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03 a 06 de setembro de 2019
UFBA, Salvador (BA)
GT 08 – Trabalho e Educação
UFRRJ - RJ
OS INSTITUTOS FEDERAIS COMO POLÍTICA PÚBLICA DE (CON)FORMAÇÃO DA
CLASSE TRABALHADORA
Resumo:
1- Introdução
A Rede Federal teve suas origens no início do século passado e grande parte
das instituições que a formam hoje são originárias das 19 escolas de aprendizes e
artífice, instituídas em 1909. Essas escolas foram criadas como uma medida
exclusivamente social e destinavam-se a proporcionar ocupação aos desvalidos da
sorte e da fortuna (RAMOS, 2014, p.9). Décadas depois essas escolas se
transformaram em Escolas Técnicas Federais (ETF), Escolas Agrotécnicas Federais
(EAF) e Centros Federais de Educação Profissional e Tecnológica (CEFETs).
Com isso, verificamos que até o ano de 2005, a Rede Federal contava com 144
unidades distribuídas entre 34 CEFETs e suas 42 unidades de ensino descentralizadas,
01 universidade tecnológica e seus campi, 36 escolas agrotécnicas e 30 escolas
técnicas vinculados às universidades federais e uma escola técnica federal (BRASÍLIA,
2009).
Frigotto (2018), em sua pesquisa mais recente sobre os IFs, enfatiza que desde
sua criação, os IFs expressam a mais ampla e significativa política no campo da
educação pública. Do mesmo modo, Otranto (2012), considera que os IFs sintetizam a
expressão maior da política pública para a educação profissional brasileira do governo
Lula (2003-2011) e produziram mudanças significativas na vida e na história das
instituições que optaram por aderir à proposta governamental
Nos IFs, de acordo com a Lei, 50% das vagas disponibilizadas deverão ser em
educação profissional técnica de nível médio, prioritariamente na forma de cursos
integrados. Deverão garantir pelo menos 20% das vagas para a oferta de licenciaturas
(matemática, química, física, biologia e educação profissional). Deduz-se que os 30%
restantes podem ser ocupados livremente, pela oferta de curso superior de tecnologia,
de bacharelado e de pós-graduação lato sensu (aperfeiçoamento e especialização) e
stricto sensu (mestrado e doutorado) e para formação inicial e continuada de
trabalhadores ou até mesmo ampliar as vagas para os cursos técnicos e as licenciaturas
(BRASIL, 2009).
Os IFs devem ser reconhecidos como ação concreta de uma política pública para
a educação brasileira e, como tal, são estratégias para a mediação dos problemas
sociais criados pela ordem capitalista (CASTEL, 1998). Para Souza ( 2010 ) as políticas
públicas de caráter social assumem dois papeis simultâneos: dão respostas às
necessidades objetivas e subjetivas de valorização do capital e funcionam também
como mediação do conflito de classes.
E foi juntamente com a reforma do Estado que se iniciou uma ampla reforma
educativa para atender à essas novas demandas de formação e qualificação do
trabalhador brasileiro. Neste aspecto, Veiga e Souza (2018) destacaram que no ano
seguinte à instituição do Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado foram
traçadas novas diretrizes e bases para a educação nacional, com a promulgação da Lei
nº 9394/1996 (BRASIL, 1996) – Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB). Para
estes autores, a LDB foi o “pontapé” inicial da contrarreforma da educação profissional
no Brasil, uma vez que é afinada com o ideário de formação do trabalhador de novo tipo
e com as demandas de produtividade e competitividade das empresas.
As reformas educacionais propostas desde então visam à formação e à
conformação da classe trabalhadora para atender, em condições renovadas, à dinâmica
atual da exploração capitalista para a produção e reprodução do capital. A Educação
Superior, em especial, torna-se requisito indispensável ao desenvolvimento econômico
no país (MAUÉS, 2010). Neste aspecto, foram empreendidos grandes esforços para a
ampliação, expansão, diversificação e flexibilização desse nível de ensino. Já
encontramos estudos comparativos entre os dados do Censo Nacional da Educação
Superior que nos revelam a ocorrência de aumento considerável no número de
matrículas na educação superior, que passou de 1.759.703, em 1995, para 8.052.254,
em 2016. É importante considerar que 87,7% das instituições de Educação Superior são
privadas. O Programa Universidade para Todos (PROUNI) e o Fundo de Investimento
do Ensino Superior (FIES) favoreceram alto investimento de dinheiro público nas IES
privadas e consequentemente, um elevado número de matrículas, o que faz do
Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI) uma
iniciativa tímida.
Para Souza (2018), os IFs têm sido acionados pelo governo federal para serem
centros de referência de formação do trabalhador de novo tipo no país, oferecendo uma
formação pragmática, imediatista e interessada, de modo a atender às demandas de
produtividade e competividade das empresas. Este autor destaca que no discurso oficial
que deu origem a criação dos IFs há uma concepção “redentora” da educação, onde se
pretendeu reeditar a Teoria do Capital Humano em condições renovadas, mais de
acordo com a dinâmica de valorização do capital na atualidade. O recrudescimento da
Teoria do Capital Humano tem servido de cimento ideológico das iniciativas públicas e
privadas de formação do trabalhador de novo tipo (SOUZA, 2002).
Dessa forma, os IFs, quando são criados tendo como uma de suas finalidades o
apoio aos processos educativos que levam à geração de renda e à emancipação do
cidadão na perspectiva do desenvolvimento socioeconômico local e regional,
evidenciam que a educação pode ser produtora da capacidade de trabalho,
potencializadora de trabalho, potencializadora de renda, um capital, sendo assim, um
fator de desenvolvimento econômico (FRIGOTTO, 2010).
Dessa forma, é possível reconhecer que, a reforma das políticas públicas para a
Educação Profissional no Brasil objetiva a formação de quadro técnico para o mercado
de trabalho, mas ao mesmo tempo, fazem parte de um conjunto de mecanismos que
buscam dar conta das próprias contradições e crise do capitalismo.
Sendo assim, é negada ao trabalhador brasileiro uma formação que lhe faculte
a participação qualificada na vida social e política, e uma inserção, também qualificada,
no setor produtivo (RAMOS; CIAVATTA; FRIGOTTO, 2014).
3. Referências:
SOUZA, José dos Santos; OTRANTO, Célia. O papel dos Institutos Federais de
Educação, Ciência e Tecnologia na divisão do trabalho da Educação Superior no Brasil.
Maringá (PR): EdUEM, 2019 [No prelo].
SOUZA, José dos Santos. Trabalho, Educação e sindicalismo no Brasil: anos 90.
Campinas, SP: Autores Associados, 2002.
VEIGA, Celia C. P. S.; SOUZA, José dos Santos. A criação dos cursos superiores de
tecnologia no contexto da recomposição burguesa diante da crise estrutural do capital.
In: SOUZA, José Vieira de; BOTELHO, Arlete de Freitas; GRIBOSKI, Claudia Maffini.
(Orgs.). Organização Institucional e acadêmica na Expansão da Educação
Superior. Anápolis (GO): EdUEG, 2018, v. 1, p. 66-80.