Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Neste capitulo são tratadas condutas que colocam a vida ou a saúde em perigo.
Trata-se de crimes de perigo.
5. a ação/ omissão deve ser doloso (ou culposo se a lei assim previr).
Perigo Concreto: O perigo necessita ser comprovado pelo Órgão acusador. Ex. dar um tiro
na direção de alguém: Expor a vida ou a saúde de uma pessoa a um perigo direto e iminente
(deve-se provar a situação fática); além de ter que se demonstrar que o tiro passou perto da
pessoa, ou seja, deve-se provar o perigo.
Perigo abstrato: Número indeterminado de pessoas. São os crimes de perigo coletivo. Perigo
Coletivo: Incolumidade Pública – Art. 250º, CP .
O perigo é presumido pela lei e independe de prova pelo Órgão acusador, porque o
legislador, baseando-se em fatos reais, extraiu a conclusão de que determinada conduta leva
a perigo. Ex. tráfico de entorpecentes.
Perigo individual: Uma só pessoal ou um número determinado de pessoas.
Perigo coletivo: incolumidade pública.
Art. 130 - Expor alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer ato libidinoso, a contágio
de moléstia venérea, de que sabe ou deve saber que está contaminado:
2) A moléstia tem que ser venérea (genital - sexual). Apesar disso não é levado muito em
serio pela Jurisprudência. Tanto AIDS como sífilis não são moléstias venéreas, pois podem
ser transmitidos de diversas formas não sexuais.
Mesmo assim, a jurisprudência entende que tanto AIDS, e também HIV, como sífilis, para
fins penais, são moléstias venéreas.
Evidentemente isso é aplicação de analogia proibida, mas tem sempre a lógica prevalece
diante do bom senso.
3) O autor do crime tem que saber que é infectado, ou ao menos deve saber (dolo eventual).
Se não sabe, e não tem por que deveria saber, não é crime, por ausência de dolo.
É dolo direto, mas não precisa transmitir a moléstia, basta ter a intenção de fazê-lo.
Art. 131 - Praticar, com o fim de transmitir a outrem moléstia grave de que está contaminado,
ato capaz de produzir o contágio:
A diferença é que neste artigo a moléstia não é venérea, e a intenção deve ser a de transmitir
a doença, no caso, a moléstica grave.
A forma de transmissão pode ser qualquer uma, inclusive o ato sexual, desde que a moléstia
não seja venérea.
Assim, se entendermos, que HIV não é moléstia venérea, a transmissão intencional de HIV
pelo ato sexual ainda seria abrangido por este artigo. Porém não tutela este artigo a prática
de atos que possibilitam a transmissão, se não há intenção de transmissão da moléstia.
Ou seja, se HIV não é considerado moléstia venérea, a simples relação sexual sem proteção,
porém praticada sem intenção de transmitir a doença não seria crime.
Art. 132 - Expor a vida ou a saúde de outrem (pessoa certa) a perigo direto e iminente:
Perigo para a vida ou saúde de outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não constitui crime mais grave.
Crime subsidiário, se configura outro crime não se aplica o tipo.
Crime próprio, só pode ser autor, quem tiver obrigação de zelar pelo incapaz. Não abandona,
quem vigia escondido. Ou seja, a mulher que coloca seu filho recém nascido em frente da
casa de outros, observando escondido, se alguém o pega, não abandonou o filho. Só
abandona, se for embora, antes que alguém resgate a criança.
§ 2º - Se resulta a morte:
Aumento de pena
III - se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos (Incluído pela Lei nº 10.741, de 2003)
Privilegia o crime anterior, pelo motivo. Normalmente se aplica a mãe solteira ou adultera,
mas também o pai incestuoso, ou adultero pode se beneficiar da privilegiadora, desde que a
intenção é a ocultação da desonra própria.
A Jurisprudência entende, que se a mulher não tem honra a proteger, como prostituto, ou
mãe solteira, que já é conhecida como mãe solteira, ou adúltera conhecida, não se aplica a
privilegiadora. Isso é questionável, já que a honra é subjetiva, e pode ser que uma mulher se
orgulhe de ser prostituta, prestando um serviço relevante à sociedade, porém se sente
desonrada ao ter um filho, fruto de um estupro.
Não querendo abortar, resolve abandonar o recém nascido. Embora crime, não se vê motivo
para não aplicar a privilegiadora.
§ 2º - Se resulta a morte:
Omissão de socorro: Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem
risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao
desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da
autoridade pública:
Se alguém tiver medo de se contaminar, ou de ser vitima de um assalto, e por isso não ajuda
em caso de acidente, tem a obrigação de chamar a autoridade competente. A omissão de
chamar socorro é inescusável.
Ninguém tem obrigação de tocar uma vitima sangrenta, ou parar em lugar ermo, para
socorrer, porque isso pode colocar sua vida em perigo, todavia, não exime o agente de
chamar socorro.
Leves tapas educacionais, não expõem a saúde ou a vida a perigo, portanto são permitidos,
mas qualquer castigo, além disso, configura o crime.
§ 2º - Se resulta a morte:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
§ 3º - Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado contra pessoa menor de 14
(catorze) anos. (Incluído pela Lei nº 8.069, de 1990).
LESÕES CORPORAIS
Conceito de lesão.
Do teor do caput, do art. 129: ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem. Pena - detenção, de
três meses a um ano, verifica-se que a expressão ‘lesão corporal’ compreende tanto a integridade
física da vítima, com a ofensa à sua saúde.
a) Por ofensa à integridade física entende-se qualquer alteração anatômica prejudicial ao
corpo humano. Exs.: fraturas, cortes, escoriações, luxações, queimaduras, etc.
Equimose constitui lesão. Trata-se de rouxidão decorrente do rompimento de pequenos vasos
sangüíneos sob a pelé ou sob as mucosas.
Hematomas também são considerados lesões. É uma espécie de equimose com inchaço e,
portanto, mais grave.
Eritemas não constituem lesão corporal, já que se trata de mera vermelhidão passageira da
pelé.
A simples dor não constitui lesão.
A existência da lesão física é demonstrada por vestígios sensíveis, cuja ausência pode
importar vias de fato (art. 21, da Lei das Contravencoes Penais) ou modalidade de injúria real
(art. 140, § 2º, CP). Conseqüentemente são lesões corporais a bofetada violenta, o soco, o
pontapé, etc.
O corte de cabelo sem autorização da vítima pode constituir, dependendo dos motivos, crime
de lesões corporais ou injúria real (caso haja intenção de envergonhar a vítima).
b) Por ofensa à saúde entende-se que já não se tem em conta a anatomia humana, mas o
equilíbrio funcional do organismo. Abrange, assim, a provocação de perturbações
fisiológicas, como vômitos, paralisia corporal momentânea, transmissão intencional de
doença, impedimento ao sono.
Assim, por exemplo, se o agente à custa de ameaças, produz na vítima choque nervoso,
convulsões ou outras alterações psíquicas, pratica lesão corporal, por ofender sua saúde
mental.
2. Objetividade jurídica.
A incolumidade da pessoa em sua integridade física e psíquica.
3. Sujeito ativo. Qualquer pessoa.
4. Sujeito passivo. Qualquer pessoa. É o homem vivo. As lesões corporais produzidas em
um cadáver só podem ser punidas a outro título.
A lei refere-se à ofensa corporal ou à saúde de outrem; logo, não pode o sujeito passivo ser
ao mesmo tempo ativo. Não se pune, portanto, a autolesão, salvo se o agente pretendeu
fraudar o recebimento de seguro (art. 171, § 2º, V, do CP) ou criação de incapacidade para
se furtar ao serviço militar (art. 184, do Código Penal Militar). Porém, nesses casos, o sujeito
passivo não é a pessoa que se autolesionou.
5. Meio de execução.
Ofender é o núcleo do tipo. É causar a lesão corporal em outrem. O meio comumente
empregado é a violência, quer física, quer moral.
O crime pode ser praticado mediante ação (mais comum) ou por omissão, v. G., deixar de
alimentar uma pessoa, zelar pela higiene de certo lugar, etc.
A pluralidade de lesões no mesmo fato não importa pluralidade de delitos de lesões corporais.
Exs.: um agente desfere duas ou três marretadas numa pessoa, ou se lhe atira uma pedra e
depois lhe dá uma cacetada, responderá por um só crime de lesões corporais. Só haverá
multiplicidade de delito se os fatos foram diversos.
6. Consumação e tentativa.
Delito de dano que é, a consumação ocorre no momento da ofensa à integridade física ou
corporal de outrem, ou seja, com a lesão ao corpo ou à saúde da vítima.
Apesar de controvérsia no passado, atualmente é pacífico a admissibilidade do conatus. Exs.:
o agente, com a intenção de ofender a integridade física da vítima, desfere um soco nesta,
mas um terceiro o apara e não permite a agressão; o agente procura, com uma faca, golpear
a vítima no seu corpo, mas esta se esquiva e evita a perfuração.
A distinção de tentativa de lesões corporais da contravenção penal de vias de fato
(art. 21, LCP)é que nesta o agente agride sem a intenção de lesionar a vítima, enquanto que
naquela, tem o dolo, a intenção de machucar, mas não consegue, por circunstâncias alheias
à sua vontade.
7. Elemento subjetivo.
É o dolo, direto ou eventual, ou seja, é a vontade livre e consciente de produzir uma lesão,
um dano ao corpo ou à saúde de outrem. É o animus laedendi ounocendi.
Assim, se uma pessoa dá um forte abraço num amigo, ignorando que ele tem uma ferida nas
costas, e ela se abre, não pratica o delito em questão, pois não havia o objetivo da lesão, ou
seja, não havia, por parte daquela, a vontade livre e consciente de produzir a lesão. Não houve
dolo.
8. Ação penal.
Desde o advento da Lei n. 9.099/95, a ação passou a ser pública condicionada à
representação (art. 88, desta lei).
9. Qualificação doutrinária.
Crime material, de dano, comissivo ou omissivo, comum, instantâneo e simples.
Material, pois para a consumação é necessário a produção do resultado; de dano, uma vez que
só há a consumação com a efetiva lesão ao bem jurídico; comum, pois pode ser praticado por
qualquer pessoa; instantâneo, porque a consumação se dá num determinado instante (num só
momento), sem continuidade temporal; e simples, pois é descrito em sua forma fundamental.
10. As lesões corporais podem ser dolosas ou culposas.
10. 1. A lesão corporal dolosa subdivide-se em:
a) Lesões leves (art. 129, caput);
b) Lesões graves (art. 129, § 1º);
c) Lesões gravíssimas (art. 129, § 2º);
d) Lesões corporais seguidas de morte (art. 129, § 3º).
O § 4º, do artigo 129, trata-se de causa especial de diminuição de pena; o § 5º é uma faculdade
do juiz para substituir a pena de detenção pela de multa, desde que ocorra, ou a situação do
inciso I, ou do inciso II.
10. 2. A lesão corporal culposa vem descrita no artigo 129, § 6º, do Código Penal: se a lesão é
culposa; pena - detenção de 02 (dois) meses a 1 (um) ano.
O § 7º, do artigo 129, trata-se de causa (especial) de aumento de pena; e o § 8º é o perdão
judicial nas lesões corporais.
11. LESÕES CORPORAIS DOLOSAS
11.1. LESÕES CORPORAIS LEVES
É o dano ao corpo ou à saúde que não chegou a ser lesão grave (§ 1º) ou gravíssima (§ 2º);
difere das vias de fato, que se caracterizam pela violência sem dano corpóreo e sem animus
vulnerandi.
11.1. LESÕES CORPORAIS GRAVES
São as definidas no § 1º, do artigo 129, do Código Penal. A pena, em todos os casos, é de
reclusão de um a cinco anos.
Inciso I - se resulta incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias.
Entende-se por ocupação habitual não só o trabalho, mas a atividade costumeira da vítima,
como andar, trabalhar, praticar esportes, e assim, a criança e o ancião (o aposentado) podem
ser sujeitos passivos.
Para a comprovação dessa espécie de lesão grave é exigível a realização de exame de corpo
de delito complementar após o trigésimo dia da data dos fatos, conforme preceitua o § 2º,
do artigo 168, do Código de Processo penal.
A simples vergonha de praticar os atos habituais não caracteriza lesão grave; a incapacidade
pode ser física ou psíquica (mental); não é necessário que o agente queira criar tal
incapacitação, abrangendo, assim, hipóteses preterdolosas.
Inciso II - se resulta perigo de vida.
Perigo de vida é a possibilidade grave e imediata de morte. Deve ser um perigo efetivo,
concreto, comprovado por perícia médica, onde os médicos devem especificar qual o perigo
sofrido pela vítima. Não basta, pois, dizer que houve tal situação de perigo. O laudo, em
verdade, deve dizer em que ele consistiu, como, por exemplo, que houve perigo de vida
decorrente de grande perda de sangue, de ferimento em órgão vital, de necessidade de
cirurgia de emergência etc.
Trata-se de crime preterdoloso, ou seja, o resultado qualificador adveio além do dolo inicial
do agente, já que se este agiu com intenção de matar e não conseguiu, o crime será de
homicídio (tentado).
Inciso III. Se resulta debilidade permanente de membro, sentido ou função.
Membros são as partes do corpo que se prendem ao tronco: braço, antebraço e mão
(superiores) e coxa, perna e pé (inferiores).
Sentidos são os mecanismos sensoriais através dos quais percebemos o mundo exterior: vista,
audição, paladar, tato e olfato.
Função é a atuação própria de um órgão, ou seja, função respiratória, circulatória digestiva,
secretora, locomotora, reprodutora e sensitiva.
Nélson Hungria entende que o legislador foi redundante ao ser referir a sentido e função.
Bastava tão-somente o emprego deste último vocábulo, pois função abrangia, compreendia
o sentido.
A lei fala em debilidade, isto é, enfraquecimento, redução, diminuição, decapacidade que deve
ser permanente ou duradoura, não, porém perpétua.
Quanto aos dentes, é necessário que a perícia, no caso concreto, determine, tendo em vista
as condições do ofendido, se a perda de um ou outro produziu debilidade do órgão da
mastigação.
Inciso IV - se resulta aceleração de parto.
O que se exige é uma antecipação do parto, ou seja, um nascimento prematuro, que o fruto
da concepção nasça vivo e continue a viver, pois caso contrário, ocorreria a hipótese do
inciso V, § 2º (lesões gravíssimas).
Também é necessário que o agente saiba que a mulher está grávida.
11. 2. LESÕES CORPORAIS GRAVÍSSIMAS
Estão previstas no § 2º, do artigo 129, cuja pena é de reclusão de 02 (dois) a 08 (oito) anos.
O legislador não utiliza a expressão “lesões gravíssimas”, tendo esse termo advindo da
doutrina, para diferenciá-las das lesões graves (§ 1º), já que as penas são distintas.
Caracteriza essas lesões a maior permanência ou mesmo a irreparabilidade do efeito.
Inciso I - se resulta incapacidade permanente para o trabalho.
Ao contrário do que dispôs em idêntico inciso do § 1º, a lei fala aqui em trabalho e não
ocupações habituais. Trata-se, conseqüentemente, de profissão, emprego ou ofício, lucrativo,
excluindo-se, pois, a criança ou o aposentado.
A jurisprudência, quase de forma majoritária, entende que tal incapacidade para o trabalho
possa ser genérica, ou seja, para qualquer tipo de labor, uma vez que a lei se refere à palavra
“trabalho” sem fazer ressalvas.
Inciso II - se resulta enfermidade incurável.
Trata-se de alteração permanente da saúde por processo patológico que não tem cura;
transmissão intencional de uma doença para a qual não existe cura no estágio atual da
medicina. A incurabilidade é declarada pela ciência médica. Não é mister a certeza absoluta,
basta a probabilidade séria de não haver cura.
A enfermidade também é considerada incurável se a cura somente é possível através de
cirurgia, posto que ninguém é obrigado a se submeter a intervenção cirúrgico; a lei
compreende tanto a enfermidade do corpo com a da mente.
A transmissão intencional de AIDS caracteriza a lesão gravíssima, porém, se o agente pratica
ato com intenção de transmitir tal doença mas não consegue, não responde pela tentativa,
porque existem crimes específicos descritos no artigo 130, § 1º, do Código Penal (se a
exposição a perigo se deu mediante contato sexual) ou no artigo 131 (se por outro meio
qualquer). Há, entretanto, entendimento no sentido de que, com ou sem a efetiva
transmissão, o crime seria o de tentativa de homicídio, já que a doença tem a morte com
conseqüência natural.
Inciso III - se resulta perda ou inutilização de membro, sentido ou função.
É circunstância mais grave do que a do § anterior, já que este fala emdebilidade e não
em perda ou inutilização.
A perda pode ocorrer por mutilação ou amputação.
A mutilação ocorre no momento da ação delituosa: com um machado, ou serra elétrica,
alguém secciona o braço, ou a mão, de outrem.
A amputação se apresenta na intervenção cirúrgica imposta pela necessidade de salvar a vida
do ofendido, ou para impedir conseqüências mais funestas, nocivas ou graves: o
seccionamento cirúrgico de um braço gangrenado pela faca que o ofendido recebeu.
Na inutilização, o membro permanece ligado ao corpo, mas incapaz de sua atividade própria
ou função, como, por exemplo, quando a vítima passa a ter paralisia total de um braço ou
perna.
Observações:
a) A perda de parte do movimento do braço é lesão grave pela debilidade do membro. A
perda de todo movimento é lesão gravíssima pela inutilização. A perda de um dedo
caracteriza lesão grave, enquanto a perda de uma mão tipifica inutilização do membro
(gravíssima). Por fim, a perda de todo o braço constitui lesão gravíssima pela perda de
membro.
b) A extirpação do pênis caracteriza lesão gravíssima em face da perda da função reprodutora
e, também, pela deformidade permanente.
c) A vasectomia e a ligadura das trompas não caracterizam crime de lesão gravíssima (perda
da função reprodutora) por parte do médico que a realiza, desde que haja consentimento da
pessoa, uma vez que a matéria está atualmente regulamentada pela Lei n. 9.263/96. Trata-se,
pois de exercício regular de direito.
d) No caso de cirurgia transexual, entende-se não haver crime se fica plenamente
demonstrado que a pessoa tinha todas as características do sexo feminino e a cirurgia
somente lhe trouxe benefícios físicos e psicológicos. Considerando que dano à integridade
corporal, por definição, é a alteração anatômica prejudicial ao corpo humano, conclui-se que
não há dolo de lesionar, mas sim intenção de reduzir o sofrimento físico e mental da pessoa,
e, assim, não há crime.
e) A provocação de cegueira em um só olho ou surdez em um só ouvido caracteriza mera
debilidade de sentido (lesão grave). É que, por se tratar de sentido que se opera através de
dois órgãos, a lesão gravíssima pela sua perda somente ocorrerá quando ambos forem
atingidos, pois, só assim, a vítima se torna efetivamente surda ou cega.
Inciso IV - se resulta deformidade permanente.
É o dano estético, de certa monta, permanente, visível e capaz de provocar impressão
vexatória.
A deformidade, portanto, há de ser permanente; não basta que o dano estético seja visível
ou de certo vulto, porque deve ser também indelével ou irreparável. Há lesões que a princípio
desfiguram a pessoa, como por exemplo, socos violentos no rosto, mas que depois de certo
período - duas ou três semanas - desaparecem, voltando o semblante do ofendido ao aspecto
normal. Nesse caso, não há se falar em lesão gravíssima, pois a deformidade, apesar de visível
e de certo vulto, não foi permanente.
O dano estético pode ter sido causado por qualquer forma. As mais comuns são queimaduras
com fogo ou com ácido, provocação de cicatrizes através de cortes profundos, arrancamento
de orelha ou parte dela; não abrange apenas deformidades no rosto, mas também nas pernas,
nos braços etc.; entretanto, a deformidade deve ser visível, requisito atualmente interpretado
com certa liberalidade para excluir apenas situações em que a lesão atinge parte do corpo rara
ou praticamente nunca vista por outras pessoas.
Mesmo que a deformidade venha a ser dissimulada, por exemplo, um olho de vidro, não perde
o caráter de permanente; a correção através de prótese não afasta a aplicação da qualificadora.
É pacífico, atualmente, que a correção por cirurgia plástica afasta a aplicação dessa
qualificadora, mas, se a cirurgia for possível e a vítima se recusa a realizá-la, haverá a lesão
gravíssima, uma vez que a vítima não está obrigada a submeter-se à intervenção cirúrgica.
A deformidade deverá ser capaz de causar impressão vexatória, ou seja, capaz de causar má
impressão nas pessoas que olham para a vítima, e esta, conseqüentemente, se sinta
incomodada com a deformidade.
Na prática, exige-se que a vítima seja fotografada - além do laudo de exame de corpo de
delito - para que se possa melhor avaliar a extensão das lesões e a existência de seus requisitos.
Inciso V - se resulta aborto.
Trata-se de crime preterdoloso, ou seja, o agente queria somente agredir a vítima e não quer
causar o aborto, mas o provoca de maneira culposa; caso contrário, se desde o início, queria
provocar o aborto na vítima, não é o caso do crime em questão, mas do já estudado
artigo 127, 1ª parte, do Código Penal.
O agente deve saber que a vítima está grávida, para que não ocorra punição decorrente de
responsabilidade penal objetiva (responsabilidade sem culpa).
11. 3. LESÕES CORPORAIS SEGUIDAS DE MORTE
Diz o artigo 129, § 3º - se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado,
nem assumiu o risco de produzi-lo: pena - reclusão, de quatro a doze anos.
Trata-se, também, de crime (exclusivamente) preterdoloso, em que o agente apenas quer
lesionar a vítima e acaba provocando sua morte de forma não intencional, ou seja, culposa;
caso contrário, se desde o início, queria a morte da vítima, não é o caso do crime em questão,
mas de homicídio (art. 121, CP).
11. 4. FORMA PRIVILEGIADA
Artigo 129, § 4º - se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral ou sob
o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de
um sexto a um terço.
O privilegium, nas lesões corporais, aplica-se apenas às lesões dolosas, sendo, portanto,
incabível nas lesões culposas. Nas lesões dolosas, de outra parte, pode ser feita qualquer que
seja a natureza - leve, grave, gravíssima ou seguida de morte.
No mais, vide comentários em relação ao homicídio privilegiado.
11. 5. SUBSTITUIÇÃO DA PENA
Diz o artigo 129, § 5º - o juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a pena de detenção pela
de multa:
Inciso I - se ocorre qualquer das hipóteses do § anterior.
Assim, em se tratando de lesões leves, o juiz tem duas opções nas hipóteses de relevante
valor social, moral ou de violenta emoção. Pode reduzir a pena de um sexto a um terço (§
4º) ou substituí-la por multa (§ 5º).
Inciso II - se as lesões são recíprocas.
O dispositivo em questão somente se aplica quando uma pessoa agride a outra e, cessada a
agressão, ocorre a retorsão.
É pacífico o entendimento que se um, apenas se defendendo, causou lesões no outro, não
há se falar em lesões recíprocas, já que essas são lícitas, ou seja, o sujeito agiu em legítima
defesa.
11. 6. CAUSA DE AUMENTO DE PENA
O artigo 129, § 7º, do Código Penal, com a redação dada pelo Estatuto da Criança e do
Adolescente, estabelece que a pena da lesão corporal dolosa, de qualquer natureza, sofrerá
acréscimo de um terço se a vítima é menor de 14 anos.
12. LESÕES CORPORAIS CULPOSAS
Artigo 129, § 6º - se a lesão é culposa; pena - detenção, de dois meses a um ano.
O crime de lesões corporais culposas tem a mesma sistemática do crime de homicídio
culposo, modificando-se apenas o resultado, já que, nesse caso, a vítima não morre.
Compreendem a lesão leve, grave ou gravíssima. Assim, ao contrário do que ocorre nas
dolosas, não há distinção no que tange à gravidade das lesões; o crime será sempre o mesmo
(lesões culposas) e a gravidade será levada em consideração por ocasião da fixação da pena-
base (artigo 59 do CP).
Nos termos do artigo 88, da Lei n. 9099/95 (Juizados Especiais Criminais), a ação penal é
pública condicionada a representação do ofendido (vítima). Além disso, a composição acerca
dos danos civis, homologada pelo juiz, implicará renúncia ao direito de representação e, por
conseqüência, extinção da punibilidade do autor da infração.
O artigo 129, § 7º, do Código Penal estabelece que a pena da lesão culposa será aumentada
em um terço quando o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, quando foge para
evitar prisão em flagrante, quando não procura diminuir as conseqüências de seu ato e, por
fim, quando o crime resulta da inobservância de regra técnica de arte, profissão ou ofício
(vide comentários ao artigo 121, § 4º).
Por fim, o § 8º, do artigo 129 estabelece que aplica-se à lesão culposa o instituto do perdão
judicial, quando as conseqüências do crime tiverem atingido o agente de forma tão grave que
a imposição da pena se torne desnecessária (vide art. 121, § 5º, do Código Penal).
Lesão corporal
Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano.
Lesão corporal de natureza grave
§ 1º Se resulta:
I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias;
II - perigo de vida;
III - debilidade permanente de membro, sentido ou função;
IV - aceleração de parto:
Pena - reclusão, de um a cinco anos.
§ 2° Se resulta:
I - Incapacidade permanente para o trabalho;
II - enfermidade incuravel;
III - perda ou inutilização do membro, sentido ou função;
IV - deformidade permanente;
V - aborto:
Pena - reclusão, de dois a oito anos.
Lesão corporal seguida de morte
§ 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quís o resultado, nem
assumiu o risco de produzí-lo:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
Diminuição de pena
§ 4° Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral ou
sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz
pode reduzir a pena de um sexto a um terço.
Substituição da pena
§ 5° O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a pena de detenção pela de
multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis:
I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior;
II - se as lesões são recíprocas.
Lesão corporal culposa
§ 6° Se a lesão é culposa:
Pena - detenção, de dois meses a um ano.
Aumento de pena
§ 7o Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se ocorrer qualquer das hipóteses dos §§ 4o e
6o do art. 121 deste Código.
§ 8º - Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do art. 121.
Violência Doméstica
§ 9o Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou
companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente
das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos.
§ 10. Nos casos previstos nos §§ 1o a 3o deste artigo, se as circunstâncias são as indicadas no
§ 9o deste artigo, aumenta-se a pena em 1/3 (um terço).
§ 11. Na hipótese do § 9o deste artigo, a pena será aumentada de um terço se o crime for
cometido contra pessoa portadora de deficiência.
DA RIXA
Hoje passaremos algumas dicas sobre o crime de Rixa previsto no artigo 137 do Código
Penal. O delito em estudo é de suma importância, uma vez que em sua modalidade
qualificada há um dos últimos resquícios de responsabilidade penal objetiva no âmbito penal
brasileiro.
ATENÇÃO: Se houver, por parte do agente, além do ânimo de participar na rixa, o dolo de
dano, ou seja, a intenção de ferir ou matar alguém, e se esse desiderato se materializar de
forma identificável, o agente responderá por crime, tentado ou consumado, de lesão corporal
ou de homicídio em concurso com a rixa qualificada ou simples. Por óbvio, os demais
contendores responderão somente pelo crime de rixa na forma qualificada.
Atenção: O partícipe moral, todavia, deve ser, no mínimo, a quarta pessoa, já que a rixa exige
pelo menos três na efetiva troca de agressões.
Consumação: Com a efetiva troca de agressões.
Tentativa: Em regra não é possível, pois, ou ocorre a rixa e o crime está consumado,
ou ela não se inicia, e, nesse caso, não há crime.
Cuidado: Em sentido contrário, Damásio E. de Jesus, entende ser possível a tentativa na
chamada rixa ex proposito (preordenada), em que três lutadores combinam uma briga entre si,
na qual cada um lutará com qualquer deles, sendo que a polícia intervém no exato momento
em que iriam iniciar-se as violências recíprocas.
CUIDADO: Não é possível se alegar legítima defesa na rixa, pois quem dela participa
comete ato antijurídico.
ATENÇÃO (QUESTÃO TÍPICA DE PROVA DE CONCURSOS E OAB) Se, durante a
rixa, uma pessoa empunha um revólver para atingir outro rixoso e este se defende, matando
o primeiro, responde pela rixa por que este crime já havia se consumado anteriormente. Há
legítima defesa apenas em relação ao homicídio.
Quando haverá a rixa qualificada? Prevê o art. 137, parágrafo único do CP que se ocorrer
a morte ou lesão corporal de natureza grave, aplica-se, pelo fato da participação na rixa,
a pena de detenção, de seis meses a dois anos.
Primeiramente, cabe relembrar, que pelo princípio da responsabilidade pessoal subjetiva,
que há a impossibilidade de recepção, pelo Direito Penal, da responsabilidade objetiva, isto
é, a aplicação de uma pena ao sujeito ativo de uma conduta apenas em virtude do resultado
lesivo a um bem jurídico, pela mera existência de uma relação causal entre o comportamento
e o dano realizado.
Assim, não basta a existência do nexo causal tipicamente relevante, devendo existir, também,
um vínculo psicológico, consistente na vontade consciente de realização da conduta proibida
(dolo) ou ao menos uma tal negligência (culpa), que seja determinante para a ocorrência do
dano social previsto como crime.
Sabe-se que tal princípio encontra-se previsto no Código Penal brasileiro, em seu art. 18, que
dispõe haver unicamente duas espécies de crime: Doloso, quando o agente quis o resultado
ou assumiu o risco de produzi-lo; Culposo, quando o agente deu causa ao resultado por
imprudência, negligência ou imperícia (requisitos da culpa), devendo, contudo, estar
expressamente prevista a modalidade culposa para tanto.
CUIDADO: Pela leitura do dispositivo previsto no art. 137, parágrafo único do CP,
percebe-se que há uma situação de responsabilidade penal independentemente da
culpa ou do dolo. Isso porque, havendo lesão corporal grave ou morte, todos os
rixosos por ele responderão, “pelo fato da participação na rixa”.
Destarte, o mero fato de participar de uma rixa na qual ocorra uma lesão corporal
grave ou morte impõe um pena mais severa, mesmo para aquele rixoso que não a
previu ou quis participar da mesma.
Importante: Observe que até mesmo a vítima das lesões corporais graves responderá
pela pena agravada. Por outro lado, se for descoberto o autor do resultado agravador,
ele responderá pela rixa qualificada em concurso material com o crime de lesões
corporais graves ou homicídio (doloso ou culposo, dependendo do caso), enquanto
todos os demais continuarão respondendo pela rixa qualificada.
CUIDADO: Se ocorrer lesões corporal leve ou tentativa de homicídio não há que se falar
em Rixa Qualificada.
NOSSA POSIÇÃO SOBRE A RIXA QUALIFICADA: É no sentido de que a pessoa
identificada como responsável pelo resultado agravador responderá pelas lesões graves ou
morte em concurso com rixa simples, pois puni-la pela rixa qualificada constituiria bis in
idem (dupla punição pelo mesmo fato).
É indiferente que o resultado tenha ocorrido em um dos integrantes da rixa ou em terceira
pessoa.
Se ocorrerem várias mortes, haverá crime único de rixa qualificada, devendo a circunstância
ser levada em conta na fixação da pena – base (as circunstâncias judiciais do artigo 59 do
CP).
Ambas, a rixa simples e a rixa qualificada são infrações penais de menor potencial ofensivo.
Destarte, autorizam o benefício da transação penal do artigo 76 da Lei nº 9. 099/95.
O processo e julgamento desses crimes seguem o rito sumaríssimo
Conceito: Rixa seria um conflito desordenado e generalizado entre vários agentes (mínimo
de três).
Onde não é fácil identificar quem cometeu qual delito. Pune-se portanto pela simples
participação na rixa, já que não identifica exatamente quem foi, de fato, autor do crime de
cada lesão.
Elementos:
- A necessidade de três agentes.
- A rixa não tem necessidade de comprovação de um dano, mas no mínimo tem que ter vias
de fato, é um crime de perigo.
- No contexto da rixa é necessário que haja violência voltada para seu interesse pessoal.
Tipo objetivo: toda conduta violenta desencadeada pelo agente dentro daquele conflito,
desde vias de fato (um simples tapa), a lesões corporais leves, homicídio, etc...
Tipo subjetivo: A participação na rixa não pode ser culposa, pois é um crime de perigo e a
ação culposa neste não tem previsão, tem que se ter “animus rixandi” (vontade consciente e
livre do agente em formar uma rixa.
Agentes: Como a questão é primeiro se verificar se o delito foi cometido, se exige apenas a
participação de três pessoas, pode-se ter até mesmo dois inimputáveis na rixa para fins de
contagem, onde estes não são considerados rixosos por suas particularidades mas contam
para fim de caracterização do crime.
3. Questões divergentes
3.1. Lesão corporal leve: Se conseguirmos identificar o agente que praticou a lesão corporal
leve contra outro indivíduo, pensaremos uma hipótese de concurso de crimes. Esse agente
responde pela rixa em concurso material com a lesão corporal leve (haverá o cúmulo
material), enquanto que os outros respondem por rixa. Já que a lesão corporal leve esta dentro
do crime de rixa se não for identificado o autor respondem todos por rixa simples.
3.2. Rixa qualificada: agente identificado – Os participantes sempre respondem pela rixa
qualificada quando ela assim for (autonomia- pune pelo resultado mediante mera
participação da rixa), e se conseguirem identificar o autor do homicídio na participação da
rixa, o autor responde pela rixa simples + homicídio (entre outros crimes acima de vias de
fato), para evitar a punição dupla deste que seria dada se respondesse por rixa qualificada
+ homicídio ou lesão grave, etc
3.3. Rixa qualificada: agente desconhecido – todos respondem pela qualificação.
3.4. Rixa qualificada: vitima – A vitima da qualificação responde pela rixa simples, até porque
o direito penal não pune a auto-lesão, se ele foi a vitima, ele responde pelo que efetivamente
fez, a rixa simples.
4. Legitima defesa
4.1. Modificação dos meios: a desproporcionalidade no meio da briga, como no exemplo
onde alguém puxa uma arma, e outro mata este. O que matou a pessoa armada responde
apenas pela rixa que participou, a legitima defesa exclui a ilicitude do crime homicídio.
Respondendo pela rixa, onde o ato licito não pode gerar consequências punitivas nem para
agente nem para terceiros (se o único resultado qualificador tenha sido esta morte).
4.2. Separar contendores (terceiro que se insere em meio a rixa com a finalidade de separar): o
próprio tipo penal exclui a responsabilidade do agente que se insere apenas para separar briga.
Se neste momento alguém vier ameaçar de agredi-lo, ele pode retrucar para se defender.
4.3. Defender rixoso (item 48, EXP. Motivo PE/CP). – diz respeito a defender uma pessoa
apenas. Também considerado legitima defesa ao permitir a este se defender ao ser atacado,
na medida das lesões que lhe são dadas.
ANIMUS NECANDI
Termo em latim que significa dolo, vontade. É a intenção de matar, ou seja, de tirar a vida
de outra pessoa.
Fundamentação:
Artigo 121, do Código Penal
ANIMUS É LAENDENDI
Animus laedendi
(Lê-se: ánimus ledéndi.) Intenção de atacar, ferir, ofender, produzir lesões corporais (CP, art.
129).