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4. Efeitos essenciais
1.1. Generalidades
A compra e venda tem como efeitos essenciais:
a) A transmissão da propriedade da coisa ou da titularidade do direito;
b) A obrigação de entregar a coisa;
c) A obrigação de pagar o preço.
2. Proibições de venda
2.1. Generalidades
Fala-se em proibições de venda para referir os casos em que a lei veda a celebração do contrato
de compra e venda entre determinadas pessoas. Não se trata neste caso de uma situação de vício do
objeto do negócio, nem de incapacidade dos sujeitos e muito menos de ilegitimidade das partes, mas
antes de situações em que é vedada, por razoes atinentes às relações das partes entre si ou com o objeto
negocial, a celebração do contrato entre elas, admitindo-se, porém, a sua realização entre outros
sujeitos. A categoria não é objeto de um regime unitário até porque a lei pode tanto sancioná-la com a
nulidade, anulabilidade ou invalidade mista.
3.5. Locação-venda
3.6. Venda de coisas sujeitas a contagem, peso e medição
3.7. Venda a retro (caso prático nº 7)
Uma outra modalidade específica de venda é a venda a retro, definida no art. 927º como a venda
na qual se reconhece ao vendedor a faculdade de resolver a contrato. Esta figura consiste assim numa
modalidade de venda em que a transmissão da propriedade não se apresenta como definitiva, na medida
em que o vendedor se reserva a possibilidade de reaver o direito alienado, mediante retribuição do
preço e o reembolso das despesas feitas com a venda.
O caráter contratual da doação não é, no entanto, absoluto, uma vez que a lei prevê
expressamente a desnecessidade da aceitação no caso de doação pura efetuada a incapaz. Efetivamente,
o art. 951º, nº 2, determina que essas doações produzem efeitos, independentemente de aceitação, em
tudo o que aproveite ao donatário, o que implica que o negócio se forma sem aceitação, sendo, por
isso, neste caso, a doação um negócio unilateral e não um contrato. Se o beneficiário da doação for
incapaz e a doação implicar encargos é necessária aceitação pelo seu representante; mas se for livre de
encargos, uma doação pura, já não seria precisa aceitação.
Regra geral, a doação tem caráter contratual, pelo que necessita de proposta e aceitação. No
entanto, a formação do contrato de doação está sujeita a um regime diferente do regime geral da
formação dos contratos, regulado nos art. 224º e ss do Cód. Civil. Estabelecem-se no art. 228º prazos
muito curtos de vigência da proposta, findo os quais esta caduca se, entretanto, não tiver sido aceite.
Pelo contrário, dado que o art. 945º, nº 1 determina que a proposta apenas caduca se não for aceite em
vida do doador. O donatário tem, assim, o tempo correspondente à vida do doador para aceitar a
proposta, salvo se, entretanto, o doador a revogar (969º).
4. Objeto da doação
A lei estabelece algumas restrições às entidades que podem ser objeto de um contrato de
doação. Assim, o art, 942º, nº 1, refere-nos que a doação não pode abranger bens futuros. Esta proibição
compreende-se porque, se alguém efetuasse uma doação relativamente a bens que ainda não adquiriu,
embora o contasse posteriormente fazer, poderia não estar totalmente seguro das implicações do seu
ato, e vir a arrepender-se aquando da futura aquisição do bem. Há assim subjacente um intuito de tutela
Para além disso, uma doação de bens futuros nem sequer era compatível com o conceito do art.
940º, uma vez que, face a este, a doação implica uma diminuição do património do doador, coisa que
não se verifica se ele se limitar a prescindir de um bem que ainda não adquiriu.
Nos termos do nº 2 do art. 942º, a proibição da doação de bens futuros não abrange, no entanto,
o caso em que a doação incide sobre uma universalidade de facto que continue no uso e fruição do
doador, caso em que se consideram doadas, salvo estipulação em contrário, as coisas singulares que
vierem a integrar a universalidade. Efetivamente, em casos como o da doação de uma biblioteca ou de
um rebanho, o que o doador transmite é uma coisa composta (art. 206º), a qual, apesar de compreender
um conjunto de coisas singulares, é objeto de um destino unitário. Daí que, caso haja surgimento de
novas coisas singulares de dentro da universalidade (nascimento de novas ovelhas, integração de novos
livros na biblioteca) é natural que elas sejam consideradas como pertencentes ao objeto da doação. A
proibição da doação de cosias futuras não é, neste caso, afetada, dado que o se doou foi a universalidade
de facto, e não as coisas singulares que a compõem.
5. A formação do contrato
O contrato de doação está sujeito a regras diferentes para a sua formação do que as que vigoram
para o comum dos negócios jurídicos. Admite-se que a doação seja celebrada, quer entre presentes,
quer entre ausentes. No entanto, neste último caso a proposta da doação não caduca pelo decurso dos
prazos fixados no art. 228º, apenas se verificando essa caducidade se não for aceite em vida do doador
(art. 945º, nº 1).
Em consequência dessa solução, o recetor de uma proposta de doação não tem o ónus de a
aceitar logo, podendo vir a fazê-lo muito mais tarde, inclusivamente anos depois de a proposta ter sido
formulada. No entanto, enquanto a proposta de doação não for aceite o doador pode proceder à sua
revogação (art. 969º), extinguindo a possibilidade de o donatário proceder à sua aceitação.
O donatário pode aceitar a proposta de doação enquanto o doador for vivo (art. 945º, nº 1). a
aceitação está sujeita à forma exigida para o contrato (art. 945º, nº 3), parecendo que, salvo no caso de
ter havido tradição da coisa, terá que constar de uma declaração expressa, não sendo assim aplicável
no âmbito da doação a regra do art. 234º. Tratando-se de coisas imoveis, terá por isso a aceitação que
constar de escritura publica ou documento particular autenticado (art. 947º, nº 1). Tratando-se de coisas
móveis, se não se tiver verificado a tradição da coisa para o donatário, a aceitação terá que constar de
documento escrito (art. 947º, nº 2).
Uma vez emitida a aceitação, esta terá que ser declarada ao doador sob pena de não produzir
os seus efeitos (art. 945º, nº 3). O contrato só se considera concluído com a receção ou conhecimento
da aceitação pelo doador (art. 224º, nº 1).
Se se tiver verificado a tradição da coisa móvel para o donatário, ou do seu título representativo,
a receção por este do objeto doado é considerada como aceitaçao, não sendo assim necessária a prática
A lei prevê regras especiais em relação à capacidade para efetuar doações (capacidade ativa)
ou para receber doações (capacidade passiva), reguladas nos art. 948º e sgs.
Em relação à capacidade ativa, dispõe o art. 948º, nº 1, que “têm capacidade para fazer doações
todos os que podem contratar e dispor dos seus bens”. A lei equipara, então, a capacidade ativa nas
doações à capacidade contratual geral (art. 67º), da qual são apenas excluídos os menores (art. 112º e
sgs) e os maiores acompanhados em relação aos quais tenha sido estabelecida essa restrição (art. 138
e sgs). No entanto, no âmbito da doação, a incapacidade não pode ser suprida pelo poder paternal ou
pela tutela ou pela representação legal do acompanhado. É a solução do nº 2 do art. 949º, que bem se
compreende, dado que a realização de doações por estes apresentar-se-ia como contrária à natureza da
doação que, sendo um negócio determinado por um espírito de liberalidade, é de cariz essencialmente
pessoal, tendo assim que ser realizada pelo próprio doador. Para além disso, sendo o representante a
atuar, seria ele a atuar com espírito de liberalidade e, portanto, quem se assumiria como doador, mas a
diminuição patrimonial correspondente ocorreria antes noutro património, o do representado.
A lei estabelece que a capacidade é regulada pelo estado em que o doador se encontrar ao tempo
da declaração negocial (art. 948º, nº 2). Se a proposta de doação apenas caduca se não for aceite em
vida do doador (art. 969º), podem ocorrer alterações na capacidade do doador entre o momento da
declaração negocial e aquele em que o contrato é concluído. A lei considera, porém, como relevante
apenas a situação da capacidade do doador no momento da declaração negocial.
A cláusula de reversão afeta a doação de uma condição resolutiva (art. 270º). Esta fica resolvida
se a morte do donatário, ou dele e seus descendentes, se verificar antes da morte do doador. A sua
verificação tem efeito retroativo, como é regra na condição resolutiva (art. 276º e 961º).
No caso de se tratar de bens imóveis ou de móveis sujeitas a registo, a cláusula de reversão terá
que ser registada (art. 960º, nº 3), sem o que não será oponível aos herdeiros ou legatários do donatário,
ou a quaisquer subadquirentes.
Há, porém, uma exceção à aplicação do regime geral da condição, conforme resulta do art. 967º
que determina que as condições (ou encargos) física ou legalmente impossíveis, contrários à lei, à
ordem publica, ou ofensivos dos bons costumes ficam sujeitos às regras estabelecidas em matéria
testamentária, determinando neste caso a aplicação à doação do regime do testamento em substituição
do regime geral da condição. Não é assim aplicável, em sede de doação, o disposto no art. 271º que
determina a nulidade de todo o negócio subordinado a uma condição contrária à lei, à ordem pública,
ou ofensiva dos bons costumes, e também considera nulo o negócio subordinado a condição suspensiva
física ou legalmente impossível, caso em que é a condição resolutiva que se considera não escrita. Em
sede de doação vigora o regime do art. 2230º, que não faz afetar de nulidade estas doações.
Efetivamente, se forem físicas ou legalmente impossíveis consideram-se como não escritas e não
prejudicam o donatário, salvo declaração em contrário. Se forem contrárias à lei, à ordem publica ou
ofensiva dos bons costumes, consideram-se igualmente não escritas, ainda que o donatário tenha
declarado o contrário, salvo se se puder concluir que a doação foi essencialmente determinada por esse
fim, caso em que será integralmente nula (art. 2186º). No entanto, mesmo em relações às doações
nulas, admite-se a sua confirmação pelos herdeiros do donatário nos termos do art. 968º.
A lei admite a possibilidade de as doações serem oneradas com encargos (art. 963º, nº 1). O
modo ou encargo consiste numa restrição imposta ao beneficiário da liberalidade que o obriga à
realização de determinada prestação no interesse do autor da liberalidade, de terceiro, ou do próprio
beneficiário, podendo por isso, consoante os casos, revestir tanto a natureza de uma obrigação em
sentido técnico, como a de um mero ónus jurídico. Apesar de por vezes se intitular a doação com
encargos de doação onerosa, não se deve falar de uma onerosidade, pois se assim fosse estaríamos
perante uma compra e venda. Só existe doação com encargos quando, apesar da realização do encargo,
Uma vez que funciona como uma restrição à liberalidade e não como uma contraprestação, o
encargo fica limitado ao valor da própria liberalidade, estabelecendo por isso o art. 963º, nº 2 que o
donatário não é obrigado a cumprir os encargos senão dentro dos limites da coisa ou do direito doado.
Assim, o encargo não pode superar o valor da doação.
À semelhança da condição, o encargo não pode, porém, ser impossível, contrário à lei, à ordem
publica ou ofensivos dos bons costumes. Se forem física ou legalmente impossíveis, consideram-se
não escritos e não prejudicam o donatário, salvo declaração em contrário. Se forem contrários à lei, à
ordem publica ou ofensivos dos bons costumes, consideram-se igualmente não escritos, ainda que o
doador tenha declarado o contrário, salvo se se puder concluir que a doação foi essencialmente
determinada por esse fim, caso em que será integralmente nula (art. 967º, 2245º, 2230º e 2186º).
Não só são apertados os casos em que pode haver revogação, como há casos em que não há
sequer possibilidade de revogação. Refere, porém, o art. 975º certas situações, em que nem sequer se
admite a possibilidade de revogação por ingratidão do donatário. São elas: as doações para casamento
(art. 1753º e sgs.); as doações remuneratórias (art. 941º); a situação de o doador haver perdoado ao
donatário (art. 977º a contrario).
A ação de revogação da doação por ingratidão está sujeita a prazos específicos, referidos no
art. 976º. Não pode ser proposta nem depois da morte do donatário, nem pelos herdeiros do doador,
salvo os casos previstos no nº 3. E caduca ao fim de um ano, contado desde o facto que lhe deu causa
ou desde que o doador teve conhecimento desse facto.
Em relação à doação, verifica-se, como normalmente sucede nos negócios gratuitos, que o
elemento da gratuidade conduz a uma moderação no regime da responsabilidade do doador em caso
de responsabilidade do doador em caso de perturbações da prestação, quer derivadas da sua
ilegitimidade para alienar a coisa doada, quer derivadas da existência de vícios ou limitações do seu
direito em relação a essa coisa. Essa moderação resulta da ausência de uma garantia específica em
relação à coisa, que nos contratos gratuitos é prestada tal como é, o que conduz a responsabilidade do
doador seja normalmente limitada ao dolo, a menos que ele tenha expressamente assumido outro tipo
de responsabilidade.
O art. 956º, nº 1, vem instituir a nulidade da doação de bens alheios. Coerentemente com aquela
ideia da moderação da responsabilidade do doador, o art. 956º, nº 2 vem estabelecer que a regra geral
da irresponsabilidade do doador pelos prejuízos causados ao donatário.