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Eliovaine

Eliovaine Gouvea
Gouvea da
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2023
Brasília
3ª edição
Organizado por CP Iuris

ISBN 978-65-5701-088-4

CRIMINOLOGIA
SOBRE O AUTOR
RODRIGO FRANCISCONI COSTA PARDAL. Graduado em Direito pela PUC/SP. Mestre e
Doutorando em Direito Penal pela PUC/SP. Especialista em Direito Penal pela Escola Superior do MP e pela
Universidade de Salamanca/Espanha. Professor de Direito Penal. Autor da obra “Direito Penal. Parte Geral”
da Editora Rideel.
Eliovaine Gouvea
Eliovaine da Silva
Gouvea da CPF: 030.720.271-29
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SUMÁRIO
1. APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA ...................................................................................................................9

1. Considerações preliminares ...............................................................................................................10


2. Roteiro de Estudos ..............................................................................................................................12

2.INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA CRIMINOLOGIA ..........................................................................................14

1. Considerações Preliminares ...............................................................................................................15


2. Evolução histórica da Criminologia ....................................................................................................16
2.1. PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA CRIMINOLOGIA MODERNA ................................................................................17
3. Conceito de Criminologia ....................................................................................................................17
3.1. DIREITO PENAL.........................................................................................................................................19
3.2.CRIMINOLOGIA .........................................................................................................................................19
3.3. POLÍTICA CRIMINAL...................................................................................................................................20
4. Método...............................................................................................................................................21
5. Objeto de estudo da Criminologia ......................................................................................................22
5.1. DELITO ...................................................................................................................................................22
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5.2. DELINQUENTE ..........................................................................................................................................23


5.3. VÍTIMA ...................................................................................................................................................24
5.4. CONTROLE SOCIAL....................................................................................................................................25
6. Funções da Criminologia ....................................................................................................................26
6.1. EXPLICAÇÕES CIENTÍFICAS DO FENÔMENO CRIMINAL ........................................................................................27
6.2. INTERVENÇÃO POSITIVA NO INFRATOR..........................................................................................................27
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6.3. AVALIAÇÃO DOS DIFERENTES MODELOS DE REAÇÃO AO CRIME ...........................................................................27


7. Sistemas da Criminologia ...................................................................................................................29
7.1. CONCEPÇÃO AUSTRÍACA/POSIÇÃO ENCICLOPÉDICA.........................................................................................29
7.2. CONCEPÇÃO ESTRITA ................................................................................................................................30
8. Classificações da Criminologia ...........................................................................................................30
Silva -- CPF:

3. FASES PRÉ-CIENTÍFICA E CIENTÍFICA DA CRIMINOLOGIA: A LUTA DE ESCOLAS ..........................................32


da Silva

1. Nascimento da Criminologia ..............................................................................................................33


Gouvea da

2. Escola Clássica/Liberal-Clássica..........................................................................................................33
Eliovaine Gouvea

2.1. PRINCIPAIS EXPOENTES DA ESCOLA CLÁSSICA ..................................................................................................33


2.2. O ESTUDO DA PENA PARA A ESCOLA CLÁSSICA ................................................................................................35
Eliovaine

3. Escola Positivista/Positiva ..................................................................................................................35


3.1. PRINCIPAIS EXPOENTES DA ESCOLA POSITIVISTA..............................................................................................36
3.2. O ESTUDO DA PENA PARA A ESCOLA POSITIVISTA............................................................................................39
3.3. QUADRO SINÓPTICO: A LUTA DAS ESCOLAS .....................................................................................................41
3.4. OUTROS MODELOS DE ESCOLAS (INTERMEDIÁRIAS/ECLÉTICAS) ...........................................................................41

4. CRIMINOLOGIA CIENTÍFICA MODERNA: TEORIAS DO COMPORTAMENTO CRIMINAL ...............................45

1. Considerações Preliminares ...............................................................................................................46


1.1. BIOLOGIA CRIMINAL ..................................................................................................................................46
1.2. PSICOLOGIA CRIMINAL ...............................................................................................................................46
1.3. SOCIOLOGIA CRIMINAL ..............................................................................................................................46
1.4. A CRIMINOLOGIA SOCIALISTA...............................................................................................................47
2. Modelos teórico-explicativos do comportamento criminal no escólio de Antonio García-Pablos de
Molina .................................................................................................................................................................48
2.1. CRIMINOLOGIA CLÁSSICA............................................................................................................................48
2.2. CRIMINOLOGIA POSITIVISTA ........................................................................................................................48
2.3. CRIMINOLOGIA NEOCLÁSSICA ......................................................................................................................48
3. Teorias Situacionais da Criminalidade (viés prevencionista) ..............................................................50
3.1. TEORIA DAS ATIVIDADES ROTINEIRAS (TEORIA DA OPORTUNIDADE) .....................................................................50
3.2. TEORIA DO MEIO OU ENTORNO FÍSICO (TEORIA ESPACIAL).................................................................................51
4. Sociologia Criminal ............................................................................................................................52
5. Diversas correntes da Moderna Criminologia ....................................................................................52

5.SOCIOLOGIA CRIMINAL: AS TEORIAS SOCIOLÓGICAS DA CRIMINALIDADE .................................................54

1. Considerações Preliminares ...............................................................................................................55


2. Teorias do Consenso ..........................................................................................................................58
2.1. ESCOLA DE CHICAGO .................................................................................................................................59
2.2. TEORIA DA ANOMIA/ESTRUTURAL-FUNCIONALISTA ........................................................................................64
2.3. TEORIA DA ASSOCIAÇÃO DIFERENCIAL...........................................................................................................67
2.4. TEORIA DA SUBCULTURA DELINQUENTE .......................................................................................................68
3. Teorias do Conflito .............................................................................................................................70
3.1. LABELLING APPROACH ...............................................................................................................................70
3.2. CRIMINOLOGIA CRÍTICA/RADICAL/MARXISTA OU NOVA CRIMINOLOGIA ..............................................................73
3.3. TENDÊNCIAS ADVINDAS DA CRIMINOLOGIA CRÍTICA: NEORREALISMO DE ESQUERDA, DIREITO PENAL MÍNIMO E
ABOLICIONISMO PENAL ..................................................................................................................................................75
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6.TEMAS ESPECIAIS ........................................................................................................................................79

1. Sistema penal e reprodução da realidade social ...............................................................................80


1.1. O SISTEMA ESCOLAR COMO PRIMEIRO SEGMENTO DO APARATO DE SELEÇÃO E DE MARGINALIZAÇÃO NA SOCIEDADE.........80
1.2. FUNÇÃO IDEOLÓGICA DO PRINCÍPIO MERITOCRÁTICO NA ESCOLA .......................................................................80
1.3. FUNÇÕES SELETIVAS E CLASSISTAS DA JUSTIÇA PENAL ........................................................................................80
1.4. A INCIDÊNCIA DOS ESTEREÓTIPOS, DOS PRECONCEITOS E DAS TEORIAS DE SENSO COMUM NA APLICAÇÃO JURISPRUDENCIAL
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DA LEI PENAL ............................................................................................................................................................... 81


1.5. ESTIGMATIZAÇÃO PENAL E TRANSFORMAÇÃO DA IDENTIDADE SOCIAL DA POPULAÇÃO CRIMINOSA ................................81
1.6. NEXO FUNCIONAL ENTRE SISTEMA DISCRIMINATÓRIO ESCOLAR E SISTEMA DISCRIMINATÓRIO PENAL..............................81
2. Cárcere e marginalidade social...........................................................................................................81
Silva -- CPF:

2.1. CARACTERÍSTICAS CONSTANTES DO “MODELO” CARCERÁRIO NAS SOCIEDADES CAPITALISTAS CONTEMPORÂNEAS .............81
da Silva

2.2. RELAÇÃO ENTRE PRESO E SOCIEDADE ............................................................................................................82


2.3. AS LEIS DE REFORMA PENITENCIÁRIA ITALIANA E ALEMÃ E A PERSPECTIVA DE RUSCHE E KIRCHHEIMER – AS RELAÇÕES ENTRE
Gouvea da

MERCADO DE TRABALHO, SISTEMA PUNITIVO E CÁRCERE ....................................................................................................... 82


Eliovaine Gouvea

3. Modelo consensual de justiça criminal ..............................................................................................82


4. Criminologia Feminista ......................................................................................................................83
Eliovaine

5. Criminologia Queer ............................................................................................................................84


6. A Criminologia no enfoque da Criminalidade Organizada ................................................................85
6.1. CRIMINALIDADE ORGANIZADA DO TIPO MAFIOSA .............................................................................................85
6.2. CRIMINALIDADE ORGANIZADA DO TIPO EMPRESARIAL .......................................................................................86
7. Criminologia Cultural .........................................................................................................................86
8. Teoria Behaviorista ............................................................................................................................87
8.1. BEHAVIORISMO CLÁSSICO ...........................................................................................................................87
8.2. BEHAVIORISMO METODOLÓGICO .................................................................................................................87
8.3. BEHAVIORISMO RADICAL............................................................................................................................87
9. Teoria do Mimetismo.........................................................................................................................87
10. Movimento de Lei e Ordem .............................................................................................................88
11. Bullying.............................................................................................................................................88
11.1. MARCO LEGISLATIVO NO BRASIL: ...............................................................................................................90
11.2. CYBERBULLYNG ......................................................................................................................................92
12. Assédio Moral ..................................................................................................................................92
13. Stalking ............................................................................................................................................92
14. A figura dos assassinos em série .....................................................................................................93
15. Parafilias ..........................................................................................................................................94
7.FATORES SOCIAIS E SUA INFLUÊNCIA NA CRIMINALIDADE .........................................................................94

1. Considerações Preliminares ...............................................................................................................96


3. Desemprego .......................................................................................................................................97
4. Pobreza ..............................................................................................................................................97
5. Estado de miserabilidade ...................................................................................................................97
6. Fome ..................................................................................................................................................97
7. Mal-vivência .......................................................................................................................................98
8. Déficit de educação ............................................................................................................................98
9. Meios de comunicação.......................................................................................................................98
10. Política .............................................................................................................................................98
11. Crescimento populacional ................................................................................................................98
12. Preconceito .......................................................................................................................................98
13. Corrupção .........................................................................................................................................99
13.1. TEORIA DA GRAXA ..................................................................................................................................99
13.2. TEORIA DA BOLA DE NEVE ........................................................................................................................99

8.CRIMINOLOGIA NO CONTEXTO DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO ...................................................99


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1. Considerações Preliminares ............................................................................................................. 101


2. Prevenção Criminal .......................................................................................................................... 101
3. Modelos de Reação ao Crime .......................................................................................................... 101
4. Finalidades da Pena ......................................................................................................................... 101
4.1. TEORIAS ABSOLUTAS OU RETRIBUTIVAS ...................................................................................................... 102
4.2. TEORIAS RELATIVAS, PREVENTIVAS OU UTILITARISTAS .................................................................................... 102
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4.3. TEORIA MISTA, ECLÉTICA, UNITÁRIA OU UNIFICADORA.................................................................................... 103


5. Processos de Criminalização............................................................................................................. 103

9.PREVENÇÃO CRIMINAL ............................................................................................................................. 104


Silva -- CPF:

1. Considerações Preliminares ............................................................................................................. 106


2. Conceito de Prevenção Criminal ...................................................................................................... 106
da Silva

2.1. MEDIDAS INDIRETAS................................................................................................................................ 107


Gouvea da

2.2. MEDIDAS DIRETAS .................................................................................................................................. 107


Eliovaine Gouvea

3. Princípios básicos ............................................................................................................................. 107


4. Categorias de prevenção ao delito para Antonio García-Pablos de Molina ................................... 108
Eliovaine

5. Modelos teóricos de prevenção ao delito........................................................................................ 108


5.1. MODELO CLÁSSICO ................................................................................................................................. 108
5.2. MODELO NEOCLÁSSICO ............................................................................................................................ 108
6. Prevenção do delito na ótica da Criminologia Moderna................................................................. 109
6.1. PREVENÇÃO PRIMÁRIA ............................................................................................................................ 109
6.2. PREVENÇÃO SECUNDÁRIA ........................................................................................................................ 109
6.3. PREVENÇÃO TERCIÁRIA ............................................................................................................................ 110
7. Prevenção Situacional ...................................................................................................................... 111
7.1. PREVENÇÃO SITUACIONAL DO SENTIMENTO DE CULPA DO INFRATOR ................................................................ 111
7.2. PREVENÇÃO SITUACIONAL DA RECOMPENSA ................................................................................................ 112

10.VITIMOLOGIA .......................................................................................................................................... 112

1. Considerações Preliminares ............................................................................................................. 114


2. Conceito de vítima ........................................................................................................................... 116
3. As fases da vítima ao longo da história ........................................................................................... 116
3.1. PROTAGONISMO: “A IDADE DE OURO” ....................................................................................................... 116
3.2. NEUTRALIZAÇÃO ..................................................................................................................................... 117
3.3. REDESCOBRIMENTO/REVALORIZAÇÃO ......................................................................................................... 117
4. Processos de vitimização.................................................................................................................. 117
4.1. VITIMIZAÇÃO PRIMÁRIA ........................................................................................................................... 118
4.2. VITIMIZAÇÃO SECUNDÁRIA OU SOBREVITIMIZAÇÃO ........................................................................................ 118
4.3. VITIMIZAÇÃO TERCIÁRIA ........................................................................................................................... 119
5. Classificações das vítimas ................................................................................................................ 119
5.1. POR BENJAMIN MENDELSHON .................................................................................................................. 119
5.2. POR HANS VON HENTING ........................................................................................................................ 121
............................................................................................................................................................. 121
6. Princiais síndromes vitimológicas .................................................................................................... 121
6.1. SÍNDROME X DOENÇA ............................................................................................................................. 121
6.2. SÍNDROME DA MULHER DE POTIFAR .......................................................................................................... 121
6.3. SÍNDROME DA MULHER DE POTIFAR X SÍNDROME DA BARBIE ......................................................................... 122
6.4. SÍNDROME DE ESTOCOLMO ...................................................................................................................... 122
6.5. SÍNDROME DE LONDRES .......................................................................................................................... 123
7. Icter Vitimae – Processo de vitimização ............................................................................................ 123

11.CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMINOSOS .......................................................................................................... 125

1. Considerações Preliminares ............................................................................................................. 126


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2. Por Cesare Lombroso ....................................................................................................................... 126


3. Por Enrico Ferri ................................................................................................................................ 126
4. Por Raffaele Garófalo ....................................................................................................................... 127

12.ESTATÍSTICA CRIMINAL E CIFRAS CRIMINAIS ........................................................................................... 128

1. Considerações Preliminares e Tipos de Criminalidade ..................................................................... 129


1.1 CRIMINALIDADE REAL OU GENUÍNA ............................................................................................................. 129
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1.2. CRIMINALIDADE REVELADA, REGISTRADA OU APARENTE ................................................................................. 129


1.3. CRIMINALIDADE OCULTA: CIFRA NEGRA, CIFRA OCULTA, ZONA ESCURA, CIFFRE NOIR............................................. 129
2. Cifra negra ....................................................................................................................................... 130
3. Cifra dourada ou de ouro ................................................................................................................. 131
Silva -- CPF:

4. Cifra cinza......................................................................................................................................... 131


da Silva

5. Cifra amarela.................................................................................................................................... 131


6. Cifra verde ........................................................................................................................................ 131
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

13.DIREITO PENAL DO INIMIGO .................................................................................................................. 132


1. Considerações Preliminares ............................................................................................................. 133
Eliovaine

2. Direito Penal do Cidadão X Direito Penal do Inimigo ...................................................................... 133


3. Características .................................................................................................................................. 133
4. Manifestação do Direito Penal do Inimigo no ordenamento jurídico brasileiro ................................. 134
5. Críticas à Teoria do Direito Penal do Inimigo .................................................................................. 135
6. As velocidades do Direito Penal ....................................................................................................... 136

QUESTÕES DE CONCURSOS .......................................................................................................................... 137

GABARITO .................................................................................................................................................... 148

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................................................... 149

Cadernos de estudo elaborados com base nos seguintes cursos e videoaulas:.................................... 150
APRESENTAÇÃO

Olá, amigo (a) concurseiro (a)!


Seja bem-vindo (a) ao fascinante e intrigante estudo da Criminologia.
Neste e-book, pretendemos traçar uma abordagem da disciplina de forma bastante didática, de
modo a proporcionar ao leitor um entendimento contextualizadoacerca da matéria.
Preliminarmente, é importante destacar que a Criminologia vem sendo disciplina integrante de
grande parte dos editais dos concursos jurídicos pelo Brasil afora. Portanto, não há como negligenciar o
estudo do tema.
Por óbvio, não temos a pretensão de esgotar a matéria; contudo, o material contempla os temas
mais importantes presentes nas provas de concurso, trazendo, ao final, uma bateria de questões para
treinamento.
Eventualmente faremos apontamentos acerca da legislação correlata aos temas abordados,
consideradas relevantes no contexto de uma análise conjunta.
Ademais, estabeleceremos um roteiro de estudos, de modo a torná-lo mais didático e prazeroso.
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Para tanto, propusemos a sistematização do conteúdo em “momentos”, de maneira que o seu aprendizado
seja coeso e interessante, espancando qualquer das afirmações acerca da dificuldade do estudo da matéria.
Avante!
Gouvea da
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da Silva
Eliovaine
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11A
GABRIELA ANDRADE

APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA
APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA • 1

9
GABRIELA ANDRADE APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA • 1

1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

Podemos afirmar que, outrora, o estudo da criminologia não era tão badalado como o das demais
ciências criminais. Prova disso é que, em algumas faculdades de direito, a disciplina integra o corpo de
matérias eletivas ou optativas (não obrigatórias).
Ocorre que, sobretudo diante dos últimos acontecimentos no cenário atual brasileiro, quando a
criminalidade organizada e econômica começou a ser descortinada e a ganhar destaque na mídia, o estudo
por uma perspectiva criminológica mostrou-se – e mostra-se – indispensável. Afinal, como explicar, inclusive,
esse tipo de criminalidade?
Sabemos que, historicamente, negros e pobres são marginalizados e representam mais de 60% da
população carcerária1.
Ocorre que, nos tempos atuais, a sociedade brasileira vem experimentando uma mudança de
paradigma naquilo que se refere à investigação, ao processo e à responsabilização de criminosos
pertencentes às mais altas camadas sociais, a exemplo de grandes empresários e agentes políticos.
Nesse contexto, esses indivíduos integram verdadeiras organizações criminosas voltadas à prática
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dos mais variados delitos, tendo como objetivo último a obtenção de vantagem econômica ou de outra
natureza.
Perceba, portanto, que o crime não é uma exclusividade das camadas menos favorecidas. Por isso,
para entender esse fenômeno (crime) em sua essência, não há como conceber o estudo das demais ciências
penais dissociado da perspectiva criminológica.
Você já percebeu que, modernamente, sobretudo com o avanço da internet, as pessoas manifestam
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suas opiniões e crenças acerca das condutas criminosas sem qualquer base de fundamentação? Por várias
perspectivas, a internet é uma ferramenta indispensável nos dias atuais. Contudo pode se revelar também
como um profundo poço de ideias aleatórias desprovidas de embasamento e tecnicismo.
Os temas atinentes à criminalidade despertam grande interesse e curiosidade na população em geral.
Silva -- CPF:

Nesse cenário, os leigos reproduzem afirmações desprovidas de qualquer embasamento teórico ou


cientificidade, o que acaba por prejudicar e empobrecer a percepção das causas reais da criminalidade.
da Silva

Temos observado isso de maneira muito incisiva, por exemplo, nos discursos populistas publicados nas redes
Gouvea da

sociais. Nesse sentido, consoante o professor Zaffaroni (2013), “Atualmente, todos comentam sobrem
Eliovaine Gouvea

futebol e violência, existindo milhares de técnicos desse esporte, e, na mesma proporção, criminólogos”.
Nessa linha de intelecção, o que se percebe é um clamor popular acerca dos assuntos que mais
Eliovaine

incomodam a sociedade, que pode gerar a aprovação de legislações com caráter claramente paliativo, com
espírito de “resposta estatal” aos anseios sociais, dando a (falsa) impressão de que as coisas estão sob
controle.
Todavia o crime só pode ser efetivamente combatido por meio de instrumentos que possibilitem sua
apuração por uma visão crítica e científica, analisando a questão da delinquência em suas raízes.
Decerto que tais medidas paliativas tratam a consequência e não a causa do fenômeno crime. Nas
palavras de Ney Moura Teles, “querer combater a criminalidade com o Direito Penal é querer eliminar a
infecção com analgésico”.
Nessa senda, a doutrina trabalha com o que se chama de direito penal simbólico.
Nas palavras de Sanches2:

Movido pela sensação de insegurança presente na sociedade, o direito penal de


emergência, atendendo a demandas de criminalização, cria normas de repressão,

1 https://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes-permanentes/cdhm/noticias/sistema-carcerario-
brasileiro-negros-e-pobres-na-prisao.
2 (2013, p. 36)

10
GABRIELA ANDRADE APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA • 1

afastando-se, não raras vezes, de seu importante caráter subsidiário e fragmentário,


assumindo feição nitidamente punitivista e ignorando as garantias do cidadão.
Esquecendo a real missão do direito penal, o legislador atua pensando quase que apenas
na opinião pública, querendo, com novos tipos penais e/ou aumentos de penas e
restrições de garantias, devolver à sociedade a ilusória sensação de tranquilidade.
Permite a edição leis que cumprem função meramente representativa, afastando-se das
finalidades legítimas da pena, campo fértil para um direito penal simbólico. Para muitos,
a Lei n° 8072/90 (Lei de Crimes Hediondos), recentemente alterada pela Lei n°
13.964/2019 (Pacote Anticrime) e a Lei n° 12850/2013 (Lei de Organizações Criminosas), é
expressão desse direito.

A Lei de Crimes Hediondos foi criada na década de 90. De nítida inspiração nas teses do Direito Penal
Máximo3 e Movimento de Lei e Ordem4, trouxe a implantação de uma política criminal bastante severa, como
forma de tentar conter o avanço da criminalidade, criando tipos penais e promovendo o recrudescimento
de penas.
Nessa linha intelectiva, a Lei n.° 8.072/1990 (Lei de Crimes Hediondos) foi editada sob o contexto de
comoções sociais que ocorreram no final da década de 80 e início da década de 90, conforme veremos a
seguir.
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Comoções sociais influenciaram punição de crimes hediondos


Os sequestros do empresário Abílio Diniz, em 11 de dezembro de 1989, e do publicitário Roberto
Medina, em 6 de junho de 1990, estão na gênese da Lei de Crimes Hediondos (Lei n.° 8.072/1990). Eles foram
as vítimas mais notórias de uma onda de extorsões que, no início da década de 1990, motivou a norma que
regulamentou o artigo 5º, inciso XLIII, da Constituição, segundo o qual "a lei considerará crimes inafiançáveis
e insuscetíveis de graça ou anistia, entre outros, a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e
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drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos".


Em 25 de julho de 1990, foi promulgada a Lei n.° 8.072/1990, definindo os crimes hediondos e
excluindo seus autores de benefícios, tais como a liberdade provisória mediante pagamento de fiança. Os
condenados pelas práticas de tais crimes perderam também o direito à progressão do regime da pena, pelo
Silva -- CPF:

qual poderiam, por exemplo, cumprir um sexto da pena e sair do regime fechado para o semiaberto. No
da Silva

caso, a pena passaria a ser cumprida integralmente em regime fechado.


Gouvea da

Quatro anos depois, uma nova alteração – feita pela Lei n.° 8.930/1994 – incluiu, nos crimes
Eliovaine Gouvea

hediondos, homicídios praticados em atividades típicas de grupo de extermínio. Era uma resposta às chacinas
da Candelária (23 de julho de 1993) e do Vigário Geral (29 de agosto do mesmo ano). A mesma alteração
Eliovaine

ainda tornou hediondo o homicídio qualificado, devido à grande repercussão do assassinato da atriz Daniela
Perez (28 de dezembro de 1992).
Mais quatro anos depois, um novo escândalo: o dos remédios falsificados ou adulterado, como a
"pílula de farinha", um anticoncepcional responsável por muitos casos de gravidez não planejada. Uma nova
alteração, feita pela Lei n.° 9.695/1998, tornou hediondos os crimes de falsificação, corrupção, adulteração
ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais5.

3 O direito penal máximo constitui justamente o oposto do direito penal mínimo, e traz em si a ideia de que o Direito Penal é a
solução para todos os problemas existentes na sociedade. Por tal movimento, o direito penal é o meio de controle social mais
eficaz a restringir o direito à liberdade do ser humano, devendo, portanto, ser a solução adotada em primeiro lugar. HABIB, G. Leis
Penais Especiais. 10. ed. Editora JusPodivm, 2018, p. 470.
4 Movimento lei e ordem (Law and Order): movimento idealizado por Ralf Dahrendorf, que surgiu como

uma reação ao crescimento dos índices de criminalidade. Tal movimento baseia -se na ideia da repressão, para o qual a pena se
justifica por meio das ideias de retribuição e castigo. Os adeptos desse movimento pregam que somente as leis severas, que
imponham longas penas privativas de liberdade ou até mesmo a pena de morte, têm o condão de controlar e inibir a prática de
delitos. Dessa forma, os crimes de maior gravidade devem ser punidos com penas longas e severas, a serem cumpridas em
estabelecimentos prisionais de segurança máxima. HABIB, G. Leis Penais Especiais. 10. ed. Editora JusPodivm, 2018, p. 470.
5 AGÊNCIA SENADO. Comoções sociais influenciaram punição de crimes hediondos. Agência Senado, 2010. Disponível em:

https://bit.ly/3dJZ9io. Acesso em: 7 set. 2020.

11
GABRIELA ANDRADE APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA • 1

Tecidas essas breves considerações, passemos a uma breve análise acerca da criminologia, apenas
para que nos situemos no estudo da matéria, ressaltando que os temas serão explorados de forma mais
robusta no decorrer do trabalho. Trata-se de uma ciência multidisciplinar, que, através do método empírico
(causal-explicativo), pretende estudar o crime, o criminoso, a vítima e o controle social.
Nasce, inicialmente, como espécie de apêndice das ciências naturais. Tanto que o primeiro
criminólogo conhecido na história foi Cesare Lombroso, um médico alienista – aquele que trata de alienados,
pessoas que não têm ou que perderam sua identidade, ou que vivem num estado em que não são
responsáveis plenamente por seus atos, ou, dito de um modo mais popular, são aquelas pessoas que não
têm capacidade ou não querem entender a realidade que as cerca.
Com o passar dos anos, a criminologia se dissocia da medicina, já que as perspectivas defendidas por
Lombroso não se revelaram corretas na prática. Nesse contexto, o médico defendia que o criminoso era um
ser atávico, de pouca evolução e que manifestava o caráter criminoso como algo natural de seu caráter
evolutivo primário.
Com o tempo, conhecimentos de outras ciências – sociologia, antropologia, economia, psicologia –
foram incorporados ao estudo criminológico, tornando a criminologia uma ciência multidisciplinar. Com isso,
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o crime passou a ser analisado sob uma outra ótica.


Nos anos 60, com o giro sociológico, a criminologia começou a observar os processos de
criminalização, identificando, na verdade, que o crime também é criado pelo próprio sistema penal, o qual,
por meio da rotulação de determinadas condutas, constitui o delito e também o criminoso, com as chamadas
cerimônias degradantes.
A criminologia começa, então, a observar muito mais os processos de criminalização do que o crime
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em si, até desaguar na criminologia crítica (final do século XX, início do século XXI), quando começa a criticar
as próprias bases do direito penal e do sistema punitivo.
Mais recentemente, a criminologia acabou por ganhar um papel de devassar o direito penal,
apontando suas falhas estruturais. Isso porque o direito penal acaba por impor determinados conceitos e
Silva -- CPF:

institutos reproduzidos como verdadeiros pela dogmática penal, contudo, por vezes, sem uma base segura
de fundamentação, apoiando-se em retóricas e na perspectiva coercitiva da norma.
da Silva
Gouvea da

2. ROTEIRO DE ESTUDOS
Eliovaine Gouvea

Neste momento, estabeleceremos nosso roteiro de estudos, de modo a torná-lo mais leve e didático.
Eliovaine

Para tanto, propusemos a sistematização do conteúdo em “momentos”, que serão seguidos dos demais
temas correlatos, de maneira que o seu aprendizado seja coeso e se torne interessante, espancando qualquer
das afirmações acerca da dificuldade do estudo da matéria, sobretudo por conta da infinidade de escolas e
teorias existentes.
Sendo assim, com vistas a facilitar nossos estudos, façamos uma linha do tempo para o estudo da
criminologia, a saber:

• 1º MOMENTO: aqui, estudaremos a introdução ao estudo da criminologia, caminhando pelos


seus elementos principais, tais como: conceito, métodos, objetos, funções, sistemas e
classificação da criminologia;
• 2º MOMENTO – FASE PRÉ-CIENTÍFICA E CIENTÍFICA: nessa fase, estudaremos a chamada
“luta/guerra de escolas” entre as Escolas Clássica e Positivista;
• 3º MOMENTO: veremos os diversos modelos teórico-explicativos do comportamento criminal,
consubstanciados nos estudos de Antônio García-Pablos de Molina;
• 4º MOMENTO: estudaremos o denominado “giro sociológico” (sociologia criminal), abordando
as teorias do consenso e as teorias do conflito;

12
GABRIELA ANDRADE APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA • 1

• 5º MOMENTO: nesse momento, estudaremos os temas especiais da criminologia, tais como:


criminologia cultural, criminologia feminista, criminologia queer, criminologia no contexto da
criminalidade organizada, entre outros temas.

Desta feita, daremos início aos nossos estudos, com a intenção de transmitir a você o conteúdo de
uma maneira sistematizada, de modo a possibilitar um conhecimento mais aprofundado e didático sobre os
principais temas de criminologia cobrados em concursos jurídicos.
Eliovaine Gouvea
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Eliovaine
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2
GABRIELA ANDRADE

INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA CRIMINOLOGIA

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INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA CRIMINOLOGIA • 2
GABRIELA ANDRADE INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA CRIMINOLOGIA • 2

1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

Do latim crimen e, do grego, logo, criminologia significa estudo do crime. Foi idealizada por Paul
Topinard (1830-1911) e difundida no cenário internacional por Raffaele Garófalo (1851-1934), apresentando
como marco científico, para corrente majoritária, o saber científico criminológico da obra “O homem
delinquente”, em 1876, de Cesare Lombroso.
Decerto, o foco inicial dos estudos da criminologia era o delito e o delinquente; contudo,
posteriormente, a vítima e o controle social também se tornaram protagonistas no palco dos estudos
criminológicos.
Preliminarmente, tenha em mente que não é possível demarcar em caráter absoluto o exato
momento do nascimento da criminologia. Os autores que debruçam seus estudos sobre a criminologia não
são unânimes em delimitar com exatidão o momento em que teve início seu estudo científico.
Como ciência autônoma, sua existência é recente. Contudo não podemos olvidar seu período pré-
científico. Nesse período, o conhecimento produzido resultava da observação realizada pelo homem, que lhe
permitia constatar e descrever fenômenos; todavia, por falta de sistematização, não era possível sua
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explicação de forma plena.


Este vocábulo, a princípio reservado ao estudo do crime, ascendeu à ciência geral da criminalidade,
antes denominada Sociologia Criminal ou Antropologia Criminal.
A criminologia é uma ciência social, filiada à Sociologia, e não uma ciência social independente,
desorientada. Em relação ao seu objeto — a criminalidade — a criminologia é ciência geral porque cuida dela
de um modo geral. Em relação a sua posição, a Criminologia é uma ciência particular, porque, no seio da
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Sociologia e sob sua égide, trata, particularmente, da criminalidade.


Há entendimento minoritário segundo o qual a Criminologia não teria autonomia científica, mas seria
apenas uma disciplina (neste sentido Carlos Albert Elbert)
Desde a antiguidade, é possível verificar a presença de ideias acerca da criminologia, a partir de
Silva -- CPF:

textos esparsos de determinados autores que já revelavam sua preocupação e seu interesse no estudo do
crime e dessas causas.
da Silva

Em todo esse contexto, no que se refere ao período científico, há divergências doutrinárias acerca
Gouvea da

de seu surgimento, ora atribuído a quatro estudiosos distintos:


Eliovaine Gouvea

• Cesare Lombroso;
Eliovaine

• Paul Topinard;
• Raffaele Garófalo;
• Francesco Carrara.

A seguir, conheceremos um pouco de cada um desses estudiosos:

• Cesare Lombroso: majoritariamente, a criminologia passou a ser reconhecida com certa


autonomia científica com a obra de Lombroso L’Uomo Delinquente (Homem Delinquente), em
1876. Sua principal tese era a do delinquente nato, isto é, aquele ser humano atávico, pouco
evoluído, que manifestava o caráter criminoso como algo natural de seu caráter evolutivo
primário.
• Paul Topinard: outros autores atribuem o surgimento do período científico dacriminologia ao
antropólogo francês Topinard, que, em 1879, empregou pela primeira vez o termo criminologia.
• Raffaele Garófalo: há, ainda, quem atribua o surgimento desse período a Garófalo, que utilizou,
em 1885, o termo criminologia como título de seu livro científico, o qual é compreendido como
a ciência da criminalidade, do delito e da pena.

15
GABRIELA ANDRADE INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA CRIMINOLOGIA • 2

• Francesco Carrara: a escola clássica apresenta Carrara como aquele que utilizou os primeiros
aspectos do pensamento criminológico em sua obra Programa de Direito Criminal, de 1859.

ATENÇÃO!
Para uma parte minoritária da doutrina, o marco científico da criminologia é a obra “Dos Delitos e das Penas”
(1764), de Cesare Beccaria. Malgrado a data da obra de Beccaria anteceda a obra de Lombroso em mais de
um século, a doutrina majoritária refuta a ideia de marco científico, posto que o estudo da criminologia por
Beccaria, artífice da Escola Clássica, ainda não tinha alcançado a autonomia científica da criminologia, pois a
obra mencionada se debruçava num viés mais relacionado ao direito penal (ciência lógica, abstrata e
normativa).

FIQUE DE OLHO!
Em provas objetivas, recomenda-se optar pela doutrina majoritária, mais apoiada em Cesare Lombroso,
salvo, é claro, se a sua banca adotar entendimento diverso. Em provas discursivas e orais, tente explorar todo
conhecimento adquirido, demonstrando ao examinador que você conhece as diversas correntes acerca do
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tema, apontando o entendimento dominante.

No Brasil, a criminologia foi introduzida pelo pernambucano João Vieira de Araújo, com a obra
Ensaios sobre Direito Penal, em 1884.

2. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA CRIMINOLOGIA


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Seguindo os ensinamentos do professor Paulo Sumariva (2017), com redação adaptada,


apresentamos breve explanação acerca da evolução da criminologia ao longo da história, desde a
Antiguidade até a criminologia moderna.
Silva -- CPF:

Na Antiguidade, o principal exemplo da existência de questionamentos criminológicos é o Código de


Hamurabi, que representa o conjunto de leis escritas, sendo um dos exemplos mais bem preservados desse
da Silva

tipo de texto oriundo da Mesopotâmia. Acredita-se que foi escrito pelo rei Hamurabi, aproximadamente
Gouvea da

em 1772 a.C.
Eliovaine Gouvea

Os artigos do Código de Hamurabi descreviam casos que serviam como modelos a serem aplicados
em questões semelhantes. Para limitar as penas, o código adotou o princípio de Talião, sinônimo de
Eliovaine

retaliação. Por esse princípio, a pena não seria uma vingança desmedida, mas proporcional à ofensa
cometida pelo criminoso. Tal princípio é resumido no ditado popular "olho por olho, dente por dente".
Além disso, o Código dispunha que pobres e ricos fossem julgados de forma distinta, impingindo-se
aos ricos maior severidade, já que estes tinham mais oportunidades e acesso a bens materiais e culturais.
Nos idos do século XVI, uma linha de pensamento interessante que, mais tarde, foi explorada por
outras teorias, foi esquadrinhada por Thomas Morus. Ele considerava o crime como reflexo da própria
sociedade, relacionando a desorganização social e a pobreza com a delinquência.
No século XVIII, havia uma valorização da aparência externa do indivíduo, ou seja, uma observação
de sua fisionomia, a fim de determinar o homem criminoso. Kaspar Lavater, utilizando-se de métodos de
observação e análise, propôs o “retrato robot”, o denominado “homem de maldade natural”, baseando-se
em suas supostas características somáticas6. Além disso, também eram feitos juízos de valor com base na
aparência do indivíduo, sempre em prejuízo do “mais feio”.
Nesse contexto, a fisionomia deu origem à cranioscopia (observação ou exame da forma e outras
características do crânio). Segundo essa linha de estudo, por meio das medições externas da cabeça, seria

6 (MOLINA; GOMES, 2020)

16
GABRIELA ANDRADE INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA CRIMINOLOGIA • 2

possível determinar características da personalidade, do desenvolvimento das faculdades mentais e morais


do indivíduo, bem como o grau de criminalidade.
Tais estudos evoluíram para uma análise interna da mente, dando origem à frenologia (doutrina
segundo a qual cada faculdade mental se localiza em uma parte do córtex cerebral e o tamanho de cada
parte é diretamente proporcional ao desenvolvimento da faculdade correspondente, sendo este tamanho
indicado pela configuração externa do crânio), desenvolvida pelo médico Franz Joseph Gall, em 1810, que
buscava localizar malformações no cérebro e crânio humano que pudessem justificar o comportamento
criminoso, promovendo um verdadeiro mapeamento do cérebro em zonas de criminalidade.
No final do século XVIII, surge a escola clássica, que teve como principais expoentes estudiosos
como Cesare Beccaria, Francesco Carrara e Giovanni Carmignani. Em apertada síntese, a responsabilização
penal, para a escola clássica, fundamenta-se no livre-arbítrio, ou seja, o delito era produto da vontade
livre do agente e a pena é um mal justo aplicado àquele que comete um mal injusto.
Com o giro sociológico ocorrido na década de 60, surge o que chamamos de criminologia moderna,
que começa a observar muito mais os processos de criminalização do que o crime em si.
Nessa fase, a pessoa do delinquente é examinada em seu aspecto biopsicossocial e não apenas em
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uma perspectiva biopsicopatológica, com a supervalorização dos aspectos fisionômicos, como outrora.
A criminologia moderna, então, foca seus estudos no fenômeno criminal, nas suas causas e
características, nas formas de prevenção e no controle. O cerne de investigação deixa de ser apenas a pessoa
do infrator, e se desloca para a conduta criminosa, a vítima e o controle social.
O criminoso passa de uma figura central para um segundo plano, passando a ser examinado como
um ser biopsicossocial, isto é, um ser sobre o qual recaem influênciasbiológicas, psicológicas e sociais para
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sua formação, e que esses processos biológicos, cognitivos, sociais e emocionais interferem e influenciam
em seu processo de aprendizagem.
Passou-se, portanto, de um enfoque meramente individualista para uma abordagem mais ampla,
em atenção aos objetivos políticos-criminais.
Silva -- CPF:

Nesse caminho, a criminologia moderna tem algumas de suas características principais abordadas
por Antonio García-Pablos de Molina e Luiz Flávio Gomes, como mostra o quadro a seguir.
da Silva
Gouvea da

2.1. Principais características da criminologia moderna


Eliovaine Gouvea

• Objeto de estudo: crime, criminoso, vítima e controle social.


Eliovaine

• Destaque à orientação prevencionista: destaca a orientação prevencionista do saber


criminológico, em contraponto às obsessões repressivas apregoadas nas definições
convencionais.
• Crime/problema: parte da caracterização do crime como “problema”, destacando sua base
conflitual e sua face humana dolorosa.
• Tratamento/intervenção: o conceito tratamento é substituído por intervenção, que apresenta
uma noção mais dinâmica e pluridimensional, em atenção ao fato real, individual e comunitário
do fenômeno delitivo.
• Análise e avaliação como modelos de reação ao delito.
• Análise etiológica do delito: não ignora, contudo, a análise etiológica do delito (desviação
primária) no marco do ordenamento jurídico como referência última.

3. CONCEITO DE CRIMINOLOGIA

A criminologia é ciência empírica e interdisciplinar que se ocupa do estudo do crime, da pessoa


do infrator, da vítima e do controle social do comportamento delitivo, e que trata de subministrar uma

17
GABRIELA ANDRADE INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA CRIMINOLOGIA • 2

informação válida, contrastada, sobre agênese, a dinâmica e as variáveis principais do crime – contemplado
este como problema individual e como problema social –, bem como sobre os programas deprevenção
eficaz ao delito e as técnicas de intervenção positiva no homemdelinquente e nos diversos modelos ou
sistemas de resposta ao delito7.
Criminologia é, segundo Sutherland, um conjunto de conhecimentos que estudam o fenômeno e as
causas da criminalidade, a personalidade do delinqüente e sua conduta delituosa e a maneira de ressocializá-
lo. Ciência que como todas as que abordam algum aspecto da criminalidade deve tratar do delito, do
delinqüente e da pena. Segundo a Unesco, a criminologia se divide em geral (sociológica) e clínica.
Na concepção de Newton Fernandes e Valter Fernandes, criminologia é o "tratado do Crime".
A interdisciplinaridade da criminologia é histórica, bastando, para demonstrar isso, dizer que seus
fundadores foram um médico (Cesare Lombroso), um jurista sociólogo (Enrico Ferri) e um magistrado
(Raffaele Garofalo). Essa condição por muito tempo foi um obstáculo a seu reconhecimento como ciência
autônoma, dotada de método e objeto próprios. Há um pouco de exagero nessa afirmação, mas, de qualquer
modo, sendo o crime um fenômeno histórico e cultural (em sentido amplo: depende de uma certa valoração
para existir), produzido no seio da sociedade e pela ação de indivíduos, estaria comprometida, mesmo
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porque seria uma ficção, qualquer pretensão a uma “criminologia pura”, alheia às conquistas alcançadas por
outras ciências naturais e humanas que se ocupam da delinqüência.
A criminologia, desta forma, é uma ciência plural, que recebe influência e a contribuição de outras
ciências, como a Psicologia, a Sociologia, a Biologia, Medicina Legal, Criminalística, Direito, Política e etc.
A criminologia se vale de uma visão interdisciplinar e não multidisciplinar. Busca mais que esta, na
qual os saberes parciais trabalham lado a lado em distintas visões sobre um determinado problema. Já na
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interdisciplinaridade os saberes parciais se cooperam e integram entre si.


A interdisciplinaridade surge como uma necessidade prática de articulação de conhecimentos, mas
constitui um dos efeitos ideológicos mais importantes sobre o atual desenvolvimento das ciências,
justamente por apresentar-se como o fundamento de uma articulação teórica. Fundada num princípio
Silva -- CPF:

positivista do conhecimento as práticas interdisciplinares desconhecem a existência dos objetos teóricas das
ciências; a produção conceitual dissolve-se na formalização das interações e relações entre objetos
da Silva

empíricos. Dessa forma, os fenômenos não são captados a partir do objeto teórico de uma disciplina
Gouvea da

científica, mas surgem da integração das partes constitutivas de um todo visível.


Eliovaine Gouvea

A doutrina majoritária aponta que a criminologia integra a tríadedas ciências criminais, que tem em
comum o estudo do fenômeno criminal, a saber:
Eliovaine

7 (MOLINA, 2003)

18
GABRIELA ANDRADE INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA CRIMINOLOGIA • 2

3.1. Direito penal

Ciência autônoma, lógica e abstrata, apresentando um método técnico-jurídico, interpretando o


“dever ser”. Ocupa-se com as normas penais, apresentando um método dedutivo, em busca da subsunção
de um comportamento humano a uma norma penal abstrata.
Essa é uma ciência que estuda o crime em uma estrutura dogmática, além de estudar o fenômeno
jurídico. O crime seria, portanto, uma realidade jurídica. Nesse sentido, o direito penal apresenta uma
abordagem legal e normativa do crime, conceituando-o como toda sendo conduta ofensiva a preceitos
primários que culminem em aplicação de sanções.
Seu ponto de partida, portanto, é o princípio da legalidade. Sem lei, não pode haver crime, bem
como a lei apresenta-se como limitação daquilo que pode ser considerado crime.
Nesse contexto surgem as ideias de criminalização primária e secundária:

• Ocorre a criminalização primária quando o Estado seleciona alguns comportamentos


observados na sociedade, os quais, ao menos em tese, ofendem bens jurídicos, proibindo-os e
sujeitando os infratores a sanções previstas na lei editada em caráter formal pelo Poder
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Legislativo;
• Na criminalização secundária, uma vez editada a lei penal com a previsão dos comportamentos
indesejados, havendo a infração, surge para o Estado o jus puniendi, ou seja, o direito de punir
esse infrator, mediante a imposição de uma sanção penal.

Podemos concluir, portanto, que o direito penal promove uma verdadeira seleção de
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comportamentos que serão taxados como crimes. Nessa seleção, consoante palavras de Greco:8.

“os valores de determinados grupos sociais, tidos como dominantes, prevalecem em


detrimento da classe dominada”.
Silva -- CPF:

3.2.Criminologia
da Silva

É a ciência autônoma que estabelece um diagnóstico do fenômeno criminoso, explicando e


Gouvea da
Eliovaine Gouvea

prevenindo o crime, intervindo na pessoa do infrator, ou seja, abrangendo o mundo do ser,


estabelecendo modelos de resposta aos delitos, ora traçando estratégias concretas de fácil assimilação para
Eliovaine

o legislador para que este crie as normas penais, ora revelando um norte aos poderes públicos para
prevenção, repressão do crime e na ressocialização do delinquente, com metodologia empírica e indutiva.
No escólio de Rogério Sanches Cunha:

A criminologia é ciência empírica que estuda o crime, a pessoa do criminoso, da vítima


e o comportamento da sociedade. Não se trata de uma ciência teleológica, que analisa
as raízes do crime para discipliná-lo, mas de uma ciência causal- explicativa, que retrata
o delito enquanto fato, perquirindo as suas origens, razões da sua existência, os seus
contornos e forma de exteriorização. Em síntese, a criminologia busca a compreensão
do delito. (2013, p. 32)

Para a criminologia, portanto, o crime é um fenômeno complexo, com muitas variáveis, um


fenômeno social ou individual que independe da lei.
Características da moderna criminologia:
• parte da caracterização do crime como “problema”;

8 (2020, p. 155)

19
GABRIELA ANDRADE INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA CRIMINOLOGIA • 2

• amplia o âmbito tradicional da criminologia adicionando a vítima e o controle social;

• Acentua a orientação prevencionista do saber criminológico, diante da obsessão repressiva


explícita de outros modelos convencionais;

• Substitui o conceito “tratamento” (clínico e individualista) por “intervenção” (noção mais


dinâmica, complexa e pluridimensional);

• Destaca a análise e avaliação dos modelos de reação ao delito como um dos objetos da
criminologia;

• Não renuncia, porém, a uma análise etiológica do delito.

Funções da moderna criminologia:


• Explicar e prevenir o crime;

• Intervir na pessoa do infrator;


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Avaliar os diferentes modelos de resposta ao crime.

3.3. Política Criminal

Segundo a doutrina, trata-se de ponte eficaz entre o direito penal e a criminologia, trazendo as
soluções práticas para o combate à criminalidade, ou seja, busca traçar estratégias para o enfrentamento do
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delito e o controle da violência.


A política criminal não possui metodologia própria, ou seja, não se enquadra como ciência autônoma.
Ademais, a criminologia e a política criminal são responsáveis por fornecerem subsídios ao Poder Público,
com base em dados estatísticos de índole quantitativa e qualitativa acerca da criminalidade, como forma de
Silva -- CPF:

auxiliar na tomada de decisões relativas à prevenção dos delitos.


No que se refere à política criminal, nas palavras de Aníbal Bruno:
da Silva

A política criminal, por sua vez, tem no seu âmago a específica finalidade de trabalhar
Gouvea da

as estratégias e os meios de controle social da criminalidade (caráter teleológico). É


Eliovaine Gouvea

característica da política criminal a posição de vanguarda em relação ao direito vigente,


vez que, enquanto ciência de fins e meios, sugere e orienta reformas à legislação
Eliovaine

positivada. (1967, p. 41)

Em suma:

Ao passo que o Direito Penal emprega o método lógico, abstrato e dedutivo, criando uma norma
penal incriminadora abstrata para depois analisar uma situação particular, a criminologia – ciência fática,
do “ser” – faz o contrário: sua análise é empírica, indutiva e multidisciplinar, pela observação da realidade,
em busca de uma solução.
Frise-se que os objetivos das duas ciências são comuns, contudo, a metodologia empregada para a
produção do conhecimento é diversa.

Criminologia e Direito Penal devem unir seus esforços, sem pretensões de exclusividade
ou superioridade, visto que cada qual goza de autonomia em virtude de seus objetos e
métodos, ou seja, devem buscar se entender, pois integram uma ciência criminal total ou
globalizadora. (MOLINA; GOMES, 2020, p. 163)

Para facilitar o seu aprendizado, observe o quadro a seguir:

20
GABRIELA ANDRADE INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA CRIMINOLOGIA • 2

POLÍTICA
DIREITO PENAL CRIMINOLOGIA
CRIMINAL

Ponte eficaz entre


Ciência autônoma, lógica, dedutiva Ciência autônoma,
o direito penal e a
e abstrata. empírica e indutiva.
criminologia.

Analisa os comportamentos Traça


Estuda o crime, a pessoa
humanos indesejáveis ao convívio social, estratégias de
do criminoso, a vítima e o
selecionandoquais condutas devem ser enfrentamento à
controle social.
rotuladas como infrações penais. criminalidade.

FIQUE ATENTO!
Muitas questões de provas abordam, principalmente, as diferenças entre o direito penal e a criminologia.
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4. MÉTODO

A criminologia trabalha de forma indutiva, apresentando um método empírico, isto é, seu objeto se
insere no mundo real, daquilo que é verificável, observando a realidade para analisar e extrair das
experiências as consequências.
Método indutivo: Caso concreto para a regra geral (Criminologia)
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Método dedutivo: Regra geral para o caso concreto (Direito Penal)


O que é empirismo? Doutrina ou atitude que admite, que o conhecimento venha unicamente da
experiência, seja negando a existência de princípios puramente racional, seja negando que tais princípios,
existentes embora, possam, independentemente da experiência, levar ao conhecimento da verdade.
Silva -- CPF:

Enquanto o jurista parte de premissas corretas para deduzir delas as oportunas consequências, o
da Silva

criminólogo, ao contrário, analisa alguns dados e induz às correspondentes conclusões.


Gouvea da

Atua de forma interdisciplinar, já que, em se tratando de seres humanos, qualquer generalização


Eliovaine Gouvea

passa a ser falha; para tanto, utiliza-se dos critérios biológico e sociológico. Ao revés, o Direito Penal faz uso
do método dedutivo, partindo da regra geral para o caso concreto de forma lógica e abstrata, quando só lhe
Eliovaine

preocupa o crime enquanto fato descrito na norma legal, com vistas a perquirir sua adequação típica,
deixando de lado a realidade.
Não se pode olvidar que o direito penal é seletivo, ou seja, escolhe o que punir e quem sofrerá a
reprimenda pelos mecanismos de criminalização primária e secundária, plasmado pelo princípio da
legalidade, o qual, além de ser um verdadeiro limite ao poder punitivo estatal, também se apresenta como
limite ao conceito de crime para o Direito Penal.
A criminologia apresenta um método empírico, mas não necessariamente experimental. Isso porque
a observação é necessária, haja vista que o objeto da investigação pode tornar inviável ou ilícita a
experimentação. Considerando a complexidade do fenômeno delitivo, caberia, pois, a complementação do
método empírico com outros de natureza qualitativa, desde que não incompatíveis com aquele.
A interdisciplinaridade, por sua vez, é uma exigência estrutural do saber científico. A análise
científica reclama uma instância superior que integre e coordene as instâncias setoriais procedentes das
diversas disciplinas interessadas no fenômeno delitivo e que instrumentalize um genuíno sistema de
retroalimentação.

21
GABRIELA ANDRADE INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA CRIMINOLOGIA • 2

Frise-se que a criminologia somente se consolidou como ciência autônoma quando conseguiu se
emancipar daquelas disciplinas setoriais em torno das quais nasceu e com as quais, de forma frequente,
identificou-se de forma indevida.
Nesse contexto, Antonio García-Pablos Molina apresenta as seguintes técnicas de investigação da
criminologia, a saber:

• Quantitativas: são dados estatísticos (método por excelência), questionários, métodos de


medição que explicam a etiologia, a gênese e o desenvolvimento do fato criminoso. A título de
exemplificação: levantamento da quantidade de pessoas que sofreram, num determinado
período de tempo, violação ao seu patrimônio. Frise-se que esse método, por si só, revela-se
insuficiente, posto que outras variáveis devem ser consideradas para melhor compreensão do
fato criminoso;
• Qualitativas: consiste em técnicas de observação participante e em entrevista, a permitir a
compreensão das chaves profundas de um problema;
• Transversais: consideram uma única medição da variável ou do fenômeno examinado. Ex.:
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estudos estatísticos;
• Longitudinais: consideram várias medições, em diferentes momentos temporais, a saber:
estudos de seguimento (follow up); biografias criminais; case studies; e modernos estudos sobre
carreiras criminais.

ATENÇÃO!
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Follow up é o estudo da evolução do indivíduo durante um determinado período de tempo, operando com
uma série de fatores psicológicos e sociológicos. São eles, pois, métodos dinâmicos e evolutivos. Busca
investigar a gênese, a evolução e as manifestações de uma carreira criminal.
Silva -- CPF:

5. OBJETO DE ESTUDO DA CRIMINOLOGIA


da Silva

Desde seu surgimento até os dias atuais houve uma substancial transformação no objeto de estudo
Gouvea da

da Criminologia.
Eliovaine Gouvea

Na época de Beccaria, a investigação envolvia apenas o crime. Com o surgimento da Escola Positiva,
de Lombroso e outros o objeto passou a ser o delinquente.
Eliovaine

Da metade do século XX passou a haver uma ampliação no objeto de estudo da Criminologia de modo
que se mantêm os objetos do crime e do delinquente, mas são adicionados outros: a vítima e o controle
social.
Segundo Antonio Garcia Pablos-Molina os objetos de estudo da moderna criminologia estão
divididos em quatro vertentes: delito, delinquente, vítima e controle social.
• Delito;
• Delinquente;
• Vítima;
• Controle social.

5.1. Delito

Num primeiro plano, não podemos confundir o objeto em análise com a definição atribuída ao delito
pelo Direito Penal. Nesse espeque, para a criminologia, para que um comportamento desviante seja rotulado
como delito, faz-se necessário o preenchimento de quatro elementos constitutivos e coexistentes, a saber:

22
GABRIELA ANDRADE INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA CRIMINOLOGIA • 2

a. Conduta de incidência massiva na sociedade: para que uma conduta seja rotulada como
delituosa, deverá incidir de forma massiva na sociedade. Ou seja, o crime não pode ser um fato
isolado. Nesse viés, Sérgio Salomão Shecaira critica a tipificação do crime de “molestar cetáceo”,
previsto na Lei n.° 7.643/1987, a qual criou o tipo penal específico, após o fato de um banhista
introduzir um palito de sorvete no focinho de um filhote de baleia, causando sua morte (fato
isolado);
b. Incidência aflitiva do fato praticado: o crime deve ser algo que cause dor (não só no sentido
físico), aflição e angústia, seja à vítima ou à comunidade como um todo;
c. Persistência espaço-temporal: o crime deve ser algo que seja distribuído pelo território ao longo
de certo período de tempo juridicamente relevante. Nesse contexto, Sérgio Salomão Shecaira
traz uma crítica, mencionando o caso de um cantor famoso que usou um colar com uma peça
do para-brisa de um veículo fusca. Depois desse episódio e durante algumas semanas, vários
fuscas tiveram essa determinada peça furtada para que seus fãs também usassem o colar igual
ao do cantor;
Note que essa conduta não tem persistência espaço-temporal para dar azo a uma
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criminalização ou uma maior reprovabilidade, como a criação de uma majorante ao delito de


furto para esses casos específicos.
d. Inequívoco consenso: não são todos os fatos massivos, aflitivos, com persistência espaço-
temporal que se revestem de inequívoco consenso acerca da necessidade de criminalização.
Como exemplo, podemos citar o uso imoderado de álcool, comportamento massivo na
sociedade, que gera dor e aflição ao usuário e/ou à sua família e tem persistência no espaço e
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no tempo; contudo não há consenso inequívoco da sociedade acerca da necessidade de sua


criminalização. Tanto é assim que o álcool é considerado substância lícita.
Silva -- CPF:

A Sociologia Criminal utiliza outro parâmetro, o da conduta desviada ou desvio. Esse critério usa
como paradigma as expectativas da sociedade. As condutas desviadas são aquelas que infringem o padrão
da Silva

de comportamento esperado pela população num determinado momento. É um conceito que não se
Gouvea da

confunde com o de crime, mas o abrange.


Eliovaine Gouvea

Define-se o desvio, segundo Anthony Giddens como: aquilo que não está em conformidade com
Eliovaine

determinado conjunto de normas aceitas por um número significativo de pessoas de uma comunidade. Como
foi enfatizado, nenhuma sociedade pode ser dividida de um modo linear entre os que se desviam das normas
e aqueles que estão em conformidade com elas. Quase todas as pessoas em algum momento da vida
cometeram desvios, como subtrair pequenos objetos do emprego, exceder o limite de velocidade, realizar
trotes ao telefone, fumar maconha, etc.

Cuidado: Desvio e crime não são sinônimos, embora muitas vezes se sobreponham. O âmbito do
conceito de desvio é mais vasto que o de crime, que se refere apenas à conduta inconformista que viola uma
lei. Muitas formas de comportamento desviante não são sancionadas pela lei.

O conceito de desvio tem íntima relação com a política de controle da criminalidade conhecida como
tolerância zero. Nesta forma de política-criminal a repressão começa por pequenos e ínfimos desvios.

5.2. Delinquente

A análise do delinquente sofre nuances, a depender da escola da criminologia que o estudava. Sendo
assim, vejamos as várias definições de delinquente para as diferentes escolas criminológicas:

23
GABRIELA ANDRADE INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA CRIMINOLOGIA • 2

a. Escola Clássica (fase pré-científica): o delinquente era encarado como o pecador que optou pelo
mal, embora pudesse e devesse respeitar a lei. Herança da doutrina do contrato social, de
Rousseau. O cometimento do crime era um rompimento ao pacto, e a pena deveria ser
proporcional ao mal causado. O comportamento criminoso seria um mau uso da liberdade;
b. Escola Positiva: para a Escola Positiva, o infrator era um prisioneiro de sua própria patologia
(determinismo biológico) ou de processos causais alheios (determinismo social). Enquanto, para
os clássicos, a pena deveria ser proporcional ao mal causado, para os positivistas, deveria ser
utilizada uma medida de segurança com finalidade curativa, por tempo indeterminado,
enquanto persistisse a patologia;
c. Escola Correcionalista: não teve reflexos significativos no Brasil. Defendia que o criminoso era
um ser débil, inferior e que deveria receber do Estado uma postura pedagógica e de proteção.
A título de exemplo, temos no nosso ordenamento jurídico a proteção ao menor infrator, obtida
como uma influência da corrente correcionalista;
d. Visão marxista: sob essa ótica, o criminoso é visto como uma verdadeira vítima da sociedade,
considerada, sobretudo, a sua base capitalista;
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e. Contemporaneamente: delinquente é o indivíduo que está sujeito às leis, podendo ou não as


seguir por razões multifatoriais. Com a ocorrência do giro sociológico e a necessidade de atenção
aos enfoques político-criminais, abandona-se a perspectiva biopsicopatológica, dando espaço à
perspectiva biopsicossocial.

Nos ensinamentos de Sumariva9:


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[...] a visão atual de um criminoso é de um ser normal, isto é, não é o pecador dos clássicos,
não é o animal selvagem dos positivistas, tampouco o “coitado” dos correcionalista, nem
a vítima da filosofia marxista. Trata-se de um homem real do nosso tempo, que se
submete às leis e pode não cumpri-las por razões diversas, que nem sempre são
Silva -- CPF:

compreendidas pelos seus pares.

No contexto desse objeto de estudo da criminologia, apresentaremos, em capítulo específico,


da Silva

algumas classificações de criminosos, consoante propostas de Cesare Lombroso, Enrico Ferri e Raffaele
Gouvea da

Garófalo.
Eliovaine Gouvea

Avaliar e conhecer essas classificações mostra-se de fundamental relevância na análise de questões


criminológicas voltadas a estabelecer, por exemplo, as causas do crime, bem como estudar medidas de
Eliovaine

prevenção, combate e reação ao fenômeno criminal.

5.3. Vítima

Preliminarmente, cumpre ressaltar que a criminologia moderna trouxe novoscontornos à figura da


vítima, outrora deixada de lado no bojo da persecução penal. É sabido que o Estado tinha como objetivo
principal a punição ao autor do delito, agindo os operadores da lei com a finalidade única de prevenção ao
crime ante a punição do infrator, sem conferir importância ao papel da vítima na análise do fenômeno
criminal.
Historicamente, a figura da vítima observou três fases bem delineadas, quais sejam:

• 1ª fase – protagonismo: chamada “idade de ouro”, compreendida desde os primórdios da


civilização até o fim da alta Idade Média. Caracterizou-se pela justiça privada, vingança,
autotutela. Ou seja, a vítima protagonizava o direito de punir, sendo ela a responsável pela

9 (2018, p. 8 )

24
GABRIELA ANDRADE INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA CRIMINOLOGIA • 2

reparação dos danos que sofreu bem como pela punição do crime, de acordo com as leis de
talião;
• 2ª fase – neutralização: o Estado passa a ser único responsável pela resolução do conflito social
(Código Penal Francês e as ideias do liberalismo moderno), retirando o poder de reação das
mãos da vítima, ante ao fato delituoso. Em outras palavras, o Estado monopoliza o poder
punitivo e trata a pena como garantia coletiva;
• 3ª fase – redescobrimento/revalorização: nessa fase, projetam-se contornos mais humanos à
postura estatal em relação à vítima. Sobretudo após a 2ª Guerra Mundial, o estudo sobre a
vítima assumiu contornos marcados, sendo fundada, assim, uma nova disciplina (ou ciência,
para parte da doutrina) chamada VITIMOLOGIA, consubstanciada no estudo das relações da
vítima com o infrator (chamada pela doutrina de “dupla penal”) ou das relações da vítima com
o sistema. Sobre essa temática (vitimologia), nos debruçaremos em capítulo próprio.

5.4. Controle Social


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Sérgio Salomão Sechaira, citando Max Weber, entende que toda sociedade necessita de mecanismos
disciplinares que asseguram a convivência interna de seus membros, razão pela qual se vê obrigada a criar
uma gama de instrumentos que garantam a conformidade dos objetivos eleitos no plano social.
Nesse diapasão, o controle social é o conjunto de instituições, estratégias e sanções sociais que
pretendem promover a submissão dos indivíduos aos modelos e às normas de convivência social. Com relação
aos seus destinatários, pode ser difuso (à coletividade) ou localizado (a determinados grupos).
CPF: 030.720.271-29

Numa sociedade, encontramos dois sistemas de controle social, quais sejam:

• Controle social formal;

• Controle social informal.


Silva -- CPF:

5.4.1. Controle social formal


da Silva
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

Esse sistema é constituído pelo aparelho político do Estado: Polícia, Judiciário, Administração
Penitenciária, Ministério Público etc. Ou seja, são os agentes formais de controle social, utilizados como meio
Eliovaine

coercitivo por intermédio dos seus órgãos públicos, com a finalidade de punir o infrator das normas impostas
pelo controle social. Esse sistema atua em ultima ratio, uma vez que entram em cena após a falha docontrole
social informal.
Esse controle social formal é dividido em seleções, a saber:

• Primeira seleção – entende-se por primeira seleção de controle social formal a atuação dos
seus órgãos de repressão, ou seja, o trabalho desenvolvido pela Polícia Judiciária. Em outros
termos, o início da persecução penal com a atividade investigativa, na busca da coleta de
indícios de autoria, materialidade e as circunstâncias do delito (Estado- Polícia);

• Segunda seleção – essa forma de seleção é representada pela atuação do Ministério Público
ao deflagrar a ação penal;

• Terceira seleção – essa seleção decorre da tramitação do processo judicial com a


consequente condenação do criminoso, após o trânsito em julgado da sentença penal
condenatória. Aqui, o Estado atua de maneira absoluta sobre o indivíduo, impondo-lhe uma
sanção penal.

25
GABRIELA ANDRADE INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA CRIMINOLOGIA • 2

5.4.2. Controle social informal

Esse sistema de controle social é constituído pela sociedade civil: família, escola, religião, mídia, entre
outros, com atuação claramente preventiva e educacional, socializando o indivíduo e inserindo-o na
sociedade.
Ressalta-se que, quanto maior for o controle social informal, menor será o índice de criminalização.
Tal afirmação se torna cristalina, a título de exemplo, nas cidades pequenas, nas quais há uma forte incidência
do controle social informal, apresentandoníveis de criminalidade bem menores que nas grandes metrópoles.

ATENÇÃO!
Quando se fala em institutos de controle social, citamos três componentes fundamentais: norma, processo
e sanção. Quando as instâncias de controle social informal falham, exsurgem as instâncias de controle social
formal, sendo a pena privativa de liberdade a sanção mais grave por estas aplicadas.

Ademais, o controle social pode ser exercido por meio de três formas principais,a saber:
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• Sanções formais (aplicadas pelo Estado, podendo ser cíveis, administrativas e/ou penais) e
sanções informais (aquelas que não têm força coercitiva);

• Meios positivos (prêmios e incentivos) e meios negativos (imposição de sanções);

• Controle interno (autocoerção) e controle externo (ação da sociedade ou do Estado, como


multas e penas privativas de liberdade).
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ATENÇÃO!
Para a teoria do labelling approach, uma das teorias da reação social que será detalhadamente estudada em
Silva -- CPF:

capítulo específico, o controle social é seletivo e discriminatório, gerador e constitutivo de criminalidade,


além de estigmatizante.
da Silva
Gouvea da

6. FUNÇÕES DA CRIMINOLOGIA
Eliovaine Gouvea

A função precípua da criminologia é informar a sociedade e os poderes públicos sobre o crime, o


Eliovaine

criminoso, a vítima e o controle social, reunindo um núcleo de conhecimentos seguros e permitindo,


assim, compreender cientificamente o problema criminal, de modo a preveni-lo e a intervir com eficácia e
positivamente no homem criminoso.
Isso se explica porque a criminologia é uma ciência que se preocupa com problemas e conflitos
concretos e históricos. Diante disso, sinteticamente, as funções da Criminologia serão apresentadas a seguir.
Com o resultado de suas investigações, a criminologia preocupa-se em fornecer explicações válidas
para o fenômeno do crime (etiologia) e, com isso, auxiliar a desenvolver métodos para a redução da
criminalidade (explicativo).
Ou seja, por não ser uma ciência estanque, a criminologia visa apontar um núcleo seguro de
conhecimentos sobre cada um dos seus objetos de estudo.Assim, é possível concluir que as duas perguntas
fundamentais da criminologia são as seguintes: Por que alguém delinquiu? O que se pode fazer para
minimizar a delinquência?
Busca-se também com a Criminologia:
• Explicar e prevenir o crime

• Intervir na pessoa do infrator

26
GABRIELA ANDRADE INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA CRIMINOLOGIA • 2

• Avaliar os diferentes modelos de resposta ao crime

6.1. Explicações científicas do fenômeno criminal

Oferecer uma explicação dotada de cientificidade ao fenômeno criminal, bem como estabelecer
medidas de prevenção ao delito, com vistas a evitar sua ocorrência (vide capítulo 9).

6.2. Intervenção positiva no infrator

Buscando analisar qual o real impacto da pena ao infrator, desenhar e analisar programas de
reinserção social e trazer à sociedade a percepção de que o crime é um problema social e comunitário.

6.3. Avaliação dos diferentes modelos de reação ao crime

Neste tópico, abordaremos os instrumentos de reação ao crime de que se vale o Estado a fim de
restabelecer a ordem pública e a paz social violadas quando da prática de uma infração penal.
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O crime abala a estrutura social, gerando danos das mais variadas ordens às suas vítimas. Nessa
senda, o Estado se vê obrigado a reagir, mediante a implementação de medidas de política criminal com o
escopo de exercer o controle sobre o avanço da criminalidade.
Nessa linha de intelecção, destacamos três modelos de reação ao crime, que abordaremos mais
criteriosamente a seguir.
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6.3.1. Modelo clássico/dissuasório clássico/retributivo

Esse modelo é pautado na resposta punitiva do Estado como forma de retribuir o mal causado. Em
outras palavras, ao mal causado pelo crime, aplica-se o contraestímulo da pena, que possui caráter
Silva -- CPF:

exclusivamente retributivo e cunho intimidatório.


Com efeito, a aplicação da pena seria então necessária e suficiente à reprovação da conduta
da Silva

criminosa, bem como atuaria com viés prevencionista, considerando que, em tese, o indivíduo poderia se
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

sentir desestimulado a delinquir.


Cumpre salientar que esse modelo não se preocupa com a reparação dos danos causados pela
Eliovaine

conduta delitiva, tampouco com a ideia de ressocialização do delinquente, mas tão somente apresenta
caráter de retribuição ao mal causado. Nesse contexto, podemos chegar à conclusão de que a figura da vítima
não possui qualquer importância nessa análise.

Como tudo que tem início, o modelo clássico ou dissuasório foi o primeiro modelo de
reação ao crime. Por meio dele, o mal causado pelo crime deve ser retribuído pelo mal
da pena. Numa visão hegeliana, a pena deve ser vista como um castigo proporcional
ao delito cometido. Não se preocupa com a ressocialização do agente, mas apenas que
ele sofra as consequências de uma prisão em virtude da sua conduta criminosa.
[GONZAGA, 2018, p. 109, grifo nosso]

Cabe, ainda, destacar que figuram como protagonistas desse modelo o Estado e o delinquente.

6.3.2. Modelo ressocializador

Como o próprio nome deixa a sugerir, esse modelo pugna pela ressocialização do delinquente, de
forma a torná-lo apto à reinserção na sociedade.

27
GABRIELA ANDRADE INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA CRIMINOLOGIA • 2

Possui caráter humanista, atribuindo à pena uma finalidade utilitária, qual seja a ressocialização do
infrator e não apenas a mera retribuição ao mal causado. Por essa ótica, a pena possui finalidade de
prevenção especial positiva.

O que se busca é a reinserção social do condenado após o cometimento do delito. Afasta-


se daquele viés em que a expiação é a única busca quando da aplicação da pena, pois deve
ser lembrado que o condenado num futuro próximo irá voltar ao convívio social, o que
torna a responsabilidade da sociedade elevada. Com essa ideia é que surgem
mecanismos de ressocialização cada vez mais eficazes, como a remição da pena pelo
trabalho e pelo estudo. Não se deve apenas desejar que o crime seja combatido com a
pena, mas que o criminoso não volte a delinquir; e isso somente ocorrerá quando ele tiver
uma aceitação social, seja pelo trabalho, seja pelo estudo. Do contrário, as penitenciárias
serão apenas locais de expiação e de reunião de delinquentes que, em breve, estarão nas
ruas para o cometimento de novos crimes. Nesse tipo de modelo, a sociedade passa a
ter um papel fundamental, pois é ela que vai receber o condenado para fazer um novo
trabalho, estudar e relacionar-se de forma lícita com seus pares. Por isso a progressão
de regime e a remição da pena contam diretamente com a atuação do corpo social, seja
pela carta de emprego que algum empregador terá que conceder ao condenado, seja
pela aceitação em algum tipo de faculdade ou curso para que o condenado possa estudar.
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A participação da comunidade passa a ser de suma importância para resgatar o ser


humano que existe no condenado, abandonando aquele instinto selvagem e animal que
cometeu o crime. (GONZAGA, 2018, p. 129)

6.3.3. Modelo integrador/restaurador/consensual/justiça restaurativa

A ideia central desse modelo de reação ao crime reside na celebração de um acordo, um ajuste entre
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as partes integrantes do conflito, com o objetivo de promover o restabelecimento do cenário ao “estado em


que as coisas se encontravam antes do crime”, mediante aplicação de institutos e técnicas de composição
de interesses, efetivando a reparação dos danos sofridos pela vítima.
Silva -- CPF:

Nesse sentido, apresentam-se como protagonistas do conflito criminal a vítima e o delinquente


(dupla penal), conforme muito bem explica Gonzaga10:
da Silva

Passam a compor, de forma principal, esse modelo de reação, a vítima e o condenado,


Gouvea da

ficando de fora o Estado. O principal enfoque é a busca pela conciliação entre autor e
Eliovaine Gouvea

vítima, daí muitos chamarem esse modelo também de conciliatório. Nada mais salutar
para o retorno ao momento de normalidade anterior ao crime do que o entendimento
Eliovaine

mútuo entre as partes.

O exemplo mais comum em nossa ordem jurídica acerca da implementação desse modelo de reação
foi a edição da Lei n.º 9.099/1995, que instituiu os Juizados Especiais Cíveis e Criminais, com a previsão de
medidas despenalizadoras aplicáveis, geralmente, às infrações penais de menor potencial ofensivo, com
vistas ao afastamento do cárcere, bem como à efetiva reparação civil das vítimas.
Na inteligência do Art. 61 da Lei n.º 9.099/1995:

Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos
desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não
superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa.

Em síntese, para que possamos estabelecer a ideia de justiça consensual, é necessária a verificação
dos seguintes requisitos:

• Reparação do dano à vítima;


• Assunção da culpa pelo delinquente (de maneira voluntária e confidencial);

10 (2018, p. 131, grifo nosso)

28
GABRIELA ANDRADE INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA CRIMINOLOGIA • 2

• Presença de um facilitador (mediador judicial).

ATENÇÃO!
Existe divergência doutrinária acerca do alcance e aplicação da justiça restaurativa, face à natureza do crime
praticado, sua gravidade e primariedade do autor, estabelecendo-se duas posições:
1ª Corrente (minoritária): sustenta a possibilidade de conciliação e mediação do conflito criminal, mesmo
para os crimes mais graves e para o delinquente multirreincidente.
2ª Corrente (majoritária): restringe o alcance da incidência da justiça restaurativa aos autores primários e às
infrações penais de menor gravidade, afastando sua aplicação em relação a delitos mais graves.

Por fim, vale destacar que o modelo de justiça restaurativa gerou reflexos na legislação brasileira,
como, por exemplo, com a previsão dos institutos despenalizadores, previstos na Lei n° 9.099/1995, e a
Resolução n.º 118/2014 do Conselho Nacional do Ministério Público, que versa sobre a Política Nacional de
Incentivo à autocomposição no âmbito do Ministério Público.
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7. SISTEMAS DA CRIMINOLOGIA

O estudo do tema remete à análise das disciplinas que integram a criminologia e da relação que se
estabelece entre elas, justamente por conta de sua característica da interdisciplinaridade.
De acordo com a doutrina majoritária, existem dois sistemas/concepções, os quais veremos agora.
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7.1. Concepção Austríaca/Posição enciclopédica

Para essa concepção, existem três grupos de disciplinas que integram a criminologia, conforme
mostra o esquema a seguir.
Gouvea da
Eliovaine Gouvea
Eliovaine Silva -- CPF:
da Silva

a. Disciplinas relacionadas à realidade criminal: fenomenologia (análise das formas de surgimento


da criminalidade), etiologia (causas ou fatores determinantes da criminalidade), prognose
(análise dos fatores determinantes da criminalidade, formulando diagnósticos e prognósticos
sobre o futuro comportamento e periculosidade do autor), biologia criminal, psicologia criminal,
antropologia, geografia criminal, ecologia criminal, entre outras.
b. Disciplinas relacionadas ao processo: tem-se a criminalística, a qual se subdivide em tática e
técnica criminal. Criminalística é o conjunto de teorias que se referem ao esclarecimento dos
casos criminais (ciência policial). Tática criminal é o modus operandi mais adequado ao
esclarecimento dos fatos e à identificação do autor. Técnica criminal é aquela que se ocupa das
provas, analisando os métodos científicos existentes para demonstrar realisticamente uma
determinada hipótese.
c. Disciplinas relacionadas à repressão e prevenção do delito: composta pelas penologia (ciência
penitenciária, pedagogia correcional) e profilaxia. A penologia é a ciência que examina o

29
GABRIELA ANDRADE INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA CRIMINOLOGIA • 2

cumprimento e a execução das penas. A ciência penitenciária apresenta-se como uma


subdisciplina da penologia, centralizando seus estudos nas penas privativas de liberdade. A seu
turno, a pedagogia correcional se preocupa com orientar a execução do castigo para a
significação de um impacto positivo, de reinserção social. Noutro giro, a profilaxia tem como
meta prioritária a luta contra o delito, articulando as estratégias oportunas para incidir
eficazmente nos fatores individuais e sociais criminógenos, antecipando-se ao crime.

7.2. Concepção Estrita

Admite a integração apenas de disciplinas relacionadas à realidade criminal, e afirma que algumas
disciplinas tratadas na concepção anterior não integram a criminologia.
Desta feita, assevera, por exemplo, que a criminalística é disciplina auxiliar do direito penal, pois
orbita em torno de questões processuais; e a penologia, a seu turno, é uma ciência técnica que não integra
o sistema da criminologia.

8. CLASSIFICAÇÕES DA CRIMINOLOGIA
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Consoante lições de Sumariva (2017), a doutrina majoritária entende que a criminologia é uma
ciência aplicada que se divide em dois ramos:

• Criminologia geral: consiste na sistematização, na comparação e na classificação dos resultados


alcançados nas ciências criminais em relação ao crime, ao criminoso, à vítima, ao controle social
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e à criminalidade;
• Criminologia clínica: consiste na aplicação de conhecimentos teóricos, tais como conceitos,
princípios e métodos de investigação médico- psicológica para o tratamento do criminoso.
Silva -- CPF:

Ainda no escólio de Sumariva (2017), existem outras classificações, a saber:


da Silva

• Criminologia científica: cuida dos conceitos e métodos sobre a criminalidade, o crime, o


Gouvea da
Eliovaine Gouvea

criminoso, a vítima e a justiça penal;


• Criminologia aplicada: consiste na parte científica e na prática dos operadores do direito;
Eliovaine

• Criminologia acadêmica: sistematiza o saber criminológico para fins pedagógicos e didáticos;


• Criminologia analítica: incumbida de verificar o cumprimento do papel das ciências criminais e
da política criminal;
• Criminologia crítica ou radical: prima pela negação do capitalismo e apresentação do criminoso
como vítima da sociedade, tendo como base ideais marxistas;
• Criminologia da reação social: atividade intelectual que estuda os processos de criação de
normas penais e sociais relacionadas ao comportamento desviante;
• Criminologia organizacional: compreende o processo de criação de leis, a infração a essas
normas e os fenômenos de reação às violações das leis ;
• Criminologia clínica: consiste no estudo de casos particulares com a finalidade de estabelecer
diagnósticos e prognósticos de tratamento, numa identificação entre a delinquência e a doença;
• Criminologia verde ou green criminology: consiste na responsabilização penal de empresas e
indústrias por delitos ecológicos, como forma de proteção ao meio ambiente aos ataques
prejudiciais à biodiversidade;

30
GABRIELA ANDRADE INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA CRIMINOLOGIA • 2

• Criminologia do desenvolvimento: estudo voltado à idade e à fase de crescimento do indivíduo,


classificando as variáveis do comportamento delituoso ao longo de sua vida. A idade em que o
indivíduo iniciou sua vida criminosa é levada em consideração, assim como suas experiências e
outras considerações suscetíveis de medições em momentos distintos da vida. Acredita-se que
a prevenção da criminalidade seja efetiva e eficaz quando há a interrupção dos motivos que
conduzem o indivíduo à prática delitiva;
• Criminologia midiática: aquela que atende a uma criação da realidade por meio da informação,
da subinformação e desinformação da mídia, afastando- se de estudos acadêmicos, em
convergência com preconceitos e crenças, e baseando-se uma etiologia criminal simplista,
assentada em uma causalidade mágica. Para Zaffaroni (2012, p. 303-304), “a ideia da
causalidade especial, usada para canalizar a vingança contra determinados grupos humanos
eleitos como ‘bodes expiatórios’”;
• Criminologia fenomenológica: aquela que cuida da busca do âmago das coisas por meio da sua
aparência. Não se tornou criminologia crítica, pois não analisou o sistema de controle social e
nem tratou, de alguma forma, da alteração do processo de criação das leis criminais.
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GABRIELA ANDRADE FASES CIENTÍFICA E PRÉ-CIENTÍFICA DA CRIMINOLOGIA: A LUTA DAS ESCOLAS • 3

3 FASES PRÉ-CIENTÍFICA E CIENTÍFICA DA CRIMINOLOGIA:


ALUTA DE ESCOLAS
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GABRIELA ANDRADE FASES CIENTÍFICA E PRÉ-CIENTÍFICA DA CRIMINOLOGIA: A LUTA DAS ESCOLAS • 3

1. NASCIMENTO DA CRIMINOLOGIA

Preliminarmente, tenhamos em mente que não é possível demarcar em caráter absoluto o exato
momento do nascimento da criminologia. Os autores que debruçam seus estudos sobre a criminologia não
são unânimes em delimitar o exato momento em que teve início seu estudo científico.
Como ciência autônoma, sua existência é recente. Contudo não podemos olvidar sua fase pré-
científica. No período pré-científico, o conhecimento produzido resultava da observação realizada pelo
homem, de modo que essas observações lhe permitiam constatar e descrever fenômenos; todavia, por falta
de sistematização, não era possível sua explicação de forma plena.
Desde a Antiguidade, é possível verificar a presença de ideias acerca da criminologia, a partir de
textos esparsos de autores que revelavam sua preocupação com a existência do crime e suas causas.
No que se refere ao período científico, há divergências doutrinárias acerca de seu surgimento, ora
atribuído a quatro estudiosos distintos, conforme já estudamos.

2. ESCOLA CLÁSSICA/LIBERAL-CLÁSSICA
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Num contexto histórico, a escola clássica ficou marcada num momento conhecido como “época dos
pioneiros”, na qual se desenvolveram teorias sobre o crime, sobre o direito penal e sobre a pena (século XVIII
e início do século XIX) – sendo alguns de seus expoentes Feuerbach, Cesare Beccaria e Escola Clássica De
Direito Penal na Itália.
A Escola Clássica, por adotar o método lógico, abstrato, dedutivo, faz parte da fase pré-científica da
criminologia. A fase científica, por sua vez, é inaugurada com a Escola Positiva.
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Nesse contexto, para os clássicos:

• O homem delinquente não era um ser diferente, não há um rígido determinismo que o defina;

Silva -- CPF:

O delito é um conceito jurídico, ou seja, é a violação de um direito e, também, daquele pacto


social que estava na base do Estado e do direito, segundo o liberalismo clássico. O delito surgia
da Silva

da livre vontade do indivíduo e não de causas patológicas;


Gouvea da

• A pena deveria ser aplicada, pautando-se nos critérios de necessidade ou utilidade, somado ao
Eliovaine Gouvea

princípio da legalidade.
Eliovaine

A Escola Clássica representa os primeiros impulsos da tradição italiana de direito penal. Um processo
que, segundo Baratta (2002), vai da filosofia do direito penal a uma fundamentação filosófica da ciência do
direito penal, ou seja, de uma concepção filosófica a uma concepção jurídica, mas filosoficamente
fundamentada, dos conceitos de delito, de responsabilidade penal e de pena. Essa fase é deflagrada pela
obra “Dos Delitos e Das Penas”, de Cesare Beccaria.
A referida Escola trazia influências do contrato social, no sentido de que o homem que decide por
delinquir opta por rompê-lo. Além disso, trazia aspectos da divisão dos poderes e de uma teoria jurídica do
delito e da pena, fortemente influenciada pelos ideais iluministas franceses.
A Escola Clássica não pretendeu oferecer uma teoria etiológica da criminalidade, isto é, das causas
da criminalidade, senão o suporte de uma resposta racional e justa ao delito.

2.1. Principais expoentes da Escola Clássica

A seguir, conheceremos mais detalhadamente os principais nomes envolvidos com a Escola Clássica.

33
GABRIELA ANDRADE FASES CIENTÍFICA E PRÉ-CIENTÍFICA DA CRIMINOLOGIA: A LUTA DAS ESCOLAS • 3

2.1.1. Cesare Beccaria

Pioneiro, com sua obra “Dos Delitos e das Penas”, datada de 1764.
O crime é uma quebra do pacto social. A pena era a reparação do dano causado pela violação de um
contrato social, sendo consideradas ilegítimas todas as penas que não revelassem a salvaguarda do contrato
social, isto é, a pena deve ser suficiente para reparar o dano causado pela violação do contrato (ideia de
pena proporcional ao delito).
Para Beccaria, o dano social e a defesa social constituem, respectivamente, elementos fundamentais
da teoria do delito e da teoria da pena, posto que a pena não serve apenas para retribuir o castigo, mas,
principalmente, funciona como um sistema de defesa social.

2.1.2. Giandomenico Romagnosi

Para Romagnosi, o princípio natural é a conservação da espécie humana e a obtenção da máxima


utilidade. Desse princípio derivam as três relações ético-jurídicas fundamentais:
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• O direito e dever de cada um de conservar a própria existência;


• O dever recíproco dos homens de não atentar contra sua existência;
• O direito de cada um de não ser ofendido pelo outro.

Romagnosi defendia que a pena constitui um contraestímulo (desestímulo) ao impulso criminoso.


Parte de Giandomenico Romagnosi esta verdadeira reflexão: “Se depois do primeiro delito existisse uma
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certeza moral de que não ocorreria nenhum outro, a sociedade não teria direito algum de punir o
delinquente”.

2.1.3. Francesco Carrara


Silva -- CPF:
da Silva

Trata-se do autor que mais contribuiu com seus estudos no desenvolvimento da Escola Clássica.
Para Carrara, o crime não é um ente de fato, é um ente jurídico; não é uma ação,é uma infração. É
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

um ente jurídico porque a sua essência deve consistir necessariamente na violação de um direito. Trata-se
de direito não no sentido das mutáveis legislações positivas, mas sim de “uma lei que é absoluta, porque
Eliovaine

é constituída pela única ordem possível para a humanidade, segundo as previsões e a vontade do Criador”,
segundo palavras de Carrara.
Nessa toada, surgem os aspectos teóricos e práticos do direito penal:

• Aspecto teórico: o direito como a lei universal;


• Aspecto prático: a autoridade da lei positiva.

Para Carrara, o fim da pena não é a retribuição, mas a eliminação do perigo social que sobreviria da
impunidade do delito. Sendo assim, “a reeducação do condenado pode ser um resultado acessório e
desejável, mas não a função essencial da pena”. (Francesco Carrara)
O homem viola as regras sociais porque tem vontade. O crime é a violação do direito como exigência
racional e não como norma de direito positivo. Advém daí a ideia de livre-arbítrio.
Para os clássicos, a pena é uma retribuição jurídica que tem como objeto o restabelecimento da
ordem externa violada. No escólio de Hegel: “A pena é a negação da negação do direito”.

34
GABRIELA ANDRADE FASES CIENTÍFICA E PRÉ-CIENTÍFICA DA CRIMINOLOGIA: A LUTA DAS ESCOLAS • 3

Nessa linha de intelecção, consoante ensinamentos de Baratta11:

O delito, como ação, é para Carrara e para a Escola Clássica um ente juridicamente
qualificado, possuidor de uma estrutura real e um significado jurídico autônomo, que
surge de um princípio por sua vez autônomo, metafisicamente hipostasiado: o ato da
livre vontade de um sujeito.

Por se debruçar em critérios puramente racionais, a Escola Clássica encontrou dificuldades para
explicar diversos fenômenos, tais como a suposta homogeneidade absoluta de todos os homens no que toca
aos processos pessoais, biopsicológicos e de motivação do ato delituoso, dando azo à crítica positivista.

2.2. O estudo da pena para a Escola Clássica

Sob forte influência dos ideais kantianos, o tratamento conferido às penas possuía viés
retribucionista do direito penal, no qual a pena consistia na aplicação de um mal ao infrator, representando
o “castigo necessário para o restabelecimento do direito e da justiça”. Ademais, a pena deveria ser
proporcional ao dano causado, despida de qualquer caráter reeducativo, uma vez que a infração decorria do
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livre- arbítrio do indivíduo.


Em acurada síntese, os liberais defendiam:

• Que o crime é um ente jurídico;


• Que a pessoa do infrator atuava com base na vontade racional, ou seja, possuía livre-arbítrio
na escolha pelo crime e, caso assim o fizesse, estaria quebrando as regras do pacto social;
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• Que a pena possuía caráter meramente retribucionista, despida de caráter reeducativo e/ou
ressocializador, devendo ser proporcional ao injusto praticado. Nessa linha, a pena deveria ser
aplicada de forma exclusiva pelos magistrados, obedecendo ao viés humanitário da sanção
penal.
Silva -- CPF:

3. ESCOLA POSITIVISTA/POSITIVA
da Silva
Gouvea da

A doutrina filosófica do positivismo floresceu no século XIX, generalizando na Filosófica Ocidental um


Eliovaine Gouvea

espírito antimetafísico e antiteológico. Ou seja, pretende-se transplantar até mesmo para a Filosofia o rigor
do método científico, reduzindo o conhecimento humano àquele "claro e distinto", obtido pela análise de
Eliovaine

fatos e coisas concretas no melhor estilo cartesiano.


O principal expoente desse período foi Augusto Comte (1798 - 1857), cuja doutrina, divulgada a partir
de 1826, costuma, em um sentido mais restrito e histórico, ser designada como o próprio positivismo. A
doutrina de Comte abrange "uma teoria da ciência, uma reorganização da sociedade e uma religião".
Segundo Comte, "o caráter essencial do novo espírito filosófico consiste na sua tendência necessária
a substituir por toda parte o absoluto pelo relativo". Assim sendo, o significado emprestado ao termo
"positivo" é aquilo que "vigora de fato ou tem realidade efetiva". Neste sentido afirma Comte que "a palavra
positivo designa o real em oposição ao quimérico".
Dessa maneira, o positivismo procura estender a todas as áreas o método científico (até mesmo à
filosofia e à religião), destacando a importância do conhecimento puro e simples dos fatos e de suas relações.
Zilles expõe sumariamente as teses fundamentais do positivismo:
a) O único conhecimento verdadeiro possível é o científico e seu método é o único válido. Afastam-
se quaisquer ingerências metafísicas, devido ao fato de que esta é incessível ao método da ciência.

11 (2002, p. 38)

35
GABRIELA ANDRADE FASES CIENTÍFICA E PRÉ-CIENTÍFICA DA CRIMINOLOGIA: A LUTA DAS ESCOLAS • 3

b) O método científico é exclusivamente descritivo, investigando somente os fatos e a relação entre


eles.
c) Sendo o método da ciência o único válido, deve ser estendido a todos os campos da pesquisa e da
atividade humana.
Neste clima, o fenômeno criminal somente poderia ser pesquisado com base em dados empíricos
fornecidos pela realidade de leis naturais imutáveis e experimentáveis.
A Escola Positivista inaugura a fase científica da criminologia, com emprego de metodologia e objetos
próprios de estudo, sendo deflagrada no final do século XIX e início do século XX, oferecendo uma reação às
hipóteses racionalistas de entidades abstratas.
O modelo positivista da criminologia baseava-se no estudo das causas ou dos fatores da
criminalidade (paradigma etiológico), a fim de individualizar as medidas adequadas para removê-los,
intervindo, sobretudo, no sujeito criminoso. Buscava a explicação da criminalidade na “diversidade” ou na
anomalia dos autores de comportamentos criminalizados.
Nas palavras de Baratta (2002), o foco, em todo esse cenário, era o homem até então considerado
delinquente, que, por ser visto como um indivíduo diferente, era clinicamente observável. Para os
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positivistas, portanto, o criminoso era um indivíduo diferente, movido por determinismo biológico, psíquico
ou social.
O primeiro esforço neste sentido parte da doutrina de Cesare Lombroso, especialmente com a
publicação da famosa obra "O Homem Delinqüente", no ano de 1876.

3.1. Principais expoentes da Escola Positivista


CPF: 030.720.271-29

A seguir, conheceremos mais detalhadamente os principais nomes envolvidos com a Escola


Positivista.
Silva -- CPF:

3.1.1. Cesare Lombroso (enfoque antropológico)


da Silva

A obra de Lombroso é considerada o marco científico da criminologia. Seu ponto de partida adveio
Gouvea da

de pesquisas craniométricas de criminosos, abrangendo fatores anatômicos, fisiológicos e mentais.


Eliovaine Gouvea

Para Lombroso, o crime é um fenômeno biológico e não um ente jurídico (como sustentavam os
clássicos), razão pela qual o método a ser utilizado para o seu estudo deve ser o empírico..
Eliovaine

A visão predominantemente antropológica de Lombroso seria depois ampliada por Ferri,


com a acentuação dos fatores sociológicos, e com Garófalo, com a acentuação de fatores
psicológicos. (BARATTA, 2002)

Consoante ensinamentos de Lombroso, o criminoso é um ser atávico que representa a regressão do


homem ao primitivismo. Dessa forma, é considerado um selvagem que já nasce delinquente. Em razão disso,
passa a explicar os impulsos criminosos:

Assim, lançam-se as bases para a sua teoria básica: atavismo, degeneração pela doença
e criminoso nato, com certas características: fronte fugidia, assimetria craniana, cara
larga e chata, grande desenvolvimento das maçãs do rosto, lábios finos, criminosos na
maioria das vezes canhotos, cabelos abundantes, barba rala; ladroes com olhar errante,
móvel e obliquo; assassinos com olhar duro, vítreo, injetado de sangue. (SHECAIRA,
2008, p. 95-96)

Além dessas, Lombroso também descreveu o que chamou de características anímicas, que envolviam
insensibilidade à dor, tendência à tatuagem, cinismo, vaidade, crueldade, falta de senso moral, caráter
impulsivo.

36
GABRIELA ANDRADE FASES CIENTÍFICA E PRÉ-CIENTÍFICA DA CRIMINOLOGIA: A LUTA DAS ESCOLAS • 3

Para Lombroso, os fatores exógenos só servem como desencadeadores dos fatos clínicos
(endógenos). Ou seja, desencadeiam uma predisposição inata, inerente ao próprio criminoso, que sempre
nascia criminoso. Portanto, a ideia central se pautava no determinismo biológico, sendo certo que o livre-
arbítrio dos clássicos não passava de mera ficção.
A principal contribuição de Lombroso para a criminologia não reside propriamente em seus estudos
acerca da tipologia de criminoso nato, mas sim no método empírico por ele explorado, deflagrando, da
autonomia científica à criminologia e, por conseguinte, a fase científica da matéria.
Sua teoria é fruto de mais de 400 autópsias de delinquentes e 6000 análises em delinquentes vivos,
além de um estudo minucioso de 25 mil presos. No Brasil, suas ideias influenciaram Raimundo Nina Rodrigues
(1862-1906), conhecido como “Lombroso dos Trópicos”.
Lombroso pensou haver detectado no criminoso uma espécie diferenciada de "homo sapiens", que
apresentaria certos sinais ("stigmata") físicos e psíquicos. Esses estigmas físicos caracterizariam o "criminoso
nato" (forma da calota craniana e da face, dimensões do crânio, maxilar inferior procidente, sobrancelhas
fartas, molares muito salientes, orelhas grandes e deformadas, corpo assimétrico, grande envergadura dos
braços, mãos e pés etc.), além daqueles psíquicos (pouca sensibilidade à dor, crueldade, leviandade, aversão
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ao trabalho, instabilidade, vaidade, tendência à superstição, precocidade sexual etc.). Todos esses sinais
seriam conseqüência de um "regresso atávico", dadas suas semelhanças com as formas primitivas dos seres
humanos.
Além disso Lombroso julgou encontrar uma relação entre a epilepsia e a "insanidade moral".
Entretanto, tendo em vista que durante suas próprias investigações constatou que nem todos os criminosos
apresentam as características preconizadas, elaborou uma distinção entre "criminosos verdadeiros (natos)"
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e "pseudo - criminosos", sendo estes últimos os "ocasionais" e os "passionais". Portanto, Lombroso "nunca
disse que todo criminoso é nato e, sim, que o verdadeiro criminoso é nato".
O determinismo lombrosiano levaria a conclusões e consequências relevantes na seara da Política
Criminal. Por exemplo, sendo portador não deliberado do impulso criminoso praticamente irresistível, o
Silva -- CPF:

infrator não poderia ser exposto a "expiações morais e punições infamantes". A sociedade poderia, porém,
defender-se aplicando-lhe desde a prisão perpétua até a pena de morte.
da Silva

Essa doutrina, contudo foi amplamente criticada e desmentida por pesquisas posteriores a indicarem
Gouvea da

não existir qualquer indício seguro a demonstrar alguma diferença fisiológica, física ou psíquica entre os
Eliovaine Gouvea

homens encarcerados e aqueles que jamais foram submetidos a uma condenação criminal.
Malgrado as características deterministas e até mesmo ensejadoras de atitudes preconceituosas,
Eliovaine

propiciadas por uma absoluta precipitação conclusiva de Lombroso; tem de ser a ele reconhecido o mérito
de haver dado o primeiro impulso à Criminologia, sob a forma da "Antropologia Criminal". A Lombroso cabem
os louros pela inauguração do estudo do homem delinqüente, sendo considerado o "Pai da Criminologia".
Também foi a partir de Lombroso que se iniciaram os diversos estudos acerca da pesquisa de
elementos endógenos capazes de eclodirem a face criminosa de um ser humano.
Diversas pesquisas em campos variados das ciências naturais e biológicas formaram um conjunto de
teorias explicativas do fenômeno criminal, ao qual costuma-se denominar de "Criminologia Clínica". Essas
teorias apresentam uma grave falha porque pretendem explicar isoladamente, dada uma com seus
instrumentos, o crime e o criminoso.
São estudos acerca da formação da personalidade (caracteriologia), do narcisismo, das
personalidades, moléstias mentais (neuroses, psicoses e oligofrenias), desvios sexuais, parafilias etc.
Não obstante, o grande equívoco dos positivistas, notadamente Lombroso, foi acreditar na
possibilidade de se descobrir uma causa puramente biológica para o fenômeno criminal.

37
GABRIELA ANDRADE FASES CIENTÍFICA E PRÉ-CIENTÍFICA DA CRIMINOLOGIA: A LUTA DAS ESCOLAS • 3

3.1.2. Enrico Ferri (enfoque sociológico)

Criador da sociologia criminal, trata-se de um estudioso que sucedeu os estudos de Lombroso, que
era seu sogro.
Diferentemente de Lombroso, Ferri dá ênfase às ciências sociais, com uma compreensão mais
alargada da criminalidade, evitando-se o reducionismo antropológico.
Para Ferri, o fenômeno da criminalidade decorria de fatores antropológicos, físicos e sociais:

FATORES
FATORES FÍSICOS FATORES SOCIAIS
ANTROPOLÓGICOS
Construção orgânica e psíquica Densidade da população, opinião
do indivíduo, raça, idade, sexo, Clima, estações, temperatura etc. pública, família, moral, religião,
estado civil etc. educação etc.

O autor contribuiu, ainda, para a criação da principal categorização de delinquentes, quais sejam:
criminoso nato, louco, habitual, ocasional e passional.
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• Criminoso nato: conforme a classificação original de Lombroso, caracterizando-se por


impulsividade ínsita.
• Criminoso louco: levado ao crime não somente pela doença mental, mas também pela atrofia
do senso moral, que é sempre a condição decisiva na gênese da delinquência.
• Criminoso habitual: descrição daquele nascido e crescido num ambiente de miséria e pobreza,
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começando por pequenos delitos até delitos mais graves. Possui como características a grave
periculosidade e a difícil readaptabilidade.
• Criminoso ocasional: forte influência de circunstâncias ambientais, injusta provocação,
Silva -- CPF:

necessidades familiares ou pessoais etc. Menor a periculosidade e maior a readaptabilidade


social.
da Silva

• Criminoso passional: praticam crimes impelidos por paixões pessoais, como também políticas
Gouvea da

e sociais.
Eliovaine Gouvea

Nas palavras de Ferri:


Eliovaine

Para eles (os Clássicos), a ciência só necessita de papel, caneta e lápis, e o resto sai de
um cérebro repleto de leituras de livros, mais ou menos abundantes, e feitos da mesma
matéria. Para nós, a ciência requer um gasto de muito tempo, examinando um a um os
feitos, avaliando-os, reduzindo-os a um denominador comum e extraindo deles a ideia
nuclear.

3.1.3. Raffaele Garófalo (enfoque psíquico)

Garófalo foi o terceiro grande nome do positivismo italiano. Para o estudioso, o crime está na pessoa
do indivíduo, revelando-se sua natureza degenerativa, sejam as causas antigas ou recentes. Utiliza, em seus
estudos, o termo “temibilidade” (perversidade constante e ativa do delinquente e a quantidade do mal
previsto).
Segundo o autor, o crime está fundamentado em uma anomalia – não patológica – psíquica ou moral
(déficit na esfera moral de personalidade do indivíduo, de base interna, de uma mutação psíquica,
transmissível hereditariamente).

38
GABRIELA ANDRADE FASES CIENTÍFICA E PRÉ-CIENTÍFICA DA CRIMINOLOGIA: A LUTA DAS ESCOLAS • 3

O estudioso criou o conceito de delito natural, em que descreve condutas nocivas em si, em qualquer
sociedade e em qualquer momento, com independência, inclusive, das próprias valorações legais e
mutantes.

• Delito natural: violação daquilo que se entende como sentido moral, consistente nos
sentimentos altruístas de piedade e probidade, segundo o padrão médio em que se encontram
as raças humanas superiores, cuja medida se faz necessária para a adaptação do indivíduo ao
convívio em sociedade.

Ao tentar estabelecer um conceito universal de crime, Garófalo foi criticado por parte da doutrina,
considerando a impossibilidade de estabelecer ideia geral de delito natural, bem como pelo fato de seu
conceito trazer uma carga preconceituosa.
Consoante Sumariva (2017), o Garófalo elaborou as seguintes proposições:

• Criou o conceito de temibilidade ou periculosidade, sendo o verdadeiro propulsor do


delinquente;
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• O crime é sintoma de uma anomalia moral ou psíquica do indivíduo;

• Os criminosos possuem características fisionômicas especiais que os distinguem dos demais


indivíduos;

• O delito é a lesão daqueles sentimentos mais profundamente radicados no espírito humano


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e que, no seu conjunto, denomina-se senso moral;

• Demonstrou a necessidade de outra forma de intervenção estatal na pessoado infrator,


apresentando as medidas de segurança.
Silva -- CPF:

Uma de suas principais contribuições é a filosofia do castigo, dos fins da pena e da sua
da Silva

fundamentação. O Estado deve eliminar o delinquente que não se adapta à sociedade e às exigências da
convivência. O autor entende ser possível a pena de morte em certos casos (criminosos violentos, ladrões
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

profissionais e criminosos habituais, em geral), assim como penas severas em geral (envio de um criminoso
portempo indeterminado para colônias agrícolas).
Eliovaine

3.2. O estudo da pena para a Escola Positivista

A pena era entendida como um meio de defesa social, agindo além do caráter meramente
retribucionista dos clássicos, possuindo viés curativo e reeducativo. Sendo assim, a sanção deveria se
adequar ao criminoso com vistas a efetivamente corrigi-lo, apresentando como principal objetivo a
prevenção de crimes.

Em acurada síntese, podemos concluir que, para os positivistas:

• O crime era um fenômeno natural e social;


• O criminoso não possuía livre-arbítrio, sendo verdadeiramente condicionado pelos
determinismos (biológico, social e psíquico), ou seja, o criminoso era considerado sempre um
ser psicologicamente anormal (seja em caráter temporário ou permanente);
• A pena era vista como uma medida de defesa social, apresentando caráter curativo e
reeducativo, com duração suficiente à recuperação do criminoso;

39
GABRIELA ANDRADE FASES CIENTÍFICA E PRÉ-CIENTÍFICA DA CRIMINOLOGIA: A LUTA DAS ESCOLAS • 3

• O critério de medição de pena não está ligado abstratamente ao fato delituoso singular, ou seja,
à violação do direito ou ao dano social produzido, mas às condições apresentadas pelo
delinquente (sujeito tratado).

Sintetizando o que vimos sobre esses três nomes positivistas, temos:


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Para a doutrina, as influências do positivismo foram mais marcantes, sobretudo pela relação com a
antropologia, a sociologia, a filosofia e a psiquiatria, não considerando o direito como a única fonte de
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explicações.
Nos ensinamentos de Baratta (2002):

O delito é, também para a Escola Positiva, um ente jurídico, mas o direito que
Silva -- CPF:

qualifica este fato humano não deve isolar a ação do indivíduo da totalidade natural
e social. A Escola Positiva procura encontrar todo o complexo das causas na totalidade
da Silva

biológica e psicológica do indivíduo e na totalidade social que determina a vida do


indivíduo.
Gouvea da
Eliovaine Gouvea
Eliovaine

40
GABRIELA ANDRADE FASES CIENTÍFICA E PRÉ-CIENTÍFICA DA CRIMINOLOGIA: A LUTA DAS ESCOLAS • 3

3.3. Quadro sinóptico: a luta das escolas


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3.4. Outros modelos de escolas (intermediárias/ecléticas)

Superada a luta das escolas e as distinções atinentes aos ideais da Escola Clássica em contraponto à
Silva -- CPF:

Escola Positivista, é importante ressaltar que outros modelos teóricos surgiram, tais como os modelos
relacionados à biologia criminal, psicologia criminal e sociologia criminal.
da Silva
Gouvea da

Não obstante, apresentaremos outras linhas de pensamento que foram desenvolvidas por outras
Eliovaine Gouvea

escolas, também nominadas de escolas ecléticas ou intermediárias.


Eliovaine

3.4.1. Terceira Escola/Terza Scuola/Terceira Escola Italiana

Surgiu no início do século XX e seus estudos se desenvolveram numa espécie de mescla entre os
ideais clássicos com os ideais positivistas, como o próprio nome deixa a sugerir: uma “terceira escola”. Tem
como principais expoentes Bernardino Alimena, Giuseppe Impallomeni e Manuel Carnevale, estando
vinculada a disciplinas não jurídicas, tais como a antropologia, a psicologia e a estatística.

Trouxe como contribuições ao estudo criminológico as seguintes ideias:

• A ideia de crime como um fenômeno individual e social;


• A pena se fundamenta com base no determinismo, bem como na responsabilidade moral do
criminoso, o que gera a distinção entre imputáveis e inimputáveis;
• Aos imputáveis, a aplicação de pena; aos inimputáveis, as medidas de segurança;
• A pena tem por finalidade a defesa social;
• O controle da criminalidade depende de uma reforma social;
• O direito penal possui autonomia científica, de modo que não pode ser absorvido pelos estudos
da sociologia criminal.

41
GABRIELA ANDRADE FASES CIENTÍFICA E PRÉ-CIENTÍFICA DA CRIMINOLOGIA: A LUTA DAS ESCOLAS • 3

Frise-se que os expoentes da Terceira Escola eram penalistas, sendo perceptível a introdução de
certos postulados de direito penal em suas colocações e conclusões, o que retira o caráter empírico da
criminologia. Nesse contexto, sustenta-se que estaria o direito penal a implementar investigações
criminológicas, não se tratando, portanto, de uma escola essencialmente criminológica.

Nessa linha intelectiva, a escola é alvo de críticas por tentar conciliar o método empregado pelo
direito penal (lógico-abstrato/dedutivo) com o método empírico peculiar da criminologia (indutivo). A
amplitude que se pretende conferir nos estudos acerca do fenômeno criminal na análise feita pela
criminologia é incompatível com os conceitos cerrados e taxativos da dogmática penal.

3.4.2. Escola de Lyon / Criminal-Sociológica / Antropossocial

A Escola de Lyon parte de duas premissas para a explicação do fenômeno criminoso: predisposição
individual e meio social. Em outras palavras, o criminoso possui uma predisposição ao delito; contudo essa
característica é fomentada pelo meio social em que vive e pelas interações que pratica.
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A escola de Lyon defende a importância do meio social, isto é, reconhece um fundo patológico ou
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estado mórbido individual na delinquência. Inclusive, Alexandre Lacassagne preconiza que o delinquente
apresenta mais anomalias físicas e psíquicas que o não delinquente, mas uma e outras seriam consequência
do meio social12.

Nesse contexto, isso quer dizer que o criminoso torna-se criminoso por influência do meio. Foi, então,
sobre essa influência que Lacassagne elaborou a seguinte frase: “As sociedades têm os criminosos que
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merecem.”

A Escola de Lyon tem como principais expoentes, entre outros, Alexandre Lacassagne, Martin Y
Locard, Bournet Y Chassinand, Massenet e Topinard.
Silva -- CPF:

3.4.3. Escola Técnico-Jurídica


da Silva
Gouvea da

Essa escola tem como principais expoentes Arturo Rocco, Karl Binding, Vincenzo Manzini, Eduardo
Eliovaine Gouvea

Massari, Giacomo Delitala e Ottorino Vannini. Ela nasceu como uma reação à Escola Positiva, que se apegava
excessivamente a questões antropológicas e sociológicas, prejudicando a análise jurídica.
Eliovaine

Suas ideias em muito se aproximam das teses traçadas pela Escola de Lyon, que entendia o crime
como predisposição individual aliada ao meio social. Contudo o marco distintivo entre as duas escolas
reside no fato de a Escola Técnico-Jurídica trabalhar com a perspectiva de reação ao delito, ou seja, a
aplicação de uma pena, a qual deve se revestir de alguma finalidade – prevenção geral e prevenção especial.

O tecnicismo jurídico traz, como principal característica, a desvinculação do direito penal das demais
ciências, com vistas a restaurar o estudo do crime com base, puramente, no critério jurídico. Por conseguinte,
deve-se traçar uma visão objetiva e técnica do direito penal como ciência que possui método, objeto e fins
próprios, não podendo ser emaranhada a outras áreas do conhecimento, entre as quais a sociologia, a
antropologia, a filosofia, a psicologia etc.

12 (MOLINA, 2003)

42
GABRIELA ANDRADE FASES CIENTÍFICA E PRÉ-CIENTÍFICA DA CRIMINOLOGIA: A LUTA DAS ESCOLAS • 3

3.4.4. Escola Correcionalista

Surgiu na Alemanha, com a publicação da obra “Comentatio na poena malum”, publicada em 1839,
mas teve maior repercussão na Espanha, a partir da tradução da obra para o espanhol.

Entre os principais expoentes na Espanha, podemos elencar: Pedro Dorado Montero, Concepción
Arenal, Giner de Los Ríos, Romero Gíron, Félix de Aramburu y Zuloaga, Rafael Salilas e Luis Jiménez de Asúa.

A Escola Correcionalista idealizou a piedade e o altruísmo, defendendo a pena como correção moral.
O delinquente é portador de uma patologia de desvio social, sendo certo que a pena funcionaria como
remédio social.

Dessa forma, a característica precípua da Escola Correcionalista é a correção do delinquente, por


meio da pena, como explana Roder13: “A teoria correcional vê na pena somente o meio racional e necessário
para ajudar a vontade, injustamente determinada, de um membro do Estado, a ordenar-se por si mesma”.

3.4.5. Nova Defesa Social


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À época do Iluminismo, surgiu a ideia de “defesa social”. Após a Segunda Guerra Mundial, surge a
Nova Defesa Social, pugnando a modernização das medidas de punição, no sentido de que o criminoso deve
ser educado para assumir a responsabilidade pelos seus atos perante a sociedade.

Com cunho completamente voltado à modernização e humanização do direito, em especial no que


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tange às medidas punitivas, a Escola da Nova Defesa Social resistiu à concepção de um sistema penal
repressivo, para fundamentar-se na proteção da sociedade contra as práticas criminosas.

A Nova Defesa Social, portanto, propugna a ideia de proteção da sociedade em face das práticas
delitivas que a desestabilizam. Assim, a ideia de punição ao criminoso não é o foco principal da teoria, que
Silva -- CPF:

sustenta a necessidade de tutela do corpo social mediante a neutralização da periculosidade do delinquente


da Silva

de forma humanitária.
Gouvea da

Nesse contexto, a Nova Defesa Social tem como principais expoentes Adolphe Prins, Filippo
Eliovaine Gouvea

Gramatica e Marc Ancel.


Eliovaine

3.4.6. Movimento psicossociológico de Gabriel Tarde

Gabriel Tarde, sociólogo francês, foi o responsável por instituir o movimento psicossociológico em
oposição ao determinismo biológico e social apresentados pela Escola Positiva. Esse movimento
psicossociológico propunha que os fatores sociais da criminalidade prevalecem sobre os fatores físicos e
biológicos. Nessa linha intelectiva, Tarde formulou a seguinte frase: “Todo mundo é culpável menos o
criminoso”.

Nas lições de Sumariva, Gabriel Tarde, em sua obra “As Leis da imitação”, formulou a lei da imitação
ou integração social: “o crime, como todo comportamento social, é inventado, repetido, conflitado e
adaptado [...] O delinquente é um imitador consciente ou inconsciente”.

Podemos perceber, portanto, alguns pontos de coincidência entre a teoria de Gabriel Tarde e a teoria
da associação diferencial de Sutherland, tendo como ponto emcomum a ideia de crime como “imitação”,
repetição de comportamentos. Contudo sob o enfoque da pessoa do criminoso, as teorias se distanciam,

13 (1876, apud BITENCOURT, 2012, p. 45)

43
GABRIELA ANDRADE FASES CIENTÍFICA E PRÉ-CIENTÍFICA DA CRIMINOLOGIA: A LUTA DAS ESCOLAS • 3

tendo em vista que, para Gabriel Tarde, o criminoso apenas recebe de forma passiva os influxos valorativos
de caráter delitivo ou não, independentemente da ocorrência de interações sociais; ao passo que, para
Sutherland, é necessário que haja um processo de interação e comunicação pessoal.
Eliovaine Gouvea
Eliovaine da Silva
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GABRIELA ANDRADE CRIMINOLOGIA CIENTÍFICA MODERNA: TEORIAS DO COMPORTAMENTO CRIMINAL • 4

4 CRIMINOLOGIA CIENTÍFICA MODERNA: TEORIAS DO


COMPORTAMENTO CRIMINAL
Eliovaine Gouvea
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GABRIELA ANDRADE CRIMINOLOGIA CIENTÍFICA MODERNA: TEORIAS DO COMPORTAMENTO CRIMINAL • 4

1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

Após a chamada Luta de Escolas (Clássica x Positivista), surgiram, no panorama criminológico, três
orientações relativamente definidas acerca do comportamento criminal: biológica, psicológica e sociológica.
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1.1. Biologia Criminal


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Tem como foco o homem delinquente, buscando localizar e identificar, em seu corpo, sistemas ou
subsistemas, algum fator diferencial que pudesse subsidiar uma explicação à conduta delitiva.

Apesar da nítida influência lombrosiana, o estudo sistematizado da Biologia Criminal veio depois do
positivismo. O crime era visto como consequência de alguma patologia, disfunção ou transtorno orgânico.
Silva -- CPF:

Para tanto, eram realizados estudos sobre biotipologia, anomalias e fatores genéticos.
da Silva

1.2. Psicologia Criminal


Gouvea da
Eliovaine Gouvea

Buscava a explicação do crime com base no mundo anímico do homem, nos processos químicos
Eliovaine

anormais (psicopatologia) ou nas vivências subconscientes que têm origem no passado remoto do indivíduo
e que só podem ser captadas por meio daintrospecção (psicanálise).

Essa orientação sustentava, ainda, que o comportamento delitivo em sua gênese (aprendizagem),
estrutura e dinâmica tem idênticas características e se rege pelas mesmas pautas que o comportamento não
delitivo (teorias psicológicas de aprendizagem).

Para tanto, eram realizados estudos sobre teoria psicanalítica, pensamento de Freud (Sigmund Freud
foi o fundador da psicanálise e da abordagem psicodinâmica da psicologia. Sua escola de pensamento
enfatizava a influência da mente inconsciente no comportamento humano), esquizofrenia, transtorno
bipolar etc.

1.3. Sociologia Criminal

Enquanto a Escola Positiva percorria sua trajetória consolidava-se a denominada sociologia criminal,
podendo se elencar o 3º Congresso Internacional de Antropologia Criminal (Bruxelas - 1892) como o
momento de início do desequilíbrio a favor das teorias sociológicas cujas obras mais famosas pertencem a
Lacassagne, Tarde e Durkheim.

46
GABRIELA ANDRADE CRIMINOLOGIA CIENTÍFICA MODERNA: TEORIAS DO COMPORTAMENTO CRIMINAL • 4

Trata-se da tendência teórico-explicativa mais badalada. A sociologia criminal e seus modelos


sociológicos analisam o crime como um fenômeno social, aplicando, à sua análise, diversos marcos teóricos
precisos: ecológico, estrutural-funcionalista, subcultural, conflitual, interacionista, entre outros.

Dentre os autores desta corrente sobressai a obra de Durkheim tanto pela profundidade e
acabamento das construções, como pela projeção de suas ideias no futuro. Constituiu reconhecidamente um
dos dois troncos fundamentais – sendo o outro criado por Marx – que reconduz a generalidade das teorias
sociológicas contemporâneas.

O nome de Durkheim liga-se indissociavelmente a ideia de anomia. Referido autor tomou posições
sobre certos problemas como a definição de crime, a tese de sua normalidade e funcionalidade que ainda
são importantes pontos de referência.

Foi Lacassagne quem agiu de maneira crítica e até hostil contra o Positivismo Lombrosiano dizendo
que a causa fundamental do crime é o milieu social. Tratava-se de um conceito complexo englobando fatores
climatéricos, físicos, econômicos e sociais, de modo que atribuía grande peso à miséria como fator
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criminógeno.

Tarde também trouxe diversas ideias, dentre elas a da mudança da fenomenologia criminal em
função das transformações sociais e da sucessão dos tipos de sociedade. Apesar desta referência, Tarde
rejeita a tese de Durkheim de normalidade do crime e sustenta que o crime embora faça parte do meio social,
não deixa de ser um fenômeno antissocial.
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No mais, Tarde formula as leis da imitação, segundo as quais a imitação funciona de cima para baixo
(ex: de pai para filho) e a sua intensidade aumentada com a proximidade social. Trata também da relevância
criminógena da miséria que seria a defasagem entre o teor dos desejos e o dos recursos.
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1.4. A CRIMINOLOGIA SOCIALISTA


da Silva

O final do século XIX traz o aparecimento da criminologia socialista entendida como a explicação do
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

crime a partir da natureza da sociedade capitalista e como crença no desaparecimento ou redução


sistemática do crime após ser instaurado o socialismo. Surgiram diversas obras sob influência de Marx e
Eliovaine

Engels que adotaram essa perspectiva.

Ferri, autor positivista, posteriormente adotou em parte as premissas socialistas estatuindo que a
instalação do socialismo poderia eliminar a criminalidade de cunho patrimonial, mas não teria efeito sobre a
criminalidade sexual, por exemplo, de cunho endógeno.

Turatti sustentava que o crime, leia-se, o crime patrimonial não é produto apenas da miséria, mas
também da cobiça e da ambição, características do capitalismo. Já, Colajanni privilegia a tese segundo a qual
a minimização do crime será função da maximização da estabilidade econômica e da redução das diferenças
na repartição da riqueza.

Bonger, por sua vez parte da representação do capitalismo como sistema voltado para a obtenção
do lucro e a competição, propício ao exacerbamento do egoísmo e hostil ao florescimento dos sentimentos
de altruísmo e solidariedade. O capitalismo tornaria os homens mais individualistas e propensos à prática do
crime.

Em 1844, Engels publica a obra “A situação das Classes Trabalhadoras na Inglaterra” que mais se
ocupa do problema do crime e considerada por muitos o primeiro tratado de criminologia socialista. Engels

47
GABRIELA ANDRADE CRIMINOLOGIA CIENTÍFICA MODERNA: TEORIAS DO COMPORTAMENTO CRIMINAL • 4

atribui o crime à revolta ou às condições de miséria e desmoralização, segundo um determinismo análogo


ao que determina a ebulição da água.

Em “A Ideologia Alemã” (1845) critica Marx os dogmas do consenso da ideologia burguesa e lança os
fundamentos de uma criminologia de conflito. A pretexto de executarem as vontades do estado, as instâncias
de controle executam em verdade a sua vontade, incorporada na lei.

Posteriormente Marx publicou dois significativos estudos (1853 e 1858), nos quais nega a
legitimidade da pena de morte como instrumento de prevenção geral e faz uma crítica ao caráter seletivo
das instâncias de controle.

Sociologia criminal americana e criminologia dos países socialistas

2. MODELOS TEÓRICO-EXPLICATIVOS DO COMPORTAMENTO CRIMINAL NO


ESCÓLIO DE ANTONIO GARCÍA-PABLOS DE MOLINA
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Conforme ensinamentos de Antonio García-Pablos de Molina, são quatro os principais modelos ou


enfoques teórico-explicativos do comportamento criminal, a indicar uma perspectiva de evolução e
amadurecimento acerca das ideias apresentadas em cada um dos modelos, a saber:

• Criminologia Clássica e Neoclássica (teoria da opção racional como opção econômica);


• Criminologia Positivista;
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• Sociologia Criminal (teorias sociológicas);


• Diversas correntes da Moderna Criminologia.
No capítulo anterior, abordamos os aspectos inerentes à Criminologia Clássica e Positivista, traçando
suas principais características e apresentando seus expoentes. Como visto, a Escola Clássica traçava uma
Silva -- CPF:

análise racional ao delito, não oferecendo explicações causais e etiológicas.


da Silva

A seu turno, a Escola Positivista trabalhava com paradigmas etiológicos com vistas a traçar uma
Gouvea da

explicação causal ao fenômeno criminoso.


Eliovaine Gouvea

Dando seguimento à análise dos modelos teórico-explicativos acerca do comportamento criminal,


Eliovaine

antes de analisarmos as teorias sociológicas (que possuem alta incidência em provas de concurso),
abordaremos as nuances da chamada Escola Neoclássica (teoria da opção racional como opção econômica)
e outras teorias situacionais da criminalidade (modelos relacionados à prevenção de delitos), bem como as
nuances apresentadas pelas diversas correntes da moderna criminologia.

2.1. Criminologia Clássica

Visto no capítulo anterior.

2.2. Criminologia Positivista

Visto no capítulo anterior.

2.3. Criminologia Neoclássica

Esse modelo surge na segunda metade do século XX e conserva as ideias centrais sustentadas pela
escola clássica, quais sejam: vontade racional, livre-arbítrio e crime como quebra do pacto social.

48
GABRIELA ANDRADE CRIMINOLOGIA CIENTÍFICA MODERNA: TEORIAS DO COMPORTAMENTO CRIMINAL • 4

Contudo, os estudos da criminologia neoclássica avançam trazendo teorias situacionais pautadas na


ideia de opção racional, as quais, assim como a escola clássica, não buscam explicar a etiologia do crime.

Trata-se de teorias com orientação prevencionista, a saber: teoria da opção racional como opção
econômica (modelo economicista neoclássico), teoria das atividades rotineiras e teoria do meio ou entorno
físico.

2.3.1. Teoria da opção racional como opção econômica (modelo economicista


neoclássico)

Surge na década de 70 do século XX, ou seja, mais de dois séculos depois da Escola Clássica do
Século XVIII e tem como principais autores Gary Stanley Becker eIsaac Ehrlich.

Antonio García-Pablos de Molina tece algumas considerações acerca das razões para o retorno dos
ideais clássicos:
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• Fracasso do positivismo em tentar oferecer uma teoria generalizada da criminalidade


(determinismo biológico ou psíquico ou social);
• Baixo êxito dos programas de reeducação e ressocialização propostos; e
• Incremento da criminalidade.
Inicialmente, vale ressaltar que teoria da opção racional como opção econômica ou modelo
economicista neoclássico propõe uma análise do crime como resultado de uma opção racional que se baseia
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numa opção econômica.

Em outras palavras, a ação delitiva é fruto de uma opção livre, racional e interessada do indivíduo,
de acordo com uma análise prévia de custos e benefícios, ônus e bônus. Isto é, para cometer um crime, o
Silva -- CPF:

autor alia uma opção racional à opção econômica.


da Silva

Insta salientar que essa análise custo x benefício não é marcada pelo viés estritamente econômico,
sendo certo que outros fatores são considerados pelo indivíduo que opta por delinquir, tais como: prestígio,
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

conforto, conveniência, risco de ser preso, risco de ser submetido à vingança popular (linchamento), entre
outros.
Eliovaine

O infrator valora as chances que existem e escolhe a alternativa que lhe traga mais vantagens e
menos riscos. Nessa linha intelectiva, conclui-se que os indivíduos delinquem quando o coeficiente de
benefícios é maior para o comportamento criminaldo que para as alternativas não criminais.

O homem delinquente, assim como para a teoria clássica propriamente dita, não se distingue do
homem não delinquente do ponto de vista da racionalidade do seu comportamento.

Como estratégia de prevenção, a teoria destaca o caráter retributivo da pena: após análise do custo
x benefício, a certeza da punição gera uma intimidação que comprometerá a escolha pelo delito. Nessa
senda, o modelo acredita na lei penal, no efeito dissuasório da pena e nas instâncias de controle social
formal.

Atualmente, podemos perceber os reflexos dessa “orientação prevencionista” voltada à ideia de um


viés retributivo da pena, nas nuances de um Direito Penal simbólico e midiático. A cada dia mais, há leis
prevendo condutas criminosas e promovendo o recrudescimento do tratamento penal, sobretudo no
contexto de discursos políticos e eleitoreiros.

49
GABRIELA ANDRADE CRIMINOLOGIA CIENTÍFICA MODERNA: TEORIAS DO COMPORTAMENTO CRIMINAL • 4

Nas palavras de Jeffery: “mais leis, mais policiais, mais penas = mais cárcere, sem que se reduza a
criminalidade real”.

Registre-se que a teoria neoclássica propriamente dita é esta: opção racional + opção econômica.

3. TEORIAS SITUACIONAIS DA CRIMINALIDADE (VIÉS PREVENCIONISTA)

3.1. Teoria das atividades rotineiras (teoria da oportunidade)

Em sede das teorias situacionais, trataremos agora da teoria das atividades rotineiras, tema afeto à
criminologia ambiental (teoria ecológica), que analisa a influência do meio ambiente no fenômeno da
criminalidade.

Para Antonio García-Pablos de Molina, teoria das atividades rotineiras é sinônimo de teoria da
oportunidade, posto que há uma vinculação da racionalidade da opção delitiva ao fator oportunidade.

OPÇÃO RACIONAL + OPORTUNIDADE


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A teoria, portanto, confere relevância etiológica ao fator oportunidade, como condição favorável e
propícia à prática de delitos. Nesse contexto, apresenta três elementos que devem se fazer presentes em
convergência de tempo e espaço para que se crie a oportunidade às práticas delituosas:
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• Infrator motivado e com habilidades necessárias: essa motivação pode estar vinculada a
Eliovaine

diversos fatores, tais como: patologia individual; maximização de lucros; desorganização social;
ideia de criminoso como subproduto de um sistema social perverso ou deficiente etc.
• Alvo adequado: pode se referir tanto a uma pessoa quanto a um objeto ou um local. Assim, se
estivermos diante da hipótese de crime patrimonial não violento, a exemplo do furto, o alvo
adequado poderá ser uma pessoa distraída na guarda de seus objetos, um estabelecimento
comercial que apresente facilidades ao ingresso noturno, um veículo que esteja estacionado em
local deserto e com as portas destrancadas etc.
• Ausência de um guardião: o termo guardião pode se referir a policiais, vigilantes privados,
testemunhas que passam pelo local, um cão de guarda na residência ou no estabelecimento,
câmeras de monitoramento, cercas, alarmes etc. Isto é, ausência de pessoas e/ou dispositivos
que, de alguma forma, inibam o indivíduo.
Como estratégia de prevenção, a teoria destaca soluções pontuais aplicáveis a cada um dos
elementos que compõem os lados do triângulo (infrator motivado, alvo adequado e ausência de guardião),
os quais criam a oportunidade à prática delitiva. Nesse sentido, com a ideia de prevenir o crime, recomenda-
se que a polícia e a comunidade estejam atentas a três fatores:

50
GABRIELA ANDRADE CRIMINOLOGIA CIENTÍFICA MODERNA: TEORIAS DO COMPORTAMENTO CRIMINAL • 4

• Existência de um controlador do onfrator: alguém que exerça a influência necessária sobre o


indivíduo, a ponto de evitar o crime. Ex.: pais, amigos, cônjuges, líderes religiosos etc.
• Criação e manutenção de ambientes responsáveis, isto é, alvos inadequados a práticas delitivas.
• presença de um guardião: intensificação de policiamento, instalação de dispositivos de
segurança em residências e estabelecimentos comerciais etc.
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Para a teoria, a sociedade pós-industrial oferece mais ou melhores oportunidades ao delinquente,


já que a organização tempo-espacial das atividades cotidianas e dos estilos de vida atuais possibilitam ou
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

maximizam tais oportunidades. A título de ilustração, podemos citar as locomoções diárias dos cidadãos,
lares vazios por longos espaços de tempo, saídas noturnas e de fins de semana, vitrine de bens valiosos,
Eliovaine

necessidade de exposição de bens materiais (sociedade do espetáculo) etc.

Assim, o aumento da criminalidade guardaria relação direta com o perfil e com a organização das
atividades cotidianas lícitas de nossa sociedade.

3.2. Teoria do meio ou entorno físico (teoria espacial)

A referida teoria considera que o espaço físico exerce papel de relevância para a gênese do
comportamento delitivo.

OPÇÃO RACIONAL + ESPAÇO FÍSICO


Teve como um de seus autores Oscar Newman, que criou a expressão defensible space, traduzindo a
ideia de “local seguro”, um modelo de ambiente residencial que teria o condão de afastar o delito, criando a
expressão física de uma fábrica social que defende a si mesma.

Nesse espeque, fatores como o desenho arquitetônico e urbanístico de uma determinada região
podem favorecer a prática delitiva; em outras palavras, o meio ou o entorno físico influenciam diretamente
na motivação do criminoso.

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GABRIELA ANDRADE CRIMINOLOGIA CIENTÍFICA MODERNA: TEORIAS DO COMPORTAMENTO CRIMINAL • 4

Por exemplo, na hipótese de crimes patrimoniais: não raro, o criminoso busca locais ermos e com
pouca luminosidade, escolhendo vítimas desconhecidas e evitando a presença de testemunhas. Tem-se,
assim, o desenho arquitetônico das comunidades como ambiente propício à prática do tráfico de drogas,
considerando os becos e vielas que facilitam fugas e esconderijos.

Nesse sentido, haverá mais segurança naqueles locais onde as instâncias de controle social informal
atuarem de forma mais intensa e expressiva, a exemplo das cidades pequenas, nas quais a população acaba
estreitando os relacionamentos e participando da vida uns dos outros.

Ademais, a citada teoria se debruça de forma mais significativa sobre metas de prevenção à
criminalidade do que propriamente à explicação do fenômeno criminal.

Por derradeiro, citamos o estudo realizado por Lawrence Sherman que analisou dados relativos às
chamadas telefônicas realizadas para a polícia. Na ocasião, verificou- se que 50% das chamadas foram
direcionadas a apenas 3% das regiões da cidade.
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4. SOCIOLOGIA CRIMINAL

O tema será estudado em capítulo próprio (Capítulo 5).

5. DIVERSAS CORRENTES DA MODERNA CRIMINOLOGIA


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Conforme estudado, a Escola Clássica traçava uma análise racional ao delito, não oferecendo
explicações causais e etiológicas.

A seu turno, a Escola Positivista trabalhava com paradigmas etiológicos com vistas a traçar uma
explicação causal ao fenômeno criminoso.
Silva -- CPF:

Conforme ensinamentos de Molina, as correntes da Moderna Criminologia buscam a explicação do


da Silva

delito seguindo um enfoque dinâmico, com uso de métodos preferencialmente longitudinais. Nesse sentido,
Gouvea da

esses enfoques não pretendem fazer uma análise etiológica do delito, nem traçar uma teoria generalizada da
Eliovaine Gouvea

criminalidade.
Eliovaine

O objetivo é descrever a gênese do comportamento delitivo de forma dinâmica, avaliando o processo


e a evolução dos padrões de conduta na vida do autor durante suas diversas etapas.

Trata-se, pois, de um método de análise longitudinal, no sentido de representar um processo de


avaliação evolutiva da vida do autor, com base numa janela temporal de considerável extensão, dividida em
etapas (fases da vida do autor).

Observe a representação exemplificativa abaixo:

Curva de idade: 0------5------10------15------20------30------40------50------60------70

Maior tendência a crimes violentos.

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GABRIELA ANDRADE CRIMINOLOGIA CIENTÍFICA MODERNA: TEORIAS DO COMPORTAMENTO CRIMINAL • 4

As modernas correntes criminológicas analisam tudo o que acontece na vida do autor (influência do
meio social, traumas vivenciados, espécies de crimes eventualmente praticados, punições sofridas, índice de
reincidência), com vistas a verificar a(s) fase(s) de maior propensão às práticas delitivas, que tende a ser
maior na fase adulta.

A título de exemplificação, temos os estudos de trajetórias e carreiras criminais, teorias do curso da


vida e criminologia do desenvolvimento, que constituem três métodos voltados à análise do processo e
evolução dos padrões de conduta na vida do autor.

Em suma, busca-se uma explicação dinâmica, não etiológica e não generalizada do fenômeno
criminoso.
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GABRIELA ANDRADE SOCIOLOGIA CRIMINAL: AS TEORIAS SOCIOLÓGICAS DA CRIMINALIDADE • 5

5 SOCIOLOGIA CRIMINAL: AS TEORIAS SOCIOLÓGICAS DA


CRIMINALIDADE
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GABRIELA ANDRADE SOCIOLOGIA CRIMINAL: AS TEORIAS SOCIOLÓGICAS DA CRIMINALIDADE • 5

1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

Como visto, a sociologia criminal foi uma das três tendências de modelos teórico-explicativos da
criminalidade que aportou após a luta das escolas (clássica x positivista).

Nos anos 1960, com ocorrência do chamado giro sociológico, a criminologia começa a observar
muito mais os processos de criminalização do que o crime em si, sendo certo que seus objetos de estudo
foram ampliados, passando a englobar a análise da vítima e do controle social.

O crime passa então a ser visto como um fenômeno social.

As teorias sociológicas buscam analisar o fenômeno delitivo valendo-se de uma análise macro da
sociedade, das suas instituições, dos membros que a compõem e de todo o complexo sistema de
funcionamento do corpo social, em busca da explicação acerca das causas da criminalidade, bem como as
reações sociais ao fenômeno criminoso.

Para fins didáticos, a doutrina separa as teorias da sociologia criminal em dois grupos: teorias do
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consenso e teorias do conflito.

Uma advertência se faz necessária. Qualquer classificação não foge de inconvenientes simplificações.
Assim, a classificação proposta atenderá a dois critérios: científico e pedagógico. Científico porque tem
coerência e clareza conceitual e, pedagógico, porque deve permitir um entendimento fluido da matéria.

As teorias criminológicas sobre as quais se discorrerá estão em uma perspectiva macrocriminológica,


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pois se busca examinar as diferentes visões justificadoras do delito, explicativas ou crítica, sem analisar
indivíduos ou pequenos grupos, mas abordar a sociedade como um todo, para se obter explicação para a
criminalidade.
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A dicotomia entre consenso e conflito não é de hoje, desde “A República” de Platão, já se travara um
debate entre Sócrates e Trasímaco sobre o que é justiça tendo como parâmetro estes modelos. Contudo, foi
da Silva

no século XIX pelas obras de Durkheim e Marx que a problemática foi introduzida na teoria sociológica e
Gouvea da

convertida em um de seus temas fundamentais, condicionando de forma decisiva toda a evolução posterior
Eliovaine Gouvea

das ciências sociais.

Podemos agrupar duas visões principais da macrossociologia que influenciaram o pensamento


Eliovaine

criminológico: A primeira chamada funcionalista caracterizada pelas teorias da integração, também


chamadas de teorias do consenso e, a segunda, que se pode intitular genericamente de grupo das teorias do
conflito.

Teorias do consenso: Escola de Chicago, teoria da associação diferencial, teoria da anomia, teoria da
subcultura delinquente

Teorias do conflito: Labelling (Interacionista) e crítica.

Na verdade o que está em jogo quando se coloca essa discussão no âmbito da Criminologia é o
significado das normas por meio das quais a ordem social se oferece. São elas uma constelação de valores
essenciais à sociedade e igualmente comuns a todos os seus membros? Ou, pelo contrário, não traduzem
mais do que a vontade dos grupos ou classes historicamente detentores do poder? É possível, noutros
termos, à luz de uma sociedade de harmônio e equilíbrio, conceber uma ordenação normativa
transcendente, anterior e superior ao poder? Ou, pelo contrário, deverá ser a ordem normativa vista como
uma construção do poder, oriunda de uma ordenação social de desigualdade e conflito mediante coerção?

55
GABRIELA ANDRADE SOCIOLOGIA CRIMINAL: AS TEORIAS SOCIOLÓGICAS DA CRIMINALIDADE • 5

Para as teorias do consenso a finalidade da sociedade é atingida quando há um perfeito


funcionamento das suas instituições de forma que os indivíduos compartilham objetivos comuns a todos os
cidadãos, aceitando as regras vigentes e compartilhando as regras sociais dominantes.

Obedecem as construções de Durkheim, Merton e Parsons. Há uma constelação de valores


fundamentais, comuns a todos os membros da sociedade em que a ordem social se baseia e por cuja
promoção se orienta. São tais valores que definem a identidade do sistema e, asseguram em última instancia
a coesão social.

Há certo número de premissas nestas teorias: Toda sociedade é estruturada por elementos
relativamente persistente e estáveis; tem uma estrutura de elementos bem integrada; todo elemento em
uma sociedade tem uma função, contribuindo para sua manutenção como sistema; toda estrutura social em
funcionamento é baseada em um consenso entre seus membros sobre valores. Assim, estes elementos:
estabilidade, integração e coordenação funcional estão sempre presentes. Por óbvio, tais elementos são
acompanhados geralmente do complemento de que são eles “relativamente generalizados”.

Não há aqui a afirmação de que a ordem é baseada em um consenso geral, mas que ela pode ser
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concebida em termos deste consenso, de modo que assim são possíveis certas proposições que resistem ao
teste de observações específicas. Ou seja, há pontos específicos, mas que por haver um certo consenso, tais
não o prejudicam.

As unidades de análise social (sistemas sociais) são essencialmente associações voluntárias de


pessoas que partilham certos valores e criam instituições, com vistas a assegurar que a cooperação funcione
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regularmente.

Aqui qualquer disfunção se opõe ao funcionamento do sistema e toda mudança social é uma
disfunção, uma falha no sistema que não consegue mais integrar as pessoas em suas finalidades e valores.
Silva -- CPF:

A sociedade é concebida em termos de se excluir a hipótese de conflito estruturalmente gerado. Este


da Silva

é encarado, segundo Darhendorf, como um “diabolus ex machina”. A sociedade tende para o equilíbrio e a
integração, funcionando todas as partes em benefício do sistema. O poder é exercido em nome, no interesse
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

e com apoio de todos, situando-se as decisões no lugar geométrico da consciência coletiva.

As teorias do consenso tendem a ser mais conservadoras, já que um modelo de consenso puro exclui
Eliovaine

toda margem de alienação e toda hipótese de mudança, tendendo ao imobilismo. Apenas se distinguiria de
um cemitério, segundo Darhendorf, porque em uma sociedade de consenso puro sempre ocorreriam certas
coisas.

Para as teorias do conflito (radicais), no entanto, a coesão é fundada na força e na coerção, na


dominação de uns e sujeição de outros. Ignora-se eventual acordo, já que há na verdade imposição por meio
de força.

Versões pluralistas da teoria do conflito sugerem que a sociedade consiste de numerosos grupos
centrados sobre múltiplos interesses, variando em tamanho e frequentemente temporários, todos
disputando para promover seus interesses em competição por recursos e atenção com outros grupos.

O pressuposto da natureza coercitiva da ordem social é um princípio heurístico e não um juízo


factual.

Suas premissas são: A sociedade está a todo momento sujeita a processos de mudança; a mudança
social é ubíqua (ocorre em todos os seus polos); toda sociedade exibe conflito a todo momento; todo

56
GABRIELA ANDRADE SOCIOLOGIA CRIMINAL: AS TEORIAS SOCIOLÓGICAS DA CRIMINALIDADE • 5

elemento em uma sociedade contribui de certa forma para sua desintegração e mudança e, toda sociedade
é baseada na coerção de alguns de seus membros por outros.

Para estas teorias os sistemas sociais, é a coesão imposta que propicia a coesão nas organizações
sociais.

As teorias do conflito remetem a uma ideia de mudança social. Hoje é sustentado, também por
autores não marxistas, como Lewis Coser e Ralf Dahrendorf. Aqui se fala em mudança ao invés de equilíbrio,
conflito em vez de harmonia e coerção em vez de anomia.

Há basicamente e de maneira simplista, dois modelos, o de Marx e o de Darhendorf.

Diferenciam-se quanto às raízes ou causas do conflito.

Marx confirma a história da sociedade como uma história da luta de classes, opressores contra
oprimidos, tendo tais guerras terminado ou com a revolução ou com a destruição das classes em luta. Em
que pese ter Marx inaugurado essa perspectiva de conflito, foi Willen Adrian Bonger (1876-1940) quem
trouxe esta concepção para o âmbito da criminologia. Importante ressaltar que Marx em seu trabalho não
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atribuiu grande importância ao estudo do direito, menos ainda ao Direito Penal.

Atualmente, alguns autores fazem uma releitura da luta de classes, atentando para o fato de que na
sociedade moderna notam-se manifestações individuais e ocasionais de agressão social, havendo violação
da lei por indivíduos, bandos e multidões. Assim, surgem novas linhas de divisão em razão da maior
segmentação da sociedade.
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Darhendorf, por sua vez, além de não reconhecer uma linha unitária de divisão e conflito, privilegia,
quer como critério de definição de classe, quer como fonte do conflito, a distribuição desigual da autoridade.

Outra divergência entre eles diz respeito à própria natureza do conflito, isto é, sua autonomia e
Silva -- CPF:

essencialidade. Apesar de tudo, o conflito não é para Marx, essencial e, tampouco universal, porque não é
da Silva

inerente as próprias relações sociais e corresponde ao modo de produção vigente, a partir do “pecado
original“ da apropriação inicial dos meios de produção. Darhendorf, em seu turno, entende que o conflito é
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

essencial e universal, já que inerente às próprias relações sociais: “Onde há vida social, há conflito”, vez que
a distribuição diferencial da autoridade, conatural a toda associação humana imperativamente ordenada,
Eliovaine

provoca a resistência à autoridade e, por isso, o conflito.

Assim, as sociedades e organizações sociais se mantém coesas não por consenso, mas por coerção,
não por acordo universal, mas pela coerção de uns sobre os outros. Os valores são mais impostos do que
aceitos e a coação gera conflito, que por sua vez gera mudança. O conflito é ubíquo, já que a coação é ubíqua,
pois onde quer que os seres humanos se relacionem, há conflito.

A criminologia de consenso corresponde à criminologia tradicional. Há uma aceitação positivista das


normas jurídico-penais como um dado e destinadas à tutela de valores essenciais e comuns a todos os
membros da coletividade O crime é visto como uma negação daqueles valores e do universo cultural que os
suporta e, por isso, como uma ameaça ao equilíbrio e ao são funcionamento do sistema.

A criminologia de conflito caracteriza-se desde logo, por privilegiar os modelos institucionais e o


modo como estes modelos condicionam a distribuição da criminalidade. O modelo de conflito sustenta que
a lei criminal é problemática e deve ser estudada de modo a determinar-se como é formada e quem é
processado como delinquente. O Direito Penal não passaria de um instrumento de que os grupos detentores
do poder se armam para assegurar e sancionar o triunfo das suas posições face aos demais grupos.

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GABRIELA ANDRADE SOCIOLOGIA CRIMINAL: AS TEORIAS SOCIOLÓGICAS DA CRIMINALIDADE • 5

Disto decorre a tendência, historicamente comprovada, para a criminalização sistemática das


condutas típicas das classes inferiores, ou, em outros termos, das condutas susceptíveis de por em causa os
interesses dos grupos dominantes. Ao contrário, há uma tradicional resistência do Direito Penal de intervir
nas atividades dos detentores do poder, por mais imorais ou socialmente danosas que tais atividades possam
revelar-se. A este processo seletivo da gênese da lei criminal e de sua aplicação que se encontra a
denominada criminalização primária, que teria caráter seletivo.

2. TEORIAS DO CONSENSO

Também chamadas de teorias funcionalistas, de integração, teorias etiológicas ou epidemiológicas,


são teorias ligadas a movimentos conservadores.

Consoante ensinamentos de Sumariva14: “as teorias do consenso defendem a ideia de que os


objetivos da sociedade são atingidos quando há o funcionamento perfeito de suas instituições, com as
pessoas convivendo e compartilhando as metas sociais comuns, concordando com as regras estabelecidas
na sociedade de convívio”.
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Partem da premissa de que a sociedade é formada pelo consenso entre os indivíduos que a
compõem, bem como pela livre vontade e todo elemento integrante do corpo social tem sua função e
importância.

Nessa linha, se um sujeito infringe determinada regra e pratica um crime, o fez baseado na sua livre
vontade em delinquir. Ele é a engrenagem que falhou na máquina social, de modo a merecer a
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responsabilização pessoal e racional, ou seja, a retribuição pelo mal causado.

Nesse grupo, estudaremos:


Gouvea da
Eliovaine Gouvea
Eliovaine Silva -- CPF:
da Silva

ATENÇÃO!
Algumas linhas doutrinárias não alocam a teoria da associação diferencial como espécie de teoria da
subcultura, quando então teríamos a seguinte divisão:
- Escola de Chicago;
- Teoria da Anomia;
- Teoria da Associação Diferencial;
- Teoria da Subcultura Delinquente.

14 SUMARIVA, Paulo. Criminologia, teoria e prática. 5ª edição, p. 67.

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GABRIELA ANDRADE SOCIOLOGIA CRIMINAL: AS TEORIAS SOCIOLÓGICAS DA CRIMINALIDADE • 5

Passemos, então, à análise pontual das Teorias do Consenso.

2.1. Escola de Chicago

A cidade de Chicago, nos Estados Unidos da América, foi o laboratório dessa linha teórica, isto porque
crescia de maneira exponencial e, como via de consequência, constatou-se o aumento nos índices de
criminalidade. Trata-se do berço da moderna sociologia americana, à luz do Departamento de Sociologia da
Universidade de Chicago, quando foi apresentada a “sociologia das grandes cidades”.

Mas por que Chicago e não outras grandes cidades americanas? Esta cidade tinha um acentuado
desenvolvimento econômico e financeiro, sua população cresceu quase seis vezes em dez anos, transformou-
se em grande centro comercial e houve a vinda de milhares de imigrantes.

Essa explosão de crescimento gera graves problemas sociais, trabalhistas, familiares, morais e
culturais que se traduzem em um fermento conflituoso, potencializador da criminalidade. A inexistência de
mecanismos de controle social e cultura permite o surgimento de um meio social desorganizado e
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criminógeno que se distribui diferenciadamente pela cidade.


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Tanto o Departamento de Sociologia como a Universidade de Chicago receberam valorosa ajuda


financeira do empresário norte-americano John Davison Rockefeller. Entre 1915 e 1940, a Escola de Chicago
produziu um vasto e variado conjunto de pesquisas sociais, direcionado à investigação dos fenômenos sociais
que ocorriam especificamente no meio urbano da grande metrópole norte-americana.
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Com um processo que abrange estudos e análises em antropologia urbana, a Escola de Chicago
constata a influência do meio ambiente na conduta criminosa, apresentando um paralelo entre o
crescimento populacional e o aumento da criminalidade.

O foco da Escola de Chicago, portanto, é a análise da comunidade local, ou seja, da cidade, posto
Silva -- CPF:

que, para seus defensores, a própria cidade produz a delinquência.


da Silva

Duas ideias centrais gravitam em torno desse modelo teórico, quais sejam: a desorganização
Gouvea da

social e as áreas de delinquência. Nessa linha de raciocínio, sustenta-se que áreas superpovoadas são
Eliovaine Gouvea

desorganizadas socialmente, gerando, consequentemente, áreas de delinquência.


Eliovaine

Frise-se que a escola de Chicago empregava um método empírico – baseado na observação e análise
da cidade – e pragmático, estabelecendo um diagnóstico confiável acerca dos problemas sociais. Nessa linha,
ganharam destaque as ações preventivas.

Contudo não há que se falar em determinismo ecológico, mas sim em desorganização social como
fator potencializador da delinquência, um vetor criminógeno.

A Escola de Chicago defende que as cidades não são meros aglomerados de pessoas e coisas, mas
sim refletem um verdadeiro estado de espírito, possuindo sua cultura própria, seus estatutos, seus ditames,
uma organização formal e outra informal, seus usos e costumes, enfim, sua própria identidade.

A seu turno, as cidades modernas, em razão do grande índice de mobilidade urbana, acabam por
romper com os mecanismos tradicionais de controle (família, vizinhança) com consequente enfraquecimento
das instâncias de controle social informal, com predomínio do anonimato.

A família, o corpo religioso, a escola, o ambiente de trabalho, os clubes de serviço não conseguem
refrear as condutas humanas (fator potencializador da criminalidade). Por essa razão, o crescimento
exponencial das cidades é fator que contribui de forma significativa ao aumento da criminalidade.

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GABRIELA ANDRADE SOCIOLOGIA CRIMINAL: AS TEORIAS SOCIOLÓGICAS DA CRIMINALIDADE • 5

Acerca do crescimento desordenado das cidades e seus impactos no fenômeno criminoso, destaque-
se que as classes mais ricas se fixam em áreas exclusivamente residenciais, ao passo que as classes mais
pobres convivem em áreas industriais, tolerando fumaça, sujeira, barulho, dentre outros fatores
desagradáveis. Decerto que esse cenário favorece o surgimento de zonas desabitadas ou superpovoadas,
gerando movimentos favoráveis à proliferação de atos delituosos decorrentes dessa desorganização social.

A par disso, a ausência completa do Estado (carência de hospitais, creches, escolas, parques,
delegacias, praças e outras áreas de lazer) gera uma sensação de anomia na população, potencializando a
criação de justiceiros, grupos armados e milícias, com a pretensão de “substituir” o Estado no exercício do
controle social.

No que se refere às áreas de delinquência, constatou-se que os trechos da cidade que apresentavam
índices de criminalidade mais significativos estavam ligados à degradação física, à segregação econômica,
étnica, racial etc.

O instrumento de estudo dos criminólogos consistia na utilização dos inquéritos sociais (social
surveys), que são realizados por meio de um interrogatório direto feito, normalmente, por uma equipe junto
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a um universo determinado de pessoas, sobre certos aspectos de interesse do pesquisador e de estudos


biográficos de casos individuais, com objetivo de analisar aquela realidade social.

As principais teorias baseadas nas ideias e perspectivas da escola de Chicago são:

• Teoria ecológica;

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Teoria das janelas quebradas;


• Teoria da tolerância zero;
• Teoria dos testículos despedaçados (Breaking Balls Theory).
Silva -- CPF:

2.1.1. Teoria Ecológica


da Silva

A base da teoria ecológica busca explicar o efeito criminógeno dos grandes centros urbanos,
Gouvea da

utilizando-se da desorganização dos modernos núcleos urbanos e, consequentemente, a degradação das


Eliovaine Gouvea

instâncias de controle social informal nesses ambientes.


Eliovaine

Nesse sentido: a deterioração dos grupos primários (família etc.), a modificação qualitativa das
relações interpessoais que se tornam superficiais, a alta mobilidade e consequência perda de raízes no lugar
de residência, a crise dos valores tradicionais e familiares, a superpopulação, a tentadora proximidade às
áreas comerciais e industriais, onde se acumula a riqueza e o citado enfraquecimento do controle social criam
um meio desorganizado e criminógeno15.

Há aqui dois conceitos básicos:

• Desorganização social

A cidade moderna em face de sua elevada mobilidade caracteriza-se por uma ruptura dos
mecanismos tradicionais de controle. Todo sujeito recém-chegado em uma cidade primeiro se desorganiza
por sentir rejeição de hábitos e de concepções morais, o que enseja um conflito interior e um sentimento de
perda pessoal. Essa desorganização preliminar é a sina do recém-chegado à cidade.

15 GOMES, Luiz Flávio; MOLINA, Antonio García-Pablos. Criminologia, p. 343.

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GABRIELA ANDRADE SOCIOLOGIA CRIMINAL: AS TEORIAS SOCIOLÓGICAS DA CRIMINALIDADE • 5

Esse agudo conflito mental e senso de perda pessoal faz com que busque novas metas a partir de um
afrouxamento das influências das regras sociais, causando uma perda de suas raízes. Não haveria qualquer
próximo, em que pese o mandamento de amar ao próximo. Em Chicago havia um expressivo exemplo
decorrente do excessivo número de imigrantes.

Em razão deste contexto o controle social informal se perde, as instancias informais de controle não
mais operam, o que debilita os vínculos e potencializa a criminalidade.

• Áreas de delinquência

Uma cidade se desenvolve a partir de círculos concêntricos, são ao todo cinco zonas.
• Zona comercial com grandes bancos, fábricas, etc;

• Zona de transição;

• Zonas residenciais;

• Classe média;
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• Estratos mais altos da população.

A zona de transição, situada entre a zona residencial e a zona comercial e industrial central está
sujeita a invasão do crescimento da zona comercial e, por isso é objeto de constante degradação, além de
mobilidade populacional, concentrando pessoas de menor poder aquisitivo , como imigrantes, moradores de
cortiços.
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A segregação oferece ao grupo e, portanto, aos indivíduos que o compõem um lugar e um papel na
organização total da vida da cidade. Todos os estudos da escola de Chicago levaram em conta esta divisão.

Assim, essa localização não causaria a delinquência, mas esta tenderia a ocorrer em certas regiões.
Silva -- CPF:

Não caiu no erro de Lombroso de falar em uma “área nata de delinquência”.


da Silva

Propostas da ecologia criminal:


Gouvea da

• Propostas preventivas: Alterar as condições econômicas e sociais;


Eliovaine Gouvea

• Programas junto à comunidade, partindo de membros desta (igreja, escolas, associações de


Eliovaine

moradores, etc.) e de áreas delimitadas;

• Unidade de operação será vizinhança, já que o crime é um fenômeno associado à cidade;

• Melhoria das condições sociais, econômicas e sociais;

• Conservação física dos prédios e melhoria sanitária das condições de alguns bairros pobres;

• Conscientização sobre as áreas comuns (jardins, parques, etc.);

• Construir desenhos arquitetônicos que dificultem o ato delitivo e aumentem o risco de ser
ele descoberto: “relação custo-benefício”.

Ponderação crítica sobre a ecologia criminal

A principal contribuição se deu nos campos metodológico e político-criminal. Suas investigações


científicas inauguraram uma tradição de métodos de pesquisa que propiciam o conhecimento da realidade
da cidade para que se possa estabelecer a política criminal adequada. Seu empirismo chamou a atenção para
a criminalidade em áreas pobres da cidade.

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GABRIELA ANDRADE SOCIOLOGIA CRIMINAL: AS TEORIAS SOCIOLÓGICAS DA CRIMINALIDADE • 5

O foco é voltado para a comunidade local, buscando reconstruir a solidariedade, por meio do
envolvimento preventivo da comunidade. .

Há críticas.

Destacou-se seu viés conservador, chegando-se a falar na substituição de um determinismo


positivista por um determinismo ecológico. Relacionam-se áreas nobres e ricas com não criminalidade e
áreas pobres com criminalidade. Nunca se compreendeu se as áreas pobres criavam criminosos ou os
atraíam.

O conceito de desorganização social é tautológico, pois diz respeito ao mesmo tempo causa e efeito.

Ademais, a investigação criminal feita é falha, pois há delitos praticados perto das casas dos
criminosos e outros não. Exemplo: Em perdizes temos baixo número de homicídios e alto número de furtos
de veículos, nos bairros periféricos é o oposto. Assim, a teoria não explica adequadamente as condutas
desviadas fora das áreas delitivas.

Minimiza também o caráter ético e individual do crime, pois foca demais na cidade.
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2.1.2. Teoria das Janelas Quebradas

A teoria das janelas quebradas – broken windows theory –, como ficou conhecida, foi publicada por
dois cientistas sociais da Universidade de Harvard, James Wilson e George Kelling, na revista The Atlantic
Monthly, em março de 1982, portanto, a publicação se deu em uma revista, como se fosse algo publicado na
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Veja ou Istoé.

A teoria se baseia em experimento realizado por Philip Zimbardo em 1969, psicólogo da Universidade
de Stanford. Foram deixados dois automóveis idênticos (mesma marca, modelo e cor) em uma via pública –
Silva -- CPF:

um no Bronx, então uma zona pobre e conflituosa de Nova Iorque, e o outro em Palo Alto, zona rica e
tranquila da Califórnia. O carro abandonado no Bronx começou a ser vandalizado em poucas horas. Levaram
da Silva

tudo que pudesse ser aproveitado, e o que não foi possível levar foi destruído. O automóvel em Palo Alto,
Gouvea da

por sua vez, manteve-se intacto, até que os investigadores, após uma semana, quebraram uma das janelas
Eliovaine Gouvea

do carro. Então desencadeou-se o mesmo processo observado no Bronx. O carro foi destroçado por grupos
vândalos em poucas horas.
Eliovaine

A teoria das janelas quebradas, portanto, pretende estabelecer a repressão aos menores delitos
como forma de inibir a prática de crimes mais graves, consoante à conhecida política de tolerância zero
implementada pelo ex-prefeito de Nova York, Rudolph Giuliani.

2.1.3. Teoria da Tolerância Zero

Kelling foi consultor do departamento de trânsito de Nova Iorque em 1985 e depois dos
departamentos de polícia de Boston e Los Angeles. Em 1990, o novo chefe do departamento de polícia de
trânsito de Nova Iorque, William Bratton, descreveu Kelling como seu mentor intelectual. Em 1993, Bratton
se tornou o comissário de polícia do prefeito Rudy (Rudolph) Giuliani, momento em que implantou a
estratégia de policiamento chamada de Zero Tolerance, baseada na teoria das janelas quebradas.

A referida linha teórica preconiza que as autoridade policiais de uma organização atuem seguindo
padrões predeterminados naquilo que se refere à atribuição de punições, extirpando decisões discricionárias
decorrentes da atuação policial.

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GABRIELA ANDRADE SOCIOLOGIA CRIMINAL: AS TEORIAS SOCIOLÓGICAS DA CRIMINALIDADE • 5

Trata-se de uma estratégia de manutenção da ordem pública e prevenção a fatores criminógenos.


Deflagrada pela consciência estatal em cumprir seus deveres legais com a sociedade, despindo-se de
corrupção e da venalidade com o intento de trazer a confiança da população.

Em suma, a teoria tolerância zero tem como escopo introjetar o hábito à legalidade, corroborando
para que as ações policiais se mostrem intransigentes com delitos de menor gravidade, isto é, que as
pequenas práticas delitivas não sejam toleradas. Desta feita, a projeção é de que haja redução nos índices
de criminalidade, tanto dos crimes menos graves quanto dos crimes de maior gravidade.

2.1.4. Teoria dos Testículos Despedaçados

A teoria também defende a ideia de combate à pequena criminalidade, partindo da premissa de


que, se os responsáveis pelos delitos de pouca gravidade forem perseguidos de forma eficaz pelos agentes
policiais, normalmente se darão porvencidos, abandonando a região e se instalando em locais distantes,
com a intenção de violar a lei penal sem que sejam frequentemente molestados pelos agentes do Estado.
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A Teoria dos Testículos Despedaçados, portanto, está ligada às ideias traçadas pela Teoria das Janelas
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Quebradas.

2.1.5. Soluções propostas pela Escola de Chicago

Partindo da premissa que a desorganização social favorece à potencialização das áreas de


criminalidade, a teoria busca traçar estratégias a serem implementadas nesses ambientes.
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a. Macrointervenção na comunidade: mediante a criação de pequenos núcleos regionais,


oferecendo à população local uma gama de serviços sociais. Nesse contexto, o planejamento e
a administração dos projetos devem ser feitos por áreas delimitadas em vez de grandes núcleos
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centralizadores.
b. Criação de programas comunitários, de modo a propiciar melhorias das condições sociais,
da Silva

econômicas e educacionais.
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

c. Melhoria no aspecto físico/visual das cidades: as medidas de resgate da cidadania associadas


aos projetos ecológicos, especialmente em áreas muito carentes, podem fazer decrescer de
Eliovaine

forma imediata a criminalidade.

2.1.6. Contribuições da Escola de Chicago

A Escola aplica métodos de pesquisa com o objetivo de compreender a realidade da cidade antes do
estabelecimento da política criminal adequada, o que favorece a elaboração de medidas preventivas.

Ademais, verifica-se o envolvimento de toda a comunidade por meio de seus diferentes canais com
vistas ao enfrentamento do problema. O foco é voltado para a comunidade local, com a mobilização das
instituições locais para a redução da desorganização social, denotando um envolvimento preventivo da
comunidade.

Depois da Escola de Chicago, não há como se conceber a ideia de qualquer política criminal séria que
não se baseie em estudos empíricos da criminalidade na região analisada. A própria criminalização da
pichação, por exemplo, é uma influência da Escola de Chicago.

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GABRIELA ANDRADE SOCIOLOGIA CRIMINAL: AS TEORIAS SOCIOLÓGICAS DA CRIMINALIDADE • 5

2.1.7. Críticas à Escola de Chicago

Inicialmente, cumpre ressaltar que os estudos da Escola de Chicago não foram desconsiderados pelas
demais teorias; contudo, algumas críticas se levantaram em relação aos seus ensinamentos.

• Perspectiva limitadora na investigação criminal. Em outras palavras, a teoria oferece uma


explicação muito reduzida acerca da delinquência, atendo-se à criminalidade que ocorre dentro
das supostas áreas desorganizadas socialmente. Por essa ótica, a teoria não explica os crimes
patrimoniais ocorridos fora desses espaços de desorganização social; não explica a criminalidade
cometida por integrantes das classes sociais privilegiadas (crimes de colarinho branco) etc.
• A teoria ecológica não tem condições de explicar as condutas desviantes ocorridas fora das áreas
delitivas.
• A teoria ignorava as cifras negras, trabalhando apenas com dados oficiais.

ATENÇÃO!
Expressões que remetem à Escola de Chicago:
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- Cidade como estado de espírito;


- Desorganização social /áreas de delinquência;
- Enfraquecimento do controle social informal

2.2. Teoria da Anomia/Estrutural-Funcionalista


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A expressão anomia que significa ausência de normas tem sido utilizada para fins diversos e em uma
grande variedade de contextos, entre os quais não há qualquer continuidade semântica. De todo modo,
Silva -- CPF:

focaremos no conceito de anomia macrossociológico.


da Silva

A teoria da anomia mergulha suas raízes na obra de Durkheim, que viria depois a receber sua
formulação clássica das mãos de Merton.
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

Na década de 1930, Robert King Merton desenvolveu a teoria funcionalista da anomia, teoria esta
que, segundo o criminólogo Alessandro Baratta, “representa uma etapa essencial no caminho percorrido
Eliovaine

pela sociologia criminal contemporânea”.

Inicialmente, cumpre ressaltar que o termo anomia remete à ideia de ausência de leis ou, ainda, à
perspectiva de um Estado que, não obstante possua um corpo legislativo estabelecido, não possui adesão da
sociedade em sua observância, ocasionando uma verdadeira crise de valores.

Merton inspirou-se nos ensinamentos de Émile Durkheim e apresenta ponderações de viés


sociológico em relação ao fenômeno da criminalidade. Nesse sentido, sustentava que a anomia, fomentadora
da criminalidade, advém do colapso na estrutura cultural, especialmente de uma bifurcação aguda entre
normas e objetivos culturais e as capacidades (socialmente estruturadas) dos membros do grupo de agirem
de acordo com essas normas e objetivos. Anomia, portanto, se dá como manifestação comportamental em
que as normas sociais são ignoradas.

A anomia, em palavras mais simples, ocorre quando há um desajuste daquilo quese “vende” como
modelo de sucesso (metas/fins culturais) com os meios institucionalizados voltados ao alcance dessas metas
culturais.

64
GABRIELA ANDRADE SOCIOLOGIA CRIMINAL: AS TEORIAS SOCIOLÓGICAS DA CRIMINALIDADE • 5

A título de ilustração, na realidade brasileira, o salário mínimo não comporta as necessidades básicas
de uma família, tampouco poderia se cogitar que se alcance as denominadas “metas de sucesso”. Esse
desajuste propicia o surgimento de condutas que vão desde a indiferença perante as metas culturais até a
tentativa de alcançar essas metas por meios diversos daqueles socialmente prescritos.

Em apertada síntese, entende-se como meta de sucesso/meta cultural o acúmulo de patrimônio e


a qualidade de vida no contexto de uma sociedade que elege esses valores como o padrão a ser alcançado.

Citamos como paradigma histórico o nominado American Dream, traduzindo a ideia de consumo e
acúmulo de patrimônio como sinônimos de prestígio.

Dentro dessa perspectiva, nos ensinamentos de Durkheim, o crime é um fenômeno normal de toda
estrutura social. O comportamento desviante é um fator necessário e útil para o equilíbrio e o
desenvolvimento sociocultural.

O fato criminoso só terá relevância quando atingir a consciência coletiva na sociedade e quando
abandonar o viés de “normalidade” ao ultrapassar determinados limites, gerando a desorganização da
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sociedade. O crime é, simplesmente, um ato proibido pela consciência coletiva.

Nessa linha intelectiva, se o crime fere a consciência coletiva, a pena tem a função de resgatar e
curar essa “ferida”. Isto é, a pena não tem a mera função de amedrontar ou dissuadir o infrator, e sim de
satisfazer a consciência comum. Nesse viés, surtiria mais efeito sobre as pessoas consideradas honestas,
demonstrando que está havendo uma “cura” desses sentimentos coletivos.
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A partir dessa ideia de anomia traçada por Merton, o referido estudioso traçou cinco tipos de
comportamento do ser humano diante dessa relação “Metas de Sucesso X Meios Institucionalizados”, isto é,
cinco espécies de adaptação individual a essa realidade, a saber:
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• Conformidade: conformidade entre os objetivos culturais e os meios institucionalizados. Em


outras palavras, com os meios que tem à sua disposição, o indivíduo consegue efetivamente
da Silva

alcançar as metas de sucesso.


Gouvea da

• Ritualismo: o indivíduo renuncia os fins culturais e as metas de sucesso, porque tem a


Eliovaine Gouvea

consciência de sua incapacidade em alcançá-los. Contudo continua seguindo as normas de


conduta e interagindo com a sociedade.
Eliovaine

• Retraimento/apatia/evasão: o indivíduo renuncia tanto as metas de sucesso quanto os meios


institucionais e as normas de convivência. Exemplificando, citamos as pessoas que vivem em
situação de rua, viciados em drogas etc.
• Inovação: é a delinquência propriamente dita. Trata-se da adoção de meios não ortodoxos com
vistas a alcançar as metas de sucesso, ou seja, o indivíduo se vale de meios ilegais para atingi-
las. Nessa linha, o sujeito cria atalhos, inova, esquivando-se dos meios institucionais tradicionais
e valendo-se de meios não socialmente indicados, com vistas a alcançar aquilo que se considera
um modelo de sucesso. Há adesão aos fins culturais, sem o respeito aos meios institucionais.
Exemplo: em busca de conforto e acúmulo patrimonial, o infrator substitui os meios tradicionais
(emprego, trabalho, investimentos) por práticas delituosas (estelionato, tráfico de drogas etc.).
• Rebelião: comportamento característico de indivíduos que demonstram inconformismo e
revolta com aquilo que se estabeleceu como meta de sucesso. Nessa linha, refutam os padrões
vigentes, propondo novas metas e institucionalização de novos meios para atingi-las.
Como exemplo, o movimento hippie, que tem por objetivo rebelar-se contra os valores instituídos
pela sociedade e, por meio do descondicionamento, chegar à existência autêntica, embasada pela formação
de uma “nova consciência”.

65
GABRIELA ANDRADE SOCIOLOGIA CRIMINAL: AS TEORIAS SOCIOLÓGICAS DA CRIMINALIDADE • 5

Toda vez que a sociedade acentua a importância de determinadas metas sem oferecer à maioria das
pessoas a possibilidade de atingi-las por meios legítimos, estamos diante de uma situação de anomia.

Nas obras “A Divisão do Trabalho Social” e “Suicídio” Durkheim abordou de forma explícita o tema
da anomia, contudo, em cada um dos trabalhos o fez de formas díspares.

Pela primeira obra a anomia significa apenas a falta de harmonia fática ou normativa entre
determinados papéis ocupacionais. Já, na segunda obra o problema tem uma dimensão estrutural mais
generalizada, de modo que anomia significa uma situação generalizada de desregramento. Uma sociedade
anômica é uma sociedade incapaz de controlar as ambições e interesses individuais.

Já, Robert Merton começa a tratar desta teoria em sua obra Social Structure and Anomie de 1938. O
conceito de anomia deste autor situa-se expressamente no desenvolvimento da ideia de ausência de normas.
Apesar da diversidade de formulações utilizadas, Merton privilegia a ideia de desmoralização ou ruptura da
estrutura cultural. O grau de anomia de um sistema mede-se pela extensão em que há ausência de consenso
sobre as normas julgadas legítimas, com a consequente insegurança e incerteza nas relações sociais.
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Contudo, as duas construções não se confundem. Merton louva-se o caráter sistêmico de sua teoria,
por oferecer uma explicação para todo o comportamento desviante, superando o caráter específico das
explicações de Durkheim (âmbito do trabalho e suicídio). Ademais, Merton abandona completamente a ideia
de necessidade humanas naturalmente ilimitadas e insaciáveis. Para Merton, todos os estímulos
potenciadores da ação humana são socialmente induzidos.

Segundo Merton, toda sociedade se analisa em uma estrutura cultural e uma estrutura social. A
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primeira define os objetivos culturais e define, prescreve os meios legítimos e socialmente aceitáveis da
persecução dos objetivos. Já a estrutura social significa o conjunto organizado das relações sociais, isto é, a
estrutura das oportunidades reais que condiciona de fato a possibilidade de os membros da sociedade se
Silva -- CPF:

orientarem para os objetivos culturais, respeitando as normas institucionalizadas.


da Silva

Estes três elementos, objetivos culturais, normas institucionalizadas e oportunidades reais são
independentes, susceptíveis de variações autônomas originando estados de defasamento recíproco. São
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

estes defasamentos que provocam a anomia e dão origem ao comportamento desviante. Eles colocam os
membros da sociedade em posição de conflito ou ao menos de desequilíbrio.
Eliovaine

Segundo Merton, são cinco os mecanismos por meio dos quais se procura dar resposta aos potenciais
de frustração socialmente induzidos conformismo, inovação, ritualismo, evasão e rebelião.

No conformismo não há uma solução desviante e isto não gera problemas.

Na inovação há o recuso a meios ilegítimos para realizar objetivos culturais. Essa forma conduz a
generalidade de comportamentos desviantes criminosos. Este defasamento explica os crimes dos mais
pobres e os de colarinho branco.

No ritualismo há uma atitude de conformidade absoluta com as normas institucionais acompanhada


de um desinteresse pelos objetivos e da renúncia à procura sem limites de sucesso, riqueza e poder.

Na evasão temos a resposta dos bêbados, drogados, hippies, mendigos que estão na sociedade, mas
não são da sociedade e portanto renunciam aos objetivos culturais e às normas institucionais. Não competem
e, portanto, não tem porque recorrer a meios ilegítimos para alcançar objetivos culturais.

Por fim, na rebelião há a rejeição dos objetivos culturais e dos meios institucionais, acompanhada da
procura de uma nova realidade social com novos valores e novos critérios de sucesso.

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GABRIELA ANDRADE SOCIOLOGIA CRIMINAL: AS TEORIAS SOCIOLÓGICAS DA CRIMINALIDADE • 5

No quadro abaixo, esquematizamos a relação de cada modo de adaptação dos indivíduos com as
metas culturais e os meios institucionalizados voltados à sua obtenção:

METAS CULTURAIS MEIOS


INSTITUCIONALIZADOS
(status, poder,
MODOS DE ADAPTAÇÃO
riqueza,qualidade de (estudo, trabalho,
vida) investimentos lícitos)

Conformidade Aceitação das metas Aceitação dos meios

Não aceitação das


Ritualismo Aceitação dos meios
metas

Retraimento/apatia/evasão Renúncia às metas Renúncia aos meios

Inovação Aceitação das metas Não aceitação dos meios

Não aceitação das


Rebelião Não aceitação dos meios
metas
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2.3. Teoria da Associação Diferencial

Preliminarmente, vale destacar que, apesar de haver classificações em sentido diverso, Antonio
García-Pablos de Molina afirma que dentro do grupo “Teorias Subculturais” figuram como principais modelos
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teóricos: a Teoria da Associação Diferencial de Sutherland e a Teoria da Subcultura Delinquente de Albert


Cohen, as quais estudaremos a partir de agora.

Embora influenciada pelos ideais traçados pela Escola de Chicago, a Teoria da Associação Diferencial
tece duras críticas a ela. Isto porque o modelo teórico de Chicago só busca a explicação da delinquência
Silva -- CPF:

ocorrida nos espaços territoriais socialmente desorganizados.


da Silva

Os aportes iniciais da teoria vieram com Edwin Sutherland, que apresentou o conceito de crimes de
Gouvea da

colarinho branco (white colar crime): crimes cometidos no âmbito profissional, por pessoas de elevado
Eliovaine Gouvea

estatuto social e respeitabilidade.


Eliovaine

Por óbvio, os crimes de colarinho branco não podem ser explicados pela pobreza, falta de educação
e demais condições desfavoráveis. Contudo a dificuldade na obtenção de dados estatísticos se explica em
razão do fenômeno da cifra negra.

“Nesse viés, o crime não pode ser definido simplesmente como disfunção ou inadaptação de pessoas
de classes menos favorecidas, não sendo, portanto, exclusividade destas.”16

O homem, portanto, aprende a conduta desviada e associa-se com referência nela.

As condutas criminosas também podem ser cometidas (e, de fato, são) por pessoas integrantes
das classes mais favorecidas, a depender do processo de aprendizagem e interação ao qual estão submetidas.

O crime deriva de um processo de aprendizagem decorrente das interações sociais. Portanto, não há
que se falar em determismo biológico, mas sim num verdadeiro processo de aprendizagem decorrente das
interações sociais, que podem direcionar os indivíduos às práticas delitivas.

16 SUMARIVA, Paulo. Criminologia, Teoria e Prática. 4ª edição, p. 70

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GABRIELA ANDRADE SOCIOLOGIA CRIMINAL: AS TEORIAS SOCIOLÓGICAS DA CRIMINALIDADE • 5

O comportamento criminoso é um comportamento de aprendizado, mediante a interação com


outras pessoas, resultante de um processo de comunicação. A parte decisiva do processo de aprendizagem
ocorre no seio das relações sociais mais íntimas do indivíduo com seus familiares ou pessoas de seu meio.
Uma pessoa converte-se em delinquente quando as condições favoráveis à violação superam as
desfavoráveis.

Da mesma forma que as pessoas podem se associar e viver com observância às regras sociais de
conduta, também podem fazê-lo para infringi-las, a depender das influências que recebem e das interações
sociais que praticam.

A nomenclatura “associação diferencial” nos conduz à ideia de que os princípios do processo de


associação pelo qual se desenvolve o comportamento criminoso são os mesmos princípios do processo pelo
qual se desenvolve o comportamento legal, mas os conteúdos dos padrões apresentados na associação
diferem. Ademais, a associação diferencial é possível porque a sociedade se compõe de vários grupos com
culturas diferentes.

Sutherland traz três fatores que impedem ou dificultam expressivamente a punição dos crimes de
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colarinho branco:

• Os autores são pessoas respeitadas e temidas, a exemplo de grandes empresários e agentes


políticos, não sendo concebível tratá-los como delinquentes;
• Em geral, os tipos penais se revestem de maior abertura, conferindo maior espaço às
interpretações. As punições não são tão severas, admitem mecanismos de substituição da pena
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privativa da liberdade e possuem o condão mais pecuniário que pessoal. Pensemos, por
exemplo, no tratamento jurídico conferido aos crimes tributários em contraponto aos delitos
patrimoniais tradicionais.
• Os efeitos dos crimes de colarinho branco são complexos e difusos, não sendo diretamente
Silva -- CPF:

sentidos pela sociedade, embora possuam alto grau de nocividade.


da Silva

Observe, portanto, que a Teoria da Associação Diferencial põe em descrédito vários argumentos de
Gouvea da

teorias tradicionais, a exemplo das teorias antropológicas e positivistas.


Eliovaine Gouvea

Para a doutrina, temos uma influência moderna dessa teoria em nossa sociedade, qual seja, a
influência midiática como modeladora de comportamentos.
Eliovaine

Outras nomenclaturas: Teoria da Aprendizagem Social/Teoria do Aprendizado/Social Learning.

2.4. Teoria da Subcultura Delinquente

Seu início foi marcado com a obra de Albert Cohen denominada Delinquent Boys, de 1955.

Seu contexto histórico remonta à sociedade americana dos idos de 1950 e a desilusão com o que se
chamou de American Dream: o sonho americano.

Com o fim da 2° Guerra Mundial e o crescimento econômico dos Estados Unidos, a população estava
tomada por um sentimento de positividade, confiança, e marcada por ideais de prosperidade.

O sonho americano é um ethos nacional dos Estados Unidos, uma variedade de ideais de liberdade
que inclui a chance para o sucesso e prosperidade, maior mobilidade social para as famílias e crianças,
alcançada através de trabalho duro em uma sociedade sem obstáculos. Na definição do que é o "sonho
americano", por JamesTruslow Adams, em 1931, "a vida deveria ser melhor e mais rica e mais completa

68
GABRIELA ANDRADE SOCIOLOGIA CRIMINAL: AS TEORIAS SOCIOLÓGICAS DA CRIMINALIDADE • 5

para todos, com oportunidades para todos baseado em suas habilidades ou conquistas", independente de
sua classe social ou circunstâncias do nascimento”17

Contudo, com a percepção de que não seria possível alcançar esse ideal, muitos jovens, sobretudo
negros, passaram a confrontar esses “padrões”. Nessa linha intelectiva, as subculturas delinquentes
constituem um movimento reacionário das classes sociais desfavorecidas, ou seja, aquelas que não dispõem
dos mesmos recursos e oportunidades de crescimento dentro de uma estrutura social estabelecida, ante a
necessidade de sobreviver nesse cenário mesmo com exíguas possibilidades de estabelecerem um
comportamento legítimo.

A Teoria da Subcultura Delinquente trabalha, sobretudo, a delinquência juvenil e defende


exatamente o contrário das ideias trazidas pela Escola de Chicago, sustentando que nas áreas onde há
omissão do Estado, os grupos se organizam e criam suas próprias regras e valores: são as subculturas.

Em outras palavras, as áreas de delinquência não são vistas como regiões “desorganizadas
socialmente”, e sim áreas em que vigoram normas distintas das oficiais, de valores invertidos, como forma
de contestar aquilo que se estabeleceu como “ideal” da sociedade dominante.
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Subcultura traduz a ideia de enfrentamento desviante de jovens em relação à sociedade adulta


tradicional, com a aceitação de certos aspectos dos sistemas de valores predominantes, mas que também
expressam sentimentos e crenças exclusivas de seu próprio grupo. Como exemplo, as gangues de periferia
nos Estados Unidos.

No Brasil, temos como exemplo as gangues de lutadores de jiu-jitsu formadas na década de 90, tão
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somente com a finalidade de causar desconforto alheio mediante a prática de espancamentos gratuitos, bem
como os grupos de pichadores.

Aqui, não estamos a tratar da delinquência generalizada, a qual possui um fim utilitarista em suas
Silva -- CPF:

ações, mas sim de pequenos grupos que criam suas próprias regras mas não atuam com uma finalidade bem
da Silva

delineada.
Gouvea da

FIQUE DE OLHO!
Eliovaine Gouvea

A subcultura delinquente pode ser resumida como um comportamento de transgressão que é determinado
Eliovaine

por um subsistema de conhecimento, crenças e atitudes que possibilitam, permitem ou determinam


formas particulares de comportamento transgressor em situações específicas.

Para Cohen, a subcultura delinquente caracteriza-se por três fatores:

• Não utilitarismo da ação: os crimes são realizados por puro prazer, sem um fim utilitarista ou
finalidade específica. Como exemplo, o brutal assassinato do índio Galdino Jesus dos Santos
cometido por um grupo de cinco criminosos em Brasília, no ano de 1997.
• Malícia da conduta: as condutas são realizadas para causar desconforto alheio. Como exemplo,
a hostilidade gratuita contra jovens que não pertencem a gangues.
• Negativismo: objetivo de mostrar o rechaço deliberado aos valores da classe dominante,
mediante a prática de atos de rebeldia que se contrapõem aos padrões sociais.

A teoria em apreço recebe críticas em razão de oferecer uma visão limitada e restrita da
criminalidade.

17 What is the American Dream? Biblioteca do Congresso. 4 de maio de 2017.

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GABRIELA ANDRADE SOCIOLOGIA CRIMINAL: AS TEORIAS SOCIOLÓGICAS DA CRIMINALIDADE • 5

3. TEORIAS DO CONFLITO

Em sentido oposto às ideias trabalhadas nas Teorias do Consenso, temos as Teorias do Conflito,
ligadas a movimentos revolucionários.

Como o próprio nome sugere, a ideia central das teorias do conflito perpassa pela linha
argumentativa de que, para que haja equilíbrio nas relações sociais, necessariamente haverá uso de meios
coercitivos. Em outras palavras, a harmonia do corpo social decorreria da fórmula sujeição x imposição, na
perspectiva de classe dominante e classe dominada.

A sociedade não funciona como uma engrenagem conforme apregoam as teorias do consenso. Isso
porque, em verdade, o poder se concentra nas mãos de pequena parcela da sociedade que o impõe à classe
dominada.

O conflito surge, justamente, em função dessa divergência de interesses, sendo certo que o controle
social tem como finalidade a garantia do poder vigente.
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Nessa linha, o conflito é algo natural e até mesmo desejado, desde que sob controle, para que haja
a progressão da sociedade frente aos desafios impostos.

As Teorias do Conflito tentam, de alguma forma, distribuir a responsabilidade pelo ato criminoso à
sociedade e não apenas à pessoa do infrator.

Em síntese, a teoria estabelece as seguintes premissas:


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• Toda a sociedade está, a cada momento, sujeita a processos de mudança;


• Toda sociedade exibe, a cada momento, dissensão e conflito;
• O conflito social é ubíquo;
Silva -- CPF:

• Todo elemento em uma sociedade contribui de certa forma para sua desintegração e
mudança; e
da Silva

• Toda sociedade é baseada na coerção de alguns de seus membros por outros.


Gouvea da
Eliovaine Gouvea

A doutrina apresenta a seguinte classificação acerca das teorias do conflito:


Eliovaine

• Marxistas: as causas das criminalidade estão atreladas à luta de classes (dominante x


dominada), oriunda do capitalismo (vilão da sociedade);
• Não marxistas: a criminalidade relaciona-se com a tensão gerada por conta dadesigualdade na
distribuição de poder.

No grupo de Teorias do Conflito, estudaremos:

• Teoria do labelling approach (rotulação social, etiquetamento, reação social ou teoria


interacionista);
• Criminologia Crítica (Neorrealismo de esquerda, Direito Penal Mínimo, Abolicionismo Penal)

3.1. Labelling Approach

Também chamada de Teoria da rotulação social, teoria do etiquetamento, teoria da reação social,
teoria interacionista ou interacionismo simbólico.

70
GABRIELA ANDRADE SOCIOLOGIA CRIMINAL: AS TEORIAS SOCIOLÓGICAS DA CRIMINALIDADE • 5

Trata-se da teoria inaugural das teorias do conflito, representando uma mudança no enfoque dos
estudos criminológicos, deixando de lado a ideia de paradigma etiológico.

A teoria em apreço surgiu nos Estados Unidos, na década de 60, num contexto social marcado por
movimentos estudantis, políticos, raciais, feministas, considerados fermentos de ruptura do pensamento
até então dominante.

Nesse contexto, o foco da análise criminológica passou a ser o controle exercido sobre os indivíduos
no seio social (controle social formal e informal) objetivando o entendimento acerca dos processos de
criminalização, donde se extrai o aspecto crítico da teoria.

Os estudos, que outrora se debruçavam de forma centralizada na análise do crime e do criminoso,


passaram a analisar o sistema de controle social e suas consequências, deslocando as questões
criminológicas do plano da ação para o plano da reação, sinalizando que uma característica comum entre os
delinquentes é a resposta das instâncias de controle social.

Nas lições de Sumariva18: “um fato só é considerado criminoso a partir do momento em que adquire
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esse status por meio de uma norma criada de forma a selecionar certos comportamentos como desviantes
no interesse de um sistema social” (grifo nosso).

A sistemática seria a seguinte: ao delinquir pela primeira vez, o infrator recebe um rótulo, uma
etiqueta que o estigmatiza como criminoso. Essa rotulação pode advir tanto das agências de controle social
formal (polícias, Ministério Público, Poder Judiciário, sistema penitenciário) quanto das instâncias de controle
social informal (família, amigos, escola, ambientes acadêmicos etc). Ou seja, de que maneira Estado e
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Sociedade reagirão à prática delitiva?

Para a doutrina, o Estado reage por meio das “cerimônias degradantes”, que são os processos
ritualizados aos quais se submetem os infratores envolvidos em um processo criminal, ocasião em que um
Silva -- CPF:

indivíduo é despojado da sua identidade original. Exemplificando, um indivíduo preso em situação


da Silva

flagrancial é conduzido até uma Delegacia de Polícia e submetido a alguns procedimentos, tais como revista
pessoal, fotografia, aferição de altura, verificação de sinais particulares, exame pericial, dentre outros. Ao
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

ingressar no sistema penitenciário, recebe um uniforme, corte de cabelo padrão e fica vinculado a uma
numeração, além de ser colocado em estabelecimentos em condições desumanas e degradantes, como é o
Eliovaine

caso da realidade brasileira. As agências estatais idealizadas com objetivo de inibir as condutas criminosas
acabam por fomentá-las, alimentando esse sistema por meio das cerimônias degradantes.

Por sua vez, a sociedade em geral também reage aos comportamentos desviantes de forma negativa
e tendenciosa, sendo certo que a pena gera uma marginalização no âmbito do mercado de trabalho e escolar.

A partir daí, o indivíduo carregará essa referência maculosa durante toda a sua vida, o que
certamente influenciará em suas futuras ações e nas relações sociais que pretenda estabelecer.

Note, portanto, que a reação social (formal ou informal) é decisiva no contexto da reiteração
delitiva, a traduzir a ideia de reação social como elo entre a desviação primária e a desviação secundária:

18 SUMARIVA, Paulo. Criminologia, teoria e prática. 4ª edição, p.75.

71
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A desviação primária pode ocorrer devido a uma série de fatores culturais, sociais, psicológicos e
sociológicos, ou seja, trata-se da primeira vez em que persecução penal recai sobre o indivíduo em razão da
prática de um delito.

De outro giro, a desviação secundária é a resposta de adaptação aos problemas ocasionados pela
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reação social à desviação primária.

O controle social, portanto, é seletivo e define “quem entra e quem sai da rotulação”, pouco
importando o tipo de crime e quais suas causas.
Silva -- CPF:

Nesse viés, a prisão não funciona como ferramenta de ressocialização do criminoso; ao contrário,
da Silva

exerce um papel de socialização ao cárcere, num sistema de retroalimentação.


Gouvea da

3.1.1. Modelo explicativo sequencial (Sérgio Shecaira)


Eliovaine Gouvea

Delinquência primária → resposta ritualizada e estigmatização → distância social e redução de


Eliovaine

oportunidades → surgimento de uma subcultura delinquente com reflexo na autoimagem → estigma


decorrente da institucionalização → delinquência secundária.

3.1.2. Influências da Teoria em nosso ordenamento jurídico

A reflexão que se propõe é a seguinte: ora, se o cárcere é estigmatizante e reprodutor de


comportamentos criminais, qual seria a solução? Nessa senda, emergem os estudos atinentes à ideia de
descarcerização, não prisionização e, ainda, a ideia de um Direito Penal Mínimo.

Dentro dessa perspectiva, podemos apontar a reforma penal ocorrida em 1984, com previsões
atinentes ao regime progressivo de cumprimento de pena, adoção das penas substitutivas (alternativas) à
prisão etc. Citamos, ainda, a Lei n.º 12.403/2011 que trouxe a previsão de medidas cautelares diversas da
prisão ao Código de Processo Penal, e a Lei n.º 9.099/1995, que instituiu os Juizados Especiais Criminais, com
a previsão de medidas despenalizadoras aplicáveis às infrações penais de menor potencial ofensivo.

72
GABRIELA ANDRADE SOCIOLOGIA CRIMINAL: AS TEORIAS SOCIOLÓGICAS DA CRIMINALIDADE • 5

3.1.3. Críticas à Teoria do Labelling Approach

A teoria em estudo não explica as causas da delinquência primária, ou seja, o porquê de o criminoso
delinquir pela primeira vez, deixando em segundo plano as causas primárias da criminalidade e focando na
desviação secundária.

ATENÇÃO!
Expressões que remetem à Teoria do Labelling Approach (reação social):
- Controle social seletivo, discriminatório, estigmatizante, gerador e constitutivo de criminalidade;
- Foco na reação social.

3.2. Criminologia Crítica/Radical/Marxista ou Nova Criminologia

Tem origem nos EUA e na Inglaterra nos anos 70 e teve como dois grandes palcos a Escola de Berkeley
(EUA) e a National Deviance Conference (Inglaterra). Posteriormente ganhou espaço nos países europeus.
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Modernamente, conta com defensores de destaque, como Alessandro Baratta (Itália), Eugênio Raul
Zaffaroni (América Latina).

Fundamentalmente, a criminologia crítica/radical apoia-se nos ideais marxistas acerca da


sociedade e seu ordenamento, sustentando ser o delito um fenômeno proveniente do modo de produção
capitalista. Em outras palavras, num sistema capitalista e opressor, o crime é uma consequência natural.
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Em apertada síntese, Karl Marx considerava o capitalismo a raiz de todos os males, apontando a luta
de classes (trabalhadores X empregadores) como a origem de conflitos econômicos, ideológicos e políticos.
O sistema capitalista seria instrumento das grandes elites, a punir somente a classe trabalhadora, enxergando
Silva -- CPF:

o criminoso como um integrante do proletariado.


da Silva

Contudo, essa visão vem sofrendo algumas alterações, já que os próprios marxistas passaram a
Gouvea da

reconhecer que os trabalhadores começaram a se aproximar do capitalismo, gerando renda e passando a


Eliovaine Gouvea

ocupar uma posição no mercado de consumo. Sob essa ótica, o trabalhador não poderia mais ser
considerado um agente revolucionário, por isso o marxismo, sobretudo no Brasil, está caminhando para
Eliovaine

enxergar no criminoso um novo agente revolucionário.

A criminologia crítica/radical trata da crítica “final” a todas as outras correntes criminológicas,


especialmente por se recusar a assumir esse papel tecnocrático de gerenciador do sistema, pois considera o
problema criminal insolúvel dentro dos marcos de uma sociedade capitalista. Em suma, apregoa que
determinados atos são considerados criminosos porque é do interesse da classe dominante assim defini-los.
Nesse sentido, critica as posturas tradicionais da criminologia do consenso, considerando-as incapazes de
entender a totalidade do fenômeno criminal. Sustenta, ainda, que o indivíduo não teria livre-arbítrio quando
pratica um delito, já que se encontra sujeito a um determinado sistema de produção, e a divisão de classes,
no sistema capitalista, funciona como fator propulsor à desigualdade e à violência.

Conclui que a norma penal surge como instrumento de controle social preconceituoso, recaindo
apenas sobre as classes trabalhadoras e menos favorecidas, não sendo aplicada da mesma forma às classes
abastadas.

O pensamento criminológico crítico/radical assevera que as leis penais existem para gerar uma
estabilidade temporária, encobrindo confrontações violentas entre as classes sociais de modo a reafirmar o
modelo de produção capitalista. Ou seja, em verdade, as leis penais não são concebidas com o escopo de

73
GABRIELA ANDRADE SOCIOLOGIA CRIMINAL: AS TEORIAS SOCIOLÓGICAS DA CRIMINALIDADE • 5

regular a convivência harmônica do corpo social, e sim de assegurar o poderio econômico do modelo
capitalista, sendo certo que a pena teria o condão de reafirmar esse modelo de produção.

Portanto, a finalidade do Direito Penal seria assegurar um modelo de realidade social, alimentando
as desigualdades sociais.

Pensemos, por exemplo: quando ocorre um crime, é nítido que a sociedade e a mídia se interessam
e se preocupam com os meandros da persecução penal, especialmente com o andamento das investigações
e o decurso do processo penal. Contudo, na fase executiva de eventual pena aplicada ao infrator, quando,
em tese, estaria ele sendo submetido à penalização com vistas a sua ressocialização, não percebemos essa
preocupação por parte da sociedade.

O Brasil possui a terceira maior população carcerária do mundo, atualmente em torno de 812 mil
pessoas (dados de JUL/2019).

A informação consolida o Brasil como a terceira maior população carcerária do mundo,


ficando atrás apenas dos Estados Unidos (com 2 milhões 100 mil pessoas atrás das grades)
e China (1 milhão e 600 mil pessoas encarceradas). Os dados fazem parte da Luta
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antiprisional no mundo contemporâneo: um estudo sobre experiências em outras nações


de redução da população carcerária , lançada em setembro de 2018, em São Paulo.19

A reflexão que se faz é a seguinte: quem são esses presos? Quem são as pessoas que, efetivamente,
estão submetidas ao cárcere? Massivamente, são os integrantes das classes sociais menos favorecidas.

3.2.1. Características da Criminologia Crítica / Radical / Marxista / Nova


CPF: 030.720.271-29

Criminologia

Principais características elencadas pela doutrina, às quais você deve se atentar por contemplarem
palavras-chave que podem aparecer nas provas de concurso:
Silva -- CPF:


da Silva

Tece críticas à criminologia tradicional;


• Posiciona o modelo de produção capitalista como a base da criminalidade;
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

• Sustenta que o Direito Penal se preocupa com os interesses do grupo social dominante, de modo
a assegurar o modelo de produção capitalista;
Eliovaine

• Traça uma percepção do criminoso de modo a justificar suas ações, no sentido de compreendê-
lo e, até mesmo, enxergá-lo como agente revolucionário e transformador.

3.2.2. Críticas à Criminologia Crítica/Radical/Marxista/Nova Criminologia

• A teoria exime o indivíduo de qualquer tipo de responsabilização pela prática de atos criminosos,
atribuindo essa carga ao modo de produção capitalista, reservando ao criminoso o papel de
“vítima” da sociedade na qual se encontra inserido;
• Não apresenta uma explicação acerca da criminalidade praticada por indivíduos integrantes das
classes sociais mais abastadas nem em relação às pessoas que também integram as classes
desprivilegiadas, mas não cometem crimes;
• Chega à conclusão do reducionismo ou até mesmo do abolicionismo penal, contudo sem
apresentar uma explicação lógica: ora, se o criminoso é “vítima” da sociedade que o corrompeu,
como abolir o cárcere e reintegrá-lo ao convívio na mesma sociedade que o corrompeu?

19 https://ponte.org/com-812-mil-pessoas-presas-brasil-mantem-a-terceira-maior-populacao-carceraria- do-mundo/

74
GABRIELA ANDRADE SOCIOLOGIA CRIMINAL: AS TEORIAS SOCIOLÓGICAS DA CRIMINALIDADE • 5

3.2.3. Contribuições da Teoria Crítica

• Movimentação pela criminalização de condutas que atentem contra bens jurídicos difusos
(legislações protetivas do meio ambiente, da ordem econômica, financeira, tributária etc);
• Maximização da intervenção punitiva para os crimes de colarinho branco, racismo etc. e
minimização da intervenção punitiva, podendo chegar à descriminalização de condutas
tipicamente relacionadas a crimes praticados por integrantes das classes mais desprotegidas
(vadiagem, aplicação do princípio da insignificância em pequenos furtos etc.)

3.3. Tendências advindas da Criminologia Crítica: Neorrealismo de Esquerda,


Direito Penal Mínimo e Abolicionismo Penal

A partir das décadas de 1980/90, com o amadurecimento dos estudos da criminologia crítica,
surgiram basicamente três tendências:

3.3.1. Neorrealismo de Esquerda


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Surge como uma resposta intermediária entre o Direito Penal Máximo e o Abolicionismo Penal.
De acordo com o professor Paulo Sumariva:

A teoria admite que as frágeis condições econômicas dos pobres na sociedade


capitalista façam com que a pobreza tenha seus reflexos na criminalidade,
reconhecendo, contudo, que essa não é a única causa da atitude criminosa, também
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gerada por fatores como: expectativa superdimensionada, individualismo exagerado,


competitividade, agressividade, ganância, anomalia sexuais, machismo etc.20

Os neorrealistas defendem uma nova relação entre a polícia e a sociedade, com a finalidade de
Silva -- CPF:

contribuir para uma luta comum contra o delito. Sugerem a adoção de uma linha reducionista na política
criminal, descriminalizando certos comportamentos e criminalizando outros: os crimes graves merecem uma
da Silva

resposta enfática e o cárcere deve limitar-se a situações extremas.


Gouvea da

O neorrealismo de esquerda, portanto, não se aparta de seu ideal socialista; todavia, trata do
Eliovaine Gouvea

fenômeno da criminalidade sem olvidar daquilo que se mostra na realidade.


Eliovaine

3.3.2. Direito Penal Mínimo

A teoria defende a necessidade de limitação na aplicação do Direito Penal, já que aplicação irracional
da pena, em sua vertente mais rigorosa representada pelo cárcere,pode gerar consequências mais drásticas
que o próprio crime.

Nessa linha intelectiva, defende a aplicação do Direito Penal de forma excepcionalíssima e racional,
propondo, ainda, a redução de sua incidência em determinadas temáticas (criminalidade de massa) e atuação
de forma mais incisiva na criminalidade dos oprimidos (cometida pelas classes dominantes em detrimento
da classe dominada).

Consoante ensinamentos do professor Luiz Flávio Gomes: “o Direito Penal Mínimo ou Minimalismo
Penal propugna por um Direito Penal no qual se tenha mínima intervenção, com máximas garantias”. É o
que defendem Ferrajoli, Hassemer, Zaffaroni, Cervini e, principalmente Alessandro Baratta.

20 SUMARIVA, Paulo. Criminologia, Teoria e Prática. 4ª edição, p. 81.

75
GABRIELA ANDRADE SOCIOLOGIA CRIMINAL: AS TEORIAS SOCIOLÓGICAS DA CRIMINALIDADE • 5

A proposta do abolicionismo moderado, leia-se, do minimalismo, não consiste em acabar com o


Direito Penal, senão minimizar sua utilização para a resolução dos conflitos penais, não só reduzindo seu
âmbito de aplicação (seja impedindo o quanto possível novas "criminalizações", seja, sobretudo,
propugnando por uma ampla descriminalização), senão também a intensidade ou o grau da resposta estatal,
especialmente quando se trata de pena de prisão (nisso consiste o denominado processo de despenalização).

Os princípios informadores do Direito Penal Mínimo são:

• Princípio da Insignificância: somente os bens jurídicos mais relevantes é que devem ser tutelados
pelo Direito Penal.
• Princípio da Intervenção Mínima: o Estado, por meio do Direito Penal, não deve interferir em
demasia na vida do indivíduo, de forma a tirar-lhe a liberdade e autonomia; deve, sim, só fazê-lo
quando efetivamente necessário.
• Princípio da Fragmentariedade: pode ser entendido em dois sentidos: a) somente os bens
jurídicos mais relevantes merecem tutela penal; b) exclusivamente os ataques mais intoleráveis
devem ser punidos com sanção penal.
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• Princípio da Adequação Social: preconiza a ideia de que, apesar de uma conduta se subsumir ao
tipo penal, é possível deixar de considerá-la típica quando socialmente adequada, isto é, quando
estiver de acordo com a ordem social.

Em sua obra Direito Penal, v. 1, Introdução e Princípios Fundamentais, o professor Luiz Flávio Gomes
menciona ainda outros princípios como os da Ofensividade e da Exclusiva Proteção dos Bens Jurídicos.
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• Princípio da Ofensividade: somente podem ser erigidas à categoria de crime condutas que
efetivamente obstruam o satisfatório conviver em sociedade, e se foi de tal proporção que
justifique a intervenção penal,
Silva -- CPF:

• Princípio da Exclusiva Proteção dos Bens Jurídicos: o Direito Penal deve se restringir à tutela de
da Silva

bens jurídicos, não estando legitimado a atuar quando se trata da tutela da moral, de funções
estatais, de ideologia, de dada concepção religiosa etc. 21
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

3.3.3. Pensamento abolicionista/abolicionismo penal


Eliovaine

A proposta tem como maiores nomes Nils Christie, Thomas Mathiesen, Louk Hulsman e de certa
forma, Michel Foucault (que aqui não será abordado, de todo modo, o tema se encontra em sua obra Vigiar
e punir). Qualquer pensamento abolicionista, guardadas suas diferenças, busca abolir o sistema penal e
substitui-lo por um modelo baseado na mediação e na conciliação.

A premissa é a de que a punição desde os primórdios esteve ligada a vingança, que apenas se
dissimula. O próprio suplício de Damiens na obra Vigiar e punir demonstra bem isso.

Ademais, segundo os críticos do sistema, ele é disfuncional, pois não cumpre nenhuma função oficial
que promete, é seletivo, pois atinge preferencialmente pessoas já mais vulneráveis e marginalizadas e, por
fim, criminógenos, pois o sistema e a pena, especialmente a privativa de liberdade, apenas aumentam a
marginalização e a chance de reincidir na criminalidade.

Abordaremos, ainda que sucintamente, a visão de cada um dos principais nomes.

21 Rede de ensino LFG: https://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/976055/principios-informadores-do-direito- penal-minimo

76
GABRIELA ANDRADE SOCIOLOGIA CRIMINAL: AS TEORIAS SOCIOLÓGICAS DA CRIMINALIDADE • 5

Abolicionismo de Nils Christie

Por esta visão o abolicionismo é justificado pela experiência histórica, segundo a qual o sistema penal
e, em especial a pena apenas impõe sofrimento e dor, de modo que entende necessário reduzir ao máximo
o sofrimento . Atenta para o caráter destrutivo do sistema penal e discorda de Durkheim quando este
sustenta que a modernidade faz a sociedade progredir e apresentar uma redução do punitivismo .

Defende a ideia de que o crime não é um ato em si, mas que se torna tal. Ele é criado a partir da
atribuição de significado a um ato e a distância social faz com que as pessoas desconheçam a complexidade
e facilita o etiquetamento de certas condutas a determinados sujeitos .

A horizontalidade das relações sociais, enfraquecida pelo etiquetamento e pelo estigma do direito
penal facilita a resolução de situações conflituosas sem que seja necessária a intervenção estatal .

Dessa forma, defende uma espécie de justiça participativa e comunitária, por meio dos espaços
informais de manejo de conflito.

Abolicionismo de Thomas Mathiesen


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Chamado por Zaffaroni de o estrategista do abolicionismo, seu pensamento abolicionista está


intimamente vinculado ao marxismo. Ele vincula a existência do sistema penal à estrutura e ao modo de
produção capitalista. Segundo ele, o poder constituído sempre estabelece o que está dentro e fora, de modo
a envolver e bloquear o que está fora, colocando-o dentro, o que faz por meio de retrocessos parciais .

Mathiesen justificava seu posicionamento em relação às instituições prisionais partindo de oito


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premissas:

(1.ª) a criminologia e a sociologia demonstram que o objetivo de melhora do detento (prevenção


especial) é irreal, sendo contestável efeito contrário de destruição da personalidade e a incitação da
Silva -- CPF:

reincidência; (2.ª) o efeito da prisão no que diz respeito à prevenção geral é absolutamente incerto, sendo
da Silva

possível apenas estabelecer alguma reação do impacto de políticas econômicas e sociais na dissuasão do
delito; (3.ª) grande parte da população carcerária é formada por pessoas que praticaram delitos contra a
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

propriedade, ou seja, contra bens jurídicos disponíveis; (4.ª) a construção de novos presídios é irreversível;
(5.ª) o sistema carcerário, na qualidade de instituição total, tem caráter expansionista, ou seja, suscita novas
Eliovaine

construções; (6.ª) as prisões funcionam como formas institucionais e sociais desumanas; (7.ª) o sistema
carcerário produz violência e degradação nos valores culturais; e (8.ª) o custo econômico do modelo
carcerário é inaceitável .

Trata também dos escudos protetores da prisão, que buscam legitimar a prisão e ocultar a sua
irracionalidade, tais como agentes da administração carcerária, cientistas sociais e meios de comunicação.
Sustenta que duas medidas auxiliariam drasticamente a necessidade do sistema penal: direcionamento de
políticas sociais a sujeitos vulneráveis e descriminalização das drogas, isto porque grande parte do sistema
carcerário é composto por pessoas que praticaram crimes patrimoniais e em relação às drogas, a
descriminalização atingiria o epicentro do crime organizado. Propõe ainda um sistema de apoio e proteção
às vítimas desamparadas no sistema atual .

Abolicionismo de Louk Hulsman

Diferentemente dos anteriores (enfoque historicista e marxista) ele traz um enfoque chamado por
Salo de Carvalho de fenomenológico mundano, pois a partir da análise do fenômeno demonstra sua
disfuncionalidade e o fato de ser a criminalização apenas uma dentre tantas formas de solucionar conflitos.

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GABRIELA ANDRADE SOCIOLOGIA CRIMINAL: AS TEORIAS SOCIOLÓGICAS DA CRIMINALIDADE • 5

Louk Hulsman entende que o sistema penal é um problema em si mesmo e diante de sua inutilidade
ele deve ser abolido. Ele aponta três motivos fundamentais para abolir o sistema penal: 1. causa sofrimentos
desnecessários que são distribuídos socialmente de modo injusto; 2. não apresenta o efeito positivo sobre
as pessoas envolvidas e; 3. é sumamente difícil de ser mantido sob controle .

A partir da análise das chamadas por ele cifras negras, expõe que a maioria dos conflitos, por diversos
motivos não entram no sistema, não compondo as estatísticas oficiais e acabam por serem resolvidos de
modo alternativo e não oficial .

Ele entende não haver crimes ou delitos, mas situações problemáticas. Esta mudança de linguagem,
segundo ele traria maior tolerância e ajudaria a lidar melhor com a situação.

Conhecido e muito elucidativo é o exemplo dado por ele, a parábola da televisão:

“Cinco estudantes moram juntos. Num determinado momento, um deles se arremessa contra a tele-
visão e a danifica, quebrando também alguns pratos. Como reagem seus companheiros? É evidente que
nenhum deles vai ficar contente. Mas, cada um, analisando o acontecido a sua maneira, poderá adotar uma
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atitude diferente. O estudante número 2, furioso, diz que não quer mais morar com o primeiro e fala em
expulsá-lo de casa; o estudante número 3 declara: “o que se tem que fazer e comprar uma nova televisão e
outros pratos e ele que pague”. O estudante número 4, traumatizado com o que acabou de presenciar, grita:
“ele está evidentemente doente; é preciso procurar um médico, levá-lo a um psiquiatra etc…”. O último,
enfim, sussurra: “a gente achava que se entendia bem, mas alguma coisa deve estar errada em nossa
comunidade, para permitir um gesto como esse… vamos juntos fazer um exame de consciência.
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Há aqui diversas reações possíveis diante do problema: o estilo punitivo, os estilos, compensatório,
terapêutico, conciliador”.
Gouvea da
Eliovaine Gouvea
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Eliovaine
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6
GABRIELA ANDRADE

TEMAS ESPECIAIS
TEMAS ESPECIAIS • 6

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1. SISTEMA PENAL E REPRODUÇÃO DA REALIDADE SOCIAL

Alessandro Baratta, em sua obra Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal, enfatiza que o sistema
escolar e o sistema penal reproduzem e reafirmam a seleção e a marginalidade social. Nesse contexto,
destacamos as principais frases e conclusões extraídas desta temática em sua obra:

1.1. O sistema escolar como primeiro segmento do aparato de seleção e de


marginalização na sociedade

O sistema escolar e o sistema penal reproduzem e asseguram as relações sociais existentes, baseadas
na polarização “ricos e pobres”.

Para Baratta, o sistema escolar, no conjunto que vai desde a instrução elementar à formação
superior, reflete a estrutura vertical da sociedade e contribui para criá-la e para conservá-la por meio de
mecanismos de seleção, discriminação e marginalização. O novo sistema global de controle social exerce,
portanto, função de seleção e marginalização, sendo significativa para o prosseguimento do processo de
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criminalização.

Uma das razões do insucesso escolar consiste na dificuldade de crianças provenientes de classes
proletárias de se adaptarem a um mundo estranho a eles e, por conseguinte, a escola reagiria com exclusão.

1.2. Função ideológica do princípio meritocrático na escola


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As crianças integrantes de classe sociais desfavorecidas acabam sendo excluídase marginalizadas no


ambiente escolar e, não raro, são estereotipadas pelos próprios educadores, que acabam por reproduzir e
conferir um tratamento preconceituoso.
Silva -- CPF:

Isto posto, Baratta critica os testes de coeficiente de inteligência (QI) e a ideia de “mérito escolar”.
da Silva

Nesta linha, algumas pesquisas revelaram a correlação do rendimento escolar com a percepção
Gouvea da

que o aluno tem acerca do juízo e das expectativas do educador em relação a ele, no sentido de que,
Eliovaine Gouvea

percebendo que o mestre nada espera em relação a esse aluno, tem-se como resultado o absoluto déficit de
aprendizagem.
Eliovaine

A escola age, portanto, de forma discriminatória, ampliando os efeitos estigmatizantes.

1.3. Funções seletivas e classistas da justiça penal

O sistema escolar e o sistema penal criam contraestímulos à integração dos setores mais baixos e
marginalizados.
Nesse contexto, o direito penal abstrato – criminalização primária – ocorre mediante a formulação
técnica dos tipos penais e a espécie de conexão entre agravantes e atenuantes favorece a punição dos mais
pobres. A seu turno, os processos de criminalização secundária acentuam o caráter seletivo do direito penal
abstrato (vide capítulo 8).
Na definição de Zaffaroni, criminalização primária “é o ato e o efeito de sancionar uma lei penal
material que incrimina ou permite a punição de certas pessoas” e a criminalização secundária “é a ação
punitiva exercida sobre pessoas concretas, que acontece quando as agências policiais detectam uma pessoa
que supõe-se tenha praticado certo ato criminalizado primariamente”.

80
GABRIELA ANDRADE TEMAS ESPECIAIS • 6

Nos dizeres de Alessandro Baratta: “a distância linguística que separa julgadores e julgados, a menor
possibilidade de desenvolver um papel ativo no processo e de servir-se do trabalho de advogados
prestigiosos, desfavorecem os indivíduos socialmente mais débeis”.

1.4. A incidência dos estereótipos, dos preconceitos e das teorias de senso


comum na aplicação jurisprudencial da lei penal

Para Baratta, pode-se afirmar que existe uma tendência por parte dos juízes no sentido de esperar
um comportamento conforme a lei dos indivíduos pertencentes aos estratos médios e superiores. O inverso
ocorreria com os indivíduos dos estratos inferiores. Nesta linha intelectiva, os indivíduos pertencentes às
classes inferiores têm em seu desfavor a primazia na aplicação de penas privativas de liberdade, ao passo
que, aos indivíduos integrantes da camada favorecida da sociedade, aplicam-se sanções substitutivas e
pecuniárias.

1.5. Estigmatização penal e transformação da identidade social da população


criminosa
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A nova sociologia criminal inspirada no labelling approach nos ensina que a criminalidade é uma
realidade social e que ação das instâncias oficiais é elemento constitutivo do fenômeno criminoso. Haveria,
portanto, uma construção social da população delinquente.

O mecanismo de marginalização é integrado e reforçado por processos de reação, por conseguinte.


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1.6. Nexo funcional entre sistema discriminatório escolar e sistema


discriminatório penal
Silva -- CPF:

A intervenção das instâncias de controle social é significativa para o prosseguimento do processo de


criminalização, segundo Baratta, posto que quando o Estado age para ressocializar o individuo, apenas
da Silva

reafirma a polarização das camadas sociais, inspirado na teoria do labelling approach, a qual tem como
Gouvea da

fundamento os processos de criminalização.


Eliovaine Gouvea

Segundo Baratta: “temos uma ulterior série de mecanismos institucionais, os quais, inseridos entre
Eliovaine

os dois sistemas (escolar e penal), asseguram a sua continuidade e transmitem, através de filtros
sucessivos, uma certa zona da população de um para outro sistema” (grifo nosso).

2. CÁRCERE E MARGINALIDADE SOCIAL

Alessandro Baratta, em sua obra Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal, aborda a política
carcerária e sua relação com a marginalidade. Destacamos, a seguir, as principais nuances acerca da
temática:

2.1. Características constantes do “modelo” carcerário nas sociedades


capitalistas contemporâneas

Os institutos de detenção produzem efeitos contrários à reeducação e à reinserção do condenado e,


ainda, constituem efeitos favoráveis a sua inserção na população criminosa.
Uma longa pena carcerária não é capaz de transformar um delinquente antissocial violento em um
indivíduo adaptável.

81
GABRIELA ANDRADE TEMAS ESPECIAIS • 6

Baratta afirma que as “cerimônias degradantes” impostas aos indivíduos encarcerados geram uma
verdadeira “socialização ao cárcere” e aculturação do preso. Sob esta perspectiva, surge o termo
“prisionalização”, que é a forma como a cultura carcerária é absorvida pelos internos, no sentido de
representar a “educação para o cárcere” e não para o retorno à sociedade. A prisionalização produz,
então, efeitos negativos à suposta ideia de ressocialização, sendo certo que todo o indivíduo que ingressa
em uma prisão sofrerá com seus efeitos, em maior ou menor escala.

2.2. Relação entre preso e sociedade

Para Alessandro Baratta, trata-se de uma relação entre quem exclui (sociedade) e quem é excluído
(preso). O erro central da nossa sociedade seria não encarar o crime como uma questão social, portanto, um
problema de todos.
Antes de mudar os excluídos, é preciso mudar a sociedade excludente. Por isso, o cárcere reflete a
sociedade capitalista: relações baseadas no egoísmo e na violência ilegal, onde indivíduos mais débeis são
constrangidos a papeis de exploração e submissão.
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2.3. As leis de reforma penitenciária italiana e alemã e a perspectiva de


Rusche e Kirchheimer – as relações entre mercado de trabalho, sistema
punitivo e cárcere

A marginalização criminal revela um caráter impuro da acumulação capitalista, que implica


necessariamente os mecanismos econômicos e políticos do parasitismo e da renda. É impossível enfrentar o
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problema da marginalização social sem incidir na estrutura da sociedade capitalista, que tem necessidade de
desempregados e da própria marginalização criminal.

3. MODELO CONSENSUAL DE JUSTIÇA CRIMINAL


Silva -- CPF:
da Silva

Trata-se de um modelo de justiça restaurador, integrador ou justiça restaurativa que tem como
preocupação central a figura da vítima.
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

O tema é extraído da obra de Luiz Flávio Gomes e Antonio García-Pablos de Molina, abordando o
modelo consensual de Justiça Criminal e as inovações trazidas pela Lei n.º 9.099/1995, extraindo a
Eliovaine

necessidade de separar a grande criminalidade da pequena e média criminalidade, com respostas


quantitativa e qualitativamente diferentes. Nessa linha, não faria sentido conferir igual tratamento e
reprimenda aos pequenos/médios criminosos em comparação aos grandes criminosos
À pequena criminalidade reservam-se espaços de consenso e diálogo. De outro giro, à grande
criminalidade, um espaço de conflito.
Ao traçar esse modelo consensual de justiça criminal temos uma nova filosofia político-criminal, com
maior relevância ao papel vítima no conflito, trazendo uma perspectiva voltada à reparação dos danos
e aplicação do direito penal como ultima ratio.
A Lei n.º 9.099/1995, que instituiu a figura dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais no Brasil,
representou uma quebra do modelo político-criminal palorepressivo – que se constitui num modelo
repressivo mais severo. A exemplo, a Lei de Crimes Hediondos que traz o recrudescimento do tratamento
penal. Ainda, representa o rompimento com a crença do full enforcement – modelo de repressão total.
Ademais, a Lei n.º 9.099/1995 contempla a autonomia da vontade das partes, a desnecessidade da
pena de prisão e presença dos institutos despenalizadores, a saber: representação, acordo civil, transação
penal, suspensão condicional do processo.

Art. 72. Na audiência preliminar, presente o representante do Ministério

82
GABRIELA ANDRADE TEMAS ESPECIAIS • 6

Público, o autor do fato e a vítima e, se possível, o responsável civil, acompanhados


por seus advogados, o Juiz esclarecerá sobre a possibilidade da composição dos
danos e da aceitação da proposta de aplicação imediata de pena não privativa de
liberdade.

Art. 74. A composição dos danos civis será reduzida a escrito e, homologada
pelo Juiz mediante sentença irrecorrível, terá eficácia de título a ser executado no
juízo civil competente.
[...]
Art. 76. Havendo representação ou tratando-se de crime de ação penal pública
incondicionada, não sendo caso de arquivamento, o Ministério Público poderá
propor a aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multas, a ser
especificada na proposta.
[...]
§ 4º Acolhendo a proposta do Ministério Público aceita pelo autor da infração, o
Juiz aplicará a pena restritiva de direitos ou multa, que não importará em
reincidência, sendo registrada apenas para impedir novamente o mesmo benefício
no prazo de cinco anos.
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Art. 88. Além das hipóteses do Código Penal e da legislação especial,


dependerá de representação a ação penal relativa aos crimes de lesões corporais
leves e lesões culposas.

Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um
ano, abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia,
poderá propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos, desde que o
acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro
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crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional da


pena (art. 77 do Código Penal)
[...]

Portanto, temos a adoção de um sistema que privilegiou a vítima, assim como a ressocialização do
Silva -- CPF:

infrator, por outras vias, distintas da prisão.


da Silva

Em suma, temos a vítima como figura central com a ideia de reparação de danos; a primazia de penas
alternativas à prisão para a pequena e média criminalidade; a aplicação do Direito Penal como ultima ratio e
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

a aplicação de penas privativas de liberdade em caráter excepcionalíssimo.

4. CRIMINOLOGIA FEMINISTA
Eliovaine

O feminismo é um movimento social voltado à conquista de direitos civis protagonizado por


mulheres. Desde a sua origem, reivindica a igualdade de direitos entre homens e mulheres nos mais variados
segmentos sociais (campo político, jurídico, social). Frise-se que sua atuação não é sexista, ou seja, não busca
impor algumtipo de superioridade feminina, mas sim a igualdade entre os sexos.

Nos ensinamentos de Eduardo Fontes e Henrique Hoffman22:

O feminismo pode ser compreendido como uma visão de mundo e também um


fenômeno como movimento social. Abarca conjecturas e crenças sobre as origens e
consequências da organização social pautada no gênero, bem como fomenta ações e
traça estratégias para a mudança social. Desse modo, pode-se dizer que o feminismo é, ao
mesmo tempo, empírico e analítico. Inicialmente, tinha por foco unicamente a
condição das mulheres. Contudo, com o seu amadurecimento, o feminismo tornou-se
mais inclusivo, e passou a levar em consideração outros aspectos da cultura dos
relacionamentos humanos.

22 FONTES, Eduardo & HOFFMANN Henrique. Criminologia. 1ª. Edição. Editora JusPodivm, 2018. p. 273.

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GABRIELA ANDRADE TEMAS ESPECIAIS • 6

Tem como propósito desconstruir um ideal de masculinidade culturalmente imposto em nossa


sociedade, pugnando por ideais de igualdade entre homens e mulheres e conferindo maior projeção e
proteção à figura feminina.
Trata-se de um passo para a denominada Criminologia Queer, já que enfatiza as diferenças de
tratamento aos gêneros, impostos por uma sociedade machista.

5. CRIMINOLOGIA QUEER

Queer significa “algo estranho, excêntrico, esquisito ou original” e a origem desta expressão está
umbilicalmente atrelada à homofobia.
É uma palavra inglesa usada para designar pessoas que, seja em razão do sexo biológico, da
orientação sexual, da identidade ou expressão de gênero, não correspondem a um padrão cis-
heteronormativo, um jeito único que, para a cis-heteronormatividade, inclui: 1 – ser heterossexual, ou seja,
sentir atração afetiva ou sexual somente pelo sexo/gênero diferente do seu; 2 – ser uma pessoa “cis”, ou
seja, estar em total acordo com o gênero atribuído no nascimento.
Pode ser entendida como aquilo que é “excêntrico”, “insólito”. Aquilo que é diferente e socialmente
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anormal. E, em se tratando de algo que remonta à diversidade, a expressão também alerta para a
necessidade de proteção às minorias.
A Teoria Queer, de origem na década de 80, nos EUA, sustenta que o gênero não é uma verdade
biológica, e sim um sistema de captura social pautado na subjetividade, ou seja, gênero é diferente de
identidade.
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Conforme ensinamentos do professor Christiano Gonzaga23:

A atual sociedade é, por natureza, heterossexista e pautada na hegemonia do


comportamento tido como o tradicionalmente correto, restando totalmente
discriminado aquele que pensa de forma desviante do comum e que não aceita os dogmas
Silva -- CPF:

impostos pela maioria. Relacionar-se com uma pessoa do mesmo sexo é visto como
algo até mesmo doentio por certos segmentos sociais (Igreja etc.), o que enaltece ainda
da Silva

mais a necessidade de se entender o atual estágio do queer e, por consequência, a


criminologia queer. O que se busca por meio da ideia queer é a oxigenação de novos
Gouvea da

pensamentos em prol da desconstrução de vetustos dogmas do establishment,


Eliovaine Gouvea

chamando a atenção da sociedade e daqueles que operam as leis (Poder Judiciário e


Poder Legislativo) para a existência de pessoas que pensam diferente e precisam de
Eliovaine

proteção. Hoje, já existem vários movimentos que representam esse tipo de


pensamento, buscando-se implementar a proteção de direitos (dentro da expressão
“direitos humanos”) por meio dos legisladores (eleitos também por essas pessoas),
julgadores e demais entidades civis. Podem ser citados os movimentos de gays, lésbicas,
bissexuais e transexuais. Tais movimentos devem ter voz ativa na sociedade moderna, não
podendo mais a população fingir que eles não existem e são pessoas “estranhas”. Essa
é a expressão errada de queer que não se deve defender, mas sim a real ideia de que
precisam de proteção, de voz e de implementação por meio das leis das suas formas
de pensar. [Grifo nosso]

Nesse sentido, a Teoria Queer promove análises acerca da heteronormatividade (cultura de


heterossexualidade como norma dominante) a qual promove privilégios, desigualdade e violência podendo
culminar no heterossexismo (opressão praticada por todo um grupo social ou instituição) com a ideia de
superioridade da heterossexualidade e uma possível subordinação da homossexualidade.
Um ponto em comum entre as duas teorias (feminista e queer) é a crítica àsujeição de gêneros ante
a heteronormatização, tanto em relação à opressão dasmulheres (misoginia), como em relação à opressão
em face da diversidade de gêneros.

23 GONZAGA, Christiano. Manual de Criminologia. 1ª. Edição, 2018, p. 59.

84
GABRIELA ANDRADE TEMAS ESPECIAIS • 6

Nessa linha intelectiva, os estudos da Teoria Queer objetivam desconstruir a hierarquia entre “hétero
e homo”, rompendo os conceitos fixos e superando essa lógica binária, além de desconstruir o falocentrismo,
que é a ideia de superioridade masculina.
Concluindo, a Criminologia Queer tem como objeto de estudo a violência homofóbica e, como
desafio, promover o rompimento do ideal de masculinidade heterossexual.

6. A CRIMINOLOGIA NO ENFOQUE DA CRIMINALIDADE ORGANIZADA

O fenômeno da criminalidade organizada é trabalhado por algumas escolas e teorias em criminologia.


No Brasil, quando falamos em Organização Criminosa, estamos a tratar de grupos estruturalmente
organizados voltados à prática de infrações penais conforme conceito trazido no Art. 1º da Lei n.º
12.850/2013.
A Lei n.º 12.850/2013 revogou integralmente a Lei n.º 9.034/95, dispondo sobre a definição de
organização criminosa, investigação criminal, meios de obtenção da prova, infrações penais correlatas e
procedimento criminal.
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Art. 1º Esta Lei define organização criminosa e dispõe sobre a investigação criminal, os
meios de obtenção da prova, infrações penais correlatas e o procedimento criminal a
ser aplicado.
§ 1º Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas
estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que
informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer
natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores
CPF: 030.720.271-29

a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional.

Como visto, trata-se de grupo criminoso orquestrado e dotado de algumas características que o
diferenciam das demais associações criminosas previstas em nosso ordenamento penal (por exemplo: Art.
288 do Código Penal, Art. 35 da Lei n.º 11.343/2006).
Silva -- CPF:

Estamos falando de um grupo (mínimo de 04 pessoas) que possui uma estrutura de ações
da Silva

coordenadas, no qual cada integrante tem suas funções delimitadas e divididas, como se fosse uma
verdadeira “empresa do crime”. Ademais, este grupo organizado pratica os delitos com a finalidade de obter
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

qualquer vantagem, de forma direta ou indireta.


Apresenta-se como uma das modalidades criminosas mais complexas do ponto de vista investigativo
Eliovaine

e probatório, justamente pelo fato de apresentar uma estrutura bem definida e organizada.
Sobre o tema, destacamos: “Em se tratando de criminalidade organizada, importante ressaltar a
classificação que existe entre dois grupos distintos, a depender da forma como praticam as suas condutas
delituosas e da sua interação social”.24

6.1. Criminalidade organizada do tipo mafiosa

São grupos organizados estruturalmente ordenados, com divisão de tarefas entre seus membros que
agem com vistas à obtenção de lucro, empregando processos de intimidação, uso de violência e impondo a
lei do silêncio para alcançar os objetivos traçados.
No Brasil, podemos trazer como exemplos as facções criminosas Comando Vermelho (CV), Primeiro
Comando Capital (PCC), Terceiro Comando Puro (TCP), dentre outros. Ademais, podemos citar as milícias,
grupos paramilitares formados em sua maioria por ex-militares e militares da ativa, muitas vezes contando
com autoridades do alto escalão. Esses grupos exercem o domínio sobre determinada região, ao argumento
da prestação de serviços de ordenamento local e segurança, contudo, impondo à população local o

24 GONZAGA, Christiano. Manual de Criminologia. 1ª edição. Editora Saraiva, p. 47.

85
GABRIELA ANDRADE TEMAS ESPECIAIS • 6

pagamento de determinadas taxas, o monopólio na prestação de serviços de internet, TV a cabo,


fornecimento de gás de cozinha, dentre outros. Mais recentemente, temos exemplos de grupos paramilitares
promovendo a invasão de terrenos não edificados, dividindo-os em lotes para venda e construção de
condomínios.

6.2. Criminalidade organizada do tipo empresarial

Trata-se de grupo criminoso existente dentro de uma empresa, que atua com vistas à obtenção de
lucros ilícitos aos seus sócios. Para tanto, são cometidos uma variedade de crimes econômicos, tributários,
dentre outros. Uma de suas características é a manutenção do anonimato e não uso de violência.

Na realidade brasileira, podemos exemplificar este tipo de organização criminosa com as grandes
empresas de construção civil que, por meio de seus sócios, praticaram uma série de crimes em detrimentos
dos cofres públicos.

7. CRIMINOLOGIA CULTURAL
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Na década de 90 surge a Criminologia Cultural, inicialmente nos Estados Unidos.


Seus principais expoentes foram Jeff Ferrel, Keith Hayward e Jock Young:

A ela, interessa um estado emocional que é denominado de "carregado", onde a real


experiência no cometimento de um crime tem pouca relação com as teorias da escolha
racional, mas adota a adrenalina, o prazer e o pânico envolvidos em verdadeiras
CPF: 030.720.271-29

equações para a conduta delitiva. Raramente o crime é desinteressante, e sempre


possui um grande significado. 25

Perceba, portanto, que a Criminologia Cultural desenvolve-se no sentido de queo crime está ligado
às experiências culturais de uma sociedade.
Silva -- CPF:

Nesse contexto, deixa de analisar os tradicionais objetos de estudo da criminologia, para alcançar as
da Silva

concepções culturais que orbitam o delito.


Gouvea da

A criminologia cultural se atém à análise das qualidades emocionais e subjetividades que outrora
Eliovaine Gouvea

eram deixadas de lado, até mesmo por conta da cientificidade que permeia os estudos criminológicos, com
Eliovaine

o escopo de entender a convergência entre crime e cultura na vida contemporânea, enfatizando qualidades
emocionais e interpretativas da criminalidade e do desvio.

A compreensão de comportamento humano para a criminologia cultural é, portanto, reflexo das


dinâmicas individuais do grupo, das tramas e dos traumas sociais e suas representações culturais.

A Criminologia Cultural, conforme ensinamentos de Eduardo Fontes e Henrique Hoffman: “Parte da


premissa que a noção de cultura é fluida, e que a todo momento passa por transformações. Propõe que o
crime e sua repressão são processos culturais, com significados e consequências inevitavelmente construídos
a partir de uma interpretação coletiva.” 26

Nessa linha, a mídia pode desempenhar um papel decisivo no desenvolvimento de comportamentos


criminosos, estimulando a ideia da sociedade de consumo, mediante a apresentação de determinados
padrões de sucesso que não podem ser alcançados por todos, o que pode instigar indivíduos a delinquir de
forma a alcançar esse padrão social elevado.

25 FERRELL, Jeff. HAYWARD, Keith. YOUNG, Jock. Cultural Criminology: an invitation. 2008.
26 FONTES, Eduardo. HOFFMAN, Henrique. Criminologia. 1ª edição. Editora JusPodivm, p. 272.

86
GABRIELA ANDRADE TEMAS ESPECIAIS • 6

Ademais, os meios de comunicação veiculam sistematicamente notícias de fatos criminosos,


explorando seus personagens e transformando a matéria em produtos baratos, vendidos como forma de
entretenimento e definindo estereótipos.

A projeção cultural reflete no que se chama de cultura do punitivismo, sendo certo que a mídia exerce
um papel central para fortalecer esta cultura, noticiando a violência de forma exaustiva.

“Atualmente, a violência é vendida, assistida, reproduzida e gravada, sendo consumida como


entretenimento”27.

8. TEORIA BEHAVIORISTA

O termo “behaviorista” deriva da palavra inglesa behavior, que significa comportamento. Desta
forma, centra seus estudos no comportamento dos seres vivos, contudo, valorizando os aspectos
observáveis, rejeitando as questões introspectivas, transcendentais e de aspecto subjetivo.
Ademais, trata-se de uma teoria psicológica que estuda o comportamento humano ou animal de
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forma direta e com base na observação, tomando como base o ambiente onde vivem e sua forma de
030.720.271-29 -- eliovaine@hotmail·com

condicionamento.
“O behaviorismo se preocupa com o estudo das interações entre o sujeito, o ambiente e suas ações,
isto é, o seu comportamento corresponde a uma resposta às causas que o levaram à prática do crime”.28
A doutrina apresenta a seguinte classificação:

8.1. Behaviorismo clássico


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Sustenta que o comportamento constitui-se como uma resposta a algum estímulo.

8.2. Behaviorismo metodológico


Silva -- CPF:
da Silva

John Watson é considerado o principal expoente, desconsiderando os processos internos do


indivíduo e valorizando o processo de observação do comportamento, como forma de preveni-los e
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

controlá-los.
Eliovaine

8.3. Behaviorismo radical

Burrhus Frederic Skinner foi o principal expoente e trabalhava com a perspectiva de estímulos
ambientais, ou seja, sustentava que o meio ambiente no qual o homem está inserido é fator determinante
de seu comportamento. Ainda, considerava os aspectos observáveis do comportamento humano.

9. TEORIA DO MIMETISMO

O vocábulo “mimetismo” apresenta os seguintes significados, segundo o Dicionário Priberam29:


semelhança que certos seres vivos tomam, ora com o meio em que habitam, ora com as espécies mais
protegidas, ora com as espécies à custa das quais vivem; adaptação a uma realidade ou ambiente social;
processo de imitação.

27 (Strehlau, 2012)
28 SUMARIVA, Paulo. Criminologia, Teoria e Prática. 5ª edição, p. 212.
29 https://dicionario.priberam.org/mimetismo

87
GABRIELA ANDRADE TEMAS ESPECIAIS • 6

A teoria propugna a ideia de que o ser humano tende a reproduzir comportamentos criminosos por
meio de um processo de imitação.

Nessa linha, aponta que os indivíduos tendem a observar o comportamento de seus semelhantes,
agindo como eles e, muitas vezes, desejando o mesmo padrão de vida e status social dos indivíduos que o
cercam, cobiçando as conquistas alheias, fatores estes que podem gerar rivalidades, dando azo à violência.

Um de seus estudiosos, René Girard, afirma que “o desejo é imitativo ou mimético, e não inato: os
seres humanos copiam os desejos uns dos outros.”

10. MOVIMENTO DE LEI E ORDEM

Trata-se de um movimento de política criminal e, assim sendo, trabalha com as estratégias de


combate à criminalidade. Como o próprio nome demonstra, um movimento voltado a elaboração e adoção
de medidas de enfrentamento ao crime em nome da lei e da ordem social.

Um dos estudiosos representantes do movimento foi Ralf Dahrendorf que considera o crime uma
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espécie de doença contagiosa, devendo ser combatido de forma a não contaminar aqueles indivíduos que
não revelam propensão a práticas delitivas.

Em apertada síntese, os defensores do movimento reforçam a necessidade de repressão máxima,


recrudescimento do tratamento penal, expansão das leis penais incriminadoras e maior atuação dos órgãos
de segurança pública e persecução penal, com vistas a restaurar a ordem e reduzir os índices de
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criminalidade.

Ainda, sustentam que, havendo tolerância à pequena criminalidade é que se chega às infrações
penais mais graves.
Silva -- CPF:

O movimento de Lei e Ordem – assim como o de Tolerância Zero – ficou conhecido


sobretudo por sua implementação nos Estados Unidos da América com o propósito de
da Silva

combater a crescente criminalidade, especialmente em grandes cidades. Trata - se de


movimento segundo o qual novos tipos penais devem ser criados e os tipos penais já
Gouvea da

existentes devem ser aplicados com rigor para o efetivo restabelecimento da ordem.
Eliovaine Gouvea

Basicamente, parte-se do pressuposto de que a pena é sobretudo uma retribuição, que


crimes graves devem ser punidos com penas altas, privativas de liberdade, e que a
Eliovaine

prisão provisória deve ser considerada como uma resposta imediata a práticas delitivas
de maior gravidade e que causam inquietude na população de bem.30

O movimento de lei e ordem deu azo à criação da nominada política de Tolerância Zero em Nova
York, pelo então prefeito Rudolph Giuliani, que consistiu numa política de enfrentamento inflexível à
pequena criminalidade, com objetivo de promover o respeito às leis e reduzir os índices de criminalidade.

11. BULLYING

A terminologia, de origem inglesa, é empregada para determinar comportamentos agressivos,


vexatórios e humilhantes praticados por meninos e meninas no ambiente escolar. Uma das características
deste tipo de agressão é seu caráter gratuito. Na maioria das vezes, as investidas ocorrem sem qualquer
motivação evidente, apenas com a intenção deliberada de inferiorizar a vítima, maltratando-a e colocando-
a numa situação de extremo desconforto.

30 https://meusitejuridico.editorajuspodivm.com.br/2017/10/21/o-que-se-entende-em-criminologia- por-movimento-de-lei-e-
ordem/

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GABRIELA ANDRADE TEMAS ESPECIAIS • 6

Na língua portuguesa não existe definição ao termo bullying. Segundo a Associação Brasileira
Multiprofissional de Proteção à Infância e a Adolescência (ABRAPIA) a definição de bullying estaria atrelada
ao seguinte conceito:

Todas as formas de atitudes agressivas, intencionais e repetidas, que ocorrem sem


motivação evidente, adotadas por um ou mais estudantes contra outro(s), causando dor
e angústia, e executadas dentro de uma relação desigual de poder. Portanto, os atos
repetidos entre iguais (estudantes) e o desequilíbrio de poder são as características
essenciais, que tornam possível a intimidação da vítima. (ABRAPIA apud NUNES,
HERMANN e AMORIM, 2009, p. 11932)

Nesta linha de intelecção, as vítimas, por sua vez, geralmente são pessoas mais passivas, que não
conseguem se impor perante os fatos.

O bullying escolar existe há muito tempo. Na década de 70, por conta de um significativo aumento
dos índices de violência nas escolas, profissionais da educação passaram a dispensar maior atenção ao
fenômeno.
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O professor e pesquisador norueguês Dan Olweus foi o primeiro a relacionar a palavra bullying ao
030.720.271-29 -- eliovaine@hotmail·com

fenômeno.

Em 1982, três crianças cometeram suicídio na Noruega. Tinham idade entre 10 e 14 anos e a
motivação para a tragédia foi justamente o fato de terem sido vítimas de constantes agressões no ambiente
escolar.
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No Brasil, apenas em 2004 o tema se tornou mais evidente, devido ao grande número de casos que
vinham ocorrendo nas escolas.

Importante ressaltar que o bullying gera ou pode gerar consequências catastróficas na vida das
vítimas, chegando ao ápice do atentado contra a própria vida. Comumente associado às agressões físicas e
Silva -- CPF:

verbais praticadas no ambiente escolar, insta salientar que o fenômeno não se limita aos estabelecimentos
da Silva

de ensino voltados a crianças e adolescentes. A verdade é que o bullying se encontra por toda parte,
Gouvea da

podendo ocorrer em empresas, faculdades e outros locais onde haja relacionamento interpessoal.
Eliovaine Gouvea

Outrossim, não podemos confundir a prática do bullying com as brincadeiras corriqueiras entre
crianças e adolescentes, como a atribuição de apelidos. O bullying se reveste de caráter mais agressivo,
Eliovaine

muitas vezes persistente, impiedoso e revela certo desequilíbrio de poder entre as partes envolvidas.

Do ponto de vista dos estudos criminológicos, é importante perceber que a prática de bullying pode
estimular a delinquência e adoção de comportamentos desviantes por parte daqueles que sofreram os
ataques. Estas pessoas podem apresentar-se introspectivas, deprimidas, inseguras, revoltadas, com
sentimento de vingança, com déficit de autoestima e pouca capacidade de resistir às frustrações. Podem
apresentar também quadro de doenças psicossomáticas e transtornos psiquiátricos.

Relembre o caso abaixo:

O MASSACRE DE REALENGO
Refere-se à chacina ocorrida em 7 de abril de 2011, por volta das 8h30min da manhã, na
Escola Municipal Tasso da Silveira, localizada no bairro de Realengo, no município do Rio de
Janeiro. Wellington Menezes de Oliveira, de 23 anos, invadiu a escola armado com dois
revólveres e começou a disparar contra os alunos presentes, sendo que matou doze deles,
com idade entre 13 e 15 anos, e deixou mais de 22 feridos. O assassino foi interceptado por
policiais, mas cometeu suicídio antes de ser detido.
A motivação do crime figura incerta, porém a nota de suicídio de Wellington e o testemunho
público de sua irmã adotiva e o de um colega próximo apontam que o atirador era

89
GABRIELA ANDRADE TEMAS ESPECIAIS • 6

reservado, sofria bullying e pesquisava muito sobre assuntos ligados a atentados terroristas
e a grupos religiosos fundamentalistas.
[...]
Wellington Menezes de Oliveira, de 23 anos, foi aluno da Escola Municipal Tasso da Silveira
até a 8ª série (9.º ano atualmente) do ensino fundamental.
Wellington era filho adotivo de Dicéa Menezes de Oliveira, o caçula de cinco irmãos e foi
adotado ainda bebê. Sua mãe biológica sofria de problemas mentais e chegou a tentar se
matar. É descrito por familiares e conhecidos como um rapaz calado, tímido, introspectivo,
que não se metia em problemas nem desrespeitava regras. Sua mãe adotiva, que morreu
em 2010, era testemunha de Jeová; Wellington também chegou a frequentar a religião, mas
nunca havia se tornado adepto. Era uma pessoa calada, tímida e passava boa parte de seu
tempo navegando na internet.
Em entrevista concedida no dia 13 de abril, os familiares confirmaram que Wellington era
muito fechado e introspectivo, que só se relacionava com as pessoas pela internet, tinha
poucos amigos e não participava da vida familiar, passando quase todo o tempo diante do
computador.
[...]
Wellington se refere desta forma, em uma carta, ao bullying sofrido na escola: "Muitas
vezes aconteceu comigo de ser agredido por um grupo, e todos os que estavam por perto
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debochavam, se divertiam com as humilhações que eu sofria, sem se importar com meus
sentimentos". E, conforme o depoimento de um ex-colega: "Certa vez no colégio pegaram
Wellington de cabeça para baixo, botaram dentro da privada e deram descarga. Algumas
pessoas instigavam as meninas: 'Vai lá, mexe com ele'. Ou até o incentivo delas mesmo:
'Vamos brincar com ele, vamos sacanear'. As meninas passavam a mão nele [...]. Esses
maus-tratos aconteceram em 2001. Naquele ano, em 11 de setembro, o maior ataque
terrorista de todos os tempos virou obsessão para Wellington".31
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11.1. Marco legislativo no Brasil:

Em 2015 foi editada a Lei n.º 13.185/2015, que instituiu o programa de combate à intimidação
sistemática – bullying:
Silva -- CPF:

A lei atribuiu à palavra bullying o conceito de intimidação sistemática, além de elencar


da Silva

comportamentos que a caracterizam (art. 2º). Ademais, traçou diretrizes de enfrentamento ao fenômeno
Gouvea da

bullying e classificou os tipos de intimidação sistemáticaa depender da forma de cometimento (art. 3º).
Eliovaine Gouvea

11.1.1. Lei nº 13.185, de 6 de novembro de 2015


Eliovaine

Institui o Programa de Combate à Intimidação Sistemática (Bullying)


A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu
sanciono a seguinte Lei:
Art. 1º Fica instituído o Programa de Combate à Intimidação Sistemática (Bullying) em
todo o território nacional.
§ 1º No contexto e para os fins desta Lei, considera-se intimidação sistemática (bullying)
todo ato de violência física ou psicológica, intencional e repetitivo que ocorre sem
motivação evidente, praticado por indivíduo ou grupo, contra uma ou mais pessoas, com
o objetivo de intimidá-la ou agredi-la, causando dor e angústia à vítima, em uma relação
de desequilíbrio de poder entre as partes envolvidas.
§ 2º O Programa instituído no caput poderá fundamentar as ações do Ministério da
Educação e das Secretarias Estaduais e Municipais de Educação, bem como de outros
órgãos, aos quais a matéria diz respeito.
Art. 2º Caracteriza-se a intimidação sistemática (bullying) quando há violência física ou
psicológica em atos de intimidação, humilhação ou discriminação e, ainda:

31Massacre de Realengo. Wikipedia, 2021. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Massacre_de_Realengo. Acesso 24


de novembro de 2021.

90
GABRIELA ANDRADE TEMAS ESPECIAIS • 6

I- ataques físicos;
II- insultos pessoais;
III- comentários sistemáticos e apelidos pejorativos; IV - ameaças por quaisquer meios;
IV- grafites depreciativos;
V- expressões preconceituosas;
VI- isolamento social consciente e premeditado;VIII - pilhérias.
Parágrafo único. Há intimidação sistemática na rede mundial de computadores
( cyberbullying ), quando se usarem os instrumentos que lhe são próprios para
depreciar, incitar a violência, adulterar fotos e dados pessoais com o intuito de criar
meios de constrangimento psicossocial.
Art. 3º A intimidação sistemática ( bullying ) pode ser classificada, conforme as ações
praticadas, como:
I - verbal: insultar, xingar e apelidar pejorativamente;
II - moral: difamar, caluniar, disseminar rumores;
III - sexual: assediar, induzir e/ou abusar;IV - social: ignorar, isolar e excluir;
IV- psicológica: perseguir, amedrontar, aterrorizar, intimidar, dominar, manipular,
chantagear e infernizar;
V- físico: socar, chutar, bater;
VI- material: furtar, roubar, destruir pertences de outrem;
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VII- virtual: depreciar, enviar mensagens intrusivas da intimidade, enviar ou adulterar


fotos e dados pessoais que resultem em sofrimento ou com o intuito de criar mei os de
constrangimento psicológico e social.
Art. 4º Constituem objetivos do Programa referido no caput do art. 1º :
I- prevenir e combater a prática da intimidação sistemática ( bullying ) em toda a
sociedade;
II- capacitar docentes e equipes pedagógicas para a implementação das ações dediscussão,
prevenção, orientação e solução do problema;
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III- implementar e disseminar campanhas de educação, conscientização einformação;


IV- instituir práticas de conduta e orientação de pais, familiares e responsáveis diante
da identificação de vítimas e agressores;
V- dar assistência psicológica, social e jurídica às vítima s e aos agressores;
Silva -- CPF:

VI- integrar os meios de comunicação de massa com as escolas e a sociedade, como


forma de identificação e conscientização do problema e forma de preveni -lo e combatê-
da Silva

lo;
VII- promover a cidadania, a capacidade empática e o respeito a terceiros, nos marcos
Gouvea da

de uma cultura de paz e tolerância mútua;


Eliovaine Gouvea

VIII- evitar, tanto quanto possível, a punição dos agressores, privilegiando mecanismos
e instrumentos alternativos que promovam a efetiva responsabilização e a mudança de
Eliovaine

comportamento hosti l;
IX- promover medidas de conscientização, prevenção e combate a todos os tipos de
violência, com ênfase nas práticas recorrentes de intimidação sistemática( bullying ),
ou constrangimento físico e psicológico, cometidas por alunos, professores e outros
profissionais integrantes de escola e de comunidade escolar.
Art. 5º É dever do estabelecimento de ensino, dos clubes e das agremiações recreativas
assegurar medidas de conscientização, prevenção, diagnose e combate à violência e à
intimidação sistemática (bullying).
Art. 6º Serão produzidos e publicados relatórios bimestrais das ocorrências de
intimidação sistemática ( ullying) nos Estados e Municípios para planejamento das
ações.
Art. 7º Os entes federados poderão firmar convênios e estabelecer parcerias para a
implementação e a correta execução dos objetivos e diretrizes do Programa instituído
por esta Lei.
Art. 8º Esta Lei entra em vigor após decorridos 90 (noventa) dias da data de sua
publicação oficial.

91
GABRIELA ANDRADE TEMAS ESPECIAIS • 6

11.2. Cyberbullyng

Destacamos alguns apontamentos sobre o tema, tendo em vista que vivemos numa sociedade
globalizada. Nesse viés, o surgimento de novas tecnologias traz, a reboque, novas formas de cometimento
de condutas ilícitas.

Assim, a prática de bullying passou a ocorrer de maneira muito frequente em ambientes virtuais,
por meio de sites, redes sociais, blogs, aplicativos, e-mails e etc. Isso se mostra como um grande desafio do
ponto de vista investigativo, considerando o dinamismo das operações virtuais.

12. ASSÉDIO MORAL

Consoante Dicionário online de Português:

“Assédio: insistência inconveniente, persistente e duradoura em relação a alguém, perseguindo,


abordando ou cercando essa pessoa.”
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A seu turno, o assédio moral também conhecido por manipulação perversa ou


terrorismo psicológico, tema presente na criminologia e debatido por vários ramos do
direito, consiste no comportamento abusivo, reiterado e sistematizado, exteriorizado
por palavras, gestos, ações comissivas ou omissivas, que pode acarretar debilidade
física ou psíquica da vítima.32

Frise-se que essa prática abusiva pode ocorrer em vários tipos de ambiente, com destaque aos locais
de trabalho, nos quais há existência de relações baseadas na hierarquia, sem olvidar que a prática também
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pode ocorrer entre os companheiros de labor.

No âmbito das relações trabalhistas, trata-se de um comportamento muitas vezes baseado em


intimidações implícitas, perseguições veladas, tratamento diferenciado conferido ao trabalhador sem que
Silva -- CPF:

haja justificativa plausível para tanto, reduções salariais imotivadas, transferência de setor com o intuito de
da Silva

prejudicar o empregado, perseguições por colegas de trabalho, dentre outros. A coleta de elementos
probatórios é uma tarefa complexa, já que muitas destas ações são praticadas de forma dissimulada.
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

Tais conflitos podem levar o importunado a uma condição de impotência e incapacidade, podendo
gerar danos de ordem física e psicológica.
Eliovaine

No âmbito das relações trabalhistas, tem-se o termo denominado mobbing, de origem


alemã, que designa o comportamento de contínua e ostensiva perseguição perpetrada por
empregadores, gerentes, administradores, superiores hierárquicos ou companheiros de
trabalho, que possa lesionar a integridade física, psíquica e moral da vítima.33

13. STALKING

Apresenta-se como uma das modalidades de assédio moral, porém com contornos mais graves, visto
que pode se caracterizar como ilícito penal.
A terminologia stalking possui origem norte-americana e pode ser definida comouma espécie de
perseguição em caráter persistente a uma pessoa, quase uma obsessão. Esta espécie de perseguição pode
apresentar motivações das mais diversas. Trata-se de uma forma de importunação na qual o stalker
(perseguidor ou perseguidora) adentra na privacidade da vítima, efetivamente perseguindo-a das mais
variadas formas - ligações telefônicas, envio de mensagens de texto ou por aplicativos, publicações na

32 SUMARIVA, Paulo. Criminologia, teoria e prática. 4ª edição, p. 195.


33 OLIVEIRA, Natacha Alves. Manual de Criminologia. Editora JusPodivm, 2018. Pg. 312.

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GABRIELA ANDRADE TEMAS ESPECIAIS • 6

internet (cyberstalking), monitoramento das redes sociais da vítima, acompanhamento e perseguição da


vítima nos locais que costuma frequentar e passar. Ou seja, o agressor está sempre, de alguma forma, se
fazendo “presente” na rotina da vítima, importunando-a como se estivesse a exercer controle sobre a sua
vida.

Por óbvio, isso pode gerar uma série de danos emocionais e psicológicos ao sujeito passivo de
tais ações, importando, muitas vezes, na necessidade de mudança de seu estilo de vida.

A Lei n.º 11.340/2006, que cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a
mulher, trouxe a previsão, em seu art. 7º, das modalidades de violência que podem ser empregadas em
detrimento da mulher em situação de violência doméstica e familiar, quais sejam: violência física, psicológica,
sexual, patrimonial e moral.

Destacamos a violência psicológica trabalhada no referido diploma normativo, com a previsão de


determinadas ações que podem se configurar em stalking, senão vejamos:

Art. 7º São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras:
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[...]
II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional
e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou
que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante
ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante,
perseguição contumaz, insulto, chantagem, violação de sua intimidade, ridicularização,
exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo
à saúde psicológica e à autodeterminação. (grifo nosso)
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14. A FIGURA DOS ASSASSINOS EM SÉRIE

Recebe essa denominação nos estudos criminológicos, aquela pessoa que pratica homicídios de
Silva -- CPF:

forma reiterada, dentro de um certo período de tempo entre um crime e outro, geralmente com coincidência
de modus operandi. Revela um perfil contumaz na prática de atentados contra a vida de vítimas, na maior
da Silva

parte dos casos, “selecionadas” de acordo com um perfil de interesse.


Gouvea da
Eliovaine Gouvea

Por vezes, o assassino também deixa sua “marca” no local do crime, ou seja, algo que faça presumir
que aqueles crimes foram cometidos pela mesma pessoa.
Eliovaine

Como dito acima, este tipo de assassino seleciona suas vítimas de forma criteriosa, de acordo com
determinadas características físicas, comportamentais e sociais e, além disso, costuma infligir sofrimento às
vítimas, por vezes empregando meios cruéis para atingir o seu intento.

Geralmente, esses indivíduos podem apresentar predisposição a esse tipo de comportamento, em


função de experiências traumáticas vivenciadas no período da infância ou adolescência.

No Brasil, podemos citar o caso do “maníaco do parque”, ocorrido em 1998, em São Paulo. Francisco
de Assis Pereira, também conhecido como “maníaco do parque”, é um assassino em série brasileiro.
Francisco estuprou e matou, pelo menos, seis mulheres e tentou assassinar outras nove em 1998. Seus crimes
ocorreram no Parque do Estado, situado na região sul da capital do estado de São Paulo. Nesse local, foram
encontrados os corpos de suas vítimas.

93
GABRIELA ANDRADE TEMAS ESPECIAIS • 6

15. PARAFILIAS

Parafilias são transtornos da sexualidade que se caracterizam pela busca contínua de formas de
prazer não habituais ou anormais, considerando os padrões de normalidade estabelecidos em uma
sociedade.
Etimologicamente, o vocábulo apresenta o seguinte significado: “para” – paralelo; “filia” – de amor
a; apego a.
As parafilias podem se tornar uma compulsão, fazendo, inclusive, com que o indivíduo passe a
cometer atos criminosos em busca da satisfação de seus instintos.
A título de exemplificação, um indivíduo que sinta satisfação do seu apetite sexual com
cadáveres, com eles praticando atos libidinosos dos mais variados. Neste caso estamos diante de uma
parafilia denominada necrofilia.
Nossa legislação penal traz a previsão deste tipo de comportamento como crime de vilipêndio a
cadáver:

Vilipêndio a cadáver
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Art. 212 Vilipendiar cadáver ou suas cinzas:Pena - detenção, de um a três anos, e


multa.
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GABRIELA ANDRADE

FATORES SOCIAL E SUA INFLUÊNCIA NA CRIMINALIDADE


FATORES SOCIAIS E SUA INFLUÊNCIA NA CRIMINALIDADE • 7

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GABRIELA ANDRADE FATORES SOCIAIS E SUA INFLUÊNCIA NA CRIMINALIDADE • 7

1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

Tema de especial relevo e que não pode deixar de ser examinado nos estudos e abordagens
criminológicas são os fatores sociais da criminalidade. Isto é, quais são os elementos existentes na realidade
social que podem influenciar diretamente na criminalidade.

Insta salientar que esta abordagem sociológica contribui para a análise da criminalidade em sua
origem, na gênese delitiva, razão pela qual é mister entendermos que fatores são esses e identificá-los em
nossa sociedade.

Em caráter meramente exemplificativo, listamos abaixo alguns desses fatores.

• Sistema econômico

A ordem econômica nacional assenta-se no modelo de produção capitalista, adotando como


paradigmas a livre iniciativa e reforçando a propriedade privada. Nesse contexto, as condições econômicas
díspares das classes sociais, bem como a desigualdade na distribuição de renda em nosso país, podem
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impactar no aumento das taxas de criminalidade. Além disso, citamos a questão da política salarial brasileira
e o baixo poder aquisitivo da maioria da população. O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
(Pnud), considera uma série de índices, e não apenas a distribuição de renda, para chegar ao conceito de
desigualdade social.

Brasil tem 2ª maior concentração de renda do mundo, diz relatório da ONU


O 1% mais rico concentra 28,3% da renda total do país, conforme ranking sobre o
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desenvolvimento humano. Brasil perde apenas para o Catar em desigualdade de renda,


onde 1% mais rico concentra 29% da renda.
A concentração da renda no Brasil continua sendo uma das mais altas do mundo, conforme
o Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH) da Organização das Nações Unidas (ONU),
divulgado nesta segunda-feira (9). O Brasil está em segundo lugar em má distribuição de
Silva -- CPF:

renda entre sua população, atrás apenas do Catar, quando analisado o 1% mais rico.
No Brasil, o 1% mais rico concentra 28,3% da renda total do país (no Catar essa proporção
da Silva

é de 29%). Ou seja, quase um terço da renda está nas mãos dos mais ricos. Já os 10% mais
Gouvea da

ricos no Brasil concentram 41,9% da renda total.


Eliovaine Gouvea

Em terceiro lugar está o Chile, com 23,7% de concentração da renda total nas mãos da
parcela 1% mais rica da população (veja a tabela abaixo com os 20 primeiros colocados
nesse quesito). Entre outros vizinhos do Brasil, no “top 20” está também a Colômbia, com
Eliovaine

20,5%. Os Estados Unidos e a Rússia concentram 20,2% da renda total nas mãos do 1% mais
rico
O relatório considera todos os países para os quais a ONU tem dados disponíveis no período
de 2010 a 2017 e adota a informação mais recente para cada país. Organizado pelo
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), o documento considera uma
série de índices, e não apenas a distribuição de renda, para chegar ao conceito de
desigualdade social.

Comparação com os BRICS


O Brasil é o país com maior concentração de renda quando comparado com os países do
grupo de países em desenvolvimento dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).
A Índia aparece no ranking com 21,3% da renda total nas mãos do 1% mais rico. A Rússia
está com 20,2% e a África do Sul deixa 19,2% da sua renda total com o 1% mais rico.
Enquanto isso, a China é o país dos Brics com menor concentração, nesse sentido, com
13,9%

Brasil perde posição em ranking do IDH


O Brasil ficou na 79ª posição no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).
Medido anualmente, o IDH vai de 0 a 1 – quanto maior, mais desenvolvido o país – e tem
como base indicadores de saúde, educação e renda. Neste ano, o Brasil alcançou o IDH de
0,761, com uma pequena melhora de 0,001 em relação ao ano passado.

96
GABRIELA ANDRADE FATORES SOCIAIS E SUA INFLUÊNCIA NA CRIMINALIDADE • 7

Na classificação da ONU, o Brasil segue no grupo dos que têm alto desenvolvimento
humano. A escala classifica os países analisados com IDH muito alto, alto, médio e baixo.
Apesar do leve aumento, o Brasil caiu uma posição no ranking mundial em relação à
publicação anterior, passando da 78ª para 79ª.34

3. DESEMPREGO

Por sua vez, o desemprego também pode se constituir numa forma de interferência, impactando no
aumento dos índices de criminalidade. Isso não significa dizer que estamos buscando justificar as condutas
criminosas que tenham como pano de fundo o desemprego de seus autores. Contudo, não há como fechar
os olhos a esse indicador, considerando que a escassez de oportunidades a determinadas classes sociais pode
levar os indivíduos ao caminho do crime, mormente diante de dificuldades e privações básicas que
porventura estejam enfrentando.

4. POBREZA

Este fator apresenta estreita relação com o desemprego, o crescimento populacional desenfreado
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e a má distribuição de renda no país.


Estudos de Adolphe Quetelet demonstraram haver proximidade entre a pobreza e o avanço da
criminalidade.
Consoante lições de Nestor Sampaio Santiago Filho 35: “As causas da pobreza notadamente
conhecidas, tais como: má distribuição de renda, desordem social, grandes latifundiários improdutivos etc.,
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funcionam como fermento dos sentimentos de exclusão, revolta social e consequente criminalidade.”

Evidentemente, não se trata de fator determinista ou condicionante extremo, caso


contrário não existiriam os crimes do colarinho branco. Mas não se pode negar que em
certas categorias delitivas, a exemplo dos crimes contra o patrimônio, a imensa maioria dos
Silva -- CPF:

delinquentes é pobre e com formação deficiente. Nesse sentido, a má distribuição de


renda atua como fator potencializador da delinquência.36
da Silva

5. ESTADO DE MISERABILIDADE
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

Falar em miséria nada mais é do que elevar a pobreza ao seu estado extremo. O estado de miséria
impinge ao ser humano uma condição daquele que não possui condições básicas de dignidade, naquilo que
Eliovaine

se refere ao mínimo existencial – conjunto básico de direitos fundamentais que assegura a cada pessoa uma
vida digna, com alimentação, saúde e educação.
Por esta razão, estas pessoas que vivem em estado de miséria podem se tornar propensos a práticas
delitivas, tendo em vista o cenário caótico em que vivem, com carências de todas as ordens.

6. FOME

A fome pode ser a causa determinante de muitos delitos e pode impulsionar os indivíduos a delinquir
em busca de sua sobrevivência.

34 G1. Brasil tem a 2ª maior concentração de renda do mundo, diz relatório da ONU, 2019. Disponível em:
https://g1.globo.com/mundo/noticia/2019/12/09/brasil-tem-segunda-maior-concentracao-de-renda-do-mundo-diz-relatorio-da-
onu.ghtml. Acesso em 24 de novembro de 2021.
35 PENTEADO FILHO, Nestor Sampaio. Manual Esquemático de Criminologia, p. 102.
36 FONTES, Eduardo & HOFFMANN Henrique. Criminologia. 1ª. Edição. Editora JusPodivm, 2018, p. 259.

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GABRIELA ANDRADE FATORES SOCIAIS E SUA INFLUÊNCIA NA CRIMINALIDADE • 7

7. MAL-VIVÊNCIA

A mal-vivência está relacionada a um modo de vida e, como o próprio nome sugere, um modo “ruim”
de levar a vida. Nesse contexto, enquadram-se os indivíduos que vivem à margem da sociedade, como por
exemplo mendigos, andarilhos etc.

Tais indivíduos vivem em ambientes hostis e, na maioria dos casos, alheios a quaisquer
referências sociais positivas e construtivas, distantes de suas famílias, sem uma ocupação que lhes dê o
sustento e submetidos a condições subumanas.

Em função disso, podem se direcionar ao mundo do crime, representando um perigo social. Portanto,
o modo de vida desses indivíduos pode conduzi-los à delinquência.

8. DÉFICIT DE EDUCAÇÃO

A educação constitui-se em importante ferramenta na construção da personalidade humana,


contribuindo positivamente na formação de juízo crítico, exercício da cidadania e observâncias às regras de
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convívio social.
Em contrapartida, sua ausência ou deficiência podem conduzir o indivíduo a um estado de ignorância
e redução das oportunidades de se estabelecer de forma digna na sociedade, o que pode torná-lo suscetível
à prática de condutas desviantes, quiçá, criminosas.

9. MEIOS DE COMUNICAÇÃO
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Os meios de comunicação em massa ganham destaque naquilo que concerne à banalização de


práticas imorais e, até mesmo, delitivas. Nesse sentido, ganha destaque a televisão, com exibição de cenas
violentas, cenas de sexo explícito, dentre outras .
Silva -- CPF:
da Silva

10. POLÍTICA
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

O cenário político estabelecido em uma sociedade pode refletir diretamente no comportamento dos
indivíduos que a integram. Assim, os impactos na criminalidade podem ser percebidos na medida em que os
Eliovaine

cidadãos adotem esse ou aquele comportamento, de acordo com a influência exercida pelos agentes
políticos, numa espécie de imitação pelo povo do comportamento de seus governantes.

11. CRESCIMENTO POPULACIONAL

O crescimento populacional desenfreado e divorciado de políticas públicas de segurança, saúde e


assistência social, também se apresenta como um dos fatores sociais da criminalidade haja vista que não se
pode ignorar que a elevação das taxas da criminalidade em determinadas regiões é proporcional ao aumento
de sua população.

12. PRECONCEITO

A estigmatização e criação de estereótipos acerca dos indivíduos em função de sua cor, raça, religião
ou outras características geram um sentimento de revolta e desarmonia do conjunto social, podendo levar
a práticas delitivas.

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GABRIELA ANDRADE FATORES SOCIAIS E SUA INFLUÊNCIA NA CRIMINALIDADE • 7

13. CORRUPÇÃO

Corrupção corresponde à ideia de decomposição de valores éticos e morais em nome de algum


benefício indevido. Trata-se de um comportamento desonesto ou ilegal relacionado à obtenção de
vantagens indevidas em proveito próprio.
Decerto que a corrupção existe há muitos anos, encontrando-se presente em nossa sociedade desde
as pequenas práticas cotidianas até os grandes esquemas perpetrados por agentes públicos, autoridades
públicas e particulares.
Atualmente, temos presenciado diversos escândalos envolvendo corrupção em nosso cenário
político, realidade que aflorou e cresceu em nosso país por conta dos privilégios conferidos à classe e uma
certeza quase que absoluta da impunidade.
Dentro desta temática, duas teorias foram delineadas:

13.1. Teoria da graxa

A citada teoria defende a ideia de que podem existir práticas de corrupção positivas, ou seja, a
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“corrupção boa”. Nesse sentido, seria aquela corrupção que, de alguma maneira, traz benefícios à
sociedade, seja promovendo o crescimento econômico, aumentando a oferta de empregos, oferecendo
programas de cunho assistencialista e etc.
Ilustrando, temos o caso do político que justifica suas condutas ilícitas com os resultados positivos
em prol da população.
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13.2. Teoria da bola de neve

Na vigência de um Estado Democrático de Direito é certo que as condutas devem estar pautadas na
ideia legalidade, moralidade e probidade, não havendo que se falar em quaisquer justificativas a práticas de
Silva -- CPF:

atos de corrupção.
da Silva

Nessa linha de raciocínio temos a teoria da bola de neve, no sentido de que corrupção será sempre
Gouvea da

corrupção, não havendo justificativa plausível para o ato. Ademais, a nomenclatura “bola de neve” faz alusão
Eliovaine Gouvea

a uma condição que avança progressivamente gerando consequências que se sobrepõem, assim como uma
bola deneve que tem seu tamanho aumentado na medida em que rola por uma montanha nevada, ou seja:
Eliovaine

um ato corrupto gera outro ato corrupto e assim sucessivamente.

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GABRIELA ANDRADE A CRIMINOLOGIA NO CONTEXTO DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO • 8

8 A CRIMINOLOGIA NO CONTEXTO DO ESTADO


DEMOCRÁTICO DE DIREITO
Eliovaine Gouvea
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GABRIELA ANDRADE A CRIMINOLOGIA NO CONTEXTO DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO • 8

1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

Falar em criminologia no contexto de um Estado Democrático de Direito nos remete ao estudo de


quatro temas de especial importância, sobretudo para fins de concurso público:

• Prevenção Criminal;
• Modelos de Reação ao Delito;
• Finalidades da Pena; e
• Processos de Criminalização.

Na vigência de um Estado Democrático de Direito, as ciências criminais têm como norte o viés
prevencionista. Por óbvio, o Brasil não descarta o viés punitivo, mas a ideia principal a se perseguir é a
orientação prevencionista.
Nesse sentido, as atuais políticas públicas em segurança pública devem priorizar a prevenção de
crimes de forma integrada por todos os entes da Federação:
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Art. 144, CF/88. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de


todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do
patrimônio, através dos seguintes órgãos:
I - polícia federal;
II - polícia rodoviária federal;
III - polícia ferroviária federal;
IV - polícias civis;
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V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.


VI - polícias penais federal, estaduais e distrital.

2. PREVENÇÃO CRIMINAL
Silva -- CPF:

Devido à importância do tema “Prevenção Criminal”, tratamos o assunto num capítulo à parte
da Silva

(capítulo 9), para onde remetemos o leitor.


Gouvea da

3. MODELOS DE REAÇÃO AO CRIME


Eliovaine Gouvea

Na vigência de um Estado Democrático de Direito, é preciso proteger os valores predominantes na


Eliovaine

sociedade, logo, é preciso pensar e trabalhar os mecanismos de reação a um delito.


Nesta senda, o Estado deve elaborar e adotar medidas de política criminal pertinentes, eficientes e
capazes de alcançar a composição dos conflitos existentes na sociedade, com vistas à pacificação social.
Sobre o tema, três modelos de reação ao delito ganham destaque: dissuasório, ressocializador e
restaurador.
No Brasil, podemos verificar a coexistência dos três modelos. Remetemos o leitor ao Capítulo 2, título
6.

4. FINALIDADES DA PENA

Em que pese não constituir o único instrumento de controle e combate à criminalidade, a pena é
peça fundamental à aplicação do direito, na medida em que a norma penal dissociada de uma sanção não
apresentaria qualquer utilidade prática.
Afinal, o que se busca ao penalizar um criminoso? Qual é a finalidade da imposição de uma pena? A
resposta dependerá da teoria legitimadora da pena adotada.
Para fins de concurso público, importa analisarmos as teorias Absolutas, Relativas e Unificadoras.

101
GABRIELA ANDRADE A CRIMINOLOGIA NO CONTEXTO DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO • 8

Consoante ensinamentos de Paulo Sumariva37:

A Penalogia é disciplina integrante da Criminologia que cuida do conhecimento geral


das penas, isto é, das sanções impostas aos infratores da lei. A pena é uma espécie de
retribuição, de privação de seus bens jurídicos, aplicada ao criminoso em decorrência
do delito cometido.

4.1. Teorias Absolutas ou Retributivas

Fruto da Escola Clássica e fortemente influenciada pelas filosofias de Kant e Hegel, as teorias
retributivas buscam retribuir o mal causado pelo delinquente com base em sua culpa moral.
A pena passa a se justificar como quia peccatum est (pune-se porque pecou).
Importante frisar que a retribuição deve se dar em caráter personalíssimo, a traduzir o reflexo
humanista da teoria retributiva. Senão vejamos:

Art. 5º, CF/1988. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
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[...]
XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de
reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas
aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio
transferido;
[...]
XLVII - não haverá penas:
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a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;
b) de caráter perpétuo;
c) de trabalhos forçados;
d) de banimento;
e) cruéis.
Silva -- CPF:

As teorias absolutas são divididas em três vertentes:


da Silva

• Teoria da retribuição divina (Bekker e Stahl): O Estado pune o “pecado” cometido pelo
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

criminoso, apresentando-se como um representante da divindade.


• Teoria da retribuição moral (Kant): traz a ideia de pena como imperativo moral de justiça
Eliovaine

punindo o criminoso que optou pelo mal, com uma pena igualmente maléfica. O valor de justiça
está consubstanciado na lei de Talião com a máxima do “olho por olho, dente por dente”.
• Teoria da retribuição jurídica (Hegel): considera o crime um verdadeiro atentado contra o
direito. Nesse sentido, a pena como punição seria a resposta violenta contra tal comportamento,
justificando-se como exigência da razão. Ademais, considerando que o criminoso escolhe
racionalmente praticar crimes, a possibilidade de receber a pena prevista em lei já integraria sua
esfera de conhecimento e escolha.

4.2. Teorias Relativas, Preventivas ou Utilitaristas

As teorias relativas/preventivas/utilitaristas abandonam a ideia de punição do delinquente,


assentando a finalidade puramente preventiva da pena, por questões de utilidade social. A prevenção pode
ser geral e especial sendo certo que ambas se subdividem em positivas e negativas.

37 SUMARIVA, Paulo. Crimonologia, Teoria e Prática. 4ª edição, p. 164.

102
GABRIELA ANDRADE A CRIMINOLOGIA NO CONTEXTO DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO • 8

A prevenção geral, como o nome deixa a sugerir, é voltada à coletividade, ou seja, tem um caráter
de generalidade, no sentido de intimidação coletiva. A seu turno, a prevenção especial deseja alcançar a
pessoa do delinquente e sua reeducação, buscando seu retorno ao convívio em sociedade.

4.2.1. Prevenção geral negativa e positiva

• Negativa: a traduzir a ideia de intimidação psicológica à coletividade. Ou seja, a pena aplicada


ao criminoso visa desestimular a coletividade a praticar crimes, buscando conscientizar os
indivíduos sobre as consequências advindas de uma prática criminosa. Em outras palavras,
estimular a coletividade a não delinquir.
• Positiva: tem por escopo assegurar a vigência da norma e reafirmar a credibilidade dos
indivíduos no Estado, incutindo nas pessoas a ideia de respeito e observância aos valores sociais.

4.2.2. Prevenção especial negativa e positiva


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Negativa: tem como finalidade evitar o fenômeno da reincidência por parte do criminoso, que
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se concretiza com sua retirada do convívio social, recolhendo-o ao cárcere. É vista como uma
espécie de neutralização do delinquente que, submetido à privação de liberdade, ao menos em
tese, não será capaz de reiterar nas práticas delitivas.
• Positiva: traduz-se no caráter ressocializador e reeducativo da pena, com vistas a preparar o
criminoso para seu retorno ao convívio social.
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4.3. Teoria mista, eclética, unitária ou unificadora

As finalidades da pena seriam, a um só tempo, a retribuição ao condenado do mal por ele causado
Silva -- CPF:

(ideia retributiva), bem como o desestímulo à prática de novos ilícitos penais (ideia prevencionista). Há, em
verdade, uma tríplice finalidade:
da Silva


Gouvea da

Retribuição (das teorias absolutas);


Eliovaine Gouvea

• Prevenção (das teorias relativas); e


• Ressocialização (também das teorias relativas).
Eliovaine

Trata-se da teoria adotada pelo ordenamento jurídico brasileiro, senão vejamos:

4.3.1. Código Penal

Art. 59. O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à


personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem
como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente
para reprovação e prevenção do crime: [...] (grifo nosso)

5. PROCESSOS DE CRIMINALIZAÇÃO

São os processos pelos quais se realizam a seleção de condutas que serão rotuladas como crime pela
legislação penal, isto é, quais condutas serão criminalizadas pelas agências do sistema penal.
Em ato seguinte, cuida da aplicação concreta das sanções penais sobre os sujeitos responsáveis pela
prática das condutas que se amoldam às figuras penais tipificadas em nossa legislação.
Nesta linha intelectiva, temos que este processo se desenvolve em duas etapas, quais sejam:
criminalização primária e criminalização secundária.

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GABRIELA ANDRADE A CRIMINOLOGIA NO CONTEXTO DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO • 8

Para melhor compreensão de um instituto, procure estabelecer um raciocínio com base em sua
nomenclatura. Por mais que pareça uma afirmação óbvia, muitos estudantes não se atentam a isso e acabam
por tentar decorá-los quando, na verdade, o nome do instituto já é, por si só, esclarecedor.
A Criminalização Primária é o processo responsável por estabelecer a forma primeira pela qual um
comportamento social será rotulado como crime, no plano abstrato, formal e objetivo, mediante a edição
das leis penais.
Manifesta-se no processo legislativo até a sanção presidencial, na definição de condutas que serão
rotuladas como crime.
Nesse sentido, são agentes de criminalização primária: Poder Legislativo (Congresso Nacional) e
Poder Executivo da União (Presidente da República).
De outro giro, a Criminalização Secundária, refere-se de forma ampla ao exercício do poder punitivo
do Estado, manifestando-se de forma concreta a partir do momento em que alguém pratica um crime.
Importante destacar que o sistema de justiça penal não se limita (ou não deveria se limitar) à mera aplicação
das leis mas também e, especialmente, à efetivação dos direitos e garantias fundamentais dos presos.
São agentes de criminalização secundária: Delegados de Polícia, Promotores de Justiça, Juízes,
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Agentes dos Sistema Prisional etc.


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GABRIELA ANDRADE

PREVENÇÃO CRIMINAL
PREVENÇÃO CRIMINAL • 9

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GABRIELA ANDRADE PREVENÇÃO CRIMINAL • 9

1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

Pensar na ideia de prevenção dos delitos é fundamental em um Estado Democrático de Direito, em


busca da manutenção da ordem pública, da paz e estabilidade das relações sociais.

Ora, é preciso pensar e trabalhar soluções voltadas à evitação do cometimento do delito, buscando
entender suas mais variadas causas.

No escólio de Newton Fernandes e Valter Fernandes38: “É dogma da Medicina que a prevenção é


sempre melhor que a cura”.

Por óbvio, a prevenção ao crime se mostra muito mais interessante do que a ideia de repressão, que
entra em cena depois que a prática criminosa já ocorreu, com a violação de bens jurídicos importantes e
toda aflição social inerente.

Nesse sentido, é preciso enxergar o cometimento de uma infração penal de forma mais ampla do
que o mero enfoque individualista voltado à ação de um indivíduo em específico (o criminoso). Isto porque
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este indivíduo está inserido num contexto social, recebendo influxos valorativos das mais variadas ordens e
circulando nos espaços de convívio público.

Para alcançar a almejada prevenção criminal, deve haver o implemento de medidas diretas e
indiretas de prevenção, que serão estudadas oportunamente.

Esta noção moderna de prevenção surge de maneira tímida nos estudos da Escola Clássica, todavia,
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sua origem remonta ao final do século XIX, com a Escola Positivista.

2. CONCEITO DE PREVENÇÃO CRIMINAL


Silva -- CPF:

O saber criminológico, no Estado Democrático de Direito, orienta-se pela conduta


prevencionista, posto que seu objetivo máximo é evitar o delito e não a simples repressão e punição.
da Silva

Consoante ensinamentos de Henrique Hoffman39:


Gouvea da
Eliovaine Gouvea

Reparar o dano, ressocializar o delinquente e reprimir o crime são focos centrais do


conteúdo científico da criminologia no cenário atual. Nesse panorama, a prevenção do
Eliovaine

delito é um assunto recorrente em todas as esferas do poder público. Estudam-se os


fatores inibidores e estimulantes da criminalidade para a elaboração de programas
prevencionistas. Fatores como desemprego, miséria, falta de assistência social,
desigualdade e corrupção estimulam o fenômeno criminal, enquanto trabalho, educação,
saúde, democracia, igualdade e justiça social inibem o crime (grifo nosso).

Mas o que se entende por prevenção criminal? Consoante ensinamentos de José Cesar Naves de
Lima Júnior40:

A prevenção do delito consiste no conjunto de ações destinadas a evitar sua prática. Neste
ponto, conforme afirmado por Nestor Sampaio Penteado Filho, dois tipos de medidas
são adotados para alcançar esta finalidade, aprimeira atingindo indiretamente o delito e
a segunda, diretamente.

Sintetizando:

38 FERNANDES, Newton; FERNANDES, Valter. Criminologia integrada, p. 340.


39 FONTES, Eduardo & HOFFMANN Henrique. Criminologia. 1ª edição. Editora JusPodivm, p. 216.
40 LIMA JÚNIOR, José César Naves. Manual de Criminologia. 5ª edição. Editora JusPodivm, p. 103.

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GABRIELA ANDRADE PREVENÇÃO CRIMINAL • 9

2.1. Medidas indiretas

São medidas que agem sobre o delito indiretamente, buscando entender suas causas. Devem ter
como foco tanto o indivíduo, quanto o meio em que ele vive. A análise do indivíduo deve se pautar em
aspectos de sua personalidade e temperamento. Ademais, o meio social onde está inserido, cultura, valores,
oportunidades, referências que dispõe e outros fatores sociais (vide Capítulo 7) devem ser considerados.
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Dentro desta ideia prevencionista, é cediço que a adoção de políticas públicas e medidas de cunho
social, assistencial, educacional e econômico podem contribuir de maneira relevante à redução dos índices
de criminalidade.

2.2. Medidas diretas


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De outro giro, as medidas diretas de prevenção criminal atuam por meio das legislações ora vigentes
relacionadas à repressão e punição dos delitos de maior gravidade, no sentido de inibir e desestimular os
indivíduos a delinquir por conta das punições previstas. Ademais, propugna a ideia de repressão às infrações
Silva -- CPF:

penais de toda a natureza; o policiamento ostensivo e seu papel de prevenção e manutenção da ordem
pública; o investimento na polícia judiciária com vistas a potencializar a repressão criminal etc.
da Silva
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3. PRINCÍPIOS BÁSICOS
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Conforme ensinamentos do professor Paulo Sumariva41, são princípios básicos doviés prevencionista
Eliovaine

da Criminologia:

41 SUMARIVA, Paulo. Criminologia, teoria e prática. 4ª edição, p. 156.

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GABRIELA ANDRADE PREVENÇÃO CRIMINAL • 9

4. CATEGORIAS DE PREVENÇÃO AO DELITO PARA ANTONIO GARCÍA-


PABLOS DE MOLINA

Molina estabelece a sistematização das diferentes acepções empregadas à terminologia “prevenção”


em três categorias, conforme segue:

a. Prevenção como dissuasão: capacidade para demover do potencial infrator aquele intento, isto
é, dissuadi-lo, por meio do efeito intimidatório da pena.
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b. Prevenção como intervenção seletiva no cenário do crime: espécie de dissuasão indireta, por
meio de estratégias que alterem o cenário do crime, com a modificação de seus elementos e
condições, como por exemplo, a alteração dos espaços físicos, desenhos arquitetônicos,
condições de luminosidade, maior frequência de patrulhamento policial em determinados
locais, postura das vítimas etc. Pretende-se, com isso, obstaculizar a ação do infrator no
processo de execução do plano criminal, mediante uma intervenção seletiva no "cenário" do
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crime que "encarece" os custos para o infrator, gerando o efeito inibitório.


c. Prevenção como ideia de prevenção especial: traz a ideia de prevenção como objetivo último a
ser perseguido por políticas de ressocialização e reeducação. Dessa forma, o destinatário desta
orientação não seria o infrator em potencial, mas sim o apenado.
Silva -- CPF:

A crítica que se coloca refere-se à tardia intervenção deste modelo, agindo exclusivamente depois
da Silva

que o delito já aconteceu, com objetivo de evitar a reincidência.


Gouvea da
Eliovaine Gouvea

5. MODELOS TEÓRICOS DE PREVENÇÃO AO DELITO


Eliovaine

5.1. Modelo clássico

A ideia central que remete a este modelo de prevenção ao delito é: a pena e seu caráter intimidatório.
Em outras palavras, baseia-se na (suposta) eficácia da pena abstratamente prevista para o delito,
como geradora de um efeito “ameaçador” ao indivíduo.
No escólio de Molina42, “pena e delito constituem elementos de uma equação linear. Muitas políticas
criminais atuais identificam-se com este modelo falido e simplificado que manipula o medo do delito e que
trata de esconder o fracasso da política preventiva, apelando assim às leis”. (Grifo nosso)

5.2. Modelo neoclássico

De outro giro, o modelo neoclássico se debruça, especialmente, sobre a percepção do infrator acerca
do efetivo funcionamento do ordenamento jurídico.

42 MOLINA, Antonio García-Pablos; GOMES, Luiz Flávio. Criminologia, p. 404.

108
GABRIELA ANDRADE PREVENÇÃO CRIMINAL • 9

Um ordenamento jurídico que, para além de bem estruturado, demonstre, na prática, funcionar de
forma efetiva no combate à criminalidade se revelaria na estratégia mais eficaz dentro da ideia
prevencionista.

Na medida em que um potencial infrator verifique o efetivo funcionamento e aparelhamento


qualitativo e quantitativo dos órgãos de persecução penal (Polícias, Ministério Público, Poder Judiciário,
Sistema Penitenciário), sentir-se-á desestimulado a delinquir.

Para o modelo neoclássico, portanto, a gravidade das penas abstratamente impostas não teria tanta
relevância sob a ótica prevencionista.

6. PREVENÇÃO DO DELITO NA ÓTICA DA CRIMINOLOGIA MODERNA

6.1. Prevenção primária

Trata-se de medida de prevenção que se caracteriza pela implementação de umagama de prestações


sociais e elaboração de políticas públicas assistenciais, de modo a gerar na sociedade uma conscientização
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acerca de seu comportamento diante de um conflito e/ou controle de tendências a práticas delitivas.

Neste sentido, tais prestações sociais visam assegurar ao indivíduo qualidade de vida, mediante
acesso e excelência na prestação dos serviços básicos como saúde, segurança, educação, cultura, dentre
outros.
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Percebe-se, portanto, que a prevenção primária busca atacar as origens da criminalidade, no sentido
de neutralizá-la antes mesmo de sua ocorrência. Desta forma, se mostra a medida de prevenção mais eficaz.
A ideia central neste tipo de prevenção é que o cidadão não se sentirá estimulado a delinquir na medida em
que não lhe faltem seus direitos elementares.
Silva -- CPF:

Ocorre que sua operacionalização esbarra em alguns óbices de índole prática, revelando-se morosa
da Silva

e enfrentando inúmeros entraves burocráticos. Como se sabe, para que a Administração Pública promova a
construção de escolas, hospitais, execute programas assistenciais voltados ao esporte, cultura, lazer, dentre
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

outros, em regra, deve se sujeitar a procedimento licitatório, obedecer à legislação e demais normativas
pertinentes, dentre outras exigências. Podemos concluir então, que estamos diante de uma modalidade de
Eliovaine

prevenção de implementação a médio ou longo prazo.

No escólio de Nestor Sampaio Penteado Filho, a prevenção primária:

Ataca a raiz do conflito (educação, emprego, moradia, segurança etc.); aqui desponta a
inelutável necessidade do Estado, de forma célere, implantar os direitos sociais progressiva
e unilateralmente, atribuindo a fatores exógenos a etiologia delitiva; a prevenção primária
liga-se à garantia de educação, saúde, trabalho, segurança e qualidade de vida do povo,
instrumentos preventivos de médio e longo prazo43. (grifo nosso)

6.2. Prevenção secundária

A prevenção secundária pode ser entendida como um conjunto de ações políticas, policiais e
legislativas implementadas depois que o crime já se instalou naquela sociedade ou se encontra em vias de
ocorrer.

43 PENTEADO FILHO, Nestor Sampaio. Manual esquemático de criminologia, p. 85.

109
GABRIELA ANDRADE PREVENÇÃO CRIMINAL • 9

Temos, portanto, que a prevenção secundária revela a exteriorização do conflito criminal, voltando-
se a grupos sociais que apresentam maior probabilidade de figurarem como autores ou vítimas de crimes,
tratando-se, portanto, de uma medida de atuação coletiva, e não individual.

Estamos falando de grupos socialmente vulneráveis, aqueles a quem o Estado falhou na entrega de
direitos sociais básicos.

As medidas de prevenção secundária são instituídas a curto e médio prazo e consistem, basicamente,
na implementação de ações policiais, controle dos meios de comunicação, políticas de segurança pública
etc.

Por esta ótica, podemos afirmar que a prevenção secundária entra em cena, em razão de a prevenção
primária não ter cumprido o seu propósito.

Nesse tipo de prevenção, impera o fortalecimento da Polícia, uma vez que qualquer crime
que ocorra deve ser por ela combatido, devendo isso dar-se nos chamados focos de
criminalidade. Em virtude disso, é que se tem a criação de certas equipes especiais de
policiamento, como aquelas destinadas a fazer rotas nas periferias, em locais onde o crime
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já surgiu e é ali demasiadamente praticado.44 (Grifo nosso)

Como vimos, a prevenção primária se revela como medida preventiva mais eficaz. Contudo,
indubitavelmente, as ações de prevenção secundária são as que mais se fazem presentes em nossa
sociedade, o que demonstra que sucumbimos à criminalidade, sobretudo, pela falha na implementação de
políticas públicas.
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6.3. Prevenção terciária

A prevenção terciária também exsurge após a ocorrência do delito, todavia, volta-se aos condenados,
revelando caráter punitivo e ressocializador, com o objetivo de evitar a reiteração delitiva.
Silva -- CPF:

Suas ações consistem na aplicação das sanções penais concretizadas na fase da execução penal, tais
da Silva

como as penas privativas de liberdade; adoção de medidas alternativas à prisão como, por exemplo, a
Gouvea da

prestação de serviços à comunidade; incentivos atinentes à execução penal, por exemplo, a remição do
Eliovaine Gouvea

tempo de pena pelo trabalho e pelo estudo.


Eliovaine

Ora, como é sabido, grande parte da população carcerária voltará ao convívio social. Com base nisso,
mostra-se relevante pensar em alternativas e programas de incentivo e ressocialização destes indivíduos, a
fim de se tornarem aptos a retornarem à sociedade.

Contudo, sob a ótica prevencionista, a modalidade também é alvo de críticas:

De todas as modalidades de prevenção ao delito, a terciária é a que possui o mais acentuado


caráter punitivo. Como ela só surge após o cometimento do cri me, agindo apenas na
condenação, é insuficiente e parcial, pois não neutraliza as causas do problema
criminal.45

Em suma:
Após ter dado errado a implementação de políticas públicas, bem como não ter sido possível
combater os focos de criminalidade, agora a única saída que se tem é a atuação em cima do criminoso.
Com base nisso, o Estado busca melhores formas de impedir que ele volte a delinquir, seja por meio

44 GONZAGA, Christiano. Manual de Criminologia. 1ª edição. Editora Saraiva, p. 122.


45 SUMARIVA, Paulo. Criminologia, teoria e prática. 4º edição. Editora Impetus, p. 159.

110
GABRIELA ANDRADE PREVENÇÃO CRIMINAL • 9

de sua neutralização numa penitenciária, seja por métodos mais eficazes de ressocialização, como a já
aplicada remição pelo estudo.46
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7. PREVENÇÃO SITUACIONAL
Silva -- CPF:

A prevenção situacional baseia-se na ideia da evitação dos crimes por meio da implementação de
da Silva

mecanismos que atuem na redução de oportunidades ao pretenso criminoso. Em outras palavras,


Gouvea da

aumentam-se os riscos e reduzem-se as chances de êxito na empreitada delitiva, mediante alteração no


Eliovaine Gouvea

cenário do crime, de forma a desestimular o indivíduo a delinquir. Nesse sentido, a colocação de


ofendículos nas residências e estabelecimentos comerciais, tais como concertinas e cercas elétricas; a
Eliovaine

potencialização da vigilância humana; instalação de circuito de monitoramento por câmeras e etc são
exemplos de prevenção situacional.

7.1. Prevenção situacional do sentimento de culpa do infrator

Atua na consciência do infrator criando um sentimento de culpa e reprovação, por meio da


divulgação de campanhas educativas voltadas à necessária conscientização acerca de determinadas
condutas criminosas. A ideia é que o infrator passe a interiorizar os preceitos exteriorizados nas campanhas,
percebendo os efeitos negativos do comportamento criminoso e os prejuízos irreparáveis que podem advir
de sua conduta. Desta forma, a intenção seria incutir na sua consciência a necessidade de observâncias às
leis e regras de conduta no bojo do convívio em sociedade.

46 GONZAGA, Christiano. Manual de Criminologia. 1ª edição. Editora Saraiva, p. 122.

111
GABRIELA ANDRADE PREVENÇÃO CRIMINAL • 9

Como exemplo, as campanhas de trânsito voltadas à questão da embriaguez ao volante, muitas vezes
expondo os efeitos danosos causados às vítimas e impactando, ao menos em tese, a consciência coletiva e
individual.

7.2. Prevenção situacional da recompensa

Ao perceber que sua conduta delituosa pode não trazer as ‘recompensas’esperadas, o infrator pode
se sentir desestimulado ao crime.

Nesse sentido, estratégias são utilizadas com vistas a evidenciar que a prática delitiva não será
frutífera, com o escopo de evitar o cometimento de certos delitos.

Ilustrando, o estabelecimento comercial que conta com dispositivos de detecçãode cédulas falsas,
de modo a desestimular o golpista que ali pretendesse atuar.
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GABRIELA ANDRADE

VITIMOLOGIA
VITIMOLOGIA • 10

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GABRIELA ANDRADE VITIMOLOGIA • 10

1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

Trata-se da ciência que estuda o comportamento e personalidade das vítimas dos delitos, seus
pontos de vulnerabilidade, os processos de vitimização, os efeitos psicológicos causados por conta do trauma
resultante do crime, bem como sua eventual responsabilidade no fenômeno delitivo.

Existe divergência acerca do enquadramento da vitimologia como um ramo da criminologia ou como


ciência autônoma. Prevalece, em doutrina, haver uma integração entre ambas, não havendo que se falar na
vitimologia como ciência autônoma.

Na Escola Clássica, a análise do delito era o foco dos estudiosos. Já nos estudos da Escola Positivista,
ganhou destaque a análise do delinquente. A seu turno, no Labelling Approach, a reação social surge como
protagonista da análise. A figura da vítima, por sua vez, ganhou importância como objeto de estudo da
Criminologia nos estudos da Teoria Crítica.

Desta forma, podemos concluir que, na medida em que a ciência criminológica avançou, com a
criação de novas teorias e perspectivas, houve também uma ampliação de seus objetos de estudo.
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Sua origem histórica remonta aos estudos de Benjamim Mendelsohn, considerado o pai da
vitimologia, tendo como marco a realização de uma conferência denominada “Um novo horizonte na ciência
biopsicossocial: a vitimologia”, no final da década de 40.

Outro estudioso de relevo foi Hans Von Hentig, com a publicação da obra The criminal and his Victim.
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À época, Hentig já observava a figura da vítima sob uma outra perspectiva. Falar da vítima na seara
penal nos remete, quase que automaticamente, à ideia de uma posição de completa passividade, ou seja,
alguém que figura num dos polos do conflito criminal de forma apática. Contudo, Henting sustentava a
necessidade de analisar o papel da vítima de forma mais abrangente e dinâmica, considerando que seu
Silva -- CPF:

comportamento, personalidade e hábitos podem, de alguma forma, contribuir para a ocorrência dos crimes.
da Silva

Mendelsohn trouxe o seguinte conceito de vitimologia: “ciência que se ocupa da vítima e da


Gouvea da

vitimização, cujo objeto é a existência de menos vítimas na sociedade, quando esta tiver real interesse nisso”.
Eliovaine Gouvea

Partindo das premissas fixadas por Hans Von Hentig, o estudo da vitimologia se mostra de grande
relevância. Ora, se de alguma forma o comportamento da vítima pode colaborar para a ocorrência do delito,
Eliovaine

é preciso analisar qual o nível dessa contribuição, ainda que involuntária; qual a relação estabelecida entre
vítima e criminoso, dentre outros aspectos. Isto porque tais fatores podem impactar na adequação típica do
fato criminoso, bem como na aplicação da pena. Senão vejamos o art. 59, do Código Penal:

Fixação da pena
Art. 59. O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à
personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem
como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente
para reprovação e prevenção do crime: [...]

Conforme o referido artigo, podemos notar que o legislador brasileiro previu expressamente o
“comportamento da vítima” como um dos aspectos a serem observados pelo magistrado quando da fixação
da pena.

Nesta linha de intelecção, de acordo com os ensinamentos de Rogério Sanches48: o comportamento


da vítima antes e durante a prática do crime é objeto de extensos estudos na área da criminologia e

48 SANCHES, Rogério .

114
GABRIELA ANDRADE VITIMOLOGIA • 10

tem efeitos importantes no momento emque se analisa o quão reprovável foi o autor da conduta delituosa.
Como são inumeráveis as situações em que a análise do comportamento da vítima pode ter lugarno caso
concreto, os tribunais têm decidido com frequência, como veremos, quais delas podem ser consideradas
relevantes na aplicação da pena.

Com a evolução do estudo da vitimologia, abandonou-se a ideia de isolamento do autor do delito. A


vítima, em muitas das oportunidades, colabora para o início e para o deslinde da ação criminosa em que
está inserida. A partir de tais constatações, surge o que se denomina precipitação da vítima. É um conceito
que parte do pressuposto de que muitas vezes a vítima está intimamente ligada à sua situação de vitimização.

Nas situações em que existe uma correlação de culpas entre o agente e a vítima, a vitimologia
trabalha com três hipóteses:

• A vítima é menos culpada do que o agente: são os casos nos quais a vítima, apesar de não ter
nenhum tipo de relação com o agente, atua de forma imprudente, negligente ou sem
conhecimento da situação e acaba sendo atingida por um delito. É o exemplo do turista que
ingressa, por falta de atenção, em um bairro de alta criminalidade e é assaltado. A vítima atuou
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sem cautela e foi atingida pela conduta criminosa. É fato que não pretendia que o crime ocorresse,
mas certamente colaborou para isso, ainda que involuntariamente. Teve culpa, mas certamente
muito menor do que a atribuível ao agente.
• A vítima é tão culpada quanto o agressor: neste caso, vítima e agente concorrem de maneira
praticamente idêntica para a ocorrência do crime. Exemplo que pode ser dado é a disputa dos
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famosos rachas, em que ocorre a morte culposa de um dos participantes por acidente com veículo
(art. 308, § 2º, da Lei n.º 9.503/1997). Neste caso, ambos os agentes concorrem com culpa de
maneira bastante proporcional.
• A vítima é mais culpada que o agressor: os exemplos clássicos para os casos em que a vítima é
Silva -- CPF:

mais culpada do que o agressor são os de lesão corporal privilegiada ou de homicídio privilegiado.
Em ambos os casos, a legislação estabelece uma causa de diminuição de pena se o agente comete
da Silva

o crime sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima. Há,
Gouvea da

também, uma atenuante para as situações em que o agente atua não dominado, mas influenciado
Eliovaine Gouvea

pela violenta emoção. Neste caso, é a vítima quem desencadeia o processo agressor, sendo
portanto mais culpada do que o agente. Note-se que a expressão mais culpada do que o agente
Eliovaine

deve ser lida no sentido próprio que lhe confere a vitimologia, não sob a ótica da teoria do delito,
em que jamais o agente terá responsabilidade menor do que a da vítima.
As correlações de culpas entre o agente e a vítima que interessam para a aplicação da pena são
aquelas em que a vítima é tão culpada quanto o agressor e em que é mais culpada do que ele.

Segundo dispõe o art. 59 do Código Penal, a pena-base (1ª fase) deve ser aplicada em consonância
com as circunstâncias judiciais, dentre elas o comportamento da vítima.

No Direito Penal não existe compensação de culpas (ao contrário do Direito Civil). Assim, a culpa
concorrente da vítima não elide, não compensa a culpa do agente, mas pode atenuá-la, a depender das
circunstâncias. Fazemos a ressalva a respeito das circunstâncias porque há situações em que, em razão das
condições pessoais da vítima, seu comportamento não atenua a responsabilidade do agente. O STJ decidiu,
por exemplo, que nos crimes sexuais contra menores de catorze anos a experiência sexual anterior e a
suposta homossexualidade não podem servir para justificar a diminuição da pena em razão do
comportamento da vítima.

115
GABRIELA ANDRADE VITIMOLOGIA • 10

De qualquer forma, o comportamento da vítima só pode servir para favorecer o autor da conduta
criminosa, não para prejudicá-lo. É o que vem decidindo o STJ em incontáveis julgados nos quais estabelece
que esta circunstância judicial tem efeito favorável ou neutro. Daí porque estabelecemos acima que, para a
aplicação da pena, a situação em que a vítima é menos culpada do que o agente não tem relevância. Nas
situações em que a vítima se mantém inerte ou mesmo atua de forma a não prejudicar a empreitada
criminosa, não é possível aumentar a pena-base com fundamento em seu comportamento:

[...] O comportamento da vítima é circunstância judicial ligada à vitimologia, que deve


ser necessariamente neutra ou favorável ao réu, sendo inviável sua utilização de forma
desfavorável ao réu. Na hipótese em que não houver interferência da vítima no
desdobramento causal, como ocorreu na hipótese em análise, deve ser, pois,
neutralizada. Precedentes [...] [HC 345.409/MG, DJe 09/05/2017].
[...] Por derradeiro, o comportamento do ofendido, que “em nada contribuiu para o
cometimento do crime” (e-STJ fl. 19), não pode igualmente ser valorado em desfavor
do paciente. Nos termos da orientação do Superior Tribunal de Justiça, a mencionada
circunstância judicial somente apresenta relevância jurídica para reduzir a reprimenda
do réu. Assim, se o ofendido contribuiu para a prática do crime, a pena-base deverá ser
diminuída; se, ao contrário, a vítima não facilitou, incitou ou induziu o sentenciado a
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cometer a infração penal, trata-se de circunstância judicial neutra. Precedentes [...] [HC
275.953/GO, DJe 21/03/2017].

De fato, o único sentido possível a se extrair da circunstância relativa ao comportamento da vítima é


de que se trata de algo a ser considerado a favor do agente. O comportamento neutro de quem é vítima de
um delito já é esperado, e, por esta razão, não pode justificar uma pena maior.
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2. CONCEITO DE VÍTIMA

Entende-se por vítima a pessoa ou entidade coletiva que suporta os danos e prejuízos oriundos de
uma conduta delitiva, figurando no polo passivo do conflito criminal.
Silva -- CPF:

A Declaração dos Princípios Fundamentais de Justiça Relativos à Vítimas da Criminalidade e de Abuso


da Silva

de poder, das Nações Unidas (ONU- 1985), define como vítimas


Gouvea da
Eliovaine Gouvea

As pessoas que, individual ou coletivamente, tenham sofrido um prejuízo, nomeadamente


um atentado à sua integridade física ou mental, um sofrimento de ordem moral, uma perda
material, ou um gravo atentado aos seus direitos fundamentais, como consequência de atos
Eliovaine

ou omissões violadores das leis penais em vigor num Estado membro, incluindo as que
proíbem o abuso de poder.

3. AS FASES DA VÍTIMA AO LONGO DA HISTÓRIA

Ao longo da história, a importância do papel da vítima sofreu algumas alterações, dividindo-se em


três fases:

3.1. Protagonismo: “a idade de ouro”

Corresponde ao Período da Vingança Privada (vítima protagonista/idade de ouro da vítima). Como o


próprio nome sugere, a vítima protagonizava o direito de punir, sendo ela a responsável direta pela reparação
dos danos que sofreu bem como pela punição do crime, de acordo com as leis de talião.

Conclui-se, portanto, que a resposta a uma conduta delituosa consistia predominantemente em


vingança e punição.

116
GABRIELA ANDRADE VITIMOLOGIA • 10

3.2. Neutralização

Corresponde ao Período da Vingança Pública.

O direito de punir passa a ser monopólio estatal. Nesse sentido, o Direito Penal ganha contornos
publicísticos, sendo certo que a vítima, outrora protagonista do direito de punir, acaba neutralizada. A
resposta ao crime, portanto, deve ter caráter impessoal e imparcial.

A punição traria a ideia de prevenção geral – pena como uma coação psicológica – uma forma de
“ameaça” aos cidadãos que se recusam a observar e obedecer às ordens jurídicas da sociedade, motivando
os indivíduos a não prática de novos delitos.

3.3. Redescobrimento/Revalorização

Corresponde ao Período Humanista.

O redescobrimento/revalorização da vítima foi um movimento que eclodiu após a segunda guerra


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mundial.

Com efeito, a partir da década de 1950, diante do sofrimento imposto aos grupos
vulneráveis (judeus, ciganos, homossexuais etc.), pelo movimento nazifasci sta durante
a Segunda Guerra Mundial, verificou-se um redescobrimento do papel da vítima, sendo
sua importância retomada com uma visão mais humanitária por parte do Estado,
voltada à tutela de seus direitos e garantias, destacando-se acriação das Nações Unidas
e da Declaração Universal dos Direitos do Homem.49
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4. PROCESSOS DE VITIMIZAÇÃO

A vitimização pode ser definida como a ação ou efeito que torna uma pessoa vítima em algum
Silva -- CPF:

acontecimento fático. Nesse contexto, vale ressaltar que uma pessoa pode ser vítima de uma conduta
da Silva

praticada por terceiros (ex: lesão corporal), de uma conduta praticada por si própria (ex: suicídio) ou, ainda,
de um acontecimento natural (ex: desastres naturais).
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

A palavra processo possui, como definição, uma sequência contínua de fatos ou operações que
apresentam certa unidade ou que se reproduzem com certa regularidade, andamento, desenvolvimento.
Eliovaine

Nesse cenário, o processo de vitimização pode ser conceituado como um conjunto sucessivo de etapas que
ocorrem em face de uma vítima, ou seja, no desenvolvimento da vitimização.

Imaginemos que João foi vítima do crime de estelionato, por exemplo, e comparece à Delegacia de
Polícia ou ao Batalhão de Polícia Militar mais próximo em busca de auxílio e orientação. Ao chegar à
Delegacia/Batalhão, não recebe o atendimento esperado, não consegue as orientações que necessita e,
ainda, ouve de um servidor público que “deveria deixar de ser otário e mané”. Além disso, ao narrar a
situação criminosa no qual fora vitimado à sua família, é hostilizado e alvo de zombarias, não encontrando
o apoio que esperava.

O exemplo acima ilustra as fases do processo de vitimização, objeto de nosso estudo: vitimização
primária, vitimização secundária e vitimização terciária.

49 OLIVEIRA, Natacha Alves de Oliveira. Manual de Criminologia. Salvador: Editora JusPodivm,2018. p.69

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GABRIELA ANDRADE VITIMOLOGIA • 10

Por derradeiro, vale ressaltar que a expressão iter victimae, consoante ensinamentos de Edmundo
de Oliveira, significa o caminho que um indivíduo percorre até que se converta em vítima de uma prática
criminosa.

4.1. Vitimização primária

É aquela que decorre diretamente da prática delitiva. Na vitimização primária, o indivíduo suporta os
danos que advém diretamente do delito, sejam eles físicos, psicológicos, patrimoniais etc. No exemplo acima,
o dano patrimonial experimentado por João.

4.2. Vitimização secundária ou sobrevitimização

Decorre do tratamento conferido pelas instâncias formais de controle social (Polícias, Ministério
Público, Poder Judiciário) à vítima do delito.

Além do dano já experimentado na ocasião do delito, desta vez, a vítima sofre com o descaso, com a
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morosidade no atendimento pelos órgãos públicos e, até mesmo, pelo não atendimento de suas demandas,
gerando efeitos negativos em relação à imagem institucional destes órgãos. Ou, ainda, o sofrimento causado
às vítimas no curso das investigações, muitas vezes morosas e cansativas, rememorando os fatos a todo o
momento, assim como no curso do processo penal.

No exemplo citado, ao procurar orientação na Polícia, João foi “vitimado” pela segunda vez, uma vez
que não teve o atendimento adequado e, além disso, ainda foi hostilizado.
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Em 2016, houve importante inovação legislativa relativa à proteção e assistência às vítimas do tráfico
de pessoas, estabelecendo, para tanto, diretrizes a serem observadas no atendimento destes casos. A Lei
n.º 13.344/2016, que dispõe sobre prevenção e repressão ao tráfico interno e internacional de pessoas e
Silva -- CPF:

sobre medidas de atenção às vítimas, estabeleceu em seu artigo 6º um rol de medidas de assistência e
proteção às vítimas diretas ou indiretas do tráfico de pessoas, inclusive, dispondo sobre a prevenção à
da Silva

revitimização, conforme destaque legislativo abaixo:


Gouvea da
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Art. 6º A proteção e o atendimento à vítima direta ou indireta do tráfico de pessoas


compreendem:
Eliovaine

I - assistência jurídica, social, de trabalho e emprego e de saúde;


II - acolhimento e abrigo provisório;
III - atenção às suas necessidades específicas, especialmente em relação a questões de
gênero, orientação sexual, origem étnica ou social, procedência, nacionalidade, raça,
religião, faixa etária, situação migratória, atuação profissional, diversidade cultural,
linguagem, laços sociais e familiares ou outro status ;
IV - preservação da intimidade e da identidade;
V - prevenção à revitimização no atendimento e nos procedimentos investigatórios e
judiciais;
VI - atendimento humanizado;
VII - informação sobre procedimentos administrativos e judiciais.
§ 1º A atenção às vítimas dar-se-á com a interrupção da situação de exploração ou violência,
a sua reinserção social, a garantia de facilitação do acesso à educação, à cultura, à formação
profissional e ao trabalho e, no caso de crianças e adolescentes, a busca de sua reinserção
familiar e comunitária.
§ 2º No exterior, a assistência imediata a vítimas brasileiras estará a cargo da rede consular
brasileira e será prestada independentemente de sua situação migratória, ocupação ou
outro status.
§ 3º A assistência à saúde prevista no inciso I deste artigo deve compreender os aspectos
de recuperação física e psicológica da vítima.

118
GABRIELA ANDRADE VITIMOLOGIA • 10

4.3. Vitimização terciária

Aquela provocada pelo meio social (família, sociedade em geral), normalmente em decorrência da
estigmatização vinculada ao delito, assim como pela omissão estatal no implemento e efetivação de medidas
voltadas a minimizar as consequências danosas advindas do crime, como por exemplo redes de apoio
psicológico e de assistência social às vítimas de determinados crimes.

Verifica-se, portanto, a ocorrência da vitimização terciária quando há uma omissão por parte das
instâncias de controle social informal (família, escola), bem como pelas instâncias de controle social formal
(órgãos públicos).

No exemplo de João, ao narrar à sua família situação criminosa em que fora vitimado, não teve o
acolhimento que esperava, ao contrário, foi alvo de zombarias e chacotas.

Mostra-se muito comum nos crimes sexuais, quando a vítima, em várias ocasiões, é alvo de
preconceito e humilhação. Além de sofrer as consequências diretas do crime e suportar o descaso e/ou
morosidade das instâncias formais de controlesocial, nesta etapa, a vítima é hostilizada, segregada, excluída
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por seus grupos sociais. A vitimização terciária apresenta íntima ligação com a ocorrência da cifra negra, já
que a vítima não tem qualquer estímulo em denunciar o crime.

Sumariva50 traz, ainda, os conceitos de vitimização indireta e a heterovitimização:

• Vitimização indireta: sofrimento causado às pessoas intimamente ligadas à vítima de um crime.


Aquela que, embora não tenha sido vitimizada diretamente pelo criminoso, sofre com o
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sofrimento de seu ente querido.


• Heterovitimização: é a autorrecriminação da vítima pela ocorrência do delito através da busca
por motivos que, provavelmente, tornaram-na responsável pela infração penal. Ou seja, a vítima
Silva -- CPF:

impõe a si mesma a responsabilidade de ter criado um cenário propício à prática do delito. Ex.:
deixar a porta do veículo destravada (facilitando a ação do furtador).
da Silva
Gouvea da

5. CLASSIFICAÇÕES DAS VÍTIMAS


Eliovaine Gouvea

Dentro do estudo da vitimologia, as vítimas são analisadas e classificadas conforme seu nível de
Eliovaine

colaboração à empreitada delitiva, isto é, de que forma podem ter contribuído à prática do ato criminoso.
Apresentaremos a seguir, as classificações mais badaladas, trazidas por Benjamin Mendelsohn e Hans Von
Henting.

5.1. Por Benjamin Mendelshon

Em seus estudos, Benjamin Mendelsohn, adotando critério de classificação das vítimas conforme seu
nível de colaboração ou participação no crime elencou algumas categorias de vítimas. Nesta linha de
raciocínio, a divisão clássica delineada pelo autor foi: vítima inocente, vítima provocadora e vítima agressora.
• Vítima inocente: como o nome sugere, é aquela vítima que não obra com qualquer participação
ou colaboração à ocorrência do fato criminoso. É a vítima ideal, inconsciente.
• Vítima provocadora: aquela vítima que, com sua conduta, induz ou provoca a prática do ato
criminoso de forma voluntária ou involuntária. E esse comportamento da vítima será considerado

50 SUMARIVA, Paulo. Criminologia, teoria e prática. 4ª edição. p. 107.

119
GABRIELA ANDRADE VITIMOLOGIA • 10

pelo magistrado quando da fixação da pena, consoante previsão contida no Art. 59 do Código
Penal.
• Vítima agressora/simuladora/imaginária/pseudovítima: nesse caso, estamos a tratar da
hipótese da pseudovítima, isto é, aquela pessoa que acha ser vítima de uma ação criminosa, fato
que acaba por justificar alegítima defesa daquele que a agride.
Com base nas categorias acima elencadas, os estudos de Mendelsohn deram origem às seguintes
classificações de vítimas:
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Note que as categorias elencadas por Mendelsohn apresentam-se numa escala crescente: desde a
menor até a maior colaboração da vítima à ocorrência do evento criminoso, senão vejamos:
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5.1.1. Vítima completamente inocente

Aquela a quem não pode ser atribuída qualquer colaboração ou participação à ocorrência do crime.
Silva -- CPF:

O criminoso seria, então, o único culpado.


da Silva

5.1.2. Vítima menos culpada que o criminoso


Gouvea da
Eliovaine Gouvea

É aquela que, em alguma medida, acaba colaborando ou favorecendo à práticado ato criminoso,
contudo, por mera ignorância. Ex: pessoa que passa por locais ermos com histórico de ocorrência de crimes
Eliovaine

patrimoniais.

5.1.3. Vítima tão culpada quanto o criminoso

Nesse caso, estamos diante da vítima provocadora, sendo certo que, sem a sua colaboração o crime
não teria ocorrido. Temos como um dos exemplos o caso de homicídio privilegiado por relevante valor moral
(eutanásia), em que há uma “reciprocidade de culpas” entre o moribundo e/ou sua família e o profissional
de saúde que ministra a injeção letal.

5.1.4. Vítima mais culpada que o criminoso

Caso em que a conduta da vítima contribuiu de forma mais significativa à realização do crime do que
a conduta do autor. Ex: homicídio privilegiado praticado sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida
a injusta provocação da vítima.

120
GABRIELA ANDRADE VITIMOLOGIA • 10

5.1.5. Vítima exclusivamente culpada

Nesta hipótese, a vítima é a única culpada pela ocorrência do “crime”. Ilustrando, uma pessoa que,
após ingesta de álcool ou uso de drogas, com seus reflexos comprometidos, tenta fazer a travessia de
uma rodovia movimentada, vindo a ser atropelada e morta.

5.2. Por Hans Von Henting

O estudioso adotou a classificação das vítimas em três grupos 55:

CRI
MINOSO-
que volta a delinquir justamente em
razão da repulsa social que encontra na sociedade.
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CRI
MINOSO-
Casos de usuários de drogas que migram para o
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CRI
MINOSO-
Silva -- CPF:

6. PRINCIAIS SÍNDROMES VITIMOLÓGICAS


da Silva

6.1. Síndrome x Doença


Gouvea da
Eliovaine Gouvea

Em breves apontamentos, entende-se por síndrome um conjunto de sinais esintomas observáveis


em vários processos patológicos diferentes e sem causaespecífica. Ainda, é um conjunto de sintomas que
Eliovaine

definem um determinado estadoclínico associado a problemas de saúde, que nem sempre tem as causas
descobertas51. Ao passo que a doença apresenta causa(s) definida(s), a síndrome revela uma condição
quase sempre sem causas diagnosticadas.

Nesta linha, existem algumas síndromes verificadas dentro do estudo davitimologia, pelas quais
são acometidas determinadas vítimas.

6.2. Síndrome da mulher de Potifar

A base desta síndrome reside na rejeição afetiva daquele com quem a mulher desejava se
relacionar.
Trata-se da figura da mulher que, desprezada e rejeitada, imputa falsamente àquele que a
rejeitou afetivamente a prática de alguma conduta que se enquadrenuma das modalidades de crimes
sexuais.

51 https://www.globalcare.com.br/br/blog/quais -e-a-diferenca-entre-doenca-sindrome-e-transtorno.

121
GABRIELA ANDRADE VITIMOLOGIA • 10

Esta síndrome tem origem na história bíblica de José, filho de Jacó, que foi vendido como escravo ao
egípcio Potifar. José virou o homem de confiança de Potifar, que era oficial da guarda do palácio real. Ocorre
que a mulher de Potifar passou a assediar José querendo relacionar-se sexualmente com ele. Diante da
negativa de José,a mulher de Potifar inventou ao seu marido que foi abusada sexualmente por José.

Frise-se que é necessário um olhar cauteloso e sensível na análise dos delitos sexuais pelas
autoridades integrantes do sistema de justiça criminal, como forma de evitar a responsabilização de
inocentes, bem como a impunidade de culpados. Não se trata de uma tarefa fácil já que, em grande parte
dos casos, a clandestinidade é um elemento presente neste tipo de crime, subsistindo como meio de prova
a palavra da vítima em confronto à palavra do agressor.

Por óbvio, à palavra da vítima deve ser conferida especial relevância, mas sem que se descuide de
outros elementos de prova acostados, buscando o julgador comprovar a verossimilhança de suas alegações.

Nesta linha de intelecção, segue tese esposada pelo STJ, atinente aos crimes praticados no contexto
de violência doméstica e familiar:
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Nos delitos praticados em ambiente doméstico e familiar, geralmente praticados à


clandestinidade, sem a presença de testemunhas, a palavra da vítima possui especial
relevância, notadamente quando corroborada por outros elementos probatórios
acostados aos autos.52

6.3. Síndrome da mulher de Potifar x Síndrome da Barbie


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Diferentemente, a Síndrome da Barbie rotula a mulher como objeto de desejo e não como sujeito de
direitos, trazendo a ideia de objetificação.

Em alusão à famosa boneca Barbie, que apresentava às crianças, sobretudo às meninas, um padrão
Silva -- CPF:

relativo ao jeito de se vestir, de arrumar os cabelos, de se maquiar, de se portar. E esta apresentação acaba
por ser determinante, em alguns casos, dos comportamentos futuros dessas meninas, como se fossem
da Silva

tolhidas de vontade própria e independência.


Gouvea da

A consequência pode ser a colocação da mulher num espaço de submissão e aceitação, tornando-as
Eliovaine Gouvea

potenciais vítimas de delitos, sobretudo sexuais.


Eliovaine

6.4. Síndrome de Estocolmo

Recebeu esta nomenclatura em virtude de um assalto ocorrido em Estocolmo, no ano de 1973. Na


ocasião, as vítimas ficaram em poder dos raptores por cinco dias e desenvolveram vínculos afetivos com
eles.

Trata-se de um estado psicológico desenvolvido por vítimas de sequestro ou outros crimes que
importem a restrição da liberdade ambulatorial das vítimas, inicialmente como meio de defesa ou medo de
sofrerem algum tipo de violência, ou seja, por uma questão de sobrevivência, como forma de conquistar a
simpatia e compaixão de seus algozes.

52 AgRg no AREsp 1236017/ES, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 05/04/2018, DJe 11/04/2018

122
GABRIELA ANDRADE VITIMOLOGIA • 10

6.5. Síndrome de Londres

A denominação “Síndrome de Londres” surgiu após o evento ocorrido na Embaixada Iraniana, em


Londres, na década de 80, no qual terroristas árabes iranianos tomaram como reféns dezesseis diplomatas e
funcionários iranianos, três cidadãos britânicos e um libanês, durante seis dias.

No grupo de reféns, havia um funcionário iraniano chamado Abbas Lavasani, que discutia, com
frequência, com os terroristas dizendo que jamais se dedicaria ao Aiatolá, e que seu compromisso era com a
justiça da revolução islâmica. O clima entre Lavasani e os terroristas era o pior possível até que, em
determinado momento do sequestro, quando decidiram que um dos reféns deveria ser morto para que
acreditassem nas suas ameaças, os sequestradores escolheram Lavasani e o executaram53.

Representa, portanto, ideia oposta à síndrome de Estocolmo, na medida em que a vítima passa a
cultivar sentimentos negativos em relação aos seus raptores, gerando discussões e embates que podem
levar a sua morte.

7. ICTER VITIMAE – PROCESSO DE VITIMIZAÇÃO


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Como aponta Edmundo de Oliveira, "Iter Victimae é o caminho, interno e externo, que segue um
indivíduo para se converter em vítima, o conjunto de etapas que se operam cronologicamente no
desenvolvimento de vitimização54".

Fases do Iter Victimae, segundo a esquematização elaborada pelo próprio Edmundo de Oliveira em
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sua obra Vitimologia e o Direito Penal – O crime precipitado pela vítima, 2001, p. 101, in verbis:

Intuição (intuito) - A primeira fase do Iter Victimae é a intuição, quando se planta na mente da vítima
a idéia de ser prejudicado, hostilizada ou imolada por um ofensor.
Silva -- CPF:

Atos preparatórios (conatus remotus) - Depois de projetar mentalmente a expectativa de ser vítima,
da Silva

passa o indivíduo à fase dos atos preparatórios (conatus remotus), momento em que desvela a preocupação
de tornar as medidas preliminares para defender-se ou ajustar o seu comportamento, de
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

modo consensual ou com resignação, às deliberações de dano ou perigo articulados pelo ofensor.
Eliovaine

Início da execução (conatus proximus) - Posteriormente, vem a fase do início da execução (conatus
proximus), oportunidade em que a vítima começa a operacionalização de sua defesa, aproveitando a chance
que dispõe para exercitá-la, ou direcionar seu comportamento para cooperar, apoiar ou facilitar

a ação ou omissão aspirada pelo ofensor.

Execução (executio) - Em seguida, ocorre a autêntica execução distinguido-se pela definitiva


resistência da vítima para então evitar, a todo custo, que seja atingida pelo resultado pretendido por seu
agressor, ou então se deixar por ele vitimizar.

Consumação (consummatio) ou tentativa (crime falho ou conatus proximus) - Finalmente, após a


execução, aparece a consumação mediante o advento do efeito perseguido pelo autor, com ou sem a adesão
da vítima. Contatando-se a repulsa da vítima durante a execução, aí pode se dar a tentativa de crime, quando

53 GONZAGA, Christiano. Manual de Criminologia. 1ª. Edição. 2018. São Paulo: Editora Saraiva. p. 145.
54 (Vitimologia e direito penal, p.103-4)

123
GABRIELA ANDRADE VITIMOLOGIA • 10

a prática do fato demonstrar que o autor não alcançou seu propósito (finis operantis) em virtude de algum
impedimento alheio à sua vontade.(Edmundo de oliveira. Vitimologia e dreito penal. 2001, p. 105)
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GABRIELA ANDRADE

CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMINOSOS


CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMINOSOS • 11

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GABRIELA ANDRADE CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMINOSOS • 11

1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

Inicialmente, vale ressaltar que existem várias classificações propostas por estudiosos em
criminologia, de modo a traçar determinadas características de perfis criminosos.
Avaliar e conhecer essas classificações mostra-se de fundamental relevância na análise de questões
criminológicas voltadas a estabelecer, por exemplo, as causas do crime, bem como estudar medidas de
prevenção, combate e reação ao fenômeno criminal.

Nesse sentido, é verdade que a classificação de criminosos oferece ampla utilidade


criminológica, sobretudo nos aspectos atinentes a um diagnóstico correto, como
também a um prognóstico delitivo, assumindo, portanto, papel preponderante na função
ressocializadora do direito penal. 55

2. POR CESARE LOMBROSO

Como visto, Lombroso foi um dos expoentes da escola positiva. Para ele, o criminoso era um ser
atávico, pouco evoluído, que manifestava o caráter criminoso como algo natural de seu caráter evolutivo
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primário. Inicialmente, propôs a teoria do criminoso nato, surgindo, posteriormente, outras classificações, a
saber:
• Criminoso nato: é aquele indivíduo que “nasceu” criminoso, sendo essa condição a ele inerente
em razão de condições biológicas. Ademais, trata- se de um indivíduo estigmatizado e que possui
o criminoso forte instinto criminoso. Lombroso associava a figura dos delinquentes a
determinadas características físicas e traços de personalidade presentes nos indivíduos, com base
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na fisionomia e cranioscopia.
• Criminoso louco: indivíduo portador de alguma alienação mental, podendo apresentar
comportamento perverso.

Silva -- CPF:

Criminoso de ocasião: este tipo de criminoso acaba por delinquir influenciado pelas
circunstâncias que o cercam. A título de exemplificação, o indivíduo que comete um furto em
da Silva

razão da facilidade encontrada à subtração do objeto, aliada à vontade de obter um acréscimo


Gouvea da

patrimonial em seu favor.


Eliovaine Gouvea

• Criminoso por paixão: este criminoso resolve seus problemas passionais de forma violenta e
arbitrária, isto por conta de seu caráter impulsivo.
Eliovaine

3. POR ENRICO FERRI

Também expoente da escola positiva, traçou as seguintes classificações:


• Criminoso nato: na mesma linha traçada por Lombroso, o criminoso nato é um indivíduo
estigmatizado, que apresenta instinto criminoso, dotado de degeneração moral.
• Criminoso louco: portador de alguma alienação mental, bem como os fronteiriços – aqueles que
se enquadram em zona fronteiriça entre a doença mental e a normalidade. Estes indivíduos
delinquem devido a distúrbios de personalidade, por exemplo, transtorno de personalidade
antissocial (psicopatia), transtornos sexuais etc. Em geral, são pessoas frias, sem valores éticos e
morais, que cometem crimes com extrema violência, a título gratuito.
• Criminoso ocasional: este tipo de criminoso acaba por delinquir influenciado pelas circunstâncias
que o cercam, praticando crimes de forma eventual. Nos ensinamentos de Enrico Ferri, “o delito
é que procura o indivíduo”.

55 FILHO, Nestor Sampaio Penteado. Manual Esquemático de Criminologia. 4ª edição. Editora Saraiva.

126
GABRIELA ANDRADE CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMINOSOS • 11

• Criminoso habitual: é aquele que pratica crimes de forma reiterada, que faz do crime um hábito
e modo de viver.
• Criminoso passional: indivíduo impulsivo na resolução de suas tormentas.

4. POR RAFFAELE GARÓFALO

Outro representante da escola positiva, Garófalo apresentou classificação aseguir:


• Criminoso assassino: é o delinquente típico, egoísta, que segue o apetite instantâneo, ostenta
sinais exteriores e se aproxima dos selvagens.
• Criminoso enérgico ou violento: tem senso moral, mas é desprovido do sentimento de
compaixão.
• Ladrão ou neurastênico: não apresenta qualquer senso de moralidade.
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GABRIELA ANDRADE

ESTATÍSTICA CRIMINAL E CIFRAS CRIMINAIS


ESTATÍSTICA CRIMINAL E CIFRAS CRIMINAIS • 12

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GABRIELA ANDRADE ESTATÍSTICA CRIMINAL E CIFRAS CRIMINAIS • 12

1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES E TIPOS DE CRIMINALIDADE

A estatística criminal tem como escopo fornecer subsídios para o planejamento e execução de
políticas de segurança pública, em outras palavras, é utilizada para retratar a situação da segurança pública,
permitindo o planejamento de ações e investimentos no setor.
A análise de dados estatísticos voltados à segurança pública é um processo sistemático de produção
de conhecimento, que se realiza a partir da correlação entre os fatos criminosos ocorridos (conhecidos por
meio dos boletins ou registros de ocorrência policial) e os padrões/tendências da criminalidade num
determinado lugar.
Através dessa análise, as autoridades de segurança pública podem planejar suas ações, coordenando
e gerindo de forma eficiente os recursos destinados à área, com o propósito de controlar e neutralizar o
fenômeno da criminalidade e as manifestações de violência.
Nota-se, portanto, que os dados da estatística criminal se revelam de grande importância no aspecto
preventivo, posto que organizam e indicam os pontos de maiores índices de criminalidade, bem como as
espécies de crimes com maior incidência em determinado espaço geográfico, fornecendo subsídios às
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autoridades para o planejamento de ações preventivas. Ademais, esses dados coletados também podem
contribuir no aspecto investigativo, por exemplo, quando não há suspeitas em relação à autoria de um
determinado delito, mas sabe-se que o suspeito o pratica sempre no mesmo horário, em determinada rua e
com vítimas preferenciais (adolescentes em horário escolar, por exemplo).

Acredita-se, portanto, que a análise das estatísticas criminais pode contribuir na identificação do
vínculo entre os fatores de criminalidade e as infrações penais cometidas.
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Contudo, a análise desses dados estatísticos deve ser feita de forma comedida, posto que, como é
sabido, o índice de subnotificação criminal é considerável e pode não revelar a realidade criminal em termos
exatos.
Silva -- CPF:

Nesse contexto, surgem os conceitos de criminalidade real/genuína; criminalidade revelada/


da Silva

registrada/aparente e cifra negra/oculta/zona escura/ciffre noir.


Gouvea da
Eliovaine Gouvea

1.1 Criminalidade real ou genuína


Eliovaine

Expressa a realidade, referindo-se ao número efetivo de crimes ocorridos em determinado tempo e


local.

1.2. Criminalidade revelada, registrada ou aparente

Expressa a criminalidade que foi notificada às Autoridades e que, portanto, integram a esfera de
conhecimento do Poder Público.

1.3. Criminalidade oculta: cifra negra, cifra oculta, zona escura, ciffre noir

Revela o percentual de crimes que, por algum motivo, não chegaram ao conhecimento do Poder
Público.

129
GABRIELA ANDRADE ESTATÍSTICA CRIMINAL E CIFRAS CRIMINAIS • 12

2. CIFRA NEGRA

Como visto acima, a cifra negra expressa o percentual de crimes que, por algum motivo, não
chegaram ao conhecimento do Poder Público. Nesse sentido, pode-se afirmar que a cifra negra ou oculta
pode ser obtida pelo resultado da diferença entre a criminalidade real e a criminalidade revelada.

Ademais, frise-se que o índice de cifra oculta pode variar a depender do delito e da classe social a
que pertença o criminoso.

A expressão cifra pode indicar o resultado de uma soma, um cálculo ou quantidade total de
algo. O Brasil é um país populoso e de proporções continentais, portanto, imaginar que
todos os crimes ocorridos em nosso território são apurados e investigados pela polícia é
uma ingenuidade. Muitos delitos praticados sequer chegam ao conhecimento das
autoridades policiais, e quando não são apurados nem punidos, passam a compor a
denominada cifra negra do Direito Penal 56.

A terminologia cifra negra é empregada no contexto dos crimes denominados “crimes de colarinho
azul” ou blue collar crime. Sobre o tema, insta ressaltar o contraponto que se faz entre “crimes de colarinho
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azul X crimes de colarinho branco”.


Os crimes de colarinho azul são aqueles praticados por integrantes das classes sociais desfavorecidas,
ou seja, refere-se à criminalidade de rua, que se manifesta mediante a prática de delitos patrimoniais, dentre
outros. A referência à cor azul está atrelada a cor da gola dos macacões utilizados por trabalhadores das
fábricas norte-americanas.
A seu turno, a terminologia “crimes de colarinho branco” ou white colar crime faz referência à
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criminalidade praticada por indivíduos integrantes das classes abastadas – a criminalidade da elite, dos ricos
– numa referência às golas das camisas brancas utilizadas debaixo de impecáveis ternos. A expressão teve
origem nos estudos do sociólogo Edwin Sutherland, traduzindo, portanto, a ideia de criminalidade praticada
por indivíduos que ocupam posições sociais importantes e integram as classes mais favorecidas da sociedade.
Silva -- CPF:

A título de exemplificação, podemos citar a criminalidade econômica, na esteira das condutas


da Silva

tipificadas na Lei n.º 7.492/1986 (crimes contra o sistema financeiro nacional); Lei n.º 8.317/1990 (crimes
contra a ordem tributária) e Lei n.º 9.613/1998 (lavagem de capitais).
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

Nesse sentido, Christiano Gonzaga afirma:

Pelo que se percebe, claramente, os executivos sempre estão bem alinhados em ternos
Eliovaine

caríssimos e com camisas com colarinho-branco impecável, daí surgindo a expressão white-
collar. De outro lado, os operários braçais que trabalham no chão da fábrica, bem como
motoristas de ônibus e pessoas de baixa renda, usam uniformes azuis com colarinhos da
mesma cor, o que se convencionou chamar de blue-collar57.

No contexto dos crimes de colarinho branco, surge a terminologia cifra dourada ou cifra de ouro,
considerada espécie do gênero cifra negra/oculta, referindo-se aos delitos praticados pelas classes de elite e
que não chegam ao conhecimento do Poder Público.

A doutrina utiliza, em sentido amplo, a expressão cifra negra como sinônimo de cifra
oculta, significando o percentual de crimes não revelados ou não apurados pelo Estado.
Todavia, deve-se atentar que o termo cifra negra também é utilizado em sentido estrito
quando circunscrito à criminalidade do colarinho azul, em contraposição à cifra
dourada, que se refere à criminalidade do colarinho branco.58

56 FONTES, Eduardo & HOFFMANN, Henrique. Criminologia. 1ª. Edição. Ed. JusPodivm, 2018, p. 240.
57 GONZAGA, Christiano. Manual de Criminologia. 1ª edição, p. 47.
58 OLIVEIRA, Natacha Alves de Oliveira. Manual de Criminologia. Salvador: Editora JusPodivm,2018. Pg. 199.

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GABRIELA ANDRADE ESTATÍSTICA CRIMINAL E CIFRAS CRIMINAIS • 12

3. CIFRA DOURADA OU DE OURO

Como vimos acima, refere-se aos delitos praticados pelas classes de elite e que não chegam ao
conhecimento do Poder Público, ou seja, não são revelados e/ou descobertos.
Podemos fazer um raciocínio acerca da expressão “cifra dourada”, que remete ao metal nobre tipo
ouro, símbolo de riqueza e ostentação, característico das classes mais abastadas.
Os crimes praticados por estes indivíduos ditos “poderosos”, geralmente, estão relacionados a
transações ilícitas de cunho econômico, fiscal ou financeiro e revestem-se de alto grau de nocividade à
sociedade, embora essa percepção não seja tão clara.

4. CIFRA CINZA

Refere-se aos crimes que chegam ao conhecimento do Poder Público, por meio dos registros de
ocorrência e comunicações de fatos criminosos feitos nas Delegacias de Polícia ou demais órgãos com
atribuição, contudo, o conflito é resolvido nestes próprios órgãos e não prosperam. Como exemplo, o não
oferecimento de representação criminal nos crimes a ela condicionados.
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Consoante ensinamentos do professor Christiano Gonzaga59:

Entende-se por essa expressão as infrações penais que ocorrem, mas são solucionadas no
âmbito da própria Delegacia de Polícia, por meio de não oferecimento de representação,
desistência da vítima de continuar o procedimento e ausência de testemunhas que queiram
falar sobre os fatos, ou seja, quando ocorre alguma solução extraprocessual que impede a
continuidade do feito. Assim, são as infrações penais que caem no vazio e no esquecimento,
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como se fossem cinzas ao vento.

5. CIFRA AMARELA
Silva -- CPF:

A cifra amarela diz respeito à violência policial praticada em detrimento de determinadas pessoas e
não reveladas às autoridades e/ou órgãos correicionais devido ao receio de exposição que possa levar a
da Silva

algum tipo de represália ou vingança.


Gouvea da
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6. CIFRA VERDE
Eliovaine

Corresponde ao quantitativo de crimes praticados em detrimento do meio ambiente e que não chega
ao conhecimento do Poder Público.
Exemplo muito comum é o crime de “maus tratos a animais” previsto no Art. 32 da Lei n.º
9.605/1998.

59 GONZAGA, Christiano. Manual de Criminologia. 1ª. Edição. 2018. São Paulo: Editora Saraiva. 2018. P, 203.

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DIREITO PENAL DO INIMIGO


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GABRIELA ANDRADE DIREITO PENAL DO INIMIGO • 13

1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
A ideia de Direito Penal do Inimigo traduz o tratamento a ser conferido àqueles que se apresentam
como inimigos da sociedade, no sentido de representar os indivíduos que não se comportam de acordo com
as normas estabelecidas. Ao contrário, tais indivíduos violam deliberada e sistematicamente as normas legais
causando intranquilidade social e desafiando o sistema de justiça criminal.
A teoria possui seu nascedouro nos estudos do jurista alemão Günther Jakobs que defende, portanto,
que o direito penal tem como função primordial a tutela e reafirmação da norma diante da prática de uma
conduta que a desafie. Nesse sentido, a finalidade de proteção aos bens jurídicos mais importantes ficaria
em segundo plano.

2. DIREITO PENAL DO CIDADÃO X DIREITO PENAL DO INIMIGO

A teoria sustenta que não se pode conferir o mesmo tratamento penal aos “cidadãos” e aos “inimigos
do Estado”. Nesse ponto vale destacar a distinção entre aquele indivíduo que se comporta de acordo com as
normas estabelecidas ao convívio social e que, eventualmente pode vir a infringir alguma norma, daquele
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indivíduo que de forma sistemática e permanente se comporta de maneira contrária ao direito e sequer
demonstra alguma garantia de que irá mudar sua conduta.
O Direito Penal aplicável aos cidadãos observa todos os direitos e garantias fundamentais inerentes
a um Estado Democrático de Direito, culminando na aplicação da norma penal de forma equilibrada, com
observância ao devido processo legal material e processual.
No escólio de Fredie Didier, há duas dimensões para o devido processo legal:
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O devido processo legal formal ou processual exige o respeito a um conjunto de garantias


processuais mínimas, como o contraditório, o juiz natural, a duração razoável do processo e
outras. A seu turno, o devido processo legal substancial ou material é uma forma de
controle de conteúdo das decisões. Se o processo tem seu trâmite garantido por impulso
Silva -- CPF:

oficial até o provimento final com uma sentença ou acórdão, daí é de se concluir que há
devido processo legal se esta decisão é devida/adequada, leia- se: proporcional e
razoável.60
da Silva
Gouvea da

Já o Direito Penal do Inimigo propugna pela aplicação da norma penal despida da observância aos
Eliovaine Gouvea

direitos e garantias fundamentais, posto que estamos tratando de indivíduos que se revelam verdadeiros
inimigos do Estado, comportando-se de maneira a violar de forma permanente a lei penal, como por exemplo
Eliovaine

a criminalidade organizada, terroristas, traficantes de drogas, armas e pessoas etc. Para esses indivíduos, o
único meio de contenção seria a aplicação de normas eminentemente coercitivas.
Nesta linha de raciocínio, para Günther Jakobs61: “aquele que se desvia da norma por princípio não
oferece qualquer garantia de que se comportará como pessoa; por isso, não pode ser tratado como cidadão,
mas deve ser combatido como inimigo”.

3. CARACTERÍSTICAS

Com base nos ensinamentos do professor Paulo Sumariva62, podemos elencar como características
do Direito Penal do Inimigo:

60 GOMES, Luiz Flávio. Devido processo legal formal e devido processo legal substancial. Jusbrasil, 2010. Disponível em:
https://professorlfg.jusbrasil.com.br/artigos/121916992/devido-processo-legal-formal-e-devido- processo-legal-substancial Acesso
em 25 de novembro de 2021.
61 JAKOBS, Günther. Direito Penal do Inimigo. Tradução Gercélia Batista de Oliveira Mendes. Rio de Janeiro, Lumen Juris, 2008.
62 SUMARIVA, Paulo. Criminologia, Teoria e Prática. 4ª edição, p. 182-183.

133
GABRIELA ANDRADE DIREITO PENAL DO INIMIGO • 13

PENA Ideia de substituição de pena por medida de segurança,

X considerando a duração indeterminada das medidas de segurança,

MEDIDA DE de modo a retirar o inimigo do seio social enquanto persistir sua


SEGURANÇA propensão à prática delituosa.

JUÍZO DE
CULPABILIDADE Privilegia-se a periculosidade do inimigo em detrimento do
X juízo de culpabilidade que se faça sobre ele.
PERICULOSIDADE

ÓTICA ACERCA DO
O inimigo é visto como objeto de coação e não comosujeito
INIMIGO de direitos.

STATUS DO INIMIGO X O cidadão mantém seu status de pessoa mesmo sevier a


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STATUS DO CIDADÃO
delinquir, diferente do inimigo.

Antecipação da tutela penal de modo a atingir atos

ANTECIPAÇÃO DA preparatórios à prática delitiva, sem que isso importe redução da


TUTELA PENAL
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quantidade de pena, pois a ideia é justamente garantir a


tranquilidade social em detrimento dos direitos do inimigo.

O inimigo deve ser interceptado prévia e prontamente em


Silva -- CPF:

MOMENTO DE suas ações, em razão de sua periculosidade. Já em relação aos


da Silva

INCIDÊNCIA DO DIREITO
cidadãos, a reação penal incidirá a partir do momento quem que ele
PENAL
Gouvea da

manifestar uma prática delitiva.


Eliovaine Gouvea
Eliovaine

4. MANIFESTAÇÃO DO DIREITO PENAL DO INIMIGO NO ORDENAMENTO


JURÍDICO BRASILEIRO

Ante o exposto, podemos perceber os reflexos da tese do Direito Penal do Inimigo em nosso
ordenamento jurídico, tanto no Código Penal, Código de Processo Penal, como na legislação penal
extravagante.
Como exemplo, citamos o art. 288 do Código Penal, a punir a conduta de “associação criminosa”,
criminalizando e sancionando uma conduta que, em tese, é meramente preparatória à eventual prática de
delitos futuros (que podem ocorrer ou não). Ademais, citamos o art. 312 do Código de Processo Penal, a
autorizar a custódia cautelar preventiva com a finalidade de garantir da ordem pública e assegurar a aplicação
da lei penal durante o processo.
Nas leis extravagantes, temos o exemplo do art. 1º, § único, inciso II da Lei n.º 8.072/1990, que erigiu
à categoria de crime hediondo o crime de “posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso proibido”, previsto
no art. 16 da Lei n.º 10.826/2003, numa clara manifestação de promover tratamento penal mais severo a
uma conduta que vem afligindo, mormente a população do estado do Rio de Janeiro, mediante a ostentação

134
GABRIELA ANDRADE DIREITO PENAL DO INIMIGO • 13

de armas de fogo de uso restrito (fuzis, submetralhadoras etc), por integrantes das facções criminosas ligadas
ao tráfico de drogas, revelando, assim, a ideia de combate ao “inimigo” da sociedade fluminense.

5. CRÍTICAS À TEORIA DO DIREITO PENAL DO INIMIGO

A reflexão que se coloca é a seguinte: a teoria pode ser aplicada em nosso país sem que isso importe
ofensa aos princípios insculpidos em nossa Constituição Federal?
Sobre isso, vale ressaltar que há severas críticas referentes às premissas traçadas pela tese do Direito
Penal do Inimigo em contraponto com os direitos e garantias fundamentais previstos em nossa Constituição,
mormente, o princípio da Dignidade da Pessoa Humana. Trata-se de princípio fundamental da República
Federativa do Brasil insculpido no Art. 1º, inciso III, CF/88, representando um postulado central do
ordenamento jurídico pátrio, que norteia e inspira a criação, aplicação e interpretação dos diversos diplomas
normativos, bem como a atividade estatal (eficácia vertical dos direitos fundamentais) e atividades inseridas
no âmbito privado (eficácia horizontal dos direitos fundamentais).
De acordo com os ensinamentos do professor Paulo Sumariva, com redação adaptada: nosso Código
Penal, em seu art. 2º, deixou clara a opção legislativa em adotarmos a ideia de “direito penal do fato” e a
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tese do Direito Penal do Inimigo é uma clara manifestação do direito penal do autor, aquele que pune o
agente em razão do que ele é, e não do que ele fez. Ainda, só se pode conceber a ideia de um direito penal
verdadeiro, se vinculado aos ideais democráticos, o que não ocorre com a tese do inimigo que considera a
periculosidade do agente e não sua culpabilidade, bem como não se preocupa com a questão da
proporcionalidade das penas em relação aos danos causados. Essa lógica de “guerra” e intolerância contra o
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inimigo não se coaduna com o Estado de Direito, revelando-se inconstitucional.63


De outro giro, existem posicionamentos no sentido de que a nossa Constituição Federal teria, de
certa forma, admitido certas nuances relacionadas ao Direito Penal do Inimigo, especialmente quando prevê
algumas supressões de direitos fundamentais em casos específicos, conferindo tratamento mais severo, por
Silva -- CPF:

exemplo, aos crimes de racismo, crimes hediondos e equiparados e a ação de grupos armados, civis ou
militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático na inteligência do art. 5º, incisos XLII, XLIII e
da Silva

XLIV da CF/88:
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-
se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
Eliovaine

[...]
XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena
de reclusão, nos termos da lei;
XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática
da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos
como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que,
podendo evitá-los, se omitirem;
XLIV - constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis ou
militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático.

Por derradeiro, vale o destaque à crítica traçada por Jakobs, em relação à adoção de sua teoria por
alguns ordenamentos jurídicos, contudo de forma fragmentada. Para o autor, a teoria, caso seja adotada,
deve ser aplicada na sua integralidade, sob pena de incorrermos no risco de que cidadãos em delinquência
eventual recebam tratamento que deveria ser dispensado apenas aos verdadeiros inimigos do Estado e da
sociedade.

63 SUMARIVA, Paulo. Criminologia, Teoria e Prática. 4ª edição, p. 184-185.

135
GABRIELA ANDRADE DIREITO PENAL DO INIMIGO • 13

6. AS VELOCIDADES DO DIREITO PENAL

Em apertada síntese, apresentamos as “velocidades do direito penal”, referindo- se ao tempo de


resposta dada pelo Estado quando da prática de um delito, a dependerde sua maior ou menor gravidade:
No escólio do professor Rogério Sanches64:

a. 1ª velocidade: enfatiza as infrações penais mais graves, punidas com penas privativas de
liberdade, exigindo, por este motivo um procedimento mais demorado, que observa todas as
garantias penais e processuais penais;
b. 2ª velocidade: relativiza, flexibiliza direitos e garantias fundamentais, possibilitando punição
mais célere, mas, em compensação, prevê como consequência jurídica do crime sanção não
privativa de liberdade (penas alternativas);
c. 3ª velocidade: mescla as duas anteriores. defende a punição do criminoso com pena privativa
de liberdade (1ª velocidade), permitindo, para determinados crimes, tidos como mais graves, a
privação ou eliminação dos direitos e garantias constitucionais (2ª velocidade), caminho para
uma rápida punição. O Estado responde de forma intensa e célere (nem sempre sinônimo de
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justiça). Eessa velocidade está presente na condução do direito penal do inimigo;


d. 4ª velocidade: ligado ao direito internacional. Àqueles que uma vez ostentaram uma posição de
chefes de Estado e, como tal, violaram gravemente tratados internacionais de tutela de direitos
humanos, serão aplicadas as normas internacionais, submetendo-se a jurisdição do TPI (Tribunal
Penal Internacional).
Gouvea da
Eliovaine Gouvea
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Silva -- CPF:
da Silva

64 SANCHES, Rogério. Manual de Direito Penal, Parte Geral. 2013. P. 40.

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GABRIELA ANDRADE QUESTÕES

QUESTÕES DE CONCURSOS
QUESTÕES
1. (2014 - MPE-AC - Promotor de Justiça) Em relação às possibilidades de controle social formal, informal
a alternativo, assinale a opção correta.
a) O Estado laico limita a função de controle social informal dos poderes religiosos.
b) A educação representa forma de controle social informal.
c) A ação das polícias que extrapola seu rol legal de competência é exemplo de controle social alternativo.
d) O poder público é o único titular do controle social no âmbito do estado democrático de direito.
e) A família exerce função de controle social idêntica ao controle jurídico.
2. (2019 - PC-ES - Delegado de Polícia) A Criminologia adquiriu autonomia e status de ciência quando o
positivismo generalizou o emprego de seu método. Nesse sentido, é correto afirmar que a criminologia é
uma ciência:
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a) do “dever ser”; logo, utiliza-se do método abstrato, formal e dedutivo, baseado em deduções lógicas e
da opinião tradicional.
b) empírica e teorética; logo, utiliza-se do método indutivo e empírico, baseado em deduções lógicas e
opinativas tradicionais.
c) do “ser”; logo, serve-se do método indutivo e empírico, baseado na análise e observação da realidade.
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d) do “dever ser”; logo, utiliza-se do método indutivo e empírico, baseado na análise e observação da
realidade.
e) do “ser”; logo, serve-se do método abstrato, formal e dedutivo, baseado em deduções lógicas e da
Silva -- CPF:

opinião tradicional.
da Silva

3. (2019 - PC-ES - Delegado de Polícia) O estudo da pessoa do infrator teve seu protagonismo durante a
Gouvea da

fase positivista na evolução histórica da Criminologia. Assinale, dentre as afirmativas abaixo, a que descreve
Eliovaine Gouvea

corretamente como a criminologia tradicional o examina.


Eliovaine

a) A criminologia tradicional examina a pessoa do infrator como uma realidade biopsicopatológica,


considerando o determinismo biológico e social.
b) A criminologia tradicional examina a pessoa do infrator como um incapaz de dirigir por si mesmo sua
vida, cabendo ao Estado tutelá-lo.
c) A criminologia tradicional examina a pessoa do infrator como uma unidade biopsicossocial, considerando
suas interdependências sociais.
d) A criminologia tradicional examina a pessoa do infrator como um sujeito determinado pelas estruturas
econômicas excludentes, sendo uma vítima do sistema capitalista.
e) A criminologia tradicional examina a pessoa do infrator como alguém que fez mau uso da sua liberdade
embora devesse respeitar a lei.
4. (2019 - PC-ES - Delegado de Polícia) Na atualidade se observa uma generalização do sentimento coletivo
de insegurança nos cidadãos, caracterizado tanto pelo temor de tornarem-se vítimas, como pela
preocupação, ou estado de ânimo coletivo, com o problema do delito. Considere as afirmativas e marque
a única correta.

137
GABRIELA ANDRADE QUESTÕES

a) O incremento dos índices de criminalidade registrada (tese do volume constante do delito) mantém
correspondência com as demonstrações das pesquisas de vitimização já que seus dados procedem das
mesmas repartições do sistema legal.
b) A população reclusa oferece uma amostra confiável e representativa da população criminal real, já que
os agentes do controle social se orientam pelo critério objetivo do fato cometido e limitam-se a detectar o
infrator, qualquer que seja este.
c) O fenômeno do medo ao delito não enseja investigações empíricas na Criminologia por tratar-se de uma
consequência trivial da criminalidade diretamente proporcional ao risco objetivo.
d) O medo do delito pode condicionar negativamente o conteúdo da política criminal imprimindo nesta um
viés de rigor punitivo, contrário, portanto, ao marco político-constitucional do nosso sistema legal.
e) As pesquisas de vitimização constituem uma insubstituível fonte de informação sobre a criminalidade
real, já que seus dados procedem das repartições do sistema legal sendo condicionantes das estatísticas
oficiais.
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5. (2018 - PC-MG - Escrivão de Polícia Civil) A respeito dos objetos da Criminologia, analise as assertivas
abaixo:
I - O conceito de delito para a Criminologia é o mesmo para o Direito Penal, razão pela qual tais disciplinas
se mostram complementares e interdependentes.
II - Desde os teóricos do pensamento clássico, o centro dos interesses investigativos da primitiva
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Criminologia sempre esteve no estudo do criminoso, prisioneiro de sua própria patologia (determinismo
biológico), ou de processos causais alheios (determinismo social).
III - O controle social consiste em um conjunto de mecanismos e sanções sociais que pretendem submeter
o indivíduo aos modelos e às normas comunitários. Para alcançar tais metas, as organizações sociais lançam
Silva -- CPF:

mão de dois sistemas articulados entre si: o controle social informal e o controle social formal.
da Silva

IV - A particularidade essencial da vitimologia reside em questionar a aparente simplicidade em relação à


Gouvea da

vítima e mostrar, ao mesmo tempo, que o estudo da vítima é complexo, seja na esfera do indivíduo, seja
Eliovaine Gouvea

na interrelação existente entre autor e vítima.


São CORRETAS apenas as assertivas:
Eliovaine

a) I, II e III.
b) II e IV.
c) II, III e IV.
d) III e IV.
6. (2018 - PC-MG - Escrivão de Polícia Civil) A relação entre Criminologia e Direito
Penal está evidenciada de forma CORRETA em:
a) A Criminologia aproxima-se do fenômeno delitivo, sendo prescindível a obtenção de uma informação
direta desse fenômeno. Já o Direito Penal limita interessadamente a realidade criminal, mediante os
princípios da fragmentariedade e da seletividade, observando a realidade sempre sob o prisma do modelo
típico.
b) A Criminologia e o Direito Penal são disciplinas autônomas e interdependentes, e possuem o mesmo
objetivo com meios diversos. A Criminologia, na atualidade, erigese em estudos críticos do próprio Direito
Penal, o que evita qualquer ideia de subordinação de uma ciência em cotejo com a outra.

138
GABRIELA ANDRADE QUESTÕES

c) A Criminologia tem natureza formal e normativa. Ela isola um fragmento parcial da realidade, a partir de
critérios axiológicos. Por outro lado, o Direito Penal reclama do investigador uma análise totalizadora do
delito, sem mediações formais ou valorativas que relativizem ou obstaculizem seu diagnóstico.
d) A Criminologia versa sobre normas que interpretam em suas conexões internas, sistematicamente.
Interpretar a norma e aplicá-la ao caso concreto, a partir de seu sistema, são os momentos centrais da
Criminologia. Por isso, ao contrário do Direito Penal, que é uma ciência empírica, a Criminologia tem um
método dogmático e seu proceder é dedutivo sistemático.
7. (2018 - PC-SE - Delegado de Polícia) Acerca do conceito e das funções da criminologia, julgue o item
seguinte.
A criminologia é uma ciência dogmática que se preocupa com o ser e o dever ser e parte do fato para
analisar suas causas e buscar definir parâmetros de coerção punitiva e preventiva.
( ) Certo
( ) Errado
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8. (2018 - TJ-CE - Juiz Substituto) A respeito da política criminal, da criminologia, da aplicação da lei penal
e das funções da pena, julgue os itens subsequentes.
I - Criminologia é a ciência que estuda o crime como fenômeno social e o criminoso como agente do ato
ilícito, não se restringindo à análise da norma penal e seus efeitos, mas observando principalmente as
causas que levam à delinquência, com o fim de possibilitar o aperfeiçoamento dogmático do sistema penal.
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II - A política criminal constitui a sistematização de estratégias, táticas e meios de controle social da


criminalidade, com o propósito de sugerir e orientar reformas na legislação positivada.
III - O direito penal positivado no ordenamento penal brasileiro corrobora a teoria absoluta, porquanto
Silva -- CPF:

consagra a ideia do caráter retributivo da sanção penal.


IV - Considera-se o lugar da prática do crime aquele onde tenha ocorrido a ação ou omissão, e não onde se
da Silva

tenha produzido o seu resultado.


Gouvea da
Eliovaine Gouvea

Estão certos apenas os itens


a) I e II.
Eliovaine

b) I e IV
c) II e III.
d) I, III e IV.
e) II, III e IV.
9. (DPE-PE) Com relação às escolas e às teorias jurídicas do direito penal, assinale a opção correta.
a) Os positivistas conclamavam a justiça a olhar para o crime como uma entidade jurídica, enquanto os
clássicos encaravam o crime como fatos sociais e humanos.
b) Na primeira metade do século passado, floresceu, na Universidade de Chicago, a chamada teoria
ecológica ou da desorganização social, que considerava o crime um fenômeno ligado a áreas naturais.
c) A labelling approach enxerga o comportamento criminoso como motivado por razões ontológicas ou
intrínsecas, e não como decorrente do sistema de controle social.

139
GABRIELA ANDRADE QUESTÕES

d) A escola clássica ficou marcada pelo método de fundo dedutivo que empregava na ciência do direito
penal: o jurista deveria partir do concreto, ou seja, das questões jurídico-penais, para passar ao abstrato,
ou seja, ao direito positivo.
e) Os clássicos adotavam princípios relativos e que não se sobrepunham às leis em vigor, evitando leis
draconianas e excessivamente rigorosas, com penas desproporcionais.
10. (2019 - TJ-RO - Juiz de Direito Substituto) Dentre as escolas e doutrinas penais apresentadas a seguir,
a que adota como finalidade da pena exclusivamente a prevenção geral positiva é:
a) a Escola Positivista.
b) a Escola Correcionalista.
c) a Escola Técnico-jurídica.
d) o Funcionalismo de Günther Jakobs.
e) a Escola Clássica.
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11. (2019 - TJ-PR - Juiz Substituto) Com relação às escolas e tendências penais, julgue os itens seguintes.
I - De acordo com a escola clássica, a responsabilidade penal é lastreada na imputabilidade moral e no livre-
arbítrio humano.
II - A escola técnico-jurídica, que utiliza o método indutivo ou experimental, apresenta as fases
antropológica, sociológica e jurídica.
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III - A escola correcionalista fundamenta-se na proposta de imposição de pena, com caráter intimidativo,
para os delinquentes normais, e de medida de segurança para os perigosos. Para essa escola, o direito penal
é a insuperável barreira da política criminal.
Silva -- CPF:

IV - O movimento de defesa social sustenta a ressocialização do delinquente, e não a sua neutralização.


Nesse movimento, o tratamento penal é visto como um instrumento preventivo.
da Silva

Estão certos apenas os itens


Gouvea da
Eliovaine Gouvea

a) I e III.
b) I e IV.
Eliovaine

c) II e III.
d) II e IV.
12. (2018 – PC-GO - Delegado de Polícia) Para a criminologia positivista, a criminalidade é uma realidade
ontológica, pré-constituída ao direito penal, ao qual cabe tão somente reconhecê-la e positivá-la. Neste
sentido, tem-se o seguinte:
a) Em seus primeiros estudos, Cesare Lombroso encontrou no atavismo uma explicação para relacionar a
estrutura corporal ao que chamou de criminalidade habitual.
b) A periculosidade, ou temeritá, tal como conceituada por Enrico Ferri, foi definida como a perversidade
constante e ativa a recomendar que esta, e não o dano causado, a medida de proporcionalidade de
aplicação da pena.
c) Para Raffaele Garófalo (1851-1934), a defesa social era a luta contra seus inimigos naturais carecedores
dos sentimentos de piedade e probidade.

140
GABRIELA ANDRADE QUESTÕES

d) Nos marcos do pensamento criminológico positivista, Enrico Ferri, embora discípulo de Lombroso,
abandonou a noção de criminalidade centrada em causas de ordem biológica, passando a considerar como
centrais as causas ligadas à etiologia do crime, sendo estas: as individuais, as físicas e as sociais.
e) Enrico Ferri e Cesare Lombroso, recorrendo à metáfora da guerra contra o delito, sustentaram a
possibilidade de aplicação das penas de deportação ou expulsão da comunidade para aqueles que
carecessem do sentido de justiça ou o tivessem aviltado.
13. (2018 - PC-GO - Delegado de Polícia) Tendo a obra O Homem Deliquente, de Cesare Lombroso (1836-
1909), como fundante da Criminologia surgida a partir da segunda metade do século XIX, verifica-se que,
segundo a sistematização realizada por Enrico Ferri (1856-1929), o pensamento criminológico positivista
assenta-se, dentre outras, na tese de que:
a) o livre arbítrio é um conceito chave para o direito penal.
b) os chamados delinquentes poderiam ser classificados como loucos, natos, morais, passionais e de
ocasião.
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c) a defesa social é tomada como o principal objetivo da justiça criminal.


d) a responsabilidade social, tida como clássica, deveria ser substituída pela categoria da responsabilidade
moral para imputação do delito.
e) a natureza objetiva do crime, mais do que a motivação, deve ser base para medida da pena.
14. (2018 - PC-SP - Delegado de Polícia) No que concerne às Escolas Penais, é correto afirmar que a:
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a) “Positiva” entende que o crime deriva de circunstâncias biológicas ou sociais, tendo sido defendida por
Feuerbach.
b) “Clássica” funda-se no livre-arbítrio e tem em Carrara um de seus maiores expoentes.
Silva -- CPF:

c) “Lombrosiana” acredita que o homem é racional e nasce livre, sendo o crime fruto de uma escolha errada,
da Silva

concepção hipotetizada por Lombroso e também por Ferri.


Gouvea da

d) “Clássica” entende que a pena é medida profilática, de cura, pensamento difundido por Carmignani.
Eliovaine Gouvea

e) “Positiva” nasce em contraposição às ideias de Lombroso, defende o naturalismo racional e tem em


Eliovaine

Garófalo um de seus doutrinadores.


15. (MPE-GO - Promotor de Justiça - Reaplicação) Em sua obra "Criminologia" sobre duas visões principais
da macrossociologia que influenciaram o pensamento criminológico. À primeira delas, de corte
funcionalista, ele as denomina de teorias de consenso (escola de Chicago, teoria da associação diferencial,
teoria da anomia e teoria da subcultura delinquente). Por seu turno, a segunda visão, argumentativa, foi
conceituada como teorias do conflito (teorias do labelling approach e crítica). De acordo com as lições do
referido autor acerca das escolas sociológicas do crime, analise as proposições abaixo e marque a
alternativa correta:
I - A teoria da associação diferencial sugere que o crime não pode ser definido simplesmente como
disfunção ou inadaptação de pessoas de classes menos favorecidas, não sendo ele exclusividade destas.
Essa teoria assenta-se na consideração de que o processo de Comunicação é determinante para a prática
delitiva. Para ela, o comportamento criminal é um comportamento aprendido.
II - Para a teoria da anomia, o crime é visto como um fenômeno normal da sociedade e não necessariamente
ruim. Isto porque o criminoso pode desenvolver um útil papel para a sociedade, seja quando contribuiu
para o progresso social, criando impulsos para a mudança das regras sociais, seja quando os seus atos

141
GABRIELA ANDRADE QUESTÕES

oferecem a ocasião de afirmar a validade destas regras, mobilizando a sociedade em torno dos valores
coletivos.
III - A subcultura delinquente pode ser definida como um comportamento de transgressão que é
determinado por um subsistema de conhecimento, crenças e atitudes que possibilitam, permitem ou
determinam formas particulares de comportamento transgressor em situações específicas.
IV - Para a teoria crítica, o fundamento imediato do ato desviado é a ocasião, a experiência ou o
desenvolvimento estrutural que fazem precipitar esse ato não em um sentido determinista, mas no sentido
de eleger, com plena consciência, o caminho da desviação como solução dos problemas impostos pelo fato
de viver em uma sociedade caracterizada por contradições.
a) apenas as proposições I e II são corretas.
b) apenas as proposições I e IV são corretas.
c) as proposições II e IV são incorretas.
d) todas as proposições são corretas.
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16. (2019 - PC-ES - Delegado de Polícia) Constitui um dos objetivos metodológicos da teoria do Labelling
Approach (Teoria do Etiquetamento Social) o estudo detalhado da atuação do controle social na
configuração da criminalidade. Assinale a alternativa correta:
a) Para o labelling approach, o controle social penal possui um caráter seletivo e discriminatório gerando a
criminalidade.
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b) O labelling approach é uma teoria da criminalidade que se aproxima do paradigma etiológico


convencional para explicar a distribuição seletiva do fenômeno criminal.
c) Para o labelling approach, um sistemático e progressivo endurecimento do controle social penal
Silva -- CPF:

viabilizaria o alcance de uma prevenção eficaz do crime.


da Silva

d) O labelling approach, como explicação interacionista do fato delitivo, destaca o problema hermenêutico
da interpretação da norma penal.
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

e) O labelling approach surge nos EUA nos anos 80, admitindo a normalidade do fenômeno delitivo e do
delinquente.
Eliovaine

17. (2019 - PC-ES - Delegado de Polícia) O pensamento criminológico moderno, de viés macrossociológico,
é influenciado pela visão de cunho funcionalista (denominada teoria da integração, mais conhecida por
teorias do consenso) e de cunho argumentativo (denominada por teorias do conflito). É correto afirmar
que:
a) São exemplos de teorias do consenso a Escola de Chicago, a teoria de associação diferencial, a teoria da
subcultura do delinquente e a teoria do etiquetamento.
b) São exemplos de teorias do conflito a teoria de associação diferencial a teoria da anomia, a teoria do
etiquetamento e a teoria crítica ou radical.
c) São exemplos de teorias do consenso a Escola de Chicago, a teoria de associação diferencial, a teoria da
anomia e a teoria da subcultura do delinquente.
d) São exemplos da teoria do consenso a teoria de associação diferencial, a teoria da anomia, a teoria do
etiquetamento e a teoria crítica ou radical.
e) São exemplos da teoria do conflito a Escola de Chicago, a teoria de associação diferencial, a teoria da
anomia e a teoria da subcultura do delinquente.

142
GABRIELA ANDRADE QUESTÕES

18. (2019 - PC-ES - Delegado de Polícia) Os modelos sociológicos contribuíram decisivamente para um
conhecimento realista do problema criminal demonstrando a pluralidade de fatores que com ele
interagem. Leia as afirmativas a seguir, e marque a alternativa INCORRETA:
a) As teorias conflituais partem da premissa de que o conflito expressa uma realidade patológica da
sociedade sendo nocivo para ela na medida em que afeta o seu desenvolvimento e estabilidade.
b) As teorias ecológicas partem da premissa de que a cidade produz delinquência, valendo-se dos conceitos
de desorganização e contágio social inerentes aos modernos núcleos urbanos.
c) As teorias subculturais sustentam a existência de uma sociedade pluralista com diversos sistemas de
valores divergentes em torno dos quais se organizam outros tantos grupos desviados.
d) As teorias estrutural-funcionalistas consideram a normalidade e a funcionalidade do crime na ordem
social, menosprezando o componente biopsicopatológico no diagnóstico do problema criminal.
e) As teorias de aprendizagem social sustentam que o comportamento delituoso se aprende do mesmo
modo que o individuo aprende também outras atividades lícitas em sua interação com pessoas e grupos.
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19. (2019 - PC-ES - Delegado de Polícia) Leia o texto a seguir e responda ao que é solicitado.
“Os irmãos Batista, controladores da JBS, tiveram vantagem indevida de quase R$73 milhões com a venda
de ações da companhia antes da divulgação do acordo de delação premiada que veio a público em
17/05/2017, conforme as conclusões do inquérito da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). O caso analisa
eventual uso de informação privilegiada e manipulação de mercado por Joesley e Wesley Batista, e quebra
CPF: 030.720.271-29

do dever de lealdade, abuso de poder e manipulação de preços pela FB Participações”. (Jornal Valor
Econômico, 13/08/2018):
Com relação à criminalidade denominada de colarinho branco, pode-se afirmar que a teoria da associação
diferencial.
Silva -- CPF:

a) sustenta como causa da criminalidade de colarinho branco a proposição de que o criminoso de hoje era
da Silva

a criança problemática de ontem.


Gouvea da

b) entende que o delito é derivado de anomalias no indivíduo podendo ocorrer em qualquer classe social.
Eliovaine Gouvea

c) sustenta que o crime está concentrado na classe baixa, sendo associado estatisticamente com a pobreza.
Eliovaine

d) sustenta que a aprendizagem dos valores criminais pode acontecer em qualquer cultura ou classe social.
e) enfatiza os fatores sociopáticos e psicopáticos como origem do crime da criminalidade de colarinho
branco.
20. (2019 - TJ-PA - Juiz de Direito Substituto) Considerável parcela de doutrinadores compreende a política
criminal como o conjunto de princípios e atividades que tem por fim reagir contra o fenômeno delitivo,
através do sistema penal, determinando os meios mais adequados para o controle da criminalidade. A partir
dessa afirmação, julgue os itens a seguir.
I - Os movimentos sociais conhecidos por Tolerância Zero, Nova Defesa Social e Despenalização das
Contravenções são considerados instrumentos de endurecimento do Estado no combate ao crescimento
da criminalidade.
II - Os defensores do movimento Lei e Ordem reconhecem que o agravamento das penas é medida
necessária para combater a violência, embora acreditem que não faça justiça às vítimas.

143
GABRIELA ANDRADE QUESTÕES

III - O movimento Tolerância Zero parte da ideia de que o Estado não deve negligenciar fatos criminosos,
por mais insignificantes que sejam, já que esses fatos contêm em si uma fonte de irradiação da
criminalidade.
Assinale a opção correta.
a) Apenas o item I está certo.
b) Apenas o item II está certo.
c) Apenas o item III está certo.
d) Apenas os itens I e II estão certos.
e) Apenas os itens II e III estão certos.
21. (MPE-SC - Promotor de Justiça – Matutina) O garantismo penal de Ferrajoli é contrário à proposta de
eliminação do Direito Penal, que é denominada como abolicionismo. O motivo dessa posição é a
consideração de que a aplicação do Direito Penal pelo Estado pode ser um instrumento para a garantia do
respeito aos direitos do acusado.
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( ) Certo
( ) Errado
22. (MPE-SC - Promotor de Justiça – Matutina) A política de repressão implementada nos anos 90 pelo
então Prefeito de Nova York, Rudolph Giuliani, orientada pelo chamado “movimento da lei e da ordem”, é
CPF: 030.720.271-29

criticada porque resultou no aumento da violência policial e não obteve redução dos índices de
criminalidade.
( ) Certo
Silva -- CPF:

( ) Errado
23. (2018 - PC-MG - Delegado de Polícia Substituto) Sobre a relação entre o preso e a sociedade, segundo
da Silva

Alessandro Baratta, é CORRETO afirmar:


Gouvea da
Eliovaine Gouvea

a) A reinserção do preso na sociedade, após o cumprimento da pena, é assegurada a partir do momento


em que, no cárcere, o preso absorve um conjunto de valores e modelos de comportamento desejados
Eliovaine

socialmente.
b) É necessário primeiro modificar os excluídos, para que eles possam voltar ao convívio social na sociedade
que está apta a acolhê-los.
c) O cárcere não reflete as características negativas da sociedade, em razão do isolamento a que são
submetidos os presos.
d) São relações sociais baseadas no egoísmo e na violência ilegal, no interior das quais os indivíduos
socialmente mais débeis são constrangidos a papéis de submissão e de exploração.
24. (2018 - DPE-AP - Defensor Público) Considere a seguinte citação.
Trata-se das funções não declaradas da pena, que ampliam a ameaça punitiva para satisfazer a demanda
social de castigo. A norma penal não se dirige estritamente à sua aplicação, senão que segue encaminhada
aos possíveis eleitores e a opinião pública em geral, para demonstrar que os governantes fazem algo contra
o delito, procurando tranquilizar a sociedade mediante a ideia de uma eficaz atuação preventiva do Estado.
No Direito Penal, o trecho citado refere-se a
a) funções penais transcendentes.

144
GABRIELA ANDRADE QUESTÕES

b) esquerda punitivista.
c) movimento de lei e ordem.
d) direito penal simbólico.
e) direito penal do inimigo.
25. (2019 - PC-ES - Delegado de Polícia) A dor causada à vítima, ao ter que reviver a cena do crime, ao ter
que declarar ao juiz o sentimento de humilhação experimentado, quando os advogados do acusado culpam
a vítima, argumentando que foi ela própria que, com sua conduta, provocou o delito. Os traumas que
podem ser causados pelo exame médico-forense, pelo interrogatório policial ou pelo reencontro com o
agressor em juízo, e outros, são exemplos da chamada vitimização.
a) indireta.
b) secundária.
c) primária.
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d) terciária.
e) direta.
26 . (2019 - DPE-DF - Defensor Público) A criminologia, diante do fenômeno do delito, na busca de conhecer
fatores criminógenos, traça um paralelo entre vítima e criminoso. Partindo dessa premissa dual, chamada
por Mendelsohn de “dupla-penal”, extraem-se importantes situações fenomenológicas. Acerca desses
CPF: 030.720.271-29

estudos, julgue o item seguinte.


A criminologia classifica como vitimização secundária a coisificação, pelas esferas de controle formal do
delito, da pessoa ofendida, ao tratá-la como mero objeto e com desdém durante a persecução criminal.
Silva -- CPF:

( ) Certo
( ) Errado
da Silva
Gouvea da

27 (2018 - PC-SE - Delegado de Polícia) Texto associado:


Eliovaine Gouvea

Texto: Sentença
Eliovaine

Ação: Medidas Protetivas de Urgência (Lei Maria da Penha)


Processo n.º: XXXXXXX
Ana de Jesus foi à polícia reclamar que Mário, seu ex-namorado, alcoólatra e usuário de drogas, lhe fez
ameaça de morte e ainda lhe deu umas refregas (sic), ao que seguiram a comunicação do fato e o pedido
de medida protetiva. É lamentável que a mulher não se dê ao respeito e, com isso, faça desmerecido o
poder público. Simplesmente decidir que o agressor deve manter determinada distância da vítima é um
nada. Depois que sujeito, sendinto só a debilidade do poder público, invadir a distância marcada, caberá à
vítima, mais uma vez, chamar a polícia, a qual, tendo ido ao local, o afastará dali. Mais que isso, legalmente,
pouco há que fazer. Enfim, enquanto a mulher não se respeitar, não se valorizar, ficará nesse ramerrão sem
fim – agressão, reclamação na polícia, falta de proteção. Por outro lado, ainda vige o instituto da legítima
defesa, muito mais eficaz que qualquer medidazinha (sic) de proteção. Intimem-se, inclusive ao MP.
No Brasil, a edição da Lei Maria da Penha retratou a preocupação da sociedade com a violência doméstica
contra a mulher, e a incorporação do feminicídio ao Código Penal refletiu o conhecimento de conduta
criminosa reiterada relacionada à questão de gênero. Mesmo com tais medidas, que visam reduzir a
violência contra as mulheres, as estatísticas nacionais apontam para um agravamento do problema. No

145
GABRIELA ANDRADE QUESTÕES

caso do estado de Sergipe, de acordo com dados do Panorâma da Violência contra as Mulheres no Brasil
(2016), a tava de violência letal contra mulheres é superior à taxa nacional, enquanto a taxa de estrupros é
inferior, o que pode ser resultado de uma subnotificação desse tipo de violência.
Internet: (com adaptações)
Considerando os textos apresentados, julgue o item que se segue, pertinentes aos objetos da criminologia.
De acordo com estudos vitimológicos, a diferença entre os crimes sexuais praticados e os comunicados às
agências de controle social é de aproximadamente 90%, o que estaria em consonância com os dados do
Panorama da Violência contra as Mulheres no Brasil (texto), que indica a ocorrência de subnotificação nos
casos de estupros praticados em Sergipe. Esse fenômeno, de apenas uma parcela dos crimes reais ser
registrada oficialmente pelo Estado, é o que a criminologia chama de cifra negra da criminalidade.
( ) Certo
( ) Errado
28. (2018 - PC-SP - Agente Policial) Assinale a alternativa que apresenta corretamente tipos ou definições
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de vítimas, nos termos propostos por Benjamin Mendelsohn.


a) Vítima depressiva, Vítima indefesa; Vítima falsa; Vítima imune; e Vítima reincidente.
b) Vítima isolada; Vítima por proximidade; Vítima com ânimo de lucro; Vítima com ânsia de viver; e Vítima
agressiva.
c) Vítima sem valor; Vítima pelo estado emocional; Vítima perverse; Vítima alcoólatra; e Vítima por
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mudança da fase de existência.


d) Vítima que se converte em autor; Vítima propensa; Vítima da natureza; Vítima resistente; e Vítima
reincidente.
Silva -- CPF:

e) Vítima completamente inocente ou vítima ideal; Vítima de culpabilidade menor ou por ignorância; Vítima
da Silva

voluntária ou tão culpada quanto o infrator; Vítima mais culpada que o infrator; e Vítima unicamente
culpada.
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

29. (2018 - PC-SP - Agente Policial) Assinale a alternativa correta no que diz respeito aos estudos
desenvolvidos no âmbito da vitimologia.
Eliovaine

a) Os estudos, as teorias e as classificações desenvolvidos no âmbito da vitimologia demonstram que a


conduta da vítima não pode ser indicada como fator que, de algum modo, contribui para a prática do crime.
b) Uma das grandes contribuições do atual estágio de desenvolvimento da vitimologia foi demonstrar que
o fênomeno da subnotificação é um mito e praticamente insignificante em termos quantitativos.
c) O aumento do número de crimes investigados e processados pode ocasionar uma maior vitimização
secundária.
d) O preconceito posterior à prática do crime que recai sobre a vítima, em crimes sexuais, por parte da
sociedade em geral e que contribui para a subnotificação deste tipo de crime é denominado de vitimização
primária.
e) Pesquisas de vitimização devem, paulatinamente, substituir os indicadores criminais baseados em
registros de crimes.
30. (2018 - PC-SP - Agente Policial) Assinale a alternativa correta no que diz respeito
aos estudos desenvolvidos no âmbito da vitimologia.

146
GABRIELA ANDRADE QUESTÕES

a) Os estudos, as teorias e as classificações desenvolvidos no âmbito da vitimologia demonstram que a


conduta da vítima não pode ser indicada como fator que, de algum modo, contribui para a prática do crime.
b) Uma das grandes contribuições do atual estágio de desenvolvimento da vitimologia foi demonstrar que
o fênomeno da subnotificação é um mito e praticamente insignificante em termos quantitativos.
c) O aumento do número de crimes investigados e processados pode ocasionar uma maior vitimização
secundária.
d) O preconceito posterior à prática do crime que recai sobre a vítima, em crimes sexuais, por parte da
sociedade em geral e que contribui para a subnotificação deste tipo de crime é denominado de vitimização
primária.
e) Pesquisas de vitimização devem, paulatinamente, substituir os indicadores criminais baseados em
registros de crimes.
Eliovaine Gouvea
Eliovaine da Silva
Gouvea da CPF: 030.720.271-29
Silva -- CPF: eliovaine@hotmail·com
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147
GABRIELA ANDRADE GABARITO

GABARITO
1. B
2. C
3. A
4. D
5. D
6. B
7. Errado
8. A
9. B
10. D
11. B
12. C
13. C
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14. B
15. D
16. A
17. C
18. A
19. D
CPF: 030.720.271-29

20. C
21. Certo
22. Errado
23. D
Silva -- CPF:

24. D
25. B
da Silva

26. Certo
Gouvea da

27. Certo
Eliovaine Gouvea

28. E
29. C
Eliovaine

30. C

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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FISCHER, Douglas. Delinquência Econômica e Estado Social e Democrático de Direito. Porto Alegre, Verbo
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eliovaine@hotmail·com
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Gouvea da
Eliovaine Gouvea

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__________. Em busca das penas perdidas. A perda da legitimidade dosistema penal. Editora Revan, 1991.

__________. Saberes críticos: A palavra dos mortos. São Paulo. Saraiva, 2012.

CADERNOS DE ESTUDO ELABORADOS COM BASE NOS SEGUINTES CURSOS


E VIDEOAULAS:

Curso isolado de Criminologia. Professor Murillo Ribeiro.

Conversa sobre Criminologia. SupremoCast #27. Murillo Ribeiro e Francisco Menezes. YouTube. Professor
Diego Pureza.
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