes nã o podem casar com
procuraçã o, é preciso estar presente pelo menos um deles.
Publicidade do ato implica que estejam presentes pelo menos mais algumas pessoas que nã o
apenas os nubentes (podendo estar apenas um deles por procuraçã o) e os conservadores – duas
testemunhas.
Duas testemunhas.
92
Art.1618º - aceitação dos efeitos do casamento:
Outro princípio relevante é que, com exceçã o do regime de bens, tudo o resto, nomeadamente
os deveres conjugais, nã o está sujeito a negociaçã o.
As clá usulas do contrato de casamento, nã o sã o negociá veis – tudo ou nada.
Nº1: têm de aceitar todos os efeitos legais do casamento – princípio da aceitação global dos
efeitos do casamento.
Nº2: se os nubentes fizerem clá usulas adicionais essas consideram-se nã o escritas.
93
A revogaçã o é invocá vel a todo o tempo.
94
para os nubentes, como o padre no casamento cató lico, e as partes viradas para o
conservador. O ato é solene, é um ato que está sujeito a determinadas palavras,
declaraçõ es específicas. É um ato solene, mas é estranho porque o conservador abre a
cessã o de casamento a ler o nome completo, a residência, a ler o despacho final.
O legislador parece tentar aproximar os momentos solenes do casamento cató lico ao casamento
civil.
O contrato de casamento é vá lido e eficaz a partir desse momento e nã o do registo. O registo é
meramente declarativo do contrato de casamento.
Regime da invalidade
Regime de invalidade do casamento:
95
Inexistência;
Anulabilidade;
96
Art.1620º/2 vs art.1628º/d parte final:
Art.1620º - procuraçã o ad nú pcias tem de ter 3 elementos essenciais:
Modalidade do casamento.
Inexistência
Art.1630º CC - regime da inexistência:
O casamento inexistente nã o produz efeitos jurídicos e nem é visto como casamento putativo
(regime que diz que há efeitos do casamento que se mantém mesmo apó s a anulaçã o do
casamento – casamento putativo).
97
A presunçã o de paternidade vigora mesmo apó s invalidade, no casamento putativo. No caso de
casamento inexistente ele nem é visto como existente, nã o há proteçã o aos filhos nem
presunçã o de paternidade.
Anulabilidade
As partes têm sempre a possibilidade de se divorciarem. Com a anulabilidade queremos
extinguir os efeitos patrimoniais, com efeitos retroativos.
Para alguns casos é tã o difícil extrair uma declaraçã o de anulabilidade, que o mais fá cil seria o
divó rcio.
Anulabilidade vs divó rcio: têm efeitos diferentes. O divó rcio só cessa os efeitos para o futuro e
nã o tem efeitos retroativos, ao contrá rio da anulabilidade. No divó rcio nã o se tem de provar que
há culpa da outra parte para se desvincular do casamento.
98
Falta ou vícios da vontade – anulabilidade
Art.1634º CC - presunção da vontade:
Presunçã o ilidível de vontade - presume-se que a vontade dos nubentes que celebram o
contrato nã o está viciada por erro ou coaçã o.
O efeito da presunçã o ilidível é que se inverte o ó nus da prova. A presunçã o pode ser afastada
por vontade.
99
A qualidade essencial da pessoa do outro cô njuge pode ser objetiva ou subjetiva – pode ser
qualidade essencial para aquela pessoa em específico ou, entã o, é normalmente qualidade
essencial para todos.
Fertilidade:
Para aquela pessoa a fertilidade pode ser essencial – subjetivamente.
Mas também pode ser uma qualidade essencial objetivamente. O legislador constró i o
casamento como meio para ter filhos. Se um dos deveres conjugais é a fidelidade (que o
legislador nã o permite excluir porque nã o é possível modificar as clá usulas contratuais do
casamento), e se a pessoa quer ter filhos, é normal querer que a pessoa seja fértil. Se um dos
cô njuges é infértil e desconhecia e é desculpá vel, porque nã o é procedimento que as pessoas
que vaiam casar façam testes de fertilidade antes de casar, podem anular o casamento.
Impotência:
Nos casos de impotência a jurisprudência já nã o é tã o unanime.
Os casos de impotência podem gerar situaçõ es de erro e anulaçã o – se desculpá vel e provado.
Desculpá vel porque por qualquer motivo nã o tiveram relaçõ es antes do casamento.
100
Há coaçã o moral se for grave o mal com que o nubente é ilicitamente ameaçado e o receio da sua
consumaçã o é justificado.
É equiparado a ilicitamente ameaçado se alguém extorquir a declaraçã o de vontade mediante a
promessa de o libertar de um mal.
19.04
O regime é especial face à s regras gerais. O pró prio legislador divide as situaçõ es de
legitimidade e prazo para anulaçã o em funçã o do tipo em causa – nã o existem regras gerais para
todos os casos.
Legitimidade
Art.1639º e ss.
Cô njuges;
Qualquer parente dos cô njuges em linha reta ou até 4º grau em linha colateral;
Herdeiros e adotantes;
MP;
Tutor;
Acompanhamento;
101
Mesmo que saibamos que, à partida, há uma situaçã o de impedimento dirimente e a outra
pessoa mais à frente invoca a anulaçã o, o OJ dá a impossibilidade de invocaçã o por abuso de
direito.
Os casos em que alguém que casa com impedimento dirimente sã o casos extremos – crianças de
8 anos, pai com filho etc.
O MP tem dever oficioso de intentar uma açã o. Houve processo preliminar para ver se há
impedimentos dirimentes – nã o se reparou, ou entã o nã o foi dito – nesses casos o MP tem essa
prorrogativa legal.
Legitimidade:
Nos outros casos: o cô njuge que faltou vontade ou, se falecer, pode ser substituído pelos
parentes, afins na linha reta, herdeiros ou adotantes.
Legitimidade:
102
Nas qualidades essenciais tem de conseguir demonstrar razoavelmente que nã o casaria se
tivesse conhecido o erro.
Só o MP.
Prazos
A regra geral para a anulaçã o é um ano, sob pena de convalidar na OJ. O legislador procurou
evitar essas situaçõ es de convalidaçã o, com prazos especiais no caso do casamento.
Os prazos estã o divididos nos subtipos.
103
3. Se existir açã o de anulaçã o ou declaraçã o de nulidade (no caso de casamento cató lico), tem-se
de esperar apara intentar açã o de anulaçã o de casamento nã o dissolvido.
Casamento putativo
104
É o regime que vigora entre o momento da celebraçã o do casamento e do momento da
declaraçã o de anulaçã o, e se for caso disso declaraçã o de nulidade (casamento cató lico) – aplica-
se aos casamentos civis e ao modelos de modalidade cató lica.
A declaraçã o de anulaçã o tem efeitos retroativos, no entanto nesse período aplica-se o regime
do casamento putativo. Ou seja, apó s a declaraçã o de anulaçã o com efeitos retroativos, as
pessoas nã o estiveram casadas em bom rigor, mas é como se estivessem estado casadas num
regime de casamento putativo (que é ficcional).
Art.1647º e ss.
Um das partes de boa fé (nº2) – só esse é que pode arrogar-se aos benefícios do estado
matrimonial e opô -los a terceiros desde que se trate de relaçõ es havidas entre os
cô njuges.
105
Registo obrigatório
Casos em que é obrigató rio o registo do casamento.
106
Art.1670º CC - efeito retroativo do registo:
O registo tem efeitos retroativos.
Deveres conjugais
O contrato de casamento gera efeitos pessoais e patrimoniais.
Efeitos pessoais:
26.04
Efeitos pessoas que o contrato de casamento tem para os cô njuges - deveres que sã o
obrigatoriamente explicados, no pró prio ato do casamento, aos cô njuges.
Art.1671º e ss.
107
Art.1671º/1: regime de plena igualdade dos cô njuges.
Art.1671º/2: poder-dever funcional de direçã o da família:
As decisõ es que se tomem em ‘conselho familiar’ deve ter em consideraçã o o bem estar
da família e ainda procurar acomodar os interesses pessoais de um e de outro.
Há um aspeto que está fora deste preceito – deliberar sobre assuntos de natureza
estritamente pessoal de cada um dos cô njuges.
Quando estudamos a reserva da vida privada, dissemos que o círculo mais restritivo incluía a
vida conjugal. Dentro desse círculo podemos ainda restringir mais – vida puramente privada de
cada um dos cô njuges, onde o outro nã o pode intervir, seja a que título for.
Ex: conjuge quer fazer uma tatuagem, o outro não pode opinar. É algo que pertence ao
âmbito puramente privado do cônjuge. Isso é matéria puramente pessoal.
Mas há outros temas que embora, em abstrato, pareçam da vida pessoal de um dos cô njuges, na
verdade tocam no outro, e aí a opiniã o do outro cô njuge pode ser relevante.
Ex: DIU – o DIU por definição só afeta a mulher, em termos materiais. No entanto, é um
tema que releva para a vida conjugal, porque com isso não podem fazer filhos e isso é
relevante. Portanto, não pode por si só, fazê-lo sozinha, deve perguntar.
108
Art.1673º/2: existem casos excecionais por motivos ponderosos em contrá rio.
Há jurisprudência sobre isto. Caso de um funcioná rio pú blico que morava em Lisboa, e era
técnico de uma instituiçã o pú blica e concorreu a uma posiçã o de técnico superior para subir a
cadeira. Abriram dois concursos – um no porto e outro em santarém. A residência da família é
em lisboa, mas a pessoa concorreu para o porto. O tribunal veio entender que houve violaçã o da
residência da família, porque sem motivos para justificar, o cô njuge devia ter escolhido o sítio
mais pró ximo.
109
Mesa – partilhar os recursos com a outra pessoa;
Leito – partilhar a cama com a outra pessoa. Ninguém pode obrigar alguém a fazer sexo,
mas há uma violaçã o do dever de coabitaçã o de leito se o outro cô njuge recusar sempre fazer
sexo com ele. A consequência é nenhuma.
Se nã o gerar responsabilidade civil nã o há consequência. Só pela violaçã o dos deveres
nã o se consegue extrair nenhuma da consequência – falta de exigibilidade de consequência
efetiva.
Habitaçã o – devem adotar residência comum
Art.1674º - cooperação:
A cooperaçã o inclui uma obrigaçã o de meios.
A obrigaçã o de socorro é uma obrigaçã o de meios, porque nã o se cumpre atingindo o resultado
específico, fico liberto da obrigaçã o de demonstrar que tomei atos idó neos.
Prestação de alimentos:
O que se entende por alimentos, e quem está obrigado a prestar alimentos.
Art.2003º - noçã o de alimentos e diz que entende-se por alimento tudo o que for indispensá vel
ao sustento de alimentaçã o e vestuá rio. Inclui-se educaçã o e tal.
Art.2009º - noçã o de quem está vinculado a prestá -los: cô njuge, descendentes, ascendentes,
irmã os, tios, etc. Há pessoas que estã o obrigadas a prestar alimentos à outra, seja maior ou
menor.
Essa obrigaçã o tem a sua relevâ ncia quanto à proteçã o dos menores. É sobre esta obrigaçã o em
que os pais têm de pagar uma mensalidade ao ex-cô njuge para que o dinheiro seja usado para a
educaçã o, de comida, etc.
110
Dever de contribuição para os encargos:
Imputabilidade da situaçã o de facto. Nã o foi atualizada aquando a atualizaçã o do CC sobre
matéria do divó rcio litigioso. No divó rcio litigioso era preciso aferir a culpa. Hoje em dia nã o se
tem de provar a culpa.
A imputabilidade que o artigo fala deixa de ter relevâ ncia, mas temos de interpretar isto à luz do
direito em vigor.
Art.1676º/2: norma mais importante sobre os deveres. Em caso de rutura e divó rcio é relevante
na medida em que procura reequilibrar os esforços que os cô njuges tomaram. Chama-se crédito
por solidariedade patrimonial.
111
Art.1676º/4: norma de execuçã o específica (se nã o pagar, o tribunal substitui-se ao cô njuge e
paga os rendimentos).
02.03
Convenção antenupcial
Convecção antenupcial: negó cio jurídico nos termos do qual as partes (cô njuges) acordam,
entre vá rias coisas, mas fundamentalmente, sobre qual o regime de bens que irã o usufruir
durante o período do casamento.
As convençõ es estã o sujeitas a um princípio da imutabilidade – o que os cô njuges decidiram
antes do casamento nã o pode ser em regra alterado durante o casamento.
O contrato de casamento nã o se confunde com a convençã o. Os casamentos sã o negó cios
jurídicos autó nomos, mas a convençã o é funcionalmente dependente do casamento – só faz
sentido ser eficaz no momento de celebraçã o do casamento.
Ex: se celebro hoje uma convençã o ela fica sujeita à condiçã o de eficá cia de se efetuar o
casamento.
Convençã o antenupcial:
112
Art.1699º - restrições ao princípio da liberdade.
Determina ou põ e limites ao princípio de liberdade de convençã o do art.1698º.
Art.1699º/1:
a) Art.1700º ao art.1700º-A sã o regras especificas de pactos sucessó rios e de sucessã o
hereditá ria que eu posso negociar enquanto nubente em sede de convençã o negocial –
tudo o que está fora nã o posso.
b) nã o se podem alterar direitos e deveres conjugais, ou os decorrentes das
responsabilidades parentais.
c) administraçã o de bens – estas regras sã o imperativas. Ex: art.1678º – este artigo nã o
pode estar sujeito a regulamentaçã o especial nem ser alterado em sede de convençã o.
d) Art.1733º – está inserido dentro da comunhã o geral de bens. Mesmo nesta há bens que
sã o incomunicá veis.
O que o legislador nã o disse é saber se o regime de dividas dos cô njuges é um regime imperativo
ou pode estar sujeito a alteraçã o através das convençõ es anteconjugais. À contrario, posso
mexer no regime das dividas, extraído do art.1699º/1.
Art.1699º/2: diz que se houverem filhos na altura da celebraçã o do contrato, e mesmo que esses
sejam maiores ou emancipados, o regime da comunhã o geral de bens nã o pode ser
convencionado, por violaçã o do principio da igualdade para os outros filhos que poderã o nascer
e beneficiar deste regime.
A interpretaçã o é unanime neste ponto, faz-se uma interpretaçã o restritiva no sentido de ler o
artigo assim: se os filhos forem filhos comuns dos nubentes nã o se aplica o nº2. Nos outros
casos aplica-se esta norma.
113
Art.1710º - forma de convenções antenupciais:
As convençõ es antenupciais estã o sujeitas a um requisito de forma - perante funcioná rio pú blico
ou por escritura publica.
Hoje em dia já se admite documento autenticado.
114
Este princípio está fixado no art.1714º.
O art.1715º tem as exceçõ es a este princípio - alguns casos onde o legislador admite a alteraçã o
de regras:
a) casos de direitos sucessó rios em que é possível revogar alguns benefícios;
b) pela separaçã o judicial de bens – regime protetor do casal;
c) separaçã o judicial de pessoas e bens;
d) remete para outras que a lei possa admitir.
Regimes de bens
Art.1717º - regime de bens supletivos:
O regime supletivo é a comunhã o de bens adquiridos. Estatisticamente é aquele que prevalece.
O regime implica comunhã o - há bens que sã o comuns e bens que sã o pró prios, portanto
importa perceber que tipo de bens sã o comuns e que tipo de bens sã o pró prios.
Art.1718º - remissão genérica para uma lei estrangeira ou revogada, ou para usos
e costumes locais:
Podemos fixar um regime de bens de uma lei estrangeira, mas se o fizermos nã o podemos
simplesmente remeter para a lei estrangeira; temos de dizer o que a lei especificamente trata
nesta matéria de maneira a que todos possam consultar o registo e saber o que significa.
115
Art.1720º - regime imperativo de separação de bens:
Há 2 casos de regime imperativo de separaçã o de bens (nã o se pode optar por outro).
Art.1720º/1:
a) casamento celebrado sem procedência de processo preliminar – ex: casamento urgente.
b) Quando tem 60 anos de idade: se duas pessoas casam e uma delas já tem pelo menos 60
anos de idade, tem de ser em separaçã o de bens -> evitar o golpe do baú .
Art.1699º/2: se houverem filhos e esses filhos nã o sã o comuns (A casa com B mas tem o filho
com C), nã o posso fixar o regime de comunhã o geral.
Olhamos para cada bens em especifico, para o patrimó nio dos cô njuges, identificamos os bens
que existem e qualificá mo-los até perceber quais é que sã o os bens pró prios e quais é que sã o
comuns.
Art.1722º/2:
c) bens com reserva de propriedade – a entidade financiadora faz o contrato mas mantém a
propriedade até ao pagamento total. Se fiz o contrato a momento anterior ao casamento, mas
acabo de pagar em momento posterior, o bem continua a ser pró prio.
116
Art.1723º - bens sub-rogados no lugar de bens próprios:
a) troco este computador por o telemó vel, o telemó vel mantém a qualidade de bem
pró prio.
b) vendi o computador ao Rafael, ele pagou me 500 euros, esse dinheiro entra mantendo a
qualificaçã o de bem pró prio.
c) vou usar dinheiro e adquirir bens em troca desse dinheiro que mantém a qualidade de
bens pró prios, desde que a proveniência do dinheiro seja mencionada no documento de
aquisiçã o. Na prá tica, o que acontece, é que na escritura pú blica fica mencionado que o
imó vel é pró prio e o outro cô njuge assina.
Art.1726º - bens adquiridos com dinheiro ou bens próprios e noutra parte com
dinheiro ou bens comuns:
Art.1726º/1: Como se qualifica se a parte de um valor for contribuiçã o da parte dos bens
pró prios de um dos cô njuges e a outra parte bens pró prios do outro cô njuge – o bem é de quem
deu mais.
117
Hipó tese B:
40 k de bem comum.
Hipó tese C:
35k de A.
25k de B.
bem comum
Ex: O bem pró prio é do A, no entanto sem prejuízo do bem pró prio ser do A, os 30 mil euros que
o B colocou vã o ser imputados para efeitos de compensaçã o devida na partilha.
118
Um prémio – tudo o que sã o compensaçõ es, porque sã o atribuídos pela performance especifica
do trabalhados é um bem pró prio. Autores que consideram que estes mantêm a titularidade de
bens pró prios.
Art.1730º/1: Tudo o que fizer parte dos bens comuns, é como se os cô njuges tivessem direito a
participar ativamente (para receber algum beneficio) ou passivamente (responsabilidades) de
forma equitativa.
Compropriedade é diferente de comunhã o. Na primeiro sou comproprietá rio de parte de um
bem, nã o sou titular de direito de propriedade do bem todo. Na comunhã o sã o titulares do
direito de propriedade pleno de tudo o que ta aqui. Mas depois cada um tem o direito à metade
– participa de forma equitativa quer nos benefícios quer nas responsabilidades. Ex: em caso de
partilha, uso a regra da metade e cada um fica com metade dos bens.
Art.1730º/2: embora eu tenho direito de propriedade sobre isto tudo, embora o meu conjuge
também tenha direito de propriedade sobre tudo, eu posso doar bens a terceiros; deixar legados
de bens que fazem parte do acervo comum no que for da minha parte.
Só tenho direito a receber a metade em caso de partilha. Enquanto formos casados as coisas vã o
se alterando, mas é como se os dias passassem e existisse uma lista imaginá ria em que
registá ssemos estes movimentos por cada uma das partes.
119
A ideia geral já nã o é a ideia de esforço do casal, mas a de totalidade de posse sobre todos e
quaisquer bens. O patrimó nio comum é constituído por todos os bens, presentes e futuros dos
cô njuges – art.1732º.
Art.1733º/1:
a) bens doados ou deixados -> se sou doador e quero deixar um bem a uma pessoa do casal
e se aqueles cô njuges estã o casados no regime de comunhã o geral, se nã o tivesse esta
regra o bem teria de ser considerado comum. Eu doador, para proteger a minha
vontade, posso colocar uma clá usula de incomunicabilidade, para manter este como bem
pró prio na esfera de um dos cô njuges. Bens doados ou mortis causa.
b) Clá usula de reversã o é a clausula segundo a qual eu dou um bem a alguém, mas se a
pessoa a quem doei morreu e eu ainda estiver vivo o bem volta para mim. Substituiçã o
fideicomissá ria – quando alguém fica com o encargo de receber a herança de outra
pessoa ou terceiro ate ao seu falecimento (substituiçã o de herdeiros). Se tiver um destes
casos o bem mantem se como bem pró prio
c) O legislador nã o foi rigoroso porque o usufruto nã o é um direito estritamente pessoal ->
2 cô njuges casados com comunhã o geral de bens e 1 tem o usufruto de bens ou imoveis
esse mantem se na esfera deste.
d) A e B sã o casados em comunhã o geral, B sofreu um acidente de aviaçã o provocado por
um terceiro. O terceiro foi considerado culpado e pagou lhe uma indemnizaçã o civil por
bens patrimoniais e nã o patrimoniais – esta indemnizaçã o é considerada bem pró prio.
e) Seguros a mesma coisa. Ex: seguro de vida de um terceiro vai para B.
f) Materiais de uso estritamente pessoais mantêm se bens pessoais. Isto é relevante para a
matéria de administraçã o de bens.
g) Recordaçõ es de família.
h) Animais de companhia ao tempo de celebraçã o de companhia sã o bens pró prios. Os que
forem adquiridos na constâ ncia de matrimonio sã o comuns.
Regime da separação
120
Se for plena de separaçã o de bens, nã o há comunhã o, logo nã o à partilha, o que pode haver é
compropriedade.
Isso nã o limita que os cô njuges nã o possam usar os mesmos mecanismos de comunhã o - a
compropriedade, a contitularidade das contas bancarias.
Evitamos ter bens comuns que possam ser atacados pelos credores.
03.04
Administração de bens
Ato de administraçã o de bens: portfó lio de açõ es e investimentos num fundo que aumenta ou
diminui o patrimó nio.
121
3 grupos:
Regras especiais de atos de administraçã o de bens pró prios do outro cô njuge e bens
comuns:
- Al. a) b) c) d) e parte da e) referem-se a bens comuns;
- Parte da al. e) f) e g) referem-se a bens pró prios do outro cô njuge;
- Al. g) refere-se ao mandato (para bens pró prios ou comuns).
Art.1678º/1: regra relativa aos bens pró prios – cada um dos cô njuges tem administraçã o dos
seus bens pró prios. Mesmo que esteja casado de comunhã o geral de bens existem bens pró prios
e cada um dos cô njuges tem administraçã o dos seus. à bens próprios
Art.1678º/3: regra relativa aos bens comuns - fora dos casos previsto no nú mero anterior, cada
um dos cô njuges tem legitimidade para praticar atos de administraçã o ordiná ria relativamente
aos bens comuns – ex: ir ao supermercado. O que nã o for ato de administraçã o ordiná ria
necessita sempre da autorizaçã o de ambos. à bens comuns
a um dos cô njuges ter a administraçã o de bens pró prios do outro à afasta a regra do
nº1; parte da al. e), f) e g).
a) Cada um dos cô njuges tem administraçã o dos proventos que receba pelo seu trabalho.
Art.1724º/a) - os rendimentos de trabalho sã o considerados bens comuns – os bens sã o
comuns, nã o desqualificamos, mas se receber esse dinheiro do meu trabalho tenho
poderes administrativos sobre esse dinheiro.
b) Direitos de autor: sã o considerados bens comuns, mas o cô njuge autor tem poderes de
administraçã o sobre esses bens.
c) Bens comuns levados para o casamento ou adquiridos a título gratuito depois do
casamento. Comunhã o geral de bens – significa que há bens que os cô njuges levaram
para o casamento e que se vã o qualificar como bens comuns. Se os bens sã o bens
comuns, nã o perdem essa qualificaçã o, mas atribuem-se poderes de administraçã o
exclusiva ao cô njuge que era titular dos mesmos antes do casamento.
122
d) O anterior vale também para as doaçõ es (feitas ambos os cô njuges). É impossível deixar
ou doar bens a ambos os cô njuges e excluir um deles da sua administraçã o.
e) Bens mó veis, pró prios do outro cô njuge ou comuns, utilizados como instrumento de
trabalho. “Por ele” – pelo cô njuge administrador.
f) Caso de bens pró prios do outro cô njuge por estar impossibilitado, em lugar remoto ou
desaparecido. Restriçã o à escolha por parte do julgador. Ex: curador provisó rio – se
houver cô njuge esse será o curador provisó rio. Dizem que nem sequer haveria
necessidade porque esses poderes já decorrem desta alínea se o cô njuge estiver ausente.
g) É possível haver mandato de administraçã o entre os cô njuges. Mandato geral nã o sujeito
a uma forma especifica que permite a administraçã o por um dos cô njuges dos bens
pró prios do outro, mas também bens comuns desde que haja mandato específico para
isso – interpretaçã o extensiva desta alínea para abranger também os bens comuns, por
maioria de razã o.
Art.1681º/2: quando existir mandato. Aplica-se as regras do mandato (regime supletivo). Salvo
estabelecida outra coisa, o mandante pode exigir de 5 em 5 anos a prestaçã o de contas (passado
5 anos caduca este direito de exigir).
Art.1681º/3: o que acontece nos casos em que o outro cô njuge abusa dos poderes de
administraçã o e entra na administraçã o que nã o lhe compete. Se um dos cô njuges faz isto, nã o
havendo mandato, mas o outro nada diz, entã o pode exigir contas de 5 em 5 anos.
Se o outro se opor? Neste caso o cô njuge administrador responde como possuidor de má -fé:
responde pela perda da coisa mesmo que tenha agido sem culpa.
123
Art.1682º - alienação ou oneração de móveis:
Art.1682º/1: alienaçã o ou oneraçã o de mó veis.
Primeiro distingue-se se é administraçã o ordiná ria ou nã o.
Se sã o bens comuns cuja administraçã o cabe a ambos os cô njuges, ou seja, se é um ato de
administraçã o ordiná ria, nã o é preciso consentimento de ambos, se nã o for é necessá rio.
Oneraçã o – garantias.
Art.1682º/2: relativamente aos mó veis pró prios ou comuns que o cô njuge tem administraçã o,
nos termos das regras especiais das alíneas a) a f) do art.1678º/1, a regra geral é que quem tem
poderes de administraçã o tem legitimidade para alienar ou onerar em vida, com exceçã o do
art.1682º/3.
Art.1682º/3 – casos em que é preciso o consentimento dos dois para alienaçã o ou oneraçã o:
a) De bens mó veis utilizados conjuntamente por ambos os cô njuges na vida do lar ou como
instrumento comum de trabalho - ex: frigoríficos, camas, computadores, etc… (utilizados
pelos dois);
b) De bens mó veis pertencentes exclusivamente ao cô njuge que nã o os administra (bens
pró prios). Embora estejamos numa exceçã o ao nº2, que tem bens pró prios e comuns,
aqui interpretamos como sendo apenas relativo aos bens pró prios.
Art.1682º/4: se eu administro um bem que é comum e alieno ou onero esse bem quando
precisava de o consentimento do outro e nã o tenho, a penalizaçã o que eu tenho é retirar esse
valor do valor da partilha se houver divó rcio.
Doaçã o remunerató ria – doaçã o que resulta de um ato de uma prestaçã o de serviços que ela me
deu, mas nã o é o pagamento da prestaçã o dos serviços – premiar ou reconhecer o seu trabalho.
124
Art.1682º-A – alienação de imóveis e de estabelecimento comercial:
Art.1682º-A/1: Requer-se o consentimento de ambos os cô njuges nos casos de comunhã o (geral
ou de adquiridos), e sob quaisquer bens pró prios ou comuns imó veis e de estabelecimento
comercial. É necessá rio o consentimento dos dois para dar usufrutos e outros direitos reais a
outra pessoa.
Art.1682º-A/2: Aplica-se aos casos de separaçã o de bens. Ratio: proteger a casa de morada de
família - qualquer alienaçã o, constituiçã o de hipoteca, etc… precisa sempre do consentimento de
ambos.
125
Art.1683º - aceitação de doações e sucessões. Repúdio da herança ou do legado:
Art.1683º/1: quanto à s doaçõ es e sucessõ es, os cô njuges nã o precisam de consentimento um do
outro para aceitar heranças, legados ou heranças.
Art.1683º/2: no entanto, para o repudio é preciso consentimento do outro cô njuge desde que
vigore o regime de comunhã o.
Art.1687º - sanções:
Art.1687º/1: sançõ es para a prá tica de atos com falta de prestaçã o de consentimento - regime
da anulabilidade. Anulá veis a requerimento do cô njuge que nã o deu o seu consentimento ou dos
seus herdeiros para os atos praticas.
Art.1687º/2: prazo de 6 meses subsequentes à data do conhecimento ou má ximo de 3 anos apos
a celebraçã o independentemente do conhecimento.
Art.1687º/3: também há regras de proteçã o de adquirentes de boa-fé. O adquirente de boa-fé
mantém o direito de propriedade do bem mó vel nã o sujeito a registo que adquiriu.
126
09.05
Há autores que defendem que o regime de dívidas é supletivo – os cô njuges podem, em sede de
convençã o antenupcial, aprovar outras regras.
Uma interpretaçã o a contrario do art.1699º dita o que é que os futuros cô njuges podem
alterar no regime do casamento, e como nã o inclui explicitamente, no seu texto, o regime
de dívidas, entã o pode ser alterado.
127
Qualquer alteraçã o ao regime é registada e é publica, e portanto há proteçã o dos
credores que à montante vã o saber com o que vã o contar, nã o havendo maneira de criar
um regime obscuro.
Outro argumento a favor do professor Diogo Leite de Campos é que é possível modificar
o regime, mas é preciso ter cuidado em adaptar o regime de responsabilidade ao regime
de bens que os cô njuges acordaram.
128
Art.1691º/1 - dívidas comunicá veis, da responsabilidade de ambos:
a) Se houver consentimento, mesmo antes do casamento, os cô njuges podem contrair
dívidas comuns.
O que é consentir?
O art.1684º diz que o consentimento conjugal deve ser especial para cada ato e conter a forma
exigida.
Aplica-se este artigo ao consentimento pré-conjugal, por analogia (mike). O consentimento
conjugal aplica-se aos atos na constâ ncia do casamento, em momento anterior, visto que se trata
de casamento pré-conjugal.
Mike:
1. Prestaram o consentimento antes do casamento, entretanto separaram-se mas depois
juntaram-se e voltaram a casar-se. O consentimento suspendeu-se e tornou-se eficaz
apó s o casamento. A dívida só é comunicá vel apó s o casamento. à argumento literal.
2. Interpretar a alínea a) restritivamente e lê-la na perspetiva do matrimó nio. Já se tomou
a decisã o de casar, foi contraída antes, mas tem de ser na perspetiva de se vir a casar e
tornar eficaz esse regime.
Art.1691º/2: também sã o comunicá veis quaisquer dívidas contraídas antes do casamento por
qualquer dos cô njuges se for feita em proveito comum do casal, em comunhã o geral dos bens.
Art.1691º/3: nã o há inversã o do ó nus. O proveito comum nã o se presume.
129
Art.1693º - dívidas que oneram doações, heranças ou legados:
Dívidas que estejam a onerar as doaçõ es (dívidas que resultem de doaçõ es) – responsabilidade
de cada um, mesmo que aceites com o consentimento do outro. Mas isto só se aplica se for
regime de separaçã o de bens.
130
Isto serviu para evitar litigiosidade conjugal, procura evitar que um dos cô njuges possa ir a
tribunal exigir créditos ao outro – deveria ser no divó rcio (quer no art.1676º quer qualquer
compensaçã o deste artigo).
Art.1697º/2: dívidas exclusivas pelas quais tenham respondido bens comuns. O outro tem um
direito de crédito relativo a essa meaçã o.
Vicissitudes
Simples separaçã o judicial de bens – art.1767º e ss
16.05
Efeitos:
Art.1770º: separaçã o dos bens comuns.
Art.1771º - irrevogabilidade.
131
Separação de pessoas e bens (art.1794º e ss.)
Pode ser feita pela via judicial ou administrativa, com ou sem mú tuo consentimento.
Art.1794º - remissão:
Norma genérica que remete para o divó rcio.
A ideia da separaçã o de pessoas e bens é estabelecer um regime intermédio para dar espaço aos
cô njuges para escolher se querem se divorciar ou reconciliar. Há factos que levam à rutura, mas
que os cô njuges ainda acham que há hipó tese de reconciliarem.
No processo civil, quando se faz um processo, o autor faz uma petiçã o inicial contra o réu. Mas, o
réu pode achar que tem um direito sobre o outro e isso chama-se convençã o, ele toma a posiçã o
de autor.
Em sede de convençã o significa que o réu de um divó rcio, suponho uma separaçã o de pessoas e
bens.
Efeitos – art.1795º-A:
Dever de fidelidade, cooperaçã o e respeito mantêm-se em vigor.
132
Por divó rcio ou reconciliaçã o.
Art.1795º-C – reconciliação:
Já vimos no art.1794º que, relativamente aos bens, procede-se à partilha de bens. Na parte
patrimonial, é como se o casamento tivesse sido dissolvido. Mas, se há reconciliaçã o, temos de
voltar atrá s, e recriar a situaçã o em que os cô njuges estariam antes.
Coloca-se a questã o se, nesta situaçã o, os cô njuges podem escolher um regime de bens diferente
do que escolheram no início.
Divórcio
Causa de vicissitude matrimonial mais comum.
Incentivo a ir pela via administrativa, para impedir que os civis fiquem cheios sem caso
de litígio.
Sem consentimento:
133
Vai-se pela via judicial.
Fundamentos do divórcio: Nã o é preciso demonstrar culpa, mas tem o ó nus de alegar – que há
um fundamento para pedir o divó rcio que se baseia na ideia de rutura do casamento.
Art.1781º - rutura:
Casos de rutura:
a) Separaçã o de facto por um ano consecutivo.
b) Alteraçã o das faculdades mentais do outro cô njuge – nã o é uma mera alteraçã o, tem de
estar há um ano assim e compromete a possibilidade da vida em comum. Apesar de
134
haver um dever de assistência para cuidar na medida do possível, se passado um ano
continua nesse estado mental e se nã o permite a vida em comum há rutura.
c) A ausência sem notícias por mais de um ano.
d) Norma genérica, residual – situaçõ es que demonstrem a rutura definitiva do casamento,
independentemente de culpa.
Hoje em dia, como nã o há culpa, os fundamentos sã o um bocado irrelevantes, basta apenas
alegar sem ter de provar (só se tem de provar que esteve fora por um ano).
Efeitos do divórcio:
O divó rcio tem efeitos para o futuro no momento do trâ nsito em julgado da sentença e
só pode ser oposto a terceiros depois de registo.
O art.1790º tem uma regra engraçada, em caso de divó rcio, nenhum dos cô njuges pode receber
mais do que se tivesse celebrado em regime de comunhã o de adquiridos, para impedir que o
divó rcio seja uma forma de aquisiçã o de bens.
A comunhã o de adquiridos, aquilo que os cô njuges adquirem no casamento com base no
esforço. O divó rcio nã o pode ser uma forma de adquirir bens para além do esforço.
135
Art.1689º - regras para a partilha de bens.
Define as regras da partilha. Sempre que há partilha, por simples separaçã o de bens, separaçã o
judicial de pessoas e bens ou divó rcio, aplica-se este artigo.
A doutrina discutia se os cô njuges podiam fazer contratos prévios de partilha, quer em
convençã o antenupcial ou durante o casamento.
A resposta é que se pode fazer, nã o é contrá rio ao princípio da imutabilidade e a ú nica que se
tem de respeitar, sã o as regras do pagamento de dívidas a terceiros.
Cessando as relaçõ es patrimoniais e dos cô njuges, os herdeiros recebem os bens pró prios e os
bens comuns sã o meados – direito à metade.
Art.1689º/2: se houverem dívidas a serem pagas, pagam-se primeiro as dívidas comunicá veis e
só depois as restantes. Nã o existindo bens comuns pró prios suficientes, respondem os bens
pró prios do devedor.
Art.1689º/3: os créditos conjugais que só sã o exigíveis no momento da partilha (compensaçã o)
e sã o pagos pela sua parte da meaçã o e se for insuficiente respondem os seus bens comuns.
Filiação
É a relaçã o de parentesco que une os descendentes aos respetivos progenitores.
Estabelecimento da filiaçã o;
Responsabilidades parentais.
Estabelecimento da filiação
Isto é como se estabelece, biologicamente, quem é filho de quem.
Como é que se estabelece? Por perfilhaçã o, por declaraçã o de maternidade, por presunçã o de
paternidade?
Vamos ver os caminhos para encontrar o pai/mã e de alguém. O legislador quer evitar situaçõ es
de pessoas sem pai/mã e.
Art.1796º e ss.
136
Art.1796º - estabelecimento da filiação:
Art.1796º/1 – relativamente à mã e, resulta do facto do nascimento.
Declaração de maternidade:
Art.1803º - ela é feita através de uma declaraçã o, que pode ser da mã e ou de outras pessoas, no
registo. Na prá tica, muitos hospitais têm dentro do pró prio hospital um balcã o de IRN para
registar o nascimento, e aí declara quem é a mã e. O registo é omisso e os conservadores têm o
dever ex officio de estabelecer a maternidade.
É mais comum em casos de impugnar o facto registado art.1807º - quando a realidade do
registo nã o corresponde à realidade bioló gica. O registado (bebe), qualquer outra pessoa que
tenha interesse moral/patrimonial, a mã e, ou o MP pode impugnar.
Art.1808º - averiguação oficiosa da maternidade:
É um caminho transitó rio que pode resultar ou na declaraçã o de maternidade ou no
reconhecimento judicial, mas por si mesma nã o é uma modalidade de estabelecimento da
maternidade. é um mecanismo onde o legislador permite que o conservador de instaurar uma
investigaçã o sobre a maternidade de alguém. Sempre que a maternidade nã o esteja no registo
de nascimento, o conservador tem o poder de averiguar quem é.
Reconhecimento judicial:
90 dias para registar.
Art.1814º - quando nã o há estabelecimento de maternidade feita até entã o, o filho pode
instaurar processo de reconhecimento judicial de reconhecimento de maternidade.
137
Só durante a menoridade ou 10 anos apó s a emancipaçã o ou maioridade.
Feita pelo filho ou pelo MP.
Há uma doutrina que defendem uma aplicaçã o extensiva da presunçã o de paternidade, aos
casos da uniã o de facto, mas os tribunais e uma parte do casamento defende que nã o se estende.
Perfilhação
É o ato unilateral voluntá rio do pai que reconhece aquela criança como filho.
Qualquer pessoa com mais de 16 anos tem capacidade de gozo para perfilhar – art.1850º.
Por testamento – que pode ser à “mã o fechada”, só aberto no momento da morte.
138
Por escritura pú blica;
Reconhecimento judicial
Casos em que nã o há presunçã o de paternidade ou perfilhaçã o, e portanto deve ser feito através
de reconhecimento judicial apó s apreciaçã o judicial da perfilhaçã o.
Existe presunçã o no reconhecimento judicial – art.1871º, forma de estabelecer a paternidade.
Que é diferente da presunçã o de maternidade.
Art.1871º - presunção:
a) Filho tratado como filho pelo suposto pai e percebido pelo pú blico. (vs art.1816º/a)
b) Quando declarar em carta. (vs art.1816º/b)
c) Quando no período de conceçã o tenha existido comunhã o duradoura (viveram juntos,
convivência noturna). Mike: presunçã o fraca.
d) Presume-se a paternidade quando:
- o pai seduziu a mã e e essa era menor e virgem. Seduzir a mã e – ela só teve relaçõ es
sexuais com ele.
- o consentimento dela na seduçã o foi obtida por promessa de casamento, abuso de
confiança ou abuso de autoridade.
e) Quando se prove que o pretenso pai teve relaçõ es sexuais com a mã e durante o período
de conceçã o.
17.05
139
Efeitos da filiação - art.1874º e 1972º.
Deveres recíprocos que os pais têm quanto aos filhos.
Art.1674º (dever de cooperaçã o): Deve ser feita uma interpretaçã o extensiva para incluir a
cooperaçã o dos pais para os filhos.
Art.1874º/2: os filhos e os pais devem contribuir para os encargos da vida familiar, na medida
da sua capacidade.
Responsabilidades parentais
Art.1877º - duração das responsabilidades parentais:
Tem um momento em que se inicia (que até se discute), e em que cessa.
Cessa com a maioridade ou emancipaçã o dos filhos.
Art.1878º/1: Compete aos pais velar pela segurança, saú de, educaçã o, representá -los e
administrar os seus bens.
Art.1878º/2: Compete aos filhos obediência aos pais, que à medida que vã o crescendo
torna-se menos intenso. À medida que os filhos adquirem maturidade, a opiniã o dos
menores deve ser tomada em conta para salvaguardar o seu interesse na tomada de
decisõ es.
140
Os pais ficam desobrigados quanto a isso, se os filhos estiverem em situaçõ es de assumir essas
despesas (condiçõ es de suportar por produto do seu trabalho ou rendimentos).
Art.1882º - irrenunciabilidade:
As responsabilidades parentais sã o irrenunciá veis – quer em todo, quer em parte.
Nã o se pode transmitir a responsabilidade a um terceiro – decorre do facto do estabelecimento
da filiaçã o.
141
Assim que se estabelece a paternidade (reconhecimento judicial e perfilhaçã o) e os pais nã o
estã o casados, o pai está , desde essa data, obrigado a prestar alimentos relativos ao período da
gravidez e o primeiro ano de vida.
Art.1885º - educação:
A educaçã o religiosa tem regras específicas, tem um limite de idade (16 anos) em que os pais
nã o podem decidir mais a educaçã o religiosa dos filhos – art.1886º.
Quanto à educaçã o nã o religiosa, os pais podem escolher se querem colégio privado ou privado.
142
Art.1893º - atos anuláveis:
Estes atos sã o anulá veis, a requerimento do filho até um ano apó s atingir a maioridade.
143