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1 Discute-se no entanto quem terá legitimidade para requerer a apreensão do veiculo objeto de reserva
de propriedade, sendo que a jurisprudência tendencialmente entende só o vendedor ter essa
legitimidade (pois só este têm direito de propriedade) -posição de PDA, existem no entanto alguns
acórdãos que entendem também a entidade financiadora ter esta legitimidade.
2 Os critérios estabelecidos na lei para existir um contrato de créditi coligado são: A-crédito concedido
servir exclusivamente para financiar o pagamento do preço do contrato; B-ambos os contratos
constituírem uma unidade económica
-sublinha PDA que esta questão se prende em larga medida com o entendimento sobre a
natureza da reserva de propriedade, sendo que quem entende tratar-se de uma:
condição resolutiva a favor do alienante (por entender que o bem já se transferiu
imediatamente com o negócio real e apenas voltará ao património do vendedor se não for
pago o preço ou não se verificar o outro evento previsto), então não terá problemas em aceitar
que o alienante possa nomear o bem para execução.
Pedro de Albuquerque-entende a cláusula de reserva de propriedade como o diferimento de
um efeito essencial (transferência da propriedade no tempo) e investe o comprador apenas
numa expectativa real de aquisição.
-Assim entende PDA que só seria possível a execução do bem alienando em caso de renúncia à
reserva de propriedade.
A renúncia a esta reserva significaria a imediata aquisição pelo adquirente do bem
(independentemente do pagamento do preço), pelo que não acarreta nenhum prejuízo efetivo
para o adquirente.
Assim a renúncia implica que o bem passe a ser suscetível de ser objeto de penhora em
processo de execução, mas já não permite a defesa através de ações possessórias, nem a
reivindicação do bem.
Por último para se sustentar a insusceptibilidade desta renúncia à reserva e consequentemente
da possibilidade do bem ser executado argumenta-se que esta renúncia nunca poderia ser um
meio idóneo para transmitir a propriedade.
Isto porque ela é na verdade uma estipulação contratual e não um direito estabelecido a favor
do vendedor ao qual este pode renunciar (entendimento que têm tido acolhimento
jurisprudencial).
Para PDA este argumento levado ao limite levaria a que não se pudesse renunciar a nenhum
direito que derive de fonte contratual, assim alerta que se deve distinguir entre cláusulas dos
contratos (essas sim insuscetíveis de ser renunciadas unilateralmente) e direitos relativamente
a essas cláusulas (é em cima destes que se levanta o problema).
-Assim a questão é saber se a renúncia ao direito é possível, mesmo que acarrete um benefício
para o comprador (a aquisição da propriedade plena ao invés da posição real menor em que
este se encontrava investido).
E entende que não existe nenhum interesse do comprador digno de proteção e que nos leve a
concluir que esta renúncia (e a consequente possibilidade de execução) não seja possível.
-Entende ainda não ser necessário o exequente que beneficia de reserva de propriedade
registada , proceder à extinção da reserva no registo (quando esta é necessária), pois estas
situações encontram-se normativamente abrangidas no art 824.
Existe um acórdão uniformizador de jurisprudência no STJ que veio afirmar precisamente o
contrário (a necessidade de extinção da reserva de propriedade no registo), que para o prof
revela um entendimento equivocado relativamente a muitas questões (ver pg 212 a 215).
A reserva de propriedade e a exigência de cumprimento do contrato-alguma doutrina e
jurisprudência têm entendido que só pode o beneficiário da reserva de propriedade exigir a
restituição da coisa se exercer o direito de resolução sem previamente ter exigido o
cumprimento do contrato.
-Este entendimento é sufragado por Galvão Telles e Lobo Xavier que nos diz que quando o
vendedor (que goze de reserva de propriedade) exigir o cumprimento, a reserva de
propriedade não perde todo o seu efeito útil, na medida em que o comprador não pode
validamente vender o objeto (que ainda é propriedade do vendedor)
Pedro de Albuquerque-entende que não existe qualquer razão válida para defender esta
posição.
Sublinha que nada obsta a que o vendedor tenha interesse em exigir o cumprimento e ainda
assim manter a reserva de propriedade (que lhe permite resolver o contrato), contrariando a
regra geral de não ser possível resolver nos termos do art 886.
Assim sublinha que mesmo proposta uma ação de cumprimento pelo comprador, deve manter-
se a reserva de propriedade até ao pagamento do preço, pois é este que faz transmitir a
propriedade e não a exigência de pagamento do preço.
-Pelo contrário a simples mora (do comprador no cumprimento da obrigação de pagar o
preço), nem permite por este ser um contrato bilateral que o vendedor (com reserva de
propriedade) resolver o contrato, na medida em que seria necessário que esta se transforme
em incumprimento definitivo.
Esta passagem da mora para incumprimento definitivo, dá-se nos termos do art 808 nº1
precisamente através da fixação de um prazo para o devedor cumprir (prazo admonitório),
após este ser interpelado para o cumprimento.
Assim esta exigência de cumprimento não só não obsta a que o vendedor com reserva de
propriedade possa resolver o contrato, como é conditio sine qua non desta possibilidade.
Nunca pode por isso a exigência de cumprimento ser vista como uma renúncia à propriedade
por parte do vendedor, mas apenas a satisfação por via judicial do seu crédito.
A transferência do risco na compra e venda com reserva de propriedade-alguns autores
sustentam que se na compra e venda com reserva de propriedade, ainda não se deu a
transferência do direito real, então o risco de perda fortuita deve caber ao alienante (que ainda
é proprietário), entendimento que até parece conforme com o que dispõe o 796.
Pedro de Albuquerque-entende não ser assim na medida em que o propósito da reserva de
propriedade é justamente garantir a posição do vendedor perante o risco de não pagamento
do preço (ou não produção do evento que as partes associaram à transferência de
propriedade), pelo que seria estranho que um mecanismo que visa na realidade reforçar a
tutela da posição do vendedor acabasse por a enfraquecer (quando o gozo e domínio da coisa
não deixou de passar para o comprador).
Romano Martinez-em defesa da solução proposta por PDA (risco de perda fortuita correr pelo
adquirente) avançou com quatro argumentos:
A-função de garantia da reserva de propriedade (semelhante à da hipoteca), mas é o
comprador que têm já o gozo da coisa pelo que se justifica que suporte o risco.
B-art 796 refere que a transferência do risco, se dá com a “transferência do domínio”, isto é a
quem estabelece uma relação material com o objeto/ direito vendido (apesar da reserva de
propriedade) já seria o vendedor a ter o domínio.
C-a reserva de propriedade têm simultaneamente uma natureza de condição suspensiva e
resolutiva pelo que cabe no âmbito do art 796 (o risco transfere-se havendo condição
resolutiva e tradição da coisa).
Nuno Pinto de Oliveira-concordando com a solução proposta discorda de alguns dos
argumentos de Romano Martinez:
-relativamente ao primeiro diz que este é argumento de ordem prática e por isso extrajurídico
(PDA diverge desta opinião), na medida em que as exigências de justiça e adequação não
podem não ser consideradas naquilo que é a análise dos resultados interpretativos.
-no segundo argumento diz-nos que a expressão “contratos que importem a transferência
sobre o domínio de uma coisa, dever ser lido de forma equivalente a “contratos que importem
a transferência do direito de propriedade”.
Pedro De Albuquerque-entende que a “transferência do domínio” prevista no art 796 significa
que há transferência do risco nos contratos onde se transfere o controlo material se
“especialmente qualificado”, sendo que esta resulta do facto de se estar perante negócios
translativos da posse e do gozo da coisa.
Assim entende que o sentido da distinção no art 796nº1 entre “negócios que transfiram a
propriedade” e “negócios que importem a transferência do domínio” é o de desfazer qualquer
dúvida (independentemente da moldura dogmática defendida dobre a natureza da reserva de
propriedade) que a simples transferência do domínio/ controlo material da coisa já irá importar
a transferência do risco (pelo que a reserva de propriedade implica sempre esta transferência
do risco).
Já relativamente ao terceiro argumento de RM não adere a este por não entender a natureza
da reserva de propriedade como um negócio sujeito a condição (suspensiva ou resolutiva)
Assim conclui que o risco corre pelo adquirente e que o alienante apenas suporta o risco de
perder a garantia que se consubstancia na reserva de propriedade.
Moldura dogmática da compra e venda com reserva de propriedade
Teoria da condição suspensiva-esta representa a posição tradicional, PDA entende não ser
aceitável na medida em que não está em causa nenhum evento condicional, o dever de pagar o
preço não traduz uma condição (enquanto facto futuro e incerto), mas antes um efeito
essencial da compra e venda cujo cumprimento pode ser exigido e sujeito a execução coativa
(assim este é um contra-prestação e não uma condição).
Mesmo quando existam situações de reserva de propriedade não sujeitas ao pagamento do
preço não há uma condição suspensiva, uma vez que a aquisição da propriedade só se dá com
a verificação de outro evento e não retroage à data da celebração do contrato, como sucederia
se estivéssemos numa condição suspensiva
-Outro argumento é que aceitando a teoria da condição teríamos de renunciar à possibilidade
de existir uma unidade dogmática no regime da reserva de propriedade (esta seguiria regimes
distintos consoante estejamos perante uma transferência de propriedade que dependa da
obrigação de pagar o preço, ou até à “verificação de qualquer outro evento”.
-isto porque quando existisse incumprimento da obrigação de pagar o preço seguiríamos o
regime do art 798 e ss, enquanto que nas situações em que não se verificasse o “outro evento”
já seguiríamos o regime da condição (art 275).
Assim a teoria da condição suspensiva só poderia valer para os casos em que a transferência da
propriedade estivesse associada a “outro evento” que não o cumprimento das obrigações da
outra parte, algo que quebraria de forma inaceitável a unidade dogmática da reserva de
propriedade.
Teoria da compra e venda com eficácia obrigacional-esta possibilidade tal como defendida por
Assunção Cristas e França Gouveia já foi rejeitada pelo prof PDA.
Teoria da dupla propriedade-o facto do direito de propriedade ser um direito exclusivo (art
1305) não permite este entendimento.
O preceito não é decisivo para PDA na medida em que parece admitir exceções previstas na lei,
assim afasta esta tese na medida em que ela não se adequa ao art 409 e em segundo lugar por
ser desnecessária e supérflua, pois existem abordagens mais adequadas do ponto de vista
jurídico e material á situação da reserva de propriedade.
Tese da eficácia translativa imediata (com possibilidade de reaquisição)-esta enfrenta para PDA
as mesmas dificuldades da tese da condição resolutiva e desadequada face ao esquema do art
409 (que estabelece que o vendedor mantém a propriedade).
-É verdade que podem as partes convencionalmente prever a possibilidade de resolução (o art
886 assim o prevê), mas essa possibilidade não se aproxima do regime do 409.
Pedro de Albuquerque-entende a compra e venda com reserva de propriedade como um
contrato onde o efeito translativo é diferido ao momento do pagamento, permanecendo já o
comprador investido numa posição jurídica que se traduz numa expectativa real de aquisição.
O vendedor detém uma garantia real destinada a assegurar o pleno pagamento do preço.
-O comprador apesar de manter a propriedade, têm este direito limitado pela posição jurídica
que já se formou na esfera do comprador, assim esta não é uma propriedade plena, mas uma
propriedade para efeitos exclusivos de assegurar o pagamento ou outro evento (consubstancia
assim um verdadeiro direito real de garantia).
-Esta posição é geralmente aceite, sendo que parte da doutrina e da jurisprudência não vai tão
longe ao ponto de falar de um verdadeiro direito real de garantia, mas antes de uma
“vizinhança meramente funcional”.
-Será que a necessidade de transferência do gozo da coisa apenas resulta de vínculos
obrigacionais, ou existe uma alteração do conteúdo da propriedade (do direito real que lhe
assiste)?
Menezes Cordeiro-parece pronunciar-se no sentido de que o alienante (ainda proprietário) está
obrigacionalmente adstrito a não embaraçar o aproveitamento da coisa por parte do
adquirente não proprietário.
Pedro de Albuquerque-a própria amplitude do conteúdo do direito de propriedade fica
cerceada e não apenas em virtude de uma obrigação existente perante terceiro.
Assim o ainda proprietário (por ter uma propriedade mais limitada) não poderá por exemplo
transmitir a propriedade a um terceiro (o seu direito real é apenas de garantia) e poderia o
comprador por ser possuidor lançar mão de ações possessórias e da ação de reinvidicação para
defesa do seu direito.
Venda a prestações
Noção, exigibilidade antecipada e resolução
-na venda a prestações, uma das prestações (O pagamento do preço) é fracionada.
-O principio geral regulador das dividas cuja liquidação pode ser fracionada (dividas a
prestações), encontra-se no art 781 que impõe que a não realização de uma das prestações
importa o vencimento das outras.
-Existem, no entanto, regras especiais para a compra e venda nestas situações (presentes no
art 886, 934 e 935).
-O 886 vale de forma geral para todos os casos de não pagamento do preço pelo comprador e
estabelece em desvio da regra geral do art 801 que transmitida a propriedade e pago e feita a
entrega da coisa, não pode o vendedor resolver o contrato com fundamento no
incumprimento da obrigação de pagamento do preço.
-O 934, afastando-se da regra do 781, vale especificamente para os casos de falta de
pagamento de uma das prestações relativas ao preço em contratos de compra e venda a
prestações e estabelece que:
A-vendida a coisa a prestações com reserva de propriedade e feita a sua entrega ao comprador
a omissão de uma prestação cujo valor exceda a oitava parte do preço ou de duas ou mais
prestações, independentemente do seu valor, dá ao vendedor o direito de resolver o contrato
de compra e venda -em qualquer dos cenários (com ou sem reserva de propriedade) -a falta de
pagamento de uma prestação de montante inferior a um oitavo do preço, não determina a
perda do beneficio do prazo.
Explicações adicionais
-noção de preço engloba todas as quantias a pagar pelo comprador, ao vendedor como efeito
da alienação, mesmo que se trate apenas de despesas, juros ou outras importâncias.
-O 934 parece ser peremptório de que tanto a limitação da resolução pelo vendedor, como a
limitação da perda do benefício do prazo dependerem sempre da entrega da coisa (PEDRO DE
ALBUQUERQUE entende que esta solução não deve ser acriticamente aceite).
-Já VASCO DA GAMA LOBO XAVIER E NUNO PINTO DE OLIVEIRA, entendem que faz sentido a
limitação do art 934 (aos casos em que houve entrega da coisa), tratando-se da resolução, mas
que quando está em jogo o vencimento antecipado das restantes prestações, entendem que a
solução se mostra pouco adequada.
-Assim o comprador que não beneficiou da traditio fica neste caso desprotegido (porque
incumprir com uma prestação importa a perda do benefício do prazo das restantes), quando
não faz sentido esta diferença de tratamento face ao comprador que beneficiou da traditio.
O comprador que beneficiou da traditio que já está mais avantajado, ainda beneficia de uma
maior tutela que não se justifica, pelo que uma interpretação deste tipo beneficiaria de forma
arbitrária e sem fundamento plausível o vendedor, só porque o comprador não beneficiou da
traditio.
-Assim PEDRO DE ALBUQUERQUE, seguindo os argumentos dos autores supracitados entende
que se pode aplicar a restrição imposta pelo 934 (de o incumprimento de uma prestação não
importar a perda do benefício do prazo das restantes, nos termos aludidos pelo art), aos casos
em que não houve entrega da coisa.
-Entende que o art 781 consagra antes uma situação de exigibilidade antecipada e não de
vencimento antecipado, uma vez que a solução contrária resultaria em resultados desrazoáveis
na perspetiva do credor.
Este pode não querer beneficiar desse benefício e deve dispor da possibilidade de exigir ou não
o pagamento antecipado (e enquanto não o fizer não está o devedor constituído em mora).
-O mesmo princípio vale então para o 934, pelo que faltando o devedor (comprador) a uma
prestação eu exceda um oitavo do preço, ou a duas (independentemente do valor), têm o
credor (vendedor) a possibilidade de exigir o cumprimento das prestações vincendas e apenas
a partir desse momento é que entrará em mora o comprador relativamente a todas as
prestações não pagas (que se poderá transformar em incumprimento definitivo nos termos do
808).
-O art 934 refere-se apenas á falta de pagamento, não obstante PEDRO DE ALBUQUERQUE
entende que a expressão terá necessariamente normativamente dois sentidos:
-tratando-se da exigência do cumprimento da totalidade das prestações, basta que o devedor
esteja em mora, mas nos casos em que está em causa a resolução do contrato, exige-se o
incumprimento definitivo.
-O 808 nº2 que regula a resolução, diz-nos que o incumprimento parcial da obrigação, terá de
representar sempre um incumprimento grave para o credor ter o direito de resolução, não
obstante coloca-se a questão de saber se os casos do 934 (incumprimento de prestação que
exceda um oitavo do preço ou de duas prestações), serão sempre um incumprimento grave
para efeitos do art 808 nº2 (e por isso fundamentam sempre a resolução sem passar por
nenhum outro crivo).
-PEDRO DE ALBUQUERQUE sublinha que da conjugação dos dois preceitos se retira em
primeiro lugar que se o comprador faltar apenas a uma prestação e que não exceda uma oitava
parte do preço, então não têm o vendedor o direito de resolver o contrato, não podendo haver
qualquer indagação sobre a gravidade desse incumprimento (o que já resulta de forma
inequívoca do 934).
Já nos casos em que o comprador faltar a mais do que uma prestação, ou a uma que exceda
um oitavo do preço, vale o regime geral do 802 nº2 e deve-se averiguar se o incumprimento
assume ou não importância suficiente.
Entende, no entanto, ser o debate algo inútil pois nos casos em que se ultrapassa a barreira do
934 (e os limites mínimos que este estabelece ao nível de incumprimento), poderá sempre o
credor exigir antecipadamente todas as prestações (art 781 e 934), pelo que pode fixar um
prazo para o credor pagar a totalidade das dividas (prazo admonitório do 808), findo o qual
pode resolver o contrato.
-Em coerência com a posição que defende em relação ao mesmo problema na compra e venda
com reserva de propriedade, entende que poderá o vendedor (credor), resolver o contrato,
mesmo que antes tenha exigido o cumprimento.
Natureza supletiva ou imperativa do 934-discute-se se a limitação á resolução e à exigência das
outras prestações têm natureza supletiva ou imperativa.
-A maioria da doutrina e jurisprudência pronunciam-se no sentido da imperatividade do
preceito entendendo que onde se diz “sem embargo de convenção em contrário”, deve-se
entender “apesar de convenção em contrário”.
-PEDRO DE ALBUQUERQUE diz-nos que apesar da ambiguidade literal do preceito, o facto de o
934 ter um regime restritivo em relação ao regime geral e visar tutelar o comprador perante o
vendedor (atribuindo-lhe um regime mais favorável do que o geral tanto no que toca à
resolução como á exigibilidade das restantes prestações, impondo limitações adicionais ao
exercício destas faculdades apontam no sentido da imperatividade da norma).
Reserva de propriedade e 934-discute-se se quando não se estabelece reserva de propriedade,
a falta de pagamento de apenas uma das prestações que não exceda um oitavo do preço pode
permitir ao vendedor resolver o contrato, nos termos do 886, isto porque o art fala-nos de
“vendida a coisa a prestações, com reserva de propriedade e feita a sua entrega ao comprador
a falta de pagamento de apenas uma prestação que não exceda a oitava parte do preço não dá
lugar à resolução do contrato”
Pires de Lima, Antunes Varela, Teresa Anselmo Vaz, Batista Lopes e Vasco Lobo Xavier-
-entedem que como o art apenas refere as situações em que se estipula reserva de
propriedade, quando não for estipulada esta reserva, não se aplicam as limitações relativas ao
direito de resolução decorrentes do 934, podendo ser resolvido nos termos do 886 (não
podendo por isso ter havido entrega da coisa).
Romano Martinez
-entende que dada a imperatividade do 934 a solução proposta pelos autores é desajustada,
pois implicaria uma compra e venda sem reserva de propriedade, com entrega da coisa e
cláusula de resolução para a hipótese de falta de pagamento.
Nuno Pinto de Oliveira
-entende que só se poderia alegar a imperatividade do 934 se se entender que este dispõe que
o vendedor só terá direito potestativo de resolver o contrato de compra e venda a prestações:
A-se tiver reservado para si a propriedade; B-se tiver entregue o bem ao comprador; C-se o
comprador faltar ao pagamento de uma prestação superior a um oitavo do preço ou a duas
prestações.
Não obstante para o autor o 934 diz algo distinto, entendo que o vendedor só não terá o
direito potestativo de resolver o contrato se: A-se tiver entregue a coisa ao comprador; B-se o
comprador faltar ao pagamento de uma só prestação que não exceda um oitavo do valor do
preço.
Pedro de Albuquerque-não faz sentido aplicar as limitações do art 934 às situações em que não
existe reserva de propriedade, no entanto não o faz por analogia como sustente Nuno Pinto de
Oliveira3, mas sim pelo facto de se o art 934 limita o direito de resolução, se existir reserva de
propriedade, então confrontando esta solução com os regimes do art 801, 802 e 886 a única
conclusão plausível é que o 934 limita o direito de resolução APESAR DA reserva de
propriedade e não apenas quando exista esta reserva.
Se mesmo ao vendedor que reserva a propriedade lhe é vedado o exercício da resolução, em
falhas de menor relevância (uma única prestação que não excedam um oitavo do preço), então
seria uma profunda contradição valorativa atribuir ao vendedor que não reservou a
propriedade a possibilidade de resolução nestes casos.
-A referência à reserva de propriedade no 934 não procura assim tornar os casos em que esta
não existe isentos das limitações do artigo, mas antes dizer que mesmo havendo esta reserva,
as limitações se aplicam.
3 Até porque sendo o 934 uma “norma excecional”, discute-se esta possibilidade de analogia (apesar de
PDA entender que não faz sentido o argumento de que não valem argumentos analógicos e por
identidade de razão a “normas excecionais”
Cláusula penal-o 935 define o regime da cláusula penal no caso de o comprador não cumprir.
-A estipulação desta cláusula é admitida para todos os contratos e de forma genérica no art
810 do CC, como meio prévio de fixação da indemnização pelo não cumprimento das
obrigações.
-O 935 é uma das diversas disposições do CC que visam evitar a estipulação de cláusulas penais
usurárias (estabelecendo-se que esta não pode exceder metade do preço, salvo a faculdade
das partes de a ajustarem a todos os prejuízos sofridos).
Se este limite for ultrapassado, o montante superior será reduzido a metade (art 935 nº2),
sendo que este art dispõe que se as partes estipularem que o comprador na eventualidade de
incumprimento perderá as prestações já pagas e estas excederem metade do preço não poderá
o vendedor fazer seu o excedente.
Já se os prejuízos forem superiores a metade do preço e as partes não tiverem estipulado a
ressarcibilidade de todo o prejuízo, então a indemnização será até ao limite da indemnização
pactuada pelos contratantes, mesmo se ultrapassar metade do preço (assim a cláusula penal
superior a metade do preço, depois de reduzida passará a funcionar como um teto ou limite
máximo da indemnização de todos os prejuízos sofridos pelo vendedor.
-Discute-se se o limite estabelecido pelo art 935 diz respeito a toda a situação de
incumprimento ou apenas para as situações de resolução por parte do vendedor (ou seja se
vale para os casos em que o alienante exige do comprador o adimplemento da prestação).
VASCO LOBO XAVIER- pronunciou-se no sentido de que só pode valer a cláusula peal para os
casos em que pretende o vendedor resolver o contrato.-isto porque estas são obrigações
pecuniárias para as quais o art 806 (que defende este autor que têm natureza imperativa),
preceitua corresponder a indemnização aos juros devidos (e esta vale igualmente para o
incumprimento definitivo).
Assim o autor entende que o 935 do CC, não vêm derrogar o regime geral do 806, uma vez que
o regime da compra e venda a prestações que tutela particularmente o comprador não poderia
vir autorizar algo que é vedado na venda comum (a sujeição do contraente que falta a
obrigação de pagar o preço, a pagar uma indemnização diversa da traduzida na remuneração
dos juros respetivos).
-O próprio art 935 nº2 ao refere-se às prestações pagas e à sua restituição, o que só será
possível se o vendedor resolver o contrato.
Pedro De Albuquerque-discorda da posição do autor, essencialmente porque não considera
que o regime do art 806 seja imperativo, na medida em que este é manifestamente supletivo
(até por o preceito permitir às partes estabelecer um juro de mora distinto do juro legal).
-já o segundo argumento é pertinente mas insuficiente para determinar que o 935 só é
aplicável aos casos de resolução do contrato, ou se também abrange as hipóteses da exigência
do cumprimento.
Menezes Leitão-também se pronunciou neste sentido dos limites do 935 só valerem para casos
de resolução e já não de exigência do preço.
-Argumenta que o art deve ser objeto de uma interpretação restritiva pois a sua letra vai além
do seu espirito, mas que a baliza que o art cria só fazer sentido se quisermos limitar a
indemnização ao interesse contratual negativo (como acontece para ML nos casos em que
existe resolução do contrato em caso de incumprimento).
-Assim o art 935 só vale para as indemnizações a pedir em cláusulas penais relativas à
resolução do contrato.
Pedro de Albuquerque
-Não concorda com a limitação da indemnização nos casos de resolução, ao interesse
contratual negativo, pelo que não é por aqui que se resolve o problema da aplicabilidade do
935 aos casos em que se exige o cumprimento por parte do vendedor.
Romano Martinez-adota uma posição mais intermédia, na medida em que inicialmente pugna
por orientação semelhante à de Lobo Xavier, entendendo que o 935 só se aplica aos casos de
resolução do contrato.
-Entende que o a propósito do dano positivo se aplica o 806, sendo devidos juros e não a
indemnização do 935.
-PDA entende que os argumentos aludidos contra Lobo Xavier também permitem afastar esta
posição, sendo que não faz sentido querer delimitar o art 935 negativamente através do 806.
Antunes Varela/ Pires de Lima-entendem que atendendo á supletividade do 806 se deve aplicar
o 935 tanto aos casos de resolução, como às que o vendedor exige cumprimento.
Nuno Pinto de Oliveira-entende que subjacentes a todas estas posições parece estar um
uniforme sobre a natureza da cláusula penal, sendo que esta não terá sempre a mesma
natureza.
Refere que é necessário distinguir entre cláusulas penais moratórias ou compensatórias,
consoante se destinem a funcionar em caso de mora ou incumprimento.
-Deve depois distinguir-se se estas são meramente indemnizatórias, compulsórias ou penais
stricto sensu, sendo que:
A-as primeiras visam facilitar a reparação do dano, nos moldes previamente previstos pelas
partes, sem especiais intuitos compulsórios (evitando apenas dividas e litígios em casos de
eventuais incumprimentos), estabelecendo logo o montante da indemnização (caso do 810)
B-as segundas não têm qualquer efeito sobre o montante da indemnização, acrescendo ao
cumprimento da obrigação e à indemnização.
C-a terceira visa compelir o devedor ao cumprimento, legitimando o credor, perante
inadimplemento a exigir a título sancionatório uma outra prestação.
Quando o vendedor optar pela manutenção do contrato
-Neste cenário a proibição de cumulação (art 811 nº1) entre a exigência do cumprimento
coercivo da obrigação e o pagamento da cláusula penal não têm lugar se a cláusula tiver
natureza compulsória (aqui apenas vale o limite do 935).
-Sendo a cláusula penal indemnizatória ou penal stricto sensu, já concorda com o raciocínio do
prof Pinto de Oliveira, não faz sentido aplicar aqui o 935 às situações em que o vendedor
optasse pela manutenção do contrato e pelo funcionamento da cláusula penal.
Isto, pois, este tipo de cláusulas se destinam a acautelar o incumprimento definitivo da
prestação principal (PDA sublinha que estas podem acautelar outras situações como
incumprimento parcial, cumprimento defeituoso etc) e o argumento de NPO só faz sentido
quando este tipo de cláusulas se destina a assistir a um incumprimento total e definitivo.
-Assim entende que não se deve aceitar a sujeição das normas penais compensatórias
indemnizatórias e as normas penais stricto sensu, se elas se destinarem a acautelar um
incumprimento definitivo e total e o comprador desejar manter o contrato, pois por razões
teleológicas o 935 não assimila estas hipóteses.
A aplicação do regime da compra e venda a prestações a outros contratos
-Art 936 diz-nos que o regime da compra e venda a prestações vale para todos os contratos em
que se pretende obter um resultado semelhante.
Venda a prestações no âmbito das relações de consumo-esta sujeita-se a um regime específico
que se traduz numa maior tutela do consumidor (atualmente regulado pelo DL 133/2009),
sendo que este abrange a compra e venda a prestações no âmbito das relações de consumo.
-Este estabelece um regime jurídico específico em matéria de cumprimento do contrato de
compra e venda a prestações no âmbito das relações de consumo que se traduz na faculdade
do comprador realizar antecipadamente o cumprimento.
-Prevê-se ainda um regime específico para os casos de incumprimento, onde se afasta o regime
presente no art 934, estabelecendo requisitos diferentes para a resolução e perda do beneficio
do prazo.
Locação-venda-esta surge mencionada no art 936 nº2 do CC, sendo que este é um contrato em
que as partes estipularam uma locação, mas aceitaram passar a propriedade da coisa locada
para o locatário de forma automática depois deste pagar todas as rendas ou alugueres
acordados.
-As prestações acabam por corresponder não só ao pagamento que compensa o gozo
temporário, mas também a própria transmissão (pelo que se está diante de uma compra e
venda).
-Assim o contrato pode ser resolvido com fundamento em incumprimento do locatário
-Entende PDA que a natureza jurídica deste negócio é o de modalidade específica da compra e
venda onde é diferida a transmissão da propriedade até ao pagamento do preço.
Compra e venda sobre documentos-esta encontra-se prevista nos arts 937 e ss e têm por
objeto bens representados por títulos, sendo que aqui o vendedor não está obrigado a
entregar os bens vendidos, mas apenas os títulos representativos do bem em causa.
-As regras gerais em matéria de transferência do risco são aplicáveis à venda sobre
documentos, existindo apenas uma regra especial prevista no art 938 que nos diz que quando
esta se reportar a uma coisa em viagem, o risco corre pelo comprador desde a data da compra.
-As alíneas b e c do preceito atribuem ao comprador o risco de perecimento ou deterioração
da coisa, desde a data da entrega ao transportador, mesmo se em momento anterior ao da
compra, exceto se o vendedor atuar de má-fé (art 938 nº2).