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Pessoa Natural

Referência: Gagliano, Pablo Stolze. Parte Geral – v. 1 / Pablo Stolze Gagliano,


Rodolfo Pamplona Filho. 25. ed. – São Paulo : SaraivaJur, 2023. (Novo Curso de
Direito Civil)

Conceito
A pessoa natural, para o direito, é o ser humano, enquanto sujeito/destinatário de
direitos e obrigações. O seu surgimento, segundo a dicção legal, ocorre a partir do
nascimento com vida (art. 2º, CC).
No instante em que principia o funcionamento do aparelho cardiorrespiratório,
clinicamente aferível pelo exame de docimasia hisdrostática de Galeno, o recém-
nascido adquire personalidade jurídica, tornando-se sujeito de direito, mesmo que
venha a falecer minutos depois.
Personalidade jurídica é a aptidão genérica para titularizar direitos e contrair obrigações,
ou, em outras palavras, é o atributo para ser sujeito de direito. Adquirida a
personalidade, o ente passa a atuar, na qualidade de sujeito de direito (pessoa natural ou
jurídica), praticando atos e negócios jurídicos.

O nascituro
O nascituro é o ente concebido, embora ainda não nascido. A Lei Civil trata do nascituro
quando, posto não o considere explicitamente pessoa, coloca a salvo os seus direitos
desde a concepção (art. 2º, CC).
Adotada a teoria natalista, segundo a qual a aquisição da personalidade opera-se a partir
do nascimento com vida, conclui-se que não sendo pessoa, o nascituro possuiria mera
expectativa de direito.
Mas a questão não é pacífica na doutrina. Os adeptos da teoria da personalidade
condicional sustentam entendimento no sentido de que o nascituro possui direitos sob
condição suspensiva.
Segundo a teoria concepcionista, por sua vez, o nascituro adquire personalidade jurídica
desde a concepção, sendo assim, considerado pessoa.
A doutrina, no Brasil, segue a teoria natalista, embora a visão concepcionista,
paulatinamente, ganhe força na jurisprudência nacional.
A despeito da controvérsia doutrinária, o fato é que, nos termos da legislação em vigor,
o nascituro, embora não seja expressamente considerado pessoa, tem a proteção legal
dos sues direitos desde a concepção.
Nesse sentido, pode-se apresentar o seguinte quadro esquemático:
a) O nascituro é titular de direitos personalíssimos (direito à vida, direito à proteção
pré-natal etc.);
b) Pode receber doação;
c) Pode ser beneficiado por legado e herança;
d) O Código Penal tipifica o crime de aborto;
e) Como decorrência da proteção conferida pelos direitos da personalidade, o
nascituro tem direito à realização do exame de DNA, para efeito de aferição da
paternidade.

Capacidade de direito e de fato e legitimidade


Adquirida a personalidade jurídica, toda pessoa passa a ser capaz de direitos e
obrigações. Possui, portanto, capacidade de direito ou de gozo.
Todo ser humano tem, assim, capacidade de direito, pelo fato de que a personalidade
jurídica é atributo inerente à sua condição.
Nem toda pessoa, porém possui aptidão para exercer pessoalmente os seus direitos,
praticando atos jurídicos, em razão de limitações orgânicas ou psicológicas.
Se puderem atuar pessoalmente, possuem, também, capacidade de fato.
Reunidos os dois atributos, fala-se em capacidade civil plena.
Não há que confundir, por outro lado, capacidade e legitimidade.
Nem toda pessoa capaz pode estar legitimada para a prática de determinado ato jurídico.
Ex.: toda pessoa tem capacidade para comprar ou vender. Contudo, o art. 1.132 do
Código Civil prevê: “os ascendentes não podem vender aos descendentes, sem que os
outros descendentes expressamente consintam”. Desse modo, o pai, que tem capacidade
genérica para pratica, em geral, todos os atos da vida civil, se pretender vender um bem
a um filho, tendo outros filhos, não poderá fazê-lo se não conseguir a anuência dos
demais filhos. Não estará ele, sem tal anuência, legitimado para tal alienação.
E o que se dá quando é ausente a capacidade de fato?
Estaremos diante da incapacidade civil, seja absoluta ou relativa.

Incapacidade absoluta
A previsão legal da incapacidade traduz a falta de aptidão para praticar pessoalmente
atos da vida civil. Encontra-se nessa situação a pessoa a quem falte capacidade de fato
ou de exercício, ou seja, que esteja impossibilitada de manifestar real e juridicamente a
sua vontade.
São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores
de 16 (dezesseis) anos.
Com o advento da Lei n. 13.146/2015, o Estatuto da Pessoa com Deficiência retirou a
pessoa com deficiência da categoria de incapaz.
A pessoa com deficiência – aquela que tem impedimento de longo prazo, de natureza
física, mental, intelectual ou sensorial, nos termos do art. 2º - não deve ser mais
tecnicamente considerada civilmente incapaz, na medida em que os arts. 6º e 84, do
mesmo diploma, deixam claro que a deficiência não afeta a plena capacidade civil da
pessoa.
A pessoa com deficiência é dotada de capacidade legal, ainda que se valha de institutos
assistenciais para a condução da própria vida.

Incapacidade relativa
Entre a absoluta incapacidade e a plena capacidade civil, figuram pessoas situadas em
zona intermediária, por não gozarem de total capacidade de discernimento ou
autodeterminação.
Art. 4º São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer:
I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;
II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de
2015) (Vigência)
III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua
vontade; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)
IV - os pródigos.

Suprimento da incapacidade (representação e assistência)


O suprimento da incapacidade absoluta se dá através do instituto da representação, ou
seja, o ordenamento jurídico prevê um sistema em que alguém representa o incapaz,
substituindo sua vontade.
No caso dos relativamente incapazes, temos uma forma mais brande de representação,
pois o denominado “assistente” não pratica o ato “em nome” do representado, mas
juntamente consigo.
Se o absoluta ou relativamente incapaz atua sem o seu representante ou assistente, o ato
praticado padece de invalidade jurídica (nulidade absoluta ou relativa).

Emancipação
A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à
prática de todos os atos da vida civil (art. 5º).
Ocorre que é possível a antecipação da capacidade plena, em virtude da autorização dos
representantes legais do menor ou do juiz, ou pela superveniência de fato a que a lei
atribui força para tanto. Cuida-se da emancipação.
A emancipação poderá ser:
a) Voluntária: pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante
instrumento público, independentemente de homologação judicial (art. 5º,
parágrafo único, I, primeira parte);
b) Judicial: é aquela concedida pelo juiz, ouvido o tutor, se o menor contar com
dezesseis anos completos (judicial (art. 5º, parágrafo único, I, segunda parte);
c) Legal: casamento (desde que tenham a autorização de ambos os pais ou de seus
representantes legais); exercício de cargo ou emprego público; colação de grau
em curso de ensino superior; e pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela
existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com
dezesseis anos completos tenha economia própria.

Nome Civil
O nome da pessoa natural é o sinal exterior mais visível de sua individualidade, sendo
através dele que a identificamos no seu âmbito familiar e no meio social.
Art. 16. Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e o
sobrenome.
➢ Verificar a Lei de Registros Públicos (arts. 55 e 56).

Estado da pessoa natural


O estado da pessoa natural indica sua situação jurídica nos contextos político, familiar e
individual. Três são as espécies de estado:
a) Estado político: categoria que interessa ao direito constitucional, e que classifica
as pessoas em nacionais e estrangeiros; leva-se em conta a posição do indivíduo
em face do Estado;
b) Estado familiar: categoria que interessa ao direito de família, considerando as
situações do cônjuge e do parente;
c) Estado individual: baseia-se na condição física do indivíduo influente em seu
poder de agir; considera-se a idade, o sexo, e a saúde; fala-se em menor ou
maior, capaz ou incapaz, homem ou mulher.
Os atributos da pessoa, componentes de seu estado, caracterizam-se pela
irrenunciabilidade, inalienabilidade e imprescritibilidade. Ex.: ninguém pode pretender
vender ou renunciar ao seu estado de filho ou brasileiro.

Registro Civil
Todos os fatos constitutivos, modificativos ou extintivos do estado das pessoas exigem
reconhecimento oficial pelo sistema de registros público, à luz dos princípios da
legalidade, veracidade e publicidade.
Art. 29. Serão registrados no registro civil de pessoas naturais:

I - os nascimentos;
II - os casamentos;
III - os óbitos;
IV - as emancipações;
V - as interdições;
VI - as sentenças declaratórias de ausência;
VII - as opções de nacionalidade;
VIII - as sentenças que deferirem a legitimação adotiva.

Extinção da pessoa natural

A existência da pessoa natural termina com a morte (art. 6º, CC).


O Código Civil admite a morte presumida, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei
autoriza a abertura de sucessão definitiva (art. 6º, segunda parte, CC).
Mas a declaração de morte presumida não ocorre apenas em caso de ausência. A lei
enumera outras hipóteses:

Art. 7º Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de ausência:


I - se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida;
II - se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até
dois anos após o término da guerra.

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