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Todavia, várias vezes iremos referir o Cód. Comercial, pois alguns contratos civis também estão
regulados do Cód. Comercial
2
O contrato de mútuo é sem dúvida de grande importância também.
1
CONTRATO DE COMPRA E VENDA
1.1. Noção, características,forma e efeitos.
A busca para transladar o património da esfera jurídica de uma pessoa para outra
é negócio jurídico que nos remete ao direito romano, uma vez que este é fonte do nosso
ordenamento jurídico.
O regime jurídico do contrato de compra e venda vem regulado nos arts. 874.° a
939.°.
3
Contrato de reporte que é de origem anglo-saxónica é comumente designado por REPO- diminutivo
de repurchase agreement-, consiste num acordo entre duas partes em que uma acorda vender e,
posteriormente recomprar um activo- (tal como valores mobiliários- que é uma acção ou crédito)
4
Contrato de troca é aquele em que as partes se obrigam reciprocamente a transferir um direito de
propriedade ou outro direito sobre uma coisa, ou seja, a entregar coisas. Se a troca for de dinheiro por
dinheiro o contrato é bancário de câmbio e não, como impropriamente é designado, compra e venda de
divisas.
5
Assim como a compra e venda internacional é a base de todos contratos internacionais como o
contrato internacional de seguro, contrato internacional de transporte, financiamento, etc. Compra e
venda internacional é aquela em que a mercadoria vendida deve ser entregue em
outro país diverso daquele em que ela se encontra no momento da conclusão do
contrato. Normalmente a compra e venda internacional é regulada por regras costumeiras
internacionais, designadas por INCOTERMS.
6
Se no mesmo contrato a uma transferência reciproca de direitos sobre coisas e acréscimo de um
preço, o contrato será misto, aplicar-se-á a teoria combinação. Alguma doutrina entende que será
de troca ou compra e venda em função do valor a acrescer em relação a coisa.
7
Ao contrário de alguns países que restringiram a denominação à venda- Direito Francês e Italiano-; ou
o contrato de compra- Direito Inglês e Alemão. A convenção de Viena de 1980,adoptou venda de
mercadorias.
2
a) O seu objecto é sempre um direito (objecto imediato)8. Fala-se em alienação de
uma coisa, mas, na realidade, o que se aliena é a propriedade da coisa ou outro
direito. Constitui objecto da compra e venda direitos reais (o usufrutuário,
contudo, o titular do direito de uso e habitação não pode alienar por compra e
venda – arts. 1446.º e 1488.º), direitos de créditos (cessão de direitosart. 577.º-
cessão da posição contratual – 424.º 9⬄venda de jogadores-.), alienação de
herança, trespasse10,direitos do autor, propriedade industrial, etc. Não constitui
compra e venda a assunção de dívida, na medida em que alei considera como
contrato translativo de obrigações e não de direitos, assim como
aquelassituações que não possam ser consideradas como direitos subjectivos
(venda de informações, de segredos ou produtos financeiros).
8
Sendo o objecto mediato a própria coisa.
9
A venda de jogadores é na verdade uma cessão da posição contratual.
10
Trespasse é um acto formal que importa a transmissão da propriedade do estabelecimento comercial,
mas considerando este na sua totalidade, como unidade económica e funcional do negócio ou comercio.
11
Bolsa de valores é um ambiente de negociação no qual investidores podem comprar ou vender seus
títulos emitidos por empresas, sejam privadas, de capitais públicos ou privados. Este processo é
intermediado com auxílio de correspondentes de negociação através de corretores. A bolsa é o
ponto de encontro entre quem quer vender uma acção e quem quer comprar.
Através dela uma empresa decide vender, abrir seu capital e disponibilizar acções em troca de
verbas, os interessados podem se tornar sócios da empresa comprando pequenas fatias do negócio.
3
Na caracterização jurídica da compra e venda, dizem os civilistas (TITO
FULGÊNCIO, ESPÍNOLA, CARVALHO MENDONÇA, SEBASTIÃO DE
SOUSA, entre outros) que este contrato é:
⇨Contrato típico e nominado12 (arts. 874.° e ss. do C.C. e 463.° Cód. Comercial). Ao
contrário da troca que é atípica e inominada no C.C., porém, nominada no Cód.
Comercial, art. 480.ᵒ,mas atípica.
⇨Contrato consensual13
⇨Contrato oneroso14
⇨Contrato sinalagmático15 (as prestações são reciprocas e interdependentes, funcionam
em termos de correspectividade- sinalagma genético e funcional)
⇨Contrato obrigacional e real quoad effectum16
⇨Comutativo, excepcionalmente aleatório17
⇨Contrato de execução instantânea; excepções18
1.1.4. Forma
4
O contrato de compra e venda produz um efeito real e dois obrigacionais,
designadamente: transferência do direito de propriedade ou outro direito real;
obrigação de entregar a coisa; obrigação de pagamento do preço.
A) EFEITO REAL
O feito real da compra e venda vem previsto no art. 879.° a)e art. 408.°n° 1
Tal efeito real encontra-se também no art. 1470.ᵒdo Código Civil Italiano.
O sistema do título e modo, em vigor na Áustria e Espanha, para que o efeito real
se produza não basta o título, a realização do contrato, sendo necessária a realização de
um segundo acto de transmissão (traditio ou o registo), o modo, constituindo assim um
negócio causal. Se se verificar apenas o título o contrato apenas produz efeitos
obrigacionais.
21
Se a coisa for presente e determinada.
22
O C.C. Brasileiro define a compra e venda no art. 481.°“ pelo contrato de compra e venda, um dos
contraentes se obriga a transferir o domínio de certa coisa, e o outro, a pagar-lhe certo preço em
dinheiro”. Neste sentido o contrato de compra e venda no ordenamento jurídico brasileiro gera apenas
entre as partes obrigações, devendo-se praticar-se um acto posterior para se transferir a propriedade.
23
Existem outros títulos aquisitivos de direitos como a usucapião, sucessão mortis causa, acessão)
5
⬄No nosso direito, a transferência da propriedade não implica necessariamente a
transferência da posse24 da coisa. Não havendo tradição da coisa quer simbólica ou
material, a posse só se transfere por constituto possessório (art. 1264.°).
⇨Excepções
Existem hipóteses em que a transferência do direito real não se opera por mero
efeito (art. 408.° n° 2).
6
direito de crédito, concorrendo até com os outros credores que tem direitos sobre o
património do comprador, e sem qualquer preferência (art. 604.° n° 1).
7
posse uma vez que o comprador tem uma expectativa jurídica de aquisição oponível a
terceiros, podendo usar e fruir a coisa, defender o gozo da coisa através da inerência e
sequela, podendo intentar acções possessórias (arts. 1276.°) e exigir indeminizações.
Risco é um facto futuro e incerto, do qual pode resultar algum dano a coisa. A
questão que se coloca no âmbito do risco é a de saber a quem cabe suportar o risco
peladeterioração ou perecimento da coisa.
A primeira consta do n.° 2 (termo, por regra termo certo) Ex: A aliena a B um
automóvel, porém só o vai entregar numa certa data quando receber a encomenda de
outro automóvel, se se deteriora ou perde com ou sem sua culpa, estes danos ser-lhe-ão
imputáveis. O art. 807.°refere-se a mora na entrega. Assim, se não entrega na data
acordada e a coisa se deteriorar ou for roubada ainda que não seja culpa sua ser-lhe-á
imputável.
8
contrato cessarão se A casar, se ainda não casar a condição não se verificou nem deixou
de se verificar, se houver um dano será imputável ao comprador (tendo ou não culpa).
O que esta em causa não é a titularidade do direito, mas sim a relação material
com a coisa.
EFEITOS OBRIGACIONAIS
B) ENTREGA DA COISA
31
PIRES DE LIMA7ANTUNES VARELA, C.C. Anotado, p. 51.
9
Se a coisa já estiver na posse do comprador, fica excluída essa obrigação de entrega
(por exemplo se a coisa for vendida ao inquilino ou quem a tenha alugado).
Se o comprador não aceita receber a coisa o vendedor pode consignar em depósito 35,
nos termos do art. 841.°e ss.
C) PAGAMENTO DO PREÇO
Ao comprador cabe aobrigação de pagar o preço, nos termos do art. 879.° b)e 474.º
do Código Comercial. Configurando-se numa obrigação pecuniária36 de quantidade (art.
550.°). Nestes termos segundo o princípio do curso legal o preço deve ser pago em
Kwanzas, mas pode ser pago em moeda específica ou estrangeira, arts. 552.°e ss e
558.°.
O preço define-se por dois elementos: material - deve consistir numa quantia em
dinheiro; um funcional – deve ser objecto da obrigação assumida.
10
indicação do valor dos bens trocados entre os contraentes ou o montante de
indemnização por falta da obrigação assumida, cujo objecto seja a entrega de bens
diferentes de dinheiro.
Se uma das partes se obriga a entregar ou uma quantia em dinheiro ou uma coisa,
para RAÚL VENTURAp. 607, trata-se de uma venda com faculdade alternativa
para o comprador, mas venda, porque se estipulou primeiro dinheiro.
a) Preços fixados
. Fixação por autoridade pública (os critérios supletivos não podem ser aplicados se o
preço for fixado por autoridade pública)37.
Muitas vezes o preço fixado por autoridade pública não é um preço fixado, mas
apenas um preço máximo (câmbio fixado pelo BNA em relação a moeda estrangeira,
mas que não é compra e venda).
b) Preços convencionados
. Determinação directa – pelas partes ou vendedor. Mas o preço pode ser fixado
mais tarde por exemplo na venda de cereais (sendo o preço determinável mas não
determinado).
Quanto ao lugar e momento, cfr. art. 885.° (domicílio do devedor), que se afasta da
regra estabelecida no art. 774.°.
11
parcialmente possível (art. 793.°), venda por unidade e global 887.º e 888.º nº 2 (Assim,
Se houver discriminação de cada parcela do preço global, o preço será respeitante
a parte válida. Ou vende-se por 10.000,00 600 m2 quando só tem 590 m2), ou venda
de coisa defeituosa (art. 911.°).
São aplicáveis as regras gerais dos arts. 762.°- boa-fé-, e ss., 790.°-impossibilidade-,
e ss e 804.° - mora-, e ss.
2. Se a coisa não for ainda entregue, ainda que já tiver sido transferida a
propriedade (com excepção do não cumprimento, art. 428.°.);
3. Na venda sob reserva de propriedade (art. 409.°), pois, nesta, ainda não foi
transferida a propriedade.
39
Avaliação é o arbitramento destinado à simples determinação do valor de um bem ou direito. Avaliação
Judicial art. 603.º.
12
VENDAS INTERDITADAS
Na literatura jurídica alguns autores falam de proibições de vendas (RAÚL
VENTURA, MENEZES LEITÃO, entre outros), outros consideram estas hipóteses
incluídas nas modalidades típicas de compra e venda 40. Na verdade trata-se de uma
questão dogmática. Porém, preferimos vendas interditas, pois o código proíbe que tais
contratos de compra e venda sejam celebrados entre determinados sujeitos ou só em
determinados termos (como o assentimento de terceiro), pois, verifica-se a falta de uma
qualidade específica para serem parte no âmbito deste direito.
40
Cfr. PEDRO ROMANO MARTINEZ, defende que elas tem uma particularidade de regimes, logo, são
modalidades de vendas, p. 57
13
A exigência de consentimento por parte de terceiro esta relacionada por um
particular regime da compra e venda. Tal problema não resulta da incapacidade ou a
ilegitimidade das partes, apesar de relacionada com os sujeitos do negócio41.
É em função dessa função protetiva que o art. 877.ᵒ,estabelece que“os pais e avôs
não podem vender afilho ou netos sem consentimento dos outros descendentes”. O Cód.
De Visconde Seabra continha uma disposição semelhante no art. 1565.º.
14
O antigo Código Civil abrangia também a hipoteca. Não há referência expressa no
Novo Código em relação a hipoteca.
Noutro prisma, será este filho beneficiado por obter um crédito bancário devido
a uma hipoteca voluntária feita pelos pais? Talvez seja de admitir esta vertente mas,
iríamos cair (provavelmente) no exagero do alcance de uma norma que possui uma
natureza excepcional.
15
Esta disposição abrange duas situações: a venda a filhos e a venda a netos; não
carece de qualquer autorização a venda a bisnetos, nem as situações em que o vendedor
é filho ou neto45.
45
Para RAUL VENTURA não vê que os bisavôs sejam menos tentados que os pais e avós a dissimular,
por vendas, doações, feitas a bisnetos.
16
17
A lei não refere sobre a venda ser realizada por interposta pessoa. O que faz supor
que a venda de pais e avós por interposta pessoa não é proibida 46. Parece que esta
omissão não querida pelo legislador pretende-se evitar uma repetição da venda de coisa
ou direito litigioso (arts. 579.ᵒ e 876.ᵒ). Se a venda for realizada por interposta pessoa
haverá uma fraude a lei e é aplicável o art. 877.ᵒ.
O consentimento não carece de forma especial (ainda que a venda exigir forma
especial) e caberá aos outros filhos ou sucessores se aqueles tiverem falecido, podendo
ser expressa ou tácita.O art. 877.ᵒpressupõe a existência simultânea de vários filhos ou
netos, nada interessando que, depois da venda, o pai ou avô vendedor venha a ter mais
filhos ou netos; basta reparar que os filhos ou netos nascidos posteriormente à venda
não poderiam dar o consentimento para na altura em que é celebrada.
Havendo compropriedade entre o pai e filhos e o pai quiser alienar a um dos filhos
titular de direito de preferência (art. 1409.ᵒ) não carece de consentimento dos outros
descendentes.
46
Neste sentido seguiu GALVÃO TELLES.
18
19
20
b) VENDA DE COISA OU DIREITO LITIGIOSO
Esta proibição vem prevista no art. 876.ᵒ. É de notar a existência de uma duplicação
nos arts. 876.ᵒe art. 579.ᵒ (Cfr.). Este último regula a cessão de créditos ou outros
direitos litigiosos e aquela, além da venda de coisa litigiosa, a venda de direitos
litigiosos; a duplicação resulta de a cessão de direitos compreende a venda de direitos.
A definição de direito litigioso encontra-se no nᵒ 3 do art. 579.ᵒ.
A palavra direito litigioso serve para definir “coisa litigiosa”, embora com as
necessárias adaptações, pois não faz sentido por exemplo “coisa contestada”.
O objecto da acção pode ser uma acção declarativa em todas suas modalidades ou
acções executivas.
Quando as primeiras pessoas a lei diz “se o processo decorrer” quanto as últimas a
lei diz “ que tenham intervenção no processo”.
Porém, esta proibição cessa se se verificar uma das hipóteses previstas no art. 581.ᵒ.
A lei sanciona com a nulidade e ainda a obrigação de reparar danos (arts. 876.ᵒ nᵒ 2
e 580.ᵒ nᵒ 1). Entretanto, a nulidade não pode ser invocada pelo comprador, pois, o
comprador celebraria um negócio que poderia sempre declarar nulo se a operação
especulativa não lhe corresse de feição. Essa nulidade é estabelecida fundamentalmente
no interesse do vendedor.
O comprador deve repara os danos causados. A venda em si não causa danos, mas a
nulidade pode causa-los (indeminização pelo interesse contratual negativo)
47
RAÚL VENTURA, pág. 264.
48
Idem, pág. 265
21
Estabelece o art. 141.ᵒdo Cód. Família que “os pais, no exercício da administração
legal dos bens dos filhos, não podem, sem autorização do tribunal, praticar actos de
alienação de bens imóveis ou móveis com carácter duradouro, repudiar heranças; ou
contrair obrigações que vinculem o filho depois de este atingir a maioridade”. A lei
não fala em aquisição. Contudo, esta disposição abrange também tal hipótese49. E se o
pai compra um bem que administra pertencente ao filho, estaria a contratar com um
incapaz, logo, o contrato é anulável por incapacidade por menoridade do vendedor filho
(art. 126.ᵒ).
Em relação ao tutor o art. 238.ᵒdo Cód. da Família manda aplicar o disposto no art.
141.ᵒ. Os actos praticados sem autorização do tribunal é aplicável o disposto no art.
145.ᵒ,
É aplicável aos curadores por força do art. 156.ᵒdo Código Civil o regime da
curadoria com as necessárias adaptações.
49
Ademais, tratar-se-ia de um negócio consigo mesmo (art. 261.ᵒ).
22
1. VENDA DE BENS FUTUROS, FRUTOS PENDENTES E PARTES
COMPONENTES OU INTEGRANTES.
Estas vendas vêm reguladas no art. 880.ᵒdo C. C. e 467.ᵒdo Cód. Comercial,
constituindo uma excepção a regra da transferência imediata do direito (art. 408.ᵒ nᵒ 2).
Trata-se de vendas celebradas sob condição suspensiva nos termos dos arts. 270.ᵒe ss.
Não deve confundir-se venda de coisa futura com a venda de coisa alheia, embora
as partes podem atribuir na venda de coisa alheia a natureza de futura (art. 892). Na
coisa futura nenhuma das partes ignora que a coisa não pertence ao alienante, ainda que
haja necessariamente a expectativa de ela vir a integrar, no futuro, o seu património
(emptio rei speratae)50. Não se confunde a venda de coisa de existência ou
titularidade incerta (art. 891.ᵒ) em que as partes ignoraram se coisa existe ou quem é o
titular, mas a coisa é presente. Nesta falta atitude psicológica da coisa vir a existir ou
integrar no património do alienante.
As coisas futuras são aquelas que não estão ao poder do disponente ou a que este
não tem direito ao tempo da declaração negocial.
Seria uma venda de um bem ou direito futuro quando o bem ou direito vendido
não tem existência jurídica (por exemplo como um crédito não constituído ou um
direito real) ou o direito já existe mas não esta na titularidade do transmitente.
Nestes termos, as coisas futuras podem ser absolutamente futuras (quando nem
sequer existe), ex: venda de coisa que o vendedor construirá). Serão relativamente
futuras se elas existem mais não são propriedade do vendedor ou seja pertencem a um
terceiro (ex: a venda de uma coisa objecto de processo judicial nos casos de violação de
preferência legal ou real ou venda de peixes que ira pescar (res nullius, in rerum
natura). Esta hipótese confunde-se com a empreitada com fornecimento de matérias
pelo empreiteiro.
23
Se vendedor não cumpre, porque não realiza a prestação, fazendo com que deixe de
ser futura, são aplicáveis as regras gerais sobre esta matéria os arts 798.ᵒe ss.. Devendo
ser restituído ao comprador o preço.
As partes podem atribuir carácter aleatório a compra e venda de bens futuros nos
termos do nᵒ 2. São os casos em que o objecto da venda é uma mera esperança de
aquisição das coisas (emptio spei-chance). Ex: A vende a futura plantação de serais,
independentemente de esta ocorrer ou não, o comprador fica obrigado ao preço. Assim,
existem duas modalidades de venda de coisa futura (a emptio rei speratae52- o preço só
é devido se a transmissão dos bens vier a verificar-se-, e emptio spei- o preço é devido
ainda que a transmissão dos bens não vier a verificar-se).
Neste caso, por vontade dos contraentes, não há obrigação de restituir o que houver
sido prestado pelo comprador; e se, este não pagou o preço, é obrigado a fazê-lo (salvo
se houver culpa do vendedor), não obstante a impossibilidade do cumprimento por parte
do vendedor (sem culpa, por exemplo uma estiagem) e não verificação da transferência
da propriedade.
Frutos pendentes são os que estão ligados à árvore. São os frutos naturais são os
frutos produzidos pela natureza, os que se renovam periodicamente, em razão da força
orgânica da natureza, sem a intervenção do homem 53, de produção periódica e que não
alteram a substância. Ex: a venda das laranjas de um pomar, quando ainda não estão nas
árvores.
52
Venda de coisa esperada.
53
Uma fábrica que produza doces de manga ou goiaba, este constitui um fruto industrial
24
2. VENDA DE BENS DE EXISTÊNCIA OU TITULARIDADE INCERTA
Constitui também uma modalidade específica de venda, aludida nos arts 881.ᵒe ss do
C.C. e 467.ᵒnᵒ 1 do Cód. Comercial (na verdade o a lei comercial não à regula, apenas a
remete para o C.C.).
Entretanto, não impede que se celebre contrato de compra e venda sobre um bem
cuja existência ou titularidade se apresente incerta, todavia, dever-se-á fazer menção a
essa incerteza no próprio contrato.
A lei presume que o contrato tem carácter aleatório (emptio spei), sendo o preço
devido pelo comprador. Porém, tratando-se de uma presunção iuris tantum, as partes à
podem ilidir, sendo o preço pago se o bem vier a existir ou pertencer ao vendedor. Mas
se se verificar uma impossibilidade originária, o contrato é nulo e, o preço não será
pago.
Há quem considere que a emptio spei não se enquadra na compra e venda, porque o
preço pago sem contrapartida da venda, seria outro tipo de contrato, pois, falta a coisa.
Entretanto a característica comutativa não é imprescindível na compra e venda, ademais
no momento da formação do contrato, não há diferença entre compra e venda de coisa,
com carácter aleatório ou não, ficando dependente de uma condição. Acresce que, tendo
o contrato natureza aleatória, se a coisa vier a existir, procede-se a troca de dinheiro pela
coisa, independentemente do carácter aleatório. Não é o carácter aleatório que impede a
qualificação do contrato como de compra venda.
54
A venda de bens de existência e titularidade incerta difere da venda de bens futuros e da venda de bens
alheios: nesta existe uma expectativa futura de aquisição ou autonomização da coisa no património do
vendedor, naquela há incerteza de uma situação presente relativa a existência e titularidade do bem
objecto da venda. Na venda de bens alheios o vendedor não celebra na qualidade de proprietário,
excluindo qualquer garantia a essa situação. Cfr. MENEZES LEITÃO, p 48-49
55
Vendem-se arroz por 10.000 e afirma-se que tem 100 kg. Realiza-se uma operação de pesagem. Ou
vendem-se cada por 100 kzs frutas e diz-se que tem mil. Realizar-se-á uma operação de contagem.
25
Consiste esta, numavenda de coisas determinadas, ainda que sujeitas a uma posterior
operação de contagem, pesagem ou medição56. Não se aplica as coisas genéricas, na
medida em que nesta estão em causa coisas indeterminadas (tantos kilowatts de
eletricidade ou vinte garrafas de vinho).
O art. 472.ᵒdo Cód. Comercial estabelece que (…) . Deste artigo pode-se retirar que
há um regime diferente de risco na venda por conta, peso ou medida, que corre por
conta do vendedor (enquanto for indeterminada) até que elas sejam contadas, pesadas
ou medidas, excepto se a contagem, pesagem ou medição não foi realizada por culpa do
comprador. O que faz supor que esta disposição se refere a coisas genéricas 57, sujeitas a
essa regra (art. 541.ᵒ) e, não de coisas determinadas sujeitas a contagem, pesagem ou
medição58 (arts. 887.ᵒ e ss.). Nestes termos a transferência da propriedade no contrato
mercantil de compra e venda de coisas sujeitas a contagem, pesagem e medição se opera
com a concentração (art. 408.ᵒ nᵒ 2 C.C.).
Ex: A vende o vinho de umaadega61 por 2.000 kzs a pipa62; indica-se a existência
de 20 pipas. Ao se realizar a operação de contagem na realidade existem apenas 19.
Vende-se um prédio rústico 1000 kzs o m2 ou vende-se o prédio rústico que se diz
medir 1 hectare, a 1000 kzs o m2. Quando se procede a medição só tem 800 m2. O
preço que resulta da multiplicação de cada unidade não coincide com o produto
declarado. Portanto, o preço será corrigido.
Venda ad corpus não se fixa agora o preço por unidade, mas sim um preço global,
embora se indique o número, peso e medida da coisa vendida (art. 888.ᵒ).
56
Por exemplo vender tantos acessórios de automóveis ou tantos kg de ouro ou tantos km2.
57
A compra e venda mercantil de coisa sujeita a contagem, pesagem ou medição não tem de ser
necessariamente genérica; pode vender-se uma coisa específica que vai depois, ser contada, pesada ou
medida. Nesse domínio a lei comercial remete para a lei civil (art. 3 da Cód. Comercial)
58
A diferença entre venda a esmo ou a partida por inteiro e venda sujeita a contagem, pesagem e medição
cfr. Art. 472.ᵒparágrafo 1º e 2º.
59
O requisito comum dos dois artigos é ser objecto de venda de coisa determinada.
60
O preço é fixado em razão de tanto por unidade, quando a declaração negocial fixa uma importância em
dinheiro por cada unidade de quantidade de coisa, de modo que o preço devido resulta da multiplicação
dessa importância pelo número de unidades (reais ou declaradas).
61
Adega é o lugar onde armazena vinho em garrafas, barris ou em barricas.
62
Pipa é uma vasilha grande de madeira usada para armazenar líquidos, ou seja é um barril.
26
Ex: vende-se um terreno que mede 1hectare por 10.000 kzs; ou vende-se uma
adega por 50.000.00, com a declaração de que nele existem 50 pipas.
Assim, nos termos do art. 888.ᵒnᵒ 1, se o terreno tiver 950 m2 ou adega tiver 49
pipas, o preço prevalece o declarado.
Se houver erro de cálculo também não se aplica o regime da venda de coisas sujeitas
a pesagem, medição e contagem. Ex: A vende 1000 kg de cereal (obrigação genérica)
por 1.000 kzs, se constar que o preço é de 1.100.000, há divergência que se prevalece
pelo preço determinado pela multiplicação, que seria 1.000.000 kzs. Neste caso aplica-
se o art. 249.ᵒ.
O mesmo sucede se alguém se obriga a entregar 1000 kg de milho por 50.000 kzs., e
só entrega 800 kg aplica-se o arts. 793.ᵒe 802.ᵒ, cumprimento parcial.
Também não se aplica esta venda no caso de uma empresa fornecedora de energia
eléctrica, se houver um erro na facturação da energia consumida pelo cliente, não por ter
indicado um consumo diferente do real, depois de acertado o preço do quilovático, mas
por ter omitido um factor de cálculo do preço.
63
Vigésima é cada uma das vinte partes que se divide um todo. 20%
64
Vem prevista no art. 847.ᵒ, deriva do latim “pensare cum” e traz a ideia de balança com um peso em
cada um dos lados. Consiste na extinção reciproca de obrigações até a concorrência dos respectivos
valores entre pessoas que são devedoras uma da outra.
27
Ex: A vende por 10.000 kzs arroz e feijão existentes num celeiro e se destacar
que há nele 100 arrobas65de arroz e outras 100 de feijão. Se pela pesagem se
verificar que só há 90 de arroz e 110 de feijão haverá compensação. Não haverá
redução do preço ou aumento.
Já não será assim se no mesmo documento se vender por 1000 kzs, 100 barras
de ouro e 100 kg de milho e depois perceber-se que só tem 90 barras de ouro e 110
kg de milho, porque falta homogeneidade e parece haver contratos diferentes.
Existem duas vicissitudes que extinguem um direito pelo não exercício durante
um certo lapso de tempo: a prescrição e a caducidade.
a) A partir da entrega;
b) Do momento em que a diferença se torne exigível, sendo esse momento
posterior a entrega (quando a contagem ou medição ser feita depois da entrega
ou haver prazo para o cumprimento desta obrigação);
c) Do dia em que o comprador receber a coisa de for enviada (nᵒ 2).
RESOLUÇÃO
65
É uma unidade de medida que corresponde à 15 kg.
66
A compra e venda a contento comercial não vista, à condição resulta da natureza do contrato. Nas
outras, depende de convenção.
67
A venda a contento é comum ser feita nas vendas por catálogo.
28
A venda sujeita a prova é aquela que fica condicionada ao resultado de um exame
a fazer, destinado a averiguar a aptidão do objecto à satisfação do fim a que se
destina e a existência, nele, das qualidades asseguradas pelo vendedor. Ex:
VENDA A CONTENTO
No regime do nosso código civil, esta modalidade não se trata de uma verdadeira
venda, porque não há contrato, traduzindo apenas uma proposta e cabe ao comprador
aceitar ou não.
Entretanto, a lei estabelece que a coisa deve ser facultada ao comprador para exame
(art. 923.ᵒ nᵒ 3), pelo que, se a coisa não for entregue o prazo para aceitação não conta.
Se a coisa não agradar o comprador, tem o direito de resolver o contrato nos termos
do arts. 432.ᵒe ss. do C.C. e 470.ᵒdo Cód. Comercial , mantendo-se esse direito ainda
que o bem tiver sido entregue. (cfr. o nᵒ 3).
68
A degustação (experimentar, provar) não corresponde a um direito de arrependimento
69
Estas regras não se aplicam nas vendas catalogadas, por força do regime da defesa do consumidor. De
contrário seria uma espécie de venda forçada, porque seria uma forma de pressionar os compradores a
darem uma resposta.
70
A venda a contendo se relaciona com a venda à consignação (contrato estimatório), em que a coisa
comprada (normalmente livros, revistas, artigos de artefactos ou géneros alimentícios) pode ser devolvida
se o comparador, num certo prazo, não conseguir revender, com direito a reaver o preço pago ou, não
sendo efectuado o pagamento, deixa de ser devida a prestação do preço. ROMANO MARTINEZ, p. 78
29
Na venda sujeita a prova o contrato não se considerará definitivo enquanto o
comprador não averigue, através do prévio uso da coisa, se é idónea para o fim a que
destina ou tem as qualidades asseguradas pelo vendedor, não importando se a coisa o
agrade. Trata-se também de uma venda sob condição suspensiva ou resolutiva (art.
925.ᵒ).
A prova sobre as qualidades ou fim devem ser feitas nos prazos estabelecidos no
nᵒ 2, bem como comunicar ao vendedor o resultado da prova, nᵒ 3.
5. VENDA A RETRO71
A venda a retro vem regulada no C.C. nos arts. 927.ᵒe ss., que, no entanto, era proibida
pelo C.C. de Visconde Seabra.
Venda a retro é a cláusula pela qual o vendedor se reserva o direito de, no fim
de certo prazo, desfazer o contrato e reaver a cousa vendida, restituindo o preço
recebido (CUNHA GONÇALVES, Da compra e Venda, 2ª ed. p. 475).
A venda a retro tem sido considerada em termos económicos não como uma
compra e venda, mas como função creditícia em relação ao vendedor e uma garantia em
relação ao comprador. Efectivamente, o contrato se apresenta como uma operação de
financiamento na qual o pagamento do preço substitui a concessão de um empréstimo
71
Difere-se da retro-venda o designado pactum retro-vendendo pois esta produz eficácia meramente
obrigacionais, vinculando o comprador a revender a coisa ao vendedor.
72
DE MARTINI, ROMANO MARTINEZ, entre outros. Contra BIANCA, PEDRO DE
ALBURQUERQUE, MENEZES LEITÃO, trata-se de uma revogação ou resolução do contrato; para
OUTROS GORLA, BARASSI, trata-se de propriedade temporária ou resolúvel.
30
pelo comprador ao vendedor, e o direito de resolução substitui o reembolso desse
mesmo empréstimo.
Por força da sua configuração financeira a venda a retro tem sido questionada,
uma vez que através dela pode-se esquivar-se da proibição dos pactos comissórios 73,
previsto nos arts. 694.ᵒ, 695.ᵒ, 698.ᵒe 753.ᵒ, bem como pode também resultar em negócio
usurário se se acordar que em caso de resolução o vendedor ter que pagar um preço
muito alto. Acresce RAÚL VENTURA que também pode resultar em simulação,
por dissimular um mútuo com garantia real.
Quanto a forma, a venda retro segue a mesma forma para o contrato. Deve ser
registada (art. 932.ᵒ)
Quanto ao seu regime cfr. arts. 928.ᵒ (cláusulas invalidas); 929.ᵒ (prazos); 930.ᵒ
(modo de resolução74 ); 435.ᵒ (efeitos da resolução) e art. 931.ᵒ
6. VENDA A PRESTAÇÕES
73
Pacto comissórioé convenção estabelecida entre o credor e o devedor, em virtude da qual se permite
ao credor apropriar-se directamente da coisa dada como garantia, perante a obrigação assumida pelo
devedor. O art. 694.ᵒdefine-o “é o acordo segundo o qual o credor faz sua a coisa onerada se, no caso de o
devedor não cumprir”. Esta proibição está prevista na lei civil a respeito da hipoteca, regime
paradigmático das garantias reais e é, ainda aplicável por remissão do art. 678.ᵒem sede de consignação
de rendimentos (art. 665.ᵒ) e de penhor (art. 678.ᵒ). O pacto comissório é nulo por força do art. 280.ᵒnᵒ 1 e
294.ᵒ. É proibida também no direito alemão pág. 1229.ᵒe no pág. 1149.ᵒ, na Espanha art. 1859.ᵒ, Itália art.
2348.ᵒ. Os pactos comissórios são negócios celebrados em fraude a lei.
74
Esta disposição determina que a resolução deve ser feita por notificação judicial avulsa- é um meio que
serve para, através do tribunal, dar a conhecer a alguém de um acto ou facto em que não existe acção
pendente.
75
Haverá união de contratos quando os contratos estão ligados entre si de acordo com a intenção das
partes, todavia mantêm a sua individualidade. Ao contrário dos contratos mistos, aqui não a fusão dos
contratos. A união pode ser interna, externa e alternativa.
31
podendo eventualmente, os dois contratos estarem coligados; esta situação ocorre
sempre que o empréstimo é feito em função de uma compra e venda determinada, em
particular, quando o preço é pago directamente pelo mutuante ao vendedor. Ao
contrário, a compra e venda a crédito existe um único negócio em que o vendedor
assume as vestes similares às do mutuante, aceita receber o preço ou parte dele mais
tarde; todavia, o vendedor não empresta dinheiro ao comprador, característico do mútuo
(art. 1142.ᵒ).
O art. 934.ᵒtem uma construção elegante, todavia, peca por começar da hipótese mais
específica para a hipótese mais ampla. A reserva de propriedade resulta de convenção,
mas não é exclusiva da venda a prestações conforme resulta da sua segunda parte. Esta
disposição refere-se a venda a prestações com ou sem reserva de propriedade.
A primeira circunstância incluída na previsão legal do art 934.ᵒé a de ter havido reserva
de propriedade (cfr. 409.ᵒ). Compreende-se essa exigência, pois, se houver transferência
de propriedade, deixa de ser possível, a resolução do contrato por falta de pagamento do
preço, nos termos do art. 886ᵒ.
Mas se estiverem em divida duas prestações, mesmo que de valor inferior a um oitavo
do preço, o comprador pode resolver o contrato.
O outro regime vem previsto no art 781.ᵒ (cfr.) (por força da parte final do art. 934.ᵒ,
quando se fere a perda do benefício do prazo).
Nos termos deste artigo é necessário que a prestação exceda um oitavo, para que se
exija a exigibilidade antecipada (de todas as prestações em falta).
76
Interpelação admonitória consiste numa intimação formal, do credor ao devedor moroso, para que
cumpra a obrigação dentro de prazo determinada, com expressa advertência de se considerar a
obrigação como definitivamente incumprida
32
incumprimento definitivo depois de decorrido o prazo admonitório (é o que e consta da
interpelação) (art. 808.ᵒ), podendo o comprador resolver o contrato.
A excepção aberta no art. 934.ᵒao regime geral da venda a prestações reveste carácter
imperativo. A expressão final do texto legal “ sem embargo de convenção em
contrario”, deve entender-se “ não obstante convenção em contrário, ou ainda que haja
ou mesmo haja convenção em contrário”.
Cláusula penal
A cláusula penal é genericamente permitida no art 810.ᵒ, como modo de fixação prévia
da indeminização pelo incumprimento.
Ex1: A vende um automóvel por 1000 kzs, e se estipulou que no caso de não
cumprimento, pagaria a título de indeminização 700 kzs. Em caso de inadimplemento
proceder-se-á a redução até 500 kzs
Ex2:A vendeu um automóvel a prestações por 1000 kzs, e se estipulou que no caso de
não pagamento integral, o comprador perderia as prestações pagas. Pagaram-se 600 kzs.
Em princípio, o vendedor terá de restituir 100 kzs e ficaria com 500 kzs, em harmonia
com o disposto no nᵒ 2 1ª. Se porém, os seus prejuízos forem superiores (o automóvel
pode já não valer nada), mesmo sem convenção, o comprador tem direito a ser
indemnizado até 600 kzs recebidos.
7. LOCAÇÃO VENDA
Ex: A arrenda uma casa a B, e estipulasse que com a última renda se transfere a
propriedade do imóvel.
77
Também designado em por crédt-bail, locazione financeira, arrendamento mercantil. O leasing traduz-
se aparentemente numa locação a médio ou a longo prazo, completada com a faculdade (ou opção) de
compra na qual se tomam em conta as rendas ou alugueis já pagos pelo comprador (ORLANDO
GOMES E A. VARELA, Direito Economico, p272).
33
Com esta venda pretende-se evitar que o locatário-comprador, usurariamente, perca
tudo aquilo que pagou, quer a título de renda, quer de preço de uma compra; por outro
lado, que locador-vendedor sofra prejuízo por ter a casa improdutiva e a deteriorar-se
durante certo lapso de tempo.
Se for resolvido o contrato serão devolvidas as rendas e alugueres pelo locador, pois,
esta produz efeitos retroactivos; podendo ser indemnizado pela deterioração da coisa
(Ao contrário da renda resolúvel, em que não há restituição das rendas pagas).
Vem prevista no art. 937.ᵒ. Nesta venda, a entrega da coisa é substituída pela entrega
do título representativo79 e dos documentos exigidos pelo contrato, ou, no silêncio
deste, pelos usos (BAPTISTA MANCHADO, Do Contrato de Compra e Venda, 1971,
221.)
A venda de coisa em viagem vem regulada no art. 938.ᵒdo C.C. Na verdade, constitui
uma hipótese especial de venda sobre documentos, na medida em que, para sua
validade basta a entrega dos documentos relativos as coisas vendidas em viagem. A
78
Verifica-se quando se celebram dois contratos, mas em termos tais que, conforme se considerará
celebrado, desde o inicio, só um deles ou só o outro. São contatos realizados sob condição.
79
São representações de bens ou mercadorias
80
MENEZES LEITÃO, p. 84
34
coisa a entregar encontra-se em trânsito de um lugar para outro, não tendo, como é
óbvio, ainda disponibilidade material.
Para que a venda seja considera em viagem, em primeiro lugar é necessário que nele
(documento) seja mencionada essa circunstância, conhecida pelas partes, e tenha
sido entregue ao transportador. Porém, se a coisa não tiver sido entregue ao
transportador ou expedidor ou pessoa indicada para a execução do acto, é então
aplicável o disposto no art. 797.ᵒ (promessa de envio)81.
A compra e venda não será comercial sempre que se verificar uma das hipóteses
previstas no art. 464.ᵒ. Nos termos do nᵒ 1, ainda que a compra seja efectuada por
comerciante para consumo e depois revender, será não comercial.
35
Abrange a compra e venda a distância, ao domicílio, automática, esporádica, em cadeia
forçada, com vista protecção do consumidor. São vendas especiais.
b) Venda ao domicílio84
Neste contrato a lei procura proteger o consumidor por se encontrar numa posição mais
frágil, pois, é apanhado de surpresa no domicílio sem poder aferir com precisão as
características da coisa nem pode fazer comparações com coisas semelhantes (dai que
pode resolver depois de 14 dias, Portugal).
O domicílio pode ser qualquer lugar fora do estabelecimento comercial; pode ser o
geral, profissional, de eleição, residência ocasional ou o lugar onde se encontrar (casa de
um amigo).
82
Art. 14.ᵒ b) da Lei nᵒ 1/07, de 14 de Maio, LEI DAS ACTIVIDADES COMERCIAIS
83
Televenda é a venda realizada através de televisão, com vista ao fornecimento de produtos ou
prestação de serviços mercantis, incluindo bens imóveis, direitos e obrigações, mediante retribuição
art. 4.ᵒnᵒ 36
84
Art.4.ᵒ nᵒ 41 e 14.ᵒ a).
36
c) Venda automática
Essas vendas estão proibidas em Portugal. São aqueles em que o preço será reduzido
ou excluído se o comprador recrutar (angariar) compradores interessados em
adquirir os mesmos bens àquele vendedor.
f) Venda ambulante
37
PERTUBAÇÕES TÍPICAS DO CONTRATO DE COMPRA E
VENDA
A venda de bens alheios ocorre sempre que o vendedor não tem legitimidade
para realizar a venda, como sucede no caso de a coisa não lhe pertencer, ou de o
direito que possui sobre ela não lhe permitir a sua alienação (usufrutuário que aliena o
direito de propriedade sobre a coisa).
Falta legitimidade e nem sequer há representação. Nemo dat quod non habet
(ninguém dá o que não tem). Na venda de bens alheios o objecto é legalmente
impossível (art.280.º)
A venda de bens alheios tem como fonte a antiga garantia contra a evicção do
direito romano que segundo a qual, o vendedor, em consequência do contrato de
compra e venda, garantiria ao comprador a posse pacífica da coisa vendida,
respondendo objectivamente se esta viesse a ser perturbada por uma pretensão real
apresentada por terceiro.
Todavia, existem casos em que não se aplica o regime da venda de bens alheios,
designadamente:
38
B) Alienação de bem como pertencente a outrem (cfr. art. 904.º). Não é
venda de bem alheio se se verificar a hipótese de gestão de negócios
representativa (464.º, 471.º, 268.º e 269.º)
C) Vendas executivas nos termos dos arts. 889.ᵒe ss. do Código de Processo
Civil,
D) Antecipação de venda em relação aos credores pignoratícios art. 674.ᵒ,
E) Nas vendas de coisas fora do comércio sendo estas, segundo o n.º 2 do art
202.º, do Código Civil aquelas que são insusceptíveis de apropriação privada
individual (o mar, baldios85).
F) E também não se aplica na venda de coisas indeterminadas enquanto
permanecerem nessa qualidade.
PRESSUPOSTOS
Também ficou sabido que o art. 410.º nº 1, manda aplicar ao contrato promessa
todas as disposições legais relativas ao contrato prometido, por outro lado, o mesmo
preceito, in fine, salvaguarda as regras que, por razão de ser, não devam considera-se
extensivas ao contrato promessa (bem quanto a forma, n.º 2).
85
Baldios são terrenos não individualmente apropriados, destinados a servir de logradouro comum dos
vizinhos de uma povoação ou grupo de povoações com vista a satisfação de certas necessidades
individuais. Ex: terrenos para pastorícia, recolha de lenha. Os baldios não fazem parte do domínio
privado nem das autarquias locais nem do domínio público do Estado, integrando-se no sector
comunitário.
39
Neste sentido, é da máxima importância apurar se a ratio das regras relativas à
venda de coisa pertencente a outrem permite aplicação das mesmas à promessa de
venda de coisa alheia.
EFEITOS (REGIME)
a) Nulidade
Tratando-se de nulidade, ela pode ser invocada por qualquer interessado (art. 286.ᵒ)
e um dos interessados é o próprio proprietário que pode até intentar acção de
reivindicação de propriedade (art. 1311.ᵒ) ou por via de uma acção de restituição da
posse (art. 1278.ᵒ)86.
Quanto a legitimidade para arguir cfr. ar. 892.ᵒin fine. O vendedor não pode opor
a nulidade ao comprador de boa-fé (não importa se o vendedor esteja de boa ou má fé).
Por outro lado, o comprador que se comportou com dolo (art.253.ᵒ) não pode opor
contra o comprador (afasta-se do regime geral em que qualquer interessado pode
86
Contra, MENEZES LEITÃO, para este o proprietário só pode intentar acção de reivindicação de
propriedade, pois o contrato para ele será sempre ineficaz por força do art. 406.ᵒnᵒ 2, p. 93-94
40
invocar a nulidade, constituindo assim uma nulidade atípica). Estas limitações
impostas são ditadas por compreensíveis razões de moralidade e justiça87.
Cfr. N.º 2 – se por exemplo ter obtido uma indemnização por dano causado nos
referidos bens ou o pagamento dum seguro pela perda ou deterioração deles, será
compensado com o montante à haver pelo o vendedor. O fundamento de evitar o
enriquecimento sem causa do comprador.
b) Convalidação89 do negócio
Vem estabelecida no art. 897.ᵒ. Quando o comprador está de boa-fé tem direito a
que o efeito translativo que não resultou automaticamente da celebração do contrato,
venha posteriormente a ser produzido, adquirindo um direito de crédito sobre o
vendedor que este proceda à aquisição do bem, o que determina a convalidação do
contrato e a consequente transmissão da propriedade para o comprador no termos do art.
895.ᵒ.
87
GALVÃO TELLES, Contratos Civis, 1984, p 20.
88
PIRES DE LIMA/ANTUNES VARELA, p. 187
89
Recuperar o negócio. É a correcção ou ratificação dos vícios ou defeitos de um acto. É o
saneamento do acto jurídico.
41
d) Indemnizações
Vem prevista no art. 901.ᵒ, e fixa uma obrigação solidária para o vendedor, seja
ou não culpado. O pagamento das benfeitorias vem previsto no art. 1273.ᵒ.
90
PIRES DE LIMA/ANTUNES VARELA, p. 193-194
42
Venda de bens parcialmente alheios: esta hipótese vem prevista no art. 902.ᵒ.
Compreende as hipóteses de venda em que vende-se um prédio, mas o logradouro
pertence ao vizinho. Nestes casos aplicam-se as disposições antecedentes à parte nula, e
o preço será reduzido proporcionalmente nos termos do art. 292.ᵒ.
A lei apenas admite a alienação total da coisa com o consentimento unânime dos
comproprietários (arts 1408.ᵒ e 2091.ᵒ), apenas permitindo a alienação isolada de quota
– respeitando o direito de preferência -, (arts. 1408.ᵒ nᵒ 1 e 2124.ᵒ), obviamente, haverá
falta de legitimidade nos termos do art. 892.ᵒ.
Tal alienação constitui venda de bem alheio nos termos do art. 1408.ᵒnᵒ 2. 91
Assim, haverá uma nulidade total do negócio, salvo se o vendedor vier a adquirir as
quotas dos demais comproprietários (895.ᵒ).
A venda onerada dá-se quando o direito transferido fica limitado no seu conteúdo em
consequência da atribuição de um direito anterior sobre a mesma coisa a outra pessoa.
91
Para VAZ SERRA e RIBEIRO FARIA, nestes casos converte-se a venda de coisa comum na venda
de quota ideal, reduzindo-se o contrato à venda dessa quota-parte. Porém, isso dificilmente
corresponderia a vontade do adquirente, pois, ele pretende ser adquirente de um bem de forma integral e
não de uma quota indivisa, cfr. MENEZES LEITÃO, p. 102.
92
Exemplo: alienação de bens penhorados.
43
A venda é de bens onerados quando o direito transmitido estiver sujeito a
algum ónus ou limitações que excedam os limites normais inerentes aos direitos da
mesma categoria93.
MEIOS DE REACÇÃO
Constitui o primeiro remédio. Para que haja anulabilidade por erro-vício tem de se
verificar os pressupostos do art. 247.ᵒ e 251.ᵒ. No caso dolo arts. 253.ᵒ94.
93
A ONERAÇÃO dá-se quando o direito fica limitado no seu conteúdo em consequência da atribuição
de um direito novo sobre o mesmo objecto a outra pessoa, OLIVEIRA ASCENSÃO, Direito Civil
Teoria Geral-Relações e Situações Jurídicas, Vol. III, Coimbra Editora, 2002, p.148
94
Se a coisa vendida for genérica não se aplica o regime do erro, só o cumprimento defeituoso (art. 918.º)
e nada justifica uma dualidade de regime na venda de coisa genérica e específica.
44
Com este remédio pretende-se sanar ou eliminar o defeito (ónus), que é imputável
ao vendedor, pois, foi ele que vendeu uma coisa onerada. Por exemplo se existir uma
hipoteca ou usufruto desconhecida(o) do comprador e se o credor pignoratício receber a
prestação ou usufrutuário renunciar ao seu direito, não há motivos para o comprador
invocar a anulabilidade por erro ou dolo ( nᵒ 1).
Se, porém, existir prejuízo ou já ter sido requerida a anulabilidade, ela persiste (n.º
2).
d) Indemnizações
45
e) Redução do preço95
O art. 911.ᵒestabelece que (…). A redução regula-se pelo disposto no art. 884.ᵒ.
A redução do preço corresponde a antiga actio quanti minoris e aparece como uma
alternativa à anulação por erro ou dolo.
No entanto, ao contrário do que determina o art. 292.ᵒ (em que o vendedor pode
opor-se a redução), o art. 911.ᵒ não admite.
46
destes magistrados centrada na fiscalização dos mercados, uma vez que era seu encargo
vigiar “os pesos e medidas utilizados nas transacções comerciais”. A actuação dos edis
centrou-se fundamentalmente na venda de escravos e animais, para isso criaram
mecanismos para proteger o comprador dos vícios que a coisa padecesse.
47
com a entrega por força do risco 796.ᵒnᵒ 1 (ex: Encomenda uma televisão –
venda a distância -, e afinal a imagem é fusca ou não houve o som, haverá
cumprimento defeituoso, art. 918.ᵒ e a indemnização abrange o interesse
contratual positivo).
PRESSUPOSTOS
97
Vício corresponde a imperfeições relativamente à qualidade normal. Desconformidade representa
uma discordância com respeito ao fim.
98
Falta de qualidade é inaptidão da coisa.
48
pode ser tácita ou expressa (217.ᵒ) e pode resultar de amostra ou modelo (art.
919.ᵒ do C.C. e 469.ᵒ do Código Comercial)99
Defeito oculto (invisível) é aquele que, sendo desconhecido do comprador, pode ser
legitimamente ignorado, pois não era detectável através de um exame diligente (só neste
revela a responsabilidade civil).
Se o defeito poder ser detectado por exame diligente o defeito é aparente (visível,
manifesto).
MEIOS DE REACÇÃO
a) Direito a anulação: Este resulta do art. 905.ᵒpor força do art. 913.ᵒnᵒ 1 do C.C
(erro ou dolo), permitindo a restituição de tudo quanto se prestou nos termos do
art. 289.ᵒ. MARTINEZ refere-se a resolução;
49
aceitar que o direito de reparação do defeito da coisa vendida seja exigível
sempre a despesa que isso pressupõe seja excessiva para o vendedor. A
substituição só é possível de se tratar de coisa fungível art. 207.ᵒ;
c) Indemnização
d) Redução do preço
O art. 911.ᵒestabelece que (…). A redução regula-se pelo disposto no art. 884.ᵒ.
A redução do preço corresponde a antiga actio quanti minoris e aparece como uma
alternativa à anulação por erro ou dolo.
50
do defeito não fique totalmente ressarcidos os danos, o comprador pode exigir uma
indemnização compensatória.
A garantia importa para o vendedor uma das duas obrigações: a de reparar a coisa
ou, a substituição da coisa (921.º n.º 1). Não se exige culpa do vendedor ou erro do
comprador; pode tratar-se de não cumprimento de uma obrigação.
101
ANA MANUELA COSTA FERNANDES, A Compra e Venda de Bens Defeituosos A Garantia do
bom Funcionamento, Coimbra 2015, p. 36
102
É aquela que por força da lei ou contrato o devedor está vinculado a conseguir um
efeito útil. Já na obrigação de meio o devedor apensa se compromete a desenvolver
prudente e diligentemente certa actividade para a obtenção de um determinado efeito, mas
assegurar o mesmo se produza. Contudo, em certos casos parece que a obrigação do médico
terá natureza de obrigação de resultado, por exemplo, a obrigação do médico cirurgião plástico
e que não difere do cirurgião geral, mas já deve ser feita uma distinção entre cirurgia estética e
cirurgia reparadora, parecendo que, neste caso, dever haver uma obrigação de meios e, no
primeiro caso uma obrigação de resultado. Também será uma obrigação de resultado a
actividade de médico patalogista-clínicos, por exemplo, ao efectuarem uma determinação do
factor Rh, hemograma, doseamento da ureia, colesterol ou glicemia ou a colocação de uma
prótese.
103
Acórdão do Tribunal da Relação de Coimbra, de 23/09/ 2008.
104
PIRES E LIMA/ANTUNES VARELA, p. 216-217
51
FORMA E PRAZOS PARA O EXERCÍCIO DE DIREITOS
Para que haja responsabilidade por venda de coisa defeituosa deve ser feita a
denúncia105 do defeito (art. 916.ᵒ). O comprador deve informar ao comprador sobre os
defeitos. Esse ónus é excluído em caso de dolo do vendedor.
Vigora para denúncia o princípio da liberdade de forma nos termos do art. 219.ᵒ,
podendo ser tácita ou expressa (art. 217.ᵒ).
O prazo de trinta dias vale para cada vício ou falta de qualidade da coisa, porque
pode haver dois ou mais defeitos.
Cfr. n 3.
O prazo para caducidade da acção vem previsto no art. 917.ᵒ. Quer dizer que
feita a denúncia começa a contar novo prazo para caducidade da acção por
incumprimento defeituoso107, que se contará a partir do conhecimento do vício ou falta
de qualidade, quando o próprio vendedor os tenha reconhecido (art. 331.ᵒ nᵒ 2). Este
prazo é de seis meses, sem prejuízo, diz a lei, do disposto no art. 287.ᵒnᵒ 2. Quer dizer se
o negócio não tiver sido cumprido, isto é, não tiver sido entregue a coisa ou pago o
preço, não se verifica a caducidade, podendo a anulabilidade ser invocada por via de
acção ou excepção.
Denuncia no dia 20/05/2019. A partir desde dia começa a contra o prazo para
caducidade da acção que vai até 6 meses.
Ex 2: Mas se o negócio não for cumprido (porque não pago o preço ou entregue
a coisa), não há caducidade, mas anulabilidade nos termos do art. 287.º n.º 2.
105
É um negócio unilateral receptício, pois deve ser levado ao conhecimento do destinatário. Mas é
eficaz independentemente de concordância.
106
É de 8 dias no âmbito comercial art. 471 do Código Comercial
107
Por exemplo faz-se a denúncia depois de dois meses, tem mais seis meses para intentar acção de
anulabilidade.
52
Esta disposição apenas se explica em caso de erro e não de dolo, em que o prazo é o
estabelecido no art 287.ᵒgenericamente.
CASOS ESPECIAIS
A) Venda sobre amostra.
Vem prevista no art. 919.ᵒdo C.C. que teve como fonte o 469.ᵒdo Cód. Comercial.
Estamos perante uma venda de coisa específica realizada por referência a outro objecto
(qualidades iguais às da amostra). Pela falta de conformidade são aplicáveis os arts
913.ᵒe ss.
A venda sobre amostra não se confunde com a venda sujeita a prova: esta é
realizada sob condição suspensiva ou resolutiva, enquanto aquela considera-se perfeita
desde logo, sem necessidade de um requisito posterior de eficácia 108. Contudo, a venda
sobre amostra pode ser sujeita aprova.
Por força da parte final podem as partes excluir certas características ou qualidades
da amostra, ficando a garantia do vendedor relativamente as qualidades restantes.
B) Venda de animais
Este diploma elenca um conjunto de doenças consideradas como vício, que por
força delas pode o comprador fazer valer um dos remédios postos a sua disposição.
Exige-se um prazo de 10 dais par exame médico.
C) Responsabilidade do produtor
A responsabilidade directa do produtor foi colocada pela primeira vez em 1963 nos
E.U.A.
Ex: medicamentos, janelas mal feitas, biberão que causa alergia (responsabilidade
objectiva).
108
PIRES DE LIMA/ANTUNES VARELA, p. 215
53
O produtor pode ser: real- fabricante do produto acabado, de uma parte
componente ou de matéria-prima; produtor aparente- quem se apresente como tal pela
aposição no produto do seu nome, marca ou outro sinal distintivo
D) Defesa do consumidor
54
O CONTRATO DE LOCAÇÃO
O contrato de locação permite por via do arrendamento a afectivação do direito à
habitação.
O regime jurídico da locação vem previsto nos arts. 1022.ᵒa 1082.ᵒdo C.C.,
corresponde a locatio conductio rei – locação ou arrendamento de coisas-, do direito
romano.
55
Não é o gozo do locador que se transmite para o locatário, mas sim os meios a
prestar pelo locador e a que ele fica obrigado, que permitem ao locatário o gozo da
coisa.
MODALIDADES DE LOCAÇÃO
→Arrendamento urbano110: aquele que recai sobre prédios urbanos (cfr. art. 2ᵒ
da Lei nᵒ 26/15). Pode ser: para habitação, comércio ou indústria-excepcionalmente
pode incidir sobre prédios rústicos (art. 120 da Lei do Arrendamento Urbano) -,
profissão liberal (cfr. art. 4.ᵒ da Lei nᵒ 26/15)111112.
109
No Brasil usa-se a terminologia aluguer para abranger tanto a cedência de gozo de móvel como de
imóvel. Quando se proporciona o gozo de um navio o contrato é de fretamento contrato que tem por
objecto o transporte por mar.
110
Noção de prédio urbano e rústico cfr. art. 204.ᵒn 2.
111
É controversa a natureza da figura do direito real de habitação periódica. É um direito de um titular,
usufruir de determinada unidade de alojamento, localizada num empreendimento turístico, durante
certo período de tempo em cada ano. Constitui um novo direito real que equivale a um regime de
propriedade fraccionada por quotas-partes temporárias. Os empreendimentos turísticos podem ser de três
tipos: Hotéis-apartamentos; aldeamentos turísticos, apartamento turísticos.
Muitos autores consideram-no como direito sobre coisa alheia, dado que conferem ao seu titular um poder
de utilização total ou parcial de um bem cuja titularidade não lhe pertence, se sobrepõem a todos os outros
direitos incompatíveis, constituídos de sequela ou persuasão.
O titular pode usar as instalações e equipamentos de uso comum do empreendimento e ceder o exercício
destas faculdades a terceiros. Depende, a sua validade de documento autêntico ou particular autenticado.
Em Portugal Decreto-Lei n° 355/81.
112
56
→Arrendamento rural: é a cessão onerosa do uso total ou parcial de prédio
rústico para fins agrícolas, florestais ou outras actividades de produção de bens e
serviços associados a agricultura, à pecuária ou floresta. Aquele que incide sobre
prédios rústicos. Pode ser: para fins agrícolas, pecuária ou florestal (cfr. art. 1064.ᵒ). o
regime jurídico das florestas vem previsto na Lei de Bases de Florestas e fauna
selvagem, Lei nᵒ 6/17, de 24 de Janeiro, nada refere de forma expressa sobre o
arrendamento. Contudo, o art. 74.ᵒnᵒ 1 al. a), prevê a concessão de exploração de
florestas por via de contrato de concessão, a nosso ver, nada obsta a que esse
contrato seja um arrendamento.
Embora não previstos, mas o arrendamento pode ser também para fins
desportivos, arrendamento para fim associativos, culturais, recreativos, políticos.
O mesmo prédio urbano ou rústico pode ser arrendada para vários fins
(arrendamento misto urbano ou rústico) , por exemplo para habitação e profissão
liberal ou habitação e comércio (cfr. art 1028.ᵒ do C.C. e 5.ᵒ da Lei nᵒ 26/15).
Não se aplica o regime da LAU nas hipóteses previstas no n.ᵒ 2 do art. 1.ᵒ
(enquanto que o Direito Agrário é o ramo do direito que compreende um conjunto de normas que
regulam a relações entre homem e a propriedade rural. O direito de ocupação precária (cfr. art. 40.°. da
lei de terras) não é um direito que se aplica a qualquer terreno, ou seja, visa, fundamentalmente
regular a ocupações que acontecem nas áreas próximas as grandes obras, projectos de procura de
minerais e estudos de animais plantas, terrenos, etc.
113
Pode ser económico ou basta que uma actividade prevaleça sobre a outra.
57
PRESSUPOSTOS OU ELEMENTOS DA LOCAÇÃO
A favor desta tese tem-se afirmado que a locação não aparece no C.C. no livro III,
mas nos contratos em especial no domínio das obrigações; o art. 1031.ᵒal. b)
qualifica de forma expressa o gozo da coisa como direito de crédito do locatário; o
carácter temporário da locação; por via da locação ao locatário é conferido o gozo
da coisa e não um poder directo e imediato sobre ela, que caracteriza os titulares
de direitos reais.
Só após a entrega da coisa poderá dizer-se que o locatário passa a ser titular
de um direito que lhe confere o gozo de uma “res” e que lhe confere esse gozo com
eficácia erga omnes.
Em favor desta tese está o facto de que o artigo 1051.º do C.C., que indica os
casos em que o contrato de arrendamento caduca, não é taxativo, pode caducar
por impossibilidade de cumprimento, artigo 795.º do C.C.
O facto de a lei conceder acções possessórias ao locatário não quer significar que
seja um direito real, porque também existem em relação ao parceiro pensador (art.
1125.ᵒ nᵒ 2), o comodatário (art. 1133.ᵒ nᵒ 2) e o depositário (1188.ᵒ nᵒ 2) não sendo
qualificadas como direitos reais.
O art. 1057.ᵒ “ emptio non tollit locatum” não representa uma manifestação da
sequela, mas uma cessão da posição contratual que opera por força da lei (para
MENEZES LEITÃO é apenas uma sub-rogação legal imposta ao terceiro resultante de
uma aquisição derivada).
59
Ao locatário não lhe é conferida a faculdade de proporcionar a outrem o gozo total
ou parcial da coisa (art. 1038 al. g), como o que acontece na generalidade dos direitos
reais de gozo.
Vem prevista no art. 1022.ᵒ. Referem-se ao carácter temporário os art. 1025.ᵒe arts.
12.ᵒe 13.ᵒda Lei nᵒ 26/15. Porém, a locação muitas vezes, pode perdurar vários anos, cfr.
art. 1065.ᵒnᵒ 4.
Esta obrigação recai ao locatário e pode consistir na renda ou aluguer, sendo uma
prestação pecuniária (art. 1022.ᵒ), conforme se trate de arrendamento ou aluguer (art.
1038.ᵒ al. a) e art. 23 da L.A.U.). Mas a contrapartida pode ser uma prestação diferente
da soma pecuniária: prestação em espécie (art. 1067.ᵒ), prestação de coisa indivisível ou
prestação de facere.
CARACTERÍSTICAS DA LOCAÇÃO
→Típico e nominado;
→Sinalagmático;
→Oneroso;
→Consensual;
→Não formal (salvo, art. 1029.ᵒ nᵒ 1, art. 8ᵒ da Lei nᵒ 26/15 e art. 49.ᵒ Lei das Terras-
direito de concessão precária);
→Execução duradoura;
→Intuitu personae (art. 1038.ᵒ al. f), art. 1051.ᵒal. e)). Relativamente ao locatário, a
relação contratual é fungível, como se conclui do disposto no art. 1057.ᵒ.
OBJECTO DA LOCAÇÃO
60
O objecto da locação vem previsto no art. 1023.ᵒ, podendo incidir sobre coisas
imóveis ou móveis. A locação pode incidir sobre coisas incorpóreas (o estabelecimento
comercial, propriedade industrial).
A locação pode incidir sobre a totalidade ou sobre parte de uma coisa, por
exemplo murros, paredes, terraços ou janelas114 (para assistir a um cortejo).
Legitimidade
Os arrendamentos com duração ilimitada só podem ser celebrados por quem tem
poderes de disposição da coisa (o proprietário, usufrutuário, fiduciário ou procuradores
com poderes especiais).
Capacidade
114
Cfr. art. 1.ᵒnᵒ 2 al. c) da LAU
115
Não o titular do direito de uso e habitação, cfr. art. 1488.ᵒ
61
EFEITOS ESSENCIAIS DA LOCAÇÃO (DIREITOS E OBRIGAÇÕES).
1. Obrigações do locador
a) Obrigação de entregar a coisa
Vem prevista no art. 1031.° a) e art. 48.° da Lei n° 26/15. Mesmo não fazendo
parte do conceito de locação, constitui um corolário lógico do disposto no art. 1022.°,
estando o locador obrigado a proporcionar ao locatário o gozo da coisa, tem a obrigação
de lha entregar, tratando-se de um acto de cumprimento. A entrega pode ser material ou
simbólica.
1. A coisa deve ser entregue sem vícios de direito (ónus ou limitações cfr. art.
1034.°)ex:… e nem defeitos (cfr. art 1032.°) ex:…. Nestes dois últimos abrangem-se os
vícios à data da celebração do contrato, como no momento em que a coisa for entregue
e, os vícios supervenientes. Se entrega a coisa com vícios é aplicável a figura do
incumprimento defeituoso e presume-se a culpa do locador (art. 799.° n° 1), podendo
ser exigido o locatário usar um dos meios de reacção a seu favor;
2. Não praticar actos que diminuam o gozo da coisa (por exemplo utilizar
uma parte comum do imóvel para praticar certo acto);
Vem previsto no art. 1030.° e art. 49.° da Lei n° 26/15. São encargos da coisa
locada as contribuições, o imposto predial, os prémios de seguro, as taxas de
saneamento, imposto de incêndio, os foros, as exigências municipais relativas a beleza
dos prédios, as taxas de condomínio.
62
e) Obrigação de preferência
Constitui uma preferência legal art. 58.° e 59.° da Lei n° 26/15. Se for violada cfr.
art 1410.°.
2. Obrigações do locatário
a) Pagamento da renda ou aluguer.
O montante da renda ou aluguer é fixado por acordo das partes, por força do
princípio da liberdade contratual. Entretanto, a lei determina algumas restrições:
No arrendamento urbano a renda constitui uma certa quantia monetária, sendo uma
obrigação pecuniária de quantidade e força do princípio do curso legal só pode ser paga
em moeda nacional. Se for fixado em moeda estrangeira a cláusula será nula (cfr. art.
23.° da Lei n° 26/15).
A lei proíbe antecipação da renda em mais de três meses (cfr. art. 28.ᵒ LAU)
A retribuição é determinada, mas não quer dizer que tenha de ser fixa,
invariável.
Todavia, este princípio pode ser mitigado por força da lei ou convenção 116. A renda
pode ser alterada por disposição legal ou convenção.
No arrendamento urbano a renda pode ser alterado por força da lei nos termos do
art. 1040.° (cfr. arts. 437.° e ss – erro sobre a base do negócio-.) do C.C. e arts. 37.° e
38.° da Lei 26/15. Porém, o inquilino pode não aceitar, cfr. arts. 42.ᵒe 43.ᵒ.
No arrendamento rural a renda pode ser alterada nos termos do art. 1069.° e 1070.°
do C.C.
116
Pensasse na obrigação de alimentos no Direito Familiar
63
→ Tempo do cumprimento
Está ligado ao vencimento da retribuição. Pode resultar das partes, na falta desta,
supletivamente pela lei (cfr. arts. 1039.° n° 1 C.C, e 24.°117 da Lei n.º 26/15).
→ Incumprimento e mora (cfr. arts. 804.° e ss; 1041.° do C.C. e 27.° e 29 da Lei
nᵒ 26/15).
Poderá ser o seu património, garantia pessoal ou real. Porém, a mais comum é a
fiança118.
b) … esse direito do locador tem como fito verificar o bom estado da coisa, suprir
deficiências e responsabilizar o locatário por danos. Todavia, não pode exercê-lo
em condições de perturbar o gozo da coisa, sob pena de abuso de direito nos
termos do art. 334.°.
c) … tanto o arrendamento rural, urbano assim como o aluguer têm em vista certo
escopo. O fim diverso tem de ser duradouro e não um simples uso esporádico ou
isolado (art. 10.ᵒ nᵒ 1 al. c) da LAU).
d) … pressupõe que no uso e fruição da coisa o locatário deve actuar conforme a
diligencia de um bom pai de família (arts. 1043.° e 1044.° C.C.).
e) … mas cfr. art. 6.ᵒda LAU.
f) … o trespasse119 não carece de autorização (art. 125.ᵒ da L.A.U.)
g) …; h)…; i)…
h)
117
O calendário Gregoriano é um calendário de origem europeu, utilizado oficialmente pela maioria dos
países. Foi promulgado pelo Papa Gregório XIII em 1585 pela bula inter gravíssimas em substituição
do calendário do imperador Júlio César em 46 a.C. Porém, existem outros calendários por exemplo o
chinês.
118
Fiador é um terceiro que se obriga pessoalmente perante o credor, garantindo com o seu património
a satisfação do crédito deste sobre o devedor. O fiador garante a satisfação do crédito, ficando
pessoalmente obrigado perante o credor.
Avalista é aquele que presta garantia pessoal em favor de alguém em título cambial, obrigando-se
solidariamente. O aval é forma específica de garantia cambial, em que o avalista fica obrigado e
responsável pelo pagamento do título nas mesmas condições do seu avalizado.
A obrigação do aval mantem-se mesmo no caso de a obrigação que ele garantiu ser nula por qualquer
razão que não seja um vício de forma.
A fiança é melhor que o aval apesar de ser mais burocrática ao assinar o contrato. O fiador é responsável
por todo o documento, ou seja, responde por todas as cláusulas contratuais, caso haja algum desrespeito.
O avalista é responsável apenas pelo título, ou seja, pelo valor do contrato, sem a incidência dos juros e
encargos, em caso de atraso no pagamento.
A diferença ocorre também na assinatura. O fiador assina o próprio contrato ou documento à parte, o
avalista assina o título de crédito.
Por outro lado, existe diferença na preferência de ordem na execução. No caso da fiança o devedor deve
ser demandado primeiro, só depois de esgotada todas as possibilidades de o próprio contratante não
honrar com a dívida, o fiador será demandado.
No aval o outro cônjuge outorga e não na fiança.
119
Trespasse consiste na transferência da propriedade de um estabelecimento comercial ou industrial
e abrange normalmente todos elementos que o compõem.
64
Proibições de locação
O sentido do n.º 1 : A venda dos bens penhorados pode ser feita judicial e
extrajudicialmente. Realizada esta, os direitos do executado, direito de propriedade;
direitos de crédito; usufruto, ou outro, transfere-se para o aquirente.
Em relação a locação?
120
Direito de propriedade a título oneroso ou gratuito.
121
ROMANO MARTINEZ inclui a transmissão inter vivos e mortis causa a cessão da posição
contratual. A nosso ver a cessão da posição contratual pode operar inter vivos, por mortis causa é a
sucessão.
66
Afirmava o autor como nota “importa reconhecer que a finalidade conseguida
por este contrato pode ser atingida mediante recurso a direitos reais menores”, em
primeiro lugar, e em segundo lugar, que “retira-se - do artigo 1022.º-, que a locação é
uma forma de proporcionar o gozo temporário de uma coisa” Martinez, Contratos em
Especial; universidade Católica Editora, 1996, p. 158.
Afirma-se ainda que não se trata de analogia para a colmatar lacuna legal
(interpretação analógica), mas da semelhança do arrendamento com um direito
real de gozo tal como o uso e habitação, além da sua tendencial longa duração. Por
isso deve ser tratado no concerne à tutela dos direitos do credor com garantia real.
Acresce Galvão Telles que a concessão do gozo significa qua nada se transmite,
nada se transfere, nada se aliena. O que sucede é que o locador se vincula à prestação de
proporcionar esse gozo ao locatário, adquirindo este, em contrapartida, o direito à
mesma prestação-de natureza obrigacional-, e não qualquer direito sobre a coisa.
67
B) TRANSMISSÃO DA POSIÇÃO PELO LOCATÁRIO
C) SUBLOCAÇÃO
A-------------------------B-----------------------C
Locador locatário sublocatário
Sublocador
Cfr. art.ᵒ 1061.° do C.C. e 55.° da LAU (efeitos), art. 1062.° e art. 54.º da L.A.U.
(ex: se o subarrendamento for total por exemplo e paga 1.200,00, só pode cobrar ao
sublocatário até 20%, mas se for parcial, por exemplo 1/3, seria 1200. 1/3 o resultado
mais 10%), 1063.°do C.C. e 57.º da LAU (o locador pode cobrar a subarrenda).
122
Subcontrato é a convenção pela qual um dos contraentes, sem perder essa qualidade, permite a um
terceiro gozar as vantagens que esse contrato lhe proporciona.
68
O subarrendamento caduca pelas mesmas causas que extinguem o contrato de
arrendamento (cfr. arts. 56.º e 62.º da LAU).
69
numeradas as lojas estão na propriedade do titular do centro, que contrata com terceiros
a sua exploração de venda a retalho ou prestação de serviços.
123
Composse: esta figura supõe a existência de dois ou mais possuidores da mesma coisa.
70
A concessionária está, por isso, numa posição subordinada perante a concedente, e é
tão vulnerável que esta, com uma simples interrupção do fornecimento da corrente
eléctrica, faz cessar toda a utilização do espaço (mais uma vez aqui se demonstra a
incompatibilidade deste regime com o da locação).
⇨A resolução pelo locador; ocorre se o locatário violar uma das suas obrigações
resultantes do art. 1038.°, por exemplo não pagar a renda ou aluguer 125; utilizar o
prédio para práticas ilícitas, imorais ou desonestas (cfr. outras causas art. 76.° da
Lei n 26/15).
⇨ A resolução pelo locatário; ocorre nos termos do arts 1050.º do C.C. e 75.º, da
LAU.
124
Distrate mútuo dissenso é a convenção pela qual as partes revogam um contrato anterior.
125
O atraso apenas dará lugar a mora.
71
Os prazos para caducidade do direito de resolução vêm previstos no art. 77.º
Assim, se o contrato foi celebrado para durar seis meses, findo esse prazo
caduca. Porém, nem sempre ocorre, como é caso da renovação automática
1054.°.
D) Denúncia: é uma declaração feita por um dos contraentes, em regra com certa
antecedência sobre o termo do período negocial em curso, de que não quer a
renovação do contrato renovável ou a tempo indeterminado.
Quanto a forma de denúncia deve resultar de acção judicial nos termos do art.
82.º; Se a denúncia for feita pelo senhorio e o reocupar, o inquilino tem direito a
indemnização nos termos do art. 84.º.
ARRENDAMENTO RURAL
O C.C. apenas fixa um regime geral para o arrendamento rural nos arts. 1064.ᵒa
1082.ᵒ. Entretanto, não há existe regulamentação especial para os vários tipos de
arrendamento rural. Excepcionalmente, o direito de concessão precária regulado no art.
40 da Lei de Terras. Relativamente ao arrendamento florestal, a Lei de Bases de
Florestas e Fauna, Lei n 6/17, de 24 de Janeiro refere-se no art. 72 sobre os direitos de
constituição florestal e na al a) o contrato de concessão florestal, que a nosso ver, pode
ser um contrato de concessão do gozo de floresta atreves de arrendamento, outrossim
não nesta lei qualquer regulamentação.
ARRENDAMENTO URBANO
A L.A.U. , compreende uma parte geral, onde se regula os aspectos gerais aos
vários tipos, incluindo a acção de despejo (arts. 66.ᵒ a 73.ᵒ) e uma parte especial dos
arrendamentos em especial: Arrendamento urbano para habitação (arts. 86.ᵒ a 119.ᵒ);
para comércio e indústria (arts. 120 a 126); para profissão liberal (arts. 127.ᵒ a 128.ᵒ).
72
No âmbito da ACÇÃO DE DESPEJO importa analisar o arts. 66.ᵒ (fim); 67.ᵒ
(forma-processo comum sumário); 68.ᵒ (recurso de apelação). Ficam revogadas as
normas do C.P.C. sobre o despejo.
CONTRATO DE EMPREITADA
A maioria de nós (sobretudo nos centros urbanos) passa a maior parte do tempo
de nossas vidas no interior de construções, que nada mais é do que o objecto e resultado
final do contrato de empreitada.
126
É o conjunto de normas jurídicas relativas a formação, estruturação e funcionamento dos meios
urbanos enquanto tal. FERREIRA DE ALMEIDA, Direito Economico, 1979, p. 457
127
Segundo ORLANDO GOMES, no contrato de empreitada, uma das partes obriga-se a executar,
por si só, ou com o auxílio de outros, determinada obra, ou a prestar certo serviço, e a outra, a pagar o
preço respectivo. O C.C. Italiano define empreitada no art. 1655.ᵒ (A’ppalto); C.C. Alemão §631.I
Werkvertrag; C.C. brasileiro art. 618.ᵒ.
128
Por realização de uma obra deve entender-se não só a construção ou criação, como a reparação, a
modificação ou a demolição de uma coisa. PIRES DE LIMA/ANTUNES VARELA, C. Anotado, p. 865
73
intelectual), realizar um espetáculo, elaboração de um projecto. Intervenções cirúrgicas
realizadas por médicos, um parecer jurídico, um programa para computador.
129
Contudo, hodiernamente é comum utilizar nas obras de grande envergadura, subsidiariamente normas
que regulam os contratos de empreitada de obras públicas (por exemplo sobre a adjudicação). A
regulamentação das empreitadas de obras privadas data de 1966, sendo a de empreitada de obras públicas
mais recente, normas mais actuais que justificam que sejam às vezes reguladoras de empreitadas de obra
privada, e uma vez que as soluções previstas na LEI Nᵒ 9/16,podem revelar-se mais equilibradas para
justa composição do interesse das partes, salvo as normas que manifestam interesses públicos. Podem
também as normas que regulam as empreitadas de obra pública ser aplicadas subsidiariamente quando o
C.C. é omisso em relação a uma certa matéria (por exemplo o prazo geral de garantia é 5 anos para
reparação de quaisquer defeitos art. 1225.ᵒ nᵒ 1 , o art. da LEI determina um prazo variável em função do
defeito e que poderá ser aplicável a empreitada civil. PEDRO DA GAMA XAVIER e VASCO DA
GAMA DE MESQUITA, aplicação de normas substantivas de Direito Público a contratos de
empreitada de obra particular: um caso de fuga para o direto público, pp 263-266
74
A empreitada tem natureza civil se alguém se obriga a realizar uma obra e não
empregar capital, ou a aplicação de capital tem pouca expressão, sendo apenas
instrumental, tendo em conta o valor total da obra a realizar, e se só assume o risco
do seu trabalho e de algum material que tenha fornecido, mas cujo valor seja
reduzido em relação ao preço da obra no seu conjunto.
→Típico e nominado;
→Sinalagmático;
→Oneroso;
→Consensual;
75
→O empreiteiro desenvolve a sua actividade de forma autónoma (quer dizer que
o empreiteiro realiza a obra sem interferência do dono da obra), não deve obediência ao
dono da obra130; no contrato de trabalho estar-se-á perante um vínculo de
hierarquia e subordinação (por força do poder de direcção do empregador e dever de
obediência do trabalhador);
130
O facto de o dono da obra poder fiscalizar a obra, elaborar projectos, impor alterações, não mina a
autonomia do empreiteiro.
76
→Não se confunde a empreitada com odepósito (cfr. art. 1185.ᵒ). O empreiteiro se
obriga a realizar a obra, mas também pode guardar a obra realizada, sendo um obrigação
acessória. O depósito é contrato real quoad constitutionem, a empreitada não.
Não é muito fácil distinguir, por vezes, a empreitada da compra e venda, embora sejam
contratos com objectos diferentes.
131
No Direito Inglês é irrelevante que se qualifique o contrato como de empreitada ou compra e venda,
porque o suply of goods and services act não diverge muito do sale of goods act.
132
Os matérias constituem apenas um meio para atingir certo fim
133
PIRES DE LIMA/ALMEIDA COSTA, P. 865-866
77
que tenha simultaneamente por objecto a obrigação de transferir o direito e a realização
da obra (Anotações de VAZ SERRA ao Ac. Do Trib. Sup. De 14 de Julho de 1972, pp.
191 e ss.).
Não pode ser compra e venda o contrato, por força da unidade do sistema,
quando a obra é vendida depois de terminada. A solução mais justa é a de aplicar as
regras da empreitada. Mas, se vendido um prédio não construído ou ainda em
construção pode considerar-se um contrato misto.
OBJECTO DA EMPREITADA
134
Existe controversa na doutrina sobre a inclusão de obra intelectual no âmbito do objecto da empreitada.
Para tal existem duas teses: a tese do conceito amplo de obra sufragada por A. FERRER CORREIA e
ENRIQUES MESQUITA, que admitem que o conceito de obra pode ser integrado por um resultado
eminentemente intelectual. Para estes autores partindo de uma interpretação literal do art.
1207.ᵒaoutilizar apenas as expressões realizar certa obra conduzirá a tal resultado e do ponto de
vista sistemático, acrescem, a empreitada é, nos termos do art. 1155. ᵒuma modalidade de contrato
de prestação de serviços, o qual, nos termos do art. 1154. ᵒé definido como “…”, logo também o
contrato de empreitada se referiria a um trabalho intelectual ou manual, admitem ainda que o
legislador não curou no art. 1212.ᵒtodas as modalidades possíveis de empreitada , caberá ao interprete
traçar as não contempladas, o regime adequado.
78
A obra intelectual não parece ser objecto de empreitada, que se restringe a obras
corpóreas ou materias (ou imateriais por exemplo reparar um rádio), sendo antes objecto
de contrato de encomenda de obra intelectual, pois a fiscalização, transferência da
propriedade, alterações, defeitos da obra, é dificilmente compatível com a criação
intelectual, e, nestas esta assegurada a liberdade ao criador e a questão principal prende-
se com a atribuição do direito autoral sobre a obra, e a empreitada não resolve este
quesito.
79
dos trabalhos a realizar, os materias empregues vêm a ser posteriormente objecto de
encargos que deverá ser respeitado pelo empreiteiro135.
A) CONSIGNAÇÃO DA OBRA
135
A formação do contrato de empreitada de obra pública inicia-se coma d de contratar, e só pode tomar
essa decisão de contratar se a verba estiver inscrita no orçamento (art. 31.º nº 1 e 2, da LCP).
136
MENEZES LEITÃO, p.p. 464-465
137
Na empreitada pública o concurso público é procedimento obrigatório (art. 44.º e arts. 69.º e ss. da
LCP). Sobre adjudicação art.98.º e ss.)
80
Não pode modificar a natureza da obra. Podem resultar de imperfeiçoes ou
insuficiências no plano convencionado não imputável as partes. Neste preceito
ficam de fora as alterações das circunstâncias (art. 437.º) e de impossibilidade
superveniente não imputáveis as partes (art. 1227.º). Contudo, a necessidade de
alteração pode resultar de acordo das partes, art. 406.º ou decisão do tribunal,
podendo nesta hipótese o dono da obra não aceitar e denunciar o contrato (art.
1229.º).
b) LEGITIMIDADE
138
Em sentido diverso MENEZES LEITÃO (o inabilitado prática actos de ordinária administração, os
actos de disposição só podem ser praticados por quem capacidade).
81
As reparações, modificações ou manutençãosobre a coisa que sobre ela incidem
direitos reais menores feitas proprietário, não invalidando o contrato, em que se ponha
em causa esses direitos (v.g. Arts. 1471.ᵒ, 1472.ᵒ e 1473.ᵒ).
c) PLURALIDADE DE SUJEITOS
Se forem vários empreiteiros e um dono da obra e existir uma co-empreitada 139 cada
co-empreiteiro esta vinculada ao dono da obra mas em contratos distintos, cada um
deles só estará obrigado pela respectiva execução (por exemplo no caso de várias
empresas de construção em que cada uma tem as suas atribuições).
A) Obtenção de um resultado
139
Ocorre quando os vários empreiteiros obrigam-se, em conjunto, por contratos distintos, a executar o
mesmo trabalho, ficando cada co-empreiteiro directamente relacionado com o dono da obra.
140
Consórcio origina-se pela necessidade de as empresas se unirem para execução, em conjunto, de todas
as fases e os projectos necessários a conclusão de um empreendimento na construção civil, mediante
celebração de um contrato de empreitada total.
82
O art. 1209.ᵒ (tratando-se de norma imperativa, sendo nula as convenções em contrário)
atribui ao dono da obra a faculdade de fiscalizar a execução da obra. A fiscalização da
obra tem como fim principal impedir que o empreiteiro oculte vícios de difícil
verificação no momento da entrega. Visa controlar o modo como o empreiteiro
executa a obra, fundamentalmente quanto aos materias que utiliza, o respeito pelo
plano convencionado. Através da fiscalização, o dono da obra pode exigir alterações à
obra, grandes ou pequenas (cfr. art. 1216.ᵒ).
Não traduz uma obrigação do empreiteiro convidar o dono da obra a fiscalizar, mas se
exercer esse direito deverá fazê-lo de boa-fé.
O exercício deste direito, por ser do interesse do dono da obra, deve ser ele a custeara as
despesas, podendo ser feita directamente por ele ou por terceiro por si contratado
(arquiteto, engenheiro, director de trabalhos, empresa, etc.).
O direito de fiscalização, não significa renúncia tácita aos direitos relativos a sua má
execução (art. 1209.ᵒ nᵒ 2) nem os efeitos da verificação (art. 1218ᵒ).
Nos termos do art. 1211.ᵒo preço é fixado nos termos do art. 883.ᵒ. Assim, o preço deve
ser convencionado se não for imposto por autoridade pública. Em seguida pelos outros
critérios. Outrossim, não pode ser fixado preço pela bolsa, por não se cortinar a
possibilidade prática de aplicar no âmbito da empreitada.
Constitui o principal dever do dono da obra, o dever de pagar o preço. O preço pode ser
fixado de várias formas, assim teremos:
83
se não forem por escrito, podendo apenas reclamar a indeminização por enriquecimento
sem causa (art. 1214.ᵒ nᵒ 3)141.
→Preço por artigo:o preço é fixado por mercadoria e, o preço final variará em
função do tipo e quantidade dos artigos. Ex: 1000 batas, por cada bata 10.000 kzs.
Em relação a empreitada de obra pública o preço pode ser global; por série de
preços e por percentagem(art. 185.º da LCP).
Fixado preço ele pode vir a ser alterado ou revisto 143. A lei por vezes impõe
essa alteração, como é o caso das alterações necessárias (art. 1215.ᵒ) e de alterações
exigidas pelo dono da obra (art. 1216.ᵒ nᵒ 2). Nas empreitadas de longa duração
(construção de edifícios, etc.) é comum as partes convencionarem alterações do preço.
141
Princípio do nominalismo monetário o risco é do credor.
142
PIRES DE LIMA/ANTUNES VARELA, p. 874. Contra PEDRO ROMANO MARTINEZ
143
A regra é a de que o preço estabelecido não pode ser alterado, ou seja, o empreiteiro não pode pedir
qualquer acréscimo mesmo que os salários e os materias tenham aumentado. A revisão do preço é uma
situação excepcional por força da lei ou convenção.
84
Esta hipótese fundamenta-se, pois, sem essa cláusula, apenas se aplica o disposto nos
arts. 437.ᵒe ss, que é um regime mais rigoroso144.
O pagamento faz-se com a aceitação (art. 1211.ᵒ), pois a partir deste momento se
transfere a propriedade da obra (art. 1212.º nº 1, C.C.). É frequente nas empreitadas de
imóveis estabelecer o pagamento do preço por prestações em períodos determinados ou
em função do trabalho executado.
B) Cooperação necessária
Este dever resulta da necessidade, muitas vezes, do dono da obra fornecer o terreno, o
projecto ou materias e utensílios145, obter autorizações, etc., com o fito de o empreiteiro
executar a obra que se encontra obrigado. Na verdade, não constitui uma verdadeira
obrigação, mas antes um dever do credor, cuja violação faz incorre em mora do credor
(art. 813.ᵒ), permitindo o aumento do prazo para a execução da obra.
Se o dono da obra não cumpre este dever (apesar de o empreiteiro não poder
exigir), pode a contra parte invocar a excepção do não cumprimento, exigir uma
indeminização ou resolver o contrato nos termos do art. 802.ᵒnᵒ 2.
Da verificação e aceitação depende o vencimento do preço (cfr. art. 1211.ᵒ nᵒ 2), daí a
lei considera obrigatória para o dono da obra (n. 1). Cfr. nᵒ 2 e 3).
144
A alteração do preço do preço por alteração anormal das circunstâncias ocorre quando a execução da
obra se torna mais difícil ou onerosa.
145
Em relação aos materiais e utensílios é um dever que resulta de convenção (art. 1210.º).
85
Se na comunicação forem denunciados vícios considera-se, a princípio, como
não aceita a obra (cfr. arts. 1220.ᵒ e ss.).
A aceitação pode ser com ou sem reserva. Na primeira hipótese ocorre quando o
dono da obra detecta vícios e a aceita mas não renuncia os direitos que lhe são
conferidos nos arts. 1221.º e ss. Na segunda ocorre quando não detecta vícios e é seu
agrado e determina a irresponsabilidade a respeito dos vícios visíveis e conhecidos 146
(art. 1219.º).
DIREITOS DO EMPREITEIRO
146
E não por vícios ocultos.
86
2. Direito de retenção147
O direto de retenção pode incidir sobre coisa que não seja propriedade do dono
da obra (por exemplo o locatário que aluga um automóvel e contrata um empreiteiro, se
não paga pela reparação) ou de terceiro (compra e venda com reserva de propriedade,
em que o comprador realiza obras na coisa que lhe foi entrgue), pois, o art. 754.ᵒexige
apenas que a coisa seja certa, não se referindo a propriedade da mesma 148. Também,
pode incidir o direito de retenção nos casos em os materias foram fornecidos pelo
empreiteiro (art. 1212.ᵒ).
DEVERES DO EMPREITEIRO
1. Realização da obra
147
Consiste na faculdade de uma pessoa reter ou não restituir a coisa alheia que possui ou detém, até ser
pago o que lhe é devido por causa dessa coisa, pelo respectivo proprietário.
148
Porem, já não pode exigir o pagamento a um terceiro por força do princípio da relatividade dos
contratos art. 406.ᵒ.
87
Sobre o empreiteiro impede, supletivamente a obrigação prevista no nᵒ 1 do art.
1210.ᵒ, que uma obrigação natural. Se inclui por exemplo o material para construção de
um estaleiro.
Quanto a qualidade, devem ser as acordadas pelas partes, no silêncio, cfr. art.
1210.ᵒn 2.
Constitui um dever lateral que pode resultar do contrato. Se ao empreiteiro tiver sido
confiada uma coisa para reparar, ou a propriedade da coisa já tiver sido transferida ao
dono da obra (aceitação art. 1211.º nº 2), no caso de empreitada de construção, sem que
se lhe tinha sido entregue (art. 1212.ᵒ), o empreiteiro fica vinculado a guardar e
conservar a coisa, constituindo-se num depositário (1187.ᵒ). Ex:Existe no Lubango um
senhor mecânico que se no dia e hora acordada não for buscar o automóvel ele coloca
na estrada e com as chaves, se for furtado ele responde não por incumprimento do
contrato, mas por violar o dever de custódia.
4. Entrega da coisa
88
SUBEMPREITADA
A subempreitada constitui um subcontrato e que vem definida no art.
1213.º nº 1. O subempreiteiro se obriga a realizar uma prestaçã o (uma obra)
relacionada com a obra (dita principal).
Força do art. 1213.º n 2.º. é aplicá vel a subempreitada os arts. 264.º e ss.
149
Daí que o empreiteiro será responsável perante o dono da obra pelo inadimplemento do subempreiteiro
89
clá usula neste sentido ou resulte da execuçã o do pró prio contrato (quando por
exemplo o contrato de empreitada possa resultar de tarefas especiais nã o
exequíveis pelo empreiteiro ou se tal faculdade resultar do cará cter fungível da
prestaçã o do empreiteiro; e para o dono da obra o mais importante é resultado que
seja atingindo pelo empreiteiro ou terceiro).
Para que a cessã o produza efeitos tem de haver anuência 150 da contraparte,
contudo dispensá vel, à princípio, na subempreitada.
150
Todavia, pode haver cessão sem consentimento quando feita sob condição.
90
Ao cessioná rio sã o facultados os meios de defesa do cedente no â mbito do
contrato base contra o cedido, o que nã o sucede na empreitada.
3. Contrato de trabalho
4. Cessão de trabalhadores
5. Co-empreitada
91
Ocorre quando os vários empreiteiros obrigam-se, em conjunto, por contratos
distintos, a executar o mesmo trabalho, ficando cada co-empreiteiro directamente
relacionado com o dono da obra. Na subempreitada o vínculo contratual é com o
empreiteiro.
Regime da subempreitada
MENEZEZ LEITÃO (p. 488), entende também neste sentido, acresce que isto
violaria o princípio da relatividade (art. 406.º), as regras do concurso de credores (art.
604.º). dai que a inexistência dessa relação impede o dono da obra possa reagir contra o
subempreiteiro se existir vícios (reage contra o empreiteiro e este teria direito de
regresso nos termos do art. 1226.º- só não será assim na hipótese do art. 1225.º).
151
ACORDÃO DO TRIB. SUPREMO DE PORTUGAL, de 28 de Maio de 1981
92
E qualquer alteração no plano convencionado é ao empreiteiro que o subempreiteiro
pede autorização (arts. 1214.º nº 1 e 1215.º) e aquele ao dono da obra.
93
EXTINÇÃ O DO CONTRATO DE EMPREITADA
SUBEMPREITADA
94
A subempreitada constitui um subcontrato e que vem definida no art. 1213.º nº
1. Na LEI DOS CONTRATOS PÚBLICOS vem definida no art. 340.º.
152
Pavimento de madeira.
153
Daí que o empreiteiro será responsável perante o dono da obra pelo inadimplemento do subempreiteiro
95
Todavia existem casos em que o consentimento do dono da obra é fundamental para
que a subempreitada produza efeitos em relação a ele.
Mas se não houver consentimento, o contrato é eficaz entre as partes, mas ineficaz
em relação ao terceiro (dono da obra), logo não há ilegitimidade e aplica-se o disposto
no art. 795.º ou 801.º.
Para que a cessão produza efeitos tem de haver anuência 155 da contraparte, contudo
dispensável, à princípio, na subempreitada.
A subempreitada só pode ser celebrada pelo empreiteiro e não pelo dono da obra
embora este possa ceder a sua posição contratual. Na cessão as partes podem ceder.
155
Todavia, pode haver cessão sem consentimento quando feita sob condição.
96
as dúvidas sobre a interpretação deve-se buscar um resultado que conduza a um maior
equilíbrio das prestações (art. 237.º). Pois persistindo ambas as relações o dever
“obtenção de resultado” fica mais garantido para o dono da obra, assim como o “preço”
para o empreiteiro.
8. Contrato de trabalho
O empreiteiro pode celebrar contrato de trabalho com certas pessoas. Nesta hipótese
haverá uma relação de hierarquia e subordinação, sendo uma obrigação de meios.
9. Cessão de trabalhadores
A lei determina o tempo de duração no art. 11.º (24, 12, 6 meses, etc.) em função
dos motivos previstos no art. 10.º (exemplo uma tarefa específica e não duradoura,
substituição de trabalhador ausente, necessidades intermitentes de mão-de- obra
determinadas, etc).
10. Co-empreitada
97
Ocorre quando os vários empreiteiros obrigam-se, em conjunto, por contratos
distintos, a executar o mesmo trabalho, ficando cada co-empreiteiro directamente
relacionado com o dono da obra. Na subempreitada o vínculo contratual é com o
empreiteiro.
Regime da subempreitada
MENEZEZ LEITÃO (p. 488), entende também neste sentido, acresce que isto
violaria o princípio da relatividade (art. 406.º), as regras do concurso de credores (art.
604.º). dai que a inexistência dessa relação impede o dono da obra reagir contra o
subempreiteiro se existir vícios (reage contra o empreiteiro e este teria direito de
regresso nos termos do art. 1226.º- só não será assim na hipótese do art. 1225.º).
156
ACORDÃO DO TRIB. SUPREMO DE PORTUGAL, de 28 de Maio de 1981
98
E qualquer alteração no plano convencionado é ao empreiteiro que o subempreiteiro
pede autorização (arts. 1214.º nº 1 e 1215.º) e aquele ao dono da obra.
99
O contrato de empreitada extingue-se com a sua execuçã o. Assim cabe ao dono
da obra verificar se a mesma está conforme o acordado, comunicar o resultado da
verificaçã o e aceitar, caso em que cessa a relaçã o contratual (art. 1218.º nº 1 e 4).
Contudo, existem outras causas de extinçã o do contrato de empreitada,
designadamente:
1. IMPOSSIBILIDADE DO CUMPRIMENTO
Pode ser:
157
Deverá ser também absoluta na medida em que afecta a prestação em si, não pode ser realizada por
ninguém.
100
a) Efectiva158
b) Absoluta: ninguém pode realizar a prestaçã o;
c) Relativa: quando só o empreiteiro é que nã o pode realizar a obra (quando a
prestaçã o for fungível). O empreiteiro é contratado em funçã o das suas
aptidõ es.
d) Definitiva: quando a impossibilidade nã o é susceptível de findar (nã o pode
ser realizada mais tarde). Nã o se confunde com atraso, por exemplo quando
resulte de causas naturais (neste caso aplica-se o disposto no art. 792.º).
e) Total: quando a impossibilidade afecta toda obra.
f) Parcial: afecta parte da obra. Nesta hipó tese o preço será reduzido (art.
793.º). A reduçã o tem de ter em conta o trabalho realizado, os materias e
lucro que será proporcionalmente reduzido. Ver o nº 2 do art. 793.º (nesta
hipó tese o empreiteiro terá direito a uma indemnizaçã o, art. 1227.º 2ª
parte, ainda que o dono da obra nã o tirar qualquer proveito da obra.
101
Vem prevista no art. 1229.º. A desistência constitui uma excepçã o do art.
406.º.
A desistência pode ser depois de concluída a obra 159, mas antes de ser
aceite. Todavia, se a obra nã o apresentar defeito o preço é devido.
4. RESPONSABILIDADE CIVIL
Mas pode haver concurso. Se por exemplo uma obra defeituosa que desaba e
causa danos a integridade física.
Vem prevista no art. 1220.º. Se os vícios forem ocultos a denú ncia faz-se de
depois de descobertos.
159
Por exemplo se apresentar vícios.
102
Mas se se reconhece os defeitos e ainda assim aceita, nã o justiça a denú ncia, salvo
se a aceitaçã o for com reserva. A denú ncia nã o carece de forma.
Mas se se recusa e a prestaçã o for fungível o dono da obra pode requisitar uma
execuçã o especifica nos termos do art. 828.º e o empreiteiro for condenado e ainda
assim recusa-se a eliminar os defeitos ou a realizar nova obra, pode recorrer a
realizaçã o a um outro empreiteiro, a custa daquele.
b) Redução do preço
c) Resolução do contrato.
160
Significa ninguém pode ser directamente coagido ou obrigado a praticar o acto a que se obrigou.
103
104
105