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Sistema do Título na Compra e Venda dos Valores Mobiliários

Valores mobiliários: ações; obrigações; unidades de participação em fundos de investimento


A propósito dos valores mobiliários, algumas dúvidas também se podem colocar, quanto à possibilidade de se tratar de um contrato meramente obrigacional (sistema do
título e do modo, que se pauta pela causalidade , na medida em que os vícios do negócio jurídico afetam a transmissão do dto real. E tem de existir um ato posterior à
celebração do contrato (traditio) para que haja transmissão da propriedade) ou, por outra, um contrato de compra e venda que combina efeitos reais e efeitos
obrigacionais (sistema do título que se pauta pela causalidade e pela consensualidade, n sendo necessária traditio).
Ações podem ser:- escriturais- n há um documento- implica um registo numa conta  art 80º do CMVM – as ações escriturais transmitem-se pelo registo na conta do
aquirente.
- tituladas – baseiam-se num título- um documento que incorpora um dto subjacente (normalmente um dto de crédito). Ainda se podem distinguir em 2 categorias:-
centralizadas – remete para o art 80º por via do art 105º, ou seja, transmitem-se por registo na conta do aquirente (plataforma na qual estão centralizadas)
- descentralizadas:- ao portador – art 101º - FORAM REVOGADAS- são aquelas que pressupõem a transmissão do título.Para haver transmissão tem de haver a entrega do
próprio título- nominativas – art 102º- cada ação representa um valor nominal e esse valor representa uma porção da sociedade.Tem de haver declaração por escrito de
transmissão mais registo para haver transmissão

- Coutinho Abreu: funciona o sistema do título e do modo (opinião que é seguida por maioria da jurisprudência), porque os valores mobiliários transmitem-se apenas pelo
registo na conta do adquirente/comprador.O que transmite estes valores não é o contrato, mas os atos (de registo) acima referidos.
-Pedro Albuquerque (continua a defender que se aplica sistema do título): não se trata de uma compra e venda meramente obrigacional, porque se verifica uma
transferência imediata da titularidade para o comprador. O professor considera que o registo tem meros efeitos formais e não constitutivos, pelo que serve para que a
ação tenha opibilidade perante terceiros. O professor distingue o direito sobre o título e o direito sobre a posição social (status de acionista). Mesmo nas ações po portador
(agora revogadas) a traditio não tem o mesmo valor que nos sistemas do título e do modo, pelo que a traditio servia para que se pudesse legitimar perante terceiros o
exercício desses poderes enquanto acionista, mais uma vez há que distinguir a face da legitimidade da face da titularidade. Relativamente às ações escriturais, também o
art 80º/2 responde que a partir do momento da compra e evnda em mercado, o comprador tem legitimidade para proceder à sua alienação, já sendo assim dono, sob pena
de estar a consagrar positivamente uma situação de venda de bens alheios.
Neste sentido importa ainda referir o Ac. da Relação de Coimbra, de 3 de junho de 2014
Por fim, o prof refer o art 58º/1 segundo o qual, quando o adquirente de um valor mobiliário está de boa-fé em sentido subjetivo, passa a ter legitimidade para atuar para
com terceiros como se fosse sócio, mm que ao mm faltasse legitimidade.

Sistema do Título na Compra e Venda Comercial


- Adriano Antero e Pedro Pais de Vasconcelos (defendem o sistema do título e do modo): a compra e venda comercial tem efeitos meramente obrigacionais, pois, no
Direito Comercial, há uma maior necessidade de certeza, segurança e celeridade. Além disso, não negam que no Direito Civil a compra e venda tenha natureza real
(sistema do título).
- Pedro Albuquerque (defende o sistema do título): O sistema real é mais conforme à segurança jurídica – foi o sistema recorrido para garantir maior certeza e segurança,
de acordo com os dados histórico. Para além disso, o Código Comercial não resolve a questão, pelo que se aplicam subsidiariamente as regras civis: o contrato de compra e
venda comercial nunca poderia ter mera eficácia obrigacional, tendo em conta que o contrato de compra e venda civil é real e obrigacional (simultaneamente).
Para concluir, na compra e venda civil e na compra e venda comercial não há caráter obrigacional. Entende, o Prof. Pedro Albuquerque, que o sentido de mero no artigo
408o/1 é dizer que os casos de exceção serão aqueles em que a transferência ou constituição de direitos reais é anda e apenas efeito do contrato, mas acompanhado de
outro facto (a particularidade deste é não haver coincidência temporal entre o contrato e a transferência da propriedade). A regência opta por concluir que todas as
modalidades de compra e venda no ordenamento jurídico português são segundo o sistema do título.

Estipulação do preço por terceiro – venda comercial

Tendo como paralelo na venda civil o regime do art 400º segundo o qual os outorgantes podem preferir que a determinação do preço seja confiada a uma outra das partes
ou a terceiro, também na compra e venda comercial, nestes termos do art 466º CCom pode convencionar-se que o preço da coisa venha a tornar-se certo por qualquer
meio que desde logo ficará estabelecido, ou que fique dependente do arbítrio de terceiros, indicado no contrato.
Assim, este art diferencia duas situações: quando o preço deve ser estabelecido segundo determinados critérios, mesmo que a concretização desses critérios caiba a uma
das partes ou terceiro, pode naturalmente intervir o tribunal para sindicar a atividade de fixação do preço.
Por outro lado, sendo tudo deixado ao arbítrio de um terceiro, e nada se estipulando relativamente à sua substituição no caso de este não pretender ou não puder fazer a
determinação, parece ser a indicação intuitu personae. É a própria vontade das partes a opor-se à intervenção judicial, não parecendo poder o tribunal substituir o seu
próprio arbítrio ao do tertius.
Assim, se o preço houver de ser fixado por terceiro e este não quiser ou não puder fazê-lo, ficará o contrato sem efeito, se outra coisa não for acordada. No entanto, a
solução expressamente consagrada pelo BGB é a de que sempre que haja má-fé ou abuso de direito por parte do terceiro, aí o tribunal pode intervir.

Venda de bens alheios na CV comercial


CV de bens alheios não é permitida no C. Civil, no entanto o art 467/2 do C.Comercial permite a venda de bens alheios em termos comerciais. A razão pela qual o código
permite neste número a venda de coisas que forem propriedade de outrem, é que, além de se facilitarem desse modo as operações comerciais, muitas vezes torna-se
impossível ou, pelo menos, inconveniente, obrigar o comerciante a exigir do seu vendedor a prova da sua propriedade. Proibir tais vendas seria desconhecer as necessidades
reais do comércio, criar um obstáculo perigoso à rapidez e desenvolvimento das suas operações, e até ferir o próprio interesse dos comerciantes.
Assim sendo, este contrato de compra e venda, de natureza comercial, realizado por quem não era o legítimo proprietário do bem vendido, sendo válido, não transfere
imediatamente a propriedade do bem para o comprador. Tal efeito acontecerá em momento posterior, por efeito do mesmo contrato de compra e venda, quando o vendedor
vier a adquirir na sua esfera jurídica, por qualquer título, o objecto do negócio. A venda de bem alheio gerou a obrigação de aquisição da respectiva propriedade, por parte do
vendedor. Não o fazendo, e incumprindo tal obrigação, incorria o vendedor em responsabilidade contratual.

- PA usa este argumento para justificar que a venda de bens alheios civil é ineficaz em relação ao real proprietário só por si, e não por o negócio ser nulo - daí a ação que o
proprietário deve intentar para reaver o bem deverá ser uma ação de declaração de ineficácia da venda alheia e não uma declaração de nulidade
- Discussão do 801º
• Posição doutrinária tradicional – Galvão Telles, Antunes Varela, Almeida Costa e Menezes Leitão – opção entre 2 alternativas: - baseia-se na ideia de venire contra factum
improprium
o exigir uma indemnização por incumprimento por interesse contratual positivo, mantendo a própria obrigação;
o obter a resolução do contrato cuja eficácia retroativa permite liberar-se da sua obrigação, restituindo a prestação já realizada e acrescida de uma indemnização por interesse
contratual negativo.
- doutrina mais recente - MC, Prof Maria de Lurdes Pereira, Dário Moura Vicente – já começam a admitir a cumulação pelo interesse contratual positivo-restaurar um desequilíbrio que
é causado pelo incumprimento definitivo
Contra a posição tradicional – Vaz Serra, Baptista Machado, Romano Martinez e Menezes Cordeiro – resolução do contrato libera o autor do deve de efetuar a contraprestação, mas a
indemnização continua a abranger o interesse contratual positivo.
o Romano Martinez: “não obstante o credor ter resolvido o contrato, deverá ser indemnizado de todos os danos” sendo que a devolução da contraprestação realizada deveria ser
descontada na indemnização com base na compensatio lucri cum damno.
positivo destina-se a colocar o lesado na situação em que se encontraria se o contrato fosse exactamente cumprido.
 negativo tende a repor o lesado na situação em que estaria se não houvesse celebrado o contrato, ou mesmo iniciado as negociações com vista à respectiva conclusão

Compra e Venda
Contrato:
- translativo
- oneroso
- sinalagmático - o que permite a qualquer das partes socorrer-se da exceção do art. 428º, ou invocar a caducidade do contrato por impossibilidade de uma das prestações, art. 795º e
a resolução por incumprimento, art. 801º/2 com a exceção do art. 886º
- obrigacional e real quoad effectum (não quoad constitutionem, apesar de PA n não vislumbra razões para entender que as partes n podem convencioná-lo).
- Por regra, de execução instantânea. Os seus efeitos esgotam-se num só momento. O efeito translativo é imediato. A obrigação de pagar o preço e a obrigação de entregar a coisa
também não são delimitadas em função do tempo. Mesmo na venda em que o preço é dividido e escalonado no tempo, só se considera o pagamento realizado no final, e portanto,
sendo ele pago em prestações a obrigação do devedor só está cumprida depois de realizadas todas e cada uma delas.
- Comutativo, embora por vezes, possa assumir uma feição aleatória. 880º/2, 881º, 2124º
-Causal e assenta no sistema do título.

Forma do Contrato de Compra e Venda


A forma geral para o contrato de compra e venda é o consenso, formando-se mediante o simples acordo das partes. Não é necessário exigir uma forma especial – princípio do
consensualismo (art. 219.º, CC). No entanto, esta é a regra geral, que tem exceções (exige observância de forma):

-Imóveis: art. 875.º – escritura pública ou documento particular autenticado pelo DL 116/2008 de 4 julho Art 24 do diploma
A não observância da forma legal leva à nulidade do contrato – art. 220.º, CC.
Formalidades:
1.Cessão de quotas: 228o, Código das Sociedades Comerciais – documento escrito.
2.Compra e venda de navios e contratos celebrados ao domicílio com consumidores
ou equiparados: artigo 16o do Decreto Lei 143/2001, de 26 de abril.
3.Transmissão de prédios urbanos ou frações autónomas: artigo 1o do DL 116/08, de 4 de Julho, e artigo 9o/1, do Código de Registo Predial.
4.Registo da compra e venda de bens imóveis: artigo 5o/1 do Código de Registo Predial e 11o/1/a) do Código de Registo de Bens Móveis (é condição para a opinibilidade perante
terceiros do direito).

Sempre que se verifique a falta das formalidades exigidas por lei (as exceções acima indicadas), a
consequência será a da nulidade (220o do Código Civil).

Há, ainda, que destacar o princípio da legitimação que, previsto no artigo 9o do CRP, estabelece que não podem ser titulados atos jurídicos de que resulta a transmissão de direitos ou
a constituição de encargos sobre imóveis, sem que as partes façam prova do registo legitimador. Existem, no entanto, 4 exceções a este princípio:
(1). Artigo 9o/3: prédio situado em área onde o registo obrigatório não vigorou.
(2). Artigo 9o/1/a): expropriação, venda executiva, arresto, penhora, apreensão em processo de insolvência e outras providencias que afetem a livre disposição de
imoveis.
(3). Artigo 9o/1/b): quando os atos sejam outorgados por quem tenha adquirido, em
instrumento lavrado no mesmo dia, os bens transmitidos ou onerados.
(4). Casos de urgência
Quanto ao registo, este tem mera eficácia declarativa: é a condição de oponibilidade do direito perante terceiros.

Sistema do título- o sistema do título pauta-se pela consensualidade e pela causalidade. A causalidade diz-nos que depender a constituição ou modificação de direitos reais da
existência, da validade e da procedência da causa jurídica na ordenação das situações jurídicas. Significa que a transferência da propriedade depende de um negócio de CV válido e
unitário. Por isso, se ele vier a ser anulado, ou se se mostrar nulo, a aquisição do direito não acontece.
Relativamente à consensualidade, esta determina que a transmissão efeito real da compra e venda ocorre por mero efeito do contrato.

Sistema do título e do modo- este pauta-se pela causalidade , na medida em que os vícios do negócio jurídivo afetam a transmissão do dto real. Para além disso tem existir um ato
posterior à celebração do contrato (traditio) para que haja transmissão da propriedade.

Sistema do modo (Alemanha) – este pauta-se pela abstração, ou seja, os vícios do negócio jurídico não afetam a transmissão do dto real. E, para além disso, tem de existir traditio, ou
seja um ato posterior à celebração do contrato, para que haja transferência do dto real.

Efeito real da Compra e venda


Há admissibilidade ou não de uma compra e venda meramente obrigacional?
- Em relação ao problema em causa, há autores que sustentam a existência, no nosso OJ, de contratos de compra e venda meramente obrigacionais, que dependem de um ato
posterior para se transmitir o efeito real da transmissão da propriedade (sistema do título e do modo): no Direito Civil, defendem-no Assunção Cristas; no Direito Comercial, Pedro Pais
de Vasconcelos; no Direito dos Valores Mobiliários, Coutinho de Abreu e Vera Eiró.

- Pedro de Albuquerque entende que à luz dos artigos 874º e 879º, não há dúvida de que tem de ser sempre segundo o sistema do título – ou seja, que não é possível haver um
contrato de compra e venda com meros efeitos obrigacionais, prescindindo-se do efeito real.
- As situações excecionais são aquelas em que o efeito real não se produz imediatamente (há um hiato temporal), ainda assim, a transferência resulta do contrato, do
título e não de um modo (ato posterior). O efeito translativo opera automaticamente, não carecendo de qualquer intervenção do vendedor, ainda que em momento
posterior.
- Compra e Venda de Bem Futuro: o efeito translativo não pode ser instantâneo porque não existe propriedade para transmitir; essa transmissão ocorrerá apenas quando a coisa for
adquirida pelo vendedor (408º/2). N é uma exceção ao sistema do título, pois o vendedor não tem de realizar nenhum ato translativo da propriedade, pois a transferência ocorre
automaticamente. Assim que os bens entram na esfera jurídica do vendedor (e se tornam bens presentes), por simples força do contrato entram na esfera jurídica do comprador e
saem da esfera jurídica do vendedor.
- Compra e Venda de Coisa Indeterminada, Genérica ou Alternativa: Nas obgs genéricas - a transferência da propriedade tanto poderá depender de um ato do vendedor (539º) como
verificar-se por outros meios (541º e 542º) – a transmissão dá-se com a determinação. Não é um ato do vendedor que opera a transmissão, mesmo que seja este que faça a
concentração – novamente a transmissão é efeito direto e imediato (539º, 541º e 549). Mal haja concentração, a propriedade transmite-se. Nas indeterminadas é a mm lógica- assim
que há determinação a propriedade transmite-se (408º/2)
- Compra e Venda de Frutos Naturais ou Partes Integrantes/Componentes: nestes casos a transferência verifica-se no momento da colheita ou da separação; não há qualquer
obrigação de dare de que fique dependente a transferência da propriedade; não depende de nenhum ato do vendedor.
- Compra e Venda de Bens Alheios: uma vez adquirida a coisa pelo vendedor, a venda consolida-se e verifica-se a transmissão para o comprador. Quando o vendedor adquire o bem
vendido que antes não lhe pertencia, a venda é sanável (nulidade atípica) – art. 895.º e 897.º. O vendedor não tem obrigação de transmitir, pois mal seja ele o proprietário do bem
(antes alheio) vendido, a titularidade sai imediatamente da sua esfera, passando para a esfera do comprador transferindo-se automaticamente.
- Compra e Venda com Reserva de Propriedade (art. 409.º): é lícito que o vendedor reserve para si a propriedade da coisa vendida até ao cumprimento total ou parcial ou até à
verificação de outro acontecimento – este artigo é que é o mais utilizado por vários autores, entre os quais, Assunção Cristas, para defender que vigora também em Portugal o sistema
do título e do modo, ou seja, que há um primeiro contrato de compra e venda meramente obrigacional – vendedor obriga-se a entregar e comprador obriga-se a pagar – e para a
propriedade se transmitir é necessário um segundo ato posterior.
O problema está em que este artigo se articula com o artigo 874 e 879º, não se lê sozinho. O efeito real é um elemento essencial da compra e venda. É certo que vigora o princípio da
autonomia privada, mas só vale desde que não estejam em jogo normas imperativas (875.º e 879.º). A única particularidade do 409, tem a ver com a circunstância de não haver
coincidência temporal do momento da celebração e o momento da transferência da propriedade, que decorre do contrato – a transferência da propriedade decorre do contrato,
mesmo que não se dê no mesmo momento que a sua celebração (Acórdão STJ de 18/9/2003).
Pedro de Albuquerque: vender é sempre transmitir, mesmo nestes casos em que existe um hiato entre o momento em que se celebra e o efeito real translativo. Nós não temos
nenhuma situação no nosso direito civil que corresponda ao figurino do título e do modo.

Os efeitos obrigacionais
Obrigação de Entrega da Coisa
Questão que se coloca, a propósito da obrigação de entrega da coisa, é a de saber se a compra e venda, opera, mesmo sem a entrega, a transmissão da coisa por constituto possessório
(artigos 1263º e 1264º).
O professor Pedro de Albuquerque segue a tese objetivista da posse, segundo a qual tanto na posse como na detenção ocorreria a vreificação de corpus e animus, distinguindo-se pelo
facto de nadetenção ocorrer uma disposição legal que descaracteriza a situação como posse.
- Para o prof basta haver a celebração do contrato de compra e venda para haver transmissão da posse da coisa, nos termos dos arts 1263º al c) e 1264º, ou seja, nos ternos do
constituto possessório. Estando, assim, o art. 1264.º para a posse como o art. 408.º está para a transmissão da propriedade.
Assim, ainda que não haja entrega da coisa por parte do venedor ao comprador, a partir da celebração do contrato, o comprador passa a ser possuidor (1264º) e o vendedor torna-se
mero detentor. O professor equipara estas situações a um depósito e faz uma analogia com o mandato que está na letra da lei do art 1253º al c).
Esta é a posição do regente, sustentada com os seguintes argumentos:
-Promoção de uma situação de coincidência entre titularidade do direito e posse nos termos desse direito;
- Em função de uma análise daquilo que acontecia na prática jurídica, era muito frequente, no momento da consagração do sistema do título, que as partes incluíssem no contrato uma
cláusula de constituto abstrato expresso, em que, no fundo, se dizia que o vendedor, mediante a celebração do contrato, abdicava em favor do comprador da posse- constituto
abstrato expresso;
- Por outro lado, acresce ainda outro tipo de razões, de justiça material.

- Menezes Leitão diz que a posse se transmite, não mediante a celebração do contrato de compra e venda, mas sim pela tradição- art.o 1263 b) CC.

- Perante isto, a generalidade dos autores (por exemplo JAV), tem entendido que se dá constituto possessório quando alguém celebra um contrato de compra e venda de um bem,
mas não obstante esse contrato de CV, o vendedor tem titulo para reter a coisa.
- regente: refuta esta posição, porque não faz sentido, na hipótese do alienante ter título para conservar a coisa, não havendo entrega da coisa dar-se a transferência da
posse, mas quando faz a mesma coisa de forma não titular ou injustificada não se dá transferência da posse.

- O que se afigura pretendido pelo Direito, ao estabelecer no art 879º al b) a entrega da coisa como efeito essencial da cv, é a possibilidade de o comprador ter o bem vendido à sua
disposição para poder exercer sobre ele os poderes correspondentes à posição de proprietário. Aquilo que se mostra verdadeiramente essencial não é a obrigação de entregar em si
mesma mas o seu efeito. Ora a respetiva consecução pode ser bem diversa consoante os casos, impondo, destarte, condutas igualmente distintas ao devedor:
-O comportamento do alienante pode ser irrelevante (por a coisa já estar com o comprador);
-A atitude do transmitente pode apenas não impedir o comprador de tomar para si a coisa colocada à disposição;
- O vendedor tem de facto, de proceder à entrega da coisa no sentido de ser necessária uma atividade de sujeição da coisa ao efetivo controlo material do comprador.

Não é, contudo, o sentido restrito a relevar, mas sim o normativo. Ora, normativamente, está-se diante do cumprimento da obrigação de entrega em todas as situações antes
referidas.

CV com reserva de propriedade – referir smp se estamos perante exceção ao sistema do título
- Oponibilidade a 3ºs da reserva de propriedade de bens móveis n sujeitos a registo
ROMANO MARTINEZ, considera, numa posição já antes defendida, de jure condendo, por VAZ SERRA que a cláusula de reserva de propriedade sem registo, não é oponível a terceiros. Para
Romano Martinez: há necessidade de tutela da aparência e há que fazer um paralelo com o penhor, expressa pelo facto de o penhor de coisas exigir, salvo casos especiais de penhor, a
tradição para efeitos de publicidade (art.669º). Recorda ainda a relatividade dos contratos (art.406º/2 CC), sendo a reserva de propriedade uma cláusula contratual, sem registo, não poderia
ser oposta a terceiros; afirma não se compreender que a reserva de propriedade, no caso de bens imóveis, dependesse de registo para ser oponível a terceiros e, tratando-se se de coisas
móveis fosse oponível erga omnes; diz ainda que em caso de incumprimento, designadamente pela falta de pagamento do preço, cabe ao vendedor resolver o contrato (art.886º), mas de
acordo com o art.435º/1 CC, a resolução não prejudica os terceiros de boa fé.

O regente não concorda com a posição de RM: a invocação da tutela da aparência e o paralelo com o penhor e a CV realizada por comerciante não parecem proceder, a solução está
consagrada para o penhor, mas não está na CV com reserva de propriedade. Não basta dizer que a tutela da aparência declara uma oponibilidade da reserva de propriedade, pois no direito
português prevalece a matéria de substância sobre a matéria aparente (a não ser que se verifiquem os pressupostos da tutela ou da boa fé). A invocação da relatividade dos contratos como
forma de fundar a inoponibilidade da cláusula de reserva de propriedade significaria que, nem mesmo a transferência da coisa ou titularidade do direito podia ser invocada diante de terceiro.
Por exemplo: na hipótese de A vender a B. A voltar a vender a C. B não podia reivindicar o bem a C.Finalmente, contra a posição de RM depõe, claramente, o art.104º/4 do CIRE admitindo,
mesmo nos casos de insolvência do comprador, a oponibilidade da cláusula de reserva de propriedade apenas com subordinação ao requisito da sua estipulação por escrito. Só neste caso é
preciso documento escrito.

Cláusula de reserva de propriedade a favor de 3º


- A prática tem vindo a divulgar o estabelecimento de cláusulas de reserva de propriedade, encontrados de crédito ao consumo, a favor do mutuante ou entidades financiadoras que não
perceberam nenhuma alienação do bem para elas reservado.
- Sobre este tema existe como panóplia diversa de decisões jurisprudenciais.- Ac RLx 21-02-2022 (Salvador da Costa) - Ac RÉv 25-05-2004 (Sénio Alves)
Argumentos a favor são ainda: a autonomia privada, os usos comerciais o AUJ de 09/10/2008, a falta de interesse do vendedor na reserva de propriedade e o DL de 91 sobre o crédito ao
consumidor. Para além disso, constituído a favor do mutuante, reserva de propriedade sobre determinado veículo, os efeitos dessa reserva são idênticos àqueles que derivam de haver sido
constituída a favor do vendedor.

- Manifestam-se de forma adversa a reserva de propriedade em favor de terceiros- STJ 10-07-2008 (Santos Bernardino).
Para o regente, do ponto de vista lógico-conceptual, é lógico que não se pode reservar algo para um sítio de um sítio em que a coisa nunca saiu.
Além disso, não se afigura necessária nenhuma interpretação atualista. A posição jurídica do vendedor com reserva de propriedade é, como qualquer outra situação não pessoal,
transferível. Basta, pois, ao vendedor transferir a sua posição para o comprador para resolver o problema sem necessidade de se inventarem ficções.
Não vigora, neste aspeto, o princípio da autonomia privada  vale neste domínio princípio da tipicidade dos direitos reais vertido no art 1306º CC - não sendo por isso lícito ao intérprete
aplicador vir criar figuras jurídicas novas com essa natureza
Existem alternativas a um entendimento amplo do art 409º : convenção das garantias reais de crédito, transmissão da reserva de propriedade por sub-rogação, estipulação da reserva de
propriedade a favor do alienante, mas sujeita ao pagamento ao financiador.
Um argumento contra é ainda a proibição de pactos comissórios art 694º- o pacto comissório proíbe que quem tem uma garantia possa tornar sua o objeto de contrato qnd há uma dívida
– evitar situações de abuso de dto
O afastamento da reserva de propriedade a favor de terceiro não impede, porém, a sujeição da transferência da propriedade ao pagamento a terceiro - esta situação está manifestamente
abrangida pelo art 409º/1- só é possível uma reserva de propriedade a favor de vendedor, subordinada ao pagamento a terceiro - permite-se ao alienante, em caso de incumprimento da
obrigação, solicitar a restituição da coisa para si e apenas para si.
Argumentos a favor são ainda: os usos comerciais o AUJ de 09/10/2008, a falta de interesse do vendedor na reserva de propriedade
Saber se a posição jurídica emergente da reserva de propriedade pode ser transmitida:
- Regente + Nuno Pinto Oliveira consideram que o alienante pode sub-rogar o terceiro financiador nos respetivos direitos. Antes da compra e venda com reserva de propriedade o
vendedor é proprietário. Depois da venda passa a ter uma propriedade limitada a fins de garantia. Esse direito subjetivo é naturalmente transmissível, isto porque os direitos subjetivos de
natureza não pessoal são livremente transmissíveis. É igualmente possível a sub-rogação efetuada pelo devedor.

-Rui Pinto Duarte - a reserva não geraria um direito diverso do de propriedade e, portanto, em si mesma não seria transmissível. Aceita-se serem as situações de créditos assegurados pela
reserva de propriedade tendencialmente iguais às de créditos assegurados por garantias reais transmissíveis. Assim, se um crédito garantido por um penhor ou uma hipoteca é transmitido em
simultâneo com o penhor ou hipoteca, a situação de garantia dos créditos através de reserva de propriedade, para ser semelhante, deveria ser transmissível em termos paralelos. Todavia, na
ausência de disposição sobre o ponto e tendo em vista o art 409º não parece tal transmissão exisitir

A nomeação para a execução, pelo alienante, do bem objeto da reserva


A solução à primeira vista dir-se-ia: óbvia, não parece aceitável a possibilidade de execução de coisa própria do exequente. Sucede, porém, que, instaurada a ação execução pelo próprio
titular da reserva de propriedade, vem este nomear à penhora o bem sobre o qual incide a reserva, alcançando sucesso na sua pretensão mesmo em hipóteses em que o tribunal, ainda assim,
se apercebe da situação. Entendeu-se inúmeras vezes renunciar o exequente, ao requer a penhora do bem, tacitamente, à reserva de propriedade. Admitida essa renúncia a interrogação
suscitada é a de saber em que modelo pode prosseguir a ação face à existência de registo da reserva de propriedade. Impedirá ele o sucesso da execução? Tem o interessado de cancelar o
registo?
Parece não ser necessário, ao prosseguimento da ação, o cancelamento do registo da reserva de propriedade. Vale, então, uma solução semelhante à imposta pelo art.827º/2 do CPC.
O STJ veio através de um acórdão uniformizador fixar a seguinte doutrina: a ação executiva na qual se penhorou um veículo automóvel, sobre o qual incide registo de reserva de
propriedade a favor do exequente, não pode prosseguir para as fases de concurso de credores e da venda, sem que este promova e comprove a inscrição, no registo automóvel, a referida
extinção da reserva. O professor critica este entendimento.
Com este acórdão, é mais difícil surgir uma decisão judicial que admita a execução de um bem sujeito a registo, sem o titular do direito à reserva de propriedade proceder ao cancelamento
do registo.

Reserva de propriedade e exigência do cumprimento do contrato


Alguma doutrina e jurisprudência nacionais têm entendido que o beneficiário da reserva de propriedade só pode exigir a restituição da coisa quando exerça o direito de resolução sem
previamente ter exigido o cumprimento pontual do contrato.
Para o Prof. Regente, o vendedor pode ter interesse em exigir o cumprimento e manter a reserva de propriedade. O facto de o credor ter optado por exigir o cumprimento, só por si, não faz
caducar o direito de depois vir a declarar a resolução. A situação inversa é que inadmissível. Proposta a ação de cumprimento pelo vendedor mantém-se a reserva de propriedade até ao
efetivo pagamento do preço, pois só este gera a transmissão da propriedade – não a exigência de pagamento. A simples mora no cumprimento não gera imediatamente o direito de resolver o
negócio. Para isso suceder mostra-se imprescindível transformar-se a mora em incumprimento definitivo.
O nascimento do direito de resolução supõe exatamente uma interpelação dirigida ao devedor. Ele não renuncia à propriedade que reservou, apenas procura a obtenção por via judicial do
pagamento do preço.
Para ML em caso de incumprimento por parte do comprador, o vendedor continua a poder resolver o contrato nos termos do art.801º/2, uma vez que a exclusão deste direito pelo art.886º
só se verifica se tiver ocorrido a transmissão da propriedade da coisa. No entanto, em caso de venda a prestações, o art.934º exclui imperativamente a possibilidade de resolução do contrato
se o comprador faltar ao pagamento de uma única prestação e esta não exceder a oitava parte do preço.

Risco na CV com reserva de propriedade

- Alguns autores (prof Galvão Telles), partindo da afirmação de que na compra e venda com reserva de propriedade ainda n se deu a transferência do dto real  sustentam pertencer o
risco da perda fortuita ao alienante.
- trata-se de um entendimento suscetível de parecer receber abrigo do artigo 796º
Regente: a reserva de propriedade visa justamente garantir a posição do vendedor perante o risco de não pagamento do preço ou da não produção do evento a ele associado. não se
entende terminar um mecanismo destinado a reforçar a posição do vendedor e acabar por afinal o desguarnecer, sendo certo que a transferência de domínio material e de gozo sobre a
coisa não deixou de passar para o comprador.
O prof. Regente sustenta a sua posição uma vez que o titular do direito alienado deixa de o ser para ter uma garantia real. O comprador passa a deter como efeito do negócio sujeito à
reserva, uma expetativa real de aquisição do bem. O sentido normativo da distinção presente no art.796º entre contrato translativos do domínio, de um lado, e negócios geradores da
constituição ou transferência de direitos reais, de outro, é o de deixar manifesto que, independentemente da moldura dogmática defendida para a reserva de propriedade, se ela for
estipulada, a simples transferência do domínio ou do controlo material sobre a coisa já importa a translação do risco. O sentido do art.796º/1 é o de elucidar como a reserva de propriedade
importa sempre a transferência do risco de perda ou destruição da coisa para o adquirente não o desonerando de pagar o preço mesmo se ela vier a desparecer ou perecer. Daí a necessidade
de se autonomizar os contratos translativos do domínio – sujeitos a reserva de propriedade com outorga do gozo sobre a coisa ao adquirente – relativamente aos restantes contratos
produtores de efeitos reais.

- Pedro Romano Martinez – faz pender o perigo do perecimento fortuito da coisa sobre o comprador: 4 argumentos:
1) a reserva de propriedade tem essencialmente uma função de garantia com efeitos semelhantes aos da hipoteca, mas em que o comprador tem o gozo da coisa, legitimando-se, portanto,
ser ele a assumir o inerente risco
2) o art 796º refere a transferência de domínio. Ora, ao associar a transferência do risco à mudança do domínio sobre a coisa o preceito em análise tem em vista, também a própria relação
material com o objeto ou o direito vendido. Atualmente entende-se domínio como controlo material e n propriedade.
3) a cláusula de reserva de propriedade seria em simultâneo uma condição suspensiva e uma condição resolutiva (nos termos do 886º/3 CC) - desta forma sendo a condição resolutiva e
tendo havido tradição da coisa - o risco corre por conta do adquirente.
4) art 796º/3 - para a situação de condição resolutiva, determina correr, tendo a coisa sido entregue ao comprador, o risco por conta deste.- com referência à condição suspensiva não se
prevê hipótese de ter existido entrega ao adquirente, por isso, nessa eventualidade, a solução deverá ser oposta a estabelecida no preceito  mesmo quando se trata de condição
suspensiva, a tradição da coisa importa a transferência do risco.

Distribuição do risco na compra e venda com reserva da propriedade - na hipótese de o bem perecer por facto imputável a terceiro:
- Regente: deverá proceder-se à repartição do risco segundo o proveito próprio de cada um:- o vendedor preservando a propriedade com função de garantia - deve suportar o risco da
perda de garantia - o comprador, que já estava a tirar todo o gozo da coisa - suportará o risco de perda ou deterioração dela.

O prof. Regente diria que a CV com reserva de propriedade é de facto uma CV em que o efeito translativo do negócio é deferido até ao momento do pagamento ou do evento
escolhido ficando, todavia, e desde logo o comprador investido com a realização do contrato numa posição jurídica que se traduz numa expetativa real de aquisição enquanto o
vendedor detém um direito real de garantia destinada a garantir o pagamento do preço.

Compra e venda de bens futuros, frutos pendentes e partes integrantes

 A compra e venda de coisa futura e distingue-se da compra e venda de coisa alheia (892º):
- na primeira hipótese ninguém ignora não pertencer bem ao devedor mesmo se existe a expectativa de ela vir a ser do alienante.
 Ambas as partes sabem que o bem n está ainda em poder do vendedor, mas esta menção n tem de ser expressa, pode resultar tacitamente das declarações negociais

- Tendo sido realizada uma compra e venda de bens futuros, frutos pendentes e partes componentes ou integrantes de uma coisa aquilo que sucede é que o vendedor fica obrigado a
exercer todas as diligencias necessárias para que o comprador venha a adquirir os bens vendidos,segundo o que está estipulado no contrato.

-Se não cumprir esta sua obrigação por facto que lhe seja imputável responderá por incumprimento. A questão trata-se de saber se responderá pelo interesse contratual negativo ou
pelo interesse contratual positivo.
- A este respeito, o prof. Raul Ventura dizia que na medida em que a CV de bens futuros se configura como um negocio incompleto, antes de se verificar a transferência da propriedade
haveria uma indemnização circunscrita ao interesse negativo;
- O prof. ML vem dizer que estamos perante um negocio validamente celebrado e, portanto, a indemnização em caso de incumprimento de diligência a cabo do vendedor não poderia ficar
limitada ao interesse contratual positivo;
- O prof. Regente diria que tem ambos razões. O prof Raúl tem razão ao afirmar estar-se na compra e venda de bens futuros diante de um negócio incompleto, mas o prof. ML tem também
razão quando sustenta corresponder a CV de bens futuros a um negócio validamente celebrado. O prof. Julga que o respetivo incumprimento culposo do dever de diligenciar/da obrigação a
cargo do alienante determina a necessidade de se indemnizar pelo interesse contratual positivo. Havendo uma situação de incumprimento culposo, temos um caso de incumprimento
culposo e, portanto, há o dever de se indemnizar pelo interesse contratual positivo, não obstante se estar numa compra e venda de bens futuros perante um negócio incompleto.

- Nos termos do artigo 880º/2, as partes podem atribuir natureza aleatória ao contrato de compra e venda de bens futuros, MAS ESTA NÃO SE PRESUME.
1- nesta hipótese o objeto da venda é inicialmente uma mera Esperança e o preço será devido mesmo se a efetiva Transmissão da coisa ou bem futuro se não efetivar  o risco de não
concretização da Esperança pertence ao comprador.

2-a compra e venda de coisa futura distingue-se da compra e venda de uma simples Esperança pelo facto de na primeira o preço só ser devido se a coisa vier realmente a existir.

 Alguma doutrina entende dever essa cláusula ser expressamente pactuada por estar em jogo uma alteração das regras gerais da distribuição do risco.
- Regente: não vê razões para alterar a regra geral em matéria de relevância da vontade das partes  ou seja, saber se a compra e venda é de coisa futura ou de Mera Esperança é simples
problema de interpretação da vontade das partes, sujeita naturalmente ao disposto nos artigos 236º a 238º.

- Para além disso, aceita-se ser por vezes difícil distinguir a compra e venda de coisa futura da compra e venda com carácter aleatório  na dúvida, deve presumir-se estar-se diante de
uma compra e venda de coisa futura, mas não mais.

 Obg de Entrega:
- obrigação de entrega a cargo do vendedor segue os termos gerais.
- se, na compra e venda de carácter aleatório, o comprador preferir receber bem diferente, em vez de nada, pagando mesmo assim o preço, há uma alteração voluntária do objeto do
contrato.

- Mostra-se debatido saber se na compra e venda de bens futuros há lugar a garantia pelos vícios ou falta de qualidade da coisa ou se, o facto de a coisa ser futura a afasta implicitamente.
A resposta parece ser no sentido do afastamento, pois o comprador admite o pagamento do preço mesmo se a coisa não chegar a existir – no caso da compra e venda com carácter aleatório –
na compra e venda de bem futuro admite-se a subsistência da garantia, sem prejuízo de poder ser retiradas pelas partes em convenção expressa (base no art.918º).

Venda de bens de titularidade incerta – 881º


Em princípio apenas poderão ser objeto de venda as coisas que existem e pertencem ao vendedor, uma vez que se a venda disser respeito a coisas inexistentes o contrato é nulo por
impossibilidade física ou legal do objeto (art.280º/1), nulidade que também se verifica se as coisas não pertencerem ao vendedor (art.892º).
No entanto, se se venderem bens de existência ou titularidade incerta e no contrato se fizer menção dessa incerteza, o contrato é válido (art.881º). Essa incerteza constitui um estado
subjetivo, que tem que se verificar em relação a ambas as partes.
Pode discutir-se se a menção deve ser expressa ou tácita, parece que a razão de ser da exigência no sentido de suprimir as dúvidas quanto à prova de um estado subjetivo de difícil
demonstração, aponta para a necessidade de uma declaração expressa. Prof regente considera que menção de incerteza deve ser expressa.

- A lei presume que as partes quiseram celebrar um contrato aleatório (PRESUME-SE A NATUREZA ALEATÓRIA),ou seja, o objeto do contrato presume-se ser uma mera esperança de
aquisição do bem, pelo que será devido o preço, ainda que os bens não existam ou não pertençam ao vendedor (art.881º).

- As partes podem elidir essa presunção, recusando ao contrato natureza aleatória, caso em que o preço será devido no caso de os bens existirem e pertencerem ao vendedor, ficando
dependente da obrigação de entrega (art.885º/1). Assim o comprador apenas ficará definitivamente constituído na obrigação de pagar o preço após a resolução da situação de incerteza em
relação à coisa, podendo nos termos gerais recusar o cumprimento da obrigação, enquanto o vendedor não lhe efetuar a sua entrega.- Segundo o artigo 237º - na dúvida se dever entender
haver recusa.

- Assim, o vendedor não é obrigado a exercer as diligências necessárias para o comprador adquirir o bem - nem mesmo o dever de promover alguma atividade para dissipar o estado de
incerteza.

- esta situação distingue-se da venda de bens alheios, pois a incerteza é expressamente assumida pelas partes.
-e também se distingue da venda de bens futuros, pois não assenta na expectativa da futura aquisição do bem  mas sim no próprio estado de incerteza assumido pelas partes no negócio.
E pq na Cv de bens alheios n se presume natureza aleatória a situação de incerteza n tem de ser expressa.

Venda de coisas sujeitas a contagem, pesagem e medição


- Os arts.887º e ss. regulam a venda de coisas determinadas sujeitas a contagem, pesagem ou medição. Consiste esta, numa venda de coisas determinadas, ainda que sujeitas a uma posterior
operação de contagem, pesagem ou medição.

-Ao contrário do que acontece na venda de coisas genéricas, em que a indicação da quantidade se torna necessária à própria perfeição do contrato, no âmbito da venda de coisas específicas não
é necessária a indicação no contrato de qualquer quantidade, uma vez que a simples individualização da coisa já é, só por si, suficiente para determinar o objeto da venda. Pode, porém, acontecer
que as partes resolvam, também no âmbito da venda de coisas determinadas, acrescentar no contrato a referência à quantidade de venda, quer para efeitos de melhor descrição do bem vendido,
quer para efeitos de determinação do seu preço.
Essa referência das partes à quantidade dos bens vendidos vai implicar uma futura operação de contagem, pesagem ou medição, a qual coloca o problema de eventualmente se verificar uma
discrepância entre a referência contratual e o resultado da operação de contagem, pesagem ou medição. Uma vez que se está perante coisas determinadas e não de coisas genéricas, a venda
considera-se concluída antes da operação de contagem, pesagem ou medição, logo com a celebração do contrato, adquirindo assim o comprador imediatamente a propriedade de bens vendidos
(art.408º/1), suportando consequentemente o risco pela sua perda ou deterioração (art.796º/1), pelo que a discrepância apenas pode ter reflexos apenas para apuramento do preço devido.

O remédio que a lei prevê para esta discrepância entre a quantidade das coisas vendidas e a que é declarada no contrato é assim a correção do preço estabelecido, correção essa que se verifica
sempre na venda por medida (art.887º) mas que só ocorre se a discrepância for superior a 5% na venda a corpo (art.888º). A explicação para esta divergência reside na circunstância de, na venda a
corpo, o facto de as partes não terem indicado um preço unitário mas um preço global deva a supor que a sua vontade se formou essencialmente em relação a essa preço global, sendo incidental a
referência à quantidade, peso ou medido das coisas vendidas. Pelo contrário, na venda por medida o facto de as partes fazerem referência direta ao preço unitário leva a supor que a vontade das partes
é fazer o preço corresponder à efetiva quantidade, peso ou medida das coisas entregues.

- Não vale o regime desta modalidade às situações nas quais as partes apenas se limitam a comprar certa quantidade de um determinado fruto ou tantos quilovátios de eletricidade.
- A aplicação do regime dos arts 887º e ss do CC a contratos de fornecimento de energia elétrica é assunto atormentado na Jurisprudência nacional.- Defendo essa aplicação:- STJ 22/02/2000 (Lopes
Pinto) - Em sentido contrário (apoiado pelo regente):
- STJ 15-10-1998 (Roger Lopes) – o contrato de fornecimento de energia elétrica é um contrato de compra e venda, unitário, duradouro, de coisa determinada no género, mas indeterminada
relativamente à sua medida ou quantidade. É inaplicável o disposto nos arts 887º e ss – cuja previsão é a de venda tendo por objeto coisas determinadas, com preço fixado por unidade.

 Questiona-se se a compensação do art 889º está sujeita aos limites do art 888º/2:
- Em sentido afirmativo pronunciam-se Pires de Lima e Antunes Varela – autores para os quais efetuado o encontro, se provar que a diferença, entre o preço global e o resultante dos preços
unitários que os contraentes tiveram ou deveriam ter em vista, um vigésimo daquele, deve permitir-se o aumento ou redução proporcional do preço.
- Em sentido adverso depuseram Batista Lopes e Menezes leitão + Regente:
- Dado a vontade das partes se formar, na venda a corpo, relativamente ao preço global e n haver prejuízo, dado o preço ser um só e único.- O perdido de um lado é ganho no outro.- O limite do art
888º/2 só será chamado a depor se, após a compensação, subsistir um diferença de um vigésimo entre a quantidade declarada e a efetivamente vendida.

1ª MODALIDADE Compra e Venda a Contento (venda a Gosto – 923º)

Obrigação do vendedor: obrigação autónoma de entrega da coisa, para ser apreciado – não se pode eximir do cumprimento alegando que o comprador não vai aceitar; se a coisa tiver um
defeito, o vendedor deve proceder à substituição ou reparação.
- o seu cumprimento é suscetível de ser exigido judicialmente pelo comprador.
Obrigações do comprador: deve atuar de forma prudente durante o exame; a boa-fé pode permitir que o exame seja feito por terceiro; encarregue dos custos associados à avaliação, assim
como os encargos da devolução (em caso de rejeição).
- se a apreciação da coisa supuser uma utilização parcial da mesma ela deve ter-se por admissível.
- o vendedor n tem nenhum dto a uma indemnização em virtude de um uso razoável, pelo comprador ou terceiro por ele incumbido, do objeto do contrato.

- A manifestação de rejeição não depende de nenhuma fundamentação. Não é sequer exigível proceder ele ao exame da coisa para formular a respetiva decisão- Ele pode se assim o
entender dispensar toda a observação.
 Não parece admissível pretender-se uma venda a contento e estipular-se um dever de fundamentação  um acordo deste tipo corresponderá já a uma
venda sujeita a prova
- Da mesma forma uma aceitação sem exame é perfeitamente eficaz.

Recusa ilícita ou abusiva: se for demonstrado ter, no momento da celebração do contrato, o comprador o propósito de recursar e ocultado esse facto ao vendedor causando-lhe com
isso danos.

Risco: só se dará a transferência do risco para o comprador com o vencimento do prazo (Art 923/2 Cc) ou com a aceitação expressa/tácita.
 A aceitação n liberta o vendedor dos efeitos que se dão na hipótese de compra e venda de coisa defeituosa ou onerada.

Pedido de prolongamento do prazo: Parte da doutrina entende estar-se diante de uma rejeição e nova proposta de negócio - Regente: Essa doutrina n tem razão. Não obstante a
solicitação de alargamento do termo pode o adquirente a todo o momento manifestar anuência assim se tornando perfeito, de forma definitiva, o contrato de compra e venda. O
pedido de adiamento equivale apenas a uma proposta de alteração do negócio já alterado.

Natureza: PA é um contrato preliminar; e não uma condição (ML)

2ª MODALIDADE Compra e Venda a Contento (venda Imediatamente eficaz)

Questão do risco: - aplica-se o art 796º/3 por esta modalidade se tratar de uma condição resolutiva? – para o regente nestes contratos n estamos perante condições. Nem o 923º é uma
condição suspensiva, é antes um contrato preliminar. Nem o 924º é uma condição resolutiva, pq se fosse seria potestativa ou impropria. É uma compra e venda definitiva celebrada
normalmente, mas em que é atribuída ao comprador a faculdade de discricionariamente resolver o contrato. E por isso vamos pelos termos gerais do 796º. Neste caso, uma vez que a
concessão ao comprador de um direito de resolução unilateral não impede que a propriedade se transmita (art.408º/1) parece que correrá por sua conta o risco da perda ou deterioração da
coisa, verificada durante esse prazo (art.796º/1).

 Efetivamente, caso a coisa se venha a perder ou deteriorar, o comprador deixará de a poder restituir ao vendedor, pelo que perde o direito de resolver o contrato (art.432º/2).

Venda sujeita a prova


o 925º utiliza a expressão condição suspensiva e resolutiva -mas aqui novamente é a condição de se considerar que o bem objeto de avaliação é idóneo ao fim do contrato – é uma
condição sujeita à vontade das partes e por isso seria novamente uma condição imprópria.
- temos um negócio incompleto, ele forma-se mas ainda está dependente de uma condição – está em formação sucessiva

Como distinguir, no entanto, a venda a retro do pacto de revenda/retrovenda?


Venda a retro: uma única compra e venda, onde se estipula uma clausula acessória que confere ao vendedor a faculdade de resolver o contrato. O Prof. Pedro Albuquerque, para a
justificação da figura, apresenta o seguinte exemplo:
Situação de quem, necessitando de dinheiro, não pretenda, todavia, valer-se do crédito – por não desejar suportar os respetivos encargos – nem se desfazer definitivamente dos seus bens.
Em hipóteses como esta a venda a retro permite ao vendedor a obtenção do dinheiro, conservando o direito e a esperança de recuperar os bens vendidos.

Pacto de revenda/retrovenda: verifica-se uma venda, por exemplo, de A a B, que, no mesmo instante ou posteriormente, volta a vender a A, permanecendo a venda posterior, como
simples proposta, sujeita à aceitação de A ou, como venda completa, subordinada à condição de anuência posterior. Para a venda entre B e A (B volta a vender a A): aplicação das regras
do contrato de compra e venda e das respetivas perturbações típicas – não há lugar à aplicação dos artigos 432º e ss. É uma nova compra e venda.

Venda a retro
Crítica: Galvão Telles entendias que a venda a retro disfarçava, na generalidade das situações, um contrato de usura ou um pacto comissório.
- este perigo foi afastado através do art 928º/2, segundo o qual o preço a pagar pela resolução não pode ser superior ao da compra e venda inicial. Esta necessidade prende-se com a
necessidade de acautelar situações usurárias. No excesso é que poderiam dissimular-se juros usurários, deste modo proibidos.

Pergunta-se, no entanto, o que acontece aos direitos adquiridos por terceiros?


- Regra geral, a resolução não atinge os dtos adquiridos por 3ºs , segundo o art 435º/1.
- A esta regra exceciona-se o disposto no artigo 932º: quando se trate de bens imoveis e bens moveis sujeitos a registo, e a clausula a retro tiver sido devidamente registada, a
resolução já é oponível terceiro  tem eficácia real;
-Nas outras situações, a cláusula a retro tem eficácia inter partes (artigo 435º/1) não sendo oponíveis a terceiros – não prejudica os direitos adquiridos por estes.
RISCO
Pedro Romano Martinez: pertence ao comprador, nos termos do artigo 796º/3.
Pedro Albuquerque não vê a compra e venda a retro como condição e por isso professor é contra a aplicação do artigo 796º/3: não estamos perante uma condição, mas perante uma
vontade unilateral do vendedor.
O comprador é apenas possuidor de boa-fé, ou seja, o comprador só responde pela perda ou deterioração se tiver procedido com culpa – art 1269º CC:
- Em caso de negligencia ou dolo, querendo o vendedor resolver o contrato, pode demandar o comprador pelos prejuízos produzidos.
Em caso de perda furtuita: o vendedor n exerce, normalmente, o direito de resolução, por n ter nisso nenhum interesse, terminando a propriedade por se firmar na esfera jurídica do
comprador, que tem de suportar o risco de perda da coisa, mas por motivo totalmente diverso do 796º/3.

- Se por algum motivo estranho, o vendedor pretender, ainda assim, resolver o contrato, então pertencer-lhe-á suportar os efeitos da perda ou destruição.
- Não se prevê aqui a situação de o alienante, ignorando o desaparecimento da coisa, notificar o comprador da resolução:
- num caso destes, a boa fé impõe ao adquirente a comunicação ao comprador da ruína ou eliminação do bem vendido.
- por outro lado, sendo a notificação resolutória numa declaração negocial recetícia podia ela, ainda, na falta de outro remédio ser impugnada com base em erro.

Natureza da venda a retro: Pedro Albuquerque – compra e venda com direito de resolução para o vendedor, com eficácia retroativa (434.º).

Venda a prestações

Se nós olharmos para o artigo 934º, veremos que ele parece consagrar as seguintes situações:
1- Vendida a coisa a prestações (1), c/ reserva de propriedade (2), e feita a entrega da coisa ao comprador (3), a omissão de uma prestação cujo valor exceda 1/8 do preço (4-1) ou de 2 ou
mais prestações (4-2), confere ao vendedor o direito de resolver o contrato;
+
2- Com ou sem reserva de propriedade, a falta de pagamento de uma prestação que não exceda 1/8 do preço, não importa a perda do benefício do prazo.

REQUISITO DA ENTREGA DA COISA


 Nuno Pinto Oliveira - faz sentido a restrição do artigo 934 depender de entrega da coisa - quando se tratar de resolução:
- isto porque nos casos de resolução o desapossamento do comprador poderia trazer para ele resultados especialmente penosos.
- o requisito da entrega da coisa já n é relevante para a questão do benefício do prazo - isto porque a interpretação literal do artigo desprotegeria sem necessidade o comprador que
não beneficiou de entrega da coisa no confronto com o adquirente favorecido pela traditio.
 Regente concorda: não vê nenhum impedimento para aplicar também a restrição imposta pelo artigo 934 no respeitante ao vencimento antecipado, aos cenários nos quais não se
assistiu à tradição da coisa.

- Relativamente ao requisito da reserva da propriedade:


- Pedro Romano Martinez devido à imperatividade do art 934º n parece ser ajustada essa compra venda nesses termos.
Regente - considera que aquilo que o artigo 934 estabelece é que “ainda que” o vendedor reserve para si a propriedade ou titularidade da coisa, ele está impedido de pôr termo ao contrato,
resolvendo.
- Se o vendedor, dotado da propriedade de um bem, não pode resolver, por força do artigo 934, o contrato, a não ser perante situações de incumprimento qualificadas por este
preceito, então, a aceitação da possibilidade do alienante já desprovido de propriedade proceder à resolução do contrato em razão de falhas de menor relevância envolveria uma profunda
contradição valorativa.  fala em assimilação por concretização
-ou seja, n é necessário

Tem-se ainda discutido se, verificados os pressupostos do artigo 781º, e perante a aplicação deste preceito, se estamos perante um vencimento antecipado ou perante uma
exigibilidade antecipada.

Na opinião do Prof. Pedro de Albuquerque, face ao artigo em apreço, existe uma exigibilidade antecipada – se assim não fosse, poder-se-ia, perante uma situação de incumprimento
de uma das parcelas da prestação, impor-se ao credor a aceitação de todas as prestações em causa atribuindo-lhe um benefício que ele poderá não pretender. Tem-se entendido, assim, que
estamos perante uma mera exigibilidade antecipada, isto é, uma situação em que o credor poderá exigir, antecipadamente, o pagamento de todas as prestações e fá-lo-á consoante
aquilo que decidir. 

O mesmo se deve entender face ao disposto no artigo 934º, na sua parte final: faltando o comprador ao pagamento de uma prestação superior a 1/8 do preço ou a duas prestações, o
vendedor pode, se assim o entender, interpelar o devedor exigindo o pagamento das prestações vincendas, entrando o comprador em mora a partir desse momento, relativamente a todas
as prestações n pagas (devendo ela transformar-se em incumprimento definitivo NOS termos do artigo 808º). Pode, porém, escolher não o fazer.

O QUE FAZER PARA PODER RESOLVER


O artigo 934º refere-se apenas à falta de pagamento  por falta de pagamento deve entender-se a simples mora quando se pretenda a exigência da totalidade das prestações.

Assim, se o vendedor quiser resolver o contrato, terá, nos termos do art. 808.º interpelar o comprador de que paga a prestação que não cumpriu e era superior a 1/8 e só se este
não cumprir com essa interpelação, é que haverá lugar à resolução do contrato.

SE N CUMPRIR OS REQUISITOS DO VALOR DA PRESTAÇÃO


 Na eventualidade de o comprador faltar ao pagamento de uma prestação superior à oitava parte do preço ou 2 ou mais prestações acumuladas, independentemente do seu valor, deixei
de funcionar a restrição do artigo 934º  passando a valer o regime geral do art 801º/1 e 802º:- neste caso deverá averiguar se o cumprimento assume para efeitos do art 802º/2,
importância suficiente.

 A ideia é – n cumpre uma prest > 1/8 ou 2 prest – mora – passa a haver exigibilidade antecipada – interpelação admonitória – incump definitivo – resolução

- Natureza supletiva ou imperativa do art 934º:


- Imperatividade do preceito – defendida por MC, Pires de Lima/Antunes Varela, Pinto Monteiro, Pedro Romano Martinez, ML, Nuno Pinto Oliveira. STJ 05-02-1991, STJ 01-10-2002
- Supletividade do preceito- STJ 04-02-2003 (Ponce de Leão)
 Regente - apesar da natureza ambígua da expressão “sem embargo” - não há dúvidas do sentido da imperatividade do preceito. O facto de o artigo 934 ter um sentido restritivo do
regime geral é o de visar defender o comprador perante o vendedor dos perigos e seduções da venda a prestações. Por isso, e para atingir o seu objetivo, a norma necessita de se impor ao
próprio contraente protegido.

Cláusula Penal – 935º


- regime apresenta uma especificidade pq o regime está pensado para a proteção de uma parte mais fraca/frágil e portanto tem um regime mt mais protetaor do comp do que do dev.
- o 935º visa garantir que n é aplicada uma cláusula penal usurária para o comp e portanto limita o montante da indemnização.
- Coloca-se a saber em que casos é que se aplica efetivamente este limite do 935º, consoante o tipo de cláusula penal e consoante a sua finalidade. As cláusulas penais podem ser:
Prespetiva de Nuno Pinto de Oliveira
- moratórias – servem para salvaguardar questões de atraso (moras)
- compensatórias – visam assegurar questões de incumprimento definitivo
PA- interpreta isto de forma mais ampla – considera que as cláusulas penais compensatórias não é só p o incump definitivo – pode ser para o incump parcial, temporário, pode ser para
acautelar deveres acessórios, nomeadamente de boa-fé, questão do cump defeituoso.

- dentro destas categorias podemos ainda ter 3 categorias quanto ao tipo de danos que estão abrangidos:
- cláusulas penais indemnizatórias – a clausula penal funciona como indemnização e é a clausula penal típica prevista no 810º
- compulsórias -visam unicamente atribuir uma sanção pecuniária compulsória, algo que é um acréscimo à indemnização que resulta em virtude da mora ou do incump definitivo
- stricto sensu – resultam como alternativa mais gravosa ao pagamento da indemnização – o vendedor podia optar ou pela indemnização nos termos gerais ou pela solução mais gravosa
que seria a desta cláusula penal

- Ver tbm a finalidade do vendedor – se pretende optar pela resolução ou por manter o contrato
PA:
- casos em que o vendedor n pretende resolver o contrato mas sim mantê-lo:
- n há restituição da coisa para a sua esfera jurídica
- quer seja clausula compensatória quer seja moratória – se ela for compulsória –n se aplica a proibição de cumulação do 811º- o vendedor pode pedir o cumprimento da
prestação e a indenização pelos prejuízos sofridos a que se soma a pena mas essa pena resultante da cláusula penal ficará limitada pelo artigo 935º
- quando estejamos perante uma cláusula penal indemnizatória ou penal stricto senso - esta questão de restrição do âmbito de aplicação do 935 portanto, de não se aplicar o
limite indemnizatório, só se aplica quando estejamos verdadeiramente perante um incumprimento definitivo e total ou com mora na prestação principal e no âmbito de uma
cláusula penal compensatória indemnizatória ou penal stricto senso pronto – pq fica sem a coisa e aplicação a limitação de cúmulo do 811º - pelo que nesse caso n se aplica o
limite do 935º, por o vendedor ficar numa posição extremamente desvantajosa
- cláusulas penais moratórias – faz uma análise de articulação com o art 806º - os limites do 935º têm de ser aplicados à mesma, eles têm é de ser acautelados pela parte – o
vendedor tem de limitar temporalmente quais os danos ressarcidos ao nível da clausula penal no âmbito da mora – aqui é uma questão de risco e tem de ser o próprio
vendedor a saber acautelar-se no contrato.
- quando a finalidade do vendedor é a de resolver o contrato independentemente do tipo cláusula penal aplica-se o limite do 935º

Venda de Bens Alheios


Pressupostos
Venda como própria de uma coisa alheia e presente, fora do âmbito das relações comerciais – resulta do art. 893o, 904o CC e 467o/2 CCom
-Nos outros casos não poderá ser aplicado o regime da venda de bens alheios:
-Se estiver em causa a venda de coisa futura aplica-se somente o regime da venda de bens futuros (art. 893o) e a obrigação assumida pelo vendedor é válida (art. 880o).
-Se for venda de coisa genérica que não pertença ao vendedor também não é considerada nula, dado que para a sua estipulação não é necessária a qualidade de proprietário do
vendedor, ao tempo da estipulação do contrato (art. 539o e ss.).
-Este regime também não se aplica se vendedor não vender a coisa como própria, vendendo-a como alheia, mesmo sem legitimidade para tal (art. 904o).
-Nesses casos em que não há legitimidade para vender coisa alheia pode haver abuso de poderes de representação (art. 269o) e etc. mas a consequência é que o contrato é ineficaz em
relação ao verdadeiro proprietário se este não o ratificar.
- Não se aplica analogicamente o regime da venda de bens alheios aos casos em que o vendedor, após a celebração da venda, tornar a vender a coisa a outrem, que regista primeiro a sua
aquisição – estamos no âmbito da Aquisição Tabular.
- Se for compra e venda comercial também é lícita a venda de bens que sejam propriedade de outrem (art. 467o/2 CCom).

1. Ausência de legitimidade para venda – resulta do art. 892o CC


- Normalmente só os proprietários têm essa legitimidade mas a lei, por vezes, estende-a a outras entidades: credor pignoratício com autorização judicial (art. 674o)37, Estado (art. 824o) e
etc.
No caso de representação, o proprietário é o verdadeiro sujeito do negócio (art. 258o) pelo que não se coloca a questão de aplicação deste regime.
No caso da representação sem poderes, em gestão de negócios representativa (art. 464o e 471o), não se aplica o regime e o comprador pode revogar ou rejeitar o negócio enquanto
proprietário não ratificar.

 Aplica-se o regime nos casos de mandato sem representação para alienar (art. 1180o e ss.) e gestão de negócios não representativa (art. 471o).

-Mesmo faltando a legitimidade do vendedor, a lei em certos casos, por razões de tutela da aparência, vem considerar válida a alienação – herança efetuada por herdeiro aparente a
terceiro de boa fé (art. 2076o/2), venda de bem sujeito a registo efetuado a terceiro de boa fé por vendedor que adquiriu esse bem com base em negócio inválido (art. 291o), casos de
aquisição tabular.

Efeitos da Venda de Bens Alheios


Nulidade atípica
Em geral, a doutrina coincide no entendimento de que estamos perante um regime de nulidade atípica: já que apesar de o efeito ser o da nulidade, a forma como este regime se processa,
na compra e venda, é distinta da forma como se processa no regime geral (286º).

Legitimidade para Arguir a Nulidade, tal como resulta do art 892:


1. Vendedor e comprador de boa fé: o vendedor não pode opor a nulidade ao comprador, mas o comprador pode invocá-la perante o vendedor.
2. Vendedor de má fé e comprador de boa fé: só o comprador pode suscitar a nulidade.
3. Vendedor de boa fé e comprador de má fé: só o vendedor pode arguir a nulidade.
4. Vendedor de má fé e comprador de má fé: a nulidade pode ser suscitada por qualquer um – a n ser que consigamos perceber claramente que é uma venda de bens futuros

-Relativamente a terceiros, não parece que eles possam invocar a nulidade.

- O proprietário se quiser reclamar a titularidade do bem tem de invocar a nulidade ou basta invocar a ineficácia?
- Raúl Ventura – considera que a nulidade consome a ineficácia, por ser mais grave– aqui valeria a declaração de nulidade
PA + ML – o proprietário só pode invocar a ineficácia. O que interessa é que o verdadeiro proprietário se declare como proprietário, dando-lhe desse modo acesso a ações possessórias
(durante um ano) e ações de reivindicação, que levam à ineficácia do contrato

Para além disto, pode ainda perguntar-se se a nulidade pode ser arguida por qualquer interessado:
i) Pode ser: Galvão Telles, Pires de Lima e Antunes Varela.
ii) Não pode ser: Menezes Leitão: entende que a nulidade da compra e venda de bens alheios está estabelecida no interesse apenas das partes.
E, ainda, se coloca a pergunta de saber se a nulidade pode ser conhecida oficiosamente:
i) Pode ser: Galvão Telles, Pires de Lima e Antunes Varela.
ii) Não pode ser: Menezes Leitão e Pedro Albuquerque, já que, de outro modo, estar-se-ia a afastar as proibições de invocação da nulidade.

Efeitos da Nulidade: Obrigação de Restituição do Preço e da Coisa Vendida


A regra geral, segundo o art. 289.º/1 e 290.º, num caso de uma simples compra e venda é da que, com a nulidade do negócio, deve ser restituído tudo o que foi prestado, e se tal não for
possível, deve ser restituído em dinheiro. Assim, numa compra e venda normal, que seja nula, o vendedor terá de entregar o dinheiro ao comprador e o comprador terá de entregar a coisa
ao vendedor, mas se já não houver coisa, o comprador terá de restituir em dinheiro essa coisa.
Por seu turno, o artigo 894.º, refere que num caso de nulidade de compra e venda de bens alheios, as coisas são distintas do art. 289.º.
Este artigo afasta esse regime e estipula que se o comprador estiver de boa fé não tem de restituir a coisa e tem direito à restituição.
Raúl Ventura + Pedro de Albuquerque: A única função do art. 894.º é permitir que o comprador possa exigir a restituição do preço, mesmo que a coisa se tenha destruído enquanto esteja
em seu poder – isto porque o comprador não sabia que a coisa era alheia, julgava-a como sua, então não se pode exigir-lhe as diligências necessárias para a conservação de um bem que
ele julgava ser seu.
- Pedro Albuquerque – o 894º n é uma exceção ao regime do art 289º mas sim uma cláusula especial:
- se a coisa n tiver perecido – aplica-se o art 289º
- se o comprador estiver de má fé- aplica-se o art 289º - estando de má fé, o art. 289.º e 290.º, não fazem qualquer distinção quanto à restituição do preço. Apenas tem de se
deduzir o desgaste/perda do valor da coisa, na restituição do preço.
- MC- o 894º é uma exceção ao 289º- a contrario do que se lê no art, se o comprador estiver de má fé, ele não tem o direito a exigir de todo o dinheiro ao vendedor, a título de restituição.
- o argumento a contrario faz-se perante regras excecionais – e aqui a regra é especial

Além disso, MC, refere ainda que mesmo que o comprador estivesse de boa fé, só poderia exigir a restituição do preço, se a destruição da coisa não se tivesse devido a culpa sua – por
força do art. 1269.º.
- Nas relações entre o vendedor e o comprador vale, tal como defende ML, a solução do art.894º, ou seja, não interessa se a culpa da destruição é do comprador ou não – se este estiver de
boa fé e a coisa se tiver destruído, então ele pode exigir a restituição do preço.

-Mas nas relações entre o verdadeiro proprietário e o comprador de boa fé regem os arts.1269º e ss. Portanto, se o comprador de boa fé destruir com culpa o bem comprado ele responde
perante o dono do bem pela perda ou deterioração. Exatamente da mesma maneira qie o comprador de boa fé tem, diante do verdadeiro proprietário, o direito a fazer seus os frutos
naturais e civis percebidos até ao dia em que souber estar a lesar com a sua posse o direito de outrem.

Ainda assim, parece evidente a partir do eventual momento do conhecimento, pelo comprador de boa fé, da nulidade da venda ela passa a responder pela perda, deterioração ou
diminuição do valor da coisa devido a culpa sua. Ele receberá, então, do vendedor, nos termos gerais, o preço diminuído do montante correspondente ao valor dos danos causados. Mas se
o adquirente de boa fé não tiver culpa na perda ou deterioração do bem terá direito à restituição integral do preço, mesmo se posteriormente à compra ele tiver sabido da nulidade.

O art.894º/2 prevê uma limitação ao favorecimento resultante do art.894º/1 para o comprador em matéria de restituição. Se este tiver tirado proveito da perda ou diminuição do valor
da coisa será esse benefício abatido ao montante do preço e indemnização a pagar pelo vendedor. Há uma restituição por enriquecimento sem causa, que se harmoniza com o regime
dos arts 479º e 480º
Note-se como segundo o art.903º/1 do CC, o disposto no art.894º tem natureza supletiva: ele cede perante a convenção em contrário, exceto se o contraente a quem a convenção
aproveitaria houver agido com dolo, e de boa fé o outro estipulante. Mas, em função do art.903º/2, a declaração segundo a qual o vendedor não garante a respetiva legitimidade ou não
responde pela evicção não envolve derrogação do art.894º do CC.

1.1. Obrigação de convalidação


-Quando o comprador está de boa fé tem direito a que o efeito translativo venha a ser posteriormente produzindo, adquirindo um direito de crédito sobre o vendedor a que este proceda à
aquisição do bem, o que determina a convalidação do contrato e a consequente transmissão da propriedade para o comprador (art.895º).

-O cumprimento desta obrigação dependerá, naturalmente, da concordância do titular do direito, dado que, se este não puder ou não quiser proceder à alienação do bem, nada poderá o
vendedor fazer.
-A obrigação do vendedor só é cumprida se for o próprio vendedor a adquirir o bem, em ordem o a que se possa produzir a convalidação da venda para efeitos do art.895º. Se o vendedor
proporcionar ao comprador a aquisição da propriedade por outra via (por exemplo, por transmissão ao comprador da coisa pelo seu efetivo proprietário), a situação corresponderá antes a uma
dação em cumprimento.
-Nos casos em que o vendedor esteja obrigado à convalidação, o comprador pode solicitar judicialmente a declaração de nulidade do contrato apenas a título subsidiário, para a hipótese em que
o vendedor não proceda a essa convalidação no prazo que lhe for fixado pelo tribunal (art.897º/2).

Conjugados os arts.898º, 899º e 900º observa-se assim que, não se assistindo à convalidação:
o Havendo boa fé de ambos os contraentes, o vendedor não pode opor a nulidade do contrato à outra parte; responde pelo risco e pelo interesse contratual negativos nos
termos do art.899º, e pelo interesse contratual positivo segundo o art.900º;
o Se o vendedor estiver de má fé e o comprador de boa fé, só o comprador pode suscitar a nulidade; o alienante responde de acordo com o art.898º, pelo interesse contratual
negativo, e por força do art.900º pelo positivo;
o Se ambos estiverem de má fé, qualquer um pode suscitar a anulabilidade, mas não se aplica nem a obrigação de convalidação nem qualquer das indemnizações. O regime
aplicável será o geral – art.570;
o Se o alienante se encontrar de boa fé e o comprador de má fé só o primeiro pode suscitar a nulidade; aplica-se apenas o regime do art.898º, indemnização pelo interesse
contratual negativo a cargo do comprador.

Garantia de restituição por benfeitorias


Em face do art.1273º tanto o possuidor de boa fé como o de má fé têm direito a ser indemnizados das benfeitorias necessárias que hajam feito e, bem assim, a levantar as benfeitorias
úteis realizadas na coisa, desde que o possam fazer sem detrimento dela (nº1). Quando, para evitar o detrimento da coisa, não haja lugar ao levantamento de benfeitorias, satisfará o titular
do direito ao possuidor o valor delas, calculando segundo as regras do enriquecimento sem causa (nº2).
Adquirindo o comprador, na venda de bens alheios, a posse titulada do bem (art.1259º), terá direito assim, independentemente da sua boa fé ou má fé, a exigir do proprietário a
restituição das benfeitorias, necessárias ou úteis, que tenha feito na coisa, podendo ter inclusivamente direito de retenção da coisa (art.754º), salvo se estiver de má fé (art.756º al.b)).
O art.901º atribui ao comprador de boa fé a possibilidade de exigir, não apenas ao proprietário, mas também ao vendedor, o seu direito ao reembolso das benfeitorias, ao estabelecer
que “o vendedor é garante solidário do pagamento das benfeitorias que devam ser reembolsadas pelo dono da coisa ao comprador de boa fé”. o vendedor tem assim que satisfazer ao
comprador, quando lhe for exigido, o reembolso das benfeitorias que ele fez na coisa, podendo posteriormente exercer contra o proprietário o direito de regresso em relação a tudo o que
houver pago, dado que é o proprietário que adquire o benefício correspondente às benfeitorias.

Venda de coisa indivisa por apenas um dos seus titulares


Uma vez que a lei exige a unanimidade dos co-titulares para os atos de disposição sobre a coisa indivisa (arts.1408º/1 e 2091º), apenas permitindo a disposição isolada da própria
quota (art.1408º/1 e 2124º) é manifesto que haverá também falta de legitimidade, para efeitos do art.892º, sempre que um ato de disposição sobre a totalidade ou parte da coisa
indivisa seja praticado sem o consentimento dos restantes titulares.
Assim, no âmbito da compropriedade, a lei prevê expressamente que se o comproprietário vier a alienar ou onerar parte especificada da coisa comum, sem o consentimento dos
outros, tal será alienação ou oneração de coisa alheia (art.1408º/2). Naturalmente é aplicada também quando o comproprietário aliena toda a coisa comum. Aplica-se integralmente o
regime da venda de bens alheios, que implicará a nulidade do negócio, salvo se o vendedor vier a adquirir as outras quotas (art.895º).

A Promessa De Venda De Coisa Alheia


-É admissível um contrato-promessa de compra e venda de uma coisa alheia posição maioritária. Argumentos: não é legalmente impossível, uma vez que o comprador pode adquirir
a coisa até ao momento da celebração do contrato definitivo (não adquirindo, haveria incumprimento). Além disso, com o mero contrato-promessa não se assiste ao efeito translativo.
- Admissibilidade limitada: Raul Ventura e PA concorda: apenas admissível se existir convençã contrária à existência de execução específica (art. 830.º). É manifesto não poder nesta
hipótese ter lugar uma sentença que produza os efeitos negociais da declaração do faltoso, pois nessa eventualidade a decisão do tribunal teria a força de uma compra e venda nula, o
que equivaleria a compelir o tribunal a proferir uma decisão que não poderia provocar os efeitos essenciais a que se destina. Se estivermos perante um contrato-promessa de compra e
venda dotado de execução específica, esse contrato deve ser resolvido de acordo com o regime da compra e venda de bens alheios.

- lucros cessantes no interesse contratual positivo e no interesse contratual negativo:


- interesse contratual negativo – oportunidade perdidas por ter celebrado aquele contrato – perdeu a oportunidade de celebrar outras
- interesse contratual positivo- vantagens perdidas no âmbito do contrato – o que é que o contrato me daria de vantagem que eu n tive pq n celebrei o contrato

Compra e Venda de Bens Onerados


Não é qualquer ónus ou limitação existente que permite a aplicação deste regime, apenas aqueles que normalmente não se verificam aquando da transmissão deste tipo de direitos.
▪ Compreendem-se direitos reais de gozo menores ou de garantia sobre a coisa vendida, ou ainda dtos de crédito.
▪ Não se enquadram aqui as restrições normais derivadas das relações de vizinhança (art. 1346o e ss.), as servidões legais ou as restrições à edificabilidade impostas por planos
diretores.

- Importa em cada situação apurar se a limitação existente se pode impor ao comprador, gerando uma diminuição do direito transmitido, e, desse modo, uma falta de correspondência
entre o valor do bem proposto no contrato e o valor efetivamente transmitido.

- Não são de aplicar a situações como a compra e venda de automóveis em que se assiste à viciação ou alteração dos respetivos documentos, por se estar diante de uma situação de
incumprimento da obrigação de entrega (art.882º/2). Apenas se a viciação se destinar a ocultar características que o veículo não possui dir-se-á haver mesmo uma situação de compra e venda
de bens onerados.

- Já a compra e venda de bens onerados pode valer perante a existência de irregularidades no bem vendido, geradores de impedimento do gozo ou disposição deste pelo comprador, como
sucede com a compra e venda de imóveis construídos sem a respetiva licença de habitação ou de construção . O Código não resolve este problema, havendo doutrina que considera ser isto
uma venda de bens defeituosos (o regente discordo por se ter de ampliar o regime); outra, em alternativa, considera aplicar-se o regime do incumprimento; para o regente devemos continuar
na presença do regime do art.905º
- Situações em que o comprador adquire um dto na expectativa errónea de que ao adquire esse dto, adquire tbm um adicional:
Comprador tem expetativa de ter direito configurado de forma mais generosa do que ele é na realidade – mas tal não constitui um ónus, constitui uma ausência de vantagem de um direito
que o comprador esperava adquirir por força da aquisição daquele direito de propriedade.
o MLP: o regime a aplicar é o do art. 905o e ss., podendo ser aplicado analogicamente a estes casos43.
o RM: não se aplica o art. 905o e sim a culpa in contrahendo.
▪ MLP discorda porque é mais desfavorável ao comprador, pois a indemnização é mais pequena, por ser calculada segundo o interesse contratual negativo.

1.2. Efeitos da compra e venda


 A anulabilidade da compra e venda
A teoria do erro (ML, MTS Antunes Varela) – defendem ser o contrato anulável a pedido do comprador se ele tiver agido com desconhecimento da limitação do direito. Ter-se-ia pretendido
remeter a tutela do comprador à doutrina geral do erro e do dolo. Para estes o direito de anulação só surgiria se estivessem presentes os requisitos da anulabilidade: a essencialidade do
erro e a cognoscibilidade da mesma pelo vendedor (art.247º). estes factos seriam constitutivos do direito, pertencendo a respetiva prova, segundo as regras gerais ao comprador.
- Teoria do incumprimento (RM, MC e regente) - O erro a que este regime dos arts.905º e ss se refere, assim como o da compra e venda de coisa defeituosa, diz respeito, não à fase de
formação do negócio, mas sim à execução do contrato. Pelo que no caso o efeito será a resolução do contrato. Assim:
Por um lado, o comprador não pode pôr termo ao contrato com base no defeito do qual tenha conhecimento efetivo, no momento da celebração do contrato.
Por outro lado, só se legitima a cessação do vínculo contratual – em virtude da oneração – se o dever obrigacional, por parte do vendedor, for de tal forma grave que não permita a
manutenção do negócio jurídico, segundo o art.802º/2.

OBG de convalescença
Problema que se pode debater é o de saber se o direito de exigir a convalescença do contrato ou a expurgação dos ónus depende dos mesmos requisitos definidos pelo art.905º
para a resolução ou anulação. Em sentido negativo pronuncia-se RM, em direção oposta, na defesa da ideia segundo a qual o direito de exigir o expurgar dos ónus dependa anulabilidade
manifesta-se Antunes Varela.
A melhor solução é a de não fazer depender o direito à expurgação dos pressupostos do erro. Na verdade, se o vendedor é, segundo o art.907º, obrigado a fazer convalescer o contrato
e, além disso, responde nos termos do art.910º pela falta de convalescença, então, isso indicia estar o alienante negocialmente adstrito a transmitir um direito de conteúdo normal.

CV de coisa defeituosa
 Reparação ou Substituição da coisa (914.º): é um paralelismo com a obrigação de convalescer, pois o vendedor deve sanar o defeito. Há uma presunção de culpa do devedor
– art. 799.º. O artigo 914º determina a existência de uma pretensão do comprador à reparação ou substituição da coisa. A segunda parte do preceito estipula, porém, que essa
obrigação não existe se o vendedor desconhecia, sem culpa, a falta de qualidade da coisa. Mas se a solução fosse tão literal como defendem PL/AV, então, ainda para mais na
sociedade de produção em massa, seria muito fácil o vendedor provar que não teve culpa e o comprador não teria alternativas.

Como defende PA, nem a obrigação de reparar nem de substituir a coisa serão afastadas na ausência de culpa se o vendedor estiver obrigado, por estipulação das
partes ou por força dos usos, a garantir o bom funcionamento da coisa vendida – art. 921º (STJ 10/2/2004).

Mas o professor refere ainda que mesmo que não haja garantia do bom funcionamento, defende que não se afasta a obrigação de reparação/substituição – por ser
contra a ratio do sistema.
Contudo, levanta-se a questão nos casos em que o vendedor não tenha culpa, mas não seja possível reparar o defeito. Nestes casos, PA refere que o vendedor que não possa
reparar, para se eximir de substituir a coisa tem de agir de acordo com a boa fé (art. 762.º/2), não podendo agir em abuso de direito (334.º). Assim, se a reparação não for
possível e o vendedor não tiver culpa e o custo da substituição for nulo ou reduzido, deve o vendedor proceder à substituição.
Assim que o defeito desapareça, não há possibilidade de anulação/resolução do contrato – art. 913.º e 906.º.

Empreitada
Por artigo/medida/tempo de trabalho
Há fixação prévia de preços unitários, sendo o preço final resultante da multiplicação desses preços pelas quantidades efetivamente utilizadas ou realizadas que não são certas aquando
da celebração do contrato, mas são meras estimativas.
A liquidação do montante efetivamente devido ao empreiteiro é feita após a realização das medições ao trabalho realizada – o empreiteiro nada pode exigir do dono da obra enquanto
não fizer prova das quantidades de trabalhos efetivamente realizadas.
Nesta modalidade, ambas as partes assumem algum risco: o empreiteiro assume o risco da fixação antecipada de um preço unitário e, o dono da obra assume o risco de serem
necessárias mais quantidades de trabalhos e/ou materiais.
É possível que ocorram combinações entre a modalidade de preço global e a modalidade de preço unitário, p.e., quando se faz depender a determinação do preço da medição a realizar
no final da obra, mas fica definido um teto máximo que não poderá ser ultrapassado.

Por percentagem: a remuneração do empreiteiro encontra-se por contabilização dos custos que o empreiteiro teve na realização da obra, que lhe são reembolsados, acrescidos de um
valor que resulta de uma razão (uma percentagem), a título de margem de lucro, que incide sobre aqueles custos.
Do ponto de vista do empreiteiro, esta modalidade exclui o risco da determinação antecipada dos seus custos de produção, mas os riscos são da conta do dono da obra. Com efeito, o
empreiteiro sabe que, o que gastou vai ser suportado integralmente pelo dono da obra, acrescido de uma margem de lucro, mas esse lucro ficará sempre limitado ao que tiver sido
inicialmente convencionado.

O art.883º, remetido pelo art.1211º/2, decorre que na falta de critérios que as partes tenham definido para a fixação do preço, se deve recorrer sucessivamente a estes critérios:
a) o preço que o empreiteiro normalmente praticar à data da conclusão do contrato;
b) na falta dele, o preço de mercado ou bolsa no momento do contrato e no lugar em que o dono da obra deva cumprir;
c) na insuficiência destas regras, o preço é determinado pelo tribunal, segundo juízos de equidade.

As partes podem não ter definido o preço, mas deixado a um terceiro a tarefa de realizar essa determinação, art.400º.

Capacidade das Partes


Será de administração se não atingir profundamente a esfera jurídica daquele que o celebra; de disposição, o caso contrário.
- A empreitada será para o empreiteiro um ato de administração ordinária. Para o dono da obra, empreitada de nova construção será um ato de disposição e se for de reparação ou
manutenção – um ato de administração ordinária.

Legitimidade das partes


O dono da obra deve ter legitimidade para celebrar a empreitada, tal como é exigida a existência de uma coisa na esfera jurídica do dono da obra, ou de um direito suscetível de permitir a
realização da intervenção objeto da empreitada.
Tem-se considerado não invalidar o contrato a falta de legitimidade para celebração da empreitada, mas poder ser causa de responsabilidade do sujeito cuja legitimidade não exista.

Pluralidade das partes


A empreitada pode ser celebrada por partes singulares ou plurais. Na posição de dono da obra pode surgir mais do que um sujeito. No caso de se tratar de empreitada civil, a regra é a da
parciariedade ou conjunção (art.513º), sendo os direitos e obrigações dos donos da obra exercidos conjuntamente; se a empreitada for comercial, a regra é a da solidariedade (art.100º CCom).

Pode acontecer que dois ou mais empreiteiros tomam a mesma obra. Cabe saber se a obrigação de execução da obra é parciária ou solidária – regras supletivas – no caso da empreitada civil,
a regra é da conjunção, se for comercial, a regra é da solidariedade.
Há uma diferença entre a situação de pluralidade de empreiteiros proprio sensu, vinculados pelo mesmo negócio jurídico à execução da mesma obra e empreiteiros que se vinculam por
negócios jurídicos diferentes, perante o dono da obra, à execução da mesma obra ou de obras diferentes que concorrem ao mesmo fim. Esta última situação NÃO dá origem ao regime da
pluralidade de sujeitos.
A pluralidade de empreiteiros também não deve ser confundida com a situação onde o dono da obra dá uma obra a um determinado empreiteiro, e a dá de seguida a um outro. Podemos
estar perante um caso de desistência tácita da primeira empreitada ou no caso de o primeiro empreiteiro entrar em situação de incumprimento, perante uma simples continuação da obra com
outro empreiteiro, após o exercício do direito de resolução por inadimplemento, art.801º/2.
- O subempreiteiro (nhá pluralidade de partes) n é parte do contrato inicial)

Forma do contrato de empreitada


O contrato de empreitada está sujeito ao princípio da liberdade de forma, art.219º.
À margem deste princípio e, de acordo com o DL nº 12/2004, no seu art.29º, tem-se tentado formalizar o contrato de empreitada e subempreitada de obra particular acima de certo valor,
embora a nulidade não seja invocável pela parte obrigada a diligenciar pelo cumprimento da forma, que é o empreiteiro.
Ao clausulado, pode ser acrescentado o projeto de obra e o caderno de encargos que contêm especificações técnicas a observar pelo empreiteiro.
Há casos específicos em que se exige uma determinada forma:
Contrato de empreitada de construção de navios – forma escrita, art.12º do DL nº 201/98 de 10 de Julho;
Contrato de empreitada de obras públicas – forma escrita, art.94º CCP.
Direitos do dono da obra

-Aquisição e receção da obra

O direito à entrega de uma obra sem vícios ou faltas de qualidade (nos termos do 1208º) implica não só o cumprimento do projeto convencionado, mas igualmente o cumprimento de
todas as regras da arte aplicáveis à atividade do empreiteiro (dever de cumprir pontualmente a obrigação – art.762º/1).
Estas duas exigências podem estar em desacordo, basta pensar na existência de problemas no próprio projeto, que o tornem inexequível ou contrário a garantias de segurança. Neste
tipo de situação a boa fé obriga o empreiteiro a dar conta ao dono da obra da existência desses problemas, o que é pedido é um cumprimento correspondente ao interesse do dono da
obra e não um cumprimento cego do projeto.
Assim, se o empreiteiro perante os defeitos do projeto, por ele conhecidos (ou que deveria ter conhecido) não der conta ao dono da obra dos problemas responderá por cumprimento
defeituoso, eventualmente de forma conjunta com outros responsáveis. Além disso o comitente pode ainda em caso de violação do dever de informação e esclarecimento pôr termo ao
contrato.

Terá o dono da obra direito a receber uma prestação que seja desconforme com as regras da arte ou outras que norteiem o exercício da atividade do empreiteiro?
A questão tem sido colocada a propósito dos casos onde o empreiteiro, tendo notado que a execução do projeto nos termos convencionados colocaria riscos sérios de segurança é
colocado perante uma insistência do dono da obra na realização da obra nesses exatos termos, eventualmente até com uma assunção expressa, pelo comitente (dono da obra), da
responsabilidade decorrente dessa execução.
-Há uma posição segundo a qual o dono da obra, adequadamente informado, continua a insistir na execução nos termos inicialmente convencionados, o empreiteiro deve cumprir,
ficando exonerado da responsabilidade.
O Professor não concorda. Tal declaração do dono da obra opera apenas a título de responsabilidade contratual entre os dois; o empreiteiro, perante terceiros bem como perante
entidades administrativas que tenham por função controlar a atividade que é objeto do contrato não pode ficar exonerado. A solução adequada será uma de duas: o reconhecimento ao
empreiteiro, quando isso seja na sua perspetiva ainda razoável em função do acordado, da possibilidade de impor alterações ao projeto da obra; ou caso o dono da obra não concorde
com as alterações pretendidas pelo empreiteiro não pode exigir o cumprimento nos termos iniciais, mas pode sempre opor-se a que tais alterações se concretizem pondo termo ao
contrato, nos termos do art.1229º, indemnizando o empreiteiro. É esta a solução que a entender do Regente é apoiada pelo art.1215º CC.
Todavia se o dono da obra não denunciar o contrato e o empreiteiro não puder realizar a obra, designadamente porque a sua execução pressupõe a prática de comportamentos suscetíveis de
constituírem infrações de diversa natureza, inclusivamente criminal, ou ultrapassarem os limites do preço fixado no art.1215º, este pode pôr termo ao contrato.

1.1. Fiscalização da obra


É atribuída ao dono da obra a faculdade de fiscalização do processo de execução da mesma. Isso mesmo resulta do nº1 do art.1209º. O dono da obra deve exercê-lo de acordo com as
regras de boa-fé, ao determinar não poder ele prejudicar a prestação do empreiteiro. Se se verificar uma perturbação da obra poderá justificar-se a atribuição ao empreiteiro do direito à
revisão do preço e/ou prorrogação do prazo de execução.
Trata-se de uma faculdade em sentido próprio, e não de um dever do dono da obra. Não pode, pois, ser considerada ilícita a conduta do dono da obra que não fiscaliza a execução pelo
empreiteiro no caso de essa execução causar danos a terceiros.
A fiscalização corre por conta do dono da obra. Isto significa dever ele custeá-la e não pode descontar o valor nela despendido no preço contratual devido ao empreiteiro.
Em muitas situações o dono da obra recorre a terceiros para procederem à fiscalização.
Na eventualidade de existirem poderes de representação para agir em nome do dono da obra por parte da entidade fiscalizadora, e a entidade encarregada da fiscalização, por exemplo,
aceitar, ou impuser, expressamente, um determinado modo de executar a obra não conforme com o contrato inicial, segundo as regras gerais do fenómeno representativo, isso equivale a
um acordo expresso dado pelo dono da obra.
Por outro lado, caso a entidade fiscalizadora exceda os poderes conferidos pelo dono da obra, o empreiteiro não fica obrigado a atuar de modo conforme com essas instruções, e se o
fizer, quando se deveria ter apercebido do carácter exorbitante dessas instruções, será responsável contratualmente perante o dono da obra.

Tem sido discutido se as partes podem afastar o direito do dono da obra a fiscalizar a sua execução.
A maioria da doutrina sustenta tratar-se de disposição injuntiva. ML defende mesmo representar um contrato onde uma parte se obriga a realizar uma obra sem que o dono possa
controlar a execução da mesma, na verdade, uma compra e venda de coisa futura.
Romano Martinez entende estarmos, não só, no foro da autonomia privada e da liberdade contratual, como poder existir interesse atendível: por exemplo, a utilização de técnicas
exclusivas do empreiteiro, cuja confidencialidade haja interesse em preservar.
Para o regente, o carácter essencial do poder de fiscalização. O poder de fiscalização não tem necessariamente o mesmo conteúdo e extensão em todos os contratos. As partes podem
regular o seu exercício pelo dono da obra, estabelecendo, por exemplo, a sua periodicidade, ou fixando momentos em que o dono não deve, por razões de segurança ou outras, estar
presente: porém, se as partes regularem esse poder de forma a poder afirmar-se ter sido o seu conteúdo essencial prejudicado, perde-se um elemento tipológico caracterizador da
empreitada, e poderemos ter outro contrato típico ou, no limite, um contrato atípico.

O exercício da fiscalização não implica qualquer renúncia do empreiteiro aos direitos resultantes da má execução. Isso só não sucederá, de acordo com o art.1209º/2 CC, se o dono da
obra tiver dado o seu expresso consentimento à forma como a obra foi executada.
Saber como deve ser tratada a hipótese de o dono da obra ter, não apenas a possibilidade, mas conhecimento efetivo de o empreiteiro se encontrar em desvio face ao plano
convencionado ou às regras de construção e, no entanto, nada dizer, vindo mais tarde a invocar direitos relativamente a tais defeitos de execução.
Pedro Romano Martinez entende corresponder, nestas situações, a invocação de direitos por parte do dono da obra a abuso de direito, na modalidade de venire contra factum proprium.
ML veio defender ser o art.1209º/2 claro no sentido de só na hipótese aí prevista o dono da obra ficar impedido de invocar quaisquer direitos.
PA – o art 1209º/2 diz que tem de haver concordância por parte do dono da obra para que este perca os dtos. Esta concordância pode ser tácita mas tem de ter valor negocial. Ora, o
silêncio n tem valor declarativo negocial nem o art 1209º/2 parece atribuir-lhe esse valor. Para que haja o crivo do abuso de dto pressupõe-se a exisgência de 2 condutas: factum
proprium (uma situação que cria uma legitima expectativa na outra parte) e um venire (outra situação que contraria a expectativa legitimamente criada). É necessário um investimento
de confianlça e imputação à outra parte, investimento este que é muito difícil de comprovar. Para além disso, em regra um dono da obra é um leigo, que desconhece as legis artis e as
regras técnicas, pelo que pode considerar que a obra ainda vai ser aperfeiçoada numa fase posterior. Diferente será se o dono da obra tiver conhecimentos específicos no ramo e na
área de construção e que deveria saber que aquela construção estava a ser mal feita. Por tudo isto, o recusro ao venire contra factum proprium é possível mas tem de ser limitado (é
um instituto de última ratio), tem de haver uma expectativa legitima de que o dono da obra aceitou e aqui o silêncio n é suficiente.

Deveres do dono da obra


2.1. Pagamento do preço
A regra geral é a de que, uma vez estabelecido, o preço não pode ser alterado, o empreiteiro não pode, em princípio solicitar aumentos de preço, mesmo se os seus custos tiverem
aumentado.
Para além do funcionamento das cláusulas de revisão de preços, o preço pode ser revisto a qualquer momento por acordo das partes, ao abrigo da sua liberdade contratual (art.406º,
1214º a 1217º).
Há uma regra específica referente ao tempo do pagamento do preço – art.1211º/2 – o preço deve ser pago no ato de aceitação da obra. Trata-se de disposição suscetível de afastamento
pelas partes ou existência de usos em contrário.
Quanto ao lugar do pagamento do preço, o regime especial da empreitada nada estabelece. São aplicáveis as regras gerais, na ausência de estipulação deve ser pago no lugar do domicílio
ou sede do credor ao tempo do cumprimento (art.774º).

Verificação, Comunicação e Aceitação da Obra: o dono da obra deve verificar a obra após a sua conclusão e antes da aceitação: tal comportamento visa confirmar a concordância da obra
com o acordado (art. 1218º/1). Para que o dono da obra possa exercer esta posição jurídica é necessária a comunicação, pelo empreiteiro, da conclusão da obra e ainda que a obra seja
colocada à disposição do dono (1218º/2).

Segundo PA, a verificação é um ónus material, ónus pois o dono da obra pode escolher não a realizar, implicando consequências negativas, a desvantagem do art 1218º/5. É um dever de
comportamento, funciona no interesse de outras pessoas, mas não pode por estas ser exigido no respetivo cumprimento.
No que respeita ao prazo para a verificação: em primeiro lugar, funcionará a vontade das partes; no silêncio, aplica-se o prazo supletivo, previsto no art. 1218º/2.

No que respeita às despesas de verificação (art. 1218.º/3). Em princípio cabe ao empreiteiro suportar estes custos com peritos, pois são acessórios do cumprimento do seu dever de
entrega da obra.
Realizada a verificação, segue o ónus material de comunicar o resultado da verificação ao empreiteiro (1218º/4). Consiste, esta comunicação, num ato jurídico simples (segue a
consensualidade 219º), no qual se comunica a existência ou inexistência de vícios (aparentes), ou a existência de desvios ao plano convencionado. A este ónus devem ser aplicáveis os
prazos constantes do art. 1218º/2.

Na falta de verificação ou de comunicação, o silêncio tem o valor de aceitação (1218º/5) – uma aceitação sem reservas (cujas consequências se encontram-se previstas no art. 1219º/1).
Nota: o art. 1218º/5 pressupõe incumprimento definitivo e não apenas mora no cumprimento do ónus/dever. Ou seja, passando o prazo para verificar e comunicar e o dono nada fez,
isso só se transformará em aceitação após o empreiteiro ter interpelado o dono da obra (808.º) para cumprir esse ónus. Antes disso, há uma situação de mora, cujo único efeito é inverter o
risco, nos termos do art.1228º/2.

Parece dever admitir-se a possibilidade de o dono da obra fazer a denúncia de defeitos mesmo sem ter feito a verificação da obra. Defende que a situação visada no art.1218º/5 ser
apenas aquela em que o dono da obra nada faz. Se o dono não verifica, mas faz a denúncia de defeitos, porventura até prescindindo da verificação, e rejeita a obra ou a aceita com reservas,
repugnaria serem a denúncia ou as reservas completamente ineficazes. Tal representaria um entendimento demasiado amplo do art.1218º/5.

Posteriormente, deve, ainda, o dono da obra proceder à aceitação. Quais as consequências desta?
1) Transferência da propriedade (1212º/1).
2) Transferência do risco (1228º/2).
3) Irresponsabilidade do empreiteiro por vícios conhecidos do dono da obra e não ressalvados no âmbito do art. 1209.º e pelos vícios aparentes, que se presumem conhecidos (1219º/1 e
2).
4) Em caso de aceitação com reservas: início do prazo de garantia legal ou convencional sobre os defeitos (1224º/1).
5) Vencimento da obrigação de pagamento (1211º/2).
Como se depreende, os efeitos dependerão do caráter da aceitação: nos termos do artigo 1219º/1, a aceitação pode ser feita sem reserva; nos termos do art. 1224º/1, a aceitação pode
ser feita com reserva.

Direitos do Empreiteiro
 Receção do Preço: quanto à receção do preço, coloca-se a problemática da prescrição deste direito. A questão coloca-se, neste âmbito, do seguinte modo: saber se é aplicável,
nos termos do artigo 317º/b), o regime da prescrição presuntiva. Deve considerar-se, de acordo com a regência, que o contrato de empreitada (pequenas empreitadas)
preenche a previsão normativa do art. 317º/b), estando por isso sujeito ao prazo de dois anos, a que corresponde a prescrição presuntiva, neste caso. O efeito da prescrição
presuntiva não é, propriamente, a extinção da obrigação, mas antes a inversão do ónus da prova que deixa de onerar o devedor que, por isso, não tem de provar o pagamento,
para ficar a cargo do credor, que terá de demonstrar o não pagamento

Direito de retenção

Uma posição tradicional entendia dever o direito de retenção ser negado ao empreiteiro, por o art.754º se referir a créditos por despesas. Invoca-se igualmente a omissão de referência
ao empreiteiro no art.755º, atribuindo essa disposição expressamente a direito de retenção a outras classes de prestadores de serviço.
Porém a doutrina e a jurisprudência entendem hoje haver direito de retenção. Desde logo, parece inegável tratar-se a empreitada de despesas de construção, modificação ou reparação
dessa coisa. Um entendimento restritivo da noção de despesas feitas por causa da coisa, reduzindo-as a benfeitorias não tem suporte.

A atribuição do direito de retenção ao empreiteiro significa poder ele usar das defesas possessórias contra terceiros que pretendam desapossá-lo da coisa e mesmo contra o próprio dono
da obra, art.670º/a), ex vi art.758º ou 759º/3 e implica também ter o crédito, garantido por esse direito, prioridade sobre os créditos comuns, prevalecendo sobre a hipoteca, mesmo se
registada anteriormente.

Discute-se se o direito de retenção pode ser exercido sobre coisas de terceiros. ( o comp na pendência de reserva de propriedade ou o comprador de bens alheios que leva a coisa para
ser arranjada)
A communis opinio considera que estamos perante uma garantia real e objetiva ( a mais forte de todas as garantias, que prevalece inclusive sobre as hipotecas registadas) e que portanto
tem eficácia erga omnes, pelo que pode ser exercida contra terceiros.
A esta posição doutrinária não tem aderido de forma convicta a jurisprudência judicial, que atribuem a este dto uma natureza creditícia.
O proprietário do bem poderá sempre responsabilizar (ação de responsabilidade civil) o dono da obra por quaisquer prejuízos que este, com a sua conduta inadimplente, lhe tenha
ocasionado.

Deveres do Empreiteiro
Realização da Obra: a realização da obra respeita a critérios específicos: nos termos do art. 1208º, porque se pretende sem vícios ou faltas de qualidade. Devem, em virtude a boa fé (art.
762º/2) ser cumpridas as regras da arte e todas as outras necessárias. Quanto às regras da arte: esta são regras standard. Na falta de acordo das partes, representam aquelas objetivamente
consideradas, de conhecimento por parte do empreiteiro. A obrigação do empreiteiro é uma obrigação de resultado.
O não cumprimento do empreiteiro desta obrigação no prazo convencionado pelas partes determina, nos termos gerais, a mora do empreiteiro (art. 805º/2/a). E se as partes não
houverem estipulado um prazo? Estaremos perante uma obrigação de prazo natural (art. 777º/2): se for necessário fixar um prazo para o cumprimento e não havendo acordo (devendo,
naturalmente, respeitar-se um prazo razoável), a fixação é deferida para o tribunal. Questão: o problema deve ser sempre resolvido através de processo de fixação judicial de prazo? A
regência entende que não - se o dono da obra fixar um prazo razoável e sério, não é necessário ir a tribunal. Se se optar por recorrer a tribunal e se o dono da obra ganhar a “disputa”, ou
seja, o juiz disser que o novo prazo fixado por ele foi o correto. Para PA, então, os efeitos da mora reportam-se ao momento do não cumprimento do prazo inicialmente fixado. Ou seja:
ficciona-se que o prazo não deixa de correr, ainda que o processo esteja em curso, evitando-se, assim, a inércia do empreiteiro.

Fornecimento de Materiais: nos termos do art. 1210º/1: os utensílios e materiais, na ausência de estipulação das partes, devem ser fornecidos pelo empreiteiro. Na ausência de
estipulação das partes, os materiais devem corresponder às características da obra e ser de qualidade média (1210º/2 CC). E se os materiais foram de qualidade inferior à média?
Considera-se haver cumprimento defeituoso da obrigação: são atribuídos, em função disso, ao dono da obra os direitos típicos (1220º e ss.). E se os materiais foram de qualidade superior
à média? Considera-se que não há lugar à revisão do preço (art. 1214.º/1).

Guarda e Conservação da Coisa : o empreiteiro tem o dever de guardar e conservar a coisa (objeto mediato do contrato) – eventualmente, desde o momento em que a recebe do dono da
obra (se for esse o caso) até ao momento da entrega. Este dever está sujeito ao regime da obrigação de guarda do depositário e abrange, ainda, os materiais eventualmente fornecidos pelo
dono e ainda não incorporados na obra. Assim, em caso de perecimento ou deterioração da coisa, presume-se a culpa do empreiteiro nos termos do art. 799º do CC. É sempre um dever
acessório que não descaracteriza a especificidade do contrato de empreitada. – só se for ilidida a presunção da culpa é que se recorre ao regime do risco

Entrega da Coisa: o momento do cumprimento da obrigação de entrega da coisa, assim, está dependente de um prazo. No caso de as partes não terem estipulado esse prazo para a
entrega da coisa, quid iuris? PA diz que a entrega da coisa está então sujeita a interpelação do dono da obra. Assim que o dono da obra interpele o empreiteiro (art. 777.º/1) este entre em
mora – entrando em mora e não tendo ainda entregado a coisa poderá a questão ser relevante para casos de risco (art. 807.º).

Transferência da Propriedade
Em termos gerais: o regime da empreitada funciona como exceção às regras gerais de transferência de direitos reais (art. 408º), por efeito do contrato. O regime especial vem enunciado
no art. 1212º e parece só se aplicar às empreitadas de construção/criação, posto que só em relação a estas se coloca a problemática da transferência da propriedade. Não obstante, é um
regime supletivo: a regência considera não existirem razões de interesse público que justifiquem a sua imperatividade.
Exemplo importante: as partes podem estipular a reserva de propriedade sobre a obra, realizada até ao integral pagamento do respetivo preço pelo dono da obra.
Empreitada de Coisa Móvel:

(1) Se os materiais foram no todo (ou maioritariamente) fornecidos pelo empreiteiro: a propriedade transmite-se com a aceitação da obra por parte do dono da obra (art. 1212º/1/1ª parte).
(2) Se os materiais são do dono da obra: ele não perde a propriedade sobre elas e adquire-a sobre a obra completa, quando esta é terminada (não depende, já, da aceitação), nos termos do
art. 1212º/2/2ª parte.
Empreitada de Coisa Imóvel:
(1) Se o solo ou superfície pertencerem ao dono da obra: o dono da obra é o proprietário da coisa, ainda que os materiais tenham sido fornecidos pelo empreiteiro; a propriedade destes
vai-se transmitindo à medida que são incorporados no solo (art. 1212º/2).
2) Se o solo ou superfície pertencerem a terceiro: a transferência da propriedade ocorre se e quando se verificar a transferência da propriedade do solo, para o dono da obra.
1) De acordo com alguma doutrina: lacuna, carente de integração.
2) Regência: omissão voluntária, dado que, nesses casos, estamos perante um contrato misto (atípico), onde juntamente com a obrigação de realizar uma obra, o empreiteiro faz uma
promessa de venda do imóvel onde a obra será construída.
A regência questiona: o que, neste caso do contrato misto, é o ato gerador da transmissão da propriedade?
Pedro Romano Martinez: admite poder ser a aceitação da obra, se ela revestir formalismo legal previsto para a transmissão de bens imóveis (art. 875º CC);
Pedro Albuquerque: opera com o contrato translativo da propriedade do terreno, podendo ocorrer antes (art. 1212º/2 – o dono da obra é proprietário desde o
início), durante (o dono da obra passa a ser proprietário do solo e da obra, adquirindo o remanescente à medida da inserção dos materiais – art. 1212º/2) ou após
a construção da obra (não se aplica o art. 1212º/2).
Risco
Este regime do risco deve ser harmonizado com o dever de depósito do bem. Funciona, em primeiro lugar, a presunção de culpa do empreiteiro (depositário), nos termos do art. 799º do
CC; só se for ilidida a presunção de culpa é que funciona, naturalmente, as regras do risco.

O risco vem regulado no art. 1228º/1 do CC, reafirmando o principio geral constante do art. 796º/1. Assim, a verificação do risco comporta, previamente, a verificação do proprietário da
coisa.
Problema: quanto à perda e deterioração dos materiais ainda por incorporar na obra. Em relação a estes bens deve aplicar-se o regime geral, nos termos do art. 1228º/1 (o risco pertence,
nesta medida, ao proprietário dos materiais ao momento do perecimento/deterioração).

O artigo 1228º prevê, no entanto, exceções: o risco corre, assim, por conta do dono da obra, nas situações em que este esteja em mora quanto à aceitação e à verificação. Este
preceito, note-se, só se aplica aos casos de propriedade da obra pelo empreiteiro: os demais são respondidos, perentoriamente pelo art. 1228º/1.

O regime do risco deve, ainda, ser conciliado com a impossibilidade objetiva de cumprimento, regulada no art. 1227º, que pressupõe a impossibilidade de refazer a obra (ficando, as
demais hipóteses, sujeitas ao regime do risco).

Subempreitada
O empreiteiro para contratar com o subempreiteiro tem de ter autorização do dono da obra?

- O regime do art 1213º remete para o regime do art 264º, ou seja, só haverá subempreitada se o dono da obra o permitir ou se essa faculdade resultar do conteúdo material da relação
jurídica. O critério resultante do art 264º nºs 1 e 4, fazendo uma interpretação e compreensão do dto é o de que se se tratar de uma prestação fungível que qualquer pode realizar, então
não será necessária autorização por parte do dono da obra. Por outro lado, se se tratar de uma prestação infungível já será necessária essa autorização.

Consequências da Inadmissibilidade da Subempreitada: na circunstância de ser inadmissível a contratação de subempreiteiro, importa averiguar as consequências de tal violação por
parte do empreiteiro.

a) Alguma doutrina: fundamento para a nulidade do contrato (seguiria um regime específico, apenas podendo ser invocada pela parte nela interessada – o dono da obra).

b) Pedro Albuquerque/Miguel Assis Raimundo: incumprimento do contrato, que gera responsabilidade contratual do empreiteiro perante o dono da obra (não se trata de mera pretensão
indemnizatória, antes carece de verificação de danos) e inoponibilidade do contrato de subempreitada.

Posição do Empreiteiro com a Subempreitada: perante a subempreitada o empreiteiro não fixa exonerado da sua responsabilidade: é responsável, aliás, por todos os defeitos da obra,
ainda que derivem de culpa do subempreiteiro (art. 800º do CC).

Naturalmente, disporá de direito de regresso face ao subempreiteiro (conforme resulta do art. 1226º). Pedro Albuquerque limita este direito de regresso nas situações em que o
empreiteiro haja aceitado sem reservas a prestação do subempreiteiro, existindo vícios aparentes dessa prestação, depois detetados e denunciados pelo dono da obra ao empreiteiro –
por não ter aceitado com reservas, não salvaguarda a sua responsabilidade por vícios aparentes (art. 1219º também aplicável às relações entre empreiteiro e subempreiteiro).

Outra questão: saber se a invocação dos direitos do empreiteiro, face ao subempreiteiro, por cumprimento defeituoso, que aquele tenha tido de resolver face ao dono da obra, está sujeita
aos prazos de caducidade curtos previstos no CC. Porquê? Estipula o art. 1226º a caducidade do direito de regresso decorridos os prazos: a comunicação da denuncia dos defeitos, feita
pelo dono da obra ao empreiteiro, que, se se prender com trabalhos feitos por subempreiteiro, deve ser reportada a este no prazo de 30 dias a partir da receção da denuncia.
A restrição enunciada funciona para o exercício do direito de regresso: será que funciona também para os demais direitos, ou, em relação a esses, funcionam os prazos gerais da
prescrição? A regência considera serem aplicáveis os mesmos prazos, uma vez que se trata de contrato subordinado, logo, sujeito às mesmas regras que o contrato base. Semelhante
solução resulta do art. 1226º: regula a hipótese não resolvida pelo art. 1220º/1, deixando os demais casos para as regras gerais. Nota: o inicio do prazo deve ser, no entanto, adaptado e
corresponder, não ao momento de entrega da obra pelo subempreiteiro ao empreiteiro, mas o momento da entrega da obra ao dono da obra (pelo empreiteiro) – pois que, só a partir daqui,
são detetáveis os defeitos, em virtude da utilização da obra.
Outra questão a resolver: o não pagamento pelo dono da obra ao empreiteiro não é fundamento para o não pagamento da obra, pelo empreiteiro ao subempreiteiro, se tal não
resultar do contrato. São dois contratos autónomos, logo, comportam tal consequência.
 Relações entre o Dono da Obra e o Subempreiteiro:

- Casos de pagamento do preço devido pelo empreiteiro – em que o SE demanda diretamente o DO


Contra a ação direta:
1 – Prof. Menezes Leitão – Princípio da relatividade (406.2)
2 – Prof. Vaz Serra
3 – Prof. Carvalho Fernandes
4 – Prof. João Serras de Sousa
.1 – princípio da relatividade (406.2)
.2 – violação do princípio da igualdade face aos outros credores do D.O. – art.604/1 (ao verificar-se ação direta teria uma preferência sobre todos os outros credores do empreiteiro)
3 – Não há consagração legal dessa possibilidade e a ação direta só deve ser admitida quando permitida pela lei

A favor da ação direta:


1 – Prof. Pedro Albuquerque – apresenta o Argumento de justiça material – o SE tem, normalmente, menos recursos financeiros. Para além disso, O D.O. aproveita diretamente do
trabalho do S.E. Acresce, neste sentido, o facto de o subempreiteiro ter direito de retenção da coisa e poder exercê-la mesmo contrato o dono da obra, até ser pago pelo trabalho e
despesas. Por fim, argumenta que o contrato de empreitada tem várias disposições que revelam disrupção e afastamento à relatividade dos contratos (1214º). Prevalece a questão da
tutela da parte mais fraca.
2 – Prof. Romano Martinez
3 – Prof. Menezes Cordeiro
.1 – O D.O. adquire a posição de devedor do preço a que o S.E. tem direito
.2 – O D.O. vais beneficiar, diretamente e no seu património, do trabalho do S.E.
.3 – Argumento de justiça material (STJ, 26-01-1999)

- Casos em que para a eliminação dos defeitos na nova obra a indemnização é exigida pelo DO ao SE
A favor da ação direta:
Pedro Albuquerque/ Cura Mariano /João Serras de Sousa
.1 O art.1226 ao estipular um direito de regresso está a pressupor uma responsabilidade solidária entre Empreiteiro e Subempreiteiro relativamente aos direitos conferidos ao D.O.
Assim, existe uma opção do D.O. em demandar qualquer um deles, existindo o respetivo direito de regresso.
João Serras de Sousa acrescenta que, nas relações internas, a responsabilidade do subempreiteiro está limitada pelo art.497.2 CC
A redução do contrato e a resolução estão excluídas da ação direta entre D.O e S.E pelo princípio da relatividade
Contra a ação direta:
Menezes Leitão
.1 O art.1226 estipula que o D.O. apenas pode demandar o Empreiteiro quanto aos direitos que lhe são conferidos, desta forma não existe uma opção em demandar Empreiteiro ou
Subempreiteiro

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