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4. PERSECUÇÃO CRIMINAL 4
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4.3.23. IDENTIFICAÇÃO CRIMINAL 67
4.5. INFORMATIVOS 69
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APRESENTAÇÃO
Esse conteúdo faz parte da apostila de processo penal I do Manual Caseiro, sendo apenas um dos
capítulos abordados na apostila.
E o que seria um bom material? Um bom material, meu caro aluno, é aquele que apresenta a
informação segura, de forma OBJETIVA, CONCISA, ATUALIZADA. Um bom material é, além
disso, aquele que busca preencher todas as lacunas do estudo, sem que recorramos a materiais adicionais.
Dessa forma, buscamos reunir todas as informações em um único material: doutrina, lei seca, questões
e jurisprudência.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL I
4. PERSECUÇÃO CRIMINAL
Segundo Távora e Alencar (2016), a persecução criminal para a apuração das infrações penais
e sua respectiva autoria comporta duas fases bem delineadas. A primeira, preliminar, inquisitiva, e
objeto do presente capítulo, é o inquérito policial. A segunda, submissa ao contraditório e à ampla
defesa, é denominada de fase processual. Assim, materializado o dever de punir do Estado com a
ocorrência de um suposto fato delituoso, cabe a ele, Estado, como regra, iniciar a persecutio criminis
para apurar, processar e enfim fazer valer o direito de punir, solucionando as lides e aplicando a lei ao
caso concreto.
Em RESUMO:
Fase Investigação
Investigatória Criminal
Persecução
Penal
Fase Processual
ou Judicial
Cumpre ainda fazermos uma distinção entre a persecução criminal e a investigação criminal.
Nesse sentido, a persecução criminal pode ser compreendida como atividade do Estado, desde a
investigação até o momento de aplicação ou não do sanção penal. Ou seja, quando surge um ilícito
criminal, surge para o estado o poder/dever em razão do monopólio por ele assumido, de aplicar a
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jurisdição e investigar aquela conduta delitiva, e a partir da colheita de elementos de informação,
eventualmente provocar o aparato jurisdicional por intermédio da propositura de uma ação penal, para
que obedecido devidamente o processo legal, verificar se, na situação concreta, deverá ser aplicada a
sanção penal.
Em RESUMO:
Fase investigatória
(Investigação
preliminar – inquérito
policial)
Persecução Penal
Fase
Judicial/Processual
(Ação Penal)
Art. 69. A autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência lavrará termo
circunstanciado e o encaminhará imediatamente ao Juizado, com o autor do fato e a vítima,
providenciando-se as requisições dos exames periciais necessários.
Parágrafo único. Ao autor do fato que, após a lavratura do termo, for imediatamente
encaminhado ao juizado ou assumir o compromisso de a ele comparecer, não se imporá prisão
em flagrante, nem se exigirá fiança. Em caso de violência doméstica, o juiz poderá determinar,
como medida de cautela, seu afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a vítima.
Dessa forma, enquanto o IP está para a investigação dos crimes comuns, o TCO está para a
investigação das infrações de menor potencial ofensivo. Portanto, pode-se dizer que o TCO tem função
de registrar os fatos que, em tese, configuram-se como IMPO. Nele será qualificado o ofendido, o autor
do fato criminoso, descrito o local e as condições em que ocorreu a infração penal e mencionará as
provas existentes, indicando desde já as testemunhas.
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Vale destacar, que nem sempre será utilizado o TCO para a investigação das infrações de menor
potencial ofensivo, conforme esquematizado abaixo:
AUTOR NÃO PRESTA O IP será lavrado mediante APF, considerando uma interpretação a
SOCORRO IMEDIATO contrário senso do art. 301.
NOS CRIMES DO CTB Art. 301 . Ao condutor de veículo, nos casos de acidentes de trânsito de que resulte
vítima, não se imporá a prisão em flagrante, nem se exigirá fiança, se prestar
pronto e integral socorro àquela.
O art. 69 da Lei nº 9.099/95 fala que o termo circunstanciado é lavrado pela “autoridade
policial”. Quem é considerado “autoridade policial”?
De acordo com o STF, o termo circunstanciado é o instrumento legal que se limita a constatar a
ocorrência de crimes de menor potencial ofensivo, motivo pelo qual não configura atividade
investigativa e, por via de consequência, NÃO se revela como função privativa de polícia judiciária
Assim, o art. 69 da Lei nº 9.099/95 não se refere exclusivamente à polícia judiciária, englobando também
as demais autoridades legalmente reconhecidas.
Dessa forma, o STF julgou constitucional norma estadual que prevê a possibilidade da lavratura
de termos circunstanciados pela polícia militar e pelo corpo de bombeiros militar. Além disso, do
ponto de vista formal, de acordo com o art. 24, incisos X e XI, da CF/88 35, o Estado possui competência
para legislar sobre o tema, pois trata-se de assunto cuja competência é concorrente. [STF. Plenário. ADI
5637/MG, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 11/3/2022 (Info 1046)].
35CF/88, Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar CONCORRENTEMENTE sobre: (...) X - criação,
funcionamento e processo do juizado de pequenas causas; XI - procedimentos em matéria processual;
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6264) julgadas na sessão virtual encerrada em 17/2. As duas ações questionavam o artigo 6º do Decreto
10.073/2019, que autorizava a lavratura do termo.
ESQUEMATIZANDO:
AUTORIDADES
COMPETENTES PARA
LAVRAR TCO
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4.3. INQUÉRITO POLICIAL
O prof. Leonardo de Barreto Moreira Alves (2021, pág.89) 36 ressalta a importância do inquérito
policial explicando que “em um Estado Democrático de Direito, no qual vige o princípio da presunção
da inocência e o processo é tido sob uma visão garantista, somente sendo possível a aplicação da pena
se há́ elementos de prova para tanto, surge o inquérito policial como a principal forma de investigação
estatal, tendo como função primordial sustentar e viabilizar o oferecimento da ação penal, garantindo
assim a sua justa causa, no sentido de exigência de um suporte probatório mínimo (indícios suficientes
de autoria e prova da materialidade do delito)”.
4.3.1. CONCEITO
Corroborando ao exposto, Távora e Alencar (2020), o inquérito policial deve ser compreendido
como sendo “procedimento administrativo, preliminar, presidido pelo delegado de polícia, no intuito
de identificar o autor do ilícito e os elementos que atestem a sua materialidade (existência),
contribuindo para a formação da opinião delitiva do titular da ação penal, ou seja, fornecendo
elementos para convencer o titular da ação penal se o processo deve ou não ser deflagrado”. Agregue-
se ainda a definição proposta, a característica de que o inquérito policial é um procedimento de cunho
inquisitorial.
Complementando, preceitua Pedro Coelho 37 “o inquérito policial pode ser definido como
procedimento administrativo de caráter preparatório e inquisitorial, presidido exclusivamente pela
autoridade policial, com a finalidade precípua de coletar elementos de informação acerca da autoria
e materialidade de uma infração penal”.
36 Sinopse para Concursos. Processo Penal Parte Geral, Leonardo Barreto Moreira Alves, 2021, Editora Juspodivm.
37 Dialógos sobre o Processo Penal/ Pedro Coelho – Salvador: Editora JusPodivm, 2020.
38 Sinopse para Concursos. Processo Penal Parte Geral, Leonardo Barreto Moreira Alves, 2021, Editora Juspodivm.
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processo. Por conta disso, não há que se falar, em regra, na existência de contraditório nesta etapa,
vigendo, pois, um sistema inquisitivo, não existindo participação do agente do delito na produção de
provas”.
Os vícios oriundos da fase do inquérito policial não são hábeis a anular posterior processo, salvo
as chamadas provas ilícitas. Assim, em regra, não há que se falar em contaminação e declaração de
nulidade que macule o processo.
PRETENSÃO PUNITIVA
Investigação Preliminar Fase Judicial
NÃO CONTAMINAM o processo penal
Vícios no Inquérito Policial → subsequente.
Exceção: provas ilícitas.
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- INQUISITORIAL: não há que se falar em contraditório ou ampla defesa na fase do inquérito
policial.
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Justificativa: Atenção, a questão pediu a alternativa incorreta. De fato, o MP pode investigar, contudo
a presidência do inquérito policial é exclusiva do Delegado de Polícia, o que torna a assertiva incorreta.
Embora a atribuição da presidência do inquérito policial seja exclusiva da polícia, existem outros
meios de investigação que poderão ser feitos por outro órgão, que não a Polícia Judiciária. (Ex.
Ministério Público realiza PIC - Procedimento Investigatório Criminal).
No tocante aos elementos informativos, temos que eles são colhidos na fase do inquérito policial.
Diferentemente das provas, que são colhidas na fase do processo. Nesse momento, não há necessidade
de observância do contraditório e da ampla defesa. Tem por função corroborar na opinio delicti e serem
úteis para a eventual decretação de medidas cautelares.
Candidato, o juiz pode fundamentar sua decisão com base apenas nos elementos
informativos? Nos termos do art. 155 do CPP, não pode ser se for exclusivamente. O JUIZ NÃO PODE
CONDENAR COM BASE APENAS com o que consta no IP, pode utilizá-lo de maneira a complementá-
lo.
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Como #JÁCAIU esse assunto em prova de concursos?
Ano: 2016 Banca: CEBRASPE Órgão: PC-GO Prova: Agente de Polícia Substituto.
A respeito do IP e da instrução criminal, assinale a opção correta.
A. O juiz é livre para apreciar as provas e, de acordo com sua convicção íntima, poderá basear a
condenação do réu exclusivamente nos elementos informativos colhidos no IP.
Gab. ERRADO.
Nos termos do art. 155 do Código de Processo Penal, embora o juiz possua liberdade para
apreciar as provas, é necessária a motivação, e não poderá proferir condenação com base
exclusivamente nos chamados “elementos informativos”. Vejamos a legislação:
Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em
contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos
elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não
repetíveis e antecipadas.
Diante disso, assevera-se que eventuais vícios existentes no inquérito policial não têm o
condão de contaminar a futura ação penal ajuizada com base nele. Ou seja, diligências
39Alves, Leonardo Barreto Moreira. Manual de Processo Penal / Leonardo Barreto Moreira Alves - São Paulo: Editora
JusPodivm,2021.
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investigatórias que sejam colhidas descumprindo a forma prevista no ordenamento jurídico não
repercutem na futura ação penal, não têm como consequência a nulidade do processo.
Exemplo de irregularidades que não tem o condão de macular a futura ação penal: crimes de
competência da justiça estadual sendo investigado pela Polícia Federal. Nesse caso, haverá mera
irregularidade.
STF:
Ainda sobre a não contaminação dos vícios do inquérito policial na ação penal subsequente:
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É incabível a anulação de processo penal em razão de suposta irregularidade verificada em
inquérito policial
A suspeição de autoridade policial não é motivo de nulidade do processo, pois o inquérito é mera
peça informativa, de que se serve o Ministério Público para o início da ação penal.
Assim, é inviável a anulação do processo penal por alegada irregularidade no inquérito,
pois, segundo jurisprudência firmada no STF, as nulidades processuais estão relacionadas apenas
a defeitos de ordem jurídica pelos quais são afetados os atos praticados ao longo da ação penal
condenatória.
STF. 2ª Turma. RHC 131450/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 3/5/2016 (Info 824).
Por outro lado, podemos apontar como irregularidade na fase do inquérito policial que irá
macular o futuro processo, a confissão do agente na Delegacia obtida mediante tortura dos agentes
públicos. Nesse caso, estamos diante de uma prova ilícita por patente violação a norma de direito
material. Não cabe falarmos em mera irregularidade neste segundo caso.
Gab. ERRADO.
Inicialmente, cumpre reafirmarmos que de fato, não é cabível a exceção de suspeição em face da
autoridade policial, nos termos do art. 107 do CPP. Contudo, isso não significa que não seja possível a
alegação de suspeição, inclusive, o CPP declina que esta deverá ser levantada pelo próprio delegado de
polícia, quando ocorrer motivo legal. Nesse sentido, o texto normativo “não se poderá opor suspeição
às autoridades policiais nos atos do inquérito, mas deverão elas declarar-se suspeitas, quando ocorrer
motivo legal”.
A função preparatória do inquérito policial, que é a função mais conhecida entre os estudiosos,
revela o lastro probatório mínimo necessário para o ajuizamento da ação penal.
Dessa forma, temos que a finalidade do inquérito policial é colher elementos de informação a
respeito da autoria, materialidade e circunstâncias do crime para subsidiar a opinio delicti. A
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opinio delicti é a convicção do titular da ação penal de que houve um crime e que um crime foi praticado
por determinada pessoa.
Em concurso de Delegado de Polícia Civil da Bahia (2022), foi apontada como CORRETA a seguinte
afirmação: “O inquérito policial é um procedimento preliminar, extrajudicial e preparatório para a ação
penal, sendo por isso considerado como a primeira fase da persecutio criminis; é instaurado pela polícia
judiciária e tem como finalidade a apuração de infração penal e de sua respectiva autoria”.
Vale destacar que o inquérito policial além de ser instrumento unidirecional com função
preparatória (para eventual ação penal), possui uma função preservadora da dignidade da pessoa
humana e do status de inocência (binômio de função preparatória-preservadora).
Conforme ensina o prof. Norberto Avena, a função preservadora do inquérito policial está
relacionada ao intuito de evitar imputações infundadas ou levianas. Tal linha de pensamento, ao fim e
ao cabo, importa em afastar a clássica função unidirecional da investigação criminal, voltada
exclusivamente para a acusação.
O inquérito policial também possui uma função preservadora. Fala-se em função preservadora
pelo fato de que o inquérito serve como instrumento de inibir a instauração de um processo
destituído de elementos de autoria e materialidade, ou seja, um processo temerário.
Nesse sentido, explica Leonardo Barreto [2021, pág, 234]40:
Função preservadora: é a função que assegura que o inquérito servira como filtro contra
processos penais temerários, levianos, arbitrários, o que violaria direitos fundamentais
colocados em jogo, notadamente a presunção de inocência, o status dignitatis e a dignidade da
pessoa humana. Entende-se que o simples ajuizamento da ação penal contra alguém provoca um
fardo à pessoa [...], não podendo, pois, ser ato leviano, desprovido de provas e sem um exame
pré-constituído da legalidade. Esse mecanismo auxilia a Justiça Criminal a preservar inocentes
de acusações injustas e temerárias, garantindo um juízo inaugural de delibação, inclusive para
verificar se se trata de fato definido como crime? O inquérito constitui-se assim em um meio de
afastar dúvidas e corrigir o prumo da investigação, evitando-se o indesejável erro judiciário [...].
40Alves, Leonardo Barreto Moreira. Manual de Processo Penal / Leonardo Barreto Moreira Alves - São Paulo: Editora
JusPodivm,2021.
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4.3.4. FINALIDADE
Muita atenção nesse ponto, prezado candidato. É de extrema relevância a distinção entre os
chamados elementos de informação e as provas. Desse modo, já podemos afirmar a indagação no
sentido de que não, elementos de informação não é sinônimo de provas e devemos vislumbrar de forma
pontual a distinção entre eles.
Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida
em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente
nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas
cautelares, não repetíveis e antecipadas.
41Costa, Klaus Negri. Processo penal didático/ Klaus Negri Costa, Fábio Roque Araújo – Salvador: Editora Juspodbm, 3 Ed.
rev. Ampl. e atual 2020.
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Ao analisarmos o teor do art. 155 do CPP, já podemos extrair uma conclusão: enquanto a prova
é produzida em contraditório judicial, os elementos informativos (elementos de informação) são
colhidos na fase de investigação.
Em RESUMO:
42Alves, Leonardo Barreto Moreira. Manual de Processo Penal / Leonardo Barreto Moreira Alves - São Paulo: Editora
JusPodivm,2021.
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Candidato, é possível o magistrado utilizar os elementos informativos para fundamentar
sua sentença? Nos termos do art. 155 do CPP, não pode ser se for exclusivamente com base neles, ou
seja, não poderá condenar com base apenas nos elementos informativos.
O JUIZ NÃO PODE CONDENAR COM BASE APENAS com o que consta no inquérito
policial, contudo, pode utilizá-lo de maneira a complementá-lo. Desse modo, contemplamos que o
juiz pode se valer dos elementos de informação para fundamentar a sentença condenatória desde que
não baseadas exclusivamente nos elementos de informação, conforme preceitua o art. 155 do CP. Nesse
sentido, a Jurisprudência:
Existem várias formas de investigação criminal, o PIC de atribuição do Ministério Público, por
exemplo. Contudo, outras autoridades que não seja a autoridade policial não pode instaurar e presidir
o inquérito, essa atribuição é única e exclusiva do Delegado. Nesse sentido, o art. Art. 2° § 1° da Lei
n. 12.830/2013. Vejamos:
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dos procedimentos previstos em regulamento da corporação que prejudique a eficácia
da investigação.
Sobre o inquérito policial, controle externo da atividade policial e poder investigatório do Ministério
Público, analise as assertivas abaixo e assinale a alternativa incorreta:
A. O inquérito policial pode ser instaurado de ofício, por requisição do Ministério Público e a
requerimento do ofendido em casos de crime de ação penal pública incondicionada.
B. O membro do “Parquet”, com atuação na área de investigação criminal, pode avocar a presidência do
inquérito policial, em sede de controle difuso da atividade policial.
D. O membro do Ministério Público pode encaminhar peças de informação em seu poder diretamente
ao Juizado Especial Criminal, caso a infração seja de menor potencial ofensivo.
Polícia
Administrativa
Polícia Polícia
Investigativa Judiciária
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a) Polícia Administrativa, Preventiva ou Ostensiva: é a atividade policial de natureza preventiva,
encontra-se atrelada a segurança pública, cujo propósito é de impedir a prática de infrações
penais. Denota-se, pois, o seu caráter preventivo. Exemplo: ronda ostensiva realizada pela Polícia
Militar. A polícia administrativa previne crimes.
b) Polícia Judiciária: é a atividade policial de natureza repressiva, cuja atuação acontece depois
que ocorre a prática de uma infração penal. É essa polícia que tem a missão de colher os
chamados elementos de informação para subsidiar a futura ação penal. Exemplo: Polícia Civil.
A polícia judiciária investiga crimes. Em suma, “é aquela voltada para a investigação criminal,
tendo, portanto, caráter repressivo, já que atua após a prática da infração penal, apurando a
sua autoria e materialidade” [ALVES, 2021, pág. 236]43.
c) Polícia Investigativa: Para parte da doutrina a função de polícia investigativa não é a mesma
coisa da função de polícia judiciária, e a primeira não é exclusiva da polícia civil e federal. Temos
algumas disposições normativas que asseveram acerca da diferença entre funções investigativas
e judiciárias:
CF/88 Art. 144, § 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e
mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se a:
I - APURAR INFRAÇÕES PENAIS contra a ordem política e social ou em detrimento de bens,
serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como
outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão
uniforme, segundo se dispuser em lei;
IV - exercer, com exclusividade, as funções de POLÍCIA JUDICIÁRIA da União.
Observe que nesse aspecto a polícia judiciária é diferente da polícia investigava, tendo em vista
que não teria sentido o legislador fazer tal distinção como vemos no artigo supracitado. Vejamos também
o texto da Lei 12.830/2013:
43Alves, Leonardo Barreto Moreira. Manual de Processo Penal / Leonardo Barreto Moreira Alves - São Paulo: Editora
JusPodivm,2021.
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No tocante ao teor da súmula vinculante n. 14, ao analisarmos pontualmente seu texto,
vislumbrarmos um primeiro erro – expressão elementos de prova “não há o que se falar elementos de
prova, em âmbito de investigação temos os chamados elementos de informação”, enquanto no âmbito
processual temos a prova propriamente (elementos de prova tecnicamente não existe). Posteriormente
cumpre destacar a expressão “competência” (deveria ser atribuição ou função) de polícia judiciária,
também é um termo que tecnicamente equivocado, competência é atrelado a função jurisdicional. De
qualquer forma, apesar dos erros, a súmula traz uma ideia de não diferenciação de polícia investigativa
e judiciária. Desta feita, podemos concluir acerca deste tema, que com relação a função de polícia
investigativa e judiciária é possível que sejam tratadas de forma divergente, bem como, de forma
sinônima.
Candidato, qual o valor probatório do Inquérito Policial? O inquérito policial TEM VALOR
PROBATÓRIO RELATIVO, o que significa dizer que os elementos informativos colhidos nessa fase,
não são hábeis a fundamentar uma sentença condenatória, por si só, isso porque esses elementos
informativos não foram submetidos ao contraditório e a ampla defesa.
O valor probatório do inquérito policial é relativo, no sentido de que ele, por si só, não pode ser
utilizado para a formação do convencimento do juiz e consequente prolação de sentença penal
condenatória. E que os elementos informativos da investigação são produzidos sem a
observância do contraditório e da ampla defesa, ou seja, de forma unilateral, a partir de
determinações emanadas do delegado de polícia, sem envolvimento direto e efetivo do
investigado e do Ministério Público44.
Dessa forma, temos que o valor probatório do inquérito policial é relativo. Os elementos
produzidos na fase inquisitorial não estão sujeitos ao contraditório e à ampla defesa.
Quando se fala de inquérito policial, é preciso lembrar que o inquérito policial por si só não
produz provas. Prova é um elemento que demonstra determinado fato, mas que está sujeito ao
contraditório e à ampla defesa. Ou seja, é quando o titular da ação penal produz um elemento mostrando
que um fato ocorreu e que foi praticado por determinada pessoa, mas aquele que é imputado pode
contraditar, pode se defender daquilo que está sendo demonstrado.
44Alves, Leonardo Barreto Moreira. Manual de Processo Penal / Leonardo Barreto Moreira Alves - São Paulo: Editora
JusPodivm,2021.
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No inquérito policial, em regra, não há provas, há elementos de informação. Quando o
delegado de polícia descobre algum fato no âmbito do inquérito policial, ele está descobrindo um
elemento de informação.
CPP, Art. 155. “O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em
contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos
informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e
antecipadas.”
É possível, durante o inquérito policial, a produção de provas. Mas no caso dessas provas
não há que se falar em contraditório real, mas apenas em contraditório diferido.
a) Provas cautelares: produzidas no momento anterior à ação penal, e que precisam ser produzidas
naquele momento, pois serão utilizadas posteriormente na ação penal, e se não for produzida não
terá como dar prosseguimento as investigações, pois há um risco de perecimento. Exemplo:
Interceptação telefônica.
b) Provas não repetíveis: eventualmente podem vir a se perder se não forem produzidas em um
momento específico. Exemplo: exame de corpo de delito em vítima do crime de lesão corporal.
No caso as marcas corporais podem vir a se perder se não forem registradas
c) Provas antecipadas: produzidas antes mesmo da ação penal. São aquelas produzidas perante o
juiz, antes do momento adequad, ou seja, em momento processual distinto do previsto. Exemplo:
Testemunha com 89 anos de idade com COVID-19, a chance dessa testemunha vir a falecer é
alta, então o juiz determina a colheita do depoimento antecipadamente [art. 225 do CPP].
Em RESUMO:
CPP Art. 4º A polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no território de suas
respectivas circunscrições e terá por fim a apuração das infrações penais e da sua autoria.
Parágrafo único. A competência definida neste artigo não excluirá a de autoridades
administrativas, a quem por lei seja cometida a mesma função.
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Polícia judiciária: Polícias Civis e Polícia Federal. É a polícia que auxilia o Poder Judiciário
para as futuras ações penais e para a persecução penal. São instituições comandadas por um delegado de
polícia.
Obs.: o mero fato de um delegado de polícia de determinada localidade investigar um crime praticado
em outra localidade não gera irregularidade. Todas as provas produzidas, desde que lícitas, serão válidas
e ensejarão provas no âmbito da ação penal.
Nos crimes militares de competência da Justiça Militar da União, a atribuição para presidir a
investigação será de um oficial denominado “encarregado”, que será pertencente a mesma força armada
e via de regra terá uma patente maior que a do investigado.
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Da mesma forma, nos crimes militares de competência da Justiça Militar do Estado, a
atribuição para presidir a investigação será de um oficial denominado “encarregado”, que será
pertencente a mesma força armada e via de regra terá uma patente maior que a do investigado.
Nos crimes eleitorais via de regra a atribuição para investigação será da Polícia Federal,
considerando o interesse direto da União. No entanto existe uma exceção pacificada no TSE, nos locais
em que não houver sede da polícia federal, os crimes serão investigados pela polícia civil. Dessa forma,
contemplamos que a atribuição da PF não excluirá a atribuição subsidiária da polícia civil estadual, na
hipótese de município em que não haja órgão da Polícia Federal.
Nos crimes de competência da justiça federal (art. 144, par. 1º, I da CF/88) há uma exceção.
A atribuição de investigação da polícia federal é maior que a competência dos crimes da justiça
federal, de forma que existem situações de crimes de competência da justiça estadual, mas que são
investigados pela polícia federal, desde que presentes dois requisitos cumulativos:
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A. Havendo repercussão interestadual que exija repressão uniforme, o delegado da Polícia Federal
poderá apurar crimes cuja apuração seja de competência da justiça estadual, não havendo mácula apta a
invalidar a produção de provas.
B. O delegado de polícia não pode presidir nem instaurar inquérito policial para apurar crime ocorrido
fora de sua circunscrição territorial, pois o lugar de consumação do delito é o que define a atribuição da
polícia investigativa, em nome do princípio do delegado natural.
C. Se, no curso de investigações policiais presididas por delegado de polícia civil estadual, sobrevier a
federalização do crime, deverá ser mantida a atribuição da polícia civil estadual, uma vez que esta não
está subordinada à Polícia Federal e não há, no ordenamento jurídico brasileiro, a possibilidade de
instauração do incidente de deslocamento de competência no curso do inquérito.
D. O prazo para o delegado de polícia civil concluir o inquérito policial é de trinta dias, se o indiciado
estiver solto, configurando constrangimento ilegal a superação desse prazo sem autorização judicial, por
se tratar de prazo próprio.
E. Ainda que haja motivo de interesse público, o chefe de polícia civil não pode avocar nem redistribuir
o inquérito policial, uma vez que a regra dos atos administrativos não se aplica no âmbito da investigação
policial.
Gab. A.
Cumpre ressaltarmos que o parágrafo único deste artigo traz que se for outro crime que não
previsto no rol exemplificativo e presentes os dois requisitos cumulativos podem ensejar a atuação
investigativa da polícia federal, desde que autorizadas pelo ministro da justiça.
I – sequestro, cárcere privado e extorsão mediante sequestro (arts. 148 e 159 do Código Penal),
se o agente foi impelido por motivação política ou quando praticado em razão da função pública
exercida pela vítima;
II – formação de cartel (incisos I, a, II, III e VII do art. 4º da Lei nº 8.137, de 27 de dezembro
de 1990);
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VI - furto, roubo ou dano contra instituições financeiras, incluindo agências bancárias ou
caixas eletrônicos, quando houver indícios da atuação de associação criminosa em mais de
um Estado da Federação. (Incluído pela Lei nº 13.124, de 2015).
VII – quaisquer crimes praticados por meio da rede mundial de computadores que difundam
conteúdo misógino, definidos como aqueles que propagam o ódio ou a aversão às mulheres.
(Incluído pela Lei nº 13.642, de 2018).
Em RESUMO:
Escrito
Oficiosidade
e Dispensável
Oficialidade
CARACTERÍSTICAS
DO INQUÉRITO
POLICIAL
Temporário Sigiloso
Discricionário
e Indisponível Inquisitorial
A. Procedimento Escrito: nos moldes do art. 9° do CPP, as peças do inquérito serão reduzidas
a escrito. Desse modo, temos que a forma escrita é que será adotada e prevalecerá na elaboração
do inquérito policial, leia-se, na formalização das investigações. E os atos praticados de forma
oral? Entende-se que esses deverão ser reduzidos a termo e, neste caso, rubricadas pela
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autoridade policial. Corroborando ao exposto Norberto Avena 45 “todos os atos realizados no
curso das investigações policiais serão formalizados de forma escrita e rubricados pela
autoridade, incluindo-se, nesta regra, depoimentos, testemunhos, reconhecimentos, acareações
e todo gênero de diligências que sejam realizadas”.
Vejamos o dispositivo legal:
Art. 12. O inquérito policial acompanhará a denúncia ou queixa, sempre que servir
de base a uma ou outra.
Interpretando o teor do art. 12 do CPP em sentido contrário, podemos concluir que se não servir
de base para denúncia ou queixa, será dispensado. Contudo, se servir de base, deverá acompanhar a
peça (denúncia ou queixa-crime). Nessa mesma linha, dispõe o art. Art. 39 § 5° do CPP:
Obs.: Existe uma doutrina minoritária, uma corrente doutrinária, que entende que o
inquérito policial é indispensável. Como a maior parte das ações penais são precedidas de inquérito
policial, essa corrente defende que a regra é a prévia realização de um inquérito policial e apenas
excepcionalmente não haveria um inquérito policial prévio e, portanto, o inquérito policial seria
indispensável.
45Avena, Norberto. Processo penal / Norberto Avena. – 10. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, São Paulo:
MÉTODO,
2018.
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Há posição (minoritária) na doutrina sustentando que o inquérito policial seria indispensável.
Sem dúvida alguma, Henrique Hoffmann é o maior defensor desta ideia. Para este brilhante
autor, dentre outros argumentos relevantes, observa-se que “nos crimes de ação penal publica
incondicionada (que são a maioria), a regra é a obrigatoriedade de instauração do inquérito
policial, e esse procedimento deve acompanhar a peça acusatória sempre que servir de suporte à
acusação, daí porque a regra é a indispensabilidade, sendo a dispensabilidade uma exceção que
por isso não pode ser erigida à característica do instituto”.
C. Procedimento Sigiloso: A regra geral é a de que o inquérito policial seja sigiloso, tendo em vista
a possibilidade da coleta de mais elementos de informação e garantia da eficácia das diligências
empreendidas no inquérito policial, vejamos o texto normativo:
Dessa forma, ao contrário do que ocorre em relação ao processo criminal, que se rege pelo
princípio da publicidade (salvo exceções legais), no inquérito policial é possível resguardar sigilo
durante a sua realização.
O sigilo na fase do inquérito policial mostra-se necessário para garantia da própria eficácia das
investigações, posto que a sua publicação acabaria por prejudicar a própria medida, basta pensarmos,
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por exemplo, que o investigado tivesse conhecimento que em face dele teria sido decretada a
interceptação telefônica, com toda certeza, não seriam colhidas as conversas necessárias.
Cumpre ressaltarmos, esse sigilo não é oposto em face de todos os envolvidos na relação
processual penal. Conforme explica o prof. Norberto Avena, “o sigilo não alcança o juiz e o Ministério
Público. Não alcança, também, o advogado que, por força do art. 7, XIV, Estatuto da OAB, tem o
direito de examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir investigação, mesmo sem
procuração (salvo nas hipóteses de sigilo formalmente decretado, caso em que o instrumento
procuratório é necessário, nos termos do art. 7, § 10, do EOAB), autos de flagrante e de investigações
de qualquer natureza, findos ou em andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo copiar peças
e tomar apontamentos em meio físico ou digital, estabelecendo, ainda, a Súmula Vinculante 14 do STF”.
Nessa esteira, vejamos o teor da Súmula:
Súmula Vinculante nº 14: É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos
elementos de prova que, JÁ DOCUMENTADOS em procedimento investigatório realizado por órgão
com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa.
Cumpre ressaltarmos que essa súmula não instituiu o contraditório e/ou ampla defesa no âmbito
do inquérito policial, simplesmente criou, leia-se, reafirmou o direito de acesso da defesa aos
documentos que já foram documentados.
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Nos termos da Súmula Vinculante 14, restringe-se aos elementos de prova já documentados, e
não a todos e quaisquer documentos, ante a premente possibilidade de atrapalhar as próprias
investigações. Nesse sentido, vejamos o teor da súmula: Súmula Vinculante 14. É direito do defensor,
no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em
procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito
ao exercício do direito de defesa.
Candidato, para que o advogado/defensor tenha acesso aos autos do inquérito policial é necessária
procuração? Em regra, não. Qualquer advogado/defensor tem direito a ter acesso a autos de inquérito
policial. A exceção fica por conta de inquéritos policiais que corram em segredo de justiça ou atos
investigatórios que contenham informações sigilosas.
Vejamos:
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§10º. NOS AUTOS SUJEITOS A SIGILO, deve o advogado apresentar procuração para o
exercício dos direitos que trata o inciso XIV.
Candidato, para que o advogado tenha acesso aos autos do IP, é necessária autorização
judicial prévia? Em regra, não há necessidade de autorização judicial prévia para que o advogado tenha
acesso dos autos do IP. Contudo, existe uma exceção prevista ao teor do art. 23, da Lei nº 12.850/2013
(Lei das Organizações Criminosa):
Art. 23. O sigilo da investigação poderá ser decretado pela autoridade judicial competente, para
garantia da celeridade e da eficácia das diligências investigatórias, assegurando-se ao defensor,
no interesse do representado, amplo acesso aos elementos de prova que digam respeito ao
exercício do direito de defesa, devidamente precedido de autorização judicial, ressalvados os
referentes às diligências em andamento.
Em RESUMO:
Nas lições de Norberto Avena (2020, pág. 164), “salvo na hipótese de inquérito instaurado pela
polícia federal visando à expulsão do estrangeiro, não são inerentes à sindicância policial as garantias
do contraditório e da ampla defesa”.
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Trata-se o inquérito, assim, de um procedimento inquisitivo, voltado, precipuamente, à obtenção
de elementos que sirvam de suporte ao oferecimento de denúncia ou de queixa-crime (função
preparatória do inquérito).
Observação: Existe uma exceção à ausência de contraditório: o inquérito policial que tem como
objetivo a expulsão de estrangeiro. Neste, há uma série de procedimentos a serem adotados, bem como
prazo para apresentação de defesa pelo expulsando e seu defensor.
Entretanto, a nova lei de migração (Lei n. 13.445/2017) denomina este inquérito de
PROCESSO DE EXPULSÃO e explicita: “Art. 58. No processo de expulsão serão garantidos o
contraditório e a ampla defesa.”
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Desse modo, o delegado de polícia conduz as investigações da forma que melhor se
apresenta e mostra-se necessária. Nessa esteira, existe um rol não taxativo nos art. 6º e 7º do CPP de
diligências previstas para serem cumpridas. Destaca-se, porém, que essas diligências não são
vinculantes, obrigatórias, e o delegado pode verificar quais serão necessárias, bem como, poderá também
realizar alguma que não esteja prevista. Inobstante a regra da não obrigatoriedade de diligências pré-
estipuladas, o Ordenamento Jurídico comporta uma exceção, qual seja, a realização do exame de corpo
de delito nos crimes que deixam vestígios.
Por todo o exposto, contemplamos que dizer que o inquérito policial goza da característica da
discricionariedade significa que a autoridade policial possui liberdade de atuação dentro dos parâmetros
legais que lhe são conferidos. Não há que se falar em procedimento rígido de observância obrigatória.
Sobre o tema, discorre Norberto Avena 46, “a persecução, no inquérito policial, concentra-se na
figura do delegado de polícia, que, por isso mesmo, pode determinar ou postular, com
discricionariedade, todas as diligências que julgar necessárias ao esclarecimento dos fatos. Enfim, uma
vez instaurado o inquérito, possui a autoridade policial liberdade para decidir acerca das providências
pertinentes ao êxito da investigação. Isso quer dizer que, no início da investigação e no seu curso, cabe
ao delegado proceder ao que tem sido chamado pela doutrina de juízo de prognose, a partir do qual
decidirá quais providências são necessárias para elucidar a infração penal investigada”.
Diante do exposto, contemplamos que não caberá a Autoridade Policial o indeferimento das
diligências de natureza relevante, como é o caso do exame de corpo de delito nos crimes que deixam
vestígios. Contudo, aqueles requerimentos que se tratar meramente de diligências impertinentes e
protelatórias, poderão ser indeferidos.
46Avena, Norberto. Processo penal / Norberto Avena. – 10. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, São Paulo:
MÉTODO,
2018.
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No que tange a realização do exame de corpo de delito, preceitua o art. 158 do CPP “quando a
infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo
supri-lo a confissão do acusado”.
F. Procedimento Indisponível: Uma vez iniciado o inquérito a autoridade policial não poderá
arquivar. Nessa esteira, dispõe Távora e Alencar (2016): a persecução criminal é de ordem
pública, e uma vez iniciado o inquérito, não pode o delegado de polícia dele dispor.
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Nos moldes do art. 17, a autoridade policial não poderá mandar arquivar autos de inquérito.
O delegado de polícia não pode arquivar nem requisitar arquivamento de um inquérito policial, pois ele
não é o titular da ação penal. O titular da ação penal é o Ministério Público.
O ministro Luiz Fux, em janeiro de 2020, suspendeu a eficácia prática de alguns artigos alterados
pelo pacote anticrime, Lei n. 13.964/2019. Ele suspendeu a nova redação do art. 28 do Código de
Processo Penal. Então, por enquanto, a sistemática antiga está válida. Portanto, conforme veremos em
um tópico específico, é necessário estudar a redação antiga, que é como está sendo realizado na
prática, e também é necessário estudar a redação atualizada trazida pelo pacote anticrime
(atualmente suspensa), porque também pode ser cobrada em provas.
A regra é que o inquérito policial arquivado pode ser desarquivado. Entretanto, a depender da
fundamentação do arquivamento, entende a jurisprudência que ele não poderia ser desarquivado.
Para melhor compreensão do tema, vejamos:
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MOTIVO DO ARQUIVAMENTO DO É POSSÍVEL DESARQUIVAR O
INQUÉRITO POLICIAL INQUÉRITO POLICIAL?
Insuficiência de provas Sim.
Ausência de justa causa
Sim.
(materialidade ou indícios de autoria)
Atipicidade do fato Não.
Não.
Causa extintiva da punibilidade Exceção: certidão de óbito falsa,
neste caso é possível desarquivar.
Não.
Causa extintiva da culpabilidade
Exceção: inimputabilidade.
STJ: Não.
Causa excludente da ilicitude
STF: Sim.
Nas hipóteses em que não pode ocorrer o desarquivamento do inquérito policial, o fundamento
da jurisprudência é de que a decisão judicial que arquivou o inquérito policial fez coisa julgada formal
e material. Ou seja, houve uma decisão de mérito sobre o assunto.
● Arquivamento Implícito
● Arquivamento Indireto
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G. Procedimento Temporário: é a conclusão que podemos extrair da análise do art. 10 do CPP o
qual prevê um prazo determinado para o encerramento do inquérito policial. Logo, verifica-
se que o procedimento administrativo em estudo é de natureza temporária. Dessa forma, temos
que o IP é transitório, leia-se, temporário.
Art. 10. O inquérito deverá terminar no prazo de 10 dias, se o indiciado tiver sido preso
em flagrante, ou estiver preso preventivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir
do dia em que se executar a ordem de prisão, ou no prazo de 30 dias, quando estiver
solto, mediante fiança ou sem ela.
Conforme visto acima, contemplamos que o inquérito policial é temporário, ou seja, possui
prazo determinado para a sua conclusão.
Nos moldes previstos no art. 10 do CPP esse prazo é de 10 dias, se o indiciado tiver sido preso
em flagrante ou estiver preso preventivamente, ou de 30 dias, no caso em que estiver solto.
47 Com a vigência do Pacote Anticrime, o art. 3-B §2º, do CPP, é expresso ao afirmar que a duração do inquérito de
investigado preso poderá ser prorrogada uma única vez, por até 15 (quinze) dias, após o que, se ainda assim a investigação
não for concluída, a prisão será imediatamente relaxada.
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que se acham investidos, em nosso País, os Advogados, sem prejuízo do permanente controle
jurisdicional dos atos documentados produzidos pela instituição.
B. Ante o princípio constitucional da não culpabilidade, inquéritos e processos criminais em curso são
neutros na definição dos antecedentes criminais.
C. Sendo o ato de indiciamento de atribuição exclusiva da autoridade policial, não existe fundamento
jurídico que autorize o magistrado, após receber a denúncia, requisitar ao delegado de polícia o
indiciamento de determinada pessoa.
D. O prazo de que trata o Código de Processo Penal para término do inquérito é próprio, não prevendo
a lei qualquer consequência processual, máxime a preclusão, se a conclusão do inquérito ocorrer após
trinta dias de sua instauração, estando solto o réu.
E. Descabe cogitar de implemento de inquérito pelo Ministério Público quando este, ante elementos que
lhe chegaram, provoca a instauração pela autoridade policial.
Gab. D.
Outro ponto de extrema relevância no novel dispositivo diz respeito à possibilidade de o juiz das
garantias prorrogar, uma única vez, a duração do inquérito policial por até́ 15 (quinze) dias.
Após a conclusão do referido prazo, se a investigação não for concluída, haverá o relaxamento
da prisão. Esta nova sistemática legislativa altera a regra do CPP, que não previa a possibilidade
de prorrogação do prazo para a conclusão do inquérito policial, quando o investigado se
encontrar preso.
48CÓDIGO DE PROCESSO PENAL PARA CONCURSOS. 11a. edição. Fábio Roque Araújo Nestor Távora. ATUALIZAÇÃO, 2020.
Editora Juspodivm.
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Há excesso de prazo para conclusão de inquérito policial, quando, a despeito do
investigado se encontrar solto e de não sofrer efeitos de qualquer medida restritiva,
a investigação perdura por longo período e não resta demonstrada a complexidade
apta a afastar o constrangimento ilegal.
O prazo para a conclusão do inquérito policial, em caso de investigado solto é impróprio.
Assim, pode ser prorrogado a depender da complexidade das investigações. Contudo,
consoante precedentes desta Corte Superior, é possível que se realize, por meio de
habeas corpus, o controle acerca da razoabilidade da duração da investigação, sendo
cabível, até mesmo, o trancamento do inquérito policial, caso demonstrada a excessiva
demora para a sua conclusão. STJ. 6ª Turma. HC 653299-SC, Rel. Min. Laurita Vaz,
Rel. Acd. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 16/08/2022 (Info 747).
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H. Procedimento Oficial: o inquérito policial é realizado por uma autoridade oficial, no caso o
delegado de polícia, devidamente habilitado. Nesse sentido, explica Norberto Avena, trata-se de
investigação que deve ser realizada por autoridades e agentes integrantes dos quadros públicos,
sendo vedada a delegação da atividade investigatória a particulares, inclusive por força da
própria Constituição Federal. A propósito, dispõe o art. 144, § 4°, dessa Carta que “às polícias
civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da
União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares”.
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