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PC-GO

POLÍCIA CIVIL DE GOIÁS - PC-GO

Papiloscopista Policial
3ª Classe
EDITAL DE CONCURSO
PÚBLICO Nº 006/2022

CÓD: SL-020ST-22
7908433226390
INTRODUÇÃO

Como passar em um concurso público?


Todos nós sabemos que é um grande desafio ser aprovado em concurso público, dessa maneira é muito importante o concurseiro
estar focado e determinado em seus estudos e na sua preparação. É verdade que não existe uma fórmula mágica ou uma regra de como
estudar para concursos públicos, é importante cada pessoa encontrar a melhor maneira para estar otimizando sua preparação.

Algumas dicas podem sempre ajudar a elevar o nível dos estudos, criando uma motivação para estudar. Pensando nisso, a Solução
preparou esta introdução com algumas dicas que irão fazer toda a diferença na sua preparação.

Então mãos à obra!


• Esteja focado em seu objetivo: É de extrema importância você estar focado em seu objetivo: a aprovação no concurso. Você vai ter
que colocar em sua mente que sua prioridade é dedicar-se para a realização de seu sonho;

• Não saia atirando para todos os lados: Procure dar atenção a um concurso de cada vez, a dificuldade é muito maior quando você
tenta focar em vários certames, pois as matérias das diversas áreas são diferentes. Desta forma, é importante que você defina uma
área e especializando-se nela. Se for possível realize todos os concursos que saírem que englobe a mesma área;

• Defina um local, dias e horários para estudar: Uma maneira de organizar seus estudos é transformando isso em um hábito, determi-
nado um local, os horários e dias específicos para estudar cada disciplina que irá compor o concurso. O local de estudo não pode ter
uma distração com interrupções constantes, é preciso ter concentração total;
• Organização: Como dissemos anteriormente, é preciso evitar qualquer distração, suas horas de estudos são inegociáveis. É pratica-
mente impossível passar em um concurso público se você não for uma pessoa organizada, é importante ter uma planilha contendo
sua rotina diária de atividades definindo o melhor horário de estudo;

• Método de estudo: Um grande aliado para facilitar seus estudos, são os resumos. Isso irá te ajudar na hora da revisão sobre o as-
sunto estudado. É fundamental que você inicie seus estudos antes mesmo de sair o edital, buscando editais de concursos anteriores.
Busque refazer a provas dos concursos anteriores, isso irá te ajudar na preparação.

• Invista nos materiais: É essencial que você tenha um bom material voltado para concursos públicos, completo e atualizado. Esses
materiais devem trazer toda a teoria do edital de uma forma didática e esquematizada, contendo exercícios para praticar. Quanto mais
exercícios você realizar, melhor será sua preparação para realizar a prova do certame;

• Cuide de sua preparação: Não são só os estudos que são importantes na sua preparação, evite perder sono, isso te deixará com uma
menor energia e um cérebro cansado. É preciso que você tenha uma boa noite de sono. Outro fator importante na sua preparação, é
tirar ao menos 1 (um) dia na semana para descanso e lazer, renovando as energias e evitando o estresse.

A motivação é a chave do sucesso na vida dos concurseiros. Compreendemos que nem sempre é fácil, e às vezes bate aquele desâni-
mo com vários fatores ao nosso redor. Porém tenha garra ao focar na sua aprovação no concurso público dos seus sonhos.

Como dissemos no começo, não existe uma fórmula mágica, um método infalível. O que realmente existe é a sua garra, sua dedicação
e motivação para realizar o seu grande sonho de ser aprovado no concurso público. Acredite em você e no seu potencial.

A Solução tem ajudado, há mais de 36 anos, quem quer vencer a batalha do concurso público. Vamos juntos!
ÍNDICE

Língua Portuguesa
1. Compreensão e interpretação de textos de gêneros variados. Reconhecimento de tipos e gêneros textuais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
2. Domínio da ortografia oficial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
3. Domínio dos mecanismos de coesão textual. Emprego de elementos de referenciação, substituição e repetição, de conectores e de
outros elementos de sequenciação textual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
4. Emprego de tempos e modos verbais. Domínio da estrutura morfossintática do período. Emprego das classes de palavras . . . . . 23
5. Relações de coordenação entre orações e entre termos da oração. Relações de subordinação entre orações e entre termos da
oração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
6. Emprego dos sinais de pontuação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
7. Concordância verbal e nominal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
8. Regência verbal e nominal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
9. Emprego do sinal indicativo de crase . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
10. Colocação dos pronomes átonos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
11. Reescrita de frases e parágrafos do texto. Substituição de palavras ou de trechos de texto. Reorganização da estrutura de orações e de
períodos do texto. Reescrita de textos de diferentes gêneros e níveis de formalidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
12. Significação das palavras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35

Realidade Étnica, Social, Histórica, Geográfica, Cultural,


Política e Econômica do Estado de Goiás
1. Formação econômica de Goiás: a mineração no século XVIII, a agropecuária nos séculos XIX e XX, a estrada de ferro e a modernização
da economia goiana, as transformações econômicas com a construção de Goiânia e Brasília, industrialização, infraestrutura e plane-
jamento. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
2. Modernização da agricultura e urbanização do território goiano. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
3. População goiana: povoamento, movimentos migratórios e densidade demográfica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
4. Economia goiana: industrialização e infraestrutura de transportes e comunicação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
5. As regiões goianas e as desigualdades regionais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
6. Aspectos físicos do território goiano: vegetação, hidrografia, clima e relevo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
7. Aspectos da história política de Goiás: a independência em Goiás, o coronelismo na República Velha, as oligarquias, a Revolução de
1930, a administração política de 1930 até os dias atuais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
8. Aspectos da História Social de Goiás: o povoamento branco, os grupos indígenas, a escravidão e cultura negra, os movimentos sociais
no campo e a cultura popular. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
9. Atualidades econômicas, políticas e sociais do Brasil, especialmente do Estado de Goiás. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74

Raciocínio Lógico
1. Estruturas lógicas; Lógica de argumentação: analogias, inferências, deduções e conclusões; Lógica sentencial (ou proposicional,
Proposições simples e compostas, Tabelas verdade, Equivalências, Leis de De Morgan, Diagramas lógicos; Lógica de primeira ordem;
Princípios de contagem e probabilidade; Operações com conjuntos; Raciocínio lógico envolvendo problemas aritméticos, geométricos
e matriciai . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77

Direito Administrativo
1. Estado, Governo e Administração Pública. Conceitos, elementos, poderes e organização. Natureza, fins e princípios . . . . . . . . . 101
2. Organização administrativa da União: administração direta e indireta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104
3. Atos administrativos. Conceitos, requisitos, elementos, pressupostos e classificação. Fato e ato administrativo. Atos administrativos
em espécie. O silêncio no direito administrativo. Cassação. Revogação e anulação. Fatos da administração pública: atos da adminis-
tração pública e fatos administrativos. Formação do ato administrativo: elementos, procedimento administrativo. Validade, eficácia
e autoexecutoriedade do ato administrativo. Atos administrativos simples, complexos e compostos. Atos administrativos unilaterais,
bilaterais e multilaterais. Atos administrativos gerais e individuais. Atos administrativos vinculados e discricionários. Mérito do ato
administrativo, discricionariedade. Ato administrativo inexistente. Teoria das nulidades no direito administrativo. Atos administrati-
vos nulos e anuláveis. Vícios do ato administrativo. Teoria dos motivos determinantes. Revogação, anulação e convalidação do ato
administrativo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107
4. Processo administrativo (Lei estadual n.º 13.800/2001) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118
5. Poderes administrativos. Poder hierárquico. Poder disciplinar. Poder regulamentar. Poder de polícia. Uso e abuso do poder . . 122
6. Controle e responsabilização da administração. Controle administrativo. Controle judicial. Controle legislativo . . . . . . . . . . . . . 129
7. Responsabilidade civil do Estado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 133
8. Lei n° 8.429/1992 (improbidade administrativa) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 137
ÍNDICE

Direito Constitucional
1. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Princípios fundamentais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 149
2. Aplicabilidade das normas constitucionais. Normas de eficácia plena, contida e limitada. Normas programáticas . . . . . . . 149
3. Direitos e garantias fundamentais. Direitos e deveres individuais e coletivos, direitos sociais, direitos de nacionalidade, direitos
políticos, partidos políticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 150
4. Organização político-administrativa do Estado. Estado federal brasileiro, União, estados, Distrito Federal, municípios e
territórios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 160
5. Administração pública. Disposições gerais, servidores públicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 164
6. Poder executivo. Atribuições e responsabilidades do presidente da República . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 167
7. Poder legislativo. Estrutura. Funcionamento e atribuições. Processo legislativo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 168
8. Poder judiciário. Disposições gerais. Órgãos do poder judiciário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 172
9. Funções essenciais à Justiça . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 175
10. Defesa do Estado e das instituições democráticas. Segurança pública. Organização da segurança pública. . . . . . . . . . . . . . 176
11. Ordem social. Base e objetivos da ordem social. Seguridade social. Meio ambiente. Família, criança, adolescente, idoso e
índio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 177
12. Direitos humanos na Constituição Federal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 179
13. Política Nacional de Direitos Humanos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 179
14. A Constituição brasileira e os tratados internacionais de direitos humanos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 180

Noções de Direito Penal


1. Aplicação da lei penal. Princípios da legalidade e da anterioridade. Lei penal no tempo e no espaço. Tempo e lugar do crime. Lei penal
excepcional, especial e temporária. Territorialidade e extraterritorialidade da lei penal. Contagem de prazo. Interpretação da lei penal.
Analogia. Irretroatividade da lei penal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 187
2. Infração penal: elementos, espécies, sujeito ativo e sujeito passivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 188
3. O fato típico e seus elementos. Crime consumado e tentado. Concurso de crimes. Ilicitude e causas de exclusão. Punibilidade. Excesso
punível. Culpabilidade (elementos e causas de exclusão). Imputabilidade penal. Concurso de pessoas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 188
4. Crimes contra a pessoa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 200
5. Crimes contra o patrimônio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 208
6. Crimes contra a dignidade sexual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 212
7. Crimes contra a fé pública . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 214
8. Crimes contra a administração pública . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 215
9. Disposições constitucionais aplicáveis ao Direito Penal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 217

Noções de Direito Processual Penal


1. Inquérito policial: Histórico, natureza, conceito, finalidade, características, fundamento, titularidade, grau de cognição, valor
probatório, formas de instauração, notitia criminis, delatio criminis, procedimentos investigativos, indiciamento, garantias do
investigado. Conclusão, prazos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 221
2. Prova. Exame do corpo de delito e perícias em geral. Interrogatório do acusado. Confissão. Qualificação e oitiva do ofendido. Teste-
munhas. Reconhecimento de pessoas e coisas. Acareação. Documentos de prova. Indícios. Busca e apreensão . . . . . . . . . . . . . 223
3. restrição de liberdade. Prisão em flagrante. Prisão preventiva. Medidas Cautelares. Liberdade Provisória. Audiência de Custódia.
Lei nº 7.960/1989 (prisão temporária) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 224
4. Alterações da Lei nº 12.403/2011 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 235
5. Disposições constitucionais aplicáveis ao Direito Processual Penal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 238
6. Juizados Especiais Criminais (Capítulo III da Lei n° 9.099 /1995) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 240

Noções de Criminalística
1. Histórico e doutrina da Criminalística; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 247
2. Postulados da criminalística; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 247
3. Noções e princípios da Criminalística . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 247
4. Tipos de Provas: prova confessional, prova testemunhal, prova documental e prova pericial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 248
5. Métodos da Criminalística . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 248
6. Corpo de Delito: conceito; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 248
7. Classificação dos locais de crime. Quanto à natureza do fato. Quanto à natureza da área: local de crime interno e local de crime
externo. Quanto à divisão: local mediato, imediato e relacionado. Quanto à preservação: idôneo e inidôneo. Levantamento de
local. Isolamento de local . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 249
8. Documentos criminalísticos: auto, laudo pericial, parecer criminalístico, relatório criminalístico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 251
9. Finalidade da criminalística: constatação do fato, verificação dos meios e dos modos e possível indicação da autoria . . . 254
ÍNDICE

Noções de Medicina Legal


1. Noções de Tanatologia Forense: cronotanatognose; Morte suspeita; Morte súbita; Morte agonizante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 257
2. Noções de Asfixiologia Forense: Por constrição cervical: enforcamento, estrangulamento, esganadura; Por modificação do meio:
afogamento, soterramento, confinamento; Por sufocação: direta e indireta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 258
3. Noções de instrumentos de ação mecânica: Ação cortante, perfurante, contundente e mistA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 259
4. Noções de agentes químicos; Noções de agentes térmicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 259
5. Noções de sexologia forense . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 263
6. Traumatologia forense. Energia de ordem física. Energia de ordem mecânica. Lesões corporais: leve, grave e gravíssima e seguida de
morte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 282

Arquivologia
1. Arquivística: princípios e conceitos. Gestão da informação e de documentos. Protocolo: recebimento, registro, distribuição, trami-
tação e expedição de documentos. Classificação de documentos de arquivo. Arquivamento e ordenação de documentos de arquivo.
Tabela de temporalidade de documentos de arquivo. Acondicionamento e armazenamento de documentos de arquivo. Preservação
e conservação de documentos de arquivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 287
2. Tipologias documentais e suportes físicos: microfilmagem; automação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 296
3. Preservação, conservação e restauração de documentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 303

Química
1. Classificação dos materiais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 307
2. Teoria atômico-molecular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 310
3. Classificação periódica dos elementos químicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 313
4. Radioatividade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 317
5. Interações químicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 320
6. Misturas, soluções e propriedades coligativas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 324
7. Métodos de separação de misturas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 328
8. Funções químicas inorgânicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 331
9. Gases . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 337
10. Propriedades dos sólidos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 340
11. Estequiometria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 342
12. Termoquímica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 345
13. Cinética química . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 347
14. Equilíbrio químico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 350
15. Eletroquímica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 353
16. Química orgânica: estrutura, nomenclatura e propriedades físicas e químicas de compostos orgânicos . . . . . . . . . . . . . . . 356

Física
1. Oscilações e ondas: movimento harmônico simples; energia no movimento harmônico simples; ondas em uma corda; energia trans-
mitida pelas ondas; ondas estacionárias; equação de onda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 373
2. Eletricidade: carga elétrica; condutores e isolantes; campo elétrico; potencial elétrico; corrente elétrica; resistores; capacitores;
circuitos elétricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 384
3. Óptica: óptica geométrica; reflexão; refração; polarização; interferência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 419
4. Espectroscopias de absorção e de emissão molecular (fluorescência) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 432

Biologia
1. Citologia. Composição química da matéria viva. Organização celular das células eucarióticas. Estrutura e função dos compo-
nentes citoplasmáticos. Membrana celular. Núcleo. Estrutura, componentes e funções. Divisão celular (mitose e meiose, e suas
fases). Citoesqueleto e movimento celular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 443
2. Bioquímica. Processos de obtenção de energia na célula. Principais vias metabólicas. Regulação metabólica. Metabolismo e regulação
da utilização de energia. Proteínas e enzimas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 478
3. Embriologia. Gametogênese. Fecundação, segmentação e gastrulação. Organogênese. Anexos embrionários. Desenvolvimento
embrionário humano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 498
4. Genética. Primeira lei de Mendel. Probabilidade genética. Árvore genealógica. Genes letais. Herança sem dominância. Segunda
lei de Mendel. Alelos múltiplos: grupos sanguíneos dos sistemas ABO, Rh e MN. Determinação do sexo. Herança dos cromos-
somos sexuais. Doenças genéticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 507
ÍNDICE

Material Digital
Legislação - Noções de Direito Penal
1. Crimes previstos no Estatuto do Desarmamento (Lei n° 10.826/0203) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
2. Crimes hediondos (Lei n° 8.072/1990) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
3. Crimes resultantes de preconceitos de raça ou de cor (Lei n° 7.716/1989) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
4. Crimes de tortura (Lei n° 9.455/1997) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
5. Crimes previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n° 8.069/1990) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
6. Crimes previstos no Estatuto do Idoso (Lei n° 10.741/2003) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
7. Lei Maria da Penha - Violência doméstica e familiar contra a mulher (Lei n° 11.340/2006) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
8. Crimes previstos na Lei n° 11.343/2006 (Lei de drogas) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
9. Crimes contra as Relações de Consumo (Título II da Lei n° 8.078/1990) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
10. Lei das Contravenções Penais (Decreto-Lei n° 3.688/1941) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
11. Crimes previstos na Lei n° 9.605/1998 (crimes contra o meio ambiente) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
12. Lei nº 13.869/2019 (abuso de autoridade) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
13. Lei nº 14.344/2022 – Violência Doméstica e Familiar contra a Criança e o Adolescente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
14. Lei n.º 13.431/2017 (Estabelece o sistema de garantia de direitos da criança e do adolescente vítima ou testemunha de
violência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66

Noções de Legislação Estadual


1. Lei estadual n.º 16.901/2010 (Lei Orgânica da Polícia Civil do Estado de Goiás) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
2. Lei estadual n.º 20.756/2020 (regime jurídico dos servidores públicos civis do Estado de Goiás, das autarquias e fundações
públicas estaduais) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
3. Lei estadual n.º 13.800/2001 (processo administrativo no âmbito da Administração Pública do Estado de Goiás) . . . . . . . . . . . . 120
4. Lei estadual n.º 20.491/2019 (Organização administrativa do Poder Executivo) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120
5. Decreto estadual n.º 9.837/2021 (Código de Ética e Conduta Profissional do Servidor e da Alta Administração) . . . . . . . . 136
6. Lei estadual n.º 18.456/2014 (Prevenção e punição de assédio moral no âmbito da Administração) . . . . . . . . . . . . . . . . . . 140
7. Lei estadual n.º 18.672/2014 (Responsabilização administrativa e civil de pessoas jurídicas pela prática de atos contra a admi-
nistração pública estadual). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 142

Noções de Identificação
1. Lei nº 12.037/2009 (identificação criminal do civilmente identificado). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 149
2. Lei nº 9.454/1997 (número único de registro de identidade civil). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 150
3. Lei nº 7.116/1983 (expedição e validade nacional das carteiras de identidade). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 151
4. Características morfológicas de identificação: gênero, raça, idade, estatura, malformações, sinais profissionais, sinais individuais,
tatuagens. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 151
5. Identidade policial e judiciária. Bertiolagem. Retrato falado. Fotografia sinalética. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 153
6. Papiloscopia. Impressões datiloscópicas. Sistema datiloscópico de Vucetich. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 157

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LÍNGUA PORTUGUESA

• Linguagem não-verbal é aquela que utiliza somente imagens,


COMPREENSÃO E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS DE GÊ- fotos, gestos... não há presença de nenhuma palavra.
NEROS VARIADOS. RECONHECIMENTO DE TIPOS E GÊ-
NEROS TEXTUAIS

Compreensão e interpretação de textos


Chegamos, agora, em um ponto muito importante para todo o
seu estudo: a interpretação de textos. Desenvolver essa habilidade
é essencial e pode ser um diferencial para a realização de uma boa
prova de qualquer área do conhecimento.
Mas você sabe a diferença entre compreensão e interpretação?
A compreensão é quando você entende o que o texto diz de
forma explícita, aquilo que está na superfície do texto.
Quando Jorge fumava, ele era infeliz.
Por meio dessa frase, podemos entender que houve um tempo
que Jorge era infeliz, devido ao cigarro.
A interpretação é quando você entende o que está implícito, • Linguagem Mista (ou híbrida) é aquele que utiliza tanto as pa-
nas entrelinhas, aquilo que está de modo mais profundo no texto lavras quanto as imagens. Ou seja, é a junção da linguagem verbal
ou que faça com que você realize inferências. com a não-verbal.
Quando Jorge fumava, ele era infeliz.
Já compreendemos que Jorge era infeliz quando fumava, mas
podemos interpretar que Jorge parou de fumar e que agora é feliz.
Percebeu a diferença?

Tipos de Linguagem
Existem três tipos de linguagem que precisamos saber para que
facilite a interpretação de textos.

• Linguagem Verbal é aquela que utiliza somente palavras. Ela


pode ser escrita ou oral.

Além de saber desses conceitos, é importante sabermos iden-


tificar quando um texto é baseado em outro. O nome que damos a
este processo é intertextualidade.

Interpretação de Texto
Interpretar um texto quer dizer dar sentido, inferir, chegar a
uma conclusão do que se lê. A interpretação é muito ligada ao su-
bentendido. Sendo assim, ela trabalha com o que se pode deduzir
de um texto.
A interpretação implica a mobilização dos conhecimentos pré-
vios que cada pessoa possui antes da leitura de um determinado
texto, pressupõe que a aquisição do novo conteúdo lido estabeleça
uma relação com a informação já possuída, o que leva ao cresci-
mento do conhecimento do leitor, e espera que haja uma aprecia-
ção pessoal e crítica sobre a análise do novo conteúdo lido, afetan-
do de alguma forma o leitor.

9
LÍNGUA PORTUGUESA
Sendo assim, podemos dizer que existem diferentes tipos de Compreendido tudo isso, interpretar significa extrair um signi-
leitura: uma leitura prévia, uma leitura seletiva, uma leitura analíti- ficado. Ou seja, a ideia está lá, às vezes escondida, e por isso o can-
ca e, por fim, uma leitura interpretativa. didato só precisa entendê-la – e não a complementar com algum
valor individual. Portanto, apegue-se tão somente ao texto, e nunca
É muito importante que você: extrapole a visão dele.
- Assista os mais diferenciados jornais sobre a sua cidade, esta-
do, país e mundo; IDENTIFICANDO O TEMA DE UM TEXTO
- Se possível, procure por jornais escritos para saber de notícias O tema é a ideia principal do texto. É com base nessa ideia
(e também da estrutura das palavras para dar opiniões); principal que o texto será desenvolvido. Para que você consiga
- Leia livros sobre diversos temas para sugar informações orto- identificar o tema de um texto, é necessário relacionar as diferen-
gráficas, gramaticais e interpretativas; tes informações de forma a construir o seu sentido global, ou seja,
- Procure estar sempre informado sobre os assuntos mais po- você precisa relacionar as múltiplas partes que compõem um todo
lêmicos; significativo, que é o texto.
- Procure debater ou conversar com diversas pessoas sobre Em muitas situações, por exemplo, você foi estimulado a ler um
qualquer tema para presenciar opiniões diversas das suas. texto por sentir-se atraído pela temática resumida no título. Pois o
título cumpre uma função importante: antecipar informações sobre
Dicas para interpretar um texto: o assunto que será tratado no texto.
– Leia lentamente o texto todo. Em outras situações, você pode ter abandonado a leitura por-
No primeiro contato com o texto, o mais importante é tentar que achou o título pouco atraente ou, ao contrário, sentiu-se atra-
compreender o sentido global do texto e identificar o seu objetivo. ído pelo título de um livro ou de um filme, por exemplo. É muito
comum as pessoas se interessarem por temáticas diferentes, de-
– Releia o texto quantas vezes forem necessárias. pendendo do sexo, da idade, escolaridade, profissão, preferências
Assim, será mais fácil identificar as ideias principais de cada pa- pessoais e experiência de mundo, entre outros fatores.
rágrafo e compreender o desenvolvimento do texto. Mas, sobre que tema você gosta de ler? Esportes, namoro, se-
xualidade, tecnologia, ciências, jogos, novelas, moda, cuidados com
– Sublinhe as ideias mais importantes. o corpo? Perceba, portanto, que as temáticas são praticamente in-
Sublinhar apenas quando já se tiver uma boa noção da ideia finitas e saber reconhecer o tema de um texto é condição essen-
principal e das ideias secundárias do texto. cial para se tornar um leitor hábil. Vamos, então, começar nossos
estudos?
– Separe fatos de opiniões. Propomos, inicialmente, que você acompanhe um exercício
O leitor precisa separar o que é um fato (verdadeiro, objetivo bem simples, que, intuitivamente, todo leitor faz ao ler um texto:
e comprovável) do que é uma opinião (pessoal, tendenciosa e mu- reconhecer o seu tema. Vamos ler o texto a seguir?
tável).
CACHORROS
– Retorne ao texto sempre que necessário. Os zoólogos acreditam que o cachorro se originou de uma
Além disso, é importante entender com cuidado e atenção os espécie de lobo que vivia na Ásia. Depois os cães se juntaram aos
enunciados das questões. seres humanos e se espalharam por quase todo o mundo. Essa ami-
zade começou há uns 12 mil anos, no tempo em que as pessoas
– Reescreva o conteúdo lido. precisavam caçar para se alimentar. Os cachorros perceberam que,
Para uma melhor compreensão, podem ser feitos resumos, tó- se não atacassem os humanos, podiam ficar perto deles e comer a
picos ou esquemas. comida que sobrava. Já os homens descobriram que os cachorros
podiam ajudar a caçar, a cuidar de rebanhos e a tomar conta da
Além dessas dicas importantes, você também pode grifar pa- casa, além de serem ótimos companheiros. Um colaborava com o
lavras novas, e procurar seu significado para aumentar seu vocabu- outro e a parceria deu certo.
lário, fazer atividades como caça-palavras, ou cruzadinhas são uma
distração, mas também um aprendizado. Ao ler apenas o título “Cachorros”, você deduziu sobre o pos-
Não se esqueça, além da prática da leitura aprimorar a compre- sível assunto abordado no texto. Embora você imagine que o tex-
ensão do texto e ajudar a aprovação, ela também estimula nossa to vai falar sobre cães, você ainda não sabia exatamente o que ele
imaginação, distrai, relaxa, informa, educa, atualiza, melhora nos- falaria sobre cães. Repare que temos várias informações ao longo
so foco, cria perspectivas, nos torna reflexivos, pensantes, além de do texto: a hipótese dos zoólogos sobre a origem dos cães, a asso-
melhorar nossa habilidade de fala, de escrita e de memória. ciação entre eles e os seres humanos, a disseminação dos cães pelo
Um texto para ser compreendido deve apresentar ideias se- mundo, as vantagens da convivência entre cães e homens.
letas e organizadas, através dos parágrafos que é composto pela As informações que se relacionam com o tema chamamos de
ideia central, argumentação e/ou desenvolvimento e a conclusão subtemas (ou ideias secundárias). Essas informações se integram,
do texto. ou seja, todas elas caminham no sentido de estabelecer uma unida-
O primeiro objetivo de uma interpretação de um texto é a iden- de de sentido. Portanto, pense: sobre o que exatamente esse texto
tificação de sua ideia principal. A partir daí, localizam-se as ideias fala? Qual seu assunto, qual seu tema? Certamente você chegou à
secundárias, ou fundamentações, as argumentações, ou explica- conclusão de que o texto fala sobre a relação entre homens e cães.
ções, que levem ao esclarecimento das questões apresentadas na Se foi isso que você pensou, parabéns! Isso significa que você foi
prova. capaz de identificar o tema do texto!

Fonte: https://portuguesrapido.com/tema-ideia-central-e-ideias-
-secundarias/

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LÍNGUA PORTUGUESA
IDENTIFICAÇÃO DE EFEITOS DE IRONIA OU HUMOR EM Ironia dramática (ou satírica)
TEXTOS VARIADOS A ironia dramática é um efeito de sentido que ocorre nos textos
literários quando o leitor, a audiência, tem mais informações do que
Ironia tem um personagem sobre os eventos da narrativa e sobre inten-
Ironia  é o recurso pelo qual o emissor diz o contrário do que ções de outros personagens. É um recurso usado para aprofundar
está pensando ou sentindo (ou por pudor em relação a si próprio ou os significados ocultos em diálogos e ações e que, quando captado
com intenção depreciativa e sarcástica em relação a outrem). pelo leitor, gera um clima de suspense, tragédia ou mesmo comé-
A ironia consiste na utilização de determinada palavra ou ex- dia, visto que um personagem é posto em situações que geram con-
pressão que, em um outro contexto diferente do usual, ganha um flitos e mal-entendidos porque ele mesmo não tem ciência do todo
novo sentido, gerando um efeito de humor. da narrativa.
Exemplo: Exemplo: Em livros com narrador onisciente, que sabe tudo o
que se passa na história com todas as personagens, é mais fácil apa-
recer esse tipo de ironia. A peça como Romeu e Julieta, por exem-
plo, se inicia com a fala que relata que os protagonistas da história
irão morrer em decorrência do seu amor. As personagens agem ao
longo da peça esperando conseguir atingir seus objetivos, mas a
plateia já sabe que eles não serão bem-sucedidos.

Humor
Nesse caso, é muito comum a utilização de situações que pare-
çam cômicas ou surpreendentes para provocar o efeito de humor.
Situações cômicas ou potencialmente humorísticas comparti-
lham da característica do efeito surpresa. O humor reside em ocor-
rer algo fora do esperado numa situação.
Há diversas situações em que o humor pode aparecer. Há as ti-
rinhas e charges, que aliam texto e imagem para criar efeito cômico;
há anedotas ou pequenos contos; e há as crônicas, frequentemente
acessadas como forma de gerar o riso.
Os textos com finalidade humorística podem ser divididos em
quatro categorias: anedotas, cartuns, tiras e charges.

Exemplo:

Na construção de um texto, ela pode aparecer em três mo-


dos: ironia verbal, ironia de situação e ironia dramática (ou satírica).

Ironia verbal
Ocorre quando se diz algo pretendendo expressar outro sig-
nificado, normalmente oposto ao sentido literal. A expressão e a
intenção são diferentes.
Exemplo: Você foi tão bem na prova! Tirou um zero incrível! ANÁLISE E A INTERPRETAÇÃO DO TEXTO SEGUNDO O GÊ-
NERO EM QUE SE INSCREVE
Ironia de situação Compreender um texto trata da análise e decodificação do que
A intenção e resultado da ação não estão alinhados, ou seja, o de fato está escrito, seja das frases ou das ideias presentes. Inter-
resultado é contrário ao que se espera ou que se planeja. pretar um texto, está ligado às conclusões que se pode chegar ao
Exemplo: Quando num texto literário uma personagem planeja conectar as ideias do texto com a realidade. Interpretação trabalha
uma ação, mas os resultados não saem como o esperado. No li- com a subjetividade, com o que se entendeu sobre o texto.
vro “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis, a Interpretar um texto permite a compreensão de todo e qual-
personagem título tem obsessão por ficar conhecida. Ao longo da quer texto ou discurso e se amplia no entendimento da sua ideia
vida, tenta de muitas maneiras alcançar a notoriedade sem suces- principal. Compreender relações semânticas é uma competência
so. Após a morte, a personagem se torna conhecida. A ironia é que imprescindível no mercado de trabalho e nos estudos.
planejou ficar famoso antes de morrer e se tornou famoso após a Quando não se sabe interpretar corretamente um texto pode-
morte. -se criar vários problemas, afetando não só o desenvolvimento pro-
fissional, mas também o desenvolvimento pessoal.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Busca de sentidos tempo na novela é baseada no calendário. O tempo e local são de-
Para a busca de sentidos do texto, pode-se retirar do mesmo finidos pelas histórias dos personagens. A história (enredo) tem um
os tópicos frasais presentes em cada parágrafo. Isso auxiliará na ritmo mais acelerado do que a do romance por ter um texto mais
apreensão do conteúdo exposto. curto.
Isso porque é ali que se fazem necessários, estabelecem uma
relação hierárquica do pensamento defendido, retomando ideias já Crônica: texto que narra o cotidiano das pessoas, situações que
citadas ou apresentando novos conceitos. nós mesmos já vivemos e normalmente é utilizado a ironia para
Por fim, concentre-se nas ideias que realmente foram explici- mostrar um outro lado da mesma história. Na crônica o tempo não
tadas pelo autor. Textos argumentativos não costumam conceder é relevante e quando é citado, geralmente são pequenos intervalos
espaço para divagações ou hipóteses, supostamente contidas nas como horas ou mesmo minutos.
entrelinhas. Deve-se ater às ideias do autor, o que não quer dizer
que o leitor precise ficar preso na superfície do texto, mas é fun- Poesia: apresenta um trabalho voltado para o estudo da lin-
damental que não sejam criadas suposições vagas e inespecíficas. guagem, fazendo-o de maneira particular, refletindo o momento,
a vida dos homens através de figuras que possibilitam a criação de
Importância da interpretação imagens.
A prática da leitura, seja por prazer, para estudar ou para se
informar, aprimora o vocabulário e dinamiza o raciocínio e a inter- Editorial: texto dissertativo argumentativo onde expressa a
pretação. A leitura, além de favorecer o aprendizado de conteúdos opinião do editor através de argumentos e fatos sobre um assunto
específicos, aprimora a escrita. que está sendo muito comentado (polêmico). Sua intenção é con-
Uma interpretação de texto assertiva depende de inúmeros fa- vencer o leitor a concordar com ele.
tores. Muitas vezes, apressados, descuidamo-nos dos detalhes pre-
sentes em um texto, achamos que apenas uma leitura já se faz sufi- Entrevista: texto expositivo e é marcado pela conversa de um
ciente. Interpretar exige paciência e, por isso, sempre releia o texto, entrevistador e um entrevistado para a obtenção de informações.
pois a segunda leitura pode apresentar aspectos surpreendentes Tem como principal característica transmitir a opinião de pessoas
que não foram observados previamente. Para auxiliar na busca de de destaque sobre algum assunto de interesse.
sentidos do texto, pode-se também retirar dele os tópicos frasais
presentes em cada parágrafo, isso certamente auxiliará na apre- Cantiga de roda: gênero empírico, que na escola se materiali-
ensão do conteúdo exposto. Lembre-se de que os parágrafos não za em uma concretude da realidade. A cantiga de roda permite as
estão organizados, pelo menos em um bom texto, de maneira alea- crianças terem mais sentido em relação a leitura e escrita, ajudando
tória, se estão no lugar que estão, é porque ali se fazem necessários, os professores a identificar o nível de alfabetização delas.
estabelecendo uma relação hierárquica do pensamento defendido,
retomando ideias já citadas ou apresentando novos conceitos. Receita: texto instrucional e injuntivo que tem como objetivo
Concentre-se nas ideias que de fato foram explicitadas pelo au- de informar, aconselhar, ou seja, recomendam dando uma certa li-
tor: os textos argumentativos não costumam conceder espaço para berdade para quem recebe a informação.
divagações ou hipóteses, supostamente contidas nas entrelinhas.
Devemos nos ater às ideias do autor, isso não quer dizer que você DISTINÇÃO DE FATO E OPINIÃO SOBRE ESSE FATO
precise ficar preso na superfície do texto, mas é fundamental que
não criemos, à revelia do autor, suposições vagas e inespecíficas. Fato
Ler com atenção é um exercício que deve ser praticado à exaustão, O fato é algo que aconteceu ou está acontecendo. A existência
assim como uma técnica, que fará de nós leitores proficientes. do fato pode ser constatada de modo indiscutível. O fato pode é
uma coisa que aconteceu e pode ser comprovado de alguma manei-
Diferença entre compreensão e interpretação ra, através de algum documento, números, vídeo ou registro.
A compreensão de um texto é fazer uma análise objetiva do Exemplo de fato:
texto e verificar o que realmente está escrito nele. Já a interpreta- A mãe foi viajar.
ção imagina o que as ideias do texto têm a ver com a realidade. O
leitor tira conclusões subjetivas do texto. Interpretação
É o ato de dar sentido ao fato, de entendê-lo. Interpretamos
Gêneros Discursivos quando relacionamos fatos, os comparamos, buscamos suas cau-
Romance: descrição longa de ações e sentimentos de perso- sas, previmos suas consequências.
nagens fictícios, podendo ser de comparação com a realidade ou Entre o fato e sua interpretação há uma relação lógica: se apon-
totalmente irreal. A diferença principal entre um romance e uma tamos uma causa ou consequência, é necessário que seja plausível.
novela é a extensão do texto, ou seja, o romance é mais longo. No Se comparamos fatos, é preciso que suas semelhanças ou diferen-
romance nós temos uma história central e várias histórias secun- ças sejam detectáveis.
dárias.
Exemplos de interpretação:
Conto: obra de ficção onde é criado seres e locais totalmente A mãe foi viajar porque considerou importante estudar em ou-
imaginário. Com linguagem linear e curta, envolve poucas perso- tro país.
nagens, que geralmente se movimentam em torno de uma única A mãe foi viajar porque se preocupava mais com sua profissão
ação, dada em um só espaço, eixo temático e conflito. Suas ações do que com a filha.
encaminham-se diretamente para um desfecho.
Opinião
Novela: muito parecida com o conto e o romance, diferencia- A opinião é a avaliação que se faz de um fato considerando um
do por sua extensão. Ela fica entre o conto e o romance, e tem a juízo de valor. É um julgamento que tem como base a interpretação
história principal, mas também tem várias histórias secundárias. O que fazemos do fato.

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Nossas opiniões costumam ser avaliadas pelo grau de coerên- Outro aspecto que merece especial atenção são  os conecto-
cia que mantêm com a interpretação do fato. É uma interpretação res. São responsáveis pela coesão do texto e tornam a leitura mais
do fato, ou seja, um modo particular de olhar o fato. Esta opinião fluente, visando estabelecer um encadeamento lógico entre as
pode alterar de pessoa para pessoa devido a fatores socioculturais. ideias e servem de ligação entre o parágrafo, ou no interior do perí-
odo, e o tópico que o antecede.
Exemplos de opiniões que podem decorrer das interpretações Saber usá-los com precisão, tanto no interior da frase, quanto
anteriores: ao passar de um enunciado para outro, é uma exigência também
A mãe foi viajar porque considerou importante estudar em ou- para a clareza do texto.
tro país. Ela tomou uma decisão acertada. Sem os conectores (pronomes relativos, conjunções, advér-
A mãe foi viajar porque se preocupava mais com sua profissão bios, preposições, palavras denotativas) as ideias não fluem, muitas
do que com a filha. Ela foi egoísta. vezes o pensamento não se completa, e o texto torna-se obscuro,
sem coerência.
Muitas vezes, a interpretação já traz implícita uma opinião. Esta estrutura é uma das mais utilizadas em textos argumenta-
Por exemplo, quando se mencionam com ênfase consequên- tivos, e por conta disso é mais fácil para os leitores.
cias negativas que podem advir de um fato, se enaltecem previsões Existem diversas formas de se estruturar cada etapa dessa es-
positivas ou se faz um comentário irônico na interpretação, já esta- trutura de texto, entretanto, apenas segui-la já leva ao pensamento
mos expressando nosso julgamento. mais direto.
É muito importante saber a diferença entre o fato e opinião,
principalmente quando debatemos um tema polêmico ou quando NÍVEIS DE LINGUAGEM
analisamos um texto dissertativo.
Exemplo: Definição de linguagem
A mãe viajou e deixou a filha só. Nem deve estar se importando Linguagem é qualquer meio sistemático de comunicar ideias
com o sofrimento da filha. ou sentimentos através de signos convencionais, sonoros, gráficos,
gestuais etc. A linguagem é individual e flexível e varia dependendo
ESTRUTURAÇÃO DO TEXTO E DOS PARÁGRAFOS da idade, cultura, posição social, profissão etc. A maneira de arti-
Uma boa redação é dividida em ideias relacionadas entre si cular as palavras, organizá-las na frase, no texto, determina nossa
ajustadas a uma ideia central que norteia todo o pensamento do linguagem, nosso estilo (forma de expressão pessoal).
texto. Um dos maiores problemas nas redações é estruturar as As inovações linguísticas, criadas pelo falante, provocam, com
ideias para fazer com que o leitor entenda o que foi dito no texto. o decorrer do tempo, mudanças na estrutura da língua, que só as
Fazer uma estrutura no texto para poder guiar o seu pensamento incorpora muito lentamente, depois de aceitas por todo o grupo
e o do leitor. social. Muitas novidades criadas na linguagem não vingam na língua
e caem em desuso.
Parágrafo
O parágrafo organizado em torno de uma ideia-núcleo, que é Língua escrita e língua falada
desenvolvida por ideias secundárias. O parágrafo pode ser forma- A língua escrita não é a simples reprodução gráfica da língua
do por uma ou mais frases, sendo seu tamanho variável. No texto falada, por que os sinais gráficos não conseguem registrar grande
dissertativo-argumentativo, os parágrafos devem estar todos rela- parte dos elementos da fala, como o timbre da voz, a entonação, e
cionados com a tese ou ideia principal do texto, geralmente apre- ainda os gestos e a expressão facial. Na realidade a língua falada é
sentada na introdução. mais descontraída, espontânea e informal, porque se manifesta na
conversação diária, na sensibilidade e na liberdade de expressão
Embora existam diferentes formas de organização de parágra- do falante. Nessas situações informais, muitas regras determinadas
fos, os textos dissertativo-argumentativos e alguns gêneros jornalís- pela língua padrão são quebradas em nome da naturalidade, da li-
ticos apresentam uma estrutura-padrão. Essa estrutura consiste em berdade de expressão e da sensibilidade estilística do falante.
três partes: a ideia-núcleo, as ideias secundárias (que desenvolvem
a ideia-núcleo) e a conclusão (que reafirma a ideia-básica). Em pa- Linguagem popular e linguagem culta
rágrafos curtos, é raro haver conclusão. Podem valer-se tanto da linguagem popular quanto da lingua-
gem culta. Obviamente a linguagem popular é mais usada na fala,
Introdução: faz uma rápida apresentação do assunto e já traz nas expressões orais cotidianas. Porém, nada impede que ela esteja
uma ideia da sua posição no texto, é normalmente aqui que você presente em poesias (o Movimento Modernista Brasileiro procurou
irá identificar qual o problema do texto, o porque ele está sendo valorizar a linguagem popular), contos, crônicas e romances em que
escrito. Normalmente o tema e o problema são dados pela própria o diálogo é usado para representar a língua falada.
prova.
Linguagem Popular ou Coloquial
Desenvolvimento: elabora melhor o tema com argumentos e Usada espontânea e fluentemente pelo povo. Mostra-se quase
ideias que apoiem o seu posicionamento sobre o assunto. É possí- sempre rebelde à norma gramatical e é carregada de vícios de lin-
vel usar argumentos de várias formas, desde dados estatísticos até guagem (solecismo – erros de regência e concordância; barbarismo
citações de pessoas que tenham autoridade no assunto. – erros de pronúncia, grafia e flexão; ambiguidade; cacofonia; pleo-
nasmo), expressões vulgares, gírias e preferência pela coordenação,
Conclusão: faz uma retomada breve de tudo que foi abordado que ressalta o caráter oral e popular da língua. A linguagem popular
e conclui o texto. Esta última parte pode ser feita de várias maneiras está presente nas conversas familiares ou entre amigos, anedotas,
diferentes, é possível deixar o assunto ainda aberto criando uma irradiação de esportes, programas de TV e auditório, novelas, na
pergunta reflexiva, ou concluir o assunto com as suas próprias con- expressão dos esta dos emocionais etc.
clusões a partir das ideias e argumentos do desenvolvimento.

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LÍNGUA PORTUGUESA
A Linguagem Culta ou Padrão Exemplo:
É a ensinada nas escolas e serve de veículo às ciências em que Era uma casa muito engraçada
se apresenta com terminologia especial. É usada pelas pessoas ins- Não tinha teto, não tinha nada
truídas das diferentes classes sociais e caracteriza-se pela obediên- Ninguém podia entrar nela, não
cia às normas gramaticais. Mais comumente usada na linguagem Porque na casa não tinha chão
escrita e literária, reflete prestígio social e cultural. É mais artificial, Ninguém podia dormir na rede
mais estável, menos sujeita a variações. Está presente nas aulas, Porque na casa não tinha parede
conferências, sermões, discursos políticos, comunicações científi- Ninguém podia fazer pipi
cas, noticiários de TV, programas culturais etc. Porque penico não tinha ali
Mas era feita com muito esmero
Gíria Na rua dos bobos, número zero
A gíria relaciona-se ao cotidiano de certos grupos sociais como (Vinícius de Moraes)
arma de defesa contra as classes dominantes. Esses grupos utilizam
a gíria como meio de expressão do cotidiano, para que as mensa- TIPO TEXTUAL INJUNTIVO
gens sejam decodificadas apenas por eles mesmos. A injunção indica como realizar uma ação, aconselha, impõe,
Assim a gíria é criada por determinados grupos que divulgam instrui o interlocutor. Chamado também de texto instrucional, o
o palavreado para outros grupos até chegar à mídia. Os meios de tipo de texto injuntivo é utilizado para predizer acontecimentos e
comunicação de massa, como a televisão e o rádio, propagam os comportamentos, nas leis jurídicas.
novos vocábulos, às vezes, também inventam alguns. A gíria pode
acabar incorporada pela língua oficial, permanecer no vocabulário Características principais:
de pequenos grupos ou cair em desuso. • Normalmente apresenta frases curtas e objetivas, com ver-
Ex.: “chutar o pau da barraca”, “viajar na maionese”, “galera”, bos de comando, com tom imperativo; há também o uso do futuro
“mina”, “tipo assim”. do presente (10 mandamentos bíblicos e leis diversas).
• Marcas de interlocução: vocativo, verbos e pronomes de 2ª
Linguagem vulgar pessoa ou 1ª pessoa do plural, perguntas reflexivas etc.
Existe uma linguagem vulgar relacionada aos que têm pouco
ou nenhum contato com centros civilizados. Na linguagem vulgar Exemplo:
há estruturas com “nóis vai, lá”, “eu di um beijo”, “Ponhei sal na Impedidos do Alistamento Eleitoral (art. 5º do Código Eleito-
comida”. ral) – Não podem alistar-se eleitores: os que não saibam exprimir-se
na língua nacional, e os que estejam privados, temporária ou defi-
Linguagem regional nitivamente dos direitos políticos. Os militares são alistáveis, desde
Regionalismos são variações geográficas do uso da língua pa- que oficiais, aspirantes a oficiais, guardas-marinha, subtenentes ou
drão, quanto às construções gramaticais e empregos de certas pala- suboficiais, sargentos ou alunos das escolas militares de ensino su-
vras e expressões. Há, no Brasil, por exemplo, os falares amazônico, perior para formação de oficiais.
nordestino, baiano, fluminense, mineiro, sulino.
Tipo textual expositivo
Tipos e genêros textuais A dissertação é o ato de apresentar ideias, desenvolver racio-
Os tipos textuais configuram-se como modelos fixos e abran- cínio, analisar contextos, dados e fatos, por meio de exposição,
gentes que objetivam a distinção e definição da estrutura, bem discussão, argumentação e defesa do que pensamos. A dissertação
como aspectos linguísticos de narração, dissertação, descrição e pode ser expositiva ou argumentativa.
explicação. Eles apresentam estrutura definida e tratam da forma A dissertação-expositiva é caracterizada por esclarecer um as-
como um texto se apresenta e se organiza. Existem cinco tipos clás- sunto de maneira atemporal, com o objetivo de explicá-lo de ma-
sicos que aparecem em provas: descritivo, injuntivo, expositivo (ou neira clara, sem intenção de convencer o leitor ou criar debate.
dissertativo-expositivo) dissertativo e narrativo. Vejamos alguns
exemplos e as principais características de cada um deles. Características principais:
• Apresenta introdução, desenvolvimento e conclusão.
Tipo textual descritivo • O objetivo não é persuadir, mas meramente explicar, infor-
A descrição é uma modalidade de composição textual cujo mar.
objetivo é fazer um retrato por escrito (ou não) de um lugar, uma • Normalmente a marca da dissertação é o verbo no presente.
pessoa, um animal, um pensamento, um sentimento, um objeto, • Amplia-se a ideia central, mas sem subjetividade ou defesa
um movimento etc. de ponto de vista.
Características principais: • Apresenta linguagem clara e imparcial.
• Os recursos formais mais encontrados são os de valor adje-
tivo (adjetivo, locução adjetiva e oração adjetiva), por sua função Exemplo:
caracterizadora. O texto dissertativo consiste na ampliação, na discussão, no
• Há descrição objetiva e subjetiva, normalmente numa enu- questionamento, na reflexão, na polemização, no debate, na ex-
meração. pressão de um ponto de vista, na explicação a respeito de um de-
• A noção temporal é normalmente estática. terminado tema.
• Normalmente usam-se verbos de ligação para abrir a defini- Existem dois tipos de dissertação bem conhecidos: a disserta-
ção. ção expositiva (ou informativa) e a argumentativa (ou opinativa).
• Normalmente aparece dentro de um texto narrativo. Portanto, pode-se dissertar simplesmente explicando um as-
• Os gêneros descritivos mais comuns são estes: manual, anún- sunto, imparcialmente, ou discutindo-o, parcialmente.
cio, propaganda, relatórios, biografia, tutorial.

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Tipo textual dissertativo-argumentativo GÊNEROS TEXTUAIS
Este tipo de texto — muito frequente nas provas de concur- Já os gêneros textuais (ou discursivos) são formas diferentes
sos — apresenta posicionamentos pessoais e exposição de ideias de expressão comunicativa. As muitas formas de elaboração de um
apresentadas de forma lógica. Com razoável grau de objetividade, texto se tornam gêneros, de acordo com a intenção do seu pro-
clareza, respeito pelo registro formal da língua e coerência, seu in- dutor. Logo, os gêneros apresentam maior diversidade e exercem
tuito é a defesa de um ponto de vista que convença o interlocutor funções sociais específicas, próprias do dia a dia. Ademais, são pas-
(leitor ou ouvinte). síveis de modificações ao longo do tempo, mesmo que preservan-
do características preponderantes. Vejamos, agora, uma tabela que
Características principais: apresenta alguns gêneros textuais classificados com os tipos textu-
• Presença de estrutura básica (introdução, desenvolvimento ais que neles predominam.
e conclusão): ideia principal do texto (tese); argumentos (estraté-
gias argumentativas: causa-efeito, dados estatísticos, testemunho Tipo Textual Predominante Gêneros Textuais
de autoridade, citações, confronto, comparação, fato, exemplo,
enumeração...); conclusão (síntese dos pontos principais com su- Descritivo Diário
gestão/solução). Relatos (viagens, históricos, etc.)
• Utiliza verbos na 1ª pessoa (normalmente nas argumentações Biografia e autobiografia
informais) e na 3ª pessoa do presente do indicativo (normalmente Notícia
nas argumentações formais) para imprimir uma atemporalidade e Currículo
um caráter de verdade ao que está sendo dito. Lista de compras
• Privilegiam-se as estruturas impessoais, com certas modali- Cardápio
zações discursivas (indicando noções de possibilidade, certeza ou Anúncios de classificados
probabilidade) em vez de juízos de valor ou sentimentos exaltados. Injuntivo Receita culinária
• Há um cuidado com a progressão temática, isto é, com o de- Bula de remédio
senvolvimento coerente da ideia principal, evitando-se rodeios. Manual de instruções
Regulamento
Exemplo: Textos prescritivos
A maioria dos problemas existentes em um país em desenvol-
vimento, como o nosso, podem ser resolvidos com uma eficiente Expositivo Seminários
administração política (tese), porque a força governamental certa- Palestras
mente se sobrepõe a poderes paralelos, os quais – por negligência Conferências
de nossos representantes – vêm aterrorizando as grandes metró- Entrevistas
poles. Isso ficou claro no confronto entre a força militar do RJ e os Trabalhos acadêmicos
traficantes, o que comprovou uma verdade simples: se for do desejo Enciclopédia
dos políticos uma mudança radical visando o bem-estar da popula- Verbetes de dicionários
ção, isso é plenamente possível (estratégia argumentativa: fato- Dissertativo-argumentativo Editorial Jornalístico
-exemplo). É importante salientar, portanto, que não devemos ficar Carta de opinião
de mãos atadas à espera de uma atitude do governo só quando o Resenha
caos se estabelece; o povo tem e sempre terá de colaborar com uma Artigo
cobrança efetiva (conclusão). Ensaio
Monografia, dissertação de
Tipo textual narrativo mestrado e tese de doutorado
O texto narrativo é uma modalidade textual em que se conta
Narrativo Romance
um fato, fictício ou não, que ocorreu num determinado tempo e lu-
Novela
gar, envolvendo certos personagens. Toda narração tem um enredo,
Crônica
personagens, tempo, espaço e narrador (ou foco narrativo).
Contos de Fada
Fábula
Características principais:
Lendas
• O tempo verbal predominante é o passado.
• Foco narrativo com narrador de 1ª pessoa (participa da his-
tória – onipresente) ou de 3ª pessoa (não participa da história – Sintetizando: os tipos textuais são fixos, finitos e tratam da for-
onisciente). ma como o texto se apresenta. Os gêneros textuais são fluidos, infi-
• Normalmente, nos concursos públicos, o texto aparece em nitos e mudam de acordo com a demanda social.
prosa, não em verso.
INTERTEXTUALIDADE
Exemplo: A  intertextualidade  é um recurso realizado entre textos, ou
Solidão seja, é a influência e relação que um estabelece sobre o outro. As-
João era solteiro, vivia só e era feliz. Na verdade, a solidão era sim, determina o fenômeno relacionado ao processo de produção
o que o tornava assim. Conheceu Maria, também solteira, só e fe- de textos que faz referência (explícita ou implícita) aos elementos
liz. Tão iguais, a afinidade logo se transforma em paixão. Casam-se. existentes em outro texto, seja a nível de conteúdo, forma ou de
Dura poucas semanas. Não havia mesmo como dar certo: ao se uni- ambos: forma e conteúdo.
rem, um tirou do outro a essência da felicidade. Grosso modo, a intertextualidade é o diálogo entre textos, de
Nelson S. Oliveira forma que essa relação pode ser estabelecida entre as produções
textuais que apresentem diversas linguagens (visual, auditiva, escri-
Fonte: https://www.recantodasletras.com.br/contossurreais/4835684

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ta), sendo expressa nas artes (literatura, pintura, escultura, música, uma coisa mais desejável que outra. Isso significa que ele atua no
dança, cinema), propagandas publicitárias, programas televisivos, domínio do preferível. Ele é utilizado para fazer o interlocutor crer
provérbios, charges, dentre outros. que, entre duas teses, uma é mais provável que a outra, mais pos-
sível que a outra, mais desejável que a outra, é preferível à outra.
Tipos de Intertextualidade O objetivo da argumentação não é demonstrar a verdade de
• Paródia: perversão do texto anterior que aparece geralmen- um fato, mas levar o ouvinte a admitir como verdadeiro o que o
te, em forma de crítica irônica de caráter humorístico. Do grego enunciador está propondo.
(parodès), a palavra “paródia” é formada pelos termos “para” (se- Há uma diferença entre o raciocínio lógico e a argumentação.
melhante) e “odes” (canto), ou seja, “um canto (poesia) semelhante O primeiro opera no domínio do necessário, ou seja, pretende
a outro”. Esse recurso é muito utilizado pelos programas humorís- demonstrar que uma conclusão deriva necessariamente das pre-
ticos. missas propostas, que se deduz obrigatoriamente dos postulados
• Paráfrase: recriação de um texto já existente mantendo a admitidos. No raciocínio lógico, as conclusões não dependem de
mesma ideia contida no texto original, entretanto, com a utilização crenças, de uma maneira de ver o mundo, mas apenas do encadea-
de outras palavras. O vocábulo “paráfrase”, do grego (paraphrasis), mento de premissas e conclusões.
significa a “repetição de uma sentença”. Por exemplo, um raciocínio lógico é o seguinte encadeamento:
• Epígrafe: recurso bastante utilizado em obras e textos cientí- A é igual a B.
ficos. Consiste no acréscimo de uma frase ou parágrafo que tenha A é igual a C.
alguma relação com o que será discutido no texto. Do grego, o ter- Então: C é igual a B.
mo “epígrafhe” é formado pelos vocábulos “epi” (posição superior)
e “graphé” (escrita). Admitidos os dois postulados, a conclusão é, obrigatoriamente,
• Citação: Acréscimo de partes de outras obras numa produção que C é igual a A.
textual, de forma que dialoga com ele; geralmente vem expressa Outro exemplo:
entre aspas e itálico, já que se trata da enunciação de outro autor. Todo ruminante é um mamífero.
Esse recurso é importante haja vista que sua apresentação sem re- A vaca é um ruminante.
lacionar a fonte utilizada é considerado “plágio”. Do Latim, o termo Logo, a vaca é um mamífero.
“citação” (citare) significa convocar.
• Alusão: Faz referência aos elementos presentes em outros Admitidas como verdadeiras as duas premissas, a conclusão
textos. Do Latim, o vocábulo “alusão” (alludere) é formado por dois também será verdadeira.
termos: “ad” (a, para) e “ludere” (brincar). No domínio da argumentação, as coisas são diferentes. Nele,
• Outras formas de intertextualidade menos discutidas são a conclusão não é necessária, não é obrigatória. Por isso, deve-se
o pastiche, o sample, a tradução e a bricolagem. mostrar que ela é a mais desejável, a mais provável, a mais plau-
sível. Se o Banco do Brasil fizer uma propaganda dizendo-se mais
ARGUMENTAÇÃO confiável do que os concorrentes porque existe desde a chegada
O ato de comunicação não visa apenas transmitir uma informa- da família real portuguesa ao Brasil, ele estará dizendo-nos que um
ção a alguém. Quem comunica pretende criar uma imagem positiva banco com quase dois séculos de existência é sólido e, por isso, con-
de si mesmo (por exemplo, a de um sujeito educado, ou inteligente, fiável. Embora não haja relação necessária entre a solidez de uma
ou culto), quer ser aceito, deseja que o que diz seja admitido como instituição bancária e sua antiguidade, esta tem peso argumentati-
verdadeiro. Em síntese, tem a intenção de convencer, ou seja, tem vo na afirmação da confiabilidade de um banco. Portanto é provável
o desejo de que o ouvinte creia no que o texto diz e faça o que ele que se creia que um banco mais antigo seja mais confiável do que
propõe. outro fundado há dois ou três anos.
Se essa é a finalidade última de todo ato de comunicação, todo Enumerar todos os tipos de argumentos é uma tarefa quase
texto contém um componente argumentativo. A argumentação é o impossível, tantas são as formas de que nos valemos para fazer as
conjunto de recursos de natureza linguística destinados a persuadir pessoas preferirem uma coisa a outra. Por isso, é importante enten-
a pessoa a quem a comunicação se destina. Está presente em todo der bem como eles funcionam.
tipo de texto e visa a promover adesão às teses e aos pontos de Já vimos diversas características dos argumentos. É preciso
vista defendidos. acrescentar mais uma: o convencimento do interlocutor, o auditó-
As pessoas costumam pensar que o argumento seja apenas rio, que pode ser individual ou coletivo, será tanto mais fácil quanto
uma prova de verdade ou uma razão indiscutível para comprovar a mais os argumentos estiverem de acordo com suas crenças, suas
veracidade de um fato. O argumento é mais que isso: como se disse expectativas, seus valores. Não se pode convencer um auditório
acima, é um recurso de linguagem utilizado para levar o interlocu- pertencente a uma dada cultura enfatizando coisas que ele abomi-
tor a crer naquilo que está sendo dito, a aceitar como verdadeiro o na. Será mais fácil convencê-lo valorizando coisas que ele considera
que está sendo transmitido. A argumentação pertence ao domínio positivas. No Brasil, a publicidade da cerveja vem com frequência
da retórica, arte de persuadir as pessoas mediante o uso de recur- associada ao futebol, ao gol, à paixão nacional. Nos Estados Unidos,
sos de linguagem. essa associação certamente não surtiria efeito, porque lá o futebol
Para compreender claramente o que é um argumento, é bom não é valorizado da mesma forma que no Brasil. O poder persuasivo
voltar ao que diz Aristóteles, filósofo grego do século IV a.C., numa de um argumento está vinculado ao que é valorizado ou desvalori-
obra intitulada “Tópicos: os argumentos são úteis quando se tem de zado numa dada cultura.
escolher entre duas ou mais coisas”.
Se tivermos de escolher entre uma coisa vantajosa e uma des- Tipos de Argumento
vantajosa, como a saúde e a doença, não precisamos argumentar. Já verificamos que qualquer recurso linguístico destinado a fa-
Suponhamos, no entanto, que tenhamos de escolher entre duas zer o interlocutor dar preferência à tese do enunciador é um argu-
coisas igualmente vantajosas, a riqueza e a saúde. Nesse caso, pre- mento. Exemplo:
cisamos argumentar sobre qual das duas é mais desejável. O argu-
mento pode então ser definido como qualquer recurso que torna

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Argumento de Autoridade cos, eles não pretendem estabelecer relações necessárias entre os
É a citação, no texto, de afirmações de pessoas reconhecidas elementos, mas sim instituir relações prováveis, possíveis, plausí-
pelo auditório como autoridades em certo domínio do saber, para veis. Por exemplo, quando se diz “A é igual a B”, “B é igual a C”, “en-
servir de apoio àquilo que o enunciador está propondo. Esse recur- tão A é igual a C”, estabelece-se uma relação de identidade lógica.
so produz dois efeitos distintos: revela o conhecimento do produtor Entretanto, quando se afirma “Amigo de amigo meu é meu amigo”
do texto a respeito do assunto de que está tratando; dá ao texto a não se institui uma identidade lógica, mas uma identidade provável.
garantia do autor citado. É preciso, no entanto, não fazer do texto Um texto coerente do ponto de vista lógico é mais facilmente
um amontoado de citações. A citação precisa ser pertinente e ver- aceito do que um texto incoerente. Vários são os defeitos que con-
dadeira. Exemplo: correm para desqualificar o texto do ponto de vista lógico: fugir do
“A imaginação é mais importante do que o conhecimento.” tema proposto, cair em contradição, tirar conclusões que não se
fundamentam nos dados apresentados, ilustrar afirmações gerais
Quem disse a frase aí de cima não fui eu... Foi Einstein. Para com fatos inadequados, narrar um fato e dele extrair generalizações
ele, uma coisa vem antes da outra: sem imaginação, não há conhe- indevidas.
cimento. Nunca o inverso.
Alex José Periscinoto. Argumento do Atributo
In: Folha de S. Paulo, 30/8/1993, p. 5-2 É aquele que considera melhor o que tem propriedades típi-
cas daquilo que é mais valorizado socialmente, por exemplo, o mais
A tese defendida nesse texto é que a imaginação é mais impor- raro é melhor que o comum, o que é mais refinado é melhor que o
tante do que o conhecimento. Para levar o auditório a aderir a ela, que é mais grosseiro, etc.
o enunciador cita um dos mais célebres cientistas do mundo. Se Por esse motivo, a publicidade usa, com muita frequência, ce-
um físico de renome mundial disse isso, então as pessoas devem lebridades recomendando prédios residenciais, produtos de beleza,
acreditar que é verdade. alimentos estéticos, etc., com base no fato de que o consumidor
tende a associar o produto anunciado com atributos da celebrida-
Argumento de Quantidade de.
É aquele que valoriza mais o que é apreciado pelo maior nú- Uma variante do argumento de atributo é o argumento da
mero de pessoas, o que existe em maior número, o que tem maior competência linguística. A utilização da variante culta e formal da
duração, o que tem maior número de adeptos, etc. O fundamento língua que o produtor do texto conhece a norma linguística social-
desse tipo de argumento é que mais = melhor. A publicidade faz mente mais valorizada e, por conseguinte, deve produzir um texto
largo uso do argumento de quantidade. em que se pode confiar. Nesse sentido é que se diz que o modo de
dizer dá confiabilidade ao que se diz.
Argumento do Consenso Imagine-se que um médico deva falar sobre o estado de saúde
É uma variante do argumento de quantidade. Fundamenta-se de uma personalidade pública. Ele poderia fazê-lo das duas manei-
em afirmações que, numa determinada época, são aceitas como ras indicadas abaixo, mas a primeira seria infinitamente mais ade-
verdadeiras e, portanto, dispensam comprovações, a menos que o quada para a persuasão do que a segunda, pois esta produziria certa
objetivo do texto seja comprovar alguma delas. Parte da ideia de estranheza e não criaria uma imagem de competência do médico:
que o consenso, mesmo que equivocado, corresponde ao indiscu- - Para aumentar a confiabilidade do diagnóstico e levando em
tível, ao verdadeiro e, portanto, é melhor do que aquilo que não conta o caráter invasivo de alguns exames, a equipe médica houve
desfruta dele. Em nossa época, são consensuais, por exemplo, as por bem determinar o internamento do governador pelo período
afirmações de que o meio ambiente precisa ser protegido e de que de três dias, a partir de hoje, 4 de fevereiro de 2001.
as condições de vida são piores nos países subdesenvolvidos. Ao - Para conseguir fazer exames com mais cuidado e porque al-
confiar no consenso, porém, corre-se o risco de passar dos argu- guns deles são barrapesada, a gente botou o governador no hospi-
mentos válidos para os lugares comuns, os preconceitos e as frases tal por três dias.
carentes de qualquer base científica.
Como dissemos antes, todo texto tem uma função argumen-
Argumento de Existência tativa, porque ninguém fala para não ser levado a sério, para ser
É aquele que se fundamenta no fato de que é mais fácil aceitar ridicularizado, para ser desmentido: em todo ato de comunicação
aquilo que comprovadamente existe do que aquilo que é apenas deseja-se influenciar alguém. Por mais neutro que pretenda ser, um
provável, que é apenas possível. A sabedoria popular enuncia o ar- texto tem sempre uma orientação argumentativa.
gumento de existência no provérbio “Mais vale um pássaro na mão A orientação argumentativa é uma certa direção que o falante
do que dois voando”. traça para seu texto. Por exemplo, um jornalista, ao falar de um
Nesse tipo de argumento, incluem-se as provas documentais homem público, pode ter a intenção de criticá-lo, de ridicularizá-lo
(fotos, estatísticas, depoimentos, gravações, etc.) ou provas concre- ou, ao contrário, de mostrar sua grandeza.
tas, que tornam mais aceitável uma afirmação genérica. Durante O enunciador cria a orientação argumentativa de seu texto
a invasão do Iraque, por exemplo, os jornais diziam que o exérci- dando destaque a uns fatos e não a outros, omitindo certos episó-
to americano era muito mais poderoso do que o iraquiano. Essa dios e revelando outros, escolhendo determinadas palavras e não
afirmação, sem ser acompanhada de provas concretas, poderia ser outras, etc. Veja:
vista como propagandística. No entanto, quando documentada pela “O clima da festa era tão pacífico que até sogras e noras troca-
comparação do número de canhões, de carros de combate, de na- vam abraços afetuosos.”
vios, etc., ganhava credibilidade.
O enunciador aí pretende ressaltar a ideia geral de que noras
Argumento quase lógico e sogras não se toleram. Não fosse assim, não teria escolhido esse
É aquele que opera com base nas relações lógicas, como causa fato para ilustrar o clima da festa nem teria utilizado o termo até,
e efeito, analogia, implicação, identidade, etc. Esses raciocínios são que serve para incluir no argumento alguma coisa inesperada.
chamados quase lógicos porque, diversamente dos raciocínios lógi-

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LÍNGUA PORTUGUESA
Além dos defeitos de argumentação mencionados quando tra- Pode-se dizer que o homem vive em permanente atitude argu-
tamos de alguns tipos de argumentação, vamos citar outros: mentativa. A argumentação está presente em qualquer tipo de dis-
- Uso sem delimitação adequada de palavra de sentido tão am- curso, porém, é no texto dissertativo que ela melhor se evidencia.
plo, que serve de argumento para um ponto de vista e seu contrá- Para discutir um tema, para confrontar argumentos e posições,
rio. São noções confusas, como paz, que, paradoxalmente, pode ser é necessária a capacidade de conhecer outros pontos de vista e
usada pelo agressor e pelo agredido. Essas palavras podem ter valor seus respectivos argumentos. Uma discussão impõe, muitas ve-
positivo (paz, justiça, honestidade, democracia) ou vir carregadas zes, a análise de argumentos opostos, antagônicos. Como sempre,
de valor negativo (autoritarismo, degradação do meio ambiente, essa capacidade aprende-se com a prática. Um bom exercício para
injustiça, corrupção). aprender a argumentar e contra-argumentar consiste em desenvol-
- Uso de afirmações tão amplas, que podem ser derrubadas por ver as seguintes habilidades:
um único contra exemplo. Quando se diz “Todos os políticos são - argumentação: anotar todos os argumentos a favor de uma
ladrões”, basta um único exemplo de político honesto para destruir ideia ou fato; imaginar um interlocutor que adote a posição total-
o argumento. mente contrária;
- Emprego de noções científicas sem nenhum rigor, fora do con- - contra-argumentação: imaginar um diálogo-debate e quais os
texto adequado, sem o significado apropriado, vulgarizando-as e argumentos que essa pessoa imaginária possivelmente apresenta-
atribuindo-lhes uma significação subjetiva e grosseira. É o caso, por ria contra a argumentação proposta;
exemplo, da frase “O imperialismo de certas indústrias não permite - refutação: argumentos e razões contra a argumentação opos-
que outras crescam”, em que o termo imperialismo é descabido, ta.
uma vez que, a rigor, significa “ação de um Estado visando a reduzir
outros à sua dependência política e econômica”. A argumentação tem a finalidade de persuadir, portanto, ar-
gumentar consiste em estabelecer relações para tirar conclusões
A boa argumentação é aquela que está de acordo com a situa- válidas, como se procede no método dialético. O método dialético
ção concreta do texto, que leva em conta os componentes envolvi- não envolve apenas questões ideológicas, geradoras de polêmicas.
dos na discussão (o tipo de pessoa a quem se dirige a comunicação, Trata-se de um método de investigação da realidade pelo estudo de
o assunto, etc). sua ação recíproca, da contradição inerente ao fenômeno em ques-
Convém ainda alertar que não se convence ninguém com mani- tão e da mudança dialética que ocorre na natureza e na sociedade.
festações de sinceridade do autor (como eu, que não costumo men- Descartes (1596-1650), filósofo e pensador francês, criou o mé-
tir...) ou com declarações de certeza expressas em fórmulas feitas todo de raciocínio silogístico, baseado na dedução, que parte do
(como estou certo, creio firmemente, é claro, é óbvio, é evidente, simples para o complexo. Para ele, verdade e evidência são a mes-
afirmo com toda a certeza, etc). Em vez de prometer, em seu texto, ma coisa, e pelo raciocínio torna-se possível chegar a conclusões
sinceridade e certeza, autenticidade e verdade, o enunciador deve verdadeiras, desde que o assunto seja pesquisado em partes, co-
construir um texto que revele isso. Em outros termos, essas quali- meçando-se pelas proposições mais simples até alcançar, por meio
dades não se prometem, manifestam-se na ação. de deduções, a conclusão final. Para a linha de raciocínio cartesiana,
A argumentação é a exploração de recursos para fazer parecer é fundamental determinar o problema, dividi-lo em partes, ordenar
verdadeiro aquilo que se diz num texto e, com isso, levar a pessoa a os conceitos, simplificando-os, enumerar todos os seus elementos
que texto é endereçado a crer naquilo que ele diz. e determinar o lugar de cada um no conjunto da dedução.
Um texto dissertativo tem um assunto ou tema e expressa um A lógica cartesiana, até os nossos dias, é fundamental para a
ponto de vista, acompanhado de certa fundamentação, que inclui argumentação dos trabalhos acadêmicos. Descartes propôs quatro
a argumentação, questionamento, com o objetivo de persuadir. Ar- regras básicas que constituem um conjunto de reflexos vitais, uma
gumentar é o processo pelo qual se estabelecem relações para che- série de movimentos sucessivos e contínuos do espírito em busca
gar à conclusão, com base em premissas. Persuadir é um processo da verdade:
de convencimento, por meio da argumentação, no qual procura-se - evidência;
convencer os outros, de modo a influenciar seu pensamento e seu - divisão ou análise;
comportamento. - ordem ou dedução;
A persuasão pode ser válida e não válida. Na persuasão váli- - enumeração.
da, expõem-se com clareza os fundamentos de uma ideia ou pro-
posição, e o interlocutor pode questionar cada passo do raciocínio A enumeração pode apresentar dois tipos de falhas: a omissão
empregado na argumentação. A persuasão não válida apoia-se em e a incompreensão. Qualquer erro na enumeração pode quebrar o
argumentos subjetivos, apelos subliminares, chantagens sentimen- encadeamento das ideias, indispensável para o processo dedutivo.
tais, com o emprego de “apelações”, como a inflexão de voz, a mí- A forma de argumentação mais empregada na redação acadê-
mica e até o choro. mica é o silogismo, raciocínio baseado nas regras cartesianas, que
Alguns autores classificam a dissertação em duas modalidades, contém três proposições: duas premissas, maior e menor, e a con-
expositiva e argumentativa. Esta, exige argumentação, razões a fa- clusão. As três proposições são encadeadas de tal forma, que a con-
vor e contra uma ideia, ao passo que a outra é informativa, apresen- clusão é deduzida da maior por intermédio da menor. A premissa
ta dados sem a intenção de convencer. Na verdade, a escolha dos maior deve ser universal, emprega todo, nenhum, pois alguns não
dados levantados, a maneira de expô-los no texto já revelam uma caracteriza a universalidade.
“tomada de posição”, a adoção de um ponto de vista na disserta- Há dois métodos fundamentais de raciocínio: a dedução (silo-
ção, ainda que sem a apresentação explícita de argumentos. Desse gística), que parte do geral para o particular, e a indução, que vai do
ponto de vista, a dissertação pode ser definida como discussão, de- particular para o geral. A expressão formal do método dedutivo é o
bate, questionamento, o que implica a liberdade de pensamento, a silogismo. A dedução é o caminho das consequências, baseia-se em
possibilidade de discordar ou concordar parcialmente. A liberdade uma conexão descendente (do geral para o particular) que leva à
de questionar é fundamental, mas não é suficiente para organizar conclusão. Segundo esse método, partindo-se de teorias gerais, de
um texto dissertativo. É necessária também a exposição dos fun-
damentos, os motivos, os porquês da defesa de um ponto de vista.

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verdades universais, pode-se chegar à previsão ou determinação de demonstrativo, comparativo, histórico etc. A análise, a síntese, a
fenômenos particulares. O percurso do raciocínio vai da causa para classificação a definição são chamadas métodos sistemáticos, por-
o efeito. Exemplo: que pela organização e ordenação das ideias visam sistematizar a
pesquisa.
Todo homem é mortal (premissa maior = geral, universal) Análise e síntese são dois processos opostos, mas interligados;
Fulano é homem (premissa menor = particular) a análise parte do todo para as partes, a síntese, das partes para o
Logo, Fulano é mortal (conclusão) todo. A análise precede a síntese, porém, de certo modo, uma de-
pende da outra. A análise decompõe o todo em partes, enquanto a
A indução percorre o caminho inverso ao da dedução, baseia- síntese recompõe o todo pela reunião das partes. Sabe-se, porém,
se em uma conexão ascendente, do particular para o geral. Nesse que o todo não é uma simples justaposição das partes. Se alguém
caso, as constatações particulares levam às leis gerais, ou seja, par- reunisse todas as peças de um relógio, não significa que reconstruiu
te de fatos particulares conhecidos para os fatos gerais, desconheci- o relógio, pois fez apenas um amontoado de partes. Só reconstruiria
dos. O percurso do raciocínio se faz do efeito para a causa. Exemplo: todo se as partes estivessem organizadas, devidamente combina-
O calor dilata o ferro (particular) das, seguida uma ordem de relações necessárias, funcionais, então,
O calor dilata o bronze (particular) o relógio estaria reconstruído.
O calor dilata o cobre (particular) Síntese, portanto, é o processo de reconstrução do todo por
O ferro, o bronze, o cobre são metais meio da integração das partes, reunidas e relacionadas num con-
Logo, o calor dilata metais (geral, universal) junto. Toda síntese, por ser uma reconstrução, pressupõe a análise,
que é a decomposição. A análise, no entanto, exige uma decompo-
Quanto a seus aspectos formais, o silogismo pode ser válido sição organizada, é preciso saber como dividir o todo em partes. As
e verdadeiro; a conclusão será verdadeira se as duas premissas operações que se realizam na análise e na síntese podem ser assim
também o forem. Se há erro ou equívoco na apreciação dos fatos, relacionadas:
pode-se partir de premissas verdadeiras para chegar a uma conclu- Análise: penetrar, decompor, separar, dividir.
são falsa. Tem-se, desse modo, o sofisma. Uma definição inexata, Síntese: integrar, recompor, juntar, reunir.
uma divisão incompleta, a ignorância da causa, a falsa analogia são
algumas causas do sofisma. O sofisma pressupõe má fé, intenção A análise tem importância vital no processo de coleta de ideias
deliberada de enganar ou levar ao erro; quando o sofisma não tem a respeito do tema proposto, de seu desdobramento e da criação
essas intenções propositais, costuma-se chamar esse processo de de abordagens possíveis. A síntese também é importante na esco-
argumentação de paralogismo. Encontra-se um exemplo simples de lha dos elementos que farão parte do texto.
sofisma no seguinte diálogo: Segundo Garcia (1973, p.300), a análise pode ser formal ou in-
- Você concorda que possui uma coisa que não perdeu? formal. A análise formal pode ser científica ou experimental; é ca-
- Lógico, concordo. racterística das ciências matemáticas, físico-naturais e experimen-
- Você perdeu um brilhante de 40 quilates? tais. A análise informal é racional ou total, consiste em “discernir”
- Claro que não! por vários atos distintos da atenção os elementos constitutivos de
- Então você possui um brilhante de 40 quilates... um todo, os diferentes caracteres de um objeto ou fenômeno.
A análise decompõe o todo em partes, a classificação estabe-
Exemplos de sofismas: lece as necessárias relações de dependência e hierarquia entre as
partes. Análise e classificação ligam-se intimamente, a ponto de se
Dedução confundir uma com a outra, contudo são procedimentos diversos:
Todo professor tem um diploma (geral, universal) análise é decomposição e classificação é hierarquisação.
Fulano tem um diploma (particular) Nas ciências naturais, classificam-se os seres, fatos e fenôme-
Logo, fulano é professor (geral – conclusão falsa) nos por suas diferenças e semelhanças; fora das ciências naturais, a
classificação pode-se efetuar por meio de um processo mais ou me-
Indução nos arbitrário, em que os caracteres comuns e diferenciadores são
O Rio de Janeiro tem uma estátua do Cristo Redentor. (parti- empregados de modo mais ou menos convencional. A classificação,
cular) no reino animal, em ramos, classes, ordens, subordens, gêneros e
Taubaté (SP) tem uma estátua do Cristo Redentor. (particular) espécies, é um exemplo de classificação natural, pelas caracterís-
Rio de Janeiro e Taubaté são cidades. ticas comuns e diferenciadoras. A classificação dos variados itens
Logo, toda cidade tem uma estátua do Cristo Redentor. (geral integrantes de uma lista mais ou menos caótica é artificial.
– conclusão falsa)
Exemplo: aquecedor, automóvel, barbeador, batata, caminhão,
Nota-se que as premissas são verdadeiras, mas a conclusão canário, jipe, leite, ônibus, pão, pardal, pintassilgo, queijo, relógio,
pode ser falsa. Nem todas as pessoas que têm diploma são pro- sabiá, torradeira.
fessores; nem todas as cidades têm uma estátua do Cristo Reden- Aves: Canário, Pardal, Pintassilgo, Sabiá.
tor. Comete-se erro quando se faz generalizações apressadas ou Alimentos: Batata, Leite, Pão, Queijo.
infundadas. A “simples inspeção” é a ausência de análise ou análise Mecanismos: Aquecedor, Barbeador, Relógio, Torradeira.
superficial dos fatos, que leva a pronunciamentos subjetivos, base- Veículos: Automóvel, Caminhão, Jipe, Ônibus.
ados nos sentimentos não ditados pela razão.
Tem-se, ainda, outros métodos, subsidiários ou não fundamen- Os elementos desta lista foram classificados por ordem alfabé-
tais, que contribuem para a descoberta ou comprovação da verda- tica e pelas afinidades comuns entre eles. Estabelecer critérios de
de: análise, síntese, classificação e definição. Além desses, existem classificação das ideias e argumentos, pela ordem de importância, é
outros métodos particulares de algumas ciências, que adaptam os uma habilidade indispensável para elaborar o desenvolvimento de
processos de dedução e indução à natureza de uma realidade par- uma redação. Tanto faz que a ordem seja crescente, do fato mais
ticular. Pode-se afirmar que cada ciência tem seu método próprio importante para o menos importante, ou decrescente, primeiro

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o menos importante e, no final, o impacto do mais importante; é As definições dos dicionários de língua são feitas por meio de
indispensável que haja uma lógica na classificação. A elaboração paráfrases definitórias, ou seja, uma operação metalinguística que
do plano compreende a classificação das partes e subdivisões, ou consiste em estabelecer uma relação de equivalência entre a pala-
seja, os elementos do plano devem obedecer a uma hierarquização. vra e seus significados.
(Garcia, 1973, p. 302304.) A força do texto dissertativo está em sua fundamentação. Sem-
Para a clareza da dissertação, é indispensável que, logo na in- pre é fundamental procurar um porquê, uma razão verdadeira e
trodução, os termos e conceitos sejam definidos, pois, para expres- necessária. A verdade de um ponto de vista deve ser demonstrada
sar um questionamento, deve-se, de antemão, expor clara e racio- com argumentos válidos. O ponto de vista mais lógico e racional do
nalmente as posições assumidas e os argumentos que as justificam. mundo não tem valor, se não estiver acompanhado de uma funda-
É muito importante deixar claro o campo da discussão e a posição mentação coerente e adequada.
adotada, isto é, esclarecer não só o assunto, mas também os pontos Os métodos fundamentais de raciocínio segundo a lógica clás-
de vista sobre ele. sica, que foram abordados anteriormente, auxiliam o julgamento
A definição tem por objetivo a exatidão no emprego da lingua- da validade dos fatos. Às vezes, a argumentação é clara e pode reco-
gem e consiste na enumeração das qualidades próprias de uma nhecer-se facilmente seus elementos e suas relações; outras vezes,
ideia, palavra ou objeto. Definir é classificar o elemento conforme a as premissas e as conclusões organizam-se de modo livre, mistu-
espécie a que pertence, demonstra: a característica que o diferen- rando-se na estrutura do argumento. Por isso, é preciso aprender a
cia dos outros elementos dessa mesma espécie. reconhecer os elementos que constituem um argumento: premis-
Entre os vários processos de exposição de ideias, a definição sas/conclusões. Depois de reconhecer, verificar se tais elementos
é um dos mais importantes, sobretudo no âmbito das ciências. A são verdadeiros ou falsos; em seguida, avaliar se o argumento está
definição científica ou didática é denotativa, ou seja, atribui às pa- expresso corretamente; se há coerência e adequação entre seus
lavras seu sentido usual ou consensual, enquanto a conotativa ou elementos, ou se há contradição. Para isso é que se aprende os pro-
metafórica emprega palavras de sentido figurado. Segundo a lógica cessos de raciocínio por dedução e por indução. Admitindo-se que
tradicional aristotélica, a definição consta de três elementos: raciocinar é relacionar, conclui-se que o argumento é um tipo espe-
- o termo a ser definido; cífico de relação entre as premissas e a conclusão.
- o gênero ou espécie; Procedimentos Argumentativos: Constituem os procedimentos
- a diferença específica. argumentativos mais empregados para comprovar uma afirmação:
exemplificação, explicitação, enumeração, comparação.
O que distingue o termo definido de outros elementos da mes- Exemplificação: Procura justificar os pontos de vista por meio
ma espécie. Exemplo: de exemplos, hierarquizar afirmações. São expressões comuns nes-
se tipo de procedimento: mais importante que, superior a, de maior
Na frase: O homem é um animal racional classifica-se: relevância que. Empregam-se também dados estatísticos, acompa-
nhados de expressões: considerando os dados; conforme os dados
apresentados. Faz-se a exemplificação, ainda, pela apresentação de
causas e consequências, usando-se comumente as expressões: por-
Elemento especiediferença que, porquanto, pois que, uma vez que, visto que, por causa de, em
a ser definidoespecífica virtude de, em vista de, por motivo de.
Explicitação: O objetivo desse recurso argumentativo é expli-
É muito comum formular definições de maneira defeituosa, car ou esclarecer os pontos de vista apresentados. Pode-se alcançar
por exemplo: Análise é quando a gente decompõe o todo em par- esse objetivo pela definição, pelo testemunho e pela interpreta-
tes. Esse tipo de definição é gramaticalmente incorreto; quando é ção. Na explicitação por definição, empregamse expressões como:
advérbio de tempo, não representa o gênero, a espécie, a gente é quer dizer, denomina-se, chama-se, na verdade, isto é, haja vista,
forma coloquial não adequada à redação acadêmica. Tão importan- ou melhor; nos testemunhos são comuns as expressões: conforme,
te é saber formular uma definição, que se recorre a Garcia (1973, segundo, na opinião de, no parecer de, consoante as ideias de, no
p.306), para determinar os “requisitos da definição denotativa”. entender de, no pensamento de. A explicitação se faz também pela
Para ser exata, a definição deve apresentar os seguintes requisitos: interpretação, em que são comuns as seguintes expressões: parece,
- o termo deve realmente pertencer ao gênero ou classe em assim, desse ponto de vista.
que está incluído: “mesa é um móvel” (classe em que ‘mesa’ está Enumeração: Faz-se pela apresentação de uma sequência de
realmente incluída) e não “mesa é um instrumento ou ferramenta elementos que comprovam uma opinião, tais como a enumeração
ou instalação”; de pormenores, de fatos, em uma sequência de tempo, em que são
- o gênero deve ser suficientemente amplo para incluir todos os frequentes as expressões: primeiro, segundo, por último, antes, de-
exemplos específicos da coisa definida, e suficientemente restrito pois, ainda, em seguida, então, presentemente, antigamente, de-
para que a diferença possa ser percebida sem dificuldade; pois de, antes de, atualmente, hoje, no passado, sucessivamente,
- deve ser obrigatoriamente afirmativa: não há, em verdade, respectivamente. Na enumeração de fatos em uma sequência de
definição, quando se diz que o “triângulo não é um prisma”; espaço, empregam-se as seguintes expressões: cá, lá, acolá, ali, aí,
- deve ser recíproca: “O homem é um ser vivo” não constitui além, adiante, perto de, ao redor de, no Estado tal, na capital, no
definição exata, porque a recíproca, “Todo ser vivo é um homem” interior, nas grandes cidades, no sul, no leste...
não é verdadeira (o gato é ser vivo e não é homem); Comparação: Analogia e contraste são as duas maneiras de
- deve ser breve (contida num só período). Quando a definição, se estabelecer a comparação, com a finalidade de comprovar uma
ou o que se pretenda como tal, é muito longa (séries de períodos ideia ou opinião. Na analogia, são comuns as expressões: da mesma
ou de parágrafos), chama-se explicação, e também definição expan- forma, tal como, tanto quanto, assim como, igualmente. Para esta-
dida;d belecer contraste, empregam-se as expressões: mais que, menos
- deve ter uma estrutura gramatical rígida: sujeito (o termo) + que, melhor que, pior que.
cópula (verbo de ligação ser) + predicativo (o gênero) + adjuntos (as Entre outros tipos de argumentos empregados para aumentar
diferenças). o poder de persuasão de um texto dissertativo encontram-se:

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Argumento de autoridade: O saber notório de uma autoridade Tema: O homem e a máquina: necessidade e riscos da evolução
reconhecida em certa área do conhecimento dá apoio a uma afir- tecnológica
mação. Dessa maneira, procura-se trazer para o enunciado a credi- - Questionar o tema, transformá-lo em interrogação, responder
bilidade da autoridade citada. Lembre-se que as citações literais no a interrogação (assumir um ponto de vista); dar o porquê da respos-
corpo de um texto constituem argumentos de autoridade. Ao fazer ta, justificar, criando um argumento básico;
uma citação, o enunciador situa os enunciados nela contidos na li- - Imaginar um ponto de vista oposto ao argumento básico e
nha de raciocínio que ele considera mais adequada para explicar ou construir uma contra-argumentação; pensar a forma de refutação
justificar um fato ou fenômeno. Esse tipo de argumento tem mais que poderia ser feita ao argumento básico e tentar desqualificá-la
caráter confirmatório que comprobatório. (rever tipos de argumentação);
Apoio na consensualidade: Certas afirmações dispensam expli- - Refletir sobre o contexto, ou seja, fazer uma coleta de ideias
cação ou comprovação, pois seu conteúdo é aceito como válido por que estejam direta ou indiretamente ligadas ao tema (as ideias po-
consenso, pelo menos em determinado espaço sociocultural. Nesse dem ser listadas livremente ou organizadas como causa e consequ-
caso, incluem-se ência);
- A declaração que expressa uma verdade universal (o homem, - Analisar as ideias anotadas, sua relação com o tema e com o
mortal, aspira à imortalidade); argumento básico;
- A declaração que é evidente por si mesma (caso dos postula- - Fazer uma seleção das ideias pertinentes, escolhendo as que
dos e axiomas); poderão ser aproveitadas no texto; essas ideias transformam-se em
- Quando escapam ao domínio intelectual, ou seja, é de nature- argumentos auxiliares, que explicam e corroboram a ideia do argu-
za subjetiva ou sentimental (o amor tem razões que a própria razão mento básico;
desconhece); implica apreciação de ordem estética (gosto não se - Fazer um esboço do Plano de Redação, organizando uma se-
discute); diz respeito a fé religiosa, aos dogmas (creio, ainda que quência na apresentação das ideias selecionadas, obedecendo às
parece absurdo). partes principais da estrutura do texto, que poderia ser mais ou
menos a seguinte:
Comprovação pela experiência ou observação: A verdade de
um fato ou afirmação pode ser comprovada por meio de dados con- Introdução
cretos, estatísticos ou documentais. - função social da ciência e da tecnologia;
Comprovação pela fundamentação lógica: A comprovação se - definições de ciência e tecnologia;
realiza por meio de argumentos racionais, baseados na lógica: cau- - indivíduo e sociedade perante o avanço tecnológico.
sa/efeito; consequência/causa; condição/ocorrência.
Fatos não se discutem; discutem-se opiniões. As declarações, Desenvolvimento
julgamento, pronunciamentos, apreciações que expressam opini- - apresentação de aspectos positivos e negativos do desenvol-
ões pessoais (não subjetivas) devem ter sua validade comprovada, vimento tecnológico;
e só os fatos provam. Em resumo toda afirmação ou juízo que ex- - como o desenvolvimento científico-tecnológico modificou as
presse uma opinião pessoal só terá validade se fundamentada na condições de vida no mundo atual;
evidência dos fatos, ou seja, se acompanhada de provas, validade - a tecnocracia: oposição entre uma sociedade tecnologica-
dos argumentos, porém, pode ser contestada por meio da contra- mente desenvolvida e a dependência tecnológica dos países sub-
-argumentação ou refutação. São vários os processos de contra-ar- desenvolvidos;
gumentação: - enumerar e discutir os fatores de desenvolvimento social;
Refutação pelo absurdo: refuta-se uma afirmação demonstran- - comparar a vida de hoje com os diversos tipos de vida do pas-
do o absurdo da consequência. Exemplo clássico é a contraargu- sado; apontar semelhanças e diferenças;
mentação do cordeiro, na conhecida fábula “O lobo e o cordeiro”; - analisar as condições atuais de vida nos grandes centros ur-
Refutação por exclusão: consiste em propor várias hipóteses banos;
para eliminá-las, apresentando-se, então, aquela que se julga ver- - como se poderia usar a ciência e a tecnologia para humanizar
dadeira; mais a sociedade.
Desqualificação do argumento: atribui-se o argumento à opi-
nião pessoal subjetiva do enunciador, restringindo-se a universali- Conclusão
dade da afirmação; - a tecnologia pode libertar ou escravizar: benefícios/consequ-
Ataque ao argumento pelo testemunho de autoridade: consis- ências maléficas;
te em refutar um argumento empregando os testemunhos de auto- - síntese interpretativa dos argumentos e contra-argumentos
ridade que contrariam a afirmação apresentada; apresentados.
Desqualificar dados concretos apresentados: consiste em de-
sautorizar dados reais, demonstrando que o enunciador baseou-se Naturalmente esse não é o único, nem o melhor plano de reda-
em dados corretos, mas tirou conclusões falsas ou inconsequentes. ção: é um dos possíveis.
Por exemplo, se na argumentação afirmou-se, por meio de dados Intertextualidade é o nome dado à relação que se estabelece
estatísticos, que “o controle demográfico produz o desenvolvimen- entre dois textos, quando um texto já criado exerce influência na
to”, afirma-se que a conclusão é inconsequente, pois baseia-se em criação de um novo texto. Pode-se definir, então, a intertextualida-
uma relação de causa-feito difícil de ser comprovada. Para contra- de como sendo a criação de um texto a partir de outro texto já exis-
argumentar, propõese uma relação inversa: “o desenvolvimento é tente. Dependendo da situação, a intertextualidade tem funções
que gera o controle demográfico”. diferentes que dependem muito dos textos/contextos em que ela
Apresentam-se aqui sugestões, um dos roteiros possíveis para é inserida.
desenvolver um tema, que podem ser analisadas e adaptadas ao O diálogo pode ocorrer em diversas áreas do conhecimento,
desenvolvimento de outros temas. Elege-se um tema, e, em segui- não se restringindo única e exclusivamente a textos literários.
da, sugerem-se os procedimentos que devem ser adotados para a
elaboração de um Plano de Redação.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Em alguns casos pode-se dizer que a intertextualidade assume Atenção: se a palavra for oxítona e o i ou o u estiverem em
a função de não só persuadir o leitor como também de difundir a posição final (ou seguidos de s), o acento permanece. Exemplos:
cultura, uma vez que se trata de uma relação com a arte (pintura, tuiuiú, tuiuiús, Piauí.
escultura, literatura etc). Intertextualidade é a relação entre dois
textos caracterizada por um citar o outro. – Não se usa mais o acento das palavras terminadas em êem
A intertextualidade é o diálogo entre textos. Ocorre quando um e ôo(s).
texto (oral, escrito, verbal ou não verbal), de alguma maneira, se
utiliza de outro na elaboração de sua mensagem. Os dois textos – a
Como era Como fica
fonte e o que dialoga com ela – podem ser do mesmo gênero ou
de gêneros distintos, terem a mesma finalidade ou propósitos di- abençôo abençoo
ferentes. Assim, como você constatou, uma história em quadrinhos crêem creem
pode utilizar algo de um texto científico, assim como um poema
pode valer-se de uma letra de música ou um artigo de opinião pode – Não se usa mais o acento que diferenciava os pares pára/
mencionar um provérbio conhecido. para, péla(s)/ pela(s), pêlo(s)/pelo(s), pólo(s)/polo(s) e pêra/pera.
Há várias maneiras de um texto manter intertextualidade com
outro, entre elas, ao citá-lo, ao resumi-lo, ao reproduzi-lo com ou- Atenção:
tras palavras, ao traduzi-lo para outro idioma, ao ampliá-lo, ao to- • Permanece o acento diferencial em pôde/pode.
má-lo como ponto de partida, ao defendê-lo, ao criticá-lo, ao ironi- • Permanece o acento diferencial em pôr/por.
zá-lo ou ao compará-lo com outros. • Permanecem os acentos que diferenciam o singular do plural
Os estudiosos afirmam que em todos os textos ocorre algum dos verbos ter e vir, assim como de seus derivados (manter, deter,
grau de intertextualidade, pois quando falamos, escrevemos, de- reter, conter, convir, intervir, advir etc.).
senhamos, pintamos, moldamos, ou seja, sempre que nos expres- • É facultativo o uso do acento circunflexo para diferenciar as
samos, estamos nos valendo de ideias e conceitos que já foram palavras forma/fôrma.
formulados por outros para reafirmá-los, ampliá-los ou mesmo con-
tradizê-los. Em outras palavras, não há textos absolutamente origi- Uso de hífen
nais, pois eles sempre – de maneira explícita ou implícita – mantêm Regra básica:
alguma relação com algo que foi visto, ouvido ou lido. Sempre se usa o hífen diante de h: anti-higiênico, super-ho-
mem.
DOMÍNIO DA ORTOGRAFIA OFICIAL
Outros casos
1. Prefixo terminado em vogal:
– Sem hífen diante de vogal diferente: autoescola, antiaéreo.
ORTOGRAFIA OFICIAL – Sem hífen diante de consoante diferente de r e s: anteprojeto,
• Mudanças no alfabeto: O alfabeto tem 26 letras. Foram rein- semicírculo.
troduzidas as letras k, w e y. – Sem hífen diante de r e s. Dobram-se essas letras: antirracis-
O alfabeto completo é o seguinte: A B C D E F G H I J K L M N O mo, antissocial, ultrassom.
PQRSTUVWXYZ – Com hífen diante de mesma vogal: contra-ataque, micro-on-
das.
• Trema: Não se usa mais o trema (¨), sinal colocado sobre a
letra u para indicar que ela deve ser pronunciada nos grupos gue, 2. Prefixo terminado em consoante:
gui, que, qui. – Com hífen diante de mesma consoante: inter-regional, sub-
-bibliotecário.
Regras de acentuação – Sem hífen diante de consoante diferente: intermunicipal, su-
– Não se usa mais o acento dos ditongos abertos éi e ói das persônico.
palavras paroxítonas (palavras que têm acento tônico na penúltima – Sem hífen diante de vogal: interestadual, superinteressante.
sílaba)
Observações:
Como era Como fica • Com o prefixo sub, usa-se o hífen também diante de palavra
iniciada por r: sub-região, sub-raça. Palavras iniciadas por h perdem
alcatéia alcateia
essa letra e juntam-se sem hífen: subumano, subumanidade.
apóia apoia • Com os prefixos circum e pan, usa-se o hífen diante de pala-
apóio apoio vra iniciada por m, n e vogal: circum-navegação, pan-americano.
• O prefixo co aglutina-se, em geral, com o segundo elemento,
Atenção: essa regra só vale para as paroxítonas. As oxítonas mesmo quando este se inicia por o: coobrigação, coordenar, coope-
continuam com acento: Ex.: papéis, herói, heróis, troféu, troféus. rar, cooperação, cooptar, coocupante.
• Com o prefixo vice, usa-se sempre o hífen: vice-rei, vice-al-
– Nas palavras paroxítonas, não se usa mais o acento no i e no mirante.
u tônicos quando vierem depois de um ditongo. • Não se deve usar o hífen em certas palavras que perderam
a noção de composição, como girassol, madressilva, mandachuva,
pontapé, paraquedas, paraquedista.
Como era Como fica • Com os prefixos ex, sem, além, aquém, recém, pós, pré, pró,
baiúca baiuca usa-se sempre o hífen: ex-aluno, sem-terra, além-mar, aquém-mar,
recém-casado, pós-graduação, pré-vestibular, pró-europeu.
bocaiúva bocaiuva

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Viu? Tudo muito tranquilo. Certeza que você já está dominando A coesão:
muita coisa. Mas não podemos parar, não é mesmo?!?! Por isso - assenta-se no plano gramatical e no nível frasal;
vamos passar para mais um ponto importante. - situa-se na superfície do texto, estabele conexão sequencial;
- relaciona-se com a microestrutura, trabalha com as partes
componentes do texto;
DOMÍNIO DOS MECANISMOS DE COESÃO TEXTUAL. - Estabelece relações entre os vocábulos no interior das frases.
EMPREGO DE ELEMENTOS DE REFERENCIAÇÃO, SUBS-
TITUIÇÃO E REPETIÇÃO, DE CONECTORES E DE OUTROS
ELEMENTOS DE SEQUENCIAÇÃO TEXTUAL EMPREGO DE TEMPOS E MODOS VERBAIS. DOMÍNIO
DA ESTRUTURA MORFOSSINTÁTICA DO PERÍODO. EM-
PREGO DAS CLASSES DE PALAVRAS
Coesão e coerência fazem parte importante da elaboração de
um texto com clareza. Ela diz respeito à maneira como as ideias são
organizadas a fim de que o objetivo final seja alcançado: a compre- CLASSES DE PALAVRAS
ensão textual. Na redação espera-se do autor capacidade de mobili-
zar conhecimentos e opiniões, argumentar de modo coerente, além Substantivo
de expressar-se com clareza, de forma correta e adequada. São as palavras que atribuem nomes aos seres reais ou imagi-
nários (pessoas, animais, objetos), lugares, qualidades, ações e sen-
Coerência timentos, ou seja, que tem existência concreta ou abstrata. 
É uma rede de sintonia entre as partes e o todo de um texto.
Conjunto de unidades sistematizadas numa adequada relação se- Classificação dos substantivos
mântica, que se manifesta na compatibilidade entre as ideias. (Na
linguagem popular: “dizer coisa com coisa” ou “uma coisa bate com SUBSTANTIVO SIMPLES: Olhos/água/
outra”). apresentam um só radical em sua muro/quintal/
Coerência é a unidade de sentido resultante da relação que se estrutura. caderno/macaco/João/
estabelece entre as partes do texto. Uma ideia ajuda a compreen- sabão
der a outra, produzindo um sentido global, à luz do qual cada uma
das partes ganha sentido. Coerência é a ligação em conjunto dos SUBSTANTIVOS COMPOSTOS: Macacos-prego/
elementos formativos de um texto. são formados por mais de um porta-voz/
A coerência não é apenas uma marca textual, mas diz respeito radical em sua estrutura. pé-de-moleque
aos conceitos e às relações semânticas que permitem a união dos SUBSTANTIVOS PRIMITIVOS: Casa/
elementos textuais. são os que dão origem a outras mundo/
A coerência de um texto é facilmente deduzida por um falante palavras, ou seja, ela é a primeira. população
de uma língua, quando não encontra sentido lógico entre as propo- /formiga
sições de um enunciado oral ou escrito. É a competência linguística,
tomada em sentido lato, que permite a esse falante reconhecer de SUBSTANTIVOS DERIVADOS: Caseiro/mundano/
imediato a coerência de um discurso. são formados por outros radicais populacional/formigueiro
da língua.
A coerência: SUBSTANTIVOS PRÓPRIOS: Rodrigo
- assenta-se no plano cognitivo, da inteligibilidade do texto; designa determinado ser entre /Brasil
- situa-se na subjacência do texto; estabelece conexão concei- outros da mesma espécie. /Belo Horizonte/
tual; São sempre iniciados por letra Estátua da Liberdade
- relaciona-se com a macroestrutura; trabalha com o todo, com maiúscula.
o aspecto global do texto;
SUBSTANTIVOS COMUNS: biscoitos/ruídos/
- estabelece relações de conteúdo entre palavras e frases.
referem-se qualquer ser de uma estrelas/cachorro/prima
mesma espécie.
Coesão
É um conjunto de elementos posicionados ao longo do texto, SUBSTANTIVOS CONCRETOS: Leão/corrente
numa linha de sequência e com os quais se estabelece um vínculo nomeiam seres com existência /estrelas/fadas
ou conexão sequencial. Se o vínculo coesivo se faz via gramática, própria. Esses seres podem ser /lobisomem
fala-se em coesão gramatical. Se se faz por meio do vocabulário, animadoso ou inanimados, reais /saci-pererê
tem-se a coesão lexical. ou imaginários.
A coesão textual é a ligação, a relação, a conexão entre pala- SUBSTANTIVOS ABSTRATOS: Mistério/
vras, expressões ou frases do texto. Ela manifesta-se por elementos nomeiam ações, estados, bondade/
gramaticais, que servem para estabelecer vínculos entre os compo- qualidades e sentimentos que não confiança/
nentes do texto. tem existência própria, ou seja, só lembrança/
Existem, em Língua Portuguesa, dois tipos de coesão: a lexical, existem em função de um ser. amor/
que é obtida pelas relações de sinônimos, hiperônimos, nomes ge- alegria
néricos e formas elididas, e a gramatical, que é conseguida a partir
do emprego adequado de artigo, pronome, adjetivo, determinados
advérbios e expressões adverbiais, conjunções e numerais.

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SUBSTANTIVOS COLETIVOS: Elenco (de atores)/


referem-se a um conjunto de acervo (de obras
seres da mesma espécie, mesmo artísticas)/buquê (de
quando empregado no singular flores)
e constituem um substantivo
comum.
NÃO DEIXE DE PESQUISAR A REGÊNCIA DE OUTRAS
PALAVRAS QUE NÃO ESTÃO AQUI!

Flexão dos Substantivos


• Gênero: Os gêneros em português podem ser dois: masculino e feminino. E no caso dos substantivos podem ser biformes ou uni-
formes
– Biformes: as palavras tem duas formas, ou seja, apresenta uma forma para o masculino e uma para o feminino: tigre/tigresa, o pre-
sidente/a presidenta, o maestro/a maestrina
– Uniformes: as palavras tem uma só forma, ou seja, uma única forma para o masculino e o feminino. Os uniformes dividem-se em
epicenos, sobrecomuns e comuns de dois gêneros.
a) Epicenos: designam alguns animais e plantas e são invariáveis: onça macho/onça fêmea, pulga macho/pulga fêmea, palmeira ma-
cho/palmeira fêmea.
b) Sobrecomuns: referem-se a seres humanos; é pelo contexto que aparecem que se determina o gênero: a criança (o criança), a tes-
temunha (o testemunha), o individuo (a individua).
c) Comuns de dois gêneros: a palavra tem a mesma forma tanto para o masculino quanto para o feminino: o/a turista, o/a agente, o/a
estudante, o/a colega.

• Número: Podem flexionar em singular (1) e plural (mais de 1).


– Singular: anzol, tórax, próton, casa.
– Plural: anzóis, os tórax, prótons, casas.

• Grau: Podem apresentar-se no grau aumentativo e no grau diminutivo.


– Grau aumentativo sintético: casarão, bocarra.
– Grau aumentativo analítico: casa grande, boca enorme.
– Grau diminutivo sintético: casinha, boquinha
– Grau diminutivo analítico: casa pequena, boca minúscula. 

Adjetivo
É a palavra invariável que especifica e caracteriza o substantivo: imprensa livre, favela ocupada. Locução adjetiva é expressão compos-
ta por substantivo (ou advérbio) ligado a outro substantivo por preposição com o mesmo valor e a mesma função que um adjetivo: golpe
de mestre (golpe magistral), jornal da tarde (jornal vespertino).

Flexão do Adjetivos
• Gênero:
– Uniformes: apresentam uma só para o masculino e o feminino: homem feliz, mulher feliz.
– Biformes: apresentam uma forma para o masculino e outra para o feminino: juiz sábio/ juíza sábia, bairro japonês/ indústria japo-
nesa, aluno chorão/ aluna chorona. 

• Número:
– Os adjetivos simples seguem as mesmas regras de flexão de número que os substantivos: sábio/ sábios, namorador/ namoradores,
japonês/ japoneses.
– Os adjetivos compostos têm algumas peculiaridades: luvas branco-gelo, garrafas amarelo-claras, cintos da cor de chumbo.

• Grau:
– Grau Comparativo de Superioridade: Meu time é mais vitorioso (do) que o seu.
– Grau Comparativo de Inferioridade: Meu time é menos vitorioso (do) que o seu.
– Grau Comparativo de Igualdade: Meu time é tão vitorioso quanto o seu.
– Grau Superlativo Absoluto Sintético: Meu time é famosíssimo.
– Grau Superlativo Absoluto Analítico: Meu time é muito famoso.
– Grau Superlativo Relativo de Superioridade: Meu time é o mais famoso de todos.
– Grau Superlativo Relativo de Inferioridade; Meu time é menos famoso de todos.

Artigo
É uma palavra variável em gênero e número que antecede o substantivo, determinando de modo particular ou genérico.

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• Classificação e Flexão do Artigos
– Artigos Definidos: o, a, os, as.
O menino carregava o brinquedo em suas costas.
As meninas brincavam com as bonecas.
– Artigos Indefinidos: um, uma, uns, umas.
Um menino carregava um brinquedo.
Umas meninas brincavam com umas bonecas.

Numeral
É a palavra que indica uma quantidade definida de pessoas ou coisas, ou o lugar (posição) que elas ocupam numa série.
• Classificação dos Numerais
– Cardinais: indicam número ou quantidade:
Trezentos e vinte moradores.
– Ordinais: indicam ordem ou posição numa sequência:
Quinto ano. Primeiro lugar.
– Multiplicativos: indicam o número de vezes pelo qual uma quantidade é multiplicada:
O quíntuplo do preço.
– Fracionários: indicam a parte de um todo:
Dois terços dos alunos foram embora.

Pronome
É a palavra que substitui os substantivos ou os determinam, indicando a pessoa do discurso.
• Pronomes pessoais vão designar diretamente as pessoas em uma conversa. Eles indicam as três pessoas do discurso.

Pronomes Retos Pronomes Oblíquos


Pessoas do Discurso
Função Subjetiva Função Objetiva
1º pessoa do singular Eu Me, mim, comigo
2º pessoa do singular Tu Te, ti, contigo
3º pessoa do singular Ele, ela,  Se, si, consigo, lhe, o, a
1º pessoa do plural Nós Nos, conosco
2º pessoa do plural Vós Vos, convosco
3º pessoa do plural Eles, elas Se, si, consigo, lhes, os, as

• Pronomes de Tratamento são usados no trato com as pessoas, normalmente, em situações formais de comunicação.

Pronomes de Tratamento Emprego


Você Utilizado em situações informais.
Senhor (es) e Senhora (s) Tratamento para pessoas mais velhas.
Vossa Excelência Usados para pessoas com alta autoridade
Vossa Magnificência Usados para os reitores das Universidades.
Vossa Senhoria Empregado nas correspondências e textos escritos.
Vossa Majestade Utilizado para Reis e Rainhas
Vossa Alteza Utilizado para príncipes, princesas, duques.
Vossa Santidade Utilizado para o Papa
Vossa Eminência Usado para Cardeais.
Vossa Reverendíssima Utilizado para sacerdotes e religiosos em geral.

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• Pronomes Possessivos referem-se às pessoas do discurso, atribuindo-lhes a posse de alguma coisa.

Pessoa do Discurso Pronome Possessivo


1º pessoa do singular Meu, minha, meus, minhas
2º pessoa do singular teu, tua, teus, tuas
3º pessoa do singular seu, sua, seus, suas
1º pessoa do plural Nosso, nossa, nossos, nossas
2º pessoa do plural Vosso, vossa, vossos, vossas
3º pessoa do plural Seu, sua, seus, suas

• Pronomes Demonstrativos são utilizados para indicar a posição de algum elemento em relação à pessoa seja no discurso, no tempo
ou no espaço.

Pronomes Demonstrativos Singular Plural


Feminino esta, essa, aquela estas, essas, aquelas
Masculino este, esse, aquele estes, esses, aqueles

• Pronomes Indefinidos referem-se à 3º pessoa do discurso, designando-a de modo vago, impreciso, indeterminado. Os pronomes
indefinidos podem ser variáveis (varia em gênero e número) e invariáveis (não variam em gênero e número).

Classificação Pronomes Indefinidos


algum, alguma, alguns, algumas, nenhum, nenhuma, nenhuns, nenhumas, muito, muita, muitos, muitas,
pouco, pouca, poucos, poucas, todo, toda, todos, todas, outro, outra, outros, outras, certo, certa, certos, certas,
Variáveis
vário, vária, vários, várias, tanto, tanta, tantos, tantas, quanto, quanta, quantos, quantas, qualquer, quaisquer,
qual, quais, um, uma, uns, umas.
Invariáveis quem, alguém, ninguém, tudo, nada, outrem, algo, cada.

• Pronomes Interrogativos são palavras variáveis e invariáveis utilizadas para formular perguntas diretas e indiretas.

Classificação Pronomes Interrogativos


Variáveis qual, quais, quanto, quantos, quanta, quantas.
Invariáveis quem, que.

• Pronomes Relativos referem-se a um termo já dito anteriormente na oração, evitando sua repetição. Eles também podem ser
variáveis e invariáveis.

Classificação Pronomes Relativos


Variáveis o qual, a qual, os quais, as quais, cujo, cuja, cujos, cujas, quanto, quanta, quantos, quantas.
Invariáveis quem, que, onde.

Verbos
São as palavras que exprimem ação, estado, fenômenos meteorológicos, sempre em relação ao um determinado tempo.

• Flexão verbal
Os verbos podem ser flexionados de algumas formas.
– Modo: É a maneira, a forma como o verbo se apresenta na frase para indicar uma atitude da pessoa que o usou. O modo é dividido
em três: indicativo (certeza, fato), subjuntivo (incerteza, subjetividade) e imperativo (ordem, pedido).
– Tempo: O tempo indica o momento em que se dá o fato expresso pelo verbo. Existem três tempos no modo indicativo: presente,
passado (pretérito perfeito, imperfeito e mais-que-perfeito) e futuro (do presente e do pretérito). No subjuntivo, são três: presente, pre-
térito imperfeito e futuro.
– Número: Este é fácil: singular e plural.
– Pessoa: Fácil também: 1ª pessoa (eu amei, nós amamos); 2º pessoa (tu amaste, vós amastes); 3ª pessoa (ele amou, eles amaram).

• Formas nominais do verbo


Os verbos têm três formas nominais, ou seja, formas que exercem a função de nomes (normalmente, substantivos). São elas infinitivo
(terminado em -R), gerúndio (terminado em –NDO) e particípio (terminado em –DA/DO).

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• Voz verbal
É a forma como o verbo se encontra para indicar sua relação com o sujeito. Ela pode ser ativa, passiva ou reflexiva.
– Voz ativa: Segundo a gramática tradicional, ocorre voz ativa quando o verbo (ou locução verbal) indica uma ação praticada pelo
sujeito. Veja:
João pulou da cama atrasado
– Voz passiva: O sujeito é paciente e, assim, não pratica, mas recebe a ação. A voz passiva pode ser analítica ou sintética. A voz passiva
analítica é formada por:
Sujeito paciente + verbo auxiliar (ser, estar, ficar, entre outros) + verbo principal da ação conjugado no particípio + preposição por/
pelo/de + agente da passiva.
A casa foi aspirada pelos rapazes

A voz passiva sintética, também chamada de voz passiva pronominal (devido ao uso do pronome se) é formada por:
Verbo conjugado na 3.ª pessoa (no singular ou no plural) + pronome apassivador «se» + sujeito paciente.
Aluga-se apartamento.

Advérbio
É a palavra invariável que modifica o verbo, adjetivo, outro advérbio ou a oração inteira, expressando uma determinada circunstância.
As circunstâncias dos advérbios podem ser:
– Tempo: ainda, cedo, hoje, agora, antes, depois, logo, já, amanhã, tarde, sempre, nunca, quando, jamais, ontem, anteontem, breve-
mente, atualmente, à noite, no meio da noite, antes do meio-dia, à tarde, de manhã, às vezes, de repente, hoje em dia, de vez em quando,
em nenhum momento, etc.
– Lugar: Aí, aqui, acima, abaixo, ali, cá, lá, acolá, além, aquém, perto, longe, dentro, fora, adiante, defronte, detrás, de cima, em cima,
à direita, à esquerda, de fora, de dentro, por fora, etc.
– Modo: assim, melhor, pior, bem, mal, devagar, depressa, rapidamente, lentamente, apressadamente, felizmente, às pressas, às
ocultas, frente a frente, com calma, em silêncio, etc.
– Afirmação: sim, deveras, decerto, certamente, seguramente, efetivamente, realmente, sem dúvida, com certeza, por certo, etc. 
– Negação: não, absolutamente, tampouco, nem, de modo algum, de jeito nenhum, de forma alguma, etc.
– Intensidade: muito, pouco, mais, menos, meio, bastante, assaz, demais, bem, mal, tanto, tão, quase, apenas, quanto, de pouco, de
todo, etc.
– Dúvida: talvez, acaso, possivelmente, eventualmente, porventura, etc.

Preposição
É a palavra que liga dois termos, de modo que o segundo complete o sentido do primeiro. As preposições são as seguintes:

Conjunção
É palavra que liga dois elementos da mesma natureza ou uma oração a outra. As conjunções podem ser coordenativas (que ligam
orações sintaticamente independentes) ou subordinativas (que ligam orações com uma relação hierárquica, na qual um elemento é de-
terminante e o outro é determinado).

• Conjunções Coordenativas

Tipos Conjunções Coordenativas


Aditivas e, mas ainda, mas também, nem...
Adversativas contudo, entretanto, mas, não obstante, no entanto, porém, todavia...
Alternativas já…, já…, ou, ou…, ou…, ora…, ora…, quer…, quer…
Conclusivas assim, então, logo, pois (depois do verbo), por conseguinte, por isso, portanto...
Explicativas pois (antes do verbo), porquanto, porque, que...

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• Conjunções Subordinativas

Tipos Conjunções Subordinativas


Causais Porque, pois, porquanto, como, etc.
Concessivas Embora, conquanto, ainda que, mesmo que, posto que, etc.
Condicionais Se, caso, quando, conquanto que, salvo se, sem que, etc.
Conformativas Conforme, como (no sentido de conforme), segundo, consoante, etc.
Finais Para que, a fim de que, porque (no sentido de que), que, etc.
Proporcionais À medida que, ao passo que, à proporção que, etc.
Temporais Quando, antes que, depois que, até que, logo que, etc.
Comparativas Que, do que (usado depois de mais, menos, maior, menor, melhor, etc.
Consecutivas Que (precedido de tão, tal, tanto), de modo que, De maneira que, etc.
Integrantes Que, se.

Interjeição
É a palavra invariável que exprime ações, sensações, emoções, apelos, sentimentos e estados de espírito, traduzindo as reações das
pessoas.
• Principais Interjeições
Oh! Caramba! Viva! Oba! Alô! Psiu! Droga! Tomara! Hum!

Dez classes de palavras foram estudadas agora. O estudo delas é muito importante, pois se você tem bem construído o que é e a fun-
ção de cada classe de palavras, não terá dificuldades para entender o estudo da Sintaxe.

RELAÇÕES DE COORDENAÇÃO ENTRE ORAÇÕES E ENTRE TERMOS DA ORAÇÃO. RELAÇÕES DE SUBORDINAÇÃO ENTRE
ORAÇÕES E ENTRE TERMOS DA ORAÇÃO

Agora chegamos no assunto que causa mais temor em muitos estudantes. Mas eu tenho uma boa notícia para te dar: o estudo da
sintaxe é mais fácil do que parece e você vai ver que sabe muita coisa que nem imagina. Para começar, precisamos de classificar algumas
questões importantes:

• Frase: Enunciado que estabelece uma comunicação de sentido completo. 


Os jornais publicaram a notícia.
Silêncio! 

• Oração: Enunciado que se forma com um verbo ou com uma locução verbal.
Este filme causou grande impacto entre o público.
A inflação deve continuar sob controle.

• Período Simples: formado por uma única oração.


O clima se alterou muito nos últimos dias.

• Período Composto: formado por mais de uma oração.


O governo prometeu/ que serão criados novos empregos.

Bom, já está a clara a diferença entre frase, oração e período. Vamos, então, classificar os elementos que compõem uma oração:
• Sujeito: Termo da oração do qual se declara alguma coisa.
O problema da violência preocupa os cidadãos.

• Predicado: Tudo que se declara sobre o sujeito.


A tecnologia permitiu o resgate dos operários.

• Objeto Direto: Complemento que se liga ao verbo transitivo direto ou ao verbo transitivo direto e indireto sem o auxílio da prepo-
sição.
A tecnologia tem possibilitado avanços notáveis.
Os pais oferecem ajuda financeira ao filho.

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• Objeto Indireto: Complemento que se liga ao verbo transitivo indireto ou ao verbo transitivo direto e indireto por meio de preposi-
ção. 
Os Estados Unidos resistem ao grave momento.
João gosta de beterraba.

• Adjunto Adverbial: Termo modificador do verbo que exprime determinada circunstância (tempo, lugar, modo etc.) ou intensifica um
verbo, adjetivo ou advérbio.
O ônibus saiu à noite quase cheio, com destino a Salvador.
Vamos sair do mar.

• Agente da Passiva: Termo da oração que exprime quem pratica a ação verbal quando o verbo está na voz passiva.
Raquel foi pedida em casamento por seu melhor amigo.

• Adjunto Adnominal: Termo da oração que modifica um substantivo, caracterizando-o ou determinando-o sem a intermediação de
um verbo.
Um casal de médicos eram os novos moradores do meu prédio.

• Complemento Nominal: Termo da oração que completa nomes, isto é, substantivos, adjetivos e advérbios, e vem preposicionado.
A realização do torneio teve a aprovação de todos.

• Predicativo do Sujeito: Termo que atribui característica ao sujeito da oração.


A especulação imobiliária me parece um problema.

• Predicativo do Objeto: Termo que atribui características ao objeto direto ou indireto da oração.
O médico considerou o paciente hipertenso.

• Aposto: Termo da oração que explica, esclarece, resume ou identifica o nome ao qual se refere (substantivo, pronome ou equivalen-
tes). O aposto sempre está entre virgulas ou após dois-pontos.
A praia do Forte, lugar paradisíaco, atrai muitos turistas.

• Vocativo: Termo da oração que se refere a um interlocutor a quem se dirige a palavra.


Senhora, peço aguardar mais um pouco.

Tipos de orações
As partes de uma oração já está fresquinha aí na sua cabeça, não é?!?! Estudar os tipos de orações que existem será moleza, moleza.
Vamos comigo!!!
Temos dois tipos de orações: as coordenadas, cuja as orações de um período são independentes (não dependem uma da outra para
construir sentido completo); e as subordinadas, cuja as orações de um período são dependentes (dependem uma da outra para construir
sentido completo).
As orações coordenadas podem ser sindéticas (conectadas uma a outra por uma conjunção) e assindéticas (que não precisam da
conjunção para estar conectadas. O serviço é feito pela vírgula).

Tipos de orações coordenadas

Orações Coordenadas Sindéticas Orações Coordenadas Assindéticas

Aditivas Fomos para a escola e fizemos o exame final. • Lena estava triste, cansada, decepcionada.
Adversativas Pedro Henrique estuda muito, porém não •
passa no vestibular. • Ao chegar à escola conversamos, estudamos,
lanchamos.
Alternativas Manuela ora quer comer hambúrguer, ora quer
comer pizza. Alfredo está chateado, pensando em se mudar.
Conclusivas Não gostamos do restaurante, portanto não
iremos mais lá. Precisamos estar com cabelos arrumados, unhas feitas.

Explicativas Marina não queria falar, ou seja, ela estava de João Carlos e Maria estão radiantes, alegria que dá
mau humor. inveja.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Tipos de orações subordinadas
As orações subordinadas podem ser substantivas, adjetivas e adverbiais. Cada uma delas tem suas subclassificações, que veremos
agora por meio do quadro seguinte.

Orações Subordinadas
Subjetivas É certo que ele trará os a sobremesa do
Exercem a função de sujeito jantar.
Completivas Nominal Estou convencida de que ele é solteiro.
Exercem a função de complemento nominal
Predicativas O problema é que ele não entregou a
Orações Subordinadas Exercem a função de predicativo refeição no lugar.
Substantivas Apositivas Eu lhe disse apenas isso: que não se
Exercem a função de aposto aborrecesse com ela.
Objetivas Direta Espero que você seja feliz.
Exercem a função de objeto direto
Objetivas Indireta Lembrou-se da dívida que tem com ele.
Exercem a função de objeto indireto

Explicativas Os alunos, que foram mal na prova de


Explicam um termo dito anteriormente. quinta, terão aula de reforço.
SEMPRE serão acompanhadas por vírgula.
Orações Subordinadas
Adjetivas Restritivas Os alunos que foram mal na prova de
Restringem o sentido de um termo dito quinta terão aula de reforço.
anteriormente. NUNCA serão acompanhadas por
vírgula.

Causais Estou vestida assim porque vou sair.


Assumem a função de advérbio de causa
Consecutivas Falou tanto que ficou rouca o resto do
Assumem a função de advérbio de dia.
consequência
Comparativas A menina comia como um adulto come.
Assumem a função de advérbio de
comparação
Condicionais Desde que ele participe, poderá entrar
Assumem a função de advérbio de condição na reunião.
Orações Subordinadas
Conformativas O shopping fechou, conforme havíamos
Adverbiais
Assumem a função de advérbio de previsto.
conformidade
Concessivas Embora eu esteja triste, irei à festa
Assumem a função de advérbio de concessão mais tarde.
Finais Vamos direcionar os esforços para que
Assumem a função de advérbio de finalidade todos tenham acesso aos benefícios.
Proporcionais Quanto mais eu dormia, mais sono
Assumem a função de advérbio de proporção tinha.
Temporais Quando a noite chega, os morcegos
Assumem a função de advérbio de tempo saem de suas casas.

Olha como esse quadro facilita a vida, não é?! Por meio dele, conseguimos ter uma visão geral das classificações e subclassificações
das orações, o que nos deixa mais tranquilos para estudá-las.

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LÍNGUA PORTUGUESA
vírgulas, parênteses, colchetes, para assinalar uma expressão inter-
EMPREGO DOS SINAIS DE PONTUAÇÃO calada e pode indicar a mudança de interlocutor, na transcrição de
um diálogo, com ou sem aspas.
Ex: Estamos — eu e meu esposo — repletos de gratidão.
Pontuação
Com Nina Catach, entendemos por pontuação um “sistema Parênteses e colchetes ( ) – [ ]
de reforço da escrita, constituído de sinais sintáticos, destinados a Os parênteses assinalam um isolamento sintático e semântico
organizar as relações e a proporção das partes do discurso e das mais completo dentro do enunciado, além de estabelecer maior in-
pausas orais e escritas. Estes sinais também participam de todas as timidade entre o autor e o seu leitor. Em geral, a inserção do parên-
funções da sintaxe, gramaticais, entonacionais e semânticas”. (BE- tese é assinalada por uma entonação especial. Intimamente ligados
CHARA, 2009, p. 514) aos parênteses pela sua função discursiva, os colchetes são utiliza-
A partir da definição citada por Bechara podemos perceber a dos quando já se acham empregados os parênteses, para introduzi-
importância dos sinais de pontuação, que é constituída por alguns rem uma nova inserção.
sinais gráficos assim distribuídos: os separadores (vírgula [ , ], pon- Ex: Vamos estar presentes na festa (aquela organizada pelo go-
to e vírgula [ ; ], ponto final [ . ], ponto de exclamação [ ! ], reti- vernador)
cências [ ... ]), e os de comunicação ou “mensagem” (dois pontos
[ : ], aspas simples [‘ ’], aspas duplas [ “ ” ], travessão simples [ – ], Aspas ( “ ” )
travessão duplo [ — ], parênteses [ ( ) ], colchetes ou parênteses As aspas são empregadas para dar a certa expressão sentido
retos [ [ ] ], chave aberta [ { ], e chave fechada [ } ]). particular (na linguagem falada é em geral proferida com entoação
especial) para ressaltar uma expressão dentro do contexto ou para
Ponto ( . ) apontar uma palavra como estrangeirismo ou gíria. É utilizada, ain-
O ponto simples final, que é dos sinais o que denota maior pau- da, para marcar o discurso direto e a citação breve.
sa, serve para encerrar períodos que terminem por qualquer tipo Ex: O “coffe break” da festa estava ótimo.
de oração que não seja a interrogativa direta, a exclamativa e as
reticências. Vírgula
Estaremos presentes na festa. São várias as regras que norteiam o uso das vírgulas. Eviden-
ciaremos, aqui, os principais usos desse sinal de pontuação. Antes
Ponto de interrogação ( ? ) disso, vamos desmistificar três coisas que ouvimos em relação à
Põe-se no fim da oração enunciada com entonação interrogati- vírgula:
va ou de incerteza, real ou fingida, também chamada retórica. 1º – A vírgula não é usada por inferência. Ou seja: não “senti-
Você vai à festa? mos” o momento certo de fazer uso dela.
2º – A vírgula não é usada quando paramos para respirar. Em
Ponto de exclamação ( ! ) alguns contextos, quando, na leitura de um texto, há uma vírgula, o
Põe-se no fim da oração enunciada com entonação exclama- leitor pode, sim, fazer uma pausa, mas isso não é uma regra. Afinal,
tiva. cada um tem seu tempo de respiração, não é mesmo?!?!
Ex: Que bela festa! 3º – A vírgula tem sim grande importância na produção de tex-
tos escritos. Não caia na conversa de algumas pessoas de que ela é
Reticências ( ... ) menos importante e que pode ser colocada depois.
Denotam interrupção ou incompletude do pensamento (ou Agora, precisamos saber que a língua portuguesa tem uma or-
porque se quer deixar em suspenso, ou porque os fatos se dão com dem comum de construção de suas frases, que é Sujeito > Verbo >
breve espaço de tempo intervalar, ou porque o nosso interlocutor Objeto > Adjunto, ou seja, (SVOAdj).
nos toma a palavra), ou hesitação em enunciá-lo. Maria foi à padaria ontem.
Ex: Essa festa... não sei não, viu. Sujeito Verbo Objeto Adjunto

Dois-pontos ( : ) Perceba que, na frase acima, não há o uso de vírgula. Isso ocor-
Marcam uma supressão de voz em frase ainda não concluída. re por alguns motivos:
Em termos práticos, este sinal é usado para: Introduzir uma citação 1) NÃO se separa com vírgula o sujeito de seu predicado.
(discurso direto) e introduzir um aposto explicativo, enumerativo, 2) NÃO se separa com vírgula o verbo e seus complementos.
distributivo ou uma oração subordinada substantiva apositiva. 3) Não é aconselhável usar vírgula entre o complemento do
Ex: Uma bela festa: cheia de alegria e comida boa. verbo e o adjunto.

Ponto e vírgula ( ; ) Podemos estabelecer, então, que se a frase estiver na ordem


Representa uma pausa mais forte que a vírgula e menos que o comum (SVOAdj), não usaremos vírgula. Caso contrário, a vírgula
ponto, e é empregado num trecho longo, onde já existam vírgulas, é necessária:
para enunciar pausa mais forte, separar vários itens de uma enume- Ontem, Maria foi à padaria.
ração (frequente em leis), etc. Maria, ontem, foi à padaria.
Ex: Vi na festa os deputados, senadores e governador; vi tam- À padaria, Maria foi ontem.
bém uma linda decoração e bebidas caras.
Além disso, há outros casos em que o uso de vírgulas é neces-
Travessão ( — ) sário:
Não confundir o travessão com o traço de união ou hífen e com • Separa termos de mesma função sintática, numa enumera-
o traço de divisão empregado na partição de sílabas (ab-so-lu-ta- ção.
-men-te) e de palavras no fim de linha. O travessão pode substituir Simplicidade, clareza, objetividade, concisão são qualidades a
serem observadas na redação oficial.

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LÍNGUA PORTUGUESA
• Separa aposto. • Só varia quando adjetivo e não varia quando advérbio:
Aristóteles, o grande filósofo, foi o criador da Lógica. Os dois andavam sós./ A respostas só eles sabem.

• Separa vocativo. • É bom, é necessário, é preciso, é proibido variam quando o


Brasileiros, é chegada a hora de votar. substantivo estiver determinado por artigo:
É permitida a coleta de dados./ É permitido coleta de dados.
• Separa termos repetidos.
Aquele aluno era esforçado, esforçado. Concordância Verbal
O verbo concorda com seu sujeito em número e pessoa:
• Separa certas expressões explicativas, retificativas, exempli- O público aplaudiu o ator de pé./ A sala e quarto eram enor-
ficativas, como: isto é, ou seja, ademais, a saber, melhor dizendo, mes.
ou melhor, quer dizer, por exemplo, além disso, aliás, antes, com
efeito, digo. Concordância ideológica ou silepse
O político, a meu ver, deve sempre usar uma linguagem clara, • Silepse de gênero trata-se da concordância feita com o gêne-
ou seja, de fácil compreensão. ro gramatical (masculino ou feminino) que está subentendido no
contexto.
• Marca a elipse de um verbo (às vezes, de seus complemen- Vossa Excelência parece satisfeito com as pesquisas.
tos). Blumenau estava repleta de turistas.
O decreto regulamenta os casos gerais; a portaria, os particula- • Silepse de número trata-se da concordância feita com o nú-
res. (= ... a portaria regulamenta os casos particulares) mero gramatical (singular ou plural) que está subentendido no con-
texto.
• Separa orações coordenadas assindéticas. O elenco voltou ao palco e [os atores] agradeceram os aplau-
Levantava-me de manhã, entrava no chuveiro, organizava as sos.
ideias na cabeça... • Silepse de pessoa trata-se da concordância feita com a pes-
soa gramatical que está subentendida no contexto.
• Isola o nome do lugar nas datas. O povo temos memória curta em relação às promessas dos po-
Rio de Janeiro, 21 de julho de 2006. líticos.

• Isolar conectivos, tais como: portanto, contudo, assim, dessa


forma, entretanto, entre outras. E para isolar, também, expressões REGÊNCIA VERBAL E NOMINAL
conectivas, como: em primeiro lugar, como supracitado, essas infor-
mações comprovam, etc.
Fica claro, portanto, que ações devem ser tomadas para ame- • Regência Nominal 
nizar o problema. A regência nominal estuda os casos em que nomes (substan-
tivos, adjetivos e advérbios) exigem outra palavra para completar-
-lhes o sentido. Em geral a relação entre um nome e o seu comple-
CONCORDÂNCIA VERBAL E NOMINAL mento é estabelecida por uma preposição.

• Regência Verbal
Concordância Nominal A regência verbal estuda a relação que se estabelece entre o
Os adjetivos, os pronomes adjetivos, os numerais e os artigos verbo (termo regente) e seu complemento (termo regido). 
concordam em gênero e número com os substantivos aos quais se Isto pertence a todos.
referem.
Os nossos primeiros contatos começaram de maneira amisto- Regência de algumas palavras
sa.
Esta palavra combina com Esta preposição
Casos Especiais de Concordância Nominal
• Menos e alerta são invariáveis na função de advérbio: Acessível a
Colocou menos roupas na mala./ Os seguranças continuam Apto a, para
alerta.
Atencioso com, para com
• Pseudo e todo são invariáveis quando empregados na forma- Coerente com
ção de palavras compostas:
Conforme a, com
Cuidado com os pseudoamigos./ Ele é o chefe todo-poderoso.
Dúvida acerca de, de, em, sobre
• Mesmo, próprio, anexo, incluso, quite e obrigado variam de Empenho de, em, por
acordo com o substantivo a que se referem:
Elas mesmas cozinhavam./ Guardou as cópias anexas. Fácil a, de, para,
Junto a, de
• Muito, pouco, bastante, meio, caro e barato variam quando
pronomes indefinidos adjetivos e numerais e são invariáveis quan- Pendente de
do advérbios: Preferível a
Muitas vezes comemos muito./ Chegou meio atrasada./ Usou
Próximo a, de
meia dúzia de ovos.

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Respeito a, com, de, para com, por – Antes de substantivo (masculino ou feminino, singular ou
plural) usado em sentido generalizador:
Situado a, em, entre Depois do trauma, nunca mais foi a festas.
Ajudar (a fazer algo) a Não foi feita menção a mulher, nem a criança, tampouco a ho-
mem.
Aludir (referir-se) a
Aspirar (desejar, pretender) a – Antes de artigo indefinido “uma”
Iremos a uma reunião muito importante no domingo.
Assistir (dar assistência) Não usa preposição
Deparar (encontrar) com – Antes de pronomes
Implicar (consequência) Não usa preposição Obs.: A crase antes de pronomes possessivos é facultativa.

Lembrar Não usa preposição Fizemos referência a Vossa Excelência, não a ela.
Pagar (pagar a alguém) a A quem vocês se reportaram no Plenário?
Assisto a toda peça de teatro no RJ, afinal, sou um crítico.
Precisar (necessitar) de
Proceder (realizar) a – Antes de verbos no infinitivo
A partir de hoje serei um pai melhor, pois voltei a trabalhar.
Responder a
Visar ( ter como objetivo a
pretender) COLOCAÇÃO DOS PRONOMES ÁTONOS
NÃO DEIXE DE PESQUISAR A REGÊNCIA DE OUTRAS PALAVRAS
QUE NÃO ESTÃO AQUI!
A colocação do pronome átono está relacionada à harmonia da
frase. A tendência do português falado no Brasil é o uso do prono-
EMPREGO DO SINAL INDICATIVO DE CRASE me antes do verbo – próclise. No entanto, há casos em que a norma
culta prescreve o emprego do pronome no meio – mesóclise – ou
após o verbo – ênclise.
A crase é a fusão de duas vogais idênticas. A primeira vogal a De acordo com a norma culta, no português escrito não se ini-
é uma preposição, a segunda vogal a é um artigo ou um pronome cia um período com pronome oblíquo átono. Assim, se na lingua-
demonstrativo. gem falada diz-se “Me encontrei com ele”, já na linguagem escrita,
a (preposição) + a(s) (artigo) = à(s) formal, usa-se “Encontrei-me’’ com ele.
Sendo a próclise a tendência, é aconselhável que se fixem bem
• Devemos usar crase: as poucas regras de mesóclise e ênclise. Assim, sempre que estas
– Antes palavras femininas: não forem obrigatórias, deve-se usar a próclise, a menos que preju-
Iremos à festa amanhã dique a eufonia da frase.
Mediante à situação.
O Governo visa à resolução do problema. Próclise
Na próclise, o pronome é colocado antes do verbo.
– Locução prepositiva implícita “à moda de, à maneira de”
Devido à regra, o acento grave é obrigatoriamente usado nas Palavra de sentido negativo: Não me falou a verdade.
locuções prepositivas com núcleo feminino iniciadas por a: Advérbios sem pausa em relação ao verbo: Aqui te espero pa-
Os frangos eram feitos à moda da casa imperial. cientemente.
Às vezes, porém, a locução vem implícita antes de substanti- Havendo pausa indicada por vírgula, recomenda-se a ênclise:
vos masculinos, o que pode fazer você pensar que não rola a crase. Ontem, encontrei-o no ponto do ônibus.
Mas... há crase, sim! Pronomes indefinidos: Ninguém o chamou aqui.
Depois da indigestão, farei uma poesia à Drummond, vestir- Pronomes demonstrativos: Aquilo lhe desagrada.
-me-ei à Versace e entregá-la-ei à tímida aniversariante. Orações interrogativas: Quem lhe disse tal coisa?
Orações optativas (que exprimem desejo), com sujeito ante-
– Expressões fixas posto ao verbo: Deus lhe pague, Senhor!
Existem algumas expressões em que sempre haverá o uso de Orações exclamativas: Quanta honra nos dá sua visita!
crase: Orações substantivas, adjetivas e adverbiais, desde que não se-
à vela, à lenha, à toa, à vista, à la carte, à queima-roupa, à von- jam reduzidas: Percebia que o observavam.
tade, à venda, à mão armada, à beça, à noite, à tarde, às vezes, às Verbo no gerúndio, regido de preposição em: Em se plantando,
pressas, à primeira vista, à hora certa, àquela hora, à esquerda, à tudo dá.
direita, à vontade, às avessas, às claras, às escuras, à mão, às escon- Verbo no infinitivo pessoal precedido de preposição: Seus in-
didas, à medida que, à proporção que. tentos são para nos prejudicarem.

• NUNCA devemos usar crase: Ênclise


– Antes de substantivos masculinos: Na ênclise, o pronome é colocado depois do verbo.
Andou a cavalo pela cidadezinha, mas preferiria ter andado a
pé. Verbo no início da oração, desde que não esteja no futuro do
indicativo: Trago-te flores.
Verbo no imperativo afirmativo: Amigos, digam-me a verdade!

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Verbo no gerúndio, desde que não esteja precedido pela pre- observa um resultado ruim na primeira versão que escreveu terá,
posição em: Saí, deixando-a aflita. na reescrita, a possibilidade de alcançar um resultado satisfatório.
Verbo no infinitivo impessoal regido da preposição a. Com A reescrita é um processo mais trabalhoso do que a revisão, pois,
outras preposições é facultativo o emprego de ênclise ou próclise: nesta, atemo-nos apenas aos pequenos detalhes, cuja ausência não
Apressei-me a convidá-los. implicaria em uma dificuldade do leitor para compreender o texto.

Mesóclise Quando reescrevemos,  refazemos  nosso texto, é um proces-


Na mesóclise, o pronome é colocado no meio do verbo. so bem mais complexo, que parte do pressuposto de que o autor
tenha observado aquilo que está ruim para que, posteriormente,
É obrigatória somente com verbos no futuro do presente ou no possa melhorar seu texto até chegar a uma versão final, livre dos er-
futuro do pretérito que iniciam a oração. ros iniciais. Além de aprimorar a leitura, a reescrita auxilia a desen-
Dir-lhe-ei toda a verdade. volver e melhorar a escrita, ajudando o aluno-escritor a esclarecer
Far-me-ias um favor? melhor seus objetivos e razões para a produção de textos.

Se o verbo no futuro vier precedido de pronome reto ou de Nessa perspectiva, esse autor considera que reescrever seja
qualquer outro fator de atração, ocorrerá a próclise. um processo de descoberta da escrita pelo próprio autor, que passa
Eu lhe direi toda a verdade. a enfocá-la como forma de trabalho, auxiliando o desenvolvimento
Tu me farias um favor? do processo de escrever do aluno.

Colocação do pronome átono nas locuções verbais Operações linguísticas de reescrita:


Verbo principal no infinitivo ou gerúndio: Se a locução verbal A literatura sobre reescrita aponta para uma tipologia de ope-
não vier precedida de um fator de próclise, o pronome átono deve- rações linguísticas encontradas neste momento específico da cons-
rá ficar depois do auxiliar ou depois do verbo principal. trução do texto escrito.
Exemplos: - Adição, ou acréscimo: pode tratar-se do acréscimo de um ele-
Devo-lhe dizer a verdade. mento gráfico, acento, sinal de pontuação, grafema (...) mas tam-
Devo dizer-lhe a verdade. bém do acréscimo de uma palavra, de um sintagma, de uma ou de
várias frases.
Havendo fator de próclise, o pronome átono deverá ficar antes - Supressão: supressão sem substituição do segmento suprimi-
do auxiliar ou depois do principal. do. Ela pode ser aplicada sobre unidades diversas, acento, grafe-
Exemplos: mas, sílabas, palavras sintagmáticas, uma ou diversas frases.
Não lhe devo dizer a verdade. - Substituição: supressão, seguida de substituição por um ter-
Não devo dizer-lhe a verdade. mo novo. Ela se aplica sobre um grafema, uma palavra, um sintag-
ma, ou sobre conjuntos generalizados.
Verbo principal no particípio: Se não houver fator de próclise, - Deslocamento: permutação de elementos, que acaba por mo-
o pronome átono ficará depois do auxiliar. dificar sua ordem no processo de encadeamento.
Exemplo: Havia-lhe dito a verdade.
Graus de Formalismo
Se houver fator de próclise, o pronome átono ficará antes do São muitos os tipos de registros quanto ao formalismo, tais
auxiliar. como: o registro formal, que é uma linguagem mais cuidada; o colo-
Exemplo: Não lhe havia dito a verdade. quial, que não tem um planejamento prévio, caracterizando-se por
construções gramaticais mais livres, repetições frequentes, frases
Haver de e ter de + infinitivo: Pronome átono deve ficar depois curtas e conectores simples; o informal, que se caracteriza pelo uso
do infinitivo. de ortografia simplificada e construções simples ( geralmente usado
Exemplos: entre membros de uma mesma família ou entre amigos).
Hei de dizer-lhe a verdade.
Tenho de dizer-lhe a verdade. As variações de registro ocorrem de acordo com o grau de for-
malismo existente na situação de comunicação; com o modo de
Observação expressão, isto é, se trata de um registro formal ou escrito; com a
Não se deve omitir o hífen nas seguintes construções: sintonia entre interlocutores, que envolve aspectos como graus de
Devo-lhe dizer tudo. cortesia, deferência, tecnicidade (domínio de um vocabulário espe-
Estava-lhe dizendo tudo. cífico de algum campo científico, por exemplo).
Havia-lhe dito tudo.
Expressões que demandam atenção
– acaso, caso – com se, use acaso; caso rejeita o se
REESCRITA DE FRASES E PARÁGRAFOS DO TEXTO. SUBS- – aceitado, aceito – com ter e haver, aceitado; com ser e estar,
TITUIÇÃO DE PALAVRAS OU DE TRECHOS DE TEXTO. aceito
REORGANIZAÇÃO DA ESTRUTURA DE ORAÇÕES E DE – acendido, aceso (formas similares) – idem
PERÍODOS DO TEXTO. REESCRITA DE TEXTOS DE DIFE- – à custa de – e não às custas de
RENTES GÊNEROS E NÍVEIS DE FORMALIDADE – à medida que – à proporção que, ao mesmo tempo que, con-
forme
– na medida em que – tendo em vista que, uma vez que
A reescrita é tão importante quanto a escrita, visto que, difi- – a meu ver – e não ao meu ver
cilmente, sobretudo para os escritores mais cuidadosos, chegamos – a ponto de – e não ao ponto de
ao resultado que julgamos ideal na primeira tentativa. Aquele que – a posteriori, a priori – não tem valor temporal

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– em termos de – modismo; evitar Já o sinônimo são palavras que têm sentidos aproximados e
– enquanto que – o que é redundância que podem, inclusive, substituir a outra. O uso de sinônimos é mui-
– entre um e outro – entre exige a conjunção e, e não a to importante para produções textuais, porque evita que você fi-
– implicar em – a regência é direta (sem em) que repetindo a mesma palavra várias vezes. Utilizando os mesmos
– ir de encontro a – chocar-se com exemplos, para ficar claro: felicidade é sinônimo de alegria/conten-
– ir ao encontro de – concordar com tamento e homem é sinônimo de macho/varão.
– se não, senão – quando se pode substituir por caso não, se-
parado; quando não se pode, junto Hipônimos e Hiperônimos
– todo mundo – todos Estes conceitos são simples de entender: o hipônimo designa
– todo o mundo – o mundo inteiro uma palavra de sentido mais específico, enquanto que o hiperôni-
– não pagamento = hífen somente quando o segundo termo mo designa uma palavra de sentido mais genérico. Por exemplo, ca-
for substantivo chorro e gato são hipônimos, pois têm sentido específico. E animais
– este e isto – referência próxima do falante (a lugar, a tempo domésticos é uma expressão hiperônima, pois indica um sentido
presente; a futuro próximo; ao anunciar e a que se está tratando) mais genérico de animais. Atenção: não confunda hiperônimo com
– esse e isso – referência longe do falante e perto do ouvinte substantivo coletivo. Hiperônimos estão no ramo dos sentidos das
(tempo futuro, desejo de distância; tempo passado próximo do pre- palavras, beleza?!?!
sente, ou distante ao já mencionado e a ênfase).
Outros conceitos que agem diretamente no sentido das pala-
Expressões não recomendadas vras são os seguintes:
– a partir de (a não ser com valor temporal).
Opção: com base em, tomando-se por base, valendo-se de... Conotação e Denotação
Observe as frases:
– através de (para exprimir “meio” ou instrumento). Amo pepino na salada.
Opção: por, mediante, por meio de, por intermédio de, se- Tenho um pepino para resolver.
gundo...
As duas frases têm uma palavra em comum: pepino. Mas essa
– devido a. palavra tem o mesmo sentido nos dois enunciados? Isso mesmo,
Opção: em razão de, em virtude de, graças a, por causa de. não!
Na primeira frase, pepino está no sentido denotativo, ou seja,
– dito. a palavra está sendo usada no sentido próprio, comum, dicionari-
Opção: citado, mencionado. zado.
Já na segunda frase, a mesma palavra está no sentindo cono-
– enquanto. tativo, pois ela está sendo usada no sentido figurado e depende do
Opção: ao passo que. contexto para ser entendida.
Para facilitar: denotativo começa com D de dicionário e cono-
– inclusive (a não ser quando significa incluindo-se). tativo começa com C de contexto.
Opção: até, ainda, igualmente, mesmo, também. Por fim, vamos tratar de um recurso muito usado em propa-
gandas:
– no sentido de, com vistas a.
Opção: a fim de, para, com a finalidade de, tendo em vista.

– pois (no início da oração).


Opção: já que, porque, uma vez que, visto que.

– principalmente.
Opção: especialmente, sobretudo, em especial, em particular

SIGNIFICAÇÃO DAS PALAVRAS

Significação de palavras
As palavras podem ter diversos sentidos em uma comunicação.
E isso também é estudado pela Gramática Normativa: quem cuida
dessa parte é a Semântica, que se preocupa, justamente, com os
significados das palavras. Veremos, então, cada um dos conteúdos
que compõem este estudo.

Antônimo e Sinônimo
Começaremos por esses dois, que já são famosos.
O Antônimo são palavras que têm sentidos opostos a outras.
Por exemplo, felicidade é o antônimo de tristeza, porque o signi-
ficado de uma é o oposto da outra. Da mesma forma ocorre com
homem que é antônimo de mulher.

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Ambiguidade
Observe a propaganda abaixo:

https://redacaonocafe.wordpress.com/2012/05/22/ambiguidade-na-propaganda/

Perceba que há uma duplicidade de sentido nesta construção. Podemos interpretar que os móveis não durarão no estoque da loja, por
estarem com preço baixo; ou que por estarem muito barato, não têm qualidade e, por isso, terão vida útil curta.
Essa duplicidade acontece por causa da ambiguidade, que é justamente a duplicidade de sentidos que podem haver em uma palavra,
frase ou textos inteiros.

QUESTÕES

1. (PREFEITURA DE CARANAÍBA - MG - AUXILIAR DE CONSULTÓRIO DENTÁRIO - FCM - 2019)


O Sol e a Neve
Era uma floquinha de neve que vivia no alto de uma montanha gelada. Um dia, se apaixonou pelo sol. E passou a flertar descara-
damente com ele. “Cuidado!”, alertaram os flocos mais experientes. “Você pode se derreter”. Mas a nevinha não queria nem saber e
continuava a olhar para o Sol, que com seus raios a queimava de paixão. Ela nem percebia o quanto se derretia... e ficou ali um bom tempo,
só se derretendo, se derretendo. Quando viu, era uma gotinha, uma pequena lágrima de amor descendo, com nobreza e delicadeza, a
montanha. Lá embaixo, um rio esperava por ela.

Disponível em: <file:///C:/Users/sosan/Downloads/2014-08a-18s-ep-05.pdf> Acesso em: 15 ago. 2019.

No sentido figurado, a personificação confere características, qualidades e sentimentos de seres humanos a seres irracionais ou ina-
nimados.
O trecho em que a personificação NÃO aparece é
(A) “Lá embaixo, um rio esperava por ela.”
(B) “... com seus raios a queimava de paixão.”
(C) “Mas a nevinha (...) continuava a olhar para o sol”.
(D) “‘Cuidado’!, alertaram os flocos mais experientes.”

2. (PREFEITURA DE CARANAÍBA - MG - ASSISTENTE SOCIAL - FCM - 2019)

Um país do balacobaco
Mentor Neto
1. Nossa cultura popular é uma enciclopédia aberta, envolvente e rica em termos e frases de profundidade inquestionável. Conhe-
cimento comum, da gente simples, do dia a dia, que resultou em gotículas de sabedoria muitas vezes desprezadas. Ao longo dos anos
venho colecionando inúmeras. Utilizo esta enciclopédia aberta como repositório que, acredito, poderia ser de amplo emprego por alguns
brasileiros.
2. É verdade que algumas dessas expressões caíram em desuso, mas nem por isso perderam o brilhantismo. Por exemplo, no escânda-
lo mais recente, o caso Intercept Brasil, o conselho “em boca fechada não entra mosca” teria sido de profunda utilidade. 
3. Há como descrever melhor o trabalho da Lava Jato do que com um “cada enxadada uma minhoca”? Aos acusados ou suspeitos de
corrupção, aos que se enriqueceram por meios ilícitos, um “bobeou, dançou” cai feito uma luva.

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4. “Entornar o caldo” me parece adequado quando nos refe- Envelhecer é complexo, a opção é mais desafiadora. O célebre
rimos à cultura de delações premiadas na qual estamos imersos. historiador israelense Yuval Harari prevê que a geração alpha (nas-
Por falar nisso, os delatores encontram um sábio conselho no “ajoe- cidos no século em curso) chegará, no mínimo, a 120 anos se obti-
lhou, tem que rezar” ou, quem sabe, no consagrado “colocar a boca ver cuidados básicos. O Brasil envelhece demograficamente e nós
no trombone”! Já aos que preferem manter o silêncio, “boca de siri” poderíamos ser chamados de vanguarda do novo processo. Dizem
é o ideal. que Nelson Rodrigues aconselhava aos jovens que envelhecessem,
5. Alguns personagens desse “bafafá” que tomou conta de nos- como o melhor indicador do caminho a seguir. Não precisamos do
sa política são protagonistas tão importantes que merecem frases conselho pois o tempo é ceifador inevitável. (...)
conhecidas de aplicação exclusiva, já que “entraram numa fria”. Afi- Como em toda peça teatral, o descer das cortinas pode ser
nal, como descrever mais precisamente o que ocorreu com aquele a deixa para um aplauso caloroso ou um silêncio constrangedor,
que “foi pego com a boca na botija”? quando não vaia estrondosa. É sabedoria que o tempo ensina, ao
6. Para os destacados empresários do ramo frigorífico, um belo retirar nossa certeza com o processo de aprendizado. Hoje começa
“mamar na vaca você não quer, né?” é incontestável. Tenho certeza mais um dia e mais uma etapa possível. Hoje é um dia diferente de
de que o estimado leitor há de concordar. todos. Você, tendo 16 ou 76, será mais velho amanhã e terá um dia
7. E os deputados e senadores? E os que infringiram acordos? a menos de vida. Hoje é o dia. Jovens, velhos e adjacentes: é preciso
Ou aquilo está “um quiprocó”, “um perereco” do caramba mesmo. ter esperança. 
Alguns ministros “aparecem mais que umbigo de vedete”, mas a
real é que deveriam “sair de fininho”. Leia os trechos retirados do texto e assinale a alternativa
8. A verdade é que o País está “do jeito que o diabo gosta” e que não possui uma figura de linguagem em sua construção.
cabe a nós acabar logo com esse “lero-lero” e “partir pras cabeças”. (A) “pois o tempo é ceifador inevitável.”
Afinal, amigo, nossa situação “está mais feia que bater na mãe”. (B) “deixa para um aplauso caloroso.”
(C) “É sabedoria que o tempo ensina.”
IstoÉ, n. 2581, 19 jun. 2019. Adaptado (D) “Você, tendo 16 ou 76, será mais velho amanhã.”

Avalie as informações sobre aspectos estilísticos e semânticos 4. (CORE-MT – FISCAL - INSTITUTO EXCELÊNCIA - 2019)
utilizados pelo autor do texto. Assinale a alternativa que contém as figuras de linguagem cor-
I. No período “Tenho certeza de que o estimado leitor há de respondentes aos períodos a seguir:
concordar...”, algumas palavras estão empregadas no sentido cono- I- “Está provado, quem ama o feio, bonito lhe parece.”
tativo. II- “ Era a união do amor e o ódio.”
II. Identifica-se a metonímia em um dos sintagmas da estrutura III- Ele foi discriminado por faltar com a verdade.”
frasal “... aos que se enriqueceram por meios ilícitos, um ‘bobeou, IV- Marta quase morreu de tanto rir no circo.
dançou’ cai feito uma luva”. (§3)
III. A locução adjetiva “do balacobaco”, presente no título, diz (A) ironia - antítese - eufemismo - hipérbole.
respeito a algo inverossímil, descontextualizado e que caiu em de- (B) eufemismo - ironia - hipérbole - antítese.
suso. (C) hipérbole - eufemismo - antítese - ironia.
IV. Em “Nossa cultura popular é uma enciclopédia aberta, en- (D) antítese - hipérbole – ironia – eufemismo.
volvente e rica em termos e frases de profundidade inquestionável” (E) Nenhuma das alternativas.
(§1), uma das figuras de linguagem empregada é a personificação.
V. A expressão “enciclopédia aberta” (§1) é uma metáfora, pois 5. (CORE-MT - ASSISTENTE ADMINISTRATIVO - INSTITUTO EX-
nela as palavras foram retiradas do seu contexto convencional e um CELÊNCIA - 2019)
novo campo de significação se instaurou por meio de uma compa- Na tirinha abaixo, há dois exemplos de figura de linguagem,
ração implícita. identifique-os e assinale a alternativa CORRETA:

Está correto apenas o que se afirma em


(A) II e IV.
(B) IV e V.
(C) I, II, III.
(D) I, III e V.

3. (EMDEC - ADVOGADO JR - IBFC - 2019)


A perfeição (adaptado)
O susto de reencontrar alguém que não vemos há anos é o im-
pacto do tempo. O desmanche alheio incomoda? Claro que não,
apenas o nosso refletido na hipótese de estarmos também daquele
jeito. Há momentos nos quais o salto para o abismo do fim parece
mais dramático: especialmente entre 35 e 55. (...)
Agatha Christie deu um lindo argumento para todos nós que
envelhecemos. Na sua Autobiografia, narra que a solução de um ca-
samento feliz está em imitar o segundo casamento da autora: con-
trair núpcias com um arqueólogo (no caso, Max Mallowan), pois, (A) Metáfora e pleonasmo.
quanto mais velha ela ficava, mais o marido se apaixonava. Talvez (B) Metáfora e antítese.
o mesmo indicativo para homens e mulheres estivesse na busca de (C) Metonímia e hipérbole.
geriatras, restauradores, historiadores, egiptólogos ou, no limite, (D) Metonímia e ironia.
tanatologistas. (E) Nenhuma das alternativas.

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6. (CORE-MT - ASSISTENTE ADMINISTRATIVO - INSTITUTO EX- diciais, o que não será interessante para o setor empresarial”, diz
CELÊNCIA - 2019) Maurício Guetta, advogado do Instituto Sócio Ambiental (ISA). Com
Em “Tempos Modernos”, fez-se o uso de figuras de linguagem, o avanço dessa legislação outros danos irreversíveis podem ocorrer.
assinale a alternativa em que os termos destacados têm a classifi-
cação corretamente: FONTE: http://www.istoe.com.br/reportagens/441106_A+LA MA+-
QUE+AINDA+SUJA+O+BRASIL
”Hoje o tempo voa, amor
escorre pelas mãos 8. Observe as assertivas relacionadas ao texto lido:
...Vamos viver tudo que há pra viver . I. O texto é predominantemente narrativo, já que narra um
..eu vejo um novo começo de era fato.
de gente fina, elegante, sincera II. O texto é predominantemente expositivo, já que pertence ao
com habilidade para dizer mais sim do que não gênero textual editorial.
III. O texto é apresenta partes narrativas e partes expositivas, já
(A) Prosopopeia / pleonasmo / gradação / antítese. que se trata de uma reportagem.
(B) Metáfora / pleonasmo / gradação / antítese. IV. O texto apresenta partes narrativas e partes expositivas, já
(C) Metáfora / hipérbole / gradação / antítese. se trata de um editorial.
(D) Pleonasmo / metáfora / antítese / gradação.
(E) Nenhuma das alternativas. Analise as assertivas e responda:
(A) Somente a I é correta.
7. (FEMPERJ – VALEC – JORNALISTA – 2012) Intertextualidade é (B) Somente a II é incorreta.
a presença de um texto em outro; o pensamento abaixo que NÃO (C) Somente a III é correta
se fundamenta em intertextualidade é: (D) A III e IV são corretas.
(A) “Se tudo o que é bom dura pouco, eu já deveria ter morrido
há muito tempo.” 9. Observe as assertivas relacionadas ao texto “A lama que ain-
(B) “Nariz é essa parte do corpo que brilha, espirra, coça e se da suja o Brasil”:
mete onde não é chamada.” I- O texto é coeso, mas não é coerente, já que tem problemas
(C) “Une-te aos bons e será um deles. Ou fica aqui com a gente no desenvolvimento do assunto.
mesmo!” II- O texto é coerente, mas não é coeso, já que apresenta pro-
(D) “Vamos fazer o feijão com arroz. Se puder botar um ovo, blemas no uso de conjunções e preposições.
tudo bem.” III- O texto é coeso e coerente, graças ao bom uso das classes
(E) “O Neymar é invendável, inegociável e imprestável.” de palavras e da ordem sintática.
IV- O texto é coeso e coerente, já que apresenta progressão
Leia o texto abaixo para responder a questão. temática e bom uso dos recursos coesivos.
A lama que ainda suja o Brasil
Fabíola Perez(fabiola.perez@istoe.com.br) Analise as assertivas e responda:
A maior tragédia ambiental da história do País escancarou um (A) Somente a I é correta.
dos principais gargalos da conjuntura política e econômica brasilei- (B) Somente a II é incorreta.
ra: a negligência do setor privado e dos órgãos públicos diante de (C) Somente a III é correta.
um desastre de repercussão mundial. Confirmada a morte do Rio (D) Somente a IV é correta.
Doce, o governo federal ainda não apresentou um plano de recu-
peração efetivo para a área (apenas uma carta de intenções). Tam- Leia o texto abaixo para responder as questões.
pouco a mineradora Samarco, controlada pela brasileira Vale e pela UM APÓLOGO
anglo-australiana BHP Billiton. A única medida concreta foi a aplica- Machado de Assis.
ção da multa de R$ 250 milhões – sendo que não há garantias de Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha:
que ela será usada no local. “O leito do rio se perdeu e a calha pro- — Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrola-
funda e larga se transformou num córrego raso”, diz Malu Ribeiro, da, para fingir que vale alguma coisa neste mundo?
coordenadora da rede de águas da Fundação SOS Mata Atlântica, — Deixe-me, senhora.
sobre o desastre em Mariana, Minas Gerais. “O volume de rejeitos — Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está
se tornou uma bomba relógio na região.” com um ar insuportável? Repito que sim, e falarei sempre que me
Para agravar a tragédia, a empresa declarou que existem ris- der na cabeça.
cos de rompimento nas barragens de Germano e de Santarém. Se- — Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha.
gundo o Departamento Nacional de Produção Mineral, pelo menos Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada qual tem
16 barragens de mineração em todo o País apresentam condições o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos
de insegurança. “O governo perdeu sua capacidade de aparelhar outros.
órgãos técnicos para fiscalização”, diz Malu. Na direção oposta — Mas você é orgulhosa.
Ao caminho da segurança, está o projeto de lei 654/2015, — Decerto que sou.
do senador Romero Jucá (PMDB-RR) que prevê licença única em um — Mas por quê?
tempo exíguo para obras consideradas estratégicas. O novo marco — É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa
regulatório da mineração, por sua vez, também concede prioridade ama, quem é que os cose, senão eu?
à ação de mineradoras. “Ocorrerá um aumento dos conflitos ju — Você? Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora
que quem os cose sou eu, e muito eu?
— Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pe-
daço ao outro, dou feição aos babados…

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— Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante, (A) “- Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda en-
puxando por você, que vem atrás, obedecendo ao que eu faço e rolada, para fingir que vale alguma coisa neste mundo?” (L.02)
mando… (B) “- Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha.
— Também os batedores vão adiante do imperador. Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar?” (L.06)
— Você é imperador? (C) “- Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante,
— Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel su- puxando por você, que vem atrás, obedecendo ao que eu faço
balterno, indo adiante; vai só mostrando o caminho, vai fazendo o e mando...” (L.14-15)
trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo, ajunto… (D) “- Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco?
Estavam nisto, quando a costureira chegou à casa da baronesa. Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo;
Não sei se disse que isto se passava em casa de uma baronesa, que eu é que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando
tinha a modista ao pé de si, para não andar atrás dela. Chegou a abaixo e acima.” (L.25-26)
costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou da linha, en- (E) “- Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela
fiou a linha na agulha, e entrou a coser. Uma e outra iam andando e ela é que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de
orgulhosas, pelo pano adiante, que era a melhor das sedas, entre costura. Faze como eu, que não abro caminho para ninguém.
os dedos da costureira, ágeis como os galgos de Diana — para dar a Onde me espetam, fico.” (L.40-41)
isto uma cor poética. E dizia a agulha:
— Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco? 11. O diminutivo, em Língua Portuguesa, pode expressar outros
Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo; eu é valores semânticos além da noção de dimensão, como afetividade,
que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando abaixo pejoratividade e intensidade. Nesse sentido, pode-se afirmar que
e acima… os valores semânticos utilizados nas formas diminutivas “unidi-
A linha não respondia nada; ia andando. Buraco aberto pela nha”(L.26) e “corpinho”(L.32), são, respectivamente, de:
agulha era logo enchido por ela, silenciosa e ativa, como quem sabe (A) dimensão e pejoratividade;
o que faz, e não está para ouvir palavras loucas. A agulha vendo que (B) afetividade e intensidade;
ela não lhe dava resposta, calou-se também, e foi andando. E era (C) afetividade e dimensão;
tudo silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais que o plic-pli- (D) intensidade e dimensão;
c-plic-plic da agulha no pano. Caindo o sol, a costureira dobrou a (E) pejoratividade e afetividade.
costura, para o dia seguinte; continuou ainda nesse e no outro, até
que no quarto acabou a obra, e ficou esperando o baile. 12. Em um texto narrativo como “Um Apólogo”, é muito co-
Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira, que mum uso de linguagem denotativa e conotativa. Assinale a alterna-
a ajudou a vestir-se, levava a agulha espetada no corpinho, para tiva cujo trecho retirado do texto é uma demonstração da expressi-
dar algum ponto necessário. E enquanto compunha o vestido da vidade dos termos “linha” e “agulha” em sentido figurado.
bela dama, e puxava a um lado ou outro, arregaçava daqui ou dali, (A) “- É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa
alisando, abotoando, acolchetando, a linha, para mofar da agulha, ama, quem é que os cose, senão eu?” (L.11)
perguntou-lhe: (B) “- Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha.
— Ora agora, diga-me, quem é que vai ao baile, no corpo da Agulha não tem cabeça.” (L.06)
baronesa, fazendo parte do vestido e da elegância? Quem é que (C) “- Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um
vai dançar com ministros e diplomatas, enquanto você volta para pedaço ao outro, dou feição aos babados...” (L.13)
a caixinha da costureira, antes de ir para o balaio das mucamas? (D) “- Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordi-
Vamos, diga lá. nária!” (L.43)
Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de ca- (E) “- Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco?”
beça grande e não menor experiência, murmurou à pobre agulha: (L.25)
— Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é
que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze 13. De acordo com a temática geral tratada no texto e, de modo
como eu, que não abro caminho para ninguém. Onde me espetam, metafórico, considerando as relações existentes em um ambiente
fico. de trabalho, aponte a opção que NÃO corresponde a uma ideia pre-
Contei esta história a um professor de melancolia, que me dis- sente no texto:
se, abanando a cabeça: — Também eu tenho servido de agulha a (A) O texto sinaliza que, normalmente, não há uma relação
muita linha ordinária! equânime em ambientes coletivos de trabalho;
(B) O texto sinaliza que, normalmente, não há uma relação
10. De acordo com o texto “Um Apólogo” de Machado de Assis equânime em ambientes coletivos de trabalho;
e com a ilustração abaixo, e levando em consideração as persona- (C) O texto indica que, em um ambiente coletivo de trabalho,
gens presentes nas narrativas tanto verbal quanto visual, indique cada sujeito possui atribuições próprias.
a opção em que a fala não é compatível com a associação entre os (D) O texto sugere que o reconhecimento no ambiente cole-
elementos dos textos: tivo de trabalho parte efetivamente das próprias atitudes do
sujeito.
(E) O texto revela que, em um ambiente coletivo de trabalho,
frequentemente é difícil lidar com as vaidades individuais.

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14. (CESGRANRIO – SEPLAG/BA – PROFESSOR PORTUGUÊS – (D) Salvo algumas exceções, a maioria das óperas do compo-
2010) Estabelece relação de hiperonímia/hiponímia, nessa ordem, sitor termina em uma cena de reconciliação entre os persona-
o seguinte par de palavras: gens.
(A) estrondo – ruído; (E) Alguns acreditam que o valor da obra do compositor se
(B) pescador – trabalhador; deve mais à árdua dedicação do que a arroubos de inspiração.
(C) pista – aeroporto;
(D) piloto – comissário; 19. (FUNIVERSA – CEB – ADVOGADO – 2010) Assinale a alter-
(E) aeronave – jatinho. nativa em que todas as palavras são acentuadas pela mesma razão.
(A) “Brasília”, “prêmios”, “vitória”.
15. (VUNESP – SEAP/SP – AGENTE DE ESCOLTA E VIGILÂNCIA (B) “elétrica”, “hidráulica”, “responsáveis”.
PENITENCIÁRIA – 2012) No trecho – Para especialistas, fica uma (C) “sérios”, “potência”, “após”.
questão: até que ponto essa exuberância econômica no Brasil é (D) “Goiás”, “já”, “vários”.
sustentável ou é apenas mais uma bolha? – o termo em destaque (E) “solidária”, “área”, “após”.
tem como antônimo:
(A) fortuna; 20. (CESGRANRIO – CMB – ASSISTENTE TÉCNICO ADMINISTRA-
(B) opulência; TIVO – 2012) Algumas palavras são acentuadas com o objetivo ex-
(C) riqueza; clusivo de distingui-las de outras. Uma palavra acentuada com esse
(D) escassez; objetivo é a seguinte:
(E) abundância. (A) pôr.
(B) ilhéu.
16. (FDC – PROFESSOR DE PORTUGUÊS II – 2005) Marque a (C) sábio.
série em que o hífen está corretamente empregado nas cinco pa- (D) também.
lavras: (E) lâmpada.
(A) pré-nupcial, ante-diluviano, anti-Cristo, ultra-violeta, infra-
-vermelho. 21. (FGV – SENADO FEDERAL – POLICIAL LEGISLATIVO FEDERAL
(B) vice-almirante, ex-diretor, super-intendente, extrafino, in- – 2008) Assinale a alternativa em que se tenha optado corretamen-
fra-assinado. te por utilizar ou não o acento grave indicativo de crase.
(C) anti-alérgico, anti-rábico, ab-rupto, sub-rogar, antihigiênico. (A) Vou à Brasília dos meus sonhos.
(D) extraoficial, antessala, contrassenso, ultrarrealismo, con- (B) Nosso expediente é de segunda à sexta.
trarregra. (C) Pretendo viajar a Paraíba.
(E) co-seno, contra-cenar, sobre-comum, sub-humano, infra- (D) Ele gosta de bife à cavalo.
-mencionado.
22. (FDC – MAPA – ANALISTA DE SISTEMAS – 2010) Na oração
17. (ESAF – SRF – AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL – “Eles nos deixaram À VONTADE” e no trecho “inviabilizando o ata-
2003) Indique o item em que todas as palavras estão corretamente que, que, naturalmente, deveria ser feito À DISTÂNCIA”, observa-se
empregadas e grafadas. a ocorrência da crase nas locuções adverbiais em caixa-alta. Nas
(A) A pirâmide carcerária assegura um contexto em que o po- locuções das frases abaixo também ocorre a crase, que deve ser
der de infringir punições legais a cidadãos aparece livre de marcada com o acento, EXCETO em:
qualquer excesso e violência. (A) Todos estavam à espera de uma solução para o problema.
(B) Nos presídios, os chefes e subchefes não devem ser exata- (B) À proporção que o tempo passava, maior era a angústia do
mente nem juízes, nem professores, nem contramestres, nem eleitorado pelo resultado final.
suboficiais, nem “pais”, porém avocam a si um pouco de tudo (C) Um problema à toa emperrou o funcionamento do sistema.
isso, num modo de intervenção específico. (D) Os técnicos estavam face à face com um problema insolú-
(C) O carcerário, ao homogeinizar o poder legal de punir e o vel.
poder técnico de disciplinar, ilide o que possa haver de violento (E) O Tribunal ficou à mercê dos hackers que invadiram o sis-
em um e de arbitrário no outro, atenuando os efeitos de revol- tema.
ta que ambos possam suscitar.
(D) No singular poder de punir, nada mais lembra o antigo po- 23. (NCE/UFRJ – TRE/RJ – Auxiliar Judiciário – 2001) O item
der do soberano iminente que vingava sua autoridade sobre o abaixo que apresenta erradamente uma separação de sílabas é:
corpo dos supliciados. (A) trans-o-ce-â-ni-co;
(E) A existência de uma proibição legal cria em torno dela um (B) cor-rup-te-la;
campo de práticas ilegais, sob o qual se chega a exercer con- (C) sub-li-nhar;
trole e aferir lucro ilícito, mas que se torna manejável por sua (D) pneu-má-ti-co;
organização em delinqüência.
24. (FGV – SPTRANS – Especialista em Transportes – 2001) Assi-
18. (FCC – METRÔ/SP – ASSISTENTE ADMINISTRATIVO JÚNIOR nale a alternativa em que o x representa fonema igual ao de
– 2012) A frase que apresenta INCORREÇÕES quanto à ortografia é: “exame”.
(A) Quando jovem, o compositor demonstrava uma capacidade (A) exceto.
extraordinária de imitar vários estilos musicais. (B) enxame.
(B) Dizem que o músico era avesso à ideia de expressar senti- (C) óxido.
mentos pessoais por meio de sua música. (D) exequível.
(C) Poucos estudiosos se despõem a discutir o empacto das
composições do músico na cultura ocidental.

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25. (FUNDEC – TJ/MG – Oficial de Justiça – 2002) Todas as pa- 31. (IMA – PREF. BOA HORA/PI – PROCURADOR MUNICIPAL –
lavras a seguir apresentam o mesmo número de sílabas e são paro- 2010) A palavra “Olhar” em (meu olhar) é um exemplo de palavra
xítonas, EXCETO: formada por derivação:
(A) gratuito; (A) parassintética;
(B) silencio; (B) prefixal;
(C) insensível; (C) sufixal;
(D) melodia. (D) imprópria;
(E) regressiva.
26. (CESGRANRIO – BNDES – ADVOGADO – 2004) No título do
artigo “A tal da demanda social”, a classe de palavra de “tal” é: 32. Levando-se em consideração os conceitos de frase, oração
(A) pronome; e período, é correto afirmar que o trecho abaixo é considerado um
(B) adjetivo; (a):
(C) advérbio; “A expectativa é que o México, pressionado pelas mudanças
(D) substantivo; americanas, entre na fila.”
(E) preposição. (A) Frase, uma vez que é composta por orações coordenadas e
subordinadas.
27. Assinale a alternativa que apresenta a correta classificação (B) Período, composto por três orações.
morfológica do pronome “alguém” (l. 44). (C) Oração, pois possui sentido completo.
(A) Pronome demonstrativo. (D) Período, pois é composto por frases e orações.
(B) Pronome relativo.
(C) Pronome possessivo. 33. (AOCP – PREF. DE CATU/BA – MECÂNICO DE VEÍCULOS –
(D) Pronome pessoal. 2007) Leia a seguinte sentença: Joana tomou um sonífero e não dor-
(E) Pronome indefinido. miu. Assinale a alternativa que classifica corretamente a segunda
oração.
28. Em relação à classe e ao emprego de palavras no texto, na (A) Oração coordenada assindética aditiva.
oração “A abordagem social constitui-se em um processo de traba- (B) Oração coordenada sindética aditiva.
lho planejado de aproximação” (linhas 1 e 2), os vocábulos subli- (C) Oração coordenada sindética adversativa.
nhados classificam-se, respectivamente, em (D) Oração coordenada sindética explicativa.
(A) preposição, pronome, artigo, adjetivo e substantivo. (E) Oração coordenada sindética alternativa.
(B) pronome, preposição, artigo, substantivo e adjetivo.
(C) conjunção, preposição, numeral, substantivo e pronome. 34. (AOCP – PREF. DE CATU/BA – BIBLIOTECÁRIO – 2007) Leia
(D) pronome, conjunção, artigo, adjetivo e adjetivo. a seguinte sentença: Não precisaremos voltar ao médico nem fazer
(E) conjunção, conjunção, numeral, substantivo e advérbio. exames. Assinale a alternativa que classifica corretamente as duas
orações.
29. (CONSULPLAN – ANALISTA DE INFORMÁTICA (SDS-SC) – (A) Oração coordenada assindética e oração coordenada adver-
2008) A alternativa em que todas as palavras são formadas pelo sativa.
mesmo processo de formação é: (B) Oração principal e oração coordenada sindética aditiva.
(A) responsabilidade, musicalidade, defeituoso; (C) Oração coordenada assindética e oração coordenada adi-
(B) cativeiro, incorruptíveis, desfazer; tiva.
(C) deslealdade, colunista, incrível; (D) Oração principal e oração subordinada adverbial consecu-
(D) anoitecer, festeiro, infeliz; tiva.
(E) reeducação, dignidade, enriquecer. (E) Oração coordenada assindética e oração coordenada adver-
bial consecutiva.
30. (IMA – PREF. BOA HORA/PI – PROCURADOR MUNICIPAL –
2010) No verso “Para desentristecer, leãozinho”, Caetano Veloso 35. (EMPASIAL – TJ/SP – ESCREVENTE JUDICIÁRIO – 1999) Ana-
cria um neologismo. A opção que contém o processo de formação lise sintaticamente a oração em destaque:
utilizado para formar a palavra nova e o tipo de derivação que a “Bem-aventurados os que ficam, porque eles serão recompen-
palavra primitiva foi formada respectivamente é: sados” (Machado de Assis).
(A) derivação prefixal (des + entristecer); derivação parassinté- (A) oração subordinada substantiva completiva nominal.
tica (en + trist + ecer); (B) oração subordinada adverbial causal.
(B) derivação sufixal (desentriste + cer); derivação imprópria (C) oração subordinada adverbial temporal desenvolvida.
(en + triste + cer); (D) oração coordenada sindética conclusiva.
(C) derivação regressiva (des + entristecer); derivação parassin- (E) oração coordenada sindética explicativa.
tética (en + trist + ecer);
(D) derivação parassintética (en + trist + ecer); derivação prefi-
xal (des + entristecer);
(E) derivação prefixal (en + trist + ecer); derivação parassintéti-
ca (des + entristecer).

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36. (FGV – SENADO FEDERAL – TÉCNICO LEGISLATIVO – ADMI- (D) Mesmo assim, olhando-se para os vizinhos de continente,
NISTRAÇÃO – 2008) “Mas o fato é que transparência deixou de ser percebe-se que nossa performance é inferior a que foi atribuí-
um processo de observação cristalina para assumir um discurso de da a Argentina (8,6%) e a alguns outros países com participação
políticas de averiguação de custos engessadas que pouco ou quase menor no conjunto dos bens produzidos pela América Latina.
nada retratam as necessidades de populações distintas.”. (E) Nem é preciso olhar os exemplos da China, Índia e Rússia,
A oração grifada no trecho acima classifica-se como: com crescimento acima desses patamares. Ao conjunto inteiro
(A) subordinada substantiva predicativa; da América Latina, o organismo internacional está atribuindo
(B) subordinada adjetiva restritiva; um crescimento médio, em 2007, de 5,6%, um pouco maior do
(C) subordinada substantiva subjetiva; que o do Brasil.
(D) subordinada substantiva objetiva direta;
(E) subordinada adjetiva explicativa. 41. (VUNESP – TJ/SP – ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO –
2011) Assinale a alternativa em que a concordância verbal está cor-
37. (FUNCAB – PREF. PORTO VELHO/RO – MÉDICO – 2009) No reta.
trecho abaixo, as orações introduzidas pelos termos grifados são (A) Haviam cooperativas de catadores na cidade de São Paulo.
classificadas, em relação às imediatamente anteriores, como: (B) O lixo de casas e condomínios vão para aterros.
“Não há dúvida de que precisaremos curtir mais o dia a dia, (C) O tratamento e a destinação corretos do lixo evitaria que
mas nunca à custa de nossos filhos...” 35% deles fosse despejado em aterros.
(A) subordinada substantiva objetiva indireta e coordenada sin- (D) Fazem dois anos que a prefeitura adia a questão do lixo.
dética adversativa; (E) Somos nós quem paga a conta pelo descaso com a coleta
(B) subordinada adjetiva restritiva e coordenada sindética ex- de lixo.
plicativa;
(C) subordinada adverbial conformativa e subordinada adver- 42. (ESAF – CGU – ANALISTA DE FINANÇAS E CONTROLE – 2012)
bial concessiva; Assinale a opção que fornece a correta justificativa para as relações
(D) subordinada substantiva completiva nominal e coordenada de concordância no texto abaixo.
sindética adversativa; O bom desempenho do lado real da economia proporcionou
(E) subordinada adjetiva restritiva e subordinada adverbial con- um período de vigoroso crescimento da arrecadação. A maior lucra-
cessiva. tividade das empresas foi decisiva para os resultados fiscais favo-
ráveis. Elevaram-se, de forma significativa e em valores reais, de-
38. (ACEP – PREF. QUIXADÁ/CE – PSICÓLOGO – 2010) No perí- flacionados pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), as
odo “O essencial é o seguinte: //nunca antes neste país houve um receitas do Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ), a Contribuição
governo tão imbuído da ideia // de que veio // para recomeçar a Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), e a Contribuição para o Finan-
história.”, a oração sublinhada é classificada como: ciamento da Seguridade Social (Cofins). O crescimento da massa de
(A) coordenada assindética; salários fez aumentar a arrecadação do Imposto de Renda Pessoa
(B) subordinada substantiva completiva nominal; Física (IRPF) e a receita de tributação sobre a folha da previdência
(C) subordinada substantiva objetiva indireta; social. Não menos relevantes foram os elevados ganhos de capital,
(D) subordinada substantiva apositiva. responsáveis pelo aumento da arrecadação do IRPF.
(A) O uso do plural em “valores” é responsável pela flexão de
39. (FCC – TRE/MG – TÉCNICO JUDICIÁRIO – 2005) As liberda- plural em “deflacionados”.
des ...... se refere o autor dizem respeito a direitos ...... se ocupa a (B) O plural em “resultados” é responsável pela flexão de plural
nossa Constituição. Preenchem de modo correto as lacunas da frase em “Elevaram-se”.
acima, na ordem dada, as expressões: (C) Emprega-se o singular em “proporcionou” para respeitar as
(A) a que – de que; regras de concordância com “economia”.
(B) de que – com que; (D) O singular em “a arrecadação” é responsável pela flexão de
(C) a cujas – de cujos; singular em “fez aumentar”.
(D) à que – em que; (E) A flexão de plural em “foram” justifica-se pela concordância
(E) em que – aos quais. com “relevantes”.

40. (ESAF – CGU – ANALISTA DE FINANÇAS E CONTROLE – 2008) 43. (PREFEITURA DE PIRACICABA - SP - PROFESSOR - EDU-
Assinale o trecho que apresenta erro de regência. CAÇÃO INFANTIL - VUNESP - 2020)
(A) Depois de um longo período em que apresentou taxas de Escola inclusiva
crescimento econômico que não iam além dos 3%, o Brasil fe- É alvissareira a constatação de que 86% dos brasileiros
cha o ano de 2007 com uma expansão de 5,3%, certamente a concordam que há melhora nas escolas quando se incluem alunos
maior taxa registrada na última década. com deficiência.
(B) Os dados ainda não são definitivos, mas tudo sugere que Uma década atrás, quando o país aderiu à Convenção sobre
serão confirmados. A entidade responsável pelo estudo foi a os Direitos das Pessoas com Deficiência e assumiu o dever de uma
conhecida Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL). educação inclusiva, era comum ouvir previsões negativas para tal
(C) Não há dúvida de que os números são bons, num momento perspectiva generosa. Apesar das dificuldades óbvias, ela se tornou
em que atingimos um bom superávit em conta-corrente, em lei em 2015 e criou raízes no tecido social.
que se revela queda no desemprego e até se anuncia a am- A rede pública carece de profissionais satisfatoriamente qualifi-
pliação de nossas reservas monetárias, além da descoberta de cados até para o mais básico, como o ensino de ciências; o que dizer
novas fontes de petróleo. então de alunos com gama tão variada de dificuldades.
Os empecilhos vão desde o acesso físico à escola, como o en-
frentado por cadeirantes, a problemas de aprendizado criados por
limitações sensoriais – surdez, por exemplo – e intelectuais.

42
42
LÍNGUA PORTUGUESA
Bastaram alguns anos de convívio em sala, entretanto, para Em “A Guerra das Salamandras”, romance de 1936 do tcheco
minorar preconceitos. A maioria dos entrevistados (59%), hoje, dis- Karel Čapek (pronuncia-se tchá-pek), um explorador descobre na
corda de que crianças com deficiência devam aprender só na com- costa de Sumatra uma raça de lagartos gigantes, hábeis em colher
panhia de colegas na mesma condição. pérolas e construir diques submarinos. Em troca das pérolas que as
Tal receptividade decerto não elimina o imperativo de contar salamandras lhe entregam, ele lhes fornece facas para se defende-
com pessoal capacitado, em cada estabelecimento, para lidar com rem dos tubarões. O resto, você adivinhou: as salamandras se re-
necessidades específicas de cada aluno. O censo escolar indica 1,2 produzem, tornam-se milhões, ocupam os litorais, aprendem a falar
milhão de alunos assim categorizados. Embora tenha triplicado o e inundam os continentes. São agora bilhões e tomam o mundo.
número de professores com alguma formação em educação espe- Não quero dizer que os micróbios comedores de lixo podem
cial inclusiva, contam-se não muito mais que 100 mil deles no país. se tornar as salamandras de Čapek. É que, no livro, as salamandras
Não se concebe que possa haver um especialista em cada sala de aprendem a gerir o mundo melhor do que nós. Com os micróbios
aula. no comando, nossos mares, pelo menos, estarão a salvo.
As experiências mais bem-sucedidas criaram na escola uma es-
trutura para o atendimento inclusivo, as salas de recursos. Aí, ao Ruy Castro, jornalista, biógrafo e escritor brasileiro. Folha de S. Paulo.
menos um profissional preparado se encarrega de receber o aluno Caderno Opinião, p. A2, 20 mai. 2019.
e sua família para definir atividades e de auxiliar os docentes do
período regular nas técnicas pedagógicas. Os pronomes pessoais oblíquos átonos, em relação ao verbo,
Não faltam casos exemplares na rede oficial de ensino. Compe- possuem três posições: próclise (antes do verbo), mesóclise (no
te ao Estado disseminar essas iniciativas exitosas por seus estabele- meio do verbo) e ênclise (depois do verbo).
cimentos. Assim se combate a tendência ainda existente a segregar Avalie as afirmações sobre o emprego dos pronomes oblíquos
em salas especiais os estudantes com deficiência – que não se con- nos trechos a seguir.
funde com incapacidade, como felizmente já vamos aprendendo. I – A próclise se justifica pela presença da palavra negativa: “E
não se contenta em brindar os mares, rios e lagoas com seus pró-
(Editorial. Folha de S.Paulo, 16.10.2019. Adaptado) prios dejetos.”
II – A ênclise ocorre por se tratar de oração iniciada por verbo:
Assinale a alternativa em que, com a mudança da posição do “Intoxica-os também com garrafas plásticas, pneus, computadores,
pronome em relação ao verbo, conforme indicado nos parênteses, sofás e até carcaças de automóveis.”
a redação permanece em conformidade com a norma-padrão de III – A próclise é sempre empregada quando há locução verbal:
colocação dos pronomes. “Não quero dizer que os micróbios comedores de lixo podem se
(A) ... há melhora nas escolas quando se incluem alunos com tornar as salamandras de Čapek.”
deficiência. (incluem-se) IV – O sujeito expresso exige o emprego da ênclise: “O ser hu-
(B) ... em educação especial inclusiva, contam-se  não muito mano revelou-se capaz de dividir o átomo, derrotar o câncer e pro-
mais que 100 mil deles no país. (se contam) duzir um ‘Dom Quixote’”.
(C) Não se concebe que possa haver um especialista em cada
sala de aula. (concebe-se) Está correto apenas o que se afirma em
(D) Aí, ao menos um profissional preparado  se  encarrega de (A) I e II.
receber o aluno... (encarrega-se) (B) I e III.
(E) ... que não se confunde com incapacidade, como felizmente (C) II e IV.
já vamos aprendendo. (confunde-se) (D) III e IV.

44. (PREFEITURA DE CARANAÍBA - MG - AGENTE COMUNI- 45. (PREFEITURA DE BIRIGUI - SP - EDUCADOR DE CRECHE
TÁRIO DE SAÚDE - FCM - 2019) - VUNESP - 2019)
Certo discurso ambientalista tradicional recorrentemente bus-
Dieta salvadora ca indícios de que o problema ambiental seja universal (e de fato
A ciência descobre um micróbio adepto de um é), atemporal (nem tanto) e generalizado (o que é desejável). Algu-
alimento abundante: o lixo plástico no mar. ma ingenuidade conceitual poderia marcar o ambientalismo apo-
O ser humano revelou-se capaz de dividir o átomo, derrotar o logético; haveria dilemas ambientais em todos os lugares, tempos,
câncer e produzir um “Dom Quixote”. Só não consegue dar um des- culturas. É a bambificação(*) da natureza. Necessária, no entanto,
tino razoável ao lixo que produz. E não se contenta em brindar os como condição de sobrevivência. Há quem tenha encontrado nor-
mares, rios e lagoas com seus próprios dejetos. Intoxica-os também mas ambientais na Bíblia, no Direito grego, e até no Direito romano.
com garrafas plásticas, pneus, computadores, sofás e até carcaças São Francisco de Assis, nessa linha, prosaica, seria o santo padroeiro
de automóveis. Tudo que perde o uso é atirado num curso d’água, das causas ambientais; falava com plantas e animais.
subterrâneo ou a céu aberto, que se encaminha inevitavelmente A proteção do meio ambiente seria, nesse contexto, instintiva,
para o mar. O resultado está nas ilhas de lixo que se formam, da predeterminando objeto e objetivo. Por outro lado, e este é o meu
Guanabara ao Pacífico. argumento, quando muito, e agora utilizo uma categoria freudiana,
De repente, uma boa notícia. Cientistas da Grécia, Suíça, Itália, a pretensão de proteção ambiental seria pulsional, dado que resiste
China e dos Emirados Árabes descobriram em duas ilhas gregas um a uma pressão contínua, variável na intensidade. Assim, numa di-
micróbio marinho que se alimenta do carbono contido no plástico mensão qualitativa, e não quantitativa, é que se deveria enfrentar
jogado ao mar. Parece que, depois de algum tempo ao sol e atacado a questão, que também é cultural. E que culturalmente pode ser
pelo sal, o plástico, seja mole, como o das sacolas, ou duro, como o abordada.
das embalagens, fica quebradiço – no ponto para que os micróbios,
de guardanapo ao pescoço, o decomponham e façam a festa. Os
cientistas estão agora criando réplicas desses micróbios, para que
eles ajudem os micróbios nativos a devorar o lixo. Haja estômago.

43
LÍNGUA PORTUGUESA
O problema, no entanto, é substancialmente econômico. O que buscam refúgio em outros países costumam ser recebidas com
dilema ambiental só se revela como tal quando o meio ambiente desconfiança quando não com violência, o que diminui o valor da
passa a ser limite para o avanço da atividade econômica. É nesse imigração como remédio multiuso.
sentido que a chamada internalização da externalidade negativa No plano econômico, a plena mobilidade da mão de obra se-
exige justificativa para uma atuação contra-fática. ria muito bem-vinda. Segundo algumas estimativas, ela faria o PIB
Uma nuvem de problematização supostamente filosófica tam- mundial aumentar em até 50%. Mesmo que esses cálculos estejam
bém rondaria a discussão. Antropocêntricos acreditam que a prote- inflados, só uma fração de 10% já significaria um incremento da or-
ção ambiental seria narcisística, centrada e referenciada no próprio dem de US$ 10 trilhões (uns cinco Brasis).
homem. Os geocêntricos piamente entendem que a natureza deva Uma das principais razões para o mundo ser mais pobre do
ser protegida por próprios e intrínsecos fundamentos e característi- que poderia é que enormes contingentes de humanos vivem sob
cas. Posições se radicalizam. sistemas que os impedem de ser produtivos. Um estudo de 2016
A linha de argumento do ambientalista ingênuo lembra-nos o de Clemens, Montenegro e Pritchett estimou que só tirar um tra-
“salto do tigre” enunciado pelo filósofo da cultura Walter Benjamin, balhador macho sem qualificação de seu país pobre de origem e
em uma de suas teses sobre a filosofia da história. Qual um tigre transportá-lo para os EUA elevaria sua renda anual em US$ 14 mil.
mergulhamos no passado, e apenas apreendemos o que interessa A imigração se torna ainda mais tentadora quando se considera
para nossa argumentação. É o que se faz, a todo tempo. que é a resposta perfeita para países desenvolvidos que enfrentam
o problema do envelhecimento populacional.
(Arnaldo Sampaio de Moraes Godoy. Disponível em: https://www. Não obstante tantas virtudes, imigrantes podem ser maltrata-
conjur.com.br/2011. Acesso em: 10.08.2019. Adaptado) dos e até perseguidos quando cruzam a fronteira, especialmente
se vêm em grandes números. Isso está acontecendo até no Brasil,
(*) Referência ao personagem Bambi, filhote de cervo conhe- que não tinha histórico de xenofobia. Desconfio de que estão em
cido como “Príncipe da Floresta”, em sua saga pela sobrevivência operação aqui vieses da Idade da Pedra, tempo em que membros
na natureza.  de outras tribos eram muito mais uma ameaça do que uma solução.
De todo modo, caberia às autoridades incentivar a imigração,
Assinale a alternativa que reescreve os trechos destacados em- tomando cuidado para evitar que a chegada dos estrangeiros dê
pregando pronomes, de acordo com a norma-padrão de regência e pretexto para cenas de barbárie. Isso exigiria recebê-los com inte-
colocação. ligência, minimizando choques culturais e distribuindo as famílias
Uma nuvem de problematização supostamente filosófica tam- por regiões e cidades em que podem ser mais úteis. É tudo o que
bém rondaria a discussão. / Alguma ingenuidade conceitual pode- não estamos fazendo.
ria marcar o ambientalismo apologético.
(A) ... lhe rondaria ... o poderia marcar (Hélio Schwartsman. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/
(B) ... rondá-la-ia ... poderia marcar ele colunas/.28.08.2018. Adaptado)
(C) ... rondaria-a ... podê-lo-ia marcar
(D) ... rondaria-lhe ... poderia o marcar Considere as frases:
(E) ... a rondaria ... poderia marcá-lo • países desenvolvidos que enfrentam o problema do envelhe-
cimento populacional. (4º parágrafo)
46. (PREFEITURA DE CABO DE SANTO AGOSTINHO - PE - • ... minimizando choques culturais e distribuindo  as famí-
TÉCNICO EM SANEAMENTO - IBFC - 2019) lias por regiões e cidades em que podem ser mais
Vou-me embora pra Pasárgada, úteis. (6º parágrafo)
lá sou amigo do Rei”.
(M.Bandeira) A substituição das expressões em destaque por pronomes está
de acordo com a norma-padrão de emprego e colocação em:
Quanto à regra de colocação pronominal utilizada, assinale a (A) enfrentam-no; distribuindo-lhes.
alternativa correta. (B) o enfrentam; lhes distribuindo.
(A) Ênclise: em orações iniciadas com verbos no presente ou (C) o enfrentam; distribuindo-as.
pretérito afirmativo, o pronome oblíquo deve ser usado pos- (D) enfrentam-no; lhes distribuindo.
posto ao verbo. (E) lhe enfrentam; distribuindo-as.
(B) Próclise: em orações iniciadas com verbos no presente ou
pretérito afirmativo, o pronome oblíquo deve ser usado pos- 48. (PREFEITURA DE PERUÍBE - SP – SECRETÁRIO DE ESCOLA
posto ao verbo. - VUNESP - 2019)
(C) Mesóclise: em orações iniciadas com verbos no presente ou Considere a frase a seguir. Como as crianças são naturalmen-
pretérito afirmativo, o pronome oblíquo deve ser usado pos- te agitadas, cabe aos adultos  impor às crianças  limites que  ga-
posto ao verbo. rantam às crianças  um desenvolvimento saudável. Para eliminar
(E) Próclise: em orações iniciadas com verbos no imperativo as repetições da frase, as expressões destacadas devem ser
afirmativo, o pronome oblíquo deve ser usado posposto ao substituídas, em conformidade com a norma-padrão da língua,
verbo. respectivamente, por
(A) impor-nas ... lhes garantam
47. (PREFEITURA DE PERUÍBE - SP - INSPETOR DE ALUNOS (B) impor-lhes ... as garantam
- VUNESP - 2019) (C) impô-las ... lhes garantam
(D) impô-las ... as garantam
Pelo fim das fronteiras (E) impor-lhes ... lhes garantam
Imigração é um fenômeno estranho. Do ponto de vista pura-
mente racional, ela é a solução para vários problemas globais. Mas,
como o mundo é um lugar menos racional do que deveria, pessoas

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44
LÍNGUA PORTUGUESA
49. (PREFEITURA DE BLUMENAU - SC - PROFESSOR - GEO- 52. (CESGRANRIO – PETROBRAS – TÉCNICO DE ENFERMAGEM
GRAFIA – MATUTINO - FURB – 2019) DO TRABALHO – 2011) Há ERRO quanto ao emprego dos sinais de
pontuação em:
O tradicional desfile do aniversário de Blumenau, que completa (A) Ao dizer tais palavras, levantou-se, despediu-se dos convi-
169 anos de fundação nesta segunda-feira, teve outra data especial dados e retirou-se da sala: era o final da reunião.
para comemorar: os 200 anos de nascimento do Doutor Hermann (B) Quem disse que, hoje, enquanto eu dormia, ela saiu sorra-
Blumenau. __________ 15 mil pessoas que estiveram na Rua XV de teiramente pela porta?
Novembro nesta manhã acompanhando o desfile, de acordo com (C) Na infância, era levada e teimosa; na juventude, tornou-se
estimativa da Fundação Cultural, conheceram um pouco mais da tímida e arredia; na velhice, estava sempre alheia a tudo.
vida do fundador do município. [...] O desfile também apresentou (D) Perdida no tempo, vinham-lhe à lembrança a imagem mui-
aspectos da colonização alemã no Vale do Itajaí. Dessa forma, as to branca da mãe, as brincadeiras no quintal, à tarde, com os
bandeiras e moradores das 42 cidades do território original de Blu- irmãos e o mundo mágico dos brinquedos.
menau, que foi fundado por Hermann, também estiveram repre- (E) Estava sempre dizendo coisas de que mais tarde se arre-
sentadas na Rua XV de Novembro. [...] penderia. Prometia a si própria que da próxima vez, tomaria
cuidado com as palavras, o que entretanto, não acontecia.
Disponível em: <https://www.nsctotal.com.br/noticias/desfile-em-blu-
menau-comemora-o-aniversario-da-cidade-e-os-200-anos-do-funda- 53. (FCC – INFRAERO – ADMINISTRADOR – 2011) Está inteira-
dor>.Acesso em: 02 set. 2019.[adaptado] mente correta a pontuação do seguinte período:
(A) Os personagens principais de uma história, responsáveis
No mesmo excerto “Dessa forma, as bandeiras e moradores pelo sentido maior dela, dependem, muitas vezes, de peque-
das 42 cidades do território original de Blumenau, que foi fundado nas providências que, tomadas por figurantes aparentemente
por Hermann, também estiveram representadas na Rua XV de No- sem importância, ditam o rumo de toda a história.
vembro.”, a palavra destacada pertence à classe gramatical: (B) Os personagens principais, de uma história, responsáveis
(A) conjunção pelo sentido maior dela, dependem muitas vezes, de pequenas
(B) pronome providências que tomadas por figurantes, aparentemente sem
(C) preposição importância, ditam o rumo de toda a história.
(D) advérbio (C) Os personagens principais de uma história, responsáveis
(E) substantivo pelo sentido maior dela dependem muitas vezes de pequenas
providências, que, tomadas por figurantes aparentemente,
50. (PREFEITURA DE BLUMENAU - SC - PROFESSOR - PORTU- sem importância, ditam o rumo de toda a história.
GUÊS – MATUTINO - FURB – 2019) (D) Os personagens principais, de uma história, responsáveis
Determinado, batalhador, estudioso, dedicado e inquieto. Mui- pelo sentido maior dela, dependem, muitas vezes de pequenas
tos são os adjetivos que encontramos nos livros de história para providências, que tomadas por figurantes aparentemente sem
definir Hermann Blumenau. Desde os primeiros anos da colônia, es- importância, ditam o rumo de toda a história.
teve determinado a construir uma casa melhor para viver com sua (E) Os personagens principais de uma história, responsáveis,
família, talvez em um terreno que lhe pertencia no morro do aipim. pelo sentido maior dela, dependem muitas vezes de peque-
Infelizmente, nunca concretizou este sonho, porém, nunca deixou nas providências, que tomadas por figurantes, aparentemente,
de zelar por tudo aquilo que lhe dizia respeito.[...] sem importância, ditam o rumo de toda a história.

Disponível em: <https://www.blumenau.sc.gov.br/secretarias/funda-


cao-cultural/fcblu/memaoria-digital-ao-comemoraacaao-200-anos-dr- GABARITO
-blumenau85>. Acesso em: 05 set. 2019. [adaptado]

Sobre a colocação dos pronomes átonos nos excertos: “...talvez


1 B
em um terreno que lhe pertencia no morro do aipim.” e “...zelar por
tudo aquilo que  lhe  dizia respeito.”, podemos afirmar que ambas 2 B
as próclises estão corretas, pois o verbo está precedido de palavras 3 D
que atraem o pronome para antes do verbo. Assinale a alternativa
que identifica essas palavras atrativas dos excertos: 4 A
(A) palavras de sentido negativo 5 C
(B) advérbios
6 A
(C) conjunções subordinativas
(D) pronomes demonstrativos 7 E
(E) pronomes relativos 8 C
51. (CESGRANRIO – FINEP – TÉCNICO – 2011) A vírgula pode 9 D
ser retirada sem prejuízo para o significado e mantendo a norma 10 E
padrão na seguinte sentença:
(A) Mário, vem falar comigo depois do expediente. 11 D
(B) Amanhã, apresentaremos a proposta de trabalho. 12 D
(C) Telefonei para o Tavares, meu antigo chefe.
13 D
(D) Encomendei canetas, blocos e crachás para a reunião.
(E) Entrou na sala, cumprimentou a todos e iniciou o discurso. 14 E

45
LÍNGUA PORTUGUESA

15 D ANOTAÇÕES
16 D
17 B ______________________________________________________
18 C ______________________________________________________
19 A
______________________________________________________
20 A
21 A ______________________________________________________

22 D ______________________________________________________
23 A
______________________________________________________
24 D
______________________________________________________
25 A
26 A ______________________________________________________
27 E ______________________________________________________
28 B
______________________________________________________
29 A
30 A ______________________________________________________

31 D ______________________________________________________
32 B _____________________________________________________
33 C
_____________________________________________________
34 C
35 E ______________________________________________________
36 A ______________________________________________________
37 D
______________________________________________________
38 B
39 A ______________________________________________________

40 D ______________________________________________________
41 E ______________________________________________________
42 A
______________________________________________________
43 D
44 A ______________________________________________________
45 E ______________________________________________________
46 A
______________________________________________________
47 C
______________________________________________________
48 E
49 B ______________________________________________________
50 E ______________________________________________________
51 B
______________________________________________________
52 E
53 A ______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

46
46
REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL,
HISTÓRICA, GEOGRÁFICA,
CULTURAL, POLÍTICA E ECONÔMICA
DO ESTADO DE GOIÁ

O segundo elemento catalisador do processo foi a descoberta


FORMAÇÃO ECONÔMICA DE GOIÁS: A MINERAÇÃO NO de novos achados. Esses direcionavam o fluxo da população, desco-
SÉCULO XVIII, A AGROPECUÁRIA NOS SÉCULOS XIX E bria-se uma nova mina e, pronto, surgia uma nova vila, geralmente
XX, A ESTRADA DE FERRO E A MODERNIZAÇÃO DA ECO- às margens de um rio.
NOMIA GOIANA, AS TRANSFORMAÇÕES ECONÔMICAS “O mineiro extraía o ouro e podia usá-lo como moeda no terri-
COM A CONSTRUÇÃO DE GOIÂNIA E BRASÍLIA, INDUS- tório das minas, pois, proibida a moeda de ouro, o ouro em pó era a
TRIALIZAÇÃO, INFRAESTRUTURA E PLANEJAMENTO única moeda em circulação. No momento em que decidisse retirar
o seu ouro para outras capitanias é que lhe urgia a obrigação de
fundi-lo e pagar o quinto”. (PALACÍN, 1994, p. 44).
A Extração Aurífera Nessa economia onde a descoberta e extração de ouro para o
O elemento que legitimava as ações de controle político e eco- enriquecimento era o sentido dominante na consciência das pes-
nômico da metrópole sobre a colônia era o Pacto Colonial, este soas, o comerciante lucrou enormemente porque havia uma infini-
tornava a segunda uma extensão da primeira e por isso nela vigo- dade de necessidades dos habitantes, que deveriam ser sanadas. A
ravam todos os mandos e desmandos do soberano, inclusive havia escassez da oferta ocasionava valorização dos produtos de primeira
grande esforço da metrópole no sentido de reprimir a dedicação necessidade e assim grande parte do ouro que era extraído das la-
a outras atividades que não fossem a extração aurífera, tais como vras acabava chegando às mãos do comerciante, que era quem na
agricultura e pecuária, que inicialmente existiam estritamente para maioria das vezes o direcionava para as casas de fundição. Inicial-
a subsistência. A explicação para tal intransigência era simples: au- mente, todo ouro para ser quitado deveria ser encaminhado para
mentar a arrecadação pela elevação da extração. a capitania de São Paulo, posteriormente de acordo com Palacin
O ouro era retirado das datas que eram concedidas com pri- (1975, p. 20) foram criadas “duas Casas de Fundição na Capitania
vilégios a quem as encontrassem. De acordo com Salles, ao des- de Goiás: uma em Vila Boa, atendendo à produção do sul e outra
cobridor cabia os “melhores cabedais o direito de socavar vários em S. Félix para atender o norte.”
locais, e escolher com segurança a mina mais lucrativa, assim como
situar outras jazidas sem que outro trabalho lhe fosse reservado, A Produção de Ouro Em Goiás
senão o de reconhecer o achado, legalizá-lo e receber o respectivo A partir do ano de 1725 o território goiano inicia sua produção
tributo, era vantajosa política para a administração portuguesa. Ao aurífera. Os primeiros anos são repletos de achados. Vários arraiais
particular, todas as responsabilidades seduzindo-o com vantagens vão se formando onde ocorrem os novos descobertas, o ouro extra-
indiscriminadas, porém temporárias”. (SALLES, 1992, p.131). ído das datas era fundido na Capitania de São Paulo, para “lá, pois,
À metrópole Portuguesa em contrapartida cabia apenas o deviam ir os mineiros com seu ouro em pó, para fundi -lo, receben-
bônus de receber os tributos respaldados pelo pacto colonial e di- do de volta, depois de descontado o quinto, o ouro em barras de
recionar uma parte para manutenção dos luxos da coroa e do cle- peso e toque contrastados e sigilados com o selo real.” (PALACÍN,
ro e outra, uma boa parte desse numerário, era canalizada para 1994, p. 44).
a Inglaterra com quem a metrópole mantinha alguns tratados co- Os primeiros arraiais vão se formando aos arredores do rio ver-
merciais que serviam apenas para canalizar o ouro para o sistema melho, Anta, Barra, Ferreiro, Ouro Fino e Santa Rita que contribuí-
financeiro inglês. ram para a atração da população. À medida que vão surgindo novos
“Os Quintos Reais, os Tributos de Ofícios e um por cento sobre descobertos os arraiais vão se multiplicando por todo o território.
os contratos pertenciam ao Real Erário e eram remetidos direta- A Serra dos Pirineus em 1731 dará origem à Meia Ponte, importan-
mente a Lisboa, enquanto sob a jurisdição de São Paulo, o exce- te elo de comunicação, devido a sua localização. Na Região Norte,
dente das rendas da Capitania eram enviados à sede do governo foram descobertas outras minas, Maranhão (1730), Água Quente
e muitas vezes redistribuídos para cobrirem as despesas de outras (1732), Natividade (1734), Traíras (1735), São José (1736), São Félix
localidades carentes”. (SALLES, 1992, p.140). (1736), Pontal e Porto Real (1738), Arraias e Cavalcante (1740), Pi-
O um dos fatores que contribuiu para o sucesso da empresa lar (1741), Carmo (1746), Santa Luzia (1746) e Cocal (1749).
mineradora foi sem nenhuma sombra de dúvidas o trabalho com- Toda essa expansão demográfica serviu para disseminar focos
pulsório dos escravos africanos, expostos a condições de degrada- de população em várias partes do território e, dessa forma, estru-
ção, tais como: grande período de exposição ao sol, manutenção turar economicamente e administrativamente várias localidades,
do corpo por longas horas mergulhado parcialmente em água e em mesmo que sobre o domínio da metrópole Portuguesa, onde toda
posições inadequadas. produção que não sofria o descaminho era taxada. “Grande impor-
Além disso, ainda eram submetidos a violências diversas, que tância é conferida ao sistema administrativo e fiscal das Minas; no-
os mutilavam fisicamente e psicologicamente de forma irremedi- ta-se a preocupação de resguardar os descaminhos do ouro, mas
ável. Sob essas condições em média os africanos escravos tinham também a de controlar a distribuição dos gêneros.” (SALLES, 1992,
uma sobrevida de oito anos. Os indígenas também foram submeti- p.133).
dos a tais condições, porém não se adaptaram.

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REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS

Apesar de todo o empenho que era direcionado para a con- Essa baixa na produtividade era consequência do esgotamento
tenção do contrabando, como a implantação de casas de fundição, do sistema que tinha como base a exploração de veios auríferos
isolamento de minas, proibição de utilização de caminhos não ofi- superficiais, a escassez de qualificação de mão de obra e equipa-
ciais, revistas rigorosas, e aplicação de castigos penosos aos que mentos apropriados, que pudessem proporcionar menor desperdí-
fossem pegos praticando; o contrabando se fazia presente, primei- cio , o não surgimento de novas técnicas capazes de reinventar tal
ro devido à insatisfação do povo em relação a grande parte do seu sistema, além da cobrança descabida de impostos, taxas e contri-
trabalho, que era destinada ao governo, e, em segundo, em razão buições, que desanimavam o mais motivado minerador.
da incapacidade de controle efetivo de uma região enorme. Dessa
forma se todo ouro objeto de contrabando, que seguiu por cami- A Decadência da Mineração
nhos obscuros, florestas e portos, tivesse sido alvo de mensuração A diminuição da produtividade das minas é a característica
a produção desse metal em Goiás seria bem mais expressiva. marcante do início da decadência do sistema, como citado ante-
Os dados oficiais disponíveis sobre a produção aurífera na épo- riormente, esse fenômeno passa a ocorrer já nos primeiros anos
ca são inconsistentes por não serem resultado de trabalho estatís- após a descoberta, porém não é possível afirmar que nessa época
tico, o que contribui para uma certa disparidade de dados obtidos seja consequência do esgotamento do minério, devido a outros fa-
em obras distintas, mesmo assim retratam uma produção tímida tores econômicos e administrativos, como a escassez de mão-de-o-
ao ser comparado a Minas Gerais. A produção do ouro em Goiás de bra e a vinculação à capitania de São Paulo
1730 a 1734 atingiu 1.000 kg, o pico de produção se dá de 1750 a Para efeito de análise pode-se convencionar o ano de 1753, o
1754, sendo um total de 5.880 kg. Há vários relatos de que o ano de de maior produção, como o divisor de águas que dá início à efetiva
maior produção foi o de 1.753, já de 1785 a 1789, a produção fica derrocada da produção que se efetivará no século seguinte
em apenas 1.000 kg, decaindo nos anos seguintes. O fato é que com a exaustão das minas superficiais e o fim dos
A produção do ouro foi “subindo constantemente desde o novos descobertos, fatores dinâmicos da manutenção do processo
descobrimento até 1753, ano mais elevado com uma produção de expansionista da mineração aurífera, a economia entra em estag-
3.060 kg. Depois decaiu lentamente até 1778 (produção: 1.090), nação, o declínio da população ocasionado pelo fim da imigração
a partir desta data a decadência cada vez é mais acentuada (425 reflete claramente a desaceleração de vários setores como o co-
kg em 1800) até quase desaparecer” (20 kg. Em 1822). (PALACÍN, mércio responsável pela manutenção da oferta de gêneros oriun-
1975, p. 21). Foram utilizadas duas formas de recolhimento de tri- dos das importações. A agropecuária que, embora sempre orienta-
butos sobre a produção: o Quinto e a Capitação. E essas formas da para a subsistência, fornecia alguns elementos e o próprio setor
se alternaram à medida que a efetividade de sua arrecadação foi público sofria com a queda da arrecadação.
reduzindo. O fato gerador da cobrança do quinto ocorria no mo- “A falta de experiência, a ambição do governo, e, em parte,
mento em que o ouro era entregue na casa de fundição, para ser o desconhecimento do País, mal organizado e quase despovoado,
fundido, onde era retirada a quinta parte do montante entregue e deram lugar a muitas leis inadequadas, que provocavam a ruína rá-
direcionada ao soberano sem nenhum ônus para o mesmo. A ta- pida desse notável ramo de atividade, importante fonte de renda
bela 2 mostra os rendimentos do Quinto do ouro. Observa-se que para o Estado. De nenhuma dessas leis numerosas que tem apareci-
como citado anteriormente o ano de 1753 foi o de maior arrecada- do até hoje se pode dizer propriamente que tivesse por finalidade a
ção e pode-se ver também que a produção de Minas Gerais foi bem proteção da indústria do ouro. Ao contrário, todas elas apenas visa-
superior a Goiana. vam o aumento a todo custo da produção, com o estabelecimento
A capitação era cobrada percapita de acordo com o quantitati- de medidas que assegurassem a parte devida à Coroa”. (PALACÍN,
vo de escravos, nesse caso se estabelecia uma produtividade média 1994, p.120).
por escravo e cobrava-se o tributo. “Para os escravos e trabalhado- É certo que a grande ambição do soberano em muito preju-
res livres na mineração, fez-se uma tabela baseada na produtivida- dicou a empresa mineradora e o contrabando agiu como medida
de média de uma oitava e meia de ouro por semana, arbitrando-se mitigadora desse apetite voraz, porém com a decadência nem mes-
em 4 oitavas e ¾ o tributo devido anualmente por trabalhador, mo aos comerciantes, que foram os grandes beneficiados economi-
compreendendo a oitava 3.600 gramas de ouro, no valor de 1$200 camente, restaram recursos para prosseguir. O restabelecimento
ou 1$500 conforme a época”. (SALLES, 1992, p.142) Além do quin- da atividade extrativa exigia a criação de novas técnicas e novos
to e da capitação havia outros dispêndios como pagamento do im- processos algo que não se desenvolveu nas décadas em que houve
posto das entradas, os dízimos sobre os produtos agropecuários, prosperidade, não poderia ser desenvolvido de imediato.
passagens nos portos, e subornos de agentes públicos; tudo isso À medida que o ouro de superfície, de fácil extração, vai se
tornava a atividade lícita muito onerosa e o contrabando bastante escasseando ocorre a necessidade de elevação do quantitativo do
atraente, tais cobranças eram realizadas por particulares que obti- elemento motriz minerador, o escravo, desse modo:
nham mediante pagamento antecipado à coroa Portuguesa o direi- “As lavras operavam a custos cada vez mais elevados, ainda
to de receber as rendas, os poderes de aplicar sanções e o risco de mais pelo fato de parte da escravaria estar voltada também para
um eventual prejuízo. A redução da produtividade foi um grande atividades complementares. O adiantamento de capital em escra-
problema para a manutenção da estabilidade das receitas prove- vos, a vida curta deles aliada à baixa produtividade nas minas fa-
nientes das minas. “A diminuição da produtividade iniciou-se já nos talmente conduziram empreendimentos à insolvência e falência”.
primeiros anos, mas começou a tornar-se um problema grave de- (ESTEVAM, 2004, p. 34).
pois de 1750; nos dez primeiros anos (1726-1735), um escravo po- Após verificar o inevitável esgotamento do sistema econômico
dia produzir até perto de 400 gramas de ouro por ano; nos 15 anos baseado na extração do ouro a partir do segundo quartel do século
seguintes (1736-1750) já produzia menos de 300; a partir de 1750 XVIII, o governo Português implanta algumas medidas visando re-
não chegava a 200, e mais tarde, em plena decadência, a produção erguer a economia no território, dentre elas o incentivo à agricul-
era semelhante à dos garimpeiros de hoje: pouco mais de 100 gra- tura e à manufatura, e a navegação dos rios Araguaia, Tocantins,
mas”. (PALACÍN, 1975, p.21). e Paranaíba, que se fizeram indiferentes ao desenvolvimento do
sistema. Ocorre então a falência do sistema e o estabelecimento de
uma economia de subsistência, com ruralização da população e o
consequente empobrecimento cultural.

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REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS
“Mas, tão logo os veios auríferos escassearam, numa técni- Desse modo o Estado de Goiás chegou ao século XX como um
ca rudimentar, dificultando novos descobertos, a pobreza, com a território inexpressivo economicamente e sem representatividade
mesma rapidez, substituiu a riqueza, Goiás, apesar de sua aparente política e cultural. Nesse século iria se concretizar a agropecuária
embora curta prosperidade, nunca passou realmente, de um pouso no Estado, como consequência do processo de expansão da fron-
de aventureiros que abandonavam o lugar, logo que as minas co- teira agrícola para a região central do país. Nas primeiras décadas
meçavam a dar sinais de cansaço”. (PALACÍN, 1975, p.44). do século em questão, o Estado permaneceu com baixíssima den-
sidade demográfica, onde a maioria da população se encontrava
A Decadência econômica de Goiás espalhada por áreas remotas do território, modificando-se apenas
Essa conclusão pode ser atribuída ao século XIX devido ao des- na segunda metade do mesmo século.
mantelamento da economia decorrente do esgotamento do produ- O deslocamento da fronteira agrícola para as regiões centrais
to chave e o consequente empobrecimento sócio cultural. Os últi- do país foi resultado da própria dinâmica do desenvolvimento de
mos descobertos de relevância são as minas de Anicuns em 1809, regiões como São Paulo, Minas Gerais e o Sul do País, que ao adap-
que serviram para animar novamente os ânimos. Inicialmente a tarem sua economia com os princípios capitalistas realizaram uma
extração gerou ganhos muito elevados, porém após três anos já inversão de papéis, onde regiões que eram consumidoras de pro-
apresentava uma produção bem inferior, além disso, os constantes dutos de primeira necessidade passaram a produzir tais produtos e
atritos entre os “cotistas” levaram o empreendimento a falência. as regiões centrais, antes produtoras desses produtos passaram a
A característica básica do século em questão foi a transição da produzir os produtos industrializados que antes eram importados.
economia extrativa mineral para a agropecuária, os esforços conti- “Enquanto o Centro-Sul se efetivava como a periferia do capi-
nuados do império em estabelecer tal economia acabaram se es- talismo mundial, outras regiões faziam o papel de periferia do Cen-
barrando, nas restrições legais que foram impostas inicialmente, tro-Sul, ou seja, a periferia da periferia, como já vinha acontecendo
como forma de coibir tais atividades, a exemplo da taxação que no Rio Grande do Sul e o Nordeste, por exemplo”. (FAYAD, 1999,
recaía sobre os agricultores, e também em outros fatores de ordem p.23)
econômica, como a inexistência de um sistema de escoamento Fonte:http://www.sgc.goias.gov.br/upload/arquivos/2014-01/
adequado, o que inviabilizava as exportações pelo alto custo ge- amineracao-em-goias-e-o-desenvolvimento-do-estado.pdf
rado, e cultural, onde predominava o preconceito contra as ativi-
dades agropastoris, já que a profissão de minerador gerava status
MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA E URBANIZAÇÃO DO
social na época.
TERRITÓRIO GOIANO
Desse modo a agricultura permaneceu orientada basicamente
para a subsistência em conjunto com as trocas intra regionais, já a
pecuária se potencializou devido à capacidade do gado em se mo-
A Ocupação Mineratória – Mineração
ver até o destino e a existência de grandes pastagens naturais em
Enquanto o século XVII representou etapa de investigação das
certas localidades, favorecendo a pecuária extensiva. Nesse senti-
possibilidades econômicas das regiões goianas, durante a qual o
do, os pecuaristas passam a atuar de forma efetiva na exportação
seu território tornou-se conhecido, o século XVIII, em função da ex-
de gado fornecendo para a Bahia, Rio de Janeiro, Minas Gerais, e
pansão da marcha do ouro, foi ele devassado em todos os sentidos,
Pará. Segundo Bertran:
estabelecendo -se a sua efetiva ocupação através da mineração. A
“A pecuária de exportação existia em Goiás como uma exten-
primeira região ocupada em Goiás foi a região do Rio Vermelho.
são dos currais do Vale do São Francisco, mobilizando as regiões
Entre 1727 e 1732 surgiram diversos arraiais, além de Santana (pos-
da Serra Geral do Nordeste Goiano, (de Arraias a Flores sobretu- teriormente Vila Boa de Goiás), em consequência das explorações
do), com 230 fazendas consagradas à criação. Mais para o interior, auríferas ou da localização na rota de Minas para Goiás. Em 1736
sobre as chapadas do Tocantins, na vasta extensão entre Traíras já havia nas minas de Goiás 10.236 escravos. Nas proximidades de
e Natividade contavam outras 250. Em todo o restante de Goiás, Santana surgiram os arraiais de Anta e Ouro Fino; mais para o Nor-
não havia senão outras 187 fazendas de criação”. (BERTRAN, 1988, te, Santa Rita, Guarinos e Água Quente. Na porção Sudeste, Nossa
p.43). Senhora do Rosário da Meia Ponte (atual Pirenópolis) e Santa Cruz.
A existência de uma pecuária incipiente favoreceu o desenvol- Outras povoações surgidas na primeira metade do século XVIII fo-
vimento de vários curtumes nos distritos. Conforme Bertran (1988) ram: Jaraguá, Corumbá e o Arraial dos Couros (atual Formosa), na
chegou a existir em Goiás 300 curtumes, no final do século XIX. Por rota de ligações de Santana e Pirenópolis a Minas Gerais.
outro lado, apesar do escasseamento das minas e a ruralização da Ao longo dos caminhos que demandavam a Bahia, mais ao
população, a mineração exercida de modo precário nunca deixou Norte, na bacia do Tocantins, localizaram-se diversos núcleos popu-
de existir, o que constituiu em mais um obstáculo para a implanta- lacionais, como São José do Tocantins (Niquelândia), Traíras, Cacho-
ção da agropecuária. Outra dificuldade foi a falta de mão de obra eira, Flores, São Félix, Arraias (TO), Natividade (TO), Chapada (TO) e
para a agropecuária, visto que grande parte da população se des- Muquém. Na década de 1740 a porção mais povoada de Goiás era
locou para outras localidades do país, onde poderiam ter outras o Sul, mas a expansão rumo ao norte prosseguia com a implantação
oportunidades. Isto tudo não permitiu o avanço da agricultura nem dos arraiais do Carmo (TO), Conceição (TO), São Domingos, São José
uma melhor expansão da pecuária, que poderia ter alcançado ní- do Duro (TO), Amaro Leite, Cavalcante, Vila de Palma (T O), hoje
veis mais elevados. Paranã, e Pilar de Goiás e Porto Real (TO), atual Porto Nacional, a
Do ponto de vista cultural ocorre uma “aculturação” da popu- povoação mais setentrional de Goiás.
lação remanescente ruralizada. Segundo Palacin:
“Os viajantes europeus do século XIX aludem a uma regressão
sócio cultural, onde os brancos assimilaram os costumes dos sel-
vagens, habitam choupanas, não usam o sal, não vestem roupas,
não circula moeda... Tão grande era a pobreza das populações que
se duvidou ter havido um período anterior com outras característi-
cas”. (PALACÍN, 1975, p.46).

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REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS

O sistema de datas culas, que ficavam depositadas no leito de rios e córregos ou no


Era através do sistema de datas que se organizava a exploração sopé das montanhas, geralmente. Sua extração era rápida e logo as
do ouro, conforme o ordenamento jurídico da época. Assim que um jazidas se esgotavam forçando os mineiros a se mudarem em busca
veio de ouro era descoberto em uma região mineradora, imediata- de novas áreas para mineração. A produção de ouro em Goiás foi
mente, o Superintendente das Minas ordenava que a região fosse maior que a de Mato Grosso, porém muito menor que em Minas
medida e dividida em lotes para poder ter início o processo de mi- Gerais. O declínio da produção foi rápido.
neração. Cada lote tinha a medida de 30 x 30 braças (uma braça tem O pico de foi em 1753, mas 50 a nos depois a produção já era
2,20m), ou seja, aproximadamente 66 x 66m. Estes lotes recebiam insignificante. Luís Palacín afirma que esses são os dados oficiais
a denominação de datas e, cada data, por sua vez, era equivalente disponíveis, porém, o volume de ouro extraído deve ter sido muito
a uma lavra de mineração. maior. De acordo com esse historiador, a maior parte do ouro re-
As datas se distribuíam da seguinte forma: tirada era sonegada para fugir dos pesados impostos e, portanto,
- O minerador responsável pelo achado escolhia a primeira não sabemos ao certo quanto ouro foi retirado de fato das terras
data para si. Um funcionário da Real Fazenda (o ministério respon- goianas.
sável pela mineração na época) escolhia a segunda data para o rei.
O responsável pelo achado tinha o direito de escolher mais uma. Declínio da Mineração
- O rei não tinha interesse em explorar diretamente a sua data A partir da segunda metade do século XVIII, Portugal começou
e ordenava que ela fosse leiloada entre os mineradores interessa- a entrar em fase de decadência progressiva, que coincidiu com o
dos em explorá-la. Quem pagasse mais ficaria com ela. O dinhei- decréscimo da produtividade e do volume médio da produção das
ro do leilão era enviado a Portugal, como renda pessoal do rei. As minas do Brasil. Então desde 1778, a produção bruta das minas de
demais datas eram distribuídas por sorteio aos mineradores que Goiás começou a declinar progressivamente, em consequência da
possuíssem um mínimo de doze escravos para poder explorá-las. escassez dos metais das minas conhecidas, da ausência de novas
Cada minerador tinha direito a uma data por vez. Repare que a ati- descobertas e do decréscimo progressivo do rendimento por escra-
vidade mineradora era extremamente intensiva em utilização de vo. O último grande achado mineratório em Goiás deu-se na cidade
mão-de-obra. Doze homens trabalhavam junto em um espaço de de Anicuns, em 1809, no sul da capitania.
apenas uma lavra.
A atividade agropecuária nas regiões mineradoras
O início da mobilidade social Assim que foram descobertas grandes jazidas de ouro no Bra-
Diferentemente da economia canavieira (cana-de-açúcar) que
sil logo se organizou uma hierarquia da produção: os territórios de
tinha uma sociedade estamental (no estado em que você nasceu
minas deveriam dedicar-se exclusivamente – ou quase exclusiva-
permanece), a sociedade mineradora não era estática. Havia a pos-
mente – à produção de ouro, sem desviar esforços na produção de
sibilidade, mesmo que pequena, de mudança de classe social. Foi o
outros bens, que poderiam ser importados. Isso era resquício da
início da mobilidade social no Brasil.
mentalidade Mercantilista, em voga na época, que, durante muito
Existiam dois tipos de mineradores, o grande, era o minerador
tempo, identificou a riqueza com a posse dos metais preciosos. Os
de lavra, e o pequeno, o de faiscamento. O minerador de lavra era
alimentos e todas as outras coisas necessárias para a vida vinham
aquele, dono de pelo menos 12 escravos, que participava do sorteio
das capitanias da costa. As minas eram assim, uma espécie de colô-
das datas e tinha o direito de explorar os veios de ouro em primeiro
lugar. Quando uma lavra começava a demonstrar esgotamento e a nia dentro da colônia, no dizer do historiador Luís Palacín. Isso nos
produtividade caía geralmente ela era abando ada e, a partir deste explica o pouco desenvolvimento da lavoura e da pecuária em Goi-
momento, o faiscador poderia ficar com o que sobrou dela. ás, durante os cinquenta primeiros anos. Tal sistema não se devia
O faiscador era o minerador com pequena quantidade de es- exclusivamente aos desejos e à política dos dirigentes; era também
cravos, insuficientes para participar dos sorteios, ou mesmo o tra- decorrente da mentalidade do povo.
balhador individual, que só tinha a sua bateia para tentar a sorte
nas lavras abandonadas. Alguns conseguiram ir juntando ouro su- O Final da Mineração e Tentativa de navegação no Araguaia
ficiente para adquirir mais escravos e, posteriormente, passaram a e Tocantins
ser grandes mineradores. Alguns até fizeram fortuna. A partir de 1775, com a mineração em franco declínio, o Pri-
Existem registro de alguns proprietários de escravos que os meiro Ministro de Portugal, Sebastião de Carvalho e Melo, Marquês
deixavam faiscar nos seus poucos momentos de descanso e alguns de Pombal, toma diversas medidas para diversificar a economia no
até conseguiram comprar a sua carta de alforria, documento que Brasil, sendo que várias delas vão afetar diretamente a capitania
garantia a liberdade ao escravo. Tropeiros que abasteciam as regi- de Goiás. A primeira, como tentativa de estimular a produção, foi
ões mineradoras também conseguiram enriquecer. Tome cuidado, isentar de impostos por um período de 10 anos os lavradores que
porém, com uma coisa. A mobilidade social era pequena, não foi fundassem estabelecimentos agrícolas às margens dos rios. Dentre
suficiente para desenvolver uma classe média. os produtos beneficiados estavam o algodão, a cana-de-açúcar e o
Classe social pressupõe uma grande quantidade de pessoas, gado. A segunda medida foi a criação, em 1775 da Companhia de
e o número daquelas que conseguiam ascender não era suficiente Comércio do Grão Pará e Maranhão, para explorar a navegação e o
para isso. Só se pode falar em classe média no Brasil, a partir da comércio nos rios amazônicos, incluindo os rios Araguaia e Tocan-
industrialização. tins. O Marquês de Pombal também ordenou a criação dos chama-
dos aldeamentos indígenas. Todas essas medidas fracassaram.
Povoamento irregular
O povoamento determinado pela mineração do ouro é um Novas tentativas de reativação da Economia
povoamento muito irregular e mais instável; sem nenhum plane- Na primeira metade dos éculos XIX, era desolador o estado da
jamento, sem nenhuma ordem. Onde aparece ouro, ali surge uma capitania de Goiás. Co m a decadência a população não só diminuiu
povoação; quando o ouro se esgota, os mineiros mudam-se para como se dispersou pelos sertões, os arraiais desapareciam ou se
outro lugar e a povoação definha e desaparece, isso porque o ouro arruinavam e a agropecuária estava circunscrita à produção de sub-
encontrado em Goiás era o ouro de aluvião, em pequenas partí- sistência. Como medidas salvadoras, o príncipe regente D. João VI,

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assim que chegou ao Brasil, em 1808, passou a incentivar a agricul- netração: a do Nordeste, representada por criadores e rebanhos
tura, a pecuária, o comércio e a navegação dos rios. Várias medidas nordestinos, que pelo São Francisco se espalharam pelo Oeste da
foram anunciadas, mas a maioria nunca saiu do papel: Bahia, penetrando nas zonas adjacentes de Goiás. O Arraial dos
1) Foi concedida a isenção de impostos pelo período de 10 Couros (Formosa) foi o grande centro dessa via.
anos aos lavradores que, nas margens dos rios Tocantins, Araguaia A de São Paulo e Minas Gerais, que através dos antigos cami-
e Maranhão fundassem estabelecimentos agrícolas. nhos da mineração, penetrou no território goiano, estabilizando-
2) Ênfase à catequese do índio para aculturá-lo e aproveitá-lo -se no Sudoeste da capitania. Assim, extensas áreas do território
como mão-de-obra na agricultura. goiano foram ocupadas em função da pecuária, dela derivando a
3) Criação de presídios às margens dos rios, com os seguintes expansão do povoamento e o surgimento de cidades como Itaberaí,
objetivos: proteger o comércio, auxiliar a navegação e aproveitar o inicialmente uma fazenda de criação, e Anápolis, local de passagem
trabalho dos nativos para o cultivo da terra. Presídios eram colônias de muitos fazendeiros de gado que iam em demanda à região das
militares de povoamento, defesa e especialização agrícola. Em Goi- minas e que, impressionados com seus campos, aí se instalaram.
ás, os mais importantes foram Santa Maria (atual Araguacema-TO),
Jurupense, Leopoldina (atual Aruanã-GO), São José dos Martírios. A pecuária
Na verdade, deram poucos resultados, por causa do isolamento e Está se desenvolve melhor no Sul devido ao povoamento oriun-
da inaptidão dos soldados no cultivo da terra. A maioria desses pre- do da pecuária, entretanto, apresentou numerosos problemas. Não
sídios desapareceu com o tempo.
foi, por exemplo, um povoamento uniforme: caracterizou-se pela
4) D. João VI, atendendo a uma antiga demanda de vários ca-
má distribuição e pela heterogeneidade do seu crescimento. Pros-
pitães-generais (governadores) de Goiás que reclamavam do ta-
perou mais no Sul, que ficava mais perto do mercado consumidor
manho gigantesco da área geográfica de Goiás, dividiu o território
do Sudeste e do litoral. Enquanto algumas áreas permaneceram es-
goiano em duas comarcas: a do sul, compreendendo o s julgados
de Goiás (cabeça ou sede), de Meia Ponte, de Santa Cruz, de Santa tacionárias – principalmente no Norte, outras decaíram (os antigos
Luzia, de Pilar, de Crixás e de Desemboque; a do norte ou Comarca centros mineradores), e outras ainda, localizadas principalmente na
de São João das Duas Barras, compreendendo os julgados de V ila região Centro-Sul, surgiram e se desenvolveram, em decorrência
de São João da Palma (cabeça ou sede), de Conceição, de Nativida- sobretudo do surto migratório de paulistas, mineiros e nordestinos.
de, de Porto Imperial, de São Félix, de Cavalcante e de Traíras. Foi Durante o século XIX a população de Goiás aumentou continua-
nessa época que surgiram através da navegação: Araguacema, To- mente, não só pelo crescimento vegetativo, como pelas migrações
cantinópolis, Pedro Afonso, Araguatins e Tocantínia e pela expansão dos Estados vizinhos.
da criação de gado, Lizarda. Os índios diminuíram quantitativamente e a contribuição es-
trangeira foi inexistente. A pecuária tornou-se o setor mais im-
A divisão de Goiás em duas comarcas portante da economia. O incremento da pecuária trouxe como
Esta foi a semente que deu origem ao atual estado do Tocan- consequência o crescimento da população. Correntes migratórias
tins, pois ficou determinado que a divisa das duas comarcas fosse chegavam em Goiás oriundas do Pará, do Maranhão, da Bahia e de
mais ou menos à altura do paralelo 13º., atual fronteira entre os Minas, povoando os inóspitos sertões Povoações surgidas no pe-
dois estados. Outro fato importante foi a nomeação de Joaquim Te- ríodo: no Sul de Goiás: arraial do Bonfim (Silvânia), à margem do
otônio Segurado como Ouvidor da Co marca do Norte, que acabou rio Vermelho, fundado por mineradores que haviam abandonado
liderando o primeiro movimento separatista. O avanço da Pecuária as minas de Santa Luzia, em fase de esgotamento. Campo Alegre,
Com a decadência da mineração a pecuária tornou -se uma opção originada de um pouso de tropeiros; primitivamente, chamou-
natural, por vários motivos: -se Arraial do Calaça. Ipameri, fundada por criadores e lavradores
1) O isolamento provocado pela falta de estradas e da precária procedentes de Minas Gerais. Santo Antônio do Morro do Chapéu
navegação impediam o desenvolvimento de uma agricultura co- (Monte Alegre de Goiás), na zona Centro-Oriental, na rota do sertão
mercial. baiano. Posse, surgida no início do século XIX, em consequência da
2) O gado não necessita de estradas, auto locomove-se por tri- fixação de criadores de gado de origem nordestina.
lhas e campos até o local de comercialização e/ou abate.
3) Existência de pastagem natural abundante. Especialmente O movimento separatista do norte de Goiás (1821-1823)
nos chamados cerrados de campo limpo.
Em 1821, houve a primeira tentativa oficial de criação do que
4) O investimento era pequeno e o rebanho se se multiplica
hoje é o estado do Tocantins. O movimento iniciou-se na cidade de
naturalmente.
Cavalcante. O mais proeminente líder do movimento separatista foi
5) Não necessita de uso de mão-de-obra intensiva, como na
o ouvidor Joaquim Teotônio Segurado, que já manifestara preocu-
mineração. Aliás, dispensa mão-de-obra escrava.
6) Não era preciso pagar salário aos vaqueiros, que eram ho- pação com o desenvolvimento do norte goiano antes mesmo de se
mens livres e que trabalhavam por produtividade. Recebiam um instalar na região. Teotônio Segurado, entre 1804 e 1809, fora ou-
percentual dos bezerros que nasciam nas fazendas (regime de vidor de toda a Capitania de Goiás e, quando em 1809, o território
sorte). Um novo tipo de povoamento se estabeleceu a partir do fi- goiano foi dividido em duas comarcas, por D. João VI, ele tornou-se
nal do século XVIII, sobretudo no Sul da capitania, onde campos ouvidor da comarca do norte. Teotônio declarou a Comarca do Nor-
de pastagens naturais se transformaram em centros de criatório. te (o que corresponde ao atual estado do Tocantins) independente
A necessidade de tomar dos silvícolas (índios) áreas sob seu domí- da comarca do sul (atual estado de Goiás). É importante destacar
nio, que estrangulavam a marcha do povoamento rumo às porções que Teotônio Segurado não era propriamente um defensor da
setentrionais (norte), propiciou também a expansão da ocupação causa da independência brasileira, diferenciando-se, portanto, do
neste período. “grupo de radicais”, liderados pelo Padre Luíz Bartolomeu Marques,
A ocupação de Goiás, quando no Sul e no Norte de Goiás, no originário de Vila Boa. O ouvidor defendia a manutenção do vínculo
início do século XIX, a mineração era de pequena monta, fazendo com as Cortes de Lisboa, sendo inclusive, eleito representante goia-
surgir um novo surto econômico e de povoamento representado no para aquela assembleia, cuja função seria elaborar uma Consti-
pela pecuária, estabelecida através de duas grandes vias de pe- tuição comum para todos os territórios ligados à Coroa Portuguesa.

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REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS

Estrada de ferro dinamiza povoamento de Goiás A modernização


A construção da Estrada de Ferro foi o primeiro dinamismo na A partir de 1940, Goiás cresce rapidamente: a construção de
urbanização de Goiás. Em 1896 a Estrada de Ferro Mogiana chegou Goiânia, o desbravamento do mato grosso goiano, a campanha na-
até Araguari (MG). Em 1909, os trilhos da Paulista atingiram Bar- cional “marcha para o oeste”, que culmina na década de 50 com a
retos (SP). Em 1913 Goiás foi ligado à Minas Gerais pela E.F. Goiás construção de Brasília, imprimem um ritmo acelerado ao progresso
e pela Rede Mineira de Viação. Inaugurava -se uma nova etapa na de Goiás. A partir da década de 1960, o estado passa a apresentar
ocupação do Estado. um processo dinâmico de desenvolvimento. Nos anos mais recen-
O expressivo papel das ferrovias na intensificação do povoa- tes, Goiás passa a ser um grande exportador de commodities agro-
mento goiano ligou-se a duas ordens principais de fato res: de um pecuárias, destacando-se pelo rápido processo de industrialização.
lado, facilitou o acesso dos produtos goianos aos mercados do li- Hoje, está bastante inserido no comércio nacional, aprofundando
toral; de outro, possibilitou a ocupação de vastas áreas da região e diversificando, a cada dia, suas relações com os grandes centros
meridional de Goiás, correspondendo à efetiva ocupação agrícola comerciais.
de parte do território goiano. O processo de modernização agrícola na década de 1970 e o
Entre 1888 e 1930, o adensamento e a expansão do povoa- posterior desenvolvimento do setor agroindustrial na década de
mento nas porções meridionais de Goiás ( Sudeste, Sul e Sudoes- 1980 representaram uma nova página para o desenvolvimento do
te) evidenciaram- se através da formação de diversos povoados, estado de Goiás. A expansão desses setores ampliou as exportações
como: Santana das Antas (Anápolis), Rio Verde das Abóboras (Rio e os elos da cadeia industrial goiana.
Verde), São Sebastião do Alemão (Palmeiras), Nazário, Catingueiro Apesar da suposta “vocação natural” do estado para agricul-
Grande (Itauçu), Inhumas, Cerrado (Nerópolis), Ribeirão (Guapó), tura, o papel interventor do setor público, tanto federal, como es-
Santo Antônio das Grimpas (Hidrolândia), Pindaibinha (Leopoldo de tadual, foi vital para o processo de modernização da agricultura e
Bulhões), Vianópolis, Gameleira (Cristianópolis), Urutaí, Goiandira, desenvolvimento do setor agroindustrial. Os trabalhos de Estevam
Ouvidor, Cumari, Nova Aurora, Boa Vista de Marzagão (Marzagão), (2004), Pires e Ramos (2009), e Castro e Fonseca (1995) mostram
Cachoeira Alta, São Sebastião das Bananeiras (Goiatuba), Serania com detalhes como o setor público foi essencial para a estruturação
(Mairipotaba), Água Fria (Caçu), Cachoeira da Fumaça (Cachoeira dessas atividades no território goiano. As culturas priorizadas fo-
de Goiás), Santa Rita de Goiás, Bom Jardim (Bom Jardim de Goiás) ram, principalmente, a soja, o milho e, mais recentemente, a cana-
e Baliza. -de-açúcar. Essas culturas foram selecionadas devido ao seu maior
Dez novos municípios surgiram então: Planaltina, Orizona, Bela potencial exportador e maior encadeamento com a indústria.
Vista, Corumbaíba, Itumbiara, Mineiros, Anicuns, Trindade, Cristali- Em meio a essas transformações, em 1988, o norte do estado
na, Pires do Rio, Caldas Novas e Buriti Alegre. foi desmembrado, dando origem ao estado do Tocantins.
A partir da década de 1990 houve maior diversificação do setor
Economia industrial por meio do crescimento de
Chegada da Ferrovia Goiás atividades do setor de fabricação de produtos químicos, farma-
1913 – Goiandira, Ipameri e Catalão cêuticos, veículos automotores e produção de etanol. Um fator res-
1924 – Vianópolis 1930 – Silvânia ponsável pela atração desse capital foram os programas de incen-
1931 – Leopoldo de Bulhões tivos fiscais estaduais implementados a partir da década de 1980.
1935 – Anápolis - Aumento da atividade agrícola (arroz, milho e O dinamismo econômico provocado por todos esses processos
feijão) - Charqueadas (Catalão, Ipameri e Pires do Rio) ocasionou também a redistribuição da população no território, por
Movimentos de Contestação ao coronelismo meio de um intenso êxodo rural. As novas formas de produção ado-
- 1919 – Revolta em São José do Duro (Cel. Abílio Wolney) tadas, intensivas em capital foram as principais responsáveis pela
- 1925 – Benedita Cypriana Gomes (Santa Dica) mudança da população do campo para a cidade. As cidades que re-
- 1924-27 - Coluna Prestes (Tenentismo) ceberam a maior parte desses migrantes do campo foram a capital,
Goiânia, as cidades da região do Entorno de Brasília - como Luziânia
Imigração Árabes: sírios e libaneses (dispersaram pelo estado e Formosa -, e as cidades próximas às regiões que desenvolveram o
de Goiás – Goiânia, Anápolis, Catalão, dentre outras cidades) agronegócio como Rio Verde, Jataí, Cristalina e Catalão.
Alemães (Colônia de Uvá – Cidade de Goiás) Goiás tornou-se também um local de alto fluxo migratório nas
Italianos (Nova Veneza) últimas décadas, tornando-se recentemente um dos estados com
maior fluxo migratório líquido do país. As principais razões para
As Colônias Agrícolas esse alto fluxo migratório são a localização estratégica, que inter-
A par do estímulo à fundação de Goiânia, centro dinamizador liga praticamente todo o país por eixos rodoviários, o dinamismo
da região, o Governo Federal prosseguiu a sua política de interiori- econômico e também a proximidade com a capital federal - Brasília.
zação através da fundação de várias colônias agrícolas espalhadas Os indicadores que medem as condições de vida da popula-
pelas áreas mais frágeis do País. Em Goiás, esta política foi concreti- ção apresentaram desempenho positivo nas últimas duas décadas.
zada na criação da Colônia Agrícola Nacional de Goiás e na ação da Houve queda expressiva do número de pobres e extremamente
Fundação Brasil Central. Estes empreendimentos deram um novo pobres. Os indicadores de esperança de vida, mortalidade infantil,
impulso na expansão rumo ao Oeste. A cidade de Ceres e Carmo saúde, educação apresentaram melhorias significativas. Dentre os
do Rio indicadores analisados, o único que não tem evolução desejável é o
de acesso à rede de esgoto sanitário.
A estratégia de desenvolvimento adotada pelo estado de Goiás
ao longo das últimas décadas foi baseada, fundamentalmente, no
estímulo à atração de empreendimentos industriais, concentrando-
-se esforços, basicamente, na dotação de infraestrutura física re-
querida pelas plantas industriais e na oferta de reduções tributárias
por meio dos incentivos fiscais.

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REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS
Essa estratégia parece ter propiciado a alavancagem do cresci- Goiânia e seus municípios conurbados – Conurbação é o nome
mento econômico de Goiás com melhoria de alguns indicadores so- que se dá para o crescimento de duas ou mais cidades vizinhas, que
ciais. Contudo, o desafio ainda é proporcionar um desenvolvimento acabam por formar um único aglomerado urbano. Em geral, numa
mais homogêneo do território bem como da sua distribuição fun- conurbação existe uma cidade principal e uma (ou mais de uma)
cional da renda. Exemplo disso é que o PIB de Goiás permanece cidade-satélite. Goiânia é a maior Metrópole Regional do Centro
concentrado em apenas dez municípios do estado, todos localiza- Oeste do Brasil.Metrópoles regionais são grandes cidades, porém
dos na Metade Sul do território. menores e menos equipadas que as metrópoles nacionais.
Ademais, grandes obras de infraestrutura que estão em anda-
mento no estado como a Ferrovia Norte-Sul, o aeroporto de cargas
de Anápolis e duplicação de rodovias, tanto estaduais como fede- POPULAÇÃO GOIANA: POVOAMENTO, MOVIMENTOS MI-
rais, devem dar novo fôlego para o seu desenvolvimento. GRATÓRIOS E DENSIDADE DEMOGRÁFICA

Início do povoamento
O início do povoamento em 1726, D. Rodrigo César de Mene-
zes, governador da Capitania de São Vicente, manda o Anhanguera
Filho de volta a Goiás, com o título de Superintendente das Minas,
para iniciar o povoamento, quando foi fundado o Arraial de Santa-
na. Logo depois surgiriam novas povoações no entorno como Anta,
Ferreiro e Ouro Fino.
Em 1739, o Arraial de Santana foi elevado à condição de Vila.
Vila Boa de Goiás. A partir de mo mento em que um arraial atingia o
status d e vila, passava a ter autonomia e o direito a uma espécie de
prefeito, o Intendente, um Senado da Câmara, formado por verea-
dores, escolhidos entre o s “homens bons” da vila. Ser um “homem
bom” era sinônimo de ser rico, católico e branco. A vila também
tinha direito a ter um juiz e a um pelourinho, local onde se adminis-
trava a justiça. O pelourinho tinha, necessariamente, uma cadeia,
uma forca, para executar as penas de morte, muito comuns à época
e um tronco, onde os escravos eram castigados. Goiás permaneceu
ligado à Capitania de São Vicente até 1749, embora, por alvará de
08 de novembro de 1744, de D. Luís de Mascarenhas, governador
da capitania de São Vicente tivesse sido oficializada a separação de
Goiás e de Mato Grosso daquela capitania. Porém, o primeiro go-
vernador de Goiás, D. Marcos de Noronha, o Conde dos Arcos, só
chegou a Goiás em 1749 e, portanto, somente aí Goiás passou a ser,
de fato, uma Capitania independente.

Uma Tendência da Urbanização no Brasil Migrações externas


Goiás, nas últimas décadas do século passado e primeiros anos O Brasil foi um país de imigrantes. Primeiramente foi ocupa-
deste século, passou a acompanhar a tendência de crescimento po- do pelos portugueses, que, por sua vez, trouxeram para a colônia
pulacional e econômico das médias cidades, sendo hoje um Estado os africanos escravizados (imigração forçada). Entre 1850 e 1934,
que atrai imigrantes. Assim, depois de uma urbanização explosiva, ocorreu a maior entrada de imigrantes no país, os quais vieram es-
que concentrou população nas grandes metrópoles – principalmen- pontaneamente da Europa, no auge da agricultura cafeeira no Bra-
te do Sudeste – ao longo dos anos 70 e 80, o Brasil está passando sil. Os principais grupos que entraram no Brasil, em toda a história
por mudanças na distribuição de sua população. A marca desta dé- da imigração espontânea, foram os portugueses, os italianos, os
cada é interiorização do crescimento e a formação de novas aglo- espanhóis, os alemães e os japoneses. Nesse período, o governo
merações urbanas. Essas são algumas das principais conclusões do paulista chegou a estimular o processo imigratório, inclusive com
mais aprofundado estudo sobre o tema realizado no país nos últi- ajuda financeira (subvenção).
mos anos e que está em fase de conclusão, sendo realizado pelo Além dos imigrantes constituírem mão de obra para a lavoura
IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), com apoio do IBGE cafeeira, após a proibição do tráfico de escravizados em 1850 (lei
e da Unicamp, além de outras instituições, como o Seade (Serviço Eusébio de Queirós), vários grupos, principalmente alemães e italia-
Estadual de Análise de Dados de São Paulo). nos, foram utilizados para a colonização da atual Região Sul do país.
Com a abolição da escravatura (1888), o número de imigrantes mul-
Problemas da Urbanização Desenfreada em Goiás tiplicou-se e se manteve elevado até as primeiras décadas do século
Na área do entorno do Distrito Federal temos a problemática XX. A partir de 1934, foi estabelecida a Lei de Cotas, que restringia a
da definição de administração nos municípios que a compõem.A entrada de estrangeiros, com exceção dos portugueses. O declínio
população destes municípios trabalha no Distrito Federal, mas mo- da economia cafeeira, decorrente da crise mundial de 1929, afetou
ram em Goiás, o que gera uma grave falta de infraestrutura nestes o crescimento econômico do Brasil. A nova lei foi justificada como
municípios. uma forma de evitar que o índice de desemprego aumentasse ainda
mais, provocando instabilidade social.

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POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS

A lei de Cotas estabelecia que apenas 2% do total de imigran- Os fatores que influenciam as mudanças nos fluxos migrató-
tes de cada nacionalidade, que haviam entrado nos cinquenta anos rios
anteriores à promulgação da lei, podiam fixar residência no país. Entre os principais fatores que explicam a mudança nos fluxos
Embora numa proporção bem menor, o Brasil continuou receben- migratórios internos estão:
do imigrantes. A partir da década de 1940, a imigração para o país – O desenvolvimento econômico em outras regiões: a partir
esteve muito ligada à conjuntura da Segunda Guerra Mundial. Os dos anos 1960, começou a ocupação maciça das regiões Centro-O-
principais grupos de imigrantes à época foram judeus, poloneses, este e Norte. A primeira teve como fator de atração a inauguração
japoneses e chineses, além de italianos, alemães e pessoas de ou- de Brasília e, posteriormente, o avanço do agronegócio. Já a região
tros países europeus. Norte passou a atrair migrantes a partir da abertura de estradas
como a Belém-Brasília e da criação da Zona Franca de Manaus.
Nova onda migratória: outros contextos – A desconcentração industrial: a partir dos anos 1990, as po-
Na década de 1970, o Brasil recebeu muitos imigrantes de An- líticas de isenção de impostos e doação de terrenos feitas por esta-
gola e Moçambique. Tendo perdido privilégios com a descoloniza- dos e municípios acabaram atraindo as empresas para diferentes
ção desses países, vieram para o Brasil diversos descendentes de regiões. Consequentemente, a ampliação da oferta de emprego
portugueses que lá viviam. A partir do final do século XX, sobretudo nesses locais impulsionou o recebimento de migrantes.
nos anos 1990, o país passou a receber maior quantidade de imi- – O avanço da urbanização: nas últimas décadas, a urbaniza-
grantes peruanos, bolivianos, paraguaios, argentinos, coreanos e ção avançou pelo Brasil, o que proporcionou a melhoria na infraes-
chineses. Muitos desses imigrantes estão em situação ilegal. Com trutura de transportes, de telecomunicações e de energia elétrica,
vistos vencidos e vivendo na clandestinidade, não podem trabalhar favorecendo a geração de empregos em locais até então menos de-
com carteira assinada, adquirir casa própria ou montar seu próprio senvolvidos. Como a principal motivação para a migração é a busca
negócio. por melhores condições de vida e de trabalho, à medida que ocorre
Na cidade de São Paulo e em outras cidades do interior paulis- uma distribuição mais equilibrada das ofertas de trabalho, a busca
ta, por exemplo, parte desses imigrantes trabalha em confecções por outros lugares para morar tende a cair.
que funcionam ilegalmente. Nelas, submetem-se a regimes de
semiescravidão, com jornada diária de até 17 horas e rendimen- Os novos fluxos migratórios
to inferior ao do salário mínimo estabelecido no país. Apesar dos Entre 1995 e 2000, 3,4 milhões de pessoas trocaram a região
abusos sofridos, esses imigrantes evitam denunciar a situação para onde nasceram por outra. Já entre 2005 e 2010, esse número bai-
as autoridades brasileiras por terem entrado clandestinamente no xou para 3 milhões. Assim, a migração entre regiões perde força
país, o que resultaria na deportação para seu país de origem. Em frente a outros fluxos, como:
meados de 2009, o governo federal aprovou uma lei anistiando to- – Migração intrarregional: ocorre entre municípios de um
dos os imigrantes que entraram irregularmente no Brasil até 1o de mesmo estado ou ainda entre estados de uma mesma região, so-
fevereiro de 2009. Desse modo, aproximadamente 50 mil estran- bretudo em direção a cidades de médio porte. Esse processo é im-
geiros ilegais passaram a contar com a possibilidade de regularizar pulsionado, muitas vezes, por Indústrias que migram para cidades
sua permanência e obter vínculos empregatícios de acordo com a menores. A migração entre os estados movimentou 4,6 milhões de
legislação trabalhista vigente ou ainda denunciar eventuais abusos pessoas entre 2005 e 2010.
cometidos por aliciadores e empregadores, sem correr o risco de – Migração pendular: neste caso, trata-se de um arranjo popu-
ser deportado. lacional entre dois ou mais municípios onde há grande integração
demográfica. A migração pendular ocorre quando as pessoas estu-
Movimentos atuais dam ou trabalham em um município diferente de onde mora, sendo
Atualmente, as atividades econômicas tornaram-se mais diver- obrigado a se deslocar diariamente para cumprir essas obrigações.
sificadas em todas as regiões. Além disso, a “guerra fiscal” travada – Migração de retorno: é o deslocamento de pessoas para sua
entre os estados, que lançam mão de isenções de impostos para região de origem, após ter migrado. É o que ocorreu na região Nor-
atrair empresas, leva a uma relativa desconcentração industrial. deste a partir dos anos 1980, com a melhora da economia local. Na
Esse processo tem alterado a dinâmica do fluxo populacional, ca- Região Metropolitana de São Paulo, 60% dos que deixaram a região
racterizado pelo crescimento das cidades médias em um ritmo su- entre 2000 e 2010, eram migrantes de retorno.
perior ao das metrópoles, particularmente do Sudeste. O Censo de
2010 apontou uma redução no volume total de migrantes, que caiu Demografia
de 3,3 milhões de pessoas no quinquênio 1995-2000 para 2 milhões A verdadeira evolução de Goiás e de sua história tem como
no quinquênio 2004-2009. O Sudeste apresentou saldo líquido mi- ponto de partida o final do século XVII, com a descoberta das suas
gratório negativo, apesar de São Paulo, Espírito Santo e Rio de Ja- primeiras minas de ouro, e início do século XVIII. Esta época, inicia-
neiro apresentarem saldo positivo. Outras regiões passaram a atrair da com a chegada dos bandeirantes, vindos de São Paulo em 1727,
população, e muitos migrantes residentes no Sudeste retornaram à foi marcada pela colonização de algumas regiões.
sua região de origem. Goiás pertenceu até 1749 à capitania de São Paulo. A partir
O Centro-Oeste, em razão do crescimento das cidades médias desta data tornou-se capitania independente. Ao se evidenciar a
e do desenvolvimento agropecuário e do setor de serviços, havia decadência do ouro, várias medidas administrativas foram tomadas
apresentado o mais expressivo saldo migratório líquido positivo. por parte do governo, sem alcançar, no entanto, resultados satisfa-
tórios.
A economia do ouro, sinônimo de lucro fácil, não encontrou,
de imediato, um produto que a substituísse em nível de vantagem
econômica. A decadência do ouro afetou a sociedade goiana, so-
bretudo na forma de ruralização e regressão a uma economia de
subsistência.

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POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS
É a partir de 1940, que Goiás cresce rapidamente: a construção de Goiânia, o desbravamento do mato grosso goiano, a campanha
nacional “marcha para o oeste”, que culmina na década de 50 com a construção de Brasília, imprimem um ritmo acelerado ao progresso
de Goiás. A partir da década de 1960, o estado passa a apresentar um processo dinâmico de desenvolvimento. Nos anos mais recentes,
Goiás passa a ser um grande exportador de commodities agropecuárias, destacando-se pelo rápido processo de industrialização. Hoje,
está bastante inserido no comércio nacional, aprofundando e diversificando, a cada dia, suas relações com os grandes centros comerciais.
Goiás tornou-se também um local de alto fluxo migratório nas últimas décadas, tornando-se recentemente um dos estados com maior
fluxo migratório líquido do país. As principais razões para esse alto fluxo migratório são a localização estratégica, que interliga praticamente
todo o país por eixos rodoviários, o dinamismo econômico e também a proximidade com a capital federal - Brasília.
A estrutura demográfica do Estado de Goiás passou por intensa transformação nas últimas décadas. Talvez a mais expressiva tenha
sido o deslocamento da população da zona rural para os espaços urbanos. De um Estado eminentemente agrário, a realidade começa a se
alterar na segunda metade do século XX e se intensifica na década de 1970. Atualmente, Goiás conta com mais de 90% de sua população
vivendo em cidades. Esse fenômeno é resultado direto da mudança na base econômica e de produção pela qual nosso território passou. A
expansão do parque industrial, notadamente o da agroindústria, e o fortalecimento do setor de serviços impulsionaram a economia goiana
atraindo leva de imigrantes de outras Unidades da Federação e desencadeando o êxodo rural.

Goiás está no ranking dos Estados brasileiros por residentes não naturais do próprio Estado, Goiás é o sétimo, em termo relativo, e o
quarto, em número absoluto. Não há como negar, portanto, o poder de atração do território goiano cada vez mais dotado de infraestrutu-
ras e equipamentos que agregam vantagens para o dinamismo da economia e para a melhoria da qualidade de vida de sua população, seja
nativo ou imigrante. Derivado das alterações na composição populacional e atrelada às questões culturais, a estrutura etária dos goianos
sofre forte modificação. Se em 1970 as crianças perfaziam mais de 45% da população total, em 2010 essa participação cai para 24%. Nas
projeções para 2020 e 2030 segue a tendência de queda do percentual das crianças e o aumento dos idosos. Persistindo nessa direção,
não tardará para que o número de pessoas com mais de 64 anos supere o total de crianças em Goiás.

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POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS

Com a diminuição da fecundidade - em Goiás a média de filhos por mulher em idade fértil caiu de 4,46 em 1970, para 1,86 em 2010,
cifra esta inferior à taxa de reposição (2,1) necessária a manter a população em números estáveis – e a consequente redução da carga
de dependência exercida pelas crianças, somada ao gradativo aumento da população em idade ativa, criam-se condições para o melhor
aproveitamento dos recursos gerados pela parcela produtiva da população. Para tanto, é necessário dimensionar a duração do bônus de-
mográfico, já com a certeza de que a janela de oportunidades começará a se fechar a partir da década de 2030.
Nota-se o quão a razão de dependência – peso da população inativa sobre a ativa – decresceu depois da década de 1970. Percebe-se
que atingirá o menor índice nos anos de 2020, de modo que esse período será o auge das oportunidades do bônus demográfico, e por isso,
é necessário preparar as condições para aproveitá-las. A partir da década de 2030 a razão de dependência crescerá devido ao aumento do
contingente de idosos, exigindo ações para atender às demandas de grupo.

As mudanças na estrutura etária da população goiana exigirão políticas e ações condizentes com a realidade. Para tanto é preciso
saber aproveitar o bônus demográfico, absorvendo a grande mão de obra presente no período, possibilita a geração de mais recursos e
a melhor distribuição de renda na sociedade. Além disso, é necessário se adequar às novas demandas sociais: a redução de crianças e
jovens e a consequente diminuição na exigência de matrículas, especialmente no ensino fundamental, por exemplo, possibilita direcionar
o investimento para a qualidade do ensino e para a qualificação do jovem ingressante no mercado de trabalho, garantindo a ocupação em
áreas que exigem maior especialidade e rendimento. É o momento, portanto, de aumentar a frequência dos jovens no ensino médio e da
expansão dos cursos profissionalizantes, visando subsidiar as perspectivas de instalação de mais empreendimentos produtivos em Goiás.
A ascensão na renda domiciliar per capita, pode-se embasar na dinâmica econômica do Estado que tem se mantido em expansão o
que gera impacto positivo na geração de emprego e renda dos trabalhadores, assim contribuindo sobre a renda domiciliar per capita. Não
se pode deixar de mencionar ainda, os programas federal e estadual de transferência de renda que impactaram positivamente a renda das
famílias mais pobres. É digno de destaque, nesse contexto, o aumento do salário mínimo no decorrer desta década. Tendo este cenário
contribuído para a redução nos números referente à pobreza.
Destacam-se ainda em âmbito estadual as ações tomadas pelo Governo como forma de combater a situação de pobreza, sendo uma
delas o Programa Renda Cidadã que repassa mensalmente benefício para 58 mil famílias em todo o Estado, além de programas como o
Bolsa Futuro, que age na área da profissionalização juvenil, a qual pode-se identificar como uma tentativa de reduzir a vulnerabilidade
social entre os jovens.

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POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS
A própria formação histórica econômica e geográfica de Goiás aponta os motivos pelo qual a parte norte do Estado tenha uma situa-
ção de vulnerabilidade maior que o Sul, portanto sugere-se um acompanhamento acurado dessa parte do Estado. No quesito vulnerabili-
dade ressalta-se ainda a região do Entorno do Distrito Federal, por esta composição atípica de um ente federado contido em uma região
do Estado do Goiás, portanto há a necessidade de ações em cooperação entres os entes para a redução da extrema pobreza na região.

Estado de Goiás - Proporção de indivíduos extremamente pobres por município e região de planejamento - 2010

Desafios
- É necessário se adequar às novas demandas sociais: a redução de crianças e jovens e a consequente diminuição na exigência de
matrículas, especialmente no ensino fundamental, por exemplo, possibilita direcionar o investimento para a qualidade do ensino e para a
qualificação do jovem ingressante no mercado de trabalho, garantindo a ocupação em áreas que exigem maior especialidade e rendimen-
to. É o momento, portanto, de aumentar a frequência dos jovens no ensino médio e da expansão dos cursos profissionalizantes, visando
subsidiar as perspectivas de instalação de mais empreendimentos produtivos em Goiás.
- Há que se atentar, nesse contexto, para o aumento da participação da população idosa. Esse grupo, como se viu, ultrapassará o con-
tingente das crianças já depois da década de 2030, exigindo atenções específicas e carecendo de ações públicas voltadas, principalmente,
para a saúde, assistência social e lazer. As políticas devem ser gestadas desde já, aproveitando o momento propício em que o peso dos
inativos é bem suportado pela população ativa.
- Fortalecimento das políticas de redução da desigualdade;
- Uma maior integração entre os sistemas de políticas sociais (Federal e Estadual), como por exemplo, o cruzamento de informações
entre os dados do Bolsa Família (Federal) e do Renda Cidadã (Estadual);
- Aumentar o enfoque das políticas sociais nas regiões mais vulneráveis (principalmente região Norte do Estado).
- Segurar os jovens na escola para que completem pelo menos o Ensino Médio.
- Melhorar a qualidade do ensino para que o jovem saia da escola apto a ingressar no mercado formal de trabalho.
- Geração de emprego para atender os jovens aptos a entrarem no mercado de trabalho.
- Capacitação dos jovens goianos para o mercado de trabalho.
- Tirar os jovens da situação de vulnerabilidade

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POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS

- Diminuir ao máximo para que chegue próximo de zero a taxa de incidência de gravidez precoce.
- Diminuir a proporção de analfabetismo entre crianças para perto de zero
- Diminuir de maneira efetiva o número de crianças fora da escola
- Alcançar a situação ideal de nenhuma criança inserida no mercado de trabalho.

Educação
A área da educação em Goiás avançou consideravelmente nos últimos anos. O estado praticamente universalizou a participação das
crianças no ensino fundamental. Houve consideráveis melhorias nas taxas de rendimento escolar. Derivando disso, Goiás obteve excelen-
tes resultados nas divulgações recentes das notas do IDEB – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica – tanto no ensino fundamental
quanto no ensino médio.
A taxa de analfabetismo das pessoas com 15 anos ou mais em Goiás está situada abaixo da média nacional. Contudo, no analfabetismo
por faixa etária, observa-se o efeito estoque, ou seja, analfabetos de mais longa data. Neste quesito, há necessidade de atenção com os
analfabetos em idades mais avançadas.

Quanto ao ensino superior, o privado merece ser ressaltado já que, nos últimos15 anos, houve uma expansão expressiva. Aliou-se a
isso, no período mais recente, a ampliação da educação superior pública considerando, principalmente: a criação da Universidade Estadual
de Goiás (UEG) em 1999, a criação e novos cursos e vagas pela Universidade Federal de Goiás (UFG), e a criação de Institutos Federais de
Educação (IFE’s).
Ressalta-se que esse processo expansionista, aqui entendido como a ampliação de vagas, cursos e instituições superiores, começa a
partir de meados dos anos de 1990 e foi acompanhado de sua interiorização, fator de consolidação e desenvolvimento de algumas cidades.
Contudo, apesar da expansão do ensino superior, apenas 10% da população possui nível superior, sendo 12% de homens e 8% mulheres
(Pnad Contínua).

IDEB – Anos iniciais do ensino fundamental (Rede pública) [2017] - 5,9


IDEB – Anos finais do ensino fundamental (Rede pública) [2017] - 5,1
Matrículas no ensino fundamental [2018] - 877.593 matrículas
Matrículas no ensino médio [2018] - 233.412 matrículas
Docentes no ensino fundamental [2018] - 42.203 docentes
Docentes no ensino médio [2018] - 15.992 docentes
Número de estabelecimentos de ensino fundamental [2018] - 3.415 escolas
Número de estabelecimentos de ensino médio [2018] - 976 escolas
Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) [2010] - 0,735
Fonte: IBGE

Desafios:
- Um dos fatores que podem contribuir para o bom desempenho do ensino-aprendizagem é formação do docente, seja a qualidade
da formação ou mesmo a atuação na disciplina na qual é formado.
- Observa-se o déficit de docentes atuando de acordo com sua formação. Apenas 40% dos professores do ensino fundamental da rede
estadual de Goiás são formados na disciplina em que ministram aula; no ensino médio esse percentual sobe para 43%. No extremo tem-se
a Região Metropolitana de Goiânia com a melhor condição (53% no ensino fundamental e 56% no ensino médio) e a Região Nordeste
Goiano (26% e 29%, respectivamente).
- Percebe-se a inadequação de professores formados por disciplina. Em melhores situações estão as disciplinas de português e biolo-
gia, na ponta oposta encontram-se as de química e de física. Com isso, sabem-se quais profissionais se priorizar e onde se deve concentrar
esforços para a mudança dessa realidade.
- Outra questão necessária para o salto na área da educação diz respeito às pessoas em idade escolar que estão inseridas na educação
formal. Nesta seara, merece destaque a universalidade do ensino fundamental: das crianças entre 6 e 14 anos de Goiás, apenas 2% não
estão matriculadas numa rede de ensino. Por outro lado, daqueles entre 15 e 18 anos, idade em que se estaria no ensino médio, 24,4%
não frequentam a escola. Em situação mais grave, tem-se os de idade pré-escolar (até 5 anos) em que 67% não estão no sistema educa-
cional e os de 19 a 24 anos, faixa etária em que se estaria cursando o ensino superior, mais de 69% não frequentam qualquer modalidade
de ensino.
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REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS

ECONOMIA GOIANA: INDUSTRIALIZAÇÃO E INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES E COMUNICAÇÃO

Prezado candidato, o tema supracitado foi abordado em tópicos anteriores.

AS REGIÕES GOIANAS E AS DESIGUALDADES REGIONAIS

O estado de Goiás foi dividido em dez regiões para fins de planejamento estratégico governamental:
- A região do Entorno do Distrito Federal
- A região metropolitana de Goiânia
- As regiões Norte Goiano e Nordeste Goiano, delimitadas a partir de características socioeconômicas e espaciais.
As outras seis regiões foram definidas a partir dos principais eixos rodoviários do estado.
O objetivo deste projeto de regionalização foi planejar e gerir investimentos governamentais com o intuito de minimizar os desequi-
líbrios regionais goianos.

De acordo com Salgado, Arrais e Lima (2010, p. 130), a desigualdade regional do território goiano foi provocada pelo modelo de inte-
gração regional à economia nacional. Os grandes projetos nacionais, como a Marcha para o Oeste, amplos projetos expansão rodoviária, a
construção de Goiânia e Brasília, entre outros investimentos em infraestrutura e de modernização agrícola, “atingiram o território goiano
de forma diferenciada e, em pouco tempo, mudaram o perfil de sua economia”.
Na década de 1990, Goiás apresentava importantes desigualdades regionais. Os espaços metropolitanos, compreendidos pela Região
Metropolitana de Goiânia e a região do Entorno do Distrito Federal, apresentavam alta densidade demográfica em relação ao estado,
concentrando a maior parte da população goiana (SALGADO; ARRAIS; LIMA, 2010).

Saúde e Saneamento
Estudos realizados no Brasil mostram que os serviços de atenção primária em saúde podem resolver até 85% das necessidades da po-
pulação, desde que estejam bem estruturados, com profissionais qualificados, infraestrutura adequada, com fluxos definidos e organiza-
dos entre os diferentes níveis de atenção. Através da Estratégia da Saúde da Família busca-se atender essa necessidade. Por essa estratégia
65,3% da população goiana são cobertos.

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REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS

A ampliação da Estratégia Saúde da Família (ESF), programa com foco na atenção básica à saúde, tem contribuído também para o
avanço na área. No período de 2000 a 2014, Goiás tem apresentado uma cobertura de equipes da saúde da família superior à do Brasil e
da região Centro-Oeste. O Estado estendeu essa cobertura estimada de equipes da saúde da família de 25,24% da população em 2010 para
66,91% no final do período analisado.

Desafios:
- Fortalecer e ampliar os serviços de saúde pública para que fiquem mais próximos dos usuários, com foco na qualidade, humanização
e excelência da promoção, prevenção, atenção e recuperação das pessoas.
- Ampliar a estratégia de saúde da família e qualificação dos seus profissionais, em todo o Estado, especialmente nos municípios com
cobertura menor que 50%.
- Prover de profissionais médicos os municípios, onde se fizer necessário, mas com condições de trabalho, incluindo equipe, infraes-
trutura e equipamentos médico-hospitalares básicos.
- Garantir que todos os municípios tenham laboratórios de análises clínicas para fazerem exames complementares básicos essenciais.

A importância do saneamento básico está ligada à implantação de sistemas e modelos públicos que promovam o abastecimento de
água, esgoto sanitário e destinação correta de lixo, com o objetivo de prevenção e controle de doenças, promoção de hábitos higiênicos e
saudáveis, melhorias da limpeza pública básica e, consequentemente, da qualidade de vida da população.
Na última década houve aumento considerável no que diz respeito ao abastecimento de água, praticamente universalizada na área
urbana. Observa-se também melhorias que ocorreram no esgotamento sanitário e coleta de lixo adequados. Apesar do crescimento na
prestação desses serviços, o estado de Goiás está abaixo dos níveis do Centro Oeste e do Brasil. O esgotamento sanitário urbano é ainda
muito precário, sendo que pouco mais da metade da população possui o benefício.
No que se refere à coleta de lixo, este serviço tem maior cobertura, sendo que 99,5% da área urbana goiana possuem coleta adequa-
da, pouco acima do Brasil, 98% e Centro Oeste, 98,8%.

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Desafios:
- O investimento em saneamento resulta em benefícios muito elevados para a população. Assim, ter um saneamento básico adequado
contribui para redução de mortes por doenças infecciosas e parasitais além de aumentar a expectativa de vida da população ao nascer.
- Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) gastar em saneamento básico implica em redução no gasto com a saúde pública na
proporção de um para quatro, ou seja, a cada 1 real investido em saneamento obtém-se redução de 4 reais em saúde.
- O principal desafio de Goiás com relação ao Saneamento é aumentar os baixos índices de esgotamento sanitário de maneira urgente.
É importante também que ocorram melhoras no abastecimento de água e coleta de lixo, principalmente no interior.
- Ampliar os investimentos em saneamento básico a fim de reduzir custos socialmente incalculáveis, como redução da mortalidade
infantil bem como por consequências de mosquitos, como é o caso da dengue a fim de reduzir os gastos públicos em saúde.

Habitação
Segundo estudo do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), no Brasil como um todo houve redução no indicador do déficit
habitacional no período recente. Em 2015, no Centro-Oeste havia um déficit habitacional total de 506.822 mil domicílios, o que representa
8,2% do déficit brasileiro. Entre os estados da região, Goiás tem o maior déficit, pouco mais de 40%.
Em Goiás, com foco no déficit habitacional, o programa do Governo Federal Minha Casa Minha Vida já entregou 219.315 unidades
habitacionais.

Mercado de Trabalho
O fortalecimento do setor industrial e sua maior integração ao setor agropecuário, aliado ao bom momento das políticas macroeconô-
micas que ampliaram o mercado consumidor interno brasileiro, onde Goiás se consolidou como fornecedor de produtos para atender esse
mercado, são fatores que propiciaram ao estado ser um dos principais geradores de empregos formais entre as unidades da Federação. A
partir dos anos 2000, o mercado de trabalho mostrou-se bastante dinâmico e, normalmente, com desempenho acima da média nacional.
Embora o mercado de trabalho goiano tenha tido grandes avanços, muito há de ser feito no que diz respeito à capacitação da mão
de obra, principalmente entre os jovens. O percentual de trabalhadores formais com nível superior em Goiás é um dos mais baixos do
país (20%),menos da metade dos trabalhadores possui nível médio (45%) e 9,5% dos trabalhadores possuem apenas o nível fundamental
completo.

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POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS

Segurança Pública
Mesmo com a elevação dos gastos em segurança pública os crimes violentos ainda apresentam índices elevados em Goiás. A sensação
de insegurança crescente está diretamente associada ao fenômeno da violência, que tem nos homicídios uma de suas expressões mais
cruéis. Apesar desse indicador ter diminuído, ainda se encontra acima da maioria dos estados.

O gasto total ampliou-se, em valores reais, de R$ 879,2 milhões em 2003 para R$ 2,18 bilhões em 2014, o que representa crescimen-
to médio de 7,9% ao ano dessa despesa. Em termos per capita, o crescimento foi de R$ 165,7 em 2003 para R$ 335,2 em 2014, ou seja,
crescimento médio de 6% ao ano.

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POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS

Desafios:
- Consolidação de uma visão mais integrada dos problemas associados à segurança pública;
- Revisão do modelo de policiamento em prol de maior aproximação entre a polícia e a sociedade;
- Investimento em ações estratégicas e de inteligência com base em informações qualificadas;
- Integração de ações de prevenção da violência e combate de suas causas com ações de repressão e ordenamento social nas áreas
com maior ocorrência de crimes;
- Melhorar a efetividade dos órgãos e programas existentes das distintas polícias.

ASPECTOS FÍSICOS DO TERRITÓRIO GOIANO: VEGETAÇÃO, HIDROGRAFIA, CLIMA E RELEVO

Aspectos físicos do território goiano: vegetação, hidrografia, clima e relevo;


CLIMA
O clima goiano é predominantemente tropical, com a divisão marcante de duas estações bem definidas durante o ano: verão úmido,
nos meses de dezembro a março, e inverno seco, predominante no período de junho a agosto. De acordo com o Sistema de Meteorologia
e Hidrologia da Secretaria de Ciência e Tecnologia (Simehgo/Sectec), a temperatura média varia entre 18ºC e 26ºC, com amplitude térmi-
ca significativa, variando segundo o regime dominante no Planalto Central.

Estações
No mês de setembro, com o início da primavera, as chuvas passam a ser mais intensas e frequentes, marcando o período de transição
entre as duas estações protagonistas. As pancadas de chuva, no final da tarde ou noite, ocorrem em decorrência do aumento do calor e
da umidade que se intensificam e que podem ocasionar raios, ventos fortes e queda de granizo.
No verão, coincidente a alta temporada de férias no Brasil, há a ocorrência de dias mais longos e mudanças rápidas nas condições
diárias do tempo, com chuvas de curta duração e forte intensidade, acompanhadas de trovoadas e rajadas de vento. Há ainda o registro
de veranicos com períodos de estiagem com duração de 7 a 15 dias. Há registros do índice pluviométrico oscilando entre 1.200 e 2.500
mm entre os meses de setembro a abril.
No outono, assim como na primavera, há o registro de transição entre estações o que representa mudanças rápidas nas condições
de tempo com redução do período chuvoso. As temperaturas tornam-se mais amenas devido à entrada de massas de ar frio, com tempe-
raturas mínimas variando entre 12ºC e 18ºC e máximas de 18ºC e 28ºC. A umidade relativa do ar é alta com valores alcançando até 98%
Já o inverno traz o clima tipicamente seco do Cerrado, com baixos teores de umidade, chegando a valores extremos e níveis de alerta
em algumas partes do Estado. Há o registro da entrada de algumas massas de ar frio que, dependendo da sua trajetória e intensidade,
provocam quedas acentuadas de temperatura, especialmente à noite, apesar dos dias serem quentes, propícios à alta temporada de
férias no Rio Araguaia.

HIDROGRAFIA
Engana-se quem pensa que as características de vegetação de savana, típicas do Cerrado, são reflexos de escassez de água na região.
Pelo contrário, Goiás é rico em recursos hídricos, sendo considerado um dos mais peculiares e abundantes Estados brasileiros quanto à
hidrografia. Graças ao seu histórico geológico constituído durante milhões de anos, foram depositadas várias rochas sedimentares, entre
elas o arenito de alta porosidade e alta permeabilidade, que permitiram a formação de grandes cursos d’água e o depósito de parte de
grandes aquíferos, como o Bambuí, o Urucuia e o Guarani, este último um dos maiores do mundo, com área total de até 1,4 milhão de
km².

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POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS

Centro das águas • Dolomítico Cobre,


Nascem, em Goiás, rios formadores das três mais importan- • Ouro e Prata
tes bacias hidrográficas do país. Todos os cursos d’água no senti- • Diamante industrial
do Sul-Norte, por exemplo, são coletados pela Bacia Amazônica, • Esmeralda
dos quais destacam-se os rios Maranhão, Almas e Paraná que dão • Filito
origem ao Rio Tocantins, mais importante afluente econômico do • Fosfato
Rio Amazonas. No mesmo sentido, corre o Rio Araguaia, de impor- • Gnaisse
tância ímpar na vida do goiano e que divide Goiás com os Estados • Granito
de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, chegando em Tocantins ao • Granodiorito
encontro do outro curso que leva o nome daquele Estado, no Bico • Granulito
do Papagaio. • Manganês
A Bacia do Rio São Francisco tem entre seus representantes os • Mecaxisto
rios Entre ribeiro, Paracatu e Preto, os quais nascem próximos ao • Níquel e Cobalto
Distrito Federal e seguem em direção ao Nordeste do país. • Quartzito
Enquanto que, por outro lado, corre o rio Corumbá, afluente • Titânio
do Paranaíba, formador da Bacia do Paraná que segue rumo ao Sul, • Vermiculita
pontilhado dentro de Goiás por hidrelétricas, o que denota seu po- • Xisto
tencial energético para o Estado.
VEGETAÇÃO
Serra da Mesa É praticamente impossível visitar Goiás e não ouvir falar nele.
Em Goiás também está localizado o lago artificial da Usina de Considerado o segundo maior bioma brasileiro, atrás apenas da
Serra da Mesa, no Noroeste do Estado. Considerado o quinto maior Floresta Amazônica, o Cerrado tem grande representatividade no
lago do Brasil (1.784 km² de área inundada), é o primeiro em volu- território goiano. Apesar do elevado nível de desmatamento regis-
me de água (54,4 bilhões de m³) e, formado pelos rios Tocantins, trado no Estado desde a criação de Brasília e a abertura de estradas,
Traíras e Maranhão, atrai importantes atrativos turísticos para a na década de 1960, e da expansão da fronteira agrícola, décadas de
região, com a realização de torneios esportivos e de pesca, além da 1970 e 1980, Goiás conseguiu manter reservas da mata nativa em
geração de energia elétrica. algumas regiões, até hoje alvo de discussões entre fazendeiros e
ambientalistas. No entanto, o velho argumento utilizado para sua
RELEVO derrubada de que os troncos retorcidos e pequenos arbustos são
Goiás está situado sobre o Planalto Central Brasileiro e abriga sinais de pobreza da biodiversidade finalmente caiu por terra.
em suas terras um mosaico de formações rochosas distintas quanto Na totalidade, incluindo as zonas de transição com outros bio-
à idade e à composição. Resultado de um processo de milhões de mas, o Cerrado abrange 2.036.448 km², o equivalente a 23,92% do
anos da evolução de seus substratos, o solo goiano foi favorecido território brasileiro, ou à soma das áreas de Espanha, França, Ale-
com a distribuição de regiões planas, o que favoreceu a ocupação manha, Itália e Reino Unido (Fonte: WWF Brasil). E se considerada
do território, além da acumulação de metais básicos e de ouro, sua diversidade de ecossistemas, é notório o título de formação
bem como gemas (esmeraldas, ametistas e diamantes, entre ou- com savanas mais rica em vida a nível mundial, uma vez que sua
tros) e metais diversos, que contribuíram para a exploração mineral área protege 5% de todas as espécies do planeta e três em cada dez
propulsora da colonização e do desenvolvimento dos núcleos urba- espécies brasileiras, muitas delas só encontradas aqui.
nos na primeira metade do século XVIII.
O processo de formação do relevo e de decomposição de ro- Variedade de paisagens em um só bioma
chas explica, ainda, a formação de solos de fertilidade natural baixa Tipicamente, o Cerrado é conhecido por apresentar árvores de
e média (latossolos) predominantes na maior parte do Estado, e pequeno porte – até 20 metros –, esparsas em meio a arbustos e
de solos podzólicos vermelho-amarelo, terra roxa estruturada, bru- distribuídas sobre uma vegetação baixa, constituída em geral por
nizém avermelhado e latossolo roxo, que apresentam alta fertili- gramíneas. No entanto, dependendo da formação geológica e do
dade e se concentram nas regiões Sul e Sudoeste do Estado, além solo no qual o Cerrado finca suas raízes profundas, suas caracte-
do Mato Grosso Goiano. A distribuição de ligeiras ondulações e o rísticas podem variar bastante apresentando vasta diversidade de
relevo esculpido entre rochas salientaram ainda a caracterização paisagens. São elas:
do curso de rios, formadores de aquíferos importantes das bacias Formação do Terciário ou Cachoeirinha: local onde ocorriam
hidrográficas sul-americanas e que fazem do Estado um dos mais os campos limpos, formados por gramíneas, chamados também de
abundantes em recursos hídricos. Associados a esses processos, a chapadão. Localizava-se na região de Jataí, Mineiros e Chapadão do
vegetação rala do Cerrado também contribui para o processo de Céu e sua vegetação original, hoje, encontra-se totalmente substi-
erosão e da formação de grutas, cavernas e cachoeiras, que asso- tuída por campos de soja;
ciadas às chapadas e poucas serras presentes no Estado, configu- Grupo Bauru: de solo arenoso de média fertilidade, é onde
ram opções de lazer e turismo da região. aparece o chapadão. De solo relativamente plano, também foi
transformado em lavoura, em geral de cana ou pastagens, e cor-
Potencial Mineral do Estado de Goiás responde às áreas que vão de Jataí e do canal de São Simão até o
• Água mineral Aporé;
• Água termal Formação Serra Geral: aqui o Cerrado dá lugar à mata ciliar, de
• Areia e Cascalho terra fértil, que foi transformada no decorrer do tempo em roças de
• Argila Ametista Amianto subsistência. Ocorrem em geral nos valos dos rios e foram substituí-
• Basalto Berilo Calcário das por culturas de banana ou café, além das invernadas destinadas
• Agrícola Calcário à engorda de bois;

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POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS
Formação Botucatu: o Cerrado propriamente dito é encon- É comum, assim, ouvir dizer que o Cerrado é uma floresta in-
trado neste tipo de formação, rico em frutos e animais silvestres. vertida. Isso deve a essa característica subterrânea de boa parte do
Apresenta baixa fertilidade e boa parte de sua área foi subjugada corpo das plantas, explicada pela adaptação das espécies às quei-
por criadores de gado. É encontrada às margens do Rio Verde, en- madas naturais verificadas no inverno seco de Goiás. Além disso,
tre Mineiros e Serranópolis, e do Rio Paraíso, em Jataí; seus ramos exteriores apresentam um ciclo de dormência, no qual
Formação de Irati: vegetação de solos acidentados, é em geral as folhas se desprendem e também resguardam a planta do fogo
bem fértil, cedendo lugar a matas de peroba-rosa de onde se retira para depois renascerem, com chuva ou não.
calcário para correção de solos. Pode ser encontrada em Montivi- Em geral a florescência é registrada nos meses de maio a julho,
diu, Perolândia e Portelândia; com o aparecimento de frutos ou vagens até agosto
Formação Aquidauana: Cerrado ralo de árvores altas, solos ra-
sos e arenosos. Era encontrada na Serra do Caiapó e adjacências Diversidade
antes de ser transformado em pastagens; Em todo o Cerrado já foram registradas em torno de 11,6 mil ti-
Formação Ponta Grossa: de solos inconstantes, apresenta Cer- pos de plantas, com mais de cinco mil espécies endêmicas da área.
rado diversificado. É encontrado em Caiapônia, Doverlândia e con- Destacam-se no Estado a presença do pequi (Caryocar brasiliense),
fluências; do jatobá-do-cerrado (Hymenaea stigonocarpa), do buriti (Mauritia
Formação Furnas: Cerrado intercalado com matas de aroeira. flexuosa), do cajueiro-do-campo (Anacardium humile) e da canela-
De solo acidentado, é arenoso e de média fertilidade -de-ema (Vellozia flavicans). Também aparecem no rol das espécies
características do bioma a cagaita (Eugenia dysenterica), a manga-
Berço das águas ba (Hancornia speciosa), o ipê-amarelo (Tabebuia ochracea) e do
No setor de geração de energia, sete em cada dez litros das baruzeiro (Dipteryx alata), entre várias outras
águas que passam pelas turbinas da usina de Tucuruí (PA) vêm do Fonte: http://www.goias.gov.br/
Cerrado, bem como metade da água que alimenta Itaipu (PR). No
caso da hidrelétrica de Sobradinho (BA), o montante é de quase
100%. De forma geral, nove em cada dez brasileiros consomem ele-
tricidade produzida com águas do bioma. ASPECTOS DA HISTÓRIA POLÍTICA DE GOIÁS: A INDEPEN-
DÊNCIA EM GOIÁS, O CORONELISMO NA REPÚBLICA VE-
Fauna LHA, AS OLIGARQUIAS, A REVOLUÇÃO DE 1930 E A ADMI-
A mesma forma que a vegetação varia na vastidão das paisa- NISTRAÇÃO POLÍTICA DE 1930 ATÉ OS DIAS ATUAIS
gens do Cerrado, a fauna local também impressiona pela diversi-
dade de animais que podem ser encontrados dentro do bioma. Se-
gundo relatório da Conservação Internacional, o Cerrado apresenta A ocupação do território de Goiás teve início há milhares de
uma particularidade quanto à sua distribuição espacial que permite anos com registros arqueológicos mais antigos datados de 11 mil
o desenvolvimento e a localização de diferentes espécies. Enquan- anos atrás. A região de Serranópolis, Caiapônia e Bacia do Paranã
to a estratificação vertical da Amazônia ou a Mata Atlântica propor- reúne a maior parte dos sítios arqueológicos distribuídos no Estado,
ciona oportunidades diversas para o estabelecimento das espécies, abrigados em rochosos de arenito e quatzito e em grutas de maci-
em uma mesma árvore, por exemplo, no Cerrado a heterogeneida- ços calcários. Também há indícios da ocupação pré-histórica nos
de espacial no sentido horizontal seria fator determinante para a municípios de Uruaçu, em um abrigo de micaxisto, e Niquelândia,
ocorrência de um variado número de exemplares, de acordo com cujo grande sítio superficial descoberto por pesquisadores da Uni-
a ocorrência de áreas de campo, floresta ou brejo, em um mesmo versidade Federal de Goiás (UFG) guarda abundante material lítico
macro ambiente. do homem Paranaíba
De acordo com o Ibama, no Cerrado brasileiro podem ser en- O homem Paranaíba, por sinal, é o primeiro representante
contradas cerca de 837 espécies de aves, 67 gêneros de mamíferos, humano conhecido na área, cujo grupo caçador-coletor possuía
os quais abrangem 161 espécies e dezenove endêmicas; 150 espé- presença constante de artefatos plano-convexos, denominados
cies de anfíbios (45 só encontrados aqui); e 120 espécies de répteis, “lesmas”, com poucas quantidades de pontas de projéteis líticas.
dos quais 45 também endêmicas. Além disso, o Cerrado abriga 90 Outro grupo caçador-coletor é o da Fase Serranópolis que influen-
mil espécies de insetos, sendo 13% das borboletas, 35% das abe- ciado por mudanças climáticas passou a se alimentar de moluscos
lhas e 23% dos cupins dos trópicos. terrestres e dulcícolas e uma quantidade maior de frutos, além da
Dentre tantos, o lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) e a ema caça e da pesca.
(Rhea americana) aparecem como animais símbolo do bioma. No
entanto, são famosos também o tamanduá-bandeira (Myrmeco- Grupos Ceramistas
phaga tridactyla), o tatu-canastra (Priodontes giganteusso), a serie- As populações ceramistas passam a ocupar o território de Goi-
ma (Cariama cristata), o pica-pau-do-campo (Colaptes campestres), ás a cerca de dois mil anos, quando supostamente o clima e a ve-
o teiu (Tupinambis sp), entre outros. getação eram semelhantes aos atuais. São classificados em quatro
tradições: Una, Aratu, Uru e Tupi-Guarani.
Flora
A vegetação típica do Cerrado possui troncos retorcidos, de Tradição Uma
baixo porte, com cascas espessas e folhas grossas. Em geral, as raí- É a tradição ceramista mais antiga do Estado. Habitavam abri-
zes de suas árvores são pivotantes, ligadas ao lençol freático o que gos e grutas naturais, cultivavam milho, cabaça, amendoim, abóbo-
pode propiciar seu desenvolvimento para até 15 metros de profun- ra e algodão e desenvolveram a tecnologia da produção de vasilha-
didade. mes cerâmicos.

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REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS

Tradição Aratu régia se organizava na região. Em 1733, perdeu direitos obtidos jun-
São os primeiros aldeões conhecidos. Habitavam grandes agru- to ao rei, sob a alegação de sonegação de rendas, vindo a falecer
pamentos, em disposição circular ou elíptica ao redor de um espaço em 1740, pobre e praticamente sem poder.
vazio, situados em ambientes abertos, geralmente matas, próximos Nessa época, as principais regiões ocupadas no período aurí-
a águas perenes. Cultivavam milho, feijão, algodão e tubérculos. fero foram o Centro-Sul (próximo ao caminho para São Paulo), o
Produziam vasilhames cerâmicos de diferentes tamanhos e, a partir Alto Tocantins e Norte da capitania, até próximo a cidade de Porto
da manipulação da argila, confeccionavam rodelas de fusos, utiliza- Nacional (hoje Estado do Tocantins). Grandes áreas como o Sul, o
dos na fiação do algodão, dentre outros artefatos. Sudoeste, o Vale do Araguaia e as terras ao Norte de Porto Nacional
Tradição Uru só foram ocupadas mais intensamente no século XIX e XX, com a
A população da Tradição Uru chegou um pouco mais tarde no ampliação da pecuária e da agricultura.
território goiano. Os sítios arqueológicos datados do século XII es- O ouro goiano era principalmente de aluvião (retirado na su-
tão localizados no vale do Rio Araguaia e seus afluentes. perfície dos rios, pela peneiragem do cascalho), e se tornou escasso
depois de 1770. Com o enfraquecimento da extração, a região pas-
Tradição Tupi-Guarani sou a viver principalmente da pequena agricultura de subsistência
É a mais recente das populações com aldeias, datada de 600 e de alguma pecuária.
anos atrás. Habitavam aldeias dispersas na bacia do Alto Araguaia
e na bacia do Tocantins. Conviviam, às vezes, na mesma aldeia com As primeiras divisões do Estado
outros grupos horticultores, de outras tradições. Durante o período colonial e imperial, as divisas entre provín-
cias eram difíceis de serem definidas com exatidão, muitas vezes
Colonização sendo definidas de forma a serem coincidentes com os limites das
Após o descobrimento do Brasil pelos portugueses, durante os paróquias ou através de deliberações políticas vindas do poder cen-
séculos XVI e XVII, o território goiano começou a receber diversas tral. No entanto, no decorrer do processo de consolidação do Esta-
expedições exploratórias. Vindas de São Paulo, as Bandeiras tinham do de Goiás, o território sofreu diversas divisões, com três perdas
como objetivo a captura de índios para o uso como mão de obra es- significativas no período colonial
crava na agricultura e minas. Outras expedições saíam do Pará, nas
chamadas Descidas com vistas à catequese e ao aldeamento dos Separação da Capitania de São Paulo
índios da região. Ambas passavam pelo território, mas não criavam Durante parte do período colonial o território que hoje é o
vilas permanentes, nem mantinham uma população em número Estado de Goiás foi administrado pela Capitania de São Paulo, na
estável na região. época a maior delas, estendendo-se do Uruguai até o atual estado
A ocupação, propriamente dita, só se tornou mais efetiva com de Rondônia. Seu poder não era tão extenso, ficando distante das
populações e, também, dos rendimentos.
a descoberta de ouro nessas regiões. Na época, havia sido acha-
A medida que se achava ouro pelas terras do sertão brasileiro,
do ouro em Minas Gerais, próximo a atual cidade de Ouro Preto
o governo português buscava aproximar-se da região produtora.
(1698), e em Mato Grosso, próximo a Cuiabá (1718). Como havia
Isso aconteceu em Goiás depois da descoberta de ouro em 1722.
uma crença, vinda do período renascentista, que o ouro era mais
Como uma forma de controlar melhor a produção de ouro, evitan-
abundante quanto mais próximo ao Equador e no sentido leste-o-
do o contrabando, responder mais rapidamente aos ataques de ín-
este, a busca de ouro no “território dos Goyazes”, passou a ser foco
dios da região e controlar revoltas entre os mineradores, foi criado
de expedições pela região.
através de alvará régio a Capitania de Goiás, desmembrada de São
Paulo em 1744, com a divisão efetivada em 1748, pela chegada do
Bandeiras primeiro governador a Vila Boa de Goyaz, Dom Marcos de Noronha.
O território goiano recebeu bandeiras diversas, sendo que a
de Francisco Bueno foi a primeira a achar ouro na região (1682), Triângulo mineiro
mas em pequena quantidade. Essa expedição explorou até as mar- A região que hoje é chamada de “Triângulo Mineiro” perten-
gens do Rio Araguaia e junto com Francisco Bueno veio seu filho, ceu à capitania de Goiás desde sua criação em 1744 até 1816. Sua
Bartolomeu Bueno da Silva, conhecido por Anhanguera (Diabo ve- incorporação à província de Minas Gerais é resultado de pressões
lho). Segundo se registra, Bartolomeu Bueno da Silva teria se inte- pessoais de integrantes de grupos dirigentes da região, sendo que
ressado sobre o ouro que adornava algumas índias de uma tribo, em 1861 a Assembleia Geral foi palco de discussões acaloradas en-
mas não obteve êxito em obter informações sobre a procedência tre parlamentares de Minas Gerais, que tentavam ampliar ainda
desse ouro. Para conseguir a localização, resolveu então ameaçar mais a incorporação de territórios até o Rio São Marcos e de Goiás.
por fogo nas fontes e rios da região, utilizando aguardente para
convencer aos índios de que poderia realmente executar o feito – o Leste do Mato Grosso
que lhe conferiu o apelido. Em 1753, começaram as discussões entre a administração da
Seu filho, também chamado de Bartolomeu Bueno da Silva, 40 Capitania de Mato Grosso e de Goiás para a definição de divisas
anos depois, também tentou retornar aos locais onde seu pai havia entre as duas. Nesse período, a divisa entre elas ficou definida a
passado, indo em busca do mito da “Serra dos Martírios”, um lugar partir do Rio das Mortes até o Rio Pardo. Em 1838, o Mato Gros-
fantástico onde grandes cristais aflorariam, tendo formas seme- so reiniciou as movimentações de contestação de divisa, criando a
lhantes a coroas, lanças e cravos, referentes à “Paixão de Cristo”. vila de Sant’Ana do Paranaíba. Apenas em 1864, a Assembleia Geral
Chegou, então, as regiões próximas ao rio Vermelho, onde achou cria legislação para tentar regular o caso.
ouro (1722) em maior quantidade do que noutros achados e aca- Durante a república, com a criação do município de Araguaia
bou fixando na região a Vila de Sant’Anna (1727), chamada depois (1913) por parte do Mato Grosso e de Mineiros por parte de Goiás,
Vila Boa de Goyaz. o conflito se intensificou. A questão ficou em suspenso até 1975,
Após retornar para São Paulo para apresentar os achados, foi quando uma nova demarcação foi efetuada. Por fim, em 2001, o
nomeado capitão-mor das “minas das terras do povo Goiá”. Entre- STF definitivamente demarcou a nascente A do Rio Araguaia como
tanto, seu poder foi sendo diminuído à medida que a administração ponto de partida das linhas demarcatórias entre os estados.

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REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS
Império Período Republicano
A partir de 1780, com o esgotamento das jazidas auríferas, a A proclamação da República (15/11/1889) não alterou os pro-
Capitania de Goiás iniciou um processo de ruralização e regressão blemas socioeconômicos enfrentados pela população goiana, em
a uma economia de subsistência, gerando graves problemas finan- especial pelo isolamento proveniente da carência dos meios de co-
ceiros, pela ausência de um produto básico rentável municação, com a ausência de centros urbanos e de um mercado
Para tentar reverter esta situação, o governo português pas- interno e com uma economia de subsistência. As elites dominantes
sou a incentivar e promover a agricultura em Goiás, sem grandes continuaram as mesmas. As mudanças advindas foram apenas ad-
resultados, já que havia temor dos agricultores ao pagamento de ministrativas e políticas
dízimos; desprezo dos mineiros pelo trabalho agrícola, pouco ren- A primeira fase da República em Goiás, até 1930, foi marcada
tável; a ausência de um mercado consumidor; e dificuldade de ex- pela disputa das elites oligárquicas goianas pelo poder político: Os
portação, pela ausência de um sistema viário. Bulhões, os Fleury, e os Jardim Caiado. Até o ano de 1912, prevale-
Com a Independência do Brasil, em 1822, a Capitania de Goiás ceu na política goiana a elite oligárquica dos Bulhões, liderada por
foi elevada à categoria de província. Porém, essa mudança não alte- José Leopoldo de Bulhões, e a partir desta data até 1930, a elite
rou a realidade socioeconômica de Goiás, que continuava vivendo oligárquica dominante passa a ser dos Jardim Caiado, liderada por
um quadro de pobreza e isolamento. As pequenas mudanças que Antônio Ramos Caiado.
ocorreram foram apenas de ordem política e administrativa A partir de 1891, o Estado começou a vivenciar certo desen-
A expansão da pecuária em Goiás, nas três primeiras décadas
volvimento com a instalação do telégrafo em Goiás para a trans-
do século XIX, que alcançou relativo êxito, trouxe como consequ-
missão de notícias. Com a chegada da estrada de ferro em territó-
ência o aumento da população. A Província de Goiás recebeu cor-
rio goiano, no início do século XX, a urbanização na região sudeste
rentes migratórias oriundas, principalmente, dos Estados do Pará,
começou a ser incrementada o que facilitou, também, a produção
Maranhão, Bahia e Minas Gerais. Novas cidades surgiram: no su-
doeste goiano, Rio Verde, Jataí, Mineiros, Caiapônia (Rio Bonito), de arroz para exportação. Contudo, por falta de recursos financei-
Quirinópolis (Capelinha), entre outras. No norte (hoje Estado do To- ros, a estrada de ferro não se prolongou até a capital e o norte
cantins), além do surgimento de novas cidades, as que já existiam, goiano, que permanecia praticamente incomunicável. O setor mais
como Imperatriz, Palma, São José do Duro, São Domingos, Carolina dinâmico da economia era a pecuária e predominava no estado o
e Arraias, ganharam novo impulso latifúndio.
Os presidentes de província e outros cargos de importância Com a revolução de 30, que colocou Getúlio Vargas na Presi-
política, no entanto, eram de livre escolha do poder central e conti- dência da República do Brasil, foram registradas mudanças no cam-
nuavam sendo de nacionalidade portuguesa, o que descontentava po político. Destituídos os governantes, Getúlio Vargas colocou em
os grupos locais. Com a abdicação de D. Pedro I, ocorreu em Goi- cada estado um governo provisório composto por três membros.
ás um movimento nacionalista liderado pelo bispo Dom Fernando Em Goiás, um deles foi o Dr. Pedro Ludovico Teixeira, que, dias de-
Ferreira, pelo padre Luiz Bartolomeu Marquez e pelo coronel Felipe pois, foi nomeado interventor
Antônio, que recebeu o apoio das tropas e conseguiu depor todos Com a revolução, o governo adotou como meta trazer o desen-
os portugueses que ocupavam cargos públicos em Goiás, inclusive volvimento para o estado, resolver os problemas do transporte, da
o presidente da província. educação, da saúde e da exportação. Além disso, a revolução de 30
Nas últimas décadas do século XIX, os grupos locais insatisfei- em Goiás deu início à construção de Goiânia.
tos fundaram partidos políticos: O Liberal, em 1878, e o Conser-
vador, em 1882. Também fundaram jornais para divulgarem suas A construção de Goiânia e o governo Mauro Borges
ideias: Tribuna Livre, Publicador Goiano, Jornal do Comércio e Folha A mudança da capital de Goiás já havia sido pensada em gover-
de Goyaz. Com isso, representantes próprios foram enviados à Câ- nos anteriores, mas foi viabilizada somente a partir da revolução
mara Alta, fortalecendo grupos políticos locais e lançando as bases de 30 e seus ideais de “progresso” e “desenvolvimento”. A região
para as futuras oligarquias. de Campinas foi escolhida para ser o local onde se edificaria a nova
capital por apresentar melhores condições hidrográficas, topográfi-
Educação em Goiás no século XIX cas, climáticas, e pela proximidade da estrada de ferro.
Em 1835, o presidente da província, José Rodrigues Jardim re- No dia 24 de outubro de 1933 foi lançada a pedra fundamental.
gulamentou o ensino em Goiás. Em 1846 foi criado na então capi-
Dois anos depois, em 07 de novembro de 1935 foi iniciada a mu-
tal, Cidade de Goiás, o Liceu, que contava com o ensino secundário.
dança provisória da nova capital. O nome “Goiânia”, sugerido pelo
Os jovens do interior que tinham um poder aquisitivo maior, ge-
professor Alfredo de Castro, foi escolhido em um concurso promo-
ralmente concluíam seus estudos em Minas Gerais e faziam curso
vido pelo semanário “O Social”
superior em São Paulo, e os de família menos abastada, encaminha-
vam-se para a escola militar ou seminários. A maioria da população, A transferência definitiva da nova capital, da Cidade de Goiás
no entanto, permanecia analfabeta. A primeira Escola Normal de para Goiânia, se deu no dia 23 de março de 1937, por meio do de-
Goiás foi criada em 1882, e em 1889 foi fundado pelas irmãs domi- creto 1.816. Em 05 de julho de 1942, quando foi realizado o “ba-
nicanas um colégio na Cidade de Goiás, que atendia às moças tismo cultural”, Goiânia já contava com mais de 15 mil habitantes
A construção de Goiânia devolveu aos goianos a confiança em
O Movimento Abolicionista em Goiás si mesmos, após um período de decadência da mineração, de isola-
O poeta Antônio Félix de Bulhões (1845-1887) foi um dos mento e esquecimento nacional. Em vez de pensarem na grandeza
goianos que mais lutaram pela libertação dos escravos. Fundou o do passado, começaram a pensar, a partir de então, na grandeza
jornal O Libertador (1885), promoveu festas para angariar fundos do futuro.
para alforriar escravos e compôs o Hino Abolicionista Goiano. Com A partir de 1940, Goiás passa a crescer em ritmo acelerado
a sua morte, em 1887, várias sociedades emancipadoras se uniram também em virtude do desbravamento do Mato Grosso Goiano,
e fundaram a Confederação Abolicionista Félix de Bulhões. Quando da campanha nacional de “Marcha para o Oeste” e da construção
foi promulgada a Lei Áurea, havia aproximadamente quatro mil es- de Brasília. A população do Estado se multiplicou, estimulada pela
cravos em Goiás. forte imigração, oriunda principalmente dos Estados do Maranhão,

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POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS

Bahia e Minas Gerais. A urbanização foi provocada essencialmen- O Césio-137


te pelo êxodo rural. Contudo, a urbanização neste período não foi Goiás abriga em seu passado um dos episódios mais tristes da
acompanhada de industrialização. A economia continuava predo- história brasileira. No ano de 1987, alguns moradores da capital
minantemente baseada no setor primário (agricultura e pecuária) e saíram em busca de sucata e encontraram uma cápsula abandona-
continuava vigente o sistema latifundiário da nas ruínas do Instituto Radiológico de Goiânia. Mal sabiam eles
Com o impulso, na década de 50 foi criado o Banco do Estado que naquele vasilhame havia restos de um pó radioativo mortal,
e a CELG (Centrais Elétricas de Goiás S.A). O governo Mauro Borges o Césio-137. Inconsequentemente, a cápsula foi aberta por eles e
(1960-1964) propôs como diretriz de ação um “Plano de Desenvol- manipulada, deixando milhares de vítimas e sequelas do pó azul
vimento Econômico de Goiás” abrangendo as áreas de agricultura brilhante, lacrado hoje, junto aos destroços do maior acidente ra-
e pecuária, transportes e comunicações, energia elétrica, educação diológico do mundo, no depósito da Comissão Nacional de Energia
e cultura, saúde e assistência social, levantamento de recursos na- Nuclear (Cnen), em Abadia de Goiás.
turais, turismo, etc., e criou as seguintes autarquias e paraestatais:
CERNE (Consórcio de Empresas de Radiodifusão e Notícias do Es- A criação do DF
tado), OSEGO (Organização de Saúde do Estado de Goiás), EFOR- A construção e a inauguração de Brasília, em 1960, como ca-
MAGO (Escola de Formação de Operadores de Máquinas Agrícolas pital federal, foi um dos marcos deixados na história do Brasil pelo
e Rodoviárias), CAIXEGO (Caixa Econômica do Estado de Goiás), governo Juscelino Kubitschek (1956-1960). Essa mudança, visando
IPASGO (Instituto de Assistência dos Servidores Públicos do Estado um projeto especifico, buscava ampliar a integração nacional, mas
de Goiás), SUPLAN, ESEFEGO (Escola Superior de Educação Física JK, no entanto, não foi o primeiro a propô-la, assim como Goiás
nem sempre foi o lugar projetado para essa experiência.
de Goiás), CEPAIGO (Centro Penitenciário de Atividades Industriais
de Goiás), IDAGO (Instituto de Desenvolvimento Agrário de Goiás),
Desejo de transferência (séc. XVIII e XIX)
DERGO (Departamento de Estradas de Rodagem de Goiás), DETEL-
As primeiras capitais do Brasil, Salvador e Rio de Janeiro, ti-
GO, METAGO (Metais de Goiás S/A), CASEGO, IQUEGO (Indústria
veram como característica fundamental o fato de serem cidades
Química do Estado de Goiás), entre outras. litorâneas, explicado pelo modelo de ocupação e exploração em-
preendido pelos portugueses anteriormente no continente africa-
Redemocratização no e asiático. À medida que a importância econômica da colônia
Nos últimos 30 anos, o Estado de Goiás passou por profundas aumentava para a manutenção do reino português, as incursões
transformações políticas, econômicas e sociais. O fim da ditadura para o interior se tornavam mais frequentes.
militar e o retorno da democracia para o cenário político foi repre- A percepção da fragilidade em ter o centro administrativo pró-
sentado pela eleição de Iris Rezende para governador, em 1982, ximo ao mar, no entanto, fez que muitos intelectuais e políticos
com mais de um milhão de votos. Nesse campo, por sinal, Goiás portugueses discutissem a transferência da capital da colônia – e
sempre ofereceu quadros significativos para sua representação em até mesmo do império – para regiões mais interiores do território.
nível federal, como pode ser observado no decorrer da “Nova Re- Um dos mais importantes apoiadores desse projeto foi Sebastião
pública”, na qual diversos governadores acabaram eleitos senado- José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal, em 1751. A trans-
res ou nomeados ministros de Estado. ferência também era uma das bandeiras de movimentos que ques-
No campo econômico, projetos de dinamização econômica ga- tionavam o domínio português, como a Inconfidência Mineira, ou
nharam forma, partindo de iniciativas voltadas para o campo, como de personagens que, após a independência do Brasil, desejavam o
o projeto de irrigação Rio Formoso, iniciado ainda no período mili- fortalecimento da unidade do país e o desenvolvimento econômico
tar e, hoje, no território do Tocantins, até a construção de grandes das regiões interioranas, como o Triângulo Mineiro ou o Planalto
estruturas logísticas, a exemplo do Porto Seco de Anápolis e a im- Central.
plantação da Ferrovia Norte-Sul. É válido, ainda, o registro de estí- Com a primeira constituição republicana (1891), a mudança
mulos especiais para produção e a instalação de grandes indústrias ganhou maior visibilidade e mais apoiadores, tanto que em seu 3º
no estado, a exemplo dos polos farmacêutico e automobilístico. artigo havia determinação de posse pela União de 14.400 quilôme-
As modificações econômicas, no entanto, deixaram os proble- tros quadrados na região central do país pra a futura instalação do
mas sociais, que existiam no Estado, ainda mais acentuados, com Distrito Federal.
o registro de um grande número de pessoas sem moradia digna e
sem emprego. Essa situação mobilizou governantes e população a Comissão Cruls e as décadas seguintes
Depois da Proclamação da República em 1889, o país se encon-
empreender ações concretas de forma a minimizar essas dificulda-
trava imerso em um cenário de euforia com a mudança de regime
des, como programas de transferência de renda, profissionalização
e da crença no progresso e no futuro. Para definir o lugar onde se
e moradia, além de programas de estímulos para que a população
efetivaria a determinação da futura capital, em 1892, o presidente
se mantivesse junto ao campo, evitando assim o êxodo rural
Floriano Peixoto criou uma comissão para concretizar esses estu-
Com as mudanças políticas e a maior participação popular, vin- dos, chefiada pelo cientista Luis Cruls, de quem a expedição herdou
da com o advento da redemocratização da vida política nacional, o nome. A expedição partiu de trem do Rio de Janeiro até Uberaba
houve também uma maior exigência da sociedade em relação às (estação final da Estrada de Ferro Mogiana) e dali a pé e em lombo
práticas administrativas. de animais até o Planalto Central. Com pesquisadores de diversas
O governo de Goiás passou por várias “reformas administra- áreas, foi feito um levantamento amplo (topográfico, climatológi-
tivas” e outras iniciativas nesse período, onde foram buscadas a co, geográfico, hidrológico, zoológico etc.) da região, mapeando-se
racionalização, melhoria e moralização da administração pública. a área compreendida pelos municípios goianos de Formosa, Planal-
Nesse período, também, Goiás aumentou seu destaque quanto a tina e Luziânia. O relatório final permitiu que fosse definida a área
produção no setor cultural, seja com a eleição da cidade de Goiás onde futuramente seria implantada a capital.
como patrimônio da humanidade ou com seus talentos artísticos
sendo consagrados, como Goiandira de Couto, Siron Franco e Cora
Coralina.

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Uma segunda missão de estudos foi empreendida nos locais e não pela quantidade de ouro extraída, o que onerava demais a
onde a implantação de uma cidade seria conveniente dentro do produção do norte. Por não conseguirem pagar as quantias presu-
quadrilátero definido anteriormente. A saída de Floriano Peixoto midas de imposto, esses proprietários sofriam a “derrama” - im-
do governo em 1896 fez com que os trabalhos da Comissão Ex- posto cobrado para complementar os débitos que os mineradores
ploradora do Planalto Central do Brasil fossem interrompidos. No acumulavam junto à Coroa Portuguesa.
entanto, mesmo não contando com a existência de Goiânia, os ma- Os garimpeiros viam na província do Maranhão uma alternati-
pas nacionais já traziam o “quadrilátero Cruls” e o “Futuro Distrito va para o recolhimento de impostos menores. O governo da provín-
Federal” cia goiana, com isso, temendo perder os rendimentos oriundos das
Apesar do enfraquecimento do ímpeto mudancista, eventos minas do norte, suspende tanto a cobrança do imposto – voltando
isolados deixavam claro o interesse de que essa região recebesse a cobrar somente o quinto – quanto a execução de dividas (a der-
a capital da federação. Em 1922, nas comemorações do centenário rama), o que arrefece a insatisfação das vilas mais distantes de Vila
da Independência nacional, foi lançada a pedra fundamental próxi- Boa de Goiás.
mo à cidade de Planaltina. Na década de 1940, foram retomados os
estudos na região pelo governo de Dutra (1945-50) e, no segundo A comarca do Norte
governo de Getúlio Vargas (1950-1954), o processo se mostrou for- A ocupação da porção norte da província de Goiás era feita
talecido com o levantamento de cinco sítios para a escolha do local a medida em que se descobria ouro. Para estimular o desenvolvi-
da nova capital. Mesmo com a morte de Vargas, o projeto avançou, mento dessa parte da província e melhorar a ação do governo e da
mas a passos lentos, até a posse de Juscelino Kubitschek justiça, foi proposta a criação de uma nova comarca, a “Comarca
do Norte” ou “Comarca de São João das Duas Barras”, por Teotônio
Governo JK Segurado, ouvidor-geral de Goiás, em 1809.
Desde seu governo como prefeito de Belo Horizonte (também A proposta foi aceita por D. João VI e, em 1915, Teotônio Se-
projetada e implantada em 1897), Juscelino ficou conhecido pela gurado se tornou ouvidor na Vila da Palma, criada para ser a sede
quantidade e o ímpeto das obras que tocava, sendo chamado à dessa nova Comarca.
época de “prefeito-furacão”. O projeto de Brasília entrou no plano Com o retorno da Família Real para Portugal, as movimenta-
de governo do então presidente como uma possibilidade de aten- ções pela independência do Brasil e a Revolução do Porto (em Por-
der a demanda da época. tugal), Teotônio Segurado, junto com outras lideranças declaram
Mesmo não constando no plano original, ao ser questionado a separação da Comarca do Norte em relação ao sul da província,
sobre seu interesse em cumprir a constituição durante um comí- criando-se a “Província do Norte”. Em 1823, é pedido o reconheci-
cio em Jataí-GO, Juscelino sentiu-se impelido a criar uma obra que mento da divisão junto à corte no Rio de Janeiro, mas esse reconhe-
garantisse a obtenção dos objetivos buscados pela sociedade brasi- cimento foi negado, e houve a determinação para que houvesse a
leira na época: desenvolvimento e modernização do país. Entrando “reunificação” do governo da província.
como a meta 31 – posteriormente sendo chamada de “meta sínte- O padre Luiz Gonzaga Camargo Fleury ficou encarregado de
se” - Brasília polarizou opiniões. Em Goiás existia interesse na efe- desmobilizar com os grupos autonomistas, que já estavam enfra-
tivação da transferência, apesar da oposição existente em alguns quecidos por conflitos internos desde o afastamento de Teotônio
jornais, assim como no Rio de Janeiro, onde ocorria uma campanha Segurado, ainda em 1821, como representante goiano junto as cor-
aberta contra os defensores da “NovaCap” (nome da estatal res- tes em Portugal.
ponsável por coordenar as obras de Brasília e que, por extensão, Durante o período imperial, outras propostas de divisão que
virou uma alusão a própria cidade). Com o compromisso assumido contemplavam de alguma forma o norte de Goiás ainda foram dis-
por JK em Jataí, Brasília passou a materializar-se imediatamente, cutidas, como a do Visconde de Rio Branco e Adolfo Varnhagen.
mas a cada passo político ou técnico dado, uma onda de acusações
era lançada contra a iniciativa. O começo do século XX e a Marcha para Oeste
Construída em pouco mais de 3 anos (de outubro de 1956 a Com a Proclamação da República, mudam-se os nomes das uni-
abril de 1960), Brasília tornou-se símbolo do espírito da época. Goi- dades federativas de “Província” para “Estado”, mas não houveram
ás, por outro lado, tornou-se a base para a construção, sendo que grandes alterações na delimitação de divisas. As principais altera-
Planaltina, Formosa, Corumbá de Goiás, Pirenópolis e, principal- ções ocorreram no Sul do país (com o conflito do Contestado entre
mente, Anápolis tiveram suas dinâmicas modificadas, econômica e Santa Catarina e Paraná) e no Nordeste. Entretanto, esse cenário
socialmente. ganha nova dinâmica com o começo da II Grande Guerra (1939),
quando surgem pressões para a criação de territórios fronteiriços
A criação do TO (Ponta Porã, Iguaçu, Amapá, Rio Branco, Guaporé e Fernando de
Em 1988, foi aprovado pela Assembleia Nacional Constituinte Noronha), para proteção contra possíveis ataques estrangeiros.
o projeto de divisão territorial que criou o Estado do Tocantins. A
divisão partia do desmembramento da porção norte do Estado de Nesse contexto, também surge um movimento pela ocupação
Goiás, desde aproximadamente o paralelo 13°, até a região do Bico dos vazios internos – a Marcha para Oeste – com a abertura de li-
do Papagaio, na divisa do Estado com o Pará e o Maranhão. No nhas telegráficas, pistas de pouso e construção de cidades, a exem-
entanto, a divisão vinha sendo buscada desde o período colonial plo de Goiânia. Apenas na década de 1950 o movimento divisionis-
ta ressurge com maior força, a partir da mobilização personagens
Período do ouro como o Major Lysias Rodrigues e o Juiz de Direito Feliciano Braga.
Durante o ciclo do ouro, a cobrança de impostos diferenciada É dessa época (1956) a chamada “Carta de Porto Nacional” ou
gerou insatisfação junto a muitos garimpeiros e comerciantes da “Proclamação Autonomista de Porto Nacional”, que norteou esse
região norte da província de Goiás. As reivindicações eram contra o esforço. Mas a oposição de lideranças políticas da região e a trans-
chamado “captação”, imposto criado para tentar a sonegação que ferência do juiz Feliciano Braga para outra comarca, fez com que o
taxava os proprietários pela quantidade de escravos que possuíam movimento enfraquece-se..

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Décadas de 1970 e 1980


Durante o período do regime militar, as modificações na orga- ASPECTOS DA HISTÓRIA SOCIAL DE GOIÁS: O POVOAMEN-
nização territorial dos estados ficaram a cargo do Governo Central, TO BRANCO, OS GRUPOS INDÍGENAS, A ESCRAVIDÃO E A
e acabaram regidas por orientações políticas. Exemplos fortes disso CULTURA NEGRA, OS MOVIMENTOS SOCIAIS NO CAMPO E
foram a fusão do Estado da Guanabara, pelo Rio de Janeiro (1975), A CULTURA POPULAR
e o desmembramento do Sul do Mato Grosso (1977). Nesse contex-
to, o deputado federal Siqueira Campos iniciou uma campanha na
Câmara onde pedia a redivisão territorial da Amazônia Legal (com Índios
ênfase no norte goiano), uma vez que mesmo com investimentos Quando os bandeirantes chegaram a Goiás, este território, que
de projetos como o Polocentro e Polamazônia, o norte do estado atualmente forma os Estados de Goiás e Tocantins, já era habita-
ainda tinha fraco desempenho econômico. do por diversos grupos indígenas. Naquela época, ao verem suas
A campanha também foi apoiada por intelectuais, por meio do terras invadidas, muitos foram os que entraram em conflito com
surgimento da Comissão de Estudos do Norte Goiano (Conorte), em os bandeirantes e colonos, em lutas que resultaram no massacre
1981, que promoveu debates públicos sobre o assunto em Goiânia. de milhares de indígenas, aldeamentos oficiais ou migração para
A discussão pela divisão foi levada do nível estadual para o nível outras regiões
federal, onde a proposta foi rejeitada duas vezes pelo presidente A maioria dos grupos que viviam em Goiás pertencia ao tronco
José Sarney (1985), sob a alegação do Estado ser inviável econo- linguístico Macro-Jê, família Jê (grupos Akuen, Kayapó, Timbira e
micamente Karajá). Outros três grupos pertenciam ao tronco linguístico Tupi,
A mobilização popular e política da região norte fizeram com família Tupi-Guarani (Avá-Canoeiro, Tapirapé e Guajajara). A au-
que o governador eleito de Goiás, em 1986, Henrique Santillo, sência de documentação confiável, no entanto, dificulta precisar
apoiasse a proposta de divisão, passando a ser grande articulador com exatidão a classificação linguística dos povos Goyá, Araé, Crixá
da questão. A efetivação dessas articulações deu-se durante a As- e Araxá.
sembleia Constituinte, que elaborou a nova Constituição Nacional,
promulgada em 1988, e que contemplou a criação do Estado do Goyá
Tocantins, efetivamente, a partir do dia 1º de janeiro de 1989. Segundo a tradição, os Goyá foram os primeiros índios que a
Atualmente expedição de Bartolomeu Bueno da Silva Filho encontrou ao iniciar
Governador de Goiás a exploração aurífera e foram eles, também, que indicaram o lugar
Marconi Ferreira Perillo Júnior – Arraial do Ferreiro – no qual Bartolomeu Bueno estabeleceu seu
primeiro arranchamento. Habitavam a região da Serra Dourada,
A governadoria e o senado próximo a Vila Boa, e quatro décadas após o início do povoamento
Em 1998, Marconi Perillo deixou a possibilidade de reeleição desapareceram daquela região. Não se sabe ao certo seu destino e
à Câmara dos Deputados para enfrentar o pleito ao Governo de nem há registros sobre seu modo de vida ou sua língua
Goiás. Pregando um novo tempo para Goiás, foi eleito com quase
um milhão de votos, garantindo a maioria das intenções no primei- Krixá
ro turno e a vitória em segunda votação, que o colocou no Palácio Seus limites iam da região de Crixás até a área do rio Tesouras.
das Esmeraldas, aos 35 anos, o governador mais jovem já eleito no Como os Goyá, também desapareceram no início da colonização do
país. Em 2002, foi reeleito com 51,2% dos votos válidos dando con- Estado e não se sabe ao certo seu destino, sua cultura e sua língua.
tinuidade ao seu governo voltado para a modernização do Estado
e amplitude das questões sociais. Deixou o cargo em 2006, quando Araé
foi eleito senador da República pelo PSDB com mais de dois milhões Também não há muitos registros a respeito dos Araé. Possivel-
de votos. No Senado, presidiu a Comissão de Serviços de Infraes- mente teriam habitado a região do rio das Mortes.
trutura e foi vice-líder do PSDB, atuando em diversas comissões,
chegando inclusive à vice-presidência da Casa. Decidiu-se retornar Araxá
ao Estado, em 2010, lançando nova candidatura ao Governo do Es- Habitavam o local onde se fundou a cidade de Araxá, que per-
tado, da qual saiu vencedor. Em 2014 foi reeleito novamente, se tencia a Goiás e atualmente faz parte do território de Minas Gerais.
tornando o primeiro a governar Goiás por quatro vezes.
Kayapó
Vice Governador Filiados à família linguística Jê, subdividiam-se em Kayapó do
José Eliton de Figuerêdo Júnior Sul, ou Kayapó Meridionais, e Kayapó Setentrionais. Os Kayapó do-
Convidado para o movimento de sucessão estadual para o plei- minavam todo o sul da capitania de Goiás. Havia aldeias na região
to de 2010, assumiu a vice governadoria do Estado de Goiás junto de rio Claro, na Serra dos Caiapós, em Caiapônia, no alto curso do
ao terceiro mandato do governador Marconi Perillo e continua no rio Araguaia e a sudeste, próximo ao caminho de Goiás a São Paulo.
quarto mandato, sendo ainda secretário de estado de Desenvolvi- Seu território estendia-se além dos limites da capitania de Goiás:
mento. a oeste, em Camapuã, no Mato Grosso do Sul; a norte, na região
Integrou a Comissão de Juristas do Senado Federal para a ela- entre o Xingu e o Araguaia, em terras do Pará; a leste, na beira do
boração do anteprojeto de reformulação do Código Eleitoral Brasi- rio São Francisco, nos distritos de Minas Gerais; e ao sul, entre os
leiro. Foi membro e tesoureiro do Instituto Goiano de Direito Elei- rios Paranaíba e Pardo, em São Paulo. Dedicavam-se à horticultura,
toral (IGDEL) e da Comissão de Direito Político e Eleitoral da Ordem à caça e à pesca, além de serem conhecidos como povo guerreiro.
dos Advogados do Brasil – Seção Goiás (OAB/GO). Autor do livro Fizeram ampla resistência à invasão de suas terras e foram regis-
Legislação Eleitoral – Eleições 2008, é ainda membro do Diretório trados vários conflitos entre eles e os colonos. Vítimas de perse-
Estadual de Goiás dos Democratas (DEM) e presidente estadual do guições e massacres, foram também extintos no Estado de Goiás.
Democratas Empreendedor.
Fonte: http://www.goias.gov.br

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REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS
Akwen Avá-Canoeiro
Os Akwen pertencem à família Jê e subdividem-se em Akroá, Pertencentes ao tronco linguístico Tupi, os Avá-Canoeiro ha-
Xacriabá, Xavante e Xerente: bitavam as margens e ilhas dos rios Maranhão e Tocantins, desde
- Akroá e Xacriabá: habitavam extenso território entre a Serra Uruaçu até a cidade de Peixe, em Tocantins. Entre meados do sé-
Geral e o rio Tocantins, as margens do rio do Sono e terras banhadas culo XVIII e ao longo do século XIX, entraram em graves conflitos
pelo rio Manoel Alves Grande. Estabeleceram-se, também, além da com as frentes agropastoris que invadiam suas terras. Atualmente,
Serra Geral, em solo baiano e nas ribeiras do rio São Francisco, nos os Avá-Canoeiro do Araguaia vivem na Ilha do Bananal, na aldeia
distritos de Minas Gerais. Depois de vários conflitos com os colonos Canoanã, dos índios Javaés, e os Avá-Canoeiro do Tocantins vivem
que se estabeleceram em suas terras, foram levados para o aldea- na Serra da Mesa, município de Minaçu.
mento oficial de São Francisco Xavier do Duro, construído em 1750.
Os Akroá foram dizimados mais tarde e os Xacriabá encontram-se Quilombos
atualmente em Minas Gerais, sob os cuidados da Funai. Ligados diretamente à história da ocupação do território brasi-
- Xavante: Seu território compreendia regiões do alto e médio leiro, os quilombos surgiram a partir do início do ciclo da mineração
rio Tocantins e médio rio Araguaia. Tinham suas aldeias distribuí- no Brasil, quando a mão de obra escrava negra passou a ser utiliza-
das nas margens do Tocantins, desde Porto Imperial até depois de da nas minas, especialmente de ouro, espalhadas pelo interior do
Carolina, e a leste, de Porto Imperial até a Serra Geral, limites das Brasil. Em Goiás, esse processo teve início com a chegada de Barto-
províncias de Goiás (antes da divisão) e Maranhão. Havia também lomeu Bueno da Silva, em 1722, nas minas dos Goyazes. Segundo
aldeias na bacia do rio Araguaia, na região do rio Tesouras, nos dis- relatos dos antigos quilombolas, o trabalho na mineração era difícil
tritos de Crixás e Pilar, e na margem direita do rio Araguaia. Na e a condição de escravidão na qual viviam tornavam a vida ainda
primeira metade do século XIX entraram em conflito com as frentes mais dura. As fugas eram constantes e àqueles recapturados res-
agropastoris que invadiam seus territórios e, após intensas guerras, tavam castigos muito severos, o que impelia-os a procurar refúgios
migraram para o Mato Grosso, na região do rio das Mortes, onde em lugares cada vez mais isolados, dando origem aos quilombolos.
vivem atualmente. Os Kalungas são os maiores representantes desses grupos em
- Xerente: Este grupo possuía costumes e língua semelhante Goiás. Na língua banto, a palavra kalunga significa lugar sagrado,
aos Xavantes e há pesquisadores que acreditam que os Xerentes de proteção, e foi nesse refúgio, localizado no norte da Chapada
são uma subdivisão do grupo Xavante. Os Xerentes habitavam os dos Veadeiros, que os descendentes desses escravos se refugiaram
territórios da margem direita do rio Tocantins, ao norte, no territó- passando a viver em relativo isolamento. Com identidade e cultura
rio banhado pelo rio Manoel Alves Grande, e ao sul, nas margens próprias, os quilombolas construíram sua tradição em uma mistura
dos rios do Sono e Balsas. Também viviam nas proximidades de La- de elementos africanos, europeus e forte presença do catolicismo
geado, no rio Tocantins, e no sertão do Duro, nas proximidades dos tradicional do meio rural
distritos de Natividade, Porto Imperial e Serra Geral. Seus domínios A área ocupada pela comunidade Kalunga foi reconhecida pelo
alcançavam as terras do Maranhão, na região de Carolina até Pas- Governo do Estado de Goiás, desde 1991, como sítio histórico que
tos Bons. Como os Xavante, também entraram em intenso conflito abriga o Patrimônio Cultural Kalunga. Com mais de 230 mil hecta-
com as frentes agropastoris do século XIX e, atualmente, os Xeren- res de Cerrado protegido, abriga cerca de quatro mil pessoas em
te vivem no Estado de Tocantins. um território que estende pelos municípios de Cavalcante, Monte
Alegre e Teresina de Goiás. Seu patrimônio cultural celebra festas
Karajá santas repletas de rituais cerimoniosos, como a Festa do Império e
Os grupos indígenas Karajá, Javaé e Xambioá pertencem ao o Levantamento do mastro, que atraem turistas todos os anos para
tronco linguístico Macro-Jê, família Karajá, compartilhando a mes- a região.
ma língua e cultura. Viviam nas margens do rio Araguaia, próximo à
Ilha do Bananal. Ao longo do século XIX, entraram em conflito com Quilombolos registrados em Goiás
as guarnições militares sediadas no presídio de Santa Maria, sendo Acaba Vida: na mesma região de Niquelândia, ocupavam terras
que os Karajá de Aruanã são a única aldeia do grupo que atualmen- férteis e era conhecido localmente, sendo citado em 1879.
te vivem no Estado de Goiás. Ambrósio: existiu na região do Triângulo Mineiro, que, até
1816, pertencia a Goiás. Teve mais de mil moradores e foi destruí-
Timbira do por massacre.
Eram bastante numerosos e habitavam uma vasta região entre Cedro: localizado no atual município de Mineiros, tinha cerca
a Caatinga do Nordeste e o Cerrado, abrangendo o sul do Mara- de 250 moradores que praticam a agricultura de subsistência. So-
nhão e o norte de Goiás. Ao longo do século XIX, devido à expansão breviveu até hoje.
pecuária, entraram em conflitos com os criadores de gado que in- Forte: localizado no nordeste de Goiás, sobreviveu até hoje,
vadiam suas terras. O grupo Timbira é formado pelas etnias Krahô, tornando-se povoado do município de São João d’Aliança.
Apinajé, Gavião, Canela, Afotogés, Corretis, Otogés, Porecramec- Kalunga: localizado no Vão do Paranã, no nordeste de Goiás,
rãs, Macamecrãs e Temembus. existe há 250 anos, tendo sido descoberto pela sociedade nacional
somente em fins do anos 1960. Tem 5 mil habitantes, distribuídos
Tapirapés em vários núcleos na mesma região.
Pertencem ao tronco linguístico Tupi, família Tupi-Guarani. Mesquita: próximo à atual cidade de Luziânia, estendia sua po-
Este grupo inicialmente habitava a oeste do rio Araguaia e eventu- pulação para diversas localidades no seu entorno.
almente frequentavam a ilha do Bananal. Com o passar do tempo, Muquém: próximo à atual cidade de Niquelândia e junto ao
se estabeleceram ao longo do rio Tapirapés, onde atualmente ain- povoado de mesmo nome, foi notório, mas deixou poucas informa-
da vivem os remanescentes do grupo. ções a seu respeito.

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REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS

Papuã: na mesma região do Muquém, foi descoberto em 1741 Em termos de gênero, a população feminina sai na frente. São
e destruído anos depois pelos colonizadores. 3.022.161 mulheres, contra 2.981.627 homens – em uma propor-
Pilar: próximo à cidade de mesmo nome, foi destruído em lu- ção de 98 homens para cada 100 mulheres. Reflexo também sen-
tas. Seus 300 integrantes chegaram a planejar a morte de todos os tido na capital, Goiânia, com 681.144 mulheres e 620.857 homens
brancos do local, mas o plano foi descoberto antes. (diferença de 60.287 pessoas).
Tesouras: no arraial de mesmo nome, tinha até atividades de
mineração e um córrego inclusive chamado Quilombo. Artes
Três Barras: tinha 60 integrantes, conhecidos pelos insultos e Goiás é pleno em artes. O Estado conjuga sob sua tutela mani-
provocações ao viajantes. festações artísticas variadas, que englobam do traço primitivo até o
São Gonçalo: próxima à cidade de Goiás, então capital, seus mais moderno desenho. Contemplado com nomes de peso no ce-
integrantes atacavam roças e rebanhos das fazendas vizinhas. nário regional, Goiás é expressivo quanto aos artistas que contaram
em prosa e verso as belezas do Cerrado ou o ritmo de um Estado
Goianos e Goianienses em crescimento e mesmo as nuances de ritos cotidianos
A composição inicial da população de Goiás se deu por meio da Na escultura, José Joaquim da Veiga Valle é unanimidade. Na-
convivência nem tão pacífica entre os índios que aqui residiam e as tural de Pirenópolis, esculpia imagens, na maioria em cedro, sendo
levas de paulistas e portugueses que vinham em busca das rique- considerado um dos grandes “santeiros” do século XIX. Suas ma-
zas minerais. Estes por sua vez, trouxeram negros africanos à tira donas são as mais representativas e na época eram expressadas
colo para o trabalho escravista, moldando a costumeira tríade da conforme a devoção de cada pessoa que a encomendava. Já a pin-
miscigenação brasileira entre índios, negros e brancos, e todas as tura é honrada pelas técnicas e pincéis de Siron Franco e Antônio
suas derivações. Entretanto, a formação do caráter goiano vai além Poteiro, artistas renomados e reconhecidos mundialmente em pin-
dessa visão simplista e adquiriu características especiais à medida turas, monumentos e instalações, que vão do primitivismo de Po-
que o espaço físico do Estado passou a ser ocupado teiro até o temas atuais na mãos de Siron Franco. Isso sem contar a
Até o início do século XIX, a maioria da população em Goiás era arte inigualável de Goiandira do Couto, expressa por seus quadros
composta por negros. Os índios que habitavam o Estado ou foram pintados não com tinta, mas com areia colorida retirada da Serra
dizimados pelo ímpeto colonizador ou migraram para aldeamen- Dourada.
tos oficiais. Segundo o recenseamento de 1804, o primeiro oficial, A literatura goiana é destaque à parte. Destacam-se os nomes
85,9% dos goianos eram “pardos e pretos” e este perfil continuou de Hugo de Carvalho Ramos, com Tropas e Boiadas; Basileu Toledo
constante até a introdução das atividades agropecuárias na agenda França e os romances históricos Pioneiros e Jagunços e Capanguei-
econômica do Estado. ros; Bernardo Élis e as obras Apenas um Violão, O Tronco e Ermos
Havia no imaginário popular da época a ideia de sertão pre- Gerais; Carmo Bernardes com Jurubatuba e Selva-Bichos e Gente;
sente na constituição física do Estado. O termo, no entanto, reme- Gilberto Mendonça Teles, considerado o escritor goiano mais fa-
teria a duas possibilidades distintas de significação: assim como na moso na Europa, com A Raiz da Fala e Hora Aberta; Yêda Schmaltz
África, representava o vazio, isolado e atrasado, mas que por outro com Baco e Anas Brasileiras; Pio Vargas e Anatomia do Gesto e Os
lado se apresentava como desafio a ser conquistado pela ocupação Novelos do Acaso; e Leo Lynce, um dos precursores do modernis-
territorial. mo, com seu livro Ontem.
Essa ocupação viria acompanhada predominantemente pela
domesticação do sertão segundo um modelo de trabalho familiar, Cora Coralina
cujo personagem principal, o sertanejo, assumiu para si a respon- Ana Lins Guimarães Peixoto Bretas tinha quase 76 anos quando
sabilidade da construção do país, da ocupação das fronteiras e, por publicou seu primeiro livro, Poemas dos Becos de Goiás e Estórias
seguinte, da Marcha para o Oeste impulsionadora do desenvolvi- Mais. Conhecida pelo pseudônimo de Cora Coralina foi poetisa e
mento brasileiro. Registros da época dão conta de processos migra- contista, sendo considerada uma das maiores escritoras brasileiras
tórios ao longo do século XIX e metade do século XX, com correntes do século XX. Também era conhecida por seus dotes culinários, es-
migratórias de Minas Gerais, Bahia, Maranhão e Pará, resultando pecialmente na feitura dos típicos doces da cidade de Goiás, onde
em uma ampla mestiçagem na caracterização do personagem ser- morava – motivo do qual é evidente a presença do cotidiano inte-
tanejo. riorano brasileiro, em especial dos becos e ruas de pedras históri-
O sertanejo, aí, habitante do vazio e isolado sertão, tinha uma cas, em sua obra.
vida social singela e pobre de acontecimentos. O calendário litúrgi-
co e a chegada de tropas e boiadas traziam as únicas novidades pe- Festas e festivais
las bocas de cristãos e mascates. Nessa época, a significação da vida O Estado de Goiás promove, constantemente, manifestações
estava diretamente ligada ao campo e dele resultaram, segundo as artísticas conjuntas de forma a apresentar novos nomes do cená-
atividades registradas nos arraias, o militar, o jagunço, o funcioná- rio regional. Três festivais têm espaço garantido no calendário de
rio público, o comerciante e o garimpeiro. eventos estadual, dando repercussão à cultura audiovisual, drama-
Ao longo do século XX, novas levas migratórias, dessa vez do turgia e à música. Na cidade de Goiás, é realizado o Festival Interna-
sul e de estrangeiros começam a ser registradas no território goia- cional de Cinema e Vídeo Ambiental, o Fica; em Porangatu, a Mos-
no, de modo que no Censo do ano 2000, os cinco milhões de ha- tra de Teatro Nacional de Porangatu, o TeNPo; e o Festival Canto da
bitantes se declararam como 50,7% de brancos, 43,4% de pardos, Primavera, em Pirenópolis.
4,5% de negros e 0,24% de outras etnias.
Festas religiosas
Goianos e muitas goianas Resultado do processo de formação da chamada gente goiana,
O último Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geogra- o legado religioso no Estado de Goiás está intimamente ligado ao
fia e Estatística (IBGE) de 2010 confirmou uma população residente processo de colonização portuguesa registrado por quase toda a
em Goiás de 6.003.788 habitantes, com crescimento acima da mé- extensão do território brasileiro. Reflexo dessa realidade é a forte
dia nacional, que foi de 1,17% ao ano presença de elementos cristãos nas manifestações populares, que
a exemplo da formação do sertanejo se consolidavam como uma

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POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS
das poucas opções de entretenimento da época. Por todo o Estado, A pamonha
são costumeiras as distribuições das cidades no espaço geográfico Iguaria feita à base de milho verde, a pamonha está ligada
partindo de uma igreja católica como ponto central do município, diretamente à tradição goiana. Encontrada em diversos sabores,
o que lhes atribuía também o direcionamento das festas populares salgados, doces, apimentados e com os mais diferentes recheios,
Pirenópolis e cidade de Goiás talvez sejam as maiores expres- que incluem até jiló e guariroba, a pamonha é quase unanimidade
sões desse tradicionalismo cristão imbuído em festejos tradicio- no prato do goiano, frita, cozida ou assada, especialmente em dias
nais. São famosas as Festas do Divino Espírito Santo, Cavalhadas chuvosos. Difícil mesmo encontrar algum goiano que não goste de
e comemorações da Semana Santa, como a Procissão do Fogaréu. comê-la e, principalmente, de fazê-la. É comum, especialmente no
No entanto, de norte a sul, fervilham expressões populares, quer interior, reunir familiares e amigos para preparar caldeirões imen-
seja em vilarejos, como a tradicional Romaria de Nossa Senhora do sos da pamonhada, como forma de integração social. Homens, mu-
Muquém, no distrito de Niquelândia, ou próximo a grandes centros lheres, crianças, jovens e adultos – todos participam. E é, em geral,
urbanos, caso da cidade de Trindade, próximo à Goiânia, e o Santu- coisa de amigos íntimos, ditos “de dentro de casa”.
ário do Divino Pai Eterno.
Mesmo no interior, esses valores persistem e são comuns no Manifestações populares
começo do ano as Folias de Reis que dão o tom de festa e oração O desenrolar da história de Goiás propiciou o aparecimento
firmes no intuito de retribuir graças recebidas, como uma boa co- de diversas atividades culturais no Estado, das quais originaram
lheita ou recuperação de enfermidades. Na adoração ao menino legítimas manifestações do folclore goiano. Apesar de boa parte
Jesus, segundo a saga dos três santos reis magos, os festeiros ar- delas estar relacionada ao legado religioso introduzido pelos por-
recadam alimentos, animais e até dinheiro para cobrir as despesas tugueses, o movimento cultural que floresceu no Estado agregou
da festa popularizando a fé e promovendo a socialização entre co- tradições indígenas, africanas e europeias de maneira a abrigar um
munidades. sincretismo não apenas religioso, mas de tradições, ritmos e mani-
O Divino em Pirenópolis e o Fogaréu da cidade de Goiás É qua- festações que tornaram a cultura goiana um mix de sensações que
se um consenso geral a polaridade existente entre as tradições de vão da batida do tambor da Congada e dos mantras entoados nas
Pirenópolis e da cidade de Goiás. De um lado, Pirenópolis aposta orações ao Divino, até a cadência da viola sertaneja ou o samba e o
nas bênçãos do Divino Espírito Santo para consagrar sua festa em rock que por aqui também fizeram morada.
louvor ao Pentecostes. Por outro lado, a cidade de Goiás carrega As Cavalhadas talvez sejam uma das manifestações populares
entre o seu legado a tradição medieval do ritual da Procissão do mais dinâmicas e expressivas do Estado de Goiás. A encenação épi-
Fogaréu, durante a Semana Santa, no qual mais de três mil pessoas ca da luta entre mouros e cristãos na Península Ibérica é apresenta-
acompanham a caçada feita pelos faricocos, personagens centrais da tradicionalmente por diversas cidades goianas, tendo seu ápice
do cortejo que representam os soldados romanos, a Jesus Cristo. no município de Pirenópolis, quinze dias após a realização da Festa
do Divino. Toda a cidade se prepara para a apresentação, traves-
Gastronomia tida no esforço popular em carregar o estandarte que representa
Em Goiás, comer é um ato social. A comida carrega traços da sua milícia. O azul cristão trava a batalha contra o rubro mouro,
identidade e da memória do povo goiano, tanto que a cozinha típica ornados ambos de luxuosos mantos, plumas, pedras incrustadas e
goiana é geralmente grande e uma das partes mais importantes da elmos metálicos, desenhando, por conseguinte, símbolos da cris-
casa, por agregar ritos e hábitos do ato de fazer a comida. Historica- tandade como o peixe ou a pomba branca – símbolo do Divino – e
mente, a culinária goiana se desenvolveu carregada de influências e do lado muçulmano o dragão e a lua crescente. Paralelamente, os
misturas que, em virtude da colonização e da escassez de alimentos mascarados quebram a solenidade junto ao público, introduzindo
vindos de outras capitanias, teve que buscar adaptações de acordo o sarcástico e profano, em meio a um dos maiores espetáculos do
com a realidade local, em especial a do Cerrado. O folclorista Ba- Centro-Oeste.
riani Ortêncio, em seu livro Cozinha goiana: histórico e receituário, As Congadas dão outro show à parte. Realizadas tradicional-
resumiu essa ideia ao ressaltar essas substituições. Se não havia a mente no município de Catalão, reúnem milhares de pessoas no
batatinha inglesa, havia a mandioca e o inhame nativos, a serralha desenrolar do desfile dos ternos de Congo que homenageiam o es-
entrava no lugar do almeirão e a taioba substituía a couve. cravo Chico Rei e sua luta pela libertação de seus companheiros,
E assim, foram introduzidos na panela goiana, o pequi, a guari- com o bônus da devoção à Nossa Senhora do Rosário. Ao toque de
roba, além dos diversos frutos do Cerrado, como o cajá-manga e a três apitos, os generais dão início às batidas de percussão dos mais
mangaba, consumidos também em sucos, compotas, geleias, doces de 20 ternos que se revezam entre Catupés-Cacunda, Vilão, Mo-
e sorvetes. çambiques, Penacho e Congos, cada qual com suas cores em cerca
Do fogão caipira até as mais modernas cozinhas industriais é de dez dias de muita festa.
costumeiro se ouvir falar no tradicional arroz com pequi, cujo chei-
ro característico anuncia de longe o cardápio da próxima refeição. A raiz e o sertanejo
O pequi, aliás, é figura tão certa na tradição goiana, quanto os cui- Nem só de manifestações religiosas vive a tradicional cultura
dados ministrados àqueles que se aventuram a experimentá-lo goiana. Uma dança bastante antiga e muito representativa do Es-
pela primeira vez. A quem não sabe, não se morde, nem se parte o tado também faz as vezes em apresentar Goiás aos olhos dos visi-
pequi. O fruto é roído com os dentes incisivos e qualquer menção tantes. A Catira que tem seus primeiros registros desde o tempo
no sentido de mordê-lo pode resultar em uma boca recheada de colonial não tem origem certeira. Há relatos de caráter europeu,
dolorosos espinhos africano e até mesmo indígena, com resquícios do processo ca-
Também se inclui no cardápio típico goiano a paçoca de pilão, tequizador como forma de introduzir cantos cristãos na possível
o peixe assado na telha e a galinhada. A galinhada, por sinal, não dança indígena. No entanto, seu modo de reprodução compassado
se resume ao frango com arroz. É mais, acompanhada de açafrão, entre batidas de mãos e pés, permeados por cantigas de violeiros
milho e cheiro verde, rendendo uma mistura que agrada a ambos, perfaz a beleza cadenciada pela dança
olfato e paladar. Sem contar a infinidade de doces típicos interiora-
nos, visto na leveza de alfenins, pastelinhos, ambrosias, entre ou-
tras guloseimas.

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REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS

A viola, aliás, está presente em boa parte do cancioneiro po- Os interesses pessoais em assuntos deste cunho não são con-
pular goiano, especialmente nos gêneros caipira e sertanejo, que denáveis de modo algum, mas são triviais quanto ao estudo.
em conjunto com sanfonas e gaitas têm sido bastante divulgados, Ainda assim, mesmo que tentemos nos manter atualizados
geralmente por duplas de cantores. Diferenças, no entanto, podem através de revistas e telejornais, o fluxo interminável e ininterrupto
ser notadas quanto à temática, uma vez que o sertanejo tem se de informações veiculados impede que saibamos de fato como es-
apresentado majoritariamente enquanto produto da indústria cul- tudar. Apostilas e livros de concursos impressos também se tornam
tural e a música de raiz ou caipira se inspirado nas belezas do cam- rapidamente desatualizados e obsoletos, pois atualidades é uma
po e do cotidiano do sertanejo. disciplina que se renova a cada instante.
O mundo da informação está cada vez mais virtual e tecnoló-
Pluralidade de ritmos gico, as sociedades se informam pela internet e as compartilham
Nem só de sertanejo vive o Estado de Goiás. Na verdade, rit- em velocidades incalculáveis. Pensando nisso, a editora prepara
mos antes considerados característicos de eixos do Sudeste do país mensalmente o material de atualidades de mais diversos campos
têm demarcado cada vez mais seu espaço dentro do território goia- do conhecimento (tecnologia, Brasil, política, ética, meio ambiente,
no. Bons exemplos são a cena alternativa e do rock, divulgados em jurisdição etc.) na “área do cliente”.
peso por festivais de renome como o Bananada e o Vaca Amarela, Lá, o concurseiro encontrará um material completo com ilus-
enquanto que, por outro lado, rodas de samba e apresentações trações e imagens, notícias de fontes verificadas e confiáveis, tudo
de chorinho também têm angariado novos adeptos, dentre outros preparado com muito carinho para seu melhor aproveitamento.
tantos ritmos encontrados na cultura goiana. Com o material disponibilizado online, você poderá conferir e che-
Fonte: http://www.goias.gov.br/ car os fatos e fontes de imediato através dos veículos de comunica-
ção virtuais, tornando a ponte entre o estudo desta disciplina tão
fluida e a veracidade das informações um caminho certeiro.
ATUALIDADES ECONÔMICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS DO Acesse: https://www.editorasolucao.com.br/errata-retificacao
BRASIL, ESPECIALMENTE DO ESTADO DE GOIÁS Bons estudos!

A importância do estudo de atualidades QUESTÕES

Dentre todas as disciplinas com as quais concurseiros e estu-


dantes de todo o país se preocupam, a de atualidades tem se tor- 1. Goiânia foi fundada em 1937 para ser a nova capital de Goi-
nado cada vez mais relevante. Quando pensamos em matemática, ás. Antes dela a capital do estado de Goiás era:
língua portuguesa, biologia, entre outras disciplinas, inevitavelmen- (A) A cidade de Goiás, antiga Vila Boa.
te as colocamos em um patamar mais elevado que outras que nos (B) A cidade de Itumbiara, antiga Vila Real.
parecem menos importantes, pois de algum modo nos é ensinado a (C) A cidade de Pirinópolis, antiga Vila Nova.
hierarquizar a relevância de certos conhecimentos desde os tempos (D) A cidade de Caldas Novas, antiga Vila Bela.
de escola.
No, entanto, atualidades é o único tema que insere o indivíduo 2. Foi somente no início do século XX que o Brasil passou a ter a
no estudo do momento presente, seus acontecimentos, eventos configuração atual. Porém, internamente a divisão era diferente. O
e transformações. O conhecimento do mundo em que se vive de estado de Tocantins foi criado em 1988 após a divisão do seguinte
modo algum deve ser visto como irrelevante no estudo para concur- estado:
sos, pois permite que o indivíduo vá além do conhecimento técnico (A) Pará.
e explore novas perspectivas quanto à conhecimento de mundo. (B) Goiás.
Em sua grande maioria, as questões de atualidades em con- (C) Amazonas.
cursos são sobre fatos e acontecimentos de interesse público, mas (D) Mato Grosso.
podem também apresentar conhecimentos específicos do meio po-
lítico, social ou econômico, sejam eles sobre música, arte, política,
economia, figuras públicas, leis etc. Seja qual for a área, as questões
de atualidades auxiliam as bancas a peneirarem os candidatos e se-
lecionarem os melhores preparados não apenas de modo técnico.
Sendo assim, estudar atualidades é o ato de se manter cons-
tantemente informado. Os temas de atualidades em concursos são
sempre relevantes. É certo que nem todas as notícias que você vê
na televisão ou ouve no rádio aparecem nas questões, manter-se
informado, porém, sobre as principais notícias de relevância nacio-
nal e internacional em pauta é o caminho, pois são debates de ex-
trema recorrência na mídia.
O grande desafio, nos tempos atuais, é separar o joio do trigo.
Com o grande fluxo de informações que recebemos diariamente, é
preciso filtrar com sabedoria o que de fato se está consumindo. Por
diversas vezes, os meios de comunicação (TV, internet, rádio etc.)
adaptam o formato jornalístico ou informacional para transmitirem
outros tipos de informação, como fofocas, vidas de celebridades,
futebol, acontecimentos de novelas, que não devem de modo al-
gum serem inseridos como parte do estudo de atualidades.

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POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS
3. Na segunda metade do século XIX, como resultado do ritmo 7. Sobre aspectos físicos do território goiano: vegetação, hidro-
de transformação da estrutura econômica produtiva do Centro-Sul grafia, clima e relevo. É incorreto afirmar que
do País a partir do alargamento da fronteira agrícola, ocorreu uma (A) O Cerrado é considerado o segundo maior bioma brasileiro,
expansão das estradas de ferro, com o prolongamento das ferro- atrás apenas da Floresta Amazônica, possui representatividade
vias paulistas para além dos limites do estado de São Paulo. Os tri- no território goiano. Mesmo com elevado nível de desmata-
lhos seguiram em direção a outros estados, como no caso de Goiás, mento registrado desde a década de 1960, Goiás conseguiu
com a construção da Estrada de Ferro Goiás, ligando-se à Estrada manter reservas da mata nativa em algumas regiões, o que
de Ferro Mogiana, localizada em solo mineiro. gera discussões entre fazendeiros e ambientalistas.
Internet: <www.revistas.ufg.br> (com adaptações). (B) O Estado de Goiás tem apenas duas estações sazonais que
são a seca e a chuvosa. A “estação seca” tem seu início no mês
A justificativa da construção da ferrovia goiana estava ancora- de abril e estende-se até a primeira quinzena de outubro. Já
da no(na) a “estação chuvosa” tem seu início na segunda quinzena de
(A) posição assumida pelo estado de Goiás como região produ- outubro e se estende até março do ano seguinte. (Simehgo/
tora e fornecedora de produtos agrícolas básicos para os mer- Sectec).
cados da região Sudeste. (C) O Estado de Goiás possui vegetação de savana, típica do
(B) pensamento, predominante naquele momento, de que a cerrado, reflexo da escassez de água na região. Goiás é precário
construção da nova capital do estado demandaria ligações fer- em recursos hídricos.
roviárias com o restante do País. (D) Além da presença marcante dos planaltos, dentro dos limi-
(C) significativa produção de café no sul goiano, que seria ma-
tes do Estado de Goiás, encontramos também áreas de planí-
joritariamente encaminhada ao porto de Santos, em São Paulo,
cies e depressões.
por via férrea.
(E) O Estado de Goiás está localizado no Planalto Central Brasi-
(D necessidade de escoar a vasta produção de minerais, como
leiro, o que justifica a predominância de planaltos em seu re-
níquel e fosfato, produzidos no norte goiano.
(E) possibilidade de que funcionasse como vetor de transferên- levo.
cia maciça dos imigrantes que chegavam de Minas Gerais.
8. Das mesorregiões do Estado de Goiás, a que possui o maior
4. O Rio Paranaíba é um dos rios mais importantes do estado quantitativo populacional e abriga a capital do Estado é a do
de Goiás porque é utilizado para (A) Sul Goiano.
(A) a geração de energia elétrica, abrigando grandes barragens. (B) Centro Goiano.
(B) o abastecimento de mais de trinta cidades, incluindo a ca- (C) Norte Goiano.
pital. (D) Leste Goiano.
(C) as atividades de turismo, formando praias no período de
estiagem. 9. (QUADRIX - 2019 - PREFEITURA DE CRISTALINA - GO -
(D) o desenvolvimento da aquicultura, diversificando a econo- ASSISTENTE SOCIAL) A porção do Sudeste Goiano denominada
mia regional. “região da Estrada de Ferro”, após ter passado por um período de
crescimento econômico no início do século XX, a partir de 1930,
5. Analisando os aspectos físicos do território goiano, notada- enfrentou a estagnação, vindo a recuperar sua primazia apenas a
mente quanto ao relevo e à hidrografia, é correto afirmar que partir dos anos de 1970.
(A) predominam, em Goiás, rios meândricos e intermitentes,
com pequena influência do clima em suas vazões. Patrícia Francisca de Matos. Estrada de Ferro: o anúncio das
(B) as maiores declividades do relevo de Goiás ocorrem no su- metamorfoses de modernização do território no Sudeste Goiano.
doeste do estado, o que dificulta as práticas agrícolas mecani- In: Revista eletrônica Ateliê Geográfico, UFG‐IESA, p. 14.
zadas.
(C) a região em que se inserem o estado de Goiás e o Distrito Com relação à formação econômica de Goiás e às suas trans-
Federal é divisora de águas de três grandes bacias hidrográficas formações ao longo do século XX, assinale a alternativa correta.
brasileiras. (A) A estagnação ocorrida a partir de 1930 tem, entre seus mo-
(D) poucos pontos do território goiano ultrapassam os dois mil tivos, a expansão da ferrovia até Anápolis, o que viria a consoli-
metros de altitude em relação ao nível do mar, resultado da
dar o domínio comercial por outras regiões do estado.
antiguidade de sua formação e da ação de agentes erosivos ex-
(B) A construção de Goiânia não impactou na decadência da
ternos.
região da Estrada de Ferro, visto que sua influência econômica
(E) diversos corpos hídricos goianos cumprem importante pa-
se deu apenas no campo político.
pel na geração de energia elétrica, a exemplo do rio das Almas
e do rio Maranhão, que abastecem, respectivamente, as usinas (C) Liderados por Mauro Borges, grupos que se opunham aos
de Serra da Mesa e de Corumbá. coronéis da região da Estrada de Ferro investiram na moder-
nização de outras áreas e contribuíram, nos anos 1930, para a
6. A Cidade de Goiás, declarada patrimônio histórico, surgiu às decadência dessa região.
margens do Rio Vermelho, fruto da (D) Apesar da estagnação econômica referida, o Sudeste Goia-
(A) fixação dos entrepostos comerciais criados pelos tropeiros. no viveu, entre 1930 e 1970, um forte incremento na dinâmica
(B) expansão das lavouras cafeeiras realizada pelos fazendeiros. populacional, tornando‐se a região mais populosa do estado.
(C) atividade de exploração mineradora iniciada pelos bandei- (E) Mesmo com menor fluxo de capitais em relação às décadas
rantes. anteriores a 1930, a região da Estrada de Ferro continuou sen-
(D) implementação da pecuária extensiva promovida pelos co- do, até 1970, grande exportadora de produtos da agropecuária.
lonizadores.

75
REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL,
POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO DE GOIÁS

10. (IADES - 2019 - AL-GO - TÉCNICO EM ENFERMAGEM DO ______________________________________________________


TRABALHO) A consolidação do espaço geográfico da capitania de
Goiás, localizada na região central do Brasil, foi marcada pela polí- ______________________________________________________
tica centralizadora de ocupação colonial portuguesa do século 18.
Em relação ao exposto, assinale a alternativa que indica o pro- ______________________________________________________
cesso histórico na formação e desenvolvimento econômico da ca- ______________________________________________________
pitania de Goiás.
(A) A limitação da ocupação portuguesa a Oeste do meridiano ______________________________________________________
de Tordesilhas, conforme acordo entre os governos de Espanha
e Portugal no ano de 1494. ______________________________________________________
(B) A adoção do sistema de sesmaria e o incentivo às atividades
mineradoras e agropastoris. ______________________________________________________
(C) A proibição, por Portugal, da criação de prelazia na capita-
nia de Goiás. ______________________________________________________
(D) A restrição, pela Coroa portuguesa, da construção de aldea-
______________________________________________________
mentos e limitação da entrada de imigrantes na região.
(E) A legitimação e ocupação do território de Goiás com o Tra- ______________________________________________________
tado de Tordesilhas, firmado entre as coroas portuguesa e es-
panhola, em 1750. ______________________________________________________

______________________________________________________
GABARITO
______________________________________________________

______________________________________________________

1 A ______________________________________________________
2 B
______________________________________________________
3 A
______________________________________________________
4 A
5 C ______________________________________________________
6 C ______________________________________________________
7 C
______________________________________________________
8 B
9 A ______________________________________________________
10 B ______________________________________________________

______________________________________________________
ANOTAÇÕES
______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

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______________________________________________________ ______________________________________________________

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______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

_____________________________________________________ ______________________________________________________

_____________________________________________________ ______________________________________________________

76
76
RACIOCÍNIO LÓGICO

ESTRUTURAS LÓGICAS; LÓGICA DE ARGUMENTAÇÃO: ANALOGIAS, INFERÊNCIAS, DEDUÇÕES E CONCLUSÕES; LÓGICA


SENTENCIAL (OU PROPOSICIONAL, PROPOSIÇÕES SIMPLES E COMPOSTAS, TABELAS VERDADE, EQUIVALÊNCIAS, LEIS
DE DE MORGAN, DIAGRAMAS LÓGICOS; LÓGICA DE PRIMEIRA ORDEM; PRINCÍPIOS DE CONTAGEM E PROBABILIDA-
DE; OPERAÇÕES COM CONJUNTOS; RACIOCÍNIO LÓGICO ENVOLVENDO PROBLEMAS ARITMÉTICOS, GEOMÉTRICOS
E MATRICIAI

RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO


Este tipo de raciocínio testa sua habilidade de resolver problemas matemáticos, e é uma forma de medir seu domínio das diferentes
áreas do estudo da Matemática: Aritmética, Álgebra, leitura de tabelas e gráficos, Probabilidade e Geometria etc. Essa parte consiste nos
seguintes conteúdos:
- Operação com conjuntos.
- Cálculos com porcentagens.
- Raciocínio lógico envolvendo problemas aritméticos, geométricos e matriciais.
- Geometria básica.
- Álgebra básica e sistemas lineares.
- Calendários.
- Numeração.
- Razões Especiais.
- Análise Combinatória e Probabilidade.
- Progressões Aritmética e Geométrica.

RACIOCÍNIO LÓGICO DEDUTIVO


Este tipo de raciocínio está relacionado ao conteúdo Lógica de Argumentação.

ORIENTAÇÕES ESPACIAL E TEMPORAL


O raciocínio lógico espacial ou orientação espacial envolvem figuras, dados e palitos. O raciocínio lógico temporal ou orientação tem-
poral envolve datas, calendário, ou seja, envolve o tempo.
O mais importante é praticar o máximo de questões que envolvam os conteúdos:
- Lógica sequencial
- Calendários

RACIOCÍNIO VERBAL
Avalia a capacidade de interpretar informação escrita e tirar conclusões lógicas.
Uma avaliação de raciocínio verbal é um tipo de análise de habilidade ou aptidão, que pode ser aplicada ao se candidatar a uma vaga.
Raciocínio verbal é parte da capacidade cognitiva ou inteligência geral; é a percepção, aquisição, organização e aplicação do conhecimento
por meio da linguagem.
Nos testes de raciocínio verbal, geralmente você recebe um trecho com informações e precisa avaliar um conjunto de afirmações,
selecionando uma das possíveis respostas:
A – Verdadeiro (A afirmação é uma consequência lógica das informações ou opiniões contidas no trecho)
B – Falso (A afirmação é logicamente falsa, consideradas as informações ou opiniões contidas no trecho)
C – Impossível dizer (Impossível determinar se a afirmação é verdadeira ou falsa sem mais informações)

ESTRUTURAS LÓGICAS
Precisamos antes de tudo compreender o que são proposições. Chama-se proposição toda sentença declarativa à qual podemos atri-
buir um dos valores lógicos: verdadeiro ou falso, nunca ambos. Trata-se, portanto, de uma sentença fechada.

Elas podem ser:


• Sentença aberta: quando não se pode atribuir um valor lógico verdadeiro ou falso para ela (ou valorar a proposição!), portanto, não
é considerada frase lógica. São consideradas sentenças abertas:
- Frases interrogativas: Quando será prova? - Estudou ontem? – Fez Sol ontem?

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RACIOCÍNIO LÓGICO
- Frases exclamativas: Gol! – Que maravilhoso!
- Frase imperativas: Estude e leia com atenção. – Desligue a televisão.
- Frases sem sentido lógico (expressões vagas, paradoxais, ambíguas, ...): “esta frase é falsa” (expressão paradoxal) – O cachorro do
meu vizinho morreu (expressão ambígua) – 2 + 5+ 1

• Sentença fechada: quando a proposição admitir um ÚNICO valor lógico, seja ele verdadeiro ou falso, nesse caso, será considerada
uma frase, proposição ou sentença lógica.

Proposições simples e compostas


• Proposições simples (ou atômicas): aquela que NÃO contém nenhuma outra proposição como parte integrante de si mesma. As
proposições simples são designadas pelas letras latinas minúsculas p,q,r, s..., chamadas letras proposicionais.

• Proposições compostas (ou moleculares ou estruturas lógicas): aquela formada pela combinação de duas ou mais proposições
simples. As proposições compostas são designadas pelas letras latinas maiúsculas P,Q,R, R..., também chamadas letras proposicionais.

ATENÇÃO: TODAS as proposições compostas são formadas por duas proposições simples.

Proposições Compostas – Conectivos


As proposições compostas são formadas por proposições simples ligadas por conectivos, aos quais formam um valor lógico, que po-
demos vê na tabela a seguir:

OPERAÇÃO CONECTIVO ESTRUTURA LÓGICA TABELA VERDADE

Negação ~ Não p

Conjunção ^ peq

Disjunção Inclusiva v p ou q

Disjunção Exclusiva v Ou p ou q

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78
RACIOCÍNIO LÓGICO

Condicional → Se p então q

Bicondicional ↔ p se e somente se q

Em síntese temos a tabela verdade das proposições que facilitará na resolução de diversas questões

Exemplo:
(MEC – CONHECIMENTOS BÁSICOS PARA OS POSTOS 9,10,11 E 16 – CESPE)

A figura acima apresenta as colunas iniciais de uma tabela-verdade, em que P, Q e R representam proposições lógicas, e V e F corres-
pondem, respectivamente, aos valores lógicos verdadeiro e falso.
Com base nessas informações e utilizando os conectivos lógicos usuais, julgue o item subsecutivo.
A última coluna da tabela-verdade referente à proposição lógica P v (Q↔R) quando representada na posição horizontal é igual a

( ) Certo
( ) Errado

79
RACIOCÍNIO LÓGICO
Resolução:
P v (Q↔R), montando a tabela verdade temos:

R Q P [P v (Q ↔ R) ]
V V V V V V V V
V V F F V V V V
V F V V V F F V
V F F F F F F V
F V V V V V F F
F V F F F V F F
F F V V V F V F
F F F F V F V F

Resposta: Certo

Proposição
Conjunto de palavras ou símbolos que expressam um pensamento ou uma ideia de sentido completo. Elas transmitem pensamentos,
isto é, afirmam fatos ou exprimem juízos que formamos a respeito de determinados conceitos ou entes.

Valores lógicos
São os valores atribuídos as proposições, podendo ser uma verdade, se a proposição é verdadeira (V), e uma falsidade, se a proposi-
ção é falsa (F). Designamos as letras V e F para abreviarmos os valores lógicos verdade e falsidade respectivamente.
Com isso temos alguns aximos da lógica:
– PRINCÍPIO DA NÃO CONTRADIÇÃO: uma proposição não pode ser verdadeira E falsa ao mesmo tempo.
– PRINCÍPIO DO TERCEIRO EXCLUÍDO: toda proposição OU é verdadeira OU é falsa, verificamos sempre um desses casos, NUNCA
existindo um terceiro caso.

“Toda proposição tem um, e somente um, dos valores, que são: V ou F.”

Classificação de uma proposição


Elas podem ser:
• Sentença aberta: quando não se pode atribuir um valor lógico verdadeiro ou falso para ela (ou valorar a proposição!), portanto, não
é considerada frase lógica. São consideradas sentenças abertas:
- Frases interrogativas: Quando será prova? - Estudou ontem? – Fez Sol ontem?
- Frases exclamativas: Gol! – Que maravilhoso!
- Frase imperativas: Estude e leia com atenção. – Desligue a televisão.
- Frases sem sentido lógico (expressões vagas, paradoxais, ambíguas, ...): “esta frase é falsa” (expressão paradoxal) – O cachorro do
meu vizinho morreu (expressão ambígua) – 2 + 5+ 1

• Sentença fechada: quando a proposição admitir um ÚNICO valor lógico, seja ele verdadeiro ou falso, nesse caso, será considerada
uma frase, proposição ou sentença lógica.

Proposições simples e compostas


• Proposições simples (ou atômicas): aquela que NÃO contém nenhuma outra proposição como parte integrante de si mesma. As
proposições simples são designadas pelas letras latinas minúsculas p,q,r, s..., chamadas letras proposicionais.

Exemplos
r: Thiago é careca.
s: Pedro é professor.

• Proposições compostas (ou moleculares ou estruturas lógicas): aquela formada pela combinação de duas ou mais proposições
simples. As proposições compostas são designadas pelas letras latinas maiúsculas P,Q,R, R..., também chamadas letras proposicionais.

Exemplo
P: Thiago é careca e Pedro é professor.

ATENÇÃO: TODAS as proposições compostas são formadas por duas proposições simples.

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80
RACIOCÍNIO LÓGICO
Exemplos:
1. (CESPE/UNB) Na lista de frases apresentadas a seguir:
– “A frase dentro destas aspas é uma mentira.”
– A expressão x + y é positiva.
– O valor de √4 + 3 = 7.
– Pelé marcou dez gols para a seleção brasileira.
– O que é isto?

Há exatamente:
(A) uma proposição;
(B) duas proposições;
(C) três proposições;
(D) quatro proposições;
(E) todas são proposições.

Resolução:
Analisemos cada alternativa:
(A) “A frase dentro destas aspas é uma mentira”, não podemos atribuir valores lógicos a ela, logo não é uma sentença lógica.
(B) A expressão x + y é positiva, não temos como atribuir valores lógicos, logo não é sentença lógica.
(C) O valor de √4 + 3 = 7; é uma sentença lógica pois podemos atribuir valores lógicos, independente do resultado que tenhamos
(D) Pelé marcou dez gols para a seleção brasileira, também podemos atribuir valores lógicos (não estamos considerando a quantidade
certa de gols, apenas se podemos atribuir um valor de V ou F a sentença).
(E) O que é isto? - como vemos não podemos atribuir valores lógicos por se tratar de uma frase interrogativa.
Resposta: B.

Conectivos (conectores lógicos)


Para compôr novas proposições, definidas como composta, a partir de outras proposições simples, usam-se os conectivos. São eles:

OPERAÇÃO CONECTIVO ESTRUTURA LÓGICA TABELA VERDADE

Negação ~ Não p

Conjunção ^ peq

Disjunção Inclusiva v p ou q

Disjunção Exclusiva v Ou p ou q

81
RACIOCÍNIO LÓGICO

Condicional → Se p então q

Bicondicional ↔ p se e somente se q

Exemplo:
2. (PC/SP - Delegado de Polícia - VUNESP) Os conectivos ou operadores lógicos são palavras (da linguagem comum) ou símbolos (da
linguagem formal) utilizados para conectar proposições de acordo com regras formais preestabelecidas. Assinale a alternativa que apre-
senta exemplos de conjunção, negação e implicação, respectivamente.
(A) ¬ p, p v q, p ∧ q
(B) p ∧ q, ¬ p, p -> q
(C) p -> q, p v q, ¬ p
(D) p v p, p -> q, ¬ q
(E) p v q, ¬ q, p v q

Resolução:
A conjunção é um tipo de proposição composta e apresenta o conectivo “e”, e é representada pelo símbolo ∧. A negação é repre-
sentada pelo símbolo ~ou cantoneira (¬) e pode negar uma proposição simples (por exemplo: ¬ p ) ou composta. Já a implicação é uma
proposição composta do tipo condicional (Se, então) é representada pelo símbolo (→).
Resposta: B.

Tabela Verdade
Quando trabalhamos com as proposições compostas, determinamos o seu valor lógico partindo das proposições simples que a com-
põe. O valor lógico de qualquer proposição composta depende UNICAMENTE dos valores lógicos das proposições simples componentes,
ficando por eles UNIVOCAMENTE determinados.

• Número de linhas de uma Tabela Verdade: depende do número de proposições simples que a integram, sendo dado pelo seguinte
teorema:
“A tabela verdade de uma proposição composta com n* proposições simples componentes contém 2n linhas.”

Exemplo:
3. (CESPE/UNB) Se “A”, “B”, “C” e “D” forem proposições simples e distintas, então o número de linhas da tabela-verdade da propo-
sição (A → B) ↔ (C → D) será igual a:
(A) 2;
(B) 4;
(C) 8;
(D) 16;
(E) 32.

Resolução:
Veja que podemos aplicar a mesma linha do raciocínio acima, então teremos:
Número de linhas = 2n = 24 = 16 linhas.
Resposta D.

Conceitos de Tautologia , Contradição e Contigência


• Tautologia: possui todos os valores lógicos, da tabela verdade (última coluna), V (verdades).
Princípio da substituição: Seja P (p, q, r, ...) é uma tautologia, então P (P0; Q0; R0; ...) também é uma tautologia, quaisquer que sejam
as proposições P0, Q0, R0, ...

82
82
RACIOCÍNIO LÓGICO
• Contradição: possui todos os valores lógicos, da tabela verdade (última coluna), F (falsidades). A contradição é a negação da Tauto-
logia e vice versa.
Princípio da substituição: Seja P (p, q, r, ...) é uma contradição, então P (P0; Q0; R0; ...) também é uma contradição, quaisquer que sejam
as proposições P0, Q0, R0, ...

• Contingência: possui valores lógicos V e F ,da tabela verdade (última coluna). Em outros termos a contingência é uma proposição
composta que não é tautologia e nem contradição.

Exemplos:
4. (DPU – ANALISTA – CESPE) Um estudante de direito, com o objetivo de sistematizar o seu estudo, criou sua própria legenda, na qual
identificava, por letras, algumas afirmações relevantes quanto à disciplina estudada e as vinculava por meio de sentenças (proposições).
No seu vocabulário particular constava, por exemplo:
P: Cometeu o crime A.
Q: Cometeu o crime B.
R: Será punido, obrigatoriamente, com a pena de reclusão no regime fechado.
S: Poderá optar pelo pagamento de fiança.

Ao revisar seus escritos, o estudante, apesar de não recordar qual era o crime B, lembrou que ele era inafiançável.
Tendo como referência essa situação hipotética, julgue o item que se segue.
A sentença (P→Q)↔((~Q)→(~P)) será sempre verdadeira, independentemente das valorações de P e Q como verdadeiras ou falsas.
( ) Certo
( ) Errado

Resolução:
Considerando P e Q como V.
(V→V) ↔ ((F)→(F))
(V) ↔ (V) = V
Considerando P e Q como F
(F→F) ↔ ((V)→(V))
(V) ↔ (V) = V
Então concluímos que a afirmação é verdadeira.
Resposta: Certo.

Equivalência
Duas ou mais proposições compostas são equivalentes, quando mesmo possuindo estruturas lógicas diferentes, apresentam a mesma
solução em suas respectivas tabelas verdade.
Se as proposições P(p,q,r,...) e Q(p,q,r,...) são ambas TAUTOLOGIAS, ou então, são CONTRADIÇÕES, então são EQUIVALENTES.

Exemplo:
5. (VUNESP/TJSP) Uma negação lógica para a afirmação “João é rico, ou Maria é pobre” é:
(A) Se João é rico, então Maria é pobre.
(B) João não é rico, e Maria não é pobre.
(C) João é rico, e Maria não é pobre.
(D) Se João não é rico, então Maria não é pobre.
(E) João não é rico, ou Maria não é pobre.

83
RACIOCÍNIO LÓGICO
Resolução:
Nesta questão, a proposição a ser negada trata-se da disjunção de duas proposições lógicas simples. Para tal, trocamos o conectivo
por “e” e negamos as proposições “João é rico” e “Maria é pobre”. Vejam como fica:

Resposta: B.

Leis de Morgan
Com elas:
– Negamos que duas dadas proposições são ao mesmo tempo verdadeiras equivalendo a afirmar que pelo menos uma é falsa
– Negamos que uma pelo menos de duas proposições é verdadeira equivalendo a afirmar que ambas são falsas.

ATENÇÃO
As Leis de Morgan exprimem que NEGAÇÃO CONJUNÇÃO em DISJUNÇÃO
transforma: DISJUNÇÃO em CONJUNÇÃO

CONECTIVOS
Para compôr novas proposições, definidas como composta, a partir de outras proposições simples, usam-se os conectivos.

OPERAÇÃO CONECTIVO ESTRUTURA LÓGICA EXEMPLOS


Negação ~ Não p A cadeira não é azul.
Conjunção ^ peq Fernando é médico e Nicolas é Engenheiro.
Disjunção Inclusiva v p ou q Fernando é médico ou Nicolas é Engenheiro.
Disjunção Exclusiva v Ou p ou q Ou Fernando é médico ou João é Engenheiro.
Condicional → Se p então q Se Fernando é médico então Nicolas é Engenheiro.
Bicondicional ↔ p se e somente se q Fernando é médico se e somente se Nicolas é Engenheiro.

Conectivo “não” (~)


Chamamos de negação de uma proposição representada por “não p” cujo valor lógico é verdade (V) quando p é falsa e falsidade (F)
quando p é verdadeira. Assim “não p” tem valor lógico oposto daquele de p. Pela tabela verdade temos:

Conectivo “e” (˄)


Se p e q são duas proposições, a proposição p ˄ q será chamada de conjunção. Para a conjunção, tem-se a seguinte tabela-verdade:

ATENÇÃO: Sentenças interligadas pelo conectivo “e” possuirão o valor verdadeiro somente quando todas as sentenças, ou argumen-
tos lógicos, tiverem valores verdadeiros.

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84
RACIOCÍNIO LÓGICO
Conectivo “ou” (v)
Este inclusivo: Elisabete é bonita ou Elisabete é inteligente. (Nada impede que Elisabete seja bonita e inteligente).

Conectivo “ou” (v)


Este exclusivo: Elisabete é paulista ou Elisabete é carioca. (Se Elisabete é paulista, não será carioca e vice-versa).

• Mais sobre o Conectivo “ou”


– “inclusivo”(considera os dois casos)
– “exclusivo”(considera apenas um dos casos)
Exemplos:
R: Paulo é professor ou administrador
S: Maria é jovem ou idosa
No primeiro caso, o “ou” é inclusivo,pois pelo menos uma das proposições é verdadeira, podendo ser ambas.
No caso da segunda, o “ou” é exclusivo, pois somente uma das proposições poderá ser verdadeira

Ele pode ser “inclusivo”(considera os dois casos) ou “exclusivo”(considera apenas um dos casos)

Exemplo:
R: Paulo é professor ou administrador
S: Maria é jovem ou idosa

No primeiro caso, o “ou” é inclusivo,pois pelo menos uma das proposições é verdadeira, podendo ser ambas.
No caso da segunda, o “ou” é exclusivo, pois somente uma das proposições poderá ser verdadeiro

Conectivo “Se... então” (→)


Se p e q são duas proposições, a proposição p→q é chamada subjunção ou condicional. Considere a seguinte subjunção: “Se fizer sol,
então irei à praia”.
1. Podem ocorrer as situações:
2. Fez sol e fui à praia. (Eu disse a verdade)
3. Fez sol e não fui à praia. (Eu menti)
4. Não fez sol e não fui à praia. (Eu disse a verdade)
5. Não fez sol e fui à praia. (Eu disse a verdade, pois eu não disse o que faria se não fizesse sol. Assim, poderia ir ou não ir à praia).
Temos então sua tabela verdade:

Observe que uma subjunção p→q somente será falsa quando a primeira proposição, p, for verdadeira e a segunda, q, for falsa.

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RACIOCÍNIO LÓGICO
Conectivo “Se e somente se” (↔)
Se p e q são duas proposições, a proposição p↔q1 é chamada bijunção ou bicondicional, que também pode ser lida como: “p é con-
dição necessária e suficiente para q” ou, ainda, “q é condição necessária e suficiente para p”.
Considere, agora, a seguinte bijunção: “Irei à praia se e somente se fizer sol”. Podem ocorrer as situações:
1. Fez sol e fui à praia. (Eu disse a verdade)
2. Fez sol e não fui à praia. (Eu menti)
3. Não fez sol e fui à praia. (Eu menti)
4. Não fez sol e não fui à praia. (Eu disse a verdade). Sua tabela verdade:

Observe que uma bicondicional só é verdadeira quando as proposições formadoras são ambas falsas ou ambas verdadeiras.

ATENÇÃO: O importante sobre os conectivos é ter em mente a tabela de cada um deles, para que assim você possa resolver qualquer
questão referente ao assunto.

Ordem de precedência dos conectivos:


O critério que especifica a ordem de avaliação dos conectivos ou operadores lógicos de uma expressão qualquer. A lógica matemática
prioriza as operações de acordo com a ordem listadas:

Em resumo:

Exemplo:
(PC/SP - DELEGADO DE POLÍCIA - VUNESP) Os conectivos ou operadores lógicos são palavras (da linguagem comum) ou símbolos (da
linguagem formal) utilizados para conectar proposições de acordo com regras formais preestabelecidas. Assinale a alternativa que apre-
senta exemplos de conjunção, negação e implicação, respectivamente.
(A) ¬ p, p v q, p ∧ q
(B) p ∧ q, ¬ p, p -> q
(C) p -> q, p v q, ¬ p
(D) p v p, p -> q, ¬ q
(E) p v q, ¬ q, p v q

Resolução:
A conjunção é um tipo de proposição composta e apresenta o conectivo “e”, e é representada pelo símbolo ∧. A negação é repre-
sentada pelo símbolo ~ou cantoneira (¬) e pode negar uma proposição simples (por exemplo: ¬ p ) ou composta. Já a implicação é uma
proposição composta do tipo condicional (Se, então) é representada pelo símbolo (→).
Resposta: B

CONTRADIÇÕES
São proposições compostas formadas por duas ou mais proposições onde seu valor lógico é sempre FALSO, independentemente do
valor lógico das proposições simples que a compõem. Vejamos:
A proposição: p ^ ~p é uma contradição, conforme mostra a sua tabela-verdade:

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86
RACIOCÍNIO LÓGICO
Exemplo: Propriedades
(PEC-FAZ) Conforme a teoria da lógica proposicional, a propo- • Reflexiva:
sição ~P ∧ P é: – P(p,q,r,...) ⇒ P(p,q,r,...)
(A) uma tautologia. – Uma proposição complexa implica ela mesma.
(B) equivalente à proposição ~p ∨ p.
(C) uma contradição. • Transitiva:
(D) uma contingência. – Se P(p,q,r,...) ⇒ Q(p,q,r,...) e
(E) uma disjunção. Q(p,q,r,...) ⇒ R(p,q,r,...), então
P(p,q,r,...) ⇒ R(p,q,r,...)
Resolução: – Se P ⇒ Q e Q ⇒ R, então P ⇒ R
Montando a tabela teremos que:
Regras de Inferência
P ~p ~p ^p • Inferência é o ato ou processo de derivar conclusões lógicas
de proposições conhecidas ou decididamente verdadeiras. Em ou-
V F F tras palavras: é a obtenção de novas proposições a partir de propo-
V F F sições verdadeiras já existentes.
F V F
Regras de Inferência obtidas da implicação lógica
F V F

Como todos os valores são Falsidades (F) logo estamos diante


de uma CONTRADIÇÃO.
Resposta: C

A proposição P(p,q,r,...) implica logicamente a proposição Q(p,-


q,r,...) quando Q é verdadeira todas as vezes que P é verdadeira. • Silogismo Disjuntivo
Representamos a implicação com o símbolo “⇒”, simbolicamente
temos:

P(p,q,r,...) ⇒ Q(p,q,r,...).

ATENÇÃO: Os símbolos “→” e “⇒” são completamente distin-


tos. O primeiro (“→”) representa a condicional, que é um conec-
tivo. O segundo (“⇒”) representa a relação de implicação lógica • Modus Ponens
que pode ou não existir entre duas proposições.

Exemplo:

• Modus Tollens

Observe:
- Toda proposição implica uma Tautologia:

- Somente uma contradição implica uma contradição:

87
RACIOCÍNIO LÓGICO
Tautologias e Implicação Lógica – Extensão: O critério de extensão ou quantidade classifica
• Teorema uma proposição categórica em universal ou particular. A classifica-
P(p,q,r,..) ⇒ Q(p,q,r,...) se e somente se P(p,q,r,...) → Q(p,q,r,...) ção dependerá do quantificador que é utilizado na proposição.

Entre elas existem tipos e relações de acordo com a qualidade


e a extensão, classificam-se em quatro tipos, representados pelas
letras A, E, I e O.

• Universal afirmativa (Tipo A) – “TODO A é B”


Observe que: Teremos duas possibilidades.
→ indica uma operação lógica entre as proposições. Ex.: das
proposições p e q, dá-se a nova proposição p → q.
⇒ indica uma relação. Ex.: estabelece que a condicional P →
Q é tautológica.

Inferências
• Regra do Silogismo Hipotético

Tais proposições afirmam que o conjunto “A” está contido no


conjunto “B”, ou seja, que todo e qualquer elemento de “A” é tam-
bém elemento de “B”. Observe que “Toda A é B” é diferente de
“Todo B é A”.

Princípio da inconsistência • Universal negativa (Tipo E) – “NENHUM A é B”


– Como “p ^ ~p → q” é tautológica, subsiste a implicação lógica Tais proposições afirmam que não há elementos em comum
p ^ ~p ⇒ q entre os conjuntos “A” e “B”. Observe que “nenhum A é B” é o mes-
– Assim, de uma contradição p ^ ~p se deduz qualquer propo- mo que dizer “nenhum B é A”.
sição q. Podemos representar esta universal negativa pelo seguinte dia-
grama (A ∩ B = ø):
A proposição “(p ↔ q) ^ p” implica a proposição “q”, pois a
condicional “(p ↔ q) ^ p → q” é tautológica.

Lógica de primeira ordem


Existem alguns tipos de argumentos que apresentam proposi-
ções com quantificadores. Numa proposição categórica, é impor-
tante que o sujeito se relacionar com o predicado de forma coeren-
te e que a proposição faça sentido, não importando se é verdadeira
ou falsa. • Particular afirmativa (Tipo I) - “ALGUM A é B”
Podemos ter 4 diferentes situações para representar esta pro-
Vejamos algumas formas: posição:
- Todo A é B.
- Nenhum A é B.
- Algum A é B.
- Algum A não é B.

Onde temos que A e B são os termos ou características dessas


proposições categóricas.

• Classificação de uma proposição categórica de acordo com


o tipo e a relação
Elas podem ser classificadas de acordo com dois critérios fun-
damentais: qualidade e extensão ou quantidade.
– Qualidade: O critério de qualidade classifica uma proposição
categórica em afirmativa ou negativa.

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RACIOCÍNIO LÓGICO
Essas proposições Algum A é B estabelecem que o conjunto “A” (C) Todos os gatos são pardos ou os gatos que não são pardos
tem pelo menos um elemento em comum com o conjunto “B”. Con- não miam alto.
tudo, quando dizemos que Algum A é B, presumimos que nem todo (D) Todos os gatos que miam alto são pardos.
A é B. Observe “Algum A é B” é o mesmo que “Algum B é A”. (E) Qualquer animal que mia alto é gato e quase sempre ele é
pardo.
• Particular negativa (Tipo O) - “ALGUM A não é B”
Se a proposição Algum A não é B é verdadeira, temos as três Resolução:
representações possíveis: Temos um quantificador particular (alguns) e uma proposição
do tipo conjunção (conectivo “e”). Pede-se a sua negação.

O quantificador existencial “alguns” pode ser negado, seguindo


o esquema, pelos quantificadores universais (todos ou nenhum).
Logo, podemos descartar as alternativas A e E.
A negação de uma conjunção se faz através de uma disjunção,
em que trocaremos o conectivo “e” pelo conectivo “ou”. Descarta-
mos a alternativa B.
Vamos, então, fazer a negação da frase, não esquecendo de
que a relação que existe é: Algum A é B, deve ser trocado por: Todo
A é não B.
Todos os gatos que são pardos ou os gatos (aqueles) que não
são pardos NÃO miam alto.
Resposta: C
Proposições nessa forma: Algum A não é B estabelecem que o
conjunto “A” tem pelo menos um elemento que não pertence ao (CBM/RJ - CABO TÉCNICO EM ENFERMAGEM - ND) Dizer que a
conjunto “B”. Observe que: Algum A não é B não significa o mesmo afirmação “todos os professores é psicólogos” e falsa, do ponto de
que Algum B não é A. vista lógico, equivale a dizer que a seguinte afirmação é verdadeira
(A) Todos os não psicólogos são professores.
• Negação das Proposições Categóricas (B) Nenhum professor é psicólogo.
Ao negarmos uma proposição categórica, devemos observar as (C) Nenhum psicólogo é professor.
seguintes convenções de equivalência: (D) Pelo menos um psicólogo não é professor.
– Ao negarmos uma proposição categórica universal geramos (E) Pelo menos um professor não é psicólogo.
uma proposição categórica particular.
– Pela recíproca de uma negação, ao negarmos uma proposição Resolução:
categórica particular geramos uma proposição categórica universal. Se a afirmação é falsa a negação será verdadeira. Logo, a nega-
– Negando uma proposição de natureza afirmativa geramos, ção de um quantificador universal categórico afirmativo se faz atra-
sempre, uma proposição de natureza negativa; e, pela recíproca, vés de um quantificador existencial negativo. Logo teremos: Pelo
negando uma proposição de natureza negativa geramos, sempre, menos um professor não é psicólogo.
uma proposição de natureza afirmativa. Resposta: E

Em síntese: • Equivalência entre as proposições


Basta usar o triângulo a seguir e economizar um bom tempo na
resolução de questões.

Exemplos: Exemplo:
(DESENVOLVE/SP - CONTADOR - VUNESP) Alguns gatos não (PC/PI - ESCRIVÃO DE POLÍCIA CIVIL - UESPI) Qual a negação
são pardos, e aqueles que não são pardos miam alto. lógica da sentença “Todo número natural é maior do que ou igual
Uma afirmação que corresponde a uma negação lógica da afir- a cinco”?
mação anterior é: (A) Todo número natural é menor do que cinco.
(A) Os gatos pardos miam alto ou todos os gatos não são par- (B) Nenhum número natural é menor do que cinco.
dos. (C) Todo número natural é diferente de cinco.
(B) Nenhum gato mia alto e todos os gatos são pardos. (D) Existe um número natural que é menor do que cinco.
(E) Existe um número natural que é diferente de cinco.

89
RACIOCÍNIO LÓGICO
Resolução:
Do enunciado temos um quantificador universal (Todo) e pede-
-se a sua negação.
O quantificador universal todos pode ser negado, seguindo o
esquema abaixo, pelo quantificador algum, pelo menos um, existe
ao menos um, etc. Não se nega um quantificador universal com To-
dos e Nenhum, que também são universais.
Existe pelo menos um elemento co-
mum aos conjuntos A e B.
Podemos ainda representar das se-
guintes formas:
ALGUM
I
AéB

Portanto, já podemos descartar as alternativas que trazem


quantificadores universais (todo e nenhum). Descartamos as alter-
nativas A, B e C.
Seguindo, devemos negar o termo: “maior do que ou igual a
cinco”. Negaremos usando o termo “MENOR do que cinco”.
Obs.: maior ou igual a cinco (compreende o 5, 6, 7...) ao ser
negado passa a ser menor do que cinco (4, 3, 2,...).
Resposta: D

Diagramas lógicos
Os diagramas lógicos são usados na resolução de vários proble-
mas. É uma ferramenta para resolvermos problemas que envolvam
argumentos dedutivos, as quais as premissas deste argumento po-
dem ser formadas por proposições categóricas.

ATENÇÃO: É bom ter um conhecimento sobre conjuntos para


conseguir resolver questões que envolvam os diagramas lógicos.
ALGUM
O
A NÃO é B
Vejamos a tabela abaixo as proposições categóricas:

TIPO PREPOSIÇÃO DIAGRAMAS


Perceba-se que, nesta sentença, a aten-
ção está sobre o(s) elemento (s) de A
que não são B (enquanto que, no “Algum
TODO A é B”, a atenção estava sobre os que
A eram B, ou seja, na intercessão).
AéB
Temos também no segundo caso, a
diferença entre conjuntos, que forma o
Se um elemento pertence ao conjunto conjunto A - B
A, então pertence também a B.

Exemplo:
(GDF–ANALISTA DE ATIVIDADES CULTURAIS ADMINISTRAÇÃO
– IADES) Considere as proposições: “todo cinema é uma casa de
NENHUM cultura”, “existem teatros que não são cinemas” e “algum teatro é
E
AéB casa de cultura”. Logo, é correto afirmar que
(A) existem cinemas que não são teatros.
Existe pelo menos um elemento que (B) existe teatro que não é casa de cultura.
pertence a A, então não pertence a B, e (C) alguma casa de cultura que não é cinema é teatro.
vice-versa. (D) existe casa de cultura que não é cinema.
(E) todo teatro que não é casa de cultura não é cinema.

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RACIOCÍNIO LÓGICO
Resolução: (C) alguma casa de cultura que não é cinema é teatro. – Errado,
Vamos chamar de: a primeira proposição já nos afirma o contrário. O diagrama
Cinema = C nos afirma isso
Casa de Cultura = CC
Teatro = T
Analisando as proposições temos:
- Todo cinema é uma casa de cultura

(D) existe casa de cultura que não é cinema. – Errado, a justifi-


cativa é observada no diagrama da alternativa anterior.
(E) todo teatro que não é casa de cultura não é cinema. – Cor-
reta, que podemos observar no diagrama abaixo, uma vez que
- Existem teatros que não são cinemas todo cinema é casa de cultura. Se o teatro não é casa de cultura
também não é cinema.

- Algum teatro é casa de cultura Resposta: E

LÓGICA DE ARGUMENTAÇÃO
Chama-se argumento a afirmação de que um grupo de propo-
sições iniciais redunda em outra proposição final, que será conse-
quência das primeiras. Ou seja, argumento é a relação que associa
um conjunto de proposições P1, P2,... Pn , chamadas premissas do
argumento, a uma proposição Q, chamada de conclusão do argu-
mento.

Visto que na primeira chegamos à conclusão que C = CC


Segundo as afirmativas temos:
(A) existem cinemas que não são teatros- Observando o último
diagrama vimos que não é uma verdade, pois temos que existe
pelo menos um dos cinemas é considerado teatro.

Exemplo:
P1: Todos os cientistas são loucos.
P2: Martiniano é louco.
Q: Martiniano é um cientista.

O exemplo dado pode ser chamado de Silogismo (argumento


formado por duas premissas e a conclusão).
A respeito dos argumentos lógicos, estamos interessados em
verificar se eles são válidos ou inválidos! Então, passemos a enten-
der o que significa um argumento válido e um argumento inválido.

(B) existe teatro que não é casa de cultura. – Errado, pelo mes-
mo princípio acima.

91
RACIOCÍNIO LÓGICO
Argumentos Válidos Tomemos agora as representações gráficas das duas premissas
Dizemos que um argumento é válido (ou ainda legítimo ou bem vistas acima e as analisemos em conjunto. Teremos:
construído), quando a sua conclusão é uma consequência obrigató-
ria do seu conjunto de premissas.
Exemplo:
O silogismo...
P1: Todos os homens são pássaros.
P2: Nenhum pássaro é animal.
Q: Portanto, nenhum homem é animal.

... está perfeitamente bem construído, sendo, portanto, um


argumento válido, muito embora a veracidade das premissas e da
conclusão sejam totalmente questionáveis. Comparando a conclusão do nosso argumento, temos:
NENHUM homem é animal – com o desenho das premissas
ATENÇÃO: O que vale é a CONSTRUÇÃO, E NÃO O SEU CON- será que podemos dizer que esta conclusão é uma consequência
TEÚDO! Se a construção está perfeita, então o argumento é válido, necessária das premissas? Claro que sim! Observemos que o con-
independentemente do conteúdo das premissas ou da conclusão! junto dos homens está totalmente separado (total dissociação!) do
conjunto dos animais. Resultado: este é um argumento válido!
• Como saber se um determinado argumento é mesmo váli-
do? Argumentos Inválidos
Para se comprovar a validade de um argumento é utilizando Dizemos que um argumento é inválido – também denominado
diagramas de conjuntos (diagramas de Venn). Trata-se de um mé- ilegítimo, mal construído, falacioso ou sofisma – quando a verdade
todo muito útil e que será usado com frequência em questões que das premissas não é suficiente para garantir a verdade da conclu-
pedem a verificação da validade de um argumento. Vejamos como são.
funciona, usando o exemplo acima. Quando se afirma, na premissa
P1, que “todos os homens são pássaros”, poderemos representar Exemplo:
essa frase da seguinte maneira: P1: Todas as crianças gostam de chocolate.
P2: Patrícia não é criança.
Q: Portanto, Patrícia não gosta de chocolate.

Este é um argumento inválido, falacioso, mal construído, pois


as premissas não garantem (não obrigam) a verdade da conclusão.
Patrícia pode gostar de chocolate mesmo que não seja criança, pois
a primeira premissa não afirmou que somente as crianças gostam
de chocolate.

Utilizando os diagramas de conjuntos para provar a validade


do argumento anterior, provaremos, utilizando-nos do mesmo arti-
fício, que o argumento em análise é inválido. Comecemos pela pri-
meira premissa: “Todas as crianças gostam de chocolate”.

Observem que todos os elementos do conjunto menor (ho-


mens) estão incluídos, ou seja, pertencem ao conjunto maior (dos
pássaros). E será sempre essa a representação gráfica da frase
“Todo A é B”. Dois círculos, um dentro do outro, estando o círculo
menor a representar o grupo de quem se segue à palavra TODO.
Na frase: “Nenhum pássaro é animal”. Observemos que a pa-
lavra-chave desta sentença é NENHUM. E a ideia que ela exprime é
de uma total dissociação entre os dois conjuntos.

Analisemos agora o que diz a segunda premissa: “Patrícia não é


criança”. O que temos que fazer aqui é pegar o diagrama acima (da
primeira premissa) e nele indicar onde poderá estar localizada a Pa-
trícia, obedecendo ao que consta nesta segunda premissa. Vemos
facilmente que a Patrícia só não poderá estar dentro do círculo das
crianças. É a única restrição que faz a segunda premissa! Isto posto,
concluímos que Patrícia poderá estar em dois lugares distintos do
diagrama:
Será sempre assim a representação gráfica de uma sentença 1º) Fora do conjunto maior;
“Nenhum A é B”: dois conjuntos separados, sem nenhum ponto em 2º) Dentro do conjunto maior. Vejamos:
comum.

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RACIOCÍNIO LÓGICO

Finalmente, passemos à análise da conclusão: “Patrícia não gosta de chocolate”. Ora, o que nos resta para sabermos se este argumen-
to é válido ou não, é justamente confirmar se esse resultado (se esta conclusão) é necessariamente verdadeiro!
- É necessariamente verdadeiro que Patrícia não gosta de chocolate? Olhando para o desenho acima, respondemos que não! Pode
ser que ela não goste de chocolate (caso esteja fora do círculo), mas também pode ser que goste (caso esteja dentro do círculo)! Enfim, o
argumento é inválido, pois as premissas não garantiram a veracidade da conclusão!
Métodos para validação de um argumento
Aprenderemos a seguir alguns diferentes métodos que nos possibilitarão afirmar se um argumento é válido ou não!
1º) Utilizando diagramas de conjuntos: esta forma é indicada quando nas premissas do argumento aparecem as palavras TODO, AL-
GUM E NENHUM, ou os seus sinônimos: cada, existe um etc.
2º) Utilizando tabela-verdade: esta forma é mais indicada quando não for possível resolver pelo primeiro método, o que ocorre quan-
do nas premissas não aparecem as palavras todo, algum e nenhum, mas sim, os conectivos “ou” , “e”, “” e “↔”. Baseia-se na construção
da tabela-verdade, destacando-se uma coluna para cada premissa e outra para a conclusão. Este método tem a desvantagem de ser mais
trabalhoso, principalmente quando envolve várias proposições simples.
3º) Utilizando as operações lógicas com os conectivos e considerando as premissas verdadeiras.
Por este método, fácil e rapidamente demonstraremos a validade de um argumento. Porém, só devemos utilizá-lo na impossibilidade
do primeiro método.
Iniciaremos aqui considerando as premissas como verdades. Daí, por meio das operações lógicas com os conectivos, descobriremos o
valor lógico da conclusão, que deverá resultar também em verdade, para que o argumento seja considerado válido.
4º) Utilizando as operações lógicas com os conectivos, considerando premissas verdadeiras e conclusão falsa.
É indicado este caminho quando notarmos que a aplicação do terceiro método não possibilitará a descoberta do valor lógico da con-
clusão de maneira direta, mas somente por meio de análises mais complicadas.
Em síntese:

93
RACIOCÍNIO LÓGICO
Exemplo: Exemplos:
Diga se o argumento abaixo é válido ou inválido: (DPU – AGENTE ADMINISTRATIVO – CESPE) Considere que as
seguintes proposições sejam verdadeiras.
(p ∧ q) → r • Quando chove, Maria não vai ao cinema.
_____~r_______ • Quando Cláudio fica em casa, Maria vai ao cinema.
~p ∨ ~q • Quando Cláudio sai de casa, não faz frio.
• Quando Fernando está estudando, não chove.
Resolução: • Durante a noite, faz frio.
-1ª Pergunta) O argumento apresenta as palavras todo, algum
ou nenhum? Tendo como referência as proposições apresentadas, julgue o
A resposta é não! Logo, descartamos o 1º método e passamos item subsecutivo.
à pergunta seguinte. Se Maria foi ao cinema, então Fernando estava estudando.
( ) Certo
- 2ª Pergunta) O argumento contém no máximo duas proposi- ( ) Errado
ções simples?
A resposta também é não! Portanto, descartamos também o Resolução:
2º método. A questão trata-se de lógica de argumentação, dadas as pre-
- 3ª Pergunta) Há alguma das premissas que seja uma proposi- missas chegamos a uma conclusão. Enumerando as premissas:
ção simples ou uma conjunção? A = Chove
A resposta é sim! A segunda proposição é (~r). Podemos optar B = Maria vai ao cinema
então pelo 3º método? Sim, perfeitamente! Mas caso queiramos C = Cláudio fica em casa
seguir adiante com uma próxima pergunta, teríamos: D = Faz frio
- 4ª Pergunta) A conclusão tem a forma de uma proposição E = Fernando está estudando
simples ou de uma disjunção ou de uma condicional? A resposta F = É noite
também é sim! Nossa conclusão é uma disjunção! Ou seja, caso A argumentação parte que a conclusão deve ser (V)
queiramos, poderemos utilizar, opcionalmente, o 4º método! Lembramos a tabela verdade da condicional:
Vamos seguir os dois caminhos: resolveremos a questão pelo
3º e pelo 4º métodos.

Resolução pelo 3º Método


Considerando as premissas verdadeiras e testando a conclusão
verdadeira. Teremos:
- 2ª Premissa) ~r é verdade. Logo: r é falsa!
- 1ª Premissa) (p ∧ q)r é verdade. Sabendo que r é falsa,
concluímos que (p ∧ q) tem que ser também falsa. E quando uma
conjunção (e) é falsa? Quando uma das premissas for falsa ou am-
bas forem falsas. Logo, não é possível det0erminamos os valores A condicional só será F quando a 1ª for verdadeira e a 2ª falsa,
lógicos de p e q. Apesar de inicialmente o 3º método se mostrar utilizando isso temos:
adequado, por meio do mesmo, não poderemos determinar se o O que se quer saber é: Se Maria foi ao cinema, então Fernando
argumento é ou NÃO VÁLIDO. estava estudando. // B → ~E
Iniciando temos:
Resolução pelo 4º Método 4º - Quando chove (F), Maria não vai ao cinema. (F) // A → ~B
Considerando a conclusão falsa e premissas verdadeiras. Tere- = V – para que o argumento seja válido temos que Quando chove
mos: tem que ser F.
- Conclusão) ~p v ~q é falso. Logo: p é verdadeiro e q é verda- 3º - Quando Cláudio fica em casa (V), Maria vai ao cinema (V).
deiro! // C → B = V - para que o argumento seja válido temos que Maria
Agora, passamos a testar as premissas, que são consideradas vai ao cinema tem que ser V.
verdadeiras! Teremos: 2º - Quando Cláudio sai de casa(F), não faz frio (F). // ~C → ~D
- 1ª Premissa) (p∧q)r é verdade. Sabendo que p e q são ver- = V - para que o argumento seja válido temos que Quando Cláudio
dadeiros, então a primeira parte da condicional acima também é sai de casa tem que ser F.
verdadeira. Daí resta que a segunda parte não pode ser falsa. Logo: 5º - Quando Fernando está estudando (V ou F), não chove (V).
r é verdadeiro. // E → ~A = V. – neste caso Quando Fernando está estudando pode
- 2ª Premissa) Sabendo que r é verdadeiro, teremos que ~r é ser V ou F.
falso! Opa! A premissa deveria ser verdadeira, e não foi! 1º- Durante a noite(V), faz frio (V). // F → D = V

Neste caso, precisaríamos nos lembrar de que o teste, aqui no Logo nada podemos afirmar sobre a afirmação: Se Maria foi ao
4º método, é diferente do teste do 3º: não havendo a existência si- cinema (V), então Fernando estava estudando (V ou F); pois temos
multânea da conclusão falsa e premissas verdadeiras, teremos que dois valores lógicos para chegarmos à conclusão (V ou F).
o argumento é válido! Conclusão: o argumento é válido! Resposta: Errado

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RACIOCÍNIO LÓGICO
(PETROBRAS – TÉCNICO (A) DE EXPLORAÇÃO DE PETRÓLEO JÚNIOR – INFORMÁTICA – CESGRANRIO) Se Esmeralda é uma fada, então
Bongrado é um elfo. Se Bongrado é um elfo, então Monarca é um centauro. Se Monarca é um centauro, então Tristeza é uma bruxa.
Ora, sabe-se que Tristeza não é uma bruxa, logo
(A) Esmeralda é uma fada, e Bongrado não é um elfo.
(B) Esmeralda não é uma fada, e Monarca não é um centauro.
(C) Bongrado é um elfo, e Monarca é um centauro.
(D) Bongrado é um elfo, e Esmeralda é uma fada
(E) Monarca é um centauro, e Bongrado não é um elfo.
Resolução:
Vamos analisar cada frase partindo da afirmativa Trizteza não é bruxa, considerando ela como (V), precisamos ter como conclusão o
valor lógico (V), então:
(4) Se Esmeralda é uma fada(F), então Bongrado é um elfo (F) → V
(3) Se Bongrado é um elfo (F), então Monarca é um centauro (F) → V
(2) Se Monarca é um centauro(F), então Tristeza é uma bruxa(F) → V
(1) Tristeza não é uma bruxa (V)
Logo:
Temos que:
Esmeralda não é fada(V)
Bongrado não é elfo (V)
Monarca não é um centauro (V)
Como a conclusão parte da conjunção, o mesmo só será verdadeiro quando todas as afirmativas forem verdadeiras, logo, a única que
contém esse valor lógico é:
Esmeralda não é uma fada, e Monarca não é um centauro.
Resposta: B
LÓGICA MATEMÁTICA QUALITATIVA
Aqui veremos questões que envolvem correlação de elementos, pessoas e objetos fictícios, através de dados fornecidos. Vejamos o
passo a passo:
01. Três homens, Luís, Carlos e Paulo, são casados com Lúcia, Patrícia e Maria, mas não sabemos quem ê casado com quem. Eles tra-
balham com Engenharia, Advocacia e Medicina, mas também não sabemos quem faz o quê. Com base nas dicas abaixo, tente descobrir o
nome de cada marido, a profissão de cada um e o nome de suas esposas.
a) O médico é casado com Maria.
b) Paulo é advogado.
c) Patrícia não é casada com Paulo.
d) Carlos não é médico.
Vamos montar o passo a passo para que você possa compreender como chegar a conclusão da questão.
1º passo – vamos montar uma tabela para facilitar a visualização da resolução, a mesma deve conter as informações prestadas no
enunciado, nas quais podem ser divididas em três grupos: homens, esposas e profissões.

Medicina Engenharia Advocacia Lúcia Patrícia Maria


Carlos
Luís
Paulo
Lúcia
Patrícia
Maria

Também criamos abaixo do nome dos homens, o nome das esposas.

2º passo – construir a tabela gabarito.


Essa tabela não servirá apenas como gabarito, mas em alguns casos ela é fundamental para que você enxergue informações que ficam
meio escondidas na tabela principal. Uma tabela complementa a outra, podendo até mesmo que você chegue a conclusões acerca dos
grupos e elementos.
HOMENS PROFISSÕES ESPOSAS
Carlos
Luís
Paulo

95
RACIOCÍNIO LÓGICO
3º passo preenchimento de nossa tabela, com as informações mais óbvias do problema, aquelas que não deixam margem a nenhuma
dúvida. Em nosso exemplo:
- O médico é casado com Maria: marque um “S” na tabela principal na célula comum a “Médico” e “Maria”, e um “N” nas demais
células referentes a esse “S”.

Medicina Engenharia Advocacia Lúcia Patrícia Maria


Carlos
Luís
Paulo
Lúcia N
Patrícia N
Maria S N N

ATENÇÃO: se o médico é casado com Maria, ele NÃO PODE ser casado com Lúcia e Patrícia, então colocamos “N” no cruzamento
de Medicina e elas. E se Maria é casada com o médico, logo ela NÃO PODE ser casada com o engenheiro e nem com o advogado (logo
colocamos “N” no cruzamento do nome de Maria com essas profissões).
– Paulo é advogado: Vamos preencher as duas tabelas (tabela gabarito e tabela principal) agora.
– Patrícia não é casada com Paulo: Vamos preencher com “N” na tabela principal
– Carlos não é médico: preenchemos com um “N” na tabela principal a célula comum a Carlos e “médico”.

Medicina Engenharia Advocacia Lúcia Patrícia Maria


Carlos N N
Luís S N N
Paulo N N S N
Lúcia N
Patrícia N
Maria S N N

Notamos aqui que Luís então é o médico, pois foi a célula que ficou em branco. Podemos também completar a tabela gabarito.
Novamente observamos uma célula vazia no cruzamento de Carlos com Engenharia. Marcamos um “S” nesta célula. E preenchemos
sua tabela gabarito.
Medicina Engenharia Advocacia Lúcia Patrícia Maria
Carlos N S N
Luís S N N
Paulo N N S N
Lúcia N
Patrícia N
Maria S N N

HOMENS PROFISSÕES ESPOSAS


Carlos Engenheiro
Luís Médico
Paulo Advogado

4º passo – após as anotações feitas na tabela principal e na tabela gabarito, vamos procurar informações que levem a novas conclu-
sões, que serão marcadas nessas tabelas.
Observe que Maria é esposa do médico, que se descobriu ser Luís, fato que poderia ser registrado na tabela-gabarito. Mas não vamos
fazer agora, pois essa conclusão só foi facilmente encontrada porque o problema que está sendo analisado é muito simples. Vamos con-
tinuar o raciocínio e fazer as marcações mais tarde. Além disso, sabemos que Patrícia não é casada com Paulo. Como Paulo é o advogado,
podemos concluir que Patrícia não é casada com o advogado.

96
96
RACIOCÍNIO LÓGICO

Medicina Engenharia Advocacia Lúcia Patrícia Maria


Carlos N S N
Luís S N N
Paulo N N S N
Lúcia N
Patrícia N N
Maria S N N

Verificamos, na tabela acima, que Patrícia tem de ser casada com o engenheiro, e Lúcia tem de ser casada com o advogado.

Medicina Engenharia Advocacia Lúcia Patrícia Maria


Carlos N S N
Luís S N N
Paulo N N S N
Lúcia N N S
Patrícia N S N
Maria S N N

Concluímos, então, que Lúcia é casada com o advogado (que é Paulo), Patrícia é casada com o engenheiro (que e Carlos) e Maria é
casada com o médico (que é Luís).
Preenchendo a tabela-gabarito, vemos que o problema está resolvido:

HOMENS PROFISSÕES ESPOSAS


Carlos Engenheiro Patrícia
Luís Médico Maria
Paulo Advogado Lúcia

Exemplo:
(TRT-9ª REGIÃO/PR – TÉCNICO JUDICIÁRIO – ÁREA ADMINISTRATIVA – FCC) Luiz, Arnaldo, Mariana e Paulo viajaram em janeiro, todos
para diferentes cidades, que foram Fortaleza, Goiânia, Curitiba e Salvador. Com relação às cidades para onde eles viajaram, sabe-se que:
− Luiz e Arnaldo não viajaram para Salvador;
− Mariana viajou para Curitiba;
− Paulo não viajou para Goiânia;
− Luiz não viajou para Fortaleza.

É correto concluir que, em janeiro,


(A) Paulo viajou para Fortaleza.
(B) Luiz viajou para Goiânia.
(C) Arnaldo viajou para Goiânia.
(D) Mariana viajou para Salvador.
(E) Luiz viajou para Curitiba.

Resolução:
Vamos preencher a tabela:
− Luiz e Arnaldo não viajaram para Salvador;

Fortaleza Goiânia Curitiba Salvador


Luiz N
Arnaldo N
Mariana
Paulo

97
RACIOCÍNIO LÓGICO
− Mariana viajou para Curitiba; Na representação do diagrama lógico, seria:

Fortaleza Goiânia Curitiba Salvador


Luiz N N
Arnaldo N N
Mariana N N S N
Paulo N
ATENÇÃO: Todo homem é mortal, mas nem todo mortal é ho-
− Paulo não viajou para Goiânia; mem.
A frase “todo homem é mortal” possui as seguintes conclusões:
Fortaleza Goiânia Curitiba Salvador 1ª) Algum mortal é homem ou algum homem é mortal.
2ª) Se José é homem, então José é mortal.
Luiz N N
Arnaldo N N A forma “Todo A é B” pode ser escrita na forma: Se A então B.
A forma simbólica da expressão “Todo A é B” é a expressão (∀
Mariana N N S N
(x) (A (x) → B).
Paulo N N Observe que a palavra todo representa uma relação de inclusão
de conjuntos, por isso está associada ao operador da condicional.
− Luiz não viajou para Fortaleza. Aplicando temos:
x + 2 = 5 é uma sentença aberta. Agora, se escrevermos da for-
Fortaleza Goiânia Curitiba Salvador ma ∀ (x) ∈ N / x + 2 = 5 ( lê-se: para todo pertencente a N temos x
+ 2 = 5), atribuindo qualquer valor a x a sentença será verdadeira?
Luiz N N N A resposta é NÃO, pois depois de colocarmos o quantificador,
Arnaldo N N a frase passa a possuir sujeito e predicado definidos e podemos jul-
gar, logo, é uma proposição lógica.
Mariana N N S N
Paulo N N • Quantificador existencial (∃)
O símbolo ∃ pode ser lido das seguintes formas:
Agora, completando o restante:
Paulo viajou para Salvador, pois a nenhum dos três viajou. En-
tão, Arnaldo viajou para Fortaleza e Luiz para Goiânia

Fortaleza Goiânia Curitiba Salvador


Luiz N S N N
Arnaldo S N N N Exemplo:
“Algum matemático é filósofo.” O diagrama lógico dessa frase
Mariana N N S N
é:
Paulo N N N S

Resposta: B

Quantificador
É um termo utilizado para quantificar uma expressão. Os quan-
tificadores são utilizados para transformar uma sentença aberta ou
proposição aberta em uma proposição lógica. O quantificador existencial tem a função de elemento comum.
A palavra algum, do ponto de vista lógico, representa termos co-
QUANTIFICADOR + SENTENÇA ABERTA = SENTENÇA FECHADA muns, por isso “Algum A é B” possui a seguinte forma simbólica: (∃
(x)) (A (x) ∧ B).
Tipos de quantificadores
• Quantificador universal (∀) Aplicando temos:
O símbolo ∀ pode ser lido das seguintes formas: x + 2 = 5 é uma sentença aberta. Escrevendo da forma (∃ x) ∈
N / x + 2 = 5 (lê-se: existe pelo menos um x pertencente a N tal que x
+ 2 = 5), atribuindo um valor que, colocado no lugar de x, a sentença
será verdadeira?
A resposta é SIM, pois depois de colocarmos o quantificador,
a frase passou a possuir sujeito e predicado definidos e podemos
julgar, logo, é uma proposição lógica.
Exemplo:
Todo homem é mortal. ATENÇÃO:
A conclusão dessa afirmação é: se você é homem, então será – A palavra todo não permite inversão dos termos: “Todo A é B”
mortal. é diferente de “Todo B é A”.

98
98
RACIOCÍNIO LÓGICO
– A palavra algum permite a inversão dos termos: “Algum A é ______________________________________________________
B” é a mesma coisa que “Algum B é A”.
______________________________________________________
Forma simbólica dos quantificadores
Todo A é B = (∀ (x) (A (x) → B). ______________________________________________________
Algum A é B = (∃ (x)) (A (x) ∧ B).
______________________________________________________
Nenhum A é B = (~ ∃ (x)) (A (x) ∧ B).
Algum A não é B= (∃ (x)) (A (x) ∧ ~ B). ______________________________________________________

Exemplos: ______________________________________________________
Todo cavalo é um animal. Logo,
(A) Toda cabeça de animal é cabeça de cavalo. ______________________________________________________
(B) Toda cabeça de cavalo é cabeça de animal.
(C) Todo animal é cavalo. ______________________________________________________
(D) Nenhum animal é cavalo.
______________________________________________________
Resolução: ______________________________________________________
A frase “Todo cavalo é um animal” possui as seguintes conclu-
sões: ______________________________________________________
– Algum animal é cavalo ou Algum cavalo é um animal.
– Se é cavalo, então é um animal. ______________________________________________________
Nesse caso, nossa resposta é toda cabeça de cavalo é cabeça
de animal, pois mantém a relação de “está contido” (segunda forma ______________________________________________________
de conclusão).
Resposta: B ______________________________________________________

______________________________________________________
(CESPE) Se R é o conjunto dos números reais, então a proposi-
ção (∀ x) (x ∈ R) (∃ y) (y ∈ R) (x + y = x) é valorada como V. ______________________________________________________

Resolução: ______________________________________________________
Lemos: para todo x pertencente ao conjunto dos números reais
(R) existe um y pertencente ao conjunto dos números dos reais (R) ______________________________________________________
tal que x + y = x.
– 1º passo: observar os quantificadores. ______________________________________________________
X está relacionado com o quantificador universal, logo, todos
______________________________________________________
os valores de x devem satisfazer a propriedade.
Y está relacionado com o quantificador existencial, logo, é ne- ______________________________________________________
cessário pelo menos um valor de x para satisfazer a propriedade.
– 2º passo: observar os conjuntos dos números dos elementos ______________________________________________________
x e y.
O elemento x pertence ao conjunto dos números reais. ______________________________________________________
O elemento y pertence ao conjunto os números reais.
– 3º passo: resolver a propriedade (x+ y = x). ______________________________________________________
A pergunta: existe algum valor real para y tal que x + y = x?
Existe sim! y = 0. ______________________________________________________
X + 0 = X.
______________________________________________________
Como existe pelo menos um valor para y e qualquer valor de
x somado a 0 será igual a x, podemos concluir que o item está cor- ______________________________________________________
reto.
Resposta: CERTO ______________________________________________________

______________________________________________________
ANOTAÇÕES
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______________________________________________________
______________________________________________________
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RACIOCÍNIO LÓGICO
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100
DIREITO
ADMINISTRATIVO

TERRITÓRIO: pode ser conceituado como a área na qual o Esta-


do exerce sua soberania. Trata-se da base física ou geográfica de um
determinado Estado, seu elemento constitutivo, base delimitada de
ESTADO, GOVERNO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. CONCEI-
autoridade, instrumento de poder com vistas a dirigir o grupo so-
TOS, ELEMENTOS, PODERES E ORGANIZAÇÃO. NATUREZA, cial, com tal delimitação que se pode assegurar à eficácia do poder
FINS E PRINCÍPIOS e a estabilidade da ordem.
O território é delimitado pelas fronteiras, que por sua vez, podem
ser naturais ou convencionais. O território como elemento do Estado,
Estado
possui duas funções, sendo uma negativa limitante de fronteiras com
Conceito, Elementos e Princípios
a competência da autoridade política, e outra positiva, que fornece
Adentrando ao contexto histórico, o conceito de Estado veio a
ao Estado a base correta de recursos materiais para ação.
surgir por intermédio do antigo conceito de cidade, da polis grega
e da civitas romana. Em meados do século XVI o vocábulo Estado
Por traçar os limites do poder soberanamente exercido, o terri-
passou a ser utilizado com o significado moderno de força, poder
tório é elemento essencial à existência do Estado, sendo, desta for-
e direito.
ma, pleno objeto de direitos do Estado, o qual se encontra a serviço
O Estado pode ser conceituado como um ente, sujeito de direi-
do povo e pode usar e dispor dele com poder absoluto e exclusivo,
tos, que possui como elementos: o povo, o território e a soberania.
Nos dizeres de Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino (2010, p. 13), desde que estejam presentes as características essenciais das rela-
“Estado é pessoa jurídica territorial soberana, formada pelos ele- ções de domínio. O território é formado pelo solo, subsolo, espaço
mentos povo, território e governo soberano”. aéreo, águas territoriais e plataforma continental, prolongamento
O Estado como ente, é plenamente capacitado para adquirir di- do solo coberto pelo mar.
reitos e obrigações. Ademais, possui personalidade jurídica própria,
tanto no âmbito interno, perante os agentes públicos e os cidadãos, A Constituição Brasileira atribui ao Conselho de Defesa Nacio-
quanto no âmbito internacional, perante outros Estados. nal, órgão de consulta do presidente da República, competência
Vejamos alguns conceitos acerca dos três elementos que com- para “propor os critérios e condições de utilização de áreas indis-
põem o Estado: pensáveis à segurança do território nacional e opinar sobre seu
efetivo uso, especialmente na faixa de fronteira e nas relacionadas
POVO: Elemento legitima a existência do Estado. Isso ocorre com a preservação e a exploração dos recursos naturais de qual-
por que é do povo que origina todo o poder representado pelo Es- quer tipo”. (Artigo 91, §1º, III,CFB/88).
tado, conforme dispões expressamente art. 1º, parágrafo único, da
Constituição Federal: Os espaços sobre o qual se desenvolvem as relações sociais
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por próprias da vida do Estado é uma porção da superfície terrestre,
meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta projetada desde o subsolo até o espaço aéreo. Para que essa porção
Constituição. territorial e suas projeções adquiram significado político e jurídico,
O povo se refere ao conjunto de indivíduos que se vincula juri- é preciso considerá-las como um local de assentamento do grupo
dicamente ao Estado, de forma estabilizada. humano que integra o Estado, como campo de ação do poder polí-
Entretanto, isso não ocorre com estrangeiros e apátridas, dife- tico e como âmbito de validade das normas jurídicas.
rentemente da população, que tem sentido demográfico e quanti-
tativo, agregando, por sua vez, todos os que se encontrem sob sua SOBERANIA: Trata-se do poder do Estado de se auto adminis-
jurisdição territorial, sendo desnecessário haver quaisquer tipos de trar. Por meio da soberania, o Estado detém o poder de regular o
vínculo jurídico do indivíduo com o poder do Estado. seu funcionamento, as relações privadas dos cidadãos, bem como
as funções econômicas e sociais do povo que o integra. Por meio
Com vários sentidos, o termo pode ser usado pela doutrina desse elemento, o Estado edita leis aplicáveis ao seu território, sem
como sinônimo de nação e, ainda, no sentido de subordinação a estar sujeito a qualquer tipo de interferência ou dependência de
uma mesma autoridade política. outros Estados.
No entanto, a titularidade dos direitos políticos é determinada Em sua origem, no sentido de legitimação, a soberania está
pela nacionalidade, que nada mais é que o vínculo jurídico estabe- ligada à força e ao poder. Se antes, o direito era dado, agora é ar-
lecido pela Constituição entre os cidadãos e o Estado. quitetado, anteriormente era pensado na justiça robusta, agora é
O Direito nos concede o conceito de povo como sendo o con- engendrado na adequação aos objetivos e na racionalidade técnica
junto de pessoas que detém o poder, a soberania, conforme já foi necessária. O poder do Estado é soberano, uno, indivisível e emana
explicitado por meio do art. 1º. Parágrafo único da CFB/88 dispondo do povo. Além disso, todos os Poderes são partes de um todo que
que “Todo poder emana do povo, que exerce por meio de repre- é a atividade do Estado.
sentantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”. Como fundamento do Estado Democrático de Direito, nos pa-
râmetros do art.1º, I, da CFB/88), a soberania é elemento essencial
e fundamental à existência da República Federativa do Brasil.

101
DIREITO ADMINISTRATIVO
A lei se tornou de forma essencial o principal instrumento de assegura que governo é elemento do Estado e o explana como “a
organização da sociedade. Isso, por que a exigência de justiça e de atividade política organizada do Estado, possuindo ampla discricio-
proteção aos direitos individuais, sempre se faz presente na vida nariedade, sob responsabilidade constitucional e política” (p. 71).
do povo. Por conseguinte, por intermédio da Constituição escrita, É possível complementar esse conceito de Zannoni com a afir-
desde a época da revolução democrática, foi colocada uma trava mação de Meirelles (1998, p. 64-65) que aduz que “Governo é a
jurídica à soberania, proclamando, assim, os direitos invioláveis do expressão política de comando, de iniciativa, de fixação de objetivos
cidadão. do Estado e de manutenção da ordem jurídica vigente”. Entretanto,
O direito incorpora a teoria da soberania e tenta compatibilizá- tanto o conceito de Estado como o de governo podem ser definidos
-la aos problemas de hoje, e remetem ao povo, aos cidadãos e à sua sob diferentes perspectivas, sendo o primeiro, apresentado sob o
participação no exercício do poder, o direito sempre tende a preser- critério sociológico, político, constitucional, dentre outros fatores.
var a vontade coletiva de seu povo, através de seu ordenamento, a No condizente ao segundo, é subdividido em sentido formal sob um
soberania sempre existirá no campo jurídico, pois o termo designa conjunto de órgãos, em sentido material nas funções que exerce e
igualmente o fenômeno político de decisão, de deliberação, sendo em sentido operacional sob a forma de condução política.
incorporada à soberania pela Constituição. O objetivo final do Governo é a prestação dos serviços públicos
A Constituição Federal é documento jurídico hierarquicamente com eficiência, visando de forma geral a satisfação das necessida-
superior do nosso sistema, se ocupando com a organização do po- des coletivas. O Governo pratica uma função política que implica
der, a definição de direitos, dentre outros fatores. Nesse diapasão, uma atividade de ordem mediata e superior com referência à dire-
a soberania ganha particular interesse junto ao Direito Constitu- ção soberana e geral do Estado, com o fulcro de determinar os fins
cional. Nesse sentido, a soberania surge novamente em discussão, da ação do Estado, assinalando as diretrizes para as demais funções
procurando resolver ou atribuir o poder originário e seus limites, e buscando sempre a unidade da soberania estatal.
entrando em voga o poder constituinte originário, o poder cons-
tituinte derivado, a soberania popular, do parlamento e do povo Administração pública
como um todo. Depreende-se que o fundo desta problemática está Conceito
entranhado na discussão acerca da positivação do Direito em deter- Administração Pública em sentido geral e objetivo, é a ativida-
minado Estado e seu respectivo exercício. de que o Estado pratica sob regime público, para a realização dos
Assim sendo, em síntese, já verificados o conceito de Estado e interesses coletivos, por intermédio das pessoas jurídicas, órgãos e
os seus elementos. Temos, portanto: agentes públicos.
A Administração Pública pode ser definida em sentido amplo e
ESTADO = POVO + TERRITÓRIO + SOBERANIA estrito, além disso, é conceituada por Di Pietro (2009, p. 57), como
“a atividade concreta e imediata que o Estado desenvolve, sob re-
Obs. Os elementos (povo + território + soberania) do Estado gime jurídico total ou parcialmente público, para a consecução dos
não devem ser confundidos com suas funções estatais que normal- interesses coletivos”.
mente são denominadas “Poderes do Estado” e, por sua vez, são Nos dizeres de Di Pietro (2009, p. 54), em sentido amplo, a
divididas em: legislativa, executiva e judiciária Administração Pública é subdividida em órgãos governamentais e
Em relação aos princípios do Estado Brasileiro, é fácil encontra- órgãos administrativos, o que a destaca em seu sentido subjetivo,
-los no disposto no art. 1º, da CFB/88. Vejamos: sendo ainda subdividida pela sua função política e administrativa
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união em sentido objetivo.
indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, consti- Já em sentido estrito, a Administração Pública se subdivide em
tui-se em Estado democrático de direito e tem como fundamentos: órgãos, pessoas jurídicas e agentes públicos que praticam funções
I - a soberania; administrativas em sentido subjetivo, sendo subdividida também
II - a cidadania; na atividade exercida por esses entes em sentido objetivo.
III - a dignidade da pessoa humana; Em suma, temos:
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - o pluralismo político. SENTIDO Sentido amplo {órgãos governamentais e
SUBJETIVO órgãos administrativos}.
Ressalta-se que os conceitos de soberania, cidadania e pluralis-
mo político são os que mais são aceitos como princípios do Estado. SENTIDO Sentido estrito {pessoas jurídicas, órgãos e
No condizente à dignidade da pessoa humana e aos valores sociais SUBJETIVO agentes públicos}.
do trabalho e da livre inciativa, pondera-se que estes constituem as SENTIDO Sentido amplo {função política e adminis-
finalidades que o Estado busca alcançar. Já os conceitos de sobera- OBJETIVO trativa}.
nia, cidadania e pluralismo político, podem ser plenamente relacio-
SENTIDO Sentido estrito {atividade exercida por
nados com o sentido de organização do Estado sob forma política,
OBJETIVO esses entes}.
e, os conceitos de dignidade da pessoa humana e os valores sociais
do trabalho e da livre iniciativa, implicam na ideia do alcance de
objetivos morais e éticos. Existem funções na Administração Pública que são exercidas
pelas pessoas jurídicas, órgãos e agentes da Administração que são
Governo subdivididas em três grupos: fomento, polícia administrativa e ser-
Conceito viço público.
Governo é a expressão política de comando, de iniciativa públi- Para melhor compreensão e conhecimento, detalharemos cada
ca com a fixação de objetivos do Estado e de manutenção da ordem uma das funções. Vejamos:
jurídica contemporânea e atuante. a. Fomento: É a atividade administrativa incentivadora do de-
O Brasil adota a República como forma de Governo e o fede- senvolvimento dos entes e pessoas que exercem funções de utilida-
ralismo como forma de Estado. Em sua obra Direito Administrativo de ou de interesse público.
da Série Advocacia Pública, o renomado jurista Leandro Zannoni,

102
102
DIREITO ADMINISTRATIVO
b. Polícia administrativa: É a atividade de polícia administrati- Além disso, os princípios do Direito Administrativo podem ser
va. São os atos da Administração que limitam interesses individuais expressos e positivados escritos na lei, ou ainda, implícitos, não po-
em prol do interesse coletivo. sitivados e não escritos na lei de forma expressa.
c. Serviço público: resume-se em toda atividade que a Admi-
nistração Pública executa, de forma direta ou indireta, para satis- — Observação importante:
fazer os anseios e as necessidades coletivas do povo, sob o regime Não existe hierarquia entre os princípios expressos e implíci-
jurídico e com predominância pública. O serviço público também tos. Comprova tal afirmação, o fato de que os dois princípios que
regula a atividade permanente de edição de atos normativos e con- dão forma o Regime Jurídico Administrativo, são meramente im-
cretos sobre atividades públicas e privadas, de forma implementati- plícitos.
va de políticas de governo.
A finalidade de todas essas funções é executar as políticas de Regime Jurídico Administrativo: é composto por todos os prin-
governo e desempenhar a função administrativa em favor do in- cípios e demais dispositivos legais que formam o Direito Adminis-
teresse público, dentre outros atributos essenciais ao bom anda- trativo. As diretrizes desse regime são lançadas por dois princípios
mento da Administração Pública como um todo com o incentivo das centrais, ou supraprincípios que são a Supremacia do Interesse Pú-
atividades privadas de interesse social, visando sempre o interesse blico e a Indisponibilidade do Interesse Público.
público.
A Administração Pública também possui elementos que a com-
Conclama a necessidade da sobreposi-
põe, são eles: as pessoas jurídicas de direito público e de direito SUPREMACIA DO
ção dos interesses da coletividade sobre
privado por delegação, órgãos e agentes públicos que exercem a INTERESSE PÚBLICO
os individuais.
função administrativa estatal.
Sua principal função é orientar a
INDISPONIBILIDA-
— Observação importante: atuação dos agentes públicos para que
DE DO INTERESSE
Pessoas jurídicas de direito público são entidades estatais aco- atuem em nome e em prol dos interes-
PÚBLICO
pladas ao Estado, exercendo finalidades de interesse imediato da ses da Administração Pública.
coletividade. Em se tratando do direito público externo, possuem
a personalidade jurídica de direito público cometida à diversas na- Ademais, tendo o agente público usufruído das prerrogativas
ções estrangeiras, como à Santa Sé, bem como a organismos inter- de atuação conferidas pela supremacia do interesse público, a in-
nacionais como a ONU, OEA, UNESCO.(art. 42 do CC). disponibilidade do interesse público, com o fito de impedir que tais
No direito público interno encontra-se, no âmbito da adminis- prerrogativas sejam utilizadas para a consecução de interesses pri-
tração direta, que cuida-se da Nação brasileira: União, Estados, Dis- vados, termina por colocar limitações aos agentes públicos no cam-
trito Federal, Territórios e Municípios (art. 41, incs. I, II e III, do CC). po de sua atuação, como por exemplo, a necessidade de aprovação
No âmbito do direito público interno encontram-se, no campo em concurso público para o provimento dos cargos públicos.
da administração indireta, as autarquias e associações públicas (art.
41, inc. IV, do CC). Posto que as associações públicas, pessoas jurídi- Princípios Administrativos
cas de direito público interno dispostas no inc. IV do art. 41 do CC, Nos parâmetros do art. 37, caput da Constituição Federal, a Ad-
pela Lei n.º 11.107/2005,7 foram sancionadas para auxiliar ao con- ministração Pública deverá obedecer aos princípios da Legalidade,
sórcio público a ser firmado entre entes públicos (União, Estados, Impessoalidade, Moralidade, Publicidade e Eficiência.
Municípios e Distrito Federal).
Vejamos:
Princípios da administração pública – Princípio da Legalidade: Esse princípio no Direito Administra-
De acordo com o administrativista Alexandre Mazza (2017), tivo, apresenta um significado diverso do que apresenta no Direito
princípios são regras condensadoras dos valores fundamentais de Privado. No Direito Privado, toda e qualquer conduta do indivíduo
um sistema. Sua função é informar e materializar o ordenamento que não esteja proibida em lei e que não esteja contrária à lei, é
jurídico bem como o modo de atuação dos aplicadores e intérpre- considerada legal. O termo legalidade para o Direito Administrativo,
tes do direito, sendo que a atribuição de informar decorre do fato significa subordinação à lei, o que faz com que o administrador deva
de que os princípios possuem um núcleo de valor essencial da or- atuar somente no instante e da forma que a lei permitir.
dem jurídica, ao passo que a atribuição de enformar é denotada — Observação importante: O princípio da legalidade considera
pelos contornos que conferem à determinada seara jurídica. a lei em sentido amplo. Nesse diapasão, compreende-se como lei,
Desta forma, o administrativista atribui dupla aplicabilidade toda e qualquer espécie normativa expressamente disposta pelo
aos princípios da função hermenêutica e da função integrativa. art. 59 da Constituição Federal.

Referente à função hermenêutica, os princípios são amplamen- – Princípio da Impessoalidade: Deve ser analisado sob duas
te responsáveis por explicitar o conteúdo dos demais parâmetros óticas:
legais, isso se os mesmos se apresentarem obscuros no ato de tute-
la dos casos concretos. Por meio da função integrativa, por sua vez, a) Sob a ótica da atuação da Administração Pública em relação
os princípios cumprem a tarefa de suprir eventuais lacunas legais aos administrados: Em sua atuação, deve o administrador pautar
observadas em matérias específicas ou diante das particularidades na não discriminação e na não concessão de privilégios àqueles que
que permeiam a aplicação das normas aos casos existentes. o ato atingirá. Sua atuação deverá estar baseada na neutralidade e
na objetividade.
Os princípios colocam em prática as função hermenêuticas e in- b) Em relação à sua própria atuação, administrador deve exe-
tegrativas, bem como cumprem o papel de esboçar os dispositivos cutar atos de forma impessoal, como dispõe e exige o parágrafo
legais disseminados que compõe a seara do Direito Administrativo, primeiro do art. 37 da CF/88 ao afirmar que: ‘‘A publicidade dos
dando-lhe unicidade e coerência. atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos

103
DIREITO ADMINISTRATIVO
deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, Já a Administração Indireta, é equivalente às pessoas jurídicas
dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que carac- criadas pelos entes federados, que possuem ligação com as Admi-
terizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos.’’ nistrações Diretas, cujo fulcro é praticar a função administrativa de
maneira descentralizada.
– Princípio da Moralidade: Dispõe que a atuação administrati- Tendo o Estado a convicção de que atividades podem ser exer-
va deve ser totalmente pautada nos princípios da ética, honestida- cidas de forma mais eficaz por entidade autônoma e com persona-
de, probidade e boa-fé. Esse princípio está conexo à não corrupção lidade jurídica própria, o Estado transfere tais atribuições a particu-
na Administração Pública. lares e, ainda pode criar outras pessoas jurídicas, de direito público
ou de direito privado para esta finalidade. Optando pela segunda
O princípio da moralidade exige que o administrador tenha opção, as novas entidades passarão a compor a Administração Indi-
conduta pautada de acordo com a ética, com o bom senso, bons reta do ente que as criou e, por possuírem como destino a execução
costumes e com a honestidade. O ato administrativo terá que obe- especializado de certas atividades, são consideradas como sendo
decer a Lei, bem como a ética da própria instituição em que o agen- manifestação da descentralização por serviço, funcional ou técnica,
te atua. Entretanto, não é suficiente que o ato seja praticado apenas de modo geral.
nos parâmetros da Lei, devendo, ainda, obedecer à moralidade.
Desconcentração e Descentralização
– Princípio da Publicidade: Trata-se de um mecanismo de con- Consiste a desconcentração administrativa na distribuição in-
trole dos atos administrativos por meio da sociedade. A publicidade terna de competências, na esfera da mesma pessoa jurídica. Assim
está associada à prestação de satisfação e informação da atuação sendo, na desconcentração administrativa, o trabalho é distribuído
pública aos administrados. Via de regra é que a atuação da Admi- entre os órgãos que integram a mesma instituição, fato que ocorre
nistração seja pública, tornando assim, possível o controle da socie- de forma diferente na descentralização administrativa, que impõe
dade sobre os seus atos. a distribuição de competência para outra pessoa, física ou jurídica.
Ocorre que, no entanto, o princípio em estudo não é abso- Ocorre a desconcentração administrativa tanto na administra-
luto. Isso ocorre pelo fato deste acabar por admitir exceções pre- ção direta como na administração indireta de todos os entes fede-
vistas em lei. Assim, em situações nas quais, por exemplo, devam rativos do Estado. Pode-se citar a título de exemplo de desconcen-
ser preservadas a segurança nacional, relevante interesse coletivo e tração administrativa no âmbito da Administração Direta da União,
intimidade, honra e vida privada, o princípio da publicidade deverá os vários ministérios e a Casa Civil da Presidência da República; em
ser afastado. âmbito estadual, o Ministério Público e as secretarias estaduais,
dentre outros; no âmbito municipal, as secretarias municipais e
Sendo a publicidade requisito de eficácia dos atos administra- as câmaras municipais; na administração indireta federal, as várias
tivos que se voltam para a sociedade, pondera-se que os mesmos agências do Banco do Brasil que são sociedade de economia mista,
não poderão produzir efeitos enquanto não forem publicados. ou do INSS com localização em todos os Estados da Federação.
Ocorre que a desconcentração enseja a existência de vários
– Princípio da Eficiência: A atividade administrativa deverá ser órgãos, sejam eles órgãos da Administração Direta ou das pessoas
exercida com presteza, perfeição, rendimento, qualidade e econo- jurídicas da Administração Indireta, e devido ao fato desses órgãos
micidade. Anteriormente era um princípio implícito, porém, hodier- estarem dispostos de forma interna, segundo uma relação de su-
namente, foi acrescentado, de forma expressa, na CFB/88, com a bordinação de hierarquia, entende-se que a desconcentração admi-
EC n. 19/1998. nistrativa está diretamente relacionada ao princípio da hierarquia.
Registra-se que na descentralização administrativa, ao invés
São decorrentes do princípio da eficiência: de executar suas atividades administrativas por si mesmo, o Estado
transfere a execução dessas atividades para particulares e, ainda a
a. A possibilidade de ampliação da autonomia gerencial, orça- outras pessoas jurídicas, de direito público ou privado.
mentária e financeira de órgãos, bem como de entidades adminis- Explicita-se que, mesmo que o ente que se encontre distribuin-
trativas, desde que haja a celebração de contrato de gestão. do suas atribuições e detenha controle sobre as atividades ou ser-
viços transferidos, não existe relação de hierarquia entre a pessoa
b. A real exigência de avaliação por meio de comissão especial que transfere e a que acolhe as atribuições.
para a aquisição da estabilidade do servidor Efetivo, nos termos do
art. 41, § 4º da CFB/88. Criação, extinção e capacidade processual dos órgãos públicos
Os arts. 48, XI e 61, § 1º da CFB/1988 dispõem que a criação e
a extinção de órgãos da administração pública dependem de lei de
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA DA UNIÃO: ADMINIS- iniciativa privativa do chefe do Executivo a quem compete, de forma
TRAÇÃO DIRETA E INDIRETA privada, e por meio de decreto, dispor sobre a organização e fun-
cionamento desses órgãos públicos, quando não ensejar aumento
de despesas nem criação ou extinção de órgãos públicos (art. 84,
Administração direta e indireta VI, b, CF/1988). Desta forma, para que haja a criação e extinção de
A princípio, infere-se que Administração Direta é correspon- órgãos, existe a necessidade de lei, no entanto, para dispor sobre a
dente aos órgãos que compõem a estrutura das pessoas federativas organização e o funcionamento, denota-se que poderá ser utilizado
que executam a atividade administrativa de maneira centralizada. O ato normativo inferior à lei, que se trata do decreto. Caso o Poder
vocábulo “Administração Direta” possui sentido abrangente vindo a Executivo Federal desejar criar um Ministério a mais, o presidente
compreender todos os órgãos e agentes dos entes federados, tanto da República deverá encaminhar projeto de lei ao Congresso Na-
os que fazem parte do Poder Executivo, do Poder Legislativo ou do cional. Porém, caso esse órgão seja criado, sua estruturação inter-
Poder Judiciário, que são os responsáveis por praticar a atividade na deverá ser feita por decreto. Na realidade, todos os regimentos
administrativa de maneira centralizada. internos dos ministérios são realizados por intermédio de decreto,
pelo fato de tal ato se tratar de organização interna do órgão.

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DIREITO ADMINISTRATIVO
Vejamos: As autarquias são criadas por lei específica, que de forma obri-
gacional deverá ser de iniciativa do Chefe do Poder Executivo do
ÓRGÃO — é criado por meio de lei. ente federativo a que estiver vinculada. Explicita-se também que
ORGANIZAÇÃO INTERNA — pode ser feita por DECRETO, des- a função administrativa, mesmo que esteja sendo exercida tipica-
de que não provoque aumento de despesas, bem como a criação mente pelo Poder Executivo, pode vir a ser desempenhada, em re-
ou a extinção de outros órgãos. gime totalmente atípico pelos demais Poderes da República. Em tais
ÓRGÃOS DE CONTROLE — Trata-se dos prepostos a fiscalizar e situações, infere-se que é possível que sejam criadas autarquias no
controlar a atividade de outros órgãos e agentes”. Exemplo: Tribu- âmbito do Poder Legislativo e do Poder Judiciário, oportunidade na
nal de Contas da União. qual a iniciativa para a lei destinada à sua criação, deverá, obriga-
toriamente, segundo os parâmetros legais, ser feita pelo respectivo
Pessoas administrativas Poder.
Explicita-se que as entidades administrativas são a própria Ad-
ministração Indireta, composta de forma taxativa pelas autarquias, Empresas Públicas
fundações públicas, empresas públicas e sociedades de economia Sociedades de Economia Mista
mista. São a parte da Administração Indireta mais voltada para o di-
De forma contrária às pessoas políticas, tais entidades, nao são reito privado, sendo também chamadas pela maioria doutrinária de
reguladas pelo Direito Administrativo, não detendo poder político empresas estatais.
e encontram-se vinculadas à entidade política que as criou. Não Tanto a empresas públicas, quanto as sociedades de economia
existe hierarquia entre as entidades da Administração Pública in- mista, no que se refere à sua área de atuação, podem ser divididas
direta e os entes federativos que as criou. Ocorre, nesse sentido, entre prestadoras diversas de serviço público e plenamente atuan-
uma vinculação administrativa em tais situações, de maneira que os tes na atividade econômica de modo geral. Assim sendo, obtemos
entes federativos somente conseguem manter-se no controle se as dois tipos de empresas públicas e dois tipos de sociedades de eco-
entidades da Administração Indireta estiverem desempenhando as nomia mista.
funções para as quais foram criadas de forma correta. Ressalta-se que ao passo que as empresas estatais explorado-
ras de atividade econômica estão sob a égide, no plano constitu-
Pessoas políticas cional, pelo art. 173, sendo que a sua atividade se encontra regida
As pessoas políticas são os entes federativos previstos na Cons- pelo direito privado de maneira prioritária, as empresas estatais
tituição Federal. São eles a União, os Estados, o Distrito Federal e os prestadoras de serviço público são reguladas, pelo mesmo diploma
Municípios. Denota-se que tais pessoas ou entes, são regidos pelo legal, pelo art. 175, de maneira que sua atividade é regida de forma
Direito Constitucional, vindo a deter uma parcela do poder político. exclusiva e prioritária pelo direito público.
Por esse motivo, afirma-se que tais entes são autônomos, vindo a
se organizar de forma particular para alcançar as finalidades aven- Observação importante: todas as empresas estatais, sejam
çadas na Constituição Federal. prestadoras de serviços públicos ou exploradoras de atividade eco-
Assim sendo, não se confunde autonomia com soberania, pois, nômica, possuem personalidade jurídica de direito privado.
ao passo que a autonomia consiste na possibilidade de cada um dos
entes federativos organizar-se de forma interna, elaborando suas O que diferencia as empresas estatais exploradoras de ativida-
leis e exercendo as competências que a eles são determinadas pela de econômica das empresas estatais prestadoras de serviço público
Constituição Federal, a soberania nada mais é do que uma caracte- é a atividade que exercem. Assim, sendo ela prestadora de serviço
rística que se encontra presente somente no âmbito da República público, a atividade desempenhada é regida pelo direito público,
Federativa do Brasil, que é formada pelos referidos entes federati- nos ditames do artigo 175 da Constituição Federal que determina
vos. que “incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou
sob regime de concessão ou permissão, sempre através de licitação,
Autarquias a prestação de serviços públicos.” Já se for exploradora de atividade
As autarquias são pessoas jurídicas de direito público interno, econômica, como maneira de evitar que o princípio da livre con-
criadas por lei específica para a execução de atividades especiais e corrência reste-se prejudicado, as referidas atividades deverão ser
típicas da Administração Pública como um todo. Com as autarquias, reguladas pelo direito privado, nos ditames do artigo 173 da Consti-
a impressão que se tem, é a de que o Estado veio a descentralizar tuição Federal, que assim determina:
determinadas atividades para entidades eivadas de maior especia- Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a
lização. exploração direta de atividade econômica pelo Estado só será per-
As autarquias são especializadas em sua área de atuação, dan- mitida quando necessária aos imperativos da segurança nacional
do a ideia de que os serviços por elas prestados são feitos de forma ou a relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei. § 1º A
mais eficaz e venham com isso, a atingir de maneira contundente a lei estabelecerá o estatuto jurídico da empresa pública, da socieda-
sua finalidade, que é o bem comum da coletividade como um todo. de de economia mista e de suas subsidiárias que explorem atividade
Por esse motivo, aduz-se que as autarquias são um serviço público econômica de produção ou comercialização de bens ou de presta-
descentralizado. Assim, devido ao fato de prestarem esse serviço ção de serviços, dispondo sobre:
público especializado, as autarquias acabam por se assemelhar em I – sua função social e formas de fiscalização pelo Estado e pela
tudo o que lhes é possível, ao entidade estatal a que estiverem ser- sociedade;
vindo. Assim sendo, as autarquias se encontram sujeitas ao mesmo II – a sujeição ao regime jurídico próprio das empresas priva-
regime jurídico que o Estado. Nos dizeres de Hely Lopes Meirelles, das, inclusive quanto aos direitos e obrigações civis, comerciais, tra-
as autarquias são uma “longa manus” do Estado, ou seja, são exe- balhistas e tributários;
cutoras de ordens determinadas pelo respectivo ente da Federação III – licitação e contratação de obras, serviços, compras e alie-
a que estão vinculadas. nações, observados os princípios da Administração Pública;
IV – a constituição e o funcionamento dos conselhos de Admi-
nistração e fiscal, com a participação de acionistas minoritários;

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DIREITO ADMINISTRATIVO
V – os mandatos, a avaliação de desempenho e a responsabili- ligação com o Estado, existem outras que buscam se aproximar do
dade dos administradores Estado com o fito de receber verbas públicas ou bens públicos com
o objetivo de continuarem a desempenhar sua atividade social. Nos
Vejamos em síntese, algumas características em comum das parâmetros da Lei 9.637/1998, o Poder Executivo Federal poderá
empresas públicas e das sociedades de economia mista: constituir como Organizações Sociais pessoas jurídicas de direito
• Devem realizar concurso público para admissão de seus em- privado, que não sejam de fins lucrativos, cujas atividades sejam
pregados; dirigidas ao ensino, à pesquisa científica, ao desenvolvimento tec-
• Não estão alcançadas pela exigência de obedecer ao teto nológico, à proteção e preservação do meio ambiente, à cultura e à
constitucional; saúde, atendidos os requisitos da lei. Ressalte-se que as entidades
• Estão sujeitas ao controle efetuado pelos Tribunais de Contas, privadas que vierem a atuar nessas áreas poderão receber a quali-
bem como ao controle do Poder Legislativo; ficação de OSs.
• Não estão sujeitas à falência; Lembremos que a Lei 9.637/1998 teve como fulcro transferir os
• Devem obedecer às normas de licitação e contrato adminis- serviços que não são exclusivos do Estado para o setor privado, por
trativo no que se refere às suas atividades-meio; intermédio da absorção de órgãos públicos, vindo a substituí-los
• Devem obedecer à vedação à acumulação de cargos prevista por entidades privadas. Tal fenômeno é conhecido como publiciza-
constitucionalmente; ção. Com a publicização, quando um órgão público é extinto, logo,
• Não podem exigir aprovação prévia, por parte do Poder Legis- outra entidade de direito privado o substitui no serviço anterior-
lativo, para nomeação ou exoneração de seus diretores. mente prestado. Denota-se que o vínculo com o poder público para
que seja feita a qualificação da entidade como organização social é
Fundações e outras entidades privadas delegatárias estabelecido com a celebração de contrato de gestão. Outrossim, as
Identifica-se no processo de criação das fundações privadas, Organizações Sociais podem receber recursos orçamentários, utili-
duas características que se encontram presentes de forma contun- zação de bens públicos e servidores públicos.
dente, sendo elas a doação patrimonial por parte de um instituidor
e a impossibilidade de terem finalidade lucrativa. Organizações da sociedade civil de interesse público
O Decreto 200/1967 e a Constituição Federal Brasileira de 1988 São conceituadas como pessoas jurídicas de direito privado,
conceituam Fundação Pública como sendo um ente de direito pre- sem fins lucrativos, nas quais os objetivos sociais e normas estatu-
dominantemente de direito privado, sendo que a Constituição Fe- tárias devem obedecer aos requisitos determinados pelo art. 3º da
deral dá à Fundação o mesmo tratamento oferecido às Sociedades Lei n. 9.790/1999. Denota-se que a qualificação é de competência
de Economia Mista e às Empresas Públicas, que permite autoriza- do Ministério da Justiça e o seu âmbito de atuação é parecido com
ção da criação, por lei e não a criação direta por lei, como no caso o da OS, entretanto, é mais amplo. Vejamos:
das autarquias. Art. 3º A qualificação instituída por esta Lei, observado em
Entretanto, a doutrina majoritária e o STF aduzem que a Fun- qualquer caso, o princípio da universalização dos serviços, no res-
dação Pública poderá ser criada de forma direta por meio de lei pectivo âmbito de atuação das Organizações, somente será conferi-
específica, adquirindo, desta forma, personalidade jurídica de direi- da às pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, cujos
to público, vindo a criar uma Autarquia Fundacional ou Fundação objetivos sociais tenham pelo menos uma das seguintes finalidades:
Autárquica. I – promoção da assistência social;
II – promoção da cultura, defesa e conservação do patrimônio
Observação importante: a autarquia é definida como serviço histórico e artístico;
personificado, ao passo que uma autarquia fundacional é conceitu- III – promoção gratuita da educação, observando-se a forma
ada como sendo um patrimônio de forma personificada destinado complementar de participação das organizações de que trata esta
a uma finalidade específica de interesse social. Lei;
IV – promoção gratuita da saúde, observando-se a forma com-
Vejamos como o Código Civil determina: plementar de participação das organizações de que trata esta Lei;
Art. 41 - São pessoas jurídicas de direito público interno:(...) V – promoção da segurança alimentar e nutricional;
IV - as autarquias, inclusive as associações públicas; VI – defesa, preservação e conservação do meio ambiente e
V - as demais entidades de caráter público criadas por lei. promoção do desenvolvimento sustentável; VII – promoção do vo-
No condizente à Constituição, denota-se que esta não faz dis- luntariado;
tinção entre as Fundações de direito público ou de direito privado. VIII – promoção do desenvolvimento econômico e social e com-
O termo Fundação Pública é utilizado para diferenciar as fundações bate à pobreza;
da iniciativa privada, sem que haja qualquer tipo de ligação com a IX – experimentação, não lucrativa, de novos modelos sociopro-
Administração Pública. dutivos e de sistemas alternativos de produção, comércio, emprego
No entanto, determinadas distinções poderão ser feitas, como e crédito;
por exemplo, a imunidade tributária recíproca que é destinada so- X – promoção de direitos estabelecidos, construção de novos
mente às entidades de direito público como um todo. Registra-se direitos e assessoria jurídica gratuita de interesse suplementar;
que o foro de ambas é na Justiça Federal. XI – promoção da ética, da paz, da cidadania, dos direitos hu-
manos, da democracia e de outros valores universais;
Delegação Social XII – estudos e pesquisas, desenvolvimento de tecnologias al-
ternativas, produção e divulgação de informações e conhecimentos
Organizações sociais técnicos e científicos que digam respeito às atividades mencionadas
As organizações sociais são entidades privadas que recebem neste artigo.
o atributo de Organização Social. Várias são as entidades criadas A lei das Oscips apresenta um rol de entidades que não podem
por particulares sob a forma de associação ou fundação que de- receber a qualificação. Vejamos:
sempenham atividades de interesse público sem fins lucrativos. Ao
passo que algumas existem e conseguem se manter sem nenhuma

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DIREITO ADMINISTRATIVO
Art. 2º Não são passíveis de qualificação como Organizações todo. Tal parceria foi posteriormente modernizada com as leis que
da Sociedade Civil de Interesse Público, ainda que se dediquem de instituíram as organizações sociais e as organizações da sociedade
qualquer forma às atividades descritas no art. 3º desta Lei: civil de interesse público.
I – as sociedades comerciais; O termo publicização também é atribuído a um segundo sen-
II – os sindicatos, as associações de classe ou de representação tido adotado por algumas correntes doutrinárias, que corresponde
de categoria profissional; à transformação de entidades públicas em entidades privadas sem
III – as instituições religiosas ou voltadas para a disseminação fins lucrativos.
de credos, cultos, práticas e visões devocionais e confessionais; No que condizente às características das entidades que com-
IV – as organizações partidárias e assemelhadas, inclusive suas põem o Terceiro Setor, a ilustre Maria Sylvia Zanella Di Pietro enten-
fundações; de que todas elas possuem os mesmos traços, sendo eles:
V – as entidades de benefício mútuo destinadas a proporcionar 1. Não são criadas pelo Estado, ainda que algumas delas te-
bens ou serviços a um círculo restrito de associados ou sócios; nham sido autorizadas por lei;
VI – as entidades e empresas que comercializam planos de saú- 2. Em regra, desempenham atividade privada de interesse pú-
de e assemelhados; blico (serviços sociais não exclusivos do Estado);
VII – as instituições hospitalares privadas não gratuitas e suas 3. Recebem algum tipo de incentivo do Poder Público;
mantenedoras; 4. Muitas possuem algum vínculo com o Poder Público e, por
VIII – as escolas privadas dedicadas ao ensino formal não gra- isso, são obrigadas a prestar contas dos recursos públicos à Admi-
tuito e suas mantenedoras; nistração
IX – as Organizações Sociais; 5. Pública e ao Tribunal de Contas;
X – as cooperativas; 6. Possuem regime jurídico de direito privado, porém derroga-
do parcialmente por normas direito público;
Por fim, registre-se que o vínculo de união entre a entidade
Assim, estas entidades integram o Terceiro Setor pelo fato de
e o Estado é denominado termo de parceria e que para a qualifi-
não se enquadrarem inteiramente como entidades privadas e tam-
cação de uma entidade como Oscip, é exigido que esta tenha sido
bém porque não integram a Administração Pública Direta ou Indi-
constituída e se encontre em funcionamento regular há, pelo me-
reta.
nos, três anos nos termos do art. 1º, com redação dada pela Lei n.
Convém mencionar que, como as entidades do Terceiro Setor
13.019/2014. O Tribunal de Contas da União tem entendido que
são constituídas sob a forma de pessoa jurídica de direito privado,
o vínculo firmado pelo termo de parceria por órgãos ou entidades
seu regime jurídico, normalmente, via regra geral, é de direito pri-
da Administração Pública com Organizações da Sociedade Civil de
vado. Acontece que pelo fato de estas gozarem normalmente de
Interesse Público não é demandante de processo de licitação. De
algum incentivo do setor público, também podem lhes ser aplicá-
acordo com o que preceitua o art. 23 do Decreto n. 3.100/1999,
veis algumas normas de direito público. Esse é o motivo pelo qual a
deverá haver a realização de concurso de projetos pelo órgão es-
conceituada professora afirma que o regime jurídico aplicado às en-
tatal interessado em construir parceria com Oscips para que venha
tidades que integram o Terceiro Setor é de direito privado, podendo
a obter bens e serviços para a realização de atividades, eventos,
ser modificado de maneira parcial por normas de direito público.
consultorias, cooperação técnica e assessoria.
Entidades de utilidade pública
O Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado trouxe em ATOS ADMINISTRATIVOS. CONCEITOS, REQUISITOS, ELE-
seu bojo, dentre várias diretrizes, a publicização dos serviços esta- MENTOS, PRESSUPOSTOS E CLASSIFICAÇÃO. FATO E ATO
tais não exclusivos, ou seja, a transferência destes serviços para o ADMINISTRATIVO. ATOS ADMINISTRATIVOS EM ESPÉCIE.
setor público não estatal, o denominado Terceiro Setor. O SILÊNCIO NO DIREITO ADMINISTRATIVO. CASSAÇÃO.
Podemos incluir entre as entidades que compõem o Terceiro REVOGAÇÃO E ANULAÇÃO. FATOS DA ADMINISTRAÇÃO
Setor, aquelas que são declaradas como sendo de utilidade pública, PÚBLICA: ATOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E FATOS AD-
os serviços sociais autônomos, como SESI, SESC, SENAI, por exem- MINISTRATIVOS. FORMAÇÃO DO ATO ADMINISTRATIVO:
plo, as organizações sociais (OS) e as organizações da sociedade civil ELEMENTOS, PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO. VALIDA-
de interesse público (OSCIP). DE, EFICÁCIA E AUTOEXECUTORIEDADE DO ATO ADMINIS-
É importante explicitar que o crescimento do terceiro setor TRATIVO. ATOS ADMINISTRATIVOS SIMPLES, COMPLEXOS
está diretamente ligado à aplicação do princípio da subsidiarieda- E COMPOSTOS. ATOS ADMINISTRATIVOS UNILATERAIS,
de na esfera da Administração Pública. Por meio do princípio da BILATERAIS E MULTILATERAIS. ATOS ADMINISTRATIVOS
subsidiariedade, cabe de forma primária aos indivíduos e às orga- GERAIS E INDIVIDUAIS. ATOS ADMINISTRATIVOS VINCU-
nizações civis o atendimento dos interesses individuais e coletivos. LADOS E DISCRICIONÁRIOS. MÉRITO DO ATO ADMINIS-
Assim sendo, o Estado atua apenas de forma subsidiária nas de- TRATIVO, DISCRICIONARIEDADE. ATO ADMINISTRATIVO
mandas que, devido à sua própria natureza e complexidade, não INEXISTENTE. TEORIA DAS NULIDADES NO DIREITO
puderam ser atendidas de maneira primária pela sociedade. Dessa ADMINISTRATIVO. ATOS ADMINISTRATIVOS NULOS E
maneira, o limite de ação do Estado se encontraria na autossufici- ANULÁVEIS. VÍCIOS DO ATO ADMINISTRATIVO. TEO-
ência da sociedade. RIA DOS MOTIVOS DETERMINANTES. REVOGAÇÃO,
Em relação ao Terceiro Setor, o Plano Diretor do Aparelho do ANULAÇÃO E CONVALIDAÇÃO DO ATO ADMINIS-
Estado previa de forma explícita a publicização de serviços públicos TRATIVO
estatais que não são exclusivos. A expressão publicização significa
a transferência, do Estado para o Terceiro Setor, ou seja um setor Conceito
público não estatal, da execução de serviços que não são exclusivos Hely Lopes Meirelles conceitua ato administrativo como sendo
do Estado, vindo a estabelecer um sistema de parceria entre o Es- “toda manifestação unilateral de vontade da Administração Pública
tado e a sociedade para o seu financiamento e controle, como um que, agindo nessa qualidade, tenha por fim imediato adquirir, res-
guardar, transferir, modificar, extinguir e declarar direitos, ou impor
obrigações aos administrados ou a si própria”.

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DIREITO ADMINISTRATIVO
Já Maria Sylvia Zanella Di Pietro explana esse tema, como: “a ATOS ADMINISTRATIVOS EM SENTIDO AMPLO
declaração do Estado ou de quem o represente, que produz efeitos
jurídicos imediatos, com observância da lei, sob regime jurídico de Atos de Direito Privado
direito público e sujeita a controle pelo Poder Judiciário”. Atos materiais
O renomado, Celso Antônio Bandeira de Mello, por sua vez,
Atos de opinião, conhecimento, juízo ou valor
explica o conceito de ato administrativo de duas formas. São elas:
A) Primeira: em sentido amplo, na qual há a predominância de Atos políticos
atos gerais e abstratos. Exemplos: os contratos administrativos e os Contratos
regulamentos.
No sentido amplo, de acordo com o mencionado autor, o ato Atos normativos
administrativo pode, ainda, ser considerado como a “declaração do Atos normativos em sentido estrito e propriamente ditos
Estado (ou de quem lhe faça as vezes – como, por exemplo, um
concessionário de serviço público), no exercício de prerrogativas Requisitos
públicas, manifestada mediante providências jurídicas complemen- A lei da Ação Popular, Lei nº 4.717/1965, aponta a existência
tares da lei a título de lhe dar cumprimento, e sujeitas a controle de de cinco requisitos do ato administrativo. São eles: competência,
legitimidade por órgão jurisdicional”. finalidade, forma, motivo e objeto. É importante esclarecer que a
B) Segunda: em sentido estrito, no qual acrescenta à definição falta ou o defeito desses elementos pode resultar.
anterior, os atributos da unilateralidade e da concreção. Desta for- De acordo com o a gravidade do caso em consideração, em
ma, no entendimento estrito de ato administrativo por ele expos- simples irregularidade com possibilidade de ser sanada, invalidan-
ta, ficam excluídos os atos convencionais, como os contratos, por do o ato do ato, ou até mesmo o tornando inexistente.
exemplo, bem como os atos abstratos. No condizente à competência, no sentido jurídico, esta palavra
Embora haja ausência de uniformidade doutrinária, a partir da designa a prerrogativa de poder e autorização de alguém que está
análise lúcida do tópico anterior, acoplada aos estudos dos concei- legalmente autorizado a fazer algo. Da mesma maneira, qualquer
tos retro apresentados, é possível extrair alguns elementos funda- pessoa, ainda que possua capacidade e excelente rendimento para
mentais para a definição dos conceitos do ato administrativo. fazer algo, mas não alçada legal para tal, deve ser considerada in-
De antemão, é importante observar que, embora o exercício competente em termos jurídicos para executar tal tarefa.
da função administrativa consista na atividade típica do Poder Exe- Pensamento idêntico é válido para os órgãos e entidades pú-
cutivo, os Poderes Legislativo e Judiciário, praticam esta função blicas, de forma que, por exemplo, a Agência Nacional de Aviação
de forma atípica, vindo a praticar, também, atos administrativos. Civil (ANAC) não possui competência para conferir o passaporte e
Exemplo: ao realizar concursos públicos, os três Poderes devem no- liberar a entrada de um estrangeiro no Brasil, tendo em vista que o
mear os aprovados, promovendo licitações e fornecendo benefícios controle de imigração brasileiro é atividade exclusiva e privativa da
legais aos servidores, dentre outras atividades. Acontece que em Polícia Federal.
todas essas atividades, a função administrativa estará sendo exerci- Nesse sentido, podemos conceituar competência como sendo
da que, mesmo sendo função típica, mas, recordemos, não é função o acoplado de atribuições designadas pelo ordenamento jurídico às
exclusiva do Poder Executivo. pessoas jurídicas, órgãos e agentes públicos, com o fito de facilitar
Denota-se também, que nem todo ato praticado no exercício o desempenho de suas atividades.
da função administrativa é ato administrativo, isso por que em inú- A competência possui como fundamento do seu instituto a di-
meras situações, o Poder Público pratica atos de caráter privado, visão do trabalho com ampla necessidade de distribuição do con-
desvestindo-se das prerrogativas que conformam o regime jurídico junto das tarefas entre os agentes públicos. Desta forma, a distri-
de direito público e assemelhando-se aos particulares. Exemplo: a buição de competências possibilita a organização administrativa
emissão de um cheque pelo Estado, uma vez que a referida provi- do Poder Público, definindo quais as tarefas cabíveis a cada pessoa
dência deve ser disciplinada exclusivamente por normas de direito política, órgão ou agente.
privado e não público. Relativo à competência com aplicação de multa por infração à
Há de se desvencilhar ainda que o ato administrativo pode ser legislação do imposto de renda, dentre as pessoas políticas, a União
praticado não apenas pelo Estado, mas também por aquele que é a competente para instituir, fiscalizar e arrecadar o imposto e tam-
o represente. Exemplo: os órgãos da Administração Direta, bem bém para estabelecer as respectivas infrações e penalidades. Já em
como, os entes da Administração Indireta e particulares, como relação à instituição do tributo e cominação de penalidades, que
acontece com as permissionárias e com as concessionárias de ser- é de competência do legislativo, dentre os Órgãos Constitucionais
viços públicos. da União, o Órgão que possui tal competência, é o Congresso Na-
Destaca-se, finalmente, que o ato administrativo por não apre- cional no que condizente à fiscalização e aplicação das respectivas
sentar caráter de definitividade, está sujeito a controle por órgão penalidades.
jurisdicional. Em obediência a essas diretrizes, compreendemos
que ato administrativo é a manifestação unilateral de vontade pro- Em relação às fontes, temos as competências primária e secun-
veniente de entidade arremetida em prerrogativas estatais ampara- dária. Vejamos a definição de cada uma delas nos tópicos abaixo:
das pelos atributos provenientes do regime jurídico de direito públi- a) Competência primária: quando a competência é estabeleci-
co, destinadas à produção de efeitos jurídicos e sujeitos a controle da pela lei ou pela Constituição Federal.
judicial específico. b) Competência Secundária: a competência vem expressa em
Em suma, temos: normas de organização, editadas pelos órgãos de competência pri-
mária, uma vez que é produto de um ato derivado de um órgão ou
ATO ADMINISTRATIVO: é a manifestação unilateral de vontade agente que possui competência primária.
proveniente de entidade arremetida em prerrogativas estatais am-
paradas pelos atributos provenientes do regime jurídico de direito
público, destinadas à produção de efeitos jurídicos e sujeitos a con-
trole judicial específico.

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DIREITO ADMINISTRATIVO
Entretanto, a distribuição de competência não ocorre de forma É importante conhecer a respeito da delegação de competên-
aleatória, de forma que sempre haverá um critério lógico informan- cia o disposto na Lei 9.784/1999, Lei do Processo Administrativo
do a distribuição de competências, como a matéria, o território, a Federal, que tendo tal norma aplicada somente no âmbito federal,
hierarquia e o tempo. Exemplo disso, concernente ao critério da incorporou grande parte da orientação doutrinária existente, dis-
matéria, é a criação do Ministério da Saúde. pondo em seus arts. 11 a 14:
Em relação ao critério territorial, a criação de Superintendên-
cias Regionais da Polícia Federal e, ainda, pelo critério da hierarquia, Art. 11. A competência é irrenunciável e se exerce pelos órgãos
a criação do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF), administrativos a que foi atribuída como própria, salvo os casos de
órgão julgador de recursos contra as decisões das Delegacias da Re- delegação e avocação legalmente admitidos.
ceita Federal de Julgamento criação da Comissão Nacional da Ver- Art. 12. Um órgão administrativo e seu titular poderão, se não
dade que trabalham na investigação de violações graves de Direitos houver impedimento legal, delegar parte da sua competência a ou-
Humanos nos períodos entre 18.09.1946 e 05.10.1988, que resulta tros órgãos ou titulares, ainda que estes não lhe sejam hierarquica-
na combinação dos critérios da matéria e do tempo. mente subordinados, quando for conveniente, em razão de circuns-
A competência possui como características: tâncias de índole técnica, social, econômica, jurídica ou territorial.
a) Exercício obrigatório: pelos órgãos e agentes públicos, uma Parágrafo único. O disposto no caput deste artigo aplica-se à
vez que se trata de um poder-dever de ambos. delegação de competência dos órgãos colegiados aos respectivos
b) Irrenunciável ou inderrogável: isso ocorre, seja pela vonta- presidentes.
de da Administração, ou mesmo por acordo com terceiros, uma vez Art. 13. Não podem ser objeto de delegação:
que é estabelecida em decorrência do interesse público. Exemplo: I - a edição de atos de caráter normativo;
diante de um excessivo aumento da ocorrência de crimes graves e II - a decisão de recursos administrativos;
da sua diminuição de pessoal, uma delegacia de polícia não poderá III - as matérias de competência exclusiva do órgão ou autori-
jamais optar por não mais registrar boletins de ocorrência relativos dade.
a crimes considerados menos graves. Art. 14. O ato de delegação e sua revogação deverão ser publi-
c) Intransferível: não pode ser objeto de transação ou acordo cados no meio oficial.
com o fulcro de ser repassada a responsabilidade a outra pessoa. § 1º O ato de delegação especificará as matérias e poderes
Frise-se que a delegação de competência não provoca a transfe- transferidos, os limites da atuação do delegado, a duração e os ob-
rência de sua titularidade, porém, autoriza o exercício de deter- jetivos da delegação e o recurso cabível, podendo conter ressalva
minadas atribuições não exclusivas da autoridade delegante, que de exercício da atribuição delegada.
poderá, conforme critérios próprios e a qualquer tempo, revogar a § 2º O ato de delegação é revogável a qualquer tempo pela
delegação. autoridade delegante.
d) Imodificável: não admite ser modificada por ato do agente, § 3º As decisões adotadas por delegação devem mencionar
quando fixada pela lei ou pela Constituição, uma vez que somente explicitamente esta qualidade e considerar-se-ão editadas pelo de-
estas normas poderão alterá-la. legado.
e) Imprescritível: o agente continua competente, mesmo que Convém registrar que a delegação é ato discricionário, que
não tenha sido utilizada por muito tempo. leva em conta para sua prática circunstâncias de índole técnica, so-
f) Improrrogável: com exceção de disposição expressa prevista cial, econômica, jurídica ou territorial, bem como é ato revogável
em lei, o agente incompetente não passa a ser competente pelo a qualquer tempo pela autoridade delegante, sendo que o ato de
mero fato de ter praticado o ato ou, ainda, de ter sido o primeiro a delegação bem como a sua revogação deverão ser expressamente
tomar conhecimento dos fatos que implicariam a motivação de sua publicados no meio oficial, especificando em seu ato as matérias e
prática. poderes delegados, os parâmetros de limites da atuação do delega-
do, o recurso cabível, a duração e os objetivos da delegação.
Cabem dentro dos critérios de competência a delegação e a
avocação, que podem ser definidas da seguinte forma: Importante ressaltar:
a) Delegação de competência: trata-se do fenômeno por in- Súmula 510 do STF: Praticado o ato por autoridade, no exercí-
termédio do qual um órgão administrativo ou um agente público cio de competência delegada, contra ela cabe o mandado de segu-
delega a outros órgãos ou agentes públicos a tarefa de executar rança ou a medida judicial.
parte das funções que lhes foram atribuídas. Em geral, a delegação Com fundamento nessa orientação, o STF decidiu no julgamen-
é transferida para órgão ou agente de plano hierárquico inferior. to do MS 24.732 MC/DF, que o foro da autoridade delegante não
No entanto, a doutrina contemporânea considera, quando justifi- poderá ser transmitido de forma alguma à autoridade delegada.
cadamente necessário, a admissão da delegação fora da linha hie- Desta forma, tendo sido o ato praticado pela autoridade delegada,
rárquica. todas e quaisquer medidas judiciais propostas contra este ato deve-
Considera-se ainda que o ato de delegação não suprime a atri- rão respeitar o respectivo foro da autoridade delegada.
buição da autoridade delegante, que continua competente para o
exercício das funções cumulativamente com a autoridade a que foi Seguindo temos:
delegada a função. Entretanto, cada agente público, na prática de
atos com fulcro nos poderes que lhe foram atribuídos, agirá sempre a) Avocação: trata-se do fenômeno contrário ao da delegação e
em nome próprio e, respectivamente irá responder por seus atos. se resume na possibilidade de o superior hierárquico trazer para si
Por todas as decisões que tomar. Do mesmo modo, adotando de forma temporária o devido exercício de competências legalmen-
cautelas parecidas, a autoridade delegante da ação também pode- te estabelecidas para órgãos ou agentes hierarquicamente inferio-
rá revogar a qualquer tempo a delegação realizada anteriormen- res. Diferentemente da delegação, não cabe avocação fora da linha
te. Desta maneira, a regra geral é a possibilidade de delegação de de hierarquia, posto que a utilização do instituto é dependente de
competências, só deixando esta de ser possível se houver quaisquer poder de vigilância e controle nas relações hierarquizadas.
impedimentos legais vigentes. Vejamos a diferença entre a avocação com revogação de dele-
gação:

109
DIREITO ADMINISTRATIVO
• Na avocação, sendo sua providência de forma excepcional e tamento deverá sempre ser norteado pela busca do interesse públi-
temporária, nos termos do art. 15 da Lei 9.787/1999, a competên- co. Além disso, existe determinada finalidade típica para cada tipo
cia é de forma originária e advém do órgão ou agente subordinado, de ato administrativo.
sendo que de forma temporária, passa a ser exercida pelo órgão ou Assim sendo, identifica-se no ato administrativo duas espécies
autoridade avocante. de finalidade pública. São elas:
• Já na revogação de delegação, anteriormente, a competên- a) Geral ou mediata: consiste na satisfação do interesse públi-
cia já era de forma original da autoridade ou órgão delegante, que co considerado de forma geral.
achou por conveniência e oportunidade revogar o ato de delega- b) Pública específica ou imediata: é o resultado específico pre-
ção, voltando, por conseguinte a exercer suas atribuições legais por visto na lei, que deve ser alcançado com a prática de determinado
cunho de mão própria. ato.
Está relacionada ao atributo da tipicidade, por meio do qual a
Finalmente, adverte-se que, apesar de ser um dever ser exer- lei dispõe uma finalidade a ser alcançada para cada espécie de ato.
cido com autocontrole, o poder originário de avocar competência
também se constitui em regra na Administração Pública, uma vez Destaca-se que o descumprimento de qualquer dessas finali-
que é inerente à organização hierárquica como um todo. Entretan- dades, seja geral ou específica, resulta no vício denominado desvio
to, conforme a doutrina de forma geral, o órgão superior não pode de poder ou desvio de finalidade. O desvio de poder é vício que não
avocar a competência do órgão subordinado em se tratando de pode ser sanado, e por esse motivo, não pode ser convalidado.
competências exclusivas do órgão ou de agentes inferiores atribu- A Lei de Ação Popular, Lei 4.717/1965 em seu art. 2º, parágra-
ídas por lei. Exemplo: Secretário de Segurança Pública, mesmo es- fo único, alínea e, estabelece que “o desvio de finalidade se veri-
tando alguns degraus hierárquicos acima de todos os Delegados da fica quando o agente pratica o ato visando a fim diverso daquele
Polícia Civil, não poderá jamais avocar para si a competência para previsto, explícita ou implicitamente, na regra de competência”.
presidir determinado inquérito policial, tendo em vista que esta Destaque-se que por via de regra legal atributiva de competência
competência é exclusiva dos titulares desses cargos. estatui de forma explícita ou implicitamente, os fins que devem ser
Não convém encerrar esse tópico acerca da competência sem seguidos e obedecidos pelo agente público. Caso o ato venha a ser
mencionarmos a respeito dos vícios de competência que é concei- praticado visando a fins diversos, verificar-se-á a presença do vício
tuado como o sofrimento de algum defeito em razão de problemas de finalidade.
com a competência do agente que o pratica que se subdivide em: O desvio de finalidade, segundo grandes doutrinadores, se ve-
a) Excesso de poder: acontece quando o agente que pratica o rifica em duas hipóteses. São elas:
ato acaba por exceder os limites de sua competência, agindo além a) o ato é formalmente praticado com finalidade diversa da
das providências que poderia adotar no caso concreto, vindo a pra- prevista por lei. Exemplo: remover um funcionário com o objetivo
ticar abuso de poder. O vício de excesso de poder nem sempre po- de punição.
derá resultar em anulação do ato administrativo, tendo em vista b) ocorre quando o ato, mesmo formalmente editado com a
que em algumas situações será possível convalidar o ato defeituoso. finalidade legal, possui, na prática, o foco de atender a fim de inte-
b) Usurpação de função: ocorre quando uma pessoa exerce resse particular da autoridade. Exemplo: com o objetivo de perse-
atribuições próprias de um agente público, sem que tenha esse guir inimigo, ocorre a desapropriação de imóvel alegando interesse
atributo ou competência. Exemplo: uma pessoa que celebra casa- público.
mentos civis fingindo ser titular do cargo de juiz.
c) Função de fato: ocorre quando a pessoa que pratica o ato Em resumo, temos:
está irregularmente investida no cargo, emprego ou função pública
ou ainda que, mesmo devidamente investida, existe qualquer tipo
de impedimento jurídico para a prática do ato naquele momento. Específica ou Imediata e
FINALIDADE PÚBLICA
Na função de fato, o agente pratica o ato num contexto que tem Geral ou Mediata
toda a aparência de legalidade. Por esse motivo, em decorrência da Ato praticado com finalidade
teoria da aparência, desde que haja boa-fé do administrado, esta diversa da prevista em Lei.
deve ser respeitada, devendo, por conseguinte, ser considerados e
válidos os atos, como se fossem praticados pelo funcionário de fato. DESVIO DE FINALIDADE
Ato praticado formalmente
Em suma, temos: OU DESVIO DE PODER
com finalidade prevista em Lei,
VÍCIOS DE COMPETÊNCIA porém, visando a atender a fins
pessoais de autoridade.
EXCESSO DE PODER Em determinadas situações é
possível a convalidação
Concernente à forma, averígua-se na doutrina duas formas dis-
USURPAÇÃO DE FUNÇÃO Ato inexistente tintas de definição como requisito do ato administrativo. São elas:
FUNÇÃO DE FATO Ato válido, se houver boa-fé do A) De caráter mais restrito, demonstrando que a forma é o
administrado modo de exteriorização do ato administrativo.
B) Considera a forma de natureza mais ampla, incluindo no
ABUSO DE AUTORIDADE conceito de forma apenas o modo de exteriorização do ato, bem
EXCESSO DE PODER Vício de competência como todas as formalidades que devem ser destacadas e observa-
DESVIO DE PODER Desvio de finalidade das no seu curso de formação.
Ambas as acepções estão meramente corretas, cuidando-se
Relativo à finalidade, denota-se que a finalidade pública é uma simplesmente de modos diferentes de examinar a questão, sendo
das características do princípio da impessoalidade. Nesse diapasão, que a primeira analisa a forma do ato administrativo sob o aspecto
a Administração não pode atuar com o objetivo de beneficiar ou exterior do ato já formado e a segunda, analisa a dinâmica da for-
prejudicar determinadas pessoas, tendo em vista que seu compor- mação do ato administrativo.

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110
DIREITO ADMINISTRATIVO
Via de regra, no Direito Privado, o que prevalece é a liberdade Convém ressaltar que a Lei 9.784/1999, que regulamenta o
de forma do ato jurídico, ao passo que no Direito Público, a regra é processo administrativo na esfera federal, dispõe no art. 50, o se-
o formalismo moderado. O ato administrativo não precisa ser reves- guinte:
tido de formas rígidas e solenes, mas é imprescindível que ele seja Art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados, com
escrito. Ainda assim, tal exigência, não é absoluta, tendo em vista indicação dos fatos e dos fundamentos jurídicos, quando:
que em alguns casos, via de regra, o agente público tem a possibi- I - neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses;
lidade de se manifestar de outra forma, como acontece nas ordens II - imponham ou agravem deveres, encargos ou sanções;
verbais transmitidas de forma emergencial aos subordinados, ou, III - decidam processos administrativos de concurso ou seleção
ainda, por exemplo, quando um agente de trânsito transmite orien- pública;
tações para os condutores de veículos através de silvos e gestos. IV - dispensem ou declarem a inexigibilidade de processo lici-
Pondera-se ainda, que o ato administrativo é denominado vício tatório;
de forma quando é enviado ou emitido sem a obediência à forma e V - decidam recursos administrativos;
sem cumprimento das formalidades previstas em lei. Via de regra, VI - decorram de reexame de ofício;
considera-se plenamente possível a convalidação do ato adminis- VII - deixem de aplicar jurisprudência firmada sobre a questão
trativo que contenha vício de forma. No entanto, tal convalidação ou discrepem de pareceres, laudos, propostas e relatórios oficiais;
não será possível nos casos em que a lei estabelecer que a forma é VIII - importem anulação, revogação, suspensão ou convalida-
requisito primordial à validade do ato. ção de ato administrativo.
Devemos explanar também que a motivação declarada e escri- Prevê a mencionada norma em seu § 1º, que a motivação deve
ta dos motivos que possibilitaram a prática do ato, quando for de ser explícita, clara e congruente, podendo consistir em declaração
caráter obrigatório, integra a própria forma do ato. Desta maneira, de concordância com fundamentos de anteriores pareceres, infor-
quando for obrigatória, a ausência de motivação enseja vício de for- mações, decisões ou propostas, que, nesse caso, serão parte inte-
ma, mas não vício de motivo. grante do ato. Tal hipótese é denominada pela doutrina de “motiva-
Porém, de forma diferente, sendo o motivo declinado pela au- ção aliunde” que significa motivação “em outro local”, mas que está
toridade e comprovadamente ilícito ou falso, o vício consistirá no sendo admitida no direito brasileiro.
elemento motivo.
A motivação dos atos administrativos
Motivo É a teoria dos motivos determinantes. Convém explicitar a res-
O motivo diz respeito aos pressupostos de fato e de direito que peito da motivação dos atos administrativo e da teoria dos motivos
estabelecem ou autorizam a edição do ato administrativo. determinantes que se baseia na ideia de que mesmo a lei não exi-
Quando a autoridade administrativa não tem margem para de- gindo a motivação, se o ato administrativo for motivado, ele só terá
cidir a respeito da conveniência e oportunidade para editar o ato validade se os motivos declarados forem verdadeiros.
administrativo, diz-se que este é ato vinculado. No condizente ao
ato discricionário, como há espaço de decisão para a autoridade Exemplo
administrativa, a presença do motivo simplesmente autoriza a prá- A doutrina cita o caso do ato de exoneração ad nutum de ser-
tica do ato. vidor ocupante de cargo comissionado, uma vez que esse tipo de
ato não exige motivação. Entretanto, caso a autoridade competente
Nesse diapasão, existem também o motivo de direito que se venha a alegar que a exoneração transcorre da falta de pontualida-
trata da abstrata previsão normativa de uma situação que ao ser de habitual do comissionado, a validade do ato exoneratório virá
verificada no mundo concreto que autoriza ou determina a prática a ficar na dependência da existência do motivo declarado. Já se o
do ato, ao passo que o motivo de fato é a concretização no mundo interessado apresentar a folha de ponto comprovando sua pontua-
empírico da situação prevista em lei. lidade, a exoneração, seja por via administrativa ou judicial, deverá
Assim sendo, podemos esclarecer que a prática do ato adminis- ser anulada.
trativo depende da presença adjunta dos motivos de fato e de direi- É importante registrar que a teoria dos motivos determinantes
to, posto que para isso, são imprescindíveis à existência abstrata de pode ser aplicada tanto aos atos administrativos vinculados quanto
previsão normativa bem como a ocorrência, de fato concreto que aos discricionários, para que o ato tenha sido motivado.
se integre à tal previsão. Em suma, temos:
De acordo com a doutrina, o vício de motivo é passível de ocor-
rer nas seguintes situações: • Motivo do ato administrativo
a) quando o motivo é inexistente. — Definição: pressuposto de fato e direito que fundamenta a
b) quando o motivo é falso. edição do ato administrativo.
c) quando o motivo é inadequado. — Motivo de Direito: é a situação prevista na lei, de forma abs-
trata que autoriza ou determina a prática do ato administrativo.
É de suma importância estabelecer a diferença entre motivo e — Motivo de fato: circunstância que se realiza no mundo real
motivação. Vejamos: que corresponde à descrição contida de forma abstrata na lei, ca-
• Motivo: situação que autoriza ou determina a produção do racterizando o motivo de direito.
ato administrativo. Sempre deve estar previsto no ato administrati- VÍCIOS DE MOTIVO DO ATO ADMINISTRATIVO
vo, sob pena de nulidade, sendo que sua ausência de motivo legíti-
mo ou ilegítimo é causa de invalidação do ato administrativo. Inexistente
• Motivação: é a declinação de forma expressa do motivo, sen- Falso
do a declaração das razões que motivaram à edição do ato. Já a mo-
Inadequado
tivação declarada e expressa dos motivos dos atos administrativos,
via de regra, nem sempre é exigida. Porém, se for obrigatória pela
lei, sua ausência causará invalidade do ato administrativo por vício
de forma, e não de motivo.

111
DIREITO ADMINISTRATIVO
• Teoria dos motivos determinantes presunção de que o ato administrativo foi editado em conformida-
— O ato administrativo possui sua validade vinculada aos moti- de com a lei, gerando a desconfiança de que as alegações produzi-
vos expostos mesmo que não seja exigida a motivação. das pela administração são verdadeiras.
— Só é aplicada apenas se o ato conter motivação. As presunções de legitimidade e de veracidade são elementos
— STJ: “Não se decreta a invalidade de um ato administrativo e qualificadoras presentes em todos os atos administrativos. No
quando apenas um, entre os diversos motivos determinantes, não entanto, ambas serão sempre relativas ou juris tantum, podendo
está adequado à realidade fática”. ser afastadas em decorrência da apresentação de prova em sentido
contrário. Assim sendo, se o administrado se sentir prejudicado por
Objeto algum ato que refutar ilegal ou fundado em mentiras, poderá sub-
O objeto do ato administrativo pode ser conceituado como metê-lo ao controle pela própria administração pública, bem como
sendo o efeito jurídico imediato produzido pelo ato. Em outras pala- pelo Judiciário. Já se o órgão provocado alegar que a prática não
vras, podemos afirmar que o objeto do ato administrativo cuida-se está em conformidade com a lei ou é fundada em alegações falsas,
da alteração da situação jurídica que o ato administrativo se propõe poderá proclamará a nulidade do ato, desfazendo os seus efeitos.
a realizar. Desta forma, no ato impositivo de multa, por exemplo, o Denota-se que a principal consequência da presunção de vera-
objeto é a punição do transgressor. cidade é a inversão do ônus da prova. Nesse sentido, relembremos
Para que o ato administrativo tenha validade, seu objeto deve que em regra, segundo os parâmetros jurídicos, o dever de provar
ser lícito, possível, certo e revestido de moralidade conforme os pa- é de quem alega o fato a ser provado. Desta maneira, se o particu-
drões aceitos como éticos e justos. lar “X” alega que o particular “Y” cometeu ato ilícito em prejuízo
Havendo o descumprimento dessas exigências, podem incidir do próprio “X”, incumbe a “X” comprovar o que está alegando, de
os esporádicos vícios de objeto dos atos administrativos. Nesse sen- maneira que, em nada conseguir provar os fatos, “Y” não poderá
tido, podemos afirmar que serão viciados os atos que possuam os ser punido.
seguintes objetos, seguidos com alguns exemplos:
• Imperatividade
a) Objeto lícito: punição de um servidor público com suspen- Em decorrência desse do atributo, os atos administrativos são
são por prazo superior ao máximo estabelecido por lei específica. impostos pelo Poder Público a terceiros, independentemente da
b) Objeto impossível: determinação aos subordinados para concordância destes. Infere-se que a imperatividade é provenien-
evitar o acontecimento de chuva durante algum evento esportivo. te do poder extroverso do Estado, ou seja, o Poder Público poderá
c) Objeto incerto: em ato unificado, a suspensão do direito de editar atos, de modo unilateral e com isso, constituir obrigações
dirigir das pessoas que por ventura tenham dirigido alcoolizadas para terceiros. A imperatividade representa um traço diferenciado
nos últimos 12 meses, tanto as que tenham sido abordadas por au- em relação aos atos de direito privado, uma vez que estes somente
toridade pública ou flagradas no teste do bafômetro. possuem o condão de obrigar os terceiros que manifestarem sua
d) Objeto moral: a autorização concedida a um grupo de pes- expressa concordância.
soas específicas para a ocupação noturna de determinado trecho Entretanto, nem todo ato administrativo possui imperativida-
de calçada para o exercício da prostituição. Nesse exemplo, o objeto de, característica presente exclusivamente nos atos que impõem
é tido como imoral. obrigações ou restrições aos administrados. Pelo contrário, se o ato
administrativo tiver por objetivo conferir direitos, como por exem-
Atributos do Ato Administrativo plo: licença, admissão, autorização ou permissão, ou, ainda, quan-
Tendo em vista os pormenores do regime jurídico de direito do possuir conteúdo apenas enunciativo como certidão, atestado
público ou regime jurídico administrativo, os atos administrativos ou parecer, por exemplo, não haverá imperatividade.
são dotados de alguns atributos que os se diferenciam dos atos pri-
vados. • Autoexecutoriedade
Acontece que não há unanimidade doutrinária no condizente Consiste na possibilidade de os atos administrativos serem exe-
ao rol desses atributos. Entretanto, para efeito de conhecimento, cutados diretamente pela Administração Pública, por intermédio de
bem como a enumeração que tem sido mais cobrada em concursos meios coercitivos próprios, sem que seja necessário a intervenção
públicos, bem como em teses, abordaremos o conceito utilizado prévia do Poder Judiciário.
pela Professora Maria Sylvia Zanella Di Pietro. Esse atributo é decorrente do princípio da supremacia do inte-
Nos dizeres da mencionada administrativista, os atributos dos resse público, típico do regime de direito administrativo, fato que
atos administrativos são: acaba por possibilitar a atuação do Poder Público no condizente à
rapidez e eficiência.
• Presunção de legitimidade No entender de Maria Sylvia Zanella Di Pietro, a autoexecuto-
Decorre do próprio princípio da legalidade e milita em favor dos riedade somente é possível quando estiver expressamente previs-
atos administrativos. É o único atributo presente em todos os atos ta em lei, ou, quando se tratar de medida urgente, que não sendo
administrativos. Pelo fato de a administração poder agir somente adotada de imediato, ocasionará, por sua vez, prejuízo maior ao
quando autorizada por lei, presume-se, por conseguinte que se a interesse público.
administração agiu e executou tal ato, observando os parâmetros
legais. Desta forma, em decorrência da presunção de legitimidade, EXEMPLOS DE ATOS ADMINISTRATIVOS AUTOEXECUTÓRIOS
os atos administrativos presumem-se editados em conformidade
com a lei, até que se prove o contrário. Apreensão de mercadorias impróprias para o consumo humano
De forma parecida, por efeito dos princípios da moralidade e Demolição de edifício em situação de risco
da legalidade, quando a administração alega algo, presume-se que
Internação de pessoa com doença contagiosa
suas alegações são verdadeiras. É o que a doutrina conceitua como
presunção de veracidade dos atos administrativos que se cuida da Dissolução de reunião que ameace a segurança

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DIREITO ADMINISTRATIVO
Por fim, ressalta-se que o princípio da inafastabilidade da pres- Exemplo:
tação jurisdicional possui o condão de garantir ao particular que O decreto de desapropriação que atinja um único imóvel. Por
considere que algum direito seu foi lesionado ou ameaçado, possa outro lado, como hipótese de ato individual plúrimo, cita-se: o ato
livremente levar a questão ao Poder Judiciário em busca da defesa de nomeação de servidores em forma de lista. Quanto aos desti-
dos seus direitos. natários: ATOS GERAIS, ATOS INDIVIDUAIS, SINGULARES PLÚRIMOS

Tipicidade b) Em relação ao grau de liberdade do agente, os atos podem


De antemão, infere-se que a maior parte dos autores não cita ser atos vinculados e discricionários.
a tipicidade como atributo do ato administrativo. Isso ocorre pelo • Os atos vinculados são aqueles nos quais a Administração
fato de tal característica não estabelecer um privilégio da adminis- Pública fica sem liberdade de escolha, nos quais, desde que com-
tração, mas sim uma restrição. Se adotarmos o entendimento de provados os requisitos legais, a edição do ato se torna obrigatória,
que a título de “atributos” devemos estudar as particularidades dos nos parâmetros previstos na lei. Exemplo: licença para a construção
atos administrativos que os divergem dos demais atos jurídicos, de- de imóvel.
veremos incluir a tipicidade na lista. Entretanto, se entendermos • Já os discricionários são aqueles em que a Administração
que apenas são considerados atributos as prerrogativas que aca- Pública possui um pouco mais de liberdade para, em consonância
bam por verticularizar as relações jurídicas nas quais a administra- com critérios subjetivos de conveniência e oportunidade, tomar de-
ção toma parte, a tipicidade não poderia ser considerada. cisões quando e como o ato será praticado, com a definição de seu
Nos termos da primeira corrente, para a Professora Maria Syl- conteúdo, destinatários, a motivação e a forma de sua prática.
via Zanella Di Pietro, a “tipicidade é o atributo pelo qual o ato admi-
nistrativo deve corresponder a figuras definidas previamente pela c) Em relação às prerrogativas da Administração, os atos admi-
lei como aptas a produzir determinados resultados”. Assim sendo, nistrativos podem ser atos de império, de gestão e de expediente.
em consonância com esse atributo, para cada finalidade que a Ad- • Atos de império são atos por meio dos quais a Administra-
ministração Pública pretender alcançar, deverá haver um ato pre- ção Pública pratica no uso das prerrogativas tipicamente estatais
viamente definido na lei. usando o poder de império para impô-los de modo unilateral e co-
Denota-se que a tipicidade é uma consequência do princípio ercitivo aos seus administrados. Exemplo: interdição de estabeleci-
da legalidade. Esse atributo não permite à Administração praticar mentos comerciais.
atos em desacordo com os parâmetros legais, motivo pelo qual o
atributo da tipicidade é considerado como uma ideia contrária à da d) Em relação aos atos de gestão, são atos por meio dos quais
autonomia da vontade, por meio da qual o particular tem liberda- a Administração Pública atua sem o uso das prerrogativas prove-
de para praticar atos desprovidos de disciplina legal, inclusive atos nientes do regime jurídico administrativo. Exemplo: atos de admi-
inominados. nistração dos bens e serviços públicos e dos atos negociais com os
Ainda nos trâmites com o entendimento exposto, ressalta-se particulares.
que a tipicidade só existe nos atos unilaterais, não se encontran- Quando praticados de forma regular os atos de gestão, passam
do presente nos contratos. Isso ocorre porque não existe qualquer a ter caráter vinculante e geram direitos subjetivos.
impedimento de ordem jurídica para que a Administração venha a
firmar com o particular um contrato inominado desprovido de regu- Exemplo:
lamentação legal, desde que esta seja a melhor maneira de atender Uma autarquia ao alugar um imóvel a ela pertencente, de for-
tanto ao interesse público como ao interesse particular. ma vinculante entre a administração e o locatário aos termos do
contrato, acaba por gerar direitos e deveres para ambos.
Classificação dos Atos Administrativos • Já os atos de expediente são tidos como aqueles que im-
A Doutrina não é uniforme no que condiz à atribuição dada pulsionam a rotina interna da repartição, sem caráter vinculante e
à diversidade dos critérios adotados com esse objetivo. Por esse sem forma especial, cujo objetivo é dar andamento aos processos e
motivo, sem esgotar o assunto, apresentamos algumas classifica- papéis que tramitam internamente nos órgãos públicos.
ções mais relevantes, tanto no que se refere a uma maior utilidade
prática na análise dos regimes jurídicos, tanto pela concomitante Exemplo:
abordagem nas provas de concursos públicos. Um despacho com o teor: “ao setor de contabilidade para as
devidas análises”.
a) Em relação aos destinatários: atos gerais e individuais. Os
atos gerais ou normativos, são expedidos sem destinatários deter- e) Quanto à formação, os atos administrativos podem ser atos
minados ou determináveis e aplicáveis a todas as pessoas que de simples, complexos e compostos.
uma forma ou de outra se coloquem em situações concretas que • O ato simples decorre da declaração de vontade de apenas
correspondam às situações reguladas pelo ato. Exemplo: o Regula- um órgão da administração pública, pouco importando se esse ór-
mento do Imposto de Renda. gão é unipessoal ou colegiado. Assim sendo, a nomeação de um
servidor público pelo Prefeito de um Município, será considerada
• Atos individuais ou especiais: são dirigidos a destinatários como ato simples singular, ao passo que a decisão de um processo
individualizados, podendo ser singulares ou plúrimos. Sendo que administrativo por órgão colegiado será apenas ato simples cole-
será singular quando alcançar um único sujeito determinado e será giado.
plúrimo, quando for designado a uma pluralidade de sujeitos deter- • O ato complexo é constituído pela manifestação de dois ou
minados em si. mais órgãos, por meio dos quais as vontades se unem em todos os
sentidos para formar um só ato. Exemplo: um decreto assinado pelo
Presidente da República e referendado pelo Ministro de Estado.
É importante não confundir ato complexo com procedimento
administrativo. Nos dizeres de Hely Lopes Meirelles, “no ato com-
plexo integram-se as vontades de vários órgãos para a obtenção de

113
DIREITO ADMINISTRATIVO
um mesmo ato, ao passo que no procedimento administrativo pra- Por sua vez, o decreto autônomo é aquele que dispõe sobre
ticam-se diversos atos intermediários e autônomos para a obtenção matéria não regulada em lei, passando a criar um novo direito. Pon-
de um ato final e principal”. dera-se que atualmente, as únicas hipóteses de decreto autônomo
f) Em relação ao ato administrativo composto, pondera que admitidas no direito brasileiro, são as disposta no art. 84, VI, “a”, da
este também decorre do resultado da manifestação de vontade de Constituição Federal, incluída pela Emenda Constitucional 32/2001,
dois ou mais órgãos. O que o diferencia do ato complexo é o fato de que predispõe a competência privativa do Presidente da República
que, ao passo que no ato complexo as vontades dos órgãos se unem para dispor, mediante decreto, sobre a organização e funcionamen-
para formar um só ato, no ato composto são praticados dois atos, to da administração federal, quando não incorrer em aumento de
um principal e outro acessório. despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos.

Ademais, é importante explicar a definição de Hely Lopes Mei- • Atos ordinatórios


relles, para quem o ato administrativo composto “é o que resulta da Os atos administrativos ordinatórios são aqueles que podem
vontade única de um órgão, mas depende da verificação por parte ser editados no exercício do poder hierárquico, com o fulcro de dis-
de outro, para se tornar exequível”. A mencionada definição, em- ciplinar as relações internas da Administração Pública. Detalhare-
bora seja discutível, vem sendo muito utilizada pelas bancas exa- mos aqui os principais atos ordinatórios. São eles: as instruções, as
minadoras na elaboração de questões de provas de concurso pú- circulares, os avisos, as portarias, as ordens de serviço, os ofícios e
blico. Isso ocorreu na aplicação da prova para Assistente Jurídico os despachos.
do DF, elaborada pelo CESPE em 2001, que foi considerado correto Instruções: tratam-se de atos administrativos editados pela
o seguinte tópico: “Ao ato administrativo cuja prática dependa de autoridade hierarquicamente superior, com o fulcro de ordenar a
vontade única de um órgão da administração, mas cuja exequibili- atuação dos agentes que lhes são subordinados. Exemplo: as instru-
dade dependa da verificação de outro órgão, dá-se o nome de ato ções que ordenam os atos que devem ser usados de forma interna
administrativo composto”. na análise do pedido de utilização de bem público formalizado uni-
camente por particular.
Espécies Circulares: são consideradas idênticas às instruções, entretan-
O saudoso jurista Hely Lopes Meirelles propõe que os atos to, de modo geral se encontram dotadas de menor abrangência.
administrativos sejam divididos em cinco espécies. São elas: atos Avisos: tratam-se de atos administrativos que são editados por
normativos, atos ordinatórios, atos negociais, atos enunciativos e Ministros de Estados com o objetivo de tratarem de assuntos corre-
atos punitivos. latos aos respectivos Ministérios.
Portarias: são atos administrativos respectivamente editados
• Atos normativos por autoridades administrativas, porém, diferentes das do chefe do
Os atos normativos são aqueles cuja finalidade imediata é es- Poder Executivo. Exemplo: determinação por meio de portaria de-
miuçar os procedimentos e comportamentos para a fiel execução terminando a instauração de processo disciplinar específico.
da lei, posto que as dispostas e utilizadas por tais atos são gerais, Ordens de serviço: tratam-se de atos administrativos ordena-
não possuem destinatários específicos e determinados, e abstratas, dores da adoção de conduta específica em circunstâncias especiais.
versando sobre hipóteses e nunca sobre casos concretos. Exemplo: ordem de serviço determinadora de início de obra públi-
ca.
Em relação à forma jurídica adotada, os atos normativos po- Ofícios: são especificamente, atos administrativos que se res-
dem ser: ponsabilizam pela formalização da comunicação de forma escrita
a) Decreto: é ato administrativo de competência privativa dos e oficial existente entre os diversos órgãos públicos, bem como de
chefes do Poder Executivo utilizados para regulamentar situação entidades administrativas como um todo. Exemplo: requisição de
geral ou individual prevista na legislação, englobando também de informações necessárias para a defesa do Estado em juízo por meio
forma ampla, o decreto legislativo, cuja competência é privativa das de ofício enviado pela Procuradoria do Estado à Secretaria de Saú-
Casas Legislativas. de.
O decreto é de suma importância no direito brasileiro, moti- Despachos: são atos administrativos eivados de poder decisó-
vo pelo qual, de acordo com seu conteúdo, os decretos podem ser rio ou apenas de mero expediente praticados em processos admi-
classificados em decreto geral e individual. Vejamos: nistrativos. Exemplo: quando da ocorrência de processo disciplinar,
b) Decreto geral: possui caráter normativo veiculando regras é emitido despacho especifico determinando a oitiva de testemu-
gerais e abstratas, fato que visa facilitar ou detalhar a correta apli- nhas.
cação da Lei. Exemplo: o decreto que institui o “Regulamento do
Imposto de Renda”. • Atos negociais
c) Decreto individual: seu objetivo é tratar da situação específi- Também chamados de atos receptícios, são atos administrati-
ca de pessoas ou grupos determinados, sendo que a sua publicação vos de caráter administrativo editados a pedido do particular, com
produz de imediato, efeitos concretos. o fulcro de viabilizar o exercício de atividade específica, bem como a
utilização de bens públicos. Nesse ato, a vontade da Administração
Exemplo: Pública é pertinente com a pretensão do particular. Fazem parte
Decreto que declara a utilidade pública de determinado bem desta categoria, a licença, a permissão, a autorização e a admissão.
para fim de desapropriação. Vejamos:
Nesse ponto, passaremos a verificar a respeito do decreto re- a) Licença: possui algumas características. São elas:
gulamentar, também designado de decreto de execução. A doutrina — Ato vinculado: desde que sejam preenchidos os requisitos
o conceitua como sendo aquele que introduz um regulamento, não legais por parte do particular, o Poder Público deverá editar a li-
permitindo que o seu conteúdo e o seu alcance possam ir além da- cença;
queles do que é permitido por Lei. — Ato de consentimento estatal: ato por meio do qual a Admi-
nistração se torna conivente com o exercício da atividade privada
como um todo;

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DIREITO ADMINISTRATIVO
— Ato declaratório: ato que reconhece o direito subjetivo do públicos, ao passo que os atestados se incumbem da tarefa de re-
particular, vindo a autorizar a habilitação do seu exercício. tratar fatos que não constam de forma antecipada dos arquivos da
b) Permissão: trata-se de ato administrativo discricionário do- Administração Pública.
tado da permissão do exercício de atividades específicas realizadas d) Apostilamento: tratam-se atos administrativos que possuem
pelo particular ou, ainda, o uso privativo de determinado bem pú- o objetivo de averbar determinados fatos ou direitos reconhecidos
blico. Exemplo: a permissão para uso de bem público específico. pela norma jurídica como um todo. Como exemplo, podemos citar
A permissão é dotada de características essenciais. São elas: o apostilamento, via de regra, feito no verso da última página dos
— Ato de consentimento estatal: ato por meio do qual a Ad- contratos administrativos, da variação do valor contratual advinda
ministração Pública concorda com o exercício da atividade privada, de reajuste previsto no contrato, nos parâmetros do art. 65, § 8.°,
bem como da utilização de bem público por particulares; da Lei 8.666/1993, Lei de Licitações.
— Ato discricionário: ato por intermédio do qual a autoridade
administrativa é dotada de liberdade de análise referente à conve- • Atos punitivos
niência e à oportunidade do ato administrativo; Também chamados de atos sancionatórios, os atos punitivos
— Ato constitutivo: ato por meio do qual, o particular possui são aqueles que atuam na restrição de direitos, bem como de in-
somente expectativa de direito antes da edição do ato, e não ape- teresses dos administrados que vierem a atuar em desalento com
nas de direito subjetivo ao ato. a ordem jurídica de modo geral. Entretanto, exige-se, de qualquer
c) Autorização: é detentora de características iguais às da per- forma, o devido respeito à ampla defesa e ao contraditório na edi-
missão, vindo a constituir ato administrativo discricionário permis- ção de atos punitivos, nos trâmites do art. 5.°, LV, da Constituição
sionário do exercício de atividade específica pelo particular ou, Federal Brasileira, bem como que as sanções administrativas te-
ainda, o uso particular de bem público. Da mesma forma que a per- nham previsão legal expressa cumprindo os ditames do princípio
missão, a autorização possui como características: o ato de consen- da legalidade.
timento estatal, o ato discricionário e o ato constitutivo. Podemos dividir as sanções em dois grupos:
d) Admissão: trata-se de ato administrativo vinculado portador 1) Sanções de polícia: de modo geral são aplicadas com supe-
do reconhecimento do direito ao recebimento de serviço público dâneo no poder de polícia, bem como são relacionadas aos particu-
específico pelo particular, que deve ser editado na hipótese na qual lares em geral. Exemplo: multa de trânsito.
o particular preencha devidamente os requisitos legais 2) Sanções funcionais ou disciplinares: são aplicadas com em-
basamento no poder disciplinar aos servidores públicos e às demais
• Atos enunciativos pessoas que se encontram especialmente vinculadas à Administra-
São atos administrativos que expressam opiniões ou, ainda, ção Pública. Exemplo: reprimenda imposta à determinada empresa
que certificam fatos no campo da Administração Pública. A doutri- contratada pela Administração.
na reconhece como espécies de atos enunciativos: os pareceres, as Em relação aos atos punitivos, pode-se citar como exemplos, as
certidões, os atestados e o apostilamento. Vejamos: multas, as interdições de atividades, as apreensões ou destruições
a) Pareceres: são atos administrativos que buscam expressar de coisas e as sanções disciplinares. Vejamos resumidamente cada
a opinião do agente público a respeito de determinada questão de espécie:
ordem fática, técnica ou jurídica. Exemplo: no curso de processo de Multas: tratam-se de sanções pecuniárias que são impostas
licenciamento ambiental é apresentado parecer técnico. aos administrados.
De forma geral, a doutrina pondera a existência de três espé- Interdições de atividades: são atos que proibitivos ou suspen-
cies de pareceres. São eles: sivos do exercício de atividades diversas.
1) Parecer facultativo: esta espécie não é exigida pela legislação Apreensão ou destruição de coisas: cuidam-se de sanções
para formulação da decisão administrativa. Ao ser elaborado, não aplicadas pela Administração relacionadas às coisas que colocam a
vincula a autoridade competente; população em risco.
2) Parecer obrigatório: é o parecer que deve ser necessaria- Ressalta-se que em se tratando de perigo público iminente, a
mente elaborado nas hipóteses mencionadas na legislação, mas a autoridade pública deterá o poder de destruir as coisas nocivas à
opinião nele contida não vincula de forma definitiva a autoridade coletividade, havendo ou não, processo administrativo prévio, si-
responsável pela decisão administrativa, que pode contrariar o pa- tuação hipotética na qual a ampla defesa será delongada para mo-
recer de forma motivada; mento posterior. Entretanto, estando ausente a urgência da medi-
3) Parecer vinculante: é o parecer que deve ser elaborado de da, denota-se que a sua aplicação dependerá da formalização feita
forma obrigatória contendo teor que vincule a autoridade adminis- de forma prévia no processo administrativo, situação por intermé-
trativa com o dever de acatá-lo. dio da qual, a ampla defesa será postergada para momento ulterior.
b) Certidões: tratam-se de atos administrativos que possuem Sanções disciplinares: também chamadas de sanções funcio-
o condão de declarar a existência ou inexistência de atos ou fatos nais, as sanções disciplinares são aplicadas aos servidores públicos
administrativos. As certidões são atos que retratam a realidade, po- e aos administrados possuidores de relação jurídica especial com a
rém, não são capazes de criar ou extinguir relações jurídicas. Administração Pública, desde que tenha sido constatada a violação
*Nota importante: o art. 5, XXXIV, “b”, da Constituição Federal ao ordenamento jurídico, bem como aos termos do negócio jurídi-
consagra o direito de certidão no âmbito de direitos fundamentais, co. Um exemplo disso, é a demissão de servidor público que tenha
no qual assegura a todo e qualquer cidadão interessado, indepen- cometido falta grave.
dentemente do pagamento de taxas, “a obtenção de certidões em *Nota importante: Diferentemente das sanções aplicadas aos
repartições públicas, para defesa de direitos e esclarecimento de particulares, de modo geral, no exercício do poder de polícia, as
situações de interesse pessoal”. sanções disciplinares são aplicadas no campo das relações de sujei-
c) Atestados: tratam-se de atos administrativos similares às ção especial de administrados específicos do poder disciplinar da
certidões, posto que também declaram a existência ou inexistência Administração Pública, como é o caso dos servidores e contratados.
de fatos. Entretanto, os atestados não se confundem com as cer- Ao passo que as sanções de polícia são aplicadas para o exterior
tidões, uma vez que nas certidões, o agente público utiliza-se do
ato de emitir declaração sobre ato ou fato constante dos arquivos

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DIREITO ADMINISTRATIVO
da Administração - as chamadas sanções externas - as sanções dis- ato, posto que, se a Administração contiver por objetivo retirar o
ciplinares são aplicadas no interior da Administração Pública, - as ato por razões de conveniência e oportunidade, deverá, por conse-
denominadas sanções internas. guinte, revogá-lo, e não o anular.
Diferentemente da revogação, que mantém incidência somen-
Extinção do ato administrativo te sobre atos discricionários, a anulação pode atingir tanto os atos
Diversas são as causas que causam e determinam a extinção discricionários quanto os vinculados. Isso que é explicado pelo fato
dos atos administrativos ou de seus efeitos. No entendimento de de que ambos deterem a prerrogativa de conter vícios de legalida-
Celso Antônio Bandeira de Mello, o ato administrativo eficaz poderá de.
ser extinto pelos seguintes motivos: cumprimento de seus efeitos, Em relação à competência, a anulação do ato administrativo
vindo a se extinguir naturalmente; desaparecimento do sujeito, viciado pode ser promovida tanto pela Administração como pelo
vindo a causar a extinção subjetiva, ou sendo do objeto, extinção Poder Judiciário.
objetiva; retirada do ato pelo Poder Público e pela renúncia do be- Muitas vezes, a Administração anula o seu próprio ato. Quando
neficiário. isso acontece, dizemos que ela agiu com base no seu poder de au-
totutela, devidamente paramentado nas seguintes Súmulas do STF:
Nesse tópico trataremos do condizente a outras situações por
meio das quais a extinção do ato administrativo ou de seus efeitos PODER DE AUTOTUTELA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
ocorre pelo fato do Poder Público ter emitido novo ato que surtiu
A Administração Pública pode decla-
efeito extintivo sobre o ato anterior. Isso pode ocorrer nas seguintes SÚMULA 346
rar a nulidade dos seus próprios atos.
situações:
A Administração pode anular seus
Cassação próprios atos, quando eivados de
É a supressão do ato pelo fato do destinatário ter descumprido vícios que os tornam ilegais, porque
condições que deveriam permanecer atendidas com o fito de dar deles não se originam direitos; ou
continuidade à0situação jurídica. Como modalidade de extinção SÚMULA 473 revogá-los, por motivo de conveniên-
do ato administrativo, a cassação relaciona-se ao ato que, mesmo cia ou oportunidade, respeitados os
sendo legítimo na sua origem e formação, tornou-se ilegal na sua direitos adquiridos, e ressalvada, em
execução. Exemplo: cassação de uma licença para funcionamento todos os casos, a apreciação judicial.
de hotel que passou a funcionar ilegalmente como casa de prosti-
tuição.
Assim, percebe-se que o instituto da autotutela pode ser in-
vocado para anular o ato administrativo por motivo de ilegalidade,
Vale ressaltar que um dos principais requisitos da cassação de bem como para revogá-lo por razões de conveniência e oportuni-
um ato administrativo é a preeminente necessidade de sua vincu- dade.
lação obrigatória às hipóteses previstas em lei ou norma similar. A anulação do ato administrativo pode se dar de ofício ou por
Desta forma, a Administração Pública não detém o poder de de- provocação do interessado.
monstrar ou indicar motivos diferentes dos previstos para justificar Tendo em vista o princípio da inércia Poder Judiciário, no exer-
a cassação, estando, desta maneira, limitada ao que houver sido cício de função jurisdicional, este apenas poderá anular o ato admi-
fixado nas referidas leis ou normas similares. Esse entendimento, nistrativo havendo pedido do interessado.
em geral, evita que os particulares sejam coagidos a conviver com Destaque-se que a anulação de ato administrativo pela própria
extravagante insegurança jurídica, posto que, a qualquer momento Administração, somente pode ser realizada dentro do prazo legal-
a administração estaria apta a propor a cassação do ato adminis- mente estabelecido. À vista da autonomia administrativa atribuída
trativo. de forma igual à União, Estados, Distrito Federal e Municípios, cada
Relativo à sua natureza jurídica, sendo a cassação considerada uma dessas esferas tem a possibilidade de, observado o princípio
como um ato sancionatório, uma vez que a cassação só poderia ser da razoabilidade e mediante legislação própria, fixar os prazos para
proposta contra particulares que tenham sido flagrados pelos agen- o exercício da autotutela.
tes de fiscalização em descumprimento às condições de subsistên-
cia do ato, bem como por ato revisional que implicasse auditoria, Em decorrência do disposto no art. 54 da Lei 9.784/1999, no
acoplando até mesmo questões relativas à intercepção de bases de âmbito federal, em razão do direito de a Administração anular os
dados públicas. atos administrativos de que decorram efeitos favoráveis para os
Vale ressaltar que a cassação e a anulação possuem efeitos pa- destinatários de boa-fé, o prazo de anulação decai em cinco anos,
recidos, porém não são equivalentes, uma vez que a cassação ad- contados da data em que foram praticados. Infere-se que como tal
vém do não cumprimento ou alteração dos requisitos necessários norma não possui caráter nacional, não há impedimentos para a
para a formação ou manutenção de uma situação jurídica, ao passo estipulação de prazos diferentes em outras esferas.
que a anulação tem parte quando é verificado que o defeito do ato
ocorreu na formação do ato. Revogação
É a extinção do ato administrativo válido, promovido pela pró-
Anulação pria Administração, por motivos de conveniência e oportunidade,
É a retirada ou supressão do ato administrativo, pelo motivo sendo que o ato é suprimido pelo Poder Público por motivações de
de ele ter sido produzido com ausência de conformidade com a lei conveniência e oportunidade, sempre relacionadas ao atendimento
e com o ordenamento jurídico. A anulação é resultado do controle do interesse público. Assim, se um ato administrativo legal e per-
de legalidade ou legitimidade do ato. O controle de legalidade ou feito se torna inconveniente ao interesse público, a administração
legitimidade não permite que se aprofunde na análise do mérito do pública poderá suprimi-lo por meio da revogação.

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DIREITO ADMINISTRATIVO
A revogação resulta de um controle de conveniência e oportu- Assim, é de suma importância esclarecermos que a jurispru-
nidade do ato administrativo promovido pela própria Administra- dência tem entendido que mesmo o ato nulo pode, em determina-
ção que o editou. das lides, deixar de ter sua nulidade proclamada em decorrência do
É fundamental compreender que a revogação somente pode princípio da segurança jurídica.
atingir os atos administrativos discricionários. Isso ocorre por que
quando a administração está à frente do motivo que ordena a prá- Decadência Administrativa
tica do ato vinculado, ela deve praticá-lo de forma obrigatória, não O instituto da decadência consiste na perda efetiva de um direi-
lhe sendo de forma alguma, facultada a possibilidade de analisar a to existente, pela falta de seu exercício, no período de tempo deter-
conveniência e nem mesmo a oportunidade de fazê-lo. Desta ma- minado em lei e também pela vontade das próprias partes e, ainda
neira, não havendo possibilidade de análise de mérito para a edição no fim de um direito subjetivo em face da inércia de seu titular, que
do ato, essa abertura passará a não existir para que o ato seja des- não ajuizou uma ação constitutiva no prazo estabelecido pela lei.
feito pela revogação. Celso Antônio Bandeira de Mello considera esse instituto como
sendo a “perda do próprio direito, em si, por não o utilizar no prazo
Mesmo não se submetendo a qualquer limite de prazo, a prin- previsto para o seu exercício, evento, este, que sucede quando a
cípio, a revogação do ato administrativo pode ser realizada a qual- única forma de expressão do direito coincide conaturalmente com
quer tempo. Nesse sentido, a doutrina infere a existência de certos o direito de ação”. Ou seja, “quando o exercício do direito se con-
limites ao poder de revogar. Nos dizeres de Maria Sylvia Zanella Di funde com o exercício da ação para manifestá-lo”.
Pietro12, não são revogáveis os seguintes atos: Nos trâmites do artigo 54 da Lei 9.784/99, encontramos o dis-
a) Os atos vinculados, porque sobre eles não é possível a aná- posto legal sobre a decadência do direito de a administração pú-
lise de conveniência e oportunidade; blica anular seus próprios atos, a partir do momento em que esses
b) Os atos que exauriram seus efeitos, como a revogação não vierem a gerar efeitos favoráveis a seus destinatários. Vejamos:
retroage e os atos já produziram todos os efeitos que lhe seriam Artigo 54. O direito da administração de anular os atos admi-
próprios, não há que falar em revogação; é o que ocorre quando nistrativos de que decorram efeitos favoráveis para os destinatários
transcorre o prazo de uma licença concedida ao servidor público, decai em cinco anos, contados da data em que foram praticados,
após o gozo do direito, não há como revogar o ato; salvo comprovada má-fé.
c) Quando a prática do ato exauriu a competência de quem o § 1° - No caso de efeitos patrimoniais contínuos, o prazo de
praticou, o que ocorre quando o ato está sob apreciação de autori- decadência contar-se-á da percepção do primeiro pagamento.
dade superior, hipótese em que a autoridade inferior que o praticou § 2° - Considera-se exercício do direito de anular qualquer me-
deixou de ser competente para revogá-lo; dida de autoridade administrativa que importe impugnação à vali-
d) Os meros atos administrativos, como certidões, atestados, dade do ato.”
votos, porque os efeitos deles decorrentes são estabelecidos pela O mencionado direito de anulação do ato administrativo decai
lei; no prazo de cinco anos, contados da data em que o ato foi prati-
e) Os atos que integram um procedimento, porque a cada cado. Isso significa que durante esse decurso, o administrado per-
novo ato ocorre a preclusão com relação ao ato anterior; manecerá submetido a revisões ou anulações do ato administrativo
f) Os atos que geram direitos a terceiros, (o chamado direito que o beneficia.
adquirido), conforme estabelecido na Súmula 473 do STF. Entretanto, após o encerramento do prazo decadencial, o ad-
ministrado poderá ter suas relações com a administração consolida-
Convalidação das contando com a proteção da segurança jurídica.
É a providência tomada para purificar o ato viciado, afastando Anote-se que o Supremo Tribunal Federal, no julgamento do
por sua vez, o vício que o maculava e mantendo seus efeitos, inclu- Mandado de Segurança 28.953, adotou o seguinte entendimento
sive aqueles que foram gerados antes da providência saneadora. sobre a matéria na qual o ministro Luiz Fux desta forma esclareceu:
Em sentido técnico, a convalidação gera efeitos ex tunc, uma vez “No próprio Superior Tribunal de Justiça, onde ocupei durante
que retroage à data da edição do ato original, mantendo-lhe todos dez anos a Turma de Direito Público, a minha leitura era exatamente
os efeitos. essa, igual à da ministra Carmen Lúcia; quer dizer, a administração
Sendo admitida a convalidação, a convalidação perderia sua tem cinco anos para concluir e anular o ato administrativo, e não
razão de ser, equivalendo em tudo a uma anulação, apagando os para iniciar o procedimento administrativo. Em cinco anos tem que
efeitos passados, seguida da edição de novo ato que por sua vez, estar anulado o ato administrativo, sob pena de incorrer em deca-
passaria a gerar os seus tradicionais efeitos prospectivos. dência (grifo aditado). Eu registro também que é da doutrina do
Por meio da teoria dualista é admitida a existência de vícios Supremo Tribunal Federal o postulado da segurança jurídica e da
sanáveis e insanáveis, bem como de atos administrativos nulos e proteção da confiança, que são expressões do Estado Democrático
anuláveis. de Direito, revelando-se impregnados de elevado conteúdo ético,
À vista da atual predominância doutrinária, a teoria dualista foi social e jurídico, projetando sobre as relações jurídicas, inclusive,
incorporada formalmente à legislação brasileira. Nesse diapasão, o as de Direito Público. De sorte que é absolutamente insustentável
art. 55 da Lei 9.784/1999 atribui à Administração pública a possibi- o fato de que o Poder Público não se submente também a essa
lidade de convalidar os atos que apresentarem defeitos sanáveis, consolidação das situações eventualmente antijurídicas pelo de-
levando em conta que tal providência não acarrete lesão ao interes- curso do tempo.”
se público nem prejuízo a terceiros. Embora tal regra seja destinada Destaca-se que ao afirmar que a Administração Pública dispõe
à aplicação no âmbito da União, o mesmo entendimento tem sido de cinco anos para anular o ato administrativo, o ministro Luiz Fux
aplicado em todas as esferas, tanto em decorrência da existência de promoveu maior confiabilidade na relação entre o administrado e
dispositivo similar nas leis locais, quanto mediante analogia com a Administração Pública, suprimindo da administração o poder de
esfera federal e também com fundamento na prevalência doutriná- usar abusivamente sua prerrogativa de anulação do ato adminis-
ria vigente. trativo, o que proporciona maior equilíbrio entre as partes interes-
sadas.

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DIREITO ADMINISTRATIVO
Em resumo, é de grande importância o posicionamento adota- XI – proibição de cobrança de despesas processuais, ressalva-
do pela Corte Suprema, levando em conta que ao mesmo só tempo, das as previstas em lei;
propicia maior segurança jurídica e respeita a regra geral de conta- XII – seguimento, de ofício, do processo administrativo, sem
gem do prazo decadencial. prejuízo da atuação dos interessados;
XIII – interpretação da norma administrativa da forma que me-
lhor garanta o atendimento de sua finalidade pública, vedada apli-
PROCESSO ADMINISTRATIVO (LEI ESTADUAL N.º cação retroativa de nova interpretação.
13.800/2001)
CAPÍTULO II
DOS DIREITOS DOS ADMINISTRADOS
LEI Nº 13.800, DE 18 DE JANEIRO DE 2001.
Art. 3o – Sem prejuízo de outros que lhe sejam assegurados, o
Regula o processo administrativo no âmbito da Administração administrado tem os seguintes direitos:
Pública do Estado de Goiás. I – ser tratado com respeito pelas autoridades e servidores, que
deverão facilitar o exercício de seus direitos e o cumprimento de
A ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE GOIÁS decreta e eu suas obrigações;
sanciono a seguinte lei: II – ter ciência da tramitação dos processos administrativos em
que tenha a condição de interessado, ter vista dos mesmos, pesso-
CAPÍTULO I almente ou através de procurador legitimamente constituído, obter
DISPOSIÇÕES GERAIS cópias de documentos neles contidos e conhecer das decisões pro-
feridas;
Art. 1o - Esta lei estabelece normas básicas sobre o processo III – formular alegações e apresentar documentos antes da de-
administrativo no âmbito da Administração Estadual direta e indire- cisão, os quais serão objeto de consideração pela autoridade julga-
ta, visando à proteção dos direitos dos administrados e ao melhor dora;
cumprimento dos fins da Administração. IV – fazer-se assistir, facultativamente, por advogado, salvo
§ 1o - O disposto nesta lei aplica-se, no que couber, aos órgãos quando obrigatória a representação, por força de lei.
dos Poderes Legislativo e Judiciário e ao Ministério Público, quando Art. 3º-A Terão prioridade na tramitação, em qualquer órgão
no desempenho de função administrativa. ou instância, os procedimentos administrativos em que figure como
§ 2o – Para os fins desta lei, consideram-se: parte ou interessado:
I – órgão – a unidade de atuação integrante das estruturas das - Redação dada pela Lei nº 17.054, de 22-06-2010.
Administrações direta e indireta; I – pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos;
II – entidade – a unidade de atuação dotada de personalidade - Acrescido pela Lei nº 17.054, de 22-06-2010.
jurídica; II – pessoa portadora de deficiência;
III – autoridade – o servidor ou agente público dotado de poder - Acrescido pela Lei nº 17.054, de 22-06-2010.
de decisão. III – pessoa portadora de tuberculose ativa, esclerose múltipla,
Art. 2o – A Administração pública obedecerá, dentre outros, neoplasia maligna, hanseníase, paralisia irreversível e incapacitan-
aos princípios da legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, te, cardiopatia grave, doença de Parkinson, espondiloartrose anqui-
proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segu- losante, nefropatia grave, hepatopatia grave, estados avançados da
rança jurídica, interesse público e eficiência. doença de Paget (osteíte deformante), contaminação por radiação,
Parágrafo único – Nos processos administrativos serão obser- síndrome da imunodeficiência adquirida, ou outra doença grave,
vados, entre outros, os critérios de: com base em conclusão da medicina especializada, mesmo que a
I – atuação conforme a lei e o direito; doença tenha sido contraída após o início do processo.
II – atendimento a fins de interesse geral, vedada a renúncia - Acrescido pela Lei nº 17.054, de 22-06-2010.
total ou parcial de poderes ou competências, ressalvadas as auto- § 1º A pessoa interessada na obtenção do benefício, juntando
rizadas em lei; prova de sua condição, deverá requerê-lo à autoridade administra-
III – objetividade no atendimento do interesse público; tiva competente para decidir o feito, que determinará as providên-
IV – atuação segundo padrões éticos de probidade, decoro e cias a serem cumpridas.
boa-fé; - Redação dada pela Lei nº 17.054, de 22-06-2010.
V – divulgação oficial dos atos administrativos, ressalvadas as § 2o VETADO.
hipóteses de sigilo previstas na Constituição Federal; - Acrescido pela Lei nº 16.105, de 24-07-2007.
VI – adequação entre meios e fins, vedada a imposição de obri- § 3º A prioridade de que trata este artigo não cessará com a
gações, restrições e sanções em medida superior àquelas estrita- morte do beneficiado, estendendo-se em favor do cônjuge supérs-
mente necessárias ao atendimento do interesse público; tite, companheiro ou companheira, em união estável.
VII – indicação dos pressupostos de fato e de direito que deter- - Redação dada pela Lei nº 17.054, de 22-06-2010.
minarem a decisão; § 4º Deferida a prioridade, os autos receberão identificação
VIII – observância das formalidades essenciais à garantia dos própria que evidencie o regime de tramitação prioritária.
direitos dos administrados; - Acrescido pela Lei nº 17.054, de 22-06-2010.
IX – adoção de formas simples, suficientes para propiciar ade- § 5º Dentre os processos de idosos, dar-se-á prioridade espe-
quado grau de certeza, segurança e respeito aos direitos dos admi- cial aos maiores de 80 (oitenta) anos.
nistrados; - Acrescido pela Lei nº 21.519, de 26-07-2022.
X – garantia dos direitos à comunicação, à apresentação de ale-
gações finais, à produção de provas e à interposição de recursos,
nos processos de que possam resultar sanções e nas situações de
litígio;

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DIREITO ADMINISTRATIVO
CAPÍTULO III CAPÍTULO VI
DOS DEVERES DO ADMINISTRADO DA COMPETÊNCIA

Art. 4o – São deveres do administrado perante a Administra- Art. 11 – A competência é irrenunciável e se exerce pelos ór-
ção, sem prejuízo de outros previstos em ato normativo: gãos administrativos a que foi atribuída como própria, salvo os ca-
I – expor os fatos conforme a verdade; sos de delegação e avocação legalmente admitidos.
II – proceder com lealdade, urbanidade e boa-fé; Art. 12 – Os titulares de órgão administrativo poderão, se não
III – não agir de modo temerário; houver impedimento legal, delegar competência a titulares de ou-
IV – prestar as informações que lhe forem solicitadas e colabo- tros órgãos, quando for conveniente em razão de circunstâncias de
rar para o esclarecimento dos fatos. ordem técnica, social, econômica, jurídica ou territorial.
Parágrafo único – O disposto neste artigo aplica-se à delegação
CAPÍTULO IV de competência dos órgãos colegiados aos respectivos presidentes.
DO INÍCIO DO PROCESSO Art. 13 – Não podem ser objeto de delegação:
I - Revogado;
Art. 5o – O processo administrativo pode iniciar-se de ofício ou - Revogado pela Lei nº 14.211, de 08-07-2002, retroagindo os
a pedido do interessado. efeitos a 23/01/2001.
Art. 6o – O requerimento inicial do interessado, salvo casos em II – a decisão de recursos administrativos;
que for admitida solicitação oral, deve ser formulado por escrito e III - Revogado;
conter os seguintes dados: - Revogado pela Lei nº 13.870, de 19-7-2001 .
I – órgão ou autoridade administrativa a que se dirige; Art. 14 – O ato de delegação e sua revogação deverão ser pu-
II – identificação do interessado ou de quem o represente; blicados no meio oficial.
III – domicílio do requerente ou local para recebimento de co- § 1o – O ato de delegação especificará as matérias e condições
municações; dos poderes delegados e sua duração.
IV – formulação do pedido, com exposição dos fatos e de seus § 2o – O ato de delegação é revogável a qualquer tempo pela
fundamentos; autoridade delegante, respeitados os atos praticados ou decisões
V – data e assinatura do requerente ou de seu representante. proferidas na vigência da delegação, excetuados os casos de má-fé
§ 1º É vedada à Administração a recusa imotivada de recebi- ou comprovadamente prejudiciais a quaisquer das partes envolvi-
mento de documentos, devendo o servidor orientar o interessado das.
quanto ao suprimento de eventuais falhas. § 3o – As decisões adotadas por delegação deverão mencionar
- Redação dada pela Lei nº 17.039, de 22-06-2010. explicitamente esta qualidade e considerar-se-ão editadas pelo de-
§ 2º Nos casos de processo eletrônico, o requerimento inicial legante.
de interessado não pertencente à Administração Pública Estadual Art. 15 – Será permitida, em caráter excepcional e por moti-
pode ser formulado e inserido eletronicamente no sistema, via as- vos relevantes devidamente justificados, a avocação temporária de
sinatura eletrônica, ou ainda, ser formulado por escrito, assinado competência atribuída.
pelo requerente ou representante, digitalizado e inserido no siste- Art. 16 – Os órgãos e entidades administrativas divulgarão pu-
ma de gerenciamento eletrônico de documentos em conformidade blicamente os locais das respectivas sedes.
com a lei específica. Art. 17 – Inexistindo competência legal específica, o processo
- Acrescido pela Lei nº 17.039, de 22-06-2010. administrativo deverá ser iniciado perante a autoridade de menor
Art. 7o – Os órgãos e entidades administrativas deverão elabo- grau hierárquico para decidir.
rar modelos ou formulários padronizados para assuntos que impor-
tem pretensões equivalentes. CAPÍTULO VII
Art. 8o – Quando os pedidos de uma pluralidade de interessa- DOS IMPEDIMENTOS E DA SUSPEIÇÃO
dos tiverem conteúdo e fundamentos idênticos, poderão ser formu-
lados em um único requerimento, salvo preceito legal em contrário. Art. 18 – É impedido de atuar em processo administrativo o
servidor ou autoridade que:
CAPÍTULO V I – tenha interesse direto ou indireto na matéria;
DOS INTERESSADOS II – tenha participado ou venha a participar como perito, teste-
munha ou representante, ou se tais situações ocorrem quanto ao
Art. 9o – São legitimados como interessados no processo ad- cônjuge, companheiro ou parente e afins até o terceiro grau;
ministrativo: III – esteja litigando judicial ou administrativamente com o inte-
I – pessoas físicas ou jurídicas que o iniciem como titulares de ressado ou respectivo cônjuge ou companheiro.
direitos ou interesses individuais ou no exercício do direito de re- Art. 19 – A autoridade ou servidor que incorrer em impedimen-
presentação; to deve comunicar o fato à autoridade competente, abstendo-se
II – aqueles que, sem terem iniciado o processo, tenham direi- de atuar.
tos ou interesses que possam ser afetados pela decisão a ser ado- Parágrafo único – A omissão do dever de comunicar o impedi-
tada; mento constitui falta grave, para os efeitos disciplinares.
III – as organizações e associações representativas, no tocante Art. 20 – Pode ser argüida a suspeição de autoridade ou ser-
a direitos e interesses coletivos; vidor que tenha amizade íntima ou inimizade notória com algum
IV – as pessoas ou associações legalmente constituídas quanto dos interessados ou com os respectivos cônjuges, companheiros,
a direitos ou interesses difusos. parentes e afins até o terceiro grau.
Art. 10 – São capazes, para fins do processo administrativo, os Art. 21 – O indeferimento de alegação de suspeição poderá ser
maiores de dezoito anos, ressalvada previsão especial em ato nor- objeto de recurso, sem efeito suspensivo.
mativo próprio.

119
DIREITO ADMINISTRATIVO
CAPÍTULO VIII § 5o – As intimações serão nulas quando feitas sem observân-
DA FORMA, TEMPO E LUGAR DOS ATOS DO PROCESSO cia das prescrições legais, mas o comparecimento do administrado
supre sua falta ou irregularidade.
Art. 22 – Os atos do processo administrativo não dependem Art. 27 – O desatendimento da intimação não importa o reco-
de forma determinada senão quando a lei expressamente a exigir. nhecimento da verdade dos fatos, nem a renúncia a direito pelo
§ 1o – Os atos do processo devem ser produzidos por escrito, administrado.
em português, com a data e o local de sua realização e a assinatura Parágrafo único – No prosseguimento do processo, será garan-
da autoridade responsável. tido direito de ampla defesa ao interessado.
§ 2o – Salvo imposição legal, o reconhecimento de firma so- Art. 28 – Devem ser objeto de intimação os atos do processo
mente será exigido quando houver dúvida de autenticidade. que resultem para o interessado em imposição de deveres, ônus,
§ 3°A autenticação de documentos exigidos em cópia poderá sanções ou restrição ao exercício de direitos e atividades e atos de
ser feita pelo órgão administrativo ou pelo advogado constituído. outra natureza, de seu interesse.
- Redação dada pela Lei nº 20.293, de 27-09-2018.
§ 4º À exceção do processo eletrônico, o processo deverá ter CAPÍTULO X
suas páginas numeradas sequencialmente e rubricadas pelo res- DA INSTRUÇÃO
ponsável por sua autuação e, em sua tramitação, por quem nele
inserir quaisquer documentos. Art. 29 – As atividades de instrução destinadas a averiguar e
- Redação dada pela Lei nº 17.039, de 22-06-2010. comprovar os dados necessários à tomada de decisão realizam-se
§ 5º Os atos administrativos e todos os documentos produzidos de ofício ou mediante impulsão do órgão responsável pelo proces-
pela Administração Pública que instruírem os processos eletrônicos so, sem prejuízo do direito dos interessados de propor atuações
deverão ser transmitidos, armazenados e assinados eletronicamen- probatórias.
te na forma de lei específica. § 1o – O órgão competente para a instrução fará constarem dos
- Acrescido pela Lei nº 17.039, de 22-06-2010. autos os dados necessários à decisão do processo.
Art. 23 – Os atos do processo devem realizar-se em dias úteis, § 2o – Os atos de instrução que exijam a atuação dos interessa-
no horário normal de funcionamento da repartição na qual tramitar dos devem realizar-se do modo menos oneroso para estes.
o processo. Art. 30 – São inadmissíveis no processo administrativo as pro-
Parágrafo único – Serão concluídos depois do horário normal vas obtidas por meios ilícitos.
os atos já iniciados, cujo adiamento prejudique o curso regular do Art. 31 – Quando a matéria do processo envolver assunto de
procedimento ou cause dano ao interessado ou à Administração. interesse geral, o órgão competente poderá, mediante despacho
Art. 24 – Inexistindo disposição específica, os atos do órgão ou motivado, abrir período de consulta pública para manifestação de
autoridade responsável pelo processo e dos administrados que dele terceiros, antes da decisão do pedido, se não houver prejuízo para
participem devem ser praticados em cinco dias, podendo este prazo a parte interessada.
ser dilatado até o dobro por motivo justo, devidamente comprova- § 1o – A abertura da consulta pública será objeto de divulga-
do. ção pelos meios oficiais, a fim de que pessoas físicas ou jurídicas
Art. 25 – Os atos do processo devem realizar-se preferencial- possam examinar os autos, fixando-se prazo para oferecimento de
mente na sede do órgão, cientificando-se os interessados se outro alegações escritas.
for o local de realização. § 2o – O comparecimento à consulta pública não confere, por
si, a condição de interessado do processo, mas confere o direito
CAPÍTULO IX de obter da Administração resposta fundamentada, que poderá ser
DA COMUNICAÇÃO DOS ATOS comum a todas as alegações substancialmente iguais.
Art. 32 – Antes da tomada de decisão, a juízo da autoridade,
Art. 26 – O órgão competente perante o qual tramita o proces- diante da relevância da questão, poderá ser realizada audiência pú-
so administrativo determinará a intimação dos interessados para blica para debates sobre a matéria do processo.
ciência de decisão ou a efetivação de diligências. Art. 33 – Os órgãos e entidades da Administração, em maté-
§ 1o – A intimação deverá conter: ria relevante, poderão estabelecer outros meios de participação de
I – identificação do intimado e nome do órgão ou entidade ad- administrados, diretamente ou por meio de organizações e associa-
ministrativa; ções legalmente reconhecidas.
II – finalidade da intimação; Art. 34 – Os resultados da consulta e audiência pública e de
III – data, hora e local em que deve comparecer; outros meios de participação de administrados deverão ser apre-
IV – se o intimado deve comparecer pessoalmente, ou fazer-se sentados com a indicação do procedimento adotado.
representar; Art. 35 – Quando necessária à instrução do processo, a audi-
V – informação da continuidade do processo independente- ência de outros órgãos ou entidades administrativas poderá ser
mente do seu comparecimento; realizada em reunião conjunta, com a participação de titulares ou
VI – indicação dos fatos e fundamentos legais pertinentes. representantes dos órgãos competentes, lavrando-se a respectiva
§ 2o – A intimação observará a antecedência mínima de três ata, a ser juntada aos autos.
dias úteis quanto à data de comparecimento. Art. 36 – Cabe ao interessado a prova dos fatos que tenha ale-
§ 3o – A intimação poderá ser efetuada por ciência no proces- gado, sem prejuízo do dever atribuído ao órgão competente para a
so, por via postal com aviso de recebimento, por telegrama ou ou- instrução e do disposto no artigo seguinte.
tro meio que assegure a certeza da ciência do interessado. Art. 37 – Quando o interessado declarar que fatos e dados es-
§ 4o – No caso de interessados indeterminados, desconheci- tão registrados em documentos existentes na própria Administra-
dos ou com domicílio indefinido, a intimação deve ser efetuada por ção responsável pelo processo ou em outro órgão administrativo, o
meio de publicação oficial. órgão competente para a instrução proverá, de ofício, à obtenção
dos documentos ou das respectivas cópias.

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DIREITO ADMINISTRATIVO
Art. 38 – O interessado poderá, na fase instrutória e antes da CAPÍTULO XII
tomada da decisão, juntar documentos e pareceres, requerer dili- DA MOTIVAÇÃO
gências e perícias, bem como aduzir alegações referentes à matéria
objeto do processo. Art. 50 – Os atos administrativos deverão ser motivados, com
§ 1o – Os elementos probatórios deverão ser considerados na indicação dos fatos e dos fundamentos jurídicos, quando:
motivação do relatório e da decisão. I – neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses;
§ 2o – Somente poderão ser recusadas, mediante decisão fun- II – imponham ou agravem deveres, encargos ou sanções;
damentada, as provas propostas pelos interessados quando sejam III – decidam processos administrativos de concurso ou seleção
ilícitas, impertinentes, desnecessárias ou protelatórias. pública;
Art. 39 – Quando for necessária a prestação de informações IV – dispensem ou declarem a inexigibilidade de processo lici-
ou a apresentação de provas pelos interessados ou terceiros, serão tatório;
expedidas intimações para esse fim, mencionando-se data, prazo, V – decidam recursos administrativos;
forma e condições de atendimento. VI – decorram de reexame de ofício;
Parágrafo único – Não sendo atendida a intimação, poderá o VII – deixem de aplicar jurisprudência firmada sobre a questão
órgão competente, se entender relevante a matéria, suprir de ofício ou discrepem de pareceres, laudos, propostas e relatórios oficiais;
a omissão, não se eximindo de proferir a decisão. VIII – impliquem anulação, revogação, suspensão ou convalida-
Art. 40 – Quando dados, atuações ou documentos solicitados ção de ato administrativo.
ao interessado forem necessários à apreciação de pedido formula- § 1o – A motivação deve ser explícita, clara e congruente, po-
do, o não atendimento no prazo fixado pela Administração para a dendo basear-se em pareceres anteriores, informações ou deci-
respectiva apresentação implicará arquivamento do processo. sões, que, neste caso, serão parte integrante do ato, o que não elide
Art. 41 – Os interessados serão intimados de prova ou diligên- a explicitação dos motivos que firmaram o convencimento pessoal
cia ordenada, com antecedência mínima de três dias úteis, mencio- da autoridade julgadora.
nando-se data, hora e local de realização. § 2o – Na solução de vários assuntos da mesma natureza, pode
Art. 42 – Quando deva ser obrigatoriamente ouvido um órgão ser utilizado meio mecânico que reproduza os fundamentos das
consultivo, o parecer deverá ser emitido no prazo máximo de quin- decisões, desde que não prejudique direito ou garantia dos inte-
ze dias, salvo norma especial ou comprovada necessidade de maior ressados.
prazo. § 3o – A motivação das decisões dos órgãos colegiados e co-
Parágrafo único – Se um parecer obrigatório e vinculante deixar missões ou de decisões orais constará da respectiva ata ou termo
de ser emitido no prazo fixado, o processo não terá seguimento até escrito.
a respectiva apresentação, responsabilizando-se quem der causa ao
atraso. CAPÍTULO XIII
Art. 43 – Quando por disposição de ato normativo devam ser DA DESISTÊNCIA E DE OUTROS CASOS
previamente obtidos laudos técnicos de órgãos administrativos e DE EXTINÇÃO DO PROCESSO
estes não cumprirem o encargo no prazo assinalado, o órgão res-
ponsável pela instrução deverá solicitar laudo técnico de outro ór- Art. 51 – O interessado poderá, mediante manifestação escrita,
gão dotado de qualificação e capacidade técnica equivalentes. desistir total ou parcialmente do pedido formulado ou, ainda, re-
Art. 44 – Encerrada a instrução, o interessado terá o direito de nunciar a direitos disponíveis.
manifestar-se no prazo máximo de dez dias, salvo se outro prazo for § 1o – Havendo vários interessados, a desistência ou renúncia
legalmente fixado. atinge somente quem a tenha formulado.
Art. 45 – Em caso de risco iminente, a Administração Pública § 2o – A desistência ou renúncia do interessado, conforme o
poderá motivadamente adotar providências acauteladoras sem a caso, não prejudica o prosseguimento do processo, se a Administra-
prévia manifestação do interessado. ção considerar que o interesse público assim o exige.
Art. 46 – Os interessados têm direito à vista do processo e a ob- Art. 52 – O órgão competente poderá declarar extinto o proces-
ter certidões ou cópias reprográficas dos dados e documentos que so quando exaurida sua finalidade ou o objeto da decisão se tornar
o integram, ressalvados os dados e documentos de terceiros prote- impossível, inútil ou prejudicado por fato superveniente.
gidos por sigilo ou pelo direito à privacidade, à honra e à imagem.
Art. 47 – A autoridade encarregada da instrução do procedi- CAPÍTULO XIV
mento que não for competente para emitir a decisão final elabo- DA ANULAÇÃO, REVOGAÇÃO E CONVALIDAÇÃO
rará relatório indicando o pedido inicial, o conteúdo das fases do
procedimento e formulará proposta de decisão, objetivamente jus- Art. 53 – A Administração deve anular seus próprios atos, quan-
tificada, e encaminhará o processo à autoridade competente para do eivados de vício de legalidade, e pode revogá-los por motivo de
a decisão. conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos.
Art. 54 – O direito da Administração de anular os atos adminis-
CAPÍTULO XI trativos de que decorram efeitos favoráveis para os destinatários
DO DEVER DE DECIDIR decai em cinco anos, contados da data em que foram praticados,
salvo comprovada má-fé.
Art. 48 – A Administração tem o dever de explicitamente emitir Parágrafo único – No caso de efeitos patrimoniais contínuos,
decisão nos processos administrativos sobre solicitações ou recla- o prazo de decadência contar-se-á da percepção do primeiro pa-
mações, em matéria de sua competência. gamento.
Art. 49 – Concluída a instrução de processo administrativo, Art. 55 – Em decisão na qual se evidencie não acarretarem le-
a Administração tem o prazo de até trinta dias para decidir, salvo são ao interesse público nem prejuízos a terceiros, os atos que apre-
prorrogação por igual período expressamente motivada. sentarem defeitos sanáveis poderão ser convalidados pela própria
Administração.

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DIREITO ADMINISTRATIVO
CAPÍTULO XV CAPÍTULO XVI
DO RECURSO ADMINISTRATIVO E DA REVISÃO DOS PRAZOS

Art. 56 - Das decisões administrativas cabe recurso, em face de Art. 66 – Os prazos começam a correr a partir da data da cienti-
razões de legalidade e de mérito. ficação oficial, excluindo-se da contagem o dia do começo e incluin-
§ 1o – O recurso será dirigido à autoridade que proferiu a deci- do-se o do vencimento.
são, a qual, se não a reconsiderar no prazo de cinco dias, o encami- § 1o – Considera-se prorrogado o prazo até o primeiro dia útil
nhará à autoridade superior. seguinte se o vencimento cair em dia em que não houver expedien-
§ 2o – Salvo exigência legal, a oposição de recurso administra- te ou este for encerrado antes da hora normal.
tivo independe de caução. § 2º Na contagem de prazo em dias, computar-se-ão somente
Art. 57 – O recurso administrativo tramitará no máximo por os dias úteis.
três instâncias administrativas, salvo disposição legal diversa. - Redação dada pela Lei nº 20.276, de 19-09-2018.
Art. 58 – Têm legitimidade para opor recurso administrativo: § 3o – Os prazos fixados em meses ou anos contam-se de data a
I – os titulares de direitos e interesses que forem parte no pro- data. Se no mês do vencimento não houver o dia equivalente àque-
cesso; le do início do prazo, tem-se como termo o último dia do mês.
II – aqueles cujos direitos ou interesses forem indiretamente Art. 67. Os prazos processuais não se suspendem, salvo motivo
afetados pela decisão recorrida; de força maior devidamente comprovado.
III – as organizações e associações representativas, no tocante - Redação dada pela Lei nº 20.471, de 26-04-2019.
a direitos e interesses coletivos; Parágrafo único. Suspende-se o curso dos prazos processuais
IV – os cidadãos ou associações, quanto a direitos ou interesses nos dias compreendidos entre 20 de dezembro e 20 de janeiro, in-
difusos. clusive.
Art. 59 – Salvo disposição legal específica, é de dez dias o prazo - Acrescido pela Lei nº 20.471, de 26-04-2019.
para oposição de recurso administrativo, contado a partir da ciência
ou divulgação oficial da decisão recorrida. CAPÍTULO XVII
§ 1o – Quando a lei não fixar prazo diferente, o recurso ad- DISPOSIÇÕES FINAIS
ministrativo deverá ser decidido no prazo máximo de trinta dias, a
partir do recebimento dos autos pelo órgão competente. Art. 68 – Os processos administrativos específicos continuarão
§ 2o – O prazo de que trata o parágrafo precedente poderá ser a reger-se por lei própria, aplicando-se-lhes apenas subsidiariamen-
prorrogado por igual período, ante justificativa explícita. te os preceitos desta lei.
Art. 60 – O recurso opõe-se por meio de requerimento no qual Art. 69 – Esta lei entrará em vigor na data de sua publicação.
o recorrente deverá expor os fundamentos do pedido de reexame,
podendo juntar os documentos que julgar convenientes.
Art. 61 – Salvo disposição legal em contrário, o recurso não tem PODERES ADMINISTRATIVOS. PODER HIERÁRQUICO. PO-
efeito suspensivo. DER DISCIPLINAR. PODER REGULAMENTAR. PODER DE PO-
Parágrafo único – Havendo justo receio de prejuízo de difícil LÍCIA. USO E ABUSO DO PODER
ou incerta reparação decorrente da execução, a autoridade recorri-
da ou a imediatamente superior poderá, de ofício ou a pedido, dar
efeito suspensivo ao recurso. Poder Hierárquico
Art. 62 - Oposto o recurso, a autoridade competente para dele Trata-se o poder hierárquico, de poder conferido à autoridade
conhecer deverá intimar os demais interessados para que, no prazo administrativa para distribuir e dirimir funções em escala de seus
de cinco dias úteis, apresentem alegações. órgãos, vindo a estabelecer uma relação de coordenação e subordi-
Art. 63 – O recurso não será conhecido quando oposto: nação entre os servidores que estiverem sob a sua hierarquia.
I – fora do prazo; A estrutura de organização da Administração Pública é baseada
II – perante autoridade incompetente; em dois aspectos fundamentais, sendo eles: a distribuição de com-
III – por quem não seja legitimado; petências e a hierarquia.
IV – após exaurida a esfera administrativa. Em decorrência da amplitude das competências e das res-
§ 1o – Na hipótese do inciso II deste artigo, será indicada ao ponsabilidades da Administração, jamais seria possível que toda a
recorrente a autoridade competente, sendo-lhe devolvido o prazo função administrativa fosse desenvolvida por um único órgão ou
para recurso. agente público. Assim sendo, é preciso que haja uma distribuição
§ 2o – O não conhecimento do recurso não impede a Adminis- dessas competências e atribuições entre os diversos órgãos e agen-
tração de rever o ato, se ilegal, desde que não ocorrida preclusão tes integrantes da Administração Pública.
administrativa. Entretanto, para que essa divisão de tarefas aconteça de ma-
Art. 64 – A autoridade competente para decidir o recurso po- neira harmoniosa, os órgãos e agentes públicos são organizados
derá confirmar, modificar, anular ou revogar, total ou parcialmente, em graus de hierarquia e poder, de maneira que o agente que se
a decisão recorrida. encontra em plano superior, detenha o poder legal de emitir ordens
Parágrafo único – Se da aplicação do disposto neste artigo e fiscalizar a atuação dos seus subordinados. Essa relação de subor-
puder decorrer gravame à situação do recorrente, este deverá ser dinação e hierarquia, por sua vez, causa algumas sequelas, como o
cientificado para que formule suas alegações antes da decisão. dever de obediência dos subordinados, a possibilidade de o imedia-
Art. 65 – Os processos administrativos de que resultem san- to superior avocar atribuições, bem como a atribuição de rever os
ções poderão ser revistos, a qualquer tempo, a pedido ou de ofício, atos dos agentes subordinados.
quando surgirem fatos novos ou circunstâncias relevantes suscetí- Denota-se, porém, que o dever de obediência do subordinado
veis de justificar a inadequação da sanção aplicada. não o obriga a cumprir as ordens manifestamente ilegais, advindas
Parágrafo único – Da revisão do processo não poderá resultar de seu superior hierárquico. Ademais, nos ditames do art. 116, XII,
agravamento da sanção.

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DIREITO ADMINISTRATIVO
da Lei 8.112/1990, o subordinado tem a obrigação funcional de re- Dispõe a Lei 9.784/1999 que a avocação das competências do
presentar contra o seu superior caso este venha a agir com ilegali- órgão inferior apenas será permitida em caráter excepcional e tem-
dade, omissão ou abuso de poder. porário com a prerrogativa de que existam motivos relevantes e im-
Registra-se que a delegação de atribuições é uma das mani- preterivelmente justificados.
festações do poder hierárquico que consiste no ato de conferir a O superior também pode rever os atos dos seus subordinados,
outro servidor atribuições que de âmbito inicial, faziam parte dos como consequência do poder hierárquico com o fito de mantê-los,
atos de competência da autoridade delegante. O ilustre Hely Lopes convalidá-los, ou ainda, desfazê-los, de ofício ou sob provocação do
Meirelles aduz que a delegação de atribuições se submete a algu- interessado. Convalidar significa suprir o vício de um ato adminis-
mas regras, sendo elas: trativo por intermédio de um segundo ato, tornando válido o ato vi-
A) A impossibilidade de delegação de atribuições de um Po- ciado. No tocante ao desfazimento do ato administrativo, infere-se
der a outro, exceto quando devidamente autorizado pelo texto da que pode ocorrer de duas formas:
Constituição Federal. Exemplo: autorização por lei delegada, que a) Por revogação: no momento em que a manutenção do ato
ocorre quando a Constituição Federal autoriza o Legislativo a dele- válido se tornar inconveniente ou inoportuna;
gar ao Chefe do Executivo a edição de lei. b) Por anulação: quando o ato apresentar vícios.
B) É impossível a delegação de atos de natureza política. Exem- No entanto, a utilização do poder hierárquico nem sempre po-
plos: o veto e a sanção de lei; derá possibilitar a invalidação feita pela autoridade superior dos
C) As atribuições que a lei fixar como exclusivas de determina- atos praticados por seus subordinados. Nos ditames doutrinários, a
da autoridade, não podem ser delegadas; revisão hierárquica somente é possível enquanto o ato não tiver se
D) O subordinado não pode recusar a delegação; tornado definitivo para a Administração Pública e, ainda, se houver
E) As atribuições não podem ser subdelegadas sem a devida sido criado o direito subjetivo para o particular.
autorização do delegante.
Sem prejuízo do entendimento doutrinário a respeito da dele- Observação importante: “revisão” do ato administrativo não
gação de competência, a Lei Federal 9.784/1999, que estabelece os se confunde com “reconsideração” desse mesmo ato. A revisão de
ditames do processo administrativo federal, estabeleceu as seguin- ato é condizente à avaliação por parte da autoridade superior em
tes regras relacionadas a esse assunto: relação à manutenção ou não de ato que foi praticado por seu su-
• A competência não pode ser renunciada, porém, pode ser bordinado, no qual o fundamento é o exercício do poder hierárqui-
delegada se não houver impedimento legal; co. Já na reconsideração, a apreciação relativa à manutenção do
• A delegação de competência é sempre exercida de forma par- ato administrativo é realizada pela própria autoridade que confec-
cial, tendo em vista que um órgão administrativo ou seu titular não cionou o ato, não existindo, desta forma, manifestação do poder
detém o poder de delegar todas as suas atribuições; hierárquico.
• A título de delegação vertical, depreende-se que esta pode
ser feita para órgãos ou agentes subordinados hierarquicamente, e, Ressalte-se, também, que a relação de hierarquia é inerente
a nível de delegação horizontal, também pode ser feita para órgãos à função administrativa e não há hierarquia entre integrantes do
e agentes não subordinados à hierarquia. Poder Legislativo e do Poder Judiciário no desempenho de suas fun-
ções típicas constitucionais. No entanto, os membros dos Poderes
Não podem ser objeto de delegação: Judiciário e Legislativo também estão submetidos à relação de hie-
• A edição de atos de caráter normativo; rarquia no que condiz ao exercício de funções atípicas ou adminis-
• A decisão de recursos administrativos; trativas. Exemplo: um juiz de Primeira Instância, não é legalmente
• As matérias de competência exclusiva do órgão ou autorida- obrigado a adotar o posicionamento do Presidente do Tribunal no
de; julgamento de um processo de sua competência, porém, encontra-
-se obrigado, por ditames da lei a cumprir ordens daquela autorida-
Ressalta-se com afinco que o ato de delegação e a sua revo- de quando versarem a respeito do horário de funcionamento dos
gação deverão ser publicados no meio oficial, nos trâmites da lei. serviços administrativos da sua Vara.
Ademais, deverá o ato de delegação especificar as matérias e os po- Por fim, é de suma importância destacar que a subordinação
deres transferidos, os limites da atuação do delegado, a duração e não se confunde com a vinculação administrativa, pois, a subordi-
os objetivos da delegação e também o recurso devidamente cabível nação decorre do poder hierárquico e existe apenas no âmbito da
à matéria que poderá constar a ressalva de exercício da atribuição mesma pessoa jurídica. Já a vinculação, resulta do poder de super-
delegada. visão ou do poder de tutela que a Administração Direta detém so-
O ato de delegação poderá ser revogado a qualquer tempo pela bre as entidades da Administração Indireta.
autoridade delegante como forma de transferência não definitiva Esquematizando, temos:
de atribuições, devendo as decisões adotadas por delegação, men-
cionar de forma clara esta qualidade, que deverá ser considerada
como editada pelo delegado.
No condizente à avocação, afirma-se que se trata de procedi-
mento contrário ao da delegação de competência, vindo a ocor-
rer quando o superior assume ou passa a desenvolver as funções
que eram de seu subordinado. De acordo com a doutrina, a norma
geral, é a possibilidade de avocação pelo superior hierárquico de
qualquer competência do subordinado, ressaltando-se que nesses
casos, a competência a ser avocada não poderá ser privativa do ór-
gão subordinado.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

Poder conferido à autoridade admi- 2º - Sanção de Polícia: Possui natureza administrativa; advém
nistrativa para distribuir e dirimir funções do poder de polícia; aplica-se sobre as pessoas que desobedeçam
PODER em escala de seus órgãos, que estabelece às regulamentações de polícia administrativa.
HIERÁRQUICO uma relação de coordenação e subordina- 3º - Sanção Penal: Possui natureza penal; decorre do poder ge-
ção entre os servidores que estiverem sob ral de persecução penal; aplica-se sobre as pessoas que cometem
a sua hierarquia. crimes ou contravenções penais.
Por fim, registre-se que é comum a doutrina afirmar que o
A edição de atos de caráter normativo poder disciplinar é exercido de forma discricionária. Tal afirmação
NÃO PODEM SER deve ser analisada com cuidado no que se refere ao seu alcance
A decisão de recursos administrativos como um todo, pois, se ocorrer de o agente sob disciplina adminis-
OBJETO
DE DELEGAÇÃO As matérias de competência exclusiva trativa cometer infração, a única opção que restará ao gestor será
do órgão ou autoridade aplicar á situação a penalidade devidamente prevista na lei, pois, a
Por revogação: quando a manutenção aplicação da pena é ato vinculado. Quando existente, a discriciona-
do ato válido se tornar inconveniente ou riedade refere-se ao grau da penalidade ou à aplicação correta das
DESFAZIMENTO
inoportuna sanções legalmente cabíveis, tendo em vista que no direito adminis-
DO ATO
trativo não é predominável o princípio da pena específica que se re-
ADMINISTRATIVO Por anulação: quando o ator apresen- fere à necessidade de prévia definição em lei da infração funcional
tar vícios e da exata sanção cabível.
Em resumo, temos:
Poder Disciplinar
O poder disciplinar confere à Administração Pública o poder de Poder Disciplinar
autorizar e apurar infrações, aplicando as devidas penalidades aos • Apura infrações e aplica penalidades;
servidores público, bem como às demais pessoas sujeitas à discipli- • Para que o indivíduo seja submetido ao poder disciplinar, é
na administrativa em decorrência de determinado vínculo específi- preciso que possua vínculo funcional com a administração;
co. Assim, somente está sujeito ao poder disciplinar o agente que • A aplicação de sanção disciplinar deve ser acompanhada de
possuir vínculo certo e preciso com a Administração, não importan- processo administrativo no qual sejam assegurados o direito ao
do que esse vínculo seja de natureza funcional ou contratual. contraditório e à ampla defesa, devendo haver motivação para que
Existindo vínculo funcional, infere-se que o poder disciplinar é seja aplicada a penalidade disciplinar cabível;
decorrente do poder hierárquico. Em razão da existência de distri- • Pode ter caráter discricionário em relação à escolha entre
buição de escala dos órgãos e servidores pertencentes a uma mes- sanções legalmente cabíveis e respectiva gradação.
ma pessoa jurídica, competirá ao superior hierárquico determinar o
cumprimento de ordens e exigir daquele que lhe for subordinado, Poder regulamentar
o cumprimento destas. Não atendendo o subordinado às determi- Com supedâneo no art. 84, IV, da Constituição Federal, consiste
nações do seu superior ou descumprindo o dever funcional, o seu o poder regulamentar na competência atribuída aos Chefes do Po-
chefe poderá e deverá aplicar as sanções dispostas no estatuto fun- der Executivo para que venham a editar normas gerais e abstratas
cional. destinadas a detalhar as leis, possibilitando o seu fiel regulamento
Conforme dito, o poder disciplinar também detém o poder de e eficaz execução.
alcançar particulares que mantenham vínculo contratual com o Po- A doutrina não é unânime em relação ao uso da expressão po-
der Público, a exemplo daqueles contratados para prestar serviços der regulamentar. Isso acontece, por que há autores que, asseme-
à Administração Pública. Nesse sentido, como não existe relação de lhando-se ao conceito anteriormente proposto, usam esta expres-
hierarquia entre o particular e a Administração, o pressuposto para são somente para se referirem à faculdade de editar regulamentos
a aplicação de sanções de forma direta não é o poder hierárqui- conferida aos Chefes do Executivo. Outros autores, a usam com
co, mas sim o princípio da supremacia do interesse público sobre conceito mais amplo, acoplando também os atos gerais e abstra-
o particular. tos que são emitidos por outras autoridades, tais como: resoluções,
Denota-se que o poder disciplinar é o poder de investigar e portarias, regimentos, deliberações e instruções normativas. Há
punir crimes e contravenções penais não se referem ao mesmo ainda uma corrente que entende essas providências gerais e abs-
instituto e não se confundem. Ao passo que o primeiro é aplicado tratas editadas sob os parâmetros e exigências da lei, com o fulcro
somente àqueles que possuem vínculo específico com a Adminis- de possibilitar-lhe o cumprimento em forma de manifestações do
tração de forma funcional ou contratual, o segundo é exercido so- poder normativo.
mente sobre qualquer indivíduo que viole as leis penais vigentes. No entanto, em que pese a mencionada controvérsia, prevalece
Da mesma forma, o exercício do poder de polícia também não como estudo e aplicação geral adotada pela doutrina clássica, que
se confunde com as penalidades decorrentes do poder disciplinar, utiliza a expressão “poder regulamentar” para se referir somente à
que, embora ambos possuam natureza administrativa, estas deve- competência exclusiva dos Chefes do Poder Executivo para editar
rão ser aplicadas a qualquer pessoa que esteja causando transtor- regulamentos, mantendo, por sua vez, a expressão “poder normati-
nos ou pondo em risco a coletividade, pois, no poder de polícia, vo” para os demais atos normativos emitidos por outras espécies de
denota-se que o vínculo entre a Administração Pública e o adminis- autoridades da Administração Direta e Indireta, como por exemplo,
trado é de âmbito geral, ao passo que nas penalidades decorrentes de dirigentes de agências reguladoras e de Ministros.
do poder disciplinar, somente são atingidos os que possuem relação Registra-se que os regulamentos são publicados através de
funcional ou contratual com a Administração. decreto, que é a maneira pela qual se revestem os atos editados
Em suma, temos: pelo chefe do Poder Executivo. O conteúdo de um decreto pode ser
1º - Sanção Disciplinar: Possui natureza administrativa; advém por meio de conteúdo ou de determinado regulamento ou, ainda,
do poder disciplinar; é aplicável sobre as pessoas que possuem vín- a pela adoção de providências distintas. A título de exemplo desta
culo específico com a Administração Pública. última situação, pode-se citar um decreto que dá a designação de
determinado nome a um prédio público.

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DIREITO ADMINISTRATIVO
Em razão de os regulamentos serem editados sob forma con- privilégios. E é por esse motivo que existe a necessidade de regula-
dizente de decreto, é comum serem chamados de decretos regu- mentação dos requisitos de promoção, como demonstra o próprio
lamentares, decretos de execução ou regulamentos de execução. estatuto dos servidores públicos civis federais em seu art. 10, pará-
Podemos classificar os regulamentos em três espécies diferen- grafo único da Lei 8.112/1990.
tes: Com o fulcro de regulamentar a matéria, foi editado o Decreto
A) Regulamento executivo; 8.282/2014, que possui como atributo, detalhar os requisitos e es-
B) Regulamento independente ou autônomo; tabelecer os devidos critérios para promoção dos Policiais Rodoviá-
c) Regulamento autorizado. rios Federais, dentre os quais se encontra a obtenção de “resultado
Vejamos a composição de cada em deles: satisfatório na avaliação de desempenho no interstício considerado
para a progressão”, disposta no art. 4.º, II, “b”. Da mesma forma,
Regulamento Executivo a expressão “resultado satisfatório” também é eivada de subjetivi-
Existem leis que, ao serem editadas, já reúnem as condições dade, motivo pelo qual o § 3.º do mesmo dispositivo regulamentar
suficientes para sua execução, enquanto outras pugnam por um re- designou que para o efeito de promoção, seria considerado satisfa-
gulamento para serem executadas. Entretanto, em tese, qualquer tório o alcance de oitenta por cento das metas estipuladas em ato
lei é passível de ser regulamentada. Diga-se de passagem, até mes- do dirigente máximo do órgão.
mo aquelas cuja execução não dependa de regulamento. Para isso, Assim sendo, verificamos que a discricionariedade do dirigente
suficiente é que o Chefe do Poder Executivo entenda conveniente máximo da PRF continua a existir, e o exemplo disso, é o estabe-
detalhar a sua execução. lecimento das metas. Entretanto, ela foi reduzida no condizente
O ato de regulamento executivo é norma geral e abstrata. Sen- à avaliação da suficiência de desempenho dos servidores para o
do geral pelo fato de não possuir destinatários determinados ou efeito de promoção. O que nos leva a afirmar ainda que, diante da
determináveis, vindo a atingir quaisquer pessoas que estejam nas regulamentação, erigiu a existência de vinculação da autoridade ad-
situações reguladas; é abstrata pelo fato de dispor sobre hipóteses ministrativa referente ao percentual considerado satisfatório para
que, se e no momento em que forem verificadas no mundo con- o efeito de promoção dos servidores, critério que inclusive já foi
creto, passarão a gerar as consequências abstratamente previstas. uniformizado.
Desta forma, podemos afirmar que o regulamento possui conteúdo Embora exista uma enorme importância em termos de pratici-
material de lei, porém, com ela não se confunde sob o aspecto for- dade, denota-se que os regulamentos de execução gozam de hie-
mal. rarquia infralegal e não detém o poder de inovar na ordem jurídica,
O ato de regulamento executivo é constituído por importantes criando direitos ou obrigações, nem contrariando, ampliando ou
funções. São elas: restringindo as disposições da lei regulamentada. São, em resumo,
atos normativos considerados secundários que são editados pelo
1.º) Disciplinar a discricionariedade administrativa Chefe do Executivo com o fulcro de detalhar a execução dos atos
Ocorre, tendo em vista a existência de discricionariedade quan- normativos primários elaborados pelas leis.
do a lei confere ao agente público determinada quantidade de li- Dando enfoque à subordinação dos regulamentos executivos à
berdade para o exercício da função administrativa. Tal quantidade e lei, a Constituição Federal prevê a possibilidade de o Congresso Na-
margem de liberdade termina sendo reduzida quando da editação cional sustá-los, caso exorbite do poder regulamentar nos parâme-
de um regulamento executivo que estipula regras de observância tros do art. 49, inc. V da CF/88. É o que a doutrina chama de “veto
obrigatória, vindo a determinar a maneira como os agentes devem legislativo”, dentro de uma analogia com o veto que o Chefe do Exe-
proceder no fiel cumprimento da lei. cutivo poderá apor aos projetos de lei aprovados pelo Parlamento.
Ou seja, ao disciplinar por intermédio de regulamento o exer- Pondera-se que a aproximação terminológica possui limitações,
cício da discricionariedade administrativa, o Chefe do Poder Exe- uma vez que o veto propriamente dito do executivo, pode ocorrer
cutivo, termina por voluntariamente limitá-la, vindo a estabelecer em função de o Presidente da República entender que o projeto
autêntica autovinculação, diminuindo, desta forma, o espaço para de lei é incompatível com a Constituição Federal, que configuraria
a discussão de casos e fatos sem importância para a administração o veto jurídico, ou, ainda, contrário ao interesse público, que seria
pública. o veto político. Por sua vez, o veto legislativo só pode ocorrer por
exorbitância do poder regulamentar, sendo assim, sempre jurídico.
2.º) Uniformizar os critérios de aplicação da lei Melhor dizendo, não há como imaginar que o Parlamento venha a
É interpretada no contexto da primeira, posto que o regula- sustar um decreto regulamentar por entendê-lo contrário ao inte-
mento ao disciplinar a forma com que a lei deve ser fielmente cum- resse público, uma vez que tal norma somente deve detalhar como
prida, estipula os critérios a serem adotados nessa atividade, fato a lei ao ser elaborada pelo próprio Legislativo, será indubitavelmen-
que impede variações significativas nos casos sujeitos à lei aplicada. te cumprida. Destarte, se o Parlamento entende que o decreto edi-
Exemplo: podemos citar o desenvolvimento dos servidores na car- tado dentro do poder regulamentar é contrário ao interesse públi-
reira de Policial Rodoviário Federal. co, deverá, por sua vez, revogar a própria lei que lhe dá o sustento.
Criadora da carreira de Policial Rodoviário Federal, a Lei Ademais, lembremos que os regulamentos se submetem ao
9.654/1998 estabeleceu suas classes e determinou que a investidu- controle de legalidade, de tal forma que a nulidade decorrente da
ra no cargo de Policial Rodoviário Federal teria que se dar no padrão exorbitância do poder regulamentar também está passível de ser
único da classe de Agente, na qual o titular deverá permanecer por reconhecida pelo Poder Judiciário ou pelo próprio Chefe do Poder
pelo menos três anos ou até obter o direito à promoção à classe Executivo no exercício da autotutela.
subsequente, nos termos do art. 3.º, § 2.º.
A antiguidade e o merecimento são os principais requisitos Regulamento independente ou autônomo
para que os servidores públicos sejam promovidos. No entanto, Ressalte-se que esta segunda espécie de regulamento, tam-
o vocábulo “merecimento” é carregado de subjetivismo, fato que bém adota a forma de decreto. Diversamente do regulamento exe-
abriria a possibilidade de que os responsáveis pela promoção dos cutivo, esse regulamento não se presta a detalhar uma lei, detendo
servidores, alegando discricionariedade, viessem a agir com base o poder de inovar na ordem jurídica, da mesma maneira que uma
em critérios obscuros e casuístas, vindo a promover perseguições e

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DIREITO ADMINISTRATIVO
lei. O regulamento autônomo (decreto autônomo) é considerado reflexa. É uma opção da Corte para que não se realize o velho adá-
ato normativo primário porque retira sua força exclusivamente e gio: ‘muita jurisdição, resulta em nenhuma jurisdição’” (ADI 2.387-
diretamente da Constituição. 0/DF, Rel. Min. Marco Aurélio).
A Carta Magna de 1988, em sua redação original, deletou a fi- Em suma, conforme dito anteriormente, convém relembrar
gura do decreto autônomo no direito brasileiro. No entanto, com que o art. 13, I, da Lei 9.784/1999 proíbe de forma expressa a de-
a Emenda Constitucional 32/2001, a possibilidade foi novamente legação de atos de caráter normativo. No entanto, com exceção a
inserida na alínea a do inciso VI do art. 84 da CFB/88. essa regra, o decreto autônomo, diversamente do que acontece
Mesmo havendo controvérsias, a posição dominante na doutri- com o decreto regulamentar que é indelegável, pode vir a ser ob-
na é no sentido de que a única hipótese de regulamento autônomo jeto de delegação aos Ministros de Estado, ao Procurador Geral da
que o direito brasileiro permite é a contida no mencionado dispo- República e ao Advogado
sitivo constitucional, que estabelece a competência do Presidente Geral da União, conforme previsão contida no parágrafo único
da República para dispor, mediante decreto, sobre organização e do art. 84 da Constituição Federal.
funcionamento da administração federal, isso, quando não implicar
em aumento de despesa nem mesmo criação ou extinção de órgãos Regulamento autorizado ou delegado
públicos. Denota-se que além das espécies anteriores de regulamento
Por oportuno, registarmos que a autorização que está prevista apresentadas, a doutrina administrativista e jurista também men-
na alínea b do mesmo dispositivo constitucional, para que o Presi- ciona a respeito da existência do regulamento autorizado ou dele-
dente da República, mediante decreto, possa extinguir cargos públi- gado.
cos vagos, não se trata de caso de regulamento autônomo. Cuida-se De acordo com a doutrina tradicional, o legislador ordinário
de uma xucra hipótese de abandono do princípio do paralelismo não poderá, fora dos casos previstos na Constituição, delegar de
das formas. Isso por que em decorrência do princípio da hierarquia forma integral a função de legislar que é típica do Poder Legislativo,
das normas, se um instituto jurídico for criado por intermédio de aos órgãos administrativos.
determinada espécie normativa, sua extinção apenas poderá ser Entretanto, em decorrência da complexidade das atividades
veiculada pelo mesmo tipo de ato, ou, ainda, por um de superior técnicas da Administração, contemporaneamente, embora haja
hierarquia. controvérsias em relação ao aspecto da constitucionalidade, a dou-
Nesse sentido, sendo os cargos públicos criados por lei, nos pa- trina maior tem aceitado que as competências para regular deter-
râmetros do art. 48, inc. X da CFB/88, apenas a lei poderia extingui- minadas matérias venham a ser transferidas pelo próprio legislador
-los pelo sistema do paralelismo das formas. Entretanto, deixando para órgãos administrativos técnicos. Cuida-se do fenômeno da
de lado essa premissa, o legislador constituinte derivado permitiu deslegalização, por meio do qual a normatização sai da esfera da lei
que, estando vago o cargo público, a extinção aconteça por decreto. para a esfera do regulamento autorizado.
Poderíamos até dizer que foi autorizado um decreto autônomo, mas No entanto, o regulamento autorizado não se encontra limita-
nunca um regulamento autônomo, isso posto pelo fato de tal de- do somente a explicar, detalhar ou complementar a lei. Na verdade,
creto não gozar de generalidade e abstração, não regulamentando ele busca a inovação do ordenamento jurídico ao criar normas téc-
determinada matéria. Cuida-se, nesse sentido, de um ato de efeitos nicas não contidas na lei, ato que realiza em decorrência de expres-
concretos, amplamente desprovido de natureza regulamentar. sa determinação legal.
De forma diversa do decreto regulamentar ou regulamento Depreende-se que o regulamento autorizado não pode ser
executivo, que é editado para minuciar a fiel execução da lei, desta- confundido com o regulamento autônomo. Isso ocorre, porque,
ca-se que o decreto autônomo ou regulamento independente, en- ao passo que este último retira sua força jurídica da Constituição,
contra-se sujeito ao controle de constitucionalidade. O que justifica aquele é amplamente dependente de expressa autorização contida
a mencionada diferenciação, é o fato de o conflito entre um decreto na lei. Além disso, também se diverge do decreto de execução por-
regulamentar e a lei que lhe atende de fundamento vir a configurar que, embora seja um ato normativo secundário que retira sua força
ilegalidade, não cabendo o argumento de que o decreto é inconsti- jurídica da lei, detém o poder de inovar a ordem jurídica, ao contrá-
tucional porque exorbitou do poder regulamentar. Assim, havendo rio do que ocorre com este último no qual sua destinação é apenas
agressão direta à Constituição, a lei, com certeza pode ser conside- a de detalhar a lei para que seja fielmente executada.
rada inconstitucional, mas não o decreto que a regulamenta. Agora, Nos moldes da jurisprudência, não é admitida a edição de regu-
em se tratando do decreto autônomo, infere-se que este é norma lamento autorizado para matéria reservada à lei, um exemplo disso
primária, vindo a fundamentar-se no próprio texto constitucional, é a criação de tributos ou da criação de tipos penais, tendo em vista
de forma a ser possível uma agressão direta à Constituição Federal que afrontaria o princípio da separação dos Poderes, pelo fato de
de 1988, legitimando desta maneira, a instauração de processo de estar o Executivo substituindo a função do Poder Legislativo.
controle de constitucionalidade. Assim sendo, podemos citar a lição Entretanto, mesmo nos casos de inexistência de expressa de-
do Supremo Tribunal Federal: terminação constitucional estabelecendo reserva legal, tem sido
Com efeito, o que é necessário demonstrar, é que o decreto do admitida a utilização de regulamentos autorizados, desde que a lei
Chefe do Executivo advém de competência direta da Constituição, venha a os autorizar e estabeleça as condições, bem como os limi-
ou que retire seu fundamento da Carta Magna. Nessa sentido, caso tes da matéria a ser regulamentada. É nesse sentido que eles têm
o regulamento não se amolde ao figurino constitucional, caberá, sido adotados com frequência para a fixação de normas técnicas,
por conseguinte, análise de constitucionalidade pelo Supremo tri- como por exemplo, daquelas condições determinadas pelas agên-
bunal Federal. Se assim não for, será apenas vício de inconstitucio- cias reguladoras.
nalidade reflexa, afastando desta forma, o controle concentrado
em ADI porque, como adverte Carlos Velloso: “é uma questão de Regulamentos jurídicos e regulamentos administrativos
opção. Hans Kelsen, no debate com Carl Schmitt, em 1929, deixou A ilustre Maria Sylvia Zanella Di Pietro, afirma que é possível
isso claro. E o Supremo Tribunal fez essa opção também no controle fazer a distinção entre os regulamentos jurídicos ou normativos e
difuso, quando estabeleceu que não se conhece de inconstitucio- os regulamentos administrativos ou de organização.
nalidade indireta. Não há falar-se em inconstitucionalidade indireta

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DIREITO ADMINISTRATIVO
Afirma-se que os regulamentos jurídicos ou normativos, criam em vigor, desde que devidamente contados da constituição defini-
regras ou normas para o exterior da Administração Pública, que tiva do crédito, nos termos da Lei 9.873/1999, art. 1.º-A, com sua
passam a vincular todos os cidadãos de forma geral, como acontece redação incluída pela Lei 11.941/2009.
com as normas inseridas no poder de polícia. No condizente aos Denota-se que a mencionada norma prevê, ainda, a possibi-
regulamentos administrativos ou de organização, denota-se que es- lidade de prescrição intercorrente, ou seja, aquela que ocorre no
tes estabelecem normas sobre a organização administrativa ou que curso do processo, quando o procedimento administrativo vir a fi-
se relacionam aos particulares que possuem um vínculo específico car paralisado por mais de três anos, desde que pendente de des-
com o Estado, como por exemplo, os concessionários de serviços pacho ou julgamento, tendo em vista que os autos serão arquivados
públicos ou que possuem um contrato com a Administração. de ofício ou mediante requerimento da parte interessada, sem que
De acordo com a ilustre professora, outra nota que merece haja prejuízo da apuração da responsabilidade funcional decorren-
destaque em relação à distinção entre os mencionados institutos, te da paralisação, se for o caso, nos parâmetros do art. 1.º, § 1.º.
é a de que os regulamentos jurídicos, pelo fato de se referirem à Vale a pena mencionar com destaque que a prescrição da ação
liberdade e aos direitos dos particulares sem uma relação especí- punitiva, no caso das sanções de polícia, se interrompe no decurso
fica com a Administração, são, por sua vez, elaborados com menor das seguintes hipóteses:
grau de discricionariedade em relação aos regulamentos adminis- A) Notificação ou citação do indiciado ou acusado, inclusive por
trativos. meio de edital;
Esquematicamente, temos: B) ocorrer qualquer ato inequívoco que importe apuração do
fato; pela decisão condenatória recorrível;
ESPÉCIES DE Regulamentos jurídicos ou normativos C)Por qualquer ato inequívoco que importe em manifestação
REGULAMENTO expressa de tentativa de solução conciliatória no âmbito interno da
QUANTO AOS Regulamentos administrativos ou de Administração Pública Federal.
DESTINATÁRIOS organização Registramos que a Lei em estudo, prevê a possibilidade de em
determinadas situações específicas, quando o interessado inter-
romper a prática ou sanar a irregularidade, que haja a suspensão
Poder de Polícia
do prazo prescricional para aplicação das sanções de polícia, nos
O poder de polícia é a legítima faculdade conferida ao Estado
parâmetros do art. 3.º.
para estabelecer regras restritivas e condicionadoras do exercício
Por fim, denota-se que as determinações contidas na Lei
de direitos e garantias individuais, tendo sempre em vista o inte-
9.873/1999 não se aplicam às infrações de natureza funcional e aos
resse público.
processos e procedimentos de natureza tributária, nos termos do
art. 5.º.
Limites
No exercício do poder de polícia, os atos praticados, assim
Atributos
como todo ato administrativo, mesmo sendo discricionário, está
Segundo a maior parte da doutrina, são atributos do poder de
eivado de limitações legais em relação à competência, à forma, aos
polícia: a discricionariedade, a autoexecutoriedade e a coercibilida-
fins, aos motivos ou ao objeto.
de. Entretanto, vale explicitar que nem todas essas características
Ressalta-se de antemão com ênfase, que para que o ato de po-
estão presentes de forma simultânea em todos os atos de polícia.
lícia seja considerado legítimo, deve respeitar uma relação de pro-
Vejamos detalhadamente a definição e atribuição de cada atri-
porcionalidade existente entre os meios e os fins. Assim sendo, a
buto:
medida de polícia não poderá ir além do necessário com o fito de
atingir a finalidade pública a que se destina. Imaginemos por exem-
Discricionariedade
plo, a hipótese de um estabelecimento comercial que somente pos-
Consiste na liberdade de escolha da autoridade pública em re-
suía licença do poder público para atuar como revenda de roupas,
lação à conveniência e oportunidade do exercício do poder de polí-
mas que, além dessa atividade, funcionava como atelier de costura.
cia. Entretanto, mesmo que a discricionariedade dos atos de polícia
Caso os fiscais competentes, na constatação do fato, viessem a in-
seja a regra, em determinadas situações o exercício do poder de
terditar todo o estabelecimento, pondera-se que tal medida seria
polícia é vinculado e por isso, não deixa margem para que a autori-
desproporcional, tendo em vista que, para por fim à irregularidade,
dade responsável possa executar qualquer tipo de opção.
seria suficiente somente interditar a parte da revenda de roupas.
Como exemplo do mencionado no retro parágrafo, compare-
Acontece que em havendo eventuais atos de polícia que este-
mos os atos de concessão de alvará de licença e de autorização,
jam eivados de vícios de legalidade ou que se demostrem despro-
respectivamente. Em se tratando do caso do alvará de licença, de-
porcionais devem ser, por conseguinte, anulados pelo Poder Judici-
preende-se que o ato é vinculado, significando que a licença não
ário por meio do controle judicial, ou, pela própria administração
poderá ser negada quando o requerente estiver preenchendo os
no exercício da autotutela.
requisitos legais para sua obtenção. Diga-se de passagem, que isso
ocorre com a licença para dirigir, para construir bem como para
Prescrição
exercer certas profissões, como a de enfermagem, por exemplo. Re-
Determina a Lei 9.873/1999 que na Administração Pública Fe-
ferente à hipótese de alvará de autorização, mesmo o requerente
deral, direta e indireta, são prescritíveis em cinco anos a ação pu-
atendendo aos requisitos da lei, a Administração Pública poderá ou
nitiva para apuração da infração e a aplicação da sanção de polícia,
não conceder a autorização, posto que esse ato é de natureza dis-
desde que contados da data da prática do ato ou, em se tratando de
cricionária e está sujeito ao juízo de conveniência e oportunidade
infração de forma permanente ou continuada, do dia em que tiver
da autoridade administrativa. É o que ocorre, por exemplo, coma
cessado (art. 1.º). Entretanto, se o fato objeto da ação punitiva da
autorização para porte de arma, bem como para a produção de ma-
Administração também for considerado crime, a prescrição deverá
terial bélico.
se reger pelo prazo previsto na lei penal em seu art. 1.º, § 2.º.
Ademais, a Lei determina que prescreve em cinco anos a ação
de execução da administração pública federal relativa a crédito não
tributário advindo da aplicação de multa por infração à legislação
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DIREITO ADMINISTRATIVO
Autoexecutoriedade Poder de polícia originário e poder de polícia delegado
Nos sábios dizeres de Hely Lopes Meirelles, o atributo da auto- Nos parâmetros doutrinários, o poder de polícia originário é
executoriedade consiste na “faculdade de a Administração decidir aquele exercido pelos órgãos dos próprios entes federativos, tendo
e executar diretamente sua decisão por seus próprios meios, sem como fundamento a própria repartição de competências materiais
intervenção do Judiciário”. Assim, se um estabelecimento comer- e legislativas constante na Constituição Federal Brasileira de 1988.
cial estiver comercializando bebidas deteriorados, o Poder Público Referente ao poder de polícia delegado, afirma-se que este faz
poderá usar do seu poder para apreendê-los e incinerá-los, sendo referência ao poder de polícia atribuído às pessoas de direito pú-
desnecessário haver qualquer ordem judicial. Ocorre, também, que blico da Administração Indireta, posto que esta delegação deve ser
tal fato não impede ao particular, que se sentir prejudicado pelo feita por intermédio de lei do ente federativo que possua o poder
excesso ou desvio de poder, de buscar o amparo do Poder Judiciário de polícia originário.
para fazer cessar o ato de polícia abusivo. Como uma das mais claras manifestações do princípio segun-
Entretanto, denota-se que nem todas as medidas de polícia do o qual o interesse público se sobrepõe ao interesse privado, no
são dotadas de autoexecutoriedade. A doutrina majoritária afirma exercício do poder de polícia, o Estado impõe aos particulares ações
que a autoexecutoriedade só pode existir em duas situações, sen- e omissões independentemente das suas vontades. Tal possibilida-
do elas: quando estiver prevista expressamente em lei; ou mesmo de envolve exercício de atividade típica de Estado, com clara ma-
não estando prevista expressamente em lei, se houver situação de nifestação de potestade (poder de autoridade). Assim, estão pre-
urgência que demande a execução direta da medida. O que infere sentes características ínsitas ao regime jurídico de direito público,
que, não sendo cumprido nenhum desses requisitos, o ato de po- o que tem levado o STF a genericamente negar a possibilidade de
lícia autoexecutado será considerado abusivo. Cite-se como exem- delegação do poder de polícia a pessoas jurídicas de direito privado,
plo, o de ato de polícia que não contém autoexecutoriedade, como ainda que integrantes da administração indireta (ADI 1717/DF).
o caso de uma autuação por desrespeito à normas sanitárias. Nesse Esquematizando, temos:
caso específico, se o poder público tiver a pretensão de cobrar o
mencionado valor, não poderá fazê-lo de forma direta, sendo ne- ATRIBUTOS DO PODER DE POLÍCIA
cessário que promova a execução judicial da dívida.
DISCRICIONARIEDADE AUTOEXECUTORIEDADE COERCIBILIDADE
A renomada Professora Maria Sylvia Zanella Di Pietro, afirma
que alguns autores dividem o atributo da autoexecutoriedade em Liberdade
Faculdade de a
dois, sendo eles: a exigibilidade (privilège du préalable) e a execu- de escolha da
Administração deci- Faz com que
toriedade (privilège d’action d’office). Nesse diapasão, a exigibili- autoridade pública
dir e executar dire- o ato seja impos-
dade ensejaria a possibilidade de a Administração tomar decisões em relação à
tamente sua decisão to ao particular,
executórias, impondo obrigações aos administrados mesmo sem a conveniência e
por seus próprios concordando este,
concordância destes, e a executoriedade, que consiste na faculdade oportunidade do
meios, sem interven- ou não.
de se executar de forma direta todas essas decisões sem que haja a exercício do poder
ção do Judiciário.
necessidade de intervenção do Poder Judiciário, usando-se, quando de polícia.
for preciso, do emprego direto da força pública. Imaginemos como
exemplo, um depósito antigo de carros que esteja ameaçado de Uso e abuso de poder
desabar. Nessa situação específica, a Administração pode ordenar De antemão, depreende-se que o exercício de poder acontece
que o proprietário promova a sua demolição (exigibilidade). E não de forma legítima quando desempenhado pelo órgão competente,
sendo a ordem cumprida, a própria Administração possui o poder desde que esteja nos limites da lei a ser aplicada, bem como em
de mandar seus servidores demolirem o imóvel (executoriedade). atendimento à consecução dos fins públicos.
Ainda, pelos ensinamentos da ilustre professora, ao passo que No entanto, é possível que a autoridade, ao exercer o poder,
a exigibilidade se encontra relacionada com a aplicação de meios venha a ultrapassar os limites de sua competência ou o utilize para
indiretos de coação, como a aplicação de multa ou a impossibilida- fins diversos do interesse público. Quando isto ocorre, afirma-se
de de licenciamento de veículo enquanto não forem pagas as mul- que houve abuso de poder. Ressalta-se que o abuso de poder ocor-
tas de trânsito, a executoriedade irá se consubstanciar no uso de re tanto por meio de um ato comissivo, quando é feita alguma coisa
meios diretos de coação, como por exemplo dissolução de reunião, que não deveria ser feita, quanto por meio de um ato omissivo, por
da apreensão de mercadorias, da interdição de estabelecimento e meio do qual se deixa de fazer algo que deveria ser feito.
da demolição de prédio. Pode o abuso de poder se dividido em duas espécies, são elas:
Adverte-se, por fim, que a exigibilidade se encontra presente
em todas as medidas de polícia, ao contrário da executoriedade, • Excesso de poder: Ocorre a partir do momento em que a au-
que apenas se apresenta nas hipóteses previstas por meio de lei ou toridade atua extrapolando os limites da sua competência.
em situações de urgência. • Desvio de poder ou desvio de finalidade: Ocorre quando a
autoridade vem a praticar um ato que é de sua competência, po-
Coercibilidade rém, o utiliza para uma finalidade diferente da prevista ou contrária
É um atributo do poder de polícia que faz com que o ato seja ao interesse público como um todo.
imposto ao particular, concordando este, ou não. Em outras termos, Convém mencionar que o ato praticado com abuso de poder
o ato de polícia, como manifestação do ius imperi estatal, não está pode ser devidamente invalidado pela própria Administração por
consignado à dependência da concordância do particular para que intermédio da autotutela ou pelo Poder Judiciário, sob controle ju-
tenha validade e seja eficaz. Além disso, a coercibilidade é indisso- dicial.
ciável da autoexecutoridade, e o ato de polícia só poderá ser autoe-
xecutável pelo fato de ser dotado de força coercitiva.
Assim sendo, a coercibilidade ou imperatividade, definida
como a obrigatoriedade do ato para os seus destinatários, acaba se
confundindo com a definição dada de exigibilidade que resulta do
desdobramento do atributo da autoexecutoriedade.

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DIREITO ADMINISTRATIVO
Judiciário, ao exercer de a função jurisdicional, aprecia a juridicida-
CONTROLE E RESPONSABILIZAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO. de que engloba a regularidade, a legalidade e a constitucionalidade
CONTROLE ADMINISTRATIVO. CONTROLE JUDICIAL. CON- da conduta administrativa.
TROLE LEGISLATIVO Denota-se que o controle externo da Administração por meio
do Poder Judiciário foi majorado e fortalecido pela Constituição
Federal de 1988, tendo previsto novos instrumentos de controle,
Controle exercido pela Administração Pública (controle interno) como por exemplo, o mandado de segurança coletivo, o mandado
A princípio, infere-se que a teoria da separação dos poderes de injunção e o habeas data.
possui em sua essência, de acordo com Montesquieu, o objetivo O Brasil, contemporaneamente adota o sistema de unidade de
certo de limitar arbítrios de maneira que venha a proteger os direi- jurisdição, também conhecido por sistema de monopólio de juris-
tos individuais. Isso por que, grande parte dos detentores do Poder dição ou sistema inglês, por intermédio do qual o Poder Judiciário
tende a adquirir mais poder, situação tal, que, caso não esteja sujei- possui a exclusividade da função jurisdicional, vindo a inferir que
ta a controle, culminará no abuso, ou até no absolutismo. somente as decisões judiciais fazem coisa julgada em sentido pró-
Para evitar esse tipo de distorção, Montesquieu propôs a teoria prio, vindo a tornar-se juridicamente insuscetíveis de serem modi-
dos freios e contrapesos, por meio da qual os poderes constituídos ficadas.
possuem a incumbência de controlar, freando e contrabalanceando Desta maneira, percebe-se que a decisão que é proferida pela
as atuações dos demais poderes, de maneira que cada um deles Administração Pública ou, ainda, qualquer ato administrativo en-
tenha autonomia, possua liberdade, porém, uma liberdade sob vi- contram-se passíveis de revisão pelo Poder Judiciário.
gilância. Nesse sentido, o Poder Legislativo edita leis que podem ser É importante registrar que o fundamento da adoção do siste-
vetadas ou freadas pelo Poder Executivo, que poderá ter seu veto ma de unidade jurisdicional no Brasil é a previsão que se encontra
derrubado ou freado pelo Poder Legislativo. Ou seja, não concor- inserida no art. 5º, XXXV, da CFB/1988, por meio da qual ficou es-
dando o Executivo com a derrubada de um veto vindo a entender tabelecido que “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário
que a lei aprovada seja inconstitucional, deterá o poder de incumbir lesão ou ameaça a direito”.
a matéria à análise do Poder Judiciário que irá dirimir o conflito, Há países, que de forma diferente do Brasil, adotam o sistema
como por exemplo, uma ADI ajuizada pelo Presidente da Repúbli- de dualidade de jurisdição ou sistema do contencioso administrati-
ca. O Judiciário contém os membros de sua cúpula (STF), que são vo ou sistema francês. Denota-se que nesses países, a função juris-
indicados pelo chefe de outro Poder, no caso, o Presidente da Repú- dicional é exercida por duas estruturas orgânicas que são regidas
blica, sendo a indicação restrita à aprovação de uma das Casas do de forma independente, sendo elas a Justiça Judiciária e a Justiça
Parlamento (Senado Federal), o que acaba por ser uma espécie de Administrativa, posto que cada uma profere decisão com força de
controle prévio. coisa julgada no âmbito de suas competências.
Desta maneira, percebe-se que no Estado Democrático de Di- Referente à Justiça Administrativa, explica-se que no sistema
reito, o próprio ordenamento jurídico dispõe de mecanismos que de dualidade de jurisdição, esta é composta por juízes e tribunais
possibilitam o controle de toda a atuação do Estado. Tais instru- administrativos cuja competência cuida-se em geral, de resolver
mentos tem como objetivo, garantir que tal atuação se mantenha litígios nos quais o Poder Público seja parte. Pareando a Justiça Ad-
sempre consolidada com o direito, visando ao interesse público e ministrativa, está a Justiça Judiciária, composta por órgãos do Poder
mantendo o respeito aos direitos dos administrados. Judiciário, tendo competência para julgar com definitividade confli-
Em relação à localização do órgão de controle, infere-se que tos que envolvam somente particulares.
pode ser interno ou externo. Vejamos: Pondera-se que o controle exercido pelo Poder Judiciário, via
• Controle interno: é realizado por órgãos de um Poder sobre- de regra, será sempre um controle de legalidade ou legitimidade do
pondo condutas que são praticadas na direção desse mesmo Poder, ato administrativo. No exercício da função jurisdicional, os Magis-
ou, ainda, por um órgão de uma pessoa jurídica da Administração trados não apreciam o mérito do ato administrativo, não analisando
indireta sobre atos que foram praticados pela própria pessoa jurídi- a conveniência e a oportunidade da prática do ato.
ca da qual faz parte. No controle interno o órgão controlador encon- Devido ao fato de se tratar de um controle de legalidade ou
tra-se inserido na estrutura administrativa que deve ser controlada. de legitimidade, sempre que o ato estiver eivado de algum vício, a
Em alguns casos, o controle interno decorre da hierarquia, pois decisão judicial será revertida no sentido de anulação do ato admi-
esta possibilita aos órgãos hierarquicamente superiores controlar nistrativo que se encontra viciado. Vale enfatizar que não é cabível
os atos praticados pelos que lhe são subordinados. Em resumo, o no exercício da função jurisdicional a revogação do ato administra-
controle interno que venha a depender da existência de hierarquia tivo, tendo em vista que esta pressupõe a análise do mérito do ato.
entre controlador e controlado, é aquele exercido pelas chefias so- É de suma importância destacar que o controle judicial possui
bre seus subordinados, sendo o tradicional “sistema de controle in- abrangência tanto em relação aos atos vinculados quanto aos dis-
terno” é organizado por lei incumbida de lhe definir as atribuições, cricionários, posto que ambos devem obedecer aos requisitos de
não dependendo de hierarquia para o exercício de suas prerroga- validade como a competência, a forma e a finalidade. Desta forma,
tivas. é possível que tanto os atos administrativos vinculados quanto os
• Controle externo: é realizado por órgão estranho à estrutu- discricionários venham a apresentar vícios de legalidade ou ilegiti-
ra do Poder controlado. Verificamos tal fato, em termos práticos, midade, em decorrência dos quais poderão vir a ser anulados pelo
quando por exemplo, um Tribunal de Contas Estadual passa a julgar Poder Judiciário quando estiver no exercício do controle jurisdicio-
as contas no âmbito dos poderes legislativo ou judiciário. nal.
Explicita-se que o controle judicial da Administração, de modo
Controle Judicial geral, é sempre provocado, isso por que ele depende da iniciativa
Registremos, a princípio, que o controle judicial da Administra- de alguma pessoa, que poderá ser física ou jurídica. Qualquer pes-
ção Pública, trata-se daquele exercido pelo Poder Judiciário, quan- soa que tenha a pretensão de provocar o controle da administração
do em exercício de função jurisdicional, sobre os atos administra- pelo Poder Judiciário, deverá, de antemão, propor judicialmente a
tivos do Poder Executivo, do Poder Legislativo e do próprio Poder ação cabível para o alcance desse objetivo.
Judiciário. O controle judicial é aquele por meio do qual, o Poder

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DIREITO ADMINISTRATIVO
Por fim, diga-se de passagem, que existem várias espécies de De modo geral, a doutrina diferencia dois tipos de controle le-
ações judiciais que permitem ao Judiciário apreciar lesão ou ame- gislativo: o político e o financeiro.
aça a direito decorrente de ato administrativo. Exemplos: o habeas O controle financeiro é exercido com o auxílio dos tribunais de
corpus, o habeas data, o mandado de injunção, etc. A relação das contas. Já o controle político, alcança aspectos de legalidade e de
ações que dão possibilidade ao controle judicial da Administração mérito, vindo a ser preventivo, concomitante ou repressivo, con-
será sempre a título de exemplificação, tendo em vista que o con- forme o caso.
trole pode ser exercido, inclusive, por intermédio de ação judicial
ordinária sem denominação especial ou específica. Formas de controle político:
1. Da competência exclusiva do Congresso Nacional (CF, art.
Nota: a Emenda Constitucional 45/2004 ao introduzir no di- 49): resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos inter-
reito brasileiro o instituto das súmulas vinculantes, inaugurou um nacionais que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao
novo mecanismo de controle judicial da Administração Pública, ato patrimônio nacional; autorizar o Presidente da República a declarar
por meio do qual passou-se a admitir o cabimento de reclamação guerra, a celebrar a paz, a permitir que forças estrangeiras transi-
ao STF contra ato administrativo que contrarie súmulas vinculantes tem pelo território nacional ou nele permaneçam temporariamen-
editadas pela Corte Suprema. te, ressalvados os casos previstos em lei complementar; autorizar
o Presidente e o Vice-Presidente da República a se ausentarem do
Controle Legislativo País, quando a ausência exceder a quinze dias; aprovar o estado de
O controle legislativo é aquele executado pelo Poder Legisla- defesa e a intervenção federal, autorizar o estado de sítio, ou sus-
tivo sobre as autoridades e os órgãos dos outros poderes, como pender qualquer uma dessas medidas; sustar os atos normativos
ocorre por exemplo, nos casos de convocação de autoridades com o do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos
objetivo de prestar esclarecimentos ou, ainda, do controle externo limites de delegação legislativa; julgar anualmente as contas pres-
exercido pelo Poder Legislativo auxiliado pelo Tribunal de Contas. tadas pelo Presidente da República e apreciar os relatórios sobre a
O controle legislativo, também denominado de controle parla- execução dos planos de governo; fiscalizar e controlar, diretamente,
mentar, se refere àquele no qual o Poder Legislativo exerce poder ou por qualquer de suas Casas, os atos do Poder Executivo, incluí-
sobre os atos do Poder Executivo e sobre os atos do Poder Judi- dos os da administração indireta; apreciar os atos de concessão e
ciário, sendo este último somente no que condiz ao desempenho renovação de concessão de emissoras de rádio e televisão; aprovar
da função administrativa. Trata-se assim, o controle parlamentar de iniciativas do Poder Executivo referentes a atividades nucleares; au-
um controle externo sobre os demais Poderes. torizar, em terras indígenas, a exploração e o aproveitamento de
Infere-se que a estrutura do Poder Legislativo Brasileira deve recursos hídricos e a pesquisa e lavra de riquezas minerais; aprovar,
ser verificada com atenção às peculiaridades de cada ente federa- previamente, a alienação ou concessão de terras públicas com área
do, posto que não somente o princípio da simetria, como também superior a dois mil e quinhentos hectares.
as regras específicas que a Constituição Federal predispõe para os
âmbitos federal, estadual, municipal e distrital. 2. Da competência privativa do Senado Federal (CF, art. 52):
Em análise ao plano federal, verifica-se que vigora o bicamera- processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República
lismo federativo, sendo o Poder Legislativo Federal composto por nos crimes de responsabilidade, bem como os Ministros de Esta-
duas Casas: a Câmara dos Deputados que é composta por represen- do e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica
tantes do povo e o Senado Federal que é composto por represen- nos crimes da mesma natureza conexos com aqueles; processar e
tantes dos Estados-membros e do Distrito Federal. julgar os Ministros do Supremo Tribunal Federal, os membros do
De acordo com o sistema constitucional, o controle parlamen- Conselho Nacional de Justiça e do Conselho Nacional do Ministério
tar pode ser exercido: a) por uma das Casas isoladamente; b) pelas Público, o Procurador-Geral da República e o Advogado-Geral da
duas Casas reunidas em sessão conjunta; c) pela mesa diretora do União nos crimes de responsabilidade; autorizar operações exter-
Congresso Nacional ou de cada Casa; d) pelas comissões do Con- nas de natureza financeira, de interesse da União, dos Estados, do
gresso Nacional ou de cada Casa. Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios; fixar, por propos-
Levando em conta o princípio da simetria de organização, as ta do Presidente da República, limites globais para o montante da
regras mencionadas também devem ser aplicadas, no que lhes cou- dívida consolidada da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
ber, ao Poder Legislativo em âmbito estadual, municipal e distrital, Municípios; dispor sobre limites globais e condições para as opera-
desde que realizadas as devidas adaptações, principalmente aque- ções de crédito externo e interno da União, dos Estados, do Distrito
las que advém do fato de nos planos estadual, municipal e distrital a Federal e dos Municípios, de suas autarquias e demais entidades
organização do Poder Legislativo serem do tipo unicameral. controladas pelo Poder Público federal; dispor sobre limites e con-
Com fundamento no princípio da autotutela, o Poder Legislati- dições para a concessão de garantia da União em operações de cré-
vo também possui o poder de exercer o controle interno sobre os dito externo e interno; estabelecer limites globais e condições para
seus próprios atos. Nessa situação, aduz-se que o Poder Legislativo o montante da dívida mobiliária dos Estados, do Distrito Federal e
estará realizando um controle administrativo interno. Esse é o mo- dos Municípios; aprovar, por maioria absoluta e por voto secreto, a
tivo pelo qual quando falamos no controle parlamentar, estamos exoneração, de ofício, do Procurador-Geral da República antes do
abordando somente o controle externo exercido pelo Poder Legis- término de seu mandato; aprovar previamente, por voto secreto,
lativo. após arguição pública, a escolha de:
Destaca-se que o controle que o Poder Legislativo detém sobre • Magistrados, nos casos estabelecidos nesta Constituição;
a Administração Pública, encontra-se limitado às hipóteses previs- • Ministros do Tribunal de Contas da União indicados pelo Pre-
tas na Constituição Federal. Isso ocorre, por que porque caso con- sidente da República;
trário, haveria inferiorização do princípio da separação dos poderes. • Governador de Território;
Acontece que em razão disso, não podem leis ordinárias, comple- • Presidente e diretores do Banco Central;
mentares ou Constituições Estaduais predispor outras modalidades • Procurador-Geral da República;
de controle diversas das que são previstas na Constituição Federal, • Titulares de outros cargos que a lei determinar.
sob risco de ferir o mesmo princípio.

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• Aprovar previamente, por voto secreto, após arguição em Controle pelos Tribunais de Contas
sessão secreta, a escolha dos chefes de missão diplomática de ca- Previstos na Constituição Federal, os Tribunais de Contas são
ráter permanente; órgãos com a finalidade de auxiliar o Poder Legislativo na execução
do exercício do controle externo da Administração Pública. São ór-
3. Da competência privativa da Câmara dos Deputados (CF, gãos especializados e não integram a estrutura administrativa do
art. 51): autorizar, por dois terços de seus membros, a instauração Parlamento e também não mantém com ele mantém qualquer es-
de processo contra o Presidente e o Vice-Presidente da República e pécie de relação hierárquica.
os Ministros de Estado; proceder à tomada de contas do Presiden- Denota-se que a Carta Magna de 1988 preservou a estrutura
te da República, quando não apresentadas ao Congresso Nacional de organização dos Tribunais de Contas vigente nos diversos entes
dentro de sessenta dias após a abertura da sessão legislativa. da federação à época de sua promulgação. Com isso, nos termos
do art. 31, § 4º da CFB/1988, tornou-se proibida a criação de novos
4. Outros controles políticos (CF, art. 50): a Câmara dos Depu- tribunais, conselhos ou órgãos de contas municipais.
tados e o Senado Federal, ou qualquer de suas Comissões, poderão Em seguimento a essa diretriz, em âmbito federal, temos o TCU
convocar Ministro de Estado ou quaisquer titulares de órgãos dire- (Tribunal de Contas da União); no plano estadual, os Tribunais de
tamente subordinados à Presidência da República para prestarem, Contas dos Estados; no Distrito Federal, o TCDF (Tribunal de Con-
pessoalmente, informações sobre assunto previamente determina- tas do Distrito Federal), sendo que na esfera municipal, percebe-se
do, importando crime de responsabilidade a ausência sem justifi- a organização dos tribunais de contas não ocorre de maneira uni-
cação adequada; as Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado forme. Devido ao fato da maioria dos municípios ter criado até a
Federal poderão encaminhar pedidos escritos de informações a Mi- CF/1988 o seu próprio Tribunal de Contas, a função de prestar auxí-
nistros de Estado ou a quaisquer titulares de órgãos diretamente lio ao Poder Legislativo municipal no exercício do controle externo é
subordinados à Presidência da República, importando em crime de normalmente repassada ao Tribunal de Contas do respectivo Estado
responsabilidade a recusa, ou o não atendimento, no prazo de trin- que é dotado de atribuições de controle ao das administrações es-
ta dias, bem como a prestação de informações falsas. tadual e municipal.
Por fim, em relação ao controle político legislativo, cabe espe- Em relação à sua composição, verificamos com afinco que os
cial destaque referente ao controle exercido pelas comissões parla- Tribunais de Contas são órgãos colegiados, com quadro de pessoal
mentares de inquérito (CPIs). próprio (inspetores, procuradores, analistas, técnicos etc.), sendo
As CPIs são comissões temporárias designadas a investigar fato o TCU composto por nove ministros, ao passo que os demais Tri-
certo e determinado e fazem parte do contexto de uma das funções bunais de contas são compostos, em regra, por sete conselheiros,
típicas do Parlamento que é a função de fiscalização. número sempre observado nos Estados, com exceção do Tribunal
De acordo com a Constituição Federal, as comissões parlamen- de Contas do Município de São Paulo que conta com apenas cinco
tares de inquérito possuem poderes de investigação que são pró- conselheiros, nos parâmetros do art. 49 da Lei Orgânica daquele
prios das autoridades judiciais, além de outros poderes que estão Município.
previstos nos regimentos das Casas Legislativa. As CPIs são criadas Embora, não obstante a existência dos chamados “tribunais”
pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, seja em conjun- de contas, as cortes de contas também não exercem jurisdição em
to ou de forma separada mediante pugnação de um terço de seus sentido próprio, isso por que suas decisões não possuem o caráter
membros, com o objetivo de apurar fato determinado e por prazo de definitividade, vindo a sofrer a possibilidade de serem anuladas
certo, sendo que as suas conclusões, quando for preciso, serão en- pelo Poder Judiciário. Entretanto, o processo ajuizado com o fito
caminhadas ao Ministério Público, para que este órgão promova a de anular a decisão da corte de contas é distinto do processo de
responsabilidade civil ou criminal dos infratores, nos termos dispos- natureza administrativa em que foi proferida tal decisão. Desta for-
tos no art. 58, § 3º da CFB/1988. ma, o interessado não poderá interpor um recurso para o Judiciário
Em decorrência do exercício dos seus poderes de investigação, em desfavor da decisão final do Tribunal de Contas com o fulcro
a CPI é dotada de ato próprio, sem a necessidade de autorização de reformá-la, mas sim ajuizar processo autônomo perante o órgão
judicial para: jurisdicional competente com o objetivo de anular o mencionado
• realizar as diligências que entender necessárias; julgado.
• convocar e tomar o depoimento de autoridades, inquirir tes- Registra-se que em relação ao controle externo financeiro e
temunhas sob compromisso e ouvir indiciados; as atribuições dos tribunais de contas, a Constituição Federal criou
• requisitar de órgãos públicos informações e documentos de um sistema harmonizado de controle, que prevê a existência de um
qualquer natureza; controle externo associada a um controle interno executado por
• requerer ao Tribunal de Contas da União a realização de ins- cada órgão sobre seus agentes e seus atos.
peções e auditorias que entender necessárias. O controle exercido pelo Poder Legislativo é uma forma de con-
Ademais, conforme decisão do STF, por autoridade própria, a trolar de maneira externa os atos dos órgãos dos outros Poderes
CPI pode sem necessidade de intervenção judicial, porém, sempre e das entidades da administração indireta. Esse controle, além de
por meio de decisão fundamentada e motivada, observadas todas controlar a parte financeira dos outros órgãos, também abrange de
as formalidades da legislação, determinar a quebra de sigilo fiscal, forma ampla o controle contábil, financeiro, orçamentário, opera-
bancário e de dados do investigado. (MS 23.452/RJ). cional e patrimonial, levando em conta os aspectos da legalidade,
Em esquema básico, temos: legitimidade, economicidade, aplicação das subvenções e renúncia
de receitas.
Financeiro: é exercido com o auxílio dos No campo contábil a análise abrange o registro dos fatos contá-
tribunais de contas. beis e a elaboração de demonstrativos. Em âmbito financeiro, é veri-
CONTROLE ficado o verdadeiro ingresso das receitas, através de comprovantes
LEGISLATIVO Político: alcança aspectos de legalidade de depósito ou transferência de recursos, bem como a realização de
ESPÉCIES e de mérito, vindo a ser preventivo, concomi- forma efetiva de despesas, vindo a comprovar os seus tradicionais
tante ou repressivo. estágios de licitação, empenho, liquidação e pagamento. Por sua
vez, o controle orçamentário é aquele que acompanha a execução

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DIREITO ADMINISTRATIVO
do orçamento, que é a legislação em que se encontram as receitas D) fiscalizar as contas nacionais das empresas supranacionais
previstas e também as despesas fixadas. Em referência ao controle de cujo capital social a União participe, de forma direta ou indireta,
operacional, ressaltamos que o mesmo trata de diversos aspectos nos termos do tratado constitutivo;
do desempenho da atividade administrativa, como por exemplo, E) Fiscalizar a aplicação de quaisquer recursos repassados pela
numa auditoria operacional, pode ser computado o tempo médio União mediante convênio, acordo, ajuste ou outros instrumentos
que o usuário usa esperando por atendimento médico em uma uni- congêneres, a Estado, ao Distrito Federal ou a Município;
dade do sistema público de saúde. Finalmente, temos o controle F) Prestar as informações solicitadas pelo Congresso Nacional,
patrimonial, que cuida da fiscalização do patrimônio público. por qualquer de suas Casas, ou por qualquer das respectivas Comis-
Analisando a legalidade do controle externo, observamos que sões, sobre a fiscalização contábil, financeira, orçamentária, opera-
este investiga se a conduta administrativa está de acordo com as cional e patrimonial e sobre resultados de auditorias e inspeções
diversas normas jurídicas. realizadas;
O controle de legitimidade atua complementando o controle G) Aplicar aos responsáveis, em caso de ilegalidade de despesa
de legalidade, permitindo a apreciação de outros aspectos além da ou irregularidade de contas, as sanções previstas em lei, que es-
adequação formal da conduta à legislação pertinente. Nesse diapa- tabelecerá, entre outras cominações, multa proporcional ao dano
são, são passíveis de averiguação aspectos como a finalidade do ato causado ao erário;
e a obediência aos princípios constitucionais como a moralidade H) Assinar prazo para que o órgão ou entidade adote as pro-
administrativa, por exemplo. vidências necessárias ao exato cumprimento da lei, se verificada
Em continuidade, o controle de economicidade é relativo à uti- ilegalidade;
lização dos recursos de forma racional, uma vez que com ele, pre- I) sustar, se não atendido, a execução do ato impugnado, comu-
tende-se averiguar se a despesa realizada atende aos aspectos da nicando a decisão à Câmara dos Deputados e ao Senado Federal;
melhor relação custo-benefício. J) Representar ao Poder competente sobre irregularidades ou
Destaca-se que o controle externo também investiga se hou- abusos apurados.
ve a aplicação de forma correta das subvenções, que se tratam de
transferências de recursos feitas pelo governo com o fito de cobrir Observação: As normas retro mencionadas acima relativas ao
despesas de custeio das entidades beneficiadas. Tribunal de Contas da União aplicam-se, no que couber, à organi-
As subvenções podem ser de duas espécies. São elas: subven- zação, composição e fiscalização dos Tribunais de Contas dos Es-
ções sociais e subvenções econômicas. tados e do Distrito Federal, bem como dos Tribunais e Conselhos
A) Subvenções sociais: são destinadas ao custeio de institui- de Contas dos Municípios, onde houver, nos termos do art.75 da
ções públicas ou privadas de caráter assistencial ou cultural, que CFB/1988.
não possuem finalidade lucrativa, nos ditames da Lei 4.320/1964,
art. 12, § 3º, I. Aspectos importantes sobre as atribuições dos Tribunais de
B) Subvenções econômicas: são as destinadas ao custeio de Contas
empresas públicas ou privadas de caráter industrial, comercial, agrí- Vejamos a diferença entre os atributos de “apreciar contas” e
cola ou pastoril, nos termos da Lei 4.320/1964, art. 12, § 3º, II. “julgar contas”.
Registra-se, que o controle externo também se incumbe de Em relação às contas do chefe do Poder Executivo, os Tribu-
apreciar a regularidade da renúncia de receita. Há vários mecanis- nais de Contas têm atribuição para “apreciá-las”, desde que haja a
mos que tornam possível a renúncia de receita, como por exemplo: emissão de parecer conclusivo, que deverá ser elaborado no prazo
a remissão, o subsídio, a isenção e a modificação da alíquota ou da de 60 dias a contar de seu recebimento (art. 71, I), sendo que é
base de cálculo de tributo que implique sua redução. competência do Poder
Nos ditames constitucionais, a cargo de Congresso Nacional, o Legislativo julgar as contas de cada ente federado. Desta ma-
controle externo, será exercido com a ajuda do Tribunal de Contas neira, as contas anuais do Presidente da República são julgadas pelo
da União, ao qual compete, nos parâmetros do art. 71 da CFB/1988: Congresso Nacional nos ditames do art. 49, IX, CF/1988; as dos Go-
A) Apreciar as contas prestadas anualmente pelo Presidente da vernadores, pela Assembleia Legislativa do respectivo Estado; a do
República, mediante parecer prévio que deverá ser elaborado em Governador do Distrito Federal, pela Câmara Legislativa do Distrito
sessenta dias a contar de seu recebimento; Federal; e as contas dos Prefeitos, pelas respectivas câmaras muni-
B) Julgar as contas dos administradores e demais responsáveis cipais.
por dinheiros, bens e valores públicos da administração direta e in- Existe uma particularidade em relação ao parecer que o tri-
direta, incluídas as fundações e sociedades instituídas e mantidas bunal de contas do Estado ou do município emite a respeito das
pelo Poder Público federal, e as contas daqueles que derem causa contas anuais do chefe do Poder Executivo municipal. Nos termos
a perda, extravio ou outra irregularidade de que resulte prejuízo ao do previsto no art. 31, § 2º, da CF/1988, o parecer prévio, emitido
erário público; apreciar, para fins de registro, a legalidade dos atos pelo tribunal de contas sobre as contas que o Prefeito deve anual-
de admissão de pessoal, a qualquer título, na administração direta mente prestar, só deixará de prevalecer por decisão de dois terços
e indireta, incluídas as fundações instituídas e mantidas pelo Poder dos membros da Câmara Municipal. Assim sendo, é por essa razão
Público, excetuadas as nomeações para cargo de provimento em que grande parte da doutrina afirma que nessa hipótese, o parecer
comissão, bem como a das concessões de aposentadorias, reformas prévio é relativamente vinculante, não sendo absolutamente vin-
e pensões, ressalvadas as melhorias posteriores que não alterem o culante pelo fato de poder ser superado, porém, como a superação
fundamento legal do ato concessório; depende de quórum qualificado, tem-se uma vinculação relativa.
C) Realizar, por iniciativa própria, da Câmara dos Deputados, do Em relação a esse assunto, o STF explicou que a expressão “só
Senado Federal, de Comissão técnica ou de inquérito, inspeções e deixará de prevalecer”, contida no mencionado § 2º, não quer di-
auditorias de natureza contábil, financeira, orçamentária, operacio- zer que o parecer conclusivo do tribunal de contas poderia produ-
nal e patrimonial, nas unidades administrativas dos Poderes Legis- zir efeitos imediatos, que se poderiam se tornar permanentes em
lativo, Executivo e caso do silêncio da casa legislativa. Para a Suprema Corte, o parecer
Judiciário, e demais entidades referidas na letra b; do Tribunal de Contas que rejeita as contas do chefe do executivo
possui natureza opinativa, só podendo produzir o efeito de inelegi-

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bilidade do prefeito (LC 64/1990, art. 1º, I, alínea “g”) após transcor- ria da culpa civil. Logo após, houve o avanço para que houvesse a
rido o julgamento das contas pela respectiva Câmara de Vereadores admissão da culpa pela ausência de serviço. Por fim, chegou-se à
(RE 729.744/MG e RE 848.826/DF). aprovação da responsabilidade objetiva do Estado.
De outro ângulo, o parecer antecedente emitido pela Corte de Nos tempos imperiais, a Constituição de 1824 vigente à épo-
Contas é indispensável ao julgamento das contas anuais dos Prefei- ca, previa somente a responsabilidade pessoal do agente público,
tos. Foi justamente por esse motivo que o STF julgou inconstitucio- conforme disposto no art. 179, XXIX: “Os empregados públicos são
nal dispositivo de constituição estadual que permitia às Câmaras estritamente responsáveis pelos abusos e omissões praticados no
Legislativas apreciarem as contas anuais prestadas pelos prefeitos, exercício de suas funções e por não fazerem efetivamente respon-
independentemente do parecer do Tribunal de Contas do Estado, sáveis aos seus subalternos”.
quando este não fosse oferecido no prazo de 180 dias. (ADI 3.077/ Ressalta-se, que nesse período, mesmo não existindo previsão
SE). constitucional a respeito da responsabilidade do Estado, a doutrina
Os Tribunais de Contas possuem competência distinta para jul- e a jurisprudência compreendiam que existia solidariedade do Esta-
gar as contas dos administradores e demais responsáveis por verba do em alusão aos atos de seus agentes.
pública, bens e valores públicos da administração direta e indireta, No art. 82 da Constituição Federal de 1891, no seu art. 82, car-
inclusive das fundações e sociedades instituídas e mantidas pelo regou e trouxe em seu bojo, dispositivo semelhante ao da Consti-
Poder Público, e ainda, as contas dos entes que ensejarem e de- tuição de 1824.
rem causa à perda, extravio ou outra irregularidade de que resulte Em âmbito civilista, o Código Civil de 1916, em seu art. 15, dis-
prejuízo ao erário público, nos termos do disposto no art. 71, III da pôs: “As pessoas jurídicas de Direito Público são civilmente respon-
CFB/1988. sáveis por atos de seus representantes que nessa qualidade causem
Outro ponto importante a ser destacado, é o fato de que ao danos a terceiros, procedendo de modo contrário ao direito ou fal-
julgar as contas dos gestores públicos e demais agentes que cau- tando a dever prescrito em lei, salvo o direito regressivo contra os
sarem danos ao erário, em diversos casos, os tribunais de contas causadores do dano”. Para a doutrina, o entendimento é de que o
imputam débito com o objetivo de ressarcir o dano, ou multa com referido dispositivo legal consagrava a responsabilidade subjetiva
caráter de punição. Denota-se que decisões das Cortes de Contas do Estado tanto no sentido de culpa civil, quanto por ausência de
que imputam débito ou multa terão validade de título executivo serviço.
nos termos do art. 71, § 3º da CFB/198. Ou seja, caso a pessoa a Referente à Constituição de 1934, depreende-se que esta man-
quem foi imputada a multa ou o débito não vier a adimplir a refe- teve a responsabilidade civil subjetiva do Estado, determinando no
rida importância dentro do prazo estipulado por lei, poderá sofrer art. 171, o seguinte: “Os funcionários públicos são responsáveis so-
a cobrança judicial da importância diretamente por intermédio de lidariamente com a Fazenda Nacional, Estadual ou Municipal, por
uma ação de execução, sendo desnecessário o ajuizamento de uma quaisquer prejuízos decorrentes de negligência, omissão ou abuso
ação de conhecimento para rediscutir a matéria que já foi objeto de no exercício dos seus cargos”.
decisão da corte de contas. A Carta Magna de 1937, por sua vez, reiterou no art. 158 o mes-
Pelo fato das decisões definitivas dos tribunais de contas que mo dispositivo da Constituição de 1934.
imputam débito ou aplicam multa terem, por si só, força de títu- No condizente à Constituição de 1946, aduz-se que esta repre-
lo executivo, sua execução independe da inscrição em dívida ati- sentou uma importante e grande inovação no assunto ao introduzir,
va. Entretanto, os entes federados têm o costume de inscrever to- por sua vez, a teoria da responsabilidade objetiva do Estado, con-
dos os seus créditos passíveis de execução em dívida ativa, o que forme ditado no dispositivo a seguir:
ocorre por dois motivos. Em primeiro lugar, por que a inscrição dá
possibilidade para que a execução siga o rito estabelecido na Lei Art. 194. As pessoas jurídicas de Direito Público Interno são ci-
6.830/1980, Lei das Execuções Fiscais, trazendo uma série de van- vilmente responsáveis pelos danos que os seus funcionários, nessa
tagens para o exequente. Em segundo lugar, a inscrição acaba por qualidade, causem a terceiros.
submeter o crédito a um controle mais amplo, na medida em que Parágrafo único. Caber-lhes-á ação regressiva contra os funcio-
ele fica registrado em sistemas informatizados criados para a admi- nários causadores do dano, quando tiver havido culpa destes.
nistração, controle de prazos e cobrança dos valores inscritos.
A Constituição de 1967, acoplada à Emenda 1, de 1969, foi
audaz e manteve a responsabilidade objetiva do Estado, fazendo o
RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO acréscimo referente de que a ação regressiva contra o funcionário
ocorreria também nos casos de dolo, e não somente nos casos de
culpa, como era disposto na Constituição de 1946.
Evolução histórica Em âmbito contemporâneo, a Constituição Federal de 1988, no
De início, adentraremos esse módulo respaldando sobre o con- art. 37, § 6º, determina: “As pessoas jurídicas de Direito Público e
ceito de responsabilidade civil do Estado. Consiste esse instituto as de Direito Privado prestadoras de serviços públicos responderão
na obrigação estatal de indenizar os danos patrimoniais, morais ou pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a tercei-
estéticos que os seus agentes, agindo nessa qualidade, causarem a ros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos ca-
terceiros. A responsabilidade civil do Estado pode ser dividida em sos de dolo ou culpa”.
dois grupos: a contratual, que advém da ausência de cumprimento O referido dispositivo constitucional em alusão, trouxe infor-
de cláusulas inclusas em contratos administrativos, e a extracontra- mação inovadora ao ampliar a responsabilidade civil objetiva do
tual ou aquiliana, que alcança as demais situações. Estado, que por sua vez, passou também a alcançar as pessoas jurí-
Em relação à evolução histórica, de acordo com o Professor Cel- dicas de direito privado prestadoras de serviços públicos, como por
so Antônio Bandeira de Mello, a tese da responsabilidade civil do exemplo: as fundações governamentais de direito privado, as em-
Estado sempre foi aceita em forma de princípio amplo. Isso ocorreu presas públicas, sociedades de economia mista, e, ainda qualquer
mesmo no período em que não existia dispositivo de norma espe- pessoa jurídica de direito privado, desde que estejam devidamente
cífica. Para o mencionado autor, desde os primórdios, predominou paramentadas sob delegação do Poder Público e a qualquer título
no Brasil a tese da responsabilidade do Estado com base na teo- para a prestação de serviços públicos.

133
DIREITO ADMINISTRATIVO
Esclarece-se, nesse sentido, que a regra da responsabilidade Em consonância com o estudo em questão, aduz-se que atos
civil objetiva não pode ser aplicada aos atos das empresas públicas comissivos são aqueles por meio dos quais o agente público atua de
e das sociedades de economia mista exploradoras de atividade eco- forma positiva causando danos a um terceiro. Exemplo: um condu-
nômica, tendo em vista que o art. 173, § 1º, da CF/1988, determina tor de veículo automotor e servidor do Estado, embriagado e sob o
de forma expressa que elas sejam regidas pelas mesmas normas efeito de drogas, dirigindo a serviço, atropela um pedestre.
aplicáveis às empresas privadas. Por consequência, tais entidades Cumpre ressaltar que a teoria adotada em relação à responsa-
estão sujeitas à responsabilidade subjetiva, sendo controladas pe- bilidade civil do Estado por prática de conduta omissa, não é a mes-
las normas comuns pertinentes ao Direito Civil. ma a ser aplicada à responsabilização por atos comissivos. Infere-se
Aduz-se que a aglutinação do art. 37, § 6º, com o art. 5º, X, am- que o artigo 37, § 6º da Constituição Federal de 1988 é de aplicação
bos da CF/1988, leva à conclusão de que a responsabilização estatal restrita em relação aos atos comissivos, sendo, assim, incorreta a
tem ampla abrangência tanto no condizente ao dano material como sua invocação nos casos específicos de responsabilidade por omis-
o dano moral. Entretanto, a jurisprudência achou por bem ampliar são estatal.
as espécies de danos indenizáveis, passando a determinar que o
dano estético se constituiria em uma espécie de dano autônomo Para melhor entendimento do raciocínio, o artigo 37, § 6º, da
no qual a indenização poderia ser expressamente cumulada com a Constituição Federal, em relação à responsabilidade civil do Estado,
reparação pelos danos materiais e morais. dispõe:
Ressalta-se que a responsabilidade objetiva do Estado deve se-
guir a teoria do risco administrativo, conforme previsto na CF/1988 § 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito pri-
e a teoria do risco integral jamais recebeu acolhimento como nor- vado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que
ma ou regra em nenhuma das constituições brasileiras. seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o
No entanto, no ordenamento jurídico brasileiro algumas hipó- direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.
teses em que se aplica a teoria do risco integral foram inseridas.
A título de exemplo disso, temos os casos de danos causados por O mencionado dispositivo, sob plena concordância unânime da
acidentes nucleares (CF, art. 21, XXIII, “d”, disciplinado pela Lei doutrina e jurisprudência, consagra de forma expressa a responsa-
6.453/1977), e, ainda, de danos decorrentes de atentados terroris- bilidade civil objetiva do Estado. No entendimento desse parâmetro
tas ou atos de guerra contra aeronaves de empresas aéreas brasilei- Constitucional, a vítima se encontra de forma ampla, dispensada do
ras (Leis 10.309/2001 e 10.744/2003). ônus da prova da culpa da Administração, tendo a incumbindo-lhe
Finalmente, após inúmeras delongas ao longo da história, che- somente comprovar o nexo causal entre o ato desta e o prejuízo
ga-se ao Código Civil de 2002 que, em seu art. 43, reitera a mesma sofrido.
orientação inserida na Constituição Federal de 1988, suprimindo, Contudo, ressalta-se que o dispositivo se reporta apenas aos
no entanto, a alusão à responsabilidade das pessoas jurídicas de danos causados pelos agentes das pessoas jurídicas de direito pú-
direito privado prestadoras de serviço público. Entretanto, ressal- blico ou, ainda, das pessoas jurídicas de direito privado que pres-
ta-se que a omissão, nesse caso, não impede a responsabilização tam serviço público, não tendo qualquer espécie de alcance às si-
objetiva dessas pessoas jurídicas, posto que está prevista no texto tuações nas quais o dano tenha decorrido de ato de terceiro ou de
constitucional. fatos advindos de caso fortuito ou força maior.
Ante o exposto, aduz-se que as conclusões a respeito da maté- Assim sendo, afirma-se que o artigo 37, § 6º, Constituição Fe-
ria podem ser resumidas da seguinte maneira: deral de 1988, não enseja ao alcance das hipóteses de omissão es-
• A teoria da irresponsabilidade civil do Estado nunca foi aceita tatal, posto que, nestas situações, o dano não decorre, exatamente
no direito brasileiro. da ação de um agente do Estado, mas sim da atitude de um terceiro,
• A evolução legislativa mostra que o ordenamento jurídico pá- denotando que a omissão do Estado apenas contribui para o resul-
trio previu de início a responsabilidade civil do Estado com base na tado.
culpa civil, vindo a evoluir para a responsabilidade pela ausência de Adverte-se que a conduta omissa do Estado não é o que causa
trabalho até chegar à responsabilidade objetiva. diretamente o dano, uma vez que este é proveniente de ato de ter-
• A responsabilidade objetiva do Estado foi inserida no ordena- ceiro, razão pela qual pode-se afirmar que o dano à vítima não foi
mento jurídico brasileiro a partir da Constituição Federal de 1946. consequência de forma direta da conduta omissa do agente do Es-
• A Constituição Federal de 1988, veio a ampliar a responsabi- tado, o que faz inaplicável o artigo 37, § 6º, da CFB/88 às hipóteses
lidade objetiva do Estado, vindo a responsabilizar objetivamente as de omissão do Estado, restando incabível a teoria da responsabili-
pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviço público. dade objetiva com base no risco administrativo.
• A Constituição Federal de 1988 consagrou a responsabilidade
por danos morais ou extrapatrimoniais. Responsabilidade por omissão do Estado
• A responsabilidade objetiva do Estado adotada pela Carta Atos omissivos são aqueles por meio dos quais o agente pú-
Magna de 1988, segue a teoria do risco administrativo, sendo que a blico deixa de agir e sua omissão, ainda que não venha a causar
teoria do risco integral foi acolhida apenas em situações e hipóteses diretamente o dano, possibilita sua ocorrência.
excepcionais. Quando o Estado é omisso no seu dever de agir de acordo com
• Divergindo da Constituição Federal de 1988, pelo fato de não os parâmetros legais, terá o dever de reparar o prejuízo causado.
haver feito referência à responsabilidade objetiva das pessoas jurí- No entanto, a responsabilidade será aplicada na forma subjetiva,
dicas que prestam serviços ao poder público, o Código Civil de 2002, posto que deverá ser demonstrada a culpa do Estado, ou seja, a
prevê também a responsabilidade objetiva do Estado. omissão estatal.
Prevalece entre os doutrinadores, apesar de não haver pacifi-
Responsabilidade por ato comissivo do Estado cidade doutrinária e nem tampouco nos tribunais, o entendimento
De antemão, convém respaldar que responsabilidade civil do de que a redação do art. 37, § 6º, da CFB/88, só consagra a respon-
Estado é passível de advir de atos comissivos ou omissivos pratica- sabilidade objetiva nos atos comissivos.
dos por seus agentes.

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DIREITO ADMINISTRATIVO
Destaque-se que não é qualquer ato omissivo praticado por Requisitos para a demonstração da responsabilidade do es-
agente público que intitula a responsabilidade civil do Estado. A tado
responsabilização estatal em função de omissivos, ocorre somente Os requisitos que compõem a estrutura e demarcam o perfil da
quando o agente público omisso possui o dever legal de praticar um responsabilidade civil objetiva do Poder Público, são: a alteridade
determinado ato, e deixa de fazê-lo. Exemplo: em situação hipoté- do dano; a causalidade material entre o eventus damni e o com-
tica, um agente salva-vidas que ao se deparar diante de situação na portamento positivo por ação, ou negativo por omissão do agen-
qual um banhista está se afogando, permanece inerte, permitindo te público; a oficialidade da atividade causal e lesiva, imputável a
que o banhista venha a falecer sem ser socorrido. Nesta situação, agente público que tenha, nessa condição de servidor, incidido em
o Estado explicitamente será responsabilizado pelo ato de omis- conduta comissiva ou omissiva, isso, independentemente da licitu-
são do agente público, tendo em vista que este tinha o dever legal de, ou não, do comportamento funcional e a inexistência de causa
de agir, ao menos tentando salvar a vida do banhista e não o fez. excludente da responsabilidade do Estado.
Em outro ângulo, aproveitando o mesmo exemplo, se, ao invés do Em suma, os requisitos para a demonstração da responsabi-
guarda salva-vidas, a mencionada omissão fosse praticada por um lidade do Estado são necessariamente a conduta a ser praticada
Analista Judiciário do Tribunal de Justiça de algum Estado da Fede- pelo agente que poderá ser lícita ou ilícita. Veja-se por exemplo,
ração, o Estado não poderia ser responsabilizado, tendo em vista no caso de odontologista que realiza cirurgia pertinente à sua área
que ao Analista, não era incumbido o dever legal de tentar salvar de atuação em hospital público e venha a cometer algum erro, ca-
o banhista. racterizado como ato ilícito, ou em campanha de aplicação de flúor
Não obstante, afirma-se que é inaplicável o uso do artigo 37, contra cáries, quando a substância vem a causar situação adversa
§ 6º da Constituição Federal de 1988, bem como da teoria do ris- irreversível caracterizada como ato lícito, são atos que acabam por
co administrativo às lides de responsabilidade civil por omissão do gerar danos passíveis de reparação, na forma objetiva.
Estado. Para que a responsabilidade objetiva estatal seja configurada,
Registre-se ainda, que a responsabilidade civil por omissão deve haver um dano, tendo em vista que indenizar é “suprimir o
estatal é subjetiva. Isso ocorre, também, devido à inaplicabilidade dano” por meio do adimplemento de uma contraprestação de na-
do artigo 37, § 6º da Constituição Federal, que é a instituidora da tureza pecuniária. Isso pode ser tanto dano de efeito moral como a
responsabilidade objetiva aos casos de omissão estatal, o que ense- violação à dignidade e à honra, por exemplo, quanto dano material
ja ao entendimento de que a responsabilização do mesmo apenas que cause prejuízo financeiro a outrem.
poderá ser invocada se sua ausência de ação houver sido culposa. Assegura-se ainda, que quando houver mera possibilidade de
Em outras palavras, aduz-se que a responsabilidade civil do dano, esta não será passível de indenização. Exemplo: a constru-
estatal por conduta omissa é subjetiva. Ressalte-se que tal posicio- ção de um presídio perto de pré-escola. Isso é fato que pode vir a
namento já foi referendado por muitos de nossos mais renomados causar danos irreparáveis tanto aos alunos, como às suas famílias.
e importantes administrativistas. Ótimos exemplos disso, são Hely Pondera-se também que deve haver o nexo causal, que se trata da
Lopes Meirelles e Celso Antônio Bandeira de Mello, sendo desse úl- necessária e importante relação de causa e efeito entre a conduta
timo, o esclarecedor ensinamento de que a partir do momento em praticada pelo agente e o dano causado. Não existindo o nexo cau-
que o dano foi constatado em decorrência de uma omissão do Esta- sal, ou for disseminado por algum fator, estará afastada a responsa-
do, sendo pelo serviço que não funcionou, ou, funcionou de forma bilidade do Estado.
ineficientemente ou tardia, aduz-se que caberá a aplicabilidade da No contexto acima, compreende-se que é insuficiente a de-
teoria da responsabilidade subjetiva. Entretanto, se o Estado não monstração somente do dano e da conduta do Estado. É necessário
agiu, não será, por conseguinte, ser ele o autor do dano. E, não sen- e devido também que se prove o nexo causal.
do ele o autor, só será responsabilizado se caso estivesse obrigado
a impedir o dano. Observação importante: O STF tem entendido que, havendo
Em alusão ao retro ensinamento, afirma-se que a teoria apli- fuga de preso na qual o detento se encontre há muito tempo fo-
cada não poderia ser a objetiva, isso porque tal teoria admite a co- ragido e venha a cometer algum crime, com a geração de dano a
brança de responsabilização até mesmo quando o dano é advindo particular, não existe a responsabilidade do Estado, pelo fato de não
de atuação lícita do Estado. haver mais nexo causal, interrompido pelo prolongado período de
Nos casos relacionados à omissão estatal, o Estado não é o ver- fuga. Entende o STF que o longo período do tempo entre a fuga e
dadeiro autor do dano, uma vez este o advém de atividade de ter- o crime faz com que o nexo causal deixe de existir, não sendo mais
ceiro. Assim sendo, sua responsabilidade somente poderá ser invo- possível imputar ao Estado o dano causado. O tempo que o STF en-
cada caso esteja obrigado a agir com o fulcro de impedir que o dano tende como longo, pondera-se que não existe uma tabela de prazos
ocorra, isso, em havendo ilegalidade na sua omissão. Resta registrar que regule tal entendimento. O que a Suprema Corte faz é a análise
também, inclusive, que a responsabilidade estatal não poderá ser de casos concretos e específicos.
invocada quando existir a impossibilidade real de impedimento do
dano mediante atuação aplicadora do Estado. Causas Excludentes e Atenuantes da Responsabilidade do Es-
Por fim, devido ao fato de a responsabilização estatal ocorrer tado
apenas quando sua omissão for caracterizada por uma atitude ilíci- Dentro do instituto da responsabilidade civil do Estado existem
ta, a Administração não será responsabilizada se houver utilizado e algumas causas que excluem ou atenuam a sua obrigação de acatar
esgotado suas possibilidades e formas de amparo no limite máximo ou não com tais prerrogativas. Pondera-se que a única circunstân-
e, mesmo desta forma, não tiver conseguido impedir o dano, posto cia que explicitamente atenua ou diminui a responsabilidade civil
que a Administração Pública somente poderá ser responsabilizada estatal é a existência de culpa concorrente da vítima, comprovan-
por danos que estava obrigada a impedir. do assim a inexistência de culpa exclusiva do Estado. Desta forma,
na situação hipotética de colisão entre veículo que pertence a ente
público e a um particular, na qual tenha ocorrido imprudência de
ambos os condutores, o Estado não responde pela integralidade do
dano, o que faz por força de lei, com que os prejuízos deverão ser
rateados na proporção da culpa de cada responsável pelo ato.

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DIREITO ADMINISTRATIVO
Em relação às circunstâncias excludentes da responsabilidade Esquematizando, temos:
do Estado, a doutrina e a jurisprudência consideram as seguintes:
culpa ou dolo exclusivo da vítima ou de terceiros, caso fortuito e CULPA OU DOLO
força maior. CASO FORTUITO
EXCLUSIVO DA VÍTIMA
E FORÇA MAIOR
OU DE TERCEIROS
Vejamos:
O STF e o STJ tem atribuído
Culpa ou dolo exclusivo da vítima ou de terceiros aos eventos extraordinários,
É excludente da responsabilidade do Estado, uma vez que afas- imprevisíveis e de força irresistí-
ta o nexo causal entre a conduta do agente público e o dano exis- É excludente da res- vel, ocorridos de forma externa à
tente. A esse respeito, é de suma importância ressaltarmos que não ponsabilidade do Estado, administração pública com causí-
é cabível a invocação de culpa ou de dolo exclusiva da vítima na uma vez que afastam o nexo dico de danos aos administrados,
hipótese de suicídio de detento. Isso ocorre pelo fato do preso se causal entre a conduta do a especificidade de excludentes
encontrar sob a custódia do Estado que tem o dever de manter-lhe agente público e o dano do nexo causal ocorridas entre a
a integridade física e moral, buscando sua total proteção, inclusive existente atuação administrativa e o evento
do suicídio. Nesse sentido, o STF entende que o suicídio de detento danoso, de modo a impedir a
é motivo de omissão ilegítima, que por sua vez, gera responsabili- responsabilização estatal pelos
dade civil objetiva do Estado, que passará a ter o dever de indenizar prejuízos causados.
por meio de danos morais os familiares do falecido.
Em algumas situações ocorrem no mundo dos fatos eventos Infere-se que o Código Civil brasileiro, no parágrafo único do
imprevisíveis, extraordinários e de força irresistível, externos à ad- art. 393, determina que “O caso fortuito ou de força maior verifica-
ministração pública e que causam danos aos administrados. Tendo -se no fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impe-
em vista a inexistência de qualquer nexo de causalidade entre a atu- dir.” Percebe-se que, à semelhança das decisões do STF e do STJ, a
ação administrativa e o prejuízo sofrido pelo terceiro, ter-se-á por referência é a “caso fortuito ou de força maior”, com as expressões
excluída a responsabilidade civil do Estado, não lhe sendo imputado objeto de tanta discussão acadêmica citadas em conjunto, separa-
qualquer dever de indenizar. das apenas pela partícula “ou”, como que querendo demonstrar
que, se as consequências são semelhantes, estando regidas pelo
Caso fortuito e força maior mesmo regime jurídico, não há relevância na tentativa de diferen-
Boa parte dos doutrinadores denominam consideram esta ex- ciação.
cludente como sendo os eventos naturais, a exemplo das tempes-
tades, dos furacões, dos raios, dentre outros, vindo a reservar a ex- Reparação do dano
pressão “caso fortuito” para os acontecimentos humanos, como os Em sentido geral, a reparação do dano pode ser viabilizada na
arrastões, as guerras, as greves, etc., ao passo que outros possuem esfera administrativa por meio de acordo administrativo, ou na via
conceitos opostos, designando a “força maior” para os eventos que judicial.
podem ser imputados aos homens e o “caso fortuito” para os even- O agente estatal, na qualidade de agente público, em se tra-
tos naturais. tando de caso de dolo ou culpa, pode causar danos ao Estado ou
Pondera-se que o Supremo Tribunal Federal e o Superior Tri- a terceiros.
bunal de Justiça tem atribuído aos eventos extraordinários, im- Na primeira situação, a responsabilidade deverá ser apurada
previsíveis e de força irresistível, ocorridos de forma externa à por intermédio de processo administrativo, garantidos a ampla de-
administração pública com causídico de danos aos administrados, fesa e o contraditório. Comprovada a responsabilidade subjetiva do
a especificidade de excludentes do nexo causal ocorridas entre a agente, o adimplemento poderá ser feito de forma espontânea ou,
atuação administrativa e o evento danoso, de modo a impedir a caso contrário, por medida judicial.
responsabilização estatal pelos prejuízos causados. No entanto, ressalte-se, que é ilegal usar com imposição o des-
Desta maneira, nos julgados de ambos os Tribunais, não exis- conto em folha de pagamento dos agentes públicos de valores re-
te a preocupação em diferenciar caso fortuito de força maior, mas ferentes ao ressarcimento ao erário, exceto se houver autorização
somente a tentativa de averiguar a presença deles em cada caso prévia do agente ou procedimento administrativo com a aplicação
específico do objeto de exame. da ampla defesa e do contraditório.
Nesse entendimento, o STJ já validou que “somente se afas- Na segunda situação, o terceiro, como vítima do dano, pode-
ta a responsabilidade se o evento danoso resultar de caso fortui- rá ajuizar ação em face do Estado, aplicando a responsabilidade
to ou força maior, ou decorrer de culpa da vítima” (REsp 721.439/ objetiva, ou do próprio agente público, se valendo nesse caso da
RJ), enquanto o STF asseverou que “o princípio da responsabilidade responsabilidade subjetiva, exceto nos casos em que houver a ado-
objetiva não se reveste de caráter absoluto, eis que admite o abran- ção da teoria da dupla garantia, por meio da qual, a única medida
damento e, até mesmo, a exclusão da própria responsabilidade civil cabível seria o direcionamento da pugnação de reparação em face
do Estado, nas hipóteses excepcionais configuradoras de situações li- do Estado.
beratórias – como o caso fortuito e a força maior – ou evidenciadoras De qualquer maneira, o Estado, ao indenizar a vítima, deterá o
de ocorrência de culpa atribuível à própria vítima” (RE109.615/RJ). dever de cobrar, de forma regressiva, o valor desembolsado perante
o agente público que causou o dano efetivo e que agiu com dolo ou
culpa.
Entende-se que o direito de regresso do Estado em face do
agente público nasce com o pagamento da indenização à vítima.
Assim sendo, não basta o que ocorra o trânsito em julgado da sen-
tença que condena o Estado na ação indenizatória, posto que o in-
teresse jurídico para propor a ação regressiva depende em grande

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parte do efetivo desfalque nos cofres públicos. Denota-se que caso E) O servidor responde pelos seus atos, inclusive após a extin-
ocorra a propositura da ação regressiva antes do pagamento, pode- ção de seu vínculo com a Administração Pública, desde a ação re-
ria denotar e ensejar o enriquecimento sem causa do Estado. gressiva não esteja prescrita. Desta forma, o agente que foi exone-
Pondera-se que em fase inicial, a cobrança regressiva em face rado ou demitido, pode, nos trâmites legais, ser obrigado a ressarcir
do agente público deve ocorrer na esfera administrativa. Em se os prejuízos causados ao ente público.
tratando de caso de acordo administrativo, o agente deverá, nos
trâmites legais, providenciar o ressarcimento aos cofres públicos. Nota – Sobre Súmulas Vinculantes
Restando ausente o acordo, o Poder Público terá o dever de propor Súmula 187, STF: A responsabilidade contratual do transpor-
a ação regressiva contra o agente público culpado. tador, pelo acidente com o passageiro, não é elidida por culpa de
Apesar de grande parte da doutrina e jurisprudência compre- terceiro, contra o qual tem ação regressiva.
ender que a ação de ressarcimento proposta pelo Poder Público Súmula 188, STF: O segurador tem ação regressiva contra o
em face de seus agentes é definitivamente imprescritível, à vista do causador do dano, pelo que efetivamente pagou, até ao limite pre-
disposto na parte final do § 5.° do art. 37 da Constituição Federal, visto no contrato de seguro.
o Supremo Tribunal Federal, em sede de repercussão geral, acabou
por decidir que é prescritível nos trâmites do art. 206, § 3.°, V, do
Código Civil, no prazo de três anos, a ação de reparação de danos à LEI N° 8.429/1992 (IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA)
Fazenda Pública advinda de ilícito civil e de origem de acidente de
trânsito, o que não alcança à primeira vista, os ilícitos relacionados
às infrações ao direito público, como por exemplo, os de natureza LEI Nº 8.429, DE 2 DE JUNHO DE 1992
penal e os atos de improbidade.
Dispõe sobre as sanções aplicáveis em virtude da prática de
Direito de regresso atos de improbidade administrativa, de que trata o § 4º do art. 37
O parágrafo 6º do art. 37 da Constituição Federal Brasileira pre- da Constituição Federal; e dá outras providências. (Redação dada
nuncia a responsabilidade civil objetiva das pessoas jurídicas de di- pela Lei nº 14.230, de 2021)
reito público e das pessoas jurídicas de direito privado prestadoras
de serviços públicos pelos danos que seus agentes, nessa qualida-
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, Faço saber que o Congresso
de, causarem a terceiros. Assegura ainda ao Estado ou a seus pres-
Nacional decreta e eu sanciono a seguinte lei:
tadores de serviços públicos, o direito de regresso contra o agente
responsável, nos casos em que este aja com dolo ou culpa.
CAPÍTULO I
Levando em conta os princípios constitucionais da ampla defe-
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
sa e do contraditório, o direito de regresso deve ser desempenhado
e exercido sob o manuseio de ação própria e regressiva, não admi-
tindo ao Estado efetuar de forma direta o desconto nos subsídios do Art. 1º O sistema de responsabilização por atos de improbidade
servidor, sem o consentimento deste. administrativa tutelará a probidade na organização do Estado e no
Existe ainda, a possível hipótese de o servidor reconhecer a exercício de suas funções, como forma de assegurar a integridade
sua responsabilidade vindo a optar por recolher espontaneamente do patrimônio público e social, nos termos desta Lei. (Redação dada
a quantia devida aos cofres públicos e até mesmo autorizar que o pela Lei nº 14.230, de 2021)
valor venha a ser descontado de seus vencimentos, desde que res- Parágrafo único. (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230,
peitados os percentuais máximos previstos em lei para essa espécie de 2021)
de desconto. § 1º Consideram-se atos de improbidade administrativa
Sobre o assunto, é importante destacar alguns pontos: as condutas dolosas tipificadas nos arts. 9º, 10 e 11 desta Lei,
A) A ação de responsabilização do agente público deduz que o ressalvados tipos previstos em leis especiais. (Incluído pela Lei nº
Poder Público tenha indenizado o particular, tanto em virtude de 14.230, de 2021)
acordo com o reconhecimento da responsabilidade civil estatal, § 2º Considera-se dolo a vontade livre e consciente de alcançar
como em decorrência de condenação em ação ajuizada pelo lesado. o resultado ilícito tipificado nos arts. 9º, 10 e 11 desta Lei, não
B) Em ação regressiva, a responsabilidade do agente público é bastando a voluntariedade do agente. (Incluído pela Lei nº 14.230,
de natureza subjetiva, às expensas da comprovação de que ele agiu de 2021)
com culpa ou dolo. Desta forma, é possível que o Estado venha a § 3º O mero exercício da função ou desempenho de
indenizar o particular e não reconheça o direito de ser ressarcido competências públicas, sem comprovação de ato doloso com
pelo servidor responsável. Para isso, basta que não seja comprova- fim ilícito, afasta a responsabilidade por ato de improbidade
do dolo ou culpa advinda desse agente público. administrativa. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
C) A parte final do § 5º do art. 37 da CFB/88, pode levar ao § 4º Aplicam-se ao sistema da improbidade disciplinado
entendimento precípuo de que quaisquer e todos as espécies de nesta Lei os princípios constitucionais do direito administrativo
ações de ressarcimento movidas pelo Poder Público são imprescri- sancionador. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
tíveis. Entretanto, o STF, no julgamento do RE 669.069/MG, decidiu, § 5º Os atos de improbidade violam a probidade na organização
com repercussão geral, que “é prescritível a ação de reparação de do Estado e no exercício de suas funções e a integridade do
danos à fazenda pública decorrentes de ilícito civil. patrimônio público e social dos Poderes Executivo, Legislativo
D)É transmitida aos herdeiros a qualquer tempo, a obrigação e Judiciário, bem como da administração direta e indireta, no
de ressarcir o Estado, respeitada, sem dúvidas, a possibilidade de âmbito da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal.
prescrição na hipótese de danos decorrentes de ilícito civil, ten- (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
do como limite o valor do patrimônio transferido (art. 5º, XLV, da § 6º Estão sujeitos às sanções desta Lei os atos de improbidade
CF/1988). Entretanto, ocorrendo a prescrição da ação regressiva, praticados contra o patrimônio de entidade privada que receba
beneficiará também aos herdeiros, que não poderão mais ser de- subvenção, benefício ou incentivo, fiscal ou creditício, de entes
mandados pelos danos advindos pelo falecido. públicos ou governamentais, previstos no § 5º deste artigo. (Incluído
pela Lei nº 14.230, de 2021)

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DIREITO ADMINISTRATIVO
§ 7º Independentemente de integrar a administração indireta, CAPÍTULO II
estão sujeitos às sanções desta Lei os atos de improbidade DOS ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
praticados contra o patrimônio de entidade privada para cuja SEÇÃO I
criação ou custeio o erário haja concorrido ou concorra no seu DOS ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA QUE IM-
patrimônio ou receita atual, limitado o ressarcimento de prejuízos, PORTAM ENRIQUECIMENTO ILÍCITO
nesse caso, à repercussão do ilícito sobre a contribuição dos cofres
públicos. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) Art. 9º Constitui ato de improbidade administrativa
§ 8º Não configura improbidade a ação ou omissão decorrente de importando em enriquecimento ilícito auferir, mediante a prática
divergência interpretativa da lei, baseada em jurisprudência, ainda de ato doloso, qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida em
que não pacificada, mesmo que não venha a ser posteriormente razão do exercício de cargo, de mandato, de função, de emprego
prevalecente nas decisões dos órgãos de controle ou dos tribunais ou de atividade nas entidades referidas no art. 1º desta Lei, e
do Poder Judiciário. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) notadamente: (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
Art. 2º Para os efeitos desta Lei, consideram-se agente público I - receber, para si ou para outrem, dinheiro, bem móvel ou
o agente político, o servidor público e todo aquele que exerce, imóvel, ou qualquer outra vantagem econômica, direta ou indireta,
ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, a título de comissão, percentagem, gratificação ou presente de
nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de quem tenha interesse, direto ou indireto, que possa ser atingido
investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas ou amparado por ação ou omissão decorrente das atribuições do
entidades referidas no art. 1º desta Lei. (Redação dada pela Lei nº agente público;
14.230, de 2021) II - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para
Parágrafo único. No que se refere a recursos de origem pública, facilitar a aquisição, permuta ou locação de bem móvel ou imóvel,
sujeita-se às sanções previstas nesta Lei o particular, pessoa física ou a contratação de serviços pelas entidades referidas no art. 1° por
ou jurídica, que celebra com a administração pública convênio, preço superior ao valor de mercado;
contrato de repasse, contrato de gestão, termo de parceria, termo III - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para
de cooperação ou ajuste administrativo equivalente. (Incluído pela facilitar a alienação, permuta ou locação de bem público ou o
Lei nº 14.230, de 2021) fornecimento de serviço por ente estatal por preço inferior ao valor
Art. 3º As disposições desta Lei são aplicáveis, no que couber, de mercado;
àquele que, mesmo não sendo agente público, induza ou concorra IV - utilizar, em obra ou serviço particular, qualquer bem
dolosamente para a prática do ato de improbidade. (Redação dada móvel, de propriedade ou à disposição de qualquer das entidades
pela Lei nº 14.230, de 2021) referidas no art. 1º desta Lei, bem como o trabalho de servidores,
§ 1º Os sócios, os cotistas, os diretores e os colaboradores de empregados ou de terceiros contratados por essas entidades;
de pessoa jurídica de direito privado não respondem pelo ato de (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
improbidade que venha a ser imputado à pessoa jurídica, salvo se, V - receber vantagem econômica de qualquer natureza,
comprovadamente, houver participação e benefícios diretos, caso direta ou indireta, para tolerar a exploração ou a prática de jogos
em que responderão nos limites da sua participação. (Incluído pela de azar, de lenocínio, de narcotráfico, de contrabando, de usura
Lei nº 14.230, de 2021) ou de qualquer outra atividade ilícita, ou aceitar promessa de tal
§ 2º As sanções desta Lei não se aplicarão à pessoa jurídica, vantagem;
caso o ato de improbidade administrativa seja também sancionado VI - receber vantagem econômica de qualquer natureza,
como ato lesivo à administração pública de que trata a Lei nº 12.846, direta ou indireta, para fazer declaração falsa sobre qualquer dado
de 1º de agosto de 2013. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) técnico que envolva obras públicas ou qualquer outro serviço ou
Art. 4° (Revogado pela Lei nº 14.230, de 2021) sobre quantidade, peso, medida, qualidade ou característica de
Art. 5° (Revogado pela Lei nº 14.230, de 2021) mercadorias ou bens fornecidos a qualquer das entidades referidas
Art. 6° (Revogado pela Lei nº 14.230, de 2021) no art. 1º desta Lei; (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
Art. 7º Se houver indícios de ato de improbidade, a autoridade VII - adquirir, para si ou para outrem, no exercício de mandato,
que conhecer dos fatos representará ao Ministério Público de cargo, de emprego ou de função pública, e em razão deles, bens
competente, para as providências necessárias. (Redação dada pela de qualquer natureza, decorrentes dos atos descritos no caput deste
Lei nº 14.230, de 2021) artigo, cujo valor seja desproporcional à evolução do patrimônio ou
Parágrafo único. (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, à renda do agente público, assegurada a demonstração pelo agente
de 2021) da licitude da origem dessa evolução; (Redação dada pela Lei nº
Art. 8º O sucessor ou o herdeiro daquele que causar dano 14.230, de 2021)
ao erário ou que se enriquecer ilicitamente estão sujeitos apenas VIII - aceitar emprego, comissão ou exercer atividade de
à obrigação de repará-lo até o limite do valor da herança ou do consultoria ou assessoramento para pessoa física ou jurídica que
patrimônio transferido. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) tenha interesse suscetível de ser atingido ou amparado por ação
Art. 8º-A A responsabilidade sucessória de que trata o art. 8º ou omissão decorrente das atribuições do agente público, durante
desta Lei aplica-se também na hipótese de alteração contratual, de a atividade;
transformação, de incorporação, de fusão ou de cisão societária. IX - perceber vantagem econômica para intermediar a liberação
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) ou aplicação de verba pública de qualquer natureza;
Parágrafo único. Nas hipóteses de fusão e de incorporação, X - receber vantagem econômica de qualquer natureza,
a responsabilidade da sucessora será restrita à obrigação de direta ou indiretamente, para omitir ato de ofício, providência ou
reparação integral do dano causado, até o limite do patrimônio declaração a que esteja obrigado;
transferido, não lhe sendo aplicáveis as demais sanções previstas XI - incorporar, por qualquer forma, ao seu patrimônio bens,
nesta Lei decorrentes de atos e de fatos ocorridos antes da data rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das
da fusão ou da incorporação, exceto no caso de simulação ou de entidades mencionadas no art. 1° desta lei;
evidente intuito de fraude, devidamente comprovados. (Incluído
pela Lei nº 14.230, de 2021)

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DIREITO ADMINISTRATIVO
XII - usar, em proveito próprio, bens, rendas, verbas ou valores XV – celebrar contrato de rateio de consórcio público sem
integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no suficiente e prévia dotação orçamentária, ou sem observar as
art. 1° desta lei. formalidades previstas na lei. (Incluído pela Lei nº 11.107, de 2005)
XVI - facilitar ou concorrer, por qualquer forma, para a
SEÇÃO II incorporação, ao patrimônio particular de pessoa física ou jurídica,
DOS ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA QUE CAU- de bens, rendas, verbas ou valores públicos transferidos pela
SAM PREJUÍZO AO ERÁRIO administração pública a entidades privadas mediante celebração
de parcerias, sem a observância das formalidades legais ou
Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa regulamentares aplicáveis à espécie; (Incluído pela Lei nº 13.019,
lesão ao erário qualquer ação ou omissão dolosa, que enseje, efetiva de 2014) (Vigência)
e comprovadamente, perda patrimonial, desvio, apropriação, XVII - permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica
malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades privada utilize bens, rendas, verbas ou valores públicos transferidos
referidas no art. 1º desta Lei, e notadamente: (Redação dada pela pela administração pública a entidade privada mediante celebração
Lei nº 14.230, de 2021) de parcerias, sem a observância das formalidades legais ou
I - facilitar ou concorrer, por qualquer forma, para a indevida regulamentares aplicáveis à espécie; (Incluído pela Lei nº 13.019,
incorporação ao patrimônio particular, de pessoa física ou jurídica, de 2014) (Vigência)
de bens, de rendas, de verbas ou de valores integrantes do acervo XVIII - celebrar parcerias da administração pública com
patrimonial das entidades referidas no art. 1º desta Lei; (Redação entidades privadas sem a observância das formalidades legais ou
dada pela Lei nº 14.230, de 2021) regulamentares aplicáveis à espécie; (Incluído pela Lei nº 13.019,
II - permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica de 2014) (Vigência)
privada utilize bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo XIX - agir para a configuração de ilícito na celebração, na
patrimonial das entidades mencionadas no art. 1º desta lei, sem a fiscalização e na análise das prestações de contas de parcerias
observância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis firmadas pela administração pública com entidades privadas;
à espécie; (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
III - doar à pessoa física ou jurídica bem como ao ente XX - liberar recursos de parcerias firmadas pela administração
despersonalizado, ainda que de fins educativos ou assistências, pública com entidades privadas sem a estrita observância das
bens, rendas, verbas ou valores do patrimônio de qualquer das normas pertinentes ou influir de qualquer forma para a sua
entidades mencionadas no art. 1º desta lei, sem observância das aplicação irregular. (Incluído pela Lei nº 13.019, de 2014, com a
formalidades legais e regulamentares aplicáveis à espécie; redação dada pela Lei nº 13.204, de 2015)
IV - permitir ou facilitar a alienação, permuta ou locação de XXI - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
bem integrante do patrimônio de qualquer das entidades referidas XXII - conceder, aplicar ou manter benefício financeiro ou
no art. 1º desta lei, ou ainda a prestação de serviço por parte delas, tributário contrário ao que dispõem o caput e o § 1º do art. 8º-A da
por preço inferior ao de mercado; Lei Complementar nº 116, de 31 de julho de 2003. (Incluído pela Lei
V - permitir ou facilitar a aquisição, permuta ou locação de bem nº 14.230, de 2021)
ou serviço por preço superior ao de mercado; § 1º Nos casos em que a inobservância de formalidades legais
VI - realizar operação financeira sem observância das normas ou regulamentares não implicar perda patrimonial efetiva, não
legais e regulamentares ou aceitar garantia insuficiente ou inidônea; ocorrerá imposição de ressarcimento, vedado o enriquecimento
VII - conceder benefício administrativo ou fiscal sem a sem causa das entidades referidas no art. 1º desta Lei. (Incluído
observância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis pela Lei nº 14.230, de 2021)
à espécie; § 2º A mera perda patrimonial decorrente da atividade
VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou de processo econômica não acarretará improbidade administrativa, salvo se
seletivo para celebração de parcerias com entidades sem fins comprovado ato doloso praticado com essa finalidade. (Incluído
lucrativos, ou dispensá-los indevidamente, acarretando perda pela Lei nº 14.230, de 2021)
patrimonial efetiva; (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
IX - ordenar ou permitir a realização de despesas não SEÇÃO III
autorizadas em lei ou regulamento; DOS ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA QUE ATEN-
X - agir ilicitamente na arrecadação de tributo ou de renda, bem TAM CONTRA OS PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLI-
como no que diz respeito à conservação do patrimônio público; CA
(Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
XI - liberar verba pública sem a estrita observância das normas Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta
pertinentes ou influir de qualquer forma para a sua aplicação contra os princípios da administração pública a ação ou omissão
irregular; dolosa que viole os deveres de honestidade, de imparcialidade e de
XII - permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro se legalidade, caracterizada por uma das seguintes condutas: (Redação
enriqueça ilicitamente; dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
XIII - permitir que se utilize, em obra ou serviço particular, I - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
veículos, máquinas, equipamentos ou material de qualquer II - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
natureza, de propriedade ou à disposição de qualquer das entidades III - revelar fato ou circunstância de que tem ciência em razão
mencionadas no art. 1° desta lei, bem como o trabalho de servidor das atribuições e que deva permanecer em segredo, propiciando
público, empregados ou terceiros contratados por essas entidades. beneficiamento por informação privilegiada ou colocando em risco
XIV – celebrar contrato ou outro instrumento que tenha a segurança da sociedade e do Estado; (Redação dada pela Lei nº
por objeto a prestação de serviços públicos por meio da gestão 14.230, de 2021)
associada sem observar as formalidades previstas na lei; (Incluído
pela Lei nº 11.107, de 2005)

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DIREITO ADMINISTRATIVO
IV - negar publicidade aos atos oficiais, exceto em razão de sua CAPÍTULO III
imprescindibilidade para a segurança da sociedade e do Estado ou DAS PENAS
de outras hipóteses instituídas em lei; (Redação dada pela Lei nº
14.230, de 2021) Art. 12. Independentemente do ressarcimento integral do
V - frustrar, em ofensa à imparcialidade, o caráter concorrencial dano patrimonial, se efetivo, e das sanções penais comuns e de
de concurso público, de chamamento ou de procedimento licitatório, responsabilidade, civis e administrativas previstas na legislação
com vistas à obtenção de benefício próprio, direto ou indireto, ou específica, está o responsável pelo ato de improbidade sujeito
de terceiros; (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) às seguintes cominações, que podem ser aplicadas isolada ou
VI - deixar de prestar contas quando esteja obrigado a fazê-lo, cumulativamente, de acordo com a gravidade do fato: (Redação
desde que disponha das condições para isso, com vistas a ocultar dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
irregularidades; (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) I - na hipótese do art. 9º desta Lei, perda dos bens ou valores
VII - revelar ou permitir que chegue ao conhecimento de acrescidos ilicitamente ao patrimônio, perda da função pública,
terceiro, antes da respectiva divulgação oficial, teor de medida suspensão dos direitos políticos até 14 (catorze) anos, pagamento
política ou econômica capaz de afetar o preço de mercadoria, bem de multa civil equivalente ao valor do acréscimo patrimonial e
ou serviço. proibição de contratar com o poder público ou de receber benefícios
VIII - descumprir as normas relativas à celebração, fiscalização ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda
e aprovação de contas de parcerias firmadas pela administração que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário,
pública com entidades privadas. (Redação dada pela Lei nº 13.019, pelo prazo não superior a 14 (catorze) anos; (Redação dada pela Lei
de 2014) (Vigência) nº 14.230, de 2021)
IX - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) II - na hipótese do art. 10 desta Lei, perda dos bens ou
X - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se concorrer esta
XI - nomear cônjuge, companheiro ou parente em linha circunstância, perda da função pública, suspensão dos direitos
reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da políticos até 12 (doze) anos, pagamento de multa civil equivalente
autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica ao valor do dano e proibição de contratar com o poder público ou
investido em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para de receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou
o exercício de cargo em comissão ou de confiança ou, ainda, de indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual
função gratificada na administração pública direta e indireta em seja sócio majoritário, pelo prazo não superior a 12 (doze) anos;
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
e dos Municípios, compreendido o ajuste mediante designações III - na hipótese do art. 11 desta Lei, pagamento de multa civil
recíprocas; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) de até 24 (vinte e quatro) vezes o valor da remuneração percebida
XII - praticar, no âmbito da administração pública e com pelo agente e proibição de contratar com o poder público ou de
recursos do erário, ato de publicidade que contrarie o disposto receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou
no § 1º do art. 37 da Constituição Federal, de forma a promover indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual
inequívoco enaltecimento do agente público e personalização de seja sócio majoritário, pelo prazo não superior a 4 (quatro) anos;
atos, de programas, de obras, de serviços ou de campanhas dos (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
órgãos públicos. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) IV - (revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 1º Nos termos da Convenção das Nações Unidas contra a Parágrafo único. (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230,
Corrupção, promulgada pelo Decreto nº 5.687, de 31 de janeiro de de 2021)
2006, somente haverá improbidade administrativa, na aplicação § 1º A sanção de perda da função pública, nas hipóteses dos
deste artigo, quando for comprovado na conduta funcional do incisos I e II do caput deste artigo, atinge apenas o vínculo de mesma
agente público o fim de obter proveito ou benefício indevido para qualidade e natureza que o agente público ou político detinha com
si ou para outra pessoa ou entidade. (Incluído pela Lei nº 14.230, o poder público na época do cometimento da infração, podendo
de 2021) o magistrado, na hipótese do inciso I do caput deste artigo, e em
§ 2º Aplica-se o disposto no § 1º deste artigo a quaisquer atos de caráter excepcional, estendê-la aos demais vínculos, consideradas
improbidade administrativa tipificados nesta Lei e em leis especiais as circunstâncias do caso e a gravidade da infração. (Incluído pela
e a quaisquer outros tipos especiais de improbidade administrativa Lei nº 14.230, de 2021)
instituídos por lei. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) § 2º A multa pode ser aumentada até o dobro, se o juiz
§ 3º O enquadramento de conduta funcional na categoria de considerar que, em virtude da situação econômica do réu, o valor
que trata este artigo pressupõe a demonstração objetiva da prática calculado na forma dos incisos I, II e III do caput deste artigo é
de ilegalidade no exercício da função pública, com a indicação das ineficaz para reprovação e prevenção do ato de improbidade.
normas constitucionais, legais ou infralegais violadas. (Incluído pela (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
Lei nº 14.230, de 2021) § 3º Na responsabilização da pessoa jurídica, deverão ser
§ 4º Os atos de improbidade de que trata este artigo exigem considerados os efeitos econômicos e sociais das sanções, de modo
lesividade relevante ao bem jurídico tutelado para serem passíveis a viabilizar a manutenção de suas atividades. (Incluído pela Lei nº
de sancionamento e independem do reconhecimento da produção 14.230, de 2021)
de danos ao erário e de enriquecimento ilícito dos agentes públicos. § 4º Em caráter excepcional e por motivos relevantes
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) devidamente justificados, a sanção de proibição de contratação
§ 5º Não se configurará improbidade a mera nomeação ou com o poder público pode extrapolar o ente público lesado pelo ato
indicação política por parte dos detentores de mandatos eletivos, de improbidade, observados os impactos econômicos e sociais das
sendo necessária a aferição de dolo com finalidade ilícita por parte sanções, de forma a preservar a função social da pessoa jurídica,
do agente. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) conforme disposto no § 3º deste artigo. (Incluído pela Lei nº 14.230,
de 2021)

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§ 5º No caso de atos de menor ofensa aos bens jurídicos § 3º Atendidos os requisitos da representação, a autoridade
tutelados por esta Lei, a sanção limitar-se-á à aplicação de multa, determinará a imediata apuração dos fatos, observada a legislação
sem prejuízo do ressarcimento do dano e da perda dos valores que regula o processo administrativo disciplinar aplicável ao agente.
obtidos, quando for o caso, nos termos do caput deste artigo. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) Art. 15. A comissão processante dará conhecimento ao
§ 6º Se ocorrer lesão ao patrimônio público, a reparação Ministério Público e ao Tribunal ou Conselho de Contas da existência
do dano a que se refere esta Lei deverá deduzir o ressarcimento de procedimento administrativo para apurar a prática de ato de
ocorrido nas instâncias criminal, civil e administrativa que tiver por improbidade.
objeto os mesmos fatos. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) Parágrafo único. O Ministério Público ou Tribunal ou Conselho
§ 7º As sanções aplicadas a pessoas jurídicas com base nesta de Contas poderá, a requerimento, designar representante para
Lei e na Lei nº 12.846, de 1º de agosto de 2013, deverão observar acompanhar o procedimento administrativo.
o princípio constitucional do non bis in idem. (Incluído pela Lei nº Art. 16. Na ação por improbidade administrativa poderá
14.230, de 2021) ser formulado, em caráter antecedente ou incidente, pedido de
§ 8º A sanção de proibição de contratação com o poder público indisponibilidade de bens dos réus, a fim de garantir a integral
deverá constar do Cadastro Nacional de Empresas Inidôneas e recomposição do erário ou do acréscimo patrimonial resultante de
Suspensas (CEIS) de que trata a Lei nº 12.846, de 1º de agosto de enriquecimento ilícito. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
2013, observadas as limitações territoriais contidas em decisão § 1º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
judicial, conforme disposto no § 4º deste artigo. (Incluído pela Lei § 1º-A O pedido de indisponibilidade de bens a que se refere
nº 14.230, de 2021) o caput deste artigo poderá ser formulado independentemente da
§ 9º As sanções previstas neste artigo somente poderão ser representação de que trata o art. 7º desta Lei. (Incluído pela Lei nº
executadas após o trânsito em julgado da sentença condenatória. 14.230, de 2021)
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) § 2º Quando for o caso, o pedido de indisponibilidade de bens
§ 10. Para efeitos de contagem do prazo da sanção de suspensão a que se refere o caput deste artigo incluirá a investigação, o exame
dos direitos políticos, computar-se-á retroativamente o intervalo e o bloqueio de bens, contas bancárias e aplicações financeiras
de tempo entre a decisão colegiada e o trânsito em julgado da mantidas pelo indiciado no exterior, nos termos da lei e dos tratados
sentença condenatória. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) internacionais. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 3º O pedido de indisponibilidade de bens a que se refere o
CAPÍTULO IV caput deste artigo apenas será deferido mediante a demonstração
DA DECLARAÇÃO DE BENS no caso concreto de perigo de dano irreparável ou de risco ao
resultado útil do processo, desde que o juiz se convença da
Art. 13. A posse e o exercício de agente público ficam probabilidade da ocorrência dos atos descritos na petição inicial
condicionados à apresentação de declaração de imposto de renda com fundamento nos respectivos elementos de instrução, após a
e proventos de qualquer natureza, que tenha sido apresentada oitiva do réu em 5 (cinco) dias. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
à Secretaria Especial da Receita Federal do Brasil, a fim de ser § 4º A indisponibilidade de bens poderá ser decretada sem
arquivada no serviço de pessoal competente. (Redação dada pela a oitiva prévia do réu, sempre que o contraditório prévio puder
Lei nº 14.230, de 2021) comprovadamente frustrar a efetividade da medida ou houver
§ 1º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) outras circunstâncias que recomendem a proteção liminar, não
§ 2º A declaração de bens a que se refere o caput deste artigo podendo a urgência ser presumida. (Incluído pela Lei nº 14.230, de
será atualizada anualmente e na data em que o agente público 2021)
deixar o exercício do mandato, do cargo, do emprego ou da função. § 5º Se houver mais de um réu na ação, a somatória dos valores
(Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) declarados indisponíveis não poderá superar o montante indicado
§ 3º Será apenado com a pena de demissão, sem prejuízo de na petição inicial como dano ao erário ou como enriquecimento
outras sanções cabíveis, o agente público que se recusar a prestar a ilícito. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
declaração dos bens a que se refere o caput deste artigo dentro do § 6º O valor da indisponibilidade considerará a estimativa de
prazo determinado ou que prestar declaração falsa. (Redação dada dano indicada na petição inicial, permitida a sua substituição por
pela Lei nº 14.230, de 2021) caução idônea, por fiança bancária ou por seguro-garantia judicial,
§ 4º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) a requerimento do réu, bem como a sua readequação durante a
instrução do processo. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
CAPÍTULO V § 7º A indisponibilidade de bens de terceiro dependerá da
DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO E DO PROCESSO demonstração da sua efetiva concorrência para os atos ilícitos
JUDICIAL apurados ou, quando se tratar de pessoa jurídica, da instauração
de incidente de desconsideração da personalidade jurídica, a ser
Art. 14. Qualquer pessoa poderá representar à autoridade processado na forma da lei processual. (Incluído pela Lei nº 14.230,
administrativa competente para que seja instaurada investigação de 2021)
destinada a apurar a prática de ato de improbidade. § 8º Aplica-se à indisponibilidade de bens regida por esta Lei,
§ 1º A representação, que será escrita ou reduzida a termo e no que for cabível, o regime da tutela provisória de urgência da
assinada, conterá a qualificação do representante, as informações Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil).
sobre o fato e sua autoria e a indicação das provas de que tenha (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
conhecimento. § 9º Da decisão que deferir ou indeferir a medida relativa à
§ 2º A autoridade administrativa rejeitará a representação, indisponibilidade de bens caberá agravo de instrumento, nos termos
em despacho fundamentado, se esta não contiver as formalidades da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil).
estabelecidas no § 1º deste artigo. A rejeição não impede a (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
representação ao Ministério Público, nos termos do art. 22 desta
lei.

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DIREITO ADMINISTRATIVO
§ 10. A indisponibilidade recairá sobre bens que assegurem incisos I e II do § 6º deste artigo, ou ainda quando manifestamente
exclusivamente o integral ressarcimento do dano ao erário, sem inexistente o ato de improbidade imputado. (Incluído pela Lei nº
incidir sobre os valores a serem eventualmente aplicados a título de 14.230, de 2021)
multa civil ou sobre acréscimo patrimonial decorrente de atividade § 7º Se a petição inicial estiver em devida forma, o juiz mandará
lícita. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) autuá-la e ordenará a citação dos requeridos para que a contestem
§ 11. A ordem de indisponibilidade de bens deverá priorizar no prazo comum de 30 (trinta) dias, iniciado o prazo na forma do art.
veículos de via terrestre, bens imóveis, bens móveis em geral, 231 da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo
semoventes, navios e aeronaves, ações e quotas de sociedades Civil). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
simples e empresárias, pedras e metais preciosos e, apenas na § 8º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
inexistência desses, o bloqueio de contas bancárias, de forma a § 9º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
garantir a subsistência do acusado e a manutenção da atividade § 9º-A Da decisão que rejeitar questões preliminares suscitadas
empresária ao longo do processo. (Incluído pela Lei nº 14.230, de pelo réu em sua contestação caberá agravo de instrumento.
2021) (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 12. O juiz, ao apreciar o pedido de indisponibilidade de bens § 10. (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
do réu a que se refere o caput deste artigo, observará os efeitos § 10-A. Havendo a possibilidade de solução consensual,
práticos da decisão, vedada a adoção de medida capaz de acarretar poderão as partes requerer ao juiz a interrupção do prazo para a
prejuízo à prestação de serviços públicos. (Incluído pela Lei nº contestação, por prazo não superior a 90 (noventa) dias. (Incluído
14.230, de 2021) pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 13. É vedada a decretação de indisponibilidade da quantia de § 10-B. Oferecida a contestação e, se for o caso, ouvido o autor,
até 40 (quarenta) salários mínimos depositados em caderneta de o juiz: (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
poupança, em outras aplicações financeiras ou em conta-corrente. I - procederá ao julgamento conforme o estado do processo,
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) observada a eventual inexistência manifesta do ato de improbidade;
§ 14. É vedada a decretação de indisponibilidade do bem de (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
família do réu, salvo se comprovado que o imóvel seja fruto de II - poderá desmembrar o litisconsórcio, com vistas a otimizar a
vantagem patrimonial indevida, conforme descrito no art. 9º desta instrução processual. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
Lei. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) § 10-C. Após a réplica do Ministério Público, o juiz proferirá
Art. 17. A ação para a aplicação das sanções de que trata esta decisão na qual indicará com precisão a tipificação do ato de
Lei será proposta pelo Ministério Público e seguirá o procedimento improbidade administrativa imputável ao réu, sendo-lhe vedado
comum previsto na Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código modificar o fato principal e a capitulação legal apresentada pelo
de Processo Civil), salvo o disposto nesta Lei. (Redação dada pela Lei autor. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
nº 14.230, de 2021) § 10-D. Para cada ato de improbidade administrativa, deverá
§ 1º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) necessariamente ser indicado apenas um tipo dentre aqueles
§ 2º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) previstos nos arts. 9º, 10 e 11 desta Lei. (Incluído pela Lei nº 14.230,
§ 3º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) de 2021)
§ 4º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) § 10-E. Proferida a decisão referida no § 10-C deste artigo,
§ 4º-A A ação a que se refere o caput deste artigo deverá ser as partes serão intimadas a especificar as provas que pretendem
proposta perante o foro do local onde ocorrer o dano ou da pessoa produzir. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
jurídica prejudicada. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) § 10-F. Será nula a decisão de mérito total ou parcial da ação
§ 5º A propositura da ação a que se refere o caput deste de improbidade administrativa que: (Incluído pela Lei nº 14.230, de
artigo prevenirá a competência do juízo para todas as ações 2021)
posteriormente intentadas que possuam a mesma causa de pedir I - condenar o requerido por tipo diverso daquele definido na
ou o mesmo objeto. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) petição inicial; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 6º A petição inicial observará o seguinte: (Redação dada pela II - condenar o requerido sem a produção das provas por ele
Lei nº 14.230, de 2021) tempestivamente especificadas. (Incluído pela Lei nº 14.230, de
I - deverá individualizar a conduta do réu e apontar os elementos 2021)
probatórios mínimos que demonstrem a ocorrência das hipóteses § 11. Em qualquer momento do processo, verificada a
dos arts. 9º, 10 e 11 desta Lei e de sua autoria, salvo impossibilidade inexistência do ato de improbidade, o juiz julgará a demanda
devidamente fundamentada; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) improcedente. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
II - será instruída com documentos ou justificação que § 12. (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
contenham indícios suficientes da veracidade dos fatos e do dolo § 13. (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
imputado ou com razões fundamentadas da impossibilidade de § 14. Sem prejuízo da citação dos réus, a pessoa jurídica
apresentação de qualquer dessas provas, observada a legislação interessada será intimada para, caso queira, intervir no processo.
vigente, inclusive as disposições constantes dos arts. 77 e 80 da (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil). § 15. Se a imputação envolver a desconsideração de pessoa
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) jurídica, serão observadas as regras previstas nos arts. 133, 134,
§ 6º-A O Ministério Público poderá requerer as tutelas 135, 136 e 137 da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de
provisórias adequadas e necessárias, nos termos dos arts. 294 a Processo Civil). (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
310 da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo § 16. A qualquer momento, se o magistrado identificar a
Civil (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) existência de ilegalidades ou de irregularidades administrativas a
§ 6º-B A petição inicial será rejeitada nos casos do art. 330 da Lei serem sanadas sem que estejam presentes todos os requisitos para
nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil), bem a imposição das sanções aos agentes incluídos no polo passivo
como quando não preenchidos os requisitos a que se referem os da demanda, poderá, em decisão motivada, converter a ação de

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DIREITO ADMINISTRATIVO
improbidade administrativa em ação civil pública, regulada pela Lei § 2º Em qualquer caso, a celebração do acordo a que se refere
nº 7.347, de 24 de julho de 1985. (Incluído pela Lei nº 14.230, de o caput deste artigo considerará a personalidade do agente, a
2021) natureza, as circunstâncias, a gravidade e a repercussão social do
§ 17. Da decisão que converter a ação de improbidade em ação ato de improbidade, bem como as vantagens, para o interesse
civil pública caberá agravo de instrumento. (Incluído pela Lei nº público, da rápida solução do caso. (Incluído pela Lei nº 14.230, de
14.230, de 2021) 2021)
§ 18. Ao réu será assegurado o direito de ser interrogado sobre § 3º Para fins de apuração do valor do dano a ser ressarcido,
os fatos de que trata a ação, e a sua recusa ou o seu silêncio não deverá ser realizada a oitiva do Tribunal de Contas competente, que
implicarão confissão. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) se manifestará, com indicação dos parâmetros utilizados, no prazo
§ 19. Não se aplicam na ação de improbidade administrativa: de 90 (noventa) dias. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) § 4º O acordo a que se refere o caput deste artigo poderá ser
I - a presunção de veracidade dos fatos alegados pelo autor em celebrado no curso da investigação de apuração do ilícito, no curso
caso de revelia; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) da ação de improbidade ou no momento da execução da sentença
II - a imposição de ônus da prova ao réu, na forma dos §§ 1º e condenatória. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
2º do art. 373 da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de § 5º As negociações para a celebração do acordo a que se
Processo Civil); (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) refere o caput deste artigo ocorrerão entre o Ministério Público, de
III - o ajuizamento de mais de uma ação de improbidade um lado, e, de outro, o investigado ou demandado e o seu defensor.
administrativa pelo mesmo fato, competindo ao Conselho Nacional (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
do Ministério Público dirimir conflitos de atribuições entre membros § 6º O acordo a que se refere o caput deste artigo poderá
de Ministérios Públicos distintos; (Incluído pela Lei nº 14.230, de contemplar a adoção de mecanismos e procedimentos internos
2021) de integridade, de auditoria e de incentivo à denúncia de
IV - o reexame obrigatório da sentença de improcedência ou irregularidades e a aplicação efetiva de códigos de ética e de
de extinção sem resolução de mérito. (Incluído pela Lei nº 14.230, conduta no âmbito da pessoa jurídica, se for o caso, bem como de
de 2021) outras medidas em favor do interesse público e de boas práticas
§ 20. A assessoria jurídica que emitiu o parecer atestando administrativas. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
a legalidade prévia dos atos administrativos praticados pelo § 7º Em caso de descumprimento do acordo a que se refere o
administrador público ficará obrigada a defendê-lo judicialmente, caput deste artigo, o investigado ou o demandado ficará impedido
caso este venha a responder ação por improbidade administrativa, de celebrar novo acordo pelo prazo de 5 (cinco) anos, contado do
até que a decisão transite em julgado. (Incluído pela Lei nº 14.230, conhecimento pelo Ministério Público do efetivo descumprimento.
de 2021) (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 21. Das decisões interlocutórias caberá agravo de instrumento, Art. 17-C. A sentença proferida nos processos a que se refere
inclusive da decisão que rejeitar questões preliminares suscitadas esta Lei deverá, além de observar o disposto no art. 489 da Lei nº
pelo réu em sua contestação. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil): (Incluído
Art. 17-A. (VETADO): (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) pela Lei nº 14.230, de 2021)
I - (VETADO); (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) I - indicar de modo preciso os fundamentos que demonstram
II - (VETADO); (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) os elementos a que se referem os arts. 9º, 10 e 11 desta Lei, que
III - (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) não podem ser presumidos; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 1º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) II - considerar as consequências práticas da decisão, sempre
§ 2º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) que decidir com base em valores jurídicos abstratos; (Incluído pela
§ 3º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) Lei nº 14.230, de 2021)
§ 4º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) III - considerar os obstáculos e as dificuldades reais do gestor
§ 5º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) e as exigências das políticas públicas a seu cargo, sem prejuízo
Art. 17-B. O Ministério Público poderá, conforme as dos direitos dos administrados e das circunstâncias práticas que
circunstâncias do caso concreto, celebrar acordo de não persecução houverem imposto, limitado ou condicionado a ação do agente;
civil, desde que dele advenham, ao menos, os seguintes resultados: (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) IV - considerar, para a aplicação das sanções, de forma isolada
I - o integral ressarcimento do dano; (Incluído pela Lei nº ou cumulativa: (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
14.230, de 2021) a) os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade;
II - a reversão à pessoa jurídica lesada da vantagem indevida (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
obtida, ainda que oriunda de agentes privados. (Incluído pela Lei nº b) a natureza, a gravidade e o impacto da infração cometida;
14.230, de 2021) (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 1º A celebração do acordo a que se refere o caput deste c) a extensão do dano causado; (Incluído pela Lei nº 14.230,
artigo dependerá, cumulativamente: (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
de 2021) d) o proveito patrimonial obtido pelo agente; (Incluído pela Lei
I - da oitiva do ente federativo lesado, em momento anterior nº 14.230, de 2021)
ou posterior à propositura da ação; (Incluído pela Lei nº 14.230, de e) as circunstâncias agravantes ou atenuantes; (Incluído pela
2021) Lei nº 14.230, de 2021)
II - de aprovação, no prazo de até 60 (sessenta) dias, pelo órgão f) a atuação do agente em minorar os prejuízos e as
do Ministério Público competente para apreciar as promoções de consequências advindas de sua conduta omissiva ou comissiva;
arquivamento de inquéritos civis, se anterior ao ajuizamento da (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
ação; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) g) os antecedentes do agente; (Incluído pela Lei nº 14.230, de
III - de homologação judicial, independentemente de o acordo 2021)
ocorrer antes ou depois do ajuizamento da ação de improbidade
administrativa. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)

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DIREITO ADMINISTRATIVO
V - considerar na aplicação das sanções a dosimetria das Art. 18-A. A requerimento do réu, na fase de cumprimento
sanções relativas ao mesmo fato já aplicadas ao agente; (Incluído da sentença, o juiz unificará eventuais sanções aplicadas com
pela Lei nº 14.230, de 2021) outras já impostas em outros processos, tendo em vista a eventual
VI - considerar, na fixação das penas relativamente ao terceiro, continuidade de ilícito ou a prática de diversas ilicitudes, observado
quando for o caso, a sua atuação específica, não admitida a sua o seguinte: (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
responsabilização por ações ou omissões para as quais não tiver I - no caso de continuidade de ilícito, o juiz promoverá a maior
concorrido ou das quais não tiver obtido vantagens patrimoniais sanção aplicada, aumentada de 1/3 (um terço), ou a soma das
indevidas; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) penas, o que for mais benéfico ao réu; (Incluído pela Lei nº 14.230,
VII - indicar, na apuração da ofensa a princípios, critérios de 2021)
objetivos que justifiquem a imposição da sanção. (Incluído pela Lei II - no caso de prática de novos atos ilícitos pelo mesmo sujeito,
nº 14.230, de 2021) o juiz somará as sanções. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 1º A ilegalidade sem a presença de dolo que a qualifique não Parágrafo único. As sanções de suspensão de direitos políticos
configura ato de improbidade. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) e de proibição de contratar ou de receber incentivos fiscais ou
§ 2º Na hipótese de litisconsórcio passivo, a condenação creditícios do poder público observarão o limite máximo de 20
ocorrerá no limite da participação e dos benefícios diretos, vedada (vinte) anos. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
qualquer solidariedade. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 3º Não haverá remessa necessária nas sentenças de que trata CAPÍTULO VI
esta Lei. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) DAS DISPOSIÇÕES PENAIS
Art. 17-D. A ação por improbidade administrativa é repressiva,
de caráter sancionatório, destinada à aplicação de sanções de Art. 19. Constitui crime a representação por ato de improbidade
caráter pessoal previstas nesta Lei, e não constitui ação civil, vedado contra agente público ou terceiro beneficiário, quando o autor da
seu ajuizamento para o controle de legalidade de políticas públicas denúncia o sabe inocente.
e para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente Pena: detenção de seis a dez meses e multa.
e de outros interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos. Parágrafo único. Além da sanção penal, o denunciante está
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) sujeito a indenizar o denunciado pelos danos materiais, morais ou à
Parágrafo único. Ressalvado o disposto nesta Lei, o controle imagem que houver provocado.
de legalidade de políticas públicas e a responsabilidade de agentes Art. 20. A perda da função pública e a suspensão dos direitos
públicos, inclusive políticos, entes públicos e governamentais, por políticos só se efetivam com o trânsito em julgado da sentença
danos ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor condenatória.
artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico, a qualquer § 1º A autoridade judicial competente poderá determinar o
outro interesse difuso ou coletivo, à ordem econômica, à ordem afastamento do agente público do exercício do cargo, do emprego
urbanística, à honra e à dignidade de grupos raciais, étnicos ou ou da função, sem prejuízo da remuneração, quando a medida for
religiosos e ao patrimônio público e social submetem-se aos termos necessária à instrução processual ou para evitar a iminente prática
da Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985. (Incluído pela Lei nº 14.230, de novos ilícitos. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
de 2021) § 2º O afastamento previsto no § 1º deste artigo será de até
Art. 18. A sentença que julgar procedente a ação fundada nos 90 (noventa) dias, prorrogáveis uma única vez por igual prazo,
arts. 9º e 10 desta Lei condenará ao ressarcimento dos danos e à mediante decisão motivada. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
perda ou à reversão dos bens e valores ilicitamente adquiridos, Art. 21. A aplicação das sanções previstas nesta lei independe:
conforme o caso, em favor da pessoa jurídica prejudicada pelo I - da efetiva ocorrência de dano ao patrimônio público, salvo
ilícito. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) quanto à pena de ressarcimento e às condutas previstas no art. 10
§ 1º Se houver necessidade de liquidação do dano, a pessoa desta Lei; (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
jurídica prejudicada procederá a essa determinação e ao ulterior II - da aprovação ou rejeição das contas pelo órgão de controle
procedimento para cumprimento da sentença referente ao interno ou pelo Tribunal ou Conselho de Contas.
ressarcimento do patrimônio público ou à perda ou à reversão dos § 1º Os atos do órgão de controle interno ou externo serão
bens. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) considerados pelo juiz quando tiverem servido de fundamento para
§ 2º Caso a pessoa jurídica prejudicada não adote as a conduta do agente público. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
providências a que se refere o § 1º deste artigo no prazo de 6 (seis) § 2º As provas produzidas perante os órgãos de controle e as
meses, contado do trânsito em julgado da sentença de procedência correspondentes decisões deverão ser consideradas na formação
da ação, caberá ao Ministério Público proceder à respectiva da convicção do juiz, sem prejuízo da análise acerca do dolo na
liquidação do dano e ao cumprimento da sentença referente ao conduta do agente. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
ressarcimento do patrimônio público ou à perda ou à reversão dos § 3º As sentenças civis e penais produzirão efeitos em relação
bens, sem prejuízo de eventual responsabilização pela omissão à ação de improbidade quando concluírem pela inexistência da
verificada. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) conduta ou pela negativa da autoria. (Incluído pela Lei nº 14.230,
§ 3º Para fins de apuração do valor do ressarcimento, deverão de 2021)
ser descontados os serviços efetivamente prestados. (Incluído pela § 4º A absolvição criminal em ação que discuta os mesmos
Lei nº 14.230, de 2021) fatos, confirmada por decisão colegiada, impede o trâmite da
§ 4º O juiz poderá autorizar o parcelamento, em até 48 ação da qual trata esta Lei, havendo comunicação com todos os
(quarenta e oito) parcelas mensais corrigidas monetariamente, fundamentos de absolvição previstos no art. 386 do Decreto-Lei
do débito resultante de condenação pela prática de improbidade nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal).
administrativa se o réu demonstrar incapacidade financeira de (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
saldá-lo de imediato. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) § 5º Sanções eventualmente aplicadas em outras esferas
deverão ser compensadas com as sanções aplicadas nos termos
desta Lei. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)

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Art. 22. Para apurar qualquer ilícito previsto nesta Lei, o § 7º Nos atos de improbidade conexos que sejam objeto do
Ministério Público, de ofício, a requerimento de autoridade mesmo processo, a suspensão e a interrupção relativas a qualquer
administrativa ou mediante representação formulada de acordo deles estendem-se aos demais. (Incluído pela Lei nº 14.230, de
com o disposto no art. 14 desta Lei, poderá instaurar inquérito 2021)
civil ou procedimento investigativo assemelhado e requisitar a § 8º O juiz ou o tribunal, depois de ouvido o Ministério
instauração de inquérito policial. (Redação dada pela Lei nº 14.230, Público, deverá, de ofício ou a requerimento da parte interessada,
de 2021) reconhecer a prescrição intercorrente da pretensão sancionadora
Parágrafo único. Na apuração dos ilícitos previstos nesta Lei, e decretá-la de imediato, caso, entre os marcos interruptivos
será garantido ao investigado a oportunidade de manifestação por referidos no § 4º, transcorra o prazo previsto no § 5º deste artigo.
escrito e de juntada de documentos que comprovem suas alegações (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
e auxiliem na elucidação dos fatos. (Incluído pela Lei nº 14.230, de Art. 23-A. É dever do poder público oferecer contínua
2021) capacitação aos agentes públicos e políticos que atuem com
prevenção ou repressão de atos de improbidade administrativa.
CAPÍTULO VII (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
DA PRESCRIÇÃO Art. 23-B. Nas ações e nos acordos regidos por esta Lei, não
haverá adiantamento de custas, de preparo, de emolumentos, de
Art. 23. A ação para a aplicação das sanções previstas nesta honorários periciais e de quaisquer outras despesas. (Incluído pela
Lei prescreve em 8 (oito) anos, contados a partir da ocorrência do Lei nº 14.230, de 2021)
fato ou, no caso de infrações permanentes, do dia em que cessou a § 1º No caso de procedência da ação, as custas e as demais
permanência. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) despesas processuais serão pagas ao final. (Incluído pela Lei nº
I - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) 14.230, de 2021)
II - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) § 2º Haverá condenação em honorários sucumbenciais em
III - (revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) caso de improcedência da ação de improbidade se comprovada má-
§ 1º A instauração de inquérito civil ou de processo fé. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
administrativo para apuração dos ilícitos referidos nesta Lei Art. 23-C. Atos que ensejem enriquecimento ilícito, perda
suspende o curso do prazo prescricional por, no máximo, 180 (cento patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação
e oitenta) dias corridos, recomeçando a correr após a sua conclusão de recursos públicos dos partidos políticos, ou de suas fundações,
ou, caso não concluído o processo, esgotado o prazo de suspensão. serão responsabilizados nos termos da Lei nº 9.096, de 19 de
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) setembro de 1995. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 2º O inquérito civil para apuração do ato de improbidade
será concluído no prazo de 365 (trezentos e sessenta e cinco) dias CAPÍTULO VIII
corridos, prorrogável uma única vez por igual período, mediante DAS DISPOSIÇÕES FINAIS
ato fundamentado submetido à revisão da instância competente
do órgão ministerial, conforme dispuser a respectiva lei orgânica. Art. 24. Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) Art. 25. Ficam revogadas as Leis n°s 3.164, de 1° de junho de
§ 3º Encerrado o prazo previsto no § 2º deste artigo, a ação 1957, e 3.502, de 21 de dezembro de 1958 e demais disposições
deverá ser proposta no prazo de 30 (trinta) dias, se não for caso em contrário.
de arquivamento do inquérito civil. (Incluído pela Lei nº 14.230, de
2021)
§ 4º O prazo da prescrição referido no caput deste artigo QUESTÕES
interrompe-se: (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
I - pelo ajuizamento da ação de improbidade administrativa;
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) 1. No contexto histórico, o conceito de Estado veio a surgir por
II - pela publicação da sentença condenatória; (Incluído pela Lei intermédio do antigo conceito de cidade, da polis grega e da civitas
nº 14.230, de 2021) romana. Em meados do século XXI o vocábulo Estado passou a ser
III - pela publicação de decisão ou acórdão de Tribunal de Justiça utilizado com o significado moderno de força, poder e soberania.
ou Tribunal Regional Federal que confirma sentença condenatória ( ) CERTO
ou que reforma sentença de improcedência; (Incluído pela Lei nº ( ) ERRADO
14.230, de 2021)
IV - pela publicação de decisão ou acórdão do Superior Tribunal 2. O Governo pratica uma função política que implica uma ati-
de Justiça que confirma acórdão condenatório ou que reforma vidade de ordem mediata e superior com referência à direção so-
acórdão de improcedência; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) berana e limitada do Estado, com o fulcro de determinar os fins da
V - pela publicação de decisão ou acórdão do Supremo Tribunal ação do Estado, assinalando as diretrizes para as demais funções e
Federal que confirma acórdão condenatório ou que reforma buscando sempre a unidade da soberania municipal.
acórdão de improcedência. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) ( ) CERTO
§ 5º Interrompida a prescrição, o prazo recomeça a correr do ( ) ERRADO
dia da interrupção, pela metade do prazo previsto no caput deste
artigo. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) 3. A administração Pública é considerada por Di Pietro (2009, p.
§ 6º A suspensão e a interrupção da prescrição produzem 57), como “a atividade concreta e imediata que o Estado desenvol-
efeitos relativamente a todos os que concorreram para a prática do ve, sob regime jurídico total ou parcialmente público, para a conse-
ato de improbidade. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) cução dos interesses coletivos”.
( ) CERTO
( ) ERRADO

145
DIREITO ADMINISTRATIVO
4. A Administração Direta é correspondente aos órgãos que 11. Devido ao fato de se tratar de um controle de legalidade ou
compõem a estrutura das pessoas federativas que executam a ati- de legitimidade, sempre que o ato estiver eivado de algum vício, a
vidade administrativa de maneira centralizada. O vocábulo “Admi- decisão judicial será revertida no sentido de anulação do ato admi-
nistração Direta” possui sentido abrangente vindo a compreender nistrativo que se encontra viciado. Vale enfatizar que é cabível no
todos os órgãos e agentes dos entes federados, tanto os que fazem exercício da função jurisdicional a revogação do ato administrativo,
parte do Poder Executivo, do Poder Legislativo ou do Poder Judiciá- tendo em vista que esta pressupõe a análise do mérito do ato.
rio, que são os responsáveis por praticar a atividade administrativa ( ) CERTO
de maneira centralizada. ( ) ERRADO
( ) CERTO
( ) ERRADO 12. Em relação à evolução histórica, de acordo com o Professor
Celso Antônio Bandeira de Mello, a tese da responsabilidade civil do
5. Tendo o Estado a convicção de que atividades podem ser Estado sempre foi aceita em forma de princípio estrito. Isso ocorreu
exercidas de forma mais eficaz por entidade autônoma e com per- mesmo no período em que existia dispositivo de norma específica.
sonalidade jurídica própria, o Estado transfere tais atribuições a ( ) CERTO
particulares e, ainda pode criar outras pessoas jurídicas, de direito ( ) ERRADO
público ou de direito privado para esta finalidade.
( ) CERTO 13. Em âmbito tributarista, o Código Civil de 1916, em seu art.
( ) ERRADO 15, dispôs: “As pessoas jurídicas de Direito Público são civilmente
responsáveis por atos de seus representantes que nessa qualidade
6. Quando praticados de forma regular os atos de gestão, pas- causem danos a terceiros, procedendo de modo contrário ao direi-
sam a ter caráter vinculante e geram direitos subjetivos. Exem- to ou faltando a dever prescrito em lei, salvo o direito regressivo
plo: uma autarquia ao alugar um imóvel a ela pertencente, de contra os causadores do dano”.
forma vinculante entre a administração e o locatário aos ter- ( ) CERTO
mos do contrato, acaba por gerar direitos e deveres para am- ( ) ERRADO
bos.
( ) CERTO 14. A Constituição de 1967, acoplada à Emenda 1, de 1969, foi
( ) ERRADO audaz e manteve a responsabilidade objetiva do Estado, fazendo o
acréscimo referente de que a ação regressiva contra o funcionário
7. O instituto da decadência consiste na perda efetiva de um ocorreria também nos casos de dolo, e não somente nos casos de
direito inexistente, pela falta de seu exercício, no período de tempo culpa, como era disposto na Constituição de 1946.
determinado em lei e também pela vontade das próprias partes e, ( ) CERTO
ainda no fim de um direito subjetivo em face da inércia de seu ti- ( ) ERRADO
tular, que não ajuizou uma ação constitutiva no prazo estabelecido
pela lei. 15. Em âmbito contemporâneo, a Constituição Federal de 1988,
( ) CERTO no art. 37, § 6º, determina: “As pessoas jurídicas de Direito Público
( ) ERRADO e as de Direito Privado prestadoras de serviços públicos responde-
rão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a ter-
8. Trata-se o poder hierárquico, de poder conferido à autori- ceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos
dade administrativa para distribuir e dirimir funções em escala de casos de dolo ou culpa”.
seus órgãos, vindo a estabelecer uma relação de coordenação e su- ( ) CERTO
bordinação entre os servidores que estiverem sob a sua hierarquia. ( ) ERRADO
( ) CERTO
( ) ERRADO 16. A ação para a aplicação das sanções previstas na Lei de Im-
probidade Administrativa prescreve em oito anos, contados a partir
9. Ocorre o desvio de poder ou desvio de finalidade quando a da ocorrência do fato ou, no caso de infrações permanentes, do dia
autoridade vem a praticar um ato que é de sua competência, po- em que cessou a permanência.
rém, o utiliza para uma finalidade diferente da prevista ou contrária ( ) CERTO
ao interesse público como um todo. ( ) ERRADO
( ) CERTO
( ) ERRADO 17. Relativamente à Lei n.° 8.429/1992, julgue o item.
A posse e o exercício de agente público estão condicionados à
10. Pondera-se que o controle exercido pelo Poder Judiciário, apresentação de declaração de imposto de renda e proventos de
via de regra, será sempre um controle de legalidade ou legitimidade qualquer natureza, que tenha sido apresentada à Secretaria Espe-
do ato administrativo. No exercício da função jurisdicional, os Ma- cial da Receita Federal do Brasil, a fim de ser arquivada no serviço
gistrados apreciam o mérito do ato administrativo, não analisando de pessoal competente.
a conveniência e a oportunidade da prática do ato. ( ) CERTO
( ) CERTO ( ) ERRADO
( ) ERRADO
18. Relativamente à Lei n.° 8.429/1992, julgue o item.
Independentemente da situação econômica do réu, é vedado
ao juiz aumentar a pena de multa, uma vez que ela tem valor fixo e
não se vincula ao valor do acréscimo patrimonial.
( ) CERTO
( ) ERRADO

146
146
DIREITO ADMINISTRATIVO
19. Relativamente à Lei n.° 8.429/1992, julgue o item. ______________________________________________________
No caso de cometimento de ato de improbidade administrati-
va que importe em enriquecimento ilícito, o ímprobo estará sujeito ______________________________________________________
apenas à penalidade de suspensão dos direitos políticos.
( ) CERTO ______________________________________________________
( ) ERRADO
______________________________________________________
20. Relativamente à Lei n.° 8.429/1992, julgue o item. ______________________________________________________
O ressarcimento integral do dano patrimonial, em quaisquer
hipóteses, afasta a imposição das sanções penais comuns daqueles ______________________________________________________
que incorrerem em ato de improbidade administrativa.
( ) CERTO ______________________________________________________
( ) ERRADO
______________________________________________________

GABARITO ______________________________________________________

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1 ERRADO ______________________________________________________
2 ERRADO ______________________________________________________
3 CERTO
______________________________________________________
4 CERTO
______________________________________________________
5 CERTO
6 CERTO ______________________________________________________
7 CERTO ______________________________________________________
8 CERTO
______________________________________________________
9 CERTO
10 ERRADO ______________________________________________________

11 ERRADO ______________________________________________________
12 ERRADO
______________________________________________________
13 ERRADO
______________________________________________________
14 CERTO
15 CERTO ______________________________________________________
16 CERTO ______________________________________________________
17 CERTO
______________________________________________________
18 ERRADO
19 ERRADO ______________________________________________________

20 ERRADO ______________________________________________________

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ANOTAÇÕES ______________________________________________________
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DIREITO ADMINISTRATIVO
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DIREITO CONSTITUCIONAL

Quem detém a titularidade do poder político é o povo. Os go-


CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL vernantes eleitos apenas exercem o poder que lhes é atribuído pelo
DE 1988. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS povo.
Além de ser marcado pela união indissolúvel dos Estados e
Municípios e do Distrito Federal, a separação dos poderes estatais
— Princípios fundamentais – Executivo, Legislativo e Judiciário é também uma característica
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união do Estado Brasileiro. Tais poderes gozam, portanto, de autonomia e
indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, consti- independência no exercício de suas funções, para que possam atuar
tui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: em harmonia. 
I - a soberania; Fundamentos, também chamados de princípios fundamentais
II - a cidadania (art. 1º, CF), são diferentes dos objetivos fundamentais da Repú-
III - a dignidade da pessoa humana; blica Federativa do Brasil (art. 3º, CF). Assim, enquanto os funda-
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; (Vide Lei mentos ou princípios fundamentais representam a essência, cau-
nº 13.874, de 2019). sa primária do texto constitucional e a base primordial de nossa
V - o pluralismo político. República Federativa, os objetivos estão relacionados à destinação,
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por ao que se pretende, às finalidades e metas traçadas no texto cons-
meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta titucional que a República Federativa do Estado brasileiro anseia
Constituição. alcançar.
O Estado brasileiro é democrático porque é regido por normas
Os princípios fundamentais da Constituição Federal de 1988 democráticas, pela soberania da vontade popular, com eleições
estão previstos no art. 1º da Constituição e são: livres, periódicas e pelo povo, e de direito porque pauta-se pelo
A soberania, poder político supremo, independente interna- respeito das autoridades públicas aos direitos e garantias funda-
cionalmente e não limitado a nenhum outro na esfera interna. É o mentais, refletindo a afirmação dos direitos humanos. Por sua vez,
poder do país de editar e reger suas próprias normas e seu ordena- o Estado de Direito caracteriza-se pela legalidade, pelo seu sistema
mento jurídico. de normas pautado na preservação da segurança jurídica, pela se-
A cidadania é a condição da pessoa pertencente a um Estado, paração dos poderes e pelo reconhecimento e garantia dos direitos
dotada de direitos e deveres. O status de cidadão é inerente a todo fundamentais, bem como pela necessidade do Direito ser respeito-
jurisdicionado que tem direito de votar e ser votado. so com as liberdades individuais tuteladas pelo Poder Público.
A dignidade da pessoa humana é valor moral personalíssimo
inerente à própria condição humana. Fundamento consistente no
respeito pela vida e integridade do ser humano e na garantia de APLICABILIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS.
condições mínimas de existência com liberdade, autonomia e igual- NORMAS DE EFICÁCIA PLENA, CONTIDA E LIMITADA.
dade de direitos. NORMAS PROGRAMÁTICAS
Os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, pois é atra-
vés do trabalho que o homem garante sua subsistência e contribui
para com a sociedade. Por sua vez, a livre iniciativa é um princípio A criação de uma norma constitucional não lhe dá eficácia e
que defende a total liberdade para o exercício de atividades econô- aplicabilidade automática. Portanto, as normas constitucionais po-
micas, sem qualquer interferência do Estado. dem ser: de eficácia plena, de eficácia contida e de eficácia limitada.
O pluralismo político que decorre do Estado democrático de
Direito e permite a coexistência de várias ideias políticas, consubs- — Normas de eficácia plena, contida e limitada
tanciadas na existência multipartidária e não apenas dualista. O As normas constitucionais de eficácia plena e aplicabilidade
Brasil é um país de política plural, multipartidária e diversificada e direta, imediata e integral e são aquelas normas da Constituição
não apenas pautada nos ideais dualistas de esquerda e direita ou que, no momento entram em vigor, estão aptas a produzir todos os
democratas e republicanos. seus efeitos, independentemente de norma integrativa infracons-
Importante mencionar que união indissolúvel dos Estados, Mu- titucional.
nicípios e do Distrito Federal é caracterizada pela impossibilidade Já as normas constitucionais de eficácia contida ou prospecti-
de secessão, característica essencial do Federalismo, decorrente da va têm aplicabilidade direta e imediata, mas não integral. Embora
impossibilidade de separação de seus entes federativos, ou seja, o tenham força de produzir todos os seus efeitos quando da promul-
vínculo entre União, Estados, Distrito Federal e Municípios é indis- gação da nova Constituição, ou da entrada em vigor ou introdução
solúvel e nenhum deles pode abandonar o restante para se trans- de novos preceitos por emendas à Constituição, poderá haver a
formar em um novo país. redução de sua abrangência e limitação ou restrição à eficácia e à

149
DIREITO CONSTITUCIONAL
aplicabilidade que pode se dar por decretação do estado de defesa cidadãos. A vedação à tortura é uma cláusula pétrea de nossa
ou de sítio, além de outras situações, por motivo de ordem pública, Constituição e ainda crime inafiançável na legislação penal
bons costumes e paz social. brasileira.
Por sua vez, as normas constitucionais de eficácia limitada são
aquelas normas que, de imediato, não têm o poder e a força de pro- Liberdade de manifestação do pensamento e vedação do ano-
duzir todos os seus efeitos, precisando de norma regulamentadora nimato, visando coibir abusos e não responsabilização pela veicu-
infraconstitucional a ser editada pelo poder, órgão ou autoridade lação de ideias e práticas prejudiciais:
competente, ou até mesmo de integração por meio de emenda IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o ano-
constitucional. São, portanto, consideradas normas de aplicabilida- nimato;
de indireta, mediata e reduzida, ou ainda, diferida. A Constituição Federal pôs fim à censura, tornando livre a mani-
festação do pensamento. Esta liberdade, entretanto, não é absoluta
— Normas programáticas não podendo ser abusiva ou prejudicial aos direitos de outrem. Daí,
As normas programáticas são verdadeiras metas a serem atin- a vedação do anonimato, de forma a coibir práticas prejudiciais sem
gidas pelo Estado e seus programas de governo na realização de identificação de autoria, o que não impede, contudo, a apuração de
seus fins sociais, trazem princípios para serem cumpridos em longo crimes de denúncia anônima.
prazo. A Constituição de 1988 é programática, pois traça metas e
objetivos futuros. Direito de resposta e indenização:
V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo,
além da indenização por dano material, moral ou à imagem;
DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS. DIREITOS O direito de resposta é um meio de defesa assegurado à pes-
E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS, DIREITOS SO- soa física ou jurídica ofendida em sua honra, e reputação, conceito,
CIAIS, DIREITOS DE NACIONALIDADE, DIREITOS POLÍTI- nome, marca ou imagem, sem prejuízo do direito de indenização
COS, PARTIDOS POLÍTICOS por dano moral ou material.

Liberdade religiosa e de consciência:


— Gerações de Direitos Fundamentais (Teoria de Vasak): VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo
• Direitos Fundamentais de 1ª Geração: liberdade in- assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na for-
dividual – direitos civis e políticos; ma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;
• Direitos Fundamentais de 2ª Geração: igualdade – VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência
direitos sociais e econômicos; religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva;
• Direitos Fundamentais de 3ª Geração: fraternidade VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença re-
ou solidariedade – direitos transindividuais, difusos e coletivos. ligiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para
eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir
— Direitos e deveres individuais e coletivos prestação alternativa, fixada em lei;
Os direitos e deveres individuais e coletivos são todos aqueles O Brasil é um Estado laico, que não possui uma religião oficial,
previstos nos incisos do art. 5º da Constituição Federal, que trazem mas que adota a liberdade de crença e de pensamento, assegurada
alguns dos direitos e garantias fundamentais. a variedade de cultos, a proteção dos locais religiosos e a não priva-
ção de direitos em razão da crença pessoal.
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qual- A escusa de consciência é o direito que toda pessoa possui de
quer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros re- se recusar a cumprir determinada obrigação ou a praticar determi-
sidentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à nado ato comum, por ser ele contrário às suas crenças religiosas ou
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: à sua convicção filosófica ou política, devendo então cumprir uma
prestação alternativa, fixada em lei.
Princípio da igualdade entre homens e mulheres:
I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos Liberdade de expressão e proibição de censura:
termos desta Constituição; IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, cientí-
Como o próprio nome diz, o princípio prega a igualdade de di- fica e de comunicação, independentemente de censura ou licença;
reitos e deveres entre homens e mulheres. Aqui, temos uma vez mais consubstanciada a liberdade de ex-
pressão e a vedação da censura.
Princípio da legalidade e liberdade de ação:
II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma Proteção à imagem, honra e intimidade da pessoa humana:
coisa senão em virtude de lei; X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a
Como ser livre, todo ser humano só está obrigado a fazer ou imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano
não fazer algo que esteja previsto em lei. material ou moral decorrente de sua violação;
Com intuito da proteção, a Constituição Federal tornou inviolá-
Vedação de práticas de tortura física e moral, tratamento de- vel a imagem, a honra e a intimidade pessoa humana, assegurando
sumano e degradante: o direito à reparação material ou moral em caso de violação.
III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desu-
mano ou degradante; Proteção do domicílio do indivíduo:
É vedada a prática de tortura física e moral, e qualquer tipo XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo
de tratamento desumano, degradante ou contrário à dignidade penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagran-
humana, por qualquer autoridade e também entre os próprios te delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia,
por determinação judicial; (Vide Lei nº 13.105, de 2015) (Vigência).

150
150
DIREITO CONSTITUCIONAL
Proteção do sigilo das comunicações: Além da ideia de pertencimento, toda propriedade ainda que
XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações privada deve atender a interesses coletivos, não sendo nociva ou
telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no úl- causando prejuízo aos demais.
timo caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei es-
tabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual Intervenção do Estado na propriedade:
penal; (Vide Lei nº 9.296, de 1996). XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação
A Constituição Federal protege o domicílio e o sigilo das co- por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, me-
municações, por isso, a invasão de domicílio e a quebra de sigilo diante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos
telefônico só pode se dar por ordem judicial. previstos nesta Constituição;
XXV - no caso de iminente perigo público, a autoridade com-
Liberdade de profissão: petente poderá usar de propriedade particular, assegurada ao pro-
XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profis- prietário indenização ulterior, se houver dano;
são, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer;
É livre o exercício de qualquer trabalho ou profissão. O direito de propriedade não é absoluto. Dada a supremacia do
Essa liberdade, entretanto, não é absoluta, pois se limita às interesse público sobre o particular, nas hipóteses legais é permiti-
qualificações profissionais que a lei estabelece. da a intervenção do Estado na propriedade.

Acesso à informação: Pequena propriedade rural:


XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguar- XXVI - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, des-
dado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional; de que trabalhada pela família, não será objeto de penhora para
O direito à informação é assegurado constitucionalmente, ga- pagamento de débitos decorrentes de sua atividade produtiva, dis-
rantido o sigilo da fonte. pondo a lei sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento;
A pequena propriedade rural é impenhorável e não responde
por dívidas decorrentes de sua atividade produtiva.
Direitos autorais:
Liberdade de locomoção, direito de ir e vir:
XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilização,
XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz,
publicação ou reprodução de suas obras, transmissível aos herdei-
podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permane-
cer ou dele sair com seus bens; ros pelo tempo que a lei fixar;
Todos são livres para entrar, circular, permanecer ou sair do ter- XXVIII - são assegurados, nos termos da lei:
ritório nacional em tempos de paz. a) a proteção às participações individuais em obras coletivas e
à reprodução da imagem e voz humanas, inclusive nas atividades
Direito de reunião: desportivas;
XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em lo- b) o direito de fiscalização do aproveitamento econômico das
cais abertos ao público, independentemente de autorização, desde obras que criarem ou de que participarem aos criadores, aos intér-
que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o pretes e às respectivas representações sindicais e associativas;
mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade com- XXIX - a lei assegurará aos autores de inventos industriais pri-
petente; vilégio temporário para sua utilização, bem como proteção às cria-
Os cidadãos podem se reunir livremente em praças e locais de ções industriais, à propriedade das marcas, aos nomes de empresas
uso comum do povo, desde que não venham a interferir ou atrapa- e a outros signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o
lhar outra reunião designada anteriormente para o mesmo local. desenvolvimento tecnológico e econômico do País;
Além da Lei de Direitos Autorais, a Constituição prevê uma
Liberdade de associação: ampla proteção às obras intelectuais: criação artística, científica,
XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada musical, literária etc. O Direito Autoral protege obras literárias (es-
a de caráter paramilitar; critas ou orais), musicais, artísticas, científicas, obras de escultura,
XVIII - a criação de associações e, na forma da lei, a de coope- pintura e fotografia, bem como o direito das empresas de rádio
rativas independem de autorização, sendo vedada a interferência fusão e cinematográficas. A Constituição Federal protege ainda a
estatal em seu funcionamento; propriedade industrial, esta difere da propriedade intelectual e não
XIX - as associações só poderão ser compulsoriamente dissolvi- é objeto de proteção da Lei de Direitos Autorais, mas sim da Lei
das ou ter suas atividades suspensas por decisão judicial, exigindo- da Propriedade Industrial. Enquanto a proteção ao direito autoral
-se, no primeiro caso, o trânsito em julgado; busca reprimir o plágio, a proteção à propriedade industrial busca
XX - ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a perma- conter a concorrência desleal.
necer associado;
XXI - as entidades associativas, quando expressamente auto- Direito de herança:
rizadas, têm legitimidade para representar seus filiados judicial ou XXX - é garantido o direito de herança;
extrajudicialmente; XXXI - a sucessão de bens de estrangeiros situados no País será
No Brasil, é plena a liberdade de associação e a criação de as- regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos
sociações e cooperativas para fins lícitos, não podendo sofrer inter- brasileiros, sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal
venção do Estado. Nossa Segurança Nacional e Defesa Social é atri- do “de cujus”;
buição exclusiva do Estado, por isso, as associações paramilitares O direito de herança ou direito sucessório é ramo específico
(milícias, grupos ou associações civis armadas, normalmente com do Direito Civil que visa regular as relações jurídicas decorrentes do
fins político-partidários, religiosos ou ideológicos) são vedadas. falecimento do indivíduo, o de cujus, e a transferência de seus bens
e direitos aos seus sucessores.
Direito de propriedade e sua função social:
XXII - é garantido o direito de propriedade;
XXIII - a propriedade atenderá a sua função social;

151
DIREITO CONSTITUCIONAL
Direito do consumidor: d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra
XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do con- a vida;
sumidor;
O Direito do Consumidor é o ramo do direito que disciplina O Tribunal do Júri é o instituto jurisdicional destinado exclusi-
as relações entre fornecedores e prestadores de bens e serviços vamente para o julgamento da prática de crimes dolosos contra a
e o consumidor final, parte hipossuficiente econômica da relação vida.
jurídica. As relações de consumo, além do amparo constitucional,
encontram proteção no Código de Defesa do Consumidor e na legis- Princípio da legalidade, da anterioridade e da retroatividade
lação civil e no Procon, órgão do Ministério Público de cada estado, da lei penal:
responsável por coordenar a política dos órgãos e entidades que XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena
atuam na proteção do consumidor. sem prévia cominação legal;
XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;
Direito de informação, petição e obtenção de certidão junto Para ser crime, tem que estar expressamente previsto na lei pe-
aos órgãos públicos: nal. Se a conduta não está prescrita no Código Penal, não é crime e
XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos infor- não há pena. Uma nova lei penal não retroage, não se aplica a con-
mações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, dutas praticadas antes de sua entrada em vigor, mas se a lei nova for
que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, mais benéfica, esta sim poderá ser aplicada para beneficiar o réu.
ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da
sociedade e do Estado; (Regulamento) (Vide Lei nº 12.527, de 2011). Princípio da não discriminação:
XXXIV - são a todos assegurados, independentemente do paga- XLI - a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direi-
mento de taxas: tos e liberdades fundamentais;
a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direi- Decorre do princípio da igualdade.
tos ou contra ilegalidade ou abuso de poder;
b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa Crimes inafiançáveis, imprescritíveis e insuscetíveis de graça
de direitos e esclarecimento de situações de interesse pessoal; e anistia:
Todo cidadão, independentemente de pagamento de taxa, tem XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e impres-
direito à obtenção de informações, protocolo de petição e obtenção critível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei;
de certidões junto aos órgãos públicos, de acordo com suas necessi- XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de
dades, salvo necessidade de sigilo. graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecen-
tes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hedion-
Princípio da proteção judiciária ou da inafastabilidade do con- dos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que,
trole jurisdicional: podendo evitá-los, se omitirem; (Regulamento).
XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão XLIV - constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de
ou ameaça a direito; grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e
Por este princípio o, Poder Judiciário não pode deixar de apre- o Estado Democrático.
ciar as causas de lesão ou ameaça a direito que chegam até ele. • Crimes inafiançáveis e imprescritíveis: Racismo e ação de
grupos armados contra a ordem constitucional e o Estado Demo-
Segurança jurídica: crático;
XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico • Crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça e anistia: Prá-
perfeito e a coisa julgada; tica de Tortura, Tráfico de drogas e entorpecentes, terrorismo e cri-
Direito adquirido é aquele incorporado ao patrimônio jurídico mes hediondos.
de seu titular e cujo exercício não pode mais ser retirado ou tolhido.
Ato jurídico perfeito é a situação ou direito consumado e defi- Os crimes inafiançáveis são aqueles que não admitem fiança,
nitivamente exercido, sem nulidades perante a lei vigente. ou seja, que não dão ao acusado o direito de responder seu
Coisa julgada é a matéria submetida a julgamento, cuja sen- processo em liberdade até a sentença condenatória, mediante
tença transitou em julgado e não cabe mais recurso, não podendo, pagamento de determinada quantia pecuniária ou cumprimento
de determinadas obrigações;
portanto, ser modificada.
Crimes imprescritíveis são aqueles que não prescrevem e po-
dem ser julgados e punidos em qualquer tempo, independente-
Tribunal de exceção:
mente da data em que foram cometidos;
XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção;
Crimes insuscetíveis de graça e anistia são aqueles que não per-
O juízo ou tribunal de exceção seria aquele criado exclusiva-
mitem a exclusão do crime com a rescisão da condenação e extin-
mente para o julgamento de um fato específico já acontecido, onde
ção total da punibilidade (anistia), nem a extinção da punibilidade,
os julgadores são escolhidos arbitrariamente. A Constituição veda
ainda que parcial (graça).
tal prática, pois todos os casos devem se submeter a julgamento
dos juízos e tribunais já existentes, conforme suas competências Princípio da intranscendência da pena:
pré-fixadas. XLV – nenhuma pena passará da pessoa do condenado, poden-
do a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de
Tribunal do Júri: bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles
XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a organização executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido;
que lhe der a lei, assegurados: A aplicação da pena deve ser sempre pessoal e não pode ser
a) a plenitude de defesa; cumprida por pessoa diversa da pessoa do condenado.
b) o sigilo das votações;
c) a soberania dos veredictos;

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DIREITO CONSTITUCIONAL
Individualização da pena: Devido Processo Legal:
XLVI – a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre LIV – ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o
outras, as seguintes: devido processo legal;
a) privação ou restrição da liberdade;
b) perda de bens; Contraditório e a ampla defesa:
c) multa; LV – aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos
d) prestação social alternativa; acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa,
e) suspensão ou interdição de direitos; com os meios e recursos a ela inerentes;
Ninguém poderá ser punido ou condenado sem o devido pro-
Pela individualização da pena, é garantida a fixação das penas, cesso legal, onde deverá ser assegurado, sob pena de nulidade ab-
observado o histórico pessoal a atuação individual, de modo que soluta, o direito de resposta e ampla defesa, com sentença transita-
cada indivíduo possa receber apenas a punição que lhe é devida. da em julgado (que não cabe mais recurso) prolatada pelo juízo ou
autoridade judiciária competente.
Proibição de penas:
XLVII – não haverá penas: Provas ilícitas:
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do LVI – são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por
art. 84, XIX; meios ilícitos;
b) de caráter perpétuo; Provas ilícitas são aquelas obtidas por meio ilegal ou fraudulen-
c) de trabalhos forçados; to, ou que infrinja as normas e princípios básicos de direito, motivo
d) de banimento; pelo qual não são aceitas no processo judicial.
e) cruéis.
Presunção de inocência:
Como afirmativa dos direitos humanos e da dignidade da pes- LVII – ninguém será considerado culpado até o trânsito em jul-
soa humana, a Constituição Federal de 1988 veda a pena de morte, gado de sentença penal condenatória;
pena perpétua, de banimento e de trabalhos forçados e cruéis. Todo cidadão é considerado inocente até que se prove o con-
Estabelecimentos para cumprimento de pena: trário, com o trânsito em julgado da sentença condenatória.
XLVIII – a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, Identificação criminal:
de acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado; LVIII – o civilmente identificado não será submetido a identifi-
cação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei; (Regulamento).
Respeito à Integridade Física e Moral dos Presos: A identificação criminal será feita diante de fundada suspeita
XLIX – é assegurado aos presos o respeito à integridade física da validade e veracidade dos documentos cíveis apresentados ou
e moral; quando já se tem notícias reputadas a pessoa civilmente identifi-
cada sobre uso de diversos nomes e fraude em registros policiais.
Direito de permanência e amamentação dos filhos pela pre-
sidiária mulher: Ação Privada Subsidiária da Pública:
L – às presidiárias serão asseguradas condições para que pos- LIX – será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se
sam permanecer com seus filhos durante o período de amamenta- esta não for intentada no prazo legal;
ção;
Também em atenção à dignidade da pessoa humana, a Cons- A ação penal privada subsidiária da pública é admitida nos ca-
tituição Federal de 1988 determina que as penas sejam cumpridas sos em que a lei não prevê a ação como privada, mas sim como
em diferentes tipos de estabelecimento de acordo com a gravidade pública (condicionada ou incondicionada). Entretanto, o Ministério
e natureza do delito, a idade e o sexo do apenado, respeitando-se Público, titular da ação penal, permanece inerte e não apresenta a
sua integridade física e moral, garantindo ainda à apenada mulher, denúncia no prazo legal, abrindo-se a possibilidade para que o ofen-
o direito de permanecer com os filhos e ter condições dignas de dido, seu representante legal ou seus sucessores ingressem com a
amamenta-los. ação penal privada subsidiária da pública.

Extradição: A publicidade dos atos processuais e o segredo de Justiça:


LI – nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, LX – a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais
em caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou de quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem;
comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e dro- Em regra, todos os atos processuais são públicos, salvo o se-
gas afins, na forma da lei; gredo de justiça, que pode ser determinado de ofício pelo juiz da
LII – não será concedida extradição de estrangeiro por crime causa, para segurança jurídica das partes, proteção dos interesses
político ou de opinião; de menor, interesse social ou demanda de grande repercussão etc.,
A extradição é um ato oficial de cooperação internacional que ou a requerimento justificado das partes do processo.
consiste na entrega de uma pessoa – o extraditando, acusado ou
condenada pela prática de um ou mais crimes em território estran- Legalidade da prisão:
geiro, ao país que o reclama. A Constituição determina que não ha- LXI – ninguém será preso senão em flagrante delito ou por or-
verá extradição de brasileiro nato em nenhuma hipótese, e o natu- dem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente,
ralizado somente nas exceções previstas. salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente mi-
litar, definidos em lei;
Direito ao julgamento pela autoridade competente Salvo flagrante delito, o cidadão só pode ser levado preso por
LIII – ninguém será processado nem sentenciado senão pela au- autoridade policial, mediante ordem judicial escrita e devidamente
toridade competente; fundamentada.

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DIREITO CONSTITUCIONAL
Comunicabilidade da prisão: a) partido político com representação no Congresso Nacional;
LXII – a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre b) organização sindical, entidade de classe ou associação legal-
serão comunicados imediatamente ao juiz competente e à família mente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em
do preso ou à pessoa por ele indicada; defesa dos interesses de seus membros ou associados;

Informação ao preso: Mandado de Injunção:


LXIII – o preso será informado de seus direitos, entre os quais o LXXI – conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta
de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da famí- de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e
lia e de advogado; liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à naciona-
lidade, à soberania e à cidadania;
Identificação dos responsáveis pela prisão:
LXIV – o preso tem direito à identificação dos responsáveis por Habeas data:
sua prisão ou por seu interrogatório policial; LXXII – conceder-se-á habeas data:
a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à
Na ocasião de prisão, são direitos do preso a comunicação de pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados
sua prisão e o local onde se encontra à sua família e ao juízo com- de entidades governamentais ou de caráter público;
petente, bem como conhecer as autoridades policiais responsáveis b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo
por sua prisão e interrogatório. por processo sigiloso, judicial ou administrativo;

Relaxamento da prisão ilegal: Ação Popular:


LXV – a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autori- LXXIII – qualquer cidadão é parte legítima para propor ação
dade judiciária; popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de
O relaxamento da prisão consiste em que o acusado seja posto entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa,
em liberdade, pela incidência de alguma ilegalidade no ato de sua ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o
prisão. autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus
da sucumbência;
Garantia da liberdade provisória: A Ação Popular é o instrumento constitucional adequado, por
LXVI – ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a meio do qual qualquer cidadão pode vir a questionar a validade de
lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança; atos que considera lesivos ao patrimônio público, à moralidade ad-
A liberdade provisória é o instituto processual que garante ao ministrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural.
acusado o direito de aguardar em liberdade o transcorrer do pro-
cesso criminal até o trânsito em julgado de sua sentença penal con- Assistência Judiciária:
denatória, mediante o estabelecimento ou não de determinadas LXXIV – o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita
condições e a colaboração com as investigações. aos que comprovarem insuficiência de recursos;
Todos aqueles que não podem arcar com as custas judiciárias
Prisão civil: sem prejuízo de seu sustento pessoal e de sua família, para se ter o
LXVII – não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável acesso à justiça, têm direito à assistência judiciária gratuita.
pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação
alimentícia e a do depositário infiel; Indenização por erro judiciário:
A Constituição Federal de 1988 extinguiu, em regra, a prisão LXXV – o Estado indenizará o condenado por erro judiciário, as-
civil por dívidas, salvo a do alimentante inadimplente (pensão ali- sim como o que ficar preso além do tempo fixado na sentença;
mentícia). E, a Súmula Vinculante 25, STF tornou ilícita a prisão civil
de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito. Gratuidade de serviços públicos:
LXXVI – são gratuitos para os reconhecidamente pobres, na
São remédios constitucionais em casos de violação de: forma da lei: (Vide Lei nº 7.844, de 1989)
- Liberdade: Habeas Corpus a) o registro civil de nascimento;
- Direito Líquido e certo: Mandado de Segurança b) a certidão de óbito;
- Informações: Habeas data LXXVII – são gratuitas as ações de habeas corpus e habeas data,
- Preceito constitucional que necessite de norma regulamenta- e, na forma da lei, os atos necessários ao exercício da cidadania
(Regulamento).
dora: Mandado de Injunção
A Constituição Federal traz como direito fundamental a gratui-
dade de serviços públicos – registro civil, a obtenção de certidão
Habeas corpus:
de óbito, as ações de Habeas corpus e Habeas data aos economica-
LXVIII – conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer
mente hipossuficientes.
ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberda-
de de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder;
Princípio da Celeridade Processual:
LXXVIII – a todos, no âmbito judicial e administrativo, são asse-
Mandado de Segurança: gurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a
LXIX – conceder-se-á mandado de segurança para proteger di- celeridade de sua tramitação. (Incluído pela Emenda Constitucional
reito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas nº 45, de 2004).
data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for É fundamental a garantia da razoável duração do processo, de
autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atri- forma a evitar que direitos se percam no transcorrer processual
buições do Poder Público; pela demora do Judiciário.
LXX – o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado
por:

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DIREITO CONSTITUCIONAL
Aplicabilidade das normas de direitos e garantias fundamen- Os direitos individuais dos trabalhadores são aqueles
tais: destinados a proteger a relação de trabalho contra uma profunda
§ 1º As normas definidoras dos direitos e garantias desigualdade, de modo a compatibilizar a função laboral com a
fundamentais têm aplicação imediata. dignidade e o bem-estar do trabalhador que é a parte hipossuficiente
Assim, todas as normas relativas aos direitos e garantias funda- da relação trabalhista.
mentais são autoaplicáveis.
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de
Rol é exemplificativo: outros que visem à melhoria de sua condição social:
§ 2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição
não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por Proteção contra despedida arbitrária ou sem justa causa:
ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República I – relação de emprego protegida contra despedida arbitrária
Federativa do Brasil seja parte. ou sem justa causa, nos termos de lei complementar, que preverá
O rol dos direitos elencados no art. 5º da CF/88 não é taxativo, indenização compensatória, dentre outros direitos;
mas sim exemplificativo. Os direitos e garantias ali expressos não Os contratos de trabalho são, em regra, por prazo indetermi-
excluem outros de caráter constitucional, decorrentes de princípios nado e a legislação protege a continuidade das relações laborais
constitucionais, do regime democrático, ou de tratados internacio- contra dispensa imotivada.
nais. Assim, os direitos fundamentais podem ser esparsos, consubs-
tanciados em toda legislação nacional, inclusive infraconstitucional. Seguro-Desemprego:
II – seguro-desemprego, em caso de desemprego involuntário;
Tratados e Convenções Internacionais de Direitos Humanos O seguro desemprego é o direito de todo trabalhador à assis-
§ 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos tência financeira temporária, que tenha prestado serviços laborais
humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso a empregador e sido dispensado sem justa causa, por mais de seis
Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos meses. Nos termos do art. 4º da Lei do seguro desemprego, o be-
membros, serão equivalentes às emendas constitucionais. (Incluído nefício será concedido ao trabalhador desempregado, por período
pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) (Atos aprovados na máximo variável de 3 (três) a 5 (cinco) meses, de forma contínua ou
forma deste parágrafo: DLG nº 186, de 2008, DEC 6.949, de 2009, alternada, a cada período aquisitivo, contados da data de dispensa
DLG 261, de 2015, DEC 9.522, de 2018). que deu origem à última habilitação, nos seguintes critérios:
Com a Emenda Constitucional n° 45 de 2004, as normas de
tratados internacionais sobre direitos humanos passaram a ser re-
conhecidas como normas de hierarquia constitucional, porém, so- SEGURO DESEMPREGO
mente se aprovadas pelas duas casas do Congresso por 3/5 de seus 1ª Solicitação:
membros em dois turnos de votação.
Parcelas Tempo de trabalho
Submissão à Jurisdição do Tribunal Penal Internacional: 4 (quatro) 12 a 23 meses
§ 4º O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal
5 (cinco) 24 meses ou mais
Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão. (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004). 2ª Solicitação:
Parcelas Tempo de trabalho
O Brasil se submeteu expressamente à jurisdição do Tribunal
Penal Internacional, também conhecido por Corte ou Tribunal de 3 (três) 9 a 11 meses
Haia, instituído pelo Estatuto de Roma e ratificado em 20 de junho 4 (quatro) 12 a 23 meses
de 2002 pelo Brasil. A Emenda Constitucional n° 45/2004, deu a
5 (cinco) 24 meses ou mais
esta adesão força constitucional. O objetivo do TPI é identificar e
punir autores de crimes contra a humanidade. 3ª Solicitação:
Parcelas Tempo de trabalho
— Direitos sociais
Os chamados Direitos Sociais são aqueles que visam garantir 3 (três) 6 a 11 meses
qualidade de vida, a melhoria de suas condições e o desenvolvi- 4 (quatro) 12 a 23 meses
mento da personalidade. São meios de se atender ao princípio basi-
lar da dignidade humana e estão previstos no art. 6º, CF. 5 (cinco) 24 meses ou mais

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimenta- Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS):
ção, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a III – fundo de garantia do tempo de serviço;
previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assis- Pode-se dizer que o FGTS é uma espécie de conta poupança
tência aos desamparados, na forma desta Constituição (Redação compulsória do trabalhador, gerida pela Caixa Econômica Federal
dada pela Emenda Constitucional nº 90, de 2015). e regida pela Lei 8.036/1990. Mensalmente, o os empregador deve
depositar nas contas vinculadas de seus funcionários o valor cor-
Do direito ao trabalho respondente a 8% (oito por cento) do salário de cada trabalhador.
Os direitos relativos aos trabalhadores podem ser de duas or-
dens: Salário mínimo:
- Direitos individuais, previstos no art. 7º, CF; IV – salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado,
- Direitos coletivos dos trabalhadores, previstos nos arts. 9º a capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua fa-
11, CF. mília com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário,

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DIREITO CONSTITUCIONAL
higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos A Participação nos Lucros e Resultados da empresa correspon-
que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação de a uma recompensa pelo reconhecimento do bom desempenho
para qualquer fim; e produtividade, pago a todos os funcionários de determinada em-
O salário mínimo é o estabelecido para jornada padrão de 44 ho- presa sobre o lucro excedente de determinado período de suas ati-
ras semanais, podendo ser proporcional, em caso de jornada inferior. vidades.

Piso salarial: Salário-família:


V – piso salarial proporcional à extensão e à complexidade do XII – salário-família pago em razão do dependente do trabalha-
trabalho; dor de baixa renda nos termos da lei; (Redação dada pela Emenda
O piso salarial corresponde ao menor salário que determinada Constitucional nº 20, de 1998).
categoria profissional pode receber pela sua jornada de trabalho, O salário-família é um benefício da previdência social corres-
considerando a extensão e complexidade do trabalho desenvolvido pondente ao valor pago ao empregado de baixa renda, que receba
e devendo ser sempre superior ao salário-mínimo nacional. salário no valor de até R$ 1.655,98, inclusive ao doméstico e ao tra-
balhador avulso, e possua filhos menores de 14 anos de idade ou
Irredutibilidadade do salário: portadores de deficiência, sem limite de idade.
VI – irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção
ou acordo coletivo; Jornada de Trabalho:
A irredutibilidade salarial garante que o empregado não venha XIII – duração do trabalho normal não superior a oito horas
a ter o seu salário reduzido arbitrariamente pelo empregador, du- diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de
rante todo o período do contrato de trabalho. É uma garantia à es- horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção
tabilidade econômica do trabalhador. coletiva de trabalho; (Vide Decreto-Lei nº 5.452, de 1943).
A Constituição Federal garante ao trabalhador jornada de tra-
Proteção aos que percebem remuneração variável: balho não superior a oito horas diárias ou quarenta e quatro horas
VII – garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para os que semanais, facultada a compensação e a redução.
percebem remuneração variável;
Jornada especial para turnos ininterruptos de revezamento:
Os empregados que recebem salários com valores variáveis,
XIV – jornada de seis horas para o trabalho realizado em turnos
como comissões sobre vendas etc, nunca devem receber salário in-
ininterruptos de revezamento, salvo negociação coletiva;
ferior ao mínimo. Como o salário mínimo mensal estipulado em lei
O trabalho em turno ininterrupto de revezamento é aquele
corresponde a uma jornada laboral mensal de 220 horas, a garantia
prestado por trabalhadores que se revezam nos postos de traba-
mínima aqui estipulada terá como parâmetro o salário mínimo-hora.
lho nos horários diurno e noturno. É bastante comum em empresas
Décimo Terceiro Salário ou Gratificação Natalina:
que funcionam em tempo integral, sem pausas. A jornada do traba-
VIII – décimo terceiro salário com base na remuneração integral lhador de turnos ininterruptos deve ser de seis horas diárias.
ou no valor da aposentadoria; Repouso (ou descanso) semanal remunerado (DSR):
O 13º salário é a garantia do recebimento de um salário inte- XV – repouso semanal remunerado, preferencialmente aos do-
gral (ou proporcional ao período trabalhado, se for o caso) por oca- mingos;
sião das comemorações de final de ano a todos os trabalhadores, O Descanso ou Repouso Semanal Remunerado corresponde a
aposentados e pensionistas do INSS. um dia de folga semanal remunerado ao trabalhador a ser concedi-
do preferencialmente aos domingos.
Remuneração superior por trabalho noturno:
IX – remuneração do trabalho noturno superior à do diurno; Pagamentos de horas extras:
Uma vez que a a redução do sono regular pode comprometer XVI – remuneração do serviço extraordinário superior, no mí-
a saúde, o trabalho noturno tem remuneração superior em 20% a nimo, em cinqüenta por cento à do normal; (Vide Del 5.452, art. 59
mais sobre a hora diurna trabalhada para os trabalhadores urbanos § 1º).
e 25%, para os trabalhadores rurais. O pagamento de horas extras caracteriza-se pela remunera-
Considera-se trabalho noturno: ção superior em, no mínimo, 50% das horas trabalhadas, além da
– entre às 22h de um dia até às 5h do dia seguinte para traba- jornada diária, lembrando que a legislação trabalhista permite o
lhadores urbanos; excedente em apenas 2 horas extraordinárias diárias, totalizando
– entre às 21h de um dia e às 5h do dia seguinte, para os traba- 10 horas diárias trabalhadas, salvo condições excepcionais. É lici-
lhadores rurais da agricultura; e ta também a compensação de jornada (banco de horas), quando
– entre às 20h de um dia e às 4h do dia seguinte, para os traba- ao invés de receber o acréscimo salarial que lhe é devido, o tra-
lhadores rurais pecuária. balhador passa a ter direito a usufruir a compensação das horas
excedentes em períodos de folga para descanso e lazer, mediante o
Proteção do salário contra retenção dolosa: cumprimento de alguns requisitos legais pela empregadora.
X – proteção do salário na forma da lei, constituindo crime sua
retenção dolosa; Férias remuneradas:
É vedada a retenção salarial dolosa, sendo permitidos apenas XVII – gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um
os descontos salariais autorizados em Lei. terço a mais do que o salário normal;
Após um ano de trabalho efetivo (período aquisitivo), todo
Participação nos lucros: trabalhador passa a ter direito a um período de até 30 dias para
XI – participação nos lucros, ou resultados, desvinculada da re- descanso e lazer, com percebimento de salário integral, acrescido
muneração, e, excepcionalmente, participação na gestão da empre- de 1/3 constitucional. As férias são concedidas a critério do empre-
sa, conforme definido em lei; gador, que após o término do período aquisitivo, tem até um ano
para concedê-las (período concessivo).

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DIREITO CONSTITUCIONAL
Licença à gestante: - 10% (dez por cento) em grau mínimo;
XVIII – licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salá- - 20% (vinte por cento) em grau médio;
rio, com a duração de cento e vinte dias; - 40% (quarenta por cento) em grau máximo de exposição, cal-
Também chamada de Licença maternidade, corresponde ao culado sob o salário mínimo, nos termos da lei.
período em que a mulher está prestes a ter um filho, acabou de
ganhar um bebê ou adotou uma criança. Nesses contextos, a mu- São exemplos de atividades insalubres as exercidas por profis-
lher tem direito a permanecer afastada do seu trabalho e receber o sionais da saúde, radiologistas, mineradores, entre outros.
salário maternidade, benefício previdenciário pago à pessoa nessas E, por fim, o trabalho perigoso é aquele que envolve constante
condições. Em regra, a licença maternidade é de 120 dias, podendo risco à integridade física do trabalhador. Como exemplos, temos as
ser ampliado para 180 dias, nos casos em que a empregadora for atividades profissionais com inflamáveis, explosivos, energia elétri-
aderente ao Programa Empresa Cidadã. ca, segurança pessoal ou patrimonial, com o uso de motocicleta,
entre outros. O adicional de periculosidade é correspondente a
Licença-paternidade: 30% (trinta por cento) sobre o salário-base.
XIX – licença-paternidade, nos termos fixados em lei; A insalubridade é diferente da periculosidade e os adicionais
A Licença-paternidade é período de 5 dias, que se inicia no não são cumulativos!
primeiro dia útil após o nascimento da criança em que o pai tem
direito a afastar-se de suas atividades laborais, sem prejuízo de seu Aposentadoria:
salário. Nos casos em que a empresa esteja cadastrada no progra- XXIV – aposentadoria;
ma Empresa Cidadã, o prazo poderá ser estendido por mais 15 dias, A aposentadoria é o benefício concedido pela Previdência So-
totalizando 20 dias. cial ao trabalhador segurado da previdência que preencher os requi-
sitos legais para sua concessão, consistente na prestação pecuniária
Proteção da mulher no mercado de trabalho: recebida mensalmente pelo aposentado, calculada conforme suas
XX – proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante contribuições à previdência ao longo de toda a sua vida laboral.
incentivos específicos, nos termos da lei;
A proteção ao trabalho da mulher é questão de ordem pública,
Assistência aos filhos pequenos:
com vias a garantir a isonomia de condições laborais. Assim, são
XXV – assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o
vedadas diferenciações arbitrárias, salvo quando a natureza da ati-
nascimento até 5 (cinco) anos de idade em creches e pré-escolas;
vidade, pública ou notoriamente o exigir. São vedadas as diferen-
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006).
ciações em razão do gênero para fins de remuneração, formação
A Constituição Federal, com vistas a proteção do trabalho dos
profissional e possibilidades de ascensão. A proteção à gravidez,
genitores de filhos e dependentes pequenos, garante assistência
proibição de revistas íntimas ou práticas que venham a ferir a digni-
gratuita a seus filhos e dependentes, entretanto, tal dispositivo,
dade feminina são alguns dos exemplos de medidas de proteção do
ainda depende de regulamentação para o seu pleno exercício.
mercado de trabalho da mulher.
Aviso Prévio:
Reconhecimento das convenções e acordos coletivos de tra-
XXI – aviso prévio proporcional ao tempo de serviço, sendo no
balho:
mínimo de trinta dias, nos termos da lei;
XXVI – reconhecimento das convenções e acordos coletivos de
Nas relações de emprego, o aviso prévio consiste na comunica-
trabalho;
ção da rescisão do contrato de trabalho por uma das partes, empre-
Por este inciso, a Constituição Federal reconheceu as conven-
gador ou empregado, que decide extingui-lo, com a antecedência
ções e acordos coletivos como instrumentos com força de lei entre
mínima de 30 dias. O aviso prévio pode ser trabalhado ou indeniza-
as partes, desde que conformes com o texto constitucional.
do, quando concedido por qualquer uma das partes.
Proteção em face da automação:
Redução dos riscos do trabalho:
XXVII – proteção em face da automação, na forma da lei;
XXII – redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de
A proteção em face da automação consiste em proteger a
normas de saúde, higiene e segurança;
classe trabalhadora do desemprego pela automação abusiva, bem
É dever da empregadora a redução dos riscos inerentes às
como em garantir de forma efetiva a saúde e a segurança no meio
atividades desempenhadas por seus colaboradores, através do
ambiente de trabalho automatizado.
cumprimento de todas as normas regulamentadoras de saúde,
higiene e segurança, bem como do fornecimento de equipamentos
Seguro contra acidentes de trabalho:
de proteção individual e da exigência da execução de todas as
XXVIII – seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empre-
normas da empresa por seus funcionários, sob pena de justa causa.
gador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando
incorrer em dolo ou culpa;
Adicional por atividades penosas, insalubres ou perigosas:
O seguro contra acidentes de trabalho é uma garantia ao em-
XXIII – adicional de remuneração para as atividades penosas,
pregado, às expensas do empregador, que assume os riscos da ativi-
insalubres ou perigosas, na forma da lei;
dade laboral, mediante pagamento de um adicional sobre folha de
O trabalho penoso é aquele considerado extremamente des-
salários de seus empregados, com administração atribuída à Previ-
gastante para a pessoa humana, em que o trabalhador depreende
dência Social. Tal seguro tem função de seguridade por ser destina-
um esforço além do normal para o desempenho de suas atividades.
do a beneficiários atingidos por doença ou acidente, que estejam
Não há regulamentação de um adicional.
associados ao sistema previdenciário. O Seguro contra acidentes de
O trabalho insalubre é aquele em que o empregado, no exer-
trabalho está regulamentado pela Lei 8.212/91.
cício de suas atividades, expõe-se a qualquer agente físico, químico
ou biológico, nocivo à saúde, e que com o passar do tempo podem
ocasionar uma doença ocupacional. O adicional de insalubridade
pode variar entre:

157
DIREITO CONSTITUCIONAL
Ação trabalhista nos prazos prescricionais: Direito de Greve: direito de abstenção coletiva e simultânea
XXIX – ação, quanto aos créditos resultantes das relações do trabalho, de modo organizado para defesa de interesses dos
de trabalho, com prazo prescricional de cinco anos para os trabalhadores. Importante mencionar que serviços considerados
trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de dois anos após a essenciais e inadiáveis à sociedade não podem ser paralisados to-
extinção do contrato de trabalho; (Redação dada pela Emenda talmente para o exercício do direito de greve. Ademais, o STF (2017)
Constitucional nº 28, de 2000). entende que servidores que atuam diretamente na área de segu-
A todo trabalhador é garantido o direito de propor Reclama- rança pública não podem entrar em greve em nenhuma hipótese.
tória (ou Reclamação) Trabalhista, dentro dos prazos processuais
legais. O prazo prescricional de uma reclamação trabalhista é de 02 Direito de Participação Laboral: assegura a participação dos
anos, a partir da rescisão do contrato de trabalho! Esse é o prazo trabalhadores e empregadores nos colegiados dos órgãos públicos
para que o trabalhador possa ingressar com a Ação Trabalhista. O em que interesses profissionais ou previdenciários sejam objeto de
prazo prescricional de 05 anos, previsto no mesmo inciso da Consti- discussão.
tuição, refere-se ao período cujos direitos podem ser questionados,
ou seja, o funcionário pode reclamar apenas dos direitos corres- Direito de Representação na Empresa: Nos termos do art. 11,
pondentes aos últimos 05 (cinco) anos trabalhados. CF: nas empresas de mais de duzentos empregados, é assegurada
a eleição de um representante destes com a finalidade exclusiva de
Não discriminação: promover-lhes o entendimento direto com os empregadores.
XXX – proibição de diferença de salários, de exercício de fun-
ções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou — Direitos de nacionalidade
estado civil; A nacionalidade é a condição de sujeito natural do Estado, que
XXXI – proibição de qualquer discriminação no tocante a salário pode participar dos atos pertinentes à nação. A atribuição da nacio-
e critérios de admissão do trabalhador portador de deficiência; nalidade se dá por dois critérios:
Jus solis: será brasileiro todo aquele nascido em território na-
Proibição de distinção do trabalho: cional;
XXXII – proibição de distinção entre trabalho manual, técnico e
Jus sanguinis: será brasileiro todo filho de nacional, mesmo
intelectual ou entre os profissionais respectivos;
nascido no exterior.
O Brasil adota, em regra, o critério do jus solis, mitigado por cri-
Trabalho do menor:
térios do jus sanguinis. O art. 12 da Constituição Federal elenca os
XXXIII – proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a
direitos da nacionalidade, dividindo os brasileiros em dois grandes
menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis
grupos: os brasileiros natos e os naturalizados.
anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos; (Re-
dação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998).
Art. 12 São brasileiros:
- De 14 a 16 anos: Só pode trabalhar na condição de aprendiz.
- De 16 a 18 anos: É vedado o exercício de trabalho noturno, I - natos:
perigoso ou insalubre. a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de
- A partir de 18 anos: Trabalho normal. pais estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país;
Igualdade ao trabalhador avulso: b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasilei-
XXXIV - igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo ra, desde que qualquer deles esteja a serviço da República Federa-
empregatício permanente e o trabalhador avulso. tiva do Brasil;
O trabalhador avulso é aquele que presta serviços a uma c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe bra-
empresa de maneira eventual e que, apesar de não possuir vínculo sileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira com-
empregatício, possui os mesmos direitos que os trabalhadores com petente ou venham a residir na República Federativa do Brasil e
vínculo e a sua prestação de serviços deve obrigatoriamente ser in- optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela
termediada por um sindicato de sua categoria. nacionalidade brasileira; (Redação dada pela Emenda Constitucio-
nal nº 54, de 2007).
Empregados domésticos: II - naturalizados:
Parágrafo único. São assegurados à categoria dos trabalha- a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira,
dores domésticos os direitos previstos nos incisos IV, VI, VII, VIII, X, exigidas aos originários de países de língua portuguesa apenas resi-
XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XXI, XXII, XXIV, XXVI, XXX, XXXI e XXXIII dência por um ano ininterrupto e idoneidade moral;
e, atendidas as condições estabelecidas em lei e observada a sim- b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na Re-
plificação do cumprimento das obrigações tributárias, principais e pública Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e
acessórias, decorrentes da relação de trabalho e suas peculiarida- sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade bra-
des, os previstos nos incisos I, II, III, IX, XII, XXV e XXVIII, bem como sileira (Redação dada pela Emenda Constitucional de Revisão nº 3,
a sua integração à previdência social (Redação dada pela Emenda de 1994).
Constitucional nº 72, de 2013).
Cargos privativos do brasileiro nato: (art. 12, § 3º, CF)
§ 3º São privativos de brasileiro nato os cargos:
Os Direitos Coletivos dos Trabalhadores “são aqueles exerci-
I - de Presidente e Vice-Presidente da República;
dos pelos trabalhadores, coletivamente ou no interesse de uma co-
II - de Presidente da Câmara dos Deputados;
letividade” (LENZA, 2019, p. 2038) e compreendem: III - de Presidente do Senado Federal;
IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal;
Liberdade de Associação Profissional Sindical: prerrogativa V - da carreira diplomática;
dos trabalhadores para defesa de seus interesses profissionais e VI - de oficial das Forças Armadas.
econômicos.

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DIREITO CONSTITUCIONAL
VII - de Ministro de Estado da Defesa (Incluído pela Emenda A expulsão consiste em medida administrativa de retirada com-
Constitucional nº 23, de 1999). pulsória de migrante ou visitante do território nacional, conjugada
com o impedimento de reingresso por prazo determinado, configu-
Naturalização rado pela prática de crimes em território brasileiro.
A naturalização é um meio derivado, de aquisição secundária O banimento, que é a entrega de um brasileiro para julgamento
da nacionalidade brasileira, permitida ao estrangeiro ou apátrida no exterior, prática comum na época da ditadura militar, é vedado
que preencher determinados requisitos. pela Constituição.
Também chamado de heimatlos, o apátrida é aquele que não
possui nenhuma nacionalidade, já o polipátrida é aquele que tem — Direitos políticos
mais de uma nacionalidade. Os Direitos Políticos visam assegurar a participação do cidadão
A Lei nº 13.445/2017, que institui a Lei de Migração trata de na vida política e estrutural de seu Estado, garantindo-lhe o acesso
diversas questões acerca da nacionalidade e do processo de natu- à condução da coisa pública. Abrangem o poder que qualquer ci-
ralização, sendo vedada a diferenciação arbitrária entre brasileiros
dadão tem na condução dos destinos de sua coletividade, de uma
natos e naturalizados.
forma direta ou indireta, ou seja, sendo eleito ou elegendo repre-
§ 2º A lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros
sentantes junto aos poderes públicos.
natos e naturalizados, salvo nos casos previstos nesta Constituição.
Cidadania e nacionalidade são conceitos distintos, logo nacio-
Portugueses: nal é diferente de cidadão. A condição de nacional é um pressupos-
Aos portugueses com residência permanente no país serão to para a de cidadão. A cidadania em sentido estrito é o status de
atribuídos os mesmos direitos dos brasileiros, desde que haja re- nacional acrescido dos direitos políticos, isto é, o poder participar
ciprocidade. do processo governamental, sobretudo pelo voto.
Nos termos do art. 14 da Constituição Federal a soberania po-
Art. 12 pular é exercida pelo sufrágio (voto) universal, direto e secreto, com
§ 1º Aos portugueses com residência permanente no País, se valor igual para todos. Ademais, estabelece também os instrumen-
houver reciprocidade em favor de brasileiros, serão atribuídos os tos de participação semidireta pelo povo.
direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos nesta Cons- Plebiscito: manifestação popular do eleitorado que decide
tituição (Redação dada pela Emenda Constitucional de Revisão nº acerca de uma determinada questão. Assim, em termos práticos, é
3, de 1994). feita uma pergunta à qual responde o eleitor. É uma consulta prévia
à elaboração da lei.
Perda da Nacionalidade: Referendo: manifestação popular, em que o eleitor aprova ou
§ 4º Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que: rejeita uma atitude governamental, normalmente uma lei ou proje-
I - tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em to de lei já existente.
virtude de atividade nociva ao interesse nacional; Iniciativa Popular: é o direito de uma parcela da população (1%
II - adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos:(Redação do eleitorado) apresentar ao Poder Legislativo um projeto de lei
dada pela Emenda Constitucional de Revisão nº 3, de 1994). que deverá ser examinado e votado. Os eleitores também podem
a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei es- usar deste instrumento em nível estadual e municipal.
trangeira; (Incluído pela Emenda Constitucional de Revisão nº 3, de
1994). Alistamento eleitoral (direitos políticos ativos):
b) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao Consiste na capacidade de votar, participar de plebiscito e re-
brasileiro residente em estado estrangeiro, como condição para ferendo, subscrever projeto de lei de iniciativa popular e de propor
permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis; ação popular e se dá através do alistamento eleitoral, obrigatório
(Incluído pela Emenda Constitucional de Revisão nº 3, de 1994). para os maiores de dezoito anos e facultativo para os maiores de
dezesseis e menores de dezoito, para os analfabetos e para os maio-
Extradição, repatriação, deportação e expulsão res de setenta anos.
A extradição, repatriação, deportação e expulsão são medidas São inalistáveis os estrangeiros e os conscritos durante serviço
do Estado soberano para enviar uma pessoa que se encontra refu- militar obrigatório, ou seja, aqueles que se alistaram no exército e
giada em seu território a outro Estado estrangeiro. foram convocados a prestar serviço militar.
Segundo o Ministério da Justiça (2021), a extradição é um ato
de cooperação internacional que consiste na entrega de uma pes- Elegibilidade eleitoral (direitos políticos passivos):
soa, acusada ou condenada por um ou mais crimes, ao país que Os direitos políticos passivos consistem na possibilidade de ser
a reclama. Não haverá extradição de brasileiro nato. Também não votado, ou seja, na elegibilidade que é a capacidade eleitoral passi-
será concedida extradição de estrangeiro por crime político ou de va consistente na possibilidade de o cidadão pleitear determinados
opinião. mandatos políticos, mediante eleição popular, desde que preenchi-
Repatriação é medida administrativa consistente no processo dos os devidos requisitos.
de devolução voluntária de uma pessoa ao seu local de origem ou
de cidadania, por estar impedida de permanecer em território bra- § 3º São condições de elegibilidade, na forma da lei:
sileiro após determinado período. I - a nacionalidade brasileira;
A deportação será aplicada nas hipóteses de entrada ou esta- II - o pleno exercício dos direitos políticos;
da irregular de estrangeiros no território nacional e a repatriação III - o alistamento eleitoral;
ocorre quando o clandestino é impedido de ingressar em território IV - o domicílio eleitoral na circunscrição;
nacional pela fiscalização fronteiriça e aeroportuária brasileira. V - a filiação partidária; Regulamento.
VI - a idade mínima de:
a) 35 anos para Presidente e Vice-Presidente da República e
Senador;

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DIREITO CONSTITUCIONAL
b) 30 para Governador e Vice-Governador de Estado e do Dis- toma a capacidade civil, o indivíduo terá seus direitos políticos sus-
trito Federal; pensos; readquirindo-a, alcançará, novamente o status de cidadão.
c) 21 anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distri- Também são passíveis de suspensão os condenados criminalmente
tal, Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de paz; (com sentença transitado em julgado). Cumprida a pena, readqui-
d) 18 anos para Vereador. rem os direitos políticos; no caso de improbidade administrativa, a
suspensão será, da mesma forma, temporária.
Inelegibilidades:
A Constituição não menciona exaustivamente todas hipóteses Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda
de inelegibilidade, apenas fixa algumas. Em regra: ou suspensão só se dará nos casos de:
§ 4º São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos. I - cancelamento da naturalização por sentença transitada em
julgado;
Há também a inelegibilidade derivada do casamento ou do pa- II - incapacidade civil absoluta;
rentesco com o Presidente da República, com os Governadores de III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto
Estado e do Distrito Federal e com os Prefeitos, ou com quem os durarem seus efeitos;
haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito. IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação
§7º São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o alternativa, nos termos do art. 5º, VIII
cônjuge e os parentes consanguíneos ou afins, até o segundo grau V - improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º.
ou por adoção, do Presidente da República, de Governador de
Estado ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os — Partidos Políticos
haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se Partidos políticos são associações de pessoas de ideologia e in-
já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição. teresses comuns, com a finalidade de exercer o poder a partir da
vontade popular, determinando o governo e a orientação política
Quanto à reeleição e desincompatibilização, a Emenda Consti- nacional. Juridicamente, são verdadeiras instituições, pessoas jurí-
tucional nº 16 trouxe a possibilidade de reeleição para o chefe dos dicas de direito privado, constituídas na forma da lei civil, perante
Poderes Executivos federal, estadual, distrital e municipal. Ao con- o Registro Civil de Pessoas Jurídicas e que gozam de imunidade e
trário do sistema americano de reeleição, que permite apenas a re- autonomia para gerir sua organização interna.
condução por um período somente, no Brasil, após o período de um No Brasil, o pluralismo político é um dos fundamentos da Repú-
mandato, o governante pode voltar a se candidatar para o posto. blica, e diferente de outras nações aqui não foi instituído o dualis-
§ 5º O Presidente da República, os Governadores de Estado e do mo. (direita e esquerda ou democratas e republicanos). Os partidos
Distrito Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou substi- políticos têm liberdade de organização partidária, sendo livres a
tuído no curso dos mandatos poderão ser reeleitos para um único criação, fusão, incorporação e a sua extinção, observados o caráter
período subsequente. (Redação dada pela Emenda Constitucional nacional, a proibição de subordinação e recebimento de recursos
nº 16, de 1997). financeiros de entidades ou governo estrangeiros, a vedação da uti-
§ 6º Para concorrerem a outros cargos, o Presidente da Repú- lização de organização paramilitar, além do dever de prestar contas
blica, os Governadores de Estado e do Distrito Federal e os Prefeitos à Justiça Eleitoral e do funcionamento parlamentar de acordo com
devem renunciar aos respectivos mandatos até seis meses antes do a lei.
pleito. De acordo com a Lei das Eleições, coligações partidárias são
permitidas.
Por sua vez, o militar é elegível, se cumpridos alguns requisitos: Os partidos políticos, uma vez devidamente constituídos e re-
§ 8º O militar alistável é elegível, atendidas as seguintes con- gistrados no TSE, têm direito a recursos do fundo partidário e aces-
dições: so gratuito ao rádio e à televisão para fins de propaganda eleitoral.
I - se contar menos de dez anos de serviço, deverá afastar-se
da atividade;
II - se contar mais de dez anos de serviço, será agregado pela ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA DO ESTA-
autoridade superior e, se eleito, passará automaticamente, no ato DO. ESTADO FEDERAL BRASILEIRO, UNIÃO, ESTADOS,
da diplomação, para a inatividade. DISTRITO FEDERAL, MUNICÍPIOS E TERRITÓRIOS

O Mandato Eletivo pode ser impugnado:


§ 10 O mandato eletivo poderá ser impugnado ante a Justiça — Estado federal brasileiro, União, Estados, Distrito Federal,
Eleitoral no prazo de quinze dias contados da diplomação, instruí- municípios e territórios
da a ação com provas de abuso do poder econômico, corrupção ou Estado Federal Brasileiro
fraude; São elementos do Estado a soberania, a finalidade, o povo e o
§ 11 A ação de impugnação de mandato tramitará em segredo território. Assim, Dalmo de Abreu Dallari (apud Lenza, 2019, p. 719)
de justiça, respondendo o autor, na forma da lei, se temerária ou de define Estado como “a ordem jurídica soberana que tem por fim o
manifesta má-fé. bem comum de um povo situado em determinado território”.
Soberania é o poder político supremo e independente que o
Suspensão e Perda dos Direitos Políticos Estado detém consistente na capacidade para editar e reger suas
A perda e a suspensão dos direitos políticos podem-se dar, próprias normas e seu ordenamento jurídico.
respectivamente, de forma definitiva ou temporária. Ocorrerá a A finalidade consiste no objetivo maior do Estado que é o bem
perda quando houver cancelamento da naturalização por sentença comum, conjunto de condições para o desenvolvimento integral da
transitada em julgado, no caso de recusa em cumprir obrigação a pessoa humana.
todos imposta ou prestação alternativa (é o caso do serviço militar Povo é o conjunto de indivíduos, em regra, com um objetivo
obrigatório). Por sua vez, a suspensão dos direitos políticos se dá comum, ligados a um determinado território pelo vínculo da nacio-
enquanto persistirem os motivos desta, ou seja, enquanto não re- nalidade.

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DIREITO CONSTITUCIONAL
Território é o espaço físico dentro do qual o Estado exerce seu Exclusiva, que é aquela conferida exclusivamente a um dos en-
poder e sua soberania. Onde o povo se estabelece e se organiza tes federativos (União, Estados, Distrito Federal e Municípios), com
com ânimo de permanência. exclusão dos demais.
A Constituição de 1988 adotou a forma republicana de gover- Privativa, que é aquela enumerada como própria de um ente,
no, o sistema presidencialista de governo e a forma federativa de com possibilidade, entretanto, de delegação para outro.
Estado. Note tratar-se de três definições distintas. Concorrente, que é a competência legislativa conferida em co-
mum a mais de um ente federativo.
REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL: Na complementar, o ente federativo tem competência naqui-
• Forma de Estado: Federação lo que a norma federal (superior) lhe dê condição de atuar e na
• Forma de Governo: República suplementar, por sua vez, o ente federativo supre a competência
• Regime de Governo: Democrático federal não exercida, porém, se esta o exercer, o ato aditado com
• Sistema de Governo: Presidencialismo base na competência suplementar perde a eficácia, naquilo que lhe
for contrário.
O federalismo é a forma de Estado marcado essencialmente Sempre que falarmos em competência comum ou exclusiva,
pela união indissolúvel dos entes federativos, ou seja, pela impossi- devemos excluir a ideia de “legislar”. Sempre que falarmos em le-
bilidade de secessão, separação. São entes da federação brasileira: gislar, estaremos tratando necessariamente de uma competência
a União; os Estados-Membros; o Distrito Federal e os Municípios. privativa ou concorrente.
Brasília é a capital federal e o Estado brasileiro é considerado lai-
co, mantendo uma posição de neutralidade em matéria religiosa, Entes Federativos
admitindo o culto de todas as religiões, sem qualquer intervenção. União
A União é o ente federativo com dupla personalidade. Inter-
Fundamentos da República Federativa do Brasil namente, é uma pessoa jurídica de direito público interno, com
O art. 1.º enumera, como fundamentos da República Federa- autonomia financeira, administrativa e política e capacidade de au-
tiva do Brasil: to-organização, autogoverno, autolegislação e autoadministração.
Internacionalmente, a União é soberana e representa a República
- soberania;
Federativa do Brasil a quem cabe exercer as prerrogativas da so-
- cidadania;
berania do Estado brasileiro. Os bens da União são todos aqueles
- dignidade da pessoa humana;
elencados, no art. 20, CF.
- valores sociais do trabalho e da livre-iniciativa;
São bens da União:
- pluralismo político.
I - os que atualmente lhe pertencem e os que lhe vierem a ser
atribuídos;
Objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil
II - as terras devolutas indispensáveis à defesa das fronteiras,
Os objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil das fortificações e construções militares, das vias federais de comu-
não se confundem com os fundamentos e estão previstos no art. nicação e à preservação ambiental, definidas em lei;
3.º da CF/88: III - os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de
- construir uma sociedade livre, justa e solidária; seu domínio, ou que banhem mais de um Estado, sirvam de limites
- garantir o desenvolvimento nacional; com outros países, ou se estendam a território estrangeiro ou dele
- erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigual- provenham, bem como os terrenos marginais e as praias fluviais;
dades sociais e regionais; IV as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com outros
- promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, países; as praias marítimas; as ilhas oceânicas e as costeiras, excluí-
sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. das, destas, as que contenham a sede de Municípios, exceto aquelas
áreas afetadas ao serviço público e a unidade ambiental federal, e
Princípios que regem a República Federativa do Brasil nas re- as referidas no art. 26, II; Redação dada pela Emenda Constitucional
lações internacionais nº 46, de 2005).
O art. 4.º, CF/88 dispõe que a República Federativa do Brasil é V - os recursos naturais da plataforma continental e da zona
regida nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios: econômica exclusiva;
- independência nacional; VI - o mar territorial;
- prevalência dos direitos humanos; VII - os terrenos de marinha e seus acrescidos;
- autodeterminação dos povos; VIII - os potenciais de energia hidráulica;
- não intervenção; IX - os recursos minerais, inclusive os do subsolo;
- igualdade entre os Estados; X - as cavidades naturais subterrâneas e os sítios arqueológicos
- defesa da paz;
e pré-históricos;
- solução pacífica dos conflitos;
XI - as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios.
- repúdio ao terrorismo e ao racismo;
- cooperação entre os povos para o progresso da humanidade;
Como ente federativo, a União possui competências adminis-
- concessão de asilo político.
trativas que lhe são exclusivas (art. 21, CF), competências legisla-
tivas privativas (art. 22, CF), competências administrativas comuns
Competências
com Estados, Distrito Federal e Municípios (art. 23, CF) e competên-
Competência é o poder, normalmente legal, de uma autorida-
de pública para a prática de atos administrativos e tomada de deci- cias legislativas concorrentes com Estados, Distrito Federal e Muni-
sões. As competências dos entes federativos podem ser: cípios (art. 24, CF).
Materiais ou administrativas, que se dividem em: exclusivas e
comuns;
Legislativas, que compreendem as privativas e as concorrentes,
complementares e suplementares;

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DIREITO CONSTITUCIONAL

Competências XIX - instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos


Comuns e Exclusivas Arts. 21 e 23, CF hídricos e definir critérios de outorga de direitos de seu uso; (Regu-
Administrativas
lamento)
Competências Privativas e XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusi-
Arts. 22 e 24, CF
Legislativas Concorrentes ve habitação, saneamento básico e transportes urbanos;
XXI - estabelecer princípios e diretrizes para o sistema nacional
Competência administrativa exclusiva da União: art. 21, CF de viação;
Art. 21. Compete à União: XXII - executar os serviços de polícia marítima, aeroportuária
I - manter relações com Estados estrangeiros e participar de e de fronteiras; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19,
organizações internacionais; de 1998)
II - declarar a guerra e celebrar a paz; XXIII - explorar os serviços e instalações nucleares de qualquer
III - assegurar a defesa nacional; natureza e exercer monopólio estatal sobre a pesquisa, a lavra, o
IV - permitir, nos casos previstos em lei complementar, que for- enriquecimento e reprocessamento, a industrialização e o comércio
ças estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele perma- de minérios nucleares e seus derivados, atendidos os seguintes prin-
neçam temporariamente; cípios e condições:
V - decretar o estado de sítio, o estado de defesa e a interven- a) toda atividade nuclear em território nacional somente será
ção federal; admitida para fins pacíficos e mediante aprovação do Congresso
VI - autorizar e fiscalizar a produção e o comércio de material Nacional;
bélico; b) sob regime de permissão, são autorizadas a comercializa-
VII - emitir moeda; ção e a utilização de radioisótopos para pesquisa e uso agrícolas e
VIII - administrar as reservas cambiais do País e fiscalizar as industriais; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 118, de
operações de natureza financeira, especialmente as de crédito, 2022)
câmbio e capitalização, bem como as de seguros e de previdência c) sob regime de permissão, são autorizadas a produção, a co-
privada; mercialização e a utilização de radioisótopos para pesquisa e uso mé-
IX - elaborar e executar planos nacionais e regionais de ordena- dicos; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 118, de 2022)
ção do território e de desenvolvimento econômico e social; d) a responsabilidade civil por danos nucleares independe da
X - manter o serviço postal e o correio aéreo nacional; existência de culpa; (Incluída pela Emenda Constitucional nº 49, de
XI - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão 2006)
ou permissão, os serviços de telecomunicações, nos termos da lei, XXIV - organizar, manter e executar a inspeção do trabalho;
que disporá sobre a organização dos serviços, a criação de um ór- XXV - estabelecer as áreas e as condições para o exercício da
gão regulador e outros aspectos institucionais; (Redação dada pela atividade de garimpagem, em forma associativa.
Emenda Constitucional nº 8, de 15/08/95) XXVI - organizar e fiscalizar a proteção e o tratamento de dados
XII - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão pessoais, nos termos da lei.
ou permissão:
a) os serviços de radiodifusão sonora, e de sons e imagens; (Re- Competências administrativas comuns da União, Estados, Dis-
dação dada pela Emenda Constitucional nº 8, de 15/08/95) trito Federal e Municípios: art. 23, CF:
b) os serviços e instalações de energia elétrica e o aproveita- Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distri-
mento energético dos cursos de água, em articulação com os Esta- to Federal e dos Municípios:
dos onde se situam os potenciais hidroenergéticos; I - zelar pela guarda da Constituição, das leis e das instituições
c) a navegação aérea, aeroespacial e a infraestrutura aero- democráticas e conservar o patrimônio público;
portuária; II - cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garan-
d) os serviços de transporte ferroviário e aquaviário entre por- tia das pessoas portadoras de deficiência; (Vide ADPF 672)
tos brasileiros e fronteiras nacionais, ou que transponham os limites III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor
de Estado ou Território; histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais
e) os serviços de transporte rodoviário interestadual e interna- notáveis e os sítios arqueológicos;
cional de passageiros; IV - impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras
f) os portos marítimos, fluviais e lacustres; de arte e de outros bens de valor histórico, artístico ou cultural;
XIII - organizar e manter o Poder Judiciário, o Ministério Público V - proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação, à
do Distrito Federal e dos Territórios e a Defensoria Pública dos Terri- ciência, à tecnologia, à pesquisa e à inovação; (Redação dada pela
tórios; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 69, de 2012) Emenda Constitucional nº 85, de 2015)
(Produção de efeito) VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qual-
XIV - organizar e manter a polícia civil, a polícia penal, a polícia quer de suas formas;
militar e o corpo de bombeiros militar do Distrito Federal, bem como VII - preservar as florestas, a fauna e a flora;
prestar assistência financeira ao Distrito Federal para a execução de VIII - fomentar a produção agropecuária e organizar o abaste-
serviços públicos, por meio de fundo próprio; (Redação dada pela cimento alimentar;
Emenda Constitucional nº 104, de 2019) IX - promover programas de construção de moradias e a me-
XV - organizar e manter os serviços oficiais de estatística, geo- lhoria das condições habitacionais e de saneamento básico; (Vide
grafia, geologia e cartografia de âmbito nacional; ADPF 672)
XVI - exercer a classificação, para efeito indicativo, de diversões X - combater as causas da pobreza e os fatores de marginali-
públicas e de programas de rádio e televisão; zação, promovendo a integração social dos setores desfavorecidos;
XVII - conceder anistia; XI - registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos
XVIII - planejar e promover a defesa permanente contra as cala- de pesquisa e exploração de recursos hídricos e minerais em seus
midades públicas, especialmente as secas e as inundações; territórios;

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DIREITO CONSTITUCIONAL
XII - estabelecer e implantar política de educação para a segu- Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Esta-
rança do trânsito. dos a legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas
Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas para a coo- neste artigo.
peração entre a União e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios,
tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbi- Competência Legislativa concorrente da União, Estados e Dis-
to nacional. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) trito Federal: art. 24, CF:
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal le-
Competências Legislativas privativas da União: art. 22, CF: gislar concorrentemente sobre:
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: I - direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e ur-
I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, banístico; (Vide Lei nº 13.874, de 2019)
marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho; II - orçamento;
II - desapropriação; III - juntas comerciais;
III - requisições civis e militares, em caso de iminente perigo e IV - custas dos serviços forenses;
em tempo de guerra; V - produção e consumo;
IV - águas, energia, informática, telecomunicações e radiodi- VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, de-
fusão; fesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e
V - serviço postal; controle da poluição;
VI - sistema monetário e de medidas, títulos e garantias dos VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turís-
metais; tico e paisagístico;
VII - política de crédito, câmbio, seguros e transferência de va- VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consu-
lores; midor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico
VIII - comércio exterior e interestadual; e paisagístico;
IX - diretrizes da política nacional de transportes; IX - educação, cultura, ensino, desporto, ciência, tecnologia,
X - regime dos portos, navegação lacustre, fluvial, marítima, pesquisa, desenvolvimento e inovação; (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 85, de 2015)
aérea e aeroespacial;
X - criação, funcionamento e processo do juizado de pequenas
XI - trânsito e transporte;
causas;
XII - jazidas, minas, outros recursos minerais e metalurgia;
XI - procedimentos em matéria processual;
XIII - nacionalidade, cidadania e naturalização;
XII - previdência social, proteção e defesa da saúde; (Vide ADPF
XIV - populações indígenas;
672)
XV - emigração e imigração, entrada, extradição e expulsão de
XIII - assistência jurídica e Defensoria pública;
estrangeiros;
XIV - proteção e integração social das pessoas portadoras de
XVI - organização do sistema nacional de emprego e condições deficiência;
para o exercício de profissões; XV - proteção à infância e à juventude;
XVII - organização judiciária, do Ministério Público do Distrito XVI - organização, garantias, direitos e deveres das polícias ci-
Federal e dos Territórios e da Defensoria Pública dos Territórios, vis.
bem como organização administrativa destes; (Redação dada pela § 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da
Emenda Constitucional nº 69, de 2012) União limitar-se-á a estabelecer normas gerais. (Vide Lei nº 13.874,
XVIII - sistema estatístico, sistema cartográfico e de geologia de 2019)
nacionais; § 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais
XIX - sistemas de poupança, captação e garantia da poupança não exclui a competência suplementar dos Estados. (Vide Lei nº
popular; 13.874, de 2019)
XX - sistemas de consórcios e sorteios; § 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados
XXI - normas gerais de organização, efetivos, material bélico, exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas
garantias, convocação, mobilização, inatividades e pensões das po- peculiaridades. (Vide Lei nº 13.874, de 2019)
lícias militares e dos corpos de bombeiros militares; (Redação dada § 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais
pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário. (Vide
XXII - competência da polícia federal e das polícias rodoviária e Lei nº 13.874, de 2019).
ferroviária federais; Estados
XXIII - seguridade social; O Brasil é composto de estados federados que gozam de uma
XXIV - diretrizes e bases da educação nacional; autonomia, consubstanciada na capacidade de auto-organização,
XXV - registros públicos; auto legislação, autogoverno e autoadministração.
XXVI - atividades nucleares de qualquer natureza; Os Estados podem se formar a partir de incorporação, subdi-
XXVII - normas gerais de licitação e contratação, em todas as visão ou desmembramento, que por sua vez, pode se dar por ane-
modalidades, para as administrações públicas diretas, autárquicas xação ou formação. A incorporação ou fusão é a junção de dois ou
e fundacionais da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, mais Estados para formação de um único Estado novo. A cisão ou
obedecido o disposto no art. 37, XXI, e para as empresas públicas e subdivisão é a separação de um Estado em dois ou mais Estados
sociedades de economia mista, nos termos do art. 173, § 1°, III; (Re- autônomos e independentes. E, o desmembramento consiste na
dação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) separação de parte de um Estado para formação de um novo Estado
XXVIII - defesa territorial, defesa aeroespacial, defesa maríti- (formação) ou anexação a outro Estado já existente.
ma, defesa civil e mobilização nacional; As competências estaduais estão previstas no art. 25, CF e os
XXIX - propaganda comercial. bens dos Estados estão elencados no art. 26, CF:
XXX - proteção e tratamento de dados pessoais. (Incluído pela Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constitui-
Emenda Constitucional nº 115, de 2022)
ções e leis que adotarem, observados os princípios desta Constitui-
ção.
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DIREITO CONSTITUCIONAL
§ 1º São reservadas aos Estados as competências que não lhes A fiscalização financeira e orçamentária dos Municípios se dá
sejam vedadas por esta Constituição. sob duas modalidades: controle externo, exercido pela Câmara Mu-
§ 2º Cabe aos Estados explorar diretamente, ou mediante nicipal e o controle interno, exercido pelo próprio executivo munici-
concessão, os serviços locais de gás canalizado, na forma da lei, pal, nos termos do art. 31, CF.
vedada a edição de medida provisória para a sua regulamentação.
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 5, de 1995). Distrito Federal e Territórios
§ 3º Os Estados poderão, mediante lei complementar, instituir O Distrito Federal é reconhecido como ente integrante da Fe-
regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões, deração e goza de autonomia política, embora não se enquadre
constituídas por agrupamentos de municípios limítrofes, para nem como estado-membro ou município. Sua principal função é
integrar a organização, o planejamento e a execução de funções servir como sede do Governo Federal e não pode haver divisões em
públicas de interesse comum. municípios. O Distrito Federal não possui constituição, mas lei orgâ-
Art. 26. Incluem-se entre os bens dos Estados: nica própria, que define os princípios básicos de sua organização,
I - As águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes suas competências e a organização de seus poderes governamen-
e em depósito, ressalvadas, neste caso, na forma da lei, as decorren- tais, nos termos do art. 32, CF.
tes de obras da União; Art. 32. O Distrito Federal, vedada sua divisão em Municípios,
II - as áreas, nas ilhas oceânicas e costeiras, que estiverem no reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos com interstício
seu domínio, excluídas aquelas sob domínio da União, Municípios mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços da Câmara Legisla-
ou terceiros; tiva, que a promulgará, atendidos os princípios estabelecidos nesta
III - as ilhas fluviais e lacustres não pertencentes à União; Constituição.
IV - as terras devolutas não compreendidas entre as da União. § 1º Ao Distrito Federal são atribuídas as competências
legislativas reservadas aos Estados e Municípios.
Municípios § 2º A eleição do Governador e do Vice-Governador, observadas
O Município, que também é um ente federado que possui au- as regras do art. 77, e dos Deputados Distritais coincidirá com a
tonomia administrativa (autoadministração) e política (auto-organi- dos Governadores e Deputados Estaduais, para mandato de igual
zação, autogoverno e capacidade normativa própria). E, vinculado duração.
ao Estado onde se localiza, depende na sua criação, incorporação, § 3º Aos Deputados Distritais e à Câmara Legislativa aplica-se
fusão ou desmembramento, de lei estadual dentro do período de- o disposto no art. 27.
terminado por lei complementar federal, além da realização de ple- § 4º Lei federal disporá sobre a utilização, pelo Governo do
biscito. Distrito Federal, da polícia civil, da polícia penal, da polícia militar
Sua capacidade de auto-organização consiste na possibilidade e do corpo de bombeiros militar (Redação dada pela Emenda
da elaboração da lei orgânica própria. O município possui o Poder Constitucional nº 104, de 2019).
Executivo, exercido pelo Prefeito e o Poder Legislativo, exercido
pela Câmara Municipal. Entretanto, não há Poder Judiciário na es- Atualmente, não existe no Brasil nenhum Território. Com a
fera municipal. É regido por lei orgânica, nos termos do art. 29, CF. CF/88, os territórios de Roraima e Amapá foram transformados em
A Constituição prevê ainda a composição das Câmaras Municipais Estados e Fernando de Noronha foi incorporado ao Estado de Per-
e o subsídio dos vereadores, de acordo com a quantidade de habi- nambuco.
tantes do município.
A competência dos municípios está elencada no art. 30, CF.
Art. 30. Compete aos Municípios: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. DISPOSIÇÕES GERAIS, SER-
I - legislar sobre assuntos de interesse local; VIDORES PÚBLICOS
II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber;
III - instituir e arrecadar os tributos de sua competência, bem
como aplicar suas rendas, sem prejuízo da obrigatoriedade de pres- — Disposições gerais
tar contas e publicar balancetes nos prazos fixados em lei; A administração pública consiste no conjunto de meios institu-
IV - criar, organizar e suprimir distritos, observada a legislação cionais, materiais, financeiros e humanos do Estado, preordenado
estadual; à realização de seus serviços, visando a satisfação das necessidades
coletivas.
V - organizar e prestar, diretamente ou sob regime de conces- A função administrativa é institucionalmente imputada a diver-
são ou permissão, os serviços públicos de interesse local, incluído o sas entidades governamentais autônomas, expressas no art. 37 da
de transporte coletivo, que tem caráter essencial; Constituição Federal.
VI - manter, com a cooperação técnica e financeira da União e
do Estado, programas de educação infantil e de ensino fundamen- Administração Pública Direta e Indireta
tal; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) A administração direta é a administração centralizada, defini-
VII - prestar, com a cooperação técnica e financeira da União e da como o conjunto de órgãos administrativos subordinados dire-
do Estado, serviços de atendimento à saúde da população; tamente ao Poder Executivo de cada entidade. Ex.: Ministérios, as
VIII - promover, no que couber, adequado ordenamento territo- Forças Armadas, a Receita Federal, os próprios Poderes Executivo,
rial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e Legislativo, Judiciário etc.
da ocupação do solo urbano; Por sua vez, a administração indireta é a descentralizada, com-
IX - promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local, posta por entidades personalizadas de prestação de serviço ou ex-
observada a legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual. ploração de atividades econômicas, mas vinculadas aos Poderes
Executivos da entidade pública. Ex.: Autarquias: Agência Nacional
de Aviação Civil – ANAC, Instituto Nacional de Colonização e Refor-
ma Agrária – INCRA e outras agências reguladoras, Universidade Fe-
deral de Alfenas – UNIFAL-MG e outras universidades federais, Cen-

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tros e Institutos Federais de Educação Tecnológica, Banco Central VII - o direito de greve será exercido nos termos e nos limites
do Brasil – BACEN; Conselho Federal de Medicina e outros Conse- definidos em lei específica (Redação dada pela Emenda Constitucio-
lhos Profissionais etc; Empresas Públicas: BNDES, Caixa Econômica nal nº 19, de 1998);
Federal, Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos etc; Sociedades VIII - a lei reservará percentual dos cargos e empregos públicos
de economia mista: Petrobrás, Banco do Brasil etc; Fundações pú- para as pessoas portadoras de deficiência e definirá os critérios de
blicas: Funai, Funasa, IBGE etc. sua admissão;
IX - a lei estabelecerá os casos de contratação por tempo de-
Princípios Específicos da Administração Pública terminado para atender a necessidade temporária de excepcional
Legalidade: todo o ato administrativo deve ser antecedido de interesse público;
lei;
Impessoalidade: todos atos e provimentos administrativos não O art. 37 da Constituição Federal estabelece ainda as regras
são imputáveis ao agente político que o realiza, mas sim ao órgão quanto a valores, limitações e formas de recebimento de remunera-
ou entidade pública em nome da qual atuou. ção e subsídios dos servidores públicos, bem como condições sobre
Moralidade: impõe a obediência à lei, não só no que ela tem de acúmulo de cargos e funções:
formal, mas como na sua teleologia. Não bastará ao administrador
o estrito cumprimento da legalidade, devendo ele, no exercício de Art. 37.
sua função pública, respeitar os princípios éticos de razoabilidade X - a remuneração dos servidores públicos e o subsídio de que
e justiça. trata o § 4º do art. 39 somente poderão ser fixados ou alterados por
Publicidade: todos os atos administrativos devem ser públicos, lei específica, observada a iniciativa privativa em cada caso, assegu-
vedado o sigilo e o segredo, salvo em hipóteses restritas que envol- rada revisão geral anual, sempre na mesma data e sem distinção de
vam a segurança nacional. índices (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
Eficiência: trazido pela Emenda Constitucional nº 19, este prin- (Regulamento);
cípio estabelece que os atos administrativos devem cumprir os seus XI - a remuneração e o subsídio dos ocupantes de cargos, fun-
propósitos de forma eficaz. ções e empregos públicos da administração direta, autárquica e
fundacional, dos membros de qualquer dos Poderes da União, dos
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, dos detentores de
dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Muni- mandato eletivo e dos demais agentes políticos e os proventos, pen-
cípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, mo- sões ou outra espécie remuneratória, percebidos cumulativamente
ralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte (Redação ou não, incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer outra na-
dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998): tureza, não poderão exceder o subsídio mensal, em espécie, dos
I - os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos Ministros do Supremo Tribunal Federal, aplicando-se como limite,
brasileiros que preencham os requisitos estabelecidos em lei, assim nos Municípios, o subsídio do Prefeito, e nos Estados e no Distrito
como aos estrangeiros, na forma da lei; (Redação dada pela Emen- Federal, o subsídio mensal do Governador no âmbito do Poder Exe-
da Constitucional nº 19, de 1998); cutivo, o subsídio dos Deputados Estaduais e Distritais no âmbito
do Poder Legislativo e o subsidio dos Desembargadores do Tribunal
— Servidores públicos de Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e cinco centésimos
Concurso Público: por cento do subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supre-
A investidura em cargo ou emprego público só se pode dar por mo Tribunal Federal, no âmbito do Poder Judiciário, aplicável este
meio de concurso público. Enquanto não há a posse, os aprovados limite aos membros do Ministério Público, aos Procuradores e aos
têm apenas uma expectativa de direito. Não há direito adquirido Defensores Públicos (Redação dada pela Emenda Constitucional nº
em relação ao cargo pela simples aprovação em concurso público. 41, 19.12.2003);
XII - os vencimentos dos cargos do Poder Legislativo e do Poder
Art. 37. Judiciário não poderão ser superiores aos pagos pelo Poder Execu-
II - a investidura em cargo ou emprego público depende de tivo;
aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e XIII - é vedada a vinculação ou equiparação de quaisquer es-
títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou pécies remuneratórias para o efeito de remuneração de pessoal do
emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para serviço público (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19,
cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exone- de 1998);
ração (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998); XIV - os acréscimos pecuniários percebidos por servidor público
III - o prazo de validade do concurso público será de até dois não serão computados nem acumulados para fins de concessão de
anos, prorrogável uma vez, por igual período; acréscimos ulteriores; (Redação dada pela Emenda Constitucional
IV - durante o prazo improrrogável previsto no edital de convo- nº 19, de 1998);
cação, aquele aprovado em concurso público de provas ou de pro- XV - o subsídio e os vencimentos dos ocupantes de cargos e em-
vas e títulos será convocado com prioridade sobre novos concursa- pregos públicos são irredutíveis, ressalvado o disposto nos incisos XI
dos para assumir cargo ou emprego, na carreira; e XIV deste artigo e nos arts. 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I;
V - as funções de confiança, exercidas exclusivamente por ser- (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998);
vidores ocupantes de cargo efetivo, e os cargos em comissão, a se- XVI - é vedada a acumulação remunerada de cargos públicos,
rem preenchidos por servidores de carreira nos casos, condições e exceto, quando houver compatibilidade de horários, observado em
percentuais mínimos previstos em lei, destinam-se apenas às atri- qualquer caso o disposto no inciso XI (Redação dada pela Emenda
buições de direção, chefia e assessoramento (Redação dada pela Constitucional nº 19, de 1998):
Emenda Constitucional nº 19, de 1998); a) a de dois cargos de professor; (Redação dada pela Emenda
VI - é garantido ao servidor público civil o direito à livre asso- Constitucional nº 19, de 1998);
ciação sindical; b) a de um cargo de professor com outro técnico ou científico
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998);

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DIREITO CONSTITUCIONAL
c) a de dois cargos ou empregos privativos de profissionais de II - o acesso dos usuários a registros administrativos e a infor-
saúde, com profissões regulamentadas; (Redação dada pela Emen- mações sobre atos de governo, observado o disposto no art. 5º, X e
da Constitucional nº 34, de 2001); XXXIII; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) (Vide
XVII - a proibição de acumular estende-se a empregos e funções Lei nº 12.527, de 2011);
e abrange autarquias, fundações, empresas públicas, sociedades de III - a disciplina da representação contra o exercício negligente
economia mista, suas subsidiárias, e sociedades controladas, direta ou abusivo de cargo, emprego ou função na administração pública.
ou indiretamente, pelo poder público (Redação dada pela Emenda (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998).
Constitucional nº 19, de 1998); XVIII - a administração fazendária e
seus servidores fiscais terão, dentro de suas áreas de competência Improbidade Administrativa
e jurisdição, precedência sobre os demais setores administrativos, A improbidade administrativa é espécie de ilegalidade pratica-
na forma da lei; da pelo servidor, qualificada pela finalidade de atribuir situação de
vantagem a si ou a outrem. A Lei nº 8.429/92, chamada de Lei de
E também a criação de autarquias e instituição de empresas Improbidade Administrativa, disciplina este dispositivo constitucio-
públicas, fundações e sociedades de economia mista: nal, previsto no art. 37, §4º.

Art. 37. Art. 37.


XIX - somente por lei específica poderá ser criada autarquia e § 4º Os atos de improbidade administrativa importarão a sus-
autorizada a instituição de empresa pública, de sociedade de econo- pensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponi-
mia mista e de fundação, cabendo à lei complementar, neste último bilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação
caso, definir as áreas de sua atuação (Redação dada pela Emenda previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.
Constitucional nº 19, de 1998); § 5º A lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos pra-
XX - depende de autorização legislativa, em cada caso, a cria- ticados por qualquer agente, servidor ou não, que causem prejuízos
ção de subsidiárias das entidades mencionadas no inciso anterior, ao erário, ressalvadas as respectivas ações de ressarcimento.
assim como a participação de qualquer delas em empresa privada; § 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito pri-
vado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que
Todas as obras, serviços e compras da Administração, nos ter-
seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o
mos do que preceitua o art. 37 da Constituição, deverão ser contra-
direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.
tadas por meio de licitação pública.
§ 7º A lei disporá sobre os requisitos e as restrições ao ocupante
de cargo ou emprego da administração direta e indireta que possi-
Art. 37.
bilite o acesso a informações privilegiadas (Incluído pela Emenda
XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as obras,
Constitucional nº 19, de 1998).
serviços, compras e alienações serão contratados mediante pro-
§ 8º A autonomia gerencial, orçamentária e financeira dos
cesso de licitação pública que assegure igualdade de condições a
todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações órgãos e entidades da administração direta e indireta poderá ser
de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos ter- ampliada mediante contrato, a ser firmado entre seus administra-
mos da lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação dores e o poder público, que tenha por objeto a fixação de metas de
desempenho para o órgão ou entidade, cabendo à lei dispor sobre
técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) (Regulamen-
obrigações (Regulamento).
to) (Vigência) :
I - o prazo de duração do contrato (Incluído pela Emenda Cons-
O referido art. 37, CF dispõe ainda sobre as informações na Ad-
titucional nº 19, de 1998)
ministração Pública:
II - os controles e critérios de avaliação de desempenho, di-
XXII - as administrações tributárias da União, dos Estados, do
reitos, obrigações e responsabilidade dos dirigentes (Incluído pela
Distrito Federal e dos Municípios, atividades essenciais ao funciona-
Emenda Constitucional nº 19, de 1998);
mento do Estado, exercidas por servidores de carreiras específicas,
III - a remuneração do pessoal (Incluído pela Emenda Constitu-
terão recursos prioritários para a realização de suas atividades e cional nº 19, de 1998);
atuarão de forma integrada, inclusive com o compartilhamento de § 9º O disposto no inciso XI aplica-se às empresas públicas e às
cadastros e de informações fiscais, na forma da lei ou convênio (In- sociedades de economia mista, e suas subsidiárias, que receberem
cluído pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003); recursos da União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municí-
§ 1º A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e cam- pios para pagamento de despesas de pessoal ou de custeio em geral
panhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, infor- (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998).
mativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes, § 10. É vedada a percepção simultânea de proventos de apo-
símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de auto- sentadoria decorrentes do art. 40 ou dos arts. 42 e 142 com a re-
ridades ou servidores públicos. muneração de cargo, emprego ou função pública, ressalvados os
§ 2º A não observância do disposto nos incisos II e III implicará a cargos acumuláveis na forma desta Constituição, os cargos eletivos
nulidade do ato e a punição da autoridade responsável, nos termos e os cargos em comissão declarados em lei de livre nomeação e exo-
da lei. neração. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
§ 3º A lei disciplinará as formas de participação do usuário na (Vide Emenda Constitucional nº 20, de 1998);
administração pública direta e indireta, regulando especialmente § 11. Não serão computadas, para efeito dos limites remunera-
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998): tórios de que trata o inciso XI do caput deste artigo, as parcelas de
I - as reclamações relativas à prestação dos serviços públicos caráter indenizatório previstas em lei (Incluído pela Emenda Consti-
em geral, asseguradas a manutenção de serviços de atendimento tucional nº 47, de 2005).
ao usuário e a avaliação periódica, externa e interna, da qualidade § 12. Para os fins do disposto no inciso XI do caput deste artigo,
dos serviços (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998); fica facultado aos Estados e ao Distrito Federal fixar, em seu âmbito,
mediante emenda às respectivas Constituições e Lei Orgânica, como
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DIREITO CONSTITUCIONAL
limite único, o subsídio mensal dos Desembargadores do respecti- aproveitado em outro cargo ou posto em disponibilidade com re-
vo Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e cinco muneração proporcional ao tempo de serviço (Redação dada pela
centésimos por cento do subsídio mensal dos Ministros do Supremo Emenda Constitucional nº 19, de 1998);
Tribunal Federal, não se aplicando o disposto neste parágrafo aos § 3º Extinto o cargo ou declarada a sua desnecessidade, o ser-
subsídios dos Deputados Estaduais e Distritais e dos Vereadores (In- vidor estável ficará em disponibilidade, com remuneração propor-
cluído pela Emenda Constitucional nº 47, de 2005). cional ao tempo de serviço, até seu adequado aproveitamento em
§ 13. O servidor público titular de cargo efetivo poderá ser rea- outro cargo (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de
daptado para exercício de cargo cujas atribuições e responsabilida- 1998);
des sejam compatíveis com a limitação que tenha sofrido em sua § 4º Como condição para a aquisição da estabilidade, é obriga-
capacidade física ou mental, enquanto permanecer nesta condição, tória a avaliação especial de desempenho por comissão instituída
desde que possua a habilitação e o nível de escolaridade exigidos para essa finalidade (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de
para o cargo de destino, mantida a remuneração do cargo de ori- 1998).
gem (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019).
§ 14. A aposentadoria concedida com a utilização de tempo São militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios,
de contribuição decorrente de cargo, emprego ou função pública, os membros das polícias militares e corpos de bombeiros militares,
inclusive do Regime Geral de Previdência Social, acarretará o rom- instituições organizadas com base na hierarquia e disciplina, nos
pimento do vínculo que gerou o referido tempo de contribuição. (In- termos do art. 42, CF. Aos militares são proibidas a sindicalização e
cluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) a greve, em face das funções por eles desempenhadas.
§ 15. É vedada a complementação de aposentadorias de servi-
dores públicos e de pensões por morte a seus dependentes que não Art. 42. Os membros das Polícias Militares e Corpos de Bom-
seja decorrente do disposto nos §§ 14 a 16 do art. 40 ou que não beiros Militares, instituições organizadas com base na hierarquia e
seja prevista em lei que extinga regime próprio de previdência social disciplina, são militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Terri-
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019). tórios (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 18, de 1998).
§ 1º Aplicam-se aos militares dos Estados, do Distrito Federal e
Regime Jurídico dos Servidores Públicos
dos Territórios, além do que vier a ser fixado em lei, as disposições
O regime jurídico dos servidores públicos é o conjunto de princípios
do art. 14, § 8º; do art. 40, § 9º; e do art. 142, §§ 2º e 3º, cabendo
e regras destinadas à regulação das relações funcionais da administração
a lei estadual específica dispor sobre as matérias do art. 142, § 3º,
pública e seus agentes. Pode ser geral, aplicável a todos os servidores de
inciso X, sendo as patentes dos oficiais conferidas pelos respectivos
uma determinada pessoa política (da Administração Pública Federal, Es-
governadores (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de
tadual, Municipal, por exemplo) ou específico, como é o caso de algumas
15/12/98).
carreiras, como a Magistratura, Ministério Público etc.
§ 2º Aos pensionistas dos militares dos Estados, do Distrito Fe-
O Regime Jurídico dos Servidores Públicos da União é estatu-
tário e regido pela Lei nº 8.112 de 1990. Nas esferas distrital, es- deral e dos Territórios aplica-se o que for fixado em lei específica do
taduais e municipais podem ser adotados estatutos próprios, des- respectivo ente estatal (Redação dada pela Emenda Constitucional
de compatíveis com os preceitos da Constituição Federal e da Lei nº 41, 19.12.2003).
8.112/90.
No regime estatutário não há relação contratual empregatícia. § 3º Aplica-se aos militares dos Estados, do Distrito Federal e
A Constituição Federal prevê todo o regime jurídico dos Servi- dos Territórios o disposto no art. 37, inciso XVI, com prevalência da
dores Públicos, com sistema remuneratório, regime previdenciário atividade militar (Incluído pela Emenda Constitucional nº 101, de
e regra geral de aposentadoria, nos termos do art. 40, CF. 2019).
A estabilidade é uma das garantias do serviço público, prevista
constitucionalmente. É adquirida pelo funcionário concursado após
três anos de efetivo exercício da função pública e impede que ele PODER EXECUTIVO. ATRIBUIÇÕES E RESPONSABILIDA-
seja desvinculado do serviço público arbitrariamente, a não ser por DES DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA
sentença transitada em julgado ou decisão administrativa em que
lhe foi dado amplo direito de defesa, aposentadoria compulsória,
exoneração a pedido ou morte: O Poder Executivo é o órgão constitucional cuja função princi-
pal é a prática dos atos de chefia de estado, de governo e de admi-
Art. 41. São estáveis após três anos de efetivo exercício os ser- nistração, mas de forma atípica, também legisla através da edição
vidores nomeados para cargo de provimento efetivo em virtude de de Medidas Provisórias e julga contenciosos administrativos.
concurso público (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, Art. 76. O Poder Executivo é exercido pelo Presidente da Repú-
de 1998). blica, auxiliado pelos Ministros de Estado.
§ 1º O servidor público estável só perderá o cargo (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998): Chefe de Estado e Chefe de Governo
I - em virtude de sentença judicial transitada em julgado (Incluí- O Brasil adota o presidencialismo, que tem unificadas na figura
do pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998); do Presidente da República as funções do Chefe de Estado e Chefe
II - mediante processo administrativo em que lhe seja assegu- de Governo. Portanto, o Poder Executivo brasileiro é monocrático.
rada ampla defesa (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de Como chefe de Estado, o presidente representa o país nas suas re-
1998); lações internacionais e como chefe de governo exerce a liderança
III - mediante procedimento de avaliação periódica de desem- nacional, gerindo o país política e administrativamente.
penho, na forma de lei complementar, assegurada ampla defesa O presidente será eleito por maioria absoluta de votos, não
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998); computados os em branco e os nulos. Entende-se por maioria ab-
§ 2º Invalidada por sentença judicial a demissão do servidor soluta, mais que a metade, o número subsequente à metade, ou
estável, será ele reintegrado, e o eventual ocupante da vaga, se es- a metade +1 do número total de votantes. Quando o candidato
tável, reconduzido ao cargo de origem, sem direito a indenização, mais votado não alcança a maioria absoluta, realiza-se segundo tur-

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DIREITO CONSTITUCIONAL
no entre os dois mais votados. A maioria absoluta é diferente da XXII - permitir, nos casos previstos em lei complementar, que
maioria simples, que consiste no maior resultado da votação, inde- forças estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele per-
pendentemente de exigência de quórum percentual relacionado à maneçam temporariamente;
quantidade total de votantes XXIII - enviar ao Congresso Nacional o plano plurianual, o pro-
jeto de lei de diretrizes orçamentárias e as propostas de orçamento
— Atribuições e responsabilidades do presidente da Repúbli- previstos nesta Constituição;
ca XXIV - prestar, anualmente, ao Congresso Nacional, dentro de
Como chefe de Governo e Estado, compete ao Presidente da sessenta dias após a abertura da sessão legislativa, as contas refe-
República as atribuições e responsabilidades trazidas nos artigos rentes ao exercício anterior;
84, CF. XXV - prover e extinguir os cargos públicos federais, na forma
Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: da lei;
I - nomear e exonerar os Ministros de Estado; XXVI - editar medidas provisórias com força de lei, nos termos
II - exercer, com o auxílio dos Ministros de Estado, a direção do art. 62;
superior da administração federal; XXVII - exercer outras atribuições previstas nesta Constituição.
III - iniciar o processo legislativo, na forma e nos casos previstos Parágrafo único. O Presidente da República poderá delegar as
nesta Constituição; atribuições mencionadas nos incisos VI, XII e XXV, primeira parte,
IV - sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como aos Ministros de Estado, ao Procurador-Geral da República ou ao
expedir decretos e regulamentos para sua fiel execução; Advogado-Geral da União, que observarão os limites traçados nas
V - vetar projetos de lei, total ou parcialmente; respectivas delegações.
VI - dispor, mediante decreto, sobre: (Redação dada pela Emen-
da Constitucional nº 32, de 2001). Requisitos de elegibilidade do Presidente e Vice-Presidente
a) organização e funcionamento da administração federal, — Ser brasileiro nato;
quando não implicar aumento de despesa nem criação ou extinção — Estar no gozo dos direitos políticos;
de órgãos públicos; (Incluída pela Emenda Constitucional nº 32, de — Ter mais de trinta e cinco anos;
2001).
— Não ser inelegível;
b) extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos; (In-
— Possuir filiação partidária.
cluída pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001).
VII - manter relações com Estados estrangeiros e acreditar seus
Ordem de sucessão presidencial no caso de impedimento ou
representantes diplomáticos;
vacância:
VIII - celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujei-
Em caso de impedimento ou vacância do cargo de Presidente,
tos a referendo do Congresso Nacional;
este será substituído pelo: Vice-presidente, Presidente da Câmara
IX - decretar o estado de defesa e o estado de sítio;
X - decretar e executar a intervenção federal; dos Deputados, Presidente do Senado Federal e Presidente do Su-
XI - remeter mensagem e plano de governo ao Congresso Na- premo Tribunal Federal, nesta ordem.
cional por ocasião da abertura da sessão legislativa, expondo a si-
tuação do País e solicitando as providências que julgar necessárias;
PODER LEGISLATIVO. ESTRUTURA. FUNCIONAMENTO E
XII - conceder indulto e comutar penas, com audiência, se ne-
ATRIBUIÇÕES. PROCESSO LEGISLATIVO
cessário, dos órgãos instituídos em lei;
XIII - exercer o comando supremo das Forças Armadas, nomear
os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, promo-
ver seus oficiais-generais e nomeá-los para os cargos que lhes são — Estrutura
privativos; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 23, O Poder Legislativo no Brasil é bicameral, ou seja, composto
de 02/09/99) por duas casas: a Câmara dos Deputados e o Senado Federal, a pri-
XIV - nomear, após aprovação pelo Senado Federal, os Minis- meira constituída por representantes do povo e a segunda, por re-
tros do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores, os Go- presentantes dos Estados-Membros e do Distrito Federal (LENZA,
vernadores de Territórios, o Procurador-Geral da República, o pre- 2019). Câmara e Senado formam o Congresso Nacional.
sidente e os diretores do banco central e outros servidores, quando Já o Poder Legislativo em âmbito estadual, municipal, distrital
determinado em lei; e dos Territórios Federais, é do tipo unicameral, composto por uma
XV - nomear, observado o disposto no art. 73, os Ministros do única casa legislativa, sendo a Assembleia Legislativa, composta pe-
Tribunal de Contas da União; los Deputados Estaduais, em âmbito estadual, e a Câmara Munici-
XVI - nomear os magistrados, nos casos previstos nesta Consti- pal, composta pelos Vereadores em âmbito municipal.
tuição, e o Advogado-Geral da União; As casas Legislativas são geralmente formadas por três instân-
XVII - nomear membros do Conselho da República, nos termos cias: mesa diretora, comissões e plenário.
do art. 89, VII; A mesa diretora tem funções administrativas sobre o funciona-
XVIII - convocar e presidir o Conselho da República e o Conselho mento da Casa, e o presidente da mesa é o responsável pelo proces-
de Defesa Nacional; so legislativo. É ele quem organiza a pauta das reuniões e, portanto,
XIX - declarar guerra, no caso de agressão estrangeira, autori- decide quais assuntos serão examinados pelo plenário. Tem o poder
zado pelo Congresso Nacional ou referendado por ele, quando ocor- de obstruir as decisões do Executivo ou os projetos de lei dos par-
rida no intervalo das sessões legislativas, e, nas mesmas condições, lamentares se não os colocar em votação. A mesa do Congresso
decretar, total ou parcialmente, a mobilização nacional; Nacional é presidida pelo presidente do Senado.
XX - celebrar a paz, autorizado ou com o referendo do Congres- As comissões podem ser permanentes, definidas pelos respec-
so Nacional; tivos regimentos internos, com o poder para discutir e votar alguns
XXI - conferir condecorações e distinções honoríficas; projetos de lei sem passar pelo plenário, e temporárias, criadas

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DIREITO CONSTITUCIONAL
para tratar de assuntos específicos. As comissões também podem — Autorizar o Presidente e o Vice-Presidente da República a se
realizar audiências públicas com entidades da sociedade civil, con- ausentarem do País, quando a ausência exceder a quinze dias;
vocar autoridades e cidadãos para prestar informações. — Aprovar o estado de defesa e a intervenção federal, autori-
O Plenário é a instância máxima e soberana no Legislativo para zar o estado de sítio, ou suspender qualquer uma dessas medidas;
qualquer decisão. Nas votações, a decisão de cada um dos parla- — Sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem
mentares é influenciada por vários fatores, dentre eles o programa do poder regulamentar ou dos limites de delegação legislativa;
do partido político ao qual cada parlamentar é filiado e os compro- — Mudar temporariamente sua sede;
missos assumidos com as chamadas bases eleitorais. — Fixar idêntico subsídio para os Deputados Federais e os Se-
nadores, observado o que dispõem os arts. 37, XI, 39, § 4.º, 150, II,
— Funcionamento e atribuições 153, III, e 153, § 2.º, I;
Atribuições e competência do Congresso Nacional — Fixar os subsídios do Presidente e do Vice-Presidente da
A maioria das pessoas se preocupa muito com as eleições para República e dos Ministros de Estado, observado o que dispõem os
os cargos do Executivo, dando menos importância aos Deputados arts. 37, XI, 39, § 4.º, 150, II, 153, III, e 153, § 2.º, I;
Federais, Estaduais, Senadores e Vereadores municipais, entretan- — Julgar anualmente as contas prestadas pelo Presidente da
to, a esses representantes competem uma função típica tão impor- República e apreciar os relatórios sobre a execução dos planos de
tante quanto a de governar e administrar: a legislatura. São eles os governo;
responsáveis por pensarem e fazerem as leis que regem todo o país — Fiscalizar e controlar, diretamente, ou por qualquer de suas
e são aplicadas pelo Poder Judiciário. Casas, os atos do Poder Executivo, incluídos os da administração
Compete ao Congresso Nacional, com a sanção do Presidente indireta;
da República, nos termos do art. 48, CF, dispor sobre todas as maté- — Zelar pela preservação de sua competência legislativa em
rias de competência da União, especialmente sobre: face da atribuição normativa dos outros Poderes;
— Sistema tributário, arrecadação e distribuição de rendas; — Apreciar os atos de concessão e renovação de concessão de
— Plano plurianual, diretrizes orçamentárias, orçamento anual, emissoras de rádio e televisão;
operações de crédito, dívida pública e emissões de curso forçado; — Escolher dois terços dos membros do Tribunal de Contas da
— Fixação e modificação do efetivo das Forças Armadas; União;
— Planos e programas nacionais, regionais e setoriais de de- — Aprovar iniciativas do Poder Executivo referentes a ativida-
senvolvimento; des nucleares;
— Limites do território nacional, espaço aéreo e marítimo e — Autorizar referendo e convocar plebiscito;
bens do domínio da União; — Autorizar, em terras indígenas, a exploração e o aproveita-
— Incorporação, subdivisão ou desmembramento de áreas de mento de recursos hídricos e a pesquisa e lavra de riquezas mine-
Territórios ou Estados, ouvidas as respectivas Assembleias Legisla- rais;
tivas; — Aprovar, previamente, a alienação ou concessão de terras
— Transferência temporária da sede do Governo Federal; públicas com área superior a dois mil e quinhentos hectares (LEN-
— Concessão de anistia; ZA, 2019, p. 887).
— Organização administrativa, judiciária, do Ministério Público
e da Defensoria Pública da União e dos Territórios, e organização ju- Competências privativas da Câmara dos Deputados e do Se-
diciária e do Ministério Público do Distrito Federal (EC n. 69/2012); nado Federal
— Criação, transformação e extinção de cargos, empregos e As matérias de competência privativa dos Deputados Federais
funções públicas, observado o que estabelece o art. 84, VI, “b”, já não dependerão de sanção presidencial, nos termos do art. 48,
que, quando vagos os cargos ou funções públicas, caberá ao Presi- caput, CF e estão previstas no art. 51, CF. Tais atribuições, geram
dente, mediante decreto, dispor sobre a extinção; espécies normativas materializadas por meio de resoluções.
— Criação e extinção de Ministérios e órgãos da Administração
Pública (confira, também, o art. 88 da CF/88, alterado pela EC n. Art. 51. Compete privativamente à Câmara dos Deputados:
32/2001); I - autorizar, por dois terços de seus membros, a instauração de
— Telecomunicações e radiodifusão; processo contra o Presidente e o Vice-Presidente da República e os
— Matéria financeira, cambial e monetária, instituições finan- Ministros de Estado;
ceiras e suas operações; II - proceder à tomada de contas do Presidente da República,
— Moeda, seus limites de emissão e montante da dívida mo- quando não apresentadas ao Congresso Nacional dentro de sessen-
biliária federal; ta dias após a abertura da sessão legislativa;
— Fixação do subsídio dos Ministros do STF, observado o que III - elaborar seu regimento interno;
dispõem os arts. 39, § 4º; 150, II; 153, III; e 153, § 2.º, I (LENZA, IV – dispor sobre sua organização, funcionamento, polícia, cria-
2019, p. 886). ção, transformação ou extinção dos cargos, empregos e funções de
seus serviços, e a iniciativa de lei para fixação da respectiva remune-
Também compete exclusivamente ao Congresso Nacional, nos ração, observados os parâmetros estabelecidos na lei de diretrizes
termos do art. 49, CF: orçamentárias; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19,
— Resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos in- de 1998).
ternacionais que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao V - eleger membros do Conselho da República, nos termos do
patrimônio nacional; art. 89, VII.
— Autorizar o Presidente da República a declarar guerra, a ce-
lebrar a paz, a permitir que forças estrangeiras transitem pelo terri- O Senado Federal compõe-se de representantes dos Estados e
tório nacional ou nele permaneçam temporariamente, ressalvados do Distrito Federal e tem a mesma relevância e força dada à Câmara
os casos previstos em lei complementar (cf. LC n. 90/97, com as dos Deputados.
alterações introduzidas pela LC n. 149/2015);

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DIREITO CONSTITUCIONAL
Segundo Lenza (2019) cada Estado e o Distrito Federal elegerão Parágrafo único. Nos casos previstos nos incisos I e II, funcio-
3 Senadores, sendo que cada Senador será eleito com 2 suplentes nará como Presidente o do Supremo Tribunal Federal, limitando-se
para o mandato de 8 anos, portanto, duas legislaturas. São requisi- a condenação, que somente será proferida por dois terços dos vo-
tos para a candidatura dos Senadores: ser brasileiro nato ou natura- tos do Senado Federal, à perda do cargo, com inabilitação, por oito
lizado, maior de 35 anos, estar em pleno exercício dos direitos po- anos, para o exercício de função pública, sem prejuízo das demais
líticos; ter domicílio eleitoral na circunscrição; alistamento eleitoral sanções judiciais cabíveis.
e filiação partidária.
— Processo legislativo
Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal: O processo legislativo é o conjunto de regras constitucional-
I - processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da Re- mente previstas para elaboração das normas e leis previstas no art.
pública nos crimes de responsabilidade, bem como os Ministros de 59, CF, pelo Poder Legislativo.
Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica
nos crimes da mesma natureza conexos com aqueles (Redação dada Art. 59. O processo legislativo compreende a elaboração de:
pela Emenda Constitucional nº 23, de 02/09/99); I - emendas à Constituição;
II processar e julgar os Ministros do Supremo Tribunal Federal, II - leis complementares;
os membros do Conselho Nacional de Justiça e do Conselho Nacio- III - leis ordinárias;
nal do Ministério Público, o Procurador-Geral da República e o Ad- IV - leis delegadas;
vogado-Geral da União nos crimes de responsabilidade (Redação V - medidas provisórias;
dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004); VI - decretos legislativos;
III - aprovar previamente, por voto secreto, após arguição pú- VII - resoluções.
blica, a escolha de: Parágrafo único. Lei complementar disporá sobre a elaboração,
a) Magistrados, nos casos estabelecidos nesta Constituição; redação, alteração e consolidação das leis.
b) Ministros do Tribunal de Contas da União indicados pelo Pre-
sidente da República; O processo legislativo brasileiro é o indireto ou representativo,
c) Governador de Território; pelo qual o povo escolhe seus mandatários (parlamentares), que
d) Presidente e diretores do banco central; receberão de forma autônoma poderes para decidir sobre os as-
e) Procurador-Geral da República; suntos de sua competência constitucional. Há quatro espécies de
f) titulares de outros cargos que a lei determinar; processos ou procedimentos legislativos, o comum ou ordinário, o
IV - aprovar previamente, por voto secreto, após arguição em sumário, os especiais e os especialíssimos.
sessão secreta, a escolha dos chefes de missão diplomática de ca- O processo legislativo ordinário se destina à elaboração das leis
ráter permanente; ordinárias, caracterizando-se pela sua maior extensão. O processo
V - autorizar operações externas de natureza financeira, de in- legislativo sumário, difere-se do ordinário apenas pela existência de
teresse da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e prazo para que o Congresso Nacional delibere sobre determinado
dos Municípios; assunto. Os processos legislativos especiais são estabelecidos para
VI - fixar, por proposta do Presidente da República, limites glo- a elaboração das emendas à Constituição, leis complementares, leis
bais para o montante da dívida consolidada da União, dos Estados, delegadas, medidas provisórias, decretos-legislativos e resoluções.
do Distrito Federal e dos Municípios; E, o especialíssimo é previsto para leis financeiras e orçamentárias.
VII - dispor sobre limites globais e condições para as operações São basicamente três as etapas ou fases do processo legislativo
de crédito externo e interno da União, dos Estados, do Distrito Fede- brasileiro, havendo divergências doutrinárias: a iniciativa, a consti-
ral e dos Municípios, de suas autarquias e demais entidades contro- tutiva, que compreende a deliberação parlamentar, com a discus-
ladas pelo Poder Público federal; são e votação, e a deliberação executiva, através da sanção ou veto,
VIII - dispor sobre limites e condições para a concessão de ga- e a complementar, que compreende a promulgação e a publicação.
rantia da União em operações de crédito externo e interno; As hipóteses da iniciativa são: geral, concorrente, privativa, po-
IX - estabelecer limites globais e condições para o montante da pular, conjunta, do art. 67 e a parlamentar ou extraparlamentar. De
dívida mobiliária dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; maneira ampla, a CF atribui competência às seguintes pessoas e aos
X - suspender a execução, no todo ou em parte, de lei declarada órgãos, conforme prevê o art. 61, caput (iniciativa geral): qualquer
inconstitucional por decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal; Deputado Federal ou Senador da República; Comissão da Câmara
XI - aprovar, por maioria absoluta e por voto secreto, a exone- dos Deputados, do Senado Federal ou do Congresso Nacional; Pre-
ração, de ofício, do Procurador-Geral da República antes do término sidente da República; Supremo Tribunal Federal; Tribunais Superio-
de seu mandato; res; Procurador-Geral da República e cidadãos (LENZA, 2019).
XII - elaborar seu regimento interno; A fase constitutiva expressa a conjugação de vontades do legis-
XIII - dispor sobre sua organização, funcionamento, polícia, lativo (deliberação parlamentar - discussão e votação) e do executi-
criação, transformação ou extinção dos cargos, empregos e funções vo (deliberação executiva - sanção ou veto). A discussão e votação
de seus serviços, e a iniciativa de lei para fixação da respectiva re- dos projetos de lei de iniciativa do Presidente da República, do Su-
muneração, observados os parâmetros estabelecidos na lei de dire- premo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores, bem como os
trizes orçamentárias (Redação dada pela Emenda Constitucional nº projetos de iniciativa concorrente dos Deputados ou de Comissões
19, de 1998); da Câmara, os de iniciativa do Procurador-Geral da República e, na-
XIV - eleger membros do Conselho da República, nos termos do turalmente, os de iniciativa popular terão início na Câmara dos De-
art. 89, VII. putados, sendo esta, portanto, a casa iniciadora e o Senado Federal,
XV - avaliar periodicamente a funcionalidade do Sistema Tribu- em todas essas hipóteses lembradas, a casa revisora. Perante o Se-
tário Nacional, em sua estrutura e seus componentes, e o desempe- nado Federal são propostos somente os projetos de lei de iniciativa
nho das administrações tributárias da União, dos Estados e do Dis- dos Senadores ou de Comissões do Senado, funcionando, nesses
trito Federal e dos Municípios (Incluído pela Emenda Constitucional casos, a Câmara dos Deputados como casa revisora (LENZA, 2019).
nº 42, de 19.12.2003).

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Ainda segundo Lenza (2019), terminada a fase de discussão Público, excetuadas as nomeações para cargo de provimento em
e votação, aprovado o projeto de lei, deverá ele ser encaminhado comissão, bem como a das concessões de aposentadorias, reformas
para a apreciação do Chefe do Executivo para sanção, concordân- e pensões, ressalvadas as melhorias posteriores que não alterem o
cia, ou veto, discordância total ou parcial. A sanção poderá ser ex- fundamento legal do ato concessório;
pressa ou tácita e representa o momento em que o projeto de lei IV - realizar, por iniciativa própria, da Câmara dos Deputados,
se transforma em lei, para promulgação. Em caso de discordância, do Senado Federal, de Comissão técnica ou de inquérito, inspeções
poderá o Presidente da República vetar o projeto de lei, total ou e auditorias de natureza contábil, financeira, orçamentária, ope-
parcialmente, no prazo de 15 dias úteis, contados da data do rece- racional e patrimonial, nas unidades administrativas dos Poderes
bimento. O veto deverá ser sempre expresso e justificado, podendo Legislativo, Executivo e Judiciário, e demais entidades referidas no
ser considerado inconstitucional (veto jurídico), ou contrário ao in- inciso II;
teresse público (veto político). O veto é irretratável, porém, relativo, V - fiscalizar as contas nacionais das empresas supranacionais
podendo ser derrubado em sessão conjunta da Câmara e do Sena- de cujo capital social a União participe, de forma direta ou indireta,
do, dentro de 30 dias a contar de seu recebimento, pelo voto da nos termos do tratado constitutivo;
maioria absoluta dos Deputados e Senadores. VI - fiscalizar a aplicação de quaisquer recursos repassados pela
A fase final ou complementar do processo legislativo com- União mediante convênio, acordo, ajuste ou outros instrumentos
preende a promulgação e a publicação. A promulgação é o ato de congêneres, a Estado, ao Distrito Federal ou a Município;
validade da lei, ainda não eficaz. E a publicação é o ato de se dar VII - prestar as informações solicitadas pelo Congresso Nacio-
publicidade a nova lei, inserindo o conteúdo do texto no Diário nal, por qualquer de suas Casas, ou por qualquer das respectivas
Oficial. Com a publicação se estabelece o momento da obrigatorie- Comissões, sobre a fiscalização contábil, financeira, orçamentária,
dade do cumprimento da lei. Em regra, a lei começa a vigorar em operacional e patrimonial e sobre resultados de auditorias e inspe-
todo o país, 45 dias depois de sua publicação, nos termos da Lei de ções realizadas;
Introdução às Normas do Direito Brasileiro. Excepcionalmente, a Lei VIII - aplicar aos responsáveis, em caso de ilegalidade de des-
também pode entrar em vigor na data de sua publicação. pesa ou irregularidade de contas, as sanções previstas em lei, que
estabelecerá, entre outras cominações, multa proporcional ao dano
— Fiscalização contábil, financeira e orçamentária
causado ao erário;
A fiscalização contábil, financeira e orçamentária dos órgãos da
IX - assinar prazo para que o órgão ou entidade adote as pro-
União e da Administração Pública são de competência interna do
vidências necessárias ao exato cumprimento da lei, se verificada
sistema de controle de cada Poder e externo, do Congresso Nacio-
ilegalidade;
nal, com auxílio do Tribunal de Contas.
X - sustar, se não atendido, a execução do ato impugnado, co-
municando a decisão à Câmara dos Deputados e ao Senado Federal;
Art. 70. A fiscalização contábil, financeira, orçamentária, ope-
XI - representar ao Poder competente sobre irregularidades ou
racional e patrimonial da União e das entidades da administração
direta e indireta, quanto à legalidade, legitimidade, economicidade, abusos apurados.
aplicação das subvenções e renúncia de receitas, será exercida pelo § 1º No caso de contrato, o ato de sustação será adotado dire-
Congresso Nacional, mediante controle externo, e pelo sistema de tamente pelo Congresso Nacional, que solicitará, de imediato, ao
controle interno de cada Poder. Poder Executivo as medidas cabíveis.
Parágrafo único. Prestará contas qualquer pessoa física ou jurí- § 2º Se o Congresso Nacional ou o Poder Executivo, no prazo de
dica, pública ou privada, que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou noventa dias, não efetivar as medidas previstas no parágrafo ante-
administre dinheiros, bens e valores públicos ou pelos quais a União rior, o Tribunal decidirá a respeito.
responda, ou que, em nome desta, assuma obrigações de nature- § 3º As decisões do Tribunal de que resulte imputação de débito
za pecuniária (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de ou multa terão eficácia de título executivo.
1998). § 4º O Tribunal encaminhará ao Congresso Nacional, trimestral
e anualmente, relatório de suas atividades.
O Tribunal de Contas da União é o órgão auxiliar e de orienta- Art. 72. A Comissão mista permanente a que se refere o art.
ção do Poder Legislativo, embora autônomo e a ele não subordina- 166, §1º, diante de indícios de despesas não autorizadas, ainda que
do, praticando atos de natureza administrativa, concernentes, ba- sob a forma de investimentos não programados ou de subsídios não
sicamente, à fiscalização. Deve, portanto, examinar rotineiramente aprovados, poderá solicitar à autoridade governamental responsá-
as contas públicas, nos termos do art. 71 e seguintes da Constitui- vel que, no prazo de cinco dias, preste os esclarecimentos necessá-
ção Federal: rios.
§ 1º Não prestados os esclarecimentos, ou considerados estes
Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, insuficientes, a Comissão solicitará ao Tribunal pronunciamento
será exercido com o auxílio do Tribunal de Contas da União, ao qual conclusivo sobre a matéria, no prazo de trinta dias.
compete: § 2º Entendendo o Tribunal irregular a despesa, a Comissão,
I - apreciar as contas prestadas anualmente pelo Presidente da se julgar que o gasto possa causar dano irreparável ou grave lesão
República, mediante parecer prévio que deverá ser elaborado em à economia pública, proporá ao Congresso Nacional sua sustação.
sessenta dias a contar de seu recebimento; Art. 73. O Tribunal de Contas da União, integrado por nove Mi-
II - julgar as contas dos administradores e demais responsáveis nistros, tem sede no Distrito Federal, quadro próprio de pessoal e
por dinheiros, bens e valores públicos da administração direta e in- jurisdição em todo o território nacional, exercendo, no que couber,
direta, incluídas as fundações e sociedades instituídas e mantidas as atribuições previstas no art. 96.
pelo Poder Público federal, e as contas daqueles que derem causa § 1º Os Ministros do Tribunal de Contas da União serão nomea-
a perda, extravio ou outra irregularidade de que resulte prejuízo ao dos dentre brasileiros que satisfaçam os seguintes requisitos:
erário público; I - mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos de
III - apreciar, para fins de registro, a legalidade dos atos de idade;
admissão de pessoal, a qualquer título, na administração direta e II - idoneidade moral e reputação ilibada;
indireta, incluídas as fundações instituídas e mantidas pelo Poder

171
DIREITO CONSTITUCIONAL
III - notórios conhecimentos jurídicos, contábeis, econômicos e Parágrafo único. As Constituições estaduais disporão sobre os
financeiros ou de administração pública; Tribunais de Contas respectivos, que serão integrados por sete Con-
IV - mais de dez anos de exercício de função ou de efetiva ati- selheiros.
vidade profissional que exija os conhecimentos mencionados no in-
ciso anterior. — Comissões parlamentares de inquérito
§ 2º Os Ministros do Tribunal de Contas da União serão esco- De modo geral, as comissões parlamentares são organismos
lhidos: instituídos em cada Câmara, para uma determinada finalidade,
I - um terço pelo Presidente da República, com aprovação do como estudar e examinar as proposições legislativas e apresentar
Senado Federal, sendo dois alternadamente dentre auditores e pareceres. As CPIs são comissões investigativas temporárias, desti-
membros do Ministério Público junto ao Tribunal, indicados em lista nadas a averiguação e apuração de fato certo e determinado e es-
tríplice pelo Tribunal, segundo os critérios de antiguidade e mere- tão disciplinadas no art. 58, § 3.º, da CF/88, na Lei n. 1.579/52 (alte-
cimento; rada pelas Leis 10.679/2003 e 13.367/2016), na Lei n. 10.001/2000,
II - dois terços pelo Congresso Nacional. na LC n. 105/2001 e nos Regimentos Internos das Casas Legislativas.
§ 3° Os Ministros do Tribunal de Contas da União terão as mes- As CPIs serão criadas pela Câmara dos Deputados e pelo Sena-
mas garantias, prerrogativas, impedimentos, vencimentos e van- do Federal, em conjunto ou separadamente, mediante requerimen-
tagens dos Ministros do Superior Tribunal de Justiça, aplicando-se- to de 1/3 da totalidade de seus membros, com indicação precisa
-lhes, quanto à aposentadoria e pensão, as normas constantes do do fato a ser apurado na investigação parlamentar e do prazo certo
art. 40 (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998). para o desenvolvimento e conclusão dos trabalhos.
§ 4º O auditor, quando em substituição a Ministro, terá as mes- Além de ouvir testemunhas e investigados as CPIs podem de-
mas garantias e impedimentos do titular e, quando no exercício das terminar quebra do sigilo fiscal, bancário e de dados, inclusive te-
demais atribuições da judicatura, as de juiz de Tribunal Regional lefônicos.
Federal.
Art. 74. Os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário mante-
rão, de forma integrada, sistema de controle interno com a finali- PODER JUDICIÁRIO. DISPOSIÇÕES GERAIS. ÓRGÃOS DO
dade de: PODER JUDICIÁRIO
I - avaliar o cumprimento das metas previstas no plano pluria-
nual, a execução dos programas de governo e dos orçamentos da
União;
— Disposições gerais
II - comprovar a legalidade e avaliar os resultados, quanto à
Mais do que o Poder incumbido da função e prestação jurisdi-
eficácia e eficiência, da gestão orçamentária, financeira e patrimo-
cional, é o Poder Judiciário o guardião da Constituição e garantidor
nial nos órgãos e entidades da administração federal, bem como
dos direitos fundamentais. A função jurisdicional só pode ser de-
da aplicação de recursos públicos por entidades de direito privado;
III - exercer o controle das operações de crédito, avais e garan- sempenhada pelo Poder Judiciário, único poder capaz de produzir
tias, bem como dos direitos e haveres da União; decisões que venham se revestir da força de coisa julgada.
IV - apoiar o controle externo no exercício de sua missão insti- O Judiciário não é subordinado ao governo e suas principais
tucional. características são a independência, autonomia a imparcialidade,
§ 1º Os responsáveis pelo controle interno, ao tomarem conhe- fundamentais para que a lei possa ser aplicada ao caso concreto até
cimento de qualquer irregularidade ou ilegalidade, dela darão ciên- mesmo em desfavor do governo e da administração.
cia ao Tribunal de Contas da União, sob pena de responsabilidade A função típica do Poder Judiciário é a prestação jurisdicional,
solidária. mas este também exerce funções atípicas, legislativas, como a edi-
§ 2º Qualquer cidadão, partido político, associação ou sindicato ção de normas regimentais de seus órgãos, e administrativas, como
é parte legítima para, na forma da lei, denunciar irregularidades ou a concessão de férias aos seus membros e serventuários e o provi-
ilegalidades perante o Tribunal de Contas da União. mento dos cargos de juiz de carreira na respectiva jurisdição.
Para garantir a independência do exercício da jurisdição, os
Embora tenha o nome de Tribunal, é órgão administrativo que membros do Poder judiciário gozam de algumas garantias, tais
não exerce função judicial. Entretanto, apesar de não ser órgão ju- como: vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de venci-
dicial, o cumprimento de suas decisões é obrigatório. O Tribunal mentos.
de Contas pode responsabilizar entidades e agentes por débitos ir-
regulares e aplicar multas, nos termos da lei, decisões, essas, que — Órgãos do poder judiciário
têm eficácia de título executivo. Pode determinar também que se Conforme art. 92, CF são órgãos do Poder Judiciário:
adotem as providências necessárias ao exato cumprimento da lei. — Supremo Tribunal Federal (STF);
A aprovação de contas pelo Tribunal de Contas não afasta o seu — Conselho Nacional de Justiça (CNJ);
exame pelo Legislativo ou pelo Judiciário. — Superior Tribunal de Justiça (STJ);
O modelo federal deverá ser seguido pelos Estados-membros, — Tribunal Superior do Trabalho (TST);
Distrito Federal e Municípios, inclusive em relação à composição e — Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais (TRFs);
modo de investidura dos respectivos conselheiros, respeitando-se — Tribunais e Juízes do Trabalho (TRTs);
as proporcionalidades de escolha entre o Poder Executivo e o Poder — Tribunais e Juízes Eleitorais (TREs);
Legislativo, nos mesmos moldes da Constituição Federal. — Tribunais e Juízes Militares (TJM);
— Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal e Terri-
Art. 75. As normas estabelecidas nesta seção aplicam-se, no tórios (TJs).
que couber, à organização, composição e fiscalização dos Tribunais
de Contas dos Estados e do Distrito Federal, bem como dos Tribunais O Supremo Tribunal Federal, o Conselho Nacional de Justiça e
e Conselhos de Contas dos Municípios. os Tribunais Superiores têm sede na Capital Federal e jurisdição em
todo o território nacional.

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172
DIREITO CONSTITUCIONAL
O CNJ é um órgão do Poder Judiciário, entretanto, goza de autonomia e independência e não está hierarquicamente subordinado a
nenhum outro órgão de nenhuma das instâncias. Também não está acima do STF ou abaixo dele, pois exerce a fiscalização dos atos de
todos os outros órgãos e o controle disciplinar de todos os membros do Judiciário.

O STF é o órgão máximo e a mais alta instância do Judiciário brasileiro. É o guardião da Constituição Federal.

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:
I - processar e julgar, originariamente:
a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual e a ação declaratória de constitucionalidade de
lei ou ato normativo federal; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 3, de 1993),
b) nas infrações penais comuns, o Presidente da República, o Vice-Presidente, os membros do Congresso Nacional, seus próprios Mi-
nistros e o Procurador-Geral da República;

c) nas infrações penais comuns e nos crimes de responsabilidade, os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e
da Aeronáutica, ressalvado o disposto no art. 52, I, os membros dos Tribunais Superiores, os do Tribunal de Contas da União e os chefes de
missão diplomática de caráter permanente; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 23, de 1999).
d) o habeas corpus, sendo paciente qualquer das pessoas referidas nas alíneas anteriores; o mandado de segurança e o habeas data
contra atos do Presidente da República, das Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, do Tribunal de Contas da União, do
Procurador-Geral da República e do próprio Supremo Tribunal Federal;
e) o litígio entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e a União, o Estado, o Distrito Federal ou o Território;
f) as causas e os conflitos entre a União e os Estados, a União e o Distrito Federal, ou entre uns e outros, inclusive as respectivas enti-
dades da administração indireta;
g) a extradição solicitada por Estado estrangeiro;
i) o habeas corpus, quando o coator for Tribunal Superior ou quando o coator ou o paciente for autoridade ou funcionário cujos atos
estejam sujeitos diretamente à jurisdição do Supremo Tribunal Federal, ou se trate de crime sujeito à mesma jurisdição em uma única ins-
tância; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 22, de 1999).
j) a revisão criminal e a ação rescisória de seus julgados;
l) a reclamação para a preservação de sua competência e garantia da autoridade de suas decisões;
m) a execução de sentença nas causas de sua competência originária, facultada a delegação de atribuições para a prática de atos
processuais;
n) a ação em que todos os membros da magistratura sejam direta ou indiretamente interessados, e aquela em que mais da metade
dos membros do tribunal de origem estejam impedidos ou sejam direta ou indiretamente interessados;
o) os conflitos de competência entre o Superior Tribunal de Justiça e quaisquer tribunais, entre Tribunais Superiores, ou entre estes e
qualquer outro tribunal;
p) o pedido de medida cautelar das ações diretas de inconstitucionalidade;
q) o mandado de injunção, quando a elaboração da norma regulamentadora for atribuição do Presidente da República, do Congresso
Nacional, da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, das Mesas de uma dessas Casas Legislativas, do Tribunal de Contas da União, de
um dos Tribunais Superiores, ou do próprio Supremo Tribunal Federal;
r) as ações contra o Conselho Nacional de Justiça e contra o Conselho Nacional do Ministério Público; (Incluída pela Emenda Constitu-
cional nº 45, de 2004).
II - julgar, em recurso ordinário:

173
DIREITO CONSTITUCIONAL
a) o habeas corpus, o mandado de segurança, o habeas data e § 2º Cabe aos Estados a instituição de representação de incons-
o mandado de injunção decididos em única instância pelos Tribunais titucionalidade de leis ou atos normativos estaduais ou municipais
Superiores, se denegatória a decisão; em face da Constituição Estadual, vedada a atribuição da legitima-
b) o crime político; ção para agir a um único órgão.
III - julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas § 3º A lei estadual poderá criar, mediante proposta do Tribunal
em única ou última instância, quando a decisão recorrida: de Justiça, a Justiça Militar estadual, constituída, em primeiro grau,
a) contrariar dispositivo desta Constituição; pelos juízes de direito e pelos Conselhos de Justiça e, em segundo
b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal; grau, pelo próprio Tribunal de Justiça, ou por Tribunal de Justiça Mi-
c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face litar nos Estados em que o efetivo militar seja superior a vinte mil
desta Constituição. integrantes (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de
d) julgar válida lei local contestada em face de lei federal. (In- 2004).
cluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004). § 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os
§ 1º A arguição de descumprimento de preceito fundamental,
militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei e as
decorrente desta Constituição, será apreciada pelo Supremo Tri-
ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a com-
bunal Federal, na forma da lei. (Transformado em § 1º pela Emen-
petência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal com-
da Constitucional nº 3, de 17/03/93).
petente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da
§ 2º As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supre-
graduação das praças (Redação dada pela Emenda Constitucional
mo Tribunal Federal, nas ações diretas de inconstitucionalidade e
nº 45, de 2004).
nas ações declaratórias de constitucionalidade produzirão eficácia
§ 5º Compete aos juízes de direito do juízo militar processar
contra todos e efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos
e julgar, singularmente, os crimes militares cometidos contra civis
do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas
e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, cabendo ao
esferas federal, estadual e municipal. (Redação dada pela Emenda
Conselho de Justiça, sob a presidência de juiz de direito, processar e
Constitucional nº 45, de 2004).
julgar os demais crimes militares. (Incluído pela Emenda Cons-
§ 3º No recurso extraordinário o recorrente deverá demons-
titucional nº 45, de 2004).
trar a repercussão geral das questões constitucionais discutidas
§ 6º O Tribunal de Justiça poderá funcionar descentralizada-
no caso, nos termos da lei, a fim de que o Tribunal examine a ad-
mente, constituindo Câmaras regionais, a fim de assegurar o pleno
missão do recurso, somente podendo recusá-lo pela manifestação
acesso do jurisdicionado à justiça em todas as fases do processo.
de dois terços de seus membros. (Incluída pela Emenda Constitu-
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004).
cional nº 45, de 2004).
§ 7º O Tribunal de Justiça instalará a justiça itinerante, com a
realização de audiências e demais funções da atividade jurisdicio-
Por sua vez, o STJ é a corte jurisdicional responsável por unifor-
nal, nos limites territoriais da respectiva jurisdição, servindo-se de
mizar a interpretação da lei federal em todo o Brasil, composta por
equipamentos públicos e comunitários (Incluído pela Emenda Cons-
33 ministros. titucional nº 45, de 2004).
Segundo dados do próprio site do STJ (2021), é de sua res-
ponsabilidade a solução definitiva dos casos civis e criminais que — Conselho Nacional de Justiça (CNJ)
não envolvam matéria constitucional nem a justiça especializada. Segundo conceitua o próprio site do CNJ (2021), o Conselho
O principal tipo de processo julgado pelo STJ é o recurso especial, Nacional de Justiça (CNJ) é uma instituição pública que visa aperfei-
que serve fundamentalmente para que o tribunal resolva interpre- çoar o trabalho do sistema judiciário brasileiro, principalmente no
tações divergentes sobre um determinado dispositivo de lei. que diz respeito ao controle e à transparência administrativa e pro-
É ainda de responsabilidade do STJ resolver crimes de autori- cessual, desenvolvendo políticas judiciárias que promovam a efeti-
dades, magistrados e políticos, federalizar processos de grande vio- vidade e a unidade do Poder Judiciário, orientadas para os valores
lação de Direitos Humanos, julgar habeas corpus, habeas data ou de justiça e paz social, impulsionando cada vez mais a efetividade
mandado de segurança, contra ato ilegal de governadores, desem- da Justiça brasileira.
bargadores ou conselheiros de tribunais de contas e outras autori-
dades, bem como habeas corpus e mandados de segurança nega- Composição
dos em 2ª instância pelos Tribunais de Justiça ou Tribunais Federais. Criado com a Emenda Constitucional nº 45, o Conselho Nacio-
É também responsável pela administração da Justiça Federal e por nal de Justiça é composto por 15 (quinze) membros com mandato
solucionar conflitos de competência entre Tribunais. Todas as suas de 2 (dois) anos, admitida 1 (uma) recondução, nos termos do art.
competências estão expressas no art. 105, CF (STJ, 2021). 103-B, CF, sendo: o Presidente do Supremo Tribunal Federal; um
Já os Tribunais de Justiça compreendem a 2ª instância do ju- Ministro do Superior Tribunal de Justiça, indicado pelo respectivo
diciário brasileiro e os juízes estaduais ou juízes de direito corres- tribunal; um Ministro do Tribunal Superior do Trabalho, indicado
pondem à primeira instância da Justiça comum. Cada estado tem pelo respectivo tribunal; um desembargador de Tribunal de Justiça,
seu tribunal. Os tribunais são também responsáveis pelos Juizados indicado pelo Supremo Tribunal Federal; um juiz estadual, indicado
Especiais Cíveis e Criminais suas Turmas recursais, regidos pela Lei pelo Supremo Tribunal Federal; um juiz de Tribunal Regional Fede-
9099/1995, e os Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cida- ral, indicado pelo Superior Tribunal de Justiça; um juiz federal, indi-
dania – CEJUSCs. Em sede de 1ª instância, os juízes de direito são os cado pelo Superior Tribunal de Justiça; um juiz de Tribunal Regional
responsáveis pelas diversas varas, espalhadas nas comarcas. Cada do Trabalho, indicado pelo Tribunal Superior do Trabalho; um juiz
tribunal será responsável por sua organização estrutural. do trabalho, indicado pelo Tribunal Superior do Trabalho; um mem-
bro do Ministério Público da União, indicado pelo Procurador-Geral
Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados os da República; um membro do Ministério Público estadual, escolhi-
princípios estabelecidos nesta Constituição. do pelo Procurador-Geral da República dentre os nomes indicados
§ 1º A competência dos tribunais será definida na Constituição pelo órgão competente de cada instituição estadual; dois advoga-
do Estado, sendo a lei de organização judiciária de iniciativa do Tri- dos, indicados pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do
bunal de Justiça.
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174
DIREITO CONSTITUCIONAL
Brasil; dois cidadãos, de notável saber jurídico e reputação ilibada, II - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos servi-
indicados um pela Câmara dos Deputados e outro pelo Senado Fe- ços de relevância pública aos direitos assegurados nesta Constitui-
deral. É sempre presidido pelo Presidente do STF. ção, promovendo as medidas necessárias a sua garantia;
III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a pro-
Competências teção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros
— Elaborar projetos, propostas ou estudos sobre matérias de interesses difusos e coletivos;
competência do CNJ e apresentá-los nas sessões plenárias ou re- IV - promover a ação de inconstitucionalidade ou representa-
uniões de Comissões, observada a pauta fixada pelos respectivos ção para fins de intervenção da União e dos Estados, nos casos pre-
Presidentes; vistos nesta Constituição;
— Requisitar de quaisquer órgãos do Poder Judiciário, do CNJ e V - defender judicialmente os direitos e interesses das popula-
de outras autoridades competentes as informações e os meios que ções indígenas;
considerem úteis para o exercício de suas funções; VI - expedir notificações nos procedimentos administrativos de
— Propor à Presidência a constituição de grupos de trabalho ou sua competência, requisitando informações e documentos para ins-
Comissões necessários à elaboração de estudos, propostas e proje- truí-los, na forma da lei complementar respectiva;
tos a serem apresentados ao Plenário do CNJ; VII - exercer o controle externo da atividade policial, na forma
da lei complementar mencionada no artigo anterior;
— Propor a convocação de técnicos, especialistas, representan- VIII - requisitar diligências investigatórias e a instauração de
tes de entidades ou autoridades para prestar os esclarecimentos inquérito policial, indicados os fundamentos jurídicos de suas ma-
que o CNJ entenda convenientes; nifestações processuais;
— Pedir vista dos autos de processos em julgamento; IX - exercer outras funções que lhe forem conferidas, desde que
— Participar das sessões plenárias para as quais forem regular- compatíveis com sua finalidade, sendo-lhe vedada a representação
mente convocados; judicial e a consultoria jurídica de entidades públicas.
— Despachar, nos prazos legais, os requerimentos ou expe- § 1º - A legitimação do Ministério Público para as ações civis
dientes que lhes forem dirigidos; previstas neste artigo não impede a de terceiros, nas mesmas hipó-
teses, segundo o disposto nesta Constituição e na lei.
— Desempenhar as funções de Relator nos processos que lhes
§ 2º As funções do Ministério Público só podem ser exercidas
forem distribuídos (CNJ, 2021).
por integrantes da carreira, que deverão residir na comarca da res-
pectiva lotação, salvo autorização do chefe da instituição (Redação
FUNÇÕES ESSENCIAIS À JUSTIÇA dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004).
§ 3º O ingresso na carreira do Ministério Público far-se-á me-
diante concurso público de provas e títulos, assegurada a partici-
pação da Ordem dos Advogados do Brasil em sua realização, exi-
Para a efetiva a prestação jurisdicional não basta que existam gindo-se do bacharel em direito, no mínimo, três anos de atividade
os juízes e tribunais. O acesso à Justiça só é possível graças a algu- jurídica e observando-se, nas nomeações, a ordem de classificação.   
mas funções essenciais: o Ministério Público, a Advocacia Pública, a
Advocacia e a Defensoria Pública. — Advocacia pública
A Advocacia Pública é a instituição que representa a União, ju-
— Ministério público dicial e extrajudicialmente, que, assim como todo ente jurídico, tem
O Ministério Público é instituição permanente e essencial ao seus problemas e interesses, que precisam ser defendidos perante
Judiciário, atuando como custus legis – fiscal da lei, na defesa da o Poder Público. Assim, é a Advocacia-Geral da União, chefiada por
ordem jurídica, regime democrático e dos interesses individuais e um Advogado-Geral da União, de livre nomeação pelo Presidente
coletivos. O MP está fora da estrutura dos demais poderes da Re- da República, entre cidadãos maiores de trinta e cinco anos, de
pública, consagrando sua total autonomia e independência para o notável saber jurídico e reputação ilibada e integrada por muitos
cumprimento de suas funções sempre em defesa dos direitos, ga- advogados que atuam vinculados e subordinados à defesa dos in-
rantias e prerrogativas da sociedade. teresses da nação.
Constitucionalmente, o Ministério Público abrange duas gran- É importante não confundir a Advocacia Pública com advocacia
des Instituições, sem que haja qualquer relação de hierarquia e gratuita ou Assistência Judiciária. A assessoria jurídica prestada gra-
subordinação entre elas: o Ministério Público da União, que com- tuitamente ao cidadão se dá pela Defensoria Pública ou por órgãos
preende o Ministério Público Federal, o Ministério Público do Tra- de assistência judiciária, normalmente municipais, que contratam
balho; o Ministério Público Militar, o Ministério Público do Distrito profissionais para tal fim, ou ainda, por nomeação de advogados
Federal e Territórios; e o Ministério Público dos Estados. dativos feita pelos Tribunais. Também não se pode confundir Procu-
Os membros do Ministério Público Federal são os procuradores radores do Estado com Procuradores de Justiça ou Procuradores da
da República e os do Ministério Público dos Estados e do Distrito República, que não são advogados, mas sim membros do Ministério
Federal são os Promotores e Procuradores de Justiça. Público Estadual e Federal.
São princípios institucionais do Ministério Público: a unidade, a
indivisibilidade, a independência funcional e o princípio do promo-
— Defensoria Pública
tor natural. Ao Ministério Público compete a função de custos legis
Função essencial individualizada da advocacia pela Emenda
(fiscal da lei), a defesa do patrimônio público e os direitos constitu-
Constitucional nº 80/2014, a Defensoria Pública é instituição per-
cionais do cidadão, além de ter poder investigativo, dentre tantas
manente do Estado, que também tem como finalidade primordial a
outras funções de grande relevância elencadas no art. 129, CF e na
orientação jurídica e a defesa do cidadão em todos os graus, carac-
Lei Orgânica Nacional do Ministério Público (Lei nº 8.625/93).
teriza-se por garantir o acesso à justiça aos mais necessitados. Pos-
sui autonomia funcional e administrativa, competindo-lhe a promo-
Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:
I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma ção dos direitos humanos, a defesa, em todos os graus, judicial e
da lei; extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos e a orientação ju-
rídica dos cidadãos que não possuem recursos financeiros suficien-

175
DIREITO CONSTITUCIONAL
tes para a contratação de um advogado particular. A independência — Polícia Ferroviária Federal;
funcional no desempenho de suas atribuições, a inamovibilidade, — Polícias Civis;
a irredutibilidade de vencimentos e a estabilidade são também — Polícias militares e corpos de bombeiros militares;
garantias dos defensores públicos. São princípios institucionais da — Polícias penais federal, estaduais e distrital.
Defensoria Pública a unidade, a indivisibilidade e a independência
funcional. O ingresso na carreira de defensor também deve se dar O rol dos órgãos de Segurança Pública é taxativo e os entes
por concurso público. federativos não podem criar novos órgãos, além dos elencados na
Diante da omissão constitucional sobre a necessidade de o de- Constituição.
fensor público continuar inscrito nos quadros da OAB, dada a si- Embora não esteja previsto no rol do art. 144, as Guardas Mu-
militude das atividades da Defensoria Pública com a advocacia, se nicipais visam a proteção do patrimônio público e sua criação nos
discute nos Tribunais superiores a obrigatoriedade da inscrição na municípios está autorizada no § 8º do referido dispositivo.
OAB para os defensores públicos.
§ 8º Os Municípios poderão constituir guardas municipais des-
Art. 134. A Defensoria Pública é instituição permanente, essen- tinadas à proteção de seus bens, serviços e instalações, conforme
cial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe, como expres- dispuser a lei.
são e instrumento do regime democrático, fundamentalmente, a
orientação jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa, Polícia Federal
em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos individuais e A polícia federal faz parte da estrutura básica do Ministério da
coletivos, de forma integral e gratuita, aos necessitados, na forma Justiça e é órgão permanente, organizado e mantido pela União.
do inciso LXXIV do art. 5º desta Constituição Federal (Redação dada
pela Emenda Constitucional nº 80, de 2014). § 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanen-
§ 1º Lei complementar organizará a Defensoria Pública da te, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira,
União e do Distrito Federal e dos Territórios e prescreverá normas destina-se a: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de
gerais para sua organização nos Estados, em cargos de carreira, 1998)
providos, na classe inicial, mediante concurso público de provas e tí- I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou
tulos, assegurada a seus integrantes a garantia da inamovibilidade em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas
e vedado o exercício da advocacia fora das atribuições institucionais entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras in-
(Renumerado pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004). frações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacio-
§ 2º Às Defensorias Públicas Estaduais são asseguradas au- nal e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei;
tonomia funcional e administrativa e a iniciativa de sua proposta II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas
orçamentária dentro dos limites estabelecidos na lei de diretrizes afins, o contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação fazen-
orçamentárias e subordinação ao disposto no art. 99, § 2º (Incluído dária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de compe-
pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004). tência;
§ 3º Aplica-se o disposto no § 2º às Defensorias Públicas da III - exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de
União e do Distrito Federal (Incluído pela Emenda Constitucional nº fronteiras; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de
74, de 2013). 1998)
§ 4º São princípios institucionais da Defensoria Pública a uni- IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária
dade, a indivisibilidade e a independência funcional, aplicando-se da União.
também, no que couber, o disposto no art. 93 e no inciso II do art.
96 desta Constituição Federal (Incluído pela Emenda Constitucional São cargos de Carreira da Polícia Federal o Delegado de Polícia
nº 80, de 2014). Federal, o Perito Criminal Federal, o Escrivão de Polícia Federal, o
Papiloscopista Policial Federal e o Agente de Polícia Federal.

DEFESA DO ESTADO E DAS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTI- Polícia Rodoviária Federal


CAS. SEGURANÇA PÚBLICA. ORGANIZAÇÃO DA SEGU- § 2º A polícia rodoviária federal, órgão permanente, organi-
RANÇA PÚBLICA. zado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se,
na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das rodovias federais.
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
— Segurança pública
A segurança pública é o poder-dever do Estado na sua auto- Compete à Polícia Rodoviária Federal realizar atividades de
defesa e das instituições democráticas que visa garantir a ordem natureza policial envolvendo fiscalização, patrulhamento e policia-
e a proteção de todos os cidadãos, com a prevalência do interesse mento ostensivo, atendimento e socorro às vítimas de acidentes ro-
público. doviários e demais atribuições relacionadas com a área operacional
A segurança pública busca a defesa do Estado e das Instituições do Departamento de Polícia Rodoviária Federal.
Democráticas  para preservar a ordem constitucional em momen-
tos de crise, internamente, contra lesões ou ameaças de direitos de Polícia Ferroviária Federal
seus cidadãos e arbitrariedades do próprio poder público, inclusive, § 3º A polícia ferroviária federal, órgão permanente, organi-
e externamente contra atentados à soberania nacional. zado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se,
na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das ferrovias federais.
— Organização da segurança pública (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
Nos termos do art. 144, CF a Segurança Pública está organizada
nos seguintes órgãos:
— Polícia Federal;
— Polícia Rodoviária Federal;

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DIREITO CONSTITUCIONAL
Polícias Civis Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente
§ 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de car- equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia quali-
reira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções dade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever
de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as mi- de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
litares. § 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Po-
der Público:
Polícias militares e corpos de bombeiros militares I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e
§ 5º Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preser- prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; (Regula-
vação da ordem pública; aos corpos de bombeiros militares, além mento)
das atribuições definidas em lei, incumbe a execução de atividades II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio gené-
de defesa civil. tico do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipu-
lação de material genético; (Regulamento) (Regulamento) (Regula-
§ 6º As polícias militares e os corpos de bombeiros militares, mento) (Regulamento)
forças auxiliares e reserva do Exército subordinam-se, juntamente III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territo-
com as polícias civis e as polícias penais estaduais e distrital, aos riais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo
Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios (Re- a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, veda-
dação dada pela Emenda Constitucional nº 104, de 2019). da qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos
que justifiquem sua proteção; (Regulamento)
Polícias penais federal, estaduais e distrital IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou ativida-
§ 5º-A. Às polícias penais, vinculadas ao órgão administrador de potencialmente causadora de significativa degradação do meio
do sistema penal da unidade federativa a que pertencem, cabe a se- ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publi-
gurança dos estabelecimentos penais. (Redação dada pela Emenda cidade; (Regulamento)
Constitucional nº 104, de 2019). V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de
técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a
Os serviços relacionados à segurança pública devem ser pres- qualidade de vida e o meio ambiente; (Regulamento)
tados com eficiência. VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de en-
sino e a conscientização pública para a preservação do meio am-
§7º A lei disciplinará a organização e o funcionamento dos ór- biente;
gãos responsáveis pela segurança pública, de maneira a garantir a VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as
eficiência de suas atividades. práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a
§ 9º A remuneração dos servidores policiais integrantes dos ór- extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade. (Re-
gãos relacionados neste artigo será fixada na forma do § 4º do art. gulamento)
39. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) § 2º Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a re-
§ 10. A segurança viária, exercida para a preservação da ordem cuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução técni-
pública e da incolumidade das pessoas e do seu patrimônio nas vias ca exigida pelo órgão público competente, na forma da lei.
públicas: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 82, de 2014). § 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio am-
I - compreende a educação, engenharia e fiscalização de trân- biente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a san-
sito, além de outras atividades previstas em lei, que assegurem ao ções penais e administrativas, independentemente da obrigação de
cidadão o direito à mobilidade urbana eficiente; e (Incluído pela reparar os danos causados.
Emenda Constitucional nº 82, de 2014) § 4º A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra
II - compete, no âmbito dos Estados, do Distrito Federal e dos do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patri-
Municípios, aos respectivos órgãos ou entidades executivos e seus mônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro
agentes de trânsito, estruturados em Carreira, na forma da lei. (In- de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, in-
cluído pela Emenda Constitucional nº 82, de 2014). clusive quanto ao uso dos recursos naturais. (Regulamento)
(Regulamento).
§ 5º São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pe-
ORDEM SOCIAL. BASE E OBJETIVOS DA ORDEM SO- los Estados, por ações discriminatórias, necessárias à proteção dos
CIAL. SEGURIDADE SOCIAL. MEIO AMBIENTE. FAMÍLIA, ecossistemas naturais.
CRIANÇA, ADOLESCENTE, IDOSO E ÍNDIO § 6º As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua
localização definida em lei federal, sem o que não poderão ser ins-
taladas.
A ordem social é o conjunto de preceitos que tem como base o § 7º Para fins do disposto na parte final do inciso VII do § 1º des-
primado do trabalho e como objetivo, o bem-estar e a justiça sociais te artigo, não se consideram cruéis as práticas desportivas que utili-
de modo a garantir a perfeita harmonia entre o desenvolvimento zem animais, desde que sejam manifestações culturais, conforme o
econômico e social e a dignidade da pessoa humana. Remete ao § 1º do art. 215 desta Constituição Federal, registradas como bem
teor do próprio art. 6º da Constituição Federal que trata dos Direi- de natureza imaterial integrante do patrimônio cultural brasileiro,
tos Sociais. devendo ser regulamentadas por lei específica que assegure o bem-
-estar dos animais envolvidos (Incluído pela Emenda Constitucional
— Meio ambiente nº 96, de 2017).
O meio ambiente é o habitat dos seres vivos e o direito ao
meio ambiente sustentável e ecologicamente equilibrado é precei- Sobretudo atualmente, tem sido mais latente a preocupação
to constitucional e garantia intrínseca e inerente ao próprio direito das nações com o meio ambiente. Vimos surgir nos últimos anos,
à vida. diversas organizações não governamentais em defesa do meio am-

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DIREITO CONSTITUCIONAL
biente contra os atos lesivos praticados. É extremamente necessá- II - criação de programas de prevenção e atendimento especia-
ria e urgente a proteção do nosso sistema ecológico para garantir lizado para as pessoas portadoras de deficiência física, sensorial ou
saúde e qualidade de vida à presente e futuras gerações. mental, bem como de integração social do adolescente e do jovem
Nas últimas décadas, grande foi o desenvolvimento no que tan- portador de deficiência, mediante o treinamento para o trabalho e
ge à proteção ambiental, sobretudo com a criação de leis que for- a convivência, e a facilitação do acesso aos bens e serviços coletivos,
taleceram as discussões e a defesa do meio ambiente, que jamais com a eliminação de obstáculos arquitetônicos e de todas as formas
deve deixar de ser uma preocupação não só jurídica, mas de vida de discriminação.
e saúde. § 2º A lei disporá sobre normas de construção dos logradouros
e dos edifícios de uso público e de fabricação de veículos de trans-
— Família porte coletivo, a fim de garantir acesso adequado às pessoas porta-
A família é a base primordial da vida em sociedade. É no seio doras de deficiência.
da vida em família que o homem inicia o seu desenvolvimento, e § 3º O direito a proteção especial abrangerá os seguintes as-
tem o primeiro contato com o mundo que o cerca. A ideia de família pectos:
também está intimamente ligada a uma vida digna. I - idade mínima de quatorze anos para admissão ao trabalho,
observado o disposto no art. 7º, XXXIII;
Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção II - garantia de direitos previdenciários e trabalhistas;
do Estado. III - garantia de acesso do trabalhador adolescente e jovem à
§ 1º O casamento é civil e gratuita a celebração. escola; (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 65, de
§ 2º O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei. 2010)
§ 3º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união IV - garantia de pleno e formal conhecimento da atribuição de
estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo ato infracional, igualdade na relação processual e defesa técnica
a lei facilitar sua conversão em casamento. (Regulamento) por profissional habilitado, segundo dispuser a legislação tutelar
§ 4º Entende-se, também, como entidade familiar a comunida- específica;
de formada por qualquer dos pais e seus descendentes. V - obediência aos princípios de brevidade, excepcionalidade e
§ 5º Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento, quan-
exercidos igualmente pelo homem e pela mulher. do da aplicação de qualquer medida privativa da liberdade;
§ 6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio, após VI - estímulo do Poder Público, através de assistência jurídica,
prévia separação judicial por mais de um ano nos casos expressos incentivos fiscais e subsídios, nos termos da lei, ao acolhimento, sob
em lei, ou comprovada separação de fato por mais de dois anos. a forma de guarda, de criança ou adolescente órfão ou abandona-
§ 6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio. (Reda- do;
ção dada Pela Emenda Constitucional nº 66, de 2010) VII - programas de prevenção e atendimento especializado à
§ 7º Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana criança, ao adolescente e ao jovem dependente de entorpecentes
e da paternidade responsável, o planejamento familiar é livre deci- e drogas afins. (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 65,
são do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais de 2010)
e científicos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma § 4º A lei punirá severamente o abuso, a violência e a explora-
coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas. Regulamen- ção sexual da criança e do adolescente.
to § 5º A adoção será assistida pelo Poder Público, na forma da
§ 8º O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de lei, que estabelecerá casos e condições de sua efetivação por parte
cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a vio- de estrangeiros.
lência no âmbito de suas relações. § 6º Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por
adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quais-
— Criança e Adolescente quer designações discriminatórias relativas à filiação.
As crianças constituem um grupo vulnerável que deve ser pro- § 7º No atendimento dos direitos da criança e do adolescente
tegido. A proteção das crianças e dos adolescentes visa o desenvol- levar-se- á em consideração o disposto no art. 204.
vimento de sua potencialidade plena, assegurada uma infância sau- § 8º A lei estabelecerá: (Incluído Pela Emenda Constitucional
dável, segura e digna que refletirá diretamente no desenvolvimento nº 65, de 2010)
social e na qualidade de vida das futuras gerações, protegendo-as I - o estatuto da juventude, destinado a regular os direitos dos
de violações, negligências e exploração. jovens; (Incluído Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010)

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegu- II - o plano nacional de juventude, de duração decenal, visando
rar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, à articulação das várias esferas do poder público para a execução
o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à de políticas públicas. (Incluído Pela Emenda Constitucional nº 65,
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade de 2010)
e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo Art. 228. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito
de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, anos, sujeitos às normas da legislação especial.
crueldade e opressão. (Redação dada Pela Emenda Constitucional
nº 65, de 2010). — Idoso
§ 1º O Estado promoverá programas de assistência integral à Art. 229. Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos
saúde da criança, do adolescente e do jovem, admitida a partici- menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os
pação de entidades não governamentais, mediante políticas espe- pais na velhice, carência ou enfermidade.
cíficas e obedecendo aos seguintes preceitos: (Redação dada Pela O referido dispositivo constitucional traz o dever de reciproci-
Emenda Constitucional nº 65, de 2010) dade entre pais e filhos.
I - aplicação de percentual dos recursos públicos destinados à
saúde na assistência materno-infantil;

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DIREITO CONSTITUCIONAL
Art. 230. A família, a sociedade e o Estado têm o dever de am- se da soberania do País, após deliberação do Congresso Nacional,
parar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comuni- garantido, em qualquer hipótese, o retorno imediato logo que cesse
dade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o o risco.
direito à vida. § 6º São nulos e extintos, não produzindo efeitos jurídicos, os
§ 1º Os programas de amparo aos idosos serão executados pre- atos que tenham por objeto a ocupação, o domínio e a posse das
ferencialmente em seus lares. terras a que se refere este artigo, ou a exploração das riquezas
§ 2º Aos maiores de sessenta e cinco anos é garantida a gratui- naturais do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes, ressalvado
dade dos transportes coletivos urbanos. relevante interesse público da União, segundo o que dispuser lei
complementar, não gerando a nulidade e a extinção direito a inde-
A proteção dos idosos está positivada na nossa Constituição e nização ou a ações contra a União, salvo, na forma da lei, quanto às
consagrada no nosso ordenamento à luz dos princípios da solidarie- benfeitorias derivadas da ocupação de boa fé.
dade e proteção. Proteger os idosos é também proteger o direito à § 7º Não se aplica às terras indígenas o disposto no art. 174, §
vida e à dignidade humana. Assim como na infância, é também na 3º e § 4º.
velhice que as necessidades humanas ficam mais latentes, por isso Art. 232. Os índios, suas comunidades e organizações são par-
torna-se imprescindível assegurar aos idosos a participação efetiva tes legítimas para ingressar em juízo em defesa de seus direitos e
na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar. Nada mais interesses, intervindo o Ministério Público em todos os atos do pro-
justo para com aqueles que lutaram e contribuíram para as conquis- cesso.
tas do mundo e sociedade atuais.
O envelhecimento é também um direito personalíssimo e a sua
DIREITOS HUMANOS NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL
proteção, um direito social, sendo obrigação do Estado garantir à
pessoa idosa um envelhecimento saudável e em condições de dig-
nidade, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que per-
mitam o exercício de suas potencialidades plenas. A Constituição de 1934 foi promulgada com forte influência da
Além do texto constitucional é interessante mencionar o Estatu- Constituição de Weimar, marco da 2ª dimensão de direitos huma-
nos. Assim, prezou pelos direitos sociais. Algumas de suas caracte-
to do Idoso (Lei nº 10.741/2003), que entrou em vigor no dia 1º de
rísticas marcantes foi:
janeiro de 2004, em consonância com a já manifestada preocupação • Nacionalista – criou restrições às imigrações;
brasileira em conferir proteção específica aos direitos dos idosos. • Permitiu o voto secreto e feminino;
• Trouxe o Mandado de Segurança e a Ação Popular;
— Índio • Deu direitos aos trabalhadores;
Os índios foram os primeiros habitantes de nossas terras e tem • Trouxe o bicameralismo, com destaque para a Câmara;
grande importância na formação ética e cultural da sociedade bra- • O Ministério Público ganhou status constitucional, mas
sileira. A proteção aos indígenas não é apenas uma reparação à ex-
como instrumento de cooperação do governo.
trema violência colonizadora por eles sofrida, mas de preservação
de nossa própria história e identidade, já que os índios possuem A Constituição Federal de 1988 (atual), deve ser compreendida
uma vida tradicional distinta de nossa sociedade em geral e essas com o momento histórico em que foi promulgada. Após os anos de
particularidades merecem ser preservadas. chumbo (ditadura militar), a Constituição Cidadã nasceu com forte
Uma grande preocupação quanto à população indígena é a espírito democrático. Alguma de suas características são:
proteção de suas terras e garantia do seu direito de moradia, além • Amplos instrumentos para a proteção dos direitos cons-
da preservação de sua cultura, costumes e tradições. titucionais – habeas corpus, habeas data, mandado de injunção,
mandado de segurança coletivo etc.
Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, • Nascimento do STJ.
costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários so- • Estados e Municípios fortalecidos.
bre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União • Super detalhada, enumerando diversos direitos funda-
demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens. mentais, para cada setor da sociedade.
§ 1º São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por • Veda a discriminação, inclusive, tornou o racismo crime
eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas para suas ati- imprescritível.
vidades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos • Prezou pela seguridade social.
ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias a sua re-
produção física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições. A CF/88 nasceu de uma emenda na Constituição de 1969, que
§ 2º As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios desti- convocou a Assembleia Nacional Constituinte, para a redemocra-
nam-se a sua posse permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo tização do país. Assim, deve ser interpretada à luz dos direitos hu-
das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes. manos.
§ 3º O aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os po-
tenciais energéticos, a pesquisa e a lavra das riquezas minerais em
terras indígenas só podem ser efetivados com autorização do Con- POLÍTICA NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS
gresso Nacional, ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes
assegurada participação nos resultados da lavra, na forma da lei. A política nacional de direitos humanos do Estado brasileiro,
§ 4º As terras de que trata este artigo são inalienáveis e indis- desenvolvida desde o retorno ao governo civil em 1985, e de forma
poníveis, e os direitos sobre elas, imprescritíveis. mais definida, desde 1995, pelo governo do Presidente Fernando
§ 5º É vedada a remoção dos grupos indígenas de suas terras, Henrique Cardoso, reflete e aprofunda uma concepção de direitos
salvo, «ad referendum» do Congresso Nacional, em caso de catás- humanos partilhada por organizações de direitos humanos desde a
trofe ou epidemia que ponha em risco sua população, ou no interes- resistência ao regime autoritário nos anos 1970. Pela primeira vez,
entretanto, na história republicana, quase meio- século depois da

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DIREITO CONSTITUCIONAL
Declaração Universal de Direitos Humanos de 1948, os direitos hu- c) Diretriz 13: Prevenção da violência e da criminalidade e pro-
manos passaram a ser assumidos como política oficial do governo, fissionalização da investigação de atos criminosos;
num contexto social e político deste fim de século extremamente d) Diretriz 14: Combate à violência institucional, com ênfase
adverso para a maioria das não-elites na população brasileira. na erradicação da tortura e na redução da letalidade policial e car-
A luta pelos direitos humanos é um processo contraditório, no cerária;
qual o Estado, qualquer que seja o governo no regime democrático, e) Diretriz 15: Garantia dos direitos das vítimas de crimes e de
e a sociedade civil têm responsabilidades necessariamente com- proteção das pessoas ameaçadas;
partilhadas. É uma parceria que se funda sobre princípios rígidos e f) Diretriz 16: Modernização da política de execução penal,
irrenunciáveis, qualquer que seja a conjuntura. priorizando a aplicação de penas e medidas alternativas à privação
Não há política sem contradição, não há luta pelos direitos hu- de liberdade e melhoria do sistema penitenciário; e
manos sem conflitos, obstáculos e resistências: negar essa realida- g) Diretriz 17: Promoção de sistema de justiça mais acessível,
de é recusar a própria luta, na qual como a viagem do navegante na ágil e efetivo, para o conhecimento, a garantia e a defesa de direi-
política e na democracia não há porto final. tos;
V - Eixo Orientador V: Educação e Cultura em Direitos Huma-
DECRETO Nº 7.037, DE 21 DE DEZEMBRO DE 2009 nos:
a) Diretriz 18: Efetivação das diretrizes e dos princípios da po-
Aprova o Programa Nacional de Direitos Humanos - PNDH-3 e lítica nacional de educação em Direitos Humanos para fortalecer
dá outras providências. uma cultura de direitos;
b) Diretriz 19: Fortalecimento dos princípios da democracia e
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe dos Direitos Humanos nos sistemas de educação básica, nas insti-
confere o art. 84, inciso VI, alínea “a”, da Constituição, tuições de ensino superior e nas instituições formadoras;
DECRETA: c) Diretriz 20: Reconhecimento da educação não formal como
espaço de defesa e promoção dos Direitos Humanos;
Art. 1o Fica aprovado o Programa Nacional de Direitos Huma- d) Diretriz 21: Promoção da Educação em Direitos Humanos no
nos - PNDH-3, em consonância com as diretrizes, objetivos estra- serviço público; e
tégicos e ações programáticas estabelecidos, na forma do Anexo e) Diretriz 22: Garantia do direito à comunicação democrática
deste Decreto. e ao acesso à informação para consolidação de uma cultura em Di-
Art. 2o O PNDH-3 será implementado de acordo com os se- reitos Humanos; e
guintes eixos orientadores e suas respectivas diretrizes: VI - Eixo Orientador VI: Direito à Memória e à Verdade:
I - Eixo Orientador I: Interação democrática entre Estado e so- a) Diretriz 23: Reconhecimento da memória e da verdade como
ciedade civil: Direito Humano da cidadania e dever do Estado;
a) Diretriz 1: Interação democrática entre Estado e sociedade b) Diretriz 24: Preservação da memória histórica e construção
civil como instrumento de fortalecimento da democracia participa- pública da verdade; e
tiva; c) Diretriz 25: Modernização da legislação relacionada com
b) Diretriz 2: Fortalecimento dos Direitos Humanos como ins- promoção do direito à memória e à verdade, fortalecendo a de-
trumento transversal das políticas públicas e de interação demo- mocracia.
crática; e Parágrafo único. A implementação do PNDH-3, além dos res-
c) Diretriz 3: Integração e ampliação dos sistemas de informa- ponsáveis nele indicados, envolve parcerias com outros órgãos fe-
ções em Direitos Humanos e construção de mecanismos de avalia- derais relacionados com os temas tratados nos eixos orientadores
ção e monitoramento de sua efetivação; e suas diretrizes.
II - Eixo Orientador II: Desenvolvimento e Direitos Humanos: Art. 3o As metas, prazos e recursos necessários para a imple-
a) Diretriz 4: Efetivação de modelo de desenvolvimento sus- mentação do PNDH-3 serão definidos e aprovados em Planos de
tentável, com inclusão social e econômica, ambientalmente equi- Ação de Direitos Humanos bianuais.
librado e tecnologicamente responsável, cultural e regionalmente Art. 4 (Revogado pelo Decreto nº 10.087, de 2019)
diverso, participativo e não discriminatório; Art. 5o Os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e os órgãos
b) Diretriz 5: Valorização da pessoa humana como sujeito cen- do Poder Legislativo, do Poder Judiciário e do Ministério Público,
tral do processo de desenvolvimento; e serão convidados a aderir ao PNDH-3.
c) Diretriz 6: Promover e proteger os direitos ambientais como
Art. 6o Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.
Direitos Humanos, incluindo as gerações futuras como sujeitos de
Art. 7o Fica revogado o Decreto no 4.229, de 13 de maio de
direitos;
2002.
III - Eixo Orientador III: Universalizar direitos em um contexto
de desigualdades:
Brasília, 21 de dezembro de 2009; 188o da Independência e
a) Diretriz 7: Garantia dos Direitos Humanos de forma univer-
121o da República.
sal, indivisível e interdependente, assegurando a cidadania plena;
b) Diretriz 8: Promoção dos direitos de crianças e adolescentes
para o seu desenvolvimento integral, de forma não discriminatória,
A CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA E OS TRATADOS INTER-
assegurando seu direito de opinião e participação;
NACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS
c) Diretriz 9: Combate às desigualdades estruturais; e
d) Diretriz 10: Garantia da igualdade na diversidade;
IV - Eixo Orientador IV: Segurança Pública, Acesso à Justiça e
Combate à Violência: formalidades exigidas para a incorporação de normas inter-
a) Diretriz 11: Democratização e modernização do sistema de nacionais em geral e tratados de direitos humanos
segurança pública; A incorporação das normas internacionais ao direito interno
b) Diretriz 12: Transparência e participação popular no sistema brasileiro de modo geral, somente se dá após o cumprimento de
de segurança pública e justiça criminal; um rito solene: negociação, assinatura do instrumento pelo Esta-

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do brasileiro; aprovação do Congresso Nacional mediante decreto Convenção sobre os Direitos das Pessoas com
legislativo; ratificação, promulgação por decreto do Executivo e pu- 2008
Deficiência (inclui Protocolo Facultativo).
blicação. Assim, a aprovação dos tratados no Brasil segue o mesmo
processo da elaboração da lei. Tratado de Marraquexe para facilitar o acesso a obras
2015
A promulgação e publicação incorporam os tratados interna- públicas às pessoas cegas.
cionais ao Direito interno, colocando-os, em regra, no mesmo nível
das leis ordinárias, a exceção dos Tratados Internacionais de Direi- As posições doutrinárias
tos Humanos. A Constituição Federal não estabelece por si só com clareza a
Com a Emenda Constitucional nº 45, que introduziu na Cons- hierarquia entre tratados internacionais e as normas internas do di-
tituição de 1988 o § 3º do art. 5º, os tratados e convenções inter- reito brasileiro. Coube, assim, à jurisprudência e à doutrina definir a
nacionais sobre direitos humanos aprovados, em cada Casa do hierarquia entre normas internas e internacionais no ordenamento
Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos jurídico brasileiro. O entendimento doutrinário não coadunava com
respectivos membros, passaram a ter status equivalentes às emen- a ideia do STF (de antes da EC 45/04) da primazia absoluta do direi-
das constitucionais. No Brasil, apenas o Tratado de Marraquexe e to internacional sobre o direito interno, adotando o monismo mo-
a Convenção internacional sobre os direitos das pessoas com defi- derado ao tempo que alguns doutrinadores acreditavam ser permi-
ciência e seu Protocolo Facultativo tem esse status. tido o ingresso dos tratados internacionais de direitos humanos no
Os demais, a exemplo do Pacto de San José da Costa Rica, tem ordenamento jurídico com status de norma constitucional.
status supralegal, e, os Tratados e Convenções Internacionais de as- Hoje, com relação ao status dos Tratados e Convenções Inter-
sunto geral, que não tratam sobre Direitos Humanos tem status de nacionais no direito interno brasileiro, a doutrina, embora nem
Lei ordinária. sempre uníssona, acolhe em sua maioria, a classificação e o status
atribuído pelo STF.
Tratados Internacionais de Direitos Humanos no Brasil
A posição do Supremo Tribunal Federal
Quanto à hierarquia entre tratados internacionais e normas de
TRATADOS INTERNACIONAIS RATIFICADOS PELO BRASIL APÓS direito interno, antes, o STF adotava o entendimento de que todo e
A CONSTITUIÇÃO DE 1988 qualquer tratado internacional, independentemente de seu conteú-
Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a do, tinha o status de lei ordinária (CF, artigo 102, III, b) e até 1977, os
Tortura. tratados internacionais sempre prevaleciam sobre o direito interno.
1989 Dada a paridade normativa, em caso de conflito deve se resolver
Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos
pela aplicação dos critérios cronológicos (lei posterior prevalece à
Cruéis, desumanos ou degradantes.
anterior) e da especialidade (lei especial prevalece sobre a geral.
1990 Convenção sobre os Direitos da Criança. Quanto ao status dos tratados internacionais, em 2008, no RE
Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos. 466.343-1 / SP, o STF julgou controvérsia envolvendo a prisão do
depositário infiel, revolucionando a jurisprudência.
Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e A Constituição Federal de 1988 extinguiu, em regra, a prisão
1992
Culturais. civil por dívidas, salvo nos casos de não pagamento de pensão ali-
Convenção Americana de Direitos Humanos. mentícia e do depositário infiel. O Pacto Internacional dos Direitos
Civis e Políticos (PIDCP) e a Convenção Americana sobre Direitos
Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e
1995 Humanos – Pacto de São José da Costa Rica vedam a prisão do de-
Erradicar a Violência contra a Mulher.
positário infiel. Ainda assim, restou mantida a jurisprudência pela
Protocolo à Convenção Americana referente à abolição constitucionalidade da prisão do depositário infiel, uma vez que o
da Pena de Morte. Pacto ingressou no ordenamento jurídico na qualidade de norma
1996 Protocolo à Convenção Americana referente aos infraconstitucional.
Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (Protocolo de Após a Emenda Constitucional 45, de 2004, que acrescentou o
San Salvador). parágrafo 3° ao inciso LXXVIII do artigo 5º, os tratados e convenções
internacionais de Direitos Humanos dos quais o Brasil seja signatá-
Reconhecimento da jurisdição da Corte Interamericana rio e que forem aprovados pelo Congresso Nacional, em votação
1998
de Direitos Humanos. de dois turnos, por três quintos de seus membros, passaram a ter
Convenção Interamericana para a Eliminação de todas status equivalente às Emendas Constitucionais. Contudo, o Pacto
2001 as Formas de Discriminação contra Pessoas Portadoras de San José da Costa Rica foi aprovado por maioria simples. Tal
de Deficiência. questão acerca do status dos tratados de direitos humanos gerou
profundas discussões nos tribunais e o STF decidiu que os tratados
Estatuto de Roma, que cria o Tribunal Penal internacionais sobre direitos humanos ratificados pelo Brasil antes
Internacional. das alterações trazidas pela Emenda Constitucional nº 45/2004, ou
2002
Protocolo Facultativo à Convenção sobre a Eliminação seja, sem passar pelo processo de aprovação previsto no art. 5º, §
de todas as formas de Discriminação contra a Mulher. 3º deveriam ter status supralegal, hierarquicamente inferior às nor-
mas constitucionais, mas superior às normas infraconstitucionais.
Protocolos Facultativos à Convenção sobre os Direitos
Assim, a prisão do depositário infiel não foi considerada inconsti-
da Criança, referentes ao envolvimento de crianças em
2004 tucional, pois sua previsão segue na Constituição, mas, na prática,
conflitos armados e à venda de crianças e prostituição e
passou a ser ilegal, uma vez que as leis que regulam tal medida
pornografia infantis.
coercitiva estão abaixo dos tratados internacionais de direitos hu-
Protocolo Facultativo à Convenção contra a Tortura manos. Esse entendimento do que caráter supralegal dos tratados
2007 e outros Tratamentos Cruéis, Desumanos ou devidamente ratificados e internalizados na ordem jurídica brasi-
Degradantes. leira, sem submeter-se ao processo legislativo estipulado pelo art.

181
DIREITO CONSTITUCIONAL
5º, § 3º, da CF/88 foi reafirmado pela edição da Súmula Vinculante e regionais; IV - promover o bem de todos, sem preconceitos
25, em 2009 que aduz: “É ilícita a prisão civil de depositário infiel, de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de
qualquer que seja a modalidade do depósito”. discriminação.
(D) São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o
TRATADOS INTERNACIONAIS NO ORDENAMENTO JURÍDICO trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previ-
BRASILEIRO dência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistên-
cia aos desamparados, na forma desta Constituição.
TRATADOS STATUS (E) É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Mu-
Tratados Internacionais que versem sobre nicípios: I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencio-
Direitos Humanos aprovados em cada casa Emenda ná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles
do Congresso, em 2 turnos por 3/5 dos Constitucional ou seus representantes relações de dependência ou aliança,
respectivos membros. ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público;
II - recusar fé aos documentos públicos; III - criar distinções en-
Tratados Internacionais sobre Direitos tre brasileiros ou preferências entre si.
Humanos, mas não aprovados em 2 turnos por Supralegal
3/5 dos membros de cada casa do Congresso. 4. (CESPE / CEBRASPE – 2021) Julgue o item a seguir, a res-
Tratados internacionais que não versem sobre peito das normas constitucionais de eficácia plena, contida e
Lei Ordinária limitada.
Direitos Humanos. 
Em se tratando de normas constitucionais de eficácia limi-
tada, o legislador constituinte fixa rol restritivo para a atuação
discricionária do poder público; seus efeitos são diretos e ime-
QUESTÕES diatos, como é o caso do habeas corpus e do habeas data.
( ) CERTO
( ) ERRADO
1. (ADVISE – 2021) Após a aula de Direito Constitucional,
Samira, estudante do 4º período do curso de direito da Universi- 5. (NC-UFPR – 2021) Sobre a classificação das constituições
dade Kappa Beta, estava em dúvida sobre a definição dos princí- e das normas constitucionais, assinale a alternativa correta.
pios fundamentais previstos na Constituição Federal de 1988. A (A) A vedação à censura prévia para a liberdade de expressão
principal dúvida de Samira, dizia respeito à classificação consti- confirma que as normas que expressam vedações e proibições
tucional do que dispõe a Constituição ao prever a expressão “ga- podem ser consideradas normas de eficácia imediata.
rantir o desenvolvimento nacional”. Dessa forma, buscou auxílio (B) São consideradas formalmente constitucionais as dispo-
com a professora Roberta, que prontamente lhe explicou que a sições que regulam o exercício das funções políticas, a estru-
garantia do desenvolvimento nacional, constitui: turação do sistema de governo e da federação, e os direitos
(A) Um dos objetivos fundamentais da República Federativa do fundamentais.
Brasil. (C) As constituições dirigentes correspondem a um ideal de
(B) Um dos fundamentos da República Federativa do Brasil. Constituição típico do constitucionalismo liberal que prescreve
(C) Um dos princípios que rege a República Federativa do Brasil um Estado mínimo.
nas relações internacionais. (D) As constituições garantias são a expressão de um constitu-
(D) Um dos princípios econômicos da Constituição. cionalismo social que defende a Constituição como forma de
(E) Um dos preceitos tributários. garantia dos direitos sociais e de um Estado interventor.
(E) São consideradas normas materialmente constitucionais as
2. (AVANÇA SP – 2021) De acordo com o artigo 1° da Consti- disposições que estão escritas na Constituição, não importan-
tuição Federal, são fundamentos da República, EXCETO: do o seu tema e sua relevância para a comunidade política.
(A) dignidade da pessoa jurídica.
(B) cidadania. 6. (QUADRIX – 2021) Julgue o item no que diz respeito aos
(C) pluralismo político. princípios fundamentais na Constituição Federal de 1988.
(D) soberania. A partir de meados do século XX, um novo direito constitu-
(E) valores sociais do trabalho e da livre iniciativa. cional passou a reconhecer a força normativa dos princípios, en-
xergando‐os como as principais normas a veicular a supremacia
3. (ALTERNATIVE CONCURSOS – 2021) De acordo com a axiológica da Constituição.
Constituição Federal de 1988, assinale a opção que contém a ( ) CERTO
afirmação INCORRETA: ( ) ERRADO
(A) A República Federativa do Brasil, formada pela união indis-
solúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, cons- 7. (INSTITUTO CONSULPLAN – 2020) Considerando os princí-
titui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fun- pios fundamentais do Estado Brasileiro, segundo a Constituição
damentos: I - a soberania; II - a cidadania; III - a dignidade da da República Federativa do Brasil, marque V para as afirmativas
pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre verdadeiras e F para as falsas.
iniciativa; V - o pluralismo político. ( ) A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988
(B) São Poderes da União, independentes e harmônicos entre é, em toda a história constitucional brasileira, a mais preocu-
si, apenas o Executivo e o Judiciário. pada com a tutela dos direitos humanos, o que fica nítido pela
(C) Constituem objetivos fundamentais da República Federati- escolha dos princípios fundamentais do Estado, quais sejam: a
va do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa e solidá- cidadania, a dignidade da pessoa humana e os valores sociais do
ria; II - garantir o desenvolvimento nacional; III - erradicar a trabalho postos juntamente com a livre iniciativa.
pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais

182
182
DIREITO CONSTITUCIONAL
( ) Uma análise sistemática do texto constitucional faz ver 12. (OBJETIVA – 2021) De acordo com a Constituição Federal,
que um grande número de dispositivos constitucionais palmi- todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
lhou claramente o caminho do chamado estado do bem-estar garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
social, clarificando a intenção constitucional de evitar as desi- inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à seguran-
gualdades sociais que poderiam advir da consagração apenas da ça e à propriedade, nos seguintes termos, entre outros:
livre iniciativa como princípio fundamental, sem compatibilizá-la I. É vedada a expressão da atividade intelectual, artística, cien-
com os valores sociais do trabalho. tífica e de comunicação, independentemente de censura ou licença.
( ) Consagrou-se, ainda, o princípio do pluralismo político, II. É assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o
segundo o qual devem ser compatibilizadas as opiniões políticas sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional.
divergentes, para a melhor gestão do Estado Brasileiro, impedin- III. É relativo o caráter de inviolabilidade do sigilo da corres-
do, entretanto, que o exercício do poder venha a ser exercido de pondência e das comunicações telefônicas, uma vez que, poderá
forma direta. A sequência está correta em: ser mitigado por ordem judicial para fins de instrução processual
(A) V, V, F. penal e, nos casos de investigação criminal, por determinação do
(B) V, F, V. delegado responsável pela investigação.
(C) F, V, V. Está(ão) CORRETO(S):
(D) V, V, V. (A) Somente o item I.
(B) Somente o item II.
8. (CESPE-CEBRASPE – 2020) Ao tratar dos princípios funda- (C) Somente os itens I e III.
mentais, a CF estabelece, em seu art. 1.º, (D) Somente os itens II e III.
(A) a forma republicana de Estado, cláusula pétrea expressa, (E) Todos os itens.
caracterizada pela eletividade, temporariedade e responsabili-
dade do governante. 13. (FUNDATEC – 2021) Conforme o Art. 5º da Constituição da
(B) a forma republicana de governo, caracterizada pela eletivi- República Federativa do Brasil de 1988, assinale a alternativa IN-
dade, temporariedade e responsabilidade do governante. CORRETA.
(C) a forma federativa de Estado, cláusula pétrea implícita, ca- (A) É livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o ano-
racterizada pela tripartição dos poderes da União. nimato.
(B) É assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo,
(D) a forma federativa de Estado e o sistema presidencialista
além da indenização por dano material, moral ou à imagem.
de governo.
(C) É livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão,
(E) a forma republicana de governo e a forma federativa de Es-
independentemente das qualificações profissionais que a lei
tado, cláusulas pétreas expressas.
estabelecer.
(D) É assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência
9. (IBFC – 2020) Assinale a alternativa que apresenta um
religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva.
dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil, (E) É plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a
segundo a Constituição Federal de 1988: de caráter paramilitar.
(A) Valorizar o trabalho e a livre iniciativa
(B) Defender o pluralismo político 14. (FGV – 2021) Conforme disposto na Constituição Federal é
(C) Garantir o desenvolvimento nacional direito dos trabalhadores urbanos e rurais o décimo terceiro salário,
(D) Permitir o exercício da cidadania que será baseado:
(A) na remuneração integral ou no valor da aposentadoria.
10. (IESES – 2019) Marque a alternativa INCORRETA sobre os (B) no valor suplementar do bônus de participação do lucro.
princípios fundamentais da Constituição Federal de 1988: (C) na alíquota de encargos previdenciários do período vigente.
(A) Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de (D) no maior salário mínimo do país ou conforme for estipulado
representantes eleitos ou diretamente, nos termos da Consti- no estatuto da empresa.
tuição Federativa da República do Brasil de 1988. (E) no salário completo ou no valor pago de imposto sobre a
(B) A República Federativa do Brasil, formada pela união indis- renda retido na fonte.
solúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, consti-
tui-se em Estado democrático de direito. 15. (VUNESP – 2021) É um dos direitos constitucionais dos tra-
(C) São Poderes da União, independentes e harmônicos entre balhadores urbanos e rurais:
si, o Legislativo, o Executivo, o Judiciário e o Ministério Público. (A) relação de emprego protegida contra despedida arbitrária
(D) A República Federativa do Brasil buscará a integração eco- com ou sem justa causa, nos termos de lei complementar, que
nômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, preverá indenização compensatória.
visando à formação de uma comunidade latino-americana de (B) participação nos lucros, ou resultados, vinculada à última
nações. remuneração do trabalhador.
(C) assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o nas-
11. (CESPE / CEBRASPE – 2021) A respeito dos direitos e deve- cimento até 5 (cinco) anos de idade em creches e pré-escolas.
res individuais e coletivos previstos na Constituição Federal de 1988 (D) jornada de oito horas para o trabalho realizado em turnos
(CF), julgue o item a seguir. ininterruptos de revezamento, salvo negociação coletiva.
São inafiançáveis e imprescritíveis os crimes de racismo e terro- (E) licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário,
rismo, bem como a ação de grupos armados contra a ordem consti- com a duração de 180 (cento e oitenta) dias.
tucional e o Estado democrático.
( ) CERTO
( ) ERRADO

183
DIREITO CONSTITUCIONAL
16. (FGV – 2021) Ingrid nasceu no território da Bélgica à época 21. (FGV – 2021) Maria, Promotora de Justiça, que ingressara
em que seu pai, brasileiro, ali atuava em uma indústria privada de na carreira do Ministério Público do Estado Alfa há cinco anos, em
conectores eletrônicos. Sua mãe era belga. Considerando que In- razão de sua elevada expertise na área dos direitos humanos, foi
grid foi registrada apenas perante o órgão competente belga, não convidada pelo Governador do Estado a ocupar o cargo de Secretá-
perante uma repartição brasileira, ela é considerada: ria Estadual de Direitos Humanos.
(A) estrangeira, somente lhe restando a opção de se naturalizar À luz da sistemática constitucional, Maria:
brasileira, na forma da lei; (A) não pode exercer qualquer outra função pública, incluindo
(B) brasileira nata, já que seu pai era brasileiro e se encontrava a de Secretária de Estado, salvo uma de magistério;
em território belga a trabalho; (B) pode ocupar o cargo de Secretária de Estado, desde que
(C) brasileira nata, pois a ordem constitucional brasileira adota, haja aquiescência expressa do Procurador-Geral de Justiça;
em caráter conjunto, os modelos do jus soli e do jus sanguinis; (C) pode ocupar o cargo de Secretária de Estado, independen-
(D) estrangeira, mas, caso venha a residir no território brasilei- temente da aquiescência de qualquer órgão do Ministério Pú-
ro e opte, a qualquer tempo, após atingir a maioridade, pela blico;
nacionalidade brasileira, adquiri-la-á em caráter nato; (D) não pode exercer outra função pública, incluindo a de Se-
(E) estrangeira, mas pode adquirir a nacionalidade brasileira, cretária de Estado, salvo se for temporariamente afastada do
em caráter nato, caso o requeira, em território belga, perante cargo de Promotora de Justiça;
repartição consular brasileira, no ano seguinte à maioridade. (E) pode ocupar o cargo de Secretária de Estado, desde que
haja compatibilidade de horários com o cargo de Promotora de
17. (VUNESP – 2021) É um cargo público privativo de brasileiro Justiça e a soma das remunerações não ultrapasse o teto.
nato:
(A) de Procurador Geral da República. 22. (QUADRIX – 2021) Relativamente às normas de conduta
(B) de Ministro do Tribunal de Contas da União. dos servidores públicos, julgue o item.
(C) de Presidente da Câmara dos Deputados. Na hipótese de um agente público causar dano a qualquer bem
(D) de Presidente do Superior Tribunal de Justiça. pertencente ao patrimônio público, por descuido ou má vontade,
(E) de Senador da República. não constitui apenas uma ofensa à Administração Pública, mas a
todos os homens de boa vontade que dedicaram sua inteligência,
18. (CESPE / CEBRASPE – 2021) Com base no disposto na Cons- seu tempo, suas esperanças e seus esforços para construí-lo.
tituição Federal, julgue os seguintes itens, relativos a direitos políti- ( ) CERTO
cos e partidos políticos. ( ) ERRADO
I Direito político passivo corresponde ao direito do eleitor de
votar. 23. (FGV – 2021) A Constituição da República de 1988
II O cancelamento da naturalização por sentença transitada em (CRFB/1988) é reconhecida pelo seu caráter democrático e proteti-
julgado implica perda dos direitos políticos. vo, e promoveu ampliação no rol de direitos e garantias individuais
III Em se tratando de eleições proporcionais, o mandato per- e sociais. Em termos de reforma administrativa, contudo, a doutrina
tence ao candidato eleito, e não ao partido político sob cuja legen- especializada aponta a ocorrência de retrocessos, tornando a admi-
da o candidato disputou o processo eleitoral. nistração pública mais burocrática.
Assinale a opção correta. Nesse sentido, é exemplo de retrocesso trazido pela CRFB/1988:
(A) Apenas o item I está certo. (A) o incentivo à descentralização político-administrativa;
(B) o apoio ao clientelismo e ao fisiologismo como política de
(B) Apenas o item II está certo.
Estado;
(C) Apenas os itens I e III estão certos.
(C) a institucionalização de mecanismos de democracia direta,
(D) Apenas os itens II e III estão certos.
favorecendo o controle social e a accountability;
(E) Todos os itens estão certos.
(D) a extensão às entidades da administração indireta de proce-
dimentos e mecanismos de controle aplicáveis à administração
19. (FUNDEP – 2021) De acordo com a Constituição da Repúbli-
direta;
ca Federativa do Brasil, encontra-se entre as condições de elegibili-
(E) a criação do Departamento Administrativo do Serviço Públi-
dade a idade mínima de co (DASP), para comandar as reformas administrativas e imple-
(A) trinta anos para Presidente e Vice-Presidente da República mentar as políticas de governo.
e Senador.
(B) vinte e um anos para Governador e Vice-Governador de es- 24. (VUNESP – 2021) No tocante às disposições constitucionais,
tado e do Distrito Federal. que tratam do tema dos servidores públicos, é correto afirmar que
(C) dezoito anos para Deputado Federal e Deputado Estadual (A) o tempo de contribuição federal, estadual, distrital ou mu-
ou Distrital. nicipal e o tempo de serviço público correspondente serão con-
(D) dezoito anos para Vereador. tados para fins de disponibilidade e aposentadoria do servidor.
(B) aplica-se ao agente público ocupante, exclusivamente, de
20. (IBGP – 2021) O voto é facultativo para brasileiros com: cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exo-
(A) 18 anos. neração, de outro cargo temporário, inclusive mandato eletivo,
(B) 20 anos. o Regime Próprio de Previdência Social dos Servidores.
(C) 16 anos. (C) por motivos de segurança, é expressamente vedado aos Po-
(D) 19 anos. deres Executivo, Legislativo e Judiciário divulgar ou publicar os
valores do subsídio e da remuneração dos cargos e empregos
públicos dos seus respectivos servidores.

184
184
DIREITO CONSTITUCIONAL
(D) o membro de Poder, o detentor de mandato eletivo, os Mi- 27. (QUADRIX – 2021) Relativamente às normas de conduta
nistros de Estado e os Secretários Estaduais e Municipais serão dos servidores públicos, julgue o item.
remunerados exclusivamente por subsídio fixado em parcela O servidor público está sujeito a penalidades administrativas
única, que poderá ser acrescido de gratificação, adicional, abo- em razão de condutas que venham a atentar contra a ética e a mo-
no, prêmio e verba de representação. ralidade administrativa.
(E) é vedada a incorporação de vantagens de caráter tempo- ( ) CERTO
rário ou vinculadas ao exercício de função de confiança ou de ( ) ERRADO
cargo em comissão à remuneração do cargo efetivo.
28. (UFPel-CES – 2021) Considerando as normas constitucio-
25. (VUNESP – 2021) Nos moldes da Constituição Federal, o nais sobre servidores públicos, é correto afirmar que
servidor público titular de cargo efetivo, que tenha sofrido limitação (A) o servidor vinculado a regime próprio de previdência social
em sua capacidade física ou mental, poderá, atendidas as demais será aposentado compulsoriamente, com proventos proporcio-
exigências, ser readaptado, nais ao tempo de contribuição, aos 65 anos de idade.
(A) para exercício de novo cargo compatível com a sua limita- (B) em decorrência do direito a privacidade, é vedada a publi-
ção, devendo receber pelo menos 70% (setenta por cento) da cação dos valores da remuneração dos servidores públicos.
remuneração do cargo de origem. (C) a remuneração dos servidores públicos organizados em car-
(B) para exercício do mesmo cargo, com os necessários ajustes reira será fixada, exclusivamente, por subsídio.
à sua limitação, garantida a mesma remuneração do cargo. (D) lei complementar de competência exclusiva da União esta-
(C) para exercício de novo cargo compatível com a sua limita- belecerá a relação entre a maior e a menor remuneração dos
ção, podendo o servidor optar entre a remuneração do cargo servidores públicos de todos os entes federados.
de origem e a do cargo de destino. (E) a fixação dos padrões de vencimento e dos demais compo-
(D) para exercício de novo cargo compatível com a sua limita- nentes do sistema remuneratório observará as peculiaridades
ção, mantida a remuneração do cargo de origem. do cargo.
(E) para exercício de novo cargo compatível com a sua limita-
ção, devendo receber a remuneração do cargo de destino. 29. (FUNDATEC – 2021) Em relação aos princípios constitu-
cionais que regem a administração pública(conforme artigo 37 da
26. (CEFET – 2021) Em relação aos princípios constitucionais da Constituição Federal vigente), analise as assertivas a seguir:
Administração Pública, analise as afirmações abaixo: • O Princípio da __________ exige que a atividade administra-
I. O agente público no exercício das atribuições do seu cargo tiva seja desenvolvida de modo leal e que assegure a toda a comu-
pode adotar quaisquer atos que a lei não proíba, tendo em vista nidade a obtenção de vantagens justas.
que tudo que não é proibido é permitido, sendo este um postulado • As ações do administrador público são plenamente vincula-
basilar do princípio da legalidade administrativa. das ao que estabelecem as normas vigentes, ou seja, ele somente
II. São princípios da Administração Pública expressos no caput pode fazer o que a lei autoriza ou determina. Diferente do gestor
do art. 37 da Constituição Federal de 1988: publicidade, eficiência, privado, que pode fazer tudo o que a lei não proíbe. Esse é o Prin-
impessoalidade, legalidade e moralidade. cípio da __________.
III. Um prefeito autorizou contratação de empresa publicitária • O Princípio da __________ exige que os atos estatais sejam
para campanha de divulgação de notícia em diversos outdoors da levados ao conhecimento de todos, ressalvadas hipóteses em que
cidade e no site oficial da Prefeitura, enumerando e elogiando as se justificar o sigilo.
obras realizadas durante seu mandato, além de ressaltar a econo- Assinale a alternativa que preenche, correta e respectivamen-
mia praticada no período, afirmando ser o prefeito perfeito para te, as lacunas dos trechos acima.
o município. Tal notícia não afronta princípios da Administração (A) Eficiência – Impessoalidade – Transparência
Pública, denotando a aplicação dos princípios da publicidade e da (B) Eficiência – Legalidade – Transparência
eficiência, tendo em vista que o prefeito tornou públicos atos de (C) Moralidade – Impessoalidade – Publicidade
gestão por ele praticados e comprovou ser econômico. (D) Moralidade – Impessoalidade – Transparência
IV. Os atos de improbidade administrativa denotam afronta ao (E) Moralidade – Legalidade – Publicidade
princípio da eficiência. Conforme disposto no art. 37, §4º, da Cons-
tituição Federal de 1988, “os atos de improbidade administrativa 30. (UFPel-CES – 2021) De acordo com o art. 41 da Constituição
importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função Federal, são estáveis após três anos de exercício, os servidores no-
pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, meados para cargo de provimento efetivo em virtude de concurso
na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal público, sendo
cabível”. (A) condição para a aquisição da estabilidade a avaliação es-
V. A exigência de concurso público para investidura em cargo pecial de desempenho por comissão instituída para essa fina-
ou emprego público prevista no art. 37, inciso II, da Constituição lidade.
Federal de 1988 é exemplo de aplicação do princípio da impessoali- (B) vedada a invalidação da demissão de servidor estável por
dade. Estão corretas apenas as afirmativas sentença judicial, pois não pode o Poder Judiciário intervir em
(A) I, II. ato da administração pública.
(B) I, III. (C) que em caso de extinção do cargo, o servidor estável será
(C) II, V. demitido.
(D) III, IV. (D) inadmissível que o servidor conteste o resultado da avalia-
(E) IV, V. ção periódica de desempenho.
(E) o processo administrativo meio inviável para proceder a de-
missão de servidor público estável.

185
DIREITO CONSTITUCIONAL
______________________________________________________
GABARITO
______________________________________________________

______________________________________________________
1 A
______________________________________________________
2 A
3 B ______________________________________________________
4 ERRADO ______________________________________________________
5 A
______________________________________________________
6 CERTO
7 A ______________________________________________________

8 B ______________________________________________________
9 C ______________________________________________________
10 C
______________________________________________________
11 ERRADO
12 B ______________________________________________________
13 C ______________________________________________________
14 A
______________________________________________________
15 C
______________________________________________________
16 D
17 C ______________________________________________________
18 B ______________________________________________________
19 D
______________________________________________________
20 C
21 A ______________________________________________________

22 CERTO ______________________________________________________
23 D
______________________________________________________
24 E
______________________________________________________
25 D
26 C ______________________________________________________
27 CERTO ______________________________________________________
28 E
______________________________________________________
29 E
30 A ______________________________________________________

______________________________________________________
ANOTAÇÕES ______________________________________________________
______________________________________________________ ______________________________________________________
______________________________________________________ ______________________________________________________
______________________________________________________ ______________________________________________________
______________________________________________________ ______________________________________________________
______________________________________________________ ______________________________________________________
______________________________________________________ ______________________________________________________
_____________________________________________________ ______________________________________________________
_____________________________________________________
186
186
NOÇÕES DE DIREITO
PENAL

• Princípio da subsidiariedade = primeiro tentar aplicar o crime


mais grave, se não for o caso, aplicar a norma subsidiária, menos
APLICAÇÃO DA LEI PENAL. PRINCÍPIOS DA LEGALIDADE E grave.
DA ANTERIORIDADE. LEI PENAL NO TEMPO E NO ESPAÇO. • Consunção = ao punir o todo pune a parte. Ex. crime progres-
TEMPO E LUGAR DO CRIME. LEI PENAL EXCEPCIONAL, ES- sivo (o agente necessariamente precisa passar pelo crime menos
PECIAL E TEMPORÁRIA. TERRITORIALIDADE E EXTRATER- grave), progressão criminosa (o agente queria praticar um crime
RITORIALIDADE DA LEI PENAL. CONTAGEM DE PRAZO. menos grave, mas em seguida pratica crime mais grave), atos im-
INTERPRETAÇÃO DA LEI PENAL. ANALOGIA. IRRETRO- puníveis (prévios, simultâneos ou subsequentes).
ATIVIDADE DA LEI PENAL Lei Penal no Espaço

▪ Lugar do Crime, Territorialidade e Extraterritorialidade


Lei Penal em Branco Quanto à aplicação da lei penal no espaço, a regra adotada no
▪ Interpretação e Analogia Brasil é a utilização do princípio da territorialidade, ou seja, aplica-
As normas penais em branco são normas que dependem do -se a lei penal aos crimes cometidos no território nacional.
complemento de outra norma. Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções,
tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no ter-
Norma Penal em branco Norma Penal em branco ritório nacional.
Homogênea Heterogênea Como o CP admite algumas exceções, podemos dizer que foi
A norma complementar adotado o princípio da territorialidade mitigada/temperada.
possui o mesmo nível Fique atento, pois são considerados como território brasileiro
hierárquico da norma penal. A norma complementar por extensão:
Quando homovitelina, não possui o mesmo nível • Navios e aeronaves públicos;
corresponde ao mesmo hierárquico da norma penal. Ex. • Navios e aeronaves particulares, desde que se encontrem em
ramo do Direito, ex. o complemento da lei de drogas alto mar ou no espaço aéreo. Ou seja, não estando no território de
Penal e Penal. Quando está em decreto que define nenhum outro país.
heterovitenila, abrange substâncias consideradas drogas.
ramos diferentes do Direito, Por outro lado, a extraterritorialidade é a aplicação da lei penal
ex. Penal e Civil. brasileira a um fato criminoso que não ocorreu no território nacio-
nal.
Outro ponto fundamental é a diferenciação entre analogia e Extraterritorialidade
interpretação analógica: Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no
estrangeiro:
I - os crimes (EXTRATERRITORIALIDADE INCONDICIONADA):
A lei penal admite interpretação Já a analogia só pode a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República;
analógica para incluir hipóteses ser utilizada em normas b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito
análogas às elencadas pelo legislador, não incriminadoras, para Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa públi-
ainda que prejudiciais ao agente. beneficiar o réu. ca, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída
pelo Poder Público;
Lei Penal no Tempo c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço;
▪ Conflito Aparente de Leis Penais e Tempo do Crime d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado
Sobre o tempo do crime, é importante saber que: A teoria da no Brasil;
atividade é adotada pelo Código Penal, de maneira que, conside- II - os crimes (EXTRATERRITORIALIDADE CONDICIONADA):
ra-se praticado o crime no momento da ação ou omissão (data da a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a repri-
conduta). mir;
Nos crimes permanentes e continuados aplica-se a lei em vigor b) praticados por brasileiro;
ao final da prática criminosa, ainda que mais gravosa. Não é caso de c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mer-
retroatividade, pois na verdade, a lei mais grave está sendo aplica- cantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro
da a um crime que ainda está sendo praticado. e aí não sejam julgados.
Sobre o conflito aparente de leis penais, a doutrina resolve § 1º - Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei
essa aparente antinomia através dos seguintes princípios: brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro.
• Princípio da especialidade = norma especial prevalece sobre § 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depen-
a geral, ex. infanticídio. de do concurso das seguintes condições:
a) entrar o agente no território nacional;
b) ser o fato punível também no país em que foi praticado;

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasilei- - Antijuridicidade (Ilicitude):o fato para ser antijurídico deve
ra autoriza a extradição; ser contrário às normas do direito penal. Existem situações, no en-
d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí tanto, que alguns fatos são amparados por causas excludentes de
cumprido a pena; ilicitude, como por exemplo na legítima defesa, no estado de ne-
e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro cessidade, no estrito cumprimento de dever legal ou no exercício
motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favo- regular de direito. Nestes casos, o fato será típico, mas não será
rável. antijurídico, logo não haverá crime.
§ 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por - Culpabilidade: diz respeito a possibilidade ou não de aplica-
estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condi- ção de uma pena ao autor de um crime. Para que a pena possa
ções previstas no parágrafo anterior: ser aplicada, alguns requisitos/elementos são essenciais: imputa-
Quanto ao lugar do crime, a teoria adotada é a da ubiquidade: bilidade penal, potencial consciência da ilicitude e exigibilidade de
Art. 6º - Considera-se praticado o crime no lugar em que ocor- conduta diversa. Ausente quaisquer destes requisitos, não haverá
reu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se
culpabilidade, logo não haverá crime.
produziu ou deveria produzir-se o resultado.
Portanto, o lugar do crime é tanto o local da ação/omissão,
2) Contravenção Penal:
quanto o local da ocorrência do resultado, ex. o local do disparo da
A Lei de Introdução ao Código Penal, em seu artigo 1º, além de
arma e o local da morte.
apresentar a conceituação de crime, trouxe também a definição de
contravenção penal da seguinte forma:
INFRAÇÃO PENAL: ELEMENTOS, ESPÉCIES, SUJEITO ATIVO
E SUJEITO PASSIVO Decreto-Lei nº 3.914, de 9 de dezembro de 1941
Art. 1º - Considera-se crime a infração penal que a lei comina
pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alter-
A infração penal pode ser conceituada como toda conduta pre- nativa ou cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a
viamente prevista em lei como ilícita, para qual se estabelece uma infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão
pena. simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente.
As infrações penais se subdividem em duas espécies: CRIMES e (Grifo nosso)
CONTRAVENÇÕES PENAIS.
Nota-se que o legislador diferenciou o crime e a contravenção
1) Crime: penal basicamente com relação a pena aplicada, sendo considerado
A Lei de Introdução ao Código Penal (Decreto-Lei nº 3.914, de 9 crime as infrações mais graves (punidas com reclusão ou detenção)
de dezembro de 1941), em seu artigo 1º, conceituou o crime da se- e contravenção as infrações mais leves (punidas com prisão simples
guinte forma:“Considera-se crime a infração penal que a lei comina e multa).
pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alterna- Outra diferença entre os dois institutos é que no crime pune-se
tiva ou cumulativamente com a pena de multa; (...) a tentativa, já na contravenção a tentativa não é punível.
Já a doutrina majoritária, que adota o conceito analítico de cri- Por fim, nos crimes o tempo de cumprimento das penas priva-
me, defende que crime étodo fato típico, antijurídico e culpável. tivas de liberdade não pode ser superior a 40 (quarenta) anos, já na
Nota-se que o conceito analítico é majoritariamente tripartite, visto contravenção penal a pena de prisão simples pode chegar no máxi-
que considera que o crime possui 3 elementos ou requisitos: o fato mo a 05 (cinco) anos e é cumprida sem rigor penitenciário.
típico, a ilicitude e a culpabilidade.
O FATO TÍPICO E SEUS ELEMENTOS. CRIME CONSUMADO E
Elementos do Crime
TENTADO. CONCURSO DE CRIMES. ILICITUDE E CAUSAS DE
Sobre os elementos do crime, a doutrina destaca duas teorias:
EXCLUSÃO. PUNIBILIDADE. EXCESSO PUNÍVEL. CULPABILI-
DADE (ELEMENTOS E CAUSAS DE EXCLUSÃO). IMPUTABI-
a) Teoria Bipartida:para esta teoria crime é todo fato típico e
LIDADE PENAL. CONCURSO DE PESSOAS
antijurídico (ilícito). Considera, portanto, como elementos do crime
apenas o fato típico e a antijuridicidade/ilicitude. A culpabilidade
para esta teoria é mero pressuposto para aplicação da pena e não
Conceito
elemento do crime.
O crime, para a teoria tripartida, é fato típico, ilícito e cul-
b) Teoria Tripartida (Corrente Majoritária):considera crime
pável. Alguns, entendem que a culpabilidade não é elemento do
todo fato típico, antijurídico e culpável (conceito analítico). Aqui,
crime (teoria bipartida).
a culpabilidade também é considerada elemento do crime, junta-
mente como fato típico e a antijuridicidade. Na falta de algum des-
Classificações
ses elementos o fato não será considerado crime.
• Crime comum: qualquer pessoa pode cometê-lo.
• Crime próprio: exige determinadas qualidades do sujeito.
Análise dos Elementos do Crime: (Conceito Analítico)
• Crime de mão própria: só pode ser praticado pela pessoa.
- Fato Típico: toda conduta que se enquadra em um tipo penal,
Não cabe coautoria.
ou seja, é o fato descrito pela lei penal como crime. Quando alguém
• Crime material: se consuma com o resultado.
pratica um fato que não está descrito em nenhum tipo penal, ele
• Crime formal: se consuma independente da ocorrência do
será atípico e, portanto, não será crime. O fato típico é composto
resultado.
dos seguintes elementos:Conduta; Nexo Causal;Resultado e Tipici-
• Crime de mera conduta: não há previsão de resultado na-
dade
turalístico.

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Fato Típico e Teoria do Tipo O nexo de causalidade consiste no vínculo que une a con-
O fato típico divide-se em elementos: duta do agente ao resultado naturalístico ocorrido no mundo
• Conduta humana; exterior. No Brasil adotamos a Teoria da Equivalência dos Ante-
• Resultado naturalístico; cedentes (conditio sine qua non), que considera causa do crime
• Nexo de causalidade; toda conduta sem a qual o resultado não teria ocorrido.
• Tipicidade. Por algum tempo a teoria da equivalência dos antecedentes
foi criticada, no sentido de até onde vai a sua extensão?! Em
▪ Teorias que explicam a conduta resposta a isso, ficou definido que como filtro o dolo. Ou seja,
só será considerada causa a conduta que é indispensável ao re-
Teoria Causal- Teoria Finalista sultado e que foi querida pelo agente. Assim, toda conduta que
Teoria Social leva ao resultado do crime deve ser punida, desde que haja dolo
Naturalística (Hans Welzel)
ou culpa.
Conduta é ação Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime,
Conduta como Ação humana
voluntária (dolosa ou somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa
movimento voluntária com
culposa) destinada a a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.
corporal. relevância social.
uma finalidade. Em contraposição a essa teoria, existe a Teoria da Causali-
dade Adequada, adotada parcialmente pelo sistema brasileiro.
A teoria finalista da conduta foi adotada pelo Código Penal, Trata-se de hipótese de concausa superveniente relativamente
pois como veremos adiante o erro constitutivo do tipo penal exclui independente que, por si só, produz o resultado.
o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em Mas pera... O que é uma concausa? Circunstância que atua
lei. Isso demonstra que o dolo e a culpa se inserem na conduta. paralelamente à conduta do agente em relação ao resultado. As
A conduta humana pode ser uma ação ou omissão. Há tam- concausas absolutamente independentes são aquelas que não
bém o crime omissivo impróprio, no qual a ele é imputado o se juntam à conduta do agente para produzir o resultado, e po-
resultado, em razão do descumprimento do dever de vigilância, dem ser:
de acordo com a TEORIA NATURALÍSTICO-NORMATIVA. • Preexistentes: Já tinham colocado veneno no chá do meu
Perceba a diferença: desafeto quando eu vou matá-lo.
• Crime comissivo = relação de causalidade física ou natural • Concomitantes: Atiro no meu desafeto, mas o teto cai e
que enseja resultado naturalístico, ex. eu mato alguém. mata ele.
• Crime comissivo por omissão (omissivo impróprio) = rela- • Supervenientes: Dou veneno ao meu desafeto, mas antes
ção de causalidade normativa, o descumprimento de um dever de fazer efeito alguém o mata.
leva ao resultado naturalístico, ex. uma babá fica no Instagram e
não vê a criança engolir produtos de limpeza – se tivesse agido Consequência em todas as hipóteses de concausa absoluta-
teria evitado o resultado. mente independente: O AGENTE SÓ RESPONDE POR TENTATIVA,
PORQUE O RESULTADO SE DEU POR CAUSA ABSOLUTAMENTE
O dever de agir incumbe a quem? INDEPENDENTE. SE SUBTRAIR A CONDUTA DO AGENTE, O RE-
A quem tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou SULTADO TERIA OCORRIDO DE QUALQUER JEITO (TEORIA DA
vigilância, ex. os pais. EQUIVALÊNCIA DOS ANTECEDENTES).
Até aí fácil né? Mas agora vem o pulo do gato! Existem as
A quem tenha assumido a responsabilidade de impedir o concausas relativamente independentes, que se unem a outras
resultado, ex. por contrato. circunstâncias para produzir o resultado.
A quem com o seu comportamento anterior, criou o risco • Preexistente: O agente provoca hemofilia no seu desafe-
da ocorrência do resultado (norma de ingerência), ex. trote de to, já sabendo de sua doença, que vem a óbito por perda exces-
faculdade. siva de sangue. Sem sua conduta o resultado não teria ocorrido
e ele teve dolo, logo, o agente responde pelo resultado (homi-
Quanto ao resultado naturalístico, é considerado como mu- cídio consumado), conforme a teoria da equivalência dos ante-
dança do mundo real provocado pela conduta do agente. Nos cedentes.
crimes materiais exige-se um resultado naturalístico para a con- • Concomitante: Doses de veneno se unem e levam a óbito
sumação, ex. o homicídio tem como resultado naturalístico um a vítima. Sem sua conduta o resultado não teria ocorrido e existe
corpo sem vida. dolo, logo, o agente responde pelo resultado (homicídio consu-
Nos crimes formais, o resultado naturalístico pode ocorrer, mado), conforme a teoria da equivalência dos antecedentes.
mas a sua ocorrência é irrelevante para o Direito Penal, ex. au- • Superveniente: Aqui tudo muda, pois é utilizada a teoria
ferir de fato vantagem no crime de corrupção passiva é mero da causalidade adequada. Se a concausa não é um desdobra-
exaurimento. mento natural da conduta, o agente só responde por tentativa,
Já os crimes de mera conduta são crimes em que não há um ex. eu dou um tiro no agente, mas ele morre em um acidente
resultado naturalístico, ex. invasão de domicílio – nada muda no fatal dentro da ambulância. Todavia, se a concausa é um desdo-
mundo exterior. bramento da conduta do agente, ele responde pelo resultado,
Mas não confunda! O resultado normativo/jurídico ocorre ex. infecção generalizada gerada pelo ferimento do tiro (homi-
em todo e qualquer crime, isto é, lesão ao bem jurídico tutelado cídio consumado).
pela norma penal.
Agora vem a cereja do bolo, com a Teoria da Imputação
Objetiva (Roxin). Em linhas gerais, nessa visão, só ocorre impu-
tação ao agente que criou ou aumentou um risco proibido pelo

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Direito, desde que esse risco tenha ligação com o resultado. Ex.
O dolo antecedente é o que se dá
Eu causo um incêndio na casa do meu desafeto, serei imputada antes do início da execução. O dolo
pelo incêndio, não pela morte de alguém que entrou na casa atual é o que está presente durante
para salvar bens. Dolo antecedente, atual a execução. O dolo subsequente
Explicando melhor, para a teoria da imputação objetiva, a e subsequente ocorre quando o agente inicia a
imputação só pode ocorrer quando o agente tiver dado causa conduta com finalidade lícita, mas
ao fato (causalidade física), mas, ao mesmo tempo, haja uma re- altera o seu ânimo e passa a agir de
lação de causalidade normativa, isto é, criação de um risco não forma ilícita.
permitido para o bem jurídico que se pretende tutelar.
Crime Culposo
Criar ou aumentar um risco + O risco deve ser proibido No crime culposo, a conduta do agente viola um dever de
pelo Direito + O risco deve ser criado no resultado cuidado:
• Negligência: o agente deixa de fazer algo que deveria.
Por fim, a tipicidade consiste na subsunção – adequação • Imprudência: o agente se excede no que faz.
da conduta do agente a uma previsão típica. Algumas vezes é • Imperícia: O agente desconhece uma regra técnica profis-
necessário usar mais de um tipo penal para fazer a subsunção sional, ex. o médico dá um diagnóstico errado ao paciente que
(conjugação de artigos). vem a receber alta e falecer.
Ainda dentro do fato típico, vamos analisar dolo e culpa.
Com o finalismo (Hans Welzel), o dolo e a culpa, que são ele- • Requisitos do crime culposo
mentos subjetivos, foram transportados da culpabilidade para a) Conduta Voluntária: o fim da conduta pode ser lícito ou
o fato típico (conduta). Assim, a conduta passou a ser definida ilícito, mas quando ilícito não é o mesmo que se produziu (a fi-
como ação humana dirigida a um fim. nalidade não é do resultado).
Crime Doloso b) Violação de um dever objetivo de cuidado: negligência,
• Dolo direto = vontade livre e consciente de praticar o cri- imprudência, imperícia.
me. c) Resultado naturalístico involuntário (não querido).
• Dolo eventual = assunção do risco produzido pela conduta. d) Nexo causal.
e) Tipicidade: o fato deve estar previsto como crime culposo
Perceba que no dolo eventual existe consciência de que a expressamente.
conduta pode gerar um resultado criminoso, e mesmo diante da f) Previsibilidade objetiva: o homem médio seria capaz de
probabilidade de dar algo errado, o agente assume esse risco. prever o resultado.

Vontade de praticar a conduta Culpa Consciente Culpa Inconsciente


Dolo genérico descrita no tipo penal sem
nenhuma outra finalidade O agente prevê o resultado O agente não prevê que o
como possível, mas acredita resultado possa ocorrer. Só tem a
Dolo específico O agente pratica a conduta típica sinceramente que este não previsibilidade objetiva, mas não
(especial fim de agir) por alguma razão especial. irá ocorrer. subjetiva.
Dolo direto de primeiro A vontade é direcionada para a
Culpa Própria Culpa Imprópria
grau produção do resultado.
O agente quer o resultado, mas
O agente possui uma vontade, mas
acha que está amparado por
sabe que para atingir sua finalidade
O agente não quer o uma excludente de ilicitude ou
existem efeitos colaterais que irão
resultado criminoso. culpabilidade.
Dolo direto de necessariamente lesar outros bens
Consequência: exclui o dolo, mas
segundo grau (dolo jurídicos.
imputa culpa.
de consequências Ex. dolo direto de primeiro grau é
necessárias) atingir o Presidente, dolo direto de
segundo grau é atingir o motorista Não existe no Direito Penal brasileiro compensação de cul-
do Presidente, ao colocar uma pas, de maneira que cada um deve responder pelo o que fez.
bomba no carro. Outro ponto interessante é que o crime preterdoloso é uma es-
pécie de crime qualificado pelo resultado. No delito preterdolo-
Ocorre quando o agente, so, o resultado que qualifica o crime é culposo: Dolo na conduta
acreditando ter alcançado seu inicial e culpa no resultado que ocorreu.
Dolo geral, por erro objetivo, pratica nova conduta, com O crime material consumado exige conduta + resultado na-
sucessivo, aberratio finalidade diversa, mas depois se turalístico + nexo de causalidade + tipicidade. Nos crimes ten-
causae (erro de relação constata que esta última foi a que
tados, por não haver consumação (resultado naturalístico), não
de causalidade) efetivamente causou o resultado.
estarão presentes resultado e nexo de causalidade. Eventual-
Ex. enforco e depois atiro no lago, e
mente, a tentativa pode provocar resultado naturalístico e nexo
a vítima morre de afogamento.
causal, mas diverso do pretendido pelo agente no momento da
prática criminosa.
Na adequação típica mediata, o agente não pratica exata-
mente a conduta descrita no tipo penal, mas em razão de uma
outra norma que estende subjetiva ou objetivamente o alcance

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL
do tipo penal, ele deve responder pelo crime. Ex. O agente inicia b) Erro sobre a execução com unidade complexa (aberratio
a execução penal, mas em razão a circunstâncias alheias à von- ictus de resultado duplo): O agente atinge a vítima pretendida,
tade do agente o resultado pretendido (consumação) não ocorre e, também, a vítima não pretendida. Consequência: responde
– o agente é punido pelo crime, mas de forma tentada. pelos dois crimes em concurso formal.

Crime Preterdoloso • Erro sobre o crime ou resultado diverso do pretendido


O crime preterdoloso é uma espécie de crime qualificado (aberratio delicti ou aberratio criminis): o agente pretendia co-
pelo resultado. No delito preterdoloso, o resultado que qualifica meter um crime, mas por acidente ou erro na execução acaba
o crime é culposo: Dolo na conduta inicial e culpa no resultado cometendo outro (relação pessoa x coisa ou coisa x pessoa).
que ocorreu. Como consequência, o crime preterdoloso não ad- a) Com unidade simples: O agente atinge apenas o resul-
mite tentativa, já que o resultado é involuntário. tado não pretendido. Ex. uma pessoa é visada, mas uma coisa
é atingida – responde pelo dolo em relação a pessoa, na forma
Erro de Tipo tentada (tentativa de homicídio, tentativa de lesão corporal). Ex.
▪ Erro de tipo essencial Uma coisa é visada, mas a pessoa é atingida – responde apenas
O agente desconhece algum dos elementos do tipo penal. pelo resultado ocorrido em relação à pessoa, de forma culposa
Ou seja, há uma representação errônea da realidade, na qual o (homicídio culposo, lesão corporal culposa).
agente acredita não se verificar a presença de um dos elementos b) Com unidade complexa: O agente atinge tanto a pessoa
essenciais que compõe o tipo penal. Quem nunca pegou a coisa quanto a coisa. Consequência: responde pelos dois crimes em
de alguém pensando que era sua?! Cometeu furto? Não, pois concurso formal.
faltou você saber que a coisa era alheia. O erro de tipo exclui o
dolo e a culpa (se foi um erro perdoável/escusável) ou exclui o • Erro sobre o objeto (Error in objecto): imagine que o agen-
dolo e o agente só responde por culpa, se prevista (no caso de te deseja furtar uma valiosa obra de arte, mas acaba subtraindo
erro inescusável). um quadro de pequeno valor, por confundir-se. Consequência:
Outros exemplos: não sabe que o agente é funcionário pú- o agente responde pelo o que efetivamente fez.
blico, em desacato; não sabe que é garantidor em crime comis-
sivo por omissão; erro sobre o elemento normativo, ex. justa ▪ Erro determinado por terceiro
causa. O agente erra porque alguém o induz a isso, de maneira que
Não restam mais dúvidas, certo? Erro de tipo é erro sobre a o autor mediato (quem provocou o erro) será punido. O autor
existência fática de um dos elementos que compõe o tipo penal. imediato (quem realiza) é mero instrumento, e só responderá
caso ficar demonstrada alguma forma de culpa.
▪ Erro de tipo acidental
Aqui o erro ocorre na execução ou há um desvio no nexo Iter Criminis
causal da conduta com o resultado. Iter Criminis significa caminho percorrido pelo crime. A co-
• Erro sobre a pessoa: O agente pratica o ato contra pessoa gitação (fase interna) não é punida – ninguém pode ser punido
diversa da pessoa visada, por confundi-la com o seu alvo, que pelos seus pensamentos. Os atos preparatórios, em regra, tam-
nem está no local dos fatos. Consequência: o agente responde bém, não são punidos.
como se tivesse praticado o crime contra a pessoa visada (teoria
da equivalência). A partir do início da execução do crime, o agente sofre puni-
• Erro sobre o nexo causal: o resultado é alcançado median- ção. Caso complete o que é dito pelo tipo penal, o crime estará
te um nexo causal diferente daquele que planejou. consumado; caso não se consume por circunstâncias alheias à
a) Erro sobre o nexo causal em sentido estrito: com um ato o vontade do agente, pune-se a tentativa.
agente produz o resultado, apesar do nexo causal ser diferente,
ex. eu disparo contra o meu desafeto, mas ele morre afogado Tentativa
ao cair na piscina. Consequência: o agente responde pelo o que O crime material consumado exige conduta + resultado na-
efetivamente ocorreu (morte por afogamento). turalístico + nexo de causalidade + tipicidade. Nos crimes ten-
b) Dolo geral/aberratio causae/dolo geral ou sucessivo: O tados, por não haver consumação (resultado naturalístico), não
agente acredita que já ocorreu o resultado pretendido, então, estarão presentes resultado e nexo de causalidade. Eventual-
pratica outro ato (+ de 1 ato). Ao final verifica-se que o último mente, a tentativa pode provocar resultado naturalístico e nexo
ato foi o que provocou o resultado. Consequência: o agente res- causal, mas diverso do pretendido pelo agente no momento da
ponde pelo nexo causal efetivamente ocorrido, não pelo pre- prática criminosa.
tendido. Na adequação típica mediata, o agente não pratica exata-
mente a conduta descrita no tipo penal, mas em razão de uma
• Erro na execução (aberratio ictus): é o famoso erro de outra norma que estende subjetiva ou objetivamente o alcance
pontaria, no qual a pessoa visada e a de fato acertada estão no do tipo penal, ele deve responder pelo crime. Ex. O agente inicia
mesmo local. a execução penal, mas em razão a circunstâncias alheias à von-
a) Erro sobre a execução com unidade simples (aberratio tade do agente o resultado pretendido (consumação) não ocorre
ictus de resultado único): O agente somente atinge a pessoa di- – o agente é punido pelo crime, mas de forma tentada.
versa da pretendida. Consequência: responde como se tivesse O CP adotou a teoria dualística/realista/objetiva da puni-
atingido a pessoa visada. bilidade da tentativa. Assim, a pena do crime tentado é a pena
do crime consumado com diminuição de 1/3 a 2/3 (varia de
acordo o quanto chegou perto do resultado). Isso ocorre porque
o desvalor do resultado para a sociedade é menor.

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL
— Tentativa branca ou incruenta = o agente não atinge o Câmeras e dispositivos de segurança em estabelecimentos
bem que pretendia lesar; comerciais não tornam o crime impossível.
— Tentativa vermelha ou cruenta = o agente atinge o bem
que pretendia lesar; Ilicitude
— Tentativa perfeita = o agente completa os atos de exe- Estado de Necessidade, Legítima Defesa, Estrito Cumpri-
cução; mento de Dever Legal, Exercício Regular de Direito.
— Tentativa imperfeita = o agente não esgota os meios de A ilicitude, também conhecida como antijuridicidade, nos
execução. traz a ideia de que a conduta está em desacordo com o Direito.
Presente o fato típico, presume-se que o fato é ilícito. As-
▪ Crimes que não admitem tentativa sim, o ônus da prova passa a ser do acusado, ou seja, o acusado
• Culposo (é involuntário); é quem vai precisar comprovar a existência de uma excludente
• Preterdoloso (o resultado é involuntário); de ilicitude.
• Unissubsistente (um ato só); As excludentes da ilicitude podem ser genéricas (incidem
• Omissivo puro (não dá para tentar se omitir); em todos os crimes) ou específicas (próprias de alguns crimes).
• Perigo abstrato (só de gerar o perigo o crime se consuma); Causas genéricas = estado de necessidade; legítima defesa;
• Contravenção (a lei quis assim); exercício regular de direito; estrito cumprimento do dever legal.
• De atentado/empreendimento (a tentativa já gera consu- Causa supralegal de exclusão da ilicitude = consentimento
mação); do ofendido nos crimes contra bens disponíveis.
• Habitual (atos isolados são indiferentes penais).
a) Estado de Necessidade:
Desistência Voluntária e Arrependimento Eficaz Art. 24 – Considera-se em estado de necessidade quem pra-
Ambas afastam a tipicidade do dolo inicial e o agente só res- tica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por
ponde pelo o que fez (danos que efetivamente causou). sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio
• Na desistência voluntária, o agente voluntariamente de- ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável
siste de dar sequência aos atos executórios iniciados, mesmo exigir-se.         
podendo fazê-lo (fórmula de Frank). O resultado não se consu- § 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o
ma por desistência do agente. dever legal de enfrentar o perigo.         
• No arrependimento eficaz, o agente pratica todos os atos § 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito
de execução, mas após isto se arrepende e adota medidas que
ameaçado, a pena poderá ser reduzida de um a dois terços.    
impedem a consumação.
De acordo com a TEORIA UNITÁRIA, o bem jurídico prote-
Atenção: se o resultado, ainda assim, vier a ocorrer, o agen-
gido deve ser de valor igual ou superior ao sacrificado. Ex. vida
te responde pelo crime com uma atenuante genérica.
x vida. Se compromete um bem de maior valor para salvar um
Atenção: se o crime for cometido em concurso de pessoas
bem de menor valor incide uma causa de diminuição de pena
e somente um deles realiza a conduta de desistência voluntária
(-1/3 a 2/3).
ou arrependimento eficaz, esta circunstância se comunica aos
Requisitos:
demais. Motivo: Trata-se de exclusão da tipicidade, o crime não
— Perigo a um bem jurídico próprio ou de terceiro;
foi cometido, respondendo todos apenas pelos atos praticados
— Conduta do agente na qual ele sacrifica o bem alheio para
até então.
salvar o próprio ou do terceiro;
Arrependimento Posterior — A situação de perigo não pode ter sido criada voluntaria-
É uma causa de diminuição de pena para o crime já consu- mente pelo agente;
mado, desde que: — O perigo tem que estar ocorrendo (atual);
1. Crime praticado sem violência ou grave ameaça à pessoa, — O agente não pode ter o dever jurídico de impedir o re-
ou culposo; sultado, ex. bombeiro;
2. O juiz ainda não recebeu a denúncia ou queixa; — A conduta do agente precisa ser inevitável (o bem jurídi-
3. O agente reparou o dano ou restituiu a coisa voluntaria- co só pode ser salvo se ele agir);
mente. — A conduta do agente precisa ser proporcional (salvar bem
— A diminuição é de 1/3 a 2/3, a depender da celeridade e de valor igual ou maior).
voluntariedade do ato.
— O arrependimento posterior se comunica aos demais
agentes.
— Se a vítima se recusar a receber a reparação mesmo assim
o agente terá a diminuição de pena.
Crime Impossível (tentativa inidônea)
Embora o agente inicie a execução do delito, jamais o crime
se consumará.
Por quê? O meio utilizado é completamente ineficaz ou o
objeto material do crime é impróprio para aquele crime.
Ex. Ineficácia absoluta do meio = arma que não dispara.
Ex. Absoluta impropriedade do objeto = atirar em corpo sem
vida.
O CP adotou a teoria objetiva da punibilidade do crime im-
possível, ou seja, não é punido (atipicidade).
192
192
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Estado de Estado de Estado de Estado de c) Estrito Cumprimento do Dever Legal:


necessidade necessidade necessidade necessidade
agressivo defensivo real putativo O agente comete um fato típico, em razão de um dever le-
gal. Mas não confunda! Quando um policial numa troca de tiros
Quando a mata um bandido não age em estrito cumprimento de dever le-
situação de gal, mas em LD, pois não existe o dever legal de matar, mas sim
perigo não injusta agressão.
existe de fato, • O estrito cumprimento do dever legal se comunica aos de-
apenas na
O agente mais agentes.
imaginação do
prejudica o O agente • Particular também pode estar amparado pelo estrito cum-
agente.
bem jurídico sacrifica o primento do dever legal.
Consequência:
de terceiro que bem jurídico
O perigo se o erro é
não produziu o de quem d) Exercício Regular de Direito:
existe. escusável,
perigo. provocou o O agente age no legítimo exercício de um direito seu (pre-
exclui dolo
Obs. o agente perigo. visto em lei). Ex. lutas desportivas.
e culpa; se
precisa
o erro é
indenizar. EXCESSO PÚNIVEL: EM TODAS AS EXCLUDENTES DE ILICU-
inescusável,
exclui o dolo, TDE, EVENTUAL EXCESSO SERÁ PUNIDO, SEJA ELE DOLOSO OU
mas responde CULPOSO!
por culpa, se
prevista. Culpabilidade: Imputabilidade Penal, Potencial Consciên-
cia da Ilicitude, Exigibilidade de Conduta Diversa
• Estado de necessidade recíproco é possível, se nenhum O último elemento da análise analítica do crime é a culpabi-
deles provocou o perigo. lidade. Lembre-se, para a teoria tripartida o crime é fato típico,
• O estado de necessidade se comunica a todos os agentes. antijurídico e culpável. Para a teoria bipartida a culpabilidade é
pressuposto para a aplicação da pena.
b) Legítima Defesa: A culpabilidade é o juízo de reprovabilidade, e divide-se nas
Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando mo- seguintes teorias:
deradamente dos meios necessários, repele injusta agressão, • Teoria Psicológica: Os causalistas acreditavam que o agen-
atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.         te era culpável se imputável no momento do crime e se havia
Parágrafo único. Observados os requisitos previstos agido com dolo ou culpa.
no caput deste artigo, considera-se também em legítima defesa • Teoria normativa (psicológico-normativa): Além de impu-
o agente de segurança pública que repele agressão ou risco de tável e com dolo ou culpa o agente tinha que estar consciente da
agressão a vítima mantida refém durante a prática de crimes.    ilicitude e ser exigível conduta diversa.
• Teoria extremada da culpabilidade (normativa pura): Se
O agente pratica um fato para repelir uma agressão injusta, coaduna com a teoria finalista, pois dolo e culpa transportaram-
atual ou iminente (prestes a ocorrer), contra direito próprio ou -se para a tipicidade (dolo subjetivo). Para essa teoria, os ele-
alheio. Ex. o dono de um animal bravo utiliza o animal como mentos da culpabilidade são: imputabilidade + potencial cons-
instrumento de agressão contra outrem – o agente poderá se ciência da ilicitude (dolo normativo) + exigibilidade de conduta
defender. diversa.
• Cabe LD contra agressão de inimputável; • Teoria limitada da culpabilidade: A teoria normativa pura
• Ainda que possa fugir, o agente pode escolher ficar e repe- se divide em teoria extremada e teoria limitada. O que as dife-
lir a agressão (no estado de necessidade não); rencia é o tratamento dado ao erro sobre as causas de justifica-
• Os meios utilizados devem ser suficientes e necessários ção (exclusão da ilicitude), isto é, descriminantes putativas. A
para repelir a injusta agressão (proporcionalidade); teoria extremada defende que todo erro que recaia sobre uma
• Na LD putativa, o agente pensa que está sendo agredido. causa de justificação seja equiparado ao ERRO DE PROIBIÇÃO. A
Consequência: se o erro é escusável, exclui dolo e culpa; se o teoria limitada divide o erro sobre pressuposto fático da causa
erro é inescusável, exclui o dolo, mas responde por culpa, se de justificação e o erro sobre a existência ou limites jurídicos
prevista. de uma causa de justificação. No primeiro caso (erro de fato)
• É possível que ocorra LD sucessiva, ex. A agride B, B repele aplicam-se as regras do erro de tipo, que aqui passa a se chamar
a agressão de forma excessiva, A passa ter o direito de agir em erro de tipo permissivo. No segundo caso (erro sobre a ilicitude
LD em razão do excesso (agressão injusta). da conduta) aplicam-se as regras do erro de proibição.
• Se o bem é indisponível, a vontade do dono (consentimen-
to) é indiferente para a atuação da LD de terceiro. Obs.: O CP adota a teoria normativa pura limitada, ou seja,
• Não cabe LD real em face de LD real, porque falta injusta separa o erro de tipo do erro de proibição.
agressão. Por outro lado, pode ter LD putativa (agressão injusta)
sucedida por LD real (repelir agressão injusta). ▪ Elementos da culpabilidade:
1. Imputabilidade Penal: Capacidade de entender o cará-
ter ilícito da conduta e autodeterminar-se conforme o Direito.
Na ausência de qualquer desses elementos será inimputável, de
acordo com o critério biopsicológico.

193
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
O CP também adota o critério biológico, pois os menores de quica – funcionário público cumpre ordem não manifestamente
18 anos são inimputáveis. ilegal emanada pelo seu superior (isenção de pena). Obs. se a
Lembre-se que a imputabilidade penal deve ser aferida no ordem é manifestamente ilegal comete crime.
momento que ocorreu o fato criminoso.
Lembre-se, também, que em crime permanente só cessa a Concurso de Pessoas
conduta quando a vítima é liberada (ex. sequestro), logo, a idade O concurso de pessoas consiste na colaboração de dois ou
do agente vai ser analisada até que realmente cesse a conduta, mais agentes para a prática de um delito ou contravenção pe-
com a libertação da vítima/apreensão do agente. nal. De acordo com a teoria monista (unitária), todos respondem
O ordenamento jurídico prevê a completa inimputabilidade, pelo mesmo crime, na medida de sua culpabilidade. Ex. 3 amigos
que exclui a culpabilidade e impõe medida de segurança (sen- furtam uma casa, todos respondem pelo crime de furto, mas o
tença absolutória imprópria); bem como, prevê a semi-imputa- juiz vai valorar a conduta de cada um de acordo com a individua-
bilidade, que enseja medida de segurança (sentença absolutória lidade dos agentes.
imprópria) ou sentença condenatória com causa de diminuição
de pena (-1/3 a 2/3). Concurso de pessoas
Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental Concurso de pessoas necessário
eventual
ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao
tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender O tipo penal não exige a O tipo penal exige que a
o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse presença de mais de uma conduta seja praticada por mais
entendimento. pessoa. de uma pessoa.
Redução de pena
Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois ter- ▪ Requisitos do concurso de pessoas:
ços, se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou — Pluralidade de agentes: Se um imputável determina que
por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era um inimputável realize um crime não existe concurso de pes-
inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de soas, mas sim autoria mediata (o mandante é o autor do crime e
determinar-se de acordo com esse entendimento.  o inimputável instrumento).
Nos crimes plurissubjetivos (concurso de pessoas necessá-
Atenção rio), se um dos colaboradores não é culpável, mesmo assim ha-
— Os índios podem ser imputáveis (integrados à sociedade), verá crime.
Nos crimes eventualmente plurissubjetivos (concurso de
semi-imputáveis (parcialmente integrados à sociedade) ou inim-
pessoas eventual) não é necessário que todos os agentes sejam
putáveis (não integrados).
culpáveis, basta um deles para qualificar o crime, ex. o concurso
— A conduta do sonâmbulo é atípica, pois falta conduta
de pessoas qualifica o furto, logo, se um é imputável, não impor-
(dolo/culpa).
ta se os demais são inimputáveis, pois o furto estará qualificado.
— A embriaguez acidental gera inimputabilidade (isenção
Nesses casos que tem inimputáveis, mas eu considero o
de pena), desde que decorrente de caso fortuito ou força maior
concurso para tipificar ou qualificar o crime a doutrina os deno-
+ completa + retirar totalmente a capacidade de discernimento
mina de concurso impróprio/aparente.
do agente. Obs. se for parcial (retirar parcialmente a capacidade
— Relevância da colaboração: A participação do agente deve
de discernimento do agente) a pena será reduzida. ser relevante para a produção do resultado. Ou seja, a colabo-
• Nos casos de embriaguez não se aplica medida de segu- ração que em nada contribui para o resultado é um indiferente
rança, pois o agente não é doente mental. penal. Além disso, a colaboração deve ser prévia ou concomitan-
• A embriaguez voluntária e culposa não exclui a imputabi- te à execução. A colaboração posterior à execução enseja crime
lidade! autônomo, salvo o ajuste tenha ocorrido previamente.
• A lei de drogas exclui a imputabilidade do inebriado pa- — Vínculo subjetivo (concurso de vontades): Ajuste ou ade-
tológico. são de um à conduta do outro. Caso não haja vínculo subjetivo
— A embriaguez preordenada (se embriaga para cometer entre os agentes haverá autoria colateral, e não coautoria.
crime) não retira a imputabilidade do agente, pelo contrário, — Unidade de crime (identidade de infração): todos respon-
trata-se de circunstância agravante da pena. dem pelo mesmo crime.
— Existência de fato punível: a colaboração só é punível se
2. Potencial consciência da ilicitude: neste elemento da im- o crime for, pelo menos, tentado (princípio da exterioridade –
putabilidade, é verificado se a pessoa tinha a possibilidade de exige o início da execução).
conhecer o caráter ilícito do fato, de acordo com as suas carac- • Na autoria mediata por inimputabilidade do agente não
terísticas (não como parâmetro o homem médio). basta que o executor seja inimputável, ele deve ser um instru-
Quando o agente age acreditando que sua conduta não é mento do mandante (não ter o mínimo discernimento).
penalmente ilícita comete erro de proibição. • Na autoria mediata por erro do executor, quem pratica a
conduta é induzido a erro pelo mandante (erro de tipo ou erro
3. Exigibilidade de conduta diversa: É verificado se o agen- de proibição), ex. médico determina que enfermeira aplique
te podia agir de outro modo. Caso comprovado que não dava uma injeção tóxica no paciente alegando que é um medicamen-
para agir de outra maneira, no caso concreto, a culpabilidade é to normal.
excluída (isenção de pena). Ex. coação moral irresistível – uma • Na autoria mediata por coação do executor existe coação
pessoa coage outra a praticar determinado crime, sob ameaça moral irresistível, a culpabilidade é apenas do coator, não do
de lhe fazer algum mal grave. Obs. se a coação é física exclui a coagido (inexigibilidade de conduta diversa).
tipicidade pela falta de conduta. Obs. se podia resistir a coação,
recebe apenas uma atenuante genérica. Ex. obediência hierár-

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL
• Para ter autoria mediata em crime próprio, o autor me- Teoria da Teoria da
diato (mandante) precisa reunir as condições especiais exigidas Teoria da Teoria da
acessoriedade acesso-
pelo tipo penal. Se o mandante não reúne as condições do cri- acessoriedade hiperacesso-
limitada riedade
me próprio há autoria por determinação, punindo quem exerce mínima riedade
(adotada) máxima
sobre a conduta domínio equiparado à figura da autoria (autor
da determinação da conduta/responsável pela sua ocorrência). Exige que O
• Nos crimes de mão própria não se admite autoria media- a conduta partícipe Exige que o
A conduta
ta, porque o crime não pode ser realizado por interposta pes- principal seja só é fato principal
principal só
soa. Todavia, pode ter a figura do autor por determinação (pune típica e ilícita. punido seja típico,
precisa ser
quem determinou o crime). Recorda que se o fato ilícito,
típica para a
as excludentes principal culpável e
Autor é quem pratica a conduta descrita no núcleo do tipo punição do
de ilicitude se for típico, o autor seja
penal, todos os demais que de alguma forma prestarem colabo- partícipe.
comunicam?! ilícito e punido.
ração serão partícipes. Essa teoria foi adotada pelo Código Penal
Ahá! culpável.
e é denominada de teoria objetivo-formal.
No entanto, atente-se para a teoria do domínio do fato
— A lei admite a redução da pena de 1/6 a 1/3 se a partici-
(nos crimes dolosos), criada por Hans Welzel e desenvolvida por
pação é de menor importância.
Claus Roxin: o autor é todo aquele que possui domínio da con-
— A doutrina admite participação nos crimes comissivos por
duta criminosa, seja ele executor ou não. O importante, para
omissão, quando o partícipe devia e podia evitar o resultado.
essa teoria, é que tenha o poder de decidir sobre o rumo da
prática delituosa, o cabeça do crime. O partícipe, por sua vez, é
— Participação inócua não se pune, ex. eu emprestei a arma
quem contribui, mas sem poder de direção. Ou seja, o controle
para o agente, mas ele matou com o uso de veneno.
da situação (quem pode intervir a qualquer momento para fazer
— Participação em cadeia é possível, ex. eu empresto a
cessar a conduta) é o critério utilizado para definir o autor.
arma para A, para este emprestar para B e matar a vítima. Eu e
A coautoria é espécie de concurso de pessoas na qual duas
A somos partícipes de B.
ou mais pessoas praticam a conduta descrita no núcleo do tipo
penal. Na coautoria funcional, os agentes realizam condutas di-
versas que se somam para produzir o resultado. Na coautoria Comunicam-se: Não se comunicam:
material (direta) todos realizam a mesma conduta. Elementares do crime Circunstâncias subjetivas
• Cabe coautoria em crimes próprios (todos reúnem as con- (caracteriza o crime) e (influencia a pena de acordo
dições ou pelo menos tem ciência que um deles as possui), mas circunstâncias objetivas com a pessoa do agente) e
não cabe coautoria em crime de mão própria (só participação). (influencia a pena de acordo condições de caráter pessoal
• Nos crimes omissivos não cabe coautoria, só participação. com o fato). (relativas à pessoa do agente).
• Nos crimes culposos cabe coautoria, mas não participação.
• Na autoria mediata não há concurso entre autor mediato Preste atenção, circunstâncias e condições de caráter pes-
e autor imediato, respondendo apenas o autor mediato, que se soal não se comunicam. Por outro lado, as circunstâncias de ca-
valeu de alguém sem culpabilidade para a execução do delito. ráter real ou objetivas (se referem ao fato), se comunicam, sob
Entretanto, é possível coautoria e participação na autoria me- uma condição: é necessário que a circunstância tenha entrado
diata (vários mandantes). na esfera de conhecimento dos demais agentes. Ex. A informa o
• Na coação física irresistível, o coator é autor direto. seu partícipe que usará emboscada para matar, ambos respon-
• Existe autoria mediata de crime próprio, mas não de crime dem por essa qualificadora.
de mão própria. Outro ponto interessante é que elementares sempre se co-
municam, sejam objetivas ou subjetivas, desde que tenham en-
Participação é modalidade de concurso de pessoas, na qual trado na esfera de conhecimento do partícipe.
o agente colabora para a prática delituosa, mas não pratica a Para fechar com chave de ouro vale abordar a autoria cola-
conduta descrita no núcleo do tipo penal. teral. O que é isso? Não se confunde com o concurso de pessoas,
pois não existe acordo de vontades. Imagine que 2 pessoas ati-
Participação Moral Participação Material ram na mesma vítima, mas os peritos não conseguem identificar
quem efetuou o disparo fatal. O resultado desta autoria incerta
Instiga (reafirma a ideia) ou Presta auxílio fornecendo é que ambos respondem de forma tentada.
induz (cria a ideia) em outrem. objeto ou condições para a Outra figura curiosa é a cooperação dolosamente distinta,
fuga (cumplicidade).
que consiste em participação em crime menos grave (desvio sub-
jetivo de conduta). Ambos os agentes decidem praticar determi-
Pela teoria da adequação típica mediata, o partícipe mesmo nado crime, mas durante a execução um deles decide praticar
sem praticar a conduta descrita no núcleo do tipo pode ser pu- outro crime, mais grave. Aquele que escolheu praticar somente
nido, uma vez que, as normas de extensão da adequação típica o crime inicial só responderá por este, salvo ficar comprovado
possibilitam o raio de aplicação do tipo penal. Ou seja, soma o que podia prever a ocorrência do crime mais grave. Neste último
art. do crime + o art. 29 do CP = o resultado é conseguir punir o caso, a pena do crime inicial é aumentada até a metade.
partícipe. Obs.: No concurso de multidão criminosa, quem lidera o
Conforme a teoria da acessoriedade, o partícipe é punido crime terá pena agravada e quem adere a conduta tem a pena
mesmo que sua conduta seja considerada acessória em relação atenuada. Há concurso de pessoas, pois existe vínculo subjetivo,
ao autor. Vejamos: no sentido de que um adere a conduta do outro, mesmo que de
forma tácita.

195
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
A pena no Brasil tem uma finalidade mista, isto é, retributiva O tempo de prisão provisória, prisão administrativa e inter-
e preventiva. A finalidade retributiva (teoria absoluta) coloca a nação computam-se na pena privativa de liberdade e na medida
pena como um castigo. Já a teoria relativa tem como objetivo de segurança, de acordo com o instituto da detração.
evitar novas infrações penais. Dentro da teoria relativa existe a As penas restritivas de direitos dividem-se em:
prevenção geral e a prevenção especial. • Prestação pecuniária: pagamento em dinheiro à vítima
• Prevenção geral (direcionada à sociedade): negativa = inti- ou entidade (pública ou privada social) de 1 a 360 salários-mí-
midação pela pena; positiva = demonstra a vigência da lei penal. nimos. O valor pago será deduzido de eventual indenização, se
• Prevenção especial (direcionada ao condenado): negativa coincidentes os beneficiários. A prestação não precisa ser em
= evita a reincidência; positiva = busca a ressocialização. dinheiro.
• Perda de bens e valores: pagamento ao Fundo Penitenciá-
Espécies de penas: privativa de liberdade; restritiva de di- rio Nacional, tendo como teto o montante do prejuízo causado
reitos; multa. ou do provento obtido (o que for maior).
Dentro da pena privativa de liberdade, existe a possibilida- • Prestação de serviços à comunidade: aplica-se a condena-
de da reclusão ou detenção. A reclusão pode ser cumprida no ções superiores a 6 meses de privação de liberdade. As tarefas
regime fechado, semiaberto ou aberto. Já a detenção só pode devem ser cumpridas em 1h por dia de condenação. Se a pena
iniciar-se nos regimes semiaberto ou aberto, podendo regredir for superior a 1 ano, o condenado pode cumprir a pena substitu-
para regime fechado. tiva em menor tempo, nunca inferior à metade da pena fixada.
• Interdição temporária de direitos: proibição de exercer
Regime Fechado Regime Semiaberto Regime Aberto atividade pública ou profissão que dependa de autorização do
poder público, suspensão para dirigir, proibição de frequentar
A execução da pena determinados lugares, proibição de inscrever-se em exame pú-
acontece em casa blico.
A execução
de albergado ou • Limitação de fim de semana: permanecer aos sábados do-
da pena
estabelecimento mingos por 5h em casa de albergado.
acontece em
adequado.
estabelecimento
Baseia-se na
de segurança As penas restritivas de direito são autônomas e substituti-
autodisciplina
máxima ou vas. Para conseguir substituir a pena privativa de liberdade im-
e sendo de
média. A execução da pena posta por uma pena restritiva de direitos, o condenado precisa
responsabilidade do
Exige exame acontece em colônia reunir os seguintes requisitos:
condenado, quem
criminológico. agrícola, industrial — A pena não pode ser superior a 4 anos;
deverá trabalhar,
Há trabalho no ou estabelecimento — Sem violência ou grave ameaça;
frequentar curso
período diurno similar. — Não reincidência em crime doloso específico;
ou exercer outra
(em comum Trabalho comum — O art. 59 do CP ser favorável a essa conversão.
atividade autorizada
dentro do durante o dia, sendo
(fora e sem
estabelecimento) possível, também, o Obs.: o crime culposo pode ser substituído independente-
vigilância), devendo
e isolamento trabalho externo e a mente da quantidade de pena.
permanecer
durante o frequência a cursos.
recolhido durante o
repouso noturno. Condenação igual ou inferior a 1 ano recebe em substituição
período noturno e
Obs.: trabalho 1 multa ou 1 restritiva de direitos. Condenação superior a 1 ano
nos dias de folga.
externo é
Regredirá de regime, recebe em substituição 1 multa + 1 restritiva de direitos ou 2
admissível em
se praticar crime restritivas de direitos.
serviços/obras
doloso, frustrar os Em caso de descumprimento injustificado da restrição im-
públicas.
fins da execução ou posta, a pena restritiva de direitos é reconvertida em privativa
não pagar a multa. de liberdade. Será deduzido o tempo cumprido, mas ficará em
privação de liberdade por pelo menos 30 dias.
• Condenado a pena superior a 8 anos começa em regime A pena de multa dirige-se ao Fundo Penitenciário, tem como
fechado. valor de 1/30 de salário-mínimo a 5 salários-mínimos, durante
• Condenado, não reincidente, a pena superior a 4 anos e de 10 a 360 dias. Após o trânsito em julgado, a pena de mul-
não exceda a 8 anos, poderá cumpri-la em regime semiaberto. ta deve ser paga em 10 dias. Todavia, o juiz pode considerar
• Condenado, não reincidente, a pena igual ou inferior a o parcelamento. A execução da multa ocorre perante o juiz da
4 anos pode cumpri-la em regime aberto. O reincidente, neste execução penal e é considerada dívida de valor (aplicadas nor-
caso, pode iniciar o cumprimento no regime semiaberto. mas da dívida ativa). Como a multa é uma pena, se sobrevém ao
• O art. 59 do CP é usado para definir o início do cumpri- condenado doença mental, será suspensa a execução.
mento da pena. A multa pode ser aumentada até o TRIPLO, se o juiz consi-
• O condenado por crime contra a Administração Pública derar que, em virtude da situação econômica do réu, é ineficaz,
terá a progressão condicionada à reparação do dano. mesmo que aplicada no patamar máximo.
Na fixação da pena privativa de liberdade utilizamos o mé-
Regime Especial = Prisão da mulher todo trifásico, no qual, primeiro o juiz avalia as circunstâncias
Em caso de superveniência de doença mental, o condenado judiciais (art. 59), depois agravantes e atenuantes (art. 61 a 67) e
a quem sobrevém doença mental deve ser recolhido a hospital no fim causas de aumento e diminuição de pena (frações legais).
de custódia e tratamento psiquiátrico. Obs.: em concurso de causas de aumento e diminuição de pena

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL
previstas na parte especial do código, pode o juiz limitar-se a um Circunstâncias atenuantes
aumento ou a uma diminuição, prevalecendo a causa que mais Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena: I -
aumente ou mais diminua. ser o agente menor de 21 (vinte e um), na data do fato, ou maior
de 70 (setenta) anos, na data da sentença; II - o desconhecimen-
▪ Circunstâncias Judiciais to da lei; III - ter o agente: 
Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos anteceden- a) cometido o crime por motivo de relevante valor social ou
tes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, moral;
às circunstâncias e consequências do crime, bem como ao com- b) procurado, por sua espontânea vontade e com eficiência,
portamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e logo após o crime, evitar-lhe ou minorar-lhe as consequências,
suficiente para reprovação e prevenção do crime:  ou ter, antes do julgamento, reparado o dano;
I - as penas aplicáveis dentre as cominadas; c) cometido o crime sob coação a que podia resistir, ou em
II - a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites pre- cumprimento de ordem de autoridade superior, ou sob a influên-
vistos; cia de violenta emoção, provocada por ato injusto da vítima;
III - o regime inicial de cumprimento da pena privativa de d) confessado espontaneamente, perante a autoridade, a
liberdade; autoria do crime;
IV - a substituição da pena privativa da liberdade aplicada, e) cometido o crime sob a influência de multidão em tumul-
por outra espécie de pena, se cabível. 
to, se não o provocou.
▪ Agravantes e Atenuantes
Art. 66 - A pena poderá ser ainda atenuada em razão de
Art. 61 - São circunstâncias que sempre agravam a pena,
circunstância relevante, anterior ou posterior ao crime, embora
quando não constituem ou qualificam o crime:
I - a reincidência;  não prevista expressamente em lei. 
II - ter o agente cometido o crime: 
a) por motivo fútil ou torpe; Concurso de circunstâncias agravantes e atenuantes
b) para facilitar ou assegurar a execução, a ocultação, a im- Art. 67 - No concurso de agravantes e atenuantes, a pena
punidade ou vantagem de outro crime; deve aproximar-se do limite indicado pelas circunstâncias pre-
c) à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação, ou ponderantes, entendendo-se como tais as que resultam dos mo-
outro recurso que dificultou ou tornou impossível a defesa do tivos determinantes do crime, da personalidade do agente e da
ofendido; reincidência.
d) com emprego de veneno, fogo, explosivo, tortura ou outro
meio insidioso ou cruel, ou de que podia resultar perigo comum; Com o Pacote Anticrime, o tempo de cumprimento da pena
e) contra ascendente, descendente, irmão ou cônjuge; privativa de liberdade não pode ser superior a 40 anos. Inclusive,
f) com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de relações quando o agente for condenado a penas privativas de liberdade
domésticas, de coabitação ou de hospitalidade, ou com violência cuja soma ultrapasse 40 anos, devem elas serem unificadas para
contra a mulher na forma da lei específica;  atender este limite. E, sobrevindo condenação por fato poste-
g) com abuso de poder ou violação de dever inerente a car- rior ao início do cumprimento, deve ser feita nova unificação,
go, ofício, ministério ou profissão; desprezado o período de pena já cumprido.
h) contra criança, maior de 60 (sessenta) anos, enfermo ou
mulher grávida;  Suspensão Condicional da Pena
i) quando o ofendido estava sob a imediata proteção da au- Sursis é a suspensão condicional da pena privativa de li-
toridade; berdade, na qual o réu se submete durante o período de prova
j) em ocasião de incêndio, naufrágio, inundação ou qualquer (lapso temporal) à fiscalização e ao cumprimento de condições
calamidade pública, ou de desgraça particular do ofendido; judicialmente estabelecidas. Cuida-se de execução mitigada da
l) em estado de embriaguez preordenada. pena privativa de liberdade, uma vez que, o condenado cumpre
a pena que lhe foi imposta, mas de forma menos gravosa.
Agravantes no caso de concurso de pessoas
Os requisitos objetivos são: pena privativa de liberdade
Art. 62 - A pena será ainda agravada em relação ao agente
aplicada na sentença não superior a 2 anos. Os requisitos sub-
que: I - promove, ou organiza a cooperação no crime ou dirige
jetivos são: não seja caso de pena substituída por restritiva de
a atividade dos demais agentes;  II - coage ou induz outrem à
execução material do crime;  III - instiga ou determina a come- direitos, o réu não seja reincidente em doloso, a culpabilidade,
ter o crime alguém sujeito à sua autoridade ou não-punível em os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente,
virtude de condição ou qualidade pessoal; IV - executa o crime, bem como os motivos e as circunstâncias do crime autorizem a
ou nele participa, mediante paga ou promessa de recompensa. concessão do benefício.
O período de prova dura de 2 a 4 anos, salvo se tratar de
Reincidência sursis etário ou humanitário, pois neste caso, o prazo dura de
Art. 63 - Verifica-se a reincidência quando o agente comete 4 a 6 anos.
novo crime, depois de transitar em julgado a sentença que, no A revogação é obrigatória (art. 81 do Código Penal) em caso
País ou no estrangeiro, o tenha condenado por crime anterior.  de superveniência de condenação irrecorrível pela prática de
Art. 64 - Para efeito de reincidência: I - não prevalece a con- crime doloso, não reparação do dano e descumprimento das
denação anterior, se entre a data do cumprimento ou extinção da condições do sursis (condições do primeiro ano). A revogação
pena e a infração posterior tiver decorrido período de tempo supe- é facultativa (art. 81,  § 1º, CP) em caso de superveniência de
rior a 5 (cinco) anos, computado o período de prova da suspensão condenação irrecorrível pela prática de contravenção penal ou
ou do livramento condicional, se não ocorrer revogação; II - não se crime culposo, bem como o cumprimento de qualquer condição
consideram os crimes militares próprios e políticos. judicial.

197
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Livramento Condicional Medidas de Segurança
É o benefício que permite ao condenado à pena privativa de O inimputável recebe medida de segurança. Se for extinta
liberdade superior a 2 anos a liberdade antecipada, condicional a sua punibilidade, ex. prescreveu, não será imposta medida de
e precária, desde que cumprida parte da reprimenda imposta segurança, pois não deixa de ser uma restrição na liberdade do
e sejam observados os demais requisitos legais. Considera-se a indivíduo.
última etapa da execução, com liberdade responsável e reinser- A medida de segurança tem como prazo máximo 40 anos,
ção social. assim como já dito para os crimes em geral. O que determina o
Os requisitos objetivos são: condenado a pena privativa de período de internação ou tratamento ambulatorial é a periculo-
liberdade igual ou superior a 2 anos, reparação do dano, cumpri- sidade do agente. O prazo mínimo varia de 1 a 3 anos. A perícia
mento de 1/3 da pena ou ½ da pena em caso de reincidente em deve ser realizada nesse lapso e repetida de ano a ano, bem
crime doloso ou 2/3 da pena em caso de condenado não reinci- como sempre que o juiz da execução entender necessário.
dente em crime hediondo. Os requisitos subjetivos se baseiam A desinternação, ou a liberação, será sempre condicional
no seu bom comportamento (não ter cometido falta grave nos devendo ser restabelecida a situação anterior se o agente, antes
últimos 12 meses, bom desempenho no trabalho) e aptidão para do decurso de 1 (um) ano, pratica fato indicativo de persistência
prover a própria subsistência pelo trabalho honesto. de sua periculosidade.
A revogação é obrigatória em caso de condenação irrecor- O Código Penal divide a medida de segurança em duas es-
rível à pena privativa de liberdade. E, facultativa, em caso de pécies:
condenação irrecorrível por crime ou contravenção, à pena não
privativa de liberdade, bem como o descumprimento das condi-
ções impostas. Internação em hospital Tratamento ambulatorial
Atente-se que o Pacote Anticrime alterou o instituto do Li- de custódia e tratamento (se há previsão de detenção no
vramento Condicional, de maneira que agora exige-se o NÃO psiquiátrico crime)
COMETIMENTO DE FALTA GRAVE NOS ÚLTIMOS 12 MESES PARA
A CONCESSÃO DO BENEFÍCIO.
Por fim, o Código traz as hipóteses de EXTINÇÃO DA PUNI-
Efeitos da Condenação BILIDADE:
Quanto aos efeitos da condenação genéricos, exige-se: • Morte do agente;
• Indenização de danos; • Anistia, graça e indulto;
• Perda em favor da União dos instrumentos ilícitos utiliza- • Abolitio criminis;
dos no crime e o produto do crime (ou equivalente). • Prescrição, decadência, perempção;
• Se a pena máxima for superior a 6 anos de reclusão, pode • Renúncia do direito de queixa ou perdão aceito, nos cri-
ser decretada a perda dos bens correspondentes à diferença en- mes de ação privada;
tre o valor do patrimônio do condenado e aquele que seja com- • Retratação do agente, nos casos em que a lei permite;
patível com o seu rendimento lícito. • Perdão judicial, nos casos previstos em lei.

Quanto aos efeitos específicos (dependem de motivação), O mais importante é conhecer sobre a prescrição penal. O
pode ocorrer: que é? Consiste na perda, em face do decurso do tempo, do di-
• Perda do cargo se a pena é igual ou superior a 1 ano, nos reito de o Estado punir (PPP) ou executar a punição já imposta
crimes praticados com abuso de poder ou violação de dever (PPE).
para com a Administração, ou, a pena é superior a 4 anos, nos PPP = prescrição da pretensão punitiva – ocorre antes do
demais casos. trânsito em julgado e impede efeito penal e extrapenal de even-
• A incapacidade para o exercício do poder familiar, da tute- tual condenação.
la ou da curatela nos crimes dolosos sujeitos à pena de reclusão PPE = prescrição da pretensão executória – ocorre após o
cometidos contra outrem igualmente titular do mesmo poder trânsito em julgado e impede somente a execução da pena.
familiar, contra filho, filha ou outro descendente ou contra tute-
lado ou curatelado. Prescrição da Pretensão Punitiva em Abstrato
• A inabilitação para dirigir veículo, quando utilizado como Nesta modalidade de PPP, combina-se a pena máxima com
meio para a prática de crime doloso.    a tabela do art. 109, para saber quando ocorrerá a prescrição:
Art. 109.  A prescrição, antes de transitar em julgado a sen-
Reabilitação tença final, salvo o disposto no § 1o  do art. 110 deste Código,
A reabilitação poderá ser requerida, decorridos 2 (dois) regula-se pelo máximo da pena privativa de liberdade cominada
anos do dia em que for extinta, de qualquer modo, a pena ou ao crime, verificando-se: 
terminar sua execução, computando-se o período de prova da I - em vinte anos, se o máximo da pena é superior a doze;
suspensão e o do livramento condicional, se não sobrevier re- II - em dezesseis anos, se o máximo da pena é superior a oito
vogação, desde que o condenado:   anos e não excede a doze;
I - tenha tido domicílio no País no prazo acima referido (2 III - em doze anos, se o máximo da pena é superior a quatro
anos);   anos e não excede a oito;
II - tenha dado, durante esse tempo, demonstração efetiva e IV - em oito anos, se o máximo da pena é superior a dois
constante de bom comportamento público e privado;   anos e não excede a quatro;
III - tenha ressarcido o dano causado pelo crime ou demons- V - em quatro anos, se o máximo da pena é igual a um ano
tre a absoluta impossibilidade de o fazer, até o dia do pedido, ou ou, sendo superior, não excede a dois;
exiba documento que comprove a renúncia da vítima ou nova-
ção da dívida.  

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL
VI - em 3 (três) anos, se o máximo da pena é inferior a 1 O termo inicial aqui é diferente: o trânsito em julgado para
(um) ano.   a acusação; dia em que é revogada a suspensão condicional da
Mas você deve estar pensando, quando o prazo começa a pena ou o livramento condicional; dia em que a execução da
correr? pena foi interrompida.
• Do dia em que o crime se consumou; Os marcos interruptivos também: início ou continuação do
• Do último ato de execução; cumprimento da pena e a reincidência.
• Do dia em que cessou a permanência; No caso de evadir-se o condenado ou de revogar-se o livra-
• Nos crimes de falsificação de registro civil e bigamia, do mento condicional, a prescrição é regulada pelo tempo que res-
dia em que se tornou conhecido; ta da pena.
• Nos crimes contra a dignidade sexual de criança e adoles-
cente, ao completar 18 anos, salvo se já iniciada a ação penal. Obs.: Em todas as modalidades de prescrição existe a redu-
ção do prazo pela metade em duas situações:
▪ Causas de suspensão do prazo • O agente é menor de 21 anos na data do fato;
Art. 116 - Antes de passar em julgado a sentença final, a • O agente é maior de 70 anos na data da sentença.
prescrição não corre: 
I - enquanto não resolvida, em outro processo, questão de Concurso de crimes
que dependa o reconhecimento da existência do crime; 
II - enquanto o agente cumpre pena no exterior; Sistema do As penas são somadas relativas
III - na pendência de embargos de declaração ou de recursos cúmulo material a cada um dos crimes cometidos.
aos Tribunais Superiores, quando inadmissíveis; e
Aplica-se ao agente somente a
IV - enquanto não cumprido ou não rescindido o acordo de
Sistema da exas- pena da infração penal mais grave,
não persecução penal
peração acrescida de determinado percen-
Parágrafo único - Depois de passada em julgado a sentença
tual.
condenatória, a prescrição não corre durante o tempo em que o
condenado está preso por outro motivo. Aplica-se somente a pena da
Sistema da
▪ Causas de interrupção do prazo (zera e volta a contar) infração penal mais grave dentre
absorção
Art. 117 - O curso da prescrição interrompe-se: todas as praticadas.
I - pelo recebimento da denúncia ou da queixa;
II - pela pronúncia;  Concurso material (real) de crimes
III - pela decisão confirmatória da pronúncia; O agente pratica duas ou mais condutas e produz dois ou mais
IV - pela publicação da sentença ou acórdão condenatórios resultados. Pode ser homogêneo, quando todos os crimes pratica-
dos são iguais, ou heterogêneo, quando os crimes são diferentes.
recorríveis.
Concurso formal (ideal) de crimes
Prescrição da Pretensão Punitiva Retroativa
O agente mediante uma única conduta pratica dois ou mais cri-
Nessa PPP, usa a pena aplicada (não mais em abstrato),
mes, idênticos ou não. Ou seja, há unidade de conduta e pluralida-
quando transitar em julgado para a acusação, ou seja, a pena de de resultados. No concurso formal perfeito (próprio), o agente
não pode mais ser aumentada. Entre uma causa de interrupção pratica uma conduta e produz mais de um resultado, embora não
e outra, analisa-se se ocorreu a prescrição, partindo do recebi- pretendesse realizar ambos. Ou seja, ocorre entre crimes culposos
mento da denúncia. Ex. você vai pegar a pena aplicada e jogar ou um doloso e os demais culposos (não pretendidos). O resultado
na tabelinha do art. 109, então, vai retroativamente verificar é que aplica a pena do crime mais grave e aumenta-se de 1/6 até
se entre os marcos interruptivos já passou o lapso temporal da a metade (depende da quantidade de crimes). No concurso formal
prescrição. imperfeito (impróprio), o agente se vale de uma única conduta
para dolosamente produzir mais de um crime. O resultado é que se-
Prescrição da Pretensão Punitiva Superveniente rão aplicadas as penas de todos os crimes cumulativamente (soma),
Essa PPP também usa a pena aplicada em concreto (joga na pois os desígnios foram autônomos.
tabelinha do art. 109), mas diferente da modalidade anterior ela Obs.: O concurso material benéfico ocorre quando o sistema
não retroage, mas sim é contada para frente. Você precisa verifi- da exasperação se mostra prejudicial ao réu em relação ao sistema
car se o lapso da prescrição ocorreu entre o trânsito em julgado da cumulação. Nesse caso é dispensada a exasperação e utiliza-se a
para a acusação e o trânsito em julgado definitivo. soma (cúmulo material).

Obs.: O STJ não permite a prescrição da pretensão punitiva Crime continuado (continuidade delitiva)
virtual, pois não admite pena hipotética. Não dá para prever se O agente pratica diversas condutas com o resultado de dois
vai prescrever, precisa aplicar as regras do CP e ver se de fato ou mais crimes, que por uma ficção jurídica a lei o classifica como
prescreveu ou não. crime único na hora de aplicar a pena (Francesco Carrara). No que
tange à prescrição, os crimes são considerados autônomos.
Prescrição da Pretensão Executória Requisitos = pluralidade de condutas + crimes da mesma espé-
Trata-se da prescrição da pena efetivamente imposta, tendo cie + tempo/lugar/modo de execução e outras semelhanças.
como pressuposto sentença condenatória transitada em julga- Uma curiosidade quanto aos crimes da mesma espécie é que
do, em definitivo. precisam estar no mesmo artigo e tutelar o mesmo bem jurídico.
O tempo não pode passar de 30 dias entre as condutas. Quanto
Atente-se para o fato que, o prazo prescricional é aumenta-
a conexão espacial, os crimes devem ser cometidos no mesmo lo-
do em 1/3, caso o agente seja reincidente.
cal, ex. cidade/região metropolitana.

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Uma parte da doutrina acredita ser necessário, também, uma Causas de Causas de
conexão ocasional – os primeiros crimes proporcionem os subse- Causas de aumento
aumento do aumento do
quentes (eu cometo uma série de crimes para se chegar ao todo). do feminicídio
homicídio culposo homicídio doloso
Essa unidade de desígnios é denominada teoria objetiva-subjetiva.
No crime continuado é utilizado o sistema da exasperação: Ocorrer durante a
• Crime continuado simples: as penas dos delitos são as mes- gestação ou nos 3
Vítima menor de
mas, assim, aplica-se a pena de um deles acrescida de 1/6 a 2/3 meses posteriores
14 anos ou maior
(depende da quantidade de crimes). ao parto; contra
de 60 anos; crime
• Crime continuado qualificado: as penas dos delitos pratica- menor de 14 anos
Se ocorrer a praticado por
dos são diferentes, de maneira que a pena mais grave é aplicada, ou maior de 60 anos
inobservância milícia privada,
aumentada de 1/6 a 2/3. ou pessoa portadora
de regra técnica sob o pretexto
• Crime continuado específico: Nos crimes dolosos cometidos de deficiência/
profissional; deixar de prestação
com violência ou grave ameaça à pessoa, sendo vítimas diferentes, doença degenerativa;
de prestar socorro. de serviço
poderá o juiz aplicar a pena de um deles (a mais grave), aumentada na presença de
de segurança
até o TRIPLO. Obs. A jurisprudência estabelece o patamar mínima ascendente ou
ou grupo de
de 1/6 aqui também. descendente;
extermínio.
descumprindo
medida protetiva.
CRIMES CONTRA A PESSOA
Obs.: O homicídio contra autoridade da Segurança Pública,
no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu
Os crimes contra a pessoa protegem os bens jurídicos vida e cônjuge, companheiro ou parente até 3º grau qualifica o homi-
integridade física da pessoa, encontram-se entre os artigos 121 cídio.
ao 154 do Código Penal. A jurisprudência é vasta sobre tais tipos
penais e muitas vezes repleta de polêmicas, como, por exemplo, É interessante que recentemente o STJ entendeu que o sim-
no caso do aborto. ples fato do condutor do automóvel estar embriagado não gera
a presunção de que tenha havido dolo eventual, no caso de aci-
Homicídio dente de trânsito com o resultado morte. O STF, no mesmo sen-
• O homicídio simples consiste em matar alguém. tido, considerou que não havia homicídio doloso na conduta de
• O homicídio privilegiado recebe causa de diminuição de um homem que entregou o seu carro a uma mulher embriagada
pena de 1/6 a 1/3, desde que o motivo seja de relevante valor para que esta dirigisse o veículo, mesmo tendo havido acidente
moral ou social (ex. matou o estuprador da filha); sob domínio por causa da embriaguez, resultando a morte da mulher condu-
de violenta emoção logo após injusta provocação da vítima (ex. tora.
matou o amante da esposa ao pegá-los no flagra). Por outro lado, já foi reconhecido o dolo eventual por estar
• O homicídio é qualificado e recebe pena-base maior nos dirigindo na contramão embriagado, uma vez que, o condutor
casos de paga ou promessa de recompensa ou outro motivo assumiu o risco de causar lesões/morte de outrem. Inclusive, a
torpe (ex. matar por dinheiro); emprego de veneno, fogo, ex- tentativa é compatível com o dolo eventual.
plosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel (ex. Quanto a qualificadora do motivo fútil, o STJ não a enqua-
queimar a pessoa viva), ou de que possa resultar perigo comum dra nos casos de racha. Todavia, aplica-se a qualificadora do
(ex. incendiar um prédio para matar seu desafeto); traição, em- meio cruel no caso de reiteração de golpes na vítima. Ademais,
boscada, dissimulação ou outro recurso que dificulte a defesa a qualificadora do motivo fútil é compatível com o homicídio
do ofendido (ex. mata-lo em rua sem saída); para assegurar a praticado com dolo eventual. Mas a qualificadora da traição/
execução, ocultação, impunidade ou vantagem de outro crime emboscada/dissimulação não é compatível com dolo eventual,
(ex. matar a testemunha de um crime). pois exige-se um planejamento do crime que o dolo eventual
não proporciona.
Obs.: O feminicídio é uma espécie de homicídio qualificado, A qualificadora do feminicídio é compatível com o motivo
no qual o agente mata a mulher por razões da condição de sexo torpe, pois está solidificado nos tribunais superiores o entendi-
feminino, isto é, no contexto de violência doméstica ou familiar, mento que o feminicídio é uma qualificadora objetiva que com-
ou, menosprezo/discriminação à condição de mulher. bina com as qualificadoras subjetivas (motivo do crime), bem
como com o homicídio privilegiado.
Por fim, lembre-se que a jurisprudência considera que algu-
mas situações merecem a extinção da punibilidade pelo perdão
judicial, quando o homicídio é culposo e o agente já sofreu sufi-
cientemente as consequências do crime. Exemplo: pai atropela
o filho.
Ainda sobre o homicídio culposo, a causa de aumento não é
afastada se o agente deixa de prestar socorro em caso de morte
instantânea da vítima, salvo se o óbito realmente for evidente.

▪ Homicídio simples
Art. 121. Matar alguém:
Pena - reclusão, de seis a vinte anos.

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL
• Caso de diminuição de pena II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60
§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de re- (sessenta) anos, com deficiência ou portadora de doenças dege-
levante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emo- nerativas que acarretem condição limitante ou de vulnerabilida-
ção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode de física ou mental;
reduzir a pena de um sexto a um terço. III - na presença física ou virtual de descendente ou de as-
cendente da vítima;
▪ Homicídio qualificado IV - em descumprimento das medidas protetivas de urgência
§ 2° Se o homicídio é cometido: previstas nos incisos I, II e III do caput do art. 22 da Lei nº 11.340,
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro de 7 de agosto de 2006.
motivo torpe;
II - por motivo fútil; Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio ou a automu-
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura tilação
ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo Este crime sofreu alteração com o Pacote Anticrime, em ra-
comum; zão do episódio da “Baleia Azul”, jogo desenvolvido entre jo-
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou vens, no qual incitava-se a automutilação e o suicídio.
outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofen-
dido; ▪ Antes do Pacote Anticrime
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou Art. 122 - Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-
vantagem de outro crime: -lhe auxílio para que o faça:
Pena - reclusão, de doze a trinta anos. Pena - reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se consuma;
ou reclusão, de um a três anos, se da tentativa de suicídio resulta
▪ Feminicídio lesão corporal de natureza grave.
VI - contra a mulher por razões da condição de sexo femi- Parágrafo único - A pena é duplicada:
nino:
VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e Aumento de pena
144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e I - se o crime é praticado por motivo egoístico;
da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer cau-
ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou sa, a capacidade de resistência.
parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condi-
ção: Após o Pacote Anticrime
VIII - (VETADO): Art. 122. Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou a pra-
Pena - reclusão, de doze a trinta anos. ticar automutilação ou prestar-lhe auxílio material para que o
§ 2o-A Considera-se que há razões de condição de sexo femi- faça: (Redação dada pela Lei nº 13.968, de 2019)
nino quando o crime envolve: Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos. (Redação
I - violência doméstica e familiar; dada pela Lei nº 13.968, de 2019)
II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher. § 1º Se da automutilação ou da tentativa de suicídio resulta
lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, nos termos dos
▪ Homicídio culposo §§ 1º e 2º do art. 129 deste Código: (Incluído pela Lei nº 13.968,
§ 3º Se o homicídio é culposo: de 2019)
Pena - detenção, de um a três anos. Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos. (Incluído pela Lei
nº 13.968, de 2019)
▪ Aumento de pena § 2º Se o suicídio se consuma ou se da automutilação resulta
§ 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um morte:(Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019)
terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. (Incluído pela Lei
profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imedia- nº 13.968, de 2019)
to socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do § 3º A pena é duplicada: (Incluído pela Lei nº 13.968, de
seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso 2019)
o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é I - se o crime é praticado por motivo egoístico, torpe ou fútil;
praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019)
(sessenta) anos. II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer cau-
§ 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar sa, a capacidade de resistência. (Incluído pela Lei nº 13.968, de
de aplicar a pena, se as consequências da infração atingirem o 2019)
próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne § 4º A pena é aumentada até o dobro se a conduta é re-
desnecessária. alizada por meio da rede de computadores, de rede social ou
§ 6oA pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade transmitida em tempo real. (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019)
se o crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de § 5º Aumenta-se a pena em metade se o agente é líder ou
prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio. coordenador de grupo ou de rede virtual. (Incluído pela Lei nº
§ 7o A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) 13.968, de 2019)
até a metade se o crime for praticado: § 6º Se o crime de que trata o § 1º deste artigo resulta em
I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao lesão corporal de natureza gravíssima e é cometido contra me-
parto; nor de 14 (quatorze) anos ou contra quem, por enfermidade ou
deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a

201
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode ofe- ▪ Aborto necessário: Não se pune o aborto praticado por
recer resistência, responde o agente pelo crime descrito no § 2º médico caso não haja outro meio se salvar a vida da gestante.
do art. 129 deste Código. (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019)
§ 7º Se o crime de que trata o § 2º deste artigo é cometido ▪ Aborto no caso de gravidez resultante de estupro: Não se
contra menor de 14 (quatorze) anos ou contra quem não tem pune o aborto praticado por médico se a gravidez resulta de es-
o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por tupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou
qualquer outra causa, não pode oferecer resistência, responde seu representante legal, no caso de incapacidade.
o agente pelo crime de homicídio, nos termos do art. 121 deste
Código. A grande polêmica do aborto circunda na questão da inter-
rupção da gravidez no primeiro trimestre. O STF já decidiu que
O crime consiste em colocar a ideia ou incentivar a ideia não há crime se existe o consentimento da gestante ou trata-se
do suicídio ou automutilação, bem como prestar auxílio material de autoaborto. A Suprema Corte fundamentou que a criminali-
(ex. emprestar a faca). As penas são diferentes, a depender do zação, nessa hipótese, viola os direitos fundamentais da mulher
resultado do crime. e o princípio da proporcionalidade.
• Lesão corporal de natureza grave ou gravíssima: Reclusão
de 1 a 3 anos; ▪ Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimen-
• Resultado morte: Reclusão de 2 a 6 anos. to
Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que
Ademais, as penas são duplicadas se o crime é praticado por outrem lho provoque:
motivo egoístico, torpe ou fútil (motivo banal), bem como se a Pena - detenção, de um a três anos.
vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capa-
cidade de resistência. No mesmo sentido, a pena é aumentada ▪ Aborto provocado por terceiro
até o dobro se a conduta é realizada por meio da internet (ex. Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestan-
jogo baleia azul). Ademais, aumenta-se a pena em metade se o te:
agente é o líder (quem manda). Pena - reclusão, de três a dez anos.
Se o resultado é lesão corporal de natureza gravíssima e é Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestan-
cometido contra menor de 14 (quatorze) anos ou contra quem, te:
por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário Pena - reclusão, de um a quatro anos.
discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a
causa, não pode oferecer resistência, responde o agente pelo gestante não é maior de quatorze anos, ou é alienada ou débil
crime de Lesão Corporal qualificada como gravíssima. mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave
Se o resultado é a morte e o crime é cometido contra me- ameaça ou violência
nor de 14 (quatorze) anos ou contra quem não tem o necessário
discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra ▪ Forma qualificada
causa, não pode oferecer resistência, responde o agente pelo Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores
crime de homicídio. são aumentadas de um terço, se, em consequência do aborto ou
dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão
Infanticídio corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer
Consiste em matar o filho sob influência dos hormônios (es- dessas causas, lhe sobrevém a morte.
tado puerperal), durante o parto ou logo após. Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico:
Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o pró-
prio filho, durante o parto ou logo após: ▪ Aborto necessário
Pena - detenção, de dois a seis anos. I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;

Aborto ▪ Aborto no caso de gravidez resultante de estupro


O Código Penal divide o aborto em: II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido
▪ Aborto provocado pela gestante ou com o seu consenti- de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu repre-
mento: Consiste em provocar o aborto em si mesma, ex. me- sentante legal.
diante chás. Ou, consentir que alguém o provoque, ex. ir em
uma clínica abortiva. Lesão Corporal
Consiste em ofender a integridade corporal ou saúde de
▪ Aborto provocado por terceiro: No aborto provocado por outrem. A pena é aumentada em caso de violência doméstica,
terceiro, pode existir ou não o consentimento da gestante. No como forma de prestígio à Lei Maria da Penha. Ademais, qualifi-
primeiro caso perceba que cada um vai responder por um crime, ca o crime a depender do resultado das lesões:
a gestante por consentir, o terceiro por abortar.

É considerado aborto sem o consentimento da gestante se


ela é menor de 14 anos, sofre de problemas mentais, se o con-
sentimento é obtido mediante fraude/grave ameaça/violência.
Tanto no aborto com ou sem o consentimento da gestante
existe causa de aumento de pena se ela morre ou sofre lesão
corporal grave.

202
202
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Qualificadora de natureza II - perigo de vida;


Qualificadora de natureza grave III - debilidade permanente de membro, sentido ou função;
gravíssima
IV - aceleração de parto:
Incapacidade para as ocupações Pena - reclusão, de um a cinco anos.
Incapacidade permanente
habituais por mais de 30 dias, § 2° Se resulta:
para o trabalho, ex. não
ex. passar roupa. I - Incapacidade permanente para o trabalho;
consegue mais trabalhar.
Perigo de vida, ex. correu risco II - enfermidade incurável;
Enfermidade incurável, ex.
na cirurgia. III perda ou inutilização do membro, sentido ou função;
adquire deficiência mental.
Debilidade permanente de
Deformidade permanente, IV - deformidade permanente;
membro, sentido ou função, ex.
ex. rosto queimado. V - aborto:
não consegue escrever como
Aborto. Pena - reclusão, de dois a oito anos.
antes.
Perda de membro, sentido
Aceleração do parto, ex. nasce
ou função, ex. fica cego. Lesão corporal seguida de morte
prematuro.
§ 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o
No caso de lesão corporal seguida de morte, a morte é cul- agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo:
posa e a lesão corporal dolosa. A morte qualifica a lesão corpo- Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
ral. Ex. João tem a intenção de espancar seu desafeto, que acaba
falecendo. Diminuição de pena
A lesão corporal é privilegiada se o agente comete o cri- § 4° Se o agente comete o crime impelido por motivo de re-
me impelido por motivo de relevante valor moral ou social (ex. levante valor social ou moral ou sob o domínio de violenta emo-
espanca o estuprador de sua filha); sob o domínio de violenta ção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode
emoção logo após injusta provocação da vítima (ex. espanca o reduzir a pena de um sexto a um terço.
amante da esposa ao pegá-los no flagra). Resultado: O juiz pode
diminuir a pena, ou, não sendo grave a lesão, o juiz pode substi- Substituição da pena
tuir a pena de detenção por multa. No mesmo sentido, se a lesão § 5° O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir
não é grave e as lesões são recíprocas, o juiz pode substituir a a pena de detenção pela de multa, de duzentos mil réis a dois
pena de detenção por multa. contos de réis:
São causas de aumento: I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior;
• Na lesão corporal culposa – inobservância de regra técnica II - se as lesões são recíprocas.
profissional, deixar de prestar socorro.
• Na lesão corporal dolosa – vítima menor de 14 anos ou Lesão corporal culposa
maior de 60 anos, praticado por milícia privada ou grupo de ex- § 6° Se a lesão é culposa:
termínio. Pena - detenção, de dois meses a um ano.

Obs.: Causar lesão contra autoridade de segurança pública Aumento de pena


no exercício de função ou em decorrência dela, bem como con- § 7oAumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se ocorrer qual-
tra parente até 3º grau dessas pessoas enseja causa de aumento. quer das hipóteses dos §§ 4o e 6o do art. 121 deste Código.
§ 8º - Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do art.
Bem como no homicídio culposo, a lesão corporal culposa 121.
possibilita a aplicação do perdão judicial e a isenção da pena. Ex.
machucou o filho sem querer. Violência Doméstica
A lesão corporal praticada contra o cônjuge, ascendente, § 9oSe a lesão for praticada contra ascendente, descenden-
descendente e irmão, com quem conviva ou tenha convivido, te, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou te-
ou, prevalecendo-se das relações domésticas enseja aumen- nha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações
to na pena do crime qualificado por lesão grave ou gravíssima. domésticas, de coabitação ou de hospitalidade:
Ademais, aumenta a pena o crime de lesão corporal em âmbito Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos.
doméstico se a vítima é portadora de deficiência. § 10. Nos casos previstos nos §§ 1o a 3o deste artigo, se as
A jurisprudência caminha no sentido que a qualificadora da circunstâncias são as indicadas no § 9o deste artigo, aumenta-se
deformidade permanente não é afastada em razão de posterior a pena em 1/3 (um terço).
cirurgia plástica reparadora. Ademais, perda de dois dentes con- § 11.Na hipótese do § 9o deste artigo, a pena será aumenta-
figura lesão grave, uma vez que, ocasiona debilidade permanen- da de um terço se o crime for cometido contra pessoa portadora
te (dificuldade para mastigar). de deficiência.
§ 12. Se a lesão for praticada contra autoridade ou agente
Lesão corporal descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes
Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de ou- do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública,
trem: no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu
Pena - detenção, de três meses a um ano. cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro
grau, em razão dessa condição, a pena é aumentada de um a
Lesão corporal de natureza grave dois terços.
§ 1º Se resulta: § 13. Se a lesão for praticada contra a mulher, por razões
I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de
da condição do sexo feminino, nos termos do § 2º-A do art. 121
trinta dias;
deste Código: (Incluído pela Lei nº 14.188, de 2021)

203
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro anos). (Incluído pela Aumento de pena
Lei nº 14.188, de 2021) § 3º - As penas cominadas neste artigo aumentam-se de um
terço:
Periclitação da vida e da saúde I - se o abandono ocorre em lugar ermo;
• Perigo de contágio venéreo: Consiste em expor outrem II - se o agente é ascendente ou descendente, cônjuge, ir-
por meio de relações sexuais a contágio de moléstia venérea, mão, tutor ou curador da vítima.
quando sabe ou deve saber que está contaminado. Ex. João sabe III – se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos
que tem AIDS, mas insiste em ter relações sexuais com a sua
esposa de maneira desprotegida. • Exposição de abandono de recém nascido: consiste em
Se a intenção do agente é transmitir a moléstia venérea o expor/abandonar o recém nascido para ocultar desonra própria.
crime qualifica-se, isto é, possui uma pena mais severa. Ex. tenho um filho fora do casamento e o abandono para o meu
Art. 130 - Expor alguém, por meio de relações sexuais ou esposo não saber. Eventual lesão corporal ou morte do recém-
qualquer ato libidinoso, a contágio de moléstia venérea, de que -nascido qualificam o crime.
sabe ou deve saber que está contaminado: Art. 134 - Expor ou abandonar recém-nascido, para ocultar
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. desonra própria:
§ 1º - Se é intenção do agente transmitir a moléstia: Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. § 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
§ 2º - Somente se procede mediante representação. Pena - detenção, de um a três anos.
§ 2º - Se resulta a morte:
• Perigo de contágio de moléstia grave: consiste em prati- Pena - detenção, de dois a seis anos.
car ato capaz de produzir contágio, tendo o dolo se transmitir a
outrem a moléstia (doença) de que está contaminado. Ex. saben- • Omissão de socorro: crime omissivo, no sentido de deixar
do que estou com coronavírus espirro na face do meu desafeto. de prestar assistência quando possível fazê-lo a criança aban-
Art. 131 - Praticar, com o fim de transmitir a outrem mo- donado, pessoa inválida ou ferida, ao desamparo, em grave ou
léstia grave de que está contaminado, ato capaz de produzir o iminente perigo. Se não for possível o socorro direto, o agente
contágio: deve, pelo menos, pedir socorro à autoridade pública, para não
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. cometer o crime de omissão de socorro. A lesão corporal grave
e a morte aumentam a pena.
• Perigo para a vida ou saúde de outrem: consiste em expor Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fa-
a vida ou saúde de outrem a perigo direto e iminente. A pena zê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou
é aumentada se o perigo ocorre em transporte de pessoas. Ex. à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminen-
transportar crianças de uma creche sem que o automóvel res- te perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade
peite as normas de segurança. pública:
Art. 132 - Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
e iminente: Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da
omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada,
Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não cons-
se resulta a morte.
titui crime mais grave.
Parágrafo único. A pena é aumentada de um sexto a um
• Condicionamento de atendimento médico-hospitalar
terço se a exposição da vida ou da saúde de outrem a perigo
emergencial: exigir garantia, bem como preenchimento de for-
decorre do transporte de pessoas para a prestação de serviços
mulários administrativos, como condição para o atendimento
em estabelecimentos de qualquer natureza, em desacordo com
médico hospitalar emergencial. Ex. chego no PS infartando e
as normas legais.
me mandam dar uma garantia financeira para que ocorra o meu
atendimento. Aumentam a pena eventual morte ou lesão cor-
• Abandono de incapaz: Abandonar a pessoa que está sob o
poral grave.
seu cuidado/guarda/vigilância/autoridade incapaz de se defen- Art. 135-A.Exigir cheque-caução, nota promissória ou qual-
der dos riscos do abandono. Ex. deixo meu sobrinho menor de quer garantia, bem como o preenchimento prévio de formulários
idade em uma viela perigosa. Eventual lesão corporal ou morte administrativos, como condição para o atendimento médico-
qualificam o crime. Aumenta a pena se o abandono ocorrer em -hospitalar emergencial:
local ermo, entre parentes próximos/tutor/curador, se a vítima Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.
é maior de 60 anos. Parágrafo único.A pena é aumentada até o dobro se da ne-
Art. 133 - Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guar- gativa de atendimento resulta lesão corporal de natureza grave,
da, vigilância ou autoridade, e, por qualquer motivo, incapaz de e até o triplo se resulta a morte.
defender-se dos riscos resultantes do abandono:
Pena - detenção, de seis meses a três anos. • Maus tratos: Expor a perigo de vida/saúde uma pessoa
§ 1º - Se do abandono resulta lesão corporal de natureza que está sob sua autoridade/guarda/vigilância, tendo como fi-
grave: nalidade educação, ensino, tratamento, custódia, privando-a de
Pena - reclusão, de um a cinco anos. alimentação ou cuidados indispensáveis, sujeitando-a a traba-
§ 2º - Se resulta a morte: lho excessivo ou inadequado, abusando dos meios de correção
Pena - reclusão, de quatro a doze anos. e disciplina. Ex. pai espanca o filho com a intenção de educá-lo.
Caso ocorra lesão corporal grave ou morte da vítima a pena é
aumentada, bem como se ela possui menos de 14 anos de idade.

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Art. 136 - Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua Não cabe exceção da verdade. Mas o juiz pode deixar de
autoridade, guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, aplicar a pena se o ofendido provocou a injúria ou no caso de
tratamento ou custódia, quer privando-a de alimentação ou cui- retorsão imediata que consista em outra injúria (um injuria o
dados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou outro).
inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina:
Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou multa. Obs.: A injúria possui duas qualificadoras: 1) se há violên-
§ 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: cia/vias de fato, ex. puxão de orelha para dizer que Juquinha é
Pena - reclusão, de um a quatro anos. burro; 2) Injúria racial, ex. dizer que Juquinha é um macaco em
§ 2º - Se resulta a morte: razão da sua cor.
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
§ 3º - Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado Em qualquer dos 3 crimes a pena é aumentada quando pra-
contra pessoa menor de 14 (catorze) anos. ticado contra o Presidente da República, ou contra chefe de go-
▪ Rixa: Consiste em participar da rixa, salvo se a intenção do verno estrangeiro; contra funcionário público, em razão de suas
agente é separar a briga. Qualifica o crime eventual lesão corpo- funções; na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite
ral grave ou morte. a divulgação da calúnia, da difamação ou da injúria; contra pes-
soa maior de 60 (sessenta) anos ou portadora de deficiência,
Art. 137 - Participar de rixa, salvo para separar os conten- exceto no caso de injúria (neste caso qualifica). Se o crime é co-
dores: metido mediante paga ou promessa de recompensa, aplica-se a
Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa. pena em dobro.
Parágrafo único - Se ocorre morte ou lesão corporal de na- Existe a exclusão do crime de injúria ou difamação se:
tureza grave, aplica-se, pelo fato da participação na rixa, a pena I - a ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela
de detenção, de seis meses a dois anos. parte ou por seu procurador (ex. discussões nas sessões de jul-
gamento);
▪ Crimes contra a honra II - a opinião desfavorável da crítica literária, artística ou
• Calúnia: Atribuir a outrem um fato criminoso que o sabe científica, salvo quando inequívoca a intenção de injuriar ou di-
falso. Ex. Eu digo que Juquinha subtraiu o relógio de Joana en- famar (ex. crítica de um especialista no assunto);
quanto ela dormia, mesmo sabendo que isso não é verdade. III - o conceito desfavorável emitido por funcionário público,
Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato em apreciação ou informação que preste no cumprimento de
definido como crime: dever do ofício (ex. avaliação de funcionário).
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
Todavia, nos casos dos nº I e III, responde pela injúria ou
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a impu-
pela difamação quem lhe dá publicidade.
tação, a propala ou divulga.
§ 2º - É punível a calúnia contra os mortos.
Por fim, cabe retratação, isto é, o agente antes da sentença
Para se livrar do crime de calúnia o agente pode provar que
se retrata cabalmente da calúnia ou difamação. A consequência
realmente está certo no fato criminal que contou. Esse é o ins-
é que ficará isento de pena. Outra opção para evitar a responsa-
tituto da exceção da verdade, mas que não pode ser usado em
bilização criminal é se, de referências, alusões ou frases, se in-
alguns casos:
fere calúnia, difamação ou injúria, quem se julga ofendido pode
I - se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o
pedir explicações em juízo. Aquele que se recusa a dá-las ou, a
ofendido não foi condenado por sentença irrecorrível; critério do juiz, não as dá satisfatórias, responde pela ofensa.
II - se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas Quanto ao entendimento dos tribunais, algumas decisões
no nº I do art. 141 (contra o Presidente da República, ou contra merecem destaque:
chefe de governo estrangeiro); • Em uma única carta pode estar configurado o crime de
III - se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendi- calúnia, difamação e injúria.
do foi absolvido por sentença irrecorrível. • Configura difamação edição e publicação de vídeo que faz
parecer que a vítima está falando mal de negros e pobres.
• Difamação: Atribuir a outrem um fato desabonador. Ex. Eu • A esposa tem legitimidade para propor queixa-crime con-
digo que Joana se prostitui nas horas vagas. tra autor de postagem que sugere relação extraconjugal do ma-
Art. 139 - Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à rido com outro homem.
sua reputação: • Deputado que em entrevista afirma que determinada de-
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. putada não merece ser estuprada pratica, em tese, crime de in-
Exceção da verdade júria.
Parágrafo único - A exceção da verdade somente se admite • Não deve ser punido deputado federal que profere pala-
se o ofendido é funcionário público e a ofensa é relativa ao vras injuriosas contra adversário político que também o ofendeu
exercício de suas funções. imediatamente antes.
Motivo: é do interesse da Administração Pública saber so- • O advogado não comete calúnia se não ficar provada a sua
bre a conduta dos seus funcionários. intenção de ofender a honra, ainda que contra magistrado.

• Injúria: É o famoso xingar outrem. Ex. palavrões. Crimes contra a liberdade pessoal
Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o • Constrangimento ilegal: Consiste em constranger alguém
decoro: mediante violência ou grave ameaça, ou depois de reduzir a sua
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. capacidade de resistência, para não fazer o que a lei permite ou
a fazer o que ela não mandar. Além da pena do constrangimen-

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL
to, é aplicada a pena da violência. Exceções: intervenção médica do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que cause prejuízo
ou cirúrgica, sem o consentimento do paciente ou seu represen- à sua saúde psicológica e autodeterminação: (Incluído pela Lei
tante legal, se justificada por iminente perigo de vida, e no caso nº 14.188, de 2021)
de impedimento de suicídio. Aumento de pena: reunião de mais Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa,
de 3 pessoas ou emprego de arma. se a conduta não constitui crime mais grave. (Incluído pela Lei
Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou gra- nº 14.188, de 2021)
ve ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro
meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permi- • Sequestro e cárcere privado: Consiste em privar alguém
te, ou a fazer o que ela não manda: da sua liberdade. Ex. Juquinha prende Maria no quarto por dias.
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. Qualifica o crime se a vítima é maior de 60 anos ou menor de 18
anos, parente, o modus operandi é a internação da vítima, se
Aumento de pena dura mais de 15 dias, se há fins libidinosos, resulta grave sofri-
§ 1º - As penas aplicam-se cumulativamente e em dobro, mento físico ou moral.
quando, para a execução do crime, se reúnem mais de três pes- Art. 148 - Privar alguém de sua liberdade, mediante seques-
soas, ou há emprego de armas. tro ou cárcere privado:
§ 2º - Além das penas cominadas, aplicam-se as correspon- Pena - reclusão, de um a três anos.
dentes à violência. § 1º - A pena é de reclusão, de dois a cinco anos:
§ 3º - Não se compreendem na disposição deste artigo: I – se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge ou com-
I - a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento panheiro do agente ou maior de 60 (sessenta) anos;
do paciente ou de seu representante legal, se justificada por imi- II - se o crime é praticado mediante internação da vítima em
nente perigo de vida; casa de saúde ou hospital;
II - a coação exercida para impedir suicídio. III - se a privação da liberdade dura mais de quinze dias.
IV – se o crime é praticado contra menor de 18 (dezoito)
• Ameaça: Ameaçar alguém de lhe causar mal injusto e gra- anos;
ve. Ex. vou te matar. V – se o crime é praticado com fins libidinosos.
Art. 147 - Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, § 2º - Se resulta à vítima, em razão de maus-tratos ou da
ou qualquer outro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e natureza da detenção, grave sofrimento físico ou moral:
grave: Pena - reclusão, de dois a oito anos.
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Parágrafo único - Somente se procede mediante represen- • Redução à condição análoga a de escravo: consiste em
tação. submeter alguém a trabalhos forçados ou jornada exaustiva,
condições degradantes de trabalho, restringindo a sua locomo-
• Perseguição ção em razão de dívida contraída. Responde pela mesma pena
Art. 147-A. Perseguir alguém, reiteradamente e por qual- quem cerceia o meio de transporte para reter a vítima no local
quer meio, ameaçando-lhe a integridade física ou psicológica, de trabalho, mantém vigilância ou se apodera de documentos
restringindo-lhe a capacidade de locomoção ou, de qualquer da vítima com o fim retê-la. Aumenta a pena se existe motivo de
forma, invadindo ou perturbando sua esfera de liberdade ou preconceito ou se é contra criança/adolescente.
privacidade. (Incluído pela Lei nº 14.132, de 2021)
Pena – reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. Obs.: Não é requisito para a configuração do crime a restri-
(Incluído pela Lei nº 14.132, de 2021) ção da liberdade de locomoção dos trabalhadores.
§ 1º A pena é aumentada de metade se o crime é cometido:
(Incluído pela Lei nº 14.132, de 2021) Art. 149. Reduzir alguém a condição análoga à de escravo,
I – contra criança, adolescente ou idoso; (Incluído pela Lei quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exausti-
nº 14.132, de 2021) va, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer
II – contra mulher por razões da condição de sexo feminino, restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dí-
nos termos do § 2º-A do art. 121 deste Código; (Incluído pela vida contraída com o empregador ou preposto:
Lei nº 14.132, de 2021) Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da pena
III – mediante concurso de 2 (duas) ou mais pessoas ou com correspondente à violência.
o emprego de arma. (Incluído pela Lei nº 14.132, de 2021) § 1o Nas mesmas penas incorre quem:
§ 2º As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das I – cerceia o uso de qualquer meio de transporte por parte do
correspondentes à violência. (Incluído pela Lei nº 14.132, de trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho;
2021) II – mantém vigilância ostensiva no local de trabalho ou se
§ 3º Somente se procede mediante representação. (Incluí- apodera de documentos ou objetos pessoais do trabalhador,
do pela Lei nº 14.132, de 2021) com o fim de retê-lo no local de trabalho.
Violência psicológica contra a mulher (Incluído pela Lei nº § 2o A pena é aumentada de metade, se o crime é cometido:
14.188, de 2021) I – contra criança ou adolescente;
II – por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião
Art. 147-B. Causar dano emocional à mulher que a pre- ou origem.
judique e perturbe seu pleno desenvolvimento ou que vise a
degradar ou a controlar suas ações, comportamentos, crenças •Tráfico de Pessoas: Consiste em agenciar/ aliciar/recrutar/
e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, transportar/transferir/comprar/alojar/acolher, mediante vio-
manipulação, isolamento, chantagem, ridicularização, limitação lência, grave ameaça, coação, fraude ou abuso uma pessoa ten-

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL
do a finalidade de remover partes do corpo, submetê-la a traba- • Sonegação ou destruição de correspondência: Se apossa
lho em condições análogas a de escravo, submetê-la a servidão, indevidamente de correspondência alheia, embora não fechada
adoção ilegal ou exploração sexual. Aumenta a pena se o crime é e, no todo ou em parte, a sonega ou destrói.
cometido por funcionário público; contra criança/adolescente/ • Violação de comunicação telegráfica, radioelétrica ou te-
idoso/deficiente; se há retirada do território nacional; se preva- lefônica: Quem indevidamente divulga, transmite a outrem ou
lece da relação que tem com a vítima. A pena é diminuída caso o utiliza abusivamente comunicação telegráfica ou radioelétrica
agente seja primário e não integre organização criminosa. dirigida a terceiro, ou conversação telefônica entre outras pes-
soas;
Art. 149-A.Agenciar, aliciar, recrutar, transportar, transferir,
comprar, alojar ou acolher pessoa, mediante grave ameaça, vio- Quem impede a comunicação ou a conversação referidas no
lência, coação, fraude ou abuso, com a finalidade de: número anterior;
I - remover-lhe órgãos, tecidos ou partes do corpo; Quem instala ou utiliza estação ou aparelho radioelétrico.
II - submetê-la a trabalho em condições análogas à de es- • Correspondência comercial:Abusar da condição de sócio
cravo; ou empregado de estabelecimento comercial ou industrial para,
III - submetê-la a qualquer tipo de servidão; no todo ou em parte, desviar, sonegar, subtrair ou suprimir cor-
IV - adoção ilegal; ou respondência, ou revelar a estranho seu conteúdo.
V - exploração sexual.
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. Obs.:As penas aumentam-se de metade, se há dano para
§ 1o A pena é aumentada de um terço até a metade se: outrem. Se o agente comete o crime, com abuso de função em
I - o crime for cometido por funcionário público no exercício serviço postal, telegráfico, radioelétrico ou telefônico o crime
de suas funções ou a pretexto de exercê-las; qualifica-se.
II - o crime for cometido contra criança, adolescente ou pes-
soa idosa ou com deficiência; Crimes contra a inviolabilidade dos segredos
III - o agente se prevalecer de relações de parentesco, do-
mésticas, de coabitação, de hospitalidade, de dependência eco- Violação do segredo
nômica, de autoridade ou de superioridade hierárquica inerente Divulgação de segredo
profissional
ao exercício de emprego, cargo ou função; ou
IV - a vítima do tráfico de pessoas for retirada do território Divulgar alguém, sem justa
nacional. causa, conteúdo de documento
§ 2o A pena é reduzida de um a dois terços se o agente for particular ou de correspondência
primário e não integrar organização criminosa. confidencial, de que é Revelar alguém, sem justa
destinatário ou detentor, e cuja causa, segredo, de que
divulgação possa produzir dano tem ciência em razão de
Crimes contra a inviolabilidade do domicílio - Violação de
a outrem. função, ministério, ofício ou
domicílio
Qualifica divulgar, sem justa profissão, e cuja revelação
Entrar ou permanecer em casa alheia, de maneira clandesti-
causa, informações sigilosas ou possa produzir dano a
na/astuciosa, contra a vontade de quem de direito (ex. proprie- reservadas, assim definidas em outrem.
tário). Qualifica quando o crime é cometido no período da noite, lei, contidas ou não nos sistemas
lugar ermo, mediante violência ou arma, 2 ou mais pessoas. Au- de informações ou banco de
menta se o agente é funcionário público. Não configura o crime dados da Administração Pública.
se é caso de prisão em flagrante ou efetuar prisão/diligências
durante o dia. Por fim, configura o crime de invasão de dispositivo infor-
mático o indivíduo que invade dispositivo informático alheio,
É casa Não é casa conectado ou não à rede de computadores, mediante violação
I - qualquer compartimento indevida de mecanismo de segurança e com o fim de obter,
habitado; I - hospedaria, estalagem ou adulterar ou destruir dados ou informações sem autorização ex-
II - aposento ocupado de habita- qualquer outra habitação pressa ou tácita do titular do dispositivo ou instalar vulnerabili-
ção coletiva; coletiva, enquanto aberta; dades para obter vantagem ilícita. Ex. Hacker.
III - compartimento não aberto II - taverna, casa de jogo e ou- Na mesma pena incorre quem produz, oferece, distribui,
ao público, onde alguém exerce tras do mesmo gênero. vende ou difunde dispositivo ou programa de computador com
profissão ou atividade. o intuito de permitir a prática da conduta. Aumenta-se a pena de
um sexto a um terço se da invasão resulta prejuízo econômico.
Em recente decisão, o STJ entendeu que configura o crime Qualifica o crime se da invasão resultar a obtenção de conteúdo
de violação de domicílio o ingresso e permanência, sem autori- de comunicações eletrônicas privadas, segredos comerciais ou
zação, em gabinete de delegado de polícia, embora faça parte industriais, informações sigilosas, assim definidas em lei, ou o
de um prédio/repartição pública. controle remoto não autorizado do dispositivo invadido. Nesse
último caso, aumenta-se a pena de um a dois terços se houver
Crimes contra a inviolabilidade de correspondências divulgação, comercialização ou transmissão a terceiro, a qual-
• Violação de correspondência: Devassar indevidamente o quer título, dos dados ou informações obtidas.
conteúdo de correspondência fechada, dirigida a outrem.

207
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Obs.: Aumenta-se a pena de um terço à metade se o crime A pena prevista no § 4º-B deste artigo, considerada a relevância
for praticado contra: Presidente da República, governadores e do resultado gravoso:
prefeitos; Presidente do Supremo Tribunal Federal; Presidente I – aumenta-se de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime
da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, de Assembleia é praticado mediante a utilização de servidor mantido fora do
Legislativa de Estado, da Câmara Legislativa do Distrito Federal território nacional
ou de Câmara Municipal; ou dirigente máximo da administração II – aumenta-se de 1/3 (um terço) ao dobro, se o crime é
direta e indireta federal, estadual, municipal ou do Distrito Fe- praticado contra idoso ou vulnerável.
deral. A pena é de reclusão de três a oito anos, se a subtração for de
veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado
ou para o exterior.
CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO A pena é de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos se a subtração
for de semovente domesticável de produção, ainda que abatido ou
dividido em partes no local da subtração.
Em primeiro lugar, é importante conhecer as alterações que o A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa,
Pacote Anticrime fez nos crimes contra o patrimônio: se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que,
• No crime de roubo, a pena passou a ser aumentada de 1/3 conjunta ou isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem
até 1/2 se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de ou emprego.
ARMA BRANCA. Ademais, a pena aumenta-se de 2/3 se a violência
ou ameaça é exercida com emprego de ARMA DE FOGO. Por fim, ▪ Furto privilegiado
aplica-se a pena em DOBRO se a violência ou grave ameaça é Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada,
exercida com emprego de ARMA DE FOGO DE USO RESTRITO OU o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-
PROIBIDO. la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa. Obs.
• O crime de estelionato passou a ter como regra de Ação Penal outros crimes patrimoniais sem violência/grave ameaça, também,
Pública Condicionada a Representação. Exceção: Será de Ação penal recebem o benefício.
pública INCONDICIONADA quando a vítima for: I - a Administração
Pública, direta ou indireta; II - criança ou adolescente; III - pessoa ▪ Furto de Coisa Comum
com deficiência mental; ou IV - maior de 70 anos de idade ou Art. 156 - Subtrair o condômino, co-herdeiro ou sócio, para si
incapaz. ou para outrem, a quem legitimamente a detém, a coisa comum:
• A pena do crime de concussão também mudou: De Reclusão, Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
de 2 a 8 anos, e multa, passou para Reclusão, de 2 a 12 anos, e § 1º - Somente se procede mediante representação.
multa. Essa é uma novatio legis in pejus, logo, não retroage. § 2º - Não é punível a subtração de coisa comum fungível, cujo
valor não excede a quota a que tem direito o agente.
Furto
Consiste na subtração de bem alheio, sem violência nem grave Atente-se para a novidade legislativa de 2021:
ameaça. § 4º-B. A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos,
e multa, se o furto mediante fraude é cometido por meio de
Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: dispositivo eletrônico ou informático, conectado ou não à rede de
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. computadores, com ou sem a violação de mecanismo de segurança
ou a utilização de programa malicioso, ou por qualquer outro meio
— Causa de aumento fraudulento análogo. (Incluído pela Lei nº 14.155, de 2021)
A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante Ex. quando o furto mediante fraude ocorre em ambiente
o repouso noturno. Ex. enquanto os moradores da casa estavam virtual.
dormindo o agente furta o lar.
§ 4º-C. A pena prevista no § 4º-B deste artigo, considerada a
— Qualificadoras relevância do resultado gravoso: (Incluído pela Lei nº 14.155, de
A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é 2021)
cometido: I – aumenta-se de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime
I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração é praticado mediante a utilização de servidor mantido fora do
da coisa; território nacional; (Incluído pela Lei nº 14.155, de 2021)
II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou II – aumenta-se de 1/3 (um terço) ao dobro, se o crime é
destreza; praticado contra idoso ou vulnerável.   (Incluído pela Lei nº 14.155,
III - com emprego de chave falsa; de 2021)
IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas.
Atente-se que são causas de aumento: servidor mantido fora
A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, do país; praticado contra idoso ou vulnerável.
se houver emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause A mudança legislativa teve como escopo reprimir os crimes
perigo comum. de alta tecnologia, pois atualmente é muito comum que o furto
A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa, se o (subtração de dinheiro) ocorra por meio de dispositivo eletrônico
furto mediante fraude é cometido por meio de dispositivo eletrônico ou informático.
ou informático, conectado ou não à rede de computadores, com As causas de aumento se justificam por dois motivos:
ou sem a violação de mecanismo de segurança ou a utilização • É mais difícil de investigar e punir servidor mantido fora do
de programa malicioso, ou por qualquer outro meio fraudulento país;
análogo. • É mais repugnante quando cometido contra idoso ou
vulnerável.

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Roubo § 3ºSe o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da
É a subtração de bens alheios violenta, com grave ameaça ou vítima, e essa condição é necessária para a obtenção da vantagem
reduzindo a possibilidade de resistência da vítima (ex. boa noite econômica, a pena é de reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além
cinderela). da multa; se resulta lesão corporal grave ou morte, aplicam-se as
penas previstas no art. 159, §§ 2o e 3o, respectivamente.
Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem,
mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê- ▪ Extorsão mediante sequestro
la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência: Art. 159 - Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa. outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate:
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída Pena - reclusão, de oito a quinze anos.
a coisa, emprega violência contra pessoa ou grave ameaça, a fim § 1º Se o sequestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se
de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si o sequestrado é menor de 18 (dezoito) ou maior de 60 (sessenta)
ou para terceiro. anos, ou se o crime é cometido por bando ou quadrilha.
Pena - reclusão, de doze a vinte anos.
— Causa de aumento § 2º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
§ 2ºA pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até metade: Pena - reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos.
II - se há o concurso de duas ou mais pessoas; § 3º - Se resulta a morte:
III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos.
agente conhece tal circunstância. § 4º - Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que
IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser o denunciar à autoridade, facilitando a libertação do sequestrado,
transportado para outro Estado ou para o exterior; terá sua pena reduzida de um a dois terços.
V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo
sua liberdade. ▪ Extorsão indireta
VI – se a subtração for de substâncias explosivas ou de Art. 160 - Exigir ou receber, como garantia de dívida, abusando
acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua da situação de alguém, documento que pode dar causa a
fabricação, montagem ou emprego. procedimento criminal contra a vítima ou contra terceiro:
VII - se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
de arma branca;
§ 2º-AA pena aumenta-se de 2/3 (dois terços): Usurpação
I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma Dentro do capítulo usurpação estão inseridos os seguintes
de fogo; crimes:
II – se há destruição ou rompimento de obstáculo mediante • Alteração de limites: suprimir ou deslocar tapume, marco, ou
o emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo qualquer outro sinal indicativo de linha divisória, para apropriar-se,
comum. no todo ou em parte, de coisa imóvel alheia.
• Usurpação de águas: desviar ou represar, em proveito próprio
— Qualificadora ou de outrem, águas alheias.
§ 2º-B.Se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego • Esbulho possessório: invadir, com violência a pessoa ou grave
de arma de fogo de uso restrito ou proibido, aplica-se em dobro a ameaça, ou mediante concurso de mais de duas pessoas, terreno
pena prevista no caput deste artigo. ou edifício alheio, para o fim de esbulho possessório. Obs. Se a
§ 3º Se da violência resulta: propriedade é particular, e não há emprego de violência, somente
I – lesão corporal grave, a pena é de reclusão de 7 (sete) a 18 se procede mediante queixa.
(dezoito) anos, e multa; • Supressão ou alteração de marca em animais: Suprimir ou
II – morte, a pena é de reclusão de 20 (vinte) a 30 (trinta) anos, alterar, indevidamente, em gado ou rebanho alheio, marca ou sinal
e multa. indicativo de propriedade.

Extorsão e Extorsão mediante sequestro Dano


Os dois tipos penais não se confundem. Na extorsão, No crime de dano, os verbos núcleos do tipo são 3 - Destruir,
constrange-se alguém, de forma violenta ou com grave ameaça, inutilizar ou deteriorar (coisa alheia). Ademais, em 4 situações o
para obter vantagem econômica. Na extorsão, mediante sequestro, crime é qualificado:
sequestra-se a pessoa para obter qualquer vantagem, como • com violência à pessoa ou grave ameaça;
condição ou preço do resgate. • com emprego de substância inflamável ou explosiva, se o fato
não constitui crime mais grave;
▪ Extorsão • contra o patrimônio da União, de Estado, do Distrito Federal,
Art. 158 - Constranger alguém, mediante violência ou grave de Município ou de autarquia, fundação pública, empresa pública,
ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida sociedade de economia mista ou empresa concessionária de
vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer serviços públicos;
alguma coisa: • por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa. vítima (somente se procede mediante queixa).
§ 1º - Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, ou com
emprego de arma, aumenta-se a pena de um terço até metade. No mesmo capítulo, o Código Penal traz mais algumas figuras
§ 2º - Aplica-se à extorsão praticada mediante violência o típicas:
disposto no § 3º do artigo anterior.
Introdução ou abandono de animais em propriedade alheia
(somente se procede mediante queixa)

209
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Art. 164 - Introduzir ou deixar animais em propriedade alheia, Apropriação de
sem consentimento de quem de direito, desde que o fato resulte coisa
prejuízo: Apropriação
havida por erro, Apropriação
Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, ou multa. de coisa
caso de tesouro
achada
fortuito ou força
Dano em coisa de valor artístico, arqueológico ou histórico da natureza
Art. 165 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa tombada pela
autoridade competente em virtude de valor artístico, arqueológico II - quem
ou histórico: acha coisa alheia
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa. perdida e dela se
I - quem
apropria, total
Art. 169 - Apro- acha tesouro em
Alteração de local especialmente protegido ou parcialmente,
priar-se alguém de prédio alheio e se
Art. 166 - Alterar, sem licença da autoridade competente, o deixando de resti-
coisa alheia vinda ao apropria, no todo
aspecto de local especialmente protegido por lei: tuí-la ao dono ou
seu poder por erro, ou em parte, da
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa. legítimo possuidor
caso fortuito ou força quota a que tem
ou de entregá-la à
da natureza. direito o proprie-
Apropriação indébita autoridade com-
tário do prédio.
O agente apropria-se de coisa alheia, valendo-se da posse ou petente, dentro
detenção que tem dela. Ex. o motoboy que ia levar a sua pizza por no prazo de quinze
delivery, aproveita para apropriar-se dela. A pena é aumentada de dias.
um terço, quando o agente recebeu a coisa: em depósito necessário;
na qualidade de tutor, curador, síndico (atual administrador judicial), Estelionato e outras fraudes
liquidatário, inventariante, testamenteiro ou depositário judicial; O estelionato caracteriza-se por obter, para si ou para outrem,
em razão de ofício, emprego ou profissão. vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo
Atenção: O STF, já decidiu que ressarcimento em acordo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio
homologado no juízo cível é fundamento válido para trancar a ação fraudulento.
penal. Após o Pacote Anticrime a ação passou a ser pública
Obs. a apropriação indébita previdenciária (forma qualificada) condicionada à representação, salvo: se a vítima for a Administração
caracteriza-se por deixar de repassar à previdência social as Pública, criança ou adolescente, pessoa com deficiência mental,
contribuições recolhidas dos contribuintes, no prazo e forma legal maior de 70 anos de idade ou incapaz.
ou convencional, independente de dolo específico. O Código Penal determina que deve incorrer na mesma pena
§ 1o Nas mesmas penas incorre quem deixar de: do estelionato quem comete:
I – recolher, no prazo legal, contribuição ou outra importância • Disposição de coisa alheia como própria;
destinada à previdência social que tenha sido descontada de • Alienação ou oneração fraudulenta de coisa própria;
pagamento efetuado a segurados, a terceiros ou arrecadada do • Defraudação do penhor;
público; • Fraude na entrega de coisa;
II – recolher contribuições devidas à previdência social que • Fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro;
tenham integrado despesas contábeis ou custos relativos à venda • Fraude no pagamento por meio de cheque.
de produtos ou à prestação de serviços;
III - pagar benefício devido a segurado, quando as respectivas Estelionato contra idoso
cotas ou valores já tiverem sido reembolsados à empresa pela
previdência social. § 4ºAplica-se a pena em dobro se o crime for cometido
§ 2o É extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente, contra idoso.
declara, confessa e efetua o pagamento das contribuições, § 5º Somente se procede mediante representação, salvo
importâncias ou valores e presta as informações devidas à se a vítima for:
previdência social, na forma definida em lei ou regulamento, antes I - a Administração Pública, direta ou indireta;
do início da ação fiscal. II - criança ou adolescente;
§ 3o É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar III - pessoa com deficiência mental; ou
somente a de multa se o agente for primário e de bons antecedentes, IV - maior de 70 (setenta) anos de idade ou incapaz.
desde que:
I – tenha promovido, após o início da ação fiscal e antes A Lei nº 14.155/2021 introduziu os seguintes crimes no Código
de oferecida a denúncia, o pagamento da contribuição social Penal (art. 171):
previdenciária, inclusive acessórios; ou Fraude eletrônica
II – o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, § 2º-A. A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e
seja igual ou inferior àquele estabelecido pela previdência social, multa, se a fraude é cometida com a utilização de informações
administrativamente, como sendo o mínimo para o ajuizamento de fornecidas pela vítima ou por terceiro induzido a erro por meio de
suas execuções fiscais. redes sociais, contatos telefônicos ou envio de correio eletrônico
§ 4oA faculdade prevista no § 3o deste artigo não se aplica aos fraudulento, ou por qualquer outro meio fraudulento análogo.
casos de parcelamento de contribuições cujo valor, inclusive dos (Incluído pela Lei nº 14.155, de 2021)
acessórios, seja superior àquele estabelecido, administrativamente, § 2º-B. A pena prevista no § 2º-A deste artigo, considerada a
como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas execuções fiscais. relevância do resultado gravoso, aumenta-se de 1/3 (um terço) a
2/3 (dois terços), se o crime é praticado mediante a utilização de
servidor mantido fora do território nacional.     (Incluído pela Lei nº
14.155, de 2021)

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL
 § 3º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é cometido Fraude no comércio
em detrimento de entidade de direito público ou de instituto de Art. 175 - Enganar, no exercício de atividade comercial, o
economia popular, assistência social ou beneficência. adquirente ou consumidor:
A Fraude eletrônica consiste em crime digital, que ocorre com I - vendendo, como verdadeira ou perfeita, mercadoria
a utilização de informações fornecidas pela vítima ou por terceiro, falsificada ou deteriorada;
induzido a erro, por meio de redes sociais, contatos telefônicos ou II - entregando uma mercadoria por outra:
envio de correio eletrônico fraudulento etc. Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
Essa novidade legislativa visa acompanhar a realidade virtual § 1º - Alterar em obra que lhe é encomendada a qualidade ou
que vivemos atualmente, pois os crimes cibernéticos estão cada dia o peso de metal ou substituir, no mesmo caso, pedra verdadeira
mais comuns no Brasil. Todos os dias acompanhamos nos jornais por falsa ou por outra de menor valor; vender pedra falsa por
uma nova fraude (do WhatsApp, do e-mail, do aplicativo tal etc.). verdadeira; vender, como precioso, metal de ou outra qualidade:
Em razão da dificuldade causada na investigação, a pena sofre Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.
aumento se o crime é praticado com o uso de servidor mantido fora § 2º - É aplicável o disposto no art. 155, § 2º.
do Brasil. Outra causa de aumento é o crime ser cometido contra as
seguintes pessoas: Outras fraudes
 Entidade de direito público Art. 176 - Tomar refeição em restaurante, alojar-se em hotel
 Instituto de economia popular ou utilizar-se de meio de transporte sem dispor de recursos para
 Instituto de assistência social ou beneficiária efetuar o pagamento:
Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa.
Estelionato contra idoso ou vulnerável   (Redação dada pela Parágrafo único - Somente se procede mediante representação,
Lei nº 14.155, de 2021) e o juiz pode, conforme as circunstâncias, deixar de aplicar a pena.
§ 4º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) ao dobro, se o crime
é cometido contra idoso ou vulnerável, considerada a relevância do Fraudes e abusos na fundação ou administração de sociedade
resultado gravoso.   (Redação dada pela Lei nº 14.155, de 2021) por ações
O crime de estelionato contra idoso ou vulnerável, consiste, na Art. 177 - Promover a fundação de sociedade por ações,
verdade, em uma derivação da fraude eletrônica. No entanto, neste fazendo, em prospecto ou em comunicação ao público ou à
caso, considerada a relevância do resultado gravoso a pena sofre assembleia, afirmação falsa sobre a constituição da sociedade, ou
aumento. ocultando fraudulentamente fato a ela relativo:
Ex. um idoso ou pessoa com deficiência mental é induzido Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa, se o fato não
em erro, por outrem, na rede social, a transferir montante em constitui crime contra a economia popular.
dinheiro. § 1º - Incorrem na mesma pena, se o fato não constitui crime
A pena será aumentada de 1/3 até o dobro, a depender das contra a economia popular: (Vide Lei nº 1.521, de 1951)
peculiaridades do caso concreto. I - o diretor, o gerente ou o fiscal de sociedade por ações,
O Código Penal, inclusive, se preocupa em tipificar algumas que, em prospecto, relatório, parecer, balanço ou comunicação ao
outras fraudes, menos incidentes em prova: público ou à assembleia, faz afirmação falsa sobre as condições
econômicas da sociedade, ou oculta fraudulentamente, no todo ou
Duplicata simulada em parte, fato a elas relativo;
Art. 172 - Emitir fatura, duplicata ou nota de venda que não II - o diretor, o gerente ou o fiscal que promove, por qualquer
corresponda à mercadoria vendida, em quantidade ou qualidade, artifício, falsa cotação das ações ou de outros títulos da sociedade;
ou ao serviço prestado. (Redação dada pela Lei nº 8.137, de III - o diretor ou o gerente que toma empréstimo à sociedade ou
27.12.1990) usa, em proveito próprio ou de terceiro, dos bens ou haveres sociais,
Pena - detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.(Redação sem prévia autorização da assembleia geral;
dada pela Lei nº 8.137, de 27.12.1990) IV - o diretor ou o gerente que compra ou vende, por conta da
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrerá aquêle que sociedade, ações por ela emitidas, salvo quando a lei o permite;
falsificar ou adulterar a escrituração do Livro de Registro de V - o diretor ou o gerente que, como garantia de crédito social,
Duplicatas. (Incluído pela Lei nº 5.474. de 1968) aceita em penhor ou em caução ações da própria sociedade;
VI - o diretor ou o gerente que, na falta de balanço, em
Abuso de incapazes desacordo com este, ou mediante balanço falso, distribui lucros ou
Art. 173 - Abusar, em proveito próprio ou alheio, de dividendos fictícios;
necessidade, paixão ou inexperiência de menor, ou da alienação ou VII - o diretor, o gerente ou o fiscal que, por interposta pessoa,
debilidade mental de outrem, induzindo qualquer deles à prática de ou conluiado com acionista, consegue a aprovação de conta ou
ato suscetível de produzir efeito jurídico, em prejuízo próprio ou de parecer;
terceiro: VIII - o liquidante, nos casos dos ns. I, II, III, IV, V e VII;
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa. IX - o representante da sociedade anônima estrangeira,
autorizada a funcionar no País, que pratica os atos mencionados
Induzimento à especulação nos ns. I e II, ou dá falsa informação ao Governo.
Art. 174 - Abusar, em proveito próprio ou alheio, da inexperiência § 2º - Incorre na pena de detenção, de seis meses a dois anos,
ou da simplicidade ou inferioridade mental de outrem, induzindo-o e multa, o acionista que, a fim de obter vantagem para si ou para
à prática de jogo ou aposta, ou à especulação com títulos ou outrem, negocia o voto nas deliberações de assembleia geral.
mercadorias, sabendo ou devendo saber que a operação é ruinosa:
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa. Emissão irregular de conhecimento de depósito ou «warrant»
Art. 178 - Emitir conhecimento de depósito ou warrant, em
desacordo com disposição legal:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

211
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Fraude à execução Art. 182 - Somente se procede mediante representação, se o
Art. 179 - Fraudar execução, alienando, desviando, destruindo crime previsto neste título é cometido em prejuízo:
ou danificando bens, ou simulando dívidas: I - do cônjuge desquitado ou judicialmente separado;
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. II - de irmão, legítimo ou ilegítimo;
Parágrafo único - Somente se procede mediante queixa. III - de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita.
Art. 183 - Não se aplica o disposto nos dois artigos anteriores:
Alguns pontos merecem atenção: I - se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral, quando
• Adulterar o sistema de medição de energia elétrica para pagar haja emprego de grave ameaça ou violência à pessoa;
menos que o devido é estelionato (e não furto mediante fraude); II - ao estranho que participa do crime.
• Uso de processo judicial para obter lucro é figura atípica; III – se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou
• É justificável a exasperação da pena-base em caso de superior a 60 (sessenta) anos.
confiança da vítima no autor do crime de estelionato;
• O delito de estelionato não é absorvido pelo roubo de talão
de cheque. CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL

Receptação
Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito Todos os crimes contra a dignidade sexual passaram a ser de
próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime, ou influir Ação Penal Pública Incondicionada, ou seja, a denúncia é feita pelo
para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte. Perceba Ministério Público, independente de interesse da vítima.
que no crime de receptação, o agente tem contato com um bem • Estupro: Constranger alguém, mediante violência ou grave
obtido por meio de crime anterior, ex. objeto furtado. ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com
ele se pratique outro ato libidinoso.
▪ Receptação Qualificada • Violação sexual mediante fraude: Ter conjunção carnal ou
§ 1º - Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em praticar outro ato libidinoso com alguém, mediante fraude ou ou-
depósito, desmontar, montar, remontar, vender, expor à venda, tro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade
ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no da vítima.
exercício de atividade comercial ou industrial, coisa que deve saber • Importunação sexual: Praticar contra alguém e sem a sua
ser produto de crime: anuência ato libidinoso com o objetivo de satisfazer a própria lascí-
Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa. via ou a de terceiro.
§ 2º - Equipara-se à atividade comercial, para efeito do • Assédio sexual: Constranger alguém com o intuito de obter
parágrafo anterior, qualquer forma de comércio irregular ou vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da
clandestino, inclusive o exercício em residência. sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao
§ 3º - Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela exercício de emprego, cargo ou função. 
desproporção entre o valor e o preço, ou pela condição de quem a • Registro não autorizado da intimidade sexual: Produzir,
oferece, deve presumir-se obtida por meio criminoso: fotografar, filmar ou registrar, por qualquer meio, conteúdo com
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa, ou ambas as cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo e priva-
penas. do sem autorização dos participantes.
§ 4º - A receptação é punível, ainda que desconhecido ou isento
de pena o autor do crime de que proveio a coisa. Merece atenção os crimes sexuais praticados contra os vulne-
§ 5º - Na hipótese do § 3º, se o criminoso é primário, pode o ráveis:
juiz, tendo em consideração as circunstâncias, deixar de aplicar a
pena. Na receptação dolosa aplica-se o disposto no § 2º do art. 155. ▪ Estupro de vulnerável 
§ 6oTratando-se de bens do patrimônio da União, de Estado, do Art. 217-A.  Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidino-
Distrito Federal, de Município ou de autarquia, fundação pública, so com menor de 14 (catorze) anos:
empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.
concessionária de serviços públicos, aplica-se em dobro a pena § 1o  Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas
prevista no caput deste artigo. Ex. receptação de bens do correio. no caput com alguém que, por enfermidade ou deficiência mental,
não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que,
▪ Receptação de Animal por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência.
Art. 180-A.Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, § 2o  (VETADO)
ter em depósito ou vender, com a finalidade de produção ou de § 3o  Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave:        
comercialização, semovente domesticável de produção, ainda que Pena - reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos.
abatido ou dividido em partes, que deve saber ser produto de crime: § 4o  Se da conduta resulta morte:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.
§ 5º   As penas previstas no  caput  e nos §§ 1º, 3º e 4º deste
Nos crimes patrimoniais existem causas de isenção de pena, artigo aplicam-se independentemente do consentimento da vítima
e causas que a ação deixa de ser pública incondicionada, para ser ou do fato de ela ter mantido relações sexuais anteriormente ao
tratada como ação penal pública condicionada à representação: crime.  
Art. 181 - É isento de pena quem comete qualquer dos crimes
previstos neste título, em prejuízo: ▪   Corrupção de menores 
I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal; Art. 218.  Induzir alguém menor de 14 (catorze) anos a satisfa-
II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo zer a lascívia de outrem:
ou ilegítimo, seja civil ou natural. Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.  

212
212
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
▪ Satisfação de lascívia mediante presença de criança ou ado- ▪ Estupro corretivo   
lescente  b) para controlar o comportamento social ou sexual da vítima. 
Art. 218-A.  Praticar, na presença de alguém menor de 14 (ca- O Lenocínio, o tráfico de pessoas para fim de prostituição e
torze) anos, ou induzi-lo a presenciar, conjunção carnal ou outro ato outras formas de exploração sexual englobam os seguintes crimes:
libidinoso, a fim de satisfazer lascívia própria ou de outrem: • Mediação para servir a lascívia de outrem;
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.  • Favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração
sexual;
▪ Favorecimento da prostituição ou de outra forma de explora- • Casa de prostituição;
ção sexual de criança ou adolescente ou de vulnerável • Rufianismo;
Art. 218-B.  Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra • Promoção de migração ilegal
forma de exploração sexual alguém menor de 18 (dezoito) anos ou
que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário É importante conhecer o que vem entendendo a jurisprudência:
discernimento para a prática do ato, facilitá-la, impedir ou dificultar • Passar as mãos no corpo da vítima configura estupro de vul-
que a abandone: nerável consumado;
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos. • Beijar criança na boca configura estupro de vulnerável (beijo
§ 1o  Se o crime é praticado com o fim de obter vantagem lascivo);
econômica, aplica-se também multa. • Contemplar lascivamente menor de 14 anos nua configura
§ 2o  Incorre nas mesmas penas: estupro de vulnerável;
I - quem pratica conjunção carnal ou outro ato libidinoso com • Cabe absolvição do crime de estupro de vulnerável se prova-
alguém menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (catorze) anos na situ- do o desconhecimento da idade da vítima (erro de tipo);
ação descrita no caput deste artigo; • Beijo roubado em contexto de violência física pode configu-
II - o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local em que rar estupro.
se verifiquem as práticas referidas no caput deste artigo.
§ 3o  Na hipótese do inciso II do § 2o, constitui efeito obrigatório Por fim, há um capítulo de ultraje público, que engloba 2 cri-
da condenação a cassação da licença de localização e de funciona- mes:
mento do estabelecimento.  
Ato obsceno
▪ Divulgação de cena de estupro ou de cena de estupro de vul- Art. 233 - Praticar ato obsceno em lugar público, ou aberto ou
nerável, de cena de sexo ou de pornografia   exposto ao público:
Art. 218-C.  Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, vender Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
ou expor à venda, distribuir, publicar ou divulgar, por qualquer meio
- inclusive por meio de comunicação de massa ou sistema de infor- Escrito ou objeto obsceno
mática ou telemática -, fotografia, vídeo ou outro registro audiovi- Art. 234 - Fazer, importar, exportar, adquirir ou ter sob sua
sual que contenha cena de estupro ou de estupro de vulnerável ou guarda, para fim de comércio, de distribuição ou de exposição
que faça apologia ou induza a sua prática, ou, sem o consentimento pública, escrito, desenho, pintura, estampa ou qualquer objeto
da vítima, cena de sexo, nudez ou pornografia: obsceno:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o fato não cons- Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
titui crime mais grave. Parágrafo único - Incorre na mesma pena quem:
Aumento de pena I - vende, distribui ou expõe à venda ou ao público qualquer dos
§ 1º  A pena é aumentada de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços) objetos referidos neste artigo;
se o crime é praticado por agente que mantém ou tenha mantido II - realiza, em lugar público ou acessível ao público,
relação íntima de afeto com a vítima ou com o fim de vingança ou representação teatral, ou exibição cinematográfica de caráter
humilhação.    obsceno, ou qualquer outro espetáculo, que tenha o mesmo caráter;
Exclusão de ilicitude III - realiza, em lugar público ou acessível ao público, ou pelo
§ 2º  Não há crime quando o agente pratica as condutas rádio, audição ou recitação de caráter obsceno.
descritas no  caput  deste artigo em publicação de natureza
jornalística, científica, cultural ou acadêmica com a adoção de re- A pena é aumentada:
curso que impossibilite a identificação da vítima, ressalvada sua
prévia autorização, caso seja maior de 18 (dezoito) anos.  • de metade a 2/3 (dois terços), se do crime resulta gravidez; 
Quanto às causas de aumento de pena é importante conhecer • de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o agente transmite
a literalidade da letra da lei: à vítima doença sexualmente transmissível de que sabe ou deveria
Art. 226. A pena é aumentada: saber ser portador, ou se a vítima é idosa ou pessoa com deficiência.
I – de quarta parte, se o crime é cometido com o concurso de 2
(duas) ou mais pessoas; É importante saber que, O STJ, em recente julgado, conside-
II - de metade, se o agente é ascendente, padrasto ou madrasta, rou que o crime de estupro de vulnerável NÃO pressupõe o sexo
tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor ou vaginal, anal ou oral para a sua configuração. Ademais, “O crime de
empregador da vítima ou por qualquer outro título tiver autoridade estupro de vulnerável se configura com a conjunção carnal ou prá-
sobre ela; tica de ato libidinoso com menor de 14 anos, sendo IRRELEVANTE
III  (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005) eventual consentimento da vítima para a prática do ato, sua expe-
IV - de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado:    riência sexual anterior ou existência de relacionamento amoroso
com o agente” (Súmula 593, STJ).
▪ Estupro coletivo   
a) mediante concurso de 2 (dois) ou mais agentes;   

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL
No capítulo sobre a falsidade de títulos e outros papeis públi-
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA cos há o crime de falsificação de papeis públicos e o crime de petre-
chos de falsificação. Já no capítulo de falsidade documental, há os
seguintes crimes:
Os crimes contra a fé pública atingem a confiança que as pes- • Falsificação do selo ou sinal público;
soas depositam no país. Ex. moeda falsa. • Falsificação de documento público;
• Falsificação de documento particular;
Moeda Falsa • Falsificação de cartão;
Atenção: inaplicável arrependimento posterior, em razão da • Falsidade ideológica;
impossibilidade material de ocorrer a reparação do dano (a vítima • Falso reconhecimento de firma ou letra;
é a coletividade). • Certidão ou atestado ideologicamente falso;
Art. 289 - Falsificar, fabricando-a ou alterando-a, moeda metá- • Falsidade material de atestado ou certidão;
lica ou papel-moeda de curso legal no país ou no estrangeiro: • Falsidade de atestado médico;
Pena - reclusão, de três a doze anos, e multa. • Reprodução ou adulteração de selo ou peça filatélica;
§ 1º - Nas mesmas penas incorre quem, por conta própria ou • Uso de documento falso;
alheia, importa ou exporta, adquire, vende, troca, cede, empresta, • Supressão de documento.
guarda ou introduz na circulação moeda falsa.
§ 2º - Quem, tendo recebido de boa-fé, como verdadeira, moe- É importante diferenciar os documentos públicos dos particu-
da falsa ou alterada, a restitui à circulação, depois de conhecer a lares: Para os efeitos penais, equiparam-se a documento público o
falsidade, é punido com detenção, de seis meses a dois anos, e mul- emanado de entidade paraestatal, o título ao portador ou transmis-
ta. sível por endosso, as ações de sociedade comercial, os livros mer-
§ 3º - É punido com reclusão, de três a quinze anos, e multa, o cantis e o testamento particular.
funcionário público ou diretor, gerente, ou fiscal de banco de emis- Para o STJ, na falsificação de papeis públicos é desnecessária
são que fabrica, emite ou autoriza a fabricação ou emissão: a constituição definitiva do crédito tributário, porque é um crime
I - de moeda com título ou peso inferior ao determinado em lei; formal.
II - de papel-moeda em quantidade superior à autorizada. Para o STF, o prefeito que, no momento de sancionar lei, acres-
§ 4º - Nas mesmas penas incorre quem desvia e faz circular ce artigo pratica o crime de falsificação de documento público.
moeda, cuja circulação não estava ainda autorizada. Os tribunais sempre entenderam que a conduta de clonar car-
tão amolda-se no crime de falsificação de documento particular.
Crimes assimilados ao de moeda falsa Por fim, o CP, ainda, traz outras falsidades, como, por exemplo,
Art. 290 - Formar cédula, nota ou bilhete representativo de Falsificação do sinal empregado no contraste de metal precioso ou
moeda com fragmentos de cédulas, notas ou bilhetes verdadeiros; na fiscalização alfandegária, ou para outros fins; Falsa identidade;
suprimir, em nota, cédula ou bilhete recolhidos, para o fim de res- Fraude de lei sobre estrangeiro; Adulteração de sinal identificador
tituí-los à circulação, sinal indicativo de sua inutilização; restituir à de veículo automotor.
circulação cédula, nota ou bilhete em tais condições, ou já recolhi-
dos para o fim de inutilização: Fraude em certames de interesse público
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. A fraude em certames de interesse público precisa ser com-
Parágrafo único - O máximo da reclusão é elevado a doze anos preendida com cuidado, pois a lei de licitações trata sobre crimes
e multa, se o crime é cometido por funcionário que trabalha na re- correlatos.
partição onde o dinheiro se achava recolhido, ou nela tem fácil in- Art. 311-A. Utilizar ou divulgar, indevidamente, com o fim de
gresso, em razão do cargo. beneficiar a si ou a outrem, ou de comprometer a credibilidade do
certame, conteúdo sigiloso de:
Petrechos para falsificação de moeda I - concurso público;
Atenção: basta que o agente detenha a posse dos petrechos II - avaliação ou exame públicos;
destinados à falsificação da moeda, sendo dispensável que o ma- III - processo seletivo para ingresso no ensino superior; ou
quinário seja de uso exclusivo para esse fim. IV - exame ou processo seletivo previstos em lei:
Art. 291 - Fabricar, adquirir, fornecer, a título oneroso ou gra- Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
tuito, possuir ou guardar maquinismo, aparelho, instrumento ou Aqui o exemplo clássico é a fraude no ENEM, e nos demais cer-
qualquer objeto especialmente destinado à falsificação de moeda: tames para seleção de candidatos por meio de provas.
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa. § 1º Nas mesmas penas incorre quem permite ou facilita, por
qualquer meio, o acesso de pessoas não autorizadas às informações
Emissão de título ao portador sem permissão legal mencionadas no caput.
Art. 292 - Emitir, sem permissão legal, nota, bilhete, ficha, vale § 2º Se da ação ou omissão resulta dano à administração pú-
ou título que contenha promessa de pagamento em dinheiro ao blica:
portador ou a que falte indicação do nome da pessoa a quem deva Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.
ser pago: § 3º Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o fato é cometido
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. por funcionário público.
Parágrafo único - Quem recebe ou utiliza como dinheiro qual-
quer dos documentos referidos neste artigo incorre na pena de de- Para encerrar vale deixar claro alguns pontos:
tenção, de quinze dias a três meses, ou multa. • Falsa declaração de hipossuficiência não configura falsidade
ideológica (atípico);
• Inserir informação falsa em currículo lattes é atípico;
• Comete falsidade ideológica o candidato que deixa de conta-
bilizar despesas em sua prestação de contas à Justiça Eleitoral;

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL
• Consiste em falsificação de documento particular a falsidade Modificação ou alteração
em contrato social para ocultar verdadeiro sócio; Inserção de dados falsos
não autorizada de sistema de
• Desnecessária prova pericial para condenar por uso de docu- em sistema de informações
informações
mento falso.
Art. 313-B. Modificar ou
Art. 313-A. Inserir ou faci- alterar, o funcionário, sistema
CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA litar, o funcionário autorizado, de informações ou programa
a inserção de dados falsos, de informática sem autoriza-
alterar ou excluir indevida- ção ou solicitação de autorida-
Neste ponto algumas informações são essenciais: mente dados corretos nos de competente:
• A elementar do crime de peculato se comunica aos coautores sistemas informatizados ou Pena – detenção, de 3
e partícipes estranhos ao serviço público; bancos de dados da Adminis- (três) meses a 2 (dois) anos, e
• Consuma-se o crime de PECULATO-DESVIO no momento em tração Pública com o fim de multa.
que o funcionário efetivamente desvia o dinheiro, valor ou outro obter vantagem indevida para Parágrafo único. As penas
bem móvel, em proveito próprio ou de terceiro, ainda que NÃO ob- si ou para outrem ou para são aumentadas de um terço
tenha a vantagem indevida; causar dano: Pena – reclusão, até a metade se da modifica-
• Configura o crime de CONCUSSÃO a conduta do funcionário de 2 (dois) a 12 (doze) anos, ção ou alteração resulta dano
público que, fora do exercício de sua função, mas em razão dela, e multa. para a Administração Pública
exige o pagamento de uma verba indevida (“taxa de urgência), para ou para o administrado.
a aprovação de uma obra que sabe irregular;
• O EXCESSO DE EXAÇÃO – funcionário exige tributo ou con-
tribuição social que sabe ou deveria saber indevido, ou, quando • Extravio, sonegação ou inutilização de livro ou documento:
devido, emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei Extraviar livro oficial ou qualquer documento, de que tem a guarda
NÃO autoriza; em razão do cargo; sonegá-lo ou inutilizá-lo, total ou parcialmente.
• O crime de CORRUPÇÃO PASSIVA possui natureza FORMAL e • Emprego irregular de verbas ou rendas pública: Dar às ver-
independe de resultado, NÃO se exigindo a prática de ato de ofício; bas ou rendas públicas aplicação diversa da estabelecida em lei.
• Para o STJ, ao contrário do que ocorre no peculato culposo, a • Concussão: Exigir, para si ou para outrem, direta ou indire-
reparação do dano antes do recebimento da denúncia NÃO exclui tamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em
o crime de peculato doloso, diante da ausência de previsão legal, razão dela, vantagem indevida. Obs. é crime formal, se consuma
mas pode configurar arrependimento posterior (v. HC 239127/RS); com a exigência da vantagem indevida.
• Nos crimes contra a Administração Pública não incide o prin- • Excesso de exação: Se o funcionário exige tributo ou contri-
cípio da insignificância. buição social que sabe ou deveria saber indevido, ou, quando devi-
do, emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei não
Peculato-Apropriação e Peculato-Desvio autoriza.
Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qual- • Corrupção passiva: Solicitar ou receber, para si ou para ou-
quer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse trem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de
em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio. assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar pro-
Obs. É peculato-furto, se o funcionário público, embora não messa de tal vantagem. Obs. configura corrupção passiva receber
tendo a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre propina sob o disfarce de doações eleitorais.
para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se • Facilitação de contrabando ou descaminho: Facilitar, com in-
de facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário. fração de dever funcional, a prática de contrabando ou descaminho.
• Prevaricação: Retardar ou deixar de praticar, indevidamente,
Peculato Culposo ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para
§ 2º - Se o funcionário concorre culposamente para o crime de satisfazer interesse ou sentimento pessoal. Obs. Deixar o Diretor de
outrem: Penitenciária e/ou agente público, de cumprir seu dever de vedar
Pena - detenção, de três meses a um ano. ao preso o acesso a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que
§ 3º - No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente ex-
precede à sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é terno.
posterior, reduz de metade a pena imposta. • Condescendência criminosa: Deixar o funcionário, por indul-
gência, de responsabilizar subordinado que cometeu infração no
Peculato mediante erro de outrem exercício do cargo ou, quando lhe falte competência, não levar o
Art. 313 - Apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade que, fato ao conhecimento da autoridade competente.
no exercício do cargo, recebeu por erro de outrem: • Advocacia administrativa: Patrocinar, direta ou indiretamen-
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. te, interesse privado perante a administração pública, valendo-se
da qualidade de funcionário.
• Violência arbitrária: Praticar violência, no exercício de função
ou a pretexto de exercê-la.
• Abandono de função: Abandonar cargo público, fora dos ca-
sos permitidos em lei.
• Exercício funcional ilegalmente antecipado ou prolongado:
Entrar no exercício de função pública antes de satisfeitas as exi-
gências legais, ou continuar a exercê-la, sem autorização, depois
de saber oficialmente que foi exonerado, removido, substituído ou
suspenso.

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL
• Violação de sigilo funcional: Revelar fato de que tem ciência De acordo com o STJ, a inépcia da denúncia de corrupção ativa
em razão do cargo e que deva permanecer em segredo, ou facilitar- não induz, por si só, o trancamento da ação penal de corrupção
-lhe a revelação. passiva. Os dois crimes estão em tipos penais autônomos, e um não
Por fim, é importante conhecer a descrição de quem é funcio- pressupõe o outro.
nário público, para as leis penais: Ademais, o CP elenca os crimes praticados por particular contra
Funcionário público a Administração Pública Estrangeira:Corrupção ativa em transação
Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos pe- comercial internacional; Tráfico de influência em transação comer-
nais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cial internacional. E, também, estabelece os crimes contra a Admi-
cargo, emprego ou função pública. nistração da Justiça:
§ 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, em- • Reingresso de estrangeiro expulso;
prego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para • Denunciação caluniosa;
empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a • Comunicação falsa de crime ou contravenção;
execução de atividade típica da Administração Pública.(Incluído • Auto-acusação falsa;
pela Lei nº 9.983, de 2000) • Falso Testemunho ou falsa perícia;
§ 2º - A pena será aumentada da terça parte quando os autores • Coação no Curso do Processo;
dos crimes previstos neste Capítulo forem ocupantes de cargos em • Exercício arbitrário das próprias razões;
comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da • Fraude processual;
administração direta, sociedade de economia mista, empresa públi- • Favorecimento pessoal;
ca ou fundação instituída pelo poder público. • Favorecimento real;
Quanto aos crimes praticados por particular contra a Adminis- • Fuga de pessoa presa ou submetida a medida de segurança;
tração temos: usurpação de função pública; resistência; desobedi- • Evasão mediante violência contra a pessoa;
ência; desacato; tráfico de influência; corrupção ativa; descaminho; • Arrebatamento de preso;
contrabando; impedimento, perturbação ou fraude de concorrên- • Motim de presos;
cia; inutilização de edital ou sinal; subtração de inutilização de livro • Patrocínio infiel;
ou documento; sonegação de contribuição previdenciária. • Patrocínio simultâneo ou tergiversação;
Aqui é importante memorizar que resistência, desobediência e • Sonegação de papel ou objeto de valor probatório;
desacato não se confundem: • Exploração de prestígio;
• Violência ou fraude em arrematação judicial;
Resistência • Desobediência a decisão judicial sobre perda ou suspensão
Art. 329 - Opor-se à execução de ato legal, mediante violência de direitos.
ou ameaça a funcionário competente para executá-lo ou a quem lhe
esteja prestando auxílio: Aqui, o mais importante é ter em mente que denunciação ca-
Pena - detenção, de dois meses a dois anos. luniosa exige dolo direto do agente. Ou seja, o agente saiba que a
§ 1º - Se o ato, em razão da resistência, não se executa: pessoa é inocente:
Pena - reclusão, de um a três anos.
§ 2º - As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das cor- Art. 339. Dar causa à instauração de inquérito policial, de pro-
respondentes à violência. cedimento investigatório criminal, de processo judicial, de processo
Desobediência administrativo disciplinar, de inquérito civil ou de ação de improbi-
Art. 330 - Desobedecer a ordem legal de funcionário público: dade administrativa contra alguém, imputando-lhe crime, infração
Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e multa. ético-disciplinar ou ato ímprobo de que o sabe inocente:
Desacato Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.
Art. 331 - Desacatar funcionário público no exercício da função § 1º - A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se serve
ou em razão dela: de anonimato ou de nome suposto.
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. § 2º - A pena é diminuída de metade, se a imputação é de prá-
O tráfico de influência consiste em: Solicitar, exigir, cobrar ou tica de contravenção.
obter, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem, Ademais, tanto no falso testemunho como na falsa perícia: O
a pretexto de influir em ato praticado por funcionário público no fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em que
exercício da função (qualquer funcionário público). A pena é au- ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade.
mentada da metade, se o agente alega ou insinua que a vantagem é É importante saber diferenciar o favorecimento real do favo-
também destinada ao funcionário. recimento pessoal:
É importante conhecer a literalidade do crime de corrupção • Exemplo de favorecimento real: um amigo do criminoso guar-
ativa: da em sua casa o proveito do crime (um objeto furtado).
• Exemplo de favorecimento pessoal: um amigo do criminoso
Corrupção ativa esconde o foragido em sua casa. Se quem presta o auxílio é ascen-
Art. 333 - Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcio- dente, descendente, cônjuge ou irmão do criminoso, fica isento de
nário público, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato pena.
de ofício:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. Por fim, vale diferenciar patrocínio infiel de patrocínio simultâ-
Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço, se, em ra- neo ou tergiversação:
zão da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou omite ato
de ofício, ou o pratica infringindo dever funcional.

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Patrocínio infiel Princípio da individualização da pena


Patrocínio simultâneo ou As pessoas são diferentes, os crimes por mais que se enqua-
Art. 355 - Trair, na
tergiversação drem em um tipo penal, ocorrem de maneira distinta. Assim, a in-
qualidade de advogado ou
Parágrafo único - Incorre dividualização da pena busca se adequar à individualidade de cada
procurador, o dever profissio-
na pena deste artigo o advo- um, em 3 fases:
nal, prejudicando interesse,
gado ou procurador judicial • Legislativa: o legislador ao pensar no crime e nas penas em
cujo patrocínio, em juízo, lhe
que defende na mesma causa, abstrato precisa ter proporcionalidade para adequar a cominação
é confiado:
simultânea ou sucessivamente, de punições à gravidade dos crimes;
Pena - detenção, de seis
partes contrárias. • Judicial: o juiz ao realizar a dosimetria da pena precisa ade-
meses a três anos, e multa.
quar o tipo penal abstrato ao caso concreto;
• Administrativa: na execução da pena as decisões do juiz da
DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS APLICÁVEIS AO DIREITO execução precisam ser pautadas na individualidade de cada um.
PENAL
Princípio da intranscendência da pena
Este princípio impede que a pena ultrapasse a pessoa do in-
frator, ex. não se estende aos familiares. Todavia, a obrigação de
Princípio da Legalidade
reparar o dano e a decretação do perdimento de bens podem ser
Nenhum fato pode ser considerado crime e nenhuma pena cri-
atribuídas aos sucessores, mas somente até o limite do valor da
minal pode ser aplicada sem que antes da ocorrência deste fato
herança. Isso ocorre porque tecnicamente o bem é do infrator, os
exista uma lei definindo-o como crime e cominando-lhe a sanção
sucessores vão utilizar o dinheiro do infrator para realizarem o pa-
correspondente (nullum crimen sine praevia lege). Ou seja, a lei
gamento.
precisa existir antes da conduta, para que seja atendido o princípio
Multa é espécie de pena, portanto, não pode ser executada em
da legalidade.
face dos herdeiros. Com a morte do infrator extingue-se a punibili-
dade, não podendo ser executada a pena de multa.
Princípio da Reserva Legal
Somente a lei em sentido estrito, emanada do Poder Legisla-
Princípio da limitação das penas ou da humanidade
tivo, pode definir condutas criminosas e estabelecer sanções pe-
De acordo com a Constituição Federal, são proibidas as seguin-
nais. Todavia, de acordo com posicionamento do STF, norma não
tes penas:
incriminadora (mais benéfica ao réu) pode ser editada por medida
• Morte (salvo em caso de guerra declarada);
provisória. Outro entendimento interessante do STF é no sentido
• Perpétua;
de que no Direito Penal cabe interpretação extensiva, uma vez que,
• Trabalho forçado;
nesse caso a previsão legal encontra-se implícita.
• Banimento;
• Cruéis.
Princípio da Taxatividade
Significa a proibição de editar leis vagas, com conteúdo impre-
Esse ditame consiste em cláusula pétrea, não podendo ser
ciso. Ou seja, ao dizer que a lei penal precisa respeitar a taxativida-
suprimido por emenda constitucional. Ademais, em razões dessas
de enseja-se a ideia de que a lei tem que estabelecer precisamente
proibições, outras normas desdobram-se – ex. o limite de cumpri-
a conduta que está sendo criminalizada. No Direito Penal não resta
mento de pena é de 40 anos, para que o condenado não fique para
espaço para palavras não ditas.
sempre preso; o trabalho do preso sempre é remunerado.
Princípio da anterioridade da lei penal
Princípio da Presunção de Inocência ou presunção de não cul-
Em uma linguagem simples, a lei que tipifica uma conduta pre-
pabilidade
cisa ser anterior à conduta.
Arrisco dizer que é um dos princípios mais controversos no STF.
Na data do fato a conduta já precisa ser considerada crime,
Em linhas gerais, significa que nenhuma pessoa pode ser conside-
mesmo porque como veremos adiante, no Direito Penal a lei não
rada culpada antes do trânsito em julgado da sentença penal con-
retroage para prejudicar o réu, só para beneficiá-lo.
denatória.
Ou seja, a anterioridade culmina no princípio da irretroativida-
Tal princípio está relacionado ao in dubio pro reo, pois enquan-
de da lei penal. Somente quando a lei penal beneficia o réu, estabe-
to existir dúvidas, o juiz deve decidir a favor do réu. Outra implica-
lecendo uma sanção menos grave para o crime ou quando deixa de
ção relacionada é o fato de que o acusador possui a obrigação de
considerar a conduta como criminosa, haverá a retroatividade da
provar a culpa do réu. Ou seja, o réu é inocente até que o acusador
lei penal, alcançando fatos ocorridos antes da sua vigência.
prove sua culpa e a decisão se torne definitiva.
• 1º fato;
Exceções: utiliza-se o princípio in dubio pro societate no caso
• Depois lei;
de recebimento de denúncia ou queixa; na decisão de pronúncia.
• A lei volta para ser aplicada aos fatos anteriores a ela.
Não é uma exceção, faz parte da regra: prisões cautelares não
Por outro lado, o princípio da irretroatividade determina que
ofendem a presunção de inocência, pois servem para garantir que
se a lei penal não beneficia o réu, não retroagirá. E você pode estar
o processo penal tenha seu regular trâmite.
se perguntando, caso uma nova lei deixar de considerar uma con-
Obs.: Prisão como cumprimento de pena não se confunde com
duta como crime o que acontece? Abolitio criminis. Nesse caso, a
prisão cautelar!
lei penal, por ser mais benéfica ao réu, retroagirá.
• Processos criminais em curso e IP não podem ser considera-
No caso das leis temporárias, a lei continua a produzir efeitos
dos maus antecedentes;
mesmo após o fim da sua vigência, caso contrário, causaria impu-
• Não há necessidade de condenação penal transitada em jul-
nidade. Não gera abolitio criminis, mas sim uma situação de ultra-
gado para que o preso sofra regressão de regime;
tividade da lei. A lei não está mais vigente, porque só abrangia um
período determinado, mas para os fatos praticados no período que
estava vigente há punição.
217
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
• A descoberta da prática de crime pelo acusado beneficiado 4. (CREA/TO - ADVOGADO - QUADRIX/2019) Acerca das no-
com a suspensão condicional do processo enseja revogação do be- ções gerais de direito, julgue o item.
nefício, sem a necessidade do trânsito em julgado da sentença con- No âmbito do direito penal, aplica‐se, em regra, o princípio do
denatória do crime novo. tempus regit actum, por meio do qual se deve aplicar a lei penal em
vigor na data da prática do ato delituoso. No entanto, se a nova lei,
▪ Vedações constitucionais aplicáveis a crimes graves mesmo não estando em vigor na data do crime, for mais benéfica
ao acusado, deverá retroagir para ser aplicada no caso concreto.
Não recebem ( ) CERTO
Imprescritível Inafiançável anistia, graça, ( ) ERRADO
indulto
5. (PREF. DE PETROLINA - GUARDA CIVIL - IDIB/2019) De
Racismo e Racismo; Ação de
acordo com o Código Penal, assinale a alternativa correta acerca do
Ação de grupos grupos armados
tempo e lugar do crime:
armados civis civis ou militares Hediondos e
(A) Considera-se praticado o crime no momento em que ocor-
ou militares contra a ordem equiparados
reu a ação ou omissão, bem como quando se produziu ou de-
contra a ordem constitucional e o (terrorismo, tráfico
veria produzir-se o resultado.
constitucional Estado Democrático; e tortura).
(B) Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu
e o Estado Hediondos e
a ação ou omissão, ainda que outro seja o local do resultado.
Democrático. equiparados (TTT).
(C) Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu
▪ Menoridade Penal a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se
A menoridade penal até os 18 anos consta expressamente na produziu ou deveria produzir-se o resultado.
CF. Alguns consideram cláusula pétrea, outros entendem que uma (D) Considera-se praticado o crime no lugar da ação ou, em
emenda constitucional poderia diminuir a idade. De toda forma, caso de omissão, apenas no local do resultado.
atualmente, os menores de 18 anos não respondem penalmente, (E) Para fins penais, o tempo e o lugar do crime são idênticos.
estando sujeitos ao ECA.
6. (PC/SP - DELEGADO DE POLÍCIA – VUNESP/2018) Prescre-
ve o art. 327 do CP: “considera-se funcionário público, para os efei-
QUESTÕES tos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração,
exerce cargo, emprego ou função pública. ”
Tal norma traduz exemplo de interpretação
1. (PREFEITURA DE BOA VISTA/RR - GUARDA CIVIL MUNI- (A) científica.
CIPAL - SELECON/2020) Pégaso é condenado pela prática de crime (B) autêntica.
previsto em lei a quinze anos de reclusão, tendo a decisão judicial
(C) extensiva.
transitada em julgado. Após dois anos de cumprimento da pena,
(D) doutrinária.
surge lei nova que deixa de considerar como crime os fatos que le-
(E) analógica
varam à condenação de Pégaso. Nesse caso, segundo os comandos
normativos do Código Penal, a lei:
(A) não retroagirá pelo efeito permanente da decisão judicial 7.(EMAP – ANALISTA PORTUÁRIO – CESPE/2018) A respeito
(B) retroagirá para beneficiar o réu da aplicação da lei penal, julgue o item a seguir.
(C) retroagirá se houve concordância do Ministério Público A analogia constitui meio para suprir lacuna do direito positiva-
(D) não retroagirá por ser regra de exceção do, mas, em direito penal, só é possível a aplicação analógica da lei
penal in bonam partem, em atenção ao princípio da reserva legal,
2. (TJ/PA - OFICIAL DE JUSTIÇA AVALIADOR - CESPE/2020) expresso no artigo primeiro do Código Penal.
Com relação ao tempo e ao lugar do crime, o Código Penal brasileiro ( ) CERTO
adotou, respectivamente, as teorias do (a) ( ) ERRADO
(A) resultado e da ação.
(B) consumação e do resultado. 8. (PC/BA – ESCRIVÃO DE POLÍCIA – CESPE/2018) O Código
(C) atividade e da ubiquidade. Penal estabelece como hipótese de qualificação do homicídio o co-
(D) ubiquidade e da atividade. metimento do ato com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia,
(E) ação e da consumação. tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar
3. (EBSERH - ADVOGADO - VUNESP/2020) Ficam sujeitos à lei perigo comum. Esse dispositivo legal é exemplo de interpretação
brasileira, sem a necessidade do concurso de nenhuma condição, (A) analógica.
os seguintes crimes cometidos no estrangeiro: (B) teleológica.
(A) praticados por brasileiro. (C) restritiva.
(B)aqueles que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou (D) progressiva.
a reprimir. (E) autêntica.
(C) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado
no Brasil. 9. (PC/MS – DELEGADO DE POLÍCIA – FAPEMS/2017) Com re-
(D) praticados em aeronaves brasileiras, mercantes ou de pro- lação aos princípios de Direito Penal e à interpretação da lei penal,
priedade privada, quando em território estrangeiro e aí não assinale a alternativa correta.
sejam julgados. (A) A interpretação autêntica contextual visa a dirimir a incerte-
(E) praticados em embarcações brasileiras, mercantes ou de za ou obscuridade da lei anterior.
propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não (B) Não se aplica o princípio da individualização da pena na fase
sejam julgados. da execução penal.

218
218
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
(C) A interpretação quanto ao resultado busca o significado le- III - Havendo, em razão do tipo, dois sujeitos passivos, o crime
gal de acordo com o progresso da ciência. é denominado vago.
(D) O princípio da proporcionalidade tem apenas o judiciário IV - Crime habitual cometido com ânimo de lucro é denomina-
como destinatário cujas penas impostas ao autor do delito de- do crime a prazo.
vem ser proporcionais à concreta gravidade. V - Crime praticado por intermédio de automóvel é denomina-
(E) A interpretação teleológica busca alcançar a finalidade da do delito de circulação.
lei, aquilo que ela se destina a regular. Estão certos apenas os itens
(A) I e II.
10. (TJ/AL - JUIZ SUBSTITUTO - FCC/2019) (B) I e IV.
No que toca à classificação doutrinária dos crimes, (C) II e V.
(A) é imprescindível a ocorrência de resultado naturalístico (D) III e IV.
para a consumação dos delitos materiais e formais. (E) III e V.
(B) é normativa a relação de causalidade nos crimes omissivos
14. (PC/ES - ASSISTENTE SOCIAL - INSTITUTO AOCP/2019) O
impróprios ou comissivos por omissão, prescindindo de resul-
crime de homicídio, art. 121 do Código Penal, é classificado doutri-
tado naturalístico para a sua consumação.
nariamente como um crime
(C) os crimes unissubsistentes são aqueles em que há iter crimi-
(A) de dano, material e instantâneo de efeitos permanentes.
nis e o comportamento criminoso pode ser cindido.
(B) vago, permanente e multitudinário.
(D) os crimes omissivos próprios dependem de resultado natu- (C) próprio, de perigo e exaurido.
ralístico para a sua consumação. (D) comum, forma livre e concurso necessário de agentes.
(E) os crimes comissivos são aqueles que requerem comporta- (E) de mão própria, habitual e de forma vinculada.
mento positivo, independendo de resultado naturalístico para
a sua consumação, se formais. 15. (VUNESP - 2020 - EBSERH – ADVOGADO) O crime de roubo
tem pena aumentada (CP, art. 157, § 2° e 2° A) se
11. (PC/ES - ASSISTENTE SOCIAL - INSTITUTO AOCP/2019) (A) o bem subtraído é de propriedade de ente público Munici-
Em alguns casos, o crime exige uma condição especial do sujeito ati- pal, Estadual ou Federal.
vo, podendo ser classificado em crimes comuns, próprios, de mão (B) a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente
própria, bi próprios, etc. Referente ao tema, assinale a alternativa conhece tal circunstância.
correta. (C) praticado em transporte público ou coletivo.
(A) Crime próprio pode ser praticado por qualquer pessoa, não (D) cometido por quem, embora transitoriamente ou sem re-
sendo exigida uma condição ou qualidade especial do sujeito muneração, exerce cargo, emprego ou função pública.
ativo. (E) cometido por quem for ocupante de cargos em comissão ou
(B) Crimes funcionais são crimes praticados por funcionários de função de direção ou assessoramento de órgão de empresa
públicos contra a administração. Esses crimes admitem a coau- pública.
toria e a participação de terceiros, podendo esse terceiro ser
funcionário público ou não.
(C) O crime de falso testemunho é considerado um crime pró- GABARITO
prio, podendo ser praticado por qualquer pessoa, portanto a lei
não exige uma qualidade especial do sujeito ativo.
(D) O sujeito ativo pode ser tanto quem realiza o verbo típico
ou possui o domínio finalista do fato como quem, de qualquer 1 B
outra forma, concorre para o crime, sendo representado ape- 2 C
nas pelo autor e coautor. 3 C
(E) O sujeito ativo, para poder ser responsabilizado, será pessoa
física, não podendo ser pessoa jurídica conforme determina a 4 CERTO
Constituição Federal. 5 C

12. (SEFAZ/RS - TÉCNICO TRIBUTÁRIO DA RECEITA ESTA- 6 B


DUAL - CESPE/2018)O único tipo de crime que se consuma com a 7 CERTO
ocorrência do resultado naturalístico é o crime
8 A
(A) material.
(B) de mera conduta. 9 E
(C) formal. 10 E
(D) omissivo próprio.
(E) habitual. 11 B
12 A
13. (DPE/PE - DEFENSOR PÚBLICO - CESPE/2018) Com rela-
ção à classificação dos crimes, julgue os itens a seguir. 13 C
I - Denomina-se crime plurissubsistente o crime cometido por 14 A
vários agentes.
II - Se o sujeito fizer tudo o que está ao seu alcance para a con-
sumação do crime, mas o resultado não ocorrer por circunstâncias
alheias à sua vontade, configura-se crime falho.

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL

ANOTAÇÕES
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220
NOÇÕES DE DIREITO
PROCESSUAL PENAL

— Oficioso, ao tomar conhecimento de notícia de crime de


ação penal pública incondicionada, a autoridade policial é obrigada
a agir de ofício.
INQUÉRITO POLICIAL: HISTÓRICO, NATUREZA, CONCEI-
— Indisponível, a autoridade policial não poderá mandar arqui-
TO, FINALIDADE, CARACTERÍSTICAS, FUNDAMENTO,
var autos de inquérito policial.
TITULARIDADE, GRAU DE COGNIÇÃO, VALOR PROBA-
TÓRIO, FORMAS DE INSTAURAÇÃO, NOTITIA CRIMINIS,
Súmula Vinculante nº 14: É direito do defensor, no interesse
DELATIO CRIMINIS, PROCEDIMENTOS INVESTIGATI-
do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já
VOS, INDICIAMENTO, GARANTIAS DO INVESTIGA-
documentados em procedimento investigatório realizado por órgão
DO. CONCLUSÃO, PRAZOS
com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício
do direito de defesa.
— Inquérito Policial
O Inquérito Policial possui natureza de procedimento de natu- PRAZOS DO IP
reza administrativa. Não é ainda um processo, por isso não se fala — No CPP o prazo é de 10 dias, prorrogável por mais 15 dias se
em partes, munidas de completo poder de contraditório e ampla o réu estiver preso, ou, o limite máximo para a conclusão do IP é de
defesa. Ademais, por sua natureza administrativa, o procedimento 30 dias prorrogável, se o réu se encontra solto;
não segue uma sequência rígida de atos. — No IP federal o prazo é de 15 dias, prorrogável por mais 15
Nesse momento, ainda não há o exercício de pretensão acu- dias se o réu estiver preso, ou, possui o limite de 30 dias caso o réu
satória. Não se trata, pois, de processo judicial, nem tampouco de esteja solto;
processo administrativo. O inquérito policial consiste em um con- — Se o caso envolver a lei de drogas, o prazo é de 30 dias pror-
junto de diligências realizadas pela polícia investigativa. rogável por mais 30 dias, em caso de réu preso, bem como, 90 dias
O Inquérito Policial é definido como um procedimento adminis- prorrogável por mais 90 dias se o réu estiver solto;
trativo inquisitório e preparatório, presidido pelo Delegado de Polí- — Crime contra a economia popular tem prazo máximo de con-
cia, com vistas a identificação de provas e a colheita de elementos clusão do inquérito de 10 dias sempre;
de informação quanto à autoria e materialidade da infração penal, — Prisão temporária decretada em inquérito policial relativo a
a fim de possibilitar que o titular da ação penal possa ingressar em crimes hediondos e equiparados possui o prazo de 30 dias + 30 dias,
juízo. em caso de réu preso.
Para que se possa dar início a um processo criminal contra al-
guém, faz-se necessária a presença de um lastro probatório míni- O Pacote Anticrime trouxe novo procedimento para o arquiva-
mo, apontando no sentido da prática de uma infração penal e da mento no âmbito da justiça estadual, justiça federal e justiça co-
probabilidade de o acusado ser o seu autor. Daí a finalidade do in- mum do DF. De acordo com o art. 28 do CPP reformado, deixará de
quérito policial, instrumento usado pelo Estado para a colheita des- haver qualquer controle judicial sobre a promoção de arquivamen-
ses elementos de informação, viabilizando o oferecimento da peça to apresentada pelo Ministério Público.
acusatória quando houver justa causa para o processo. Ocorre que, a eficácia desse dispositivo foi suspensa em vir-
Muitas vezes o titular da ação penal (Ministério Público) não tude de medida cautelar concedida nos autos de Ação Direta de
consegue formar uma opinião sobre a viabilidade da acusação sem Inconstitucionalidade. Inclusive, foi determinado que o antigo art.
as peças informativas do inquérito policial. Portanto, a finalidade 28 permaneça em vigor enquanto perdurar a cautelar.
do inquérito é colher esses elementos mínimos com vistas ao ajui-
zamento ou não da ação penal. PROCEDIMENTO DO IP
1º O MP ordena o arquivamento do inquérito policial.
CARACTERÍSTICAS DO IP
2º O MP comunica a vítima, o investigado e a autoridade po-
— Procedimento escrito.
licial.
— Dispensável, quando já há justa causa para o oferecimento
2º O MP encaminha os autos para a instância de revisão minis-
da acusação.
— Sigiloso. terial para fins de homologação, na forma da lei.
— Inquisitorial, pois ainda não é um processo acusatório. 3º Se a vítima, ou seu representante legal, não concordar com
— Discricionário, a critério do delegado que deve determinar o arquivamento do inquérito policial, poderá, no prazo de 30 dias
o rumo das diligências de acordo com as peculiaridades do caso do recebimento da comunicação, submeter a matéria à revisão da
concreto. instância competente do órgão ministerial, conforme dispuser a
— Oficial, incumbe ao Delegado de Polícia (civil ou federal) a respectiva lei orgânica.
presidência do inquérito policial. 4º Nas ações penais relativas a crimes praticados em detrimen-
to da União, Estados e Municípios, a revisão do arquivamento do in-
quérito policial poderá ser provocada pela chefia do órgão a quem
couber a sua representação judicial.
221
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
No antigo procedimento de arquivamento, o Ministério Públi- — Inquérito Civil
co oferecia o arquivamento e o juiz decidia se acolhia ou não. Caso O Inquérito Civil é o instrumento utilizado para a apuração de
a autoridade judicial não acolhesse o arquivamento, remetia ao elementos que embase futura Ação Civil Pública.
PGJ para que dele partisse a decisão final, no sentido de arquivar Exclusivamente o Ministério Público poderá instaurar, sob sua
ou não. Caso não entendesse pelo arquivamento, o PGJ designava presidência, inquérito civil. Se o órgão do Ministério Público, esgo-
um longa manus para propor a ação penal ou ele mesmo o fazia. tadas todas as diligências, se convencer da inexistência de funda-
Com a mudança trazida pelo Pacote Anticrime, o controle do mento para a propositura da ação civil, promoverá o arquivamento
arquivamento passa a ser realizado no âmbito exclusivo do Ministé- dos autos do inquérito civil ou das peças informativas, fazendo-o
rio Público, atribuindo-se à vítima a legitimidade para questionar a fundamentadamente. Os autos do inquérito civil ou das peças de
correção da postura adotada pelo órgão ministerial. informação arquivadas serão remetidos, sob pena de se incorrer
em falta grave, no prazo de 3 (três) dias, ao Conselho Superior do
— Investigação Criminal pelo Ministério Público Ministério Público.
O procedimento investigativo inerente ao Inquérito Policial não Até que, em sessão do Conselho Superior do Ministério Públi-
é exclusivo da autoridade policial. O Ministério Público pode fazer co, seja homologada ou rejeitada a promoção de arquivamento,
investigações, mesmo porque a ele quem mais interessa a investi- poderão as associações legitimadas apresentar razões escritas ou
gação, visto que a finalidade desta é o acolhimento de lastro pro- documentos, que serão juntados aos autos do inquérito ou anexa-
batório mínimo para o ajuizamento da ação penal. Ademais, a CPI dos às peças de informação.
também é uma forma de colher informações para futura responsa- A promoção de arquivamento será submetida a exame e de-
bilização pessoal. liberação do Conselho Superior do Ministério Público, conforme
dispuser o seu Regimento. Deixando o Conselho Superior de homo-
O STF reconheceu a legitimidade do Ministério Público para logar a promoção de arquivamento, designará, desde logo, outro
promover, por autoridade própria, investigações de natureza penal, órgão do Ministério Público para o ajuizamento da ação.
mas ressaltou que essa investigação deverá respeitar alguns parâ-
metros que podem ser a seguir listados: — Acordo de Não-Persecução Penal
1) Devem ser respeitados os direitos e garantias fundamentais Como exceção ao princípio da obrigatoriedade (o MP é obriga-
dos investigados; do a oferecer a denúncia), o Pacote Anticrime disciplinou o Acordo
2) Os atos investigatórios devem ser necessariamente docu- de Não-Persecução Penal.
mentados e praticados por membros do MP;
3) Devem ser observadas as hipóteses de reserva constitucional Requisitos:
de jurisdição, ou seja, determinadas diligências somente podem ser • Não é caso de arquivamento;
autorizadas pelo Poder Judiciário nos casos em que a CF/88 assim • Confissão;
exigir (ex: interceptação telefônica, quebra de sigilo bancário etc.); • Não há violência nem grave ameaça;
4) Devem ser respeitadas as prerrogativas profissionais assegu- • Pena mínima inferior a 4 anos.
radas por lei aos advogados; Condições: Reparar o dano; renunciar voluntariamente a bens
5) Deve ser assegurada a garantia prevista na Súmula vinculan- e direitos indicados pelo Ministério Público como instrumentos,
te 14 do STF (“É direito do defensor, no interesse do representado, produto ou proveito do crime; prestar serviço à comunidade cor-
ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em respondente à pena mínima cominada ao delito diminuída de um a
procedimento investigatório realizado por órgão com competência dois terços (1/3 a 2/3); pagar prestação pecuniária a entidade pú-
de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defe- blica ou de interesse social; cumprir, por prazo determinado, outra
sa”); condição indicada pelo Ministério Público, desde que proporcional
6) A investigação deve ser realizada dentro de prazo razoável; e compatível com a infração penal imputada.
7) Os atos de investigação conduzidos pelo MP estão sujeitos ao Vedações: se é cabível transação penal no JECRIM; criminoso
profissional; beneficiado nos 5 anos anteriores ao cometimento da
permanente controle do Poder Judiciário.
infração por acordo de não persecução penal, transação penal ou
suspensão condicional do processo; violência doméstica contra a
A tese fixada em repercussão geral foi a seguinte: “O Ministério
mulher.
Público dispõe de competência para promover, por autoridade pró-
pria, e por prazo razoável, investigações de natureza penal, desde A celebração ocorre por escrito, entre o MP, investigado e ad-
que respeitados os direitos e garantias que assistem a qualquer in- vogado. Posteriormente, o juiz irá homologar ou não. E, as possíveis
diciado ou a qualquer pessoa sob investigação do Estado, observa- consequências são:
das, sempre, por seus agentes, as hipóteses de reserva constitucio- • Se o juiz considerar inadequadas, insuficientes ou abusivas as
nal de jurisdição e, também, as prerrogativas profissionais de que condições dispostas no acordo de não persecução penal, devolverá
se acham investidos, em nosso País, os advogados (Lei 8.906/1994, os autos ao Ministério Público para que seja reformulada a propos-
art. 7º, notadamente os incisos I, II, III, XI, XIII, XIV e XIX), sem pre- ta de acordo, com concordância do investigado e seu defensor.
juízo da possibilidade — sempre presente no Estado democrático • Homologado judicialmente o acordo de não persecução pe-
de Direito — do permanente controle jurisdicional dos atos, neces- nal, o juiz devolverá os autos ao Ministério Público para que inicie
sariamente documentados (Enunciado 14 da Súmula Vinculante), sua execução perante o juízo de execução penal.
praticados pelos membros dessa Instituição.” • Recusada a homologação, o juiz devolverá os autos ao Minis-
STF. 1ª Turma. HC 85011/RS, red. p/ o acórdão Min. Teori Za- tério Público para a análise da necessidade de complementação das
vascki, julgado em 26/5/2015 (Info 787). investigações ou o oferecimento da denúncia.
STF. Plenário. RE 593727/MG, rel. orig. Min. Cezar Peluso, red.
p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes, julgado em 14/5/2015 (repercus-
são geral) (Info 785).

222
222
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Descumpridas quaisquer das condições estipuladas no acordo Para a sua proteção, O ofendido é comunicado sobre o ingresso
de não persecução penal, o Ministério Público deverá comunicar ao e saída do acusado da prisão, dia da audiência, resultado da senten-
juízo, para fins de sua rescisão e posterior oferecimento de denún- ça/acórdão etc. Inclusive, na audiência o ofendido tem um espaço
cia. O descumprimento do acordo de não persecução penal pelo separado dos demais. O juiz sempre busca tomar as providências
investigado também poderá ser utilizado pelo Ministério Público necessárias para a preservação da intimidade do ofendido.
como justificativa para o eventual não oferecimento de suspensão
condicional do processo. • Testemunhas
Por outro lado, cumprido integralmente o acordo de não per- A testemunha deve ser qualificada e prometer dizer a verdade.
secução penal, o juízo competente decretará a extinção de punibi- O depoimento deve ser prestado oralmente, com exceção a consul-
lidade. ta a breves apontamentos escritos. Ex. lembrar data etc.
No caso de recusa, por parte do Ministério Público, em propor O CPP adota o “cross examination”, ou seja, as perguntas são
o acordo de não persecução penal, o investigado poderá requerer feitas diretamente para as testemunhas. Todavia, o juiz não permi-
a remessa dos autos a órgão superior (instância de revisão minis- tirá que a testemunha manifeste suas apreciações pessoais, salvo
terial). quando inseparáveis da narrativa do fato.
Caberá RESE da decisão, despacho ou sentença que recusar O cônjuge, ascendentes, descendente e irmão do acusado
homologação à proposta de acordo de não persecução penal. Isso (CADI) podem se recusar a testemunhar, salvo quando não for pos-
se fundamenta, uma vez que o RESE é utilizado para impugnar de- sível por outro modo obter a prova do fato e suas circunstâncias.
cisões interlocutórias. Ademais, determinadas pessoas são proibidas de depor, em razão
do sigilo profissional (ex. padre). Exceção: Se forem desobrigadas
pela parte interessada e quiserem dar o seu testemunho.
PROVA. EXAME DO CORPO DE DELITO E PERÍCIAS EM Quem não presta o compromisso de dizer a verdade?
GERAL. INTERROGATÓRIO DO ACUSADO. CONFISSÃO. • Doentes mentais
QUALIFICAÇÃO E OITIVA DO OFENDIDO. TESTEMUNHAS. • Menores de 14 anos
RECONHECIMENTO DE PESSOAS E COISAS. ACAREAÇÃO. • CADI
DOCUMENTOS DE PROVA. INDÍCIOS. BUSCA E APREEN- • Busca e Apreensão
SÃO
Busca domiciliar Busca Pessoal
— Teoria Geral da Prova Razões que autorizam uma Quando há fundada suspeita
Prova é o conjunto de elementos que visam à formação do busca domiciliar: prender de que alguém oculte consigo
convencimento do juiz. Em regra, a prova é produzida durante o criminosos, apreender arma, coisas obtidas por meios
processo, sob o manto do contraditório e ampla defesa. O que é coisas achadas ou obtidas criminosos, cartas, elementos
produzido durante o inquérito policial é denominado de elementos por meios criminosos, de convicção. No caso de prisão
de informação. apreender instrumentos ou quando houver fundada
A prova é direito subjetivo das partes. Não precisam ser pro- de falsificação/objetos suspeita de que a pessoa esteja
vados falsificados, apreender armas na posse de arma proibida
– Fatos axiomáticos; e munições/instrumentos do ou de objetos ou papéis que
– Fatos notórios; crime, provas, cartas, vítimas, constituam corpo de delito,
– Presunções legais; elementos de convicção no ou quando a medida for
– Fatos inúteis. geral. determinada no curso de busca
Atente-se que, mesmo que um fato seja incontroverso precisa domiciliar.
ser objeto de prova, pois não existe revelia no processo criminal. Precedida de mandado Dispensa mandado judicial.
Vale conhecer um pouco sobre as principais provas do CPP: judicial.
Interrogatório do acusado As buscas domiciliares serão A busca em mulher será feita
O interrogatório exige entrevista prévia e reservada com de- executadas de dia, salvo se por outra mulher, se não
fensor, qualificação do acusado e cientificação do inteiro teor da o morador consentir que se importar retardamento ou
acusação. O acusado deve ser informado sobre o direito ao silêncio realizem à noite, e, antes prejuízo da diligência.
e interrogado na presença de seu defensor. de penetrarem na casa, os
É nula a “entrevista” realizada pela autoridade policial com o executores mostrarão e lerão
investigado, durante a busca e apreensão em sua residência, sem o mandado ao morador,
que tenha sido assegurado ao investigado o direito à prévia con- ou a quem o represente,
sulta a seu advogado e sem que ele tenha sido comunicado sobre intimando-o, em seguida,
seu direito ao silêncio e de não produzir provas contra si mesmo. a abrir a porta. Em caso
Isso consiste em violação ao direito ao silêncio e à não autoincri- de desobediência, será
minação. arrombada a porta e forçada
a entrada. Quando ausentes
• Confissão os moradores, deve, neste
A confissão é divisível e retratável, de maneira que o juiz anali- caso, ser intimado a assistir à
sará de acordo com o exame das provas em seu conjunto. diligência qualquer vizinho, se
houver e estiver presente.
• Ofendido
O ofendido será qualificado e perguntado sobre as circunstân-
cias da infração. A jurisprudência, inclusive, admite a condução co-
ercitiva do ofendido.

223
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
• Perícia TÍTULO IX
O Pacote Anticrime trouxe dentro da perícia a cadeia de custó- DA PRISÃO, DAS MEDIDAS CAUTELARES E DA LIBERDADE
dia como garantidora da autenticidade das evidências coletadas e PROVISÓRIA
examinadas, sem que haja espaço para adulteração. Assim, docu-
menta-se de maneira formal um procedimento destinado a manter Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título deverão
a história cronológica de uma evidência. ser aplicadas observando-se a:
A consequência da quebra da cadeia de custódia (break on the I - necessidade para aplicação da lei penal, para a investigação
chain of custody) é a proibição de valoração probatória com a con- ou a instrução criminal e, nos casos expressamente previstos, para
sequente exclusão dela e de toda a derivada. Em suma, preservar a evitar a prática de infrações penais;
fonte de prova garante a validade da prova. II - adequação da medida à gravidade do crime, circunstâncias
do fato e condições pessoais do indiciado ou acusado.
— Meios de Prova e Meios de Obtenção de Prova em Espécie § 1o As medidas cautelares poderão ser aplicadas isolada ou
cumulativamente.
Meio de Prova Meio de Obtenção de Prova § 2º As medidas cautelares serão decretadas pelo juiz a requeri-
mento das partes ou, quando no curso da investigação criminal, por
Corresponde à prova em si. Procedimento realizado para representação da autoridade policial ou mediante requerimento do
se chegar à prova. Ministério Público. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 3º Ressalvados os casos de urgência ou de perigo de inefi-
Ex. Art. 3º-A. O acordo de colaboração premiada é negócio ju- cácia da medida, o juiz, ao receber o pedido de medida cautelar,
rídic determinará a intimação da parte contrária, para se manifestar no
o processual e meio de obtenção de prova, que pressupõe uti- prazo de 5 (cinco) dias, acompanhada de cópia do requerimento e
lidade e interesse públicos. das peças necessárias, permanecendo os autos em juízo, e os casos
de urgência ou de perigo deverão ser justificados e fundamentados
em decisão que contenha elementos do caso concreto que justifi-
RESTRIÇÃO DE LIBERDADE. PRISÃO EM FLAGRANTE.
quem essa medida excepcional. (Redação dada pela Lei nº 13.964,
PRISÃO PREVENTIVA. MEDIDAS CAUTELARES. LIBER-
de 2019)
DADE PROVISÓRIA. AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA. LEI Nº
§ 4º No caso de descumprimento de qualquer das obrigações
7.960/1989 (PRISÃO TEMPORÁRIA)
impostas, o juiz, mediante requerimento do Ministério Público, de
seu assistente ou do querelante, poderá substituir a medida, impor
outra em cumulação, ou, em último caso, decretar a prisão preven-
Prisões tiva, nos termos do parágrafo único do art. 312 deste Código. (Re-
A restrição da liberdade é medida excepcional na natureza hu- dação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
mana. Aqui, a despeito da existência de “prisões penais” - estuda- § 5º O juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes, revogar a
das pelo direito penal e pela execução penal - e da “prisão civil” (em medida cautelar ou substituí-la quando verificar a falta de motivo
caso de dívida de alimentos) - estudada pelo direito constitucional, para que subsista, bem como voltar a decretá-la, se sobrevierem ra-
pelo direito internacional, e pelo direito civil - somente se estudará zões que a justifiquem. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
as tipicamente denominadas “prisões processuais”, decretadas du- § 6º A prisão preventiva somente será determinada quando
rante a fase investigatória ou judicial. não for cabível a sua substituição por outra medida cautelar, obser-
De acordo com o art. 282, do Código de Processo Penal, as vado o art. 319 deste Código, e o não cabimento da substituição por
medidas cautelares previstas no Título IX, do Código de Processo outra medida cautelar deverá ser justificado de forma fundamenta-
Penal, intitulado “Da Prisão, das Medidas Cautelares e da Liberda- da nos elementos presentes do caso concreto, de forma individuali-
de Provisória”, deverão ser aplicadas observando-se a necessidade zada. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019).
para aplicação da lei penal, para a investigação ou instrução cri- Art. 283. Ninguém poderá ser preso senão em flagrante deli-
minal e, nos casos expressamente previstos, para evitar a prática to ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária
de infrações penais (inciso I), bem como a adequação da medida à competente, em decorrência de prisão cautelar ou em virtude de
gravidade do crime, circunstâncias do fato e condições pessoais do condenação criminal transitada em julgado. (Redação dada pela Lei
indiciado ou acusado (inciso II). nº 13.964, de 2019)
Deve haver a observância do binômio necessidade/adequação § 1o As medidas cautelares previstas neste Título não se apli-
quando da análise de imposição de prisão processual/medida cau- cam à infração a que não for isolada, cumulativa ou alternativa-
telar diversa da prisão. Pode ser que, num extremo mais gravoso, mente cominada pena privativa de liberdade.
a prisão preventiva seja a mais adequada. Já noutro extremo, mais § 2o A prisão poderá ser efetuada em qualquer dia e a qual-
brando, pode ser que a liberdade provisória seja palavra de ordem. quer hora, respeitadas as restrições relativas à inviolabilidade do
Qualquer coisa que ficar entre estes dois extremos pode importar domicílio.
a imposição de medida cautelar de natureza diversa da prisão pro- Art. 284. Não será permitido o emprego de força, salvo a indis-
cessual. pensável no caso de resistência ou de tentativa de fuga do preso.
Art. 285. A autoridade que ordenar a prisão fará expedir o res-
Espécies pectivo mandado.
São três espécies de prisão cautelar: Parágrafo único. O mandado de prisão:
a) Prisão em Flagrante; a) será lavrado pelo escrivão e assinado pela autoridade;
b) Prisão Temporária; b) designará a pessoa, que tiver de ser presa, por seu nome,
c) Prisão Preventiva. alcunha ou sinais característicos;
c) mencionará a infração penal que motivar a prisão;
Verificaremos o que estabelece a lei processual penal sobre as d) declarará o valor da fiança arbitrada, quando afiançável a
prisões, medidas cautelares e liberdade provisória: infração;

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
e) será dirigido a quem tiver qualidade para dar-lhe execução. § 1o - Entender-se-á que o executor vai em perseguição do réu,
Art. 286. O mandado será passado em duplicata, e o executor quando:
entregará ao preso, logo depois da prisão, um dos exemplares com a) tendo-o avistado, for perseguindo-o sem interrupção, embo-
declaração do dia, hora e lugar da diligência. Da entrega deverá o ra depois o tenha perdido de vista;
preso passar recibo no outro exemplar; se recusar, não souber ou b) sabendo, por indícios ou informações fidedignas, que o réu
não puder escrever, o fato será mencionado em declaração, assina- tenha passado, há pouco tempo, em tal ou qual direção, pelo lugar
da por duas testemunhas. em que o procure, for no seu encalço.
Art. 287. Se a infração for inafiançável, a falta de exibição do § 2o Quando as autoridades locais tiverem fundadas razões
mandado não obstará a prisão, e o preso, em tal caso, será imedia- para duvidar da legitimidade da pessoa do executor ou da legalida-
tamente apresentado ao juiz que tiver expedido o mandado, para de do mandado que apresentar, poderão pôr em custódia o réu, até
a realização de audiência de custódia. (Redação dada pela Lei nº que fique esclarecida a dúvida.
13.964, de 2019) Art. 291. A prisão em virtude de mandado entender-se-á feita
Art. 288. Ninguém será recolhido à prisão, sem que seja exibido desde que o executor, fazendo-se conhecer do réu, Ihe apresente o
o mandado ao respectivo diretor ou carcereiro, a quem será entre- mandado e o intime a acompanhá-lo.
gue cópia assinada pelo executor ou apresentada a guia expedida Art. 292. Se houver, ainda que por parte de terceiros, resistên-
pela autoridade competente, devendo ser passado recibo da entre- cia à prisão em flagrante ou à determinada por autoridade compe-
ga do preso, com declaração de dia e hora. tente, o executor e as pessoas que o auxiliarem poderão usar dos
Parágrafo único. O recibo poderá ser passado no próprio exem- meios necessários para defender-se ou para vencer a resistência, do
plar do mandado, se este for o documento exibido. que tudo se lavrará auto subscrito também por duas testemunhas.
Art. 289. Quando o acusado estiver no território nacional, fora Parágrafo único. É vedado o uso de algemas em mulheres grá-
da jurisdição do juiz processante, será deprecada a sua prisão, de- vidas durante os atos médico-hospitalares preparatórios para a
vendo constar da precatória o inteiro teor do mandado. realização do parto e durante o trabalho de parto, bem como em
§ 1o Havendo urgência, o juiz poderá requisitar a prisão por mulheres durante o período de puerpério imediato. (Redação dada
qualquer meio de comunicação, do qual deverá constar o motivo da pela Lei nº 13.434, de 2017)
prisão, bem como o valor da fiança se arbitrada. Art. 293. Se o executor do mandado verificar, com segurança,
§ 2o A autoridade a quem se fizer a requisição tomará as pre- que o réu entrou ou se encontra em alguma casa, o morador será
cauções necessárias para averiguar a autenticidade da comunica- intimado a entregá-lo, à vista da ordem de prisão. Se não for obe-
ção. decido imediatamente, o executor convocará duas testemunhas e,
§ 3o O juiz processante deverá providenciar a remoção do pre- sendo dia, entrará à força na casa, arrombando as portas, se pre-
so no prazo máximo de 30 (trinta) dias, contados da efetivação da ciso; sendo noite, o executor, depois da intimação ao morador, se
medida. não for atendido, fará guardar todas as saídas, tornando a casa
Art. 289-A. O juiz competente providenciará o imediato regis- incomunicável, e, logo que amanheça, arrombará as portas e efe-
tro do mandado de prisão em banco de dados mantido pelo Conse- tuará a prisão.
lho Nacional de Justiça para essa finalidade. Parágrafo único. O morador que se recusar a entregar o réu
§ 1o Qualquer agente policial poderá efetuar a prisão deter- oculto em sua casa será levado à presença da autoridade, para que
minada no mandado de prisão registrado no Conselho Nacional se proceda contra ele como for de direito.
de Justiça, ainda que fora da competência territorial do juiz que o Art. 294. No caso de prisão em flagrante, observar-se-á o dis-
posto no artigo anterior, no que for aplicável.
expediu.
Art. 295. Serão recolhidos a quartéis ou a prisão especial, à dis-
§ 2o Qualquer agente policial poderá efetuar a prisão decreta-
posição da autoridade competente, quando sujeitos a prisão antes
da, ainda que sem registro no Conselho Nacional de Justiça, ado-
de condenação definitiva:
tando as precauções necessárias para averiguar a autenticidade do
I - os ministros de Estado;
mandado e comunicando ao juiz que a decretou, devendo este pro-
II - os governadores ou interventores de Estados ou Territórios,
videnciar, em seguida, o registro do mandado na forma do caput
o prefeito do Distrito Federal, seus respectivos secretários, os prefei-
deste artigo.
tos municipais, os vereadores e os chefes de Polícia;
§ 3o A prisão será imediatamente comunicada ao juiz do local
III - os membros do Parlamento Nacional, do Conselho de Eco-
de cumprimento da medida o qual providenciará a certidão extraí-
nomia Nacional e das Assembleias Legislativas dos Estados;
da do registro do Conselho Nacional de Justiça e informará ao juízo IV - os cidadãos inscritos no “Livro de Mérito”;
que a decretou. V – os oficiais das Forças Armadas e os militares dos Estados,
§ 4o O preso será informado de seus direitos, nos termos do do Distrito Federal e dos Territórios;
inciso LXIII do art. 5o da Constituição Federal e, caso o autuado não VI - os magistrados;
informe o nome de seu advogado, será comunicado à Defensoria VII - os diplomados por qualquer das faculdades superiores da
Pública. República;
§ 5o Havendo dúvidas das autoridades locais sobre a legitimida- VIII - os ministros de confissão religiosa;
de da pessoa do executor ou sobre a identidade do preso, aplica-se IX - os ministros do Tribunal de Contas;
o disposto no § 2o do art. 290 deste Código. X - os cidadãos que já tiverem exercido efetivamente a função
§ 6o O Conselho Nacional de Justiça regulamentará o registro de jurado, salvo quando excluídos da lista por motivo de incapaci-
do mandado de prisão a que se refere o caput deste artigo. dade para o exercício daquela função;
Art. 290. Se o réu, sendo perseguido, passar ao território de XI - os delegados de polícia e os guardas-civis dos Estados e
outro município ou comarca, o executor poderá efetuar-lhe a prisão Territórios, ativos e inativos.
no lugar onde o alcançar, apresentando-o imediatamente à autori- § 1o A prisão especial, prevista neste Código ou em outras leis,
dade local, que, depois de lavrado, se for o caso, o auto de flagran- consiste exclusivamente no recolhimento em local distinto da prisão
te, providenciará para a remoção do preso. comum.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
§ 2o Não havendo estabelecimento específico para o preso es- B) Em seguida, procederá a autoridade competente à oitiva das
pecial, este será recolhido em cela distinta do mesmo estabeleci- testemunhas que o acompanharem e ao interrogatório do acusado
mento. sobre a imputação que lhe é feita, colhendo, após cada oitiva, suas
§ 3o A cela especial poderá consistir em alojamento coletivo, respectivas assinaturas, lavrando a autoridade, ao final, o auto (art.
atendidos os requisitos de salubridade do ambiente, pela concor- 304, caput, parte final, CPP);
rência dos fatores de aeração, insolação e condicionamento térmi- C) A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontrem se-
co adequados à existência humana. rão comunicados imediatamente ao juiz competente, ao Ministério
§ 4o O preso especial não será transportado juntamente com o Público e à família do preso ou à pessoa por ele indicada (art. 306,
preso comum. caput, CPP);
§ 5o Os demais direitos e deveres do preso especial serão os D) Resultando das respostas às perguntas feitas ao acusado
mesmos do preso comum. fundada suspeita contra o conduzido, a autoridade mandará reco-
Art. 296. Os inferiores e praças de pré, onde for possível, serão lhê-lo à prisão, exceto no caso de livrar-se solto ou de prestar fian-
recolhidos à prisão, em estabelecimentos militares, de acordo com ça, e prosseguirá nos atos do processo ou inquérito se para isso for
os respectivos regulamentos. competente (se não o for, enviará os autos à autoridade que o seja)
Art. 297. Para o cumprimento de mandado expedido pela auto- (art. 304, §1º, CPP);
ridade judiciária, a autoridade policial poderá expedir tantos outros E) A falta de testemunhas da infração não impedirá o auto de
quantos necessários às diligências, devendo neles ser fielmente re- prisão em flagrante, mas, nesse caso, com o condutor deverão as-
produzido o teor do mandado original. siná-lo ao menos duas pessoas que tenham testemunhado a apre-
Art. 298 - (Revogado). sentação do preso à autoridade (art. 304, §2º, CPP). Quando o acu-
Art. 299. A captura poderá ser requisitada, à vista de mandado sado se recusar a assinar, não souber ou não puder fazê-lo, o auto
judicial, por qualquer meio de comunicação, tomadas pela autori- de prisão em flagrante será assinado por duas testemunhas que te-
dade, a quem se fizer a requisição, as precauções necessárias para nham ouvido sua leitura na presença deste (art. 304, §3º, CPP). Na
averiguar a autenticidade desta. falta ou no impedimento do escrivão, qualquer pessoa designada
Art. 300. As pessoas presas provisoriamente ficarão separadas pela autoridade lavrará o auto, depois de prestado o compromisso
das que já estiverem definitivamente condenadas, nos termos da lei legal (art. 305, CPP);
de execução penal. F) Em até vinte e quatro horas após a realização da prisão, será
Parágrafo único. O militar preso em flagrante delito, após a encaminhado ao juiz competente o auto de prisão em flagrante, e
lavratura dos procedimentos legais, será recolhido a quartel da ins- caso o autuado não informe o nome de seu advogado, será enca-
tituição a que pertencer, onde ficará preso à disposição das autori- minhada cópia integral deste auto para a Defensoria Pública (art.
dades competentes. 306, §1º, CPP);
E) No mesmo
Prisão em flagrante prazo de vinte e quatro horas, será entregue ao preso, median-
A prisão em flagrante consiste numa medida de autodefesa da te recibo, a nota de culpa, assinada pela autoridade, com o motivo
sociedade, caracterizada pela privação da liberdade de locomoção da prisão, o nome do condutor e o das testemunhas (art. 306, §2º,
daquele que é surpreendido em situação de flagrância, indepen- CPP);
dentemente de prévia autorização judicial. A própria Constituição F) Ao receber o auto de prisão em flagrante, juntamente com
Federal autoriza a prisão em flagrante, em seu art. 5º, LXI, o qual o próprio detido, haverá a audiência de custódia (Res. 213/2015,
afirma que “ninguém será preso senão em flagrante delito...” CNJ) e, posteriormente, o juiz deverá fundamentadamente poderá
A expressão “flagrante” deriva do latim “flagrare”, que signifi- relaxar a prisão ilegal, ou converter a prisão em flagrante em pre-
ca “queimar”, “arder”. Isso serve para demonstrar que o delito em ventiva (quando presentes os requisitos do art. 312, do Código de
flagrante é o delito que está “ardendo”, “queimando”, “que acaba Processo Penal, e quando se revelarem inadequadas as medidas
de acontecer”. cautelares diversas da prisão), ou conceder liberdade provisória
Por isso, qualquer do povo poderá, e as autoridades policiais e com ou sem fiança (art. 310, CPP);
seus agentes deverão prender quem quer que seja encontrado em G) Se o juiz verificar pelo auto que o agente praticou o fato
flagrante delito. em estado de necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento
do dever legal, ou exercício regular de um direito (todos previstos
Funções da prisão em flagrante no art. 23, do Código Penal), poderá, fundamentadamente, conce-
São elas: der ao acusado liberdade provisória, mediante termo de compare-
A) Evitar a fuga do infrator; cimento a todos os atos processuais, sob pena de revogação (art.
B) Auxiliar na colheita de elementos probatórios; 310, parágrafo único, CPP).
C) Impedir a consumação ou o exaurimento do delito. Não havendo autoridade no lugar em que se tiver efetuado a
prisão, o preso será apresentado à prisão do lugar mais próximo
Procedimento do flagrante (art. 308, CPP).
O procedimento da prisão em flagrante está essencialmente Por fim, se o réu se livrar solto, deverá ser posto em liberdade,
descrito entre os art. 304 e 310, do Código de Processo Penal: depois de lavrado o “APF” (auto de prisão em flagrante) (art. 309,
A) Apresentado o preso à autoridade competente, ouvirá esta CPP).
o condutor e colherá, desde logo, sua assinatura, entregando a este
cópia do termo e recibo de entrega do preso (art. 304, caput, pri- Espécies/modalidades de flagrante.
meira parte, CPP); Vejamos a classificação feita pela doutrina:
A) Flagrante obrigatório. É aquele que se aplica às autoridades
policiais e seus agentes, que têm o dever de efetuar a prisão em
flagrante;

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
B) Flagrante facultativo. É aquele efetuado por qualquer pes- não era possível (já que não havia flagrante: foi o agente quem se
soa do povo, embora não seja o indivíduo obrigado a prender em apresentou à autoridade policial, e não a autoridade policial que foi
flagrante, caso isso ameace sua segurança e sua integridade; no encalço do agente), o que não obstava, contudo, a decretação
C) Flagrante próprio (ou flagrante perfeito) (ou flagrante ver- de prisão preventiva.
dadeiro). É aquele que ocorre se o agente é preso quando está co- Com a Lei nº 12.403/11, tal dispositivo foi suprimido, causando
metendo a infração ou acaba de cometê-la. Sua previsão está nos alguma divergência doutrinária acerca da possibilidade de se pren-
incisos I e II, do art. 302, do Código de Processo Penal; der em flagrante ou não em caso de livre apresentação por parte do
D) Flagrante impróprio (ou flagrante imperfeito) (ou “quase acusado. Apesar de inexistir qualquer entendimento doutrinário/
flagrante”). É aquele que o ocorre se o agente é perseguido, logo jurisprudencial consolidado, até agora tem prevalecido a ideia de
após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa, em que a apresentação espontânea continua impedindo a prisão em
situação que se faça presumir ser ele autor da infração. Sua pre- flagrante.
visão está no terceiro inciso, do art. 302, do Diploma Processual
Penal. CAPÍTULO II
Vale lembrar que não há um prazo pré-determinado para esta DA PRISÃO EM FLAGRANTE
perseguição, desde que ela seja contínua, ininterrupta. Assim, pode
um agente ser perseguido por vinte e quatro horas após a prática Art. 301. Qualquer do povo poderá e as autoridades policiais e
delitiva, p. ex., e ainda assim ser autuado em flagrante; seus agentes deverão prender quem quer que seja encontrado em
E) Flagrante presumido (ou flagrante ficto). É aquele que ocor- flagrante delito.
re se o agente é encontrado, logo depois do crime, com instrumen- Art. 302. Considera-se em flagrante delito quem:
tos, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele o autor da I - está cometendo a infração penal;
infração. Sua previsão está no art. 302, IV, CPP; II - acaba de cometê-la;
F) Flagrante preparado (ou “crime de ensaio”) (ou delito puta- III - é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou
tivo por obra do agente provocador). A autoridade policial instiga o por qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser autor da
indivíduo a cometer o crime, apenas para prendê-lo em flagrante. infração;
O entendimento jurisprudencial, contudo, é no sentido de que esta IV - é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, obje-
espécie de flagrante não é válida, por se tratar de crime impossível. tos ou papéis que façam presumir ser ele autor da infração.
Neste sentido, há até mesmo a Súmula nº 145, do Supremo Tribu- Art. 303. Nas infrações permanentes, entende-se o agente em
nal Federal, segundo a qual não há crime quando a preparação do flagrante delito enquanto não cessar a permanência.
flagrante pela polícia torna impossível a sua consumação; Art. 304. Apresentado o preso à autoridade competente, ou-
G) Flagrante esperado. Aqui, a autoridade policial sabe que virá esta o condutor e colherá, desde logo, sua assinatura, entre-
o delito vai acontecer, independentemente de instigá-lo ou não, gando a este cópia do termo e recibo de entrega do preso. Em se-
e, portanto, se limita a esperar o início da prática do delito, para guida, procederá à oitiva das testemunhas que o acompanharem
efetuar a prisão em flagrante. Trata-se de modalidade de flagrante e ao interrogatório do acusado sobre a imputação que lhe é feita,
perfeitamente válida, apesar de entendimento minoritário que o colhendo, após cada oitiva suas respectivas assinaturas, lavrando,
considera inválido pelos mesmos motivos do flagrante preparado; a autoridade, afinal, o auto.
H) Flagrante forjado (ou flagrante fabricado) (ou flagrante ma- § 1o Resultando das respostas fundada a suspeita contra o con-
quiado). É o flagrante “plantado” pela autoridade policial (ex.: a au- duzido, a autoridade mandará recolhê-lo à prisão, exceto no caso
toridade policial coloca drogas nos objetos pessoais do investigado de livrar-se solto ou de prestar fiança, e prosseguirá nos atos do
somente para prendê-lo em flagrante). inquérito ou processo, se para isso for competente; se não o for,
I) Flagrante prorrogado (ou “ação controlada”) (ou flagrante enviará os autos à autoridade que o seja.
protelado). A autoridade policial retarda sua intervenção, para que § 2o A falta de testemunhas da infração não impedirá o auto de
o faça no momento mais oportuno sob o ponto de vista da colheita prisão em flagrante; mas, nesse caso, com o condutor, deverão as-
de provas. Sua legalidade depende de previsão legal. Atualmente, siná-lo pelo menos duas pessoas que hajam testemunhado a apre-
encontra-se na Lei nº 12.850/13 (“Nova Lei das Organizações Crimi- sentação do preso à autoridade.
nosas”) e na Lei nº 11.343/06 (“Lei de Drogas”). § 3o Quando o acusado se recusar a assinar, não souber ou não
Na Lei nº 12.850/13, em seu art. 3º, III, a ação controlada é per- puder fazê-lo, o auto de prisão em flagrante será assinado por duas
mitida em qualquer fase da persecução penal, porém ao contrário testemunhas, que tenham ouvido sua leitura na presença deste.
do previsto pela revogada Lei nº 9.034/95, devem ser observados § 4º Da lavratura do auto de prisão em flagrante deverá cons-
alguns requisitos para o procedimento, tais como: comunicar sigilo- tar a informação sobre a existência de filhos, respectivas idades e
samente a ação ao juiz competente que, se for o caso, estabelecerá se possuem alguma deficiência e o nome e o contato de eventual
os limites desta e comunicará ao Ministério Público; até o encer- responsável pelos cuidados dos filhos, indicado pela pessoa presa.
ramento da diligência, o acesso aos autos será restrito ao juiz, ao (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
Ministério Público e ao delegado de polícia, como forma de garantir Art. 305. Na falta ou no impedimento do escrivão, qualquer
o êxito das investigações e ao término da diligência, elaborar-se-á pessoa designada pela autoridade lavrará o auto, depois de presta-
auto circunstanciado acerca da ação controlada. Outrossim, na Lei do o compromisso legal.
nº 11.343/06, em seu art. 53, II, a ação controlada é possível, desde Art. 306. A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre
que haja autorização judicial, ouvido o Ministério Público. serão comunicados imediatamente ao juiz competente, ao Ministé-
rio Público e à família do preso ou à pessoa por ele indicada.
Apresentação espontânea do acusado § 1o Em até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da pri-
Antes de tal diploma normativo, o art. 317, CPP, previa que a são, será encaminhado ao juiz competente o auto de prisão em fla-
apresentação espontânea do acusado à autoridade não impediria grante e, caso o autuado não informe o nome de seu advogado,
a decretação da prisão preventiva. Ou seja, a prisão em flagrante cópia integral para a Defensoria Pública.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
§ 2o No mesmo prazo, será entregue ao preso, mediante recibo, ventiva de ofício também durante as investigações, o que era bas-
a nota de culpa, assinada pela autoridade, com o motivo da prisão, tante criticado pela doutrina garantista, uma vez que agindo assim
o nome do condutor e os das testemunhas. poderia deixar de ser imparcial no momento de julgar a ação).
Art. 307. Quando o fato for praticado em presença da auto- Assim, no nosso regime democrático, as funções são distintas e
ridade, ou contra esta, no exercício de suas funções, constarão do bem definidas: um acusa, outro defende e o terceiro julga.
auto a narração deste fato, a voz de prisão, as declarações que fizer Pressupostos da prisão preventiva
o preso e os depoimentos das testemunhas, sendo tudo assinado Há se distinguir os “pressupostos” dos “motivos ensejadores”
pela autoridade, pelo preso e pelas testemunhas e remetido imedia- da prisão. São pressupostos:
tamente ao juiz a quem couber tomar conhecimento do fato delitu- A) Prova da existência do crime. É o chamado “fumus comissi
oso, se não o for a autoridade que houver presidido o auto. delicti”;
Art. 308. Não havendo autoridade no lugar em que se tiver B) Indícios suficientes de autoria. É o chamado “periculum li-
efetuado a prisão, o preso será logo apresentado à do lugar mais bertatis”.
próximo.
Art. 309. Se o réu se livrar solto, deverá ser posto em liberdade, Chama-se a atenção, preliminarmente, que o processualismo
depois de lavrado o auto de prisão em flagrante. penal exige “prova da existência do crime”, mas se contenta com
Art. 310. Após receber o auto de prisão em flagrante, no prazo “indícios suficientes de autoria”. Desta maneira, desde que haja um
máximo de até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da pri- contexto probatório maciço acerca dos fatos, dispensa-se a certeza
são, o juiz deverá promover audiência de custódia com a presença acerca da autoria, mesmo porque, em termos práticos, caso fique
do acusado, seu advogado constituído ou membro da Defensoria realmente comprovada, a autoria só o ficará, de fato, quando de
Pública e o membro do Ministério Público, e, nessa audiência, o juiz um eventual decreto condenatório definitivo.
deverá, fundamentadamente: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de No mais, há se ter em mente que, para que se decrete a prisão
2019) preventiva de alguém, basta um dos motivos ensejadores da prisão
I - relaxar a prisão ilegal; ou preventiva, mas os dois pressupostos devem estar necessariamente
II - converter a prisão em flagrante em preventiva, quando pre- previstos cumulativamente. Então, sempre deve haver, obrigatoria-
sentes os requisitos constantes do art. 312 deste Código, e se reve- mente, os dois pressupostos (existência do crime e indícios de auto-
larem inadequadas ou insuficientes as medidas cautelares diversas ria), mais ao menos um motivo ensejador (ou a garantia da ordem
da prisão; ou pública, ou a garantia da ordem econômica, ou o asseguramento
III - conceder liberdade provisória, com ou sem fiança. da aplicação da lei penal, ou a conveniência da instrução criminal,
§ 1º Se o juiz verificar, pelo auto de prisão em flagrante, que o ou o descumprimento de qualquer das medidas cautelares diversas
agente praticou o fato em qualquer das condições constantes dos da prisão).
incisos I, II ou III do caput do art. 23 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7
de dezembro de 1940 (Código Penal), poderá, fundamentadamen-
Motivos da prisão preventiva
te, conceder ao acusado liberdade provisória, mediante termo de
Eles estão no art. 312, do Código de Processo Penal, e devem
comparecimento obrigatório a todos os atos processuais, sob pena
ser conjugadas com a prova da existência do crime e indício sufi-
de revogação. (Renumerado do parágrafo único pela Lei nº 13.964,
ciente de autoria. A saber:
de 2019)
A) Para garantia da ordem pública. É o risco considerável de
§ 2º Se o juiz verificar que o agente é reincidente ou que integra
reiteração de ações delituosas, em virtude da periculosidade do
organização criminosa armada ou milícia, ou que porta arma de
agente. Necessidade de afastamento do convívio social.
fogo de uso restrito, deverá denegar a liberdade provisória, com
O “clamor social” causado pelo delito autoriza à decretação de
ou sem medidas cautelares. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
prisão preventiva por “garantia da ordem pública”? Prevalece que
§ 3º A autoridade que deu causa, sem motivação idônea, à não
realização da audiência de custódia no prazo estabelecido no caput sim, pois, do contrário, se o indivíduo for mantido solto, há risco de
deste artigo responderá administrativa, civil e penalmente pela caírem as autoridades judiciais e policiais em descrédito para com
omissão. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) a sociedade;
§ 4º Transcorridas 24 (vinte e quatro) horas após o decurso B) Para garantia da ordem econômica. Trata-se do risco de rei-
do prazo estabelecido no caput deste artigo, a não realização de teração delituosa, porém relacionado com crimes contra a ordem
audiência de custódia sem motivação idônea ensejará também a econômica. A inserção deste motivo (na verdade, uma espécie da
ilegalidade da prisão, a ser relaxada pela autoridade competente, garantia da ordem pública) se deu pelo art. 84, da Lei nº 8.884/94
sem prejuízo da possibilidade de imediata decretação de prisão pre- (“Lei Antitruste”);
ventiva. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) C) Por conveniência da instrução criminal. Visa-se impedir que
o agente perturbe a livre produção probatória. O objetivo, pois, é
Prisão preventiva proteger o processo, as provas a que o Estado persecutor ainda não
Em qualquer fase da investigação policial ou do processo pe- teve acesso, e os agentes (como testemunhas, p. ex.) que podem
nal, caberá a prisão preventiva decretada pelo juiz, a requerimento auxiliar no deslinde da lide;
do Ministério Público, do querelante ou do assistente, ou por re- D) Para assegurar a aplicação da lei penal. Se ficar demons-
presentação da autoridade policial. (art. 311, CPP). trado concretamente que o acusado pretende fugir, p. ex., invia-
De antemão já se pode observar que à autoridade judicial é bilizando futura e eventual execução da pena, impõe-se a prisão
vedada a decretação de prisão preventiva de ofício na fase do in- preventiva por este motivo;
quérito policial (isso é novidade da Lei nº 12.403, já que antes desta E) Em caso de descumprimento de qualquer das medidas cau-
previa-se legalmente a possibilidade de decretar o juiz prisão pre- telares diversas da prisão. As “medidas cautelares diversas da pri-
são” são novidade no processo penal, e foram trazidas pela Lei nº
12.403/2011.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
F) Em caso de perigo gerado pelo estado de liberdade do im- CAPÍTULO III
putado, veio com a Lei 13.964/2019. DA PRISÃO PREVENTIVA

Hipóteses em que se admite prisão preventiva Art. 311. Em qualquer fase da investigação policial ou do pro-
São elas, de acordo com o art. 312, CPP: cesso penal, caberá a prisão preventiva decretada pelo juiz, de ofí-
A) Nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade cio, se no curso da ação penal, ou a requerimento do Ministério
máxima superior a 4 (quatro) anos (inciso I); Público, do querelante ou do assistente, ou por representação da
B) Se o agente tiver sido condenado por outro crime doloso, autoridade policial.
em sentença transitada em julgado, ressalvado o disposto no art.
64, I, do Código Penal (configuração do período depurador) (inciso Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como ga-
II); rantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência
C) Se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal,
mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com defici- quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de
ência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência autoria e de perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado.
(inciso III); (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
D) Quando houver dúvidas sobre a identidade civil da pessoa § 1º A prisão preventiva também poderá ser decretada em caso
ou quando esta não fornecer elementos suficientes para esclare- de descumprimento de qualquer das obrigações impostas por força
cê-la (neste caso, o preso deve imediatamente ser posto em liber- de outras medidas cautelares (art. 282, § 4°). (Redação dada pela
dade após a identificação, salvo de outra hipótese recomendar a Lei nº 13.964, de 2019)
manutenção da medida) (parágrafo único). § 2º A decisão que decretar a prisão preventiva deve ser mo-
tivada e fundamentada em receio de perigo e existência concreta
Revogação da prisão preventiva de fatos novos ou contemporâneos que justifiquem a aplicação da
medida adotada. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
Isso é possível se, no transcorrer do processo, verificar a au-
Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a
toridade judicial a falta de motivo para que subsista a prisão pre-
decretação da prisão preventiva:
ventiva. Assim, em sentido contrário, também poder decretá-la se
I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade
sobrevierem razões que a justifiquem.
máxima superior a 4 (quatro) anos;
De toda forma, a decisão que decretar, substituir ou denegar a
II - se tiver sido condenado por outro crime doloso, em sentença
prisão preventiva será sempre motivada e fundamentada, nos ter-
transitada em julgado, ressalvado o disposto no inciso I do caput do
mos dos parágrafos dos artigos 315, CPP..
art. 64 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código
Penal;
Recurso de decisão acerca da prisão preventiva
III - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a
Conforme o art. 581, V, CPP, se o juiz de primeiro grau indeferir
mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com defici-
requerimento de prisão preventiva ou revogar a medida colocando
ência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência;
o agente em liberdade, caberá recurso em sentido estrito.
IV - (Revogado).
Uma questão que fica em zona nebulosa diz respeito à revoga-
§ 1º Também será admitida a prisão preventiva quando houver
ção de prisão preventiva em prol de uma medida cautelar diversa
dúvida sobre a identidade civil da pessoa ou quando esta não for-
da prisão. Há quem diga que a lógica é mesma das hipóteses acima
necer elementos suficientes para esclarecê-la, devendo o preso ser
vistas que desafiam recurso em sentido estrito, por importarem
colocado imediatamente em liberdade após a identificação, salvo
maior grau de liberdade ao agente, o que denotaria o manejo de tal
se outra hipótese recomendar a manutenção da medida. (Redação
instrumento. Por outro lado, há quem entenda que tal decisão seja
dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
irrecorrível por ausência de previsão legal expressa. Não há qual-
§ 2º Não será admitida a decretação da prisão preventiva com
quer entendimento consolidado sobre o tema.
a finalidade de antecipação de cumprimento de pena ou como de-
De toda maneira, há se observar que o recurso em sentido es-
corrência imediata de investigação criminal ou da apresentação ou
trito somente será cabível caso se indefira o requerimento de pre-
recebimento de denúncia. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
ventiva (caso o requerimento seja deferido não há previsão recur-
Art. 314. A prisão preventiva em nenhum caso será decretada
sal), ou caso se revogue a medida (caso a medida seja mantida não
se o juiz verificar pelas provas constantes dos autos ter o agente
há previsão recursal).
praticado o fato nas condições previstas nos incisos I, II e III do caput
do art. 23 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Có-
Substituição da prisão preventiva pela prisão domiciliar
digo Penal.
O art. 317, da Lei Processual, inovou (graças à Lei nº 12.403/11)
Art. 315. A decisão que decretar, substituir ou denegar a prisão
ao disciplinar que a prisão domiciliar consiste no recolhimento do
preventiva será sempre motivada e fundamentada. (Redação dada
indiciado em sua residência, só podendo dela ausentar-se com au-
pela Lei nº 13.964, de 2019)
torização judicial. Trata-se de medida humanitária a ser tomada
§ 1º Na motivação da decretação da prisão preventiva ou de
em situações especiais, desde que se comprove a real existência
qualquer outra cautelar, o juiz deverá indicar concretamente a exis-
da excepcionalidade (parágrafo único, do art. 318, do Código de
tência de fatos novos ou contemporâneos que justifiquem a aplica-
Processo Penal).
ção da medida adotada. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 2º Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial,
seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que: (Incluído pela Lei
nº 13.964, de 2019)

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
I - limitar-se à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato D) Proibição de ausentar-se da Comarca, quando a permanên-
normativo, sem explicar sua relação com a causa ou a questão de- cia seja conveniente ou necessária para a investigação/instrução
cidida; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) (inciso IV);
II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar E) Recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de
o motivo concreto de sua incidência no caso; (Incluído pela Lei nº folga quando o investigado ou acusado tenha residência e trabalho
13.964, de 2019) fixos (inciso V);
III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer ou- F) Suspensão do exercício de função pública ou de atividade de
tra decisão; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) natureza econômica ou financeira quando houver justo receio de
IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo sua utilização para a prática de infrações penais (inciso VI);
capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador; G) Internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) praticados com violência ou grave ameaça, quando os peritos con-
V - limitar-se a invocar precedente ou enunciado de súmula, cluírem ser inimputável ou semi-imputável e houver risco de reite-
sem identificar seus fundamentos determinantes nem demonstrar ração (inciso VII);
que o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos; (Incluí- H) Fiança, nas infrações penais que a admitem, para assegurar
do pela Lei nº 13.964, de 2019) o comparecimento a atos do processo, evitar a obstrução de seu
VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou andamento ou em caso de resistência injustificada à ordem judicial
precedente invocado pela parte, sem demonstrar a existência de (inciso VIII);
distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento. I) Monitoração eletrônica (inciso IX). Tal medida já havia sido
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) trazida para o âmbito da execução penal, pela Lei nº 12.258/10, e,
Art. 316. O juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes, re- agora, também o foi para o prisma processual.
vogar a prisão preventiva se, no correr da investigação ou do pro-
cesso, verificar a falta de motivo para que ela subsista, bem como O art. 310, II, CPP, fornece um “norte” para a aplicação de me-
novamente decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem. didas cautelares diversas da prisão. De acordo com tal dispositivo,
(Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) o juiz, ao receber o auto de prisão em flagrante, deverá converter
Parágrafo único. Decretada a prisão preventiva, deverá o ór- esta prisão em preventiva, se presentes os requisitos do art. 312,
gão emissor da decisão revisar a necessidade de sua manutenção a CPP, e se revelarem inadequadas as medidas cautelares diversas
cada 90 (noventa) dias, mediante decisão fundamentada, de ofício, da prisão.
sob pena de tornar a prisão ilegal. (Incluído pela Lei nº 13.964, de Isso somente demonstra que, seguindo tendência iniciada na
2019) execução penal, de aprisionamento corporal via pena privativa de
liberdade somente quando estritamente necessário, também as-
Medidas cautelares diversas da prisão sim passa a acontecer no ambiente processual, o que retira da pri-
Antes do advento da Lei nº 12.403/11, as únicas opções cabí- são preventiva grande poder de atuação ao se prevê-la, apenas, em
veis na seara processual eram o aprisionamento cautelar do acu- último caso. Assim, atualmente, primeiro o juiz verifica se é caso de
sado ou a concessão de liberdade provisória, em dois extremos liberdade provisória pura e simples; depois, se é caso de liberdade
antagonicamente opostos que desconsideravam hipóteses em que provisória com medida cautelar diversa da prisão; depois, se é caso
nem a liberdade e nem o aprisionamento cautelar eram as medidas de liberdade provisória mais a cumulação de medidas cautelares di-
mais adequadas. Em razão disso, após o advento da “Nova Lei de versas da prisão; e, apenas por último, se é caso de aprisionamento
Prisões”, inúmeras opções são conferidas no vácuo deixado entre o processual.
claustro e a liberdade, opções estas conhecidas por “medidas cau- Assim, toda e qualquer decisão exarada pela autoridade judi-
telares diversas da prisão”. cial quanto ao tema “prisões processuais” deve ser fundamentada.
Os requisitos para fixação das medidas cautelares estão previs- Ao juiz compete decretar prisão preventiva fundamentadamente;
tas no art. 282 do CPP, sendo estes: ao juiz compete conceder liberdade provisória fundamentadamen-
- Necessidade para aplicação da lei penal, para a investigação te; ao juiz compete decretar medida cautelar diversa da prisão
ou a instrução criminal e, nos casos expressamente previstos, para fundamentadamente; ao juiz compete converter a medida caute-
evitar a prática de infrações penais; lar diversa da prisão em outra medida cautelar diversa da prisão
- Adequação da medida à gravidade do crime, circunstâncias fundamentadamente; ao juiz compete converter a medida cautelar
do fato e condições pessoais do indiciado ou acusado. diversa da prisão em prisão processual fundamentadamente.
Neste diapasão, outra questão que merece ser analisada diz
Medidas cautelares diversas da prisão em espécie respeito à possibilidade de cumulação de medidas cautelares di-
Elas estão no art. 319, do CPP, e são inovação trazida pela Lei versas da prisão.
Ora, pode ser que, num determinado caso concreto, apenas
nº 12.403/2011 São elas:
uma medida cautelar não surta efeito, e, ainda assim, não seja o
A) Comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condi-
caso de se impor prisão processual ao acusado. Nesta hipótese, é
ções fixadas pelo juiz, para informar e justificar atividades (inciso I);
perfeitamente passível de se decretar mais de uma medida cautelar
B) Proibição de acesso ou frequência a determinados lugares
diversa da prisão. É o caso da proibição de acesso a determinados
quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado
lugares (art. 319, II) e a determinação de comparecimento periódi-
ou acusado permanecer distante destes locais para evitar o risco de
co em juízo (art. 319, I), como exemplo, ou da suspensão do exer-
novas infrações (inciso II);
cício da função pública (art. 319, VI) e da proibição de ausentar-se
C) Proibição de manter contato com pessoa determinada
da Comarca (art. 319, IV), como outro exemplo, ou da monitora-
quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, dela o indiciado
ção eletrônica (art. 319, IX) e da fiança (art. 319, VIII), como último
ou acusado deva permanecer distante (inciso III); exemplo. Tudo depende, insiste-se, da necessidade da medida, e da
devida fundamentação feita pela autoridade policial.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
CAPÍTULO IV Liberdade provisória, com ou sem fiança
DA PRISÃO DOMICILIAR Ausentes os requisitos que autorizam a decretação da prisão
preventiva ou de medida(s) cautelar(es) diversa(s) da prisão, o juiz
Art. 317. A prisão domiciliar consiste no recolhimento do indi- deverá conceder ao acusado liberdade provisória. Trata-se de ga-
ciado ou acusado em sua residência, só podendo dela ausentar-se rantia assegurada constitucionalmente, no art. 5º, LXVI, da Cons-
com autorização judicial. tituição Federal, segundo o qual ninguém será levado à prisão ou
Art. 318. Poderá o juiz substituir a prisão preventiva pela domi- nela mantido quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou
ciliar quando o agente for: sem fiança.
I - maior de 80 (oitenta) anos; São, tradicionalmente, três as espécies de liberdade provisória,
II - extremamente debilitado por motivo de doença grave; a saber, a obrigatória, a permitida, e a vedada:
III - imprescindível aos cuidados especiais de pessoa menor de 6 A) Liberdade provisória obrigatória. O entendimento preva-
(seis) anos de idade ou com deficiência; lente na doutrina, atualmente, é o de que a liberdade provisória
IV - gestante; (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016) concedida ao acusado que “se livra solto” foi revogada pela Lei nº
V - mulher com filho de até 12 (doze) anos de idade incomple- 12.403/11, já que, após tal conjunto normativo, não mais é a liber-
tos; (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) dade provisória mera medida de contracautela à imposição de pri-
VI - homem, caso seja o único responsável pelos cuidados do são preventiva, podendo ser o caso atualmente, portanto, de liber-
filho de até 12 (doze) anos de idade incompletos. (Incluído pela Lei dade provisória juntamente ou não com medida cautelar diversa
nº 13.257, de 2016) da prisão. Mesmo porque, o art. 321, CPP, que previa esta hipótese
Parágrafo único. Para a substituição, o juiz exigirá prova idô- em que o acusado “se livrava solto” foi revogado, tendo sido subs-
nea dos requisitos estabelecidos neste artigo. tituído por redação absolutamente diferente da anterior. Assim,
conforme entendimento doutrinário prevalente, a “liberdade pro-
CAPÍTULO V visória obrigatória” foi suprimida pelo advento da Lei nº 12.403/11;
DAS OUTRAS MEDIDAS CAUTELARES B) Liberdade provisória permitida. Se não for o caso da conver-
são da prisão em flagrante em preventiva por estarem presentes
Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão: os requisitos de tal prisão processual (art. 310, II, CPP), ou, se não
I - comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condi- houver hipótese que enseje a determinação de prisão preventiva
ções fixadas pelo juiz, para informar e justificar atividades; por si só (art. 321, CPP), ou se o juiz verificar que o indivíduo prati-
II - proibição de acesso ou frequência a determinados lugares cou o fato em excludente de ilicitude/culpabilidade (art. 310, pará-
quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado grafo único, CPP), é permitido à autoridade judicial a concessão de
ou acusado permanecer distante desses locais para evitar o risco de liberdade provisória, cumulada ou não com as medidas cautelares
novas infrações; diversas da prisão;
III - proibição de manter contato com pessoa determinada C) Liberdade provisória vedada. O entendimento prevalente da
quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado doutrina e da jurisprudência, mesmo antes da Lei nº 12.403/11, é o
ou acusado dela permanecer distante; de que a liberdade provisória não pode ser vedada, admita ou não
IV - proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanên- o delito fiança, e, ainda, independentemente do que diz o diploma
cia seja conveniente ou necessária para a investigação ou instrução; legal. Isto ficou ainda mais clarividente com a “Nova Lei de Prisões”,
V - recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de de maneira que, atualmente, é possível liberdade provisória com
folga quando o investigado ou acusado tenha residência e trabalho fiança, liberdade provisória sem fiança, liberdade provisória com a
fixos; cumulação de medida cautelar, liberdade provisória sem a cumu-
VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade lação de medida cautelar, liberdade provisória mediante o cumpri-
de natureza econômica ou financeira quando houver justo receio de mento de obrigações, e liberdade provisória sem o cumprimento de
sua utilização para a prática de infrações penais; obrigações.
VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes
praticados com violência ou grave ameaça, quando os peritos con- Recurso em sede de liberdade provisória
cluírem ser inimputável ou semi-imputável (art. 26 do Código Penal) Consoante o art. 581, V, do Código de Processo Penal, a deci-
e houver risco de reiteração; são que conceder liberdade provisória desafia recurso em sentido
VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o estrito. Já a decisão que negar tal instituto é irrecorrível, podendo
comparecimento a atos do processo, evitar a obstrução do seu an- ser combatida pela via do habeas corpus, que não é recurso, mas
damento ou em caso de resistência injustificada à ordem judicial; meio autônomo de impugnação.
IX - monitoração eletrônica.
§ 1º ao §3º (Revogados). Fiança
§ 4o A fiança será aplicada de acordo com as disposições do A fiança é instituto que teve seu âmbito de aplicação reforçado
Capítulo VI deste Título, podendo ser cumulada com outras medidas e ampliado pela Lei nº 12.403/11, seja através de sua permissão
cautelares. para delitos que antes não a permitiam, seja através de sua exis-
Art. 320. A proibição de ausentar-se do País será comunicada tência como medida cautelar diversa da prisão, seja como condicio-
pelo juiz às autoridades encarregadas de fiscalizar as saídas do ter- nante ou não da concessão de liberdade provisória.
ritório nacional, intimando-se o indiciado ou acusado para entregar Em regra, a fiança é requerida à autoridade judicial, que deci-
o passaporte, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas. dirá em quarenta e oito horas (art. 322, parágrafo único, do Código
de Processo Penal).
A autoridade policial somente poderá conceder fiança nos ca-
sos de infração cuja pena privativa de liberdade máxima não seja
superior a quatro anos (art. 322, caput, CPP).

231
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
De acordo com os arts. 323 e 324, do Código de Processo Pe- B) Reduzida até o máximo de dois terços (inciso II);
nal, não será concedida fiança: C) Aumentada em até mil vezes (inciso III).
A) Nos crimes de racismo (art. 323, inciso I). Segue-se, aqui, o
art. 5º, XLII, da Constituição Federal; Destinação da Fiança
B) Nos crimes de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e dro- Assim que paga o valor arbitrado pela fiança o juiz irá tomar as
gas afins, terrorismo e nos definidos como crimes hediondos (art. seguintes providências:
323, inciso II). Segue-se, aqui, o art. 5º, XLIII, da Constituição Fede- A) Pagamento de custas;
ral; B) Indenização do dano;
C) Nos crimes cometidos por grupos armados, civis ou milita- C) Pagamento de prestação pecuniária;
res, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático (art. 323, D) Pagamento de multa;
inciso III). Segue-se, aqui, o art. 5º, XLIV, da Constituição Federal; E) Remanescente será devolvido.
D) Aos que, no mesmo processo, tiverem quebrado fiança an-
teriormente concedida ou infringido, sem motivo justo, qualquer Objeto da Fiança
das obrigações a que se referem os arts. 327 e 328 do Código de A) Depósito em dinheiro;
Processo Penal (art. 324, inciso I); B) Pedras, objetos ou metais preciosos;
E) Em caso de prisão civil ou militar (art. 324, inciso II); C) Títulos da dívida pública;
F) Quando presentes os motivos que autorizam a decretação D) Hipoteca de imóvel.
da prisão preventiva (art. 312) (art. 324, inciso III);
G) Art. 3º, da Lei nº 9.613/98 (“Lei de Lavagem de Capitais”). Perda da fiança
Tal dispositivo preceitua que os crimes previstos na “Lei de Lava- Se o acusado, condenado, não comparecer para o início do
gem de Capitais” são insuscetíveis de fiança; cumprimento da pena privativa de liberdade definitivamente im-
H) Art. 31, da Lei nº 7.492/86 (“Lei de Crimes contra o Sistema posta, independentemente do regime, a fiança será dada por per-
Financeiro”). Tal dispositivo afirma que os crimes previstos nesta dida. Neste caso, consoante o art. 345, da Lei Processual, o seu va-
lei, e apenados com reclusão, não serão passíveis de fiança se pre- lor, deduzidas as custas e demais encargos a que o acusado estiver
sentes os motivos ensejadores da prisão preventiva. obrigado, será recolhido ao fundo penitenciário.
Da decisão que julga perdida a fiança cabe recurso em sentido
Valor da fiança estrito (art. 581, VII, CPP).
Para determinar o valor da fiança, a autoridade terá em con-
sideração a natureza da infração, as condições pessoais de fortuna Cassação da fiança
e vida pregressa do acusado, as circunstâncias indicativas de sua A fiança a ser cassada, como regra, é aquela concedida equivo-
periculosidade, bem como a importância provável das custas do cadamente (ex.: foi concedida fiança ao réu mesmo tendo ele prati-
processo, até final julgamento (art. 326, CPP). cado crime hediondo). Apenas o Poder Judiciário pode determinar
Neste diapasão, de acordo com o art. 325, da Lei Processual a cassação, de ofício ou a requerimento da parte.
Penal, o valor da fiança será fixado pela autoridade que a conceder Ademais, caso haja inovação na tipificação delitiva, e o novo
nos seguintes limites: tipo vede fiança outrora concedida, também é caso de sua cassa-
A) De um a cem salários mínimos, quando se tratar de infração ção.
cuja pena privativa de liberdade, no grau máximo, não for superior Da decisão que julga cassada a fiança cabe recurso em sentido
a quatro anos (inciso I); estrito (art. 581, V, CPP).
B) De dez a duzentos salários mínimos, quando o máximo da
pena privativa de liberdade cominada for superior a quatro anos Reforço da fiança
(inciso II). Trata-se de um implemento à fiança outrora prestada, seja
porque o foi de maneira insuficiente, seja porque ocorreu nova ti-
Vale lembrar que, de acordo com o art. 330, do Código de Pro- pificação do delito fazendo-se mister a elevação de seu valor, seja
cesso Penal, a fiança será sempre definitiva, e consistirá em depósi- porque ocorreu o perecimento de bens hipotecados, seja porque
to de dinheiro, pedras, objetos ou metais preciosos, títulos da dívida ocorreu a depreciação de pedras/metais/objetos preciosos. Se tal
pública (federal, estadual ou municipal), ou em hipoteca inscrita em reforço não for realizado, a fiança será julgada sem efeito (fiança
primeiro lugar. A avaliação de imóvel ou de pedras/objetos/metais inidônea).
preciosos será feita por perito nomeado pela autoridade. Quando a Da decisão que julga sem efeito a fiança cabe recurso em sen-
fiança consistir em caução de títulos da dívida pública, o valor será tido estrito (art. 581, V, CPP).
determinado pela sua cotação em Bolsa.
CAPÍTULO VI
DA LIBERDADE PROVISÓRIA, COM OU SEM FIANÇA
Dispensa/redução/aumento da fiança
Se assim recomendar a situação econômica do preso, a fiança
Art. 321. Ausentes os requisitos que autorizam a decretação
poderá ser (primeiro parágrafo, do art. 325, CPP): da prisão preventiva, o juiz deverá conceder liberdade provisória,
A) Dispensada, na forma do art. 350 deste Código (inciso I). impondo, se for o caso, as medidas cautelares previstas no art. 319
Neste caso, o juiz analisa a capacidade econômica do acusado e, deste Código e observados os critérios constantes do art. 282 deste
verificando ser esta baixa, concede-lhe a liberdade provisória e o Código.
sujeita às condições dos arts. 327 e 328, CPP. Vale lembrar que essa Art. 322. A autoridade policial somente poderá conceder fiança
“prova de capacidade econômica” pode ser feita de qualquer ma- nos casos de infração cuja pena privativa de liberdade máxima não
neira, e, uma vez demonstrada, prevalece não ser mera discricio- seja superior a 4 (quatro) anos.
nariedade do magistrado concedê-la, mas sim direito subjetivo do Parágrafo único. Nos demais casos, a fiança será requerida ao
beneficiário; juiz, que decidirá em 48 (quarenta e oito) horas.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Art. 323. Não será concedida fiança: Parágrafo único. Nos lugares em que o depósito não se puder
I - nos crimes de racismo; fazer de pronto, o valor será entregue ao escrivão ou pessoa abona-
II - nos crimes de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e dro- da, a critério da autoridade, e dentro de três dias dar-se-á ao valor
gas afins, terrorismo e nos definidos como crimes hediondos; o destino que Ihe assina este artigo, o que tudo constará do termo
III - nos crimes cometidos por grupos armados, civis ou milita- de fiança.
res, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático; Art. 332. Em caso de prisão em flagrante, será competente para
Art. 324. Não será, igualmente, concedida fiança: conceder a fiança a autoridade que presidir ao respectivo auto, e,
I - aos que, no mesmo processo, tiverem quebrado fiança ante- em caso de prisão por mandado, o juiz que o houver expedido, ou
riormente concedida ou infringido, sem motivo justo, qualquer das a autoridade judiciária ou policial a quem tiver sido requisitada a
obrigações a que se referem os arts. 327 e 328 deste Código; prisão.
II - em caso de prisão civil ou militar; Art. 333. Depois de prestada a fiança, que será concedida inde-
III - (Revogado). pendentemente de audiência do Ministério Público, este terá vista
IV - quando presentes os motivos que autorizam a decretação do processo a fim de requerer o que julgar conveniente.
da prisão preventiva (art. 312). Art. 334. A fiança poderá ser prestada enquanto não transitar
Art. 325. O valor da fiança será fixado pela autoridade que a em julgado a sentença condenatória.
conceder nos seguintes limites: Art. 335. Recusando ou retardando a autoridade policial a con-
I - de 1 (um) a 100 (cem) salários mínimos, quando se tratar de cessão da fiança, o preso, ou alguém por ele, poderá prestá-la, me-
infração cuja pena privativa de liberdade, no grau máximo, não for diante simples petição, perante o juiz competente, que decidirá em
superior a 4 (quatro) anos; 48 (quarenta e oito) horas.
II - de 10 (dez) a 200 (duzentos) salários mínimos, quando o Art. 336. O dinheiro ou objetos dados como fiança servirão ao
máximo da pena privativa de liberdade cominada for superior a 4 pagamento das custas, da indenização do dano, da prestação pecu-
(quatro) anos. niária e da multa, se o réu for condenado.
§ 1o Se assim recomendar a situação econômica do preso, a Parágrafo único. Este dispositivo terá aplicação ainda no caso
fiança poderá ser: da prescrição depois da sentença condenatória (art. 110 do Código
I - dispensada, na forma do art. 350 deste Código; Penal).
II - reduzida até o máximo de 2/3 (dois terços); ou Art. 337. Se a fiança for declarada sem efeito ou passar em jul-
III - aumentada em até 1.000 (mil) vezes. gado sentença que houver absolvido o acusado ou declarada extin-
Art. 326. Para determinar o valor da fiança, a autoridade terá ta a ação penal, o valor que a constituir, atualizado, será restituído
em consideração a natureza da infração, as condições pessoais de sem desconto, salvo o disposto no parágrafo único do art. 336 deste
fortuna e vida pregressa do acusado, as circunstâncias indicativas Código.
de sua periculosidade, bem como a importância provável das custas Art. 338. A fiança que se reconheça não ser cabível na espécie
do processo, até final julgamento. será cassada em qualquer fase do processo.
Art. 327. A fiança tomada por termo obrigará o afiançado a Art. 339. Será também cassada a fiança quando reconhecida a
comparecer perante a autoridade, todas as vezes que for intimado existência de delito inafiançável, no caso de inovação na classifica-
para atos do inquérito e da instrução criminal e para o julgamento. ção do delito.
Quando o réu não comparecer, a fiança será havida como quebra- Art. 340. Será exigido o reforço da fiança:
da. I - quando a autoridade tomar, por engano, fiança insuficiente;
Art. 328. O réu afiançado não poderá, sob pena de quebra- II - quando houver depreciação material ou perecimento dos
mento da fiança, mudar de residência, sem prévia permissão da bens hipotecados ou caucionados, ou depreciação dos metais ou
autoridade processante, ou ausentar-se por mais de 8 (oito) dias pedras preciosas;
de sua residência, sem comunicar àquela autoridade o lugar onde III - quando for inovada a classificação do delito.
será encontrado. Parágrafo único. A fiança ficará sem efeito e o réu será reco-
Art. 329. Nos juízos criminais e delegacias de polícia, haverá um lhido à prisão, quando, na conformidade deste artigo, não for re-
livro especial, com termos de abertura e de encerramento, numera- forçada.
do e rubricado em todas as suas folhas pela autoridade, destinado Art. 341. Julgar-se-á quebrada a fiança quando o acusado:
especialmente aos termos de fiança. O termo será lavrado pelo es- I - regularmente intimado para ato do processo, deixar de com-
crivão e assinado pela autoridade e por quem prestar a fiança, e parecer, sem motivo justo;
dele extrair-se-á certidão para juntar-se aos autos. II - deliberadamente praticar ato de obstrução ao andamento
Parágrafo único. O réu e quem prestar a fiança serão pelo escri- do processo;
vão notificados das obrigações e da sanção previstas nos arts. 327 III - descumprir medida cautelar imposta cumulativamente
e 328, o que constará dos autos. com a fiança;
Art. 330. A fiança, que será sempre definitiva, consistirá em IV - resistir injustificadamente a ordem judicial;
depósito de dinheiro, pedras, objetos ou metais preciosos, títulos V - praticar nova infração penal dolosa.
da dívida pública, federal, estadual ou municipal, ou em hipoteca Art. 342. Se vier a ser reformado o julgamento em que se de-
inscrita em primeiro lugar. clarou quebrada a fiança, esta subsistirá em todos os seus efeitos
§ 1o A avaliação de imóvel, ou de pedras, objetos ou metais Art. 343. O quebramento injustificado da fiança importará na
preciosos será feita imediatamente por perito nomeado pela au- perda de metade do seu valor, cabendo ao juiz decidir sobre a impo-
toridade. sição de outras medidas cautelares ou, se for o caso, a decretação
§ 2o Quando a fiança consistir em caução de títulos da dívida da prisão preventiva.
pública, o valor será determinado pela sua cotação em Bolsa, e, sen- Art. 344. Entender-se-á perdido, na totalidade, o valor da fian-
do nominativos, exigir-se-á prova de que se acham livres de ônus. ça, se, condenado, o acusado não se apresentar para o início do
Art. 331. O valor em que consistir a fiança será recolhido à re- cumprimento da pena definitivamente imposta.
partição arrecadadora federal ou estadual, ou entregue ao deposi-
tário público, juntando-se aos autos os respectivos conhecimentos.

233
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Art. 345. No caso de perda da fiança, o seu valor, deduzidas Um terceiro entendimento defende que é necessária a presen-
as custas e mais encargos a que o acusado estiver obrigado, será ça dos três requisitos conjuntamente.
recolhido ao fundo penitenciário, na forma da lei. Um quarto entendimento diz que é necessária a presença dos
Art. 346. No caso de quebramento de fiança, feitas as deduções três requisitos, mais as situações previstas no art. 312, do Código de
previstas no art. 345 deste Código, o valor restante será recolhido Processo Penal, o qual regula a prisão preventiva.
ao fundo penitenciário, na forma da lei. Não há um entendimento prevalente, todavia.
Art. 347. Não ocorrendo a hipótese do art. 345, o saldo será
entregue a quem houver prestado a fiança, depois de deduzidos os Prazo da prisão temporária
encargos a que o réu estiver obrigado. De acordo com o art. 2º, da Lei nº 7.960/89, o prazo da prisão
Art. 348. Nos casos em que a fiança tiver sido prestada por temporária é de 5 (cinco) dias, prorrogável por igual período em
meio de hipoteca, a execução será promovida no juízo cível pelo caso de comprovada e extrema necessidade.
órgão do Ministério Público.
Art. 349. Se a fiança consistir em pedras, objetos ou metais pre- Agora, se o crime for hediondo ou equiparado, o parágrafo
ciosos, o juiz determinará a venda por leiloeiro ou corretor. quarto, do art. 2º, da Lei nº 8.072/90 (popularmente conhecida por
Art. 350. Nos casos em que couber fiança, o juiz, verificando a “Lei dos Crimes Hediondos”), prevê que o prazo da prisão tempo-
situação econômica do preso, poderá conceder-lhe liberdade pro- rária será de 30 (trinta) dias, prorrogável por igual período em caso
visória, sujeitando-o às obrigações constantes dos arts. 327 e 328 de comprovada e extrema necessidade.
deste Código e a outras medidas cautelares, se for o caso.
Parágrafo único. Se o beneficiado descumprir, sem motivo jus- Procedimento da prisão temporária
to, qualquer das obrigações ou medidas impostas, aplicar-se-á o O procedimento está previsto nos arts. 2º e 3º, da Lei nº
disposto no § 4o do art. 282 deste Código. 7.960/89:
A) A prisão temporária não pode ser decretada de ofício pelo
Prisão temporária juiz, dependendo de representação da autoridade policial ou de re-
A prisão temporária é uma das espécies de prisão cautelar, querimento do Ministério Público (na hipótese de representação
mais apropriada para a fase preliminar ao processo, tendo vindo da autoridade policial, o juiz, antes de decidir, deverá ouvir o Mi-
como substitutiva da suspeita (e ilegal/inconstitucional) “prisão nistério Público);
para averiguações”. Embora não prevista no Código de Processo B) O despacho que decretar a prisão temporária deverá ser
Penal, a Lei nº 7.960/89 a regulamenta. fundamentado e prolatado dentro do prazo de vinte e quatro ho-
Esta lei tem origem na Medida Provisória nº 111/89, razão pela ras, contados a partir do recebimento da representação ou do re-
qual parcela minoritária da doutrina afirma ser tal lei inconstitucio- querimento;
nal, por não ser dado a Medidas Provisórias regulamentar prisões. C) O juiz poderá, de ofício ou a requerimento do Ministério Pú-
O Supremo Tribunal Federal, contudo (e é essa a posição absoluta- blico e do advogado, determinar que o preso lhe seja apresentado,
mente prevalente), tem entendimento de que a Lei nº 7.960/89 é solicitar informações e esclarecimentos da autoridade policial e
plenamente constitucional. submetê-lo a exame de corpo de delito;
Caberá prisão temporária, de acordo com o primeiro artigo, da D) Decretada a prisão temporária, se expedirá mandado de pri-
Lei nº 7.960/89: são (em duas vias), uma das quais será entregue ao indiciado e ser-
A) Quando esta for imprescindível para as investigações do in- virá como nota de culpa. Vale lembrar que a prisão somente poderá
quérito policial (inciso I); ser executada depois de expedido o mandado judicial (aqui reside a
B) Quando o indiciado não tiver residência fixa ou não fornecer principal diferença em relação à “prisão para averiguações”, extinta
elementos necessários ao esclarecimento de sua atividade (inciso pela Lei nº 7.960/89, em que a autoridade policial meramente re-
II); colhia o indivíduo ao claustro e se limitava a notificar a autoridade
C) Quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer judicial disso);
prova admitida na legislação penal, de autoria ou participação do E) Efetuada a prisão, a autoridade policial informará o preso
indiciado nos crimes de homicídio doloso (art. 121, caput e seu §2º, dos direitos previstos no art. 5º, da Constituição Federal (vale lem-
CP), sequestro ou cárcere privado (art. 148, caput, e seus §§1º e 2º, brar que os presos temporários deverão permanecer, obrigatoria-
CP), roubo (art. 157, caput, e seus §§1º, 2º e 3º, CP), extorsão (art. mente, separados dos demais detentos);
158, caput, e seus §§1º e 2º, CP), extorsão mediante sequestro (art. F) Decorrido o prazo de prisão temporária, o indivíduo deverá
159, caput, e seus §§1º, 2º e 3º, CP), estupro e atentado violento ser imediatamente posto em liberdade, salvo se tiver havido a con-
ao pudor (art. 213, caput, CP), epidemia com resultado de morte versão da medida em prisão preventiva.
(art. 267, §1º, CP), envenenamento de água potável ou substância
alimentícia ou medicinal qualificado pela morte (art. 270, caput, c.c.
Mandado de prisão
art. 285, CP), quadrilha ou bando (art. 288, CP), genocídio em qual-
É o instrumento emanado da autoridade competente para a
quer de suas formas típicas (arts. 1º, 2º e 3º, da Lei nº 2.889/56),
execução da prisão, prevista no artigo 285.
tráfico de drogas (art. 33, Lei nº 11.343/06), e crimes contra o siste-
ma financeiro (Lei nº 7.492/86) (inciso III).
LEI Nº 7.960, DE 21 DE DEZEMBRO DE 1989
Neste diapasão, uma pergunta que convém fazer é a seguinte:
quantos destes requisitos precisam estar presentes para se decre-
Dispõe sobre prisão temporária.
tar a prisão temporária? Há várias posições na doutrina.
Um primeiro entendimento defende que o requisito “C” deve O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o Congresso Na-
estar sempre presente, seja ao lado do requisito “A”, seja ao lado cional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
do requisito “B”. Ou seja, sempre devem estar presentes dois re- Art. 1° Caberá prisão temporária:
quisitos ao menos. I - quando imprescindível para as investigações do inquérito
Um segundo entendimento, mais radical, defende que basta a policial;
presença de apenas um requisito.

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234
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
II - quando o indicado não tiver residência fixa ou não fornecer § 8º Inclui-se o dia do cumprimento do mandado de prisão no
elementos necessários ao esclarecimento de sua identidade; cômputo do prazo de prisão temporária.(Redação dada pela Lei nº
III - quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer 13.869. de 2019)
prova admitida na legislação penal, de autoria ou participação do Art. 3° Os presos temporários deverão permanecer, obrigato-
indiciado nos seguintes crimes: riamente, separados dos demais detentos.
a) homicídio doloso(art. 121, caput, e seu § 2°); Art. 4° Oart. 4° da Lei n° 4.898, de 9 de dezembro de 1965,fica
b) sequestro ou cárcere privado(art. 148, caput, e seus §§ 1° acrescido da alínea i, com a seguinte redação:
e 2°); “Art. 4° ...............................................................
c) roubo(art. 157, caput, e seus §§ 1°, 2° e 3°); i) prolongar a execução de prisão temporária, de pena ou de
d) extorsão(art. 158, caput, e seus §§ 1° e 2°); medida de segurança, deixando de expedir em tempo oportuno ou
e) extorsão mediante sequestro(art. 159, caput, e seus §§ 1°, de cumprir imediatamente ordem de liberdade;”
2° e 3°); Art. 5° Em todas as comarcas e seções judiciárias haverá um
f) estupro(art. 213, caput, e sua combinação com oart. 223, plantão permanente de vinte e quatro horas do Poder Judiciário e
caput, e parágrafo único);(Vide Decreto-Lei nº 2.848, de 1940) do Ministério Público para apreciação dos pedidos de prisão tem-
g) atentado violento ao pudor(art. 214, caput, e sua combina- porária.
ção com oart. 223, caput, e parágrafo único);(Vide Decreto-Lei nº Art. 6° Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
2.848, de 1940) Art. 7° Revogam-se as disposições em contrário.
h) rapto violento(art. 219, e sua combinação com oart. 223
caput, e parágrafo único);(Vide Decreto-Lei nº 2.848, de 1940)
ALTERAÇÕES DA LEI Nº 12.403/2011
i) epidemia com resultado de morte(art. 267, § 1°);
j) envenenamento de água potável ou substância alimentícia
ou medicinal qualificado pela morte (art. 270, caput, combinado
com art. 285); LEI Nº 12.403, DE 4 DE MAIO DE 2011.
l) quadrilha ou bando(art. 288), todos do Código Penal;
m) genocídio(arts. 1°,2°e3° da Lei n° 2.889, de 1° de outubro de Altera dispositivos do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro
1956), em qualquer de sua formas típicas; de 1941 - Código de Processo Penal, relativos à prisão processual,
n) tráfico de drogas(art. 12 da Lei n° 6.368, de 21 de outubro fiança, liberdade provisória, demais medidas cautelares, e dá outras
de 1976); providências.
o) crimes contra o sistema financeiro (Lei n° 7.492, de 16 de
junho de 1986). A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Na-
p) crimes previstos na Lei de Terrorismo.(Incluído pela Lei nº cional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
13.260, de 2016)
Art. 1º Os arts. 282, 283, 289, 299, 300, 306, 310, 311, 312, 313,
Art. 2° A prisão temporária será decretada pelo Juiz, em face da 314, 315, 317, 318, 319, 320, 321, 322, 323, 324, 325, 334, 335, 336,
representação da autoridade policial ou de requerimento do Minis- 337, 341, 343, 344, 345, 346, 350 e 439 do Decreto-Lei nº 3.689, de
tério Público, e terá o prazo de 5 (cinco) dias, prorrogável por igual 3 de outubro de 1941 - Código de Processo Penal, passam a vigorar
período em caso de extrema e comprovada necessidade. com a seguinte redação:
§ 1° Na hipótese de representação da autoridade policial, o
Juiz, antes de decidir, ouvirá o Ministério Público. “ TÍTULO IX
§ 2° O despacho que decretar a prisão temporária deverá ser DA PRISÃO, DAS MEDIDAS CAUTELARES E DA LIBERDADE
fundamentado e prolatado dentro do prazo de 24 (vinte e quatro) PROVISÓRIA”
horas, contadas a partir do recebimento da representação ou do
requerimento. “Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título deverão
§ 3° O Juiz poderá, de ofício, ou a requerimento do Ministério ser aplicadas observando-se a:
Público e do Advogado, determinar que o preso lhe seja apresenta- I - necessidade para aplicação da lei penal, para a investigação
do, solicitar informações e esclarecimentos da autoridade policial e ou a instrução criminal e, nos casos expressamente previstos, para
submetê-lo a exame de corpo de delito. evitar a prática de infrações penais;
§ 4° Decretada a prisão temporária, expedir-se-á mandado de II - adequação da medida à gravidade do crime, circunstâncias
prisão, em duas vias, uma das quais será entregue ao indiciado e do fato e condições pessoais do indiciado ou acusado.
servirá como nota de culpa. § 1º As medidas cautelares poderão ser aplicadas isolada ou
§ 4º-A O mandado de prisão conterá necessariamente o perí- cumulativamente.
odo de duração da prisão temporária estabelecido no caput deste § 2º As medidas cautelares serão decretadas pelo juiz, de ofício
artigo, bem como o dia em que o preso deverá ser libertado.(Inclu- ou a requerimento das partes ou, quando no curso da investigação
ído pela Lei nº 13.869. de 2019) criminal, por representação da autoridade policial ou mediante re-
§ 5° A prisão somente poderá ser executada depois da expedi- querimento do Ministério Público.
ção de mandado judicial. § 3º Ressalvados os casos de urgência ou de perigo de inefi-
§ 6° Efetuada a prisão, a autoridade policial informará o preso cácia da medida, o juiz, ao receber o pedido de medida cautelar,
dos direitos previstos no art. 5° da Constituição Federal. determinará a intimação da parte contrária, acompanhada de cópia
§ 7º Decorrido o prazo contido no mandado de prisão, a au- do requerimento e das peças necessárias, permanecendo os autos
toridade responsável pela custódia deverá, independentemente em juízo.
de nova ordem da autoridade judicial, pôr imediatamente o preso
em liberdade, salvo se já tiver sido comunicada da prorrogação da
prisão temporária ou da decretação da prisão preventiva. (Incluído
pela Lei nº 13.869. de 2019)

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
§ 4º No caso de descumprimento de qualquer das obrigações Parágrafo único. Se o juiz verificar, pelo auto de prisão em fla-
impostas, o juiz, de ofício ou mediante requerimento do Ministé- grante, que o agente praticou o fato nas condições constantes dos
rio Público, de seu assistente ou do querelante, poderá substituir a incisos I a III do caput do art. 23 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de
medida, impor outra em cumulação, ou, em último caso, decretar a dezembro de 1940 - Código Penal, poderá, fundamentadamente,
prisão preventiva (art. 312, parágrafo único). conceder ao acusado liberdade provisória, mediante termo de com-
§ 5º O juiz poderá revogar a medida cautelar ou substituí-la parecimento a todos os atos processuais, sob pena de revogação.”
quando verificar a falta de motivo para que subsista, bem como vol- (NR)
tar a decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem. “Art. 311. Em qualquer fase da investigação policial ou do pro-
§ 6º A prisão preventiva será determinada quando não for ca- cesso penal, caberá a prisão preventiva decretada pelo juiz, de ofí-
bível a sua substituição por outra medida cautelar (art. 319).” (NR) cio, se no curso da ação penal, ou a requerimento do Ministério
“Art. 283. Ninguém poderá ser preso senão em flagrante deli- Público, do querelante ou do assistente, ou por representação da
to ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária autoridade policial.” (NR)
competente, em decorrência de sentença condenatória transitada “Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como ga-
em julgado ou, no curso da investigação ou do processo, em virtu- rantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência
de de prisão temporária ou prisão preventiva. (Vide ADC Nº 43) da instrução criminal, ou para assegurar a aplicação da lei penal,
(Vide ADC Nº 44) (Vide ADC Nº 54) quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de
§ 1º As medidas cautelares previstas neste Título não se apli- autoria.
cam à infração a que não for isolada, cumulativa ou alternativamen- Parágrafo único. A prisão preventiva também poderá ser decre-
te cominada pena privativa de liberdade. tada em caso de descumprimento de qualquer das obrigações im-
§ 2º A prisão poderá ser efetuada em qualquer dia e a qualquer postas por força de outras medidas cautelares (art. 282, § 4º ).” (NR)
hora, respeitadas as restrições relativas à inviolabilidade do domi- “Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a
cílio.” (NR) decretação da prisão preventiva:
“Art. 289. Quando o acusado estiver no território nacional, fora I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade
da jurisdição do juiz processante, será deprecada a sua prisão, de- máxima superior a 4 (quatro) anos;
vendo constar da precatória o inteiro teor do mandado. II - se tiver sido condenado por outro crime doloso, em sen-
§ 1º Havendo urgência, o juiz poderá requisitar a prisão por tença transitada em julgado, ressalvado o disposto no inciso I do
qualquer meio de comunicação, do qual deverá constar o motivo da caput do art. 64 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940
prisão, bem como o valor da fiança se arbitrada. - Código Penal;
§ 2º A autoridade a quem se fizer a requisição tomará as pre- III - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a
cauções necessárias para averiguar a autenticidade da comunica- mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com defici-
ção. ência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência;
§ 3º O juiz processante deverá providenciar a remoção do pre- IV - (revogado).
so no prazo máximo de 30 (trinta) dias, contados da efetivação da Parágrafo único. Também será admitida a prisão preventiva
medida.” (NR) quando houver dúvida sobre a identidade civil da pessoa ou quan-
“Art. 299. A captura poderá ser requisitada, à vista de mandado do esta não fornecer elementos suficientes para esclarecê-la, de-
judicial, por qualquer meio de comunicação, tomadas pela autori- vendo o preso ser colocado imediatamente em liberdade após a
dade, a quem se fizer a requisição, as precauções necessárias para identificação, salvo se outra hipótese recomendar a manutenção da
averiguar a autenticidade desta.” (NR) medida.” (NR)
“Art. 300. As pessoas presas provisoriamente ficarão separadas “Art. 314. A prisão preventiva em nenhum caso será decretada
das que já estiverem definitivamente condenadas, nos termos da lei se o juiz verificar pelas provas constantes dos autos ter o agente
de execução penal. praticado o fato nas condições previstas nos incisos I, II e III do caput
Parágrafo único. O militar preso em flagrante delito, após a la- do art. 23 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Có-
vratura dos procedimentos legais, será recolhido a quartel da insti- digo Penal.” (NR)
tuição a que pertencer, onde ficará preso à disposição das autorida- “Art. 315. A decisão que decretar, substituir ou denegar a pri-
des competentes.” (NR) são preventiva será sempre motivada.” (NR)
“Art. 306. A prisão de qualquer pessoa e o local onde se en-
contre serão comunicados imediatamente ao juiz competente, ao “CAPÍTULO IV
Ministério Público e à família do preso ou à pessoa por ele indicada. DA PRISÃO DOMICILIAR”
§ 1º Em até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da pri-
são, será encaminhado ao juiz competente o auto de prisão em fla- “Art. 317. A prisão domiciliar consiste no recolhimento do indi-
grante e, caso o autuado não informe o nome de seu advogado, ciado ou acusado em sua residência, só podendo dela ausentar-se
cópia integral para a Defensoria Pública. com autorização judicial.” (NR)
§ 2º No mesmo prazo, será entregue ao preso, mediante re- “Art. 318. Poderá o juiz substituir a prisão preventiva pela do-
cibo, a nota de culpa, assinada pela autoridade, com o motivo da miciliar quando o agente for:
prisão, o nome do condutor e os das testemunhas.” (NR) I - maior de 80 (oitenta) anos;
“Art. 310. Ao receber o auto de prisão em flagrante, o juiz de- II - extremamente debilitado por motivo de doença grave;
verá fundamentadamente: III - imprescindível aos cuidados especiais de pessoa menor de
I - relaxar a prisão ilegal; ou 6 (seis) anos de idade ou com deficiência;
II - converter a prisão em flagrante em preventiva, quando pre- IV - gestante a partir do 7º (sétimo) mês de gravidez ou sendo
sentes os requisitos constantes do art. 312 deste Código, e se reve- esta de alto risco.
larem inadequadas ou insuficientes as medidas cautelares diversas Parágrafo único. Para a substituição, o juiz exigirá prova idônea
da prisão; ou dos requisitos estabelecidos neste artigo.” (NR)
III - conceder liberdade provisória, com ou sem fiança.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
“CAPÍTULO V III - (revogado);
DAS OUTRAS MEDIDAS CAUTELARES” IV - quando presentes os motivos que autorizam a decretação
da prisão preventiva (art. 312).” (NR)
“Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão: “Art. 325. O valor da fiança será fixado pela autoridade que a
I - comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condi- conceder nos seguintes limites:
ções fixadas pelo juiz, para informar e justificar atividades; a) (revogada);
II - proibição de acesso ou frequência a determinados lugares b) (revogada);
quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado c) (revogada).
ou acusado permanecer distante desses locais para evitar o risco I - de 1 (um) a 100 (cem) salários mínimos, quando se tratar de
de novas infrações; infração cuja pena privativa de liberdade, no grau máximo, não for
III - proibição de manter contato com pessoa determinada superior a 4 (quatro) anos;
quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado II - de 10 (dez) a 200 (duzentos) salários mínimos, quando o
ou acusado dela permanecer distante; máximo da pena privativa de liberdade cominada for superior a 4
IV - proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanên- (quatro) anos.
cia seja conveniente ou necessária para a investigação ou instrução; § 1º Se assim recomendar a situação econômica do preso, a
V - recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de fiança poderá ser:
folga quando o investigado ou acusado tenha residência e trabalho I - dispensada, na forma do art. 350 deste Código;
fixos; II - reduzida até o máximo de 2/3 (dois terços); ou
VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade III - aumentada em até 1.000 (mil) vezes.
de natureza econômica ou financeira quando houver justo receio § 2º (Revogado):
de sua utilização para a prática de infrações penais; I - (revogado);
VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes II - (revogado);
praticados com violência ou grave ameaça, quando os peritos con- III - (revogado).” (NR)
cluírem ser inimputável ou semi-imputável (art. 26 do Código Penal) “Art. 334. A fiança poderá ser prestada enquanto não transitar
e houver risco de reiteração; em julgado a sentença condenatória.” (NR)
VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o “Art. 335. Recusando ou retardando a autoridade policial a
comparecimento a atos do processo, evitar a obstrução do seu an- concessão da fiança, o preso, ou alguém por ele, poderá prestá-la,
damento ou em caso de resistência injustificada à ordem judicial; mediante simples petição, perante o juiz competente, que decidirá
IX - monitoração eletrônica. em 48 (quarenta e oito) horas.” (NR)
§ 1º (Revogado). “Art. 336. O dinheiro ou objetos dados como fiança servirão ao
§ 2º (Revogado). pagamento das custas, da indenização do dano, da prestação pecu-
§ 3º (Revogado). niária e da multa, se o réu for condenado.
§ 4º A fiança será aplicada de acordo com as disposições do Ca- Parágrafo único. Este dispositivo terá aplicação ainda no caso
pítulo VI deste Título, podendo ser cumulada com outras medidas da prescrição depois da sentença condenatória (art. 110 do Código
cautelares.” (NR) Penal).” (NR)
“Art. 320. A proibição de ausentar-se do País será comunicada “Art. 337. Se a fiança for declarada sem efeito ou passar em jul-
pelo juiz às autoridades encarregadas de fiscalizar as saídas do ter- gado sentença que houver absolvido o acusado ou declarada extin-
ritório nacional, intimando-se o indiciado ou acusado para entregar ta a ação penal, o valor que a constituir, atualizado, será restituído
o passaporte, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas.” (NR) sem desconto, salvo o disposto no parágrafo único do art. 336 deste
“Art. 321. Ausentes os requisitos que autorizam a decretação Código.” (NR)
da prisão preventiva, o juiz deverá conceder liberdade provisória, “Art. 341. Julgar-se-á quebrada a fiança quando o acusado:
impondo, se for o caso, as medidas cautelares previstas no art. 319 I - regularmente intimado para ato do processo, deixar de com-
deste Código e observados os critérios constantes do art. 282 deste parecer, sem motivo justo;
Código. II - deliberadamente praticar ato de obstrução ao andamento
I - (revogado) do processo;
II - (revogado).” (NR) III - descumprir medida cautelar imposta cumulativamente
“Art. 322. A autoridade policial somente poderá conceder fian- com a fiança;
ça nos casos de infração cuja pena privativa de liberdade máxima IV - resistir injustificadamente a ordem judicial;
não seja superior a 4 (quatro) anos. V - praticar nova infração penal dolosa.” (NR)
Parágrafo único. Nos demais casos, a fiança será requerida ao “Art. 343. O quebramento injustificado da fiança importará na
juiz, que decidirá em 48 (quarenta e oito) horas.” (NR) perda de metade do seu valor, cabendo ao juiz decidir sobre a impo-
“Art. 323. Não será concedida fiança: sição de outras medidas cautelares ou, se for o caso, a decretação
I - nos crimes de racismo; da prisão preventiva.” (NR)
II - nos crimes de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e dro- “Art. 344. Entender-se-á perdido, na totalidade, o valor da fian-
gas afins, terrorismo e nos definidos como crimes hediondos; ça, se, condenado, o acusado não se apresentar para o início do
III - nos crimes cometidos por grupos armados, civis ou milita- cumprimento da pena definitivamente imposta.” (NR)
res, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático; “Art. 345. No caso de perda da fiança, o seu valor, deduzidas
IV - (revogado); as custas e mais encargos a que o acusado estiver obrigado, será
V - (revogado).” (NR) recolhido ao fundo penitenciário, na forma da lei.” (NR)
“Art. 324. Não será, igualmente, concedida fiança: “Art. 346. No caso de quebramento de fiança, feitas as dedu-
I - aos que, no mesmo processo, tiverem quebrado fiança ante- ções previstas no art. 345 deste Código, o valor restante será reco-
riormente concedida ou infringido, sem motivo justo, qualquer das lhido ao fundo penitenciário, na forma da lei.” (NR)
obrigações a que se referem os arts. 327 e 328 deste Código;
II - em caso de prisão civil ou militar;

237
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
“Art. 350. Nos casos em que couber fiança, o juiz, verificando a Atenção: A consequência deste princípio é que a acusação (Mi-
situação econômica do preso, poderá conceder-lhe liberdade pro- nistério Público) fica com o ônus de demonstrar a culpabilidade do
visória, sujeitando-o às obrigações constantes dos arts. 327 e 328 acusado. Ex. para a imposição de uma sentença condenatória é ne-
deste Código e a outras medidas cautelares, se for o caso. cessário provar, eliminando qualquer dúvida razoável (in dubio pro
Parágrafo único. Se o beneficiado descumprir, sem motivo jus- reo).
to, qualquer das obrigações ou medidas impostas, aplicar-se-á o
disposto no § 4º do art. 282 deste Código.” (NR) Súmula 444-STJ: É vedada a utilização de inquéritos policiais e
“Art. 439. O exercício efetivo da função de jurado constituirá ações penais em curso para agravar a pena-base.
serviço público relevante e estabelecerá presunção de idoneidade CUIDADO: O art. 283 do CPP, que exige o trânsito em julgado
moral.” (NR) da condenação para que se inicie o cumprimento da pena, é consti-
Art. 2º O Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 - Có- tucional, sendo compatível com o princípio da presunção de inocên-
digo de Processo Penal, passa a vigorar acrescido do seguinte art. cia, previsto no art. 5º, LVII, da CF/88.
289-A: Assim, é proibida a chamada “execução provisória da pena”.
“Art. 289-A. O juiz competente providenciará o imediato regis- Vale ressaltar que é possível que o réu seja preso antes do
tro do mandado de prisão em banco de dados mantido pelo Conse- trânsito em julgado (antes do esgotamento de todos os recursos),
lho Nacional de Justiça para essa finalidade. no entanto, para isso, é necessário que seja proferida uma decisão
§ 1º Qualquer agente policial poderá efetuar a prisão deter- judicial individualmente fundamentada, na qual o magistrado de-
minada no mandado de prisão registrado no Conselho Nacional de monstre que estão presentes os requisitos para a prisão preventiva
Justiça, ainda que fora da competência territorial do juiz que o ex- previstos no art. 312 do CPP.
pediu. Dessa forma, o réu até pode ficar preso antes do trânsito em
§ 2º Qualquer agente policial poderá efetuar a prisão decreta- julgado, mas cautelarmente (preventivamente), e não como execu-
da, ainda que sem registro no Conselho Nacional de Justiça, ado- ção provisória da pena.
tando as precauções necessárias para averiguar a autenticidade STF. Plenário. ADC 43/DF, ADC 44/DF e ADC 54/DF, Rel. Min.
do mandado e comunicando ao juiz que a decretou, devendo este Marco Aurélio, julgados em 7/11/2019 (Info 958).
providenciar, em seguida, o registro do mandado na forma do caput
deste artigo.
• Contraditório: Consiste no direito à informação e ao direito
§ 3º A prisão será imediatamente comunicada ao juiz do local
de participação. Ou seja, direito de receber citações e intimações;
de cumprimento da medida o qual providenciará a certidão extraí-
direito de participar e reagir, como, por exemplo, oferecer resposta
da do registro do Conselho Nacional de Justiça e informará ao juízo
à acusação, recorrer.
que a decretou.
Súmula 707 STF: Constitui nulidade a falta de intimação do
§ 4º O preso será informado de seus direitos, nos termos do
denunciado para oferecer contrarrazões ao recurso interposto da
inciso LXIII do art. 5º da Constituição Federal e, caso o autuado não
rejeição da denúncia, não a suprindo a nomeação de defensor da-
informe o nome de seu advogado, será comunicado à Defensoria
Pública. tivo.
§ 5º Havendo dúvidas das autoridades locais sobre a legitimi-
dade da pessoa do executor ou sobre a identidade do preso, aplica- • Ampla defesa: direito de se defender com todas as provas
-se o disposto no § 2º do art. 290 deste Código. admitidas em direito. Ex. interrogatório.
§ 6º O Conselho Nacional de Justiça regulamentará o registro Súmula 523 STF: No processo penal, a falta da defesa constitui
do mandado de prisão a que se refere o caput deste artigo.” nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se houver
Art. 3º Esta Lei entra em vigor 60 (sessenta) dias após a data de prova de prejuízo para o réu.
sua publicação oficial. A defesa técnica é exercida pelo advogado. É obrigatória na
Art. 4º São revogados o art. 298, o inciso IV do art. 313, os §§ 1º fase processual. A autodefesa é exercida pela própria parte. Com-
a 3º do art. 319, os incisos I e II do art. 321, os incisos IV e V do art. preende o direito de audiência (se apresentar ao juiz para defender-
323, o inciso III do art. 324, o § 2º e seus incisos I, II e III do art. 325 -se pessoalmente); direito de presença (acompanhar os atos de ins-
e os arts. 393 e 595, todos do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro trução ao lado do seu defensor); capacidade postulatória autônoma
de 1941 - Código de Processo Penal. (impetrar HC, ajuizar revisão criminal, formular pedidos relativos à
execução da pena).
Brasília, 4 de maio de 2011; 190º da Independência e 123º da
República. • Publicidade: o processo é público para que possa haver con-
trole da sociedade. Exceção: sigilo para a preservação do direito à
intimidade.
DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS APLICÁVEIS AO DIREI- Art. 5º (...) IX todos os julgamentos dos órgãos do Poder Ju-
TO PROCESSUAL PENAL diciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob
pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determi-
nados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a
— Princípios do Processo Penal estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade
O Direito Processual Penal se embasa em diversos princípios, do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à in-
que buscam evitar arbitrariedades estatais. Aqui vamos ter a opor- formação;
tunidade de conhecer a principal base principiológica processual
penal: • Princípio da busca da verdade: busca na reconstituição dos
• Presunção de Inocência: direito de não ser declarado culpa- fatos que aconteceram, mas sem a pretensão de se chegar à ver-
do até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória (fim dade real, pois essa utopia já justificou a tortura. São inadmissíveis
do devido processo legal). provas obtidas por meios ilícitos, para que seja evitado provar a
qualquer custo, por meio de ilegalidades e violações de direitos.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Veja os principais julgados sobre o assunto: • Princípio do juiz natural: ninguém será sentenciado por au-
Não é nula a condenação criminal lastreada em prova produ- toridade que não seja a competente, segundo regras abstratas de
zida no âmbito da Receita Federal do Brasil por meio da obtenção competência. O sentido desta violação é manter a imparcialidade
de informações de instituições financeiras sem prévia autorização do juízo e evitar o Tribunal de Exceção.
judicial de quebra do sigilo bancário. Isso porque o STF decidiu que Atente-se para o princípio do promotor natural, de manei-
são constitucionais os arts. 5º e 6º da LC 105/2001, que permitem ra que ninguém será PROCESSADO por autoridade que não seja a
o acesso direto da Receita Federal à movimentação financeira dos competente, segundo regras abstratas sobre as atribuições do Mi-
contribuintes. nistério Público.
STF. 2ª Turma. RHC 121429/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado Não viola o Princípio do Promotor Natural se o Promotor de
em 19/4/2016 (Info 822). Justiça que atua na vara criminal comum oferece denúncia contra
o acusado na vara do Tribunal do Júri e o Promotor que funciona
Se determinada prova é considerada ilícita, ela deverá ser de- neste juízo especializado segue com a ação penal, participando dos
sentranhada do processo. Por outro lado, as peças do processo que atos do processo até a pronúncia.
fazem referência a essa prova (exs: denúncia, pronúncia etc.) não No caso concreto, em um primeiro momento, entendeu-se que
devem ser desentranhadas e substituídas. a conduta não seria crime doloso contra a vida, razão pela qual os
A denúncia, a sentença de pronúncia e as demais peças judi- autos foram remetidos ao Promotor da vara comum. No entanto,
ciais não são “provas” do crime e, por essa razão, estão fora da re- mais para frente comprovou-se que, na verdade, tratava-se sim de
gra que determina a exclusão das provas obtidas por meios ilícitos crime doloso.
prevista art. 157 do CPP. Com isso, o Promotor que estava no exercício ofereceu a de-
Assim, a legislação, ao tratar das provas ilícitas e derivadas, não núncia e remeteu a ação imediatamente ao Promotor do Júri, que
determina a exclusão de “peças processuais” que a elas façam re- poderia, a qualquer momento, não a ratificar.
ferência. Configurou-se uma ratificação implícita da denúncia.
STF. 2ª Turma. RHC 137368/PR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julga- Não houve designação arbitrária ou quebra de autonomia.
do em 29/11/2016 (Info 849). STF. 1ª Turma.HC 114093/PR, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red.
p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 3/10/2017 (Info
O exame de corpo de delito deve ser realizado por perito oficial
880).
(art. 159 do CPP).
Do ponto de vista estritamente formal, o perito papiloscopista
É inconstitucional a nomeação de promotor ad hoc, isso por-
não se encontra previsto no art. 5º da Lei nº 12.030/2009, que lista
que, a CF traz preceito expresso (art. 129, § 2º) de exclusividade
os peritos oficiais de natureza criminal.
aos integrantes da carreira para o desempenho de qualquer função
Apesar disso, a perícia realizada por perito papiloscopista não
atinente ao Ministério Público, como o é a promoção da ação penal
pode ser considerada prova ilícita nem deve ser excluída do pro-
pública (art. 129, I, da CF). Ademais, a Constituição Federal garan-
cesso.
Os peritos papiloscopistas são integrantes de órgão público ofi- te ao indivíduo o direito de somente ser processado e julgado por
cial do Estado com diversas atribuições legais, sendo considerados órgão independente do Estado, vedando-se, por consequência, a
órgão auxiliar da Justiça. designação discricionária de particular para exercer o poder estatal
Não deve ser mantida decisão que determinava que, quando o da persecução penal.
réu fosse levado ao Plenário do Júri, o juiz-presidente deveria escla- STF. Plenário. ADI 2958, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em
recer aos jurados que os papiloscopistas – que realizaram o laudo 27/09/2019.
pericial – não são peritos oficiais. Esse esclarecimento retiraria a
neutralidade do conselho de sentença. Isso porque, para o jurado • Nemo tenetur se detegere (ninguém é obrigado a produzir
leigo, a afirmação, pelo juiz no sentido de que o laudo não é ofi- prova contra si mesmo): o acusado tem o direito de autopreservar-
cial equivale a tachar de ilícita a prova nele contida. Assim, cabe -se, o que faz parte da natureza humana, e, com isso, não produzir
às partes, respeitado o contraditório e a ampla defesa, durante o provas que vão levar à sua condenação. Ex. direito ao silêncio.
julgamento pelo tribunal do júri, defender a validade do documento Eventual irregularidade na informação acerca do direito de
ou impugná-lo. permanecer em silêncio é causa de nulidade relativa, cujo reconhe-
STF. 1ª Turma. HC 174400 AgR/DF, rel. orig. Min. Roberto Barro- cimento depende da alegação em tempo oportuno e da comprova-
so, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 24/9/2019 ção do prejuízo.
(Info 953). O simples fato de o réu ter sido condenado não pode ser consi-
derado como o prejuízo.
Os dados bancários entregues à autoridade fiscal pela socie- É o caso, por exemplo, da sentença que condena o réu funda-
dade empresária fiscalizada, após regular intimação e independen- mentando essa condenação não na confissão, mas sim no depoi-
temente de prévia autorização judicial, podem ser utilizados para mento das testemunhas, da vítima e no termo de apreensão do
subsidiar a instauração de inquérito policial para apurar suposta bem.
prática de crime contra a ordem tributária. STJ. 5ª Turma. RHC 61754/MS, Rel. Min. Reynaldo Soares da
STJ. 5ª Turma. RHC 66520-RJ, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em Fonseca, julgado em 25/10/2016.
2/2/2016 (Info 577). A falta do registro do direito ao silêncio não significa que este
não tenha sido comunicado ao interrogado, pois o registro não é
O fato de a interceptação telefônica ter visado elucidar outra exigido pela lei processual.
prática delituosa não impede a sua utilização em persecução crimi- Em outras palavras, não é porque não está escrito no termo
nal diversa por meio do compartilhamento da prova. de interrogatório que o interrogando foi advertido de que poderia
STF. 1ª Turma. HC 128102/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado ficar em silêncio que se irá, obrigatoriamente, declarar a nulidade
em 9/12/2015 (Info 811). do ato.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
STJ. 6ª Turma. RHC 65977/BA, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado Art. 65. Os atos processuais serão válidos sempre que preen-
em 10/03/2016. cherem as finalidades para as quais foram realizados, atendidos os
critérios indicados no art. 62 desta Lei.
A CF/88 determina que as autoridades estatais informem os § 1º Não se pronunciará qualquer nulidade sem que tenha ha-
presos que eles possuem o direito de permanecer em silêncio (art. vido prejuízo.
5º, LXIII). § 2º A prática de atos processuais em outras comarcas poderá
Esse alerta sobre o direito ao silêncio deve ser feito não apenas ser solicitada por qualquer meio hábil de comunicação.
pelo Delegado, durante o interrogatório formal, mas também pelos § 3º Serão objeto de registro escrito exclusivamente os atos
policiais responsáveis pela voz de prisão em flagrante. Isso porque havidos por essenciais. Os atos realizados em audiência de instru-
a todos os órgãos estatais impõe-se o dever de zelar pelos direitos ção e julgamento poderão ser gravados em fita magnética ou equi-
fundamentais. valente.
A falta da advertência quanto ao direito ao silêncio torna ilícita Art. 66. A citação será pessoal e far-se-á no próprio Juizado,
a prova obtida a partir dessa confissão. sempre que possível, ou por mandado.
STF. 2ª Turma. RHC 170843 AgR/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, Parágrafo único. Não encontrado o acusado para ser citado, o
julgado em 4/5/2021 (Info 1016). Juiz encaminhará as peças existentes ao Juízo comum para adoção
do procedimento previsto em lei.
Art. 67. A intimação far-se-á por correspondência, com aviso
JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS (CAPÍTULO III DA LEI de recebimento pessoal ou, tratando-se de pessoa jurídica ou firma
N° 9.099 /1995)
individual, mediante entrega ao encarregado da recepção, que será
obrigatoriamente identificado, ou, sendo necessário, por oficial de
justiça, independentemente de mandado ou carta precatória, ou
LEI Nº 9.099, DE 26 DE SETEMBRO DE 1995. ainda por qualquer meio idôneo de comunicação.
Parágrafo único. Dos atos praticados em audiência considerar-
Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais e dá ou- -se-ão desde logo cientes as partes, os interessados e defensores.
tras providências.
Art. 68. Do ato de intimação do autor do fato e do mandado de
citação do acusado, constará a necessidade de seu comparecimen-
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Na-
to acompanhado de advogado, com a advertência de que, na sua
cional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
falta, ser-lhe-á designado defensor público.
CAPÍTULO III
SEÇÃO II
DOS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS
DA FASE PRELIMINAR
DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 69. A autoridade policial que tomar conhecimento da
Art. 60. O Juizado Especial Criminal, provido por juízes toga- ocorrência lavrará termo circunstanciado e o encaminhará imedia-
dos ou togados e leigos, tem competência para a conciliação, o tamente ao Juizado, com o autor do fato e a vítima, providencian-
julgamento e a execução das infrações penais de menor potencial do-se as requisições dos exames periciais necessários.
ofensivo, respeitadas as regras de conexão e continência. (Redação Parágrafo único. Ao autor do fato que, após a lavratura do ter-
dada pela Lei nº 11.313, de 2006) mo, for imediatamente encaminhado ao juizado ou assumir o com-
Parágrafo único. Na reunião de processos, perante o juízo co- promisso de a ele comparecer, não se imporá prisão em flagrante,
mum ou o tribunal do júri, decorrentes da aplicação das regras de nem se exigirá fiança. Em caso de violência doméstica, o juiz poderá
conexão e continência, observar-se-ão os institutos da transação determinar, como medida de cautela, seu afastamento do lar, do-
penal e da composição dos danos civis. (Incluído pela Lei nº 11.313, micílio ou local de convivência com a vítima. (Redação dada pela Lei
de 2006) nº 10.455, de 13.5.2002))
Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial Art. 70. Comparecendo o autor do fato e a vítima, e não sendo
ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os possível a realização imediata da audiência preliminar, será desig-
crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, nada data próxima, da qual ambos sairão cientes.
cumulada ou não com multa. (Redação dada pela Lei nº 11.313, de Art. 71. Na falta do comparecimento de qualquer dos envolvi-
2006) dos, a Secretaria providenciará sua intimação e, se for o caso, a do
Art. 62. O processo perante o Juizado Especial orientar-se-á responsável civil, na forma dos arts. 67 e 68 desta Lei.
pelos critérios da oralidade, simplicidade, informalidade, econo- Art. 72. Na audiência preliminar, presente o representante do
mia processual e celeridade, objetivando, sempre que possível, a Ministério Público, o autor do fato e a vítima e, se possível, o res-
reparação dos danos sofridos pela vítima e a aplicação de pena não ponsável civil, acompanhados por seus advogados, o Juiz esclarece-
privativa de liberdade. (Redação dada pela Lei nº 13.603, de 2018) rá sobre a possibilidade da composição dos danos e da aceitação da
proposta de aplicação imediata de pena não privativa de liberdade.
SEÇÃO I Art. 73. A conciliação será conduzida pelo Juiz ou por concilia-
DA COMPETÊNCIA E DOS ATOS PROCESSUAIS dor sob sua orientação.
Parágrafo único. Os conciliadores são auxiliares da Justiça, re-
Art. 63. A competência do Juizado será determinada pelo lugar crutados, na forma da lei local, preferentemente entre bacharéis
em que foi praticada a infração penal. em Direito, excluídos os que exerçam funções na administração da
Art. 64. Os atos processuais serão públicos e poderão realizar- Justiça Criminal.
-se em horário noturno e em qualquer dia da semana, conforme Art. 74. A composição dos danos civis será reduzida a escrito e,
dispuserem as normas de organização judiciária. homologada pelo Juiz mediante sentença irrecorrível, terá eficácia
de título a ser executado no juízo civil competente.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Parágrafo único. Tratando-se de ação penal de iniciativa pri- audiência de instrução e julgamento, da qual também tomarão ci-
vada ou de ação penal pública condicionada à representação, o ência o Ministério Público, o ofendido, o responsável civil e seus
acordo homologado acarreta a renúncia ao direito de queixa ou advogados.
representação. § 1º Se o acusado não estiver presente, será citado na forma
Art. 75. Não obtida a composição dos danos civis, será dada dos arts. 66 e 68 desta Lei e cientificado da data da audiência de
imediatamente ao ofendido a oportunidade de exercer o direito de instrução e julgamento, devendo a ela trazer suas testemunhas ou
representação verbal, que será reduzida a termo. apresentar requerimento para intimação, no mínimo cinco dias an-
Parágrafo único. O não oferecimento da representação na au- tes de sua realização.
diência preliminar não implica decadência do direito, que poderá § 2º Não estando presentes o ofendido e o responsável civil,
ser exercido no prazo previsto em lei. serão intimados nos termos do art. 67 desta Lei para comparece-
Art. 76. Havendo representação ou tratando-se de crime de rem à audiência de instrução e julgamento.
ação penal pública incondicionada, não sendo caso de arquivamen- § 3º As testemunhas arroladas serão intimadas na forma pre-
to, o Ministério Público poderá propor a aplicação imediata de pena vista no art. 67 desta Lei.
restritiva de direitos ou multas, a ser especificada na proposta. Art. 79. No dia e hora designados para a audiência de instrução
§ 1º Nas hipóteses de ser a pena de multa a única aplicável, o e julgamento, se na fase preliminar não tiver havido possibilidade
Juiz poderá reduzi-la até a metade. de tentativa de conciliação e de oferecimento de proposta pelo Mi-
§ 2º Não se admitirá a proposta se ficar comprovado: nistério Público, proceder-se-á nos termos dos arts. 72, 73, 74 e 75
I - ter sido o autor da infração condenado, pela prática de cri- desta Lei.
me, à pena privativa de liberdade, por sentença definitiva; Art. 80. Nenhum ato será adiado, determinando o Juiz, quando
II - ter sido o agente beneficiado anteriormente, no prazo de imprescindível, a condução coercitiva de quem deva comparecer.
cinco anos, pela aplicação de pena restritiva ou multa, nos termos Art. 81. Aberta a audiência, será dada a palavra ao defensor
deste artigo; para responder à acusação, após o que o Juiz receberá, ou não, a
III - não indicarem os antecedentes, a conduta social e a perso- denúncia ou queixa; havendo recebimento, serão ouvidas a vítima
nalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, ser e as testemunhas de acusação e defesa, interrogando-se a seguir
necessária e suficiente a adoção da medida. o acusado, se presente, passando-se imediatamente aos debates
§ 3º Aceita a proposta pelo autor da infração e seu defensor, orais e à prolação da sentença.
será submetida à apreciação do Juiz. § 1º Todas as provas serão produzidas na audiência de instru-
§ 4º Acolhendo a proposta do Ministério Público aceita pelo ção e julgamento, podendo o Juiz limitar ou excluir as que conside-
autor da infração, o Juiz aplicará a pena restritiva de direitos ou rar excessivas, impertinentes ou protelatórias.
multa, que não importará em reincidência, sendo registrada ape- § 2º De todo o ocorrido na audiência será lavrado termo, as-
nas para impedir novamente o mesmo benefício no prazo de cinco sinado pelo Juiz e pelas partes, contendo breve resumo dos fatos
anos. relevantes ocorridos em audiência e a sentença.
§ 5º Da sentença prevista no parágrafo anterior caberá a ape- § 3º A sentença, dispensado o relatório, mencionará os ele-
lação referida no art. 82 desta Lei. mentos de convicção do Juiz.
§ 6º A imposição da sanção de que trata o § 4º deste artigo não Art. 82. Da decisão de rejeição da denúncia ou queixa e da sen-
constará de certidão de antecedentes criminais, salvo para os fins tença caberá apelação, que poderá ser julgada por turma composta
previstos no mesmo dispositivo, e não terá efeitos civis, cabendo de três Juízes em exercício no primeiro grau de jurisdição, reunidos
aos interessados propor ação cabível no juízo cível. na sede do Juizado.
§ 1º A apelação será interposta no prazo de dez dias, contados
SEÇÃO III da ciência da sentença pelo Ministério Público, pelo réu e seu de-
DO PROCEDIMENTO SUMARIÍSSIMO fensor, por petição escrita, da qual constarão as razões e o pedido
do recorrente.
Art. 77. Na ação penal de iniciativa pública, quando não hou- § 1º-A. Durante a audiência, todas as partes e demais sujeitos
ver aplicação de pena, pela ausência do autor do fato, ou pela não processuais presentes no ato deverão respeitar a dignidade da ví-
ocorrência da hipótese prevista no art. 76 desta Lei, o Ministério tima, sob pena de responsabilização civil, penal e administrativa,
Público oferecerá ao Juiz, de imediato, denúncia oral, se não hou- cabendo ao juiz garantir o cumprimento do disposto neste artigo,
ver necessidade de diligências imprescindíveis. vedadas: (Incluído pela Lei nº 14.245, de 2021)
§ 1º Para o oferecimento da denúncia, que será elaborada com I - a manifestação sobre circunstâncias ou elementos alheios
base no termo de ocorrência referido no art. 69 desta Lei, com dis-
aos fatos objeto de apuração nos autos; (Incluído pela Lei nº 14.245,
pensa do inquérito policial, prescindir-se-á do exame do corpo de
de 2021)
delito quando a materialidade do crime estiver aferida por boletim
II - a utilização de linguagem, de informações ou de material
médico ou prova equivalente.
que ofendam a dignidade da vítima ou de testemunhas. (Incluído
§ 2º Se a complexidade ou circunstâncias do caso não permiti-
pela Lei nº 14.245, de 2021)
rem a formulação da denúncia, o Ministério Público poderá reque-
§ 2º O recorrido será intimado para oferecer resposta escrita
rer ao Juiz o encaminhamento das peças existentes, na forma do
no prazo de dez dias.
parágrafo único do art. 66 desta Lei.
§ 3º As partes poderão requerer a transcrição da gravação da
§ 3º Na ação penal de iniciativa do ofendido poderá ser ofe-
recida queixa oral, cabendo ao Juiz verificar se a complexidade e fita magnética a que alude o § 3º do art. 65 desta Lei.
as circunstâncias do caso determinam a adoção das providências § 4º As partes serão intimadas da data da sessão de julgamento
previstas no parágrafo único do art. 66 desta Lei. pela imprensa.
Art. 78. Oferecida a denúncia ou queixa, será reduzida a ter- § 5º Se a sentença for confirmada pelos próprios fundamentos,
mo, entregando-se cópia ao acusado, que com ela ficará citado a súmula do julgamento servirá de acórdão.
e imediatamente cientificado da designação de dia e hora para a

241
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Art. 83. Cabem embargos de declaração quando, em sentença § 4º A suspensão poderá ser revogada se o acusado vier a ser
ou acórdão, houver obscuridade, contradição ou omissão. (Reda- processado, no curso do prazo, por contravenção, ou descumprir
ção dada pela Lei nº 13.105, de 2015) (Vigência) qualquer outra condição imposta.
§ 1º Os embargos de declaração serão opostos por escrito ou § 5º Expirado o prazo sem revogação, o Juiz declarará extinta
oralmente, no prazo de cinco dias, contados da ciência da decisão. a punibilidade.
§ 2o Os embargos de declaração interrompem o prazo para § 6º Não correrá a prescrição durante o prazo de suspensão
a interposição de recurso. (Redação dada pela Lei nº 13.105, de do processo.
2015) (Vigência) § 7º Se o acusado não aceitar a proposta prevista neste artigo,
§ 3º Os erros materiais podem ser corrigidos de ofício. o processo prosseguirá em seus ulteriores termos.
Art. 90. As disposições desta Lei não se aplicam aos processos
SEÇÃO IV penais cuja instrução já estiver iniciada. (Vide ADIN nº 1.719-9)
DA EXECUÇÃO Art. 90-A. As disposições desta Lei não se aplicam no âmbito
da Justiça Militar. (Artigo incluído pela Lei nº 9.839, de 27.9.1999)
Art. 84. Aplicada exclusivamente pena de multa, seu cumpri- Art. 91. Nos casos em que esta Lei passa a exigir representação
mento far-se-á mediante pagamento na Secretaria do Juizado. para a propositura da ação penal pública, o ofendido ou seu repre-
Parágrafo único. Efetuado o pagamento, o Juiz declarará ex- sentante legal será intimado para oferecê-la no prazo de trinta dias,
tinta a punibilidade, determinando que a condenação não fique sob pena de decadência.
constando dos registros criminais, exceto para fins de requisição Art. 92. Aplicam-se subsidiariamente as disposições dos Có-
judicial. digos Penal e de Processo Penal, no que não forem incompatíveis
Art. 85. Não efetuado o pagamento de multa, será feita a con- com esta Lei.
versão em pena privativa da liberdade, ou restritiva de direitos, nos
CAPÍTULO IV
termos previstos em lei.
DISPOSIÇÕES FINAIS COMUNS
Art. 86. A execução das penas privativas de liberdade e restri-
tivas de direitos, ou de multa cumulada com estas, será processada Art. 93. Lei Estadual disporá sobre o Sistema de Juizados Es-
perante o órgão competente, nos termos da lei. peciais Cíveis e Criminais, sua organização, composição e compe-
tência.
SEÇÃO V Art. 94. Os serviços de cartório poderão ser prestados, e as au-
DAS DESPESAS PROCESSUAIS diências realizadas fora da sede da Comarca, em bairros ou cidades
a ela pertencentes, ocupando instalações de prédios públicos, de
Art. 87. Nos casos de homologação do acordo civil e aplicação acordo com audiências previamente anunciadas.
de pena restritiva de direitos ou multa (arts. 74 e 76, § 4º), as des- Art. 95. Os Estados, Distrito Federal e Territórios criarão e ins-
pesas processuais serão reduzidas, conforme dispuser lei estadual. talarão os Juizados Especiais no prazo de seis meses, a contar da
vigência desta Lei.
SEÇÃO VI Parágrafo único. No prazo de 6 (seis) meses, contado da pu-
DISPOSIÇÕES FINAIS blicação desta Lei, serão criados e instalados os Juizados Especiais
Itinerantes, que deverão dirimir, prioritariamente, os conflitos exis-
Art. 88. Além das hipóteses do Código Penal e da legislação tentes nas áreas rurais ou nos locais de menor concentração popu-
especial, dependerá de representação a ação penal relativa aos cri- lacional. (Redação dada pela Lei nº 12.726, de 2012)
mes de lesões corporais leves e lesões culposas. Art. 96. Esta Lei entra em vigor no prazo de sessenta dias após
Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual a sua publicação.
ou inferior a um ano, abrangidas ou não por esta Lei, o Ministé- Art. 97. Ficam revogadas a Lei nº 4.611, de 2 de abril de 1965 e
rio Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão do a Lei nº 7.244, de 7 de novembro de 1984.
processo, por dois a quatro anos, desde que o acusado não esteja
sendo processado ou não tenha sido condenado por outro crime, QUESTÕES
presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão con-
dicional da pena (art. 77 do Código Penal).
§ 1º Aceita a proposta pelo acusado e seu defensor, na presen- 1. (PC-MA - PERITO CRIMINAL – CESPE/2018) A respeito do
ça do Juiz, este, recebendo a denúncia, poderá suspender o pro- inquérito policial, assinale a opção correta.
cesso, submetendo o acusado a período de prova, sob as seguintes (A) O inquérito policial poderá ser iniciado apenas com base
condições: em denúncia anônima que indique a ocorrência do fato crimi-
I - reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo; noso e a sua provável autoria, ainda que sem a verificação pré-
II - proibição de frequentar determinados lugares; via da procedência das informações.
III - proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem au- (B) Contra o despacho da autoridade policial que indeferir a
torização do Juiz; instauração do inquérito policial a requerimento do ofendido
IV - comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmen- caberá reclamação ao Ministério Público.
te, para informar e justificar suas atividades. (C) Sendo o inquérito policial a base da denúncia, o Ministé-
§ 2º O Juiz poderá especificar outras condições a que fica su- rio Público não poderá alterar a classificação do crime definida
bordinada a suspensão, desde que adequadas ao fato e à situação pela autoridade policial.
pessoal do acusado. (D) O inquérito policial pode ser definido como um procedi-
§ 3º A suspensão será revogada se, no curso do prazo, o bene- mento administrativo pré-processual destinado à apuração das
ficiário vier a ser processado por outro crime ou não efetuar, sem infrações penais e da sua autoria.
motivo justificado, a reparação do dano. (E) Por ser instrumento de informação pré-processual, o inqué-
rito policial é imprescindível ao oferecimento da denúncia.

242
242
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
2. (PC-SC - ESCRIVÃO DE POLÍCIA CIVIL – FEPESE/2017) É 6. (TJ-MS - ANALISTA JUDICIÁRIO - ÁREA FIM - PUC-
correto afirmar sobre o inquérito policial. -PR/2017) Sobre a prova no direito processual penal, marque a
(A) A notitia criminis deverá ser por escrito, obrigatoriamente, alternativa CORRETA.
quando apresentada por qualquer pessoa do povo (A) São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas,
(B) A representação do ofendido é condição indispensável para inclusive aquelas que evidenciam nexo de causalidade entre
a abertura de inquérito policial para apurar a prática de crime umas e outras, bem como aquelas que puderem ser obtidas
de ação penal pública condicionada. por uma fonte independente das primeiras.
(C) O Ministério Público é parte legítima e universal para reque- (B) A confissão será indivisível e irretratável, sem prejuízo do
rer a abertura de inquérito policial afim de investigar a prática livre convencimento do juiz, fundado no exame das provas em
de crime de ação penal pública ou privada. conjunto.
(D) Apenas o agressor poderá requerer à autoridade policial (C) Considera-se indício a circunstância conhecida e provada,
a abertura de investigação para apurar crimes de ação penal que, tendo relação com o fato, autorize, por indução, concluir-
privada.
-se a existência de outra ou outras circunstâncias; entretanto,
(E) O inquérito policial somente poderá ser iniciado de ofício
tal espécie de prova não é aceita nos tribunais superiores por
pela autoridade policial ou a requerimento do ofendido.
violar o princípio constitucional da ampla defesa.
(D) A prova emprestada, quando obedecidos os requisitos le-
3. (SEJUS/PI - AGENTE PENITENCIÁRIO - NUCEPE/2016)
gais, tem sua condição de prova perfeitamente aceita no pro-
Pode-se afirmar que a autoridade policial, assim que tiver conheci-
cesso penal; no entanto, ela não tem o mesmo valor probatório
mento da prática da infração penal deverá:
da prova originalmente produzida.
(A) intimar às partes para formular quesitos sobre que diligên-
(E) O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova
cias periciais pretendem fazer.
produzida em contraditório judicial, não podendo fundamen-
(B) telefonar para o local, a fim de determinar que não se alte-
tar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos
rem o estado e a conservação das coisas, até sua chegada.
colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não
(C) apreender os objetos que tiverem relação com o fato, de-
repetíveis e antecipadas.
pois que já tiverem sido liberados pelos peritos criminais.
(D) entregar os pertences do ofendido e do indiciado para seus
7. (PC/GO - AGENTE DE POLÍCIA SUBSTITUTO - CESPE/2016)
respectivas familiares.
No que diz respeito às provas no processo penal, assinale a opção
(E) preparar um relatório assinado por, pelo menos, três teste-
correta.
munhas que presenciaram o fato.
(A) Para se apurar o crime de lesão corporal, exige-se prova pe-
4. (PC/GO - ESCRIVÃO DE POLÍCIA SUBSTITUTO - CES- ricial médica, que não pode ser suprida por testemunho.
PE/2016) Acerca de aspectos diversos pertinentes ao IP, assinale (B) Se, no interrogatório em juízo, o réu confessar a autoria,
a opção correta. ficará provada a alegação contida na denúncia, tornando-se
(A) O IP, em razão da complexidade ou gravidade do delito a ser desnecessária a produção de outras provas.
apurado, poderá ser presidido por representante do MP, me- (C) As declarações do réu durante o interrogatório deverão ser
diante prévia determinação judicial nesse sentido. avaliadas livremente pelo juiz, sendo valiosas para formar o li-
(B) A notitia criminis é denominada direta quando a própria vre convencimento do magistrado, quando amparadas em ou-
vítima provoca a atuação da polícia judiciária, comunicando a tros elementos de prova.
ocorrência de fato delituoso diretamente à autoridade policial. (D) São objetos de prova testemunhal no processo penal fatos
(C) O indiciamento é ato próprio da autoridade policial a ser relativos ao estado das pessoas, como, por exemplo, casamen-
adotado na fase inquisitorial. to, menoridade, filiação e cidadania.
(D) O prazo legal para o encerramento do IP é relevante inde- (E) O procedimento de acareação entre acusado e testemunha
pendentemente de o indiciado estar solto ou preso, visto que a é típico da fase pré-processual da ação penal e deve ser presi-
superação dos prazos de investigação tem o efeito de encerrar dido pelo delegado de polícia.
a persecução penal na esfera policial.
(E) Do despacho da autoridade policial que indeferir requeri- 8. (PC/DF - PERITO CRIMINAL - IADES/2016) O Código de
mento de abertura de IP feito pelo ofendido ou seu represen- Processo Penal elenca um conjunto de regras que regulamentam
tante legal é cabível, como único remédio jurídico, recurso ao a produção das provas no âmbito do processo criminal. No tocante
juiz criminal da comarca onde, em tese, ocorreu o fato delitu- às perícias em geral, as normas estão previstas nos artigos 158 a
oso. 184 da lei em comento. Quanto ao exame de corpo de delito, nos
crimes
5. (PC/PE - ESCRIVÃO DE POLÍCIA - CESPE/2016) O inquérito (A) que deixam vestígios, quando estes desaparecerem, a pro-
policial va testemunhal não poderá suprir-lhe a falta.
(A) não pode ser iniciado se a representação não tiver sido ofe- (B) que deixam vestígios, esse exame só pode ser realizado du-
recida e a ação penal dela depender. rante o dia.
(B) é válido somente se, em seu curso, tiver sido assegurado o (C) de lesões corporais, se o primeiro exame pericial tiver sido
contraditório ao indiciado. incompleto, proceder-se-á a exame complementar apenas por
(C) será instaurado de ofício pelo juiz se tratar-se de crime de determinação da autoridade judicial.
ação penal pública incondicionada. (D) que deixam vestígios, será indispensável o exame de corpo
(D) será requisitado pelo ofendido ou pelo Ministério Público de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão
se tratar-se de crime de ação penal privada. do acusado.
(E) é peça prévia e indispensável para a instauração de ação (E) que deixam vestígios, será indispensável que as perícias se-
penal pública incondicionada. jam realizadas por dois peritos oficiais.

243
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
9. (PC/GO - ESCRIVÃO DE POLÍCIA SUBSTITUTO - CES- 12. (PC/AC - AGENTE DE POLÍCIA CIVIL - IBADE/2017) Sobre
PE/2016) Quanto à prova pericial, assinale a opção correta. o tema prisão preventiva assinale a alternativa correta.
(A) A confissão do acusado suprirá a ausência de laudo pericial (A) Não será permitido o emprego de força, salvo a indispen-
para atestar o rompimento de obstáculo nos casos de furto me- sável no caso de resistência, de tentativa de fuga do preso, dos
diante arrombamento, prevalecendo em tais situações a quali- reincidentes e dos presos de alta periculosidade por terem pas-
ficadora do delito. sado pelo regime disciplinar diferenciado.
(B) O exame de corpo de delito somente poderá realizar-se du- (B) O mandado de prisão, na ausência do juiz, poderá ser lavra-
rante o dia, de modo a não suscitar qualquer tipo de dúvida, do e assinado pelo escrivão, ad referendum do juiz.
sendo vedada a sua realização durante a noite. (C) O mandado de prisão mencionará a infração penal e neces-
(C) Prevê a legislação processual penal a obrigatória participa- sariamente a quantidade da pena privativa e de multa, bem
ção da defesa na produção da prova pericial na fase investiga- como eventual pena pecuniária.
tória, antes do encerramento do IP e da elaboração do laudo (D) A prisão poderá ser efetuada em qualquer dia e a qualquer
pericial. hora, respeitadas as restrições relativas à inviolabilidade do do-
(D) Os exames de corpo de delito serão realizados por um micílio.
perito oficial e, na falta deste, admite a lei que duas pessoas (E) A autoridade que ordenar a prisão fará expedir o respectivo
idôneas, portadoras de diploma de curso superior e dotadas mandado, salvo quando, por questão de urgência, nos crimes
de habilidade técnica relacionada com a natureza do exame, inafiançáveis, poderá a prisão ocorrer por ordem verbal do juiz.
sejam nomeadas para tal atividade.
(E) Em razão da especificidade da prova pericial, o seu resulta- 13. (PRF - POLICIAL RODOVIÁRIO FEDERAL – CESPE/2019)
do vincula o juízo; por isso, a sentença não poderá ser contrária Em decorrência de um homicídio doloso praticado com o uso de
à conclusão do laudo pericial. arma de fogo, policiais rodoviários federais foram comunicados de
que o autor do delito se evadira por rodovia federal em um veículo
10. (AL/MS - AGENTE DE POLÍCIA LEGISLATIVO - FCC/2016) cuja placa e características foram informadas. O veículo foi abor-
Sobre o exame de corpo de delito e as perícias em geral, nos termos dado por policiais rodoviários federais em um ponto de bloqueio
preconizados pelo Código de Processo Penal, é INCORRETO afirmar: montado cerca de 200 km do local do delito e que os policiais acre-
(A) Na falta de perito oficial, o exame será realizado necessa- ditavam estar na rota de fuga do homicida. Dada voz de prisão ao
riamente por três pessoas idôneas, portadoras de diploma de condutor do veículo, foi apreendida arma de fogo que estava em
curso superior preferencialmente na área específica, dentre as sua posse e que, supostamente, tinha sido utilizada no crime.
que tiverem habilitação técnica relacionada com a natureza do Considerando essa situação hipotética, julgue o seguinte item.
exame. De acordo com a classificação doutrinária dominante, a situa-
(B) Nos crimes cometidos com destruição ou rompimento de ção configura hipótese de flagrante presumido ou ficto.
obstáculo a subtração da coisa, ou por meio de escalada, os ( ) CERTO
peritos, além de descrever os vestígios, indicarão com que ins- ( ) ERRADO
trumentos, por que meios e em que época presumem ter sido
o fato praticado. 14. (PRF - POLICIAL RODOVIÁRIO FEDERAL – CESPE/2019)
(C) O juiz não ficará adstrito ao laudo, podendo aceitá-lo ou Com relação aos meios de prova e os procedimentos inerentes a
rejeitá-lo, no todo ou em parte. sua colheita, no âmbito da investigação criminal, julgue o próximo
(D) Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o item.
exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo su- A entrada forçada em determinado domicílio é lícita, mesmo
pri-lo a confissão do acusado. sem mandado judicial e ainda que durante a noite, caso esteja
(E) Salvo o caso de exame de corpo de delito, o juiz ou a auto- ocorrendo, dentro da casa, situação de flagrante delito nas modali-
ridade policial negará a perícia requerida pelas partes, quando dades próprio, impróprio ou ficto.
não for necessária ao esclarecimento da verdade. ( ) CERTO
( ) ERRADO
11. (CÂMARA DE CAMPO LIMPO PAULISTA/SP - PROCURA-
DOR JURÍDICO – VUNESP/2018) Nos expressos e literais termos 15. (SEJUS/PI - AGENTE PENITENCIÁRIO - NUCEPE/2016)
Samuel teve voz de prisão dada por Agostinho, seu vizinho que é
do artigo 295 do CPP, têm direito à prisão especial – que nada mais
alfaiate, quando tentava esfaquear sua madrasta. Neste caso é pos-
é do que o recolhimento em local distinto da prisão comum – entre
sível dizer:
outros,
(A) Agostinho jamais poderia prender Samuel, pois não é po-
(A) o Vereador, o Magistrado e o Ministro de Confissão Reli-
licial.
giosa.
(B) Agostinho poderia prender Samuel em 48 (quarenta e oito)
(B) o Ministro de Estado, o Governador e o Agente Municipal
horas depois, se a polícia não tivesse chegado ao local.
de Trânsito.
(C) Em face do flagrante delito, Agostinho poderia sim ter dado
(C) o Prefeito Municipal, o Praça das Forças Armadas e o Minis-
voz de prisão a Samuel.
tro do Tribunal de Contas. (D) Agostinho somente poderia dar voz de prisão a Samuel, se
(D) o Agente Fiscal de Posturas Públicas, o membro da Assem- este tivesse cometido o crime contra sua genitora.
bleia Legislativa dos Estados e os Delegados de Polícia. (E) Samuel somente poderia ser preso em flagrante, se ele ti-
(E) o Oficial das Forças Armadas, o diplomado por qualquer das vesse levado para a Delegacia de Polícia a faca com a qual ten-
faculdades superiores da República e o Agente Fiscal de Ren- tara esfaquear sua madrasta.
das.

244
244
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
16. Considere os seguintes casos hipotéticos: Analisados os itens, pode-se afirmar corretamente que:
I. Paulo, funcionário público no exercício do seu cargo, come- (A) Apenas o item I está correto.
teu crime de corrupção passiva ao exigir dinheiro de uma deter- (B) Apenas o item II está correto.
minada pessoa para deixar de praticar determinado ato de ofício. (C) Apenas o item III está correto.
II. Júlio cometeu crime de cárcere privado (artigo 148, do Códi- (D) Apenas os itens I e II estão corretos.
go Penal) ao invadir a casa da ex-namorada, que não queria reatar (E) Apenas os itens II e III estão corretos.
o relacionamento amoroso.
III. Afonso cometeu crime de roubo (artigo 157, do Código Pe-
nal) contra um hipermercado situado na cidade de São Paulo, em GABARITO
comparsaria com outros elementos.
IV. Manoel, funcionário público, cometeu crime de peculato
após se apropriar de dinheiro de que teve a posse em razão do seu 1 D
cargo.
2 B
Presentes todos os requisitos legais previstos na Lei n° 3 C
7.960/1989, que dispõe sobre a prisão temporária, o magistrado
4 C
competente poderá decretar a prisão temporária de:
(A) Paulo, Júlio e Manoel, apenas. 5 A
(B) Paulo, Júlio, Afonso e Manoel. 6 E
(C) Paulo, Afonso e Manoel, apenas.
(D) Júlio e Afonso, apenas. 7 C
(E) Júlio e Manoel, apenas. 8 D
9 D
17. Mariana, tecnicamente primária e com endereço fixo, foi
identificada, a partir de câmeras de segurança, como autora de um 10 A
crime de furto simples (Pena: 01 a 04 anos de reclusão e multa) em 11 A
um estabelecimento comercial. O inquérito policial com relatório
conclusivo, acompanhado da Folha de Antecedentes Criminais com 12 D
apenas uma outra anotação referente à ação penal em curso, sem 13 CERTO
decisão definitiva, foi encaminhado ao Poder Judiciário e, poste- 14 CERTO
riormente, ao Ministério Público.
Entendendo que existe risco de reiteração delitiva, já que tes- 15 C
temunhas indicavam que Mariana, que se encontrava solta, já teria 16 D
praticado delitos semelhantes, no mesmo local, em outras ocasi-
17 B
ões, poderá o Promotor de Justiça com atribuição requerer que
seja: 18 E
(A) fixada cautelar alternativa de comparecimento mensal em
juízo, proibição de contato com as testemunhas, mas não o
recolhimento domiciliar no período noturno por ausência de ANOTAÇÕES
previsão legal;
(B) fixada cautelar alternativa de proibição de frequentar, por ______________________________________________________
determinado período, o estabelecimento lesado, mas não a de-
cretação da prisão preventiva ou temporária; ______________________________________________________
(C) fixada a cautelar alternativa de internação provisória, que
______________________________________________________
gera detração da pena, mas não a prisão preventiva ou tem-
porária; ______________________________________________________
(D) decretada a prisão temporária da indiciada;
(E) decretada a prisão preventiva da indiciada. ______________________________________________________

18. Com base nas disposições da Lei nº 7.960/1989 sobre a pri- ______________________________________________________
são temporária, analise os itens a seguir:
I. A prisão temporária será decretada pelo Juiz, em face da re- ______________________________________________________
presentação da autoridade policial ou de requerimento do Ministé-
______________________________________________________
rio Público, e terá o prazo de 5 (cinco) dias, prorrogável por até 30
(trinta) dias em caso de extrema e comprovada necessidade. ______________________________________________________
II. A prisão somente poderá ser executada depois da expedição
de mandado judicial. ______________________________________________________
III. Os presos temporários deverão permanecer, obrigatoria-
mente, separados dos demais detentos. ______________________________________________________

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
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246
NOÇÕES DE
CRIMINALÍSTICA

3. Biomedicina
4. Contabilidade
HISTÓRICO E DOUTRINA DA CRIMINALÍSTICA; 5. Direito
6. Engenharia
7. Farmácia
Definições 8. Medicina
Inserida na esfera das ciências forenses, a criminalística, ou ju- 9. Psicologia
risprudência criminal, consiste no emprego de métodos científicos 10. Química
na busca e na análise de provas em processos criminais. Em outras
palavras, é a disciplina que visa ao estudo do delito de maneira que Conceito de criminalística
não haja margem à distorção dos fatos, prezando sempre pela se- Ciência independente de suporte à justiça e à polícia, cuja fina-
guridade da integridade, perseguindo as evidências, para alcançar lidade é a elucidação de casos criminais. Trata-se de uma disciplina
justiça e obtenção de premissas decisórias para a proferirão da sen- de investigação, estudo e interpretação de vestígios localizados na
tença. De acordo com o dicionário, trata-se de: área da ocorrência. Essa disciplina analisa a indiciologia material
para esclarecimento de casos de interesse da Justiça em todos os
“Disciplina do direito penal que tem por objetivo desvendar cri- seus domínios. Em suma, é a averiguação de todas as evidências
mes e identificar criminosos.” do fato delituoso e seu contexto, por meio de técnicas apropriadas
(AURÉLIO, 2016) a cada um.

“Conjunto de conhecimentos e técnicas essenciais para a desco-


POSTULADOS DA CRIMINALÍSTICA;
berta de crimes e identificação de criminosos.”
(AURÉLIO, 2016)
DOUTRINA CRIMINALÍSTICA
Objetivo Geral: geração de provas periciais para elucidação de
ocorrências criminais ou de qualquer caso de relevância jurídica,
Postulados da criminalística
institucional ou mesmo relacionado a uma pessoa física.
1o. O objeto de um Laudo Pericial Criminalístico não sofre va-
riação relacionada ao Perito Criminal responsável por sua elabora-
Objetivos Científicos
ção. Isto é, as conclusões de uma análise pericial criminalística são
• gerar a qualidade material do fato típico
constantemente embasadas em princípios técnicos, com hipóteses
• verificação dos modos e dos meios utilizados na prática do
e experiências convencionais, independente de qual for o perito
delito, visando ao provimento da dinâmica dos fatos
que valer-se de tais leis para examinar um evento criminalístico. As-
• indicação da autoria do delito
sim, a conclusão não poderá advir do indivíduo, do perito.  
• constituição da prova técnica, por meio da indiciologia mate-
2o. Os resultados de uma perícia criminalística  não estão  su-
rial (quando existir viabilidade para tal)
jeitos aos mecanismos e métodos empregados para obtê-los. Em
outras palavras, fazendo uso dos recursos e técnicas apropriados
Objetivos da criminalística na localidade do fato
para se chegar à conclusão sobre o fenômeno criminalístico, tal con-
• documentar o local do delito, a partir do trabalho da perícia
clusão, sempre que houver reprodução das análises, será invariável,
criminal
não obstante ao emprego de estratégias mais modernas, mais rápi-
das, mais precisas ou não.   
Objetivos da criminalística nos processos técnicos
3o. A Perícia Criminalística não se subordina ao tempo: a ver-
• descrição escrita
dade é imutável, proporcionalmente ao tempo transcorrido.
• croquis (desenho)
• documentação fotográfica
• filmagem NOÇÕES E PRINCÍPIOS DA CRIMINALÍSTICA
• coleta de evidências

Áreas de atuação da criminalística Princípios da criminalística: há necessidade de se distinguir os


Diante de quaisquer decisões importantes a serem tomadas Princípios Científicos da Criminalística e os Princípios da Perícia Cri-
para um caso de interesse cível específico, administrativo ou penal, minalística, conforme abaixo. 
as técnicas da criminalística são elementares. As diversas áreas do
conhecimento em que essa disciplina se aplica são: Os Princípios Científicos da Criminalística são:  
1. Antropologia Princípio do Uso: os eventos averiguados pela Criminalística
2. Biologia são gerados por agentes biológicos, físicos ou químicos.

247
NOÇÕES DE CRIMINALÍSTICA
Princípio da Produção: os mencionados agentes atuam na pro-
dução de evidências de seus fatos, com grandes diversidades estru- TIPOS DE PROVAS: PROVA CONFESSIONAL, PROVA TESTE-
turais, morfológicas e naturais.  MUNHAL, PROVA DOCUMENTAL E PROVA PERICIAL
Princípio da Correspondência de Características: a atuação dos
agentes mecânicos origina morfologias determinadas pelos modos
e naturezas da atividade dos agentes.  Prova
Princípio da Reconstrução: o emprego de fundamentos tec- Conceito e objeto da prova: corresponde a todo componente
nológicos, teorias e leis científicas em torno do encadeamento das ou substância por meio do qual se diligencia revelar a veracidade e
evidências remanescentes de um evento determinam os vínculos a existência da devida ocorrência. Tem como objetivo, no decorrer
causais entre as muitas fases da ocorrência, resultando na recons- do processo, influenciar na persuasão e convencimento do julgador.
trução do fato. 
Princípio da Certeza: a certeza dos resultados periciais é ates- Tipos de prova
tada pelos princípios técnico e científico que conduzem as ocorrên- A. Prova confessional: trata-se do chamado meio de prova,
cias criminalísticas imutáveis e satisfatoriamente comprovadas.  sendo um recurso a serviço do magistrado, para que este alcance
Princípio da Probabilidade: nos exames da prova pericial, pre- a veracidade das ocorrências. Os fatos constituem a finalidade da
domina o descobrimento no incógnito de um número de aspec- prova confessional, que não admite argumentos relacionados às re-
tos que equivalham à qualidade do conhecido.  gras de experiência e ao direito.
B. Prova testemunhal: é a prova obtida em face ao depoimen-
Os Princípios da Perícia Criminalística são:   to prestado em juízo, por indivíduos que tenham conhecimento do
Princípio da Observação: baseado nas teorias de Edmond Lo- fato dependente de sentença judicial (litigioso). O juiz pode ou não
card1, segundo o qual “todo contato deixa uma marca” e que não admitir esse tipo de prova, na decisão de saneamento. Em geral, a
há ações em que não decorram vestígios de provas, entendendo- prova testemunhal é compreendida como deferida quando solicita-
-se, ademais, que é evidente o desenvolvimento e a pesquisa do da de antemão pelo juiz, que estabelece a audiência de instrução e
mecanismo científico apropriado para identificação de tais indícios, o julgamento.
mesmo que se tratem de micro vestígios.   C. Prova documental: no artigo n0 408 do Novo Código de Pro-
Princípio da Análise: baseado na ideia de que “a análise pericial cesso Civil estabelece que a assinatura de documento particular
deve sempre seguir o método científico”, esse princípio determina consiste em prova documental para o signatário. Em outras pala-
que o objetivo da perícia científica é definir a teoria, ou seja, como vras, resulta na presunção legal de veracidade em relação a quem
ocorreu o fato, a partir de uma coleta criteriosa dos vestígios (da- que assinou. Essa presunção é, ainda assim, circunstancial, poden-
dos), que levantem as hipóteses em torno de como se sucedeu a do ser pleiteada em juízo.
ocorrência e todas as conjecturas a seu respeito.   D. Prova pericial:  é o tipo de prova produzida pelo perito, e
Princípio da Interpretação: também conhecido por princípio consta Código Penal Civil nos artigos 464 e 480, sendo regulamenta-
da individualidade e fundamentado na ideia de que “dois objetos da como como meio de prova proposto a sanar uma contestação de
podem ser indistinguíveis, porém, nunca idênticos”, esse princípio cunho técnico que venha a surgir no decorrer do processo.
sugere que a identificação deve ocorrer a partir de três níveis, sen-
do eles genérico, específico e individual, e as investigações devem Formas da prova
sempre atingir este último nível. A. Forma direta: remete ao próprio objeto de litígio (fato pro-
Princípio da Descrição: a ideia que fundamenta esse princípio é bando). Abrange a prova testemunhal, a confissão do réu e o exame
a de que “o resultado de um exame pericial é invariável com relação de corpo de delito, entre outros.
ao tempo, devendo ser apresentado em linguagem juridicamente B. Forma indireta: permite-se chegar ao fato probando ou às
perfeita e ética”.  Em outras palavras, as conclusões das perícias circunstâncias que se pretende provar, por meio da construção de
criminais não podem sofrer variações relacionadas ao passar do um raciocínio, uma lógica ou por uma associação de casualidade.
tempo. Além disso, quaisquer hipóteses científicas devem possuir É a esfera das presunções e dos indícios. Exemplo: um recibo de
a propriedade da refutabilidade.  pagamento não consiste no negócio jurídico de litígio, todavia, por
Princípio da documentação: apoiado na Cadeia de Custódia da meio dele, será possível chegar ao fato probando.
prova material e na teoria que diz que “toda amostra deve ser do-
cumentada, desde seu nascimento no local de crime até sua análise
e descrição final, de forma a se estabelecer um histórico completo MÉTODOS DA CRIMINALÍSTICA
e fiel de sua origem”. Esse princípio visa à proteção, à fidelidade
da prova material, prevenindo a apreciação de evidências forjadas
para incriminar ou inocentar indivíduo. Todo o trajeto do indício Prezado Candidato, o tema acima supracitado, já foi abordado
precisa ser registrado em cada etapa, com documentação que o ofi- em tópicos anteriores.
cialize, de forma que não existam vazões às dúvidas em torno dos
dados comprobatórios.
CORPO DE DELITO: CONCEITO;

Corpo de delito
Conceito: é o conjunto de componentes materiais ou indícios
que revelam a existência de um fato criminal, e seu exame constitui
prova pericial indispensável em ocorrências de crimes que deixam
vestígios, ao ponto de sua falta implica na nulidade do processo.

1 Precursor da Ciência Forense.

248
248
NOÇÕES DE CRIMINALÍSTICA
Lei nº 13.721/2018: o parágrafo único acrescentado ao artigo D. Quanto ao ambiente
n0 158 do CPP estabelece que seja outorgada propriedade à execu- • Local interno: prédio ou dentro de um terreno cercado
ção do exame de corpo de delito, sempre que o fato criminal envol- • Local externo: terreno baldio sem obstáculos, logradouro
ver violência dos tipos familiar e contra a mulher, doméstica, contra • Locais relacionados: duas ou mais áreas com implicação no
idoso ou pessoa com deficiência e contra a criança ou adolescente. mesmo crime
O exame de corpo de delito pode ser direto ou indireto:
• Direto: exame de corpo de delito direto: realizado pelos Preservação de locais de crime
peritos pontualmente sobre a própria pessoa ou objeto da ação cri- Aplicabilidade: a não alteração do local do crime aplica-se, uni-
minosa camente, no contexto dos crimes materiais
• Indireto: o exame pode ser suprimido pela prova testemu-
nhal ou pela confissão do acusado, pois, em virtude da extinção de Importância
indícios, os peritos fundamentam suas hipóteses nos depoimentos Elaboração de laudos periciais: se houver, por exemplo, a re-
das testemunhas moção de um cadáver do lugar original deixado pelo autor do fato,
essa ação compromete seriamente, as devidas conclusões em torno
da ação criminosa e mesmo na descoberta e busca do autor; perícia
CLASSIFICAÇÃO DOS LOCAIS DE CRIME. QUANTO À criminal: a preservação do local do crime concretiza a usa materia-
NATUREZA DO FATO. QUANTO À NATUREZA DA ÁREA: lidade e facilita a aplicação das técnicas forenses
LOCAL DE CRIME INTERNO E LOCAL DE CRIME EXTER-
NO. QUANTO À DIVISÃO: LOCAL MEDIATO, IMEDIATO Evidências físicas
E RELACIONADO. QUANTO À PRESERVAÇÃO: IDÔNEO E O êxito do processo pode estar devidamente relacionado ao
INIDÔNEO. LEVANTAMENTO DE LOCAL. ISOLAMEN- estado dos sinais e indícios no momento em que são coletados
TO DE LOCAL
Proteção da cena
Tem início quando o primeiro agente policial chega à cena do
Definição: em geral, o local do crime pode ser conceituado delito, tendo finalização a partir da liberação da cena da custódia
como o espaço físico onde tenha sucedido um crime elucidado ou policial.
que ainda requeira esclarecimento, mas que, fundamentalmente,
apresente configuração ou aspectos de um delito e que, assim, de- Isolamento
mande diligência policial. É no local do crime que as polícias judiciá- Além da atenção aos vestígios encontrados e cuidado para que
ria e ostensiva se encontram, onde a primeira atua na seguridade não sejam eliminados ou mesmo modificadas suas localizações e
da aplicação da lei penal, prevenindo e reprimindo potenciais in- disposições, é elementar que o local seja isolado.
fratores; enquanto a segunda tem a função da ordem, prevenindo
quaisquer possíveis violações ou restabelecendo-a regularidade. Vigilância
Diligência importante do procedimento de preservação do lo-
Classificação dos locais de crime cal do crime, a vigilância empreendida pelos oficiais de polícia tem
o objetivo de impossibilitar que pessoas não autorizadas ingressem
A. Quanto à Preservação no local e também que chuvas e outras eventuais ações de agentes
• Locais preservados idôneos ou não violados: são os locais de da natureza provoquem quaisquer alterações no local.
crime inalterados, conservados no estado imediatamente original Artigo 6º, incisos I, II e III, do Código de Processo Penal (1941),
à prática do delito, sem que haja modificações das condições dos constitui norma que estabelece, a respeito da preservação do local
objetos após a ocorrência, até o momento da perícia. do crime:
• Locais não preservados, inidôneos ou violados: são locais “I – se possível e conveniente, dirigir-se ao local, providencian-
que cujas condições deixadas pelo autor do fato criminal sofreram do para que se não alterem o estado e conservação das coisas, en-
alterações antes da chegada e acolhimento dos peritos. As altera- quanto necessário;
ções, geralmente, se verificam nas disposições iniciais dos indícios, II – apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após
ou mesmo no acréscimo ou subtração destes, o que modifica quais- liberados pelos peritos criminais;
quer estados das coisas. III – colher todas as provas que servirem para o esclarecimento
do fato e suas circunstancias;”
B. Quanto à Disposição dos vestígios
• Local relacionado: outros locais com relação com o fato Vestígios e indícios encontrados nos locais de crime
• Local imediato: onde ocorreu o fato Definição de vestígios: quaisquer objetos, sinais ou marcas que
• Local mediato: adjacências da área; comum marcas de paga- possam estar relacionados ao fato investigado. Todos os vestígios
das, objetos caídos, etc. encontrados na cena do delito, num primeiro momento, são rele-
vantes para elucidação dos fatos.
C. Quanto à Natureza Agente provocador: revelado pela existência de vestígios, são
• Local de homicídio o que causou ou contribuiu para a ocorrência; o vestígio em si pode
• Local de suicídio se tratar do resultado da ação do agente provocador.
• Local de crime contra a natureza
• Local do dano Classificação dos vestígios
• Local do incêndio • Vestígio verdadeiro: trata-se de uma depuração completa
• Local de crime de trânsito dos elementos localizados na cena do crime, constituindo-se verda-
• Local de arrombamento deiros apenas aqueles que foram gerados diretamente pelo agente
• Local de explosão de autoria do delito e, ainda, resultantes diretos das ações da prá-
tica criminal.

249
NOÇÕES DE CRIMINALÍSTICA
• Vestígio Ilusório: qualquer componente encontrado no local Local de morte por arma de fogo
do crime que não tenha relação direta às ações dos infratores, e sua O tema local de morte por arma de fogo está intrinsecamente
produção não tenha ocorrido propositalmente. ligado com lesões perfurocontundentes. Estas lesões são ferimen-
• Vestígio forjado: ao contrário do vestígio ilusório, há uma in- tos produzidos por projéteis de arma de fogo, cabo de guarda-chu-
tenção na produção desse tipo de vestígio. va, chave de fenda, entre outros. Assim, é comum esta situação em
homicídio.
Definição de Indícios: de acordo com o CPP, artigo no 239, indí- Em uma investigação, para entender os fatos que desencadea-
cio é a “circunstância conhecida e provada que, tendo relação com ram a morte, o perito criminal deve analisar os vestígios, as posi-
o fato, autorize, por indução, concluir-se a existência de outra ou ções dos objetos, e, também, do cadáver. Aliás, o ambiente todo
outras circunstâncias”. merece cuidado.
Em um local de morte por arma de fogo, regra geral, o ambien-
Indícios X evidências: embora as definições que o CPP apre- te deve ser vasculhado e fotografado. Ex. fotografa-se os pontos de
senta a respeito desses dois conceitos serem muito semelhantes, o impactos de projéteis.
termo indício foi estabelecido para a fase processual, logo, para eta- Outro ponto importante é determinar a distância, a origem e a
pa pós-perícia, ou seja, a designação indício abrange não somente direção do disparo. Por meio de tais constatações é possível estabe-
os componentes materiais de que se dedica a perícia, mas também lecer a provável trajetória do disparo.
aborda elementos de natureza subjetiva – característicos do âmbito Ademais, o exame no cadáver precisa ser minucioso:
da polícia judiciária. • Procurar ferimentos;
• Procurar os orifícios de entrada e de saída do projétil, e
Perícia de local de crime: abrange os exames aplicados em suas localizações.
uma parcela do ambiente onde tenha ocorrido um delito e para
coletar dados que deem suporte às análises e comparações a fim Por fim, é necessário avaliar os próprios projéteis e estojos en-
de constatar a eventualidade de o crime ter sido executado de um contrados no local. A finalidade disto é fazer a identificação mediata
modo determinado. Propósito: elucidar as circunstâncias em que o da arma (microcomparação balística) que causou a lesão, caso ne-
crime ocorreu. nhuma seja encontrada.
Tais procedimentos aptos para a investigação no local de morte
Locais de morte por arma de fogo resumem-se em diligência processual penal vei-
O local da morte é fundamental para desvendar a autoria e ma- culada através do laudo de local, documento fundamental para a
terialidade delitiva. Neste sentido, o art. 6 do CPP determina que a investigação.
autoridade policial logo que tiver conhecimento da infração penal Tudo isso, em suma, visa determinar a causa jurídica da morte,
deve: estabelecer a diagnose diferencial entre homicídio, suicídio e aci-
- dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o dente.
estado e conservação das coisas, até a chegada dos peritos crimi-
nais;           Local de morte por instrumentos contundentes, cortantes,
- apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após perfurantes ou mistos
liberados pelos peritos criminais;           Quando no local de morte verifica-se um instrumento contun-
- colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do dente, algumas conclusões passam a ser óbvias:
fato e suas circunstâncias. • A lesão é contusa;
• Na ação ocorreu pressão, percussão, arrastamento ou
Morte violenta tração;
Morte violente é considerada toda aquela que não é natural – • Foram utilizados pau, cassete, chão ou muro.
ex. homicídio, suicídio, acidente.
Os locais de morte aparentemente natural costumam ser es- Quando se trata de instrumento cortante (cauda de escoria-
cassos em vestígios, já que normalmente há uma única pessoa en- ção), o instrumento ao tocar a pele exerce uma força maior que vai
volvida (a própria vítima) e ela não contribui intencionalmente para se desacelerando. Com isso:
o resultado. • A ferida se aprofunda e depois vai se superficializando;
Em caso de morte violenta, o local do crime precisa ser preser- • O ponto mais profundo marca o início do golpe;
vado, uma vez que todo e qualquer elemento pode vir a contribuir • O ponto mais superficial marca o final do golpe.
com as investigações. Ex. armas, manchas, substâncias, posição do
corpo, janelas, portas, trancas, vidro, arremesso de objetos etc. Lesão de hesitação Lesão de defesa
Inclusive, já foi considerada verdadeira a seguinte assertiva
pela banca Cespe (PCSE 2020): A forma de execução de um homicí- Lesão múltipla, comum em Localizadas na mão.
dio pode ser definida a partir da observação da posição do cadáver suicídio.
no local do crime, dos vestígios biológicos e de eventuais elementos
balísticos arrecadados. Instrumentos cortantes podem causar, ainda, esquartejamento
Ademais, é importante diferenciar o exame perinecroscópico e castração.
do exame de necropsia:
1) O exame perinecroscópico consiste no exame externo do Os instrumentos perfurantes, por sua vez, possuem as seguin-
cadáver, feito pelo perito criminal, ainda no local de crime. tes características:
2) O exame perinecroscópico não deve ser confundido com o • Lesão: Punctória ou puntiforme;
exame de necropsia, que é aquele realizado pelo perito médico-le- • Ação: de pressão;
gista, normalmente nas instalações do Instituto de Medicina Legal • Instrumentos como alfinete, agulha etc.
(IML). 

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250
NOÇÕES DE CRIMINALÍSTICA
Local de morte provocada por asfixia.  dor; hábil; douto; prático. Aquele que é prático ou sabedor; aquele
As asfixias fazem parte da Traumatologia e são espécie de ener- que está habilitado para fazer perícias. O nomeado judicialmente
gia físico-químicas. Consideram-se fases da asfixia a) a Dispneia ins- para exame ou vistoria.
piratória; b) dispneia expiratória; c) parada respiratória.
Quem vê uma pessoa asfixiada pode notar cor azulada, língua Parecer: Opinião. Opinião técnica sobre determinado assunto.
para fora, equimoses. Por dentro, o sangue fica fluido e escuro,
equimoses viscerais, sangue nas vísceras, hemorragia, edema e efi- Relatório: Descrição minuciosa de fatos de administração pú-
sema pulmonar. blica ou de sociedade. Parecer ou exposição dos fundamentos de
A asfixia pode ser por: um voto ou apreciação. Exposição prévia dos fundamentos de um
• Enforcamento (forma laço, em regra suicídio ou aciden- decreto, decisão, etc. Exposição de todos os fatos de uma adminis-
tal); tração ou de uma sociedade.
• Estrangulamento (forma laço, em regra homicida);
• Esganadura (sem laço, com as mãos – sempre homicida). Técnico: Próprio de uma arte ou ramo específico de atividade.
Aquele que é perito numa atividade. Próprio de uma arte ou ciên-
cia; O que é perito numa arte ou ciência.
DOCUMENTOS CRIMINALÍSTICOS: AUTO, LAUDO PERI-
CIAL, PARECER CRIMINALÍSTICO, RELATÓRIO CRIMINA- Técnica: Conhecimento prático. Conjunto dos métodos e por-
LÍSTICO menores práticos essenciais a execução perfeita de uma arte ou
profissão. A parte material ou o conjunto de processos de uma arte;
prática.
Muito se fala a respeito do laudo pericial e várias outras peças
formais, que estão muito próximas como expressão técnica de al- Assistente: Que assiste, observando ou colaborando. Pessoa
gum tipo de exame que seja realizado, visando esclarecer um fato presente a um ato ou cerimônia. Pessoa que dá assistência.
ocorrido ou determinada dúvida de natureza específica.
Com isso, colocamos como compreensão inicial aquelas cons-
Nesse universo de peças técnicas, teríamos o laudo pericial - tantes do dicionário e, a seguir, faremos as contextualizações e dis-
oficial ou não, o parecer técnico - com fins de atendimento à Justiça cussões de cada peça técnica, onde mostraremos que o significado
ou não, e o relatório técnico. Além das dúvidas existentes quanto à poderá ser um pouco mais restrito ou ampliado, considerando o
titulação dessas peças técnicas, maior é a confusão sobre o conteú- enfoque técnico e/ou jurídico das suas interpretações à luz da atua-
do de cada uma delas. Tanto as primeiras, quanto às de conteúdo, lidade.
procuraremos discorrer individualmente, no sentido de trazer à dis-
cussão um assunto que tem gerado algumas discussões no âmbito LAUDO PERICIAL
verbal, porém, muito pouco de interpretação formal existe à res- O laudo pericial é uma peça técnica formal que apresenta o
peito. resultado de uma perícia. Nele deve ser relatado tudo o que fora
objeto dos exames levado a efeito pelos peritos. Ou seja, é um do-
Outro aspecto que pretendemos abordar, é quanto aos profis- cumento técnico-formal que exprime o resultado do trabalho do
sionais habilitados para a execução dessas tarefas técnicas, tanto perito.
sob a ótica da competência legal, como aquelas de natureza técni-
co-especializada que devam ser observadas ou que melhor se reco- Dentre as várias peças técnicas, podemos dizer que o laudo pe-
menda para esse mister. ricial é o documento mais completo, em razão da sua origem que é
um exame de natureza pericial, feito por peritos.
A fim de sistematizar nossa abordagem, vamos analisar cada
uma dessas peças técnicas, enfocando suas peculiaridades, objeti- Aqui vale ressaltar que, sob o enfoque técnico-jurídico, um
vos, aplicações e conteúdos que entendemos ser necessário obser- exame pericial pressupõe um trabalho de natureza eminentemente
var na suas respectivas produções. técnico-científico e da maior abrangência possível. É, portanto, um
trabalho (exame pericial) levado a efeito por especialistas (peritos)
No entanto, ainda como preliminar para embasarmos nossa naquilo que estão a realizar, cuja obrigação é dar a maior abrangên-
discussão, vamos descrever a seguir o significado vernacular de cia possível ao exame.
algumas expressões que merecerão a nossa atenção na presente
análise. Sabemos que um exame pericial deve se pautar pela mais com-
pleta constatação do fato, análise e interpretação e, como resultado
Laudo: Escrito em que um perito ou um árbitro emite seu pa- final, a opinião de natureza técnico-científica sobre os fatos exami-
recer e responde a todos os quesitos que lhe foram propostos pelo nados. Os peritos não devem se restringir ao que lhes foi pergunta-
juiz e pelas partes interessadas. Parecer do louvado ou árbitro; peça do ou requisitado, mas estarem sempre atentos para outros fatos
escrita, fundamentada, em que os peritos expõem as observações e que possam surgir no transcorrer de um exame.
estudos que fizeram e consignam as conclusões da perícia.
Assim, a partir desse amplo e completo exame (a perícia), a
Perícia: Qualidade de perito. Destreza, habilidade, proficiência. peça técnica capaz de exprimir o universo dessa perícia é o Laudo
Exame de caráter técnico e especializado. PERICIAL: Relativo à perí- Pericial.
cia. Qualidade de perito; habilidade, destreza, exame ou vistoria de
caráter técnico e especializado. O laudo pericial é, portanto, o resultado final de um completo
e detalhado trabalho técnico-científico, levado a efeito por peritos,
Perito: Experiente, hábil, prático, sabedor, versado. Aquele que cujo objetivo é o de subsidiar a Justiça em assuntos que ensejaram
é prático ou sabedor em determinados assuntos. Aquele que é judi- dúvidas no processo. Dentro desse objetivo, temos aqueles laudos
cialmente nomeado para exame ou vistoria. Experimentado; sabe- destinados à Justiça Criminal e os que se destinam à Justiça Cível.

251
NOÇÕES DE CRIMINALÍSTICA
Laudo Pericial Criminal (Laudo Oficial) É, portanto, uma relação direta entre o magistrado e o perito
O laudo pericial com destino à Justiça Criminal tem como su- nomeado, em que o pagamento deverá ser feito pelo autor da ação.
porte uma série de formalidades e de regulamentos emanados, O fato do perito do juízo receber a sua remuneração com dinheiro
principalmente, do Código de Processo Penal, que o diferencia em originário do autor da ação, em nada o vincula àquela parte, pois
vários aspectos daqueles destinados à Justiça Cível. ele o recebe dentro da formalidade do processo, não havendo qual-
quer relação do perito com o autor da ação.
A principal característica do laudo pericial criminal é que todas
as partes integrantes do processo dele se utilizam, pois é uma peça Dentro das normas previstas no Código de Processo Civil, as
técnica-pericial única, determinada a partir do artigo 159 do CPP partes envolvidas no processo cível poderão nomear assistentes
(Os exames de corpo de delito e as outras perícias serão feitos por técnicos para atuarem no acompanhamento do exame que o perito
dois peritos oficiais.). Só há a figura do perito oficial para fazer a do juízo esteja realizando.
perícia, cujo laudo poderá ser utilizado desde a fase de investigação
policial até o processo, neste, tanto pelo magistrado, promotor ou Os profissionais para realizarem essas atividades, perito do juí-
partes representadas pelo advogado. zo e os assistentes técnicos, como já salientamos, devem possuir
diploma de curso superior e estarem devidamente inscritos no res-
Como vemos, qualquer necessidade de perícia no âmbito da pectivo conselho regional de fiscalização da profissão, fato esse que
Justiça Criminal, deve ser feita por peritos oficiais, que são aqueles deve ser comprovado no processo por intermédio de apresentação
profissionais de nível superior ingressos no serviço público (Insti- da documentação própria.
tutos de Criminalística ou Institutos de Medicina Legal) mediante
concurso público, com a função específica de fazer perícias. Evidente que, tanto o magistrado quanto as partes, deverão
procurar profissionais que, além das exigências já mencionadas, te-
Em razão de ser uma prestação jurisdicional emanada do Esta- nham formação e especialização adequadas ao tipo de exame que
do, reveste-se da oficialidade e publicidade, sendo o Laudo Oficial se faça necessário naquele processo.
do inquérito policial e do processo criminal. Assim, teremos laudo
oficial oriundo das perícias realizadas por peritos legistas e por peri- Dentro dessa necessidade, há sempre uma procura por profis-
tos criminais, que são os chamados peritos oficiais. sionais que sejam peritos oficiais, considerando a sua grande expe-
riência na realização de perícias em geral. Evidentemente, essas no-
Por ser uma obrigação do Estado prestar os serviços de perícia meações são de caráter particular entre o magistrado ou as partes
na esfera da justiça criminal, os peritos oficiais devem ser funcioná- com o perito, não envolvendo a sua repartição de trabalho (IMLs ou
rios públicos com a função específica de fazer perícia, não havendo ICs). O próprio Código de Processo Civil orienta o magistrado para
qualquer remuneração direta aos peritos signatários do laudo peri- dar preferência na nomeação do perito do juízo, dentre os peritos
cial. Os peritos receberão seus vencimentos normais como funcio- oficiais, seguindo-se, após a conclusão do trabalho, o respectivo pa-
nários que são, jamais poderão ser remunerados diretamente por gamento pelos serviços prestados.
cada laudo emitido com pagamento oriundo das partes envolvidas
no processo. É comum os magistrados encaminharem expediente aos Insti-
tutos de Criminalística e de Medicina Legal, solicitando a nomeação
Laudo Pericial Cível de peritos oficiais para atuarem em processos cíveis. Este procedi-
O laudo pericial cível tem destinação mais restrita, pois visa es- mento está – inclusive – previsto no artigo 434 do Código de Pro-
clarecer dúvidas levantadas pelo magistrado que esteja apreciando cesso Civil (.... O juiz autorizará a remessa dos autos, bem como do
um processo. material sujeito a exame, ao diretor do estabelecimento); todavia,
o máximo que os diretores daqueles Órgãos poderão fazer, é indicar
O exame pericial cível poderá envolver o trabalho autônomo de um de seus peritos para que o juiz proceda a nomeação e seja de-
três profissionais (peritos) para atuarem sobre um mesmo fato, sen- senvolvida a respectiva perícia, transação particular entre o magis-
do um nomeado pelo juiz e os outros dois pelas partes envolvidas trado e o perito, mediante a nomeação direta, não podendo haver
no processo. Assim, o magistrado encontrando alguma dúvida de a interferência dos respectivos Institutos.
natureza técnico-científica poderá nomear um profissional de nível
superior para fazer o respectivo exame pericial. Quanto a peritos oficiais trabalharem como assistentes técni-
cos para as partes, no processo cível, nada obsta essa participação
Esse exame pericial realizado pelo chamado “perito do juízo” desde que nenhum dispositivo legal da sua relação funcional com o
deve seguir - do ponto de vista técnico-científico - os mesmos cri- seu Órgão Público especificamente o proíba, ou algum impedimen-
térios adotados pelos peritos oficiais na realização das perícias cri- to de natureza ética, que venha a conflitar com a sua condição de
minais. Esse perito do juízo deverá analisar todo o fato requerido, Perito Oficial.
além de buscar qualquer outra informação ou circunstância a ele
relacionado que possa ser importante para subsidiar o magistrado. Considerando que o trabalho do perito do juízo deve ser abran-
Deve examinar com todo o cuidado e abrangência aquele objeto gente, os assistentes técnicos farão o trabalho de acompanhamen-
da perícia, a fim de trazer para os autos um trabalho completo e to e verificarão se todos os dados e informações que possam ser fa-
que contemple todas as informações possíveis de serem extraídas voráveis ao seu cliente estão contemplados no laudo pericial cível.
daquele evento.
Se entenderem que foi contemplado, expedirão um relatório
A perícia realizada na esfera da justiça cível não é obrigação do para ser anexado ao processo, informando quanto a sua concordân-
Estado. Desse modo, se o magistrado entender necessário o auxílio cia com o conteúdo do laudo pericial cível ou poderão – diretamen-
especializado, ele nomeará um profissional de nível superior e, cujo te - assinar junto com o perito do juízo aquele laudo.
pagamento, será feito inicialmente pelo autor da ação judicial cível.

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NOÇÕES DE CRIMINALÍSTICA
Porém, se qualquer deles não concordar com os termos do exclusiva de nenhuma profissão) que o profissional, além de possuir
laudo pericial cível, deverão fazer um parecer técnico onde eviden- diploma de curso superior, esteja registrado no conselho regional
ciarão a sua discordância técnica sobre as conclusões a que chegou de fiscalização de sua profissão.
o perito do juízo. Por se tratar de relatório ou parecer técnicos, va-
mos discutir essa situação com mais detalhes no item próprio desse Todavia, inúmeras situações encontraremos em que o objeto
trabalho. do exame requer o conhecimento técnico de pessoas que possuam
prática em determinado ofício, independente de ter formação aca-
PARECER TÉCNICO dêmica ou não.
Esse documento denominado de parecer técnico tem uma in-
finidade de aplicações e seu conteúdo é relativamente genérico, Também nesses tipos de trabalhos há uma grande procura pe-
podendo abordar desde a análise de fatos concretos até situações los peritos oficiais, em razão da sua experiência em vários tipos de
hipotéticas que venham a servir de parâmetro para outras análises exames. Tanto para o caso de assistente técnico no processo cível,
e/ou conclusões. quanto para qualquer outro trabalho destinado a outros órgãos pú-
blicos ou privados, é comum a participação dos peritos oficiais na
O parecer técnico diferencia-se do laudo pericial em razão de condição de contratados particularmente pela parte interessada em
ser um documento conseqüente de uma análise sobre determina- analisar e opinar sobre determinado fato, com a respectiva emissão
do fato específico, contendo a respectiva emissão de uma opinião do relatório técnico. A limitação imposta ao perito oficial para atuar
técnica sobre aquele caso estudado. Sobre esse tema, assim se nesses tipos de serviços particulares é somente em relação ao seu
manifesta o ilustre Perito Criminal de Pernambuco Ascendido Ca- estatuto funcional-administrativo, se este assim o restringir.
valcante em seu livro Criminalística Básica (Ed. Sagra D.C. Luzzatto,
Porto Alegre, RS): Em não havendo restrição funcional-administrativa, resta
“É a resposta a uma consulta feita por interessado sobre fatos aquela de caráter ético-legal, onde, especialmente o perito oficial,
referentes a uma questão a ser esclarecida. Pode tratar-se de um se tal assunto objeto de seu exame em instância extra-oficial che-
exame propriamente dito ou de uma opinião a respeito do valor gar posteriormente a uma situação de necessidade de ser feita uma
científico de um trabalho anteriormente produzido, quer seja por perícia criminal, jamais este perito poderá fazê-lo, devendo se de-
peritos oficiais, ou não; assim sendo, é um documento particular clarar impedido, nos termos dos artigos 112, 254 e 255 do Código
que independe de qualquer compromisso legal e que é aceito ou de Processo Penal.
faz fé, pelo renome, competência e qualidade morais de quem o
subscreve.” Para esses tipos de serviços também é comum os interessa-
dos buscarem diretamente por intermédio de associações de pe-
Portanto, o parecer técnico sempre deverá ter um objetivo es- ritos a indicação daqueles associados com prerrogativas legais e/
pecífico a se dedicar, excluindo-se da análise quaisquer outros ele- ou conhecimento técnico sobre o assunto a ser analisado. Quanto
mentos que não venham a corroborar e respaldar o objetivo de tal à relação existente entre a associação e o perito por ela designado
análise. é questão interna, onde a remuneração pelo trabalho realizado po-
derá ficar totalmente para a associação ou ser repassado parte ao
Assim, em se tratando de um parecer técnico emitido por as- associado que efetuou o trabalho. Sobre a restrição - se houver - no
estatuto funcional-administrativo, na situação em que a remune-
sistente técnico que não concordou com o laudo do perito do juízo,
ração ficou totalmente para a sua associação, essa restrição não se
ele irá analisar e emitir a sua opinião sobre os fatos que possam
aplica ao perito, pois ele estará trabalhando gratuitamente para a
respaldar os argumentos do seu cliente (a parte que o nomeou no
sua entidade de classe.
processo); se foi requisitado por uma empresa privada, deverá se
dedicar a buscar elementos técnicos que corroborem a tese do seu
Ainda dentro dessa vasta incursão do parecer técnico, ele tam-
cliente, todos, é claro, dentro dos rigores da ética e da busca da
bém se aplica como documento a ser emitido por peritos oficiais
verdade apontada a partir dessa análise técnico-científica.
no exercício de suas funções públicas (ICs e IMLs) quando se tratar
de alguma requisição de autoridades, onde não se trate especifi-
Outro aspecto caracterizador do parecer técnico é a sua re- camente da realização de uma perícia nos moldes tradicionais, de-
quisição e respectivo destinatário. Ele só ocorrerá porque alguém terminados pelo artigo 158 do Código de Processo Penal (Quando
(justiça, órgãos públicos, empresas privadas, pessoas) necessita de a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de
esclarecimento sobre determinado assunto que não detenha co- delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acu-
nhecimento ou competência legal para realizá-lo. E, obviamente, sado.), mas de alguma análise de situação real ou hipotética a partir
terá sempre um destinatário específico que, geralmente, é quem de depoimentos nos autos para saber da coerência técnica do que é
o requisitou. alegado, ou qualquer outra situação no inquérito policial ou proces-
so criminal que necessitem do conhecimento técnico-especializado
A gama de profissionais habilitados a realizar exames que te- do perito oficial.
nham por conseqüência gerar um parecer técnico, também é muito
vasta em razão do que já discutimos sobre a variedade de situações. Mesmo o Código de Processo Penal não admitindo a figura do
assistente técnico no processo criminal, vez por outra encontramos
A primeira preocupação para quem requisita um trabalho des- pareceres técnicos elaborados por profissionais que não são peritos
sa natureza é verificar se tal atividade está dentro daquelas relacio- oficiais, contestando o laudo oficial ou levantando outras situações.
nadas como de exclusiva competência de determinada profissão de Lógico que o magistrado não pode aceitar esse documento como se
nível superior. Em assim sendo, obrigatoriamente deve se buscar fosse uma outra perícia, mas ele poderá considerá-la como mais um
um profissional com uma habilidade técnico-legal para realizar o elemento de prova que qualquer das partes venha trazer aos autos,
trabalho. Em se tratando de nomeação de assistente técnico para a o que estaria respaldado pelo amplo direito de defesa. É um tipo de
Justiça Cível é também obrigatório (mesmo que a atividade não seja procedimento que os peritos oficiais não recomendam, porque em

253
NOÇÕES DE CRIMINALÍSTICA
alguns gera-se distorções de natureza processual, uma vez que, se Uma grande utilização da expressão “laudo” é feita na área da
qualquer das partes tiver alguma dúvida ou encontrar lacunas no medicina, onde é comum vermos para qualquer exame que um mé-
laudo oficial, o próprio Código lhes garante todo o direito de levan- dico realize, ao emitir um documento relatando essa tarefa, intitu-
tar esses questionamentos até chegar na situação de realização de la-o de “laudo médico”.
uma outra perícia por outros peritos oficiais.
Nesse aspecto, para evidenciar o exagero do uso dessa expres-
RELATÓRIO TÉCNICO são, basta reportarmo-nos ao significado do vocábulo “laudo” no
Genericamente falando sobre o que seria um relatório, tería- dicionário (Escrito em que um perito ou um árbitro emite seu pa-
mos uma multiplicidade de situações onde ele se aplicaria, pois é recer e responde a todos os quesitos que lhe foram propostos pelo
quase que cotidiano vermos referências à elaboração de um relató- juiz e pelas partes interessadas.) para constatarmos que “laudo mé-
rio em razão de algum fato ou atividade desenvolvida. dico” só se aplicaria quando ele estivesse atuando como perito em
algum tipo de exame. Sobre isso, existem várias situações em que o
Como nesse trabalho nos interessa aquilo que esteja relacio- médico estará atuando como perito, cujo trabalho não se destina à
nado ao trabalho pericial e atividades afins, restringiremos nossa Justiça (se for para a Justiça, seria o “laudo pericial criminal oficial”
discussão dentro desses limites. Poderemos ver, então, que um re- ou “laudo pericial cível”), mas a outros Órgãos Públicos, como a pre-
latório técnico será o resultado de algum exame ou ação específica vidência social, os acidentes de trabalho, nos concursos públicos e
que tenha sido realizado por alguma pessoa que detenha conheci- tantos outros.
mento técnico-especializado e prático.
A partir dessa delimitação, podemos dizer que nas situações
Assim, o objeto que originou um relatório técnico será algum onde o médico venha a realizar qualquer exame para um paciente
exame parcial ou análise sobre determinada situação específica, seu (se fosse perícia, o objeto do exame seria o “periciando”), ao
cujo resultado - evidenciado por intermédio do relatório técnico - emitir documentos técnicos com fins diversos, não cabe utilizar a
servirá para complementar um estudo maior sobre um fato ques- expressão laudo médico, mas sim parecer ou relatório técnico, de-
tionado. pendendo da complexidade de cada caso.

Diferencia-se o relatório técnico do parecer técnico, em virtude Mas não é só na área da medicina que encontramos essa utili-
deste conter a análise e opinião sobre o objeto do exame, enquanto zação exagerada da expressão “laudo” em documentos que relatam
que o relatório técnico é apenas um relato da ação (do exame) de- exames efetuados. Até em oficinas mecânicas de automóveis são
senvolvida, com o respectivo resultado, se for o caso. utilizados para apresentar o resultado de um exame das condições
do veículo. No máximo, para um caso desses, seria utilizar o docu-
Na perícia oficial é muito rotineiro esse documento, em fun- mento intitulado relatório técnico, uma vez que o conteúdo daque-
ção dos exames complementares que os peritos criminais, p.ex., le trabalho não se enquadra na complexidade de um laudo.
requisitam de outros peritos em setores distintos dos Institutos de
Criminalística, a fim de obterem informações técnico-especializadas Fonte: https://www.conteudojuridico.com.br/consulta/artigos/16240/
sobre partes do todo que estão analisando em uma perícia. laudo-pericial-e-outros-documentos-tecnicos

Outra situação aplicável no âmbito da perícia é no processo


cível, quando os assistentes técnicos vierem a concordar com o re- FINALIDADE DA CRIMINALÍSTICA: CONSTATAÇÃO DO
sultado da perícia realizada pelo perito do juízo. Além de poderem FATO, VERIFICAÇÃO DOS MEIOS E DOS MODOS E POSSÍ-
assinar junto o próprio laudo daquele perito, terão a possibilidade VEL INDICAÇÃO DA AUTORIA
(e julgamos a mais recomendável) de emitir um relatório sobre o
acompanhamento dos trabalhos periciais e sua respectiva concor-
dância com os resultados ali evidenciados. Finalidade da criminalística: constatação do fato, verificação
dos meios e dos modos e possível indicação da autoria
Os profissionais que atuam nessas tarefas, são os mais variados  
possíveis, pois sua formação dependerá do tipo de conhecimento A finalidade da Criminologia conforme a sua terminologia: o
ou prática necessária. Poderão estar envolvidos profissionais de ní- termo Criminalística foi elaborado em no início do século XX pelo ju-
vel superior se o trabalho for atividade exclusiva de alguma dessas rista criminal Hans Gross, para designar o sistema de técnicas cien-
profissões ou qualquer outra pessoa especialista em determinado tíficas usadas pelos departamentos de polícia, sendo, mais tarde,
assunto. adotado também para nomear a disciplina associada ao crime e à
identificação do criminoso.  
Também nessas atividades que geram os relatórios técnicos, os
peritos oficiais são muito requisitados, diretamente ou por inter- Objetivo da disciplina Criminalística: de acordo com o professor
médio de suas entidades de classe, em razão da vasta experiência Eraldo Rabelo, o objetivo da Criminalística é “estudar os vestígios
que possuem. Sobre as restrições para desenvolverem esse tipo de materiais extrínsecos à pessoa física, no que tiver de útil à elucida-
trabalho, são as mesmas verificadas para o caso dos pareceres téc- ção e à prova das infrações penais e, ainda, à identificação dos auto-
nicos. res respectivos.” (STUMVOLL, 2017)2. Tratando essa conceituação
em pormenores, temos a finalidade da Criminalística como:  
OUTROS DOCUMENTOS TÉCNICOS E/OU APLICAÇÕES - estudo dos vestígios materiais 
Ficou claro até esse ponto que a nossa abordagem restringiu-se - estudo das as interligações entre esses vestígios  
aquilo que tenha relação direta ou indireta com o Perito Oficial (pe- - estudo dos fatos que geraram esses vestígios 
rito criminal ou perito legista), porém, face à diversidade de aplica- - estudo da origem dos vestígios,  
ção e utilização desses documentos técnicos, vamos comentar duas
2 STUMVOLL, Victor Paulo, Criminalística. Juspodivm, 2017. Disponível em:
situações, como forma de ilustrar essa abrangência.
<www.editorajuspodivm.com.br> Acesso em 16 Mai 2021.

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254
NOÇÕES DE CRIMINALÍSTICA
- interpretação dos vestígios, dos meios e dos modos como fo- (D)São sinônimos de enforcamento, a esganadura e o estran-
ram perpetrados os delitos, não se limitando ao visum et repertum, gulamento.
ou seja, a crua estagnada narrativa, do modo como se manifestam (E)Se o perito médico legista encontrar uma lesão perfurocon-
os vestígios.  tusa, de entrada, no palato da vítima, então a hipótese de sui-
cídio por asfixia será a mais provável.

QUESTÕES 4. A respeito da classificação dos locais de crime e do isolamen-


to de local, assinale a alternativa correta.
(A) A garagem de uma residência, onde haja ocorrido a subtra-
1. (AOCP/2018 – ITEP/RN) A Criminalística pode ser definida ção de várias mesas e cadeiras, quanto à natureza da área, é
como local de crime externo.
(A) uma disciplina autônoma, integrada pelos diferentes ramos (B) Se um homicídio foi praticado no interior do quarto da víti-
do conhecimento técnico-científico, auxiliar e informativa das ma, a sala da residência, distante 5 metros do quarto, quanto à
atividades policiais e judiciárias de investigação criminal, tendo divisão, é local imediato.
por objeto o estudo dos vestígios materiais extrínsecos à pes- (C) Se, após uma colisão entre um veículo e uma motocicleta, o
soa física, no que tiver de útil à elucidação e à prova das infra- condutor do veículo prestou imediato socorro ao motociclista,
ções penais e, ainda, à identificação dos autores respectivos. levando-o ao hospital e retornando ao local do sinistro, com o
(B) a parte da jurisprudência que tem por objeto o estabeleci- veículo, antes da chegada dos peritos, então o local da colisão,
mento de regras que dirigem a conduta do perito e na forma quanto à preservação, é local idôneo.
que lhe cumpre dar às suas declarações verbais ou escritas. (D) Se, no interior da residência, o marido desfecha vários gol-
(C) o conjunto de conhecimentos médicos e paramédicos des- pes de faca em sua esposa e, após matá-la, transporta o corpo
tinados a servir ao Direito, cooperando na elaboração, na inter- da vítima até um lote baldio, onde o joga, então o lote baldio,
pretação e na execução dos dispositivos legais, no campo de quanto à divisão, é local relacionado.
ação da ciência aplicada. (E) Embora imprescindível para garantir as condições de se
(D) o ramo das ciências que se ocupa em elucidar as questões realizar um exame pericial da melhor forma possível, não há
da administração da justiça civil e criminal que podem ser re- norma legal que determine a tomada de iniciativas para o iso-
solvidas somente à luz dos conhecimentos médicos. lamento e a preservação de locais de infrações penais, a fim de
(E) a área do direito penal que se ocupa da doutrina criminal resguardarem os vestígios conforme foram produzidos durante
envolvida na elucidação material do fato, sendo prescindível à a ocorrência do crime.
elucidação de crimes que deixam vestígios e regida por leis jurí-
dicas e ritos processuais rígidos e imutáveis e cujos resultados e 5. Com relação a local de crime e a exame pericial, assinale a
apontamentos são de origem empírica, ambígua e inextricável.
opção correta.
(A) O exame pericial de local destina-se, precipuamente, a de-
2. (FUNDATEC/2017 – IFP/RS) São princípios fundamentais da
terminar a causa da morte da vítima.
Perícia Criminalística:
(B) A vítima de homicídio, em regra, deve ser individualizada
(A) Observação, contextualização, descrição, discussão e docu-
ainda no local do crime e antes do exame pericial.
mentação.
(C) Local relacionado abrange o corpo de delito, seu entorno e
(B) Comunicação, análise, interpretação, discussão e declara-
espaços que contenham vestígios materiais do crime.
ção.
(D) O local do crime é dividido, para efeitos de preservação,
(C) Observação, análise, interpretação, descrição e documen-
apenas em local imediato e em local relacionado.
tação.
(E) Em casos de morte violenta, o exame perinecroscópico deve
(D) Visualização, comunicação, análise, interpretação e docu-
ser realizado pelo perito criminal ainda no local do crime.
mentação.
(E) Recomendação, verificação, descrição, discussão e declara-
ção. GABARITO

3. Durante um levantamento de local de crime, o Perito Crimi-


nal constatou um cadáver em situação de enforcamento por sus- 1 A
pensão completa. Populares afirmavam que a vítima era depressiva 2 C
e que já havia tentado o suicídio antes. O perito, entretanto, estra-
nhou a escassez de petéquias na conjuntiva ocular da vítima e san- 3 C
gramento oriundo da cavidade oral. Diante da situação hipotética 4 D
apresentada, assinale a alternativa correta.
(A)No enforcamento, como modalidade de asfixia por constri- 5 E
ção do pescoço, o sulco decorrente do laço e presente no pes-
coço da vítima é oblíquo e contínuo, portanto sem interrupção
na altura do nó. ANOTAÇÕES
(B)A afirmação de populares é suficiente para concluir pela
hipótese de suicídio, independentemente de qualquer outro ______________________________________________________
elemento de ordem material ou médico legal que possa ser
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avaliado no local ou no cadáver.
(C)Petéquias são equimoses pontuais que eventualmente, po- ______________________________________________________
dem estar associadas ao enforcamento quando presentes, por
exemplo, na conjuntiva ocular. ______________________________________________________

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NOÇÕES DE CRIMINALÍSTICA
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NOÇÕES DE MEDICINA
LEGAL

Morte Morte
Morte Natural Morte Súbita
Violenta Suspeita
NOÇÕES DE TANATOLOGIA FORENSE: CRONOTANATOG- Também
NOSE; MORTE SUSPEITA; MORTE SÚBITA; MORTE AGONI- conhecida
ZANTE como Ocorre
A agressão
morte por de forma
provoca É natural,
antecedentes duvidosa.
— Diagnóstico da morte e suas consequências jurídicas a morte. de maneira
patológicos. Ou seja, não
A tanatologia estuda a morte nos seguintes aspectos: Origina-se de que não há
É oriunda de existe certeza
• Tipos ação externa. tempo para
um estado de ter sido de
• Causas Ex. homicídio, atendimento
mórbido causa natural
• Cronologia suicídio, médico.
adquirido ou de causa
acidente.
ou de uma violenta.
Isso é fundamental para a perícia e a consequente instrução/ perturbação
julgamento de processos criminais. congênita.
— Conceito moderno de morte e sua importância na doação
É curioso que a morte violenta nem sempre é criminosa, uma vez
de órgãos para transplante
que, basta não se originar de patologias para receber essa titulação.
De acordo com o Código Civil:
Art. 6º A existência da pessoa natural termina com a morte;
— Cronotanatognose: fenômenos cadavéricos e sua valora-
presume-se esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei auto-
ção na avaliação do tempo de morte
riza a abertura de sucessão definitiva.
A Cronotanatognose consiste em momentos após o fim das
funções vitais do organismo. Em outras palavras, de acordo com
A partir deste conceito a comunidade jurídica, embasada na
a Cronotanatognose é possível determinar o tempo entre a morte
orientação no Conselho Federal de Medicina estabeleceu que a
e o encontro do cadáver. Com isso, os peritos conseguem decifrar
morte ocorre com a parada cerebral.
a hora da morte. Apesar de parecer fácil, nem sempre os fatores
Neste sentido dispõe a lei 9434/97, que dispõe sobre a remo-
internos e externos facilitam a quantificação exata do tempo.
ção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de trans-
Quanto mais demorado é o tempo de encontro do corpo mais
plante:
difícil precisar a data da morte. Os fenômenos cadavéricos depen-
Art. 3º A retirada post mortem de tecidos, órgãos ou partes do
dem da atuação de fatores. Esses fatores podem ser impulsionado-
corpo humano destinados a transplante ou tratamento deverá ser
res ou inibidores da decomposição. Isso resultará num adiamento
precedida de diagnóstico de morte encefálica, constatada e regis-
ou atraso do processo de decomposição.
trada por dois médicos não participantes das equipes de remoção e
Diversos métodos auxiliam nessa missão de decifrar a data da
transplante, mediante a utilização de critérios clínicos e tecnológi-
morte:
cos definidos por resolução do Conselho Federal de Medicina.
• Verificar se há comida no estômago do morto;
• Verificar a rigidez cadavérica;
Assim, basta a parada cerebral para que o corpo seja considera-
• Verificar coloração etc.
do sem vida e apto a ser transplantado.
— Declaração de óbito
— Causa jurídica da morte: morte natural, morte violenta,
A lei de registros públicos (6015/73) determina que:
morte suspeita e morte súbita
Art. 77.  Nenhum sepultamento será feito sem certidão do ofi-
Neste ponto vale memorizar o seguinte quadro:
cial de registro do lugar do falecimento ou do lugar de residência
do de cujus, quando o falecimento ocorrer em local diverso do seu
domicílio, extraída após a lavratura do assento de óbito, em vista
do atestado de médico, se houver no lugar, ou em caso contrário,
de duas pessoas qualificadas que tiverem presenciado ou verificado
a morte.  

No entanto, durante a triste realidade da pandemia causada


pelo Coronavírus foi alterado tal entendimento. O Conselho Nacio-
nal de Justiça e o Ministério da Saúde editaram a Portaria Conjun-

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
ta nº 1, de 30 de março de 2020, que estabelece procedimentos
excepcionais para sepultamento e cremação de corpos durante a NOÇÕES DE ASFIXIOLOGIA FORENSE: POR CONSTRIÇÃO
situação de pandemia. CERVICAL: ENFORCAMENTO, ESTRANGULAMENTO, ESGA-
Art. 1º Autorizar os estabelecimentos de saúde, na hipótese de NADURA; POR MODIFICAÇÃO DO MEIO: AFOGAMENTO,
ausência de familiares ou pessoas conhecidas do obituado ou em SOTERRAMENTO, CONFINAMENTO; POR SUFOCAÇÃO:
razão de exigência de saúde pública, a encaminhar à coordenação DIRETA E INDIRETA
cemiterial do município, para o sepultamento ou cremação, os cor-
pos sem prévia lavratura do registro civil de óbito.
— Conceito de asfixia e sua classificação etiológica
Criminalmente, a certidão de óbito é importante para declarar As asfixias fazem parte da Traumatologia e são espécie de ener-
extinta a punibilidade do agente: gia físico-químicas. Consideram-se fases da asfixia
Art. 62.  No caso de morte do acusado, o juiz somente à vista da a) a Dispneia inspiratória;
certidão de óbito, e depois de ouvido o Ministério Público, declarará b) dispneia expiratória;
extinta a punibilidade. c) parada respiratória.

Ademais, a jurisprudência entende que diante de certidão de Quem vê uma pessoa asfixiada pode notar cor azulada, língua
óbito falsa eventual arquivamento do inquérito policial não faz coi- para fora, equimoses. Por dentro, o sangue fica fluido e escuro,
sa julgada material. Assim, cabe a reabertura das investigações. equimoses viscerais, sangue nas vísceras, hemorragia, edema e efi-
sema pulmonar.
— Necessidade da necrópsia médico-legal Em uma classificação etiológica, analisando as causas da asfi-
A necropsia médico-legal consiste em um exame necroscópico, xia, tal pode ser causada por:
realizado por peritos, que tem como escopo atender solicitações da • Enforcamento (forma laço, em regra suicídio ou acidental);
justiça. Por exemplo, é ordenada pelo delegado de polícia ou juiz, • Estrangulamento (forma laço, em regra homicida);
em determinadas situações. • Esganadura (sem laço, com as mãos – sempre homicida).
O que justifica a necrópsia?
• morte violenta Em suma, o prejuízo da ventilação pulmonar é causada por meio
• morte suspeita mecânico (enforcamento, estrangulamento, esganadura), mas tam-
• morte de pessoa não identificada bém existem outros mecanismos de asfixia. O enforcamento é acio-
nado pelo peso do corpo da vítima. Assim, se o agente deita num
Ademais, é importante diferenciar o exame perinecroscópico precipício, amarra uma corda em seu pescoço e, na outra ponta,
do exame de necropsia: amarra uma pedra e a arremessa para baixo do precipício, não há
1. O exame perinecroscópico consiste no exame externo do ca- enforcamento, já que o laço foi acionado pelo peso da pedra.
dáver, feito pelo perito criminal, ainda no local de crime.
2. O exame perinecroscópico não deve ser confundido com o — Estudo médico-legal das asfixias: sufocações direta e indi-
exame de necropsia, que é aquele realizado pelo perito médico-le- reta, constrições cervicais (enforcamento, estrangulamento e es-
gista, normalmente nas instalações do Instituto de Medicina Legal ganadura), modificações do meio ambiente (confinamento, soter-
(IML).  ramento e afogamento)
O art. 162 traz o exame necroscópico: Quanto as sufocações diretas e indiretas é importante saber
Art. 162.  A autópsia será feita pelo menos seis horas depois do que na sufocação por compressão do tórax, observam-se pulmões
óbito, salvo se os peritos, pela evidência dos sinais de morte, julga- congestos e com hemorragias.
rem que possa ser feita antes daquele prazo, o que declararão no
auto. Sufocação Direta Sufocação Indireta
Parágrafo único.  Nos casos de morte violenta, bastará o sim-
ples exame externo do cadáver, quando não houver infração penal É mecânica, om obstrução
Compressão externa do
que apurar, ou quando as lesões externas permitirem precisar a à penetração do ar nas vias
tórax, deixando impedidos os
causa da morte e não houver necessidade de exame interno para a respiratórias desde o nariz/
movimentos respiratórios.
verificação de alguma circunstância relevante. boca até a traqueia.
Tanto o exame necroscópico quanto a exumação ocorrem em
crimes que envolvam a morte. O exemplo clássico de tais procedi- Nas constrições cervicais é importante a seguinte classificação:
mentos é quando o cadáver já foi submetido ao exame necroscópi-
co, mas surgirem dúvidas sobre o primeiro exame – neste caso, exu- Enforcamento Estrangulamento Esganadura
ma-se o corpo para compreender melhor alguns aspectos do crime.
Não há laço, usa-
Uso de objeto Uso de objeto
— Infortunística se as mãos (ou
formando o laço. formando o laço.
Infortunística consiste na ciência que junta o conhecimento braços).
jurídico (Direito Constitucional, Previdenciário, Trabalhista, Civil e Suicídio, acidental Sempre homicida
Penal), com a matéria técnico-especializada de Segurança e Saúde e raramente Em regra, homicida. por subjugação.
no Trabalho e da Medicina Legal homicida. Em regra, dolosa.
O objeto de estudo da Infortunística são causas/consequências
de acidentes de trabalho (ex. doenças ocupacionais).

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258
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Quanto as modificações de meio, subdivide-se em confinamento, soterramento e afogamento.

Confinamento Soterramento Afogamento


Ambiente fechado,
Meio pulvurulento Meio líquido.
aglomerações.

NOÇÕES DE INSTRUMENTOS DE AÇÃO MECÂNICA: AÇÃO CORTANTE, PERFURANTE, CONTUNDENTE E MISTA

— Classificação dos agentes traumáticos e vulnerantes


Os agentes vulnerantes transmitem energia. Ou seja, o agente vulnerante ao transferir energia ao corpo fere esse corpo. O agente
vulnerante pode ser físico, químico, biológico etc. Por exemplo, o agente vulnerante físico mecânico divide-se em contundente, cortante,
perfurante, misto.

INSTRUMENTO LESÃO AÇÃO EXEMPLO


Perfurante Punctória ou puntiforme Pressão Agulha
Cortante Incisa Deslizamento Navalha
Contundente Contusa Pressão, percussão, arrastamento e tração Pau
Perfurocortante Perfuroincisa Pressão e deslizamento Faca
Perfurocontundente Perfurocontusa Pressão e penetração Projétil de arma de fogo
Cortocontundente Cortocontusa Pressão e esmagamento Machado, dente

Os meios mecânicos que causam lesões (traumas) podem ser:


• externos (instrumentos cortantes, perfurantes, contundentes, pérfuro-cortantes, corto-contundentes, pérfuro-contundentes, como
agentes causadores de lesões).
• internos (o esforço).

Por fim, vale saber que as feridas causadas pelos meios (agentes) mecânicos são:
— incisas
— punctórias
— contusas
— pérfuro-incisas
— corto-contusas (foice, acão, dentada, unhas)
— pérfuro-contusas.

As lesões causadas pelo esforço são, em linhas gerais, rupturas de músculos, entorses, luxações, hérnia, aneurisma, enfisema, ruptu-
ras de estômago/intestino.

NOÇÕES DE AGENTES QUÍMICOS; NOÇÕES DE AGENTES TÉRMICOS

Concernente às energias de ordem física não-mecânicas, estudam-se todas as lesões produzidas por uma modalidade de ação capaz
de modificar o estado físico dos corpos e cujo resultado pode resultar em ofensa corporal, dano à saúde ou morte1.
As energias de ordem física mais comuns são: temperatura, pressão atmosférica, eletricidade, radioatividade, luz e som.

— Lesões e morte por ação térmica

Temperatura
Suas modalidades são: o frio, o calor e a oscilação de temperatura.

• Frio
O frio pode atuar de maneira individual ou coletiva, e sua natureza jurídica ocorre no crime, no suicídio e, mais habitualmente, no
acidente. Embora a forma acidental seja mais constante, não é raro o caráter doloso, principalmente em abandono de recém-nascidos.
Na ação generalizada do frio, não existe uma lesão típica. A perícia deve orientar-se pelos comemorativos, dando valor ao estudo
do ambiente e, ainda, aos fatores individuais da vítima, tais como: fadiga, depressão orgânica, idade, alcoolismo e certas perturbações
mentais.

1 FRANÇA, Genival Veloso de. Medicina legal. 11ª. ed. -- Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017.

259
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
A ação geral do frio leva à alteração do sistema nervoso, sono- Eletricidade
lência, convulsões, delírios, perturbações dos movimentos, aneste- A eletricidade natural ou cósmica e a eletricidade artificial ou
sias, congestão ou isquemia das vísceras, podendo advir a morte industrial podem atuar como energia danificadora.
quando tais alterações assumem maior gravidade. A eletricidade natural, quando agindo letalmente sobre o ho-
O diagnóstico de morte pela ação do frio é difícil. Têm-se alguns mem, denomina-se fulminação e, quando apenas provoca lesões
elementos, como: hipóstase vermelho-clara, rigidez cadavérica pre- corporais, chama-se fulguração. Esses fenômenos são os mais co-
coce, intensa e extremamente demorada, sangue de tonalidade muns entre os chamados fenômenos naturais.
menos escura, sinais de anemia cerebral, congestão polivisceral, às Os fatores que determinam a natureza, a intensidade e a gravi-
vezes disjunção das suturas cranianas, sangue de pouca coagulabili- dade das lesões são os seguintes: corrente contínua da eletricidade
dade, repleção das cavidades cardíacas, espuma sanguinolenta nas atmosférica; resistência de corpo atingido; tensão elétrica (volta-
vias respiratórias, erosões e infiltrados hemorrágicos na mucosa gem); intensidade da corrente; duração do contato da vítima com a
gástrica (sinal de Wischnewski), e, na pele, poderão ser observadas corrente; trajeto da corrente através do corpo da vítima.
flictenas semelhantes às das queimaduras. O diagnóstico das lesões é dado pelos comemorativos orien-
A perícia deve nortear-se fundamentalmente pelo diagnóstico tados pelas tempestades e descargas elétricas, provenientes dos
das lesões vitais durante a estada do corpo no ambiente refrigerado choques de nuvens, e pelo exame das próprias lesões. As lesões
ou se o óbito desperta outra causa de morte, questões essas a que externas tomam aspecto arboriforme e tonalidade arroxeada, cog-
se pode responder com a prática da necropsia, pelo histórico e pelo nominadas, sinal de Lichtenberg ou marcas queraunográficas (do
exame do local de óbito. grego keraunos, que significa raio), procedente de fenômenos vaso-
A ação localizada do frio, também conhecida como geladura, motores, podendo desaparecer com a sobrevivência.
produz lesões muito parecidas com as queimaduras pelo calor e Essa marca surge cerca de uma hora depois da descarga e de-
tem sua classificação em graus: primeiro grau, lesão caracterizada saparece gradualmente em torno das 24 h subsequentes à descarga
pela palidez ou rubefação local e aspecto anserino da pele; segundo elétrica.
grau, eritema e formação de bolhas ou flictenas de conteúdo claro e Em geral, a morte pelos efeitos da eletricidade atmosférica se
hemorrágico; terceiro grau, necrose dos tecidos moles com forma- dá por inibição direta dos centros nervosos por paralisia respirató-
ção de crostas enegrecidas, aderentes e espessas; quarto grau, pela ria e asfixia. Em outros casos predominam os efeitos cardíacos com
gangrena ou desarticulação. fibrilação ventricular.
Podem surgir outras alterações, como queimaduras, hemorra-
• Calor gias musculares, ruptura de vasos de grosso calibre e até mesmo
O calor pode atuar de forma difusa ou direta. do coração; fraturas ósseas, congestão e hemorragia dos globos
oculares; congestão polivisceral, fluidez do sangue, distensão dos
• Calor difuso pulmões e equimoses subpleurais e subpericárdicas. As lesões mais
Ocorre de duas maneiras: a insolação e a intermação. A inso- intensas são encontradas nos locais de entrada e saída da corrente
lação é proveniente do calor ambiental em locais abertos ou rara- elétrica (mais comuns na cabeça, no tórax e nos pés).
mente em espaços confinados, concorrendo para tanto, além da A eletricidade artificial ou industrial, por sua vez, pode resultar
temperatura, os raios solares, a ausência da renovação do ar, a fadi- o que se denomina eletroplessão. É, geralmente, acidental, poden-
ga, o excesso de vapor d’água. do, no entanto, ter origem suicida ou homicida.
A interferência do sol não desempenha maior significação nes-
sa síndrome, segundo se julgava anteriormente. Há de se levar em Conceitua-se a eletroplessão como qualquer efeito proporcio-
conta também alguns fatores intrínsecos, tais como: estado de re- nado pela eletricidade industrial, com ou sem êxito letal.
pouso ou de atividade, patologias preexistentes, principalmente as As lesões superficiais dessa forma de eletricidade alteram-se
ligadas aos sistemas circulatório e respiratório, o metabolismo ba- de acordo com a corrente de alta ou baixa tensão.
sal, hipofunção paratireoidiana e suprarrenal do indivíduo. A lesão mais típica é conhecida como marca elétrica de Jellinek,
A intermação decorre capitalmente do excesso de calor am- embora nem sempre esteja presente. Constitui-se em uma lesão da
biental, lugares mal arejados, quase sempre confinados ou pouco pele, tem forma circular, elítica ou estrelada, de consistência endu-
abertos e sem a necessária ventilação, surgindo, geralmente, de recida, bordas altas, leito deprimido, tonalidade branco-amarelada,
forma acidental. Alguns fatores, como alcoolismo, falta de ambien- fixa, indolor, asséptica e de fácil cicatrização.
tação climática, vestes inadequadas, são elementos consideráveis. Pode apresentar também a forma do condutor elétrico. As le-
sões por corrente elétrica no couro cabeludo são semelhantes às da
• Calor direto pele; todavia, podem-se verificar grandes perdas de tecido, dando o
Tem por consequência as queimaduras, de maior ou menor aspecto do destacamento da casca que se verifica em certos frutos.
extensão, mais ou menos profundas, infectadas ou não, advindas Os pelos apresentam uma característica bem interessante:
das ações da chama, do calor irradiante, dos gases superaquecidos, apenas suas pontas mostram-se chamuscadas, embora inteiramen-
dos líquidos escaldantes, dos sólidos quentes e dos raios solares. te enrodilhados de forma helicoidal. Por meio da raspagem do local
São, portanto, lesões produzidas geralmente por agentes físicos de onde se encontra essa lesão é possível identificar em laboratório
temperatura elevada, que, agindo sobre os tecidos, produzem al- a presença de metais fundidos pela ação local da corrente elétrica
terações locais e gerais, cuja gravidade depende de sua extensão e e com isso ter a composição química do condutor (cobre, bronze,
profundidade. alumínio etc.).
São ordinariamente de origem acidental, apesar de não se po- Quando a eletricidade é de alta tensão, dá margem às lesões
der negar uma certa incidência de suicídios por queimaduras provo- mistas, ou seja, à marca elétrica e à queimadura.
cadas pelas chamas. É mais rara a ação criminosa. Se esta forma de eletricidade é usada como pena judicial de
morte através da “cadeira elétrica” chama-se eletrocussão. Nesta
— Lesões e morte por ação elétrica circunstância, a morte é provocada por uma intensa carga de ener-
gia elétrica que passa por todo corpo e atinge com maior intensida-
de o coração e o cérebro.

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Difere das diversas formas de eletroplessão pela generalização Mesmo que o interesse médico-legal, nessa modalidade de
e pela gravidade das lesões que se verificam no interior do corpo. energia, circunscreva-se ao diagnóstico do acidente de trabalho,
Tendo em conta a consistência do cérebro e a utilização de capace- pode-se admitir ainda como causa jurídica o suicídio ou o homicí-
tes metálicos na cabeça do executado, este é o órgão que apresenta dio, embora mais raramente.
lesões mais intensas representadas por lacerações e profundas fis-
suras, entre outras. Radioatividade
Radiações são ondas eletromagnéticas ou partículas que se
— Lesões e morte por baropatias propagam com uma determinada velocidade. Contêm energia, car-
ga elétrica e magnética.
Pressão atmosférica Podem ser geradas por fontes naturais ou por dispositivos
Quando a pressão atmosférica alterna para mais ou para me- construídos pelo homem. Possuem energia variável desde valores
nos do normal, pode importar em danos à vida ou à saúde do ho- pequenos até muito elevados2.
mem. Portanto, merece a consideração da perícia médico-legal. As radiações eletromagnéticas mais conhecidas são: luz, mi-
cro-ondas, ondas de rádio, radar, laser, raios X e radiação gama. As
• Diminuição da pressão atmosférica radiações sob a forma de partículas, com massa, carga elétrica, car-
A pressão atmosférica normal corresponde a uma coluna de ga magnética mais comuns são os feixes de elétrons, os feixes de
mercúrio de 760 mm ao nível do mar ou também 1.036 kg/cm², o prótons, radiação beta, radiação alfa.
que equivale a 1 atmosfera. À medida que subimos, essa pressão
diminui e o ar vem a ficar mais rarefeito. • Tipos de Radiação
Há diminuição do oxigênio e do gás carbônico, e a composição Dependendo da quantidade de energia, uma radiação pode ser
do ar altera o fenômeno da hematose. Tais perturbações recebem o descrita como não ionizante ou ionizante.
nome de mal das montanhas, compensadas pela “poliglobulina das
alturas”, que se constitui em um considerável aumento do número — Radiações não ionizantes
de glóbulos vermelhos no sangue e que no indivíduo aclimatado As radiações não ionizantes possuem relativamente baixa ener-
reverte espontaneamente em poucos dias.
gia. De fato, radiações não ionizantes estão sempre a nossa volta.
É comum nas altitudes acima de 2.500 m, é agravado com o
Ondas eletromagnéticas como a luz, calor e ondas de rádio são
esforço físico e tem como sintomas mais comuns cefaleia, dispneia,
formas comuns de radiações não ionizantes. Sem radiações não io-
anorexia, fadiga, insônia, tonturas e vômitos. Nos países andinos é
nizantes, não se poderia apreciar um programa de TV ou cozinhar
conhecido como soroche e puna.
em forno de micro-ondas.
Na estrutura alveolar do pulmão, o oxigênio, o gás carbônico
e o azoto impõem uma pressão global em torno de 713 mm, ten-
— Radiações Ionizantes
do cada um destes elementos uma pressão parcial, dependendo
de sua concentração na intimidade dos alvéolos. Assim, o oxigênio Altos níveis de energia, radiações ionizantes, são originadas do
(14,5%), com uma pressão de 95 a 105 mmHg; o azoto (80%), com núcleo de átomos, podem alterar o estado físico de um átomo e
565 a 580 mmHg; e o gás carbônico (5,5%), com 40 mmHg. causar a perda de elétrons, tornando-os eletricamente carregados.
Desse modo, toda vez que há diminuição da pressão atmosféri- Este processo chama-se ionização.
ca, cai a concentração dos gases dissolvidos no sangue, tanto mais
rapidamente quanto maior for a velocidade da descompressão. Os efeitos da radioatividade, como energia causadora do dano,
Além do mais, surge o fenômeno da anoxia, explicado também pela têm nos raios X, no rádio e na energia atômica o seu motivo.
diminuição da pressão parcial do oxigênio no interior dos alvéolos. Os raios X são de implicações médico-legais mais assiduamente
Isso força o coração a trabalhar mais no sentido de compensar a e podem perpetrar lesões locais ou gerais. As lesões locais são co-
carência de oxigênio. nhecidas por radiodermites e as de ação geral incidem sobre órgãos
Daí, pessoas não habituadas a grandes altitudes passam mal profundos, principalmente as gônadas.
quando nestes locais. Dentro deste capítulo chamado “patologia Seu estudo compete à infortunística ou como elemento da res-
da altitude”, além do mal das montanhas, podemos encontrar um ponsabilidade médica nas modalidades imperícia, imprudência e
grupo de entidades de maior ou menor gravidade, como o edema negligência.
agudo do pulmão e o edema cerebral das alturas, as hemorragias As radiodermites podem ser agudas ou crônicas:
retinianas, o mal crônico das montanhas (doença do monge), o em-
bolismo pulmonar e até mesmo a psicose das grandes altitudes. • Agudas
As radiodermites do 1º grau, geralmente temporárias, apresen-
• Aumento da pressão atmosférica tam duas formas: depilatória e eritematosa. Essa fase dura cerca
Sofrem efeito desse tipo de ação os mergulhadores, escafan- de 60 dias e deixa uma mancha escura que desaparece muito len-
dristas e outros profissionais que trabalham debaixo d’água ou em tamente.
túneis subterrâneos. Não incorrem só no perigo do aumento da As do 2º grau (forma papuloeritematosa) são representadas
pressão atmosférica, mas especialmente na descompressão brusca geralmente por ulceração muito dolorosa e recoberta por crosta
que pode ocorrer, dando como desfecho lesões muito graves. Essa seropurulenta. Têm cicatrização difícil, deixando em seu lugar uma
síndrome é conhecida por mal dos caixões. placa esbranquiçada de pele rugosa, frágil e de características atí-
picas.
O aumento da pressão atmosférica, ao mesmo tempo que
As radiodermites do 3º grau (forma ulcerosa) estão representa-
acarreta uma patologia de compressão, caracterizada pela intoxica-
das por zonas de necrose, de aspecto grosseiro e grave. São conhe-
ção por oxigênio, nitrogênio e gás carbônico, produz também uma
cidas por úlceras de Röentgen.
patologia de descompressão, proveniente do fenômeno da embo-
Nos profissionais que trabalham com raios X, sem os devidos
lia, consequente à maior concentração dos gases dissolvidos no
cuidados, podem aparecer essas lesões nas mãos (mãos de Röen-
sangue. São conhecidas por “barotraumas” ou baropatias.
tgen).

2 http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/lab_virtual/radiacao.html

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
• Crônicas A blast injury é um conjunto de manifestações violentas e pro-
Essas lesões podem ser locais e apresentar a forma úlcero-atró- duzida pela expansão gasosa de uma explosão potente, acompa-
fica, teleangiectásica ou neoplásica. Esta última também chamada nhada de uma onda de pressão ou de choque que se desloca brusca
de câncer cutâneo dos radiologistas ou câncer röentgeniano, quase e rapidamente em uma velocidade muito grande, a pouca distância
sempre do tipo epitelioma pavimentoso. da vítima e, mais grave, em locais fechados. Esta força, para produ-
Podem ser ainda de efeitos gerais, compreendendo várias sín- zir lesões no homem, deve ser no mínimo de 3 libras por polegada
dromes: digestivas, cardíacas, oculares – úlcera de córnea e cata- quadrada.
ratas –, ginecológicas, esterilizantes, cancerígenas, sanguíneas e Se a expansão da onda explosiva ocorre dentro d’água, verifi-
mortes precoces. cam-se os mesmos efeitos, levando em conta que a água apresenta
O rádio, quando usado de maneira indiscriminada, pode ser uma velocidade de propagação e intensidade de 1.600 m por se-
motivo de sérios danos à saúde ou à vida do paciente, quer por gundo.
ação externa, quer por ação interna. Já sob a forma de arma nuclear As lesões provocadas pela expansão gasosa atingem diversos
(bomba atômica), custosamente justifica intervenção médico-legal, órgãos e se caracterizam de acordo com a sua forma, disposição e
haja vista sua responsabilidade escapar à ação pericial. consistência. A lesão mais comum é a ruptura do tímpano (“blast”
Alguns dos seus efeitos são parecidos com os dos raios X e da auditiva). É representado por rupturas lineares da metade anterior
radiação; outros são provenientes da onda explosiva (blast), das do tímpano, comumente bilateral.
queimaduras e das sequelas tardias, pela disseminação dos raios Nos casos mais benignos, pode-se verificar uma surdez passa-
alfa, beta e gama. Assim, os efeitos dessa modalidade de energia geira por comoção labiríntica. A “blast” pulmonar é também mui-
são de ordem traumática, térmica e radioativa. to comum e apresenta-se com hemorragia capilar difusa dos lobos
médio e inferiores e equimoses subpleurais, e suas vítimas têm es-
— Explosões carros hemoptoicos. Os alvéolos ficam distendidos e rotos, poden-
As lesões de ordem mecânica são produzidas pela explosão, do os pulmões apresentarem impressões costais na sua superfície.
podendo levar à morte por desgarramento cutâneo, hemorragias A “blast” abdominal mostra o estômago com infiltrados he-
viscerais, projeção a distância com traumatismo indireto. As lesões morrágicos da mucosa ou serosa, e em alguns casos até rupturas.
térmicas são caracterizadas por amplas áreas de queimaduras que
Os intestinos também são mais agredidos, exibindo sangramentos
vão até a carbonização.
dispostos em anéis na parte terminal do íleo e do ceco, podendo
Em Hiroshima e Nagasaki, foram observadas queimaduras de
apresentar perfurações.
2º grau com a distância até de 3 km. Para alguns, no centro da ex-
A “blast” cerebral caracteriza-se, na maioria das vezes, pela
plosão a temperatura chegou a 4.000°C.
presença de hematomas subdurais ou hemorragia ventricular. A
Dos hospitalizados por queimaduras naquelas cidades, quando
“blast” ocular, de menor frequência, caracteriza-se pela hemorra-
da explosão das primeiras bombas atômicas, 75% deles morreram
gia do vítreo, equimose subconjuntival intensa e cegueira definitiva
antes da segunda semana. Os efeitos radioativos estão representa-
dos pelas consequências tardias, com graves repercussões genéti- ou temporária.
cas, neoplásicas e cutâneas. O coração é o órgão que suporta melhor as ondas de expansão
Dentro de um raio de 1 km, todas as mulheres abortaram; en- da blast injury. A necropsia das vítimas da blast injury, em casos
tre 1 e 2 km, tiveram filhos prematuros, os quais morreram pouco nos quais houve apenas a ação da onda explosiva, pode não mos-
depois; e, em uma distância de 3 km, apenas 33% das mulheres trar nenhuma lesão externa e tão só lesões internas, caracterizadas
chegaram ao fim da gravidez com recém-nascidos aparentemente pelos danos graves em órgãos internos, principalmente pulmões,
normais. estômago, intestinos, baço, rins e fígado.
Hoje, com o surgimento dos atentados suicidas por bombas,
• Lesões produzidas por artefatos explosivos além dos objetos de metal de que se compõem os artefatos ex-
Chama-se de explosão um mecanismo produzido pela transfor- plosivos, há também a preocupação com a dispersão do material
mação química de determinadas substâncias que, de forma violen- biológico do próprio responsável por tais ações, pois este material,
ta e brusca, produz uma quantidade excessiva de gases com capa- principalmente fragmentos ósseos, pode representar uma fonte de
cidade de causar malefícios à vida ou à saúde de um ou de vários transmissão de doenças infecciosas graves, como AIDS e hepatite.
indivíduos. Na maioria das vezes, sem contar com o seu uso bélico,
ela é de origem acidental, mas pode ter como etiologia o homicídio — Luz e Som
e mais raramente o suicídio. Cada uma dessas formas de energia física pode comprometer
As lesões produzidas por esses artefatos podem ser por ação gravemente os respectivos órgãos dos sentidos, produzindo lesões
mecânica e por ação da onda explosiva. As primeiras são prove- e perturbações de ordem funcional que, em muitas ocasiões, impli-
nientes do material que compõe o artefato e dos escombros que cam perícia médico-legal.
atingem as vítimas. As outras são decorrentes das ondas de pressão A ação intensiva da luz sobre os órgãos da visão pode levar a
e sucção, que compõem a chamada síndrome explosiva ou blast consequências graves, como à cegueira total. Infelizmente, uma
injury. certa forma arbitrária de obter confissões em delegacias de polícia
As lesões provocadas pela ação mecânica da explosão estão e órgãos de repressão, que fazia projetar, sobre os olhos de interro-
representadas por ferimentos, mutilações e fraturas, os quais são gados, feixes luminosos de alta intensidade, produziu, de maneira
produzidos quase exclusivamente pelos escombros das estruturas irreversível, danos à estrutura óptica em prisioneiros e detidos.
atingidas, variando, é claro, com o grau de intensidade do explosivo Outras radiações não ionizantes, como o infravermelho e o ul-
e da distância que se encontra a vítima. A região do corpo também travioleta, podem acarretar lesões sobre o cristalino e as conjunti-
varia muito, pois depende da forma do artefato usado. vas, respectivamente. O raio laser, por ser uma forma de energia
Se é carta-bomba, por exemplo, as regiões mais atingidas são que se concentra muito em um único lugar, apresenta um efeito
as mãos e a face. Se é na modalidade mina, os pés são os mais atin- fotoquímico e fototérmico muito maior.
gidos. Os órgãos mais vulneráveis a sua ação são a córnea e o cristali-
no; a pele também pode sofrer danos por esta ação.

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Já o som, por sua vez, tem seus efeitos mais comuns, como em Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o ato não consti-
acidentes de trabalho, notadamente entre as pessoas que perma- tui crime mais grave. (Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018).
necem, sem proteção, em ambientes de grande poluição sonora, o Art. 216. (Revogado pela Lei nº 12.015, de 2009)
que produz, pela exposição continuada dos ruídos, alterações ao
aparelho auditivo. Assédio sexual
Uma das perturbações citadas pelos autores contemporâneos Art. 216-A. Constranger alguém com o intuito de obter van-
é a epilepsia acustogênica, motivada pela intensidade e permanên- tagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua
cia de certos ruídos, não muito rara entre telefonistas e radiotele- condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exer-
grafistas. cício de emprego, cargo ou função.
O som acima de 20.000 ciclos/s e 85 decibéis pode produzir Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos. 
lesões auditivas e perturbações psíquicas. O infrassom também Parágrafo único. (VETADO)
acarreta lesões do tipo labirintite e o ultrassom, destruição celular. § 2o  A pena é aumentada em até um terço se a vítima é menor
Sendo assim, o som é um dos agentes que contribui com o risco de 18 (dezoito) anos.
ocupacional e que tem o ruído como fator mais comum da perda
auditiva temporária ou permanente. CAPÍTULO I-A
(Incluído pela Lei nº 13.772, de 2018)
DA EXPOSIÇÃO DA INTIMIDADE SEXUAL
NOÇÕES DE SEXOLOGIA FORENSE
Registro não autorizado da intimidade sexual
Art. 216-B. Produzir, fotografar, filmar ou registrar, por qual-
— Estudo médico-legal dos crimes contra a liberdade sexual quer meio, conteúdo com cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso
de caráter íntimo e privado sem autorização dos participantes: (In-
Dos Crimes Contra a Dignidade Sexual cluído pela Lei nº 13.772, de 2018)
Os crimes contra a dignidade sexual estão previstos no Título Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e multa.
VI da Parte Especial do Código Penal, mais especificadamente nos Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem realiza monta-
artigos 213 a 234-B. gem em fotografia, vídeo, áudio ou qualquer outro registro com o
Esse Título sofreu profundas alterações em decorrência da Lei fim de incluir pessoa em cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso
nº 12.015/2009, que, dentre outras providências, unificou os crimes de caráter íntimo. (Incluído pela Lei nº 13.772, de 2018)
de estupro e atentado violento ao pudor, tendo este último deixado
de existir como delito autônomo. Até o nome do Título foi modifica- CAPÍTULO II
do: a denominação anterior era “Dos Crimes Contra os Costumes”. DOS CRIMES SEXUAIS CONTRA VULNERÁVEL 

TÍTULO VI Sedução
DOS CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL Art. 217 - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005)
Estupro de vulnerável 
CAPÍTULO I Art. 217-A.  Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidino-
DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL3 so com menor de 14 (catorze) anos: 
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos. 
Estupro § 1o Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas
Art. 213.  Constranger alguém, mediante violência ou grave no caput com alguém que, por enfermidade ou deficiência mental,
ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que,
ele se pratique outro ato libidinoso:  por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência. 
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos. § 2o (VETADO) 
§ 1o  Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou § 3o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave: 
se a vítima é menor de 18 (dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos:  Pena - reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos. 
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos.  § 4o Se da conduta resulta morte: 
§ 2o  Se da conduta resulta morte:  Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos  § 5º As penas previstas no caput e nos §§ 1º, 3º e 4º deste arti-
Art. 214 - (Revogado pela Lei nº 12.015, de 2009) go aplicam-se independentemente do consentimento da vítima ou
do fato de ela ter mantido relações sexuais anteriormente ao crime.
Violação sexual mediante fraude  (Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018).
Art. 215.  Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso
com alguém, mediante fraude ou outro meio que impeça ou dificul- Corrupção de menores 
te a livre manifestação de vontade da vítima:  Art. 218.  Induzir alguém menor de 14 (catorze) anos a satisfa-
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.  zer a lascívia de outrem: 
Parágrafo único.  Se o crime é cometido com o fim de obter Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos. 
vantagem econômica, aplica-se também multa. Parágrafo único.  (VETADO).
Satisfação de lascívia mediante presença de criança ou ado-
Importunação sexual (Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018)
lescente 
Art. 215-A. Praticar contra alguém e sem a sua anuência ato
Art. 218-A.  Praticar, na presença de alguém menor de 14 (ca-
libidinoso com o objetivo de satisfazer a própria lascívia ou a de
torze) anos, ou induzi-lo a presenciar, conjunção carnal ou outro ato
terceiro:(Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018).
libidinoso, a fim de satisfazer lascívia própria ou de outrem: 
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.” 
3 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração CAPÍTULO IV
sexual de vulnerável  DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 218-B.  Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra
forma de exploração sexual alguém menor de 18 (dezoito) anos ou Art. 223 - (Revogado pela Lei nº 12.015, de 2009)
que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário Art. 224 - (Revogado pela Lei nº 12.015, de 2009)
discernimento para a prática do ato, facilitá-la, impedir ou dificultar
que a abandone:  Ação penal
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos. Art. 225. Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste Título,
§ 1o Se o crime é praticado com o fim de obter vantagem econô- procede-se mediante ação penal pública incondicionada. (Redação
mica, aplica-se também multa.  dada pela Lei nº 13.718, de 2018).
§ 2o Incorre nas mesmas penas:  Parágrafo único. (Revogado) (Redação dada pela Lei nº 13.718,
de 2018).
I - quem pratica conjunção carnal ou outro ato libidinoso com
alguém menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (catorze) anos na si- Aumento de pena
tuação descrita no caput deste artigo;  Art. 226. A pena é aumentada:
II - o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local em que I – de quarta parte, se o crime é cometido com o concurso de 2
se verifiquem as práticas referidas no caput deste artigo.  (duas) ou mais pessoas; 
§ 3o Na hipótese do inciso II do § 2o, constitui efeito obrigatório II - de metade, se o agente é ascendente, padrasto ou madras-
da condenação a cassação da licença de localização e de funciona- ta, tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor ou
mento do estabelecimento. empregador da vítima ou por qualquer outro título tiver autoridade
sobre ela; (Redação dada pela Lei nº 13.718, de 2018).
Divulgação de cena de estupro ou de cena de estupro de vul- III - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005)
nerável, de cena de sexo ou de pornografia (Incluído pela Lei nº IV - de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado:
13.718, de 2018). (Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018).
Art. 218-C. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, vender
ou expor à venda, distribuir, publicar ou divulgar, por qualquer meio Estupro coletivo (Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018).
- inclusive por meio de comunicação de massa ou sistema de infor- a) mediante concurso de 2 (dois) ou mais agentes; (Incluído
mática ou telemática -, fotografia, vídeo ou outro registro audiovi- pela Lei nº 13.718, de 2018).
sual que contenha cena de estupro ou de estupro de vulnerável ou
que faça apologia ou induza a sua prática, ou, sem o consentimento Estupro corretivo (Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018).
da vítima, cena de sexo, nudez ou pornografia: (Incluído pela Lei nº b) para controlar o comportamento social ou sexual da vítima.
13.718, de 2018). (Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018).
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o fato não consti-
tui crime mais grave. (Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018). CAPÍTULO V
DO LENOCÍNIO E DO TRÁFICO DE PESSOA PARA FIM DE 
Aumento de pena (Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018). PROSTITUIÇÃO OU OUTRA FORMA DE EXPLORAÇÃO SEXUAL 
§ 1º A pena é aumentada de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços)
se o crime é praticado por agente que mantém ou tenha mantido Mediação para servir a lascívia de outrem
relação íntima de afeto com a vítima ou com o fim de vingança ou Art. 227 - Induzir alguém a satisfazer a lascívia de outrem:
humilhação. (Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018). Pena - reclusão, de um a três anos.
§ 1o Se a vítima é maior de 14 (catorze) e menor de 18 (dezoito)
Exclusão de ilicitude (Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018). anos, ou se o agente é seu ascendente, descendente, cônjuge ou
§ 2º Não há crime quando o agente pratica as condutas des- companheiro, irmão, tutor ou curador ou pessoa a quem esteja con-
critas no caput deste artigo em publicação de natureza jornalística, fiada para fins de educação, de tratamento ou de guarda:
científica, cultural ou acadêmica com a adoção de recurso que im- Pena - reclusão, de dois a cinco anos.
possibilite a identificação da vítima, ressalvada sua prévia autoriza- § 2º - Se o crime é cometido com emprego de violência, grave
ção, caso seja maior de 18 (dezoito) anos. (Incluído pela Lei ameaça ou fraude:
nº 13.718, de 2018). Pena - reclusão, de dois a oito anos, além da pena correspon-
dente à violência.
CAPÍTULO III § 3º - Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se tam-
DO RAPTO bém multa.

Rapto violento ou mediante fraude Favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração


Art. 219 - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005) sexual
Art. 228.  Induzir ou atrair alguém à prostituição ou outra forma
Rapto consensual de exploração sexual, facilitá-la, impedir ou dificultar que alguém a
Art. 220 - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005) abandone: 
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
Diminuição de pena § 1o  Se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, irmão, en-
Art. 221 - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005) teado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou em-
pregador da vítima, ou se assumiu, por lei ou outra forma, obriga-
Concurso de rapto e outro crime ção de cuidado, proteção ou vigilância: 
Art. 222 - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005) Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos.

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
§ 2º - Se o crime, é cometido com emprego de violência, grave Escrito ou objeto obsceno
ameaça ou fraude: Art. 234 - Fazer, importar, exportar, adquirir ou ter sob sua guar-
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, além da pena correspon- da, para fim de comércio, de distribuição ou de exposição pública,
dente à violência. escrito, desenho, pintura, estampa ou qualquer objeto obsceno:
§ 3º - Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se tam- Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
bém multa. Parágrafo único - Incorre na mesma pena quem:
I - vende, distribui ou expõe à venda ou ao público qualquer
Casa de prostituição dos objetos referidos neste artigo;
Art. 229.  Manter, por conta própria ou de terceiro, estabele- II - realiza, em lugar público ou acessível ao público, represen-
cimento em que ocorra exploração sexual, haja, ou não, intuito de tação teatral, ou exibição cinematográfica de caráter obsceno, ou
lucro ou mediação direta do proprietário ou gerente: qualquer outro espetáculo, que tenha o mesmo caráter;
Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa. III - realiza, em lugar público ou acessível ao público, ou pelo
rádio, audição ou recitação de caráter obsceno.
Rufianismo
Art. 230 - Tirar proveito da prostituição alheia, participando di- CAPÍTULO VII
retamente de seus lucros ou fazendo-se sustentar, no todo ou em DISPOSIÇÕES GERAIS
parte, por quem a exerça:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. Aumento de pena 
§ 1o  Se a vítima é menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (catorze) Art. 234-A.  Nos crimes previstos neste Título a pena é aumen-
anos ou se o crime é cometido por ascendente, padrasto, madrasta, tada: 
irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor I – (VETADO); 
ou empregador da vítima, ou por quem assumiu, por lei ou outra II – (VETADO);
forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância:  III - de metade a 2/3 (dois terços), se do crime resulta gravidez;
Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.  (Redação dada pela Lei nº 13.718, de 2018).
§ 2o  Se o crime é cometido mediante violência, grave ameaça, IV - de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o agente transmite
fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação à vítima doença sexualmente transmissível de que sabe ou deveria
da vontade da vítima: saber ser portador, ou se a vítima é idosa ou pessoa com deficiên-
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, sem prejuízo da cia. (Redação dada pela Lei nº 13.718, de 2018).
pena correspondente à violência. Art. 234-B.  Os processos em que se apuram crimes definidos
neste Título correrão em segredo de justiça.
Tráfico internacional de pessoa para fim de exploração sexual  Art. 234-C. (VETADO). (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
Art. 231. (Revogado pela Lei nº 13.344, de 2016)
Art. 231-A. (Revogado pela Lei nº 13.344, de 2016) Objetivos periciais
Art. 232 - (Revogado pela Lei nº 12.015, de 2009) A perícia em Sexologia Criminal tem um significado muito par-
ticular e grave pelos fatos e circunstâncias que ela encerra: tanto
Promoção de migração ilegal pela complexidade das estruturas estudadas como em face da deli-
Art. 232-A. Promover, por qualquer meio, com o fim de obter
cadeza do momento. Por isso, toda prudência é pouca quando dos
vantagem econômica, a entrada ilegal de estrangeiro em território
procedimentos periciais e quando da afirmação ou negação da exis-
nacional ou de brasileiro em país estrangeiro: (Incluído pela Lei nº
tência das práticas contra a liberdade sexual4.
13.445, de 2017)
Além disso, o laudo deve ser redigido em uma linguagem cla-
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. (Incluído
ra, objetiva, inteligível e simples, sem a presunção das tipificações
pela Lei nº 13.445, de 2017)
penais, mas de modo a permitir àqueles que venham a analisá-lo
§ 1º Na mesma pena incorre quem promover, por qualquer
condições de uma compreensão fácil sobre o fato que se quer apu-
meio, com o fim de obter vantagem econômica, a saída de estran-
rar. Cabe, dessa maneira, descrever minuciosamente as lesões e as
geiro do território nacional para ingressar ilegalmente em país es-
trangeiro. (Incluído pela Lei nº 13.445, de 2017) particularidades ali encontradas, ajudando a entender o que de in-
§ 2º A pena é aumentada de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço) se: sondável e misterioso existe nelas, não só em relação à quantidade
(Incluído pela Lei nº 13.445, de 2017) e à qualidade do dano, mas também como o modo ou a ação pela
I - o crime é cometido com violência; ou (Incluído pela Lei nº qual foram produzidas.
13.445, de 2017) Desse modo, não se pode aceitar pura e simplesmente a no-
II - a vítima é submetida a condição desumana ou degradante. minação do achado, mas em que elementos e alterações funda-
(Incluído pela Lei nº 13.445, de 2017) mentou-se o perito para fazer a afirmação ou a negação de uma
§ 3º A pena prevista para o crime será aplicada sem prejuízo conjunção carnal, por exemplo. Só assim o laudo alcançará seu ver-
das correspondentes às infrações conexas. (Incluído pela Lei nº dadeiro destino: o de apontar com clareza à autoridade julgadora,
13.445, de 2017) no momento de valorizar a prova, as condições para o seu melhor
entendimento.
CAPÍTULO VI Para se terem as necessárias condições de exercer tal ativida-
DO ULTRAJE PÚBLICO AO PUDOR de legispericial, é preciso não apenas que o exame se verifique em
local recatado, em respeito à dignidade e à privacidade de quem se
Ato obsceno examina, mas ainda em ambiente com condições de higiene e de
Art. 233 - Praticar ato obsceno em lugar público, ou aberto ou fácil e tranquila visualização dos possíveis achados periciais, sendo
exposto ao público: recomendável que o exame seja feito em mesas ginecológicas com
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
4 Referências Bibliográficas: FRANÇA, Genival Veloso de. Medicina legal. 11ª
ed. - Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017.

265
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
suporte para os pés e, sempre que possível, com a presença de fa- Há também de se procurar as provas de violência ou de luta,
miliares adultos ou pessoa de confiança da vítima ou de enfermei- apresentadas pela vítima nas mais diversas regiões do corpo: equi-
ras, a não ser que a presença delas possa inibir a vítima de contar os moses e escoriações, mais evidenciadas nas faces externas das
detalhes necessários à investigação dos fatos. coxas, nos antebraços, na face, em derredor do nariz e da boca,
Resta evidente, portanto, que a função do perito, em casos como tentativa de fazer calar os gritos da vítima, e, finalmente, es-
dessa ordem, é descrever minuciosamente as lesões e as particula- coriações na face anterior do pescoço, quando existe a tentativa de
ridades, quando existentes, explorando bem as características que esganadura ou como forma de amedrontá-la.
elas encerram e respondendo com clareza aos quesitos formulados. A descrição dessas lesões, sem seus elementos de caracteriza-
Por outro lado, em face da gravidade que cerca algumas das ção, como disposição, dimensões, estágio evolutivo e perfeita loca-
infrações que resultam de tais exames, exige-se que o indicado para lização, além de permitir a dúvida quanto à época de sua existência,
essa perícia médico-legal seja alguém não apenas com habilitação dificulta sua interpretação como lesão típica.
legal e profissional em medicina, mas que tenha também a capa- A simples descrição de uma escoriação em um cotovelo ou
uma hiperemia vaginal, por exemplo, não permite se afirmar com
citação e a experiência necessárias no trato dessas questões, pois
segurança que uma pessoa sofreu violência sexual.
para tanto não se exigem apenas o título de médico, mas educação
A perícia deve orientar suas conclusões no sentido de valorizar
médico-legal, conhecimento da legislação que rege a matéria, no-
as lesões corporais encontradas tentando estabelecer uma relação
ção clara da maneira como deverá responder aos quesitos e prática
com o alegado fato e com isso poder configurar seu nexo causal. É
na redação de laudo.
preciso que fique demonstrado que tais lesões representam o últi-
Diga-se também, que, em exames desse jaez, não se devem
mo esforço da ofendida como forma de resistir à intenção anômala
usar expressões de sentido dúbio ou vago nem utilizar palavras inú- do agressor.
teis e imprecisas, pois, se assim o fizer, o laudo, além de não permi- Simplesmente nominar uma lesão sem expor todas as particu-
tir uma decisão exata, só servirá para criar dúvidas e confusão em laridades que ela encerra não leva a qualquer convicção. É claro
quem julga. que não se exige a precisão cronométrica em dias ou horas, mas no
mínimo se ela é “muito recente”, “recente” ou “antiga”.
— Diagnósticos da conjunção carnal e dos atos libidinosos em
geral (2) Exame objetivo específico. Coloca-se a paciente em posição
ginecológica, examinando-se cuidadosamente o aspecto e a dispo-
Metodologia do exame de conjunção carnal sição dos elementos da genitália externa. Em seguida, tomam-se os
grandes e os pequenos lábios entre as extremidades dos polegares
Da perícia do coito vaginal e dos indicadores, puxando-os para fora e na direção do examina-
A perícia para comprovação do coito vagínico deve ser realiza- dor, de modo que se exponha inteiramente o hímen.
da levando em conta os aspectos descritos a seguir. Na virgem, o exame se fundamenta:
(a) no estudo da integridade himenal;
• Histórico (b) nos casos de himens complacentes e de mulheres de vida
Os exames constantes do relatório médico-legal devem ser an- sexual pregressa, a perícia se louva na eventual presença de gravi-
tecedidos por um histórico da vítima que justifique a perícia, ati- dez, de esperma na cavidade vaginal, na constatação da presença
nente aos atos sexuais praticados, na sua própria linguagem, assim de fosfatase ácida ou de glicoproteína P30 (de procedência do líqui-
como informações sobre hora, local e condições especialíssimas do prostático) ou na contaminação venérea profunda.
como foram levados a efeito, a despeito do número de relações,
se foram no mesmo dia ou em dias sucessivos, a posição em que a A. Ruptura himenal. É na maioria das vezes a ruptura himenal
vítima foi colocada e mais o que tenha relação e interesse ao caso o elemento mais essencial no diagnóstico de conjunção carnal. Daí
concreto; tudo isso sempre com a maior discrição possível, como a necessidade de se descreverem tais rupturas de forma simples e
recomenda Hermes Rodrigues de Alcântara (in Perícia Médica Judi- objetiva, dando todas as características de idade dessa lesão, sua
cial, 2ª edição, Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006). localização, o número delas e outras particularidades que possam
É claro que o histórico da vítima ou, em casos de crianças muito se tornar úteis.
pequenas, de seu acompanhante responsável não deve comprovar É também necessário que se registrem na descrição das bor-
objetivamente a ocorrência da alegada infração que se quer apurar, das das rupturas, quando houver, a presença de sangramento, de
mas que ela seja consignada objetivamente pelos vestígios de con- sufusão hemorrágica ou orvalhamento sanguíneo, de edema, de
figuração típica comprovados pela perícia.
reação inflamatória ou de tecido de granulação, ou simplesmente
as características de seu estágio de cicatrização, enfatizando se as
• Exames subjetivo e objetivo
bordas dessa ruptura são espessas, delgadas, regulares, irregulares,
No exame subjetivo, devem-se considerar, nas condições psí-
arredondadas e de que coloração.
quicas da vítima, todos os sinais e sintomas que possam ser anota-
Tais elementos são fundamentais para o convencimento de um
dos quanto ao seu desenvolvimento mental incompleto ou retar-
diagnóstico de ruptura recente ou antiga do hímen. Dessa forma,
dado, ou mesmo a um transtorno mental, no sentido de permitir
o perito não deve limitar-se apenas a dizer que a ruptura é antiga
caracterizar agravantes ou tipificações penais.
No exame objetivo, há de se considerar duas partes: uma gené- ou recente. Ele está obrigado a fundamentar e justificar essa con-
rica e outra específica. vicção.
(1) Exame objetivo genérico. Neste, leva-se em conta o aspec- É muito importante que se apreciem nesse exame o tamanho
to geral da vítima, como peso, estatura, estado geral, lesões e alte- do óstio, a altura da orla e a consistência, o espessamento, a pos-
rações corporais sugestivas de violência física. Deve-se também, em sibilidade de franqueamento e a distensibilidade himenal, pois o
casos sugestivos, pesquisar sinais de presunção e de probabilidade conjunto dessas particularidades pode influir de maneira concreta
de gravidez na esfera genital e extragenital da examinada. nas conclusões periciais.
A comprovação ou não da integridade himenal é sempre vi-
sual, macro, ou microscopicamente ou por um meio semiológico
de diagnóstico aplicável a cada caso. Entre nós, Teixeira (1977) tem

266
266
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
se valido do colposcópio no diagnóstico diferencial entre rupturas e B. Outros sinais. Além da ruptura himenal há alguns sinais e
entalhes, bem como para avaliar com maior exatidão o período de resultados que podem contribuir no diagnóstico da conjunção, nos
cicatrização das rupturas himenais. Já o diagnóstico de conjunção casos de himens complacentes e em mulheres de vida sexual pre-
carnal além dessas contribuições pode ter também o auxílio labora- gressa, como presença de gravidez, contaminação de doença se-
torial como se disse anteriormente. xualmente transmissível profunda, esperma na cavidade vaginal e
Prática desaconselhada é a de se dar diagnóstico de desvirgi- constatação da presença de fosfatase ácida ou de glicoproteína P30
namento ou complacência pela possibilidade de passar um ou mais (de procedência do líquido prostático).
dedos no canal vaginal, pois esse procedimento, além de não ter A presença de uma gravidez de idade compatível com um ale-
nenhum fundamento científico, é antes de tudo um ato intempes- gado estupro tem uma importância muito grande, levando em con-
tivo e precipitado, inclusive com resultados comprometedores na ta ainda os meios hemogenéticos de vinculação de filiação, princi-
avaliação himenal. Não há nenhum consenso pericial em se admitir palmente pelo DNA.
como critério de desvirginamento a possibilidade de o óstio hime- O contágio por doenças sexualmente transmissíveis no interior
nal “ser permeável a dois dedos transversos”. da cavidade vaginal é um sinal de muita significação na possibilida-
O propósito da manipulação digital não é, pois, um meio de de de uma conjunção carnal. Para tanto é muito importante que se
conferir uma virgindade, senão o de, quando necessário, conhecer examine o suposto autor da violência sexual para se averiguar se o
a consistência das bordas das rupturas do hímen, o possível cola- mesmo é ou não portador da mesma doença.
bamento dos retalhos produzidos por essas rupturas, seu processo
cicatricial, a distensibilidade do óstio ou outro fato de interesse pe- A constatação de esperma na cavidade vaginal é também de
ricial. Desaconselha-se ainda o toque ginecológico para diagnosti- muito valor na comprovação da conjunção carnal e do seu autor.
car conjunção carnal. Para determinação da presença de esperma na cavidade vaginal,
Só se admite o exame ginecológico quando há necessidade de retira-se do interior desta e/ou do canal do colo uterino material
um diagnóstico de probabilidade de gravidez decorrente da conjun- que será colocado entre lâmina e lamínula.
ção carnal alegada. Sendo assim, o exame de conjunção carnal é Sendo positiva essa reação, surgirão, no campo microscópico,
uma coisa e o exame ginecológico é outra, embora este segundo, inúmeros cristais castanho-avermelhados de formato rômbico. O
em situações especiais, possa complementar o primeiro. reativo de Florence constitui-se de iodo metaloide, iodeto de po-
Todavia, há autores que defendem a manipulação digital na tássio e água destilada.
fúrcula, no vestíbulo, na uretra, na aréola himenal e no reto como Barbério utiliza como reagente uma solução saturada de ácido
forma pormenorizada de investigar melhor certas condições ou al- pícrico em glicerina e, quando a reação é positiva, surpreende cris-
terações do hímen e das lesões ou anomalias ali existentes, diferen- tais em forma de agulhas ou alpistes, corados de amarelo, isolados
temente, pois, da passagem de dedo com o fito de diagnosticar sua ou em grupos.
complacência. A reação de Baecchi é feita depois da reação de Florence, após
Simonin, por exemplo, afirma: “Um segundo procedimento útil 20 a 30 min, quando começam a surgir, da periferia para o centro
para explorar o segmento anterior da membrana consiste em ex- da lâmina, outros microcristais arredondados e de tonalidade mais
teriorizar o hímen com o indicador introduzido no ânus e fletindo carregada que os de Florence.
para o orifício vulvovaginal” (in Medicina Legal Judicial, 2ª edição, Pode também o sêmen ser observado através da lâmpada de
Barcelona: Jims, 1966, p. 407). Wood, quando é identificado por sua ação fluorescente até 72 h
Asdrúbal Aguiar, referido por Nilton Sales, diz: “Muitas vezes a depois da violência. Ter o cuidado com a falsa positividade de algu-
cicatrização realiza-se de modo que a inspeção dos bordos da fenda mas substâncias, como leite, vaselina líquida, loções suavizantes de
nada ou quase nada revela, e somente à palpação se sentirá ligei- pele, entre outras.
ríssima dureza apenas sensível a dedos muito experimentados. Ou- Atualmente, tem sido empregada a dosagem da fosfatase ácida
tras vezes a cicatrização faz-se de forma que os bordos da rasgadura e da glicoproteína P30, que se mostra em forma de traços na secre-
se mostram percorridos por linha branca ou rósea, destacável da ção vaginal, mesmo quando os autores são vasectomizados.
mucosa e bem sensível ao tato” (in Conjunção Carnal, Revista do No entanto, o diagnóstico de maior certeza é, sem dúvida, a
Instituto Médico-Legal do Estado da Guanabara, vol. II. Nº 1, jan. de presença do elemento figurado do esperma, o espermatozoide.
1971, pp. 21-28). Para tanto, pode-se valer do exame microscópico do espermatozoi-
Hermes Rodrigues de Alcântara, quando reporta a maneira de de em material espermático por meio da técnica de Kernechtrol-Pi-
examinar o hímen, complementa: “Os dedos indicadores, que ficam cro índigo carmin (KPIC) ou “árvore de natal”, capaz de identificar
livres, contornam a aréola himenal, em um exame mais minucioso” estas células.
(in op. cit., p. 94). Nesta técnica tem-se a oportunidade de distinguir espermato-
Flamínio Fávero também considera: “Hímen, estudará o perito, zoides completos ou suas cabeças e caudas diferenciadas de outras
quanto a esta membrana a sua situação, a sua morfologia, classifi- células não espermáticas. Deve-se considerar que a cauda do es-
cando o respectivo tipo, a sua consistência, a sua permeabilidade permatozoide desaparece mais rápido devido a sua desidratação.
ao toque digital, registrando-se, sempre, o diâmetro do dedo em O mais frequente é a identificação das cabeças dos espermato-
milímetros” (in Medicina Legal, 4ª edição. São Paulo: Martins Edi- zoides que se apresentam em vermelho refringente. A tonalidade
tora, 1956, p. 216). da cauda é esverdeada.
Nerio Rojas assinala: “Para examinar bem é preciso colocar a Vários são os autores que se manifestam sobre a importância
mulher em posição de decúbito dorsal, com as pernas abertas, boa que representa o exame das vestes das vítimas de suposto estupro,
iluminação, abrir fortemente os lábios para distender a entrada va- principalmente na procura da identificação de sangue ou esperma,
ginal e a membrana, seguir o bordo livre do hímen, se necessário como meio de apontar o autor. Por isso, as vestes da vítima devem
com uma pequena sonda, explorar ainda com o dedo indicador sua ser enviadas rotineiramente para laboratório. Para comprovação de
amplitude e buscar os bordos de possíveis rupturas” (in Medicina espermatozoides usa-se a técnica de coloração de Christimas Tree.
Legal, 7ª edição, Buenos Aires: El Ateneo, 1961, p. 220).
C. Situações especiais. Em tais situações podem surgir as se-
guintes ocorrências:

267
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
(1) haver intromissão do pênis, não seguida de ejaculação; dos a efeito, a despeito do número de relações, se foram no mesmo
(2) o agente ativo ser vasectomizado. ou em dias sucessivos, a posição em que a vítima foi colocada e o
que mais tenha relação e interesse ao caso concreto.
Na primeira das situações, penetração sem ejaculação, é possí- Quando se tratar de crianças muito pequenas, deve-se ter mui-
vel detectar células epiteliais (epidérmicas) masculinas, oriundas do to cuidado com as alterações encontradas e seu acompanhante
pênis, no lavado vaginal. Essas células são detectadas no esfregaço deve declarar objetivamente em que bases justifica suas suspeitas.
realizado a partir do centrifugado, corado pelo amarelo ou laranja
de acridina, sob microscopia de luz ultravioleta. Da perícia do coito anal. O exame subjetivo deve considerar,
No segundo caso, agente vasectomizado, a “ejaculação” é nas condições psíquicas da vítima, todos os sinais e sintomas que
constatada no fluido vaginal através da dosagem de fosfatase ácida possam ser anotados quanto ao seu desenvolvimento mental in-
(acima de 200 UI) ou pela presença de glicoproteína P30. Essas duas completo ou retardado, ou mesmo a um transtorno mental, no
substâncias só poderiam ser encontradas na forma de traços, e nun- sentido de permitir caracterizar agravantes ou tipificações penais.
ca de forma francamente positiva na secreção vaginal. No exame objetivo, há de se considerar uma parte genérica e outra
Todavia, deve-se ter em conta que a fosfatase ácida para ca- específica.
racterização da presença do sêmen tem sido contestada por alguns
autores por considerarem-na de sensibilidade e especificidade (1) Exame objetivo genérico. Neste, leva-se em conta o aspec-
duvidosas. O mesmo não ocorre com a glicoproteína P30 ou PSA to geral da vítima, como peso, estatura, estado geral, lesões e alte-
(prostate specific antigen) presente na secreção vaginal, comprova- rações corporais sugestivas de violência física.
da pelo método enzima-imunoensaio (ELISA) ou ainda em manchas (2) Exame objetivo específico. A perícia nos dias atuais tem
na pele e vestes, mesmo em diluições mínimas. Essa glicoproteína é contribuído muito com a materialidade dos crimes de atentado vio-
sempre encontrada no fluido seminal e na urina do homem. lento ao pudor comprovando o ato libidinoso, principalmente no
coito anal, pelos vestígios deixados pelo ato sexual e pela agressão
D. Provas biológicas. Para alguns autores depois das primeiras física ou psíquica produzida na vítima.
conjunções carnais o organismo feminino apresenta algumas mo- Para tanto, o perito deve ser experiente e cuidadoso, além de
dificações de caráter biológico capazes de contribuir em algumas contar com instrumentos, materiais, produtos químicos (mesa gi-
deduções de ordem legispericial. Todavia, além de se constituir esta necológica, foco de luz com 300 W, lâmpada de Wood, máquina
prova em técnicas muito complexas seus resultados ainda não con- fotográfica com lentes de aproximação, luvas, kits para coleta de
venceram. Para estes autores, sendo essa prova negativa, poder-se- secreção, soro fisiológico, lâminas e lamínulas para microscópio,
-ia afirmar uma “virgindade biológica”. tubos de ensaio, papel de filtro e envelopes para recolher material
Nessa prova seria pesquisada a presença ou ausência de an- seco) e laboratórios à sua disposição.
ticorpos espermatóxicos por meio de uma reação de alteração do Em primeiro lugar, o(a) examinado(a) deve ser colocado(a) em
complemento surgida logo depois do primeiro coito carnal. Para posição de “prece maometana” (genupeitoral), e nos casos normais
muitos essa reação é pouco frequente e a técnica, muito sofisti- o ânus quase sempre se apresenta fechado e em forma de fenda
cada. Mesmo assim, espera-se que no futuro se possa ter no diag- anteroposterior, em cujo derredor observam-se um certo número
nóstico biológico da conjunção carnal uma significativa contribuição de pregas conhecidas como “pregas radiadas” e uma pele fina, rosa-
forense na elucidação dos crimes contra a liberdade sexual. da úmida, lisa e sem implantações de pelos, que forma a chamada
“margem do ânus”.
E. Identidade do autor. É muito importante a coleta do sêmen Assim, por exemplo, no caso em particular de coito anal, vio-
na cavidade vaginal, na pele, em vestes, lençóis e no próprio local lento ou não, os elementos de convicção para caracterização desse
dos fatos, não só para evidenciar agressão ou a tentativa, mas tam- tipo de delito de atentado violento ao pudor serão sempre através
bém no sentido de determinar a identidade do agressor. dos vestígios físicos indiscutíveis e evidentes deixados pelo ato se-
Hoje, através dos testes em DNA, pelo método PCR (reação em xual e pela constatação da presença de esperma.
cadeia da polimerase), isso é possível. Muitas eram as situações em Tratando-se de crime de resultado, portanto, capaz de deixar
que se caracterizava a violência e não se tinha a identidade do seu vestígios, o exame de corpo de delito é imprescindível, não suprin-
autor. Esses testes também podem ser feitos em sangue, pelos e na do nem mesmo a confissão do acusado ou o relato da vítima.
saliva do autor. No exame físico de casos de coito anal violento, podem-se no-
tar equimoses e sufusões (rágades) da margem do ânus, escoria-
Ato libidinoso diverso da conjunção carnal ções, hemorragias por rupturas ou esgarçamento das paredes anor-
retais e perineais, congestão e edemas das regiões circunvizinhas,
• Metodologia de exame infecções secundárias, dilatação brusca do ânus, orifício doloroso
Entende-se por ato libidinoso toda prática que tem o fim de ao toque retal, hemorragia e equimoses das margens do ânus, rup-
satisfazer completa ou incompletamente, com ou sem ejaculação, o tura triangular com base na margem do ânus, e vértice no períneo
apetite sexual, o qual pode traduzir-se desde a cópula carnal até as ao nível da união dos quadrantes inferiores (sinal de Wilson Johns-
mais variadas situações, como coitos anal, vestibular e oral, toques ton), ruptura de pregas anais, presença de “paralisia antálgica da
e apalpadelas nas mamas, nádegas, coxas e vagina, nos contatos dor” ou sinal da “dilatação anal reflexa”, quando se observa o canal
voluptuosos e na contemplação lasciva, praticados em alguém ou anal aberto nas primeiras 2 ou 4 h da agressão, e traumatismo da
constrangendo que a ele se pratiquem. Além de ele girar em tor- face interna dos genitais na proximidade do orifício anal.
no da esfera sexual, deve ser indiscutivelmente obsceno e lesivo ao Quando esse orifício é dilatado pelo coito ou por objeto, toma
pudor mínimo. a forma arredondada e as pregas se mostram discretas. Mais rara-
Sempre que possível, esses exames devem ser antecedidos por mente há incontinência fecal por 1 ou 2 dias. O relaxamento do es-
um histórico da vítima que justifique a perícia, relativo aos atos se- fíncter tem sua tonicidade recuperada 1 ou 2 dias depois, conforme
xuais praticados, na sua própria linguagem, assim como informa- alude Mac Iver (in Manual de Medicina Legal, 4ª edição, Santiago:
ções sobre hora, local e condições especialíssimas como foram leva- Editorial Jurídica do Chile, 1974).

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Esses sinais são tão mais frequentes e graves quanto mais bru- Da perícia do coito oral. As dificuldades periciais são maiores
tal foi o coito. Em crianças, essas lesões são quase sempre mais em face da necessidade de o exame ser realizado na secreção bucal
acentuadas em virtude da desproporção física entre o autor e a ví- e, como é óbvio, o mais precocemente possível. As lesões nessa for-
tima. ma de atentado são raras, tanto nos lábios como na cavidade bucal.
Ter em conta ainda que uma ou outra lesão isolada, como, por O diagnóstico é feito através de provas biológicas que identi-
exemplo, uma fissura, um eritema ou uma escoriação, pode ser re- fiquem o sêmen na boca, das possíveis manifestações tardias de
sultante de pruridos ou de patologias locais, ou mesmo um relaxa- doenças sexualmente transmissíveis na mucosa lábio-bucal e, mais
mento ou dilatação do esfíncter pode ser oriundo de tenesmos e raramente, das lesões encontradas nos genitais externos do agres-
puxos de diarreias crônicas ou agudas na chamada “dilatação for- sor. Aqui pode-se usar também a pesquisa de glicoproteína P30 ou
çada do ânus”. PSA na secreção oral.
Outro fato: não confundir rágades com fissuras anais, pois es-
tas últimas podem preexistir na vítima. A fissura é sempre de causa Da perícia do coito vestibular. O coito vestibular, vulvar ou in-
desconhecida, crônica, localizada na linha média posterior e em ge- terfemoral é um dos tipos não raros de atos libidinosos e que se
ral única. A rágade é traumática, aguda, sem preferência de local e caracteriza pelo ato sexual realizado pelo contato do órgão sexual
em geral múltipla. masculino atingindo a vulva, o vestíbulo e o períneo da vítima, com
Podem ainda ser observados sinais de traumatismos na nuca, ou sem a emissio seminis.
no pescoço, no dorso e na face posterior das pernas e das coxas da Esse tipo de perícia é muito delicado, principalmente nos prati-
vítima. Em geral, todo coito anal violento deixa marcas de luta. cados sem violência física, pois as lesões, as alterações e os achados
são mais raros. Daí a importância em se valorizar muito as lesões
No exame físico de casos de coito anal não violento, principal- mais sérias, como lacerações e hematomas, e, principalmente, a
mente nas situações de pederastia passiva e habitual, muitos da- presença de esperma, que deve ser evidenciada através dos exames
queles sinais traumáticos recentes podem não ser visualizados pelo já recomendados.
seu aspecto crônico e permissivo. Pode ser vista nesses casos uma Os casos de atos libidinosos desse tipo quando em crianças de-
pequena lesão cicatricial, de forma triangular, com base na margem vem ser vistos com muito cuidado pela perícia, notadamente em
do ânus e vértice no períneo ao nível da união dos quadrantes in- crianças muito pequenas, e nunca se convencer de tal diagnóstico
feriores conhecida como sinal de Alfredo Machado, depressão in- pela simples presença de raros e minúsculos edemas, eritemas ou
fundibiliforme (em forma de funil), relaxamento dos esfíncteres e escoriações cujas etiologias não sejam comprovadas através do la-
apagamento das pregas radiadas, típicos dos casos de pederastia boratório.
passiva. Por outro lado, levar muito em conta a presença das rupturas
Essa depressão infundibiliforme carece de validez absoluta, incompletas em himens de crianças quando suspeitas de vítimas de
conforme Kvitko (in La Violación – Peritación Medicolegal en las abuso sexual.
Prersuntas Víctimas del Delito, Buenos Aires: Editorial Trillas, 1998).
No entanto, o sinal mais importante para esse diagnóstico é a pre- Da perícia de penetração de objetos. Não é tão rara como pa-
sença do esperma no canal retal, e sua comprovação se dá pela presen- rece, e a perícia se propõe a identificar tal penetração por via vagi-
ça de seu elemento figurado, o espermatozoide, e pelos exames adian- nal ou retal, tanto de forma coativa e violenta como de procedência
te enumerados. Por isso, em face de seu insuprível valor probante, o da própria vítima.
exame deve ser realizado o mais precocemente possível. Nos casos de coação e violência, o que chama a atenção na
maioria das vezes é a intensidade das lesões locais, como escoriações,
Exames complementares. A confirmação da presença do es- equimoses, hematomas e ferimentos, além de outras lesões produzi-
perma na cavidade retal é sem dúvida o ponto de destaque no das pelo corpo estranho. Nos casos de penetração vaginal, essas lesões
diagnóstico de coito anal, principalmente quando se trata de prá- não se localizam apenas no hímen, mas sobretudo nas regiões circunvi-
tica consentida e em indivíduos submetidos constantemente a tais zinhas como grandes e pequenos lábios, fúrcula e períneo.
práticas. E na penetração anal as lesões se estendem ao esfíncter anal e
Sendo assim, o diagnóstico de maior certeza é através da pre- à mucosa retal. Pode a perícia também identificar vestígios do ma-
sença do elemento figurado do esperma, o espermatozoide. Toda- terial componente do corpo estranho usado na penetração.
via, pode-se identificar o esperma por meio de reações próprias
através do reativo de Florence ou pelos métodos de Barbério e de — Manchas de sêmen
Baecchi.
O sêmen pode ser detectado através da lâmpada de Wood, que Protocolo para a perícia de agressão sexual — Exame da ví-
emite luz ultravioleta, filtrada, e libera apenas as radiações entre tima
330 nm e 400 nm, sensibilizando certas substâncias que emitem • Exame das vestes da vítima na procura de sangue e sêmen
fluorescência, entre elas o sêmen, que pode ser detectado até 72 h para identificar o autor.
após a agressão. • Exame objetivo específico:
Também se pode chegar ao diagnóstico do coito anal pela com-
provação da fosfatase ácida e da glicoproteína P30 ou PSA, que se Coito vaginal (exame dos genitais externos, coleta de pelos pu-
mostram em forma de traços na secreção retal, mesmo quando os bianos e amostras de sêmen sobre pele, vulva, períneo e margem
autores são vasectomizados. do ânus, procura de lesões nos genitais externos, uso do espéculo
Finalmente, colher material como sêmen, sangue e saliva para nos exames para evidenciar lesões vaginais e coleta de amostras
exame em DNA com o propósito de identificar e caracterizar a au- de material biológico, lavado vaginal com soro fisiológico estéril e
toria. coleta desse material, uso do colposcópio para melhor visualização
de possíveis lesões do hímen, levando em conta a existência de rup-
turas com descrição de suas características, como número, local,
idade etc.).

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Coito anal (estudo das lesões locais como equimoses, sufu- Protocolo em casos de exames de ato libidinoso diverso da
sões, rupturas, esgarçamentos das paredes anorretais e perineais, conjunção carnal
estado do tônus do ânus, coleta de pelos e amostras de sêmen, co- No exame pericial realizado em casos suspeitos de tais atos
leta de material biológico como sangue e saliva do agressor para libidinosos, levando-se em conta as especificidades de cada caso,
identificação pelos testes em DNA). recomendamos o seguinte protocolo.

— Diagnóstico das formas de violência nos atos libidinosos Na vítima: exame clínico completo; exploração cuidadosa da
Em Sexologia médico-legal vê-se a sexualidade do ponto de vis- estrutura genital, oral ou retal; coleta de amostras de sangue, sa-
ta normal, anormal e criminoso. Sexologia criminal, também cha- liva, secreções ou fluidos do vestíbulo, fúrcula ou ânus; coleta de
mada de Sexologia forense, é a parte da Medicina Legal que trata amostra de manchas encontradas pelo corpo; exame da roupa da
das questões médico-biológicas e periciais ligadas aos delitos con- vítima e da cama ou do local dos fatos.
tra a dignidade e a liberdade sexual. No autor: exame clínico completo; exame minucioso dos dedos
A violência sexual não é apenas uma agressão ao corpo, à se- e das unhas; coleta de amostras de sangue, saliva ou urina nas bor-
xualidade e à liberdade do homem ou da mulher, mas acima de das livres das unhas, da superfície do pênis, do prepúcio, dos pelos
tudo uma agressão à própria cidadania. Apesar de tudo que já se pubianos e das manchas existentes no corpo; além do exame cui-
disse sobre essa violação à liberdade sexual e de todas as propostas dadoso dos genitais externos do suposto agressor e de suas vestes.
em favor de penas mais severas para seus autores, fica a amarga
sensação de que pouco se fez até agora. Esse exame no suposto culpado deve ser feito nas primeiras
Hoje a tendência é ampliar seu conceito para além do ato ou da 24 h, com a finalidade de encontrar sinais de coito recente, como:
tentativa de uma prática sexual, incluindo também as insinuações, presença na área genital de células vaginais (quando a vítima é mu-
os comentários e as divulgações de caráter sexual, desde que de lher) pela técnica citológica de Papanicolaou, de sangue de carac-
forma coativa ou constrangedora. terísticas genéticas iguais às da vítima, de material fecal na glande
Vendo sob a ótica da saúde pública, a OMS definiu a violência ou sulco bálano-prepucial, de presença de sêmen pela expressão do
sexual como “o uso intencional da força ou o poder físico, de fato pênis, e, quando o coito foi realizado com violência, pode-se flagrar
ou como ameaça, contra uma pessoa ou um grupo ou comunidade, edema inflamatório do pênis, rupturas recentes do freio da glande,
que cause ou tenha possibilidade de causar lesões, morte, danos feridas e escoriações dos genitais externos.
psicológicos, transtornos do desenvolvimento ou privações”. Finalmente, deve-se considerar relevante uma ruptura incom-
A violência sexual é um fenômeno universal que atinge todas pleta em hímen adulto não complacente ou em crianças quando
as classes sociais, culturas, religiões e etnias e tem conotações de um diagnóstico de ato libidinoso diverso da conjunção carnal.
muito próximas dos demais delitos, em seus aspectos etiológicos Nesses casos, para uma confirmação definitiva, deve-se valer da
e estatísticos, em que se sobrelevem no conjunto de suas causas pesquisa de espermatozoides, de esperma, da fosfatase ácida e do
os fatores socioeconômicos. O êxodo que favorece o crescimento PSA nos genitais externos, assim como o exame em DNA para com-
populacional da periferia das grandes cidades, o desemprego, o uso provação da autoria.
de drogas, o alcoolismo, a influência dos meios de comunicação, a
falta de justiça e a insegurança são os elementos que fomentam e — Diagnóstico da gravidez, de parto recente e do puerpério
fazem crescer esses tipos de crimes.
As maiores vítimas dessa violência são exatamente as frações • Gravidez
mais desprotegidas da sociedade: as mulheres e as crianças. E o Conceitua-se gravidez como o estágio fisiológico da mulher du-
estupro é a forma de violência sexual mais comum. rante o qual ela traz dentro de si o produto da concepção.
Por outro lado, o registro crimino gráfico da violência sexual e Entre a puberdade e a menopausa, os ovários entram em ati-
seu conteúdo perverso projetam-se além da expectativa mais alar- vidade mês a mês, enviando óvulos às tubas uterinas, onde encon-
mista. Verifica-se nos dias que correm uma prevalência delinquen- tram o caminho livre ao útero. O espermatozoide depositado pela
cial que extrapola os índices tolerados e as feições convencionais. cópula ou artificialmente no canal vaginal avança, penetrando no
Uma criminalidade diferente, anômala e muito estranha na sua útero, sobe até a tuba uterina e, aí, encontrando o óvulo, fecunda-
maneira de agir e na insensata motivação. Esses tipos de delitos, -o, formando o ovo, que é a unidade primeira da vida.
mesmo com seus vestígios bem evidentes, são deixados sem repa- No terço proximal da tuba uterina, desenvolve-se o ovo até a
ração porque a vítima quando criança não é capaz de entender o fase de blastócito e, em um espaço de aproximadamente 8 dias,
caráter da ofensa, ou ciente se cala por medo, vergonha ou por cul- chega ao útero para a nidação.
pa de seus responsáveis. A época da fecundação é discutida. Segundo Koller, é do 5º ao
Muito mais que antes, esses tipos de delitos se tornam muito 10º dia após a menstruação. Stieve, em observação a partir desse
frequentes e ameaçadores, e impõe-se a necessidade de investir estudo, diz que a ovulação pode ocorrer do 5º ao 13º dia do ciclo e
cada vez mais na contribuição técnica e científica como fator de raramente depois do 17º ou antes do 4º dia.
excelência da prova, assim como no aprimoramento dos quadros A importância do diagnóstico da gestação prende-se às seguin-
periciais. tes situações: investigação da paternidade, simulação e dissimula-
Torna-se imperioso que se amplie e melhore a qualidade das ção de gravidez, verificação de gravidez nos casos de infanticídio,
perícias médico-legais, pois só assim os elementos constitutivos do atestados de pejamento para fins administrativos e trabalhistas,
corpo de delito terão seu destino ligado ao interesse da justiça. Não prova de violência carnal, impossibilidade de anulação de casamen-
há outra forma de avaliar um fato de origem criminal que não seja to e como meio para contrair novas núpcias.
através da análise da prova. O diagnóstico da gravidez baseia-se principalmente nos exa-
mes objetivo e subsidiário. O exame objetivo é feito dos sinais de
presunção, de probabilidade e de certeza.

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• Sinais de presunção A ressonância nuclear magnética, como técnica sofisticada,
Perturbações digestivas (desejos, inversões do apetite, sialor- tem algumas vantagens no exame do feto, mas sua importância
reia, modificações da sensibilidade gustativa, vômitos, náuseas), maior é no diagnóstico precoce das anomalias fetais. Além do mais,
máscara gravídica (cloasma), lanugem (sinal de Halban), alterações trata-se de um método de alta complexidade e de custo financeiro
de aparelhos e sistemas (lipotimia, taquicardia, tonturas, polaciúria muito alto. A laparoscopia tem sua indicação mais justificada nos
e sonolência), pigmentação da linha alba, congestão das mamas, casos de gravidez ectópica, notadamente quando se suspeita de
hipertricose e estrias abdominais. uma gravidez tubária não rota.

• Sinais de probabilidade • Perícia


Suspensão da menstruação (amenorreia), cianose na vulva A perícia da gravidez consiste, pois, em registrar e confirmar o
(sinal de Klüge), cianose da vagina (sinal de Jaquemier), pulsação estado fisiológico no qual se manifestam sinais e sintomas de que
vaginal (sinal de Oseander), redução dos fundos de saco vaginais, uma mulher traz consigo o produto da concepção. Para tanto, é ne-
rechaço vaginal (sinal de Puzos), flexibilidade do istmo uterino (si- cessário que se disponha de elementos considerados “de certeza”
nal de MacDonald), hipertrofia do útero (sinal de Noble), alteração e que se prestem de forma patente a fazer o diagnóstico diferencial
da forma uterina (sinal de Piskacek), depressibilidade do istmo (1º entre tantas síndromes, como pseudociese, mioma, neoplasias do
sinal de Reil-Hegar), modificação das glândulas mamárias (aumento ovário, hematométrio, entre outras.
de volume, rede venosa superficial – sinal de Haller, hipertrofia dos Esses elementos do diagnóstico de certeza da gravidez são
tubérculos de Montgomery, decréscimo dos mamilos, aumento da dispostos pelo exame tocoginecológico (movimentos fetais e bati-
pigmentação das aréolas, secreção e estrias ou vergões) e aumento mentos do coração do feto, sopro e rechaço uterinos e palpação
do volume uterino. das partes do feto), pelo estudo radiológico do esqueleto fetal, pela
ultrassonografia, ressonância magnética, ressonância nuclear mag-
• Sinais de certeza nética, laparotomia e testes biológicos. Nos casos de morte, pode-
Movimentos do feto, batimentos do coração fetal, sopro uteri- -se usar o exame histopatológico do útero, do ovário e até mesmo
no, rechaço uterino (sinal de Puzos), palpação de segmentos fetais, da hipófise.
estudo radiológico do esqueleto fetal, ultrassonografia, ressonância O diagnóstico do tempo de gravidez é também uma tarefa pe-
magnética, ressonância nuclear magnética, laparoscopia e testes ricial importante e ele é feito principalmente pela anamnese, pela
biológicos da gravidez. Esses são os indicativos e as disponibilidades medida do fundo do útero, usando-se a regra de MacDonald e a
para um diagnóstico de certeza da gestação. Tabela de Belizan, pela ausculta dos batimentos cardíacos fetais,
A percepção e a palpação dos movimentos ativos do feto já são movimentos fetais, radiografia da estrutura óssea do feto e pela ul-
notadas na 18ª semana de gestação. A ausculta dos batimentos car- trassonografia.
díacos fetais, em torno de 20 a 21 semanas. O rechaço fetal intrau-
terino (sinal de Puzos), entre a 16ª e a 18ª semanas, e a palpação de • Parto
segmentos fetais, aproximadamente com 18 semanas de gravidez. Define-se parto como o conjunto de fenômenos fisiológicos e
A radiografia como diagnóstico exato da gravidez pode ser pos- mecânicos cuja finalidade é a expulsão do feto viável e dos anexos.
sível desde a sétima semana, quando surgem os primeiros pontos de Dá-se seu começo, para os obstetras, com as contrações uterinas
ossificação na clavícula, embora seu uso seja contraindicado pela dis- rítmicas, e, para nós, com a ruptura da bolsa, e termina com o des-
cutível possibilidade de provocar malformações e até mesmo o abor- locamento e a expulsão da placenta.
tamento. Alguns autores chegam a afirmar que as radiografias nega- Ao diagnóstico do parto, cingem-se as questões de simulação,
tivas não têm valor, quando em gestações anteriores a 20 semanas. sonegação e substituição de recém-nascidos, negação de crime de
A ultrassonografia é outro método de imagem muito significa- aborto ou de infanticídio e a atribuição de parto alheio ou próprio.
tivo para o diagnóstico da gravidez e de metodologia inócua e não
invasiva. Mesmo não se tendo, na literatura científica atual, nenhum — Parto empelicado. É uma situação extremamente rara; tam-
indício comprovado de efeitos nocivos pelo uso semiológico do ul- bém conhecido como “parto sem o rompimento da bolsa ou saco
trassom, recomenda-se não indicálo indiscriminadamente, principal- amniótico”. Acontece quando a bolsa não se rompe antes nem du-
mente como meio de diagnóstico precoce da gestação, pelas possí- rante o trabalho de parto, tendo que ser rompida pelo obstetra ou
veis insinuações em face do surgimento de uma malformação fetal. pela parteira que estiver assistindo ao parto. Em geral, o recém-
Para a confirmação do processo gestatório, conta-se com o -nascido não corre perigo porque ainda está recebendo oxigênio
seguinte: visualização do saco gestacional a partir da quinta sema- via cordão umbilical.
na; identificação dos batimentos cardíacos do embrião na sexta e Há alguns animais que nascem dentro do saco amniótico ca-
sétima semanas; utilização do comprimento cabeça-nádegas para bendo às mães a tarefa de romper esta bolsa.
determinação da idade fetal entre a sétima e a 12ª semanas; iden-
tificação do polo cefálico na 13ª e 14ª semanas em 95% dos casos; • Diagnóstico
recomendação da avaliação da idade do feto acima de 12 semanas A abordagem dos elementos diagnósticos que caracterizam a
pelo diâmetro biparietal; utilização do comprimento e dos centros existência anterior de um parto varia na mulher viva ou na morta,
de ossificação distal do fêmur para determinação da idade do feto como também quanto ao tempo, se recente ou antigo.
no terceiro trimestre da gravidez.
A ressonância magnética é um método diagnóstico muito sofis- — Sinais de parto na mulher viva
ticado, que examina o corpo humano através de vibrações transmi- Parto recente. O estudo deve ser orientado para as alterações
tidas a átomos de hidrogênio. É um meio propedêutico muito im- dos genitais externos, os fluxos genitais, a citologia cervicovaginal,
portante na prática médica; todavia, nestes casos, até a 22ª semana a biopsia do endométrio, as lesões dos genitais internos e externos,
de gestação o feto não é bem identificável, tanto pela movimenta- as modificações das mamas e da parede abdominal e o cloasma.
ção fetal, como pela presença do líquido.

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Os órgãos genitais externos, logo após o parto, afiguram-se com — Sinais de parto na mulher morta
tumefação da vulva e dos grandes lábios. Podem-se vislumbrar ruptu- Na mulher morta, é muito importante para o diagnóstico não
ra recente do períneo, notadamente nas primíparas, como também só o exame macroscópico dos órgãos pelvianos, mas, também, o
múltiplas rupturas do hímen na mulher de primeiro parto pélvico. seu estudo histopanorâmico. Este estudo pode ser feito para o par-
Os fluxos genitais são, de início, sanguinolentos e, depois, re- to recente ou antigo.
presentados pelos lóquios, que revelam secreções provenientes
dos ferimentos uterinos. São, de princípio, sanguinolentos para, Parto recente. Além dos sinais indicados no estudo do parto
depois, mostrarem-se serosos e de aspecto purulento, quando há recente da mulher viva, conta-se com os detalhes do útero e dos
infecção. São sanguinolentos até o 3º dia, serolactescentes até o 8º ovários.
dia em média, quando desaparecem. O útero está aumentado com a cavidade repleta de coágulos
Podem atingir a quantidade de 100 a 200 ml/dia, podendo per- nos primeiros dias. Sua superfície interna é aveludada e recoberta
sistir até o 12º -15} dia, quando voltam a ser sanguinolentos. O exa- de coágulos fibrinosos, restos de decídua e cotilédones e vestígios
me microscópico do lóquio exibe hemácias, células epiteliais, po- de inserção placentária, presença de vilosidades coriônicas e de va-
dendo conter ainda vernix caseoso, corpúsculo de mecônio e pelos sos ainda abertos.
fetais. Lóquio é a secreção ou exsudação proveniente da superfície Com cerca de 40 dias, o epitélio da mucosa uterina regenera-
interna e cruenta do útero após o parto e que persiste até o endo- -se integralmente. Ao exame histológico, as fibras musculares mos-
métrio voltar à sua constituição normal. tram-se onduladas, hipertrofiadas, em feixes frouxos, e há presença
Nos órgãos genitais internos, deve-se ver o colo uterino, que é de células gigantes coriônicas.
mole inicialmente, deixando sair restos de membrana e placenta, Os ovários apresentam, até o 5º mês de gestação, o corpo lúteo
mais comumente nos partos clandestinos. Outro elemento impor- gravídico, quando começa a involuir até o parto. Seu maior diâme-
tante é a involução uterina explorada através da parede abdominal. tro é de 3 cm em torno do 3º mês e, no final da gestação, é de
No 1º dia, o fundo do útero está a um dedo acima da cicatriz calculadamente 7 a 8 mm. Seu surgimento é um bom sinal de parto
umbilical. No 2º dia, na cicatriz umbilical, do 5ºdia ao 6º dia, dois anterior, apesar de poder estar afastado no parto ou confundir-se
dedos abaixo, no 9º dia, três dedos acima do púbis e, por fim, em com o falso corpo lúteo.
torno do 12º dia, ao nível da sínfise pubiana.
As mamas aparecem volumosas, com vergões e estrias de colo- Parto antigo. O estudo do útero é um elemento fundamental
ração especial e com secreção láctea. Esta secreção pode faltar na neste diagnóstico. Nas multíparas, as faces anterior e posterior do
puérpera, assim como pode existir na virgem. Desaparece, normal- útero são mais abauladas. O fundo é convexo e essa curvatura pro-
mente, de 4 a 6 semanas pós-parto, podendo persistir por meses e nuncia-se mais de acordo com o número de filhos que tenha tido a
anos nas nutrizes. mulher.
A parede abdominal expõe à vista vergões isolados, pigmen- As bordas laterais de côncavas, na nulípara, passam a convexas
tação da linha alba, flacidez e rugosidades decorrentes da súbita na mulher que pariu. Em suma, o corpo uterino multíparo cresce
cessação de distensão interna. E, por fim, o cloasma gravídico, que em altura, largura e espessura, assumindo a forma globosa, em vez
pode persistir na face por algum tempo. de triangular, nas nulíparas. É claro que algumas modificações de
Parto antigo. Pode ser reconhecido por estigmas, tais como: ordem patológica podem alterar tal diagnóstico.
estrias e flacidez abdominais, estrias e pigmentação das mamas,
cicatrizes himenais, cicatrizes da fúrcula e períneo, mudança da for- Perícia
ma e cicatrizes do óstio externo do colo uterino. A perícia girará em torno de diversos problemas, tais como:
A distensão do ventre decorrente da gravidez leva, quase sem- • Existência de parto. Com a presença ou ausência dos sinais
pre, após o parto, à flacidez da parede abdominal. Os vergões em descritos, o perito poderá chegar a uma conclusão do diagnóstico
forma de linha de dimensões variáveis surgem nas regiões infraum- seguro da existência ou da não existência do parto;
bilicais e, mais raramente, nas coxas e regiões glúteas. Seu valor é • Recentidade de parto. Nem sempre com a evidência de de-
relativo, pois pode ausentar-se na gravidez e assinar presença em terminados sinais poderá o perito precisar o tempo do parto. No
outros estados. entanto, poderá dar-lhe precisão através de elementos essenciais,
A pigmentação das mamas dando a tonalidade escura às aréo- tais como as lesões dos genitais, o estudo das secreções e do fundo
las tem também valor relativo, pois podem entrever-se aréolas ró- uterino, determinando, assim, um parto antigo ou recente;
seas em mulheres que pariram. O aparecimento de carúnculas mir- • Antiguidade do parto. Esta perícia é complexa e, a rigor, não
tiformes indica sempre a passagem de um feto de boa dimensão e existe um único elemento capaz de, por si só, ser concludente para
forma um elemento altamente sugestivo. este fim;
Para alguns, as cicatrizes da fúrcula e do períneo, assim como • Número de partos. Não há nenhum meio seguro para a exa-
as marcas de sutura cirúrgica motivadas pela ação profilática no tidão do número de partos. Distinguir uma nulípara de uma mulher
parto, atestam indiscutivelmente um parto anterior. que pariu uma vez é tarefa relativamente fácil, todavia, entre esta e
A modificação da forma e as cicatrizes do orifício externo do uma que pariu muitas vezes é uma diligência difícil;
colo uterino constituem o melhor sinal de parto antigo. O óstio ex- • Provas de laboratório. O laboratório, em certas circunstân-
terno do colo uterino da nulípara é estreito e circular e, mais rara- cias, é indispensável para uma avaliação mais cuidadosa no diag-
mente, elíptico, ao passo que, na mulher que pariu, torna-se trans- nóstico de parto e puerpério. Por exemplo:
versal e com fissuras nos lábios do colo. • Mucosidade vaginal. Essa confirmação se faz através da rea-
Todos esses sinais descritos anteriormente, por mais importan- ção de Weigman. Consiste em deitar-se sobre a substância suspeita
tes que sejam, são apenas alusivos à paridade ou à não paridade. É uma gota do reagente especial (0,20 cg de iodo metaloide, 0,30 cg
muito difícil a caracterização do número de partos. de iodeto de potássio e 45 ml de água destilada). Quando o material
examinado contém epitélio vaginal, esta evidência se faz sentir pela
presença do glicogênio, que se cora de castanho;

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
• Líquido amniótico. Ao microscópio, é caracterizado pela ma- • Perícia
nifestação de induto sebáceo. Seu estudo é feito com a maceração
e centrifugação de líquido; 1. No pós-parto imediato (1 a 10 dias)
O fundo uterino acha-se um pouco acima da cicatriz umbilical
• Leite e colostro. Corado pelo Sudan III, pelo Lugol ou por uma e cuja medição do rebordo do púbis ao fundo do útero é de 12 cm.
solução de ácido ósmico, acusa-se em glóbulos de gordura de forma As cólicas são mais comuns nas multíparas.
esférica ou ovoide, refringentes e brilhantes, nadando em um líqui- O colo uterino mostra-se flácido e suas bordas distensíveis.
do incolor. Esses glóbulos são corados de vermelho pelo Sudan III, Após 3 dias, a cérvice está reconstituída, embora permeável a um
de castanho pelo Lugol e de preto pelo ácido ósmico; dedo. Os lóquios são vermelhos de 2 a 3 dias (lochia rubra). Mais
pálidos em torno dos 5 dias (lochia serosa). E branco-amarelados
• Mecônio. Pastoso, amarelo-esverdeado ou verde-escuro, por volta dos 7 dias (lochia alba).
quando tratado pela água, intumesce-se. Visto ao microscópio, re-
vela corpúsculos corados de amarelo-esverdeado nas dimensões 2. No pós-parto tardio (10 a 45 dias)
de 5 a 30 mm e, quando tratado pelo ácido sulfúrico ou pelo iodo, Nesse período, o útero ainda está regredindo no seu tamanho,
deixa ver os cristais de colesterina de tonalidade azul; embora mais lentamente que na fase anterior. É também nesse pe-
ríodo em que se verifica grande influência da lactação no processo
• Exame microscópico do útero e ovários. A verificação histo- fisiológico.
lógica do útero e ovários empresta uma importância ao diagnóstico A caduca já está praticamente desagregada e a cavidade uteri-
de gravidez ou de parto pregresso. na reepitelizada, isso em torno de 15 dias pós-parto. O corrimento
loquial vai passando de serossanguinolento para seroso (lochia se-
Puerpério rosa ou lochia flava). O colo se apresenta em forma de fundo trans-
Puerpério, sobreparto ou pós-parto é o espaço de tempo variá- verso e o útero nesta fase encontra-se no interior da pélvis.
vel que vai do desprendimento da placenta até a volta do organis-
mo materno às suas condições anteriores ao processo gestacional. 3. No pós-parto remoto (além de 45 dias)
Dura, em média, 6 a 8 semanas. Seu diagnóstico é muito impor- Esse período é muito impreciso, principalmente para se deter-
tante nas questões médico-legais ligadas a sonegação, simulação minar o tempo decorrido do parto, pois ele varia de acordo com a
e dissimulação do parto e da subtração de recém-nascidos, princi- presença ou não da lactação. As mulheres não lactantes em média
palmente nos casos em que se discute a hipótese de aborto ou de menstruam em torno da décima segunda semana do pós-parto,
infanticídio, ou ainda de parto próprio ou alheio. quase sempre precedida de ovulação.
Nas mulheres que amamentam, esse período é muito mais lon-
Diagnóstico go e impreciso. A loquiação nesse estágio raramente existe, pois
Os elementos que devem ser considerados para caracterizar ela perdura no máximo por cerca de 4 semanas. Quando ocorre, é
um estado puerperal, ou seja, uma circunstância que prove o parto insignificante e de tonalidade brancacenta (lochia alba).
recente, dentro do prazo admitido para esse estado, são os seguin-
tes: — Estudo médico-legal do aborto
• Útero. Logo após a saída da placenta e das membranas, o
útero começa a se contrair e, por isso, diminuir seu volume. Essa Aborto
involução é rápida. Define-se e aborto tradicionalmente, como sendo a expulsão
Ele pode diminuir na metade, no prazo de 1 semana, do que ele prematura e violentamente provocada do produto da concepção,
era no pós-parto imediato (1.000 a 1.200 g). As contrações uterinas independentemente de todas as circunstâncias de idade, viabilida-
causam as chamadas “dores do puerpério”. de e mesmo de formação regular.
A involução do sítio placentário é em torno de 6 semanas, po- Todavia, essa definição é falha porque situa apenas os casos de
dendo levar à hemorragia pós-parto tardia. Nesse período, pode “expulsão do produto da concepção”, pois, sendo a mola hidatifor-
ocorrer a loquiação, um corrimento vaginal constituído de sangue me considerada como tal, embora degenerado, não se pode consi-
e decídua necrótica; derar como aborto. Ainda mais quando se verifica que nem sempre
há a expulsão do ovo.
• Colo. No exato momento do parto, o colo apresenta-se mole Existem outras definições de aborto comumente utilizadas pela
e frouxo, com algumas e insignificantes lacerações e sangramentos. doutrina:
A partir daí, o orifício começa a se fechar pouco a pouco.
A abertura (pérvio) é de dois a três dedos até 2 dias e de 1 cm Aborto criminoso é a morte dolosa do ovo no álveo materno,
em torno dos 12 dias; com ou sem expulsão, ou a sua expulsão violenta seguida de morte;
A morte dolosa do ovo;
• Vagina. Depois do parto, a vagina transforma-se em uma ca- A interrupção da gravidez, seguida ou não da expulsão do feto,
vidade ampla, espaçosa, flácida e de tonalidade pálida. Suas rugas antes da época da sua maturidade;
só vão reaparecer por volta das 4 semanas. O epitélio vaginal so- A cessação prematura e dolosa da gravidez, ou sua interrupção
mente assumirá seu aspecto habitual em 8 a 10 semanas; intencionalmente provocada, com ou sem aparecimento dos fenô-
menos expulsivos.
• Ovário e ovulação. No período do puerpério, pode-se afirmar
que a fertilidade quase não existe, principalmente quando a mulher O certo é que nenhuma dessas definições está isenta de crítica.
está amamentando. Em geral, a primeira ovulação ocorre em torno Discute-se qual o termo mais correto: “aborto” ou “abortamento”.
da décima semana. O primeiro seria o produto expelido e o segundo traduziria o ato.
As mulheres não lactantes menstruam normalmente na déci- Nos documentos médico-legais, deve-se usar sempre o termo
ma segunda semana do pós-parto. E as lactantes, após as 30/36 “aborto”. Para alguns estudiosos da língua, é termo mais correto;
semanas. é terminologia mais corrente; e é assim que se expressa a lei subs-
tantiva penal.

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Sabemos, no entanto, que, em Medicina Legal, não há aborto Aborto provocado por terceiro
sem abortamento, pois o aborto espontâneo pertence ao estudo e Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante:
à aplicação da Obstetrícia. Por outro lado, pode haver a tentativa de Pena - reclusão, de três a dez anos.
abortamento sem aborto. Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante:
Dessa forma, nossa codificação penal ao incriminar o aborto Pena - reclusão, de um a quatro anos.
não distingue entre ovo, embrião ou feto. Sempre que ocorrer in- Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a ges-
tencionalmente a morte do concepto ou sua expulsão violenta se- tante não é maior de quatorze anos, ou é alienada ou débil mental,
guida de morte está configurado o crime de aborto. ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou
violência
Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento
(art. 124) Forma qualificada
A conduta descrita é provocar aborto em si mesma ou consen- Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são
tir com que o façam. No caso de consentimento, a gestante que aumentadas de um terço, se, em consequência do aborto ou dos
consentiu responde pela revisão do artigo 124, enquanto que, meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal
aquele que realiza o aborto responde pelo crime previsto no artigo de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas cau-
126, com pena mais severa. sas, lhe sobrevém a morte.
Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico:
Aborto provocado por terceiro (art. 125)
O resultado, sem consentimento pode advir do emprego de Aborto necessário
força, de ameaça ou, ainda, de fraude, geralmente na última mo- I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
dalidade.
Aborto no caso de gravidez resultante de estupro
Aborto consensual (art. 126) II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de
Define o artigo a provocação do aborto, por terceira pessoa, consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu represen-
com o consentimento da gestante, sendo que, a gestante que con- tante legal.
sente responderá pelo crime previsto no artigo 124.
Perícia
Aborto qualificado (art. 127) O diagnóstico do aborto criminoso é delicado e complexo, ne-
Prevê aumento de 1/3 na pena, caso a gestante sofra lesões cor- cessitando, por isso, de um cuidado maior por parte do perito. Para
porais de natureza grave, e a duplicação da pena se resultar a morte, tanto, é necessário considerar o exame da vítima (comprovação da
nas formas do aborto provocado e, desde que o resultado mais grave gravidez e das lesões), a exclusão do aborto espontâneo e do aborto
não fosse querido, manifestando-se na forma de crime preterdoloso. traumático, a evidências de provocação do aborto, a identificação
Havendo intenção de obter o resultado o agente responderá por le- do meio causador e o exame dos restos fetais.
são corporal ou homicídio, em concurso com o aborto.
Exame da vítima. Nesta oportunidade, deve-se ter em conta
Aborto necessário (art. 128) não só as lesões genitais ou extragenitais que se possam descrever,
É o realizado por médico com a intenção de salvar a vida da mas até com mais evidência o diagnóstico de gravidez, pois juridica-
gestante, desde que o aborto seja o único meio para a salvação da mente o crime de aborto só se configura na mulher gestante, como
grávida, não havendo necessidade que o perigo seja atual, podendo estatui o diploma penal sobre a espécie.
ser futuro (aborto legal).
Aborto recente em mulher viva. Assim, na viva, o exame de
Aborto sentimental aborto recente deve ser conduzido na concepção de que o aborto
Praticado em mulher cuja gravidez resultou de estupro e, numa é um parto em miniatura e por esse fato deixa modificações tanto
interpretação extensiva, de atentado violento ao pudor. genitais como extragenitais e que podem ser idênticas à mulher que
Neste caso, não será necessário decisão judicial, bem como au- pariu. Todavia, os abortos provocados são realizados no início da
torização, bastando prova da gravidez e do crime praticado, ficando gestação, quando essas modificações ainda não estão manifestas.
o médico adstrito somente ao seu código de ética profissional, sen- Desse modo, recomenda-se a biopsia da mucosa uterina à procura
do necessário o consentimento da gestante, e, se menor, prova da de formações de vilosidades coriais.
menoridade ou alienação mental. Devem-se examinar os seios (pigmentação areolar, rede venosa
de Haller, tubérculos de Montegomery e secreção), cloasma, linha
Aborto eugenésico nigra, hipertricose etc.
Ocorre quando existe possibilidade de anormalidade do feto, O exame da genitália tem primordial valor no diagnóstico do
não é permitido por nossa legislação. aborto: edema dos grandes e pequenos lábios, lóquios serossan-
guinolentos ou serosos, excepcionalmente lesões do períneo e da
CAPÍTULO I fúrcula, presença do objeto usado, lesões do colo do útero deixadas
DOS CRIMES CONTRA A VIDA pelas pinças de Museaux.
O exame do material que flui através dos órgãos genitais, leva-
(....); dos ao histopatologista, determinará o assunto pela caracterização
dos restos ovulares e membranosos e ainda pelo diagnóstico da
Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento gravidez tópica.
Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que ou-
trem lhe provoque: Aborto antigo em mulher viva. Quanto mais antigo for o abor-
Pena - detenção, de um a três anos. to, mais difícil será a perícia, pois os dados mais comprovadores
do aborto, depois de certo tempo, estão obscuros ou totalmente

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
desaparecidos. Restos antigos de membranas, cicatrizes de fúrcula Evidências de provocação do aborto. Na confirmação do abor-
ou de vagina e rupturas himenais não são elementos que possam to provocado dolosamente devem-se levar em conta dois aspectos
justificar uma prática abortiva. muito importantes:
a) a evolução do aborto (dores mais intensas e hemorragias
Aborto recente em mulher morta. Nestes casos, além dos mais profusas, expulsão parcial dos restos ovulares e evolução clí-
elementos descritos e analisados através do exame externo, o es- nica mais lenta);
tudo deverá ser orientado para os órgãos mais internos. A forma, b) lesões maternas (são comuns a presença de lesões produzi-
o tamanho, as lesões e a disposição do colo uterino; a existência das por ação química, térmica ou mecânica).
de lesões e secreções do leito uterino; as dimensões e a forma do
corpo uterino, o qual deve ser medido em suas três dimensões; ob- Identificação do meio causador. Com finalidade de caracterizar
servação do perimétrio, que normalmente é liso, úmido e brilhante, com precisão o caráter doloso do aborto, é necessário que se esta-
apresentando-se, no aborto, espessado e lacerado. beleça com precisão o meio utilizado na prática abortiva. Por isso
A cavidade uterina apresenta elementos valiosos, tais como: é aconselhável indicar o instrumento ou meio que foi utilizado na
tumefação, coloração vermelho-escura, consistência diminuída, prática abortiva no sentido de buscar identificação com a prática ou
presença de restos de vilosidades coriais e sinais de inserção pla- com a vítima como, por exemplo, a pesquisa de vilosidades coriais
centária. O exame histológico é de valor capital, demonstrando in- em sondas ou instrumentos utilizados.
contestavelmente a gravidez.
O exame dos ovários deve ser feito na procura do corpo ama- Exame dos restos fetais. Não se deve esquecer de mandar os
relo, fazendo-se a diferença entre este estado e o da menstruação. restos fetais para exame, principalmente para se diagnosticarem
Em tese apresentada à Faculdade de Medicina da UFRJ, para con- evidências de lesões vitais ou post mortem. Quando o feto é eli-
curso de Professor Titular de Medicina Legal (1986), o Professor Hy- minado inteiro, deve ser bem analisado no que diz respeito ao seu
gino de Carvalho Hércules demonstrou que é possível, em casos de grau de desenvolvimento, principalmente na determinação da ida-
aborto seguido de morte da gestante, quando da inexistência do de, além da busca de elementos que permitam o diagnóstico de
útero (histerectomia) ou quando o seu exame não permite afirmar uma causa natural ou violenta.
Se há apenas restos do ovo, deve-se promover o necessário
o estado pregresso de gravidez, dar-se esse diagnóstico pela pesqui-
exame histopatológico, no sentido de reconhecer a presença de te-
sa de embolia de células trofoblásticas em arteríolas e capilares do
cido trofoblástico e células deciduais.
pulmão da vítima.
Além desses elementos, devem-se levar em consideração as
— Estudo médico-legal do infanticídio e de maus-tratos a vul-
informações fornecidas pelos hospitais, principalmente nos casos
neráveis (crianças, velhos e deficientes)
de cirurgia ou de tétano post-abortum em que a necropsia é prati-
camente branca.
Infanticídio
Vanrell (in Manual de medicina legal: Tanatologia, Leme: LED – O Código Penal, em seu Artigo 123, qualificou infanticídio como
Editora de Direito, 2004) ainda recomenda o seguinte: “matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, duran-
a) começar a necropsia antes da putrefação (12 a 16 h após te o parto ou logo após”.
o óbito), a fim de evitar gases provenientes da putrefação tragam A legislação vigente adotou como atenuante no crime de infan-
resultados falsos de embolia gasosa; ticídio a condição biopsicossocial do estado puerperal, justificado
b) colher urina para imunotestes visando o diagnóstico de gra- pelo trauma psicológico, pela pressão social e pelas condições do
videz (gravindex, pregnosticon planotest, pregnosticon “all in”, etc.; processo fisiológico do parto desassistido, angústia, aflição, dores,
c) recolher corpos estranhos eventualmente encontrados na sangramento e extenuação, cujo resultado traria o estado confusio-
vagina e/ou no útero, como sondas, tampões etc.; nal capaz de levar ao gesto criminoso.
d) radiografar o tórax à procura do sinal de Duncan-Taylor (ima- O estado puerperal, expressão ambígua e entidade contestada
gens aéreas correspondentes à embolia na área de projeção do co- pelos médicos, tem merecido, através de todo esse tempo, severas
ração); críticas, sendo, inclusive, considerado por alguns como uma simples
e) verificar na veia cava inferior se há presença de bolhas; ficção jurídica no sentido de justificar a benignidade de tratamento
f) abrir o coração in situ, para ver se há borbulho indicativo de penal, quando a causa principal seria a pressão social exercida so-
embolia gasosa; bre a mulher cuja gravidez compromete a sua imagem.
g) procurar dentro do coração sangue espumoso próprio da Na verdade, não há nenhum elemento psicofísico capaz de for-
embolia gasosa; necer à perícia elementos consistentes e seguros para se afirmar
h) retirar material para exame toxicológico e sangue para cul- que uma mulher matou seu próprio filho durante ou logo após o
tura. parto motivada por uma alteração chamada “estado puerperal”, tão
somente porque tal distúrbio não existe como patologia própria nos
Aborto antigo em mulher morta. Aqui, também, mesmo dis- tratados médicos.
pondo-se de mais alguns elementos de análise na necropsia, seus Sabe-se que no puerpério podem surgir determinadas altera-
resultados na maioria das vezes são inconciliáveis com um diagnós- ções psíquicas não apenas durante e logo após, mas também algum
tico de certeza de aborto criminoso. tempo depois do parto. Entre essas manifestações, a mais comum
é a psicose pós-parto, indiferente ao estado social, afetivo ou emo-
Exclusão do aborto espontâneo e do aborto traumático. Na cional da mulher.
perícia do aborto é também muito importante que se possam ex- Há no parto um estado de emoção e extenuação, dependendo
cluir da modalidade criminosa os abortos patológicos (espontâ- do estado de ânimo da parturiente e da sua condição de primípara
neos) e os acidentais. Nos primeiros, é preciso considerar todas as ou multípara. O parto em si mesmo causa poucos transtornos. Aqui,
patologias da gravidez e as patologias maternas. Nos segundos, le- não se discute o aspecto das portadoras de psicopatias cujas mani-
var em conta as lesões traumáticas existentes em regiões diversas festações são conhecidas ou manifestas.
do aparelho reprodutor feminino.

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Mais recentemente a Associação Americana de Psiquiatria Feto nascente
estabeleceu em seu DSM-IV determinadas alterações para o que Como o infanticídio também se verifica “durante o parto”, é ne-
chamou de Transtorno de Estresse Agudo (TEA). Suas principais ma- cessário estabelecer nessa circunstância o estado de feto nascente.
nifestações seriam ansiedade e alguns sintomas dissociativos que Em outras legislações, a modalidade de crime nesse estágio deno-
ocorrem em torno de 30 dias depois da ação de um determinado mina-se feticídio.
agente estressor. O feto nascente apresenta todas as características do infante
Nessa fase o paciente teria ausência de resposta emocional, nascido, menos a faculdade de ter respirado. No infanticídio de feto
diminuição da consciência dos fatos que o cercam, amnésia parcial nascente, as lesões causadoras de morte estão situadas nas regiões
e desencontro com a realidade, o que dura em média 3 a 4 semanas onde o feto começa a se expor e têm as características das feridas
após o fato estressor. Dessa forma, tal síndrome, com o que se vê, produzidas in vitam.
difere do comportamento das infanticidas antes do parto e do que
se pretende conceituar como estado puerperal, principalmente no Infante nascido
que diz respeito a sua curtíssima duração, à ausência de distúrbios Infante nascido é aquele que acabou de nascer, respirou, mas
mentais e emocionais prévios e à plena consciência para os atos não recebeu nenhum cuidado especial. Apresenta proporcionalida-
praticados. de de suas partes, peso e estatura habitual, desenvolvimento dos
Assim, o que acontece no infanticídio é fato completamente órgãos genitais, núcleos de ossificação fêmur-epifisária e, ainda, ou-
diverso. Sempre é uma gravidez ilegítima, mantida em sobressaltos tras características que merecem melhores detalhes, como:
e cuidadosa reserva, a fim de manter uma dignidade ante a família,
os parentes e a sociedade. Pensa a mulher dia e noite em como se Estado sanguinolento
livrar do fruto de suas relações clandestinas. O infante nascido que não recebeu nenhum cuidado de limpe-
Nada mais fantasioso que o chamado estado puerperal, pois za tem o corpo coberto, total ou parcialmente, por sangue de ori-
nem sequer tem um limite de duração definido. Diz a lei que é du- gem fetal ou materno. Para que se configure o elemento “logo após
rante ou logo após o parto, sendo esse “logo após” sem delimitação o parto”, esse estado apresenta-se como o de maior significação no
precisa. diagnóstico de infante nascido.
Parece ser imediatamente, pois, se a mulher tem um filho, dá-
Induto sebáceo
-lhe algum tratamento, arrepende-se e mata-o, constitui uma forma
Também chamado vernix caseosum, tem tonalidade branco-
de homicídio.
-amarelada e recobre grande parte do corpo do infante, principal-
O mesmo não se diga do puerpério, que é o espaço de tempo
mente no pescoço, axilas e nas pregas inguinais e poplíteas. Tem
que vai da expulsão da placenta até a involução total das alterações
consistência untosa e serve de proteção à epiderme do feto na vida
da gravidez, pela volta do organismo materno às suas condições
intrauterina.
pré-gravídicas. Seu tempo varia, segundo os autores, de 8 dias a 8
semanas. Tumor do parto
Portanto, puerpério não é sinônimo de estado puerperal. Este Nem sempre está presente no infante nascido ou no recém-
último nunca é presenciado em partos assistidos, aceitos e dese- -nascido. Trata-se de uma saliência de cor violácea, no couro cabe-
jados, mas sempre naqueles de forma clandestina e de gravidez ludo do recém-nascido, em face da pressão exercida pelo anel do
intangível. colo uterino.
Sua localização varia de acordo com a posição da cabeça. For-
Objetivos periciais ma-se durante o trabalho de parto e desaparece em geral em torno
A caracterização do infanticídio constitui o maior de todos os de 24 a 36 h após o nascimento da criança.
desafios da prática médico-legal pela sua complexidade e pelas É de natureza serossanguinolenta e sua regressão começa a
inúmeras dificuldades de tipificar o crime. Por isso, foi essa perícia partir do primeiro dia. É também chamado caput succedaneum.
chamada de crucis peritorum – a cruz dos peritos.
O exame pericial será orientado na busca dos elementos consti- Cordão umbilical
tuintes do delito a fim de caracterizar: os estados de natimorto, o de É outro elemento de grande valia no diagnóstico de infante
feto nascente, o de infante nascido ou o de recém-nascido (diagnós- nascido, principalmente se ele ainda estiver preso à placenta. Esse
tico do tempo de vida); a vida extrauterina (diagnóstico do nascimen- cordão, que mede cerca de 50 cm, liga o feto à placenta.
to com vida); a causa jurídica de morte do infante (diagnóstico do Tem aspecto úmido, brilhante e de tonalidade branco-azulada.
mecanismo de morte); o estado psíquico da mulher (diagnóstico do Com o passar dos dias, começa ele a secar, perdendo o brilho e se
chamado “estado puerperal”); e a comprovação do parto pregresso achatando até formar uma fita cinzenta, caindo em torno do sétimo
(diagnóstico do puerpério ou do parto recente ou antigo da autora). dia.
Tem importância fundamental no diagnóstico diferencial entre
Natimorto infante nascido e recém-nascido e, ainda, orienta a perícia na ida-
Denomina-se como tal o feto morto durante o período perina- de do recém-nascido. O simples corte do cordão e seu tratamento
tal que, de acordo com a CID-10, inicia-se a partir da 22ª semana de habitual podem descaracterizar o infanticídio pela evidente lucidez
gestação, quando o peso fetal é de 500 g. da mãe.
A mortalidade perinatal pode ter causa natural ou violenta. As A ruptura espontânea do cordão sem ligadura e a ausência de
causas naturais mais comuns são: anoxia anteparto, prematurida- lesões violentas falam em favor de infanticídio por omissão de cui-
de, anomalias congênitas e doença hemolítica congênita. dados.
As causas violentas ocorrem em casos de aborto criminoso.

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Presença de mecônio Clínica da criança maltratada
No intestino delgado e na parte inicial do intestino grosso do A clínica da criança maltratada deve levar em conta a atitude
infante nascido, existe uma substância espessa, pegajosa e de to- da criança e as lesões encontradas. A atitude da criança-vítima re-
nalidade verde-escura conhecida por mecônio. No sofrimento fetal, sume-se em: apatia, tristeza, indiferente ou temerosa, protegendo
pode haver evacuação dessa substância durante o parto ou mesmo o rosto com as mãos ou fechando os olhos com a aproximação das
na cavidade uterina. pessoas, ou impassível aos movimentos do examinador.
O que mais chama a atenção é o seu olhar triste e pungente.
Respiração autônoma Um olhar de vencido.
Só é infante nascido quem respirou. Se não respirou, teve mor- As crianças mais novas que não sabem manifestar-se de outra
te durante o parto ou intrauterinamente e, por isso, é feto nascente forma choram quando se aproximam delas determinadas pessoas.
ou natimorto. As lesões mais comuns são: hematomas e equimoses, ferimentos
contusos, queimaduras, edemas por compressão, mordidas huma-
Abandono de Recém-nascido nas, alopecias traumáticas, fraturas dentárias por introdução vio-
O delito ora em análise apresenta, como núcleo do tipo, os ver- lenta de colheres na boca, sufocação por introdução violenta de
bos expor ou abandonar recém-nascido, porém tal conduta deve alimentos, desidratação, lesões genitais por abuso sexual, intoxi-
vir acompanhada de uma intenção do agente de ocultar sua pró- cações por tranquilizantes, desnutrição, fraturas ósseas e rupturas
pria desonra. Em sentido amplo, o abandono abrange a exposição, viscerais internas.
termo esse que se prende à ideia de colocar em perigo, deixando o A perícia deve ser alertada para as lesões cutâneas múltiplas e
recém-nascido sem assistência, ao desamparo. de idades diferentes, principalmente, na face e nos membros, coin-
Assim, ocorre o delito se o agente se afasta da vítima, deixan- cidência de lesões cutâneas com fraturas ósseas, contradições nas
do-a em situação de risco no lugar em que se encontrava (aban- informações dos familiares, lesões específicas como queimaduras
dono em sentido estrito) ou a deposita em local diverso, onde é de cigarro ou marcas de ataduras nos punhos e tornozelos, vítimas
exposta a perigo em razão da subsequente separação física (expo- aterrorizadas, fraturas múltiplas de idades diferentes e aquilo que
sição a perigo). mais caracteriza a síndrome de Silverman: o hematoma subperiós-
O bem jurídico protegido é a segurança do recém-nascido, sua tico, visto pelos raios X, principalmente nos ossos longos dos mem-
incolumidade pessoal, em virtude de o mesmo não ter condições bros superiores e inferiores. Outra ocorrência é o arrancamento
de se defender dos perigos resultantes do abandono. epifisário (síndrome metafisária de Straus).
É interessante observar que o simples abandono do recém-nas- Na necropsia, é necessário aprofundar bem o estudo das le-
cido não é causa suficiente para configuração do delito, devendo sões, não esquecendo dos exames laboratoriais e anatomopatoló-
existir uma situação de perigo concreto para a vítima. A exposição gicos imprescindíveis, além de radiografias do corpo inteiro, pois as
ou abandono do recém-nascido deve criar uma situação de perigo lesões múltiplas e de épocas diferentes podem sugerir sinais recen-
concreto, a qual deve ser comprovada. tes e antigos de maus-tratos.
Ou seja, não responderá pelo delito a pessoa que deixa o re-
cém-nascido em local seguro, sabendo que um terceiro irá pegá-lo Síndrome do ancião maltratado
e lhe dar a devida assistência, ou ainda aquele que fica à espreita, O ambiente familiar é o lugar de maior evidência desses maus-
cuidando para que nada ocorra com o bebê. -tratos, pois grande parte das pessoas idosas vive ali. Mas não quer
dizer que noutros lugares como hospitais, creches de velhos, asilos
Síndrome da criança maltratada e casas especiais de abrigo não se venham a verificar tais excessos.
Ultimamente, vêm-se tornando cada vez mais frequentes a se- Os maus-tratos mais comuns são por abuso e negligência, ou
vícia e os maus-tratos a crianças, que vão desde a prisão e o isola- seja, por ação, por omissão ou por cuidados inadequados. No en-
mento em ambientes insalubres até os espancamentos brutais se- tanto, didaticamente, classificamos os maus-tratos em anciãos em:
guidos de morte. Esse conjunto de lesões e agressões é conhecido maus-tratos físicos, maus-tratos psíquicos e maus-tratos econômi-
pela denominação de síndrome da criança maltratada, síndrome cos.
de Silverman (“battered child syndrome”) ou síndrome de Caf ey- Os maus-tratos físicos são sempre caracterizados por feri-
-Kamp. mentos repetidos e pouco justificáveis, queimaduras, fraturas, es-
As formas mais comuns de maus-tratos são: coriações e equimoses. Os maus-tratos psíquicos pelas agressões
a) por omissão – carência física (falta de alimentação e de pro- verbais, “dano do silêncio”, ameaças, reprovações, desprezo e isola-
teção) e carência afetiva (falta de carinho); mento. E os maus-tratos econômicos pela privação dos alimentos,
b) por ação – maus-tratos físicos, abuso sexual e maus-tratos supressão dos bens e pelo mau uso de suas disponibilidades.
psíquicos. Em regra, os sintomas e sinais apresentados são semelhantes
aos de uma doença crônica, cabendo estabelecer a diferença entre
Perfil dos autores de maus-tratos os maus-tratos e essas patologias. Um fato muito importante nesta
Os autores desses meios cruéis são geralmente padrastos, pais avaliação é o do estado psíquico do paciente, principalmente no
jovens ou familiares diretos, com problemas de alcoolismo ou de que se refere à aparência de terror e medo que eles possam apre-
drogas, desempregados, com desordens psicoafetivas, de baixo sentar.
índice de escolaridade e quase sempre vítimas de maus-tratos na
infância. Os motivos são os mais insignificantes, muitas vezes justi- Sobre o aspecto físico é muito importante verificar os locais das
ficados como forma de “educar” as crianças. lesões, como, por exemplo, os pulsos e tornozelos, por onde esses
pacientes muitas vezes são imobilizados ao leito.

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Abandono familiar inverso - Responsabilidade dos filhos em Outro fato que não se pode esquecer é que seja qual for o tipo
relação aos pais idosos de sanção, além de não amenizar o sofrimento moral dos pais, pode
O abandono dos pais idosos pelos filhos, também chamado aumentar ainda mais a distância e a indiferença do filho e impe-
de abandono às avessas ou abandono familiar inverso, é muito fre- dir que este relacionamento venha ser reconstruído. Considera-se
quente, seja por desamparo afetivo ou por privação material. Não também que nesses casos a prova do dano moral é muito contro-
há como negar ou discutir as obrigações dos filhos para com os pais vertida, pois é difícil quantificar e qualificar por meio de uma perícia
idosos, no convívio domiciliar ou fora dele, principalmente no que o quantum de abatimento, sofrimento moral e humilhação.
diz respeito à negligência e ao descaso à qualidade de vida deles. A reparação indenizatória não vem como forma de imposição
A garantia das obrigações materiais não é o mais difícil nessa do afeto, tendo em vista sua natureza subjetiva, mas como viés pre-
relação, pois, como se sabe, o caráter objetivo delas não é com- ventivo, punitivo e compensatório, na tentativa de garantir prote-
plicado de se estabelecer pela sua referência em normais afins. O ção dos mais vulneráveis.
mais intrincado nesse particular é estabelecer critérios e normas Não é fácil uma norma jurídica estabelecer a assistência afetiva
específicas em que fique estabelecido o dever de afetividade dos obrigatória dos filhos, mas, pode-se, ao menos, constituir sanções
filhos, obrigando-os ao dever de amar, principalmente na velhice, civis e penais compensatórias coativas pelo desprezo material e
carência e enfermidade dos pais em idade avançada. afetivo. Antes disso, políticas públicas devem empregar esforços,
O Estatuto do Idoso, em seu artigo 3º, prescreve: “É obrigação inclusive de assistência social, para fiscalizar, ininterruptamente, a
da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegu- qualidade de vida da pessoa idosa.
rar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, Caso contrário, o abandono familiar contará apenas com um
à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, instituto jurídico de implicação reparatória civil ou repressiva penal,
ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à mas sem uma solução socio criminal que o previna e o abomine.
convivência familiar e comunitária. Pouco se resolve tipificar ilicitudes civis e crimes, sem que o Estado
§ 1º A garantia de prioridade compreende: (…). IV – viabilização aparelhe-se de estruturas adequadas a serviço de uma tutela inte-
de formas alternativas de participação, ocupação e convívio do ido- gral protetiva e preventiva.
so com as demais gerações.” São necessárias medidas efetivas e imediatas para que possa se
A Constituição Federal, neste sentido, consagra o dever mútuo construir, passo a passo, uma sociedade mais fraterna e consciente
de relação entre ascendentes e descendentes, amparado no princí- dentro dos princípios que ressaltem a importância da família e o
pio da solidariedade entre os entes da família, priorizando as rela- respeito à dignidade humana.
ções afetivas, e a assistência física, material e moral. Estabelece as-
sim que “nenhum idoso será objeto de qualquer tipo de negligência, — Avaliação médico-legal de contágio venéreo
discriminação, violência, crueldade ou opressão, e todo atentado
aos seus direitos, por ação ou omissão, será punido na forma da lei”. Contágios venéreo e de moléstias graves
É claro que as sanções por abandono imaterial não garantem O anteprojeto apresentado ao novo Código Penal elimina a fi-
o afeto e a amizade nem obrigam a reaproximação familiar, mas gura do crime de “perigo de contágio venéreo”, pois as doenças ali
inseridas são hoje combatidas de forma mais efetiva pela medicina
tais sanções podem, pelo menos, ter efeito pedagógico. “O descaso
atual e não têm o mesmo sentido infamante e as mesmas conse-
entre pais e filhos é algo que merece punição, é abandono moral
quências existentes em 1940.
grave, que precisa merecer severa atuação do Poder Judiciário, para
Mantém o crime de “perigo de contágio de doença grave”
que se preserve não o amor ou a obrigação de amar, o que seria im-
onde estão incluídas as patologias mais graves, independente de a
possível, mas a responsabilidade ante o descumprimento do dever
transmissão resultar de relações sexuais ou atos libidinosos, porém
de cuidar, que causa o trauma moral da rejeição e da indiferença
oriundas de três situações:
(Azevedo, AV; Venosa, SS. Código Civil Anotado e Legislação Com-
a) o agente sabe estar contaminado;
plementar. São Paulo: Atlas, 2004).
b) quis transmitir a doença;
Se já admite-se a possibilidade de indenização por dano moral c) a doença é reconhecidamente transmissível.
decorrente do abandono dos filhos menores pelos pais, e levando
em conta o mesmo significado do abandono às avessas, por que O delito de contágio, principalmente o de contágio venéreo,
não aceitar como justificáveis essas mesmas razões para uma inde- sempre mereceu, por parte de alguns, certas objeções contra sua
nização por dano moral considerando o abandono afetivo dos filhos incriminação. O risco da enfermidade venérea estaria incluído no
em relação aos pais idosos? próprio complexo sexual, sendo inerente à constituição orgânica
Se o afeto tem hoje um significado jurídico relevante quando dos homens e das mulheres.
considerado como elemento agregador da família, nada mais justo Como a função sexual é exercida algumas vezes na clandestini-
do que se considerar ilícito o descaso e o abandono afetivo e, como dade dos prostíbulos, lugares de maior incidência da moléstia, não
tal, a reparação e a geração de responsabilidade. teria o sujeito passivo motivos idôneos de pleitear a antijuridicidade
O respeito à dignidade da pessoa humana, mesmo não se con- do ato. Seria punir, quase sempre, a mulher ironicamente chamada
tando ainda com legislação específica sobre a matéria que disci- de vida fácil, sujeita a toda sorte de contaminação, muito mais ví-
pline ações por abandono moral dos idosos, deve ser considerado tima que autora, o que não deixaria de constituir uma injustiça. E,
matéria fundamental e insuprível para garantir a função social da finalmente, seria tarefa dificultosa estabelecer com precisão o dolo.
família, que é em suma a base e o equilíbrio da sociedade. O crime de perigo de contágio de moléstias graves excluía do
É claro que apenas a imposição da regra jurídica civil ou penal seu âmbito as doenças venéreas, pois aquela espécie criminosa não
não vai estabelecer e especificar aquilo que é o mínimo indispen- admite a culpa, mas tão somente ter o agente ativo agido dolosa-
sável em uma relação entre pais e filhos. Essa relação obrigatória mente. Outra distinção é que, no delito de perigo de contágio de
ficaria muito fria e reduzida a um mero instituto jurídico de repara- moléstias graves, a transmissão pode ser direta e, também, indireta.
ção civil ou de repressão penal, mas sem o alcance de uma solução
socioafetiva que se espera.

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Essa opinião não é unânime, qual seja a de as doenças vené- • Defeito físico irremediável
reas graves e contagiosas não estarem incluídas no crime de perigo As deformidades permanentes, ocultas ou simuladas, anterio-
de contágio de moléstias graves. No entanto, como existem no di- res e desconhecidas ao casamento, assim como certas anomalias
ploma penal de 1940 dois dispositivos, é clara a sua distinção. ligadas aos órgãos sexuais, são motivos de anulação de casamento.
O anteprojeto à lei penal em discussão inclui aquelas catego- Dessas anormalidades, a mais alegada como causa de anulação
rias delituosas nos crimes de “perigo de contágio de doença grave” de casamento é a impotência coeundi no homem e, mais raramen-
com a seguinte redação: “Praticar ato capaz de transmitir a outrem te, a acopulia na mulher.
doença grave de que sabe estar contaminado.” As impotências generandi e concipiendi são erradamente assim
chamadas; melhor seria denominá-las esterilidade, pois a incapaci-
— Estudo médico-legal do casamento dade procriadora e a impossibilidade de conceber não devem me-
A instituição do casamento é um marco comum entre os povos recer o rótulo de impotência.
de civilização cristã. Modestino, nos tempos do Direito Romano, de- Para que a impotência coeundi seja motivo de nulidade de
finiu casamento como “a união do homem e da mulher, implicando casamento, conforme estabelece a lei civil brasileira, deve ser ela
igualmente vida e comunhão de direitos divinos e humanos”. irremediável, anterior ao casamento e desconhecida pelo outro
Sob o ponto de vista religioso, o Concílio Tridentino conceituou cônjuge. A esterilidade masculina ou feminina não é cláusula ampa-
o matrimônio como a “união conjugal do homem e da mulher, que rada nos motivos de anulação do casamento, mesmo que uma das
se contrata entre pessoas capazes segundo as leis, que as obriga a grandes finalidades do matrimônio seja a procriação. E aqueles que
viver inseparadamente, isto é, em uma perfeita união uma com a invocam esta razão são insinceros.
outra”. A impotência coeundi, hoje chamada de disfunção sexual ou
Clóvis Bevilaqua diz que “é um contrato bilateral e solene, pelo disfunção erétil, sob o ponto de vista dos interesses matrimoniais,
qual um homem e uma mulher se unem indissoluvelmente, legali- é a incapacidade absoluta para a cópula vagínica e que se conside-
zando por eles suas relações sexuais, estabelecendo a mais estreita ra por meios médicos como definitiva. Pode ser classificada como
comunhão de vida e de interesse, e comprometendo-se a criar e a física ou instrumental (ausência de pênis, malformações, cicatrizes
educar a prole que de ambos nascer”. grosseiras, elefantíase escrotal) e funcional (fisiológica, orgânica, fi-
O casamento, além de apresentar interesses de ordem bioló- siopática e psíquica).
gica, psicológica, política, econômica e moral, constitui-se em uma A impotência fisiológica é encontrada na infância e na velhice.
instituição de relevante significação social, pela constituição do lar Uma mulher que casa com um ancião de 70 anos não pode pleitear
e da família. anulação de casamento alegando impotência, porque esta já era
Pelo caráter disciplinador do Estado sobre o casamento, não presumida.
deveria ele ser considerado simplesmente um contrato, mas um A impotência orgânica é motivada por certas doenças físicas
instituto de Direito Público, pois o Direito de Família está emigrando ou mentais que invariavelmente levam a esse estado, como: tabes
rapidamente para o interesse da sociedade. dorsalis, diabetes, doenças caquetizantes, arteriosclerose genera-
As razões e os interesses do casamento são de ordem social e o lizada.
vínculo matrimonial se forma em virtude da vontade do Estado, por A impotência fisiopática está representada pelas alterações
isso o casamento não deveria ser considerado um simples contrato. morfológicas da genitália externa, motivadas por perturbações neu-
roglandulares ou certas malformações definidas, por exemplo, nos
• Perícia estados intersexuais, hipogenitalismo, pseudo-hermafroditismo.
O casamento é anulável se houve: incapacidade de consentir, A impotência psíquica é consequente de inibição sexual incons-
idade insuficiente (salvo os casos especiais) e erro essencial sobre ciente. Esse tipo encerra boa parte das impotências que concorrem
a pessoa. Resta-nos estudar esta última situação, cujos elementos como causa de nulidade matrimonial. São indivíduos de boa saúde
principais são: identidade, honra e boa fama, ignorância de erro físi- física, mas apresentam essa perturbação como sintoma de um pro-
co irremediável e moléstia grave transmissível por contágio e heran- blema mental.
ça (anterior e desconhecida na época do casamento). Todas essas Há uma forma de impotência transitória, de fundo psíquico,
situações são do âmbito pericial. não muito rara nos primeiros dias de núpcias, porém passageira e
curável com uma psicoterapia adequada. Tem suas causas na emo-
• Identidade ção, levando, inclusive, a uma forma de icterícia chamada de icterí-
A identidade referida pela lei é a física e a civil. Embora seja cir- cia nupcial – o último capítulo romântico da patologia médica.
cunstância rara uma substituição de pessoa na hora do casamento, Com o passar do tempo, a ideia de que 90 a 95% das impo-
mesmo representada por procurador especial, é causa de nulidade. tências eram de causa psíquica foi dando lugar às causas orgânicas
Essa é a identidade física, cujos critérios de identificação são nor- como determinantes primárias da maioria dos casos. Isso, depois
teados por processos antropométricos e antropogenéticos. que Shapiro e Fischer aprimoraram o pletismógrafo noturno penia-
Casar com um homem que é filho ilegítimo, pensando tratar-se no, e Karacano utilizou-o no laboratório do sono, demonstrando
de filiação legítima, não incide sobre a identidade, mas sobre uma com registros a relação entre as ereções noturnas e os períodos
qualidade da qual a pessoa não é responsável. Não houve erro es- REM (rapid eyes movements) do sono. Não é um teste absoluto. A
sencial de pessoa. depressão endógena pode interferir na fase REM.
A perícia da impotência coeundi é tarefa delicada e foi, algu-
• Honra e boa fama mas vezes, constrangedora. Antigamente, o exame pericial consistia
O erro referente a identidade do outro cônjuge, no que diz res- em submeter o homem à prática sexual com uma prostituta, sob os
peito à sua honra e boa fama, deve ser de tal monta que a vida olhares de diversas testemunhas.
entre ambos se torna insuportável pelo logro sobre o cônjuge enga- Hoje, inicia-se a perícia com a esposa, através do exame cui-
nado. Sobre isso a perícia não tem uma contribuição mais efetiva. dadoso do hímen. Se este se apresenta de óstio estreito, orla larga,
íntegro e compatível de romper-se com a cópula, configuramos a
impotência, mesmo que o homem alegue não ser impotente para
outras mulheres. No entanto, para a reclamante, ele o é.

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
A anulação do casamento é específica para quem a requer, e cópula dolorosa, coitofobia). Portanto, nas mulheres, mesmo mais
não genérica. Nos casos em que o exame himenal não esclarece a raramente, há situações em que a anulação do casamento está ple-
perícia, passamos a estudar detalhadamente a genitália externa do namente indicada.
esposo, examinando a conformação, a normalidade ou a presença
de cicatrizes deformantes ou os estados patológicos locais, possi- • Moléstias graves
velmente existentes. A pulsação forte da artéria dorsal do pênis é As moléstias graves e transmissíveis por contágio ou herança,
sinal de grande valor. capazes de pôr em risco a saúde do outro cônjuge ou de sua des-
Outra prova a ser feita é o reflexo bulbocavernoso de Onanoff cendência, podem ensejar motivação à anulação de casamento, se
ou reflexo viril. Coloca-se o dedo indicador atrás do escroto, na ure- forem anteriores e desconhecidas por um dos cônjuges à época do
tra bulbar, tomando entre o polegar e o indicador da mão direita a casamento.
glande. Soltando-se bruscamente, percebe-se, pelo dedo da mão À medida que o tempo passa, doenças outrora consideradas
esquerda, a contração dos músculos isquiocavernoso e bulboes- graves, e muitas delas incuráveis, já não o são hoje, como a tuber-
ponjoso. Esse choque sentido pela mão esquerda indica potência culose, a sífilis, a blenorragia, entre outras.
sexual. A lei civil substantiva não enumera as enfermidades capazes de
Deve-se pesquisar também o reflexo cremastérico. Consiste em impor uma anulação matrimonial, exatamente devido aos constan-
estimular mecanicamente a pele da parte superior da face medial tes progressos que se verificam em favor das ciências biológicas.
das coxas, junto ao escroto, e, quando positivo esse reflexo, nota-se Doenças simples, como a hemofilia, mesmo não sendo conta-
a subida dos testículos. giosas, transmitem-se à geração masculina, por isso podendo ser
É muito comum o marido apontado como impotente não se alegadas em um processo de dissolução de vínculo matrimonial.
submeter a exame, deixando o processo de anulação do casamento Outras há gravíssimas, como o câncer, que, embora não seja
correr à revelia. Se o exame do hímen esclarece, não há por que contagioso nem hereditário, não se conhece nenhum caso de anu-
negar a veracidade da impotência. Quando o hímen não esclarece labilidade de casamento por esta moléstia. Talvez seja devido ao
e o marido não contesta, em geral esse silêncio depõe contra ele. seu caráter de letalidade rápida.
Atualmente, vários são os testes orgânicos utilizados para a As doenças graves, com perigo para o cônjuge e a prole, mais
avaliação da impotência de origem psicogênica, tais como: alegadas nos processos de anulação de casamento são as doenças
1) teste do erectômetro: com um cinto ajustado na base do mentais. Entre elas, pelo seu caráter nocivo e incurável, a mais co-
pênis que, uma vez mudando de posição com a ereção, não volta mum é a personalidade psicopática. Além desta, outras, como a
atrás, podendo-se, inclusive, medir a variação do diâmetro peniano; esquizofrenia, a psicose maníaco-depressiva e a paralisia geral pro-
2) teste do TPN: com uma cinta adesiva colocada na base do gressiva, estão no rol das doenças graves e com possibilidade de
pênis com três bandas de papel que podem romper-se com a tu- transmissão à prole.
mescência peniana a diversos valores de pressão intracavernosa; Fato lamentável, sob todos os aspectos, vem ocorrendo em
3) teste do Inoval: com a utilização desse medicamento indutor nossos tribunais: o da anulação do casamento, se um dos cônjuges
e anestésico, bloqueia-se o psiquismo ao mesmo tempo em que é epiléptico, quando tal ocorrência é anterior e desconhecida à épo-
se manipula a glande na tentativa de se obter a ereção (ampolas ca da sua celebração.
contendo citrato de fentanila 78,5 mcg (equivalente a 50 mcg de Ainda persiste na imaginação de muitos teóricos do Direito que
fentanila), droperidol 2,5 mg, ácido tartárico e manitol); a epilepsia seja uma moléstia grave e sistematicamente transmissí-
4) teste da ereção induzida: com injeção intracavernosa de clo- vel, capaz de colocar em risco permanente a pessoa do outro cônju-
ridrato de papaverina, de prostaglandina ou histamina, que agiriam ge, ou que possa projetar-se de forma indiscutível na sua herança.
como mediadores químicos fisiológicos da ereção; A privação dos direitos civis e o constrangimento sofrido pelos
epilépticos, nos dias de hoje, devem merecer da fração consciente
5) teste de Rigidimeter de Virag: com um cinto na base do
e solidária da comunidade a mais veemente repulsa. Isso nada mais
pênis, tendo um pino por dentro que, empurrado lateralmente à
representa senão privá-los de disputar dos mais elementares direi-
medida que há ereção, traduz essa tensão lateral em uma unida-
tos e privilégios, como também uma modalidade odiosa de colocá-
de chamada Penrig que se aproxima da pressão intracavernosa em
-los em uma classe inferior de homens.
mmHg, fornecida por um visor digital e um aparelho acoplado ao
Representa, ainda, o mais indiscutível vilipêndio aos direitos da
registrador gráfico, cuja anotação é feita durante a noite;
pessoa e uma desrespeitosa violação da cidadania.
6) teste do Rigiscan: com dois cintos colocados na base e na
Outro fato: o que é uma moléstia grave? Quais os elementos
ponta do pênis, garroteando o órgão em intervalos regulares e re- que devem ser mais fluentes em tal conceito? Nenhum compêndio
gistrando em sua memória a tensão lateral, sendo analisado no dia de Patologia define plenamente. O câncer, a mais dramática e im-
seguinte por um computador que decodifica os sinais e revela a placável das moléstias, não mereceu ainda esse tratamento, ainda
qualidade e a quantidade das ereções. que seu prognóstico seja o mais sombrio. Assim, a lei, sem se expli-
car melhor, deixa ao sabor de cada entendimento o que seja grave.
Além dos testes citados, existem ainda vários exames que po-
dem apontar com exatidão para uma impotência de causa orgânica, — Determinação da filiação pelo exame do DNA
como: eletroneuromiografia, esponjossografia, cavernosometria,
potencial evocado genitocerebral, dosagens hormonais, termome- Vínculo genético da filiação pelo DNA
tria, arteriografia, entre outros. A impressão digital genética do DNA (ácido desoxirribonuclei-
Finalmente, deve a perícia considerar a impotência sexual mas- co), representada pelo material genético básico de cada indivíduo
culina como uma síndrome complexa, de mecanismo psiconeuro- e composta de uma substância existente nos cromossomas, é cons-
-endócrino-genitoângio-muscular e, por isso, não deve escapar das tituída de uma extensa fita dupla de nucleotídios com as bases de
avaliações clínica, genital, urológica, neurológica, neurovegetativa, adenina (A), timina (T), guanina (G) e citosina (C).
psíquica, endocrinológica e vascular. Vem sendo defendida como um método de excelência, pelo
A acopulia, ou a incapacidade de a mulher manter o ato se- fato de se admitir estabelecer a paternidade ou a maternidade,
xual, pode ser física (cicatriz, aplasia, malformações, vaginas infan- contrariamente aos outros métodos tradicionais, que são unica-
tis e afecções localizadas) ou psíquica (vaginismo, dispareunia ou mente de exclusão.

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Seus defensores afirmam que a possibilidade de se encontra- E assim o DNA vai-se purificando até seu isolamento total,
rem duas pessoas iguais por esse método é de uma em 10 trilhões, quando é seccionado em vários fragmentos de características po-
fazendo com que esse sistema se constitua em uma verdadeira limorfas que obedecem às leis da hereditariedade, os quais serão
impressão digital, e por isso foi chamada pelos ingleses de DNA submetidos às mais diversas técnicas conhecidas no momento.
Fingerprints (impressão digital do DNA). Cada indivíduo é genetica-
mente diferente de todos os outros.
Seu emprego é mais abrangente, pois, a partir de algumas go-
tas de sangue fresco ou dessecado, de fragmentos de tecidos hu-
manos, de traços de sêmen ou de alguns fios de cabelos com bulbos
capilares, pode-se estabelecer uma paternidade ou uma materni-
dade, desde uma gestação até muitos anos depois da morte de um
dos envolvidos.
Esse método consiste no estudo do material genético básico das Teste de paternidade: inclusão
pessoas – o DNA, representado por uma substância orgânica existen-
te nos cromossomas que, por sua vez, são encontrados no interior das
células. As moléculas de DNA existentes no interior dos cromossomas
no núcleo das células compõem-se de duas “fitas” que se encaixam
como um “fecho éclair”, ou seja, existe um alinhamento perfeito e
específico pela complementaridade química entre as duas “fitas”.
Essa sequência específica dos dentes do “fecho éclair” constitui
uma mensagem química escrita em código genético nos milhares
de genes existentes em nossas células.
Este código genético é responsável pelas características de cada
pessoa e é representado pelo arranjo de quatro blocos de aminas já
referidas como bases: adenina (A) guanina (G) citosina (C) e timina
(T). A adenina sempre se junta à timina, e a citosina, à guanina.
E assim essas combinações podem repetir-se muitas vezes, em As aplicações médico-legais da “impressão digital” genética do
cada célula, cuja ordem dará as características exclusivas de cada DNA podem contribuir para a investigação da paternidade e da ma-
indivíduo. Exemplo de um trecho desse código: ternidade. Mesmo após a morte, pode-se fazer a exumação e estu-
dar o DNA de restos cadavéricos. A amostra de sangue dos avós, de
TTCCGGATATATACTCG tios ou de irmãos legítimos pode possibilitar uma vinculação com
AAGGCCTATATATGAGC a mesma precisão do que aquela obtida se os pais fossem vivos.
Outro fato: pode-se também determinar se existe relação de paren-
Desse modo, ao se conhecer a sequência de bases de um de- tesco entre duas pessoas.
terminado trecho, pode-se conhecer com segurança a sequência do Outrossim, dentro de uma criteriosa análise, levando-se em
trecho correspondente a outra cadeia complementar, obtendo-se conta a avaliação do risco-benefício, podem-se utilizar estas téc-
um padrão de bandas que constitui suas “impressões digitais gené- nicas de vinculação genética da paternidade intraútero através do
ticas do DNA”. estudo de tecidos fetais obtidos pela amniocentese e pela amostra
Essas sequências individuais são detectadas com o auxílio de de vilo corial. Nesta última, a mais usada, utiliza-se o componente
enzimas de restrição ou sondas do DNA. As enzimas têm a proprie- fetal da placenta a partir da 9ª semana de gestação.
dade de funcionar como verdadeiras “tesouras biológicas” que cor- Este método só deve ser usado em situações muito especiais
tam o DNA em pedaços, e cada enzima reconhece uma determina- da determinação de paternidade de interesse médicoterapêutico,
da sequência e secciona a molécula do DNA nos locais onde essa pois, do contrário, deve ser feito com todas as vantagens após o
sequência se repete. nascimento da criança.
As sondas do DNA, por sua vez, são pequenos fragmentos de Outra maneira de utilização da impressão digital genética do
cadeias simples de DNA cuja sequência de bases é conhecida. Essas DNA é na identificação de suspeitos, em situações, antes impos-
sondas se acoplam às sequências consideradas complementares, síveis, como em determinados casos de criminalística, através de
unindo-se a elas. amostras de material biológico encontradas em locais examinados,
Utilizam-se dois tipos de sondas: SLP (single-locus-probe) e contribuindo assim para apontar autores ou excluir falsas imputa-
MLP (multilocus-probe). A SLP (Budowle et al., 1991) identifica um ções.
único segmento do DNA que se repete em um determinado trecho Finalmente, esse método pode ser usado com certa utilidade
do cromossomo. Todavia, não são suficientes para a identificação. nos casos de identificação de vítima em que os outros métodos
A MLP (Gill e Jeffreys, 1987), por seu turno, é capaz de detectar mostraram-se ineficazes, como nas grandes mutilações ou nos car-
vários segmentos do DNA que se repetem em vários cromossomas, bonizados parcial ou quase totalmente, ou ainda nas exumações,
obtendo-se padrão de 20 a 30 bandas, diminuindo, assim, a possibi- adotando-se o uso de microssatélites pela técnica de PCR (poly-
lidade de duas pessoas apresentarem todas as bandas em posições merase chain reaction), que permite o estudo do DNA degradado,
semelhantes, pois esse padrão de bandas é exclusivo para cada pes- a partir de pequenas quantidades de material obtido, como, por
soa, com exceção dos gêmeos univitelinos. exemplo, dos dentes, dos ossos, do bulbo dos cabelos e de outros
Os traçados exclusivos de cada indivíduo são imutáveis durante tecidos remanescentes.
toda a vida, a exemplo das impressões datiloscópicas. Na prática, Valor do perfil de DNA na vinculação genética de filiação. A in-
esse método é obtido através da extração e purificação do DNA, vestigação da paternidade e da maternidade, antes do advento da
mediante incubação do material, a 37°C e durante 12 a 18 h, em so- técnica do perfil de DNA, tinha como ajuda os marcadores sanguí-
lução tamponada de tensoativo (SDS) e enzima proteolítica, capaz neos simples.
de isolar o ácido nucleico das demais partes proteicas.

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Não se pode negar que hoje, com esses novos recursos, não Seja como for, esperamos que o julgador, na sua sofrida soli-
se tenha respostas a situações antes impossíveis, como nos casos dão, entenda que a interpretação correta desses valores não é algo
de pais falecidos, a partir de familiares diretos. Mas isso não quer intuitivo, e que se exige pelo menos o conhecimento da valorização
dizer que a análise do polimorfismo do DNA tenha respostas para probabilística do teste em DNA e da sofrível adequação das estrutu-
todas as indagações no campo da identificação do vínculo genético ras da maioria dos laboratórios em nosso país.
de filiação, nem que todos os resultados dessa prova sejam impe- Desta forma, nada mais justo que, ao avaliar estes testes, os
riosamente verdadeiros. Tribunais mostrem-se cautelosos, não desprezem o conjunto dos
Os equívocos do caso Castro nos EUA são um exemplo de que outros elementos probantes e usem tais resultados como um refe-
há muito ainda para se aprender. Não se pode acreditar demasia- rencial probatório a mais.
damente rápido em uma técnica que está se consolidando e já se
rotula com a falsa expectativa de infalibilidade.
Não foi por outra razão que naquele país criou-se a TWGDAM TRAUMATOLOGIA FORENSE. ENERGIA DE ORDEM FÍSI-
(Technical work group for DNA analysis and methods) e na Europa a CA. ENERGIA DE ORDEM MECÂNICA. LESÕES CORPORAIS:
EDNAP (European DNA profiling group), com a finalidade de exami- LEVE, GRAVE E GRAVÍSSIMA E SEGUIDA DE MORTE
nar cuidadosamente os diversos problemas na aplicação forense da
tipagem de DNA, inclusive criando-se mecanismos seguros para um
controle de qualidade. — Energia de ordem física
Sempre vamos repetir que na prova do DNA há uma esperan- São as energias que produzem lesões no corpo, provocando
ça muito grande de contribuição à hemogenética médico-legal, a alterações no seu estado físico. As principais energias desse tipo
partir do momento que ela esteja firmada cientificamente, tenha são:
respostas para um número razoável de dúvidas que ainda resta e – Temperatura: queimadura, frio, termonose
venha a livrar-se das pressões das empresas comerciais e dos meios – Eletricidade: eletroplessão (óbito decorrente de descarga
de comunicação que forçam, de certo modo, o uso precipitado do elétrica) fulminação, e fulguração
método, difundindo uma ideia de infalibilidade da prova. – Pressão atmosférica: conhecidas por mal dos mergulhadores/
escafandristas; mal dos aviadores ou das montanhas
Prova em DNA vista pelos Tribunais
Além das implicações de ordem ética e legal que se verificam — Energia de ordem mecânica
na prática, há outros problemas que acreditamos de muita impor- Essas energias atuam de forma mecânica sobre o corpo, modi-
tância no contexto da utilização da prova em DNA pelos Tribunais. ficando integral ou parcialmente, seu estado de movimento ou de
O primeiro deles, com o máximo respeito, é a dificuldade que repouso.  
os magistrados e advogados têm de adentrar nesse mundo inson-
dável da perícia especializada, de métodos e técnicas tão compli- Tipos de ferida e instrumento utilizado: 
cados, tanto no que se refere ao aspecto analítico dos resultados, – Ferida contusa: instrumento contundente (ferramenta com
quanto aos procedimentos mais particularizados. superfície variável, que pode ser impelida na pele da vítima; a ferida
Acreditamos que tal fato se verifique não só pelos intrincados contusa também pode ser provocada por movimento de arrasto,
caminhos da prova em DNA, em seus detalhes técnicos e metodoló- com golpe aplicado pela unha ofensor) 
gicos, mas pela correria como estes testes foram impostos e quan- – Ferida punctória ou puntiforme: instrumento perfurante (fer-
do na formação do jurisconsulto faltam-lhe os ensinamentos que ramenta pontiaguda e utilizada por penetração) 
seus cursos básicos de Direito não conheciam. – Ferida em fisa/corte: instrumento cortante (ferramenta do-
Diga-se ainda que tal restrição não é apenas dirigida aos estu- tada de aresta/gume amolado, utilizada a partir de deslizamento,
diosos desta área, mas também aos próprios peritos que funcionam produzindo incisão) 
junto aos Tribunais e que não tiveram oportunidade de entender,
em profundidade, o alcance e os fundamentos da prova do perfil de — Lesões corporais: leve, grave e gravíssima e seguida de
DNA em questões de investigação do vínculo genético. morte 
Acrescente-se ainda o fato de que a prova em DNA está em
acelerada evolução, quando muita coisa que foi publicada, mesmo • Lesões corporais leves: são as lesões que prejudicam a saú-
em periódicos sérios, hoje não tem mais valor. Por outro lado, mui- de ou a integridade física de outrem e que, em geral, não levam a
tas das empresas que fabricam o material dos testes em DNA não complicações fisiológicas graves; os danos desse tipo de lesão são
deixam de insinuar serem os resultados de identificação de pater- externos/superficiais (pele, músculos superficiais, vasos venosos e
nidade e de maternidade infalíveis e inquestionáveis, o que certa- arteriais de pequeno calibre, tela subcutânea). Em geral, são feridas
mente vem perturbando o entendimento dos analistas dessa prova. contusas, hematomas, equimoses, escoriações, grande parte dos
Entendemos também que a análise do polimorfismo do DNA é casos de luxações, torcicolos traumáticos, edemas e entorses. As le-
a prova de maior futuro no momento e que em muitas ocasiões ela sões classificadas como leves consistem em alterações patológicas
mostrou-se importante. Coisa diferente, no entanto, é considerar resultantes de sinais frequentes, convulsões e choques nervosos.    
seus resultados sempre infalíveis ou tornar o julgador prisioneiro
de seus resultados. É perigoso substituir seu juízo de valor por uma • Lesões corporais graves: pertencem a esta categoria as le-
única prova cujo resultado permite uma certa margem de erro, até sões que levam a vítima à incapacitação absoluta, ou seja, impossi-
porque isto é da condição humana. bilidade exercer quaisquer ocupações usuais por período superior
Será que os Tribunais estão percebendo corretamente o signifi- a 30 dias. As situações de lesão grave são aquelas que envolvem: 
cado da prova em DNA? Tem sido fácil avaliar sua técnica tão com- – risco de vida;
plicada e seus fundamentos tão complexos? Existe, na realidade, – antecipação de parto;
o entendimento de que não se pode excluir a possibilidade de um – debilidade temporária de sentido, função ou membro.
resultado não ser condizente com a verdade que se apura?  

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
• Lesões corporais gravíssimas: assim como as lesões graves, as lesões gravíssimas prejudicam a saúde ou a integridade física de ou-
trem, e são descritas no Código Penal, artigo 129, conforme a seguir: 
– enfermidade incurável;
– incapacitação permanente para o trabalho;
– deformidade permanente;
– inutilização ou perda de funções, sentido ou membro;
– aborto.

• Lesões corporais seguidas de morte: são as lesões que acontecem sem intenção de ferir gravemente a vítima, porém, levam à mor-
te; são também denominadas de crime preterdoloso ou preterintencional, quando a ação resulta em dano de gravidade maior do que o
esperado. As condutas provenientes desse tipo de lesão resultam em dois tipos de crime: o homicídio culposo e a lesão corporal dolosa. O
agente da ação (agressor), pretende lesionar, porém, a lesão acaba sendo demasiado grave, e resulta na morte da vítima. 

— Conceitos de trauma e de lesão


A traumatologia tem como objeto de estudo o trauma, que pode ser compreendido como o modo de ação dos agentes vulnerantes
e as consequentes lesões. 
A traumatologia está ligada com as energias de ordem mecânica, que são aquelas que tendem a mudar o estado de repouso ou de
movimento de um corpo, totalmente ou parcialmente.
As energias causam danos, e podem ser:
• Energia mecânica
• Energia química
• Energia física
• Energia biodinâmica

O trauma é o resultado da ação vulnerante que possui energia capaz de produzir a lesão.
Já a lesão advém do instrumento, e com este não se confunde. A lesão pode ser incisa, contusa, perfuroincisa, perfurocontusa, entre
outras.
A lesão depende do instrumento utilizado. Por exemplo, um instrumento cortante (ex. navalha) gera uma lesão incisa.
Esse conhecimento é essencial para desvendar um crime. Por exemplo, foi cobrado na PC/AC 2017 a seguinte questão:
A perícia médico-legal em um cadáver indica uma lesão na cabeça, com característica estrelada na pele, forte impregnação de fumaça
e detritos granulares provenientes da incombustão da pólvora no conduto produzido através da massa encefálica. Nesta, foi encontrado
um objeto metálico, totalmente feito de chumbo, em forma ogival. Na lateral deste objeto foi identificada a presença de estriações. Com
base nesses dados, pode-se dizer:
O cadáver possui lesão provocada por projétil de arma de fogo comum, tendo havido disparo com o cano da arma encostado na
cabeça. O projétil deixa uma lesão na entrada (orifício de entrada) e outra, na saída, cada qual com suas características específicas. Ao
compreender o tipo de lesão fica fácil descobrir outros aspectos do crime.

— Consequências jurídicas dos traumas


A partir da traumatologia as lesões geradas sobre o corpo humano são compreendidas. Assim, existem consequências no aspecto
diagnóstico, prognóstico, legal etc.
A perícia é embasada a partir do conhecimento sobre o trauma e as lesões ocorridas. A busca da verdade no processo penal exige
conhecimento técnico. Nesse sentido, a partir do trauma é possível reconhecer o tipo de lesão no corpo da vítima, que foi causada por
uma energia.
Perceba, sem saber acerca do trauma não é viável apurar como ocorreu, por exemplo, a morte de uma vítima.

— Avaliação da idade lesional e da reação vital


As manchas causadas pela equimose possuem um padrão de tonalidade até seu desaparecimento, conforme estudos de Le Grand du
Salle:
• No 1º dia é VERMELHA
• No 2º e 3º dia é VIOLÁCEA
• Do 4º ao 6º dia é AZUL
• Do 7º ao 11º dia é VERDE
• No 12º dia é AMARELA
• Desaparece do 15º ao 20º dia

Essa regra não é absoluta, assim, existem exceções ao espectro equimótico:


• Conjuntiva ocular: Em virtude de ser muito oxigenada. Fica vermelha até curar.
• Escroto: Vermelho até curar.
• Couro cabeludo: Vermelho escuro.

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
A arma de fogo causa efeito primário e secundário:

Primário Secundário
Ocorre exclusivamente pela ação mecânica do projétil e Decorre da ação explosiva contra o alvo. Só ocorre em tiros a
independente da distância do disparo. curta distância.
• Orla de escoriação ou contusão: a epiderme é arrancada. A Ex. queimaduras, zona de esfumaçamento, zona de tatuagem
derme é esticada. O diâmetro de entrada é menor que o calibre (produzida por pólvora incombusta ou parcialmente comburida).
do projétil. Não dá para afirmar qual é o calibre da arma.
• Orla de enxugo ou limpadura: auréola escura em volta do
orifício de entrada. Em regra, é observada na roupa da vítima.
• Orla equimótica: ao redor do orifício. Caracteriza a reação vital
na ferida. Só aparece em vivos.

QUESTÕES

1. (INSTITUTO UNIFIL - 2020 - PREFEITURA DE SANTO ANTÔNIO DO SUDOESTE - PR - TÉCNICO EM ENFERMAGEM) Sobre o preparo do
corpo após a morte, analise as assertivas e assinale a alternativa correta.
I. Fazer a higiene do corpo com compressa úmida com água e sabonete líquido na presença de sangue, secreções e outras sujidades.
II. Fixar mandíbula, punhos e tornozelos com atadura de crepe.
III. Tamponar os orifícios naturais do corpo (narinas, ouvidos e regiões orofaríngea, vaginal e anal) com algodão seco.
IV. Manter decúbito horizontal dorsal com os braços estendidos ao lado do tórax.

(A) Apenas I e III estão corretas.


(B) Apenas II e IV estão corretas.
(C) Apenas I, II e III estão corretas.
(D) Todas estão corretas.

2. (IADES - 2019 - PC-DF - PERITO CRIMINAL - VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM - 2ª PROVA) Considerando que um cadáver encontrado
em local ermo não apresentava rigidez cadavérica, é correto afirmar que
(A) o tempo desde a morte é menor que uma hora.
(B) o tempo desde a morte pode ser superior a 24 horas.
(C) o corpo não foi exposto à luz solar; pode ter sido enterrado, por exemplo.
(D) a morte ocorreu por choque hipovolêmico.
(E) houve ação térmica post-mortem.

3. (INSTITUTO AOCP - 2019 - PC-ES - MÉDICO LEGISTA) Em relação às asfixias, é correto afirmar que
(A) são causadas por energias de ordem mecânica.
(B) o enforcamento é causado por força constritiva ativa.
(C) o estrangulamento é causado por força constritiva passiva.
(D) a esganadura é causada por sufocação.
(E) a sufocação indireta é causada pela compressão do tórax.

4. (MPE-PR - 2019 - MPE-PR - PROMOTOR SUBSTITUTO) Relativamente à morte causada por asfixia, suas modalidades e sinais cadavé-
ricos, analise as assertivas abaixo e assinale a correta:
(A) São sinais internos observados em todas as necropsias: sangue fluído de cor escura, congestão polivisceral, equimoses viscerais
com forma de petéquias, mais frequentes nas regiões subpleural, subcárdica e subepicárdia.
(B) Estrangulamento é a contrição cervical realizada diretamente por qualquer parte do corpo do agressor, como mãos, pernas, braços.
(C) Esganadura caracteriza-se pela constrição do pescoço por laço acionado por força mecânica ativa, como o garrote.
(D) A presença de sulco horizontalizado, contínuo, com profundidade uniforme pode indicar enforcamento.
(E) A presença de sulco único, oblíquo e ascendente, com profundidade desigual pode indicar enforcamento.

5. (PC/ES – MÉDICO LEGISTA - INSTITUTO AOCP/2019) Em mulheres, a dispareunia pode, eventualmente, constituir defeito físico,
sendo considerada, dentro da sexologia forense, como
(A) neurose sexual.
(B) cópula dolorosa para a mulher.
(C) hiperestesia da vulva.
(D) esterilidade feminina.
(E) ausência de útero.

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
6. (PC/ES – MÉDICO LEGISTA - INSTITUTO AOCP/2019) No Bra- ( ) A fulminação causa lesões denominadas fulguração.
sil, há uma elevada incidência de casos de violência sexual. Além do ( ) A morte ocorre por arritmia cardíaca.
exame clínico, há a necessidade de constatar o sêmen coletado do ( ) A marca de Jellineck é característica em que a vítima tem
corpo da vítima. Um exame indicativo de sêmen em casos forenses contato com a entrada de corrente elétrica.
é a detecção de ( ) A marca arboriforme de Lichtenberg típica se localiza na face
(A) sangue humano. anterior do tórax.
(B) pelos humanos. ( ) A morte ocorre por asfixia por paralisação de centro respi-
(C) antígenos prostáticos específicos. ratório central.
(D) ácido lático.
(E) glóbulos brancos. Assinale a alternativa que apresente a sequência correta, de
cima para baixo.
7. (PEFOCE – ODONTOLOGIA – IDECAN/2021) A eletricidade é (A) I – N – N – I – N – I.
o conjunto de fenômenos que ocorre graças ao desequilíbrio ou à (B) I – I – N – I – N – I.
movimentação das cargas elétricas, uma propriedade inerente aos (C) I– N – I – I – N – I.
prótons e elétrons, assim como também dos corpos eletricamente (D) I – N – I – N – I – N.
carregados. Lesões podem ser ocasionadas tanto como efeito da (E) N – I – I – N – N – I.
eletricidade natural, quanto da eletricidade artificial. Com relação
às lesões por eletricidade, analise as afirmativas a seguir: 11. (PC-MG — DELEGADO — FUMARC — 2018). De acordo com
I. A fulguração é a síndrome desencadeada pela eletricidade o Artigo 129 do Código Penal Brasileiro, trata-se de lesão corporal
artificial. Entre as lesões produzidas pela corrente, observavam-se de natureza gravíssima:
lesões localizadas, cutâneas, ou internas, além dos efeitos gerais (A) Aceleração de parto.
sobre o organismo. (B) Debilidade permanente de membro, sentido ou função.
II. A eletroplessão é a lesão localizada, não letal, produzida pela (C) Deformidade permanente.
eletricidade cósmica ou querauranográfica, sendo a mais conhecida (D) Perigo de vida.
como Sinal de Lichtenberg.
III. A lesão sistêmica, letal, produzida pela eletricidade cósmica 12. (FGV - 2021 - PC-RN - DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL SUBS-
ou querauranográfica é denominada fulminação. TITUTO) Os fuzis, armas militares utilizadas pelo crime organizado,
disparam projéteis de alta energia cinética. Em relação às caracte-
Assinale rísticas desses projéteis, é correto afirmar que:
(A) se somente a afirmativa III estiver correta. (A) mantêm sua estabilidade a partir dos 100m;
(B) se nenhuma afirmativa estiver correta. (B) pela sua alta velocidade, mantêm-se íntegros quando reti-
(C) se somente a afirmativa I estiver correta. rados do cadáver;
(D) se somente as afirmativas I e III estiverem corretas. (C) por terem ponta afilada, os orifícios de entrada são sempre
(E) se somente a afirmativa II estiver correta. de pequeno diâmetro;
(D) pela sua alta velocidade, não permitem realizar exame de
8. (PEFOCE - MÉDICO PATOLOGISTA – IDECAN/2021) Nas ba- microcomparação balística;
ropatias por explosões, acontece o fenômeno chamado de “blast”, (E) por possuírem revestimento metálico, não costumam se
que determina os seguintes achados de necropsia: fragmentar.
(A) sangue fluido e escuro.
(B) petéquias.
(C) enfisema em partes moles do pescoço e tórax. GABARITO
(D) congestão polivisceral.
(E) cogumelo de espuma.
1 C
9. (PEFOCE - MÉDICO PATOLOGISTA – IDECAN/2021) A termolo-
gia forense estuda todas as lesões consequentes a variações extre- 2 B
mas de temperaturas. A esse respeito assinale a alternativa correta. 3 E
(A) Nas intermações, há falha na resposta termorreguladora.
(B) Em ambas as alterações, o volume plasmático se eleva no 4 E
início. 5 B
(C) Nas insolações, há falha na resposta hipotalâmica e no cen-
tro vasodilatador periférico. 6 C
(D) As mortes por carbonização ocorrem sempre diretamente 7 A
por ação térmica sem que ocorra asfixia por inalação de gases
anteriormente. 8 C
(E) A regra dos nove para cálculo de área corporal queimada só 9 B
se aplica em vivos.
10 A
10. (PEFOCE - MÉDICO PATOLOGISTA – IDECAN/2021) Sabe-se 11 C
que as mortes causadas por energia elétrica são diferentes quan- 12 A
do se trata de energia industrial ou energia natural. Nesse cenário,
marque as afirmativas com N, de natural, e I, de industrial, de acor-
do com o tipo de energia envolvida.
( ) Denomina-se eletroplessão o tipo de energia que atua sobre
o ser humano, podendo causar a morte.

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL

ANOTAÇÕES
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ARQUIVOLOGIA

ARQUIVÍSTICA: PRINCÍPIOS E CONCEITOS. GESTÃO DA INFORMAÇÃO E DE DOCUMENTOS. PROTOCOLO: RECEBIMENTO,


REGISTRO, DISTRIBUIÇÃO, TRAMITAÇÃO E EXPEDIÇÃO DE DOCUMENTOS. CLASSIFICAÇÃO DE DOCUMENTOS DE ARQUIVO.
ARQUIVAMENTO E ORDENAÇÃO DE DOCUMENTOS DE ARQUIVO. TABELA DE TEMPORALIDADE DE DOCUMENTOS DE AR-
QUIVO. ACONDICIONAMENTO E ARMAZENAMENTO DE DOCUMENTOS DE ARQUIVO. PRESERVAÇÃO E CONSERVAÇÃO DE
DOCUMENTOS DE ARQUIVO

A arquivística é uma ciência que estuda as funções do arquivo, e também os princípios e técnicas a serem observados durante
a atuação de um arquivista sobre os arquivos e, tem por objetivo, gerenciar todas as informações que possam ser registradas em
documentos de arquivos.

A Lei nº 8.159/91 (dispõe sobre a política nacional de arquivos públicos e entidades privadas e dá outras providências) nos dá
sobre arquivo:
“Consideram-se arquivos, para os fins desta lei, os conjuntos de documentos produzidos e recebidos por órgãos públicos, insti-
tuições de caráter público e entidades privadas, em decorrência do exercício de atividades específicas, bem como por pessoa física,
qualquer que seja o suporte da informação ou a natureza dos documentos.”

Á título de conhecimento segue algumas outras definições de arquivo.


“Designação genérica de um conjunto de documentos produzidos e recebidos por uma pessoa física ou jurídica, pública ou pri-
vada, caracterizado pela natureza orgânica de sua acumulação e conservado por essas pessoas ou por seus sucessores, para fins de
prova ou informação”, CONARQ.

“É o conjunto de documentos oficialmente produzidos e recebidos por um governo, organização ou firma, no decorrer de suas
atividades, arquivados e conservados por si e seus sucessores para efeitos futuros”, Solon Buck (Souza, 1950) (citado por PAES, Ma-
rilena Leite, 1986).

“É a acumulação ordenada dos documentos, em sua maioria textuais, criados por uma instituição ou pessoa, no curso de sua
atividade, e preservados para a consecução dos seus objetivos, visando à utilidade que poderão oferecer no futuro.” (PAES, Marilena
Leite, 1986).

De acordo com uma das acepções existentes para arquivos, esse também pode designar local físico designado para conservar
o acervo.
A arquivística está embasada em princípios que a diferencia de outras ciências documentais existentes.

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ARQUIVOLOGIA
Vejamos:

O princípio de proveniência nos remete a um conceito muito importante aos arquivistas: o Fundo de Arquivo, que se caracteri-
za como um conjunto de documentos de qualquer natureza – isto é, independentemente da sua idade, suporte, modo de produção,
utilização e conteúdo– reunidos automática e organicamente –ou seja, acumulados por um processo natural que decorre da própria
atividade da instituição–, criados e/ou acumulados e utilizados por uma pessoa física, jurídica ou poruma família no exercício das
suas atividades ou das suas funções.
Esse Fundo de Arquivo possui duas classificações a se destacar.
Fundo Fechado – quando a instituição foi extinta e não produz mais documentos estamos.
Fundo Aberto - quando a instituição continua a produzir documentos que se vão reunindo no seu arquivo.

Temos ainda outros aspectos relevantes ao arquivo, que por alguns autores, podem ser classificados como princípios e por
outros, como qualidades ou aspectos simplesmente, mas que, independente da classificação conceitual adotada, são relevantes
no estudo da arquivologia. São eles:
- Territorialidade: arquivos devem ser conservados o mais próximo possível do local que o gerou ou que influenciou sua pro-
dução.
- Imparcialidade: Os documentos administrativos são meios de ação e relativos a determinadas funções. Sua imparcialidade
explica-se pelo fato de que são relativos a determinadas funções; caso contrário, os procedimentos aos quais os documentos se
referem não funcionarão, não terão validade. Os documentos arquivísticos retratam com fidelidade os fatos e atos que atestam.
- Autenticidade: Um documento autêntico é aquele que se mantém da mesma forma como foi produzido e, portanto, apresenta
o mesmo grau de confiabilidade que tinha no momento de sua produção.

Por finalidade a arquivística visa servir de fonte de consulta, tornando possível a circulação de informação registrada, guardada
e preservada sob cuidados da Administração, garantida sua veracidade.

Costumeiramente ocorre uma confusão entre Arquivo e outros dois conceitos relacionados à Ciência da Informação, que são a
Biblioteca e o Museu, talvez pelo fato desses também manterem ali conteúdo guardados e conservados, porém, frisa-se que trata-
-se de conceitos distintos.

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ARQUIVOLOGIA
O quadro abaixo demonstra bem essas distinções:

Arquivos Públicos
Segundo a Lei nº 8.159, de 8 de janeiro de 1991, art.7º, Capítulo II:
“Os arquivos públicos são os conjuntos de documentos produzidos e recebidos, no exercício de suas atividades, por órgãos
públicos de âmbito federal, estadual, do distrito federal e municipal, em decorrência de suas funções administrativas, legislativas
e judiciárias”.
Igualmente importante, os dois parágrafos do mesmo artigo diz:
“§ 1º São também públicos os conjuntos de documentos produzidos e recebidos por instituições de caráter público, por entida-
des privadas encarregadas da gestão de serviços públicos no exercício de suas atividades.
§ 2º A cessação de atividades de instituições públicas e de caráter público implica o recolhimento de sua documentação à
instituição arquivística pública ou a sua transferência à instituição sucessora.»
Todos os documentos produzidos e/ou recebidos por órgãos públicos ou entidades privadas (revestidas de caráter público –
mediante delegação de serviços públicos) são considerados arquivos públicos, independentemente da esfera de governo.

Arquivos Privados
De acordo com a mesma Lei citada acima:
“Consideram-se arquivos privados os conjuntos de documentos produzidos ou recebidos por pessoas físicas ou jurídicas, em
decorrência de suas atividades.”
Para elucidar possíveis dúvidas na definição do referido artigo, a pessoa jurídica a qual o enunciado se refere diz respeito à pes-
soa jurídica de direito privado, não se confundindo, portanto, com pessoa jurídica de direito público, pois os órgãos que compõe a
administração indireta da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, são também pessoas jurídicas, destituídas de poder político
e dotadas de personalidade jurídica própria, porém, de direito público.
Exemplos:
• Institucional: Igrejas, clubes, associações, etc.
• Pessoais: fotos de família, cartas, originais de trabalhos, etc.
• Comercial: companhias, empresas, etc.
A arquivística é desenvolvida pelo arquivista, profissional com formação em arquivologia ou experiência reconhecida pelo Esta-
do. Ele pode trabalhar em instituições públicas ou privadas, centros de documentação, arquivos privados ou públicos, instituições
culturais etc.
Ao arquivista compete gerenciar a informação, cuidar da gestão documental, conservação, preservação e disseminação da
informação contida nos documentos, assim como pela preservação do patrimônio documental de um pessoa (física ou jurídica),
institução e, em última instância, da sociedade como um todo.
Também é função do arquivista recuperar informações ou elaborar instrumentos de pesquisas arquivisticas. 1

GESTÃO DE DOCUMENTOS
Um documento (do latim documentum, derivado de docere “ensinar, demonstrar”) é qualquer meio, sobretudo gráfico, que
comprove a existência de um fato, a exatidão ou a verdade de uma afirmação etc. No meio jurídico, documentos são frequentemen-
te sinônimos de atos, cartas ou escritos que carregam um valor probatório.
Documento arquivístico: Informação registrada, independente da forma ou do suporte, produzida ou recebida no decorrer da
atividade de uma instituição ou pessoa e que possui conteúdo, contexto e estrutura suficientes para servir de prova dessa atividade.
Administrar, organizar e gerenciar a informação é uma tarefa de considerável importância para as organizações atuais, sejam
essas privadas ou públicas, tarefa essa que encontra suporte na Tecnologia da Gestão de Documentos, importante ferramenta que
auxilia na gestão e no processo decisório.

1Adaptado de George Melo Rodrigues

289
ARQUIVOLOGIA
A gestão de documentos representa umconjunto de procedimentos e operações técnicas referentes à sua produção, trami-
tação, uso, avaliação e arquivamento em fase corrente e intermediária, visando a sua eliminação ou recolhimento para a guarda
permanente.

Através da Gestão Documental é possível definir qual a politica arquivistica adotada, através da qual, se constitui o patrimônio
arquivistico. Outro aspecto importante da gestão documental é definir os responsáveis pelo processo arquivistico.
A Gestão de Documentos é ainda responsável pela implantação do programa de gestão, que envolve ações como as de acesso,
preservação, conservação de arquivo, entre outras atividades.
Por assegurar que a informação produzida terá gestão adequada, sua confidencialidade garantida e com possibilidade de ser
rastreada, a Gestão de Documentos favorece o processo de Acreditação e Certificação ISO, processos esses que para determinadas
organizações são de extrema importância ser adquirido.
Outras vantagens de se adotar a gestão de documentos é a racionalização de espaço para guarda de documentos e o controle
deste a produção até arquivamento final dessas informações.
A implantação da Gestão de Documentos associada ao uso adequado da microfilmagem e das tecnologias do Gerenciamento
Eletrônico de Documentos deve ser efetiva visando à garantia no processo de atualização da documentação, interrupção no proces-
so de deterioração dos documentos e na eliminação do risco de perda do acervo, através de backup ou pela utilização de sistemas
que permitam acesso à informação pela internet e intranet.
A Gestão de Documentos no âmbito da administração pública atua na elaboração dos planos de classificação dos documentos,
TTD (Tabela Temporalidade Documental) e comissão permanente de avaliação. Desta forma é assegurado o acesso rápido à infor-
mação e preservação dos documentos.

Protocolo: recebimento, registro, distribuição, tramitação e expedição de documentos.


Esse processo acima descrito de gestão de informação e documentos segue um tramite para que possa ser aplicado de forma
eficaz, é o que chamamos de protocolo.
O protocolo é desenvolvido pelos encarregados das funções pertinentes aos documentos, como, recebimento, registro, distri-
buição e movimentação dos documentos em curso.
A finalidade principal do protocolo é permitir que as informações e documentos sejam administradas e coordenadas de forma
concisa, otimizada, evitando acúmulo de dados desnecessários, de forma que mesmo havendo um aumento de produção de docu-
mentos sua gestão seja feita com agilidade, rapidez e organização.
Para atender essa finalidade, as organizações adotam um sistema de base de dados, onde os documentos são registrados assim
que chegam à organização.
A partir do momento que a informação ou documento chega é adotado uma rotina lógica, evitando o descontrole ou problemas
decorrentes por falta de zelo com esses, como podemos perceber:

Recebimento:
Como o próprio nome diz, é onde se recebe os documentos e onde se separa o que é oficial e o que é pessoal.
Os pessoais são encaminhados aos seus destinatários.
Já os oficiais podem sem ostensivos e sigilosos. Os ostensivos são abertos e analisados, anexando mais informações e assim
encaminhados aos seus destinos e os sigilosos são enviados diretos para seus destinatários.

Registro:
Todos os documentos recebidos devem ser registrados eletronicamentecom seu número, nome do remetente, data, assunto
dentre outras informações.
Depois do registro o documento é numerado (autuado) em ordem de chegada.
Depois de analisado o documento ele é classificado em uma categoria de assuntopara que possam ser achados. Neste momen-
to pode-se ate dar um código a ele.

Distribuição:
Também conhecido como movimentação, é a entrega para seus destinatários internos da empresa. Caso fosse para fora da
empresa seria feita pela expedição.

Tramitação:
A tramitação são procedimentos formais definidas pela empresa.É o caminho que o documento percorre desde sua entrada na
empresa até chegar ao seu destinatário (cumprir sua função).Todas as etapas devem ser seguidas sem erro para que o protocolo
consiga localizar o documento. Quando os dados são colocados corretamente, como datas e setores em que o documento caminhou
por exemplo, ajudará aagilizar a sua localização.

Expedição de documentos:
A expedição é por onde sai o documento. Deve-se verificar se faltam folhas ou anexos. Também deve numerar e datar a cor-
respondência no original e nas cópias, pois as cópias são o acompanhamento da tramitação do documento na empresa e serão
encaminhadas ao arquivo. As originais são expedidas para seus destinatários.

290
290
ARQUIVOLOGIA
Após cumprirem suas respectivas funções, os documentos devem ter seu destino decidido, seja este a sua eliminação ou

Sistemas de classificação
O conceito de classificação e o respectivo sistema classificativo a ser adotado, são de uma importância decisiva na elaboração
de um plano de classificação que permita um bom funcionamento do arquivo.
Um bom plano de classificação deve possuir as seguintes características:
- Satisfazer as necessidades práticas do serviço, adotando critérios que potenciem a resolução dos problemas. Quanto mais
simples forem as regras de classificação adotadas, tanto melhor se efetuará a ordenação da documentação;
- A sua construção deve estar de acordo com as atribuições do organismo (divisão de competências) ou em última análise, fo-
cando a estrutura das entidades de onde provém a correspondência;
- Deverá ter em conta a evolução futura das atribuições do serviço deixando espaço livre para novas inclusões;
- Ser revista periodicamente, corrigindo os erros ou classificações mal efetuadas, e promover a sua atualização sempre que se
entender conveniente.

A classificação por assuntos é utilizada com o objetivo de agrupar os documentos sob um mesmo tema, como forma de agilizar
sua recuperação e facilitar as tarefas arquivísticas relacionadas com a avaliação, seleção, eliminação, transferência, recolhimento
e acesso a esses documentos, uma vez que o trabalho arquivístico é realizado com base no conteúdo do documento, o qual reflete
a atividade que o gerou e determina o uso da informação nele contida. A classificação define, portanto, a organização física dos
documentos arquivados, constituindo-se em referencial básico para sua recuperação.
Na classificação, as funções, atividades, espécies e tipos documentais distribuídos de acordo com as funções e atividades de-
sempenhadas pelo órgão.

A classificação deve ser realizada de acordo com as seguintes características:

De acordo com a entidade criadora


- PÚBLICO – arquivo de instituições públicas de âmbito federal ou estadual ou municipal.
- INSTITUCIONAL – arquivos pertencentes ou relacionados à instituições educacionais, igrejas, corporações não-lucrativas, so-
ciedades e associações.
- COMERCIAL- arquivo de empresas, corporações e companhias.
- FAMILIAR ou PESSOAL - arquivo organizado por grupos familiares ou pessoas individualmente.
.
De acordo com o estágio de evolução (considera-se o tempo de vida de um arquivo)
- ARQUIVO DE PRIMEIRA IDADE OU CORRENTE - guarda a documentação mais atual e frequentemente consultada. Pode ser
mantido em local de fácil acesso para facilitar a consulta.
- ARQUIVO DE SEGUNDA IDADE OU INTERMEDIÁRIO - inclui documentos que vieram do arquivo corrente, porque deixaram de
ser usados com frequência. Mas eles ainda podem ser consultados pelos órgãos que os produziram e os receberam, se surgir uma
situação idêntica àquela que os gerou.
- ARQUIVO DE TERCEIRA IDADE OU PERMANENTE - nele se encontram os documentos que perderam o valor administrativo e
cujo uso deixou de ser frequente, é esporádico. Eles são conservados somente por causa de seu valor histórico, informativo para
comprovar algo para fins de pesquisa em geral, permitindo que se conheça como os fatos evoluíram.

De acordo com a extensão da atenção


Os arquivos se dividem em:
- ARQUIVO SETORIAL - localizado junto aos órgãos operacionais, cumprindo as funções de um arquivo corrente.
- ARQUIVO CENTRAL OU GERAL - destina-se a receber os documentos correntes provenientes dos diversos órgãos que integram
a estrutura de uma instituição.

De acordo com a natureza de seus documentos


- ARQUIVO ESPECIAL - guarda documentos de variadas formas físicas como discos, fitas, disquetes, fotografias, microformas
(fichas microfilmadas), slides, filmes, entre outros. Eles merecem tratamento adequado não apenas quanto ao armazenamento das
peças, mas também quanto ao registro, acondicionamento, controle e conservação.
- ARQUIVO ESPECIALIZADO – também conhecido como arquivo técnico, é responsável pela guarda os documentos de um deter-
minado assunto ou setor/departamento específico.

291
ARQUIVOLOGIA
De acordo com a natureza do assunto 7. Arquivar o anexo do documento, quando volumoso, em
- OSTENSIVO: aqueles que ao serem divulgados não prejudi- caixa ou pasta apropriada, identificando externamente o seu
cam a administração; conteúdo e registrando a sua localização no documento que o
- SIGILOSO: em decorrência do assunto, o acesso é limitado, encaminhou.
com divulgação restrita. 8. Endereçamento - o endereço aponta para o local onde os
documentos/processos estão armazenados.
De acordo com a espécie Devemos considerar duas formas de arquivamento: A hori-
- ADMINISTRATIVO: Referente às atividades puramente zontal e a vertical.
administrativas; - Arquivamento Horizontal: os documentos são dispostos
- JUDICIAL: Referente às ações judiciais e extrajudiciais; uns sobre os outros, ―deitados, dentro do mobiliário. É indica-
- CONSULTIVO: Referente ao assessoramento e orientação do para arquivos permanentes e para documentos de grandes
jurídica. Busca dirimir dúvidas entre pareceres, busca alternati- dimensões, pois evitam marcas e dobras nos mesmos.
vas para evitar a esfera judicial. - Arquivamento Vertical: os documentos são dispostos uns
atrás dos outros dentro do mobiliário. É indicado para arquivos
De acordo com o grau de sigilo correntes, pois facilita a busca pela mobilidade na disposição
- RESERVADO: Dados ou informações cuja revelação não- dos documentos.
-autorizada possa comprometer planos, operações ou objetivos
neles previstos; Para o arquivamento e ordenação dos documentos no arqui-
- SECRETO: Dados ou informações referentes a sistemas, instala- vo, devemos considerar tantos os métodos quanto os sistemas.
ções, projetos, planos ou operações de interesse nacional, a assuntos Os Sistemas de Arquivamento nada mais são do que a pos-
diplomáticos e de inteligência e a planos ou detalhes, programas ou sibilidade ou não de recuperação da informação sem o uso de
instalações estratégicos, cujo conhecimento não autorizado possa instrumentos.
acarretar dano grave à segurança da sociedade e do Estado; Tudo o que isso quer dizer é apenas se precisa ou não de
- ULTRASSECRETO: Dados ou informações referentes à sobe- uma ferramenta (índice, tabela ou qualquer outro semelhante)
rania e à integridade territorial nacional, a plano ou operações para localizar um documento em um arquivo.
militares, às relações internacionais do País, a projetos de pes- Quando NÃO HÁ essa necessidade, dizemos que é um sis-
quisa e desenvolvimento científico e tecnológico de interesse da tema direto de busca e/ou recuperação, como por exemplo, os
defesa nacional e a programas econômicos, cujo conhecimento
métodos alfabético e geográfico.
não autorizado possa acarretar dano excepcionalmente grave à
Quando HÁ essa necessidade, dizemos que é um sistema
segurança da sociedade e do Estado.
indireto de busca e/ou recuperação, como são os métodos nu-
méricos.
Arquivamento e ordenação de documentos
O arquivamento é o conjunto de técnicas e procedimentos
A ORDENAÇÃO é a reunião dos documentos que foram clas-
que visa ao acondicionamento e armazenamento dos documen-
sificados dentre de um mesmo assunto.
tos no arquivo.
Sua finalidade é agilizar o arquivamento, de forma organi-
Uma vez registrado, classificado e tramitado nas unidades
zada e categorizada previamente para posterior arquivamento.
competentes, o documento deverá ser encaminhado ao seu des-
tino para arquivamento, após receber despacho final. Para definir a forma da ordenação é considerada a natureza
O arquivamento é a guarda dos documentos no local esta- dos documentos, podendo ser:2
belecido, de acordo com a classificação dada. Nesta etapa toda
a atenção é necessária, pois um documento arquivado erronea- 1. Arquivamento por assunto
mente poderá ficar perdido quando solicitado posteriormente. Uma das técnicas mais utilizadas para a gestão de docu-
O documento ficará arquivado na unidade até que cumpra o mentos é o arquivamento por assunto. Como o próprio nome já
prazo para transferência ao Arquivo Central ou sua eliminação. adianta, essa técnica consiste em realizar o arquivamento dos
documentos de acordo com o assunto tratado neles.
As operações para arquivamento são: Isso permite agrupar documentos que tratem de assuntos
1. Verificar se o documento destina-se ao arquivamento; correlatos e permite encontrar informações completas sobre
2. Checar a classificação do documento, caso não haja, atri- determinada matéria de forma simples e direta, sendo especial-
buir um código conforme o assunto; mente interessante para empresas que lidam com um grande
3. Ordenar os documentos na ordem sequencial; volume de documentos de um mesmo tema.
4. Ao arquivar o documento na pasta, verificar a existência
de antecedentes na mesma pasta e agrupar aqueles que tratam 2. Método alfabético
do mesmo assunto, por consequência, o mesmo código; Uma das mais conhecidas técnicas de arquivamento de do-
5. Arquivar as pastas na sequência dos códigos atribuídos cumentos é o método alfabético, que consiste em organizar os
– usar uma pasta para cada código, evitando a classificação “di- documentos arquivados de acordo com a ordem alfabética des-
versos”; ses, permitindo uma consulta mais intuitiva e eficiente.
6. Ordenar os documentos que não possuem antecedentes Como a própria denominação já indica, nesse esquema o
de acordo com a ordem estabelecida – cronológica, alfabética, elemento principal considerado é o nome. Estamos falando so-
geográfica, verificando a existência de cópias e eliminando-as. bre um método muito usado nas empresas por apresentar a van-
Caso não exista o original manter uma única cópia; tagem de ser rápido e simples.

2Adaptado de www.agu.gov.br

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ARQUIVOLOGIA
No entanto, quando se armazena um número muito grande No entanto, de acordo com a literatura arquivística, duas
de informações, é comum que existam alguns erros. Isso acon- normas precisam ser empregadas para que o método geográfico
tece devido à grande variedade de grafia dos nomes e também seja utilizado de forma adequada.
ao cansaço visual do funcionário. Confira!
Para que a localização e o armazenamento dos documentos - Norma do método geográfico 1
se tornem mais rápidos, é possível combinar esse método com Quando os documentos são organizados por país ou por es-
a escolha de cores. Dessa forma, fica mais simples encontrar a tado, eles precisam ser ordenados alfabeticamente. Dessa for-
letra procurada. ma, fica mais fácil localizá-los depois. Isso vale também para as
Esse método é conhecido como Variadex e utiliza as cores cidades de um mesmo país ou estado: sempre postas em ordem
como elementos auxiliares, com o objetivo de facilitar a locali- alfabética. Nesse caso, as capitais precisam aparecer no início da
zação e a recuperação dos documentos. Vale lembrar que essa é lista, uma vez que elas são, normalmente, as mais procuradas,
somente uma variação do método alfabético. É possível, ainda, tendo uma quantidade maior de documentos.
combinar esse método ao de arquivamento por assunto, usando
a ordem alfabética para subdividir a organização. - Norma do método geográfico 2
Ao realizar um arquivamento por cidades, quando não exis-
3. Método numérico te separação por estado, não há a exigência de que as capitais
O método numérico é outra opção de arquivamento e uma fiquem no início. A ordem vai ser simplesmente alfabética. En-
ótima escolha para empresas que lidam com um grande volu- tretanto, ao final de cada cidade, o estado a que ela corresponde
me de documentos. Ele consiste em determinar um número precisa aparecer na identificação.
sequencial para cada documento, permitindo sua consulta de
acordo com um índice numérico previamente determinado. 6. Método temático
Como o próprio nome indica, esse método é aquele usado Esse é um método que propõe a organização dos documen-
quando os documentos são ordenados por números. É possível tos por assunto. Assim, a classificação é elaborada pelos assun-
escolher três formas distintas de utilizá-lo: numérico simples, tos e temas básicos, que podem admitir diversas composições.
cronológico ou dígito-terminal.
7. Índice onomástico (opcional)
- Método numérico simples Índice de nomes próprios que aparecem no texto. Deve ser
Esse método é usado quando o modo de organizar é feito utilizado quando o Coordenador da coleção assim o decidir.
pelo número da pasta ou do documento em que ele foi arqui- Deve ser organizado da mesma maneira que o índice remissivo.
vado. É muito utilizado na organização de prontuários médicos,
filmes, processos e pastas de funcionários. Tabela de temporalidade
Instrumento de destinação, que determina prazos e condi-
- Método numérico cronológico ções de guarda tendo em vista a transferência, recolhimento,
Um método usado para fazer a organização dos documentos descarte de documentos, com a finalidade de garantir o acesso
por data. É extremamente utilizado para organizar documentos à informação a quantos dela necessitem.
financeiros, fotos e outros arquivos em que a data é o elemento É um instrumento resultante da atividade de avaliação de do-
essencial para buscar a informação. cumentos, que consiste em identificar seus valores (primário/admi-
nistrativo ou secundário/histórico) e definir prazos de guarda, regis-
- Método numérico dígito-terminal trando dessa forma, o registra o ciclo de vida dos documentos.
A partir do momento em que se faz uso de números maio- Para que a tabela tenha validade precisa ser aprovada por
res, com diversos dígitos, o método simples não é eficiente. Isso autoridade competente e divulgada entre os funcionários na
ocorre porque ele acaba se tornando trabalhoso e lento. Por instituição.
isso, nesse caso, o mais indicado é utilizar o método dígito-ter- Sua estrutura básica deve necessariamente contemplar os
minal. conjuntos documentais produzidos e recebidos por uma insti-
Nesse método, a ordenação é realizada com base nos dois tuição no exercício de suas atividades, os prazos de guarda nas
últimos dígitos. Quando esses são idênticos, a ordenação é dada fases corrente e intermediária, a destinação final – eliminação
a partir dos dois dígitos anteriores. Isso acaba tornando o arqui- ou guarda permanente, além de um campo para observações
vamento mais ágil e eficiente. necessárias à sua compreensão e aplicação.

4. Método eletrônico Apresentam-se a seguir diretrizes para a correta utilização


O método eletrônico consiste em arquivar os documentos do instrumento:
de forma eletrônica, realizando sua digitalização — o que permi-
te não só organizá-los de diversas formas distintas e de acordo 1. Assunto: Apresenta-se aqui os conjuntos documentais
com o método que mais se encaixa na organização e nas neces- produzidos e recebidos, hierarquicamente distribuídos de acor-
sidades da empresa, mas fazer sua gestão online e até mesmo do com as funções e atividades desempenhadas pela instituição.
remota. Como instrumento auxiliar, pode ser utilizado o índice, que
contém os conjuntos documentais ordenados alfabeticamente
5. Método geográfico para agilizar a sua localização na tabela.
Esse método é aquele usado quando os documentos apre-
sentam a sua organização por meio do local, isto é, quando a
empresa escolhe classificar os documentos a partir de seu local
de origem.

293
ARQUIVOLOGIA
2. Prazos de guarda: Trata-se do tempo necessário para arquivamento dos documentos nas fases corrente e intermediária,
visando atender exclusivamente às necessidades da administração que os gerou.
Deve ser objetivo e direto na definição da ação – exemplos: até aprovação das contas; até homologação daaposentadoria; e
até quitação da dívida.
- Os prazos são preferencialmente em ANOS
- Os prazos são determinados pelas: - Normas
- Precaução
- Informações recaptulativas
- Frequência de uso

3. Destinação final: Registra-se a destinação estabelecida que pode ser:

4. Observações: Neste campo são registradas informações complementares e justificativas, necessárias à correta aplicação da
tabela. Incluem-se, ainda, orientações quanto à alteração do suporte da informação e aspectos elucidativos quanto à destinação
dos documentos, segundo a particularidade dos conjuntos documentais avaliados.

A definição dos prazos de guarda devem ser definidos com base na legislação vigente e nas necessidades administrativas.

ACONDICIONAMENTO E ARMAZENAMENTO DE DOCUMENTOS DE ARQUIVO.


Nos processos de produção, tramitação, organização e acesso aos documentos, deverão ser observados procedimentos es-
pecíficos, de acordo com os diferentes gêneros documentais, com vistas a assegurar sua preservação durante o prazo de guarda
estabelecido na tabela de temporalidade e destinação.

Não podemos nos esquecer dos documentos eletrônicos, que hoje em dia está cada vez mais presente. As alternativas são
diversas, como dispositivos externos de gravação,porém, o mais indicado hoje, é armazenar os dados em nuvem, que oferece além
da segurança, a facilidade de acesso.

Armazenamento

Áreas de armazenamento

Áreas Externas
A localização de um depósito de arquivo deve prever facilidades de acesso e de segurança contra perigos iminentes, evitando-
-se, por exemplo:

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ARQUIVOLOGIA
- áreas de risco de vendavais e outras intempéries, e de - monitorar as condições do ar quanto à presença de poeira
inundações, como margens de rios e subsolos; e poluentes, procurando reduzir ao máximo os contaminantes,
- áreas de risco de incêndios, próximas a postos de combus- utilizando cortinas, filtros, bem como realizando o fechamento
tíveis, depósitos e distribuidoras de gases, e construções irre- e a abertura controlada de janelas;
gulares; - armazenar os acervos de fotografias, filmes, meios magné-
- áreas próximas a indústrias pesadas com altos índices de ticos e ópticos em condições climáticas especiais, de baixa tem-
poluição atmosférica, como refinarias de petróleo; peratura e umidade relativa, obtidas por meio de equipamentos
- áreas próximas a instalações estratégicas, como indústrias mecânicos bem dimensionados, sobretudo para a manutenção
e depósitos de munições, de material bélico e aeroportos. da estabilidade dessas condições, a saber: fotografias em preto
e branco T 12ºC ± 1ºC e UR 35% ± 5% fotografias em cor T 5ºC ±
Áreas Internas 1ºC e UR 35% ± 5% filmes e registros magnéticos T 18ºC ± 1ºC e
As áreas de trabalho e de circulação de público deverão UR 40% ± 5%.
atender às necessidades de funcionalidade e conforto, enquan-
to as de armazenamento de documentos devem ser totalmente Acondicionamento
independentes das demais. Os documentos devem ser acondicionados em mobiliário e
invólucros apropriados, que assegurem sua preservação.
Condições Ambientais A escolha deverá ser feita observando-se as características
Quanto às condições climáticas, as áreas de pesquisa e de físicas e a natureza de cada suporte. A confecção e a disposição
trabalho devem receber tratamento diferenciado das áreas dos do mobiliário deverão acatar as normas existentes sobre quali-
depósitos, as quais, por sua vez, também devem se diferenciar dade e resistência e sobre segurança no trabalho.
entre si, considerando-se as necessidades específicas de preser- O mobiliário facilita o acesso seguro aos documentos, pro-
vação para cada tipo de suporte. move a proteção contra danos físicos, químicos e mecânicos. Os
documentos devem ser guardados em arquivos, estantes, armá-
A deterioração natural dos suportes dos documentos, ao rios ou prateleiras, apropriados a cada suporte e formato.
longo do tempo, ocorre por reações químicas, que são acele- Os documentos de valor permanente que apresentam gran-
radas por flutuações e extremos de temperatura e umidade re- des formatos, como mapas, plantas e cartazes, devem ser ar-
lativa do ar e pela exposição aos poluentes atmosféricos e às mazenados horizontalmente, em mapotecas adequadas às suas
radiações luminosas, especialmente dos raios ultravioleta. medidas, ou enrolados sobre tubos confeccionados em cartão
A adoção dos parâmetros recomendados por diferentes au- alcalino e acondicionados em armários ou gavetas. Nenhum do-
tores (de temperatura entre 15° e 22° C e de umidade relativa cumento deve ser armazenado diretamente sobre o chão.
entre 45% e 60%) exige, nos climas quentes e úmidos, o empre- As mídias magnéticas, como fitas de vídeo, áudio e de com-
go de meios mecânicos sofisticados, resultando em altos custos putador, devem ser armazenadas longe de campos magnéticos
de investimento em equipamentos, manutenção e energia. que possam causar a distorção ou a perda de dados. O armaze-
Os índices muito elevados de temperatura e umidade relati- namento será preferencialmente em mobiliário de aço tratado
va do ar, as variações bruscas e a falta de ventilação promovem com pintura sintética, de efeito antiestático.
a ocorrência de infestações de insetos e o desenvolvimento de As embalagens protegem os documentos contra a poeira e
microorganismos, que aumentam as proporções dos danos. danos acidentais, minimizam as variações externas de tempera-
Com base nessas constatações, recomenda-se: tura e umidade relativa e reduzem os riscos de danos por água e
- armazenar todos os documentos em condições ambientais fogo em casos de desastre.
que assegurem sua preservação, pelo prazo de guarda estabele- As caixas de arquivo devem ser resistentes ao manuseio, ao
cido, isto é, em temperatura e umidade relativa do ar adequadas peso dos documentos e à pressão, caso tenham de ser empilha-
a cada suporte documental; das. Precisam ser mantidas em boas condições de conservação e
- monitorar as condições de temperatura e umidade relativa limpeza, de forma a proteger os documentos.
do ar, utilizando pessoal treinado, a partir de metodologia pre- As medidas de caixas, envelopes ou pastas devem respeitar
viamente definida; formatos padronizados, e devem ser sempre iguais às dos docu-
- utilizar preferencialmente soluções de baixo custo direcio- mentos que irão abrigar, ou, caso haja espaço, esses devem ser
nadas à obtenção de níveis de temperatura e umidade relativa preenchidos para proteger o documento.
estabilizados na média, evitando variações súbitas; Todos os materiais usados para o armazenamento de docu-
- reavaliar a utilidade de condicionadores mecânicos quan- mentos permanentes devem manter-se quimicamente estáveis
do os equipamentos de climatização não puderem ser mantidos ao longo do tempo, não podendo provocar quaisquer reações
em funcionamento sem interrupção; que afetem a preservação dos documentos.
- proteger os documentos e suas embalagens da incidência Os papéis e cartões empregados na produção de caixas e
direta de luz solar, por meio de filtros, persianas ou cortinas; invólucros devem ser alcalinos e corresponder às expectativas
- monitorar os níveis de luminosidade, em especial das ra- de preservação dos documentos.
diações ultravioleta; No caso de caixas não confeccionados em cartão alcalino,
- reduzir ao máximo a radiação UV emitida por lâmpadas recomenda-se o uso de invólucros internos de papel alcalino,
fluorescentes, aplicando filtros bloqueadores aos tubos ou às para evitar o contato direto de documentos com materiais ins-
luminárias; táveis.3
- promover regularmente a limpeza e o controle de insetos
rasteiros nas áreas de armazenamento;
- manter um programa integrado de higienização do acervo
e de prevenção de insetos; 3Adaptado de CONARQ - Conselho Nacional de Arquivos/ www.eboxdigital.
com.br

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ARQUIVOLOGIA
No âmbito municipal outras propostas se destacam, “com forte
TIPOLOGIAS DOCUMENTAIS E SUPORTES FÍSICOS: MICRO- personalidade”, apresentando resultados que somados se traduzem
FILMAGEM; AUTOMAÇÃO numa “verdadeira teoria da gestão de documentos em âmbito lo-
cal”, como observa Pedro López Gómez (1998).
Os manuais de tipologia documental, elaborados com rigor
Identificação Arquivística e Tipologia Documental pelo Grupo de Madri, passaram a servir de modelo para outros
Carmona Mendo (2004, p.41), referindo-se ao conceito de arquivistas e para outros conjuntos de documentos. (RODRIGUES,
identificação definido na Espanha nas Actas de las Primeras Jorna- 2008, p.55).
das sobre Identificación de Fondos Documentales en las Adminis-
traciones Públicas, realizadas em Madrid, em 1991, explica que a Na mesma linha, Carmona Mendo (2004, p.42 tradução nossa,
identificação compreende: grifo da autora) aponta que:
[...] o processo de investigação e sistematização de categorias A identificação é a melhor ferramenta para aplicar o princípio
administrativas e arquivísticas nas quais se sustenta a estrutura de básico da arquivística: o de respeito à proveniência e da ordem
um fundo, sendo um dos seus objetivos principais assegurar através original. Consiste na investigação das características dos elemen-
dos seu resultados a avaliação das séries documentais. (CARMONA tos implicados na gênese do fundo: o sujeito produtor e o objeto
MENDO, 2004, p.41). produzido. Entende-se por sujeito produtor a pessoa física, família
ou organismo que produziu e/ou acumulou o fundo. Entende-se por
Merece referencia os estudos de Martín-Palomino y Benito e objeto produzido a totalidade do fundo e cada uma das agrupações
La Torre Merino, autores que definem a identificação como “[...] documentais que o compõem.
fase do tratamento arquivístico que consiste na investigação e sis-
tematização de categorias administrativas e arquivísticas em que se Neste sentido, Carmona Mendo (2004) ressalta que a identifi-
sustenta a estrutura de um fundo” (LA TORRE MERINO; MARTÍN- cação é um método analítico que sustenta todo o tratamento arqui-
-PALOMINO y BENITO 2000, p.14 tradução nossa). vÍstico dos documentos que compõem o fundo de arquivo de qual-
Essa definição foi desenvolvida no âmbito dos estudos de Ma- quer organização, seja pública ou privada, e que pode ser aplicado
ría Luisa Conde Villaverde, que toma por referencia os trabalhos do em todo o ciclo de vida dos documentos e que tem dois objetos: o
Grupo de Archivistas Municipales de Madrid, marcando o pionei- órgão produtor e os documentos por ele produzido.
rismo da Espanha na difusão da teoria e da metodologia a respeito Rodrigues (2008), Martín-Palomino y Benito e La Torre Merino
dos processos de identificação como fase independente no âmbito (2000), Carmona Mendo (2004), analisam este método a partir de
das metodologias arquivísticas, diferenciando-a da classificação e duas grandes etapas, a saber: identificação do órgão produtor (ele-
da avaliação, afirmando que a identificação antecede à essas fun- mento orgânico e funcional); e identificação e do tipo documental,
ções e todas antecedem à descrição. para definir as séries documentais.
Quando nos referimos à identificação para o tratamento dos
fundos acumulados em arquivos, estamos falando do conhecimen- Identificação do órgão produtor
to dos elementos que constituem as séries documentais. Pedro Ló- A primeira etapa do método proposto pelos autores analisados
pez Gómez (1998, p.39), aponta que é importante que essas tarefas é a identificação do organismo produtor, ou seja, é a coleta de da-
se apoiem no princípio básico da arquivística, isto é, no “princípio dos sobre as informações essenciais a respeito da estrutura orgâni-
da proveniência” que deve ser a diretriz fundamental para o tra- ca do órgão produtor.
tamento dos fundos de arquivo. Além disso, Pedro López Gómez A autora ressalta que também é necessária a investigação de
ressalta que: seu elemento funcional nesta primeira etapa, com a finalidade de
Este método deve ser combinado com a análise documental, entender as competências, funções, atividades, tarefas e procedi-
que mediante o processo analítico dos documentos, nos permite, mentos administrativos da instituição em análise, que se materia-
a partir do conhecimento das características externas e internas, lizam nos documentos de arquivo que formam as diferentes séries
chegar à identificação das séries documentais a que pertencem, e documentais.
mediante um processo de síntese, pelo estudo das agrupações do- A finalidade dessa primeira etapa do método proposto pela
cumentais, reconstruir tanto a organicidade como a funcionalidade identificação é conhecer o completo funcionamento do órgão, as
dos arquivos e consequentemente das instituições que os produzi- estruturas hierárquicas e suas atribuições, através de uma exaustiva
ram. (LÓPEZ GÓMEZ 1998, p.39). investigação destes elementos orgânicos e funcionais, a partir das
fontes de informações específicas, como explica Carmona Mendo:
O método analítico sustentado por Pedro López Gómez é deno-
minado de análise documental para fins de normalização das séries As fontes que devemos consultar são as externas e internas.
documentais. A partir dos parâmetros da tipologia documental e Entre as primeiras podemos citar: boletins oficiais, legislação, estu-
diante da necessidade deimplantar sistemas de gestão de docu- dos históricos realizados...; entre as internas: a própria documenta-
mentos automatizados, que supõe padronização, as séries devem ção que é objeto de estudo, ou seja, as normas internas produzidas
estar perfeitamente identificadas de maneira prévia, o que exige pelas instituições, e quando seja possível, realizar entrevistas com
também o estudo prévio de tipos documentais. os responsáveis pela gênese dos documentos. (CARMONA MENDO,
2004, p.42)
Na dimensão desta necessidade de caracterizar os tipos docu- Carmona Mendo (2004, p.43) e Rodrigues (2008, p.71), apon-
mentais, inicia-se o debate das relações estabelecidas entre a arqui- tam que os elementos a serem considerados neste estudo sobre as
vística e a diplomática. O resultado deste debate fica evidente nos categorias administrativas são:
vários projetos que foram surgindo. A Espanha registra numerosas • As datas de criação e/ou extinção de órgão das administra-
iniciativas de criação de grupos de trabalho para identificar e ava- ções;
liar documentos de arquivo.

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ARQUIVOLOGIA
• As normas e a legislação que regularam ou regulam o seu cumental, “o conjunto de documentos produzidos por um mesmo
funcionamento (competências, funções, atividades e procedimen- sujeito produtor no desenvolvimento da mesma função e cuja atu-
tos administrativos); ação administrativa foi plasmada num mesmo tipo documental”
• Órgão que tenham precedido o desenvolvimento das compe- (RODRIGUES, 2008, p.74).
tências análogas; e,
• Órgãos que herdaram competências semelhantes. O conceito de espécie e tipo documental, introduzidos por He-
loisa Bellotto na arquivística brasileira, são objetos de estudos da
Como resultado deste levantamento de dados, são elaborados Diplomática e da Tipologia Documental, respectivamente.
os seguintes instrumentos, produtos dessa primeira etapa da iden- O que se verifica na literatura, é que o objeto da Diplomática e
tificação: seu campo de estudos sofrem uma adaptação na sua metodologia
• Índices de organismos produtores (também chamados de fi- para atender às necessidades de sua aplicabilidade no campo das
cheiros de organismos); outras ciências que auxilia, ou seja, num primeiro momento o Direi-
• Repertório de organogramas (permitem conhecer a estrutura to, depois a História e hoje a Arquivística.
e suas modificações de forma gráfica durante sua vigência);
• Índice legislativo (também chamado de repertório legislati- Sempre adequado às necessidades de registro de dados sobre
vo de órgãos produtores), um instrumento que tem por objetivo o documento arquivístico e considerando as informações que serão
o estudo de cada norma individualizada referenciada no primeiro usadas nas análises posteriores efetuadas no campo das demais
instrumento. funções arquivísticas, este modelo metodológico vai além da carac-
terização da estrutura documental, campo de estudos da diplomáti-
A partir desses dados coletados e estruturados nos instrumen- ca clássica, buscando a contextualização do documento, chave para
tos referenciados, o arquivista estará apto e bem preparado com a compreensão e tratamento do documento arquivístico, campo de
condições para obter uma imagem fiel e completa da organização estudos da tipologia documental. (RODRIGUES, 2008, p. 162).
produtora, desenvolvendo parâmetros seguros para a gestão de do-
cumentos. A partir da metade do século XX até os dias atuais, os arquivis-
tas veem na diplomática novos usos para essa ciência no campo de
Concluída esta etapa, inicia-se a segunda etapa do método
investigação daarquivística, isto é, como um método de análise im-
proposto, ou seja, a identificação do tipo documental e das séries
prescindível para compreender o complexo processo de produção
documentais.
dos documentos criados pela burocracia moderna. Bellotto (2002)
explica que:
Identificação de tipos documentais
O objeto do moderno campo de estudos da Diplomática é a uni-
A segunda etapa da metodologia se caracteriza pelo estudo
dade arquivística elementar analisada enquanto espécie documen-
detalhado do tipo documental, através da análise dos elementos
tal, servindo-se dos seus aspectos formais para definir a natureza
que identificam os documentos e que por comparação se agrupam
jurídica dos atos nela implicados, tanto relativamente à sua pro-
na mesma série documental, tornando seguro o tratamento técnico dução, como a seus efeitos (CARUCCI, 1987 apud BELLOTTO, 2002,
destes conjuntos (as séries documentais) durante todas as fases do p.17).
seu ciclo de vida, bem como a elaboração de instrumentos estáveis
que normalizem os procedimentos para o correto funcionamento Nessa perspectiva, a autora faz distinção entre o objeto da di-
dos sistemas de arquivos. plomática clássica e da nova diplomática, a tipologia documental, e
Segundo Duplá Del Moral (apud CARMONA MENDO, 2004, seu método de análise, que são complementares para a identifica-
p.43), ção dos documentos arquivísticos.
[...] se define a série documental como o conjunto de documen- As metodologias de tratamento documental num e noutro
tos que correspondem a um mesmo tipo documental, produzido por campo são distintas, porém, ao mesmo tempo, imbricadas. O cam-
um mesmo órgão, seu antecessor e sucessor, sempre que não forme po de aplicação da Diplomática gira em torno do verídico quanto à
parte de outro fundo de arquivo; no exercício de uma função de- estrutura e à finalidade do ato jurídico. Já o da Tipologia gira em
terminada. Geralmente estão sujeitos a um mesmo procedimento torno da relação dos documentos com as atividades institucionais/
administrativo e apresentam a mesma aparência e um conteúdo
pessoais. (BELLOTTO, 2002, p. 21)
informativo homogêneo.
Heloisa Bellotto (apud Rodrigues 2008, p.140), aponta que po-
Para Rodrigues (2008, p.74), este mesmo grupo de autores par-
demos estabelecer dois pontos de partida para a análise tipológica:
te de um parâmetro conceitual normalizado de série documental,
“[...] representado pela seguinte fórmula: série = sujeito produtor + o da diplomática ou o da arquivística.
função tipo documental”. 1. Quando se parte da diplomática, o elemento inicial é a de-
No Brasil, de acordo com o Dicionário de Terminologia Arqui- codificação do próprio documento, sendo suas etapas: da anatomia
vística de São Paulo (2010, p.76), o conceito de série documental do texto ao discurso, do discurso à espécie, da espécie ao tipo, do
remete “à sequência de unidades de um mesmo tipo documental”, tipo à atividade, da atividade ao produtor.
cuja denominação obedece a seguinte fórmula: espécie + atividade. 2. Quando se parte da arquivística, o elemento inicial tem que
O núcleo duro da definição esta no reconhecimento da ativida- ser necessariamente a entidade produtora, cujo percurso é: da com-
de como fundamento do reconhecimento do tipo documental e de petência à estrutura, da estrutura ao funcionamento, do funciona-
seu agrupamento em séries. mento à atividade refletida no documento, da atividade ao tipo, do
tipo à espécie, da espécie ao documento.
Entende-se por tipo documental, a ”unidade produzida por
um organismo no desenvolvimento de uma competência concreta,
regulamentada por uma norma de procedimento e cujo formato,
conteúdo informativo e suporte são homogêneos” e por série do-

297
ARQUIVOLOGIA
A Tipologia documental é a ampliação da Diplomática na dire- A gestão de documentos se caracteriza como um processo
ção da gênese documental, ou seja, é a determinação e contextua- de intervenção no ciclo de vida dos documentos de arquivo, inci-
lização da competência, funções e atividades da instituição gerado- dindo sobre o momento de produção e acumulação na primeira e
ra/acumuladora em um determinado contexto documental. segunda idade e que se sustenta na classificação e avaliação. Para
o desenvolvimento destes programas é necessário a padronização
Enquanto a espécie documental é o objeto da Diplomática, a Ti- de procedimentos, o que tem inicio pela denominação correta dos
pologia Documental, representando melhor uma extensão da Diplo- documentos contextualizada no âmbito das competências, funções,
mática em direção à Arquivística, tem por objeto o tipo documental, atividades, tarefas e procedimentos desenvolvidos pelo órgão que
entendido como a “configuração que assume a espécie documental os produziram.
de acordo com a atividade que a gerou” [...] (BELLOTO, 2002, p.19, Posto isso, verificamos que existe uma estreita relação da iden-
grifo da autora). tificação arquivística com a gestão de documentos, uma vez que ela
se apresenta no campo teórico como um método analítico baseado
nos princípios propostos pela diplomática, mais especificamente
Os autores analisados apontam que uma vez coletadas, estru-
nos parâmetros dos estudos de tipologia documental.
turadas e analisadas as informações da primeira etapa da identifica-
ção arquivística (estruturas orgânicas e funcionais – competências,
TIPOLOGIA DOCUMENTAL
funções, atividades), passase a estudar as normas e os procedimen-
tos administrativos, bem como os trâmites que tiveram cada tipo SUPORTE:
documental desde sua produção. Nesta etapa será formatado o ins- Material sobre o qual as informações são registradas. Ex: Fita
trumento que registra os dados de cada série documental, produzi- magnética, filme de nitrato, papel, CD
da ou acumulada, denominados:
• ficha de identificação e avaliação de séries documentais (Con- FORMA
de Villaverde, 1996; Martín-Palomino y Benito e La Torre Merino, Características físicas de apresentação, das técnicas de registro
2000) e da estrutura da informação, conteúdo de um documento. Estágio
• ficha de tipos documentais (Molina Nortes e Leyva Palma, de PREPARAÇÃO e TRANSMISSÃO de documentos. Ex: Cópia, origi-
1996 apud RODRIGUES, 2008, p.75). nal, rascunho, minuta.
• sistemas ou manuais de tipologia documental (RODRIGUES,
2008) FORMATO
Configuração física de um suporte de acordo com a sua natu-
Como aponta segundo Carmona Mendo (2004, p.44-46), o re- reza e o modo como foi confeccionado. Ex: Formulário, ficha, livro,
sultado do desenvolvimento, análise e aplicação das duas etapas de caderno, planta, folha, cartaz, microficha, rolo de filme, tira de mi-
identificação arquivística permitirá ao arquivista conhecer e desen- crofilme
volver parâmetros seguros para:
• A correta denominação da série, ou seja, sua definição; o as- GÊNERO
pecto externo e a materialidade do documento: meio pelo qual se Designação dos documentos segundo aspecto de sua formata-
transmite a mensagem; o suporte; o formato; e, a tradição docu- ção nos diferentes suportes. Segundo a maneira que a informação
mental, ou seja, se cópia, minuta ou original. foi registrada.
• O organismo produtor, as modificações orgânicas e funcio- A)Documentos textuais: informações escrita ou textual. Ex:
nais decorrentes de sua evolução no tempo e no espaço, chegando contrato, ata, relatório, certidão
até a unidade administrativa encarregada da gestão das séries do- B)Documentos audiovisuais (analógico): informação esteja em
cumentais em sua responsabilidade. forma de som e/ou imagem em movimento. Ex: filme, registro so-
noro em fita cassete. Temos os sonoros (em som) e os filmográficos
• A legislação que regulamenta as funções materializadas nos
(em filme)
distintos tipos documentais. Os tramites ou procedimentos admi-
C)Documentos micrográficos: em microforma. Ex: microfilmes
nistrativos que explica a gênese do tipo documental,conhecimento
e microfichas.
importantíssimo para delimitar corretamente a vigência administra-
D)Documentos iconográficos: em imagem estática. Ex: fotogra-
tiva, jurídica e/ou histórica dos documentos para a sua avaliação.
fia, negativos, diapositivos (slides), desenhos, gravuras
• A tipologia documental, os documentos básicos que com-
E)Documentos cartográficos: representação de forma reduzida
põem um processo ou dossiê, no caso de documentos compostos.
de uma área maior. Ex: mapa, perfil, planta
• A ordenação das séries, que dependerá das características
F)Documentos informáticos ou digitais: codificado em dígitos
identificadas nos tipos documentais que vem determinada pelo ór-
binários, produzido, tramitado e armazenado por sistema computa-
gão produtor.
cional. Ex: arquivo em MP3, arquivo do Word, DVD
• O conteúdo dos documentos, sobre as pessoas, datas, luga-
res, etc. e os assuntos que aparecem em cada série.
ESPÉCIE
• A vigência administrativa que virá determinada por uma nor-
Designação do documento segundo seu aspecto formal e da
ma administrativa do direito para cada série documental.
aplicação a que esse documento se destina
• A conveniência de conservar ou eliminar as séries documen-
Carta, certidão, decreto, edital, ofício, relatório, requerimento,
tais de acordo com seus prazos de vigência administrativas e jurí-
gravura, diapositivo (slide), planta, mapa
dicas.
• O acesso e o grau de consulta dos documentos pelos usuá-
TIPO
rios, ou seja, é possível orientar a informação determinada pelas
Soma da espécie documental com atividade fim (finalidade) a
próprias normas ou necessidades dos usuários.
que o documento se destina

298
298
ARQUIVOLOGIA
Atestados médicos, atas de reunião dos empregados, cartas Organização documental
precatórias, cartas régias, cartas-patentes, decretos sem número, A microfilmagem por si só é parte da organização documental,
decreto-leis, decretos legislativos, fotografias temáticas, retratos, uma vez que o processo faz a condensação dos documentos e os
litogravuras, serigrafias e xilogravuras ordena devidamente.
Os microfilmes podem ser transformados em arquivos digitais
para proporcionar mais facilidade na circulação das informações.
A principal vantagem do microfilme para a gestão documen-
tal é que a Lei da Microfilmagem 5.433/68 confere autenticidade,
integridade e legalidade (leia as leis) às imagens dos documentos
microfilmados, permitindo a substituição do suporte em papel.
Desse modo um documento em microfilme possui amparo le-
gal, tornando-o assim autêntico e fiel ao documento original em
papel.
Natureza do Assunto:
A)Ostensivos/Ordinário: pode ser de livre conhecimento Sistema GED
O Gerenciamento Eletrônico de Documentos é uma maneira
B)Sigiloso: deve ser de conhecimento restrito eficiente de organizar e armazenar os microfilmes.
ULTRASSECRETO Conheça o Keeva, é um GED moderno, com tecnologia de bus-
SECRETO ca apurada, não ocupa espaço no seu computador pessoal ou ser-
SIGILOSO vidor corporativo. Ainda possui um workflow onde o administrador
define hierarquia e o que cada funcionário tem acesso.
Mais uma vantagem do Keeva é o compartilhamento desses
documentos com qualquer outra plataforma e ferramentas de ges-
tão documental.
O GED também é uma ótima opção pela segurança que propor-
ciona aos usuários e empresas e o Keeva tem um diferencial impor-
tante para os outros softwares: seu armazenamento é em nuvem,
podendo ser acessado de qualquer lugar.

A microfilmagem PARA QUEM É INDICADO?


É uma metodologia utilizada para a preservação de informa- É indicada para organizações que buscam preservar documen-
ções e dos arquivos. Consiste na captação da imagem através de tos originais por muito tempo e desejam reduzir o espaço físico
processo fotográfico. ocupado por eles.
Os arquivos são consideravelmente reduzidos através da mi-
crofilmagem, tornando-se um método de armazenamento prático VANTAGENS E BENEFÍCIOS:
e eficiente. -Evita a deterioração dos documentos e elimina o risco de per-
Esse sistema ainda permite a conversão do microfilme em ima- da do acervo;
gem digital, possibilitando rapidez no acesso e busca a partir do ge- -Dificulta a ação de falsificadores;
renciamento eletrônico de documentos – GED. -Durabilidade garantida pelas normas ISO e ANSI de aproxima-
Com a microfilmagem, é possível atingir os mais elevados níveis damente 500 anos.
de qualidade e produtividade, e executar várias funções simultane- -O microfilme não é afetado pela obsolescência dos sistemas
amente, tais como a captura da imagem do documento e a sua in- digitais, pois sua imagem é analógica;
dexação automática online através da leitura de códigos de barras. -As imagens são digitalizadas e disponibilizadas em mídia com
alto padrão de qualidade.
O que é microfilme -A legislação em vigor confere autenticidade, integridade e le-
Microfilme é uma mídia analógica que utiliza o meio fotográ- galidade às imagens dos documentos microfilmados, permitindo a
fico como forma de armazenamento de informações. A sua forma substituição do suporte em papel. Desse modo um documento em
mais padronizada é um rolo de filme fotográfico de 16mm de largu- microfilme possui amparo legal, tornando-o assim autêntico e fiel
ra em preto e branco. ao documento original em papel.

Lei 5.433/68 – Lei da microfilmagem ETAPAS DA MICROFILMAGEM:


A Lei 5.433 foi aprovada em 1968, e é essencial para o exercício Os documentos são digitalizados e indexados de forma que fa-
da microfilmagem no Brasil. Ela permite a atividade e garante a au- cilite o controle e localização;
tenticidade do microfilme dando às imagens o mesmo valor jurídico Após a captura e organização as informações são armazenadas
que o documento original. em microfilme;
Essa é uma das vantagens que outras formas de compactação Os documentos são armazenados de maneira permanente e
não trazem. A legislação exige que os microfilmes e os originais dos ficam protegidos e preservados contra alterações e mudanças tec-
documentos microfilmados sejam preservados em locais distintos nológicas.
para efeitos de segurança.
Esta parte da legislação traz uma segurança a mais, pois evita Fonte: https://netscandigital.com/blog/microfilmagem-documentos-
perdas definitivas na hipótese de os microfilmes serem danificados. -funciona/
Ainda há diversas outras disposições legais, porém elas agem con-
juntamente com o decreto regulamentador.

299
ARQUIVOLOGIA
Gestão Eletrônica de Documentos (GED) Sistemas informatizados de gestão arquivística de documen-
Com o avanço das tecnologias, o meio de produção e registro tos (SIGAD)
das funções e atividades das instituições e governos passaram a ser O SIGAD (Sistema Informatizado de Gestão Arquivística de Do-
em meio eletrônico e principalmente em formato digital. Com isso, cumentos) é um conjunto de procedimentos e operações técnicas,
o gerenciamento dos documentos convencionais e digitais começa característico do sistema de gestão arquivística de documentos,
a ser feito por meio de um sistema informatizado conhecido como processado por computador. Pode compreender um software parti-
gerenciamento eletrônico de documentos (GED). cular, um determinado número de softwares integrados, adquiridos
“Gerenciamento eletrônico de documentos ou Gestão eletrô- ou desenvolvidos por encomenda, ou uma combinação destes.
nica de documentos (GED) é uma tecnologia que provê um meio O SIGAD é aplicável em sistemas híbridos, isto é, que utilizam
de facilmente gerar, controlar, armazenar, compartilhar e recuperar documentos digitais e documentos convencionais, incluindo ope-
informações existentes em documentos”. rações como: captura de documentos, aplicação do plano de clas-
Os sistemas GED permitem aos usuários acessar os documen- sificação, controle de versões, controle sobre os prazos de guarda e
tos de forma ágil e segura, normalmente via navegador Web por destinação, armazenamento seguro e procedimentos que garantam
meio de uma intranet corporativa acessada interna ou externamen- o acesso e a preservação a médio e longo prazo de documentos
te, sendo esta última forma mais presente nos dias de hoje. A capa- arquivísticos digitais e não digitais confiáveis e autênticos.
cidade de gerenciar documentos é uma ferramenta indispensável Um SIGAD tem que ser capaz de manter a relação orgânica en-
para a Gestão do Conhecimento. tre os documentos e de garantir a confiabilidade, a autenticidade e
A GED (Gestão Eletrônica de Documentos) é uma área do co- o acesso, ao longo do tempo, aos documentos arquivísticos, ou seja,
nhecimento que está inserida no grande campo da Ciência da Infor- seu valor como fonte de prova das atividades do órgão produtor.
mação e também da TI, sendo resultado dessa interdisciplinaridade. No caso dos documentos digitais, um SIGAD deve abranger to-
Enquanto a Ciência da informação “considera a informação, dos os tipos de documentos arquivísticos digitais do órgão ou en-
lato sensu, como seu objeto” e a Arquivologia tende a considerar tidade, ou seja, textos, imagens fixas e em movimento, gravações
“os arquivos” como seu único objeto (JARDIM, 1995 p. 48), perce- sonoras, mensagens de correio eletrônico, páginas web, bases de
bemos um forte vínculo entre essas áreas, já que a informação não dados.
O Glossário da CTDE define sistema de informação como “Con-
existe sem um suporte, e visto que o suporte mais a informação
junto organizado de políticas, procedimentos, pessoas, equipamen-
caracteriza um documento.
tos e programas computacionais que produzem, processam, arma-
Deste modo, sendo a Arquivologia uma ciência pertencente ao
zenam e provém acesso à informação”.
campo da Ciência da Informação, o gerenciamento eletrônico de
Já o e-ARQ Brasil define sistema de informação como Conjunto
documentos tornou-se uma área de estudos tanto para os arquivis-
organizado de políticas, procedimentos, pessoas, equipamentos e
tas quanto para os analistas de sistemas que o programam.
programas computacionais que produzem, processam, armazenam
A criação, controle (classificação, avaliação), manipulação, ar-
e proveem acesso à informação proveniente de fontes internas e
mazenamento (conservação), acesso, difusão e recuperação da in-
externas para apoiar o desempenho das atividades de um órgão ou
formação cabe ao arquivista procurar o melhor modo de realizar
entidade.
dentro deste sistema eletrônico, evidenciando a importância do No e-ARQ Brasil, o sistema de gestão arquivística de documen-
trabalho em conjunto destes profissionais no momento da implan- tos é definido como Conjunto de procedimentos e operações técni-
tação de um sistema GED. cas referentes à produção, tramitação, uso, avaliação e arquivamen-
Documentos formam a grande massa de conhecimentos de to dos documentos em fase corrente e intermediária, visando sua
uma organização. O GED permite preservar esse patrimônio e orga- eliminação ou recolhimento para guarda permanente.
nizar eletronicamente a documentação, para assegurar a informa- O conceito de GED foi definido pelo e-ARQ Brasil como Con-
ção necessária, na hora exata, para a pessoa certa. O GED lida com junto de tecnologias utilizadas para organização da informação não
qualquer tipo de documentação. estruturada de um órgão ou entidade, que pode ser dividido nas
A ciência arquivística permite a interdisciplinaridade com ou- seguintes funcionalidades: captura, gerenciamento, armazenamen-
tras várias áreas do conhecimento. Uma delas é a TI (Tecnologia da to e distribuição.
Informação) que frequentemente vem sendo introduzida no pro- Entende-se por informação não estruturada aquela que não
cesso arquivístico devido ao constante avanço tecnológico que vem está armazenada em banco de dados, como mensagem de correio
ocorrendo na sociedade e, portanto dentro de cada organização eletrônico, arquivo de texto, imagem ou som, planilha etc.
que produza documentos. O e-ARQ Brasil explica que o GED e o SIGAD possuem objetivos
A agilidade e aumento do índice de recuperação das informa- diferentes. O GED é uma ferramenta que visa controlar e facilitar
ções e a redução da massa documental são alguns benefícios resul- o fluxo das atividades da instituição, tratando os documentos de
tantes dessa união. compartimentada. Já o SIGAD foca no controle completo do ciclo de
Em decorrência da demanda dos arquivistas e outros profissio- vida do documento, tem que ser capaz de manter relação orgânica
nais, foi elaborado pelo CTDE (Câmara Técnica de Documentos Ele- entre os documentos e de garantir a confiabilidade, a autenticidade
trônicos) o e-ARQ Brasil. O e-ARQ Brasil foi denominado da seguinte e o acesso.
forma É uma especificação de requisitos a serem cumpridos pela or- É importante ressaltar que o conceito de gestão de documen-
ganização produtora/recebedora de documentos, pelo sistema de tos digitais é derivado do conceito de gestão de documentos con-
gestão arquivística e pelos próprios documentos, a fim de garantir vencionais, e não uma gestão de documentos diferente.
sua confiabilidade e autenticidade, assim como sua acessibilidade. Vale lembrar também que, da mesma forma que a gestão de
Além disso, o e-ARQ Brasil pode ser usado para orientar a identifi- documentos convencionais, a gestão de documentos digitais de-
cação de documentos arquivísticos digitais. pende do plano de classificação e da tabela de temporalidade.

300
300
ARQUIVOLOGIA
Podemos perceber que o GED é bem planejado e estruturado § 4º Os filmes negativos resultantes de microfilmagem ficarão
com base na gestão de documentos, permitindo uma rápida locali- arquivados na repartição detentora do arquivo, vedada sua saída
zação do documento e manuseio facilitado, reduzindo o tempo de sob qualquer pretexto.
procura por uma determinada informação. § 5º A eliminação ou transferência para outro local dos docu-
Podemos assim dizer que o GED é um mercado em amplo de- mentos microfilmados far-se-á mediante lavratura de têrmo em li-
senvolvimento, onde existe a estruturação das informações, corres- vro próprio pela autoridade competente.
pondendo a ferramentas e metodologias, principalmente tecnológi- § 6º Os originais dos documentos ainda em trânsito, microfil-
cas, para gerenciamento dos documentos dentro das organizações. mados não poderão ser eliminados antes de seu arquivamento.
Segundo Koch (1997, p. 23), “O GED visa a gerenciar o ciclo de § 7º Quando houver conveniência, ou por medida de segu-
vida das informações desde sua criação até o seu arquivamento. rança, poderão excepcionalmente ser microfilmados documentos
As informações podem originalmente estar armazenadas em mí- ainda não arquivados, desde que autorizados por autoridade com-
dias analógicas ou digitais em todas as fases de sua vida”. Desta petente.
forma nenhum documento de uma organização deve ficar fora do Art 2º Os documentos de valor histórico não deverão ser eli-
processo do GED, desde os documentos tradicionais em papel até minados, podendo ser arquivados em local diverso da repartição
os digitais, englobando todo o ciclo de vida. detentora dos mesmos.
Afirma ainda que “GED é a somatória de todas as tecnologias Art 3º O Poder Executivo regulamentará, no prazo de 90 (no-
e produtos que visam a gerenciar informação de forma eletrônica”. venta) dias, a presente Lei, indicando as autoridades competentes,
O Portal GED.NET (2014), descreve o GED como sendo um con- nas esferas federais, estaduais e municipais para a autenticação de
junto de tecnologias que permite o gerenciamento dos documentos traslados e certidões originárias de microfilmagem de documentos
de uma organização em forma digital, sendo esses documentos das oficiais.
mais diversas origens, como papel, microfilme, imagem, som, plani- § 1º O decreto de regulamentação determinará, igualmente,
lhas eletrônicas, arquivos de texto etc. quais os cartórios e órgãos públicos capacitados para efetuarem a
microfilmagem de documentos particulares, bem como os requisi-
Segundo Baldan (2002, p 32), as características do GED são: tos que a microfilmagem realizada por aquêles cartórios e órgãos
• Possui modo de gerenciamento e visualização de documento
públicos devem preencher para serem autenticados, a fim de pro-
em formato digital, seja digitalizado (escanerizado), em processa-
duzirem efeitos jurídicos, em juízo ou fora dêle, quer os microfil-
dor de texto, planilha, CAD, etc. Um banco de dados que só gerencia
mes, quer os seus traslados e certidões originárias.
as informações contidas em documentos em papel não pode ser
§ 2º Prescreverá também o decreto as condições que os car-
considerado um GED;
tórios competentes terão de cumprir para a autenticação de mi-
• Utiliza necessariamente computadores;
crofilmes realizados por particulares, para produzir efeitos jurídicos
• Não são sistemas restritos somente a documentos acabados
contra terceiros.
no estágio final de aprovação ou com destino ao arquivo. São sis-
Art 4º É dispensável o reconhecimento da firma da autoridade
temas que, dependendo de sua necessidade, podem controlar o
documento desde a sua criação. que autenticar os documentos oficiais arquivados, para efeito de
microfilmagem e os traslados e certidões originais de microfilmes.
O sistema de Gerenciamento Eletrônico de Documento conser- Art 5º Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.
va características visuais e espaciais, e a aparência do documento Art 6º Revogam-se as disposições em contrário.
original em papel. Gerencia o ciclo de vida das informações des-
de sua criação até o arquivamento, e podem estar registradas em DECRETO N° 1.799, DE 30 DE JANEIRO DE 1996
mídias analógicas ou digitais em todas as fases de sua vida. O do-
cumento pode ser exibido ou impresso em papel onde e quando Regulamenta a Lei n° 5.433, de 8 de maio de 1968, que regula
necessário em apenas alguns segundos. a microfilmagem de documentos oficiais, e dá outras providên-
cias.
LEI Nº 5.433, DE 8 DE MAIO DE 1968
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA , no uso da atribuição que lhe
Regula a microfilmagem de documentos oficiais e dá outras confere o art. 84, inciso IV, da Constituição, e tendo em vista o dis-
providências. posto na art. 3° da Lei n° 5.433, de 8 de maio de 1968,
DECRETA:
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA , faço saber que o CONGRESSO
NACIONAL decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1° A microfilmagem, em todo território nacional, autoriza-
Art 1º É autorizada, em todo o território nacional, a microfil- da pela Lei n° 5.433, de 8 de maio de 1968, abrange os documentos
magem de documentos particulares e oficiais arquivados, êstes de oficiais ou públicos, de qualquer espécie e em qualquer suporte,
órgãos federais, estaduais e municipais. produzidos e recebidos pelos órgãos dos Poderes Executivo, Judi-
§ 1º Os microfilmes de que trata esta Lei, assim como as certi- ciário e Legislativo, inclusive da Administração indireta da União,
dões, os traslados e as cópias fotográficas obtidas diretamente dos dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e os documentos
filmes produzirão os mesmos efeitos legais dos documentos origi- particulares ou privados, de pessoas físicas ou jurídicas.
nais em juízo ou fora dele. Art. 2° A emissão de cópias, traslados e certidões extraídas de
§ 2º Os documentos microfilmados poderão, a critério da au- microfilmes, bem assim a autenticação desses documentos, para
toridade competente, ser eliminados por incineração, destruição que possam produzir efeitos legais, em juízo ou fora dele, é regula-
mecânica ou por outro processo adequado que assegure a sua de- da por este Decreto.
sintegração. Art. 3° Entende-se por microfilme, para fins deste Decreto, o
§ 3º A incineração dos documentos microfilmados ou sua resultado do processo de reprodução em filme, de documentos, da-
transferência para outro local far-se-á mediante lavratura de têrmo, dos e imagens, por meios fotográficos ou eletrônicos, em diferentes
por autoridade competente, em livro próprio. graus de redução.

301
ARQUIVOLOGIA
Art. 4° A microfilmagem será feita em equipamentos que ga- Art. 9° Os documentos da mesma série ou seqüência, eventu-
rantam a fiel reprodução das informações, sendo permitida a utili- almente omitidos quando da microfilmagem, ou aqueles cujas ima-
zação de qualquer microforma. gens não apresentarem legibilidade, por falha de operação ou por
Parágrafo único. Em se tratando da utilização de microfichas, problema técnico, serão reproduzidos posteriormente, não sendo
além dos procedimentos previstos neste Decreto, tanto a original permitido corte ou inserção no filme original.
como a cópia terão, na sua parte superior, área reservada à titula- § 1° A microfilmagem destes documentos será precedida de
ção, à identificação e à numeração seqüencial, legíveis com a vista uma imagem de observação, com os seguintes elementos:
desarmada, e fotogramas destinados à indexação. a) identificação do microfilme, local e data;
Art. 5° A microfilmagem, de qualquer espécie, será feita sem- b) descrição das irregularidades constatadas;
pre em filme original, com o mínimo de 180 linhas por milímetro c) nome por extenso, qualificação funcional e assinatura do
de definição, garantida a segurança e a qualidade de imagem e de responsável pela unidade, cartório ou empresa executora da micro-
reprodução. filmagem.
§ 2° É obrigatório fazer indexação remissiva para recuperar as
§ 1° Será obrigatória, para efeito de segurança, a extração de
informações e assegurar a localização dos documentos.
filme cópia do filme original.
§ 3° Caso a complementação não satisfaça os padrões de quali-
§ 2° Fica vedada a utilização de filmes atualizáveis, de qualquer
dade. exigidos, a microfilmagem dessa série de documentos deverá
tipo, tanto para a confecção do original, como para a extração de
ser repetida integralmente.
cópias. Art. 10. Para o processamento dos filmes, serão utilizados equi-
§ 3° O armazenamento do filme original deverá ser feito em pamentos e técnicas que assegurem ao filme alto poder de defini-
local diferente do seu filme cópia. ção, densidade uniforme e durabilidade.
Art. 6° Na microfilmagem poderá ser utilizado qualquer grau Art. 11. Os documentos, em tramitação ou em estudo, pode-
de redução, garantida a legibilidade e a qualidade de reprodução. rão, a critério da autoridade competente, ser microfilmados, não
Parágrafo único. Quando se tratar de original cujo tamanho ul- sendo permitida a sua eliminação até a definição de sua destinação
trapasse a dimensão máxima do campo fotográfico do equipamen- final.
to em uso, a microfilmagem poderá ser feita por etapas, sendo obri- Art. 12. A eliminação de documentos, após a microfilmagem,
gatória a repetição de uma parte da imagem anterior na imagem dar-se-á por meios que garantam sua inutilização, sendo a mesma
subseqüente, de modo que se possa identificar, por superposição, a precedida de lavratura de termo próprio e após a revisão e a extra-
continuidade entre as seções adjacentes microfilmadas. ção de filme cópia.
Art. 7° Na microfilmagem de documentos, cada série será pre- Parágrafo único. A eliminação de documentos oficiais ou pú-
cedida de imagem de abertura, com os seguintes elementos: blicos só deverá ocorrer se prevista na tabela de temporalidade
I - identificação do detentor dos documentos, a serem micro- do órgão, aprovada pela autoridade competente na esfera de sua
filmados; atuação e respeitado o disposto no art. 9° da Lei n° 8.159, de 8 de
II - número do microfilme, se for o caso; janeiro de 1991.
III - local e data da microfilmagem; Art. 13. Os documentos oficiais ou públicos, com valor de guar-
IV - registro no Ministério da Justiça; da permanente, não poderão ser eliminados após a microfilmagem,
V - ordenação, identificação e resumo da série de documentos devendo ser recolhidos ao arquivo público de sua esfera de atuação
a serem microfilmados; ou preservados pelo próprio órgão detentor.
VI - menção, quando for o caso, de que a série de documentos
a serem microfilmados é continuação da série contida em microfil- Art. 14. Os traslados, as certidões e as cópias em papel ou em
me anterior; filme de documentos microfilmados, para produzirem efeitos legais
VII - identificação do equipamento utilizado, da unidade filma- em juízo ou fora dele, deverão estar autenticados pela autoridade
competente detentora do filme original.
dora e do grau de redução;
§ 1° Em se tratando de cópia em filme, extraída de microfilmes
VIII - nome por extenso, qualificação funcional, se for o caso,
de documentos privados, deverá ser emitido termo próprio, no qual
e assinatura do detentor dos documentos a serem microfilmados;
constará que o filme que o acompanha é cópia fiel do filme original,
IX - nome por extenso, qualificação funcional e assinatura do
cuja autenticação far-se-á nos cartórios que satisfizerem os requisi-
responsável pela unidade, cartório ou empresa executora da micro- tos especificados no artigo seguinte.
filmagem. § 2° Em se tratando de cópia em papel, extraída de microfil-
Art. 8º No final da microfilmagem de cada série, será repro- mes de documentos privados, a autenticação far-se-á por meio de
duzida a imagem de encerramento, imediatamente após o último carimbo, aposto em cada folha, nos cartórios que satisfizerem os
documento, com os seguintes elementos: requisitos especificados no artigo seguinte.
I - identificação do detentor dos documentos microfilmados; § 3° A cópia em papel, de que trata o parágrafo anterior, poderá
II - informações complementares relativas ao inciso V do artigo ser extraída utilizando-se qualquer meio de reprodução, desde que
anterior; seja assegurada a sua fidelidade e a sua qualidade de leitura.
III - termo de encerramento atestando a fiel observância às dis- Art. 15. A microfilmagem de documentos poderá ser feita por
posições deste Decreto; empresas e cartórios habilitados nos termos deste Decreto.
IV - menção, quando for o caso, de que a série de documentos Parágrafo único. Para exercer a atividade de microfilmagem de
microfilmados continua em microfilme posterior; documentos, as empresas e cartórios a que se refere este artigo,
V - nome por extenso, qualificação funcional e assinatura do além da legislação a que estão sujeitos, deverão requerer registro
responsável pela unidade, cartório ou empresa executora da micro- no Ministério da Justiça e sujeitar-se à fiscalização que por este será
filmagem. exercida quanto ao cumprimento do disposto no presente Decreto.
Art. 16. As empresas e os cartórios que se dedicarem a microfil-
magem de documentos de terceiros, fornecerão, obrigatoriamente,
um documento de garantia, declarando:

302
302
ARQUIVOLOGIA
I - que a microfilmagem foi executada de acordo com o dispos- químicas, é dobrada a cada aumento de 10°C. A alteração da
to neste Decreto; umidade relativa proporciona as condições necessárias para de-
II - que se responsabilizam pelo padrão de qualidade do serviço sencadear intensas reações químicas nos materiais.
executado; A circulação do ar ambiente representa um fator bastante
III - que o usuário passa a ser responsável pelo manuseio e con- importante para amenizar os efeitos da temperatura e umidade
servação das microformas. relativa elevada.
Art. 17. Os microfilmes e filmes cópias, produzidos no exterior,
somente terão valor legal, em juízo ou fora dele, quando: - Radiação da luz
I - autenticados por autoridade estrangeira competente; Toda fonte de luz, emite radiação nociva aos materiais de
II - tiverem reconhecida, pela autoridade consular brasileira, a acervos, provocando consideráveis danos através da oxidação.
firma da autoridade estrangeira que os houver autenticado; Algumas medidas podem ser tomadas para proteção dos
III - forem acompanhados de tradução oficial. acervos:
Art. 18. Os microfilmes originais e os filmes cópias resultantes - As janelas devem ser protegidas por cortinas ou persianas
de microfilmagem de documentos sujeitos à fiscalização, ou neces-
que bloqueiem totalmente o sol;
sários à prestação de contas, deverão ser mantidos pelos prazos de
- Filtros feitos de filmes especiais também ajudam no con-
prescrição a que estariam sujeitos os seus respectivos originais.
trole da radiação UV, tanto nos vidros de janelas quanto em lâm-
Art. 19. As infrações às normas deste Decreto, por parte dos
padas fluorescentes.
cartórios e empresas registrados no Ministério da Justiça sujeitarão
o infrator, observada a gravidade do fato, às penalidades de adver-
tência ou suspensão do registro, sem prejuízo das sanções penais e - Qualidades do ar
civis cabíveis. O controle da qualidade é muito importante porque os ga-
Parágrafo único. No caso de reincidência por falta grave, o re- ses e as partículas sólidas contribuem muito para a deterioração
gistro para microfilmar será cassado definitivamente. de materiais de bibliotecas e arquivos, destacando que esses po-
Art. 20. O Ministério da Justiça expedirá as instruções que se luentes podem tanto vir do ambiente externo como podem ser
fizerem necessárias ao cumprimento deste Decreto. gerando no próprio ambiente.
Art. 21. Revoga-se o Decreto n° 64.398, de 24 de abril de 1969.
Art. 22. Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação. 2. Agentes biológicos
Os agentes biológicos de deterioração de acervos são, en-
tre outros, os insetos (baratas, brocas, cupins), os roedores e os
PRESERVAÇÃO, CONSERVAÇÃO E RESTAURAÇÃO DE DO- fungos, cuja presença depende quase que exclusivamente das
CUMENTOS condições ambientais reinantes nas dependências onde se en-
contram os documentos.

PRESERVAÇÃO E CONSERVAÇÃO DE DOCUMENTOS DE AR- - Fungos


QUIVO Como qualquer outro ser vivo, necessitam de alimento e
A manutenção dos documentos pelo prazo determinado na umidade para sobreviver e proliferar. O alimento provém dos
tabela de temporalidade dependem de três aspectos: papéis, amidos (colas), couros, pigmentos, tecidos etc. A umi-
dade é fator indispensável para o metabolismo dos nutrientes e
Fatores de deterioração em acervos de arquivos para sua proliferação. Essa umidade é encontrada na atmosfe-
Conhecendo-se a natureza dos materiais componentes dos ra local, nos materiais atacados e na própria colônia de fungos.
acervos e seu comportamento diante dos fatores aos quais es- Além da umidade e nutrientes, outras condições contribuem para o
tão expostos, torna-se bastante fácil detectar elementos noci- crescimento das colônias: temperatura elevada, falta de circulação
vos e traçar políticas de conservação para minimizá-los. de ar e falta de higiene.
A grande maioria dos arquivos é constituída de documen-
tos impressos, e o papel é basicamente composto por fibras de As medidas para proteger o acervo de infestação de fungos são:
celulose, portanto, identificar os principais agentes nocivos da - estabelecer política de controle ambiental, principalmente
celulose e descobrir soluções para evita-los é um grande passo temperatura, umidade relativa e ar circulante
na preservação e na conservação documental. - praticar a higienização tanto do local quanto dos docu-
Essa degradação à qual os acervos estão sujeitos não se li- mentos, com metodologia e técnicas adequadas;
mita a um único fator, pelo contrário, são várias as formas dessa - instruir o usuário e os funcionários com relação ao manu-
degradação ocorrer, como veremos a seguir: seio dos documentos e regras de higiene do local;
- manter vigilância constante dos documentos contra aci-
1. Fatores ambientais dentes com água, secando-os imediatamente caso ocorram.
São os agentes encontrados no ambiente físico do acervo,
como por exemplo, Temperatura, Umidade Relativa do Ar, Ra- - Roedores
diação da Luz, Qualidade do Ar. A presença de roedores em recintos de bibliotecas e arqui-
vos ocorre pelos mesmos motivos citados acima. Tentar obstruir
- Temperatura e umidade relativa as possíveis entradas para os ambientes dos acervos é um co-
O calor e a umidade contribuem significativamente para a meço. As iscas são válidas, mas para que surtam efeito devem
destruição dos documentos, principalmente quando em supor- ser definidas por especialistas em zoonose. O produto deve ser
te-papel. O desequilíbrio de um interfere no equilíbrio do outro. eficiente, desde que não provoque a morte dos roedores no
O calor acelera a deterioração. A velocidade de muitas reações

303
ARQUIVOLOGIA
recinto. A profilaxia se faz nos mesmos moldes citados acima: 6. Características gerais dos materiais empregados em
temperatura e umidade relativa controladas, além de higiene conservação
periódica. Nos projetos de conservação/preservação de acervos de bi-
bliotecas, arquivos e museus, é recomendado apenas o uso de
- Ataques de insetos materiais de qualidade arquivística, isto é, daqueles materiais
Baratas – Esses insetos atacam tanto papel quanto reves- livres de quaisquer impurezas, quimicamente estáveis, resisten-
timentos, provocam perdas de superfície e manchas de excre- tes, duráveis. Suas características, em relação aos documentos
mentos. As baratas se reproduzem no próprio local e se tornam onde são aplicados, distinguem-se pela estabilidade, neutralida-
infestação muito rapidamente, caso não sejam combatidas. de, reversibilidade e inércia.Dentro das especificações positivas,
Brocas (Anobídios) – São insetos que causam danos imen- encontramos vários materiais: os papéis e cartões alcalinos, os
sos em acervos, principalmente em livros. A fase de ataque ao poliésteres inertes, os adesivos alcalinos e reversíveis, os papéis
acervo é a de larva. Esse inseto se reproduz por acasalamento, orientais, borrachas plásticas etc., usados tanto para pequenas
que ocorre no próprio acervo. Uma vez instalado, ataca não só o intervenções sobre os documentos como para acondicionamento.
papel e seus derivados, como também a madeira do mobiliário,
portas, pisos e todos os materiais à base de celulose. 7. Critérios para a escolha de técnicas e de materiais para
O ataque causa perda de suporte. A larva digere os mate- a conservação de acervos
riais para chegar à fase adulta. Na fase adulta, acasala e põe Como já enfatizamos anteriormente, é muito importante ter
ovos. Os ovos eclodem e o ciclo se repete. conhecimentos básicos sobre os materiais que integram nossos
Cupins (Térmitas) – Os cupins representam risco não só para acervos para que não corramos o risco de lhes causar mais danos.
as coleções como para o prédio em si. Os cupins percorrem áre- Vários são os procedimentos que, apesar de simples, são de
as internas de alvenaria, tubulações, conduítes de instalações grande importância para a estabilização dos documentos.
elétricas, rodapés, batentes de portas e janelas etc., muitas ve-
zes fora do alcance dos nossos olhos. 8. Higienização
Chegam aos acervos em ataques massivos, através de estantes A sujidade é o agente de deterioração que mais afeta os do-
coladas às paredes, caixas de interruptores de luz, assoalhos etc. cumentos. A sujidade não é inócua e, quando conjugada a con-
dições ambientais inadequadas, provoca reações de destruição
3. Intervenções inadequadas nos acervos de todos os suportes num acervo. Portanto, a higienização das
Trata-se de procedimentos de conservação que realizamos coleções deve ser um hábito de rotina na manutenção de biblio-
em um conjunto de documentos com o objetivo de interromper tecas ou arquivos, razão por que é considerada a conservação
ou melhorar seu estado de degradação e que as vezes, resultam preventiva por excelência.
em danos ainda maiores. - Processos de higienização
Por isso, qualquer tratamento que se queira aplicar exige um - Limpeza de superfície - o processo de limpeza de acervos
conhecimento das características individuais dos documentos e de bibliotecas e arquivos se restringe à limpeza de superfície e,
dos materiais a serem empregados no processo de conservação. portanto, é mecânica, feita a seco, com o objetivo de reduzir po-
4. Problemas no manuseio de livros e documentos eira, partículas sólidas, incrustações, resíduos de excrementos
O manuseio inadequado dos documentos é um fator de de- de insetos ou outros depósitos de superfície.
gradação muito frequente em qualquer tipo de acervo. - Avaliação do objeto a ser limpo - cada objeto deve ser
O manuseio abrange todas as ações de tocar no documento, avaliado individualmente para determinar se a higienização é
sejam elas durante a higienização pelos funcionários da institui- necessária e se pode ser realizada com segurança. No caso de
ção, na remoção das estantes ou arquivos para uso do pesquisa- termos as condições abaixo, provavelmente o tratamento não
dor, nas foto-reproduções, na pesquisa pelo usuário etc. será possível:
• Fragilidade física do suporte
5. Fatores de deterioração • Papéis de textura muito porosa
Como podemos ver, os danos são intensos e muitos são ir- - Materiais usados para limpeza de superfície - a remoção da
reversíveis. Apesar de toda a problemática dos custos de uma sujidade superficial (que está solta sobre o documento) é feita
política de conservação, existem medidas que podemos tomar através de pincéis, flanela macia, aspirador e inúmeras outras
sem despender grandes somas de dinheiro, minimizando dras- ferramentas que se adaptam à técnica, como bisturi, pinça, es-
ticamente os efeitos desses agentes. Alguns investimentos de pátula, agulha, cotonete;
baixo custo devem ser feitos, a começar por: - Limpeza de livros
- treinamento dos profissionais na área da conservação e - Encadernação (capa do livro) – limpar com trincha, pincel
preservação; macio, aspirador, flanela macia, conforme o estado da encader-
- atualização desses profissionais (a conservação é uma ci- nação;
ência em desenvolvimento constante e a cada dia novas técni- - Miolo (livro em si) – segurar firmemente o livro pela lom-
cas, materiais e equipamentos surgem para facilitar e melhorar bada, apertando o miolo. Com uma trincha ou pincel, limpar os
a conservação dos documentos); cortes, começando pela cabeça do livro, que é a área que está
- monitoração do ambiente – temperatura e umidade relati- mais exposta à sujidade. Quando a sujeira está muito incrustada
va em níveis aceitáveis; e intensa, utilizar, primeiramente, aspirador de pó de baixa po-
- uso de filtros e protetores contra a luz direta nos docu- tência ou ainda um pedaço de carpete sem uso;
mentos; - O miolo deve ser limpo com pincel folha a folha, numa pri-
- adoção de política de higienização do ambiente e dos acer- meira higienização;
vos; - Oxigenar as folhas várias vezes.
- contato com profissionais experientes que possam asses-
sorar em caso de necessidade.
304
304
ARQUIVOLOGIA
- Higienização de documentos de arquivo - materiais arqui-
vísticos têm os seus suportes geralmente quebradiços, frágeis, QUESTÕES
distorcidos ou fragmentados. Isso se deve principalmente ao
alto índice de acidez resultante do uso de papéis de baixa quali-
dade. As más condições de armazenamento e o excesso de ma- 1. No processo de arquivamento, se enquadram como Tipolo-
nuseio também contribuem para a degradação dos materiais. gias documentais e suportes físicos, EXCETO:
Tais documentos têm que ser higienizados com muito critério (A)Microfilmagens.
e cuidado. (B) Preservação e conservação documental.
(C) Restauração de documentos.
- Documentos manuscritos - os mesmos cuidados para com (D) Protocolos e avaliação de documentos.
os livros devem ser tomados em relação aos manuscritos. O exa-
me dos documentos, testes de estabilidade de seus componen- 2. O princípio da arquivologia segundo o qual os arquivos refle-
tem a estrutura, as funções e as atividades da entidade produtora,
tes para o uso dos materiais de limpeza mecânica e critérios de
em suas relações internas e externas é denominado como:
intervenção devem ser cuidadosamente realizados.
(A) Indivisibilidade.
(B).Unicidade
- Documentos em grande formato
(C) Organicidade
- Desenhos de Arquitetura – Os papéis de arquitetura (no (D) Cumulatividade.
geral em papel vegetal) podem ser limpos com pó de borracha, (E) Proveniência.
após testes. Pode-se também usar um cotonete - bem enxuto e
embebido em álcool. Muito sensíveis à água, esses papéis po- 3. Na implementação de programas de gestão de documentos
dem ter distorções causadas pela umidade que são irreversíveis é muito importante a utilização de método de ordenação. Em uma
ou de difícil remoção. situação cuja necessidade é um eixo de plano prévio de distribuição
- Posters (Cartazes) – As tintas e suportes de posters são dos documentos em dez grandes classes, cada uma podendo ser
muito frágeis. Não se recomenda limpar a área pictórica. Todo subdividida em dez subclasses e assim por diante. Assinale a opção
cuidado é pouco, até mesmo na escolha de seu acondicionamen- que indica esse método de ordenação.
to. (A)Decimal.
- Mapas – Os mapas coloridos à mão merecem uma atenção (B)Dígito-terminal.
especial na limpeza. Em mapas impressos, desde que em boas (C)Duplex.
condições, o pó de borracha pode ser aplicado para tratar gran- (D)Geográfico.
des áreas. (E)Soundex.

9. Pequenos reparos 4. Preservação de documentos é o conjunto de medidas adota-


Os pequenos reparos são diminutas intervenções que pode- das visando proteger, conservar ou restaurar os documentos arma-
mos executar visando interromper um processo de deterioração zenados em um arquivo. Na conservação dos documentos, vários
em andamento. Essas pequenas intervenções devem obedecer a elementos devem ser evitados, pois tendem a danificar ou acelerar
critérios rigorosos de ética e técnica e têm a função de melhorar sua degradação. Sobre medidas e cuidados com a preservação dos
o estado de conservação dos documentos. Caso esses critérios documentos, considere os seguintes itens.
não sejam obedecidos, o risco de aumentar os danos é muito I. Deve-se evitar a entrada de água, fogo ou luz no ambiente de
grande e muitas vezes de caráter irreversível. arquivo, pois esses elementos tendem a danificar os documentos.
Os livros raros e os documentos de arquivo mais antigos de- II. A limpeza do ambiente, sempre que possiv́ el, deve ser feita
a seco (aspirador de pó) ou com a utilização de panos úmidos nas
vem ser tratados por especialistas da área. Os demais documen-
estantes e no chão.
tos permitem algumas intervenções, de simples a moderadas.
III. Deve-se evitar a utilização de saliva ou umedecedor de de-
Os materiais utilizados para esse fim devem ser de qualidade
dos ao passar as páginas dos documentos.
arquivística e de caráter reversível. Da mesma forma, toda a in-
IV. Ao fazer anotações nos documentos, como o código de clas-
tervenção deve obedecer a técnicas e procedimentos reversí- sificação, por exemplo, deve-se utilizar lápis.
veis. Isso significa que, caso seja necessário reverter o processo, V. Os objetos metálicos, como clipes, grampos e colchetes, de-
não pode existir nenhum obstáculo na técnica e nos materiais vem ser evitados por provocar a oxidação do papel. Quando neces-
utilizados. sária a juntada de folhas para formar um processo ou documento,
Toda e qualquer procedimento acima citada obrigatoria- é indicada a utilização de clipes ou colchetes plásticos.
mente deve ser feito com o uso dos EPIs – Equipamentos de VI. Colas e fitas adesivas também devem ser evitadas, por pro-
Proteção Individual – tais como avental, luva, máscara, toucas, vocar manchas irreversiv́ eis no documento, produto de sua alta
óculos de proteção e pró-pé/bota, a fim de evitar diversas ma- acidez. Na restauração de documentos, existem colas e fitas ade-
nifestações alérgicas, como rinite, irritação ocular, problemas sivas com qualidade arquiviś tica (sem acidez) adequadas a essa
respiratórios, protegendo assim a saúde do profissional.4 tarefa.

Quantos dos itens apresentados estão corretos?


(A)Todos.
(B)Cinco, somente.
(C)Quatro, somente.
(D)Três, somente.
(E)Dois, somente.

305
ARQUIVOLOGIA
5.O procedimento de arquivo que visa a desacelerar o proces- III A preservação e o acesso dizem respeito à prevenção de de-
so de degradação de documentos, por meio de controle ambiental terioração e danos em documentos, por meio do adequado con-
e de tratamentos específicos, tem a seguinte denominação: trole ambiental e de tratamentos físico-químicos, se necessário,
(A) limpeza. com a finalidade de se viabilizar a consulta aos documentos e às
(B) conservação. informações.
(C) vaporização
(D) desinfestação. Assinale a alternativa correta.
(E) higienização (A) Nenhum item está certo.
(B) Apenas o item III está certo.
6. A restauração deve ser entendida como um conjunto de me- (C) Apenas os itens I e II estão certos.
didas que objetivam a estabilização ou a reversão de danos físicos (D) Apenas os itens II e III estão certos.
ou químicos adquiridos pelo documento ao longo do tempo e do (E) Todos os itens estão certos.
uso, intervindo de modo a não comprometer sua integridade e seu
caráter histórico. A técnica de restauração de documentos que con-
siste na aplicação de reforço de papel ou tecido em qualquer face GABARITO
de uma folha, denomina-se:
(A) velatura
(B) laminação 1 D
(C) encolagem
(D) encapsulação. 2 C
(E) alisamento. 3 A

7. Acerca das atividades de protocolo, julgue os itens subse- 4 B


quentes. 5 B
Os documentos considerados sigilosos são recebidos pelos ser-
6 A
viços de protocolo, mas devem ser enviados em envelope lacrado
com a indicação da classificação de sigilo. 7 CERTO
( ).CERTO 8 ERRADO
( ) ERRADO
9 C
8. Quando o protocolo remete documentos aos setores de 10 E
trabalho para estes decidirem sobre a matéria contida nesses do-
cumentos, ele realiza uma de suas principais atividades, que é o
registro. ANOTAÇÕES
( ).CERTO
( ) ERRADO ______________________________________________________

9. Os fatores ambientais são cruciais para a conservação de do- ______________________________________________________


cumentos, pois são responsáveis por reações químicas que podem
gerar alta nocividade ao papel e favorecer sua destruição. Consi- ______________________________________________________
derando essa informação, assinale a alternativa que apresenta um
______________________________________________________
fator de degradação de agente químico.
(A) iluminação ______________________________________________________
(B) temperatura
(C) poluição atmosférica ______________________________________________________
(D) acondicionamento
(E) umidade relativa ______________________________________________________

10. A principal finalidade do arquivo é servir como fonte de ______________________________________________________


consulta à administração, pois é constituído, em sua essência, dos
documentos produzidos e dos documentos recebidos pela entidade ______________________________________________________
mantenedora do acervo, podendo, ao longo do tempo, servir como
______________________________________________________
elemento de história. Quando os documentos passam a ter um va-
lor histórico, sem utilidade administrativa, seu arquivamento deve ______________________________________________________
obedecer a alguns cuidados especiais. Acerca desses cuidados, jul-
gue os itens que se seguem. ______________________________________________________
I O arranjo é o conjunto de operações que organizam os docu-
mentos conforme o planejamento previamente estabelecido. _____________________________________________________
II A descrição é o conjunto de procedimentos que consideram
os elementos formais e de conteúdo dos documentos para a elabo- _____________________________________________________
ração de instrumentos de pesquisa.
______________________________________________________

______________________________________________________

306
306
QUÍMICA

CLASSIFICAÇÃO DOS MATERIAIS

CONSTITUIÇÃO DA MATÉRIA
Algumas definições são importantes no estudo da Constituição da Matéria:

Matéria é um meio para introduzir a ideia de que a matéria tem existência física real. É dito com frequência que matéria é tudo que
tem massa e ocupa espaço. Ela é formada por minúsculas partículas, denominadas átomos.
Peso de um objeto é a força gravitacional que atrai o objeto para a Terra, e esta depende da massa do objeto e de dois outros fatores:
- A massa da Terra e
- A distância entre o objeto e o centro da Terra (centro de massa).

Classificação da matéria
Substâncias são um conjunto de átomos com as mesmas propriedades químicas constitui um elemento químico, e cada substância é
caracterizada por uma proporção constante desses elementos.
Elas podem ser classificadas de acordo com sua composição:

Substância pura: Tipo de matéria formada por unidades químicas iguais, sejam átomos, sejam moléculas, e por esse motivo apresen-
tando propriedades químicas e físicas próprias. Elas podem ser simples ou compostas
- Simples: A substância formada por um ou mais átomos de um mesmo elemento químico é classificada como substância pura simples
ou, simplesmente, substância simples.
- Compostas: As moléculas de determinada substância são formadas por dois ou mais elementos químicos, ela é classificada como
substância pura composta ou, simplesmente, substância composta.

Misturas
São formadas por duas ou mais substâncias, cada uma delas sendo denominada componente. As misturas apresentam composição
variável, têm propriedades — como ponto de fusão, ponto de ebulição, densidade — diferentes daquelas apresentadas pelas substâncias
quando estudadas separadamente.
A maioria dos materiais que nos cercam são misturas, o próprio ar que respiramos é um misturas de outros gases:
• gás nitrogênio (N2) = 78%;
• gás oxigênio (O2) = 21%;
• gás argônio (Ar) ≈ 1%;
• gás carbônico (CO2) ≈ 0,03%.

Tipos de misturas
Elas são classificadas de acordo com o aspecto visual em função do seu número de fases.

Fase: cada uma das porções que apresenta aspecto visual homogêneo (uniforme), o qual pode ser contínuo ou não, mesmo quando
observado ao microscópio comum. Observe a figura:

Fonte: Usberco, João - Química — volume único / João Usberco, Edgard Salvador. — 5. ed.
reform. — São Paulo: Saraiva, 2002.

307
QUÍMICA
As misturas são classificadas em função de seu número de fases:
- Mistura homogênea: toda mistura que apresenta uma única fase. Elas também são chamadas de soluções. Alguns exemplos: água
de torneira, vinagre, ar, álcool hidratado, pinga, gasolina, soro caseiro, soro fisiológico e algumas ligas metálicas. Além dessas, todas as
misturas de quaisquer gases são sempre misturas homogêneas.
- Mistura heterogênea: toda mistura que apresenta pelo menos duas fases. Alguns exemplos de misturas heterogêneas: água e óleo,
areia, granito, madeira, sangue, leite, água com gás. As misturas formadas por n sólidos apresentam n fases, desde que estes sólidos não
formem uma liga ou um cristal misto.

Sistemas
- Sistema homogêneo: Apresenta aspecto contínuo, ou seja, é constituído por uma única fase.
- Sistema heterogêneo: apresenta um aspecto descontínuo, ou seja, é constituído por mais de uma fase.

Fonte: Usberco, João - Química — volume único / João Usberco, Edgard Salvador. — 5. ed.
reform. — São Paulo: Saraiva, 2002.

Estados físicos da matéria


Toda matéria é constituída de pequenas partículas e, dependendo do maior ou menor grau de agregação entre elas, pode ser encon-
trada em três estados físicos: sólido, líquido e gasoso.
Esse três estados de agregação apresentam características próprias — como o volume, a densidade e a forma —, que podem ser alte-
radas pela variação de temperatura (aquecimento ou resfriamento).
Quando uma substância muda de estado, sofre alterações nas suas características macroscópicas (volume, forma etc.) e microscópicas
(arranjo das partículas), não havendo, contudo, alteração em sua composição.

Mudanças de estado físico


O diagrama mostra as mudanças de estado, com os nomes particulares que cada uma delas recebe.

- Fusão: Passagem, provocada por um aquecimento, do estado sólido para o estado líquido. O aquecimento provoca a elevação da
temperatura da substância até ao seu ponto de fusão. A temperatura não aumenta enquanto está acontecendo a fusão, isto é, somente
depois que toda a substância passar para o estado líquido é que a temperatura volta a aumentar.
- Solidificação: Passagem do estado líquido para o estado sólido, através de arrefecimento (resfriamento). Quando a substância líqui-
da inicia a solidificação, a temperatura fica inalterada até que a totalidade esteja no estado sólido, e só depois a temperatura continua a
baixar.

308
308
QUÍMICA
Observação: Este estágio que ocorre nos processos, onde a temperatura constante completar todo o processo, é denominado pata-
mar. Graficamente temos:

- Vaporização: Passagem do estado líquido para o estado gasoso, por aquecimento. Se for realizada lentamente chama-se evaporação,
se for realizada com aquecimento rápido chama-se ebulição.
Durante a ebulição a temperatura da substância que está a passar do estado líquido para o estado gasoso permanece inalterada, só
voltando a aumentar quando toda a substância estiver no estado gasoso.
- Liquefação ou Condensação: Passagem do estado gasoso para o estado líquido, devido ao um arrefecimento (resfriamento). Quando
a substância gasosa inicia a condensação, a temperatura fica inalterada até que a totalidade esteja no estado líquido, e só depois a tem-
peratura continua a baixar.
- Sublimação: Passagem direta de uma substância do estado sólido para o estado gasoso, por aquecimento, ou do estado gasoso para
o estado sólido, por arrefecimento. Ex. Gelo seco, naftalina.

Transformações da matéria
Qualquer modificação que ocorra com a matéria é considerada um fenômeno: água em ebulição, massa do pão “crescendo”, explosão
de uma bomba etc.
Os fenômenos podem ser classificados em físicos ou químicos.
- Fenômenos físicos: NÃO ALTERAM a natureza da matéria, isto é, a sua composição. Observamos que nesses fenômenos, a forma, o
tamanho, a aparência e o estado físico podem mudar, porém a constituição da substância não sofre alterações. Um exemplo são os fenô-
menos físicos que são as mudanças de estado físico.
- Fenômenos químicos: ALTERAM a natureza da matéria, ou seja, a sua composição. Quando ocorre um fenômeno químico, uma ou
mais substâncias se transformam e dão origem a novas substâncias. Então, dizemos que ocorreu uma reação química.

Para reconhecermos a ocorrência de um fenômeno químico, uma maneira bem simples, é a observação visual de alterações que
ocorrem no sistema.
A formação de uma nova substância está associada à:
1. Mudança de cor. Exemplos: queima de papel; cândida ou água de lavadeira em tecido colorido; queima de fogos de artifício.
2. Liberação de um gás (efervescência). Exemplos: antiácido estomacal em água; bicarbonato de sódio (fermento de bolo) em vinagre.
3. Formação de um sólido. Exemplos: líquido de bateria de automóvel + cal de pedreiro dissolvida em água; água de cal + ar expirado
pelo pulmão (gás carbônico).
4. Aparecimento de chama ou luminosidade. Exemplos: álcool queimando, luz emitida pelos vaga-lumes.

Algumas reações ocorrem sem essas evidências visuais. A formação de novas substâncias é constatada pela mudança das proprieda-
des físico-químicas.

Propriedades gerais da matéria


- Inércia: A matéria conserva seu estado de repouso ou de movimento, a menos que uma força aja sobre ela.
- Massa: É uma propriedade relacionada com a quantidade de matéria e é medida geralmente em quilogramas. A massa é a medida
da inércia. Quanto maior a massa de um corpo, maior a sua inércia. Massa e peso são duas coisas diferentes.
- Extensão: Toda matéria ocupa um lugar no espaço. Todo corpo tem extensão.
- Impenetrabilidade: Duas porções de matéria não podem ocupar o mesmo lugar ao mesmo tempo.
- Compressibilidade: Quando a matéria está sofrendo a ação de uma força, seu volume diminui.
- Elasticidade: A matéria volta ao volume e à forma iniciais quando cessa a compressão.
- Divisibilidade: A matéria pode ser dividida em partes cada vez menores.
- Descontinuidade: Toda matéria é descontínua, por mais compacta que pareça.

Propriedades Específicas da Matéria


- Organolépticas (que são sentidas pelos nossos sentidos):
a) Cor: a matéria pode ser colorida ou incolor.
b) Brilho: a capacidade de uma substância de refletir kluz é a que determina o seu brilho.
c) Sabor: uma substância pode ser insípida (sem sabor) ou sápida (com sabor).
d) Odor: a matéria pode ser inodora (sem cheiro) ou odorífera (com cheiro).

309
QUÍMICA
- Físicas:
a) Densidade: é o resultado da divisão entre a quantidade de matéria (massa) e o seu volume.
b) Dureza: é a resistência que a superfície de um material tem ao risco. Um material é considerado mais duro que o outro quando
consegue riscar esse outro deixando um sulco.

Propriedades Funcionais
As propriedades funcionais são características constantes em determinadas matérias, sendo pertencentes a um mesmo grupo funcio-
nal, tais como os ácidos, bases, óxidos e sais.

Fonte: Disponível em https://www.todamateria.com.br/propriedades-da-materia/ Acesso em 03.12.2020

Referências Bibliográficas:
USBERCO, João - Química — volume único / João Usberco, Edgard Salvador. — 5. ed. reform. — São Paulo: Saraiva, 2002.
Disponível em: www.soquimica.com.br Acesso em 03.12.2020
Disponível em: https://www.mundovestibular.com.br/estudos/quimica/propriedades-gerais-da-materia/ Acesso em 03.12.2020

TEORIA ATÔMICO-MOLECULAR

É uma teoria científica da natureza da matéria, que afirma que a matéria é composta de unidades discretas chamadas átomos.
De acordo com esses filósofos tudo no meio em que vivemos seria formado pela combinação desses quatro elementos em diferentes
proporções. Entretanto por volta de 400 a. C., os filósofos Leucipo e Demócrito elaboraram uma teoria filosófica (não científica) segundo
a qual toda matéria era formada devido a junção de pequenas partículas indivisíveis denominadas átomos (que em grego significa indivi-
sível). Para estes filósofos, toda a natureza era formada por átomos e vácuo.
No final do século XVIII, Lavoisier e Proust realizaram experiências relacionado as massas dos participantes das reações químicas,
dando origem às Leis das combinações químicas (Leis ponderais).

Leis Ponderais
-Lei de Lavoisier:
A primeira delas, a Lei da Conservação de Massas, ou Lei de Lavoisier é uma lei da química que muitos conhecem por uma célebre
frase dita pelo cientista conhecido como o pai da química, Antoine Lavoisier:

“Na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”

Ao realizar vários experimentos, Lavoisier concluiu que:

“Num sistema fechado, a massa total dos reagentes é igual à massa total dos produtos”

310
310
QUÍMICA
Exemplo:
Mercúrio metálico + oxigênio → óxido de mercúrio II
100,5 g 8,0 g 108,5 g

-Lei de Proust
O químico Joseph Louis Proust observou que em uma reação
química a relação entre as massas das substâncias participantes é
sempre constante. A Lei de Proust ou a Lei das proporções defini-
das diz que dois ou mais elementos ao se combinarem para formar
substâncias, conservam entre si proporções definidas.
Em resumo a lei de Proust pode ser resumida da seguinte ma- A experiência de Rutherford
neira: Em meados do século de XX, dentre as inúmeras experiências
realizadas por Ernest Rutherford e seus colaboradores, uma ganhou
“Uma determinada substância composta é formada por destaque, uma vez que mostrou que o modelo proposto por Thom-
substâncias mais simples, unidas sempre na mesma proporção em son era incorreto.A experiência consistiu em bombardear uma fina
massa”. folha de ouro com partículas positivas e pesadas, chamada de α,
Exemplo: A massa de uma molécula de água é 18g e é resultado emitidas por um elemento radioativo chamado polônio.
da soma das massas atômicas do hidrogênio e do oxigênio.
H2 – massa atômica = 1 → 2 x 1 = 2g
O – massa atômica = 16 → 1 x 16 = 16g
Então 18g de água tem sempre 16g de oxigênio e 2g de hidro-
gênio. A molécula água está na proporção 1:8.

mH2= 2g= 1
____ _____
m O 16g 8

-Lei de Dalton
Em 1808, John Dalton propôs uma teoria para explicar essas
leis ponderais, denominada teoria atômica, criando o primeiro mo-
delo atômico científico, em que o átomo seria maciço e indivisível.
A teoria proposta por ele pode ser resumida da seguinte maneira:
1. Tudo que existe na natureza é formado por pequenas partí-
culas microscópicas denominadas átomos;
2. Estas partículas, os átomos, são indivisíveis (não é possível
seccionar um átomo) e indestrutíveis (não se consegue destruir me-
canicamente um átomo);
3. O número de tipos de átomos (respectivos a cada elemento)
diferentes possíveis é pequeno;
4. Átomos de elementos iguais sempre apresentam caracterís-
ticas iguais, bem como átomos de elementos diferentes apresen- Rutherford observou que:
tam características diferentes. Sendo que, ao combiná-los, em pro- a) grande parte das partículas α passaram pela folha de ouro
porções definidas, definimos toda a matéria existente no universo; sem sofrer desvios (A) e sem altera a sua superfície;
5. Os átomos assemelham-se a esferas maciças que se dispõem b) algumas partículas α desviaram (B) com determinados ân-
através de empilhamento; gulos de desvios;
6. Durante as reações químicas, os átomos permaneciam inal- c) poucas partículas não atravessaram a folha de ouro e volta-
terados. Apenas configuram outro arranjo. ram (C).

Em meados de 1874, Stoney admitiu que a eletricidade estava O modelo de Rutherford


intimamente associada aos átomos em que quantidades discretas A experiência da “folha de ouro” realizada pelo neozelandês Er-
e, em 1891, deu o nome de elétron para a unidade de carga elétrica nest Rutherford foi o marco decisivo para o surgimento de um novo
negativa. modelo atômico, mais satisfatório, que explicava de forma mais cla-
ra uma série de eventos observados:
Modelo atômico de Thomson O átomo deve ser constituído por duas regiões:
Thomson concluiu que essas partículas negativas deveriam fa- a) Um núcleo, pequeno, positivo e possuidor de praticamente
zer parte dos átomos componentes da matéria, sendo denomina- toda a massa do átomo;
dos elétrons. Após isto, propôs um novo modelo científico para o b) Uma região positiva, praticamente sem massa, que envolve-
átomo. Para Thomson, o átomo era uma esfera de carga elétrica po- ria o núcleo. A essa região se deu o nome de eletrosfera
sitiva “recheada” de elétrons de carga negativa. Esse modelo ficou
conhecido como “pudim de passas”. Este modelo derruba a ideia de NÚMERO ATÔMICO E NÚMERO DE MASSA
que o átomo é indivisível e introduz a natureza elétrica da matéria. Um átomo individual (ou seu núcleo) é geralmente identificado
especificando dois números inteiros: o número atômico Z e o nú-
mero de massa A.

311
QUÍMICA
O número atômico ( Z ) é o número de prótons no núcleo. Como um átomo é um sistema eletricamente nêutron, se conhecermos o
seu número atômico, teremos então duas informações: o número de prótons e o número de elétrons.

O número de massa A é o número total de núcleos (prótons mais nêutrons) no núcleo.

Pode-se ver destas definições que o número de nêutrons no núcleo é igual a A - Z.

Indica um átomo do elemento X com o número atômico Ze número de massa A. Por exemplo:

Refere-se a um átomo de oxigênio comum número atômico 8 e um número de massa 16.

Íons
Os átomos podem perder ou ganhar elétrons, originando novos sistemas, carregados eletricamente: os íons.
Nos íons, o número de prótons é diferente do número de elétrons.

Os átomos, ao ganharem elétrons, originam íons negativos, ou ânions, e, ao perderem elétrons, originam íons positivos, os cátions.

Cátions (íons positivos)


Em um cátions, o número de prótons é SEMPRE maior do que o número de elétrons. Veja abaixo um exemplo de cátion:

-Cl+ ( Z=17)
Número de prótons: 17 -carga: +17
Número de elétrons: 16-carga: -16
Carga elétrica total: +17 -16= +1

Ânions (íons negativos)


Em um ânion, o número de prótons é menor do que o número de elétrons. Vamos agora relacionar o átomo de enxofre (S) com seu
ânion bivalente (S2-).

-S (Z=16)
Número de prótons: 16 -carga: +16
Número de elétrons: 19 - carga: -18
Carga elétrica total: +16 -18 = -2

Relações atômicas

-Isótopos:
Átomos de um dado elemento podem ter diferentes números de massa e, portanto, massas diferentes porque eles podem ter diferen-
tes números de nêutrons em seu núcleo. Como mencionado, tais átomos são chamados isótopos.

312
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QUÍMICA
Cada isótopo também apresenta (A - Z) nêutrons, ou 8, 9 e 10 nêutrons, respectivamente. Devido aos isótopos de um elemento apre-
sentar diferentes números de nêutrons, eles têm diferentes massas.

-Isóbaros:
São átomos de diferentes números de próton, mas que possuem o mesmo número de massa (A). Assim, são átomos de elementos
químicos diferentes, mas que têm mesma massa, já que um maior número de prótons será compensado por um menor número de nêu-
trons, e assim por diante. Desse modo, terão propriedades físicas e químicas diferentes.

-Isótonos:
São átomos de diferentes números de prótons e de massa, mas que possuem mesmo número de nêutrons. Ou seja, são elementos
diferentes, com propriedades físicas e químicas diferentes.
Vejamos um exemplo:

CLASSIFICAÇÃO PERIÓDICA DOS ELEMENTOS QUÍMICOS

Cada quadro da tabela fornece os dados referentes ao elemento químico: símbolo, massa atômica, número atômico, nome do ele-
mento, elétrons nas camadas e se o elemento é radioativo.
As colunas verticais constituem as famílias ou grupos, nas quais os elementos estão reunidos segundo suas propriedades químicas.
As filas horizontais são denominadas períodos. Neles os elementos químicos estão dispostos na ordem crescente de seus números
atômicos. O número da ordem do período indica o número de níveis energéticos ou camadas eletrônicas do elemento.

Famílias ou Grupos
As Famílias da Tabela Periódica são distribuídas de forma vertical, em 18 colunas. Os elementos químicos que estão localizados na
mesma coluna da Tabela Periódica são considerados da mesma família pois possuem propriedades físicas e químicas semelhantes. Esses
elementos fazem parte de um mesmo grupo porque apresentam a mesma configuração de elétrons na última camada
A tabela periódica atual é constituída por 18 famílias. A numeração das Famílias da Tabela Periódica se inicia no 1A (representado em
nossa tabela periódica com o número 1) e continua até o zero ou 8A (representado em nossa tabela periódica pelo número 18). Existe
também a Família B.

Famílias A ou zero
Os elementos que constituem essas famílias são denominados elementos representativos, e seus elétrons mais energéticos estão
situados em subníveis s ou p. Nas famílias A, o número da família indica a quantidade de elétrons na camada de valência. Elas recebem
ainda nomes característicos.

313
QUÍMICA

Famílias B
Os elementos dessas famílias são denominados genericamente elementos de transição. Uma parte deles ocupa o bloco central da
tabela periódica, de IIIB até IIB (10 colunas), e apresenta seu elétron mais energético em subníveis d.

A outra parte deles está deslocada do corpo central, constituindo as séries dos lantanídeos e dos actinídeos. Essas séries apresentam
14 colunas. O elétron mais energético está contido em subnível f (f1 a f14).
O esquema a seguir mostra o subnível ocupado pelo elétron mais energético dos elementos da tabela periódica.

Períodos ou séries
Cada fila horizontal da tabela periódica constitui o que chamados de período ou série de elementos.
Cada período corresponde ao número de camadas eletrônicas existentes nos elementos que os constituem. Os períodos são sete
conforme pode ser observado no esquema abaixo.

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QUÍMICA
Lantanídeos e Actinídeos
As séries dos lantanídeos e dos actinídeos correspondem, respectivamente, aos apêndices embaixo da tabela.

Importante:
a) Lantânio (La) e Actíneo (Ac) não pertencem às séries
b) Essas séries são chamadas Elementos de transição Interna
c) Os lantanídeos também são chamados lantanóides ou terras-raras.
d) Os actinídeos também são chamados actinóides
e) O uso dos termos “lantanóide” e actinóide” foi reconhecido pela IUPAC.

Classificação dos elementos químicos


Uma outra maneira de classificar os elementos pode ser feita relacionando o subnível energético de cada um.
Assim temos:

Outra maneira de classificar os elementos é agrupá-los, segundo suas propriedades físicas e químicas, em: metais, ametais, semime-
tais, gases nobres e hidrogênio.

315
QUÍMICA
-Hidrogênio Portanto: raio do átomo > raio do cátion
É um elemento atípico, pois possui a propriedade de se combi- Raio do ânion: quando um átomo ganha elétron, aumenta a
nar com metais, ametais e semimetais. Nas condições ambientes, é repulsão da nuvem eletrônica, aumentando o seu tamanho.
um gás extremamente inflamável.
3. Energia de Ionização
-Gases nobres A maior ou menor facilidade com que o átomo de um elemento
Como o próprio nome sugere, nas condições ambientes apre- perde elétrons é importante para a determinação do seu comporta-
sentam-se no estado gasoso e sua principal característica química é mento. Um átomo (ou íon) em fase gasosa perde eletron(s) quando
a grande estabilidade, ou seja, possuem pequena capacidade de se recebe energia suficiente. Essa energia é chamada de energia (ou
combinar com outros elementos. potencial) de ionização.
Quanto maior o raio atômico, menor será a atração exercida
Propriedades periódicas pelo núcleo sobre o elétron mais afastado; portanto, menor será a
As propriedades periódicas são aquelas que, à medida que energia necessária para remover esse elétron.
o número atômico aumenta, assumem valores crescentes ou de-
crescentes em cada período, ou seja, repetem-se periodicamente. Generalizando: Quanto maior o tamanho do átomo, menor
Exemplo: o número de elétrons na camada de valência. será a primeira energia de ionização.
Vamos agora detalhar algumas propriedades periódicas da Ta-
bela. Ao retirarmos o primeiro elétron de um átomo, ocorre uma di-
minuição do raio. Por esse motivo, a energia necessária para retirar
1. Raio atômico o segundo elétron é maior. Assim, para um mesmo átomo, temos:
O raio atômico é uma propriedade periódica difícil de ser medi-
da. Pode-se considerar que corresponde à metade da distância (d) 1ª E.I. < 2ª E.I. < 3ª E.I.
entre dois núcleos vizinhos de átomos do mesmo elemento químico
ligados entre si. AFINIDADE ELETRÔNICA (AE) OU ELETROAFINIDADE
Em uma família (grupo) tente a aumentar de cima para baixo Eletroafinidade é a energia liberada quando um átomo isolado,
(sentido em que aumenta também o número de camadas preenchi- no estado gasoso, “captura” um elétron.
das pela eletrosfera de um átomo.
Em um período, o raio atômico tende a aumentar da direita X 0 (g) + e– -X– (g) + energia
para a esquerda. Isso ocorre porque o número de prótons e elé-
trons aumenta para a direita. Logo, no lado direito do período, os A medida experimental da afinidade eletrônica é muito difícil e,
átomos têm o mesmo número de camadas, maior números de pró- por isso, seus valores foram determinados para poucos elementos.
tons e elétrons e, portanto, a força de atração entre eles é maior.
Isso provoca uma contração da eletrosfera e a consequente dimi-
nuição do raio atômico.

Resumindo... A variação da afinidade eletrônica na tabela pe-


riódica: aumenta de baixo para cima e da esquerda para a direita.

2. Raio iônico 4. Eletronegatividade e Eletropositividade


Quando um átomo ganha ou perde elétrons, transforma-se em A eletronegatividade e a eletropositividade são duas proprie-
íon. Nessa transformação, há aumento ou diminuição das dimen- dades periódicas que indicam a tendência de um átomo, numa li-
sões do tamanho do átomo inicial. gação química, em atrair elétrons compartilhados.Ou ainda, podem
- Raio de cátion: Quando um átomo perde elétron, a repulsão representar a força com que o núcleo atrai a eletrosfera.
da nuvem eletrônica diminui, diminuindo o seu tamanho. Inclusive -Eletropositividade: tendência que um átomo tem de perder
pode ocorrer perda do último nível de energia e quanto menor a elétrons. É muito característico dos metais. Pode ser também cha-
quantidade de níveis, menor o raio. mado de caráter metálico. É o inverso da eletronegatividade.
-Eletronegatividade: a força de atração exercida sobre os elé-
Exemplo: trons de uma ligação.
. Essa força de atração tem relação com o raio atômico: quanto
menor o tamanho do átomo, maior será a força de atração, pois a
distância núcleo-elétron da ligação é menor. A eletronegatividade
não é definida para os gases nobres.
As variações de eletronegatividade podem ser representadas
pela ilustração a seguir:

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QUÍMICA

6. Volume atômico
Importante: Usamos a expressão “volume atômico”. Na verdade, usamos
Na tabela periódica, a eletronegatividade cresce de baixo para essa expressão para designar — para qualquer elemento — o volu-
cima e da esquerda para a direita. A eletronegatividade relaciona-se me ocupado por uma quantidade fixa de número de átomos.
com o raio atômico: de maneira geral, quanto menor o tamanho de O volume atômico sempre se refere ao volume ocupado por
um átomo, maior será a força de atração sobre os elétrons. 6,02 x 1023 átomos, e pode ser calculado relacionando-se a massa
O cientista Linus Pauling propôs uma escala de valores para a desse número de átomos com a sua densidade.
eletronegatividade:
Assim, temos:

Por meio de medidas experimentais, verifica-se que:


4. Densidade - numa mesma família, o volume atômico aumenta com o au-
Experimentalmente, verifica-se que: mento do raio atômico;
a) Entre os elementos das famílias IA e VIIA, a densidade au- - num mesmo período, o volume atômico cresce do centro para
menta, de maneira geral, de acordo com o aumento das massas as extremidades.
atômicas, ou seja, de cima para baixo.
b) Num mesmo período, de maneira geral, a densidade aumen- De maneira geral, a variação do volume atômico pode ser re-
ta das extremidades para o centro da tabela. presentada pelo seguinte esquema:
Assim, os elementos de maior densidade estão situados na
parte central e inferior da tabela periódica, sendo o ósmio (Os) o
elemento mais denso (22,5 g/cm3).

RADIOATIVIDADE

Radioatividade (ou radiatividade) é a propriedade de determi-


5.Temperatura de fusão (TF) e temperatura de ebulição (TE) nados tipos de elementos químicos radioativos emitirem radiações,
Experimentalmente, verifica-se que: um fenômeno que acontece de forma natural ou artificial. A radio-
a) Nas famílias IA e IIA, os elementos de maiores TF e TE estão atividade natural ou espontânea ocorre através dos elementos ra-
situados na parte superior da tabela. Na maioria das famílias, os dioativos encontrados na natureza (na crosta terrestre, atmosfera,
elementos com maiores TF e TE estão situados geralmente na parte etc.). Já a radioatividade artificial ocorre quando há uma transfor-
inferior. mação nuclear, através da união de átomos ou da fissão nuclear. A
b) Num mesmo período, de maneira geral a TF e a TE crescem fissão nuclear é um processo observado em usinas nucleares ou em
das extremidades para o centro da tabela. bombas atômicas.
Assim, a variação das TF e TE na tabela periódica pode ser re- Em 1896, o francês Henri Becquerel percebeu que um sal de
presentada como no esquema acima. urânio era capaz de sensibilizar um filme fotográfico, mesmo quan-
do este era recoberto com papel preto ou até mesmo por lâminas
metálicas finas. Becquerel, o descobridor do urânio, percebeu que
esse material emitia radiações semelhantes aos raios X, e essa pro-
priedade ele chamou radioatividade.

317
QUÍMICA
Em 1897, Marie Sklodowska Curie (1867-1934) demonstrou que a intensidade da radiação é proporcional à quantidade de urânio na
amostra e concluiu que a radioatividade é um fenômeno atômico.
Nesse mesmo ano, Ernest Rutherford criou uma aparelhagem para estudar a ação de um campo eletromagnético sobre as radiações:

O esquema mostra o comportamento das radiações α, β e γ em um campo eletromagnético.

Rutherford concluiu que, como os raios alfa (α) e beta (β) sofrem desvio no campo magnético, devem apresentar carga elétrica, ao
passo que os raios gama (γ) não a devem ter. Os raios β são atraídos pela placa positiva; devem, portanto, ter carga negativa. Com o mesmo
raciocínio pode-se deduzir que os raios α têm carga positiva.

Os tipos de radiação que um elemento pode emanar são divididos, primeiramente, em duas formas: partículas ou ondas. Partículas
possuem massa e ondas são apenas energia. Isso é devido aos elementos que compõem esses tipos de radiação. Na categoria das partícu-
las, duas são as mais comuns: alfa e beta.
- Partículas α (alfa): são partículas formadas por 2 prótons e 2 nêutrons − a mesma composição do Hélio – que são liberadas por
elementos radioativos para fora de seu núcleo. Quando um átomo libera 2 prótons, muda seu número atômico e transforma-se em um
novo elemento, além de diminuir sua massa atômica em 4. Esse processo irá se repetir até que o núcleo do átomo esteja suficientemente
estável, transformando-se em um elemento que não é radioativo
- Partículas β (beta): são elétrons disparados para fora do átomo, em forma de radiação, quando um próton se transforma em nêutron
ou vice-versa. Com a conversão de um próton em nêutron há a mudança do seu número atômico e, consequentemente, a transformação
em outro elemento menos radiativo. Quando o núcleo possui menos nêutrons do que deveria para ser estável, pode transformá-lo em um
próton ou mudar a relação n/p e diminuir a instabilidade nuclear até alcançar um elemento não radioativo. Um átomo instável irá liberar
partículas alfa ou beta como radiação, mas isso não é a única coisa emitida por um elemento radioativo. Em qualquer um dos casos será
emitido um terceiro tipo de radiação.
- Raios γ (gama): este tipo de radiação não possui massa, é uma onda eletromagnética, como muitos outros tipos de radiação, e é
resultante do decaimento radioativo (liberação de partículas alfa ou beta). Em outras palavras, quando um átomo dispara uma partícula
alfa ou beta, ainda continua instável, pois a emissão da partícula não foi suficiente para estabilizar o átomo. Esta instabilidade é reduzida
pela emissão de raios gama, ou seja, energia pura.

Radiação Alfa Beta Gama


Poder de ionização Alto. A partícula alfa captura 2 Médio. Por possuírem carga Pequeno. Não possuem carga.
elétrons do meio, se transformando elétrica menor possuem menos
em átomo de Hélio.(He) poder de ionização.
Danos ao ser Pequenos. São detidos pela camada Médio. Podem penetrar até 2cm Alto. Pode atravessar
humano de células mortas da pele, podendo e ionizar moléculas gerando completamente o corpo humano,
no máximo causar queimaduras radicais livres. causando danos irreparáveis como
alteração na estrutura do DNA.
Velocidade 5%¨da velocidade da luz 95% da velocidade da luz Igual a velocidade da luz
3000000Km/s
Poder de Pequeno. Uma folha de papel pode Médio. È 50 a 100 vezes mais Alto. Os raios gama são mais
penetração deter penetrante que a alfa. São penetrantes que os raios X.São
detidos por uma chapa de detidos por uma chapa de chumbo
chumbo de 2mm. de 5cm

Benefícios da radioatividade
A radioatividade tem vários benefícios para o ser humano. Entre eles é importante realçar a sua utilização na produção de energia, na
esterilização de materiais médicos, no diagnóstico de doenças e no controle do câncer, através da radioterapia.
Em alguns alimentos, mais concretamente nas frutas, a radiação iônica emitida sobre elas, permite que a sua durabilidade aumente.
Essa radiação não altera o sabor e as qualidades nutritivas dos alimentos.

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318
QUÍMICA
LEIS DA RADIOATIVIDADE

1ª Lei: Lei de Soddy


A primeira lei da radioatividade, também conhecida como primeira lei de Soddy, tem relação com o decaimento alfa. Veja o que essa
lei diz:
“Quando um átomo sofre um decaimento alfa (α), o seu número atômico (Z) diminui duas unidades e o seu número de massa (A)
diminui quatro unidades”.

Genericamente, podemos representar essa lei pela seguinte equação:


Z
A
X -+24α + A-4 Z-2Y
Exemplo:
90
Th232→+2α4+88Ra228

228 + 4 = 232
88 + 2 = 90

2ª Lei: Soddy, Fajans, Russel


Quando um átomo emite uma partícula β, o seu número atômico aumenta de 1 unidade e o seu número de massa permanece inal-
terado.
90
Th234 → -1β0 + 91Pa234

Exemplo:
Dada a equação: 90X204 → xα + yβ + 92Y192
Determinar x e y

Resolução:
90
X204 → x+2α4 + y-1β0 + 92Y192

Montamos duas equações:


a) uma para os índices superiores:
204 = 4x + 0y + 192
x=3
b) uma para os índices inferiores:
90 = 2x + (-1y) + 92
90 = 2(3) -1y +92
y=8
90
X204 → 3+2α4 + 8-1β0 + 92Y192

Isso acontece com todo elemento radioativo que emite uma partícula alfa, pois, conforme mostrado no texto Emissão alfa (α), essa
partícula é constituída por dois prótons e dois nêutrons — de forma semelhante ao que ocorre com o núcleo de um átomo de hélio — e
é representada por 24α.

DECAIMENTO E MEIA-VIDA
Radioatividade – É a propriedade que os núcleos atômicos instáveis possuem de emitir partículas e radiações eletromagnéticas para
se transformarem em núcleos mais estáveis. Para este fenômeno, damos o nome de reação de desintegração radioativa, reação de trans-
mutação ou reação de decaimento.
A reação só acaba com a formação de átomos estáveis.

Exemplos:
U -238 sofre decaimento até se transformar em Pb-206.
O tempo que os elementos radioativos levam para ficarem estáveis, varia muito.
Meia-Vida – É o tempo necessário para a metade dos isótopos de uma amostra se desintegrar.
Um conjunto de átomos radioativos pode estar se desintegrando neste instante. Outro átomo pode se desintegrar daqui há uma hora.
Outro, pode desintegrar daqui há três meses.O U-235 é o elemento com meia-vida mais longa. Tem cerca de 7,04.108anos.

319
QUÍMICA
Exemplo de um gráfico de Meia-vida: Atividade x Tempo

Exemplo de decaimento do bismuto- 210


INTERAÇÕES QUÍMICAS

As forças intermoleculares são classificadas em três tipos que variam conforme a intensidade:

Ligação de Hidrogênio: Ligação de forte intensidade.


Dipolo Permanente ou dipolo-dipolo: Ligação de média intensidade.
Dipolo Induzido ou Forças de London: Ligação de fraca intensidade.

Ligação iônica
Em uma ligação iônica ocorre transferência definitiva de elétrons, o que acarreta a formação de íons positivos (cátions) ou negativos
(ânions), os quais originam compostos iônicos. Como todos os íons apresentam excesso de cargas elétricas positivas ou negativas, eles
sempre terão pólos.
Podemos visualizar a formação de uma ligação iônica típica entre dois átomos hipotéticos, M (um metal) e X (um não-metal), da
seguinte maneira: como M é um metal, sua energia de ionização é baixa, isto é, é necessária pouca energia para remover um elétron do
átomo. A perda de um elétron por um átomo isolado (gasoso) M leva à formação de um íon positivo oi cátion.

Por outro lado, como X é um átomo de um não-metal, o valor de sua afinidade eletrônica é negativo, portanto, possui uma grande
tendência em ganhar elétron e formar um ânion.

Regra para montar a fórmula de um composto iônico.


No cloreto de magnésio existem dois íons, o cloreto (Cl) com número de oxidação -1 e o magnésio (Mg) com nº de oxidação +2.
A fórmula será 1 átomo de Mg (nox +2) e 2 átomo de Cl (nox -1).

320
320
QUÍMICA
Determinação da fórmula iônica
A fórmula correta de um composto iônico nos mostra a mínima proporção entre os íons que se unem de modo a formar um sistema
eletricamente neutro. Para que isso ocorra, é necessário que o número de elétrons cedidos seja igual ao número de elétrons recebidos.
Uma maneira prática de determinar a quantidade necessária de cada íon para escrever a fórmula iônica é:

Exemplo:
-Formação do cloreto de sódio (sal de cozinha), a partir do sódio e do cloro. Vejamos:

O Sódio : Na (Z = 11) = 1s2 , 2s2 , 2p6 , 3 s1 ou 2 – 8 - 1


O Cloro : Cl (Z = 17) = 1s2 , 2s2 , 2p6 , 3 s2 3p5 ou 2 – 8 – 7

Características e propriedades dos compostos iônicos:


-Rígidos;
-Duros e quebradiços
-Solúveis em solventes polares;
-Maus condutores de eletricidade no estado sólido;
- Elevadas temperaturas de fusão e ebulição.

Substâncias moleculares
As substâncias moleculares são substâncias formadas basicamente por moléculas. Estas não apresentam cargas livres e por isso são
incapazes de produzir corrente elétrica. São arranjos entre moléculas. Moléculas e, portanto a menor combinação de átomos que mantém
a composição de matéria inalterada (os átomos se ligam por ligações químicas).
Propriedades das substâncias moleculares:
- Podem ser sólidas (pouco duras e muito quebradiças), líquidas ou gasosas à temperatura ambiente;
- Forças de coesão das moléculas --> fracas e por isso, pontos de fusão e de ebulição baixos;
- Más condutoras elétricas e térmicas porque as moléculas são partículas neutras;

Ligação covalente ou molecular


A ligação covalente ocorre entre átomos com tendência a receber elétrons. Entretanto, como não é possível que todos os átomos re-
cebam elétrons, os átomos envolvidos na ligação apenas compartilhar um ou mais pares eletrônicos, sem que ocorra “perda” ou “ganho”
definitivo de elétrons.
A ligação covalente pode ser representada por:

Átomos A B
Tendência receber e -
receber e-
Classificação Hidrogênio Hidrogênio
Hidrogênio Ametal
Ametal Ametal
Ametal Semimetal
Par eletrônico x--------------------------------x
Compartilhamento

As substâncias formadas através das ligações covalentes apresentam-se como unidades de grandeza limitada, denominadas molécu-
las; por isso a ligação covalente é também denominada de ligação molecular.
A ligação covalente pode ocorrer através de um ou mais partes de elétrons. Cada par eletrônico compartilhado entre dois átomos
pode ser representado por um traço (-). Assim, podemos ter:

-Ligação simples:

321
QUÍMICA
-Ligação dupla:

-Ligação tripla:

A ligação covalente e a tabela periódica


A relação entre a posição na tabela e o número de ligações é indicada a seguir:

-Família VIIA (família doss Halogênio)


Os elementos da família VIIA apresentam 7e- na sua última camada (camada de valência). Assim, eles atingem a estabilidade ao com-
partilharem um único par enetrônico sendo assim denominados monovalentes.

Exemplo:
-Ligação entre dois átomos de cloro (Cl2):

(Uma ligação simples)

-Família VIA (família dos Chalcogênios)


Os elementos da família dos chalcogênios apresentam 6e- na sua camada de valência. Diante disso, eles devem adquirir dois pares
eletrônicos para alcançar a estabilidade, sendo denominados bivalentes.

(Duas ligações simples)

-Família VA
Estes elementos apresentam 5e- na sua camada de valência, assim devem adquirir a estabilidade ao compartilharem três partes ele-
trônicos (trivalentes)

(Três ligações simples)

322
322
QUÍMICA
-Familia IVA Veja as fórmulas de algumas moléculas simples:
Como estes elementos apresentam 4e- na camada de valência,
eles alcançarão a estabilidades quando compartilharem quatro pa-
res eletrônicos (tetravalentes).

(Quatro ligações simples)

-Hidrogênio
O hidrogênio (1s1) para adquirir sua configuração eletrônica es-
tável, ele deve ganhar um elétron e compartilhar um par eletrônico
(Monovalente)

FÓRMULAS QUÍMICAS Ligação Covalente Normal


A representação do número e dos tipos de átomos que formam Este tipo de ligação ocorre entre dois átomos que comparti-
uma molécula é feita por uma fórmula química. Existem diferentes lham pares de elétrons. Os átomos participantes da ligação devem
tipos de fórmulas: a molecular, a eletrônica e a estrutural plana. contribuir com um elétron cada, para a formação de cada par ele-
a) Molecular: é a representação mais simples e indica apenas trônico.
quantos átomos de cada elemento químico formam a molécula.
Exemplo: A molécula de Hidrogênio (H2), (distribuição eletrô-
nica: 1H = 1s1) necessita de um elétron para cada átomo de Hidro-
gênio para ficar com a camada K completa (dois elétrons). Assim os
dois átomos de Hidrogênio se unem formando um par eletrônico
comum a eles (compartilhamento). Desta forma, cada átomo de
b) Eletrônica: também conhecida como fórmula de Lewis, esse Hidrogênio adquire a estrutura eletrônica do gás nobre Hélio (He)
tipo de fórmula mostra, além dos elementos e do número de áto-
mos envolvidos, os elétrons da camada de valência de cada átomo Ligação covalente dativa
e a formação dos pares eletrônicos. A ligação covalente dativa, também chamada de coordenada,
ocorre quando um dos átomos envolvidos já atingiu a estabilidade
e o outro átomo ainda precisa de dois elétrons para completar sua
camada de valência. Essa ligação é semelhante à covalente comum,
na medida em que existe um compartilhamento de um par eletrô-
nico.
c) Estrutural plana: também conhecida como fórmula estrutu-
ral, ela mostra as ligações entre os elementos, sendo cada par de
elétrons entre dois átomos representado por um traço.

(Ligação covalente dativa)


Perceba que mais de um par de elétrons pode ser compartilha-
do, formando-se, então, ligações simples, duplas e triplas. Resumindo...
A ligação covalente ocorre entre:
– Hidrogênio – Hidrogênio
– Hidrogênio – não-metal
– Não-metal – Não-metal
Obs: Os semimetais também podem ser incluídos.

Ligação metálica
É o tipo de ligação que ocorre entre os átomos de metais.
Quando muitos destes átomos estão juntos num cristal metálico,
estes perdem seus elétrons da última camada. Forma-se, então,
uma rede ordenada de íons positivos mergulhada num mar de elé-
trons em movimento aleatório. Se aplicarmos um campo elétrico
a um metal, orientamos o movimento dos elétrons numa direção
preferencial, ou seja, geramos uma corrente elétrica

323
QUÍMICA
Componentes de uma solução

Exemplos:
-Ao misturarmos 1g de cloreto de sódio (NaCl) em 1 litro de
H2O, teremos uma solução, na qual o NaCl é o soluto e a água é o
solvente
-O álcool comercial comprado em supermercados trata-se de
uma mistura homogênea entre álcool e água, geralmente constituí-
da de 92% de álcool e 8% de água. Nesse caso, o álcool é o solvente
e a água é o soluto.

Solução é sempre formada pelo soluto e pelo solvente.

Teoria do “mar de elétrons” ou teoria da “nuvem eletrônica”


A principal característica dos metais é a eletropositividade (ten-
dência de doar elétrons), assim os elétrons da camada de valência
saem facilmente do átomo e ficam “passeando” pelo metal, o áto- Concentração das soluções
mo que perde elétrons se transforma num cátion, que, em segui- A concentração de uma solução é a relação entre a quantidade
da, pode recapturar esses elétrons, voltando a ser átomo neutro. O de soluto e a quantidade de solução (solvente).
metal seria um aglomerado de átomos neutros e cátions, imersos
num “mar de elétrons livres” que estaria funcionando como ligação
metálica, mantendo unidos os átomos e cátions de metais.

Característica e propriedades dos metais:


-Brilho metálico: o brilho será tanto mais intenso quanto mais Concentração comum (C)
polida for a superfície metálica, assim os metais refletem muito A concentração comum de um solução é a relação entre a mas-
bem a luz. sa de um soluto (m1) e o volume (V) da solução
-Condutividades térmica e elétrica elevadas: os metais são
bons condutores de calor e eletricidade pelo fato de possuírem elé- Onde,
trons livres. -m1= massa do soluto em gramas
-V= volume da solução em litros
-Densidade elevada: os metais são geralmente muito densos,
isto resulta das estruturas compactas devido à grande intensidade Exemplo: Em uma solução verdadeira de NaOH de concentra-
da força de união entre átomos e cátions (ligação metálica), o que ção 80g/L, devemos entender que em cada litro de solução conterá
faz com que, em igualdade de massa com qualquer outro material, 80g de NaOH.
os metais ocupem menor volume. Importante: A relação massa/litro poderá ser expressa em:
-Resistência à tração: os metais resistem às forças de alonga- Kg/L; g/ml; g/cm³ e et.
mentos de suas superfícies, o que ocorre também como consequ-
ência da “força” da ligação metálica. Densidade (d):
-Pontos de fusão e ebulição elevados: os metais apresentam A densidade de uma solução representa a relação entre a mas-
elevadas temperaturas de fusão e ebulição, isto acontece porque a sa da solução e o volume da solução.
ligação metálica é muito forte.
-Maleabilidade: a propriedade que permite a obtenção de lâ- Onde,
minas de metais. - msolução = msoluto + msolvente
-Ductibilidade: a propriedade que permite a obtenção de fios
de metal. -V = volume da solução
Exemplo: Se uma solução apresenta d= 1,2g/ml, isso significa
que em casa mililitro da solução existe uma massa total de 1,2 g.
MISTURAS, SOLUÇÕES E PROPRIEDADES COLIGATIVAS Importante: A relação massa da solução/volume da solução po-
derá ser expressa em: g/L; g/ml; g/cm³ e et.

Solução é uma mistura homogênea constituída por duas ou Concentração molar (mol/L) ou Molaridade (ɱ):
mais substâncias numa só fase. As soluções são formadas por um Quantidade, em mols, do soluto existente em 1 litro de solução
solvente (geralmente o componente em maior quantidade) e um (soluto + solvente). Esta cai bastante nas provas!!!
ou mais solutos (geralmente componente em menor quantidade). ou
Suas propriedades físicas e químicas podem não estar relacionadas Onde,
com aquelas das substâncias originais, diferentemente das proprie- -M1= massa molar do soluto
dades de misturas heterogêneas que são combinações das proprie- -m1= massa do soluto
dades das substâncias individuais. As soluções incluem diversas -n1 = número de mols do soluto (mol) -lembrando que o índice
combinações em que um sólido, um líquido ou um gás atua como 1 indica grandezas relacionadas ao soluto
dissolvente (solvente) ou soluto. -V = volume da solução (L)
Unidades: mol/L ou M

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324
QUÍMICA
Título em massa
O título representa a relação da massa do soluto pela massa da solução. Pode ser multiplicado por 100 e, assim, corresponder ao que
é considerado a porcentagem em massa do soluto na massa da solução.
Exemplo: Considerando 20g de H2SO4 dissolvidos em 80g de água, o título da solução será:

Porcentagem em massa (ppm)


Para indicar concentrações extremamente pequenas, principalmente de poluentes do ar, da terra e da água, usamos a unidade partes
por milhão, representada por ppm. Esse termo é frequentemente utilizado para soluções muito diluídas e indica quantas partes do soluto
existem em um milhão de partes da solução.
Assim Uma solução 20 ppm contém 20 gramas do soluto em 1 milhão de gramas da solução. Como a solução é muito diluída, a massa
de solvente é praticamente igual à massa da solução. Então, quando trabalhamos com ppm, consideramos que a massa do solvente cor-
responde à massa da solução.
A relação matemática para a determinação do ppm pode ser dada por:

PROPRIEDADES COLIGATIVAS
Propriedades coligativas das soluções são propriedades que dependem apenas do número de partículas dispersas na solução, inde-
pendentemente da natureza dessas partículas, podendo ser moléculas ou íons. As propriedades coligativas incluem pressão máxima de
vapor, ebulição, ponto de fusão e pressão osmótica.

Efeitos coligativos
A água em seu estado puro à pressão de 1 atm possui ponto de fusão de 0oC e ponto de ebulição de 100oC. Porém, quando adiciona-
mos um soluto à água, o soluto modifica as propriedades físicas da água. Agora a água congela abaixo de 0oC e ferve acima de 100oC. Estas
alterações das propriedades físicas da água devido à adição do soluto são denominadas de efeitos coligativos. Para cada propriedade física
que modifica temos uma propriedade coligativa que estuda este efeito:

-Pressão Máxima de Vapor (PMV)


A pressão máxima de vapor é pressão exercida pelo vapor quando está em equilíbrio dinâmico com o liquido correspondente.
A PMV depende da temperatura e da natureza do líquido. Observa-se experimentalmente que, numa mesma temperatura, cada líqui-
do apresenta sua pressão de vapor, pois esta está relacionada com a volatilidade do líquido.

Fatores que Influenciam


A pressão máxima de vapor depende de alguns fatores:
- Natureza do Líquido - Líquidos mais voláteis como éter, acetona etc. evaporam-se mais intensamente, o que acarreta uma pressão
de vapor maior. Quanto maior a pressão de vapor de um líquido, ou melhor, quanto mais volátil ele for, mais rapidamente entrará em
ebulição.
- Temperatura - Aumentando a temperatura, qualquer líquido irá evaporar mais intensamente, acarretando maior pressão de vapor.

Tonoscopia (ou Tonometria)


A tonoscopia estuda os efeitos do abaixamento da pressão de vapor máxima de certo líquido, cujo responsável é uma solução não-
-volátil adicionada à solução.
Em uma solução, quanto maior for o número de mols do soluto, menor será a pressão máxima de vapor dessa solução.

Ebulioscopia
A ebulioscopia é uma propriedade coligativa que ocasiona a elevação da temperatura de um líquido quando a ele se adiciona um
soluto não-volátil e não-iônico.
A temperatura em que se inicia a ebulição do solvente em uma solução de soluto não-volátil é sempre maior que o ponto de ebulição
do solvente puro (sob mesma pressão).

325
QUÍMICA
Isso acontece porque a água, por exemplo, só entrará em ebulição novamente se receber energia suficiente para que sua pressão de
vapor volte a se igualar à pressão externa (atmosférica), o que irá acontecer numa temperatura superior a 100°C.

Exemplo:
Água pura: P.E. = 100°C
Água com açúcar: P.E. maior que 100°C

Quanto maior a quantidade de partículas em uma solução, maior será o seu P.E.

Diagrama de Fases e o Ponto Triplo


A transformação de cada estado físico possui um nome. Observe:

Existe um gráfico que representa as curvas de variação da temperatura de ebulição e da variação da temperatura de solidificação de
uma substância qualquer em função da pressão de vapor. Essas curvas coincidem num ponto específico de cada substância.

Fonte: http://estadofisico.blogspot.com/2007/08/as-substncias-podem-mudar-de-estado.html

As curvas de variação das temperaturas de ebulição e de solidificação da água em função da pressão de vapor coincidem no ponto
em que a pressão é igual a 4,579mmHg e a tempertura é 0,0098°C.Esta coordenada representa o Ponto Triplo da água e o equilíbrio das
fases. Isto quer dizer que a substância pode ser encontrada, neste ponto exato da curva,nos três estados físicos ao mesmo tempo: sólido,
líquido e gasoso.

Equilíbrio das fases:

Crioscopia
É uma propriedade coligativa que ocasiona a diminuição na temperatura de congelamento do solvente. É provocado pela adição de
um soluto não-volátil em um solvente. Esta relacionado com o ponto de solidificação (PS) das substâncias.
Esta propriedade pode ser chamada também de criometria. Quando se compara um solvente puro e uma solução de soluto não-vo-
látil, é possível afirmar que o ponto de congelamento da solução sempre será menor que o ponto de congelamento do solvente puro.

Osmometria
A osmose está relacionada à passagem espontânea de um solvente por uma membrana semipermeável, por causa da diferença de
concentração entre dois meios.

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QUÍMICA

Um exemplo comum é evidenciado ao se temperar verduras com sal de cozinha. Nota-se que as verduras murcham após certo tempo
de exposição ao tempero. Isso ocorre em função da saída do líquido (solvente) do ve­getal, que é um meio menos concentrado em relação
ao sal.

A osmometria mede a pressão máxima de vapor: o líquido com maior pressão máxima de vapor tende a atra­vessar uma membrana
semipermeável com maior facili­dade e intensidade que aquele que possui baixa pressão máxima de vapor.
A pressão osmótica equivale à pressão que deve ser aplicada sobre a solução mais concentrada do sistema para bloquear a entrada
de água nela (osmose), por meio de uma membrana semipermeável. O sistema a seguir mostra a pressão aplicada n sobre a solução, para
bloquear o fluxo osmótico.
Para o cálculo da pressão osmótica, usa-se a seguinte expressão:

Para as soluções iônicas:

Onde:
π= pressão osmótica (atm)
V= volume (L)
n= número de mol (n)
T= temperatura (K)
M= molaridade (mol/L)
R= Constante de Clapeyron=0,082 atm.L/mol.K
I= fator de correção Van´t Hoff

As soluções podem ser classificadas quanto às suas pressões osmóticas.


Sendo duas soluções A e B com mesma temperatura:

327
QUÍMICA
Hipertônica, isotônica e hipotônica refere-se à solução A em Sistema heterogêneo
relação à solução B. Não apresenta as mesmas propriedades em qualquer parte
de sua extensão em que seja examinado. Pode ser uma substância
Verifique a Figura abaixo: pura em mudança de estado físico (fusão, vaporização, etc...)

Fases:
São diferentes porções homogêneas, limitadas por superfícies
de separação visíveis (com ou sem aparelhos de aumento), que
MÉTODOS DE SEPARAÇÃO DE MISTURAS constituem um sistema heterogêneo.
Um sistema heterogêneos apresenta sempre uma única fase,
isto é, constitui um sistema monofásico. Entretanto, sistema hete-
As misturas podem ser classificadas em homogêneas e hetero- rogêneo constitui sempre um sistema polifásico (muitas fases), que
gêneas. A diferença entre elas é que a mistura homogênea é uma pode ser bifásico, trifásico, tetrafásico e etc.
solução que apresenta uma única fase enquanto a heterogênea
pode apresentar duas ou mais fases. Fase é cada porção que apre- Processos de separação de misturas
senta aspecto visual uniforme. Na natureza, raramente encontramos substâncias puras. As-
sim, para obtermos uma determinada substância, é necessário usar
Misturas homogêneas métodos de separação.
Nesse tipo de mistura não há superfícies de separação visíveis
entre seus componentes, mesmo que a observação seja realizada Decantação Processo utilizado para separar dois tipos de mis-
a nível de um microscópio eletrônico. Exemplo: Solução de água e turas heterogêneas.
alcoolr
a) Líquido e sólido
Misturas heterogêneas A fase sólida (barro), por ser mais densa, sedimenta-se, ou seja,
As misturas heterogêneas são aquelas em que são possíveis deposita-se no fundo do recipiente, e a fase líquida pode ser trans-
as distinções de fases (regiões visíveis da mistura onde se encon- ferida para outro frasco. A decantação é usada, por exemplo, nas
tram os componentes), na maioria das vezes sem a necessidade de estações de tratamento de água
utilizar equipamentos de aumento (como o microscópio). Um bom
exemplo é o ar poluído das grandes cidades: apesar da aparência
homogênea, os sólidos em suspensão podem ser retidos por uma
simples peneira.

Sistema homogêneo e Heterogêneo: Fases

Sistema homogêneo
Apresenta as mesmas propriedades em qualquer parte de sua
extensão em que seja examinado. Pode ser um mistura (solução) ou
uma substância pura.

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QUÍMICA
b) Líquido e líquido
Separa líquidos imiscíveis (exemplo: água e óleo) com a utilização de um funil de decantação. Após a decantação, abre-se a torneira,
deixando passar o líquido mais denso.

Centrifugação
A centrifugação é uma maneira de acelerar o processo de decantação envolvendo sólidos e líquidos realizada num aparelho denomi-
nado centrífuga. Na centrífuga, devido ao movimento de rotação, as partículas de maior densidade, por inércia, são arremessadas para o
fundo do tubo.

Filtração
É utilizada para separar substâncias presentes em misturas heterogêneas envolvendo sólidos e líquidos.
-Filtração simples: A fase sólida é retida no papel de filtro, e a fase líquida é recolhida em outro frasco.

329
QUÍMICA
-Filtração a vácuo: A água que entra pela trompa d’água arrasta o ar do interior do frasco, diminuindo a pressão interna do kitassato,
o que torna a filtração mais rápida.

Destilação
É utilizada para separar cada uma das substâncias presentes em misturas homogêneas envolvendo sólidos dissolvidos em líquidos e
líquidos miscíveis entre si.
-Destilação Simples: Na destilação simples de sólidos dissolvidos em líquidos, a mistura é aquecida, e os vapores produzidos no balão
de destilação passam pelo condensador, onde são resfriados pela passagem de água corrente no tubo externo, se condensam e são reco-
lhidos no erlenmeyer. A parte sólida da mistura, por não ser volátil, não evapora e permanece no balão de destilação

-Destilação fracionada: Na destilação fracionada, são separados líquidos miscíveis cujas temperaturas de ebulição (TE) não sejam mui-
to próximas. Durante o aquecimento da mistura, é separado, inicialmente, o líquido de menor TE; depois, o líquido com TE intermediária,
e assim sucessivamente, até o líquido de maior TE. À aparelhagem da destilação simples é acoplada uma coluna de fracionamento.

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QUÍMICA
Conhecendo-se a TE de cada líquido, pode-se saber, pela tem- Liquefação fracionada
peratura indicada no termômetro, qual deles está sendo destilado. Separa gases com pontos de fusão diferentes. Nesse processo
um dos gases se liquefaz primeiro, podendo assim ser separado do
outro gás.

Cromatografia em papel
Esta técnica é assim chamada porque utiliza para a separação e
identificação das substâncias ou componentes da mistura a migra-
ção diferencial sobre a superfície de um papel de filtro de qualida-
de especial (fase estacionária). A fase móvel pode ser um solvente
puro ou uma mistura de solventes.
Ventilação Este método é muito útil para separar substâncias muito po-
Esse método é usado, por exemplo, para separar a palha do lares, como açúcares e aminoácidos. Possui o inconveniente de
grão de arroz. É aplicada uma corrente de ar, e a palha, que é mais poder-se cromatografar poucas quantidades de substância de cada
leve, voa. vez.

Tamisação
Feita com uma peneira muito fina chamada tamise, separa só- FUNÇÕES QUÍMICAS INORGÂNICAS
lidos maiores dos menores. Ex: cascalhos e pequenas pedras pre-
ciosas.
As principais funções inorgânicas são 4: ácidos, bases, sais e
Sublimação óxidos
As substâncias participantes desse processo podem ser separa-
das das impurezas através da sublimação e posterior cristalização. ÁCIDOS
O sabor azedo é uma das características comuns aos ácidos, os
Separação Magnética quais, assim como todas as substâncias azedas, estimulam a saliva-
É um método que utiliza a força de atração do ímã para separar ção. Vamos abordar agora outras propriedades apresentadas por
materiais metálicos ferromagnéticos dos demais. Uma mistura de li- eles e que nos permitem identificá-los:
malha (pó) de ferro com outra substância, pó de enxofre, por exem- -Causam mudanças de cor nos corantes vegetais (por exemplo:
plo, pode ser separada com o emprego de um ímã. Aproximando alteram a cor da tintura azul de tornesol, de azul para vermelho).
o ímã da mistura, a limalha de ferro prende-se a ele, separando-se -Reagem com certos metais (como o zinco, o magnésio e o fer-
do enxofre. ro) produzindo hidrogénio gasoso.
-Reagem com carbonatos e bicarbonatos, para produzir dióxido
de carbono gasoso.
-As suas soluções aquosas conduzem a eletricidade

BASES
Antes da teoria de Arrhenius, as cases eram determinadas por
uma série de propriedades comuns, como:
-Sabor adstringente, isto é, “amarras na boca”;
-Tornar a pele lisa e escorregadia;
-Tornar azul o papel de tornassol róseo;
-Conduzir corrente elétrica.

Após as contribuições de Arrhenius, foi possível entender que


essas propriedades comuns se devem ao íon negativo OH- (hidroxila
ou hidróxido), presente em todas as bases.
Os hidróxidos metálicos são compostos iônicos, e por isso,
quando se dissolvem em água, há dissociação iônica.Na época de
Arrhenius acreditava-se que esses hidróxidos eram formados por
moléculas e que a água separava-se em íons. Por ser iônica, essa
dissociação pode ser esquematizada como:

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QUÍMICA

Resumindo: Segundo Arrhenius, base é toda substância que, em solução aquosa, sofre dissociação, liberando como único tipo de
ânion o OH–.

Exemplos:

NaOH: Ca (OH)2 Al (OH)3


Cátion: Na+ (sódio) Cátion: Ca2+ (cálcio) Cátion: Al3+ (alumínio)
Ânion: OH- (hidróxido) Ânion: OH- (hidróxido) Ânion: OH- (hidróxido)
Nomenclatura: Hidróxido de Nomenclatura: Hidróxido de Nomenclatura: Hidróxido de
sódio cálcio alumínio

Importante: Quando um mesmo elemento forma cátions com diferentes eletrovalências (cargas), acrescenta-se ao final do nome, em
algarismos romanos, o número da carga do íon. Outra maneira de dar nome é acrescentar o sufixo -oso ao íon de menor carga, e -ico ao
íon de maior carga.
Exemplos:
-Ferro:
Fe2+ Fe(OH)2 = Hidróxido de ferro (II) ou hidróxido ferroso.
Fe3+: Fe(OH)3 = Hidróxido de ferro (III) ou hidróxido férrico.
-Cobre:
Cu (OH): Hidróxido de cobre (I)
Cu (OH)2: Hidróxido de cobre (II)

Classificação das bases


-Quanto ao número de hidroxilas (OH-)

Classificação Número de hidroxilas (OH-) Exemplos


Monobase 1 OH -
NaOH, LiOH, NH4OH
Dibase 2 OH -
Ca(OH)2, Fe(OH)2
Tribase 3 OH -
Al(OH)3, Fe(OH)3
Tetrabase 4 OH -
Sn(OH)4, Pb(OH)4

- Classificação quanto à força


Fracas: possui grau de dissociação iônica inferior a 5%, é o caso do NH4 e dos metais em geral (desde que estes não sejam alcalinos
ou alcalinos terrosos)
Fortes: possui grau de dissociação iônica de praticamente 100%, é o caso das bases de metais alcalinos e metais alcalinos terrosos,
exceto os hidróxidos de berílio e magnésio.

Tipo de base Força básica


De metais alcalinos Fortes e solúveis
De metais alcalinoterrosos Fortes e parcialmente solúveis,
Exceto a de magnésio, que é fraca
Demais bases Fracas e praticamente insolúveis

- Quanto à Solubilidade em água

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QUÍMICA
O esquema a seguir mostra a variação genérica da solubilidade das bases em água.

Solúveis: NH4OH e as bases de metais alcalinos (da família 1ª)

Pouco solúveis: as bases de metais alcalinos terrosos (da família 2ª)


Praticamente insolúveis: as demais

Propriedades das bases

-Reações com ácidos


Como já sabemos:

Assim, se misturarmos um ácido e uma base, os íons H+ e OH– interagem, produzindo água (H2O). Essa reação é denominada neutrali-
zação. O cátion da base e o ânion do ácido darão origem a um sal, num processo chamado salificação.

Teoria moderna de Ácido e Base (Brönsted-Lowry)


Foi proposta de forma independente por G. Lewis, por T. Lowry e por J. Brønsted. Mas foi Brønsted um dos que mais contribuiu para
o seu desenvolvimento.
Essa teoria é chamada de teoria protônica porque se baseia na transferência de prótons, iguais ao íon H+, o núcleo do hidrogênio, mas
que ao ser chamado de próton, ajuda a diferenciar da teoria de Arrhenius. Além disso, nessa teoria não há necessidade da presença de
água.
Segundo esses cientistas:
“Ácido é toda espécie química, íon ou molécula capaz de doar um próton, enquanto a base é capaz de receber um próton”
Exemplos de ácidos e bases segundo a teoria de Brønsted e Lowry:
NH3+ HCℓ → NH4+ + Cℓ-
baseácido ácidobase
fortefortefracofraca
Observe que a amônia (NH3) é base porque ela recebe um próton (H+) do ácido clorídrico (HCℓ).
Nessa teoria, a reação de neutralização seria uma transferência de prótons entre um ácido e uma base, como a reação explica acima.

Indicadores Ácido-Base
Existe uma escala da medida da acidez e basicidade das substâncias, denominada escala de pH, que é numerada do 0 ao 14. Quando
menor o valor do pH, mais ácida é a substância. Quando maior for o pH, mais básica é a substância. O valor 7, exatamente na metade da
escala, indica as substâncias neutras ou seja, nem ácidas nem básicas.

Algumas substâncias naturais ou sintéticas que adquirem coloração diferente em solução ácida e em solução básica. São os indicado-
res ácido-base, utilizados para reconhecer o caráter de uma solução.

SAL
Sal é um composto resultante da reação de neutralização mutua entre um ácido e uma base. Assim, o cátion da base e o ânion do
ácido formam o sal.

333
QUÍMICA
Conceito teórico segundo Arrhenius: É todo o composto iôni- Reações de neutralização
co que possui, pelo menos, um cátion diferente do H+ e um ânion Quando misturamos um ácido e uma base, ocorrem as reações
diferente do OH- de neutralização ocorrem de modo que o pH do meio é neutraliza-
Exemplo: NaCl ou Na+Cl- do e se produz água e um sal. Nessa reação o ácido libera cátions
Exemplo: HCl + NaOH → NaCl + H2O H+ que se juntam aos ânions OH- liberados pela base e, assim, for-
ÁcidoBaseSalÁgua mam-se as moléculas de água. O sal é então formado pela união do
ânion do ácido com o cátion da base.
Formulação de um sal Assim, temos:
Os sais são substâncias neutras formadas a partir da ligação en-
tre o ânion de um ácido e o cátion de uma base. Assim, para que HA + BOH → H2O + BA
ocorra a igualdade de cargas positivas e negativas, basta inverter Ácido BaseÁguaSal
as cargas dos íons pelos seus índices no sal. O índice é, na fórmula
unitária, o número que vem subscrito (no canto inferior direito) do -Neutralização total
elemento ou do grupo de elementos, conforme mostrado na fór- Ocorre quando a quantidade de cátions H+ provenientes do áci-
mula a seguir: do é igual à quantidade de ânions OH- provenientes da base. Nesse
tipo de reação são sempre formados sais neutros. Dessa forma, a
reação ocorre entre ácidos e bases em que ambos são fracos ou,
então, ambos são fortes.
Exemplos:

-Reações entre ácidos e bases fortes:

HCl + NaOH → NaCl + H2O

Observe que o valor da carga do cátion torna-se o índice do Observe que cada molécula do ácido produziu 1 íon H+ e cada
ânion, enquanto a carga do ânion torna-se o índice do cátion. Ob- molécula da base produziu também apenas 1 íon OH-.
serve também que é somente o valor da carga que é invertido, os
sinais negativos e positivos não vão para o índice. 3 HCl + Al(OH)3 → Al(Cl)3 + 3H2O

Exemplos: Cada molécula do ácido produziu 3 íons H+ e cada molécula da


-Nitrato de potássio: K+ + NO3-: KNO3 (Observe que tanto o índi- base produziu também apenas 3 íons OH-.
ce quanto a carga são iguais a “1”, logo, não precisam ser escritos);
-Perclorato de potássio:K1+ + ClO41-: KClO4; -Reações entre ácido e base fracos:
-Sulfato de cálcio: Ca2+ + SO42-: CaSO4 (veja que, quando as car-
gas são iguais, podemos simplificar os índices. É por isso que a fór- 2 HNO3 + Mg(OH) 2 → Mg(NO3)2 + 2 H2O
mula não é escrita assim: Ca2(SO4)2.
-Dicromato de alumínio: Al3+ + Cr2O72-: Al2(Cr2O7)3; Cada molécula do ácido produziu 2 íons H+ e cada molécula da
-Fosfato de bário: Ba2+ + PO43-: Ba3(PO4)2; base produziu também apenas 2 íons OH-.
-Nitrito de ferro III: Fe3+ + NO2-: Fe(NO2)3.
HCN + NH4OH → NH4CN+ H2O
Formulação do sal a partir de seu nome
Para se determinar a fórmula do sal a partir do seu nome, se- Observe que cada molécula do ácido produziu 1 íon H+ e cada
gue-se os seguintes passos: molécula da base produziu também apenas 1 íon OH-.

Exemplos: Sulfato de ferro-III -Neutralização parcial


1º Passo: determinar a fórmula do ácido e da base que origi- Ocorre quando a quantidade de cátions H+ s do ácido não é a
naram o sal. mesma quantidade de ânions OH- da base. Assim, a neutralização
Ânion sulfato ác. sulfúrico = H2SO4 não ocorre por completo e, dependendo de quais íons estão em
Cátion ferro-II hidróxido de ferro-III = Fe(OH)3 maior quantidade no meio, o sal formado pode ser básico ou ácido.

2º Passo: a partir das fórmulas do ácido e da base, determina- Exemplos:


-se a carga do cátion base e do ânion do ácido.
H2SO4 = SO42-Ânion sulfato HCl + Mg(OH)2 → Mg(OH)Cl + H2O
Fe(OH)3 = Fe3+Cátion ferro-III
3º Passo: juntar o cátion da base com o ânion do ácido. No exemplo acima, o ácido libera apenas um cátion H+ e a base
libera dois ânions OH-. Assim, os ânions OH- não são neutralizados
totalmente e é formado um sal básico, que também é chamado de
hidróxissal.

H3PO4 + NaOH → NaH2PO4 + H2O

Nesse exemplo, o ácido liberou mais íons (3) que a base (1).
4º Passo: inverter as cargas dos íons para que a soma das car- Portanto, os cátions H+ não foram totalmente neutralizados e um sal
gas se anule. ácido foi originado, que também é denominado de hidrogenossal.

334
334
QUÍMICA
Os sais ácidos também podem ser formados através de reações de neutralização entre um ácido forte (HCl, HNO3, HClO4 etc.) e uma
base fraca (NH3, C6H5NH2 - anilina - etc.). Por outro lado, os sais básicos podem ser formados em reações de neutralização entre um ácido
fraco (CH3COOH, HF, HCN etc.) e uma base forte (NaOH, LiOH, KOH etc.).

-Reação entre ácido forte e base fraca→ Sal de caráter ácido:

HNO3 + AgOH → AgNO3 + H2O

-Reação entre ácido fraco e base forte→ Sal de caráter básico:

2H3BO3 + 3 Ca(OH)2 → Ca3(BO3)2 + 6 H2O

Assim, o nome do sal é sulfato de ferro III ou sulfato férrico.

Classificação dos Sais


A classificação dos sais é realizada de acordo com a natureza ou tipo de íons que os constituem. Dessa forma, os sais inorgânicos são
classificados em neutros (normais), ácidos (hidrogeno sal) e básicos (hidroxisal).

1) A natureza dos íons

Sal neutro (normais)


É o sal resultante de uma reação entre uma base e um ácido fortes ou entre uma base e um ácido fracos. Este é o sal cujo ânion não
possui H ionizável e não é o ânion OH-. Resulta de uma reação de neutralização total.

Exemplos:
-NaCl: cátion → Na+ (vem do hidróxido de sódio, NaOH, uma base forte); ânion → Cl- (vem do ácido clorídrico, HCl, um ácido forte).
-Na2SO4: cátion → Na+ (vem do hidróxido de sódio, NaOH, uma base forte); ânion → SO42- (vem do ácido sulfúrico, H2SO4, um ácido
forte).
-NH4CN: cátion → NH42+ (vem do hidróxido de amônio, NH4OH, uma base fraca); ânion → CO3-2 (vem do ácido cianídrico, HCN, um ácido
fraco).

Hidrogeno sal (Sal ácido)


É o sal cujo ânion tem um ou mais H ionizáveis e não apresenta o ânion OH-Resulta de uma neutralização parcial do ácido.

Exemplos:
-NH4Cl(s): cátion → NH42+ (vem do hidróxido de amônio, NH4OH, uma base fraca); ânion → Cl- (vem do ácido clorídrico, HCl, um ácido
forte).
-Al2(SO4)3: cátion → Al3+ (vem do hidróxido de alumínio, Al(OH)3, uma base fraca); ânion → SO42- (vem do ácido sulfúrico, H2SO4, um
ácido forte).
-NH4NO3: cátion → NH42+ (vem do hidróxido de amônio, NH4OH, uma base fraca); ânion → NO3- (vem do ácido nítrico, HNO3, um ácido
forte).

Hidróxisal (Sal básico)


É o sal cujo ânion não apresenta H ionizável e no qual, além desse ânionn há o OH-. Resulta da neutralização parcial da base.

Exemplo:-NaOOCCH3:
Cátion → Na+ (vem do hidróxido de sódio, NaOH, uma base forte);
Ânion → CH3COO– (vem do ácido etanoico, CH3COOH, H2CO3, um ácido fraco).

No exemplo acima, o ânion acetato (CH3COO–) hidrolisa-se em meio aquoso e forma o ácido acético e íons hidroxila (OH–), o que torna
a solução básica.

ÓXIDOS
Definição :Óxido é todo composto binário que contém oxigênio e no qual ele é o elemento mais eletronegativo.

Exemplos:

Cl2O; SO2; CO2; NO; P2O; K2O; CaO; Fe2O3

O único elemento mais eletronegativo que o oxigênio é o flúor; por isso o OF2, não é um óxido, mas sim, um fluoreto de oxigênio

335
QUÍMICA
Nomenclatura

Regra geral:

1) Para um óxido ExOy:

Os prefixos mono, di, tri, etc. Indicam os valores de x e y na fórmula do óxido. O prefixo mono diante do nome E é comumente omitido.

Fórmula molecular Nome do óxido


CO Monóxido de monocarbono ou monóxido de carbono
CO2 Dióxido de monocarbono ou dióxido de carbono
N2O3 Trióxido de dinotrogênio
Fe3O4 Tetróxido de triferro

2) Para óxidos do tipo: EXOY, onde o elemento E é um metal com a carga fixa.
Metais com carga fixa:
-Metais alcalinos (1A) e Ag = +1
-Metais alcalinos terrosos (2A) e Zn = +2
- Alumínio = +3

Exemplo:
Na2O → óxido de sódio
Al2O3 → óxido de alumínio

Para montar a fórmula do óxido a partir do nome, é só lembrar a carga do metal, a carga do oxigênio -2 e fazer com que a soma das
cargas se anule. Exemplos:
Óxido de lítio → Li1+O2- invertendo as cargas: Li2O
Óxido de prata → Ag1+O2-, invertendo as cargas: Ag2O

3) Para óxidos do tipo: EXOY, onde o elemento E é um metal com a carga variável.

Óxido de + nome do metal + carga do metal

Metais com carga variável:


Exemplos:
-Ouro (Au1+ e Au3+)
Au2O3 → óxido de ouro-III ou áurico
-Cobre (Cu1+ e Cu2+)
Cu2O → óxido de cobre-I ou cuproso
- Ferro (Fe2+ e Fe3+)
PbO2 → óxido de chumbo-IV ou plúmbico
- Chumbo (Pb2+ e Pb4+)

Classificação dos óxidos


Os óxidos são classificados em função do seu comportamento na presença de água, bases e ácidos.

-Óxidos Básicos
São óxidos com caráter básico. São iônicos e o ânion é O2-. As reações dos óxidos básicos com água e ácidos podem ser esquematizados
da seguinte maneira:

336
336
QUÍMICA
É líquido e molecular. Quando dissolvido em água, origina uma
solução conhecida como água oxigenada, muito comum em nosso
cotidiano.

GASES

Leis Físicas dos Gases


Uma dada massa de gás sofre uma transformação quando
ocorrem variações nas suas variáveis de estado. Começamos o estu-
do modificando-se apenas duas das grandezas e a outra se mantém
constante.

Exemplo : • Lei de Boyle-Mariotte


“À temperatura constante, uma determinada massa de gás
-Óxidos Ácidos ocupa um volume inversamente proporcional à pressão exercida
Óxidos ácidos apresentam caráter covalente e geralmente são sobre ele”.
formados por ametais. Estes óxidos também chamados de anidri- Esta transformação gasosa, onde a temperatura é mantida
dos e reagem com a água formando um ácido ou reagem com uma constante, é chamada de transformação isotérmica.
base e dando origem a água e sal.
Experiência da Lei de Boyle-Mariotte

Exemplo:

-Óxidos Neutros
São óxidos que não reagem com água, base ou ácido. A lei de Boyle-Mariotte pode ser representada por um gráfico
São basicamente três óxidos: CO, NO, N2O. pressão-volume. Neste gráfico, as abscissas representam a pressão
de um gás, e as ordenadas, o volume ocupado.
-Óxidos Anfóteros
São óxidos que podem se comportar tanto óxido básico quanto
óxido ácido.

Exemplos:

ZnO, Al2O3, SnO, SnO2, PbO e PbO2.


ZnO + 2HCl → ZnCl2 + H2O
ZnO + 2NaOH → Na2ZnO2 + H2O

-Óxidos Duplos ou Mistos


Óxidos que se comportam como se fossem formados por dois
outros óxidos, do mesmo elemento químico.

Exemplos:
Fe3O4 → FeO + Fe2O3 Pb3O4 → 2PbO + PbO2

-Peróxidos
Os peróxidos apresentam em sua estrutura o grupo (O2)2–. Os
peróxidos mais comuns são formados por hidrogênio, metais alcali-
nos e metais alcalino-terrosos.

Exemplo:
-Peróxido de hidrogênio: H2O2

337
QUÍMICA
A curva obtida é uma hipérbole, cuja equação representativa é PV = constante. Portanto, podemos representar:

• Lei de Charles/Gay-Lussac
“À pressão constante, o volume ocupado por uma massa fixa de gás é diretamente proporcional à temperatura absoluta.”

Esta transformação gasosa, onde a pressão é mantida constante, é chamada de transformação isobárica. As relações entre volume e
temperatura podem ser representadas pelo esquema:

Graficamente, encontramos:

A reta obtida é representada pela equação: V = (constante) · T ou V/T = constante

• Lei de Charles/Gay-Lussac
“A volume constante, a pressão exercida por uma determinada massa fixa de gás é diretamente proporcional à temperatura absoluta.”

Esta transformação gasosa, onde o volume é mantido constante, é denominada de transformação isocórica, isométrica ou isovolumé-
trica. As relações entre pressão e temperatura são representadas a seguir:

338
338
QUÍMICA

Graficamente, encontramos:
A reta obtida é representada pela equação: P = (constante) · T ou P/T = constante

Gás Real
Não segue o comportamento
do gás ideal, principalmente em
pressões muito altas e/ou em
Gás Perfeito ou Ideal temperaturas baixas, porque
Obedece rigorosamente às ocorre alta redução de volume
Leis Físicas dos Gases em e as partículas, muito próximas,
quaisquer condições de tem- passam a interferir umas no mo-
peratura e pressão. vimento das outras. Um gás real
aproxima-se do comportamento
de um gás ideal à medida que
diminui a pressão e aumenta a
temperatura.

Equação Geral dos Gases


Esta equação é utilizada quando ocorre transformação gasosa em que as três variáveis de estado (P, V e T) se modificam simultanea-
mente. Ela é obtida por meio da relação matemática entre as transformações gasosas estudadas anteriormente.

339
QUÍMICA
Equação de Clapeyron
PROPRIEDADES DOS SÓLIDOS

Os sólidos são substâncias relativamente rígidas que podem ser


Esta equação também é denominada de equação de Clapeyron, encontradas na forma de sólidos amorfos – vidros, ou sólidos ver-
em homenagem ao físico francês que a determinou. A constante R dadeiros – cristalinos.
pode assumir vários valores dentre os quais destacamos: As propriedades dos sólidos são específicas no que se diz res-
peito aos tipos de partículas que os compõem, caracterizando seus
pontos de fusão altos, condutividade elétrica relativa, solubilidade,
dureza, forças de ligação entre suas unidades, entre outros.
Por meio destas características próprias, os sólidos podem ser
classificados em Sólidos iônicos, moleculares, covalentes e metá-
licos. Através desta classificação, é possível determinar um cristal
ideal, que apresenta uma estrutura interna perfeita se expandindo
em três dimensões. Em condições favoráveis, é possível que cres-
MISTURAS GASOSAS çam cristais pequenos com formas perfeitas, porém estes possuem
As misturas gasosas são muito comuns no cotidiano. É possível várias irregularidades internas chamados de defeitos de cristal.
descobrir sua pressão e volume total através das pressões e volu- Os estados físicos comuns de substâncias puras são distingui-
mes parciais dos gases componentes da mistura. dos por diferenças nos movimentos e na ordem dos arranjos das
partículas. Sendo assim, diferentemente aos gases e líquidos, os
1.Pressão parcial dos gases: A pressão parcial de um gás é a sólidos puros apresentam partículas com liberdade de movimento
pressão que ele exerceria se estivesse sozinho, nas mesmas condi- bastante limitada, e cada um dos “pedaços” de sólido possui uma
ções de temperatura e volume da mistura. forma característica. Isto significa que os sólidos não são fluidos, e
Segundo Dalton, a soma das pressões parciais dos gases que que suas partículas (átomos, íons ou moléculas) são muito próximas
formam a mistura resulta na pressão total (p) da mistura. Por exem- umas das outras e ligadas fortemente entre si, formando uma estru-
plo, se a pressão do ar for de 1,0 atm, a pressão parcial do N2 será tura extremamente compacta e fortemente interligada.
de 0,8 (80% da pressão total) e a pressão parcial de O2 será igual a Desta forma, os sólidos podem ser definidos como substâncias
0,2 % (20% da pressão total da mistura). duras, rígidas e, geralmente incompressíveis, que apresentam um
arranjo ordenado e próximo de partículas. Por esta razão, os sólidos
Essa Lei de Dalton é mostrada também pela fração em quanti- podem ocupar um volume fixo e possuir diversos graus de dureza.
dade de matéria (X). Essa fração no caso do nitrogênio é dada por As propriedades dos materiais estão relacionadas com a ma-
0,8 mol. neira como os átomos se organizam. O diamante e o grafite, por
exemplo, onde ambos são formados por átomos de carbono, dife-
1,0 mol renciando as posições e organização dos átomos quando estes fa-
PN2= p . XN2 zem as ligações químicas
PN2= 1,0 atm . 0,8 = 0,8 atm.

Pode-se também calcular cada pressão parcial por meio da


equação de estado dos gases:
Equação de estado dos gases: PV = nRT

2. Volume parcial dos gases:


Similarmente à pressão parcial, o volume parcial corresponde
ao volume que um gás ocupa nas condições de temperatura e pres-
são da mistura. Classificação dos sólidos
A Lei de Amagat diz que a soma dos volumes parciais é igual ao Os sólidos podem ser divididos em duas categorias: Sólidos
volume total, assim como o caso da pressão visto anteriormente. cristalinos e sólidos amorfos.
Por isso, usamos a equação de estado dos gases, com a única dife-
rença que agora se coloca o volume parcial do gás e não a pressão: Sólidos cristalinos
Num sólido cristalino, o arranjo dos átomos, moléculas ou íons
é tal, que a soma das forças atrativas globais tem um valor máximo.
Estes sólidos apresentam uma organização interna uniforme (Ver
figura apresentada acima). Nestes sólidos, as unidades estruturais
constituintes da matéria (átomos, moléculas ou íons) podem ligar-
Também é possível calcular o volume parcial de cada gás com- -se através de ligações químicas.
ponente da mistura por meio da fração em quantidade de matéria. No processo de solidificação dos sólidos cristalinos, os átomos
ou moléculas fundamentais que os compõem se dispõem espacial-
mente numa forma geométrica ordenada. Os micro cristais bási-
cos, células componentes das redes cristalinas do sólido, assumem
formas cúbicas, rômbicas, tetragonais, hexagonais ou prismáticas
irregulares.

340
340
QUÍMICA
O retículo espacial, ou rede, unidade do sistema de cristaliza-
ção do sólido, repete-se indefinidamente nas três direções do es-
paço até alcançar as suas bordas exteriores. Dessa forma, ao fratu-
rar-se um sólido de cristalização perfeita, deve reproduzir em cada
um dos seus fragmentos a geometria do corpo no mesmo sistema
cristalino.
Os átomos ou moléculas do cristal situam-se ou no vértice de
cada retículo, ou no centro do retículo, ou ainda no centro de cada
uma de suas faces. Essa disposição interna foi determinada median-
te observação a partir da difração dos raios X, ou seja, do desvio
sofrido pelos feixes dessa natureza que se fazem incidir sobre os Figura 2.
sólidos.
Uma base para classificar os sólidos cristalinos é a natureza das A estrutura cristalina de um sólido covalente fica definida pela
forças que mantêm unidos os átomos (ou moléculas) no ordena- direcionalidade dessa ligação. Por exemplo, os átomos tetravalen-
mento da rede cristalina. A energia de coesão dos átomos (ou molé- tes de carbono, germânio e silício formam ligações covalentes nas
culas) num cristal depende das forças de ligação dominantes entre combinações moleculares. Cada um desses átomos tem quatro elé-
esses átomos (ou moléculas). O mesmo esquema de classificação trons na camada eletrônica mais externa, ou seja, tem quatro elé-
que é apropriado para as ligações moleculares é também útil para trons Grupo de Ensino de Física da Universidade Federal de Santa
os sólidos cristalinos. Entretanto, necessitamos aqui de uma nova Maria de valência, cujos orbitais são orbitais híbridos sp3.
categoria, que chamamos de ligação metálica. Assim, podemos No cristal correspondente, cada átomo forma ligações cova-
classificar os sólidos cristalinos em sólidos iônicos, sólidos covalen- lentes com os quatro átomos mais próximos, ficando no centro de
tes, sólidos moleculares e sólidos metálicos. um tetraedro regular, com quatro átomos semelhantes nos vérti-
ces (Fig.2). Assim, quatro ligações covalentes idênticas podem ser
Sólidos Cristalinos Iônicos formadas e cada átomo contribui com um elétron para cada uma
Nos sólidos cristalinos iônicos, a rede é formada por íons alter- dessas ligações. Nesse tipo de estrutura, organizada por ligações
nadamente positivos e negativos, resultantes da transferência de covalentes, cada elétron está fortemente ligado, de modo que não
um (ou mais de um) elétron de um tipo de átomo para o outro. A existem elétrons livres para participar de qualquer processo de con-
estabilidade da rede cristalina é mantida pela atração eletrostática dução e os sólidos cristalinos covalentes têm uma condutividade
entre os íons presentes, tais como os íons Na+ e Cl− na molécula elétrica muito baixa, isto é, são isolantes. Além disso, são extrema-
de cloreto de sódio (NaCl, Fig.1) e os íons Li+ e F− na molécula de mente duros e difíceis de deformar. Por outro lado, a energia neces-
fluoreto de lítio (LiF). sária para produzir vibrações na rede cristalina dos sólidos covalen-
tes é relativamente alta, da ordem de alguns elétrons-volts, e como
as energias dos fótons associados às radiações da região visível do
espectro eletromagnético estão entre 1,8 eV e 3,1 eV, muitos sóli-
dos covalentes são transparentes à luz, ou seja, são incolores.
Sólidos Cristalinos Moleculares Nos sólidos cristalinos molecu-
lares constituídos por moléculas apolares, os elétrons se encontram
emparelhados e não podem formar ligações covalentes. As molécu-
las conservam a sua individualidade, mas estão ligadas por forças
de Van der Waals, as mesmas que existem entre as moléculas de
um gás ou de um líquido. As forças de Van der Waals são bastante
fracas e são derivadas da interação entre dipolos elétricos. Pelo mo-
Figura 1. vimento dos elétrons ao redor dos núcleos, numa molécula apolar,
pode acontecer que, por um breve instante, a distribuição de carga
Devido às forças eletrostáticas relativamente intensas entre os seja tal que parte da molécula fique positiva e parte negativa. En-
íons, os sólidos iônicos são geralmente duros, frágeis e têm um ele- quanto está polarizada, esta molécula induz em outra molécula de
vado ponto de fusão. Como esses sólidos não têm elétrons livres, sua vizinhança uma distribuição de carga semelhante e as duas se
sua condutividade elétrica é muito baixa, isto é, eles são isolantes. atraem. No instante seguinte, as moléculas voltam às configurações
Contudo, se uma quantidade apropriada de energia é fornecida a originais e não mais se atraem. Isto se repete aleatoriamente com
um sólido iônico, fazendo com que ele se transforme num líqui- todos os pares de moléculas do sólido. Os gases nobres, os gases
do, ele se torna um bom condutor de eletricidade. Por outro lado, comuns como o oxigênio e o hidrogênio e muitos compostos or-
como a energia necessária para produzir vibrações na rede cristali- gânicos formam sólidos moleculares desse tipo. Em alguns sólidos
na é menor do que cerca de 1 eV, alguns cristais iônicos absorvem cristalinos moleculares, as moléculas são polares, como no caso do
radiação eletromagnética com comprimentos de onda na região gelo. As moléculas de água são polares porque, em cada uma delas,
dos maiores comprimentos de onda do infravermelho. o átomo de oxigênio atrai mais para perto de si os elétrons que for-
mam as ligações covalentes com os átomos de hidrogênio. Então,
Sólidos Cristalinos Covalentes a parte de uma molécula correspondente ao átomo de oxigênio é
Nos sólidos cristalinos covalentes, ao contrário do que ocorre negativa e as partes correspondentes aos átomos de hidrogênio,
nos sólidos cristalinos iônicos, não existe transferência de carga en- positivas. A ligação entre as moléculas, que chamamos de ligação
tre os átomos para formar íons, mas sim um compartilhamento de hidrogênica, se dá pela atração eletrostática entre a parte negativa
pares de elétrons de valência entre os átomos, formando ligações de uma molécula e a positiva de outra. Os sólidos moleculares têm
covalentes. condutividade elétrica muito baixa, isto é, são isolantes.

341
QUÍMICA
Sólidos Cristalinos Metálicos
Um sólido cristalino metálico é formado a partir de átomos ESTEQUIOMETRIA
com alguns elétrons fracamente ligados nas camadas mais exter-
nas, elétrons esses que passam a se mover por todo o sólido, quan-
do de sua formação. Assim, um sólido metálico é constituído por É a forma de calcular quantidades de reagentes e produtos em
uma rede ordenada de íons positivos que são mantidos juntos por uma reação química. Envolve cálculos matemáticos simples para
uma espécie de gás de elétrons livres. A mobilidade dos elétrons de conhecer a proporção correta de substâncias a serem usadas.
valência que constituem esse gás de elétrons livres é que torna os Unidade de massa atômica: A massa atômica é a massa de um
metais bons condutores de eletricidade. átomo medida em unidade de massa atômica, sendo simbolizada
por “u”. 1 u equivale a um doze avos (1/12) da massa de um átomo
Sólidos amorfos de carbono-12 (isótopo natural do carbono mais abundante que
A ausência de um padrão de cristalização caracteriza os cha- possui seis prótons e seis nêutrons, ou seja, um total de número de
mados sólidos não-cristalinos ou amorfos. Entre eles destacam-se massa igual a 12). Sabe-se que 1 u é igual a 1,66054 . 10-24 g.
os plásticos, os vidros, os sabões, as parafinas e muitos outros com-
postos orgânicos e inorgânicos. A disposição interna dos compo-
nentes materiais dos sólidos amorfos é em grande parte aleatória,
semelhante à dos líquidos, que mantêm fixas, contudo, as distân-
cias de suas ligações moleculares.
A propriedade mais destacada dos sólidos amorfos é a falta de
um ponto fixo de fusão, de modo que sua passagem para o estado
líquido se verifica ao longo de um intervalo de temperaturas duran-
te o qual adoptam o chamado estado plástico. Algumas das aplica-
ções dos vidros e dos materiais plásticos derivam de sua qualidade Massa Atômica (MA):
de serem facilmente moldáveis quando submetidos a aumentos de
temperatura. A massa atômica de um átomo é sua massa determinada em
As mudanças do estado físico envolvendo o estado sólido são: u, ou seja, é a massa comparada com 1/12 da massa do 12C.As
Fusão: é a passagem de uma substância do estado sólido para massas atômicas dos diferentes átomos podem ser determinadas
o estado líquido. experimentalmente com grande precisão, usando um aparelho de-
Solidificação: é a passagem do estado físico de uma substância nominado espectrômetro de massa. Para facilitar os cálculos não
do estado líquido para o estado sólido. necessário utilizar os valores exatos, assim faremos um “arredonda-
mento” para o número inteiro mais próximo:

Exemplos:

Massa atômica do 4,0030u - 4u


Massa atômica do 18,9984u - 19u
Massa atômica do 26,9815u -27u
Sublimação: é a passagem de uma substância do sólido para o
estado gasoso, esse processo só ocorre em condições adequadas de Massa Atômica de um Elemento
pressão e temperatura.
Massa atômica de um elemento é a média ponderada das mas-
sas atômicas dos átomos de seus isótopos constituintes.
Assim, o cloro é formado pelos isótopos 35Cl e 37C, na propor-
ção:
35
Cl= 75,4%MA= 34,997u
37
Cl= 24,6%MA= 36,975u

Como a massa atômica de um isótopo é aproximadamente


igual ao seu número de massa, a massa atômica de um elemento é
aproximadamente igual à média ponderada dos números de massa
de sesu isótopos constituintes. Assim, a massa atômica aproximada
do cloro será:

342
342
QUÍMICA
Sabendo que a massa atômica do elemento cloro é igual a 35,5u podemos afirmar que:
Massa média do átomo de Cl=35,5u
Massa média do átomo de Cl=35,5 x massa de 1/12 do átomo de 12C.
Massa média do átomo dex massa do átomo de 12C,
Observe que não existe átomo de Cl com massa igual a 35,5 u; esse é o valor médio da massa do átomo de 12C.
A maioria dos elementos é formada por mistura de diferentes isótopos, em proporção constante. Essa proporção varia de um elemen-
to para outro, mas para um elemento é constante. Desse maneira, a massa atômica dos elementos é também constante.
Nos elementos formados por um único isótopo, a massa atômica do seu único isótopo será também a massa atômica do elemento.
Exemplo: Elemento químico flúor

Veja no quadro abaixo o resumo das informações importantes adquiridas até o momento:

Massa molecular (MM)


A massa molecular de uma substância é a massa da molécula dessa substância expressa em unidades de massa atômica (u).Numeri-
camente, a massa molecular é igual à soma das massas atômicas de todos os átomos constituintes da molécula.
Exemplos:
H2⇒H = 1u , como são dois hidrogênios = 2u
- O = 16u
- H2O = 2u (H2) + 16u (O) = 18u

Mol e Constante de Avogadro


Com base na resolução recente da IUPAC, definimos que:
-Mol é a unidade de quantidade de matéria.
-Constante de Avogadro é o número de átomo de 12C contidos em 0,012Kg de 12C. Seu valor é 6,02x1023 mol-1.

Massa Molar (M)


A massa molar de um elemento é a massa de um mol de átomos, ou seja, 6,02x1023 átomos desse elemento. A unidade mais usada
para a massa molar é g.mol-1.
Numericamente, a massa molar de um elemento é igual à sua massa atômica.

Exemplos:
1) Massa atômica do Cl=35,453u
Massa molar do Cl= 35,453 g.mol-1.
Interpretação: Um mol de átomos do elemento Cl (mistura dos isótopos 35Cl e 37Cl), ou seja, 6,02x1023 átomos do elemento Cl pesam
35,453 gramas.

2) Massa atômica da água, H2O = 18u


Massa molar: um mol de moléculas, ou seja, 6,02x1023 moléculas de H2O pesam 18,0 gramas.

Cálculos estequiométricos
O cálculo das quantidades das substâncias envolvidas numa reação química é chamado de cálculo estequiométricos — palavra deriva-
da do grego stoicheia = partes mais simples e metreim = medida. São cálculos que envolvem proporções de átomos em uma sustância ou
que relacionam-se com proporções de coeficientes de uma equação química.
As bases para o estudo da estequiometria das reações químicas foram lançadas por cientistas que conseguiram expressar matemati-
camente as regularidades que ocorrem nas reações químicas, através das Leis das Combinações Químicas.
Essas leis foram divididas em dois grupos:
- Leis ponderais: relacionam as massas dos participantes de uma reação.
- Lei volumétrica: relaciona os volumes dos participantes de uma reação.

Conduta de Resolução
Na estequiometria, os cálculos serão estabelecidos em função da lei de Proust e Gay-Lussac, neste caso para reações envolvendo gases
e desde que estejam todos nas mesmas condições de pressão e temperatura.Assim, devemos tomar os coeficientes da reação devidamen-
te balanceados, e, a partir deles, estabelecer a proporção em mols dos elementos ou substâncias da reação.

Exemplo: reação de combustão do álcool etílico:

C2H6O + O2 → CO2 + H2O

343
QUÍMICA
Após balancear a equação, ficamos com:

Após o balanceamento da equação, pode-se realizar os cálculo, envolvendo os reagentes e/ou produtos dessa reação, combinando as
relações de várias maneiras:

Importante:
- Uma equação química só estará corretamente escrita após o acerto dos coeficientes, sendo que, após o acerto, ela apresenta signi-
ficado quantitativo.
- Relacionar os coeficientes com mols. Teremos assim uma proporção inicial em mols;
- Estabelecer entre o dado e a pergunta do problema uma regra de três. Esta regra de três deve obedecer aos coeficientes da equação
química e poderá ser estabelecida, a partir da proporção em mols, em função da massa, em volume, número de moléculas, entre outros,
conforme dados do problema.

Tipos de Cálculos Estequiométricos

Relação entre Quantidade em Relação entre Massa e


Relação Quantidade em Mols Relação Entre Massa e Volume
Mols e Massa Massa
Os dados do problema são
Os dados do problema
Os dados do problema e as expressos em termos de Os dados do problema são
e as quantidades
quantidades incógnitas pedidas são quantidade em mols (ou expressos em termos de massa e
incógnitas pedidas são
expressos em termos de quantidade massa) e a quantidade a quantidade incógnita é pedida
expressos em termos de
em mols. incógnita é pedida em massa em volume**
massa.
(ou quantidade em mols).

**Caso o sistema não se encontre nas CNTP, deve-se calcular a quantidade em mols do gás e, a seguir, através da equação de estado,
determinar o volume correspondente.

Cálculos envolvendo excesso de reagente


Quando o enunciado do exercício fornecer quantidades de 2 reagente, precisamos verificar qual deles estará em excesso, após termi-
nada a reação. As quantidades de substâncias que participam da reação química são sempre proporcionais aos coeficientes da equação.
Se a quantidade de reagente estiver fora da proporção indicada pelos coeficientes da equação, reagirá somente a parte que se encontra
de acordo com a proporção; a parte que estiver a mais não reage e é considerada excesso.Por outro lado, o reagente que for totalmente
consumido (o que não estiver em excesso) pode ser denominado de reagente limitante porque ele determina o final da reação química no
momento em que for totalmente consumido.

Cálculos envolvendo Pureza


Com frequência as substâncias envolvidas no processo químico não são puras. Assim, podemos esquematicamente dividir uma amos-
tra em duas partes: a parte útil e as mas impurezas.
-Parte útil ou parte pura: reage no problema -p%
-Impurezas: não reagem no processo do problema -i%

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344
QUÍMICA
Diante disso, é importante calcularmos a massa referente à - Calor de Combustão
parte pura, supondo que as impurezas não participam da reação. A reação entre uma substância e o oxigênio chama-se reação
Grau de pureza (p) é o quociente entre a massa da substância pura de combustão. A energia liberada na combustão completa de 1 mol
e a massa total da amostra (substância impura). de uma substância no estado padrão é chamada de entalpia de
combustão. É a variação de entalpia (ΔH) na combustão de 1 mol de
uma substância a 25°C e 1 atm.

Exemplo:
Sistema em que o rendimento não é total
Quando uma reação química não produz as quantidades de C6H12O6(s) + 6O2(g) → 6CO2(g) + 6H2O(l)ΔHc = – 673 kcal/mol
produto esperadas, de acordo com a proporção da reação química,
dizemos que o rendimento não foi total. Rendimento de uma rea- Assim, a combustão de 1 mol de glicose libera 673 kcal.
ção é o quociente entre a quantidade de produto realmente obtida O ΔH nesse caso é sempre negativo, pois as combustões são
e a quantidade esperada, de acordo com a proporção da equação sempre exotérmicas.
química.
Entalpia (ΔH)
Entalpia é o conteúdo de calor de um sistema, à pressão cons-
TERMOQUÍMICA tante. Não é possível fazer a medida absoluta da entalpia de um
sistema, mas podemos medir (com calorímetros), a variação de
entalpia, ΔH, que ocorre numa reação. Esta variação é entendida
A termoquímica é uma parte da termodinâmica que estuda as como a diferença entre a entalpia final (dos produtos da reação) e
trocas de calor desenvolvidas durante uma reação química entre o a entalpia inicial (dos reagentes da reação), conforme observado
sistema e o meio ambiente, além do possível aproveitamento desse abaixo:
calor na realização de trabalho. Vamos agora definir alguns concei-
tos importantes na termoquímica: Estado inicial → Estado final
H1 → H2
-Caloria ∆H = H2 – H1
Uma caloria é a quantidade de calor necessária para aquecer ou
um grama de água de 14,5°C a 15,5°C. Seu múltiplo é a quilocaloria, ∆H = HP – HR
(kcal)
Tipos de entalpia
-Calor a) Entalpia de Formação:É a quantidade de energia absorvida
Calor é a energia que se transfere entre dois corpos com dife- ou liberada quando um mol de substâncias simples reage e o pro-
rentes temperaturas. duto final é uma única substância composta.
Exemplo: H2 + 1/2 O2 → H2O
-Temperatura
Temperatura é uma grandeza do calor. você não tira a tempera- b) Entalpia de combustão
tura corporal, verifica. Se tirar a temperatura do seu corpo, morre. É quantidade de energia envolvida na queima de 1 mol de uma
determinada substância na presença de gás oxigênio. Nesse caso,
-Calor de reação todas as substâncias envolvidas estão no estado padrão.
Calor de reação representa à variação de entalpia (calor ab- Exemplo: CH4 + O2 → CO2 + H2O
sorvido) observada em uma reação, e sua classificação depende do
tipo de reação decorrente. Esse calor de reação recebe, conforme c) Entalpia de neutralização
a reação, as seguintes denominações: calor de formação, calor de É a quantidade de energia liberada ou absorvida quando um
combustão, calor de neutralização etc. mol de hidrônio (H+) reage com um mol de hidróxido (OH-), es-
tando ambos presentes em soluções diluídas. De uma forma geral,
- Calor de Formação teremos uma entalpia de neutralização sempre que uma solução
É a quantidade de calor liberada ou absorvida durante a forma- ácida for misturada com uma solução básica.
ção de 1 mol de um composto, a partir de substâncias simples, no
estado padrão. Por exemplo: a 25 °C e 1 atm, temos: Exemplo: HCl(aq) + NaOH(aq) → NaCl(aq) + H2O

H2(g) + 1/2 O2(g) →1 H2O(l) ΔH = –68,4 kcal / mol, d) Entalpia de decomposição É a quantidade de energia absor-
vida ou liberada quando um mol de uma substância composta de-
Interpretação: para formar um mol de água líquida, a partir de compõe-se e o produto final são várias substâncias simples.
substâncias simples, H2(g) e O2(g), no estado padrão (25 °C, e 1 atm, Tipos de reações: Vamos estudar as trocas de energia, na forma
estado físico e alotrópico mais estável) há a liberação de 68,4 kcal. de calor, envolvidas nas reações químicas e nas mudanças de esta-
Os valores das entalpias de formação são muito importantes, pois do físico das substâncias. Esse estudo é denominado termoquímica.
representam a própria entalpia de 1 mol da substância que está São dois os processos em que há troca de energia na forma de calor:
sendo formada, já que, nas reações de formação, Hi é sempre zero. o reações exotérmicas e o endotérmicas.

345
QUÍMICA
Reações exotérmicas É aquele que ocorre com liberação de calor ambiente e sua entalpia diminui. Essas reações possuem um balanço
negativo de energia quando se compara a entalpia total dos reagentes com a dos produtos. Assim, a variação na entalpia final é negativa
(produtos menos energéticos do que os reagentes) e indica que houve mais liberação de energia, na forma de calor, para o meio externo
que absorção – também sob forma de calor.

Exemplos de Reações Exotérmicas


-½ O2(g) + H2(g) -> H2O(l) (ΔH = -68,3 Kcal/mol ou -285,49
KJ/mol)
-½ H2(g) + ½ Cl2(g) -> HCl(g) (ΔH = -22,0 Kcal/mol ou -91,96
KJ/mol)
-½ H2(g) + ½ Br2(g) -> HBr(g) (ΔH = -8,6 Kcal/mol ou -35,95
KJ/mol)
-C(s) + ½ O2(g) -> CO(g) (ΔH = -26,4 Kcal/mol ou -110,35 KJ/
mol)

Diagrama de Entalpia das reações exotérmicas

No diagrama de entalpia, relacionamos num eixo vertical os valores de Hp e Hr e podemos, portanto, calcular o valor de ΔH.

Reações endotérmicas: É aquela que ocorre com absorção de calor e sua entalpia aumenta. Assim, a variação dessa energia (variação
de entalpia) possui sinal positivo (+ΔH) e indica que houve mais absorção de energia do meio externo que liberação. Ambas em forma de
calor.
Exemplos de Reações Endotérmicas
-½ H2(g) + ½ I2 (g) -> HI(g) (ΔH = +6,2 Kcal/mol ou
+25,92 KJ/mol)
-2C(s) + H2(g) -> C2H2(g) (ΔH = +53,5 Kcal/mol ou
+223,63 KJ/mol)

Diagrama de Entalpia das reações endotérmicas

Lei de Hess
Germain Herman Hess, ao estudar os calores de reação, constatou que: “A variação de entalpia (ΔH) de uma reação química depende
apenas dos estados final e inicial, não importando o caminho da reação”. Esta importante lei experimental foi chamada de lei dos estados
final ou inicial, lei de adição de calores ou Lei de Hess.
Seja uma reação genérica A → B da qual se quer determinar o ΔH. Esta reação pode ser realizada por diversos caminhos, onde, para
cada um deles, os estados inicial e final são os mesmos.

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346
QUÍMICA
T= a temperatura é uma grandeza física intensiva que é influen-
ciada ou sofre influência das variações energéticas durante a movi-
mentação das partículas.
∆Sº= a variação de entropia é uma função de estado que in-
forma a variação de energia em função do estado de liberdade das
partículas.

Para que A se transforme em B temos 3 caminhos: Exemplo:


A→B Calcule a variação de energia livre da formação da amônia a
A→C→D→B 25ºC e 1atm. Quando ∆Hº=-46,11KJ∙mol-1 e ∆Sº=-99,37 J∙K-1∙mol-1,
A→E→B de acordo com a reação:

Sendo que:ΔHx = ΔH1 + ΔH2 + ΔH3 ouΔHx = ΔH4 + ΔH5


Diante disso, não importa o número de etapas que o proces-
so apresenta, o ΔH da reação total será a soma dos ΔH das diver-
sas etapas, e em consequência a equação termoquímica pode ser
tratada como uma equação matemática. Assim, quando usamos a Passo 1: Transformar a temperatura que está em Celsius para
Lei de Hess no cálculo do ΔH de uma reação, devemos arrumar as Kelvin e a variação de entropia de J∙K-1∙mol-1 para KJ∙K-1∙mol-1.
equações fornecidas de modo que a soma delas seja a equação cujo
ΔH estamos procurando. Para isso, usamos os seguintes procedi-
mentos:

Cálculo do ∆H de uma reação, usando a lei de Hess


Podemos calcular o ∆H de uma reação trabalhando algebrica-
mente as equações termoquímicas. Considere as reações abaixo, a Passo 2: substituir na equação os dados:
25°C e 1 atm

1) C(grafita) + O2(g) → CO2(g)∆H = - 94,1 kcal

2) H2(g) + 1/2 O2(g) → H2O (l) ∆H = - 68,3 kcal

3) CH4(g) + 2 O2(g) → CO2(g) + 2H2O (ι) ∆H = - 212,8 kcal CINÉTICA QUÍMICA

Vamos determinar o ∆H da reação:


C(grafita) + 2H2(g) → CH4(g)∆H = ? O conhecimento e o estudo da velocidade das reações, além
de ser muito importante em termos industriais, também está re-
Siga os passos abaixo: lacionado ao nosso dia-a-dia, por exemplo, quando guardamos ali-
a) escreva a equação 1. mentos na geladeira para retardar sua decomposição ou usamos
b) escreva a equação 2 multiplicada por 2. panela de pressão para aumentar a velocidade de cozimento dos
c) escreva a equação inversa de 3. alimentos.
O estudo da velocidade das reações químicas e dos fatores que
Assim, basta soma-las podem acelerá-la ou retardá-la constitui a chamada cinética quími-
C(grafita) + O2(g) → CO2(g); ∆H = - 94,1 kcal ca. Este estudo é sem dúvida de grande importância na nossa vida
2H2(g) + O2(g) → 2H2O(l); ∆H = - 136,6 kcal cotidiana, já que muitas reações químicas de interesse industrial
CO2(g) + 2H2O(l) → CH4(g) + 2O2(g); ∆H = + 212,8 kcal podem ser aceleradas, gastando menos tempo para ocorrerem e,
C(grafita) + 2H2(g) → CH4(g); ∆H = - 17,9 kcal portanto, tornando o processo mais econômico.1
Através da lei de Hess, as equações termoquímicas podem ser
somadas como se fossem equações matemáticas ou algébricas. Velocidade das reações
A velocidade média de uma reação, isto é, a velocidade de con-
A reação espontânea e não-espontânea sumo de um reagente ou de formação de um produto é calculada
A reação espontânea é aquela que percorre por si mesma. Toda função da variação da quantidade de reagentes e produtos pela va-
reação espontânea libera energia livre, enquanto a energia não-es- riação do tempo. A expressão da velocidade média será dada por:
pontânea absorve energia livre.
A energia livre de Gibbs (∆Gº), é uma grandeza termodinâmica
definida como a diferença entre variação de entalpia (∆Hº) e a tem-
peratura (T) vezesa variação de entropia (∆Sº) em uma reação. De
acordo com a equação abaixo:

∆Gº=∆Hº - T∆Sº
onde:

∆Hº= é uma função de estado chamada de variação de entalpia


que informa a variação de energia em pressão constante.
1 Usberco, J.; Salvador, E. 2002. Química. Editora Saraiva.

347
QUÍMICA
Para calcular o Δ [reagentes], é necessário observar que ele apresenta um valor menor do que zero, ou seja, um valor negativo, pois a
concentração final é menor do que a inicial. Para não trabalhar com valores negativos, usamos –Δ [reagentes] na expressão da velocidade
média dos reagentes. Assim, a velocidade média é expressa por:

Exemplo de aplicação dessa expressão: O gráfico a seguir mostra a variação da concentração em mol/L da água oxigenada em função
do tempo. A decomposição da água oxigenada é dada pela equação:

2 H2O2(aq) 2 H2O(l) + O2(g)

Quando analisarmos os valores das velocidades médias de consumo do H2O2, notamos que eles não são constantes e que o valor
máximo é encontrado no início da reação. Diante disso, concluímos que a velocidade média diminui de acordo com a diminuição da con-
centração.

Condições para ocorrência de reações


Para que uma reação química ocorra, devem ser satisfeitas determinadas condições. São elas:
Afinidade Química - É a tendência intrínseca de cada substância de entrar em reação com uma outra substância. Por exemplo: ácidos
têm afinidades por bases, não-metais têm afinidades por metais, reagentes nucleófilos têm afinidade por reagentes eletrófilos.
Contato entre as Moléculas dos Reagentes: As reações químicas ocorrem como resultado de choques entre as moléculas dos reagen-
tes que se encontram em movimento desordenado e contínuo.
Exemplo:A2 + B2 → 2AB

TEORIA DAS COLISÕES


A Teoria das Colisões diz que para que uma reação ocorra, a colisão entre as partículas das substâncias reagentes deve acontecer atra-
vés de uma orientação adequada e com uma energia maior que a energia mínima necessária para a ocorrência da reação.
Essa energia mínima que deve ser fornecida aos reagentes é denominada Energia de Ativação (Ea). Sem atingi-la, a reação não ocorre.
Quando colocamos duas substâncias em contato, suas partículas começam a colidir umas com as outras. Nem todas as colisões são
eficazes, isto é, nem todas dão origem a novos produtos. No entanto, as colisões que rompem as ligações formadas e formam novas liga-
ções, são denominadas colisões eficazes ou efetivas.
Essas colisões ocorrem de forma adequada: seu choque é frontal geometricamente e bem orientado. Observe abaixo como isso ocor-
re:

No choque efetivo as moléculas absorvem a quantidade de energia mínima necessária (energia de ativação) para a formação do com-
plexo ativado, ou seja, um estado intermediário (estado de transição) entre os reagentes e os produtos. Nessa estrutura, as ligações dos
reagentes estão enfraquecidas e as dos produtos estão sendo formadas.

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QUÍMICA
Observe uma reação genérica que mostra essa formação do complexo ativado abaixo:

AB + XY  AX + YB

Note que quando ocorre o choque efetivo, forma-se momentaneamente o complexo ativado, no qual as ligações entre os átomos AB
e XY estão se rompendo e as ligações que unirão os átomos nas moléculas AX e YB estão se formando.
Observe no diagrama que se não for atingida a energia de ativação, não é possível formar o complexo ativado, pois ela serve como
uma barreira energética a ser ultrapassada para que a reação química ocorra.

Para reações exotérmicas (reações que liberam energia - ΔH < 0) e endotérmicas (reações que absorvem energia - ΔH > 0), temos os
diagramas:

Fatores que influenciam a velocidade de uma reação

Superfície de contato
Quando um reagente está no estado sólido, a reação ocorrerá na sua superfície. Assim, quanto mais fragmentado (disperso) for esse
reagente, maior será o número de choques, e maior será a velocidade da reação.

349
QUÍMICA
Concentração dos Reagentes
A velocidade de uma reação depende também da concentração dos reagentes, pois ela está relacionada com o número de choques
entre as moléculas.

Temperatura
Todo aumento de temperatura provoca o aumento da energia cinética média das moléculas, fazendo com que aumente o número de
moléculas em condições de atingir o estado correspondente ao complexo ativado, aumentando o número de colisões eficazes ou efetivas
e, portanto, provocando aumento na velocidade da reação.
Uma regra experimental, que relaciona o aumento de temperatura com a velocidade de uma reação é a regra de Van’t Hoff: “Um
aumento de 10 °C na temperatura duplica a velocidade de uma reação química”.

Pressão
A pressão só apresenta influência apreciável na velocidade de reações em que pelo menos um dos reagentes é gasoso. O aumento da
pressão causa diminuição de volume acarretando aumento no número de choques, o que favorece a reação e, portanto, aumenta a sua
velocidade.

Catalisador
Catalisador é a substância que aumenta a velocidade de uma reação, sem sofrer qualquer transformação em sua estrutura. O aumen-
to da velocidade é conhecido como catálise.

O catalisador acelera a velocidade, alterando o mecanismo da reação, o que provoca a formação de um complexo ativado de energia
mais baixa. São características dos catalisadores:
A) o catalisador não fornece energia à reação;
B) o catalisador participa da reação formando um complexo ativado de menor energia:
C) o catalisador não altera o ∆h da reação;
D) o catalisador pode participar das etapas da reação, mas não é consumido pela mesma.

As reações envolvendo catalisadores podem ser de 2 tipos:


- catálise homogênea: catalisador e reagentes no mesmo estado físico;
- catálise heterogênea: catalisador e reagentes em estados físicos diferentes.

Exemplos:

Catálise homogênea Catálise heterogênea

Observação:
Existem casos de autocatálise, no qual o catalisador é um dos produtos da própria reação. Estas reações iniciam lentamente e à
medida que o catalisador vai se formando, a velocidade da reação vai aumentando. Encontramos substâncias que atuam no catalisador,
aumentando sua atividade catalítica: são chamadas de ativadores de catalisador ou promotores. Outras diminuem ou mesmo destroem a
ação do catalisador: são chamadas venenos de catalisador.

EQUILÍBRIO QUÍMICO

Algumas reações ocorrem somente enquanto existe reagente reagentes. Por exemplo, digamos que você acenda um palito de fósforo,
ele começa a reagir com o ar proporcionando a queima total do mesmo. Sabemos também que essa reação irá cessar depois que todo o
regente for consumido. Outro ponto é que não conseguimos regenerar o fósforo queimando. Portanto, esse tipo de reação é chamada de
irreversível.

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QUÍMICA
Consideremos uma reação representada pela equação geral:

A relação é constante e denomina-se constante de equilí-


brio em termos de concentração molar (Kc):

Sejam v1 e v2 as velocidades das reações direta e inversa, res-


pectivamente. Suponde que essas reações sejam elementares, te-
mos:
A constante de equilíbrio Kc é, portanto, a razão das concentra-
v1= K1[A] [B] e v2=K2[C] [D] ções dos produtos da reação e das concentrações dos reagentes da
reação, todas elevadas a expoentes que correspondem aos coefi-
No momento em que misturamos a mols de A e b mols de B, v1 cientes da reação.
assume o seu valor máximo, porque [A] e [B] têm seus valores má-
ximos. Com o decorrer do tempo, [A] e [B] vão diminuindo, pois A Deslocamento do equilíbrio
e B vão sendo consumidos na reação direta e, consequentemente, Os fatores que podem modificar a condição de equilíbrio de um
v1(direta) vai diminuindo. sistema são: concentração, pressão, temperatura.
Conforme C e D vão-se formando na reação, suas concentra- O Princípio de Le Chatelier é fácil de ser entendido quando se
ções vão aumentando e, consequentemente, v2 (inversa) aumenta considera que a constante de equilíbrio depende somente da tem-
com o passar do tempo. peratura.
Uma vez que v1 diminui e v2 aumenta, após algum tempo v1=v2. Agora vamos analisar cada um dos fatores que podem afetar
A partir desse instante, [A], [B], [C] e [D] permanecem constantes, o equilíbrio.
porque, em um mesmo intervalo de tempo, o número de mols de
cada substância consumidos numa reação é igual ao número de -Concentração
mols formados na reação de sentido contrário. Considere o seguinte equilíbrio:

O Equilíbrio Químico é uma reação reversível que atingiu o C(s) + CO2(g) 2 CO(g)
ponto em que as reações direta e inversa ocorrem com a mesma
velocidade. 1) Ao adicionar CO2(g) ao equilíbrio, imediatamente ocorre um
aumento na concentração do composto, que irá acarretar aumento
do número de choques entre o C(s) e o CO2(g). Isso favorece a forma-
ção de CO(g), ou seja, o equilíbrio se desloca para o lado direito.
2) Ao adicionar CO(g) ao equilíbrio, ocorre um aumento na con-
centração do composto, transformando-o parcialmente em CO2(g) e
em C(s). Nesse caso, o equilíbrio se desloca para a esquerda. Princí-
pio de Le Chatelier: “Quando se aplica uma força em um sistema em
equilíbrio, ele tende a se reajustar no sentido de diminuir os efeitos
dessa força”.
3) Ao retirar parte do CO(g) presente no equilíbrio, imediata-
mente ocorre uma diminuição na concentração do composto e,
v1=v2 -[A], [B], [C] ,[D] -Equilíbrio químico como consequência, a velocidade da reação inversa diminui. Logo,
a velocidade da reação direta será maior, favorecendo a formação
Constante de Equilíbrio em Termos das Concentrações Mola- de CO(g), ou seja, o equilíbrio se desloca para a direita.
res (Kc)
-Pressão
Considerando o equilíbrio dado por uma equação geral qual- Ao aumentar a pressão sobre um equilíbrio gasoso, à tempera-
quer: tura constante, ele se desloca no sentido da reação capaz de dimi-
nuir esse aumento da pressão e vice-versa. Para averiguar os efeitos
aA + bB cC + dD da variação de pressão em um equilíbrio, vamos avaliar o equilíbrio
seguinte, a uma temperatura constante:

Aplicando-se a lei da ação das massas de Guldberg-Waage, te-


mos:

-Para a reação direta: v1 = K1 · [A]a · [B]b


-Para a reação inversa: v2 = K2 · [C]c · [D]d

No equilíbrio: v1 = v2 Quando aumentamos a pressão, o equilíbrio se desloca para a


K1 · [A]a · [B]b = K2 · [C]c · [D]d direita, favorecendo a formação do SO3(g), já que nesse sentido há
uma diminuição do número de mol de gás e, consequentemente,
uma redução da pressão.

351
QUÍMICA
Pode-se analisar o efeito produzido pela variação de pressão em pela associação do número de mol ao volume.

-Temperatura
A temperatura, além de provocar deslocamento do equilíbrio, é o único fator responsável por alterações na constante de equilíbrio
(Kc). Num sistema em equilíbrio, sempre temos duas reações: a endotérmica, que absorve calor, e a exotérmica, que libera calor. Quando
aumentamos a temperatura, favorecemos a reação que absorve calor. Por outro lado, quando há diminuição da temperatura, favorecemos
a reação que libera calor.
Exemplo:

Se também desejamos relacionar a variação da temperatura com a constante de equilíbrio (Kc), devemos considerar que uma eleva-
ção da temperatura favorece a reação endotérmica. Então, [N2] e [H2] aumentam e [NH3] diminui:

Concentração do Equilíbrio
Um aumento na concentração de qualquer substância (reagentes ou produtos) desloca o equilíbrio no sentido de consumir a subs-
tância adicionada. O aumento na concentração provoca aumento na velocidade, fazendo com que a reação ocorra em maior escala no
sentido direto ou inverso.
Diminuindo a concentração de qualquer substância (reagentes ou produtos) desloca-se o equilíbrio no sentido de refazer a substância
retirada. A diminuição na concentração provoca uma queda na velocidade da reação direta ou inversa, fazendo com que a reação ocorra
em menor escala nesse sentido.

Exemplos:

1o) 2 CO(g) + O2(g) 2 CO(g)

O aumento na concentração de CO ou O2 provoca aumento em v1, fazendo com que v1 > v2; portanto, o equilíbrio desloca-se para a
direita. A diminuição na concentração de CO ou O2 provoca queda em v1, fazendo com que v1 < v2; portanto, o equilíbrio desloca-se para
a esquerda.

2o) C(s) + CO2(g) 2 CO(g)

Para equilíbrio em sistema heterogêneo, a adição de sólido (C(s)) não altera o estado de equilíbrio, pois a concentração do sólido é
constante e não depende da quantidade.

Observações:
- Aumento na pressão parcial de H2 ou I2, o equilíbrio desloca-se para a direita.
- Diminuindo a pressão parcial de H2 ou I2, o equilíbrio desloca-se para a esquerda.

Importante:
1. Substância sólida não desloca um equilíbrio químico, pois a concentração de um sólido em termos de velocidade é considerada
constante, porque a reação se dá na superfície do sólido.
2. Alterando-se a concentração de uma substância presente no equilíbrio, o equilíbrio se desloca, porém, sua constante de equilíbrio
permanece inalterada (a constante permanece sem ter seu valor modificado porque a temperatura não variou).

352
352
QUÍMICA
PRODUTO IÔNICO DA ÁGUA E PH Sabemos disso, porque o Nox do carbono aumentou de +2 para
Produto iônico da água (Kw) Considerando o equilíbrio da água: +4, isso quer dizer que ele perdeu elétrons. Portanto, visto que o CO
causou a redução da hematita, então ele é considerado o agente
H2O(l) H+(aq) + OH–(aq) redutor.
Podemos seguir a mesma linha de raciocínio no caso da oxida-
A constante de ionização corresponde ao Kw e é expressa por: ção do CO: sua oxidação foi causada por alguma espécie, que no
caso foi a hematita. Desse modo, a hematita é o agente oxidante.
Kw = [H+]. [OH–] a 25 ºC;Kw = (10–7). (10–7) ⇒ Kw = 10–14
PILHAS
Na água, as concentrações de H+ e OH– são sempre iguais, in- Muitas reações de oxirredução ocorrem espontaneamente.
dependentemente da temperatura; por esse motivo, a água é neu- Uma situação ilustrativa é a reação do metal zinco com uma so-
tra. Quaisquer soluções aquosas em que [H+] = [OH–] também serão lução aquosa contendo cátions de Cu2+ (aq). Uma grande vantagem
neutras dessas reações de oxirredução espontâneas é que podem ser uti-
lizadas para gerar eletricidade. Para isso, basta montar um aparato
denominado pilha.
ELETROQUÍMICA
A pilha de Daniel
Pilhas ou célula voltaicas são dispositivos que transformam
A eletroquímica é a parte da Química que estuda não só os fe- energia química em energia elétrica por meio de um sistema apro-
nômenos envolvidos na produção de corrente elétrica a partir da priado e montado para aproveitar o fluxo de elétrons provenien-
transferência de elétrons em reações de óxido-redução, mas tam- tes de uma reação química de oxirredução. A pilha de Daniell é um
bém a utilização de corrente elétrica na produção dessas reações. exemplo deste sistema. É formado por uma placa de zinco mergu-
O seu estudo pode ser dividido em duas partes: pilhas e eletrólise. lhada em uma solução de sulfato de zinco, e uma placa de cobre
imersa em uma solução de sulfato de cobre. As duas placas (eletro-
dos) são conectadas por um fio metálico, que permite a passagem
de elétrons de um eletrodo ao outro. As duas soluções são interli-
gadas por uma ponte salina, um tubo de vidro recurvado que con-
tém uma solução de um sal (sulfato de sódio, neste caso) e possui
pedaços umedecidos de algodão nas extremidades.

Oxirredução
‘Uma reação de oxirredução é aquela em que há transferência
de elétrons (oxidação e redução); com isso uma espécie química
ganha elétrons e simultaneamente outra espécie química perde
elétrons.

Oxidação: ocorre quando o número de oxidação de um átomo


aumenta. E para que ocorra um aumento no número de oxidação, o
átomo precisa perder elétrons.
Redução: ocorre quando o número de oxidação diminui. Para
que ocorra essa diminuição, o átomo precisa receber elétrons.

Exemplo: Fe2O3(s) + 3 CO(g) →Fe2 (s) + 3 CO2(g)

A reação de oxidorredução acima ocorre em fornos siderúrgi- Assim, podemos prever a ocorrência dos seguintes semi-rea-
cos, em que o minério hematita (Fe2O3(s)) reage com o monóxido ções:
de carbono (CO), obtendo-se assim o ferro metálico. A partir das -Oxidação: Zn0(s)-Zn2+(aq) + 2e-
variações dos números de oxidação (Nox) das espécies reagentes e -Redução: Cu2+ + 2e- -Cu0(s)
dos produtos é possível verificar quem sofre redução e quem sofre
oxidação: Somando as semi-reações acima, obtemos a reação de oxirre-
dução ocorrida entre a barra de zinco e a solução de Cu2+.
Zn0 (s)+ Cu2+(aq)-Zn2+(aq) + Cu0(s)

A função da ponte salina: Conforme aumenta a concentração


de Zn2+, a solução passa a adquirir um excesso de cargas positivas.
Por outro lado, uma diminuição da quantidade de íons Cu2+ faz com
Observe que o Nox do ferro diminuiu de +3 para zero. Isso sig- que a solução adquira excesso de carga negativa. Diante disso, a
nifica que ele recebeu elétrons (que possuem carga negativa, por ponte salina atua como “veículo iônico”, permitindo a passagem de
isso o valor diminui), ou seja, ele sofre uma redução. Mas, para que íons de uma sequência para outra. Assim, a cada instante, as duas
o ferro da hematita ganhe elétrons e reduza é necessário que outra soluções permanecem eletricamente neutras.
espécie química forneça esses elétrons para ela. No caso, a substân-
cia que faz isso é o monóxido de carbono (CO). Sentido dos elétrons Os elétrons circulam do eletrodo de maior
potencial de oxidação para o de menor potencial de oxidação. No
caso da pilha de Daniell os elétrons vão do zinco para o cobre.

353
QUÍMICA
Cátodo e Ânodo
-Cátodo – placa de menor potencial de oxidação – Cu. Onde ocorre redução.
-Ânodo – placa de maior potencial de oxidação – Zn. Onde ocorre oxidação.

Variação de massa nas placas


-Placa de maior potencial de oxidação – diminui – Zn.
-Placa de menor potencial de oxidação – aumenta – Cu.

Como medir os potenciais dos eletrodos?


O potencial de cada eletrodo-padrão é determinado acoplando-se a ele outro eletrodo-padrão de hidrogênio e medindo-se a diferen-
ça de potencial. Para tal, chamaremos de E0 o potencial do eletrodo padrão e ΔE0 à diferença de potencial entre dois eletrodos-padrão.
Por convenção, temos que:
O eletrodo padrão de hidrogênio apresentam potencial igual a zero.
E0(H2)= zero

Vamos medir, por exemplo, o potencial do eletrodo-padrão de zinco.

De acordo com o sentido dos elétrons, fica claro que teremos as seguintes semi-reações:
-Eletrodo de hidrogênio: 2H+ + 2e- --H2 (redução)
-Eletrodo de zinco: Zn0 -Zn2+ + 2e- (oxidação)

Previsão de reações de oxirredução


É possível prever a espontaneidade de uma reação de oxirredução através dos potenciais de oxidação ou de redução E0 das semi-re-
ações.

Exemplo:Zn0 + Cu2+ -Zn2+ + Cu0

Para confirmar se uma reação de oxi-red ocorre ou não espontaneamente, é necessário observar os potenciais de redução de cada
semi-reação.

Zn2+ +2e- ↔ Zn0 E0red=-0,76V


Cu2+ 2e- ↔Cu2+E0red=+0,34V

Esses valores de E0red mostram que o Cu2+ reduz mais facilmente que o Zn2+, pois tem maior E0red. Já o Zn2+ oxida melhor que o Cu2+, uma
vez que possui menor E0red, e assim apresenta maior E0oxi.

ELETRÓLISE
É um processo não-espontâneo, em que a passagem de uma corrente elétrica através de um sistema líquido, no qual existam íons,
produz reações químicas. As eletrólises são realizadas em cubas eletrolíticas, nas quais a corrente elétrica é produzida por um gerador
(pilha). Nesse sistema, os eletrodos são geralmente inertes, formados por platina ou grafita (carvão).As substâncias que serão submetidas
à eletrólise podem estar liquefeitas (fundidas) ou em solução aquosa. A seguir, vamos estudar essas duas possibilidades.

354
354
QUÍMICA

Esquema da Eletrólise

Os íons negativos são atraídos pelo polo positivo (+) (ânodo), onde irão perder elétrons (oxidação). Os elétrons cedidos ao polo (+)
migram através do circuito externo até o polo (-) (cátodo). Lá, estes serão “ganhos” pelos íons positivos (redução).

Para que ocorra a eletrólise é necessária a presença de íons livres.

IMPORTANTE: A eletrólise é basicamente o inverso da reação de uma pilha. Assim, para que ocorra uma hidrólise, é necessário que o
gerador forneça uma ddp superior à reação da pilha. Se isso não ocorrer, não temos a ocorrência da eletrólise.

Eletrólise Ígnea:
Esse tipo de reação é muito utilizado na indústria, principalmente para a produção de metais. Veja o exemplo de eletrólise do NaCl
(cloreto de sódio – sal de cozinha), com produção do sódio metálico e do gás cloro:
Semirreação no cátodo: Na+ + e- → Na. (2)
Semirreação no ânodo: 2 Cl- → Cl2 + 2e-____
Reação global: 2 Na+ + 2 Cl- → 2 Na + Cl2

Eletrólise Aquosa:
Na eletrólise aquosa faz parte os íons da substância dissolvida (soluto) e da água. Na eletrólise do cloreto de sódio em meio aquoso
são produzidos a soda cáustica (NaOH), o gás hidrogênio (H2) e o gás cloro (Cl2). Note como se dá:
Dissociação do NaCl: 2NaCl- → 2Na+ + 2Cl-
Autoionização da água: 2H2O → 2 H+ + 2OH-
Semirreação no cátodo: 2H++ 2e- → H2
Semirreação no ânodo: 2Cl- → Cl2 + 2e-

355
QUÍMICA
Reação global: 2 NaCl- + 2H2O → 2 Na++ 2OH- + H2 + Cl2

Estequiometria da Eletrólise
Quando realizamos a eletrólise da água, o volume que obtemos de H2(g) no cátodo é o dobro do volume que obtemos de O2(g) no
ânodo. Agora vamos aprender a calcular a quantidade de substância liberada num eletrodo. Sendo:
i – intensidade de corrente.
Q – quantidade de carga elétrica.
t –tempo de passagem da corrente pelo eletrólito.
Temos: Q= i.t

Conceito de faraday (F)


A quantidade de eletricidade de 1 mol de elétrons (6,02 x 1023 elétrons) é chamada d
e faraday (F). A carga elétrica que um elétron transporta é 1,6 x 10-19C. Um mol de elétrons terá carga:
6,02 x 1023 x 1,6 x 10-19 C 965000 C
965000 C = 1 Faraday

QUÍMICA ORGÂNICA: ESTRUTURA, NOMENCLATURA E PROPRIEDADES FÍSICAS E


QUÍMICAS DE COMPOSTOS ORGÂNICOS

É a parte da Química que estuda os compostos que contém carbono. Porém nem toda substância que contém carbono é parte da
Química Orgânica. Há algumas exceções, porque apesar de conter carbono, tem comportamento de uma substância inorgânica. São eles:
C(grafite), C(diamante), CO, CO2, HCN, H2CO3, Na2CO3. Os compostos orgânicos são, na sua maioria, formados por C, H, O e N.
Entretanto em 1828, Wohler obteve o primeiro composto orgânico em laboratório. Este composto recebeu o nome de ureia, e a partir
deste, surgiram outras sínteses de compostos orgânicos realizados em laboratório. Em 1858, KeKulé e Couper enunciaram a teoria estru-
tural da Química orgânica através de três postulados:
1)O Carbono é tetravalente
2) As quatro valências são equivalentes
3) O carbono forma cadeias carbônicas

Os átomos de carbono agrupam-se entre si, formando estruturas de carbono, ou cadeias carbônicas.

FUNÇÃO ORGÂNICA:
É o conjunto de substâncias com propriedades químicas semelhantes (denominadas, então, propriedades funcionais).
O grupamento dos compostos orgânicos com propriedades semelhantes,ocorre em conseqüência de características estruturais co-
muns.
Cada função é caracterizada por um grupo funcional.

Nomenclatura dos compostos orgânicos


Os compostos orgânicos recebem nomes oficiais que levam em consideração o número de carbonos, os tipos de ligações entre eles e
a função que as substâncias pertencem.

356
356
QUÍMICA
O esquema apresentado no quadro abaixo mostra, as partes básicas da nomenclatura de um composto orgânico.

Primeiramente, vamos estudar os hidrocarbonetos. Estes são compostos formados apenas por carbono (C) e hidrogênio (H). Os hidro-
carbonetos podem ser subdivididos em várias classes em função do tipo de ligação que apresenta entre os carbonos. Diante disso, temos:

Cadeia carbônica Classe de hidrocarboneto


Alifática saturada Alcano ou parafina
Alifática insaturada por 1 dupla ligação Aceno, alqueno ou olefina
Alifática insaturada por 1 tripla ligação Alcino ou alquino
Alifática insaturada por 2 duplas ligações Alcadienos ou dienos
Alicíclica saturada Ciclano, cicloalcano ou cicloparafina
Aromática Hidrocarboneto aromático
Classes dos hidrocarbonetos
-Alcanos ou parafinas
São hidrocarbonetos alifáticos saturados, isto é, apresentam cadeia aberta com apenas simples ligações (saturadas).

Fórmula geral: CnH2n+2 (proporção entre o número de átomos de carbono e hidrogênio)

Metano CH4
Etano C2H6
Propano C3H8
Fórmula Geral CnH2n+2
Exemplos:

Com base na figura acima podemos observar que os compostos CH4, C2H6 e C3H8 diferem entre si devido a um grupo CH2, constituindo
uma série denominada homóloga.

357
QUÍMICA
-Alcenos, Alquenos e Oleofinas Os compostos acima diferem entre si por dois átomos de hidro-
São hidrocarbonetos alifáticos insaturados que apresentam gênio (2H) e constituem uma série isóloga.
uma dupla ligação. Este termo olefinas provém do latim: oleum =
óleo + affinis = afinidade, e significa que eles reagem com substân- -Alcadienos ou Dienos
cias oleosas. São hidrocarbonetos alifáticos insaturados por duas ligações
Fórmula geral: CnH2n duplas.
-Fórmula geral: CnH2n-2
Exemplos:
1) Nomenclatura: Eteno (etileno) Exemplos:
Fórmula molecular: C2H4 1) Nomenclatura: Propadieno
Fórmula estrutural: Fórmula molecular: C3H4
Fórmula estrutural:

2) Nomenclatura: Propeno
Fórmula molecular: C3H6
Fórmula estrutural:
2) Nomenclatura:1,2 Butadieno
Fórmula molecular: C4H6
Fórmula estrutural:

3) Nomenclatura: Buteno
Fórmula molecular: C4H8
Fórmula estrutural:

-Ciclanos, Cicloalcanos ou Parafinas


Apresentam cadeia fechada com apenas simples ligações.
Observação: Os alcenos diferem entre si por um grupo (CH2), Fórmula geral: CnH2n
logo constituem uma série homóloga.
Exemplos:
Sempre que for necessário, deve-se indicar a posição da du- 1) Nomenclatura:ciclopropano (ciclo-propano)
pla ligação, sendo que a numeração é iniciada da extremidade mais Fórmula molecular: C3H6
próxima da instauração (regra dos menores valores). Fórmula estrutural:
-Alcinos ou Alquinos
São hidrocarbonetos alifáticos insaturados por uma tripla liga-
ção.
Fórmula geral: CnH2n-2

Exemplos:
1) Nomenclatura: Etino
Fórmula molecular: C2H2
Fórmula estrutural: 2) Nomenclatura: ciclohexano (ciclo-hexano)
Fórmula molecular: C6H12
Fórmula estrutural:

2) Nomenclatura: Proprino
Fórmula molecular: C3H4
Fórmula estrutural:
-Cicloalcenos, Cicloaquenos ou Ciclenos
São hidrocarbonetos cíclicos insaturados com uma dupla liga-
ção. Caso não haja ramificações nos cicloalcenos, não é necessário
indicar a dupla posição.
Fórmula geral: CnH2n-2

Exemplo:
1) Nomenclatura: 1-Ciclobutenos
Fórmula molecular: C4H6

358
358
QUÍMICA
Fórmula estrutural: Para realizar a nomenclatura de um hidrocarboneto ramificado,
é necessário identificar a cadeia principal, que, geralmente, apre-
senta o maior número de carbonos. Para isso, temos que levar em
consideração a classe dos hidrocarbonetos com a qual estamos tra-
balhando, como relatado em cada caso:

a) Nomenclatura de alcanos ramificados


Passo 1: Determinar a cadeia principal e seu nome
(A cadeia principal de um alcano é sempre aquela que apresen-
tar o maior número de carbonos e o maior número de ramificações)
Passo 2: Reconhecer os radicais e dar nome aos mesmos.
-Aromáticos Passo 3: Numerar a cadeia principal de moto a obter os meno-
São hidrocarbonetos que em cuja estrutura existe pelo menos res números possíveis para indicar as posições dos radicais.
um anel benzênico ou aromático. Esses compostos apresentam Passo 4: Quando houver mais de um radical do mesmo tipo,
uma nomenclatura diferenciada, que não segue os padrões dos ou- seus nomes devem ser precedidos de prefixos que indiquem a
tros hidrocarbonetos. quantidade: di, tri, treta, penta e etc.
Os principais hidrocarbonetos são: Passa 5: Quando houver dois ou mais radicais de tipos diferen-
tes, seus nomes podem ser escritos de duas maneiras:
a) Pela ordem de complexidade crescente dos radicais
b) Pela ordem alfabética (Notação recomentada pela IUPAC).

- PF e PE.
Na comparação entre moléculas apolares, os pontos de fusão
e ebulição aumentam com a massa molecular. Se duas moléculas
apolares têm a mesma massa molecular, quanto mais ramificada a
cadeia menores as temperaturas de fusão e de ebulição. As varia-
ções dessas propriedades físicas podem ser explicadas através das
forças intermoleculares.

Fatores que influenciam no Ponto de Ebulição


-Massa molar
-Maior massa
-Maior temperatura de ebulição
-Para moléculas de mesma força intermolecular
Nomenclatura de hidrocarbonetos ramificados -Superfície de contato
-Maior a cadeia carbônica
Saber reconhecer um hidrocarboneto é muito importante, -Maior superfície
pois, com essa habilidade, é possível desenvolver outra, que é reali- -Maior número de interações ao longo da cadeia
zar corretamente a nomenclatura de hidrocarbonetos ramificados. -Maior temperatura de ebulição
Os hidrocarbonetos ramificados são todos aqueles cujas ca-
deias possuem mais de dois carbonos primários (se abertas) e pelo Ramificações
menos um carbono primário (se fechadas), como mostrado nos -Maior número de ramificações
exemplos abaixo: -Menor superfície
-Menor número de interações ao longo da cadeia
-Menor temperatura de ebulição
-Para moléculas de mesma interação intermolecular e massas
molares próximas.

ÁLCOOIS
Os álcoois são compostos que apresentam o grupo hidroxila
Cadeia aberta com pelo menos três carbonos (-OH) ligado ao carbono saturado.
Grupo funcional:

primários

Cadeia fechada com pelo menos um carbono primário

Nomenclatura oficial dos álcoois

359
QUÍMICA
A nomenclatura oficial dos álcoois segue as mesmas regras estabelecidas pela IUPAC para os hidrocarbonetos, com apenas uma dife-
rença: como o grupo funcional é diferente, o sufixo é “OH” no lugar de “o”, que é o usado para os hidrocarbonetos.

Prefixo Intermediário Sufixo


N° de Carbono Tipo de Ligação OL

Exemplos:
-H3C — OH: met + an + ol = metanol
-H3C — CH2 — OH: et + an + ol = etanol
Quando um álcool alifático apresentar mais de dois átomos de carbono, devemos indicar a posição do OH numerando a cadeia a partir
da extremidade mais próxima do carbono que contém a hidroxila.

Exemplos:

1-butanol
2-butanol

Em álcoois insaturados e/ou ramificados, devemos indicar a posição da hidroxila, da insaturada e das ramificações. Sendo que a ordem
de prioridade para a manutenção é:

Função > Insaturação > Radical

Exemplo1: Exemplos2:

3 metil-1 butanol
Nomenclatura usual dos álcoois
Iniciamos com a palavra álcool seguida do nome do radical ligado à hidroxila com a terminação ico.
Exemplos:

FENOL
Os fenóis são compostos que apresentam o grupo hidroxila (-OH) ligado diretamente a um carbono aromático.
Grupo funcional:

Exemplos

Nomenclatura IUPAC

360
360
QUÍMICA
É utilizado o prefixo hidróxi, seguido da terminação benzeno. Caso existam ramificações no núcleo benzênico, a numeração inicia-se
na hidroxila e segue o sentido dos menores números.
Exemplos:

O hidróxi-benzeno é o fenol mais simples, conhecido também como fenol, fenol, comum ou ácido fênico.
ENOL
Os enóis são compostos orgânicos que se caracterizam pela presença de hidroxila ligada a um carbono primário ou secundário. Assim
como, pela migração de uma ligação π entre dois átomos de carbono da molécula para entre um átomo de carbono e um de oxigênio. A
nomenclatura oficial dos enol, a terminação é ol.
Exemplo:

ALDEÍDOS
Os aldeídos contêm o grupo carbonila em carbono primário (extremidade da cadeia).

Grupo funcional:

Exemplos:

Nomenclatura IUPAC

361
QUÍMICA
- A terminação do nome oficial é AL.
- A cadeia principal deve ser a mais longa possível que apresentar o grupo funcional.
- Para cadeias ramificadas ou insaturadas, devemos numerar pela extremidade que contenha o grupo funcional. Este será sempre
posição 1. E não precisa ser mencionado no nome.

Exemplos:

Nomenclatura usual

Os quatro primeiros aldeídos têm nomes usuais, tais como:

Importante
O odor dos aldeídos que têm baixo peso molecular é irritante, porém, à medida que o número de carbonos aumenta, torna-se mais
agradável. Os aldeídos de maior peso molecular são muito utilizados na indústria de cosméticos na fabricação de perfumes sintéticos. Por
exemplo, o benzaldeído é utilizado como essência de amêndoas e o cinamaldeído de canela.

CETONAS
As cetonas também apresentam o grupo carbonila, sendo que o carbono do grupo deve ser secundário.

Grupo funcional:

Exemplos:

Nomenclatura IUPAC

De acordo com a nomenclatura da IUPAC a terminação das cetonas é é ONA.


A cadeia principal é a mais longa que possui a carbonila e a numeração é feita a partir da extremidade mais próxima da carbonila.

362
362
QUÍMICA
Exemplos

Quando a numeração for necessária, ela deve ser iniciada da extremidade mais próxima da carbonila.
Exemplos:

Nomenclatura Usual

Na nomenclatura usual, o grupo carbonila é denominado cetona, e seus ligantes são considerados radicais.

Exemplos:

ÁCIDO CARBOXÍLICO
Os ácidos carboxílicos apresentam pelo menos uma função carboxila.

-Grupo funcional:

Exemplos:

O O O
H C OH CH3 C OH C6H5 C OH

Ácido fórmico Ácido acético Ácido benzóico


Nomenclatura IUPAC

Inicia-se com a palavra ácido e a terminação utilizada é óico. A cadeia principal é a mais longa e que possua a carboxila. Para cadeias
ramificadas, devemos numerar a partir do carbono da carboxila (e não precisa mencionar a posição 1).

363
QUÍMICA
Exemplos:

Nomenclatura Usual

O nome usual para os ácidos é associado à sua origem ou a suas propriedades. Os nomes comuns de muitos ácidos carboxílicos são
baseados em suas origens históricas ou ao seu odor exalado por quem os produz.

Exemplo:

ÉSTERES
Ésteres são compostos orgânicos produzidos através da reação química denominada de esterificação: ácido carboxílico e álcool rea-
gem entre si e os produtos da reação são éster e água. Os ésteres são encontrados em muitos alimentos, perfumes, objetos e fármacos
que temos em casa.

Grupo funcional:

Os ésteres possuem aroma bastante agradável. São usados como essência de frutas e aromatizantes nas indústrias alimentícia, farma-
cêutica e cosmética. Constituem também óleos vegetais e animais, ceras e gordura.

Colocando-se o grupo funcional como referencial, podemos dividir o nome em duas partes:

Exemplos:

Importante
- Ésteres de cadeias carbônicas pequenas são líquidos e pouco solúveis em água, enquanto os de maiores massas molares são sólidos
e insolúveis.
- Diferentemente dos ácidos, dos quais são derivados, os ésteres geralmente possuem odor muito agradável.
- Conforme anteriormente mencionado eles são os principais responsáveis pelo aroma das frutas e das flores.

ÉTERES
Éter é todo composto orgânico onde a cadeia carbônica apresenta – O – entre dois carbonos. O oxigênio deve estar ligado diretamente
a dois radicais orgânicos (alquila ou arila). A fórmula genérica do éter é R – O – R, onde o R é o radical e o O é o oxigênio.

Grupo funcional:

Nomenclatura oficial

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364
QUÍMICA
A nomenclatura oficial pode ser obtida da seguinte maneira:

Exemplos:

AMINAS
As aminas são consideradas as bases orgânicas e são obtidas a partir da substituição de um ou mais hidrogênios da amônia [NH3] por
radicais.

Nomenclatura da IUPAC

Na sua nomenclatura, basta indicar (o)s radical (is) ligados ao nitrogênio acrescido da palavra amina.

As aminas aromáticas nas quais o nitrogênio se liga diretamente ao anel benzênico Ar–NH2 são, geralmente, nomeadas como se fos-
sem derivadas da amina aromática mais simples: a fenilamina (Anilina)

365
QUÍMICA
Para aminas mais complexas, consideramos o grupo NH2 como sendo uma ramificação, chamada de amino.

AMIDAS
As amidas são caracterizadas pelo grupo funcional:

Nomenclatura da IUPAC

O nome das amidas, de acordo com a IUPAC é dado da seguinte maneira:

Exemplo

NITRILA
As nitrilas são obtidas pela substituição do hidrogênio do gás cianídrico (HCN) por um radical orgânico.

Nomenclatura IUPAC

É dado nome ao hidrocarboneto correspondente seguido da terminação nitrila.

Exemplos:

Nomenclatura Usual

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QUÍMICA

Usa-se a palavra cianeto e, em seguida, o nome do radical preso ao grupo – C N.

A nitrila mais importante é o propenonitrila, empregada na obtenção de borracha sintética e de outros plásticos:

NITROCOMPOSTO
Os nitrocompostos são substâncias que contêm um ou mais grupos nitro (NO2) em sua molécula.

Grupo funcional:

Nomenclatura Oficial IUPAC

Usa-se prefixo nitro antecedendo o nome do hidrocarboneto de que se origina o nitro composto.

Exemplo:

H3C – NO2
Nitrometano

2-nitro-pentano

HALETOS ORGÂNICOS
Os haletos orgânicos são compostos resultantes da substituição de um ou mais hidrogênios em moléculas de hidrocarbonetos, por
átomos de halogênios, que podem ser o flúor, o cloro, o bromo ou o iodo.
Os Haletos orgânicos são representados por R – X onde X = Cl, Br, F, I.

2 – cloro 2 – metil – butano

Repare que o Cl está ligado a uma cadeia de hidrocarbonetos.

ÁCIDOS SULFÔNICOS
Ácidos sulfônicos são ácidos sulfúricos que perdem seu grupo hidroxila (-OH), ganhando no lugar um radical derivado de hidrocarbo-
neto.

367
QUÍMICA
-Grupo funcional:

O nome desses ácidos é obtido da seguinte maneira:

É importante lembrar que a nomenclatura deve ser iniciada pela extremidade mais próxima do grupo funcional:

COMPOSTO DE GRIGNARD
Os compostos de Grignard pertencem à classe dos compostos denominados organometálicos. Seu grupo funcional é dado por:

Sua nomenclatura segue o seguinte esquema:

QUESTÕES

1. Um técnico em química teve a tarefa de armazenar diferentes substâncias. Para tanto, resolveu separá-las de acordo com as
respectivas funções químicas. As substâncias eram: NaCl, CaCO3, Ca(OH)2, CaO, Na2O, NaOH, H2SO4 e HCl.
A alternativa que apresenta apenas as substâncias classificados como óxidos é:
(A) CaO e Na2O.
(B) Na2O e NaOH.
(C) H2SO4 e HCl.
(D) Ca(OH)2 e CaO.
(E) CaO, Na2O e NaOH.

2.Um sal possui várias características.


NÃO constitui uma dessas características
(A) ter ponto de fusão elevado.
(B) ter, na forma sólida, rede cristalina formada por cátion e ânion.
(C) ser um sólido formado por apenas dois elementos, sendo um deles o oxigênio.
(D) ser uma substância iônica.
(E) tender a se dissociar em água (mesmo que em pequena escala) liberando pelo menos um cátion de um elemento metálico.

3. Considere as reações abaixo e marque a alternativa que indica corretamente as reações endotérmicas:
I. CH4(g) + 2 O2(g) → CO2(g) + H2O(l) + 889,5 kJ
II. Fe2O3(s) +3 C(s) → 2 Fe(s) +3 CO(g) ΔH = + 490 kJ
III. 6 CO2(g) + 6 H2O(l) + 2 813 → C6H12O6(g) + 6 O2(g)
IV. HCl(aq) + NaOH(aq) → NaCl(aq) + H2O(l) ΔH = - 57,7 kJ
V. 1 H2(g) + 1/2 O2(g) → 2 H2O(l) + 68,3 kcal
VI. 1 H2(g) + 1 I2(g) → 2 HI(g) ΔH = + 25,96 kJ/mol
(A) II e III.
(B) I e IV.
(C) II, III e VI.
(D) I, IV e V.
(E) I, III e V.

368
368
QUÍMICA
4. Em relação ao equilíbrio químico
2 NO(g)+ 1 O2(g) ↔ 2 NO2(g) + 27 kcal pode-se afirmar:
(A) Aumentando a quantidade de O2(g), o equilíbrio se desloca para a esquerda;
(B) Diminuindo a quantidade de NO2(g), o equilíbrio se desloca para a esquerda;
(C) Aumentando ou diminuindo as quantidades das espécies químicas dessa equação, o equilíbrio não se altera;
(D) Diminuindo a quantidade de NO(g), o equilíbrio se desloca para a esquerda;
(E) Diminuindo a quantidade da espécie química NO(g), o equilíbrio se desloca para a direita.

5. De modo geral, os compostos que possuem ligações iônicas:


(A) são formados pela ligação entre ametais e o hidrogênio.
(B) são encontrados na natureza no estado líquido.
(C) apresentam baixos pontos de fusão e ebulição.
(D) são duros e resistentes a impactos.
(D) apresentam alta condutividade elétrica em solução aquosa.

6. Reações químicas dependem de energia e colisões eficazes que ocorrem entre as moléculas dos reagentes. Em sistema fechado,
é de se esperar que o mesmo ocorra entre as moléculas dos produtos em menor ou maior grau até que se atinja o chamado “equilíbrio
químico”.
O valor da constante de equilíbrio em função das concentrações das espécies no equilíbrio, em quantidade de matéria, é um dado
importante para se avaliar a extensão (rendimento) da reação quando as concentrações não se alteram mais.
Considere a tabela com as quantidades de reagentes e produtos no início e no equilíbrio, na temperatura de 100°C, para a seguinte
reação:

Tabela com quantidade de reagentes e produto (Foto: Reprodução)

A constante de equilíbrio tem o seguinte valor:


(A) 0,13
(B) 0,27
(C) 0,50
(D) 1,8
(E) 3,0

7. Em quais das passagens a seguir está ocorrendo transformação química?


1) “ O reflexo da luz nas águas onduladas pelos ventos lembrava-lhe os cabelos de seu amado”.
2) “ A chama da vela confundia-se com o brilho nos seus olhos”.
3) “Desolado, observava o gelo derretendo em seu copo e ironicamente comparava-o ao seu coração.”
4) “Com o passar dos tempos começou a sentir-se como a velha tesoura enferrujando no fundo da gaveta.”

Estão corretas apenas:


(A) 1 e 2
(B) 2 e 3
(C) 3 e 4
(D) 2 e 4
(D) 1 e 3

369
QUÍMICA
8. A energia térmica liberada em processos de fissão nucle- 10. UFRJ) Em um potenciômetro, se faz a leitura de uma so-
ar pode ser utilizada na geração de vapor para produzir energia lução 0,001M de hidróxido de sódio (utilizado na neutralização do
mecânica que, por sua vez, será convertida em energia elétrica. ácido lático). Sabendo-se que o grau de dissociação é total, o valor
Abaixo está representado um esquema básico de uma usina de do pH encontrado corresponde a:
energia nuclear. (A) 2,7.
(B) 5,4.
(C) 12,0.
(D) 11,0.
(E) 9,6.

11. (Mackenzie-SP) A análise feita durante um ano de chuva


da cidade de São Paulo forneceu um valor médio de pH igual a 5.
Comparando-se esse valor com o do pH da água pura, percebe-se
que a [H+] na água da chuva é, em média:
(A) duas vezes menor.
(B) cinco vezes maior.
(C) cem vezes maior.
(D) duas vezes maior.
(E) cem vezes menor.
12. Observe a estrutura eletrônica de Lewis sugerida para o
N2O.

A partir do esquema são feitas as seguintes afirmações:


I. a energia liberada na reação é usada para ferver a água que,
como vapor a alta pressão, aciona a turbina.
II. a turbina, que adquire uma energia cinética de rotação, é
acoplada mecanicamente ao gerador para produção de energia elé- Nessa estrutura, as cargas formais dos átomos,lidos da esquer-
trica. da para a direita, são, respectivamente,
III. a água depois de passar pela turbina é pré-aquecida no con- (A)zero, zero e zero.
densador e bombeada de volta ao reator. (B)-1, -1 e +2.
(C)-1, +1 e zero.
Dentre as afirmações acima, somente está(ão) correta(s): (D)+1, -1 e zero.
(A) I. (E)+3, +3 e -6.
(B) II.
(C) III. 13. (UEMG) Uma reação química hipotética é representada
(D) I e II. pela seguinte equação:
(E) II e III. A(g) + B(g) → C(g) + D(g)
e ocorre em duas etapas:
9. (Unesp) A elevação da temperatura de um sistema produz, A(g) → E(g) + D(g) (Etapa lenta)
geralmente, alterações que podem ser interpretadas como sendo E(g) + B(g ) → C(g) (Etapa rápida)
devidas a processos físicos ou químicos.
Medicamentos, em especial na forma de soluções, devem ser A lei da velocidade da reação pode ser dada por
mantidos em recipientes fechados e protegidos do calor para que (A) v = k.[A]1
se evite: (B) v = k.[A]1.[B]1
(I) a evaporação de um ou mais de seus componentes; (C) v = k.[C]1.[D]1
(II) a decomposição e consequente diminuição da quantidade (D) v = k.[E]1.[B]1
do composto que constitui o princípio ativo;
(III) a formação de compostos indesejáveis ou potencialmente 14. A retenção de água na superfície da pele promovida pe-
prejudiciais à saúde. los hidratantes é consequência da interação dos grupos hidroxila
dos agentes umectantes com a umidade contida no ambiente por
A cada um desses processos - (I), (II) e (III) - corresponde um meio de:
tipo de transformação classificada, respectivamente, como: (A) ligações iônicas
(A) física, física e química. (B) forças de London
(B) física, química e química. (C) ligações covalentes
(C) química, física e física. (D) forças dipolo-dipolo
(D) química, física e química. (E) ligações de hidrogênio
(E) química, química e física.

370
370
QUÍMICA
15. (UERJ-1997) Água e etanol são dois líquidos miscíveis em 20. (UF-PA) O sistema constituído por água líquida, ferro sóli-
quaisquer proporções devido a ligações intermoleculares, deno- do, gelo e vapor d’água apresenta:
minadas: (A) 3 fases e 3 componentes
(A) iônicas. (B) 3 fases e 2 componentes
(B) pontes de hidrogênio. (D) 4 fases e 2 componentes
(C) covalentes coordenadas. (D) 4 componentes e 6 fases
(D) dipolo induzido - dipolo induzido. (E) 2 fases e 2 componentes.
(E) dipolo permanente

16. (Vunesp-2003) Pode-se verificar que uma massa de água GABARITO


ocupa maior volume no estado sólido (gelo) do que no estado lí-
quido. Isto pode ser explicado pela natureza dipolar das ligações
entre os átomos de hidrogênio e oxigênio, pela geometria da mo- 1 A
lécula de água e pela rigidez dos cristais. As interações entre as
moléculas de água são denominadas 2 C
(A) forças de Van der Waals. 3 C
(B) forças de dipolo induzido.
(C) forças de dipolo permanente. 4 D
(D) pontes de hidrogênio. 5 E
(E) ligações covalentes.
6 B
17. Leia o texto a seguir, escrito por Jacob Berzelius, em 1828: 7 D
“Existem razões para supor que, nos animais e nas plantas, 8 D
ocorrem milhares de processos catalíticos nos líquidos do corpo
e nos tecidos. Tudo indica que, no futuro, descobriremos que a 9 B
capacidade de os organismos vivos produzirem os mais variados 10 D
tipos de compostos químicos reside no poder catalítico de seus
tecidos.” 11 C
A previsão de Berzelius estava correta, e hoje sabemos que o 12 C
“poder catalítico” mencionado no texto deve-se
13 A
(A) aos ácidos nucleicos.
(B) aos carboidratos. 14 E
(C) aos lipídios. 15 B
(D) às proteínas.
(E) às vitaminas. 16 D
17 D
18. Além de serem as macromoléculas mais abundantes nas
células vivas, as proteínas desempenham diversas funções estru- 18 D
turais e fisiológicas no metabolismo celular. Com relação a essas 19 E
substâncias, é correto afirmar que: 20 C
(A) são todas constituídas por sequências monoméricas de
aminoácidos e monossacarídeos.
(B) além de função estrutural, são também as mais importan-
tes moléculas de reserva energética e de defesa.
ANOTAÇÕES
(C) são formadas pela união de nucleotídeos por meio dos gru- ______________________________________________________
pamentos amina e hidroxila.
(D) cada indivíduo produz as suas proteínas, que são codifica- ______________________________________________________
das de acordo com o material genético.
(E) a sua estrutura é determinada pela forma, mas não interfe- ______________________________________________________
re na função ou especificidade.
______________________________________________________
19. (MACKENZIE-SP)Dadas as afirmações, à vista desarmada:
______________________________________________________
(A) toda mistura heterogênea é um sistema polifásico.
(B) todo sistema polifásico é uma mistura heterogênea. ______________________________________________________
(C) todo sistema monofásico é uma mistura homogênea.
(D) toda mistura homogênea é um sistema monofásico. ______________________________________________________

São verdadeiras as afirmações: ______________________________________________________


(A) A e B
(B) A e C ______________________________________________________
(C) B e D
(D) B e C ______________________________________________________
(E) A e D
______________________________________________________

371
QUÍMICA
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372
372
FÍSICA

Características das ondas


OSCILAÇÕES E ONDAS: MOVIMENTO HARMÔNICO SIM-
PLES; ENERGIA NO MOVIMENTO HARMÔNICO SIMPLES; Todas as ondas possuem algumas grandezas físicas, que são:
ONDAS EM UMA CORDA; ENERGIA TRANSMITIDA PELAS - Frequência: é o número de oscilações da onda, por um certo
ONDAS; ONDAS ESTACIONÁRIAS; EQUAÇÃO DE ONDA período de tempo. A unidade de frequência do Sistema Internacio-
nal (SI), é o hertz (Hz), que equivale a 1 segundo, e é representada
pela letra f. Então, quando dizemos que uma onda vibra a 60Hz,
Ondulatória é a parte da Física que estuda as ondas. Qualquer significa que ela oscila 60 vezes por segundo. A frequência de uma
onda pode ser estudada aqui, seja a onda do mar, ou ondas eletro- onda só muda quando houver alterações na fonte.
magnéticas, como a luz. A definição de onda é qualquer perturba- -Período: é o tempo necessário para a fonte produzir uma onda
ção (pulso) que se propaga em um meio. Ex: uma pedra jogada em completa. No SI, é representado pela letra T, e é medido em segun-
uma piscina (a fonte), provocará ondas na água, pois houve uma dos.
perturbação. Essa onda se propagará para todos os lados, quando É possível criar uma equação relacionando a frequência e o
vemos as perturbações partindo do local da queda da pedra, até ir período de uma onda:
na borda. Uma sequência de pulsos formam as ondas. f = 1/T
Chamamos de Fonte qualquer objeto que possa criar ondas. A ou
onda é somente energia, pois ela só faz a transferência de energia T = 1/f
cinética da fonte, para o meio. Portanto, qualquer tipo de onda,
não transporta matéria!. As ondas podem ser classificadas seguindo - Comprimento de onda: é o tamanho de uma onda, que pode
três critérios: ser medida em três pontos diferentes: de crista a crista, do início ao
final de um período ou de vale a vale. Crista é a parte alta da onda,
Classificação das ondas segundo a sua Natureza vale, a parte baixa. É representada no SI pela letra grega lambda (λ)
- Velocidade: todas as ondas possuem uma velocidade, que
Quanto a natureza, as ondas podem ser dividas em dois tipos: sempre é determinada pela distância percorrida, sobre o tempo
- Ondas mecânicas: são todas as ondas que precisam de um gasto. Nas ondas, essa equação fica:
meio material para se propagar. Por exemplo: ondas no mar, ondas v = λ / T ouv = λ . 1/T ou ainda v = λ . f
sonoras, ondas em uma corda, etc.
- Ondas eletromagnéticas: são ondas que não precisam de um - Amplitude: é a “altura” da onda, é a distância entre o eixo da
meio material para se propagar. Elas também podem se propagar onda até a crista. Quanto maior for a amplitude, maior será a quan-
em meios materiais. Exemplos: luz, raio-x , sinais de rádio, etc. tidade de energia transportada.

Classificação em relação à direção de propagação Movimento Harmônico Simples, Período, Frequência, Pêndulo
Simples, Lei de Hooke, Sistema Massa-Mola
As ondas podem ser dividas em três tipos, segundo as dire-
ções em que se propaga: Movimento Harmônico Simples (MHS)
- Ondas unidimensionais: só se propagam em uma direção Um dos comportamentos oscilatórios mais simples de se esten-
(uma dimensão), como uma onda em uma corda. der, sendo encontrado em vários sistemas, podendo ser estendido
- Ondas bidimensionais: se propagam em duas direções (x e y a muitos outros com variações é o Movimento Harmônico Simples
do plano cartesiano), como a onda provocada pela queda de um (M.H.S).
objeto na superfície da água. Muitos comportamentos oscilatórios surgem a partir da exis-
- Ondas tridimensionais: se propagam em todas as direções tência de forças restauradoras que tendem a trazer ou manter sis-
possíveis, como ondas sonoras, a luz, etc. temas em certos estados ou posições, sendo essas forças restaura-
doras basicamente do tipo forças elásticas, obedecendo, portanto,
Classificação quanto a direção de propagaçã a Lei de Hooke (F = - kX).
- Ondas longitudinais: são as ondas onde a vibração da fonte é Um sistema conhecido que se comporta dessa maneira é o sis-
paralela ao deslocamento da onda. Exemplos de ondas longitudi- tema massa-mola (veja a figura abaixo). Consiste de uma massa de
nais são as ondas sonoras (o alto falante vibra no eixo x, e as ondas valor m, presa por uma das extremidades de uma certa mola de
seguem essa mesma direção), etc. fator de restauração k e cuja outra extremidade está ligada a um
- Ondas transversais: a vibração é perpendicular à propagação ponto fixo.
da onda. Ex.: ondas eletromagnéticas, ondas em uma corda (você
balança a mão para cima e para baixo para gerar as ondas na corda).

373
FÍSICA
Sistema Massa-Mola Usando da 1a. Lei de Newton sabemos que F(X) = ma(X), tendo
Esse sistema possui um ponto de equilíbrio ao qual chamare- nós agora:
mos de ponto 0. Toda vez que tentamos tirar o nosso sistema desse ma(X) + kX = 0
ponto 0, surge uma força restauradora (F = -kX) que tenta trazê-lo
de volta a situação inicial. Podemos perceber também que X = X(t) já que a posição de X
varia com o tempo enquanto o nosso sistema oscila, ficando a nossa
equação:
ma(X(t)) + kX(t) = 0

É possível se ver em um curso de Cálculo Diferencial e Integral


a nível superior que em sistemas dependentes do tempo como este
podemos aplicar uma função de função chamada derivada aonde
podemos dizer que a(X(t)) = d^2X(t)/d^2t, ou seja, que a derivada
Sistema Massa-Mola na Posição de Equilíbrio segunda de X em relação ao tempo é igual à aceleração de nos-
so sistema. Tendo a nossa equação o seguinte aspecto agora: m(-
d2X(t)/d2t) + kX(t) = 0
Onde a solução desta equação sendo chamada de equação di-
ferencial é a função de movimento de nosso sistema massa-mola.
Apesar de não termos conhecimentos para resolve-la, comentários
podem ser feitos sobre a mesma para termos uma ideia de como se
resolve. Primeiro vamos tentar entender melhor o que seja uma de-
Sistema Massa-Mola Estendido rivada. Em uma função você sempre dá um número e a função lhe
devolve outro número. A derivada que é uma função de função não
é muito diferente, você lhe dar uma função e ela lhe dá outra fun-
ção. Sendo a derivada segunda de uma função, o resultado depois
de ter passado duas vezes uma função por uma derivada. Passado
esse ponto vamos tentar entender melhor o que seja resolver uma
equação diferencial. Você sabe resolver uma equação de 2o. Grau
não sabe? Pois bem, você deve se lembrar que você tem algo do
Sistema Massa-Mola Comprimido tipo: aX2 + bX + c2 = 0
À medida que afastamos o bloco de massa m da posição de E que a ideia de resolver a equação de segundo grau é encon-
equilíbrio, a força restauradora vai aumentando (estamos tomando trar valores de X que satisfaçam a equação, ou seja, que se forem
o valor de X crescendo positivamente à direita do ponto de equilí- substituídos na expressão acima ela será igual a zero. Você se lem-
brio e vice-versa), se empurramos o bloco de massa m para a es- bra do procedimento do algoritmo, não?
querda da posição 0, uma força de sentido contrário e proporcional delta = b2 - 4ac X = (-b ± ((delta)1/2))/2a
ao deslocamento X surgirá tentando manter o bloco na posição de
equilíbrio 0. Onde você encontra aos valores que satisfazem a equação de
Se dermos um puxão no bloco de massa m e o soltarmos vere- 2o. Grau. Pois bem, a ideia de resolver uma equação diferencial não
mos o nosso sistema oscilando. Você teria ideia de por quê o nosso é muito diferente, somente que em vez de valores você deverá en-
sistema oscila? Se haveria, e se sim, qual a relação da força restau- contrar as funções que satisfazem a equação diferencial, funções
radora e do fato de nosso sistema ficar oscilando? que quando substituídas na equação diferencial no nosso caso dê
Na tentativa de respondermos a essa pergunta começaremos uma expressão final igual a zero. Mesmo sem sabermos como re-
discutindo o tipo de movimento realizado por nosso sistema massa- solver à equação, posso dizer que um conjunto de funções que a
-mola e a natureza matemática deste tipo de movimento. resolve são funções do tipo seno e coseno, o que corrobora muito
Perfil de um comportamento tipo M.H.S. bem com o esquema apresentado no começo da seção.
Oscilando em torno de um ponto central, apresentando uma Em outras palavras, a nossa função de movimento X(t) terá a
variação de espaço maior nas proximidades do ponto central do forma A cos(wt + ø) ou A sen(wt + ø), ou seja, X(t) = A cos(wt + ø) ou
que nas extremidades. Você saberia dizer qual o tipo de função re- X(t) = A sen(wt + ø).
presentada em nosso esquema? Esse formato característico perten- Onde A é amplitude do nosso M.H.S, que seria o deslocamento
ce a que tipo de funções? máximo realizado pelo bloco em relação à posição de equilíbrio, w
Uma explicação para esse tipo de gráfico obtido poderia sair de é a frequência angular do nosso movimento periódico em radianos
uma análise das forças existentes no sistema massa-mola, mesmo por segundo (w = 2*p*f, sendo f o número de vezes que o ciclo se
que a compreensão total da mesma somente possa ser entendida a repete a cada unidade de tempo), t é a nossa grandeza de tempo,
fundo a nível universitário. e ø é uma fase ou deslocamento angular acrescida ao nosso M.H.S.
Sabendo-se que a força aplicada no bloco m do nosso siste- Não existe grande diferença entre uma função seno ou coseno se
ma massa-mola na direção do eixo X será igual à força restauradora virmos pela questão de que uma função seno ou coseno se trans-
exercida pela mola sobre o bloco na posição X aonde o mesmo se forma na outra ou essa multiplicada por (-1) se deslocarmos 90
encontrar (3a. Lei de Newton) podemos escrever a seguinte equa- graus ou p/2 uma em relação à outra.
ção:
F (X) = - kX

Passando o segundo termo para o primeiro membro temos:


F (x) + kX = 0

374
374
FÍSICA
Uma outra forma para se ver que a equação de movimento do
M.H.S. é do tipo seno ou coseno é a partir da projeção do Movimen-
to Circular Uniforme (M.C.U.) sobre o eixo x, onde sabemos que
projeções são feitas a partir das funções seno e coseno.

Projeção do M.C.U. sobre o M.C.U. com uma diferença de fase Gráficos da função deslocamento, função velocidade e função
ø. aceleração do M.H.S.

Entretanto, podemos fazer uma análise dimensional e verifi-


car a coerência da forma apresentada. Podemos usar uma análise
dimensional para verificar se em termos de unidades a expressão
é coerente. Por exemplo, os termos cos(wt + ø) e sen(wt + ø) são
termos adimensionais, ou seja, não são representarmos em termos
de m/s, m/s2, kg, N, oC, J ou qualquer unidade física, são apenas
números que no caso dessas funções apenas assumem valores que
vão de (-1) a 1.

A amplitude A, no entanto está representando o valor máxi-


mo de deslocamento do nosso sistema massa-mola em relação à
M.C.U. eixo x produzindo um M.H.S. posição de equilíbrio em unidades de distância, que no nosso caso
usaremos o m. A frequência angular w, que é igual a 2*p*f, onde a
A função obtida é do tipo seno ou coseno. frequência linear f é dada em termos de 1 sobre a nossa unidade
O comportamento dessa equação de movimento pode ser mais de tempo t ,(1/t), já que f dá o número de repetições de ciclos em
bem compreendido ao tratarmos também outros parâmetros im- uma unidade de tempo t, também será dada em termos de 1 sobre
portantes como a velocidade, a aceleração, a dinâmica e a energia a unidade de tempo t já que 2*p também é adimensional. A nossa
no M.H.S. unidade de tempo no caso será o segundo. A expressão será coe-
A partir da projeção do vetor velocidade no M.C.U. (usando de rente dimensionalmente se as unidades do primeiro membro forem
um pouco de conhecimentos de trigonometria) também podemos iguais a do segundo membro. Ou seja, que as unidades do segundo
deduzir que a função velocidade também será do tipo seno ou co- membro dêem a unidade m/s que é correspondente à grandeza ve-
seno, sendo somente que v(t) = -wA sen(wt + ø) ou v(t) = wA cos(wt locidade.
+ ø), o que também pode ser escrito v(t) = ±wX(t). Tudo isso pode ser escrito da seguinte maneira: 1o. Membro:
Em um curso de Cálculo Diferencial e Integral poderemos ver [v] = m/s 2o. Membro: [A][w] = m * 1/s = m/s
que a função velocidade é a derivada da função deslocamento em
relação ao tempo, ou seja, que dX(t)/dt = v(t). E que disso, podere- Então dimensionalmente, a expressão é coerente. A análise
mos deduzir que v(t) = dX(t)/dt = -wA sen(wt + ø) ou wA cos(wt + ø), dimensional não permite definir se existem constantes ou outros
considerando que X(t) será igual a A cos(wt + ø) ou a A sen(wt + ø). termos adimensionais multiplicando as grandezas, mas com certeza
é uma ferramenta útil para dirimir discrepâncias e vermos a coerên-
cia de expressões. Para a aceleração do M.H.S. também podemos
ver que a mesma é do tipo seno ou coseno a partir da projeção do
vetor aceleração do M.C.U., somente que a sua expressão é dada
por a(t) = -(w2)A cos(wt + ø) ou -(w2)A sem(wt + ø). A partir de um
curso de Cálculo Diferencial e Integral também podemos ver que a
aceleração é a derivada segunda em relação ao tempo da função
deslocamento X(t), ou seja, que a(t) = dv(t)/dt = d(dX(t)/dt)/dt =
d2X(t)/dt = -(w2)X(t), de onde podemos deduzir que a(t) = -(w2)A
cos(wt + ø) ou -(w2)A sen(wt + ø); mas podemos fazer uma análise
dimensional para a função aceleração assim como fizemos para a
função velocidade.
Assim sendo: 1o. Membro: [a] = m/(s2) 2o. Membro: [A][w2] =
[A][w][w] = m * 1/s * 1/s = m * 1/(s2) = m/(s2) O que comprova que
a equação dimensionalmente é coerente.
A essa altura você deve estar se perguntando como podemos
saber qual é o valor de w? Posso dizer que w, que é a nossa frequên-
Vetores Velocidade e Aceleração do M.C.U. cia angular, determinando a variação angular do nosso oscilador no

375
FÍSICA
tempo, que está diretamente relacionado a nossa frequência linear De onde dessa equação diferencial se é possível obter uma
f, que determina o número de ciclos realizados por nosso oscilador equação de movimento similar à equação de movimento do siste-
em uma unidade de tempo, dependerá do fator de restauração k da ma massa-mola:
mola e do fator de inércia m do bloco, ambas respectivamente com teta(t) = A cos (wt + ø)
unidades físicas de [k] = N/m e [m] = kg. Como [w] = 1/s, podemos
encontrar uma maneira de arranjar as grandezas físicas k e m de Todas as demais considerações que foram feitas para o siste-
maneira a termos uma expressão aproximada para w. ma massa-mola poderão ser generalizadas para o pêndulo simples
De antemão já digo que essa expressão será obtida tirando-se agora, com a observação que a única representante de energia po-
a raiz quadrada da razão de k/m, ficando: (([k]/[m])1/2) = (((N/m)/ tencial a entrar no somatório de energias para dar Et é a energia
kg)1/2) = ((((kg * m/(s2))/m)/kg)1/2) = ((((kg/m)*(m/(s2)))/kg)1/2) potencial gravitacional (Epg), de maneira a conservar a energia total
= (((kg/(s2))/kg)1/2) = (((kg/kg)*(1/(s2)))1/2)= ((1/(s2))1/2) = 1/s do sistema, com energia potencial gravitacional se convertendo em
energia cinética e vice-versa, sendo que a nossa posição de equilí-
onde já poderíamos considerar pela análise dimensional que brio é exatamente o ponto mais baixo do sistema.
uma expressão próxima da que determinasse w seria w ~ ((k/m)1/2), De maneira análoga a que fizemos para encontrar a expressão
o que não permite sabermos se existiriam termos adimensionais ou de w para o sistema massa-mola podemos fazer para encontrar a
constantes, mas experimentalmente já fora comprovado a bastante expressão de w para o pêndulo simples; onde em vez de k e m, as
tempo que realmente w = ((k/m)1/2). grandezas físicas a serem consideradas serão as grandezas g e l.
Reescrevendo a equação de w agora com g e l ficamos que w
Na próxima seção, compreendermos como se dá o processo = ((g/l)1/2), sobre a qual podemos fazer uma análise dimensional
de conservação de energia dentro do sistema massa-mola, como para verificar a sua coerência:
se dão as conversões de energia potencial em cinética e vice-versa, (([g]/[l])1/2) = (((m/(s2))/m)1/2) = ((1/(s2))1/2) = 1/s [w] = 1/s
antes de chegarmos a Dinâmica do M.H.S., onde poderemos ver o que confere com o esperado, podendo se reescrever a ex-
algumas variações do nosso sistema massa-mola apresentado. pressão w = ((g/l)1/2) como o período de oscilação T, onde T = 1/f
= 1/(w/2*p) = 2*p/w = 2*p/((g/l)1/2) = 2*p*((l/g)1/2), tendo nós
Pêndulo Simples deduzido a expressão:
O pêndulo simples é um tipo de oscilador que para certas con- T = 2* p * ((l/g)1/2)
dições pode ser considerado um oscilador harmônico simples.
Esse resultado nós diz que o período de oscilação do pêndulo
simples independe da abertura angular em que ele é solto, somente
dependendo de parâmetros considerados fixos como o comprimen-
to do fio do pêndulo ou haste e da gravidade local (no caso do siste-
ma massa-mola os parâmetros a ser considerados como vimos é o
fator de restauração k e o fator de inércia m). Dessa forma podemos
concluir que não deverá haver variações no período do pêndulo po-
dendo o mesmo ser utilizado como medidor do tempo.

Lei de Hooke
Medida de uma força: deformação elástica. Podemos medir a
intensidade de uma força pela deformação que ela produz num cor-
po elástico. O dispositivo utilizado é o dinamômetro, que consiste
numa mola helicoidal envolvida por um protetor. Na extremidade
livre da mola há um ponteiro que se desloca do ponto de uma es-
cala. A medida de uma força é feita por comparação da deforma-
ção causada da deformação causada por essa força com a de força
padrão. Uma mola apresenta uma deformação elástica se, retirada
A partir da figura com a decomposição de forças existentes no a força que a deforma, ela retorna ao seu comprimento e forma
pêndulo simples podemos ver que a força restauradora do sistema originais.
pêndulo simples é do tipo F(teta) = -mg sen(teta), que é diferente
do tipo de força restauradora do nosso sistema massa-mola e que Robert Hooke, cientista inglês enunciou a seguinte lei, valida
caracteriza um movimento harmônico simples F(X) = -kX, contudo para as deformações elásticas: “A intensidade da força deformado-
para ângulos pequenos de teta, sen teta ~ teta, podendo nós fazer- ra (F) é proporcional à deformada (X).”
mos a seguinte substituição para a força restauradora do pêndulo A expressão matemática da Lei de Hooke é: F = K . X
simples para ângulos pequenos, F(teta) = -mg sen (teta) ~ -mg(teta). Onde K = constante de proporcionalidade característica da
O que nos permitiria chegarmos a uma equação muito pareci- mola (constante elástica da mola).
da com a que encontramos para o nosso sistema massa-mola:
F(teta) + mg*teta = 0 Ondas Mecânicas, Ondas Transversais e Longitudinais
Onde teta também é teta = teta(t), conseguindo nós assim que: As ondas podem ser classificadas de três modos.
F(teta(t)) + mg*teta(t) = 0
Quanto à natureza
Que pelo o que comentamos anteriormente podemos reescre- Ondas mecânicas: são aquelas que precisam de um meio mate-
ver como: rial para se propagar (não se propagam no vácuo).
d2(teta(t))/dt + mg*teta(t) = 0 Exemplo: Ondas em cordas e ondas sonoras (som).

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FÍSICA
Ondas eletromagnéticas: são geradas por cargas elétricas os- Cada ponto da corda sobe e desce. Assim que o ponto A come-
cilantes e não necessitam de uma meio material para se propagar, ça seu movimento (quando O sobe), B inicia seu movimento (quan-
podendo se propagar no vácuo. do O se encontra na posição inicial), movendo-se para baixo.
Exemplos: Ondas de rádio, de televisão, de luz, raios X, raios
laser, ondas de radar etc. O ponto D inicia seu movimento quando o ponto O descreveu
um ciclo completo (subiu, baixou e voltou a subir e regressou à po-
Quanto à direção de propagação sição inicial).
Unidimensionais: são aquelas que se propagam numa só dire- Se continuarmos a movimentar o ponto O, chegará o instante
ção. em que todos os pontos da corda estarão em vibração.
Exemplo: Ondas em cordas. A velocidade de propagação da onda depende da densidade
Bidimensionais: são aquelas que se propagam num plano. linear da corda e da intensidade da força de tração , e é dada por:
Exemplo: Ondas na superfície de um lago.
Tridimensionais: são aquelas que se propagam em todas as di-
reções.
Exemplo: Ondas sonoras no ar atmosférico ou em metais.

Quanto à direção de vibração


Transversais: são aquelas cujas vibrações são perpendiculares à
direção de propagação.

Exemplo: Ondas em corda.

Longitudinais: são aquelas cujas vibrações coincidem com a di-


reção de propagação.
Exemplos: Ondas sonoras, ondas em molas.

Em que: F = a força de tração na corda µ = , a densidade


linear da corda

Aplicação: Uma corda de comprimento 3 m e massa 60 g é


mantida tensa sob ação de uma força de intensidade 800 N. Deter-
mine a velocidade de propagação de um pulso nessa corda.

Resolução:

ONDAS EM UMA CORDA, VELOCIDADE, FREQUÊNCIA E COM-


PRIMENTO DE ONDA, ONDAS ESTACIONÁRIAS NUMA CORDA FIXA
EM AMBAS AS EXTREMIDADES

Velocidade de Propagação de uma Onda Unidimensional


Considere uma corda de massa m e comprimento ℓ, sob a ação
de uma força de tração .

Reflexão de um pulso numa corda


Quando um pulso, propagando-se numa corda, atinge sua ex-
tremidade, pode retornar para o meio em que estava se propagan-
Suponha que a mão de uma pessoa, agindo na extremidade do. Esse fenômeno é denominado reflexão.
livre da corda, realiza um movimento vertical, periódico, de sobe-
-e-desce. Uma onda passa a se propagar horizontalmente com ve- Essa reflexão pode ocorrer de duas formas:
locidade .

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FÍSICA
Extremidade fixa Resolução:
Se a extremidade é fixa, o pulso sofre reflexão com inversão de
fase, mantendo todas as outras características.

Extremidade livre
Se a extremidade é livre, o pulso sofre reflexão e volta ao mes-
mo semiplano, isto é, ocorre inversão de fase.

Princípio da Superposição
Quando duas ou mais ondas se propagam, simultaneamente,
num mesmo meio, diz-se que há uma superposição de ondas.
Como exemplo, considere duas ondas propagando-se confor-
me indicam as figuras:
Supondo que atinjam o ponto P no mesmo instante, elas causa-
rão nesse ponto uma perturbação que é igual à soma das perturba-
ções que cada onda causaria se o tivesse atingido individualmente,
ou seja, a onda resultante é igual à soma algébrica das ondas que
cada uma produziria individualmente no ponto P, no instante con-
siderado.
Refração de um pulso numa corda
Se, propagando-se numa corda de menor densidade, um pul-
so passa para outra de maior densidade, dizemos que sofreu uma
refração.

A experiência mostra que a freqüência não se modifica quando Após a superposição, as ondas continuam a se propagar com as
um pulso passa de um meio para outro. mesmas características que tinham antes.
Os efeitos são subtraídos (soma algébrica), podendo-se anular
no caso de duas propagações com deslocamento invertido.

Essa fórmula é válida também para a refração de ondas bidi-


mensionais e tridimensionais.
Observe que o comprimento de onda e a velocidade de propa-
gação variam com a mudança do meio de propagação.

Aplicação: Uma onda periódica propaga-se em uma corda A,


com velocidade de 40 cm/s e comprimento de onda 5 cm. Ao passar
para uma corda B, sua velocidade passa a ser 30 cm/s. Determine:
a) o comprimento de onda no meio B
b) a frequência da onda
Em resumo:
Quando ocorre o encontro de duas cristas, ambas levantam o
meio naquele ponto; por isso ele sobe muito mais.
Quando dois vales se encontram eles tendem a baixar o meio
naquele ponto.

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FÍSICA
Quando ocorre o encontro entre um vale e uma crista, um de- Aplicação: Uma onda estacionária de freqüência 8 Hz se esta-
les quer puxar o ponto para baixo e o outro quer puxá-lo para cima. belece numa linha fixada entre dois pontos distantes 60 cm. Incluin-
Se a amplitude das duas ondas for a mesma, não ocorrerá desloca- do os extremos, contam-se 7 nodos. Calcule a velocidade da onda
mento, pois eles se cancelam (amplitude zero) e o meio não sobe e progressiva que deu origem à onda estacionária.
nem desce naquele ponto.
Resolução:

Ondas Estacionárias
São ondas resultantes da superposição de duas ondas de mes-
ma freqüência, mesma amplitude, mesmo comprimento de onda,
mesma direção e sentidos opostos.
Pode-se obter uma onda estacionária através de uma corda fixa ONDAS SONORAS, NATUREZA DO SOM, PROPAGAÇÃO, VELO-
numa das extremidades. CIDADE, ALTURA, INTENSIDADE, TIMBRE
Com uma fonte faz-se a outra extremidade vibrar com movi-
mentos verticais periódicos, produzindo-se perturbações regulares Ondas Sonoras
que se propagam pela corda. Som é uma onda que se propaga em meio material, água, ar,
etc. O som não se propaga no vácuo, não se percebe o som sem um
meio material.
A intensidade do som é tanto quanto maiorque a amplitude da
onda sonora.

* Velocidade de propagação das ondas:

a) Quanto mais tracionado o material, mais rápido o pulso se


propagará.
b) O pulso se propaga mais rápido em um meio de menor mas-
sa.
c) O pulso se propaga mais rápido quando o comprimento é
Em que: N = nós ou nodos e V= ventres. grande.
Ao atingirem a extremidade fica, elas se refletem, retornando d) Equação da velocidade:
com sentido de deslocamento contrário ao anterior.
Dessa forma, as perturbações se superpõem às outras que es-
tão chegando à parede, originando o fenômeno das ondas estacio-
nárias.
Uma onda estacionária se caracteriza pela amplitude variável
de ponto para ponto, isto é, há pontos da corda que não se movi-
mentam (amplitude nula), chamados nós (ou nodos), e pontos que ou ainda pode ser V = l.f
vibram com amplitude máxima, chamados ventres.
* A equação acima nos mostra que quanto mais rápida for a
É evidente que, entre nós, os pontos da corda vibram com a onda maior será a freqüência e mais energia ela tem. Porém, a fre-
mesma freqüência, mas com amplitudes diferentes. qüência é o inverso do comprimento de onda (l), isto quer dizer
Observe que: Como os nós estão em repouso, não pode haver que ondas com alta freqüência têm l pequenos. Ondas de baixa fre-
passagem de energia por eles, não havendo, então, em uma corda qüência têm l grandes
estacionária o transporte de energia.
A distância entre dois nós consecutivos vale .

A distância entre dois ventres consecutivos vale .

A distância entre um nó e um ventre consecutivo vale .

379
FÍSICA
* Ondas Unidimensionais: São aquelas que se propagam em Timbre
um plano apenas. Em uma única linha de propagação. O Timbre é a “cor” do som. Aquilo que distingue a qualidade do
* Ondas Bidimensionais: São aquelas que se propagam em tom ou voz de um instrumento ou cantor, por exemplo a flauta do
duas dimensões. Em uma superfície, geralmente. Movimentam-se clarinete, o soprano do tenor.
apenas em superfícies planas. Cada objeto ou material possui um timbre que é único, assim
* Ondas Tridimensionais: São aquelas que se propagam em to- como cada pessoa possui um timbre próprio de voz.
das as direções possíveis.
Fenômenos Ondulatórios, Reflexão, Eco, Reverberação, Refra-
Som ção, Difração e Interferência
O som é uma onda (perturbação) longitudinal e tridimensional, Já que sabemos o que é o som, nada mais justo do que enten-
produzida por um corpo vibrante sendo de cunho mecânico. der como o som se comporta. Vamos então explorar um pouco os
* Fonte sonora: qualquer corpo capaz de produzir vibrações. fenômenos sonoros.
Estas vibrações são transmitidas às moléculas do meio, que por sua Na propagação do som observam-se os fenômenos gerais da
vez, transmitem a outras e a outras, e assim por diante. Uma molé- propagação ondulatória. Devido à sua natureza longitudinal, o som
cula pressiona a outra passando energia sonora. não pode ser polarizado; sofre, entretanto, os demais fenômenos,
* Não causa aquecimento: As ondas sonoras se propagam em a saber: difração, reflexão, refração, interferência e efeito Doppler.
expansões e contrações adiabáticas. Ou seja, cada expansão e cada Se você achar esta matéria cansativa, não se preocupe. Estare-
contração, não retira nem cede calor ao meio. mos voltando a estes tópicos toda vez que precisarmos deles como
* Velocidade do som no ar: 337m/s suporte. Você vai cansar de vê-los aplicados na prática... e acaba
* Nível sonoro: o mínimo que o ouvido de um ser humano nor- aprendendo ;-)
mal consegue captar é de 20Hz, ou seja, qualquer corpo que vibre A difração é a propriedade de contornar obstáculos. Ao en-
em 20 ciclos por segundo. O máximo da sensação auditiva, para o contrar obstáculos à sua frente, a onda sonora continua a provocar
ser humano é de 20.000Hz (20.000 ciclos por segundo). Este míni- compressões e rarefações no meio em que está se propagando e
mo é acompanhado de muita dor, por isso também é conhecido ao redor de obstáculos envolvidos pelo mesmo meio (uma pedra
como o limiar da dor. envolta por ar, por exemplo). Desta forma, consegue contorná-los.
Há uma outra medida de intensidade de som, que chamada A difração depende do comprimento de onda. Como o comprimen-
de Bell. Inicialmente os valores eram medidos em Béis, mas torna- to de onda (?) das ondas sonoras é muito grande - enorme quando
ram-se muito grandes numericamente. Então, introduziram o valor comparado com o comprimento de onda da luz - a difração sonora
dez vezes menor, o deciBell, dB. Esta medida foi uma homenagem é intensa.
a Alexander Graham Bell. Eis a medida de alguns sons familiares:
A reflexão do som obedece às leis da reflexão ondulatória nos
Fonte sonora ou dB Intensidade descrição de ruído em W.m-2 meios materiais elásticos. Simplificando, quando uma onda sonora
encontra um obstáculo que não possa ser contornado, ela “bate e
Limiar da dor 120 1 volta”. É importante notar que a reflexão do som ocorre bem em su-
perfícies cuja extensão seja grande em comparação com seu com-
Rebitamento 95 3,2.10-3 primento de onda.
Trem elevado 90 10-3 A reflexão, por sua vez, determina novos fenômenos conheci-
dos como reforço, reverberação e eco. Esses fenômenos se devem
Tráfego urbano
ao fato de que o ouvido humano só é capaz de discernir duas ex-
pesado 70 10-5 citações breves e sucessivas se o intervalo de tempo que as separa
Conversação 65 3,2.10-6 for maior ou igual a 1/10 do segundo. Este décimo de segundo é a
chamada persistência auditiva.
Automóvel silencioso 50 10-7
Rádio moderado 40 10-8 Reflexão do som
Sussurro médio 20 10-10
Roçar de folhas 10 10-11
Limite de audição 0 10-12

* Refração: mudanças na direção e na velocidade.


Refrata quando muda de meio.
Refrata quando há mudanças na temperatura
* Difração:Capacidade de contornar obstáculos. O som tem
grande poder de difração, porque as ondas têm um l relativamente
grande.
* Interferência: na superposição de ondas pode haver aumento
de intensidade sonora ou a sua diminuição.
Destrutiva - Crista + Vale - som diminui ou para.
Construtiva - Crista + Crista ou Vale + Vale - som aumenta de
intensidade.

Difração: Suponhamos que uma fonte emita um som breve que siga dois
Ocorre quando uma onda encontra obstáculos à sua propaga- raios sonoros. Um dos raios vai diretamente ao receptor (o ouvido,
ção e seus raios sofrem encurvamento. por exemplo) e outro, que incide num anteparo, reflete-se e diri-

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FÍSICA
ge-se para ao mesmo receptor. Dependendo do intervalo de tem- de de propagação do som neste meio. A resistência é a parte da impe-
po (?t) com que esses sons breves (Direto e Refletido) atingem o dância que não depende da frequência. É medida em ohms acústicos.
ouvido, podemos ter uma das três sensações distintas já citadas: A reactância acústica (X) é a parte da impedância que está relacionada
reforço, reverberação e eco. com a frequência do movimento resultante (onda sonora que se pro-
Quando o som breve direto atinge o tímpano dos nossos ouvi- paga). É proveniente do efeito produzido pela massa e elasticidade do
dos, ele o excita. A excitação completa ocorre em 0,1 segundo. Se meio material sobre o movimento ondulatório.
o som refletido chegar ao tímpano antes do décimo de segundo, o Se existe a impedância, uma oposição à onda sonora, podemos
som refletido reforça a excitação do tímpano e reforça a ação do também falar em admitância, uma facilitação à passagem da onda
som direto. É o fenômeno do reforço. sonora. A admitância acústica (Y) é a recíproca da impedância e de-
Na reverberação, o som breve refletido chega ao ouvido antes fine a facilitação que o meio elástico oferece ao movimento vibra-
que o tímpano, já excitado pelo som direto, tenha tempo de se re- tório. Quanto maior for a impedância, menor será a admitância e
cuperar da excitação (fase de persistência auditiva). Desta forma, vice-versa. É medida em mho acústico (contrário de ohm acústico).
começa a ser excitado novamente, combinando duas excitações A impedância também pode ser expressa em unidades rayls
diferentes. Isso ocorre quando o intervalo de tempo entre o ramo (homenagem a Rayleigh). A impedância característica do ar é de
direto e o ramo refletido é maior ou igual a zero, porém menor que 420 rayles, o que significa que há necessidade de uma pressão de
0,1 segundo. O resultado é uma ‘confusão’ auditiva, o que prejudica 420 N/m2 para se obter o deslocamento de 1 metro, em cada se-
o discernimento tanto do som direto quanto do refletido. É a cha- gundo, nas partículas do meio.
mada continuidade sonora e o que ocorre em auditórios acustica- Para o som, o ar é mais refringente que a água pois a impedân-
mente mal planejados. cia do ar é maior. Tanto é verdade que a onda sonora se desloca
No eco, o som breve refletido chega ao tímpano após este ter com maior velocidade na água do que no ar porque encontra uma
sido excitado pelo som direto e ter-se recuperado dessa excitação. resistência menor.
Depois de ter voltado completamente ao seu estado natural (com- Quando uma onda sonora passa do ar para a água, ela tende a
pletou a fase de persistência auditiva), começa a ser excitado nova- se horizontalizar, ou seja, se afasta da normal, a linha marcada em
mente pelo som breve refletido. Isto permite discernir perfeitamen- verde (fig.6). O ângulo de incidência em relação à água é impor-
te as duas excitações. tante porque, se não for suficiente, a onda sonora não consegue
Ainda derivado do fenômeno da reflexão do som, é preciso “entrar” na água e acaba sendo refletida.
considerar a formação de ondas estacionárias nos campos ondula-
tórios limitados, como é o caso de colunas gasosas aprisionadas em Refração da água para o ar
tubos. O tubo de Kundt, abaixo ilustrado, permite visualizar através A refração, portanto, muda a direção da onda sonora (mas não
de montículos de pó de cortiça a localização de nós (regiões isentas muda o seu sentido). A refração pode ocorrer num mesmo meio,
de vibração e de som) no sistema de ondas estacionárias que se por exemplo, no ar. Camadas de ar de temperaturas diferentes pos-
estabelece como resultado da superposição da onda sonora direta suem impedâncias diferentes e o som sofre refrações a cada cama-
e da onda sonora refletida. da que encontra.
Da água para o ar, o som se aproxima da normal. O som passa
Ondas Estacionárias da água para o ar, qualquer que seja o ângulo de incidência.
A distância (d) entre dois nós consecutivos é de meio compri- Dada a grande importância da impedância, tratada aqui apenas
mento de onda ( d = ? / 2 ). Sendo a velocidade da onda no gás Vgás para explicar o fenômeno da refração, ela possui um módulo pró-
= ?×f tem-se Vgás = 2×f×d, o que resulta num processo que permite prio. É um assunto relevante na geração e na transmissão de sons.
calcular a velocidade de propagação do som em um qualquer gás!
A frequência f é fornecida pelo oscilador de áudio-frequência que Interferência
alimenta o auto-falante. A interferência é a consequência da superposição de ondas sono-
A refração do som obedece às leis da refração ondulatória. Este ras. Quando duas fontes sonoras produzem, ao mesmo tempo e num
fenômeno caracteriza o desvio sofrido pela frente da onda quando mesmo ponto, ondas concordantes, seus efeitos se somam; mas se essas
ela passa de um meio para outro, cuja elasticidade (ou compressi- ondas estão em discordância, isto é, se a primeira produz uma compres-
bilidade, para as ondas longitudinais) seja diferente. Um exemplo são num ponto em que a segunda produz uma rarefação, seus efeitos se
seria a onda sonora passar do ar para a água. neutralizam e a combinação desses dois sons provoca o silêncio.
Quando uma onda sonora sofre refração, ocorre uma mudança
no seu comprimento de onda e na sua velocidade de propagação. Trombone de Quincke
Sua frequência, que depende apenas da fonte emissora, se mantém O trombone de Quincke é um dispositivo que permite consta-
inalterada. tar o fenômeno da interferência sonora além de permitir a deter-
Como já vimos, o som é uma onda mecânica e transporta ape- minação do comprimento de onda. O processo consiste em enca-
nas energia mecânica. Para se deslocar no ar, a onda sonora precisa minhar um som simples produzido por uma dada fonte (diapasão,
ter energia suficiente para fazer vibrar as partículas do ar. Para se por exemplo) por duas vias diferentes (denominados ‘caminhos de
deslocar na água, precisa de energia suficiente para fazer vibrar as marcha’) e depois reuni-los novamente em um receptor analisador
partículas da água. Todo meio material elástico oferece uma certa (que pode ser o próprio ouvido).
“resistência” à transmissão de ondas sonoras: é a chamada impe- Observando a fig.9 percebe-se que o som emitido pela fonte
dância. A impedância acústica de um sistema vibratório ou meio percorre dois caminhos: o da esquerda (amarelo), mais longo, e
de propagação, é a oposição que este oferece à passagem da onda o da direita (laranja), mais curto. As ondas entram no interior do
sonora, em função de sua frequência e velocidade. trombone formando ondas estacionárias dentro do tubo. Como o
A impedância acústica (Z) é composta por duas grandezas: a meio no tubo é um só e as ondas sonoras são provenientes de uma
resistência e a reactância. As vibrações produzidas por uma onda mesma fonte, é óbvio que as que percorrem o caminho mais curto
sonora não continuam indefinidamente pois são amortecidas pela cheguem primeiro ao receptor. Depois de um determinado período
resistência que o meio material lhes oferece. Essa resistência acústica de tempo, chegam as ondas do caminho mais longo e se misturam
(R) é função da densidade do meio e, consequentemente, da velocida-

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FÍSICA
às do caminho mais curto: é a interferência. De acordo com as fases ondas sonoras foi comprimida num menor espaço de tempo. Isto
em que se encontram as ondas do caminho mais longo e as ondas significa que a frequência foi aumentada e você percebe o som da
do caminho mais curto, o efeito pode ser totalmente diverso. buzina como mais agudo.
Se as ondas amarelas chegarem em concordância de fase com Quando o automóvel passa por você e se distancia, ocorre o
as ondas laranja, ocorre uma interferência construtiva e, o que se processo inverso - o som é expandido para preencher um tempo
ouve, é um aumento na intensidade do som. maior. Mesmo número de ondas num espaço de tempo maior signi-
Se as ondas amarelas chegarem em oposição de fase com as fica uma frequência menor e um som mais grave.
ondas laranja, ocorre uma interferência destrutiva, o que determi-
na o anulamento ou extinção delas. O resultado é o silêncio. Reflexão do Som
Dois sons de alturas iguais, ou seja, de frequências iguais, se Se você joga uma bola de borracha perpendicularmente contra
reforçam ou se extinguem permanentemente conforme se super- uma parede, ela bate na parede e volta na mesma direção. Se a
ponham em concordância ou em oposição de fase. bola é jogada obliquamente contra a parede, depois de bater ela
se desvia para outra direção. Nos dois casos a bola foi refletida pela
Batimento parede. O mesmo acontece com as ondas sonoras.
Se suas frequências não forem rigorosamente iguais, ora eles Timbre: o “documento de identidade” dos instrumentos.
se superpõem em concordância de fase, ora em oposição de fase, Todo instrumento musical tem o seu timbre, isto é, seu som
ocorrendo isso a intervalos de tempo iguais, isto é, periodicamente característico. Assim, o acordeão e o violão podem emitir uma mes-
se reforçam e se extinguem. É o fenômeno de batimento e o inter- ma nota musical, de mesma frequência e intensidade, mas será fácil
valo de tempo é denominado período do batimento. distinguir o som de um e do outro.
Distingue-se um som forte de um som fraco pela intensidade. Na música, o importante não é a frequência do som emitido
Distingue-se um som agudo de um som grava pela altura. Distingue- pelos diversos instrumentos, mas sim a relação entre as diversas
-se o som de um violino do som de uma flauta pelo timbre. frequências de cada um. Os, por exemplo, um dó e um mi são toca-
dos ao mesmo tempo, o som que ouvimos é agradável e nos dá uma
Efeito Doppler sensação de música acabada. Mas, se forem tocadas simultanea-
O Efeito Doppler é consequência do movimento relativo entre mente o fá e o sí, ou sí e o ré, os sons resultantes serão desagradá-
o observador e a fonte sonora, o que determina uma modificação veis, dando a sensação de que falta alguma coisa para completá-las.
aparente na altura do som recebido pelo observador. Isso acontece porque, no primeiro caso, as relações entre frequên-
cias são compostas de números pequenos, enquanto no segundo,
esses números são relativamente grandes.
Com o progresso da eletrônica, novos instrumentos foram pro-
duzidos, como a guitarra elétrica, o órgão eletrônico etc., que nos
proporcionam novos timbres.
O órgão eletrônico chega mesmo a emitir os sons dos outros
instrumentos. Ele pode ter, inclusive, acompanhamento de bateria,
violoncelo, contrabaixo e outros, constituindo-se numa autentica
orquestra eletrônica, regida por um maestro: executante da música.

Características das Ondas


O efeito doppler ocorre quando um som é gerado ou refletido As ondas do mar são semelhantes às que se formam numa cor-
por um objeto em movimento. Um efeito doppler ao extremo causa da: apresentam pontos mais elevados – chamados cristas ou mon-
o chamado estrondo sônico. Se tiver curiosidade, leia mais sobre tes – e pontos mais baixos – chamados vales ou depressões.
o assunto em “A Barreira Sônica”. A seguir, veja um exemplo para As ondas são caracterizadas pelos seguintes elementos:
explicar o efeito doppler. Amplitude – que vai do eixo médio da onda até o ponto mais
auto de uma crista ou até o ponto mais baixo de um vale.
Imagine-se parado numa calçada. Em sua direção vem um au- Comprimento da onda – distâncias entre duas cristas sucessi-
tomóvel tocando a buzina, a uma velocidade de 60 km/h. Você vai vas ou entre dois vales sucessivos.
ouvir a buzina tocando uma “nota” enquanto o carro se aproxima Frequência – números de ondas formadas em 1s; a frequência
porém, quando ele passar por você, o som da buzina repentina- é medida em hertz: 1 Hz equivale a uma onda por segundo;
mente desce para uma “nota” mais baixa - o som passa de mais Período – tempo gasto para formar uma onda. O período é o
agudo para mais grave. Esta mudança na percepção do som se deve inverso da frequência.
ao efeito doppler.
A velocidade do som através do ar é fixa. Para simplificar, diga- Tipos de onda
mos que seja de 300 m/s. Se o carro estiver parado a uma distância Ondas como as do mar ou as que se formam quando movimen-
de 1.500 metros e tocar a buzina durante 1 minuto, você ouvirá o tamos uma corda vibram nas direções vertical, mas se propagam na
som da buzina após 5 segundos pelo tempo de 1 minuto. direção horizontal. Nessas ondas, chamadas ondas transversais, a
Porém, se o carro estiver em movimento, vindo em sua direção direção de vibração é perpendicular à direção de propagação.
a 90 km/h, o som ainda será ouvido com um atraso de 5 segundos, Existem ondas que vibram na mesma direção em que se pro-
mas você só ouvirá o som por 55 segundos (ao invés de 1 minuto). pagam: são as ondas longitudinais. Pegue uma mola e fixe uma de
O que ocorre é que, após 1 minuto o carro estará ao seu lado (90 suas extremidades no teto. Pela outra extremidade, mantenha a
km/h = 1.500 m/min) e o som, ao fim de 1 minuto, chega até você mola esticada e puxe levemente uma das espirais para baixo. Em
instantaneamente. Da sua perspectiva, a buzinada de 1 minuto seguida, solte a mola. Você verá que esta perturbação se propaga
foi “empacotada” em 55 segundos, ou seja, o mesmo número de até o teto prodazido na mola zonas de compressão e distensão.

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FÍSICA
Estudo do som mais agudo é o som e vice versa. Por sua vez, a frequência depende
Encoste a mão na frente de seu pescoço e emita um som qual- do comprimento do corpo que vibra e de sua elasticidade; Quanto
quer. Você vai sentir a garganta vibrar enquanto dura o som de sua maior a atração é mais curta for uma corda de violão, por exemplo,
voz. O som produzido resulta de um movimento vibratório das cor- mais agudo vai será o som por ela emitido.
das vocais, que provoca uma perturbação no ar a sua volta, cujo Você pode constatar também a diferença de frequências usan-
efeito é capaz de impressionar o ouvido. do um pente que tenha dentes finos e grossos. Passando os dentes
Quando uma lâmina de aço vibra, ela também provoca uma do pente na bosta de um cartão você ouvirá dois tipos de som emi-
perturbação no ar em sua volta. Propagando-se pelo ar, essa per- tidos pelo cartão: o som agudo, produzido pelos dentes finos (maior
turbação produz regiões de compressão e distensão. Como nosso frequência), e o som grave, produzido pelos dentes mais grossos
aparelho auditivo é sensível e essa vibração do ar, podemos perce- (menor frequência).
bê-las sob a forma de som.
Além das cordas vocais e lâminas de aço, existem inúmeros Intensidade
outros corpos capazes de emitir som. Corpos com essa capacidade É a qualidade que permite distinguir um som forte de um som
são denominados fontes sonoras. Como exemplo, podemos citar os fraco. Ele depende da amplitude de vibração: quanto maior a am-
diapasões, os sinos, as membranas, as palhetas e os tubos. plitude mais forte é o som e vice versa.
Na prática não se usa unidades de intensidade sonora, mas de
Frequência do som audível nível de intensidade sonora, uma grandeza relacionada à intensida-
O ouvido humano só é capaz de perceber sons de frequências de sonora e à forma como o nosso ouvido reage a essa intensidade.
compreendidas entre 16Hz e 20.000Hz, aproximadamente. Os in- Essas unidades são o bel e o seu submúltiplo o decibel (dB), que
fra-sons, cuja frequência é inferior a 16Hz, e os ultra-sons, cuja fre- vale 1 décimo do bel. O ouvido humano é capaz de suportar sons
quência é superior a 20.000Hz, não são captados por nosso olvido, de até 120dB, como é o da buzina estridente de um carro. O ruído
mas são percebidos por alguns animais, como os cães, que ouvem produzido por um motor de avião a jato a poucos metros do obser-
sons de 25.000Hz, e os morcegos, que chegam a ouvir sons de até vador produz um som de cerca de 140dB, capaz de causar estímulos
50.000Hz. dolorosos ao ouvido humano. A agitação das grandes cidades pro-
vocam a chamada poluição sonora composta dos mais variados ruí-
Propagação do som dos: motores e buzinas de automóveis, martelos de ar comprimido,
O som exige um meio material para propagar-se. Esse meio rádios, televisores e etc. Já foi comprovado que uma exposição pro-
pode ser sólido, líquido ou gasoso. longada a níveis maiores que 80dB pode causar dano permanente
O som não se propaga no vácuo, o q poder ser comprovado ao ouvido. A intensidade diminui à medida que o som se propaga
pela seguinte experiência: colocando um despertador dentro de ou seja, quanto mais distante da fonte, menos intenso é o som.
uma campânula onde o ar é rarefeito, isto é, onde se fez “vácuo”, o Timbre – imagine a seguinte situação: um ouvinte que não en-
som da campainha praticamente deixa de ser ouvido. tende de música está numa sala, ao lado da qual existe outra sala
onde se encontram um piano e um violino. Se uma pessoa tocar a
Velocidade do som nota dó no piano e ao mesmo tempo outra pessoa tocar a nota dó
A propagação do som não é instantânea. Podemos verificar no violino, ambas com a mesma força os dois sons terão a mesma
esse fato durante as tempestades: o trovão chega aos nossos ouvi- altura (freqüência) e a mesma intensidade. Mesmo sem ver os ins-
dos segundos depois do relâmpago, embora ambos os fenômenos trumentos, o ouvinte da outra sala saberá distinguir facilmente um
(relâmpago e trovão) se formem ao mesmo tempo. (A propagação som de outro, porque cada instrumento tem seu som caracterizado,
da luz, neste caso o relâmpago, também não é instantânea, embora ou seja, seu timbre.
sua velocidade seja superior à do som.)
Assim, o som leva algum tempo para percorrer determinada Podemos afirmar, portanto, que timbre é a qualidade que nos
distância. E a velocidade de sua propagação depende do meio em permite perceber a diferença entre dois sons de mesma altura e
que ele se propaga e da temperatura em que esse meio se encontra. intensidade produzidos por fontes sonoras diferentes.
No ar, a temperatura de 15ºC a velocidade do som é de cer-
ca de 340m/s. Essa velocidade varia em 55cm/s para cada grau de INFRA-SOM E ULTRASSOM.
temperatura acima de zero. A 20ºC, a velocidade do som é 342m/s, Infrassons são ondas sonoras extremamente graves, com fre-
a 0ºC, é de 331m/s. quências abaixo dos 20 Hz, portanto abaixo da faixa audível do ou-
Na água a 20ºC, a velocidade do som é de aproximadamente vido humano que é de 20 Hz a 20.000 Hz.
1130m/s. Nos sólidos, a velocidade depende da natureza das subs- Ondas infrassônicas podem se propagar por longas distâncias,
tâncias. pois são menos sujeitas às perturbações ou interferências que as de
frequências mais altas.
Qualidades fisiológicas do som Infrassons podem ser produzidos pelo vento e por alguns tipos
A todo instante distinguimos os mais diferentes sons. Essa dife- de terremotos. Os elefantes são capazes de emitir infrassons que
renças que nossos ouvidos percebem se devem às qualidades fisio- podem ser detectados a uma distância de 2 km.
lógicas do som: altura, intensidade e timbre. É comprovado que os tigres têm a mais forte capacidade de
identificar infrassons. Seu rugido emite ondas infrassônicas tão po-
Altura derosas que são capazes de paralisar suas presas e até pessoas. Há
Mesmo sem conhecer música, é fácil distinguir o som agudo mais de 50 anos é estudada uma forma de usar o infrassom em
(ou fino) de um violino do som grave (ou grosso) de um violoncelo. armas de guerra, já que sua potência pode destruir construções e
Essa qualidade que permite distinguir um som grave de um som até mesmo estourar órgãos humanos.
agudo se chama altura. Ultrassom é um som a uma frequência superior àquela que o
Assim, costuma-se dizer qu o som do violino é alto e o do vio- ouvido do ser humano pode perceber, aproximadamente 20.000
loncelo é baixo. A altura de um som depende da frequência, isto é, Hz.
do número de vibrações por segundo. Quanto maior a frequência

383
FÍSICA
Alguns animais, como o cão, golfinho e o morcego, têm um li-
mite de percepção sonora superior ao do ouvido humano e podem, ELETRICIDADE: CARGA ELÉTRICA; CONDUTORES E ISOLAN-
assim, ouvir ultrassons. Existem “apitos” especiais nestas frequên- TES; CAMPO ELÉTRICO; POTENCIAL ELÉTRICO; CORRENTE
cias que servem a estes princípios. ELÉTRICA; RESISTORES; CAPACITORES; CIRCUITOS ELÉTRI-
Um som é caracterizado por vibrações (variação de pressão) no COS
ar. O ser humano normal médio consegue distinguir, ou ouvir, sons
na faixa de frequência que se estende de 20Hz a 20.000Hz aproxi-
madamente. Acima deste intervalo, os sinais são conhecidos como CARGA ELÉTRICA
ultrassons e abaixo dele, infrassons.
O emissor de som, em aparelhos de som, é o alto-falante. Um Carga e Corrente
cone de papelão movido por uma bobina imersa em um campo
magnético , produzido por um imã permanente. Este cone pode
“vibrar” a frequências de áudio e com isto impulsionar o ar promo-
vendo ondas de pressão que ao atingirem o ouvido humano, são in-
terpretados como sons audíveis. Porém, à medida que a frequência
das vibrações aumenta, a amplitude das vibrações vai se reduzin-
do. Para gerar sons de alta-frequência e ultrassons geralmente são
utilizados cerâmicas ou cristais piezoelétricos, os quais produzem
oscilações mecânicas em resposta a impulsos elétricos.
A óptica é um ramo da Física que estuda a luz ou, mais ampla-
mente, a radiação eletromagnética, visível ou não. A óptica explica
os fenômenos de reflexão, refração e difração, a interação entre a A matéria é formada por átomos, os quais por sua vez são for-
luz e o meio, entre outras coisas. Geralmente, a disciplina estuda mados por três tipos de partículas: prótons, elétrons e nêutrons.
fenômenos envolvendo a luz visível, infravermelha, e ultravioleta; Os prótons e nêutrons agrupam-se no centro do átomo formando
entretanto, uma vez que a luz é uma onda electromagnética, fe- o núcleo. Os elétrons movem-se em torno do núcleo. Num átomo
nômenos análogos acontecem com os raios X, microondas, ondas o número de elétrons é sempre igual ao número de prótons. Às
de rádio, e outras formas de radiação electromagnética. A óptica, vezes um átomo perde ou ganha elétrons; nesse caso ele passa a
nesse caso, pode se enquadrar como uma subdisciplina do eletro- se chamar íon.
magnetismo. Alguns fenômenos ópticos dependem da natureza da A experiência mostra que: (Fig. 2)
luz e, nesse caso, a óptica se relaciona com a mecânica quântica. I – Entre dois prótons existe um par de forças de repulsão;
Segundo o modelo para a luz utilizada, distingue-se entre os se- II – Entre dois elétrons existe um par de forças de repulsão;
guintes ramos, por ordem crescente de precisão (cada ramo utiliza III – Entre um próton e um elétron existe um par de forças de
um modelo simplificado do empregado pela seguinte): atração;
- Óptica geométrica: Trata a luz como um conjunto de raios que IV – Com os nêutrons não observamos essas forças.
cumprem o princípio de Fermat. Utiliza-se no estudo da transmis-
são da luz por meios homogêneos (lentes, espelhos), a reflexão e a
refração.
- Óptica ondulatória: Considera a luz como uma onda plana,
tendo em conta sua frequência e comprimento de onda. Utiliza-se
para o estudo da difração e interferência.
- Óptica eletromagnética: Considera a luz como uma onda ele-
tromagnética, explicando assim a reflexão e transmissão, e os fenô-
menos de polarização e anisotrópicos.
- Óptica quântica ou óptica física: Estudo quântico da interação Dizemos que essas forças aparecem pelo fato de elétrons e pró-
entre as ondas eletromagnéticas e a matéria, no que a dualidade tons possuírem carga elétrica. Para diferenciar o comportamento
onda-corpúsculo joga um papel crucial. de prótons e elétrons dizemos que a carga do próton é positiva e
a carga do elétron é negativa. Porém, como em módulo, as forças
exercidas por prótons e elétrons são iguais, dizemos que, em módu-
lo, as cargas do próton e do elétron são iguais. Assim, chamando de
qp a carga do próton e qE a carga do elétron temos:
| qE | = | qp|
qE = - q p

O mais natural seria dizer que a carga do próton seria uma uni-
dade. No entanto, por razões históricas, pelo fato de a carga elétrica
ter sido definida antes do reconhecimento do átomo, a carga do
próton e a carga do elétron valem:
qp = + 1,6 . 10-19 coulomb = 1,6 . 10-19 C
qE = - 1,6 . 10-19 coulomb = -1,6 . 10-19 C
Onde o coulomb (C) é a unidade de carga elétrica no Sistema
Internacional. A carga do próton é também chamada de carga elé-
trica elementar (e). Assim:
qp = + e = + 1,6 . 10-19 C
qE = - e = - 1,6 . 10-19 C

384
384
FÍSICA
Como o nêutron não manifesta esse tipo de força, dizemos que
sua carga é nula.

PROCESSOS DE ELETRIZAÇÃO
Quando atritamos dois corpos feitos de materiais diferentes,
um deles transfere elétrons para o outro de modo que o corpo que
perdeu elétrons fica eletrizado positivamente enquanto o corpo
que ganhou elétrons fica eletrizado negativamente. De modo geral, após o contato, a tendência é que em módulo,
Experimentalmente obtém-se uma série, denominada série a carga do condutor maior seja maior do que a carga do condutor
tribo-elétrica que nos informa qual corpo fica positivo e qual fica menor.
negativo. A seguir apresentamos alguns elementos da série: Quando o contato é feito com a Terra, como ela é muito maior
... vidro, mica, lã, pele de gato, seda, algodão, ebonite, cobre... que os condutores com que usualmente trabalhamos, a carga elé-
Quando atritamos dois materiais diferentes, aquele que apare- trica do condutor, após o contato, é praticamente nula (Figura 14 e
ce em primeiro lugar na série fica positivo e o outro fica negativo. Figura 15).

Assim, por exemplo, consideremos um bastão de vidro atritado


em um pedaço de lã (Figura 6). O vidro aparece antes da lã na série.
Portanto o vidro fica positivo e a lã negativa, isto é, durante o atrito,
o vidro transfere elétrons para a lã.

Se os dois condutores tiverem a mesma forma e o mesmo ta-


manho, após o contato terão cargas iguais.

EXEMPLO
Dois condutores esféricos de mesmo tamanho têm inicialmen-
te cargas QA = + 5nC e QB = - 9nC. Se os dois condutores forem colo-
Porém, se atritarmos a lã com um bastão de ebonite, como a lã cados em contato, qual a carga de cada um após o contato?
aparece na série antes que a ebonite, a lã ficará positiva e a ebonite
ficará negativa (Figura 7). RESOLUÇÃO
A carga total Q deve ser a mesma antes e depois do contato:
Q = Q’A + Q’B = (+5nC) + (-9nC) = -4nC
Após o contato, como os condutores têm a mesma forma e o
mesmo tamanho, deverão ter cargas iguais:

ELETRIZAÇÃO POR CONTATO


Consideremos um condutor A, eletrizado negativamente e um
condutor B, inicialmente neutro (Figura 8). Se colocarmos os con-
dutores em contato (Figura 9), uma parte dos elétrons em excesso
do corpo A irão para o corpo B, de modo que os dois corpos ficam
eletrizados com carga de mesmo sinal. (Figura 10)

Nos condutores, a tendência é que as cargas em excesso se es-


palhem por sua superfície. No entanto, quando um corpo é feito de
material isolante, as cargas adquiridas por contato ficam confinadas
na região onde se deu o contato.
Suponhamos agora um condutor C carregado positivamente e
um condutor D inicialmente neutro (Figura 11). O fato de o corpo A
estar carregado positivamente significa que perdeu elétrons, isto é,
está com excesso de prótons. Ao colocarmos em contato os corpos
C e D, haverá passagem de elétrons do corpo D para o corpo C (Fi-
gura 12), de modo que no final, os dois corpos estarão carregados
positivamente (Figura 13). Para facilitar a linguagem é comum dizer-
-se que houve passagem de cargas positivas de C para D, mas o que
realmente ocorre é a passagem de elétrons de D para C.

385
FÍSICA
POLARIZAÇÃO
Na Figura 16 representamos um corpo A carregado negativa-
mente e um condutor B, inicialmente neutro e muito distante de
A. Aproximemos os corpos, mas sem colocá-los em contato (Figura
17). A presença do corpo eletrizado A provocará uma separação de
cargas no condutor B (que continua neutro). Essa separação é cha-
mada de indução. Um exemplo dessa situação é a experiência em que passamos
no cabelo um pente de plástico o qual em seguida é capaz de atrair
pequenos pedaços de papel. Pelo atrito com o cabelo, o pente fi-
cou eletrizado e assim é capaz de atrair o papel embora este esteja
neutro.
Foi esse tipo de experiência que originou o estudo da eletri-
cidade. Na Grécia antiga, aproximadamente em 600 AC, o filósofo
grego Tales observou que o âmbar, após ser atritado com outros
materiais era capaz de atrair pequenos pedaços de palha ou fios de
Se ligarmos o condutor B à Terra (Figura 18), as cargas negati- linha. A palavra grega para âmbar é eléktron. Assim, no século XVI,
vas, repelidas pelo corpo A escoam-se para a Terra e o corpo B fica o inglês William Gilbert (1544-1603) introduziu o nome eletricidade
carregado positivamente. Se desfizermos a ligação com a Terra e em para designar o estudo desses fenômenos.
seguida afastarmos novamente os corpos, as cargas positivas de B
espalham-se por sua superfície (Figura 19). ELETRIZAÇÃO E LEI DE COULOMB

CORPOS ELETRIZADOS
A carga elétrica de um próton é chamada de carga elétrica ele-
mentar, sendo representada por e; no Sistema Internacional, seu
valor é:
e = 1,6 . 10-19 Coulomb = 1,6 . 10-19 C

Na Figura 20 repetimos a situação da Figura 17, em que o corpo A carga de um elétron é negativa, mas, em módulo, é igual à
B está neutro, mas apresentando uma separação de cargas. As car- carga do próton:
gas positivas de B são atraídas pelo corpo A (força enquanto as Carga do elétron = - e = - 1,6 . 10-19 C
cargas negativas de B são repelidas por A (força .
Porém, a distância entre o corpo A e as cargas positivas de B é Os nêutrons têm carga elétrica nula. Como num átomo o nú-
menor do que a distância entre o corpo A e as cargas negativas de B. mero de prótons é igual ao número de elétrons, a carga elétrica
Assim, pela Lei de Coulomb, o que faz com que a força total do átomo é nula.
resultante seja de atração. De modo geral os corpos são formados por um grande número
de átomos. Como a carga de cada átomo é nula, a carga elétrica to-
tal do corpo também será nula e diremos que o corpo está neutro.
No entanto é possível retirar ou acrescentar elétrons de um corpo,
por meio de processos que veremos mais adiante. Desse modo o
corpo estará com um excesso de prótons ou de elétrons; dizemos
que o corpo está eletrizado.

De modo geral, durante a indução, sempre haverá atração en- EXEMPLO


tre o corpo eletrizado (indutor) e o corpo neutro (induzido). A um corpo inicialmente neutro são acrescentados 5,0 . 107 elé-
trons. Qual a carga elétrica do corpo?
CONDUTORES E ISOLANTES
Há materiais no interior dos quais os elétrons podem se mover RESOLUÇÃO
com facilidade. Tais materiais são chamados condutores. Um caso A carga elétrica do elétron é qE = - e = - 1,6 . 10-19 C. Sendo N o
de interesse especial é o dos metais. Nos metais, os elétrons mais número de elétrons acrescentados temos: N = 5,0 . 107.
afastados dos núcleos estão fracamente ligados a esses núcleos e Assim, a carga elétrica (Q) total acrescentada ao corpo inicial-
podem se movimentar facilmente. Tais elétrons são chamados elé- mente neutro é:
trons livres. Q = N . qE = (5,0 . 107) (-1,6 . 10-19 C) = - 8,0 . 10-12 C
Há materiais no interior dos quais os elétrons têm grande difi- Q = - 8,0 . 10-12 C
culdade de se movimentar. Tais materiais são chamados isolantes. Frequentemente as cargas elétricas dos corpos é muito menor
Como exemplo podemos citar a borracha, o vidro e a ebonite. do que 1 Coulomb. Assim usamos submúltiplos. Os mais usados
são:
INDUÇÃO EM ISOLANTES
Quando um corpo eletrizado A aproxima-se de um corpo B, fei-
to de material isolante (Figura 21) os elétrons não se movimentam
como nos condutores mas há, em cada molécula, uma pequena
separação entre as cargas positivas e negativas (Figura 22) denomi-
nada polarização. Verifica-se que também neste caso o efeito resul-
tante é de uma atração entre os corpos

386
386
FÍSICA
Quando temos um corpo eletrizado cujas dimensões são des- EXEMPLO
prezíveis em comparação com as distâncias que o separam de ou- Duas cargas puntiformes estão no vácuo, separadas por uma
tros corpos eletrizados, chamamos esse corpo de carga elétrica distância d = 4,0 cm. Sabendo que seus valores são Q1 = - 6,0 . 10-6
puntiforme. C e Q2 = + 8,0 . 10-6 C, determine as características das forças entre
elas.
Dados dois corpos eletrizados, sendo Q1 e Q2 suas cargas elétri-
cas, observamos que: RESOLUÇÃO
I. Se Q1 e Q2 tem o mesmo sinal (Figura 1 e Figura 2), existe Como as cargas têm sinais opostos, as forças entre elas são de
entre os corpos um par de forças de repulsão. atração. Pela lei da Ação e
II. Se Q1 e Q2 têm sinais opostos (Figura 3), existe entre os cor- Reação, essas forças têm a mesma intensidade a qual é
pos um par de forças de atração. dada pela Lei de Coulomb:

A LEI DE COULOMB t
Consideremos duas cargas puntiformes Q1 e Q2, separadas Temos:
por uma distância d (Figura 4). Entre elas haverá um par de forças,
que poderá ser de atração ou repulsão, dependendo dos sinais das
cargas. Porém, em qualquer caso, a intensidade dessas forças será
dada por:

CAMPO ELÉTRICO

CONCEITO DE CAMPO ELÉTRICO

Campo e Densidade
Consideremos um condutor em equilíbrio eletrostático. O cam-
po elétrico num ponto exterior P, “muito próximo” do condutor,
tem intensidade dada por:

Onde k é uma constante que depende do meio. No vácuo seu


valor é
(II)

Essa lei foi obtida experimentalmente pelo físico francês Char-


les Augustin de Coulomb (1736-1806) e por isso é denominada lei
de Coulomb.
Se mantivemos fixos os valores das cargas e variarmos apenas
a distância entre elas, o gráfico da intensidade de em função da
distância tem o aspecto da Figura 5.

387
FÍSICA
Onde é a densidade superficial das cargas nas proximidades de c) num ponto S da superfície, o campo tem intensidade igual à
P e E é uma constante denominada permissividade do meio. Essa metade da intensidade no ponto próximo:
constante está relacionada com a constante lei de Coulomb pela
relação:

CAPACITÂNCIA
Assim, no vácuo, temos: Suponhamos que um condutor de formato qualquer esteja iso-
lado. Se eletrizarmos esse condutor com uma carga Q ele terá um
potencial V. É possível demonstrar que Q e V são proporcionais, isto
é,
• dobrando a carga, dobra o potencial
Em um ponto S da superfície do condutor, a intensidade do • triplicando a carga, triplica o potencial
campo é a metade da intensidade no ponto P: • etc.

Assim, podemos escrever


Q = C . V ouC = Q (VIII)
V
(III)
Das equações II e III percebemos que o campo é mais intenso Onde C é uma constante de proporcionalidade chamada capa-
onde a densidade de cargas for maior. Por outro lado, sabemos que citância do condutor e que pende do meio e da geometria do con-
a densidade é maior nas “pontas”. dutor, isto é, do seu formato e tamanho. Como Q e V têm o mesmo
Portanto, o campo elétrico é mais intenso nas “pontas” de um sinal, a capacitância é sempre positiva.
condutor e esse fato é conhecido como poder das pontas. No Sistema Internacional a unidade de capacitância é o farad
( F ):
Exemplo
Um condutor esférico de raio R = 2,0.10-2m está eletrizado com
carga Q = 7,5.10-6C no vácuo. Determine:
a) a densidade superficial de carga Porém, em geral, as capacitâncias dos condutores com que tra-
b) a intensidade do campo elétrico num ponto externo muito balhamos são muito menores do que 1F; assim, usaremos submúl-
próximo do condutor tiplos:
c) a intensidade do campo sobre o condutor
Fórmulas
Resolução 1m F = 1 mulifarad = 10-3F
a) supondo que o condutor esteja isolado as cargas distribuem- 1 F = 1 microfarad = 10-6F
-se uniformemente pela superfície. Lembrando que a área da su- 1nF = 1 nanofarad = 10-9F
perfície é 1pF = 1 picofarad = 10-12F

Antigamente, a capacitância era chamada de capacidade ele-


trostática. Embora esse nome tenha caído em desuso, às vezes ain-
da o encontramos em alguns textos.

Capacitância de um Condutor Esférico

Consideremos um condutor esférico de raio R, eletrizado com


Temos: carga Q. supondo-o isolado, seu potencial é dado por

Portanto sua capacitância é dada por:


b) num ponto P externo é “muito próximo” do condutor, o cam-
po tem intensidade dada por: (IX)
Exemplo
Calcule a capacitância de um condutor esférico de raio R = 36
cm, situado no vácuo.

388
388
FÍSICA
Resolução Para obtermos a intensidade de
No vácuo, nós sabemos que a constante da lei de Coulomb é Calculamos primeiramente a intensidade pela lei de Coulomb.
dada por Tanto para o caso da Fig. 4 como para o caso da Fig. 5 temos:
k = 9,0. 109 (S.I)

Como R = 36 cm = 36.10-2m, a capacitância do condutor é dada


por:
Assim:

Procedendo de modo semelhante, podemos mostrar que uma


carga puntiforme negativa produz em torno de si (Fig. 7) um cam-
po elétrico de aproximação e cuja intensidade também é dada pela
CÁLCULO DO CAMPO ELÉTRICO CRIADO POR CARGAS PUNTI- equação II.
FORMES

Campo de uma carga puntiforme


Consideremos uma carga fixa Q e vamos determinar o campo
elétrico produzido por ela em um ponto P qualquer.

Suponhamos inicialmente que a carga seja positiva (Q > 0). Para


calcular o campo em um ponto P, colocamos nesse ponto uma carga
q, chamada carga de prova. Se q > 0, a carga Q irá repelir q, por meio
de uma força
Analisando a equação II percebemos que o gráfico da intensi-
fig.4). Se q < 0, a carga Q irá atrair q por meio de uma força dade de em função de distância d tem o aspecto da Fig. 8

fig. 5). No caso da Figura 4, como q > 0, a força e o campo

Devem ter o mesmo sentido. No caso da Fig. 5, como q < 0, a


força e o campo devem ter sentidos opostos.

EXEMPLO

Duas cargas puntiformes A e B estão fixas nas posições indica-


das na figura. Determine o campo elétrico produzido por elas no
ponto P sabendo que:
Vemos então que o sentido do campo produzido por Q, não
depende do sinal da carga de prova q. De modo geral, uma carga
puntiforme positiva produz em torno de si um campo elétrico de
afastamento (Fig. 6)

RESOLUÇÃO
Como a carga A é negativa, o campo por ela produzindo no
ponto P é de aproximação. A carga B, sendo positiva, produz no
ponto P um campo de afastamento.

389
FÍSICA
O campo total produzido no ponto P é a resultante Para calcular a intensidade num ponto “muito próximo”, faze-
mos d = R:

(V)

Aplicando o teorema de Pitágoras

CONDUTOR ESFÉRICO
Consideremos um condutor esférico, eletrizado, em equilíbrio
e isolado. Como já sabemos, o excesso de cargas distribui-se unifor-
memente pela sua superfície (Fig. 10 eFig. 11) É fácil verificar que esta equação dá o mesmo valor fornecido
pela equação II:
Na superfície o campo tem intensidade igual à metade da in-
tensidade no ponto “muito próximo”:

Na superfície o campo tem intensidade igual à metade da in-


tensidade no ponto “muito próximo”:

Desse modo o gráfico da intensidade do campo em função da


distância d ao centro da esfera, tem o aspecto representado na fi-
gura 12.

No interior do condutor o campo elétrico é nulo. Porém no


exterior o campo é não nulo e sua intensidade pode ser calculada
como se toda a carga do condutor ( Q ) estivesse concentrada no
centro da esfera, usando a equação válida para uma carga puntifor-
me:(para d > r) ( IV )

O potencial em pontos externos também pode ser calculado


supondo toda a carga concentrada no centro e usando a equação
da carga puntiforme:

390
390
FÍSICA
(VI) Campo produzido por uma carga puntiforme negativa.
Na superfície do condutor, o potencial é obtido fazendo d = R:

(VII)

Campo produzido por duas cargas puntiformes de sinais opos-


tos, mas de mesmo módulo

LINHAS DE FORÇA Campo produzido por duas cargas puntiformes positivas e de


Para melhor visualizar as características do campo elétrico, de- mesmo módulo.
senhamos linhas, denominadas linhas de força. Cada linha de força
é desenhada de modo que em cada ponto da linha (figura 9), o cam-
po elétrico é tangente à linha.

Campo Uniforme
Consideremos uma certa região onde há campo elétrico com a
seguinte características: em todos os pontos da região o campo tem
o mesmo módulo, a mesma direção e o mesmo sentido (Fig. 15).
Dizemos então que o campo é uniforme.
De modo geral, as linhas de força “começam” em cargas positi-
vas e “terminam” em cargas negativas.

Quando temos um conjunto de linhas de força (Figura 10) é


possível demonstrar que na região onde as linhas estão mais pró-
ximas o campo é mais intenso do que nas regiões onde elas estão
mais afastadas. Assim, por exemplo, no caso da Fig. 10, podemos
garantir que
Num campo uniforme as linhas de força são retas paralelas.
Para indicar que o módulo é constante, desenhamos essas linhas
regularmente espaçadas.
Na prática, para obtermos um campo elétrico uniforme eletri-
A seguir mostramos como são as linhas de força em alguns ca- zamos duas placas metálicas paralelas (Fig. 16) com cargas de sinais
sos particulares. opostos nas de mesmo módulo. Pode-se verificar que nesse caso,
Campo produzido por uma carga puntiforme positiva. na região entre as placas o campo é aproximadamente uniforme.
Na realidade, próximo das bordas (Fig. 17) as linhas se curvam, mas
nos exercícios nós desprezamos esse efeito.

391
FÍSICA
BLINDAGEM ELETROSTÁTICA Portanto a força elétrica é conservativa e podemos assim defi-
Na figura 7 representamos um condutor neutro Y situado no nir uma energia potencial.
interior de um condutor oco X. Independentemente do fato de X Como já vimos na mecânica, o valor exato da energia poten-
estar ou não eletrizado o campo elétrico no seu interior é nulo. cial não é importante. O que importa na realidade é a diferença
Desse modo, o condutor X protege o condutor Y de ações elétricas da energia potencial no percurso. Portanto podemos escolher um
externas. Se aproximarmos, por exemplo, um condutor eletrizado ponto R qualquer como referencial, isto é, o ponto onde a energia
A, (Fig. 8) este induzirá cargas em X mas não em Y. dizemos então potencial é considerada nula .
que o condutor X é uma blindagem eletrostática para o condutor Y. Escolhido o ponto R (Fig. 2), a energia potencial de uma carga
q num ponto A é, por definição, igual ao trabalho da força elétrica
quando a carga é levada de A até R:

Essa blindagem é usada na proteção de aparelhos elétricos


para que estes não sintam perturbações elétricas externas. A carca-
ça metálica de um automóvel ou avião e a estrutura metálica de um
edifício também são exemplos de blindagens eletrostáticas.

PODER DAS PONTAS


Um fenômeno também interessante, relacionado com o con-
ceito de rigidez dielétrica denomina-se poder das pontas. Podemos definir também o potencial do ponto A (VA) como
Este fenômeno ocorre porque, em um condutor eletrizado a sendo a energia potencial por unidade de carga:
carga tende a se acumular nas regiões pontiagudas. Em virtude dis-
so, o campo elétrico próximo às pontas do condutor é muito mais
intenso que nas nas proximidades das regiões mais planas. É devido
à esse fenômeno que nos dias de chuvas intensas não se recomen- No Sistema Internacional a unidade de potencial é o volt (V):
da se abrigar sob árvores ou em lugares mais altos.

POTENCIAL ELÉTRICO
Se a carga adquirir Energia, tem Potencial Elétrico.
• E+ : A própria carga realiza trabalho;
• E- : Não é a carga que realiza trabalho;

- Ao longo da linha o potencial elétrico (V) diminui. Logo V1 >


V2
• Obs.: Ao colocar carga positiva no interior do campo elé- Suponhamos que uma carga puntiforme q seja levada de um
trico ela se desloca espontaneamente para um ponto de menor po- ponto A para um ponto B (Fig. 3). Como a força elétrica é conserva-
tencial. Quando for negativa vai para o de maior potencial. tiva o trabalho não depende da trajetória. Portanto, podemos esco-
• V = K . Q / d lher uma trajetória que vá de A para R e de R para B:
Mas:
DIFERENÇA DE POTENCIAL

Energia Potencial
Consideremos uma região do espaço onde há um campo elé- Substituindo em III:
trico estático, isto é, que não varia no decorrer do tempo. Supo-
nhamos que uma carga puntiforme q seja levada de um ponto A
para um ponto B dessa região (Fig. 1). É possível demonstrar que o
trabalho da força elétrica nesse percurso não depende da trajetória
seguida, isto é, qualquer que seja a trajetória seguida, o trabalho da
força elétrica entre A e B é o mesmo. Porem:

392
392
FÍSICA
Isto é, o trabalho da força elétrica para ir de A até B é igual à Portanto: uma carga negativa abandonada numa região onde
diferença de energia potencial entre A e B. há campo elétrico, desloca-se espontaneamente para pontos de
Lembrando que: potenciais crescentes.

Superfícies Equipotenciais

e substituindo em V obtemos:

diferença de potencial VA – VB costuma ser representada por


UAB:

Na Fig. 5, as linhas S1 e S2 representam no espaço, superfícies


que, em cada ponto, são perpendiculares à linhas de força. Supo-
UAB = VA - VB nhamos que uma carga q seja transportada de um ponto A para um
ponto B, de modo que a trajetória esteja sobre uma dessas super-
Propriedades do Potencial fícies. Nesse caso, em cada pequeno trecho da trajetória, a força
Consideremos uma carga puntiforme q positiva sendo levada elétrica será perpendicular ao deslocamento e, portanto, o trabalho
de um ponto A para um ponto B sobre uma linha de força (Fig. 4). da força elétrica será nulo:
Como a carga é positiva, a força tem o mesmo sentido do campo
e, desse modo, o trabalho da força elétrica será positivo

Concluímos então que todos os pontos dessa superfície têm


o mesmo potencial e por isso ela é chamada de superfície equipo-
tencial. Assim, na Fig. 5, S1 e S2 são exemplos de superfícies equipo-
tenciais.

VOLTAGEM EM UM CAMPO ELÉTRICO UNIFORME

O Elétron – Volt
Na área de Física Nuclear é usada uma unidade de energia (ou
Assim: trabalho) que não pertence ao Sistema Internacional: o elétron –
volt (eV). Essa unidade é definida como sendo o módulo do tra-
balho realizado pela força elétrica quando um elétron é deslocado
entre dois pontos cuja diferença de potencial é 1 volt. Lembrando
que, em módulo, a carga de um elétron é 1,6 . 10-19 C temos:

Percebemos então que o potencial do ponto A é maior que o


potencial do ponto B. Portanto: o potencial
diminui ao longo de uma linha de força.

Movimento espontâneo: 1eV = 1 elétron – volt = 1,6 . 10-19J


Se abandonamos uma carga q numa região onde há campo elé-
trico, supondo que não haja nenhuma outra força, a carga deverá Potencial e Campo Uniforme
se deslocar “a favor” da força elétrica, isto é, a força elétrica realizará Na Fig. 6 representamos algumas linhas de força de um campo
um trabalho positivo. Consideremos duas possibilidades: q > 0 e q < 0. elétrico uniforme
Como as superfícies equipotenciais devem ser perpendiculares
às linhas de força, neste caso as superfícies equipotenciais são pla-
nos perpendiculares às linhas. Na Fig. 6, SA e SB representam duas
superfícies equipotencial. Todos os pontos de SA têm um mesmo
potencial VA e todos os pontos de SB têm um mesmo potencial VB.
Suponhamos que uma carga positiva q seja transportada do
Percebemos então que: ponto A para o ponto B. O trabalho da força elétrica não depende
da trajetória. Portanto podemos fazer o percurso A X B indicado na
figura:

Uma carga positiva, abandonada numa região onde há campo


elétrico, desloca-se espontaneamente para pontos de potenciais
decrescentes.

393
FÍSICA
No trecho XB a força elétrica é perpendicular ao deslocamento POTENCIAL E CAMPO DE CARGA PUNTIFORME
e, portanto, Quando o campo elétrico é produzido por uma única carga
puntiforme Q, sabemos que as linhas de força são radiais como in-
dicam as figuras 7 e 8.

No trecho AX temos:

Substituindo em VII:

Mas sabemos que:


SUPERFÍCIES EQUIPOTENCIAIS
Como as superfícies equipotenciais devem ser perpendiculares
às linhas de força, neste caso, as superfícies equipotenciais são su-
Assim: perfícies esféricas cujo centro estão sobre a carga Q.
Suponhamos que a carga Q esteja fixa, e uma carga puntiforme
q seja transportada de um ponto A para um ponto B. É possível
mostrar que o trabalho da força elétrica neste caso é dada por:

UAB = E . d (VIII)

Como o potencial decresce ao longo de uma linha de força te-


mos VA > VB. Portanto, se quisiésemos VB – VA teriamos:
VB - VA = UBA = - E . d
Unidade de E no SI

No capítulo anterior vimos que, no SI, a unidade do campo elé-


trico pode ser o Newton por coulomb (N/C). No entanto a unidade
oficial do campo elétrico no SI é outra, a qual pode ser obtida da
equação VIII:

Assim:

Portanto, a diferença de potencial entre os pontos A e B é dada


por:

A partir da equação vemos que neste caso é conveniente ado-


tar o referencial no infinito, pois para
O termo

394
394
FÍSICA
Assim teremos: Faças e Não-Faças!
Antes de entrarmos nos detalhes e nas descrições, apresenta-
remos alguns faças e não-faças que foram dores de cabeça durante
ou de modo geral, as construções de vários geradores de Van de Graaff.
Alguns poderão parecer óbvios, outros não. Em todo caso, vale
a pena citá-los.
1. Quando trabalhamos com eletricidade estática, devemos ter
sempre em mente que as pontas e os cantos afiados, devido ao po-
der das pontas, agirão como pontos de descarga e sangrarão a carga
Ainda supondo o referencial no infinito, da equação IX tiramos, elétrica do domo de descarga, dando assim a impressão de que o
de modo, geral: GVDG não está funcionando.
Uma vez que um GVDG trabalha no princípio de tensões muito
altas e correntes muito baixas, pode ser comparado a um revólver
de esguichar água. Um esguicho de seringa fornece uma quantia
muito pequena de água, porém, sob alta pressão, suficiente para
GERADOR DE VAN DE GRAAFF fazer a água percorrer uma grande distância. Se um vazamento pe-
O gerador de Van de Graaff destina-se a produzir voltagens queno (um furinho) ocorrer na seringa que esguicha (equivalente a
muito elevadas para serem usadas em experiências de física. um canto vivo, afiado, em um GVDG), a água não irá mais tão longe.
Nele, um motor movimenta uma correia isolante que passa Assim, sempre que possível, todas as extremidades afiadas de-
por duas polias, uma delas acionada por um motor elétrico que faz vem ser arredondadas, curvadas para dentro ou cobertas. É devido
a correia se movimentar. A segunda polia encontra-se dentro da a esse poder das pontas que daremos preferência às cúpulas arre-
esfera metálica oca. Através de pontas metálicas a correia recebe dondadas e com a gola (contorno do furo feito na cúpula) voltada
carga elétrica de um gerador de alta tensão. A correia eletrizada para dentro. Voltaremos a falar dessa gola.
transporta as cargas até o interior da esfera metálica, onde elas são Essas são as causas observadas em geradores cujas faíscas vão
coletadas por pontas metálicas e conduzidas para a superfície ex- até a base --- há cabeças de parafusos expostas.
terna da esfera. 2. Todos os tipos de substâncias estranhas podem causar con-
Como as cargas são transportadas continuamente pela correia, taminações (sujeira, graxa, sabões, limpadores, poeira etc.) e são
elas vão se acumulando na esfera. causas suficientes para que um gerador possa deixar de funcionar.
Certa vez, presenciamos a coluna de apoio de um gerador (supos-
tamente limpa) brilhar como fogo vivo de eletricidade estática, en-
quanto o domo de descarga permanecia inativo. Se algumas partes
precisam de limpeza, use componentes que realmente retirem toda
a sujeira. A solução de amônia e água constitui um bom produto
para limpeza (e sai barato também...).
3. Se seu GVDG não está funcionando a contento, a causa pode
ser a seguinte: certos materiais que parecem ser bons isolantes elé-
tricos, frequentemente não o são. Com os níveis de tensões produ-
zidas, até mesmo em pequenos geradores, muitos desses materiais
(habitualmente tratados como isolantes) conduzirão eletricidade.
Um isolante para os corriqueiros 110 V torna-se um condutor sob
tensão de 20000 V ou mais!
4. Finalizamos esse faça e não-faça alertando-o sobre o carbo-
no (grafite, carvão). O carvão das escovas, muito utilizado em pe-
quenos motores elétricos, pode servir como meio para transferir
eletricidade estática do domo para a base do aparelho.
Enquanto o motor funciona, a escova se desgasta e seu pó é
lançado para fora através das aberturas do motor, empurrado pela
ventoinha de refrigeração. Pó de carbono é quase invisível e, quan-
do depositado sobre superfícies, até mesmo em pequenas quan-
Por esse processo, a esfera pode atingir um potencial de até 10 tias, pode criar um filme bom condutor de eletricidade.
milhões de volts, no caso dos grandes geradores utilizados para ex- Esse filme pode fazer um GVDG parar de funcionar. Carbono
periências de Física atômica, ou milhares de volts nos pequenos ge- também é usado em plásticos e borrachas. Negro de fumo é fre-
radores utilizados para demonstrações nos laboratórios de ensino. quentemente acrescentado para tornar a borracha mais resistente
O gerador eletrostático de Van de Graaff não sofreu alterações ao ozônio e à deterioração ele confere à borracha sua cor preta e
radicais desde que foi construído e apresentado porRobert Jamison impede seu GVDG de funcionar. Carbono também é usado em mui-
Van de Graaff, no início de 1931. tos plásticos, pelas mesmas razões.
Seu layout básico consiste em: Quando alguém menciona um Van de Graaff, a primeira coisa
1. um domo ou cúpula de descarga; em que as pessoas pensam, frequentemente, é o efeito de eriçar os
2. uma coluna de apoio; cabelos. Embora isso não deixe de ser um experimento notável e
3. dois roletes (superior e inferior); atrativo, há outros experimentos diferentes, muitos deles até mais
4. dois pentes metálicos (superior e inferior); atrativos e esclarecedores, que podem ser feitos com a eletricidade
5. uma correia transportadora; e estática.
6. uma base para alojar o motor elétrico, fixar a coluna e o pen-
te inferior.

395
FÍSICA
Antes dessa fase de experimentos, apresentaremos, neste pro- Montagem: base de fixação plana. Um motor com base de fixa-
jeto, as estruturas dos dois modelos básicos dos geradores de Van ção plana é preferível; caso contrário, deve-se recorrer a alças me-
de Graaff (GVDG). tálicas, as quais podem dar algum trabalho extra.
Daremos maior ênfase ao primeiro, que é o tipo auto excitado, (Se um motor com escovas de carvão for utilizado, o construtor
por ser ele o mais comum e, com certeza, aquele em que as pessoas deverá ter em mente que tal GVDG requererá limpezas mais fre-
pensam quando um GVDG é mencionado. quentes. Um pequeno ventilador de exaustão pode ser estrategica-
O gerador auto excitado trabalha segundo princípios do efeito mente montado para remover e afastar o pó de carvão da correia e
triboelétrico. Esse termo refere-se ao fenômeno que ocorre quan- do tubo suporte.)
do dois materiais diferentes estão bem juntos e então são puxados O autor já utilizou, com excelentes resultados, um motor de
para que se separem. máquina de costura, que é praticamente todo blindado. Além disso,
Todos nós já experimentamos esse efeito alguma vez. O melhor é dotado de um reostato (com discos de carvão), o qual permite
exemplo, um pelo qual a maioria certamente já passou (especial- controlar a velocidade de trabalho do motor. Esse tipo de reostato
mente em um dia seco e quente), é o que ocorre quando estamos para controlar a velocidade do motor é um tanto “primitivo” (se
caminhando sobre um piso atapetado e a seguir tocamos na ma- bem que perfeitamente adaptado ao fim a que se destina - máqui-
çaneta da porta ou em outro objeto metálico; ouvimos e sentimos na de costura). Ele foi substituído, mais tarde, por um dimmer com
uma pequena faísca saltar de nossos dedos. É comum ouvirmos TRIAC
essas crepitações ao tirarmos um vestuário de lã. Assim como os Os cilindros (roletes), junto com a correia, constituem o co-
sapatos são afastados do piso atapetado, as roupas puxadas para ração de um GVDG auto excitado. Como mencionamos anterior-
longe de outras roupas, todos os demais materiais diferentes, quan- mente, geradores eletrostáticos trabalham assentados no efeito
do separados, experimentam uma migração de elétrons de um para triboelétrico. A série triboelétrica (uma lista abreviada é fornecida a
outro, tornando-se ambos eletrizados. Esse é o resultado do efeito seguir) nada mais é que uma lista de materiais ordenados segundo
triboelétrico a eletrização que ocorre ao separarmos materiais di- a carga relativa que adquirem quando atritados (ou separados) dois
ferentes que estão bem juntos. Isso é exatamente o que acontece a dois. Os materiais mais comumente escolhidos para os cilindros
entre a correia de nosso GVDG e o rolete inferior, como veremos. estão nessa tabela.

O segundo tipo de gerador é o sistema bombeado, borrifado Materiais que estão mais
ou ainda externamente excitado. Uma fonte de alimentação de alta ar
vidro próximos do extremo mais
tensão deposita elétrons na correia móvel. Esses elétrons são trans- negativo, têm uma disposição
portados até o domo de descarga. A forma física básica desses dois fibra sintética
mais por assumir uma carga elétrica
tipos são quase idênticas. Porém, não incluiremos muitas explica- lã
positivo negativa. Os materiais mais
ções ou desenhos para se construir esse tipo, porque a fonte de ten- chumbo
alumínio próximos ao extremo mais
são requerida é cara ou de difícil montagem para os alunos. Além positivo tendem a assumir carga
disso, são fontes perigosas para um manuseio por pessoas inex- papel
elétrica positiva. Idealmente, os
perientes. No entanto, para quem “mexe” com eletrônica, como o materiais da correia e do cilindro
amigo Newton C. Braga, por exemplo, diretor técnico da revista Sa- algodão
aço inferior devem estar entre o
ber Eletrônica, essas fontes são brinquedinhos de expelir elétrons! mais afastados possível dessa
É possível construir um pequeno gerador com mínimas despe- madeira
borracha lista, enquanto o material do
sas, uma vez que suas partes podem ser obtidas no comércio ou cilindro superior deve estar na
podem ser fabricadas. O modelo descrito é para um gerador com cobre
neutro acetato região dos neutros.
uma correia de 2 cm a 3,5 cm de largura, uma cúpula de descarga Uma Nota em Relação à
com cerca de 20 cm a 35 cm de diâmetro e algo entre 40 cm e 65 cm poliéster
poliuretano Polaridade de um Van de Graaff
de altura. O modelo baseia-se em GVDGs já construídos pelo autor, Para uma dada combinação
os quais funcionam em seus rendimentos máximos. polipropileno
vinil (PVC) rolete inferior-correia-rolete
Na descrição desse projeto não incluímos detalhes profundos superior, a polaridade do domo
sobre certas partes. Por exemplo, não citaremos “use um motor silicone
do GVDG fica determinada.
da marca tal, modelo tal, número de série tal”. Do mesmo modo, Por exemplo, se a correia é de
certas partes precisam ser fabricadas. Assim, optamos por expor borracha, o rolete inferior é
as exigências gerais e dar ao construtor liberdade para obter, achar, de plástico e o rolete superior
mandar fazer, comprar, trocar etc. ou ele próprio fazer essas partes. é de alumínio, o domo ficará
Praticamente todos os pequenos motores elétricos disponíveis mais
teflon negativo. Usando o mesmo
servirão para esse projeto. O autor já utilizou motor de toca-discos, negativo
desenho, porém colocando-se o
de ventilador doméstico, de ventilador de computador, de máquina rolete de plástico como superior
de costura etc. Como veremos oportunamente, aos poucos, fomos e o de alumínio como inferior, o
eliminando aqueles que utilizam escovas de carvão. Os motores de domo ficará positivo.
indução são os eleitos, mas, talvez, seja difícil achar um com as es-
pecificações certas.
Para ver detalhes teóricos do conjunto roletes-correia, vento
elétrico, fogo de Sant’Elmo, plasma etc., basta clicar no texto em
Tipicamente, o motor deve apresentar o seguinte:
destaque: Roletes e Correia.
Velocidade: 2 000 rpm a 5 000 rpm : 1/10 HP a 1/4 HP.
Para um modelo didático, pequeno, os roletes podem ser cilín-
Tamanho do eixo: 1/4” a 3/8” de diâmetro x 1,25” a 1,5” de
dricos, com diâmetro ao redor dos 2,5 cm e algo como 3 cm a 4 cm
comprimento livre.
de comprimento. Uma vez aberto o furo central nesses cilindros (no
diâmetro correto para passar os eixos), eles devem ser “coroados”.
Coroar um cilindro é fazer rebaixos nos extremos de maneira que
a região central fique ligeiramente mais alta que as extremidades.
396
396
FÍSICA
Esse procedimento manterá a correia centrada sobre o rolete en- Escolha da Correia
quanto ele funciona (a correia tende para a parte mais elevada). Como mencionamos anteriormente, no item Faças e Não-Fa-
Ilustremos isso: ças, evite, para a correia, as borrachas de cor preta. As borrachas
de cor preta têm maior possibilidade de conter “negro de fumo”,
carvão, carbono.
Quando selecionar um material, procure um que tenha uma
boa resistência ao ozônio. Durante a operação de um Van de Graaff,
ambas as descargas elétricas, as provenientes do globo e as das es-
covas, produzirão ozônio. Ozônio (O3) é muito corrosivo, mesmo em
Um rebaixo de cerca de 4 graus em cada extremo (1/3) do ci- pequenas quantidades; pode causar ferrugem, e borrachas e plás-
lindro é o bastante. Para esse serviço é recomendado o uso de um ticos podem ser oxidados ou sofrerem apodrecimento. Neoprene é
torno. O cilindro preso por um longo parafuso a uma furadeira de muito bom para resistir ao ozônio e pode ser comprado da maioria
bancada e um esmerado trabalho de lixa podem produzir excelen- dos fornecedores de borracha. Além disso, pode ser achado na cor
tes “barriletes”. branca ou laranja claro, indicação de ausência de “negro de fumo”.

Espessura da Correia
Há outros recursos para fazer cilin- Que espessura uma correia deve ter? Uma boa regra é: quan-
dros simples. Um deles é utilizar to mais fina, melhor. A própria correia não precisa ser espessa; de
pedaços de canos plásticos usados fato, quanto mais espessa for a correia, mais ela tenderá a sair dos
nas redes domésticas de distribuição cilindros. Conforme a velocidade do gerador aumenta, maior é a
de água e colar discos em suas extre- força centrípeta sobre a região da correia que passa acima do ro-
midades. lete superior e abaixo do rolete inferior. Essa força tende a afastar
Nessa ilustração, o rolete inferior a correia do rolete, e a correia ficará instável em altas velocidades.
foi recoberto com uma tira de pano Vamos entender assim: quanto menor a massa da correia, menor
verde para mesas de snooker (feltro) será sua tendência de se afastar dos roletes. Para ver esse efeito
e fixado com cola tipo Super Bonder. com mais clareza, proceda assim: amarre uma arruela a um fio de
O rolete superior foi recoberto com linha e gire-a em círculos. O puxão que você sente no fio, sua tra-
uma tira de alumínio autocolante ção, tem praticamente a mesma intensidade que a força centrípeta
(tipo Contact). desenvolvida na arruela pela sua rotação; quanto mais rápido girar,
Repare que os discos laterais têm maior será a força que tende a arrancar o fio de sua mão.
diâmetro pouco superior ao dos
canos, de modo a não permitir o
escape da correia. Entretanto, os A espessura, o comprimento útil da correia entre
roletes tipo “barriletes” são os mais os dois cilindros e a tração a que está submetida
recomendados. são os fatores que irão comandar as vibrações
estacionárias na correia. Se houver ressonância
entre a frequência fundamental (ou de algum
O rolete inferior girará solidário ao seu eixo (o eixo é colocado
harmônico) da correia e a rotação dos cilindros, a
sob pressão), que é comandado pelo motor. O rolete superior pode
amplitude da onda estacionária que se estabelece
girar livremente sobre o seu eixo (rolete louco) ou, se o eixo for
pode ser tal que a correia começará a bater na pa-
solidário ao rolete, é o eixo que girará livremente em seus mancais.
rede interna da coluna de apoio. Se isso acontecer,
A maioria dos modelos escolares de GVDG (fornecidos em for-
as providências possíveis são: alterar a velocidade
ma de kits) tem os dois roletes feitos de PVC (maciços, em forma
do motor, alterar a tração na correia ou trocar a
de tarugos), sendo o inferior recoberto com feltro e o superior re-
correia por outra de massa diferente.
coberto com folha de alumínio autocolante; a correia é de borracha
Como Montar a Correia
de cor laranja.
Fazer uma correia não é realmente tão difícil como
Ao selecionar o material para a coluna de apoio, recomenda-
se poderia pensar. Com um pouco de paciência,
mos o uso de um tubo de plástico rígido. PVC e acrílico parecem
algumas lâminas de aparelho para barbear --- tra-
ser os materiais preferidos pela maioria dos construtores. De modo
dicionalmente chamadas de giletes (há um termo
geral, o tubo deve ter um diâmetro um pouco menor que o dobro
em português para isso) ---ou facas com lâminas
do comprimento dos cilindros. Por exemplo, se o cilindro tem 5 cm
descartáveis e uma régua de aço podem ser feitas
de comprimento, então o tubo deve ter um diâmetro de cerca de 10
correias muito boas.
cm (tubo de 4 polegadas, nas medidas comerciais).
Para esse cilindro é melhor usar uma correia de 4 cm de largu-
ra. 0,5 cm é uma boa espessura para a parede do tubo. Não esque- A primeira coisa para lembrar é que a tira de borracha deve ser
ça que o eixo do cilindro superior deve repousar em um entalhe retangular (lados perfeitamente paralelos).
na boca desse tubo ou passar por orifícios praticados nele. Para Uma vez cortada a tira retangular, resta saber que comprimen-
sustentar esses cilindros, a força exercida pela borracha esticada, to precisa ter.
o peso do domo e a espessura da parede do tubo são fatores im- Obtido o comprimento final da correia, seus extremos devem
portantes. A fixação do domo nessa coluna é um assunto delicado, ser colados.
como veremos mais adiante. Não há uma fórmula exata para determinar o máximo compri-
Um bom trabalho para exibição ao público exige boa aparência. mento que a correia deverá ter.
Recomendamos que tal tubo seja lixado externamente (lixa d’água) A elasticidade da borracha, o comprimento global da monta-
e, posteriormente, envernizado. gem roletes-coluna, de modo geral, é que determinará o compri-
mento da correia acabada.

397
FÍSICA
Uma regra básica é: a correia acabada (extremos já colados) Nota: a superposição das extremidades “retas” da correia, na
deve ter um comprimento entre 2/3 e 3/4 da distância entre os cen- colagem, produzirá o inevitável “ploc-ploc-ploc”, cada vez que a
tros dos roletes postos em seus devidos lugares. emenda descontínua passar pelos cilindros. Se a superposição for
Por exemplo: se a distância de centro a centro dos roletes é de inevitável (quando a cola não está segurando devidamente), o re-
60 cm, então 3/4 desse comprimento equivalem a 45 cm (60 x 0,75 comendado é cortar as extremidades da correia em ângulo de 45o
= 45). ou 60o.
Se o material da correia é muito fácil de esticar (pequena cons- Isso permitirá uma passagem mais suave pelos roletes.
tante de elasticidade), então 2/3 serão o recomendável (60 x 0,66 Nessas situações, a cola recomendada é a utilizada nos conser-
= 40). tos de câmaras de pneus de bicicleta.
Apesar dessas referências, ainda resta a experimentação. De-
pois da correia acabada, instalada nos roletes, motor funcionando, O gerador de Van de Graaff tem duas escovas virtuais para
se a correia tende a flutuar nos cilindros, então ela precisa ser en- transferência de cargas. A palavra “escovas” seria melhor substituí-
curtada. da por “pontas”, uma vez que, quando se fala em escova, há exata
De experiência própria, é mais fácil encurtar uma correia do ideia de algo que entra em contato com outro corpo.
que perder material para fazer outra ¾ assim, é melhor manter o Nossas escovas não tocarão na correia, fisicamente, daí o ad-
erro para o excesso a tentar prever o tamanho final. jetivo virtuais.
A segunda coisa é que, quando os extremos da correia são cor- As escovas dos motores universais são realmente escovas, pois
tados, eles devem resultar perpendiculares aos bordos. estão em permanente contato com o anel de terminais do rotor.
Há um método simples para cortar e colar uma correia: antes Manteremos as palavras “escovas virtuais” por comodidade de
de decidir pelo comprimento final, é melhor praticar com restos de expressão e viva a língua portuguesa!
borracha (mesmo que sejam emendados com Super Bonder).
Pratique, também, o uso da cola de secagem rápida (Super A primeira fica localiza-
Bonder ou equivalente) para unir os extremos da fita. Vejamos a da na base, sob o rolete
técnica de colagem. inferior e próxima à face
externa da correia. A
Primeiro coloque a tira de borracha segunda escova fica lo-
(cortada com régua de aço e faca de calizada sobre o cilindro
lâmina descartável ou gilete), com superior e próxima à
comprimento em excesso, sobre uma face externa da correia.
superfície plana (fig.1). A seguir dobre O melhor material para
um extremo da correia para sua re- fazer as escovas é a tela
gião central e então dobre o outro ex- de metal, aquela usada
tremo para o mesmo lugar (fig.2). Isso em telas de janelas.
lhe dará duas camadas de correia com Basicamente, as escovas
os extremos que se encontram no têm a mesma largura
meio. Superponha os dois extremos da correia. Depois que
(cerca de 2 cm) de forma a ter três o material é cortado na
camadas de borracha superpostas largura indicada, repi-
na região central (fig.3). Deslize um que com uma tesoura
pedaço de material resistente debaixo várias camadas dos
dos dois extremos superpostos; as- fios horizontais; isso
sim, quando os extremos forem cor- deixará pontas (farpas)
tados, a lâmina não atingirá a terceira de maior comprimento
camada de borracha (fig.4). Usando voltadas para a correia.
a lâmina nova e a régua de aço posta Monte as escovas bem
perpendicularmente aos bordos, efe- próximo à correia, mas
tue o corte. As extremidades resulta- sem tocarem nela. A
rão em perfeita coincidência, prontas escova inferior deve ser
para a colagem final (fig.5). ligada eletricamente à
terra (condutor aterra-
Retire o pedaço de material resistente e coloque em seu lugar do). Se usar um cordão
um pedaço de fita adesiva dupla face. Uma face gruda na borracha de força de três fios
debaixo e na superfície plana (e serve de apoio) e a outra face re- para o motor (plugue de
ceberá os extremos a serem colados. Deixe apenas uma das extre- 3 pinos - um dos pinos
midades presa na fita adesiva, passe uma fina camada de cola de é a terra da residência),
cianoacrilato (Super Bonder, marca registrada da Loctite Corp.) na essa escova deve ser
extremidade livre e a ajuste com todo capricho junto à outra extre- ligada ao fio-terra do
midade presa à fita adesiva. Agora a fita adesiva manterá tudo no cordão.
lugar até a secagem final da cola.
Após tudo isso teremos uma fita contínua, de espessura unifor- A escova superior deve ser ligada, elétrica e internamente, ao
me, em forma de loop. domo de descarga. O espaçamento das escovas deve ser ajustado
Teste: enfie um lápis dentro do loop para manter a fita na ver- com o motor girando --- deverá existir um espaço de ar entre as
tical. Verifique se não ocorrem dobras e se há paralelismo entre as pontas das escovas e a superfície externa da correia. O “segredo”
duas partes. do porquê um GVDG consegue acumular boa quantidade de cargas
398
398
FÍSICA
elétricas e atingir altíssimos potenciais está no modo como a carga excesso nas duas bordas (havia uma espécie de bainha saliente),
é colocada na cúpula. Na parte construtiva, a cúpula ou domo de rebaixou ligeiramente uma das bordas e repuxou a outra. Ficou ex-
descarga ideal para o GVDG requer trabalho de torno e repuxo. É celente.
serviço de profissional.
Reunindo as Partes
É constituída por duas superfícies Agora que todos os componentes foram descritos, é hora de
hemisféricas (calotas esféricas) que reuni-los.
se ajustam perfeitamente devido a
encaixes trabalhados nas bordas. Comecemos pelo
Esses hemisférios podem ser feitos motor e rolete
com chapas de alumínio com 1 mm inferior. O rolete
ou 1,5 mm de espessura, repuxadas pode ser fixado
num torno para adquirirem a for- diretamente, sob
ma de hemisférios; trabalho muito pressão, ao eixo
parecido com os repuxos para fazer do motor (se ele
cúpulas de lustres, de lâmpadas de for suficiente-
quintal etc. mente comprido)
A parte inferior, que é fixada no alto ou ter um eixo
da coluna de apoio, tem uma gola próprio, sendo
voltada para dentro. Isso facilita todo então adaptado
o trabalho de fixação com parafusos ao eixo do motor
metálicos e arruelas de borracha por meio de um
(que minimizam as vibrações). Aqui pequeno pedaço
os parafusos podem ser usados por de tubo plástico
ficarem dentro do globo. flexível, conforme
Eis a ilustração da cúpula ideal. ilustramos.

Se uma cúpula de descarga especificamente projetada não está Dependendo do motor (rotação, por exemplo), alguns monta-
disponível, então outras cúpulas alternativas poderão ser construí- dores preferem adaptar polias aos dois eixos e acoplá-las com cor-
das. O recurso usado pelo autor em uma de suas montagens é o reia de máquinas de costura. O tubo de sustentação deve ter próxi-
apresentado a seguir. mo à sua base um furo que permita a introdução desse rolete. Essa
montagem admite alterações. O importante é que fique tudo muito
Consiga duas taças esportivas com diâ- bem alinhado e isento de vibrações durante o funcionamento.
metro superior a 20 cm. Elas são, em O conjunto rolete + eixo + tubo plástico deve ser removido
geral, confeccionadas em latão, anodiza- por permitir a colocação da correia. Dentre os materiais da série
das ou niqueladas. Retire-as do suporte. triboelétrica, optamos pelo PVC para a confecção dos dois roletes
Você terá duas calotas esféricas, cada e recobrimos o inferior com uma tira de feltro, sem superposição,
uma com um orifício de cerca de 4 mm fixada com Super Bonder.
no vértice. Feche um desses orifícios O material mais simples para a base e demais apoios (motor,
com um arrebite de cabeça larga, liman- escova e controle de velocidade), onde tudo foi fixado, é a madeira
do e lixando cuidadosamente (para não envernizada. Os critérios para eles são: (a) onde a coluna de sus-
riscar a calota), de modo a deixá-lo qua- tentação será fixada; (b) onde o suporte da escova será montado;
se como parte integrante da calota. Essa (c) onde ficará o motor e seu controle de velocidade. Tudo deve ser
será a calota superior.Na outra calota, pensado visando a um modo fácil de substituir componentes ava-
que será a inferior, deve ser praticado riados e à limpeza de tubo e correia de tempo em tempo.
um grande orifício (com ferramenta ade- O desenho geral do GVDG é que ditará quão robusto o tubo e a
quada), por onde passará justo o tubo base devem ser. A coluna de sustentação para um pequeno gerador
de suporte do GVDG. Procure não deixar pode ser fixada na base com chapinhas metálicas em ângulo reto
qualquer rebarba de material nesse cor- ou braçadeiras convenientes, mas um maior precisará de um layout
te. Arredonde as bordas com lixa. Use mais elaborado. Uma vez fixada a coluna, verifique se o rolete ficou
cantoneiras em L para fixar o tubo supor- bem posicionado no centro do tubo.
te nessa calota inferior. Os arrebites tipo
pop são os indicados.

Para minimizar o poder das pontas nas bordas desse orifício, o


autor adaptou uma argola de alumínio maciço (não recordamos se
foi proveniente de uma pulseira ou de um puxador de cortinas) de
diâmetro interno igual ao diâmetro externo do tubo.
De início, nas primeiras experimentações, a calota superior foi
simplesmente apoiada na inferior e fixada com fita isolante. Mais
tarde, com o auxílio de um amigo torneiro, foi feito um perfeito
trabalho de encaixe nos dois hemisférios. Ele retirou o material em

399
FÍSICA
A seguir, instale o rolete superior. O desenho do rolete superior CAPACITORES
é que ditará como ele será montado na coluna. A montagem mais
simples é cortar duas aberturas pequenas no topo do tubo para o CAPACITÂNCIA E ENERGIA
eixo do cilindro descansar nelas. Duas arruelas elásticas ou dois pi- Capacitores são dispositivos cuja a função é armazenar cargas
nos enfiados em orifícios nas extremidades desse eixo impedirão elétricas. São formados por dois condutores situados próximos um
que o cilindro deslize para fora das aberturas na coluna. Fique aten- do outro, mas separados por um meio isolante, que pode ser o vá-
to à montagem dos roletes quando tudo estiver pronto, verifique cuo. Ligando - se os condutores aos terminais de um gerador (Fig.
se estão alinhados na vertical e paralelos entre si. Se não houver 1), eles ficam eletrizados com cargas + Q e -Q .
perfeito alinhamento, a correia tenderá a deslizar para um de seus
extremos. As coroas dos roletes tentarão minimizar esse efeito, mas
tudo tem seus limites...

Os dois condutores são chamados de armaduras do capacitor e


o módulo da carga que há em cada armadura é chamado de carga
do capacitor.

Os tipos de capacitores são:


1. capacitor plano (Fig.2a) formado por duas placas condutoras
paralelas.
2. capacitor esférico ( Fig.2b) formado por duas cascas esféricas
concêntricas.

O próximo passo é a colocação da correia. Passe-a por baixo do


rolete inferior, segurando a montagem toda; estique-a para cima
(pode-se usar uma alça de barbante para isso); deslize o rolete su-
perior para o seu devido lugar e deixe assentar. Confira bem esse
assentamento e o alinhamento da correia. Gire a correia com a mão
e observe se trabalha corretamente. Se, até aqui, tudo estiver em
ordem, pode-se ligar o motor em baixa rotação.
Repare em tudo. Já deve ser percebida a presença de um cam- 3. capacitor cilíndrico (Fig.2c) formado por duas cascas concên-
po eletrostático ao redor da coluna de sustentação (notadamente tricas.
pelos pelinhos do braço que ficam eriçados). Se a correia não tracio- Qualquer que seja o tipo de capacitor, nos esquemas de circui-
na corretamente, ajuste os apoios do rolete superior até que tudo to ele é representado por um símbolo da Fig.3.
fique em ordem.
Se a correia se comporta bem da velocidade mínima até a máxi-
ma (pois está em perfeito alinhamento), é hora de colocar a escova
superior (lembre-se de que ela deve estar eletricamente ligada à
cúpula) e fechar o globo. Para impedir a queda da metade superior
do domo, no caso de simples ajuste de um sobre o outro, passe uma Verifica - se que há uma proporcionalidade entre a carga (Q)
fita isolante para fixá-lo. O GVDG está pronto para ser testado. do capacitor e a diferença de potencial (U) entre suas armaduras:
Q = C . U ou C =Q ( I )
Antes de ligar o aparelho completo pela U
primeira vez é conveniente preparar um
centelhador para receber as faíscas. Ele A constante de proporcionalidade C é denominada capacitân-
servirá para testar distâncias de faisca- cia do capacitor e sua unidade no Sistema Internacional é o farad,
mento, assim como descarregar o globo cujo símbolo é F.
entre experimentações e testes. Pode ser Verifica - se que a capacitância de um capacitor depende ape-
feito com uma vareta plástica, com uma nas da geometria das armaduras ( forma, tamanho e posição relati-
esfera metálica na ponta e um longo fio va ) e do isolante que há entre elas.
ligado na base do aparelho (no fio-terra). Um capacitor carregado armazena energia potencial elétrica (
Ep ) a qual é dada por:

Ep=

400
400
FÍSICA
(II) A diferença de potencial entre X e Y é dada por:
Exemplo Uxy = ( 2,0 ) (6,0 A) = 12 V
Um capacitor de capacitância C = 2,0 p F, foi ligado aos termi- Portanto a carga Q do capacitor é dada por:
nais de uma bateria que mantém entre seus terminais uma diferen- Q = C . Uxy = (5,0 F) (12 V) = (5,0 . 10-6 F) (12V) =
ça de potencial U = 12V. Calcule: = 60 . 10-6 coulomb = 60 C
A) a carga do capacitor Q = 60 C
B) a energia armazenada no capacitor: Observação: Os capacitores são também chamados de conden-
sadores.
Resolução
CAPACITOR PLANO
Consideremos um capacitor plano cujas placas têm área A e
estão separadas por uma distância d ( Fig.4)

Pode - se demostrar que a capacitância desse capacitor é dada


A) Pela definição de capacitância temos: por:
C = EA ( III ) de onde a constante E depende do meio isolante
(dielétrico) que existe entre as placas e é chamada permissividade
do meio. Da equação III tiramos:
E = Cd
Q = C. U = ( 2,0 p F ) ( 12V ) = A
= ( 2,0 . 10-12 F ) ( 12V ) =
= 24. 10-12 coulomb.
Q = 24 . 10-12 C = 24 pC
B) Ep =
= 144 . 10-12 = 1,44 . 10-10
Ep = 1,44.10-10 J Assim, no Sistema Internacional temos:
A permissividade do vácuo é:
Exemplo E0 = 8,85.10-12 F/m
No circuito esquematizado ao lado há um capacitor

Qualquer outro isolante tem uma permissividade ( E ) maior


que a do vácuo ( E0 ). Define-se então a permissividade relativa ( ou
constante dielétrica ) do meio por:
A permissividade está relacionada com a constante k da Lei de
Coulomb por meio da equação:

Calcule sua carga.

Resolução Exemplo
Pelo capacitor não passa corrente elétrica. No entanto ele está Um capacitor plano é formado por placas de área A = 36.10-4m2
submetido a uma diferença de potencial que é a mesma que existe separadas por uma distância d = 18.10-3m, sendo o vácuo o meio
entre os potos X e Y. entre as placas as quais estão ligadas a um gerador que mantém
Os resistores do circuito estão em série e sua resistência equi- entre seus terminais uma tensão U = 40V. Sabendo que a permissi-
valente é: vidade do vácuo é E0 = 8,85.10-12 F/m, calcule:

R = 3,0 + 2,0 + 4,0 = 9,0


Assim: 54 = ( 9,0 ) . i i = 6,0A

401
FÍSICA
A) a capacitância desse capacitor Mas:
B) a carga do capacitor
C) a intensidade do campo elétrico entre as placas

Resolução
A) Substituindo em VI:

ou

= 1,77.10-¡²
C = 1,77 . 10-12F
B) Q = C .V = (1,77 . 10-12F) (40 V) = 7,08 . 10-11C
Q = 7,08 . 10-11C (VII)
A equação anterior pode ser generalizada para um número
C) No capítulo de campo elétrico vimos que entre duas placas qualquer de capacitores em série.
paralelas, uniformemente carregadas com cargas de sinais opostos, Quando há apenas dois capacitores em série temos:
há um campo elétrico aproximadamente uniforme. Ao estudarmos
o potencial vimos que para um campo uniforme temos:
U = E.d
Portanto:
Ou

E
2,2 . 103 V / m (VIII)
Se forem n capacitores iguais, associados em série teremos
ASSOCIAÇÃO DE CAPACITORES
Na Fig.5 representamos três capacitores associados de modo
que a armadura negativa de um deles está ligada à armadura positi- nparcelas
va do seguinte. Dizemos que eles estão associados em série. ou

(IX)

ENERGIA ARMAZENADA EM CAPACITORES


Na Fig.7 representamos três capacitores associados em parale-
lo, isto é, os três estão submetidos à mesma tensão U.

Na Fig.8 representamos um único capacitor, de capacitância CE


que é equivalente à associação, isto é, submetido à mesma tensão
U, apresenta a mesma carga total Q:
Q = Q1 + Q2 + Q3 (X)
Mas: Q = CE.U, Q1 = C1.U, Q2 = C2.U, Q3= C3.U
Substituindo em X:
CE.U = C1.U + C2.U + C3.U
ou:
CE = C 1 + C 2 + C 3

Numa associação em série, os capacitores têm a mesma carga.


Na Fig.6 representamos um único capacitor, de capacitância CE,
que é equivalente à associação dada, isto é, sob a mesma tensão
total U, tem a mesma carga Q.
U = U1 + U2 + U3 ( VI )

402
402
FÍSICA
CIRCUITOS ELÉTRICOS rência de água graças à força da gravidade. Se não houver diferença
de nível, para haver transferência será preciso uma bomba hidráu-
CORRENTE ELÉTRICA CONTÍNUA E ALTERNADA lica. Um gerador realiza a mesma função que a bomba hidráulica.
Além disso, as cargas precisam de um meio por onde circular. Os
materiais que permitem o deslocamento por seu interior são os
condutores, como os metais em geral. Se um material dificulta esse
deslocamento, chama-se isolante ou dielétrico, como o ar, o papel,
o vidro, a seda ou o plástico. A corrente elétrica pode ser contínua,
caso em que as cargas se deslocam sempre num sentido, ou alter-
nada, quando as cargas mudam constantemente de sentido.

Intensidade de corrente elétrica

Uma corrente elétrica produz magnetismo. O efeito contrário é


possível? O físico inglês Michael Faraday demonstrou que sim. Em
determinadas condições, um campo magnético gera corrente elé-
trica: ele ligou uma bobina a um amperímetro e, ao introduzir ra-
pidamente um ímã na bobina, o amperímetro assinalava passagem
de corrente. É a indução eletromagnética. Um ímã em movimento
gera uma corrente elétrica em um fio condutor: é a corrente indu-
zida. Se em vez de introduzir o ímã o retirarmos, a corrente assume
o sentido inverso. Se aproximarmos ou afastarmos a bobina em vez
do ímã, o resultado será idêntico. A aplicação mais importante da Quando as cargas circulam por um condutor, elas podem se
indução é a produção de corrente elétrica. Se fizermos girar a espira deslocar em maior ou menor velocidade. O ritmo com que as cargas
no interior do campo magnético do ímã, produz-se uma corrente circulam por uma seção do condutor é expresso por uma grandeza
induzida. chamada intensidade de corrente.
Conforme a figura, a cada meia-volta da espira, a corrente Assim, a intensidade de corrente é o valor da carga que atra-
muda de sentido: é uma corrente alternada. Os alternadores, com- vessa a seção de um condutor a cada segundo. É representada por
ponentes do sistema elétrico dos carros, são geradores de corrente I e matematicamente sua equação é: I = Q / t. O instrumento para
alternada. Funcionam com base na descoberta de Faraday. Modi- medir intensidades denomina-se amperímetro. A unidade de inten-
ficações na montagem dos coletores e escovas (contatos entre a sidade de corrente elétrica, no SI, é o ampère (A) e se define como
espira móvel e o circuito no qual vai circular a corrente induzida) o quociente entre a unidade de carga, o coulomb (C), e a de tempo,
podem originar os geradores de corrente contínua, como são os dí- o segundo (s). Então:
namos das bicicletas
1A=1C/1s
Sentido da corrente elétrica
A corrente elétrica é produzida pelo movimento de elétrons em
um condutor. O sentido real da corrente é o do movimento de elé-
trons que circulam do polo negativo ao polo positivo. Porém, uma
convenção internacional estabeleceu que o sentido da corrente elé-
trica é o contrário do movimento dos elétrons. Então:

Corrente elétrica O sentido convencional da corrente elétrica é o que vai do


Para verificar se um objeto está ou não carregado eletricamen- polo positivo ao negativo através do condutor, isto é, o con-
te, utiliza-se o eletroscópio. Ocorre um deslocamento de cargas trário ao movimento dos elétrons.
para as lâminas do eletroscópio. Esse movimento de cargas, o des-
locamento, é transitório, pois cessa assim que as lâminas se carre-
gam negativamente. Chamamos de corrente elétrica o movimento
de cargas elétricas através de um condutor. O deslocamento acon-
tece porque, entre a barra e as lâminas, existe uma diferença de
estado eletrônico que põe as cargas em movimento. Para que ele
seja contínuo é preciso manter esse desnível eletrônico, chamado
diferença de potencial ou tensão. O elemento encarregado de man-
ter essa diferença chama-se gerador elétrico.

Polo positivo = maior potencial


Polo negativo = menor potencial

Uma pilha ou uma bateria de carro são geradores de corrente


elétrica. A diferença de potencial é medida em volts (V) e o instru-
mento que pode medi-la chama-se voltímetro. Podemos imaginar a CIRCUITOS DE CORRENTE CONTINUA
diferença de potencial como se fosse a diferença dos níveis de água Todo circuito elétrico deve ter quatro elementos básicos: gera-
em potes interligados. Se houver diferença de nível, haverá transfe- dor, condutor, receptor e interruptor.

403
FÍSICA
GERADORES DE CORRENTE CONTÍNUA em paralelo. A ligação em série ocorre quando o polo negativo de
O gerador é o elemento que cria a corrente elétrica. Ele tem um elemento é ligado ao polo positivo de outro, e assim sucessi-
dois polos ou bornes, um positivo e outro negativo. É representado vamente. No caso das lâmpadas, que não apresentam polaridade,
esquematicamente por duas linhas paralelas, uma mais comprida oriente-se pelas figuras e preste atenção: quando elas estão ligadas
do que a outra. A mais comprida representa o polo positivo, e a em série, como os enfeites numa árvore de Natal, e uma delas se
mais curta, o negativo. queima ou desenrosca, deixa de passar corrente pelo circuito e to-
das apagam. Se a ligação é em paralelo, como nas lâmpadas de uma
Os geradores transformam algum tipo de energia em energia casa, e uma delas falha, as demais continuam funcionando.
elétrica.
Por exemplo, as pilhas e as baterias transformam energia quí-
mica em elétrica e geram corrente contínua. Algumas, porém, for-
necem pouca energia, razão pela qual são empregadas em apare-
lhos de baixo consumo, como calculadoras, relógios, lanternas, que
funcionam com pilhas de 1,5 V ou 4,5 V. Os dínamos transformam
a energia mecânica em elétrica. Os mais conhecidos são os dos car-
ros, que fornecem corrente contínua. Os alternadores são gerado-
res de corrente alternada. Exemplo de ligação em série

Nas centrais hidrelétricas, térmicas ou nucleares, os alterna-


dores transformam a energia potencial da água, a calorífica ou a
nuclear, em energia elétrica.

Exemplo de ligação em paralelo

Resistência de um condutor
A resistência elétrica mede a dificuldade que os elétrons en-
contram ao se deslocarem por um condutor. Os materiais condu-
tores apresentam pequena resistência elétrica. Os dielétricos, ou
isolantes, apresentam grande resistência elétrica. Está provado
que, ao colocar vários condutores entre dois pontos de potenciais
diferentes, a resistência (R) vai depender do comprimento do con-
dutor (L), da superfície de sua seção transversal (s) e do material de
que é feito. Então, quanto maior o fio, maior a resistência elétrica.
Se dois condutores de mesmo material e comprimento tiverem se-
ção transversal diferente, o de menor seção vai apresentar maior
resistência. Se a única diferença for o material do condutor, cada
substância apresentará uma resistência distinta, devido à sua resis-
tividade. Deduz-se que a resistência de um condutor é diretamente
Condutor proporcional à sua resistividade e comprimento, e inversamente
O condutor é o meio pelo qual as cargas se deslocam. O mais proporcional à sua seção transversal. Então: R = L / S. A resistivida-
usado, por seu preço e baixa resistividade, é o cobre. de é definida como a resistência de um condutor de um metro de
comprimento e um metro quadrado de seção transversal.
Receptor = unidade de medida de resistência elétrica (lê-se ohm)
O receptor transforma a energia elétrica em outras formas de ” m = unidade de resistividade
energia. O desenho pode ser simples ou complexo: uma lâmpada
ou um motor elétrico. Os que transformam energia elétrica em ca- ASSOCIAÇÃO DE RESISTORES
lor são representados esquematicamente como resistores. O circuito mais simples contém apenas um resistor. Na prática,
porém, há situações mais complicadas em que aparecem vários re-
Interruptor sistores associados. Nesses casos, é preciso calcular o valor de uma
O interruptor é a chave situada no condutor que permite ou única resistência equivalente (Req) da associação que tenha a mes-
impede a passagem de cargas. Se permite, diz-se que o circuito está ma função de todas as outras sem alterar as condições do circuito.
fechado, caso contrário, está aberto.

Montagem dos elementos de um circuito


Os elementos de um circuito podem ser montados basicamen-
te de duas formas diferentes: com ligação em paralelo ou em série.
No caso dos elementos de circuito que apresentam polaridade (ge-
radores, por exemplo), quando se ligam os polos negativos entre si
e, da mesma forma, todos os polos positivos, temos uma ligação

404
404
FÍSICA
RESISTORES E RESISTÊNCIA ELÉTRICA pela carga que circula. Se recordarmos que uma corrente elétrica se
Resistores em série caracteriza por sua intensidade I = Q / t, de onde Q = I “ t, obteremos
= Vab “ I “ t.
A energia elétrica pode ser expressa também em função da
resistência. Levando em conta que pela lei de Ohm Vab = R “ I, po-
Na ilustração à direita, pelos resistores Rs, R2 e R3 circula a demos transformar a expressão e teremos = R “ I2 “ t. Também po-
mesma intensidade de corrente I. A diferença de potencial entre demos escrever a Lei de Ohm como I = Vab²/R “ t.
as extremidades do gerador é a soma das diferenças de potenciais
existentes em cada resistor: Potência elétrica
Vad = Vab + Vbc + Vcd Define-se como o quociente entre o trabalho elétrico realizado
Pela lei de Ohm: e o tempo empregado para realizá-lo:
Vab = R1 “ I, Vbc = R2 “ I e Vcd = R3 “ I. P = / t. Se dividirmos pelo tempo todos os valores obtidos para
Portanto, podemos escrever que o cálculo do trabalho, obteremos expressões que permitem calcular
Vad = R1 “ I + R2 “ I + R3 “ I = (R1 + R2 + R3) “ I = Req “ I. a potência:
Logo, a resistência equivalente a um conjunto de resistores em
série é a soma das resistências de todos eles. P = Vab “ I = R “ I2 = Vab²/R

Req = R1 + R2 + R3 A potência elétrica é medida no SI em Watts (W), unidade de-


finida como o quociente entre 1 joule e 1 segundo: 1 W = 1 J /1 s.
Outra unidade muito utilizada é o quiloWatt (kW), que equivale a
1.000 W. Da definição de potência deduz-se que = P “ t, e pode-se
calcular o trabalho ou energia como o produto da potência pelo
tempo. Se expressarmos a potência em kW e o tempo em horas,
a unidade de energia que obteremos será o quiloWatt-hora (kWh),
definido como a energia gerada ou consumida quando se usa uma
potência de um quiloWatt durante uma hora. Nas contas de luz,
pagamos pelos quilowatt-hora consumidos.

Resistores em paralelo Efeito Joule


Na ilustração à esquerda existe a mesma diferença de potencial Quando a corrente elétrica atravessa um circuito, seus elemen-
entre as extremidades de cada um dos resistores e as extremidades tos se aquecem. É o chamado efeito calorífico da corrente elétrica.
do gerador, Vab. A intensidade total I se repartirá em I1, I2 e I3, de Isto se deve ao fato de os elétrons que circulam pelo condutor cho-
modo que I = I1 + I2 + I3. Ao aplicar a lei de Ohm para calcular os carem-se com as estruturas fixas do material. Com isso, parte de
valores das intensidades, teremos: sua energia cinética se transforma em energia térmica, liberada na
I1 = Vab / R1, I2 = Vab / R2 e I3 = Vab / R3 e I = Vab / Req. Por- forma de calor. O fenômeno pelo qual a energia cinética se trans-
tanto, forma em calor num condutor chama-se Efeito Joule. A partir da
Vab / Req = Vab / R1 + Vab / R2 + Vab / R3. expressão de energia obtida anteriormente, = R “ I2 “ t, podemos
Assim, numa associação de resistores em paralelo, o inverso da calcular a energia calorífica transformada. Tradicionalmente, o ca-
resistência equivalente é igual à soma dos inversos das resistências, lor é medido numa unidade chamada caloria. Levando-se em conta
que matematicamente é: que 1 joule = 0,24 calorias, pode-se calcular (em calorias) o calor
desprendido pelo Efeito Joule:
1 / Req = 1 / R1 + 1 / R2 + 1 / R3
Q = 0,24 “ R “ I2 “ t
LEI DE OHM
O fluxo ordenado de cargas elétricas através de um material,
ativado pela aplicação de uma diferença de potencial, é limitado
pela estrutura interna do mesmo.
Antes de derivar a expressão que relaciona resistência elétri-
ca e parâmetros físicos, talvez seja conveniente explorar um pouco
mais a analogia existente entre os sistemas mecânicos e os circuitos
elétricos.
Considere-se então uma massa em queda sob a ação de um
campo gravitacional constante, num primeiro caso num espaço sem
atmosfera e num segundo num espaço com atmosfera. Admita-se
ainda que inicialmente o corpo se encontra a uma altitude h, isto é,
Energia elétrica que possui uma energia potencial EP-ini=mgh e uma energia cinética
Para calcular o valor da energia elétrica, ou do trabalho sobre EC-ini=0. Nestas condições, a força atuante sobre a massa é F=mg,
as cargas do condutor é preciso levar em conta que a diferença de a intensidade do campo gravítico é E=g e, já agora, a diferença de
potencial é o trabalho realizado por unidade de carga: potencial gravítico é V=gh.
Vab = / Q. Portanto, o valor do trabalho será: = Q “ Vab. Esta ex- A força e o campo são constantes ao longo de toda a trajetória
pressão significa que a energia ou trabalho cedido por um gerador do corpo, sendo o potencial gravítico tanto mais elevado quanto
é o produto da diferença de potencial entre seus polos multiplicada maior for a altitude inicial do corpo. Ao longo da queda, o corpo
troca energia potencial por energia cinética. A troca entre energias

405
FÍSICA
verifica a relação em que xe v definem a posição e a velocidade A qual, tendo em conta a relação (3.7), permite escrever em
entretanto adquiridas pelo corpo. A velocidade do corpo é expressa que S/m, siemens por metro se designa condutividade
por m/s, metro por segundo admitindo naturalmente que elétrica do material, ou ainda em que S, siemens se diz
se verifica sempre v<<c, em que c define a velocidade da luz. No es- condutância elétrica do condutor. Expressando a tensão em função
paço sem atmosfera o corpo atinge a velocidade máxima para x=h, da corrente, obtém-se e W.m, ohm-metro se designa
ou seja, quando EP=0. por resistividade elétrica do material e W, ohm por resistência
elétrica do condutor. As expressões acima são indistintamente de-
signadas por Lei de Ohm.
De acordo com a expressão (3.16), a resistência elétrica de um
condutor é diretamente proporcional ao seu comprimento, e inver-
No caso em que o corpo se move num espaço com atmosfe- samente proporcional à sua secção, à densidade e à mobilidade das
ra, portanto com atrito, a troca de energia potencial por energia cargas elétricas livres existentes no seu seio. Na Figura 3.3 ilustram-
cinética faz-se com perdas. Outra consequência da força de atrito -se alguns casos da relação existente entre a resistência elétrica e o
é o fato de, a partir de um determinado instante, o corpo se des- comprimento, a secção e a resistividade, enquanto na Tabela 3.1 se
locar com uma velocidade constante, designada velocidade limite. apresentam os valores da resistividade elétrica de alguns materiais
A partir desse instante efetua-se uma troca integral entre energia condutores, semicondutores e isoladores, medidos à temperatura
potencial e calor, e o ritmo de troca de energia na unidade de tem- de referência de 20 ºC.
po é constante. Considere-se agora o circuito elétrico representado
na Figura 3.1.

Figura 3.1 Resistência elétrica

Admita-se que a diferença de potencial aos terminais da ba- Figura 3.3 Resistência elétrica de fios condutores com comprimen-
teria é V e que a intensidade do campo elétrico ao longo do fio tos, secções e resistividades variadas
condutor é constante
MATERIAL RESISTIVIDADE 20ºC)
Tal como o corpo em queda livre, as cargas negativas perdem
energia potencial ao dirigirem-se do terminal negativo para o ter- prata 1.645*10-8 W.m
minal positivo da bateria (energia convertida em energia cinética e cobre 1.723*10-8 W.m
calor). As cargas elétricas atravessam o fio condutor com uma velo-
cidade constante, basicamente fixada no valor médio das velocida- ouro 2.443*10-8 W.m
des atingidas nos intervalos entre colisões com os átomos. alumínio 2.825*10-8 W.m
Admita-se que o material é caracterizado por uma densidade
tungsténio 5.485*10-8 W.m
de eletrões livres por unidade de volume,
níquel 7.811*10-8 W.m
n = número de eletrões por metro cúbico ou que a densidade ferro 1.229*10-7 W.m
de carga livre por metro cúbico é q=ne (valor absoluto). Por exem-
plo, os materiais condutores são caracterizados por possuírem uma constantan 4.899*10-7 W.m
elevada densidade de eletrões livres, que lhes permite suportar o nicrómio 9.972*10-7 W.m
mecanismo da condução elétrica, ao passo que os materiais iso-
ladores são caracterizados por valores bastante reduzidos deste carbono 3.5*10-5 W.m
mesmo parâmetro. Por outro lado, cada par material-tipo de carga silício 2.3*103 W.m
caracteriza-se por uma relação velocidade-campo
polystirene ~ 1016 W.m

Tabela 3.1 Resistividade elétrica de diversos materiais condu-


tores, semicondutores e isoladores (a 20 ºC)
em que m se designa por mobilidade das cargas
em questão. Este parâmetro é em geral uma função do tipo de car-
A Lei de Ohm permite três interpretações distintas:
ga, da temperatura e do tipo de material. A quantidade de carga
(i) para uma determinada tensão aplicada, a corrente é inversa-
que na unidade de tempo atravessa a superfície perpendicular ao
mente proporcional à resistência elétrica do elemento;
fluxo é (Figura 3.2)
(ii) para uma determinada corrente aplicada, a tensão desen-
volvida aos terminais do elemento é proporcional à resistência;
(iii) a resistência de um elemento é dada pelo cociente entre a
tensão e a corrente aos seus terminais.

406
406
FÍSICA
Por exemplo, no caso dos circuitos representados na Figura 3.4 material caro e pouco eficiente, o que impede seu uso em tecno-
verifica-se que em (b) a corrente na resistência é dada por I=V/R=5 logias que procurem explorar o fenômeno. A partir de 1986, várias
A, que em (c) a tensão aos terminais da resistência é V=RI=5 V e que descobertas mostraram que cerâmicas feitas com óxidos de certos
em (d) o valor da resistência é R=V/I=10 W. elementos, como bário ou lantânio, tornaram-se supercondutoras
a temperaturas bem mais altas, que permitiriam usar como refrige-
rante o nitrogênio líquido, a uma temperatura de -196º C.

Aplicações dos supercondutores:


As aplicações são várias, embora ainda não tenham revolu-
cionado a eletrônica ou a eletricidade, como previsto pelos entu-
siastas. Têm sido usados em pesquisas para criar eletromagnetos
Figura 3.4 Símbolo da resistência e Lei de Ohm capazes de gerar grandes campos magnéticos sem perda de energia
ou em equipamentos que medem a corrente elétrica com precisão.
A representação gráfica da Lei de Ohm consiste numa reta com Podem ter aplicações em computadores mais rápidos, reatores de
ordenada nula na origem e declive coincidente com o parâmetro R fusão nuclear com energia praticamente ilimitada, trens que levi-
(ou G) (Figura 3.5). Apesar de elementar e evidente, é importante tam e a diminuição na perda de energia elétrica nas transmissões.
associar esta relação linear tensão-corrente à presença de um ele-
mento do tipo resistência, mesmo em dispositivos eletrônicos rela- FORÇA ELETROMOTRIZ
tivamente complexos como o transistor. Num dos seus modos de
funcionamento, por exemplo, o transistor apresenta uma relação FORÇA ELETROMOTRIZ.
tensão-corrente semelhante àquela indicada na Figura 3.5, o que Por razões históricas a fonte de energia que faz os elétrons se
indica, portanto, que nessa mesma zona o transistor é, para todos moverem em um circuito elétrico é denominada fonte de força ele-
os efeitos, uma resistência. tromotriz (fem). Exemplos de fontes fem:
• Energia química (bateria).
• Energia luminosa (bateria solar).
• Diferença de temperatura (termo-par).
• Energia mecânica (queda d’agua).
• Energia Térmica:
• Queima de carvão.
• Queima de óleo combustível.
• Reações nucleares.

Figura 3.5 Lei de Ohm Utilizaremos o termo ``bateria’’ de maneira genérica, para de-
signar qualquer fonte de fem. Inicialmente vamos considerar so-
SEMI CONDUTORES E SUPERCONDUTORES mente situações para as quais a fem não varia como uma função do
tempo. Neste caso, veremos que a corrente produzida no circuito
Semicondutores pode ou não variar com o tempo.
Semicondutores são corpos sólidos cuja condutividade elétrica Se a corrente for também constante, temos uma situação de
se situa entre a dos metais e a dos isolantes. Sua resistividade de- estado estacionário com uma corrente contínua fluindo no circuito.
pende da presença de impurezas e da temperatura (quanto maior Graças à força do seu campo eletrostático, uma carga pode rea-
a temperatura melhor ele irá conduzir. O processo de condução ca- lizar trabalho ao deslogar outra carga por atração ou repulsão. Essa
racteriza-se pela existência de lacunas ou buracos, deixados pelos capacidade de realizar trabalho é chamada potencial. Quando uma
elétrons que se desligaram dos átomos. carga for diferente da outra, haverá entre elas uma diferença de
Os semicondutores são utilizados em dispositivos eletrônicos, potencial(E).
como os retificadores e transistores, pilhas solares, lasers, células A soma das diferenças de potencial de todas as cargas de um
fotoelétricas e outros. campo eletrostático é conhecida como força eletromotriz.
Os semicondutores mais utilizados para a produção de disposi- A diferença de potencial (ou tensão) tem como unidade funda-
tivos (entre eles o diodo) são o germânio e o silício mental o volt(V).

Super Condutores Convencional


Fenômeno físico apresentado por certas substâncias, como Solte sua imaginação! Você já pensou num liquidificador (só o
metais ou cerâmicas especiais, caracterizado pela diminuição da re- copo, sem o motor convencional) onde as hélices ficam paradas e
sistência elétrica em temperaturas muito baixas. Com isso a corren- o líquido do copo é quem gira? Ou numa máquina de lavar roupas
te elétrica pode fluir pelo material sem perda de energia. onde a roupa espontaneamente se põe a girar para cá e para lá? E
Histórico: Teoricamente, a supercondutividade permitiria o uso que tal a água do tanque de lavar roupas começar a fazer o mesmo?
mais eficiente da energia elétrica. O fenômeno surge após determi- Pois bem, leia esse artigo: o primeiro passo do motor de rotor liqui-
nada temperatura de transição, que varia de acordo com o material do está lançado!
utilizado. O holandês Heike Kamerlingh-Onnes fez a demonstração
da supercondutividade na Universidade de Leiden, em 1911. Para
produzir a temperatura necessária, usou hélio líquido. O material
foi mercúrio, abaixo de -268,8º C. Até 1986, a temperatura mais ele-
vada em que um material se comportara como supercondutor foi
apresentada por um composto de germânio-nióbio; temperatura
de transição:-249,8º C. Para isso também fora usado hélio líquido,

407
FÍSICA
Como funcionam os motores convencionais? dentro de uma margem estreita de frequências, e em geral são for-
O princípio básico que regula o funcionamento dos motores mados por resistências, bobinas e condensadores, agrupados em
convencionais repousa na força magnética de Lorentz. função da finalidade visada.
“Toda carga elétrica (q) imersa num campo de indução mag- Os amplificadores destinam-se a incrementar a amplitude ou
nética (B) e dotada de velocidade (V), de direção não coincidente potência de um sinal, e classificam-se em lineares e não-lineares,
com a direção do campo, fica sujeita a uma força (Fm) de origem segundo a natureza da resposta dos componentes às polarizações
eletromagnética, cuja intensidade é dada por: a que são submetidos. Os amplificadores não-lineares, além de au-
|Fm| = |q| .|V|.|B|. senq mentar o sinal de entrada, podem mudar a forma de sua onda.
Nos circuitos de comutação empregam-se componentes cujos
Onde q é o ângulo entre as direções do vetor velocidade e do sinais de saída só assumem valores discretos. Entre eles podem-se
vetor campo magnético.” citar os flip-flop, de grande utilidade nos circuitos de computador
para o tratamento do código binário; os circuitos lógicos, que em-
Natural pregam diodos; e os geradores de dentes de serra. Na área das tele-
Durante a formação de uma tempestade, verifica-se que ocorre comunicações destacam-se por seu grande uso os circuitos modu-
uma separação de cargas elétricas, ficando as nuvens mais baixas ladores (que fazem variar a amplitude ou a frequência das ondas),
eletrizadas negativamente, enquanto as mais altas adquirem car- os detectores e os conversores.
gas positivas. As nuvens mais baixas induzem uma carga positiva
na superfície da Terra e, portanto, entre a nuvem baixa e a Terra Circuito elétrico
estabelece-se um campo elétrico. O processo de descarga elétrica O circuito elétrico é o caminho fechado por onde circula a cor-
ocorre numa sucessão muito rápida, inicia-se com uma descarga rente elétrica.
elétrica que parte da nuvem até o solo. Essa descarga provoca a Dependendo do efeito desejado, o circuito elétrico pode fazer
ionização do ar ao longo de seu percurso. A região entre a nuvem a eletricidade assumir as mais diversas formas: luz, som, calor, mo-
e o solo passa a funcionar como um condutor. Através desta região vimento.
condutora produz-se, numa segunda etapa, uma descarga elétrica
do solo para a nuvem, denominada descarga principal. A descarga O circuito elétrico mais simples que se pode montar constitui-
principal apresenta grande luminosidade e origina corrente elétrica -se de três componentes:
de grande intensidade. Esta descarga elétrica aquece o ar, provo- · fonte geradora;
cando uma expansão que se propaga em forma de uma onda sono- · carga;
ra, originando o trovão. · condutores.
Ocorrem por dia, no nosso planeta, cerca de 40 mil tempesta-
des que originam, aproximadamente, 100 raios por segundo. Todo o circuito elétrico necessita de uma fonte geradora. A fon-
te geradora fornece a tensão necessária à existência de corrente
elétrica. A bateria, a pilha e o alternador são exemplos de fontes
geradoras.
A carga é também chamada de consumidor ou receptor de
energia elétrica. É o componente do circuito elétrico que transforma a
energia elétrica fornecida pela fonte geradora em outro tipo de ener-
gia. Essa energia pode ser mecânica, luminosa, térmica, sonora.
Exemplos de cargas são as lâmpadas que transformam energia
elétrica em energia luminosa; o motor que transforma energia elé-
trica em energia mecânica; o rádio que transforma energia elétrica
em sonora.

Observação
Um circuito elétrico pode ter uma ou mais cargas associadas.
Para-raios Os condutores são o elo de ligação entre a fonte geradora e a
Para se evitar que as descargas elétricas atinjam locais indevi- carga. Servem de meio de transporte da corrente elétrica.
dos, como postes, edifícios, depósitos de combustíveis, linhas de Uma lâmpada, ligada por condutores a uma pilha, é um exem-
transmissão elétrica, etc, utiliza-se o para-raios. Que é um constituí- plo típico de circuito elétrico simples, formado por três componen-
do essencialmente de uma haste metálica disposta verticalmente tes.
no alto da estrutura a ser protegida. Esta haste é ligada à terra atra- A lâmpada traz no seu interior uma resistência, chamada fila-
vés de um fio condutor. mento. Ao ser percorrida pela corrente elétrica, essa resistência fica
Quando a terra adquire cargas elétricas induzidas, estas se con- incandescente e gera luz. O filamento recebe a tensão através dos
centram na ponta do para-raios, de forma que a descarga elétrica terminais de ligação. E quando se liga a lâmpada à pilha, por meio
entre a nuvem e a terra se dá através do fio. de condutores, forma-se um circuito elétrico. Os elétrons, em ex-
cesso no polo negativo da pilha, movimentam-se pelo condutor e
EQUAÇÃO DO CIRCUITO pelo filamento da lâmpada, em direção ao polo positivo da pilha.
Enquanto a pilha for capaz de manter o excesso de elétrons no
Tipos de circuitos polo negativo e a falta de elétrons no polo positivo, haverá corrente
A eletrônica emprega grande número de circuitos, de diversos elétrica no circuito; e a lâmpada continuará acesa.
tipos. Os retificadores, por exemplo, convertem corrente alterna- Além da fonte geradora, do consumidor e condutor, o circuito
da em contínua, e são constituídos de transformadores, diodos e elétrico possui um componente adicional chamado de interruptor
condensadores. Já os filtros são utilizados para selecionar tensões ou chave. A função desse componente é comandar o funcionamen-
to dos circuitos elétricos.

408
408
FÍSICA
Quando aberto ou desligado, o interruptor provoca uma aber- Circuito misto
tura em um dos condutores. No circuito misto, os componentes são ligados em série e em
Nesta condição, o circuito elétrico não corresponde a um cami- paralelo.
nho fechado, porque um dos polos da pilha (positivo) está desconec-
tado do circuito, e não há circulação da corrente elétrica. Quando o Circuito LC
interruptor está ligado, seus contatos estão fechados, tornando-se Para termos um entendimento suficientemente bom de algum
um condutor de corrente contínua. Nessa condição, o circuito é no- assunto, não adianta estudarmos todas as ocorrências de todas as
vamente um caminho fechado por onde circula a corrente elétrica. naturezas simultaneamente. O que os físicos fazem nestas situa-
Sentido da corrente elétrica antes que se compreendesse de forma ções é tentar achar um modelo simples e ir acrescentando os com-
mais científica a natureza do fluxo de elétrons, já se utilizava a ele- ponentes aos poucos. No estudo de circuitos por exemplo, antes
tricidade para iluminação, motores e outras aplicações. de entendermos como funciona um circuito integrado de televisão,
Nessa época, foi estabelecido por convenção, que a corrente precisamos entender a função de cada componente e seguir acres-
elétrica se constituía de um movimento de cargas elétricas que fluía centando um outro componente de cada vez, ou seja, primeiramen-
do polo positivo para o polo negativo da fonte geradora. Este senti- te entendemos como se comporta um resistor, um capacitor e um
do de circulação (do + para o -) foi denominado de sentido conven- indutor para posteriormente unirmos dois a dois e finalmente os
cional da corrente. três em apenas um circuito, denominamos estes circuitos de RL, RC,
Com o progresso dos recursos científicos usados explicar os LC, e RLC. Neste texto entenderemos como funciona um circuito LC
fenômenos elétricos, foi possível verificar mais tarde, que nos con- que contém de acordo com o que foi mencionado anteriormente
dutores sólidos a corrente elétrica se constitui de elétrons em movi- um indutor e um capacitor.
mento do polo negativo para o polo positivo. Este sentido de circu- Vamos supor inicialmente que exista uma chave no circuito que
lação foi denominado de sentido eletrônico da corrente. permita ou não a passagem de corrente e que o capacitor está car-
O sentido de corrente que se adota como referência para o regado inicialmente com uma carga q0. Em um instante inicial t=0, a
estudo dos fenômenos elétricos (eletrônico ou convencional) não chave é fechada, permitindo então a passagem de corrente através
interfere nos resultados obtidos. Por isso, ainda hoje, encontram-se do circuito e a carga do capacitor começa então a fluir pelo circuito.
defensores de cada um dos sentidos. Temos no circuito então uma corrente i=dQ/dt. Temos então que a
queda de potencial no indutor é igual a Ldi/dt, e no capacitor é igual
Observação a Q/C. Através da Lei de Kirchhoff, podemos afirmar que Ldi/dt+Q/
Uma vez que toda a simbologia de componentes eletroeletrô- C=0. Utilizando noções de cálculo diferencial, sabemos que di/
nicos foi desenvolvida a partir do sentido convencional da corrente dt=d2Q/dt2. Substituindo esta última relação na equação do circui-
elétrica, ou seja do + para o -, as informações deste material didá- to, temos: d2Q/dt2=-Q/LC. Se chamarmos (de , temos a equação
tico seguirão o modelo convencional: do positivo para o negativo. . Denominamos (a frequência do circuito LC. Novamente
utilizando cálculo diferencial, chegamos a um valor de Q=Acos(t+),
Tipos de circuitos elétricos onde A é a amplitude da carga, que é o valor máximo que a carga
Os tipos de circuitos elétricos são determinados pela maneira pode atingir e (é uma constante de fase que depende unicamente
como seus componentes são ligados. Assim, existem três tipos de das condições iniciais do problema. Se considerarmos que a cons-
circuitos: tante de fase é igual a zero temos que a carga neste circuito é dada
· série; por q0cost, uma vez que a amplitude da carga depende da carga
· paralelo; inicial do capacitor, e derivando esta equação em relação ao tempo
· misto. obtemos a corrente do circuito que é igual a i=-q0sent. Podemos
perceber então que este circuito difere dos circuitos RC e RL já que
Circuito série ele não decai ou cresce exponencialmente, mas sim oscila. Isto
Circuito série é aquele cujos componentes (cargas) são ligados acontece pois à medida que a carga no capacitor diminui, a energia
um após o outro. armazenada no campo elétrico do capacitor se reduz. Esta ener-
Desse modo, existe um único caminho para a corrente elétrica gia não se perde, mas se transforma em energia magnética dentro
que sai do polo positivo da fonte, passa através do primeiro compo- do indutor, já que em torno deste circula uma corrente i que induz
nente (R1), passa pelo seguinte (R2) e assim por diante até chegar nele um campo magnético. Em um dado instante, toda energia elé-
ao polo negativo da fonte. trica do capacitor se esgota juntamente com sua carga. Temos en-
Num circuito série, o valor da corrente é sempre o mesmo em tão que a corrente no indutor agora é máxima e todo a energia do
qualquer ponto do circuito. Isso acontece porque a corrente elétri- circuito está armazenada dentro do indutor sob forma de energia
ca tem apenas um único caminho para percorrer. magnética. Esta corrente flui pelo circuito e começa a realimentar
Esse circuito também é chamado de dependente porque, se o capacitor, aumentando assim o seu campo elétrico e diminuindo
houver falha ou se qualquer um dos componentes for retirado do o campo magnético dentro do indutor. Agora o capacitor adquire
circuito, cessa a circulação da corrente elétrica. carga máxima, porém a polarização de seu campo elétrico está in-
vertida, e a carga começa a fluir no sentido contrário. Analisando as
Circuito paralelo energias contidas em um circuito LC, vemos que a energia eletros-
O circuito paralelo é aquele cujos componentes estão ligados tática do capacitor é dada por U=½ QV=Q2/2C. Substituindo nesta
em paralelo entre si. equação a função Q(t) obtida por nós anteriormente, temos U(t)=q-
No circuito paralelo, a corrente é diferente em cada ponto do 02cos2t/2C. A energia magnética deste sistema é dada por U=½ Li2.
circuito porque ela depende da resistência de cada componente à Substituindo nesta equação a função i(t), temos U(t)=½ L2q02sen2t.
passagem da corrente elétrica e da tensão aplicada sobre ele. Todos Vemos que ora toda a energia se concentra no indutor, ora no ca-
os componentes ligados em paralelo recebem a mesma tensão. pacitor, no entanto a energia total do sistema é dada sempre pela
soma das duas, que é constante e igual a q02/2C.

409
FÍSICA
Circuito RC de Faraday. Vemos então que o indutor funciona como uma inércia
Quando estudamos qualquer assunto, tentamos dividi-lo em de um circuito, o que impede quedas ou aumentos bruscos de cor-
suas partes mais importantes e estudá-las separadamente dando rente. Dentro de um circuito, a resistência consiste geralmente de
a elas a devida atenção. Este é o caso do circuito RC que é um caso um determinado material que dificulta a passagem de corrente e o
particular de um circuito elétrico contendo apenas uma resistência indutor é um solenoide ou uma bobina, que consistem em um fio
e um capacitor. Podemos pensar então nesses dois componentes condutor enrolado muitas vezes. Vamos considerar agora uma cir-
ligados através de seus terminais e uma chave que pode permitir cuito RL, que possui uma bateria, uma chave que permite a passa-
ou não a passagem de corrente no circuito. Admitindo inicialmente gem de corrente ou não, uma resistência e um indutor. Ao estudar
que a chave está aberta e não há passagem de corrente e o capa- os efeitos da autoindutância de um sistema, vemos que a função
citor está carregado com uma determinada carga Q, vamos anali- de um indutor é de brecar a corrente que passa por ele gerando
sar o que vai acontecer quando a chave for fechada e possibilitar a uma corrente de sentido oposto, então consideramos que a chave
passagem de corrente: Sabemos que a diferença de potencial entre do circuito está aberta e é fechada no instante t=0 quando se inicia
os terminais do capacitor é dada por V0=Q0/C, onde Q0 é a carga a passagem de corrente pelo sistema. Quando a corrente chega ao
inicial do capacitor e C sua capacitância. No instante t=0 fechamos indutor, um potencial aparece dificultando a passagem de corrente,
a chave e a corrente começa a fluir através do resistor. A corrente e este potencial é igual a =Ldi/dt, onde L é a indutância do indutor,
inicial que passa pela resistência é igual a I0=V0/R. A medida que a e di/dt é a forma diferencial de se expressar a variação da corrente
corrente flui pelo circuito, a carga no capacitor decresce numa taxa no tempo. Temos que lembrar ainda que este potencial sempre vai
igual a I=-Q/t, onde I é a corrente do circuito, e o sinal negativo apa- estar contrário à corrente que o atravessa de acordo com a Lei de
rece por se tratar de um caso de descarga do capacitor. Através da Lenz. Sabemos também que a queda de potencial no resistor R é,
utilização da Primeira Lei de Kirchhoff, sabemos que o potencial no pela Lei de Ohm, igual a Ri. Utilizando as regras de Kirchhoff para
resistor é igual ao potencial no capacitor, obtemos então RI=Q/C. este circuito, podemos afirmar que o potencial V da bateria é igual a
Podemos aplicar agora um pouco de cálculo diferencial e obter -R V=Ri+Ldi/dt. Para um instante muito próximo do instante inicial t=0,
dQ/dt =Q/C. Resolvendo esta equação diferencial obtemos que a sabemos que a corrente é zero em todo o circuito, então a taxa de
função Q dependente do tempo é igual a Q(t)=Q0e-t/RC. A letra e variação de corrente pelo tempo é dada por di/dt=V/L. Após a pas-
corresponde ao valor de 2,71828..., e é um número irracional com sagem de um pequeno intervalo de tempo, a corrente já flui pelo
propriedades notáveis que são estudadas em um curso de cálculo. circuito e a variação temporal da corrente torna-se di/dt=V/L-iR/L.
Ao analisarmos nossa equação vemos que Q0 é uma constante e Quando a taxa de variação de corrente é igual a zero, sabemos en-
depende da carga inicial do capacitor, t é o tempo e o produto RC tão que a corrente no circuito atingiu seu valor máximo: imax=V/R.
é a chamada constante de tempo, e é este produto que determi- Vamos analisar a equação anteriormente citada do circuito e des-
na qual é o tempo total de descarga do capacitor. Analisando esta cobrir qual é o tempo necessário para que a corrente atinja seu va-
constante percebemos que quanto maior for o produto RC maior lor final: A resolução da equação diferencial V=Ri+Ldi/dt através de
será o tempo necessário para a descarga do capacitor e quanto processos de cálculo diferencial nos dá que .
menor o produto, menor será o tempo de descarga. Utilizando no- Nesta equação, chamamos a constante tc de constante de tempo,
vamente o cálculo diferencial obtemos a função que governa a cor- de forma que ela seja igual a R/L, e é esta a divisão que determina
rente: I(t)=I0e-t/RC. Vemos que analogamente à carga, a corrente o intervalo de tempo necessário para que o circuito atinja sua cor-
cai exponencialmente com o tempo. Podemos analisar agora o que rente máxima. Se considerarmos que temos agora um circuito no
vai acontecer para um circuito RC conectado a uma bateria e com o qual podemos remover a bateria após um certo instante, a nossa
capacitor descarregado. Ao fecharmos a chave, temos novamente equação do circuito se reduz a: iR+ldi/dt=0 (di/dt=-Ri/L. Resolvendo
pela Lei de Kirchhoff que o potencial da bateria mais o potencial no esta equação, obtemos que , e neste caso vemos que a cor-
capacitor são iguais a zero. Neste caso temos então que I=dQ/dt, rente, com o passar do tempo, tende a diminuir sempre e vai para
sem o sinal negativo, pois estamos agora lidando com o processo zero para tempos decorridos muito grandes.
de carga do capacitor. Resolvendo novamente a equação diferencial
obtemos que para o carregamento do capacitor Q(t)=CV(1- e-t/RC) Circuito RLC
e I(t)=(V/R) e-t/RC. Portanto para o instante t=0 a carga no capacitor Vamos ver agora o estudo de um circuito RLC, que é basicamen-
é igual a zero e a corrente que passa por ele é igual a V/R. À medida te um circuito que contém um resistor, um indutor e um capacitor.
que o tempo passa, a carga no capacitor começa a aumentar e o Vamos supor então que haja uma chave neste circuito que permita
fluxo de corrente começa a diminuir. Isto pode ser compreendido se a passagem ou não de corrente e vamos supor também que o ca-
pensarmos que o capacitor começa a funcionar como uma antiba- pacitor esteja carregado com uma carga inicial q0. Inicialmente a
teria, já que ele começa a acumular cargas entre suas placas, e estas chave está aberta e não há passagem de corrente pelo circuito, no
cargas estão dispostas no sentido contrário do sentido da bateria. O instante t=0 a chave é fechada e o capacitor começa o seu processo
que acontece então é que quando o capacitor está completamente de descarga devido à diferença de potencial entre suas placas. Pela
carregado, ele tem a mesma carga da bateria, só que a corrente por Lei de Kirchhoff, sabemos que a soma de todas as quedas de poten-
ele gerada está no sentido contrário, de forma que as correntes se cial em todos os elementos do circuito deve ser igual a zero, logo:
cancelam, como era de se esperar. . Sabemos que i=dQ/dt, e substituindo este valor na equa-
ção obtemos . Esta equação é idêntica a uma equa-
Circuito RL ção de um oscilador amortecido estudado em ondas. Um oscila-
Sempre que aparece uma nova ideia ou uma nova teoria, os dor amortecido pode ser imaginado como um sistema massa mola
físicos tentam de toda a forma torná-la mais prática e mais simples mergulhado em uma substância viscosa como um óleo. Quando
de ser compreendida. É isto o que acontece quando estudamos um consideramos um sistema massa-mola, ele oscila indefinidamente
circuito RL, que é um caso particular de circuito, onde apenas exis- se considerarmos desprezíveis todos os atritos, no entanto se colo-
tem dois componentes: O resistor e o indutor. Quando estudamos carmos este sistema dentro do óleo, o atrito viscoso entre o sistema
a Lei de Ohm, podemos perceber que a função de um resistor é e o óleo, produzirá calor e diminuirá a energia cinética do sistema,
dissipar a corrente elétrica, transformando parte dela em energia que oscilará cada vez com amplitudes menores. Antes de se estu-
térmica. A função de um indutor é analisada quando se estuda a Lei dar o circuito RLC, estudamos em separado os circuitos RL, RC e LC

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FÍSICA
e percebemos que nos circuitos RL e RC, ocorre ou uma queda ou Em cada rotação completa da espira a voltagem e a intensidade
uma subida exponencial na corrente enquanto em um circuito LC, a da corrente terão uma dada direção numa metade do tempo, e a di-
corrente oscila de um lado para o outro. Vemos então que a mistu- reção oposta na outra metade. Por duas vezes, durante a rotação da
ra RLC resulta em um circuito oscilante que cai exponencialmente. espira, não haverá fluxo de corrente. Dá- se à voltagem e a corren-
Vamos agora analisar este circuito energeticamente: Multiplicando te as denominações de voltagem alternada e corrente alternada. A
todos os termos desta equação por i, temos: . O pri- voltagem que um gerador produz pode ser acrescida aumentando:
meiro termo desta equação nos indica qual é a quantidade de ener- ( 1 ) a intensidade do campo magnético;
gia magnética que é injetada ou retirada do indutor, de forma que ( 2 ) a velocidade de rotação da espira;
podemos obter um valor positivo ou um negativo, dependendo do ( 3 ) um numero de linhas de um fio condutor que cortam o
sentido do fluxo de energia. No segundo termos da equação, temos campo magnético.
o valor da energia elétrica do capacitor, cujo sinal também depende
do sentido do fluxo de energia. Já para o terceiro termo, temos a A uma revolução completa feita pela espira, através das linhas
energia dissipada no resistor por efeito Joule, e este valor é sempre de força, dá-se o nome de ciclo. Ao número de ciclos por segundo
positivo. Como já vimos em um circuito LC, a soma das energias dá-se o nome de frequência da voltagem ou da intensidade da cor-
elétrica e magnética é sempre constante, porém no caso RLC, há rente, a qual é medida em unidades chamadas Hertz.
uma dissipação da energia no resistor, então a quantidade oscilante
de energia entre o indutor e o capacitor tem sua amplitude sempre GERADORES DE ENERGIA ELÉTRICA
reduzida com o passar do tempo. O modo que a corrente cai com A maior parte da energia elétrica que se utiliza nos dias de hoje
o tempo depende das relações entre os termos R2 e 4L/C, pois são é a energia de geradores elétricos, na forma de corrente alternadas
estes termos que definem a curva na equação diferencial. O caso (CA). Um gerador simples de corrente alternada é uma bobina que
em que R2<4LC, ocorre um fenômeno denominado amortecimento gira num campo magnético uniforme. Os terminais da bobina estão
sub-crítico, e a corrente vai oscilando e diminui lentamente. Para o ligados a anéis coletores que giram com a bobina. O contato elétrico
caso em que R2=4LC, temos o amortecimento crítico, e para este entre a bobina e um circuito externo se faz por meio de escovas de
caso não há oscilação e a carga no capacitor decai continuamente grafita que ficam encostadas nos anéis.
e tende a zero em tempos grandes. Para o caso em que R2>4LC,
temos o amortecimento super-crítico, e como a dissipação no re- Quando uma reta perpendicular ao plano da bobina faz um
sistor é muito grande, a carga no capacitor cai exponencialmente e ângulo q com o campo magnético uniforme B, o fluxo magnético
rapidamente. através da bobina é:
f m = NBA cos q
VOLTAGEM NOS TERMINAIS DE UM GERADOR e APLICAÇÕES
Onde N é o número de espiras da bobina e A, a área da bobina.
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS Quando a bobina girar, sob a ação de um agente mecânico, o fluxo
Um gerador não gera energia. Ele converte energia mecânica através dela será variável e haverá uma fem induzida conforme a lei
em energia elétrica. Todo gerador necessita de uma outra fonte ge- de Faraday. Se ângulo inicial for d, o ângulo num instante posterior
radora de energia para fazê-lo girar, seja ela uma turbina, um motor t será dado por:
de pistão ou qualquer tipo de máquina capaz de produzir energia q=wt+d
mecânica.
onde w é a frequência angular de rotação. Levando esta ex-
GERADOR ELEMENTAR pressão de q na equação anterior, obtemos:
Um gerador elementar consistiria em um ímã na forma de U e f m = NBA cos (w t + d ) = NBA cos ( 2p ft + d )
de uma única espira de um fio condutor. Denomina-se campo mag- A fem induzida na bobina será então:
nético, a força que circunda o imã. A fim de tornar mais clara a ideia e = - df m = - NBA d cos (w t + d ) = + NBA w sem (w t + d )
de um campo magnético, imaginemos linhas de força que, saindo dt dt
do polo norte de um ímã, retornam ao seu polo sul. Quanto mais O que pode ser escrito como:
forte for o ímã maior será o número de linhas de força. Se fizermos e = e max sem (w t + d )
a espira de fio condutor girar entre os polos do ímã, os dois lados onde
da espira “ cortarão” as linhas de força, o que induzirá (gerará) ele- e max = NBAw
tricidade na espira.
Na primeira metade da rotação da espira, um dos seus lados é o valor máximo da fem. Podemos , então, provocar uma fem
corta as linhas de força de baixo para cima, enquanto o outro lado senoidal na bobina mediante a sua rotação com frequência cons-
da espira corta as linhas de cima para baixo. Desta forma surgirá tante, num campo magnético. Nesta fonte de fem, a energia me-
na espira o fluxo elétrico numa dada direção. A meio caminho da cânica da bobina girante se converte em energia elétrica. A energia
rotação, a espira estará numa posição paralela às linhas de força. mecânica provém usualmente de uma queda de água ou de uma
Nenhuma linha de força será cortada pela espira, e, consequente- turbina a vapor. Embora os geradores práticos sejam bastante mais
mente, não será gerada nenhuma eletricidade. complicados, operam com o mesmo princípio da geração de uma
Na segunda metade da rotação, o lado da espira que cortava fem alternada por uma bobina que gira num campo magnético; os
as linhas de força debaixo para cima passa cortá-las de cima para geradores são projetados de modo a gerarem uma fem senoidal.
baixo. O outro lado estará cortando as linhas de força debaixo para
cima, o que induzirá na espira um fluxo elétrico no sentido contrário EXPERIMENTO REALIZADO
ao fluxo gerado na primeira metade da rotação. No ponto mais bai- No experimento realizado no laboratório temos um ímã ci-
xo da rotação, a espira estará de novo em posição paralela as linhas líndrico em constante movimento de rotação alternando os polos
de força e nenhuma eletricidade será gerada. note e sul, acionado por meio de roldanas. Com o movimento do
ímã surge uma corrente, que é chamada de corrente induzida, e o
trabalho realizado por unidade de carga durante o movimento dos

411
FÍSICA
portadores de carga que constitui essa corrente denominamos de Geração de energia elétrica por ação térmica
fem induzida que é produzida pelo gerador. Logo, a luz acenderá Pode-se obter energia elétrica por meio do aquecimento direto
por consequência da fem induzida produzida pelo gerador. da junção de dois metais diferentes.
Por exemplo, se um fio de cobre e outro de constantan (liga
FIGURA DO EXPERIMENTO REALIZADO de cobre e níquel) forem unidos por uma de suas extremidades e
se esses fios forem aquecidos nessa junção, aparecerá uma tensão
elétrica nas outras extremidades. Isso acontece porque o aumento
da temperatura acelera a movimentação dos elétrons livres e faz
com que eles passem de um material para outro, causando uma
diferença de potencial.
À medida que aumentamos a temperatura na junção, aumenta
também o valor da tensão elétrica na outra extremidade.
Esse tipo de geração de energia elétrica por ação térmica é
(ERNANDI FEY) utilizado num dispositivo chamado par termoelétrico, usado como
Onde: elemento sensor nos pirômetros que são aparelhos usados para
medir temperatura de fornos industriais.

Geração de energia elétrica por ação de luz


Lâmpada que será acessa ao ser gerada
Para gerar energia elétrica por ação da luz, utiliza-se o efeito
a energia
fotoelétrico. Esse efeito ocorre quando irradiações luminosas atin-
gem um fotoelemento. Isso faz com que os elétrons livres da cama-
Roldana
da semicondutora se desloquem até seu anel metálico.
Dessa forma, o anel se torna negativo e a placa-base, positiva.
Espira
Enquanto dura a incidência da luz, uma tensão aparece entre as
placas.
Ímã
O uso mais comum desse tipo de célula fotoelétrica é no arma-
zenamento de energia elétrica em acumuladores e baterias solares.
Geração de energia elétrica por ação mecânica
FIGURAS: Alguns cristais, como o quartzo, a turmalina e os sais de Ro-
chelle, quando submetidos a ações mecânicas como compressão e
torção, desenvolvem uma diferença de potencial.

Se um cristal de um desses materiais for colocado entre duas


GERADOR DA USINA HIDROELÉTRICA DE ITAIPÚ (ACIMA) – ES- placas metálicas e sobre elas for aplicada uma variação de pressão,
QUEMA DE FUNCIONAMENTO DA HIDROELÉTRICA DE ITAIPÚ (ABAI- obteremos uma ddp produzida por essa variação. O valor da dife-
XO) rença de potencial dependerá da pressão exercida sobre o conjun-
to.
Os cristais como fonte de energia elétrica são largamente usa-
dos em equipamentos de pequena potência como toca-discos, por
exemplo. Outros exemplos são os isqueiros chamados de “eletrôni-
cos” e os acendedores do tipo Magiclick.

Geração de energia elétrica por ação química


Outro modo de se obter eletricidade é por meio da ação quí-
mica. Isso acontece da seguinte forma: dois metais diferentes como
cobre e zinco são colocados dentro de uma solução química (ou
eletrólito) composta de sal (H2O + NaCL) ou ácido sulfúrico (H2O +
H2SO4), constituindo-se de uma célula primária.
Fontes geradoras de energia elétrica A reação química entre o eletrólito e os metais vai retirando os
A existência da tensão é condição fundamental para o funcio- elétrons do zinco.
namento de todos os aparelhos elétricos. As fontes geradoras são Estes passam pelo eletrólito e vão se depositando no cobre.
os meios pelos quais se pode fornecer a tensão necessária ao fun- Dessa forma, obtém-se uma diferença de potencial, ou tensão, en-
cionamento desses consumidores. tre os bornes ligados no zinco (negativo) e no cobre (positivo).
A pilha de lanterna funciona segundo o princípio da célula pri-
Essas fontes geram energia elétrica de vários modos: mária que acabamos de descrever. Ela é constituída basicamente
· por ação térmica; por dois tipos de materiais em contato com um preparado químico.
· por ação da luz;
· por ação mecânica;
· por ação química;
· por ação magnética.

412
412
FÍSICA
Geração de energia elétrica por ação magnética Os fusíveis se encontram normalmente em dois lugares nas ins-
O método mais comum de produção de energia elétrica em lar- talações elétricas de uma residência: no quadro de distribuição e
ga escala é por ação magnética. junto do relógio medidor. Além disso eles estão presentes no circui-
A eletricidade gerada por ação magnética é produzida quando to elétrico dos aparelhos eletrônicos, no circuito elétrico do carro,
um condutor é movimentado dentro do raio de ação de um campo etc.
magnético. Isso cria uma ddp que aumenta ou diminui com o au- Quando há um excesso de aparelhos ligados num mesmo cir-
mento ou a diminuição da velocidade do condutor ou da intensida- cuito elétrico, a corrente elétrica é elevada e provoca aquecimento
de do campo magnético. nos fios da instalação elétrica. Como o fusível faz parte do circuito
A tensão gerada por este método é chamada de tensão alter- essa corrente elevada também o aquece. Se a corrente for maior do
nada, pois suas polaridades são variáveis, ou seja, se alternam. que aquela que vem especificada no fusível: 10A, 20A, 30A, etc, o
Os alternadores e dínamos são exemplos de fontes geradoras seu filamento se funde (derrete).
que produzem energia elétrica segundo o princípio que acaba de Com o fio do fusível fundido, ou seja, o fusível queimado, o
ser descrito. circuito elétrico fica aberto impedindo seu funcionamento. Assim,
a função do fusível é proteger a instalação elétrica da casa, funcio-
ASSOCIAÇÃO DE GERADORES, RESISTORES E CAPACITORES nando como um interruptor de segurança. Sem eles, é possível que
um circuito sobrecarregado danifique um aparelho elétrico ou até
Associação de resistências em série inicie um incêndio.
Suponha que duas lâmpadas estejam ligadas a uma pilha, de tal Quanto maior for a corrente especificada pelo fabricante,
modo que haja apenas um caminho para a corrente elétrica fluir de maior a espessura do filamento.
um polo da pilha para o outro, dizemos que as duas lâmpadas es- Assim, se a espessura do filamento do fusível suporta no má-
tão associadas em série. Evidentemente, podemos associar mais de ximo uma corrente de 10A e por um motivo qualquer a corrente
duas lâmpadas dessa maneira, como em uma arvore de Natal, onde exceder esse valor, a temperatura atingida pelo filamento será su-
geralmente se usa um conjunto de várias lâmpadas associadas em ficiente para derrete-lo, e desta forma a corrente é interrompida.
série. Em uma associação em série de resistências observam-se as
seguintes características: Disjuntores
- como há apenas um caminho possível para a corrente, ela tem Modernamente, nos circuitos elétricos de residências, edifícios
o mesmo valor em todas as resistências da associação (mesmo que e indústrias, em vez de fusíveis, utilizam-se dispositivos baseados
essas resistências sejam diferentes). no efeito magnético da corrente denominados disjuntores.
- É fácil perceber que, se o circuito for interrompido em qual- Em essência, o disjuntor é uma chave magnética que se desliga
quer ponto, a corrente deixará de circular em todo o circuito. automaticamente quando a intensidade da corrente supera certo
- Quanto maior for o número de resistências ligadas em série, valor. Tem sobre o fusível a vantagem de não precisar ser trocado.
maior será a resistência total do circuito. Portanto, se mantivermos Uma vez resolvido o problema que provocou o desligamento, basta
a mesma voltagem aplicada ao circuito, menor será a corrente nele religá-lo para que a circulação da corrente se restabeleça
estabelecida.
- A resistência única R, capaz de substituir a associação de vá- Capacitor
rias resistências R1, R2, R3, etc., em série, é denominada resistência - Armazenamento de energia;
equivalente do conjunto. - Q e V são diretamente proporcionais;
- A energia potencial serve para a passagem de elétrons de uma
Associação de resistências em paralelo placa para outra;
Se duas lâmpadas forem associadas de tal maneira que existam - As força de repulsão e atração determinam o deslocamento
dois caminhos para a passagem da corrente de um polo da pilha dos elétrons em um sistema;
para o outro dizemos que as lâmpadas estão associadas em para- - U cria uma ddp que permite a saída do elétron;
lelo. Evidentemente, podemos associar mais de duas lâmpadas (ou - Equilíbrio estável: Cessa a passagem de corrente elétrica. Ca-
outros aparelhos) em paralelo, abrindo vários caminhos para a pas- pacitor carregado a partir de uma corrente variável;
sagem da corrente (isso acontece, por exemplo, com os aparelhos - Capacidade elétrica: Constante de proporcionalidade entre Q
eletrodomésticos). eV:C=Q/V;
Em uma associação de resistências em paralelo, observamos as - No condutor em equilíbrio eletrostático: Epot = Q2 / 2C ;
Seguintes características: - Condutores em equilíbrio, igual a potencial elétrico;
- A corrente total i, fornecida pela bateria, se divide pelas re- • Borracha - Isolante ou Dielétrico:
sistências da associação. A maior parte da corrente i passará na re- • - Atrapalha a interação entre as placas;
sistência de menor valor (caminho que oferece menor oposição). É • - Pode até aumentar a quantidade de carga que não alte-
possível interromper a corrente em uma das resistências da asso- ra o capacitor, não “vencendo”, portanto, o isolante. Se não tem a
ciação, sem alterar a passagem de corrente nas demais resistências. borracha como isolante, aumentando-se a carga altera o capacitor,
- Quanto maior for o número de resistências ligadas em parale- alterando a interação (ocorre passagem de corrente elétrica);
lo, menor será a resistência total do circuito (tudo se passa como se • - E resultante diminui;
estivéssemos aumentando a área total da seção reta da resistência C = Eo . A / d
do circuito). Portanto, se mantivermos inalterada a voltagem aplica-
da ao circuito, maior será a corrente fornecida pela pilha ou bateria.

Fusível
Basicamente, um fusível é constituído por um fio de metal, cuja
temperatura de fusão relativamente baixa. O chumbo e os estanho
são dois metais utilizados para esse fim. O chumbo se funde a 327º
C e o estanho, a 232º C.

413
FÍSICA
Aumentando-se a Área, aumenta a Capacidade elétrica (constante); c = 3.1010 cm/s. Mas, por outro lado, de acordo com o princípio da
Reduzindo a distância aumenta a Carga; composição de velocidades da mecânica de Newton, a velocidade
- A partir de um certo momento a carga aumenta tanto que só pode ser igual a c num dado sistema. Em qualquer outro sistema,
vence o isolante ou dielétrico; que se mova em relação ao sistema dado com velocidade v , a velo-
Q=C.U cidade da luz deveria ser igual a
• Série:
• - Q é constante;
• - C é inversamente proporcional a U - U/C = Constante ; 1/
Ceq = 1/C1 + 1/C2 Ceq (C equivalente); Ceq = C1 . C2 / C1 + C2
Isto significa que se é verdadeiro o princípio da composição de
Paralelo: velocidades, então, na passagem de um sistema inercial para outro,
- U é constante; as leis da eletrodinâmica deverão alterar-se de tal modo que neste
- Q e C são diretamente proporcionais - Q = C ; sistema a velocidade da luz, em vez de ser igual a c, será igual a
De forma verificou-se que existiam algumas contradições en-
tre a eletrodinâmica e a mecânica de Newton, cujas leis estão de
acordo com o princípio da relatividade. As tentativas de resolver as
dificuldades que surgiram foram feitas em três direções diferentes.
A primeira possibilidade consistia em declarar que o princípio
da relatividade não se podia aplicar aos fenômenos eletromagnéti-
cos. Este ponto de vista foi defendido pelo grande físico holandês G.
CEQ = C1 + C2 LORENTZ, fundador da teoria eletrônica. Os fenômenos eletromag-
néticos eram vistos, desde o tempo de Faraday, como processos
• Ligado: que decorriam num meio especial, que penetra em todos os corpos
• - Coloca um dielétrico - Aumenta C ; e ocupa todo o espaço - “ o éter mundial “. Um sistema inercial
• - Retira o dielétrico - Reduz C ; parado em relação ao éter é, segundo Lorentz, um sistema privile-
• - Ligado Q aumenta; giado. Nele, as leis da eletrodinâmica de Maxwell são verdadeiras e
• - Desligado Q é constante; têm uma forma mais simples. Só neste sistema a velocidade da luz
• C = E . Co no vácuo é igual em todas as direções.
A segunda possibilidade consiste em considerar as equações de
AS LEIS DA ELETRODINÂMICA E O PRINCÍPIO DA RELATIVIDA- Maxwell falsas e tentar modificá-las de tal modo que com a passa-
DE gem de um sistema inercial para outro (de acordo com os habituais
conceitos clássicos de espaço e de tempo) não se alterem. Tal ten-
Essência da teoria da relatividade tativa foi feita, em particular, por G.HERTZ. Segundo Hertz, o éter
O desenvolvimento da eletrodinâmica levou à revisão das no- é arrastado totalmente pelos corpos em movimento e por isso os
ções de espaço e tempo. fenômenos eletromagnéticos decorrem igualmente, independente-
A teoria da relatividade especial de Einstein é um novo estudo mente do fato do corpo estar parado ou em movimento. O princípio
do espaço e do tempo, vindo substituir as noções antigas (clássicas). da relatividade é verdadeiro.
O princípio da relatividade na mecânica e na eletrodinâmica.
Finalmente, a terceira possibilidade da resolução das dificul-
Depois de Maxwell, na segunda metade do séc. XIX, ter for- dades consiste na rejeição das noções clássicas sobre o espaço e
mulado as leis fundamentais da eletrodinâmica, surgiu a seguinte tempo para que se mantenha o princípio da relatividade e as leis de
questão: será que o princípio da relatividade, verdadeiro para os Maxwell. Este é o caminho mais revolucionário, visto que significa
fenômenos mecânicos, se estende aos fenômenos eletromagnéti- a revisão das mais profundas e importantes noções da física. De
cos? Por outras palavras, decorrerão os processos eletromagnéticos acordo com este ponto de vista, não são as equações do campo
(interação das cargas e correntes, propagação das ondas eletromag- magnético que estão incorretas, mas sim as leis da mecânica de
néticas, etc.) igualmente em todos os sistemas inerciais? Ou ainda, Newton, as quais estão de acordo com a antiga noção de espaço
o movimento uniforme e retilíneo, não influenciando os fenômenos e tempo. É necessário alterar as leis da mecânica, e não as leis de
mecânicos, exercerá alguma influência nos processos eletromagné- eletrodinâmica de Maxwell.
ticos? Só a terceira possibilidade é que é correta. Einstein desenvol-
Para responder a esta questão era necessário verificar se mo- veu-a gradualmente e criou uma nova concepção do espaço e do
dificariam as leis principais da eletrodinâmica na passagem de um tempo. As duas primeiras possibilidades vieram a ser rejeitadas
sistema inercial para outro ou se, à semelhança das leis de Newton, pela experiência.
elas se conservariam. Só no último caso seria possível deixar de du- Quando Hertz tentou mudar as leis da eletrodinâmica de Max-
vidar sobre a veracidade do princípio da relatividade nos processos well verificou-se que as novas equações não podiam explicar mui-
eletromagnéticos e considerar este princípio como uma lei geral da tos fatos observados. Assim, de acordo com a teoria de Hertz, a
Natureza. água em movimento deverá arrastar completamente consigo a luz
que se propaga nela, visto que ela arrasta o éter, onde a luz se pro-
paga. A experiência mostrou que na realidade isso não se passava.
A experiência de Michelson. O ponto de vista de Lorentz, de
As leis da eletrodinâmica são complexas e a resolução deste acordo com o qual deve existir um certo sistema de referência, vin-
problema não era nada fácil. No entanto, raciocínios simples pa- culado ao éter mundial, que se mantém em repouso absoluto, tam-
reciam ajudar a encontrar a resposta certa. De acordo com as leis bém foi rejeitado por experiências diretas.
da eletrodinâmica, a velocidade de propagação das ondas eletro-
magnéticas no vácuo é igual em todas as direções e o seu valor é

414
414
FÍSICA
Se a velocidade da luz só fosse igual a 300 000 km/s num sis- CAMPO MAGNÉTICO – CONCEITO INICIAL
tema vinculado ao éter, então, medindo a velocidade da luz em Chama-se campo magnético de um ímã a região do espaço
qualquer outro sistema inercial, poder-se-ia observar o movimento onde se manifestam forças de origem magnética.
deste sistema em relação ao éter e determinar a velocidade deste Um ímã cria ao redor de si um campo magnético que é mais
movimento. Tal como num sistema que se mova em relação ao ar intenso em pontos perto do ímã e se enfraquece à medida que dele
surge vento, quando se dá o movimento em relação ao éter (isto, se afastacomo o campo gravitacional.
claro, admitindo que o éter existe) deveria surgir “vento de éter”. Para representar graficamente um campo magnético, utilizam-
A experiência para verificação do “vento de éter” foi realizada em -se as linhas de força. Se colocarmos sobre um ímã, como o da fi-
1881 pelos cientistas americanos A. MICHELSON e E. MORLEY, se- gura ao lado, uma folha de papel com limalhas de ferro, estas se
gundo uma ideia avançada 12 anos antes por Maxwell. orientarão de acordo com o campo magnético. Na representação
acima, por exemplo, as linhas de força são linhas imaginárias que
Nesta experiência compara-se a velocidade da luz na direção reproduzem a forma como se alinharam as limalhas. O sentido das
do movimento da Terra e numa direção perpendicular. A medição linhas, mostrado por uma ponta de seta, é escolhido de maneira
foi feita com grande exatidão com o auxílio de um instrumento es- arbitrária: saem do polo norte e entram pelo polo sul.
pecial - interferômetro de Michelson. As experiências foram realiza-
das a diferentes horas do dia e em diferentes épocas do ano. Mas Imã Natural:
obteve-se sempre um resultado negativo: não foi possível observar - Magnetita - Oxido de Ferro (Fe3O4)
o movimento da Terra em relação ao éter. Polos magnéticos com o mesmo nome se repelem e de nomes
Esta situação é semelhante à que se verificaria se, deitando a contrários se atraem - Lei das Ações Magnéticas;
cabeça de fora pela janela de um automóvel à velocidade de 100 As linhas de indução saem do polo NORTE e chegam no polo
km/h, não sentíssemos o vento soprando contra nós. SUL (Externamente ao imã);
Deste modo, a hipótese da existência de um sistema de refe-
rência privilegiado também foi rejeitada experimentalmente. Por
sua vez, isto significava que não existe nenhum meio especial,
“éter”, ao qual se possa vincular esse tal sistema privilegiado.

MAGNETISMO E ELETROMAGNETISMO
Inseparabilidade dos polos:
A que se deve o magnetismo? Secções sucessivas - Imãs moleculares;
Os antigos gregos já sabiam que algumas rochas, procedentes
de uma cidade da Ásia Menor chamada Magnésia, atraíam peda- Magnetismo Terrestre:
ços de ferro. Essas rochas eram formadas por um mineral de ferro
chamado magnetita. Por extensão, diz-se dos corpos que apresen-
tam essa propriedade que eles estão magnetizados, ou possuem
propriedades magnéticas. Assim, magnetismo é a propriedade que
algumas substâncias têm de atrair pedaços de ferro.

Gerador – Eletromagnetismo
O gerador é o elemento que cria a corrente elétrica. Ele tem
dois polos ou bornes, um positivo e outro negativo. É representado
esquematicamente por duas linhas paralelas, uma mais comprida
do que a outra. A mais comprida representa o polo positivo, e a
mais curta, o negativo.
Os geradores transformam algum tipo de energia em energia A Terra funciona como um enorme imã cuja polaridade é inver-
elétrica. tida em relação a sua polaridade magnética;
Por exemplo, as pilhas e as baterias transformam energia quí-
mica em elétrica e geram corrente contínua. Algumas, porém, for- Campo Magnético Uniforme:
necem pouca energia, razão pela qual são empregadas em apare- É aquele que possui a mesma intensidade, a mesma direção e
lhos de baixo consumo, como calculadoras, relógios, lanternas, que o mesmo sentido em todos os seus pontos;
funcionam com pilhas de 1,5 V ou 4,5 V. Os dínamos transformam - As linhas de indução são paralelas e igualmente espaçadas;
a energia mecânica em elétrica. Os mais conhecidos são os das bi- - Imã: Cria campo magnético ao seu redor sem corrente elé-
cicletas, que fornecem corrente contínua. Os alternadores são ge- trica;
radores de corrente alternada. Nas centrais hidrelétricas, térmicas
ou nucleares, os alternadores transformam a energia potencial da Experiência de Oersted (1820):
água, a calorífica ou a nuclear, em energia elétrica. Foi uma experiência que mostrou a criação de campo magnéti-
co ao redor de um condutor, devido a presença da corrente elétrica;
Sentido da corrente elétrica
A corrente elétrica é produzida pelo movimento de elétrons em
um condutor. O sentido real da corrente é o do movimento de elé-
trons que circulam do polo negativo ao polo positivo. Porém, uma
convenção internacional estabeleceu que o sentido da corrente elé-
trica é o contrário do que foi descrito. Então:
O sentido convencional da corrente elétrica é o que vai do polo
positivo ao negativo, isto é, o contrário ao movimento dos elétrons.

415
FÍSICA
O CAMPO MAGNÉTICO Magnetismo da Terra
A partir dessas observações concluímos que a Terra se compor-
Os Imãs ta como se no seu interior houvesse um gigantesco imã em forma
Na Grécia antiga (século VI a.C.), em uma região denominada de barra (Fig. 4). Porém, medidas precisas mostram que os polos
Magnésia, parecem ter sido feitas as primeiras observações de que desse grande imã não coincidem com os polos geográficos, embora
um certo tipo de pedra tinha a propriedade de atrair objetos de fer- estejam próximos. Assim:
ro. Tais pedras foram mais tarde chamadas de imãs e o seu estudo • o polo norte da bússola é atraído pelo sul magnético, que
foi chamado de magnetismo. está próximo do norte geográfico.
• o polo sul da bússola é atraído pelo norte magnético, que
está próximo do sul geográfico.

Um outro fato observado é que os imãs têm, em geral, dois


pontos a partir dos quais parecem se originar as forças. Quando pe-
gamos, por exemplo, um irmã em forma de barra (Fig. 1) e o aproxi-
mamos de pequenos fragmentos são atraídos por dois pontos que
estão próximos das extremidades. Tais pontos foram denominados
polos.
Quando um imã em forma de barra é suspenso de modo a po- Inseparabilidade dos polos
der girar livremente (Fig. 2), observa-se que ele tende a se orientar, Os primeiros estudiosos tiveram a ideia de quebrar o imã, para
aproximadamente, na direção norte-sul. Por esse motivo, a extre- separar o polo norte do polo sul. Porém, ao fazerem isso tiveram
midade que se volta para o norte geográfico foi chamada de polo uma surpresa: no ponto onde houve a quebra, apareceram dois no-
norte (N) e a extremidade que se volta para o sul geográfico foi cha- vos polos (Fig. 5 b) de modo que os dois pedaços são dois imãs. Por
mada de polo sul mais que se quebre o imã, cada pedaço é um novo imã (Fig 5 c).
Portanto, não é possível separar o polo norte do polo sul.

Um imã pode ter várias formas. No entanto, os mais usados são


o em forma de barra e o em forma de ferradura (Fig. 6).
Foi a partir dessa observação que os chineses construíram as
primeiras bússolas.
Quando colocamos dois imãs próximo um do outro, observa-
mos a existência de forças com as seguintes características (Fig. 3):
• dois polos norte se repelem (Fig. 3 a);
• dois polos sul se repelem (Fig. 3 b);
• entre um polo norte e um polo sul há um par de forças de
atração (Fig. 3 c).

O campo magnético
Para interpretar a ação dos imãs, dizemos que eles criam em
torno de e um campo, denominado indução magnética ou, sim-
plesmente, campo magnético. Esse campo, que é representado por
tem sua direção determinada usando um pequeno imã em for-
ma de agulha (bússola). Colocamos essa bússola próxima do imã.
Quando a agulha ficar em equilíbrio, sua direção é a do campo mag-
nético (Fig. 7). O sentido de é aquele para o qual aponta o norte
da agulha.

Resumindo essas observações podemos dizer que: polos de


nomes diferentes de atraem e polos de mesmo nome se repelem

416
416
FÍSICA
Para visualizar a ação do campo, usamos aqui o mesmo recur-
so adotado no caso do campo elétrico: as linhas de campo. Essas
linhas são desenhadas de tal modo que, em cada ponto (Fig. 8), o
campo magnético é tangente à linha. O sentido da linha é o mesmo
sentido do campo.

MOVIMENTO DE CARGAS EM UM CAMPO MAGNÉTICO


Movimento de carga elétrica no campo magnético Uniforme:
• 1º Caso: v lançada Paralelamente a B (v // B);
• - Carga não desvia - Movimento Retilíneo Uniforme;
• Fm = 0 (mínima);
• a = 0 ;
• M.R.U. ;
• 2º Caso: v lançada Perpendicularmente a B ;
• - A força magnética exerce a função de resultante centrí-
peta. M.C.U. ;
• Fm = |q| . v. B ;
• Fm = Fcp ;
• r = m . v / |q| . B - Raio da Trajetória Circular;
Verifica-se aqui uma propriedade semelhante à do caso do • a = 90º ;
campo elétrico: o campo é mais intenso onde as linhas estão mais • - Período (T): Tempo gasto numa volta completa:
próximas. Assim, no caso do Fig. 8, o campo magnético no ponto A • T = 2ñ . m / |q| . B
é mais intenso do que o campo no ponto B. • ñ - Equivalente a “Pi” (3,14) ;
As linhas de campo do campo magnético são também de linhas • 3º Caso: v lançada Obliquamente a B;
de indução. • - Movimento Helicoidal (hélice Cilíndrica) Uniforme
(M.H.U.);
Campo magnético uniforme • Fm = |q| . v . B . Sen(a) ;
Para o caso de um imã em forma de ferradura (Fig. 9), há uma
pequena região onde o campo é uniforme. Nessa região o campo Carga em repouso, sob a ação exclusiva do campo magnético
tem o mesmo módulo, a mesma direção e o mesmo sentido em uniforme permanece em repouso;
todos os seus pontos. Como consequência, as linhas de campo são
paralelas. Força Magnética sobre condutor Retilíneo no Campo Magnéti-
co Uniforme:
- Módulo: Fm = B . i . L . sen(a) ;
- Direção: É perpendicular ao plano de B e de i ;
- Sentido: É dado pela regra da Mão Esquerda:
Polegar - Fm;
Indicador - B;
Médio - i ;

Obs.: O sentido pode ser pela Regra do Tapa (mão direita) tam-
bém, onde a palma da mão indica a Fm, o polegar o i e os demais
dedos o campo B;
Fig. 9- Na região sombreada, o campo magnético é uniforme.
Força Magnética entre condutores Paralelos:
Quando um imã em forma de barra é colocado numa região
onde há um campo magnético uniforme (Fig. 10) fica sujeito a um
par de forças de mesma intensidade, mas sentidos opostos, forman-
do um binário cujo momento (ou torque) M tem módulo dado por:
• | M | = F. d

417
FÍSICA
Condutores paralelos percorridos por correntes elétricas de Sendo v, a velocidade de transporte das cargas na corrente elé-
mesmo sentido se atraem e de sentidos opostos se repelem; trica I, temos pela relação anterior, que o elemento de carga dQ,
Fm = µo . i1 . i2 . L / 2ñr gera um campo magnético elementar dado por :
ñ - Equivalente a “Pi” (3,14) ; dB = k dQ v senq/r2
onde q é o ângulo entre as direções orientadas de v e r
FORÇA MAGNÉTICA Então, temos que :
Força sobre partícula carregada dB = k n A q v dl senq/r2
Consideremos uma partícula com cargaQ≠ 0. Quando essa par- Como
tícula é lançada com velocidade numa região em que existe ape- I=nqAv
nas um campo magnético às vezes essa partícula sofre a ação de
uma força que depende de reescrevemos a expressão para o campo magnético elemen-
Observa-se que a força é nula quando tem a mesma direção tar, dB, gerado pelo elemento do fio condutor que está na origem,
de como :
dB = k I (dl x r/r3)
onde r3 é o cubo do módulo do vetor posição r.

Para podermos calcular o campo magnético B gerado por uma


corrente I, circulando num fio condutor, em uma posição r, preci-
samos, inicialmente, considerar o fato de que todo o condutor
não pode estar na origem do sistema de coordenadas, mas o que
r representa é o vetor posição do ponto onde queremos calcular o
campo B em relação ao elemento de arco do condutor que gera o
campo.

LEI DE BIOT – SAVART

As Fontes do Campo Magnético


Inicialmente não procuramos definir as causas do campo mag-
nético B. Agora, após formada a ideia de campo, vamos estabelecer
as suas fontes, isto é, o que cria ou gera um campo magnético.
O campo de uma partícula em movimento.

Assim chamando de r’ o vetor posição do elemento de arco do


circuito, com relação ao sistema de referência usado no problema,
r-r’ será o vetor correspondente ao vetor r da expressão anterior.
Portanto:
B = ò k I dlx(r-r’) /(r-r’)3

Com a mesma notação anterior para o termo elevado ao cubo.


Esta expressão também é conhecida como lei de Biot-Savart,
Mencionamos que a correlação entre Magnetismo e Eletricida- para o campo magnético B. A direção do campo magnético é conhe-
de, está associada a um efeito relativístico. Tal demonstração pode cida quando se coloca a mão direita em torno do fio, com o polegar
ser desenvolvida a partir de certos conhecimentos, até o momento ao longo da direção da corrente elétrica I : a direção dos outros
ainda não disponíveis, a nosso nível. dedos da mão indicam a direção de B.
Admitamos que uma carga elétrica, q , esteja em movimento
com velocidade v. Ela gera em torno de si um campo magnético B, CAMPO MAGNÉTICO DE CONDUTORES RETILÍNEOS
que obedece à seguinte relação vetorial: Quando temos um fio percorrido por corrente elétrica e sob a
B = k qvxur/r2 ação de um campo magnético, cada partícula que forma a corrente
poderá estar submetida a uma força magnética e assim haverá uma
onde k é uma constante de proporcionalidade a ser definida. força magnética atuando no fio. Vamos considerar o caso mais sim-
ples em que um fio retilíneo, de comprimento L é percorrido por
Observe-se que, diferentemente do campo elétrico E, o cam- corrente elétrica de intensidade i e está numa região onde há um
po magnético B da partícula não está alinhado com ela, e sim per- campo magnético uniforme
pendicular ao plano formado pelo vetor posição r do ponto P onde
queremos calcular o campo, e o vetor velocidade v da partícula que
está gerando o campo B.

O Campo Magnético De Uma Corrente


Para um elemento dl, de um fio percorrido por uma corrente
I, sendo A a área da seção reta do fio e, n o número de cargas por
unidade de volume, a carga dQ, atravessando a seção reta do fio na
posição do elemento dl será dada por:
dQ = n A q dl

418
418
FÍSICA
Sendo α o plano determinado pelo fio e pelo campo (Fig. 14) Uma das características das ondas eletromagnéticas é a sua ve-
a força sobre o fio é perpendicular a αe tem sentido dado pela locidade de propagação, que no vácuo tem o valor de aproximada-
regra da mão esquerda como ilustra a figura. O módulo é dado por: mente 300 mil quilômetros por segundo, ou seja:
F = B. i. L. sem θ (VI)

ÓPTICA: ÓPTICA GEOMÉTRICA; REFLEXÃO; REFRAÇÃO;


POLARIZAÇÃO; INTERFERÊNCIA Podendo ter este valor reduzido em meios diferentes do vácuo,
sendo a menor velocidade até hoje medida para tais ondas quando
atravessam um composto chamado condensado de Bose-Einstein,
Óptica é o ramo da física que estuda os fenômenos relaciona- comprovada em uma experiência recente.
dos à luz. Devido ao fato do sentido da visão ser o que mais con- A luz que percebemos tem como característica sua frequência
tribui para a aquisição do conhecimento, a óptica é uma ciência que vai da faixa de (vermelho) até (violeta).
bastante antiga, surgindo a partir do momento em que as pessoas Esta faixa é a de maior emissão do Sol, por isso os órgãos visuais de
começaram a fazer questionamentos sobre o funcionamento da vi- todos os seres vivos estão adaptados a ela, e não podem ver além
são e sua relação com os fenômenos ópticos. desta, como por exemplo, a radiação ultravioleta e infravermelha.
Os princípios fundamentais da óptica são:
1º - Princípio da Propagação Retilínea: a luz sempre se propa- Divisões da Óptica
ga em linha reta; Óptica Física: estuda os fenômenos ópticos que exigem uma
teoria sobre a natureza das ondas eletromagnéticas.
2º - Princípio da Independência de raios de luz: os raios de luz
são independentes, podendo até mesmo se cruzarem, não ocasio- Óptica Geométrica: estuda os fenômenos ópticos em que apre-
nando nenhuma mudança em relação à direção dos mesmos; sentam interesse as trajetórias seguidas pela luz. Fundamenta-se
3º - Princípio da Reversibilidade da Luz: a luz é reversível. Por na noção de raio de luz e nas leis que regulamentam seu compor-
exemplo, se vemos alguém através de um espelho, certamente essa tamento. O estudo em nível de Ensino Médio restringe-se apenas a
pessoa também nos verá. Assim, os raios de luz sempre são capazes esta parte da óptica.
de fazer o caminho na direção inversa. • Conceitos básicos

A luz pode ser propagada em três diferentes tipos de meios. Raios de luz
Os meios transparentes permitem a passagem ordenada dos São a representação geométrica da trajetória da luz, indicando
raios de luz, dando a possibilidade de ver os corpos com nitidez. sua direção e o sentido da sua propagação. Por exemplo, em uma
Exemplos: vidro polido, ar atmosférico, etc. fonte puntiforme são emitidos infinitos raios de luz, embora apenas
Nos meios translúcidos a luz também se propaga, porém de alguns deles cheguem a um observador.
maneira desordenada, fazendo com que os corpos sejam vistos sem Representa-se um raio de luz por um segmento de reta orienta-
nitidez. Exemplos: vidro fosco, plásticos, etc. do no sentido da propagação.
Os meios opacos são aqueles que impedem completamente
a passagem de luz, não permitindo a visão de corpos através dos
mesmos. Exemplos: portas de madeira, paredes de cimento, pes-
soas, etc. Feixe de luz
Quando os raios de luz incidem em uma superfície, eles podem É um conjunto de infinitos raios de luz; um feixe luminoso pode
ser refletidos regular ou difusamente, refratados ou absorvidos ser:
pelo meio em que incidem. • Cônico convergente: os raios de luz convergem para um
A reflexão regular ocorre quando um raio de luz incide sobre ponto;
uma superfície e é refletido de forma cilíndrica, diferentemente da
reflexão difusa, onde os feixes de luz são refletidos em todas as
direções.
A refração da luz ocorre quando os feixes de luz mudam de
velocidade e de direção quando passam de um meio para outro.
A absorção é o fenômeno onde as superfícies absorvem parte ou
toda a quantidade de luz que é incidida.

FUNDAMENTOS
• Cônico divergente: os raios de luz divergem a partir de um
Luz - Comportamento e princípios ponto;
A luz, ou luz visível como é fisicamente caracterizada, é uma
forma de energia radiante. É o agente físico que, atuando nos ór-
gãos visuais, produz a sensação da visão.

Para saber mais...


Energia radiante é aquela que se propaga na forma de ondas
eletromagnéticas, dentre as quais se pode destacar as ondas de rá-
dio, TV, micro-ondas, raios X, raios gama, radar, raios infravermelho,
radiação ultravioleta e luz visível.

419
FÍSICA
• Cilíndrico paralelo: os raios de luz são paralelos entre si. - Meio transparente
É um meio óptico que permite a propagação regular da luz, ou
seja, o observador vê um objeto com nitidez através do meio. Exem-
plos: ar, vidro comum, papel celofane, etc...

- Meio translúcido
É um meio óptico que permite apenas uma propagação irregu-
lar da luz, ou seja, o observador vê o objeto através do meio, mas
sem nitidez.
Fontes de luz
Tudo o que pode ser detectado por nossos olhos, e por outros
instrumentos de fixação de imagens como câmeras fotográficas, é a
luz de corpos luminosos que é refletida de forma difusa pelos cor-
pos que nos cercam.

Fonte de luz são todos os corpos dos quais se podem receber


luz, podendo ser fontes primárias ou secundárias.
• Fontes primárias: Também chamadas de corpos lumino-
sos, são corpos que emitem luz própria, como por exemplo, o Sol,
as estrelas, a chama de uma vela, uma lâmpada acesa,...
• Fontes secundárias: Também chamadas de corpos ilumi- - Meio opaco
nados, são os corpos que enviam a luz que recebem de outras fon- É um meio óptico que não permite que a luz se propague, ou
tes, como por exemplo, a Lua, os planetas, as nuvens, os objetos seja, não é possivel ver um objeto através do meio.
visíveis que não têm luz própria,...
• Fenômenos ópticos
Quanto às suas dimensões, uma fonte pode ser classificada Ao incidir sobre uma superfície que separa dois meios de pro-
como: pagação, a luz sofre algum, ou mais do que um, dos fenômenos a
• Pontual ou puntiforme: uma fonte sem dimensões consi- seguir:
deráveis que emite infinitos raios de luz.
Reflexão regular
A luz que incide na superfície e retorna ao mesmo meio, re-
gularmente, ou seja, os raios incidentes e refletidos são paralelos.
Ocorre em superfícies metálicas bem polidas, como espelhos.

Reflexão difusa
A luz que incide sobre a superfície volta ao mesmo meio, de
forma irregular, ou seja, os raios incidentes são paralelos, mas os
refletidos são irregulares. Ocorre em superfícies rugosas, e é res-
ponsável pela visibilidade dos objetos.

Refração
A luz incide e atravessa a superfície, continuando a se propagar
• Extensa: uma fonte com dimensões consideráveis em re- no outro meio. Ambos os raios (incidentes e refratados) são parale-
lação ao ambiente. los, no entanto, os raios refratados seguem uma trajetória inclinada
em relação aos incididos. Ocorre quando a superfície separa dois
meios transparentes.

Absorção
A luz incide na superfície, no entanto não é refletida e nem
refratada, sendo absorvida pelo corpo, e aquecendo-o. Ocorre em
corpos de superfície escura.

Princípio da independência dos raios de luz


Quando os raios de luz se cruzam, estes seguem independente-
mente, cada um a sua trajetória.

Meios de propagação da luz


Os diferentes meios materiais comportam-se de forma diferen-
te ao serem atravessados pelos raios de luz, por isso são classifica-
dos em:

420
420
FÍSICA
Princípio da propagação retilínea da luz Tipos de reflexão e refração
Todo o raio de luz percorre trajetórias retilíneas em meios Reflexão é o fenômeno que consiste no fato de a luz voltar a se
transparentes e homogêneos. propagar no meio de origem, após incidir sobre uma superfície de
Para saber mais... separação entre dois meios.
Um meio homogêneo é aquele que apresenta as mesmas ca- Refração é o fenômeno que consiste no fato de a luz passar de
racterísticas em todos os elementos de volume. um meio para outro diferente.
Um meio isótropo, ou isotrópico, é aquele em que a velocidade Durante uma reflexão são conservadas a frequência e a velo-
de propagação da luz e as demais propriedades ópticas indepen- cidade de propagação, enquanto durante a refração, apenas a fre-
dem da direção em que é realizada a medida. quência é mantida constante.
Um meio ordinário é aquele que é, ao mesmo tempo, transpa-
rente, homogêneo e isótropo, como por exemplo, o vácuo. Reflexão e refração regular
Acontece quando, por exemplo, um feixe cilíndrico de luz atin-
Sombra e penumbra ge uma superfície totalmente lisa, ou tranquila, desta forma, os fei-
Quando um corpo opaco é colocado entre uma fonte de luz e xes refletidos e refratados também serão cilíndricos, logo os raios
um anteparo, é possível delimitar regiões de sombra e penumbra. de luz serão paralelos entre si.
A sombra é a região do espaço que não recebe luz direta da
fonte. Penumbra é a região do espaço que recebe apenas parte da Reflexão e refração difusa
luz direta da fonte, sendo encontrada apenas quando o corpo opa- Acontece quando, por exemplo, um feixe cilíndrico de luz atinge
co é posto sob influência de uma fonte extensa. Ou seja: uma superfície rugosa, ou agitada, fazendo com que os raios de luz
refletidos e refratados tenham direção aleatória por todo o espaço.
Fonte de luz puntiforme
Reflexão e refração seletiva
A luz branca que recebemos do sol, ou de lâmpadas fluorescen-
tes, por exemplo, é policromática, ou seja, é formada por mais de
uma luz monocromática, no caso do sol, as sete do arco-íris: verme-
lho, alaranjado, amarelo, verde, azul, anil e violeta.
Sendo assim, um objeto ao ser iluminado por luz branca “sele-
ciona” no espectro solar as cores que vemos, e as refletem de forma
difusa, sendo assim, vistas por nós.
Fonte de luz extensa Se um corpo é visto branco, é porque ele reflete todas as cores
do espectro solar.
Se um corpo é visto vermelho, por exemplo, ele absorve todas
as outras cores do espectro, refletindo apenas o vermelho.
Se um corpo é “visto” negro, é por que ele absorve todas as
cores do espectro solar.
Chama-se filtro de luz a peça, normalmente acrílica, que deixa
passar apenas um das cores do espectro solar, ou seja, um filtro
vermelho, faz com que a única cor refratada de forma seletiva seja
a vermelha.
Câmara escura de orifício
Uma câmara escura de orifício consiste em um equipamento Para saber mais...
formado por uma caixa de paredes totalmente opacas, sendo que É muito comum o uso de filtros de luz na astronomia para ob-
no meio de uma das faces existe um pequeno orifício. servar estrelas, já que estas apresentam diferentes cores, conforme
Ao colocar-se um objeto, de tamanho o, de frente para o orifí- sua temperatura e distância da Terra, principalmente.
cio, a uma distância p, nota-se que uma imagem refletida, de tama-
nho i, aparece na face oposta da caixa, a uma distância p’, mas de Ponto imagem e ponto objeto
foma invertida. Conforme ilustra a figura: Chama-se ponto objeto, relativamente a um sistema óptico, o
vértice do feixe de luz que incide sobre um objeto ou uma superfí-
cie, sendo dividido em três tipos principais:
• Ponto objeto real (POR): é o vértice de um feixe de luz di-
vergente, sendo formado pelo cruzamento efetivo dos raios de luz.
• Ponto objeto virtual (POV): é o vértice de um feixe de luz
convergente, sendo formado pelo cruzamento imaginário do pro-
longamente dos raios de luz.
• Ponto objeto impróprio (POI): é o vértice de um feixe de
luz cilíndrico, ou seja, se situa no infinito.

Desta forma, a partir de uma semelhança geométrica pode-se Chama-se ponto imagem, relativamente a um sistema óptico,
expressar a seguinte equação: o vértice de um feixe de luz emergente, ou seja, após ser incidido.
• Ponto imagem real (PIR): é o vértice de um feixe de luz
emergente convergente, sendo formado pelo cruzamento efeitivo
dos raios de luz.

Esta é conhecida como a equação da câmara escura.

421
FÍSICA
• Ponto imagem virtual (PIV): é o vértice de um feixe de luz É possível esquematizar a reflexão de um raio de luz, ao atingir
emergente divergente, sendo formado pelo cruzamento imaginário uma superfície polida, da seguinte forma:
do prolongamento dos raios de luz.
• Ponto imagem impróprio (PII): é o vértice de um feixe de
luz emergente cilíndrico, ou seja, se situa no infinito.

Sistemas ópticos
Há dois principais tipos de sistemas ópticos: os refletores e os
refratores.
O grupo dos sistemas ópticos refletores consiste principalmen-
te nos espelhos, que são superfícies de um corpo opaco, altamente
polidas e com alto poder de reflexão.

AB = raio de luz incidente


BC = raio de luz refletido
N = reta normal à superfície no ponto B
T = reta tangente à superfície no ponto B
i = ângulo de incidência, formado entre o raio incidente e a reta
normal.
r = ângulo refletido, formado entre o raio refletido e a reta nor-
mal.
No grupo dos sistemas ópticos refratores encontram-se os
dioptros, que são peças constituídas de dois meios transparentes Leis da reflexão
separados por uma superfície regular. Quando associados de for- Os fenômenos em que acontecem reflexão, tanto regular quan-
ma conveniente os dioptros funcionam como utensílios ópticos de to difusa e seletiva, obedecem a duas leis fundamentais que são:
grande utilidade como lentes e prismas.
1ª lei da reflexão
O raio de luz refletido e o raio de luz incidente, assim como a
reta normal à superfície, pertencem ao mesmo plano, ou seja, são
coplanares.

2ª Lei da reflexão
O ângulo de reflexão (r) é sempre igual ao ângulo de incidência
(i).

Espelho Plano
Um espelho plano é aquele em que a superfície de reflexão é
totalmente plana.
Sistemas ópticos estigmáticos, aplanéticos e ortoscópicos Os espelhos planos têm utilidades bastante diversificadas,
• Um sistema óptico é estigmático quando cada ponto obje- desde as domésticas até como componentes de sofisticados instru-
to conjuga apenas um ponto imagem. mentos ópticos.
• Um sistema óptico é aplanético quando um objeto plano
e frontal também conjuga uma imagem plana e frontal. Representa-se um espelho plano por:
• Um sistema óptico é ortoscópico quando uma imagem é
conjugada semelhante a um objeto.
O único sistema óptico estigmático, aplanético e ortoscópico
para qualquer posição do objeto é o espelho plano.

REFLEXÃO DA LUZ
Reflexão é o fenômeno que consiste no fato de a luz voltar a
se propagar no meio de origem, após incidir sobre um objeto ou
superfície.

422
422
FÍSICA
As principais propriedades de um espelho plano são a simetria Se utilizarmos esta equação, e medirmos a sua taxa de varia-
entre os pontos objeto e imagem e que a maior parte da reflexão ção em um intervalo de tempo, podemos escrever a velocidade de
que acontece é regular. translação do espelho e da imagem da seguinta forma:
Para saber mais...
Os espelhos geralmente são feitos de uma superfície metálica
bem polida. É comum usar-se uma placa de vidro, onde se deposita
uma fina camada de prata ou alumínio em uma das faces, tornando
a outra um espelho.

Construção das imagens em um espelho plano


Para se determinar a imagem em um espelho plano, basta ima- Ou seja, a velocidade de deslocamento da imagem é igual ao
ginarmos que o observador vê um objeto que parece estar atrás dobro da velocidade de deslocamento do espelho.
do espelho. Isto ocorre porque o prolongamento do raio refletido Quando o observador também se desloca, a velocidade ao ser
passa por um ponto imagem virtual (PIV), “atrás” do espelho. considerada é a a velocidade relativa entre o observador e o espe-
Nos espelhos planos, o objeto e a respectiva imagem têm sem- lho, ao invés da velocidade de translação do espelho, ou seja:
pre naturezas opostas, ou seja, quando um é real o outro deve ser
virtual. Portanto, para se obter geometricamente a imagem de um
objeto pontual, basta traçar por ele, através do espelho, uma reta e
marcar simétricamente o ponto imagem.
Associação de dois espelhos planos
Translação de um espelho plano Dois espelhos planos podem ser associados, com as superfícies
Considerando a figura: refletoras se defrontando e formando um ângulo entre si, com
valores entre 0° e 180°.
Por razões de simetria, o ponto objeto e os pontos imagem fi-
cam situados sobre uma circunferência.
Para se calcular o número de imagens que serão vistas na asso-
ciação usa-se a fórmula:

Sendo o ângulo formado entre os espelhos.


Por exemplo, quando os espelhos encontra-se perpendicular-
mente, ou seja =90°:
A parte superior do desenho mostra uma pessoa a uma dis-
tância do espelho, logo a imagem aparece a uma distância em
relação ao espelho.

Na parte inferior da figura, o espelho é transladado para a


direita, fazendo com que o observador esteja a uma distância do Portanto, nesta configuração são vistas 3 pontos imagem.
espelho, fazendo com que a imagem seja deslocada x para a direita.
Pelo desenho podemos ver que: Espelhos esféricos
Chamamos espelho esférico qualquer calota esférica que seja
polida e possua alto poder de reflexão.

Que pode ser reescrito como:

Mas pela figura, podemos ver que:

Logo:

Assim pode-se concluir que sempre que um espelho é transla-


dado paralelamente a si mesmo, a imagem de um objeto fixo sofre
translação no mesmo sentido do espelho, mas com comprimento
equivalente ao dobro do comprimento da translação do espelho.

423
FÍSICA
É fácil observar-se que a esfera da qual a calota acima faz parte • O ângulo , que mede a distância angular entre os dois ei-
tem duas faces, uma interna e outra externa. Quando a superfície xos secundários que cruzam os dois pontos mais externos da calota,
refletiva considerada for a interna, o espelho é chamado côncavo. é a abertura do espelho.
Já nos casos onde a face refletiva é a externa, o espelho é chamado • O raio da esfera R que origina a calota é chamado raios de
convexo. curvatura do espelho.

Um sistema óptico que consegue conjugar a um ponto obje-


to, um único ponto como imagem é dito estigmático. Os espelhos
esféricos normalmente não são estigmáticos, nem aplanéticos ou
ortoscópicos, como os espelhos planos.
No entanto, espelhos esféricos só são estigmáticos para os
raios que incidem próximos do seu vértice V e com uma pequena
inclinação em relação ao eixo principal. Um espelho com essas pro-
priedades é conhecido como espelho de Gauss.
Um espelho que não satisfaz as condições de Gauss (incidência
próxima do vértice e pequena inclinação em relação ao eixo princi-
pal) é dito astigmático. Um espelho astigmático conjuga a um ponto
uma imagem parecendo uma mancha.

Reflexão da luz em espelhos esféricos Focos dos espelhos esféricos


Assim como para espelhos planos, as duas leis da reflexão tam- Para os espelhos côncavos de Gauss, pode-se verificar que to-
bém são obedecidas nos espelhos esféricos, ou seja, os ângulos de dos os raios luminosos que incidirem ao longo de uma direção para-
incidência e reflexão são iguais, e os raios incididos, refletidos e a lela ao eixo secundário passam por (ou convergem para) um mesmo
reta normal ao ponto incidido. ponto F - o foco principal do espelho.

Aspectos geométricos dos espelhos esféricos


Para o estudo dos espelhos esféricos é útil o conhecimento dos No caso dos espelhos convexos, a continuação do raio refletido
elementos que os compõe, esquematizados na figura abaixo: é que passa pelo foco. Tudo se passa como se os raios refletidos se
originassem do foco.

• C é o centro da esfera;
• V é o vértice da calota;
• O eixo que passa pelo centro e pelo vértice da calota é Determinação de imagens
chamado eixo principal. Analisando objetos diante de um espelho esférico, em posição
• As demais retas que cruzam o centro da esfera são chama- perpendicular ao eixo principal do espelho podemos chegar a algu-
das eixos secundários. mas conclusões importantes.

424
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FÍSICA
Um objeto pode ser real ou virtual. No caso dos espelhos, dizemos que o objeto é virtual se ele se encontra “atrás” do espelho. No
caso de espelhos esféricos a imagem de um objeto pode ser maior, menor ou igual ao tamanho do objeto. A imagem pode ainda aparecer
invertida em relação ao objeto. Se não houver sua inversão dizemos que ela é direita.

Equação fundamental dos espelhos esféricos

Dadas a distância focal e posição do objeto, é possível determinar analiticamente a posição da imagem através da equação de Gauss,
que é expressa por:

REFRAÇÃO DA LUZ
Refração da luz é o fenômeno em que ela é transmitida de um meio para outro diferente. Nesta mudança de meios a frequência da
onda luminosa não é alterada, embora sua velocidade e o seu comprimento de onda sejam. Com a alteração da velocidade de propagação
ocorre um desvio da direção original.

Cor e frequência
No intervalo do espectro eletromagnético que corresponde à luz visível, cada frequência equivale à sensação de uma cor.
Conforme a frequência aumenta, diminui o comprimento de onda, assim como mostra a tabela e o trecho do espectroeletromagné-
tico abaixo.

425
FÍSICA
Quando recebemos raios de luz de diferentes frequências po- Em meios diferentes do vácuo também diminui a velocidade
demos perceber cores diferentes destas, como combinações. conforme aumenta a frequência. Assim a velocidade da luz verme-
A luz branca que percebemos vinda do Sol, por exemplo, é a lha é maior que a velocidade da luz violeta, por exemplo.
combinação de todas as sete cores do espectro visível.
Índice de refração absoluto
Luz mono e policromática Para o entendimento completo da refração convém a introdu-
De acordo com sua cor, a luz pode ser classificada como mono- ção de uma nova grandeza que relacione a velocidade da radiação
cromática ou policromática. monocromática no vácuo e em meios materiais, esta grandeza é o
Chama-se luz monocromática aquela composta de apenas índice de refração da luz monocromática no meio apresentado, e é
uma cor, como por exemplo a luz amarela emitida por lâmpadas expressa por:
de sódio.
Chama-se luz policromática aquela composta por uma combi-
nação de duas ou mais cores monocromáticas, como por exemplo a
luz branca emitida pelo sol ou por lâmpadas comuns.
Usando-se um prisma, é possível decompor a luz policromática Onde n é o índice de refração absoluto no meio, sendo uma
nas luzes monocromáticas que a formam, o que não é possível para grandeza adimensional.
as cores monocromáticas, como o vermelho, alaranjado, amarelo, É importante observar que o índice de refração absoluto nunca
verde, azul, anil e violeta. pode ser menor do que 1, já que a maior velocidade possível em um
Um exemplo da composição das cores monocromáticas que meio é c, se o meio considerado for o próprio vácuo.
formam a luz branca é o disco de Newton, que é uma experiência Para todos os outros meios materiais n é sempre maior que 1.
composta de um disco com as sete cores do espectro visível, que Alguns índices de refração usuais:
ao girar em alta velocidade, “recompõe” as cores monocromáticas,
formando a cor policromática branca.

Cor de um corpo
Ao nosso redor é possível distinguir várias cores, mesmo quan-
do estamos sob a luz do Sol, que é branca.
Esse fenômeno acontece pois quando é incidida luz branca
sobre um corpo de cor verde, por exemplo, este absorve todas as Índice de refração relativo entre dois meios
outras cores do espectro visível, refletido de forma difusa apenas o Chama-se índice de refração relativo entre dois meios, a rela-
verde, o que torna possível distinguir sua cor. ção entre os índices de refração absolutos de cada um dos meios,
Por isso, um corpo de cor branca é aquele que reflete todas de modo que:
as cores, sem absorver nenhuma, enquanto um corpo de cor preta
absorve todas as cores sobre ele incididas, sem refletir nenhuma, o
que causa aquecimento.
Mas como visto:
Luz - Velocidade
Há muito tempo sabe-se que a luz faz parte de um grupo de
ondas, chamado de ondas eletromagnéticas, sendo uma das carac-
terísticas que reune este grupo a sua velocidade de propagação.
A velocidade da luz no vácuo, mas que na verdade se aplica Então podemos escrever:
a diversos outros fenômenos eletromagnéticos como raios-x, raios
gama, ondas de rádio e tv, é caracterizada pela letra c, e tem um
valor aproximado de 300 mil quilômetros por segundo, ou seja:

Ou seja:
No entanto, nos meios materiais, a luz se comporta de forma
diferente, já que interage com a matéria existente no meio. Em
qualquer um destes meios a velocidade da luz v é menor que c.
Observe que o índice de refração relativo entre dois meios
pode ter qualquer valor positivo, inclusive menores ou iguais a 1.

426
426
FÍSICA
Refringência 2ª Lei da Refração - Lei de Snell
Dizemos que um meio é mais refringente que outro quando A 2ª lei da refração é utilizada para calcular o desvio dos raios
seu índice de refração é maior que do outro. Ou seja, o etanol é de luz ao mudarem de meio, e é expressa por:
mais refringente que a água.
De outra maneira, podemos dizer que um meio é mais refrin-
gente que outro quando a luz se propaga por ele com velocidade
menor que no outro.

Leis da Refração da Luz No entanto, sabemos que:


Chamamos de refração da luz o fenômeno em que ela é trans-
mitida de um meio para outro diferente.
Nesta mudança de meios a frequência da onda luminosa não
é alterada, embora sua velocidade e o seu comprimento de onda
sejam.
Com a alteração da velocidade de propagação ocorre um des- Além de que:
vio da direção original.
Para se entender melhor este fenômeno, imagine um raio de
luz que passa de um meio para outro de superfície plana, conforme
mostra a figura abaixo:

Ao agruparmos estas informações, chegamos a uma forma


completa da Lei de Snell:

Dioptro
É todo o sistema formado por dois meios homogêneos e trans-
parentes.
Quando esta separação acontece em um meio plano, chama-
mos então, dioptro plano.
A figura abaixo representa um dioptro plano, na separação en-
tre a água e o ar, que são dois meios homogêneos e transparentes.

Onde:
• Raio 1 é o raio incidente, com velocidade e comprimento
de onda característico;
• Raio 2 é o raio refratado, com velocidade e comprimento
de onda característico;
• A reta tracejada é a linha normal à superfície;
• O ângulo formado entre o raio 1 e a reta normal é o ângulo
de incidência;
• O ângulo formado entre o raio 2 e a reta normal é o ângulo
de refração;
• A fronteira entre os dois meios é um dioptro plano.
Formação de imagens através de um dioptro
Conhecendo os elementos de uma refração podemos entender Considere um pescador que vê um peixe em um lago. O peixe
o fenômeno através das duas leis que o regem. encontra-se a uma profundidade H da superfície da água. O pesca-
dor o vê a uma profundidade h. Conforme mostra a figura abaixo:
1ª Lei da Refração
A 1ª lei da refração diz que o raio incidente (raio 1), o raio refra-
tado (raio 2) e a reta normal ao ponto de incidência (reta tracejada)
estão contidos no mesmo plano, que no caso do desenho acima é
o plano da tela.

427
FÍSICA
A fórmula que determina estas distância é: Para um estudo simples consideraremos que o segundo meio
é a lente propriamente dita, e que o primeiro e terceiro meios são
extamente iguais, normalmente a lente de vidro imersa em ar.

Tipos de lentes
Dentre as lentes esféricas que são utilizadas, seis delas são de
Prisma maior importância no estudo de óptica, sendo elas:
Um prisma é um sólido geométrico formado por uma face su-
perior e uma face inferior paralelas e congruentes (também cha- - Lente biconvexa
madas de bases) ligadas por arestas. As laterais de um prisma são
paralelogramos.
No entanto, para o contexto da óptica, é chamado prisma o
elemento óptico transparente com superfícies retas e polidas que é
capaz de refratar a luz nele incidida.
O formato mais usual de um prisma óptico é o de pirâmide com
base quadrangular e lados triangulares.

É convexa em ambas as faces e tem a periferia mais fina que a


região central, seus elementos são:

A aplicação usual dos prismas ópticos é seu uso para separar a


luz branca policromática nas sete cores monocromáticas do espec-
tro visível, além de que, em algumas situações poder refletir tais
luzes.

Funcionamento do prisma
Quando a luz branca incide sobre a superfície do prisma, sua - Lente plano-convexa
velocidade é alterada, no entanto, cada cor da luz branca tem um
índice de refração diferente, e logo ângulos de refração diferentes,
chegando à outra extremidade do prisma separadas.

Tipos de prismas
Prismas dispersivos são usados para separar a luz em suas co-
res de espectro.
Prismas refletivos são usados para refletir a luz.
Prismas polarizados podem dividir o feixe de luz em compo-
nentes de variadas polaridades.

LENTES ESFÉRICAS
Chamamos lente esférica o sistema óptico constituido de três
meios homogêneos e transparentes, sendo que as fronteiras entre
cada par sejam duas superfícies esféricas ou uma superfície esféri-
ca e uma superfície plana, as quais chamamos faces da lente.
Dentre todas as aplicações da óptica geométrica, a que mais se
destaca pelo seu uso no cotidiano é o estudo das lentes esféricas,
seja em sofisticados equipamentos de pesquisa astronômica, ou em
câmeras digitais comuns, seja em lentes de óculos ou lupas.
Chamamos lente esférica o sistema óptico constituido de três
meios homogêneos e transparentes, sendo que as fronteiras entre
cada par sejam duas superfícies esféricas ou uma superfície esférica
e uma superfície plana, as quais chamamos faces da lente.

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428
FÍSICA
É plana em uma das faces e convexa em outra, tem a perferia Já o caso menos comum ocorre quando a lente tem menor ín-
mais fina que a região central, seus elementos são: dice de refração que o meio. Nesse caso, um exempo de lente com
comportamento convergente é o de uma lente bicôncava (com bor-
das espessas):

- Lente côncavo-convexa
Lentes esféricas divergentes
Em uma lente esférica com comportamento divergente, a luz
que incide paralelamente entre si é refratada, tomando direções
que divergem a partir de um único ponto.
Tanto lentes de bordas espessas como de bordas finas podem
ser divergentes, dependendo do seu índice de refração em relação
ao do meio externo.
O caso mais comum é o que a lente tem índice de refração
maior que o índice de refração do meio externo. Nesse caso, um
exemplo de lente com comportamento divergente é o de uma lente
Tem uma de suas faces côncava e outra convexa, tem a perife- bicôncava (com bordas espessas):
ria mais fina que a região central. Seus elementos são:

Já o caso menos comum ocorre quando a lente tem menor


Lentes convergentes índice de refração que o meio. Nesse caso, um exempo de lente
Em uma lente esférica com comportamento convergente, a luz com comportamento divergente é o de uma lente biconvexa (com
que incide paralelamente entre si é refratada, tomando direções bordas finas):
que convergem a um único ponto.
Tanto lentes de bordas finas como de bordas espessas podem
ser convergentes, dependendo do seu índice de refração em rela-
ção ao do meio externo.
O caso mais comum é o que a lente tem índice de refração
maior que o índice de refração do meio externo. Nesse caso, um
exemplo de lente com comportamento convergente é o de uma len-
te biconvexa (com bordas finas):

429
FÍSICA
Vergência 2) Considere uma lente divergente de distância focal 50cm =
0,5m.
Focos de uma lente

- Focos principais
Uma lente possui um par de focos principais: foco principal ob-
jeto (F) e foco principal imagem (F’). Ambos localizam-se a sobre o Neste caso, é possível dizer que a lente tem vergência de -2di
eixo principal e são simétricos em relação à lente, ou seja, a distân- ou que ela tem divergência de 2di.
cia OF é igual a distância OF’.
Associação de lentes
- Foco imagem (F’) Duas lentes podem ser colocadas de forma que funcionem
É o ponto ocupado pelo foco imagem, podendo ser real ou vir- como uma só, desde que sejam postas coaxialmente, isto é, com
tual. eixos principais coincidentes. Neste caso, elas serão chamadas de
justapostas, se estiverem encostadas, ou separadas, caso haja uma
- Foco objeto (F) distância d separando-as.
É o ponto ocupado pelo foco objeto, podendo ser real ou vir- Estas associações são importantes para o entendimento dos
tual. instrumentos ópticos.
Quando duas lentes são associadas é possível obter uma len-
Distância focal te equivalente. Esta terá a mesma característica da associação das
É a medida da distância entre um dos focos principais e o cen- duas primeiras.
tro óptico, esta medida é caracterizada pela letra f. Lembrando que se a lente equivalente tiver vergência positiva
será convergente e se tiver vergência negativa será divergente.
Pontos antiprincipais
São pontos localizados a uma distância igual a 2f do centro óp- Associação de lentes justapostas
tico (O), ou seja, a uma distância f de um dos focos princiapais (F ou Quando duas lentes são associadas de forma justaposta, utili-
F’). Esta medida é caracterizada por A (para o ponto antiprincipal za-se o teorema das vergências para definir uma lente equivalente.
objeto) e A’ (para o ponto antiprincipal imagem). Como exemplo de associação justaposta temos:

Vergência
Dada uma lente esférica em determinado meio, chamamos
vergência da lente (V) a unidade caracterizada como o inverso da
distância focal, ou seja:

A unidade utilizada para caracterizar a vergência no Sistema In-


ternacional de Medidas é a dioptria, simbolozado por di.
Um dioptria equivale ao inverso de um metro, ou seja: Este teorema diz que a vergência da lente equivalente à asso-
ciação é igual à soma algébrica das vergências das lentes compo-
nentes. Ou seja:

Uma unidade equivalente a dioptria, muito conhecida por


quem usa óculos, é o “Grau”.
1di = 1grau Que também pode ser escrita como:

Quando a lente é convergente usa-se distância focal positiva


(f>0) e para uma lente divergente se usa distância focal negativa
(f<0).

Por exemplo: Associação de lentes separadas


1) Considere uma lente convergente de distância focal 25cm = Quando duas lentes são associadas de forma separada, utiliza-
0,25m. -se uma generalização do teorema das vergências para definir uma
lente equivalente.
Um exemplo de associação separada é:

Neste caso, é possível dizer que a lente tem vergência de +4di


ou que ela tem convergência de 4di.

430
430
FÍSICA
A generalização do teorema diz que a vergência da lente equi- Quando olhamos para um objeto, a imagem é percebida pelo
valente à tal associação é igual a soma algébrica das vergências dos cristalino, que forma uma imagem real e invertida, ou seja, de “ca-
componetes menos o produto dessas vergências pela distância que beça para baixo”. Essa imagem deve ser focalizada exatamente
separa as lentes. Desta forma: sobre a retina para que seja enxergada nitidamente. A imagem é
“enviada” para o cérebro através do nervo óptico. O cérebro, ao
receber a imagem, processa sua inversão, de forma que possamos
observar o objeto em sua posição real.

Que também pode ser escrito como:

Instrumentos ópticos
Os instrumentos ópticos baseiam-se em princípios da óptica e
têm a finalidade de facilitar a visualização de determinados objetos.

As principais partes do olho humano

Se a imagem recebida pelo cristalino não se formar exatamente


sobre a retina, então a pessoa não enxergará nitidamente os obje-
tos, o que caracteriza um defeito da visão. De acordo com a posição
onde a imagem é formada, podemos classificar três tipos de defei-
tos da visão. São eles:

Miopia: a imagem do objeto forma-se antes da retina, pois o


globo ocular das pessoas que apresentam esse defeito é mais alon-
gado. Nesse caso, a pessoa enxerga os objetos sem nitidez. Para
corrigir o problema, é necessário utilizar óculos com lentes diver-
gentes.

Hipermetropia: As pessoas com esse problema na visão apre-


sentam o globo ocular mais curto que o normal, o que faz com que
a imagem se forme atrás da retina. Esse defeito é corrigido com o
uso de óculos com lentes convergentes.

Presbiopia: Chamado popularmente de “vista cansada”, é um


problema que ocorre em virtude do envelhecimento natural do
nosso organismo, quando o cristalino fica mais rígido e não acomo-
O microscópio é um instrumento óptico que tem como finalida- da imagens de objetos próximos. Nesse caso, a imagem forma-se
de a ampliação de objetos atrás da retina. Esse problema também pode ser corrigido por len-
Os instrumentos ópticos são utilizados no nosso cotidiano e tes convergentes.
baseiam-se nos princípios da óptica para permitir, facilitar ou aper-
feiçoar a visualização de determinados objetos, que vão desde se- Máquina fotográfica
res minúsculos, como alguns tipos de bactérias, até enormes plane- É um instrumento óptico que projeta e armazena uma imagem
tas e estrelas. sobre um anteparo e funciona de forma semelhante ao olho hu-
Existe uma infinidade de instrumentos ópticos, podemos ci- mano. Possui um sistema de lentes, denominado objetiva, que se
tar: microscópio, telescópio, projetores, lupa, câmera fotográfica, comporta como uma lente convergente e forma uma imagem real
óculos, lentes etc. Veja a seguir como ocorre o funcionamento de e invertida do material fotografado. Para que a imagem fique nítida
alguns dos instrumentos ópticos que são utilizados no nosso coti- sobre o filme fotográfico, a câmera possui uma série de sistemas
diano. que aproximam ou afastam a objetiva, focalizando a imagem.
Se essa focalização não for bem feita, a imagem não se forma
O olho humano sobre o filme e, portanto, não fica nítida. Quando se aciona o bo-
É formado basicamente por três partes: tão para a foto, o diafragma da câmera é aberto, permitindo que a
Cristalino: funciona como uma lente biconvexa. Ele está situa- luz proveniente do objeto incida sobre o filme. Como o filme foto-
do na região anterior do globo ocular; gráfico é fabricado com um material sensível à luz, ele “gravará” a
Retina: localizada no “fundo” do globo ocular e funciona como imagem recebida.
um anteparo sensível à luz;
Nervo óptico: parte que recebe as sensações luminosas rece-
bidas pela retina.

431
FÍSICA
A lupa Linhas do espectro visível do Hg
É o instrumento óptico mais simples, sendo constituída por
uma lente convergente que produz uma imagem virtual e ampliada COR λ(nm)
de um objeto.
Para que a imagem formada pela lupa seja nítida, é necessário VERMELHA 690
que o objeto seja colocado entre o foco F e o centro óptico. Caso VERMELHA 624
contrário, a imagem forma-se desfocada.
VERMELHA 611
VERMELHA 608
AMARELA 578
VERDE 548
VERDE-AZULADA 496
VERDE-AZULADA 492
AZUL 435
VIOLETA 408

Comprimento de Ondas de De Broglie e Ondas de Matéria1

A imagem formada pela lupa é maior que o objeto Comprimento de Ondas de De Broglie
Apesar de todas as limitações, a teoria de Bohr teve o mérito
de contribuir para a aceitação da dualidade onda-corpúsculo, rom-
pendo assim com a Física Clássica. Perdida a imagem tradicional do
ESPECTROSCOPIAS DE ABSORÇÃO E DE EMISSÃO MOLE- Universo logo se pensou que, se uma radiação se pode comportar
CULAR (FLUORESCÊNCIA) como uma onda e como uma partícula, porque não uma partícula a
comportar-se também como uma onda?

Espectros Atômicos Talvez então os eletrons ou os átomos, ou outras partículas,


Em 1859, Kirchhoff e Bunsen deduziram a partir de suas expe- pudessem manifestar comportamento ondulatório, sendo esta
riências que cada elemento, em determinadas condições emite um questão levantada pela primeira vez pelo físico francês Louis de
espectro característico. Tal espectro é exclusivo de cada elemento. Broglie, em 1923, que admitiu que a uma partícula de massa m, que
Com isso foi possível desenvolver um novo método de análise, ba- se move com velocidade escalar v, tendo, portanto, um momento
seado nestas emissões. A parte da ciência que estuda estas emis- linear de valor p = m.v, se encontra associada uma onda de compri-
sões é chamada de Espectroscopiafoi de fundamental importância mento de onda λ, tal que
no estudo dos astros, uma vez que praticamente tudo o que se sabe
a respeito da composição química deles vem de estudos das suas
emissões espectrais.
Quando se fornece energia a um elétron em um átomo de um
determinado elemento, tal elétron pode “saltar” para um nível su-
perior de energia e ao retornar ao seu estado inicial emite radiação em que h é a constante de Planck.
eletromagnética. Toda radiação eletromagnética possui uma fre- Este comprimento de onda λ designa-se por comprimento
quência e com isto pode-se determinar seu comprimento de onda. de onda de de Broglie da partícula. A generalização do conceito
Entretanto, esta energia fornecida ao átomo para que ele altere de onda-corpúsculo a todas as partículas serviu a de Broglie de
o seu estado, não pode possuir qualquer valor. Neste caso, cada fundamento para a criação de uma nova mecânica, a Mecânica
átomo é capaz de emitir ou absorver radiação eletromagnética, so- Ondulatória, continuada pelo físico-matemático austríaco Erwin
mente em algumas frequências específicas o que torna a emissão Schroedinger. Em 1927, os físicos americanos Davisson e Germer
característica de cada material. conseguiram que um feixe monocinético de elétrons, i.e., um feixe
Para fornecermos energia aos elétrons de um determinado ma- em que os elétrons tinham todos a mesma energia cinética, atra-
terial, uma das formas de fazer é aquecê-lo em sua forma gasosa. vessasse um cristal de níquel, tendo obtido imagens daquelas par-
Assim, este elemento pode emitir radiação em certas frequências tículas, que revelaram comportamento ondulatório, o que está na
do visível, o que constitui seu espectro de emissão. base do funcionamento do microscópio electrónico, que se baseia
De acordo com as leis de difração teremos padrões de interfe- nas propriedades ondulatórias dos elétrons.
rência quando nλ = dsen θn, onde n corresponde a ordem de difra- Mais tarde obtiveram-se resultados análogos por utilização de
ção que está sendo observada. Na prática realizada nos laborató- feixes de neutrões, protões, átomos de hidrogénio e átomos de hé-
rios, o espectro de 1ª ordem pode se apresentar da seguinte forma lio, resultado da difração destes feixes corpusculares. O físico ale-
(exemplo para o mercúrio). mão Werner Heisenberg, fundamentando-se na teoria dos quanta
de Planck e Einstein, apresentou na mesma época outra teoria, de-
senvolvida segundo um tratamento matemático diferente, a cha-

1Texto adaptado de: Materiais baseados em “Física” de Alcina do Aido, Maria


Adélia Passos Ponte, Maria Aurelina Martins, Maria Gertrudes Abreu Bastos,
Maria Josefina Pereira, Maria Margarida Leitão e Rómulo de Carvalho, Livraria
Sá da Costa Editora, Volume II, págs. 227 a 363.

432
432
FÍSICA
mada Mecânica Quântica. O físico inglês Paul Dirac demonstrou, apenas em centímetros, nunca teremos certeza sobre os milímetros
todavia, que estas duas mecânicas eram fisicamente idênticas, em- daquela medida. A possível diferença entre o valor que medimos e
bora com formas matemáticas diferentes, passando a serem ambas o valor real é chamada de incerteza.
conhecidas como Mecânica Quântica.
Temos por base a descontinuidade da energia, emitida e ab-
sorvida, que a mecânica newtoniana, como física do contínuo, não
podia suportar. Tal como a óptica geométrica é uma boa aproxima-
ção da óptica ondulatória quando o comprimento de onda é muito
menor que as dimensões dos obstáculos ou aberturas que a radia-
ção encontra, também a mecânica clássica é uma boa aproximação Quanto mede o lápis acima? Se dissermos 6,5 cm não podemos
da mecânica quântica sempre que o comprimento de onda de Bro- ter certeza sobre os 0,5 cm além dos 6 cm marcados na régua. Não
glie da partícula em causa seja muito menor do que as dimensões existe qualquer indicação na régua que mostre esses 0,5 cm a mais.
dos obstáculos ou aberturas que a partícula encontra. Por isso dizemos que a incerteza dessa medida é + 0,5 cm.
Como o valor da constante de Planck é muito pequeno, o com-
primento de onda de Broglie é extraordinariamente pequeno para O Princípio da Incerteza
qualquer corpo macroscópico, não sendo, por isso, de notar fenô- Quando começamos a lidar com corpos muito pequenos, como
menos de difração com os corpos que utilizamos no dia-a-dia, po- os elétrons por exemplo, determinar valores como posição e mo-
dendo mesmo aplicar-se aos elétrons, em certas condições, as leis mento torna-se uma tarefa um pouco mais complicada. Como saber
da mecânica clássica. a posição de um elétron? Poderíamos lançar contra ele um feixe de
luz com alguns fótons (partículas de luz) e ao recebê-los novamente
Ondas de Matéria calcular onde estava.
Matéria está relacionada com energia pela relatividade espe- Se tentarmos porém determinar a quantidade de movimento
cial. Energia está relacionada com ondas pelas relações de Planck- da mesma forma, alteraremos a quantidade de movimento original
-Einstein, que mostram que a energia de um fóton é discretizada com os fótons que lançamos. Podemos então criar uma cuidadosa
e diretamente proporcional à sua frequência. Se matéria está re- experiência para tentar calcular o momento do elétron. A Quanti-
lacionada com energia e se energia está relacionada com ondas, é dade de Movimento da partícula necessária para esse cálculo muda
quase natural supormos que matéria relaciona-se, de alguma ma- a posição do elétron de modo que não conseguimos descobrir a po-
neira, com ondas. Neste pensamento, nascem as ondas de matéria. sição com boa precisão. Resumindo, quanto maior a precisão com
A assinatura das ondas de matéria é expressa pela relação “”, que que medimos a posição menor a precisão com que mediremos o
significa “na mecânica quântica (h), partícula (p) se comporta como momento e vice-versa. A isso chamamos de Princípio da Incerteza
onda (λ) e vice-versa”. de Heisenberg.
Essa incerteza não se deve aos aparelhos que usamos, mas a
O mapa a seguir ilustra esse raciocínio. própria natureza das partículas. Segundo as leis da Mecânica Quân-
tica, quanto mais fácil for para encontrar uma partícula maior o mo-
mento necessário para interagir com ela, o que torna mais difícil
determinar a sua Quantidade de Movimento. Algo parecido ocorre
se conseguirmos determinar o Momento com precisão e tentarmos
descobrir a posição.
Como podemos perceber, muitos conceitos da Mecânica Quân-
tica são bastante diferentes da Mecânica Clássica. Porém a maior
parte da Ciência desenvolvida antes do século XX encontra aplica-
ções em nossa vida diária e nas situações com que estamos acos-
tumados. Esta mesma Ciência Clássica começa a perder sua utili-
dade quando estudamos objetos extremamente pequenos, como
átomos, extremamente grandes, como estrelas ou extremamente
rápidos, próximos da velocidade da luz.

Dualidade Onda-Partícula.
Ao longo dos tempos o ser humano e os animais evoluíram
Texto adaptado de: Prof. Dr. Matheus P. Lobo de forma a ter uma sensibilidade maior para a luz visível. O estu-
do dos fenômenos ópticos é fascinante, pois os variados tipos de
Princípio da Incerteza Heisenberg. Dualidade Onda-Partícula. imagens podem trazer diversos tipos de emoções ao ser humano
Para efetuarmos qualquer tipo de medição precisamos intera- e mesmo aos animais. Mas a evolução vem da necessidade destes
gir com aquilo que queremos medir. Durante a medida do tama- seres obterem informações do meio em que vivem. Na história da
nho de um tecido por exemplo, é necessário tocá-lo e compará-lo humanidade alguns estudos resultaram em grandes descobertas.
com uma fita métrica; para medir a velocidade de um carro, o radar Primeiramente, com relação à luz, estudou-se a possibilidade dela
rodoviário emite ondas que atingem o carro e voltam permitindo se propagar em linha reta. Mais tarde, Isaac Newton decompõe a
calcular sua velocidade; para simplesmente descobrirmos a posi- luz em várias cores e também consegue demonstrar que várias co-
ção de qualquer objeto, geralmente precisamos enxergá-lo e se o res compõe a luz branca.
enxergamos significa que a luz iluminiu este corpo e chegou aos Muitas discussões foram feitas com relação à luz. Quando se
nossos olhos. fala em propagação automaticamente considera-se um desloca-
Por melhor que sejam os nossos aparelhos de medição, sem- mento com certa velocidade. Mas velocidade do quê? De uma onda
pre haverá uma possível diferença entre a medida que avaliamos ou de uma partícula?
e a medida real. Por exemplo, se usarmos uma régua graduada em

433
FÍSICA
Primeiramente, faz-se necessário fazer algumas considerações: Uma onda é uma perturbação que se propaga em um meio. No caso
de uma onda eletromagnética a perturbação é do campo elétrico e do campo magnético. É um argumento plausível pra explicar a luz. Mas
alguns experimentos realizados no fim do século XIX mudam um pouco essa concepção com relação a este importante ente físico. Entre os
mais relevantes, podem ser citados o efeito fotoelétrico, o espalhamento Compton e a produção de raios X. Quando se faz um experimento
com partículas em fenda única, observa-se uma região de máxima incidência de partículas, conforme mostra a figura 01.

Figura 01: as partículas são colimadas por uma fenda e incidem no anteparo formando um padrão de interferência com uma franja
apenas.

Fica evidente o caráter ondulatório quando se faz um experimento com fenda de espessura da ordem do comprimento de onda da
luz incidenteconforme a figura 02.

Figura 02: ao centro, apenas uma franja de intensidade luminosa máxima.

Nestes dois casos se observa a intensidade máxima em uma única região do anteparo.
Quando a onda incide em um colimador com duas fendas observa-se um padrão de interferência com várias franjas. Isto ocorre devido
ao fato de que há uma interferência construtiva quando a intensidade máxima da onda da luz emergente de uma fenda coincide com o
máximo da onda emergente da outra fenda. Isso ocorre porque há uma diferença de caminho da luz emergente de cada fenda. O mesmo
acontece com os mínimos e forma o padrão de interferência da figura 03.

Figura 03: várias franjas de intensidade luminosa máxima no centro.

434
434
FÍSICA
Quando a mesma experiência é realizada com partículas, o padrão deve ser formado apenas por duas raias de máxima intensidade.
Mas não é isto que se observa se a mesma experiência for realizada com prótons, nêutrons ou elétrons. O que se observa é um padrão de
interferência! É isto que intriga os físicos: a luz se comporta ora como onda, ora como partícula. E as partículas se comportam como onda
em determinadas situações.

ABSORÇÃO ÓPTICA
O processo de absorção de luz por uma molécula, segundo o ponto de vista clássico, ocorre quando a frequência de uma onda eletro-
magnética incidente é igual ou próxima à frequência natural de vibração da molécula. Entretanto, a visão clássica do processo de absorção
é limitada, haja vista que há pelo menos duas questões fundamentais que ela não consegue explicar, a saber:
a) a relação entre a quantidade de energia absorvida por átomos ou moléculas com a frequência de radiação. Esta relação é estabele-
cida pela teoria da mecânica quântica através da relação de Einstein: E = hν, (1) onde h é a constante de Planck. Assim, a radiação assume
um aspecto corpuscular, sem equivalente clássico;
b) a existência de linhas espectrais agudas emitidas por átomos ou moléculas após terem sido previamente excitados. Esta questão
também pode ser explicada pela teoria da mecânica quântica. Segundo esta teoria, átomos e moléculas só podem existir a determinados
níveis de energia (também chamados de estados eletrônicos). Isto é uma consequência do aspecto mecânico-ondulatório da matéria. Os
níveis de energia são subdivididos em níveis de energia vibracional, os quais podem ter uma transição para estados excitados de maior
energia ao absorver radiação. Para que transições entre níveis eletrônicos aconteçam é necessário que a radiação incidente tenha energias
pertencentes à faixa do espectro eletromagnético chamado de UV-visível. Transições entre os níveis vibracionais acontecem na faixa do
infravermelho, e transições entre os níveis rotacionais acontecem na faixa das micro-ondas.

EMISSÃO DE RADIAÇÃO
A radiação eletromagnética é produzida quando uma partícula excitada (átomos, íons ou moléculas) relaxa para níveis de energia mais
baixos, fornecendo seu excesso de energia como fótons.

A radiação de uma fonte excitada é convenientemente caracterizada por meio do espectro de emissão, que normalmente tem a forma
de um gráfico de potência relativa da radiação emitida em função do comprimento de onda ou frequência.

ESPECTRO DE ABSORÇÃO
As radiações ultravioleta e visível possuem a propriedade de sofrerem absorção por algumas moléculas devido ao fenômeno da ex-
citação eletrônica. Esta absorção é sempre quântica, isto é, dá-se por um salto entre níveis de energia bem definidos, de modo que cada
elétron só absorve energia quando esta tem o valor certo para promover a sua passagem entre o seu nível basal e um dos estados de
maior energia que ele pode ocupar. E estes estados dependem da estrutura molecular de modo que os elétrons de diferentes moléculas
são capazes de absorver diferentes, e bem definidas quantidades de energia da radiação eletromagnética incidente.
Por isso, quando a luz visível ou ultravioleta incide sobre certos tipos de molécula, estas absorvem apenas a radiação com comprimen-
tos de onde cujas energias correspondem às transições eletrônicas permissíveis. Cada molécula, portanto, possui um espectro de absorção
de luz característico, que pode permitir a sua identificação. Como exemplo, a figura 1 mostra o espectro de absorção de quatro moléculas
diferentes

Figura 1- Espectros de absorção da luz ultravioleta e visível por soluções aquosas de tirosina (I), para-nitrofenol (II), hemoglobina (III)
e CuSO4 (IV).

435
FÍSICA
TIPOS DE ESPECTROS
LINHAS: composto por uma série de picos estreitos e bem definidos gerados pela excitação de átomos individuais. Este tipo de es-
pectro é característico de átomos ou de íons excitados que emitem energia na forma de luz de comprimento de onda bem característico.
BANDAS: consiste de muitos grupos de linhas tão próximas que não são completamente completamente resolvidas resolvidas. Grupos
de linhas se aproximam aproximam cada vez mais até chegar a um limite, a cabeça da banda. Este tipo de espectro é característico de
moléculas excitadas.
CONTÍNUO: responsável pelo aumento da radiação de fundo que ocorre acima de 350nm. São emitidos por sólidos incandescentes e,
neles, linhas claramente definidos estão ausentes. Essa classe de radiação térmica, que é chamada de radiação do corpo negro, é caracte-
rística da superfície emissora, e não do material que compõe a superfície.

ABSORÇÃO DA RADIAÇÃO
• Quando a radiação atravessa uma camada de sólido, líquido ou gás, algumas frequências são seletivamente removidas pela absor-
ção, um processo no qual a energia eletromagnética é transferida para átomos, íons, moléculas que compõem a amostra.
• As radiações visível e ultravioleta têm energia suficiente para provocar as transições somente de elétrons da camada mais externa,
ou dos elétrons de ligação.
• As frequências dos raios X são muitas ordens de grandeza mais energéticas e são capazes de interagir com os elétrons mais próximos
do núcleo dos átomos.

ABSORÇÃO MOLECULAR
Os espectros de absorção para moléculas poliatômicas-mais complexos -número de estados de energia das moléculas é geralmente
enorme quando comparado com o número de estados de energia para os átomos isolados.
A energia associada às bandas de uma molécula, é constituída de três componentes.

E = Eeletrônica + Evibracional + Erotacional

MÉTODOS DE ABSORÇÃO
Requerem duas medidas de potência: Uma antes que um feixe passe através do meio que contém o analito (P 0) e outra depois (P)

Fundamentos da Espectroscopia

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436
FÍSICA
Espectrofotômetro
Espectros como o da figura 1 podem ser obtidos com aparelhos do tipo esquematizado na figura 2, cujos componentes principais são:
1. Fonte de luz policromática – depende do comprimento de onda desejado. Pode ser uma lâmpada de tungstênio, que fornece luz
branca para a região do visível e lâmpada de hidrogênio que fornece luz ultravioleta.
2. Monocromador – pode ser um prisma ou uma grade de difração, para dispersar a luz.
3. Fenda – deixa passar um feixe monocromático cujo comprimento de onda depende da posição do prisma.
4. Cubeta – contém o material em estudo, que absorve a luz incidente.
5. Detector – é uma célula fotoelétrica sensível à radiação luminosa. 6. Medidor – é um galvanômetro que recebe um sinal elétrico da
célula fotoelétrica e permite a leitura da intensidade de luz transmitida.

Figura 2. Esquema de um espectrofotômetro

COLORIMETRIA
Por definição, é um método analítico baseado na medida da intensidade da cor, com a finalidade de determinar a concentração de
analitos em amostras.
Trata-se de uma parte da fotometria pelo qual se pode obter a concentração de soluções através da medida de suas respectivas absor-
ções da luz em um dado comprimento de onda. Este comprimento de onda pode estar no intervalo de 400 nm e 800 nm que corresponde
à faixa de luz visível, ou de 200 a 400 nm, que equivale à faixa ultravioleta.
Ou seja, a amostra é comparada com um padrão e analisada sob condições idênticas de química e luz.

A substância deve ser colorida (absorver luz) ou convertida em um composto colorido.

Lei de Lambert-Beer
Determinação da quantidade de luz absorvida pela matéria.
Absorbância = log (Po /P) = ε.b.c

Se um raio de luz monocromática atravessar a solução de uma substância capaz de absorver energia desse comprimento de onda (λ),
parte da luz que incide sobre a solução é absorvida e não emerge do outro lado. Chama-se transmitância (T) a razão entre a intensidade
de luz emergente I, e a intensidade da luz incidente

Transmitância: é a fração de radiação incidente transmitida pelo meio

Estas relações são dadas por:


A = ε.b.C

Onde A é a absorbância (sem unidades, poisA = log10 P0 / P )


ε é a absorbitividade molar em unidades de L mol-1 cm-1
b é o comprimento do caminho da amostra, isto é, o comprimento do caminho que a luz tem que atravessar na cuba ou qualquer
recipiente onde esteja a solução. Esta grandeza tem unidades de comprimento, p. ex. centímetro.

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FÍSICA
C é a concentração do elemento que absorve, na solução, expresssado em mol L-1
A razão pela qual nós preferimos expressar a lei com esta equação é porque a absorbância é diretamente proporcional aos outros pa-
râmetros, desde que sejam dadas as condições experimentais para que a lei seja válida. Por outro lado, nós não iremos tratar dos desvios
desta lei.
Portanto, para uma determinada espessura da solução (l), a absorbância é diretamente proporcional à concentração. A luz escolhida
passa através de uma cubeta de calibre determinado, que contém a solução em estudo e vai incidir sobre uma célula fotoelétrica, a qual
traduz a intensidade luminosa em um sinal elétrico que é detectado por um galvanômetro. A escala do galvanômetro pode ser graduada
de modo a indicar a transmitância ou a absorbância da solução colocada na cubeta. A escala de transmitância vai de 0% (T=0) até 100%
(T=1).

A propriedade que a grande maioria dos compostos químicos possui de absorver especificamente radiações eletromagnéticas é utili-
zada principalmente na fotometria para auxiliar na identificação (pelo λ max e pelo ε) e no cálculo da concentração (pela A) de um deter-
minado soluto em solução.

Emissão de Fluorescência
A fluorescência ocorre em sistemas químicos, gasosos, líquidos e sólidos simples e em sistemas complexos.
O fóton absorvido perde energia por inúmeras vibrações microscópicas,

Para o estudo desse tópico, temos que. Moléculas em seu estado natural, também chamado de estado fundamental, apresentam uma
determinada configuração cuja energia total é a menor possível. Após absorver radiação, a molécula assume uma nova configuração de
maior energia, chamada de estado excitado. Estando no estado excitado, a pode voltar ao estado inicial por diferentes “caminhos”, emitin-
do ou não radiação. O processo de desativação no qual se observa a emissão de fótons provenientes de transições entre estados singletos
é chamado de fluorescência. Na Figura 1 estão ilustrados os processos de absorção e emissão de fluorescência

Figura 1.Processos de absorção e emissão de fluorescência

A absorção de radiação ocorre em tempos da ordem de 10-15 segundos. Após a absorção, vários processos podem ocorrer, uma vez
que é permitido à molécula estar em níveis vibracionais mais altos, em um mesmo nível eletrônico S1 ou S2. Então, passado um tempo da
ordem de 10-12 segundos, a molécula assume um nível vibracional de menor energia, ainda nesse mesmo nível eletrônico, por meio de
um processo chamado de relaxação vibracional. Como o tempo de vida médio de um estado eletrônico excitado é da ordem de 10-8 segun-
dos, tal processo de relaxação interna se completa antes da emissão fluorescente. São possíveis ainda, transições de um nível eletrônico
para outro de menor energia através de processos não radiativos, como colisões com moléculas do solvente. O processo de relaxação entre
níveis eletrônicos excitados é denominado conversão interna. As transições para o estado fundamental (singleto), a partir de um estado
tripleto dão origem ao fenômeno da fosforescência, envolvendo tempos de até milissegundos.

Veja o esquema a seguir para facilitar sua compreensão:

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438
FÍSICA
Fluorescência Atômica ¬Quando um átomo é promovido a um estado excitado, por meio de uma radiação em um determinado
comprimento de onda, a relaxação pode então ocorrer por reemissão de radiação fluorescente de comprimento de onda idêntico. ¬Se os
comprimentos de onda de excitação e de emissão são os mesmos, a emissão resultante é chamada de fluorescência ressonante.
Fluorescência Molecular Relaxação não-radioativa Desativação vibracional ocorre devido a colisões.
Emissão por Fluorescência Estruturas características que diminuam a velocidade dos processos de relaxação não radioativos e que
tenha maior velocidade de relaxação por fluorescência.

A figura 3 a seguir resume os processos de absorção, relaxação e fluorescência.

Figura 3.Processos de absorção, relaxação e fluorescência.

É importante ressaltar sobre o Efeito do Solvente e da Temperatura, onde:


- A eficiência quântica diminui com o aumento da temperatura por causa do aumento da frequência das colisões ocasionando con-
versões externas.
-A fluorescência é diminuída por solventes contendo átomos pesados.

Espectroscopia de UV-Vis
As técnicas de espectrofotometria são muito eficientes e úteis, pois apresenta aplicabilidade ampla, alta sensibilidade, seletividade
entre moderada e alta, baixa exatidão, facilidade e conveniência.
A espectroscopia de absorção de UV-Vis é uma das ferramentas mais utilizadas para análises quantitativas e qualitativas

Espectroscopia de Fluorescência
Muito se tem utilizado a técnica na identificação de derramamentos de petróleo.
São usados também para estudar equilíbrios químicos e cinéticos.
Soluções de pequenas concentrações também são possíveis de serem estudadas através da fluorescência, pois é um método bastante
sensível.

QUESTÕES

1 (INMETRO - Técnico - Biotecnologia CESPE - 2010)


A técnica de imunofluorescência é utilizada, por exemplo, para identificar a distribuição tissular e celular de antígenos. Com relação a
essa técnica, assinale a opção correta.
(A) Por meio dessa técnica, anticorpos ou antígenos são acoplados a um fluorocromo, formando conjugados que, quando excitados
por radiações UV e sob influência de um campo elétrico, promovem a migração de partículas carregadas em um solvente condutor.
(B) A rodamina, que pertence à categoria de corantes fluorescentes, ao acoplar-se aos anticorpos pode modificar a especificidade
destes comprometendo a validade do teste.
(C) Nessa técnica, o anticorpo pode ser radiomarcado e um sistema de detecção é utilizado para identificar o anticorpo ligado.
(D) Por esta técnica, a utilização de anticorpos de diferentes especificidades marcados com fluorocromos contrastantes pode levar à
identificação de componentes diferentes dentro de uma célula, à diferenciação de uma célula de outra ou à localização da distribuição
de antígenos em células ou tecidos.
(E) Na técnica de imunofluorescência direta, é utilizado, por exemplo, um anticorpo não marcado com fluorescência, que tem mais
sítios de ligação que o antígeno, e um anticorpo marcado.

439
FÍSICA
2. ( INMETRO-UnB - CESPE – 2010) Acerca de óptica, física nu- 10. Ondas sonoras e eletromagnéticas são processos ondulató-
clear e eletricidade, assinale a opção correta. rios que têm características comuns entre si, embora representem
(A) Os raios X e as radiações gama são tipos de radiação ele- fenômenos físicos completamente diferentes. Com relação a esses
tromagnética que diferem uma da outra em suas faixas de fre- processos ondulatórios, julgue os itens seguintes. Tanto as ondas
quência e na forma como são geradas: os raios X são gerados eletromagnéticas quanto as ondas sonoras são processos de osci-
em transições eletrônicas e as radiações gama no interior do lação de grandezas físicas escalares, que se propagam no espaço.
núcleo. Entretanto, um fóton de raios X tem a mesma energia ( ) CERTO
de um fóton de radiação gama. ( ) ERRADO
(B) A fusão nuclear é facilitada pela atração eletrostática entre
núcleos atômicos. 11. Ondas sonoras e eletromagnéticas são processos ondulató-
(C) Para uma lupa funcionar, o objeto a ser examinado deve ser rios que têm características comuns entre si, embora representem
posicionado em um ponto além do foco da lente convergente. fenômenos físicos completamente diferentes. Com relação a esses
(D) A luz polarizada é uma onda eletromagnética que tem seu processos ondulatórios, julgue os itens seguintes. Como a velocida-
campo elétrico oscilante em um único plano fixo. de da luz é independente do referencial inercial na qual é medida,
(E) A fissão nuclear do urânio 235 ocorre mais facilmente quan- a luz não sofre o efeito Doppler, como ocorre com a onda sonora.
do sobre ele incide nêutrons de alta energia: quanto maior a ( ) CERTO
energia mais facilmente ocorre a fissão. ( ) ERRADO

3.(TRE-BA - Técnico Judiciário – Saúde Bucal CESPE - 2017) 12. A característica fundamental de uma onda é a transferência
As resinas compostas utilizadas para restaurar elementos den- de energia do local em que está sendo gerada para outras regiões
tários sofrem uma reação quando expostas à luz na região azul do do espaço, sem que haja, nesse processo, transporte de matéria. A
espectro, provocando a interação da sua molécula fotossensível intensidade de uma onda mede a energia radiada. A esse respeito,
com a amina iniciadora. Esse processo é denominado assinale a opção correta.
(A) reação de fotopolimerização. (A) O período de um movimento periódico é definido como o
(B) energia de ativação. intervalo de tempo em que ele se repete.
(C) tomada de presa. (B) Em uma onda periódica, o comprimento de onda é a menor
(D) reação de contração. distância entre os pontos de máximo e mínimo.
(E) contração de polimerização. (C) Se duas emissoras de rádio transmitem ondas em 60 MHz
e 120 MHz, então a relação entre os seus respectivos compri-
4. A lente mais externa de um microscópio de luz é plana. mentos de onda é igual a 4.
( ) CERTO (D) Tanto as ondas luminosas quanto as ondas sonoras neces-
( ) ERRADO sitam de um meio material para se propagar, já que todas as
ondas transportam energia.
5. A imagem do objeto será tão melhor quanto mais próximo (E) As ondas eletromagnéticas são diferenciadas pelas suas am-
do foco exato ele estiver. plitudes.
( ) CERTO
( ) ERRADO 13. A ressonância magnética é um método moderno de diag-
nóstico que fornece imagens em duas ou três dimensões de dife-
6. O poder de ampliação do microscópio de luz é alterado ele- rentes planos do órgão inspecionado, que utiliza um forte campo
tronicamente. magnético e ondas para a obtenção dessas imagens.
( ) CERTO A possibilidade de realizar exames de ressonância magnética,
( ) ERRADO inclusive em gestantes, deve-se ao fato de, além de não serem in-
vasivos, as ondas por eles emitidas terem frequências próximas às
7. Assinale a opção que corresponde a uma grandeza vetorial. das ondas
(A) pressão (A) de rádio.
(B) temperatura (B) de raios X.
(C) quantidade de movimento (C) dos raios gama.
(D) módulo de uma força (D) dos raios ultravioletas.
(E) dos raios cósmicos.
8. A respeito das ondas eletromagnéticas, julgue os próximos
itens. Em uma onda eletromagnética, o campo elétrico e o campo 14. A respeito da Teoria da Blindagem Eletromagnética, analise
magnético oscilam, guardando uma relação fixa entre si. as assertivas abaixo.
( ) CERTO I. Os campos elétricos são mais fáceis de blindar do que os cam-
( ) ERRADO pos magnéticos.
II. Qualquer material é capaz de blindar com efetividade uma
9. Ondas sonoras e eletromagnéticas são processos ondula- região sujeita a ruído eletromagnético.
tórios que têm características comuns entre si, embora represen- III. Compatibilidade eletromagnética é a capacidade que dispo-
tem fenômenos físicos completamente diferentes. Com relação a sitivos elétricos ou eletrônicos apresentam, além de gerarem seus
esses processos ondulatórios, julgue os itens seguintes. Tanto as próprios ruídos, de interagir com ruídos eletromagnéticos de ou-
ondas eletromagnéticas como as ondas sonoras podem apresentar tros aparelhos, mantendo sua performance em níveis aceitáveis de
o fenômeno de refração quando atravessam a fronteira entre dois operação.
meios diferentes.
( ) CERTO
( ) ERRADO

440
440
FÍSICA
É correto o que se afirma em ______________________________________________________
(A I, II e III.
(B) I e II, apenas. ______________________________________________________
(C) II e III, apenas.
(D) I e III, apenas. ______________________________________________________
(E) III, apenas. ______________________________________________________
15. Tendo à disposição, em uma bancada de laboratório, uma ______________________________________________________
bateria, fios de cobre, uma lâmpada e uma bússola, um professor
pode comprovar ______________________________________________________
(A) a lei de Ohm.
(B) o efeito fotoelétrico. ______________________________________________________
(C) a lei de Kirchhoff.
(D) o efeito magnético de correntes. ______________________________________________________

______________________________________________________

GABARITO ______________________________________________________

______________________________________________________
1 D
______________________________________________________
2 D
______________________________________________________
3 A
4 ERRADO ______________________________________________________
5 CERTO ______________________________________________________
6 ERRADO
______________________________________________________
7 C
8 CERTO ______________________________________________________
9 CERTO ______________________________________________________
10 ERRADO
______________________________________________________
11 ERRADO
______________________________________________________
12 A
13 A ______________________________________________________
14 D ______________________________________________________
15 D
______________________________________________________

______________________________________________________
ANOTAÇÕES
______________________________________________________
______________________________________________________ ______________________________________________________
______________________________________________________ ______________________________________________________
______________________________________________________ ______________________________________________________
______________________________________________________ ______________________________________________________
______________________________________________________ ______________________________________________________
______________________________________________________ ______________________________________________________
______________________________________________________ ______________________________________________________
______________________________________________________ ______________________________________________________
______________________________________________________ ______________________________________________________
_____________________________________________________ ______________________________________________________
_____________________________________________________

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FÍSICA
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442
BIOLOGIA

CITOLOGIA. COMPOSIÇÃO QUÍMICA DA MATÉRIA VIVA. ORGANIZAÇÃO CELULAR DAS CÉLULAS EUCARIÓTICAS. ES-
TRUTURA E FUNÇÃO DOS COMPONENTES CITOPLASMÁTICOS. MEMBRANA CELULAR. NÚCLEO. ESTRUTURA, COMPO-
NENTES E FUNÇÕES. DIVISÃO CELULAR (MITOSE E MEIOSE, E SUAS FASES). CITOESQUELETO E MOVIMENTO CELULAR

A CÉLULA - CÉLULA PROCARIOTA E CÉLULA EUCARIOTA. REPRODUÇÃO CELULAR, MITOSE E MEIOSE.


Em 1663, Robert Hooke colocou fragmentos de cortiça sob a lente de um microscópio e, a partir de suas observações, nascia a biologia
celular. Esse ramo da ciência, também conhecido como citologia, tem como objeto de estudo as células, abrangendo a sua estrutura (mor-
fologia ou anatomia) e seu funcionamento (mecanismos internos da célula). A citologia se torna importante por, em conjunto com outras
ferramentas ou não, buscar entender o mecanismo de diversas doenças, auxiliar na classificação dos seres e, também, por ser precursora
ou conhecimento necessário de diversas áreas da atualidade, como a biotecnologia. Por essa razão, diversos conteúdos da biologia celular
estão intimamente relacionados com os da biologia molecular, histologia, entre outras.

Esquema de uma célula animal e suas organelas. Ilustração: master24 / Shutterstock.com [adaptado]

As células são a unidade fundamental da vida. Isso quer dizer que, com a exceção dos vírus, todos os organismos vivos são compostos
por elas. Nesse sentido, podemos classificar os seres vivos pela sua constituição celular ou complexidade estrutural, existindo os unicelula-
res e os pluricelulares. Os organismos unicelulares são todos aqueles que são compostos por uma única célula, enquanto os pluricelulares,
aqueles formados por mais de uma. Com relação a seu tamanho, existem células bem pequenas que são visíveis apenas ao microscópio,
como bactérias e protozoários, e células gigantes visíveis a olho nu, como fibras musculares e algumas algas.
Assim como acontece com o tamanho, as células se apresentam em diversas formas: retangulares, esféricas, estreladas, entre outras.
Isso ocorre porque a forma é um reflexo da função celular exercida, por exemplo, as fibras musculares são afiladas e longas, o que é ade-
quado ao caráter contrátil das mesmas. Entre os diversos tamanhos e formas celulares, basicamente, existem apenas duas classes de célu-
las: as procariontes, nas quais o material genético não é separado do citoplasma, e as eucariontes, cujo núcleo é bem delimitado por um
envoltório nuclear denominado carioteca. Em resumo, pode-se dizer que a diferença entre as classes reside na complexidade das células.
As células procariontes têm poucas membranas, em geral, apenas a que delimita o organismo, denominada de membrana plasmática.
Os seres vivos que possuem esse tipo de célula são chamados de procariotas e o grupo representativo dessa classe é o das bactérias. Já
as células eucariontes são mais complexas e ricas em membranas, existindo duas regiões bem individualizadas, o núcleo e o citoplasma.
Assim, os portadores dessa classe de células são denominados eucariotas, existindo diversos representantes desse grupo, como animais
e plantas, por exemplo.

443
BIOLOGIA
A constituição de cada célula varia bastante de acordo com qual sua classe, tipo e função. Isso ficará mais claro a seguir. Para fins
didáticos, separemos a célula em três partes: membrana plasmática, estruturas externas à membrana e estruturas internas à membrana.
A membrana plasmática ou celular é o envoltório que separa o meio interno e o meio externo das células. Ela está presente em todos os ti-
pos celulares e é formada por fosfolipídios e proteínas. Essa membrana possui uma característica de extrema importância para a manuten-
ção da vida, a permeabilidade seletiva. Isso quer dizer que tudo o que entra ou sai das células depende diretamente da membrana celular.
A estrutura supracitada se trata de algo bastante delicado, por essa razão surgiram estruturas que conferem maior resistência às cé-
lulas: a parede celular, cápsula e o glicocálix. A parede celular é uma camada permeável e semi-rígida, o que confere maior estabilidade
quanto a forma da célula. Sua composição é variada de acordo com o tipo da célula e sua função é relacionada à proteção mecânica. Nesse
sentido, as paredes celulares estão presentes em diversos organismos, como bactérias, plantas, fungos e protozoários.
A cápsula, por sua vez, é um envoltório que ocorre em algumas bactérias, em geral patogênicas, externamente à parede celular. Sua
função também é a defesa, mas, diferentemente da parede celular, essa confere proteção contra a desidratação e, também, se trata de
uma estrutura análoga a um sistema imune. Sob o aspecto morfológico, sua espessura e composição química são variáveis de acordo com
a espécie, se tratando de um polímero orgânico. Já o glicocálix se trata de uma camada formada por glicídios associados, externamente,
à membrana plasmática. Embora não confira rigidez à célula, o glicocálix também tem uma função de resistência. Fora isso, ele confere
capacidade de reconhecimento celular, barrar agentes do meio externo e reter moléculas de importância para célula, como nutrientes.
Com relação à parte interna da membrana celular, existe uma enorme diversidade de estruturas com as mais diferentes funções. Para
facilitar a compreensão, pode-se dividir em citoplasma e material genético, esse que, nos procariotas, está solto no citoplasma. O material
genético é composto de ácidos nucléicos (DNA e RNA) e sua função é comandar a atividade celular. Por ele ser transmitido de célula pro-
genitora para a progênie, é a estrutura responsável pela transmissão das informações hereditárias. Já o citoplasma corresponde a todo o
restante, composto pela matriz citoplasmática ou citosol, depósitos citoplasmáticos e organelas.
O citosol é composto de água, íons, proteínas e diversas outras moléculas importantes para a célula. Por ser aquoso, ele é responsável
por ser o meio em que ocorrem algumas reações e a locomoção dentro da célula. Quanto aos depósitos, esses são as concentrações de
diversas substâncias soltas no citosol. A importância dessas estruturas tem relação com a reserva de nutrientes ou pigmentos.
Por fim, as organelas não possuem conceituação bem definida, mas, grosso modo, são todas as estruturas internas com funções defi-
nidas, como ribossomos, mitocôndrias, complexo de Golgi, retículos endoplasmáticos, entre outros. Suas funções variam desde a síntese
protéica até a respiração celular.
Enfim, a citologia é uma extensa área da biologia que se comunica com outras disciplinas para concatenar os conhecimentos a fim de
utilizá-los nas ciências aplicadas, como ocorre na terapia gênica ou engenharia genética, por exemplo.

Organização Celular

Organização celular dos seres vivos.


As células são as unidades básicas da vida; pequenas máquinas que facilitam e sustentam cada processo dentro de um organismo vivo.
As células musculares se contraem para manter um batimento cardíaco e nos permitem mover-se, os neurônios formam redes que dão
origem a memórias e permitem processos de pensamento. As células epiteliais providenciam para formar barreiras superficiais entre os
tecidos e as muitas cavidades em todo o corpo.
Não só os diferentes tipos de células facilitam funções únicas, mas suas composições moleculares, genéticas e estruturais também
podem diferir. Por esse motivo, diferentes tipos de células geralmente possuem variações no fenótipo, como o tamanho e a forma das
células. Na imagem abaixo você pode ver diferentes tipos celulares dos seres humanos.

A função de uma célula é alcançada através do ponto culminante de centenas de processos menores, muitos dos quais são depen-
dentes uns dos outros e compartilham proteínas ou componentes moleculares. Apesar das variações fenotípicas e funcionais que existem
entre os tipos de células, é verdade que existe um alto nível de similaridade ao explorar os processos subcelulares, os componentes envol-
vidos e, principalmente, a organização desses componentes.

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BIOLOGIA
Com a maioria dos processos subcelulares sob controle regulatório preciso de outros processos subcelulares, e com componentes ge-
ralmente compartilhados entre diferentes caminhos moleculares e cascatas protéicas, a organização celular é de grande importância. Isso
é verdade para cada tipo de célula, com compartimentação de processos subcelulares, e localização de proteínas, recrutamento e entrega,
garantindo que sejam constantemente repetidos de forma eficiente e com resultados precisos.
A nível básico, as células eucarióticas podem ser descritas como contendo três regiões sub-celulares distintas; nomeadamente a
membrana , o citosol e o núcleo . Contudo, a compartimentação celular é ainda mais complicada pela abundância de organelas específicas.
Apesar de ter apenas vários nanômetros de largura, as membranas celulares são altamente enriquecidas em receptores de sinali-
zação, proteínas transmembranares, bombas e canais e, dependendo da maquiagem, podem recrutar e reter um conjunto de proteínas
importantes no campo da mecanobiologia. Em muitos casos, esses proteínas interagem com o citoesqueleto , que reside na proximidade
da membrana. O citosol, por outro lado, abriga organelas celulares, incluindo o complexo golgiense, o retículo endoplasmático (RE), ribos-
somos e numerosas vesículas e vacúolos. Podem existir proteínas solúveis nesta região. Enquanto isso, o núcleo abriga o material genético
e todos os componentes relacionados à sua expressão e regulação. Embora os processos do núcleo não estejam tão bem estabelecidos em
termos de seu papel na mecanobiologia , os achados recentes indicam várias conexões importantes, muitas vezes com as vias de sinaliza-
ção de mecanotransdução que culminam em alterações na expressão gênica.

Cada uma dessas regiões sub-celulares deve funcionar de forma coerente para a sobrevivência e o funcionamento eficiente da célula.
A organização adequada de organelas, proteínas e outras moléculas em cada região permite que os componentes de proteínas individuais
funcionem de forma concertada, gerando efetivamente processos subcelulares individuais que culminam em uma função celular global.

Compartimentalização em células
As células não são uma mistura amorfa de proteínas, lipídios e outras moléculas. Em vez disso, todas as células são constituídas por
compartimentos bem definidos, cada um especializado em uma função particular. Em muitos casos, os processos subcelulares podem ser
descritos com base na ocorrência na membrana plasmática , no citosol ou dentro de organelas ligadas à membrana, como o núcleo, o
aparelho de Golgiense ou mesmo os componentes vesiculares do sistema de tráfico de membrana , como os lisossomos e os endossomas.

A compartimentação aumenta a eficiência de muitos processos subcelulares concentrando os componentes necessários em um es-
paço confinado dentro da célula. Quando uma condição específica é necessária para facilitar um determinado processo subcelular, isso
pode ser localmente contido de modo a não interromper a função de outros compartimentos subcelulares. Por exemplo, os lisossomos
requerem um pH mais baixo para facilitar a degradação do material internalizado. As bombas de protões ligadas à membrana presentes
no lipossoma mantém esta condição. Da mesma forma, uma grande área de superfície da membrana é requerida pelas mitocôndrias para
gerar eficientemente ATP a partir de gradientes de elétrons em sua bicamada lipídica. Isto é conseguido através da composição estrutural
deste organelo particular.
Importante, organelas individuais podem ser transportadas por toda a célula e isso localiza essencialmente todo o processo subcelular
para regiões onde são necessárias. Isso foi observado em neurônios, que possuem processos axonais extremamente longos e requerem
mitocôndrias para gerar ATP em vários locais ao longo do axônio. Seria ineficiente confiar na difusão passiva do ATP ao longo do axônio.
A compartimentação também pode ter importantes implicações fisiológicas. Por exemplo, as células epiteliais polarizadas , que pos-
suem membranas apicais e basolaterais distintas, podem, por exemplo, produzir uma superfície secretora para várias glândulas. Da mesma
forma, as células neuronais desenvolvem redes efetivas devido à produção de dendritos e processos axonais a partir de extremidades
opostas do corpo celular. Além disso, no caso de células estaminais embrionárias, a polarização celular pode resultar em destinos distintos
das células filhas.
Com cada organela facilitando sua própria função, eles podem ser considerados compartimentos subcelulares por direito próprio. No
entanto, sem um fornecimento regular de componentes para o compartimento, os processos e mecanismos que produzem sua função
geral serão impedidos.

445
BIOLOGIA
Com muitas proteínas e componentes moleculares que partici- Em outros casos, as proteínas podem transportar um remendo
pam em múltiplos processos subcelulares e, portanto, exigidos em de sinal. Isso geralmente consiste em cerca de 30 aminoácidos que
vários compartimentos subcelulares, o transporte efetivo da pro- não estão presentes em uma sequência linear, mas estão em proxi-
teína e dos componentes moleculares, seja por difusão passiva ou midade espacial próxima no espaço tridimensional.
recrutamento direcionado, é essencial para a função geral da célula. Curiosamente, a organização de uma célula e suas várias regi-
Em seres eucariontes, a síntese de DNA, RNA, proteínas e lipí- ões desempenham um papel na direção do recrutamento de prote-
dios é realizada de forma espaciotemporal. Cada molécula é pro- ínas para um determinado site. Por exemplo, nas células epiteliais,
duzida dentro de organelas ou compartimentos especializados com que são polarizadas, a composição proteica na membrana apical é
mecanismos regulatórios rígidos existentes para controlar o tempo muito diferente daquela na membrana basolateral. Isto é conse-
ea taxa de síntese. Esses mecanismos regulatórios são complicados guido através do reconhecimento de sequências de sinais distintas
e podem envolver loops de feedback, estímulos externos e uma que visam proteínas para cada uma dessas regiões. Por exemplo, as
multiplicidade de caminhos de sinalização. proteínas da membrana apical são muitas vezes ancoradas ao GPI
DNA e RNA são ambos produzidos dentro do núcleo. O DNA é , enquanto que as proteínas basolaterais possuem sequências de
inteiramente replicado durante a fase s do ciclo celular. Uma cópia assinaturas baseadas em aminoácidos diLeu (N, N-Dimetil Leucina)
é então passada para cada uma das células filhas. Durante outras ou tirosina com base em aminoácidos.
fases do ciclo celular, uma quantidade mínima de DNA é sintetizada,
principalmente para o reparo do material genético. Entrega Direta de Componentes
Embora uma taxa basal de síntese de RNA mantenha a síntese A localização das proteínas pode resultar do reconhecimento
de mRNA ao longo da vida da célula, o mRNA para genes específicos de proteínas ou complexos solúveis de difusão passiva; No entanto,
só pode ser expresso ou pode ser regulado ou regulado por baixo, isso pode não garantir uma concentração suficiente de componen-
após a detecção de certos sinais mecânicos ou químicos. Como re- tes para manter um determinado processo. Isso pode impedir a sua
sultado, diferentes células têm diferentes perfis de mRNA, e isso conclusão, particularmente quando realizada em regiões com um
geralmente é observado através do uso de tecnologias que exibem volume citoplasmático limitado, como a ponta de um filopodia , ou
os perfis genéticos das células. quando os componentes são rapidamente transferidos.
Depois de ser processado e modificado no núcleo, o mRNA Uma maneira mais eficiente de manter a concentração de com-
transcrito é entregue ao citosol para tradução ou síntese proteica. ponentes protéicos é por meio de sua entrega dirigida através da
Semelhante à síntese de RNA, um nível básico de síntese de prote- rede do citoesqueleto.
ína é mantido durante toda a vida da célula, porém isso também O citoesqueleto, composto por filamentos de actina e microtú-
pode ser alterado quando determinados estímulos induzem a pro- bulos , abrange toda a célula e conecta a membrana plasmática ao
dução de proteínas específicas, ou quando mecanismos regulató- núcleo e outras organelas. Esses filamentos realizam muitos propó-
rios reduzem a produção de outros. sitos, desde o suporte estrutural até a célula, para gerar as forças
Por exemplo, a síntese de proteínas é regulada para cima du- necessárias para a translocação celular. Eles também podem servir
rante a fase G1 do ciclo celular, imediatamente antes da fase S. Isto como “trilhas” nas quais as proteínas motoras podem transladar
é para garantir que a célula tenha uma concentração suficiente da enquanto transportam carga de um local para outro; análogo a um
maquinaria protéica necessária para realizar a replicação do DNA e trem de carga que transporta carga ao longo de uma rede de trilhos
a divisão celular. ferroviários.
Nos procariontes, onde não há compartimentos separados, A entrega de componentes é principalmente facilitada por mo-
tanto a transcrição quanto a tradução ocorrem simultaneamente. tores moleculares com ATP / GTP, como miosina V ou miosina X ,
Os lipídios, que são sintetizados no retículo endoplasmático (RE) ou Cinesina ou Dineína . Essas proteínas ou homólogos deles foram
no complexo golgiensei, são transportados para outras organelas observados em uma grande quantidade de tipos celulares, incluin-
sob a forma de vesículas que se fundem com a organela aceitado- do leveduras, célula vegetal e célula animal. Os motores molecula-
ra. Algumas células também podem usar proteínas transportadoras res dineína e cinesina caminham sobre os microtúbulos enquanto a
para transportar lipídios de um local para outro. A síntese lipídica miosina caminha nos filamentos de actina. Imperativamente, esses
também é dinâmica, e pode ser regulada até a proliferação celular motores caminham de maneira unidirecional, embora não necessa-
ou durante processos que envolvem a extensão da membrana plas- riamente na mesma direção uns dos outros.
mática , quando novas membranas são necessárias. O transporte baseado em microtúbulos foi estudado principal-
mente em células neuronais. Os exons podem ter vários mícrons
Localização de Proteínas de comprimento (às vezes até mesmo medidores de comprimen-
Para que os processos celulares sejam realizados dentro de to), por isso é necessário transportar proteínas, lipídios, vesículas
compartimentos definidos ou regiões celulares, devem existir me- sinápticas, mitocôndrias e outros componentes ao longo do axônio.
canismos para garantir que os componentes proteicos necessários Todos os microtúbulos nos axônios são unidirecionais, com extre-
estejam presentes nos locais e a uma concentração adequada. A midades “menos” que apontam para o corpo da célula e ‘mais’ que
acumulação de uma proteína em um determinado local é conheci- apontam para a sinapse. Os motores Kinesin se movem ao longo
da como localização de proteínas. dessas trilhas para transportar a carga do corpo da célula para o
O recrutamento de proteínas é essencialmente uma forma de axônio. A interrupção do transporte de carga mediada por cinesina
reconhecimento de proteínas, possibilitado pela presença de se- está correlacionada com várias doenças neuro-musculares, como
quências específicas de aminoácidos dentro da estrutura protéica. a atrofia muscular espinhal e a atrofia muscular espinhal e bulbar .
Por exemplo, muitas proteínas ligadas à membrana possuem pépti- Dynein , por outro lado, desempenha um papel importante no trá-
dos de sinal que são reconhecidos pelos receptores de sinal que os fico de carga em dendritos.
orientam para o site alvo. O sinal de localização nuclear é um desses
exemplos. As proteínas que são destinadas ao retículo endoplasmá- Caminhos de comunicação
tico também possuem um péptido sinal. Com diferentes processos sendo realizados em compartimen-
tos subcelulares separados, organizados em diferentes regiões da
célula, a comunicação intracelular é primordial. Essa comunicação,

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BIOLOGIA
que é descrita em maior detalhe sob ” sinalização celular “, permite Na mitose, as células-filhas apresentam a mesma quantidade
às células manter a concentração de proteínas específicas e dentro de material genético que a célula-mãe, diferentemente da meiose.
das regiões corretas, dependendo dos requisitos de um determi- Na mitose, vemos ainda a formação de duas células-filhas; já na
nado processo ou estado celular. Isso, em última instância, garante meiose, quatro. Além de todas essas diferenças, a mitose e a meio-
que os compartimentos individuais funcionem de forma eficiente e se diferenciam-se também no que diz respeito às etapas do pro-
permite que um processo subcelular conduza outro. Isso, em última cesso de divisão e à função que elas desempenham no organismo.
instância, permite que uma célula facilite suas funções primárias de
forma eficiente e coerente. Tabela comparativa entre mitose e meiose
As vias de sinalização podem conter um sinal que se origina Veja a seguir um quadro comparativo com as principais diferen-
de fora de uma célula ou de vários compartimentos e geralmente ças entre a meiose e mitose:
envolve a translocação de íons, solutos, proteínas e mensageiros
secundários.
Todas as células possuem receptores de superfície e outras pro-
teínas para facilitar a detecção de sinais do ambiente extracelular.
Esses sinais podem ser na forma de íons, moléculas pequenas,
péptidos, tensão de cisalhamento, forças mecânicas, calor, etc.
Uma vez que o sinal é detectado pelo receptor de superfície, ele é
transmitido ao citoplasma geralmente por meio de mudança con-
formacional no receptor ou mudança no seu estado de fosforilação
no lado citosólico. Isso, por sua vez, desencadeia uma cascata de
sinalização a jusante, que muitas vezes culmina no núcleo. O sinal
geralmente resulta em mudança no perfil de expressão gênica das
células, auxiliando-as a responder ao estímulo.

Reprodução Celular
A maioria das células humanas são frequentemente reproduzi-
do e substituídos durante a vida de um indivíduo. Mitose
No entanto, o processo varia com o tipo de célula Somática ou A mitose é um processo de divisão celular que forma duas célu-
células do corpo, tais como aqueles que constituem a pele, cabelo, las-filhas, cada uma com o mesmo número de cromossomos que a
e músculo, são duplicados por mitose. célula-mãe. Esse processo está relacionado, em plantas e animais,
O células sexuais, os espermatozóides e óvulos, são produzidos com o desenvolvimento dos organismos, cicatrização e crescimen-
por meiose em tecidos especiais dos testículos e ovários das fême- to.
as Uma vez que a grande maioria das nossas células são somática, a As etapas da mitose são prófase, prometáfase, metáfase,
mitose é a forma mais comum de replicação celular. anáfase e telófase. Ao fim da telófase, observa-se a ocorrência da
citocinese, ou seja, a divisão do citoplasma da célula, gerando duas
Mitose e meiose células-filhas. Vale destacar que essas etapas variam de um autor
As principais diferenças entre a mitose e a meiose estão no nú- para outro. A prometáfase, por exemplo, não é descrita por todos
mero de células-filhas formadas e no número de cromossomos que os autores.
elas apresentam.

A mitose e a meiose são processos de divisão celular.

A diferença entre mitose e meiose está no fato de que, apesar Observe atentamente as etapas da mitose
de serem processos de divisão celular, elas geram um número dife-
rente de células-filhas, as quais também possuem uma quantida- → Fases da mitose
de distinta de cromossomos. • Prófase: inicia-se logo após a interfase, uma longa etapa
na qual ocorrem aumento da célula, produção de organelas e a du-
plicação dos cromossomos.

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BIOLOGIA
• Na prófase, os cromossomos aumentam sua condensação, fuso e a movimentação do centrossomo. Podemos dividir a prófase
e o nucléolo, local onde os ribossomos são formados, desaparece. I em cinco subetapas, as quais são meramente didáticas, ou seja,
Inicia-se ainda a formação do fuso mitótico (estrutura constituída servem para auxiliar o entendimento do processo. São elas:
por microtúbulos), e os centrossomos (região onde são organizados - Leptóteno: inicia-se uma maior compactação dos cromosso-
os microtúbulos) afastam-se. mos.
• Prometáfase: ocorre a desintegração do envoltório nucle- - Zigoteno: ocorre a sinapse (aproximação dos cromossomos
ar, também chamado de carioteca. Os microtúbulos que partem do homólogos).
centrossomo ligam-se ao cinetócoro (estrutura proteica localizada - Paquiteno: formação da tétrade ou bivalente. O termo tétra-
no centrômero) dos cromossomos. Os cromossomos continuam de indica que os dois cromossomos homólogos emparelhados pos-
sua condensação. suem quatro cromátides. Já o termo bivalente é usado em referên-
• Metáfase: os cromossomos atingem seu maior grau de cia a dois cromossomos homólogos ou emparelhados. Nessa fase,
condensação. Os centrossomos estão em lados opostos da célula, verificam-se quebras nas cromátides seguidas por soldaduras, que
e os cromossomos estão organizados na região mediana da célula muitas vezes ocorrem em posições diferentes das originais. Esse fe-
(placa metafásica). nômeno é chamado de crossing-over.
• Anáfase: na fase mais curta do processo de mitose, ocor- - Diploteno: inicia-se a separação dos homólogos e é possível
rem a separação das cromátides irmãs e a migração em direção aos perceber que suas cromátides cruzam-se em alguns pontos (quias-
polos das células. A célula alonga-se e, no final dessa etapa, temos mas).
dois polos com a quantidade completa de cromossomos. - Diacinese: os homólogos separam-se, e a prófase I é finali-
• Telófase: formam-se novos núcleos e os envelopes nucle- zada.
ares. O nucléolo reaparece, e os cromossomos ficam menos con- • Metáfase I: os pares de cromossomos homólogos estão
densados. Normalmente, no final dessa etapa, ocorre a citocinese, dispostos na placa metafásica. Nessa etapa, as duas cromátides
que nada mais é do que a divisão da célula em duas. de um homólogo estão ligadas aos microtúbulos de um polo, e as
cromátides do outro homólogo estão presas aos microtúbulos do
Meiose outro polo.
A meiose é um processo de divisão celular que gera quatro cé- • Anáfase I: cromossomos homólogos separam-se e mo-
lulas-filhas, cada uma com metade do número de cromossomos da vem-se em direção aos polos opostos.
célula-mãe. Esse processo de divisão é responsável pela formação • Telófase I: os cromossomos estão separados em dois gru-
de gametas. É fundamental que os gametas possuam metade do pos em cada polo. Ao final dessa fase, a citocinese ocorre, e o cito-
número de cromossomos da espécie, pois, dessa forma, no mo- plasma da célula é dividido, formando duas células-filhas.
mento da fecundação, haverá o restabelecimento do número de
cromossomos da espécie. MEIOSE II
A meiose caracteriza-se por dois processos de divisão celular:
a meiose I e meiose II. Na meiose I, temos a prófase I, metáfase I,
anáfase I, telófase I. Já na meiose II, temos a prófase II, metáfase II,
anáfase II e telófase II.

→ Fases da meiose

Observe atentamente as etapas da meiose II.

• Prófase II: é a primeira etapa da segunda divisão da meio-


se e inicia-se nas duas células-filhas formadas na meiose I. Nessa
Observe atentamente as etapas da meiose I. etapa, as fibras do fuso são formadas e inicia-se a movimentação
dos cromossomos para a placa metafásica.
• Prófase I: assim como a prófase da mitose, inicia-se após • Metáfase II: os cromossomos estão posicionados na placa
a fase de interfase, na qual ocorrem o aumento da célula e a du- metafásica.
plicação dos cromossomos. Na prófase I, iniciam-se a condensação • Anáfase II: as cromátides irmãs separam-se e movem-se
dos cromossomos, a destruição do envelope nuclear, a formação do em direção aos polos.

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BIOLOGIA
• Telófase II: o núcleo forma-se novamente com a reorganização do envoltório nuclear. Os cromossomos começam a se descon-
densar. A citocinese ocorre, e a célula divide-se em duas. Como as duas células-filhas formadas na meiose I entram em meiose II, no final
do processo, temos quatro células-filhas.

Componentes Orgânicos e Inorgânicos


A célula é constituída por varias substâncias e elas podem ser inorgânicas (como a água e os sais minerais) que constituem moléculas
simples e pequenas e são encontradas livres na natureza ou fazendo parte de um organismo, ou podem ser orgânicos (carboidratos, lipí-
deos, proteínas) que constituem grandes e complexas moléculas que, obrigatoriamente, possuem em sua composição o elemento químico
carbono (C) e são encontradas em todos os seres vivos.

Componentes Inorgânicos
Água - Recobrindo 3/4 da superfície da terrestre, a água é a substância química mais abundante em nosso planeta. As principais
funções da água no nosso planeta são:
A água é uma substância química cujas moléculas são formadas por dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio e é uma substância
abundante na Terra. A água possui uma série de características peculiares, como sua dilatação anômala e a capacidade de dissolver um
grande número de substâncias.
- Dispersar substâncias: ela dispersa substâncias orgânicas ou inorgânicas. Todas as reações químicas da natureza biológica ocorrem
em estado de solução.
- Transportar substâncias: tanto de dentro pra fora como de fora pra dentro, as moléculas se difundem na água e por elas são trans-
portadas.
- Equilíbrio térmico: o excesso de calor pode ser dissipado pelo suor, ajudando na manutenção da temperatura interna de um ser
homeotérmico.
- Lubrificar: ajuda a diminuir o atrito entre os ossos (nas articulações), por exemplo.

Sais Minerais
Os sais minerais são elementos químicos em forma de ions. Eles são necessários ao corpo por serem responsáveis pelo bom funciona-
mento do metabolismo, ou seja, as trocas de substâncias contidas nas células dos seres vivos. Sem o bom funcionamento do metabolismo,
o corpo não reage de forma eficiente no combate às doenças e a cicatrização dos ferimentos.
Alguns exemplos: Ferro, fósforo, magnésio, zinco, potássio, sódio e flúor.
- Solúvel: dissolvido em água forma de íons, como o potássio (K+), o sódio (Na+) e o cloro (Cl-), participam do controle osmótico (en-
trada e saída de H2O nas células) e também contribuem para a passagem dos impulsos nervosos nos neurônios.
- Insolúvel - encontra-se imobilizado, como os fosfatos de cálcio que fazem parte da estrutura esquelética dos vertebrados, da casca
de ovo, do exoesqueleto ou carapaça de insetos, crustáceos, etc., conferindo maior rigidez aos órgãos em que se encontram.

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BIOLOGIA
Componentes Orgânicos - Fosfolipídeos -  presentes na composição química das mem-
branas celulares dos animais e vegetais.
Glicídios ou Carboidratos - Esteroides -  o mais conhecido é o colesterol. Produzido pe-
Também conhecidos como açucares, os glicídios são os grandes los animais, faz parte da composição química de suas membranas
fornecedores imediatos de energia para os seres vivos. São fabri- celulares e é precursor de alguns hormônios, como a testosterona
cados pelas plantas no processo da fotossíntese e apresentam em (hormônio masculino) e a progesterona (hormônio feminino).
suas moléculas átomos de carbono (C), hidrogênio (H) e oxigênio
(O). Proteínas
Além de fornecedores de energia, os glicídios possuem tam- São os compostos orgânicos presentes em maior percentual no
bém função estrutural, como a celulose, encontrada no revestimen- organismo dos seres vivos, inclusive nos vírus, que são desprovidos
to das células vegetais, na constituição dos ácidos nucleicos (mate- de estrutura celular. As proteínas são macromoléculas resultantes
rial genético). de uma sequencia de ligações entre moléculas menores, denomi-
nadas aminoácidos.
Os glicídios são classificados em três grupos   
Monossacarídeos - são os açucares mais simples, formados por As principais funções das proteínas são:
pequenas moléculas que não se dividem na presença de água, por- - Função construtora: atua como suporte mecânico para células
tanto, não sofrem hidrólise. O exemplo mais comum encontrou nos e tecidos, fazendo parte, juntamente com os lipídeos, da compo-
organismos vivos são: glicose (produzido pelos vegetais na fotossín- sição das membranas celulares. Exemplo: Colágeno, proteína que
tese), frutose (encontrado nas frutas doces), galactose (encontrado confere resistência as células da pele, dos tendões e das cartilagens.
no leite),  ribose e desoxirribose  (componentes dos ácidos nuclei- - Função motora: Permite os movimentos em células e tecidos.
cos). Exemplo: a miosina, proteína que confere elasticidade aos múscu-
Dissacarídeos- são glicídios constituídos pela união de dois mo- los; a cinesina, proteína que interage com os microtúbulos, permi-
nossacarídeos. Quando ingerimos dissacarídeos ou polissacarídeos, tindo a movimentação das organelas no interior das células.
nosso sistema digestório os transforma em monossacarídeos para - Função de transporte: Transporta pequenas moléculas no in-
que estes possam fornecer energia para a célula. Todos os dissaca- terior do organismo. Na circulação a proteína albumina transporta
rídeos têm função energética e os principais são: lipídeos, e a proteína hemoglobina transporta oxigênio.
- Sacarose: glicose + frutose. Suas principais fontes são: a cana- - Função de armazenamento: Responsável pelo armazenamen-
-de-açúcar e beterraba. to de pequenas moléculas. O ferro é armazenado no fígado, ligado
- Lactose: glicose + galactose. Sua principal fonte é o leite. à proteína ferritina.
- Maltose: glicose + glicose. Suas principais fontes são: raízes, - Função de defesa:  Antígenos são substâncias estranhas ao
caule, folhas dos vegetais. nosso organismo. A presença de um antígeno no organismo induz o
- Polissacarídeo -  os polissacarídeos são moléculas gran- sistema imunológico a produzir proteínas de defesa, denominadas
des,  constituídas  por ligação de muitos monossacarídeos. Os po- anticorpos.
lissacarídeos não são solúveis em água, em alguns são reservas de - Função hormonal:  Alguns hormônios são de origem protei-
energia, como o amido, outros fazem parte da estrutura esqueléti- ca. Por exemplo, a insulina, hormônio produzido no pâncreas, cuja
ca da célula vegetal, como a celulose. Os principais polissacarídeos função é de controlar a manutenção da taxa de açúcar no sangue.
são: - Função energética: As proteínas são fontes de aminoácidos,
- Amido: formado por inúmeras moléculas de glicose, é encon- que, uma vez oxidados no organismo, liberam energia, principal-
trado nos vegetais e funciona como reserva de energia. mente no processo de respiração.
- Celulose:  formado por inúmeras glicoses, reveste externa- - Função enzimática:  Dentro das células ocorrem muitas rea-
mente as células vegetais, funcionando como reforço esquelético. ções químicas. Para que elas aconteçam é necessário energia. Em
- Glicogênio - formado por inúmeras glicoses, é encontrado nos alguns casos, não há energia suficiente para a ocorrência da reação
animais e funciona como reserva de energia. química e se faz necessária a presença de um catalisador (substân-
cia que desencadeia ou acelera reações químicas). Os catalisadores
Lipídios das células são um tipo de proteína especial chamada enzima. As
 Substâncias orgânicas de origem animal ou vegetal, mais co- atividades enzimáticas dependem da temperatura e do pH.
nhecidos como óleos, gordura e cera. Alguns tipos de lipídeos fun-
cionam como reservatório de energia, outros entram na composi-
ção das membranas celulares ou ainda formam hormônios.
Os lipídeos possuem como característica comum o fato de se-
rem insolúveis em água e solúveis em solventes orgânicos como
éter, o álcool e a benzina.

Os lipídeos são classificados em três grupos:


- Glicerídeos: são lipídeos simples. Compreendem os óleos, as
gorduras e as ceras, podendo ter origem animal ou vegetal. As gor-
duras são reservatórios de energia e também isolantes térmicos,
principalmente para os animais de regiões frias. Os óleos presentes
na semente de girassol, da soja e do amendoim, por exemplo, são
fonte de energia para o embrião das sementes germinar. As ceras
impermeabilizam as folhas de muitas plantas e são fabricadas pelas
abelhas, que constroem os favos de mel.

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BIOLOGIA
 Analisando o gráfico verifica-se que a 0 ºC de temperatura as enzimas encontram-se pouco ativas. À medida que aumenta a tempera-
tura, a atividade enzimática também aumenta, chegando ao ponto ótimo em 1.0. Acima disso, a atividade enzimática vai diminuindo, até
que ocorre a desnaturação da enzima (o calor provoca mudanças espaciais na proteína, o que provoca a perda de sua função). Quanto ao
nível de pH (nível de ácido do meio), cada enzima atua em um específico. Exemplo: pepsina - enzima do suco estomacal - é ativada somen-
te em pH ácido, ou seja, em volta de 2; a ptialina - enzima da saliva - é ativada somente em pH neutro, ou seja, por volta de 7.

Atuação enzimática ou modelo chave-fechadura


Cada tipo de enzima consegue catalizar um único tipo de substrato (substância reagente). O encaixe da enzima no substrato asse-
melha-se ao sistema chave-fechadura. Após a ocorrência da reação, as enzimas deixam o substrato intacto, podendo atuar em outros
substratos.

Vitaminas
São substâncias orgânicas sintetizadas pelos vegetais e por alguns seres unicelulares que funcionam como ativadores das enzimas. As
vitaminas diferem entre si na composição química, formando um grupo heterogêneo.
As vitaminas são compostos orgânicos, presentes nos alimentos, essenciais para o funcionamento normal do metabolismo, e em caso
de falta pode levar a doenças. Não são produzidas pelo organismo, devendo obrigatoriamente ser obtidas na dieta.
A disfunção de vitaminas no corpo é chamada de hipovitaminose, hipervitaminose e avitaminose. Atualmente é reconhecido que os
seres humanos necessitam de 13 vitaminas diferentes, sendo que o nosso corpo só consegue produzir vitamina D;
Vitaminas lipossolúveis - são as vitaminas solúveis em lipídios e não solúveis em água. Para serem absorvidas, é necessária a presença
de lipídios, além de bile e suco pancreático. Após a absorção no intestino, elas são transportadas através do sistema linfático até aos teci-
dos onde serão armazenadas;
Vitaminas hidrossolúveis - são vitaminas solúveis em água. São absorvidas pelo intestino e transportadas pelo sistema circulatório até
os tecidos em que serão utilizadas. O organismo somente usa o necessário, eliminando o excesso. Elas não se acumulam no corpo, ou seja,
não permanece no nosso organismo por muito tempo, sendo assim, excretada pelo organismo através da urina.

Lipossolúveis, que são: A, D e K;


Hidrossolúveis que são: C, e o complexo B (B1, B2, B3, B6 e B12).

Enzimas
Enzimas são moléculas orgânicas de natureza proteica e agem nas reações químicas das células como catalisadoras, ou seja, aceleram
a velocidade dos processos sem alterá-los. Geralmente são os catalisadores mais eficazes, por sua alta especificidade. Sua estrutura qua-
ternária é quem determinará sua função, a que substrato ela se acoplará para acelerar determinada reação.
Nosso corpo é mantido vivo por uma série de reações químicas em cadeia, que chamamos de vias metabólicas, nas quais o produto
de uma reação serve como reagente posteriormente. Todas as fases de uma via metabólica são mediadas por enzimas.
Quase todas as enzimas são de origem proteica, com exceção de algumas RNA catalíticas. Algumas funcionam sem adição de nenhu-
ma outra molécula à sua cadeia polipeptídica, outras necessitam se ligarem a outro grupo, que chamamos de cofator, íons inorgânicos, ou
a um grupo de moléculas orgânicas que chamamos de coenzima (ácido fólico, vitaminas, por exemplo). Em alguns casos, ela pode se ligar
aos dois tipos e em outros podem sofrer alterações por processos como a glicosilação ou fosforilação.

Esquema de funcionamento de uma enzima.

Cada enzima é única para uma determinada reação. Para seu funcionamento eficaz, deve ter sua estrutura tridimensional conservada
(terciária e quaternária). Ela possui uma região específica de ligação ao substrato chamada de sítio ativo, a conformação desta região forma
um encaixe perfeito e único entre determinada enzima e um substrato, normalmente por ligações covalentes transitórias. Ao terminar a
reação ela se solta do substrato e continua perfeita, em sua forma, para novas atividades. Como toda proteína, ela pode se desnaturar em
algumas condições, como em altas temperaturas, variação extrema de pH, perdendo assim sua função. Como toda proteína, elas precisam
de uma temperatura e pH ideal para serem ativas nas reações.
A enzima age na variação de entropia da reação, direcionando o substrato para que ele não colida de forma aleatória, aumentando a
eficiência da reação.
Ela também diminui a energia de ativação, sem alterar o equilíbrio desta. A regulação da atividade enzimática pode ser controlada
pela própria célula, na codificação de proteínas, como por ela mesma, variando de acordo com alguma molécula que se liga a ela.

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BIOLOGIA
Estrutura
Como vimos, os ácidos nucleicos são formados por nucleotíde-
os, os quais apresentam três componentes básicos: um grupo fosfa-
to, uma pentose e uma base nitrogenada.

Estrutura do nucleotídeo
Energia de ativação Os nucleotídeos unem-se através de ligações fosfodiéster entre
No feedback negativo, o produto de uma via metabólica se liga o açúcar e o grupo fosfato. A pentose é um açúcar com cinco carbo-
a um sítio da enzima que está catalisando tal reação, inibindo-a. nos, a do DNA é chamada de desoxirribose, enquanto a do RNA de-
Cada vez que aumenta a quantidade do substrato, ele se liga à enzi- nomina-se ribose.
ma e diminui a velocidade da reação. O inverso pode ocorrer, quan-
do o produto se liga a um sítio da enzima estimulando-a, por con-
seguinte aumenta a velocidade da reação. Chamamos de feedback
positivo. Esse tipo de interação muda a conformação da proteína
e altera as ligações entre ela e o substrato. Quem sofre este tipo
de alteração, podendo ter duas conformações e sua atividade mo-
dulada são as enzimas alostéricas. Existem outras formas da célula
regular a atividade enzimática, como a fosforilação e a glicosilação
de alguns aminoácidos.

Ácidos Nucléicos
Os ácidos nucleicos são macromoléculas constituídas por nu-
cleotídeos e que formam dois importantes componentes das célu-
las, o DNA e o RNA.
Eles recebem essa denominação pelo fato de possuírem cará-
ter ácido e por serem encontrados no núcleo da célula.
Os ácidos nucleicos são essenciais para todas as células, pois é
a partir das moléculas de DNA e RNA que são sintetizadas as pro-
teínas, as células se multiplicam e ainda ocorre o mecanismo de
transmissão das características hereditárias.
Além disso, os nucleotídeos são importantes em diversos pro-
cessos, como a síntese de alguns carboidratos e lipídios e a regula-
ção do metabolismo intermediário, ativando ou inibindo enzimas. Estrutura das pentoses
Quando existe apenas uma base nitrogenada ligada a um car-
boidrato do grupo das pentoses, forma-se um nucleosídeo. Graças
à adição do grupo fosfato aos nucleosídeos, as moléculas passam a
ter cargas negativas e tornam-se nucleotídios, apresentando o ca-
ráter ácido.
As bases nitrogenadas são estruturas cíclicas e existem em dois
tipos: as púricas e as pirimídicas. Tanto o DNA como o RNA pos-
suem as mesmas purinas: a adenina (A) e a guanina (G). A mudança
ocorre em relação às pirimidinas, a citosina (C) é comum entre os
dois, mas varia a segunda base, no DNA há  timina  (T) e no RNA
há uracila (U).

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BIOLOGIA
Além do núcleo celular, o DNA também está presente nas mi-
tocôndrias e nos cloroplastos, organelas capazes de sintetizá-lo. A
partir do DNA são transcritas as moléculas de RNA, que podem ser
de três tipos principais: RNA mensageiro (RNAm), RNA ribossômi-
co  (RNAr) e  RNA transportador  (RNAt). Texto adaptado de SILVA.
A. M. P.

Organização da Célula Eucarionte


O nascimento da citologia e a invenção do microscópio são
fatos relacionados. Em 1663, Robert Hooke cortou um pedaço de
cortiça e observou ao microscópio. Ele notou que existiam compar-
timentos, os quais ele denominou de células.
A partir daí, a citologia começou a desenvolver-se como ciên-
cia. O avanço dos microscópios contribuiu para que as estruturas
das células fossem observadas e estudadas.

Portanto, existem dois tipos de ácidos nucleicos: o ácido deso-


xirribonucleico ou DNA(desoxirribonucleic acid) e o  ácido ribonu-
cleico ou RNA.
Ambos são macromoléculas compostas por cadeias de cente-
nas ou milhares de nucleotídios ligados.

Estruturas presentes na célula eucarionte animal

Tipos de Células
As células podem ser divididas em dois tipos: as procariontes
e eucariontes.

Procariontes
A principal característica da célula procarionte é a ausência de
carioteca delimitando o núcleo celular. O núcleo da célula proca-
rionte não é individualizado.
As células procariontes são as mais primitivas e possuem estru-
turas celulares mais simples. Esse tipo celular pode ser encontrado
Moléculas de DNA e RNA, mostrando as diferenças de bases nas bactérias.
nitrogenadas presentes em cada uma.
Eucariontes
Os ácidos nucléicos apresentam uma estrutura espacial bas- As células eucariontes são mais complexas. Essas possuem ca-
tante complexa e peculiar. As moléculas de DNA são constituídas rioteca individualizando o núcleo, além de vários tipos de organelas.
por duas cadeias polinucleotídicas enroladas uma sobre a outra, o Como exemplos de células eucariontes estão as  células ani-
que se assemelha com uma grande escada helicoidal. Essas duas mais e as células vegetais.
cadeias se unem por meio de pontes de hidrogênio entre determi- Uma célula eucarionte tem um verdadeiro núcleo ligado à
nados pares de bases nitrogenadas: a adenina emparelha-se com a membrana e possui outras organelas membranosas que permitem
timina, enquanto citosina emparelha-se com guanina. a compartimentalização das funções.
Já as moléculas de RNA, em geral, são compostas por uma úni-
ca cadeia, que é enrolada sobre si mesma por meio do emparelha- Resumo do que veremos em Célula Eucarionte.
mento das bases complementares num mecanismo semelhante ao - As células eucarióticas são maiores que as células procarióti-
do DNA, no entanto, no RNA a adenina emparelha-se com a uracila. cas e têm um núcleo “verdadeiro”, organelas ligadas à membrana e
Em alguns casos, o RNA também pode ter dupla-fita, como é o caso cromossomos em forma de bastonete.
do mosaico do tabaco. - O núcleo abriga o DNA da célula e direciona a síntese de pro-
teínas e ribossomos.

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BIOLOGIA
- As mitocôndrias são responsáveis ​​pela produção de ATP; o retículo endoplasmático modifica proteínas e sintetiza lipídios; e o apare-
lho de golgi é onde ocorre a triagem de lipídios e proteínas.
- Os peroxissomas realizam reações de oxidação que quebram ácidos graxos e aminoácidos e desintoxicam venenos; vesículas e va-
cúolos funcionam em armazenamento e transporte.
- As células animais têm um centrossoma e lisossomos, enquanto as células da planta não.
- As células vegetais têm uma parede celular, uma grande vacuola central, cloroplastos e outros plastídios especializados, enquanto
as células animais não.

Estrutura de uma célula eucarionte

Como uma célula procariótica, uma célula eucarionte possui membrana plasmática, citoplasma e ribossomos. No entanto, ao contrá-
rio das células procarióticas, as células eucarióticas têm:
1. Um núcleo ligado à membrana
2. Numerosas organelas ligadas à membrana (incluindo o retículo endoplasmático, aparelho de Golgi, cloroplastos e mitocôndrias)
3. Vários cromossomos em forma de haste

O Núcleo e Suas Estruturas

Normalmente, o núcleo de uma  célula eucarionte é o organelo mais proeminente de uma célula. As células eucarióticas têm um
núcleo verdadeiro, o que significa que o DNA celular é cercado por uma membrana. Portanto, o núcleo abriga o DNA da célula e direciona
a síntese de proteínas e ribossomos, organelas celulares responsáveis ​​pela síntese protéica. O envelope nuclear é uma estrutura de dupla
membrana que constitui a porção mais externa do núcleo. Tanto as membranas internas como as externas do invólucro nuclear são bica-
madas de fosfolipídios. O envelope nuclear é pontuado com poros que controlam a passagem de íons, moléculas e RNA entre o nucleo-
plasma e o citoplasma. O nucleoplasma é o líquido semi-sólido dentro do núcleo onde encontramos cromatina e nucléolos. Além disso, os
cromossomos são estruturas dentro do núcleo que são constituídas por DNA, o material genético. Nos procariontes, o DNA é organizado
em um único cromossomo circular. Em eucariotas, os cromossomos são estruturas lineares.

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Outras organelas de membrana
As mitocôndrias são organelas de membrana dupla de forma oval que possuem seus próprios ribossomos e DNA. Essas organelas são
muitas vezes chamadas de “fábricas de energia” de uma célula porque são responsáveis ​​por fazer trifosfato de adenosina (ATP), a principal
molécula transportadora de energia da célula, através da respiração celular. Veja a aula sobre ciclo de krebs para entender como os ATPs
são produzidos
O retículo endoplasmático modifica proteínas e sintetiza lipídios, enquanto o aparelho golgiense é o local onde a classificação, mar-
cação, embalagem e distribuição de lipídios e proteínas ocorrem. Os peroxissomos são organelas pequenas e redondas, fechados por
membranas simples; eles realizam reações de oxidação que quebram ácidos graxos e aminoácidos.
Os peroxissomas também desintoxicam muitos venenos que podem entrar no corpo. Vesículas e vacúolos são sacos de membrana que
funcionam em armazenamento e transporte. Além do fato de que as vacúolos são um pouco maiores do que as vesículas, há uma distinção
muito sutil entre eles: as membranas das vesículas podem se fundir com a membrana plasmática ou outros sistemas de membrana dentro
da célula. Todas estas organelas são encontradas em cada célula eucarionte.

Embora todas as células eucarióticas contenham as organelas e estruturas acima mencionadas, existem algumas diferenças marcantes
entre células de animais e plantas. As células animais têm um centrossoma e lisossomas, enquanto as células da planta não. O centrosso-
ma é um centro de organização de microtúbulos localizado perto dos núcleos das células animais, enquanto os lisossomas se ocupam do
processo digestivo da célula.
Além disso, as células das plantas têm uma parede celular, uma grande vacuola central, cloroplastos e outros plastídios especializados,
enquanto as células animais não. A parede celular protege a célula, fornece suporte estrutural e dá forma à célula enquanto a vacuola
central desempenha um papel fundamental na regulação da concentração de água da célula em condições ambientais em mudança. Os
cloroplastos são as organelas que realizam a fotossíntese.

A Membrana de Plasma e o Citoplasma


A membrana plasmática é composta por uma bicamada de fosfolipídios que regula a concentração de substâncias que podem perme-
ar uma célula.

• Todas as células eucariotas possuem uma membrana plasmática circundante, que também é conhecida como membrana celular.

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BIOLOGIA
• A membrana plasmática é composta por uma bicamada de porte, os materiais se movem por simples difusão ou por difusão
fosfolipídios com proteínas embutidas que separam o conteúdo in- facilitada através da membrana, descendo seu gradiente de con-
terno da célula do ambiente envolvente. centração. A água passa pela membrana em um processo de difu-
• Apenas materiais relativamente pequenos e não-polares po- são chamado osmose.
dem se mover facilmente através da bicamada lipídica da membra- A osmose é a difusão da água através de uma membrana se-
na plasmática. mi-permeável pelo seu gradiente de concentração. Ocorre quando
• O transporte passivo é o movimento de substâncias na mem- há um desequilíbrio de solutos fora de uma célula versus dentro da
brana que não exige o uso de energia enquanto o transporte ativo é célula. A solução que tem maior concentração de solutos é dita ser
o movimento de substâncias na membrana usando energia. hipertônica e a solução que tem menor concentração de solutos
• A osmose é a difusão da água através de uma membrana são dito ser hipotônico. As moléculas de água se difundirão para
semi-permeável pelo seu gradiente de concentração; Isso ocorre fora da solução hipotônica e na solução hipertônica (a menos que
quando há um desequilíbrio de solutos fora de uma célula em com- sejam atuadas por forças hidrostáticas).
paração com o interior da célula. Em contraste com o transporte passivo, o transporte ativo (exi-
gente de energia) é o movimento de substâncias através da mem-
A Membrana celular brana usando energia do trifosfato de adenosina (ATP). A energia é
Apesar das diferenças de estrutura e função, todas as células gasta para auxiliar o movimento do material através da membrana
vivas em organismos multicelulares possuem uma membrana plas- em uma direção contra o gradiente de concentração. O transporte
mática circundante (também conhecida como membrana celular). ativo pode ocorrer com a ajuda de bombas de proteínas ou pelo uso
À medida que a camada externa da sua pele separa seu corpo de de vesículas. Outra forma deste tipo de transporte é a endocitose,
seu ambiente, a membrana plasmática separa o conteúdo interno onde uma célula enrola materiais extracelulares usando sua mem-
de uma célula do seu ambiente exterior. A membrana plasmática brana celular. O processo oposto é conhecido como exocitose. É
pode ser descrita como uma bicamada de fosfolipídios com proteí- aqui que uma célula exporta material usando o transporte vesicular.
nas embutidas que controlam a passagem de moléculas orgânicas,
íons, água e oxigênio dentro e fora da célula. Os resíduos (como Citoplasma
dióxido de carbono e amônia) também deixam a célula passando A membrana plasmática da célula também ajuda a conter o ci-
pela membrana. toplasma da célula, que proporciona um ambiente semelhante a
A membrana celular é uma estrutura extremamente flexível um gel para as organelas da célula. O citoplasma é o local para a
composta principalmente de duas folhas adjacentes de fosfolipí- maioria dos processos celulares, incluindo metabolismo, dobragem
dios. O colesterol, também presente, contribui para a fluidez da de proteínas e transporte interno. Texto adaptado de SANTOS. V. D
membrana. Uma única molécula de fosfolipídio consiste em uma
“cabeça” de fosfato polar, que é hidrofílica, e uma “cauda” lipídica ESTRUTURA E FUNÇÃO DOS COMPONENTES CITOPLAS-
não polar, que é hidrofóbica. Os ácidos graxos não saturados resul- MÁTICOS
tam em torções nas caudas hidrofóbicas. A bicamada de fosfolipí- O Citoplasma é a região da célula localizada entre a membrana
dios consiste de dois fosfolipídios dispostos de cauda para cauda. plasmática e o núcleo, preenchida por uma substância gelatinosa
As caudas hidrofóbicas associam-se umas às outras, formando o (semi-líquida), na qual estão mergulhadas as organelas citoplasmá-
interior da membrana. ticas.
As cabeças polares contactam o fluido dentro e fora da célula.
A função principal da membrana plasmática é regular a concen- HIALOPLASMA (CITOSSOL OU MATRIZ CITOPLASMÁTICA)
tração de substâncias dentro da célula. Essas substâncias incluem É uma substância gelatinosa (viscosa) que preenche o citoplas-
íons como Ca ++ , Na + , K + e Cl ; nutrientes, incluindo açúcares, áci- ma, composta quimicamente por água, proteínas, sais, carboidra-
dos graxos e aminoácidos; e produtos de resíduos, particularmente tos, etc.
dióxido de carbono (CO 2 ), que deve sair da célula.
A estrutura da bicamada lipídica da membrana fornece a célula PARTES DO CITOPLASMA
controle de acesso através da permeabilidade. Os fosfolipídios são As partes do citoplasma são: Endoplasma e Ectoplasma
bem embalados, enquanto a membrana possui um interior hidro- O Endoplasma → é a parte mais interna do citoplasma. Apre-
fóbico. Esta estrutura faz com que a membrana seja seletivamente senta consistência fluídica (sol).
permeável. O Ectoplasma → é a parte mais externa do citoplasma, apre-
Uma membrana que possui permeabilidade seletiva permi- senta consistência gelatinosa (gel).
te que apenas substâncias que cumpram certos critérios passem
sem ela. No caso da membrana plasmática, apenas os materiais O citoplasma apresenta alguns movimento: A Ciclose é um mo-
não-polares relativamente pequenos podem se mover através da vimento no endoplasma celular em forma de uma corrente, onde
bicamada lipídica (lembre-se, as colas lipídicas da membrana não são observadas algumas organelas se deslocando, como os cloro-
são polares). Alguns exemplos desses materiais são outros lipídios, plastos em células vegetais. O Movimento amebóide é um movi-
gases oxigênio e dióxido de carbono e álcool. No entanto, materiais mento de deslocamento de algumas células através da emissão de
solúveis em água como glicose, aminoácidos e eletrólitos precisam pseudópodes.
de alguma ajuda para atravessar a membrana porque são repelidos
pelas caudas hidrofóbicas da bicamada de fosfolipídios. AS ORGANELAS CITOPLASMÁTICAS
São estruturas com forma e funções definidas, encontradas no
Transporte pela Membrana interior do citoplasma.
Todas as substâncias que se movem através da membrana fa-
zem isso por um dos dois métodos gerais, que são categorizados Principais organelas:
com base em se é necessário ou não energia. O transporte passivo → Retículo endoplasmático (liso e rugoso);
(que não requer energia) é o movimento de substâncias na mem- → Ribossomos;
brana sem o gasto de energia celular. Durante este tipo de trans- → Complexo de Golgi;

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BIOLOGIA
→ Lisossomos; OS RIBOSSOMOS
→ Centríolos; São pequenos grânulos observados livres no citoplasma ou
→ Mitocôndrias; aderidos as membranas do retículo endoplasmático rugoso. Quimi-
→ Plastos; camente são constituídos por proteínas e RNA (ácido ribonucléico).
→ Vacúolos; Não são visíveis ao microscópio óptico. Ocorrem em todos os tipos
→ Peroxissomos; de células. Função: Síntese de proteínas.
→ Glioxissomos.
O COMPLEXO DE GOLGI OU GOLGIOSSOMO
O RETÍCULO ENDOPLASMÁTICO Compreende um conjunto de sacos achatados e sobrepostos,
É um conjunto de canais que se expande no interior do cito- formando pilhas, de onde partem pequenas vesículas.
plasma (no citossol), formando canais ramificados e sacos achata- Funções:
dos que se intercomunicam. - Armazenar e empacotar secreções produzidas pela célula;
- Sintetizar carboidratos;
O Retículo Endoplasmático Liso ou Agranular - Originar os lisossomos;
É a parte do retículo endoplasmático que não apresenta grânu- - Constitui o acrossomo do espermatozóide.
los (ribossomos) nas suas membranas.
OS LISOSSOMOS
São vesículas membranosas que brotam do complexo de Golgi,
contendo enzimas digestivas.
Funções:
- Digestão intracelular;
- Regressão da cauda do girino;
- Promove a autofagia (= digestão de algumas organelas da pró-
pria célula, com a finalidade de nutrição);
- Realizam a autólise ou citólise (eliminação de células mortas).

Lisossomo primário → é aquele que apresenta no seu interior


apenas as enzimas digestivas.
Lisossomo secundário ( = vacúolo digestivo) → é aquele for-
mado pela união do lisossomo secundário com um fagossomo ou
pinossomo (= vacúolo alimentar).

AS MITOCÔNDRIAS
São estruturas cilíndricas com aproximadamente 0,5 micrôme-
Funções: tros de diâmetro e vários micrômetros de comprimento. Podem ser
- Transporte de substâncias no interior do citoplasma; visualizadas ao microscópio ótico. Encontram-se em todas as célu-
- Síntese de lipídios (gorduras); las eucarióticas.
- Eliminar substâncias tóxicas (álcool, drogas, etc.);
- Desativar alguns hormônios (adrenalina); Função:
- Realizar a respiração celular e produzir energia em forma de
O Retículo Endoplasmático Rugoso (ou granular, ERG, ergasto- ATP (trifosfato de adenosina).
plasma) - O conjunto de todas as mitocôndrias de uma célula denomi-
É a parte do retículo endoplasmático que apresenta grânulos na-se “condrioma”.
(ribossomos) aderidos as suas membranas.
Estrutura da Mitocôndria:
• Apresenta-se constituída por duas membranas: uma mem-
brana externa lisa que a envolve e uma membrana interna forman-
do dobras, denominadas “cristas mitocondriais”.
• O espaço interno da mitocôndria denomina-se “matriz mito-
condrial”.

REPRESENTAÇÃO ESTRUTURAL DE UMA MITOCÔNDRIA

Função:
- Síntese de proteínas

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BIOLOGIA
As mitocôndrias, assim como os cloroplastos, apresentam o seu próprio ácido nucléico (DNA e RNA), sendo, portanto capazes de se
autoduplicarem, independentemente da célula.

OS PLASTOS OU PLASTÍDEOS
São organelas características das células vegetais. Não são encontra dos, portanto em bactérias, cianobactérias, protozoários, animais
e fungos. Os plastos se dividem em dois tipos: Leucoplastos e Cromoplastos.
Os Leucoplastos → São aqueles que não apresentam pigmentação, ou seja, não apresentam coloração. São plastos incolores.
Função : armazenar substâncias produzidas na célula.
Ex.
Amiloplastos → armazenam amido.
Oleoplastos → armazenam lipídeos.
Proteoplastos → armazenam proteínas.

Os Cromoplastos → São aqueles que possuem pigmentação, apresentam, portanto, coloração.


Exemplos:
Eritroplastos → apresentam o pigmento eritrofila que confere cor vermelha. Tomate, acerola,etc.
Xantoplastos → apresentam o pigmento xantofila que confere cor amarela. Mamão, banana, etc
Cloroplastos → É o mais importante dos plastos, apresenta o pigmento clorofila que confere cor verde aos tecidos vegetais. EX: Folhas.

Função dos cromoplastos: O cloroplasto é o principal responsável pela fotossíntese, enquanto que os demais plastos auxiliam no pro-
cesso fotossintetizante, funcionando como filtro de luz.

Estruturalmente, o cloroplasto é constituído por uma membrana externa, lisa, que o envolve, e internamente por uma outra membra-
na que forma dobras denominadas lamelas; Sobre as lamelas estão situadas estruturas membranosas em forma de moedas empilhadas
denominadas tilacóides; Cada pilha de tilacóides recebe o nome de granum; O conjunto de todos os granum de um cloroplasto recebe o
nome de grana.

Os Centríolos
Os centríolos são estruturas cilíndricas, com 0,2 um de largura e 0,4 um de comprimento. São constituídos por nove grupos de três
microtúbulos, fundidos em tripletes.

Funções:
- Divisão celular
- Formar cílios e flagelos. Texto adaptado de MAIA. A.

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BIOLOGIA
Membrana Celular interrupções poros revestidos internamente por proteínas que per-
A membrana celular é a fronteira biológica que delimita o pe- mitiam a passagem de substâncias polares através da membrana e
rímetro da célula, separando o meio intracelular do extracelular. A as não polares atravessariam a bicamada diretamente.
membrana celular, que envolve todas as células, não é totalmente
impermeável, constituindo uma barreira seletiva que permite a tro-
ca de algumas substâncias entre o exterior e interior. Nas células
eucarióticas permite também o suporte do citoesqueleto que dá
forma à célula, e a ligação à matriz extracelular/parede e outras cé-
lulas permitindo a formação de tecidos. O isolamento de membra-
nas plasmáticas através de técnicas especiais permitiu identificar os
seus constituintes. As membranas podem-se considerar complexos
lipoproteicos, constituídos por proteínas, lipídios e glicídios, varian-
do em quantidade de célula para célula.
• proteínas: de composição e funções diversas, as proteínas
membranares podem ter funções estruturais, intervir no transporte
de substâncias através da membrana, ou atuar como receptores de
sinais moleculares (por exemplo, de hormonas).
• lipídios: maioritariamente fosfolípides (lipídios complexos
associados a um grupo fosfato, com uma extremidade hidrofóbica
polar e outra hidrófila apolar), e em menor quantidade colesterol e
glicolipídios (lipídios associados a glicídios). À medida que avançaram os estudos sobre a estrutura mem-
• glicídios: situam-se no lado externo da membrana e são im- branar, alguns dados não corroboraram o modelo de Davson e Da-
portantes no reconhecimento de substâncias por parte da célula. nielli. Análises quantitativas aos constituintes membranares revela-
ram que as proteínas não existiam em quantidade suficiente para
Modelos de estrutura da membrana plasmática cobrir toda a superfície da camada fosfolipídica. Para, além disso,
A organização estrutural da membrana é bastante complexa, observaram que as proteínas alteravam a sua posição, evidencian-
razão pela qual ao longo do tempo têm surgido vários modelos ex- do um comportamento dinâmico da organização membranar.
plicativos. Nageli e Cramer, em 1885, descobriram que as células Surge então o modelo de mosaico fluido de Singer e Nichol-
possuem uma membrana que as envolve. Mais tarde, a descoberta son, em 1972. Este modelo admite uma estrutura membranar não
dos lipídios como um dos seus principais constituintes deve-se às rígida, permitindo uma fluidez das suas moléculas. Os fosfolipídios
experiências de Overton, em 1899, que observou que a velocidade não estão estáticos nas camadas, podendo moverse lateralmente
de penetração de uma substância na célula dependia da sua solu- trocando de posição com outros fosfolipídios na mesma camada
bilidade em lipídios: quanto mais solúvel, mais rápido o atravessa- e, ocasionalmente, sofrendo transversões (do inglês “flip-flop”) de
mento da membrana. O primeiro modelo estrutural a ser proposto uma camada para a outra.
foi o da bicamada fosfolipídica, em 1925, por E Gorter e R. Grendel. O modelo considera a existência de dois grandes grupos de
Os dois cientistas propunham que a membrana celular seria com- proteínas: as integradas e as periféricas. As proteínas periféricas
posta por duas camadas de fosfolipídios cujas extremidades apola- ou extrínsecas são definidas como proteínas que se dissociam da
res hidrofóbicas estariam voltadas para o interior da membrana e as membrana após tratamentos com reagentes polares que não des-
extremidades polares, hidrófilas estariam voltadas para o exterior troem a bicamada. Estas proteínas não estão inseridas na parte hi-
(ver figura 1), contatando com o meio interno e externo da célula. drofóbica interior dos lipídios, mas associadas às membranas por
interações proteína-proteína através de ligações eletrostáticas fra-
cas. As proteínas integradas ou intrínsecas, pelo contrário só podem
ser dissociadas da membrana por disrupção da bicamada lipídica.
Estas proteínas estão associadas às zona hidrofóbicas da camada
fosfolipídica, podendo mesmo atravessar a membrana de um lado
ao outro (proteínas transmembranares).
Estas últimas têm propriedades anfipáticas como os fosfolipí-
dios, isto é, possuem partes hidrófilas e hidrofóbicas. As porções
extracelulares das proteínas membranares estão geralmente asso-
ciadas a glicídios glicoproteínas, e as porções de carboidratos dos
glicolipídios (glicídios associados a lipídios) estão ambas, geralmen-
te, expostas também no lado extracelular da membrana, forman-
do o glicocálix. Esta camada na superfície celular de glicolipídios e
glicoproteínas transmembranares, protege a célula e facilita várias
interações entre células, como por exemplo, o reconhecimento de
substâncias por parte da célula.
Este modelo foi revisto por Davson e Danielli, em 1935, que
baseados em estudos de permeabilidade e de tensão superficial da A passagem de substâncias através da membrana celular não
membrana propuseram uma estrutura um pouco mais complexa ocorre sempre da mesma forma, dependendo do tipo de substân-
(ver figura 2). A bicamada fosfolipídica seria revestida, externa e in- cia, uma vez que uma das propriedades da membrana é a perme-
ternamente, por uma camada proteica associada às extremidades
polares hidrófilas dos fosfolipídios. A bicamada fosfolipídica teria

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BIOLOGIA
abilidade seletiva. Em alguns casos as substâncias podem atravessar a membrana sem a intervenção específica de moléculas transporta-
doras transporte não mediado (osmose e difusão simples), enquanto que noutros casos são as proteínas membranares que facilitam esse
transporte mediado (transporte ativo e difusão facilitada).

PAREDE CELULAR
A parede celular, parede celulósica ou membrana esquelética celulósica, é uma estrutura de celulose resistente e flexível que delimita
as organelas celulares numa célula vegetal.

Funções
As principais funções da parede celular é proporcionar sustentação, resistência e proteção contra patógenos externos. Sendo assim,
ela colabora com a absorção, transporte e secreção de substâncias.
Além disso, a parede celular funciona como um filtro das células vegetais, já que permite a troca de substâncias entre outras células
vizinhas.
Ela também protege contra a entrada excessiva de água, evitando assim, a lise osmótica, ou seja, a ruptura da célula. Outra importante
função é que a parede celular confere forma as diversas células vegetais.

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Estrutura
A parede celular é uma estrutura muito resistente composta por microfibrilas do polissacarídeo chamado celulose.
Ela envolve a membrana plasmática e em sua estrutura possui poros que funcionam como filtros em relação ao meio externo.

Classificação
A parede celular pode ser primária e secundária:
- Parede Celular Primária: são formadas basicamente de celulose, hemicelulose e pectinas. Apesar de fina, ela é resistente e flexível,
permitindo assim, o crescimento celular. Possui um teor de água elevado, com cerca de 70%. Nas paredes primárias, as pontes de hidro-
gênio proporcionam maior elasticidade à estrutura.
- Parede Celular Secundária: são formadas basicamente de celulose e hemicelulose. Nem todos os organismos vegetais apresentam
esse tipo de estrutura. Ela é mais espessa que a primária, além de ser bem resistente uma vez que é composta de lignina. Possui um teor
de água menor que a primária, ou seja, de 20%. As paredes secundárias limitam o espaço e conferem maior rigidez.

Além da parede primária e secundária, a lamela média é uma camada fina exterior as paredes que tem como função ligar a célula com
outras que estão próximas.

Tipos
A parede celular está presente nas plantas, algas, fungos e algumas bactérias. Assim, eles diferem um pouco em relação a sua estru-
tura e composição.
- Parede Celular das Plantas: formada por microfibrilas de celulose, a parede celular das plantas possui geralmente uma parede pri-
mária e outra secundária.
- Parede Celular das Algas: formada por diferentes tipos de celulose como as paredes de glicoproteínas e polissacarídeos.

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BIOLOGIA
- Parede Celular dos Fungos: formada por quitina, e em alguns A maior ou menor facilidade com que as moléculas transitam
casos, por celulose, a parede celular dos fungos protege esses orga- através da membrana traduz-se pelo coeficiente de permeabilida-
nizamos contra os invasores. de, determinado em relação a uma dupla camada fosfolipídica arti-
- Parede Celular Bacteriana: formada por peptidoglicano (açú- ficial e expresso em mm.s-¹.
cares ligados a aminoácidos), a parede celular bacteriana é classifi- O coeficiente de permeabilidade é, compreensivamente, fun-
cada em Gram Positiva e Gram Negativa. ção essencialmente de três fatores: a dimensão da molécula, o seu
estado de ionização e a sua afinidade para com os lipídeos, por isso
Caracteristicamente a parede celular é rígida, o que faz com têm-se tipos de transporte diferentes para cada molécula. Por sua
que acabe limitando o tamanho do protoplasto, evitando a ruptura vez, a afinidade de uma substância para com os lipídeos traduz-se
da membrana plasmática quando o protoplasto incha ao receber pelo seu coeficiente de partição, o qual se calcula pela razão entre a
mais água. Esta parede celular em grande parte limita o tamanho solubilidade num óleo determinado e a solubilidade na água.
e determina a forma da célula, a textura do tecido e consequente- A membrana plasmática funcional é chamada de plasmolema.
mente a forma final do órgão.  O plasmolema, do ponto de vista funcional, forma o limite externo
Os diferentes tipos celulares vegetais, em sua grande maioria, da célula onde ela está em contato com o fluido extracelular. A pa-
são identificados pela estrutura de suas paredes, refletindo uma rede celular externa ao plasmolema não é uma barreira funcional
estreita relação entre a estrutura da parede e a função da célula.  entre a célula e o meio.
Durante muito tempo, considerou-se que a parede celular era
uma estrutura externa e inativa produzida pelo protoplasto. Entre-
tanto, hoje se sabe que a parede celular possui funções essenciais e
específicas, e por isso considerada vital para a célula vegetal. 
Na parede celular está localizada uma série de enzimas fun-
damentais, que atuam diretamente nos processos de transporte,
secreção e absorção de substâncias pelas plantas. Assim como os
vacúolos, podem servir como sítios de atividade digestiva. 
A parede celular desempenha um papel ativo na proteção con-
tra fungos patogênicos e bactérias, recebendo e processando infor-
mação da superfície do patógeno e transmitindo essa informação
para a membrana plasmática. 
A partir daí, mediante processos de ativação gênica, a célula
vegetal pode então tornar-se resistente, por meio da produção de
antibióticos que são tóxicos aos patógenos (fitoalexinas) ou pela
síntese e deposição de substância, como por exemplo, a lignina, que Permeabilidade diferenciada de diferentes categorias de mo-
por sua vez atua como uma barreira para a invasão dos patógenos.  léculas
Alguns polissacarídeos que compõem a parede celular, conhe- O processo pelo qual o soluto passa do substrato (solo, solução,
cidas como oligossacarinas, podem mesmo funcionar como molé-
nutritiva) para uma parte qualquer da célula (parede, citoplasma,
culas sinalizadoras, regulando o crescimento e o desenvolvimento
vacúolo). Definem-se dois tipos de mecanismo de absorção:
da planta.
Passivo- o elemento entra sem que a célula necessite gastar
As células são sistemas abertos, através dos quais se processam
energia deslocando-se de uma região de maior concentração, a so-
fluxos de matéria e de energia. A matéria, sob a forma de peque-
lução externa, para outra de menor concentração, a qual corres-
nas moléculas, de macromoléculas ou mesmo de partículas com-
ponde à parede celular, espaços intercelulares e superfície externa
plexas, transita do exterior para o interior, através de mecanismos
do plasmolema; essas regiões delimitam o espaço livre aparente e a
de complexidade variada e com diversos encargos energéticos para
quantidade de soluto nele contida corresponde a uns 15% do total
a economia celular. Se há moléculas, como a água, o oxigênio, que
transitam com extrema facilidade através da membrana plasmática, absorvido; essa entrada processa-se por fluxo de massa, difusão,
por simples difusão, há outras que, pela sua dimensão ou lipofobia, troca iônica; os mecanismos são rápidos e reversíveis, isto é, o ele-
implicam a instalação, na membrana, de mecanismos específicos. mento contido no espaço livre aparente pode sair dele.
No caso de partículas complexas ou mesmo de macromoléculas, a Ativo- O processo ativo de absorção faz com que o soluto
captação tira partido da plasticidade da membrana, que se deforma atravesse a barreira lipídica do plasmolema, atingindo o citoplas-
especialmente para abraçar os corpos a captar e os interiorizar, sub- ma; deste, o elemento pode chegar ao vacúolo depois de vencer
metendo os de seguida a um processo interno de digestão, que faz a outra barreira representada pelo tonoplasto, para isso a célula
apelo à intervenção dos lisossomas. tem que gastar energia, uma vez que o elemento caminha contrá-
Alguns nutrientes são absorvidos sob a forma pequenas mo- rio ao gradiente químico, o mecanismo ativo é lento e irreversível.
léculas, sendo a sua dimensão compatível quer com a arquitetura O transporte por carreador pode ser ativo ou passivo, enquanto o
molecular da membrana, quer com sistemas de transporte mole- transporte por canal iônico é sempre passivo. O transporte passivo
cular nela inseridos. Para estes, identificam-se diversas vias ou me- é aquele que ocorre ao longo de um gradiente eletroquímico e, às
canismos de transporte membranar diferentes. Importa salientar vezes, é chamado de difusão facilitada, quando envolve um canal
desde já que estes mecanismos são diferentes se o transporte se iônico ou um carregador.
efetua a favor dos gradientes de potenciais químicos ou eletroquí- Todos estes tipos de transporte podem ser evidenciados quan-
micos ou se, pelo contrário, se processa em contra corrente. Por sua do a planta é colocado sob estresse salino, mas os trabalhos realiza-
vez, outros nutrientes são captados sob a forma de macromoléculas dos nessa área levaram a concluir que alterações adaptativas a esse
ou partículas volumosas. Para estes, a célula recorre a sistemas de estresse só foram observadas no que diz respeito ao transporte H+
transporte em massa, que têm por base o mecanismo da endoci- / Na+ na membrana plasmática.
tose.

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Transporte Passivo Transporte Ativo
Designam-se genericamente por transportes passivos, todos As células também necessitam de proteínas que ativamente
aqueles que não impliquem, por parte da célula, dispêndio de bombeiem certos solutos através da membrana contra seus gra-
energia. Englobam-se nesta categoria, os transportes de eletrólitos dientes eletroquímicos. Esse processo, conhecido como transporte
ou de não eletrólitos que se efetuam, respectivamente, a favor do ativo é sempre mediado por proteínas carreadoras. No transporte
gradiente de potenciais eletroquímicos ou de concentrações, sendo ativo, proteínas carreadoras podem agir como bombas para trans-
que o fluxo de transporte passivo aumenta com a concentração. portar um soluto contra o seu gradiente eletroquímico, usando
Há todavia que distinguir duas situações distintas, decorrentes da energia fornecida pela hidrólise de ATP.
natureza das moléculas e das suas permeabilidades: ou se trata de As células usam a energia armazenada no ATP para absorver
substâncias que podem atravessar a membrana por simples difusão solutos ativamente. O ATP libera energia quando um dos seus fos-
ou, pelo contrário, de moléculas que não o podem e, para as quais, fatos é hidrolizado formando ADP e fosfato inorgânico. Essa reação
a célula dispõe de mecanismos especializados, que seriam as prote- é catalisada por uma enzima aparentemente presente em toda
ínas, facilitando o respectivo tráfego. membrana, ela é chamada abreviadamente de ATPase. A maioria
da energia liberada pelas ATPases encontradas na membrana é usa-
Transporte Facilitado da para transportar prótons de um lado da membrana para outro
Para as circunstâncias em que a permeabilidade de uma deter- contra o gradiente eletroquímico.
minada molécula essencial à vida da célula, não permite a sua cap-
tação com a destreza requerida pelo metabolismo, a célula dispõe Osmose
de mecanismos membranares específicos. Se tais mecanismos não As membranas biológicas são em maior ou menor grau seleti-
despenderem energia; designam-se genericamente por transporte vamente permeáveis, isto é, permitem a passagem do solvente e
facilitado. São objeto de transporte facilitado, entre outras molé- de determinados solutos dependendo do seu tamanho, natureza
culas, os monossacáridos, como a glicose, e os aminoácidos. Mas e carga elétrica. Essas membranas semipermeáveis constituem um
também, em certas circunstâncias, os íons são beneficiários destes pré-requisito básico, tanto para definir, como para determinar a
sistemas de transporte. O exemplo clássico que ilustra as caracte- pressão osmótica.
rísticas deste tipo de transporte é precisamente o da glicose. Reco- O processo osmótico ocorre nos vegetais e pode facilmente ser
nhecendo as características que lhe estão associadas, concebe-se demonstrado por diversos experimentos. A água e os sais solúveis
um modelo baseado na existência de proteínas. penetram no vegetal através dos pelos das raízes. Na região dos
pêlos, a concentração em solutos é maior do que a concentração de
O transportador de membrana pode assumir duas configura-
solutos na água do solo. A pressão osmótica dentro das raízes deve
ções alostéricas consoante se encontre ligado ou não a uma molé-
ser maior que a pressão osmótica na água do solo, para que tenha
cula de glicose. O sentido global do transporte obedece ao gradien-
lugar a entrada de água; se esta condição não for preenchida, cessa
te de concentrações transportadoras (intrínsecas) susceptíveis de
a crescimento da planta, pois, em geral, o crescimento da planta é
assumir duas configurações alostéricas consoante se verifique, ou afetado quando declina a salinidade do solo.
não, a sua ligação específica a uma molécula de glicose . A célula vegetal é vulnerável aos ambientes hipertónicos, que
Tal sistema não oferece qualquer preferência de sentido, po- seriam meios com maior concentração de solutos em relação a
dendo promover tanto a saída como a entrada de moléculas de célula. A saída da água contida no seu vacúolo, quando em meio
glicose. O sentido do fluxo é apenas determinado pelo gradiente hipertônicos, provoca uma diminuição do volume celular e, con-
de concentração, tal como da difusão simples. Com a diferença, po- sequentemente, o afastamento da membrana plasmática relativa-
rém, de que permite o trânsito de moléculas que, de outra forma, mente à parede celular. Este fenômeno designa-se comumente por
não transporiam a barreira membranar. plasmólise.
Certas substâncias podem tornar as membranas permeáveis A grande diferença que se observa entre o coeficiente de per-
aos íons. São geralmente produzidas por microrganismos e atuam meabilidade da água medido na situação real de uma membrana
como antibióticos já que têm como efeito, contrariar drasticamen- plasmática e o respectivo coeficiente de difusão (53 m m.s-¹), de-
te os equilíbrios iônicos funcionais das células. Designam-se pelo terminado em condições ideais, leva a concluir que a passagem da
termo genérico de ionóforos e podem apresentar estruturas muito água não se opera exclusivamente por difusão através da bicama-
diversas. Apresenta em comum a característica de serem pequenas da lipídica, mas que deverão existir poros ou canais por onde as
edificações moleculares hidrófobas, que se dissolvem facilmente na moléculas de água possam transitar mais facilmente. Por sua vez,
bicamada lipídica. Distinguem-se essencialmente duas categorias demonstra-se experimentalmente, que a disposição das proteínas
de ionóforos: aqueles que determinam a formação transitória de intrínsecas pode também, em certas circunstâncias, favorecer o flu-
um canal e os que, sendo móveis, se comportam como barquetas, xo de água através da membrana.
assegurando o transporte os íons entre as duas faces da membrana.
Enquanto que o fluxo iônico proporcionado pelos primeiros
não é afetado por um abaixamento da temperatura, o fluxo asse-
gurado pelos ionóforos móveis diminui em idênticas circunstâncias.
Compreende-se que assim seja, dado que a agilidade das barquetas
depende da fluidez da membrana e esta característica é função da
temperatura. Em ambos os casos, o transporte respeita o gradiente
eletroquímico que, como se sabe, em condições naturais, é bastan-
te acentuado, e garantido pelas bombas de transporte ativo de íons.

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BIOLOGIA
Plasmólise. A: Conformação habitual de uma célula vegetal; Diferença entre a Difusão Simples e a Facilitada
B: célula vegetal sujeita um meio hipertônico A difusão simples e a facilitada tratam do mesmo processo
de transporte passivo de substâncias através da membrana celular.
Co-transporte A diferença é que na difusão facilitada existe o auxílio de pro-
Os processos de co-transporte utilizam a energia armazenada teínas, as permeases. Essas proteínas atuam como carreadoras de
na força motriz protônica, ou seja, no gradiente de potencial ele- substâncias. Elas capturam as moléculas e facilitam sua entrada na
troquímico criado pela extrusão de prótons ( H+ ). Bimembranas célula.
de fosfolipídeos puras são bastante impermeáveis ao H+. Membra-
nas de vegetais possuem proteínas transportadoras para o H++. Bomba de sódio e potássio
Estas permitem ao H+ a se difundir de volta à célula e a estrutu- A energia livre liberada durante o movimento de um íon inor-
ra da membrana é tal que só permite este retorno se ele se move gânico a favor de seu gradiente eletroquímico é usada como a fon-
com outro íon ou soluto. Logo a força motriz protônica gerada pelo te de energia para bombear outros solutos contra seus gradientes
transporte eletrogênico de H+ é usada para conduzir o transporte eletroquímicos. Assim, essas proteínas funcionam como transpor-
de muitas outras substâncias contra o seu gradiente eletroquími- tadores acoplados algumas como simportadores outras como an-
co. Este transporte acoplado e simultâneo de dois íons ou molé- tiportadores.
culas por um único carregador é chamado co-transporte. Existem Na membrana plasmática de células animais, o sódio é o íons
dois tipos principais de co-transporte, o simporte e o antiporte. No usualmente cotransportador, cujo gradiente eletroquímico fornece
primeiro caso duas substâncias movem-se na mesma direção atra- a força impulsora para o transporte ativo de uma segunda molécu-
vés da membrana. Existem carreadores específicos para diferentes la. O sódio que entra na célula durante o transporte é subseqüente-
ânions, co-transportados com H+. mente bombeado para fora pela sódio potássio ATPase a qual, por
Neste caso, observamos o mecanismo molecular do íon acom- manter o gradiente de sódio, indiretamente fornece energia para o
panhante, neste mecanismo o H+ se move a favor de seu gradien- transporte. Por essa razão diz-se que os carreadores impulsionados
te eletroquímico, enquanto que o ânion ou moléculas neutras são por íons medeiam o transporte ativo secundário, enquanto as ATPa-
transportadas ativamente. Nos mecanismos de antiporte, a absor- ses transportadoras medeiam o transporte ativo primário. Assim,
ção de H+ é usada para transportar cátions simultaneamente para o transporte por proteínas carreadoras pode ser ativo ou passivo
fora das células (troca iônica). Neste caso, o carreador combina-se enquanto o transporte por canais iônicos é sempre passivo.
com o H+ do lado externo da membrana e com o cátion (sódio, por A clonagem de DNA e os estudos de sequenciamento mostra-
exemplo) no lado interno. ram que as proteínas carreadoras pertencem a um pequeno núme-
A glicose é transportada para fora da célula por transporte fa- ro de famílias, cada uma das quais compreende proteínas com se-
cilitado e as bombas de sódio/potássio eliminam, da célula, o exce- quências similares de aminoácidos e que se supõem terem evoluído
dente de Na+. Ainda que na etapa propriamente dita de captação de uma proteína ancestral comum atuar por um mecanismo similar.
da glicose, não se tenha verificado consumo direto de ATP, o certo A necessidade da existência de bombas iônicas decorre do fato
é que, globalmente, o processo é consumidor de energia, pois im- de, por exigências funcionais, deverem manter-se elevados desní-
plica, de forma diferida é certo, o funcionamento das bombas de veis dos teores relativos a diferentes íons, entre o interior da célula
sódio/potássio. e o exterior. No caso específico do sódio e do potássio, que é a mais
importante, seria expectável que, a não existirem mecanismos de
Difusão Simples e Difusão Facilita bombeamento de íons que contrariem o gradiente, rapidamente se
A difusão simples é um tipo de transporte passivo de substân- atingiria o equilíbrio, graças à simples difusão dos íons através dos
cias pela membrana celular. respectivos canais. Graças, porém às bombas de sódio/potássio,
A difusão sempre ocorrerá da região em que as partículas estão os fluxos passivos de saída do potássio e de entrada do sódio, são
mais concentradas para regiões em que sua concentração é menor. constantemente contrariados por fluxos ativos. Assim se mantêm
Assim, ocorre a favor de um gradiente de concentração. Por os desníveis de teor destes dois íons.
isso, não há gasto de energia e nem a necessidade de um carreador.
A difusão deve-se pelo fato das partículas estarem em constan-
te movimentação.

Para que a difusão aconteça, duas condições devem existir:


- A membrana celular deve ser permeável a substância;
- Deve haver diferenças de concentração dessa substância en-
tre a célula e o ambiente externo.
A difusão é importante para as células pois permite a entrada
de substâncias essenciais ao metabolismo celular. Ao mesmo tem-
po, permite a saída de excreções.
Exemplo de Difusão Simples

Um exemplo de difusão é a respiração.


Ao chegar aos alvéolos pulmonares, o oxigênio difunde-se para
o sangue dos capilares. Enquanto, o gás carbônico presente no san-
gue dos capilares difunde-se para o interior dos alvéolos.
Essa situação de trocas gasosas ocorre devido às diferenças de
concentração entre os dois gases nos alvéolos pulmonares.

Esquema mostrando o funcionamento da Bomba de Sódio e


Potássio.

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BIOLOGIA
Foram os pesquisadores Hodgkin & Keynes que observaram
que o sódio intracelular passava para o meio extracelular por um
sistema que consumia energia metabólica, e que esse processo de-
pendia da presença de potássio. Para transportar sódio para fora e
potássio para dentro da célula, a bomba retira energia da hidrólise
de ATP. Para cada ATP hidrolisado, três íons Na são removidos da cé-
lula e dois íons K são levados para dentro. Assim, a cada ciclo, uma
carga positiva é transferida para o meio extracelular. A corrente ge-
rada por essa bomba ajuda a formar o potencial transmembrana.
Quando ela é estimulada a bombear íons em grande velocida-
de, sua corrente passa a contribuir de modo relevante para a forma-
ção do potencial de membrana, atuando no sentido de hiperpola-
rizar a célula. A própria concentração desses íons nos meios intra e
extracelular que ativam a atividade dessa proteína. Endocitoses. A: pinocitose; B: fagocitose
Os gradientes de concentração que se cria com a atividade
da bomba Na / K são usados como fonte de energia para que se Em muitas células a endocitose é tão extensiva que uma gran-
processem os fenômenos da despolarização e da repolarização das de fração da membrana plasmática é internalizada a cada hora. Os
células excitáveis. Servem, também, para promover os diversos flu- componentes da membrana plasmática (proteínas e lipídeos) são
xos iônicos dos tipos co-transporte e contratransporte. No cotrans- continuamente retornados à superfície celular em um ciclo en-
porte, a movimentação de um cátion arrasta consigo um ânion e docítico-exocítico em grande escala, que é, em sua maior parte,
no contratransporte, substâncias ou íons de mesma polaridade são mediado por cavidades e vesículas recobertos por clatrina. Mui-
trocados entre os lados interno e externo da membrana. tos receptores da superfície da célula, que ligam macromoléculas
extracelulares específicas, localizam-se em cavidades recobertas
Transporte em massa com clatrina, num processo denominado endocitose mediado por
Os sistemas que se descreveram anteriormente, destinam-se receptores.
todos ao transporte de moléculas ou íons de porte relativamente As vesículas endocíticas recobertas, rapidamente perdem sua
pequeno. Quando, porém se trata de captar uma macromolécula, cobertura de clatrina e se fundem com os endossomos prematuros.
tal como uma proteína, ou mesmo uma partícula maior, que pode Muitos ligantes se dissociam de seus receptores no ambiente ácido
mesmo ser uma bactéria, os mecanismos descritos já não são ade- do endossomo e acabam chegando aos lisossomos, enquanto mui-
quados. Nestes casos, a célula recorre ao mecanismo da endoci- tos dos receptores são reciclados, via vesícula de transporte, de vol-
tose, que consiste basicamente na formação de uma depressão ta para superfície da célula para serem reutilizadas. Mas, complexo
membranar, seguida do envolvimento de uma porção do meio ex- ligante-receptor pode seguir outras vias, a partir do compartimento
tracelular onde a(s) partícula(s) se encontra(m) e da invaginação da endossomal. Em alguns casos, ambos, receptor e ligante, acabam
membrana e, finalmente, a formação de uma vesícula, denominada sendo degradados nos lisossomos, causando a “down regulation”
genericamente por endossoma. Deve-se citar que esses processos dos receptores. Texto adaptado de CONTE. C. M.
ocorrem principalmente em células animais.
A pinocitose envolve a ingestão de fluidos e solutos através de Diferenciações da membrana
vesículas pequenas (150nm de diâmetro) a fagocitose envolve a As diferenciações da membrana são alterações observadas na
ingestão de partículas grandes como microorganismos e pedaços superfície da membrana plasmática com a função de auxiliar na re-
de células, via vesículas grandes denominadas fagossomos, geral- alização de certas atividades no organismo. São elas: Microvilosida-
mente maior que 250nm de diâmetro. Embora a maioria das células des, interdigitações, desmossomos, plasmodesmos e invaginações
eucarióticas esteja, continuamente, ingerindo fluidos e solutos por de base.
pinocitose, partículas grandes são ingeridas principalmente por cé-
lulas especializadas em fagocitose. Pode-se observar na figura um
exemplo.
A fagocitose, em protozoários, é uma forma de alimentação:
partículas grandes captadas por endossomos chegam até os lisos-
somos e os produtos do processo de digestão subsequente chegam
ao citosol para serem utilizados como alimento. Entretanto, pou-
cas células em organismos multicelulares, são capazes de ingerir,
eficientemente partículas grandes, e no intestino do animais, por
exemplo, partículas grandes de alimento são quebradas no meio
extracelular antes de serem importadas para a célula.
A fagocitose é importante, para a maioria dos animais, para
outros processos que não de nutrição. Em mamíferos existem dois
tipos de glóbulos brancos no sangue especializados em fagocitose:
macrófagos e neutrófilos que nos defendem contra infecções, in-
gerindo os microrganismos invasores. Para que sejam fagocitadas
as partículas devem, em primeiro lugar, ligar-se a superfície do fa-
gócito.

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BIOLOGIA
As microvilosidades- São dobras na superfície da membrana,
voltadas para o lado de fora, em forma de dedos de luvas. É uma
frágil protuberância que se estende pela membrana, ampliando a
superfície de absorção.

- Ocorrência: células do epitélio intestinal.


- Função: aumentar a superfície de absorção das células.

- Ocorrência: células epiteliais.


- Função: aumentar a adesão entre as células.

Os Desmossomos- São regiões adjacentes entre as membranas


plasmáticas de células vizinhas, onde ocorrem filamentos protéicos
que interpenetram as duas células, formando presilhas.

- Ocorrência: células epiteliais.


- Função: aumentar a adesão entre as células.
Diversas funções têm sido sugeridas para o glicocálix. Acre-
As Invaginações de base- São dobras da membrana voltadas dita-se que, além de ser uma  proteção contra agressões físicas e
para o interior da célula. químicas do ambiente externo, ele funcione como uma malha de
- Ocorrência- Células dos túbulos renais retenção de nutrientes e enzimas, mantendo um microambiente
- Função- Promover a reabsorção dos nutrientes. adequado ao redor de cada célula. Confere às células a capacidade
de se reconhecerem, uma vez que células diferentes têm glicocálix
Os Plasmodesmos- São pontos de contato entre as membranas formado por glicídios diferentes e células iguais têm glicocálix for-
celulares das células vegetais vizinhas, onde não ocorre deposição mado por glicídios iguais.
de celulose, formando pontes citoplasmáticas entre as mesmas.
- Ocorrência- células vegetais.
- Função- facilitar trocas de água e outras substâncias..

Reforços externos da membrana


A membrana plasmática é extremamente fina, e só é capaz de
ser enxergada através de microscópio eletrônico. Por ser tão fina
assim, outras estruturas a recobrem, atribuindo-lhe uma proteção
extra, que são parede celular e glicocálix, o qual possui função pri-
mordial de proteção.

O termo cobertura celular ou glicocálix é frequentemente uti-


lizado para descrever a região rica em carboidratos na superfície
celular. Esses carboidratos ocorrem tanto como cadeias de oligos-
sacarídeos ligadas covalentemente a proteínas da membrana (gli- Nos animais, o glicocálix também terá função de reconhe-
coproteínas) (e lipídeos glicolipídeos), e na forma de proteoglicanos cimento celular, sendo, por exemplo, de grande importância em
que consistem de longas cadeias de polissacarídeos ligados cova- transplantes. Assim, quanto mais parecido o glicocalix de uma pes-
lentemente a um núcleo protéico. soa for com o de outra, mais fácil a compatibilidade da doação.
A cobertura de carboidratos ajuda a proteger a superfície ce-
lular de lesões mecânicas e químicas, em diversos processos tran- Parede Celular
sitórios de adesão célula-célula, inclusive aqueles que ocorrem em A parede celular é uma estrutura localizada externamente, en-
interações espermatozóide-óvulo, coagulação sanguínea, e recircu- volvendo a membrana plasmática, e está presente em células vege-
lação de linfócitos em respostas inflamatórias. tais, organismos procariotos e alguns eucariotos, como os fungos.
Se isolássemos uma célula de nosso corpo, notaríamos que ela Ela é constituída por cadeias de glicídios e aminoácidos, que variam
esta envolta por uma espécie de malha feita de moléculas de glicí- entre as espécies, podendo variar até mesmo dentro do mesmo in-
dios (carboidratos) frouxamente entrelaçadas. divíduo, de acordo com o tipo celular. Em fungos, o principal com-
Esta malha protege a célula como uma vestimenta: trata-se ponente da parede celular é a quitina e, nas plantas, a celulose.
do glicocálix (do grego glykys, doce, açúcar, e do latim calyx, casca
envoltório). Função da parede celular
A parede celular apresenta como principal função proteger a
célula, reforçando-a externamente. Diante disso, tem papel muito
importante para evitar a plasmoptise (ruptura da célula devido ao
aumento de líquido em seu interior) em plantas e alguns protozoá-
rios, bactérias e fungos. Nas células vegetais, que se mantêm muitas
vezes túrgidas, a parede celular permite o aumento da rigidez de
alguns tecidos, auxiliando, assim, na sustentação de certas partes
da planta.

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BIOLOGIA
Parede celular vegetal
A parede celular vegetal é constituída por microfibrilas de celulose polissacarídica, imersas em uma matriz constituída por outros
dois polissacarídeos, as hemiceluloses, que estabilizam a parede celular, e as pectinas, que participam da constituição da lamela média,
a qual une as paredes das células vizinhas. Entre as células, também aparecem poros pelos quais passam fios de citoplasma, denomina-
dos plasmodesmos, o que facilita o transporte de substâncias de uma célula para outra. Algumas espécies secretam uma parede celular
secundária entre a parede celular primária e a membrana plasmática. Ela é constituída por diversas lâminas de material mais resistente,
proporcionando, assim, maior resistência e sustentação à célula.
A parede celular é formada pela deposição das microfibrilas por um arranjo entrelaçado e ocorre, geralmente, de forma homogênea,
podendo surgir algumas regiões mais espessas. Nas células que apresentam parede celular secundária, esta se forma internamente à
parede primária pela deposição de microfibrilas em um arranjo ordenado. Nesse processo, inicia-se a lignificação, processo em que há a
deposição da lignina, o que confere um revestimento mais estável e resistente.
Curiosidade: A parede celular de algumas algas, além da celulose, apresenta também em sua constituição o ágar e a carragenina, que
são polissacarídeos utilizados pela indústria alimentícia como estabilizantes e para dar consistência aos alimentos. Eles são usados ainda
na indústria farmacêutica e em cosméticos, entre outras utilidades. Texto adaptado de SANTOS. V. S. D.

Núcleo
O pesquisador escocês Robert Brown (1773- 1858) é considerado o descobridor do núcleo celular. Embora muitos citologistas ante-
riores a ele já tivessem observados núcleos, não haviam compreendido a enorme importância dessas estruturas para a vida das células.
O grande mérito de Brown foi justamente reconhecer o núcleo como componente fundamental das células. O nome que ele escolheu
expressa essa convicção: a palavra núcleo vem do grego nux, que significa semente. Brown imaginou que o núcleo fosse à semente da
célula, por analogia aos frutos.
O núcleo é o centro de controle das atividades celulares e o arquivo das informações hereditárias (aquelas passadas de pai para filho),
que a célula transmite às suas filhas ao se multiplicar. O comando do funcionamento celular, desempenhado pelo núcleo, deve-se à pre-
sença de moléculas de ácido desoxirribonucleico (DNA) em seu interior. A função mais importante do DNA é guardar os genes. Neles estão
as receitas para todas as proteínas que constituem um organismo, incluindo a informação sobre qual tipo de célula será produzido, e em
que quantidade, e quando cada proteína deverá ser produzida.
O núcleo é um aspecto característico da maioria das células eucarióticas. O núcleo é considerado como sendo uma das mais importan-
tes estruturas de células eucarióticas, uma vez que tem a função de armazenamento de informação, recuperação e duplicação da informa-
ção genética. É uma organela ligado à membrana dupla que alberga o material genético sob a forma de cromatina. É constituída por uma
mistura dinâmica dos subcompartimentos nonmembranous variando de capacidade funcional. As características específicas de um núcleo
celular, especialmente em termos da natureza e distribuição dos compartimentos subnucleares e o posicionamento dos cromossomas,
dependem seu estado diferenciado no organismo.
A célula cromossomas também estão alojados no interior do núcleo. Cromossomas contêm DNA que proporciona a informação gené-
tica necessária para a produção de outros componentes celulares e para a reprodução de vida.

O DNA , em uma célula eucariótica, está seqüestrada no núcleo, que ocupa em torno de 10% do volume celular total. O núcleo é de-
limitado por um envelope nuclear formado por duas membranas concêntricas. Essas membranas são vazadas, a intervalos regulares, por
poros nucleares, que ativamente transportam moléculas selecionadas do núcleo para o citosol.

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BIOLOGIA

A membrana nuclear é diretamente conectada a extensa rede de membranas do retículo endoplasmático e é sustentada por redes
de filamentos.
Uma das funções do envelope nuclear deve ser a de proteger as longas e frágeis moléculas de DNA das forças mecânicas geradas pelos
filamentos citoplasmáticos em eucariotos.
Dentro do núcleo está o nucléolo que se cora mais intensamente por ser rico em ácido ribonucléico (RNA).
O nucléolo é uma fábrica de RNA, e onde também se realizam as primeiras etapas da síntese dos ribossomos. O resto do núcleo con-
têm cromatina, assim chamada por que ela cora numa forma característica.
A cromatina consiste de DNA, RNA e um número de proteínas especializadas.
Entre as divisões celulares a cromatina fica dispersa ao acaso dentro do núcleo, mas pouco antes da divisão celular a cromatina torna-
-se organizada em discretos corpos granulares, os cromossomos.
Um cromossomo é formado por uma única molécula de DNA extremamente longa, que contêm uma série de genes.
Um gene por sua vez é definido como uma seqüencia nucleotídica de uma molécula de DNA, que atua como uma unidade funcional
para a produção de uma molécula de RNA. Entre os grânulos de cromatina e o nucléolo existe um fluido claro que foi denominado suco
nuclear, nucleoplasma ou cariolinfa.
Em geral, o núcleo é a maior organela, medindo em torno de 5 µm na maioria das células. Quase sempre há um núcleo por célula,
mas também existem células plurinucleadas, por exemplo, quando há uma massa muito grande de citoplasma. Nesse caso, talvez sejam
necessários vários núcleos para orientar a síntese de todas as proteínas de que a célula precisa. É o que ocorre com certos fungos que
multiplicam seus núcleos e formam uma estrutura chamada plasmódio. Existem casos, como o da fibra muscular estriada esquelética, em
que a grande massa de citoplasma resulta da fusão de várias células embrionárias; a estrutura assim formada recebe o nome de sincício.
Os componentes do núcleo são a cromatina (material genético), os nucléolos e o nucleoplasma, todos envolvidos pela membrana
nuclear. Nos organismos procariontes, não há um núcleo individualizado e o DNA aparece na forma de uma molécula circular solta no
citoplasma. Nos eucariontes, o material genético resulta da associação das moléculas de DNA com proteínas e forma um conjunto de
filamentos separado do citoplasma por uma membrana. O termo cromatina (chrôma = cor) vem do fato de esses filamentos adquirirem
cor visível ao microscópio óptico na presença de corantes básicos (como o azul de metileno) ou de outras técnicas (veja o quadro “Eviden-
ciando o DNA”). A membrana nuclear ou carioteca (karyon = núcleo; théke = invólucro) apresenta parede dupla com poros de cerca de
9 µm de diâmetro, através dos quais ocorre a troca de material entre o núcleo e o citoplasma, até mesmo de macromoléculas, como as
proteínas (figura abaixo).

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BIOLOGIA
A cromatina está mergulhada em um líquido, o nucleoplasma ou cariolinfa, constituído por água, sais minerais, proteínas e materiais
que participam da síntese de ácidos nucléicos. No nucleoplasma também há um ou mais nucléolos, corpúsculos nos quais o RNA que for-
ma o ribossomo é sintetizado de acordo com as instruções do DNA, também presente nesses nucléolos. Esse RNA se junta a proteínas que
vêm do citoplasma e forma as subunidades precursoras dos ribossomos, que são exportadas para o citoplasma.

Evidenciando o DNA
A presença de DNA na cromatina pode ser demonstrada pela técnica de Feulgen (do cientista alemão Robert Feulgen; lê-se “fói-
guem”), na qual se utiliza o reativo de Schiff, produto químico incolor que se torna violeta ao combinar-se com o DNA. Dizemos, por isso,
que o DNA é Feulgen positivo. O RNA não é corado por esse processo; portanto, é Feulgen negativo.

Características gerais do núcleo celular


Os organismos procariontes, representados pelas bactérias e cianobactérias ou cianofíceas, não possuem núcleo individualizado, ou
seja, delimitado por uma membrana. Nos eucariontes, porém, o núcleo apresenta-se perfeitamente individualizado e a membrana que o
delimita é denominada carioteca.

Variações quanto à forma e quanto ao número


As células eucarióticas geralmente são dotadas de um único núcleo, que normalmente acompanha o formato celular. Assim, o núcleo
costuma ser: arredondado nas células isodiamétricas; alongado em células cilíndricas ou fusiformes; achatado nas células pavimentosas.
Além das células mononucleadas, as mais comuns, existem células: multinucleadas as células musculares estriadas esqueléticas do corpo
humano; anucleadas as hemácias ou glóbulos vermelhos do sangue de mamíferos, as quais perdem o núcleo durante seu processo de
maturação; a ausência de núcleo nessas células explica o fato de elas exibirem uma curta duração no organismo, devendo, portanto, ser
continuamente produzidas.
Veja mais exemplos da diversidade de formas e de número de núcleos na figura a seguir:

Os experimentos de Balbiani
Os experimentos de merotomia (do grego meros, ‘parte’; tomia, ‘cortar’), realizados pelo cientista francês Eduard Girard Balbiani, no
final do século XIX, evidenciaram a função reguladora do núcleo. A merotomia consiste na secção ou corte de uma célula viva para estudo
das modificações que vão ocorrendo nos fragmentos. Trabalhando com amebas seccionadas, Balbiani verificou que a porção nucleada
regenerava-se e sobrevivia, ao contrário da porção anucleada, que degenerava. Quando, porém, em uma porção anucleada era enxertado
um núcleo transplantado de outra ameba, aquela porção sobrevivia e se reproduzia. Esses experimentos demonstraram a importância do
núcleo para a manutenção das atividades normais de uma célula, as quais permitem sua sobrevivência e reprodução.

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BIOLOGIA
Observe o esquema da figura abaixo.

Forma, número e função


O núcleo é a região da célula onde se encontra o material genético (DNA) dos organismos tanto unicelulares como multicelulares.
O núcleo é o que caracteriza os organismos eucariontes e os diferencia dos procariontes que não possuem núcleo.
A grande parte das células é uninucleada, ou seja, possuem apenas um núcleo. 
Mas algumas são binucleadas, pois possuem dois núcleos, e outras são plurinucleadas, isto é, possuem mais de dois núcleos. 

Função
O núcleo é como o cérebro da célula, pois é a partir dele que partem as decisões. É onde se localizam os cromossomos compostos de
moléculas de ácido desoxirribonucleico, DNA, que carrega toda a informação sobre as características da espécie e participa dos mecanis-
mos hereditários.
Cada região do DNA é composto por genes que codificam as informações para a síntese de proteínas, que ocorre nos ribossomos. De
acordo com o gene codificado, será sintetizada um tipo de proteína, que será usada para fins específicos.

Representação do processo de síntese proteica que começa no núcleo e depois acontece no citoplasma.
Além disso, quando o organismo precisa crescer ou se reproduzir a célula passa por divisões que acontecem também no núcleo.

Componentes do Núcleo
O núcleo contém nucleoplasma, substância onde fica mergulhado o material genético e as estruturas que são importantes para que
desempenhe suas funções, como os nucléolos.
E também há a carioteca ou membrana celular, que delimita o núcleo e envolve o material genético.

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Representação da estrutura do núcleo e sua ligação com o retículo e os ribossomos.

Carioteca
A membrana que envolve o núcleo é chamada de carioteca, tem natureza semelhante às restante membranas celulares, ou seja, dupla
camada de lipídios e proteínas.
A membrana mais externa está ligada ao retículo endoplasmático e muitas vezes possui ribossomos aderidos.
No lado interno da membrana interior há uma rede de proteínas (lâmina nuclear) que ajudam na sustentação da carioteca e partici-
pam do processo de divisão celular, contribuindo para a fragmentação e reconstituição do núcleo.
Existem poros na carioteca que são importantes para controlar a entrada e saída de substâncias.

Cromatina
As moléculas de DNA associadas às proteínas histonas compõem a cromatina. A cromatina pode estar mais densa, mais enrolada,
sendo chamada heterocromatina que se diferencia da região de consistência mais frouxa, a eucromatina.
O conjuntos dos cromossomos que constituem cada espécie é o cariótipo; no ser humano, por exemplo, são 22 pares de cromossomos
autossômicos e 1 par de cromossomos sexuais.
Os cromossomos humanos, por exemplo, têm forma e tamanho típicos o que facilita a sua identificação.

Nucléolos
Os nucléolos são corpos densos e arredondados compostos de proteínas, com RNA e DNA associados.
É nessa região do núcleo onde são fabricadas as moléculas de RNA ribossômico que se associam a certas proteínas para formar as
subunidades que compõem os ribossomos.
Essas subunidades ribossômicas ficam armazenadas no nucléolo e saem no momento de realização da síntese proteica.

Divisão Celular
Nos organismos unicelulares a divisão celular representa a reprodução desses seres. Já nos multicelulares a divisão é importante para
o crescimento e desenvolvimento do organismo. O surgimento de uma nova célula e todo processo de divisão é chamado de ciclo celular.

Foto de mitoses que estão ocorrendo nas células de cebola observadas ao microscópio.

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BIOLOGIA
A divisão celular em que a célula origina duas células-filhas abaixo da membrana nuclear interna, porque um de seus compo-
idênticas é denominado  mitose. Os cromossomos se tornam tão nentes, a lamina tipo B, está preso a esta membrana por um recep-
condensados que podem inclusive ser vistos ao microscópio. De- tor. Já as laminas do tipo A têm afinidade pela cromatina interfásica.
pois ocorrem diversas fases: prófase, metáfase, anáfase e telófase As laminas têm um papel importante na manutenção da forma
até que são originadas duas novas células. e do tamanho do núcleo. Isso ficou demonstrado com o seguinte
Já quando na divisão a célula origina células-filhas com a meta- experimento: o gene da lamina B3 de camundongo, que é expresso
de do número de cromossomos o processo é chamado de meiose. em espermatócitos, foi transfectado para células somáticas. Depois
Na meiose acontecem dois ciclos de divisões consecutivas, chama- da transfecção, as células somáticas, cujo núcleo era arredondado,
das de Meiose I e Meiose II passaram a apresentar núcleo em forma de gancho, característico
dos espermatócitos.
Elementos nucleares As laminas também estão envolvidas em suportar as deforma-
ções que o núcleo sofre quando empurrado pelas outras organelas.
Envoltório Nuclear Células mutantes que tiveram os genes de laminas deletados não
O envoltório nuclear, também chamado envelope nuclear ou são mais capazes de consertar deformações do núcleo, que conti-
carioteca, é formado por duas membranas concêntricas separadas nua deformado até a próxima mitose.
pelo espaço perinuclear e sustentadas no lado nuclear por estrutu- Cromatina aderida – Existe uma camada de heterocromatina
ras filamentosas. A seguir, descrevemos as principais características logo abaixo da lâmina que permanece associada ao envoltório nu-
dos componentes do envoltório nuclear. clear durante toda a intérfase. Esse posicionamento da cromatina
é importante para a própria organização do genoma e é mantido
pela associação das laminas do tipo A com a cromatina. Você pode
perceber que o posicionamento dos componentes do envoltório
nuclear é mantido pela interação da lâmina com a membrana inter-
na (através das laminas tipo B) e com a cromatina aderida (através
das laminas tipo A).
Complexos do poro – O envoltório nuclear possui poros estru-
turados que atravessam as duas membranas nucleares, constituin-
do, assim, uma comunicação direta entre os ambientes citossólico
e nuclear.

Esquema básico do compartimento nuclear, mostrando as


duas membranas que formam o envelope

Membrana nuclear externa – é contínua com o retículo endo- Esquema simplificado do complexo do poro. Repare que as mem-
plasmático rugoso, tendo frequentemente ribossomos aderidos, branas externa e interna são contínuas, mas se mantêm isoladas
capaz, portanto, de sintetizar proteínas. porque proteínas transmembrana que fazem parte da estrutura do
Espaço perinuclear – é contínuo com o lúmen do retículo en- poro bloqueiam a livre movimentação de proteínas e lipídios entre
doplasmático. elas.
Membrana nuclear interna – a bicamada lipídica dessa mem-
brana também é semelhante à do retículo endoplasmático, sendo A estrutura de cada poro é formada por três anéis: o anel cito-
contínua com a membrana externa em alguns pontos, porém seus plasmático, exposto na membrana externa; o anel nuclear, expos-
lipídios e proteínas não se difundem livremente pela membrana to na membrana interna, e um anel mediano na região do espaço
externa e pelo retículo. Por isso, a membrana nuclear interna tem perinuclear. Cada anel é formado por oito partículas. As partículas
composição especial. Entre as moléculas mais importantes dessa do anel mediano são transmembrana, sendo por isso chamadas es-
membrana, destacam-se receptores que vão ancorar a lâmina nu- tacas radiais, e formam a barreira que limita a fluidez de proteínas
clear, que está abaixo dela, e moléculas envolvidas com a homeos- e lipídios entre as membranas externa e interna. Do anel citoplas-
tase de cálcio. mático projetam-se longas fibrilas envolvidas com o reconhecimen-
Lâmina nuclear – É uma rede de filamentos entrecruzados, to das moléculas que poderão atravessar o poro. Do anel nuclear,
classificados como filamentos intermediários por causa de sua es- projetam-se outros filamentos que se prendem a um anel distal,
pessura e características de polimerização e despolimerização. parecendo uma cesta de basquete. O conjunto desses filamentos
Os filamentos da lâmina são formados por proteínas chamadas mais o anel distal é chamado cesta nuclear.
laminas (a palavra é assim mesmo, paroxítona quando se refere às Os poros nucleares medem cerca de 120 nm. No entanto, o
proteínas e proparoxítona quando se refere ao conjunto dos fila- diâmetro do canal formado pelo poro pode variar entre 9 e 50
mentos). As laminas são expressas nas células de quase todos os nm. Pequenas moléculas, com até 5.000 daltons, são transporta-
metazoários, com exceção dos fungos e dos vegetais. Nos mamí- das livremente pelos poros nucleares. Por outro lado, o transporte
feros existem cerca de 60 laminas que podemos classificar em dois de proteínas ou subunidades ribossomais, requer mudanças con-
diferentes grupos: laminas A e B. A lâmina nuclear fica sempre logo formacionais no poro, de forma a aumentar o diâmetro da luz do
canal, permitindo o transporte de moléculas de até 26 nm. Como
vimos na unidade 3, o transporte de proteínas através do poro nu-

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BIOLOGIA
clear é mediado por proteínas denominadas importinas ou exporti- melha a um colar de pérolas, onde as contas são os nucleossomos.
nas. A interação das importinas com as fibrilas citoplasmáticas dos O DNA localizado entre dois nucleossomos é denominado DNA de
poros nucleares é que vai promover as mudanças conformacionais ligação.
no poro de forma a permitir a abertura da luz do canal e o transpor-
te das macromoléculas para o nucleoplasma.

Nucleoplasma
O nucleoplasma é a região delimitada pelo envelope nuclear
que contém o material genético e as macromoléculas associadas
ao controle da expressão gênica. Vamos, agora, conhecer um pouco
sobre as principais estruturas presentes no nucleoplasma.

Núcléolos
O nucléolo é a região do nucleoplasma onde se localizam os
genes que codificam para o RNA ribossomal (RNAr), sendo, ainda, o
local da biogênese dos ribossomos. Após transcrição destes genes,
pela enzima RNA Polimerase I, o RNAr é processado e as subunida- Esquema representando uma fibra de cromatina
des ribossomais montadas no próprio nucléolo. O nucléolo apare- As histonas são proteínas ricas em resíduos de aminoácidos bá-
ce, sob microscopia eletrônica de transmissão, como uma região sicos na sua região aminoterminal. As histonas que constituem o
bastante eletrodensa. Apesar de parecer homogêneo, uma análise nucleossomos são denominadas histonas nucleossomais e incluem
mais detalhada do nucléolo revela que este apresenta regiões bem as histonas H2, H3A, H3B e H4. A compactação da molécula de DNA
definidas sob o ponto de vista estrutural e funcional. A estrutura deve-se à interação entre as cadeias laterais carregadas positiva-
nucleolar pode ser dividida em: centros fibrilares (local de concen- mente das histonas e os grupamentos fosfatos da molécula de DNA.
tração de genes e RNA Polimerase I); componente fibrilar denso Apesar de não constituir os nucleossomos, a histona H1 também é
(local de síntese do RNAr); e componente granular ou nucleolema importante para a configuração estrutural da cromatina, ao se as-
(local de montagem das subunidades ribossômica). sociar à fibra de cromatina e aos próprios nucleossomos. O grau de
condensação da cromatina pode ser regulado de diversas formas.
A regulação da condensação da cromatina é uma das formas
que as células eucarióticas possuem para controlar a expressão gê-
nica. A condensação da cromatina é inversamente proporcional à
capacidade de transcrição gênica, ou seja, os genes só podem ser
transcritos quando localizados em regiões menos condensadas da
cromatina. Duas enzimas são fundamentais no controle do grau de
condensação da cromatina. A histona acetiltransferase (HAT) é a
enzima responsável pela adição de grupamentos acetila à cadeia
lateral de resíduos de lisinas nas histonas, diminuindo a interação
destas proteínas com a molécula de DNA, e promovendo, assim,
a descondensação da cromatina. A enzima histona desacetilase
Fotomicrografia de um núcleo evidenciando o nucléolo, a (HDAC), por sua vez, é responsável pela remoção dos grupamentos
eucromatina e a heterocromatina. acetila, portanto, pelo aumento da interação das histonas com a
molécula de DNA e pela condensação da cromatina. Sob o ponto
Cromatina e Cromossomos de vista estrutural e funcional, a cromatina pode ser classificada
A cromatina é uma estrutura formada pela associação não co- em eucromatina e heterocromatina. A eucromatina é caracteriza-
valente entre o DNA e as proteínas histonas. Essa associação é res- da, morfologicamente, sob microscopia eletrônica de transmissão,
ponsável pela condensação (compactação) do material genético. A como a região mais clara e menos densa da cromatina. Por outro
formação da cromatina permite que uma molécula de DNA, cuja ex- lado, a heterocromatina é a região mais eletrodensa sob micros-
tensão linear é de quase 2 metros, possa ser armazenada em uma copia eletrônica, refletindo um maior grau de condensação da cro-
organela cujo diâmetro é de aproximadamente 10 µm. Este incrível matina.
grau de compactação possui um papel extremamente importante Os cromossomos são formados pela compactação da cromati-
para as células eucarióticas, uma vez que um volume muito maior na, e são encontrados somente na fase de mitose do ciclo celular. O
de informação genética pode ser armazenado, refletindo, assim, em grau de compactação observado entre a fibra de DNA e os cromos-
um grau de complexidade biológica extremamente prolífico. somos é de cerca de 10.000 vezes. Essa compactação é fundamental
A condensação da cromatina, além de reduzir o volume da mo- para que o material genético seja distribuído de forma homogênea
lécula de DNA e permitir que a mesma seja armazenada no interior e íntegra, após a devida duplicação, para as células filhas durante
do núcleo, também é importante por controlar a expressão gênica. a divisão celular. A análise do padrão cromossomial de uma dada
É importante ressaltar que o DNA nuclear das células eucarióticas espécie gera um perfil específico que denominamos cariótipo, que
é linear, em oposição ao DNA dos procariotos ou do DNA presente inclui o número de cromossomos, o tamanho dos cromossomos,
nas mitocôndrias das células eucarióticas, que possui uma estrutu- bem como a localização dos centrômeros (região de união das cro-
ra circular. A cromatina é formada por unidades repetidas de 146 mátides irmãs e onde ocorre a ligação das proteínas que compõem
pares de bases de nucleotídeos que envolvem um octâmero de his- o fuso mitótico). Texto adaptado de FEITOSA. A.
tonas. Essas unidades são denominadas nucleossomos e a união
entre elas forma a fibra de cromatina, uma estrutura que se asse-

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BIOLOGIA
Estrutura, componentes e funções
O núcleo, a maior organela das células animais, é envolto por duas membranas: uma externa, em contato com o citoplasma, e outra
interna a esta. Cada uma delas, tal qual a membrana plasmática, é constituída de uma bicamada de fosfolipídios e muitos tipos diferentes
de proteínas. A esse envoltório (ou envelope) nuclear é dado o nome de carioteca. Apenas células eucariotas possuem carioteca.

Figura 1: O núcleo celular possui um envoltório membranoso, chamado carioteca, que separa o conteúdo do núcleo do restante da
célula, além de controlar a passagem de substâncias do núcleo para o citoplasma e vice-versa.

A carioteca é perfurada por milhares de poros, através dos quais determinadas substâncias entram e saem do núcleo. Os poros nuclea-
res são mais do que simples aberturas. Em cada poro. existe uma complexa estrutura protéica que funciona com o uma válvula, abrindo-se
para dar passagem a determinadas moléculas, fechando-se em seguida. Dessa forma, a carioteca, assim como a membrana plasmática
para a célula, pode controlar a entrada e a saída de substâncias no núcleo.

Cromossomos e Cromatina
Cada célula humana contém aproximadamente dois metros de DNA de uma ponta à outra. No entanto, o núcleo celular, que abriga o
DNA, tem somente cerca de seis micrometros! Considerando que um micrometro é um milhão (1.000.000) de vezes menor que um metro,
você deve estar se perguntando: como o DNA é guardado no núcleo da célula?
Bem, o empacotamento do DNA é possível graças à presença de proteínas nucleares que se ligam à molécula de DNA, fazendo com
que esta se enrole ao seu redor, como uma linha em torno de um carretel. Estas estruturas, então, enrolam-se umas nas outras, compac-
tando-se ainda mais. A essa conformação compactada do DNA é dado o nome de cromossomo. E ao complexo DNA + proteínas é dado o
nome de cromatina.

Figura 2: Compactação do DNA. À molécula de DNA associam-se proteínas nucleares que dirigem um processo de dobramento da
molécula de maneira organizada até a formação de uma estrutura compacta – o cromossomo.

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BIOLOGIA
Ao longo de sua estrutura, um cromossomo apresenta uma ou mais constrições. A constrição primária (ou centrômero) está presente
em todos os cromossomos, representando um estrangulamento que origina os seus braços. Os cromossomos de uma célula que não está
em divisão apresentam apenas dois braços, enquanto o cromossomo de uma célula que se prepara para se dividir apresenta quatro. Isso é
o resultado da duplicação do cromossomo (processo que você conhecerá mais adiante). Cada braço duplicado de um mesmo cromossomo
recebe o nome de cromátide irmã.

Figura 3: Cromossomos de células que não estão em processo de divisão celular apresentam somente dois braços (em verde), en-
quanto células que se preparam para entrar em divisão apresentam quatro braços (em azul). Os braços duplicados são chamados de
cromátides irmãs.

A posição ocupada pelo centrômero dá origem a quatro classes de cromossomos:


1. Cromossomo Telocêntrico - O centrômero é terminal e o cromossomo apresenta apenas um braço. É o único tipo que não ocorre
na espécie humana (Figura 4A).
2. Cromossomo Acrocêntrico - O cromossomo apresenta um braço bem maior que o outro (Figura 4B).
3. Cromossomo Submetacêntrico - O centrômero é quase mediano e o cromossomo apresenta dois braços desiguais de dimensões
próximas (Figura 4C).
4. Cromossomo Metacêntrico - O centrômero é mediano e o cromossomo apresenta os dois braços do mesmo tamanho (Figura 4D).

Figura 4: Classificação dos cromossomos de acordo com a posição ocupada pelo centrômero. A) Cromossomo telocêntrico; B) Cro-
mossomo acrocêntrico; C) Cromossomo submetacêntrico; D) Cromossomo metacêntrico.

Nos cromossomos, encontramos os genes. Cada gene corresponde a uma sequência da molécula de DNA que é responsável pela
receita para a produção de uma proteína. Nesse ponto, é importante saber que as proteínas são moléculas que compõem praticamente
todas as estruturas celulares, desde organelas a membranas e até o próprio núcleo.

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BIOLOGIA
O número de cromossomos é constante em indivíduos de mesma espécie, mas varia de espécie para espécie. As células que formam o
corpo (chamadas células somáticas) da espécie humana possuem 46 cromossomos em seus núcleos. Desses, 2 cromossomos são sexuais,
XX para mulheres e XY para homens e 44 cromossomos são autossomos, ou seja, iguais para ambos os sexos. Texto adaptado de ALBERTS.
B, et al.

Citoesqueleto e movimento celular
O citoesqueleto é um sistema de proteínas filamentosas presente tanto em organismos eucariotos quanto em organismos procario-
tos. O termo citoesqueleto (originalmente, cytosquelette) foi cunhado pelo embriologista e zoologista francês Paul Wintrebert, no ano de
1931, ao acreditar na existência de uma rede intracelular resistente e elástica.

O citoesqueleto é constituído por três sistemas filamentosos: microfilamentos (filamentos de actina), microtúbulos e filamentos in-
termediários. O citoesqueleto participa de uma série de eventos celulares dinâmicos, tais como: a divisão celular; o transporte intracelular
de vesículas; o movimento flagelar ou ciliar; mobilidade celular, e a fagocitose. Sendo importante, ainda, para a determinação do formato
celular e por conferir proteção contra estresses mecânicos. Veremos, agora, as principais características estruturais e funcionais de cada
tipo de filamento que compõe o citoesqueleto.

MICROFILAMENTOS OU FILAMENTOS DE ACTINA


Os filamentos de actina também são conhecidos por microfilamentos por apresentarem o menor diâmetro (entre 6 e 8 nm) entre
os componentes do citoesqueleto. Os microfilamentos são formados pela polimerização da proteína globular actina G. A associação dos
monômeros de actina G formam dois protofilamentos polarizados dispostos de maneira paralela em uma dupla hélice e unidos por inte-
rações laterais não-covalentes. O filamento formado pela união de dois protofilamentos também é conhecido como actina F. A adição das
subunidades monoméricas de actina G ocorre na extremidade mais (+), e a despolimerização, na extremidade menos (-). A polimerização
da actina G nos filamentos depende de sua ligação com a molécula de ATP, ao passo que o desligamento das subunidades de actina G
depende da hidrólise do ATP, formando ADP e fosfato inorgânico.

Representação superficial da estrutura atômica de um filamento de actina com 14 subunidades. (+) – extremidade mais; (-) – extre-
midade menos.

Os filamentos de actina podem estar associados a diversas proteínas, que promovem, por exemplo, a sua interação com a membrana
plasmática, a formação de malhas ou feixes de filamentos, o deslocamento de um filamento sobre outro, ou o aumento ou diminuição da
estabilidade do polímero.
Os filamentos de actina são responsáveis pela formação de projeções da membrana plasmática em processos de migração celular e
fagocitose, além da estruturação das microvilosidades presentes em células epiteliais. A actina F também importante na determinação do
formato celular e no processo de clivagem celular que ocorre durante a citocinese.

FILAMENTOS INTERMEDIÁRIOS
Os filamentos intermediários possuem um diâmetro de cerca de 8 a 10 nm, situando-se entre os filamentos de actina e os microtú-
bulos. Estes filamentos são importantes na sustentação e estruturação do envelope nuclear, na coesão entre células epiteliais (junções
célula-célula) e na resistência mecânica contra estresses físicos. Os filamentos intermediários são formados por uma grande e diversa
família de proteínas fibrosas, que são classificadas em 6 tipos diferentes de acordo com as homologias das sequências de DNA e resíduos
de aminoácidos. Existem pelo menos 65 genes codificantes para proteínas que constituem os filamentos intermediários em humanos. As
proteínas que formam os filamentos intermediários não apresentam sítios de ligação a nucleotídeos, como as proteínas relacionadas aos
microfilamentos ou aos microtúbulos. A formação do polímero ocorre a partir de uma associação antiparalela retorcida do tipo cabeça-
-cauda, onde o domínio amino-terminal de uma cadeia polipeptídica encontra-se justaposto ao domínio caboxi-terminal da outra cadeia.

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BIOLOGIA

Classificação das proteínas formadoras de filamentos intermediários

MICROTÚBULOS
Os microtúbulos são a terceira classe de proteínas que constituem o citoesqueleto. O diâmetro médio de um filamento de microtú-
bulo é de aproximadamente 25 nm, sendo o mais espesso de todos os filamentos que compõem o citoesqueleto. Os microtúbulos estão
envolvidos em diversos processos celulares, incluindo a formação do fuso mitótico durante a divisão celular, o tráfego intracelular de vesí-
culas e organelas, e a formação dos cílios e flagelos das células eucarióticas.
Assim como nos filamentos de actina, o microtúbulo também é formado pela polimerização de proteínas globulares. Estas proteínas,
denominadas tubulinas α e β, formam os heterodímero responsáveis pelo elongamento do filamento. Os microtúbulos, da mesma forma
que a actina F, também apresentam uma estrutura polarizada, onde a adição das subunidades de tubulina ocorre na extremidade mais
(+), e a dissociação destas subunidades, na extremidade menos (-). A adição do heterotrímero ao polímero é mediada pela ligação das
subunidades de tubulina com o trifosfato de guanosina (GTP). Após a incorporação do heterotrímero no filamento, o GTP é hidrolisado
em difosfato de guanosina (GDP), o que afeta a estabilidade do heterodímero no filamento e permite uma eventual separação do mesmo.
Este processo é conhecido como instabilidade dinâmica e é fundamental para todos os processos biológicos regulados pelos microtúbulos.
A nucleação e organização dos microtúbulos ocorrem em regiões especializadas no citoplasma, denominadas centros organizadores
dos microtúbulos, e inclui os centrossomos, estrutura supramolecular composta por um par de centríolos e os corpúsculos basais. A pro-
teína responsável pela na nucleação dos microtúbulos, nos centrossomos, é a tubulina γ.

CITOESQUELETO EM PROCARIOTOS
Os elementos do citoesqueleto presentes nos procariotos são importantes para a divisão celular, e para a determinação do formato
e da polaridade celular. Os componentes do citoesqueleto dos organismos procariotos são semelhantes aos encontrados nas células eu-
carióticas. A proteína FtsZ, por exemplo, é responsável pela formação do anel contráctil durante a divisão celular, de forma semelhante
ao anel de actina e miosina presente nas células eucarióticas. Duas outras proteínas, denominadas MreB e crescentina, são responsáveis
pelo formato celular não-esferoidal de algumas bactérias. A MreB se assemelham, estruturalmente, à actina, enquanto que a crescentina
assemelha-se aos filamentos intermediários, sendo encontrada nas espécies Caulobacter crescentus e Helicobacter pylori.

PROTEÍNAS MOTORAS
As proteínas motoras são proteínas associadas aos microtúbulos ou aos filamentos de actina, e que ao interagirem com outras pro-
teínas, organelas ou vesículas, permitem a movimentação estas estruturas pela célula. A proteína miosina é a proteína motora associada
aos filamentos de actina. Inicialmente descrita em células musculares, sabemos, hoje, que a miosina é encontrada nos mais variados tipos
celulares, participando de fenômenos tão diversos como a contração muscular e o transporte vesicular.

Duas proteínas motoras encontram-se associadas aos microtúbulos: a dineína, envolvida no movimento dos cílios e flagelos; e a cine-
sína, relacionada ao movimento dos cromossomos e de vesículas e organelas. Ambas as proteínas utilizam a hidrólise da molécula de ATP
para proporcionarem mobilidade aos componentes celulares. A cinesina se movimenta em direção à extremidade mais (+) e a dineína em
direção à extremidade menos (-).

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BIOLOGIA

Esquema ilustrativo demonstrando a associação da cinesina com o microtúbulo.

O citoesqueleto é uma estrutura altamente dinâmica e complexa e que participa de funções celulares essenciais. Inúmeros estudos
relacionam determinadas patologias do sistema nervoso às alterações na formação do citoesqueleto e na expressão de proteínas associa-
das a ele. A epilepsia do lobo temporal, as displasias corticais e a esquizofrenia são exemplos de patologias que apresentam algum tipo de
envolvimento com as alterações que ocorrem na formação citoesquelética.
Apesar do significativo conhecimento existente sobre o citoesqueleto e proteínas associadas aos microtúbulos, não se sabe exata-
mente os mecanismos responsáveis pelas modificações estruturais encontradas em algumas patologias. Além do papel bem estabelecido
do citoesqueleto como componente estrutural e citoarquitetônico, sua participação como facilitador do tráfico intracelular de neuro-
transmissores e outras macromoléculas é função ainda a ser melhor explorada e compreendida. Texto adaptado de MONTEIRO. M. R;
KANDRATAVICIUS. L; LEITE. J. P.

BIOQUÍMICA. PROCESSOS DE OBTENÇÃO DE ENERGIA NA CÉLULA. PRINCIPAIS VIAS METABÓLICAS. REGULAÇÃO METABÓ-
LICA. METABOLISMO E REGULAÇÃO DA UTILIZAÇÃO DE ENERGIA. PROTEÍNAS E ENZIMAS

As células dos organismos vivos necessitam de energia para realizar os seus processos de crescimento e manutenção vital, entre os
quais estão os de sintetizar novas substâncias, realizar movimentos, estabelecer trocas passivas e ativas de substâncias através de mem-
branas, produzir calor, eliminar resíduos, desencadear processos de reprodução, etc.
Para obter essa energia realizam o processo de respiração celular que consiste basicamente no processo de extração da energia quí-
mica armazenada nas moléculas de glicose, com a participação do oxigênio. É um processo contínuo, que acontece em todas as células
dos seres aeróbios, tanto de dia como de noite. Se o mecanismo respiratório de entrada de O2 for paralisado num indivíduo, suas células
deixam de dispor de energia necessária para o desempenho de suas funções vitais e inicia-se, então, um processo de desorganização da
matéria viva, o que acarreta a morte do indivíduo.
A respiração celular da maioria dos seres vivos se realiza dentro de uma estrutura com forma de chinelo: o mitocôndrio, que são
verdadeiras “Usinas” de energia. O número de mitocôndrios de uma célula varia de alguns até centenas, dependendo se a célula realiza
menos ou mais intensamente a respiração celular.

Nos organismos aeróbicos, a equação simplificada da respiração celular pode ser assim representada:

C6H12O6+O2-> 6 CO2 + 6 H2O + energia

A respiração é um fenômeno de fundamental importância para o trabalho celular e, portanto, para manutenção de vida num organis-
mo. A fotossíntese depende da presença de luz solar para que possa ocorrer.

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BIOLOGIA
Já a respiração celular, inclusive nas plantas, é processada tanto no claro como no escuro, ocorre em todos os momentos da vida de
organismo e é realizada por todas as células vivas que o constituem. Se o mecanismo respiratório for paralisado num indivíduo, suas célu-
las deixam de dispor de energia necessária para o desempenho de suas funções vitais; inicia-se, então, um processo de desorganização da
matéria viva, o que acarreta a morte do indivíduo.

Na respiração, grande parte da energia química liberada durante oxidação do material orgânico se transforma em calor. Essa produção
de calor contribui para a manutenção de uma temperatura corpórea em níveis compatíveis com a vida, compensando o calor que normal-
mente um organismo cede para o ambiente, sobretudo nos dias de frio.
Isso se verifica principalmente em aves e mamíferos; em outros grupos, como os anfíbios e os repteis, o organismo é aquecido basica-
mente através de fontes externas de calor, quando, por exemplo, o animal se expõe ao sol.

Tipos de respiração
Já vimos que nos seres vivos a energia química dos alimentos pode ou não ser extraída com a utilização do gás oxigênio. No primeiro
caso, a respiração é chamada aeróbica. No segundo, anaeróbica.

Respiração aeróbica
A respiração aeróbica se desenvolve sobretudo nas mitocôndrias, organelas citoplasmáticas que atuam como verdadeiras “usinas” de
energia.
C6H12O6 + O2 → 6 CO2 + 6 H2O + energia

Nessa equação, verifica-se que a molécula de glicose (C6H12O6) é “desmontada” de maneira a originar substâncias relativamente
mais simples (CO2 e H2O). A “desmontagem” da glicose, entretanto, não pode ser efetuada de forma repentina, uma vez que a energia li-
berada seria muito intensa e comprometeria a vida da célula. É preciso, portanto, que a glicose seja “desmontada” gradativamente. Assim,
a respiração aeróbica compreende, basicamente, três fases: glicólise, ciclo de Krebs e cadeia respiratória.

Glicólise
Glicólise significa “quebra”. Nesse processo, a glicose converte-se em duas moléculas de um ácido orgânico dotado de 3 carbonos,
denominado ácido pirúvico (C3H4O3). Para a ser ativada e tornar-se reativa a célula consome 2 ATP (armazena energia química extraída
dos alimentos distribuindo de acordo com a necessidade da célula). No entanto, a energia química liberada no rompimento das ligações
químicas da glicose permite a síntese de 4 ATP. Portanto, a glicólise apresenta um saldo energético positivo de 2 ATP.
Na conversão da glicose em ácido pirúvico, verifica-se a ação de enzimas denominadas desidrogenases, responsáveis, como o próprio
nome diz, pela retirada de hidrogênios. Nesse processo, os hidrogênios são retirados da glicose e transferidos a dois receptores denomina-
dos NAD (nicotinamida adenina dinucleotídio). Cada NAD captura 2 hidrogênios. Logo, formam-se 2 NADH2.
Obs: A glicólise é um fenômeno que ocorre no hialoplasma, sem a participação do O2.

Ciclo de Krebs
O ácido pirúvico, formado no hialoplasma durante a glicose, penetra na mitocôndria, onde perde CO2, através da ação de enzimas
denominadas descarboxilases. O ácido pirúvico então converte-se em aldeído acético.
O aldeído acético, pouco reativo, combina-se com uma substância chamada coenzima A (COA), originando a acetil-coenzima A (acetil-
-COA), que é reativa. Esta, por sua vez combina com um composto. Nesse momento inicia-se o ciclo de Krebs, fenômeno biológico ocorrido
na matriz mitocondrial.

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BIOLOGIA
Cadeia respiratória A fermentação láctica é realizada por microorganismos (certas
Essa fase ocorre nas cristas mitocondriais. Os hidrogênios reti- bactérias, fungos e protozoários) e por certos animais.
rados da glicose e presentes nas moléculas de FADH2 e NADH2 são As bactérias do gênero Lactobacillus são muito empregadas
transportados até o oxigênio, formando água. Dessa maneira, na na fabricação de coalhadas, iogurtes e queijos. Elas promovem o
cadeia respiratória o NAD e o FAD funcionam como transportadores desdobramento do açúcar do leite (lactose) em ácido láctico. O
de hidrogênios. acúmulo de ácido láctico no leite torna-o ” azedo “, indicando uma
Na cadeia respiratória, verifica-se também a participação de ci- redução do pH. Esse fato provoca a precipitação das proteínas do
tocromos, que tem papel de transportar elétrons dos hidrogênios. leite, formado o coalho.
À medida que os elétrons passam pela cadeia de citocromos, libe-
ram energia gradativamente. Essa energia é empregada na síntese Cloroplasto e fotossíntese
de ATP. Os cloroplastos são organelas membranosas típicas dos vege-
O processo respiratório aeróbico pode, então, ser equacionado tais, ocorrendo também em algas verdes, que possuem tamanho
assim:
variável, mas, em regra, se tratam de organelas grandes. Eles pos-
suem genoma próprio, ou seja, o material genético que existe den-
C6H12O6 + 6 O2→ CO2 + 6 H2O + 38 ATP
tro dos cloroplastos é diferente do material genético da célula em
si. Por essa razão, acredita-se que, assim como as mitocôndrias, a
Respiração anaeróbica
O processo de extração de energia de compostos sem utilização origem dos cloroplastos tenha se dado por meio da endossimbiose.
de oxigênio (O2) é denominado respiração anaeróbica. Alguns orga- A teoria da endossimbiose diz que o surgimento de algumas
nismos, como o bacilo de tétano, por exemplo, têm na respiração organelas se deu com a instalação de uma célula procarionte no in-
anaeróbica o único método de obtenção de energia são os chama- terior de algum tipo de célula eucarionte primitiva desempenhando
dos anaeróbicos estritos ou obrigatórios. Outros como os levedos algum papel importante no funcionamento dessa. Essa interação
de cerveja, podem realizar respiração aeróbica ou anaeróbica, de teria se tornado benéfica a ambos os organismos se perpetuando
acordo com a presença ou não de oxigênio são por isso chamados ao longo da história evolutiva.
de anaeróbicos facultativos. Na respiração aeróbica, o O2 funciona
como aceptor final de hidrogênios. Estrutura básica
Na respiração anaeróbica, também fica evidente a necessida- Os cloroplastos podem se apresentar de diversas formas ou ta-
de de algum aceptor de hidrogênios. Certas bactérias anaeróbicas manhos, entretanto a configuração básica dessas estruturas é com-
utilizam nitratos, sulfatos ou carbonatos como aceptores finais de posta por uma membrana externa, uma membrana interna, pelo
hidrogênios. Os casos em que os aceptores de hidrogênios são com- espaço intermembranoso, estroma e pelos tilacóides. A membrana
postos orgânicos que se originam da glicólise. Esses tipos de respi- externa separa a organela do meio intracelular e a membrana inter-
ração anaeróbica são chamados de fermentações. na, por sua vez, delimita o espaço, de fato, funcional da organela, o
Fermentação – rendimento energético inferior seu interior. Essa área que surge entre as duas membranas é deno-
minada espaço intermembranoso e o conjunto dessas três regiões
Nos processos fermentativos, a glicose não é totalmente des- é, comumente, chamado de envelope.
montada. Na verdade, a maior parte da energia química armazena- Essas membranas citadas no parágrafo anterior se tratam de
da na glicose permanece nos compostos orgânicos que constituem membranas biológicas, dessa forma é importante destacar que elas
os produtos finais da fermentação. exerçam algum tipo de controle na entrada e na saída de molécu-
Há 2 tipos principais de fermentação: a alcoólica e a láctica. las. No interior da membrana interna é formada uma região que
Ambas produzem 2 ATP no final do processo. Portanto, o processo contém muitas enzimas e proteínas responsáveis pelas reações quí-
fermentativo apresenta um rendimento energético bem inferior ao micas dos cloroplastos e diversas outras moléculas. Essa região é
da respiração aeróbica, que produz 38 ATP.
denominada estroma.
Em um cloroplasto maduro, o estroma é preenchido por di-
A fermentação alcoólica
versas vesículas achatadas que são conhecidas como tilacóides, e
Na fermentação alcoólica, a glicose inicialmente sofre a glicóli-
é exatamente dentro desses discos que se encontram as moléculas
se, originando 2 moléculas de ácido pirúvico, 2 NADH2 E um saldo
energético positivo de 2 ATP, em seguida o ácido pirúvico é descar- de clorofila. Os tilacóides se organizam empilhados uns em cima
boxilado, originando aldeído acético e CO2, sob a ação de enzimas dos outros como se fossem pilhas de moedas, sendo assim o con-
denominadas descarboxilases. O aldeído acético, então, atua como junto dessas pilhas recebe o nome de grana. Embora sempre seja
receptor de hidrogênios do NADH2 e se converte em álcool etílico. feita uma analogia à pilha de moedas, o nome grana nada tem a ver
com dinheiro. Essa denominação se dá por ser o plural da palavra
A fermentação láctica latina granum, que significa grão.
Na fermentação láctica, a glicose sofre glicólise exatamente
como na fermentação alcoólica. Porém enquanto na fermentação Função
alcoólica o aceptor de hidrogênios é o próprio aldeído acético, na Os vegetais, por mais complexos que sejam, são seres que não
fermentação láctica o aceptor de hidrogênios é o próprio ácido saem andando a procura de alimentos. Por causa disso, é necessá-
pirúvico, que se converte em ácido láctico. Portanto não havendo ria outra estratégia para a obtenção de nutrientes e energia. Alguns
descarboxilação do ácido píruvico, não ocorre formação de CO2. desses nutrientes e a água são obtidos por meio da raiz por estarem
presentes no substrato em que o vegetal está. Entretanto, a energia
Veja abaixo a equação simplificada da fermentação láctica: é proveniente da glicose, e ela não está livre e presente no solo.
Nesse sentido, a estratégia utilizada por esses organismos se baseia
C6H12O6 → 2C3H6O3 + 2ATP num processo denominado fotossíntese.

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A fotossíntese é, grosso modo, uma reação química que ocorre Processos fotossintéticos: Fase clara e escura
nas células utilizando luz solar, gás carbônico e água resultando na Etapa luminosa ou fotoquímica Nesta etapa acontece uma sé-
produção de glicose e liberação de oxigênio. Esse processo é carac- rie de reações onde a energia da luz será transferida para algumas
terístico dos seres denominados autótrofos, ou seja, que produzem moléculas em forma de energia química. Essa etapa não ocorre sem
seu próprio alimento e só acontece devido ao cloroplasto. que haja o pigmento clorofila que tem a capacidade de absorver a
Por fim, analisando os organismos vivos como um todo, pode- energia da luz.
-se notar a importância do cloroplasto. Veja bem, é por causa do A energia contida na luz faz com que alguns elétrons fiquem
pigmento presente nos cloroplastos que os vegetais conseguem excitados, isto significa que eles passam para níveis energéticos
sintetizar sua própria fonte de energia. Ao sintetizar esse nutriente mais altos e conseguem escapar na moléculas de clorofila e assim
orgânico o açúcar os vegetais se tornam a base da cadeia alimentar, podem são levados por uma série de enzimas. Assim é feita a fixa-
sendo capazes de transferir energia aos demais níveis tróficos dessa ção da energia da luz solar em certas moléculas químicas.
teia composta por produtores, consumidores e decompositores.
Etapa escura ou química
Processo fotossintético
Esta etapa compreende a formação de moléculas orgânicas
A fotossíntese, processo autotrófico indispensável à vida no
pela incorporação do C02 do ambiente. Os ATP formados na etapa
planeta, representa a conversão de matéria inorgânica (água e gás
luminosa vão fornecer energia para ligar moléculas de C02 a molé-
carbônico) em matéria orgânica (geralmente a glicose) com libera-
ção de gás oxigênio, realizado por organismos clorofilados: os vege- culas de ribulose-fosfato, um açúcar de 5 carbonos. Formam-se, en-
tais e algas. Para desencadear essa atividade bioquímica, os seres tão, moléculas de 6 carbonos, que se quebram em duas moléculas
fotossintetizantes, necessitam assimilar freqüências específicas da de 3 carbonos. Cada uma dessas moléculas de 3 carbonos, por sua
radiação solar (energia luminosa), convertida em energia de liga- vez, recebe hidrogênios do NADPH2 e se torna um fosfoglicerato.
ções químicas, armazenada entre os átomos do composto orgânico Veja essa Animação sobre a Fase escura da Fotossíntese.
formado. A partir do fosfoglicerato, constituído por moléculas de 3 car-
bonos, vão se formar os açúcares, como a glicose e a ribulose, os
EQUAÇÃO GERAL DA FOTOSSÍNTESE: ácidos graxos e os aminoácidos, dos quais vão derivar os açúcares
complexos, as proteínas, as gorduras e outros compostos orgânicos.
(luz e clorofila) Em 1948, o norte-americano Melvin Calvin comprovou a par-
6 CO2 + 12 H2O ↔ C6H12O6 + 6 O2 + 6 H2O ticipação do C02 na síntese de glicose na etapa escura da fotossín-
tese. Por isso, todas as reações químicas da etapa escura ficaram
conhecidas como ciclo de Calvin.
As reações da etapa escura são indiferentes à luz, mas depen-
dem da etapa luminosa para acontecerem. Assim, em última análi-
se, as duas etapas ocorrem, na natureza, durante o dia.

As etapas da fotossíntese no cloroplasto


A etapa luminosa acontece nas lamelas e nos grana, e toda a
etapa escura acontece no estroma ou matriz. Assim, água, ADP +
P e NADP, que participam da fase luminosa, entram nas lamelas e
nos grana, e transformam-se em 02, ATP e NADPH2. Os produtos da
fase de claro, ATP e NADPH2, além do C02, que vem do ambiente,
participam da fase escura, havendo produção de glicose. Esse açú-
car pode ser enviado, via seiva elaborada ou orgânica, para outras
partes da planta, ou então, pode ser transformado em amido, que
fica armazenado em órgãos como raízes e caules.
A intensidade luminosa é um fator limitante com valores di-
Dessa forma, o metabolismo fotossintético foi de fundamen- ferentes para as plantas heliófilas e plantas umbrófilas. Intensida-
tal importância durante a evolução das condições ambientais, em des luminosas baixas reduzem a taxa de fotossíntese, havendo para
particular da atmosfera, proporcionando a formação de um filtro cada espécie vegetal um valor ótimo. Intensidades luminosas eleva-
retentor de radiação ultravioleta (camada de ozônio). Tal circuns- das inibem a fotossíntese porque desorganizam a estrutura molecu-
tância causou gradativa estabilidade climática, tornando viável um lar dos pigmentos fotossintetizantes.
meio oxidativo favorável ao surgimento de organismos, que a partir A concentração de C02 é frequentemente o fator limitante da
de então passaram a realizar reações metabólicas favorecidas pela fotossíntese na natureza, devido à sua baixa concentração na at-
respiração aeróbia. mosfera (cerca de 0,03%). Um aumento da concentração de C02
Quanto à produção de compostos orgânicos (carboidratos), a determina um aumento da taxa de fotossíntese nas plantas em ge-
fotossíntese colabora de forma direta e indireta com a manutenção ral; entretanto, concentrações acima de 1% são inibidoras, devido à
dos níveis tróficos em uma cadeia alimentar, pois os organismos formação de ácido carbônico.
autotróficos constituem a base sustentadora dos demais níveis: os
consumidores herbívoros e carnívoros. Fatores limitantes da fotossíntese
A taxa de fotossíntese pode ser influenciada tanto por condi-
ções internas das plantas quanto por condições externas do meio
físico. As condições ou fatores internos estão relacionados princi-

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BIOLOGIA
palmente com as enzimas e os pigmentos fotossintetizantes. Os fatores externos são principalmente a intensidade luminosa, a concen-
tração de C02 e a temperatura. Esses fatores são conhecidos como fatores limitantes, pois cada um deles pode isoladamente impedir a
elevação da taxa fotossintética.
Entre dois ou mais fatores, age como limitante aquele que se apresenta em intensidade menor do que os demais.
Fotossíntese e respiração
O processo da respiração pode ser considerado complementar ao da fotossíntese. Ele ocorre dia e noite sem cessar, durante a vida da
planta, com consumo de 02 e de açúcares produzidos na fotossíntese e liberação de C02 e água. Durante o dia, a planta também realiza
fotossíntese, com utilização de C02 e água. Como as plantas tanto produzem quanto consomem água, C02 e 02, haverá ocasiões em que a
intensidade luminosa será tal que determinará uma equivalência nas taxas dos processos respiratório e fotossintético. Isso significa que a
quantidade de 02 consumida na respiração será igual à produzida na fotossíntese, o mesmo ocorrendo com o C02. Nesse caso, a intensi-
dade luminosa é denominada ponto de compensação fótico ou luminoso e varia para cada espécie vegetal.
Quimiossíntese
Um reduzido número de organismos (no caso algumas bactérias) fabrica seu alimento orgânico sem depender de luz, por um processo
denominado quimiossíntese. A importância ecológica das bactérias é imensa.
A principal diferença entre os processos de fotossíntese e quimiossíntese relaciona-se com a fonte de energia utilizada. Assim, en-
quanto os seres clorofilados usam energia luminosa, os seres quimiossintetizantes valem-se da energia liberada pela oxidação de substân-
cias inorgânicas, como enxofre e amônia, existentes no meio em que vivem. Texto adaptado de VITÓRIA. C.
PRINCIPAIS VIAS METABÓLICAS
Chama-se METABOLISMO ao conjunto de reações químicas que ocorrem nas células, e que lhe permitem manter-se viva, crescer e
dividir-se. Classicamente, divide-se o metabolismo em:
1.Catabolismo-obtenção de energia e poder redutor a partir dos nutrientes;
2. Anabolismo-produção de novos componentes celulares, em processos que geralmente utilizam a energia e o poder redutor obtidos
pelo catabolismo de nutrientes.
Existe uma grande variedade de vias metabólicas. Em humanos, as vias metabólicas mais importantes são:
- glicólise - oxidação da glicose a fim de obter ATP
- ciclo de Krebs - oxidação do acetil-CoA a fim de obter energia
- fosforilação oxidativa - eliminação dos elétrons libertados na oxidação da glicose e do acetil-CoA. Grande parte da energia libertada
neste processo pode ser armazenada na célula sob a forma de ATP.
- via das pentoses-fosfato - síntese de pentoses e obtenção de poder redutor para reações anabólicas
- ciclo da uréia - eliminação de NH4+ sob formas menos tóxicas
- β-oxidação dos ácidos gordos - transformação de ácidos gordos em acetil-CoA, para posterior utilização pelo ciclo de Krebs.
- gluconeogênese -síntese de glicose a partir de moléculas mais pequenas, para posterior utilização pelo cérebro.
As diversas vias metabólicas relacionam-se entre si de forma complexa, de forma a permitir uma regulação adequada. Este relaciona-
mento envolve a regulação enzimática de cada uma das vias, o perfil metabólico característico de cada órgão e controlo hormonal.
Glicólise
A glicólise é uma das etapas da respiração celular, na qual ocorre a quebra da glicose em partes menores e consequente liberação de
energia. Essa etapa metabólica acontece no citoplasma da célula enquanto as seguintes são dentro da mitocôndria.
O que é Glicólise?
Glicólise é um processo bioquímico em que a molécula de glicose(C6H12O6), proveniente da alimentação, é quebrada em duas molé-
culas menores de ácido pirúvico ou piruvato(C3H4O3), liberando energia. É a primeira etapa do processo de respiração celular que ocorre
no hialoplasma celular.
A equação esquematizada abaixo representa um resumo da glicólise, mas é importante saber que o processo é mais complexo e ocor-
re ao longo de dez reações químicas, das quais participam diversas substâncias e enzimas livres no citoplasma.

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BIOLOGIA
Na glicólise, a molécula da glicose é quebrada em dois piruva- Reações do Ciclo de Krebs
tos e são produzidos dois ATP. O ciclo de Krebs corresponde a uma sequência de oito reações
Dependendo do organismo e do tipo de célula, a respiração ce- oxidativas, ou seja, que necessitam de oxigênio.
lular pode acontecer na presença do oxigênio (aeróbicos) ou com- Cada uma das reações conta com a participação de enzimas
pleta ausência (anaeróbicos) e assim a glicólise produzirá substân- encontradas nas mitocôndrias. As enzimas são responsáveis por ca-
cias diferentes. talisar (acelerar) as reações.

Na respiração aeróbica é originado o piruvato que entra no ci- Etapas do Ciclo de Krebs
clo de Krebs, enquanto narespiração anaeróbica, a glicose origina o
lactato ou o etanol que participam, respectivamente, da fermenta- Descarboxilação Oxidativa do Piruvato
ção lática ou alcoólica. A glicose (C6H12O6) proveniente da degradação dos carboidra-
tos se converterá em duas moléculas de ácido pirúvico ou piruvato
Bioquímica da Glicólise (C3H4O3). A glicose é degradada através da  Glicólise, e é uma das
A glicose é quebrada ao longo de dez reações químicas que principais fontes de Acetil-CoA.
geram duas moléculas de ATP como saldo. Apesar de ser pouca a A descarboxilação oxidativa do piruvato dá início ao ciclo de
energia produzida nesse etapa, há substâncias geradas que serão Krebs. Ela corresponde a remoção de um CO2 do piruvato, gerando
importantes nas etapas seguintes da respiração. o grupo acetil que se liga a coenzima A (CoA) e forma o Acetil-CoA.
Inicialmente a molécula de glicose precisa ser ativada, para isso
são gastas duas moléculas de ATP e a glicose recebe fosfatos (prove-
nientes do ATP) formando glicose 6-fosfato. Em seguida esse com-
posto sofre mudanças na sua estrutura, originando frutose 6-fosfa-
to e frutose 1,6 bifosfato.
Com essas alterações as substâncias são mais facilmente que-
bradas em moléculas menores. Depois acontece nova fosforilação
(entrada de fosfato na molécula) e desidrogenação (hidrogênios são
retirados) das substâncias produzidas, com a participação da molé-
cula NAD (nicotinamida adenina). Descarboxilação oxidativa do piruvato para formar o Acetil-CoA
Os hidrogênios doam elétrons para a cadeia respiratória, a mo-
lécula de NAD (nicotinamida adenina) é a responsável por transpor- Observe que essa reação produz NADH, uma molécula carre-
tá-los, na forma de NADH, sendo uma aceptora de elétrons. gadora de energia.
Por fim, novo rearranjo acontece nas moléculas até a forma-
ção de piruvato que seguirá para as etapas seguintes da respiração Reações do Ciclo de Krebs
celular. Com a formação do acetil-CoA é dado início ao ciclo de Krebs,
na matriz das mitocôndrias. Ele integrará uma cadeia de oxidação
Ciclo de Krebs celular, ou seja, uma sequência de reações a fim de oxidar os carbo-
O Ciclo de Krebs ou Ciclo do Ácido Cítrico é uma das etapas nos, transformando-os em CO2.
metabólicas da respiração celular aeróbica que ocorre na matriz mi-
tocondrial de células animais.
Lembre-se que a Respiração Celular é constituída por 3 fases:
Glicólise - processo de quebra da glicose em partes menores,
com formação de piruvato ou ácido pirúvico, que originará o Ace-
til-CoA.
Ciclo de Krebs - o Acetil-CoA é oxidado a CO2.

Cadeia Respiratória - produção da maior parte da energia, com


a transferência de elétrons provenientes dos hidrogênios, que fo-
ram retirados das substâncias participantes nas etapas anteriores.

Funções e Importância
O complexo ciclo de Krebs possui várias funções que contri-
buem para o metabolismo das células.
A função do ciclo de Krebs é promover a degradação de produ-
tos finais do metabolismo dos carboidratos, lipídios e de diversos
aminoácidos. Essas substâncias são convertidas em acetil-CoA, com
a liberação de CO2 e H2O e síntese de ATP.
Assim, realiza a produção de energia para a célula.
Além disso, entre as diversas etapas do ciclo de Krebs são pro-
duzidos intermediários usados como precursores na biossíntese de
aminoácidos e outras biomoléculas.
Através do ciclo de Krebs, a energia proveniente das moléculas
orgânicas da alimentação é transferida para moléculas carregadoras
de energia, como o ATP, para ser utilizada nas atividades celulares.

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BIOLOGIA
Etapas do Ciclo de Krebs ser observados três processos diferentes, mas bastante importan-
Com base na imagem do ciclo de Krebs, acompanhe o passo a tes e relacionados: a produção de acetilcoenzima A ou Acetil-CoA, o
passo de cada reação: ciclo de Krebs e a cadeia respiratória.
Antes de falar sobre os processos citados acima, é importante
Etapas (1-2) → A enzima citrato sintetase catalisa a reação de destacar ao que nos referimos quando se menciona a energia. Essa
transferência do grupo acetil, proveniente da acetil-CoA, para o áci- energia, que é o produto final dessas reações, é proveniente da mo-
do oxaloacético ou oxaloacetato formando o ácido cítrico ou citra- lécula de ATP, adenosina trifosfato. O ATP é uma molécula “relativa-
to e liberando a Coenzima A. O nome do ciclo está relacionado com mente” simples composta pela base nitrogenada adenina, açúcar e
a formação do ácido cítrico e as diversas reações que decorrem. três fosfatos. A energia que tanto se fala é oriunda, justamente, das
Etapas (3-5) → Ocorrem reações de oxidação e descarboxilação duas ligações que unem os fosfatos. Elas são ligações de alta ener-
originando ácido cetoglutárico ou cetoglutarato. É liberado CO2 e gia que, quando necessário para alguma função ou reação do cor-
forma-se NADH+ + H+. po, são quebradas liberando energia suficiente para esses eventos.
Etapas (6-7)  → Em seguida o ácido cetoglutárico passa por
reação de descarboxilação oxidativa, catalisada por um complexo Produção de Acetil-CoA
enzimático do qual fazem parte a CoA e o NAD+. Essas reações ori- A Acetil-CoA é um dos substratos de interesse para a geração
ginarão ácido succínico, NADH+ e uma molécula de GTP, que pos- de energia, assim, é necessário que seja produzida. Nesse sentido,
teriormente transferem sua energia para um molécula de ADP, pro- essa produção pode ocorrer de duas formas. A primeira forma, e
duzindo assim ATP. mais frequente, é por meio do piruvato ou acido pirúvico. Após uma
Etapa (8) → O ácido succínico ou succinato é oxidado a ácido glicose ser degrada em condições de anaerobiose no citosol (glicó-
fumárico ou fumarato, cuja coenzima é o FAD. Assim será forman- lise) são geradas duas moléculas de piruvato. Esse piruvato ultra-
do FADH2, outra molécula carregadora de energia. passa as membranas mitocondriais e, na matriz dessa organela,
Etapas (9 -10) → O ácido fumárico é hidratado formando o áci- ocorrem reações mediadas por diversas enzimas dando origem ao
do málico ou malato. Por fim, o ácido málico sofrerá oxidação for- acetato. O acetato, por sua vez, se liga à coenzima A, o que acaba
mando o ácido oxaloacético, reiniciando o ciclo. gerando a acetilcoenzima A.
A outra forma ocorre com o metabolismo de gorduras, mais
Essas reações ocorrem na matriz da mitocôndria dos eucarion- especificamente, de ácidos graxos. Nesse caso, o que acontece é a
tes e no citoplasma dos procariontes. Como o próprio nome indica, passagem desses ácidos graxos através de enzimas presentes nas
são reações cíclicas, ou seja, o produto final entra novamente no membranas mitocondriais e, na matriz, ocorre uma série de rea-
ciclo, que têm como função a oxidação de açucares e lipídeos a gás ções que os degradam. Assim, esse conjunto de reações é denomi-
carbônico e água. Assim, durante as reações ocorre a produção de nada β-oxidação.
metabólitos para outros processos, geração de energia e liberação Enfim, a produção da Acetil-CoA não gera, de fato, energia. En-
de íons e elétrons altamente energéticos. Esses processos contam tretanto, se trata de uma etapa de extrema importância porque faz
com o auxílio de moléculas aceptoras como a nicotilamida adenina parte de um processo bastante complexo de geração do ATP.
dinucleotideo (NAD) e o flavina adenina dinucleotídeo (FAD).
Ciclo de Krebs
Enfim, o ciclo de Krebs é uma sequência de reações de extrema O ciclo de Krebs começa quando a Acetil-CoA reage com o áci-
importância por participar, direta ou indiretamente, na geração de do oxalacético, gerando o ácido cítrico. Após isso, ocorre uma sequ-
energia e formação de diversos compostos através de processos ca- ência de reações mediadas por enzimas que, ao final, resultam na
tabólicos e anabólicos. Texto adaptado de ALEIXO. M. S. liberação de íons, prótons e CO2. Não obstante, ocorre também a
produção de ácido oxalacético que entrará no ciclo novamente. Esse
Fosforilação Oxidativa processo possui baixa eficiência energética porque produz apenas
Para que a vida pudesse surgir e se desenvolver, foi necessária duas moléculas de ATP por cada de glicose consumida, entretanto
a criação de mecanismos de obtenção de energia. Em razão disso, sua função é, justamente, liberar elétrons altamente energéticos e
surgiu a respiração celular, que se ocupa com esse ofício. A primeira prótons que serão utilizados em outro processo.
estratégia desenvolvida era realizar esse processo sem o envolvi-
mento do  oxigênio, afinal ele não estava disponível no ar atmos- Cadeia respiratória
férico. Com isso, surgiu a  respiração anaeróbica. Entretanto, essa A cadeia respiratória ocorre nas cristas mitocondriais. Ela é
forma de obtenção de energia não é muito eficiente porque tem um uma sequência de compostos enzimáticos e não enzimáticos ca-
rendimento energético de menos de 4%, ou seja, das 690 quiloca- pazes de “extrair” gradualmente a energia dos elétrons liberados
lorias (kcal) disponíveis em um mol de glicose, a célula só consegue durante o ciclo de Krebs. Além disso, nesse processo ocorre a pro-
aproveitar 20 kcal pela via anaeróbica. dução de água a partir da combinação entre os prótons liberados
Em razão dessa baixa eficiência do processo acima citado, as- pelo ciclo anteriormente citado e o oxigênio. Essa cadeia de eventos
sociado a mudanças nas condições ambientais (disponibilidade de é um processo altamente eficiente no que se refere à produção de
oxigênio), surgiram mecanismos mais eficientes, como é o caso energia, produzindo a grande maior parte dos 36 ATPs da fosforila-
da  respiração aeróbica. Isso quer dizer que as pressões do meio ção oxidativa. Assim, sua função principal é a produção de energia.
ambiente possibilitaram o surgimento da obtenção de energia com
o uso do oxigênio, o que possibilitou o desenvolvimento de formas Enfim, a fosforilação oxidativa é um processo que ocorre nas
de vida mais complexas. Assim, é nessa modalidade que se encaixa mitocôndrias e apenas em condições de aerobiose. É responsável
a fosforilação oxidativa. pela esmagadora maior parte da energia nos seres que a realizam
A fosforilação oxidativa se trata de uma sequência de reações e seu surgimento foi um grande passo na história evolutiva, possi-
bioquímicas que compõem a respiração aeróbica e ocorrem nas mi- bilitando, talvez, o desenvolvimento de formas de vida mais com-
tocôndrias. Ela é um processo obrigatoriamente aeróbico e podem plexas.

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BIOLOGIA
Via das Pentoses-fosfato Ciclo da Uréia
Uma das grandes fontes de energia animal e vegetal é a glico- O ciclo da uréia é uma sequência de reações bioquímicas com o
se. Maior parte da glicose, nos animais, é catabolizada através do objetivo de produzir este composto, a partir da amônia.
processo bioquímico chamado glicólise. Este processo complexo de A amônia é uma substância tóxica, do metabolismo do nitrogê-
diversas reações bioquímicas transforma uma molécula de glicose nio, que deve ser eliminada rapidamente do organismo. A elimina-
em piruvato, gerando adenosina-trifosfato (ATP). ção pode ser por excreção direta ou por excreção após a conversão
em compostos menos tóxicos.
No entanto existem outras vias metabólicas pelas quais a glico-
se pode ser catabolizada, essas vias “alternativas”, geram produtos Os peixes excretam a amônia diretamente, já que é solúvel em
finais diferentes e específicos da glicólise e, portanto, são usadas água e se dissolve rapidamente.
pelas células nos casos em que estes produtos secundários se fa- As aves e animais terrestres excretam o nitrogênio sob a forma
zem necessários. Dentre essas vias, esta a via das pentoses-fosfato. de ácido úrico.
Além de ATP é muito importante para as células que elas pos- Os animais terrestres excretam o nitrogênio sob a forma de
suam moléculas que sejam bons agentes redutores e oxidantes. O uréia, composto muito solúvel em água e não tóxica para as células.
NADPH é uma destas moléculas com grande poder redutor, neces- Em seres humanos e mamíferos, quase 80% do nitrogênio ex-
sário não só em diversas vias bioquímicas, mas também atuando cretado é sob a forma da uréia.
como uma importante molécula compensatórias de  radicais li-
vres gerados em certos processos metabólicos. O NADPH é um dos Onde ocorre o Ciclo da Uréia?
produtos finais da via das pentoses fosfato. Outro produto bastante O ciclo da uréia ocorre nas células do fígado e em, menor parte,
importante da via das pentoses é o açúcar ribose-5-fosfato, o açú- nos rins. Inicia-se na mitocôndria e segue para o citosol da célula,
car que constitui os  nucleotídeos  que irão compor  ácidos nuclei- onde se dá a maior parte do ciclo.
cos de diversas coenzimas, como o ATP, NADH, FADH2 e coenzima
A. Além disso, na via das pentoses também são gerados outros tipos Ciclo da Uréia e Ciclo de Krebs
de açúcares de tamanhos e padrões de fosforilação diferentes. O ciclo da uréia é ligado ao ciclo de Krebs.
As reações dos dois ciclos são relacionadas e alguns produtos
A via das pentoses é composta de duas fases, uma oxidativa
intermediários formados no ciclo de Krebs são precursores de rea-
e uma não oxidativa. Durante a fase oxidativa as moléculas de gli-
ções para o ciclo da ureia.
cose-6-fosfato (glicose que é utilizada para gerar energia na célu-
la) são oxidadas por moléculas de NADP+, pela enzima glicose-6P
Etapas do Ciclo da Uréia
desidrogenase, gerando moléculas de NADPH e 6-fosfato-gliconato
Consiste em cinco reações, duas no interior da mitocôndria e
(6P-gliconato). Estas moléculas de 6P-gliconato também são oxida-
três no citosol.
das, gerando ainda mais moléculas de NADPH, moléculas de CO2 e
Cada etapa é catalisada por uma enzima. Assim, há cinco enzi-
ribulose-5-fosfato. A partir deste ponto as reações são não-oxida-
mas envolvidas no ciclo da uréia: carbamil-fosfato sintetase, orni-
tivas e a ribulose-5-fosfato, por isomerização passa para a forma tina-transcarbamilase, arginino-succinato sintetase, arginino-succi-
de ribose-5-fosfato. Parte da ribose-5-fosfato continua no processo nato liase e arginase.
de isomerização, gerando a xilulose-5-fosfato. Ambas pentoses são De modo resumido, o ciclo ocorre da seguinte forma:
recicladas gerando novas moléculas de glicose-6-fosfato, que pode 1. A enzima carbamil-fosfato sintetase, presente na mitocôn-
ser utilizada tanto na via de pentoses novamente, como todas as dria, catalisa a condensação da amônia com bicarbonato e forma
vias de metabolismo da glicose. Além disso, alguns produtos inter- carbamoilfosfato. Para essa reação há o consumo de duas molécu-
mediários da via como a glicose-6-fosfato, frutose-6-fosfato e glice- las de ATP.
raldeido-3-fosfato, são intermediários comuns na via das pentoses, 2. A condensação da ornitina, presente na mitocôndria, e do
na glicólise e em outras vias, permitindo que haja integração entre carbamoilfosfato gera citrulina, sob ação da enzima ornitina-trans-
todas estas vias e permitindo que a célula intercambie entre as vias carbamilase. A citrulina é transportada para o citosol e reage com
metabólicas, de acordo com sua necessidade. aspartato gerando argininosuccinato e fumarato.
A regulação desta via se dá principalmente pela enzima marca- 3. A enzima arginino-succinato sintetase, presente no citosol,
-passo da rota, que é a glicose-6P desidrogenase que é controlada catalisa a condensação da citrulina e do aspartato, com consumo de
de acordo com a proporção nas concentrações de NADPH e NA- ATP, e forma argininossuccinato.
DP+([NADPH]/[NADP+]), ou seja, caso a concentração do produto 4. A enzima arginino-succinato liase catalisa a transformação
da reação (NADP+) em relação ao substrato (NADOH), aumente, a do argininossuccinato em arginina e fumarato.
enzima é inibida, caso essa proporção diminua, a enzima é ativada. 5. Por fim, a enzima arginase catalisa a quebra da arginina,
A preferência por determinada via metabólica pode variar de originando ureia e ornitina. A ornitina volta para a mitocôndria e
acordo com a célula e de acordo com a necessidade energética do reinicia o ciclo.
momento, bem como pelas relações ATP/ADT e NADPH/NADP. Ge-
ralmente tecidos responsáveis por sintetizar  ácidos graxos, como
o tecido adiposo, glândulas, gônadas e o fígado, a via das pentoses
é mais ativa. Também em células que estão em rápida divisão, como
células da medula óssea, mucosas e até tumores, possuem grande
atividade da via das pentoses. Por último, células que são constan-
temente expostas a espécies reativas de oxigênio, como eritrócitos
e as células do cristalino e da córnea, também utilizam-se bastante
da via das pentoses afim de gerar grandes quantidades de NAPDH,
que, em sendo um bom redutor, minimiza os efeitos deletérios des-
se oxidante.

485
BIOLOGIA
Desidrogenação
O NAD é utilizado, assim como o FAD, como receptor de ele-
trons e retira 2H.

Tiolise
Utiliza-se coenzima A para romper o fragmento carboxila ter-
minal na forma de acetil-CoA. Essa reação ocorre por meio da acil-
-CoA acetiltransferase (Tiolase).
As três primeiras reações servem para deixar a ligação C-C,
rompida na quarta reação, menos estável. Além disso, a cetona no
carbono beta ajuda no ataque nucleofilico (íon em busca de ele-
trons) pelo –SH da coenzima A, catalisado pela tiolase.
O Resultado da beta oxidação é a liberação uma molécula de
acetil-CoA, dois pares de elétrons e quatro protons (H+) e a diminui-
ção da cadeia de acil-CoA graxo de cadeia longa em dois carbonos.
Depois de passar uma vez pela beta oxidação o acil-Coa graxo
de cadeia longa, agora reduzido em dois carbonos, passa novamen-
te pelas quatro reações e isso se prossegue até que todo o acil-CoA
graxo seja totalmente oxidado e convertido em acetil-CoA.

Deve-se lembrar que o FADH2 e o NADH formados na beta oxi-


dação são utilizado na cadeia respiratória, logo a beta oxidação con-
tribui para a produção de ATP. A proporção de ATP produzida a cada
passagem pela beta oxidação é de 4ATP para cada passagem na be-
ta-oxidação. Além disso, o acetil-Coa produzido irá para o ciclo do
ácido cítrico (Ciclo de Krebs), em que cada acetil-CoA produz 10ATP.
Etapas do Ciclo da Uréia
Exemplo:
Funções do Ciclo da Uréia O Palmitato, que é um ácido graxo com 16 carbonos, pode pas-
A principal função do ciclo da uréia é eliminar a amônia tóxica sar pela beta oxidação 7 vezes gerando: 28 ATPs diretos da cadeia
do corpo. Ou seja, tem a função de eliminar o nitrogênio indesejado respiratória e mais 80ATPs que vieram do acetil-CoA.
do organismo. Beta Oxidação de ácidos graxos insaturados a insaturação (du-
A uréia é eliminada do organismo de animais superiores, atra- pla ligação entre os carbonos) impede que a enzima da segunda
vés da urina. Aproximadamente 10 a 20 g da amônia são removidos reação, enoil-CoA hidratase, atue, logo, é necessário que enzimas
do corpo de um adulto saudável cada dia. auxiliares atuem.
-Em ácidos graxos monoinsaturado utiliza-se uma isomerase a
Uréia e animais ruminantes qual irá reposicionar a dupla ligação, que está em posição cis e não
A uréia é utilizada na alimentação de animais ruminantes. Isso trans, a qual é a posição correta para que ocorra a beta oxidação.
porque, ao alcançar o rúmen do animal, é transformada em amônia -Em ácidos graxos polisaturados utiliza-se a isomerase para re-
e CO2, daí os microorganismos passam a usar essa fonte de nitrogê- posicionar as duplas ligações e uma redutase dependente de NA-
nio para síntese de nova proteína. DPH que adiciona um hidrogenio no ácido graxo.
Essa ação é importante ao complementar a fonte de proteínas Beta oxidação de ácidos graxos com numero impar de carbo-
da alimentação e fornecer proteína degradável no rúmen, que ga- nos ocorre de maneira identica a beta oxidação de ácidos graxos
rante melhor digestão da fibra e síntese de proteína microbiana. com número par de carbonos, porém, a ultima passagem pela beta
oxidação terá um substrato com cinco carbonos, logo, será produ-
Β-Oxidação zido acetil-CoA e propionil-CoA, este deve ser carboxilado para ser
A Beta-Oxidação é o primeiro passo dos três passos da oxida- utilizado no ciclo de krebs, enquanto o acetil-CoA vai direto para o
ção mitocondrial dos ácidos graxos. Ocorre na matriz mitocondrial ciclo do ácido cítrico.
e nela os ácidos graxos sofrem a remoçao oxidativa de unidades Carboxilação do propionil-Coa é carboxilado em estereoisôme-
sucessivas de dois átomos de carbono na forma de acetil-CoA, co- ro D do metilmalonil-CoA, essa reação depende da Biotina. O D do
meçando pela extremidade carboxila da cadeia carbônica do ácido metilmalonil-CoA é enzimaticamente epimerizado formando seu
graxo. esteroisômero L, o L do metilmalonil-CoA sofre um rearranjo intra-
molecular catalisado por uma enzima que depende da coenzima
Podemos dividir a beta oxidação em quatro reações. São elas: B12 (Vitamina B12) e forma o succinil-CoA, que pode entrar no ciclo
do ácido cítrico.
Desidrogenação Regulação da beta oxidação é dependete da velocidade com
O FAD é utilizado na reação para promover uma desidrogena- que o acil-CoA graxo de cadeia longa é transferido do citosol para
ção, retirando 2H. a matriz mitocondrial. Além disso o malonil-Coa, um dos primeiros
intermediarios na biosintese dos acidos graxos, inibe a entrada dos
Hidratação ácidos graxos nas mitocondrias. Isso bloqueia a oxidação dos ácidos
A água entra e retira a dupla ligação que havia entre os carbo- graxos enquanto ocorre a sua biossíntese.
nos, gerando um grupo cetona no carbono beta, ou seja, o terceiro
carbono.

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BIOLOGIA
Na doença adrenoleucodistrofia ligada ao cromossomo X, os pionato no seu meio de crescimento. Embora as reações da glico-
peroxissomos não são capazes de fazer a oxidação de ácidos graxos neogênese sejam as mesmas em todos os organismos, o contexto
de cadeia longa, o que acarreta o acumulo desses ácidos graxos no metabólico e a regulação da rota diferem de uma espécie para ou-
sangue e provoca perda da visão, distúrbios do comportamento e a tra e de tecido para tecido. Texto adaptado de SILVA. P.
morte dentro de poucos anos.
Regulação metabólica
Gluconeogênese Regulação metabólica é o processo pelo qual todas as células a
Gliconeogênese ou neoglicogénese ou ainda neoglucogénese(- partir de bactérias aos seres humanos controlam os processos quí-
formação de novo açúcar) é a rota pela qual é produzida glicose a micos necessários para a vida.
partir de compostos aglicanos (não-açúcares ou não-carboidratos), O metabolismo é organizado em, passo dependente reações
sendo a maior parte deste processo realizado no fígado (principal- complexas chamadas vias metabólicas.
mente sob condições de jejum) e uma menor parte no córtex dos As proteínas especiais chamadas de enzimas são a principal
rins. Em humanos, os principais precursores são: lactato, glicerol forma que essas vias são reguladas, embora a concentração de nu-
e aminoácidos, principalmente alanina. Exceto por três sequências trientes, produtos residuais, e os hormônios podem controlar as
específicas(Piruvato para PEP, Frutose1.6-bifosfato para frutose- taxas metabólicas.
-6-p, Glicose-6-p para glicose), as reações da gliconeogênese são Distúrbios metabólicos são as doenças causadas pela ausência
inversas às da glicólise. de enzimas-chave que perturbam a regulação normal de um dado
Em mamíferos, a maioria dos tecidos é capaz de suprir suas percurso herdado.
necessidades energéticas a partir da oxidação de vários compostos, O metabolismo descreve as reações químicas em que os or-
tais como aminoácidos, açúcares e ácidos graxos, porém alguns te- ganismos da função, de da respiração celular para os eventos sub-
cidos dependem quase completamente de glicose como fonte de jacentes a digestão, crescimento e reprodução. Sistemas chamado
energia metabólica. Para o cérebro humano e o sistema nervoso, vias metabólicas coordenam essas funções e, geralmente, são ini-
assim como os eritrócitos, testículos, medula renal e tecidos embri- ciados ou parados por proteínas chamadas de enzimas.
ônicos, a glicose sanguínea é a única ou principal fonte de energia. A regulação metabólica é a base do controle biológico de me-
Apenas o cérebro requer cerca de 120g de glicose a cada dia mais
tabolismo, uma vez que permite as células vivas para dirigir estas
do que metade de toda a glicose armazenada como glicogênio em
vias.
músculos e fígado. A longo prazo, todos os tecidos também reque-
Nos sistemas não biológicos, de equilíbrio com o ambiente ex-
rem glicose para outras funções, tais como a síntese da ribose dos
terior ocorre após a conclusão das reações químicas, que matariam
nucleotídeos ou da porção carboidrato de glicoproteínas e glicolipí-
a célula viva. Assim, a regulação metabólica ajuda a manter o sis-
deos. Portanto, para sobreviver, os organismos precisam ter meca-
tema vivo em um estado quimicamente equilibrado, chamado de
nismos para manutenção dos níveis sanguíneos de glicose.
homeostase.
Quando a concentração de glicose circulante vinda da alimen-
A forma mais básica de regulação metabólica ocorre quan-
tação diminui, o glicogênio hepático e muscular é degradado (gli-
cogenólise) fazendo com que a glicemia volte a valores normais. do os genes instruem as células a produzir enzimas e regular sua
Entretanto, o suprimento de glicose desses reservatórios não é quantidade. Além disso, numa via metabólica, as moléculas sofrem
sempre suficiente; entre as refeições e durante longos jejuns, ou mudanças significativas e são utilizadas pela célula ou processados
após exercícios vigorosos, o glicogênio é depletado (consumido), para gerar mais um passo na via. Algumas destas moléculas, cha-
situação que também ocorre quando há deficiência do suprimento madas substratos, são meios eficazes de regulação metabólica atra-
de glicose pela dieta ou por dificuldade na absorção pelas células. vés de sua concentração. A taxa de uma via metabólica vai mudar,
Nessas situações, os organismos necessitam de um método para dependendo da existência e concentração de um substrato, o qual
sintetizar glicose a partir de precursores não-carboidratos. Isso é re- tem de se ligar a uma enzima a fim de funcionar. Em adição aos
alizado pela via chamada gliconeogênese, a qual converte piruvato substratos, as enzimas são frequentemente dependente de outros
e compostos relacionados de três e quatro carbonos em glicose. enzimas e de vitaminas.
As modificações que ocorrem no metabolismo da glicose du- Mesmo as plantas usam hormônios para controlar o seu me-
rante a mudança do estado alimentado para o estado de jejum são tabolismo. Nos animais superiores, a regulação externa do me-
reguladas pelos hormônios insulina e glucagon. A insulina está ele- tabolismo pode vir de sinais químicos que controlam a atividade
vada no estado alimentado, e o glucagon se eleva durante o jejum. da enzima, seja por ação direta sobre as enzimas ou por afetar os
A insulina estimula o transporte de glicose para certas células, tais genes que regulam a sua produção. Algumas formas de regulação
como as dos músculos e tecido adiposo, e também altera a ativida- metabólica alterar apenas a taxa de tempo em que ocorre um pro-
de de enzimas chave que regulam o metabolismo, estimulando o cesso bioquímico; outros ativar um processo ou evitar que ele seja
armazenamento de combustível. O glucagon contrarregula os efei- iniciado. Em animais, a taxa metabólica controla as funções de res-
tos da insulina, estimulando a liberação dos combustíveis armaze- piração a gordura corporal.
nados e a conversão de lactato, aminoácidos e glicerol em glicose. Existem muitas doenças do metabolismo, incluindo milhares de
A gliconeogênese é um processo ubíquo, presente em plantas, deficiências congênitas de genes que codificam enzimas essenciais.
animais, fungos e outros microrganismos, sendo que as reações são Doenças da tireóide pode mudar radicalmente a taxa metabólica,
praticamente as mesmas em todos os tecidos e todas as espécies. causando a obesidade ou quase inanição. Às vezes, o metabolismo
Nas mudas de plantas, gorduras e proteínas armazenadas são humano é excessivamente lenta ou rápida devido a estados de do-
convertidas, através de rotas que incluem a gliconeogênese, no ença e pode ser tratada clinicamente. Algumas drogas ou substân-
dissacarídeo sacarose para transporte através da planta em desen- cias nutricionais pode ser dito para aumentar as taxas metabólicas,
volvimento. A glicose e seus derivados são precursores da síntese alterando a taxa de vias envolvidas com hidratos de carbono ou a
das paredes celulares das plantas, nucleotídeos e coenzimas, e uma digestão de gordura. Em doentes com diabetes mellitus, por exem-
variedade de outros metabólitos essenciais. Em muitos microor- plo, os efeitos da insulina sobre o metabolismo da hormona de açú-
ganismos, a gliconeogênese inicia a partir de compostos orgânicos car estão comprometidos, e insulina sintética deve ser administrada
simples de dois ou três carbonoso, tais como acetato, lactato e pro- para restabelecer a regulação metabólica normal.

487
BIOLOGIA
Regulação Metabólica

Regulação do Metabolismo Celular


A regulação do metabolismo é fundamental para que um organismo possa responder de modo rápido e eficiente a variações das con-
dições ambientais, alimentares ou ainda a condições adversas como traumas e patologias. A regulação metabólica é feita pela modulação
de enzimas regulatórias de processos metabólicos chaves, de tal modo que se possa ativar ou inibir reações químicas específicas para cada
situação resultando em respostas biológicas adequadas. Para garantir a eficiência necessária, o organismo lança mão de vários tipos de
regulação enzimática que podem ocorrer simultaneamente.
Existem dois tipos principais de regulação enzimática: uma intracelular, comandada pela presença de moduladores alostéricos enzi-
máticos positivos ou negativos, e uma que vem de fora da célula, sistêmica, e que é fundamental para que hajam ações coordenadas entre
os diversos órgãos e tecidos. Este último tipo de regulação, a extracelular, é deflagrada por hormônios, e, relacionada à variação do perfil
de fosforilação enzimática.

Regulação alostérica
Muitas das enzimas celulares são alostéricas, isto é, possuem um sítio de ligação alostérico, um sítio regulatório no qual se ligam com-
postos químicos chamados de moduladores alostéricos. A ligação dos moduladores no sítio alostérico afeta profundamente a atividade
enzimática, a qual pode ser aumentada ou diminuída. Quando a ligação do modulador promove aumento da atividade enzimática ele é
chamado de modulador alostérico positivo, e quando a ligação do modulador promover diminuição da atividade enzimática ele é chamado
de modulador alostérico negativo.
A presença adequada de nutrientes para a célula resulta na produção de moléculas ricas em energia como a de adenosina trifosfato
(ATP) e outras moléculas que serão moduladores alostéricos positivos ou negativos, ativando ou inibindo muitas enzimas regulatórias de
vias metabólicas importantes. Manter uma relação ATP/ADP alta é um dos parâmetros mais fundamentais para a manutenção da célula
viva. Em condições normais a razão ATP/ADP é cerca de 10/1 e toda vez que esta razão é alterada ocorrem profundas alterações no meta-
bolismo celular.
O ATP é gerado principalmente pelo metabolismo oxidativo de alimentos como carboidratos, lipídeos e proteínas. O intermediário
comum dessas oxidações é o acetil-CoA, o qual iniciará o ciclo do ácido cítrico levando ao aumento da produção de citrato e resultando na
formação das coenzimas reduzidas NADH e FADH2, as quais alimentarão a cadeia respiratória e propiciarão a produção de ATP via fosfori-
lação oxidativa. Portanto, o incremento das concentrações de acetil-CoA, citrato, NADH ou FADH2 também podem ser considerados como
sinalizadores de alta energia celular, já que os mesmos alimentam a principal via de produção de ATP, a fosforilação oxidativa. Por outro
lado, a diminuição ou ausência de nutrientes na célula, resulta na produção de moléculas de baixa energia como o ADP, AMP e NAD , os
quais também são moduladores alostéricos de várias enzimas regulatórias. O aumento das concentrações de AMP intracelulares além de
regular a atividade de inúmeras enzimas por alosteria irá ativar enzimas quinases dependentes de AMP, resultando em uma enorme cas-
cata de reações celulares. De tal modo, que o perfil metabólico das células será profundamente modificado em função do nível de energia,
o qual, em última instância, depende do aporte nutricional.
Para ilustrar a importância da regulação alostérica o Quadro 1 mostra como várias enzimas de vias metabólicas importantes podem
ser ativadas ou inibidas em função das principais moléculas sinalizadores de presença ou ausência de energia na célula.

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BIOLOGIA

Regulação neuro-endócrina
A regulação externa à célula, integrada e simultânea a vários tecidos é dada pela regulação neuro-endócrina. Os hormônios são impor-
tantes moduladores da atividade enzimática, pois sua ação na célula pode resultar na ativação de proteínas quinases ou de fosfoproteínas
fosfatases, as quais atuam sobre as enzimas, de tal modo, que estas ganhem ou percam um grupamento fosfato, intimamente relacionado
à modulação da atividade enzimática, mecanismo também conhecido por regulação covalente.
Enzimas sofrem regulação covalente por fosforilação de um ou mais de um resíduo de serina, treonina ou tirosina através da ação de
enzimas quinases.
Esta fosforilação pode ser revertida pela ação de enzimas fosfoproteínas fosfatases. A presença do grupo fosfato modifica a atividade
catalítica de várias enzimas importantes do metabolismo celular, ativando-as ou inibindo-as.

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BIOLOGIA

É importante considerar que muitos hormônios têm natureza hidrofílica e por isso, são incapazes de atravessar a membrana plas-
mática. Estes hormônios só conseguem atuar nas células através de ligação a um receptor de membrana, normalmente uma proteína
transmembranar, que possui um sítio específico para ligação do hormônio. A ligação hormônio-receptor promove alterações no ambiente
intracelular que resultarão na síntese ou ativação de uma molécula intracelular, chamada de segundo mensageiro, a qual passa a ser a
responsável pela ação do hormônio dentro da célula.
Alguns hormônios tais como o glucagon e a adrenalina têm como segundo mensageiro a molécula de nucleotídeo de adenina na for-
ma cíclica, o AMP cíclico ou AMPc. A principal característica do AMPc é funcionar como um ativador de proteínas quinases, bem como um
inibidor das fosfoproteínas fosfatases. Conseqüentemente, em presença destes hormônios, várias enzimas são moduladas pelo processo
de fosforilação. O Quadro 2 mostra que várias enzimas importantes são fosforiladas em presença do glucagon e a via metabólica que estará
ativada ou inibida em função desta regulação covalente.
Sabe-se que a insulina antagoniza os efeitos do glucagon e adrenalina porque por mecanismos distintos dependentes ou não do
AMPc, sua presença leva a ativação das fosfoproteínas fosfatases, o que culmina na desfosforilação das enzimas regulatórias das células
em que atua.

Entre os principais hormônios que influenciam diretamente o metabolismo celular temos: a insulina, o glucagon, as catecolaminas
adrenalina e noradrenalina, o cortisol e o hormônio do crescimento entre outros. Como a presença de insulina está sempre associada a
uma situação inicial de hiperglicemia, a sua ação primordial será a de diminuição da glicemia, no entanto, a presença deste hormônio
também significa uma situação de alto suprimento energético para células, e, neste momento as reações anabólicas, as quais necessitam
de energia para ocorrer, serão favorecidas.
Regulação metabólica é recíproca e antagônica É de fundamental importância compreender que em um mesmo tecido, vias opostas
precisam ser reguladas antagonicamente. Não haveria qualquer sentido se uma célula, por exemplo, sintetizasse glicogênio ou qualquer
outro composto, e o degradasse simultaneamente. Isto resultaria em um gasto energético para a célula sem que houvesse qualquer outro
resultado concreto, este tipo de situação é chamado como ciclo fútil e é impedida pelo rigoroso controle das vias metabólicas. Ciclos fúteis
podem ser evitados com a regulação recíproca e antagônica de enzimas regulatórias de vias opostas.
Assim, percebe-se que tanto os moduladores alostéricos, quanto a regulação covalente deflagrada pelos hormônios incumbem-se de
ativar uma enzima responsável pela síntese de um composto e simultaneamente inibir a enzima responsável pela degradação do mesmo,
ou viceversa, ao ativar a degradação de um dado composto a sua síntese é impedida. Por exemplo, as enzimas hepáticas glicogênio-sintase

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BIOLOGIA
e fosforilase, responsáveis respectivamente pela síntese e degra- Regulação metabólica de fluxo sanguineo cerebral
dação do glicogênio, são reguladas alostérica e covalentemente de O fluxo sangüíneo cerebral médio em adultos jovens é de
modo recíproco e antagônico . 54ml/100g/mm. O cérebro de um adulto médio pesa cerca de
Em situação de aumento de glicemia, há entrada de glicose 1400g, de modo que o fluxo para o cérebro como um todo é de
no fígado e o primeiro produto a ser produzido, a glicose-6-fosfato aproximadamente 756ml/min. o que corresponde a aproximada-
inibe a enzima glicogênio-fosforilase, ao mesmo tempo, estimula a mente 14% do débito cardíaco e 18,5% do consumo de O2. A cir-
enzima glicogênio-sintase favorecendo o armazenamento da glico- culação cerebral é regulada de tal modo que geralmente o fluxo
se sob a forma de glicogênio. sangüíneo cerebral total se mantém constante em diferentes condi-
Nesta mesma situação inicial, aumento de glicemia, há aumen- ções. Por exemplo, apesar de importantes modificações no padrão
to da relação insulina/glucagon e, neste caso, modificação covalen- do fluxo, o fluxo sangüíneo cerebral total não aumenta quando há
te de enzimas induzidas pela insulina. As enzimas glicogênio sintase atividade mental intensa. Como na maioria de outras áreas, o fluxo
e fosforilase desfosforiladas, passam a estar respectivamente ativa- sangüíneo cerebral é muito relacionado ao metabolismo do tecido
da e inibida, resultando também em favorecimento da síntese de cerebral.
glicogênio. Pelo menos três fatores metabólicos distintos exercem poten-
O mesmo ocorre com as vias glicolítica e gliconeogênese no tes efeitos no controle do fluxo sangüíneo cerebral: CO2, H+ e O2. A
fígado, tanto a regulação alostérica quanto a covalente trabalham elevação da concentração de CO2 no sangue arterial que perfunde
em acordo para aumentar a eficiência da regulação metabólica. o cérebro aumenta muito o fluxo sangüíneo cerebral. Acredita-se
que o dióxido de carbono aumente o fluxo sangüíneo cerebral de
Regulação Metabólica forma quase total, por sua combinação inicial com a água para for-
mar ácido carbônico, com sua subseqüente dissociação para formar
Controle do metabolismo íons hidrogênio. Os íons hidrogênio causam então vasodilatação
Como os ambientes da maioria dos organismos estão constan- dos vasos cerebrais, sendo a dilatação quase diretamente propor-
temente a mudar, as reações do metabolismo deve ser finamente cional ao aumento da concentração de íons hidrogênio. Uma vez
regulado para manter constante um conjunto de condições dentro que, o meio ácido deprime muito a atividade neuronal esse meca-
das células, uma condição chamada homeostase. Regulação meta-
nismo ajuda a manter um concentração constante de íons hidro-
bólica permite aos organismos também para responder aos sinais
gênios nos líquidos cerebrais, e portanto, ajuda a manter o nível
e interagir ativamente com seus ambientes. Dois conceitos intima-
normal da atividade neuronal.
mente ligados são importantes para a compreensão de como vias
A utilização de oxigênio pelo tecido cerebral permanece sem-
metabólicas são controladas. Em primeiro lugar, o regulamento
pre constante em torno de 3,5ml de O2 por 100g de tecido cerebral
de uma enzima em um caminho é a forma como sua atividade é
por minuto. Se o fluxo sangüíneo cerebral fica insuficiente e não
aumentada e diminuída em resposta a sinais. Em segundo lugar, o
pode fornecer essa quantidade necessária de O2, o mecanismo de
controle””exercido por esta enzima é o efeito que essas mudanças
deficiência de oxigênio para a produção de vasodilatação por exem-
em sua atividade tem sobre a taxa global da via (o fluxo através da
via). Por exemplo, uma enzima pode mostrar grandes mudanças na plo o relaxamento de esfíncter pré-capilar e de fibras de músculo
atividade (isto é, é altamente regulada) mas se estas mudanças têm liso ao redor da metarteríola que funciona em praticamente todos
pouco efeito sobre o fluxo de uma via metabólica, então esta enzi- os tecidos do corpo, causa vasodilatação imediata, restabelecendo
ma não está envolvida no controle da via. Existem vários níveis de o fluxo sangüíneo e o transporte de oxigênio para os tecidos cere-
regulação metabólica. Na regulação intrínseca, a via metabólica au- brais até níveis quase normais. Alterações no fluxo sangüíneo tam-
to-regula para responder às mudanças nos níveis de substratos ou bém são produzidos por outros metabólitos vasodilatadores como
produtos, por exemplo, uma diminuição na quantidade de produto Potássio e a adenosina.
pode aumentar o fluxo através da via para compensar. Controle ex-
trínseco envolve uma célula em um organismo multicelular mudar PAPEL DA PRESSÃO INTRACRANIANA NA REGULAÇÃO DO
o seu metabolismo em resposta a sinais de outras células. FLUXO SANGÜÍNEO CEREBRAL
Esses sinais são geralmente sob a forma de mensageiros solú- Nos adultos, o cérebro, a medula espinhal e o líquido cefalor-
veis, como hormônios e fatores de crescimento e são detectados raquidiano estão acondicionados, juntamente com os vasos cere-
por receptores específicos na superfície da célula. Esses sinais são brais, num envoltório ósseo rígido. Como o tecido cerebral (1400g)
então transmitidos dentro da célula por sistemas de segundo men- e o líquido cefalorraquidiano (75ml) são essencialmente incompre-
sageiro, que muitas vezes envolveram a fosforilação das proteínas. ensíveis, o volume intracraniano de sangue (25ml) de líquido ce-
Um exemplo muito bem compreendido de controle extrínseco é a falorraquidiano e cérebro em qualquer dado momento deve ser
regulação do metabolismo da glicose pelo hormônio insulina. A in- relativamente constante. Mais importante, os vasos cerebrais são
sulina é produzida em resposta ao aumento nos níveis de glicose no comprimidos sempre que a pressão intracraniana se eleva. Qual-
sangue. Ligação do hormônio a receptores de insulina nas células, quer alteração na pressão venosa imediatamente causa alteração
então, ativa uma cascata de proteínas quinases que causam as cé- similar na pressão intracraniana. Assim, uma elevação na pressão
lulas para pegar a glicose e convertê-lo em moléculas de armazena- venosa reduz o fluxo sangüíneo cerebral tanto pela redução da
mento, como ácidos graxos e glicogênio. pressão efetiva de perfusão quanto pela compressão dos vasos
O metabolismo do glicogênio é controlada pela atividade da cerebrais. Esse mecanismo ajuda a compensar as modificações
fosforilase, a enzima que quebra de glicogênio, e glicogênio sintase, da pressão arterial à nível de cabeça principalmente devido a atu-
a enzima que faz. Estas enzimas são reguladas de forma recíproca, ação da gravidade. Quando a pressão intracraniana ultrapassa os
com fosforilação glicogênio sintase inibir, mas a ativação fosforilase. 33mmHg por curto período, o fluxo sangüíneo cerebral diminui sig-
Insulina provoca a síntese de glicogênio pela ativação de proteínas nificamente e a pressão sangüínea se eleva. Dentro da faixa bastan-
fosfatases e produzindo um decréscimo na fosforilação destas en- te ampla, a elevação da pressão sangüínea sistêmica é proporcional
zimas. à elevação da pressão intracraniana, embora acabe sendo atingido
um ponto em que a pressão intracraniana excede a pressão arterial
e a circulação cerebral cessa.

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BIOLOGIA
A AUTO-REGULAÇÃO Há 4 tipos de regulação das vias metabólicas:
O fluxo cerebral é eficientemente auto-regulado, mesmo com 1. Disponibilidade do substrato: É o método de regulação mais
uma variação sistêmica entre 80 e 180 mmHg não ocorre variação rápido e afeta todas as enzimas de cada via metabólica. Basicamen-
apreciável do fluxo sangüíneo cerebral, devido a ação de substân- te, se existir pouco substrato, as enzimas não vão poder atuar à sua
cias locais produzidas pelo endotélio como, peptídeos circulantes, a velocidade máxima, e se não existir substrato, as enzimas param.
angiotensina II e nervos vasomotores. 2. Regulação alostérica: É a forma mais rápida de regulação
específica de apenas determinadas enzimas, as chamadas enzimas
OS NERVOS VASOMOTORES E SENSITIVOS NA REGULAÇÃO DO regulatórias. Esta forma de regulação requer a presença de molécu-
FLUXO SANGÜÍNEO CEREBRAL las (moduladores alostéricos) que vão interatuar com as enzimas,
Foram descritas anteriormente a inervação dos grandes vasos levando a alterações estruturais que podem tornar a enzima mais
cerebrais por nervos pós-ganglionares simpáticos e parassimpáticos rápida ou mais lenta (moduladores positivos e negativos, respecti-
e a inervação distal por nervos sensitivos. O papel destes nervos vamente).
ainda não está bem definido, porém nas condições onde o mecanis- 3. Regulação hormonal: É um processo mais demorado do que
mo auto-regulador não consegue produzir compensação suficiente,
a regulação alostérica, e envolve a produção de hormonas em res-
o controle simpático do fluxo sangüíneo cerebral passa a ser muito
posta a um estímulo. As hormonas são lançadas na corrente san-
importante. Por exemplo, quando a pressão arterial atinge um ní-
guínea e vão atuar nas células-alvo. Normalmente a sua ação cul-
vel muito elevado durante o exercício extenuante e durante outros
mina na fosforilação ou desfosforilação das enzimas regulatórias,
estudos de atividade circulatória excessiva, o sistema nervoso sim-
pático contrai as artérias grandes e intermediárias, impedindo que alterando a sua eficiência catalítica (ativa ou inibe, dependendo da
as pressões muito elevadas atinjam os pequenos vasos sangüíne- enzima em causa). Este efeito designa-se por modificação covalente
os. Isto é importante na prevenção de ocorrência de hemorragia reversível.
vascular cerebral e ajuda proteger a barreira hematoencefálica da 4. Alterações na concentração das enzimas: Esta é a forma mais
ruptura que de outra forma ela poderia sofrer. lenta de regulação e pressupõe alterações nas taxas de síntese e
degradação das enzimas, alterando a sua concentração. Por exem-
Regulação do metabolismo plo, se a célula pretender ativar uma via metabólica, pode fazê-lo
Todas as vias metabólicas apresentam pelo menos uma reação aumentando a quantidade das enzimas dessa via. Desde que o
específica desse processo, que é irreversível. Isto garante à célula 2 substrato não seja limitante, a velocidade global da conversão de
aspectos muito importantes: substrato em produto vai aumentar. O efeito contrário verifica-se
1. Faz com que as vias metabólicas não ocorram nos dois sen- fazendo o raciocínio inverso. Texto adaptado de MALHEIROS. S. V. P.
tidos, como consequência apenas do fluxo de massas. Ou seja, se
uma via metabólica produzir a molécula X e a célula precisar de pro- Metabolismo e regulação da utilização de energia
duzir mais X, não vai ser pelo fato de já existir essa molécula dentro Metabolismo é o conjunto de reações químicas que se proces-
da célula que se vai dar a degradação da mesma. sam em um organismo. Essa definição pode parecer simples, mas
2. Permite regular especificamente uma via metabólica sem ter envolve um conjunto de conhecimentos que se abrem como se fos-
que afetar outros processos, nomeadamente, o processo oposto. se um leque. As transformações energéticas processadas em um
Para perceber isto podemos pensar em dois processos opostos, na organismo indicam que estas aconteceram inicialmente dentro de
glicólise (degradação de glucose) e na gluconeogénese (síntese de cada célula, individualizada.
glucose), por exemplo. Nas células os dois processos não ocorrem O conjunto de reações que permitem a formação de moléculas
simultaneamente, pois não fazia sentido estar a degradar e sinte- de maior complexidade é denominado reações de síntese ou ana-
tizar glucose ao mesmo tempo. Portanto, quando um está ativo, bolismo. Quando as reações se processam na decomposição das
ou outro tem que estar inibido. Se ambos fossem catalisados pe- estruturas mais complexas em novas mais simples são conhecidas
las mesmas enzimas, era impossível ativar um processo e inibir o como reações de degradação ou catabolismo.
outro. Ou se ativavam os dois, ou se inibiam os dois… Como é que
Temos como exemplo de catabolismo o processo da digestão,
conseguimos dar a volta a este problema? Recorrendo pelo menos
quando as moléculas são degradadas em substâncias menores ab-
a uma enzima específica para cada processo! Assim, se eu tiver uma
sorvíveis; e como exemplo de anabolismo a união de aminoácidos
enzima específica na glicólise (na realidade são 3) que não atua na
para a formação de proteínas, como a melanina.
gluconeogénese, eu posso ativar ou inibir este processo sem afetar
o oposto O corpo humano precisa receber um suprimento contínuo de
São exatamente estas reações específicas e irreversíveis que energia para poder realizar suas funções. A energia derivada da
são catalisadas pelas chamadas enzimas regulatórias. As enzimas oxidação do alimento não é liberada subitamente ao ser alcançada
regulatórias são enzimas que funcionam como uma espécie de vál- uma determinada temperatura, pois as células do organismo, dife-
vulas das vias metabólicas onde estão inseridas, permitindo esco- rentemente de um motor de combustão, não conseguem utilizar
ar” mais intermediários, se fizer falta mais produto, ou acumular a energia térmica. Esse processo de extração lenta reduz a perda
esses intermediários, se existir produto suficiente. As reações cata- de energia na forma de calor e proporciona uma eficiência muito
lisadas por estas enzimas são muitas vezes designadas por pontos maior nas transformações energéticas. Essas transformações per-
de regulação, sendo consideradas os passos limitantes (mais lentos) mitem ao corpo utilizar diretamente a energia química para a re-
do processo do qual fazem parte. Sendo assim, se a sua velocidade alização do trabalho biológico. Em um certo sentido, a energia é
for aumentada, a velocidade global da via onde estão inseridas au- fornecida às células à medida que torna necessária.
menta, e se a sua velocidade for diminuída, a velocidade global do
processo também diminui. ATP – Adenosina trifosfato

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BIOLOGIA
A energia presente nos alimentos não é transferida diretamente às células para realização de trabalho biológico. Em vez disso, essa
energia dos nutrientes liberada através da oxidação é recolhida e conduzida como uma forma acessível de energia química através do
composto rico em energia ATP (adenosina trifosfato). A energia potencial dentro da molécula de ATP é utilizada para todos os processos
da célula que necessitam de energia.
As duas principais atividades transformadoras de energia na célula são:
- Formação do ATP rico em energia a partir da energia potencial existente no alimento;
- Uso da energia química presente no ATP para trabalho biológico.

A energia liberada durante o fracionamento de ATP é transferida diretamente para outras moléculas que necessitam de energia. Poe
exemplo, no músculo, essa energia química ativa locais específicos ao longo dos elementos contráteis, acarretando o encurtamento da
fibra muscular. Como a energia aproveitada do ATP aciona todas as formas de trabalho biológico, o ATP foi considerado uma “moeda cor-
rente da energia” da célula.

Fosfato de creatina: reservatório de energia


Como uma pequena quantidade de ATP é armazenada na célula e não pode ser fornecida através do sangue ou através de outros
tecidos, essa substância deverá ser ressintetizada continuamente no mesmo ritmo que é utilizada.
Como o ATP é mantido apenas em pequenas quantidades, sua concentração relativa é alterada rapidamente com qualquer aumento
do metabolismo energético. Esta mudança estimula imediatamente a decomposição dos nutrientes armazenados para fornecer energia
para a ressíntese de ATP.
Apesar de as principais fontes de energia química para a ressíntese do ATP serem as gorduras e os carboidratos, parte da energia da
ressíntese do ATP é gerado rapidamente e sem oxigênio a partir de outro composto fosfato rico em energia denominado fosfato de cre-
atina, ou CP. A transferência de energia de CP é essencial durante as transições de uma baixa para uma alta demanda de energia, como
ocorre no início de um exercício, quando as necessidades de energia ultrapassam a quantidade armazenada pelos macronutrientes. A
concentração de CP na célula é cerca de quatro a seis vezes maior que aquela de ATP. Assim sendo, CP é considerado o “reservatório” de
fosfato de alta energia.

Ilustração simplificada da estrutura do ATP, que é moeda corrente energética que aciona todas as formas de trabalho biológico. O
símbolo ~ significa ligações de alta energia.

Oxidação celular
Átomos de hidrogênio são arrancados continuamente dos substratos de glicídios, lipídios e proteínas durante o metabolismo energéti-
co. Moléculas carregadoras dentro das mitocôndrias, que representam as “usinas químicas” da célula, removem os elétrons desses átomos
de hidrogênio e os transferem para oxigênio molecular. Para completar o processo, o oxigênio aceita também hidrogênio para formar água.
Grande parte da energia gerada na oxidação celular é aprisionada ou conservada como energia química na forma de ATP.
A energia é extraída do alimento em uma série de pequenas etapas envolvendo a transferência de elétrons de moléculas doadoras
para moléculas aceitadoras. Esse processo, conhecido como oxidação-redução, é fundamental para a dinâmica energética celular. Durante
a oxidação celular, os átomos de hidrogênio não são simplesmente despejados no líquido celular, pelo contrário, a liberação de hidrogênio
pelo substrato nutriente é catalisada ao longo da superfície interna da mitocôndria por enzimas desidrogenases altamente específicas.
Durante o metabolismo energético, o oxigênio funciona como o aceitador de elétrons na cadeia respiratória e combina-se com o
hidrogênio para formar água.

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BIOLOGIA

Liberação de energia pelos carboidratos


A função primária dos carboidratos consiste em fornecer energia para o trabalho celular. Os carboidratos são os únicos macronutrien-
tes cuja energia armazenada pode ser usada para gerar ATP.

A glicólise gera energia a partir da glicose


Quando a molécula de glicose penetra na célula para ser utilizada como energia, sofre uma série de reações químicas denominadas
glicólise. Essas reações ocorrem no meio aquoso da célula fora da mitocôndria. Em termos de seqüência evolucionária, a glicólise re-
presenta uma forma mais primitiva de transferência de energia que se encontra bem desenvolvida nos anfíbio, répteis e mamíferos que
mergulham.
Na primeira reação ATP age como doador de fosfato para fosforilar a glicose e transformá-la e glicose 6-fosfato. Essa reação “aprisio-
na” a molécula de glicose na maioria das células, que são as hepáticas, pois contêm a enzima fosfatase, que retira o fosfato de glicose 6-fos-
fato, fazendo com que a glicose possa deixar a célula para ser transportada por todo o corpo, assim se polimeriza com outras moléculas de
glicose formando o glicogênio que é uma fonte de glicose para a obtenção de energia.

Liberação de energia pela gordura


A gordura armazenada representa a mais abundante fonte corporal de energia potencial. Em relação aos outros nutrientes, a quanti-
dade de gordura disponível para produção de energia é quase ilimitada.
O fornecedor mais ativo de moléculas de ácidos graxos é o tecido adiposo, apesar de existir alguma gordura armazenada em todas as
células. Os adipócitos, ou células gordurosas são especializadas para sintetizar e armazenar os triglicerídios, cujas gotículas ocupam até
95% do volume da célula. Depois que os ácidos graxos se difundem do adipócito para a corrente sangüínea, fixam-se na albumina plas-
mática como ácidos graxos livres, AGLs. Estes são levados a seguir para tecidos ativos e são metabolizados para a obtenção de energia.
A utilização de gordura como substância energética varia intimamente com o fluxo sangüíneo no tecido ativo. Com o aumento do fluxo
sangüíneo, mais AGLs são levados do tecido adiposo para o músculo ativo; conseqüentemente, maiores quantidades desses nutrientes são
usados para obtenção de energia. Texto adaptado de FERREIRA. F. A.

Proteínas e enzimas
A respiração celular, o código genético e o processo metabólico são algumas dentre as funções vitais que ocorrem em nosso orga-
nismo. A respiração só é possível pela presença da Hemoglobina, que é responsável pelo transporte de oxigênio para as células do corpo
humano. Adicionalmente, as enzimas controlam processos como a replicação do DNA e outras transformações do metabolismo.
As proteínas são moléculas constituídas por aminoácidos, de centenas a milhares destes, que se ligam um a um para formar a estru-
tura de macromolécula da proteína. Para entender melhor, imagine um certo número de indivíduos, que se ligam pelas mãos, para formar
uma imensa cadeia de pessoas. Nesta analogia, cada pessoa seria um aminoácido (diferente um do outro), e a cadeia como um todo seria
a molécula da proteína.

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BIOLOGIA
Proteínas formam um grupo de moléculas extremamente abundantes e com funções variadas. As proteínas são o principal compo-
nente dos músculos, além de participarem da construção de diversos componente celulares e da matriz extracelular. As proteínas são
polímeros de aminoácidos.
Aminoácidos são a unidade básica da proteína. Eles são moléculas orgânicas com um terminal ácido carboxílico, um terminal amina e
um grupo radical que varia de aminoácido pra aminoácido. O grupo de ácido carboxílico de um aminoácido reage com o grupo amino de
outro formando uma ligação peptídica. As proteínas diferem entre sí pela sequência de aminoácidos que as compõe. Existem 20 aminoá-
cidos diferentes que podem ser combinados de infinitas formas para criar proteínas de diversos tamanhos e funções.
Aminoácidos podem ser entendidos separadamente, ou ligados a proteínas. Após ligação à proteína, ocorre uma pequena modifica-
ção em sua composição, a perda de dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio (perda de água após realização da ligação peptídica), e a
mudança de função química, que passa a ser amida. Entendamos a estrutura de um aminoácido fora do contexto de uma proteína. 
Todo aminoácido pode contar com mais de dois grupos funcionais, porém dois sempre existirão em sua estrutura. O grupo amino, e
o grupo carboxila (-COOH), que caracterizam, respectivamente, as funções amina e ácido carboxílico. A presença dessas duas funções na
mesma molécula esclarece a nomenclatura utilizada, “aminoácido”.

Molécula de aminoácido
Observe na figura a presença de diversos grupos na composição dos aminoácidos. Cada molécula de aminoácido é composta de um
átomo de C, que se ligará a um hidrogênio, a um grupo amino, a uma carboxila e a um grupo orgânico que chamaremos de resíduo. Este
grupo residual difere de aminoácido para aminoácido e determina sua propriedade.
Existem 20 aminoácidos no total, sendo doze são naturais e oito, essenciais. Observe:

20 tipos de aminoácidos formadores de proteínas - parte I

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20 tipos de aminoácidos formadores de proteínas - parte II

Aminoácidos naturais são aminoácidos já produzidos por nosso corpo, de forma natural. Aminoácidos essenciais são aminoácidos que
não são produzidos por nosso corpo, e que devemos ingerir na alimentação para obtê-los.
As proteínas têm estruturas diferentes definidas pelos seus aminoácidos. A estrutura primária da proteína é a própria sequência dos
aminoácidos. De acordo com as interações entre esses aminoácidos, essa cadeia pode se enrolar na forma de espirais ou zigue-zague, que
é a estrutura secundária da proteína. Essas estruturas ainda se dobram umas sobre as outras, dando a estrutura final do peptídio (estrutura
terciária). Em alguns casos, como a hemoglobina, a proteína é formada por mais de um peptídio combinado. Nesses casos, a combinação
das estruturas terciárias é chamada de estrutura quaternária.
As proteínas mantêm sua estrutura apenas em uma faixa estreita de pH e de temperatura. Se o ambiente ficar mais ácido ou mais
alcalino, ou mais quente ou mais frio, a proteína perde sua forma e sua função. Quando isso acontece, nós dizemos que a proteína está
desnaturada. A desnaturação muitas vezes é irreversível, e pode ser observada na mudança de a clara do ovo quando é cozida ou frita: a
albumina na clara se desnatura e a mudança pode ser vista na cor e textura da clara.

Ligações peptídicas
A ligação peptídica ocorre com a liberação de um hidrogênio do grupo amino de um aminoácido, e da hidroxila do grupo carboxila do
outro, liberando água, e formando uma nova ligação, entre o N de um aminoácido e o carbono da carbonila do outro envolvido na reação.
Note a figura abaixo, com o antes e o depois da formação da ligação. Esta ligação faz surgir um novo grupo funcional, que caracteriza a
função amida na proteína. 

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Processo de formação da ligação peptídica

Níveis de estruturas protéicas

Enzimas
São proteínas que se ligam a substratos específicos e permitem a ocorrência de reações metabólicas por aceleração de suas velo-
cidades. Essa especificidade entre substrato-enzima é usualmente associada ao modelo chave-fechadura, onde para cada “fechadura”
(enzima), uma única “chave” (substrato) seria capaz de se ligar.

Fatores que afetam a atividade enzimática


Primeiro fator - temperatura: cada enzima tem uma temperatura ótima para sua atividade. Além disso, existem de temperatura, que,
caso alcançado, provocam a desnaturação da proteína, uma alteração em sua forma que redunda em sua desativação. É válido lembrar
que a forma da proteína é fundamental para o “encaixe” com o substrato.
Segundo fator - pH: cada enzima tem um pH ideal para atividade. Extremos de pH provocam a desnaturação da enzima, promovendo
alterações em sua forma. O pH do estômago, por exemplo, apresenta o pH ideal para a atividade das enzimas digestivas ali presentes.
Terceiro fator - concentração de substratos: a atividade enzimática varia de acordo com a concentração de substrato disponível no
meio. Considere duas situações: o substrato está em baixas concentrações. O substrato está em concentrações mais elevadas. O segundo
caso será aquele que tenderá a apresentar a maior atividade enzimática, uma vez que é maior a concentração dos reagentes, com maior
probabilidade de ocorrência para reação.
Enzimas são proteínas especiais que catalisam reações químicas. A velocidade da reação depende do pH e da temperatura do meio,
pois esses fatores afetam a estrutura e a função das proteínas. Geralmente, o nome das enzimas termina em “ase” (ex.: maltase, lactase,
polimerase). Como as enzimas funcionam, basicamente, num modelo de chavefechadura, cada enzima (fechadura) tem espaço para um
substrato (chave) específico. Assim, a lactase só age na lactose, a maltase só age na maltose.
A velocidade da reação enzimática depende de vários fatores: como as enzimas são proteínas, a velocidade da reação vai ser maior
se ela ocorrer em pH e temperatura ótimos. Além disso, a concentração de enzimas (quanto maior, mais rápida a reação) e de substrato
(quanto maior, mais rápida a reação até o ponto de saturação, quando as enzimas já estão trabalhando em sua velocidade máxima) tam-
bém influenciam a reação. Existem ainda outros dois fatores importantes que afetam a velocidade das reações enzimáticas: os inibidores
competitivos e não competitivos.
Os inibidores competitivos têm esse nome porque competem com o substrato pelo sítio ativo da enzima. Os inibidores ocupam o lugar
na enzima e não deixam o substrato se ligar. Já os inibidores não competitivos se ligam às enzimas em outros locais, e diminuem a atividade
delas através de uma mudança na conformação da proteína. Vários medicamentos são inibidores de enzimas.

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BIOLOGIA

EMBRIOLOGIA. GAMETOGÊNESE. FECUNDAÇÃO, SEGMENTAÇÃO E GASTRULAÇÃO. ORGANOGÊNESE. ANEXOS EM-


BRIONÁRIOS. DESENVOLVIMENTO EMBRIONÁRIO HUMANO

Gametogênese é a produção de gametas. O gameta masculino é o espermatozoide, e o gameta feminino é o óvulo. A produção de
espermatozoides é chamada de espermatogênese e ocorre nos testículos. A gametogênese feminina é a oogênese e se dá nos ovários.

Espermatogênese e Ovogênese
Como já foi dito, a gametogênese se divide em Espermatogênese e Ovogênese. A ilustração abaixo mostra de forma resumida uma
comparação entre esses dois processos.

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Fases da Espermatogênese e da Ovulogênese

Esquema da estrutura do óvulo e do espermatozoide


Espermatogênese é a formação dos espermatozoides (gametas masculinos), que surgem de espermatogônias, células existentes nas
paredes de túbulos situados no interior dos testículos. Processa-se em uma temperatura inferior à temperatura corporal e está dividida
em quatro.
A) A fase de proliferação (ou multiplicação) inicia-se na fase intrauterina e prolonga-se praticamente por toda a vida. Células germina-
tivas primordiais dos testículos proliferam e convertem-se em espermatogônias, células diploides (2n) que aumentam em quantidade por
mitose. Essa proliferação acelera-se a partir da puberdade e tende a diminuir na velhice.
b) A fase de crescimento inicia-se na puberdade. Um pequeno aumento do volume do citoplasma transforma espermatogônias em es-
permatócitos primários (também chamados espermatócitos de primeira ordem ou espermatócitos I), que são células diploides (2n).
c) Na fase de maturação, após a primeira divisão da meiose, cada espermatócito primário origina dois espermatócitos secundários (es-
permatócitos de segunda ordem ou espermatócitos II), que são haploides (n). A segunda divisão da meiose converte os dois espermatóci-
tos secundários em quatro espermátides, também haploides (n). As espermátides ainda não são gametas funcionais.
d) Espermiogênese(diferenciação pós-meiótica) é o processo de diferenciação sem divisão celular pelo qual as espermátides (n) se
convertem em espermatozoides (n).

Ovogênese Humana
Os espermatozoides são “pacotes compactos de informação genética” e não dispõem de muito equipamento citoplasmático, forneci-
do ao zigoto pelo gameta feminino. Este, além de material genético, contém muito citosol, organoides e nutrientes. Em comparação com
os espermatozoides, os gametas femininos são grandes e não possuem mecanismos próprios de locomoção.
Ovogênese (ou ovulogênese) é a formação dos gametas femininos e compreende três fases, que são:
a) Fase de proliferação:no interior dos folículos ovarianos, as células germinativas primordiais (2n)multiplicam-se e convertem-se
em ovogônias (2n). Na espécie humana, essa fase se encerra ainda antes do nascimento, por volta do terceiro mês de gestação.
b) Fase de crescimento:as ovogônias sofrem grande aumento em volume e trans-formam-se emovócitos primários (ovócitos de pri-
meira ordem ou ovócitos I), que são células diploides (2n) e iniciam a meiose, interrompida na prófase I, ainda na vida intrauterina. Em-
bora a célula já esteja em divisão, sua cromatina é descondensada e bastante ativa; o ovócito primário tem grande atividade metabólica
e acumula proteínas, glicogênio, lipídios e vitaminas no citoplasma. Esses nutrientes armazenados constituem o vitelo, consumido pelo
embrião durante o desenvolvimento.
c) Fase de maturação: inicia-se quando a menina alcança a puberdade (entre 10 e 15 anos de idade). Dos 400 mil ovócitos primários
presentes nos ovários, apenas cerca de 400 irão originar gametas (geralmente um em cada ciclo menstrual, em média com 28 dias). Nesta
fase, o ovócito primário conclui a primeira divisão da meiose, gerando duas células distintas: oovócito secundário, que recebe quase todo
o citoplasma, e o primeiro corpúsculo polar (ou glóbulo polar), uma pequena célula que pode se desintegrar antes mesmo de sofrer a
segunda divisão da meiose.

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BIOLOGIA
As ovogônias (células diploides, onde 2n=46) cessam a multipli- Embora existam exceções, peixes e anfíbios têm fecundação
cação e crescem originando os ovócitos primários (ovócito I). Cada externa, restrita aos ambientes aquáticos, com grande perda de
ovócito primário realiza a primeira divisão meiótica originando  2 gametas masculinos e femininos, que podem ser levados pela cor-
células-filhas diferentes, ambas haploides (n=23). renteza ou devorados por predadores. Em contrapartida, há grande
Uma delas é chamada  ovócito secundário  (ovócito II) é bem produção de gametas e, com isso, aumenta a probabilidade de so-
maior pois acumula mais citoplasma e vitelo (que será usado na nu- brevivência de alguns deles.
trição do embrião); a outra é denominada corpo polar primário (ou Na evolução dos vertebrados, os répteis apresentam fecunda-
glóbulo polar I) e tem tamanho bem reduzido, uma vez que passou ção interna, e suas fêmeas passaram a produzir óvulos grandes e
quase todo citoplasma para a célula-irmã. O corpo polar I fica aderi- em menor número. Essa modificação trouxe muitas vantagens. A
do ao ovócito I, mas por não desempenhar nenhuma função acaba produção de apenas um ou poucos óvulos não diminuiu a probabi-
por degenerar. lidade de sucesso reprodutivo, pois esses gametas estão protegidos
O ovócito secundário inicia a segunda divisão meiótica, que é dentro do sistema genital das fêmeas. Além disso, sendo poucos,
interrompida durante a metáfase II. Ocorre a ovulação e é liberado são grandes e ricos em vitelo; o desenvolvimento embrionário é
um ovócito secundário, que se for fecundado, dará continuidade às mais longo e permite que os filhotes saiam mais maduros dos ovos.
fases restantes da meiose II. Portanto, somente quando há pene- Como animais de fecundação interna geram menor quantidade
tração do espermatozoide no ovócito secundário que ele se torna de filhotes por ninhada, em algumas espécies as fêmeas despen-
verdadeiramente um óvulo, e origina também o corpo polar secun- dem mais tempo e mais cuidado com a prole, o que é inviável para
dário. uma mãe com grande número de filhotes.
Próximo da metade de cada ciclo menstrual ocorre à  ovula- Animais de desenvolvimento direto nascem como adultos em
ção:  um folículo maduro rompe-se e libera o ovócito secundário, miniatura, ou seja, apresentam todas as estruturas corporais carac-
cuja meiose se encontra interrompida na metá-fase II. Recolhido terísticas dos adultos da espécie a que pertencem. Animais de de-
pela tuba uterina, degenera 24 horas depois de ter sido liberado, se senvolvimento indireto nascem como larvas, com aparência muito
não for fecundado. distinta da forma adulta. A fase larval normalmente é curta, porém
muito ativa: ingerem grande quantidade de alimento e sofrem me-
Fecundação tamorfose, que os leva à forma adulta.
Assim que entra em contato com os envoltórios do gameta
feminino, o acrossomo do espermatozoide começa a liberar enzi- Proteção da nova vida
mas hidrolíticas (digestivas). Tal reação acrossômica possibilita, ao Além de informação genética e alimentos, os embriões neces-
final, a fusão das membranas dos dois gametas. Imediatamente, os sitam de proteção.
envoltórios do gameta feminino alteram-se de modo a impedir a Nos animais com fecundação externa, não há mecanismos efi-
penetração de outros espermatozoides. cientes capazes de garantir que os embriões completem seu desen-
A ocorrência da fecundação induz o ovócito secundário a con- volvimento, pois não podem evitar que sejam levados pela água ou
cluir a segunda divisão da meiose, formando o óvulo e o segundo devorados por predadores. Nesse caso, ocorre a geração de grande
corpúsculo polar. O núcleo haploide do espermatozoide (agora cha- quantidade de descendentes, dos quais pelo menos uma parte con-
mado pronúcleo masculino) pode então unir-se ao núcleo haploide segue sobreviver. Numerosos descendentes não garantem proteção
do gameta feminino (o pronúcleo feminino), formando o núcleo a um indivíduo, mas à espécie!
diploide do zigoto. Peixes e anfíbios não enfrentam o problema da perda excessiva
O óvulo humano só existe durante o breve intervalo entre a de água, pois os embriões geralmente se desenvolvem na água. Por
conclusão da meiose II e a fusão dos pronúcleos masculino e femi- sua vez, aves e répteis protegem os embriões no interior de ovos
nino. com cascas calcárias resistentes, onde estão menos vulneráveis ao
dessecamento e ao ataque de predadores.
Armazenar mais ou menos vitelo? Fêmeas de quase todos os mamíferos preservam os embriões
Gametas femininos com quantidades diferentes de vitelo trans- alojados no interior do útero, órgão de parede muscular vigorosa,
formam-se, depois de fecundados, em diferentes tipos de ovos. que se contrai durante o parto e expulsa os filhotes. No útero, os
Quando um pintainho eclode de um ovo, pesa poucos gramas. Um embriões dispõem de um meio líquido com temperatura estável e
bebê humano nasce com 3 250 g em média. No entanto, se com- proteção eficiente contra microrganismos. Também contam com a
pararmos o ovo de galinha com o zigoto humano, veremos que o placenta, um eficaz órgão de nutrição e oxigenação. Texto adaptado
primeiro é muito maior. Como pode um embrião humano desen- de DUARTE. M.
volver-se durante 40 semanas de um zigoto tão pequeno, e ficar
bem maior que o pintainho, cujo embrião dispõe de muito mais
alimento no ovo?
A resposta está na existência da placenta, que se forma no úte-
ro das fêmeas grávidas da maioria dos mamíferos. Pela placenta o
embrião recebe gás oxigênio, água e nutrientes, além de transferir
para a mãe seus resíduos, como o gás carbônico e a uréia. Então,
a partir da implantação no útero, o embrião dispõe de uma fonte
abundante de alimentos.
O desenvolvimento embrionário do pintainho dura três sema-
nas, durante as quais ele depende do vitelo (a gema do ovo). Rece-
be também um complemento dietético extra, o albume (ou clara
do ovo), rico material protéico que, na verdade, não faz parte do
zigoto. A casca, as membranas do ovo e o albume são produzidos
por glândulas localizadas ao longo do oviduto, tubo que comunica o
ovário com a cloaca da galinha.

500
500
BIOLOGIA
Fecundação, segmentação e gastrulação
Dos aproximadamente 300 milhões de espermatozoides eliminados na ejaculação, apenas cerca de 200 atingem a tuba uterina, e só
um fecunda o ovócito II.

Quando liberado do ovário, o ovócito encontra-se envolto na zona pelúcida, formada por uma rede de filamentos glicoprotéicos. Ex-
ternamente a zona pelúcida há a corona radiata, formadas por células foliculares (células derivadas do ovário).
Na fecundação, o espermatozoide passa pela corona radiata e ao atingir a zona pelúcida sofre alterações formando a membrana de
fecundação, que impede a penetração de outros espermatozoides no ovócito.
Ao mesmo tempo, há finalização da meiose dando origem ao óvulo e formando-se o segundo corpúsculo polar.

Na fecundação, o espermatozoide fornece para o zigoto o núcleo e o centríolo. As mitocôndrias dos espermatozoides desintegram-se
no citoplasma do óvulo. Assim, todas as mitocôndrias do corpo do novo indivíduo são de origem materna.
Hoje se sabe que há muitas doenças causadas por mutações no DNA mitocondrial e que elas são transmitidas diretamente das mães
para seus descendentes. Além disso, a análise do DNA mitocondrial tem sido usada em testes de maternidade para verificar quem é a mãe
de uma criança.
O núcleo haploide do óvulo e o núcleo do espermatozoide recebem, respectivamente, os nomes pró-núcleo feminino e pró-núcleo
masculino. Com a união desses núcleos (anfimixia), temos a formação da célula-ovo ou zigoto e o início do desenvolvimento embrionário.

Após a fecundação, diversas etapas ocorrem até que um novo ser seja formado. Logo após a formação do zigoto, ocorre uma etapa
denominada de segmentação ou clivagem. Veja a seguir como ela ocorre:
Inicialmente o ovo inicia uma série de divisões mitóticas, também chamadas de clivagens, que originam células que recebem o nome
de blastômeros. Essas sucessivas mitoses ocorrem sem que aconteça a fase de crescimento do ciclo celular, sendo assim, não se observa
um aumento do volume do embrião. A cada divisão, as células ficam, portanto, menores.
A segmentação ocorre de acordo com a quantidade de vitelo presente em um ovo, por isso essa etapa do desenvolvimento embrio-
nário varia de uma espécie para outra. Nos mamíferos, como os humanos, dizemos que a segmentação é do tipo holoblástica e igual. Na
segmentação holoblástica igual ocorre a divisão em toda a extensão do zigoto, e as primeiras clivagens formam novas células de tamanho
igual.
Até o momento em que há apenas oito células, estas estão agrupadas frouxamente, ou seja, elas não estão formando uma aglome-
ração em íntimo contato. Somente após a terceira clivagem ocorre a união das células, que se mantêm em contato, mais externamente,
graças às zonas de oclusão e, mais internamente, através de junções do tipo gap.

501
BIOLOGIA
Após algumas clivagens, temos uma mórula, um grupo maciço formando a gástrula. Logo os folhetos embrionários que formam
de células. Esse grupo de células recebe esse nome porque lembra a gástrula começam a se diferenciar formando o tubo neural e a
uma amora, que é chamada de  morus  em latim. O tempo médio notocorda. Nesta fase o embrião se chama nêurula.
para que o zigoto chegue ao estágio de mórula com 16 células é de A partir dessa fase, cada folheto embrionário continuará sua
aproximadamente três dias. diferenciação, formando os órgãos do nosso organismo em um pro-
As células mais internas da mórula são denominadas de mas- cesso que chamamos de organogênese.
sa celular interna e as dispostas mais externamente são chamadas Embriogênese humana: É importante salientar que a organo-
de massa celular externa. Essas últimas estão envolvidas na forma- gênese discutida aqui é aquela que ocorre nos seres humanos. Em
ção do trofoblasto, enquanto a massa interna é responsável pela geral, os demais mamíferos terão desenvolvimento semelhante ao
formação do embrião. nosso. Cada folheto embrionário presente na gástrula dará origem
A mórula chega ao útero e observa-se a penetração de líquidos aos diferentes tecidos e órgão do nosso organismo.
em seu interior. Gradativamente se verifica a formação de uma ca- Ectoderme: O folheto embrionário mais externo do embrião é
vidade, que é denominada blastocele. Temos nessa fase o chama- chamado de ectoderme. Esse folheto embrionário dará origem à
do blastocisto, que é formado por uma camada de células dispostas epiderme e seus anexos (como unhas e pelos), assim como as mu-
externamente, que recebe o nome de trofoblasto, e por uma massa cosas, sistema nervoso (afinal este deriva da placa neural, formada
de células internas, o embrioblasto. a partir de um achatamento na ectoderme localizada no dorso do
As células trofoblásticas iniciam então a fixação do embrião no embrião), esmalte dos dentes, hipófise, olhos, entre outros.
útero. Esse processo, denominado nidação, ocorre normalmente Mesoderme: A mesoderme é o folheto embrionário interme-
após seis dias da fecundação. Nesse momento, inicia-se a gestação. diário da gástrula. A mesoderme dá origem à cavidade celomática.
Durante o desenvolvimento embrionário, diversas modifica- Sendo assim, formará três serosas 9tecidos que revestem e prote-
ções ocorrem, desde a formação do zigoto até a formação completa gem órgãos e estruturas internas): peritônio (abdômen), pericárdio
de um novo ser. Logo após a segmentação, inicia-se a fase de gas- (coração) e pleura (pulmões). O folheto mesodérmico dá origem
trulação, que acontece durante a terceira semana de gestação. também aos músculos, tecidos conjuntivos (como o ósseo, o san-
A gastrulação é uma etapa importante do desenvolvimento guíneo, a derme e as cartilagens), sistema cardiovascular e linfático,
embrionário, pois é nessa fase que ocorrem o crescimento e a di- sistema urinário e genital, marfim dos dentes e região cortical das
ferenciação das células para formação dos três folhetos germina- glândulas suprarrenais.
tivos  (ectoderma, mesoderma e endoderma). Esses folhetos são Endoderme: A endoderme é o folheto embrionário mais in-
responsáveis por originar órgãos e tecidos do embrião. terno da gástrula. É este folheto que forma o arquêntero cavidade
A gastrulação inicia-se com a formação da chamada linha pri- embrionária primitiva que dará origem ao sistema digestório. Dessa
mitiva na superfície do epiblasto, uma região de células localizada maneira, a endoderme forma os órgãos do sistema digestório e o
acima da blastocele. Essa linha, que torna possível identificar o eixo seu revestimento epitelial, o sistema respiratório, glândulas como
embrionário do embrião, é formada pelo aumento e migração das o fígado, pâncreas, timo, tireoide e paratireoides, assim como o re-
células do epiblasto em direção ao plano mediano do disco embrio- vestimento da bexiga urinária.
nário. Nos seres humanos, a organogênese tem início por volta da
A linha surge em direção à região cefálica do embrião até se quarta semana de gestação até o final da oitava semana. No final
encontrar com o nó primitivo. Enquanto isso ocorre, surge na linha deste período, o embrião terá a aparência de um “mini ser huma-
um sulco que se encontra com um sulco presente no nó primitivo, no”, quando passa a ser chamado de feto. Este período de desen-
denominado de fosseta primitiva. volvimento é extremamente delicado e requer que a mãe tenha
Após a formação dos sulcos, inicia-se a invaginação das células atenção redobrada ao que ingere, como medicamentos, álcool e
do epiblasto e formam-se os três folhetos germinativos. As células outras drogas que devem ser evitadas. Algumas substâncias podem
invaginadas deslocam o hipoblasto, que passa a ser chamado de en- influenciar na diferenciação celular, acarretando em más-forma-
doderma. As células localizadas entre o epiblasto e o endoderma ções.
formam o mesoderma, e aquelas que ainda fazem parte do epiblas-
to formam o ectoderma. Desenvolvimento embrionário e organogênese em humanos
Além da formação da linha primitiva, durante a gastrulação sur- A placenta é formada pelos anexos embrionários cório e alan-
gem a placa precordal e a notocorda, duas estruturas muito impor- tóide e pela mucosa uterina da mãe.
tantes. As células mesenquimais saem do nó e da fosseta primitiva Após a formação da crista neural, inicia-se o processo de for-
e formam o processo notocordal. Este adquire um canal notocordal mação dos somitos, no começo da terceira semana e tem origem
e cresce até a placa precordal, uma região onde o endoderma e no mesoderma. Os somitos irão dar origem às vértebras, costelas e
ectoderma estão firmemente ligados. A notocorda surge através da à musculatura axial.
transformação do processo notocordal.
Durante toda a fase de gastrulação, o embrião é chamado de
gástrula.

Organogênese
Apesar de termos uma enorme quantidade de células forman-
do nossos organismos, todas elas descendem de uma única célula
o zigoto. Para formar estas células, o zigoto passará por uma série
de clivagens e transformações durante o desenvolvimento embrio-
nário. Este processo inicia-se com a formação da mórula, estrutura
maciça formada por células chamadas de blastômeros.
Em seguida, há a formação de uma cavidade no interior da
mórula e ela passa a ser chamada de blástula. Por sua vez, as cé-
lulas que formam a blástula migram e alteram a forma do embrião

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BIOLOGIA

A partir do mesoderma começa a formação do celoma, que dará origem às cavidades corporais.
Durante a terceira semana também se formam os vasos sanguíneos e o sangue. Ao final desta terceira semana, o coração é um par de
tubos endocárdicos. Estes tubos ligam-se aos vasos sanguíneos.
As vilosidades coriônicas são projeções formadas através das proliferações do trofoblasto, e possuem capilares, crescem rapidamente
e auxilia na troca de nutrientes entre a circulação embrionária e materna. Forma-se nesta época, uma placenta primária, além da cavidade
amniótica e do saco vitelino.

503
BIOLOGIA
Até a oitava semana, o crescimento do embrião é muito rápido Nos anfíbios, embora os ovos sejam ricos em vitelo, falta à ve-
e é onde os órgãos são formados. A cabeça, a cauda e as dobras sícula vitelina típica. Nesses animais o vitelo encontra-se dentro de
laterais ocorrem na quarta semana, período onde a ocorre também células grandes (macrômeros) não envoltas por membrana vitelina
a formação do intestino primitivo. Conforme o ventre do embrião própria.
se flexiona, forma o intestino anterior. A região caudal dá origem ao
intestino posterior. Âmnio e córion
Entre a quarta e a oitava semana os três  folhetos germinati- O âmnio é uma estrutura que aparece ao final da primeira se-
vos diferenciam-se em órgãos e o embrião já tem forma humana. mana de gestação, e é caracterizada como uma bolsa localizada
Este é o período mais crítico, pois pode haver malformações caso acima do disco embrionário, cujo assoalho é a ectoderme embrio-
aconteça algum distúrbio. nária.
O período compreendido da nona semana até o nascimento é Externamente, é revestido pela  mesoderme  extra-embrioná-
chamado de período fetal, caracterizado pelo crescimento do corpo ria, e esta, forma um pedúnculo que conecta a bolsa amniótica ao
do feto e diferenciação dos órgãos. córion, que passará a ser o  cordão umbilicalfuturamente. Devido
Com o desenvolvimento de gordura subcutânea, o feto ganha aos movimentos de flexão e dobras do disco embrionário, a bolsa
uma aparência melhor, pois sem, ela sua pele fica enrugada. amniótica é puxada, passando a envolver todo o embrião.
O cabelo começa aparecer e a pele é coberta por gordura, cha- O desenvolvimento embrionário fará com que o âminio ocupe
mada vernix caseosa. toda a cavidade celômica extra-embionária, fundindo-se com o có-
Neste período não há tantas mudanças como da quarta à oita- rion. No interior da cavidade amniótica, encontra-se o líquido amni-
va semana, pois é marcado apelas pelo crescimento e diferenciação ótico, que se acredita ter origem materna. Este possui a função de
dos tecidos. lubrificação do embrião, impedindo sua aderência de tecidos fetais
O nascimento pode ocorrer por parto normal ou cesariana. entre si e com a parede do saco coriônico; funciona como amorte-
Texto adaptado GONÇALVES. F. S. cedor de choques, serve para armazenar as excretas do feto e lubri-
fica as vias fetais no momento do nascimento.
Anexos embrionários
Anexos embrionários são estruturas que derivam dos folhetos
germinativos do embrião mas que não fazem parte do corpo desse
embrião.
Os anexos embrionários são: vesícula vitelina (saco vitelínico),
âmnio (ou bolsa amniótica), cório e alantoide.

Vesícula vitelina
Durante a evolução do grupo dos animais, os primeiros verte-
brados que surgiram foram os peixes, grupo que possui como único
anexo embrionário a vesícula vitelina.
Diferenciando-se a mesoderme e o tubo neural, parte dos fo-
lhetos germinativos desenvolvem-se formando uma membrana
que envolve toda a gema, constituindo (membrana + gema) o saco
vitelínico  um anexo embrionário, que permanece ligado ao intes-
tino do embrião. À medida que este se desenvolve, há o consumo
do vitelo e, consequentemente, o saco vitelínico vai se reduzindo Alantoide
até desaparecer. É bem desenvolvida não somente em peixes, mas A alantoide é um anexo que deriva da porção posterior do in-
também em répteis e aves. Os mamíferos possuem vesícula vitelina testino do embrião. A função da alantoide nos répteis e nas aves é:
reduzida, pois nesses animais como regra geral, os ovos são pobres transferir para o embrião as proteínas presentes na clara, transferir
em vitelo. A vesícula vitelina não tem, portanto, significado no pro- parte dos sais de cálcio, presentes na casca, para o embrião, que
cesso de nutrição da maioria dos mamíferos. utilizará esses sais na formação de seu esqueleto, participar das tro-
cas gasosas, o O2 passa da câmera de ar para o alantoide e deste
para o embrião, enquanto o CO2 produzido percorre o caminho in-
verso, e armazenar excreta nitrogenada. A excreta nitrogenada eli-
minada por embriões desses animais é o ácido úrico, insolúvel em
água e atóxico, podendo ser armazenado no interior do ovo sem
contaminar o embrião.
Nos mamíferos, nos quais se desenvolve a placenta, essas fun-
ções são também exercidas por ela. A parte intra-embrionária deste
anexo contribui para a formação do úraco e da bexiga; ligamento
fibroso que serve de ligação entre o teto da bexiga e a região um-
bilical.

Placenta (Córion)
A placenta é  um órgão constituído tanto de tecidos materno
quanto fetais (córion) que possuem a função de transportar nu-
trientes e oxigênio da circulação da mãe para o feto. Sendo assim,
este anexo proporciona ao indivíduo em desenvolvimento a garan-
tia de suas necessidades básicas, como: nutrição, respiração e eli-
minação de suas excretas. Texto adaptado de MELDAU. D. C.

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504
BIOLOGIA
Desenvolvimento embrionário humano
O desenvolvimento do embrião humano começa com a formação do zigoto, que após passar por muitas divisões celulares (mitoses),
as clivagens, vai se fixar nas paredes do útero (nidação). Ali se formam novas estruturas (placenta, cordão umbilical, entre outros) e come-
ça a gestação do feto até o seu nascimento durante o parto.
O processo desde a fecundação até a nidação dura cerca de uma semana, sendo que a primeira divisão do zigoto ocorre nas primeiras
24 horas a seguir da fertilização. Confira as etapas a seguir:

Etapas iniciais do desenvolvimento embrionário

Ovulação: A ovulação corresponde à primeira etapa do desenvolvimento embrionário. Quando o ovário libera um óvulo (na verdade
é um ovócito secundário) para a tuba uterina, inicia o período fértil;
Fertilização: Se durante o período fértil, houver contato sexual e os espermatozoides encontrarem o óvulo, pode ser que um deles
consiga fecundá-lo. Caso contrário, a mulher irá ter sua menstruação e recomeçará o ciclo menstrual até a nova ovulação;
Formação do Zigoto: Após a fertilização do óvulo há união do núcleos e do conteúdo genético e a formação do zigoto, que acontece
na tuba uterina;
Clivagens do Zigoto: Em seguida, o zigoto passa por muitas divisões (mitoses) e se encaminha para o útero;
Nidação: Até chegar no estágio chamado blastocisto, quando irá se fixar nas paredes do endométrio uterino, isso é chamado de nida-
ção. Se a nidação for bem sucedida iniciará a gestação do embrião. Se não for bem sucedida, o blastocisto será eliminado na menstruação;
Formação dos Anexos Embrionários: O embrião continua o seu desenvolvimento com a formação do cório, do âmnio, do alantoide e
do saco vitelínico, cujas funções são proteger, nutrir e realizar as trocas entre o embrião e meio externo, através do corpo materno;
Organogênese: formam-se os folhetos embrionários, que são camadas de células que originarão os tecidos e órgãos do embrião. O
processo de formação dos órgãos recebe o nome de organogênese.

505
BIOLOGIA
Clivagens do Zigoto

Esquema detalhado da formação do zigoto, das clivagens e da nidação

O zigoto é a primeira célula do novo ser. Ele se forma pouco depois do óvulo ser fertilizado pelo espermatozoide, quando os núcleos
das duas células se fundem no processo chamado cariogamia.

Em seguida, o zigoto passa por muitas divisões celulares (mitoses), originando muitas células que permanecem unidas e formarão o
embrião.
A divisão do zigoto, também chamada clivagem ou segmentação, origina inicialmente duas células chamadas blastômeros.
Em seguida, os blastômeros de dividem novamente, formando 4 células, depois 8 e assim segue até formar muitas células no estágio
da mórula, assim chamada por se assemelhar a uma amora.

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BIOLOGIA
Detalhe do blastocisto
A mórula passará por novas divisões formando o  blastocisto,
que se diferencia por apresentar uma cavidade interna (blastocela).
Continua o desenvolvimento do blastocisto, que possui uma
massa de células germinativas no seu interior, é chamado de em-
brioblasto, e irá se fixar na parede do útero.
Se tudo correr bem na implantação ou nidação do blastocisto,
continuará o desenvolvimento do embrião e terá início a gravidez.
Anexos Embrionários
Depois que o embrião se fixa na parede uterina, as células con-
tinuarão a se multiplicar formando camadas celulares chamadas fo-
lhetos embrionários ou germinativos.
A partir das camadas celulares mais externas surgem dobras
que formarão estruturas com importantes funções durante a ges-
tação, são chamadas de anexos embrionários. São eles: o cório e o
âmnio e o saco vitelínico. Esquema mostrando em que período fetal se desenvolvem os
órgãos.

Anomalias congênitas ou defeitos do nascimento: são anorma-


lidades que acontecem durante todo o estágio de desenvolvimento
do embrião, perceptíveis ao nascimento, como por exemplo uma
fenda labial. Mas existe a possibilidade de não serem detectadas
até a infância, e ainda mais raramente até a fase adulta, como, por
exemplo, a presença de três rins.

Texto adaptado de MARTINS. E.

GENÉTICA. PRIMEIRA LEI DE MENDEL. PROBABILIDA-


DE GENÉTICA. ÁRVORE GENEALÓGICA. GENES LETAIS.
HERANÇA SEM DOMINÂNCIA. SEGUNDA LEI DE MEN-
DEL. ALELOS MÚLTIPLOS: GRUPOS SANGUÍNEOS DOS
SISTEMAS ABO, RH E MN. DETERMINAÇÃO DO SEXO.
HERANÇA DOS CROMOSSOMOS SEXUAIS. DOENÇAS
GENÉTICAS

O embrião com 2,6mm, cerca de 4 semanas e seus anexos A Genética nasceu das pesquisas de Gregor Johann Mendel.
embrionários. Monge agostiniano, professor de Física e História Natural desen-
volveu seu trabalho durante os anos de 1845 a 1865 com alunos
O cório e o âmnio se desenvolvem juntos, o espaço formado secundaristas em Brunn, hoje Brno, maior cidade da República
pelo âmnio será preenchido pelo líquido amniótico que protegerá o Tcheca, cultivando ervilhas de jardim (Lathyrus odoratus) tentando
feto de choques e permitirá que ele se movimente. esclarecer o comportamento de algumas das características.
O cório é intimamente ligado ao tecido uterino, depois forma Mendel não foi o primeiro a se dedicar ao estudo da heredi-
projeções formando as vilosidades coriônicas que penetram na pa- tariedade, mas foi o que obteve resultados positivos, devido sua
rede uterina e por fim origina a placenta. O saco vitelínico tem no capacidade de interpretar corretamente os resultados dos cruza-
começo da formação do embrião o papel de realizar a circulação mentos feitos. Seu trabalho assíduo e paciencioso foi o de cultivar
sanguínea. e analisar cerca de 10.000 plantas de ervilhas, para elaborar suas
duas leis que formaram as bases da Genética, até então.
Organogênese As Leis de Mendel publicadas em 8 de fevereiro de 1865 no
A partir dos  folhetos embrionários  serão formados todos os Proceedings of Natural History Society of Brunn podem ser assim
órgãos do embrião, no processo chamado organogênese. O folhe- resumidas: 1º - Os caracteres herdados são produzidos por “fato-
to embrionário mais externo, chamado ectoderma, é que formará res” independentes que se transmitem inalterados, de geração a
o sistema nervoso e os órgãos dos sentidos. geração; e 2º - Estes fatores se apresentam aos pares nos indivídu-
Os primeiros órgãos que se formam são o encéfalo, a  medu- os, cada um deles originário de cada um dos pais; geralmente um
la espinhal  e a coluna vertebral. Isso ocorre por volta da  terceira domina o outro, e é chamado dominante, ao passo que o outro,
semana de gestação, quando a mulher ainda nem sabe que está mais fraco, cujos efeitos desaparecem numa geração é chamado
grávida, há apenas suspeitas devido à falta da menstruação. recessivo. Na formação de gametas, os dois fatores de cada par em
A camada intermediária, o mesoderma, origina a derme, os os- cada um dos pais, se separam ou segregam, e apenas um de cada
sos e cartilagens, os músculos e os sistemas circulatório, excretor e par vai para o descendente. Qualquer gene de um determinado par
reprodutor. que vai para um dado gameta, independe de qualquer outro par
Enquanto que a camada mais interna, o endoderma dá origem que vai para o mesmo gameta.
aos órgãos do sistema digestivo, fígado, pâncreas, tubo digestivo e
aos pulmões.

507
BIOLOGIA
Os trabalhos de Mendel ficaram obscurecidos por cerca de 35 parentais. Os descendentes desses cruzamentos constituem a pri-
anos sendo então descobertos por três pesquisadores independen- meira geração em estudo designada por geração F1, assim como as
tes, em 1900. Foram eles Correns, na Alemanha; Tchesmak, na Áus- seguintes são designadas por F2.
tria e De Vries, na Holanda. A Primeira Lei de Mendel também recebe o nome de Lei da Se-
Mendel, de posse dos trabalhos anteriores a ele que não tive- gregação dos Fatores ou Moibridismo. Ela possui o seguinte enun-
ram sucesso, abordou a questão da hereditariedade com visão mo- ciado:
derna para a época. Escolheu sete características facilmente identi- “Cada caráter é determinado por um par de fatores que se se-
ficáveis e que não se modificavam com o ambiente, autocruzou as param na formação dos gametas, indo um fator do par para cada
plantas e obteve estabilidade das características a serem analisa- gameta, que é, portanto, puro”.
das. Eram elas: forma da semente, cor dos cotilédones, cor da casca
da semente, forma da vagem, cor da vagem imatura, posição das
flores e comprimento do caule.
Os resultados de Mendel foram tão bem sucedidos que até
hoje se estuda características governadas por um ou dois genes em
todas as plantas, principalmente as cultivadas.
As Leis de Mendel são um conjunto de fundamentos que expli-
cam o mecanismo da transmissão hereditária durante as gerações.

Os estudos do monge Gregor Mendel foram à base para expli-


car os mecanismos de hereditariedade. Ainda hoje, são reconheci-
dos como uma das maiores descobertas da Biologia. Isso fez com
que Mendel fosse considerado o “Pai da Genética”.
Em seus experimentos, Mendel teve o cuidado de utilizar ape-
nas plantas de linhagens puras, por exemplo, plantas de sementes ▪ Geração F1:
verdes que só originassem sementes verdes e plantas de sementes Todas as sementes obtidas em F1, foram amarelas, portanto
amarelas que só originassem sementes amarelas. Você deve estar iguais a um dos pais. Uma vez que todas as sementes eram iguais,
se perguntando, como Mendel sabia que as plantas eram puras? Mendel plantou-as e deixou que as plantas quando florescessem,
Pois bem, para que ele tivesse certeza de qual planta era pura, ele autofecundassem-se, produzindo assim a geração F2.
as observava durante seis gerações, período de aproximadamente
dois anos. Se durante essas gerações as plantas originassem indiví- ▪ Geração F2:
duos diferentes da planta inicial, elas não eram consideradas puras, As sementes obtidas na geração F2 foram amarelas e verdes,
mas se ocorresse o contrário e elas só originassem descendentes sempre na proporção de 3 para 1.
com as mesmas características da planta inicial, eram consideradas
puras. Interpretação dos resultados:
Primeira Lei de Mendel ou Princípio da Segregação ou Lei da Para explicar a ocorrência de somente sementes amarelas em
pureza dos gametas: F1 os dois tipos em F2, Mendel admitiu a existência de fatores que
Mendel concluiu que os padrões hereditários são determina- passassem dos pais para os filhos por meio dos gametas, que são
dos por fatores (genes) que ocorrem em pares em um indivíduo, haplóides em relação ao conjunto cromossômico. Cada fator seria
mas que segregam um do outro na formação das células sexuais responsável pelo aparecimento de um caráter. Assim, existiria um
(gametas) de modo que qualquer gameta recebe apenas um ou ou- fator que condiciona o caráter amarelo e que podemos representar
tro alelo pareado. O número duplo de genes é então estabelecido por A, e um fator que condiciona o caráter verde e que podemos
na prole. representar por v. Quando a ervilha amarela pura é cruzada com
Mendel observou que as diferentes linhagens de um ances- uma ervilha verde pura, o híbrido F1, recebe o fator A e o fator v,
tral comum para os diferentes caracteres escolhidos, eram sempre sendo portanto, portador de ambos os fatores. As ervilhas obtidas
puras, isto é, não apresentavam variações ao longo das gerações. em F1 eram todas amarelas, isso quer dizer que, embora tendo o
Por exemplo, a linhagem que apresentava sementes da cor ama- fator v para verde, esse não se manifestou. Mendel chamou de do-
rela produziam descendentes que apresentavam exclusivamente a minante o fator que se manifesta em F1, e de recessivo o que não
semente amarela. O mesmo caso ocorre com as ervilhas com se- aparece. Já os indivíduos em F2 ocorrem sempre na proporção de 3
mentes verdes. Essas duas linhagens eram, assim, linhagens puras. dominantes para 1 recessivo.
Mendel resolveu então estudar esse caso em especifico. Mendel chegou à conclusão de que o fator para verde só se
A flor de ervilha é uma flor típica da família das Leguminosae. manifesta em indivíduos puros, ou seja com ambos os fatores iguais
Apresenta cinco pétalas, duas das quais estão opostas formando a a v. Em F1 as plantas possuiam tanto os fatores A quanto o fator
carena, em cujo interior ficam os órgãos reprodutores masculinos v sendo, assim, necessariamente amarelas. Podemos representar
e femininos. Por isso, nessa família, há autofecundação, ou seja, o os indivíduos da geração F1 como Av. Logo, para poder formar in-
grão de pólen da antera de uma flor cair no pistilo da própria flor, divíduos vv na geração F2 os gametas formados na fecundação só
não ocorrendo fecundação cruzada. Logo, para cruzar uma linha- poderiam ser vv.
gem com a outra era necessário evitar a autofecundação. O fenômeno só seria possível se ao ocorrer a fecundação hou-
Mendel escolheu alguns pés de ervilha de semente amarela e vesse uma segregação dos fatores A e v presentes na geração F1,
outros de semente verde, emasculou as flores ainda jovens, ain- esse fatores seriam misturados entre os fatores A e v provenientes
da não-maduras. Para isso, retirou das flores as anteras imaturas, do pai e os fatores A e v provenientes da mãe, tendo como possíveis
tornando-as, desse modo, completamente femininas. Depois de resultados AA, Av, Av e vv.
algum tempo, quando as flores se desenvolveram e estavam ma- Esse fato foi posteriormente explicado pela meiose, que ocorre
duras, polinizou as flores de ervilha amarela com o pólen das flores durante a formação dos gametas. Mendel havia criado então sua
verdes, e vice-versa. Essas plantas constituem portanto as linhagens teoria sobre a hereditariedade e da segregação dos fatores.

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508
BIOLOGIA
→ Cruzamento monoíbrido: Aquele no qual apenas um cará- mento. Essa primeira geração foi chamada de geração parental ou
ter está sendo considerado. geração P. Como resultado desse cruzamento, Mendel obteve todas
I) Dominância completa: Situação na qual um dos alelos de um as sementes de cor amarela e a essa geração denominou de gera-
gene se expressa totalmente em relação ao outro alelo também ção F1. Os indivíduos obtidos nesse cruzamento foram chamados
presente. Ao realizar o cruzamento monoíbrido entre dois indivídu- por Mendel de híbridos, pois eles descendiam de pais com caracte-
os homozigotos, um verde e outro amarelo, todos os filhos nascem rísticas diferentes.
amarelos, como um dos genitores. O caráter expresso é denomina- Em seguida, Mendel realizou uma autofecundação entre os in-
do dominante e outro, recessivo. divíduos da geração F1, chamando essa segunda geração de gera-
II) Dominância incompleta: Situação na qual um dos alelos de ção F2. Como resultado dessa autofecundação, Mendel obteve três
um gene se expressa parcialmente em relação ao outro alelo tam- sementes amarelas e uma semente verde (3:1). A partir dos resul-
bém presente. Ocorre em indivíduos heterozigóticos que apresen- tados obtidos, Mendel concluiu que como a cor verde não apareceu
tam fenótipos intermédios entre os seus progenitores de linhagens na geração F1, mas reapareceu na geração F2, as sementes verdes
puras, isto acontece porque uma única copia do gene funcional tinham um fator que era recessivo, enquanto as sementes amarelas
não ser suficiente para assegurar o fenótipo, em outras palavras, a tinham um fator dominante. Por esse motivo, Mendel chamou as
expressão gênica de um único gene não é suficiente para produzir sementes verdes de recessivas e as sementes amarelas de domi-
uma quantidade mínima de enzima, por exemplo. nantes.
Em diversos outros experimentos, Mendel observou caracterís-
Cor das pétalas da flor “maravilha”: ticas diferentes na planta, como altura da planta, cor da flor, cor da
A cor das pétalas pode ser, quando em homozigose, vermelha casca da semente, e notou que em todas elas algumas característi-
ou branca. O cruzamento de linhagens puras dos dois tipos origi- cas sempre se sobressaíam às outras.
na uma flor rosa, ou seja, com características intermédias às dos
progenitores. Isto acontece porque a expressão gênica de um único Diante desses resultados, Mendel pôde concluir que:
alelo para pétalas vermelhas, não é capaz de produzir uma dada - Cada ser vivo é único e possui um par de genes para cada
quantidade de enzima e, conseqüentemente, pigmento vermelho característica;
suficiente para dar à pétala a cor vermelha. Assim, a pouca quanti- - As características hereditárias são herdadas metade do pai e
dade de pigmento vermelho origina a cor rosa. metade da mãe;
-Proporção fenotípica: 1:2:1 - Os genes são transmitidos através dos genes;
-Proporção genotípica: 1:2:1
- Os descendentes herdarão apenas um gene de cada caracte-
III) Codominância: Condição de heterozigotos na qual os dois rística de seus pais, ou seja, para uma determinada característica,
membros de um par de alelos contribuem para o fenótipo, o qual haverá apenas um gene do par, tanto da mãe quanto do pai.
é então uma mistura das características fenotípicas produzidas por Dessa forma, podemos enunciar a primeira lei de Mendel, tam-
ambas as condições homozigotas. Em outras palavras, o indivíduo bém chamada de lei da segregação dos fatores da seguinte forma:
heterozigoto que apresenta dois genes funcionais, produz os dois Todas as características de um indivíduo são determinadas por ge-
fenótipos, isto é, ambos os alelos do gene em um indivíduo diplóide nes que se segregam, separam-se, durante a formação dos game-
se expressam, produzindo proteínas distintas, que são detectadas tas, sendo que, assim, pai e mãe transmitem apenas um gene para
isoladamente. Nessa interação entre alelos de um gene não há re- seus descendentes. Texto adaptado de BURNS. G. W; BOTTINO. P. J.
lação de dominância.
Probabilidade genética
Cor da pelagem de bovinos da raça Shorthorn: Acredita-se que um dos motivos para as idéias de Mendel
A raça possui genes para as pelagens vermelha e branca. O permanecerem incompreendidas durante mais de 3 décadas foi o
cruzamento entre indivíduos homozigotos para as características raciocínio matemático que continham. Mendel partiu do princípio
vermelha (R1R1) e branca (R2R2) produz uma prole (R1R2) cuja que a formação dos gametas seguia as leis da probabilidade, no to-
pelagem a distância parece cinzaavermelhada ou cor ruão. Superfi- cante a distribuição dos fatores.
cialmente, esse caso parece ser de dominância incompleta, porém
o exame minucioso revela que os ruões apresentam uma mistura Para que Mendel pudesse chegar aos seus resultados, ele utili-
de pêlos vermelhos e brancos, em vez de pêlos de tonalidade in- zou muitos métodos estatísticos para sua interpretação, calculando
termediária. as probabilidades de ocorrer os eventos. A probabilidade serve para
-Proporção fenotípica: 1:2:1 estimar matematicamente a possibilidade de ocorrer eventos que
-Proporção genotípica: 1:2:1 acontecem ao acaso, ou seja, por questão de sorte. Pode ser defini-
da pela seguinte fórmula:
Tipos sangüíneos:
O tipo sanguíneo humano, apresenta 3 alelos IA, IB e i. Portan-
to, existem 6 genótipos diferentes que originam 4 fenótipos dife-
rentes: A, B, AB e O.
IA IA / IA i → Tipo A
IB IB / IB i → Tipo B Onde P é a probabilidade de um evento ocorrer, A é o número
IA IB → Tipo AB, no qual são expressos os dois antígenos de de eventos desejados e S é o número total de eventos possíveis.
membrana. Exemplo: Quando jogamos uma moeda para cima, temos duas
i i → Tipo O possibilidades de resultado: ela cair com a face “cara” voltada para
cima, ou com a face “coroa” voltada para cima. Portanto temos
Uma vez constatado que as plantas eram puras, Mendel esco- duas possibilidades. A possibilidade de sair cara é de 1/2 ou 50%,
lheu uma característica, por exemplo, plantas puras de sementes pois temos uma chance (sair cara) em duas possibilidades (cara ou
amarelas com plantas puras de sementes verdes, e realizou o cruza- coroa).

509
BIOLOGIA
Por exemplo, a probabilidade de obter cara ou coroa, ao lan-
çarmos uma moeda, é igual a 1, porque representa a probabilidade
de ocorrer cara somada à probabilidade de ocorrer coroa (1/2 +
1/2 =1). Para calcular a probabilidade de obter face 1 ou face 6 no
lançamento de um dado, basta somar as probabilidades de cada
evento: 1/6 + 1/6 = 2/6.
Em certos casos precisamos aplicar tanto a regra do “e” como
a regra do “ou” em nossos cálculos de probabilidade. Por exemplo,
no lançamento de duas moedas, qual a probabilidade de se obter
cara em uma delas e coroa na outra? Para ocorrer cara na primeira
A probabilidade é um evento esperado, uma possibilidade, por- moeda E coroa na segunda, OU coroa na primeira e cara na segun-
tanto, não é certeza que vá ocorrer. Quanto mais repetições ocorre- da. Assim nesse caso se aplica a regra do “e” combinada a regra do
rem, mais chances a previsões terão de dar certo. “ou”. A probabilidade de ocorrer cara E coroa (1/2 X 1/2 = 1/4) OU
Quando utiliza-se cálculos de probabilidades em genética, não coroa e cara (1/2 X 1/2 = 1/4) é igual a 1/2 (1/4 + 1/4).
pode-se dizer que os indivíduos que irão nascer terão obrigatoria- O mesmo raciocínio se aplica aos problemas da genética. Por
mente os  genótipos  calculados, pois é questão de sorte. Quanto exemplo, qual a probabilidade de uma casal ter dois filhos, um do
mais indivíduos nascerem, mais chances dos resultados práticos se sexo masculino e outro do sexo feminino? Como já vimos, a pro-
aproximarem dos cálculos. babilidade de uma criança ser do sexo masculino é ½ e de ser do
sexo feminino também é de ½. Há duas maneiras de um casal ter
Eventos independentes
um menino e uma menina: o primeiro filho ser menino E o segundo
Quando a ocorrência de um evento não afeta a probabilidade
filho ser menina (1/2 X 1/2 = 1/4) OU o primeiro ser menina e o
de ocorrência de um outro, fala-se em eventos independentes. Por
exemplo, ao lançar várias moedas ao mesmo tempo, ou uma mes- segundo ser menino (1/2 X 1/2 = 1/4). A probabilidade final é 1/4 +
ma moeda várias vezes consecutivas, um resultado não interfere 1/4 = 2/4, ou 1/2.
nos outros. Por isso, cada resultado é um evento independente do
outro. A regra do produto
Da mesma maneira, o nascimento de uma criança com um Uma regra de probabilidade que é muito útil na genética é a
determinado fenótipo é um evento independente em relação ao regra do produto, a qual afirma que a probabilidade de dois (ou
nascimento de outros filhos do mesmo casal. Por exemplo, imagine mais) eventos independentes ocorrerem juntos pode ser calcula-
uma casal que já teve dois filhos homens; qual a probabilidade que da multiplicando-se as probabilidades individuais dos eventos. Por
uma terceira criança seja do sexo feminino? Uma vez que a forma- exemplo, se você rolar um dado de seis lados de uma vez, você tem
ção de cada filho é um evento independente, a chance de nascer uma chance de 1/6 de conseguir um seis. Se você rolar dois dados
uma menina, supondo que homens e mulheres nasçam com a mes- ao mesmo tempo, sua chance de conseguir duas vezes o seis é: (a
ma frequência, é 1/2 ou 50%, como em qualquer nascimento. probabilidade de um seis no dado 1) x (a probabilidade de um seis
no dado 2) = (1/6). (1/6) = 1/36.
A regra do “e” Em geral, você pode pensar na regra do produto como a regra
A teoria das probabilidades diz que a probabilidade de dois do “e”: se ambos evento X e evento Y devem acontecer para que
ou mais eventos independentes ocorrerem conjuntamente é igual ocorra um determinado resultado, e se X e Y são independentes um
ao produto das probabilidades de ocorrerem separadamente. Esse do outro (um não afeta a probabilidade do outro), então você pode
princípio é conhecido popularmente como regra do “e”, pois cor- usar a regra do produto para calcular a probabilidade do resultado
responde a pergunta: qual a probabilidade de ocorrer um evento E multiplicando as probabilidades de X e Y.
outro, simultaneamente? Podemos usar a regra do produto para prever a frequência de
Suponha que você jogue uma moeda duas vezes. Qual a proba- eventos de fertilização. Por exemplo, considere o cruzamento entre
bilidade de obter duas caras, ou seja, cara no primeiro lançamento dois indivíduos heterozigotos (Aa). Quais são as chances de se ter
e cara no segundo? A chance de ocorrer cara na primeira jogada um indivíduo aa na próxima geração? A única forma de se ter um
é, como já vimos, igual a 1/2; a chance de ocorrer cara na segun- indivíduo aa é se a mãe contribui com um gameta a e o pai contribui
da jogada também é igual a1/2. Assim a probabilidade desses dois com um gameta a. Cada progenitor tem 1/2 das chances de fazer
eventos ocorrer conjuntamente é 1/2 X 1/2 = 1/4. um gameta a. Logo, a chance de uma prole aa é: (probabilidade da
No lançamento simultâneo de três dados, qual a probabilidade mãe contribuir a) x (probabilidade do pai contribuir a) = (1/2). (1/2)
de sortear face 6 em todos? A chance de ocorrer face 6 em cada = 1/4.
dado é igual a 1/6. Portanto a probabilidade de ocorrer face 6 nos
três dados é 1/6 X 1/6 X 1/6 = 1/216. Isso quer dizer que a obtenção A regra da adição de probabilidades
de três faces 6 simultâneas se repetirá, em média, 1 a cada 216 Em alguns problemas genéticos, você pode precisar calcular a
jogadas. probabilidade de que qualquer um de vários eventos ocorra. Nesse
Um casal quer ter dois filhos e deseja saber a probabilidade de
caso, você precisará usar outra regra de probabilidade: a regra da
que ambos sejam do sexo masculino. Admitindo que a probabili-
soma. Segundo a regra da soma, a probabilidade de que qualquer
dade de ser homem ou mulher é igual a 1/2, a probabilidade de o
um de vários eventos mutuamente excludentes ocorra é igual a
casal ter dois meninos é 1/2 X 1/2, ou seja, 1/4.
soma das probabilidades individuais dos eventos.
A regra do “ou” Por exemplo, se você jogar um dado de seis lados, você terá 1/6
Outro princípio de probabilidade diz que a ocorrência de dois de chance de tirar qualquer um dos números, mas você pode tirar
eventos que se excluem mutuamente é igual à soma das probabili- apenas um número em cada jogada. Você nunca pode tirar 1 e 6 ao
dades com que cada evento ocorre. Esse princípio é conhecido po- mesmo tempo; os resultados são mutuamente excludentes. Assim,
pularmente como regra do “ou”, pois corresponde à pergunta: qual a probabilidade de tirar ou 1  or  6 é: (probabilidade de tirar 1) +
é a probabilidade de ocorrer um evento OU outro? (probabilidade de tirar 6) = (1/6) +(1/6) = 1/3.

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BIOLOGIA
Você pode pensar na regra da soma como a regra do “ou”: se um resultado requer que ou o evento X ou o evento Y ocorra, e se X e Y
são mutuamente excludentes (se apenas um dos dois eventos podem ocorrem em uma dada situação), então a probabilidade do resultado
pode ser calculada somando-se as probabilidades de X e Y.
Como exemplo, vamos usar a regra da soma para prever a fração da prole de um cruzamento Aa x Aa que terá o fenótipo dominante
(genótipo AA ou Aa). Nesse cruzamento, há três eventos que podem gerar um fenótipo dominante:
Dois gametas A se encontram (formando um genótipo AA), ou o gameta;
A da mãe encontra o gameta a do pai (formando um genótipo Aa), ou;
O gameta a da mãe encontra o gameta A do pai (formando um genótipo Aa).
Em cada evento de fertilização, apenas uma dessas três possibilidades pode acontecer (eles são mutuamente excludentes).
Como essa é uma situação “ou” em que os eventos são mutuamente excludentes, podemos aplicar a regra da soma. Usando a regra
do produto, como fizemos acima, podemos determinar que cada evento individual tem a probabilidade de 1/4. Então, a probabilidade de
uma prole com fenótipo dominante é: (probabilidade de A da Mãe e A do Pai) + (probabilidade de Ada Mãe e a do Pai) + (probabilidade
de a da Mãe e A do Pai) = (1/4) + (1/4) + (1/4)= 3/4. Texto adaptado de MENDONÇA. A.
Árvore genealógica
Temos mais em comum do que aparentamos. A matemática assim como muitas religiões afirma, com grande propriedade, que somos
todos irmãos. Se não fôssemos todos parentes, cada habitante da Terra hoje teria um número astronômico de antepassados contabilizados
até o ano 1 do calendário cristão.
Ao refletir sobre a árvore genealógica de cada indivíduo, podemos notar facilmente que qualquer pessoa foi gerada por outras duas: o
pai e a mãe. Para gerar esse pai e essa mãe, foram necessárias mais quatro pessoas (quatro avós). Considerando uma duração aproximada
de 25 anos para cada geração já que, segundo o físico australiano John Pattison, a idade média em que as mulheres têm engravidado nos
últimos séculos em várias civilizações é de 26 ± 2 anos, verificamos que, do ano 1 d.C até agora, já se passaram 80 gerações. Em contagem
retroativa, cada indivíduo deveria ter, em um século, dois pais, quatro avós, oito bisavós e 16 trisavós. No século anterior, seriam 32 te-
travós, 64 pentavós, 128 hexavós e 256 heptavós; um verdadeiro crescimento exponencial. Isso nos leva à conclusão, improvável, de que
a existência de uma única pessoa no início do século 21 exigiu o incrível número de 279 (ou 604 sextilhões) de pessoas no ano 1. Apenas
para comparação, os astrônomos Pieter von Dokkum (holandês) e Charlie Conroy (norte-americano) estimam existirem por volta de 300
sextilhões de estrelas no universo. Embora o raciocínio matemático da árvore genealógica esteja correto, é evidente que tal resultado é
impossível.
Trata-se de um aparente paradoxo ou colapso genealógico, já que o número de ancestrais em qualquer geração não pode ser superior
à população da referida época.
Se as contas estão coerentes, o que estaria errado? Uma das razões para essa contradição seria a existência de casamentos entre
parentes próximos, consanguíneos.
Embora seja uma situação difícil de admitir nos dias atuais por questões culturais com algumas exceções, é bastante plausível que
casamentos entre parentes tenham acontecido em um passado não tão remoto assim.
Provavelmente a prática tenha sido mais comum do que imaginamos, sobretudo se considerarmos cidades com pequenas popula-
ções, vilarejos e povoados há mais de 100 anos, com pessoas se deslocando por enormes distâncias e sem facilidade de comunicação. E
o que poderíamos esperar de pequenas vilas e aldeias, com apenas dezenas ou centenas de moradores há cinco séculos, no início da co-
lonização brasileira? Nesse contexto, os parentes mais próximos deviam ser considerados na formação de uma família, pois fortaleceriam
laços, seriam de classes sociais semelhantes, teriam a mesma religião, cultura e tradições, pertenceriam ao mesmo grupo étnico e falariam
a mesma língua, além de fazerem parte do mesmo círculo social.

Esquema da árvore genealógica de qualquer pessoa, evidenciando o rápido crescimento de antepassados em aproximadamente 175
anos, considerando que toda nova geração surja a cada 25 anos. Caso não houvesse casamentos consanguíneos, um número muito gran-
de de ancestrais seria necessário para a existência de cada um de nós no presente.

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BIOLOGIA
Portanto, provavelmente temos em cada árvore genealógica Normalmente quando se estrutura a árvore genealógica de
alguns ramos ausentes por estarem sendo preenchidos pelas mes- uma família com poucas informações ela é representada por uma
mas pessoas. Exemplo disso foi observado em algumas tribos da pequena árvore, quando os elementos são de maior proporção a
Amazônia, em que os índios se casavam com suas primas tradição sua feição torna-se mais complexa, pois os dados passam a ficar
que foi cunhada como ‘teoria da aliança’ por grandes pesquisado- mais desarranjados; quando isso acontece a visualização melhora
res como o antropólogo francês Claude Lévi-Strauss (1908-2009). através de uma representação gráfica.
Em geral, nossos ancestrais casavam-se com pessoas próximas
da família, frequentemente sem conhecimento, mas em outras si- Uma árvore genealógica é de extrema importância para as fa-
tuações de forma intencional. Basta lembrar que casamentos reais mílias, pois por meio delas é possível ter conhecimento da ascen-
entre parentes foram uma prática costumeira entre nobres famílias dência familiar, da existência de títulos até então desconhecidos,
européias, em particular a Dinastia dos Habsburgo. Casos clássicos sem dizer que futuramente, ela pode ser útil nos tratamentos de
também foram os casamentos do naturalista inglês Charles Darwin diversas anomalias e doenças genéticas. Texto adaptado de NASCI-
(1809-1882), que era neto de dois primos e casou-se com sua prima MENTO. M. L. F.
em primeiro grau, Emma. O mesmo fez o físico de origem alemã
Albert Einstein (1879-1955) em seu segundo casamento, com sua Genes letais
prima Elsa, ou ainda o poeta e dramaturgo norte-americano Edgar Alguns alelos, formas alternativas de um mesmo gene, causam
Allan Poe (1809-1849), com sua prima Virginia. Por sinal, um dos a morte de seus portadores e, por isso, são chamados de letais. Os
primeiros a tratar da questão do paradoxo genealógico foi o próprio alelos letais podem ser completos, quando matam seus portadores
filho de Darwin, o astrônomo e matemático inglês George Howard antes da idade reprodutiva, ou semiletais, quando os portadores
(1845-1912), em 1875. Ao chamar a atenção para o assunto, os ge- sobrevivem além da idade reprodutiva.
neticistas de populações passaram a perceber e estudar esse pro-
blema. Como os alelos letais foram descobertos?
As migrações, que têm modificado o povoamento de alguns pa- Os alelos letais, como muitas informações importantes das ci-
íses de tempos em tempos, como o Brasil, poderiam ser apontadas ências, foram descobertos ao acaso. Um geneticista, Lucien Cuenot,
como um fator relevante para essa questão e que aparentemente
estudava a cor da pelagem em camundongos em 1905 quando per-
evitaria a consanguinidade, mantendo intactos grandes ramos da
cebeu que era impossível conseguir linhagem pura desses animais
árvore genealógica e diversificando a carga genética nas famílias.
com fenótipo amarelo.
No entanto, observando a história mundial, o número de imigrantes
Diante desses resultados, o geneticista resolveu realizar alguns
e emigrantes representa apenas uma pequena parcela da popula-
cruzamentos-teste. Nesses cruzamentos, ele utilizou dois indivídu-
ção de um país (caso da Grã-Bretanha, por exemplo) e, mesmo nos
os amarelos, e o resultado sempre era 2/3 de camundongos amare-
locais onde as levas migratórias não são desprezíveis, nada impede
los e 1/3 de camundongos cinza.
que a consanguinidade tenha se estabelecido em gerações anterio-
Ao observar a proporção de 2:1, Cuenot percebeu que indiví-
res às que migraram.
É um grande alento, portanto, perceber que os pouco mais de duos homozigóticos para a pelagem amarela não se desenvolviam
7,3 bilhões de seres humanos que vivem hoje na Terra têm muito e que o alelo condicionante provavelmente era letal. Sendo assim,
mais em comum do que se pensa. Mensagens como as de paz e todo camundongo amarelo deveria ser obrigatoriamente heterozi-
igualdade entre os homens poderiam também ser apresentadas em goto.
termos matemáticos, seguindo esse raciocínio sobre a árvore gene- Para ter certeza de sua descoberta, o geneticista resolveu testar
alógica de cada um. Esse argumento poderia ser aprendido desde a sua hipótese. Para isso, cruzou um camundongo amarelo com um
mais tenra idade nas escolas, associando, quem diria, matemática camundongo cinza e obteve metade dos descendentes amarelos e
e fraternidade. a outra metade cinza. Esse resultado confirmou, então, sua teoria.

Somos de fato mais aparentados uns com os outros do que Exemplos de alelos letais
pensamos, apesar das visíveis diferenças de crença, ideologia, cor Existem diversos casos de alelos que, em homozigose, causam
da pele, traços culturais, língua e perfil econômico. Nesse contexto, a morte do indivíduo, inclusive na espécie humana. Um desses ale-
parece ingênuo o homem que procura se convencer de que, não los é responsável pela Tay-Sachs, isto é, uma doença neurodegene-
sendo galho da mesma árvore, não é, também, árvore da mesma rativa que provoca degeneração física e mental intensa e normal-
floresta. Somos realmente frutos de uma mesma árvore, a da vida. mente ocasiona a morte do indivíduo antes dos cinco anos de vida.
Além da doença de Tay-Sachs, a acondroplasia também é um
Normalmente coloca-se o nome do ancestral mais antigo de exemplo de problema desencadeado por um alelo letal. Se os alelos
que se conseguiu dados e, a partir desse, seus descendentes até para acondroplasia, que são dominantes, aparecerem em homozi-
chegar ao membro mais novo da família ou então até na pessoa que gose, o embrião morrerá antes mesmo do nascimento. Se o alelo
se tem interesse.  aparecer em dose simples, ocorrerá o nanismo.
Para montar a árvore genealógica é preciso primeiramente Podemos citar ainda a fibrose cística, que é causada por um
descobrir de onde vieram os ancestrais de uma família, o que pode gene autossômico recessivo. O gene causador dessa doença afeta
ser feito buscando a origem dos sobrenomes do pai e da mãe de um as glândulas exócrinas, o que desencadeia problemas na produção
indivíduo. Posteriormente devem ser anotados os seguintes dados: de secreções, que se tornam espessas e apresentam-se em maior
Nome completo de todas as pessoas pesquisadas;  quantidade, afetando o desenvolvimento de alguns órgãos, como
Data e local do nascimento das mesmas;  os pulmões.
Certidão de casamento, constando data e local;  Podemos citar ainda casos de genes letais que ocorrem em ou-
Certidão de óbito, constando data e local;  tros organismos, como é o caso de plantas. No milho, por exemplo,
Informações gerais sobre cada indivíduo, como profissão, es- podem nascer plantas homozigóticas recessivas completamente
colaridade, títulos especiais, história da família no Brasil, origem do desprovidas de clorofila. Sem esse pigmento, as plantas não reali-
nome, do sobrenome e mais.  zam fotossíntese e, consequentemente, morrem.

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BIOLOGIA
Em camundongos um gene dominante A determina pigmenta- todos VB; as flores dessas plantas (VB) serão rosas, isto é, exibirão
ção amarela dos pêlos, e seu alelo  recessivo a determina um pa- um fenótipo intermediário em relação aos fenótipos paternais(flo-
drão de pigmentação acinzentada denominada aguti. Observou-se res vermelhas e brancas).
que o  cruzamento de ratos amarelos entre si sempre resulta em
uma prole na qual há 2 indivíduos amarelos  para cada um aguti Plantas que produzem flores cor-de-rosa são heterozigotas, en-
(2:1). quanto os outros dois fenótipos são devidos à condição homozigo-
ta. Supondo que o gene V determine a cor vermelha e o gene B, cor
A presença dos descendentes aguti indica que os pais amarelos branca, teríamos:
são heterozigotos. E neste caso, a  proporção fenotípica esperada
entre descendentes dominantes (amarelos) e recessivos (agutis) VV = flor vermelha
seria  de  3:1. A explicação para o aparecimento da inesperada pro- BB = flor branca
porção 2:1 é o fato de que indivíduos  homozigotos dominantes (A VB = flor cor-de-rosa
A) morrem ainda no estágio embrionário.
Apesar de anteriormente usarmos letras maiúsculas para indi-
 
car, respectivamente, os genes dominantes e recessivos, quando se
trata de dominância incompleta muitos autores preferem utilizar
apenas diferentes letras maiúsculas.
Fazendo o cruzamento de uma planta de maravilha que produz
flores vermelhas com outra que produz flores brancas e analisando
os resultados fenotípicos da geração F1eF2, teríamos:

Posteriormente descubriu-se que camundongos homozigotos


não chegavam a nascer, morrendo no útero materno na fase em-
brionária. Concluiu-se então que os genes para pelagem amarela
em dose dupla são letais ao indivíduo, já que provocam sua morte.
Textos adaptado de SANTOS. V. D.

Herança sem  dominância
O gene dominante bloqueia totalmente a atividade do seu ale-
lo recessivo, de maneira que apenas o caráter condicionado pelo
gene dominante se manifesta.Nesses casos, portanto, um indivíduo
heterozigoto(Aa) exibirá o mesmo fenótipo do homozigoto(AA). Tal
fenômeno é chamado de dominância completa.
Mas existem casos em que o gene interage com seu alelo, de
maneira que o híbrido ou o heterozigoto apresenta um fenótipo di-
ferente e intermediário em relação aos pais homozigotos ou então
expressa simultaneamente os dois fenótipos paternos.Fala-se, en-
tão, de ausência de dominância.
Podemos identificar dois tipos básicos de ausência de domi-
nância, cujos os estudos foram desenvolvidos em épocas posterio-
res á de Mendel:a herança intermediária e co-dominância.

Herança intermediária
A  herança intermediária é o tipo de dominância em que o indí-
viduo heterozigoto exibe um fenótipo diferente e intermediário em
relação aos genitores homozigotos.Vejamos os seguintes exemplos:
Exemplo 1.   A planta Maravilha (Mirabilis jalapa) apresenta
duas variedades básicas para a coloração das flores: a variedade al-
ba(com flores brancas) e a variedade rubra (com flores vermelhas).
chamando o gene que condiciona flores brancas de B e o gene para
flores vermelhas de V, o genótipo de uma planta com flores brancas
é BB, e o genótipo de uma planta com flores rubras é VV. Cruzan-
do-se esses dois tipos de plantas (VV X BB), os descendentes serão

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BIOLOGIA
Agora, analisando os resultados genotípicos da geração F1e F2, teríamos:

Cruzando, agora, duas plantas heterozigotas (flores cor-de-rosa), teríamos:

Exemplo 2. Nas galinhas de raça andaluza, o cruzamento de um galo de plumagem preta(PP) com uma galinha de plumagem bran-
ca(BB) produz descendentes com plumagem azulada (PB). Percebe-se então que a interação do gene para a plumagem preta(P) com o
gene para plumagem branca(B) determina o surgimento de um fenótipo intermediário(plumagem azulada).

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Co-dominância
A co-dominância é o tipo de ausência de dominância em que o indivíduo heterozigoto expressa simultaneamente os dois fenótipos
paternos.Como exemplo podemos considerar da cor da pelagem em bovinos da raça Shorthon: os indivíduos homozigotos AA tem pe-
lagem vermelha; os homozigotos BB tem pelagem branca;e os heterozigotos AB têm pêlos brancos e pêlos vermelhos alternadamente
distribuídos. Texto adaptado de SANTOS. V. D.

Segunda lei de Mendel
A segunda lei de Mendel ou também enunciada por diibridismo, refere-se à segregação independente dos fatores, isto é, a separação
de dois ou mais pares de genes alelos localizados em diferentes pares de cromossomos homólogos, para formação dos gametas.
O princípio para essa segregação tem suporte na anáfase I da divisão meiótica, instante em que ocorre o afastamento dos cromosso-
mos homólogos (duplicados), paralelamente dispostos ao longo do fuso meiótico celular.
Mendel, ao obter o mesmo resultado para todas as características estudadas em separado, decidiu verificar qual era o comporta-
mento se seu estudo fosse dirigido para duas características juntas. O cruzamento realizado foi entre plantas que produziam sementes
amarelas com tegumento liso cruzadas com sementes verdes com tegumento rugoso.
Dessa forma, a proposição da segunda lei de Mendel, tem como fundamento a análise dos resultados decorrentes às possibilidades
que envolvem não mais o estudo de uma característica isolada (Primeira Lei de Mendel), mas o comportamento fenotípico envolvendo
duas ou mais características, em consequência da probabilidade (combinação) de agrupamentos distintos quanto à separação dos fatores
(genes alelos / genótipo) na formação dos gametas.
Após o estudo detalhado de cada um dos sete pares de caracteres em ervilhas, Gregor Mendel passou a estudar dois pares de ca-
racteres de cada vez. Para realizar estas experiências, Mendel usou ervilhas de linhagens puras com sementes amarelas e lisas e ervilhas
também puras com sementes verdes e rugosas. Portanto, os cruzamentos que realizou envolveram os caracteres cor (amarela e verde) e
forma (lisas e rugosas) das sementes, que já haviam sido estudados, individualmente, concluindo que o amarelo e o liso eram caracteres
dominantes. Mendel então cruzou a geração parental (P) de sementes amarelas e lisas com as ervilhas de sementes verdes (vv) e rugosas
(rr), obtendo, em F1, todos os indivíduos com sementes amarelas e lisas, como os pais dominantes. O resultado de F1 já era esperado por
Mendel, uma vez que os caracteres amarelo e liso (LL ou Lr) eram dominantes. Posteriormente, realizou a autofecundação dos indivíduos
F1, obtendo na geração F2 indivíduos com quatro fenótipos diferentes, incluindo duas combinações inéditas.
Os números obtidos aproximam-se da proporção 9:3:3:1 Observando-se as duas características, simultaneamente, verifica-se que
obedecem à Primeira Lei de Mendel. Em F2, se considerarmos cor e forma, de modo isolado, a proporção de três dominantes para um
recessivo permanece. Analisando os resultados da geração F2, percebe-se que a característica cor da semente segrega-se de modo inde-
pendente da característica forma da semente e vice-versa. Essa geração dos genes, independente e ao acaso, constituiu-se no fundamento
básico da Segunda lei de Mendel ou Lei da segregação independente.

→ Cruzamento diíbrido:
Aquele entre indivíduos que diferem em dois pares de genes.
P: LL AA x rr vv → F1: Lr Av
F1 x F1: Lr Av x Lr Av → F2:

Mendel concluiu que as características analisadas não dependiam uma das outras, portanto, são consideradas características inde-
pendentes. Texto adaptado de MORAES. P. L.

Alelos  múltiplos: grupos sanguíneos dos sistemas ABO, Rh e MN


Polialelia, ou alelos múltiplos, é o nome dado ao fenômeno em que os genes possuem mais de duas formas alélicas, ou seja, uma
mesma característica pode ser determinada por três ou mais alelos (formas alternativas de um gene).
A explicação para a coexistência polialélica, deriva dos processos mutagênicos produzindo séries alélicas selecionadas e adaptadas ao
ambiente.
Um alelo é cada uma das várias formas alternativas do mesmo gene, ocupando um dado locus num cromossomo. Consiste em uma
sequência de núcleotídeos de um gene específico.

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BIOLOGIA
Um alelo pode ser mutante, resultando em um fenótipo altera- O alelo i é recessivo.
do, ou selvagem, caracterizado por um produto gênico ativo e um Os alelos IA e IB são co-dominantes, ou seja, indivíduos hete-
fenótipo “normal”. rozigotos IAIB têm tanto antígeno A como B nas hemáceas, sendo
Indivíduos diplóides → cromossomos homólogos → 2 alelos do essas proteínas detectadas isoladamente na corrente sanguínea.
mesmo gene Porém, indivíduos AB não apresentam anticorpos anti-A e anti-B.
Assim:

Alelos múltiplos ou polialelia:


Quando existe mais de dois alelos para um dado gene em uma
espécie. Assim, um locus específico pode ser ocupado por uma sé-
rie de alelos múltiplos, de forma que um indivíduo diplóide possa
apresentar quaisquer dois alelos de um gene. Eles produzem varia-
bilidade genética na população.

Exemplos de polialelia:
- Alelos sanguíneos ABO em seres humanos:

Em coelhos
Um exemplo disso ocorre em coelhos, onde podem ser distin-
guidos quatro fenótipos distintos para a cor da pelagem: selvagem
(cinza-escuro, quase negro), chinchila (cinza-claro homogêneo), hi-
malaia (branco, com focinho, orelhas e extremidades das patas e da
cauda negras) e albino (inteiramente branco).
Esses quatro fenótipos originam-se a existência de quatro alelos
O locus ABO tem 3 alelos comuns: IA, IB e i. O locus controla o distintos de um mesmo lócus. O gene C determina a manifestação
tipo de glicosídeo encontrado na superfície do eritrócito. Um deter- selvagem e é dominante sobre todos os outros alelos. O gene cch-
minado glicolipídeo fornece determinantes antigênicos que reagem condiciona o fenótipo chinchila e é recessivo para selvagem, mesmo
com anticorpos específicos presentes no soro sanguíneo. sendo dominante para os outros. O gene ch é determinante da ma-
Os tipos sanguíneos são determinados por três alelos diferen- nifestação da pelagem Himalaia, sendo dominante apenas sobre o
tes para um único gene: IA, IB e i. O alelo IA é responsável pela pre- albino. O gene c produz o fenótipo albino e é recessivo para todos
sença do antígeno A na hemácia; o alelo IB é responsável pela pre- os demais alelos.
sença do antígeno B, e o alelo i é responsável pela ausência desse
antígeno. Os alelos IA e IB exercem dominância sobre o alelo i, mas
entre IA e IB existe um caso de codominância.

Os três alelos existentes nos grupos sanguíneos permitem a


existência de seis diferentes genótipos para os quatro fenótipos en-
contrados na população. Veja abaixo os genótipos e fenótipos dos
grupos sanguíneos:
IAIA, IAi – Sangue A
IBIB, IBi – Sangue B
IAIB – Sangue AB
ii – Sangue O

O interessante de observar nos coelhos, é que esses quatro


fenótipos diferentes, estão na dependência de 10 genótipos dis-
tintos, conforme o quadro a seguir:

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BIOLOGIA

A diferença na cor da pelagem do coelho em relação à cor da semente das ervilhas é que agora temos mais genes diferentes atuando
(4), em relação aos dois genes clássicos. No entanto, é fundamental saber a 1ª lei de Mendel continua sendo obedecida, isto é, para a de-
terminação da cor da pelagem, o coelho terá dois dos quatro genes. A novidade é que o número de genótipos e fenótipos é maior quando
comparado, por exemplo, com a cor da semente de ervilha.
O surgimento dos alelos múltiplos (polialelia) deve-se a uma das propriedades do material genético, que é a de sofrer mutações.
Assim, acredita-se que a partir do gene C (aguti), por um erro acidental na duplicação do DNA, originou-se o gene Cch (chinchila). A exis-
tência de alelos múltiplos é interessante para a espécie, pois haverá maior variabilidade genética, possibilitando mais oportunidade para
adaptação ao ambiente (seleção natural).
A herança dos tipos sanguíneos do sistema ABO constitui um exemplo clássico de alelos múltiplos e também de codominância na
espécie humana.
Por volta de 1900, o médico austríaco Karl Landsteiner (1868 – 1943) verificou que, quando amostras de sangue de determinadas
pessoas eram misturadas, as hemácias se juntavam, formando aglomerados semelhantes a coágulos.
Landsteiner concluiu que determinadas pessoas têm sangues incompatíveis.
E, de fato, pesquisas posteriores revelaram a existência de diversos tipos sanguíneos nos diferentes indivíduos da população.

Aglutinogênios e aglutininas

No sistema ABO existem quatro tipos de sangue: A, B, AB e O.


Esses tipos são caracterizados pela presença ou não de certas substâncias na membrana das hemácias: os aglutinogênios.
E pela presença ou ausência de outras substâncias – as aglutininas – no plasma sanguíneo.
Existem dois tipos de aglutinogênio ou antígeno – A e B – e dois tipos de aglutinina ou anticorpo – anti-A e anti-B.
Pessoas do grupo A possuem aglutinogênio A nas hemácias e aglutinina anti-B no plasma.
As do grupo B têm aglutinogênio B nas hemácias e aglutinina anti-A no plasma.
Pessoas do grupo AB têm aglutinogênios A e B nas hemácias e nenhuma aglutinina no plasma.
E pessoas do grupo O não têm aglutinogênios nas hemácias, mas possuem os dois anticorpos anti-A e anti-B no plasma.

O que acontece quando você recebe um sangue diferente do seu


Quando, em uma transfusão, uma pessoa recebe um tipo de sangue incompatível com o seu, as hemácias transferidas vão se agluti-
nando assim que penetram na circulação.
Ocorre então a formação de aglomerados compactos que podem obstruir os capilares prejudicando a circulação do sangue.
Essas aglutinações, que caracterizam as incompatibilidades sanguíneas do sistema, acontecem quando uma pessoa possuidora de
determinada aglutinina (anticorpo) recebe sangue com o aglutinogênio correspondente (antígeno).

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BIOLOGIA

Indivíduos do grupo A não podem doar sangue para indivíduos do grupo B.


Isso porque as hemácias A, ao entrarem na corrente sanguínea do receptor B, são imediatamente aglutinadas pelo anti-A nele pre-
sente.

A recíproca é verdadeira.
Indivíduos do grupo B não podem doar sangue para indivíduos do grupo A.
Tampouco indivíduos A, B ou AB podem doar sangue para indivíduos O.
Uma vez que estes têm aglutininas anti-A e anti-B, que aglutinam as hemácias portadoras de aglutinogênios A e B ou de ambos.
Assim, o aspecto realmente importante da transfusão é o tipo de aglutinogênio (antígeno) da hemácia do doador e o tipo de aglutinina
(anticorpo) do plasma do receptor.
Indivíduos do tipo O podem doar sangue para qualquer pessoa.
Isso porque não possuem aglutinogênios A e B em suas hemácias.
Esses indivíduos são chamados doadores universais.

Já os indivíduos AB, por outro lado, podem receber qualquer tipo de sangue, porque não possuem aglutininas no plasma.
Por isso, pessoas do grupo AB são chamadas receptores universais.
Devemos ressaltar que indivíduos com o tipo sanguíneo O podem doar seu sangue para qualquer indivíduo.
Entretanto, só podem receber sangue de pessoas do mesmo grupo sanguíneo O.

Herança dos Grupos Sanguíneos no Sistema ABO

A produção de aglutinogênios A e B é determinada, respectivamente, pelos alelos IA e IB.


Um terceiro alelo, chamado i, condiciona a não produção de aglutinogênios.
Trata-se, portanto, de um caso de alelos múltiplos.

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BIOLOGIA
Entre os alelos IA e IB há codominância (IA = IB), uma vez que o heterozigoto AB produz os dois tipos de proteínas (aglutinogênio).
Entretanto, cada um deles é dominante em relação ao alelo i (IA > i e IB> i).

O Fator Rh do sangue

O fator Rh é um dos dois grupos de antígenos eritrocitários (encontrados nas hemácias) de maior importância clínica, estando envol-
vido nas reações de transfusão de sangue, juntamente com os antígenos pertencentes ao sistema ABO.
O fator Rh foi descoberto em 1940 por Landesteiner e Wiene em experimentos realizados com coelhos e macacos.
Nesses experimentos, foi injetado sangue de um macaco do gênero Rhesus em cobaias, onde se obteve como resposta a formação de
anticorpos capazes de aglutinar as hemácias provenientes do macaco.
O anticorpo produzido no sangue da cobaia foi denominado anti-Rh e usado para testar sangue humano.
Os indivíduos cujo sangue aglutinava com o anticorpo produzido pela cobaia apresentavam o fator Rh e passaram a ser designados
Rh+, o que geneticamente se acreditava corresponder aos genótipos RR ou Rr.
Os indivíduos que não apresentavam o fator Rh foram designados Rh- e apresentavam o genótipo rr, sendo considerados genetica-
mente recessivos.

Herança do fator Rh na população humana


Os anticorpos extraídos das cobaias foram testados na população humana.
Nesses testes, verificou-se que parte da população humana apresentava reação de aglutinação enquanto outra se mostrava insensível.
Os indivíduos que apresentavam reação de aglutinação com anticorpos foram considerados pertencentes ao grupo Rh+.
Os demais, que não apresentavam aglutinação, pertenciam ao grupo Rh-.
Em estudos genéticos, ficou comprovado que a herança do fator Rh é monogênica com apenas 2 alelos.
Sendo que a presença do antígeno Rh é condicionada pela presença de um alelo dominante (R) e a ausência do antígeno Rh, pelo alelo
recessivo (r).
Doença Hemolítica do Recém-nascido (Dhr) – Eritroblastose Fetal: um problema genético

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BIOLOGIA

Mulheres Rh- (rr) que se casam com homens Rh+ (RR ou Rr) podem dar origem a crianças Rh+.
Como existe a possibilidade de o sangue materno ser transferido para o feto, em razão de um defeito na placenta ou hemorragias
durante a gestação e o parto, é possível que se formem, no organismo materno, anticorpos anti-Rh na primeira gestação.
Com isso, as crianças de partos subsequentes, que forem do grupo Rh+ podem apresentar sérios problemas.
Os anticorpos produzidos pela mãe na gestação anterior poderão atingir o sangue do feto e provocar a destruição de suas hemácias.
Isso resulta em problemas para o bebê. Tais como: morte intrauterina; morte logo após o parto; anemia grave; crianças surdas ou
deficientes mentais; icterícia (coloração amarela anormal devido ao derrame da bile no corpo e no sangue, devido às bilirrubinas) e insu-
ficiência hepática.
Essa doença que resulta da incompatibilidade sanguínea entre mãe e feto é chamada Eritroblastose Fetal.

O que se faz nesses casos


Nos dias atuais, já existem algumas alternativas para contornar ou amenizar o problema decorrente do risco da Eritroblastose fetal.
Como, por exemplo, utilizar anticorpos incompletos após a primeira gestação de uma criança Rh+ por uma mãe Rh-.
Isso é feito injetando-se na mãe uma quantidade de anticorpos anti-Rh, que é uma imunoglobulina, cuja função é destruir rapidamen-
te as hemácias fetais Rh+ que penetram na circulação da mãe durante o parto, antes que elas sensibilizem a mulher, para que não haja
problemas nas seguintes gestações.

A vacina injetada é chamada Rhogan.


Este tipo de anticorpo não aglutina os glóbulos vermelhos do sangue Rh+.
Em vez disso, os anticorpos anexam-se aos antígenos receptores, nas suas superfícies, e os revestem.
Esses anticorpos incompletos podem ser injetados na mãe Rh- imediatamente após o parto e são destruídos dentro de poucos meses,
não apresentando qualquer perigo para a mãe ou suas gerações posteriores. Esse é o procedimento padrão atualmente.
Nos casos em que a mãe é do grupo Rh+ e o filho é Rh-, não há problemas para a mãe, pois a produção de anticorpos pela criança só
se inicia cerca de seis meses após o seu nascimento.
Em um processo de doação de sangue, devemos considerar o sistema ABO juntamente com o fator Rh para prever a compatibilidade
sanguínea entre o doador e o receptor.

Interação Gênica
A interação gênica ocorre quando dois ou mais pares de genes, com distribuição independente, determinam conjuntamente um único
caráter. Esses pares de genes interagem entre si. 
É possível explicar a interação gênica através de um exemplo clássico na genética: a forma da crista nas galinhas. Existem quatro tipos
distintos de cristas na galinha; a crista simples, a crista rosa, a crista ervilha e a crista noz. Cada forma distinta de crista é condicionada pela
interação de dois pares de genes, resultando nos seguintes genótipos:
 - Crista simples: eerr 
- Crista rosa: eeR_ (eeRr/eeRR) 
- Crista ervilha: E_rr (EErr/Eerr) 
- Crista noz: E_R_ (EeRr/EERR) 

No caso dos genótipos acima apresentados, note que nas cristas em forma de ervilha, noz e rosa os genes vêm acompanhados de um
traço. Esse traço significa um gene desconhecido. Portanto, tomando como exemplo a crista rosa, é possível afirmar que essa crista irá se
manifestar toda vez que aparecerem, ao mesmo tempo, os genes (e) em dose dupla e o (R) em dose simples, ou seja, os genótipos eeRr e
eeRR manifestam a forma da crista rosa. 

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BIOLOGIA
Da mesma maneira, a crista em forma de ervilha irá se mani- o gene (a) aparecer a coloração dos pelos será determinada pelo
festar sempre que aparecerem, ao mesmo tempo, os genes (E) em gene dominante (A ou C). Quando os genes A e C aparecem juntos
dose simples e o (r) em dose dupla. A crista em forma de noz surgirá a coloração produzida é pardo-acinzentada. E quando o gene (c)
com os genes (E) e (R) em dose simples e juntos. Já a crista simples surge em homozigose junto ao gene (A) os ratos serão albinos, já
sempre será determinada pela dose dupla dos genes (e) e (r), mani- que o par cc é epistático sobre o locus (A). 
festando sempre com o mesmo genótipo: eerr. 
Portanto, ao cruzar galinhas de crista ervilha, puras, com ga- Herança Quantitativa
linhas de crista simples obtêm-se uma F1 com 100% de seus des- A herança quantitativa ou herança poligênica também é uma
cendentes de crista ervilha. Cruzando as galinhas de F1 entre si, modalidade da interação gênica, na qual se avalia variações de ca-
obtêm-se uma F2 com galinhas de crista ervilha e de crista simples, racteres, ao contrário dos caracteres que apresentam fenótipo sim
na proporção de 3:1.  ou não, como no caso do daltonismo, onde o indivíduo é daltônico
Proporção: 3:1 (três galinhas de crista ervilha e uma galinha de ou apresenta visão normal.
crista simples)  Caracteres com variações apresentam gradação contínua do
Quando galinhas de crista em forma de ervilha são cruzadas fenótipo entre os extremos. Como por exemplo, o tom de pele.
com galinhas com crista rosa obtêm-se uma F1 com 100% de seus Não existe apenas pele branca ou escura. Existem peles alvas, bran-
descendentes de crista em forma de noz. Ao cruzar as galinhas de cas, morenas, amarelas, pardas, mulatas, negras. Assim, a herança
F1 entre si, obtêm-se uma F2 com galinhas de crista noz, crista ervi- quantitativa irá estudar todos esses fenótipos intermediários entre
lha, crista rosa e crista simples, na proporção de 9:3:3:1.  os extremos.
Proporção: 9:3:3:1 (nove galinhas de crista noz, três galinhas Essas variações contínuas ocorrem de maneira suave, como no
de crista ervilha, três galinhas de crista rosa e uma galinha de crista caso da estatura. Existem indivíduos com altura de 1,50m, 1,51m,
simples).  1,52m, 1,53m, e assim por diante.
Como é possível galinhas de crista ervilha cruzarem com gali- A herança quantitativa não apresenta dominância. Um gene
nhas de crista rosa e gerarem descendentes de crista noz? E ainda, não apresenta dominância sobre o outro. Nessa herança, conside-
como é possível esses descendentes de crista noz cruzarem entre si ra-se o número de genes aditivos. Voltando ao exemplo da tona-
e gerarem quatro fenótipos distintos?  lidade de pele, consideram-se os genes (A) e (B) como genes que
Isso acontece porque a forma da crista é definida por dois pa- acrescentam melanina ao fenótipo básico, já os genes (a) e (b) não
res de genes, (E) e (e) no caso da crista ervilha e (R) e (r) no caso da acrescentam melanina. Os genes (A) e (B) são chamado de genes
crista rosa. Esses pares de genes possuem segregação independen- acrescentadores ou aditivos.
te, porém não se manifestam de forma independente.  Portanto, a tonalidade da pele será determinada pela quanti-
dade de genes aditivos no fenótipo. No caso da pele negra os dois
Epistasia  genes aditivos são encontrados (AABB), na pele mulata escura são
A epistasia é uma modalidade da interação gênica na qual, ge- encontrados 3 genes aditivos (AaBB ; AABb), na pele mulata mé-
nes de um lócus inibem a manifestação de genes de outro lócus. O dia dois genes aditivos (aaBB; AaBb ; AAbb), na pele mulata clara
efeito epistático manifesta-se entre genes não alelos. Genes epistá- apenas um gene(aaBb ; Aabb) e na branca, nenhum gene aditivo é
ticos são os que impedem a atuação de outros, e hipostáticos são encontrado (aabb). Esse exemplo foi dado de maneira simplificada,
os genes inibidos.  apenas para facilitar o entendimento, já que existe uma variação
Portanto consideraremos dois pares de genes:  muito maior na tonalidade da pele e portanto, mais genes aditivos.
O gene (A) é dominante sobre o alelo recessivo (a), assim como
Logo, a herança quantitativa é determinada por dois ou mais
o gene (B) é dominante sobre o alelo recessivo (b). Porém, o gene
pares de genes que apresentam seus efeitos somados, em relação
(A) não é dominante sobre o par Bb, pois são genes diferentes em
a um mesmo caráter, de maneira a ocasionar a manifestação de um
lócus diferentes. Nesse caso, o gene (A) é epistático sobre o par Bb,
fenótipo em diferentes intensidades.
já que inibe seu efeito. E os genes (B) e (b) são hipostáticos, pois são
Na herança quantitativa o número de fenótipos é determinado
inibidos pelo gene (A). 
por:
A epistasia pode ser dominante ou recessiva. Será dominan-
te quando uma característica determinada por um par de genes
Número de genes +1
depende, em parte, da ação de outro par de genes. Galinhas da
Diante disso, se considerarmos os fenótipos da cor da pele do
raça Leghorn apresentam plumagem colorida condicionada pelo exemplo citado acima, quatro genes são atuantes. Assim, 4 genes
gene dominante (C), assim galinhas coloridas terão os genótipos: +1 = 5 fenótipos. Os cinco fenótipos são representados por peles
CC ou Cc. O gene recessivo (c) condiciona plumagem branca, assim branca, mulata clara, mulata média, mulata escura e negra.
galinhas brancas terão o genótipo cc. E o gene (I) é epistático em Outro exemplo é o da flor maravilha que apresenta como genes
relação a (C), inibindo a manifestação de cor. Seu alelo recessivo (i) atuantes o (V) e o (B), mas apresenta três fenótipos, já que 2 genes
permite que a cor se manifeste. Assim, sempre que os genótipos +1 = 3 fenótipos. Sendo assim, os três fenótipos das cores das flores
forem CCii ou Ccii as galinhas terão plumagem colorida, e quando são cor-de-rosa, vermelha e branca.
os genótipos forem CCII, CcII, CcIi, ccII, ccIi e ccii as galinhas terão
plumagem branca.  Pleiotropia
A epistasia recessiva ocorre quando o alelo recessivo em ho- A Pleiotropia é a denominação utilizada para definir o estado
mozigose funciona como epistático de um gene em outro lócus. É de um gene, quando esse possui mais de uma atuação sobre o fe-
possível exemplificar através da cor da pelagem de certos ratos. A nótipo, ou seja, é um mecanismo genético controlador de várias
cor da pelagem depende dos dois pares de genes: Aa e Cc. Sendo características a partir da expressão de um único gene.
que, (A) determina a pelagem amarela, (C) determina a pelagem Os processos pleiotrópicos ocorrem com frequência nas espé-
preta, (a) não produz pigmento, e (c) em homozigose condiciona cies. Contudo para facilitar a compreensão, não é mencionado dida-
a ausência total de pigmento, ou seja, o albinismo. Sempre que ticamente, sendo cada genótipo estudado de forma isolada.

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BIOLOGIA
Um bom exemplo da influência gênica envolvendo esse fenô- As funções desempenhadas pelas células de Sertoli são diver-
meno é a manifestação condicionante de um gene em ervilhas, as sas. Dentre elas, auxiliam na troca de nutrientes e metabólitos dos
mesmas estudadas por Mendel. Tanto a cor do tegumento da se- espermatócitos, espermátides e espermatozóides. A barreira for-
mente (a casca), a coloração das flores e a presença de manchas na mada pelas células de Sertoli também protege os espermatozóides
base das folhas, são codificadas por um único gene. em desenvolvimento de ataque imunológico. Outra função desem-
Em organismos homozigóticos dominantes e heterozigóticos, penhada pelas células em questão é a  fagocitose  de excessos de
são produzidas ervilhas com tegumento acinzentado da semen- fragmentos de citoplasma liberados durante a espermiogênese.
te, as flores são púrpuras e as folhas são caracterizadas por uma Também secretam continuamente nos túbulos seminíferos um
mancha roxa nas proximidades da inserção ao ramo. O contrário é fluído que é  transportado na direção dos ductos genitais e é usado
observado nas espécimes homozigóticas recessivas: a cor das flo- para transporte de espermatozóides. A secreção de uma proteína-
res é branca, a casca da semente também é branca e as folhas não ligante de andrógeno pelas células de Sertoli é controlada por hor-
possuem manchas. mônio folículo-estimulante e testosterona e serve para concentrar
Na espécie humana um exemplo típico de pleiotropia bem ob- testosterona nos túbulos seminíferos, onde ela é necessária para a
servado é a fenilcetonúria. Condicionada por uma falha cromossô- espermatogênese. Células de Sertoli podem converter testosterona
mica responsável pela tradução de uma enzima que metaboliza o em estradiol e também secretam um peptídeo denominado inibina,
aminoácido fenilalanina presente no fígado, provoca diversos danos que suprime a síntese e a liberação de FSH pela hipófise.
ao organismo: diminuição da quantidade de pêlos, efeito sobre a A partir da sétima semana, se o embrião é geneticamente do
pigmentação da pele e redução da capacidade intelectual. sexo masculino, observa-se que os cordões sexuais desenvolvem-se
Outro aspecto está relacionado à dominância gênica em algu- e invadem a medula da gônada.
mas síndromes (síndrome de Marfan), causando deformidades ós- O mesênquima intertubular, origina-se e dá origem a um me-
seas, deformidades nos olhos e afecções pulmonares e cardíacas. sênquima intertubular diferenciado, com células potencializadas
Texto adaptado de MELDAU. D. C. para formação de um grupo de células endócrinas (as células inters-
ticiais de Leydig, que na 8ª semana começam a secretar testostero-
Determinação do sexo na) e as células conjuntivas. As células germinativas primordiais ori-
O sexo genético é estabelecido na fertilização, mas a genitália ginam espermatogônias no interior dos túbulos seminíferos e são
externa não adquire características masculinas ou femininas distin- de grande importância para o desenvolvimento gonadal, uma vez
tas até a décima segunda semana. Os órgãos reprodutores se de- que o desenvolvimento das gônadas depende da chegada destas
senvolvem a partir de primórdios, que são idênticos em ambos os células às saliências.
sexos. Durante o estágio indiferenciado, um embrião tem potencial Os cordões testiculares separam-se da superfície que lhes deu
para se desenvolver tanto como no macho quanto como na fêmea. origem e abaixo desta aparece uma cápsula de tecido conjuntivo
O desenvolvimento do sistema genital é conseguido através denso, a albugínea.
da produção de gametas e de hormônios. A produção de gametas O desenvolvimento de uma túnica albugínea densa é a indi-
(espermatozóides e óvulos) se dá através das células da linhagem cação característica do desenvolvimento testicular no feto. Gradu-
germinativa, as quais são mantidas por células de natureza epitelial almente, o testículo em crescimento se separa do mesonefro em
(células de Sertoli e células Foliculares). Já a produção de hormô- degeneração e torna-se suspenso pelo seu próprio mesentério, o
nios depende de uma outra população celular, as células intersti- mesorquidio.
ciais e as células da teca interna. Os cordões testiculares permanecem sólidos até o sexto mês
quando também formam os túbulos seminíferos, túbulos retos e
Apesar do sexo cromossômico e genético de um embrião ser rede testicular.
determinado na fertilização pelo tipo de espermatozóide que ferti- Os túbulos seminíferos sofrem canalização e adquirem luz, ao
liza o óvulo, as características masculinas e femininas só começam a mesmo tempo em que às células germinativas primordiais dão ori-
se desenvolver na sétima semana. gem a duas categorias de espermatogônias (a tipo A e a tipo B). As
O sistema genital se desenvolve em íntima associação com o espermatogônias do tipo A originam as células troncas, e as do tipo
sistema urinário ou excretor. B formam os espermatócitos primários.
A linhagem germinativa provêm de células chamadas gonóci- Os cordões sexuais primitivos dão origem aos tubos retos e à
tos, as quais têm origem extragonadal, pois formam-se no endo- rede testicular, além dos túbulos seminíferos. A diferenciação des-
derma do saco vitelino. Os gonócitos, idênticos em ambos os se- tes cordões está na presença do cromossomo Y, que possui um fator
xos, são células grandes que migram para o local onde as gônadas determinante capaz de induzir a região medular das gônadas indife-
se formam. Eles misturam-se com células epiteliais proliferantes e renciadas, recebendo o nome de fator Testículo Determinante. Na
juntos se dispõem formando cordões, chamados cordões sexuais 8ª semana, os túbulos mesonéfricos iniciam um processo de desen-
primitivos. volvimento no qual sua parte proximal estrutura-se em ductos efe-
Os cordões sexuais primitivos formam-se na parede do saco rentes e porção epididimárias, enquanto a distal constitui os canais
vitelino, durante a quarta semana e migram para as gônadas em deferentes e a porção corresponde ao ducto ejaculador, além das
desenvolvimento, onde se diferenciam em células germinativas, vesículas seminais.
ovogônias/espermatogônias. Evaginações múltiplas de porção prostática da uretra em for-
mação crescem e constituem a porção epitelial glandular da prós-
Desenvolvimento do Órgão Reprodutivo Masculino tata. Já na porção membranosa da uretra, desenvolvem-se evagi-
Na 6ª semana, a região cortical das gônadas começa a se dege- nações que levam a formação das glândulas de Cowper. O pênis se
nerar e a região medular origina-se em formação tubular (túbulos forma com o desenvolvimento do seio urogenital. O mesenquima
seminíferos) contendo as células germinativas migratórias e as célu- forma as saliências genitais, que se diferenciarão em saliências es-
las mesenquiais derivadas do epitélio superficial que darão origem crotais para formar o escroto, que ficam separados um do outro
às células de sustentação, as células de Sertoli. pelo septo escrotal.

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BIOLOGIA
Ovários, tubas uterinas, útero, vagina, vulva e mama As pregas urogenitais não se fundem, exceto na parte posterior,
Os ovários, situados um em cada lado da linha média do cor- onde elas se unem para formar o frênulo dos pequenos lábios. As
po, têm origem semelhante à dos testículos, considerando-se que partes não fusionadas das pregas urogenitais formam os pequenos
de sua formação tomam parte as células germinativas primordiais lábios. A maior parte da pregas labioescrotais permanece não fu-
e as saliências genitais até a fase gonadal indiferenciada, na qual sionada e forma duas grandes pregas de pele, os grandes lábios.
os cordões sexuais primitivos ocupam as regiões cortical e medu- Enquanto isso o clitóris surge com discreto alongamento do tubér-
lar das estruturas gonadais em desenvolvimento. Deste modo, não culo genital. Com a abertura do sulco urogenital, surge o vestíbulo.
temos como distingui-los dos testículos, antes do primeiro mês de O hímen é formado devido a uma invaginação da parede poste-
vida fetal. A presença de dois cromossomos X nas células do em- rior do seio urogenital, o que resulta na expansão da porção caudal
brião é de suma importância na caracterização fenotípica feminina da vagina. O hímen geralmente se rompe durante o período peri-
e no desenvolvimento de partes gonadais e ductais do sistema ge- natal e permanece como uma delgada prega de membrana mucosa
nital. Todavia, parece que o desenvolvimento ovariano não se limita dentro do orifício vaginal.
à dependência da carga genética do cromossomo X, admitindo-se Os restos do ducto mesonéfrico formam o sexo feminino e as
o envolvimento de um gene autossômico neste processo. Nestas mamas surgem durante o período de organogênese, que se desen-
gônadas, os cordões sexuais primitivos que brotam do seu epitélio volvem em direção ao mesênquima subjacente. O mesênquima
superficial e mergulham no mesênquima formam na região medu- aprofunda-se ao longo de faixas ectodérmicas desde as regiões axi-
lar em desenvolvimento a rete ovarii que degenera posteriormente. lares às inguinais, estas faixas são as cristas mamárias. De um broto
Com a degeneração da porção cordonal medular, o córtex se mamário inicial surgem vários brotos secundários de onde resultam
estrutura através de novos cordões mergulhados no mesênquima os ductos lactíferos, sob a influência de hormônios que atravessam
subjacente, agora denominados cordões corticais, aos quais se in- a placenta e chegam ao feto.
corporam as células germinativas primordiais no 3º mês de vida
pré-natal. Mais tarde, com a desagregação das células cordonais, Determinação do sexo
grupos isolados destas células se dispõem ao redor de células ger- O sexo cromossômico e genético é estabelecido na fertilização
minativas primordiais, que dão origem a ovogônias, estas apresen- e depende da fertilização de um óvulo que contenha um cromosso-
tam grande atividade mitótica, e muitas delas degeneram durante ma X e por um espermatozóide que contenha um X ou um Y. O tipo
a vida fetal, as restantes aumentam ligeiramente de volume, trans- de gônada que se desenvolve depende do complexo cromossômico
formando-se em ovócitos. sexual do embrião (XX ou XY). Antes da sétima semana, as gônadas
No 7º mês de vida intra-uterina, estes ovócitos, que já entraram dos dois sexos são idênticas em aparência e são chamadas de gôna-
na primeira divisão meiótica e permanecem na fase de diplóteno das indiferenciadas. O desenvolvimento do fenótipo masculino re-
até a puberdade, circundados por células planas oriundas da desa- quer um cromossoma Y. Dois cromossomas X são necessários para
gregação cordonal, formando nesta região os folículos primordiais. o desenvolvimento do fenótipo feminino.
Os ovócitos encontrados nestes folículos são ditos ovócitos primá- A ausência de um cromossoma Y resulta na formação de um
rios. Alguns destes folículos degeneram antes da puberdade, outros ovário. Consequentemente, o tipo de complexo cromossômico se-
podem entrar em degeneração nesta época, enquanto alguns ex- xual estabelecido na fertilização, determina o tipo de gônada que
perimentam crescimento e maturação sob a influência hormonal. se diferenciará a partir da gônada indiferenciada. O tipo de gôna-
O gubernáculo prende-se ao útero, próximo ao local de ligação da presente, então, determina o tipo de diferenciação sexual que
da tuba uterina. A parte cranial do gubernáculo torna-se o ligamen- ocorre nos ductos genitais e na genitália externa. A testosterona,
to ovariano, e a parte caudal forma o ligamento redondo do útero. produzida pelo testículo fetal, determina masculinidade. A diferen-
ciação sexual feminina ocorre se os ovários estiverem ausentes e,
Há evidências de que as células planas (células foliculares) que aparentemente, não está sob influência hormonal.
envolvem os ovócitos secretam uma substância inibidora da meio- Texto adaptado de FERREIRA, R. B. R. T; MARTINS, M. M. G; SILVA, I.
se, e, por isso, os ovócitos primários não completam sua divisão
antes da puberdade. Herança dos cromossomos sexuais
As tubas uterinas têm origem nos ductos paramesonéfricos Na natureza, a maioria dos animais e muitas plantas, apresen-
(ductos de Müller) respondendo pela formação das camadas de te- tam diferença sexual, onde encontramos organismos masculinos
cido conjuntivo e muscular. Logo, das porções cefálicas destes duc- e femininos. Geralmente, essa diferenciação é determinada por
tos é que deriva o epitélio tubário. As porções caudais dos ductos cromossomos especiais, denominados cromossomos sexuais. As
de Müller fundem-se, originando o epitélio uterino e o epitélio da características determinadas pelos genes presentes nesses cromos-
parte superior da vagina. O mesênquima circundante se encarre- somos também terão padrão de herança diferente dos genes locali-
ga de originar o restante da parede destes órgãos (útero e vagina). zados nos demais cromossomos (autossomos).
Desta fusão também resulta a aproximação das duas pregas perito-
neais, formando os ligamentos largos direito e esquerdo e as bolsas Todos os gametas (óvulos) formados por meiose em uma mu-
retouterinas e vesicouterinas. lher possuem o cromossomo X, enquanto os homens podem for-
Já que a parte superior da vagina originou-se da fusão dos duc- mar gametas (espermatozóides) que apresentam o cromossomo X
tos paramesonéfricos, o restante da vagina no que diz respeito ao e outros, que apresentam o cromossomo Y. Por isso dizemos que as
seu epitélio, deriva-se do endoderma do seio urogenital. Quando os mulheres são o sexo homogamético e os homens são o sexo hete-
ductos de Muller se fundirem e formarem o conduto uterovaginal, rogamético.
que fica em contato com o seio urogenital, originase o tubérculo do Embora não sejam totalmente homólogos, os cromossomos X
seio. Tal contato induz à formação dos bulbossinovaginais que, ao e Y possuem pequenas regiões homólogas nas pontas, o que garan-
se fundirem originam a placa vaginal, cujas células centrais se de- te, num indivíduo do sexo masculino, o emparelhamento dos dois
sintegram para o surgimento da luz vaginal e as periféricas parecem cromossomos e sua distribuição normal para as células filhas na pri-
contribuir para a formação do epitélio dos dois terços inferiores da meira divisão da meiose.
vagina, embora haja quem admita que todo o epitélio vaginal venha
destas células

523
BIOLOGIA
O cromossomo Y é mais curto e possui menos genes que o cro- que serão estudadas a seguir. No cromossomo Y, em sua porção não
mossomo X, além de conter uma porção encurtada, em que exis- homóloga, encontramos genes masculinizantes e de características
tem genes exclusivos do sexo masculino. Observe na figura 1 abaixo exclusivas para o sexo masculino. Esses genes são denominados
que uma parte do cromossomo X não possui alelos em Y, isto é, holândricos.
entre os dois cromossomos há uma região não-homóloga.
HERANÇA LIGADA AO CROMOSSOMO X
Também conhecida como “herança ligada ao sexo”, engloba o
estudo de genes presentes no cromossomo X. Estes genes apresen-
tam padrão de herança diferente do convencional, descrito pelas
leis mendelianas, pois, nos machos, se encontram em hemizigose.
Como no cromossomo Y não existe a região de homologia para es-
ses genes, os machos apresentam apenas um alelo e vão expressar
a característica determinada por ele. Características de expressão
recessiva, basta um alelo presente no X para que a mesma se ex-
presse em indivíduos do sexo masculino. Nesses casos dizemos que
a característica foi transmitida pela mãe, pois, o alelo responsável
está presente no cromossomo X herdado dela. Vejamos alguns
exemplos:

DALTONISMO
A percepção de cores pelo olho humano ocorre em células dos
cones que revestem a retina. Estas células detectam três tipos de
Entretanto, o fato de apresentarem regiões sem homologia cores específi cas: azul, verde e vermelho (as demais cores são re-
tem implicações na herança de algumas características. Os genes sultado da combinação realizada em nosso cérebro). O tipo mais
localizados na região do cromossomo X, que não possui homologia comum de daltonismo em humanos é o que não distingue as cores
em Y, seguem um padrão de herança denominada herança ligada vermelho e verde. Os genes que determinam a capacidade para a
ao cromossomo X  ou  herança ligada ao sexo.  Herança ligada ao percepção destas cores estão localizados no cromossomo X.
cromossomo Y  ou  herança restrita ao sexo  é a que se refere aos
genes localizados somente no cromossomo Y, chamados de genes Os possíveis genótipos e fenótipos correspondentes são:
holândricos.

HERANÇA DE CARACTERÍSTICAS RELACIONADAS AO SEXO


A diferença cromossômica entre machos e fêmeas promove
também a ocorrência de um mecanismo de herança característico
para os genes localizados nestes cromossomos. Havendo uma dife-
rença morfológica entre os cromossomos sexuais, regiões homólo-
gas e não homólogas serão encontradas nos mesmos. As regiões
não homólogas são chamadas de regiões diferenciais, pois apresen-
tarão genes presentes apenas naquele tipo de cromossomo, assim,
esses genes não terão homólogos no outro cromossomo sexual.

Os homens daltônicos e hemofílicos transmitem os alelos d e h


somente para as filhas.
Um exemplo de teste para daltonismo está na Figura 3. Obser-
vação: O gene para detecção da cor azul está localizado no cromos-
somo 7, portanto, tem padrão de herança autossômica.

Figura 2. Representação dos cromossomos X e Y humanos, desta-


cando as regiões de homologia e região não homóloga.

A região homóloga entre X e Y são importantes por promover


um pareamento parcial entre esses cromossomos durante a divisão
meiótica, o que garante sua segregação na formação dos gametas. Figura 3. Exemplo de teste para daltonismo. Indivíduos daltônicos
Nas regiões não homólogas do cromossomo X, encontram-se genes não conseguem visualizar o número na figura.
de importância estrutural, inclusive genes para algumas doenças

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524
BIOLOGIA
Veja o cruzamento (Figura 4) apresentando um casal forma- mentos comuns do cotidiano como se levantar de uma cadeira ou
do por uma mulher portadora (XDXd) e um homem normal (XDY). subir uma escada. A doença progride lentamente até comprometer
A possibilidade de descendentes é de 25% para mulher normal funções vitais, causando insuficiência cardíaca e respiratória. Ge-
(XDXD), 25% para mulher portadora (XDXd), 25% para homem nor- ralmente os indivíduos com esta característica sobrevivem até por
mal (XDY) e 25% para homem daltônico (XdY). Neste cruzamento é volta dos vinte anos de idade. Como estes pacientes ao atingirem
possível visualizar que, para características ligadas ao cromossomo a idade fértil já se encontram muito comprometidos pela doença,
X, é a mãe portadora quem transmite o alelo defeituoso ao filho. não chegam a se reproduzir e por esse motivo, não são encontradas
mulheres com distrofia muscular, pois, para estas apresentarem a
doença, seria necessário herdar um par de alelos defeituosos (Xd)
do pai e da mãe.

HERANÇA LIGADA AO CROMOSSOMO Y


Na porção diferencial do cromossomo Y não vamos encontrar
genes estruturais como encontramos no cromossomo X. Nesse cro-
mossomo encontramos apenas genes ligados a características ex-
clusivas ao sexo masculino, como o gene SRY que produz o fator de
Figura 4. Cruzamento entre um homem normal XDY e uma mulher diferenciação testicular (TDF), responsável pela diferenciação em-
portadora do alelo para o daltonismo XDXd. Os descendentes. brionária do testículo. Outra característica também ligada ao cro-
mossomo Y é a ocorrência de pêlos nas bordas das orelhas (Figura
Nos heredogramas para características ligadas ao sexo usa-se 6), característica não muito comum, mas, exclusiva a indivíduos do
representar o indivíduo portador com um sinal diferente ao do in- sexo masculino. Um homem que apresente essa característica vai
divíduo normal. Veja a representação deste padrão de herança na transmiti-la a todos os seus descendentes do sexo masculino.
Figura 5. Observe também que homens que apresentam a caracte-
rística não a transmitem para seus filhos do sexo masculino, mas,
suas filhas serão todas portadoras do alelo para a característica

Figura 5. Heredograma para representação de característica ligada Figura 6. Indivíduo normal e indivíduo com pêlos nas bordas
ao sexo das orelhas

HEMOFILIA HERANÇA INFLUENCIADA PELO SEXO


A hemofilia é uma doença caracterizada pela deficiência na Alguns genes localizados em autossomos tem comportamento
produção de fatores de coagulação do sangue. Esta característica é diferente dependendo do sexo do individuo, comportando a carac-
determinada por um gene presente no cromossomo X. Indivíduos terística, hora como dominante, hora como recessiva, se o individuo
portadores do alelo XH são capazes de produzir a proteína respon- for do sexo masculino ou feminino. Um exemplo para esse tipo de
sável pela coagulação do sangue, enquanto o alelo Hh não produz herança é a calvície, que no homem é uma característica dominan-
essa proteína. te, enquanto na mulher, é recessiva. Portanto, enquanto as mu-
lheres precisam apresentar dois genes para serem calvas, basta um
Os possíveis genótipos e fenótipos correspondentes são: gene C para a calvície se manifestar nos homens. (Figura 7).

DISTROFIA MUSCULAR DE DUCHENNE


Doença caracterizada pelo enfraquecimento e atrofia progres-
siva dos músculos, manifesta-se por volta dos quatro anos de idade,
quando os meninos começam a apresentar dificuldades em movi-

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BIOLOGIA

Figura 7. Calvície – característica dominante no sexo masculino e recessiva no sexo feminino

MECANISMO DE COMPENSAÇÃO DE DOSES


No início do período embrionário das fêmeas de mamíferos ocorre a inativação aleatória de um dos cromossomos X em cada célula.
Essa inativação ocorre por meio da compactação do material genético que fica visível como uma pequena região de coloração mais densa
no núcleo.
Essa inativação persiste por todas as mitoses, sendo transmitida às células filhas seguintes e, dessa forma, uma célula que anulou
um cromossomo X herdado do pai, vai gerar toda uma linhagem de células com este mesmo cromossomo compactado. Por esse motivo
de apresentarem linhagens uma de células com inativação do cromossomo X paterno, e outra do X materno, as fêmeas são consideradas
mosaicos de células. Na visualização microscópica, esse ponto do material genético correspondente ao cromossomo X anulado por com-
pactação é denominado cromatina sexual ou corpúsculo de Barr (Figura 8) e fica localizado próximo à membrana do núcleo. A cromatina
sexual está presente apenas em células femininas, pois, os machos apresentam apenas um cromossomo X não sofrem inativação desse
cromossomo.

Figura 8. Cromatina sexual presente em células femininas

Texto adaptado de OLIVEIRA. G. V. D.

Doenças genéticas
As doenças genéticas podem ser classificadas em três grupos principais:
(1) distúrbios cromossômicos,
(2) distúrbios monogênicos e
(3) distúrbios poligênicos.

Os distúrbios cromossômicos são o resultado da perda, do ganho ou do rearranjo anormal de um ou mais cromossomos, resultando
em deficiências do material genético ou em material genético excessivo. Os distúrbios monogênicos são o resultado de um único gene
mutante e apresentam padrões típicos de herança mendeliana (autossômico dominante, autossômico recessivo e ligado ao X). Os distúr-
bios poligênicos ou multifatoriais resultam de múltiplos fatores genéticos e/ou epigenéticos que não se encaixam nos padrões típicos de
herança mendeliana.

Distúrbios de um Único Gene


Distúrbios de único gene envolvem a mutação de um gene que é responsável pelo fenótipo observado no indivíduo afetado. Esses
distúrbios em geral acompanham um dos três padrões de herança: (1) autossômico dominante, (2) autossômico recessivo ou (3) ligado ao
X. A frequência de distúrbios monogênicos entre a população geral é de cerca de 10 em 1.000 nascidos vivos.

Distúrbios Autossômicos Dominantes


Distúrbios autossômicos dominantes são aqueles em que a presença de uma única cópia de um gene mutante (alelo) resulta em doen-
ça. Desse modo, tanto indivíduos homozigotos quanto heterozigotos expressam o fenótipo da doença, homens e mulheres são igualmente
afetados, e qualquer indivíduo afetado pode transmitir a condição para seus descendentes. Na maioria dos casos, os indivíduos afetados
por um desses distúrbios apresentam pelo menos um dos pais que também é afetado. O padrão autossômico dominante de herança é
caracterizado pela transmissão vertical da doença de uma geração para outra, expressão igual entre homens e mulheres, ausência de filhos
afetados a partir de pais não afetados, chance de 50% de filhos afetados a partir de pais afetados, e a maioria dos indivíduos afetados apre-
senta um dos pais afetado. Indivíduos com distúrbio autossômico dominante, mas sem um dos pais afetado, em geral apresentam uma
mutação fundadora no gene da doença. Mutações fundadoras não são encontradas nas linhagens germinativas dos pais, mas ocorrem no
espermatozóides ou no óvulo antes da fertilização. Desse modo, o filho afetado carrega o gene mutante em sua linhagem germinativa e

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BIOLOGIA
pode passar a mutação para sua prole. Os irmãos de indivíduos com rio (doença do rim policístico), o sistema gastrintestinal (polipose
mutações fundadoras não são afetados e não apresentam um risco colônica familiar), o sistema hematopoiético (doença de von Wille-
maior de desenvolvimento da doença. brand) e o sistema esquelético (síndrome de Marfan, osteogênese
imperfeita, acondroplasia e outras). Além disso, alguns distúrbios
autossômicos dominantes representam doenças metabólicas (tais
como hipercolesterolemia familiar). Essa lista de exemplos procura
ser representativa, mas não completa.

Distúrbios Autossômicos Recessivos


Distúrbios autossômicos recessivos são aqueles em que duas
cópias do gene mutante são necessárias para a expressão do fenó-
tipo da doença. Desse modo, indivíduos heterozigotos são indistin-
guíveis de indivíduos portadores de duas cópias normais do gene
associado à doença. Entretanto, deve ser observado que, em alguns
indivíduos heterozigotos, há alterações sutis em vários parâmetros
bioquímicos, que não são facilmente detectáveis, pois não provo-
cam sintomas discerníveis. Esses indivíduos heterozigotos (que car-
regam um gene normal e um gene mutante) são denominados por-
tadores. A prole de dois portadores do mesmo gene mutante terá
uma chance de 25% de desenvolver a doença (devido à herança
homozigótica do gene mutante) e uma chance de 50% de se tor-
nar portadora (devido à herança heterozigótica do gene mutante).
 Padrões de herança associados a distúrbios monogênicos au- Em contraste com os distúrbios autossômicos dominantes, os dis-
tossômicos dominantes e autossômicos recessivos. (A) Heredogra- túrbios autossômicos recessivos apresentam uma expressão mais
ma representando o padrão de herança autossômico dominante de uniforme do defeito, a penetrância completa é comum, e o iní- cio
uma doença genética. Este é o padrão associado a doenças como da doença em geral ocorre precocemente na vida. Dessa maneira, o
doença de Huntington, neurofibromatose, distrofia miotônica, hi- padrão de herança autossômico recessivo é caracterizado por pene-
percolesterolemia familiar e várias outras. Círculo, mulher; quadra- trância horizontal, indivíduos homozigóticos afetados apresentan-
do, homem; aberto, não afetado; sólido, afetado. (B) Heredograma do pais heterozigóticos não afetados, e pais heterozigóticos (mãe e
apresentando o padrão de herança autossômico recessivo de uma pai) com uma chance de 25% de ter um filho afetado.
doença genética. Este é o padrão associado a doenças como fibrose
cística, doença de Tay-Sachs, anemia falciforme e vários distúrbios Distúrbios Ligados ao X
metabólicos. Círculo, mulher; quadrado, homem; aberto, não afeta- Genes responsáveis por distúrbios ligados ao X são transporta-
do; sólido, afetado; parcialmente preenchido, portador. dos pelo cromossomo X. O risco de desenvolvimento desses distúr-
A expressão da doença refletida nas características clínicas en- bios e sua gravidade variam entre homens e mulheres em função
tre indivíduos afetados por distúrbios autossômicos dominantes do fato de os homens apresentarem um cromossomo X e as mu-
pode variar em função da penetrância reduzida e da expressividade lheres dois. Desse modo, as mulheres podem ser heterozigóticas ou
variável. Do mesmo modo, a idade do início da doença pode va- homozigóticas para um gene mutante ligado ao X, e a característica
riar, indo da primeira infância à fase adulta tardia. Alguns indivíduos associada pode se expressar de modo dominante ou recessivo. Em
que herdam um gene mutante serão fenotipicamente normais (sem contrapartida, os homens expressam o gene mutante ligado ao X
evidência da doença). Isso reflete uma penetrância incompleta da
sempre que ele for herdado. Não há transmissão de homem para
doença associada à mutação. A penetrância é uma medida de quão
homem de distúrbios ligados ao X, e todas as filhas de homens afe-
frequentemente os pacientes com um alelo mutante expressam
tados herdam o gene mutante da doença. Distúrbios recessivos li-
a doença associada à mutação. Dessa forma, uma mutação que
gados ao X afetam principalmente homens. No caso de distúrbios
apresente 100% de penetrância irá produzir doença em todo indi-
dominantes ligados ao X, todas as filhas de homens afetados tam-
víduo portador da mutação. Em contrapartida, uma mutação que
bém são afetadas. A inativação do X resulta na expressão de genes
apresente 50% de penetrância irá produzir doença em apenas 50%
ligados ao X de apenas um cromossomo X. Assim, a expressão de
dos portadores da mutação. A expressividade variável refere-se à
um distúrbio ligado ao X em uma mulher dependerá da presença do
observação de que, em um grupo de indivíduos com uma doença
gene mutante, bem como de sua localização em um cromossomo
associada à mutação, a manifestação da doença pode ser diferente
X ativo.
(diferenças na gravidade, no fenótipo da doença). Os mecanismos
A herança recessiva ligada ao X é responsável por um pequeno
responsáveis pela penetrância reduzida e pela expressividade variá-
número de condições clínicas bem definidas. Alguns desses distúr-
vel não são bem conhecidos. Entretanto, acredita-se que os efeitos
bios ligados ao X afetam sistemas de órgãos específicos, incluindo
de outros genes ou fatores ambientais possam influenciar a expres-
o sistema musculoesquelético (distrofia muscular de Duchenne), o
são das mutações causadoras de doenças. Diferenças na idade de
sangue (hemofilia A, hemofilia B, doença granulomatosa crônica,
início da doença refletem a observação de que algumas doenças deficiência de glicose-6-fosfato-desidrogenase), o sistema imune
associadas a mutações se desenvolvem no início da vida e outras (agamaglobulinemia) ou o sistema nervoso (síndrome do X frágil).
se desenvolvem em adultos ou mais tarde na vida. Esse fenômeno Além disso, alguns distúrbios metabólicos são doenças ligadas ao
provavelmente está relacionado ao contexto fisiológico e de desen- X, incluindo a síndrome de Lesch-Nyhan e o diabetes insípido. Essa
volvimento em que os genes causadores de doença se expressam. lista de exemplos procura ser representativa, mas não completa.
Distúrbios autossômicos dominantes afetam vários sistemas,
incluindo o sistema nervoso (doença de Huntington, neurofibro-
matose, distrofia miotônica, esclerose tuberosa), o sistema uriná-
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BIOLOGIA
Distúrbios Mitocondriais to cromossômico normal de um homem é 46XY (referindo-se a 22
A mitocôndria humana (e de outros mamíferos) contém sua pares de autossomos e os cromossomos sexuais XY). A monossomia
própria molécula de DNA de cerca de 17 kb, que apresenta vários envolvendo um autossomo normalmente é fatal na fase embrioná-
genes que codificam proteínas associadas à função mitocondrial e ria, refletindo a perda de muitas informações genéticas para a via-
especificamente ao metabolismo energético (codificando algumas bilidade do feto em desenvolvimento. Entretanto, algumas anoma-
das proteínas dos complexos enzimáticos da cadeia transportadora lias numéricas, envolvendo a trissomia de autossomos, permitem
de elétrons e a enzima ATP-sintase mitocondrial). Cada mitocôndria um nascimento vivo. No entanto, com raras exceções (síndrome de
pode conter várias cópias do cromossomo mitocondrial, e cada cé- Down), essas trissomias autossômicas levam a recém-nascidos gra-
lula contém um grande número (talvez centenas) de mitocôndrias. vemente incapacitados, que morrem em uma idade precoce. Em
Mutações em genes codificados pelo DNA mitocondrial estão as- contraste, vários distúrbios cromossômicos afetando o nú- mero de
sociadas a várias doenças. Entretanto, a expressão de um estado cromossomos sexuais foram caracterizados.
doente necessita do acúmulo de números suficientes de cópias
do DNA mitocondrial mutante (por deriva aleatória e segregação DOENÇAS NEOPLÁSICAS
citoplasmática) para resultar em disfunção mitocondrial no nível
celular. A herança de distúrbios associados à mitocôndria é estrita- Classificação de Doenças Neoplásicas
mente materna. Portanto, mulheres transmitem características de- A palavra neoplasia é derivada do grego, significando condi-
terminadas pelas mitocôndrias a todos os seus filhos. Em casos ra- ção de novo crescimento. O termo tumor com frequência é utili-
ros, mães afetadas terão uma criança não afetada. Esse fenômeno zado para se referir a uma neoplasia. Tumor significa literalmente
provavelmente reflete segregação citoplasmática de mitocôndrias um inchaço. No início dos anos de 1950, R.A. Willis forneceu uma
mutantes no tecido formador de gametas. descrição de neoplasia que ainda utilizamos nos dias de hoje: Uma
Distúrbios mitocondriais incluem epilepsia mioclônica e do- neoplasia é uma massa de tecido anormal cujo crescimento é ex-
ença de fibras vermelhas rotas, neuropatia óptica hereditária de cessivo e descontrolado em relação àquele dos tecidos normais e
Leber, fraqueza muscular neurogênica/ataxia/retinite pigmentosa, persiste da mesma maneira após a interrupção dos estímulos que
síndrome de Kearns-Sayre, síndrome hereditária materna de Lei- provocaram a alteração. Mais recentemente, outros pesquisadores
gh, oftalmoplegia progressiva e várias outras doenças. Essa lista de
descreveram os tumores como resultado de um processo patoló-
exemplos procura ser representativa, mas não completa. É notável
gico em que uma única célula adquire a capacidade de proliferar
que muitas dessas doenças mitocondriais se manifestem como
de modo anormal (crescimento clonal), resultando em acúmulo de
defeitos musculares, refletindo o grande consumo energético dos
células da progênie, e definem o câncer como tumores que adquiri-
tecidos musculares e o fato de que a maioria dessas doenças mi-
ram a capacidade de invadir os tecidos normais circundantes. Essa
tocondriais se caracteriza por comprometimento do metabolismo
definição ressalta um dos fatores de distinção mais importantes na
energético.
classificação geral de neoplasias a distinção entre tumores benignos
e malignos.
Doenças Poligênicas
Doenças poligênicas ou multifatoriais resultam de múltiplos
fatores genéticos e/ou epigenéticos (mutações ou eventos de si- A divisão de doenças neoplásicas em benignas e malignas é
lenciamento gênico) e não se encaixam nos padrões mendelianos extremamente importante, tanto para a compreensão da biologia
tradicionais de herança. Desse modo, elas representam patologias dessas neoplasias quanto para o reconhecimento das alterações
em que um único gene ou evento mutacional não irá diagnosticar clínicas potenciais para tratamento. No nível mais básico, as neo-
definitivamente ou ser capaz de prever o risco. Distúrbios poligêni- plasias são classificadas como benignas ou malignas. As neoplasias
cos incluem doenças crônicas da fase adulta, malformações congê- benignas não apresentam características invasivas e são considera-
nitas e síndromes dismórficas. Em alguns casos, amplas classes de das como tumores que apresentam baixa probabilidade de invasão
doenças refletem patogênese molecular poligênica; por exemplo, e dispersão. Em contraste, as neoplasias malignas apresentam com-
câncer (em quase todos os casos) é um distúrbio de genes múlti- portamentos invasivos e/ou alto risco de dispersão metastática.
plos. Outros exemplos de doenças poligênicas incluem hipertensão, Uma subclassificação adicional das neoplasias malignas traça uma
doença cardíaca isquêmica, doença de Alzheimer e diabetes melito. distinção entre (1) cânceres da infância versus cânceres que afetam
Em todos esses casos, a manifestação da doença está associada a principalmente adultos, (2) tumores sólidos versus neoplasias he-
interações de vários genes alterados e fatores ambientais. Dada a matopoiéticas e (3) cânceres hereditários versus neoplasias espo-
complexidade dessas doenças (e famílias de doenças), não há uma rádicas. Tanto neoplasias benignas quanto malignas são compostas
compreensão das complexidades genéticas da maioria das doenças por células neoplásicas que formam o parênquima e por estroma
poligênicas, e a elucidação da patogênese molecular de distúrbios não neoplásico que é composto de tecido conectivo, vasos sanguí-
multifatoriais permanece pouco conhecida. neos e outras células que dão suporte ao parênquima do tumor. O
estroma do tumor apresenta uma função crítica no apoio do cresci-
Distúrbios Citogenéticos mento das neoplasias fornecendo irrigação sanguínea para nutrien-
tes e oxigênio. Em quase todos os casos, as células do parênquima
Distúrbios citogenéticos são doenças que estão associadas a
determinam o comportamento biológico (e o curso clínico) da ne-
alterações cromossômicas. Em alguns casos, essas doenças são ca-
oplasia. Além disso, o tipo de célula do parênquima da neoplasia
racterizadas por anomalias do cariótipo envolvendo números anor-
determina como a lesão é nomeada.
mais de cromossomos (perdas ou ganhos), enquanto, em outros,
elas estão associadas ao rearranjo anormal de um ou mais cromos-
Predisposição Genética de Doença Neoplásica
somos. Independente da manifestação molecular da anomalia cro-
O câncer não é uma doença, mas uma miríade de doenças com
mossômica, todos esses distúrbios resultam em deficiências de ma-
tantas manifestações diferentes quanto tecidos ou tipos celulares
terial genético ou em material genético excessivo. O complemento
no corpo humano. Todos esses estados de enfermidade têm em
cromossômico normal de uma mulher é 46XX (referindo-se a 22 pa-
comum certas propriedades biológicas das células que compõem
res de autossomos e os cromossomos sexuais XX), e o complemen-
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BIOLOGIA
os tumores, incluindo crescimento celular descontrolado (clonal), 3. (CESPE- 2014) Com relação aos carboidratos, julgue os próxi-
dificuldade de diferenciação celular, invasividade e potencial me- mos itens. O glicogênio muscular é rapidamente metabolizado em
tastático. Atualmente, sabe-se que o câncer, na sua forma mais lactato, este, por sua vez, só será metabolizado em glicose na pre-
simples, é uma doença genética. Mais precisamente, ele é uma sença de oxigênio.
doença de expressão gênica anormal. Os mecanismos moleculares ( ) CERTO
que governam a proliferação celular descontrolada na doença ne- ( ) ERRADO
oplásica envolvem perda, mutação ou desregulação de genes que
positivamente ou negativamente controlam a proliferação, a migra- 4. CESPE- PF- Perito Criminal Federal- 2013
ção e a diferenciação celulares. A carcinogênese é um processo em Com base no gráfico acima apresentado, julgue opróximoitem.
múltiplas etapas pelas quais o câncer se desenvolve em resposta O gráfico refere-se a uma mistura de amostras de indivíduos do
a alterações na expressão gênica conduzidas por alterações cro- sexo masculino, em iguais proporções.
mossômicas, mutações gênicas e alterações epigenéticas do DNA. ( ) CERTO
( ) ERRADO
A ideia de que a carcinogênese é um processo em etapas múltiplas
é apoiada por observações morfológicas das transições entre cres-
5. CESPE- PF- Perito Criminal Federal- 2013- Questão 2- Com re-
cimento celular pré-maligno (benigno) e tumores malignos. No cân-
lação a proteínas e enzimas, julgue oitemsubsecutivo. Em um gráfi-
cer colorretal (e em alguns outros tipos de câncer), a transição de
co de Lineweaver ou de dupla recíproca, o ponto de intercepção da
uma lesão benigna para uma neoplasia maligna pode ser facilmente reta no eixo das ordenadas corresponde a 1/Vmax da reação enzi-
documentada e ocorre em etapas discerníveis, incluindo adenoma mática. A adição de um inibidor competitivo nessa reação deslocará
benigno, carcinoma in situ, carcinoma invasivo e finalmente metás- o ponto de intercepção para baixo.
tase local e distante. Além disso, demonstrou-se que alterações ge- ( ) CERTO
néticas específicas se correlacionam com cada uma dessas etapas ( ) ERRADO
histopatológicas bem definidas do desenvolvimento e da progres-
são do tumor. Entretanto, é importante reconhecer que é o acúmu- 6.CESPE- PF- Perito Criminal Federal- 2013- Questão 3-Com re-
lo de alterações genéticas múltiplas em células afetadas (e padrões lação a proteínas e enzimas, julgue oitem subsecutivo. A energia
de expressão gênica anormais associados), e não necessariamente livre de Gibbs, que determina a espontaneidade de uma reação e é
a ordem em que essas alterações se acumulam, que determina a expressa por ΔG, pode ser diminuída por enzimas.
formação e a progressão do câncer. ( ) CERTO
( ) ERRADO
Interação entre Genética e Epigenética no Câncer
O sequenciamento completo do genoma revelou uma alta fre- 7.(CESPE - 2010) A respeito da célula, que possui elementos or-
quência de mutações específicas do câncer em genes conhecidos gânicos e inorgânicos em sua composição, julgue o próximo item. A
por direcionar e participar de processos epigenéticos que ocorrem fagocitose é um processo de degradação de partículas incorporadas
em múltiplos tipos de câncer. Esses genes incluem enzimas que são através das membranas e pode ocorrer no interior de lisossomos.
necessárias para a metilação do DNA (DNMTs), a metilação de lisina ( ) CERTO
de histona (EZH2, MLL) e a remodelagem da cromatina (SMARCB1). ( ) ERRADO
Portanto, eventos epigenéticos aberrantes podem ser a base das
anomalias genéticas. As consequências fenotípicas das mutações 8.(CESPE - 2010) A continuidade da vida tem como mecanismo
não são bem conhecidas. Além disso, a herança de algumas alte- principal a reprodução, assexuada ou sexuada. Acerca de proces-
rações ou mutações genéticas pode aumentar a probabilidade de sos envolvidos na reprodução humana, julgue o item subsequente.
a metilação do DNA ter como alvo genes-chave tais como MLH1 e No processo de diferenciação das espermátides, após, pelo menos,
duas divisões celulares forma-se o espermatozóide.
possivelmente contribuir aos cânceres familiares e ao início precoce
( ) CERTO
da doença. Texto adaptado de ASHLEY G. RIVERBARK E WILLIAM B.
( ) ERRADO
COLEMAN.
9. CESPE- PF- Perito Criminal Federal- 2013- O Bacillus anthra-
cis causador do antraz (ou carbúnculo)é uma bactéria gram-positiva
QUESTÕES capaz de formar esporos e que pode ser usada como arma biológi-
ca.
( ) CERTO
1. (CESPE - 2010) A respeito da célula, que possui elementos ( ) ERRADO
orgânicos e inorgânicos em sua composição, julgue o próximo item.
A estrutura de todos aminoácidos possui um átomo de carbono qui- 10. CESPE- PF- Perito Criminal Federal- 2013- Julgue o item que
ral. se segue, relativo a propriedades dos microrganismos. Os genomas
( ) CERTO da microbiota total encontrada em determinada comunidade são
( ) ERRADO chamados coletivamente de metagenoma e contêm muito mais in-
formação genética do que aquela verificada na diversidade micro-
2. (CESPE - 2010) A respeito da célula, que possui elementos biana cultivada.
orgânicos e inorgânicos em sua composição, julgue o próximo item. ( ) CERTO
A estrutura secundária das proteínas é estabilizada por pontes de ( ) ERRADO
hidrogênio.
( ) CERTO
( ) ERRADO

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BIOLOGIA
11. CESPE- PF- Perito Criminal Federal- 2013-Com referência a 17.(CESPE- 2013) Com relação a proteínas e enzimas, julgue oi-
noções básicas de parasitismo, julgue oitema seguir. A relação de- ten subsecutivo.O modelo chave-fechadura, utilizado para explicar
senvolvida entre indivíduos de espécies diferentes em que se ob- o acoplamento da enzima ao substrato, não considera a possibilida-
serva uma associação íntima e duradoura, bem como uma indepen- de de ocorrência de interações sequenciais entre essas entidades,
dência orgânica e metabólica, é denominada de parasitismo. ignorando, portanto, o fato de que as respectivas conformações
( ) CERTO sofrem modificações ao longo do tempo da interação entre o subs-
( ) ERRADO trato e a enzima.
( ) CERTO
12. (CESPE- 2013) Com relação à fotossíntese, julgue os itens ( ) ERRADO
subsecutivos. Organismos autotróficos são aqueles que dependem
da energia luminosa para a produção de moléculas orgânicas ali- 18. (CESPE- 2018) Uma proteína de 40 aminoácidos sofreu des-
mentícias. naturação após ter sido exposta a uma alta concentração de ureia.
( ) CERTO Em seguida, a ureia foi retirada e a proteína retornou ao estado
( ) ERRADO original de conformação enovelada, permitindo que as cadeias la-
terais de leucina e valina se agrupassem no interior dessa proteína.
13. (CESPE- 2013) Com relação à fotossíntese, julgue os itens A explicação para esse fato é que
subsecutivos. Nas células vegetais, a oxidação de carboidratos para (A) a proteína estava em meio aquoso, e as cadeias laterais dos
a liberação de energia ocorre nos cloroplastos. aminoácidos são hidrofóbicas.
( ) CERTO (B) a retirada da ureia permitiu a recomposição das ligações
( ) ERRADO peptídicas entre os aminoácidos.
(C) as cadeias laterais dos aminoácidos formaram ligações iôni-
14. (CESPE- 2016) São processos que representam, correta e cas com a porção N-terminal da proteína.
respectivamente, anabolismo e catabolismo: (D) as ligações duplas entre os carbonos da cadeia principal dos
(A) Respiração aeróbia e glicólise. aminoácidos promoveram o reenovelamento da proteína
(B) Replicação celular e crescimento de tecidos. (E) as cadeias laterais desses aminoácidos formaram ligações
(C) Formação de proteínas e fermentação. covalentes entre si.
(D) Excreção e degeneração óssea.
(E) Síntese de ácidos graxos e síntese de hormônios. 19.(CESPE- 2017)

15. (CESPE- 2013) O nitrogênio produzido pelo catabolismo de


aminoácidos e proteínas é eliminado em uma dentre três formas,
dependendo do ambiente osmótico em que vivem os diferentes
grupos animais. Assinale a alternativa incorreta em relação à os-
morregulação:
(A) Amônia, altamente tóxica e solúvel, requer grandes quan-
tidades de água para ser eliminada através das brânquias de
teleósteos.
(B) Ácido úrico, pouco tóxico e pobremente solúvel, é elimina-
do como uma suspensão semi-sólida via o rim de aves e répteis.
(C) Os répteis e as aves convertem a maioria de suas excretas
nitrogenadas em ureia, substância menos tóxica e sua elimina-
ção requer quantidades moderadas de água.
(D) Animais aquáticos constantemente ganham ou perdem íons
para o meio circundante e este equilíbrio é obtido por meio do
controle da entrada ou saída de água. Entretanto, alguns pei-
xes, como os Chondrichthyes acumulam ureia no corpo para
aumentar a concentração de sais. A figura precedente ilustra as fases dos ciclos uterino e ovaria-
no e as variações nos níveis dos hormônios ovarianos. Tendo essa
16.(CESPE- 2018) Uma proteína de 40 aminoácidos sofreu des- figura como referência e considerando os aspectos fisiológicos do
naturação após ter sido exposta a uma alta concentração de ureia. ciclo menstrual e do controle hormonal nesse ciclo, julgue o item
Em seguida, a ureia foi retirada e a proteína retornou ao estado seguinte. O método de abstinência periódica (tabelinha) consiste
original de conformação enovelada, permitindo que as cadeias la- em evitar relações sexuais durante o período fértil que, em geral,
terais de leucina e valina se agrupassem no interior dessa proteína. ocorre quatorze dias antes da menstruação. Nessa data, os níveis
A explicação para esse fato é que de progesterona liberada pelos ovários atingem seu pico máximo.
(A) a proteína estava em meio aquoso, e as cadeias laterais dos ( ) CERTO
aminoácidos são hidrofóbicas. ( ) ERRADO
(B) a retirada da ureia permitiu a recomposição das ligações
peptídicas entre os aminoácidos.
(C) as cadeias laterais dos aminoácidos formaram ligações iôni-
cas com a porção N-terminal da proteína.
(D) as ligações duplas entre os carbonos da cadeia principal dos
aminoácidos promoveram o reenovelamento da proteína
(E) as cadeias laterais desses aminoácidos formaram ligações
covalentes entre si.

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BIOLOGIA
20.(CESPE- 2017) A figura precedente ilustra as fases dos ciclos 26. (CESPE- 2013)
uterino e ovariano e as variações nos níveis dos hormônios ovaria-
nos. Tendo essa figura como referência e considerando os aspectos
fisiológicos do ciclo menstrual e do controle hormonal nesse ciclo,
julgue o item seguinte.
A curva indicada pela letra “d” na figura representa a secreção
do hormônio luteinizante (LH), que é liberado pelo ovário e estimu-
la a proliferação do endométrio.
( ) CERTO
( ) ERRADO

21. (CESPE-2009) A seleção artificial de genótipos vem sendo


utilizada há séculos. Apesar de ser uma técnica que produz resulta-
dos com relativa lentidão, é, ainda, a base do melhoramento genéti-
co animal e vegetal. O sequenciamento de genomas, como o do Bos
taurus (boi doméstico), é hoje uma técnica bastante difundida. Em
abril de 2009, foi publicado o genoma completo do boi, com par-
ticipação de pesquisadores brasileiros. Espera-se que esse conhe-
cimento possa auxiliar na aceleração do melhoramento genético
dessa espécie - por exemplo, na produção de carne e leite com qua-
lidades desejáveis pelo homem. Com relação a esse assunto, julgue
o iten As bases teóricas principais do melhoramento genético são a Considerando o heredograma acima, julgue o item que se se-
genética mendeliana e a herança multifatorial. gue. X. Se o alelo b de um gene apresentar-se completamente liga-
( ) CERTO do ao alelo responsável pelo fenótipo afetado, mas não contribuir
( ) ERRADO para o aparecimento desse fenótipo, a probabilidade de o indivíduo
III-1 portar esse alelo é igual a 25%.
22.(CESPE- 2013) Em se tratando de genética de populações, ( ) CERTO
um marcador genético polimórfico é aquele que apresenta mais de ( ) ERRADO
dois alelos.
( ) CERTO 27. (CESPE- 2013) Na resolução de casos forenses, a utilização
( ) ERRADO de marcadores genéticos situados no cromossomo X é bem mais
recente que o emprego dos marcadores genéticos situados em
23.(CESPE- 2010) A abordagem evolutiva pergunta o que as cromossomos autossômicos e Y. Atualmente têm sido analisados
mudanças de caracteres e de espécies implicam na adaptação, na marcadores do tipo STRs, havendo já alguns kits disponíveis no
história e nas relações dos seres vivos. Com relação a esse tema, mercado. Diferentemente do que se dá com o cromossomo Y, os
julgue o item a seguir.Segundo a teoria de Darwin, as variações nas marcadores do cromossomo X não são herdados como um haplóti-
espécies ocorrem devido às forças do ambiente que impõem a mu- po, e sim como um conjunto de haplótipos. Tendotextoacimacomo
dança como mecanismo para sobreviver. referênciainicial, julgue o itemaseguir. Sendo a amostra exclusiva-
( ) CERTO mente composta por homens, pode-se utilizar a mesma metodolo-
( ) ERRADO gia de estimativa de frequência haplotípica para haplótipos situa-
dos tanto no cromossomo X quanto no cromossomo Y.
24.(CESPE - 2010) A abordagem evolutiva pergunta o que as ( ) CERTO
mudanças de caracteres e de espécies implicam na adaptação, na ( ) ERRADO
história e nas relações dos seres vivos. Com relação a esse tema, jul-
gue o item a seguir.Os oncogenes são genes recessivos resultantes 28. (CESPE- 2013) Com relação às regiões repetitivas do geno-
de mutações hereditárias e possuem a função de codificar as pro- ma e aos polimorfismos, julgue oitem a seguir.As sequências repeti-
teínas que promovem a perda do controle sobre o ciclo meiótico. tivas encontradas no genoma, como, por exemplo, CGG, se ocorre-
( ) CERTO rem em regiões intrônicas, não causarão prejuízo ao indivíduo e não
( ) ERRADO poderão ser usadas para identificação pessoal.
( ) CERTO
25.(CESPE - 2010 ) A abordagem evolutiva pergunta o que as ( ) ERRADO
mudanças de caracteres e de espécies implicam na adaptação, na
história e nas relações dos seres vivos. Com relação a esse tema, 29. (CESPE- 2013) Com relação às técnicas de identificação que
julgue o item a seguir. As mutações representam mudanças no fe- utilizam o DNA, julgue oitemseguinte. As técnicas atualmente em-
nótipo dos seres vivos, que ocorrem de modo gradativo e lento ao pregadas para identificações embasadas no uso de DNA não per-
longo de gerações. mitem a distinção de sexos, já que todos os marcadores por elas
( ) CERTO utilizados podem ser comuns a um irmão e uma irmã.
( ) ERRADO ( ) CERTO
( ) ERRADO

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BIOLOGIA
30. (CESPE- 2013) Com relação às técnicas de identificação 36 - (CESPE- PF- Papiloscopista da Polícia Federal- 2012-)
que utilizam o DNA, julgue oitem seguinte. Sequências no DNA que Os erros inatos do metabolismo constituem uma classe de do-
apresentam repetições curtas em tandem (STRs, do inglês short- enças genéticas caracterizada por distúrbios bioquímicos. Se um
-tandem repeats) são utilizadas para a identificação de pessoas em casal tem um filho afetado por um dado erro inato do metabolismo
desastres que envolvam várias vítimas. com herança autossômica recessiva, então esse casal tem 25% de
( ) CERTO chance de ter um filho de qualquer sexo com o mesmo genótipo
( ) ERRADO deles.
( ) CERTO
31. (CESPE- 2013) A heterozigose de dado marcador em deter- ( ) ERRADO
minada população está relacionada ao número de alelos e à frequ-
ência de cada alelo nessa população, sendo a heterozigose espera- 37 (CESPE- PF- Papiloscopista da Polícia Federal- 2012-)
da para um marcador com dois alelos de, no máximo, 50%. Se uma via metabólica for bloqueada, espera-se que o produto
( ) CERTO final não seja produzido e que ocorra acúmulo de produtos inter-
( ) ERRADO mediários que podem ser tóxicos para o indivíduo.
( ) CERTO
32. (CESPE- 2012) Os erros inatos do metabolismo constituem ( ) ERRADO
uma classe de doenças genéticas caracterizada por distúrbios bio-
químicos. 38 (CESPE- PF- Perito Criminal Federal- 2004)
A esse respeito, julgue os itens subsequentes. Se uma via meta- Em relação aos conceitos de evolução e às análises estatísticas
bólica for bloqueada, espera-se que o produto final não seja produ- a eles relacionadas. A análise filogenética determina a relação de
zido e que ocorra acúmulo de produtos intermediários que podem proximidade entre dois seres vivos em um contexto evolutivo.
ser tóxicos para o indivíduo. ( ) CERTO
( ) CERTO ( ) ERRADO
( ) ERRADO

33. (CESPE- 2012) Um homem com número e estrutura cro- GABARITO


mossômica normais apresenta, no máximo, dois alelos diferentes
para o sistema ABO; e a espécie humana apresenta diversos alelos
para esse mesmo locus gênico. 1 ERRADO
( ) CERTO
( ) ERRADO 2 CERTO
3 CERTO
34- (CESPE- 2017)
O projeto genoma, que tratou do sequenciamento das bases 4 CERTO
que compõem o genoma humano e da variação entre os indivíduos 5 ERRADO
da espécie, trouxe benefícios diretos à saúde humana e de outros
6 ERRADO
organismos vivos, além de melhorias na agropecuária, indústria far-
macêutica, ciência forense, metodologia científica e no desenvol- 7 CERTO
vimento de instrumentos de análise laboratorial e computacional, 8 ERRADO
entre outros. Portanto, o projeto genoma humano não se restringiu
apenas ao genoma humano. Acerca desse assunto, julgue os itens 9 CERTO
subsequentes. O conhecimento do genoma humano ajudou a con- 10 CERTO
solidar a ideia da importância das mutações gênicas, que é a origem
dos alelos, na promoção de variações genéticas entre indivíduos de 11 ERRADO
uma mesma espécie e na busca de homologias entre o genoma hu- 12 ERRADO
mano e os de outros organismos.
13 ERRADO
( ) CERTO
( ) ERRADO 14 C
15 C
35-(CESPE- 2017) O projeto genoma, que tratou do sequencia-
mento das bases que compõem o genoma humano e da variação 16 A
entre os indivíduos da espécie, trouxe benefícios diretos à saúde 17 CERTO
humana e de outros organismos vivos, além de melhorias na agro-
pecuária, indústria farmacêutica, ciência forense, metodologia 18 A
científica e no desenvolvimento de instrumentos de análise labo- 19 ERRADO
ratorial e computacional, entre outros. Portanto, o projeto geno- 20 ERRADO
ma humano não se restringiu apenas ao genoma humano. Acerca
desse assunto, julgue os itens subsequentes. A síndrome de Down 21 CERTO
é um exemplo de doença humana contemplada pelas metodologias 22 ERRADO
surgidas a partir do projeto genoma humano, pois os resultados
desse projeto permitiram que se realizasse o diagnóstico laborato- 23 ERRADO
rial dessa síndrome. 24 ERRADO
( ) CERTO
25 ERRADO
( ) ERRADO

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BIOLOGIA

26 ERRADO ______________________________________________________

27 CERTO ______________________________________________________
28 CERTO ______________________________________________________
29 ERRADO
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30 CERTO
31 CERTO ______________________________________________________
32 CERTO ______________________________________________________
33 CERTO
______________________________________________________
34 CERTO
______________________________________________________
35 ERRADO
36 ERRADO ______________________________________________________
37 CERTO ______________________________________________________
38 CERTO
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ANOTAÇÕES ______________________________________________________

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