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Teoria Geral do
Direito Civil II
3.º Turma
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Ano Letivo 2021/2022 FDUC Mariana Ferreira e Rute Silva
1. Pessoas
▪ Existem diversos direitos que temos sobre outras pessoas – existem
poderes/direitos funcionais que, por sua vez têm como objeto as
pessoas de outrem.
▪ P.e., nas responsabilidades parentais (art. 1878.º, 1881.º, 1886.º CC); no
regime da tutela (art. 1935.º CC) – não são direitos subjetivos em sentido
técnico, são poderes-deveres – o objeto da relação é a criança;
▪ São direitos que conferem poderes destinados a habilitarem os pais ou
o tutor ao cumprimento dos seus deveres para com a criança, podendo
os titulares ser sancionados se não os exercerem. Como tal, não há aqui
qualquer ofensa à dignidade humana.
▪ Isto obviamente não permite, p.e., a escravatura – é um crime. Estar-se-
ia a falar de admitir uma relação jurídica patrimonial sobre pessoas
físicas, o que hoje não é permitido. Deste modo, aqui a pessoa não é
objeto de relação jurídica, porque o direito não existe aqui para
sustentar.
2. Prestações
▪ Correspondem a direitos de crédito, ao mundo do direito das
obrigações;
▪ O objeto é uma conduta ou ato humano – a prestação.
▪ Nestes direitos o objeto não é rigorosamente uma coisa (res), mas um
comportamento do devedor – obrigação de prestar um facto positivo,
facto negativo, abstenção, etc.
▪ As prestações de serviços (contrato de prestação de serviços – art.
1154.º CC) são relações jurídicas em que o objeto não são as pessoas,
mas sim as prestações em si. O objeto da relação é a prestação (trabalho
manual ou intelectual).
▪ O quid que recai a relação jurídica são as prestações, os serviços.
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Artigo 203.º CC
▪ Coisas móveis e coisas imóveis – é uma distinção fundamental por
diversos motivos:
▪ P.e. o registo predial só existe para coisas imóveis, porque
tradicionalmente os imóveis tinham mais valor
▪ Sabemos que, ainda hoje, o imobiliário é algo que muitos
aspiram – vale, de facto, dinheiro, é sólido; mas este não
há de ser o melhor critério. Na economia moderna,
atualmente, mais valioso que as coisas corpóreas são –
patentes, modelos de desenho, marcas (coisas
incorpóreas). A grande riqueza está nesses exemplos –
bens que não são imóveis.
▪ Para além disso, na forma de fazer contratos, para coisas imóveis
exige-se muito a forma – escritura pública, pagar impostos
prediais. Para os bens moveis é muito mais fácil – transmitem-se
por boca – p.e. o quadro valioso de Da Vinci de 450 milhões –
aqui não se paga notário, não se paga impostos prediais (e não
pagam assim também grandes impostos no geral).
▪ Mas apesar de tudo, o imóvel é uma grande referência da
vida em sociedade – é necessário e importante na mesma,
a definição dos imoveis.
▪ Contudo, é espantoso como é que para vender um pinhal
que não custa tanto dinheiro se tem de gastar 500 euros
em notário e etc.; mas nas transações da bolsa o dinheiro
se movimenta sem isso, os computadores fazem isso
sozinhos.
▪ Há figuras intermédias, p.e., carros, aeronaves e embarcações –
são bens móveis, mas estão sujeitas a registo, por razões civis e
de segurança, p.e., saber quem pratica crimes. Temos a sua
referência no artigo 291.º CC.
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4. Direitos subjetivos
▪ Direitos subjetivos podem também constituir objeto.
▪ Por exemplo, a hipoteca de um direito de superfície.
▪ Há um terreno. A pessoa A tem a propriedade do terreno e esta
constituiu a favor de B um direito de superfície (poder de plantar,
construir, etc. em terreno alheio).
▪ B constrói lá um pavilhão. Para isso a pessoa precisa de dinheiro,
e tem de ir ao banco.
▪ O banco pede-lhe uma hipoteca (mas B não tem nenhum
terreno).
▪ B tem, no entanto, um direito de superfície – então o banco
constitui um direito de hipoteca sobre o direito de superfície.
▪ É um direito sobre um direito – a hipoteca incide sobre o direito
de superfície.
▪ Outro exemplo é, p.e., um penhor de crédito.
5. A própria pessoa
▪ Facetas da nossa personalidade – direitos de personalidade – honra,
imagem, integridade física, etc.
6. Animais
▪ O animal é um sujeito ou uma coisa?
▪ Não são sujeitos de direitos – já estudámos isso (contudo, na bioética,
os animalistas acham que sim. Temos o exemplo do partido português
PAN).
▪ Se não é sujeito seria coisa, mas não é bem assim.
▪ No art. 201.º/b) CC – os animais são seres vivos dotados de
sensibilidade e objeto de proteção jurídica em virtude da sua natureza.
▪ Em 2017 surgiu um novo objeto de relações jurídicas – para além dos
que constam no livro, há também os animais.
▪ Por este motivo é necessário e importante definir “animais” e distingui-
los de outros seres vivos (plantas não são animais).
▪ Protege-se aqui entes através da concessão de direitos subjetivos, mas
também há uma proteção objetiva (p.e. a lei que proíbe os canis de
matar cães e gatos).
▪ Comparar art. 1302.º com 1305.º-A.
▪ No que toca ao direito à propriedade, no caso dos animais, há
mais deveres – dever de cuidar do animal.
▪ Ou seja, se num dever de propriedade normal há a possibilidade
de não uso do bem de que se é proprietário, no caso dos animais
há uma muito maior preocupação de cuidar e respeitar.
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COISAS
Artigo 202.º CC
▪ Este artigo define que “diz se coisa tudo aquilo que pode ser objeto de
relações jurídicas”.
▪ Contudo, como já vimos, não podemos considerar rigorosa tal
definição.
Características necessárias:
▪ Tem de ter uma existência autónoma ou separada (p.e. uma casa é uma
coisa, não se podendo dizer o mesmo sobre cada uma das pedras que
a constitui).
▪ Uma coisa tem que se poder apropriar por alguém (não pode, p.e., ser
uma estrela, um planeta).
▪ Uma coisa tem de satisfazer interesses ou necessidades humanas.
Características desnecessárias:
▪ Não é preciso que a coisa seja inteiramente corpórea (p.e., eletricidade,
wi-fi, tv cabo, etc.) são coisas não corpóreas – não se agarram com as
mãos, mas dá perfeitamente para medir.
▪ Não tem de ter um valor económico de mercado, não tem de ter um
valor de troca (p.e. uma foto da avó, que tem um valor meramente
pessoal).
▪ A coisa não tem de estar efetivamente apropriada a alguém (p.e., uma
coisa sem dono, podem ser adquiridas por ocupação – coisas
abandonadas, animais bravios e peixes não apropriados, etc.).
PATRIMÓNIO
▪ Cada pessoa tem um só património – é a regra (apesar das exceções).
Património – é o conjunto das relações jurídicas avaliáveis em dinheiro,
pecuniárias, de que uma pessoa é titular – abrange os direitos reais (coisas) e
os direitos de crédito (obrigações).
֎ Património global – conjunto de relações jurídicas ativas e passivas,
avaliáveis em dinheiro.
▪ O que não faz parte do património são p.e. as qualidades do sujeito (ser
mais trabalhador, famoso).
▪ Mas há que distinguir o mundo do direito técnico da prática económica.
▪ Para um banco, um investidor, um cliente, eles não olham apenas para
o património, conta também a existência de um projeto de negócio,
lealdade, boa-fé da pessoa – mas isto já não é jurídico.
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→ Não confundir património com esfera jurídica (esta abrange também bens
familiares, etc.)
▪ A esfera jurídica é a totalidade das relações jurídicas de que uma pessoa
é sujeito.
▪ Abrange, assim, o património e os direitos e obrigações não avaliáveis
em dinheiro (pessoais hoc sensu), encabeçados na pessoa.
▪ O que é maior? O património ou esfera jurídica?
▪ A esfera jurídica é maior porque tem também as relações
jurídicas sem valor pecuniário (p.e. as relações de família; a
dimensão moral dos direitos de personalidade – honra,
integridade, imagem, etc.).
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› Uma pessoa tem personalidade jurídica, tem uma esfera jurídica e tem um
património.
֎ Património autónomo:
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▪ Se tiver uma dívida com um credor de 100 mil e o seu pai só lhe
tiver deixado 40 mil, só terá de pagar 40 mil (o que ele deixou).
▪ No art. 2071.º/2 a aceitação pura e simples refere-se a uma aceitação
sem fazer um inventário. Se sem um inventário aparecer um credor a
exigir determinada quantia, o herdeiro terá de provar a insuficiência do
ativo hereditário para solver a dívida.
▪ Se aparecer um credor a exigir a A 100 mil, o ónus da prova fica
em A, que tem de provar que só recebeu 40 mil de seu pai.
▪ Tanto nos casos em que há uma aceitação a benefício de inventário
como nos em que ocorre uma aceitação pura e simplesmente da
herança a responsabilidade pelos encargos não excede o valor dos
bens herdados.
֎ Património coletivo
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Ilícitos:
▪ Contrários à ordem jurídica e por ela reprovados, importam uma sanção
para o seu autor – desencadeiam responsabilidade;
Negócios jurídicos:
▪ São factos voluntários, cujo núcleo essencial é integrado por uma ou
mais declarações de vontade a que o ordenamento jurídico atribui
efeitos jurídicos concordantes com o conteúdo da vontade das partes,
tal como este é objetivamente (de fora) apercebido.
▪ Ou seja, os efeitos produzem-se pela vontade das pessoas – produzem-
se ex volunte e não apenas ex lege.
▪ P.e., contratos de arrendamento, testamentos, etc.
Simples atos jurídicos:
▪ São factos voluntários cujos efeitos se produzem, mesmo que não
tenham sido previstos ou queridos pelos seus autores.
▪ Não é necessária uma vontade para a produção de efeitos jurídicos.
▪ Os efeitos produzem-se por efeito da lei – a vontade até pode estar na
base do ato, mas os efeitos produzem-se de acordo com o que é fixado
pela lei.
▪ P.e., a gestão de negócios é uma figura que vamos estudar em
obrigações. Imaginemos que o nosso vizinho saiu do país e
deixou a janela aberta. Está a chover torrencialmente e isso pode
estragar a sua casa. Na gestão de negócios, eu, bombeira, posso
abrir a porta e ir fechar as janelas. Mas imaginemos que eu ia lá e
acontecia algo, eu ia ter consequências – se partisse a parede
teria de pagar uma indemnização. Ou seja, isto aplica-se
independentemente de a pessoa querer ou não querer.
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1. Aquisição originária:
▪ O meu direito, a minha relação jurídica não depende nem da sua
existência nem na sua abrangência e alcance do direito anterior;
▪ Nesta aquisição originária o direito nasce ex novo, não depende de um
direito anterior, que poderá até não existir.
▪ Quando o direito anterior exista, o direito não foi adquirido por causa
deste direito, mas apesar dele.
Exemplos de aquisição originária:
▪ Ocupação: P.e. um caçador vai à caça, apanha um coelho – praticou um
ato real: com esse ato, adquiriu direitos – direito de propriedade sobre
o animal – isto é uma ocupação de animal bravio – art. 1318.º CC.
▪ Acessão: acessão imobiliária e mobiliária – art. 1343.º CC.
▪ Usucapião – adquiri através do tempo; adquiri não por causa do
detentor anterior, mas apesar dele.
▪ Criação artística; literária; científica.
2. Aquisição derivada:
▪ O meu direito vai depender de um direito anterior.
Temos 3 tipos:
▪ Aquisição derivada translativa: o direito passa nas suas características e
na sua dimensão exatamente igual de A para B.
▪ P.e., na doação – o direito de propriedade do objeto doado é o
mesmo que o anterior proprietário tinha.
▪ Aquisição derivada constitutiva: vai-se adquirir um direito, mas
constitui-se um direito novo.
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Vejamos:
▪ Na compra e venda, a mera venda transmite direitos reais, i.e., a
propriedade transfere-se no momento em que é celebrado o
contrato – por força do art. 408.º do CC.
▪ I.e., imaginemos que A vende a B uma casa: os direitos reais
transmitem-se pelo contrato.
▪ Quando se vai ao notário e se faz a compra e venda, transmite-se
a propriedade, por força do art. 408.º do CC.
▪ No fim de resolver a questão com o notário está, então, vendida
a propriedade.
▪ Posteriormente é necessário registar o imóvel.
▪ Na prática o notário faz o serviço completo – faz a compra e venda
e trata do registo. Contudo, há alguns anos atrás não era assim e
as pessoas tinham de ir pagar mais para fazer o registo. Se não
quisessem fazer registo e não o fizerem, continuava a ser
proprietário, pelo art. 408.ºCC. Atualmente, as pessoas são
obrigadas a fazer registo.
▪ Ou seja, com a compra e venda, há duas coisas a verificar:
▪ Forma do negócio jurídico:
▪ Através de escritura pública ou documento particular
autenticado – art. 875.º CC.;
▪ Registo perante um conservador de registo:
▪ O registo tem como efeito útil ser condição de eficácia em
relação a terceiros.
▪ Esses terceiros serão aqueles a que iremos chamar
terceiros para efeitos de registo.
Então, e quando não há registo?
▪ Faltando o registo, o contrato continua a ser válido – o registo não é
condição de validade nem de eficácia entre as partes:
▪ O registo é, na verdade, condição de eficácia em relação a
terceiros.
▪ Atualmente, estas questões do registo fazem-se na informática e não em
papel.
▪ Se, hipoteticamente, há um ciberataque: e eu fiz o registo no
notário, mas isso não se completou (o registo não ficou feito)
porque houve um apagão, houve esse ataque.
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▪ Isto é exceção ao nemo plus iuris, está-se a adquirir algo que não
teriam direito – adquire-se, do mesmo autor/transmitente, direitos
incompatíveis.
▪ O efeito central do registo em que se traduz isto permite-nos
perceber que o registo configura uma exceção ao princípio nemo
plus iuris: o registo vai sanar uma invalidade.
▪ Este efeito central do registo vai operar mesmo que esta
aquisição seja uma aquisição gratuita. Ou seja, se em vez de uma
venda estiver em causa uma doação, o efeito central do registo
aplica-se na mesma.
▪ Porque se justifica esta exceção?
▪ Isto justifica-se pelo valor da segurança jurídica – o valor do
registo predial é muito importante – temos de ter o máximo de
certeza que o que está no registo predial é a verdade – uma vez
que é a base da economia nacional.
▪ Então, em nome dessa segurança, é necessário que se faça os
registos.
▪ Aliás, em muitas décadas isto foi uma forma de pressão para as
pessoas registarem os bens que deviam (principalmente, quando
o notário não fazia tudo e tinham de ir gastar mais dinheiro
acrescido em outro lado para fazer o registo).
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Vejamos:
▪ Imaginemos que a Ana tem muitas dívidas e quer fazer desaparecer o
seu património – o seu objetivo era enganar terceiros, seus credores – o
banco, segurança social, os seus trabalhadores, etc.
▪ Para isso, decide vender ao seu motorista, Bernardo, a sua mansão de
3 milhões de euros. A mansão foi vendida ao motorista no dia 11 de
novembro.
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▪ Contudo, aparece o art 243.º/1 CC – que diz que o simulador não pode
invocar a simulação contra um terceiro de boa-fé.
▪ Mas atenção – é só o simulador que não pode. Um credor (banco,
etc.) esses podem invocar a simulação – uma vez que o credor
também está a ser prejudicado por essa simulação. Entre os
interesses de um credor de cobrar os seus créditos e os
interesses de um terceiro de boa-fé – aplica-se o argumento
literal.
▪ A letra da lei diz-nos que a proteção é só contra o simulador.
▪ Deste modo, aqui a Carla é protegida por esta exceção ao nemo plus
iuris e Ana não pode reaver a casa.
▪ Para efeitos deste artigo, a boa-fé é uma boa-fé psicológica, em sentido
subjetivo – é o puro não saber, a pura ignorância.
▪ Isto vale tanto para imóveis como para móveis; doações e vendas, etc.
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Imaginemos:
▪ Temos uma situação muito frequente – uma vinha. A vendeu a B a vinha,
tudo de boa-fé, por 2 mil euros em mão, em 2015. Quid iuris?
▪ Não se pode constituir direitos reais sobre coisas imóveis sem
que haja forma: é necessário ir aos notários, pagar impostos, etc.
A forma exige-se para que o notário veja que não há coação, que
não há erro, entre outros.
▪ Estas pessoas, mesmo com boa-fé, mesmo assim, celebraram um
negócio que, na verdade, é nulo.
▪ Art. 220.º CC – não respeitaram o art. 875.º CC, logo o negócio é
nulo.
▪ Imaginemos que, B depois vende a C, em 2017. E C conseguia registar
– tudo isto feito de boa-fé. C, então, seria dono do terreno. Eis que
agora, A, ou um filho de A, ou um credor de A, apareciam a dizer que a
vinha é dele. Quid iuiris?
▪ Pelo nemo plus iuris, se A não deu a B, consequentemente B não
conseguia dar a C. Então C não seria dono e teria de devolver o terreno
a A. Mas, mais uma vez, não é assim tão linear.
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▪ Distinguem-se:
▪ Segundo o critério tradicional, a prescrição aplica-se aos direitos
subjetivos propriamente ditos, enquanto a caducidade visará os
direitos potestativos.
▪ Segundo um critério formal, seguido pela nossa lei, quando um
direito deva ser exercido durante certo prazo aplicam-se as
regras da caducidade, salvo se a lei se referir expressamente à
prescrição (art. 298.º/2 CC).
▪ Há importantes diferenças de regime jurídico entre a prescrição e a
caducidade.
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NEGÓCIO JURÍDICO
Negócios jurídicos:
▪ Contratos – art. 405.º CC, etc.
▪ Negócios unilaterais – art. 457.º CC.
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Negócios bilaterais:
▪ Há duas ou mais declarações de vontade.
▪ Temos declarações de conteúdo oposto, mas convergente, ajustando-
se na comum pretensão de produzir um resultado jurídico unitário,
embora com um significado para cada parte.
▪ Há assim a oferta, a proposta e a aceitação, que se conciliam num
consenso.
▪ Temos negócio bilateral quando há consenso, quando as partes
chegam a um consenso sobre os elementos essenciais do
negócio.
▪ É o caso da compra e venda.
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Negócios sucessórios:
▪ O princípio da liberdade contratual sofre importantes restrições,
resultantes de algumas normas imperativas do direito das sucessões
(sucessão legitimária, proibição dos pactos sucessórios, etc.).
Negócios familiares:
▪ Negócios familiares pessoais – nomeadamente, casamento,
perfilhação e adoção – a liberdade contratual está praticamente
excluída, podendo apenas os interessados celebrar ou deixar de
celebrar o negócio, mas não podemos de fixar-lhe livremente o
conteúdo.
▪ Negócios familiares patrimoniais – existe, com alguma largueza, a
liberdade de convenção (art. 1698.º CC), sofrendo embora restrições
(arts. 1699.º e 1714.º CC).
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Negócios obrigacionais:
▪ Temos direitos de crédito.
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Negócios abstratos:
▪ A função económica ou social da relação jurídica que constitui a sua
causa não é relevante.
▪ Os negócios abstratos são caracterizados pela sua abstração ou pelo
princípio da abstração, o que significa que valem independentemente
da causa que lhes deu origem.
▪ Temos como exemplos, o cheque, a letra e a livrança – abstraem-se
completamente da relação de base e autonomizam-se completamente
– a relação não será relevante.
▪ Exemplo do cheque: imagine-se que o A preenche um cheque e
entrega a B porque devia lhe devia mil euros, uma vez que
comprou um automóvel a B e, portanto, tinha de lhe pagar. B
endossou esse cheque e, deste modo, tem-se um C que nem
sequer sabe que A existe e que passa a ser portador daquele
cheque. Se C for ao banco para levantar o dinheiro inscrito
naquele cheque, o A não vai poder opor ao C quaisquer
exceções e não vai poder dizer que já pagou aquela quantia de
mil euros ao B. Portanto, o cheque caracteriza-se pelo princípio
da abstração, pois abstrai-se completamente daquilo que esteve
na base do preenchimento inicial do cheque e não pode ser
oposta qualquer exceção a um terceiro que não faça parte da
relação inicial (entre A e B). Isto funciona assim também nas letras
e nas livranças.
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Notas:
▪ Muitas vezes o mesmo negócio pode-se assumir como oneroso ou
gratuito consoante aquilo que seja estipulado pelas partes.
▪ P.e. o mútuo (empréstimo em dinheiro) pode ser oneroso ou
gratuito, conforme se houver juros ou não.
▪ Para que um ato seja gratuito, não tem que corresponder a um ato de
altruísmo.
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DECLARAÇÃO NEGOCIAL
Arts. 217.º e ss. do CC:
▪ A declaração negocial é fundamental – trata-se de um verdadeiro
elemento do negócio jurídico, uma realidade componente ou
constitutiva da estrutura do negócio.
▪ Todos os elementos são importantes – mas a questão da declaração
negocial é diferente – trata-se de um elemento verdadeiramente
integrante do negócio jurídico.
▪ Se não houver declaração negocial nem se quer existe o negócio
jurídico – a sua falta conduz a uma inexistência material do
negócio – por falta de vontade de ação.
▪ A capacidade de gozo ou de exercício (ou a legitimidade) são
pressupostos de validade (anulabilidade – 125.º; 154.º; 1682.º-A,
nulidade – 160.º).
▪ A idoneidade do objeto negocial - pressuposto de validade – a sua falta
acarreta nulidade.
Noção:
▪ Declaração negocial é o comportamento que, exteriormente
observado, cria a aparência de exteriorização de um certo conteúdo de
vontade negocial.
▪ Vontade negocial – a intenção de realizar certos efeitos práticos,
com ânimo de que sejam juridicamente tutelados e vinculantes.
▪ Os pensamentos não contam, não têm qualquer relevância
jurídica, não têm qualquer consequência.
▪ Dá-se assim um conceito objetivista de declaração negocial, fazendo-
se consistir a sua nota essencial, não no elemento interior – uma vontade
real, efetiva, psicológica – mas num elemento exterior – o
comportamento declarativo.
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Conceito objetivista
▪ A declaração pretende ser um instrumento da exteriorização da
vontade psicológica do declarante – é essa a sua função.
▪ É, porém, à luz das soluções dispensadas pelo ordenamento jurídico a
uma série de problemas que se deve definir, com coerência, o conceito
de declaração negocial, realçando o aspeto subjetivista (manifestação
de vontade) ou o aspeto objetivista (comportamento objetivo).
▪ Ao longo do séc. XX, os juristas começaram a considerar que devíamos
pensar no direito na perspetiva da segurança – o que importa é o que
se vê de fora, não o que está na intenção da pessoa.
▪ Trata-se de um conceito objetivista e isso reflete-se em alguns
problemas.
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Declaração negocial
▪ O próprio CC fala em declaração negocial e não declaração de vontade
– o que interessa são os negócios e não a vontade.
▪ Declaração de vontade - sentido subjetivista
▪ Declaração negocial - sentido objetivista
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▪ Nas questões de atos pessoais e simples atos jurídicos (art. 295.º CC),
p.e., perfilhação, adoção, consentimento para intervenções médico-
cirúrgicas, etc. não se aplicam estas disposições.
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Declaração silente
▪ Trata-se, principalmente, de saber se o silêncio pode considerar-se um
facto concludente (declaração tácita) no sentido da aceitação de
propostas negociais.
▪ A regra é que não há declarações silentes – não é não; nada é nada; sim
é sim – mas há exceções.
→ O Código Civil resolve, portanto, o problema no artigo 218.º (o silêncio
como meio declarativo), estabelecendo que:
▪ O silêncio não vale como declaração negocial
▪ A não ser que esse valor lhe seja atribuído por lei, convenção ou uso.
Ou seja, exceções:
▪ Lei – 1054.º CC; 1163.º CC;
▪ Uso – uso comercial – p.e., contrato de fornecimento;
▪ Convenção (contrato, acordo entre as partes).
1. O médico deve tratar gratuitamente todos os colegas e os familiares que vivem a seu
cargo, podendo, todavia, fazer -se abonar dos gastos originados pelos atos médicos. Tal
dever prolonga-se, quando adequado, em caso de morte do colega.
2. O médico fica isento do dever de gratuitidade se existir entidade que cubra os custos
da assistência prestada e, bem assim, nas situações em que não tem poder de decisão
quanto à cobrança do serviço prestado.
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Exemplos:
▪ Art. 926.º CC (Venda a contento e vendas sujeitas a prova)
▪ Artigo 926.º - (Dúvidas sobre a modalidade da venda);
▪ Em caso de dúvida sobre a modalidade de venda que as partes
escolheram, de entre as previstas nesta secção, presume-se
terem adotado a primeira.
▪ Art. 2225.º CC
▪ Artigo 2225.º - (Disposição a favor de uma generalidade de
pessoas);
▪ A disposição a favor de uma generalidade de pessoas, sem
qualquer outra indicação, considera-se feita a favor das
existentes no lugar em que o testador tinha o seu domicílio à data
da morte.
▪ Art. 2316.º/3 CC
Exemplos:
▪ Art. 923.º/2 CC – aceitação das vendas feitas sob reserva de a coisa não
agradar ao comprador;
▪ Art. 1054.º CC - renovação do arrendamento, por falta de denúncia no
tempo e pela forma convencionados;
▪ Artigo 484.º - (Efeitos da revelia) – Código de Processo Civil - confissão
ficta:
▪ 1. Se o réu não contestar, tendo sido ou devendo considerar-se
citado regularmente na sua própria pessoa ou tendo juntado
procuração a mandatário judicial no prazo da contestação,
consideram-se confessados os factos articulados pelo autor.
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Protesto e reserva
Protesto – para impedir que seja imputado, por interpretação, um certo
sentido declarativo a um comportamento, o declarante afirma abertamente
não ser esse o seu intuito.
▪ Por vezes, uma pessoa pode estar a celebrar um contrato e haver coisas
sujeitas a interpretação, a mal-entendidos. Para evitar isso, a pessoa
afirma abertamente que não é aquele o seu intuito.
Reserva – um certo comportamento não significa a renúncia a um direito
próprio, ou o reconhecimento de um direito alheio.
▪ A pessoa aceita o negócio, mas isso não significa que esteja a renunciar
um direito.
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Desvantagens:
▪ Redução da fluência e celeridade do comércio jurídico;
▪ Eventuais injustiças, derivadas de uma desvinculação posterior de uma
parte do negócio, com fundamento em nulidade por vício de forma,
apesar de essa parte ter querido efetivamente o ato jurídico negocial.
▪ Documento autêntico:
▪ Testamento; venda de imóveis – art. 875º CC;
▪ Documento particular:
▪ Doação de móveis não acompanhadas de translação da coisa
(art. 947.º/2 CC);
▪ Contrato-promessa (410.º CC);
▪ Pacto de preferência (414.º CC), etc.
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Ou seja:
▪ As estipulações acessórias anteriores ao negócio ou contemporâneas
dele devem revestir a forma exigida pela lei para o ato, sob pena de
nulidade.
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Exemplo:
▪ António celebrou um contrato de compra e venda com o Bernardo, de
um apartamento (um imóvel), cujo valor era de 100.000€.
▪ No momento da celebração do contrato, o António e o Bernardo
acordaram que o preço seria pago nestes moldes: no momento em que
estavam a uns minutos de outorgar a escritura pública, pagar-se-iam
50.000€; os outros 50.000€ pagar-se-iam ao fim de 1 ano.
▪ Isto ficou acordado entre eles, mas não consta da escritura – foi um
acordo verbal que eles fizeram.
▪ Outorgada a escritura pública, o Bernardo pagou ao António 50.000€ e
estava à espera do decurso do prazo de um ano para pagar os outros
50.000€. Ao fim de um mês, o António vem exigir-lhe mais 50.000€,
dizendo que ele estava numa situação de atraso no cumprimento.
▪ O Bernardo diz que não tem de pagar os 50.000€ euros agora porque
eles acordaram que seriam pagos ao final de 1 ano.
▪ O António contrapõe, dizendo que isso não consta da escritura e que,
portanto, esse acordo não é válido porque não obedece à forma legal
exigida.
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▪ Na prova exigida pelo art. 221º/1, vamos estar limitados pelas regras do
art. 394º, que nos diz que não é possível a prova por testemunhas.
Então, vamos ter de provar isto por confissão.
▪ No nosso caso, o António confessa que efetivamente acordou que
50.000€ só seriam pagos após um ano ou por um documento, ainda
que seja um documento menos solene (por exemplo, se houvesse um
e-mail, uma carta ou um bilhete redigido pelo António a comprovar
aquela versão que ele estava agora a tentar refutar).
Em suma:
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Art. 221.º/2:
▪ Pactos modificativos ou pactos extintivos/abolitivos.
▪ Tratamos aqui de estipulações acessórias posteriores, ou seja, aquelas
que vão modificar o negócio ou que vão abolir parte dele.
▪ Estes pactos não carecem da forma legal prescrita para a declaração, se
as razões da exigência especial da forma não lhes forem aplicáveis.
▪ Vaz Serra considerava que os pactos pelos quais se altera a área
do prédio vendido, ou aumenta ou se agrava as obrigações (p.
ex., fiança), cuja constituição a lei sujeita a forma, devem
considerar-se abrangidos pela exigência de forma legal;
▪ Mas não já quando o pacto cancele ou reduza as obrigações de
alguma ou de ambas as partes (sujeição a um prazo da obrigação
de pagar o preço, remissão do preço, limitação da obrigação do
fiador, etc.).
▪ Noutras hipóteses, porém, poderá haver lugar a dúvidas.
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Contrato de arrendamento:
▪ Arrendamento – é um caso em que estamos no meio dos dois casos de
formalidade.
▪ Art. 1069.º do CC.
▪ “1. O contrato de arrendamento urbano deve ser celebrado por escrito.”
▪ “2. Na falta de redução a escrito do contrato de arrendamento que não seja
imputável ao arrendatário, este pode provar a existência de título por qualquer
forma admitida em direito, demonstrando a utilização do locado pelo
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EXCEÇÕES À NULIDADE
Será possível impedir a declaração de nulidade?
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O problema:
▪ Será verdadeiramente escandalosa, a arguição da nulidade, com
fundamento em vício de forma, por um contratante que a provocou
(através de falsificar por outrem a sua própria assinatura ou insistir à
outra parte pela não formalização do negócio).
▪ Esta arguição estaria a exceder “manifestamente os limites impostos
pela boa-fé, pelos bons costumes ou pelo fim social ou económico
desse direito”.
▪ Então, questiona-se se se pode ou não obstar à invocação desta
nulidade invocando o abuso de direito?
2.º tese:
▪ Outros autores, porém, não admitiam que o princípio do abuso de
direito (ou o princípio da boa-fé) pudesse limitar a eficácia das normas
que exigem a forma, dados os fins imperativos de segurança que estas
têm em vista – pelo que deveriam ser estritamente aplicadas.
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▪ Tal consideração não exige, porém, que as regras da forma devam ser
consideradas um ius strictum indefetivelmente aplicado, sem qualquer
subordinação a um princípio supremo do direito, como é o do abuso
do direito.
▪ O intérprete (desde que lealmente aceite como boa e valiosa para o
comum dos casos a norma que prescreve a nulidade dos negócios
feridos de vício de forma) está legitimado para, nos casos
excecionalíssimos do art.º 334º, afastar a sua aplicação, tratando a
hipótese como se o ato estivesse formalizado.
▪ Fora destes casos excecionalíssimos, se uma das partes atuou com
má-fé nas negociações, o negócio é nulo, mas surgirá uma
indemnização, por força do art.º 227º.
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▪ Falsa demonstratio non nocet (significa que a vontade real é que conta)
– sem prejuízo do critério do n.º 1.
▪ O sentido querido realmente pelo declarante releva, mesmo quando a
formulação seja ambígua ou inexata, se o declaratário conhecer este
sentido.
▪ Nesse caso, a vontade real (podendo não coincidir com o sentido
objetivo normal) corresponde à impressão real do destinatário
concreto.
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Desvios
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INTEGRAÇÃO
▪ Por vezes, mesmo depois de interpretar o negócio jurídico, ele não diz
tudo – isto é, por vezes, as partes no negócio não preveem todos os
aspetos que possam vir a suscitar-se a propósito do negócio jurídico.
▪ Quando assim seja – quando se conclui através da interpretação que a
regulamentação criada pelas partes não permite resolver um problema
que se suscite a propósito do contrato –, estamos perante um problema
de integração de uma lacuna.
▪ O critério a utilizar para o efeito de realizar a integração dos negócios
jurídicos lacunosos é enunciado no art. 239.º.
“Na falta de disposição especial, a declaração negocial deve ser integrada de harmonia com
a vontade que as partes teriam tido se houvessem previsto o ponto omisso, ou de acordo
com os ditames da boa-fé, quando outra seja a solução por eles imposta.”
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→ O CC, em cada artigo, tem expressões de cada uma destas teses. Ou seja,
o CC não adotou uma só doutrina específica. Por exemplo:
▪ Reserva mental – em princípio não produz invalidade – teoria da
declaração. Contudo, se o declaratário conhecia, leva a nulidade.
▪ Coação física – invalidade, mesmo que o declaratário esteja de boa-fé –
de certo modo, o dogma da vontade de Savingy perdura.
▪ Erro – anulabilidade apenas se o declaratário conheceu ou deveria
conhecer o erro.
No entanto, em regra, o CC segue a teoria da confiança.
▪ O CC não contém uma norma que resolva, em geral, o problema da
divergência entre a vontade e a declaração.
▪ As soluções, dadas a cada uma das formas que esta divergência reveste
(arts. 244º, 245º, 246º, 247º), mostram estar subjacente ao sistema do
atual Código uma solução declarativista.
SIMULAÇÃO
Art. 240.º do CC
“1. Se, por acordo entre declarante e declaratário, e no intuito de enganar terceiros, houver
divergência entre a declaração negocial e a vontade real do declarante, o negócio diz-se simulado.”.
2. O negócio simulado é nulo.”
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Requisitos da simulação:
1. Intencionalidade da divergência entre a vontade e a declaração – tem
de haver uma intencionalidade de enganar, de declarar algo falso, i.e.,
importa a intenção.
2. Acordo simulatório – acordo entre o declarante e o declaratário, que vai
resultar nessa falta de concordância. (Isto não exclui, contudo, a
simulação nos negócios unilaterais).
3. Intuito de enganar terceiros – não implica que se vise prejudicar
terceiros, mas apenas meramente que se tenha a intenção de enganá-
los. (A propósito disto, faz-se a distinção entre simulação inocente e
fraudulenta).
Modalidades de simulação:
▪ Inocente – tem o mero intuito de enganar terceiros, sem os prejudicar.
▪ Doação simulada com fim de ostentação – p.e., pessoa finge que
dá um carro ao seu filho, quando na verdade só o alugou para
ostentação.
▪ Venda aparente em vez de doação real para evitar o
ressentimento de alguns herdeiros (não legitimários) – p.e., uma
tia tem várias sobrinhas e quer favorecer uma só ao dar-lhe a sua
casa. Então, finge que a vendeu, quando na verdade doou, para
evitar o ressentimento das outras herdeiras (herdeiros não
legitimários).
▪ Fraudulenta – tem intuito de prejudicar terceiros ilicitamente ou de
contornar uma norma da lei.
▪ Venda fantástica – efetuada pelo devedor a um comprador fictício
para prejudicar os seus credores;
▪ Venda aparente – que disfarça uma real doação para prejudicar
os herdeiros legitimários, os credores ou a Fazenda Nacional.
▪ Venda de imóveis simulando um preço inferior ao preço real para
prejudicar a Fazenda nacional.
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faz a doação à sua amiga Joana, para que esta depois doe ao
Carlos. Isto é uma interposição fictícia de pessoas.
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Assim:
▪ O negócio simulado é nulo por simulação;
▪ O negócio dissimulado é nulo por vício de forma.
Tese adotada:
▪ Seguimos a tese mais rigorosa (tese A) na simulação de pessoas e na
simulação sobre a natureza do negócio.
▪ Seguimos a tese menos rigorosa (tese B) na simulação do preço (aceita-
se a forma do negócio simulado para cobrir a ausência de forma do
negócio oculto).
Simulação e terceiros
▪ São considerados terceiros, para efeitos de invocação da simulação,
quaisquer pessoas, titulares de uma relação jurídica ou praticamente
afetada pelo negócio simulado e que não sejam os próprios
simuladores ou os seus herdeiros (depois da morte do de cujus).
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Portanto:
▪ A simulação é inoponível a quaisquer terceiros de boa-fé.
▪ Contudo, vimos anteriormente que as nulidades provenientes de cisa
diversa da simulação são inoponíveis a terceiros de boa-fé, apenas
desde que se verifiquem certos requisitos constantes do art.º 291º;
▪ A inoponibilidade da simulação não depende, porém, desses
requisitos.
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Prova da simulação:
▪ A prova do acordo simulatório por terceiros é livre, podendo ser feita
por qualquer dos meios admitidos na lei: confissão, documentos,
testemunhas, presunções, etc.
▪ Para os terceiros a lei não estabelece qualquer restrição.
▪ Quanto à prova da simulação pelos próprios simuladores, como vimos
acima, não é admissível o recurso à prova testemunhal e estão também
excluídas as presunções judiciais.
RESERVA MENTAL
Art. 244.º CC
“1. Há reserva mental, sempre que é emitida uma declaração contrária à vontade real com o
intuito de enganar o declaratário.
Modalidades:
▪ Inocente – quando há a intenção de enganar o declaratário;
▪ Fraudulenta – quando, para além da intenção de enganar, há a
intenção de prejudicar.
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Efeitos:
▪ A declaração negocial emitida pelo declarante, com a reserva, ocultada
ao declaratário, de não querer o que declara, não é, em princípio, nula.
▪ Reserva mental desconhecida – irrelevância da reserva mental.
▪ A declaração negocial é válida.
▪ “Se vieres a Coimbra na Queima das Fitas, eu convido-te a
dormir no meu apartamento e não terás despesas com
hotéis...”, disse Joana ao Mário, para o pôr em dificuldades
económicas, porque os hotéis estarão caríssimos. Quid
júris? Joana é obrigada a ceder-lhe o apartamento.
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“1. A declaração não séria, feita na expectativa de que a falta de seriedade não seja desconhecida, carece
de qualquer efeito. 2. Se, porém, a declaração for feita em circunstâncias que induzam o declaratário
a aceitar justificadamente a sua seriedade, tem ele o direito de ser indemnizado pelo prejuízo que
sofrer.”
Modalidades:
▪ Declarações jocosas, cénicas, didáticas, publicitárias, etc.
Efeitos:
▪ Em princípio, a declaração carece de qualquer efeito (art. 245º) –
inexistência – o negócio considera-se inexistente.
▪ Contudo, art. 245.º/2 prevêem-se casos marginais: quando a
declaração foi feita em circunstâncias que induzem o declaratário a
aceitar justificadamente a sua seriedade (quando as pessoas não
entendem a falta de seriedade):
▪ A solução continua a ser a inexistência (a declaração carece de
qualquer efeito);
▪ Acrescendo, porém, a responsabilidade do declarante pelo
chamado interesse negativo ou da confiança, i.e., um dever de
indemnização.
▪ Este artigo aproxima-se da teoria de Ihering: o negócio é inválido, mas
compensa-se concedendo uma indemnização à pessoa que acreditou
na declaração – ver ainda art. 227.º CC.
COAÇÃO FÍSICA
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VÍCIOS DA VONTADE
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1) ERRO-VÍCIO
▪ Traduz-se numa representação inexata ou na ignorância de uma
qualquer circunstância de facto ou de direito que foi determinante na
decisão de efetuar o negócio.
▪ O declarante não teria realizado o negócio nos termos em que o
celebrou se tivesse exato conhecimento da realidade.
▪ Trata-se, pois, de um erro nos motivos determinantes da vontade – é um
erro na formulação da vontade.
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Modalidades:
A. Erro sobre a pessoa do declaratário:
▪ Erro sobre a identidade e erro sobre as qualidades.
▪ Art. 251.º CC
B. Erro sobre o objeto do negócio:
▪ Pode incidir sobre um objeto mediato (sobre a identidade ou as
qualidades) ou sobre um objeto imediato (erro sobre a natureza
do negócio).
▪ Art. 251.º CC
C. Erro sobre os motivos não referentes à pessoa do declaratário nem
ao objeto do negócio:
▪ É uma noção residual – corresponde ao erro da causa e o erro
sobre a pessoa de terceiro.
▪ Art. 252.º CC
I) Essencialidade
▪ Só é relevante o erro essencial, i.e., aquele que sem ele, não se
celebraria qualquer negócio ou se celebraria um negócio com outro
objeto ou de outro tipo ou com outra pessoa.
▪ Ou seja, é aquele que levou o errante a concluir o negócio em si mesmo
e não apenas nos termos em que foi concluído – o erro essencial é
determinante da celebração do próprio negócio.
▪ P.e., A compra um objeto de prata por 1000, porque julga ser um
objeto de ouro, e, se soubesse a verdade, não o teria comprado.
▪ O erro incidental, pelo contrário, não releva.
▪ O erro será incidental se, sem ele, o errante, embora noutros
termos, sempre celebraria o mesmo negócio (manter-se-ia o tipo
negocial, o objeto, os sujeitos).
▪ Portanto, o erro incidental é determinante dos termos em que o
negócio foi celebrado.
▪ P.e., A, se soubesse a verdade, teria comprado o objeto de prata,
mas apenas por 200.
▪ O caso do erro incidental é, então, irrelevante – o negócio deve
fazer valer-se nos termos em que teria sido concluído, sem o erro.
▪ Em regra, o erro incidental não é fundamento da anulação do
negócio. Há, no entanto, situações em que o erro incidental
conduz à anulação.
▪ Art. 292.º CC sobre redução do negócio jurídico – a nulidade ou
anulação parcial não determina a invalidade de todo o negócio,
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salvo quando se mostre que este não teria sido concluído sem a
parte viciada.
▪ O erro, para relevar, deve atingir os motivos determinantes da vontade
(arts. 251º e 252º).
▪ Esse erro (essencial) será anulável.
II) Propriedade
▪ O erro só é próprio quando incide sobre uma circunstância que não
seja a verificação de qualquer elemento legal da validade do negócio.
▪ O erro será impróprio quando, p.e., versar sobre os requisitos legais de
forma negocial, a ilicitude do objeto mediato ou imediato, a capacidade
do errante, etc. – nestes casos o tipo de invalidade não é
correspondente ao erro vício.
III) Escusabilidade
▪ No CC atual, não se formula qualquer exigência da desculpabilidade ou
escusabilidade do erro.
▪ Deve, todavia, entender-se, que, no caso de erro culposo, os interesses
da outra parte, não obstante a anulação, não são desprotegidos:
▪ Com fundamento no art. 227.º (culpa na formação dos contratos),
o errante, pode invocar a anulabilidade, mas incorrerá em
responsabilidade pré-negocial, devendo indemnizar o
chamado interesse contratual negativo.
▪ Quando, porém, aplicando o art. 247.º se lese clamorosamente os
interesses do declaratário, deve obstar-se à anulação, por força da
cláusula geral do abuso do direito (art. 334.º).
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2) DOLO
▪ A noção de dolo consta no art. 253º/1 CC.
▪ Trata-se de um erro determinado por um certo comportamento da
outra parte.
▪ Pode concluir-se que é um erro qualificado – em vez de ter sido o
declaratário ou o declarante a incorrer espontaneamente em erro, foi
antes aquele que emitiu a declaração que foi induzido pelo
comportamento da contraparte.
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EFEITOS DO DOLO
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3) COAÇÃO MORAL
Art. 255.º CC
“1. Diz-se feita sob coação moral a declaração negocial determinada pelo receio de um mal
de que o declarante foi ilicitamente ameaçado com o fim de obter dele a declaração.”
“2. A ameaça tanto pode respeitar a pessoa como a honra ou fazenda do declarante ou de
terceiro.”
“3. Não constitui coação a ameaça do exercício normal de um direito nem o simples temor
reverencial.”
Modalidades da coação
Coação física e moral:
▪ Moral: quando a liberdade do coato não foi totalmente excluída,
quando lhe foram deixadas possibilidades de escolha, embora a
submissão à ameaça fosse a única escolha normal. Ou seja, esta coação
reduz a liberdade do coagido, mas não a elimina – tem a opção de sofrer
o mal de que é ameaçado.
▪ P.e., A é ameaçado de morte ou de agressão ou de difamação,
se não emitir certa declaração negocial.
▪ Esta dá lugar à anulabilidade do negócio.
▪ Física: quando a liberdade exterior do coato é totalmente excluída e
este é utilizado como puro autómato ou instrumento.
▪ P.e., A obriga B, arrastando-lhe a mão, a assinar uma declaração
negocial.
▪ Esta dá lugar à inexistência do negócio.
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Efeitos da coação
Art. 256.º CC
“A declaração negocial extorquida por coação é anulável, ainda que esta provenha de terceiro;
neste caso, porém, é necessário que seja grave o mal e justificado o receio da sua
consumação.”
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4) ESTADO DE NECESSIDADE
▪ O estado de necessidade trata-se de uma situação de receio ou temor
gerada por um grave perigo, que determina o necessitado a celebrar
um negócio para superar o perigo em que se encontra.
▪ O perigo grave pode dizer respeito à lesão de bens patrimoniais
ou outros de grande importância, como a vida, a saúde, a
liberdade, o bom nome do próprio ou dos seus.
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Regime:
▪ O art. 282.º estabelece a anulabilidade destes negócios usurários.
▪ O prazo para requerer a anulabilidade começa a contar desde a
cessação da situação de inferioridade.
▪ Pode também haver lugar à modificação do contrato, nos termos do
art. 283.º CC.
5) INCAPACIDADE ACIDENTAL
▪ Art. 257.º CC
▪ A incapacidade acidental ocorre quando um determinado indivíduo faz
uma declaração negocial, mas que, por alguma causa, estava
acidentalmente incapacitado de entender o sentido dela ou não tinha o
livre exercício da sua vontade.
▪ A sua consequência é a anulabilidade – mas para tal se verificar têm de
se cumprir determinados requisitos:
▪ É necessário que a pessoa se encontre acidentalmente
incapacitada:
▪ Ou seja, é necessário que, no momento em que celebra o
negócio, a pessoa não fosse capaz de determinar a sua
vontade de acordo com o pré-entendimento que tivesse
da realidade.
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Modalidades:
1. Representação legal:
▪ Trata a representação de menores de 18 e, de forma excecional, em
casos de maiores acompanhados.
▪ A representação legal caracteriza-se pela fonte de legitimação (os
poderes de representação) ser estabelecida por lei – ou seja, o
representante é indicado por lei.
▪ Essa representação legal vai surgir como uma forma de suprimento de
uma incapacidade de exercício.
▪ O interesse que é necessariamente prosseguido é o interesse do
representado.
2. Representação voluntária:
▪ Na representação voluntária, a fonte de legitimação representativa/dos
poderes de representação é a vontade do sujeito.
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minha conta, mas não atua em meu nome. Quando ele adquirir o
automóvel, é ele o proprietário do automóvel. Depois, ele fica
obrigado a transferir para a minha esfera jurídica os direitos
adquiridos em execução do mandato, ou seja, ele fica obrigado
a transferir para a minha esfera jurídica a propriedade daquele
automóvel.
▪ Pode haver representação sem haver mandato, não só na hipótese da
representação legal, mas também no que toca à representação
voluntária.
▪ Exemplo: num café, ao colocar num contrato de trabalho que um
dos empregados que serve, pode receber o dinheiro, então há
poderes de representação, mas não há mandato, porque esta
pessoa não é mandatária, é trabalhadora de uma pessoa coletiva
ou singular.
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Abuso de representação
▪ Art. 269.º CC
▪ O abuso de representação surge quando o representante, atuando
dentro dos poderes de representação que lhe foram conferidos,
contraria os fins da representação.
▪ Ou seja, o representante estará a atuar dentro dos limites formais
dos poderes conferidos, mas de modo substancialmente
contrário aos fins da representação.
▪ O art. 269º manda aplicar o regime do art. 268.º (sobre a falta de
poderes de representação) à hipótese de abuso de representação, mas
acrescenta um requisito adicional:
▪ Aplica-se quando a outra parte conhecia o abuso ou este lhe era
cognoscível.
▪ Exemplo:
▪ António conferiu poderes de representação ao Bernardo para
que ele lhe adquirisse um imóvel em seu nome. Quando o faz,
explica que precisa daquele imóvel para montar o seu escritório
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O OBJETO NEGOCIAL
Arts. 280.º e ss. CC
▪ A expressão “objeto negocial” é usada num sentido complexivo, i.e.,
abrange:
▪ Quer o conteúdo ou efeitos jurídicos do negócio;
▪ Quer o objeto propriamente dito, em sentido estrito.
▪ A autonomia privada torna difícil definir a priori o conteúdo dos
negócios jurídicos.
▪ O conteúdo do negócio jurídico é aquele que as partes quiserem, mas
conseguimos delimitar negativamente o conteúdo do negócio jurídico
(quais são as “linhas vermelhas” que não podem ser ultrapassadas).
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▪ Além disto, o objeto tem de ser legalmente possível, i.e., a lei não deve
impor um obstáculo insuperável a esse objeto – possibilidade legal.
▪ Não se deve confundir com a contrariedade à lei.
▪ P.e., um contrato-promessa tem como objeto um contrato que é
proibido por lei é um objeto legalmente impossível.
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3. Determinabilidade de objeto:
▪ O objeto do negócio jurídico deve ser determinável no momento da
celebração desse negócio.
▪ Ou seja, não se exige que o objeto esteja concretizado ou
determinado, mas apenas que seja determinável.
▪ Para estar garantida essa determinação é necessário que exista um
critério – que pode ser estabelecido por acordo das partes ou estar
fixado na lei.
▪ Remissão do art. 280º CC para o art. 400º CC.
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1) CONDIÇÃO
▪ Está prevista nos arts. 270.º e ss. CC.
▪ A condição é uma cláusula acessória típica por meio da qual as partes
subordinam a eficácia do negócio jurídico à verificação de um
acontecimento futuro e incerto (não se sabe se ele vai efetivamente
ocorrer).
▪ É, então, um evento futuro, incerto, que deriva da vontade das partes.
Elementos essenciais:
Para que haja condição é necessário estarem verificados alguns elementos
essenciais:
1. Os efeitos do negócio têm de estar subordinados a um evento futuro
e incerto.
▪ Por esta razão, por vezes, podemos ser confrontados com as
condições impróprias – isto é, condições que não são
verdadeiramente condições por lhe faltarem alguns destes
elementos.
▪ Exemplos:
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Notas:
▪ A condição simultaneamente potestativa, arbitrária e à parte creditoris
é inútil – porque o evento condicionante fica dependente da vontade
do credor e sendo arbitrária, um simples querer, será inútil na medida
em que, qualquer momento, o credor pode desencadear a ineficácia do
negócio.
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Requisitos:
▪ A cláusula não pode ser contrária à lei, aos bons costumes e à ordem
pública;
▪ A cláusula não pode ser física e legalmente impossível.
Condição ilícita:
▪ Uma condição ilícita será, em termos amplos, uma condição que
contrarie a lei, a ordem pública e os bons costumes, de acordo com o
art. 271.º.
▪ Nos termos deste artigo, o negócio jurídico subordinado a uma
condição ilícita é nulo.
Condição impossível:
▪ Uma condição impossível será uma condição em que a clausula é física
e legalmente impossível.
▪ Tratando-se de uma condição impossível:
▪ Produz-se igualmente a nulidade de todo o negócio se ela for
suspensiva;
▪ Gera-se apenas a nulidade da condição no caso de ser resolutiva
– art. 271º/2 CC.
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2) TERMO
▪ Está previsto no art. 278.º CC.
▪ O termo é uma cláusula acessória típica, nos termos do qual as partes
do contrato vão subordinar a eficácia do negócio jurídico à verificação
de um evento futuro e certo.
▪ Portanto, enquanto na condição a eficácia está dependente da
verificação de um evento futuro e incerto, no termo esse evento
é futuro e certo.
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Regime do termo:
▪ Em regra, podemos apor um termo a qualquer negócio jurídico em
nome do princípio da liberdade contratual.
▪ Há, contudo, exceções:
▪ Há negócios aos quais não pode ser imposto um termo.
▪ P.e., o casamento – não se celebra um casamento a prazo.
▪ Se for aposto um termo a um negócio que não possa ser sujeito
a prazo a consequência é, em regra, a nulidade do negócio.
▪ Há, contudo, situações em que a lei prevê sanções especiais:
▪ Art. 1618º CC – casamento;
▪ Art. 279º CC – estabelece regras para a contagem do prazo.
3) CLÁUSULA MODAL
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Regime do modo:
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4) CLÁUSULA PENAL
▪ Está prevista nos arts. 810.º e ss. CC.
▪ A cláusula penal é:
▪ Uma cláusula acessória típica;
▪ Nos termos da qual as partes convencionam uma determinada
prestação;
▪ Prestação essa que é, normalmente, em dinheiro;
▪ E que o devedor terá de prestar ao credor;
▪ Em caso de não cumprimento, cumprimento defeituoso ou mora
da obrigação.
▪ Tradicionalmente concebia-se a cláusula penal como uma figura
unitária, uma única espécie de cláusula, que cumpria uma dupla função
– fixar antecipadamente o valor da indemnização e compelir o devedor
ao cumprimento.
▪ No entanto, a doutrina mais recente passou a distinguir várias
modalidades de cláusula penal porque nem sempre esta cumpre estas
funções em simultâneo.
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Modalidades:
▪ Cláusulas de limitação e exclusão da responsabilidade:
▪ As de exclusão da responsabilidade excluem ou afastam toda e
qualquer responsabilidade, enquanto as de limitação da
responsabilidade a limitam;
▪ Cláusulas de exclusão e de limitação da responsabilidade por atos
próprios (do devedor):
▪ Exclui-se a responsabilidade sempre que ela surja como
consequência de um ato do próprio;
▪ Cláusulas de responsabilidade por atos de auxiliares:
▪ Utiliza-se um terceiro no cumprimento das obrigações e, aqui, é
o próprio que é responsável pelos atos desse terceiro, nos
termos do art. 800º CC;
▪ Cláusulas de limitação do montante:
▪ Quando se estabelece no contrato que não haverá
responsabilidade acima de um patamar de um valor x – acima do
valor não haverá responsabilidade;
▪ Cláusula de limitação dos fundamentos da responsabilidade:
▪ P.e., uma cláusula que preveja que só há responsabilidade caso
haja atuação com dolo.
▪ Cláusulas de redução de prazos de prescrição;
▪ Cláusulas de redução de prazos de caducidade.
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“É nula a cláusula pela qual o credor renuncia antecipadamente a qualquer dos direitos que lhe
são facultados nas divisões anteriores nos casos de não cumprimento ou mora do devedor, salvo o
disposto no n.º 2 do artigo 800.º”
1.º argumento:
▪ O nosso ordenamento admite a chamada cláusula penal, em que
permite que as partes fixem, por acordo, o montante da indemnização.
Esta é uma cláusula que pode funcionar tanto como uma penalidade,
ou seja, tanto pode agravar a indemnização devida, como pode limitar
a indemnização. Portanto, parece um pouco estranho que o legislador
permita a limitação da indemnização através do funcionamento da
cláusula penal e vede totalmente a limitação por via de uma cláusula de
limitação da responsabilidade.
2.º argumento:
▪ Esclarece-se, ainda, que o art. 809º não abrangeria, no seu âmbito de
relevância, as cláusulas de limitação da responsabilidade. Quanto muito
abrangeria as cláusulas de exclusão de responsabilidade. As cláusulas
de limitação de responsabilidade não envolvem uma renúncia ao
direito à indemnização, sendo apenas uma limitação.
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3.º argumento:
▪ A intenção do legislador com esta proibição é a de evitar que uma
obrigação civil seja transformada numa obrigação natural.
▪ Ora, se assim é, estas cláusulas de exclusão de responsabilidade só
devem ser consideradas proibidas no que respeita às cláusulas de
exclusão por dolo ou culpa grave.
▪ Só nesses casos é que estamos a deixar à mercê das partes uma regra
que não pode ficar submetida ao seu livre-arbítrio.
▪ A conclusão que se extrai é de que:
▪ As cláusulas de exclusão e de limitação da responsabilidade são válidas
se excluírem a responsabilidade por culpa leve e são nulas se
excluírem ou limitarem a responsabilidade por dolo ou culpa grave.
▪ Esta conclusão é reforçada pelos arts. 12.º e 18.º/c) do Decreto-Lei
446º/85.
Outras notas:
▪ Particularidade das cláusulas de exclusão de responsabilidade por atos
auxiliares:
▪ Nestes casos há que notar:
▪ Art. 800º/1 – cláusulas de exclusão e limitação de
responsabilidade são sempre válidas exceto se estiver em
causa a violação de deveres impostos por normas de
ordem pública.
▪ No entanto, há que fazer uma correção na interpretação
do art. 800º/2 – só se pode considerar excluída a
responsabilidade por dolo ou culpa grave por atos
auxiliares quando esses auxiliares forem auxiliares
independentes.
▪ Por outras palavras, nos atos auxiliares
independentes admite-se a validade das cláusulas
mesmo em casos de dolo.
▪ Hipóteses de responsabilidade por atos de auxiliares
dependentes em relação às quais haveria de se cumprir as
mesmas decisões para as cláusulas de exclusão de
responsabilidade por ato próprio.
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Problema da alteração:
› O problema traduz-se, pois, em saber se a alteração das circunstâncias que
fundaram a decisão de contratar, deve importar uma resolução ou modificação
do negócio, ou não deve afetar os termos em que ele foi realizado?
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1.º hipótese:
▪ As partes podem acautelar o problema.
▪ É possível inserirem no contrato uma cláusula que estabelece os termos
em que este será resolvido (caso surja).
▪ Trata-se da chamada “cláusula de hardship”.
▪ Se as partes apuseram esta clausula ao contrato, deverão cumprir com
ela.
2.º hipótese:
▪ Pode utilizar-se a teoria da imprevisão.
▪ Esta define que se o contexto social e económico se alterar de forma
radical e imprevisível, o contrato deve ser extinto.
▪ Contudo, critica-se:
▪ Esta teoria não tem em conta que as partes, quando celebraram
o negócio, podem ter previsto o risco de alteração das
circunstâncias e podem ter querido submeter-se a esse risco.
▪ Torna demasiado fácil a extinção do negócio.
3.º hipótese:
▪ Pode utilizar-se a teoria da pressuposição.
▪ Quando se faz uma declaração negocial, essa é feita com um conjunto
de circunstâncias em mente, que se pressupõem. Esta teoria define que
se as circunstâncias que foram pressupostas se alterarem e se a outra
parte tiver cognoscibilidade dessa pressuposição o negócio deve ser
considerado extinto.
▪ No fundo, a teoria considera que em cada contrato existe uma condição
não desenvolvida que é a pressuposição.
▪ Contudo, critica-se:
▪ Sujeita o contrato a uma condição que a outra parte pode não
conhecer.
▪ Torna também muito fácil a desvinculação negocial.
4.º hipótese:
▪ Pode utilizar-se a teoria da base do negócio.
▪ Esta teoria tem 3 versões:
1) Se a alteração das circunstâncias ocorrer na base do negócio o
contrato deve dar-se por extinto.
2) Esta alteração das circunstâncias que configuram a base do
negócio só releva, ou seja, só leva à extinção do negócio se estas
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Art. 437.º do CC
▪ A teoria acolhida e compreendia neste artigo exige:
1. Alteração anormal das circunstâncias (na base do negócio).
2. Quando essa alteração afete gravemente as exigências impostas
pelo princípio da boa-fé.
3. Essa alteração não pode estar coberta pelos riscos próprios do
contrato.
▪ Este regime pode conflituar com o regime do risco previsto no art. 796.º
CC.
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INVALIDADE
1. Nulidade:
▪ Art. 286.º CC.
▪ O negócio nulo não produz, desde o início (ab initio), os efeitos a que
tendia, por força da falta ou vício de um elemento interno ou formativo.
▪ A nulidade pode ser invocada a todo o tempo.
▪ A nulidade pode ser invocada por qualquer interessado.
▪ A nulidade pode ser conhecida oficiosamente.
▪ A nulidade não pode ser sanada por confirmação.
▪ (Eventualmente pode haver uma renovação ou reiteração, mas
não se confunde com aquela).
2. Anulabilidade:
▪ Art. 287.º CC.
▪ O negócio anulável produz os seus efeitos e é tratado como válido,
enquanto não for julgada procedente uma ação de anulação.
▪ Se não for anulado, no prazo legal e pelas pessoas com
legitimidade, passa a ser definitivamente válido.
▪ Exercido o direito de anular, no tempo e forma devidos, os
efeitos do negócio são retroativamente destruídos.
▪ A anulabilidade só pode ser invocada durante um determinado
período de tempo;
▪ A anulabilidade só pode ser invocada pelas pessoas no interesse das
quais ela foi estabelecida e não por qualquer interessado;
▪ A anulabilidade não é de conhecimento oficioso, i.e., tem de ser
necessariamente invocada.
▪ A anulabilidade pode ser sanada, por confirmação (art. 288.º) ou pelo
decurso do tempo.
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IRREGULARIDADE
▪ A irregularidade, embora provenha de um vício negocial, tem
consequências menos graves que a invalidade, não afetando a eficácia
do negócio, mas dando lugar a sanções especiais.
▪ Por exemplo:
▪ Até aos 16 anos os menores não têm capacidade de gozo para
casar; a partir dos 18 podem casar livremente.
▪ Entre 16 e 18 anos, podem-se casar. Contudo, sem a autorização
dos pais, estes não se emancipam quanto aos bens que levam
para o casamento (art. 1649º CC).
▪ Trata-se de uma situação de irregularidade. O negócio é válido,
mas é irregular.
▪ No caso concreto, a sanção para esta irregularidade é a não
emancipação relativamente aos bens que leva para o casamento.
INEXISTÊNCIA
▪ Há determinados negócios que estão de tal modo feridos por um vício
de tal modo grave que não devem produzir quaisquer efeitos – por
isto, parte da doutrina autonomizou outra categoria – a inexistência.
▪ Esta é, então, uma figura autónoma, com consequências mais graves do
que a nulidade e a anulabilidade.
▪ É uma categoria controversa porque nem todos os autores concordam
ou a admitem.
▪ Galvão Telles e Menezes Cordeiro: sustentaram que a categoria
de inexistência jurídica é eliminável, por deverem as respetivas
hipóteses ser enquadradas ou na nulidade ou na inexistência
material.
▪ Manuel de Andrade: admitia a autonomia da figura da
inexistência jurídica, assinalando-lhe, como interesse prático, à
possibilidade de os negócios nulos poderem produzir certos
efeitos laterais ou secundários, “como que seus filhos ilegítimos
apenas, mas filhos em todo o caso”.
▪ Pode concluir-se que é necessário autonomizar a inexistência como
categoria jurídica, dado que os negócios nulo e anulável podem ainda
produzir determinados efeitos (já os inexistentes não produzem).
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A. Redução:
▪ Está prevista no art. 292.º CC.
▪ Desde logo, estamos a considerar negócios nulos ou anuláveis, mas
apenas em termos parciais.
▪ Temos aqui, portanto, um problema que trata de saber se:
▪ No caso de uma invalidade ser relativa apenas (afetar apenas) a
uma parte do conteúdo negocial, o negócio deve valer na parte
restante (não afetada) ou deve ser nulo ou anulável na sua
totalidade?
Só não haverá redução se a outra parte que se opõe a essa redução vier
provar que não teria concluído o negócio sem a parte viciada.
▪ Nota-se que, a única forma de obstar à redução é provar que a vontade
hipotética das partes é contrária a essa redução – tem de se provar
que efetivamente a parte jamais teria celebrado o negócio sem a parte
viciada.
▪ Exemplo: Se no caso acima, B apenas tivesse celebrado o
negócio por ter 150.000 metros, i.e., se os 50.000 que estão na
parte do negócio que era nulo, tivessem sido
determinantes/essenciais para B ter contratado, este pode opor-
se à redução. Terá então de provar que jamais teria celebrado o
negócio se soubesse que não teria esses 50.000 metros.
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B. Conversão
▪ Está prevista no art. 293.º CC.
▪ A conversão ocorre quando o negócio jurídico é totalmente inválido –
o negócio foi declarado nulo ou totalmente anulado.
▪ Questiona-se se, uma vez anulado o negócio, se pode reconstituir um
outro negócio jurídico a partir dos elementos do negócio inválido.
▪ Aqui, aproveitamos os elementos e, a partir destes, celebra-se um outro
negócio que permite atingir o fim económico que as partes pretendiam
– i.e., o resultado económico, social e jurídico, embora mais precário,
deve satisfazer as finalidades pretendidas com o primeiro negócio.
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▪ Exemplo:
▪ A e B celebram um negócio e esse negócio é inválido, mas tem
uma série de elementos. A partir desses elementos, reconstitui-
se um outro negócio jurídico. Transforma-se o negócio anulável
num negócio de outro tipo contratual, mas este tipo contratual
tem de ter um resultado económico aproximado, de algum
modo, do que era previsto pelos contraentes.
▪ Se A e B celebraram um contrato de compra e venda de um
imóvel por escrito particular, esse negócio é nulo por falta de
forma, sendo que podemos transformá-lo num contrato-
promessa de compra e venda.
1. Resolução;
2. Revogação;
3. Caducidade;
4. Denúncia.
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1. Resolução
▪ Tem os seus efeitos previstos nos arts. 433º e ss. CC.
▪ Opera por declaração de uma parte à outra parte.
▪ É admitida com base num fundamento previsto na lei ou em convenção
das partes.
▪ Os seus efeitos são equiparados à nulidade ou anulabilidade, tendo
eficácia retroativa.
▪ Quanto à retroatividade, pode haver exceções. Não haverá
eficácia retroativa se:
▪ Se esta contrariar as partes;
▪ Se esta contrariar a finalidade da resolução.
▪ Nos contratos de execução continuada ou periódica, a
retroatividade não vai afetar as prestações já efetuadas, dado
que, mais uma vez, não é possível apagar o uso da coisa.
▪ Nunca prejudica os direitos adquiridos por terceiros.
▪ Se um dos contraentes não estiver em condições de restituir tudo aquilo
que recebeu a título de cumprimento não pode optar pela resolução do
contrato.
▪ Esta resolução tem lugar perante situações muito variadas. Tem como
fundamento um facto posterior à celebração do contrato. Pode ser o
incumprimento do contrato ou a alteração superveniente do contrato.
▪ Exemplo:
▪ A e B celebraram um contrato de arrendamento. Imaginemos
que durante a vigência daquele contrato B (arrendatário) deixou
de pagar as rendas. Como assim foi, o senhorio quer fazer cessar
os efeitos do contrato. Como o faz? Neste caso concreto vai
resolver o contrato – resolução.
2. Revogação
▪ Implica a cessação dos efeitos do negócio jurídico, com fundamento
previsto na lei ou em convenção das partes.
▪ A revogação extingue o negócio para o futuro, tendo eficácia ex nunc,
ou seja, apenas tem eficácia para o futuro.
▪ A revogação tem lugar em diversas situações: muitas delas previstas na
lei, mas noutros casos não há previsão expressa na lei.
3. Caducidade
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4. Denúncia
▪ Traduz-se na faculdade de um contraente fazer cessar os efeitos do
negócio, mediante mera declaração.
▪ Assume importância extrema nos contratos de duração indeterminada,
de modo a garantir a inexistência de vínculos perpétuos que seriam
atentatórios da ideia de autonomia privada.
▪ No nosso ordenamento jurídico há um princípio que proíbe
vínculos perpétuos (que as pessoas se vinculem para todo o
sempre).
▪ O único contrato que configura uma exceção pela ideia de
estabilidade que lhe está associada é o contrato de casamento.
▪ Considera-se que a vinculação para todo o sempre configura
uma limitação à liberdade contratual.
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