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Processo Penal..................................................................................................................15
preventiva de ofício?........................................................................................................56
Afinal, será que um juízo pode se negar a fiscalizar prisão preventiva em regime
carta precatória?...............................................................................................................61
tráfico de drogas...............................................................................................................76
avós do investigado?........................................................................................................81
O que é criptoimputação?................................................................................................86
deu certo............................................................................................................................88
Tribunal de Justiça............................................................................................................103
interromper a prescrição?................................................................................................106
durante a covid-19.............................................................................................................110
Bagatela imprópria............................................................................................................121
pena de multa....................................................................................................................143
consumado no Brasil........................................................................................................145
envolvendo médicos.........................................................................................................153
diz STJ................................................................................................................................156
sua vigência.......................................................................................................................164
crimes impossíveis?.........................................................................................................170
restritivas de direito?........................................................................................................181
Motorista condenado por homicídio culposo pode ser contemplado por PRD?........185
extinguir a punibilidade?..................................................................................................187
de Capitais.........................................................................................................................194
Processo Penal?...............................................................................................................214
Capitais inconstitucional..................................................................................................219
efetivamente cumprida.....................................................................................................224
Exame criminológico........................................................................................................238
realização do interrogatório?...........................................................................................285
Será que a conduta de possuir ou portar integra o rol dos crimes hediondos?........292
STF X STJ...........................................................................................................................300
de colaboração premiada?...............................................................................................304
Processo Penal?...............................................................................................................308
para Vereadores?..............................................................................................................315
Escusas absolutórias.......................................................................................................318
ADI 5264.............................................................................................................................321
O STJ mudou?...................................................................................................................327
é bis in idem?....................................................................................................................353
investigação criminal?......................................................................................................362
insanidade mental?...........................................................................................................387
secundária ou revitimização?..........................................................................................410
Saiba como o crime do art. 218-B do CPB vai cair na sua prova.................................413
Pedro Coelho
Defensor Público Federal desde 2011. Aprovado na Defensoria Pública de Alagoas. Titular do 2º Ofício
da DPU/PB – João Pessoa). Ex-Chefe da DPU-Acre. Graduado em Direito pela Universidade Federal
de Pernambuco (UFPE). Pós-Graduado em Ciências Criminais. Professor de Direito Processual Penal
e Legislação Penal Especial.
Se você não atua – na prática – com direito processual penal ou (por algum motivo estra-
nho) teve em contato com algum artigo específico, a maior probabilidade é de que JAMAIS
tenha sequer ouvido falar desse Decreto-Lei 3240/41. Sua ementa indica como objeto o
seguinte: “Sujeita a sequestro os bens de pessoas indiciadas por crimes de que resulta pre-
juízo para a fazenda pública, e outros”.
“Ah Pedro… Deixa de ser exótico. É claro que essa norma foi revogada pelo CPP ou
não foi recepcionada pela CF/1988”. Se você pensou assim, CUIDADO! A resposta é nega-
tiva. Ele foi recepcionado e está plenamente vigente.
Aliás, não apenas foi recepcionado como já foi cobrado em provas recentes de con-
curso público, como no caso do certame de Delegado da Polícia Civil do Amazonas, reali-
zado no primeiro semestre de 2022.
E, para surpresa de muitos, esse tema ele apareceu no Informativo 732 do STJ, em
julgamento da lavra da 5ª Turma (AgRg no RMS 67.164/MG), apreciando especificamente
o seu art. 4º. De acordo com esse dispositivo, “o sequestro pode recair SOBRE TODOS OS
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NÃO! Ao menos, não é assim que interpreta o STJ. Segundo a Corte, a incidência do
Decreto-Lei n. 3.240/1941 afasta a prévia comprovação do periculum in mora para a imposi-
ção do sequestro (AgRg no REsp 1.844.874/SC[1]).
Vamos em frente!
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Falaremos hoje sobre um importantíssimo tema para aqueles que estudam e/ou militam
na área do processo penal: execução provisória da pena.
Entretanto, é importante anotar que a regra geral não sofreu qualquer modificação (ao
menos não por ora) desde novembro de 2019, quando o Plenário do Supremo Tribunal Fede-
ral assentou que impossibilidade de prisão decorrente (pura e simplesmente) da condenação
exarada por Tribunal.
À época, a Corte afirmou que, diante da ausência de trânsito em julgado, não seria pos-
sível apontar imperativamente o início do cumprimento provisório da pena, sem elementos
fundamentados de cautelaridade. Ainda que se afirme que os recursos pendentes osten-
tem efeito meramente devolutivo (sem efeito suspensivo), não há cumprimento provisório da
pena no Brasil, pois ninguém pode ser considerado culpado antes do trânsito em julgado (art.
5º, LVII, da CF/88). Nesse sentido, o próprio art. 283 do CPP, que exige o trânsito em julgado
da condenação para que se inicie o cumprimento da pena, é constitucional, sendo compatível
com o princípio da presunção de inocência, previsto no art. 5º, LVII, da CF/88[1].
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Exatamente!
É que, apesar de essa temática ainda pender de análise definitiva pelo Supremo Tribu-
nal Federal, o STJ tem se manifestado pela ilegalidade da execução provisória no Júri, bem
como da própria redação do art. 492 do CPP. Em recente precedente, a Corte ratificou[4]
sua orientação no sentido de que “pendente de julgamento no STF o Tema n. 1.068, em que
se discute a constitucionalidade do art. 492, I, do CPP, deve ser reafirmado o entendimento
do STJ de impossibilidade de execução provisória da pena mesmo em caso de condenação
pelo tribunal do júri com reprimenda igual ou superior a 15 anos de reclusão”[5].
Vamos em frente.
[1] STF, Plenário, ADC 43/DF, ADC 44/DF e ADC 54/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julga-
dos em 7/11/2019.
[2] HC 118770, Relator(a): MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: ROBERTO BAR-
ROSO, Primeira Turma, julgado em 07/03/2017.
[3] STF, 2ª Turma, HC 163814 ED/MG, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 19/11/2019.
[4] Essa compreensão já vinha sendo adotada, tanto que consta do JURISPRUDÊN-
CIA EM TESES (edição 185) – TESE 10: pesar da alteração legislativa promovida pela Lei
nº 13.964/2019 no art. 492, I, e, do Código de Processo Penal – CPP, a jurisprudência do
Superior Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal entende que é ilegal a execução
provisória da pena como decorrência automática da condenação proferida pelo Tribunal do
Júri, salvo quando demonstrados os fundamentos da prisão preventiva.
[5] TJ. 5ª Turma. AgRg no HC 714.884-SP, Rel. Min. Jesuíno Rissato (Desembargador
convocado do TJDFT), Rel. Acd. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 15/03/2022.
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Sei que o título do post de hoje foi um tanto provocativo, mas me permitam explicar.
Ao longo dos últimos dois anos, houve uma significativa intensificação de reformulações
e ponderações acerca do instituto do reconhecimento de pessoas no âmbito do processo
penal. Inicialmente compreendido como uma “mera recomendação” do legislador pelos Tri-
bunais Superiores, houve um amadurecimento e uma modificação sensível de orientação.
Esse tema já foi objeto de análises em textos nossos anteriores aqui no blog, mas o
fato é que o entendimento atual caminha no sentido de que o procedimento estabelecido pelo
legislador deve ser seguido à risca, tanto da fase processual como também na etapa inquisi-
tiva da persecução penal[1].
De acordo com o Ministro Rogério Schietti Cruz, em seu voto referente ao julgamento
do HC 598.886/SC[2], a partir de estudos da Psicologia moderna, são comuns as falhas e
os equívocos que podem advir da memória humana e da capacidade de armazenamento de
informações. Isso porque a memória pode, ao longo do tempo, se fragmentar e, por fim, se
tornar inacessível para a reconstrução do fato. O valor probatório do reconhecimento, por-
tanto, possui considerável grau de subjetivismo, a potencializar falhas e distorções do ato e,
consequentemente, causar erros judiciários de efeitos deletérios e muitas vezes irreversí-
veis. O reconhecimento de pessoas deve, portanto, observar o procedimento previsto no art.
226 do CPP, cujas formalidades constituem garantia mínima para quem se vê na condição
de suspeito da prática de um crime, não se tratando, como se tem compreendido, de “mera
recomendação” do legislador. Em verdade, a inobservância de tal procedimento enseja a
nulidade da prova e, portanto, não pode servir de lastro para sua condenação, ainda que
confirmado, em juízo, o ato realizado na fase inquisitorial, a menos que outras provas, por si
mesmas, conduzam o magistrado a convencer-se acerca da autoria delitiva.
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de Processo Penal[3] e quando corroborado por outras provas colhidas na fase judicial, sob
o crivo do contraditório e da ampla defesa[4].
Relembrado esses aspectos, é hora de analisarmos um novo julgado da lavra da 6ª
Turma do Superior Tribunal de Justiça. Segundo o Colegiado, se a vítima é capaz de indi-
vidualizar o autor do fato, é desnecessário instaurar o procedimento do art. 226 do CPP[5].
É que, ao compulsarmos o teor do art. 226 do CPP, verifica-se que o legislador aponta
que tal procedimento será verificado “quando houver necessidade”, sendo possível inferir
que, a contrario sensu, não havendo dúvidas sobre a autoria delitiva, desnecessário se faz
a produção da mencionada prova (afinal, ela NÃO é obrigatória – sistema da prova tarifada).
De acordo com o que se extrai do voto do Min. Sebastião Reis Júnior, “verifica-se, no
caso concreto, que a autoria delitiva não se amparou, exclusivamente, no reconhecimento
pessoal realizado na fase do inquérito policial, destacando-se, sobretudo, que as duas víti-
mas reconheceram o agravante em Juízo, descrevendo a negociação e a abordagem[6]. A
identificação do perfil na rede social facebook foi apenas uma das circunstâncias do fato,
tendo em conta que a negociação se deu por essa rede social. Isso não afastou o reconheci-
mento dos autores do fato em juízo, razão pela qual não há falar em violação do art. 226 do
Código de Processo Penal” (grifos nossos).
Não há a menor dúvida de que essa orientação aparecerá muito em breve em certames
vindouros! Anota mais essa e aguarda para gabaritar sua prova!
Vamos em frente!
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nhecida, a autoridade providenciará para que esta não veja aquela; IV – do ato de reconhe-
cimento lavrar-se-á auto pormenorizado, subscrito pela autoridade, pela pessoa chamada
para proceder ao reconhecimento e por duas testemunhas presenciais. Parágrafo único. O
disposto no no III deste artigo não terá aplicação na fase da instrução criminal ou em plenário
de julgamento.
[4] Nesse sentido, vide: AgRg no HC n. 664.416/SC, Ministro Antonio Saldanha Palheiro,
Sexta Turma, DJe 26/11/2021
[5] HC 721.963-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Sexta Turma, por maioria, julgado
em 19/04/2022.
[6] Vejamos trechos importantes que serviram de lastro para corroborar a tese susten-
tada pelo Relator, que se sagrou prevalecente: “(…) Importante repisar que Luís Cláudio reco-
nheceu pessoalmente os apelantes em juízo, pontuando ter certeza quanto à identificação
realizada na fase inquisitiva, algo também confirmado por Eviton que, conquanto não tenha
realizado a identificação sob o contraditório, narrou ter segurança quanto ao apontamento for-
malizado na Delegacia mais de uma vez (vide fls. 13/17, 15/16 e 29/30). (…) Não bastasse,
narram os policiais civis Márcio Caneschi e Cristina Aparecida dos Santos ter o ofendido Luís
Cláudio reconhecido os assaltantes através de perfis relacionados ao suposto vendedor “Jose-
mar Ferreira” no Facebook. Segundo o ofendido, o crime se deu após uma emboscada, tendo
sido atraído ao local após a negociação de compra de um automóvel. O proprietário do bar
onde as vítimas pediram informações antes do crime disse saber que, “no bairro, acontecem
coisas erradas”, masque não compactua com tais condutas, nada sabendo sobre o crime em
pauta. Ao final, disseram que as vítimas mencionaram o emprego de armas de fogo durante o
roubo (relatório de investigação a fls. 12/23 e link de acesso a fls. 515).
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Hoje vamos trazer um tema especialmente delineado para aqueles que estudam para
concursos na área federal, visto que vários certames estão sendo especulados e anunciados
pelo Poder Público da União.
Art. 61 – São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou
qualificam o crime: II – ter o agente cometido o crime: h) contra criança, MAIOR DE 60 (SES-
SENTA) ANOS, enfermo ou mulher grávida;
No caso em questão, o cidadão foi condenado por ter introduzido em circulação moeda
falsa, inicialmente REPASSANDO UMA CÉDULA DE CINQUENTA REAIS PARA A SUA AVÓ
e, posteriormente, repassando duas notas de igual valor (também falsificadas) para uma vizi-
nha de sua avó, ambas COM IDADE SUPERIOR A 60 ANOS. Indubitável, pois, que a con-
duta, formalmente, se adéqua ao previsto no artigo 289, § 1º do CPB.
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Essa foi a tese agasalhada pela Defensoria Pública da União no HC impetrado perante
o STJ e, inicialmente, encampada pelo Ministro Sebastião Reis Júnior e pela Ministra The-
reza de Assis Moura para afastar a incidência da agravante!
De acordo com a tese vencedora, não obstante ser inquestionável que o bem jurídico
tutelado pelo delito em questão ser a fé pública, não haveria como negar que a vítima pode
ser, além do Estado, uma pessoa física ou um estabelecimento comercial, dado o notório pre-
juízo experimentado por eles, afinal as pessoas a quem são repassadas cédulas ou moedas
falsas pode ser elemento crucial e definidor do grau de facilidade com que o crime é praticado
e a fé pública, portanto, é atingida.
Utilizam-se ainda de arrimo para a tese vencedora, as lições do penalista gaúcho Cezar
Roberto Bitencourt quando assevera que “sujeito passivo é o Estado, representando a coleti-
vidade, BEM COMO A PESSOA LESADA. Com efeito, in concreto, sujeito passivo é sempre
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quem tem seu interesse lesado pela conduta do sujeito ativo; tanto pode ser sujeito passivo
do crime a pessoa física como a jurídica”[4].
Dessa maneira, por 3 votos a 2, A TESE DEFENDIDA PELA DPU NÃO SE SAIU VEN-
CEDORA, prevalecendo o entendimento de que, não obstante o crime de moeda falsa tutelar
a fé pública, A EXISTÊNCIA DE VÍTIMA INDIRETA OU MEDIATA (PARTICULAR) PERMITE
A AFERIÇÃO E APLICAÇÃO DA AGRAVANTE DESENHADA NO ARTIGO 61, II, H DO CPB
QUANDO ENVOLVER PARTICULAR MAIOR DE 60 ANOS.
Para o Superior Tribunal de Justiça, pois, a fé pública do Estado é o bem jurídico tute-
lado no delito do art. 289, § 1º, do Código Penal, o que não induz à conclusão de que o
Estado seja vítima exclusiva do delito. Em virtude da diversidade de meios com que a intro-
dução da moeda falsa em circulação pode ser perpetrada, não há como negar que vítima
pode ser, além do Estado, uma pessoa física, ou um estabelecimento comercial, dado o
notório prejuízo experimentado por esses últimos. Não há como negar que a pessoa a quem,
eventualmente, são passadas cédulas ou moedas falsas pode ser elemento crucial e defini-
dor do grau de facilidade com que o crime será praticado, e a fé pública, portanto, atingida.
No tocante ao agravamento da reprimenda quando o ofendido é ascendente, descendente
irmão ou cônjuge, a preocupação do legislador foi a de punir com mais rigor aquele que
quebra, ou ofende, o natural vínculo de afeto e de cumplicidade mútuo que deve existir nas
relações familiares. Apesar de já destacada a essência motivadora dessa agravante, cumpre
lembrar que o critério de aplicação, em caso de pessoa idosa, é objetivo, e nesta hipótese,
cronológico[5].
Espero que tenham gostado e, sobretudo, compreendido! Isso vai cair em prova!
Vamos em frente!
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em quantidade superior à autorizada. § 4º – Nas mesmas penas incorre quem desvia e faz
circular moeda, cuja circulação não estava ainda autorizada.
[2] MASSON, Cleber. Direito Penal Esquematizado, Vol. 3 – Parte Especial. 3ª edição,
Ed. Método, pg.434.
[3] PRADO, Luiz Régis. Curso de Direito Penal Brasileiro. 8ª ed., São Paulo: Revista
dos Tribunais, pág. 279
[4] BITENCOURT, Cézar Roberto. Tratado de Direito Penal – Parte Especial 4, 8 ed.,
São Paulo: Saraiva, 2014, p. 484
[5] HC 211.052/RO, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, Rel. p/ Acórdão Ministro
ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 05/06/2014, DJe 15/09/2014.
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Talvez você, ao ler o título do presente texto, possa ter sido acometido por algum estra-
nhamento. Digo isso porque é natural pensarmos, depois de tanto tempo, o STF não havia
colocado um ponto final (sabe-se lá até quando) sobre esse tema da execução provisó-
ria da pena?
Em suas palavras, “nas condenações pelo Tribunal do Júri, sequer é necessário aguar-
dar o julgamento de recurso em segundo grau de jurisdição, até porque o Júri é soberano e,
consequentemente, o Tribunal de Justiça não tem como substituir a decisão do Júri. Even-
tualmente pode anulá-lo, mas as estatísticas documentam que é irrisório o número de con-
denações pelo Júri anuladas pelos tribunais de justiça. O contrário até acontece com mais
frequência, absolvições que venham a ser anuladas, mas condenações que venham a ser
anuladas é um número irrisório. Portanto, diante do princípio da soberania do Tribunal do
Júri, o meu entendimento (…) é de que a condenação pelo Tribunal do Júri já significa a pos-
sibilidade de execução da pena”[3].
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Apesar disso, não se pode dizer que esse entendimento é o prevalecente no âmbito
jurisprudencial. Isso porque, dentro do próprio STF, há um segundo entendimento bastante
forte e consolidado por alguns Ministros da Corte apontando que, antes do julgamento de
eventual apelação, sequer há o exaurimento das instâncias ordinárias. Ademais, compul-
sando o art. 593 do CPP, no âmbito do júri, é possível o reconhecimento em grau recursal
de nulidades posteriores à pronúncia, retificação da decisão em face de contrariedade ou
divergência dela em relação à quesitação dos jurados ou mesmo correção de erro de direito
manifesto[4]. Vale destacar as palavras do Ministro Celso de Melo para quem “não cabe
invocar a soberania do veredicto do Conselho de Sentença, para justificar a possibilidade de
execução antecipada (ou provisória) de condenação penal recorrível emanada do Tribunal
do Júri, eis que o sentido da cláusula constitucional inerente ao pronunciamento soberano
dos jurados (CF, art. 5º, XXXVIII, “c”) não o transforma em manifestação decisória intangível,
mesmo porque admissível, em tal hipótese, a interposição do recurso de apelação, como
resulta claro da regra inscrita no art. 593, III, “d”, do CPP”[5].
Art. 492. Em seguida, o presidente proferirá sentença que: (…) e) mandará o acusado
recolher-se ou recomendá-lo-á à prisão em que se encontra, se presentes os requisitos da
prisão preventiva, ou, no caso de condenação a uma pena igual ou superior a 15 (quinze)
anos de reclusão, determinará a execução provisória das penas, com expedição do mandado
de prisão, se for o caso, sem prejuízo do conhecimento de recursos que vierem a ser inter-
postos; (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) (…) § 3º O presidente poderá, excep-
cionalmente, deixar de autorizar a execução provisória das penas de que trata a alínea e do
inciso I do caput deste artigo, se houver questão substancial cuja resolução pelo tribunal ao
qual competir o julgamento possa plausivelmente levar à revisão da condenação. (Incluído
pela Lei nº 13.964, de 2019) § 4º A apelação interposta contra decisão condenatória do Tri-
bunal do Júri a uma pena igual ou superior a 15 (quinze) anos de reclusão não terá efeito
suspensivo. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) § 5º Excepcionalmente, poderá o tribu-
nal atribuir efeito suspensivo à apelação de que trata o § 4º deste artigo, quando verificado
cumulativamente que o recurso: (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) I – não tem propósito
meramente protelatório; e (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) II – levanta questão substan-
cial e que pode resultar em absolvição, anulação da sentença, novo julgamento ou redução
da pena para patamar inferior a 15 (quinze) anos de reclusão. § 6º O pedido de concessão
de efeito suspensivo poderá ser feito incidentemente na apelação ou por meio de petição em
separado dirigida diretamente ao relator, instruída com cópias da sentença condenatória, das
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Nesse cenário, é pertinente destacar que, não obstante as normas gozarem de presun-
ção de constitucionalidade, a possibilidade ou não de execução provisória no âmbito do Tri-
bunal do Júri permanece extremamente polêmica, objeto – como vimos, de série divergência,
especialmente dentro da 1ª Turma do STF que, diferentemente da 2ª Turma e da maioria dos
julgados recentes do STJ, vem admitindo essa execução antecipada em face da soberania
dos veredictos. A posição definitiva e segura somente poderá se dar quando o Supremo Tri-
bunal Federal levar a efeito o julgamento do RE 1.235.340 – cuja repercussão geral foi reco-
nhecida – colocando um ponto final na celeuma.
Apesar de o STF ter refutado a execução provisória da pena a partir do 2º grau (ADCs
43, 44 e 54), sem elementos de cautelaridade, a Lei Anticrime veio a trazer previsão especí-
fica autorizando essa perspectiva quando – no âmbito do júri – houvesse condenação supe-
rior a 15 anos de pena privativa de liberdade. O art. 492 do CPP, que traz a novidade, já foi
questionado no âmbito do STF quanto a sua constitucionalidade (TEMA 1068, RE 1.235.340/
SC), tendo o Min. Gilmar Mendes votado pela sua inconstitucionalidade. Nesse contexto,
diante da pendência do mencionado julgamento no Supremo Tribunal Federal, deve ser rea-
firmado o entendimento do STJ de impossibilidade de execução provisória da pena mesmo
em caso de condenação pelo tribunal do júri com reprimenda igual ou superior a 15 anos de
reclusão[6].
Vamos em frente!
[1] Art. 283. Ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e
fundamentada da autoridade judiciária competente, em decorrência de prisão cautelar ou em
virtude de condenação criminal transitada em julgado. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de
2019) § 1º As medidas cautelares previstas neste Título não se aplicam à infração a que não
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À ocasião, o STJ ratificou a tendência de limitar – cada vez mais – a atuação investi-
gativa pautada exclusivamente em notitia criminis apócrifa, inqualificada ou também conhe-
cida vulgarmente como “denúncia anônima”. Nesse cenário, asseverou-se que a busca pes-
soal realizada com base isoladamente em “denúncia anônima” não encontra ressonância na
legalidade vigente. É necessário, para tanto, a identificação e demonstração de existência
PRÉVIA de fundadas razões, passíveis de serem aferidas e comprovadas, indiciariamente,
de maneira objetiva.
Justamente por esse motivo, a Corte foi além e anotou que a intuição policial ou “abor-
dagens de rotina” também não seriam suficientes – por si sós – para justificar e conferir lici-
tude às buscas pessoais. No caso concreto, um cidadão foi abordado por policiais militares
em razão de “atitude suspeita”, ocasião em que fora realizada busca pessoal e se identificou
o flagrante de maconha e cocaína voltadas para a traficância.
Analisando o caso concreto, o Relator, Ministro Rogério Schietti Cruz, afirmou que “o
artigo 244 do CPP não autoriza buscas pessoais praticadas como ‘rotina’ ou ‘praxe’ do poli-
ciamento ostensivo, com finalidade preventiva e motivação exploratória, mas apenas buscas
pessoais com finalidade probatória e motivação correlata”. Sem qualquer divergência (una-
nimidade), os Ministérios da 6ª Turma concluíram que a justificativa utilizada – “atitude sus-
peita” – não se revela idônea, visto que o réu apenas trafegava de moto até ser parado
pela polícia.
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(i) Busca pessoal “de rotina” – A diligência da busca pessoal está regrada, entre outros,
no artigo 244 do Código de Processo Penal. Diferenciando-se da busca domiciliar, é evi-
dente que não se exige a prévia ordem judicial para sua efetivação, bastando que o agente
demonstre a presença de fundada suspeita. Conforme previsão legal, “a busca pessoal inde-
penderá de mandado, no caso de prisão ou quando houver fundada suspeita de que a pessoa
esteja na posse de arma proibida ou de objetos ou papéis que constituam corpo de delito, ou
quando a medida for determinada no curso de busca domiciliar”.
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b. garantir a sindicabilidade da abordagem, isto é, permitir que tanto possa ser contras-
tada e questionada pelas partes, quanto ter sua validade controlada a posteriori por um ter-
ceiro imparcial (Poder Judiciário), o que se inviabiliza quando a medida tem por base apenas
aspectos subjetivos, intangíveis e não demonstráveis;
c. evitar a repetição – ainda que nem sempre consciente – de práticas que reprodu-
zem preconceitos estruturais arraigados na sociedade, como é o caso do perfilamento racial,
reflexo direto do racismo estrutural[1].
(iv) Uso de câmeras e filmagens nas abordagens policiais – Não é novidade a com-
preensão que vem sendo sufragada pontualmente pelo STJ e pelo próprio Supremo Tribu-
nal Federal no sentido de destacar a importância – para fins de transparência e até mesmo
proteção da legitimidade das ações policiais – da utilização mandatória de equipamentos de
filmagens das abordagens dos agentes de segurança público, como mecanismo cautelar e
garantidor da higidez da atuação. Nesse sentido, vale destacar que no julgamento do HC n.
598.051/SP (Rel. Ministro Rogerio Schietti, 6ª Turma, DJe 15/3/2021), a Corte tem enfati-
zado a importância do uso de câmeras pelos agentes de segurança, a fim de que se possa
aprimorar o controle sobre a atividade policial, tanto para coibir práticas ilegais, quanto para
preservar os bons policiais de injustas e levianas acusações de abuso. Nessa mesma linha,
o STF, ao julgar os Embargos de Declaração na Medida Cautelar da ADPF n. 635 (“ADPF
das Favelas”, em 3/2/2022), reconheceu a imprescindibilidade de tal forma de monitoração
da atividade policial e determinou, entre outros pontos, que “o Estado do Rio de Janeiro, no
prazo máximo de 180 (cento e oitenta) dias, instale equipamentos de GPS e sistemas de gra-
vação de áudio e vídeo nas viaturas policiais e nas fardas dos agentes de segurança, com o
posterior armazenamento digital dos respectivos arquivos“.
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Em complemento, o Ministro Rogério Schietti Cruz traz à baila ainda a análise – a título
comparativo – de semelhante situação observada em Nova York. Segundo ele, na referida
cidade, “o percentual de “eficiência” das stop and frisks era de 12%, isto é, 12 vezes a por-
centagem de acerto da polícia brasileira, e, mesmo assim, foi considerado baixo e inconstitu-
cional em 2013, no julgamento da class action Floyd, et al. v. City of New York, et al. pela juíza
federal Shira Scheindlin (Floyd, et al. v. City of New York, et al. 959 F. Supp. 2d 540 (2013)[4]”.
(vi) Reflexão que não deve se limitar à polícia – É importante apontar que, no caso con-
creto, as ponderações manejadas pelos Ministros da Corte – de forma alguma – se restrin-
giu a atuação das polícias. Ao contrário, de maneira expressa, registrou-se a problemática
dentro das estruturas do próprio Sistema de Justiça, englobando o Ministério Público e o
próprio Poder Judiciário. De acordo com o Relator do caso sob análise, as “práticas como a
evidenciada no processo objeto deste recurso só se perpetuam porque, a pretexto de comba-
ter a criminalidade, encontram respaldo e chancela, tanto de delegados de polícia, quanto do
Ministério Público – a quem compete, por excelência, o controle externo da atividade policial
(art. 129, VII, da Constituição Federal) e o papel de custos iuris –, como também, em espe-
cial, de segmentos do Poder Judiciário, ao validarem medidas ilegais e abusivas perpetradas
pelas agências de segurança (grifei)”[5].
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Vamos em frente!
[1] “Em um país marcado por alta desigualdade social e racial, o policiamento ostensivo
tende a se concentrar em grupos marginalizados e considerados potenciais criminosos ou
usuais suspeitos, assim definidos por fatores subjetivos, como idade, cor da pele, gênero,
classe social, local da residência, vestimentas etc. Sob essa perspectiva, a ausência de jus-
tificativas e de elementos seguros a legitimar a ação dos agentes públicos –– diante da dis-
cricionariedade policial na identificação de suspeitos de práticas criminosas – pode fragilizar
e tornar írritos os direitos à intimidade, à privacidade e à liberdade” (STJ).
[2] WANDERLEY, Gisela Aguiar. Liberdade e suspeição no Estado de Direito: o poder
policial de abordar e revistar e o controle judicial de validade da busca pessoal. Dissertação
apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Direito da Faculdade de Direito da Univer-
sidade de Brasília, 2017, p. 79-80
[3] Vale dizer, ainda que se considere que todos os flagrantes decorrem de busca pes-
soal – o que por certo não é verdade –, o índice de encontro de objetos ilícitos é de apenas
1%; isto é, de cada 100 pessoas revistadas, apenas uma é autuada por alguma ilegalidade
(na mesma linha, a reportagem disponível em https://g1.globo.com/saopaulo/noticia/2013/11/
cada-100-abordagens-policiais-em-sp-apenas-umatermina-em-prisao.html, acesso em:
fev. 2022).
[4] Disponível em: http://www.nysd.uscourts.gov/cases/show.php?db=”special&id=317,
acesso em: fev. 2022).
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[5] Endossando essa tese: “Para controlar a violência policial, é preciso aumentar os
controles externos. Os órgãos constitucionais de supervisão de polícia têm falhado sistema-
ticamente e não cansam de demonstrar diariamente que são parte interessada na manuten-
ção do sistema de justiça criminal nos seus moldes elitistas e classistas, em que a reprodu-
ção do racismo e da demofobia é sua essência mais preciosa. É o caso do Ministério Público,
que tem sido omisso diante de mais de 1.000 mortes decorrentes de ação policial todos os
anos, e mesmo do STF, que tem relutado em tomar medidas mais duras para controlar a vio-
lência policial aberta em vários estados. O controle externo da polícia é o celular do morador
de favela, do jovem que filma a abordagem, do moleque que controla a agressão do policial
mostrando que está gravando e ameaçando mostrar na mídia. O controle externo é a notícia
na grande mídia, a pressão política sobre os poderes executivo e legislativo para que contro-
lem suas polícias. Nesse conjunto de pressões, os resultados de pesquisas que mostram à
sociedade e à própria polícia os efeitos do que seus agentes praticam nas ruas pode ter seu
papel”. (RAMOS, Silvia et al. Negro trauma: racismo e abordagem policial no Rio de Janeiro.
Rio de Janeiro: CESeC, 2022, p. 46 e 50).
[6] https://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_411 _esp.pdf, acesso em:
fev. 2022.
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Quem acompanha nossas aulas de processo penal sabe que uma peculiar preocupação
em manter os nossos alunos atualizados com os temas de maior probabilidade de cobrança
em provas de certames públicos, mas também de trazer e trabalhar assuntos modernos e
que possuam chances de surpreender a maioria dos candidatos.
Ou seja, se você não sabe ou não domina com segurança esse tema, é mais do que
urgente que acompanhe as próximas linhas.
Seria uma atuação pautada na seguinte ideia: “tenho convicção de que se procurarmos
ferrenhamente dentro daquela comunidade, encontraremos algum ilícito. Não sei o que é,
onde está, com quem está e como foi parar lá. Mas se procurar, algo de podre e ilícito encon-
traremos”. Essa é uma frase que traduz o espírito dessa prática não rara no Brasil.
Segundo Philipe Benoni Melo e Silva, trata-se de situação em que são lançadas as
redes da investigação com a esperança de “pescar” qualquer prova, para subsidiar uma
futura acusação. Ou seja, é uma investigação prévia, realizada de maneira muito ampla e
genérica para buscar evidências sobre a prática de futuros crimes. Como consequência, não
pode ser aceita no ordenamento jurídico brasileiro, sob pena de malferimento das balizas de
um processo penal democrático de índole Constitucional.
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A fishing expedition existe e NÃO deve ser tolerada também em relação às intercep-
tações telefônicas, conforme previsão extraída diretamente da Lei 9296/96, e tampouco em
relação às buscas e apreensão. Aliás, recentemente, o próprio Superior Tribunal de Justiça
anotou que admitir a entrada na residência especificamente para efetuar uma prisão não
significa conceder um salvo-conduto para que todo o seu interior seja vasculhado indistin-
tamente, EM VERDADEIRA PESCARIA PROBATÓRIA (FISHING EXPEDITION). Vejamos
uma situação hipotética. Imagine-se que, no decorrer de uma investigação pela prática dos
crimes de furto e receptação, a autoridade policial represente pela concessão de mandado de
busca e apreensão, a fim de recuperar um celular subtraído, cujo localizador (GPS) aponte
estar em determinada moradia. Deferida a ordem para a procura do aparelho, a polícia, por
ocasião do cumprimento da diligência, aproveita a oportunidade para levar cães farejadores
com o objetivo de verificar a possível existência de drogas no local, as quais acabam sendo
encontradas. Conquanto seja perfeitamente lícito o ingresso em domicílio, é ilegal a apreen-
são das drogas, por não haver sido precedida de justa causa quanto à sua existência e por
não decorrer de mero encontro fortuito – esse admissível – mas sim de manifesto desvio de
finalidade no cumprimento do ato, o qual, no primeiro caso, se limitava a autorizar o ingresso
para a recuperação do celular subtraído; no segundo, apenas para efetuar a prisão do rouba-
dor e recuperar a motocicleta subtraída[3].
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Vamos em frente!
[1] ROSA, Alexandre Morais da, Guia do Processo Penal Estratégico: de acordo com a
Teoria dos Jogos, 1ª ed., Santa Catarina: Emais, 2021, p. 389-390
[2] Habeas corpus. 2. Inviolabilidade de domicílio (art. 5º, IX, CF). Busca e apreensão
em estabelecimento empresarial. Estabelecimentos empresariais estão sujeitos à proteção
contra o ingresso não consentido. 3. Não verificação das hipóteses que dispensam o con-
sentimento. 4. Mandado de busca e apreensão perfeitamente delimitado. Diligência esten-
dida para endereço ulterior sem nova autorização judicial. Ilicitude do resultado da diligência.
5. Ordem concedida, para determinar a inutilização das provas. (HC 106566, Relator(a):
GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado em 16/12/2014).
[3] HC 663.055-MT, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Sexta Turma, por unanimidade, jul-
gado em 22/03/2022.
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Não é segredo para ninguém que os agentes de segurança pública – e, dentre eles, os
policiais, por óbvio – ostentam o direito de porte de arma de fogo. Nesse sentido aponta o art.
6, II do Estatuto do Desarmamento:
Art. 6º É proibido o porte de arma de fogo em todo o território nacional, salvo para os
casos previstos em legislação própria e para: (…) II — os integrantes de órgãos referidos nos
incisos do caput do art. 144 da Constituição Federal;
Art. 33. O Porte de Arma de Fogo é deferido aos militares das Forças Armadas, AOS
POLICIAIS federais e estaduais e do Distrito Federal, CIVIS e militares, aos Corpos de Bom-
beiros Militares, bem como aos policiais da Câmara dos Deputados e do Senado Federal EM
RAZÃO DO DESEMPENHO DE SUAS FUNÇÕES INSTITUCIONAIS. § 1º O Porte de Arma
de Fogo das praças das Forças Armadas e dos Policiais e Corpos de Bombeiros Militares
é regulado em norma específica, por atos dos Comandantes das Forças Singulares e dos
Comandantes-Gerais das Corporações. § 2º Os integrantes das polícias civis estaduais e das
Forças Auxiliares, QUANDO NO EXERCÍCIO DE SUAS FUNÇÕES INSTITUCIONAIS OU
EM TRÂNSITO, poderão portar arma de fogo fora da respectiva unidade federativa, desde
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que expressamente autorizados pela instituição a que pertençam, por prazo determinado,
conforme estabelecido em normas próprias.
Diante disso, é preciso redobrado cuidado para se manter atualizado e verificar as alte-
rações perpetradas por tais normativas. Aliás, no ponto ora estudado, houve uma sensível
modificação que gera impacto prático extremamente relevante, em data recente.
Com o advento do Decreto 9785/2019 (já substituído pelo Decreto 9847/2019), o tema
recebeu novas roupagens, passando a assim ser regulamentado:
Art. 30. Os integrantes das Forças Armadas e os servidores dos órgãos, instituições
e corporações mencionados nos incisos II, V, VI e VII do caput do art. 6º da Lei nº 10.826,
de 2003, transferidos para a reserva remunerada ou APOSENTADOS, para conservarem a
autorização de porte de arma de fogo de sua propriedade deverão submeter-se, a cada dez
anos, aos testes de avaliação psicológica a que faz menção o inciso III do caput do art. 4º
da Lei nº 10.826, de 2003. § 1º O cumprimento dos requisitos a que se refere o caput será
atestado pelos órgãos, instituições e corporações de vinculação. § 2º Não se aplicam aos
integrantes da reserva não remunerada das Forças Armadas e Auxiliares as prerrogativas
mencionadas no caput.
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Afinal, a norma regulamentadora que conferia supedâneo para essa posição encontra-
-se revogada e, diferentemente, a atual previsão admite, perfeitamente, essa manutenção,
desde que o agente se submeta a alguns requisitos, como a realização de testes de avalia-
ção psicológica a cada 10 (dez) anos.
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Como sempre falo em textos e aulas, a Lei de Drogas é uma das mais importantes e
frequentes em prova de concurso público. Para garantirmos os acertos, além de dominá-la, é
especialmente relevante manter-nos atualizados em absolutamente tudo que a ela se refere.
Nesse caminhar, não podemos nos limitar ao acompanhamento e evolução das análi-
ses doutrinárias e jurisprudenciais. É imprescindível também atentarmos para as novidades
legislativas e alterações normativas promovidas pelo Poder Legislativo pátrio.
Esse aspecto, nos últimos dias, se revelou com ainda maior destaque em razão do advento
da Lei 14.322/2022, responsável por alterar alguns dispositivos da Lei de Drogas. Vejamos:
Art. 60 (…) § 5º Decretadas quaisquer das medidas previstas no caput deste artigo[1],
o juiz facultará ao acusado que, no prazo de 5 (cinco) dias, apresente provas, ou requeira
a produção delas, acerca da origem lícita do bem ou do valor objeto da decisão, exceto no
caso de veículo apreendido em transporte de droga ilícita. § 6º Provada a origem lícita do
bem ou do valor, o juiz decidirá por sua liberação, exceto no caso de veículo apreendido em
transporte de droga ilícita, cuja destinação observará o disposto nos arts. 61 e 62 desta Lei,
ressalvado o direito de terceiro de boa-fé.
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Não! O próprio legislador, na parte final do parágrafo 5º do art. 60, expressa a ressalva
de que os veículos utilizados diretamente pelo tráfico e que sejam de propriedade de tercei-
ros de boa-fé – utilizados indevidamente pelos criminosos – poderão ser devolvidos aos seus
verdadeiros titulares.
Fácil prever que o seu examinador intentará confundir os candidatos afirmando que,
doravante – a partir da vigência da Lei 14.322/2022-, todos os bens apreendidos e envolvidos
no transporte de drogas deverão ser confiscados pelo Poder Público, independentemente da
proveniência ilícita.
Não é isso! Essa situação se restringe aos veículos utilizados e apreendidos no trans-
porte de drogas! Para as demais situações (ou seja, bens apreendidos que não sejam veícu-
los de transporte), mantém-se a regra que permite ao juiz facultar ao acusado a apresenta-
ção de provas ou a produção delas, dentro de cinco dias, a fim de provar a origem lícita deles
para sua liberação.
Naturalmente, é fácil antever que essa nova lei será questionada quanto a sua consti-
tucionalidade, em prever hipótese de atuação confiscatória do Estado em relação a bens de
natureza lícita. Entretanto, destaque-se, por ora, devemos considerar – para fins de prova – a
regra de que toda norma goza de presunção de constitucionalidade, razão pela qual a litera-
lidade da norma ora vigente deve ser norteadora para questões de concurso, especialmente
em provas objetivas.
Vamos em frente!
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Quanto a esse último argumento, o Plenário do STF afirmou que o prazo máximo de
duração do estado defesa (CF, art. 136, § 2º)[1] não é fundamento para limitar a viabilidade
de renovações sucessivas.
A Lei nº 9.296/1996 prevê que a interceptação telefônica “não poderá exceder o prazo
de quinze dias, renovável por igual tempo uma vez comprovada a indispensabilidade do meio
de prova.” (art. 5º).
A interceptação telefônica não pode exceder 15 dias. Contudo, pode ser renovada por
igual período, não havendo restrição legal ao número de vezes para tal renovação, se com-
provada a sua necessidade (STF, 2ª Turma, HC 133148/ES, Rel. Min. Ricardo Lewandowski,
julgado em 21/2/2017).
Não há mais dúvida de que o disposto no art. 5º da Lei n. 9.296/1996 não limita a pror-
rogação da interceptação telefônica a um único período, podendo haver sucessivas renova-
ções, e de que o prazo de 15 dias ali previsto começa a correr da data em que a escuta é
efetivamente iniciada, e não do despacho judicial (STJ, 6ª Turma, RHC 72.706/MT, Rel. Min.
Sebastião Reis Júnior, julgado em 06/10/2016).
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Considerando que não houve propriamente uma novidade – além da orientação de ser
observada pelas demais instâncias – eu destaco a ênfase dada pelos Ministros à necessi-
dade da motivação concreta e pautada na razoabilidade.
[1] § 2º O tempo de duração do estado de defesa não será superior a trinta dias, podendo
ser prorrogado uma vez, por igual período, se persistirem as razões que justificaram a sua
decretação.
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Sempre falo em aulas que, dentro das Leis Penais Especiais, uma das principais em
certames de carreiras jurídicas estaduais é, indubitavelmente, a Lei Maria da Penha (Lei n.
11.340/2006), até mesmo porque – em todas essas áreas de atuação prática no âmbito cri-
minal – essa é uma temática recorrente.
Justamente por isso, sempre alerto a necessidade de estar totalmente atualizado com
os dispositivos de lei (frequentemente alvo de mudanças e acréscimos), bem como com a
evolução jurisprudencial. Em relação a essa legislação, feliz ou infelizmente, o fato é que
acompanhar “apenas” os julgados divulgados nos informativos do STF e STJ tem se revelado
insuficiente.
É preciso buscar estudar por fontes e aulas atualizadas, cujos autores e professores
tenham essa preocupação de aprofundamento com o tema.
Basicamente, a questão narrava uma situação em que o agente tinha tido contra si fir-
mado uma medida protetiva de urgência de afastamento do lar e de aproximação da ofen-
dida[1], sua ex-companheira, após tê-la agredido.
Entretanto, em razão de a filha deles estar ardendo de febre, ela mesma ligou para ele,
chamando-o a sua casa e autorizando seu ingresso. Eles se desentenderam e houve uma
discussão. A questão trazia assertivas para o candidato assinalar a CORRETA, de acordo
com a JURISPRUDÊNCIA DO STJ.
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Art. 24-A. Descumprir decisão judicial que defere medidas protetivas de urgência pre-
vistas nesta Lei: Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos. § 1º A configuração do
crime independe da competência civil ou criminal do juiz que deferiu as medidas. § 2º Na
hipótese de prisão em flagrante, apenas a autoridade judicial poderá conceder fiança. § 3º O
disposto neste artigo não exclui a aplicação de outras sanções cabíveis. (Incluído pela Lei nº
13.641, de 2018)
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Particularmente, eu não acho que deveria ser fato ATÍPICO, por enxergar uma exclu-
dente supralegal de ilicitude. Mas essa é a orientação do STJ e, portanto, era a orientação a
ser seguida na prova.
Vamos em frente!
[1] Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, nos
termos desta Lei, o juiz poderá aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou separada-
mente, as seguintes medidas protetivas de urgência, entre outras: I – suspensão da posse ou
restrição do porte de armas, com comunicação ao órgão competente, nos termos da Lei nº
10.826, de 22 de dezembro de 2003 ; II – afastamento do lar, domicílio ou local de convivên-
cia com a ofendida; III – proibição de determinadas condutas, entre as quais: a) aproximação
da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o limite mínimo de distância entre
estes e o agressor; b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer
meio de comunicação; c) frequentação de determinados lugares a fim de preservar a integri-
dade física e psicológica da ofendida; IV – restrição ou suspensão de visitas aos dependentes
menores, ouvida a equipe de atendimento multidisciplinar ou serviço similar; V – prestação
de alimentos provisionais ou provisórios. VI – comparecimento do agressor a programas de
recuperação e reeducação; e (Incluído pela Lei nº 13.984, de 2020) VII – acompanhamento
psicossocial do agressor, por meio de atendimento individual e/ou em grupo de apoio. (Inclu-
ído pela Lei nº 13.984, de 2020) 1º As medidas referidas neste artigo não impedem a aplica-
ção de outras previstas na legislação em vigor, sempre que a segurança da ofendida ou as
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Hoje falaremos sobre um dos temas mais controvertidos dentro do tema “prova crimi-
nal” nos últimos anos. Refiro-me ao meio de prova legalmente chamado de reconhecimento
de pessoas.
Trata-se de um meio de prova típico, uma vez que sua procedimentalização encontra
exaustivamente delineada no art. 226 do Código de Processo Penal. Vejamos:
Esse panorama passou a começar a ser alterado no ano de 2020, especialmente com
o julgamento do HC 598.886/SC, por parte da 6ª Turma do STJ. À ocasião, o Ministro Rogé-
rio Schietti trouxe à baila inúmeras e importantes ponderações. Segundo o seu voto, a partir
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de estudos da Psicologia moderna, são comuns as falhas e os equívocos que podem advir
da memória humana e da capacidade de armazenamento de informações. Isso porque a
memória pode, ao longo do tempo, se fragmentar e, por fim, se tornar inacessível para a
reconstrução do fato. O valor probatório do reconhecimento, portanto, possui considerável
grau de subjetivismo, a potencializar falhas e distorções do ato e, consequentemente, causar
erros judiciários de efeitos deletérios e muitas vezes irreversíveis. O reconhecimento de pes-
soas deve, portanto, observar o procedimento previsto no art. 226 do CPP, cujas formalida-
des constituem garantia mínima para quem se vê na condição de suspeito da prática de um
crime, não se tratando, como se tem compreendido, de “mera recomendação” do legislador.
Em verdade, a inobservância de tal procedimento enseja a nulidade da prova e, portanto, não
pode servir de lastro para sua condenação, ainda que confirmado, em juízo, o ato realizado
na fase inquisitorial, a menos que outras provas, por si mesmas, conduzam o magistrado a
convencer-se acerca da autoria delitiva.
(ii) À vista dos efeitos e dos riscos de um reconhecimento falho, a inobservância do pro-
cedimento descrito na referida norma processual torna inválido o reconhecimento da pessoa
suspeita e não poderá servir de lastro a eventual condenação, mesmo se confirmado o reco-
nhecimento em juízo;
(iii) Pode o magistrado realizar, em juízo, o ato de reconhecimento formal, desde que
observado o devido procedimento probatório, bem como pode ele se convencer da autoria
delitiva a partir do exame de outras provas que não guardem relação de causa e efeito com
o ato viciado de reconhecimento;
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Vamos em frente!
[1] STJ, 5ª Turma, AgRg no AREsp 1665453/SP, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado
em 02/06/2020.
[2] O reconhecimento de pessoa por meio fotográfico é ainda mais problemático, máxime
quando se realiza por simples exibição ao reconhecedor de fotos do conjecturado suspeito
extraídas de álbuns policiais ou de redes sociais, já previamente selecionadas pela autori-
dade policial. E, mesmo quando se procura seguir, com adaptações, o procedimento indicado
no Código de Processo Penal para o reconhecimento presencial, não há como ignorar que
o caráter estático, a qualidade da foto, a ausência de expressões e trejeitos corporais e a
quase sempre visualização apenas do busto do suspeito podem comprometer a idoneidade
e a confiabilidade do ato.
[3] HC 598.886/SC, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado
em 27/10/2020, DJe 18/12/2020
[4] HC 652.284/SC, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA
TURMA, julgado em 27/04/2021, DJe 03/05/2021
[5] RHC 206846/SP, relator Min. Gilmar Mendes, julgamento em 22.2.2022.
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Hoje vamos tratar de um entendimento recente que fora objeto de uniformização pela 3ª
Seção do Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do RHC 145.931/MG.
Impera registrar, de início, que o Supremo Tribunal Federal, em 2018, concedeu a ordem
ao julgar o habeas corpus coletivo 143.641/SP para determinar a substituição da prisão pre-
ventiva pela domiciliar – sem prejuízo da aplicação concomitante das medidas alternativas
previstas no art. 319 do CPP – de todas as mulheres presas, gestantes, puérperas ou mães
de crianças e deficientes, nos termos do art. 2º do ECA e da Convenção sobre Direitos
das Pessoas com Deficiências (Decreto Legislativo 186/2008 e Lei 13.146/2015), relaciona-
das no mencionado HC pelo DEPEN e outras autoridades estaduais, enquanto perdurar tal
condição, excetuados os casos de crimes praticados por elas mediante violência ou grave
ameaça, contra seus descendentes ou, ainda, em situações excepcionalíssimas, as quais
deverão ser devidamente fundamentadas pelos juízes que denegarem o benefício.
O impacto dessa decisão foi tão forte e importante que motivou o legislador a editar
a Lei 13.769/2018, responsável por inserir os novos artigos 318-A e 318-B no CPP, com a
seguinte redação:
Art. 318-A. A prisão preventiva imposta à mulher gestante ou que for mãe ou respon-
sável por crianças ou pessoas com deficiência será substituída por prisão domiciliar, desde
que: I – não tenha cometido crime com violência ou grave ameaça a pessoa; II – não tenha
cometido o crime contra seu filho ou dependente.
Art. 318-B. A substituição de que tratam os arts. 318 e 318-A poderá ser efetuada sem pre-
juízo da aplicação concomitante das medidas alternativas previstas no art. 319 deste Código.
Contudo, urge destacar que a prisão domiciliar ora analisada está vinculada à seara cau-
telar, ou seja, é uma forma diversa de cumprimento da prisão preventiva, quando o recluso
está em uma das hipóteses do art. 318 do Código de Processo Penal. A alteração reali-
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zada em 2018 e mesmo a própria decisão coletiva do Supremo Tribunal Federal não incluiu
expressamente às pessoas que estivessem inseridas na fase de cumprimento da pena.
Ocorre que essa interpretação literal, por vezes, esvazia valores tidos como funda-
mentais na sociedade e, especialmente, na Carta Magna. Como já havia deliberado ante-
riormente o STJ, é preciso realizar uma interpretação teleológica da Lei que inseriu essas
hipóteses de prisão domiciliar, em conjunto com as disposições da Lei de Execução Penal, e
à luz do constitucionalismo fraterno, previsto no art. 3º e no preâmbulo da Constituição Fede-
ral, revela ser possível se inferir que as inovações trazidas pelo novo regramento podem ser
aplicadas também à fase de execução da pena[1].
Sobre o tema, é preciso recordar que (a) o princípio da fraternidade é uma categoria
jurídica e não pertence apenas às religiões ou à moral. Sua redescoberta apresenta-se como
um fator de fundamental importância, tendo em vista a complexidade dos problemas sociais,
jurídicos e estruturais ainda hoje enfrentados pelas democracias. A fraternidade não exclui o
direito e vice-versa, mesmo porque a fraternidade, enquanto valor, vem sendo proclamada
por diversas Constituições modernas, ao lado de outros historicamente consagrados como
a igualdade e a liberdade; (b) o princípio da fraternidade é um macroprincípio dos Direitos
Humanos e passa a ter uma nova leitura prática, diante do constitucionalismo fraternal pro-
metido na Constituição Federal, em especial no seu art. 3º, bem como no seu preâmbulo; (c)
o princípio da fraternidade é possível de ser concretizado também no âmbito penal, através
da chamada Justiça restaurativa, do respeito aos Direitos Humanos e da humanização da
aplicação do próprio direito penal e do correspondente processo penal[2].
[1] STJ, 5ª Turma, HC 487.763-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em
02/04/2019
[2] AgRg no HC 679.489/SP, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA
TURMA, julgado em 28/09/2021, DJe 04/10/2021.
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Ao que parece, o ano jurisprudencial de 2022 já começou com tudo. Quem me acompa-
nha nas aulas aqui no Gran sabe que eu venho alertando desde o ano passado que há uma
tendência de várias controvérsias no âmbito criminal originadas na Lei 12.965/2014 (Marco
Civil da Internet) aparecerem cada vez mais em provas de concurso público.
Pois bem. Agora, no início de fevereiro de 2022, a 6ª Turma do Superior Tribunal de Jus-
tiça deliberou, à unanimidade, um controverso entendimento, ao julgar a ordem de Habeas
Corpus 626.983/PR. Segundo o colegiado, requerimento de simples guarda dos registros
de acesso a aplicações de internet ou registros de conexão por prazo superior ao legal, feito
por autoridade policial, administrativa ou Ministério Público, PRESCINDE de prévia autoriza-
ção judicial.
Vamos compreender melhor esse tema? Vejamos que nos diz a supramencionada lei:
Ademais, o Marco Civil da Internet, mais adiante, deixa claro que essa disponibilidade
por ordem judicial deve ter a finalidade formar conjunto probatório em processo judicial cível
ou criminal, em caráter incidental ou autônomo, a pedido da parte interessada, desde que
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haja “indícios fundados da ocorrência do ilícito”, “justificativa motivada da utilidade dos regis-
tros solicitados para fins de investigação ou instrução probatória” e “PERÍODO AO QUAL SE
REFEREM OS REGISTROS[1]“.
A grande questão analisada no caso em tela se refere à possibilidade dos órgãos de
investigação da persecução penal requererem aos provedores de internet o congelamento/
preservação do conteúdo de comunicações telemáticas, SEM AUTORIZAÇÃO JUDICIAL,
ignorando o princípio da Jurisdicionalidade.
Impera registrar que a Lei 12.965/2014 prevê que a autoridade policial, administrativa
ou o Ministério Público poderão requerer cautelarmente que os registros de conexão sejam
guardados por prazo superior a 1 (um) ano (art. 13, § 2º), e os registros de acesso a aplica-
ções de internet por prazo superior a 6 (seis) meses (art. 15, § 2º), devendo, nas duas situa-
ções, e no prazo de 60 (sessenta) dias, contados do requerimento administrativo, ingressar
com o pedido de autorização judicial de acesso aos (dois) registros (arts. 13, § 3º, e 15, § 2º).
A grande questão é justamente saber se esse pedido de natureza cautelar pode ser realizado
sem o intermédio do Poder Judiciário.
A jurisprudência do STF tem afirmado que o inciso XII do art. 5º da Constituição protege
somente o sigilo das comunicações em fluxo (troca de dados e mensagens em tempo real),
e que o sigilo das comunicações armazenadas, como depósito registral, é tutelado pela pre-
visão constitucional do direito à privacidade do inciso X do art. 5º da CF/88[2]. Assim, não
visão do STJ, a simples guarda dos registros de acesso a aplicações de internet ou registros
de conexão não viola o postulado constitucional do sigilo de informações eletrônicas, assim
como também não ofende o princípio da jurisdicionalidade o fato de o provedor de aplicações
de internet atender o pedido do Ministério Público, ainda que sem autorização judicial, haja
vista que a disponibilização dos registros, esta sim deve ser por meio de autorização judicial,
que deverá ser requerida no prazo legal após a guarda dos referidos registros.
Assim, o que resta-nos concluir – E ESSA É A TESE PRIMÁRIA PARA FINS DE PROVA
– é que a disponibilização ao requerente dos registros de que trata a Lei 12.965/2014 (dados
intercambiados), em atenção à referida cláusula constitucional, deverá ser precedida de
autorização judicial, sendo estabelecido, inclusive, um prazo de 60 dias, contados a partir do
requerimento de preservação dos dados, para que o Ministério Público ingresse com esse
pedido de autorização judicial de acesso aos registros, sob pena de caducidade.
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Trata-se de tema moderno, importantíssimo e que, com a absoluta certeza, será enfren-
tado em provas vindouras.
Vamos em frente!
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Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título deverão ser aplicadas observan-
do-se a: (…) § 2º As medidas cautelares serão decretadas pelo juiz A REQUERIMENTO DAS
PARTES ou, quando no curso da investigação criminal, POR REPRESENTAÇÃO DA AUTO-
RIDADE POLICIAL ou MEDIANTE REQUERIMENTO DO MINISTÉRIO PÚBLICO. (Redação
dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
Com essa introdução e revisão, vamos compreender qual a celeuma analisada pelo
Superior Tribunal de Justiça. Imagine que determinada autoridade policial ou membro do
Ministério Público tenha representado ou requerido, respectivamente, pela decretação de uma
cautelar diversa da prisão, constante do rol do art. 319 e 320 do Código de Processo Penal.
Uma vez provocada, poderia a autoridade judicial determinar a cautelar máxima (prisão
preventiva)? Ou esse comportamento, uma vez que não fora objeto de prévia provocação
específica, caracterizaria prisão preventiva oficiosa, violando o art. 311 do CPP?
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Segundo a Corte, a decisão que decreta a prisão preventiva, desde que precedida da
necessária e prévia provocação do Ministério Público, formalmente dirigida ao Poder Judi-
ciário, mesmo que o magistrado decidida pela cautelar pessoal máxima, por entender que
apenas medidas alternativas seriam insuficientes para garantia da ordem pública, NÃO DEVE
SER CONSIDERADA COMO DE OFÍCIO.
Entre as motivações desse julgado, houve menção a uma semelhante linha de racio-
cínio por parte da 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal que admitiu o magistrado indefe-
rir pedido de revogação de prisão preventiva exarado pelo titular da ação penal (Ministério
Público), não podendo tal comportamento ser considerado como decretação da cautelar pes-
soal de ofício[2].
Trata-se de tema extremamente polêmico e que não encontra eco em grande parte da
doutrina. Ainda assim, HOJE, essa é a tendência de compreensão predominante. Resta-nos
aguardar a fim de que os órgãos plenários dos Tribunais Superiores se manifestem.
Vamos em frente!
[1] RHC 145.225-RO, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Sexta Turma, por maioria, julgado
em 15/02/2022
[2] HC 203.208 AgR, Rel. Ministro Gilmar Mendes, 2ª T., DJe 30/8/2021.
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Eu sempre falo que, para aqueles que buscam a aprovação em concurso público ou
mesmo o melhor desempenho no exercício da atuação jurídica do ponto de vista prático, é
imprescindível estar atualizado com os precedentes dos Tribunais Superiores.
Nessa linha, gostaria de trazer uma ponderação e destacar uma novidade (ainda) pouco
comentada acerca do art. 2º, § 1º da Lei de Organização Criminosa (Lei 12.850/2013):
Consoante deliberado à época pelo Superior Tribunal de Justiça, a tese de que a inves-
tigação criminal descrita no art. 2º, § 1º, da Lei n. 12.850/13 cinge-se à fase do inquérito, não
deve prosperar, eis que as investigações se prolongam durante toda a persecução criminal,
que abarca tanto o inquérito policial quanto a ação penal deflagrada pelo recebimento da
denúncia. Com efeito, não havendo o legislador inserido no tipo a expressão estrita “inquérito
policial”, compreende-se ter conferido à investigação de infração penal o sentido de perse-
cução penal, até porque carece de razoabilidade punir mais severamente a obstrução das
investigações do inquérito do que a obstrução da ação penal. Ademais, sabe-se que muitas
diligências realizadas no âmbito policial possuem o contraditório diferido, de tal sorte que não
é possível tratar inquérito e ação penal como dois momentos absolutamente independentes
da persecução penal[1].
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Apesar de eu particularmente sempre ter discordado dessa posição, o fato é que tal
orientação era indicada como pacífica para fins de concurso.
De acordo com o deliberado pela 2ª Turma do STF ao julgar o INQ 4720[2], o tipo legal
restringe expressamente o âmbito de alcance da norma penal incriminadora aos atos de
impedimento ou obstrução praticados na fase pré-processual de investigação. Entendimento
contrário, na visão do colegiado, acarretaria violação do princípio da legalidade penal estrita,
também conhecido como princípio da tipicidade, que está previsto no artigo 5º, inciso XXXIX,
e no artigo 1º do Código Penal.
De acordo com essas normas: (a) não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena
sem prévia cominação legal; (b) a interpretação dos tipos penais deve ser realizada de forma
estrita, sendo proibido o uso da analogia in malam partem ou da interpretação extensiva para
fins penais.
Gostaram dessa?
Vamos em frente.
[1] HC 487.962/SC, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA TURMA, julgado em
28/05/2019, DJe 07/06/2019
[2] Penal e processo Penal. Ação penal originária. Denúncia oferecida pelo crime de
obstrução de justiça. Preliminar de incompetência do Relator para supervisionar as investi-
gações. Rejeição. Alegação de inconstitucionalidade do art. 2º, §1º, da Lei 12.850/2013. Não
acolhimento. Rejeição da preliminar de nulidade das interceptações telefônicas. Alegação
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Exemplo disso é a recente prova de Delegado da Paraíba (2022), em que foram cobra-
dos temas de atos de comunicação processual e hipóteses de impedimento do juiz criminal.
Feita essa introdução, vamos refletir um pouco sobre uma problemática envolvendo
devolução e não cumprimento de carta precatória. Vejamos.
Imagine que uma Vara Criminal da cidade “A” depreque a fiscalização de prisão pre-
ventiva em regime domiciliar com tornozeleira eletrônica para a cidade “B”. O juízo da cidade
“B” se nega a cumprir, porque entende que a obrigação do fornecimento do equipamento,
como também da próprio efetiva monitoração são de responsabilidades do juízo deprecante
(Cidade “A”).
NÃO! De acordo com o STJ, em razão do art. 3º do CPP[1], também no processo penal,
somente será caso de recusa de carta precatória nas hipóteses do art. 267 do Código de Pro-
cesso CIVIL, vinculadas a requisitos legais – (i) a carta não estiver revestida dos requisitos
legais; (ii) faltar ao juiz competência em razão da matéria ou da hierarquia; e (iii) o juiz tiver
dúvida acerca de sua autenticidade.
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ATENÇÃO! Eu nunca vi esse tema sendo explorado em provas, mas certamente o será,
demandando especial atenção aos alunos que almejam a magistratura.
Vamos em frente.
[1] Art. 3º A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica,
bem como o suplemento dos princípios gerais de direito.
[2] AgRg no CC 150.563/CE, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, TERCEIRA
SEÇÃO, julgado em 26/09/2018, DJe 02/10/2018.
[3] CC 174.482/MG, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, TERCEIRA
SEÇÃO, julgado em 14/10/2020, DJe 20/10/2020.
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A Lei n. 8.137/1990 é tradicionalmente conhecida como “lei dos crimes tributários”. Não
sem razão, uma vez que a lei realmente traz – em seus 3 primeiros artigos – uma série de
condutas que são tipificadas como crimes tributários.
Entretanto, essa lei não se limite a essa espécie de crime. Trata também de delitos
contra a ordem econômica e contra as relações de consumo. E, dentre os crimes relativos ao
consumo, vale destacar o da comercialização de medicamentos vencidos!
Art. 7º Constitui crime contra as relações de consumo: IX – vender, ter em depósito para
vender ou expor à venda ou, de qualquer forma, entregar matéria-prima ou mercadoria, em
condições impróprias ao consumo; Pena – detenção, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, ou multa.
ATENÇÃO! Essa tese não foi agasalhada pelo Superior Tribunal de Justiça. Prevalece o
entendimento de que a vontade do legislador em reprimir com maior rigor aqueles que prati-
cam o crime contra a economia popular por meio de bens ou serviços “essenciais à saúde ou
à vida” deve ser feita pelo julgador do caso concreto, não havendo que se falar em violação
à legalidade/taxatividade.
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Segundo a Corte, aplica-se a causa de aumento de pena prevista no art. 12, III, da Lei
n. 8.137/1990, porquanto medicamentos são passíveis da caracterização como bens essen-
ciais à vida e à saúde.
Vamos em frente!
[1] REsp 1207442/SC, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em
01/12/2015, DJe 11/12/2015.
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As questões sobre Leis Penais Especiais, em concurso público, estão exigindo cada
vez mais conhecimento dos candidatos. Se antigamente a máxima de que “leis penais espe-
ciais é só decorar a norma” podia gerar um saldo positivo, agora isso não mais condiz com
a realidade.
Para justificar o seu nome, a doutrina aponta a imagem figurativa de um avestruz que,
diante de uma situação “suspeita”, para não tomar conhecimento dela e se comprometer,
opta por colocar sua cabeça em um buraco e deixar, propositadamente, de enxergar o que se
passou. Dessa maneira, não poderá ser acusado que sabia do que eventualmente ocorreu
naquele momento.
Pedro, não entendi! O que tem a ver uma avestruz com a cabeça no buraco e o
direito penal?
Calma, essa é apenas uma imagem figurada. Para ficar mais claro, deixe-me trazer um
exemplo prático real. Imagine que um vendedor de joias, no final de seu expediente, quase
fechando o estabelecimento comercial, recebe a visita de 4 pessoas vestidas de maneira
simples e um tanto afoitas. Ato contínuo, colocam sobre o balcão da loja R$ 100.000,00 (cem
mil reais) em notas de R$ 50,00, todas com um ar de mofo (muito tempo guardadas). Após
mostrar o dinheiro, os clientes pedem para que o vendedor entregue quaisquer joias, cujos
valores culminem no total de R$ 100.000,00 (justamente a quantia que eles dispõem).
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Agora as perguntas que devem ser feitas: (i) há elementos que sugiram que os valores
envolvidos são ilícitos? (ii) o vendedor deve recusar realizar a venda? (iii) Se realizar a venda,
estaria atuando com dolo?
No direito brasileiro, essa doutrina passou a ter (ainda mais) relevância prática a partir
da modificação realizada em 2012 na Lei de Lavagem de Capitais. É que, antes da modifi-
cação, havia a previsão de punição também daquele que se “utiliza, na atividade econômica
ou financeira, bens, direitos ou valores que SABE SEREM provenientes de qualquer dos
crimes antecedentes referidos neste artigo”, ou seja, claramente havia a exigência de um
dolo DIRETO para a verificação do crime de lavagem de capitais.
A partir dessa modificação, a maioria doutrina passou a afirmar que se restar compro-
vado que o agente acusado de ter praticado crime de lavagem de capitais tiver se colocado
em posição deliberada de permanecer sem o conhecimento acerca dos fatos integrais e tinha
essa possibilidade (como ocorreu em nosso exemplo acima), teríamos uma conduta típica,
já que presente o elemento subjetivo exigido, qual seja, o dolo, em sua modalidade eventual!
Como bem anotado por Renato Brasileiro, “restará configurado o delito, a título de dolo
eventual, quando comprovado que o autor da lavagem de capitais tenha deliberado pela
escolha de permanecer ignorante a resposto de todos os fatos quando tinha essa possibili-
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É que a lavagem não é punida com culpa (seja de que modalidade for)! Então, estaría-
mos diante de um instrumento com muita chance de autorizar uma responsabilização penal
objetiva. Entendo que é ainda preciso muito cuidado e uma melhor definição dos critérios
para a utilização legítima da teoria da cegueira deliberada para justificar o dolo eventual.
Apesar da minha particular posição, deve-se registrar que a sua adoção é cada vez maior
na prática, mormente após as modificações legais de 2012! Em provas objetivas, o gabarito
deve ser orientado pela compatibilidade ATUAL da Teoria da Cegueira Deliberada com a
Lavagem de Capitais, também sendo esse o posicionamento a ser espelhado como MAJO-
RITÁRIO em provas dissertativas e orais.
Vamos em frente!
[1] LIMA, Renato Brasileiro de. Legislação Criminal Especial Comentada. Ed. Jus
Podivm, 2ª Edição, pág.320
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Estava revisando alguns entendimentos “com cara de prova” para cursos de dicas em
reta final e me deparei com um precedente muito específico, de onde podem ser extrair algu-
mas questões de provas.
Calma! Esse é o nó górdio da questão. Conforme muito bem exposto pelo Relator (Min.
Sebastião Reis Júnior), o colete balístico é equipamento se destina à defesa pessoal contra
arma de fogo e que tanto sua IMPORTAÇÃO, quanto sua venda e uso são CONTROLADOS
pelo Exército Brasileiro (Portaria n° 18 – DLOG, de 19-12-006).
Ora, se de acordo com o artigo 334-A do CPB temos o delito de contrabando aperfei-
çoado com a importação e exportação de MERCADORIA PROIBIDA, bem como se estamos
diante de um equipamento cuja comercialização DEPENDE de controle do Exército, caso
não tenha sido observado esses critérios, haveria a incidência típica FORMAL do referido
dispositivo!
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Ademais, o art. 334-A, § 1º, II do CP anota que “incorre na mesma pena quem importa
ou exporta clandestinamente mercadoria que dependa de registro, análise ou autorização de
órgão público competente”.
Pedro, acho que entendi, mas não estou seguro sobre o que seria isso… Tem como
explicar de outra maneira?
Claro! MERCADORA DE PROIBIÇÃO RELATIVA é aquela que pode ser sim comercia-
lizada no âmbito interno, mas desde que haja o atendimento de todos os requisitos e exigên-
cias demandados pelos órgãos e normais de controle. Contrapõe-se, pois, às mercadorias
de proibição absoluta.
Retornando ao caso em testilha, vimos que há sim adequação típica formal ao crime de
contrabando. Mas não poderíamos arguir a insignificância para afastar a tipicidade MATERIAL?
Essa aqui era a principal tese defensiva, mas fora afastada pelo STJ!
Assim, espero que caia na sua prova e que vocês acertem a questão, lembrando
desse texto!
Vamos em frente!
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Art. 1º Constitui crime de tortura: (…) § 2º Aquele que se omite em face dessas condu-
tas, quando tinha o dever de evitá-las ou apurá-las, incorre na pena de detenção de um a
quatro anos.
CUIDADO! Isso não significa que o simples fato de o preceito secundário do tipo em
tela ser compatível com o parâmetro quantitativo objetivo fixado no art. 44 do CP permite,
automaticamente, a conclusão da possibilidade de conversão. Não.
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Não se pode analisar APENAS o quantum da pena. É que, além dessa exigência legal,
o artigo 44, I do CPB registra que para a concessão do benefício da conversão será impres-
cindível que o delito analisado no caso concreto não tenha sido cometido com violência ou
grave ameaça à pessoa! Esse trecho do dispositivo legal é o grande óbice a efetivação da
conversão nos crimes de tortura. Afinal, o delito de tortura tem em sua essência justamente
o comportamento violento em desfavor de uma pessoa.
De toda sorte, é importante registrar que parcela da doutrina aponta como exceção o
caso do delito de omissão perante a tortura praticada por outrem (artigo 1º, parágrafo 2º da
Lei 9.455/97), advogando a tese de que, tecnicamente, não se trataria de tortura, bem como
por não prever a utilização pelo agente de emprego de violência ou grave ameaça. Ou seja,
com base nisso, há quem defenda ser possível substituição por pena restritiva de direitos.
Trata-se de tema pouco abordado em manuais, porém bem interessante para ser
cobrado na sua prova.
Vamos em frente!
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Hoje vamos tratar sobre um tema extremamente polêmico e que, por vezes, me irrita
profundamente. A peculiar interpretação das bancas sobre determinados temas que reputa-
mos “pacíficos”.
Nesse cenário, quando do advento da Lei 8072/90, que regulamentou e etiquetou deter-
minados crimes como hediondos, o legislador – cumprimento o mandamento constitucional
– firmou determinadas balizas que denotavam a especial gravidade desses delitos, o que
justificava o tratamento mais firme.
Apesar de esse tratamento rígido ser uma vontade expressada pelo constituinte, um
dos dispositivos mais polêmicos da Lei dos Crimes Hediondos era justamente o referente ao
cumprimento do regime de pena. Isso porque a redação originária assim previa:
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A partir dessa decisão, o legislador “repaginou” a Lei dos Crimes Hediondos, superando
a ideia de cumprimento integral da pena em regime fechado, mas exigindo – abstratamente
– que o seu início se desse no referido regime. Com o advento da Lei n. 11.464/2007, a men-
cionada lei passou a prever, em seu art. 2º, § 1º, que “a pena por crime previsto neste artigo
será cumprida INICIALMENTE em regime fechado”.
Pedro, então quer dizer que fixar, abstratamente, o regime inicial de pena como fechado
pela qualidade do crime é constitucional?
Calma. Isso também é polêmico e foi, efetivamente, analisado pela Suprema Corte.
E a resposta foi em sentido NEGATIVO. Essa nova previsão não é constitucional. Conso-
ante se extrai de um importantíssimo precedente do Supremo Tribunal, “se a Constituição
Federal menciona que a lei regulará a individualização da pena, é natural que ela exista. Do
mesmo modo, os critérios para a fixação do regime prisional inicial devem-se harmonizar
com as garantias constitucionais, sendo necessário exigir-se sempre a fundamentação do
regime imposto, ainda que se trate de crime hediondo ou equiparado. Na situação em aná-
lise, em que o paciente, condenado a cumprir pena de seis (6) anos de reclusão, ostenta
circunstâncias subjetivas favoráveis, o regime prisional, à luz do art. 33, § 2º, alínea b, deve
ser o semiaberto. Tais circunstâncias não elidem a possibilidade de o magistrado, em even-
tual apreciação das condições subjetivas desfavoráveis, vir a estabelecer regime prisional
mais severo, desde que o faça em razão de elementos concretos e individualizados, aptos a
demonstrar a necessidade de maior rigor da medida privativa de liberdade do indivíduo, nos
termos do § 3º do art. 33, c/c o art. 59, do Código Penal. Ordem concedida tão somente para
remover o óbice constante do § 1º do art. 2º da Lei nº 8.072/90, com a redação dada pela Lei
nº 11.464/07, o qual determina que “[a] pena por crime previsto neste artigo será cumprida
inicialmente em regime fechado”. Declaração incidental de inconstitucionalidade, com efeito
ex nunc, da obrigatoriedade de fixação do regime fechado para início do cumprimento de
pena decorrente da condenação por crime hediondo ou equiparado[2].
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Portanto, o regime inicial nas condenações por crimes hediondos ou equiparados não
tem que ser obrigatoriamente o fechado, PODENDO SER (EM TESE) também o regime
semiaberto ou aberto, desde que presentes os requisitos do art. 33, § 2º, alíneas “b” e “c”, do
Código Penal.
Entendido isso, vamos avançar. É que a Lei n. 9.455/1997 (Lei de Tortura) trata esse
tema de forma específica. Vejamos:
Art. 1º, § 7º O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo a hipótese do § 2º, INI-
CIARÁ O CUMPRIMENTO DA PENA EM REGIME FECHADO.
Ainda assim, sempre defendi e ensinei que eventual condenação a esse delito não
pode, APENAS COM BASE NA FORÇA DA PREVISÃO LEGAL EM ABSTRATO, justificar o
início (obrigatório) do cumprimento de pena em regime fechado. É preciso, COM FULCRO
EM ELEMENTOS CONCRETOS, motivar sua opção/decisão. Afinal, a essa previsão norma-
tiva se aplicariam todos os fundamentos chancelados pelo STF, correto?
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Art. 35. Associarem-se duas ou mais pessoas para o fim de praticar, reiteradamente ou não, qual-
quer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 desta Lei: Pena – reclusão, de 3 (três) a 10
(dez) anos, e pagamento de 700 (setecentos) a 1.200 (mil e duzentos) dias-multa. Parágrafo único.
Nas mesmas penas do caput deste artigo incorre quem se associa para a prática reiterada do crime
definido no art. 36 desta Lei.
Bem jurídico
A saúde pública, o equilíbrio sanitário da coletividade e a paz pública.
protegido
Sujeito ativo Crime comum – qualquer pessoa.
Sujeito passivo A coletividade. Trata-se de um CRIME VAGO.
– Crime plurissubjetivo ou de concurso necessário: exige ao menos duas pes-
soas, inclusive inimputáveis;
– Especial fim de agir: “para o fim de praticar, reiteradamente ou não, qual-
quer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 desta Lei”, sob
pena de atipicidade;
– Crime permanente;
– Estabilidade: a associação deve ser estável, contínua. Se a associação se der para
Associação para o
praticar um ou outro delito isolado de tráfico = coautoria no delito de tráfico de drogas;
tráfico
– Não equiparado a hediondo;
– Desnecessidade de apreensão e exame pericial da droga: basta provar a esta-
bilidade, a permanência e o especial fim de agir;
– Concurso de crimes com o art. 33, caput: possível, tendo em vista que a asso-
ciação não é meio necessário para o tráfico – não incide o princípio da consunção;
– Princípio da especialidade: o presente delito é especial em relação ao art.
288, CP (associação criminosa);
Com a efetiva associação e suas características, não sendo necessário que os
Consumação
agentes pratiquem as condutas descritas no tipo – crime formal.
Crime comum; formal; doloso; comissivo; de perigo abstrato; permanente de
Classificação
perigo abstrato; não cabe tentativa.
Lei n. 9.099/1995 Incabível suspensão condicional do processo – pena mínima superior a 1 ano.
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O crime de associação para o tráfico se apresenta como uma das maiores discordân-
cias na sua verificação prática, revelando-se, amiúde, como fonte de diversos debates na
prática criminal no dia a dia forense. É que, além de pressupor a presença associativa de NO
MÍNIMO DUAS PESSOAS, afirma-se que esse delito NÃO EXIGE A PRÁTICA REITERADA
do crime de tráfico, mas EXIGE SIM UM ANIMUS ASSOCIATIVO CONSTANTE, com certa
permanência, de planejamento, ainda que seja a prática única de tráfico de drogas.
A prática pretendida não precisa ser reiterada, mas a associação precisa ser constante!
Não caracteriza a associação para o tráfico quando inexistir essa constância. Esse é o ele-
mento diferencial entre a associação para o tráfico e o mero concurso de agentes no tráfico.
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decisum para o corréu, a teor do art. 580 do CPP (HC 270.837/SP, Rel. Ministro ROGERIO
SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 19/03/2015, DJe 30/03/2015).
Espero que tenham gostado! Lembrando que o estudo verticalizado das leis penais
extravagantes é extremamente importante para a preparação nos certames em que a maté-
ria criminal é cobrada de maneira incisiva!
Vamos em frente!
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Como vocês podem estar percebendo, nesse início de 2022, optamos por trazer bases
conceituais e teorias inusitadas e com ampla possibilidade de serem cobradas em provas.
No texto de hoje aqui no blog, tratarei de uma temática que, com absoluta convicção,
afirmo que aparecerá nas próximas provas, especialmente orais, para as carreiras do Minis-
tério Público e também de áreas policiais. Trata-se da reconfiguração cooptada do estado.
Calma. Vamos entender. Se você nunca ouviu falar nessa expressão saiba que ela
pode aparecer na sua prova também como INFILTRAÇÃO ÀS AVESSAS. Trata-se, pois, da
potencial infiltração de membros de ORCRIM’s dentro da esfera formal de poder, para – “atu-
ando de dentro” – facilitar a prática de crimes e garantir impunidade.
Como muito bem anotado por Flávio Cardoso Pereira, através da RECONFIGURAÇÃO
COOPTADA DO ESTADO (ou infiltração invertida ou às avessas), deseja-se a conquista de
benefícios de quaisquer espécies e lucros que determinarão o incremento de novas ativida-
des delitivas por parte da delinquência organizada.
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Como adverte a doutrina especializada, essa infiltração gravíssima do crime para dentro
das instituições apresenta algumas características bastante destacadas, a saber (i) etapa
de maior complexidade no processo de corrupção; (ii) participação de indivíduos ou grupos
sociais legais e ilegais; (iii) os benefícios a serem atingidos não são somente de caráter eco-
nômico, mas também penais e inclusive de legitimação social; (iv) uso de coação e estabele-
cimento de alianças políticas que complementam ou substituem o “suborno”; e (v) busca de
influência e infiltração nos mais diferentes ramos do poder público e em distintos níveis da
administração[1].
[1] file:///C:/Users/PEDRO~1.COE/AppData/Local/Temp/396-Texto%20do%20Artigo-
340340552-2-10-20190611.pdf
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Imagine que policiais tenham avistado um jovem em atividade suspeita (não percep-
ção dos agentes) e, ao ser abordado em frente de sua casa, identificou-se em seu poder
30 gramas de maconha e um valor próximo de dois mil reais. Os agentes pediram para
entrar na residência do suspeito, o que fora franqueado por seus avós, idosos. No local,
foram encontradas 20 gramas de cocaína e documentos que atestavam ser o jovem um tra-
ficando contumaz.
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Destarte, diante do fato de que a ação policial não esteve legitimada pela existência de
fundadas razões (justa causa) para a entrada no imóvel em que se residia o paciente, e que
não houve autorização judicial ou válido consentimento do morador para ingresso naquele
domicílio, a Corte reconheceu a ilicitude das provas obtidas e suas respectivas anulações.
Vamos em frente!
[1] HC 598.051/SP, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado
em 02/03/2021, DJe 15/03/2021.
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Nesse contexto, imperioso anotar que o próprio Superior Tribunal de Justiça vem
excepcionando o seu entendimento e admitindo o reconhecimento da atipicidade material
pela insignificância em se tratando de importação de pequena quantidade de medicamentos.
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Segundo a Corte, é certo que o contrabando deve ser aplicado aos casos em que suficien-
temente caracterizado o dolo do agente em introduzir no território nacional mercadoria que
sabe ser de proibição absoluta ou relativa. Não se pode olvidar, ainda, o princípio da pro-
porcionalidade quando se constatar que a importação do produto se destina ao uso próprio
(pelas características de quantidade e qualidade) e não é capaz de causar lesividade sufi-
ciente aos bens jurídicos tutelados como um todo[6].
Demais! Além de, como sempre digo e repito em aula, o candidato precisar estar com
atenção redobrada às exceções, temos percebido que, estatisticamente, os examinadores
têm ampliado a cobrança de temas que estão espelhados na ferramenta do Superior Tribunal
de Justiça chamada “Jurisprudência em Teses”.
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Não bastasse isso, recentemente, na primeira semana de janeiro de 2022, fora enca-
minhado através de e-mail do próprio STJ um compilado de “pesquisa pronta” justamente
noticiando esse tema.
Ou seja, temos mais do que razões para afirmar que esse tema está na órbita dos ope-
radores do direito e, sobretudo, do seu examinador. Até porque se muita gente conhece a
regra, posso categoricamente afirmar que poucos são os que dominam essa exceção!
Vamos em frente.
[1] STF: HC 131.205/MG, DJe 22/09/2016; STJ: AgRg no AREsp 697.456/SC, DJe
28/10/2016.
[2] STJ: AgRg no REsp 1.500.691/SP, DJe 26/10/2016.
[3] STJ: AgRg no REsp 1.479.836/RS, DJe 24/08/2016.
[4] STJ, RHC 62.851/PR, DJe 26/02/2016.
[5] STJ: EREsp 1.230.325/RS, DJe 05/05/2015.
[6] REsp 1428628/RS, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA, QUINTA TURMA, julgado em
28/04/2015, DJe 12/05/2015.
[7] Na mesma linha, é a orientação da 5ª Turma. Vejamos:
PENAL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO
ESPECIAL. IMPORTAÇÃO DE MEDICAMENTO. PEQUENA QUANTIDADE. USO PRÓPRIO.
EXCEPCIONALIDADE. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. EMBARGOS
ACOLHIDOS. 1. A importação de pequena quantidade de medicamento destinada a uso
próprio denota a mínima ofensividade da conduta do agente, a ausência de periculosidade
social da ação, o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento e a inexpressi-
vidade da lesão jurídica provocada, tudo a autorizar a excepcional aplicação do princípio da
insignificância. 2. Embargos de declaração acolhidos, com efeitos infringentes, para negar
provimento ao recurso especial. (EDcl no AgRg no REsp 1708371/PR, Rel. Ministro JOEL
ILAN PACIORNIK, QUINTA TURMA, julgado em 24/04/2018, DJe 11/05/2018).
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O QUE É CRIPTOIMPUTAÇÃO?
Quem acompanha os meus textos, livros e aulas sabe que um dos meus mantras é:
“gostemos ou não, nomenclatura em prova de concurso público é questão de sobrevivência”.
Afirmo isso não porque acho um critério saudável, correto e justo, mas sim porque – inde-
pendentemente do meu desgosto particular – o fato é que vários certames públicos cobram
em questões objetivas, discursivas e orais temas que envolvem classificações e teorias inu-
sitadas e estranhas.
Nessa linha, observamos a cobrança por mais de três vezes quanto ao conceito de
CRIPTOIMPUTAÇÃO.
Com certeza sabe! Mas talvez não com esse nome. Então vejamos. O art. 41 do CPP
traz alguns regramentos básicos (requisitos) exigidos para a oferta de ação penal, entre os
quais a exposição do fato criminoso com todas as suas circunstâncias, sob pena de inépcia
e consequente não recebimento da peça acusatória (art. 395 CPP).
De forma organizada e didática, pode-se afirmar que uma inicial acusatória perfeita
deve conter (i) descrição de uma conduta fática; (ii) a imputação, que é atribuição da autoria
de uma conduta humana; e (iii) a qualificação jurídico-criminal da narrativa, isto é, o enqua-
dramento da conduta na lei penal. O MP ou querelante necessita fazer a classificação provi-
sória do delito (tipo fundamental) e de suas qualificadoras (tipo derivado). É desnecessário
imputar agravantes na denúncia ou na queixa, eis que se trata, em boa medida, de matéria
preponderantemente de direito (reincidência, qualidade de ascendente da vítima, etc.) e,
ademais, o art. 385, do CPP, autoriza ao juiz reconhecer agravantes mesmo nas hipóteses
de ausência de pedido condenatório, nas ações penais públicas.
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Em outras palavras, quando a exordial penal estiver contaminada com grave deficiên-
cia na narrativa dos fatos imputados (sério descumprimento ao art. 41 do CPP), haveria uma
petição inicial “gravemente inepta” ou, como prefere parte da doutrina processualista, esta-
mos diante de uma CRIPTOIMPUTAÇÃO.
Vamos em frente!
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Hoje vou falar de um tema pouco analisado, que trato em meu livro de processo penal
e que já apareceu em provas de concurso. Trata-se da aplicação da teoria da perda de uma
chance no âmbito do processo penal, especificamente do ponto de vista probatório.
Antes de fazer essa análise, permitam-me justificar a ideia desse texto. Estava eu aqui
revisando a aprofundando as reflexões sobre alguns julgados dos Tribunais Superiores não
veiculados em informativo de jurisprudência e me deparei com um interessante precedente
da lavra da 5ª Turma do Superior Tribunal de Justiça.
No processo penal, a adaptação é possível, apesar de ser feita com o devido tempe-
ramento. Conforme indica Alexandre da Rosa, essa lógica incide no caso da apreciação da
carga probatória, afinal deve a acusação provar a autoria, materialidade, ilicitude, tipicidade e
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Processo em curso, o Ministério Público Federal não arrolou qualquer testemunha que
pudesse reconhecer o acusado. Nas filmagens, como o criminoso estava de óculos e boné,
não houve possibilidade de reconhecimento.
As imagens não eram nítidas, impossível a identificação. Nenhuma pessoa que presen-
ciou o feito foi arrolada como testemunha do processo.
De acordo com o art. 402 do CPP[2], as diligências devem recair sobre fatos descorti-
nados NA INSTRUÇÃO, ao passo que essa dificuldade de identificação se revelava desde a
fase investigativa.
Ora, conforme se verificou, o Ministério Pública havia perdido a chance de, tempestiva-
mente, produzir provas. Não havendo qualquer dado comprobatório da autoria, a absolvição
é de rigor. Não é preciso provar a inocência, basta a dúvida razoável para absolvição.
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Espero que tenham compreendido! É um assunto bem bacana para ser trazido
em provas!
Vamos em frente!
[1] AgRg no REsp 1886303/RN, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, jul-
gado em 01/09/2020, DJe 14/09/2020.
[2] Art. 402. Produzidas as provas, ao final da audiência, o Ministério Público, o quere-
lante e o assistente e, a seguir, o acusado poderão requerer diligências cuja necessidade se
origine de circunstâncias ou fatos apurados na instrução.
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Nesse final de ano, peguei-me parado fazendo algumas reflexões e, claro, também
exercendo a minha criatividade, colocando-me na posição de examinador (“coração peludo”)
e imaginando questões inéditas e interessantes que podem ser feitas a vocês nos próximos
certames públicos, mormente na área de processo penal.
Nessa toada, uma das questões por mim idealizadas e que pode ser decisiva para a
sua aprovação seria: “Candidato, é possível realizar oitiva do assistente de acusação como
testemunha?”.
Curial se revela registrar que o artigo 271 do Código de Processo Penal preceitua que
“ao assistente será permitido propor meios de prova, requerer perguntas às testemunhas,
aditar o libelo e os articulados, participar do debate oral e arrazoar os recursos interpostos
pelo Ministério Público, ou por ele próprio, nos casos dos arts. 584, § 1º, e 598“. Portanto,
consoante reza o supramencionado dispositivo, na qualidade de auxiliar do Ministério Público
no curso do processo penal, o assistente de acusação tem o direito de produzir provas, inclu-
sive de arrolar testemunhas, haja que, caso contrário, não teria como exercer o seu papel na
ação penal pública.
Ao analisarmos o CPP, verifica-se que o seu art. 202 anota que “toda pessoa poderá
ser testemunha”, sendo que o artigo 208 do mesmo diploma normativo ressalva que “não
se deferirá o compromisso a que alude o art. 203 aos doentes e deficientes mentais e aos
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menores de 14 (quatorze) anos, nem às pessoas a que se refere o art. 206”. De acordo com
a doutrina, “a norma processual é bastante clara ao estipular que toda pessoa pode ser tes-
temunha”, razão pela qual “as pessoas consideradas de má reputação (…), imaturas (…),
interessadas no deslinde do processo (…), mitômanas, emotivas ou de qualquer outro modo
afetadas, podem ser testemunhas, devidamente compromissadas, embora o juiz tenha plena
liberdade para avaliar a prova produzida”[1].
Espero que tenham compreendido! É um assunto bem bacana para ser trazido
em provas!
Vamos em frente!
[1] NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal Comentado. 11ª ed. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2012, p. 473-474.
[2] AgRg no AREsp 1594445/SP, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA,
QUINTA TURMA, julgado em 06/02/2020, DJe 14/02/2020.
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Vamos falar sobre um tema especialmente pensado para aqueles concursos em que,
no edital de direito penal, há a previsão da Lei n. 6.001/1973 (Estatuto do Índio).
O assunto por mim eleito gera bastante confusão e insegurança quando do estudo da
aplicação (ou não) da lei penal aos índios. Em primeiro lugar, ao contrário do que alguns
possam entender, o chamado “estado de isolamento” mencionado no título do texto não
denota (necessariamente) um conteúdo preconceituoso (apesar de não ser o ideal), mas sim
extraído pela doutrina do próprio Estatuto do Índio.
Durante algum tempo, parcela da doutrina entendia que o simples fato de os índios
viverem em estado de isolamento, por si só, seria suficiente para sustentar a ideia de INIM-
PUTABILIDADE.
Esse não é mais o pensamento dominante, conforme se pode verificar – dentre vários
– no precedente da Suprema Corte datado de 2005 (HC 85.198/MA[1]). De maneira enfática,
vale verificar ainda o HC 79.530/PA, da 1ª Turma do STF, que indicou a “sujeição do índio às
normas do art. 26 e parágrafo único, do CP, que regulam a responsabilidade penal, em geral,
inexistindo razão para exames psicológico ou antropológico, se presentes, nos autos, ele-
mentos suficientes para afastar qualquer dúvida sobre sua imputabilidade, a qual, de resto,
nem chegou a ser alegada pela defesa no curso do processo”.
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Beleza, Pedro. Acho que entendi. Mas tem como fazer um resumo de tudo?
Analisando o atual momento, podemos indicar que a simples condição de índio não é
decisiva para a imputabilidade (ou ATRIBUILIDADE, como aponta Francisco Assis de Toledo),
tampouco será caráter absoluto o grau de sua integração com a sociedade. As regras a
serem aplicadas aos índios são as mesmas dos demais, ou seja, aquelas fixadas pelo legis-
lador no artigo 26 do CPB[2].
Vamos em frente!
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Para Roxin, na corrente dita moderada, a preocupação precípua do direito penal deve
ser com a proteção de bens jurídicos (relevantes). Ademais, para que uma conduta se apre-
sente como criminosa é preciso analisar a criação ou não de um risco proibido e ainda que
o resultado criminoso advenha justamente dessa conduta. Do contrário, não teremos uma
ação criminosa, em razão da teoria da imputação objetiva.
Com base no funcionalismo, fica difícil a tolerância, por exemplo, aos chamados crimes
de perigo abstrato, quando não há efetivamente lesão ou perigo de lesão aos bens jurídicos
tutelados pela norma penal.
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O que releva, ao direito penal, é manter a confiança no sistema penal. Quem viola uma
norma posta comete crime, INDEPENDEMENTE de ofensa a bem jurídico tutelado. Como
preferem alguns, o bem jurídico para Jakobs é a própria norma penal. A partir dessa lógica, é
possível se “eleger” o inimigo, sendo aquele que desrespeita reiteradamente o direito penal
posto… Daí a lógica do “direito penal do inimigo” (que poderá ser tema de futuras postagens).
Jakobs, adaptou o Direito Penal à teoria dos sistemas sociais de Luhmann, com a sua
teoria da imputação normativa. O Direito Penal tem como função assegurar os valores éticos
e sociais da ação. Os dois pilares básicos de sua perspectiva normativista estão constituídos
pela função preventiva geral positiva atribuída à pena e pelas normas jurídico-penais como
objeto de proteção. Em suma, a função do Direito Penal é aplicar o comando contido na
norma penal, pois somente sua reiterada incidência lhe confere o merecido respeito.
Tema interessantíssimo e (não preciso nem falar) lindo para cair na sua prova!
Vamos em frente!
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Nesse sentido, o tema que separamos para desenvolver no presente artigo tem tudo
a ver com essa perspectiva. Trata-se do assunto apreciado recentemente pela 6ª Turma do
STJ, no julgamento do HC 703.912/RS[1].
Sabe-se que não é admitida a alteração unilateral, pelo magistrado, dos prazos fixados
na legislação processual vigente, sob pena de afronta ao devido processo legal e, como con-
sequencial, nulidade.
Ocorre que a ideia de negócio jurídico processual foi potencializada pelo Código de
Processo Civil de 2015, que previu uma verdadeira cláusula geral dos negócios jurídico pro-
cessuais em seu art. 190. Vejamos:
Art. 190. Versando o processo sobre direitos que admitam autocomposição, é lícito às
partes plenamente capazes estipular mudanças no procedimento para ajustá-lo às espe-
cificidades da causa e convencionar sobre os seus ônus, poderes, faculdades e deveres
processuais, antes ou durante o processo. Parágrafo único. De ofício ou a requerimento, o
juiz controlará a validade das convenções previstas neste artigo, recusando-lhes aplicação
somente nos casos de nulidade ou de inserção abusiva em contrato de adesão ou em que
alguma parte se encontre em manifesta situação de vulnerabilidade.
Vale ressaltar que os negócios jurídicos processuais não são novidade do CPC/2015. A
novidade trazida não consiste em criação (o fenômeno jurídico já conhecido pelo nosso sis-
tema processual), mas sim a sua generalização. Ou seja, o NCPC passou a prever expres-
samente uma cláusula geral de negócio jurídico processual, de modo que além de permitir
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De acordo com o STJ, em atenção ao art. 3º do CPP, a resposta é positiva. Com base
nesse parâmetro, da CLÁUSULA GERAL DE NEGOCIAÇÃO PROCESSUAL, a Corte enten-
deu possível a sua observância e considerou válido o acerto fixado – em comum acordo –
pelas partes (acusação e defesa) no sentido de dilatar o prazo de debates (maior do que o
tempo fixado em lei), observando-se os demais princípios que norteiam o procedimento do júri.
Tema interessantíssimo e (não preciso nem falar) lindo para cair na sua prova!
Vamos em frente!
[1] HC 703.912-RS, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Sexta Turma, por unanimidade,
julgado em 23/11/2021
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No caso concreto, ora analisado, o recorrente foi condenado por homicídio qualificado
pela paga e pelo recurso que dificultou a defesa da vítima (art. 121, § 2º, I e IV, do CPP). A
insurgência defensiva voltou-se, exclusivamente, contra as qualificadoras, por entender o réu
que apenas um depoimento prestado na esfera policial deu suporte à narrativa acusatória
nesse ponto. Entretanto, conforme verificado pela 5ª Turma, o único elemento de convenci-
mento que se tinha em relação às qualificadoras era, justamente, um depoimento indireto (de
ouvir dizer), extrajudicialmente.
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sistema da íntima convicção. Considerando que, mesmo não havendo impugnação quanto à
autoria delitiva, não se revela possível decotar as qualificadoras, sob penal de usurpação de
competência pelo Tribunal, deve-se instaurar um novo júri[6].
[1] Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em
contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos
informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e
antecipadas. Parágrafo único. Somente quanto ao estado das pessoas serão observadas as
restrições estabelecidas na lei civil.
[2] STJ, 5ª Turma, HC 673.138-PE, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado
em 14/09/2021 e 6ª Turma. REsp 1649663/MG, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em
14/09/2021.
[3] AgRg no HC n. 454.895/RS, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, jul-
gado em 18/09/2018 e AgRg no HC 489.737/RN, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA
FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 25/06/2019, DJe 05/08/2019.
[4] AREsp 1803562/CE, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em
24/08/2021, DJe 30/08/2021
[5] Comentários ao Código de Processo Penal e sua jurisprudência. 13. ed. São Paulo:
Atlas, 2021, p. 473
[6] (…) Uma vez reconhecido pelo Tribunal, em recurso de apelação, que a qualificadora
do meio cruel foi indevidamente reconhecida pelo Tribunal do Júri, competia-lhe determinar a
realização de novo julgamento, pois não lhe é franqueado decotar da condenação a referida
qualificadora, em respeito à soberania dos veredictos (Precedentes). 3. Agravo regimental
desprovido” (AgRg no REsp 1657757/MT, Rel. Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO,
SEXTA TURMA, julgado em 14/05/2019).
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Quem me acompanha nos textos, nas aulas e também nas postagens através das
redes sociais já sabe da minha extremada preocupação (quase uma obsessão) em buscar
atualizações. O objetivo e a razão para isso é tanto para produzir meus escritos, livros, aulas
e trazer a maior atualização possível aos alunos, bem como para incrementar minha atuação
criminal prática na Defensoria Pública da União, da qual sou membro há 10 anos.
Nesse caminhar, no último dia 24 de novembro desse ano de 2021, tivemos uma (nova)
readequação do TEMA 931 (tese aprovada na sistemática de repetitivo) da 3ª Seção do
Superior Tribunal de Justiça. Vamos revisar e entender o ocorrido.
Em 2015, a Corte havia aprovado entendimento no sentido de que o réu que cumpre a
pena privativa de liberdade tem a extinção da punibilidade decretada mesmo se ainda não
pagou a pena de multa. Entretanto, em razão do deliberado pelo STF no julgamento da ADI
3150, apontando que a multa é dívida de valor, porém NÃO perde o seu caráter de sanção
penal (o que fora ratificado pela Lei Anticrime[1]), houve a necessidade de fazer uma (PRI-
MEIRA) readequação da tese. Vejamos:
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perante a Vara de Execução Criminal, observado o procedimento descrito pelos artigos 164 e
seguintes da Lei de Execução Penal; (ii) Caso o titular da ação penal, devidamente intimado,
não proponha a execução da multa no prazo de 90 (noventa) dias, o Juiz da execução cri-
minal dará ciência do feito ao órgão competente da Fazenda Pública (Federal ou Estadual,
conforme o caso) para a respectiva cobrança na própria Vara de Execução Fiscal, com a
observância do rito da Lei 6.830/1980 (ADI 3150, Relator(a): MARCO AURÉLIO, Relator(a)
p/ Acórdão: ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em 13/12/2018).
Assim, em 2019, a 3ª Seção ajustou o TEMA, que passou a prever que “na hipótese
de condenação concomitante a pena privativa de liberdade e multa, o inadimplemento da
sanção pecuniária OBSTA O RECONHECIMENTO da extinção da punibilidade”.
“Beleza, Pedro! Mas isso só foi revisão. Eu estou interessado é em saber da NOVIDADE!”.
Agora, o mais recente movimento realizado pelo Superior Tribunal de Justiça foi justa-
mente na direção de efetuar um ajuste extremamente oportuno e adequado à realidade social
do Brasil. Para a 3ª Seção da Corte, “na hipótese de condenação concomitante a pena priva-
tiva de liberdade e multa, o inadimplemento da sanção pecuniária pelo condenado que com-
provar impossibilidade de fazê-lo não obsta o reconhecimento da extinção da punibilidade”.
Situação diversa era angustiante, maléfica e quase desumana. Alguém que cumpriu
PPL e não tem dinheiro, ficando sem extinção da punibilidade por conta disso, não consegue
(i) reabilitação (art. 93 do CPB), (ii) como não tem o sigilo dos registros (sem reabilitação),
não consegue certidão negativa aumentando a dificuldade de obter emprego, (iii) permanece
com suspensão dos direitos políticos, (iv) não tem crédito financeiro, (v) não tem acesso a
vários programas sociais, entre outras coisas. É, como anotado pelo Ministro Schietti, um
“CICLO VICIOSO DE DESESPERO”.
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jado dos direitos do art. 25 da LEP, não tem como conseguir os recursos para o pagamento
da multa, e ingressa em círculo vicioso de desespero“.
Nesse sentido, como relevantemente bem pontuado pelo Ministro Ricardo Schietti,
“ineludível é concluir, portanto, que o condicionamento da extinção da punibilidade, após o
cumprimento da pena corporal, ao adimplemento da pena de multa transmuda-se em puni-
ção hábil tanto a acentuar a já agravada situação de penúria e de indigência dos apenados
hipossuficientes, quanto a sobreonerar pessoas próximas do condenado, impondo a todo o
seu grupo familiar privações decorrentes de sua impossibilitada reabilitação social, o que põe
sob risco a implementação da política estatal proteção da família (art. 226 da Carta de 1988).
Demais disso, a barreira ao reconhecimento da extinção da punibilidade dos condenados
pobres, para além do exame de benefícios executórios como a mencionada progressão de
regime, frustra fundamentalmente os fins a que se prestam a imposição e a execução das
reprimendas penais, e contradiz a inferência lógica do princípio isonômico (art. 5º, caput da
Constituição Federal) segundo a qual desiguais devem ser tratados de forma desigual. Mais
ainda, desafia objetivos fundamentais da República, entre os quais o de “erradicar a pobreza
e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais” (art. 3º, III)”.
Com a certeza de que estou vivo, isso cairá nas provas! Espero que tenham entendido
e gostado!
Vamos em frente!
[1] Art. 51. Transitada em julgado a sentença condenatória, a multa será executada
perante o juiz da execução penal e será considerada dívida de valor, aplicáveis as normas
relativas à dívida ativa da Fazenda Pública, inclusive no que concerne às causas interrupti-
vas e suspensivas da prescrição
[2] Julgamento conjunto dos RESP´s 1785861 e 1785383.
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Hoje falaremos de um tema extremamente importante e que dialoga tanto com o direito
penal material, como também com o processo penal, razão pela qual deve receber cuida-
dos redobrados, mormente para as bancas de concurso que adoram a tão temida interdisci-
plinaridade.
De acordo com o art. 117 do CPB, a prescrição será INTERROMPIDA nas seguintes
hipóteses: (i) pelo recebimento da denúncia ou da queixa, (ii) pela pronúncia, (iii) pela deci-
são confirmatória da pronúncia; (iv) pela publicação da sentença ou acórdão condenatórios
recorríveis; (v) pelo início ou continuação do cumprimento da pena e (vi) pela reincidência.
Perceba que nada fala sobre aditamento da inicial acusatória. Entretanto, admite-se,
tranquilamente, a interpretação extensiva. Trata-se de instituto disponível no Direito Brasi-
leiro capaz de ampliar o conteúdo da lei, estabelecendo seu real sentido. Isso acontece,
por exemplo, quando a norma aborda menos que deveria, ou seja, quando a literalidade
expressa da lei demonstra uma extensão menor da norma.
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a. Aditamento próprio: (a.1) Próprio Real – Quando se tratar de fatos delituosos novos,
qualificadoras ou causas de aumento de pena. Este pode ser real material (quando acres-
centa fato delituoso novo, agravando ou qualificando o anterior, ou mesmo outro fato delitu-
oso, importando mais de um crime) ou real legal, no caso de acréscimo de dispositivos legais
ou processuais, alterando o rito ou a classificação do crime, sem inovar no fato descrito. (a.2)
Próprio Pessoal – inclusão de coautores ou partícipes.
b. Aditamento Impróprio – Quando buscar corrigir alguma falha na denúncia ou trouxer
algum esclarecimento sobre o fato narrado.
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Retomaremos hoje uma daquelas postagens que causam mal estar ou dor de cabeça a
alguns estudantes, por envolver nomenclaturas inusitadas. Entretanto, sem juízo de valor, o
fato é que dominar determinadas teorias ou expressões pode ser decisivo para a aprovação,
tanto em fases objetivas, como também em provas discursivas ou orais.
Nessa toada, analisaremos hoje o que vem a ser Guantanamização do processo penal?
Ora, gostando ou não, se ela já apareceu em provas de concurso público, há boa pro-
babilidade de isso vir a se repetir. Assim, vamos aprender o que ela consiste e a lógica por
trás da expressão.
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Com base nesse cenário, a expressão utilizada pelo juiz da Corte Interamericana serve
para qualificar o processo penal calcado justamente na violação e EROSÃO INQUIETANTE
(expressão por ele utilizada) dos direitos humanos no âmbito processual penal, a inobser-
vância de garantias fundamentais, supressão de direitos processuais e inversão de valores
constitucionais, como a presunção de inocência.
Como bem apontado por Daniel Sarmento, o sistema penitenciário brasileiro apresen-
ta-se claramente com um panorama de violação generalizada e sistêmica de direitos funda-
mentais, inércia ou incapacidade reiterada e persistente das autoridades públicas em modifi-
car a conjuntura e situação que exige a atuação não apenas de um órgão, mas sim de uma
pluralidade de autoridades para resolver o problema, tendo sido a tese agasalhada pelo STF
no julgamento da medida cautelar em ADPF 347[2].
Se cair na prova, agora vocês não poderão se dizer surpresos com a expressão!
Vamos em frente!
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Sempre brinco nas minhas aulas – falando sério – de que a vida imita a arte, a arte imita
a vida e o seu examinador imita os fatos relevantes do mundo real. Ou seja, tudo, absoluta-
mente tudo que acontece na nossa realidade deve ser analisado e estudado sob a perspec-
tiva jurídica, pois há uma grande probabilidade de vir a ser cobrado em provas de concurso.
Nesse sentido, obviamente, em várias áreas do direito, uma série de situações comple-
xas e polêmicas vivenciadas ao longo da pandemia da COVID-19 terão repercussões impor-
tantes em certames públicos vindouros.
Antes de tecer considerações, vamos colacionar uma síntese do ocorrido no caso con-
creto. Vejamos:
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Vale ressaltar que, de acordo com o depoimento constante do Inquérito Policial, para
apurar notitia criminis no sentido de que ERICK DE OLIVEIRA SANTOS teria sacado indevi-
damente os valores do auxílio emergencial de BRUNA DOS SANTOS CARNEIRO DA SILVA,
constata-se, pelo depoimento da vítima, que foi ela quem, voluntariamente, em 2/7/2020,
fez um depósito de R$ 600,00 (seiscentos) reais para sua própria conta no Mercado Pago e
que apenas após referida operação legal houve indevida transferência do numerário para o
suposto agente delituoso.
Ou seja, no caso concreto não se identificou ofensa direta à Caixa Econômica Fede-
ral – CEF ou à União, uma vez que não houve qualquer notícia de que a beneficiária tenha
empregado fraude. Em outras palavras, houve ingresso lícito no programa referente ao auxí-
lio emergencial e transferência lícita da conta da Caixa Econômica Federal para a conta do
Mercado Pago, ambas de titularidade da beneficiária do auxílio. Ocorre que aparentemente,
no caso em tela, houve transferência fraudulenta de valores entre contas do Mercado Pago
de titularidade da vítima e do agente delituoso, ou seja, a vítima não foi induzida a erro e tam-
pouco entregou espontaneamente o numerário, de tal forma que o atual estágio das investi-
gações indica suposta prática de furto mediante fraude. Nesse sentido, vejamos:
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autor do delito obtém a posse do bem. Na situação dos autos, a consumação delitiva ocor-
reu quando os valores ingressaram nas contas destinatárias dos valores, todas em agências
localizadas no Estado de São Paulo, nas comarcas de Campinas, Itaim Paulista e São Paulo
capital. 4. Sendo igualmente competentes os mencionados Juízos paulistas, a competência
é firmada pela prevenção, nos termos dos art. 71 e 83 do Código de Processo Penal que, no
presente feito, é do Juízo campineiro, porque o único dos referidos Juízos do Estado de São
Paulo que nele proferiu decisão. 5. Conflito conhecido para declarar competente o JUÍZO DE
DIREITO DA 5.ª VARA CRIMINAL DE CAMPINAS – SP, o Suscitante (CC 181.538/SP, Rel.
Ministra LAURITA VAZ, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 25/08/2021, DJe 01/09/2021).
Vamos em frente!
[1] CC 182.940-SP, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, Terceira Seção, por unanimidade, jul-
gado em 27/10/2021, DJe 03/11/2021.
[2] Interessante pontuar que, em trecho extraído do voto do Relator do CC ora apre-
ciado, houve menção ainda à decisão monocrática proferida pelo ilustre Ministro Felix Fisher
no julgamento do CC 177.398/RS (DJe 12/2/2021) no qual, em situação análoga ao caso con-
creto, firmou-se a competência da Justiça Estadual ao fundamento de que a vítima do delito
patrimonial havia transferido valores provenientes de auxílio emergencial, por livre opção, ao
sistema de pagamento virtual conhecido como PICPAY para somente depois sofrer o preju-
ízo advindo do crime. Em resumo, também no caso ora em análise, em que houve violação
ao sistema de segurança de instituição privada, qual seja, o Mercado Pago, sem qualquer
fraude ou violação de segurança direcionada à CEF, o prejuízo ficou adstrito a instituição pri-
vada e particulares, não se identificando situação prevista no art. 109, inciso IV, da CF.
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Imagine que a defesa técnica entenda que a instrução está repleta de vícios procedi-
mentais que ensejariam nulidades e, diante da irresignação com o comportamento (supos-
tamente) passivo do magistrado, decide – deliberadamente – não apresentar as alegações
finais. Nesses casos, será possível e legítimo ao juiz criminal abrir vista à parte para designar
outro advogado ou, mantendo-se inerte, nomear a Defensoria Pública para assumir o caso?
Sobre o tema, interessante se faz trazer à baila as lições de Gabriel Campos. De acordo
com ele, ao defensor se aplicam, portanto, deveres processuais de cooperação, inerentes às
ideias de boa-fé e lealdade processual, sem que tal implique cerceamento da ampla defesa.
O que se quer reconhecer é a existência de certos limites à atuação da defesa no processo
penal, como na seara probatória, a manipulação de depoimentos de testemunhas com o
intuito de falsear a verdade, ou, no campo do direito recursal, a interposição sucessiva de
recursos, com nítida finalidade procrastinatória, por vezes pretendendo ocasionar a prescri-
ção do crime. A defesa no processo penal brasileiro, embora a ela se assegurem todos os
meios e recursos cabíveis, não pode ser abusiva. O abuso do direito deve ser consabido,
ainda que favoreça o réu[1]. Como muito bem assimilado no voto do Ministro Rogério Schietti
Cruz, a forma legal para impugnar eventuais discordâncias com as decisões tomadas pelo
juiz na condução da ação penal não pode ser a negativa de oferecimento de alegações
finais. Admitir, por hipótese, a validade de tal conduta implicaria, em última instância, confe-
rir o poder de definir a legalidade da atuação do magistrado não aos Tribunais, mas ao pró-
prio advogado.
Ademais, não se deve admitir a violação da duração razoável do processo, direito fun-
damental que não pode ficar dependente de um juízo de oportunidade, conveniência e lega-
lidade das partes de quando e como devem oferecer alegações finais. A recalcitrância da
negativa de oferecer alegações finais obriga o magistrado a adotar a providência de nome-
ação de um defensor ad hoc ou até mesmo a destituição do causídico. Dessa forma, não há
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que se falar em ilegalidade ou abuso de poder, mas, sim, em adoção de medidas legítimas
para resguardar a duração razoável do processo e o poder do juiz para conduzi-lo, conforme
ratificado recentemente pelo Superior Tribunal de Justiça[2].
Em arremate, vale anotar que a análise quanto a ter sido justificada ou não a recusa da
atuação somente interfere na incidência do art. 265 do CPP (que não foi aplicado no presente
caso). A falta de justificativa plausível é motivo para a aplicação da multa, conforme recente-
mente reafirmou o STJ que “não se verifica ilegalidade na aplicação da multa prevista no art.
265 do CPP ao advogado que, intimado pessoalmente por duas vezes, deixa de apresentar
alegações finais sem justificativa plausível. A superveniente absolvição do cliente (réu) não
afasta a aplicação da referida multa, pois a sanção está ligada à atuação do profissional do
defensor na condução do processo, independente do mérito da ação penal[3].
Vamos em frente!
[1] CAMPOS, Gabriel Silveira de Queirós. Princípios do Processo Penal. Salvador: Jus-
podivm, 2021, p. 137
[2] RMS 47.680-RR, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Sexta Turma, por unanimidade,
julgado em 05/10/2021, DJe 11/10/2021.
[3] AgRg nos EDcl nos EDcl no RMS n. 66.353 / RS, Rel. Ministro Ribeiro Dantas, 5ª T.,
DJe 9/8/21.
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Direto ao ponto. Imagine que você, em sua prova oral, seja instado a responder: “Can-
didato, o valor pago a título de prestação pecuniária pode ser compensado daquele referente
à reparação dos danos causados pela infração penal?”.
E aí?
Calma! Eu sei que iniciamos o presente texto com uma verdadeira provocação, porém
o intuito foi apenas de destacar a importância desse tema, que fora enfrentado recentemente
pela 5ª Turma do STJ, ao apreciar o REsp 1.882.059/SC (julgado em 19/10/2021).
Assim, como bem anotado por Rogério Greco, “quando o juiz do processo de conheci-
mento condena o réu à pena de prestação pecuniária, vários detalhes devem ser observa-
dos: (1º) a vítima e seus dependentes têm prioridade no recebimento da prestação pecuni-
ária, não podendo o juiz determinar o seu pagamento à entidade pública ou privada quando
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houver aqueles; (2º) nas infrações penais onde não haja vítima, a exemplo do delito de
associação criminosa (art. 288 do CP), poderá a prestação pecuniária ser dirigida à entidade
pública ou privada com destinação social; (3º) a condenação tem seus limites estipulados
em, no mínimo, 1 (um) salário mínimo e, no máximo, 360 (trezentos e sessenta) salários; (4º)
o valor pago a vítima ou a seus dependentes será deduzido do montante em ação de repara-
ção civil, no caso de serem coincidentes os beneficiários”[1]. Em semelhante sentido são as
lições de Delmanto[2] e Cleber Masson[3].
Avançando sobre esse instituto, impera anotar que o art. 45, § 1º, do Código Penal
prevê que a prestação pecuniária tem natureza de pena (restritiva de direitos), contudo,
possui finalidade nitidamente reparatória (cível), ao dispor que “(…) consiste no pagamento
em dinheiro à vítima, a seus dependentes ou a entidade pública ou privada com destinação
social (…)”. A jurisprudência desta Corte é firme no sentido de que a referida pena restritiva
de direitos guarda correspondência com o prejuízo causado pelo delito, o que reforça seu
caráter reparatório.
Importa anotar ainda que, desde a vigência da Lei n. 11.719/2008, o art. 387, IV do
Código de Processo Penal passou a prever que o magistrado, ao proferir sentença penal
condenatória, fixará valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração, consi-
derando os prejuízos sofridos pelo ofendido. Esse dispositivo tem o intuito de assegurar a
reparação cível dos danos causados pela infração penal, representando nítida antecipação
efetuada pelo juiz criminal.
Consoante anotado por abalizada doutrina, não há dúvidas de que o legislador permi-
tindo o juiz criminal, por ocasião da sentença condenatória, estabelecer indenização mínima
devida à vítima, objetivou possibilitar a esta ter satisfeito o prejuízo que lhe foi causado pela
prática criminosa com maior prontidão, sem a necessidade de aguardar as delongas de uma
fase liquidatória prévia ao ajuizamento da ação executória. Tal arbitramento, então, apenas
visa antecipar, em parâmetros mínimos, o valor que, em liquidação de sentença, seria apu-
rado no juízo cível”[4].
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ção pecuniária substitutiva – art. 45, § 1º, do Código Penal, que prevê: “(…) O valor pago será
deduzido do montante de eventual condenação em ação de reparação civil, se coincidentes
os beneficiários”.
Vamos em frente!
[1] Greco, Rogério. Código Penal: comentado /Rogério Greco. – 11. ed. – Niterói, RJ:
Impetus, 2017. pg. 267.
[2] Masson, Cleber Direito Penal: parte geral (arts. 1º a 120) – vol. 1 / Cleber Masson. –
13. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2019. pg. 1046.
[3] DELMANTO, Celso, DELMANTO JUNIOR, Roberto e DELMANTO, Fábio M. de
Almeida. Código Penal comentado. 9ª edição. São Paulo: Saraiva, 2016, pg. 231.
[4] Avena, Noberto. Processo Penal/Noberto Avena – 10. Ed. rev., atual e ampl – Rio de
Janeiro: Forense, São Paulo: Método, 2018, pg. 381.
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Vamos falar sobre um tema importante, pertinente e que já apareceu em provas de múl-
tiplas maneiras, conferindo ênfase a uma nomenclatura específica: “Double jeopardy clause”.
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mento do pedido extradicional. Trata-se de garantia que tem por objetivo conferir efetividade
ao postulado que veda o ‘bis in idem “[1].
Não estamos falando, pois, de mesmos fatos, mas apenas de mesma tipificação,
autor e vítima!
O caminho a ser adotado em casos tais deve ser representado pela (i) Revisão Criminal
na esfera penal, a fim de rescindir a sentença condenatória e todos os seus efeitos penais e
extrapenais, bem como (ii) a indenização por perdas e danos (cumulativamente ou não com
a revisão criminal).
De toda forma, a double jeopardy clause não autoriza simplesmente, em qualquer hipó-
tese, impunidade para o cometimento de crimes de qualquer espécie!
Esse é um excelente tema para ser cobrado em concursos! Espero que tenha ficado claro!
Vamos em frente!
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[1] BRAGA, Sérgio Jacob. Direito e ficção. Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 11, n.
1215, 29 out. 2006. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/9099>.
[2] A fórmula latina “non bis in idem“, cuja tradução literal pode ser “não duas vezes
sobre a mesma coisa“, exprime o princípio jurídico segundo o qual uma pessoa que já tenha
sido julgada por um facto delituoso não pode ser perseguida de novo pelo mesmo facto.
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BAGATELA IMPRÓPRIA
Ressalte-se que tais observações não são produtos de invenções incoerentes e teses
carentes de substratos, mas antes uma apreciação direta do texto legal do Código Penal Bra-
sileiro, a partir de uma interpretação consonante com o espírito e postulados constitucionais
vigentes. Anote-se que o substrato legal do reconhecimento dos delitos de bagatela impró-
pria está plasmado no art. 59 do CPB:
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Para que se reconheça esse último princípio (assim como a desnecessidade ou dis-
pensa da pena), há múltiplos fatores a serem analisados (…) É certo que não se faz neces-
sária a concorrência de todos esses fatores. Tudo deve ser analisado pelo juiz em cada caso
concreto e o fundamento jurídico para o reconhecimento deste princípio reside no art. 59 do
CP, visto que o juiz, no momento da aplicação da pena, deve aferir sua suficiência e, antes
de tudo, sua necessidade (…).
A dogmática, muitas vezes, consegue andar mais rápida que a (conservadora) jurispru-
dência. No nosso livro Princípio da insignificância (RT) procuramos demonstrar a diferença
inequívoca entre o princípio da insignificância e o princípio da irrelevância penal do fato. O
TJMG acertou na absolvição, mas deveria ter aplicado o princípio da irrelevância penal do
fato (não o da insignificância). O STJ, da mesma forma, poderia (em tese) ter reconhecido
referido princípio. Mas a ele sequer fez referência. A sensação que se tem, muitas vezes, é
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a de que a jurisprudência está anos-luz longe dos avanços dogmáticos. E por quê? Porque
(em geral) continua apegada ao modelo formalista do Direito penal, ignorando os avanços
do funcionalismo moderado de Roxin (1970), que concebe a união entre Direito penal e Polí-
tica criminal (seus princípios devem reger todas as categorias do Direito penal, a começar
pela tipicidade). Persiste a confusão a que fizemos menção no princípio destes comentários.
Ainda falta domínio sobre o tema, o que prejudica sua perfeita adequação e aplicação no
mundo jurídico[1].
No dia a dia da Defensoria Pública da União, podemos vivenciar uma série de casos
em que a tese da (des)necessidade da pena ou bagatela imprópria pode e deve ser cada vez
mais utilizada. Insta trazer como ilustração as situações em que a jurisprudência nacional
rechaça a aplicação do postulado da bagatela própria (insignificância).
Enquanto a primeira pode ensejar a absolvição sumária (art. 397 do CPP) antes mesmo
da submissão de instrução probatória, a bagatela imprópria deve se dar após o regular desen-
volvimento do processo criminal, com efetiva análise das circunstâncias do fato pelo Poder
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Vamos em frente!
[1] GOMES, Luiz Flávio. SOUSA, Áurea Maria Ferraz de. Roubo, insignificância e prin-
cípio da irrelevância penal do fato. Disponível em http://www.lfg.com.br.
[2] STF, HC 83.526/CE – Emblemático caso em que o Supremo reconheceu a atipici-
dade material da conduta de moeda falsa em razão da Insignificância, rompendo (no caso
concreto) com a conservadora tese da inviabilidade de aplicação da bagatela própria aos
crimes contra a fé pública e administração pública.
[3] PENAL. HABEAS CORPUS. CÁRCERE PRIVADO. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA.
PRINCÍPIO DA BAGATELA IMPRÓPRIA. IRRELEVÂNCIA PENAL DO FATO. AÇÃO PENAL
PÚBLICA INCONDICIONADA. AUSÊNCIA DE REQUISITOS SUBJETIVOS POSITIVOS.
MAUS ANTECEDENTES. RECONHECIMENTO DA DESNECESSIDADE DA PENA. IMPOS-
SIBILIDADE. ORDEM DENEGADA. I. O reconhecimento do princípio da bagatela imprópria
permite que o julgador, mesmo diante de um fato típico, deixe de aplicar a pena em razão
desta ter se tornado desnecessária, diante da verificação de determinados requisitos. II. No
vertente caso, o Tribunal a quo reconheceu a incidência do princípio da bagatela imprópria
quanto ao crime de lesão corporal, tendo em vista que este se processa mediante ação
penal pública condicionada. (…). IV. Ademais, o paciente não reúne requisitos subjetivos
positivos, pois foi condenado anteriormente por outros delitos igualmente graves, o que não
permite o reconhecimento da desnecessidade da pena. V. Ordem denegada, nos termos do
voto do Relator. (HC 222.093/MS, Rel. Ministro GILSON DIPP, QUINTA TURMA, julgado em
07/08/2012, DJe 14/08/2012).
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Hoje falaremos sobre um importante tema no âmbito do processo penal, que mereceu
reflexão recente da 5ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (HC 694.450-SC, Rel. Min. Rey-
naldo Soares Da Fonseca, Quinta Turma, por unanimidade, julgado em 05/10/2021).
Isso não significa dizer que o magistrado é um mero espectador. Não. Ele possui não
apenas o direito, mas o dever de conduzir o julgamento de forma eficiente e isenta na busca
da verdade real dos fatos, em atenção a eventual abuso de uma das partes durante os
debates. Essa atribuição encontra guarida expressa no art. 497, III do Código de Processo
Penal. Vejamos:
Art. 497. São atribuições do juiz presidente do Tribunal do Júri, além de outras expressa-
mente referidas neste Código: I – regular a polícia das sessões e prender os desobedientes;
II – requisitar o auxílio da força pública, que ficará sob sua exclusiva autoridade; III – DIRI-
GIR OS DEBATES, INTERVINDO EM CASO DE ABUSO, EXCESSO DE LINGUAGEM OU
MEDIANTE REQUERIMENTO DE UMA DAS PARTES; IV – resolver as questões incidentes
que não dependam de pronunciamento do júri; V – nomear defensor ao acusado, quando
considerá-lo indefeso, podendo, neste caso, dissolver o Conselho e designar novo dia para o
julgamento, com a nomeação ou a constituição de novo defensor; VI – mandar retirar da sala
o acusado que dificultar a realização do julgamento, o qual prosseguirá sem a sua presença;
VII – suspender a sessão pelo tempo indispensável à realização das diligências requeridas
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Em outra oportunidade, a 5ª Turma anotou que nem mesmo a utilização de termos mais
fortes e expressivos na sentença penal condenatória — como “bandido travestido de empre-
sário” e “delinquente de colarinho branco” — configuraria, por si só, situação apta a compro-
var a ocorrência de quebra da imparcialidade do magistrado[3].
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Vamos em frente!
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Dessa maneira, é preciso tecer considerações acerca do que viria a significar tal expres-
são e como você deve desenvolver o tema se for instado a fazê-lo pelo seu examinador.
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“os direitos fundamentais não contêm apenas uma proibição de intervenção […], expres-
sando também um postulado de proteção […]. Haveria, assim, para utilizar uma expressão
de Canaris, não apenas uma proibição do excesso (Übermassverbot), mas também uma
proibição de omissão (Untermassverbot). Nos termos da doutrina e com base na jurispru-
dência da Corte Constitucional alemã, pode-se estabelecer a seguinte classificação do dever
de proteção: […] (b) Dever de segurança […], que impõe ao Estado o dever de proteger o
indivíduo contra ataques de terceiros mediante adoção de medidas diversas; […] Discutiu-
-se intensamente se haveria um direito subjetivo à observância do dever de proteção ou, em
outros termos, se haveria um direito fundamental à proteção. A Corte Constitucional acabou
por reconhecer esse direito, enfatizando que a não-observância de um dever de proteção
corresponde a uma lesão do direito fundamental previsto no art. 2, II, da Lei Fundamental.”[1].
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Afirma, pois, que “tem havido uma disseminação de uma ideia apenas parcial dos ideais
garantista (daí nos referirmos a um garantismo hiperbólico monocular) é porque muitas vezes
não se tem notado que não estão em voga (reclamando a devida e necessária proteção)
exclusivamente os direitos fundamentais, sobretudo os individuais. Se compreendidos sis-
temicamente e contextualizados à realidade vigente, há se ver que os pilares do garantismo
não demandam a aplicação de suas premissas unicamente como forma de afastar os exces-
sos injustificados do Estado à luz da Constituição (proteção do mais fraco). Quer-se dizer que
não se deve invocar a aplicação exclusiva do que se tem chamado de garantismo negativo.
(…) O dever de garantir a segurança não está em apenas evitar condutas criminosas que
atinjam direitos fundamentais de terceiros, mas também (segundo pensamos) na devida apu-
ração (com respeito aos direitos dos investigados ou processados) do ato ilícito e, em sendo
o caso, na punição do responsável”[3].
RESUMINDO O TEMA:
Vamos em frente!
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Falaremos hoje sobre um tema importantíssimo e que sempre trouxe muita divergência
no âmbito doutrinário e jurisprudencial. Refiro-me à possibilidade ou não de utilizar o histórico
de atos infracionais do agente para afastar a aplicação da causa de diminuição de pena do
art. 33 da Lei de Drogas. Rememoremos o que diz o dispositivo:
Art. 33, § 4º Nos delitos definidos no caput e no § 1º deste artigo, as penas poderão ser
reduzidas de um sexto a dois terços, desde que o agente seja primário, de bons anteceden-
tes, não se dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa.
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Conforme consignado pelo Colegiado, uma interpretação teleológica do art. 33, § 4º,
da Lei 11.343/2006 à luz da política criminal de drogas instituída pelo Sistema Nacional de
Políticas Públicas sobre Drogas (SISNAD) permite inferir que o espírito da norma contida no
referido dispositivo de lei é o de beneficiar o agente iniciante na vida criminosa, que não faz
do ilícito sua atividade profissional. Se o intuito foi esse, inequivocamente a orientação nor-
mativa pretendeu afastar o benefício àqueles que possuem um passado criminógeno e que,
constantemente, incorrem na prática ilícita e já tiveram envolvimento com o narcotráfico e/
ou com ilícitos que, não raro, estão a ele interligados (como delitos patrimoniais, homicídio,
associação criminosa etc.). Ora, se a natureza do instituto em análise é justamente tratar
com menor rigor o indivíduo que se envolve circunstancialmente com o tráfico de drogas – e
que, portanto, não possui maior envolvimento com o narcotráfico ou habitualidade na prá-
tica delitiva -, não parece razoável punir um jovem de 18 ou 19 anos de idade, sem nenhum
passado criminógeno e sem nenhum registro contra si, da mesma forma e com igual intensi-
dade daquele indivíduo que, quando adolescente, cometeu reiteradas vezes atos infracionais
graves ou atos infracionais equivalentes a tráfico de drogas. A prevalecer tal orientação, esta-
ríamos afrontando o princípio da individualização da pena e o próprio princípio da igualdade.
Diante dessa perspectiva, é correto anotar que a 3ª Seção do STJ pacificou o enten-
dimento dessa Corte no sentido de admitir o sopesamento de atos infracionais para fins de
comprovar a dedicação do réu a atividades criminosas e, por conseguinte, impedir a incidên-
cia da causa especial de diminuição de pena prevista no § 4º do art. 33 da Lei de Drogas.
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É preciso, porém, alertar que NÃO É qualquer ato infracional que se prestará a tal finali-
dade, devendo-se examinar atentamente cada caso para dele extraírem-se todas as suas
especificidades, de modo a torná-lo singular e, portanto, a merecer providência adequada e
necessária.
E quais serão as balizas que deveremos utilizar para nortear essa possibilidade, Pedro?
Vamos em frente!
[1] STF, 1ª Turma, HC 192147, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 24/02/2021.
[2] STF, 2ª Turma, HC 191992, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 08/04/2021.
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Imagine que seu examinador, na prova oral, diga: “Doutor(a), você está quase lá no
seu objetiva. Mas ainda tenho uma pergunta. Me diga o que você sabe sobre VALORAÇÃO
PARALELA NA ESFERA DO PROFANO”.
Assustou? Calma. Vamos entender. Mas saibam que foi justamente isso que foi ques-
tionado na prova oral do meu concurso da Defensoria Pública da União, em 2010, fato esse
que já se repetiu em certames da magistratura e do Ministério Público.
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Destarte, a partir da análise criteriosa do caso concreto, ao juiz deverá atentar para
a valoração paralela na esfera do profano, colocando-se na posição do suposto autor do
fato delituoso e, a reconhecer a ausência de potencial consciência da ilicitude no caso con-
creto, deverá aplicar as consequências do erro de proibição, previsto pelo legislador penal
brasileiro.
Vamos em frente!
[1] A fim de espancar quaisquer dúvidas acerca da opção feita pelo legislador, cumpra
colacionar o teor do item 19 da Exposição de Motivos do Código Penal Brasileiro: “19. Repete
o Projeto as normas do Código de 1940, pertinentes às denominadas “descriminantes puta-
tivas”. Ajusta-se, assim, o Projeto à teoria limitada da culpabilidade, que distingue o erro
incidente sobre os pressupostos fáticos de uma causa de justificação do que incide sobre a
norma permissiva. Tal como no Código vigente, admite-se nesta área a figura culposa (art.
17, § 1º)”.
[2] http://ww3.lfg.com.br/public_html/article.php?story=20080218084311349
[3] VIDAL, Nelson. A valoração paralela na esfera do profano e o dever de informar-se
como óbices ao reconhecimento do erro de proibição inevitável. Jus Navigandi, Teresina, ano
16, n. 2836, 7 abr. 2011. Disponível em: http://jus.com.br/artigos/18850.
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A chamada injúria racial (particularmente, prefiro a utilizo a alcunha de injúria com con-
teúdo discriminatório) está prevista no art. 140, parágrafo 3º do Código Penal Brasileiro[1],
materializado quando o comportamento injurioso consistir “na utilização de elementos refe-
rentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de
deficiência“, tutelando a honra SUBJETIVA (autoestima). Diferente do crime de Racismo (Lei
n. 7.716/1989), cujo bem jurídico tutelado é a igualdade (“crime de discriminação ou pre-
conceito”).
Ademais, sabemos que a CF/88 prevê que o RACISMO é crime inafiançável e IMPRES-
CRITÍVEL[1], o que, de acordo com a maior parte da doutrina, não inclui no seu espectro o
crime de injúria racial, certo? Só que aqui a coisa começa a complicar…
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Em minha ótica, apesar dos pontos relevantes que estão sendo considerados pelo STJ,
o maior óbice a essa posição ampliativa é que ela se revela potencialmente como uma ver-
dadeira analogia in malam partem, que é vedada na seara criminal brasileira. Basta lembrar,
inclusive, que a injúria qualificada é crime de ação pública condicionada à representação e,
se essa não for feita no prazo de 06 meses, teríamos decadência.
De toda sorte, o tema vem sendo enfrentado pelo Plenário do Supremo Tribunal Fede-
ral, no julgamento da ordem de habeas corpus 154.248, na expectativa de se colocar um
ponto final na controvérsia. Entretanto, o fato é que, até o presente momento, o julgamento
não fora concluído. Houve pedido de vista do Ministro Alexandre de Moraes, no dia 02 de
dezembro de 2020, não existindo prazo previsto para a retomada do julgamento.
Tema denso e de extrema importância para a prática e, claro, para a sua prova!
Vamos em frente!
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[1] Art. 140, § 3o Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor,
etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência: (Redação
dada pela Lei nº 10.741, de 2003) Pena – reclusão de um a três anos e multa.
[2] Art. 5º, XLII – a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito
à pena de reclusão, nos termos da lei;
[3] PENAL E PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM
RECURSO ESPECIAL. INJÚRIA RACIAL. CERCEAMENTO DE DEFESA. NÃO OCOR-
RÊNCIA. EXISTÊNCIA NOS AUTOS DE CERTIDÃO EMITIDA POR SERVENTUÁRIO DA
JUSTIÇA ABRINDO PRAZO PARA A RESPOSTA AO REFERIDO RECURSO. TEMPESTIVI-
DADE DO AGRAVO AFERIDA EM CONFORMIDADE COM A SÚMULA N.448 DO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL – STF. DECISÃO EXTRA PETITA. INEXISTÊNCIA. VIOLAÇÃO DE
ARTIGOS DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. INVIABILIDADE EM RECURSO ESPECIAL.
IMPRESCRITIBILIDADE DO DELITO DE INJÚRIA RACIAL. DECADÊNCIA. INEXISTÊNCIA,
IN CASU. RECURSO DESPROVIDO. 1. Não há que se falar em cerceamento de defesa,
porquanto consta dos autos documento assinado por serventuário da justiça certificando que,
em 22.1.2015, as partes foram intimadas para responderem, no prazo de 5 (cinco) dias, o
recurso de agravo em recurso especial. 2. O agravo é tempestivo, pois consoante a Súmula
n.448 do Supremo Tribunal Federal: “O prazo para o assistente recorrer, supletivamente,
começa a correr imediatamente após o transcurso do prazo do Ministério Público.” In casu,
sequer consta nos autos a informação de que o Ministério Público tenha sido intimado pes-
soalmente da decisão que inadmitiu o recurso especial. 3. O recurso da parte adversa traz
tópico específico acerca da prescrição, não havendo que se falar em decisão extra petita,
no ponto. 4. Não cabe, na via do recurso especial, a análise de suposta violação de artigos
da Constituição Federal. De acordo com o magistério de Guilherme de Souza Nucci, com o
advento da Lei n.9.459/97, introduzindo a denominada injúria racial, criou-se mais um delito
no cenário do racismo, portanto, imprescritível, inafiançável e sujeito à pena de reclusão. 5. A
injúria racial é crime instantâneo, que se consuma no momento em que a vítima toma conhe-
cimento do teor da ofensa. No presente caso a matéria ofensivo foi postada e permaneceu
disponível na internet por largo tempo, não sendo possível descartar a veracidade do que
alegou a vítima, vale dizer, que dela se inteirou tempos após a postagem (elidindo-se a deca-
dência). O ônus de provar o contrário é do ofensor.6. A dúvida sobre o termo inicial da con-
tagem do prazo decadencial, na hipótese, deve ser resolvida em favor do processo. Agravo
Regimental desprovido. (AgRg no AREsp 686.965/DF, Rel. Ministro ERICSON MARANHO
(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/SP), SEXTA TURMA, julgado em 18/08/2015,
DJe 31/08/2015).
[4] AgRg no AREsp 734.236/DF, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, jul-
gado em 27/02/2018.
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[5] De acordo com o Ministro, “há racismo no Brasil”, e ele “é uma chaga infame que
marca a interface entre o ontem e o amanhã”. O relator retomou dados do IBGE e do IPEA
que demonstram a crítica situação dos negros no Brasil e, portanto, “se reconhece de modo
inequívoco como algo a ser superado. Homens e Mulheres não são negros apenas pela cor
da pele, mas pela atribuição de sentidos que apagam as riquezas de suas ancestralidades e
os qualificam a partir de valores negativos e desumanizantes”.
[6] Para o ministro Nunes Marques, a injúria racial atinge a honra subjetiva, já o racismo
é atinge a dignidade da pessoa humana que deve ser protegida independentemente de cor,
raça, religião etc. O crime de injúria racial não se equipara juridicamente ao racismo. “A gra-
vidade do delito não pode servir para que o poder Judiciário amplie as hipóteses de impres-
critibilidade pelo legislador e nem altere o prazo previsto na lei penal”.
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Em concursos assim, como eu sempre falo, é preciso saber estudar. Óbvio que você
deve saber o entendimento majoritário. Entretanto, por vezes, de múltiplas e variadas formas,
pode ser instado a demonstrar conhecimento acerca da visão particular do examinador sobre
determinados temas. Daí porque se revela essencial estudar (também) pela obra dos mem-
bros da banca.
Você deve se recordar que o STF e STJ indicam que a lesão corporal leve no contexto
mencionada lei desafia ação penal pública incondicionada. Essa é a inteligência do verbete
sumulado nº 542 do STJ (A ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de vio-
lência doméstica contra a mulher é pública incondicionada).
Isso porque o art. 41 da LMP veda a aplicação da Lei n. 9.099/1995 aos crimes com vio-
lência doméstica e familiar, ao passo que a condicionante da lesão corporal leve se encontra
na referida lei. Vejamos respectivamente:
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Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher, inde-
pendentemente da pena prevista, não se aplica a Lei n. 9.099, de 26 de setembro de 1995.
Art. 88. Além das hipóteses do Código Penal e da legislação especial, dependerá de
representação a ação penal relativa aos crimes de lesões corporais leves e lesões culposas.
Se de um lado, como afirmado, a posição dos Tribunais Superiores é uniforme no sen-
tido de que, em casos tais, a ação penal a ser desafiada é pública INCONDICIONADA, se
você for prestar a prova para o cargo de Delegado da Polícia Civil do Rio de Janeiro precisa
saber que essa não é visão compartilhada por Paulo Rangel.
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Hoje vamos falar sobre um tema espinhoso e que suscita muitas dúvidas entre os
alunos. Será que a pena de multa é exceção em relação à intranscendência? Frequente-
mente, lemos e ouvimos que sim. Entretanto, não é bem assim.
Dúvidas não há que a multa se caracteriza como uma espécie de sanção penal. Afinal,
o próprio Código Penal Brasileiro, em seu art. 32, assim preconiza:
Sempre houve um debate sobre eventual peculiaridade dessa sanção pecuniária, pois
– na visão de alguns – considerando que ela é considerada dívida de valor, se desnaturaria
como sanção penal, o que autorizaria seu redirecionamento a eventuais herdeiros, em caso
de falecimento do infrator, na medida e limites da herança.
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Se essa compreensão – apesar da defesa de alguns – já não era tão solidificada, perdeu
ainda mais força com a vigência da Lei 13.964/2019 (Pacote Anticrime), que reforçou a sua
essência penal, destacando que a competência para a execução da pena de multa é o juízo
das execuções penais. Vejamos:
Art. 51. Transitada em julgado a sentença condenatória, a multa será executada perante
o juiz da execução penal e será considerada dívida de valor, aplicáveis as normas relativas
à dívida ativa da Fazenda Pública, inclusive no que concerne às causas interruptivas e sus-
pensivas da prescrição. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
Ao estabelecer que a pena de multa mantém sua essência e seu caráter penal, outra
conclusão não se pode extrair que a necessária observância de postulados norteadores
da aplicação da pena criminal também a ela deve ser realizada. Dizendo de outra forma,
também a pena de multa criminal deverá respeitar o princípio da intranscendência da pena,
não havendo como passar da pessoa do condenado.
Imagine, pois, que – após ser condenado ao pagamento de uma pena de multa no valor
de R$ 3.000,00 – João das Couves, inadimplente, tenha falecido. Entretanto, deixou um patri-
mônio líquido no valor de R$ 175.000,00 aos seus herdeiros. O Estado poderá redirecionar a
cobrança dos valores de multa, obedecendo os limites da herança?
Tema muito bacana e que, certamente, será reavivado em concurso público a partir da
Lei Anticrime!
Vamos em frente!
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Hoje falaremos sobre um tema com densidade doutrinária, porém com importantes
repercussões na seara jurisprudencial e prática. Tanto isso é verdade que, no último dia 21
de setembro de 2021, a 5ª Turma do STJ analisou a temática ao julgar o AREsp 974.254/TO.
Vejamos esquematicamente:
(i) Teoria Subjetiva: não há transição dos atos preparatórios para os atos executórios.
O que interessa é o plano interno do autor, a vontade criminosa, existente em quaisquer dos
atos que compõem o iter criminis. Ou seja, tanto a fase da preparação como a fase da exe-
cução importam na punição do agente.
(ii) Teoria Objetiva: os atos executórios dependem do início de realização do tipo penal.
O agente não pode ser punido pelo seu mero “querer interno“. E imprescindível a exterioriza-
ção de atos idôneos e inequívocos para a produção do resultado lesivo.
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(iii) Teoria da hostilidade ao bem jurídico: atos executórios são aqueles que atacam o
bem jurídico, enquanto os atos preparatórios não caracterizam afronta ao bem jurídico. Prin-
cipais defensores: Nélson Hungria e José Frederico Marques.
(iv) TEORIA OBJETIVO-FORMAL ou LÓGICO-FORMAL: exige tenha o autor concre-
tizado efetivamente uma parte da conduta típica, penetrando no núcleo do tipo. Ex.: em um
homicídio, o sujeito, com golpes de punhal, inicia a conduta de “matar alguém“.
(v) Teoria Objetivo-Material: o magistrado deve se valer do critério do terceiro obser-
vador para impor a pena. Ex.: aquele que está no alto de uma escada, portando um pé de
cabra, pronto para pular um muro e ingressar em uma residência, na visão de um terceiro
observador, iniciou a execução de um crime de furto.
(vi) Teoria objetivo-individual: não se preocupa com o terceiro observador, mas sim
com a prova do plano concreto do autor, independentemente de análise externa. Exemplo:
“A”, com uma faca em punho, aguarda atrás de uma moita a passagem de “B” para matá-
-lo, desejo já anunciado para diversas pessoas. Quando este se encontra a 200 metros de
distância, “A” fica de pé, segura firme a arma branca e aguarda em posição de ataque seu
adversário. Surge a polícia e o aborda. Para essa teoria, poderia haver a prisão em flagrante,
em face da caracterização da tentativa de homicídio. Principais defensores: Zaffaroni e José
Henrique Pierangeli.
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Tema denso e de extrema importância para a prática e, claro, para a sua prova!
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[1] AREsp 974.254-TO, Rel. Min. Ribeiro Dantas, Quinta Turma, por unanimidade, jul-
gado em 21/09/2021, DJe 27/09/2021.
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Afirmo – novamente – isso para que sirva de alerta aos leitores acerca da importância
a ser dada às observações e entendimentos sobre os institutos e a aplicação prática dos
crimes delineados na Lei n. 11.343/2006.
Art. 35. Associarem-se duas ou mais pessoas para o fim de praticar, reiteradamente ou
não, qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 desta Lei: Pena – reclu-
são, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 700 (setecentos) a 1.200 (mil e duzentos)
dias-multa.
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Bacana, Pedro! Porém a pergunta difícil e que vai cair na sua prova é se, além do artigo
35, João poderá ser condenado e constar na sua pena a causa de aumento do artigo 40, VI
da mesma legislação de drogas? Ou isso configura bis in idem?
Art. 40. VI – sua prática envolver ou visar a atingir criança ou adolescente ou a quem
tenha, por qualquer motivo, diminuída ou suprimida a capacidade de entendimento e
determinação.
Em mesmo sentido, a 5ª Turma da Corte anotou que por se tratar de condutas autôno-
mas e tipos penais distintos, não há bis in idem na aplicação da causa de aumento da pena do
art. 40, inciso VI, da Lei n.º 11.343/06, concomitantemente aos crimes de tráfico e de
associação para o tráfico de drogas. Do mesmo modo, é cabível a aplicação da majorante
de o crime envolver ou visar a atingir criança ou adolescente em delito de associação para o
tráfico de drogas com menor de idade[2].
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Ocorre que essa é a regra. Ainda assim, em algumas situações, o seu – por vezes mal-
doso – examinador exigirá do candidato o conhecimento imprescindível para acertar a ques-
tão que envolve classificação ou nomenclatura pouco usual. Por isso é importante conhecer
às mais importantes.
Tipo congruente é aquele em que existe uma exata correspondência entre o tipo obje-
tivo e o subjetivo, para configurar o crime aquilo previsto pelo tipo para acontecer no mundo
é exatamente o que o sujeito precisa desejar.
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Exemplo: lesão corporal seguida de morte, o agente deseja a lesão, mas não deseja
a morte, a morte é culposa, então precisa ocorrer a lesão e a morte, então o tipo objetivo
(ACONTECIMENTO) é maior que o tipo subjetivo (o DESEJADO).
Pode acontecer o contrário: o tipo subjetivo ser maior que o tipo objetivo. Normalmente
quando há um elemento subjetivo especial (um delito de intenção) o tipo subjetivo é maior
que o tipo objetivo. É o caso da extorsão mediante sequestro. Para sua configuração, é
necessário ocorrer a privação da liberdade da vítima (ela é colocada no cativeiro), mas o que
é desejado para configurar o crime é a privação da liberdade e o recebimento do resgate.
Lembrar que não precisa efetivamente receber o resgate, mas é preciso desejá-lo, se não o
crime é outro (de sequestro – 148 Código Penal Brasileiro).
Interessante ainda anotar, de maneira mais didática, que, segundo Luiz Flávio Gomes,
o mais importante exemplo de CRIMES INCONGRUENTES estaria exatamente na TENTA-
TIVA criminosa. É que a figura penal da tentativa (artigo 14, II do CPB) indica situação em
que a parte subjetiva da conduta do agente NÃO se amolda a parte objetiva, já que o agente
deseja um resultado que não se aperfeiçoa por razões alheias a sua vontade.
Então no tipo incongruente aquilo que acontece no mundo é diferente do que aquilo que
a agente precisa desejar. O tipo subjetivo é distinto do tipo objetivo. Então a incongruência
pode se dar com uma diferença entre o tipo objetivo para mais ou para menos em relação ao
tipo subjetivo.
Vale ressaltar que o seu examinador pode usar ainda a expressão crimes SIMÉTRI-
COS ou ASSIMÉTRICOS designando nada mais que sinônimos para os congruentes e
incongruentes.
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Hoje falaremos sobre uma importantíssima decisão exarada pela 5ª Turma do Superior
Tribunal de Justiça, exarada à unanimidade no dia 14 de setembro de 2021, quando do jul-
gamento da ordem de habeas corpus 541.447/SP.
Segundo a conclusão do órgão colegiado, para tipificação do art. 317 do Código Penal
– corrupção passiva -, deve ser demonstrada a solicitação ou recebimento de vantagem
indevida pelo agente público, não configurada quando há mero ressarcimento ou reembolso
de despesa.
Como muito bem registrado no voto condutor do Ministro Relator, João Otávio de Noro-
nha, sabe-se que a Lei Orgânica do Sistema Único de Saúde (Lei n. 8.080/1990) e a Portaria
n. 113/1997 do Ministério da Saúde vedam a cobrança de valores do paciente ou familiares
a título de complementação, dado o caráter universal e gratuito do sistema público de saúde,
entendimento reforçado pelo STF no julgamento do RE n. 581.488/RS, com repercussão
geral, em que se afastou a possibilidade de “diferença de classe” em internações hospitala-
res pelo SUS (relator Ministro Dias Toffoli, Plenário, DJe de 8/4/2016).
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Art. 65. Cobrar honorários de paciente assistido em instituição que se destina à presta-
ção de serviços públicos, ou receber remuneração de paciente como complemento de salário
ou de honorários.
Vamos em frente!
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[1] Art. 317 – Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda
que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar
promessa de tal vantagem: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. § 1º – A
pena é aumentada de um terço, se, em consequência da vantagem ou promessa, o funcioná-
rio retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional.
[2] Tratado de Direito Penal: Parte Especial: crimes contra a administração pública e
crimes praticados por prefeitos – arts. 312 a 359-H e Lei n. 10.028/2000 [e-book]. v. 5. 15ª
ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2021, p. 58.
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Vamos falar sobre uma importantíssima decisão exarada pela 6ª Turma do Superior
Tribunal de Justiça, no último dia 14 de setembro de 2021. À unanimidade, o colegiado deli-
berou não ser possível que determinada pessoa responda pela prática do crime do art. 34 da
Lei n. 11.343/2006 quando a posse dos instrumentos configura ato preparatório destinado ao
consumo pessoal de entorpecente.
Normalmente, os atos preparatórios não são puníveis no âmbito criminal. Essa regra,
porém, comporta exceções. Isso ocorrerá quando o próprio legislador entender por tipificar
autonomamente a conduta dos atos preparatórios. É justamente isso que ocorre com o art.
34 da Lei de Drogas. Esse tipo penal tem o objetivo de punir os atos preparatórios para o trá-
fico de drogas (descrito no artigo 33). Justamente por isso, o crime do artigo 34 é absorvido
pelo do 33 quando as ações são praticadas no mesmo contexto. Naturalmente, quando se
evidenciar de forma autônoma que os equipamentos se destinavam à produção de drogas
para o tráfico, o réu poderá perfeitamente responder pelo crime do art. 34[2].
Feitas tais colocações, não obstante haver a autonomia potencial do mencionado delito,
a questão é saber se seria possível que o agente responda pela prática do referido delito
quando a posse dos instrumentos se configura como ato preparatório destinado ao consumo
pessoal de entorpecente?
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tivo), não se justificando punir com mais rigor as ações que antecedem o consumo pessoal.
De acordo com a Ministra, “se a própria legislação reconhece o menor potencial ofensivo da
conduta do usuário que adquire drogas diretamente no mercado espúrio de entorpecentes,
não há como evadir-se à conclusão de que também se encontra em situação de baixa peri-
culosidade o agente que sequer fomentou o tráfico, haja vista ter cultivado pessoalmente a
própria planta destinada à extração do óleo, para seu exclusivo consumo”.
Considerando que, nos termos do §1º do art. 28 da Lei de Drogas[3], nas mesmas
penas do caput incorre quem cultiva a planta destinada ao preparo de pequena quantidade
de substância ou produto (óleo), seria um contrassenso jurídico que a posse de objetos des-
tinados ao cultivo de planta psicotrópica, para uso pessoal, viesse a caracterizar um crime
muito mais grave, equiparado a hediondo e punido com pena privativa de liberdade de três
a dez anos de reclusão, além do pagamento de vultosa multa. A toda evidência, aquele que
cultiva uma planta naturalmente faz uso de ferramentas típicas de plantio, tais como a maior
parte dos itens apreendidos no caso (vasos, substrato de plantas, gotejador, lona, hastes
de estufa, fibra de coco), razão pela qual se deve concluir que a posse de tais objetos está
abrangida pela conduta típica prevista no aludido §1º do art. 28 da Lei n. 11.343/2006 e, por-
tanto, não é capaz de configurar delito autônomo.
Ou seja, considerando que não há tipo penal específico para sancionar os atos prepara-
tórios destinados à produção de droga para consumo pessoal, diferentemente do que ocorre
da destinação para o tráfico (art. 34), e que os atos preparatórios, em regra, não são aptos a
ensejar punição, não há falar em crime na hipótese em tela.
Precedente extremamente importante e, com a certeza de que eu estou vivo, ele cairá
nas próximas provas! Vale lembrar que a Lei de Drogas é uma das mais relevantes e cons-
tantes em provas de concurso público de carreiras jurídicas, tanto da seara estadual, como
também da federal.
Vamos em frente!
[1] Art. 34. Fabricar, adquirir, utilizar, transportar, oferecer, vender, distribuir, entregar a
qualquer título, possuir, guardar ou fornecer, ainda que gratuitamente, maquinário, aparelho,
instrumento ou qualquer objeto destinado à fabricação, preparação, produção ou transforma-
ção de drogas, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:
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Pena – reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 1.200 (mil e duzentos) a 2.000
(dois mil) dias-multa.
[2] É possível que o “tráfico de maquinário) se consume de forma autônoma, circunstân-
cia na qual [d]eve ficar demonstrada a real lesividade dos objetos tidos como instrumentos
destinados à fabricação, preparação, produção ou transformação de drogas, ou seja, rele-
vante analisar se os objetos apreendidos são aptos a vulnerar o tipo penal em tela.” (AgRg
no AREsp 303.213/SP, Rel. Ministro Marco Aurelio Bellizze, Quinta Turma, DJe 14/10/2013).
[3] Art. 28, § 1º Às mesmas medidas submete-se quem, para seu consumo pessoal,
semeia, cultiva ou colhe plantas destinadas à preparação de pequena quantidade de subs-
tância ou produto capaz de causar dependência física ou psíquica.
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Como sabido, dominar jurisprudência dos Tribunais Superiores é uma exigência para os
concursos de carreira jurídica. Se isso é verdade, eu sempre afirmo que conhecer e dominar
entendimentos edificados em verbetes sumulados é verdadeira questão de sobrevivência.
Não é novidade que a maioridade penal, no Brasil, é 18 anos. Ou seja, somente a partir
daí que se pode pensar em alguém sendo submetido à pena criminal. Isso, contudo, não sig-
nifica afirmar, como alguns poderiam supor, que necessariamente a partir dos 18 anos não
mais seria possível infligir alguém à medida socioeducativa.
A grande celeuma que surge é justamente sobre essa exigência de previsão legal. A
maior parte da doutrina admite, sem grandes polêmicas e traumas, a não extinção da medida
socioeducativa pela superveniência da maioridade penal nos casos de (i) internação e (ii)
semiliberdade, face às previsões expressas nesse sentido.
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De toda forma, desejando colocar uma pá de cal definitiva no tema, a 3ª Seção editou
o verbete de número 605, reafirmando que “a superveniência da maioridade penal não inter-
fere na apuração de ato infracional nem na aplicabilidade de medida socioeducativa em
curso, inclusive na liberdade assistida, enquanto não atingida a idade de 21 anos”, indepen-
dentemente da medida socioeducativa envolvida no caso concreto.
Vamos em frente!
[1] Art. 104. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às
medidas previstas nesta Lei. Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, deve ser conside-
rada a idade do adolescente à data do fato.
[2] HC 319.987/SP, Rel. Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO, SEXTA TURMA,
julgado em 26/04/2016, DJe 03/05/2016.
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Art. 593. Caberá apelação no prazo de 5 (cinco) dias: III – das decisões do Tribunal do
Júri, quando: a) ocorrer nulidade posterior à pronúncia; b) for a sentença do juiz-presidente
contrária à lei expressa ou à decisão dos jurados; c) houver erro ou injustiça no tocante à
aplicação da pena ou da medida de segurança; d) for a decisão dos jurados manifestamente
contrária à prova dos autos.
No voto condutor do recente julgado ora analisado, o Ministro Ribeiro Dantas (Relator)
asseverou que a “tese central que proponho é de fácil assimilação: penso que o veredito
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Dizendo de outra forma, o órgão julgador do recurso deverá examinar as provas existen-
tes e, caso rejeite a tese defensiva, demonstrar quais elementos probatórios dos autos emba-
sam (a) a materialidade e (b) autoria delitivas, bem como (c) a exclusão de alguma causa
descriminante suscitada pela defesa. Objetivamente, haveria dois juízos distintos feitos pelo
julgador recursal ao se debruçar sobre as provas que embasam uma condenação por crime
doloso contra a vida. Vejamos:
Compreendido isso, no caso dos crimes da competência do júri (dolosos contra a vida),
aos juízes togados, quando apreciam a apelação do art. 593, III, “d”, do CPP, cabe somente
o juízo antecedente; o juízo consequente compete ao júri. A cognição judicial encerra-se com
o primeiro juízo, o da existência das provas: se positivo, a apelação deve ser desprovida,
porque não incumbe ao Tribunal prosseguir ao juízo consequente; se negativo, quando o
veredito for completamente dissociado das provas, a sentença é anulada.
Mencionada pelo Relator, a doutrina de Kazuo Watanabe vai anotar, sobre a soberania
dos veredictos que “numa sistematização mais ampla, a cognição pode ser vista em dois
planos distintas: horizontal (extensão, amplitude) e vertical (profundidade). No plano hori-
zontal, a cognição tem por limite os elementos objetivos do processo estudados no capítulo
precedente (…). Nesse plano, a cognição pode ser plena ou limitada (ou parcial) segundo a
extensão permitida. No plano vertical, a cognição pode ser classificada, segundo o grau de
sua profundidade, em exauriente (completa) e sumária (incompleta)”[2]. Assim, quando esta-
mos analisando uma apelação cujo ponto nevrálgico é a alegação de contrariedade do vere-
dicto com as provas dos autos (dimensão horizontal da cognição, ou a delimitação do objeto
sobre o qual será exercida), caberá ao órgão julgador perquirir a (in)existência de provas
capazes de conferir arrimo conclusivo ao teor do julgamento. Trata-se de uma cognição par-
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cial, no aspecto horizontal – já que a apelação contra sentença do tribunal do júri é de fun-
damentação vinculada; e, no plano vertical, embora não seja sumária, também não é exau-
riente, limitando-se a constatar se existem provas relativas à tese acatada pelos juízes leigos.
Vamos em frente!
[1] Da cognição no processo civil. 2. ed. São Paulo: Bookseller, 2000, p. 111-112
[2] (…) 4. À instituição do júri, por força do que dispõe o artigo 5º, inciso XXXVIII, alínea
‘c’, da Constituição da República, é assegurada a soberania de veredictos. 5. O artigo 593,
inciso IV, alínea ‘d’, do Código de Processo Penal, autoriza que, em sendo a decisão mani-
festamente contrária à prova dos autos, ou seja, quando os jurados decidam arbitrariamente,
dissociando-se de toda e qualquer evidência probatória, é de ser anulado o julgamento pro-
ferido pelo Tribunal Popular. 6. Oferecidas aos jurados vertentes alternativas da verdade dos
fatos, fundadas pelo conjunto da prova, mostra-se inadmissível que o Tribunal de Justiça,
quer em sede de apelação quer em sede de revisão criminal, desconstitua a opção do Tribu-
nal do Júri – porque manifestamente contrária à prova dos autos – sufragando, para tanto,
tese contrária. (…) (REsp 220.188/MG, Rel. Ministro HAMILTON CARVALHIDO, SEXTA
TURMA, julgado em 16/8/2001, DJ 4/2/2002).
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Vocês sabem que alterações legislativas recentes são sempre alvo de uma série de
questões, mormente em provas objetivas. Dessa maneira, é importantíssimo que vocês
estejam atentos à novidade perpetrada pela Lei 14.155/2021 em relação à competência
ratione loci.
Art. 70. (…) § 4º Nos crimes previstos no art. 171 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de
dezembro de 1940 (Código Penal), quando praticados mediante depósito, mediante emissão
de cheques sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado ou com o pagamento
frustrado ou mediante transferência de valores, A COMPETÊNCIA SERÁ DEFINIDA PELO
LOCAL DO DOMICÍLIO DA VÍTIMA, e, em caso de pluralidade de vítimas, a competência
firmar-se-á pela prevenção.
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Com a certeza de que estou vivo, afirmo que as novidades de direito material e proces-
sual inseridas pela Lei n. 14.155/2021 aparecerão intensamente nas próximas provas. Dessa
maneira, redobre suas atenções!
Vamos em frente!
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A última semana de mês de agosto de 2021 nos brindou com uma importantíssima
decisão da 3ª Seção do Superior Tribunal de Justiça. À unanimidade, o colegiado deliberou
sobre o AREsp 1.716.664/SP, concluindo que a reincidência específica tratada no art. 44, §
3º, do Código Penal[1] somente se aplica quando forem idênticos, e não apenas de mesma
espécie, os crimes praticados.
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Apesar disso, releva destacar que o conceito de reincidência específica não é uniforme,
existindo corrente compreendendo ela configurada “se o crime anterior e o posterior forem os
mesmos”[3] ou, contrariamente, “quando os dois crimes praticados pelo condenado são da
mesma espécie”[4]. Esta última definição está em sintonia com o art. 83, V, do CP, que proíbe
o livramento condicional para o reincidente específico em crime hediondo – ou seja, quando
a reincidência se operar entre delitos daquela espécie.
Como muito bem anota o Ministro Relator em seu voto, “é possível ver, também, outro
fator relevante em favor da interpretação que hoje prevalece, neste STJ, sobre o art. 44, § 3º,
do CP. Pela redação do dispositivo, há situações em que a progressão criminosa, com a prá-
tica de um delito mais grave, premia o agente com a substituição, enquanto o cometimento
de dois crimes mais leves a proíbe. Por exemplo: o réu reincidente pela prática de dois crimes
de furto simples (art. 155, caput, do CP) não terá direito à substituição da pena, porquanto
aplicável a vedação absoluta contida no art. 44, § 3º, do CP. De outro lado, se o segundo
crime for de furto qualificado (art. 155, § 4º, do CP), o réu pode fazer jus à substituição, se a
pena não ultrapassar 4 anos de reclusão. Em outras palavras, o cometimento de um segundo
crime mais grave poderia, em tese, ser mais favorável ao acusado, em possível violação ao
princípio constitucional da isonomia”. A partir do entendimento consagrado até o momento
nas Turmas do STJ, essa contradição não se verifica, afinal o tratamento de reincidência
específica alcança os crimes de mesma espécie.
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Vamos em frente!
[1] Art. 44, § 3º Se o condenado for reincidente, o juiz poderá aplicar a substituição,
desde que, em face de condenação anterior, a medida seja socialmente recomendável e a
reincidência não se tenha operado em virtude da prática do mesmo crime.
[2] AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO
ESPECIAL. PENAL. POSSE IRREGULAR DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO (ART.
12 DA LEI 10.826/2003). POSSE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO RESTRITO (ART.
16, LEI 10.826/2003). CRIMES DE MESMA ESPÉCIE. AGRAVO NÃO PROVIDO. 1. Preva-
lece em ambas as Turmas que compõem a 3ª Seção desta Corte, o entendimento de que a
reincidência específica se caracteriza pela prática de dois ou mais crimes da mesma espécie,
assim considerados aqueles delitos que tutelam o mesmo bem jurídico, independentemente
de constarem do mesmo tipo penal. 2. No caso em exame, a reincidência específica fica
caracterizada pela condenação anterior por crime da mesma espécie, haja vista que a con-
denação relativa ao delito de posse irregular de arma de fogo de uso permitido (art. 12 da Lei
10.826/2003) é da mesma natureza da infração de posse ilegal de arma de fogo de uso res-
trito (art. 16, Lei 10.826/2003). Isso porque ambos os tipos penais visam à proteção da inco-
lumidade pública, estão previstos na mesma lei especial e possuem características essen-
ciais comuns. 3. Agravo regimental a que se nega provimento” (AgRg no AgRg no AREsp
1276547/RS, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 20/9/2018).
[3] ROSSETTO, Enio Luiz. Teoria e aplicação da pena. São Paulo: Atlas, 2014,
p. 141-142.
[4] CUNHA, Rogério Sanches. Manual de direito penal: parte geral. 6. ed. Salvador:
JusPodivm, 2018, p. 480.
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Hoje falaremos um pouco sobre teoria no âmbito do direito penal, especificamente rela-
cionada ao crime impossível.
De acordo com o artigo 17 do CPB, “não se pune a tentativa quando, (i) por ineficácia
absoluta do meio ou (ii) por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o
crime”. Sabendo que o legislador adotou a teoria objetiva para a definição de tentativa, deve-
mos saber qual o reflexo dessa concepção para o crime impossível.
De acordo com a TEORIA OBJETIVA PURA, o crime impossível não faz qualquer dis-
tinção entre a relativa ou absoluta impropriedade do meio, ou objeto. Percebe-se, pois, que
o CPB não adotou essa teoria!
a. Se João utilizar arma de fogo sem munição, ele nunca conseguirá consumir o crime
de homicídio, em razão da ineficácia ABSOLUTA do meio utilizado para tal finalidade. Assim,
há crime impossível (em relação ao homicídio – já que é possível a configuração do crime de
porte/posse de armas).
b. Todavia, se João estiver utilizando a mesma arma de brinquedo (simulacro) para pra-
ticar um roubo, não se pode dizer que é crime impossível. No máximo, poderíamos imaginar
que se trata de um meio RELATIVAMENTE ineficaz, mas pela adoção da teoria objetiva tem-
perada (CPB), tal não se revela suficiente para a caracterização de crime impossível. Haverá,
pois, no mínimo, a tentativa.
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Tema muito importante para provas de direito penal, seja nas fases objetiva, discursiva
ou mesmo prático processual!
Vamos em frente!
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Vamos falar hoje sobre um tema que é pouco usual, mas que já apareceu em provas,
como se verifica da última edição da fase objetiva da magistratura do Tribunal de Justiça
do Paraná.
Como sempre repito em aulas, dominar a regra é importantíssimo, mas se você almeja
acertar as questões que pouquíssimos candidatos garantem, é imprescindível dominar
também as exceções. Questão de sobrevivência!
Nesse sentido, será que o advogado dativo pode renunciar à prerrogativa de ser inti-
mado pessoalmente?
Tanto a 5ª, como também a 6ª Turma do Superior Tribunal de Justiça admitem a não
observância desse tratamento a depender das peculiaridades do caso concreto. Explico.
É que NÃO HÁ QUE SE FALAR EM NULIDADE se o dativo pedir para ser intimado dos
atos processuais pelo diário oficial. Conforme deliberou em um caso concreto, a 6ª Turma
apreciou situação em que peculiaridade que modifica o quadro fático e autoriza decisão em
sentido diverso. Isso porque o próprio defensor nomeado assinou termo firmando o compro-
misso de ser intimado pela imprensa oficial. E diante da expressa e prévia concordância do
defensor dativo, não há falar em nulidade. Incide, inclusive, o disposto no art. 565 do Código
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Assim, saber a regra é importantíssimo! Contudo, amiúde, o seu examinador vai testar
o seu conhecimento acerca da exceção! Você sabia dessa? Agora sabe e não erra mais!
Vamos em frente!
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Todos nós sabemos que o estudo de julgados envolvendo casos concretos, da lavra
dos Tribunais Superiores, é essencial para o bom desempenho dos candidatos em prova de
concurso público, qualquer que seja a fase.
Ademais, envolvendo o tema relativo à Lei de Drogas, isso salta aos olhos. Explico. Tra-
ta-se de uma das leis penais especiais mais importantes para quem atua no dia a dia criminal
e, naturalmente, das mais frequentes em prova. Ou seja, cada vez mais o examinador está
se especializando em abordar e exigir o conhecimento de aspectos peculiares deliberados
pelos Tribunais.
Dentre os pontos que mais aparecem em certames públicos, podemos citar as hipóte-
ses de causa de aumento de pena, delineadas no art. 40 da Lei n. 11.343/2006. Nesse dis-
positivo, são arroladas várias situações que permitem o incremento de pena, na 3ª fase da
dosimetria, no patamar de 1/6 a 2/3. Vamos tomar como exemplo, para ilustrar o objeto do
presente texto, o inciso a seguir indicado:
Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de um sexto a
dois terços, se: III – a infração tiver sido cometida nas dependências ou imediações de esta-
belecimentos prisionais, de ensino ou hospitalares, de sedes de ENTIDADES estudantis,
SOCIAIS, culturais, recreativas, esportivas, ou beneficentes, de locais de trabalho coletivo,
de recintos onde se realizem espetáculos ou diversões de qualquer natureza, de serviços de
tratamento de dependentes de drogas ou de reinserção social, de unidades militares ou poli-
ciais ou em transportes públicos;
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Isso porque a norma não prevê esse fato gerador da majorante e, admitir o contrário,
seria o aperfeiçoamento do incompatível exercício da analogia in malam partem, violando o
princípio da legalidade estrita, uma das pedras angulares do sistema penal. Vejamos:
Uma vez que, no Direito Penal incriminador, não se admite a analogia in malam partem
e porque a hipótese dos autos (tráfico de drogas cometido em local próximo a igrejas) não
foi contemplada pelo legislador no rol das majorantes previstas no inciso III do art. 40 da Lei
n. 11.343/2006, deve ser afastada a causa especial de aumento de pena em questão (…) 5.
Ordem parcialmente concedida, para afastar a majorante prevista no inciso III do art. 40 da
Lei de Drogas e, por conseguinte, reduzir a reprimenda da paciente para 5 anos de reclu-
são e 500 dias-multa (HC 528.851/SP, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA
TURMA, julgado em 05/05/2020).
Nesse contexto, justificada a incidência da causa de aumento prevista no art. 40, inciso
III, da Lei n.º 11.343/2006, uma vez consta nos autos a EXISTÊNCIA DE IGREJA EVANGÉ-
LICA a aproximadamente 23 metros de distância do local onde a traficância era realizada.
(…) (AgRg no HC 668.934/MG, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA
TURMA, julgado em 22/06/2021).
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na verdade nós estávamos diante de uma entidade social onde se realizava cultos de uma
igreja evangélica. Ora, a incidência da causa de aumento do art. 40, III da Lei de Drogas não
se deu em razão das proximidades com a igreja evangélica, que não se encontra no referido
rol, mas SIM nas proximidades de uma entidade social, que está prevista no dispositivo ora
analisado. Vejamos o importante trecho do voto do Relator:
Vamos em frente!
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Vamos falar no texto de hoje sobre um tema extremamente interessante e que vem
sendo cobrado em provas de direito penal e também de criminologia. Ademais, várias repor-
tagens midiáticas, políticas públicas e projetos de leis versam – direta ou indiretamente –
sobre esse assunto. Estou me referindo à Teoria das Janelas Quebradas.
A teoria das janelas quebradas (Bronken Windows Theory) tem origem norte americana
e que possui diversos reflexos na seara de política criminal internacional, inclusive no direito
pátrio. Essa teoria revela-se como um dos braços mais “famosos” da lógica do chamado
Direito Penal Máximo, ou seja, da ideia de que a aplicação cada vez mais ampla e rigorosa
do direito criminal se apresentaria como a principal e mais eficaz forma de reação aos cres-
centes índices de violência urbana, abrindo margem para solução dos problemas sociais.
A teoria das janelas quebradas foi desenvolvida pelo cientista político James Wilson e
pelo psicólogo criminalista George Kelling – a partir do embasamento do experimento reali-
zado pelo psicólogo Philip Zimbardo, da Universidade de Stanford – externando bases funda-
mentais na ideologia da chamada Escola de Chicago (Criminologia). Os idealizadores desse
pensamento partiram da seguinte análise:
“Se apenas uma janela de um prédio fosse quebrada e não fosse imediatamente con-
sertada, as pessoas que passassem pelo local e vissem que a janela não havia sido conser-
tada concluiriam que ninguém se importava com isso, e que em um curto espaço de tempo
todas as demais janelas também estariam quebradas, pois as pessoas começariam a jogar
mais pedras para quebrar as demais janelas. Em pouco tempo, aquela comunidade seria
levada à decadência. Abandonado, o local seria ocupado por pessoas viciadas, imprudentes
e com tendências criminosas. A comunidade seria abandonada e tomada por desordeiros”[2].
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as outras janelas estariam destruídas, levando à decadência daquele espaço urbano, criando
terreno propício para a criminalidade.
A comprovação empírica disso não serviria apenas para a seara criminal, mas também
para aspectos banais do nosso cotidiano. Afinal se nosso veículo automotor (moto ou carro),
por exemplo, eventualmente apresenta um ruído no motor e não se leva ao mecânico, em
pouco tempo outros problemas – mais graves – aparecerão. A mesma “lógica” deveria ser
observada no enfrentamento da criminalidade.
No Brasil, essa linha do Direito Penal Máximo, Tolerância Zero, Lei e Ordem e Teoria
das Janelas Quebradas apresenta influência significativa nos tratamentos e produção legis-
lativa criminal, pautando a agenda normativa com a “mesmice” de ampliação desenfreada
do rigor punitivo, a fim de causar uma (falsa) sensação instantânea de eficiência do aparelho
repressor estatal, mantendo parcela da população anestesiada diante do caos administra-
tivo e social.
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Esse é um tema que pode ser cobrado em provas objetivas e subjetivas, tanto relacio-
nado ao direito penal, como também ao estudo da criminologia! Independentemente de como
venha na prova, meu desejo é que todos estejam preparados e dominando o tema.
Vamos em frente!
[1] Adotando, portanto, esta termologia (panpenalismo) para descrever o fenômeno indi-
cado por Luisi, resta encontrar sua relevância histórica como influência na sistemática penal
vigente. Nesse sentido, interessante lição de Luigi Ferrajoli situa o marco inicial da observa-
ção do fenômeno na sistemática jurídica de origem romano-germânica, bem como pontua
sua relação com a noção de periculosidade social que hoje fundamenta outro fenômeno
sociológico, o da criminalidade: […] a ideia substancialista de que a desviação deva ser cap-
tada, e prevenida, além de suas definições legais, na sua identidade ontológica de malum in
se (moral, ou natural), favoreceu – primeiramente na maciça legislação de polícia produzida
na Europa depois da segunda metade do século XIX e, posteriormente, nos próprios códigos
– uma expansão do direito penal muito além dos rígidos limites garantistas da determinação
do fato, da sua ofensividade e materialidade, bem como da culpabilidade de seu autor. Mister
se pense, de uma parte, à relevância que se deu, sob o influxo da ‘Escola Positivista’, à figura
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O tema foi apreciado em repercussão geral pelo STF, que culminou com o reconheci-
mento pela maioria dos Ministros quanto ao entendimento de que deve haver a suspensão de
direitos políticos mesmo nos casos de condenação criminal definitiva, ainda que haja subs-
tituição da pena privativa por restritiva de direitos, apesar da divergência sustentada pelos
Ministros Marco Aurélio e Rosa Weber no sentido de que tal entendimento violaria a individu-
alização da pena e a proporcionalidade.
De acordo com o raciocínio que obteve a adesão da maioria, o art. 15, III da CF/1988
prevê uma determinação autoaplicável, ao indicar que a CONDENAÇÃO CRIMINAL transi-
tada em julgado gera a suspensão dos direitos políticos.
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Dessa maneira, considerando que a Carta Magna não fez qualquer distinção acerca
da pena aplicada, independe – para fins de incidência do referido efeito – se a sanção penal
envolve uma privação de liberdade, uma restrição de direitos ou mesmo que estejamos diante
de suspensão condicional da pena.
Salientou-se, ainda, que a razão de ser da norma constitucional é impedir aos condena-
dos, respeitado o devido processo legal e transitada em julgado a sentença, o exercício dos
direitos políticos enquanto cumprirem pena.
Eis a tese em repercussão geral: A suspensão de direitos políticos prevista no art. 15, inc.
III, da Constituição Federal aplica-se no caso de substituição da pena privativa de liberdade
pela restritiva de direitos. (RE 601182, 02.10.2019) – Repercussão Geral – Tema 370/STF.
Vamos em frente!
[1] Exceção: Art. 28, Lei 11.343/2006 – posse de droga para consumo pessoal. O dispo-
sitivo impõe expressamente apenas penas restritivas de direitos consistentes em advertên-
cia sobre os efeitos das drogas, prestação de serviços à comunidade e medida educativa de
comparecimento a programa ou curso educativo.
[2] Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se
dará nos casos de: I – cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado;
II – incapacidade civil absoluta; III – condenação criminal transitada em julgado, enquanto
durarem seus efeitos; IV – recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alter-
nativa, nos termos do art. 5º, VIII; V – improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º.
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A 3ª Seção do STJ já teve a oportunidade de afirmar que a ordem judicial para quebra
do sigilo dos registros, delimitada por parâmetros de pesquisa em determinada região e por
período de tempo, não se mostra medida desproporcional, porquanto, tendo como norte a
apuração de gravíssimos crimes cometidos por agentes públicos contra as vidas de três pes-
soas – mormente a de quem era alvo da emboscada, pessoa dedicada, em sua atividade par-
lamentar, à defesa dos direitos de minorias que sofrem com a ação desse segmento podre da
estrutura estatal fluminense – não impõe risco desmedido à privacidade e à intimidade dos
usuários possivelmente atingidos pela diligência questionada (RMS 60.698/RJ, Rel. Ministro
ROGERIO SCHIETTI CRUZ, julgado em 26/08/2020).
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O tema ainda precisa ser efetivamente analisado pelo Supremo Tribuna Federal que,
em maio de 2021, reconheceu repercussão geral ao tema (ainda pendente), objeto do RE
1.301.250.
ATENÇÃO! Isso ainda não caiu em prova, mas certamente aparecerá nos próximos
concursos, mormente com a ampla admissão no Poder Judiciário – ao menos até a defini-
ção do tema no STF – e nas aplicações concretas e recentes pelo próprio Superior Tribunal
de Justiça.
[1] https://www.conjur.com.br/2021-ago-10/stj-divide-advogados-ampliar-uso-geo-fen-
cing-investigacoes
[2] No processo penal, a figura da FISHING EXPEDITION é percebida a partir de uma
investigação criminal especulativa, sem objeto certo ou determinado. Lança-se a rede das
medidas especiais de investigação para colher “alguma coisa”. “Tenho convicção de que
se procurarmos ferrenhamente dentro daquela comunidade, encontraremos algum ilícito.
Não sei o que é, onde está, com quem está e como foi parar lá. Mas se procurar, algo de
podre e ilícito encontraremos”. Essa é uma frase que traduz o espírito dessa prática não rara
no Brasil. Segundo Philipe Benoni Melo e Silva, trata-se de situação em que são lançadas
as redes da investigação com a esperança de ‘pescar’ qualquer prova, para subsidiar uma
futura acusação. Ou seja, é uma investigação prévia, realizada de maneira muito ampla e
genérica para buscar evidências sobre a prática de futuros crimes (ou até mesmo desco-
nhecidos). Como consequência, não pode ser aceita no ordenamento jurídico brasileiro, sob
pena de malferimento das balizas de um processo penal democrático de índole Constitucio-
nal. O mais claro exemplar da prática da “expedição aleatória da pescaria probatória” é, sem
dúvidas, os Mandados de Busca e Apreensão GENÉRICOS. Ora, a referida medida cautelar
ostenta restrição de direito fundamentação (regulada no art. 240 do CPP) e deve ser obser-
vada a partir dos estritos requisitos vigentes. Ela deve ser CERTA E DETERMINADA, indivi-
dualizando ao máximo o local em que se pretende realizar a diligência. O STF é profícuo em
precedentes que apontam para a IMPOSSIBILIDADE de mandados genéricos, exigindo-se
a individualização da localidade em que será efetuada a busca e apreensão, mormente por
envolver flexibilização da inviolabilidade domiciliar (HC 106.566). O contrário teria o condão
de violar a previsão do art. 243, I e II do CPP. A fishing expedition existe e NÃO deve ser
tolerada também em relação às interceptações telefônicas, conforme previsão extraída dire-
tamente da Lei 9296/96.
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O tema a ser analisado nesse texto é extremamente interessante e deve ser lido com
muito cuidado, porque envolverá a análise de lei penal no tempo. Genericamente, o Código
Penal Brasileiro prevê a admissibilidade de conversão da pena privativa de liberdade em
restritiva de direitos, independentemente do quantum de pena, quando estivermos diante de
crime culposo. Vejamos:
Nesse cenário, o crime de homicídio culposo quando o agente estava sob influência de
álcool ou outra substância psicoativa, em tese, admitiria essa conversão:
Art. 302. Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor: Penas – deten-
ção, de dois a quatro anos, e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habili-
tação para dirigir veículo automotor. (…) § 3o Se o agente conduz veículo automotor sob a
influência de álcool ou de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência:
Penas – reclusão, de cinco a oito anos, e suspensão ou proibição do direito de se obter a per-
missão ou a habilitação para dirigir veículo automotor (Incluído pela Lei nº 13.546, de 2017).
Como eu sempre falo em aula, o Código de Trânsito Brasileiro é uma das normas
mais desafiadoras no campo criminal, porque está em constante alteração. Uma dessas
modificações relativamente recentes impactaram sensivelmente na conclusão da tese acima
delineada, porque passou a vedar absolutamente a referida conversão. Refiro-me à Lei n.
14.071/2020:
Art. 312-B. Aos crimes previstos no § 3º do art. 302 e no § 2º do art. 303 deste Código
não se aplica o disposto no inciso I do caput do art. 44 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de
dezembro de 1940 (Código Penal) (Incluído pela Lei nº 14.071, de 2020).
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E aí Pedro? Quer dizer que o delito de homicídio culposo quando o agente estava sob
influência de álcool ou outra substância psicoativa?
Se a pergunta se referir aos dias atuais, certamente a resposta será negativa. Afinal, o
comando legislativo é peremptório e goza de presunção de constitucionalidade. Entretanto,
CUIDADO para como será circunstanciado o tema e a abordagem na sua prova! Afirmo isso
porque, como muito bem salientado pelo Superior Tribunal de Justiça, é imprescindível aten-
tar para a aplicação da lei penal no tempo.
Ao tecer considerações sobre o caso concreto, o STJ destacou que a Justiça Estadual
deixou de consignar motivação válida para afastar o direito do Condenado – notadamente
porque concorre, em seu benefício, as circunstâncias de que a prova dos autos demonstrou
que a luz traseira da motocicleta em que colidiu estava desligada, e de que no cálculo da
pena o Tribunal estadual assinalou a primariedade do réu, seus bons antecedentes, que a
conduta não extrapolou a culpabilidade normal e as consequências são próprias do delito.
“A favorabilidade das circunstâncias mencionadas evidencia que a substituição da pena se
mostra medida socialmente recomendável“[2].
CONCLUSÃO: Cuidado com a sua prova! Se a questão for atualizada a partir da vigên-
cia do art. 312-B do CTB, essa vedação de conversão da pena privativa de liberdade em
restritiva de direito é pressuposta na própria legislação. Entretanto, se ela se referir a fato
anterior, deverá ser verificada a pertinência na situação concreta, mormente sob o crivo do
juízo de ser ela socialmente recomendável ou não.
Vamos em frente!
[1] HC 673.337/SP, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em 22/06/2021
[2] STJ, HC 601.514/SC, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA,
julgado em 23/03/2021, DJe 29/03/2021.
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Professor: Pedro Coelho
Um dos temas mais frequentes em provas objetivas de carreiras jurídicas na área crimi-
nal é o relativo a várias questões vinculadas aos crimes contra a honra, tanto no que tange a
aspectos de direito material, como também de processo.
De acordo com a regra entabulada no Código Penal, os crimes contra a honra desafiam
ação penal privada, salvo casos específicos delineados na legislação. Além desse aspecto,
amiúde o legislador traz previsões que visam a inibir o tratamento punitivo dessa espécie de
delito. Isso acontece com as hipóteses de extinção da punibilidade pontualmente previstas
para os crimes contra a honra. É o que acontece, por exemplo, com o desenhado no art.
143 do CPB:
De acordo com o STJ, a retratação cabal da calúnia, feita antes da sentença, de forma
clara, completa, definitiva e irrestrita, sem remanescer nenhuma dúvida ou ambiguidade
quanto ao seu alcance – que é justamente o de desdizer as palavras ofensivas à honra, retra-
tando-se o ofensor do malfeito -, implica a extinção da punibilidade do agente e independe
de aceitação do ofendido.
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Vamos em frente!
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Se você leu o título do texto e teve a impressão de ser algo exclusivamente acadêmico
sem qualquer vinculação com concursos públicos, é bom ter cuidado!
Digo isso porque exatamente esse tema foi objeto de questionamentos na prova de
Delegado Pará (2016) e Promotor de Justiça do MP Rondônia. Se é assim vamos compre-
ender o que vem a ser a “AUTORIA MEDIATA POR DOMÍNIO DE APARATO ORGANIZADO
DE PODER”.
Calma! Vou tentar explicar. Antes, precisamos fazer uma rapidíssima digressão. Para
lembrar do conceito (ou da ideia) de AUTORIA MEDIATA basta rememorarmos a ideia de
um agente que se utiliza de interposta pessoa (terceiro), por ele manipulado, com o fito de
comente o delito almejado.
O executor (autor imediato) é mero instrumento do “autor mediato”, razão pela qual age
sem dolo ou culpa. Caso assim não o fosse, estaríamos diante de coautoria!
Contudo, não satisfeito com essa distinção e vislumbrando algumas situações problemá-
ticas, Claus ROXIN criou “nova espécie ou modalidade” de autoria mediata: a autoria mediata
por domínio de organização ou POR DOMÍNIO DE APARATO ORGANIZADO DE PODER.
Como muito bem assinala o professor Paulo Queiroz, “trata-se de uma espécie diversa
de autoria, porque aqui autor mediato e imediato (homem de trás e executor) são igualmente
culpáveis e puníveis. Além disso, não seria o caso de coautoria, quer porque o executor é
uma figura anônima e substituível (fungível), quer porque não há, em geral, acordo prévio e
preciso entre mandantes e mandatários, que, com frequência, sequer se conhecem”.
Segundo Roxin, o nível de pressão a que é submetido o autor direto dentro de um apa-
rato organizado de poder em comparação a um executor independente, APESAR DE NÃO
SER SUFICIENTE PARA EXCLUIR SUA CULPABILIDADE NEM RESPONSABILIDADE
PENAL, o predispõe ao cometimento do delito, aumentando consideravelmente a probabili-
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O tema ainda demanda algumas reflexões e uma leitura crítica. Entretanto, com o con-
teúdo acima exposto, você estará mais do que apto a responder e garantir os pontos de
eventuais cobranças em provas!
Vamos em frente!
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Vale destacar que essa lei foi pioneira na conceituação de organização criminosa no
âmbito interno, apesar de não ter tipificado tal comportamento como delito. De acordo com
sua redação originária, organização criminosa seria a associação, de 3 (três) ou mais pes-
soas, estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que infor-
malmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza,
mediante a prática de crimes cuja pena máxima seja igual ou superior a 4 (quatro) anos ou
que sejam de caráter transnacional.
Entretanto, como se sabe, esse conceito não é mais atual. Isso porque, menos de um
ano depois de sua vigência, a Lei 12.850/2013 adotou outro conceito, bem como tipificou
organização criminosa como delito autônomo. A partir de então, temos que ORCRIM é a
associação de 4 (quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela
divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente,
vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máxi-
mas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional.
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Essa Lei n. 12.694/2012 é a primeira lei federal a tratar sobre esse tema. Todavia, é
necessário destacar a Lei n. 6.806/2007 do Estado de Alagoas, que criou um juízo colegiado
para o julgamento de crimes praticados por organização criminosa, atendendo inclusive a
Recomendação 03/2006 do CNJ. Essa lei foi parar no STF, quando do julgamento da ADI
4.414, o qual apontou algumas diretrizes sobre a compatibilidade ou não desse juízo cole-
giado ao ordenamento jurídico pátrio, já que até o presente momento não houve apreciação
da constitucionalidade ou não da lei federal.
Diante da inércia (à época) da União em legislar sobre a matéria, poderiam sim os Esta-
dos legislar sobre a matéria, já que se trataria de matéria vinculada ao PROCEDIMENTO (e
não ao processo), havendo, pois, autorização constitucional para tanto. A única ressalva que
o STF fez foi o fato de que essa lei se valia do conceito da Convenção de Palermo para o
crime de organização criminosa e isso violaria o princípio da legalidade no que se refere a
garantia da chamada lex populli.
Esse problema foi superado com a Lei n. 12.694/2012. Muita coisa pode ser falada
sobre essa lei, mas uma das dúvidas que podem suscitar controvérsias e pegadinhas de
prova é se esse julgamento colegiado de 1º grau se assemelha à figura do “Juiz sem Rosto”?
Nos anos 2000, a Corte Constitucional colombiana reputo a figura do juiz sem rosto com
inconstitucional, violadora do devido processo legal, publicidade e do direito ao confronto na
produção de provas. Em sentido similar, a Corte IDH, no caso Castillo Petruzii e outros vs.
Peru analisando um julgamento realizado por magistrados e membros do MP “MASCARA-
DOS” afirmou que, em razão da impossibilidade de identificar o magistrado, não era possível
assegurar que fosse o julgador investido da jurisdição para julgar.
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O que a Lei n. 12.694/12 fez não foi reproduzir o juiz sem rosto, afinal isso seria incons-
titucional e inconvencional. Apesar de haver um julgamento colegiado em 1º grau, os juízes
são identificáveis, a decisão não é apócrifa e é possível arguir exceções de impedimento ou
suspeição.
Vamos em frente!
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Como sempre falo, a preparação para concurso público em carreiras jurídicas exige uma
preparação constante na tríade da doutrina, legislação e jurisprudência. Entretanto, conhecer
os temas abordados em cada um desses vértices não mais vem se revelando suficiente.
Sabe quando o legislador se vale de expressões como “além de dúvida razoável”, “pre-
ponderância de prova”, “indícios de autoria”, “indícios veementes de autoria”, etc? Essas fórmu-
las são standards probatórios. Ou seja, também chamados de modelos de constatação, eles
correspondem aos níveis de provas exigidos nas diferentes espécies de processos judiciais.
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Compreendido o tema, vamos aprofundar em uma questão ainda não vista em provas,
mas que seria bastante interessante. E se seu examinador perguntar: Disserte sobre os stan-
dards probatórios no sequestro da Lei de Lavagem comparando-os aos do CPP.
Parcela da doutrina (Badaró e Bottini), pois, anotam que “indícios suficientes” do delito
retrata grau de constatação menor (standard probatório de menor grau) que a de “indí-
cios veementes da proveniência ilícita dos bens”, sendo esse standard mais rigoroso do
que o do CPP!
Trata-se, pois, de tema que exige uma bagagem doutrinária interessante, compreensão
acerca dos standard´s probatórios e, sobretudo, uma leitura atenta da legislação, encon-
trando os pontos diferenciais. Se você não sabia, zero problema! Agora já sabe!
Vamos em frente!
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“Uma vez existente condenação transitada em julgado por fato anterior ao cometimento
do delito sub examine, mostra-se correta a conclusão pela existência de maus antecedentes”
(6ª Turma, HC 399.029/PE, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 26/06/2018).
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Em relação a essa última, aliás, volta-se a aferir o seu comportamento perante a socie-
dade, afastando tudo aquilo que diga respeito à prática de infrações penais. Afastando a
possibilidade da valoração desse ponto ser realizada a partir de condenações pretéritas, o
próprio Supremo Tribunal Federal já anotou que ela representa o comportamento do agente
no meio familiar, no ambiente de trabalho e no relacionamento com outros indivíduos. Os
antecedentes sociais do réu não se confundem com os seus antecedentes criminais. São
circunstâncias distintas, com regramentos próprios, razão pela qual não se mostra correto o
magistrado utilizar as condenações anteriores transitadas em julgado como “conduta social
desfavorável”[1].
Como bem registrado no voto da Ministra Relatora, essa condenações tampouco podem
repercutir na esfera da PERSONALIDADE do agente, cuja valoração negativa “deve ser afe-
rida a partir de uma análise pormenorizada, com base em elementos concretos extraídos
dos autos, acerca da insensibilidade, desonestidade e modo de agir do criminoso para a
consumação do delito[2]. A personalidade, pois, é um retrato psíquico do agente, com suas
qualidades morais e sociais.
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Ou seja, pode anotar no seu material a síntese do TEMA 1077, porque ele VAI CAIR NA
SUA PROVA: “Condenações criminais transitadas em julgado, não consideradas para carac-
terizar a reincidência, somente podem ser valoradas, na primeira fase da dosimetria, a título
de antecedentes criminais, não se admitindo sua utilização para desabonar a personalidade
ou a conduta social do agente”.
Espero que tenham gostado e, sobretudo, entendido!
Vamos em frente!
[1] STF, 2ª Turma, RHC 130132, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 10/5/2016.
[2] HC 472.654/DF, Rel. Ministra Laurita Vaz, Sexta Turma, DJe 11/3/2019 e STJ, AgRg
no REsp 1.918.046/SP, Rel. Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, DJe
19/04/2021
[3] STJ, 3ª Seção, EAREsp 1.311.636-MS, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, jul-
gado em 10/04/2019.
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DECISÃO IMPORTANTÍSSIMA
SOBRE COMPETÊNCIA CRIMINAL DA 3ª SEÇÃO DO STJ
Sabemos que competência é um dos três temas mais frequentes nas provas de pro-
cesso penal, com incidência em todas as fases do concurso. E se, para muitos, acompanhar
esse tema é um verdadeiro desafio – e de fato é – atentar para entendimentos consagrados
pela 3ª Seção do STJ – que reúne os Ministros das Turmas Criminais – se revela de rigor.
Isso ganha relevância em relação à alienação fiduciária, pois a posse é desdobrada: (i)
a direta é exercida pelo devedor fiduciário, ao passo que a (ii) indireta é pelo credor. Logo,
apenas o devedor fiduciário pode ser vítima do crime de esbulho possessório do Código Penal.
CUIDADO! Apesar disso, não é correta a ilação de que o credor fiduciário carece de
interesse em relação ao bem esbulhado. Ele só não é vítima. Tanto isso é verdade que, no
plano cível, o credor será legitimado concorrente para ingressar com ação de reintegração
de posse (vide art. 560 do CPC/2015[2]).
Isso é sim extremamente importante. Como acontece na maior parte das vezes, o credor
fiduciário é a Caixa Econômica, empresa pública federal. Logo, se há interesse jurídico dela,
está preenchido requisito do art. 109, IV da CF[3] e a competência é da Justiça Federal,
mesmo a CEF NÃO sendo vítima.
E quando o bem imóvel esbulhado for financiado pelo Programa Minha Casa, Minha
Vida, considerando que a União subsidia esse pagamento, enquanto o bem estiver vinculado
ao programa (vigência do contrato subsidiado por verba federal), haverá também o interesse
direto da União, ratificando a competência da JF.
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Vamos em frente!
[1] Art. 161, II – invade, com violência a pessoa ou grave ameaça, ou mediante con-
curso de mais de duas pessoas, terreno ou edifício alheio, para o fim de esbulho possessório.
§ 2º Se o agente usa de violência, incorre também na pena a esta cominada. § 3º Se a pro-
priedade é particular, e não há emprego de violência, somente se procede mediante queixa.
[2] Art. 560. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação e rein-
tegrado em caso de esbulho.
[3] Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: IV – os crimes políticos e
as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de
suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada
a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral;
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Hoje falaremos sobre uma decisão histórica dentro do âmbito do Superior Tribunal de
Justiça, independentemente da concordância ou não quanto ao seu mérito. A 5ª Turma da
Corte conferiu, à unanimidade, concretude a uma determinação firmada em Resolução da
Corte Interamericana de Direitos Humanos, adotando posicionamento mais ampliativo à luz
do vértice interpretativo pro homine.
Que o Brasil se submete à CIDH não há dúvidas. Entretanto, o ponto de divergência evi-
denciado no caso concreto[2] se referia à extensão dos efeitos dessa Resolução. De acordo
com o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ/RJ), a contagem do prazo em dobro no cum-
primento da pena somente deve se dar a partir de dezembro de 2018, data exata em que o
Brasil fora notificado na edição da Resolução da CIDH.
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NÃO! De acordo com a 5ª Turma, por princípio interpretativo das convenções sobre
direitos humanos, o Estado-parte da CIDH pode ampliar a proteção dos direitos humanos,
por meio do princípio pro personae, interpretando a sentença da Corte IDH da maneira mais
favorável possível aquele que vê seus direitos violados. Esse espírito hermenêutico indica
que a melhor interpretação a ser dada, é pela aplicação a Resolução da Corte Interamericana
de Direitos Humanos, de 22 de novembro de 2018 a todo o período em que cumprida pena
no IPPSC, independentemente da data da notificação.
Isso porque essa Resolução apenas reconheceu uma condição degradante, com as
respectivas consequências, fato esse que deve permitir a consideração de todo o período
contado em dobro. Vale destacar que o o Min. João Otávio Noronha anotou que o princípio
da FRATERNIDADE, de estatura constitucional indica que os direitos e garantias expressos
na Constituição não excluem outros decorrentes do regime e princípios por ela adotados ou
dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte. O horizonte
da fraternidade é, na verdade, o que mais se ajusta com a efetiva tutela dos direitos huma-
nos fundamentais. A certeza de que o titular desses direitos é qualquer pessoa, deve sempre
influenciar a interpretação das normas e a ação dos atores do Direito e do Sistema de Justiça.
Se esse entendimento será aplicado de forma extensiva a outros casos, mormente con-
siderando que o próprio Supremo Tribunal Federal reconheceu que o sistema penitenciário
brasileiro está em Estado de Coisas Inconstitucional não há como saber, apesar de ser uma
tese sedutora.
Entretanto, não há dúvidas, de que esse caso concreto aparecerá nas próximas provas!
Vamos em frente!
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Sabemos que as novidades da Lei Anticrime são essenciais para que possamos gaba-
ritar questões de provas, mormente porque a tendência dos examinadores, nesses anos ini-
ciais de sua vigência, é exigir conhecimento da sua literalidade.
Segundo o STJ, ainda que provavelmente não tenha sido essa a intenção do legisla-
dor, é irrefutável que de lege lata, a incidência retroativa do art. 112, V, da Lei n. 7.210/1984,
quanto à hipótese da lacuna legal relativa aos apenados condenados por crime hediondo ou
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equiparado e reincidentes genéricos, instituiu conjuntura mais favorável que o anterior lapso
de 3/5, a permitir, então, a retroatividade da lei penal mais benigna.
Ou seja, temos um novo TEMA em repetitivos e ele congrega execução penal, impor-
tantes mudanças da lei anticrime e um dos assuntos mais constantes em prova dessa maté-
ria: progressão de regime! Portanto, vai despencar em prova!
Vamos em frente!
[1] Art. 112. A pena privativa de liberdade será executada em forma progressiva com a
transferência para regime menos rigoroso, a ser determinada pelo juiz, quando o preso tiver
cumprido ao menos: I – 16% (dezesseis por cento) da pena, se o apenado for primário e o
crime tiver sido cometido sem violência à pessoa ou grave ameaça; II – 20% (vinte por cento)
da pena, se o apenado for reincidente em crime cometido sem violência à pessoa ou grave
ameaça; III – 25% (vinte e cinco por cento) da pena, se o apenado for primário e o crime tiver
sido cometido com violência à pessoa ou grave ameaça; IV – 30% (trinta por cento) da pena,
se o apenado for reincidente em crime cometido com violência à pessoa ou grave ameaça;
V – 40% (quarenta por cento) da pena, se o apenado for condenado pela prática de crime
hediondo ou equiparado, se for primário; VI – 50% (cinquenta por cento) da pena, se o ape-
nado for: a) condenado pela prática de crime hediondo ou equiparado, com resultado morte,
se for primário, vedado o livramento condicional; b) condenado por exercer o comando, indi-
vidual ou coletivo, de organização criminosa estruturada para a prática de crime hediondo ou
equiparado; ou c) condenado pela prática do crime de constituição de milícia privada; VII –
60% (sessenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente na prática de crime hediondo
ou equiparado; VIII – 70% (setenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime
hediondo ou equiparado com resultado morte, vedado o livramento condicional.
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Segundo o Ministro Jorge Mussi (PExt no HC 166.605/RJ), “evidente que o que move o
agente na prática da concussão é a intenção de obter vantagem indevida, patrimonial ou não,
sem a qual não haveria crime, e, no caso, tendo essa vantagem valor econômico, certo que a
cupidez não poderia ser considerada para aumentar a sanção básica acima do mínimo, pois
inserida na elementar normativa do tipo do art. 316 do CP”.
Então anote porque vai cair em sua prova: De acordo com o entendimento do STJ,
embora inseridos no Código Penal no Título dos crimes contra a administração pública, tanto
a concussão (art. 316, CP) quanto a corrupção passiva (art. 317, CP) possuem várias das
características dos crimes contra o patrimônio, com a peculiaridade da qualificação do agente
como servidor público. Assim sendo, no exame das circunstâncias judiciais envolvendo a
prática desses dois delitos, a jurisprudência desta Corte vem entendendo que a cobiça, a
ganância e a intenção de obter lucro fácil constituem elementares dos delitos, não podendo,
assim, serem utilizadas novamente na apreciação das circunstâncias judiciais para justificar
a elevação da pena-base[3].
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Vamos em frente!
[1] Art. 316 – Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da
função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida: Pena – reclusão, de
2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
[2] Art. 317 – Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda
que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar
promessa de tal vantagem: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
[3] EDv nos EREsp 1196136/RO, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA,
TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 24/05/2017, DJe 01/08/2017.
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Os RIF’s são instrumentos através dos quais dados fiscais são compartilhados quando
se suspeita da prática de ilícitos criminais. No julgamento do RE 1.055.941, o STF enten-
deu – sob a sistemática de repercussão geral, que (i) é constitucional o compartilhamento
dos relatórios de inteligência financeira da UIF e da íntegra do procedimento fiscalizatório da
Receita Federal que define o lançamento do tributo com os órgãos de persecução penal para
fins criminais, sem a obrigatoriedade de prévia autorização judicial, devendo ser resguardado
o sigilo das informações em procedimentos formalmente instaurados e sujeitos a posterior
controle jurisdicional e (ii) o compartilhamento referido no item anterior pela Unidade de Inte-
ligência Financeira e pela Receita deve ser feito unicamente por meio de comunicações for-
mais, com garantia de sigilo, certificação do destinatário e estabelecimento de instrumentos
efetivos de apuração e correção de eventuais desvios.
Entretanto, isso ocorrerá quando o COAF entender haver indícios de atividades sus-
peitas e potencial ilicitude criminal. Mas e quando a conclusão for inversa? Quando o COAF
entender que as movimentações são lícitas e não fizer constar no RIF?
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Vamos em frente!
[1] De acordo com o que consta dos autos, o COAF informou que os saques em espé-
cie, acima de 100 mil, eram realizados semanalmente, mas não resultaram em Relatório de
Inteligência Financeira (RIF).
[2] SOUZA, Alexander Araujo de. O Ministério Público como instituição de garantia: as
funções essenciais do Parquet nas modernas democracias. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
2020, p. 154
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(…) 2. Concluído pelas instâncias antecedentes, com fulcro nos elementos constantes
dos autos e no fato de registrar atos infracionais análogos ao tráfico de entorpecentes, que o
agravante se dedica ao tráfico de drogas, a alteração desse entendimento – para fazer inci-
dir a minorante da Lei de Drogas – enseja o reexame do conteúdo probatório dos autos, o
que é inadmissível em sede de habeas corpus. Precedentes. 3. Conforme entendimento do
Superior Tribunal de Justiça, o registro de atos infracionais é elemento idôneo para afastar
a figura do tráfico privilegiado, quando evidenciar a propensão do agente a práticas crimino-
sas. Precedentes. (…) (AgRg no HC 573.149/SP, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA
TURMA, julgado em 02/06/2020).
Entretanto, como restou bem delineado na decisão do Ministro Joel Ilan Paciornik, rela-
tor do Habeas Corpus 662.834, a possibilidade de utilização de atos infracionais pretéritos
para afastar a referida minorante se dá quando eles forem análogos ao tráfico, a fim de carac-
terizar a dedicação a atividades criminosas.
No caso analisado a situação era diversa. O ato infracional praticado pelo paciente
envolvia a divulgação em redes sociais de vídeos íntimos com menor com que manteve rela-
ções íntimas, vinculando-se ao art. 217-A do Código Penal e art. 241-B, ECA, não podendo
por si apontar dedicação à atividade criminosa do tráfico. Assim, sendo o paciente primá-
rio, sem antecedentes e a quantidade de droga apreendida não sendo de elevada monta,
possível o reconhecimento da aplicação do redutor previsto no § 4º, do art. 33, da Lei nº
11.343/2006[1].
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delitiva, desde que o crime praticado é o mesmo. No caso em tela, porém, os atos infracio-
nais praticados pelo réu enquanto menor de idade e que levaram à condenação não servem
para, por si só, apontar dedicação à atividade criminosa do tráfico.
O assunto, sem dúvidas, ainda está longe de restar pacificado, sendo uma ótima ques-
tão para uma prova discursiva, dissertativa ou oral.
Vamos em frente!
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Falaremos hoje sobre uma importante decisão da lavra da 2ª Turma do Supremo Tribu-
nal Federal, datada do início de maio de 2021, no julgamento do RHC 170843 AgR/SP.
Em uma primeira e rápida análise, o ponto fulcral da decisão não nos oferece pro-
priamente uma novidade. É que segundo o colegiado, não se admite condenação baseada
exclusivamente em declarações informais prestadas a policiais no momento da prisão em
flagrante.
Ora, de acordo com o art. 155 do Código de Processo Penal, “o juiz formará sua con-
vicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fun-
damentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação,
ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas”. Nesse caminhar, se a con-
denação é pautada exclusivamente em informações obtidas no momento da prisão em fla-
grante, temos a violação ao teor do dispositivo supracolacionado.
Ocorre que, ao analisarmos o inteiro teor da decisão acima referenciada, o que se des-
taca avidamente é que o Supremo Tribunal Federal destacou a importância e necessidade de
se observar o direito de advertência ao silêncio também no momento da prisão em flagrante,
sob pena de comprometimento da validade dos elementos de informação obtidos.
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O direito ao silêncio, que assegura a não produção de prova contra si mesmo, cons-
titui pedra angular do sistema de proteção dos direitos individuais e materializa uma das
expressões do princípio da dignidade da pessoa humana. O privilégio contra a autoincrimi-
nação nemo tenetur se detegere, erigido em garantia fundamental pela Constituição além
da inconstitucionalidade superveniente da parte final do art. 186 CPP importou compelir o
inquiridor, na polícia ou em juízo, ao dever de advertir o interrogado do seu direito ao silên-
cio: a falta da advertência – e da sua documentação formal -faz ilícita a prova que, contra si
mesmo, forneça o indiciado ou acusado no interrogatório formal e, com mais razão, em con-
versa informal gravada, clandestinamente ou não[2].
Vamos em frente!
[1] portal.stf.jus.br/processos/downloadPeca.asp?id=15340410508&ext=.pdf
[2] HC 80.949/RJ, rel. Min. SepúlvedaPertence, Primeira Turma, DJe 14.12.2001
[3] RHC 192798 AgR, Relator(a): GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado em
24/02/2021
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Apesar de a persecução penal ser regida pelo princípio da presunção de inocência (ou
não culpabilidade), o fato é que essa extinção anômala do processo deve ser orientada por
cláusula de excepcionalidade, justamente quando a causa para sua verificação restar evi-
denciada de maneira clara.
Conforme muito bem anotado pelo Ministro Antônio Saldanha Palheiro, do STJ, o tran-
camento do processo se revela como medida excepcional, uma vez que a regra é que haja o
regular exercício do direito de ação, no caso da ação penal pública, poder-dever atribuído ao
Ministério Público pela Constituição Federal (art. 129, I). Por isso, somente quando for neces-
sário afastar constrangimento ilegal suportado pelo acusado, nas hipóteses acima referidas,
é que se admitirá o excepcional trancamento da ação penal[1].
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Ou seja, de acordo com a compreensão que se revela majoritária nas Cortes Superio-
res, não é possível encerrar a ação penal apenas em razão da possibilidade de a conduta
ter se dado em legítima defesa, porquanto necessário aferir se houve uso moderado dos
meios necessários a repelir a injusta agressão, bem como se esta agressão era atual ou imi-
nente, nos termos do disposto no art. 25 do Código Penal. A comprovação ou não da legítima
defesa, nos moldes legais, deve ser demonstrada durante a instrução processual, momento
apropriado para o Magistrado exercer seu juízo de convicção acerca dos elementos proba-
tórios juntados aos autos[3].
Pedro, então quer dizer que a legítima defesa JAMAIS pode ensejar trancamento do
processo penal?
CUIDADO! NÃO FOI ISSO QUE EU DISSE! Na verdade, a mera existência de indícios
de causa excludente da ilicitude não pode afastar o direito à instrução processual. Entretanto,
havendo um cenário em que as provas e evidências produzidas e identificadas se revelem
total e integralmente convergentes (como no caso de haver testemunhas presenciais que
confirmassem a versão dos recorridos, por exemplo), seria plenamente possível a realização
excepcional de trancamento do processo criminal.
Vamos em frente!
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Sempre falo que a Lei n. 7.492/1986 – a Lei dos Crimes contra o Sistema Financeiro
Nacional – é uma das mais complexas de serem assimiladas, tanto sob o prisma da compre-
ensão teórica, como também da atuação prática.
ATENÇÃO! Sabe-se que a Lei Anticrime alterou a redação do art. 28 do CPP para
acabar com a atuação do Poder Judiciário no procedimento de arquivamento de investiga-
ções criminais, mas – em razão de liminar concedida pelo STF – tais alterações encontram-
-se suspensas, restando ainda observável a previsão originária do art. 28 do Código.
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Calma! É que no caso apreciado pelo STJ, não houve efetivamente uma atribuição pes-
soal ou a terceiros de falsa identidade. Não houve concretamente uma falsa identidade, pois
se sabia que estava realizado a operação de câmbio. Contudo, o que se constatou é que
essas operações se davam em favor de pessoas que se valiam de outras para fins de registro
e burla legal, tratando-se os adquirentes registrados de meros “laranjas” em favor daqueles
que efetivamente se beneficiavam da aquisição.
Particularmente (ATENÇÃO: trata-se aqui da minha opinião pessoal, com viés voltado
para a Defesa. Claro que se é meu posicionamento, entendo ser ele o correto, mas alerto que
o STJ deliberou em sentido contrário, como já já veremos), penso acertada a tese defensiva
que declinou pela INEXISTÊNCIA DE TIPICIDADE da conduta, e isso por um motivo bas-
tante claro. Parece-me que o ato de se valer de terceiro para a realização de operação de
câmbio NÃO ESTARIA ABRANGIDO pelo tipo do art. 21, Lei 9.492/86 (RELEIA O DISPOSI-
TIVO LÁ EM CIMA), já que não caracterizaria o núcleo do tipo por NÃO HAVER ATRIBUIÇÃO
DE IDENTIDADE FALSA E INEXISTENTE, principalmente em razão da anuência do terceiro
com a aposição verídica de sua assinatura (como foi no caso em tela).
Segundo o Ministro Relator, “a conduta prevista no art. 21, Lei 9.492/86, pressupõe
fraude que tenha o potencial de dificultar ou impossibilitar a fiscalização sobre a operação
de câmbio, com o escopo de impedir ou constatar a prática de condutas delitivas diversas
ou mesmo eventuais limites legais para a aquisição de moeda estrangeira (…). Assim, ainda
que os terceiros tenham anuído com as operações, TAL FATO, POR SI, NÃO É CAPAZ DE
DESCARACTERIZAR O TIPO PENAL, POIS O BEM JURÍDICO RESTOU VIOLADO COM
A DISSIMULAÇÃO DE ESCONDER A REAL IDENTIDADE DO ADQUIRENTE DA MOEDA
ESTRANGEIRA VALENDO-SE DA IDENTIDADE, AINDA QUE VERDADEIRA, DE TER-
CEIROS”[1].
Sendo assim, muita atenção em provas objetivas, em que esse entendimento poderá
ser explorado pelo seu examinador! Em provas discursivas, entretanto, você deverá apresen-
tar as duas correntes e os respectivos argumentos que foram acima detalhados!
Vamos em frente!
[1] O bem jurídico resta violado com a dissimulação de esconder a real identidade do
adquirente da moeda estrangeira valendo-se da identidade, ainda que verdadeira, de tercei-
ros (6ª Turma, REsp 1.595.546-PR, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 2/5/2017).
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O Ministro ainda afirma que o art. 17-D da Lei 9.613/1998, objeto da presente ação,
determina o afastamento do servidor público como consequência necessária e automática do
indiciamento realizado pela autoridade policial, independentemente de qualquer motivação
específica relacionada ao sujeito indiciado, às circunstâncias do crime investigado ou, ainda,
vinculadas a medidas de caráter essencialmente cautelar destinadas à tutela de coletividade.
Trata-se, assim, de medida restritiva de direitos materiais do investigado determinada sem
que haja pedido por qualquer legitimado ou apreciação concreta de sua necessidade e efi-
cácia, fundada tão somente numa consequência legal do ato de indiciamento da autoridade
policial, o que não tem aderência ao texto constitucional e ao sistema acusatório.
Vale registrar que o ato de indiciamento não gera e não pode gerar efeitos materiais
em relação ao indiciado, já que se trata de mero ato de imputação de autoria de natureza
preliminar, provisória e não vinculante ao titular da ação penal. Sendo conclusão havida pela
autoridade policial a partir das investigações, tem natureza meramente descritiva e, conforme
pacífica doutrina, produz apenas efeitos sociais de indicação do indiciado como possível
autor da infração penal.
[1] De acordo com o Ministro, que julgou pela improcedência da ADI e, portanto, pela
constitucionalidade da norma, a atribuição pelo legislador de poder cautelar à autoridade
policial coaduna-se com as funções que lhe foram atribuídas pelo texto constitucional, na
linha da jurisprudência desta Corte que reconhece a necessidade de instrumentos para o
exercício de um dever constitucional a órgãos que não exercem natureza estritamente juris-
dicional. O art. 17-D, da Lei 9.613/1998 não afasta, na visão do Ministro, o princípio constitu-
cional insculpido no art. 5º, XXXV, mas apenas prevê hipótese de jurisdicionalidade diferida,
garantindo simultaneamente os direitos fundamentais do indiciado, bem como o respeito às
competências constitucionais do Poder Judiciário e do Ministério Público. O indiciamento é
ato privativo de Delegado de Polícia e necessariamente fundamentado, não se confundindo
com ato arbitrário ou mesmo discricionário da autoridade policial.
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Hoje vamos falar um pouco sobre (mais) um problema do ponto de vista prático legado
pela Lei Anticrime (Lei n. 13.964/2019), desta feita relacionado à execução penal.
Art. 112. A pena privativa de liberdade será executada em forma progressiva com a
transferência para regime menos rigoroso, a ser determinada pelo juiz, quando o preso tiver
cumprido ao menos: I – 16% (dezesseis por cento) da pena, se o apenado for primário e o
crime tiver sido cometido sem violência à pessoa ou grave ameaça; II – 20% (vinte por cento)
da pena, se o apenado for reincidente em crime cometido sem violência à pessoa ou grave
ameaça; III – 25% (vinte e cinco por cento) da pena, se o apenado for primário e o crime tiver
sido cometido com violência à pessoa ou grave ameaça; IV – 30% (trinta por cento) da pena,
se o apenado for reincidente em crime cometido com violência à pessoa ou grave ameaça;
V – 40% (quarenta por cento) da pena, se o apenado for condenado pela prática de crime
hediondo ou equiparado, se for primário; VI – 50% (cinquenta por cento) da pena, se o ape-
nado for: a) condenado pela prática de crime hediondo ou equiparado, com resultado morte,
se for primário, vedado o livramento condicional; b) condenado por exercer o comando, indi-
vidual ou coletivo, de organização criminosa estruturada para a prática de crime hediondo ou
equiparado; ou c) condenado pela prática do crime de constituição de milícia privada; VII –
60% (sessenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente na prática de crime hediondo
ou equiparado; VIII – 70% (setenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime
hediondo ou equiparado com resultado morte, vedado o livramento condicional.
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Entre as principais que podemos apontar está aquela referente aos crimes hediondos e
equiparados. Em relação a essa espécie delitiva, temos como requisito objetivo basicamente
os seguintes parâmetros:
a. 40% da pena, se o condenado for primário;
b. 50% da pena, se for: a) condenado pela prática de crime hediondo ou equiparado,
com resultado morte, se for primário; b) condenado por exercer o comando, individual ou cole-
tivo, de organização criminosa estruturada para a prática de crime hediondo ou equiparado;
c. 60% da pena, se o condenado for reincidente na prática de crime hediondo ou
equiparado; e
d. 70% da pena, se o condenado for reincidente em crime hediondo ou equiparado com
resultado morte.
Ora, a partir de uma atenta leitura da nova redação do art. 112 da LEP conferida pelo
Pacote Anticrime, constata-se que em seu rol não consta tratamento específico da progres-
são de regime relativa ao condenado pela prática de crime hediondo ou assemelhado, reinci-
dente em razão de precedente condenação por crime que não é hediondo nem assemelhado
(REINCIDENTE GENÉRICO).
Dessa maneira, caso um apenado condenado por crime hediondo que seja reincidente
genérico (já tenha, por exemplo, cometido um crime de furto) esteja cumprindo pena, qual
será o percentual de pena que ele terá que cumprir para progredir de regime?
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rio, qual seja, de 40% (quarenta por cento) ou 50% (cinquenta por cento), na forma do art.
112, insc. V e VI, alínea a, da LEP, a depender do caso (se houve ou não resultado morte).
À ocasião, anotou-se que, em relação aos apenados que foram condenados por crime
hediondo mas que são reincidentes em razão da prática anterior de crimes comuns não há
percentual previsto na Lei de Execuções Penais, em sua nova redação, para fins de progres-
são de regime, visto que os percentuais de 60% e 70% se destinam unicamente aos reinci-
dentes específicos, não podendo a interpretação ser extensiva, vez que seria prejudicial ao
apenado. Assim, por ausência de previsão legal, o julgador deve integrar a norma aplicando
a analogia in bonam partem. No caso (condenado por crime hediondo com resultado morte,
reincidente não específico), diante da lacuna na lei, deve ser observado o lapso temporal
relativo ao primário. Impõe-se, assim, a aplicação do contido no inciso VI, a, do referido artigo
da Lei de Execução Penal, exigindo-se, portanto, o cumprimento de 50% da pena para a pro-
gressão de regime[1].
Vamos em frente!
[1] HC 581.315-PR, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Sexta Turma, por unanimidade,
julgado em 06/10/2020.
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A 6ª Turma do STJ nos brindou com uma interessantíssima decisão no último dia 27 de
abril de 2021, ao julgar o HC 657.382/SC[1], de relatoria da Min. Laurita Vaz. O caso envolvia
apenado que progrediu do semiaberto para o regime aberto e, entre outras condições, deve-
ria comparecer mensal e presencialmente em juízo.
Com a mesma conclusão cite-se trecho das Orientações sobre Alternativas Penais no
âmbito das medidas preventivas à propagação da infecção pelo novo coronavírus (Covid-19),
também elaborada pelo Conselho Nacional de Justiça para disciplinar situação semelhante
à ora analisada[2].
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Vamos em frente!
[1] (…) Vê-se que a suspensão do dever de apresentação mensal em Juízo foi deter-
minada pelo Magistrado em cumprimento à recomendação do Conselho Nacional de Jus-
tiça e à determinação do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina, decorrentes da
situação de pandemia, circunstância alheia à vontade do ora Paciente, de modo que não se
mostra razoável o prolongamento da pena sem que tenha sido evidenciada a participação do
apenado em tal retardamento. 2. O Paciente cumpriu todas as demais condições do regime
aberto, que não foram suspensas, inclusive, permaneceu sujeito às sanções relativas a even-
tual descumprimento, o que reforça a necessidade de se reconhecer o tempo de suspensão
do dever de apresentação mensal em juízo como pena efetivamente cumprida, sob pena
de alargar o período em que o apenado está sujeito à disciplina do regime aberto. 3. Ordem
concedida para reconhecer o lapso temporal em que foi suspensa a apresentação mensal
em juízo como pena efetivamente cumprida pelo Paciente, sobretudo porque cumpridas as
demais condições impostas ao regime aberto (HC 657.382/SC, Rel. Ministra LAURITA VAZ,
SEXTA TURMA, julgado em 27/04/2021).
[2] “No âmbito da execução penal, transação penal e condições impostas por suspen-
são condicional do processo e sursis: (I) Dispensar o comparecimento pessoal para o cum-
primento de penas e medidas alternativas – como a prestação de serviços à comunidade, o
comparecimento em juízo etc. – durante o período da pandemia; (II) Computar o período de
dispensa temporária do cumprimento de penas e medidas alternativas de cunho pessoal e
presencial – como a prestação de serviços à comunidade, o comparecimento em juízo etc. –
durante o período da pandemia, como período de efetivo cumprimento, considerando que a
sua interrupção independe da vontade da pessoa em cumprimento, decorrendo diretamente
de imposição determinada por autoridades sanitárias, além do que a manutenção prolongada
de pendências jurídico-penais tem um efeito dessocializador, em particular quanto as oportu-
nidades de trabalho e renda”.
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Sem dúvida alguma, dentro do tema prisão cautelar, um aspecto que vem sendo cada
vez mais cobrado em provas é o da PRISÃO DOMICILIAR, encapsulada no Capítulo IV do
Título IX do Código de Processo Penal (entre os artigos 317 e 318-B).
Dentro desse espectro, vem ganhando ainda maior relevância prática – naturalmente
com reflexos nas provas – a prisão domiciliar envolvendo presas cautelares gestantes, puér-
peras ou de mães de crianças ou deficientes. Isso porque, desde fevereiro de 2018, quando
o STF concedeu HC Coletivo através da 2ª Turma (HC 143641/SP, Rel. Min. Ricardo Lewan-
dowski – ementa cuja leitura é OBRIGATÓRIA[1]), a conclusão foi de que caberia domiciliar
para todas as mulheres presas que fossem (i) gestantes, (ii) puérperas (que deu à luz há
pouco tempo); (iii) mães de crianças (isto é, mães de menores até 12 anos incompletos) ou
(iv) mães de pessoas com deficiência.
De acordo com o STF, apesar de essa ser a regra, haveria exceções nas quais a domi-
ciliar não estaria autorizada. Não seria cabível quando (i) a mulher tiver praticado crime
mediante violência ou grave ameaça; (ii) 2) a mulher tiver praticado crime contra seus des-
cendentes (filhos e/ou netos); ou (iii) em outras situações excepcionalíssimas, as quais deve-
rão ser devidamente fundamentadas pelos juízes que denegarem o benefício.
Posteriormente, o legislador fez inserir o art. 318-A no CPP (através da Lei 13.769/2018),
segundo o qual a prisão preventiva imposta à mulher gestante ou que for mãe ou responsável
por crianças ou pessoas com deficiência será substituída por prisão domiciliar, desde que (i)
não tenha cometido crime com violência ou grave ameaça a pessoa; (ii) não tenha cometido
o crime contra seu filho ou dependente.
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ATENÇÃO! Em relação à presa reincidente, esse fator não está no rol de vedações e
tampouco se revela como uma circunstância que, por si só, autoriza o tratamento excepcio-
nal. O simples fato de estarmos diante de ré reincidente NÃO afasta o direito consagrado na
jurisprudência e na lei acima indicada. Nesse sentido, recentemente, ao julgar o AgRg no HC
169.406[3], o STF concluiu que a circunstância de a reclusa ostentar a condição de reinci-
dente, por si só, NÃO CONSTITUI ÓBICE AO DEFERIMENTO DA PRISÃO DOMICILIAR.
Vamos em frente!
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Lei 13.146/2015), relacionadas neste processo pelo DEPEN e outras autoridades estaduais,
enquanto perdurar tal condição, excetuados os casos de crimes praticados por elas mediante
violência ou grave ameaça, contra seus descendentes ou, ainda, em situações excepciona-
líssimas, as quais deverão ser devidamente fundamentadas pelos juízes que denegarem o
benefício. XV – Extensão da ordem de ofício a todas as demais mulheres presas, gestantes,
puérperas ou mães de crianças e de pessoas com deficiência, bem assim às adolescentes
sujeitas a medidas socioeducativas em idêntica situação no território nacional, observadas
as restrições acima (HC 143641, Relator(a): RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma,
julgado em 20/02/2018).
[2] STJ, 5ª Turma, HC 470.549/TO, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em
12/02/2019.
[3] 1. O Supremo Tribunal Federal, no julgamento, em 20.02.2018, do Habeas Corpus
nº 143.641/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, concedeu ordem coletiva para determinar
a substituição da custódia preventiva por prisão domiciliar “de todas as mulheres presas,
gestantes, puérperas ou mães de crianças e deficientes (…), enquanto durar tal condição,
excetuados os casos de crimes praticados por elas mediante violência ou grave ameaça,
contra seus descendentes ou, ainda, em situações excepcionalíssimas, as quais deverão
ser devidamente fundamentadas pelos juízes que denegarem o benefício”. 2. A Lei 13.469,
de 19.12.2018, incluiu o artigo 318-A no Código de Processo Penal, para efeito de impor a
substituição da prisão preventiva pelo regime de confinamento domiciliar “à mulher gestante
ou que for mãe ou responsável por crianças ou pessoas com deficiência”, desde que não seja
caso (i) de crimes cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa ou (ii) de infração pra-
ticada contra o filho ou dependente. 3. O regime instituído no art. 318-A do CPP nada mais
reflete senão a projeção, no plano legal, do princípio constitucional que estabelece a garantia
de tutela especial e prioritária à criança, assegurando-lhe, com absoluta primazia, o direito à
convivência familiar (CF, art. 227), bem como exprime manifestação de fidelidade do Estado
brasileiro a compromissos por ele assumidos na arena internacional. 4. A circunstância de a
Agravada ostentar a condição de reincidente, por si só, não constitui óbice ao deferimento
da prisão domiciliar. Precedentes. 5. Presume-se a imprescindibilidade da mãe para com os
cuidados de filho na idade e condições apontadas no presente caso, notadamente quando
em cena criança com apenas 03 anos de idade. Desconstituir essa presunção, para efeitos
processuais penais, passa pelas balizas do artigo 318-A do CPP, que, no caso, não se con-
cretizam. Precedentes. 6. Agravo regimental conhecido e não provido. (HC 169406 AgR,
Relator(a): ROSA WEBER, Primeira Turma, julgado em 19/04/2021).
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O IRDR tem plena aplicabilidade no âmbito do processo penal e a recente decisão exa-
rada pela 6ª Turma do Superior Tribunal de Justiça veio a ratificar essa ideia. Refiro-me aqui
ao REsp 1.869.867/SC, julgado em 20/04/2021.
Em relação ao IRDR, o art. 982, § 5º do CPC prevê que a suspensão dos processos
pendentes apenas cessa caso não seja interposto recurso especial ou recurso extraordinário
contra a decisão proferida no incidente.
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Como bem anotado pela Turma, admitir o prosseguimento dos processos penden-
tes ANTES DO JULGAMENTO dos recursos extraordinários interpostos contra o acórdão
do IRDR poderia ensejar uma multiplicidade de atos processuais desnecessários, sobre-
tudo recursos.
De outra sorte, com a manutenção da suspensão dos processos pendentes até o jul-
gamento dos recursos pelos tribunais superiores, assegura-se a homogeneização das deci-
sões judiciais sobre casos semelhantes, garantindo-se a segurança jurídica e a isonomia de
tratamento dos jurisdicionados.
Vamos em frente!
[1] Art. 1.039. Decididos os recursos afetados, os órgãos colegiados declararão preju-
dicados os demais recursos versando sobre idêntica controvérsia ou os decidirão aplicando
a tese firmada. Parágrafo único. Negada a existência de repercussão geral no recurso extra-
ordinário afetado, serão considerados automaticamente inadmitidos os recursos extraordiná-
rios cujo processamento tenha sido sobrestado.
[2] Art. 1.040. Publicado o acórdão paradigma: I – o presidente ou o vice-presidente do
tribunal de origem negará seguimento aos recursos especiais ou extraordinários sobresta-
dos na origem, se o acórdão recorrido coincidir com a orientação do tribunal superior; II – o
órgão que proferiu o acórdão recorrido, na origem, reexaminará o processo de competência
originária, a remessa necessária ou o recurso anteriormente julgado, se o acórdão recor-
rido contrariar a orientação do tribunal superior; III – os processos suspensos em primeiro e
segundo graus de jurisdição retomarão o curso para julgamento e aplicação da tese firmada
pelo tribunal superior; IV – se os recursos versarem sobre questão relativa a prestação de
serviço público objeto de concessão, permissão ou autorização, o resultado do julgamento
será comunicado ao órgão, ao ente ou à agência reguladora competente para fiscalização
da efetiva aplicação, por parte dos entes sujeitos a regulação, da tese adotada. § 1º A parte
poderá desistir da ação em curso no primeiro grau de jurisdição, antes de proferida a sen-
tença, se a questão nela discutida for idêntica à resolvida pelo recurso representativo da con-
trovérsia. § 2º Se a desistência ocorrer antes de oferecida contestação, a parte ficará isenta
do pagamento de custas e de honorários de sucumbência. § 3º A desistência apresentada
nos termos do § 1º independe de consentimento do réu, ainda que apresentada contestação.
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É importante destacar dois precedentes que servem de arrimo argumentativo para tal
entendimento. O STJ já deliberou que “o artigo 243 da Lei Processual Penal disciplina os
requisitos do mandado de busca e apreensão, dentre os quais não se encontra o detalha-
mento do que pode ou não ser arrecadado“[2], assim como anotou ser “suficiente à delimita-
ção da busca e apreensão é a determinação de que deveriam ser apreendidos os materiais
que pudessem guardar relação estrita com aqueles fatos“[3].
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Vamos em frente!
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Falaremos hoje acerca de um tema importantíssimo e que vem sendo alterado pelas
Turmas Criminais do Superior Tribunal de Justiça. Refiro-me ao rigor da observância dos
parâmetros legais para o reconhecimento de pessoas no processo penal, previsto no art. 226
do CPP[1]. Dentre esses regramentos, podemos destacar a necessidade de (i) prévia des-
crição da pessoa que deverá ser reconhecida, (ii) a colocação, se possível, da pessoa a ser
reconhecida ao lado de outras a ela semelhantes, (iii) a lavratura de auto pormenorizada da
diligência, entre outras formalidades.
Antes de analisar o entendimento dos Tribunais Superiores, vale consignar que – parti-
cularmente – entendo e defendo a posição trazida por parcela da doutrina no sentido de que
a violação às previsões do artigo 226 do CPP deve ensejar o reconhecimento de nulidade!
Na esteira das lições de AURY LOPES JR, “trata-se de uma prova cuja forma de produção
está estritamente definida e, partindo da premissa de que – em matéria processual penal –
forma é garantia, não há espaço para informalidades judiciais”. O professor ainda afirma que
eventuais e arbitrárias simplificações desse procedimento constitui um desprezo à formali-
dade do ato probatório, atropelando as regras do devido processo e, principalmente, violando
o direito de não fazer prova contra si mesmo. Por mais que os tribunais brasileiros façam
vista grossa para esse abuso, argumentando às vezes em nome do “livre convencimento do
julgador”, a prática pode ensejar nulidade”.
Vou dar um exemplo para tentar ilustrar um PÉSSIMO hábito presente no cotidiano
forense. Amiúde, o juiz ou o promotor viram para a vítima ou para uma testemunha que está
sendo ouvida e faz a célebre frase: “você reconhece alguém nessa sala de audiências que
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seria o autor do delito ora analisado”? E ato contínuo há a indicação do réu (que está no
lugar de réu).
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tempo, se fragmentar e, por fim, se tornar inacessível para a reconstrução do fato. O valor
probatório do reconhecimento, portanto, possui considerável grau de subjetivismo, a poten-
cializar falhas e distorções do ato e, consequentemente, causar erros judiciários de efeitos
deletérios e muitas vezes irreversíveis, razão pela qual a observância do procedimento edi-
ficado em lei deve ser rigoroso e atento, de forma a reduzir as chances de equívocos. Com
base nessa realidade, concluiu-se ser, portanto, necessário adotar um novo rumo na compre-
ensão dos Tribunais acerca das consequências da atipicidade procedimental do ato de reco-
nhecimento formal de pessoas, não mais se podendo referendar a jurisprudência que afirma
se tratar de mera recomendação do legislador, o que acaba por permitir a perpetuação desse
foco de erros judiciários e, consequentemente, de graves injustiças.
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contida no inciso II do art. 226 do CPP, a colocação de pessoas semelhantes ao lado do sus-
peito será feita sempre que possível, devendo a impossibilidade ser devidamente justificada,
sob pena de invalidade do ato.
O reconhecimento fotográfico serve como prova apenas inicial e deve ser ratificado por
reconhecimento presencial, assim que possível. E, no caso de uma ou ambas as formas de
reconhecimento terem sido efetuadas, em sede inquisitorial, sem a observância (parcial ou
total) dos preceitos do art. 226 do CPP e sem justificativa idônea para o descumprimento do
rito processual, ainda que confirmado em juízo, o reconhecimento falho se revelará incapaz
de permitir a condenação, como regra objetiva e de critério de prova, sem corroboração do
restante do conjunto probatório, produzido na fase judicial.
Tema importantíssimo!
Vamos em frente.
[1] Art. 226. Quando houver necessidade de fazer-se o reconhecimento de pessoa, pro-
ceder-se-á pela seguinte forma: I – a pessoa que tiver de fazer o reconhecimento será convi-
dada a descrever a pessoa que deva ser reconhecida; II – a pessoa, cujo reconhecimento se
pretender, será colocada, se possível, ao lado de outras que com ela tiverem qualquer seme-
lhança, convidando-se quem tiver de fazer o reconhecimento a apontá-la; III – se houver
razão para recear que a pessoa chamada para o reconhecimento, por efeito de intimidação
ou outra influência, não diga a verdade em face da pessoa que deve ser reconhecida, a auto-
ridade providenciará para que esta não veja aquela; IV – do ato de reconhecimento lavrar-
-se-á auto pormenorizado, subscrito pela autoridade, pela pessoa chamada para proceder ao
reconhecimento e por duas testemunhas presenciais. Parágrafo único. O disposto no no III
deste artigo não terá aplicação na fase da instrução criminal ou em plenário de julgamento.
[2] HC 278.542/SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Sexta Turma, DJe 18/08/2015.
[3] AgRg no REsp 1444634/SP, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA TURMA,
julgado em 01/06/2017.
[4] HC 598.886/SC, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado
em 27/10/2020.
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EXAME CRIMINOLÓGICO
No texto de hoje vamos falar um pouco sobre esse importante instituto que despenca
em provas e ainda hoje suscita dúvidas nos estudantes. Refiro-me, naturalmente, ao exame
criminológico.
O pano de fundo foi o caso concreto apreciado pela 6ª Turma do Superior Tribunal de
Justiça no julgamento do AgRg no HC 625.449/SP[1]. Na situação concreto, o Tribunal de
Justiça havia cassado a decisão originária que concedera livramento condicional. Ato contí-
nuo, houve determinação pela Corte de realização de EXAME CRIMINOLÓGICO para cons-
tatação do requisito subjetivo.
Por sua vez, a defesa anotou que tal decisão violaria a Súmula 439 do STJ[2], sob o
argumento de que determinar a realização do exame criminológico, com base em uma gra-
vidade abstrata, e em fundamento inidôneo, vai de encontro com o objetivo maior da Lei de
Execução Penal, qual seja a ressocialização do apenado.
Vale destacar que o fundamento da decisão do Tribunal de Justiça foi de que “os crimes
cometidos pelo agravante são graves, envolvendo reiteração criminosa em crimes patrimo-
niais com exercício de violência ou grave ameaça, aparentando fazer do crime modo de vida.
Desse modo, maior cautela deve haver para o deferimento de qualquer benefício, exigindo
uma análise mais detalhada, sobretudo quanto ao requisito subjetivo”.
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Por isso, no caso ora comentado, fora restabelecida a decisão originária e a efetivação
do livramento condicional sem prévio exame criminológico.
Espero que tenham entendido! É entendimento pacífico e você não pode errar, bacana?
Vamos em frente!
[1] (…) 1. Esta Corte Superior entende que não é idôneo o Tribunal estadual cassar a
decisão do Juiz da Execução Penal que concedeu o livramento condicional da pena em favor
do paciente, para condicionar esse benefício penal à realização prévia do exame criminoló-
gico, sob argumentação genérica, baseada na gravidade abstrata dos crimes, faltas discipli-
nares já reabilitadas, e na probabilidade de reincidência, não apontando elementos concretos
extraídos da execução da pena, que pudessem justificar a necessidade do referido exame
técnico. 2. Não foi apresentada fundamentação válida para o exame criminológico, porque,
da leitura do acórdão, extrai-se que, embora preenchido o requisito objetivo, o Tribunal a
quo entendeu ser necessária a submissão do paciente à exame criminológico, porquanto os
crimes cometidos pelo agravante são graves, envolvendo reiteração criminosa em crimes
patrimoniais com exercício de violência ou grave ameaça, aparentando fazer do crime modo
de vida. Desse modo, maior cautela deve haver para o deferimento de qualquer benefício,
exigindo uma análise mais detalhada, sobretudo quanto ao requisito subjetivo. 3. Agravo
regimental improvido. (AgRg no HC 625.449/SP, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA
TURMA, julgado em 15/12/2020).
[2] Súmula 439 do STJ – Admite-se o exame criminológico pelas peculiaridades do
caso, desde que em decisão motivada.
[3] (…) 1. Na hipótese, o Tribunal a quo entendeu pela necessidade de realização de
exame criminológico, em razão da reincidência do apenado, da gravidade abstrata do delito
(roubo) e da longa pena a cumprir. Todavia, nos termos da jurisprudência desta Corte Supe-
rior, fundamentos abstratos e genéricos, como os apresentados pela Corte de origem, não
justificam a exigência de exame criminológico, bem como a análise do preenchimento do
requisito subjetivo somente poderá fundar-se em fatos praticados durante a execução penal.
2. Agravo regimental improvido (AgRg no HC 590.322/SP, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS
JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 18/08/2020).
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Hoje falaremos sobre a recentíssima decisão exarada pela 5ª Turma do Superior Tribu-
nal de Justiça no julgamento do HC 619.776/DF, à unanimidade, realizado no último dia 20
de abril de 2021.
A resposta é NEGATIVA, de acordo com a 5ª Turma do STJ. Ora, como bem assinalado
pelo colegiado, o legislador se limitou em punir – basicamente – o ingresso ou o auxílio na
introdução de APARELHO TELEFÔNICO MÓVEL OU SIMILAR em estabelecimento prisio-
nal, não fazendo referência a qualquer outro componente ou acessório utilizado para viabili-
zar o funcionamento desses equipamentos. Nesse contexto, em decorrência da principiolo-
gia básica do direito penal (legalidade), na falta de lei prévia que defina o ingresso de chip em
estabelecimento prisional como comportamento típico (nullum crimen sine lege), impõe-se a
absolvição pelo delito previsto no art. 349-A do Código Penal.
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É que, para fins de definição de falta grave na execução da pena, a LEP prevê o seguinte:
Art. 50. Comete falta grave o condenado à pena privativa de liberdade que: VII – tiver
em sua posse, utilizar ou fornecer aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a
comunicação com outros presos ou com o ambiente externo.
Ora, vimos que a 5ª Turma deliberou por interpretar semelhante dispositivo de maneira
estrita. Contudo, para fins de verificação de falta grave, a jurisprudência reiterada do Supremo
Tribunal Federal e do próprio STJ milita em sentido diverso, ou seja, de modo a abranger não
apenas os telefones celulares, mas também seus componentes essenciais (como por exem-
plo carregador, CHIP, placa eletrônica, entre outros)[1].
Não! Sem dúvidas, isso PODE acontecer, mas – por ora – a decisão deve se limitar ao
conteúdo da tipificação do art. 347-A, não interferindo necessariamente no conceito ampliado
de falta grave. No entanto, temos sem dúvidas mais um argumento de força para sustentar
essa tese.
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Vamos em frente.
[1] STJ, 5ª Turma, HC 260122-RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em
21/3/2013.
[2] STJ, 5ª Turma, REsp 1457292/RS, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 04/11/2014.
[3] AgInt no HC 532.846/SC, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado
em 03/12/2019.
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Justamente por conta dessa percepção, é que a doutrina sempre sustentou a possibi-
lidade de flexibilização pontual desse entendimento, o que era eventualmente agasalhado
pelo STJ. Segundo a Corte, a despeito da inexistência de previsão legal para a detração
penal na hipótese de submissão do sentenciado a medidas cautelares diversas da prisão, o
PERÍODO DE RECOLHIMENTO DOMICILIAR NOTURNO, por comprometer o status liberta-
tis, deve ser detraído da pena em observância aos princípios da proporcionalidade e do non
bis in idem[2].
Para o órgão, embora o recolhimento domiciliar noturno e nos dias de folga, juntamente
com o uso de tornozeleira eletrônica – previstos no artigo 319, incisos V e IX, do Código
de Processo Penal (CPP) –, não constituam pena privativa de liberdade, as limitações a
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Segundo a Ministra Laurita Vaz, “interpretar a legislação que regula a detração de forma
que favoreça o sentenciado harmoniza-se com o princípio da humanidade, que impõe ao juiz
da execução penal a especial percepção da pessoa presa como sujeito de direitos”.
Vamos em frente.
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Já tivemos a oportunidade de falar aqui mesmo no blog e em nossas aulas que, desde
a vigência da Lei Anticrime, diversas polêmicas passaram a ser travadas no ambiente dou-
trinário e, logicamente, também no jurisprudencial. Um dos tópicos que salientávamos era
justamente a manutenção ou não do entendimento anteriormente consagrado nos Tribunais
Superiores, mesmo na vigência da Lei 12.403/2011, quanto à manutenção da possibilidade
de conversão da prisão em flagrante em preventiva de ofício – ou seja, sem representação ou
requerimento do Delegado de Polícia e do membro do Ministério Público, respectivamente.
Esse entendimento era pacífico nos Tribunais, apesar de criticado fortemente por par-
cela significativa da doutrina, que enxergava nessa possibilidade uma violação ao contradi-
tório. Entretanto, com o pacote anticrime e o processo por mim chamado de densificação do
sistema acusatório, a 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal e a 5ª Turma do STJ passaram
a entender não mais fazer sentido lógico admitir a conversão do flagrante em preventiva
de ofício.
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Para a maioria dos Ministros, mesmo que o inciso II do artigo 310 do CPP, que trata da
audiência de custódia, permita converter a prisão em flagrante em preventiva se presentes
os requisitos do artigo 312 e se outras cautelares se revelarem insuficientes, é preciso que
haja alguma representação. A não ocorrência da audiência de custódia por qualquer razão
ou eventual ausência do representante do Ministério Público NÃO AUTORIZA que o juiz
converta a prisão sem que haja o pedido — pedido este que, inclusive, pode ser formulado
independentemente da audiência. A interpretação do art. 310, II, do CPP deve ser realizada
à luz do art. 282, § 2º e do art. 311, significando que se tornou inviável, mesmo no contexto
da audiência de custódia, a conversão, de ofício, da prisão em flagrante de qualquer pessoa
em prisão preventiva, sendo necessária, por isso mesmo, para tal efeito, anterior e formal
provocação do Ministério Público, da autoridade policial ou, quando for o caso, do querelante
ou do assistente do MP.
Beleza, Pedro! Mas por que você disse que havia uma decisão da 5ª Turma que poderia
fragilizar esse entendimento?
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Entendimento bastante polêmico, mas que tende (aqui é mera especulação) em minha
opinião a prevalecer também na 6ª Turma. Aguardemos as novidades!
Vamos em frente!
[1] HC 583.995/MG, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, Rel. p/ Acórdão Ministro ROGE-
RIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 15/09/2020.
[2] STJ, 3ª Seção, RHC 131263, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 24/02/2021.
[3] AgRg no RHC 136.708/MG, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado
em 16/03/2021.
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ATENÇÃO AO STJ!
Vamos tratar de um tema “com cara de prova” e que muita gente não domina no âmbito
do processo penal. E se você quer se antecipar a questões de concurso, redobra as atenções
porque desse assunto podemos vislumbrar vários enunciados a serem criados pelo seu exa-
minador, tanto no tópico “provas em espécie”, como também (especialmente) nas assertivas
relacionadas ao procedimento do Tribunal do Júri.
SIM! Particularmente, não tenho a menor simpatia por esse instrumento, mas por dever
de ofício tenho obrigação de consignar que prevalece o entendimento quanto à admissibili-
dade. No entanto, em uma prova de Defensoria Pública (ATENÇÃO), se você quiser ques-
tionar a legitimidade dessa prova, o melhor argumento para tanto é a violação concreta ao
contraditório via exame cruzado das provas testemunhais (art. 212 CPP), já que restará invia-
bilizado o pleno confrontamento dos fatos, já que aquela testemunha “nada sabe, apenas
ouviu dizer”, certo?
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menos excepcionalmente) tal modalidade de prova. Ainda assim, vale registrar a pertinente
crítica de Hélio Tornaghi, que assevera que esse tipo de depoimento “não se pode tolerar
que alguém vá a juízo repetir a vox publica .Testemunha que depusesse para dizer o que lhe
constou, o que ouviu, sem apontar seus informantes, não deveria ser levada em conta”[1].
Nesse caso concreto, fora cunhada a conclusão de que não se pode admitir a pronún-
cia do réu, dada a sua carga decisória, sem qualquer lastro probatório colhido em juízo, fun-
damentada exclusivamente em prova colhida na fase inquisitorial, mormente quando essa
prova se encontra isolada nos autos.
Segundo bem anotou o Relator (Ministro Rogério Schietti Cruz), no caso ora analisado
pode-se inferir que, além de a pronúncia não ter supedâneo em qualquer “prova judicializada”
(apenas em testemunha de ouvir dizer ouvida na investigação), há o agravante de que os
únicos testemunhos judiciais produzidos não apontam os recorrentes como autores do delito.
Na verdade, o Tribunal estadual destaca que mesmo os depoimentos produzidos na fase
inquisitorial são “relatos baseados em testemunho por ouvir dizer, […] que não amparam a
autoria para efeito de pronunciar os denunciados“.
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Vamos em frente!
[1] TORNAGHI, Hélio. Instituições de processo penal. v. IV. Rio de Janeiro: Forense,
1959, p.461.
[2] REsp 1373356/BA, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, jul-
gado em 20/04/2017.
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A grande celeuma apreciada pela Corte Superior se vinculava ao termo final de duração
da suspensão do prazo prescricional quando da expedição de carta rogatória. Vale rememo-
rar que a carta rogatória é instrumento jurídico para comunicação entre as Justiças de países
diferentes. Quando há a necessidade de cumprimento de uma diligência do processo em
outro país – por exemplo, o depoimento de uma testemunha que mora no exterior – é enviada
uma Carta Rogatória para formalização do ato processual.
Art. 368. Estando o acusado no estrangeiro, em lugar sabido, será citado mediante
carta rogatória, suspendendo-se o curso do prazo de prescrição até o seu cumprimento.
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Acerca dessa segunda corrente, vale destacar que o enunciado de súmula exarado
pelo Supremo Tribunal Federal prevê que, no âmbito do processo penal, os prazos contam-
-se da data da intimação, não da juntada aos autos do mandado ou da carta precatória ou
de ordem, valendo o mesmo raciocínio para a carta rogatória. Isso, aliás, como bem coloca a
defesa, tem por base a regra específica do art. 798, § 5º, “a”, do CPP, que diferencia a siste-
mática adotada para os processos criminais em relação aos processos cíveis.
Apesar de reconhecer que a redação problemática e pouco precisa do art. 368 do CPP
propicia ambas as interpretações de forma razoável, o fato é que a 5ª Turma do STJ terminou
por, à unanimidade, agasalhar a segunda corrente.
De acordo com o colegiado, o art. 368, do CPP, embora seja claro ao estabelecer a sus-
pensão do prazo prescricional pela expedição de carta rogatória para citação do acusado no
exterior, não é preciso quanto ao termo final da referida suspensão, devendo ser interpretado
de forma sistemática, com o art. 798, § 5º, “a”, do CPP, bem como com a Súmula 710, do STF,
voltando a correr o lapso prescricional da data da efetivação da comunicação processual no
estrangeiro, ainda que haja demora para a juntada da carta rogatória cumprida aos autos[3].
Se liga, porque eu não tenho a menor dúvida de que esse tema despencará nas próxi-
mas provas!
[1] Curso de Processo Penal, 20ª edição, São Paulo: Saraiva, 2013.
[2] LIMA, Renato Brasileiro de. Código de Processo Penal Comentado, 2ª edição, Sal-
vador: Juspodivm, 2017.
[3] REsp 1.882.330/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, Quinta Turma, por unanimidade, jul-
gado em 06/04/2021.
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Hoje é dia de aplicarmos – mais uma vez – um de nossos mantras mais constantes: gos-
tando ou não, o fato é que nomenclatura em prova de concurso público é questão de sobre-
vivência. Sendo assim, vamos analisar e conhecer mais uma dessas teorias “pouco usuais”.
Aliás, a Teoria do Three strikes and you´re out” já foi cobrada em prova para o ingresso
na carreira de Promotor de Justiça do Ministério Público de Goiás.
É que no referido esporte, quando um jogador comete sua terceira falta dentro do
mesmo jogo, há sua respectiva exclusão da partida. Essa lógica, de acordo com a doutrina
criminalista ora analisada, deve ser trazida para o direito penal visando à efetiva prevenção
à prática do crime.
O sujeito que viesse a praticar o terceiro “strike” seria punido de maneira impiedosa, e
não teria direito a usufruir qualquer benefício da execução penal. Nos Estados Unidos, aliás,
esse cidadão teria uma punição variável de 25 anos à prisão perpétua, devendo cumprir (no
mínimo) 85% do total aplicado.
No Brasil, em razão das já altas penas máximas existentes nos preceitos secundários
dos nossos tipos penais, os defensores da referida teoria se voltam sobretudo aos menores
infratores, atualmente regidos sobre o Estatuto da Criança e Adolescente.
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A frequência escolar absolutamente obrigatória, portanto, nos daria uma dupla garantia:
a primeira consiste no recolhimento físico do menor a um estabelecimento de ensino, diaria-
mente, das 8 às 18h (ele não ficará perambulando pelas ruas); a segunda reside na formação
educativa e profissionalizante do menor, que sairá da escola com excelente preparo (com
isso também resolveríamos o problema grave da falta de mão de obra qualificada no nosso
país). Existe, portanto, um efeito preventivo imediato (recolhimento obrigatório a estabeleci-
mento de ensino), assim como um efeito preventivo de longo prazo (formação educativa e
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Vamos em frente!
[1] CORDEIRO, Alexandre. Teorias legitimadoras da pena como critério inicial da ativi-
dade judicial de individualização. Disponível em: http://jusvi.com/artigos/26108.
[2] ALMEIDA, Débora de Souza de. “Three strikes and you’re out”. A vitimização da
democracia substancial na cruzada contra a reincidência criminal. Jus Navigandi, Teresina,
ano 16, n. 2854, 25 abr. 2011. Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/18971>.
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Falaremos hoje sobre um tema relativamente antigo (analisado em 2017), porém extre-
mamente importante e bacana para aparecer em provas de concursos públicos, especial-
mente porque envolve diálogos entre matérias jurídicas diversas.
O tema foi apreciado em um caso concreto que envolvia discussão em Recurso Extra-
ordinário acerca atipicidade ou não dos jogos de azar, cuja previsão formal e objetiva se
encontra na Lei de Contravenções Penais, da década de 40 do século passado.
Tudo isso em razão da redação do novel artigo 1.035 do NCPC, especialmente em seu
parágrafo 5º. Vejamos:
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Não! Essa questão também foi enfrentada pelo Plenário e consolidou-se a tese de que
a suspensão se aplica exclusivamente na ação penal, não se incidindo em relação aos inqué-
ritos policiais ou outros procedimentos investigatórios criminais. ATENÇÃO: Também não
serão suspensos os processos penais em que haja réu preso!
Qual era mesmo, Pedro? Tanta coisa que a gente termina se perdendo!
Então vamos nos achar! A dúvida é: caso determinada a suspensão dos processos em
face da repercussão geral, vamos ter suspensão do prazo prescricional?
O Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF), por maioria de votos, decidiu que é pos-
sível a suspensão do prazo prescricional em processos penais sobrestados em decorrência
do reconhecimento de repercussão geral. A suspensão do prazo prescricional ocorrerá a
partir do momento em que o relator implementar a regra prevista do Código de Processo Civil.
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São alguns, mas o mais relevante e forte, em minha visão, foi o utilizado pelo Ministro
Fachin. Segundo ele, impor barreiras ao fluxo do prazo prescricional legalmente estabele-
cido significa ampliar o poder punitivo estatal, o que só pode ocorrer, segundo o ministro, por
edição de lei.
Nas precisas palavras do jurista, “à mingua de uma previsão legal em sentido formal, a
suspensão do fluxo do lapso temporal prescricional não pode ocorrer”.
Vamos em frente!
[1] Art. 116 – Antes de passar em julgado a sentença final, a prescrição não corre: I –
enquanto não resolvida, em outro processo, questão de que dependa o reconhecimento da
existência do crime;
[2] RE 966177 RG/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 7/6/2017.
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Vamos tratar hoje de um tema polêmico, mas que vem recebendo entendimento mais
uniforme atualmente nos Tribunais Superiores. Refiro-me aqui à importação de pequena
quantidade de frutos aquênios ou, como normalmente são conhecidos, de sementes de
maconha. Será que essa conduta é típica?
Atualmente, ela é complementada pela Portaria 344/98 da Anvisa. Não basta, pois, que
uma substância ou produto seja capaz de causar dependência para se inserir no contexto
criminal de drogas, sendo imprescindível que esteja no rol definido pelo Poder Executivo,
periodicamente atualizado.
Ao contrário do que muita gente pensa, a referida Portaria não traz a maconha pro-
priamente como substância considerada droga, mas sim o tetrahidrocanabinol (THC), que é
a substância psicoativa presente da maconha (cannabis sativa). Ocorre que a semente de
maconha NÃO possui em sua estrutura o THC. Ou seja, ao contrário da planta da maconha
– que ostenta THC – a semente dela não pode ser considerada droga, de acordo com os
critérios legais.
A resposta é negativa, visto que não se prepara ou produz droga com a semente de
maconha. Como bem assinalou o Ministro Gilmar Mendes, “na doutrina, afirma-se que a
matéria-prima, conforme Vicente Greco Filho e João Daniel Rassi, é a substância de que
podem ser extraídos ou produzidos os entorpecentes que causem dependência física ou
psíquica (GRECO FILHO, Vicente; RASSI, João Daniel. Lei de drogas anotada.3ª edição.
São Paulo: Saraiva, 2009. p. 99). Ou seja, a matéria-prima ou insumo devem ter condições
e qualidades químicas para, mediante transformação ou adição, por exemplo, produzirem a
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droga ilícita, o que não é o caso das sementes da planta Cannabis sativa, que não possuem
a substância psicoativa (THC)”[1].
Na visão da maior parte dos julgados do STF[3], não! E nesse sentido também – não
sem antes alguma controvérsia – se solidificou a posição do STJ, tendo a 3ª Seção da Corte
assim consagrado:
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Vamos em frente!
[1] http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=752291888
[2] Art. 34. Somente poderão ser importadas sementes ou mudas de cultivares inscritas
no Registro Nacional de Cultivares.
[3] Habeas corpus. 2. Importação de sementes de maconha. 3. Sementes não pos-
suem a substância psicoativa (THC). 4. 26 (vinte e seis) sementes: reduzida quantidade de
substâncias apreendidas. 5. Ausência de justa causa para autorizar a persecução penal. 6.
Denúncia rejeitada. 7. Ordem concedida para determinar a manutenção da decisão do Juízo
de primeiro grau. (HC 144161, Relator(a): GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado em
11/09/2018).
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Art. 218-B. Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra forma de exploração sexual
alguém menor de 18 (dezoito) anos ou que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem
o necessário discernimento para a prática do ato, facilitá-la, impedir ou dificultar que a aban-
done: Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos. §1o Se o crime é praticado com o fim
de obter vantagem econômica, aplica-se também multa. § 2o Incorre nas mesmas penas: I
– quem pratica conjunção carnal ou outro ato libidinoso com alguém menor de 18 (dezoito)
e maior de 14 (catorze) anos na situação descrita no caput deste artigo; II – o proprietário,
o gerente ou o responsável pelo local em que se verifiquem as práticas referidas no caput
deste artigo.
De acordo com a 5ª Turma do STJ, o crime supratranscrito exigia para sua consuma-
ção, de forma inexorável e intransponível, a presença de um terceiro como agenciador ou
intermediário. Ou seja, não seria possível adequar ao tipo do art. 218-B do CPB a a conduta
daquele que aborda diretamente suas vítimas para a satisfação de lascívia própria.
De acordo com essa compreensão, quando a conduta do agente visar tão somente à
satisfação da própria lascívia, tal conduta não se amoldaria ao tipo penal descrito no artigo
218-B, § 2o, inciso I, do Código Penal – apesar da imoralidade e reprovabilidade do compor-
tamento – que visa punir quem assume a posição de “cliente” e aufere lucro a terceiro, que
explora a prática de serviço sexual[1].
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Entretanto, conforme salientado, caminho diverso era militado pela 6ª Turma da Corte,
também especializada em direito criminal. Segundo o seu entendimento, o inciso I do § 2º do
art. 218-B do Código Penal é claro ao estabelecer que também será penalizado aquele que,
ao praticar ato sexual com adolescente, o submeta, induza ou atraia à prostituição ou a outra
forma de exploração sexual. Dito de outra forma, enquadra-se na figura típica quem, por meio
de pagamento, atinge o objetivo de satisfazer sua lascívia pela prática de ato sexual com
pessoa maior de 14 e menor de 18 anos. A leitura conjunta do caput e do § 2º, I, do art. 218-B
do Código Penal não permite identificar a exigência de que a prática de conjunção carnal
ou outro ato libidinoso com adolescente de 14 a 18 anos se dê por intermédio de terceira
pessoa. Basta que o agente, mediante pagamento, convença a vítima, dessa faixa etária, a
praticar com ele conjunção carnal ou outro ato libidinoso[2].
Vamos em frente!
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Recentemente, fora veiculada notícia indicando que o Ministro Luís Roberto Barroso,
do Supremo Tribunal Federal, ajustara os termos da medida cautelar concedida na ADPF
527, determinando que presas transexuais e travestis com identidade de gênero feminino
POSSAM OPTAR (direito de escolha) por cumprir penas em estabelecimento prisional femi-
nino ou masculino.
Nesse último caso, elas devem ser mantidas em área reservada, como garantia de
segurança. De acordo com estudos mais recentes, entre eles a nota técnica 07/2020 do MJ/
Segurança Pública, seria possível aferir que o ideal é que a transferência ocorra mediante
consulta individual da travesti ou da pessoa trans. A nota técnica também defende que a
transferência seja feita após a manifestação de vontade da pessoa presa.
Antes, a determinação do Ministro não era conferir o direito de escolha, mas indicar as
presas transexuais femininas fossem transferidas para presídios femininos.
Esse caso me fez recordar da decisão monocrática do Min. Rogério Schietti do STJ,
quando ele deferiu o pedido de escolha de presa trans para ser levada a penitenciária femi-
nina. Um dos nortes da decisão do Ministro foram os PRINCÍPIOS DE YOGYAKARTA, que
prevê ser a orientação sexual e a identidade de gênero são essenciais para a dignidade e
humanidade de cada pessoa e não devem ser motivo de discriminação ou abuso.
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Não se trata de um tema fácil e tampouco pacífico. Entretanto, sem dúvidas, caso apa-
reça em provas de concurso público, temos deliberações de Ministros do STJ e do STF indi-
cando que travestis e mulheres trans devem ficar em estabelecimento feminino, mormente
se assim for a sua vontade expressada.
Vamos em frente!
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Conforme venho alertando desde que entrou em vigência a Lei Anticrime (Lei n.
13.954/2019), um dos aspectos mais relevantes em relação ao novo Acordo de Não Perse-
cução Penal, regrado no art. 28-A do CPP, é a sua aplicação no tempo.
Para analisar de forma completa, é preciso fazer uma recapitulação acerca da aplica-
ção da lei processual penal no tempo. A lei processual penal é norteada, no que tange a sua
aplicabilidade no tempo, por dois postulados fundamentais: (a) princípio da imediatidade e (b)
princípio do isolamento dos atos processuais.
Essa lógica é extraída do art. 2º do CPP, segundo o qual “a lei processual penal apli-
car-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência da lei ante-
rior”. É dizer, portanto, que se estivermos diante de uma norma genuinamente processual,
ela terá aplicabilidade no dia de sua vigência, devendo ser observada para os processos em
curso. Entretanto, os atos já praticados sob a égide da legislação anterior, serão considera-
dos válidos e serão conservados, ou seja, não é necessário repeti-los com a nova orientação
normativa.
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No âmbito do Superior Tribunal de Justiça, ao longo de 2020, houve uma clara diver-
gência entre a 5ª e 6ª Turmas. A primeira tem ventilado a retroatividade do ANPP em pro-
cessos em curso SOMENTE até o recebimento da denúncia, ao passo que a outra vinha
admitindo a retroatividade do ANPP aos processos em curso até o TRÂNSITO em julgado.
Vejamos esquematicamente:
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Ainda resta pendente a deliberação do Pleno do Supremo Tribunal Federal, mas – cada
vez mais – se consolida a impressão de que essa será a tese que deverá prevalecer.
Vamos em frente!
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Vale atentar para a Súmula 422 do STF que indica que a “absolvição criminal não preju-
dica a medida de segurança, quando couber, ainda que importe privação da liberdade”.
Com a reforma efetivada na parte geral do nosso Código Penal pela Lei n. 7.209/1984,
alterou-se esse entendimento, com importantes reflexos para o semimputável. Em relação a
ele, haverá a prolação de uma sentença condenatória, podendo haver a diminuição de 1/3 a
2/3, conforme parágrafo único do artigo 26 do CPB.
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Diante dessa alteração legislativa, afirma-se que o legislador pátrio passou a adotar
expressamente o Sistema VICARIANTE ou UNITÁRIO, superando o sistema do duplo biná-
rio. Assim, ao semimputável será aplicada a pena reduzida de 1/3 a 2/3 OU a medida de
segurança, conforme seja mais adequado ao caso. É dizer, pois, que NÃO MAIS É ADMITIDA
A PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE E MEDIDA DE SEGURANÇA, ainda que em sequência.
Entendi, Pedro! Mas vamos imaginar a seguinte situação. João cumpre uma pena priva-
tiva de liberdade em razão de ter cometido a crime X. Durante o cumprimento da pena, vem
a ser condenado em outra ação penal (desta feita pelo crime Y), culminando com o reconhe-
cimento de sua semimputabilidade!
Pode o juiz fixar medida de segurança ou isso seria violação ao sistema vicariante?
De acordo com o entendimento adotado, pois, o sistema vicariante ora vigente é óbice
para a fixação cumulativa de medida de segurança e pena privativa de liberdade ao semim-
putável PELO MESMO FATO! Lado outro, como na situação concreta apreciada, se as san-
ções diversas se revelarem oriundas de fatos também diversos, não há que se falar em vio-
lação ao sistema vicariante!
Vamos em frente!
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Hoje vamos tratar de uma nomenclatura pouco usual, mas que tem aparecido em provas
de concurso público. Exemplo concreto e recente disso foi a prova oral para ingresso como
membro do Ministério Público de Minas Gerais, provas essa realizada em 2020.
A ponte de ouro está presente, entre nós, no art. 15 do CPB[1], nos institutos do arre-
pendimento eficaz e desistência voluntária. Segundo ele, o agente que, voluntariamente,
desiste de prosseguir na execução (DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA) ou impede que o resul-
tado se produza (ARREPENDIMENTO EFICAZ), só responde pelos atos já praticados.
Calma, chegaremos lá! O importante, por ora, é que você perceba e assimile que nas
tradicionais pontes de ouro – acima referenciadas – o início da execução da infração penal é
imprescindível para sua materialização. Dizendo de outra forma, no iter criminis[2] o agente
precisa ter adentrado na etapa da execução.
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Justamente por esse peculiar momento de sua ocorrência, diferentemente das outras
situações, é que esse novo dispositivo da Lei Antiterrorismo é considerado como PONTE DE
OURO ANTECIPADA!
Vamos em frente!
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Nesse contexto, vamos tratar sobre DETRAÇÃO ANALÓGICA VIRTUAL, tema que já
apareceu em alguns certames, como por exemplo na prova do Ministério Público do Estado
do Rio de Janeiro.
Diante do fato de o acusado ter ficado preso (quando não era cabível, conforme se cons-
tatou posteriormente), o magistrado resolveu declarar a extinção da punibilidade! Segundo
o raciocínio firmado, “qualquer pena a ser aplicada no crime do art. 28 da LD estaria efeti-
vamente exaurida, se aplicássemos o “desconto” da detração”. Afinal, a cautelar fora mais
rígida do que a própria pena abstratamente possível.
Veja! Há aqui uma detração, certo? Mas ela seria ANALÓGICA porque o art. 28 da LD
não prevê pena privativa de liberdade. Assim, devemos nos valer da analogia para “descon-
tar” a prisão cautelar da pena diversa, prevista no art. 28 da LD (seja ela qual for). Vamos
abater da pena do art. 28 o tempo de prisão cautelar.
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Ela é também VIRTUAL porque houve o desconto (detração) SEM a efetiva condena-
ção! Diferentemente da detração “ordinária”, aqui não houve desconto da prisão cautelar em
face da pena do art. 28 da LD!
Mas isso NÃO OCORRE no cenário mencionado, pois, REPITO, em razão da DETRA-
ÇÃO ANALÓGICA VIRTUAL não houve sequer condenação. Reconheceu-se uma perda
superveniente de interesse ou (na minha visão) um perdão judicial extralegal.
Espero que tenham gostado e, sobretudo, compreendido! Tema difícil, mas EXCE-
LENTE e bastante atual!
Vamos em frente!
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telar desproporcional no curso do processo – que culminou com a condenação por porte de
substância entorpecente para consumo próprio – do que com o esgotamento de processo
executivo pelo cumprimento de pena. 3. Se o paciente não houvesse ficado preso preventiva-
mente – prisão que, posteriormente, se mostrou ilegal, dada a impossibilidade de se aplicar
tal medida aos acusados da prática do crime de porte de substância entorpecente para con-
sumo próprio -, ele teria feito jus à transação penal (conforme, aliás, expressamente enten-
deu ser possível o próprio membro do Ministério Público), benefício que, como é sabido, não
é apto a configurar nem maus antecedentes nem reincidência. A prevalecer entendimento
contrário, estaria o paciente a sofrer em duplicidade os efeitos decorrentes de um processo
que, ao final, não traduziu a gravidade que inicialmente se imaginou. 4. Ordem concedida,
para afastar a reincidência do paciente e, por conseguinte, determinar o retorno dos autos ao
Juízo de primeiro grau para que analise o eventual preenchimento, pelo paciente, dos demais
requisitos necessários ao reconhecimento da minorante prevista no art. 33, § 4º, da Lei de
Drogas. (HC 390.038/SP, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado
em 06/02/2018).
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Justamente por isso, o Supremo Tribunal Federal aprovou o TEMA 280, em repercus-
são geral, assim vaticinando:
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Nesse diapasão, a 6ª Turma delineou 5 teses (ou eixos principais) que visam a regula-
mentar – no espaço vazio da lei de regência sobre o tema – a situação envolvendo o ingresse
em domicílio de agentes de segurança pública em situações de flagrante e/ou anuência do
proprietário do imóvel. Vejamos:
(1) Em suspeita de crime em flagrante, exige-se, em termos de standard probatório para
ingresso no domicílio do suspeito sem mandado judicial, a existência de fundadas razões,
aferidas de modo objetivo e devidamente justificadas, de maneira a indicar que dentro da
casa ocorre situação de flagrante delito.
(2) O tráfico ilícito de entorpecentes, mesmo sendo crime permanente, nem sempre
autoriza a entrada sem mandado no domicílio onde supostamente se encontra a droga.
Apenas será permitido o ingresso em situações de URGÊNCIA, quando se concluir que do
atraso decorrente da obtenção de mandado judicial se possa, objetiva e concretamente, infe-
rir que a prova do crime (ou a própria droga) será destruída ou ocultada.
(3) O consentimento do morador, para validar o ingresso de agentes estatais em sua
casa e a busca e apreensão de objetos relacionados ao crime, precisa ser voluntário e livre
de qualquer tipo de constrangimento ou coação.
(4) A prova da legalidade e da voluntariedade do consentimento para o ingresso na resi-
dência do suspeito incumbe, em caso de dúvida, ao Estado, e deve ser feita com DECLARA-
ÇÃO ASSINADA pela pessoa que autorizou o ingresso domiciliar, indicando-se, sempre que
possível, testemunhas do ato. Em todo caso, a operação deve ser REGISTRADA em áudio-
-vídeo, e preservada tal prova enquanto durar o processo.
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Pedro, mas essas medidas todas precisarão ser implementadas de imediato? As polí-
cias possuem estrutura para tanto?
Se esse entendimento vai prevalecer ou não, ainda não se pode afirmar. Entretanto, se
eu tivesse que arriscar um palpite, diria que essa tendência é bastante significativa. Ou seja,
parece-me imprescindível – pensando em provas de concursos vindouros – que os candi-
datos dominem as 05 teses acima apontadas, sendo esse um dos julgados mais relevantes
para o estudo das próximas provas de processo penal.
Vamos em frente!
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Muito já foi falado e escrito acerca desse tema, mas – recentemente – vivemos novos
capítulos. Vamos compreender.
O tema, no âmbito do Superior Tribunal de Justiça, era controverso, com posições anta-
gônicas entre a 5ª e 6ª Turmas. Mantendo o entendimento anterior à Lei Anticrime, a 6ª
Turma se manifestou recentemente, de forma unânime, indicando que o magistrado poderia
converter a prisão em flagrante em preventiva, DE OFÍCIO (HC 583.995). Segundo esse
colegiado, não houve alteração da realidade com a edição da Lei Anticrime. Comparando à
impossibilidade de decretação da prisão cautelar de ofício, entendeu ser diversa a situação
em que o juiz converte, por força de comando legal, a prisão em flagrante em alguma(s)
medida(s) cautelar(es) de natureza pessoal, inclusive a prisão preventiva, porquanto, nesta
hipótese, regulada pelo art. 310 do CPP, o autuado já foi preso em flagrante delito e é trazido
à presença da autoridade judiciária competente, após a lavratura de um auto de prisão em
flagrante, como determina a lei processual penal, para o controle da legalidade e da neces-
sidade da prisão, bem como da observância dos direitos do preso, especialmente o de não
sofrer coação ou força abusiva pelos agentes estatais responsáveis por sua prisão e guarda.
Não haveria em tal situação, uma atividade propriamente oficiosa do juiz, porque, a rigor, não
apenas a lei obriga o ato judicial, mas também, de um certo modo, há o encaminhamento,
pela autoridade policial, do auto de prisão em flagrante para sua acurada análise, na expec-
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tativa, derivada do dispositivo legal (art. 310 do CPP), de que o juiz, após ouvir o autuado,
adote uma das providências ali previstas, inclusive a de manter o flagranciado preso, já agora
sob o título da prisão preventiva[2].
Para a maioria dos Ministros, mesmo que o inciso II do artigo 310 do CPP, que trata da
audiência de custódia, permita converter a prisão em flagrante em preventiva se presentes
os requisitos do artigo 312 e se outras cautelares se revelarem insuficientes, é preciso que
haja alguma representação.
Vamos em frente!
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[1] (…) A interpretação do art. 310, II, do CPP deve ser realizada à luz dos arts. 282,
§§ 2º e 4º, e 311, do mesmo estatuto processual penal, a significar que se tornou inviável,
mesmo no contexto da audiência de custódia, a conversão, de ofício, da prisão em flagrante
de qualquer pessoa em prisão preventiva, sendo necessária, por isso mesmo, para tal efeito,
anterior e formal provocação do Ministério Público, da autoridade policial ou, quando for o
caso, do querelante ou do assistente do MP. Magistério doutrinário. Jurisprudência. AUTO
DE PRISÃO EM FLAGRANTE – NATUREZA JURÍDICA – ELEMENTOS QUE O INTEGRAM
– FUNÇÃO PROCESSUAL – O auto de prisão em flagrante, lavrado por agentes do Estado,
qualifica-se como ato de formal documentação que consubstancia, considerados os elemen-
tos que o compõem, relatório das circunstâncias de fato e de direito aptas a justificar a cap-
tura do agente do fato delituoso nas hipóteses previstas em lei (CPP, art. 302), tendo por
precípua finalidade evidenciar – como providência necessária e imprescindível que é – a
regularidade e a legalidade da privação cautelar da liberdade do autor do evento criminoso,
o que impõe ao Estado, em sua elaboração, a observância de estrito respeito às normas
previstas na legislação processual penal, sob pena de caracterização de injusto gravame
ao “status libertatis” da pessoa posta sob custódia do Poder Público. Doutrina. – Mostra-se
inconcebível que um ato de natureza meramente descritiva, como o é o auto de prisão em
flagrante, limitado a relatar o contexto fático-jurídico da prisão, permita que dele infira-se,
por implicitude, a existência de representação tácita da autoridade policial, objetivando, no
âmbito da audiência de custódia, a conversão da prisão em flagrante do paciente em prisão
preventiva. – A conversão da prisão em flagrante em prisão preventiva, no contexto da audi-
ência de custódia, somente se legitima se e quando houver, por parte do Ministério Público
ou da autoridade policial (ou do querelante, quando for o caso), pedido expresso e inequí-
voco dirigido ao Juízo competente, pois não se presume – independentemente da gravidade
em abstrato do crime – a configuração dos pressupostos e dos fundamentos a que se refere
o art. 312 do Código de Processo Penal, que hão de ser adequada e motivadamente com-
provados em cada situação ocorrente. Doutrina. (…). – Inexiste, em nosso sistema jurídico,
em matéria processual penal, o poder geral de cautela dos Juízes, notadamente em tema
de privação e/ou de restrição da liberdade das pessoas, vedada, em consequência, em face
dos postulados constitucionais da tipicidade processual e da legalidade estrita, a adoção, em
detrimento do investigado, do acusado ou do réu, de provimentos cautelares inominados ou
atípicos. O processo penal como instrumento de salvaguarda da liberdade jurídica das pes-
soas sob persecução criminal. Doutrina. Precedentes: HC 173.791/MG, Rel. Min. CELSO DE
MELLO – HC 173.800/MG, Rel. Min. CELSO DE MELLO – HC 186.209- -MC/SP, Rel. Min.
CELSO DE MELLO, v.g. (HC 188888, Relator(a): CELSO DE MELLO, Segunda Turma, jul-
gado em 06/10/2020).
[2] HC 583.995/MG, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, Rel. p/ Acórdão Ministro ROGE-
RIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 15/09/2020.
[3] HC 590.039/GO, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em
20/10/2020.
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Hoje vamos falar sobre a decisão exarada no REsp 1.860.791, da lavra da 6ª Turma do
STJ, veiculada no Informativo 685 da Corte.
O tema de fundo se vinculava à natureza do delito tipificado no art. 345 do CPB (exer-
cício arbitrário das próprias razões). De acordo com o dispositivo, o crime consiste em “fazer
justiça pelas próprias mãos, para satisfazer pretensão, embora legítima, salvo quando a lei
o permite”, sendo punido com detenção, de quinze dias a um mês, ou multa, além da pena
correspondente à violência, ressalvando que se não houver emprego de violência, somente
se procede mediante queixa (ação penal privada).
Considerando que se trata de um tipo penal menos estudado do que deveria, pare-
ce-me válido fazer uma rápida revisão acerca das principais características a ele ineren-
tes. Vamos lá?
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Dentre outros, essa é a posição sustentada por Guilherme de Souza Nucci. Segundo
ele, ao comentar o tipo em questão, “trata-se de crime comum (aquele que pode ser cometido
por qualquer pessoa); FORMAL (que não exige, para sua consumação, resultado naturalís-
tico, consistente na efetiva satisfação da pretensão). Há posição em sentido contrário, consi-
derando material a infração penal, necessitando, para a consumação, que o agente satisfaça
a pretensão” (NUCCI, GUILHERME de Souza. Código Penal Comentado. 20ª. Ed., revista
atualizada e reformulada. Forense: Rio de Janeiro, 2020, item 104.).
Vamos em frente!
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Art. 222. A testemunha que morar fora da jurisdição do juiz será inquirida pelo juiz do
lugar de sua residência, expedindo-se, para esse fim, carta precatória, com prazo razoável,
intimadas as partes. § 1º A EXPEDIÇÃO DA PRECATÓRIA NÃO SUSPENDERÁ A INSTRU-
ÇÃO CRIMINAL.
Partindo dessa premissa legal, seria intuitivo afirmar que, na pendência do cumprimento
da referida carta, não haveria óbice na realização do interrogatório do imputado, correto?
Eu disso PODERIA ser, porque – na prática – não é bem assim. Como muito bem assen-
tado pelo STJ, considerando a opção do sistema acusatório, a interpretação do artigo 222, §§
1º c/c artigo 400 do CPP, que melhor alinha-se à nova sistemática acusatória é aquela que
privilegia o INTERROGATÓRIO DO ACUSADO AO FINAL DA INSTRUÇÃO, mormente após
ter ciência das declarações das testemunhas de acusação.
Não! De acordo com a Corte, essa ordem pode ser excepcionada por decisão funda-
mentada do juízo processante que leve em consideração circunstâncias fáticas do desenro-
lar processo (exemplo: excessiva demora no retorno das precatórias), julgando pertinente a
inversão da ordem. Porém, essa opção NÃO DEVE DECORRER ÚNICA E AUTOMATICA-
MENTE EM RAZÃO DA NECESSIDADE DE EXPEDIÇÃO DE CARTAS PRECATÓRIAS para
a colheita das declarações das pessoas arroladas pelo Ministério Público.
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Aliás, no caso concreto específico, o entendimento foi no sentido de que não restou
verificada qualquer situação excepcional a ensejar a inversão da ordem natural do processo
penal, tendo o magistrado processante, diante da ausência das testemunhas de acusação,
determinado a expedição de carta precatória e automaticamente a continuidade dos procedi-
mentos da audiência, com a colheita dos interrogatórios dos réus.
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O tema que abordarei hoje não é tão recente assim, mas é extremamente relevante
para as provas de concurso, em absolutamente todas as etapas. Isso porque ela envolve
legislação, interpretação normativa e suas técnicas, divergências doutrinárias e uma polê-
mica posição do Superior Tribunal de Justiça.
Vamos entender?
Uma das várias polêmicas da Lei 12.850/2013 é a redação do art. 2o § 1o, que prevê
punição para aquele que impede ou, de qualquer forma, embaraça a INVESTIGAÇÃO DE
INFRAÇÃO PENAL que envolva organização criminosa.
Não! Há doutrina forte (Rogério Sanches, Vinícius Marçal e Cléber Masson) defen-
dendo uma interpretação teleológica e extensiva para incluir o embaraço de toda a persecu-
ção penal, sendo mantidas a mens legis e o bem jurídico tutelado.
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O tema é polêmico, mas esse precedente revela aquilo que (IMAGINO) tende a ser
majoritário. Aguardemos mais novidades.
Vamos em frente!
[1] HC 487.962/SC, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA TURMA, julgado em
28/05/2019.
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O que tem prevalecido no STJ é a compreensão de que ao juiz somente foi obstado
o emprego de cautelares inominadas que atinjam a liberdade de ir e vir do indivíduo. Ade-
mais, a teoria dos poderes implícitos também é um fundamento autônomo que, por si só,
justificaria a aplicação de astreintes pelos magistrados. De acordo com o referido Tribunal, é
possível aplicar astreintes em desfavor de terceiros que NÃO participaram da relação proces-
sual. Segundo os Ministros da 3ª Seção, no processo penal, a irregularidade não se verifica
quando imposta a multa coativa a terceiro. Haveria, sim, invalidade se ela incidisse sobre o
réu, pois ter-se-ia clara violação ao princípio do nemo tenetur se detegere. Rememorou-se
que o Marco Civil da Internet traz expressamente a possibilidade da aplicação de multa ao
descumpridor de suas normas quanto à guarda e disponibilização de registros conteúdos.
NÃO! É que tivemos novidades recentes, da lavra da mesma 3ª Seção, que fora divul-
gada no Informativo 684 do STJ. Ao julgar o RMS 60.531/RO[1], em 09 de dezembro de 2020,
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mação ou documento seja entregue pela empresa. Mas e se ela se negar? Poderá haver a
incidência de multa (astreintes). Essa é a regra já firmada no STJ.
Como bem destacado pelo STJ, a criptografia de ponta a ponta é a proteção dos dados
nas duas extremidades do processo, tanto no polo do remetente quanto no outro polo do des-
tinatário. Nela, há “dois tipos de chaves são usados para cada ponta da comunicação, uma
chave pública e uma chave privada. As chaves públicas estão disponíveis para as ambas as
partes e para qualquer outra pessoa, na verdade, porque todos compartilham suas chaves
públicas antes da comunicação. Cada pessoa possui um par de chaves, que são complemen-
tares. […] O conteúdo só poderá ser descriptografado usando essa chave pública (…) junto
à chave privada (…). Essa chave privada é o único elemento que torna impossível para qual-
quer outro agente descriptografar a mensagem, já que ela não precisa ser compartilhada“.
No julgamento da ADPF 403 e da ADI 5527, os Ministros Edson Fachin e Rosa Weber,
respectivamente, entenderam que se trata de forma de proteger a liberdade de comunicação
e expressão, concluindo que o ordenamento jurídico brasileiro não autoriza, em detrimento
da proteção gerada pela criptografia de ponta a ponta, em benefício da liberdade de expres-
são e do direito à intimidade, sejam os desenvolvedores da tecnologia multados por descum-
prirem ordem judicial incompatível com encriptação.
Em um trecho do voto da Ministra Rosa Weber no precedente acima citado, ela destaca
o seguinte:
“se aos cidadãos não for assegurada uma esfera de intimidade privada, livre de ingerên-
cia externa, um lugar onde o pensamento independente e novo possa ser gestado com segu-
rança, de que servirá a liberdade de expressão? O direito à privacidade tem como objeto, na
quase poética expressão de Warren e Brandeis, ‘a privacidade da vida privada’. O escopo
da proteção são os assuntos pessoais, em relação aos quais não se vislumbra interesse
público legítimo na sua revelação, e que o indivíduo prefere manter privados. ‘É a invasão
injustificada da privacidade individual que deve ser repreendida e, tanto quanto possível, pre-
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venida’. Vale observar, ainda, que os maiores desafios contemporâneos à proteção da priva-
cidade nada têm a ver com a imposição de restrições à liberdade de manifestação, enquanto
relacionados, isto sim, aos imperativos da segurança nacional e da eficiência do Estado, à
proliferação de sistemas de vigilância e à emergência das mídias sociais, juntamente com a
manipulação de dados pessoais em redes computacionais por inúmeros, e frequentemente
desconhecidos, agentes públicos e privados. Nesse contexto, pertinente, ainda, a contribui-
ção de Alan Westing à doutrina jurídica da privacidade no mundo contemporâneo, ao carac-
terizar a estrutura desse direito como controle sobre os usos da informação pessoal. Nesse
sentido, a privacidade, afirma, ‘é a pretensão de indivíduos, grupos ou instituições de deter-
minarem para si quando, como e em que extensão a informação sobre eles será comunicada
a outros’. Tal concepção do direito à privacidade está alinhada com o reconhecimento do seu
papel social na própria preservação da personalidade e no desenvolvimento da autonomia
individual.” (Voto da em. Min. Relatora Rosa Weber na ADI 5527).
Temos, pois, que o ordenamento jurídico brasileiro não autoriza, em detrimento da pro-
teção gerada pela criptografia de ponta a ponta, em benefício da liberdade de expressão e
do direito à intimidade, sejam os desenvolvedores da tecnologia multados por descumprirem
ordem judicial incompatível com encriptação.
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A Lei n. 13.497/2017 alterou a Lei de Crimes Hediondos para incluir o crime de posse ou
porte ilegal de arma de fogo de uso restrito, previsto no art. 16 da Lei n. 10.826/2003, como
equiparado à hediondo.
“(…) não pretendeu o legislador abranger como crime hediondo as figuras com penas
equiparadas previstas no parágrafo único do art. 16 do Estatuto, exceto, obviamente, se
importarem concomitantemente posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito. Dessa
forma, se alguém portar um revólver calibre 38 (arma de uso permitido) com numeração ras-
pada incorrerá na figura equiparada do art. 16, parágrafo único, IV, do Estatuto, que possui
as mesmas penas do caput mas que não terá natureza hedionda. Caso, entretanto, o agente
esteja portando um fuzil com numeração raspada o delito será considerado hediondo”[2].
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Vale destacar, conforme brilhantemente realizado pela Ministra Relatora Laurita Vaz,
que a alteração na redação da Lei de Crimes Hediondos reforça o entendimento ora afir-
mado, no sentido da natureza não hedionda do porte ou posse de arma de fogo de uso per-
mitido com numeração, marca ou qualquer outro sinal de identificação raspado, suprimido ou
adulterado. Acerca do assunto, esta Corte Superior, até o momento, afirmava que os Legis-
ladores atribuíram reprovação criminal equivalente às condutas descritas no caput do art. 16
da Lei n. 10.826/2003 e ao porte ou posse de arma de fogo de uso permitido com numeração
suprimida, equiparando a gravidade da ação e do resultado. Todavia, TAL ENTENDIMENTO
DEVE SER SUPERADO (OVERRULING).
A ratio por trás da referida conclusão é a ideia da atuação do Poder Judiciário como ver-
dadeiro instrumento de redutor de danos, na linha do sustentado por Rodrigo Roig:
“Surge daí a tese central da teoria redutora de danos na execução penal, aqui defen-
dida: a existência de um autêntico dever jurídico-constitucional de redução do sofrimento e
da vulnerabilidade das pessoas encarceradas, sejam elas condenadas ou não. O cumpri-
mento de tal dever, sobretudo dos juristas e agências jurídicas, é o grande norte interpretativo
e de aplicação normativa da execução penal. Se de fato a execução da pena é a região mais
obscura, mas ao mesmo tempo a mais transparente do poder punitivo, onde a tensão entre
o estado de polícia e o estado de direito evidencia o conflito entre o poder punitivo e o poder
jurídico, é por afirmação deste que se esvaziarão os danos causados por aquele”[3].
Dessa maneira, é certo concluir que, atualmente, com a vigência da Lei Anticrime, o
crime de posse ou porte de arma de fogo de uso permitido com numeração, marca ou qual-
quer outro sinal de identificação raspado, suprimido ou adulterado NÃO INTEGRA O ROL
DOS CRIMES HEDIONDOS.
[1] HC 525.249-RS, Rel. Min. Laurita Vaz, Sexta Turma, por unanimidade, julgado em
15/12/2020.
[2] Victor Eduardo Rios Gonçalves no livro Coleção Sinopses Jurídicas Volume 24 –
Tomo 1 – Legislação Penal Especial, 14.ª Edição, 2018, pg. 22, Editora Saraiva Jur.
[3] Execução Penal: Teoria Crítica. 4.ª Ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019, pp. 28.
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Vamos falar hoje sobre a Lei de Drogas e um importante cenário prático referente ao
procedimento ali delineado. De acordo com a jurisprudência pacífica do Superior Tribunal de
Justiça, o laudo toxicológico definitivo é imprescindível para a comprovação da materialidade
do delito de tráfico de entorpecentes, sob pena de acarretar a absolvição do acusado.
Art. 50. Ocorrendo prisão em flagrante, a autoridade de polícia judiciária fará, imediata-
mente, comunicação ao juiz competente, remetendo-lhe cópia do auto lavrado, do qual será
dada vista ao órgão do Ministério Público, em 24 (vinte e quatro) horas. § 1º Para efeito da
lavratura do auto de prisão em flagrante e estabelecimento da materialidade do delito, é sufi-
ciente o laudo de constatação da natureza e quantidade da droga, firmado por perito oficial
ou, na falta deste, por pessoa idônea.
Não obstante a regra acima firmada, o próprio Superior Tribunal de Justiça ressalvou a
regra da juntada do laudo toxicológico definitivo, após a sentença, quando estivermos diante
da possibilidade de se manter o édito condenatório quando a materialidade delitiva estiver
amparada em laudo preliminar, dotado de certeza idêntica ao do definitivo, certificado por
perito oficial, em procedimento equivalente.
Assim, não será reconhecida eventual nulidade muito embora o laudo toxicológico defi-
nitivo correto tenha sido juntado aos autos após a prolação do édito condenatório, o laudo
de constatação provisório foi firmado por perito criminal e não foi em nada contraditado pelo
posterior.
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Em sentido semelhante, também a 6ª Turma da Corte anotou que embora não tenha
havido a juntada aos autos do laudo toxicológico definitivo até a data da sentença conde-
natória, há meios robustos de prova que evidenciam a materialidade do delito de tráfico de
drogas. Isso porque, embora o laudo de constatação haja sido elaborado ainda na fase inqui-
sitiva, conteve todas as informações necessárias à comprovação, com segurança, de que a
substância apreendida com o acusado se tratava de maconha. No caso concreto, o laudo
toxicológico definitivo aportou aos autos, embora pouco depois da prolação da sentença, e
confirmou que a substância encontrada em poder do réu era, de fato, maconha.
Uma vez que: (a) o exame preliminar realizado no caso dos autos foi dotado de certeza
idêntica à do definitivo, porquanto confeccionado em procedimento equivalente, que logrou
constatar a natureza e a quantidade de drogas apreendidas; (b) o laudo preliminar foi corro-
borado pelas demais provas colhidas ao longo da instrução criminal – submetidas, portanto,
ao crivo do contraditório e da ampla defesa; (c) sobreveio aos autos o laudo toxicológico defi-
nitivo, em que se confirmou que a substância apreendida com o acusado se tratava, de fato,
de maconha, está devidamente comprovada a materialidade do delito de tráfico de drogas.
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No texto de hoje, vamos dividir nossa análise em duas partes. Inicialmente, trataremos
de aspectos atinentes ao enunciado de súmula 643 do STJ e, posteriormente, à súmula 644
da Corte, recém aprovadas pela 3ª Seção.
Vocês devem se recordar que o STF pacificou (ao menos por ora) a impossibilidade da
execução provisória da pena, sendo que essa apenas pode passar a ser cumprida após o
exaurimento dos recursos (ADC 43/DF, ADC 44/DF, ADC 54/DF).
Antes disso, porém, tivemos a repercussão geral analisada pelo STF no ARE 964.246
(em 2016) que indicava a possibilidade (não mais aceita) de execução da pena privativa de
liberdade após a condenação em 2ª instância. Entretanto, mesmo quando vigente tal com-
preensão, a Corte afastava-se da possibilidade em relação às restritivas de direito.
O principal argumento era no sentido de que o art. 147 da Lei de Execução Penal era
expresso em exigir trânsito em julgado para execução da PRD (“Transitada em julgado a
sentença que aplicou a pena restritiva de direitos, o Juiz da execução, de ofício ou a requeri-
mento do Ministério Público, promoverá a execução, podendo, para tanto, requisitar, quando
necessário, a colaboração de entidades públicas ou solicitá-la a particulares”).
O novo verbete sumular – para ser bem honesto – me parece tardio e desnecessário.
Entretanto, servirá de mais um argumento para reforçar a ideia de presunção de não culpa-
bilidade, ratificando a exigência do trânsito em julgado TAMBÉM para a execução da pena
restritiva de direito. Não há, pois, previsão de execução provisória de restritiva de direitos.
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Vamos por partes. Os famosos “NPJ´s” são iniciativas mantidas por cursos de Direito a
partir dos quais alunos da graduação atuam oferecendo assistência jurídica – sem custos – a
pessoas hipossuficientes, sempre sob a orientação de um professor dotado de capacidade
postulatória. Vamos a um exemplo elucidativo.
Se Godofredo for citado para apresentar resposta à acusação, não tiver condições de
pagar um advogado e não tiver acesso à Defensoria Pública, ele poderá buscar auxílio de
algum Núcleo de Prática Jurídica, para atuar em sua defesa.
Sabemos que se fosse a Defensoria, esse instrumento de mandato não seria (como
regra) exigível, porque a Lei Orgânica (LC 80/94) prevê dispensa de mandato para atuar em
favor dos assistidos. Essa NÃO é a mesma realidade dos NPJ´s, ok?
SIM! Vamos imaginar que, passado o prazo de resposta à acusação, Godofredo nada
tenha feito. Não havendo Defensoria Pública no local, o juiz nomeia o NPJ para atuar em seu
favor. Nesse caso, haverá imprescindibilidade de procuração?
Aqui NÃO! Não foi Godofredo que provocou a atuação do NPJ, mas sim estamos diante
de um munus público a partir de determinação judicial. Não há razão para procuração. É isso
que restou materializado na Súmula 644 do STJ.
Vamos em frente!
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Vocês já devem ter reparado que vários editais de certames públicos têm trazido, dentro
de direito penal, processual penal ou internacional, o tema de cooperação jurídica internacio-
nal, certo?
Essa é uma realidade teórica e prática em face da qual não se pode fugir, mormente em
um mundo tão globalizado e de práticas criminosas que envolvem mais de um país. Nesse
contexto, o mútuo esforço de cooperação na persecução penal é uma realidade inafastável.
Consoante observado pelo STJ, o cumprimento da referida decisão não fora antecedida
de exequatur, ou seja, não foi objeto de prévia autorização do próprio STJ para cumprimento
de Carta Rogatória, conforme previsão do art. 105, I, “i” da CF/1988.
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No caso específico, o pedido do juízo francês foi autorizado pela 9ª Vara Federal do
RJ com base no acordo de cooperação existente entre os dois países (Dec. 3324/99). No
entanto, a Ministra Laurita Vaz apontou a necessidade de se realizar uma cuidadosa avalia-
ção e distinção entre Carta Rogatória e Auxílio Direto.
Na primeira, há decisão do juízo rogante que precisa ser executada em outro Estado
(rogado) que, no caso do Brasil, demanda concessão de exequatur pelo STJ, a fim de se
avaliar a legalidade FORMAL do pedido (não há análise meritória). Já no auxílio direto, há
um pedido de assistência diretamente ao Estado rogado para que este preste informações
ou requeira à Justiça para analisar a providência requerida (por exemplo, uma busca e apre-
ensão), com base no Acordo de Cooperação.
EIS O PULO DO GATO! No caso em tela, tivemos uma medida deferida pelo Tribunal
francês, ou seja, um ato de caráter decisório. Não houve pedido de auxílio direto, não se tra-
tando de mero encaminhamento de pedido de cooperação. Seria imprescindível que essa deci-
são fosse submetida ao crivo da checagem de legalidade, justamente através do exequatur.
Segundo o STJ, “não se trata de mero ato judicial formal de encaminhamento de pedido
de cooperação, mas de ato com caráter decisório proferido pelo Poder Judiciário francês
no exercício típico da função jurisdicional. A concessão do exequatur é imprescindível na
hipótese, pois, existente decisão judicial estrangeira a ser submetida ao crivo desta Corte, o
caso concreto amolda-se à definição de carta rogatória, sendo de rigor a anulação dos pro-
cedimentos já realizados. Não respeitada a competência adequada para o processamento
da cooperação internacional em território nacional, nos termos do art. 105, inciso III, alínea
i, da Constituição da República, impõe-se a anulação do feito desde o seu início. O ato de
delegação da condução e direção de produção de prova oral à Autoridade estrangeira, a fim
de que esta proceda diretamente à inquirição da testemunha ou do investigado, não encontra
qualquer tipo de respaldo constitucional, legal ou jurisprudencial. (…). Além disso, a nulidade
decorrente do reconhecimento da necessidade de exequatur, abrange também a realização
do aludido ato[1].
Daí porque houve a nulidade! Outros vícios foram apontados, como a deliberada dele-
gação do protagonismo para autoridades estrangeiras, já que o membro do MPF se ausentou
da sala no início da oitiva do investigado, deixando-o com os franceses.
Enfim, tema muitíssimo importante! Você sabia da diferença entre Carta Rogatória e
Auxílio Direto? Agora já sabe! Anota aí e vamos em frente, porque isso vai cair na sua prova!
[1] RHC 102.322/RJ, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em 12/05/2020.
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STF X STJ
Consoante deliberado pela Ministra, “fixado o regime inicial menos severo que o fechado,
a manutenção da prisão preventiva, própria das cautelares, representaria, em última análise,
a legitimação da execução provisória da pena em regime mais gravoso do que o fixado no
próprio título penal condenatório”.
Calma! É que para a referida Corte, se ainda persistirem as razões que sustentam uma
prisão cautelar, ela poderia se manter, mesmo após a condenação (pendente de recurso)
para cumprimento da pena em regime aberto ou semiaberto. Entretanto, para fins de se
evitar uma violação à proporcionalidade, o Poder Judiciário deveria adaptar – excepcional-
mente – a prisão cautelar de modo que ela siga as regras do regime imposto na sentença
pendente de recurso.
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Consoante o STJ tem decidido, caso a sentença condenatória tenha fixado o regime
prisional semiaberto para o início do cumprimento da pena do recorrente, deve a sua prisão
provisória ser compatibilizada ao regime imposto, sob pena de tornar mais gravosa a situa-
ção daquele que opta por recorrer do decisum[3].
Conclusão: Com esse cuidado, o STJ diverge do STF para advogar a tese de que o fato
de o réu ter sido condenado a cumprir pena em regime semiaberto não constitui empecilho
à decretação/manutenção da prisão preventiva, bastando que se tenha o cuidado de não se
colocá-lo em estabelecimento inadequado (vide RHC 98.469/MG[4]).
Vamos em frente!
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uma ou mais medidas cautelares previstas no art. 319 do Código de Processo Penal, caso
entenda necessário (HC 138122, Relator(a): RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma,
julgado em 09/05/2017).
[3] HC 441.358/MG, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA TURMA, julgado
em 11/09/2018.
[4] RHC 98.469/MG, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA
TURMA, julgado em 02/10/2018.
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De acordo com o que fora decidido, a colaboração premiada não fixa competência e
que os fatos relatados em colaboração premiada não geram prevenção. Enquanto meio de
obtenção de prova, esses fatos, quando não conexos com o objeto do processo que deu
origem ao acordo, devem receber o tratamento conferido ao encontro fortuito de provas.
De acordo com o voto do Ministro Gilmar Mendes, a competência não pode ser definida
com base em critério temático e aglutinativo de casos atribuídos aleatoriamente pelos órgãos
de persecução e julgamento, “como se tudo fizesse parte de um mesmo contexto, indepen-
dente das peculiaridades de cada situação”.
Em outro julgado da Corte, bem elucidativo (INQ 4130[1]), afirmou-se que mesmo tendo
o juízo de origem, com base nos depoimentos do imputado colaborador e nas provas por
ele apresentadas, decretado prisões cautelares e ordenado a quebra de sigilos bancário ou
fiscal e a realização de busca e apreensão ou de interceptação telefônica, essas medidas,
por si sós, não geram sua prevenção, com base no art. 83 do CPP, caso devam ser primaria-
mente aplicadas as regras de competência do art. 70 do Código de Processo Penal (local da
consumação) ou do art. 78, II, a ou b, do Código de Processo Penal (determinação do foro
prevalente, no caso de conexão ou continência).
Vamos imaginar que, no âmbito da Justiça Federal, seja homologado acordo de colabo-
ração premiada no qual, entre outras coisas, o colaborador apresente indicativos da prática
de delitos que foram perpetrados em desfavor de um determinado estado da federação, sem
qualquer vinculação com os fatos primariamente investigados. Se o acordo de colaboração
fosse fator ensejador de conexão ou continência (causas de modificação da competência)
seria razoável cogitar que esse crime – mesmo que não atingisse diretamente bens, serviços
e interesses da União – fosse processado e julgado na própria Justiça Federal (por conexão).
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CUIDADO! Esse raciocínio está equivocado, como visto. Ora, tratando-se de mero meio
de obtenção de prova, a colaboração premiada não enseja a modificação de competência
e, mesmo os indicativos de crime apontados no negócio jurídico processual homologado na
Justiça Federal, não há que se falar em alteração da competência da justiça estadual.
Esses elementos informativos (art. 155, CPP) sobre crimes outros, sem conexão com
a investigação primária devem receber o mesmo tratamento conferido à descoberta fortuita
ou ao encontro fortuito de provas em outros meios de obtenção de prova, como a busca e
apreensão e a interceptação telefônica.
Vamos em frente.
[1] Inq 4130 QO, Relator(a): DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em 23/09/2015.
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No final de 2020, fomos brindados com um julgado do Superior Tribunal de Justiça cujo
tema é daqueles que VAI CAIR EM PROVA!
Art. 4º, § 7º – Realizado o acordo na forma do § 6º deste artigo, serão remetidos ao juiz,
para análise, o respectivo termo, as declarações do colaborador e cópia da investigação,
devendo o juiz ouvir sigilosamente o colaborador, acompanhado de seu defensor, oportu-
nidade em que analisará os seguintes aspectos na homologação: I – regularidade e legali-
dade; II – adequação dos benefícios pactuados àqueles previstos no caput e nos §§ 4º e 5º
deste artigo, sendo nulas as cláusulas que violem o critério de definição do regime inicial de
cumprimento de pena do art. 33 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código
Penal), as regras de cada um dos regimes previstos no Código Penal e na Lei nº 7.210, de
11 de julho de 1984 (Lei de Execução Penal) e os requisitos de progressão de regime não
abrangidos pelo § 5º deste artigo; III – adequação dos resultados da colaboração aos resul-
tados mínimos exigidos nos incisos I, II, III, IV e V do caput deste artigo; IV – voluntariedade
da manifestação de vontade, especialmente nos casos em que o colaborador está ou esteve
sob efeito de medidas cautelares. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
Não! O dispositivo acima indicado aponta para uma etapa necessária à validação do
acordo, que pode ou não prosperar. Caso o magistrado entenda que não é acertado a homo-
logação e opte pela sua recusa, deverá fundamentar sua decisão, por exemplo, indicando
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que a proposta não atende aos requisitos legais, é possível impugnar tal decisão. Entretanto,
a lei não é clara quanto ao recurso idôneo para tanto!
Diante da lacuna normativa, devemos buscar interpretar qual a espécie recursal que
melhor se encaixa. Durante minhas aulas e escritos, sempre apontei que a doutrina se divi-
dia em duas posições principais. A primeira, sugerindo cabimento de RESE, era capitaneada
pelo prof. Pacelli. Sempre entendi essa posição como equivocada, porque se pautava no art.
581, I do CPP. A segunda era defendida por Marcos Paulo Dutra, defendendo a apelação.
Para mim, é a posição mais coerente.
Espero que tenham gostado e, sobretudo, compreendido! Anota mais essa porque vai
cair em prova!
Vamos em frente!
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Quem me conhece saber que eu gosto bastante de trabalhar – em textos e aulas – com
nomenclaturas inusitadas. Não por admirar esses nomes estranhos, mais porque entendo
que nomenclatura em prova de concurso é questão de sobrevivência.
Nesse cenário, falar sobre nulidade de algibeira é ainda mais relevante, uma vez que
esse assunto envolve (i) polêmica doutrinária, (ii) nomenclatura utilizada na prática proces-
sual e (iii) posições dos Tribunais Superiores, razão pela qual ele tem tudo para aparecer nas
próximas provas.
Em síntese, diz haver nulidade de algibeira quando estamos diante de um vício pro-
cessual passível de ser objeto de imediata insurgência por parte da defesa (já devidamente
ciente de sua existência), mas que – por conveniência e/ou estratégia – não é alegada de
pronto, guardando-a como um “trunfo na manga” para eventual momento futuro.
De acordo com parcela da doutrina, em entendimento com o qual concordo, admite sim,
considerando o valor constitucional da AMPLA DEFESA, devendo o Judiciário e o MP zelar
pela condução processual sem vícios. Contudo, essa compreensão NÃO VEM ENCON-
TRANDO RESSONÂNCIA no STJ.
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Em um caso concreto, o STJ analisou que, embora não adimplido o lapso de 15 (quinze)
dias entre a publicação do edital de intimação e a audiência aprazada, no caso concreto, o
padrão de conduta adotado pela defesa técnica violou a boa-fé processual (NULIDADE DE
ALGIBEIRA ou DE BOLSO), havendo ainda a preclusão temporal da matéria (vício não ale-
gado em momento oportuno).
Espero que tenham gostado e, sobretudo, compreendido! Anota mais essa porque vai
cair em prova!
Vamos em frente.
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O nosso primeiro texto do ano de 2021 a ser publicado aqui no blog do Gran Cursos
será emblemático! E por qual razão afirmo isso? É que tratarei com vocês acerca de uma
decisão recente do Superior Tribunal de Justiça e que, “com a certeza de que estou vivo”,
despencará nas provas vindouras, especialmente (mas não exclusivamente) naquelas refe-
rentes às carreiras policiais.
Tratava-se de situação em que um réu preso que não conseguiu exercer seu direito de
presença (física) perante o magistrado julgador em razão da precariedade do sistema pri-
sional do Estado de Santa Catarina, o qual não dispunha de número suficiente de agentes
(policiais penais) para realizar a escolta. Diante da impossibilidade de comparecimento, fora
determinada a videoconferência.
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NÃO! Aliás, a tese defensiva não apenas não foi acolhida no caso concreto, como
também não vem encontrando ressonância nos últimos tempos nos Tribunais Superiores. Ao
contrário, o Superior Tribunal de Justiça vem admitindo como fundamentação idônea a justi-
ficar a audiência por meio remoto a escassez de servidores para a efetivação da escolta. Já
se deliberou, em outra situação, que “o Magistrado de primeiro grau, em obediência ao dis-
posto no § 2º do art. 185 da Lei n. 11.900/2009, apresentou fundamentação apta a justificar
a necessidade da adoção do interrogatório do recorrente pelo sistema de videoconferência,
notadamente para se evitar a delonga na prestação jurisdicional, considerando sobretudo os
problemas constantes na escolta de réu preso (AgRg no RHC n. 110.019/AL, 5ª Turma, jul-
gado em 215/2019).
Espero que tenham gostado e, sobretudo, compreendido! Anota mais essa porque vai
cair em prova!
Vamos em frente.
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Quando estivermos diante da reiteração de infrações penais cujo bem tutelado não é o
patrimônio, não deverá ser valorada para aplicação do princípio da insignificância. Colhe-se
da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça:
Habeas corpus. Penal. Furto. Princípio da insignificância. Incidência. Valor dos bens
subtraídos. Inexpressividade da lesão. Contumácia de infrações penais cujo bem jurídico
tutelado não é o patrimônio. Desconsideração. Ordem concedida. 1. Segundo a jurisprudên-
cia do Supremo Tribunal Federal, para se caracterizar hipótese de aplicação do denominado
“princípio da insignificância” e, assim, afastar a recriminação penal, é indispensável que a
conduta do agente seja marcada por ofensividade mínima ao bem jurídico tutelado, redu-
zido grau de reprovabilidade, inexpressividade da lesão e nenhuma periculosidade social. 2.
Nesse sentido, a aferição da insignificância como requisito negativo da tipicidade envolve um
juízo de tipicidade conglobante, muito mais abrangente que a simples expressão do resul-
tado da conduta. Importa investigar o desvalor da ação criminosa em seu sentido amplo, de
modo a impedir que, a pretexto da insignificância apenas do resultado material, acabe des-
virtuado o objetivo a que visou o legislador quando formulou a tipificação legal. Assim, há de
se considerar que “a insignificância só pode surgir à luz da finalidade geral que dá sentido à
ordem normativa” (Zaffaroni), levando em conta também que o próprio legislador já conside-
rou hipóteses de irrelevância penal, por ele erigidas, não para excluir a tipicidade, mas para
mitigar a pena ou a persecução penal. 3. Trata-se de furto de um engradado que continha
vinte e três garrafas vazias de cerveja e seis cascos de refrigerante, também vazios, bens
que foram avaliados em R$ 16,00 e restituídos à vítima. Consideradas tais circunstâncias, é
inegável a presença dos vetores que autorizam a incidência do princípio da insignificância.
4. À luz da TEORIA DA REITERAÇÃO NÃO CUMULATIVA DE CONDUTAS DE GÊNEROS
DISTINTOS, a contumácia de infrações penais que não têm o patrimônio como bem jurídico
tutelado pela norma penal não pode ser valorada, porque ausente a séria lesão à proprie-
dade alheia (socialmente considerada), como fator impeditivo do princípio da insignificância.
5. Ordem concedida para restabelecer a sentença de primeiro grau, na parte em que reco-
nheceu a aplicação do princípio da insignificância e absolveu o paciente pelo delito de furto
(STF, HC 114.723/MG, 2.a Turma, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 26.08.2014, DJe-222, divulg.
11.11.2014, public. 12.11.2014).
Vale registrar que, apesar de a prática denotar outra realidade, ao menos em tese, o
Supremo Tribunal Federal deliberou no sentido de que a reincidência – por si só – não é apta
a afastar de maneira absoluta a aplicação da insignificância.
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Espero que tenham gostado e, sobretudo, compreendido! Anota mais essa porque vai
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Vamos em frente.
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Hoje vamos falar sobre um tema extremamente polêmico e que, em meados de 2020,
teve um importante e novo capítulo, com o julgamento do Agravo Regimental no Recurso
Ordinário em Habeas Corpus 181.895/RJ[1].
Antes de falar, especificamente, sobre esse julgado, é preciso tecer algumas considera-
ções, já que a possibilidade ou não de foro por prerrogativa de função dos representantes do
legislativo municipal demanda cautela. Sabemos que a Constituição Federal garante a eles
inviolabilidade por suas opiniões, palavras e votos no exercício do mandato e na circunscri-
ção do município (art. 29, VIII, da CF), mas isso não quer dizer que há previsão ou autoriza-
ção para prerrogativa de foro.
Ainda assim, esse tema sempre envolveu muita polêmica. Tanto isso é verdade que o
próprio Supremo Tribunal Federal já teve oportunidade de apontar expressamente que “não
afronta a Constituição da República, a norma de Constituição estadual que, disciplinando
competência originária do Tribunal de Justiça, lhe atribui para processar e julgar vereador”[4].
Aliás, seguindo a mesma linha, o STJ decidiu que “embora a Constituição Federal não tenha
estabelecido foro especial por prerrogativa de função aos vereadores, não há óbice de que
tal previsão conste das Constituições estaduais”[5].
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Esse é um tema espinhoso, bastante interessante para ser arguido em provas e que,
cada vez mais, vai se encaminhando para uma definição nas Cortes Superiores.
Vamos em frente.
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ESCUSAS ABSOLUTÓRIAS
Vamos falar hoje acerca uma temática extremamente importante, pois despenca (de
verdade) em concursos públicos nas mais diversas fases. Já foi objeto de pergunta ou reper-
gunta de provas orais de Defensoria Pública, MP, Delegado e Magistratura.
Vamos tecer, pois, algumas considerações sobre o assunto das ESCUSAS ABSOLU-
TÓRIAS no direito penal. Em primeiro lugar, já podemos apontar que a doutrina ostenta
alguma variação quanto à natureza jurídica do instituto, mas prevalece elas são verdadeiras
CONDIÇÕES NEGATIVAS DE PUNIBILIDADE ou ainda CAUSAS PESSOAIS DE EXCLU-
SÃO DA PENA!
São fornecidos pelo artigo 181 do Código Penal, indicando que não sofrerá sanção
penal por crime patrimonial sem violência ou grave ameaça o autor que for, EM RELAÇÃO
À VÍTIMA, (i) cônjuge, na constância da sociedade conjugal OU (ii) ascendente ou descen-
dente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil ou natural.
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Feita essa revisão, vale questionar sobre a existência de exceção em relação a essas
escusas absolutórias?
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Existe sim! Lembremos que essas escusas absolutórias são aplicadas aos crimes patri-
moniais, desde que não se trate de crime é de roubo ou de extorsão, ou, se houver emprego
de grave ameaça ou violência à pessoa. Também não se aplicará, em atenção à regra do
artigo 30 do CPB, ao estranho que participa do crime e, por fim, também não será observada
essa causa negativa de punibilidade se o crime for praticado contra pessoa com idade igual
ou superior a 60 (sessenta) anos.
Vamos em frente.
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ADI 5264
Esse entendimento foi refutado pela Ministra Carmen Lúcia para quem “pelo princípio
do juiz natural a competência para o processo dá-se em previamente designado na Consti-
tuição ou na lei, vedando-se, no sistema jurídico, juiz de exceção. Entretanto, não se deter-
minou a exclusividade dos Juizados Especiais Criminais para o julgamento das infrações de
menor potencial ofensivo, mas a observância do procedimento célere e dos institutos despe-
nalizadores previstos na Lei n. 9.099/1995”.
Sobre esse tema, a Ministra indica o estranhamento pelo fato de a PGR não impugnar
a constitucionalidade de todas as normas que trazer modificação de competência do Juizado
Especial para o comum na ADI. Afinal, se o entendimento é de que a competência é absoluta,
ela seria incompatível com toda e qualquer possibilidade de prorrogação.
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Sobre o tema, Eugênio Pacelli advoga que “(…) a) nenhuma privatividade dos Juizados
para o julgamento dos crimes de menor potencial ofensivo, como facilmente se percebe da
leitura do art. 98, I, CF; b) qualquer competência material, rigorosamente falando, isto é, em
razão do direito material, que pudesse exigir a criação de uma Justiça especializada. O que
é especializado nos Juizados é o rito procedimental e a possibilidade de transação penal,
consoante os termos do art. 98, I, da Constituição. (…) É bem de ver, porém, que nos Jui-
zados Criminais, pelo menos no que diz respeito à conceituação das espécies de jurisdição,
não se exerce jurisdição especial, uma vez que o seu objeto é o Direito Penal comum, ao
contrário do que ocorre, por exemplo, com a jurisdição eleitoral e a jurisdição militar. Naquela
(a eleitoral), ainda que não se possa falar rigorosamente em Direito Penal especial, o fato é
que o objeto e sua tutela é inegavelmente específico, o que, a nosso aviso, permite, ao lado
das especificidades ocorridas também na formação de seus órgãos jurisdicionais, a deno-
minação de jurisdição especial. Em razão disso, quando presente o concurso de infrações,
a reunião de processos ocorrerá fora dos Juizados, segundo os critérios do citado art. 78 do
CPP. E se já pensávamos assim desde as primeiras edições deste Curso, agora ficamos na
confortabilíssima companhia da Lei. De fato, a Lei 11.313/06, como vimos, alterando a reda-
ção do art.60, parágrafo único, da Lei 9.099/95, e, também, do art. 2º, parágrafo único, da
Lei 10.259/01, ressalva expressamente a (in)competência dos Juizados Criminais quando
as referidas infrações forem conexas e/ou continentes om outras, da competência do juízo
comum ou do tribunal do júri. E, acrescentaríamos nós: também de qualquer outra jurisdição
ressalvada em Lei ou na Constituição da República. Nessas situações, nada impedirá a apli-
cação das normas mais favoráveis previstas na Lei n. 9.099/95, adotando-se, se for o caso,
a unidade apenas do juízo e não do processo. Assim, reunidos diversos e diferentes proce-
dimentos (e crimes), nada obstará, no mesmo juízo, a adoção da transação penal, se for o
caso, para o processo originariamente da competência dos Juizados”[2].
Segundo a Ministra, “se praticada infração penal de menor potencial ofensivo em con-
curso com outra infração penal comum e deslocada a competência para a Justiça Comum ou
Tribunal do Júri, não há óbice, senão determinação constitucional, à aplicação dos institutos
despenalizadores da transação penal e da composição civil dos danos quanto à infração de
menor potencial ofensivo, em respeito ao devido processo legal”. Vale dizer ainda que não
se deve somar à pena máxima da IMPO com a da infração conexa (de maior gravidade) para
excluir a incidência da fase consensual e ser invocada como fator impeditivo da transação
penal ou composição civil dos danos.
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Vamos em frente.
[1] “Consideram infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta
Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2
(dois) anos, cumulado ou não com multa”.
[2] Curso de Processo Penal. 9. ed. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2012. p.
563 e 571.
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Vamos falar um pouco sobre o impacto das normas estampadas da Lei do Marco Civil
da Internet (Lei n. 12.965/2014) no âmbito das investigações criminais, especificamente
daquilo que foi objeto – recentemente – de apreciação pela 6ª Turma do Superior Tribunal de
Justiça, no HC 587.732/RJ[1].
Art. 22. A parte interessada poderá, com o propósito de formar conjunto probatório em
processo judicial cível ou penal, em caráter incidental ou autônomo, requerer ao juiz que
ordene ao responsável pela guarda o fornecimento de registros de conexão ou de registros
de acesso a aplicações de internet. Parágrafo único. Sem prejuízo dos demais requisitos
legais, o requerimento deverá conter, sob pena de inadmissibilidade: I – fundados indícios da
ocorrência do ilícito; II – justificativa motivada da utilidade dos registros solicitados para fins
de investigação ou instrução probatória; e III – período ao qual se referem os registros.
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Nesse contexto, não obstante a orientação normativa do Marco Civil da Internet no sen-
tido de ser necessário observar a tutela da privacidade de dados pessoais e do conteúdo de
comunicações privadas (art. 10), ao tratar do acesso judicial somente exige limitação tem-
poral no acesso aos registros de “aplicações de internet”, termo legal usado para definir “o
conjunto de funcionalidades que podem ser acessadas por meio de um terminal conectado à
internet” (art. 5°, VII). Ou seja, não há limitação de tempo para acesso aos dados pessoais,
em sentido amplo, mas apenas ao acesso à internet.
Não há ilegalidade na decisão que determina o acesso aos dados constantes nos bens
que vierem a ser apreendidos, a fim de que sejam submetidos à perícia, sem a determinação
de limite temporal, porque se trata de dados já salvos nos dispositivos eletrônicos, em que os
pacientes tiveram a liberdade de apagarem ou acrescentarem informações, não sendo “fluxo
de comunicações” mantidos ou armazenados por provedores de internet.
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Com base nessas orientações, diferentemente do que ocorre quando se está alme-
jando o acesso a fluxo de comunicações, não há necessidade de a ordem judicial estabele-
cer limitação temporal específica para os acessos requeridos pelo Ministério Público, por se
tratar de dados estáticos, constantes nas plataformas de dados[5].
Vamos em frente.
[1] HC 587.732-RJ, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Sexta Turma, por unanimidade, julgado em
20/10/2020.
[2] Art. 10. A guarda e a disponibilização dos registros de conexão e de acesso a aplica-
ções de internet de que trata esta Lei, bem como de dados pessoais e do conteúdo de comu-
nicações privadas, devem atender à preservação da intimidade, da vida privada, da honra e
da imagem das partes direta ou indiretamente envolvidas.
[3] BRAUN, Caroline; MARTINS, Rafael D’Errico. O marco civil da internet, a guarda e
fornecimento de registros por provedores de conexão e de acesso a aplicações de internet:
limites legais e questões probatórias relevantes. São Paulo: Quartier Latin, 2015. p. 130.
[4] HC 444.024/PR, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, Rel. p/ Acórdão Ministro
ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 02/04/2019.
[5] Segundo o STJ, no caso, não se tratava de guarda e disponibilização dos registros
de conexão e de acesso a aplicações de internet, e, acaso fosse, a autoridade policial ou o
Ministério Público poderia requerer cautelarmente que o provedor de aplicações de internet,
por ordem judicial, guardasse os registros de acesso à aplicação de internet, para finalidades
de investigação criminal.
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O STJ MUDOU?
Vamos falar sobre um tema pouquíssimo abordado e que não teve a repercussão com-
patível com a devida importância, uma vez que marcou uma (possível) alteração de perspec-
tiva por parte do Superior Tribunal de Justiça.
O tema de fundo é a colaboração premiada. Somente por esse aspecto você deve
redobrar as atenções, pois nos últimos 2 anos, esse é um dos assuntos mais frequentes em
provas de Leis Penais Especiais e de Processo Penal em concurso público.
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Pedro, isso quer dizer que o STJ rompeu de vez com a posição anterior? Ainda não
podemos afirmar isso. No entanto, para as provas, você deve considerar que o entendimento
anterior – no sentido de ser permitida a utilização da confissão como requisito de validade do
acordo de colaboração e concomitantemente como atenuante a incidir na 2ª fase da dosime-
tria da pena – não é mais uniforme dentro da referida Corte.
Vamos em frente.
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Vamos falar sobre um tema pouquíssimo abordado e que não teve a repercussão com-
patível com a devida importância, uma vez que marcou uma (possível) alteração de perspec-
tiva por parte do Superior Tribunal de Justiça.
O tema de fundo é a colaboração premiada. Somente por esse aspecto você deve
redobrar as atenções, pois nos últimos 2 anos, esse é um dos assuntos mais frequentes em
provas de Leis Penais Especiais e de Processo Penal em concurso público.
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Pedro, isso quer dizer que o STJ rompeu de vez com a posição anterior? Ainda não
podemos afirmar isso. No entanto, para as provas, você deve considerar que o entendimento
anterior – no sentido de ser permitida a utilização da confissão como requisito de validade do
acordo de colaboração e concomitantemente como atenuante a incidir na 2ª fase da dosime-
tria da pena – não é mais uniforme dentro da referida Corte.
Vamos em frente.
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Não é segredo para ninguém que dosimetria da pena é um dos temas mais instigantes,
complexos e difíceis de se estudar na parte geral do Direito Penal. Até por isso, ele despenca
em provas de concurso.
Um dos assuntos a ela relacionados que gera bastante dúvida se refere aos critérios
utilizados pelos Tribunais Superiores para definir o quantum de aumento de pena em caso de
reconhecimento de continuidade delitiva.
Vale lembrar que o chamado “crime continuado” tem seu regramento estabelecido pelo
artigo 71 do CPB, nos seguintes termos: “quando o agente, mediante mais de uma ação ou
omissão, pratica dois ou mais CRIMES DA MESMA ESPÉCIE e, pelas condições de tempo,
lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem os subsequentes ser havidos como
continuação do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais
grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços”.
Vem prevalecendo ainda que, para o seu reconhecimento, é necessário observar a uni-
dade de desígnios presente nos delitos praticados pelo agente, razão pela qual a maior parte
da doutrina aponta ter sido adotada a teoria objetivo-subjetiva.
Sobre a natureza jurídica do crime continuado, o direito penal brasileiro adotou a Teoria
da Ficção Jurídica. Segundo ela, desenvolvida por Francesco Carrara, a continuidade delitiva
é uma ficção criada pelo Direito. Existem, na verdade, vários crimes, considerados como um
único delito para fins de aplicação da pena. Foi a teoria acolhida pelo art. 71, CP. A unidade
se opera exclusivamente para fins de aplicação da pena. Para as demais finalidades há con-
curso, tanto que a prescrição, por exemplo, é analisada separadamente em relação a cada
delito (art. 119 do CP e Súmula 497 do STF: “Quando se tratar de crime continuado, a pres-
crição regula-se pela pena imposta na sentença, não se computando o acréscimo decorrente
da continuação”).
Há ainda outra teoria que pretende explicar o crime continuado, mas que não fora aga-
salhada pelo nosso direito penal. Refiro-me à teoria da realidade ou da unidade real, ideali-
zada por Bernardino Alimena, vislumbra o crime continuado como um único delito. Para ele,
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a conduta pode ser composta por um ou vários atos, os quais não necessariamente guardam
absoluta correspondência com a unidade ou pluralidade de delitos.
Certo, Pedro! Mas o que queremos saber agora é como se deve justificar a variante de
aumento de pena, já que no referido dispositivo consta uma larga margem de 1/6 a 2/3?
Explicarei analisando o precedente relatado pelo Ministro Dias Tofolli (HC 134.327[1])
do STF. No caso concreto indicado, fora imputado ao paciente dois crimes de peculato, mas
o Tribunal de Justiça do Espírito Santo aplicou a causa de aumento de pena prevista no artigo
71 do CPB no patamar de 1/3, contrariando o que defende a doutrina!
Por quê? Segundo Paulo Queiroz, “o respectivo aumento (de um sexto a dois terços)
variará conforme o número de infrações praticadas em continuidade; PROPORCIONAL-
MENTE, portanto”.
E o STJ, Pedro? Caminha no mesmo sentido! Para comprovar, basta a leitura do acór-
dão no HC159.476/TO, quando fora anotado que “nos termos da jurisprudência desta Corte,
o aumento pela continuidade delitiva deve-se dar de acordo com o número de infrações, defi-
nindo-se o patamar mínimo 1/6 quando se tratarem de dois delitos”.
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Vamos em frente.
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Sabemos que nos últimos anos várias alterações interpretativas relacionadas às prer-
rogativas de foro foram firmadas pelo STF. Entre as mais importantes, passou-se a se limitar
sua incidência aos crimes praticados (i) no exercício do cargo e (ii) com vínculo funcional (ou
seja, o delito precisa estar relacionado ao cargo exercido). Essa foi a conclusão do Plenário
no AP 937 QO/RJ[1].
Vale registrar que, posteriormente, a Corte anotou que a ratio decidendi do precedente
firmado pela QO na AP 937 aplica-se a toda e qualquer autoridade que possua prerrogativa
de foro, pois “a discussão acerca da possibilidade de modificação da orientação jurispruden-
cial foi conduzida objetivamente pelo Plenário em consideração aos parâmetros gerais da
sobredita modalidade de competência especial, isto é, sem qualquer valoração especial da
condição de parlamentar do réu da AP 937” (QO no INQ 4.703[2]).
Imaginemos agora que um prefeito de determinada cidade esteja sendo acusado de ter
praticado crime envolvendo danos ao erário público no curso (e com vinculação) ao exercí-
cio do seu 1º mandato na municipalidade. Contudo, por ter sido reeleito, atualmente ele está
exercendo o 2º mandato, sem solução de continuidade, como prefeito daquela cidade. Nesse
caso, deverá ser observada a prerrogativa de foro?
Sim! Essa foi a resposta do STF! Segundo a Corte, não havendo solução de descon-
tinuidade entre os mandatos exercidos por Prefeito municipal, em virtude de sua reeleição
para o mandato imediatamente subsequente ao anterior, a competência para processar e
julgar os crimes por ele cometidos durante o exercício do primeiro mandato, em obediência
ao requisito da atualidade da função, é do Tribunal de Justiça.
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mente consecutivo ao anterior, fato que permite fixar a competência do TJ/CE! Decisão no
AgR RE 1240599[3]!
O mais importante a compreender desse entendimento é que ele se deu em um con-
texto no qual a reeleição para o mesmo cargo se materializou sem solução de continui-
dade[4]. Ou seja, o STF, da mesma forma que o STJ, vem sinalizando que essa continuidade
da prerrogativa de foro se limita aos casos em que os mandatos diversos sejam referentes
ao mesmo cargo e exercidos em sequência, de forma ininterrupta.
Apesar disso, não se anulou o processo desde o oferecimento da inicial acusatória, pois
na visão do STJ essa medida não se mostra consentânea com o direito processual moderno,
porquanto os atos praticados pelo juízo incompetente, inclusive os decisórios, são ratificáveis
no juízo competente[5]. A jurisprudência, hoje, é uníssona ao exigir a comprovação de efetivo
prejuízo para a anulação de atos processuais, tanto nas hipóteses de incompetência relativa
quanto nas de absoluta[6].
Vamos em frente.
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Hoje vamos tratar de um tema que é bastante adorado pelo examinador em prova de
concurso público e ainda traz surpresas a muitos candidatos! Refiro-me às penas restritivas
de direito.
Vale anotar que o simples fato de o réu ser reincidente não se revela óbice intransponí-
vel à substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direito, já que há permissivo
legal indicando que o juiz poderá efetuar a conversão, desde que, em face de condenação
anterior, a medida seja socialmente recomendável e a reincidência não se tenha operado em
virtude da prática do mesmo crime.
Até aqui, nada de muito novo, apenas revisão. Agora, é preciso avançar e densificar
nossas reflexões.
Vamos imaginar que alguém foi beneficiado pela substituição de pena privativa de liber-
dade por restritiva de direitos, mas – antes de iniciar o cumprimento da restritiva de direitos
imposta – diz ao juízo que prefere cumprir a pena privativa de liberdade.
Basta imaginarmos um caso de regime inicial aberto em que o apenado entenda ser
menos gravosa essa opção. ISSO É POSSÍVEL?
Para o STJ, NÃO! Essa “reconversão” não pode ocorrer a pedido do condenado, depen-
dendo da observância de requisitos legais (ex.: descumprimento das condições impostas
pelo juiz da condenação), não sendo facultado ao condenado requerer a que lhe parece mais
cômoda ou conveniente (vide RESP 1.524.484/PE[1]).
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É importante que você saiba que, na hora de sua prova, esse é o entendimento domi-
nante e agasalhado pelo Superior Tribunal de Justiça. No entanto, particularmente, entendo
que ele não é razoável. Explico.
Ora, se o apenado desejar, de fato, uma reconversão da PRD em PPL, basta que ele
não inicie o cumprimento da restritiva de direitos que lhe fora indicado e essa reconversão
se materializará. Afinal, o próprio art. 44, § 4o do CPB anota que “a pena restritiva de direi-
tos converte-se em privativa de liberdade quando ocorrer o descumprimento injustificado
da restrição imposta”. Ou seja, se essa for efetivamente a vontade do apenado, estar-se-ia
estimulando um comportamento contra legem que poderia ser facilmente evitado, sem qual-
quer problema legal, afinal a pena privativa de liberdade fixada anterior à conversão deve ser
reputada como legítima e proporcional.
Ainda sobre o tema de penas restritivas de direito, vale destacar que o STJ vem reite-
radamente asseverando inexistir “direito subjetivo do réu em optar, na substituição da pena
privativa de liberdade por restritiva de direitos, se prefere a duas penas restritivas de direito
ou uma restritiva de direitos e uma multa” (AgRg no HC n.456.224/SC, Rel. Ministro Joel Ilan
Paciornik, QUINTA TURMA, Dje 1º/4/2019)”.
Vamos em frente.
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depende do advento dos requisitos legais (descumprimento das condições impostas pelo juiz
da condenação), não cabendo ao condenado, que sequer iniciou o cumprimento da pena,
escolher ou decidir a forma como pretende cumprir a sanção, pleiteando aquela que lhe
parece mais cômoda ou conveniente. Recurso especial desprovido. (REsp 1524484/PE, Rel.
Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 17/05/2016,
DJe 25/05/2016)
[2] AgRg no HC 618.418/SC, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado
em 27/10/2020.
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Você já está cansado de saber (mas nunca é exagero repisar) que se está focando em
concursos para os próximos meses, dominar as alterações exaradas no ordenamento jurí-
dico brasileiro pela Lei 13.964/2019 (Lei Anticrime) é questão de sobrevivência.
Essa compreensão, aliás, foi repisada recentemente pelo STJ, ao julgar no final de
agosto de 2020 a ordem de habeas corpus 512.290/RJ. O caso envolvia uma colaboração
premiada na qual houve gravação ambiental de conversa realizada por um dos interlocuto-
res, em repartição pública, sem o conhecimento dos outros.
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A Lei Anticrime NÃO passou a exigir autorização judicial para gravação de diálogo por
um dos interlocutores, ok? A reserva jurisdicional existe para os casos relacionados à capta-
ção por terceiros, sem conhecimento dos comunicadores, quando existe a inviolabilidade da
privacidade, protegida constitucionalmente!
Vamos em frente.
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De acordo com o art. 265 do Código de Processo Penal, “o defensor não poderá aban-
donar o processo senão por motivo imperioso, comunicado previamente o juiz, sob pena de
multa de 10 (dez) a 100 (cem) salários mínimos, sem prejuízo das demais sanções cabíveis”.
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CEDENTE. (ADI 4398, Relator(a): CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno, julgado em 05/08/2020,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-238 DIVULG 28-09-2020 PUBLIC 29-09-2020).
De acordo com abalizada doutrina, “(…) o artigo trata de situação em que a não con-
tinuidade na causa deva ser comunicada com antecedência ao juiz. Além dessa previsão
legal, o EOAB prevê que, em situações de advogados constituídos, a renúncia ao exercí-
cio do mandato deve ser comunicada ao contratante com antecedência de 10 dias, salvo
se antes do escoamento de tal prazo houver a constituição de novo defensor (art.5º, § 3º).
Diante desses regramentos, sustenta-se que o abandono da causa é algo distinto do exer-
cício do direito de renúncia, pois enquanto o primeiro pode significar conduta deontologica-
mente reprovável e até sancionável pelos órgãos de classe censores (Ordem dos Advogados
do Brasil e Defensoria Pública), uma vez não apresentado qualquer motivo (quando menos o
“imperioso” previsto no dispositivo), o exercício do direito de renúncia ao patrocínio dos inte-
resses do acusado não é decisão censurável, pois se encontra não só regrada em lei como
lícita, como é perfeitamente admissível, dada a não compulsoriedade a que qualquer advo-
gado se eternize à frente da condução de qualquer defesa”[1].
Vale registrar, ademais, que o art. 265 do Código de Processo Penal contém previsão
de sanção processual pelo abandono do processo, sem impedir que a Ordem dos Advoga-
dos do Brasil possa punir, se for o caso, o profissional que compõe os seus quadros admi-
nistrativamente. A parte final do art. 265 do Código de Processo Penal esclarece que a multa
é aplicada “sem prejuízo das demais sanções cabíveis”. O comportamento exigido pelo art.
265 do Código de Processo Penal para a não aplicação da multa nele prevista é que o advo-
gado comunique ao juízo antes de deixar a defesa do réu ou informe a impossibilidade de
prática dos atos processuais que lhe cabem.
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reza processual e não impede eventual censura por parte da Ordem dos Advogados do Brasil,
não havendo que se falar em usurpação da competência disciplinar do órgão de classe ou
em dupla punição pelo mesmo fato (AgRg nos EDcl no RMS 57.492/SP, Rel. Ministro JORGE
MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 21/05/2019).
Destacou-se ainda que “toda profissão legalmente exercida deve ser remunerada e
não se olvida que o profissional liberal depende de seus honorários para sobreviver. No
entanto, existe um procedimento correto e amparado na boa-fé objetiva para o recebimento
de pagamento por serviços prestados e ele não se coaduna com a inércia em relação ao
cumprimento de deveres profissionais, sem prévia comunicação a quem de direito, assu-
mindo o risco de causar graves prejuízos ao contratante, ainda que esteja ele eventualmente
inadimplente” (AgRg nos EDcl no RMS 54.291/SP, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA
FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 12/09/2017).
Não há como se acolher a justificativa de que o contrato avençado entre o réu e os cau-
sídicos somente estabeleciam o compromisso de acompanhar o processo pelo prazo de um
ano, se, mesmo após substabelecerem os poderes recebidos e após o alegado fim do prazo
avençado no contrato de serviços advocatícios, os advogados continuaram por mais dois
anos a apresentar manifestações nos autos. De mais a mais, o contrato celebrado entre as
partes não exime o advogado da obrigação, da qual tem ciência até por dever de ofício, de
renunciar expressamente ao mandato que lhe fora outorgado, comunicando tanto seu cliente
quanto o Juízo[2].
Tema muito legal, pouco abordado e, tenho certeza, aparecerá nas próximas provas!
Vamos em frente.
[1] VEIRA, Renato Stanziola. “Comentário ao art. 265”. In:GOMES FILHO, Antônio
Magalhães; TORON, AlbertoZacharias; BADARÓ, Gustavo Henrique (Coord). Código dePro-
cesso Penal comentado. 2. ed. São Paulo: Thomson ReutersBrasil, 2019
[2] AgRg no RMS 64.313/MG, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA,
QUINTA TURMA, julgado em 06/10/2020, DJe 15/10/2020.
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Professor: Pedro Coelho
Não é segredo para ninguém que a boa preparação envolve o estudo de doutrina, lei
e jurisprudência. No entanto, essa tríade deve ser complementada com revisão periódica e
muito treino de questões.
Justamente por isso, eu sempre confiro as questões das provas envolvendo as maté-
rias por mim lecionadas. E na prova de processo penal do último certame para Defensor
Público do Distrito Federal, houve uma questão simples, mas que – por trás dela – havia uma
bonita complexidade.
Sem dúvidas, na prova de processo penal, foi assertiva mais inteligente que houve, em
minha visão. E trouxe um tema que somente havia sido cobrado em DUAS PROVAS anterio-
res, nos últimos 05 anos (sim, eu tenho minhas planilhas estatísticas, até para acompanhar
e atualizar meu livro de Entendimentos Criminais). Na última prova da Defensoria Pública do
DF, o enunciado narrava uma CONTRAVENÇÃO (infração de menor potencial ofensivo). Em
tese, da competência dos Juizados Especiais, correto? SIM.
Contudo, o réu havia sido citado por edital. E por que isso é importante?
É que, como vemos nas nossas aulas da Lei dos Juizados Especiais Criminais temos
basicamente 3 exceções à regra da competência do JECRIM: (i) CITAÇÃO POR EDITAL, (ii)
complexidade da causa e (iii) conexão ou continência. Foquemos na citação por edital. Diz
o art. 66, pu, da Lei 9099/95 que “não encontrado o acusado para ser citado, o Juiz encami-
nhará as peças existentes ao Juízo comum para adoção do procedimento previsto em lei”.
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mente das razões (08 dias). Se estivéssemos nos Juizados Especiais, isso estaria ERRADO,
porque o prazo é de 10 dias e o termo e razões são apresentados CONJUNTAMENTE[2].
Mas estávamos no procedimento sumaríssimo, certo? Então, Pedro, nesse caso a ape-
lação é apresentada em 05 dias (para o termo) + 08 dias (para as razões)?
Em minhas aulas e livros sempre digo que a única utilidade do art. 600 CPP[3], in fine,
é aqui. O prazo da apelação (no ordinário e sumário) é 5+8, SALVO NOS PROCESSOS DE
CONTRAVENÇÃO, EM QUE O PRAZO SERÁ DE TRÊS DIAS.
Vamos em frente.
[1] Art. 538. Nas infrações penais de menor potencial ofensivo, quando o juizado espe-
cial criminal encaminhar ao juízo comum as peças existentes para a adoção de outro proce-
dimento, observar-se-á o procedimento sumário previsto neste Capítulo.
[2] Art. 82. Da decisão de rejeição da denúncia ou queixa e da sentença caberá apela-
ção, que poderá ser julgada por turma composta de três Juízes em exercício no primeiro grau
de jurisdição, reunidos na sede do Juizado. § 1º A apelação será interposta no prazo de dez
dias, contados da ciência da sentença pelo Ministério Público, pelo réu e seu defensor, por
petição escrita, da qual constarão as razões e o pedido do recorrente. § 2º O recorrido será
intimado para oferecer resposta escrita no prazo de dez dias.
[3] Art. 600. Assinado o termo de apelação, o apelante e, depois dele, o apelado terão o
prazo de oito dias cada um para oferecer razões, salvo nos processos de contravenção, em
que o prazo será de três dias.
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Hoje vamos falar de um tema extremamente importante e que foi recentemente revisi-
tado pelo Supremo Tribunal Federal.
Como disse, não se trata de um tema exatamente recente. Em abril de 2015, o STF
julgou o EP 12 ProgReg-AgR/DF[1], de relatoria do Min. Roberto Barroso, e registrou que
apesar desse requisito não constar do art. 112 da LEP, o pagamento da multa pode sim ser
exigido para deferimento da progressão.
Destacou-se que não se trata de uma prisão por dívida, já que não é ela quem justifica
o recolhimento. O que o débito faz é impedir a progressão de regime, por descumprimento
de um dever reconhecido judicialmente (ainda que sem o trânsito em julgado). Ademais, a
progressão exige do apenado a ideia de autodisciplina e senso de responsabilidade, pressu-
pondo o respeito às decisões judiciais.
ATENÇÃO! Se o apenado não tiver condições econômicas de pagar, estando tal fato
devidamente comprovado, não haverá óbice à progressão. Essa é uma importante exceção.
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REGRA EXCEÇÃO
O não pagamento deliberado da pena de multa Ainda que não tenha havido o adimplemento, pode
cumulativamente aplicada ao sentenciado impede a ser permitida a progressão de regime se ficar compro-
progressão no regime prisional. vada a absoluta impossibilidade econômica do ape-
nado em quitar a multa, ainda que parceladamente.
IMPORTANTE! Não se exige o pagamento integral, de uma só vez, por parte do ape-
nado ou recluso cautelarmente para viabilizar a progressão de regimes. Em casos de impos-
sibilidade de pagamento de imediato, é possível o parcelamento do débito e, com o adimple-
mento da primeira parcela, a progressão já será de rigor, caso os demais requisitos estejam
presentes. Naturalmente, se no curso do parcelamento houver atrasos e inadimplementos,
haverá regressão de regime.
Retomando ao caso do ex-deputado federal, considerando que quando ele foi intimado
a pagar a multa não providenciou o recolhimento da quantia atualizada nem apresentou jus-
tificativas sobre eventual impossibilidade de fazê-lo, houve indeferimento da progressão!
Vamos em frente.
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Desde já preciso alertar que o presente texto não pretende exaurir todas as discussões
e reflexões sobre a (sempre polêmica) TEORIA DO DOMÍNIO DO FATO, mas sim trazer
alguns esclarecimentos necessários em razão de seu (aparente) desvirtuamento e distorção
por parte de alguns doutrinadores e também repercussões práticas.
Um dos primeiros (se não o primeiro) a pensar na teoria do domínio do fato foi o “pai
do finalismo penal“, Hans Welzel. Para o alemão, não seria autor apenas aquele que desem-
penhasse a conduta típica, mas também quem detivesse o domínio final da ação, ou seja,
aquele que dispusesse de todos os meios para determinar o cometimento, o início, o fim e o
modo do crime.
Na década de 60 do século XX, Claus Roxin voltou a trabalhar com a ideia de domínio
do fato, dando um gás no desenvolvimento dessa teoria. Avançando nos estudos, Roxin fez
questão de apontar que nem todos os delitos poderiam observar a teoria do domínio do fato
para a definição de autor. Citava como exemplo o caso dos crimes omissivos impróprios,
quando aquele que estivesse da função de GARANTE (ou garantidor), com um dever de agir
específico, é que seria o autor. Todavia, para os crimes comuns, a teoria teria aplicação sem
problemas.
Beleza, Pedro! Mas quer dizer que nesses crimes comuns, basta a pessoa ter o domí-
nio do fato para ser autor? Então se eu for o executor de um homicídio, mas não tiver o domí-
nio do fato, eu serei partícipe?
Não. Calma!
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Quem exerce a conduta típica (verbo nuclear do tipo) será sempre autor. Segundo
Roxin, nesses casos, há o chamado DOMÍNIO PRÓPRIO DA AÇÃO (há alguma variável
nessa classificação, mas a ideia é essa). Aquele conceito restritivo das teorias objetivo-for-
mais está atendido, mas o autor alemão vai além.
Bacana, Pedro! Agora, por que disseram que a Teoria do Domínio do Fato foi “desvirtu-
ada” na aplicação da Ação Penal 470 (Mensalão)?
Para muitos, a referida teoria foi utilizada como critério de imputação do resultado (prova
do envolvimento) para alguns réus, quando ela deve servir, única e exclusivamente, para
explicar e definir quem é (i) autor e quem é (ii) partícipe.
Deixe-me explicar melhor. A teoria do domínio do fato não pode ser a responsável pela
condenação deste ou daquele réu. A condenação deve se pautar em provas de autoria e de
materialidade, não sendo possível justificá-la a partir da teoria do domínio do fato. Conven-
cido de que o acusado é autor ou partícipe de determinado evento criminoso, aí sim deve ser
utilizada a referida teoria para a verificar o grau de protagonismo na empreitada criminosa.
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Por fim, para entender bem a mensagem das críticas, para além do caso concreto da
AP 470, a teoria do domínio do fato não pode ser responsável pela condenação de quem
quer que seja.
É isso, pessoal! O tema hoje foi um pouco mais “árido”, mas é preciso estar atento às
polêmicas, sobretudo porque essa aí já foi objeto de questões em provas subjetivas!
Vamos em frente.
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A defesa, ao impugnar tal decisão através de Recurso em Sentido Estrito, logrou parcial
êxito, uma vez que o respectivo Tribunal de Justiça determinou o afastamento do delito de pro-
vocação de aborto (art. 125 do CPB) da pronúncia, mantendo os demais termos da decisão.
De acordo com o Tribunal, “o delito de aborto configura bis in idem com a qualificadora
do feminicídio. Vale lembrar, inicialmente, que o feminicídio reúne indícios suficientes para
ser acolhido pela decisão de pronúncia, e isso se dá exatamente porque é uma qualificadora
de ordem objetiva – vai incidir sempre que o crime estiver atrelado à violência doméstica e
familiar propriamente dita -, e existem indicativos de que o crime tenha ocorrido na forma
descrita na denúncia, ou seja, a vítima era ex-namorada do recorrente, sendo certo que
deste relacionamento sobreveio a gravidez. A majorante incidiu justamente porque o delito
foi cometido contra a mulher por razões da condição de sexo feminino, em observância ao
estado gestacional da vítima, protegendo-a, portanto, por demonstrar maior vulnerabilidade.
Como se vê, a vítima, sua ex-namorada, estava em estado gestacional, fato do qual o recor-
rente tinha pleno conhecimento e, ao que tudo indica, pretendia cessá-la, pois não queria
assumir a paternidade. No entanto, a admissibilidade da causa majorante do feminicídio (per-
petrado durante a gestação da vítima) acarreta bis in idem se, igualmente constar da impu-
tação o crime conexo de aborto, por não ser possível, ao perpetrar o feminicídio, o agente
incidir na conduta de feminicídio qualificado pelo estado gestacional da vítima e também res-
ponder pelo crime de aborto, pois ao ceifar a vida ou tentar ceifar a vida de mulher grávida
seria apenado duas vezes: pela majorante e pelo crime de aborto. Assinale-se que é juridi-
camente inaceitável eventual condenação do recorrente pelo crime de homicídio de mulher,
praticado “durante a gestação” e, posteriormente, pelo crime de aborto, porque receberia
dupla apenação (uma pela majorante e outra pelo crime de aborto)”.
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Não! De acordo inclusive com outros julgados, o STJ vem compreendendo que, enquanto
o art. 125 do CP tutela o feto enquanto bem jurídico, o crime de homicídio praticado contra
gestante, agravado pelo art. 61, II, h, do Código Penal protege a pessoa em maior grau de
vulnerabilidade, raciocínio aplicável ao caso dos autos, em que se imputou ao acusado o art.
121, § 7º, I, do CP, tendo em vista a identidade de bens jurídicos protegidos pela agravante
genérica e pela qualificadora em referência (vide HC 141.701/RJ[1]).
Como bem destacado pelo Min. Relator, no crime de aborto provocado por terceiro,
apesar de ser necessário que a vítima esteja grávida, o bem tutelado pelo ordenamento
jurídico é a vida do feto (CC 104.842/PR) e no homicídio contra a gestante, o Código Penal
protege quem está mais vulnerável” (Resp 1.672.789/SP).
Vamos em frente.
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Quem me acompanha em aulas, textos, postagens ou nos meus livros sabem que eu
sempre repito e enfatizo algumas máximas. Hoje, trataremos de duas das principais. A pri-
meira é que nomenclatura em prova de concurso público é questão de sobrevivência e a
segunda é “o que está no informativo, tem que estar na sua cabeça”.
Nessa linha, vamos resgatar uma expressão que apareceu há algum tempo, no infor-
mativo de jurisprudência 912 do Supremo Tribunal Federal, quando da notícia acerca do jul-
gamento do HC 157604/RJ.
A tradicional operação dólar cabo é uma modalidade do crime contra o sistema finan-
ceiro nacional de EVASÃO DE DIVISAS (art. 22, pu, Lei 7492/86), que se aperfeiçoa com a
negociata no mercado paralelo de dólar, com o fito de depósito em instituição estrangeira (no
exterior), em desobediência à legislação vigente no Brasil.
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Vamos em frente.
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Hoje vamos tratar de uma dúvida bastante frequente e que tangencia tanto o direito
penal, como também o direito processual penal.
Em verdade, o seu examinador sabe tanto disso que é bastante frequente indagações
sobre o tema em provas de concurso público, especialmente dentre os crimes contra a admi-
nistração pública.
Isso é muito importante, dentre outras coisas, para situações em que eventual prisão
“flagrante” se dê no momento do recebimento da vantagem.
Imagine que João (servidor público) exige vantagem indevida em razão de sua função.
Três dias depois, marca o encontro para receber os valores demandados e, no momento do
recebimento, é preso em flagrante.
Não! Afinal o crime já estava consumado há 3 dias, sendo a entrega do dinheiro se con-
substancia como exaurimento do crime previamente consumado!
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Vamos em frente.
[1] (…) 2. Trata-se a concussão de delito formal, que se consuma com a realização da
exigência, independentemente da obtenção da vantagem indevida. A entrega do dinheiro se
consubstancia como exaurimento do crime previamente consumado. 3. Caso em que não
havia situação de flagrância delitiva no momento em que a prisão foi efetuada, de modo que
o Magistrado deveria ter relaxado o cárcere, não havendo que se cogitar de liberdade pro-
visória, tampouco de arbitramento de fiança. 4. Todavia, estando já o paciente solto e tendo
levantado os valores referentes ao pagamento da fiança, cumpre ressaltar que a constatação
de ilegalidade do flagrante não há de condenar os elementos indiciários colhidos quando da
lavratura do auto, que mantém sua qualidade informativa, para que se inicie a ação penal.
5. Reclamada a indevida vantagem antes da intervenção policial, não há falar em flagrante
preparado. Se a atividade policial se restringiu a aguardar o melhor momento para executar a
prisão, fica afastado o crime impossível. 6. Habeas corpus não conhecido. (HC 266.460/ES,
Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 11/06/2015,
DJe 17/06/2015).
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Hoje vamos falar de um dos julgados recentes mais polêmicos no âmbito do processo
penal. Refiro-me à ordem de habeas corpus 178.177, julgada no último dia 29 de setembro
de 2020, por apertada maioria na 1ª Turma da Corte (3×2).
A conclusão emanada pelo colegiado foi no sentido de não ser possível ao Ministério
Público recorrer de decisão absolutória do Tribunal do Júri calcada no quesito absolutório
genérico. Ou seja, vamos imaginar que os jurados reconheçam a materialidade e autoria deli-
tivas, mas, na hora do quesito genérico, tenham optado por absolver o acusado. Percebam
que, independentemente de qualquer coisa, mesmo tendo feito o juízo positivo da materiali-
dade e autoria do crime, a legislação vigente impõe a formulação do quesito genérico (para
alguns, chamado de quesito de clemência), conforme se extrai do teor do artigo 483, III e
respectivo §2º do CPP. Esse quesito veio a potencializar no procedimento especial do júri o
valor constitucional a ele inerente da plenitude de defesa, já que o decreto absolutório pode
ser agasalhado pelos juízes leigos do Conselho de Sentença por qualquer fundamento, seja
ele jurídico ou extrajurídico. É esse ponto que diferencia a plenitude de defesa – inerente ao
Júri – e a ampla defesa, típica do processo penal.
Nesses casos, o MP pode recorrer afirmando que se trata de decisão contrária à prova
dos autos?
De acordo com o art. 593, § 3º do CPP, se o Tribunal reconhecer essa situação, deverá
determinar NOVO julgamento, não podendo se imiscuir no mérito para exarar nova decisão.
Esse recurso seria compatível com a SOBERANIA DOS VEREDICTOS?
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O Ministro Celso de Mello entendeu, em agosto de 2019, que NÃO. Em decisão mono-
crática no HC 117.076/PR, afirmou que a absolvição calcada no quesito genérico (após a
materialidade e autoria) reflete a íntima convicção dos jurados, destacando-se que no pro-
cedimento do júri prevalece a plenitude de defesa, ou seja, é possível a decisão com base
em teses e argumentos extrajurídicos. Para o Ministro, esse impedimento valoriza o “livre
convencimento, em que o membro do Conselho de Sentença possui inteira discrição, prote-
gido, constitucionalmente, pelo sigilo da votação (CF, art. 5º, XXXVIII, “b”), para absolver o
acusado por razões, até mesmo, de clemência, tal como tem sido decidido por alguns Tribu-
nais judiciários”.
Voltando ao mais recente HC 178.177, o Ministro Relator Marco Aurélio anotou em seu
voto (vencedor) que a “partir da soberania dos veredictos, tem-se no artigo 483, parágrafo 2º,
que respondendo os jurados aos dois primeiros quesitos (materialidade e autoria) de forma
positiva, deve o corpo de jurados ser indagado se absolve ou não o acusado. Se absolve,
tem-se o encerramento da quesitação. Decidindo os jurados pela condenação, o julgamento
prossegue”.
Na mesma linha, o Ministro Dias Toffoli asseverou que “com a toga que me tem aos
ombros eu alertei que essa é uma instituição disfuncional. Era melhor que os crimes dolosos
contra a vida fossem julgados por juízes togados, e que não tivéssemos os custos e burocra-
cias do Tribunal do Júri. Veja agora, com a pandemia, a dificuldade que é realizar o Tribunal
do Júri. Os relatos são repugnantes, mas há a soberania do Júri e temos que respeitar, seja
para condenar, ou para absolver”.
Como bem registra parcela da doutrina, temos uma “faculdade exclusiva da defesa a
apelação arrimada na argumentação de que a decisão dos jurados é manifestamente contrá-
ria à prova dos autos. Primeiramente, por força do quesito obrigatório da absolvição genérica.
Ademais, a soberania dos veredictos é garantia instituída em favor da plenitude defensiva e
da presunção de inocência do acusado. Não cabe, pois, a um tribunal técnico desconstituir
o mérito do decreto absolutório proferido pelos jurados. Noutro norte, se o réu for conde-
nado, tal decisum não admite dissentimento às provas do feito ou às prescrições legais, pois
representaria grave ofensa ao direito fundamental de presunção de inocência e ao devido
processo legal. A condenação deve estar vinculada ao standard probatório de culpabilidade
do réu, razão pela qual inexiste “um quesito genérico da condenação”[1].
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em recurso do Ministério Público, por contrariedade das provas dos autos, já teve repercus-
são geral reconhecida, no Recurso Extraordinário com Agravo (ARE) 1.225.185, estando
pendente de definição.
Ou seja, apesar da recente decisão da 1ª Turma do STF, ainda não temos uma definição.
Isso obrigará os candidatos a acompanharem o debate e, claro, até ulterior definição, ficar
atento para a existência de duas relevantes correntes de entendimento sobre essa temática.
Vamos em frente.
[1] https://www.conjur.com.br/2020-out-04/gomes-muniz-decisao-absolutoria-ju-
ri-soberana
[2] AgRg no AREsp 1567450/MG, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA
TURMA, julgado em 22/09/2020, DJe 28/09/2020.
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Hoje vamos analisar as peculiaridades de uma decisão exarada pela 6ª Turma do Supe-
rior Tribunal de Justiça, que fora publicada em diário oficial no último dia 25 de agosto e que
fora veiculada também no informativo 678 da referida Corte. Refiro-me ao Habeas Corpus nº
512.290/RJ.
Não sendo seu objetivo primordial, o trabalho desempenhado pode SIM ser aproveitado
no processo penal. Foi isso que ocorreu no caso específico, relacionado à Subscretaria de
Inteligência (SSINTE/SESEG), no Rio de Janeiro.
Vale repisar, como muito bem anotou o Ministro Rogério Schietti, que a agência de inte-
ligência de segurança pública não atua como polícia judiciária na investigação de crimes.
Entretanto, como opera incessantemente na busca de conhecimento, o resultado de suas
operações pode, ocasionalmente, ser aproveitado para subsidiar a produção de provas. Ade-
mais, no Estado do Rio de Janeiro, a SSINTE/SESEG possuía a atribuição legal, em confor-
midade com o art. 2°, parágrafo único, da Resolução n. 436 de 8/2/2011, de prestar “o apoio
necessário” aos órgãos incumbidos de investigação criminal.
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Aliás, dentro do contexto de segurança pública, a inteligência policial “tem como escopo
questões (em sua maioria táticas) de repressão e apoio à investigação de ilícitos e grupos de
infratores – não se trata, registre-se bem, de atividade de investigação criminal”. Visa “levan-
tar indícios e tipologias que auxiliam o trabalho da Polícia Judiciária e do Ministério Público”,
principalmente no combate do crime organizado, dissimulado ou complexo[2].
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Vamos em frente.
[1] BRANDÃO, Priscila; CEPIK, Marco (org). Inteligência de Segurança pública: Teoria
e Prática no controle da criminalidade. Niterói, RJ: Impetus, 2013, p. 39.
[2] GONÇALVES, Joanisval. Atividade de Inteligência e Legislação Correlata. 6. ed. Rio
de Janeiro: Impetus, 2018, pg. 36.
[3] Vale registrar que esse NÃO É UM ENTENDIMENTO ISOLADO NA CORTE! É pos-
sível destacar o seguinte precedente da 6ª Turma, no qual se anotou que “não se apresenta
ilegítima a cooperação da Secretaria de Segurança Pública em investigações, por meio da
denominada Subsecretaria de Inteligência, dotada dos devidos recursos tecnológicos para
empreender as diligências necessárias. A constitucional definição da atribuição de polícia
judiciária às polícias civil e federal não torna nula a colheita de indícios probatórios por outras
fontes de investigação criminal (HC n. 343.737/SC, Ministro Nefi Cordeiro, Sexta Turma).
Assim, não há nulidade nas diligências realizadas por policiais designados pelo Órgão de
Segurança Pública para esse fim específico. (RHC n. 96.540/RJ, Rel. Ministro Sebastião
Reis Júnior, 6ª T., DJe 29/8/2019).
[4] PACHECO, Denilson Feitoza. Atividades de inteligência e processo penal. In: IV
JORNADA JURÍDICA DA JUSTIÇA MILITAR DA UNIÃO – AUDITORIA DA 4ª CJM, 30 set.
2005, Juiz de Fora/MG. Disponível em: <http://pointinteligencia.blogspot.com/2012/05/ativi-
dades-de-inteligencia-e-processo.html#!/2012/05/atividades-de-inteligencia-e-processo.html
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Hoje falaremos de um tema que pode ser explorado pelo seu examinador visando a
confundir o candidato, seja em provas objetivas, como também em provas práticas.
Pensemos em um caso hipotético. João está sendo acusado de ter praticado um crime
de roubo e sua defesa técnica, sem maiores comprovações, afirma que se trata de pessoa
dependente química (viciado em crack e cocaína) e que passou a praticar delitos para “sus-
tentar o vício”.
Essa alegação é suficiente para fazer com que o magistrado instaure o exame toxicoló-
gico para aferição de inimputabilidade ou semi-imputabilidade?
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Vamos em frente.
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Art. 316. O juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes, revogar a prisão preventiva se,
no correr da investigação ou do processo, verificar a falta de motivo para que ela subsista,
bem como novamente decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem. Parágrafo único.
Decretada a prisão preventiva, deverá o órgão emissor da decisão revisar a necessidade de
sua manutenção a cada 90 (noventa) dias, mediante decisão fundamentada, de ofício, sob
pena de tornar a prisão ilegal. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
Esse dispositivo traz algo muito aguardado pela doutrina processual penal, já que a
prisão preventiva – diferentemente do que ocorre com a prisão temporária – não possui prazo
pré-definido pelo legislador. Assim, não raro, há notícias de prisões preventivas absoluta-
mente irrazoáveis, que duram cinco, dez ou até quinze anos, pelo simples fato de o recluso
ser “esquecido no cárcere cautelar”.
Com o fito de se evitar situações como essas, o legislador inseriu a ideia de revisão
periódica dessas prisões preventivas. Assim, a partir da vigência da Lei Anticrime, os magis-
trados precisarão (re)analisar a pertinência, legalidade e razões que ensejaram a referida
cautelar pessoal e verificar – fundamentadamente – se sua manutenção é (ainda) necessária
e adequada. Caso contrário, a revogação será de rigor.
É bem verdade que esse dispositivo do art. 316 do Código de Processo Penal é repleto
de polêmicas. Há muita coisa para falar sobre ele. No entanto, no presente artigo, nos con-
centraremos apenas em uma delas. Será mesmo que todos os órgãos do Poder Judiciário
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Particularmente, entendo que esse comando deve ser observado por todas as instân-
cias, ou seja, juízo de 1º grau, Tribunal revisor e Tribunais Superiores. Explico. O sistema
processual é regido pela ideia de “esgotamento de instâncias” (art. 494 do CPC[1]), ou seja,
uma vez encerrada a atuação de uma determinada esfera judicial, a competência será trans-
ferida para outra – na íntegra – naquilo que se abrange em um recurso.
Ou seja, se estivermos diante de uma prisão preventiva decretada por um juiz de direito,
tão logo prolatada sentença condenatória e mantida a referida cautelar, a partir da apresen-
tação de apelação, a competência – inclusive para análise das cautelares – também é dire-
cionada ao órgão recursal, devendo o mesmo raciocínio ser observado em relação aos Tribu-
nais Superiores. Ora, se a natureza cautelar da prisão mantém essa natureza até o momento
do trânsito em julgado – quando eventual prisão se tornará definitiva – a competência da
revisão periódica deverá acompanhar as instâncias superiores.
Não faz muito sentido, na minha visão, entender como encerrada a competência jurisdi-
cional do magistrado de 1º grau que decretou a prisão preventiva e manter sua competência
para efetuar a revisão periódica a cada 90 dias de processos que se encontram do Tribunal
Recursal, Superior Tribunal de Justiça ou Supremo Tribunal Federal.
ATENÇÃO! Apesar de essa ser a minha visão (e de grande parte da doutrina), é pre-
ciso cuidado. É que, diferentemente do esposado, o entendimento que – até o momento – se
revela majoritário no Superior Tribunal de Justiça é em sentido oposto.
No último dia 22 de setembro, foi publicado no Diário Eletrônico do STJ uma decisão
exarada pela 6ª Turma da Corte, apreciado a ordem de habeas corpus 589.544/SC. Segundo
o que fora deliberado, a obrigação de revisar, a cada 90 (noventa) dias, a necessidade de
se manter a custódia cautelar (art. 316, parágrafo único, do Código de Processo Penal) é
imposta apenas ao juiz ou tribunal que decretar a prisão preventiva. Com efeito, a Lei nova
atribui ao “órgão emissor da decisão” – em referência expressa à decisão que decreta a prisão
preventiva – o dever de reavaliá-la. Encerrada a instrução criminal, e prolatada a sentença ou
acórdão condenatórios, a impugnação à custódia cautelar – decorrente, a partir daí, de novo
título judicial a justificá-la – continua sendo feita pelas vias ordinárias recursais, sem preju-
ízo do manejo da ação constitucional de habeas corpus a qualquer tempo. De acordo com a
Ministra Laurita Vaz (Relatora do referido HC), pretender o intérprete da Lei nova que essa
obrigação – de revisar, de ofício, os fundamentos da prisão preventiva, no exíguo prazo de
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noventa dias, e em períodos sucessivos – seja estendida por toda a cadeia recursal, impondo
aos tribunais (todos abarrotados de recursos e de habeas corpus) tarefa desarrazoada ou,
quiçá, inexequível, sob pena de tornar a prisão preventiva “ilegal”, data maxima venia, é o
mesmo que permitir uma contracautela, de modo indiscriminado, impedindo o Poder Judiciá-
rio de zelar pelos interesses da persecução criminal e, em última análise, da sociedade.
Essa mesma compreensão já havia sido manifestada pela 5ª Turma, ao anotar que nos
“termos do parágrafo único do art. 316 do CPP, a revisão, de ofício, da necessidade de manu-
tenção da prisão cautelar, a cada 90 dias, cabe tão somente ao órgão emissor da decisão
(ou seja, ao julgador que a decretou inicialmente) (…). Portanto, a norma contida no pará-
grafo único do art. 316 do Código de Processo Penal não se aplica aos Tribunais de Justiça
e Federais, quando em atuação como órgão revisor”[2].
Vamos em frente!
[1] Art. 494. Publicada a sentença, o juiz só poderá alterá-la: I – para corrigir-lhe, de
ofício ou a requerimento da parte, inexatidões materiais ou erros de cálculo; II – por meio de
embargos de declaração.
[2] 5ª Turma do STJ, AgRg no HC 569.701/SP, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, julgado
em 09/06/2020, DJe 17/06/2020.
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Hoje vamos falar sobre um tema extremamente interessante e que envolve aspectos
doutrinários, nomenclatura, jurisprudência e, claro, polêmica.
Na clássica obra do inglês Shakespeare, Julieta tinha apenas 13 anos quando manteve
relação amorosa com Romeu, fato esse que a enquadraria – na legislação ora vigente no
Brasil – no conceito de vulnerável. A ideia da teoria sustentada por parcela da doutrina é de
que havendo consentimento e uma diferença pequena da idade entre os parceiros (há quem
indique margem de até 5 anos), não seria razoável considerar o ato sexual como um estupro
(imaginemos um caso de namorados de 13 e 18 anos).
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Ainda assim, é oportuno registrar que em outubro de 2017, a 3ª Seção do Superior Tri-
bunal de Justiça aprovou o enunciado de Súmula 593, no sentido de que “o crime de estupro
de vulnerável se configura com a conjunção carnal ou prática de ato libidinoso com menor de
14 anos, sendo irrelevante eventual consentimento da vítima para a prática do ato, sua expe-
riência sexual anterior ou existência de relacionamento amoroso com o agente”, confirmando
a tendência acima indicada.
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CONCLUSÃO! Com a Súmula 593, o STJ não apenas afastou a possibilidade de flexi-
bilização a partir do eventual consentimento da vítima, como também desqualificou para fins
de consumação do delito a experiência sexual anterior ou a existência de relacionamento
amoroso! Não há, pois, que falar na “Exceção de Romeu e Julieta”!
Vamos em frente.
[1] EREsp 1152864/SC, Rel. Ministra LAURITA VAZ, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em
26/02/2014
[2] REsp 1480881/PI, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, TERCEIRA SEÇÃO,
julgado em 26/08/2015.
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O tema envolvendo Licitações é muito mais estudado para provas de Direito Adminis-
trativo, mas não pode ser negligenciado em concursos cujo edital prevê em seu programa os
chamados crimes de licitação.
Nesse cenário, se o edital do seu certame prevê esse tópico na matéria de Direito Penal
ou Legislação Penal Especial, redobre suas atenções porque um dos delitos mais cobrados
é aquele estampado no art. 89 da Lei 8.666/93. Vejamos:
Quando lemos esse dispositivo, é possível extrair dele a interpretação de que o (simples)
descumprimento de formalidades do procedimento licitatório adequado ensejaria sua tipifi-
cação no mundo concreto. No entanto, não é essa a interpretação mais acertada e seguida
pelos Tribunais Superiores.
Conforme se pode extrair dos mais recentes julgados do Supremo Tribunal Federal, o
crime do artigo 89 da Lei de Licitações não criminaliza o mero descumprimento de formalida-
des, exigindo também violação de postulados caros à Administração e dolo específico[1]. Ou
seja, o referido delito – especialmente em sua segunda parte – revela-se como uma norma
penal em branco, a qual, quanto às formalidades a que alude, é complementada pelo art. 26
da mesma Lei. O delito em questão tutela bem jurídico voltado aos princípios da administra-
ção pública (CF, artigo 37). O descumprimento das formalidades só tem pertinência à repres-
são penal quando involucrado com a violação substantiva àqueles princípios.
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Com base nesse raciocínio, é possível refutar a tipicidade material na conduta em que o
gestor deixou de instaurar licitação para contratação de serviço publicitário, a partir de argu-
mentos legítimos e calcados em pareceres técnicos e jurídicos, não restando sequer indícios
de conluio com os pareceristas.
Vale destacar ainda que a jurisprudência da Corte tem reafirmado o entendimento de
que o crime de inexigibilidade ilegal de licitação (art. 89 Lei 8666/93, 1ª parte) demanda ele-
mento subjetivo especial, qual seja, o animus de causar dano ao erário ou de gerar o enrique-
cimento ilícito dos agentes envolvidos na empreitada criminosa, não configurado na espécie.
Ou seja, a mera adequação FORMAL dos fatos ao tipo objetivo NÃO é suficiente para
a configuração do crime do artigo 89 da Lei de Licitação, na compreensão do STF! Aliás,
para que se verifique no plano concreto a conduta tipificada no art. 89 da Lei 8.666/1993, é
indispensável a demonstração, já na fase de recebimento da denúncia, do elemento subje-
tivo consistente na intenção de causar dano ao erário ou obter vantagem indevida (STF, 2ª
Turma. Inq 3965, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 22/11/2016).
Aprofundando um pouco mais sobre esse tema, vale revisar o entendimento sufragado
em outro julgado da Suprema Corte, especificamente no Inquérito 3674/RJ[2]. À ocasião,
asseverou-se a partir de um triplo critério para a configuração ou não do delito que o intento
do legislador ao tipificar aquela conduta no artigo 89 não é a punição do gestor público des-
preparado, incapaz ou desleixado, mas sim o desonesto, que atua com a intenção (dolo) de
causar dano e/ou obter vantagem indevida, devendo ser diferenciada a conduta que se qua-
lifica como “mero” ilícito civil e administrativo daquele criminal.
Vamos em frente.
[1] Inq 3962, Relator(a): ROSA WEBER, Primeira Turma, julgado em 20/02/2018
[2] Inq 3674, Relator(a): LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em 07/03/2017.
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O tema sobre o qual conversaremos hoje é daqueles que eu gosto de dizer para “guar-
darmos do lado esquerdo do peito”. Falo isso porque se trata de um assunto vinculado a
matérias como o processo penal, direito internacional e também direitos humanos. Além
disso, é bastante específico e difícil de ser encontrado em livros e manuais.
Ou seja, trata-se de um tema complexo, com pouco material explicativo e que VAI CAIR
EM PROVA, especialmente para as carreiras da magistratura, MP, Defensoria Pública e
Delegado de Polícia.
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É possível afirmar, pois, que o entendimento assimilado pelo Superior Tribunal de Jus-
tiça é no sentido de que os serviços telefônicos e telemáticos – por meio dos quais são rea-
lizadas as comunicações interceptadas – encontravam-se ativos no Brasil, por intermédio de
operadoras de telefonia estabelecidas no território nacional, evidenciando-se a efetiva atu-
ação da empresa canadense no País, independentemente do local de armazenamento do
conteúdo das mensagens trocadas entre o recorrente e os demais acusados. Dessa forma,
tratando-se de matéria submetida à jurisdição brasileira, desnecessária se torna a própria
cooperação jurídica internacional, a qual só seria necessária caso se pretendesse, por exem-
plo, interceptar pessoas residentes no exterior, o que não é o caso (RHC n. 67.558/RJ, Minis-
tro Rogerio Schietti Cruz, 6ª Turma).
Até porque, por estar instituída e em atuação no País, a pessoa jurídica multinacional
submete-se, necessariamente, às leis brasileiras, motivo pelo qual se afigura desnecessá-
ria a cooperação internacional para a obtenção dos dados requisitados pelo juízo (RMS n.
55.109/PR, Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, 5ª Turma).
Se eu fosse examinador, certamente traria esse caso para a prova! E SE LIGA! Eu cos-
tumo antecipar várias questões de prova.
Tema IMPORTANTÍSSIMO!
Vamos em frente!
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Hoje falaremos sobre um dos temas que, na minha visão, são mais complexos dentro
da seara criminal. E falo isso sob o prisma teórico, bem como pelo prático. Ou seja, tratar
sobre esse assunto requer muito estudo, atenção e cuidado tanto nas fases dos concursos,
como posteriormente na atividade jurídico-prática da área criminal.
O art. 22, parágrafo único[1] da referida lei diz que é comete crime quem, a qualquer
título, promove, sem autorização legal, a saída de moeda ou divisa para o exterior, ou NELE
MANTIVER DEPÓSITOS não declarados à repartição federal competente.
Analisando o caso concreto, o Ministério Público Federal apontou que o réu ostentava
cerca de US$ 180 mil em uma aplicação no Opportunity em dezembro de 2002, valor não
declarado à Receita Federal e que foi sacado no ano seguinte.
PEDRO, mas essa aplicação não é “depósito em conta corrente”. Há adequação típica?
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De acordo com o Ministro Joel Ilan Paciornik, a parte final do parágrafo único tipifica
a manutenção de depósito não declarado à repartição federal competente no exterior. Para
fins de interpretação do termo “depósito” deve-se considerar o fim a que se destina a norma,
pois visa à proteção do Sistema Financeiro Nacional – SFN. A lei não restringiu o local de
depósito no exterior. Assim, não deve ser considerado apenas o depósito em conta bancária
no exterior, mas também o valor depositado em aplicação financeira no exterior, em razão da
disponibilidade da moeda e do interesse do SFN.
Sobre o tema, Andrei Zenkner Schmidt e Luciano Feldens anotam que a “forma delitiva
da segunda parte do parágrafo único igualmente visa à proteção da regular execução da
política cambial, uma vez certo que depósitos titulados no exterior constituem-se como um
passivo cambial. Ou seja, na expectativa de que um dia retornarão ao País, esses depósi-
tos exigirão ser contraprestacionados em moeda nacional. Mais especificamente, o controle
exercido pelo BACEN sobre depósitos no exterior tem por objetivo mapear o quadro dos
capitais brasileiros no exterior e conhecer a composição do passivo externo líquido do País,
dados esses convenientes e necessários à boa formatação da política cambial brasileira,
sendo essa a finalidade protetiva da norma. O objeto material da conduta delituosa são os
depósitos mantidos pelo agente no exterior, em moeda ou divisas, ao título que forem: como
investimento direto, empréstimos, financiamentos etc. Compreendem-se nessa conceitua-
ção, portanto, as disponibilidades financeiras (divisas ou moeda local depositada em conta
bancária) ou títulos que lhe sejam correspondentes por uma relação de liquidez imediata (V.
g., aplicações em poupança, fundos de investimentos, ações em bolsa de valores, certifica-
dos de depósito bancários etc.)”[3] (grifos nossos).
Tema IMPORTANTÍSSIMO!
Vamos em frente!
[1] Art. 22. Efetuar operação de câmbio não autorizada, com o fim de promover evasão
de divisas do País: Pena – Reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. Parágrafo único.
Incorre na mesma pena quem, a qualquer título, promove, sem autorização legal, a saída
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de moeda ou divisa para o exterior, ou nele mantiver depósitos não declarados à repartição
federal competente.
[2] Evasão de Divisas, 2ª Edição revista e ampliada – Salvador: Juspodivm. 2017.
[3] O Crime de Evasão de Divisas: A Tutela Penal do Sistema Financeiro Nacional
na Perspectiva da Política Cambial Brasileira – Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris. 2006.
fls. 178/179
[4] AREsp 774.523/SP, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA TURMA, julgado
em 07/05/2019
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Hoje vamos falar sobre um tema que vez por outra cai em concurso público e foi nova-
mente revisitado pela 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal, conforme notícia veiculada no
Informativo 964.
Dizendo de outra forma, é possível que a Polícia Federal investigue crimes que serão
processados e julgados no âmbito da Justiça Estadual, desde que se verifique que eles apre-
sentem (i) repercussão Interestadual ou Internacional e (ii) exija REPRESSÃO UNIFORME,
conforme dispuser lei específica (justamente a Lei 10.446/2002).
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No caso concreto, apesar de a investigação ter sido instaurada por requisição do MPF,
posteriormente houve declínio de competência para a Justiça Estadual e a hipótese não se
enquadrava na Lei 10.446/02. A partir dessa situação, a defesa requereu a nulidade de todas
as provas do processo em razão do vício de atribuição. E O QUE O STF DECIDIU?
O art. 5º, LIII, da Constituição da República, ao dispor que ninguém será processado
nem sentenciado senão pela autoridade competente, contempla o princípio do juiz natural,
não se estende às autoridades policiais, porquanto não investidas de competência para julgar.
Uma vez supervisionados pelo juízo competente e por membro do Ministério Público
revestido de atribuição, pouco importa que os procedimentos investigatórios atinentes à ope-
ração desencadeada tenham sido presididos por autoridade de Polícia Federal.
CONCLUSÃO: Como regra, os vícios do Inquérito Policial NÃO geram prejuízo ao pro-
cesso, salvo raras exceções, como na teoria dos frutos da árvore envenenada. Esse pre-
cedente foi abordado HOJE, na aula que será disponibilizada AMANHÃ em nosso curso de
processo penal.
Vamos em frente!
[1] Art. 144, § 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado
e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se a: I – apurar infrações penais
contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou
de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prá-
tica tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se
dispuser em lei; os crimes previstos em tratado ou convenção internacional.
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Assim como em nosso último texto, vamos trazer outro tema relacionado umbilicalmente
à Lei de Lavagem de Capitais, em uma perspectiva mais atrelada ao direito processual penal.
Vale ressaltar que não se trata de tema inédito. Ao contrário, ele recorrentemente é
abordado em provas de concurso público, mas ainda há um número significativo de candi-
datos que desconhecem ou ainda ficam inseguros quando o tema é justa causa duplicada.
Bacana, Pedro! A revisão foi válida! Mas e essa coisa aí de “JUSTA CAUSA DUPLI-
CADA”? O que danado é isso?
Sem desespero! Para a compreensão do termo – que é bastante coerente depois que
entendemos sua razão de existir – precisamos fazer uma rápida análise dos crimes de lava-
gem de capitais!
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gem é um crime ACESSÓRIO, diferido, remetido, parasitário, pois a sua tipificação está con-
dicionada a uma infração penal antecedente.
Beleza! Mas não enrola. E a história lá da Justa Causa Duplicada?
Ora, se “lastro probatório mínimo” é igual à justa causa e essa é exigida de maneira
dúplice, está aí a razão pela qual, no crime de LAVAGEM DE CAPITAIS, exigir-se a chamada
JUSTA CAUSA DUPLICADA, compreenderam? De toda forma, vale conferir a lei:
Em relação à justa causa referente à lavagem, ela é lógica do sistema processual penal,
por isso não é necessária previsão na lei especial!
Essa expressão é muito relevante e, inclusive, vem sendo veiculada em votos dos Minis-
tros e em acórdãos dos Tribunais Superiores. Exemplifica-se isso a partir de um trecho do
voto do Ministro do STJ, Antônio Saldanha Palheiro, no julgamento do Recurso em Habeas
Corpus 124.607/PR, em que registrou que a “denúncia não preenche a justa causa dupli-
cada exigida para o delito de lavagem de ativos, seja por não carrear elementos suficientes
da prática dos crimes antecedentes pelo imputado, mas também porque deixou de amparar
a denúncia com indícios suficientes de autoria quanto ao delito de lavagem, restando induvi-
dosa a inexistência dos indícios de autoria e materialidade delitiva a viabilizar o desencadea-
mento da ação penal, ou seja, falta justa causa ao início da persecução penal”.
Vamos em frente.
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Essa conduta pode ser operacionalizada em 3 fases. Vejamos cada uma delas:
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Conforme indica abalizada doutrina, temos aqui um mecanismo mais sofisticado do que
o inicial mascaramento, revelando-se um conjunto de idas e vindas no círculo financeiro ou
comercial que atrapalha ou frustra a tentativa de encontrar sua ligação com o ilícito antece-
dente. São exemplos de dissimulação as transações entre contas correntes no país ou no
exterior, a movimentação de moeda via cabo, a compra e venda sequencial de imóveis por
valores artificiais[1] (…) (BADARÓ e BOTTINI, 2013, p. 66).
Fase 3 – Integração (integration) – Por fim, nessa etapa os valores são formalmente
incorporados ao sistema econômico, por meio da criação, aquisição ou do investimento em
negócios lícitos, ou compra de bens. Já com a aparência lícita, o capital é formalmente incor-
porado ao sistema econômico, geralmente por meio de investimentos no mercado mobiliário
e imobiliário e é assimilado com todos os outros ativos existentes no sistema. A integração do
“dinheiro limpo” através das outras etapas faz com que este dinheiro pareça ter sido ganho
de maneira lícita.
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O que isso quer dizer, Pedro? É que prevalece, tanto no âmbito doutrinário como também
no jurisprudencial, que a presença das 3 fases não é imprescindível para a configuração do
delito. Havendo efetivamente a mera colocação (introdução), já estaria consumado o crime!
Vamos em frente.
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Hoje vamos tratar de uma decisão interessantíssima e que aparecerá nas próximas
provas de direito penal e processual penal, da lavra da 6ª Turma do Superior Tribunal de Jus-
tiça, exarada no dia 23 de junho de 2020.
É importante destacar também que, segundo o STJ, a mera alegação de que o acusado
é inimputável não justifica a instauração de incidente de insanidade mental, providência que
deve ser condicionada à efetiva demonstração da sua necessidade, mormente quando há
dúvida a respeito do seu poder de autodeterminação[1].
Sabemos que o processo penal brasileiro se orienta pelo sistema da persuasão racio-
nal, razão pela qual o juiz (con)forma seu convencimento a partir da livre apreciação da prova
(art. 155 do CPP). Ou seja, como regra, não há que se falar em prova legal ou tarifada como
critério de solução de controvérsias processuais. No entanto, especificamente em relação à
inimputabilidade (art. 26, caput, do CP) e semi-imputabilidade (art. 26, parágrafo único, do
CP), não há como ignorar a importância do exame pericial, considerando que o Código Penal
adotou expressamente o critério biopsicológico.
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doença mental, ou de desenvolvimento mental incompleto ou retardado, mas também se, por
conta disso, teve o acusado suprimida sua capacidade de entendimento e de autodetermi-
nação à época do fato delituoso. Nesse sentido, como já se pronunciou o STJ, a conclusão
do laudo pericial, ora acostado aos autos, produzido no processo de interdição civil do acu-
sado, é válido apenas em relação aos atos de sua vida civil, não sendo capaz de isentá-lo
da culpabilidade penal. Tal dúvida somente será solucionada após a realização correta do
incidente de sanidade mental do acusado, o qual ainda não se efetivou por culpa exclusiva
do paciente”[2].
Certo, Pedro! Mas, afinal, é ou não possível reconhecer a inimputabilidade sem inci-
dente de insanidade mental?
ATENÇÃO! Isso não significa dizer que o magistrado está vinculado às conclusões do
laudo pericial. NÃO ESTÁ! Aliás, isso é expressamente sublinhado no art. 182 do CPP, ao
se anotar que “o juiz não ficará adstrito ao laudo, podendo aceitá-lo ou rejeitá-lo, no todo ou
em parte“.
Aliás, sobre a possibilidade de o juízo discordar das conclusões exaradas pelos peri-
tos experts nos laudos produzidos em juízo, vale destacar as lições de Gustavo Badaró
no sentido de que “em princípio aplica-se ao laudo que resulta do incidente de insanidade
mental a regra geral das perícias, prevista no art. 182 do CPP, segundo a qual o juiz não
fica vinculado aos laudos periciais, podendo aceitá-los ou rejeitá-los, no todo ou em parte, o
que é uma decorrência da máxima de que o juiz é o peritus peritorum. Todavia, em virtude
da elevada especialização técnica da questão de definir ou não a ocorrência de insanidade
mental no momento da prática da infração penal, será muito difícil que o juiz, sem qualquer
outro elemento técnico, possa divergir do laudo pericial. Poderá haver divergência entre os
laudos periciais: (i) caso se considere que prevalece a regra do art. 150 do CPP, que prevê
a nomeação de peritos – sobre a regra do art. 159, caput, com a redação dada pela Lei
nº 11.690/2008, que determina a realização das perícias por “perito oficial”; (ii) caso sejam
nomeados peritos não oficiais e cada um apresente seu laudo, com resultados divergentes
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(art. 159, § 1º); (iii) considerando que em um caso concreto a perícia de insanidade mental
será particularmente complexa, o juiz designe mais de um perito oficial (art. 159, § 7º). Em
qualquer desses casos, o juiz poderá privilegiar o resultado de um laudo em detrimento de
outro, ou nomear um terceiro perito, ou mandar proceder a novo exame por outros peritos
(CPP, art. 180). A divergência entre o laudo oficial e os pareceres dos assistentes técnicos
pode autorizar a adoção das providências do citado art. 180 do CPP”[3].
Esse tema tem cara de prova! Espero que tenham gostado e, sobretudo, compreendido!
Vamos em frente.
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A Lei n. 13.964/2019, também conhecida como Lei Anticrime, trouxe diversas altera-
ções na área criminal. Entenda melhor os impactos causados!
Não é surpresa para ninguém que a Lei Anticrime (Lei n. 13.964/2019) trouxe várias
alterações na seara criminal e, em grande parte delas, polêmicas se evidenciaram. Conforme
alertei desde o início de sua vigência, em 23 de janeiro de 2020, um dos grandes impactos a
serem observados foi na natureza da ação penal no crime de estelionato. Antes desafiando
sempre a ação penal pública incondicionada, com a Lei Anticrime a regra passou a ser a
ação penal pública condicionada à representação da vítima.
ATENÇÃO! Eu disse que essa é a nova regra, mas ela comporta exceções. De acordo
com o legislador, o crime de estelionato permanecerá desafiando ação penal pública incon-
dicionada quando a vítima for (i) a Administração Pública, direta ou indireta, (ii) criança ou
adolescente, (iii) pessoa com deficiência mental ou (iv) maior de 70 (setenta) anos de idade
ou incapaz.
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E por que isso se aplica à ação penal no estelionato? É que essa alteração legislativa
dispõe sobre a classificação da ação penal e influencia decisivamente o jus puniendi, já inter-
fere nas causas de extinção da punibilidade, como a decadência e a renúncia ao direito de
queixa, portanto, tem efeito material[2].
De toda forma, tínhamos (até então) essa compreensão estabelecida pela 5ª Turma do
STJ. No entanto, no dia 04 de agosto de 2020, a 6ª Turma deliberou sobre o tema ao julgar
o HC 583.837/SC[3], fixando uma divergência na Corte.
De acordo com a Turma, as normas que disciplinam a ação penal, mesmo aquelas
constantes do CPP, são de natureza mista, regidas pelos cânones da retroatividade e da
ultratividade benéficas, pois disciplinam o exercício da pretensão punitiva. O processo penal
tutela dois direitos de natureza pública: tanto os direitos fundamentais do acusado, voltados
para a liberdade, quanto a pretensão punitiva. Não interessa ao Estado punir inocentes, tam-
pouco absolver culpados, embora essa última solução se afigure menos danosa. Não é pos-
sível conferir a essa norma, que inseriu condição de procedibilidade, um efeito de extinção
de punibilidade, quando claramente o legislador não o pretendeu.
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O ato jurídico perfeito e a retroatividade da lei penal mais benéfica são direitos funda-
mentais de primeira geração, previstos nos incisos XXXVI e XL do art. 5º da Constituição
Federal. Por se tratarem de direitos de origem liberal, concebidos no contexto das revoluções
liberais, voltam-se ao Estado como limitadores de poder, impondo deveres de omissão, com
o fim de garantir esferas de autonomia e de liberdade individual. Considerar o recebimento da
denúncia como ato jurídico perfeito inverteria a natureza dos direitos fundamentais, visto que
equivaleria a permitir que o Estado invocasse uma garantia fundamental frente a um cidadão.
Ou seja, para além das controvérsias doutrinárias, temos atualmente uma divergência
entre as turmas criminais do Superior Tribunal de Justiça, assim sintetizada:
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De toda forma, para fases objetivas de concurso público, o examinador tenderá a exigir
dos candidatos a nova regra e suas respectivas exceções, já analisadas por nós. Até even-
tual definição do tema da possibilidade ou não de retroação da nova norma, a divergência
deve ser conhecida e explorada em fases dissertativas, práticas ou orais.
Vamos em frente!
[1] Doutrina: Manual de Direito Penal: parte especial (arts. 121 ao 361) / Rogério San-
ches Cunha – 12. ed. rev., atual. e ampl. – Salvador: Editora JusPODIVM, 2020, p. 413.
[2] O próprio STJ já compartilhou dessa orientação em ocasião pretérita (analisando
outra alteração legislativa) ao asseverar que “a norma que altera a natureza da ação penal
não retroage, salvo para beneficiar o réu. A norma que dispõe sobre a classificação da ação
penal influencia decisivamente o jus puniendi, pois interfere nas causas de extinção da puni-
bilidade, como a decadência e a renúncia ao direito de queixa, portanto, tem efeito material.
Assim, a lei que possui normas de natureza híbrida (penal e processual) não tem pronta
aplicabilidade nos moldes do art. 2º do CPP, vigorando a irretroatividade da lei, salvo para
beneficiar o réu, conforme dispõem os arts. 5º, XL, da CF e 2º, parágrafo único, do CP (HC
182.714-RJ, rel. min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 19.11.12), assim como o
próprio STF, no julgamento da ADI 1.719-9.
[3] HC 583.837/SC, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado
em 04/08/2020.
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Nesse cenário, tenho percebido nas mais diversas matérias que os examinadores têm
exigido conhecimento de teses firmadas pelo Superior Tribunal de Justiça que estão disponi-
bilizadas no Jurisprudência em Teses.
O que é isso, Pedro? Trata-se de uma iniciativa do STJ em que se compila teses refe-
rentes a determinados temas e que têm recebido tratamento reiterado pelo Corte em sentido
semelhante. São vários os temas, as coletâneas e as matérias reunidas. E, no último dia 07
de agosto de 2020, o STJ divulgou a edição de número 153, expressando a terceira parte de
temas acerca dos crimes contra a dignidade sexual.
Indubitavelmente, várias das teses ali coletadas e reunidas aparecerão nos concur-
sos vindouros. Justamente por isso, resolvi separar as 12 teses por mim reputadas como
principais da referida edição, trazendo uma explicação e comentários objetivos sobre cada
uma delas.
Separe esse texto para ler, reler e revisar, porque daqui sairão várias questões de
prova. Disso eu não tenho a menor dúvida. Vamos a elas:
(1) Aquele que adere à determinação do comparsa e contribui para a consumação crime
de estupro, ainda que não tenha praticado a conduta descrita no tipo penal, incide nas penas
a ele cominadas, nos exatos termos do art. 29 do Código Penal.
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Penal, incidirá nas penas do crime praticado (REsp 1799010/GO, Rel. Ministro SEBASTIÃO
REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 23/04/2019).
(2) Nas hipóteses em que há imprecisão acerca do número exato de eventos abusivos à
dignidade sexual da vítima, praticados em um longo período de tempo, é adequado o aumento
de pena pela continuidade delitiva (art. 71 do CP) em patamar superior ao mínimo legal.
(3) Nos crimes de estupro praticados com violência presumida, não incide a regra da
continuidade delitiva específica (art. 71, parágrafo único, do CP), que condiciona a sua inci-
dência às situações de emprego de violência real.
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No caso em tela, os atos libidinosos praticados contra as vítimas vulneráveis foram des-
providos de qualquer violência real, contando apenas com a presunção absoluta e legal de
violência do próprio tipo delitivo. A violência de que trata a continuidade delitiva especial (art.
71, parágrafo único, do Código Penal) é real, sendo inviável aplicar limites mais gravosos do
benefício penal da continuidade delitiva com base, exclusivamente, na ficção jurídica de vio-
lência do legislador utilizada para criar o tipo penal de estupro de vulnerável, se efetivamente
a conjunção carnal ou ato libidinoso executado contra vulnerável foi desprovido de qualquer
violência real […] (HC 232.709/SP, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, Quinta Turma, julgado
em 25/10/2016). Segundo o STJ, o aumento no crime continuado comum é determinado em
função da quantidade de delitos cometidos. Assim, tendo sido cometidos crimes de estupro
de vulnerável, com violência presumida, contra 8 vítimas diferentes, incide a continuidade
delitiva simples, devendo ser aplicado o aumento de 2/3, que resulta na reprimenda definitiva
de 13 anos e 4 meses de reclusão. (HC 483.468/GO, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA
FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 05/02/2019).
(4) A orientação da Súmula n. 593/STJ não importa na retroatividade de lei penal mais
gravosa (novatio legis in pejus) e apresenta adequada interpretação jurisprudencial das modi-
ficações introduzidas pela Lei n. 12.015/2009.
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Portanto, uma vez que a referida Lei estava em vigor na data do delito ora apurado, não
há hipótese de violação à irretroatividade de lei penal mais gravosa. Assim, as hipóteses que
se amoldam com precisão ao disposto na Súmula n.º 593/STJ, não podem ter sua tipicidade
afastada com fundamento em eventual consentimento da vítima para a prática do ato ou na
existência de prévia relação amorosa (AgRg no REsp 1765591/ES, Rel. Ministra LAURITA
VAZ, SEXTA TURMA, julgado em 23/04/2019).
(5) A prática de conjunção carnal ou de atos libidinosos diversos contra vítima imobili-
zada configura o crime de estupro de vulnerável do art. 217-A, § 1º, do CP, ante a impossibi-
lidade de oferecer resistência ao emprego de violência sexual.
(6) O avançado estado de embriaguez da vítima, que lhe retire a capacidade de ofere-
cer resistência, é circunstância apta a revelar sua vulnerabilidade e, assim, configurar a prá-
tica do crime de estupro previsto no § 1º do art. 217-A do Código Penal.
A indução ao consumo excessivo de bebida alcoólica pode ser utilizado como meio para
submeter a vítima a um estado de supressão da consciência ou de incapacidade de atuar con-
forme sua vontade, tornando-a vulnerável para os fins do art. 217-A, § 1º, do Código Penal.
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Segundo julgados da Corte e nos termos do artigo 218-B do Código Penal, são punidos
tanto aquele que capta a vítima, inserindo-a na prostituição ou outra forma de exploração
sexual (caput), como também o cliente do menor prostituído ou sexualmente explorado (§
1º). Na espécie, o paciente, a quem se imputou a exploração sexual dos ofendidos, também
figurou como “cliente” dos menores, com eles praticando atos libidinosos, fatos que se enqua-
dram na figura do inciso I do § 2º do artigo 218-B do Estatuto Repressivo.
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seu comportamento sexual. Diferentemente do que ocorre nos artigos 217-A, 218 e 218-A
do Código Penal, nos quais o legislador presumiu de forma absoluta a vulnerabilidade dos
menores de 14 (catorze) anos, no artigo 218-B não basta aferir a idade da vítima, devendo-
-se averiguar se o menor de 18 (dezoito) anos não tem o necessário discernimento para a
prática do ato, ou por outra causa não pode oferecer resistência, o que ocorre, na maioria
das vezes, mediante a comprovação de que se entrega à prostituição devido às suas más
condições financeiras. (HC 371.633/SP, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, jul-
gado em 19/03/2019).
(9) O segredo de justiça previsto no art. 234-B do Código Penal abrange o autor e a
vítima de crimes sexuais, devendo constar da autuação apenas as iniciais de seus nomes.
A 6ª Turma analisou, entre outros casos, situação em que se apurava a prática de crime
de estupro de vulnerável, em tese praticado por genitor contra filha de 4 anos de idade.
Assim, ainda que fosse o caso de violência doméstica, deve prevalecer, para fins de fixação
de competência, a condição de criança da vítima, nos termos do Estatuto da Criança e do
Adolescente. Ademais, por outra senda, esta Corte já decidiu que, “verifica-se que o fato de
a vítima ser do sexo feminino não foi determinante para a prática do crime de estupro de vul-
nerável pelo paciente, mas sim a idade da ofendida e a sua fragilidade perante o agressor,
seu próprio pai, motivo pelo qual não há que se falar em competência do Juizado Especial de
Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher” (AgRg no REsp 1490974/RJ, Rel. Ministro
ANTONIO SALDANHA PALHEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 20/08/2019).
(11) Nos crimes sexuais praticados contra criança e adolescente, admite-se a oitiva da
vítima por profissional preparado e em ambiente diferenciado na modalidade do “depoimento
sem dano”, prevista na Lei n. 13.431/2017, medida excepcional que respeita sua condição
especial de pessoa em desenvolvimento.
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O STJ tem entendido justificada, nos crimes sexuais contra criança e adolescente, a
inquirição da vítima na modalidade do “depoimento sem dano”, em respeito à sua condição
especial de pessoa em desenvolvimento, procedimento admitido, inclusive, antes da defla-
gração da persecução penal, mediante prova antecipada (AgRg no AREsp 1612036/RS, Rel.
Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 05/03/2020).
(12) Na apuração de suposta prática de crime sexual, é lícita a utilização de prova extra-
ída de gravação telefônica efetivada pelo ofendido, ou por terceiro com a sua anuência, sem
o conhecimento do agressor.
Vamos em frente!
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O QUE É ISSO?
Quem acompanha nossas aulas e nossos textos já sabe que um dos mantras que mais
repito é “gostando ou não, nomenclatura em prova de concurso é questão de sobrevivência”.
Falo isso porque, frequentemente, aparecem questões objetivas e, principalmente, dissertati-
vas exigindo o domínio por parte dos candidatos sobre determinadas teorias com nomencla-
turas peculiares. Por vezes, esse tipo de questão é extremamente criticável, pois não men-
sura efetivamente conhecimento e levanta dúvidas sobre a qualidade da prova. Ainda assim,
dominar algumas dessas teorias pode ser o diferencial entre sua aprovação ou não.
Nesse contexto, uma expressão que já apareceu em provas se referia aos CRIMES DO
COLARINHO AZUL.
Como exemplos típicos das infrações penais etiquetadas como crimes do colarinho
branco, podemos citar a macrocriminalidade econômica, desenhada no ordenamento jurí-
dico pátrio pelas leis (i) de lavagem de capitais (Lei n. 9.613/1998), (ii) dos crimes contra o
sistema financeiro nacional (Lei n. 7.492/1986), (iii) dos crimes contra a ordem tributária (Lei
n. 8.137/1990), entre outras.
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Vamos explicar.
Diversamente aos crimes do colarinho branco, os crimes do colarinho azul são pratica-
dos por pessoas economicamente desabastadas e se verifica como uma alusão aos maca-
cões azuis utilizados nas fábricas dos Estados Unidos, servindo como “identificador” dos auto-
res mais recorrentes, evidenciando a oposição à criminalidade econômica supramencionada.
Aqui se pode dar como exemplos os crimes patrimoniais (furto, estelionato, roubo),
lesões corporais, crimes de dano, entre outros. Apesar de um evidente caráter preconceitu-
oso e estigmatizador na classificação, a expressão se pauta por questões estatísticas a partir
dos delitos efetivamente descobertos e/ou investigados pelo sistema de justiça, que autori-
zam identificar a “clientela” mais frequente desse tipo de criminalidade.
Como disse acima, além de isso já ter aparecido pontualmente em provas de concurso, há
uma razão bastante forte para pensarmos que isso permanecerá acontecendo. É que o Ministro
do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux (próximo presidente do STF), no julgamento da
Ação Penal 470 (caso do Mensalão), valeu-se, em seu voto, dessa expressão, assim indicando:
Vamos em frente.
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Enunciado 2: Para a aplicação do artigo 40, inciso VI, da Lei n. 11.343/2006, é neces-
sária a prova de que a criança ou adolescente atua ou é utilizada, de qualquer forma, para
a prática do crime, ou figura como vítima, não sendo a mera presença da criança ou adoles-
cente no contexto delitivo causa suficiente para a incidência da majorante.
Enunciado 8: Nos casos de Estelionato (art. 171, CP) cometido por meio virtual, a com-
petência para processo e julgamento da ação será do local da agência bancária da conta
depositária, se a vítima realizou depósito bancário em dinheiro, ou o local da agência bancá-
ria da vítima, se ela realizou transferência bancária (TED).
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Enunciado 11: O pronunciamento jurisdicional do art. 396 do CPP, que recebe a denún-
cia, tem natureza jurídica de decisão interlocutória, portanto necessita de fundamentação,
conforme art.93, IX, da CF.
Enunciado 15: Para fins de aplicação do art. 91-A do Código Penal, cabe ao Ministério
Público, e não à Defesa, a comprovação de incompatibilidade entre o patrimônio e os rendi-
mentos lícitos do réu.
Vamos em frente!
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Diante dessa decisão, o membro do Ministério Público atuante no caso impetrou Man-
dado de Segurança, tendo o respectivo Tribunal deferido a ordem para manter os valores em
questão bloqueados.
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Art. 593. Caberá apelação no prazo de 5 (cinco) dias: II – das decisões definitivas,
ou com força de definitivas, proferidas por juiz singular nos casos não previstos no Capí-
tulo anterior;
Art. 5º Não se concederá mandado de segurança quando se tratar: II – de decisão judi-
cial da qual caiba recurso com efeito suspensivo;
Vamos em frente.
[1] AgInt no RMS 53.637/PE, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, julgado em
16/05/2017 (…) 2. Não é admissível a impetração de mandado de segurança contra ato juris-
dicional que defere o desbloqueio de bens e valores, por se tratar de decisão definitiva que,
apesar de não julgar o mérito da ação, coloca fim ao procedimento incidente. 3. O recurso
adequado contra a decisão que julga o pedido de restituição de bens é apelação, sendo inca-
bível a utilização de mandado de segurança como sucedâneo do recurso legalmente pre-
visto. 4. Ausente, ainda, teratologia na decisão que determinou o desbloqueio dos valores,
tendo em vista o tempo de constrição perdurar mais de 3 anos, à época do julgamento, sem
a propositura de ação penal. 5. Recurso especial provido para restabelecer a decisão que
determinou a liberação dos valores bloqueados e indeferido o pedido de sobrestamento do
recurso às fls. 744-748. (REsp 1787449/SP, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA,
julgado em 10/03/2020, DJe 13/03/2020).
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Esse é um tema que vez ou outra aparece em provas dissertativas e causa um verda-
deiro alvoroço. A razão é simples: HÁ CONTROVÉRSIAS! Vamos entender?
De acordo com o art. 155, § 3º, do CPB, para fins de consumação do delito de furto,
“equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico”.
Ou seja, se alguém subtrai a energia elétrica da casa da vizinha, estará cometendo crime de
furto, certo?
De acordo com parcela da doutrina, o referido sinal NÃO pode ser objeto de furto.
Segundo Bitencourt, “energia se consome, se esgota, diminui e pode inclusive terminar, ao
passo que sinal de TV não se gasta, não diminui. (…) Quem retira sinal de TV alheio não
reduz patrimônio alheio” e tampouco dificulta ou limita seu desfrute.
Art. 35. Constitui ilícito penal a interceptação ou a recepção não autorizada dos sinais
de TV a Cabo.
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Não obstante haver uma conduta típica desenhada pelo legislador, não houve imputa-
ção abstrata de sanção penal e por não haver pena cominada ao tipo legal a conduta é atí-
pica! Trata-se, pois, nos dizeres de Luiz Flávio Gomes de um exemplar da chamada norma
penal em branco inversa, ou seja, aquela em que o complemento normativo diz respeito à
sanção, não ao conteúdo da proibição! No caso ora analisado, inexistindo tal norma, não se
admite a aplicação da analogia in malam partem para fins punitivos.
No entanto, esse tema é mais provável em fases discursivas ou orais, ocasião em que
o examinado deve expor os dois posicionamentos, com base nas posições doutrinárias e
jurisprudenciais acima indicadas.
Vamos em frente.
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Vamos em frente!
[1] Art. 10-A. É direito da mulher em situação de violência doméstica e familiar o atendi-
mento policial e pericial especializado, ininterrupto e prestado por servidores – preferencial-
mente do sexo feminino – previamente capacitados. § 1ºA inquirição de mulher em situação
de violência doméstica e familiar ou de testemunha de violência doméstica, quando se tratar
de crime contra a mulher, obedecerá às seguintes diretrizes: I – salvaguarda da integridade
física, psíquica e emocional da depoente, considerada a sua condição peculiar de pessoa
em situação de violência doméstica e familiar; II – garantia de que, em nenhuma hipótese, a
mulher em situação de violência doméstica e familiar, familiares e testemunhas terão contato
direto com investigados ou suspeitos e pessoas a eles relacionadas; III – não revitimização
da depoente, evitando sucessivas inquirições sobre o mesmo fato nos âmbitos criminal, cível
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Nesse contexto, uma das questões que será cobrada em provas vindouras envolverá o
caso concreto apreciado pela 5ª Turma do Superior Tribunal de Justiça, cujo julgamento fora
concluído em 19 de março de 2019, na ordem de habeas corpus nº 371.633/SP (Relatoria
Ministro Jorge Mussi).
Antônio “convidou” adolescentes para, duas vezes por semana, irem ao seu aparta-
mento e, em troca de lanches e 50 reais, manter com ele relações sexuais, fato esse que se
reproduziu por cerca de 3 meses.
Em uma primeira análise, é fácil concluir que, ao menos em tese, esse comportamento
se amolda ao tipo penal do art. 218-B do CPB[1], ou seja, delito de favorecimento da prosti-
tuição ou outra forma de exploração sexual de criança, ou adolescente ou vulnerável, afinal
o intento do legislador é punir tanto o explorador da atividade, como também o eventual
“cliente”.
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A leitura conjunta do caput e do § 2º, I, do art. 218-B do Código Penal NÃO PERMITE
IDENTIFICAR A EXIGÊNCIA de que a prática de conjunção carnal ou outro ato libidinoso
com adolescente de 14 a 18 anos se dê por INTERMÉDIO DE TERCEIRA PESSOA. Basta
que o agente, mediante pagamento, convença a vítima, dessa faixa etária, a praticar com ele
conjunção carnal ou outro ato libidinoso.
Além de sustentar a atipicidade da conduta – tese essa refutada pelo STJ, conforme
acima indicado – a defesa tentou afastar a continuidade delitiva no caso em tela. No entanto,
essa compreensão também não recebeu guarida do Tribunal. Vejamos as razões.
De acordo com a tese veiculada perante a Corte, a habitualidade delitiva seria verda-
deira condição para o crime do art. 218-B do CPB, razão pela qual haveria óbice para o reco-
nhecimento da continuidade. Entretanto, segundo o STJ, os núcleos submeter, induzir, atrair
e facilitar, exigem a habitualidade ao exercício da prostituição ou de outra forma de explora-
ção sexual para fins de consumação, o que NÃO OCORRE com o tipo do inciso I do § 2º do
artigo 218-B do Código Penal.
Essa é a mesma compreensão de Cleber Masson, para quem “nos núcleos ‘subme-
ter’, ‘induzir’, ‘atrair’ e ‘facilitar’, a consumação se dá no momento em que a vítima passa a
se dedicar com habitualidade ao exercício da prostituição ou de outra forma de exploração
sexual, ainda que não venha a atender pessoa interessada em seus serviços”, ao passo que
o tipo do inciso I do § 1º do artigo 218-B do Código Penal “não reclama a habitualidade no
relacionamento sexual entre o agente e a pessoa menor de 18 e maior de 14 anos”[3].
Tema bem interessante, pois – no mesmo dispositivo – temos um crime habitual (caput)
e outro não habitual!
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Por fim, uma curiosidade bem interessante e “com cara de prova”. Vale registrar que a
vulnerabilidade do art. 218-B do CPB é diferente daquela delineada nos arts. 217-A, 218 e
218-A do mesmo diploma, consoante a 5ª Turma do STJ. No crime do art. 218-B do CPB, a
vítima é “alguém menor de 18 (dezoito) anos ou que, por enfermidade ou deficiência mental,
não tem o necessário discernimento para a prática do ato, facilitá-la, impedir ou dificultar que
a abandone”.
Em sendo as vítimas maiores de 14 anos e menores de 18, o fato de ter havido consen-
timento, por si só, não afasta a tipicidade do art. 218-B. No estupro de vulnerável, os vulnerá-
veis são os menores de 14 anos, os enfermos e deficientes mentais e os que não podem opor
resistência”, ao passo que “no art. 218-B, cuja titulação também trata de pessoa vulnerável,
inclui-se o menor de 18 anos.
Vamos em frente!
[1] Art. 218-B. Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra forma de exploração
sexual alguém menor de 18 (dezoito) anos ou que, por enfermidade ou deficiência mental,
não tem o necessário discernimento para a prática do ato, facilitá-la, impedir ou dificultar
que a abandone: Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos. § 1º Se o crime é praticado
com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também multa. § 2º Incorre nas mesmas
penas: I – quem pratica conjunção carnal ou outro ato libidinoso com alguém menor de 18
(dezoito) e maior de 14 (catorze) anos na situação descrita no caput deste artigo; II – o pro-
prietário, o gerente ou o responsável pelo local em que se verifiquem as práticas referidas no
caput deste artigo. § 3º Na hipótese do inciso II do § 2º, constitui efeito obrigatório da conde-
nação a cassação da licença de localização e de funcionamento do estabelecimento.
[2] REsp 1490891/SC, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, jul-
gado em 17/04/2018, DJe 02/05/2018
[3] Código Penal Comentado. 6ª ed. São Paulo: Método, 2018, p. 926/927
[4] Tratado de Direito Penal. Parte Especial. v. 4. 5ª ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 124.
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Hoje vamos tratar de um tema extremamente relevante da parte geral do direito penal e
que despenca (de múltiplas formas) em prova de concurso público.
As pontes de ouro seriam o caminho possível de ser percorrido pelo agente que iniciou
a prática de um ilícito penal voltando a corrigir o seu percurso, retornando à seara da licitude.
A ponte de ouro está presente, entre nós, no art. 15 do CPB, nos institutos do arrependimento
eficaz e desistência voluntária. Segundo ele, o agente que, voluntariamente, desiste de pros-
seguir na execução (DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA) ou impede que o resultado se produza
(ARREPENDIMENTO EFICAZ), só responde pelos atos já praticados.
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No entanto, eu preciso que você redobre os cuidados aqui! É que o seu examinador
pode exigir de você o conhecimento acerca da ponte de ouro ANTECIPADA! Aliás, isso foi
objeto de pergunta da última prova oral do MP/MG, realizada em 2020.
Essa ponte de ouro antecipada é uma inovação trazida pela Lei Antiterrorismo. Segundo
o art. 10 da Lei 13.260/2016, há a previsão de que “mesmo ANTES DE INICIADA A EXECU-
ÇÃO do crime de terrorismo, na hipótese do art. 5º desta Lei, aplicam-se as disposições do
art. 15 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal”.
Antes de concluirmos, preciso que você redobre a atenção a um detalhe que pode ser
decisivo. A ponte de ouro, como visto, é associada aos institutos da desistência voluntária e
do arrependimento eficaz (art. 15 do CPB), mas não em relação ao arrependimento posterior
(art. 16 do CPB[1]). Em relação a esse último, temos a chamada ponte de prata. Trata-se de
um caminho a ser adotado pelo agente criminoso, ofertado pela legislação visando também à
redução de danos da conduta delituosa que, não obstante não evitar que o réu responda pelo
crime perpetrado, autoriza uma minoração das circunstâncias, viabilizando que o processa-
mento se dê como se tentativa fosse. Ele não será beneficiado com a exclusão da tipicidade
(ponte de ouro), mas o será com a (causa de) redução da pena!
Existe ainda outras pontes no direito penal, como as de bronze e diamante, menos fre-
quentes (porém não menos importantes) do que as de ouro e prata. No entanto, elas serão
objeto de outra postagem!
Vamos em frente!
[1] Art. 16 – Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado
o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário
do agente, a pena será reduzida de um a dois terços.
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Hoje vamos tratar sobre um tema que gera bastante confusão por parte dos alunos. Não
é segredo para ninguém que o conhecimento e o domínio dos entendimentos consolidados
em verbetes sumulares dos Tribunais Superiores são mandatórios para concursos públicos.
No entanto, se saber a literalidade das súmulas é essencial para provas, alguns verbetes
demandam um estudo mais aprofundado, pois não são autoexplicativos. É o caso da Súmula 617
do Superior Tribunal de Justiça, aprovada em 26 de setembro de 2018 pela 3ª Seção da Corte.
Saber o que está por trás desse verbete é imprescindível, especialmente para provas
discursivas e dissertativas. Vamos ilustrar com um hipotético caso concreto:
João cumpria uma pena de 2 anos e 8 meses de reclusão, tendo sido beneficiado com
o livramento condicional, em janeiro de 2015. Em março do mesmo ano, ele foi preso em fla-
grante por um novo crime. Após o período de prova, o magistrado a quo entendeu por bem
revogar o benefício, tendo em vista a superveniência da segunda condenação (definitiva).
De acordo com a tese sustentada pelo Ministério Público, considerando o teor do artigo
86 do CPB, deve ser o benefício do livramento condicional revogado, já que há a previsão
desse efeito se o liberado condicionalmente vem a ser condenado a pena privativa de liber-
dade em sentença irrecorrível por crime cometido durante a vigência do benefício. Vejamos
o que diz o referido dispositivo:
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No nosso exemplo, João de fato cometeu crime durante o período de prova, mas a
revogação do livramento condicional somente foi realizada pelo magistrado após o mencio-
nado intervalo de tempo.
Nesse contexto, invocando o art. 90 do Código Penal, a defesa de João defende que a
postura adotada pelo magistrado fora equivocada, afinal “se até o seu término o livramento
não é revogado, considera-se EXTINTA a pena privativa de liberdade”.
E foi nesse contexto que o Superior Tribunal de Justiça consolidou o verbete sumular nº
617: A ausência de suspensão ou revogação do livramento condicional antes do término do
período de prova enseja extinção da punibilidade pelo integral cumprimento da pena”.
Você pode estar pensando que essa é uma janela para impunidade. Ora, se o magis-
trado tem que aguardar eventual trânsito em julgado da condenação do segundo crime e ela
somente ocorrer após o período de prova da liberdade condicional, ele estará de “mãos ata-
tadas”, certo?
A Lei de Execução Penal prevê, em seu art. 145, que praticada pelo liberado outra infra-
ção penal, o Juiz poderá ordenar a sua prisão, ouvidos o Conselho Penitenciário e o Ministé-
rio Público, SUSPENDENDO o curso do livramento condicional, cuja revogação, entretanto,
ficará dependendo da decisão final.
Voltando ao caso de João, percebe-se que o magistrado não observou o art. 145 da
LEP. Em verdade, durante o período de provas, não determinou a suspensão, prorrogação
ou revogação do benefício, tendo adotado essa última opção APÓS o referido período, vio-
lando o art. 90 do CPB.
Olha o detalhe!!! O que o juiz deveria ter feito, seguindo o art. 145 da LEP, era SUSPEN-
DER cautelarmente o benefício, ainda durante o seu curso, situação que se manteria até o
trânsito em julgado da sentença condenatória, o que acarretaria a sua revogação.
Não fazendo isso no período devido, tanto do STF, como também a 5ª e 6ª Turmas do
STJ entendem que deve ser reconhecida a extinção da pena privativa de liberdade. Essa é a
inteligência da Súmula 617 do STJ! Ela precisa ser lida e interpretada em consonância com
o artigo 145 da LEP.
Vamos em frente!
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