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Direito das Pessoas e da Família

Docente: Miguel Moura


2022/2023
15.02

Personalidade Jurídica
Há muitas figuras importadas para o OJ português, que em outras jurisdiçõ es sã o consideradas
pessoas jurídicas, e no nosso nã o.
O que faz uma pessoa ser reconhecida como pessoa jurídica? Requere um reconhecimento
da lei e uma atribuiçã o de personalidade jurídica.
Toda a pessoa jurídica tem personalidade jurídica e judiciá ria (fazer parte de um litígio). Mas
nem todas as entidades que têm personalidade judiciá ria têm personalidade jurídica – ex:
condomínios; herança jacente.
Associações, fundações e sociedades – pessoas coletivas. Há outras pessoas fora destas
pessoas coletivas que outros OJs lhes reconhecem personalidade jurídica – fundos de
investimento (enviamos dinheiro para o fundo que depois investe em algo para nó s; ambos
somos comproprietá rios do dinheiro dos fundos. O fundo nã o tem personalidade jurídica, entã o
é preciso uma sociedade para fazer essa gestã o do fundo.).
Nos OJs onde nã o é necessá rio a intervençã o de uma sociedade para gerir esses fundos, em
alguns países existe uma entidade que é um mercado que tem personalidade jurídica. No nosso
OJ é necessá ria uma entidade jurídica que atue em nome do mercado.
A deposita dinheiro numa conta para beneficiar B, mas C é que regula o dinheiro – trust fund. É
uma figura do direito anglo-saxó nico.

A personalidade jurídica é o reconhecimento da lei que determinada pessoa tem esfera


jurídica (direitos, deveres). Ou seja, é a suscetibilidade que uma pessoa tem de ser titular de
direitos e de estar adstrita a obrigaçõ es. Ela é qualitativa – ou se tem ou nã o.

PPV: A personalidade jurídica costuma ser definida formalmente como a suscetibilidade de


direitos e obrigaçõ es ou de titularidade, ou de ser sujeito de direitos e obrigaçõ es ou de
situaçõ es jurídicas. A pessoa jurídica é entã o todo o centro de imputaçã o de situaçõ es jurídicas
ativas e passivas, direitos e obrigaçõ es.

Art.66º/1 CC – a personalidade [jurídica] adquire-se no momento de nascimento completo e


com vida.

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Uma pessoa que nasça de forma completa e com vida adquire personalidade jurídica. Quando é
que o nascimento é considerado completo? É quando ainda está ligado ao cordã o? Está
completo antes ou depois do cordã o? Resposta: Basta sair do ú tero de forma completa. Se
acontecer alguma coisa ao bebé durante o parto, nã o adquiriu personalidade jurídica.

Nã o há definiçã o de vida na lei, mas há de morte. A definiçã o de vida é feita com aquilo que os
médicos consideram sê-lo e a sua definiçã o opõ e-se à de morte – está vivo o que nã o está morto.

Lei 99 de 24 de agosto – regula os princípios da verificaçã o da morte.


Art.2º - a morte corresponde à cessaçã o irreversível do tronco cerebral. Tem vida se nã o tiver as
funçõ es cerebrais irreversivelmente danificadas.

Concepturo e nascituro
Concepturo: é a criança que ainda nã o foi concebida. PPV: a expetativa de alguém vir a ser
gerado no futuro.
À pessoa do concepturo há muito pouca proteçã o. Posso fazer negó cios jurídicos com
concepturos, todos os efeitos decorrentes desse negó cio jurídico sã o efeitos condicionais ao
nascimento completo e com vida. A lei reconhece a possibilidade de celebrar negó cios jurídicos
a favor do concepturo.

Nascituro: é o embriã o e feto já concebido. Já foram concebidos, mas ainda nã o nasceram.


Se já foi concebido, é considerado nascituro. Há diferentes proteçõ es do embriã o ao feto.
Uma mulher grá vida quando é agredida também pode provocar lesõ es ao feto, mas como nã o
tem personalidade jurídica, nã o é titular de um direito sancionató rio. O que se tem entendido é
que o feto nã o tem direito à indeminizaçã o naquele momento, quem tem é a mã e. Até aqui esta
construçã o até faz sentido, no entanto, podemos pensar a forma como mais à frente aquilo que é
nascituro. Quando o dano perdura e os efeitos provocados pelo dano têm efeitos posteriores ao
momento com vida, a mã e pode pedir mais à frente a indemnizaçã o.
Há outro caso fora deste contexto, a criança pode pedir indemnizaçã o por nascer sem pai que foi
morto. A morte foi provocada em momento posterior à conceçã o, mas ainda há um direito
patrimonial que pode ser posteriormente exigido.nem sempre se encontra o cadá verrer n

Art.66º/2 - A personalidade jurídica depende do nascimento.

Quando é que cessa?


Art.68º/1 A personalidade jurídica termina com a morte, nos termos do DL referido.

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Art.68º/2 Presunçã o ilidível – chama-se presunçã o de comodiência. Em caso de dú vida,
consideramos que duas pessoas morrem ao mesmo tempo, se dependerem da sobrevivência
uma da outra.
Art.68º/3 Muitas vezes nã o se encontra o cadá ver, mas se for manifesta a sua morte, considera-
se falecido.

Também se discute a proteção legal do morto. Ex: proteçã o de imagem. A pessoa já nã o tem
personalidade jurídica, é possível alguma compensaçã o? A quem e a que tipo?
Difamaçã o de cadá ver é crime. O cadá ver é uma coisa, que tem uma proteçã o especial. O
cadá ver, quer do seu bem, quer a sua representaçã o, é feita através dos sucessores/familiares.
O direito civil protege pessoas falecidas, ingerências que essas pessoas teriam em vida pelos
seus sucessores, que têm legitimidade para pedir alguma compensaçã o, sendo titulares dessa
compensaçã o.

Capacidade jurídica
Implica a aquisiçã o da personalidade. A capacidade jurídica, há dois conceitos:

 Capacidade jurídica de gozo.

 Capacidade jurídica de exercício.

Capacidade de gozo/capacidade jurídica


Sempre que se refere capacidade jurídica, supõ e-se que é de gozo.
O art.67º induz em erro. É parecido com a definiçã o de personalidade jurídica - mas esta é
apenas a suscetibilidade, a capacidade já nã o se mede em termos qualitativos, mas em termos
quantitativos. A personalidade nã o pode ser graduada nem restringida. Diferentemente, a
capacidade pode ser limitada por lei, ser mais ou menos ampla.
PPV: Do art.67º retira-se que a capacidade é genérica e que em princípio nã o tem restriçõ es,
embora possa ser restringida por lei.
A capacidade de gozo é a suscetibilidade de ser titular de direitos, de situaçõ es jurídicas.
Nem com maioridade se atinge a capacidade de gozo, por vezes. A medida dos negó cios jurídicos
que podemos celebrar dependem. A capacidade de gozo é a possibilidade de celebrar certos
negó cios. Casar, adotar, perfilhar – nem pela via da representaçã o pode-se ultrapassar a falta da
capacidade de gozo. É um ato puramente pessoal, portanto tudo o que está fora da sua
capacidade, nã o é suscetível de representaçã o.

Art.1879º - restringe a capacidade de gozo.


Art.69º - nã o é possível renunciar capacidades de gozo.

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Capacidade de exercício
A capacidade de exercício, também chamada capacidade de agir, é a suscetibilidade que a
pessoa tem de exercer pessoal e livremente os direitos e cumprir as obrigaçõ es que estã o na sua
titularidade, sem a intermediaçã o de um representante legal ou o consentimento de um
assistente. É a possibilidade que cada pessoa tem de agir pessoal e diretamente. É praticar um
ato jurídico de forma livre e consciente.
Capacidade de exercício é saber se determinada pessoa naquele momento da sua vida tem o
discernimento para celebrar aquele negó cio em concreto, se a sua vontade é livre, esclarecida e
madura.
Um menor nã o tem capacidade de exercício, mas tem capacidade de gozo para fazer negó cios
jurídicos. Nã o pode fazê-lo sozinho. No fundo, é sobre perceber se naquele caso concreto a
pessoa específica pode exercer algo dentro da sua capacidade de gozo sozinho, de forma clara e
esclarecida. Ex: Um menor de 17 anos tem capacidade de exercício para celebrar um exercício,
mas nã o tem capacidade de gozo. Quem assina o contrato é o representante legal, porque a lei
lhe atribui poderes representativos. Quem é titular do negó cio de compra e venda é o menor.

Na menoridade, a representaçã o é ex lege – nã o é uma delegaçã o de poderes voluntá ria.

28.02

Com exceçã o da incapacidade acidental, as outras formas de incapacidade podem ser supridas.
Na menoridade, a incapacidade de exercício é suprida pelos representantes legais.
À partida os atos praticados por quem nã o tem capacidade de exercício sã o nulos e quem nã o
tem capacidade de exercício sã o anulá veis.

Direitos de personalidade
 Têm proteçã o civil e constitucional.

 Sã o uma categoria de direitos subjetivos que sã o inerentes à pessoa humana. O que se


fala agora aplica-se ao que fizer sentido aplicar-se à s pessoas coletivas e à s pessoas
singulares. Direitos subjetivos – permissã o normativa de aproveitamento de um bem.

 Sã o direitos absolutos – direitos oponíveis erga omnes (por qualquer pessoa contra
todos). Nã o sã o relacionais. A posiçã o minoritá ria doutriná ria, que inclui o MM, defende
que a oponibilidade a terceiros é uma vertente do carater absoluto dos DP, mas nã o
corresponde a todos eles.

 Sã o inerentes à condiçã o de pessoa.

 Dizem sempre respeito a um bem de personalidade. Todos os direitos de personalidade


protegem um bem de personalidade – bem à vida; bem à integridade física; saú de; à
imagem; descanso. Também existem direitos sociais de personalidade – direito ao
convívio.

 Sã o indisponíveis/irrenunciá veis e intransmissíveis.

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Direitos de personalidade tipificados na CRP:
Art.24º CRP – direito à vida.
Art.34º CRP – inviolabilidade do domicílio e da correspondência.
Art.35º CRP – utilizaçã o informá tica.
Art.37º CRP – liberdade de expressã o.
Art.42º CRP – liberdade de criaçã o cultural.

Art.70º e 81º C - secçã o indicada apenas aos direitos de personalidade.

Tutela da Personalidade

Art.70º/1 – coloca-se a questã o de se existe uma clá usula geral de proteçã o destes direitos por
força deste artigo ou nã o - clá usula geral de reconhecimento de direitos de personalidade
atípicos.
Alguns direitos estã o tipificados no có digo e outros na constituiçã o. Porém, nem todos os bens
de personalidade estã o protegidos por força de tipificaçã o legal, entã o fica a questã o de saber se
esta regra é de proteçã o geral de todos os direitos de personalidade, incluindo os atípicos.
Este artigo é uma clá usula geral de tutela dos DP – protege a personalidade física e moral, sendo
ainda possível proteger bens jurídicos nã o previstos no CC através da clá usula geral.

Todos os direitos de personalidade que nã o sã o típicos caem dentro do art.70º/1?

 A doutrina nã o reconhece por força do art.70º/1 a existência de uma clá usula geral de
proteçã o de direitos de personalidade atípicos.

 Menezes de Cordeiro reconhece – tem-se dú vidas sobre o objeto de proteçã o deste


artigo – é um direito de personalidade sem objeto. É necessá rio um reconhecimento do
objeto para poder ser protegido. Nã o há um direito de personalidade geral, existem
direitos de personalidade atípicos e que o art.70º/1 nã o reconhece a proteçã o geral.
Existem concretizaçõ es específicas de bens específicos.

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Art.70º/2 – temos legitimidade para pedir uma providência cautelar para impedir outrem de
danificar a minha imagem.

Pessoas falecidas

Art.71º/1 – Depois da morte existe proteçã o de determinados direitos sem prejuízo de lhe ter
extinguido a personalidade jurídica. A pessoa falecida nã o pode exercê-los, mas se houver
violaçã o dos seus direitos de personalidade, por força dos seus herdeiros, essa consegue obter
alguma proteçã o.

Art.71º/2 – nã o enumera quem tem legitimidade por ordem, qualquer um pode requerê-lo. Só
as pessoas que têm legitimidade é que podem requerer as providências.

Art.71º/3 – Só quem tem legitimidade para requerer providências é que pode, em nome do
falecido, dar o seu consentimento.

Direito ao nome

Nã o se confunde com o direito ao bom nome – reputaçã o. É proteçã o ao nome.


Ao contrá rio de outros direitos de personalidade, que sã o direitos que resultam imediata e
diretamente de serem pessoas jurídicas, no nome nã o é assim – a atribuiçã o do nome, é
eventual.

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Se nã o existir o nome, nã o há direito ao nome. Nã o há um direito a ter nome, mas a partir do
momento que o nome existe, existem direitos que o protege.
Há dois tipos de nome: nome civil e profissional. Estes podem nã o ser o mesmo, e muitas vezes
nã o o sã o.
A forma como a lei protege o nome é tã o intensa, que podemos requerer que o tribunal todas as
providências necessá rias para que um terceiro nã o abuse da utilizaçã o do nosso nome e tudo
aquilo que nos identifique enquanto pessoa.
A proteçã o que o OJ dá à alcunha é extensível do nome. A alcunha pode ser protegida assim
como nome, se através daquela alcunha nã o se consegue identificar outra pessoa.

Art.72º/2 – nã o nos podemos aproveitar de ter um nome parecido a pessoa para obter um
benefício.

Em Portugal nã o somos livres de escolher qualquer nome, existe uma lista de nomes que nã o
podemos usar, nomes estrangeiros, etc…

Art.74º - quando o pseudó nimo tem notoriedade também tem proteçã o.

Art.73º aplica-se ao art.72º e 74º.

Confidencialidade das cartas


Cartas em sentido amplo – é necessá rio interpretar este termo extensivamente. Inclui – email,
mensagens de WhatsApp,… Ou seja, qualquer meio de comunicaçã o escrito, independentemente
da forma.
Esta matéria é sensível porque implica a imposiçã o do destinatá rio da carta para que nã o haja a
transmissã o da informaçã o que contem.

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No direito privado nã o se pode atribuir um benefício sem o seu consentimento. No caso da
relaçã o pais-filhos, os pais emitem ordens porque tem poderes funcionais; no caso do
trabalhador este consente no contrato de trabalho.
No caso das cartas confidenciais pode-se colocar legitimamente a questã o de saber se o
destinatá rio da carta fica automaticamente obrigado a nã o transmitir a um terceiro a
informaçã o por mera imposiçã o unilateral do emitente da carta.
Ex: envio um e-mail e digo que o destinatá rio tem de tratar a informaçã o como confidencial. Se
ficamos automaticamente obrigados a nã o transmitir essa informaçã o a terceiros, estamos no
fundo a limitar a esfera jurídica de outrem.

Quanto a essa questã o, existem 3 teses:

 Só se atribui a natureza confidencial a uma determinada carta se o emitente da carta o


disser expressa ou implicitamente. Portanto, é o emitente que determina a natureza
confidencial da carta. – tese subjetivista.

 A natureza confidencial nã o é atribuída por vontade do emitente, é feito um teste


objetivo para aferir se a carta tem natureza confidencial – tese objetivista.

 Há uma outra tese que junta as duas – a carta ou escrito tem natureza confidencial se o
emitente assim o exprime (expressa ou implicitamente) ou se, objetivamente, naquele
caso concreto devemos tratar a carta como confidencial de forma tratar os interesses do
emitente como confidenciais. – tese mista.

Há matérias que pela sua natureza nã o podem ser tratadas como confidenciais. Mesmo nos
contratos ou nas clá usulas contratuais em que as partes se comprometem a um dever de
confidencialidade, há sempre uma exceção – podem ser divulgadas certas informaçõ es em caso
de prá tica de atos ilícitos, ou por pedido de autoridades fiscais ou tribunais (nã o posso me
recusar a dar informaçõ es se uma autoridade o exigir). A confidencialidade, portanto, tem certos
limites.

Há pessoas que estã o, por força deontoló gica, sujeitas a deveres de confidencialidade – ex:
advogados; psicó logos.

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Art.75º/1 – O destinatá rio de carta confidencial deve guardar reserva sobre o conteú do, nã o
podendo retirar algum benefício do seu conhecimento.
Art.75º/2 – Se quem receber a carta confidencial morrer, o seu autor pode pedir a remissã o
dessa informaçã o.
Qualquer pessoa do art.71º/2 pode requerer a restituiçã o da carta, protegendo o extravio ou
divulgaçã o da informaçã o.

Art.76º Este artigo tem uma regra que pode causar alguma dú vida quanto à sua legitimidade.
As cartas confidenciais só podem ser publicadas com o consentimento do autor. Ou com
suprimento judicial do consentimento:

 Quando o autor nã o pode prestar consentimento – ex: doente, o ato de consentimento


tem de ser feito pelo juiz, substituindo a incapacidade do seu autor.

 Quando o autor nã o quer prestar consentimento - se for um documento histó rico,


literá rio ou biográ fico pode ser publicado sem o seu consentimento; mas se nã o for um
documento desse género, a falta de consentimento só pode ser ultrapassada por
suprimento judicial do consentimento.
Portanto, o consentimento só pode ser suprido em casos absolutamente excecionais quando o
seu autor falece: por motivos de documentos biográ ficos, haver justificaçõ es fortes científicas,
literá rias, histó ricas de interesse pú blico forte. Se o autor nã o der o consentimento pode-se
pedir o suprimento judicial do consentimento. Alguns autores dizem que é preciso encontrar-se
uma justificaçã o para a publicaçã o legal de coisas que sã o confidenciais.

Art.76º/2 - neste artigo quando remete o art.71º/2 exige-se que se siga a ordem, ao contrá rio
dos artigos anteriores. Quando o autor morre pode ser publicado sem o seu consentimento por
essas pessoas nele elencadas, seguindo a sua ordem.

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O art.77º manda adaptar à s memó rias familiares e pessoais. Enquanto o art.76º aplica-se a
documentos que têm destinatá rio, aqui só se tem o autor. Por isso, neste caso só podem ser
publicadas com:

 o seu suprimento judicial;

 com consentimento das pessoas do art.71º/2 (pela ordem);

 por fortes motivos literá rios, histó ricos e biográ ficos.

O legislador entende que memó rias familiares têm objetivamente natureza confidencial sempre.

Cartas de natureza nã o confidencial só podem ser divulgadas de forma que nã o contrarie uma
expectativa (vontade presumível) do autor.
Desta forma, há também uma proteçã o de informaçã o nã o confidencial.

Direito à imagem

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Nota: Este artigo nã o se refere a outra coisa que nã o o retrato, a identificaçã o da pessoa. Nã o
quer dizer liberdade de fazer o que se quer com a aparência – tatuagens/piercings.

Art.79º/1 – o retrato de uma pessoa nã o pode ser ‘’lançada’’ no comércio se essa nã o prestou
consentimento. Isto inclui a captaçã o e utilizaçã o de imagem sem consentimento, que sã o à
partida puníveis. O consentimento pode ser dado depois da pessoa falecer pelas pessoas do
art.71º/2, seguindo a ordem.
Art.79º/2 – nã o é necessá rio o consentimento da pessoa retratada, por em casos excecionais:

 Notoriedade, cargo, exigências de polícia ou justiça, finalidades científicas, didá ticas ou


culturais: nã o é necessá rio o consentimento para nã o haver reproduçã o de imagem. Ex:
PR.

 Lugares pú blicos: é todo o lugar que nã o é privado.


Ex: selfie com pessoas atrá s. Se conseguirmos identificar que, está atrá s, está -se a publicar a
foto de alguém num lugar pú blico que nã o prestou consentimento.
O que se tem entendido, é que há uma espécie de uso para este tipo de publicaçõ es e o
tribunal tem decidido que, se é feita uma publicaçã o nas redes sociais nos termos das quais
existem pessoas que nã o prestaram o seu consentimento, o uso da sua imagem é lícito se
elas nã o estiverem no primeiro plano (estã o no background) e se estiverem num lugar
pú blico.

 Factos de interesse pú blico: ex. manifestaçã o a ser filmada.

Art.79º/3 – Contudo, a imagem nã o pode ser reproduzida nos casos excecionais se resultar em
prejuízo à honra ou reputaçã o.

De forma geral, tem-se entendido que há 3 níveis de proteçã o da vida privada:


1. Circulo mais restrito – a residência, familiares, cô njuges ou uniõ es de facto sã o pessoas
que têm, à partida uma relaçã o familiar em sentido amplo (sentimental de alguma forma
– pessoas que comunhã o do leito, economia.) A proteçã o que lhe é dada é mais restrita.
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1
2. Inclui outros familiares e alguns nã o familiares (amigos) que consideremos muito
pró ximos.
3. Inclui outras amizades, nã o tã o pró ximas – inclui até conhecidos com quem podemos
partilhar informaçã o pessoal. Nã o inclui relaçõ es profissionais.

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Intimidade da vida privada é um conceito indeterminado e amplo – sã o situaçõ es em que
determinados contextos podem ser ingerências ilícitas na intimidade da vida privada.
O legislador procura dizer que devemos analisar cada caso do ponto de vista objetivo e
subjetivo para perceber qual a extensã o da reserva:

 Aná lise objetiva – ver a natureza do caso;

 Aná lise subjetiva – ver a natureza das pessoas e a sua relaçã o.

Limitação voluntária dos DP – art.81º


As pessoas podem voluntariamente querer limitar os seus direitos de personalidade.
Art.81º/1 - Tem uma regra que por um lado admite que até um certo limite os DP possam ser
disponíveis – a lei confere a possibilidade com limites - se for contrá ria aos princípios da ordem
pú blica essa limitaçã o é nula.
Art.81º/2 – A limitaçã o voluntá ria é sempre revogá vel, mas posso ter de indemnizar os
prejuízos que possam causar a outra parte.

A revogaçã o tem efeitos retroativos, como se nunca tivessem sido limitados, e é unilateral
porque nã o depende da outra parte.

Nã o se deve confundir com o direito ao arrependimento, que é dado aos consumidores para
certos produtos nos termos dos quais em certas condiçõ es temos o direito de nos arrepender de
uma determinada compra e devolver o produto – tem uma regulaçã o pró pria.

Domicílio
Todas as pessoas devem ter um domicílio, quer pessoal quer profissional. A residência habitual
é muitas vezes o domicílio pessoal e portanto corresponde à pessoa. Esta informaçã o por vezes
é importante – para notificar, entregar um bem. Por essa razã o todos nó s temos de ter registado
nas finanças uma certidã o de domicílio fiscal para onde sã o enviados notificaçõ es, etc…

Dimensões do domicílio:

 Domicílio voluntá rio geral – corresponde à residência habitual. art. 82º.

 Domicílio profissional – onde se exerce as atividades profissionais. art.83º.

 Domicílio eletivo – para certos atos podemos escolher um domicílio específico. art.84º

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Ex: assino um contrato de compra e venda com alguém e normalmente nos contratos
existe uma clá usula de comunicaçõ es que indica a morada para comunicar – podemos escolher
uma qualquer.

Art.82º/1 – Se a pessoa residir em vá rios lugares, o domicílio é qualquer um deles.


Art.82º/2 – Em ú ltima instâ ncia, se nã o se souber onde reside, é o seu ‘paradeiro'.

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Regime da ausência
Há 3 ‘’fases’’ da ausência:

 Ausência provisó ria;

 Ausência definitiva;

 Morte presumida.

O legislador confere proteçõ es diferentes conforme a ‘’fase’’. MM discorda com essa expressã o
porque o regime nã o é, propriamente, faseado; podemos ‘saltar fases’.

Ausência provisória
Se a pessoa que está ausente, ninguém sabe o seu ‘paradeiro’. Muito provavelmente existem
obrigaçõ es a cumprir e se a pessoa está ausente, este regime procura assegurar que, pelo
menos, há direitos que possam ser exercidos e assegurar que obrigaçõ es possam ser cumpridas
ainda na sua ausência.
A ausência implica também a inexistência de notícias – é necessá rio nã o saber onde está o seu
paradeiro e além disso nã o podem haver informaçõ es de onde a pessoa pode estar.

Art.89º/1 - Para se aplicar este artigo o ausente nã o pode ter deixado representante legal ou
procurador. Adicionado a isto, se há uma necessidade de administraçã o de bens deve o tribunal
nomear curador provisó rio.
Art.89º/2 -A procuraçã o é um negó cio unilateral, portanto nã o é necessá rio o consentimento e
por isso o procurador pode recusar-se a exercer funçõ es. Nesses casos deve o tribunal nomear
alguém.
Art.89º/3 - Pode ser um amigo, mas pode nã o ter expertise para um determinado negó cio, e
portanto para esse caso o tribunal nomeia um curador especial.

Legitimidade para pedir curador provisório – art.91º

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O Ministério Pú blico ou qualquer interessado pode requerer que o tribunal nomeie um curador

provisó rio, de forma a assegurar que as obrigaçõ es do ausente sejam cumpridas.


Um credor pode exigir ao tribunal que se constitua um curador.

Quem é o curador provisório – art.92º

Art.92º/1 – elenca quem pode ser nomeado.


Art.92º/2 – se houver convulsõ es pode-se nomear curador especial.

Conectar este artigo ao art.1678º/2/f. Cada um dos cô njuges pode administrar os bens do outro
cô njuge em ausência ou se nã o se souber o seu futuro.

Relação dos bens – art.93º

Relaçã o de bens é uma expressã o jurídica que significa identificaçã o de bens. Vamos identificar
os bens do ausente e entregar ao curador provisó rio.

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A curadoria é um ato sujeito a registo e toda a gente pode ver que aquela pessoa é curadora
provisó ria – atos registá veis. É com o registo e com a determinaçã o do tribunal que o curador
pode exercer certos atos.

Direitos e obrigações do curador provisório – art.94º

Art.94º/2 – O curador tem de zelar pelos interesses do ausente – deve conservar os seus bens e
representá -lo em açõ es propostas contra ele.
Art.94º/3 – O curador só pode alienar ou onerar bens ou coisas com autorizaçã o judicial.
Art.94º/4 – A autorizaçã o judicial só é concedida para evitar a deterioraçã o dos bens.
Remeter ao art.1157º limitado nos termos do art.1159º.

Prestação de contas – art.95º

O curador provisó rio deve prestar contas – justificar o que andou a fazer.

Remuneração do curador – art.96º

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O curador pode ser remunerado por 10% da receita líquida que realizar.
Menezes Cordeiro – nem sempre se fazem atos que geram receita, entã o deve estar aberta a
possibilidade de remuneraçã o dele mesmo para atos que nã o envolvam a receita. Pode poder
exigir uma compensaçã o.

Quando é que termina – art.98º

Pode terminar pela transformaçã o da curadoria em definitiva.

07.03

O regime da ausência provisó ria tem como objetivo proteger o ausente. O seu mecanismo de
suprimento é a curadoria provisória.
O regime da ausência definitiva o legislador pretende acima de tudo proteger os herdeiros. O seu
mecanismo de suprimento é a curadoria definitiva.

Ausência definitiva
Art.99º - Justificação da ausência

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Na ausência provisó ria, nã o existe um limite temporal mínimo, podemos ficar como curador
provisó rio para sempre.
Na ausência definitiva, um dos critérios é 2-5 anos – carater temporal obrigató rio que nã o
existe na ausência provisó ria. Passado esse período de tempo assume-se que essa pessoa
provavelmente nã o vai voltar.

Art.100º - Legitimidade

Interessados na justificaçã o da ausência: cô njuge, herdeiros.

Art.101º - abertura de testamento.


Art.102º - entrega de bens aos legatá rios e outros interessados.
Legatá rio – patrimó nio alocado; pessoas que por forçam de lei nã o sã o sucessores mas parte do
patrimó nio tem de ir para eles – só tem 1/3 para esses e os outros 2/3 para os herdeiros.
Herdeiros – pessoas que quem escolhi
Art.103º - entrega dos bens aos herdeiros.

Art.104º - Curadoria definitiva

Os herdeiros e todos os outros interessados sã o chamados curadores definitivos.

A.106º - exigibilidade de obrigações

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As obrigaçõ es do ausente mantêm-se exigíveis durante toda a ausência provisó ria. Porém, na
ausência definitiva dá -se uma suspensã o das obrigaçõ es do ausente.

Art.107º - Caução

Existe a possibilidade de cauçã o. O tribunal pode exigir cauçã o tendo em conta o valor dos bens
e rendimentos.

Art.110º: Os poderes de curadores definitivos – o regime que lhe é aplicá vel é o mesmo
aplicado aos curadores provisó rios - art.100º que remete para o art.94º que remete para o
regime do mandato.

Art.109º - Aceitação e repúdio

Quando alguém morre, a abertura da herança é feita à queles que sã o chamados à herança
(herdeiros)que por sua vez podem aceitar ou repudiar – nã o podem aceitar nem repudiar em
parte.
Herança cheia de encargos – casos em que faz sentido repudiar.
Repú dio ou aceitaçã o: sã o atos unilaterais que sã o feitos pelos herdeiros como um todo, nã o é
preciso evidências da morte para que os herdeiros possam aceitar ou repudiar a herança.
Art.109º/2 - a disposiçã o ou repú dio é resolutiva se o ausente reaparecer.

Art.111º - fruição dos bens:

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Só os descendentes e os ascendentes e o cô njuge que sejam nomeados curadores
definitivos têm direito, a contar da entrega dos bens, à totalidade dos frutos percebidos.

Art.112º - termo da curadoria definitiva

Se quiser, passado o prazo mínimo (art.99º), posso colocar uma açã o de curadoria definitiva, a
nã o ser que seja declarada morte presumida, nos termos do art.114º.

Morte presumida
A.114º - requisitos

Os herdeiros nã o têm de instaurar judicialmente o processo, mesmo que tenham passado 10


anos – podem, nã o precisam.
Art.114º/1 – Passados 10 anos, ou 5 anos se o ausente tiver 80 anos, pode-se requerer a morte
presumida.
Art.114º/2 – se o ausente for menor, só pode ser presumida 5 anos após a data em que atingir a
maioridade.
Art.114º/3 – a declaraçã o tem eficácia retroativa.

A presunçã o é ilidível – a pessoa pode aparecer.

20
Art.119º - regresso

Os bens entregues aos herdeiros sã o recrescidos.

A.115º - efeitos

Os efeitos da morte sã o os mesmos da morte presumida. Porém, enquanto a morte dissolve o


casamento, na morte presumida, a declaraçã o nã o dissolve o casamento.
O cô njuge que vive, numa declaraçã o de morte presumida a seu favor, pode voltar a casar. Se
entretanto, o morto presumido regressar, dissolve-se automaticamente o primeiro casamento.

Porquê que nã o se dissolve?


1. Se a pessoa voltar, teria de se voltar a casar.
2. Acervo patrimonial dos cô njuges – proteçã o específica.

Menoridade
Nã o existe definiçã o jurídica de criança. Os instrumentos que temos de proteçã o da
criança/jovens sã o de natureza convencional e internacional.

Vamos estudar os menores em dois momentos:


1. Capacidade jurídica;
2. Relaçõ es de filiaçã o.

21
Incapacidade de exercício – incapacidade que a pessoa tem naquele momento de praticar um
negó cio de forma clara e esclarecida.
Menores – aqueles que têm menos de 18 anos.
Menores emancipados – menores que casaram e que têm idade mínima de 16 anos.

Os menores, pela sua qualidade, por estarem a construir a maturidade, há determinados


negó cios que o legislador considera que nã o possam fazer de forma individual, precisam de um
terceiro – regra geral os pais – para que possam em nome dos filhos, através dos seus poderes
representativos, celebrar certos negó cios.
Quem celebra o negó cio é o menor, mas quem assina e representa é o representante legal.

Os menores sã o incapazes de exercício por regra, mas há exceçõ es que permitem que o menor
pratique negó cios sem os pais a agir em representaçã o:

 Soluçã o dos que defendem alteraçã o de regime: o CC foi escrito numa altura em que a
família tinha um peso grande, todo o paternalismo jurídico nã o toma em conta os vá rios
está gios de maturidade – vistos pela ciência que sustenta colocar em vá rios está gios
etá rios as diferentes etapas da maturidade. É possível ilidir de forma etá ria a
maturidade, e atribuir a cada patamar a capacidade para celebraçã o de certos negó cios
jurídicos.

 Outra crítica: todos somos incapazes, mas há exceçõ es. Deve ser recomposta pela ideia
que os menores sã o capazes, mas incapazes como exceçã o, e nã o regra. Ou seja, inverter
a ló gica.

Art.122º - menores
Menor – quem já adquiriu personalidade jurídica, mas nã o atingiu 18 anos.
“É menor quem nã o tiver ainda completado dezoito anos de idade.”

Art.123º - incapacidade dos menores

Este artigo considera que os menores sã o, por regra, incapazes. Nã o têm capacidade para o
exercício de direitos.
Sã o incapacitados genericamente de exercer os seus direitos, por isso precisam dessa “mã o” que
aja por sua conta, em seu nome, em sua representaçã o, para celebrar esses negó cios.

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Discute-se a questã o da capacidade de exercício do menor que para aquele negó cio tem
capacidade de gozo.

Tem capacidade jurídica? -> Tem capacidade de gozo? -> Tem capacidade de exercício?

Art.124º – suprimento da incapacidade dos menores

O suprimento é feito pelo poder parental, e subsidiariamente pelo regime da tutela.


Responsabilidades parentais – assenta na ideia de um poder e dever funcional. É o termo que se
usa para abranger os poderes funcionais dos pais – em ordenar – e o dever funcional – dever de
dar comida, abrigo, roupas.
Existem problemas que nã o conseguimos em abstrato perceber – temos de ver se naquele caso
tinha capacidade para exercer os seus direitos de forma esclarecida e clara.

Art.125º - anulabilidade dos atos dos menores


Por regra, os negó cios feitos pelos menores sã o invá lidos, anulá veis.
O artigo descreve a forma como se pode anular a forma do negó cio do menor, sempre a
requerimento judicial, mas que extrajudicialmente podem sempre fazê-lo.
Art.125º/a – A açã o pode ser tomada no prazo de um ano e começa a contar a partir do
conhecimento do tutor. Se o menor celebra um negó cio é invá lido e o tutor toma conhecimento
e pode requerer no prazo de um ano. Mas se o menor entretanto atinge maioridade, o negó cio
torna-se convalida-se na Ordem Jurídica.
Art.125º/ b – o menor pode anular o negó cio feito um ano apó s ter atingido a maioridade.
Art.125º/2 – a anulabilidade é saná vel mediante confirmaçã o do menor apó s maioridade, por
menor emancipado ou pelo tutor.

Açã o de menor acompanhado antes de fazer 18 anos -> incapacidade de exercício mesmo apó s
maioridade.

23
Art.127º - exceções à incapacidade do menor

Este artigo elenca as exceçõ es à incapacidade dos menores, para que possam celebrar negó cios
jurídicos sozinhos. A contrario, todos os atos praticados pelos menores que nã o caiam neste
artigo sã o invá lidos. Portanto, excecionalmente vá lidos (anulabilidade).
Art.127º/1/a – o legislador quis distinguir atos de disposiçã o e de administraçã o – coisas que o
menor pode fazer com os bens adquiridos com o seu trabalho.
O menor que tenha 16 anos pode trabalhar. Adquiriu patrimó nio e desse patrimó nio adquirido
ele pode administrar ou dispor da forma que quiser. O sentido “trabalho” tem sentido amplo –
todo e qualquer prestaçã o de serviço. Nã o é preciso ter um contrato de trabalho, para usufruir
deste artigo.

Art.127º/1/b – alínea mais abrangente; valida negó cios jurídicos praticados por menores. A
forma como está escrita, indefinida, suscita em alguns casos questõ es sobre a sua aplicabilidade.

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Ninguém discute que o negó cio que o menor faça para ir à cantina comprar comida seja
invá lido; Porém, se um menor comprar uma bicicleta de 15000 pode levantar problemas.
Se calhar, o poder financeiro que os poderes do filho do CR7 têm é diferente da média das
pessoas – para eles, se calhar, comprar essa bicicleta é de pequena importâ ncia. Se só olharmos
para o contexto social e financeiro do menor, podemos encontrar casos em que ao menor faça
sentido fazer um negó cio jurídico de menor importâ ncia, ainda que para outras pessoas seja de
maior importâ ncia.

Esta alínea diz “capacidade natural” – ninguém sabe o que é. Estando ao alcance da sua
capacidade natural, se implica despesa ou disposiçã o de bens – o menor também tem um acervo
patrimonial.
Nota: Os menores podem adquirir por usucapiã o; aderir a associaçõ es de natureza política.

Art.127º/1/c – os bens que respondem pelos atos praticados pelo ofício sã o os bens que o
menor vem adquirir em resultado dessa atividade. O que há é uma delimitaçã o à
responsabilidade dos menores.

Art.127º/2 – regra específica sobre responsabilidade. Todo o nosso patrimó nio responde pelas
nossas dívidas, mas para proteger o menor as suas dividas só incidem sobre os bens do menor
que resultam da sua profissã o/arte/ofício.

Há uma limitaçã o da responsabilidade do menor – só os bens adquiridos fruto de


profissã o/arte/oficio é que podem responder por uma dívida.

Art.126º – Dolo do menor

Nã o é incomum que os menores atuem com dolo em determinados atos que devem ser punidos
pelo desvalor - para o facto de ter agido em culpa. Portanto, o menor que agiu em dolo nã o pode
usufruir do mecanismo da anulabilidade do negó cio se contribuiu de forma dolosa para aquela
situaçã o; mas os pais podem.

A.129º - termo da incapacidade dos menores


A incapacidade dos menores cessa com a maioridade ou com a emancipaçã o.
Efeitos da maioridade: aquisiçã o plena da capacidade de exercício.

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O menor emancipado nã o deixa de ser menor, tem um regime especial. O legislador assegura um
regime equilibrado do casamento dos menores. O legislador dá poderes ao juiz para perceber se
há motivo para os pais nã o permitirem o casamento. Os menores que casam sem autorizaçã o, o
contrato é vá lido.

Caso prático 1
Isabel vive sozinha em Lisboa, no seu apartamento, no 5.º andar, esquerdo. Farta de estar em
quarentena preventiva, Isabel passa os dias a tocar piano. No entanto, preocupada pelo
bemestar dos seus vizinhos, Isabel toca apenas das 11h à s 20h.
a) Joã o e Maria, casados, vivem com a sua filha de 1 ano, Francisca, no 5.º andar, direito. Os
horá rios de sono de Francisca estã o trocados – como é, aliá s, habitual, em alguns bebés.
Joã o e Maria estã o furiosos com Isabel porque querem descansar durante o dia –
juntamente com a sua filha – e nã o conseguem. Por diversas vezes tentaram contactar
Isabel explicando-lhe a situaçã o e pedindo que reduza substancialmente, quer o nú mero
de horas que passa ao piano, quer o volume. Isabel nã o alterou o seu comportamento,
dizendo expressamente que está em estrito cumprimento da lei. Joã o e Maria querem
propor uma açã o em Tribunal com vista ao ressarcimento dos danos que esta conduta
causou à sua família.
Quid iuris?

É licito tocar entre as 11h e as 20h.


Direitos de personalidade em causa: direito ao repouso e ao descanso. O conteú do do art.80º
nã o parece ser para estes casos. Sã o direitos atípicos que caem da clá usula geral.
Direito à integridade física de Isabel: proteçã o do bem estar psicoló gico porque está em casa
sem poder sair.
Neste caso, temos uma colisã o de direitos. Temos direitos subjetivos que podem ser exercidos
por Isabel e outros que podem ser exercidos por Joã o, Maria e Francisca.
A maioria das questõ es de direito de personalidade na prá tica abordam direitos de
personalidade.
Neste caso aplicaríamos o art.335º - colisã o de direitos. Se percebermos que os direitos sã o de
igual importâ ncia, devemos encontrar uma soluçã o segundo juízos de equidade e chegar a um
consenso/compromisso.

26
b) Mafalda e Ana vivem no 4.º andar, esquerdo. Mafalda vivia nesse apartamento, sozinha,
desde 2014. No final de 2016, Mafalda passou a viver em uniã o de facto com Ana,
partilhando, naturalmente, a residência habitual com aquela. Devido à quarentena
preventiva de Isabel, e porque esta passa o dia inteiro a tocar, ainda por cima sempre a
mesma mú sica, Ana nã o consegue estudar de forma adequada. Ana dirige-se ao
apartamento de Isabel para pedir “esclarecimentos” e esta dá -lhe nota que, em 2015,
assinou um contrato com Mafalda nos termos do qual esta lhe dava a plena liberdade de
tocar a qualquer hora, mediante uma contribuiçã o mensal de EUR 50,00. Disse-lhe
também que, como vive agora com Mafalda, Ana apenas tem de aceitar a eficá cia do
contrato. Ana diz que, agora que se encontra num estado aná logo ao casamento, tem
poderes fazer extinguir, de forma unilateral e com efeitos imediatos, a renú ncia feita
pela sua unida de facto, Mafalda.
Pronuncie-se sobre todas as questõ es de Direito das Pessoas e Família que lhe pareçam
pertinentes.

Há um contrato celebrado por Isabel e Mafalda, em que Mafalda recebe 50 euros e Isabel toca a
mú sica. É um contrato de limitaçã o voluntá ria dos direitos de personalidade – art.81º. Devemos
interpretar o contrato, interpretando a clá usula que diz que pode tocar a qualquer hora
legalmente permitida.
O contrato apesar de vá lido, tem efeitos apenas e só para Mafalda; nã o pode afetar terceiros.
Celebramos um contrato vá lido e eficaz – mas afeta mú ltiplas pessoas. Nas relaçõ es internas
entre Mafalda e Ana esta tem de lhe explicar sobre o contrato feito. Ana nada pode fazer para
cessar o contrato de Isabel e Mafalda. O que Ana pode fazer é, pela mesma via que vimos à
pouco, mas de forma externa ao contrato, exigir que Isabel toque mais baixo ou nã o toque em
determinadas horas.

O direito à educaçã o nã o é um direito de personalidade. Para Ana é preciso repouso, que é um


direito de personalidade.

08.03

Grupo II
A Ana tem personalidade jurídica e capacidade de gozo para o exercício desse direito. Sendo
menor – art.122º tem incapacidade genérica de exercício – art.123º. No entanto, existem
diversas exceçõ es -art.127º.
Temos atos aquisitivos e atos dispositivos de bens. A forma mais fá cil é olharmos
cronologicamente para cada um dos atos.

Receber 500eur:
No seu patrimó nio, Ana recebeu 500 euros.

27
Equipa de voleibol amadora – nã o estamos no contexto de uma atividade profissional.
Art.127º/1 limita a atividade profissional para os 16 anos e só por isso estaria fora do â mbito de
aplicaçã o desse artigo.
Ela integra esta equipa – juridicamente está em causa poder haver um contrato de prestaçõ es de
serviços escolares, nos termos dos quais estã o diversas atividades incluídas – voleibol. É no
contexto desse contrato que surge essa remuneraçã o com natureza jurídica de prémio que tem
um tratamento jurídico pró prio. Para este efeito o sentido de prémio deve ser feito conforme os
usos. Os pais é que assinaram o contrato em seu nome.
Se é lícito que a Ana receba 500 euros pelo seu esforço – sim. Há uma aquisiçã o e um aumento
do seu patrimó nio.

O que Ana faz:


Ana quer comprar um kayak que custa 650 euros, mas só tem 500 euros, um hoodie e uma
medalha. Ela recebeu estes objetos e quer comprar um kayak, mas nã o tem liquidez suficiente,
portanto quer vender o hoodie por 50 euros e vender a medalha por 100 euros.

 Vende a medalha ao Hugo de 17 anos, por 100 euros.

 Vende o hoodie à Rita de 12 anos, por 50 euros.

Quando se fala de negó cios jurídicos entre menores, temos de olhar para as duas partes.

Ana 14 anos vende a medalha ao Hugo por 100 euros:


Alienaçã o de uma medalha – ato dispositivo.

 Art.127º/a – Ana nã o tem 16 anos – idade mínima. Para aplicar esta alínea teríamos de
fazer uma interpretaçã o extensiva para o “trabalho” e para a idade. É difícil fazer uma
interpretaçã o extensiva no sentido ampliar a idade apenas para um caso.

 Art.127º/b – atos de gestã o corrente: Mike tem dú vidas que possamos o art.127º/1/b,
pois ninguém anda correntemente a vender medalhas. Esta alínea tem o problema de
nã o ser um negó cio decorrente da profissã o/arte/ofício. Mesmo assim, Mike acha que
esta seria a melhor soluçã o.

 Art.127º/1/c – o que significa “autorizada a exercer” é a profissã o/arte/ofício ou o


negó cio jurídico? Refere-se à profissã o/arte/ofício. Se os pais autorizassem o negó cio
jurídico – eles já têm a capacidade de suprimento da incapacidade dos menores,
portanto nã o faz sentido interpretar dessa forma.

É um regime que nã o conseguimos utilizar o art.127º/1/a, b) nem c). A lei nã o nos dá uma
resposta só lida de qual alínea certa para aplicar.
O negó cio é um negó cio que nã o é da vida corrente – ela está a alienar um patrimó nio em troca
de dinheiro.

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O legislador prefere que os menores tenham dinheiro do que tenham outros bens. Um menor
nã o pode fazer nada com uma medalha. Comprar uma medalha é menor ó bvio que se pudesse
fazer. A Ana está a trocar um bem que ganhou por algo que se esforçou. Ter demasiada liquidez
nã o é bom, mas é preferível ter liquidez para poder usá -la como método.

Perspetiva do Hugo: o Hugo é menor, pode comprar por 100 euros, visto que está quase na
maioridade. Nã o há jurisprudência que considere que Hugo nã o pode fazê-lo. Hugo tem
discernimento para fazer este negó cio.
Mais vale pensar na maturidade concreta de cada um – discernimento – e nã o há razã o para
dizer que o negó cio seria invá lido.

Venda do hoodie à Rita:


A Rita em 12 anos e paga 50 euros.
Da perspetiva da Ana: aplicaríamos a mesma ló gica (art.127º/1/b), pensando mais na sua
capacidade de discernimento; preferência pela liquidez; despesas de pequena importâ ncia.
Da perspetiva da Rita: O patrimó nio do menor – semanadas. É diferente de dar dinheiro para “ir
comprar roupa” – já nã o é do patrimó nio do menor. A questã o é saber se 50 euros, por si, é um
valor de pequena importâ ncia. Temos de ver caso a caso. Na ausência de informaçã o, Rita de 12
anos nã o poderia praticar este negó cio, seria à partida anulá vel – art.125º pelos parentes.

Compra do Kayak:
Ana pode comprá -lo?
Art.127º/1 – Ana nã o tem 16 anos.
Art.127º/b - Nã o é um negó cio da vida corrente; nem de pequena importâ ncia.
Art.127º/c – nã o tem nada a ver com comissã o.

É anulá vel nos termos do art.125º. A ú nica forma de dizer que o contrato é vá lido, é pela alínea
a) do art.127º - argumentar que é trabalho e desconsiderar a idade fazendo uma interpretaçã o
extensiva (de muito difícil argumentaçã o).

14.03

Regime dos maiores acompanhados


O regime que temos hoje no CC relativo aos maiores acompanhados é recente, e veio substituir
os regimes da interdiçã o e da inabilitaçã o.
Basicamente, o que tínhamos, no contexto das incapacidades de exercício (em Portugal), era um
modelo tripartido: 1º menoridade; 2º interdiçã o; 3º inabilitaçã o. Mas entendeu-se que a ideia de
interdito e inabilitado tinha conotaçõ es pejorativas, tanto que se utilizava a expressã o “incapaz”

29
(que apenas devemos utilizar em termos de capacidade jurídica). Por isso resolveu-se substituir
os dois regimes por um só mais adaptá vel.
Interdito era aquele que sofria de uma anomalia física ou psíquica grave e cujo suprimento da
incapacidade era feita por representaçã o legal. Por sua vez, os inabilitados, que por serem
incapazes de algumas coisas ou por serem prodigalizados (incapazes de gerir o seu patrimó nio)
caiam dentro do escopo da inabilitaçã o – cujo suprimento era feito através curadoria.
Regime aberto permeá vel à situaçã o concreta. É um regime que protege manifestamente o
beneficiá rio do pró prio regime – o acompanhado.
Encontra-se nos art.138º e ss. Há determinados princípios nos quais o legislador assentou esta
reforma.

Art.130º CC – alcançando a maioridade, atingem as pessoas a plenitude da sua capacidade


jurídica. No entanto, as pessoas maiores podem sofrer de limitaçõ es mais ou menos amplas à
sua capacidade jurídica.

Art.138º - acompanhamento

Este regime só se aplica a maiores. As impossibilidades podem ser de saú de, do foro psicoló gico
ou físico, ou do comportamento (prodigalidade). Portanto, o maior de idade nã o consegue
exercer de forma plena e individual os seus direitos ou cumprir os seus deveres.
Aqui encontramos o princípio da necessidade: só e apenas só se aplica estas normas à s
pessoas que efetivamente necessitam deste regime para que consigam exercer os seus direitos e
cumprir os seus deveres.
A capacidade de exercício das pessoas a quem o regime se aplica – o beneficiá rio – é
judicialmente reduzida.

Art.139º - decisão judicial

Princípio da judicialidade: a eficá cia das medidas de acompanhamento estã o sempre


dependentes da intervençã o do juiz (sem prejuízo do art.156º que prevê o contrato de mandato
sem vista o acompanhamento).

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Princípio da judicialidade: regime do maior acompanhado pressupõ e a intervençã o do tribunal.
A natureza do acompanhamento é judicial – tem de ser feito um requerimento ao juiz (ó rgã o
judicial) e este olha para os factos, aprecia-os e faz uma ponderaçã o adequada face à s
circunstâ ncias concretas.
Nã o se pode beneficiar do regime do maior acompanhado de forma nã o judicial.

Princípio da necessidade: O requerimento já tem que conter provas que o beneficiá rio sofre de
alguns problemas.

Art.140º - objetivo e supletividade

A primazia do acompanhado indica que as medidas têm sempre como funçã o primá ria a
salvaguarda dos interesses do acompanhado – mas nã o só , como também que estas medidas
terminem com o tempo se tal for possível – princípio da supletividade. A primazia do
acompanhado gravita ao longo de todos os princípios.
O regime tem como vista a sua extinçã o: se for possível que o acompanhado recupere (volte a
adquirir a capacidade de exercer plena, livre e conscientemente os seus direitos) deverá ser
extinto o acompanhamento.
Este regime só será aplicado ú ltima ratio, se nã o houverem outros mecanismos de proteçã o
daquela pessoa em concreto.

Art.140º/1:

 Consagra o princípio da primazia do acompanhado ou do beneficiá rio. Todo o regime


aplicá vel ao caso concreto foi feito por base de que o acompanhado seja o ú nico a ser
beneficiado ou a pessoa mais relevante.

 Devemos ouvir sempre o acompanhado em tribunal, o interesse do acompanhado é


relevante em tribunal. Todos os atos que o acompanha faz tem de beneficiar o
acompanhado.

 Deve-se salvaguardar os interesses do acompanhado e ao mesmo tempo assegurar a sua


recuperaçã o.

Art.140º/2:

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 Se a ú nica coisa que o potencial beneficiá rio precisar resulte do cumprimento direto do
dever de cooperaçã o do cô njuge nos termos gerais, entã o nã o se precisa deste regime,
porque já existe alguém juridicamente obrigado a dar auxílio. (isto resulta do
casamento)

 O cô njuge pode ser acompanhante, e se o cô njuge tem poderes de cooperaçã o e de


assistência nã o faz sentido aplicar-se este regime.

Art.141º - legitimidade:

Art.141º/1:

 O pró prio potencial acompanhado tem legitimidade para pedir ao tribunal este regime –
pode requerer unilateralmente e voluntariamente.

 O cô njuge, unido de facto, parente sucessível - por autorizaçã o do acompanhado.

 MP pode requerer – sem autorizaçã o do acompanhado.

Art.141º/2:

 A autorizaçã o do beneficiá rio pode ser suprida se nã o a der livre e conscientemente.

Os jogos Santa Casa dã o a possibilidade de autoexclusã o para proteger a pró pria pessoa que se
quer autoexcluir.

Art.142º - menoridade:

Podemos colocar uma açã o de maior acompanhado, ainda no decorrer da menoridade para que,
assim que o menor fizer 18 anos, se aplique o regime do maior acompanhado, um ano antes de
atingir a maioridade.
O regime nã o é aplicá vel a menores emancipados.

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Art.143º - acompanhante:
Elenca quem pode ser acompanhante.
Princípio da idoneidade – nem todos elencam como um princípio per se – Mike discorda. O
acompanhante tem de ser sempre alguém que é idó neo e que seja capaz de proteger a pessoa no
caso concreto.
Este princípio diz que devemos sempre respeitar a vontade real ou presumível do
acompanhado.
Art.143º/1 – O acompanhante é escolhido, regra geral, pelo acompanhado (ou o seu
representante legal no caso dos menores do art.142º) – princípio da primazia do
acompanhado. O juiz é que tem poderes para decidir, em ultima ratio, quem é o
representante.
Art.143º/2 – regra supletiva usada no caso de falta de escolha. Nã o deve ser interpretado de
forma linear, deve ser interpretado como “guidelines” – no caso concreto temos de ver quem é a
pessoa mais adequada. Porque há um princípio de proteçã o dos interesses do acompanhado, o
tribunal tem um dever de ofício de pessoas que nã o sejam idó neas.
O que se quer em ú ltima instâ ncia é a salvaguarda do melhor interesse do acompanhado. Assim,
sem prejuízo de se ter ouvido o acompanhado, o tribunal pode recusar e escolher outra da lista,
seguindo por ordem.
Art.143º/3 – podem ser designados vá rios acompanhantes para diferentes funçõ es.

Art.144º - escusa e exoneração:


Há ou nã o a possibilidade/faculdade de recusar a determinaçã o judicial de quem é
acompanhante?

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Art.144º/1 – À partida temos a faculdade de recusar, a nã o ser que seja cô njuge, descendente ou
ascendente.
Art.144º/2 – Os descendentes podem ser exonerados apó s 5 anos se existirem outros
descendentes - rotatividade.

 Exoneraçã o – exerço funçõ es e depois deixo. Feita em momento anterior à designaçã o.

 Escusa – recuso a exercer funçõ es. Em momento posterior à designaçã o.

Art.145º - âmbito e conteúdo do acompanhamento:


Princípio do minimalismo – as medidas de acompanhamento devem ser as mínimas possíveis
para que o beneficiá rio possa exercer de forma plena e esclarecida os seus direitos – potenciar a
sua proteçã o e possível reabilitaçã o.
Uma pessoa pode apenas precisar de autorizaçã o para praticar certos negó cios jurídicos – o
acompanhante nã o precisa de ser representante de todos os atos.

PPV: “o acompanhamento se deve limitar ao necessá rio e que é decidido em funçã o de cada
caso”.

Art.145º/2 – formas de autorizaçã o: (sã o alternativas e podem ser cumulativas)


a) O mais intenso – exercício das responsabilidades parentais. Abrange mais atos do que a
mera representaçã o geral – os pais nã o sã o meros representantes, há outros poderes
que têm no exercício das responsabilidades parentais.
b) Representaçã o geral – para qualquer ato. Vs representaçã o especial – representaçã o em
atos concretos.
c) Administraçã o total ou parcial – nã o sã o representantes, sã o administradores de bens.
Agem por conta, mas nã o praticam atos em representaçã o.
d) Autorizaçã o prévia para praticar atos. O acompanhado pode praticar atos sozinho, mas
precisa de autorizaçã o do acompanhante. Há vontade expressa do acompanhado cuja
eficá cia encontra-se dependente de outro ato jurídico expresso que seja autorizativo.
Há dois atos aqui – pressupõ e-se o ato de declarar expressamente que se quer celebrar
um negó cio (por parte do acompanhado), e depois há um ato que o autoriza (por parte
do acompanhante)

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e) Qualquer outro caso que seja necessá rio, se devidamente explicitado.

Art.145º/3 – carecem sempre de autorizaçã o judicial, prévia e específica, os atos de disposiçã o


de imó veis.

Art.146º - cuidado e diligência:

Como é que o acompanhante deve exercer as suas funçõ es? O acompanhante deve agir de forma
zelosa e diligente, como um bom pai de família. (art.487º/2).
Primazia do acompanhado.
Ló gica de continuidade e indefiniçã o do momento de cessaçã o. O regime é diferente – tem-se a
vista a recuperaçã o do beneficiá rio e quer-se a sua recuperaçã o. Assim que se vejam melhorias,
cessa automaticamente.
Art.146º/2 – deve visitá -lo, no mínimo, uma vez por mês. Pode ser mais.

Se atuar de forma nã o diligente o que acontece:

 Responsabilidade civil pelo dano – dever de indemnizaçã o;

 Perder a posiçã o de acompanhante.

Art.147º - direitos pessoais e negócios da vida corrente:

Nem todos os negó cios e nem todos os direitos do acompanhado podem ser exercidos pelo
acompanhante, ainda que num regime de representaçã o geral – o legislador põ e um “travã o” aos
atos de natureza pessoal – atos jurídicos que se interligam com a ló gica do aumento da
capacidade de gozo das pessoas.

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Sã o atos pessoais que ao longo da maturaçã o o ordenamento vai permitindo à s pessoas – o
acompanhante nã o se pode substituir ao acompanhado. Esses atos pessoais continuam a ser
livres e exclusivos do acompanhado.

Esses atos estã o elencados no art.147º/2: o acompanhante nã o pode “usar”: casar, perfilhar,
adotar, cuidar e educar filhos, escolher profissã o, descolar para outro país ou mudar de
residência…

Art.148º - internamento:

Carece de prévia autorizaçã o do tribunal o internamento do acompanhado, em caso de urgência


– o acompanhante pode solicitá -lo imediatamente, “sujeitando-se à ratificaçã o pelo juiz”. –
princípio de judicialidade.

Art.149º - cessação e modificação do acompanhamento:

Sujeitos ao princípio da judicialidade para cessar ou modificar.

Art.150º - conflito de interesses:

Regra da primazia do acompanhado.


O acompanhante nã o pode praticar atos jurídicos do seu interesse que conflituam de certa
forma com o interesse do acompanhado – caso contrá rio segue-se o regime da anulabilidade do
art.261º. É a ideia dos conflitos de interesses.

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Art.151º - retribuição do acompanhante e prestação de contas:

As funçõ es do acompanhante sã o gratuitas, sem prejuízo de despesas. O acompanhante presta


contas, mas é nã o remunerado. – princípio da gratuitidade.
No direito vigente há o princípio da nã o onerosidade – sem prejuízo do facto de dever de
prestaçã o de contas do acompanhante, nã o há remuneraçã o (uma espécie de equiparaçã o ao
regime da menoridade, que também nã o é remunerado).

Art.153º - publicidade:

Durante o processo poderá ser dado segredo, porque é de matéria de intimidade das pessoas.
A decisã o judicial é sempre pú blica e o maior acompanhado é sujeito a registo – princípio da
publicidade para todos terem o conhecimento que a pessoa beneficia do regime. Portanto, o
processo de acompanhamento é levado a registo que vai fazer fé pú blica (tornar pú blico) para
que terceiros que queiram negociar com o acompanhado possam saber que tipo de atos pode
fazer.

Art.154º - atos do acompanhado:

Os atos praticados pelo maior acompanhado que nã o respeitem as medidas que o tribunal
decretou sã o invá lidos pela anulabilidade – anulá veis.
MC – aplica o art.125º e 126º por analogia.

37
Art.156º - mandato com vista o acompanhamento:

É um subtipo do mandato específico.


Qualquer pessoa (maior) pode constituir um mandato para a gestã o dos seus interesses no
futuro, para o caso de vir a ser decretado o seu acompanhamento. Este mandato pode incluir, ou
nã o, poderes de representaçã o ou outras condiçõ es de exercício.
É livremente revogá vel a todo o tempo e o tribunal deve tê-lo em conta, tanto no conteú do como
na designaçã o do acompanhante, mas também pode fazê-lo cessar se for razoá vel presumir que
seja essa a vontade do mandante.
Aqui o tribunal aproveita as disposiçõ es do mandato – pode usar o contrato e aproveitar a
vontade expressa do acompanhado.
O legislador deveria dar a possibilidade (que nã o está expressa) do mandatá rio de receber
remuneraçã o – MM. Nestes casos poderá nã o fazer sentido a proibiçã o de remuneraçã o, porque
o acompanhado pode mandatar pessoas que nã o estã o na família, por exemplo. O juiz pode
entender ao mandato – e pode recusar fundamentando.

Ex: Doença degenerativa – a pessoa pode ainda nã o estar impedida, mas pode celebrar um
contrato de mandato nos termos do qual diz a uma pessoa que fica mandatada para assumir as
funçõ es de acompanhante nestes termos. Assim, quem desenha as medidas de
acompanhamento será , neste caso, o acompanhado. Na altura em que se celebra o contrato de
mandato o acompanhado tem capacidade plena de exercício – pelo que as limitaçõ es que o
tribunal enfrenta para recusar aquilo que o acompanhado diz sã o maiores.

NOTA: art.951º – as doaçõ es feitas a incapazes sã o consideradas negó cios unilaterais, e nã o


precisam da aceitaçã o do incapaz ou do representado.

Pessoas coletivas
As associaçõ es sem personalidade jurídica nã o sã o pessoas.
As pessoas podem ser pú blicas ou privadas; singulares (seres humanos) e coletivas.

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A figura da pessoa coletiva nasce da pandectista alemã como conceito abstrato, mas já existia
indícios desta materialidade desde o direito romano – polis como pessoa coletiva; o Estado
como figura sujeita a ser titular de direitos e estar adstrita a deveres.

Pessoa coletiva:
Sujeitas ao princípio da tipicidade – nã o podem ser constituídas outras entidades que nã o
estejam previstas na lei, porque a atribuiçã o de personalidade jurídica é uma prerrogativa do
Estado.
Nas sociedades comerciais, há tipos societá rios definidos pelo legislador que nã o podem ser
ultrapassados para criar um novo.
Ex: o trust nã o é uma pessoa coletiva, nã o tem personalidade jurídica.

O que significa coletividade?

 Cará ter institutivo: instituiçã o de uma nova entidade que à partida se separa, de alguma
forma, dos seus constituintes.

 Criaçã o de uma entidade abstrata para a prossecuçã o de um fim comum.

 Entidade abstrata executa atos em autonomia dos seus constituintes.


- Quem a constitui pode influencias e controlar a atividade da PC, com exceçã o das
fundaçõ es.

A pessoa coletiva, embora seja para o direito uma pessoa, ela é administrada, representada,
gerida por uma multiplicidade de pessoas para diversos fins – lucrativos, nã o lucrativos,
proteçã o social, etc.
Toda a pessoa coletiva tem personalidade jurídica – fica adstrita a deveres e passa a ser titular
de direitos. A diferença está no momento de aquisiçã o da personalidade (nas pessoas singulares
é no momento do nascimento completo e com vida). Nas sociedades esse momento é com o
registo, na fundaçã o com o reconhecimento e nas associaçõ es depende.

Meios:
Os constituintes ou as pessoas que em momento anterior adquiriram os direitos de
associados/só cios/fundadores têm de colocar meios para que as pessoas possam agir em prol
do direito pú blico, atingindo os fins a que se destinam. Os meios sã o:

 Capital: pecuniá rio ou esforço. É o caso em que se prestam serviços à sociedade.

 Indú stria;

 Espécie.

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As sociedades comerciais precisam de ter um capital social, e é a partir deste capital que vai
iniciar a atividade e que vai servir como o patrimó nio da pessoa coletiva.
Entã o e se for uma só pessoa a constituir uma sociedade – sociedades unipessoais, sociedades
constituídas por uma só pessoa em que o capital é todo do mesmo só cio. Nã o é uma
coletividade.
A ideia de coletividade baseia-se no que é o mais comum, mas há pessoas coletivas que nã o sã o
coletividades.

Substrato:
PPV: A personalidade coletiva é atribuída pelo Direito perante a verificaçã o do respetivo
substrato.
As pessoas coletivas têm um substrato fundamental.
PPV: O substrato é a realidade social que suporta a personalizaçã o. É constituído por um
complexo de realidades que têm que ser reunidas e que se traduzem em 3 momentos:

 Bens (patrimó nio);

 Pessoas;

 Fins – orientador da atividade da pessoa.

As pessoas coletivas têm um substrato fundamental. O substrato é a preponderâ ncia de um


determinado elemento ontoló gico – elemento característico da natureza da entidade e que a
define como tal.
O substrato pode ser pessoal ou patrimonial – no fundo corresponde a um elemento
característico da natureza jurídica, mas que nã o é necessariamente exclusivamente patrimonial
ou pessoal.
Nã o existem pessoas coletivas sem substrato.

 Substrato de uma fundaçã o: maioritariamente patrimonial. O fundador aloca um


patrimó nio. Dú vida: ppv diz que o elemento dominante é o fim.
 Substrato das associaçõ es: o seu elemento caraterístico sã o as pessoas.
 Substrato das sociedades: há sociedades de pessoas nos termos das quais o substrato
principal sã o as pessoas e outras sociedades em que é o capital.

Elementos caraterísticos das pessoas coletivas:

 Substrato;

 Personalidade jurídica;

 Fim lícito;

 Segue uma forma tipificada na lei.

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PPV:
Elemento pessoal:

 Fundaçõ es: concentra-se na pessoa do fundador que institui a pessoa coletiva e lhe fixa o
fim que prossegue. O papel do fundador resume-se ao ato de fundaçã o. Os fundadores
muitas vezes mantêm o controlo.

 Este elemento é mais importante nas sociedades e nas associaçõ es – os só cios e os


associados regem o destino da pessoa coletiva.

Elemento patrimonial:
As pessoas coletivas carecem de meios para a prossecuçã o dos seus fins. Os meios sã o os bens
que os fundadores dotam a fundaçã o no ato da sua constituiçã o. Os bens constituem o
patrimó nio e sã o instrumentais à atividade da pessoa coletiva ou para a realizaçã o dos fins.
Sem patrimó nio as pessoas coletivas deixam de existir.

Elemento teológico (fim):

 Fundaçõ es: fins de interesse social – art.157º.

 Associaçõ es: fins nã o lucrativos

 Sociedades: fins lucrativos.

Capacidade jurídica
Capacidade de exercício:

 As pessoas coletivas também têm capacidade jurídica.

 PPV: As PC nã o têm consciência nem vontade pró prias como as pessoas humanas. A
formaçã o e a expressã o da vontade funcional necessita do suporte de ó rgã os. As pessoas
coletivas sofrem de uma genérica incapacidade de exercício, que será suprida por um
regime de representaçã o.

 Porque as PC sã o entidades abstratas construídas pelo direito, precisam de ter outras


pessoas reais a exercer funçõ es em sua representaçã o e seu nome, sob pena de nã o
conseguirem atuar. Daí surge a expressã o ó rgã os como ‘elementos funcionais da pessoa
coletiva’.

 Os ó rgã os constituem a pessoa coletiva e o ó rgã o de natureza diretiva (gerente,


administrador, conselho de gerência, etc.) – sã o eles que exercem, em representaçã o da
pessoa coletiva, as suas atividades.

 Representação orgânica: suprimento da incapacidade do exercício natural da


capacidade de exercício através dos ó rgã os. As pessoas coletivas sã o incapazes de
exercício e precisam dos seus ó rgã os, nomeadamente o ó rgã o diretivo.

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Capacidade de gozo:

 A capacidade está intrinsecamente ligada ao objeto – todas as pessoas coletivas têm um


objeto. A capacidade de gozo é definida dentro do espetro da capacidade de gozo do
objeto da pessoa coletiva.

 Está articulada com a natureza contratual que regula a forma de funcionamento da


pessoa coletiva – o objeto determina que tipos de atividades a pessoa coletiva pode
exercer.

Todas as pessoas coletivas estã o registadas no RNPC. Todas as PC têm um NIPC – nú mero de
identificaçã o. Por regra, o NPCC corresponde ao NIF.

Regime de aplicação:
O regime das pessoas coletivas no Direito Privado está dividido numa parte geral – art.157º a
166º; e depois temos partes especiais relativas à s associaçõ es, fundaçõ es e sociedades.
Os art.157º a 166º (parte geral) sã o sempre aplicá veis subsidariamente se nã o existirem regras
especificas, quer no Có digo das Sociedades Comerciais, quer em lei avulsa.

Art.157º - campo de aplicação:

As associaçõ es que nã o tenham por fim lucro econó mico – entende-se que as associaçõ es podem
ter lucro, mas o seu fim nã o é lucro econó mico. As associaçõ es podem ter rendimento, e os
associados podem até ser remunerados, apesar de nã o ter expectá vel.
As associaçõ es, por regra, nã o podem ter açõ es de sociedades comerciais – por regra. No direito
alemã o, as associaçõ es podem distribuir lucros.
O objetivo é dizer que as associaçõ es se opõ em à s sociedades (que têm interesse em ter lucro).

Art.158º - aquisição da personalidade:

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Regra relevante ao momento de aquisiçã o de personalidade jurídica.

Art.158º/1 – o ato de constituiçã o de uma associaçã o por escritura pú blica, ou outro meio
legalmente admitido, resulta na aquisiçã o de personalidade, pendente o seu registo.
Sociedades: registo tem um papel mais pesado. O ato de elaboraçã o do contrato pode nã o
coincidir com o registo. Durante o período de tempo que medeia entre a celebraçã o do contrato
e o registo da sociedade comercial, a sociedade adquire ou nã o personalidade jurídica? Durante
esse período temos a pré-sociedade, que é um regime onde se reconhece que a sociedade já
existe, mas em relaçõ es com terceiros quem responde sã o os só cios (porque os terceiros nã o
“sabem” da sua existência).

Art.158º/2 – Fundaçõ es: sujeitas a um mecanismo de validaçã o prévia pú blica –


reconhecimento. O requerimento é feito perante o Conselho de Ministros, que reconhecem as
fundaçõ es e que devem prosseguir um interesse social reconhecido pelo Estado como relevante.
Fundaçã o adquire personalidade apó s o reconhecimento.

Art.158º-A – nulidade do ato de constituição ou instituição:

Remissã o para o art.280º do CC – nulidade do objeto do negó cio.

Ato constitutivo ou institutivo:

 Fundaçõ es sã o instituídas. O ato institutivo é um ato negocial unilateral.

 Sociedades e associaçõ es sã o constituídas.

Em todos, falamos de atos de natureza negocial, logo o art.280º seria, por si só , aplicado. Há
quem diga que este artigo é redundante.
Se interpretarmos este artigo tendo em conta apenas o objeto, excluímos o fim – por isso vamos
fazer uma interpretaçã o extensiva para incluir também um fim que seja contrá rio à lei. Assim,
sempre que o ato de constituiçã o da pessoa coletiva tenha por objeto ou fim algo contrá rio à lei,
pode o MP promover a declaraçã o da sua nulidade -> nã o é qualquer interessado, mas uma
autoridade.

Art.159º - Sede

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As PC também têm domicilio – sede.
A sede deve ser o local onde está a direçã o efetiva da PC – os ó rgã os de direçã o. Mas, muitas
vezes a direçã o efetiva nã o é feita no local da sede e isto é relevante para efeitos fiscais. Na
prá tica, usualmente, a sede das sociedades comercias nã o corresponde ao lugar de direçã o
efetiva da PC (onde estã o os ó rgã os diretivos).
A sede é a que os estatutos fixam, ou o local onde funciona a administraçã o principal.

Art.160º - capacidade:

A capacidade de exercício das pessoas coletivas é suprida através dos diretores que
representam a sociedade. Mas é dú bio se as pessoas coletivas têm ou nã o capacidade de
exercício. Agora, o que é estabelecido é que tem capacidade de gozo.
Os fins de cada PC está definido no seu objeto no CAE.
A capacidade de gozo é definida no objeto. O objeto nã o inclui todos os atos assessó rios e
complementares que a pessoa coletiva precisa de fazer para prosseguir o seu fim – pelo que
encontramos o universo da capacidade de gozo quando cruzamos o objeto com todos os atos
que estas precisam de fazer para atingir os seus fins.
Isso nã o quer dizer que as pessoas coletivas só possam fazer o que está estritamente explícito.
Por exemplo, podem doar determinadas coisas – havendo algumas liberalidades para além do
fim estrito.
Há atos principais que sã o tendentes à prossecuçã o do fim, e há atos assessó rios que também
podem ser praticados. Ex. Crio uma associaçã o que tem como objetivo dar apoio a refugiados. É
preciso abrir uma conta bancá ria, para as pessoas fazerem doaçõ es. O ato de abrir a conta
bancá ria, que implica a celebraçã o de negó cios jurídicos, nã o está no objeto, mas é um ato
acessó rio ao objeto da sociedade;

Art.160º/2: remete-nos para determinados direitos que, por estarem vedados por lei ou por
serem insepará veis da sua personalidade jurídica, nã o podem fazer parte da sua capacidade de
gozo. Por exemplo, as sociedades nã o poderem ter herança.
Apesar de poderem receber da herança de pessoas por terem capacidade sucessó ria –
art.º 2033.

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Bem, quando analisamos o art.º 2033/2/b) vemos que autonomiza pessoas coletivas de
sociedades. Quer isso dizer que as pessoas coletivas nã o sã o sociedades? O conceito de
sociedade do CC pode ser dú bio de interpretaçã o em determinados sentido, e por isso o có digo
esclarece que sã o os vá rios tipos de sociedade que as pessoas que interpretam poderiam pensar
(e achar a que nã o se referiam). ( Nsei se o MM falou)

Art.162º - órgãos:

Há uma norma especifica sobre ó rgã os de PC – os estatutos é que os definem.


Sã o os estatutos das pessoas coletivas que designam os seus ó rgã os. Há ó rgã os obrigató rios e
facultativos:
Têm de incluir um ó rgã o colegial de administraçã o (mínimo 3 pessoas – regra geral de nú mero
ímpar, com um presidente), e um ó rgã o de fiscalizaçã o (apreciam a atividade dos ó rgã os
diretivos, pode ser um fiscal ú nico ou um colégio fiscal de nú mero ímpar).
Facultativo: assembleia geral (ó rgã o deliberativo).

Apesar de nã o estar aqui incluído, nã o existem associaçõ es nem sociedades sem ó rgã os
deliberativos. Existem vá rios argumentos para isto:

 Porque a vontade dos associados é relevante para tomar decisõ es importantes (e isto
nã o se confunde com a competência dos ó rgã os de decisã o);

 Porque estes artigos, sendo da parte geral, se aplicam à s associaçõ es, fundaçõ es e
sociedades – e como as fundaçõ es nã o têm assembleia geral, nã o se previu o ó rgã o
deliberativo na parte geral pese embora seja um ó rgã o necessá rio.

Ó rgã o de administraçã o: executa e exerce.


Ó rgã o de fiscalizaçã o da gestã o: fiscalizador supervisiona a atividade.
Ó rgã o deliberativo: competência para extinguir/afundir/deliberar/alterar estatutos ou fins.
Presidente: sempre necessá rio porque assume algumas funçõ es – convoca reuniõ es, tem votos
de qualidade, etc.

O que nã o está aqui previsto, mas que se discute muito é a questã o da mesa da Assembleia. Nã o
há dú vida que a Assembleia é um ó rgã o, mas será a mesa um ó rgã o autó nomo? A mesa tem
funçõ es muito relevantes (especialmente o presidente da mesa):

45
 Convoca a assembleia;

 Papel essencial quando há conflitos na assembleia.

15.03

Ontem vimos que há 3 tipos principais de pessoas jurídicas sujeitas ao princípio da tipicidade –
estã o tipificadas na lei.
O conceito de personalidade jurídica e capacidade de gozo e de exercício também se aplica à s
pessoas coletivas.

Os direitos de personalidade: embora o CC os tenha referido olhando para a pessoa individual,


também há DP da PC – direito ao bom nome e à reputaçã o. As PC, por serem pessoas
jurídicas ,estã o sujeitas a ofensas de terceiros que podem manchar a sua reputaçã o.

Art.163º - representação:

Como é que a PC é representada?


A PC é incapaz de exercício de forma natural porque nã o é um ser humano. O suprimento da
incapacidade de exercício das pessoas coletivas é feita através da representaçã o orgâ nica, por
regra. Mas é possível representaçã o voluntá ria.
Esta norma junta a representaçã o voluntá ria com representaçã o orgâ nica – podemos identificar
a representaçã o das PC de 3 formas:
1. Pelos estatutos. Os estatutos regulam a forma de funcionamento, sã o publicados, logo
sã o oponíveis erga omnes. Os estatutos têm natureza negocial e podem designar quem é
que representa a sociedade. -> representação voluntária se os voluntá rios ou só cios
definirem; é representaçã o orgâ nica se corresponderem ao ó rgã os administrativos
(porque de todo o modo o seriam se a pessoa coletiva nã o o determinasse).
2. Se nã o houver norma estatutá ria que designe os representantes legais, eles serã o
sempre, subsidiariamente os membros da administraçã o. -> representação orgânica.
3. No entanto, é dada a possibilidade do ó rgã o da administraçã o delegar em alguém que
nã o é membro do ó rgã o de representaçã o os poderes representativos. -> delegação –
representação voluntária.

Publicidade:

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 No caso dos estatutos estes sã o pú blicas, o que significa que a associaçã o, sociedade ou
fundaçã o nã o tem a obrigaçã o ou o ó nus de demonstrar.

 Se os estatutos nada disserem, sã o os ó rgã os de administraçã o e podemos ir ver quem


sã o.

 No caso de delegaçã o, já nã o é pú blico e aí há um ô nus de exigir um documento que


confere poderes.
Art.163º/2: a designaçã o de representantes só é oponível a terceiros quando se prove que estes
conheciam da representaçã o.

Art.164º e art.165º - responsabilidade dos membros da administraçã o e das PC. As PC, hoje em
dia, podem ser responsabilizadas criminalmente.

Art.164º - responsabilidade dos órgãos:


“ó rgã os” remete para o art.162º.
Art.164º/1: As obrigaçõ es e as responsabilidades estã o definidas nos estatutos (autonomia
privada – prevalece a vontade dos associados, só cios e fundadores) e na falta delas aplicam-se
as regras do mandato – tipo negocial sã o mandatos – art.1157º e ss.
Art.164º/2: os membros dos corpos gerentes (ó rgã os que participam na deliberaçã o) têm
sempre de votar, nã o se podem abster. O que significa a contrario que os membros de
fiscalizaçã o podem abster-se de votar, caso contrá rio o legislador nã o teria especificamente dito
corpos gerentes.

Quando aprovamos os estatutos definimos as competências dos ó rgã os (com os devidos limites,
sendo que nã o podemos simplesmente atribuir competências de administraçã o ao ó rgã o
fiscalizador, por ex.). Podemos definir, nos termos da autonomia, as competências e
responsabilidades, e também os tipos de relaçõ es obrigacionais que as estes tenham perante a
sociedade.
Nas sociedades comerciais há uma listagem de competências dos só cios e dos ó rgã os
que nã o podemos ultrapassar. Sã o critérios de imperatividade mínima que tenho de
assegurar, para além dos quais posso acrescentar outros.

Qual é o tipo de relaçõ es jurídicas que os titulares dos ó rgã os têm com as sociedades? A relaçã o
é muito parecida com a do mandato com representaçã o – os titulares sã o, por regra,
mandatá rios da sociedade. Isto coloca vá rias questõ es – um diretor de uma associaçã o é

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remunerado através da sociedade com um contrato de trabalho, ou realiza prestaçã o de
serviços?

Art.165º - responsabilidade da PC

As pessoas coletivas podem ser responsabilizadas criminal e civilmente. Este artigo trata da
responsabilidade civil, e indica que a pessoa coletiva responde civilmente perante os atos das
pessoas que a representam nos mesmos termos em que os comitentes respondem pelos atos ou
omissõ es dos seus comissá rios. O art.165º remete para o art.500º da responsabilidade do
comitente e comissá rio.

O que é que isto significa? Temos dois tipos de responsabilidade:

 Responsabilidade obrigacional (contratual ou extra-contratual), por exemplo quando


nã o pago um contrato.

 Responsabilidade extra-obrigacional, por exemplo a responsabilidade pelo risco. Sou


responsabilizado independentemente da culpa. A ratio é que assumi um risco e que,
mesmo sem culpa, sou responsá vel.
Ex. risco de assumir a conduçã o de um carro. Sou sempre responsá vel.
Ora, dentro da responsabilidade pelo risco temos que os titulares dos cargos de administraçã o
que estã o a representar a sociedade podem responder sem culpa, e assim também responderá a
sociedade.
A responsabilidade é pessoal e solidá ria para com os seus representantes, e esta é a
responsabilidade sem culpa (art.500º). A remissã o do art.165 para este artigo implica que a
responsabilidade civil das pessoas coletivas nestes termos é sem culpa.

Mas se o mandato é um negó cio jurídico que tem natureza obrigacional, porque é que utilizá mos
a responsabilidade extra-obrigacional e nã o a obrigacional? Na prá tica, porquê a remissã o ao
art.500º em vez do art.800º para aferir a responsabilidade sem culpa, quando reconhecemos no
art.164º que estamos a falar de um mandato? A doutrina minoritá ria fala da aplicaçã o do
art.800º através da derrogaçã o da letra da lei pela natureza obrigacional do mandato referido
no art.164º. Ex. de autor, Mota Pinto.
A relaçã o interna é uma relaçã o contratualista de mandato (obrigacional), mas em termos de
relaçã o com terceiros faz todo o sentido aplicar a relaçã o extra-obrigacional.

Associações com personalidade jurídica

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Assumimos, ao falar de associaçõ es, que sã o pessoas coletivas com personalidade jurídica. Se
nã o a tiverem, deve-se referir sob risco de se assumir que a têm.

Art.167º - ato de constituição e estatutos:

Constituir uma associaçã o:

 Se duas ou mais pessoas tiverem vontade de constituírem uma associaçã o há sempre um


ato constitutivo e um contrato que resulta desse contrato constitutivo – os estatutos.

 Há um documento, que é o ato constitutivo (ato material), onde consta anexado os


estatutos (natureza contratual).

 O ato de constituiçã o e os estatutos sã o dois atos jurídicos autó nomos. O primeiro


institui/constitui a associaçã o e aprova os estatutos. Os estatutos têm informaçã o sobre
o objeto, e têm todas as regras de organizaçã o e funcionamento da pessoa coletiva. Os
estatutos têm de ser conformes à lei, e os regulamentos internos têm de ser conformes
aos estatutos.

Art.167º/1: mençõ es obrigató rias sob pena de nulidade. Inclui o ato constitutivo e o conteú do
estatutá rio.
Art.167º/2 – mençõ es optativas.

Todas as associaçõ es têm uma sede.


Neste ato constitutivo sã o especificados os bens e serviços.
A associaçã o tem de ter um patrimó nio (isto aplica-se à s outras pessoas coletivas) -> é relevante
para efeitos de proteçã o dos credores: só podem ir ao patrimó nio daquela pessoa coletiva.
Quanto à constituiçã o das associaçõ es há determinados bens que vã o integrar esta figura da
associaçã o (posso lá colocar dinheiro): os associados transferem dinheiro para a associaçã o e
esse dinheiro é usado para as necessidades ou para atividade lucrativa (da associaçã o e nã o dos
associados). Porque sou obrigado a colocar dinheiro? Para se conseguir manter a associaçã o.

Património:
A PC, tal como a pessoa singular, tem de ter um patrimó nio. O patrimó nio é relevante para
efeitos de proteçã o dos credores. No caso das associaçõ es, quando se constituem, há

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determinados bens/serviços que vã o integrar o patrimó nio da associaçã o ou o seu patrimó nio
social (nã o é das sociedades). Os associados sã o separados da associaçã o. Os associados criam
uma conta bancá ria que vai ser o patrimó nio da associaçã o e através dele sã o pagas as contas.
Porquê que é preciso ter patrimó nio? Para desenvolver a atividade e se poder manter. Até o
legislador proíbe a compensaçã o, mas os associados podem e devem colocar bens na associaçã o
que vã o ser usados na atividade.
Quotas - forma que a associaçã o tem para aumentar o seu patrimó nio.

Os estatutos também podem designar as formas de designaçã o do patrimó nio – nã o há res


nullius, nã o há bens sem ninguém. Se nã o definirem para quem vai os bens pode ir para uma PC
pú blica.

Art.º 168 – forma e comunicação:


Hoje em dia este artigo já nã o faz muito sentido porque existem muitas outras formas online e
mais céleres que nã o requerem atos formais. Podemos entender que as leis que regulam as
“associaçõ es na hora” sã o as leis especiais referidas no nº1.
Os estatutos têm de ser publicados para que todos tenham acesso. O nº3 indica ainda a eficá cia
erga omnes dos estatutos e do ato constitutivo.

Art.170º - titulares dos órgãos:

O legislador entende que a assembleia geral nã o é um ó rgã o (mas o mikezã o já disse que é quase
unâ nime considerar como um ó rgã o – costume contra legem).

50
Este artigo deve ser conjugado com o art.162º. A eleiçã o deve ser feita pelos só cios na
assembleia, exceto se for estabelecido outro processo de escolha.
Posso constituir um ó rgã o com competência para nomear os titulares dos outros ó rgã os (ex.
conselho de associados e nã o associados). A designaçã o pode ser feita pela administraçã o ou
estatutariamente. Já a eleiçã o é feita pela assembleia geral.

Art.170º/2: há determinados direitos que posso ter assegurado no ato constitutivo e que, mais à
frente, a AG venha a revogar (≠destituir com justa causa). Aí, consigo assegurar que estes
direitos que obtive no ato de constituiçã o ficam salvaguardados.

Eleiçã o (vai a atos) vs designaçã o (ato direto de indicaçã o dos membros). Atençã o: o ato de
designar pode ir a votos.

21.03

Art.171º - Convocação e funcionamento do órgão da administração e do conselho


fiscal:

Forma de convocaçã o – pelos respetivos presidentes – chairman.

Os ó rgã os sã o colegiais por natureza (com exceçã o do fiscal ú nico) e implica que os ó rgã os
deliberativos, à partida, têm 3 pessoas – manifestam a sua vontade através de deliberaçõ es, que
acabam por resultar de um conjunto de votaçõ es/vetaçõ es/opiniõ es pelas pessoas que fazem
parte dele.
Mesmo que nas reuniõ es seja permitida a participaçã o de entidades externas, nã o fazendo parte
da administraçã o nã o podem participar na votaçã o -> só os membros podem votar.

Quórum:
Art.171º/1 : Quó rum constitutivo – nú mero mínimo de presenças necessá rias para que o ó rgã o
colegial se possa considerar constituído e funcionar.
Art.171º/2: Quó rum deliberativo – nú mero mínimo de pessoas que compõ e o ó rgã o necessá rios
para que o ó rgã o delibere.

51
O presidente tem direito a voto de desempate.
Regra geral: maioria simples.

Art.172º - competência da assembleia geral:

A Assembleia Geral tem uma competência residual nas associaçõ es.

Art.172º/2: competências obrigató rias da assembleia:


- Destituiçã o dos ó rgã os de administraçã o e fiscalizaçã o
- Aprovaçã o do balanço
- Alteraçã o estatutá ria
- Extinçã o da associaçã o
- Autorizaçã o para açã o contra associados

 Aplica-se à s associaçõ es, sociedades e algumas fundaçõ es:


O ó rgã o da administraçã o, pela dimensã o da pessoa coletiva ou pela complexidade das suas
atividades ou apenas porque assim os estatutos determinam, pode ter dentro da sua
composiçã o membros com funçõ es executivas e membros nã o executivos.

 Membros executivos: têm funçõ es executivas; estã o lá a todo o momento e participam


em todas as decisõ es; tem a funçã o de gestã o corrente – tratam de burocracia,
pagamentos, representam a sociedade; podem ter reuniõ es mais recorrentes.

 Membros não executivos: chamados para reuniõ es de plená rio; nã o têm funçõ es de
gestã o corrente. Têm 2 funçõ es: participam de decisõ es mais estratégicas do ó rgã o de
decisã o e, por outro lado, supervisionam e controlam a atividade dos executivos
(comum nas associaçõ es e grandes sociedades).

CEO – presidente da comissã o executiva (membro executivo dentro do ó rgã o administrativo)


Chairman é um membro nã o executivo? – presidente do conselho de administraçã o. Podem ser
os dois na mesma pessoa.

52
Art.173º - convocação da assembleia:

Retira-se por analogia da AR, que todos os administradores saibam previamente que pontos é
que se vã o discutir na reuniã o. Quem convoca tem de remeter atempadamente (prazo razoá vel)
os documentos necessá rios de suporte à ordem dos trabalhos.
Associaçõ es: o ó rgã o da administraçã o tem de ter competência para convocar a assembleia
geral.
Messa da Assembleia Geral:

 Esta regra nã o é imperativa – se os estatutos preverem a mesa, o seu presidente pode


convocar.

 A mesa da AG nã o é um ó rgã o.

 Se nã o houver Mesa da Assembleia Geral competirá ao Presidente do Conselho de


Administraçã o.

 Funçõ es: dá início à reuniã o, dirige os trabalhos, conta as votaçõ es mas pouco mais faz.
Quando as coisas estã o mal – divergências entre associados e só cios – o Presidente da
Mesa controla a assembleia e averigua sobre a legalidade de adicionar um ponto, é ele
que recebe pedidos dos só cios ou associados sobre adicionar ou retirar pontos, é ele que
ouve os associados no início…

 Se nã o houver Presidente da Mesa? Nã o existe regra para responder a isso. Há vá rias


interpretaçõ es – o membro mais velho entre os associados que tem competência para a
ordem dos trabalhos (MM critica, obviamente).

Art.173º/1: A periodicidade das reuniõ es é o que está definido nos estatutos. Mas, devem haver,
pelo menos, uma reuniã o por ano.

 Reuniã o extraordiná ria: reuniõ es que nã o têm periocidade do estatuto – art.173º/2.

 Reuniõ es ordiná rias: previstas pelos estatutos e sã o exigidas por lei – pelo menos uma
vez por ano. – art.173ª/1.

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As reuniõ es anuais sã o as reuniõ es ordiná rias, mas podem ser convocadas mais – reuniõ es
extraordiná rias ou ad hoc.

Meios de convocaçã o de reuniõ es por parte dos associados:


Art.173º/2: Todas aquelas reuniõ es que nã o tiverem a periodicidade dos estatutos ou que nã o
sejam para fazer o balanço anual sã o as reuniõ es extraordiná rias.
É preciso 1/5 dos associados para convocar uma assembleia (ou outro nú mero dos estatutos).
Faz-se um requerimento dos associados à Administraçã o para que ela convoque uma reuniã o –
a competência mantém-se na esfera da Administraçã o (cabe-lhe permitir e convocar a
assembleia).

Art.173º/3:
Regra geral compete à administraçã o convocar. Vá lvula de escape: a qualquer associado é licito
efetuar a convocaçã o se a administraçã o nã o convocar a Assembleia nos termos em que devia
fazê-lo -> protege os associados se a administraçã o for omissa quanto ao ato de convocar;
associado pode convocar a AG de forma extraordiná ria.

Art.174º - forma da convocação:

O legislador pretende dar um nível de proteçã o aos associados (também se aplica à s sociedades
comerciais) no sentido de lhe dar transparência quanto ao que está a acontecer na vida da
pessoa coletiva: têm de saber o que se passa, o seu conteú do e os pontos da ordem de trabalho
que vã o ser discutidos na AG.

O art.174º pode ser afastado, se estiver nos estatutos.

Art.174º/1: 8 dias para convocar AG.

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Conteúdo da convocatória: que informaçõ es é que a convocató ria deve ter sob pena de
impugnar uma AG:

 Informaçõ es obrigató rias: a hora; o dia; o local (presencial – em princípio na sede – ou


informá tico – se nos estatutos); pontos de ordem de trabalho – há pontos de ordem de
trabalho que implicam a tomada de decisõ es (aprovaçã o ou nã o) e outros que apenas
têm o objetivo de dar informaçã o.

 Forma de votaçã o: depende do que está nos estatutos, se nã o, por regra nã o é secreta, a
nã o ser que seja um tema sensível que pressuponha que deva ser secreto – ex: exclusã o
de associados. A maioria das vezes, o voto é por consentimento -> na prá tica o que
acontece é que o presidente da mesa pergunta “quem vota a favor” e “quem vota contra”.
Mas também pode ser por “há alguém contra?”.

 Pontos que dizem “outros assuntos”: qual o risco desse ponto? Os pró prios associados
tomam decisõ es sobre ir ou nã o à AG e ficam sem saber se vai ser abordado um ponto
importante nesses pontos indefinidos. Existe um ó nus de ir à s votaçõ es de pontos
definidos, mas nã o dos indefinidos. Tem-se entendido que “outros assuntos” é um ponto
da ordem de trabalho cujas deliberaçõ es possam ser impugnadas mais tarde – a nã o ser
que estejam todos presentes -> assembleias universais -> posso deliberar qualquer
assunto que nã o esteja na ordem de trabalhos pois estã o todos presentes. Exceçã o da
exceçã o: no entanto, se o ponto em concreto necessitar de um período de reflexã o das
pessoas, nã o é possível. O período de 8 dias prevê este período de reflexã o, que nã o será
possível em pontos nã o definidos que desse período necessitem.
Opinion del Mikel Mourati: se estivesse estado presente teria tido oportunidade de discutir e
participar na deliberaçã o, influenciando a decisã o. Nã o tive a oportunidade e por esse motivo
posso impugnar.

Art.174º/1: O site chamado www.publicacoesmj.com.pt: contém atos societá rios e qualquer um


pode ter acesso a ele, se estiver nos estatutos, escusa aviso da convocató ria.
Quando há um nú mero elevado, a convocató ria pode ser feita através de outros meios – ex:
jornais, Instagram -> tribunal diz que isto só é possível se expresso nos estatutos.
Diz que se pode dispensar o aviso postal se os estatutos previrem que a convocaçã o seja feita
nos mesmos termos que as sociedades comerciais (posso dizer que nã o vou convocar por aviso
postal, mas que vou publicar a convocató ria no portal de justiça do Ministério Pú blico).

Art.174º/2: sã o anulá veis as decisõ es sobre matérias estranhas à ordem do dia, salvo se todos
os associados estiverem presentes e concordarem com a deliberaçã o/discussã o de outros
assuntos. Prevalece o principio da autonomia privada.

Art.173º: conseguimos ultrapassar irregularidades quanto ao prazo segundo a ordem de


trabalhos ou se a administraçã o convocar a AG -> afastar as regras porque é a vontade dos
associados -> para matérias urgentes.

Art.175º – funcionamento:
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Art.175º/1 – este artigo indica que há a necessidade de um quó rum constitutivo para se poder
deliberar.
O que acontece na prá tica é que logo no primeiro aviso da convocató ria se diz quando será a
reuniã o, e que caso nã o haja quó rum constitutivo a segunda convocaçã o fica desde já feita para
o mesmo dia umas horas depois. Apesar de se fazer muito isto na prá tica, o objetivo da lei é que
esteja presente a maioria dos associados – e é muito difícil (na maior parte dos casos) que os
associados possam aparecer entre um período tã o curto de tempo. Assim, entende-se que deve
haver um prazo razoá vel.
A ideia é permitir que o ó rgã o tenha deliberaçõ es com pelo menos a maioria dos seus membros.
Esta regra procura despachar o funcionamento das assembleias. O que se tem entendido é que
tem de existir um período de tempo razoá vel entre a primeira convocaçã o e a segunda – por ex:
48 horas, 1 dia, 2 dias etc…
Se nã o aparecerem na segunda convocaçã o, iniciam-se normalmente os trabalhos.

Art.175º/2: as deliberaçõ es sã o tomadas por maioria absoluta de votos dos associados


presentes.

Normas de imperatividade mínima – a lei determina um nú mero, mas os estatutos podem exigir
um nú mero superior (ex: unanimidade):

Art.175º/3: alteraçõ es de estatutos – é necessá rio maioria qualificada (¾) dos associados
presentes.
Situaçã o jurídica dos que nã o estã o presentes: ó nus. É um ó nus estar, se nã o estou sujeito-me ao
que acontecer na reuniã o.

Art.175º/4: extinçã o ou prorrogaçã o (estender a vida) da pessoa coletiva – necessá rio ¾ de


todos associados.

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Art.175º/5: alteraçõ es de maiorias. Norma imperativa mínima – os estatutos podem afastar a
norma e podem exigir um nú mero superior aos anteriores.

Art.176º - privação do direito de voto:

Nas reuniõ es das AG temos 3 tipos de direitos:


1. Direito a estar presente: muito raramente há motivo para excluir esse direito de um
associado.
2. Direito a participar na discussã o: muito raramente pode ser restringido. Direito cujo
exercício tem o objetivo de contribuir para a boa tomada de decisã o do ó rgã o.
3. Direito a votar: restringido em alguns casos – conflito de interesses – art.176º.
Princípio da eficácia – se a pessoa restringida votou e n contribuiu para nada, mantem-
se a deliberaçã o. Se o seu voto foi importante, é impugnada a decisã o.

Art.176º/1: o associado nã o pode votar se a matéria em causa lhe interessar/disser respeito a


ele ou a alguém pró ximo. Esta norma tem sido interpretada extensivamente para interesses
dentro do ó rgã o, privando-se também nos ó rgã os de administraçã o.
Este artigo apenas refere a votaçã o, mas coloca-se em causa a presença e a participaçã o quando
estã o em causa interesses cuja mera presença ou participaçã o na reuniã o possa influenciar a
decisã o final. Na prá tica tem de ser visto caso a caso.

Art.176º/2: independentemente do que foi dito anteriormente, as deliberaçõ es que sã o feitas


em violaçã o do nº anterior podem valer se o voto do associado impedido nã o for essencial para
o resultado final. É uma espécie de reflexã o do princípio da eficiência – vamos aproveitar a
deliberaçã o e suprir a nulidade.

Em primeiro lugar, devemos recordar que as deliberaçõ es sã o negó cios jurídicos, e por isso o
princípio geral é o da anulabilidade.

Art.177º - deliberações contrárias à lei ou aos estatutos:

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Qualquer deliberaçã o que seja tomada nã o respeitando as formalidades prévias e contra os
estatutos e a lei, pode ser impugnada e é viciada pela anulabilidade – art.178º.
Se o objeto for contrá rio à lei aplica-se a regra do art.280º - deliberaçã o é nula.

Art.178º - regime da anulabilidade:

Prazo: 6 meses.
Legitimidade para arguir: associado que nã o votou na deliberaçã o ou ó rgã o da administraçã o.

Se um associado que nã o foi regularmente notificado, o prazo só começa a contar quando ele
conhecer que ele teve da deliberaçã o da assembleia.

Atas:
Documento com vá rias funçõ es: controlar as presenças; documento probató rio do que se
passou na reuniã o e em especial das decisõ es tomadas. É com a ata que se vai ao registo ver a
quem nomear o administrador.
Deve ser específica ao ponto de refletir o que se passou nas AGs.
Quem escreve os atos, por regra, é o secretá rio – lavrar a ata, interpreta o que a pessoa está a
dizer, parafraseando as interpretaçõ es. Quem tem legitimidade para escrever os atos, é o
secretá rio da mesa. Só que a perceçã o que as pessoas têm daquilo que foi transmitido pode nã o
corresponder à intençã o da declaraçã o da pessoa. Entã o, é dada sempre a possibilidade da ata
poder circular pelos presentes para que eles possam, se possível, reescrever ou sugerir
intervençõ es de texto das suas intervençõ es (que nã o podem ser manifestamente diferentes
daquilo que disseram). Em momentos de conflito o texto da ata é fundamental, e por isso, os
associados/só cios/membros recusam assinar a ata por entenderem que o que está escrito na
ata nã o corresponde ao que se passou -> gera conflitos, nã o assinatura da ata faz com que nã o
seja eficaz e todos devem assinar -> sançõ es para quem nã o assina sem explicaçã o.

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O problema das atas e o texto: quem escreve as atas é, por regra, o secretá rio de mesa (tem
legitimidade) - só que a perceçã o que as pessoas têm daquilo que foi transmitido é muitas vezes
diferente da intençã o da declaraçã o da pessoa. Entã o, é dada sempre a possibilidade da ata
poder circular pelos presentes para que eles possam, se possível, reescrever ou sugerir
intervençõ es de texto nas suas intervençõ es (que nã o podem ser manifestamente diferentes
daquilo que disseram). Em momentos de conflito o texto da ata é fundamental, e por isso, os
associados/só cios/membros recusam-se a assinar a ata por entenderem que o que está escrito
na ata nã o corresponde ao que se passou -> gera conflitos, nã o assinatura da ata faz com que
nã o seja eficaz e todos devem assinar -> sançõ es para quem nã o assina sem explicaçã o.

Art.179º - proteção de terceiros:

A proteçã o de terceiros de boa-fé.


Se uma deliberaçã o for anulada e os terceiros de boa-fé nela implicados adquiriram um direito,
ficam protegidos. E segue mesma ló gica dos artigos anteriores.

Art.180º - natureza pessoal e qualidade do associado:

1ª parte: norma supletiva. A nã o ser que haja norma estatutá ria ou legal que diga o estado do
associado possa ser transmissível, ele é intransmissível porque tem natureza pessoal (mortis
causa e entre vivos).
2ª parte: norma imperativa (até ao ponto e vírgula). Quaisquer direitos pessoais que resultem
da qualidade de associado, o associado nã o pode incumbir a terceiro para exercê-los.

A qualidade de associado é um estado (ex. estado de solteiro). E essa qualidade tem uma
natureza estritamente pessoal – isto é, nã o a posso transmitir a outro (ex. transmitir mortis
causa). Esta regra é, no entanto, supletiva. Já a segunda parte é injuntiva – se eu tiver adquirido
direitos que estejam intrinsecamente ligados à minha qualidade de associado nã o posso fazer
com que um terceiro seja beneficiado por eles.

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Art.181º - efeitos da saída ou exclusão:

Saída do associado: há um princípio de atribuiçã o de um direito potestativo de saída ao


associado para se desvincular da qualidade de associado. A associaçã o nada pode fazer para
impedir o associado de sair. -> nã o somos obrigados a ficar eternamente associados, sob risco
de limitar a autonomia privada.
O associado que sai pode ter dívidas com a associaçã o, que se mantém apó s a saída. Os efeitos
da saída nã o desresponsabilizam os atos que praticou enquanto era associado.
Nã o há direito de repetiçã o ao acervo de contas quando a pessoa sai -> associado nã o pode
repetir (reaver) as quotizaçõ es que tenha pago. Perde o direito ao patrimó nio.
Nã o há direito ao patrimó nio social caso a associaçã o seja liquidada (os associados podem
receber uma quota parte, se a pessoa sai, perde esse direito).
Exclusã o: a associaçã o extingue-se e é preciso fazer a distribuiçã o do patrimó nio - > associaçã o
perde a personalidade jurídica.

Art.182º - causas de extinção:

Art.184ª – efeitos da extinção:

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Nã o é pelo facto de existir a declaraçã o de extinçã o que os ó rgã os sociais automaticamente se
extinguem. Por exemplo a liquidaçã o do patrimó nio social pode nã o estar prevista nos estatutos
e necessitar de intervençã o dos ó rgã os. Também para a ultimaçã o de negó cios pendentes
podem intervir (ex. já tinha realizado um negó cio de entrega de coisa, e vou ter que a entregar
mesmo já estando extinta).
Os administradores que praticarem estes atos nã o vã o ser individualmente responsabilizados,
havendo uma responsabilidade solidá ria de todos.

Associações sem personalidade jurídica:


Art.195º e ss.
As associaçõ es sem personalidade jurídica nã o sã o pessoas coletivas. Para alguns autores, têm
personalidade regulamentar. Para outros nã o têm personalidade, tudo se passa na esfera
jurídica dos associados. E, ainda, para outros, a parte contratual é a associaçã o.
Se os estatutos nã o disserem nada, aplica-se as regras das associaçõ es com personalidade
jurídica a tudo o que nã o envolva a personalidade jurídica. Nã o se aplica: Art.157º, 158º, 158-Aº,
160º, 165º, 168º do CC. Aplica-se desde o Art. 170º-184º do CC e o Art.159º, 161º, 162º, 163º,
164º, 166º, 167º, 169º do CC.

Diferenças:
1. Personalidade jurídica:
Nas associaçõ es sem personalidade jurídica há uma ausência da obrigatoriedade de
registo – nã o têm, portanto, um NIPC. É um corolá rio da liberdade associativa
constitucionalmente prevista.
2. Natureza do patrimó nio:
Nas associaçõ es com personalidade jurídica, os associados contribuem para o
patrimó nio e a partir dele constituem uma pessoa jurídica (associaçã o) e desenvolvem a
sua atividade. Os associados que nã o contribuírem para o patrimó nio nã o sã o
comproprietá rios do patrimó nio social, e nã o têm direito a uma quota parte, a nã o ser
em caso de liquidaçã o. É um patrimó nio autó nomo que nã o se confunde com o
patrimó nio dos associados.
Nas associaçõ es sem personalidade jurídica o regime é diferente. Nã o temos patrimó nio
social nem compropriedade. Têm um fundo comum que é diferente do patrimó nio social
– nesse os associados comungam do fundo na medida da sua participaçã o.

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Art.195º - organização e administração:

Art.195º/1 – em bom rigor a admissibilidade das associaçõ es sem personalidade jurídica resulta
de um preceito da CRP – Liberdade de associaçã o (art.46º), que nã o indica expressamente a
necessidade de ter personalidade jurídica.
Por outro lado, também há casos de associaçõ es que procuram ter personalidade jurídica e por
algum motivo a conservató ria nã o deixou (foram barradas), e ficam como associaçõ es sem
personalidade jurídica. Assim, mantêm a estrutura de associaçã o, mas aplica-se-lhes o regime
dos art.195º e seguintes.
Assim, nestas associaçõ es sã o aplicadas as regras estabelecidas pelos associados (tipo
estatutos), e podem nem sequer ter documentos formais.

Art.195º/2:
Registo: numa associaçã o com personalidade jurídica assume-se que se sabe quem sã o os
administradores, pelo que os terceiros nã o se podem opor. Mas numa associaçã o sem
personalidade jurídica nã o há registo – como é que os terceiros sabem quem é que sã o os
administradores? Os terceiros podem opor – a nã o ser que saibam.
O sentido desta norma é que nã o tenho o dever de saber quem sã o os administradores de uma
associaçã o sem personalidade jurídica.
É mais uma das distinçõ es entre associaçõ es com e sem personalidade jurídica – a falta de
publicidade obrigató ria em determinados assuntos. Art.º 201-A

Art.196º – fundo comum:

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As associaçõ es com personalidade jurídica têm ‘patrimó nio autó nomo’ face aos associados,
enquanto nas associaçõ es sem personalidade jurídica há a figura do ‘fundo comum’ – que está
no meio dos regimes do patrimó nio e da compropriedade. É isso que está previsto no art.196º.
Ao contrá rio das associaçõ es com personalidade jurídica que têm patrimó nio social obrigató rio,
nã o é obrigató rio as associaçõ es sem personalidade jurídica terem um fundo comum.
Ao contrá rio da compropriedade em que temos uma quota de um bem, no fundo comum, temos
uma percentagem de todo o ‘bolo’ – nã o se é comproprietá rio do bem, temos direito a uma
percentagem que é igual a todos os outros.
O processo de distribuiçã o dos bens chama-se divisã o de coisa comum, que é diferente da
compropriedade.
É um patrimó nio autó nomo, constitui o patrimó nio dos associados para efeitos de créditos -> o
que o associado tem direito depende da percentagem que contribuiu. Ex: contribui com 5000
euros, e o fundo comum é 500 000 euros, o associado fica com a percentagem disso que
contribuiu.
No regime da compropriedade vou olhar de forma singular e ver qual é a quota que cada uma
das partes tem, na compropriedade só posso olhar para bens individualizados e nã o para todo o
bolo – o credor de forma singular pode ir a cada um deles. No fundo comum, o credor está
limitado à percentagem total da sua participaçã o – os credores olham para o bolo e nã o para
cada um dos bens.

Art.198º - responsabilidade pelas dívidas:

Art.198º/1: pelas obrigaçõ es validamente assumidas em nome da associaçã o, responde o


fundo. Art.198º/2: Na falta de fundo comum o patrimó nio dos associados estã o diretamente
responsá veis.
Portanto, quem responde pelas dívidas:
1. O fundo comum;
2. Solidariamente o patrimó nio dos associados que contraíram a dívida, se o fundo comum
nã o tiver bens suficientes ou nã o existirem.
3. se mesmo assim nã o for possível salvar a dívida, respondem todos os outros associados,
nã o solidariamente, mas parciariamente, na medida da sua participaçã o (se contribui
25% para o fundo, responde com limite de 25%).

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Solidariedade: se a dívida é de 100, o credor nã o quer saber qual devedor é que deve o quê, ele
escolhe qualquer associado e exige-lhe os 100 -> vai a um qualquer devedor exigir o
cumprimento total da dívida, e depois os associados é que, entre si, decidem quem é que deve o
quê.
Solidariedade ativa do credor. Solidariedade passiva do devedor.

Comissões especiais:
Art.199º - comissões especiais:

Comissõ es especiais: entidades criadas que nã o têm, à partida personalidade jurídica.


Tendencialmente as comissõ es sã o desenhadas para serem transitó rias. Tais como as
associaçõ es sem personalidade jurídica, se nã o obtiverem personalidade jurídica aplicam-se-
lhes os art.200º e seguintes.

Art.200º - responsabilidade dos organizadores e administradores:

Art.200º/1: os membros da comissã o sã o pessoal e solidariamente responsá veis pela


conservaçã o dos fundos.
Art.200º/2: responsabilidade direta e pessoal pelas dívidas.
Art.200º/3: nã o há figura dos associados, mas dos subscritores – exigem o valor que tiverem
subscrito se nã o tiverem sido atingido o fim para qual a comissã o foi criada.

Fundações
As normas do CC sobre as fundaçõ es estã o replicadas na Lei-Quadro das Fundaçõ es – Lei
24/2012.
As leis quadro estabelecem uma cú pula (ingleses chamam de umbrella) – ‘chapéu’ que regula os
atos normativos sobre aquele tema (fundaçõ es, neste caso).

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Hierarquia:

 O Có digo Civil é inferior à Lei-Quadro.

 Se houverem normas no Có digo Civil contrá rias à Lei-Quadro, prevalece esta ú ltima.

Tipos de fundações:

 Há três tipo de fundaçõ es – pú blicas per se, mistura de capital pú blico e privado (quem é
que tem influência dominante) e privadas per se. A LQ indica os tipos de fins que as
Fundaçõ es podem prosseguir.

 Fundaçõ es pú blicas: têm substrato patrimonial e um fim altruístico.

 Fundaçõ es privadas: podem ser instituídas pela Administraçã o mas nã o podem exercer
influência dominante. Sã o criadas por negó cios jurídicos unilaterais, por um ou mais
fundadores, que têm de alocar um patrimó nio e autonomizá -lo em momento anterior ao
momento de instituiçã o de personalidade.

PM é que reconhece as fundaçõ es -> captaçã o patrimonial feita em momento anterior.

A vontade do fundador deve ser tida em conta, mas no momento em que o fundador aloca o
patrimó nio à fundaçã o, ele nã o deve, salvo raras exceçõ es, participar na sua vida
corrente/administraçã o,

Art.3º LQF – Conceito de Fundação:


1 - A fundação é uma pessoa coletiva, sem fim lucrativo, dotada de um património suficiente e
irrevogavelmente afetado à prossecução de um fim de interesse social.
2 - São considerados fins de interesse social aqueles que se traduzem no benefício de uma ou mais
categorias de pessoas distintas do fundador, seus parentes e afins, ou de pessoas ou entidades a ele
ligadas por relações de amizade ou de negócios, designadamente: a) A assistência a pessoas com
deficiência; b) A assistência a refugiados e migrantes; c) A assistência às vítimas de violência; d) A
cooperação para o desenvolvimento; e) A educação e formação profissional dos cidadãos; f) A
preservação do património histórico, artístico ou cultural; g) A prevenção e erradicação da
pobreza; h) A promoção da cidadania e a proteção dos direitos do homem; i) A promoção da
cultura; j) A promoção da integração social e comunitária; k) A promoção da investigação
científica e do desenvolvimento tecnológico; l) A promoção das artes; m) A promoção de ações de
apoio humanitário; n) A promoção do desporto ou do bem-estar físico; o) A promoção do diálogo
europeu e internacional; p) A promoção do empreendedorismo, da inovação ou do
desenvolvimento económico, social e cultural; q) A promoção do emprego; r) A promoção e
proteção da saúde e a prevenção e controlo da doença; s) A proteção do ambiente ou do
património natural; t) A proteção dos cidadãos na velhice e invalidez e em todas as situações de
falta ou diminuição de meios de subsistência ou de capacidade para o trabalho; u) A proteção dos
consumidores; v) A proteção e apoio à família; w) A proteção e apoio às crianças e jovens; x) A

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resolução dos problemas habitacionais das populações; y) O combate a qualquer forma de
discriminação ilegal.
3 - Para efeitos da presente lei-quadro, consideram-se: a) «Instituição» ou «criação», a atribuição
de meios patrimoniais à futura pessoa coletiva fundacional; b) «Fundador» ou «instituidor», a
entidade que realiza a atribuição de meios patrimoniais à futura pessoa coletiva fundacional; c)
'Apoio financeiro', todo e qualquer subsídio, subvenção, auxílio, ajuda, patrocínio, garantia,
concessão, doação, participação, vantagem financeira ou qualquer outro financiamento
independentemente da sua designação, temporário ou definitivo, que sejam concedidos pela
administração direta ou indireta do Estado, regiões autónomas, autarquias locais, outras pessoas
coletivas da administração autónoma e demais pessoas coletivas públicas; d) 'Rendimentos', os
aumentos nos benefícios económicos durante o período contabilístico, na forma de influxos ou
aumentos de ativos ou diminuições de passivos que resultem em aumentos nos fundos
patrimoniais.
4 - Para efeitos do disposto na alínea c) do número anterior, não se consideram financiamento os
pagamentos efetuados a título de indemnização ou derivados de obrigações contratuais, nem as
verbas decorrentes de candidaturas a fundos comunitários.

Art.3º/1: definiçã o de fundaçã o.


Sã o pessoas coletivas sem fins lucrativos; com um interesse social e dotadas de patrimó nio
suficiente (com prévia aferiçã o por parte do PM de que aquele patrimó nio alocado pelo
fundador é suficiente para atribuiçã o do fim) e irrevogavelmente afetado (depois da
transferência do patrimó nio já nã o pode voltar atrá s e extinguir essa pessoa coletiva).
A vontade do fundador deve ter sido em conta para algumas coisas, mas nã o tem qualquer
poder decisó rio para fazer muitas outras.
Sendo uma pessoa coletiva tem personalidade jurídica.

Art.3º/2: Lista nã o exaustiva dos fins de interesse social. O fundador nã o pode constituir uma
fundaçã o da qual venha a beneficiar – pois o objetivo é ser altruístico.
Art.3º/3: Fundador é a futura pessoa coletiva.

A criaçã o da instituiçã o nã o se dá com a aquisiçã o da personalidade jurídica – dá -se no


momento em que o fundador aloca os meios patrimoniais. Porquê? Para que depois, entre o
processo de reconhecimento e o início da atividade, o fundador nã o possa retirar os bens. O ato
institutivo é, portanto, anterior à aquisiçã o de personalidade.

Art.4º - Tipos de fundações:


1 - As fundações podem assumir um dos seguintes tipos: a) «Fundações privadas», as fundações
criadas por uma ou mais pessoas de direito privado, em conjunto ou não com pessoas coletivas
públicas, desde que estas, isolada ou conjuntamente, não detenham sobre a fundação uma
influência dominante; b) «Fundações públicas de direito público», as fundações criadas
exclusivamente por pessoas coletivas públicas, bem como os fundos personalizados criados

66
exclusivamente por pessoas coletivas públicas nos termos da lei quadro dos institutos públicos,
aprovada pela Lei n.º 3/2004, de 15 de janeiro, alterada pela Lei n.º 51/2005, de 30 de agosto,
pelo Decreto-Lei n.º 200/2006, de 25 de outubro, pelo Decreto-Lei n.º 105/2007, de 3 de abril, pela
Lei n.º 64-A/2008, de 31 de dezembro, pelo Decreto-Lei n.º 40/2011, de 22 de março, pela
Resolução da Assembleia da República n.º 86/2011, de 11 de abril, pela Lei n.º 57/2011, de 28 de
novembro, e pelo Decreto-Lei n.º 5/2012, de 17 de janeiro, doravante designada por lei quadro dos
institutos públicos; c) «Fundações públicas de direito privado», as fundações criadas por uma ou
mais pessoas coletivas públicas, em conjunto ou não com pessoas de direito privado, desde que
aquelas, isolada ou conjuntamente, detenham uma influência dominante sobre a fundação.
2 - Considera-se existir «influência dominante» nos termos do número anterior sempre que exista:
a) A afetação exclusiva ou maioritária dos bens que integram o património financeiro inicial da
fundação; ou b) Direito de designar ou destituir a maioria dos titulares do órgão de administração
da fundação.
3 - Persistindo dúvidas sobre a natureza privada ou pública da fundação, prevalece a qualificação
que resultar da pronúncia do Conselho Consultivo, nos termos da alínea c) do n.º 6 do artigo 13.º
4 - Caso as pessoas coletivas públicas deixem, supervenientemente, de deter influência dominante
sobre uma fundação pública de direito privado, a fundação pode ser requalificada na sequência de
pronúncia nesse sentido, mediante parecer obrigatório e vinculativo, do Conselho Consultivo.

Fundaçõ es privadas: criadas por 1 ou mais pessoas de Direito Privado (capital privado) ou
Pessoa Pú blica q nã o exerça influência dominante.
Fundaçã o publica: regime especial. Se a pessoa coletiva for de direito pú blico, se exercer
influência dominante ou tiver o direito de designar os ó rgã os da administraçã o.
Fundaçã o pú blica de direito privado: capital pú blico ou de influência pú blica dominante.

Art.6º - aquisição de personalidade jurídica:


Adquire-se personalidade através do registo. Segue-se também o princípio da transparência –
determinados atos têm de seguir para o conselho de ministros (contas, etc.)

Art.14º - natureza e objeto (das fundações privadas):


Nã o há limitaçã o do fim – é qualquer fim.
Sã o pessoas coletivas de direito privado, sem fim lucrativo, podem visar prosseguir qualquer
fim.

Art.17º - instituição e a sua revogação:


As fundaçõ es sã o instituídas unilateralmente, e pode ser inter vivos ou por testamento.

Art.20º - reconhecimento:

67
1 - Sem prejuízo das competências das regiões autónomas nos termos do disposto nos respetivos
estatutos político-administrativos, o reconhecimento de fundações privadas é da competência do
Primeiro-Ministro, com a faculdade de delegação, e observa o procedimento estabelecido nos
artigos seguintes.
2 - O reconhecimento de fundações importa a aquisição dos bens e direitos que o ato de instituição
lhes atribui.
3 - Instituída a fundação e até à data do seu reconhecimento, o instituidor, os seus herdeiros, os
executores testamentários ou os administradores designados no ato de instituição têm
legitimidade para praticar atos de administração ordinária relativamente aos bens e direitos
afetos à fundação, desde que tais atos sejam indispensáveis para a sua conservação.
4 - Até ao reconhecimento, o instituidor, os seus herdeiros, os executores testamentários ou os
administradores designados no ato de instituição respondem pessoal e solidariamente pelos atos
praticados em nome da fundação.
5 - A delegação referida no n.º 1 abrange todas as competências atribuídas à entidade competente
para o reconhecimento na presente lei-quadro.

Ato de reconhecimento – ato que atribui personalidade jurídica e é de competência do PM.

Art.24º - estatuto de utilidade pública:


1 - As fundações privadas podem adquirir o estatuto de utilidade pública verificando-se,
cumulativamente, os seguintes requisitos: a) Desenvolverem, sem fins lucrativos, atividade
relevante em favor da comunidade em áreas de relevo social tais como a promoção da cidadania e
dos direitos humanos, a educação, a cultura, a ciência, o desporto, o associativismo jovem, a
proteção de crianças, jovens, pessoas idosas, pessoas desfavorecidas, bem como de cidadãos com
necessidades especiais, a proteção dos consumidores, a proteção do meio ambiente e do
património natural, o combate à discriminação baseada no género, raça, etnia, religião ou em
qualquer outra forma de discriminação legalmente proibida, a erradicação da pobreza, a
promoção da saúde ou do bem-estar físico, a proteção da saúde, a prevenção e controlo da doença,
o empreendedorismo, a inovação e o desenvolvimento económico e a preservação do património
cultural; b) Estarem regularmente constituídas e regerem-se por estatutos elaborados em
conformidade com a lei; c) Não desenvolverem, a título principal, atividades económicas em
concorrência com outras entidades que não possam beneficiar do estatuto de utilidade pública; d)
Possuírem os meios humanos e materiais adequados ao cumprimento dos objetivos estatutários.
2 - As fundações privadas só podem solicitar o estatuto de utilidade pública ao fim de três anos de
efetivo e relevante funcionamento, salvo se o instituidor ou instituidores maioritários já possuírem
estatuto de utilidade pública, caso em que esse estatuto pode ser solicitado imediatamente após o
reconhecimento.

Nem todas as fundaçõ es privadas têm estatuto de utilidade pú blica (isto tem outros benefícios
fiscais).

Art.26º – órgãos:
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1 - Constituem órgãos obrigatórios das fundações privadas: a) Um órgão de administração, a
quem compete a gestão do património da fundação, bem como deliberar sobre propostas de
alteração dos estatutos, de modificação e de extinção da fundação; b) Um órgão diretivo ou
executivo, com funções de gestão corrente; c) Um órgão de fiscalização, a quem compete a
fiscalização da gestão e das contas da fundação.
2 - As fundações podem ainda ter um ou mais órgãos facultativos, nomeadamente um conselho de
fundadores ou de curadores, com a missão de velar pelo cumprimento dos estatutos da fundação e
pelo respeito pela vontade do fundador ou fundadores.
3 - Os mandatos dos membros dos órgãos da fundação não podem ser vitalícios, exceto os dos
cargos expressamente criados pelo fundador ou fundadores com essa natureza no ato de
instituição.

Ó rgã os obrigató rios – Art.26º/1: ó rgã o de deliberaçã o; fiscalizaçã o; diretivo ou executivo. Nas
fundaçõ es nã o há AG. O ó rgã o executivo pode integrar o ó rgã o administraçã o.
Ó rgã os facultativos – Art.26º/2: ó rgã os consultivos.

Consultores: emitem pareceres consultivos e nã o deliberativos. O fundador desaparece no


â mbito da gestã o, mas os seus objetivos devem ser tidos em conta – através dos curadores.

Art.26º/3: os mandatos dos membros dos ó rgã os de fundaçã o nã o podem ser vitalícios, regra
geral.

Art.29º - obrigações e responsabilidade dos titulares dos órgãos:


1 - As obrigações e a responsabilidade dos titulares dos órgãos das fundações para com estas são
definidas nos respetivos estatutos, aplicando-se, na falta de disposições estatutárias, as regras do
mandato com as necessárias adaptações.
2 - Os titulares dos órgãos da fundação não podem deixar de exercer o direito de voto nas
deliberações tomadas em reuniões em que estejam presentes e são responsáveis pelos prejuízos
delas decorrentes, salvo se houverem registado em ata a sua discordância.
Obrigaçõ es e responsabilidades definidos nos estatutos, aplicando-se, na falta, o regime do
mandato (art.1157º).
22.03

Grupo III
Perdidos 4Ever (P4E) é uma associação de direito privado com personalidade jurídica, constituída
em 2015, e que tem como fim associativo, o apoio, a promoção e o desenvolvimento de atividades
fotográficas dos seus membros em viagens a “locais exóticos”.
De acordo com os Estatutos da P4E, no momento da inscrição todos os associados têm de
contribuir com EUR 250,00 (joia de inscrição) e devem pagar uma quota anual de EUR 50,00.
Grande parte do dinheiro recolhido com as joias e quotizações serve para apoiar as viagens que os

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associados fazem anualmente. Compete à administração da P4E – composta por seis membros,
tendo o Presidente (Guilherme) o voto de qualidade – a decisão sobre a alocação do dinheiro em
face das candidaturas apresentadas.
Em contrapartida, e de acordo com os Estatutos, os membros que beneficiam deste apoio
financeiro devem, no prazo máximo de 10 meses a contar do regresso, fazer circular pelos
restantes associados um breve slideshow das fotografias tiradas com indicações das técnicas
fotográficas usadas. O não cumprimento deste dever constitui causa de exclusão da associação,
devendo o membro excluído devolver a totalidade dos montantes auferidos.
Em reunião da administração da P4E, na qual estiveram presentes todos os membros, foram
tomadas as seguintes deliberações:
(i) clarificar o sentido do conceito estatutário de “local exótico” e, em consequência, notificar todos
os associados através do envio da seguinte mensagem: “a administração da P4E clarifica que
qualquer viagem que tenha como destino um país da União Europeia se encontra
automaticamente excluída do conceito de local exótico” (deliberação tomada por unanimidade);
(ii) excluir a associada Sónia, com efeitos imediatos, por ter incumprido o dever de apresentar o
slideshow técnico (deliberação aprovada com 3 votos a favor incluindo Presidente e 3 votos
contra).
Maria, que tinha apresentado a sua candidatura no período exigido, planeando uma viagem aos
alpes alemães, contesta, dizendo que a deliberação tomada pela administração é inválida e
ineficaz.
Sónia contesta a sua exclusão. Em primeiro lugar, refere que, embora não haja regra estatutária
sobre o tema, essa não é matéria da competência da administração. Em segundo lugar, ainda que
assim fosse, o voto do Presidente da administração da P4E não poderia ser contabilizado por se
encontrar a decorrer em tribunal um processo judicial de responsabilidade civil extra-
obrigacional, proposto por Sónia contra o Guilherme (Presidente da administração da P4E), por
este ter atropelado Sónia ao sair da garagem da sede da associação. Quid juris?

Uma joia e uma quota sã o duas obrigaçõ es: uma como uma obrigaçã o inicial (a joia) e outra
como uma obrigaçã o perió dica. Esta associaçã o obriga os seus associados a um pagamento
perió dico e um pagamento inicial e nã o existe nenhum tema jurídico aqui.
Mostrar o tipo de associaçã o: de direito privado, com personalidade jurídica, pessoa coletiva,
falar da capacidade. Regulada no art.157º e ss. do CC na parte geral e xx na parte especifica.
Regulaçã o privatística a partir dos estatutos.
O fim associativo é ou nã o contrá rio à lei? Nã o há problema em termos de fim nem de objeto. Se
fosse uma associaçã o de maus-tratos aos animais era um fim contrá rio à lei e remetia para o
art.280º do CC.
Mas as associaçõ es nã o sã o pessoas jurídicas sem fins lucrativos? Como justificamos a joia e as
quotas -> para apoiar as viagens aos associados -> nã o há lucro distribuído aos associados, há o
aumento do patrimó nio associativo decorrente do recebimento destes valores.
Art.162º/1 do CC: tem uma lei estatutá ria contraria à lei -> necessá rio nú mero ímpar de
membros -> regra nula. Problema: o facto de o presidente ter o voto de qualidade já tem uma
aproximaçã o à finalidade da norma -> evitar situaçõ es de impasse (empate). A composiçã o deve
ser ímpar, mas neste caso ela é par e é atribuída um voto de qualidade ao presidente. No

70
período em que é alterada a norma as deliberaçõ es mantém-se vá lidas por o presidente ter voto
de qualidade.
Objeto: Art172º do CC – cabendo à administraçã o de acordo com os estatutos entã o ela tem
competência sobre as matérias.

3º paragrafo: nã o tem nenhum problema -> é possivel este tipo de obrigaçã o por parte dos
associados. A exclusã o é equilibrada. Nã o há aqui nenhum tema jurídico.

2 tipos de deliberaçõ es:

 Clarificaram o tipo de local exó tico:


Maria diz que esta deliberaçã o é invalida. O ó rgã o da administraçã o pode interpretar uma regra
estatutá ria? Restringir o conceito estatutá rio? Na ausência de regra estatutá ria? Nã o faz sentido
admitir a possibilidade de o ó rgã o da administraçã o ter poderes interpretativos se os estatutos
foram criados e devem ser alterados e interpretados pela AG dos associados, porque sã o eles
que têm competência para decidir as normas estatutá rias. Maria tem razã o porque há falta de
competência do ó rgã o administrativo. Mas a administraçã o, que aloca o dinheiro, vai ter de
fazer interpretaçã o do que é local exó tico -> ou seja, o que ela nã o pode fazer é ad início
restringir o conceito. O que pode fazer é convocar uma AG extraordiná ria para esta definir o que
é um local exó tico.

 Exclusã o de Só nia:
Só nia nã o está a contestar que apresentou nã o devia ter apresentado -> assumir que ela viajou e
nã o apresentou o que devia. Ela diz que nã o é competência da administraçã o e, mesmo sendo,
existe uma situaçã o de conflito de interesses em que ele votou e nã o devia votar.
A competência: art.172º do CC -> diz-nos o que é da competência da assembleia, se nã o está lá
entã o, estando previsto nos estatutos (como vimos que está ) é da competência da
administraçã o.
Art.176º do CC – aplica-se por interpretaçã o extensiva à s votaçõ es dos titulares dos ó rgã os. O
resultado dessa interpretaçã o é que o voto foi relevante para a tomada de decisã o -> sem o voto
do presidente a decisã o era de nã o exclusã o. Qual a consequência jurídica? Deliberaçã o é
invá lida, anulá vel. A Só nia pode impugnar ou pedir a anulaçã o da deliberaçã o com base no
fundamento do conflito de interesses.
Devolver a totalidade dos montantes auferidos -> em bom rigor, qual o objeto da deliberaçã o? A
exclusã o. Qual deveria ter sido o objeto da deliberaçã o? Confirmar ou nã o confirmar que ela nã o
apresentou o slide show em dez meses porque a exclusã o seria automá tica. Nã o é suposto a
administraçã o estar ou nã o a aprovar a exclusã o – deveria ver se ela apresentou ou nã o o slide
show em dez meses.

Direito da Família
O direito da família é, em primeiro lugar, um sub-ramo do direito civil – só que na verdade, pelas
suas especificidades e pela forma como se liga com as relaçõ es humanas, também tem algumas
ramificaçõ es (toca) noutros ramos de direito privado e pú blico.

71
Embora os especialistas de direito da família sejam privatistas, a verdade é que cada vez mais se
utilizam normas de direito pú blico relevantes para certas matérias que estã o dentro do direito
da família. Ex. convençõ es internacionais dos direitos das crianças.
Mas, no geral, é regido pelo CC, tendo também uma série de leis avulsas. O direito da família
português ao reconhecer o casamento cató lico como uma das modalidades de casamento, aplica
também o direito cató lico – por exemplo para efeitos de declaraçã o de invalidade de um
casamento cató lico. Assim as concordatas que versam sobre direito da família também se
aplicam.
Pela sua natureza o direito da família é um direito muito sensível à cultura, à s regras dos bons
costumes e ao pensamento moral que se vive numa determinada sociedade num determinado
momento. Olhando para a histó ria do direito da família português (especialmente desde a
entrada em vigor da CRP) podemos ver alteraçõ es significativas. Por isso mesmo as normas de
direito da família sã o permeá veis - basta ver a diferença de conceçã o de família do Estado Novo
para cá . De resto, todas aquelas que nã o tenham sido alteradas, devem ser interpretadas de
forma atualista.

O que é que houve, na prá tica, com a entrada em vigor da CRP? Em primeiro lugar, a ascensã o da
tutela constitucional determinadas matérias que eram meramente civis (ex. princípio da
equiparaçã o entre os unidos de facto e os cô njuges, inseparabilidade dos filhos e dos pais,
igualdade entre irmã os), e em segundo lugar a adaptaçã o ao nível da lei ordiná ria a outros
princípios constitucionais (readaptaçã o das regras do CC a uma nova realidade). Mas nã o
deixam de existir algumas desigualdades, e por isso o Livro da Família é muito criticado, quer
por conceçõ es políticas quer por conceçõ es legais.
As normas do direito da família têm uma natureza um pouco diferente das restantes do CC, em
especial aquelas que se relacionam com o nã o cumprimento de deveres ou obrigaçõ es
decorrentes de relaçõ es jurídico-familiares. Algumas têm também uma natureza estritamente
pessoal.

O direito da família nã o é puramente privado, tem uma vertente pú blica e uma privada.

Vertente pú blica manifesta-se em diferentes factos:

 Proteçã o constitucional (estado a proteger diretamente a instituiçã o família);

 A existência de uma multiplicidade de tratados e convençõ es internacionais que regulam


matérias familiares (convençã o da proteçã o do direito das crianças);

 Certas determinaçõ es legais, nomeadamente em matéria de casamento, que limitam ou


restringem a autonomia privada (ex.: proibiçã o da poligamia) e que têm como
fundamento princípios da ordem pú blica.

Ou seja, há normas de proteçã o e de restriçã o da autonomia privada cujo fundamento é a


proteçã o da ordem pú blica e dos bons costumes -> intrusã o do direito pú blico no privado. O
direito da família é fundamentalmente privado.

72
Conceito de família:
Nã o há definiçã o legal sobre o que é família. O CC tem uma visã o mais restritiva do que é família
e do que sã o as relaçõ es jurídico-familiares, comparativamente à CRP. O CC deve ser
interpretado conforme a CRP, e o conceito de família na CRP é mais amplo.
As normas constitucionais sobre o direito da família muitas vezes abrangem a uniã o de facto
(que nã o está no CC). Também já há doutrina que inclui os animais de estimaçã o no conceito de
família.
A ideia do legislador é: queres casar? Segues este regime. Nã o queres, nã o há problema, tens
outro regime como a uniã o de facto. Ló gica do casamento é muitas vezes criticada pelos autores
como uma imposiçã o legal, mas o legislador também nos dá outras opçõ es.
Sempre que virmos a expressã o “família” devemos interpretá -la à luz da constituiçã o? Nã o.
Quando o legislador diz “constituir família” é restritivo e queria dizer casar e ter filhos à
legislador conservador.

28.03

Princípios de Direito da Família


1. Coexistência normativa de ordens normativas:
A ordem normativa jurídica e a ordem normativa cató lica coexistem em simultâ neo.
É o ú nico caso no direito português em que a ordem jurídica reconhece a efetividade e
aplicabilidade de normas de direito canó nico.
Há duas modalidades de casamento:

 Civil – nesta modalidade há um caso especial que sã o os casamentos civis sob forma
religiosa. Casamentos de outras religiõ es que sã o reconhecidos à luz do direito, com
especificidades quanto à forma e à celebraçã o.

 Cató lico – há normas de direito civil que se aplicam ao casamento cató lico e há
especificidades quanto à anulaçã o do casamento cató lico cuja competência é do tribunal
eclesiá stico.

2. Caráter permeável do DF às evoluções sociais:


Olhando para as alteraçõ es ao CC reparamos que o direito da família é o livro que mais foi
alterado – por um lado, porque na altura em que entrou em vigor o regime/ideia de família era
outra, e por outro porque à medida que a sociedade foi evoluindo as alteraçõ es aconteceram de
forma consequencial.
Casamento entre pessoas do mesmo sexo -> aboliçã o do período de ná usea (período que nã o se
pode casar apos divorcio) -> regras para adoçã o alteradas.

3. Imperatividade das regras do DF:

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As regras de direito da família nã o podem ser afastadas. O legislador impõ e um determinado
regime.
A imperatividade pode ser:

 Relativa: nã o se pode derrogar a regra, mas há vá rios caminhos que se podem adotar.
Ex: há 3 regimes de bens, nã o há outro e podemos optar por um deles.

 Absoluta: nã o podem ser derrogados. Ex: direitos pessoais familiares (cooperaçã o,


assistência, respeito) sã o imperativos e as partes nã o podem afastar.

4. Relatividade das regras familiares:


Há uma oposiçã o ao cará ter absoluto das normas – os direitos sã o absolutos quando sã o
oponíveis erga omnes. Os direitos familiares sã o direitos relativos, que sã o oponíveis apenas nas
relaçõ es jurídicas familiares.
Como regra sã o relativos, mas há casos em que sã o oponíveis erga omnes (caso das sucessõ es –
nomear herdeiros).

5. Numerus clausus:
Os direitos familiares estã o sujeitos ao numerus clausus – princípio da tipicidade – nã o se
podem inventar outros direitos familiares que o direito nã o determina.
De acordo com este princípio o leque dos direitos familiares sã o fechados.

6. Principio da especialização judicial:


Há tribunais especiais especializados em DF.
MM: nã o parece que seja um principio de Direito da Família por si só , mas alguns autores o vêm
como tal. Também é um princípio de direito comercial com tribunais especializados em direito
comercial.

7. Fragilidade das normas:


É o princípio mais relevante e o mais diferente.
As normas do direito da família sã o frá geis no sentido da sua eficá cia judicial – há uma falta de
capacidade que as partes têm para exigir o cumprimento de normas do direito da família
perante tribunais.
A maioria do incumprimento de regras de direito da família sã o sobre normas que as partes nã o
conseguem de forma alguma exigir o seu cumprimento perante o tribunal, como o conseguem
perante obrigaçõ es.
As normas sã o frá geis porque nã o conseguimos o seu cumprimento judicial.

8. A natureza tendencialmente perpétua das relações jurídicas familiares:

74
As relaçõ es de parentesco podem criar relaçõ es de filiaçã o, e as relaçõ es de filiaçã o e parentesco
sã o perpétuas porque sã o sanguíneas.
O casamento nã o tem de ser perpétuo, mas a forma como o legislador concebeu o contrato de
casamento e a forma como protege os cô njuges de situaçõ es de rutura (procurando primeiro a
conciliaçã o, e usando o divó rcio como ú ltimo recurso) leva a entender que o vê como
tendencialmente perpétuo.

Breve introdução ao direito constitucional da família:


Art.36º CRP – família casamento e filiaçã o.
Tem 7 regras, todas relevantes, algumas que devem ser interpretadas com cuidado.
1. Para o jurista de direito privado, nã o há direito a casar – há liberdade de casar. Dizer que
existe direito subjetivo de casar entã o isso significa que se pode exigir esse direito – isso
nã o acontece, nã o é exigível. O legislador cria uma regra programá tica para os ó rgã os do
governo para permitir que esse direito possa ser exercido por todos em plena igualdade.
2. Quando se diz que todos têm o direito a constituir família em plena igualdade nã o
implica necessariamente casar - há liberdade de constituir família. Pode ser feita no ato
de casar, ou fora dele, e como há um princípio de igualdade as pessoas podem adotar
outro regime, como a uniã o de facto, que tem outros benefícios equivalentes que
derivam do contrato de casamento.
3. O legislador constitucional remete para o legislador ordiná rio a competência para
regular os efeitos do casamento e a sua dissoluçã o, independentemente da forma de
celebraçã o. Há quem diga que compete ao legislador ordiná rio. Nã o existe, portanto,
proteçã o ao casamento cató lico, sã o escolhas políticas.
4. Antigamente, era dado mais poder ao homem – ex.: tinha de dar autorizaçã o prévia para
a mulher poder trabalhar. Esta norma foi colocada no patamar constitucional para
clarificar que os cô njuges têm igualdade em direitos e deveres e ninguém se sobrepõ e.
5. Esta regra veio acabar com os filhos legítimos e ilegítimos (nã o tinham direitos). Nã o
pode haver qualquer tipo de discriminaçã o quanto ao facto do filho ter nascido fora do
casamento. A ú nica exceçã o é se forem indignos – filho que procura matar o pai e aí pode
restringir a sua quota indisponível do patrimó nio.
6. Há um direito e um dever funcional de educar os filhos. Até aos 25.
7. Princípio da inseparabilidade entre os pais e os filhos. Há , contudo, situaçõ es excecionais
(ex. pais alcó olicos).
8. Norma constitucional de proteçã o da adoçã o no sentido de procurar que o processo de
adoçã o seja um processo pouco moroso para proteger o adotado.

Fontes jurídicas familiares:

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Art.1576º – sã o fontes das relaçõ es jurídicas familiares o casamento, parentesco, a afinidade e a
adoçã o.

 Casamento é uma fonte contratual.

 Adoção é um ato jurídico ( e nã o material ) com um determinado efeito jurídico –


filiaçã o. MM considera fonte negocial, mas é debatível. Os adotados sã o equiparados a
parentes, mas nã o o sã o.

 Parentesco (o que todos os parentes têm em comum é o sangue) por ser fruto da
relaçã o sanguínea, há quem diga que nã o é considerado uma fonte, o legislador diz que
é.

 Afinidade (MM tem duvidas se é uma fonte) é o elo que liga o conjuge aos parentes do
outro. Para ter uma relaçã o de afinidade é preciso um casamento, e o casamento já é
uma fonte. A afinidade nã o é uma fonte por si mesmo, mas ela resulta de uma.

Família – em sentido jurídico, corresponde ao conjunto de pessoas singulares que se encontram


unidas por estes vínculos. Nã o integra a uniã o de facto, só há parentesco se disso resultar um
filho.

Parentesco:
Art.1578º - noçã o de parentesco:
A relaçã o familiar de parentesco integra as relaçõ es consanguiná rias, que advêm do facto de as
pessoas terem o mesmo sangue.
As relaçõ es de parentesco sã o feitas em linha reta ou em linha colateral. Ou porque se descende
diretamente (linha reta) ou, nã o existindo esta verticalidade de parentesco, existindo entre duas
pessoas um progenitor comum (linha colateral), sempre para cima (ex: primos que têm os avó s
comuns, irmã os). Embora possa haver graus para baixo, há de chegar a uma altura na á rvore
genealó gica em que existirá um parente comum.

Art.1579º - elementos do parentesco:


Cada geraçã o forma um grau e a série dos graus constitui a linha de parentesco.

Art.1580º - linhas de parentesco:


Art.1580º/1 – A linha diz-se reta, quando um dos parentes descende do outro. A linha diz-se
colateral, quando nenhum dos parentes descende do outro, mas ambos procedem de um
progenitor comum.
Art.1580º/2 – A linha reta é descendente ou ascendente: descendente, quando se considera
como partindo do ascendente para o que dele procede; ascendente, quando se considera como
partindo deste para o progenitor.
Em linha reta, começa a contar-se o parentesco a partir do primeiro grau, em linha colateral
começa a contar-se o parentesco apenas a partir do segundo grau.

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Ex: os primos direitos sã o parentes em quarto grau na linha colateral (2ª grau irmã os, 3ª grau
tios e sobrinhos, 4ª grau primos, tios-avó s, sobrinhos-netos).

Distinguir parentesco de afinidade:


Primeiro, começamos por identificar a pessoa referenciada – o eu.
Segundo, temos dois métodos que podemos adotar:

 Linha vertical: uma linha reta, com sentido ascendente e descendente. É usada para
parentes diretos.

 Linha transversal/colateral: Identifica parentes comum – há um progenitor comum. Nã o


há primeiro grau.

Tipos de irmã os:

 irmã os germanos – mesmo pai e mesma mã e.

 irmã os uterinos – mesma mã e e pai diferente.

 irmã os consanguíneos – mesmo pai e mã e diferente.

Art.1581º - cô mputo dos graus.


Art.1582º - o legislador limita até o 6º grau os efeitos jurídicos.

77
Afinidade:
Art.1584º - noçã o de afinidade:
Afinidade é o vínculo que liga cada um dos cô njuges aos parentes do outro. Os parentes de um
dos cô njuges sã o afins do outro cô njuge e vice versa.
O grau de contagem é o mesmo que para o parentesco. Ex: os sogros sã o afins em primeiro grau
em linha reta; os cunhados sã o afins em segundo grau em linha colateral.
Nã o existem direitos sucessó rios automá ticos. Existe em alguns casos a possibilidade de a lei
impor a obrigaçã o de alimentos a apenas dois (madrastas e padrastos).

Art.1585º - elementos e cessaçã o da afinidade:


Mantêm-se os vínculos de afinidade se o cô njuge falecer. No entanto, se existir uma cessaçã o de
casamento por divó rcio entende-se que nã o há relevâ ncia social para manter as relaçõ es de
afinidade está veis.
A ú nica relevâ ncia disto é ao nível dos impedimentos, porque se as relaçõ es de afinidade nã o
cessam por morte continua a existir o impedimento de casar com afins. Com o divó rcio essa
possibilidade já existe, podendo casar-se com um ex-afim. O impedimento com os afins nã o é
genérico, apenas existe em relaçã o a determinadas relaçõ es de afinidade.

Faz-se a contagem dos graus da mesma forma que se faz o parentesco.

Atos patrimoniais do casamento:

 Anulaçã o;

 Divó rcio;

 Separaçã o de facto;

 Separaçã o judicial de pessoas e bens.

Art.1586º - noçã o de adoçã o:


Adoçã o é o vínculo que, à semelhança da filiaçã o natural, mas independentemente dos laços de
sangue, se estabelece legalmente entre duas pessoas.
Pode existir adoçã o singular.

Promessa de casamento:
Para o direito civil, a promessa de casamento é sempre um contrato, um negó cio jurídico. Isto é
relevante para o direito civil, porque para o direito canó nico a promessa de casamento pode ser
feita de forma unilateral.

78
Para o direito civil a promessa de casamento é o contrato em que duas pessoas se
comprometem a contrair o matrimó nio. Este contrato nã o dá direito a exigir a celebraçã o do
casamento, ou seja, à execuçã o específica, nem a reclamar, na falta de cumprimento da
promessa outras indemnizaçõ es que nã o as previstas – art.1594º.

Art.1591º - ineficácia da promessa


Tecnicamente é um contrato-promessa com especificidades. É um contrato preliminar à
celebraçã o do contrato definitivo. Constitui-se com um pedido de casamento e uma aceitaçã o.
No OJ português, nã o se pode decidir casar num momento e celebrar logo o casamento, é
necessá rio existir um processo preliminar de aferiçã o de impedimentos, quer na modalidade
civil quer na cató lica. Por causa disto, a promessa de casamento acontece sempre.
A promessa de casamento é um contrato que nã o está sujeito a uma forma específica. Embora
tenha esta natureza negocial e contratualista, a forma mais comum de se celebrar é através do
pedido de noivado e correspondente aceitaçã o. O pedido de noivado é entã o relevante para o
direito, uma vez que é a partir daí que se iniciam os efeitos da promessa de casamento.
O contrato de promessa de casamento é tendencialmente ineficaz, uma vez que nã o é possível
exigir o seu cumprimento (nã o é possível exercer coercivamente -> fragilidade das normas).
Mas a lei protege quer os cô njuges que nã o romperam a promessa quer os nubentes que se
retratarem da promessa por culpa da contraparte. A lei protege-os porque entre o período que
medeia entre a celebraçã o da promessa e o ato de casar, existem naturalmente determinadas
despesas que foram ou vã o ser efetuadas por conta do casamento ou outros donativos que
foram feitos por conta do casamento. Nesta parte, a lei regula o que acontece a esses bens e
despesas que foram efetuadas.
É um contrato vá lido? É , mas ineficaz. Na invalidade há um desvalor, na ineficá cia nã o há um
desvalor de conteú do mas efeitos que nã o podem ser produzidos.

Restituição por incapacidade ou arrependimento (retratação):


Art.1592º - restituições nos casos de incapacidade ou retratação:
Este artigo estabelece os regimes das restituiçõ es em caso de incapacidade ou retrataçã o
(arrependimento, revogaçã o da promessa).
Art.1592º/1 - Neste artigo há uma remissã o implícita para o art.290.º Se o casamento já nã o vai
ocorrer, os donativos já feitos seja pelos cô njuges, pelos pais destes ou por terceiros, devem ser
restituídos.
Art.1592º/2 – estabelece os bens que devem ser restituídos – cartas e retratos.

Art.1593º - restituições no caso de morte:


Art.1593º/1 – No caso de morte de um promitente, o promitente sobrevivo optar entre:

 Conservar os donativos, sendo que se o fizer nã o pode pedir aos herdeiros para receber
os donativos que fez ao promitente que faleceu -> princípio da reciprocidade.

79
 Devolver os donativos: neste caso já pode pedir aos herdeiros a restituiçã o dos
donativos por si efetuados.

Nã o pode pedir indemnizaçã o.

Art.1593º/2 – as cartas ou retratos têm natureza real, por isso podem estar sujeitas a doaçã o.
Pode entã o o promitente sobrevivo pedir aos herdeiros que devolvam a correspondência e, se o
fizer, estes têm de devolvê-la, para proteçã o e tutela dos seus direitos de personalidade, Isto
porque, ao contrá rio do que acontece com os donativos, nã o há nenhum interesse dos herdeiros
em manter esta correspondência, enquanto que para o promitente sobrevivo já existe esse
interesse.

Art.1594º - indemnizações:
Ló gica: o legislador tenta procurar evitar situaçõ es em que os nubentes pensem que casar é
melhor que pagar uma indemnizaçã o. O legislador procura ajustar ou proteger o interesse dos
nubentes que desembolsaram e pagaram o casamento (catering, fotó grafos) e que por culpa,
nã o sua, acabaram por nã o casar e ainda proteger o outro nubente que se quer desvincular do
casamento de forma unilateral sem estar coagido a nã o ter de pagar indemnizaçã o.

Se alguém romper o casamento:

 Sem justo motivo;

 Por culpa sua der motivo para que o outro se retrate – um faz algo que provoca o outro a
se retratar.

Entã o:

 O que tiver culpa ou romper justamente, tem de indemnizar o outro, se já tiver efetuado
despesas.

 Legislador limita os danos compensá veis.

Nã o há indemnizaçõ es por danos morais.


O legislador limita o â mbito de danos compensá veis – danos morais, indiretos, … Para que o
conjuge que rompeu sem justo motivo ou que por culpa sua fez com que o outro rompesse, só
tenha que reembolsar aquilo que faz sentido, e nã o tenha custos avultados.

Art.1594º/1: Só se pode exigir indemnizaçã o caso exista um nã o cumprimento da promessa por


justo motivo ou por arrependimento por culpa do outro.
O que é indemnizá vel? As despesas que foram feitas pelos noivos, pais ou terceiros.

80
Tipos de danos que nã o sã o indemnizá veis:

 Danos morais;

 Lucros cessantes: lucros que eram expectá veis que acontecessem mas que nã o
aconteceram;

 Lucros emergentes: danos que iriam existir automaticamente.

Art.1594º/2: também cabe indemnizaçã o se, por dolo, um estiver incapaz.


Art.1594º/3: a fixaçã o é fixada segundo critérios de equidade. O juiz faz uma apreciaçã o
casuística.

Art.1595º - caducidade:
Caducidade: 1 ano para pedir indemnizaçã o desde a data do rompimento ou morte de um dos
noivos.

12.04

Regras do registo Civil – ler as regras do impedimento.

A capacidade matrimonial afere-se pela negativa: tem capacidade matrimonial toda a


pessoa sobre a qual nã o recai nenhum impedimento. Isto é capacidade de gozo.

Nã o há conceito de impedimento expresso na lei – é um facto previsto pelo legislador que obsta
a celebraçã o do casamento e a depender do tipo de impedimento há determinadas
consequências.

Há dois tipos de impedimentos:

 Impedimentos impedientes – art.1600º e ss. CC;

 Impedimentos dirimentes.
- absolutos;
- relativos.

Art.1600º - regra geral:

81
Tem capacidade quem nã o tiver impedimentos.
Em bom rigor só os impedimentos dirimentes é que impedem definitivamente. Embora o
impedimento impediente resulte na falta de capacidade de gozo, é ultrapassá vel através da
dispensa. Ou, mesmo que nã o haja dispensa, pode haver alguma sançã o pela lei.

Art.1601º - impedimentos dirimentes absolutos:

Impedimentos dirimentes absolutos: impedimentos que nã o sã o ultrapassá veis. Sã o absolutos


porque o facto que estamos a analisar nã o tem a ver com a relaçã o entre os nubentes, é um facto
relativo à pessoa independentemente da relaçã o que tenha com o outro.

Art.1601º/a): idade nã o nú bil – menor de 16 anos.


Art.1601º/1/b): quando a pessoa se encontra numa situaçã o de demência notó ria, mas há uma
decisã o de acompanhamento que assim o determine e mesmo durante os intervalos lú cidos -
obsta de forma absoluta à celebraçã o do casamento.
Art.1601º/1/c): Proíbe dois casamentos ao mesmo tempo. Pretende proteger duas situaçõ es: 1)
casamentos celebrados no estrangeiro que nã o estã o registados em Portugal ainda; 2)
casamentos cató licos nã o transcritos.

Há dois tipos de registo:

 Inscriçã o: registo segundo qual o conservador anota o facto diretamente por registo –
inscreve-se o facto diretamente. Do casamento civil.

 Transcriçã o: O facto já está registado e vai transcrever esse facto pro registo civil. Do
casamento cató lico.

Art.1602º - impedimentos dirimentes relativos:

82
Impedimentos dirimentes relativos: ao contrá rio dos impedimentos absolutos, nã o têm a ver
com a pessoa, têm a ver com a relaçã o que os nubentes têm entre si. Nã o tem a ver com ela
pró pria, mas com a relaçã o com o potencial cô njuge.

Art.1602º/a): Parentesco na linha reta.


Art.1602º/b): Situaçõ es de padrastos/madrastas.
Art.1602º/c): Parentesco no segundo grau – irmã os.
Art.1602º/d): Afinidade na linha reta – sogros.1
Art.1602º/e): Condenaçã o anterior (inclui transito em julgado) de um dos nubentes como autor
ou cú mplice de homicídio doloso, mesmo que nã o se tenha consumado, contra o conjuge do
outro.

Art.1604º - impedimentos impedientes:

Em lei especial – apadrinhamento civil.


Art.1604º/a): Entre 16 e 18 anos pode casar com autorizaçã o, se nã o tiver autorizaçã o é
impedimento impediente. Porém, pode ainda casar com dispensa ou com sançã o.
Art.1604º/c):Parentesco de terceiro grau na linha colateral- Tios e sobrinhos.
Art.1604º/d): Vínculo de tutela, administraçã o de bens, acompanhamento de maior de idade.
Art.1604º/f): Pronú ncia do nubente por homicídio doloso, ainda que nã o consumado, contra o
cô njuge do outro enquanto nã o houver despronú ncia ou absolviçã o.

Se o casamento foi dissolvido de forma voluntá ria, a afinidade cessa e nã o se aplicam estas
regras. Se o casamento foi dissolvido por mortis causa, nã o cessa a afinidade e aplicam-se estes
impedimentos.

Art.1678º: alínea f).

1
Art.1585º: a afinidade nã o cessa por morte no casamento.

83
Pronúncia:
O processo penal tem vá rias fases: fase de inquérito -> se houverem indícios ou suspeitas ->
acusaçã o apreciada no juízo de instruçã o -> fase instruçã o -> juiz vê se há indícios para levar a
julgamento -> emite despacho de pronú ncia ou despronú ncia:

 Se emite o despacho -> fase de julgamento feito outro juiz ou coletivo a apreciar;

 Se emite despacho de nã o pronú ncia -> processo arquivado.

Se houver pronuncia do nubente antes da condenaçã o é impedimento impediente (art.1604º),


se houver condenaçã o é impedimento dirimente absoluto (art.1602º).

Art.1605º e 1606º - revogados, sobre o prazo internupcial:


Prazo internupcial – prazo entre a dissoluçã o do casamento voluntá rio até o período em que
podia se casar novamente havia um impedimento dirimente.
A ló gica deste artigo foi considerada inconstitucional porque o prazo era diferente consoante o
género. O racional era para perceber se a mulher estava grá vida ou nã o.

Art.1608º - vínculo de tutela, curatela ou administração legal de bens:

Nã o é pra sempre – até um ano do termo da incapacidade e até estarem aprovadas as contas.

Art.1609º - dispensa:
Sã o suscetíveis de dispensa os impedimentos impedientes:
Art.1609º/1/a): o parentesco de terceiro grau de linha colateral.
Art.1609º/1/b): vínculo de tutela, curatela ou administraçã o legal de bens.
Art.1609º/2: a dispensa é feita pelo conservador do registo civil. Só pode ser feito se existirem
motivos sérios que justifiquem a celebraçã o do casamento.
Art.1609º/3: se o nubente for menor, entre os 16 e 18, o conservador deve ouvir os pais ou
tutores. Contudo, nem sempre é necessá ria a autorizaçã o dos pais – art.1612º; o conservador
pode dar dispensa se perceber que o nubente tem maturidade física e psicoló gica para fazê-lo e
se os pais que estã o a impedir o casamento nã o têm motivos justificados.

84
Sanções
Art.1649º – casamento de menores:
O menor que casar sem autorizaçã o dos pais – significa que pode casar sem autorizaçã o. Tem é
uma sançã o – sançã o é que considerado menor para todos os efeitos e nã o se emancipa. Os pais
gerem os bens mas se os bens geram frutos esse dinheiro é subtraído ao substrato do casal.

Art.1650º - casamento com impedimento impediente:


Sanção para quem casa com impedimento impediente – nas relações com tutela de
administração de bens ou tio/sobrinho – que não tenha pedido dispensa, tem uma sanção
– não podem receber bens do conjuge quer inter vivos ou mortis causa.
Em bom rigor, embora impedimento matrimonial significar incapacidade de gozo, só existe nos
impedimentos dirimentes, nos impedimento impedientes só há sançõ es.

18.04

Nota: Nubentes, esposos e esponsais desde o contrato promessa até ao casamento, a partir daí
passam a ser cô njuges.

85
Processo preliminar de casamento
Art.1610º - necessidade e fim do processo preliminar de casamento:

Art.1611º - declaração de impedimentos:

Art.1612º - autorização dos pais ou do tutor:

Art.1613º - despacho final:

Art.1614º - prazo para a celebração do casamento:

As regras dos art.1610º a art1614º estã o reguladas e desenvolvidas no Có digo do Registo Civil.

86
Art.134º CRC - competência para a organização:
Os conservadores tinham poderes territoriais na questã o do casamento e hoje em dia nã o é
assim. Hoje podemos contratar algum conservador do registo civil de Braga para casar em
Algarve.

Art.135º CRC - declaração para casamento:


Nº1: Casamento civil - para iniciar o processo devem declará -lo numa conservató ria do registo
civil.
Nº2: Casamento cató lico – o processo do casamento cató lico pode ser iniciado pelo pá roco.
Se o casamento for cató lico , na prá tica têm de ir à paró quia de residência extrair declaraçõ es de
batismo dos dois e depois o processo também é emitido para a conservató ria. Portanto, decorre
uma modalidade canó nica e outra cató lica.
Nº3: Casamento cató lico para civil - caso pretendam casar civilmente apó s a declaraçã o pelo
pá roco têm de renovar a declaraçã o inicial.
Nº4: Casamento civil sob forma religiosa – declaraçã o inicial pelo Ministro do Culto.

Art.136º CRC – forma e conteúdo da declaração:


Apó s dirigirem-se à conservató ria do registo civil e se abre o processo preliminar de casamento,
simultaneamente pagam-se os emolumentos e fornecem-se os documentos.

87
Contrato pré-nupcial: contrato que os nubentes fazem anterior ao casamento com efeitos
patrimoniais apó s o casamento.

Art.136º/2/h) – decide-se o regime de bens.


Regime de bens:

 Comunhã o de adquiridos – regime supletivo. Se nada for dito é o que é seguido.

 Separaçã o de bens;

 Comunhã o geral.

Se escolhermos separaçã o geral ou comunhã o geral temos necessariamente de agendar uma


reuniã o com o conservador para que explique o que significa cada um dos regimes.
Pagam-se 200 euros se for escolhido um regime diferente do supletivo.

Portanto, a ordem é a seguinte:

 Abre-se o processo;

 Dã o-se os emolumentos;

 Escolhe-se o regime.

Princípio da imutabilidade – nã o é possível mudar o regime.

Art.139º CRC – novas núpcias:


Para voltar a casar é preciso provar dissoluçã o do casamento anterior.

Art.140º CRC – publicidade do processo:


O processo preliminar é pú blico.

88
Art.142º CRC - declaração de impedimentos:
Qualquer pessoa pode invocar impedimentos e é um dever dos funcioná rios do registo.
Se houver impedimento há uma declaraçã o de impedimento que suspende o processo
preliminar até à :

 Dispensa do impedimento através de despacho;

 Cessã o do impedimento;

 Ser julgado improcedente.

Art.143º CRC - diligências a efetuar pelo conservador:


Deve verificar a identidade, a capacidade matrimonial, impedimentos de filiaçã o natural.

Art.144º CRC – despacho final:

89
Nã o se verificando nenhum impedimento, emite-se o despacho final do conservador que
identifica a:

 Inexistência de impedimentos

 Capacidade matrimonial

Prazo de um dia para emitir o despacho a autorizar o casamento apó s a ú ltima diligência
necessá ria.

O processo preliminar do casamento serve para verificar se há impedimentos. O conservador


vai aferi-los, mas é preliminar, podem ser invocados depois.

Art.145º CRC - prazo para a celebração:


Apó s o processo preliminar começa a contar um prazo para a celebraçã o do casamento de 6
meses.
Se nã o casarem em 6 meses pode-se pedir uma reavaliaçã o do processo que é mais fá cil do que
começar do início.
A reavaliaçã o só pode ser pedida apó s o prazo de 6 meses, durante os 6 meses conseguintes.
Reavaliaçã o – verificaçã o de inexistência de impedimento. Nã o é preciso pagar os emolumentos
outra vez.

90
Art.148º CRC – conhecimento superveniente de impedimentos:
Apó s o despacho final e antes do ato de casar, se por conhecimento oficioso houver a existência
de impedimentos, a conservató ria tem o dever de os declarar.

Celebração do casamento
Ato solene e formal.
Art.153º CRC e ss. – ato de casamento.

Art.1615º CC – publicidade e forma:


O casamento é um contrato bilateral entre duas partes de natureza pessoal com eficá cia
obrigacional, e efeitos patrimoniais. Pode ter eficá cia real e está sujeito a uma forma específica
(é solene).

É um ato solene com tramitaçã o específica de natureza pú blica.


O contrato tem natureza pú blica porque:

 É registado;

 O legislador exige que os casamentos sejam pú blicos (nã o no sentido que que qualquer
pessoa pode “entrar”), porque quer evitar casamentos obscuros.

O contrato de casamento é bilateral, nã o é tripartido, mas no início discutia-se se num


casamento civil o estado representado pelo conservador era considerado parte – hoje em dia
está fora de questã o.

Art.1616º CC – pessoas que devem intervir:

91
Procurador – o ato de casar embora seja pessoal ou pessoalíssimo (Mike discorda) pode ser
sujeito a representaçã o voluntá ria unilateral. Ou seja, pode-se ter um casamento com
procuraçã o, mas só um dos nubentes pode fazê-lo – os dois nubentes nã o podem casar com
procuraçã o, é preciso estar presente pelo menos um deles.
Publicidade do ato implica que estejam presentes pelo menos mais algumas pessoas que nã o
apenas os nubentes (podendo estar apenas um deles por procuraçã o) e os conservadores – duas
testemunhas.

Pessoas que devem intervir:

 Os contraentes, ou um deles e o procurador;

 O funcioná rio do registo civil, ou o ministro do culto;

 Duas testemunhas.

Art.1617º CC – atualidade do mútuo consenso:


O ato de casamento está sujeito a uma declaraçã o formal de consentimento que é diferente e
especial face ao consentimento que conhecemos de outros negó cios jurídicos. O consentimento
no ato do casamento é mais forte – no casamento cató lico e civil.
O consentimento está sujeito ao princípio da atualidade – a declaraçã o de consentimento dos
noivos deve ser feito no momento do ato solene do casamento.
Ex: nã o pode ser feito anteriormente por vídeo ou escrita. Ainda nã o é reconhecido o casamento
por teleconferência o que choca o Mikezã o. Imaginem, casamento entre duas pessoas onde uma
delas é feita por procuraçã o – isso é permitido. Já nã o é o caso para os feitos por
videoconferência por força do princípio da atualidade.

“ a vontade dos nubentes só é relevante no próprio ato do casamento”.

Prestaçã o do consentimento - série de declaraçõ es que os nubentes fazem para prestar o


consentimento.

92
Art.1618º - aceitação dos efeitos do casamento:
Outro princípio relevante é que, com exceçã o do regime de bens, tudo o resto, nomeadamente
os deveres conjugais, nã o está sujeito a negociaçã o.
As clá usulas do contrato de casamento, nã o sã o negociá veis – tudo ou nada.

Nº1: têm de aceitar todos os efeitos legais do casamento – princípio da aceitação global dos
efeitos do casamento.
Nº2: se os nubentes fizerem clá usulas adicionais essas consideram-se nã o escritas.

Art.1619º - caráter pessoal do mútuo consenso:

Art.1620º - casamento por procuração:


Procuração ad núpcias é a procuraçã o que tem como efeito atribuir poderes a alguém para que
essa pessoa possa exprimir a vontade de casar de outra pessoa. Essa deve conter elementos
específicos diferente da atribuiçã o de poderes genéricos. Nã o se pode ter uma procuraçã o
genérica – temos de identificar especificamente qual a modalidade de casamento e a pessoa que
vai casar.

Art.1621º - revogação e caducidade da procuração:


A morte do procurador ou do representado fazem cessar os efeitos da procuraçã o.
No caso de revogaçã o, o representado é responsá vel pelo prejuízo que causar.

93
A revogaçã o é invocá vel a todo o tempo.

Art.153º CRC – escolha do dia hora e local:


Por acordo dos nubentes e do conservador.
Qualquer conservador do registo civil é competente para a celebraçã o do casamento.

Art.154º CRC – intervenientes:


Obrigató ria a presença de duas testemunhas quando a identidade do procurador ou do nubente
nã o seja verificada por conhecimento do conservador, exibiçã o dos documentos de identificaçã o
ou autorizaçã o/residência se o nubente for estrangeiro.
Art.154º/4: se o conservador nã o tenha competência funcional para o ato as exerça
publicamente as respetivas funçõ es e se os nubentes desconheciam dessa falta de competência,
considera-se celebrado o casamento.

Art.155º CRC - solenidade:


Elenca os passos da celebraçã o civil do casamento:

 Art.155º/1/a): No casamento civil o conservador é convidado a ir ao local das


festividades e colocado numa mesa de cerimó nia. O conservador, na mesa, está virado

94
para os nubentes, como o padre no casamento cató lico, e as partes viradas para o
conservador. O ato é solene, é um ato que está sujeito a determinadas palavras,
declaraçõ es específicas. É um ato solene, mas é estranho porque o conservador abre a
cessã o de casamento a ler o nome completo, a residência, a ler o despacho final.

 Art.155º/1/c): O conservador interpela as pessoas presentes se conhecem de


impedimentos ao casamento – isto nos casamentos civis. Isso nã o é obrigató rio no
casamento cató lico.
É aqui que os bons conservadores podem fazer um momento mais especial - os
conservadores descrevem de forma muito didá tica os direitos e deveres dos cô njuges –
explicam o que significa estar casado, quais os efeitos pessoais e patrimoniais do
casamento e os deveres conjugais.

 Art.155º/1/d): nã o havendo impedimentos, o conservador pergunta a cada um se aceita


o outro por consorte.

 Art.155º/1/e): materializado o ato solene, as pessoas têm de dizer “é de minha livre


vontade casar com F.”.

 Art.155º/2: prestado o consentimento o conservador diz a toda a gente “ Em nome da lei


e da Repú blica Portuguesa, declaro F. e F.”.

O legislador parece tentar aproximar os momentos solenes do casamento cató lico ao casamento
civil.
O contrato de casamento é vá lido e eficaz a partir desse momento e nã o do registo. O registo é
meramente declarativo do contrato de casamento.

Art.156º CRC - casos em que é permitido o casamento urgente:


Quando há receio de morte pró xima ou iminência de parto o casamento pode ser celebrado
independentemente do processo preliminar de casamento e sem a intervençã o do conservador.

Regime da invalidade
Regime de invalidade do casamento:

95
 Inexistência;

 Anulabilidade;

 Nã o há nulidade no casamento civil, mas existe no casamento cató lico.

Modelo francês: nã o há nulidade sem texto.


O regime das invalidades do casamento é diferente das invalidades gerais.

Art.1625º e art.1626º – invalidade do regime católico. O tribunal civil permite os tribunais


eclesiá sticos avaliar isso.

Regime de invalidade do casamento civil:


Art.1627º CC – regra de validade:
É vá lido se nã o existirem causas de anulabilidade ou inexistência especificadas na lei– princípio
da tipicidade.
A regra da validade é feita pela negativa.

Art.1628º CC – casamentos inexistentes:


Casos da inexistência:
a) Celebrado por quem nã o tinha competência funcional para o ato;
b) Casamento urgente nã o homologado;
c) Falta da declaraçã o de vontade;
d) Celebrado pelo procurador apó s terem cessados os efeitos.

Incompatibilidade entre o art.154º/4 e o art.1628º/a?:


O art.154º é mais restritivo que o art.1628, ele nã o o contradiz, só restringe mais. Portanto, nã o
há uma incompatibilidade.
Devemos ler o art.1628º/a): o casamento celebrado por quem nã o tem competência funcional
para fazê-lo, é juridicamente inexistente se os nubentes conheciam a falta dessa competência.
Apreciamos a boa-fé subjetiva.

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Art.1620º/2 vs art.1628º/d parte final:
Art.1620º - procuraçã o ad nú pcias tem de ter 3 elementos essenciais:

 Indicaçã o de poderes especiais;

 Indicaçã o expressa do nubente;

 Modalidade do casamento.

Art.1628º/d a procuraçã o é nula quando há falta de:

 Indicaçã o de poderes especiais;

 Indicaçã o do outro nubente.


Parece que a procuraçã o ad nú pcias que só nã o tenha a modalidade de casamento nã o é nula.

Art.1629º CC – funcionários de facto:


Nã o se considera juridicamente inexistente o casamento celebrado perante quem nã o tinha
competência funcional se ambos os nubentes conheciam a falta da competência.

Inexistência
Art.1630º CC - regime da inexistência:
O casamento inexistente nã o produz efeitos jurídicos e nem é visto como casamento putativo
(regime que diz que há efeitos do casamento que se mantém mesmo apó s a anulaçã o do
casamento – casamento putativo).

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A presunçã o de paternidade vigora mesmo apó s invalidade, no casamento putativo. No caso de
casamento inexistente ele nem é visto como existente, nã o há proteçã o aos filhos nem
presunçã o de paternidade.

Art.1630º/2: Legitimidade para invocar a inexistência - qualquer pessoa, a todo o tempo,


independentemente de declaraçã o judicial.

Anulabilidade
As partes têm sempre a possibilidade de se divorciarem. Com a anulabilidade queremos
extinguir os efeitos patrimoniais, com efeitos retroativos.
Para alguns casos é tã o difícil extrair uma declaraçã o de anulabilidade, que o mais fá cil seria o
divó rcio.

Anulabilidade vs divó rcio: têm efeitos diferentes. O divó rcio só cessa os efeitos para o futuro e
nã o tem efeitos retroativos, ao contrá rio da anulabilidade. No divó rcio nã o se tem de provar que
há culpa da outra parte para se desvincular do casamento.

Art.1631º CC - casos de anulabilidade:


 Contrair com algum impedimento dirimente – o legislador nã o diz que o impedimento
impediente gera anulabilidade porque pode pedir dispensa ou porque geram sançõ es
apó s a celebraçã o;

 Erro, coaçã o, falta de vontade;

 Sem testemunhas, quando exigido por lei.

A falta de vontade nã o é ausência de declaraçã o.

Art.1632º CC - necessidade da ação de anulação:


A anulabilidade está sujeita a uma declaraçã o judicial, através de uma açã o judicial. Nã o é
invocá vel enquanto nã o for reconhecida.

Art.1633º CC - validação do casamento.

98
Falta ou vícios da vontade – anulabilidade
Art.1634º CC - presunção da vontade:
Presunçã o ilidível de vontade - presume-se que a vontade dos nubentes que celebram o
contrato nã o está viciada por erro ou coaçã o.
O efeito da presunçã o ilidível é que se inverte o ó nus da prova. A presunçã o pode ser afastada
por vontade.

Art.1635º CC - anulabilidade por falta de vontade:


O casamento é anulá vel:
a) Se o nubente nã o tinha consciência do ato por incapacidade acidental ou outra causa.
b) Nubente em erro acerca da identidade física do outro contraente.
A identidade física é diferente de qualidades essenciais do outro cô njuge. A identidade física
refere-se apenas só a pessoa específica. Ex: quero casar com A e nã o B.
c) Coaçã o física.
d) Simulaçã o.

Art.1636º CC - erro que vicia a vontade:


Erro que vicia a vontade sobre qualidades essenciais da pessoa do outro cô njuge. O conceito de
qualidade essencial é propositadamente indeterminado – cabem qualidades físicas, psicoló gicas
e qualidades jurídicas.

Pode ser discutido – infertilidade, impotência, transsexualidade, deformaçã o física.

99
A qualidade essencial da pessoa do outro cô njuge pode ser objetiva ou subjetiva – pode ser
qualidade essencial para aquela pessoa em específico ou, entã o, é normalmente qualidade
essencial para todos.

Qualidades essenciais jurídicas:


Há autores que consideram que, dentro das qualidades essenciais jurídicas deve integrar o
estado de casado. Eles dizem que a pessoa já estar previamente casada é um ato que vicia a
vontade. Mike acha, e bem (rei), que nã o fez sentido, porque o casamento nã o dissolvido já é um
impedimento absoluto, logo é inexistente.
Art.1631º/a – anulá vel pelo casamento com impedimento dirimente. Já está regulado nesse
artigo, entã o nã o faz sentido incluir isso como qualidade jurídica protegido no art.1636º.

Fertilidade:
Para aquela pessoa a fertilidade pode ser essencial – subjetivamente.
Mas também pode ser uma qualidade essencial objetivamente. O legislador constró i o
casamento como meio para ter filhos. Se um dos deveres conjugais é a fidelidade (que o
legislador nã o permite excluir porque nã o é possível modificar as clá usulas contratuais do
casamento), e se a pessoa quer ter filhos, é normal querer que a pessoa seja fértil. Se um dos
cô njuges é infértil e desconhecia e é desculpá vel, porque nã o é procedimento que as pessoas
que vaiam casar façam testes de fertilidade antes de casar, podem anular o casamento.

Impotência:
Nos casos de impotência a jurisprudência já nã o é tã o unanime.
Os casos de impotência podem gerar situaçõ es de erro e anulaçã o – se desculpá vel e provado.
Desculpá vel porque por qualquer motivo nã o tiveram relaçõ es antes do casamento.

Qualidades psicoló gicas:


Um dos cô njuges escondeu que já foi condenado por violência doméstica.
Há jurisprudência de cô njuges que já vieram anular o casamento por alteraçõ es de
comportamentos. As alteraçõ es de comportamento nã o sã o admissíveis por este artigo –
divorciem-se. Segundo a jurisprudência nã o é uma qualidade essencial.

Art.1638º - Coação moral:


Vs Coaçã o física art.1635º.

100
Há coaçã o moral se for grave o mal com que o nubente é ilicitamente ameaçado e o receio da sua
consumaçã o é justificado.
É equiparado a ilicitamente ameaçado se alguém extorquir a declaraçã o de vontade mediante a
promessa de o libertar de um mal.

19.04

O legislador português distingue vá rios tipos de anulabilidade do casamento:


1. Impedimento dirimente;
2. Falta de vontade ou viciada por coaçã o;
3. Falta de testemunhas.

Os requisitos processuais para a anulaçã o destes tipos:


1. Quem é que tem legitimidade para arguir.
2. Qual o prazo.

O regime é especial face à s regras gerais. O pró prio legislador divide as situaçõ es de
legitimidade e prazo para anulaçã o em funçã o do tipo em causa – nã o existem regras gerais para
todos os casos.

Legitimidade
Art.1639º e ss.

Art.1639º CC - impedimento dirimente:


Quem tem legitimidade:

 Cô njuges;

 Qualquer parente dos cô njuges em linha reta ou até 4º grau em linha colateral;

 Herdeiros e adotantes;

 MP;

 Tutor;

 Acompanhamento;

 Cô njuge, em caso de bigamia.

101
Mesmo que saibamos que, à partida, há uma situaçã o de impedimento dirimente e a outra
pessoa mais à frente invoca a anulaçã o, o OJ dá a impossibilidade de invocaçã o por abuso de
direito.
Os casos em que alguém que casa com impedimento dirimente sã o casos extremos – crianças de
8 anos, pai com filho etc.
O MP tem dever oficioso de intentar uma açã o. Houve processo preliminar para ver se há
impedimentos dirimentes – nã o se reparou, ou entã o nã o foi dito – nesses casos o MP tem essa
prorrogativa legal.

Art.1640º CC - falta de vontade:


Situaçõ es do art.1635º CC - simulaçã o, coaçã o, erro de identidade física, incapacidade acidental,
etc.

Legitimidade:

 No caso de simulaçã o: sã o os cô njuges ou quaisquer outros prejudicados pelo


casamento.

 Nos outros casos: o cô njuge que faltou vontade ou, se falecer, pode ser substituído pelos
parentes, afins na linha reta, herdeiros ou adotantes.

Art.1641º CC - vícios da vontade:


Situaçõ es do art.1636º - erro, coaçã o.

Legitimidade:

 Cô njuge que foi vítima do erro.

 Se morrer, os parentes, afins na linha reta, herdeiros ou adotantes.

102
Nas qualidades essenciais tem de conseguir demonstrar razoavelmente que nã o casaria se
tivesse conhecido o erro.

Art.1642º CC - falta de testemunhas:


Legitimidade:

 Só o MP.

Prazos
A regra geral para a anulaçã o é um ano, sob pena de convalidar na OJ. O legislador procurou
evitar essas situaçõ es de convalidaçã o, com prazos especiais no caso do casamento.
Os prazos estã o divididos nos subtipos.

Art.1643º - impedimento dirimente:


1.
a) Menor nã o nú bil, demência notó ria, acompanhamento de maior impedido.
- Pró prio menor que intenta a açã o – mantem a sua legitimidade até 6 meses apó s a
maioridade.
- Outras pessoas indicadas no art.1639º – 3 anos apó s celebraçã o do casamento, mas
nunca apó s a maioridade, a incapacidade natural ter cessado ou revisto pelo
acompanhado.
b) Condenaçã o por homicídio doloso contra o conjuge do outro (art.1602º/d)) – 3 anos
apó s casamento.
c) Nos outros casos desde o momento de celebraçã o do casamento até 6 meses apó s a
dissoluçã o (morte ou divó rcio) do casamento.
- Quem pode pedir sã o as pessoas do 1639º.
- É certo que vai haver dissoluçã o (nem que seja por morte).
2. restringe o prazo ao MP – só pode invocar até à dissoluçã o.

103
3. Se existir açã o de anulaçã o ou declaraçã o de nulidade (no caso de casamento cató lico), tem-se
de esperar apara intentar açã o de anulaçã o de casamento nã o dissolvido.

Art.1644º CC - falta de vontade:


3 anos apó s celebraçã o do casamento ou 6 meses a seguir ao seu conhecimento.

Art.1645º CC - vícios da vontade:


6 meses apó s a cessaçã o do vício e se nunca se cessar o prazo nã o caduca.

Art.1646º CC - falta de testemunhas:


1 ano apó s celebraçã o do casamento.

Casamento putativo

104
É o regime que vigora entre o momento da celebraçã o do casamento e do momento da
declaraçã o de anulaçã o, e se for caso disso declaraçã o de nulidade (casamento cató lico) – aplica-
se aos casamentos civis e ao modelos de modalidade cató lica.
A declaraçã o de anulaçã o tem efeitos retroativos, no entanto nesse período aplica-se o regime
do casamento putativo. Ou seja, apó s a declaraçã o de anulaçã o com efeitos retroativos, as
pessoas nã o estiveram casadas em bom rigor, mas é como se estivessem estado casadas num
regime de casamento putativo (que é ficcional).
Art.1647º e ss.

Art.1647º CC – efeitos do casamento declarado nulo ou anulado.


Casamento civil declarado anulado contraído pelas partes:

 Ambas de boa fé (nº1) – efeitos em relaçã o a eles e a terceiros até ao momento da


sentença.

 Um das partes de boa fé (nº2) – só esse é que pode arrogar-se aos benefícios do estado
matrimonial e opô -los a terceiros desde que se trate de relaçõ es havidas entre os
cô njuges.

Casamento cató lico declarado nulo: produz efeitos até à decisã o.

Art.1648º CC - boa fé:


Vamos aferir a boa fé nos termos deste artigo.
Art.1648º/1: Boa fé: ignorâ ncia desculpá vel do vício ou cuja vontade tenha sido extorquida por
coaçã o.
Art.1648º/3: A boa fé presume-se.
Ainda que o casamento tenha sido cató lico, a boa fé que se aplica é essa e nã o a do direito
canó nico.

105
Registo obrigatório
Casos em que é obrigató rio o registo do casamento.

Art.1651º CC - casamentos sujeitos a registo:


É obrigató rio o registo:

 Casamentos celebrados em Portugal – por portugueses ou estrangeiros.

 Casamentos celebrados no estrangeiro se um dos cô njuges tiver nacionalidade


portuguesa.

 Casamentos de estrangeiros que depois de o celebrarem adquirirem nacionalidade


portuguesa.

Art.1652º CC – forma do registo:


O registo é por inscriçã o ou transcriçã o.

Art.1653º CC – prova do casamento para efeitos do registo:


É oponível erga omnes, todos devem conhecê-lo. Portanto, os cô njuges só podem opor o estado
de casado a terceiros apó s o registo.

106
Art.1670º CC - efeito retroativo do registo:
O registo tem efeitos retroativos.

Deveres conjugais
O contrato de casamento gera efeitos pessoais e patrimoniais.

Efeitos pessoais:

 Natureza obrigacional ou;

 Natureza extra obrigacional.

A situaçã o do estado de casado automaticamente constitui na esfera jurídica dos cô njuges um


poder/dever (situaçã o ativa) funcional de direçã o da família em plena igualdade.
Esta é a base da relaçã o jurídico-familiar dos cô njuges. O legislador constitucional e ordiná rio
decidiu expressar no texto da lei que nenhum dos cô njuges se pode sobrepor ao outro.

Situaçõ es paritá rias podem gera situaçõ es de impasse.


Da violaçã o do dever de respeito nã o se pode retirar nenhuma consequência – nã o gera
indemnizaçã o. Só se existir factos de abuso de autoridade que o Estado proteja é que pode haver
consequências.
A igualdade entre os cô njuges nem sempre acontece na prá tica e nã o se pode fazer nada em
relaçã o a isso porque nã o gera consequências.

26.04

Efeitos pessoas que o contrato de casamento tem para os cô njuges - deveres que sã o
obrigatoriamente explicados, no pró prio ato do casamento, aos cô njuges.
Art.1671º e ss.

Art.1671º - igualdade dos cônjuges:

107
Art.1671º/1: regime de plena igualdade dos cô njuges.
Art.1671º/2: poder-dever funcional de direçã o da família:

 Os cô njuges devem acordar sobre a orientaçã o da vida da família, em comum.

 Qualquer clá usula que contrarie esta norma é nula.

 As decisõ es que se tomem em ‘conselho familiar’ deve ter em consideraçã o o bem estar
da família e ainda procurar acomodar os interesses pessoais de um e de outro.

 Há um aspeto que está fora deste preceito – deliberar sobre assuntos de natureza
estritamente pessoal de cada um dos cô njuges.

Quando estudamos a reserva da vida privada, dissemos que o círculo mais restritivo incluía a
vida conjugal. Dentro desse círculo podemos ainda restringir mais – vida puramente privada de
cada um dos cô njuges, onde o outro nã o pode intervir, seja a que título for.
Ex: conjuge quer fazer uma tatuagem, o outro não pode opinar. É algo que pertence ao
âmbito puramente privado do cônjuge. Isso é matéria puramente pessoal.

Mas há outros temas que embora, em abstrato, pareçam da vida pessoal de um dos cô njuges, na
verdade tocam no outro, e aí a opiniã o do outro cô njuge pode ser relevante.
Ex: DIU – o DIU por definição só afeta a mulher, em termos materiais. No entanto, é um
tema que releva para a vida conjugal, porque com isso não podem fazer filhos e isso é
relevante. Portanto, não pode por si só, fazê-lo sozinha, deve perguntar.

Art.1673º - residência da família:

O legislador tem em vista que os cô njuges ou a família resida no mesmo espaço.


Art.1673º/1: devem escolher a residência por mú tuo acordo para salvaguardar a vida familiar.

108
Art.1673º/2: existem casos excecionais por motivos ponderosos em contrá rio.

Há jurisprudência sobre isto. Caso de um funcioná rio pú blico que morava em Lisboa, e era
técnico de uma instituiçã o pú blica e concorreu a uma posiçã o de técnico superior para subir a
cadeira. Abriram dois concursos – um no porto e outro em santarém. A residência da família é
em lisboa, mas a pessoa concorreu para o porto. O tribunal veio entender que houve violaçã o da
residência da família, porque sem motivos para justificar, o cô njuge devia ter escolhido o sítio
mais pró ximo.

Art.1673º/3: se os cô njuges estiverem em impasse, entã o o tribunal fixará a residência da


família ou alteraçã o.
Para o tribunal poder fazer isto, tem de estar numa situaçã o de pré-ruptura.

Art.1677º - direito ao nome:


Cada um dos cô njuges conserva os seus apelidos, mas pode adicionar o apelido do outro
cô njuge, no má ximo dois, reciprocamente.
Quando há divó rcio ou viuvez, art.1677º-A pode-se manter no caso de viuvez até o segundo
casamento, pode-se manter o do primeiro casamento até o segundo casamento mas nã o se pode
adquirir outro.
Nã o posso manter o nome do primeiro casamento, desde que o conjuge consinta.

Art.1672º - deveres dos cônjuges:

Taxativo de deveres: nã o podem adicionar nem retirar. Apenas o dever de assistência é um


dever patrimonial.

Dever de respeito: Se reiteradamente, um conjuge desrespeita o outro, é violaçã o do dever de


respeito. Se um atinge a integridade física do outro, é uma violaçã o do dever de respeito. Nã o
tem a ver só com respeito em funçã o da pessoa, mas também quanto ao seu patrimó nio pessoal.
Dever de fidelidade: manifesta-se pela proibiçã o da poligamia. Nã o há consequência penal para
o adultério, nã o é crime. Mas é um dever do cô njuge. O que é trair? Se for uma traiçã o apenas
sexual tutu bem, se for psicoló gica a doutrina diverge, os flirts também sã o doutrina.
Dever de coabitação: divide-se em 3 subdeveres (coabitaçã o de mesa – de espaço; coabitaçã o
de leito – de cama; coabitaçã o de habitaçã o)

109
Mesa – partilhar os recursos com a outra pessoa;
Leito – partilhar a cama com a outra pessoa. Ninguém pode obrigar alguém a fazer sexo,
mas há uma violaçã o do dever de coabitaçã o de leito se o outro cô njuge recusar sempre fazer
sexo com ele. A consequência é nenhuma.
Se nã o gerar responsabilidade civil nã o há consequência. Só pela violaçã o dos deveres
nã o se consegue extrair nenhuma da consequência – falta de exigibilidade de consequência
efetiva.
Habitaçã o – devem adotar residência comum

Art.1674º - cooperação:
A cooperaçã o inclui uma obrigaçã o de meios.
A obrigaçã o de socorro é uma obrigaçã o de meios, porque nã o se cumpre atingindo o resultado
específico, fico liberto da obrigaçã o de demonstrar que tomei atos idó neos.

 Socorro e auxílio sã o obrigaçõ es perante o outro cô njuge.

 Neste caso de assunçã o de responsabilidades inerentes à vida familiar inclui os filhos. É


o ú nico caso nos deveres de natureza pessoal que aparece também os filhos como
titulares da situaçã o jurídica ativa.

Art.1675º - dever de assistência:


Dividido em dois deveres:

 Obrigaçã o da prestaçã o de alimentos – art.2003º e ss.

 Dever de contribuiçã o para os encargos da vida familiar.

Prestação de alimentos:
O que se entende por alimentos, e quem está obrigado a prestar alimentos.
Art.2003º - noçã o de alimentos e diz que entende-se por alimento tudo o que for indispensá vel
ao sustento de alimentaçã o e vestuá rio. Inclui-se educaçã o e tal.
Art.2009º - noçã o de quem está vinculado a prestá -los: cô njuge, descendentes, ascendentes,
irmã os, tios, etc. Há pessoas que estã o obrigadas a prestar alimentos à outra, seja maior ou
menor.
Essa obrigaçã o tem a sua relevâ ncia quanto à proteçã o dos menores. É sobre esta obrigaçã o em
que os pais têm de pagar uma mensalidade ao ex-cô njuge para que o dinheiro seja usado para a
educaçã o, de comida, etc.

110
Dever de contribuição para os encargos:
Imputabilidade da situaçã o de facto. Nã o foi atualizada aquando a atualizaçã o do CC sobre
matéria do divó rcio litigioso. No divó rcio litigioso era preciso aferir a culpa. Hoje em dia nã o se
tem de provar a culpa.
A imputabilidade que o artigo fala deixa de ter relevâ ncia, mas temos de interpretar isto à luz do
direito em vigor.

 Se ninguém for culpado – dever mantém-se na esfera jurídica dos dois.

 Se algum for culpado – mantém-se na esfera do principal culpado.


Mantém-se em vigor o dever de assistência. mesmo os cô njuges estando separados de facto,
assumindo que a separaçã o nã o lhes é imputá vel.

Art.1676º - contribuir para os encargos da vida familiar:


Implicam despesas que os cô njuges têm de suportar para que possam viver em família –
mobília, manutençã o da casa, comida, manutençã o do automó vel, os filhos.
Legislador tem consciência que cada dinâ mica familiar sã o diferentes – um pode dedicar-se
mais à família. E entã o considera que está cumprido o dever de contribuiçã o para os encargos
da vida familiar, independentemente da alocaçã o de tempo de quer os cô njuges que alocam o
tempo a trabalhar, quer para os que alocam o tempo em casa a trabalhar. Seja qual for o tipo da
atividade, desde que tenha o objetivo de cuidar da família, sã o factos suscetíveis de ser um
encargo.
“afetaçã o dos recursos na medida do possível”

Art.1676º/2: norma mais importante sobre os deveres. Em caso de rutura e divó rcio é relevante
na medida em que procura reequilibrar os esforços que os cô njuges tomaram. Chama-se crédito
por solidariedade patrimonial.

Art.1676º/3: Se um dos cô njuges for consideravelmente superior porque renunciou de forma


excessiva os seus interesses pessoais (ex. prescindir a vida profissional pela vida em comum),
pode pedir compensaçã o ao outro, mas só em caso de partilha – se a unidade familiar se
extinguir. O crédito só é exigível no momento da partilha quando há bens comuns.
Se houver separaçã o de bens, nã o há partilha. Entã o nã o há essa compensaçã o.

111
Art.1676º/4: norma de execuçã o específica (se nã o pagar, o tribunal substitui-se ao cô njuge e
paga os rendimentos).

02.03

Convenção antenupcial
Convecção antenupcial: negó cio jurídico nos termos do qual as partes (cô njuges) acordam,
entre vá rias coisas, mas fundamentalmente, sobre qual o regime de bens que irã o usufruir
durante o período do casamento.
As convençõ es estã o sujeitas a um princípio da imutabilidade – o que os cô njuges decidiram
antes do casamento nã o pode ser em regra alterado durante o casamento.
O contrato de casamento nã o se confunde com a convençã o. Os casamentos sã o negó cios
jurídicos autó nomos, mas a convençã o é funcionalmente dependente do casamento – só faz
sentido ser eficaz no momento de celebraçã o do casamento.
Ex: se celebro hoje uma convençã o ela fica sujeita à condiçã o de eficá cia de se efetuar o
casamento.

Convençã o antenupcial:

 Condiçã o de eficá cia do contrato de casamento;

 Imutabilidade - Até ao casamento é possível alterar, mas nã o depois;

 Caduca no prazo de um ano;

Art.1698º - liberdade de convenção:


O objeto da convençã o é o regime de bens: comunhã o geral de bens, separaçã o de bens e
comunhã o de adquiridos.
Em todo ou em parte: nã o é comum, mas podemos definir um regime misto que tem de estar
escrito para todos verem.

112
Art.1699º - restrições ao princípio da liberdade.
Determina ou põ e limites ao princípio de liberdade de convençã o do art.1698º.

Art.1699º/1:
a) Art.1700º ao art.1700º-A sã o regras especificas de pactos sucessó rios e de sucessã o
hereditá ria que eu posso negociar enquanto nubente em sede de convençã o negocial –
tudo o que está fora nã o posso.
b) nã o se podem alterar direitos e deveres conjugais, ou os decorrentes das
responsabilidades parentais.
c) administraçã o de bens – estas regras sã o imperativas. Ex: art.1678º – este artigo nã o
pode estar sujeito a regulamentaçã o especial nem ser alterado em sede de convençã o.
d) Art.1733º – está inserido dentro da comunhã o geral de bens. Mesmo nesta há bens que
sã o incomunicá veis.
O que o legislador nã o disse é saber se o regime de dividas dos cô njuges é um regime imperativo
ou pode estar sujeito a alteraçã o através das convençõ es anteconjugais. À contrario, posso
mexer no regime das dividas, extraído do art.1699º/1.

Art.1699º/2: diz que se houverem filhos na altura da celebraçã o do contrato, e mesmo que esses
sejam maiores ou emancipados, o regime da comunhã o geral de bens nã o pode ser
convencionado, por violaçã o do principio da igualdade para os outros filhos que poderã o nascer
e beneficiar deste regime.
A interpretaçã o é unanime neste ponto, faz-se uma interpretaçã o restritiva no sentido de ler o
artigo assim: se os filhos forem filhos comuns dos nubentes nã o se aplica o nº2. Nos outros
casos aplica-se esta norma.

Art.1708º - capacidade para celebrar convenções antenupciais:


Tem capacidade de gozo para celebrar uma convençã o todos aqueles que têm para celebrar um
casamento nos termos deste artigo.

113
Art.1710º - forma de convenções antenupciais:
As convençõ es antenupciais estã o sujeitas a um requisito de forma - perante funcioná rio pú blico
ou por escritura publica.
Hoje em dia já se admite documento autenticado.

Art.1711º - publicidade das convenções antenupciais:


As convençõ es estã o sujeitas a registo.
Podem ser modificá veis ou revogá veis ate à data do casamento desde que haja consentimento
do outro nubente e dos herdeiros quando se aplica.
É valida a condiçã o e termo.

Art.1716º - caducidade das convenções antenupciais:


Um ano ou se for anulado.

Princípio da imutabilidade – art.1714º e art.1715º:

114
Este princípio está fixado no art.1714º.

O art.1715º tem as exceçõ es a este princípio - alguns casos onde o legislador admite a alteraçã o
de regras:
a) casos de direitos sucessó rios em que é possível revogar alguns benefícios;
b) pela separaçã o judicial de bens – regime protetor do casal;
c) separaçã o judicial de pessoas e bens;
d) remete para outras que a lei possa admitir.

Regimes de bens
Art.1717º - regime de bens supletivos:
O regime supletivo é a comunhã o de bens adquiridos. Estatisticamente é aquele que prevalece.
O regime implica comunhã o - há bens que sã o comuns e bens que sã o pró prios, portanto
importa perceber que tipo de bens sã o comuns e que tipo de bens sã o pró prios.

Art.1718º - remissão genérica para uma lei estrangeira ou revogada, ou para usos
e costumes locais:
Podemos fixar um regime de bens de uma lei estrangeira, mas se o fizermos nã o podemos
simplesmente remeter para a lei estrangeira; temos de dizer o que a lei especificamente trata
nesta matéria de maneira a que todos possam consultar o registo e saber o que significa.

115
Art.1720º - regime imperativo de separação de bens:
Há 2 casos de regime imperativo de separaçã o de bens (nã o se pode optar por outro).
Art.1720º/1:
a) casamento celebrado sem procedência de processo preliminar – ex: casamento urgente.
b) Quando tem 60 anos de idade: se duas pessoas casam e uma delas já tem pelo menos 60
anos de idade, tem de ser em separaçã o de bens -> evitar o golpe do baú .

Art.1699º/2: se houverem filhos e esses filhos nã o sã o comuns (A casa com B mas tem o filho
com C), nã o posso fixar o regime de comunhã o geral.
Olhamos para cada bens em especifico, para o patrimó nio dos cô njuges, identificamos os bens
que existem e qualificá mo-los até perceber quais é que sã o os bens pró prios e quais é que sã o
comuns.

Art.1722º - bens próprios:


Bens que sã o pró prios - art.1722º/1:
a) bens adquiridos até ao casamento (enquanto solteiro);
b) bens que vieram a ser doados ou adquiridos mortis causa apos casamento;
c) imaginemos que tenho um contrato que me dá um direito de adquirir um bem (direito
potestativo) – fiz isto em momento anterior a casar mas exerci apos casamento – se nã o
existisse esta regra seria um bem comum, mas com ela estes bens mantém a qualidade
de bens pró prios.

Art.1722º/2:
c) bens com reserva de propriedade – a entidade financiadora faz o contrato mas mantém a
propriedade até ao pagamento total. Se fiz o contrato a momento anterior ao casamento, mas
acabo de pagar em momento posterior, o bem continua a ser pró prio.

116
Art.1723º - bens sub-rogados no lugar de bens próprios:
a) troco este computador por o telemó vel, o telemó vel mantém a qualidade de bem
pró prio.
b) vendi o computador ao Rafael, ele pagou me 500 euros, esse dinheiro entra mantendo a
qualificaçã o de bem pró prio.
c) vou usar dinheiro e adquirir bens em troca desse dinheiro que mantém a qualidade de
bens pró prios, desde que a proveniência do dinheiro seja mencionada no documento de
aquisiçã o. Na prá tica, o que acontece, é que na escritura pú blica fica mencionado que o
imó vel é pró prio e o outro cô njuge assina.

Art.1724º - bens comuns:


a) Produto de trabalho dos cô njuges: os frutos civis têm uma regra especifica mais abaixo,
mas tudo o que seja salá rios, etc. é considerado bem comum.
b) Bens adquiridos pelos cô njuges na constâ ncia do matrimonio a titulo oneroso (se for
gratuito é doaçã o e nã o cai aqui) que nã o sejam excetuados pela lei. A aquisiçã o pode ser
qualquer tipo de aquisiçã o – usucapiã o, etc… no caso do art.1722º começa a contar o
caso de usucapiã o antes do casamento, aqui o bem é pró prio porque o prazo começa a
contar depois do casamento.
Depois há regras especiais.

Art.1725º - presunção de comunicabilidade:


Dá -nos, a propó sito dos bens mó veis, presunçã o de comunicabilidade – sempre que haja
dú vidas se determinado bem deve ser bem pró prio ou bem comum, considera-se esse bem
como bem comum.

Art.1726º - bens adquiridos com dinheiro ou bens próprios e noutra parte com
dinheiro ou bens comuns:
Art.1726º/1: Como se qualifica se a parte de um valor for contribuiçã o da parte dos bens
pró prios de um dos cô njuges e a outra parte bens pró prios do outro cô njuge – o bem é de quem
deu mais.

Se tiver um imó vel que quero comprar – 100k.


Hipó tese A:

 30k de bem comum.

 30k bem pró prio do cô njuge A.

 40k bem pró prio do cô njuge B.


 O bem é de B.

117
Hipó tese B:

 40 k de bem comum.

 30k bem pró prio do cô njuge A.

 30k bem pró prio do cô njuge B.


 O bem é comum.

Hipó tese C:

 40k bem comum.

 35k de A.

 25k de B.
 bem comum

Art.1726º/2: só há compensaçã o na partilha e só há partilha em comunhã o. Portanto, só


podemos falar em partilha de bens se sã o bens que estã o em comunhã o.
Um dia mais tarde se, por ventura, se divorciarem, imputamos o valor da contribuiçã o naquilo a
que terá direito a receber.

Ex: O bem pró prio é do A, no entanto sem prejuízo do bem pró prio ser do A, os 30 mil euros que
o B colocou vã o ser imputados para efeitos de compensaçã o devida na partilha.

Art.1727º - aquisição de bens indivisos já pertencentes em parte a um dos


cônjuges:
Se for coproprietá rio de um bem imó vel anterior ao casamento, casei e depois adquiri a restante
parte ao coproprietá rio, o bem mantem a qualidade de bem pró prio.

Art1728º – bens adquiridos por virtude da titularidade de bens próprios:


Art.1728º/1: A ló gica é dizer que os frutos sã o comuns – frutos civis, frutos naturais.
Se eu for titular de um bem pró prio e der a casa em arrendamento e em virtude disso obtiver
proveito pela via da renda, esse dinheiro é comum.
Se tenho patrimó nio pró prio, depó sitos estruturados a prazo por ex., e esses rendem juros,
esses sã o patrimó nio comum – ou seja, independentemente de aquilo que está a gerar
patrimó nio ser meu ou comum os frutos sã o sempre comuns.

Art.1728º/2/d): o valor é bem pró prio.

118
Um prémio – tudo o que sã o compensaçõ es, porque sã o atribuídos pela performance especifica
do trabalhados é um bem pró prio. Autores que consideram que estes mantêm a titularidade de
bens pró prios.

Art.1729º - bens doados ou deixados em favor da comunhão:


Eu doador atribuo algo a alguém casado, isso é-lhe bem pró prio, mas posso também posso
atribuir aos cô njuges e, nesse caso, é bem comum à prevalece a vontade do doador.
A doaçã o feita pra a comunhã o pode ser tacita ou expressa (se for sujeito a registo).

Art.1730º - participação dos cônjuges no património comum:


Meaçã o ou direito à metade.
Regra imperativa.

Art.1730º/1: Tudo o que fizer parte dos bens comuns, é como se os cô njuges tivessem direito a
participar ativamente (para receber algum beneficio) ou passivamente (responsabilidades) de
forma equitativa.
Compropriedade é diferente de comunhã o. Na primeiro sou comproprietá rio de parte de um
bem, nã o sou titular de direito de propriedade do bem todo. Na comunhã o sã o titulares do
direito de propriedade pleno de tudo o que ta aqui. Mas depois cada um tem o direito à metade
– participa de forma equitativa quer nos benefícios quer nas responsabilidades. Ex: em caso de
partilha, uso a regra da metade e cada um fica com metade dos bens.
Art.1730º/2: embora eu tenho direito de propriedade sobre isto tudo, embora o meu conjuge
também tenha direito de propriedade sobre tudo, eu posso doar bens a terceiros; deixar legados
de bens que fazem parte do acervo comum no que for da minha parte.
Só tenho direito a receber a metade em caso de partilha. Enquanto formos casados as coisas vã o
se alterando, mas é como se os dias passassem e existisse uma lista imaginá ria em que
registá ssemos estes movimentos por cada uma das partes.

Regime da comunhão geral:


Art.1732º e ss.

Art.1734º - disposições aplicáveis:


Manda aplicar o regime da comunhã o geral; as disposiçõ es relativas à comunhã o de adquiridos
com a necessá ria adaptaçã o: art.1723º, art.1725º, art.1726º, art.1727º e art.1728º.
Todos estes artigos que estã o na comunhã o de adquiridos aplicam-se ao regime da comunhã o
geral.

119
A ideia geral já nã o é a ideia de esforço do casal, mas a de totalidade de posse sobre todos e
quaisquer bens. O patrimó nio comum é constituído por todos os bens, presentes e futuros dos
cô njuges – art.1732º.

Art.1733º - bens incomunicáveis:


Há bens que se mantém bens pró prios – sã o incomunicá veis, que nã o sã o comuns.

Art.1733º/1:
a) bens doados ou deixados -> se sou doador e quero deixar um bem a uma pessoa do casal
e se aqueles cô njuges estã o casados no regime de comunhã o geral, se nã o tivesse esta
regra o bem teria de ser considerado comum. Eu doador, para proteger a minha
vontade, posso colocar uma clá usula de incomunicabilidade, para manter este como bem
pró prio na esfera de um dos cô njuges. Bens doados ou mortis causa.
b) Clá usula de reversã o é a clausula segundo a qual eu dou um bem a alguém, mas se a
pessoa a quem doei morreu e eu ainda estiver vivo o bem volta para mim. Substituiçã o
fideicomissá ria – quando alguém fica com o encargo de receber a herança de outra
pessoa ou terceiro ate ao seu falecimento (substituiçã o de herdeiros). Se tiver um destes
casos o bem mantem se como bem pró prio
c) O legislador nã o foi rigoroso porque o usufruto nã o é um direito estritamente pessoal ->
2 cô njuges casados com comunhã o geral de bens e 1 tem o usufruto de bens ou imoveis
esse mantem se na esfera deste.
d) A e B sã o casados em comunhã o geral, B sofreu um acidente de aviaçã o provocado por
um terceiro. O terceiro foi considerado culpado e pagou lhe uma indemnizaçã o civil por
bens patrimoniais e nã o patrimoniais – esta indemnizaçã o é considerada bem pró prio.
e) Seguros a mesma coisa. Ex: seguro de vida de um terceiro vai para B.
f) Materiais de uso estritamente pessoais mantêm se bens pessoais. Isto é relevante para a
matéria de administraçã o de bens.
g) Recordaçõ es de família.
h) Animais de companhia ao tempo de celebraçã o de companhia sã o bens pró prios. Os que
forem adquiridos na constâ ncia de matrimonio sã o comuns.

Art.1733º/2: os frutos e os valores de benfeitorias sã o comuns.

Regime da separação

120
Se for plena de separaçã o de bens, nã o há comunhã o, logo nã o à partilha, o que pode haver é
compropriedade.
Isso nã o limita que os cô njuges nã o possam usar os mesmos mecanismos de comunhã o - a
compropriedade, a contitularidade das contas bancarias.
Evitamos ter bens comuns que possam ser atacados pelos credores.

Art.1735º - domínio da separação:


Neste caso ao contrario da comunhã o geral e da adquiridos, os frutos mantém se como frutos
pró prios.

Art.1736º - prova da propriedade dos bens:


Art.1736º/1: Para nã o ser complicado com muito patrimó nio perceber o que é o que, podemos
estabelecer uma clá usula de presunçã o de propriedade de bens mó veis.
Art.1736º/2: os bens mó veis que nã o estejam registados, presume-se que é compropriedade de
ambos.

03.04

Administração de bens
Ato de administraçã o de bens: portfó lio de açõ es e investimentos num fundo que aumenta ou
diminui o patrimó nio.

Art.1678º - administração dos bens do casal:

121
3 grupos:

 Atos de administraçã o de bens pró prios – sempre com referência a um cô njuge;

 Regras especiais de atos de administraçã o de bens pró prios do outro cô njuge e bens
comuns:
- Al. a) b) c) d) e parte da e) referem-se a bens comuns;
- Parte da al. e) f) e g) referem-se a bens pró prios do outro cô njuge;
- Al. g) refere-se ao mandato (para bens pró prios ou comuns).

 Atos de administraçã o de bens comuns – administraçã o ordiná ria ou nã o ordiná ria.

Art.1678º/1: regra relativa aos bens pró prios – cada um dos cô njuges tem administraçã o dos
seus bens pró prios. Mesmo que esteja casado de comunhã o geral de bens existem bens pró prios
e cada um dos cô njuges tem administraçã o dos seus. à bens próprios

Art.1678º/3: regra relativa aos bens comuns - fora dos casos previsto no nú mero anterior, cada
um dos cô njuges tem legitimidade para praticar atos de administraçã o ordiná ria relativamente
aos bens comuns – ex: ir ao supermercado. O que nã o for ato de administraçã o ordiná ria
necessita sempre da autorizaçã o de ambos. à bens comuns

 Administraçã o ordiná ria - nã o é preciso consentimento

 Administraçã o nã o ordiná ria – é preciso consentimento.

Art.1678º/2: regras especiais que permitem:

 a um dos cô njuges ter a administraçã o exclusiva de bens comuns à afasta a regra do


nº3; al. a), b), c), d) e parte da e).

 a um dos cô njuges ter a administraçã o de bens pró prios do outro à afasta a regra do
nº1; parte da al. e), f) e g).

a) Cada um dos cô njuges tem administraçã o dos proventos que receba pelo seu trabalho.
Art.1724º/a) - os rendimentos de trabalho sã o considerados bens comuns – os bens sã o
comuns, nã o desqualificamos, mas se receber esse dinheiro do meu trabalho tenho
poderes administrativos sobre esse dinheiro.
b) Direitos de autor: sã o considerados bens comuns, mas o cô njuge autor tem poderes de
administraçã o sobre esses bens.
c) Bens comuns levados para o casamento ou adquiridos a título gratuito depois do
casamento. Comunhã o geral de bens – significa que há bens que os cô njuges levaram
para o casamento e que se vã o qualificar como bens comuns. Se os bens sã o bens
comuns, nã o perdem essa qualificaçã o, mas atribuem-se poderes de administraçã o
exclusiva ao cô njuge que era titular dos mesmos antes do casamento.

122
d) O anterior vale também para as doaçõ es (feitas ambos os cô njuges). É impossível deixar
ou doar bens a ambos os cô njuges e excluir um deles da sua administraçã o.
e) Bens mó veis, pró prios do outro cô njuge ou comuns, utilizados como instrumento de
trabalho. “Por ele” – pelo cô njuge administrador.
f) Caso de bens pró prios do outro cô njuge por estar impossibilitado, em lugar remoto ou
desaparecido. Restriçã o à escolha por parte do julgador. Ex: curador provisó rio – se
houver cô njuge esse será o curador provisó rio. Dizem que nem sequer haveria
necessidade porque esses poderes já decorrem desta alínea se o cô njuge estiver ausente.
g) É possível haver mandato de administraçã o entre os cô njuges. Mandato geral nã o sujeito
a uma forma especifica que permite a administraçã o por um dos cô njuges dos bens
pró prios do outro, mas também bens comuns desde que haja mandato específico para
isso – interpretaçã o extensiva desta alínea para abranger também os bens comuns, por
maioria de razã o.

Art.1681º - exercício da administração:


Art.1681º/1: regras sobre a forma de exercício da administraçã o de bens. O legislador nã o quer,
e evita, que haja litigiosidade conjugal – ideia transversal ao direito da família. O legislador quer
evitar que, embora haja obrigaçõ es e deveres conjugais e o casamento sejam um contrato, que
os cô njuges vaiam a tribunal exigir a prestaçã o de determinadas obrigaçõ es. Diz que se o
cô njuge administrar bens comuns ou bens pró prios do outro cô njuge nos termos da alínea a) a
f) do art.1678º/2 nã o é obrigado a prestar contas ao outro, mas responde pelos atos dolosos
(praticados em prejuízo do casal ou do outro cô njuge) (o nº3 está fora deste â mbito).

Art.1681º/2: quando existir mandato. Aplica-se as regras do mandato (regime supletivo). Salvo
estabelecida outra coisa, o mandante pode exigir de 5 em 5 anos a prestaçã o de contas (passado
5 anos caduca este direito de exigir).

Art.1681º/3: o que acontece nos casos em que o outro cô njuge abusa dos poderes de
administraçã o e entra na administraçã o que nã o lhe compete. Se um dos cô njuges faz isto, nã o
havendo mandato, mas o outro nada diz, entã o pode exigir contas de 5 em 5 anos.

Se o outro se opor? Neste caso o cô njuge administrador responde como possuidor de má -fé:
responde pela perda da coisa mesmo que tenha agido sem culpa.

123
Art.1682º - alienação ou oneração de móveis:
Art.1682º/1: alienaçã o ou oneraçã o de mó veis.
Primeiro distingue-se se é administraçã o ordiná ria ou nã o.
Se sã o bens comuns cuja administraçã o cabe a ambos os cô njuges, ou seja, se é um ato de
administraçã o ordiná ria, nã o é preciso consentimento de ambos, se nã o for é necessá rio.
Oneraçã o – garantias.

Art.1682º/2: relativamente aos mó veis pró prios ou comuns que o cô njuge tem administraçã o,
nos termos das regras especiais das alíneas a) a f) do art.1678º/1, a regra geral é que quem tem
poderes de administraçã o tem legitimidade para alienar ou onerar em vida, com exceçã o do
art.1682º/3.
Art.1682º/3 – casos em que é preciso o consentimento dos dois para alienaçã o ou oneraçã o:
a) De bens mó veis utilizados conjuntamente por ambos os cô njuges na vida do lar ou como
instrumento comum de trabalho - ex: frigoríficos, camas, computadores, etc… (utilizados
pelos dois);
b) De bens mó veis pertencentes exclusivamente ao cô njuge que nã o os administra (bens
pró prios). Embora estejamos numa exceçã o ao nº2, que tem bens pró prios e comuns,
aqui interpretamos como sendo apenas relativo aos bens pró prios.

Art.1682º/4: se eu administro um bem que é comum e alieno ou onero esse bem quando
precisava de o consentimento do outro e nã o tenho, a penalizaçã o que eu tenho é retirar esse
valor do valor da partilha se houver divó rcio.

Doaçã o remunerató ria – doaçã o que resulta de um ato de uma prestaçã o de serviços que ela me
deu, mas nã o é o pagamento da prestaçã o dos serviços – premiar ou reconhecer o seu trabalho.

124
Art.1682º-A – alienação de imóveis e de estabelecimento comercial:
Art.1682º-A/1: Requer-se o consentimento de ambos os cô njuges nos casos de comunhã o (geral
ou de adquiridos), e sob quaisquer bens pró prios ou comuns imó veis e de estabelecimento
comercial. É necessá rio o consentimento dos dois para dar usufrutos e outros direitos reais a
outra pessoa.

Art.1682º-A/2: Aplica-se aos casos de separaçã o de bens. Ratio: proteger a casa de morada de
família - qualquer alienaçã o, constituiçã o de hipoteca, etc… precisa sempre do consentimento de
ambos.

Art.1682º-B – disposição do direito ao arrendamento:


Art.1682º-B: arrendamento. Só importa se for a casa de morada de família, é preciso
consentimento dos dois. Se nã o for segue-se o regime normal. Os cô njuges sã o arrendatá rios.

125
Art.1683º - aceitação de doações e sucessões. Repúdio da herança ou do legado:
Art.1683º/1: quanto à s doaçõ es e sucessõ es, os cô njuges nã o precisam de consentimento um do
outro para aceitar heranças, legados ou heranças.
Art.1683º/2: no entanto, para o repudio é preciso consentimento do outro cô njuge desde que
vigore o regime de comunhã o.

Art.1684º - forma do consentimento conjugal e seu suprimento:


Art.1684º/1: este consentimento tem de ser especial e nã o genérico – tenho de identificar o ato
especificamente.
Art.1684º/2: a forma do consentimento segue a forma da procuraçã o, e esta segue a forma do
negó cio celebrado. Por ex: bem imó vel é sujeito a forma escrita
Art.1684º/3: cô njuge fica doente e nã o pode prestar. Posso pedir ao tribunal que supra esse
consentimento.
No CPC há um processo especial para isto.

Art.1687º - sanções:
Art.1687º/1: sançõ es para a prá tica de atos com falta de prestaçã o de consentimento - regime
da anulabilidade. Anulá veis a requerimento do cô njuge que nã o deu o seu consentimento ou dos
seus herdeiros para os atos praticas.
Art.1687º/2: prazo de 6 meses subsequentes à data do conhecimento ou má ximo de 3 anos apos
a celebraçã o independentemente do conhecimento.
Art.1687º/3: também há regras de proteçã o de adquirentes de boa-fé. O adquirente de boa-fé
mantém o direito de propriedade do bem mó vel nã o sujeito a registo que adquiriu.

126
09.05

Regime das dívidas


1. Qualificar a dívida como comunicá vel ou nã o.
2. Quais os bens que vã o responder pela dívida.

Art.1690º e art.1697º - artigos do regime das dívidas.


Nota: O regime da separaçã o nã o tem bens comuns/comunicá veis.

Imperatividade do regime de dívidas


Ao contrá rio do regime da administraçã o de bens que é imperativo – art.1699º/1/c), o regime
de responsabilidade das dívidas nã o tem uma disposiçã o específica na parte das convençõ es
antenupciais que permite concluir que é um regime imperativo. Desse modo, existe divergência
doutriná ria quanto a este regime ser imperativo, ou nã o.
Há alguns autores que defendem que o regime de responsabilidade de dívidas é um regime
imperativo – os cô njuges nã o podem estabelecer outras regras de responsabilidade. Mike diria
que esta linha de pensamento, nã o é maioritá ria, o que é maioritá rio é o pensamento que o
regime de responsabilidade de dívidas é imperativo.

Argumento a favor do regime imperativo:

 Qualquer regime de responsabilidade do có digo contratual é um regime imperativo.

Há autores que defendem que o regime de dívidas é supletivo – os cô njuges podem, em sede de
convençã o antenupcial, aprovar outras regras.

Argumentos a favor do regime supletivo:

 Uma interpretaçã o a contrario do art.1699º dita o que é que os futuros cô njuges podem
alterar no regime do casamento, e como nã o inclui explicitamente, no seu texto, o regime
de dívidas, entã o pode ser alterado.

127
 Qualquer alteraçã o ao regime é registada e é publica, e portanto há proteçã o dos
credores que à montante vã o saber com o que vã o contar, nã o havendo maneira de criar
um regime obscuro.

 Outro argumento a favor do professor Diogo Leite de Campos é que é possível modificar
o regime, mas é preciso ter cuidado em adaptar o regime de responsabilidade ao regime
de bens que os cô njuges acordaram.

Quem é que é responsável


Art.1690º - legitimidade para contrair dívidas:

Art.1690º/1: princípio geral – nã o é preciso o consentimento do outro cô njuge para contrair


dívidas.

Dívidas comunicáveis e não comunicáveis:

 Art.1691º: regras gerais sobre comunicabilidade de dívidas. Trata as dívidas comuns ou


comunicá veis.

 Art.1692º: regras sobre dívidas nã o comunicá veis, que sã o exclusivas de um dos


cô njuges.

Art.1692º – dívidas da responsabilidade de um dos cônjuges (dívidas não comunicáveis):


Dívidas que nã o sã o comunicá veis – da exclusiva responsabilidade de um dos cô njuges. Quem é
que tem a obrigaçã o de pagar.
Se um dos cô njuges contrair uma dívida sem o consentimento do outro, é o ú nico responsá vel,
antes ou depois do casamento. Há casos exceçã o.

Da exclusiva responsabilidade do cô njuge a que respeitam:


a) Se um dos cô njuges cometeu um crime e tem de pagar uma multa, quem é responsá vel é
o cô njuge que cometeu o crime.
b) Dívidas exclusivas de um dos cô njuges que resultam do art.1694º - dívidas fiscais. A
responsabilidade e obrigaçõ es fiscais quando sã o da ú nica responsabilidade de um dos
cô njuges, entã o só esse cô njuge é responsá vel pelo pagamento da dívida.

Art.1691º - dívidas que responsabilizam ambos os cônjuges (dívidas comunicáveis):

128
Art.1691º/1 - dívidas comunicá veis, da responsabilidade de ambos:
a) Se houver consentimento, mesmo antes do casamento, os cô njuges podem contrair
dívidas comuns.

O que é consentir?
O art.1684º diz que o consentimento conjugal deve ser especial para cada ato e conter a forma
exigida.
Aplica-se este artigo ao consentimento pré-conjugal, por analogia (mike). O consentimento
conjugal aplica-se aos atos na constâ ncia do casamento, em momento anterior, visto que se trata
de casamento pré-conjugal.

Agora, assumindo que ultrapassamos a forma de consentimento, entã o se separaram e depois


voltaram a se juntar, aí a dívida é comum ou nã o?

Mike:
1. Prestaram o consentimento antes do casamento, entretanto separaram-se mas depois
juntaram-se e voltaram a casar-se. O consentimento suspendeu-se e tornou-se eficaz
apó s o casamento. A dívida só é comunicá vel apó s o casamento. à argumento literal.
2. Interpretar a alínea a) restritivamente e lê-la na perspetiva do matrimó nio. Já se tomou
a decisã o de casar, foi contraída antes, mas tem de ser na perspetiva de se vir a casar e
tornar eficaz esse regime.

b) Dívidas contraídas antes ou depois do casamento, para ocorrer encargos normais da


vida familiar.
c) Dívidas contraídas durante o casamento, por um dos cô njuges que seja administrador,
desde que os seus poderes nã o sejam abusivos, e que seja em proveito comum do casal
(conceito indeterminado, temos de ver em cada caso concreto). Isto é só durante o
casamento, visto que as regras de administraçã o de bens só se aplicam na constâ ncia do
matrimó nio.
d) As dívidas contraídas no exercício do comércio em proveito do casal, a nã o ser que
vigore o regime da separaçã o de bens. Isto limita os credores irem buscar ao patrimó nio
conjugal, os bens para pagar as suas dívidas. à 1ª exceçã o.
e) As dívidas comunicá veis do art.1693º.

Art.1691º/2: também sã o comunicá veis quaisquer dívidas contraídas antes do casamento por
qualquer dos cô njuges se for feita em proveito comum do casal, em comunhã o geral dos bens.
Art.1691º/3: nã o há inversã o do ó nus. O proveito comum nã o se presume.

129
Art.1693º - dívidas que oneram doações, heranças ou legados:
Dívidas que estejam a onerar as doaçõ es (dívidas que resultem de doaçõ es) – responsabilidade
de cada um, mesmo que aceites com o consentimento do outro. Mas isto só se aplica se for
regime de separaçã o de bens.

Art.1694º - dívidas que oneram bens certos e determinados:


Art.1694º/1: as dívidas que oneram bens comuns sã o sempre de responsabilidade comum,
mesmo que se tenham vencido antes ou depois do casamento.
Art.1694º/2: dívidas que onerem bens pró prios, responsabilidade do conjuge que tenha o bem.

Que bens respondem


Art.1695º - bens que respondem pelas dívidas da responsabilidade de ambos os
cônjuges:
Bens que vã o ser usados para pagar as dívidas comunicá veis.
Art.1695º/1: Se estamos num regime de bens que já qualificamos como tendo patrimó nio
comum, e se a dívida for comunicá vel, primeiro pega-se nos bens comuns. Na falta ou
insuficiência, respondem solidariamente os bens pró prios de cada um.
Art.1695º/2: Na separaçã o de bens nã o há solidariedade, sã o parciá rias. A regra geral é que as
prestaçõ es sã o iguais 50/50, mas pode ser outra divisã o.

Art.1696º - bens que respondem pelas dívidas da exclusiva responsabilidade de um dos


cônjuges:
Bens que respondem pelas dívidas exclusivas.
Art.1696º/1: pelas dívidas nã o comunicá veis respondem os bens pró prios e subsidariamente a
meaçã o dos bens comuns.
Art.1696º/2: exceçã o – respondem ao mesmo tempo que os bens pró prios:
a) bens levados para o casal ou doaçõ es;
b) produto de trabalho – bens comuns;
c) Bens sub-rogados na alínea a).

Art.1697º - compensações devidas pelo pagamento de dívidas do casal:


Art.1697º/1: dívidas comunicá veis em que se foi buscar bens ao patrimó nio exclusivo de um
dos cô njuges porque os bens de um deles nã o chegou, o outro torna-se credor – apenas é
possível usar no momento da partilha (comunhã o ou se for separaçã o de bens) à quer dizer
que o momento em que pode ser exigido o crédito é no momento da separaçã o.

130
Isto serviu para evitar litigiosidade conjugal, procura evitar que um dos cô njuges possa ir a
tribunal exigir créditos ao outro – deveria ser no divó rcio (quer no art.1676º quer qualquer
compensaçã o deste artigo).

Art.1697º/2: dívidas exclusivas pelas quais tenham respondido bens comuns. O outro tem um
direito de crédito relativo a essa meaçã o.

Vicissitudes
 Simples separaçã o judicial de bens – art.1767º e ss

 Separaçã o judicial de pessoas e bens – art.1794 a art.1795º -B.

 Divó rcio – art.1773º e 1793º.

16.05

Simples separação judicial de bens (art.1767º a 1772º)


Requisitos:
1. Judicialidade do processo (só pode acontecer judicialmente);
2. Um dos cô njuges nã o saiba administrar os bens – má administraçã o de bens. Esse tem
poderes administrativos sobre os bens comuns ou do outro.
3. Existência de um regime de comunhã o.
4. Art.1768º - cará ter litigioso da separaçã o. Nã o se vai ao tribunal por mú tuo acordo, se
há consentimento do outro nã o se pode usar este mecanismo porque caso contrá rio
seria uma forma de conseguir desfraldar os credores. De acordo com o princípio da
imutabilidade do regime que os cô njuges escolheram, só em casos muito excecionais é
que pode ser alterado, e tem de ocorrer numa situaçã o em que nã o há mú tuo acordo.

Art.1767º - fundamento da separação.


Art.1769º - legitimidade.

Efeitos:
 Art.1770º: separaçã o dos bens comuns.

 Transformar em separaçã o de bens.

 Os cô njuges mantêm-se vinculados aos deveres conjugais.

 Art.1771º - irrevogabilidade.

131
Separação de pessoas e bens (art.1794º e ss.)
Pode ser feita pela via judicial ou administrativa, com ou sem mú tuo consentimento.

Art.1794º - remissão:
Norma genérica que remete para o divó rcio.
A ideia da separaçã o de pessoas e bens é estabelecer um regime intermédio para dar espaço aos
cô njuges para escolher se querem se divorciar ou reconciliar. Há factos que levam à rutura, mas
que os cô njuges ainda acham que há hipó tese de reconciliarem.

Separaçã o de facto – os deveres conjugais mantêm-se. (dar ghost simplesmente)


Separaçã o de pessoas e bens – alguns deveres conjugais ficam “suspensos”.

No processo civil, quando se faz um processo, o autor faz uma petiçã o inicial contra o réu. Mas, o
réu pode achar que tem um direito sobre o outro e isso chama-se convençã o, ele toma a posiçã o
de autor.
Em sede de convençã o significa que o réu de um divó rcio, suponho uma separaçã o de pessoas e
bens.

Efeitos – art.1795º-A:
 Dever de fidelidade, cooperaçã o e respeito mantêm-se em vigor.

 Dever de coabitaçã o e assistência extingue-se.

 Nã o dissolve o vínculo conjugal.

 A obrigaçã o de alimentos pode manter-se.

Art.1795º-B – termo de separação:

132
Por divó rcio ou reconciliaçã o.

Art.1795º-C – reconciliação:
Já vimos no art.1794º que, relativamente aos bens, procede-se à partilha de bens. Na parte
patrimonial, é como se o casamento tivesse sido dissolvido. Mas, se há reconciliaçã o, temos de
voltar atrá s, e recriar a situaçã o em que os cô njuges estariam antes.
Coloca-se a questã o se, nesta situaçã o, os cô njuges podem escolher um regime de bens diferente
do que escolheram no início.

Quando os cô njuges reconciliam, os credores nã o ficam prejudicados, os efeitos da separaçã o


nã o funcionam como se nunca tivesse havido separaçã o – eles sabem que houve separaçã o
porque é registada, que houve partilha e, por isso mesmo, como nã o é retroativo, que se pode,
em caso de reconciliaçã o, escolher um regime de bens diferente do que foi escolhido no início.

Art.1795º-D – conversão da separação em divórcio.


Há o prazo de um ano para que a situaçã o transitó ria pode vigorar e pode-se converter a
separaçã o em divó rcio e aplica-se os efeitos do divó rcio. Decorrido um ano, qualquer um pode
requerer a separaçã o ser convertida em divó rcio.
Se a conversã o for requerida por ambos os cô njuges, nã o é necessá rio o decurso de 1 ano.

O divó rcio pode ser por mutuo consentimento, ou só por um.


O que já nã o há , ao contrá rio do outro, é que nã o é preciso demonstrar culpa.

Divórcio
Causa de vicissitude matrimonial mais comum.

Está dividido em:

 Parte geral sobre o regime do divó rcio;

 Parte relativa ao divó rcio por mú tuo consentimento

 Sem mú tuo consentimento – litigioso.

Se for por mútuo consentimento:

 Incentivo a ir pela via administrativa, para impedir que os civis fiquem cheios sem caso
de litígio.

Sem consentimento:

133
 Vai-se pela via judicial.

 Dever do conservador e do juiz de procurar a mediaçã o (conciliaçã o) familiar.

Art.1175º e ss – com mútuo consentimento


Os cô njuges, por requerimento, requerem este processo junto à conservató ria, tem de juntar os
documentos e encargos.

Os cô njuges levam a processo tendo já decidido sobre:


1. Acordo sobre a casa da família.
2. Acordo de prestaçã o de alimentos ao conjuge que possa precisar.
3. Regulaçã o do exercício de responsabilidades parentais
4. Acordo sobre o destino de animais de companhia.
5. Relaçã o especificada dos bens – quais os bens comuns e como é que se dividem.

Nã o há litígio em nada, os cô njuges acordaram em tudo.


O conservador tem competência para verificar se está tudo bem – art.1776º, se nã o estiver
comunica aos cô njuges para alterar. A decisã o do conservador aqui equipara-se a sentença
judicial.
Se houver acordo sobre responsabilidades parentais, o conservador é obrigado a remeter esse
acordo para o MP que vai assegurar que é o melhor acordo. O MP tem o dever de assegurar que
os filhos ficam protegidos.

Divórcio litigioso, sem consentimento:


Art.1779º - há sempre uma tentativa de conciliaçã o, se nã o conseguir, o juiz vai tentar fazer o
divó rcio por mú tuo consentimento.

Fundamentos do divórcio: Nã o é preciso demonstrar culpa, mas tem o ó nus de alegar – que há
um fundamento para pedir o divó rcio que se baseia na ideia de rutura do casamento.

Art.1781º - rutura:
Casos de rutura:
a) Separaçã o de facto por um ano consecutivo.
b) Alteraçã o das faculdades mentais do outro cô njuge – nã o é uma mera alteraçã o, tem de
estar há um ano assim e compromete a possibilidade da vida em comum. Apesar de

134
haver um dever de assistência para cuidar na medida do possível, se passado um ano
continua nesse estado mental e se nã o permite a vida em comum há rutura.
c) A ausência sem notícias por mais de um ano.
d) Norma genérica, residual – situaçõ es que demonstrem a rutura definitiva do casamento,
independentemente de culpa.
Hoje em dia, como nã o há culpa, os fundamentos sã o um bocado irrelevantes, basta apenas
alegar sem ter de provar (só se tem de provar que esteve fora por um ano).

Art.1782º - separação de facto:


Situaçã o nos termos do qual nã o há comunhã o de vida entre os cô njuges que pode ser aferida
objetiva.

O divó rcio é um direito potestativo – a qualquer momento pode-se desvincular à relaçã o


matrimonial. Os efeitos do divó rcio sã o equiparados à dissoluçã o por morte – art.1788º.

Efeitos do divórcio:

 O divó rcio tem efeitos para o futuro no momento do trâ nsito em julgado da sentença e
só pode ser oposto a terceiros depois de registo.

 Há extinçã o dos deveres conjugais, à exceçã o da obrigaçã o de alimentos, que se pode


manter.

 Efeitos patrimoniais: se o regime de bens adotado, significar comunicabilidade de bens,


há partilha - art.1790º.

O art.1790º tem uma regra engraçada, em caso de divó rcio, nenhum dos cô njuges pode receber
mais do que se tivesse celebrado em regime de comunhã o de adquiridos, para impedir que o
divó rcio seja uma forma de aquisiçã o de bens.
A comunhã o de adquiridos, aquilo que os cô njuges adquirem no casamento com base no
esforço. O divó rcio nã o pode ser uma forma de adquirir bens para além do esforço.

Art.1792º - reparação de danos:


Regra sobre responsabilidade civil e compensaçã o por danos.
Art.1792º/2: o cô njuge lesado tem direito de pedir reparaçã o de danos causados pelo outro.
A exigibilidade das normas do direito da família sã o muito reduzidas, e nã o se pode pedir
indemnizaçõ es por casar. No entanto, se há divó rcio, pode-se por açõ es nos tribunais comuns, e
nã o nos familiares, para pedir indemnizaçõ es. Tem-se de produzir/demonstrar novamente
factos para requerer.
Art.483º - nã o se pode usar normas de DF para situaçõ es gerais.

135
Art.1689º - regras para a partilha de bens.
Define as regras da partilha. Sempre que há partilha, por simples separaçã o de bens, separaçã o
judicial de pessoas e bens ou divó rcio, aplica-se este artigo.
A doutrina discutia se os cô njuges podiam fazer contratos prévios de partilha, quer em
convençã o antenupcial ou durante o casamento.
A resposta é que se pode fazer, nã o é contrá rio ao princípio da imutabilidade e a ú nica que se
tem de respeitar, sã o as regras do pagamento de dívidas a terceiros.
Cessando as relaçõ es patrimoniais e dos cô njuges, os herdeiros recebem os bens pró prios e os
bens comuns sã o meados – direito à metade.

Art.1689º/2: se houverem dívidas a serem pagas, pagam-se primeiro as dívidas comunicá veis e
só depois as restantes. Nã o existindo bens comuns pró prios suficientes, respondem os bens
pró prios do devedor.
Art.1689º/3: os créditos conjugais que só sã o exigíveis no momento da partilha (compensaçã o)
e sã o pagos pela sua parte da meaçã o e se for insuficiente respondem os seus bens comuns.

Filiação
É a relaçã o de parentesco que une os descendentes aos respetivos progenitores.

 Estabelecimento da filiaçã o;

 Responsabilidades parentais.

Estabelecimento da filiação
Isto é como se estabelece, biologicamente, quem é filho de quem.
Como é que se estabelece? Por perfilhaçã o, por declaraçã o de maternidade, por presunçã o de
paternidade?
Vamos ver os caminhos para encontrar o pai/mã e de alguém. O legislador quer evitar situaçõ es
de pessoas sem pai/mã e.

Art.1796º e ss.

Como é que se estabelece a maternidade


Há duas formas:
1. Declaraçã o de maternidade;
2. Reconhecimento judicial.

136
Art.1796º - estabelecimento da filiação:
Art.1796º/1 – relativamente à mã e, resulta do facto do nascimento.

Declaração de maternidade:
Art.1803º - ela é feita através de uma declaraçã o, que pode ser da mã e ou de outras pessoas, no
registo. Na prá tica, muitos hospitais têm dentro do pró prio hospital um balcã o de IRN para
registar o nascimento, e aí declara quem é a mã e. O registo é omisso e os conservadores têm o
dever ex officio de estabelecer a maternidade.
É mais comum em casos de impugnar o facto registado art.1807º - quando a realidade do
registo nã o corresponde à realidade bioló gica. O registado (bebe), qualquer outra pessoa que
tenha interesse moral/patrimonial, a mã e, ou o MP pode impugnar.
Art.1808º - averiguação oficiosa da maternidade:
É um caminho transitó rio que pode resultar ou na declaraçã o de maternidade ou no
reconhecimento judicial, mas por si mesma nã o é uma modalidade de estabelecimento da
maternidade. é um mecanismo onde o legislador permite que o conservador de instaurar uma
investigaçã o sobre a maternidade de alguém. Sempre que a maternidade nã o esteja no registo
de nascimento, o conservador tem o poder de averiguar quem é.

Reconhecimento judicial:
90 dias para registar.
Art.1814º - quando nã o há estabelecimento de maternidade feita até entã o, o filho pode
instaurar processo de reconhecimento judicial de reconhecimento de maternidade.

O que se tem de provar, nesse caso:


1. Identificar uma pretensa mã e.
2. Provar que é a mã e. Como é que se faz isto se requere consentimento para estes exames?

Pode-se presumir por outros meios – art.1816º:


Aos olhos de toda a gente, sempre lhe tratou como filho e toda a gente via uma relaçã o de
parentesco.
Com carta onde a mã e declara expressamente a sua maternidade, há uma presunçã o ilidível de
maternidade.
É presunçã o ilidida quando existam sérias dívidas.

Art.1817º - prazo para a proposição da ação:

137
Só durante a menoridade ou 10 anos apó s a emancipaçã o ou maioridade.
Feita pelo filho ou pelo MP.

Como se estabelece a paternidade


No caso da paternidade, há 3 formas:
1. Presunçã o de paternidade;
2. Perfilhaçã o.
3. Reconhecimento judicial.

Art.1826º - presunção de paternidade:


Quanto ao pai, primeiro se estã o casados presume-se a paternidade.

Há uma doutrina que defendem uma aplicaçã o extensiva da presunçã o de paternidade, aos
casos da uniã o de facto, mas os tribunais e uma parte do casamento defende que nã o se estende.

Art.1827º – casamento putativo: A presunçã o de paternidade mantem-se.


Art.1828º - filhos concebidos antes do casamento:
É necessá rio se perceber se sã o concebidos antes ou depois do casamento.
Nascido 180 dias depois do casamento, beneficia da presunçã o, mas se o pai nã o for marido da
mã e, entã o é preciso um ato de registo para declarar.

Considera-se o fim da atribuição da presunção – art.1829º:


Depois de 300 dias de nã o estarem a dormir juntos – fim da coabitaçã o.
Art.1829º/2 – quando se considera que acabou a coabitaçã o.

Perfilhação
É o ato unilateral voluntá rio do pai que reconhece aquela criança como filho.
Qualquer pessoa com mais de 16 anos tem capacidade de gozo para perfilhar – art.1850º.

Como é que se faz a perfilhação – art.1853º:

 Por declaraçã o do funcioná rio do registo civil;

 Por testamento – que pode ser à “mã o fechada”, só aberto no momento da morte.

138
 Por escritura pú blica;

 Por ter lavrado em juízo.

Perfilhação de nascituro – art.1855º:


Só depois à conceçã o e depois de identificar a mã e.

Art.1857º - perfilhação de maiores:


Para perfilhar filho maior, só produz efeitos se houver consentimento do filho.
Art.1857º/4 – se houver ato de perfilhaçã o, e se nã o houver resposta, considera-se
consentimento tá cito.

Art.1852º - conteúdo defeso:


O ato de perfilhaçã o nã o pode ser sujeito a clá usulas de termo ou condicionais. Se o fizer, a
perfilhaçã o mantem-se vá lida, mas as clá usulas sã o desconsideradas.

Reconhecimento judicial
Casos em que nã o há presunçã o de paternidade ou perfilhaçã o, e portanto deve ser feito através
de reconhecimento judicial apó s apreciaçã o judicial da perfilhaçã o.
Existe presunçã o no reconhecimento judicial – art.1871º, forma de estabelecer a paternidade.
Que é diferente da presunçã o de maternidade.

Art.1871º - presunção:
a) Filho tratado como filho pelo suposto pai e percebido pelo pú blico. (vs art.1816º/a)
b) Quando declarar em carta. (vs art.1816º/b)
c) Quando no período de conceçã o tenha existido comunhã o duradoura (viveram juntos,
convivência noturna). Mike: presunçã o fraca.
d) Presume-se a paternidade quando:
- o pai seduziu a mã e e essa era menor e virgem. Seduzir a mã e – ela só teve relaçõ es
sexuais com ele.
- o consentimento dela na seduçã o foi obtida por promessa de casamento, abuso de
confiança ou abuso de autoridade.
e) Quando se prove que o pretenso pai teve relaçõ es sexuais com a mã e durante o período
de conceçã o.

17.05

139
Efeitos da filiação - art.1874º e 1972º.
Deveres recíprocos que os pais têm quanto aos filhos.

Art.1874º - deveres de pais e filhos:


Art.1874º/1: os pais e os filhos devem-se mutuamente respeito, auxílio e assistência. Deveres
mú tuos, recíprocos.
As relaçõ es de filiaçã o nã o cessam, há é certas responsabilidades que cessam com a maioridade,
com a emancipaçã o e alguns com o término do ensino superior ou 25 anos como data livre.

Art.1674º (dever de cooperaçã o): Deve ser feita uma interpretaçã o extensiva para incluir a
cooperaçã o dos pais para os filhos.

Art.1874º/2: os filhos e os pais devem contribuir para os encargos da vida familiar, na medida
da sua capacidade.

As regras seguintes sã o sobre o nome dos filhos.

Responsabilidades parentais
Art.1877º - duração das responsabilidades parentais:
Tem um momento em que se inicia (que até se discute), e em que cessa.
Cessa com a maioridade ou emancipaçã o dos filhos.

Art.1878º - conteúdo das responsabilidades parentais:


Responsabilidade parental: resulta de uma alteraçã o ao có digo, antigamente era poder paternal.
O objeto da situaçã o jurídica passiva da responsabilidade parental, que também compreende
deveres/poderes funcionais.

 Art.1878º/1: Compete aos pais velar pela segurança, saú de, educaçã o, representá -los e
administrar os seus bens.

 Art.1878º/2: Compete aos filhos obediência aos pais, que à medida que vã o crescendo
torna-se menos intenso. À medida que os filhos adquirem maturidade, a opiniã o dos
menores deve ser tomada em conta para salvaguardar o seu interesse na tomada de
decisõ es.

Art.1879º - despesas com o sustento, segurança, saúde e educação dos filhos:

140
Os pais ficam desobrigados quanto a isso, se os filhos estiverem em situaçõ es de assumir essas
despesas (condiçõ es de suportar por produto do seu trabalho ou rendimentos).

Art.1880º - despesas com os filhos maiores ou emancipados:


Se no momento em que atingir a maioridade, nã o tiver completado a sua formaçã o profissional,
mantém-se a obrigaçã o do artigo anterior, mas de forma razoá vel.
A partir do momento em que já nã o for razoá vel, os pais já nã o têm esse encargo.

Art.1881º - poder de representação:


A forma como os pais exercem as responsabilidades parentais, é muitas vezes feita por
representaçã o legal e esses poderes sã o conferidos por este artigo.
Todos os atos que os filhos praticam, que nã o sejam puramente pessoais (perfilhar, casar), os
pais têm poderes representativos nos termos deste artigo,

Art.1882º - irrenunciabilidade:
As responsabilidades parentais sã o irrenunciá veis – quer em todo, quer em parte.
Nã o se pode transmitir a responsabilidade a um terceiro – decorre do facto do estabelecimento
da filiaçã o.

Art.1883º - filho concebido fora do matrimónio:


Os pais nã o podem introduzir no lar conjugal, o filho concebido fora do matrimó nio enquanto
estã o casados, sem consentimento do outro cô njuge.
Só se for corno é que se aplica, nã o a filhos concebidos antes do matrimó nio.

Art.1887º-A – convívio com irmãos e ascendentes:


Editado em 95.
Protege a convivência com os irmã os e com os avó s – os pais nã o podem injustificadamente
privar de conviver com eles.
Há a possibilidade de impedir o convívio do “bastardo” com o filho “legítimo” no art.1883º,
entã o parece incompatível com este artigo. Resposta: convivam foram de casa.

Art.1884º - alimentos à mãe:


Situaçã o jurídica ativa é a mã e.

141
Assim que se estabelece a paternidade (reconhecimento judicial e perfilhaçã o) e os pais nã o
estã o casados, o pai está , desde essa data, obrigado a prestar alimentos relativos ao período da
gravidez e o primeiro ano de vida.

Art.1885º - educação:
A educaçã o religiosa tem regras específicas, tem um limite de idade (16 anos) em que os pais
nã o podem decidir mais a educaçã o religiosa dos filhos – art.1886º.
Quanto à educaçã o nã o religiosa, os pais podem escolher se querem colégio privado ou privado.

Art.1887º - abandono do lar:


Os menores nã o podem abandonar a casa nem que dela sejam retirados.
Se abandonarem a casa ou se forem retirados dela, qualquer dos pais podem reclamá -lo –
subtraçã o de menores.

Administração de bens dos filhos


Art.1888º e ss.
Regra geral – art.1878º/1.

Art.1888º - exclusão da administração:


Casos em que o legislador tira esses poderes.
Art.1888º/1 os pais nã o podem administrar:
a) Bens adquiridos pela sucessã o;
b) Donativos ou herança contra vontade dos pais.
c) Bens adquiridos pelos filhos de 16 anos pelo trabalho.
d) Bens doados aos filhos com exclusã o de administraçã o dos pais.

Art.1889º - atos cuja validade depende de autorização do tribunal:


Há determinados atos que os pais nã o podem fazer sem autorizaçã o prévia do tribunal.
Art.1889º/1/a): Tem-se entendido que este artigo tem de ser interpretado restritivamente, e
salvo se for alienaçã o de bens que decorra de gestã o corrente (pequenas importâ ncias).

Também há proibiçõ es dos pais receberem bens dos filhos – art.1892º.

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Art.1893º - atos anuláveis:
Estes atos sã o anulá veis, a requerimento do filho até um ano apó s atingir a maioridade.

Art.1895º - bens cuja propriedade que pertence aos pais:


Art.1895º/1: “pertence aos pais” a propriedade dos bens que os filhos menores que na sua
companhia produza por trabalho prestado aos pais.
Art.1895º/2: os pais devem compensar os filhos pelo seu trabalho. Nã o judicialmente exigível.

Art.1896º - quanto aos rendimentos dos bens dos filhos:


Os pais podem usar os rendimentos dos filhos para satisfazer as despesas dos filhos.
Têm de ter o mesmo cuidado para administrar os bens dos filhos que o que têm para
administrar os seus.

Art.1900º - fim da administração: Têm de entregar os bens aos filhos.

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