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Acordo de não Persecução Penal:

Conceito de Acordo de não Persecução Penal: Benefício Concedido a indivíduos que


praticam crimes considerados menos relevantes, em razão de sua gravidade (este é
um dos principais pontos que diferenciam o ANPP do famoso plea bargarin
americano, o que não possui a mesma limitação em relação à gravidade do crime).
Trata-se de um negócio jurídico extrajudicial, necessariamente homologado pelo
juízo competente, celebrado ente o MP e o autor do fato criminoso, desde que
devidamente assistido pelo seu defensor, no qual á confissão formal e
circunstanciada, resultado no cumprimento de condições não privativas de
liberdade em troca do compromisso de que o MP não faça a persecução penal, no
âmbito judicial, não oferecendo a denúncia e declarando a extinção da
punibilidade caso as condições sejam cumpridas.
A Diferença do ANPP com os outros institutos despenalizadores: 1º) No ANPP e
exige que o investigado confesse a prática do delito, enquanto na transação penal,
suspensão condicional do processo não exige que o investigado confesse a prática do
delito; 2º) ANPP é uma hipótese de exceção ao chamado princípio da
obrigatoriedade da ação penal pública, haja vista que há verdadeira seleção de
prioridades do MP, em sede de política criminal, privilegiado o princípio da
intervenção mínima.
Natureza Jurídica: Não se trata de um direito subjetivo do acusado, pois o ANPP
se submete a uma convergência de vontades com necessidade de participação tanto do
MP quanto benefício. No mesmo sentido o enunciado n.º 19 do CNPG: O acordo de
não persecução penal é faculdade do MP, que avaliará, inclusive em última análise,
se o instrumento é necessário e suficiente para a reprovação e prevenção do crime
no caso concreto.
Requisitos: Para que o investigado seja beneficiado pelo Acordo de não persecução
Penal, deverá cumprir alguns requisitos, previstos no artigo 28-A do CPP, são estes: A)
pena mínima abstrata inferior a 4 anos; B) crime cometido sem violência ou grave
ameaça à pessoa; C) Não ser caso de arquivamento.
Infração Penal com Pena mínima inferior a Quatro anos: Deve ser calculado
levando em consideração eventuais causas de aumento e diminuição aplicáveis ao caso
concreto. É esta linha que segue O STJ, STF, nos enunciados n.º 243 e 723
respectivamente e o enunciado n.º 29 do CNPG.
Ausência de Violência ou Grave Ameaça a Pessoa: A ANPP é cabível tanto para
crimes quanto para contravenções penais, desde que a infração não seja cometida com
violência ou grave ameaça à pessoa. Segundo o Doutrinador Renato Brasileiro de
Lima, se houver um crime culposo, ainda que com resultado violento, a celebração
do acordo será admissível. Ex: Lesões Corporais culposas). Sendo inclusive positivado
no enunciado n.º 23 do CNPG.
Não Ser Caso de Arquivamento: A própria previsão legal esclarece, no início do
artigo, que o ANPP é aplicável “não sendo caso de arquivamento”, o que faz todo o
sentido, pois se não há viabilidade da ação penal, a celebração do acordo se torna
desinteressante.
Observação: Confissão Formal e Circunstanciada a doutrina tem classificado como
condição que será imposta ao acusado para celebração do acordo, e não como
requisito. Assim sendo, trataremos deste ponto mais à frente.
É vedado ao o ANPP: 1º) Casos em que é cabível a transação penal; 2º) Investigado
reincidente, de conduta criminal habitual, reiterada ou profissional (ressalvados os
casos em que as infrações pretéritas são insignificantes); 3º) Agente beneficiário nos
últimos 5 anos anteriores pelo ANPP, transação penal ou suspensão condicional do
processo.
4º) Crimes praticado com violência doméstica ou contra mulher por razões da condição
de sexo feminino. Além disso, via de regra o reincidente não terá direito ao ANPP,
na forma dos artigos 63 e 64 do CP.
Condições: Podem também ser chamadas de obrigações, aplicáveis à celebração do
ANPP, podendo tais condições serem aplicadas de forma cumulativa ou alternativa. É
importante verificar que as condições necessariamente não podem ser privativas de
liberdade, de forma que as prestações devem ser disponíveis e fiscalizáveis pelo
juízo da execução penal.
Mister dizer que o acordo de não persecução penal não impõe penas, mas somente
estabelece direitos e obrigações de natureza negocial e as medidas acordadas
voluntariamente pelas partes não produzirão quaisquer efeitos daí decorrentes,
incluindo a reincidência. (Enunciado n.º 25 do CNPG).
São as condições que devem ser observados: 1º) Confissão formal e
circunstanciada: A confissão, no âmbito do processo penal, é uma faculdade do
investigado. Sua exigência para celebração do acordo, no entanto, não viola o direito ao
silêncio, haja vista que o investigado, devidamente orientado pela defesa, pode
decidir se tem ou não interesse na celebração do acordo; 2º) Reparação do dano ou
restituição da coisa: Segundo a doutrina, cabe a reparação de qualquer tipo de dano
(material, moral, entre outros). Se o delito não causa qualquer dano, a condição não se
impõe, e da mesma forma, não é cabível se for verificada a impossibilidade de que o
investigado o faça (como no caso de vulnerabilidade financeira do acusado); 3º)
Renúncia a bens e direitos: A renúncia aos bens e direitos que sejam instrumentos,
produto ou proveito do crime, no entandimento da doutrina, é um "confisco" com
consentimento, em que pese não ser classificado como efeito da condenação; 4º)
Prestação de serviços à comunidade: Aplicável por período correspondente à pena
mínima, diminuída de um a dois terços; 5º) Pagamento de prestação pecuniária:
Em favor de entidade pública ou de interesse social a ser indicada pelo juízo da
execução; 6º) Cumprimento de outras condições estipuladas pelo MP: Outras
condições, desde que compatíveis e proporcionais, podem ser estipuladas pelo MP.
Formalidade: O acordo de não persecução penal será formalizado por escrito e será
firmado pelo membro do MP, pelo investigado e por seu defensor.
Controle Jurisdicional: É o controle que será realizado no ANPP. E será feito da
seguinte forma: 1º) Para homologação do acordo de não persecução penal, será
realizada audiência na qual o juiz deverá verificar a sua voluntariedade, por meio da
oitiva do investigado na presença do seu defensor, e sua legalidade; 2º) Se o juiz
considerar inadequadas, insuficientes ou abusivas as condições dispostas no acordo de
não persecução penal, devolverá os autos ao Ministério Público para que seja
reformulada a proposta de acordo, com concordância do investigado e seu
defensor; 3º) Homologado judicialmente o acordo de não persecução penal, o juiz
devolverá os autos ao Ministério Público para que inicie sua execução perante o juízo de
execução penal; 4º) O juiz poderá recusar homologação à proposta que não atender aos
requisitos legais ou quando não for realizada a adequação a que se refere o (2º); 5º)
Recusada a homologação, o juiz devolverá os autos ao Ministério Público para a análise
da necessidade de complementação das investigações ou o oferecimento da denúncia;
6º) A vítima será intimada da homologação do acordo de não persecução penal e de seu
descumprimento. A competência para homologação do ANPP é do juiz de garantias.
Descumprimento Injustificado: Se ocorrer o descumprimento de quaisquer das
condições estipuladas no acordo de não persecução penal, o MP deverá comunicar ao
juízo, para fins de sua rescisão e posterior oferecimento de denúncia.
O descumprimento do acordo de não persecução penal pelo investigado também
será utilizado pelo MP como justificativa para o eventual não oferecimento de
suspensão condicional do processo.
O investigado ao ser beneficiado por um instituto com ANPP, é de se esperar que o
investigado cumpra todas as condições impostas pelo acordo. Do contrário, estará
sujeito ao oferecimento da denúncia e a processo regularmente transitado em juízo,
da mesma forma que ocorre com aqueles que descumprem a transação penal (súmula
vinculante n.º 35).
Celebração e Cumprimento: 1º) Com a celebração e o cumprimento do acordo de não
persecução penal não constarão de certidão de antecedentes criminais, exceto para as
situações em que o agente tenha se beneficiado do ANPP, Transação Penal, Suspensão
Condicional do Processo; nos últimos 5 anos; 2º) Quando cumprido integralmente o
acordo de não persecução penal, o juízo competente decretará a extinção de
punibilidade; 3º) Assim cumprido integralmente o acordo e suas obrigações, o juízo
competente (que é o mesmo juízo competente para homologar o acordo). Deverá
declarar a extinção da punibilidade.
Recusa do MP: No caso de recusa, por parte do MP, em propor o acordo de não
persecução penal, o investigado poderá requerer a remessa dos autos a órgão
superior, na forma do art. 28. No caso de recusa do MP em propor o ANPP, cabe ao
investigado requerer remessa dos autos ao órgão superior do MP, na forma da
nova redação do art. 28 do CPP.
Súmula e Jurisprudência:
CNPG 23: “É cabível o acordo de não persecução penal nos crimes culposos com
resultado violento, uma vez que nos delitos desta natureza a conduta consiste na
violação de um dever de cuidado objetivo por negligência, imperícia ou
imprudência, cujo resultado é involuntário, não desejado e nem aceito pelo agente,
apesar de previsível.”
Enunciado 29 do CNPG: É cabível o acordo de não persecução penal nos crimes
culposos com resultado violento, uma vez que nos delitos desta natureza a conduta
consiste na violação de um dever de cuidado objetivo por negligência, imperícia ou
imprudência, cujo resultado é involuntário, não desejado e nem aceito pela agente,
apesar de previsível.
ENUNCIADO 19 (ART. 28-A, CAPUT) :O acordo de não persecução penal é
faculdade do Ministério Público, que avaliará, inclusive em última análise (§ 14), se o
instrumento é necessário e suficiente para a reprovação e prevenção do crime no caso
concreto.
ENUNCIADO 20 (ART. 28-A): Cabe acordo de não persecução penal para fatos
ocorridos antes da vigência da Lei nº 13.964/2019, desde que não recebida a denúncia.
ENUNCIADO 21 (ART. 28-A, § 2º, II): Não caberá o acordo de não persecução penal
se o investigado for reincidente ou se houver elementos probatórios que indiquem
conduta criminal habitual, reiterada ou profissional, exceto se insignificantes as
infrações penais pretéritas, entendidas estas como delitos de menor potencial ofensivo.
ENUNCIADO 22 (art. 28-A, § 2º, IV): Veda-se o acordo de não persecução penal aos
crimes praticados no âmbito de violência doméstica ou familiar, ou praticados contra a
mulher por razões da condição de sexo feminino, bem como aos crimes hediondos e
equiparados, pois em relação a estes o acordo não é suficiente para a reprovação e
prevenção do crime.
ENUNCIADO 24 (ART. 28-A, §§ 5º, 7º E 8º): A homologação do acordo de não
persecução penal, a ser realizada pelo juiz competente, é ato judicial de natureza
declaratória, cujo conteúdo analisará apenas a voluntariedade e a legalidade da medida,
não cabendo ao magistrado proceder a um juízo quanto ao mérito/conteúdo do acordo,
sob pena de afronta ao princípio da imparcialidade, atributo que lhe é indispensável no
sistema acusatório.
ENUNCIADO 25 (ART. 28-A, §§ 6º E 12): O acordo de não persecução penal não
impõe penas, mas somente estabelece direitos e obrigações de natureza negocial e as
medidas acordadas voluntariamente pelas partes não produzirão quaisquer efeitos daí
decorrentes, incluindo a reincidência.
ENUNCIADO 26 (ART. 28-A, § 10): Deverá constar expressamente no termo de
acordo de não persecução penal as consequências para o descumprimento das
condições acordadas, bem como o compromisso do investigado em comprovar o
cumprimento das condições, independentemente de notificação ou aviso prévio,
devendo apresentar, imediatamente e de forma documentada, eventual justificativa para
o não cumprimento de qualquer condição, sob pena de imediata rescisão e oferecimento
da denúncia em caso de inércia (§ 10º).
ENUNCIADO 27 (ART. 28-A, § 10): Havendo descumprimento dos termos do acordo,
a denúncia a ser oferecida poderá utilizar como suporte probatório a confissão formal e
circunstanciada do investigado (prestada voluntariamente na celebração do acordo).
ENUNCIADO 28 (ART. 28-A, § 13): Caberá ao juízo competente para a homologação
rescindir o acordo de não persecução penal, a requerimento do Ministério Público, por
eventual descumprimento das condições pactuadas, e decretar a extinção da
punibilidade em razão do cumprimento integral do acordo de não persecução penal.
ENUNCIADO 29 (ART. 28-A, § 1.º.): Para aferição da pena mínima cominada ao
delito a que se refere o artigo 28-A, serão consideradas as causas de aumento e
diminuição aplicáveis ao caso concreto, na linha do que já dispõe os enunciados
sumulados nº 243 e nº 723, respectivamente, do Superior Tribunal de Justiça e
Supremo Tribunal Federal.

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