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APOSTILA DE DIREITO PENAL

HOMICÍDIO – art. 121: 6 a 20 anos de reclusão


Art. 121. Matar alguem:
Pena - reclusão, de seis a vinte anos.
Caso de diminuição de pena
§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de
violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a
um terço.
Homicídio qualificado
§ 2º Se o homicídio é cometido:
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
II - por motivo futil;
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa
resultar perigo comum;
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossivel a
defesa do ofendido;
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime:
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
Feminicídio
VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino.
VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal,
integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da
função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente
consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição.
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
§ 2o-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve:
I - violência doméstica e familiar;
II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher.
Homicídio culposo
§ 3º Se o homicídio é culposo:
Pena - detenção, de um a três anos. Aumento de pena
§ 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de
inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar
imediato socorro à vítima, não procura diminuir as conseqüências do seu ato, ou foge para
evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço)
se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos.
§ 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as conseqüências da
infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária.
§ 6o A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado por milícia privada, sob
o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio.
§ 7o A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado:
I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto; (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos ou com deficiência;
III - na presença de descendente ou de ascendente da vítima.
I-Tipo objetivo
1) Objetos do delito
a) Bem jurídico (protegido): Vida (humana)
- O início da proteção jurídica da vida pelo crime de homicídio se dá com o início do parto
(art. 123 – infanticídio é quem dá a dica). Considera-se iniciado o parto com o rompimento
do saco amniótico ou a dilatação do colo do útero (na cesariana com o início da
incisão/corte) -> é aqui que tem a diferença de um medico ser culpado ou não pela imperícia
em um parto e matar o bebe, porque aborto não tem culposo.
- O término da proteção jurídica da vida pelo crime de homicídio se dá com a morte
encefálica (art. 3 da Lei 9434/97) (para a medicina é com a morte de todas as células).
- A vida é um bem jurídico disponível? -> Prevalece que a vida é um bem jurídico
indisponível, por isso o consentimento da vítima não afasta nem a ilicitude e nem a tipicidade
do crime de homicídio (é um dogma aqui no Brasil).
à A vida acaba se tornando um dever e não mais um direito (direito = pode dispor sob os
seus interesses e etc).
à Matar alguém que pede porque esta sofrendo muito, etc, é homicídio privilegiado.
b) Objeto material: Ser humano vivo
- Se a vítima já está morta no momento da pratica da ação criminosa, haverá crime impossível
por absoluta impropriedade do objeto material (se você tentar matar alguém que ja esta
morto não é punido, pois é crime impossível).
à Crime impossível é atípico.
à OBS: matar o morto não é homicídio nem viripêndio.
2) Conduta típica
a) Matar: provocar o resultado morte.
- É preciso que se demonstre a conduta, o resultado e também o nexo de causalidade (ex:
mulher atropela motoqueiro que só quebra a perna, mas depois de 2 meses morre de infecção
pulmonar)
- Trata-se de crime comissivo, em que a conduta típica consiste em uma ação. Pode, no
entanto, excepcionalmente, ser praticado por omissão quando quem se omite tinha o dever
de agir para impedir o resultado (garante (pessoa que tem que agir)). Nesse caso, o crime será
chamado de omissivo impróprio ou comissivo por omissão.
b) Alguém: Ser humano vivo
3) Sujeitos
a) Ativo: qualquer pessoa (crime comum)
b) Passivo: qualquer pessoa
II- Tipo subjetivo
1) Dolo: é a consciência e vontade de realizar os elementos objetivos do tipo. No crime de
homicídio, é a consciência e vontade de matar alguém (“animus necandi”)
OBS: “quis matar” ou “assumiu o risco de matar” são DOLO (o 2º é dolo eventual). Matou
por inobservância do dever de cuidado, imperícia, imprudência ou negligência é CULPA.
- Se o agente mata alguém sem perceber que se trata de um ser humano, haverá erro de tipo
(ex: caçando urso, caçando jacaré). Da mesma forma, se o agente não tem consciência de que
a sua conduta é idônea a provocar a morte (ex: médico quer matar paciente e entrega veneno
ao invés de soro para a enfermeira, que não sabe de nada. Ex2: não sabia que a arma estava
carregada).
O erro de tipo, se inevitável, exclui o dolo e culpa. Se evitável, exclui o dolo, mas permite a
punição por crime culposo, se prevista em lei.
2) Culpa: é a inobservância de um dever de cuidado objetivo. Só é punida a forma culposa
da conduta quando houver expressa previsão legal. No homicídio há previsão expressa de
forma culposa (art. 121, &3).
III- Consumação e Tentativa
1) Consumação: se dácom a morte (sendo por ação ou omissão, homicídio só se consuma
com a morte) à por isso é um crime material, porque só se consuma com o resultado.
2) Tentativa: é admitida (está na parte geral que em regra os crimes têm tentativa, a não ser
os que expressamente falam que não admitem).
Concurso de agentes (art. 29/30, CP):
- Elementares (fazem parte do tipo) à comunicam-se
- Circunstanciais (afetam a pena) à Objetivos (FATO): comunicam-se
à Pessoais ou Subjetivas (AGENTE): não se comunicam
IV- Homicídio Qualificado (§ 2 à 7 incisos)
I) Mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
II) Por motivo fútil;
III) Com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou
cruel, ou de que possa resultar perigo comum;
IV) Por meio de traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que
dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido;
V) Para assegurar a execução, ocultação, a impunidade ou a vantagem e outro crime (motivo
de conexão).
1) Qualificadoras Subjetivas: dizem respeito ao autor e seu motivo.
I) Mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
II) Por motivo fútil;
V) Para assegurar a execução, ocultação, a impunidade ou a vantagem e outro crime (motivo
de conexão).
I) Paga ou Promessa: é a situação do crime cometido por agente que age a mando de
terceiro mediante a entrega ou promessa de entrega de vantagem.
- Promessa não cumprida: não exclui a qualificadora, desde que se comprove a sua existência.
- Paga X Promessa: a diferença unanimemente admitida é a de que a paga é anterior e a
promessa de recompensa consiste no pacto para entrega posterior.
- Natureza da recompensa – Há 2 posições:
1º) Pode ser de qualquer espécie, uma vez que o legislador não fez qualquer restrição.
2º) Por força da necessidade de interpretação restritiva dos tipos incriminadores, a promessa
de recompensa deve ter a mesma natureza da paga, ou seja, deve ter expressão econômica.
Caso contrario, o motivo poderá se enquadra em outra categoria, tal como torpeza, ou
futilidade, ou nada.
- Comunicabilidade da paga:
PROBLEMA: Qualificadoras e privilegio são elementares ou circunstanciais? – 2 posições
muito rachadas:
1º posição) Comunicam-se, pois os elementos qualificadores são na realidade elementares do
tipo qualificado e dessa forma, segundo a teoria monista, comunicam-se a todos os
concorrentes (ligeiramente majoritária no STF e STJ).
2º posição) Não se comunica, uma vez que as qualificadoras configuram meras
circunstancias, e dessa forma, segundo a regra do art. 30, quando forem de caráter pessoal,
não se comunica (OAB e professora).
- OBS: Motivo Torpe: é o motivo considerado especialmente imoral, repulsivo, vil, abjeto
(nojo).
Ex: herança (ambição), disputa política (ambição), ciúme, vingança.
Vingança e ciúme: não são considerados necessariamente motivos torpes, pode ate ser uma
minorante à depende do caso concreto.
II) Motivo fútil: é o motivo banal, mesquinho, desproporcional (OBS: na duvida, os
promotores preferem o torpe).
- OBS: Ausência de motivo: prevalece que a ausência de motivo não se equipara a motivo
fútil por inexistência de previsão legal.
Mas na real, não há ausência de motivo à ou não se sabe o motivo
à ou é torpe (mata porque gosta, é sádico, etc)
- Analise da futilidade: deve ser realizada objetivamente de acordo com a moralidade média,
levando-se em conta o contexto em que a ação ocorreu.
(Moralidade média = de acordo com o que a maioria das pessoas pensam, não de acordo
com o que a própria pessoa (autor) pensa)
- Existência de hostilidade anterior: a futilidade deve ser apreciada no contexto geral do
relacionamento entre autor e vitima. A existência de hostilidades anteriores pode afastar a
futilidade.
- Embriaguez (voluntária e culposa (acidental exclui a culpabilidade)): prevalece que não
exclui a futilidade, que deve ser apreciada objetivamente.
V) Conexão: trata-se do homicídio praticado para assegurar a execução, ocultação,
impunidade ou vantagem de outro crime.
- Ex: fraudar e matar uma pessoa para ela não contar, estuprar e depois mata-la para ela não
reconhecer, matar o marido para estuprar sua mulher, etc.
- Exceção: Latrocínio à não é homicídio qualificado pela conexão (Pena de 12 a 30 anos),
mas sim roubo qualificado pela morte (Pena de 20 a 30 anos) – Opção legislativa (valores:
um crime de morte por causa de um patrimônio vale mais do que uma morte por motivo
torpe – crime das elites à no nosso código a patrimônio vale mais que a vida afinal)
2) Qualificadoras Objetivas: dizem respeito ao fato e sua forma.
III) Qualificadora de meio
IV) Qualificadora de modo
III) Meio: é o instrumento que provoca a morte. Quando houver emprego fogo, explosão,
tortura, veneno, asfixia, ou qualquer outro meio insidioso (meio que a vitima não percebe),
cruel* ou que cause perigo comum (ex: desabamento)
*Meio cruel: caixinha de surpresas à depende muito do caso concreto.
à Crueldade: meio que cause sofrimento exacerbado. A mera multiplicidade de golpes não
caracteriza necessariamente a crueldade (se os golpes são desferidos após a morte ou com a
vitima em estado de completa insensibilidade, ano se aplica a qualificadora).
à É para a vitima, não diz respeito à crueldade no coração da pessoa – a questão é se a vitima
sofreu ou não sofreu.
- OBS: Lei de Tortura à Há tortura qualificada pela morte: o que vai diferir do homicídio
qualificado pelo meio é a intensão.
No homicídio, pretende-se a morte e para alcança-la se usa a tortura.
Na Lei de Tortura, pretende-se a tortura, entretanto o resultado vai além do pretendido e
causa a morte (crime preter-doloso)
IV) Modo: é a forma de abordagem da vítima. Quando houver emprego de traição (usa da
confiança da vitima, viola essa relação), emboscada, dissimulação (disfarce) ou qualquer outro
modo que impeça ou dificulte a defesa da vitima.
- Ex: pessoa dormindo, em coma, apagada, inconsciente + Caso Pizza Hut (ela estava
mastigando, o que dificultou sua defesa.
V- Feminicídio – inciso VI à crimes praticados a partir de 08 de maio de 2015 (é um
assunto muito discutível porque é muito novo).
- 2 requisitos cumulativos:
1º) Contra mulher (elemento objetivo):
à O que é ser mulher? 3 correntes:
1 – Identidade genética: quem tem geneticamente DNA feminino (XX).
2 – Identidade jurídica: quem tem registro civil no sexo feminino (andam se inclinando mais
para essa, inclusive a professora).
3 – Identidade social: quem tem a aparência, como a pessoa se apresenta na sociedade.
(obs: Homens, mesmo homossexuais, não estão incluídos)
à OBS: se eu penso que é uma mulher e mato, mas não é, por erro, não dá para imputar o
feminicídio, porque não há o objeto material especifico (mas pode ser torpe) à não é erro de
pessoa, é erro de característica/ gênero / tipo.
2º) Por razões da condição do sexo feminino (elemento subjetivo) - § 2-A: presume-se
que haja razão da condição do sexo feminino:
a) Quando o crime é praticado com violência domestica ou familiar à art. 5 da
Lei 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) (não prevê rol de crimes, prevê o tratamento judicial)
à Polêmicas:
1 – Trata-se de presunção absoluta ou relativa?
Se eu interpretar que é uma presunção absoluta, pode haver abuso.
Se eu interpretar que é uma presunção relativa, ou seja, que depende, é porque é a intenção
que vale, mas é difícil provar.
2 – Sendo absoluta a presunção, a qualificadora tem natureza objetiva ou subjetiva?
Se for objetiva pode ter motivo torpe.
Se for subjetiva não pode, ou um ou outro.
b) Com menosprezo à condição feminina - amplo
VI- Crime contra policiais em razão do cargo
- Homicídio contra à 142 CF – Forças Armadas
à 144 CF – Policiais
à Sistema penitenciário
à Força de segurança nacional
Vale também para o cônjuge e parentes até terceiro grau deles, em razão do cargo também.
- É um rol taxativo e não pode ser ampliado. Por tanto, o que não esta escrito, ex Guarda
Civil, não vale.
VII- Causa de diminuição de pena
- Art. 121, § 1 à redução da pena de 1/6 a 1/3.
- É o “homicídio privilegiado” à chama-se assim, mas não é de verdade um privilegio.
- É subjetivo à motivo: são só subjetivas as causas de diminuição de pena no homicídio
(AGENTE – MOTIVO)
a) Motivo de relevante valor social ou moral:
à Motivo de relevante valor: é o motivo considerado nobre, aprovado pela moral pratica da
comunidade.
à Valor moral: é aquele ligado ao individuo.
Ex1: Piedade à Eutanásia (presume piedade)
Ex2: Amor paterno ou materno à O pai que mata o estuprador de sua filha.
à Valor social: é o valor ligado à coletividade.
Ex: Patriotismo à agente que mata o traidor da pátria (no sentido do espião, etc).
b) Domínio de violenta emoção:
à É a situação em que o crime é praticado em estado de intensa perturbação emocional,
deflagrado por um comportamento injusto da vítima.
OBS: só dar um pé na bunda não vale.
à É ato continuo, não teve tempo da pessoa pensar à não pode haver decréscimo de emoção!
- Ex: Pizza Hut
- É POSSIVEL UMA QUALIFICADORA COEXISTIR COM PRIVILEGIO? – É
admitido, mas para isso a qualificadora deve ser objetiva (HOMICIDIO QUALIFICADO
– PRIVILEGIADO).
OBS: Se feminicídio for interpretado como objetiva, pode conviver com o privilegio. Se for
como subjetiva, aí já não convive.
VIII- Causas de aumento de pena - art. 121, § 4 ao § 7
- § 4: pena aumentada de 1/3 se o crime é praticado contra menor de 14 ou maior de 60 anos
à no momento da conduta (ação e omissão) e não no momento do resultado.
- § 6: pena aumentada de 1/3 até a ½ quando o crime for praticado:
à por milícia privada – presta serviço de segurança, mas na verdade comete crimes
à por grupo de extermínio.
à O homicídio não precisa ser praticado por todos do grupo, pode ter sido feito só por um.
- § 7: pena do feminicídio é aumentada de 1/3 ate a ½ se (causas de aumento p/ o
feminicídio):
1 – crime for praticado contra menor de 14 ou mais de 60 anos, e deficiente.
2 – praticado na presença de ascendente ou descendente.
Discussões: E se ele está presente e não vê? E se estiver na Webcam?
3 – contra mulher gravida ou ate 3 meses após o parto à o agente tem que ter consciência
disso.
- OBS: A pena máxima é infinita. O que só pode 30 anos é o tempo de cumprimento da
pena.
IX- Homicídio culposo
- § 3: Pena de 1 a 3 anos
- DEFINIÇÃO: trata-se da conduta de casar a morte de outrem por negligência, imprudência
ou imperícia.
- FORMAS DE CONDUTA: trata-se de crime comissivo. Só pode ser cometido por
omissão quando quem se omite tinha o dever de agir para impedir o resultado (garante).
OBS: omissão de socorro só permite o dolo.
- ELEMENTOS DO CRIME CULPOSO:
1º) Conduta voluntaria (só não tem o resultado voluntario): quando fez com consciência, não
foi reflexo, etc.
2º) Inobservância do dever de cuidado objetivo.
3º) Resultado (não admite tentativa, tem que ter resultado)
4º) Previsibilidade objetiva do resultado (podia ter previsto o resultado)
5º) Nexo causal
6º) Tipicidade (tem que ter previsão legal)
- OBS: Culpa consciente (tenho consciência do risco, ex passar farol vermelho sabendo que
esta fechado) ou inconsciente (não tenho consciência, ex está falando no celular e não
percebe que o farol está vermelho) não faz diferença na prática. Só se for dolo eventual ou
culpa consciente faz diferença.
- § 5: PERDÃO JUDICIAL: trata-se de causa de extinção da punibilidade, aplicada pelo juiz
na sentença, quando houver previsão no próprio tipo. No homicídio culposo, o juiz poderá
concede-lo sempre que as consequências do crime atingirem o agente de forma tão grave que
a punição seja desnecessária. Ex: pai que esquece filho dentro do carro.
OBS: na Lei do Trânsito tem homicídio culposo, mas lá não tem perdão judicial. Porém aí
cabe o do CP.
X- Jurisprudência:
RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO SIMPLES. PRISÃO
PREVENTIVA. GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. PERICULOSIDADE
REVELADA PELO MODUS OPERANDI. GRAVIDADE CONCRETA.
FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA. AUSÊNCIA DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL.
RECURSO ORDINÁRIO DESPROVIDO. 1. -Admite-se, excepcionalmente, a segregação
cautelar do agente, antes da condenação definitiva, nas hipóteses excepcionais previstas no
art. 312 do Código de Processo Penal. 2. - A orientação prevalecente neste Superior Tribunal
de Justiça é de que apenas a gravidade abstrata do delito, por si só, não enseja a restrição da
liberdade, mas a periculosidade do agente, revelada pelo risco concreto de reiteração
criminosa, justifica a decretação da prisão para a garantia da ordem pública. 3. - Da leitura do
decreto prisional e do acórdão que o confirmou, extrai-se que a prisão foi decretada de
maneira fundamentada para a garantia da ordem pública, em vista da gravidade concreta do
delito, revelada pelo seu modus operandi, pois o homicídio foi praticado com o uso de faca
tipo peixeira, em plena via pública, após discussão banal e durante evento festivo, havendo
indícios da participação de outra pessoa ainda não identificada, o que denota a impulsividade
e a periculosidade do agente. Essa conjuntura fática justifica a manutenção da medida
constritiva para a garantia da ordem pública, nos termos do art. 312do Código de Processo
Penal. 4. - Inviável a discussão, no âmbito do presente recurso ordinário, de questões
relacionadas à prova da autoria do delito, que deverão ser descortinadas durante a instrução
criminal. 5. - Condições pessoais favoráveis, tais como primariedade, bons antecedentes ou
residência fixa, por si sós, quando presentes os pressupostos do art. 312 do CPC, não obstam
a decretação da prisão preventiva. 6. - Recurso Ordinário desprovido.
(STJ - RHC: 51513 PB 2014/0230296-5, Relator: Ministro WALTER DE ALMEIDA
GUILHERME (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/SP), Data de Julgamento:
16/10/2014, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 29/10/2014)
INFANTICÍDIO – art. 123, CP
Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após:
Pena - detenção, de dois a seis anos.
- Art. 123, CP: “Matar, sob influencia do estado puerperal (elemento objetivo), o próprio
filho, durante o parto (não é mais aborto) ou logo após”. Pena: Detenção de 2 a 6 anos.
- Tem pena menor por causa do estado puerperal (queda de discernimento).
I- Tipo objetivo
1) Objetos do delito
a) Bem jurídico: Vida
- O início da proteção da vido pelo infanticídio se da com o inicio do trabalho de parto.
- O término: enquanto perdurar o período puerpério (período em que a mulher não
menstrua). Quando houver o retorno às condições hormonais normais, o que é definido
medicamente (condição médica). Quando você volta a menstruar, você sai desse período.
OBS: o estado puerpério é mais um elemento psíquico e físico, mas tem como base um
período clinico/ condições medicas.
b) Objeto material: é o nascente (no parto) ou recém nascido (durante o período do
puerpério) com vida.
- É preciso se demonstrar que o recém nascido estava com vida, se não é crime impossível
(no caso do nascente não tem como saber se respirou).
- Se for demonstrado que a vítima estava morta no momento da conduta, haverá crime
impossível por absoluta impropriedade do objeto.
OBS: Não tem como ter perdão judicial porque não tem a hipótese.
2) Conduta típica
a) Matar: é um verbo que demonstra que o crime é comissivo, entretanto como a mãe é
garante, pode ser praticado por omissão.
b) Próprio filho: é a criança cujo nascimento gerou o estado puerperal.
c) Sob influencia do estado puerperal: estado puerperal é o conjunto de alterações
psicofísicas que ocorrem na mulher a partir do parto até o retorno da condição hormonal
normal.
OBS: não “em estado puerperal”, porque ele tem que ser o motivo!
- É preciso que o crime tenha sido praticado em decorrência de perturbação psíquica
patológica deflagrada pelo estado puerperal, a ser comprovado pericialmente.
à Se for demonstrado que a conduta não sofreu influencia do estado puerperal, o crime será
de homicídio.
à Se for demonstrado que a perturbação psíquica privava a mulher de qualquer capacidade
de discernimento ou autodeterminação, deve ser reconhecida a inimputabilidade.
à Se tiver um discernimento mínimo, aí é infanticídio (semi-inimputabilidade)
à Se o laudo é inconclusivo, opta-se pelo infanticídio à “in dubio pro réu”
d) Durante o parto ou logo após: a partir do início do parto e enquanto perdurar o estado
puerperal.
3) Sujeitos
a) Ativo: mãe, sob influencia do estado puerperal (crime próprio).
- Se terceiro (coator participe) concorrer/contribuir para o crime, responde também por
infanticídio, por causa da regra do art. 29/30, pois ser mãe sob influencia do estado puerperal
é elementar do crime, e por isso comunica.
b) Passiva: próprio filho (crime próprio).
- Se a mãe mata outra criança pensando ser o próprio filho, haverá erro sobre a pessoa
(art. 20, § 3, CP) e responderá como se tivesse matado o próprio filho, ou seja, responderá
por infanticídio.
II- Tipo subjetivo
1) DOLO: é a consciência e vontade de matar o próprio filho.
- Se a mãe mata o próprio filho sem consciência do que esta fazendo haverá erro de tipo, que
exclui o dolo. Ex: dá sem querer o remédio errado.
à Ai se tiver previsão culposa responde-se por ela.
2) CULPA: não há previsão.
- Se a mae, sob influencia do estado puerperal, mata o próprio filho, por ação ou omissão,
de forma culposa, há duas opções:
1º) Segundo a doutrina majoritária: responde por homicídio culposo, pois estão presentes
todos os elementos do tipo geral (1 a 3 anos).
2º) Segundo a doutrina minoritária (professora – legislador optou por isso): a conduta será
atípica, pois o legislador optou por não tipificar o tipo de infanticídio culposo. Além disso, a
punição por homicídio culposo violaria o principio da proporcionalidade:
HOMICIDIO – 6 a 20 anos à 1 a 3 anos CULPA
INFNATICIDIO – 2 a 6 anos à 1 a 3 anos CULPA? À não é proporcional!
III- Consumação e tentativa
1) Consumação: morte (crime material).
2) Tentativa: é admitida.
IV- Jurisprudência:
RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. SENTENÇA DE PRONÚNCIA. HOMICÍDIO
QUALIFICADO. ERRO DE TIPO. CRIME IMPOSSÍVEL. CONTROVÉRSIA.
HOMICÍDIO AFASTADO. INFANTICÍDIO. COMPROVADA INFLUÊNCIA DO
ESTADO PUERPERAL NA CONDUTA DA MÃE. DESCLASSIFICAÇÃO
NECESSÁRIA. - Existindo fortes indícios de que a acusada agiu com 'animus necandi', não
há como acolher, de plano, a tese de erro de tipo, razão pela qual deverá a acusada ser
submetida a julgamento pelo Tribunaldo Júri. - Se a prova dos autos, inclusive a de natureza
pericial, atesta que a recorrente matou o seu filho, após o parto, sob a influência de estado
puerperal, imperiosa a desclassificação da imputação de homicídio qualificado para que a
pronunciada seja levada a julgamento pelo cometimento do crime de infanticídio
(artigo 123 do Código Penal).
(TJ-MG 107020417025160011 MG 1.0702.04.170251-6/001 (1), Relator: RENATO
MARTINS JACOB, Data de Julgamento: 16/04/2009, Data de Publicação: 08/05/2009)
PARTICIPAÇÃO EM SUICÍDIO – art. 122, CP
Art. 122 - Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão, de um a três anos, se da tentativa
de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave.
Parágrafo único - A pena é duplicada:
Aumento de pena
I - se o crime é praticado por motivo egoístico;
II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência.
Suicídio ou tentativa de suicídio não é crime, por causa do princípio da ofensividade, que diz
que só é crime a conduta que ofende bem alheio. Pode ser ilícito, mas não é crime.
I- Tipo objetivo:
1) Objetos do delito:
a) Bem jurídico: Vida alheia
- Por respeito ao princípio da ofensividade, o suicídio não é penalmente tipificado, no entanto
prevalece tratar-se de um ato ilícito, ou seja, não autorizado pela lei à Importância art. 146, §
3, II: como é ilícito, não vai ser crime constranger.
b) Objeto material: Ser humano vivo
- Para nós a vida é um direito indisponível (o que não faz sentido, pois se a vida é um direito,
eu deveria poder dispor dele, ate mesmo para joga-lo no lixo)
OBS: A Alemanha não criminaliza o suicídio nem a participação, porque para eles a vida é
um bem disponível.
2) Conduta típica
a) Induzir, instigar ou auxiliar:
- Induzir = despertar uma ideia antes inexistente
- Instigar = reforçar a vontade já existente
- Auxiliar = proporcionar suporte material (ensinar, emprestar a arma, etc)
- Trata-se de tipo misto alternativo em que a prática de mais de uma conduta contra a mesma
vítima configura crime único.
- Trata-se de crime comissivo, mas pode ser praticado por omissão quando quem omite é
garante (ex: pai de filho menor de idade, médico psiquiátrica em clinica psiquiátrica, etc).
b) Ao suicídio:
- Suicidar-se é tirar voluntaria e conscientemente a própria vida.
- Se a vitima tira a própria vida com emprego de coação ou fraude, haverá homicídio.
- Se a vitima for vulnerável (art. 217-A: menor de 14 ou doente mental sem discernimento),
o crime será de homicídio.
- Se o agente tira a vida da vitima mesmo que a pedido dela, o crime será de homicídio
(privilegiado) – o ato que causa a morte tem que ser da vitima para ser suicídio.
3) Sujeitos:
a) Ativo: qualquer pessoa.
b) Passivo: qualquer pessoa (determinada à não pode ser genericamente, mas pode ser uma
coletividade de pessoas determinadas, por ex a sala).
II- Tipo subjetivo
1) Dolo: é a consciência e vontade de colaborar com o suicídio de outrem.
- se o agente presta auxilio sem saber a sua finalidade, haverá erro de tipo (exclui o dolo).
2) Culpa: não é prevista na lei.
III- Consumação e tentativa
- Art. 122 – induzir, instruir ou auxiliar alguém ao suicídio, desde que resulte em morte ou
grave lesão.
Pena: 2 a 6 anos à morte ou 1 a 3 anos à grave lesão
à É um crime que se consuma pelo resultado
1) Consuma: Morte / Grave lesão
- é a consumação do crime, não do suicídio.
2) Tentativa: não é admitida porque ou tem o resultado ou é conduta atípica.
- se não houver lesão grave ou morte, o fato é atípico.
IV- Causa de aumento – art. 122, parágrafo único.
1) Motiva: egoístico
2) Vítima: à menor de 18 anos (maior de 14 anos, porque se for menor tem homicídio!)
À reduzida a capacidade de resistência (mas não que esteja privada de discernimento, pois se
estiver será homicídio!)
V- Pacto de morte: a situação em que duas ou mais pessoas decidem dar fim às próprias
vidas de modo conjunto
PACTO DE MORTE
João -tiro-> Maria
1º versão) Ele sobrevive e ela morre à Homicídio consumado
2º versão) Ele morre e ela sobrevive à Participação em suicídio consumado
3º versão) Os dois ficam com lesão grave à Ele responde por homicídio tentado
à Ela responde por partic. Em suicídio consumado
4º versão) Os dois ficam com lesão leve à Ele responde por homicídio tentado
à Ela não responde por nada (o fato é atípico)
VI- Jurisprudência:
RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. CRIME CONTRA A VIDA. INDUZIMENTO,
INSTIGAÇÃO OU AUXÍLIO A SUICÍDIO. MINISTÉRIO PÚBLICO QUE SE
INSURGE CONTRA A DECISÃO NA QUAL O MM JUIZ DESCLASSIFICOU A
CONDUTA IMPUTADA NA DENÚNCIA E PRONUNCIOU A ACUSADA NAS
PENAS DO DELITO INSERTO NO ARTIGO 122, PARÁGRAFO ÚNICO, I E II,
DO CÓDIGO PENAL. IRRESIGNAÇÃO DEFENSIVA, EM QUE SE REQUER A
ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA. DESPROVIMENTO DE AMBOS OS RECURSOS. 1.
Segundo consta da peça inicial acusatória, a acusada, de forma livre, consciente e com animus
necandi, escreveu diversas cartas endereçadas ao seu ex-marido, ora vítima, portador de
alienação mental, com o fim de estimulá-lo a cometer suicídio, o que veio a ocorrer em 26
de agosto de 2005, cerca de 01 ano e 05 meses depois de o ofendido ter atentado contra a
própria vida. Consoante se infere dos fatos narrados pelo Parquet, a causa da morte da vítima
teria decorrido de sua tentativa de se autoenforcar, em 31 de março de 2004, quando o seu
estado de saúde foi se deteriorando gradativamente, até levá-lo ao óbito em 26 de agosto de
2005. 2. Com o término da primeira fase do procedimento do Júri, o douto Magistrado se
convenceu sobre a existência da materialidade do delito e dos indícios de autoria, mas
entendeu que os fatos narrados na denúncia não se amoldariam ao tipo penal do artigo 121, §
2º, I, do Código Penal, o que o fez desclassificar a conduta para a que tipifica o crime de
induzimento, instigação ou auxílio a suicídio, duplamente circunstanciado, vindo a
pronunciar a acusada. 3. A simples comprovação de que a vítima era portadora de doença
mental não se mostra suficiente a considerá-la, ao tempo da ação, inteiramente incapaz de
entender as consequências de seus atos e de determinar-se de acordo com esse entendimento,
cujo ônus da prova compete ao Ministério Público. Logo, caberia ao Parquet requerer a
realização de perícia forense, da qual se pudesse extrair a certeza de que a vítima não tinha
as capacidades intelectiva e volitiva no momento em que tentou se enforcar. Ainda que vigore
o princípio in dubio pro societatis quando da prolação da pronúncia, não se afigura correto
levar ao Conselho de Sentença determinada matéria desprovida de elementos de convicção,
a cuja aferição se impõe, imprescindivelmente, o exame pericial, sob pena de induzir a erro
os jurados e privá-los dos meios de prova necessários ao julgamento imparcial, de acordo
com os ditames da justiça, o que implicaria violação à busca da verdade real, além de flagrante
desiquilíbrio processual em prejuízo à defesa. Diante da absoluta impossibilidade de instruir
os autos com o exame pericial, do qual defluíssem os elementos imprescindíveis à análise da
alegada ausência de capacidade de resistência da vítima, ao tempo da ação, torna-se, pois,
impossível a pronúncia da acusada nos termos requeridos pelo Ministério Público. 4. Em que
pesem os argumentos expedidos pela defesa, não lhe assiste razão quando pugna pela
absolvição sumária, a cuja configuração se impõe a comprovação certa e induvidosa de que
os fatos imputados inexistam ou não constituam crime, bem como de que a acusada não seja
a autora do delito ou que se encontre agraciada por alguma causa de isenção de pena ou de
excludente de ilicitude, o que não restou demonstrado nos autos. Ao invés do afirmado nas
razões defensivas, a materialidade e os indícios de autoria do delito previsto no
artigo 122, parágrafo único, I e II, do Código Penal, foram absolutamente comprovados na
hipótese vertente, sobretudo diante dos depoimentos prestados em Juízo, aos quais
corroboram as demais provas coligidas nos autos - termos de inquirição, carta enviada pela
acusada à vítima, auto de apreensão, termos de declaração, relatório e declaração médicos,
termo de curatela provisória, certidão de óbito, apólice de seguro e laudo de exame de
sanidade mental, que não deixam a menor dúvida acerca da procedência do decisum
impugnado. Os indícios de que as diversas cartas escritas pela acusada e lidas pela vítima a
levaram a tentar o suicídio por enforcamento decorrem da epístola datada de 25 de março
de 2004, na qual a recorrente escreve palavras do tipo ¿você jamais vai conseguir trabalho¿,
¿a sua vida não tem mais solução¿, ¿você tem que tirar a sua vida¿, ¿você pode tirar a sua vida
com um lençol amarrado no pescoço¿. Embora a vítima não tenha lido a carta juntada às fls.
76, em cujo teor a acusada lhe sugere o cometimento do suicídio, existem indícios de que as
outras cartas enviadas pela ré e efetivamente lidas pelo ofendido o tenham levado a tentar se
enforcar, como se depreende dos depoimentos das testemunhas prestados em Juízo, sob o
crivo do contraditório. Com isso, percebe-se que os elementos de convicção revelaram-se
suficientes a admitir a acusação, tal qual determinada no decisum impugnado, com vistas a
submeter a recorrente ao Tribunal Popular, afigurando-se, pois, impossível a impronúncia.
5. A sentença de pronúncia constitui uma decisão interlocutória mista, que julga o mero juízo
de admissibilidade, fundado na suspeita, e não na certeza. Com a pronúncia, o magistrado
encerra a fase de formação de culpa, inaugurando a fase de preparação do plenário, quando
se julgará o mérito. Ao Juiz cabe tão somente verificar a prova da existência do fato descrito
como crime e os indícios suficientes de autoria, a teor do artigo 413 do Código de Processo
Penal. Precedentes. Logo, diante dos indícios de que a acusada é a autora do delito inserto
no artigo 122, parágrafo único, I e II, do Código Penal, não se mostra correto, nesta fase do
procedimento, afastar a competência do Plenário do Júri, a quem compete valorar as provas
coligidas nos autos, com o fim de dirimir eventuais dúvidas ponderadas pela defesa.
DESPROVIMENTO DE AMBOS OS RECURSOS.
(TJ-RJ - RSE: 00081814220068190206 RJ 0008181-42.2006.8.19.0206, Relator: DES.
CLAUDIO TAVARES DE OLIVEIRA JUNIOR, Data de Julgamento: 01/07/2015,
OITAVA CÂMARA CRIMINAL, Data de Publicação: 03/07/2015 12:55)
ABORTO – art. 124/128, CPC
Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento
Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque:
Pena - detenção, de um a três anos.
Aborto provocado por terceiro
Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante:
Pena - reclusão, de três a dez anos.
Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante:
Pena - reclusão, de um a quatro anos.
Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de quatorze anos, ou é alienada
ou debil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência
Forma qualificada
Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se, em conseqüência
do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são
duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte.
Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico:
Aborto necessário
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
Aborto no caso de gravidez resultante de estupro
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz,
de seu representante legal.
I- Tipo Objetivo
1) Bem Jurídico e Objeto Material
a) Bem Jurídico (protegido): Vida
- Início - 2 posições:
1ª) Fecundação (minoritária): O início da proteção da vida pelo aborto se dá com a
fecundação.
OBS: pode se dar de 2 a 3hrs depois do sexo ou até 72hrs, pois o espermatozoide só consegue
viver até 72hrs dentro da mulher.
à Pílula do dia seguinte? – Seria proibida, entretanto alguns dizem que não seria porque pode
levar 72hrs para fecundar, mas isso não é regra, pode levar até menos.
à DIU (impede que o ovulo fixe na parede do útero)? – Não poderia, pois já houve
fecundação e o DIU mataria esse óvulo.
à Fertilização in vitro? – Não poderia, pelo menos não com excedentes, pois o congelamento,
a doação, o descarte de embriões, etc., seriam considerados aborto.
2ª) Nidação (majoritária): O início da proteção da vida pelo aborto se dá com a fixação do
ovo na parede uterina.
à Adotamos essa posição implicitamente, pois é o mais compatível com nossa prática.
à Ocorre por volta de 14 dias depois da fecundação.
OBS: Na prática, essas posições não são tão importantes para o aborto, porque quando a
mulher descobre que está grávida é porque ela já deixou de menstruar (atrasou). Assim, são
importantes só filosoficamente.
- Término: Com o início do parto.
- Viabilidade:
à ADPF54: Segundo o STF, o bem jurídico protegido pelo aborto é a vida enquanto
potencialidade de existência extrauterina (protege o direito a vir a ter uma vida extrauterina,
não o direito de viver no útero), mas se ele não tem como viver fora, não há bem a proteger
e por isso interromper gravidez de concepto inviável é fato atípico, pois não há o bem
jurídico. É o que ocorre no caso de anencefalia (Tem que ser 100% anencéfalo).
à OBS: Para a professora deveria ser permitido a intervenção de gravidez de concepto
inviável, por causa do conflito de interesses, em que o direito da mulher (de não sofrer, etc.)
se sobrepõe. Assim, para ela o feto tem direitos e é bem jurídico, mas não se sobrepõe.
b) Objeto Material: Embrião ou feto viáveis.
- Se a mulher pratica a conduta abortiva pensando estar grávida, mas na realidade não está,
haverá crime impossível por absoluta impropriedade do objeto material.
- Se a mulher pratica conduta abortiva, mas o feto/embrião já estava morto ou era
anencéfalo, também haverá crime impossível.
2) Condutas típicas: Há 3 condutas típicas:
a) Art. 124: (Para a gestante) Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho
provoque – Pena: 1 a 3 anos.
b) Art. 126: (Para o outrem) Provocar aborto com consentimento da gestante – Pena: 1 a 4
anos.
Parágrafo único: Se o consentimento é obtido mediante fraude/coação/gestante vulnerável
(menor de 14 ou doente mental) aplica-se a pena do art. 125.
c) Art. 125: (Para o outrem) Provocar aborto sem o consentimento da gestante – Pena: 3 a
10 anos.
- Definição: Aborto é a interrupção da gravidez com a morte do produto da concepção.
à Mesmo se a morte se dar fora do corpo, continua sendo aborto.
à Teoria monista: O aborto constitui exceção à teoria monista. O legislador tipificou no art.
124 a conduta de consentir o aborto e no art. 126 a conduta de provocar o aborto com o
consentimento da gestante. Assim, não haverá concurso de pessoas.
NAMORADO induz auxilia RECEPCIONISTA
Art. 124 Art. 126
(partícipe)
GESTANTE - MÉDICO + ENFERMEIRA

Art. 124 Art. 126 Art. 126


AMIGA instiga
Art. 124
O namorado que induz ao aborto ou a amiga que instiga, com base na teoria monista, são
considerados partícipes no crime de aborto, pois contribuíram para o crime, respondendo
pelo art. 124.
O médico é considerado coautor, respondendo pelo art. 126. A enfermeira, que participou
da cirurgia, também é coautora, respondendo pelo art. 126. Por fim, a recepcionista, que deu
suporte para a conduta do médico e da enfermeira, é considerada partícipe desse crime,
respondendo ao art. 126.
Dessa forma:
GESTANTE: autora
NAMORADO: partícipe
AMIGA: partícipe
MEDICO: coautor
ENFERMEIRA: coautora
RECEPCIONISTA: partícipe
Obs: Se a amiga só instrui e dá o remédio, é art. 124, mas se ela pega na agulha é art. 126.
3) Sujeitos
a) Sujeito Ativo:
- Art. 124: Gestante. Admite concurso apenas sob a forma de participação (Crimes de mão
própria)
- Art. 125 e 126: Qualquer pessoa.
b) Sujeito Passivo:
- Art. 124 e 126: Embrião/feto.
- Art. 125: Embrião/feto e a gestante (sua integridade física, psicológica, sua autonomia, etc.,
são violados).
II- Tipo Subjetivo
OBS: “quis matar” ou “assumiu os risco de matar” são DOLO (o 2º é dolo eventual). Matou
por inobservância do dever de cuidado, imperícia, imprudência ou negligência é CULPA.
1) Dolo: É a consciência e vontade de interromper a gravidez, provocando a morte do
concepto (Dolo eventual também cabe).
2) Culpa: Não há previsão de forma culposa.
Ex: atropelou mulher grávida com culpa, não cabe aborto.
- Pode ser cometido por omissão, se quem se omitiu tinha posição de garante (mas tem que
ter dolo).
Ex: Mulher grávida que quer ter o bebê, mas fez “hafting”, ingere drogas, ou bebe todas, ou
vai no baile funk, e aborta: conduta atípica, pois não há dolo.
Ex2: Médico que por negligência, sem pergunta à mulher se ela está grávida, dá remédio e
provoca aborto: conduta atípica, pois não há dolo.
Em todos os casos, se abortar tem que provar o nexo de causalidade e o dolo.
- O Brasil não prevê crime doloso nem culposo de lesão ao feto. Assim, no caso da gestante
que fuma, não há nada a se fazer.
III- Consumação e Tentativa
1) Consumação: Com a morte (crime material (precisa do resultado para estar consumado))
2) Tentativa: É admitida à Quem diz o crime é o dolo/intenção, e não o resultado. Dessa
forma, se o bebê nascer deformado ou normal, ainda assim é tentado.
IV- Causa de aumento
- Os crimes dos arts. 125 e 126 terão a pena aumentada em 1/3 se resultar lesão grave na
gestante e em 2x se resultar na morte dela.
- Só cabe isso se o resultado for culposo (a lesão grave ou a morte, mas o aborto é doloso).
Assim, se o cara matar a gestante porque quer e provocar o abroto porque quer, responde
por homicídio e aborto.

V- Aborto Legal – art. 128


- Não se pune o aborto feito por médico em 2 situações:
1ª) Para salvar a vida da gestante (saúde não, só vida!)
2ª) Gravidez decorre de estupro
VI- Jurisprudência:
EMENTA. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. CRIME DE ABORTO
PROVOCADO POR TERCEIRO COM CONSENTIMENTO DA GESTANTE EM
CONCURSO DE PESSOAS. TESE DE INSUFICIÊNCIA DE PROVAS PARA
EMBASAR A PRONÚNCIA. IMPROCEDÊNCIA. INDÍCIOS VEEMENTES DE
AUTORIA E MATERIALIDADE COMPROVADOS. RECURSO CONHECIDO E
IMPROVIDO. DECISÃO UNÂNIME. 1 A decisão de pronúncia encerra simples juízo de
admissibilidade da acusação, exigindo o ordenamento jurídico somente o exame da
ocorrência do crime e de indícios de sua autoria, não se demandando aqueles requisitos de
certeza necessários à prolação de um édito condenatório, sendo que as dúvidas, nessa fase
processual, resolvem-se contra o réu e a favor da sociedade. É o mandamento do art. 408 e
atual art. 413 do CP. 2 Demais disso, em face da competência de mérito exclusiva dos jurados
e da aplicação do in dúbio pro societate, que predomina nessa fase processual, agiu
acertadamente o juízo de primeiro grau ao pronunciar o réu pela prática do crime de
homicídio simples, já que presentes na espécie os indícios de autoria e presente a
materialidade. 3I Recuso conhecido e improvido à unanimidade, nos termos do voto do
Desembargador Relator. Decisão unânime
(TJ-PA - RSE: 201330260865 PA, Relator: JOAO JOSE DA SILVA MAROJA, Data de
Julgamento: 21/02/2014, 3ª CÂMARA CRIMINAL ISOLADA, Data de Publicação:
25/02/2014)
Cap. I: Crimes contra a vida
Bem jurídico mais importante, mas não necessariamente, crimes contra a vida são os mais
graves.
 Homicídio - Art. 121
 Induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio – Art. 122
 Infanticídio – Art. 123
 Aborto – Art. 124 a 128
Todos esses crimes tem em comum o processamento perante o tribunal do júri. O
artigo 5º da CF traz direitos e garantias fundamentais, que dentro dele, diz que toda pessoa
tem o direito de ser julgado pelo tribunal do júri quando for crime contra a vida, sendo crime
doloso, que seja consumado ou tentado.
Tribunal do júri: O julgamento é feito por pessoas do povo, composto por 7
indivíduos, que julgam crimes dolosos contra a vida, consumados ou tentados.
Homicídio
“Art. 121: “Matar alguém”.
Pena – reclusão de 6 a 20 anos.
Homicídio é a morte de um homem provocado por outro homem. É a eliminação da
vida de uma pessoa praticada por outra. O delito de homicídio classifica-se como crime
material, que é aquele que se consuma com a produção do resultado naturalístico, sendo
certo que o resultado morte da vítima há de se vincular pelo nexo causal à conduta do agente.
Trata-se também de crime comum, pois pode ser cometido por qualquer pessoa, tanto a
vítima como o vitimador não são específicos. A palavra “alguém” referida no caput do artigo
121, refere-se a todo aquele que tenha vida extrauterina. A lei não exige nenhum requisito
especial.
Causa de aumento de pensa no homicídio doloso – MAJORANTES: Sendo doloso o
homicídio, a pena é aumentada de 1/3 se o crime é praticado contra pessoa menor de 14
anos ou maior de 60 anos.
Obs: as majorantes do homicídio doloso cabem em todos as espécies de homicídio.
Ex: Se o homicídio for por asfixia, que é uma qualificadora, será considerado homicídio
qualificado. Ou seja, mudará os patamares da pena, ou seja, além de ser fixada entre 6 a 20
anos, será fixada entre 12 a 30 anos.
Se ele for feito homicídio por asfixia com motivo de matar o estuprador da filha será um
homicídio qualificado (asfixia) privilegiado, por que tem relevante valor moral de o pai matar
o estuprador da filha. A pena será fixada entre 12 a 30 mas terá a redução de 1/6 a 1/3.
Se for homicídio por asfixia, matando o estuprador da filha, sendo esse maior de 60 anos,
será um homicídio qualificado, privilegiado com majorante do homicídio doloso, que é matar
alguém com maior de 60 anos.
FORMAS
Dolo: é o elemento psicológico da conduta. É a vontade e a consciência de realizar os
elementos constantes do tipo legal, isto é, de praticar o verbo e produzir o resultado. É a
vontade manifestada pela pessoa humana de realizar a conduta.
Dolo direito: o agente quer realizar a conduta e produzir o resultado. Ex: sujeito atira contra
o corpo da vítima, desejando matá-la.
Dolo eventual: o agente prevê resultado criminoso, assume o risco de acontecer. Ex: “se eu
continuar dirigindo assim, posso vir a matar alguém, mas não importa, se acontecer, tudo
bem, eu vou prosseguir”.
Crime preterdoloso: lesão seguida de morte. O agente tem intenção de lesar mas, por algum
motivo, leva a morte da pessoa.
Homicídio simples doloso (caput art. 121 – “matar alguém”. Ou seja, é a morte de um
homem provocado por outro homem/ pena 6 a 20 anos.) – Constitui o tipo básico
fundamental, é o que contém os componentes essenciais do crime. Pode ser cometido por
qualquer pessoa contra qualquer pessoa. Há exceção quanto a pessoa quando se refere a o
Presidente da República, o do Senado Federal, o da Câmara dos Deputados ou o do Supremo
Tribunal Federal, caso em que, o delito será contra a Segurança Nacional, nos termos da
Lei 7.170/83, se houver motivação política (princípio da especialidade).
Geralmente mata-se por ação, como por exemplo, quando há disparo de arma de fogo, mas
também é possível matar por omissão, por exemplo, mãe que deixa propositadamente de
alimentar filho pequeno (dever legal), a baba que se oferece para tomar conta do bebê,
assumindo a responsabilidade de zelar por ele (dever de garantidor). Não basta não fazer, é
preciso portanto, que no caso concreto haja uma norma determinando o que devia ser feito.
Em todos esses casos, o agente tem o dever jurídico de impedir o resultado, de acordo com
as hipóteses do art. 13, § 2º, do CP.
O homicídio doloso simples é caracterizado como crime material, ou seja, o resultado precisa
acontecer, se não, é considerado meramente tentado, ou seja, tentativa de homicídio (terá a
pena do homicídio de 6 a 20 anos reduzida de 1/3 a 2/3).
Obs:. Transmissão consciente de doença incurável:
É necessário verificar se é incurável ou não. Se a doença transmitida for curável, falará em
lesão. Se a doença for incurável e o agente quis passar essa doença, mas que essa doença não
tenha potencial de morte, o STJ entende ser lesão de natureza gravíssima. Se levar a morte,
entende-se que é tentativa de homicídio.
- Homicídio doloso privilegiado – caso de diminuição de pena – favorável ao réu (1/6
a 1/3) – 3ª fase.
Art. 121, § 1º - Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o
domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de 6
a 20 anos de 1/6 a 1/3.
A lei prevê 3 causas:
1. Motivo de relevante valor social: Fundado no interesse coletivo. Ex: “traidor da pátria”;
matar uma pessoa que praticou diversos crimes em um município; matar um político que
desviou milhões de verba pública.
2. Motivo de relevante valor moral: é motivo de enobrecedor, de interesse individual.
Ex: Pai que mata estuprador da filha.
Eutanásia que antecipa-se a morte para abreviar o sofrimento.
Obs:. Eutanásia difere de:
Ortotanásia: morte natural (sem interferência do homem ou da ciência), a partir da suspensão
de medicamentos que prolongariam um pouco a vida. Há cuidados paliativos que permitem
a chamada “morte digna”.
Distanásia: persistência na medicação, buscando o prolongamento da vida do doente
incurável, prologando-se o sofrimento.
3. Domínio de violenta emoção em seguida a injusta provocação da vítima: Apesar de
a emoção ou a paixão não excluírem o crime, levam á diminuição da pena. Ex: cônjuge que
mata o outro em flagrante adultério.
É importante observar alguns requisitos:
- Domínio de violenta emoção: Há domínio e não mera influencia. Há emoção é intensa,
violenta; há um choque emocional; perda de controle.
- Reação instantânea: A demora exclui o privilegio. A reação precisa ser feita para
configurar privilégio durante a violenta emoção.
- Injusta provocação da vítima: Agressão, injúria ou incitação do direcionado ao agente ou
terceiro.
O privilégio de redução da pena de 1/6 a 1/3 é favorável ao réu. Tal privilégio não é
encontrado somente no homicídio, mas em outros tipos penais também. O privilégio
prepodendera sobre a atenuante genérica.
Tais circunstancias de relevante valor social, moral, domínio de violenta emoção em seguida
a injusta provocação da vítima são subjetivas. Não se comunicam ao coautor ou partícipe.
Para aqueles que entendem que o privilégio pode coexistir com a circunstância qualificadora
objetiva, a aplicação da pena será feita da seguinte forma (CP, art. 68):
1ª fase: no momento da aplicação da pena (art. 68 do CP), se foi reconhecida a existência da
qualificadora, a pena-base será fixada entre o limite de 12 a 30 anos de reclusão;
2ª fase: na segunda fase, analisam-se as circunstâncias agravantes e atenuantes;
3ª fase: nessa fase, aplicam-se as causas de diminuição do § 1º do art. 121, cabendo a redução
de um sexto a um terço da pena somente para quem entende que as qualificadoras de
natureza objetiva podem coexistir com o privilégio. Nesse caso, a redução varia conforme a
relevância do motivo de valor moral ou social, ou do domínio de violenta emoção em seguida
a injusta provocação da vítima.
- Homicídio qualificado – desfavorável ao réu – muda os patamares da pena. ( pena
de reclusão de 12 a 30 anos – 1 fase)
No homicídio doloso simples, a pena mínima é de 6 anos quanto a máxima é de 20 anos. No
homicídio qualificado, muda-se os patamares da pena, ou seja, a pena mínima passa a ser 12
anos. A qualificadora não se confunde com o aumento de pena. A qualificadora faz a pena
mínima e máxima sejam alteradas, ou seja, mudam-se os patamares.
Quando há várias qualificadoras em um crime: As qualificadoras presentes, como por
exemplo, motivo fútil, traição e uso de veneno, são colocadas para os jurados votarem.
Quanto mais qualificadoras, maior será a pena do indivíduo. E como é feito na prática?
O artigo 61 diz que as qualificadoras preponderam sobre a agravante. No exemplo, a primeira
qualificadora a ser reconhecida será o motivo fútil, art. 121, inciso II, reconhecendo depois
as demais. Tendo em vista o reconhecimento do motivo fútil, sendo uma qualificadora, a
pena poderá ser fixada entre 12 a 30 anos. O juiz in casu, fixa em 15 anos.
Na segunda fase de julgamento, uma já foi aplicada para a pena ser fixada entre 12 e 30 anos
(motivo fútil), as outras não serão aplicadas como qualificadoras, mas sim como agravantes
para ser aumentada a pena.
Só convivem com o privilégio as qualificadoras objetivas, visto que o privilégio é subjetivo.
Crimes hediondos e homicídios:
O que é ser hediondo? Pena cumprida em regime inicial fechado, o livramento condicional
é de 2/3, o cumprimento da pena é bem mais severo. Ao cumprir a pena, se dentro de 5
anos, praticar outro crime, é reincidente. O prazo para voltar a ser primário são 5 anos, sem
praticar crime nenhum.
A lei dos crimes hediondos, diz que o homicídio qualificado enquadra-se como crime
hediondo. O homicídio simples não se enquadra, salvo se não tiver grupo de extermínio,
como também não é crime hediondo o homicídio privilegiado.
O homicídio privilegiado e qualificado ao mesmo tempo é hediondo? Visto que o homicídio
privilegiado é? Não enquadra-se como crime hediondo, seja por que a lei só determinou o
qualificado, e não falou homicídio privilegiado-qualificado (homicídio hibrido). O privilégio
retira a hediondez. A pena nesse tipo penal será de 12 a 30 anos (pena de homicídio
qualificado), com redução de 1/6 a 1/3 (privilégio do homicídio privilegiado).
Art. 121, § 2º - Se o homicídio é cometido:
I – mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
Paga é a recompensa antecipada enquanto a promessa é o pagamento da recompensa
posterior ao crime. Em ambos os casos, não é necessário que a promessa ou a paga de
recompensa sejam em dinheiro, a qualificadora persiste se a promessa for de emprego.
Para o STF e STJ os dois sujeitos responderam pela qualificadora, ou seja, o que prometeu e
pagou e o que executou a conduta.
Motivo torpe: é o motivo moralmente reprovável, vil, repugnante. Ex: matar por vaidade,
matar para fazer sofrer, matar para ficar com a herança.
II – por motivo fútil;
Fútil é o motivo insignificante, que apresenta desproporção entre o crime e a causa moral.
Ex: matar garçom por que encontrou uma mosca na sopa.
Para alguns, não se confunde motivo fútil com ausência de motivo, para outros
doutrinadores se equipara.
III- com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso
ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;
Meio insidioso: é o meio ardiloso, desleal.
Meio cruel: é aquele que causa sofrimento á vítima. Ex: asfixia, tortura.
Perigo comum: perigo a várias pessoas. Ex: fogo, explosivo. Obs:. Se ficar comprovada a
pratica do crime de perigo comum, como por exemplo incêndio e explosivo, responderá o
agente por dois delitos em concurso formal.
IV – à traição, de emboscada, ou mediante dissumulação ou outro recurso que
dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido;
Traição: ataque inesperado.
Emboscada: É a tocada. O agente fica escondido à espera da vítima.
Dissimulação: o agente esconde ou disfarça o seu propósito, procurando atingir o ofendido
quando estiver desprevenido.
V – para assegurar a execução, a ocultação, a impugnidade ou vantagem de outro crime.
Tem-se uma conexão, um lime subjetivo ou objetivo que liga dois ou mais crimes. Ex: matar
a empregada para sequestrar a criança (execução); sujeito mata a vítima para ocultar o crime
de estupro; o corrupto mata a testemunha que o viu recebendo “propina” (impunidade);
sujeito mata o parceiro de um roubo, para ficar com todo o produto do crime (vantagem).
Obs:. Homicídio para assegurar a ocultação ou impunidade de crime impossível: Ex: A mata
B que já estava morto. Em seguida, mata a testemunha que o viu praticando o crime. Segundo
a doutrina e a jurisprudência dominante, muito embora o crime conexo seja impossível,
persiste a qualificadora, pois o que interesse é a intenção do agente.
São circunstancias que demonstram maior grau de criminalidade da conduta do agente.
As qualificadoras são subjetivas, com isso, não se comunicam entre os partícipes.
VI – contra a mulher por razões da condição do sexo feminino
v Feminicídio – Pena: reclusão de 12 a 30 anos.
O feminicídio foi incluído pela lei Nº 13. 104, de 2015. Em 2006 o Brasil aprovou a Lei Maria
da Penha, que alterou alguns dispositivos no Código Penal, apesar de não ser uma lei penal,
como deixar mais grave a lesão corporal em ambiente doméstico, mas, o grande mérito
presente foi a discussão do que é realmente a violência em ambiente doméstico, quais são as
formas de violências e quais são as medidas protetivas as mulheres e ao agressor, como por
exemplo, encaminhá-lo ao psicólogo. Ou seja, vem trazer cautelares para as mulheres que
vinham sofrendo esse tipo de violência.
O agressor pode ser afastado da residência comum, e se não tiverem residência comum, este
poderá ser limitado a aproximação da vítima e em casos mais extremos, pode ser preso
preventivamente.
Feminicídio: Quando falamos em feminicídio, o próprio radical tem relação com a
mulher, ou seja, matar mulher por ser do sexo feminino, dentre as circunstancias de
violência doméstica, familiar ou de relação íntima de afeto.
§ 2º - A: Considera-se que há razões de condições de sexo feminino quando o crime envolve:
I – violência doméstica e familiar
Configura-se violência doméstica e familiar contra a mulher, qualquer ação ou omissão
baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano
moral ou patrimonial.
Há divergências quanto ao assunto, de ser subjetivo ou objetivo. O subjetivo mataria a pessoa
por essa ser mulher, ou seja, pertencer ao sexo feminino. Na corrente objetiva, ser mulher
não é o motivo real. Ex: Homem que mata esposa por queimar a comida. Ele mata por
queimar a comida, ou seja, um motivo fúti, configurando do mesmo jeito homicídio
qualificado, mas, não matou por essa ser mulher.
Não é qualquer violência que se enquadre na Lei marinha da penha, precisa estar em um
contexto de: Violência em âmbito doméstico, Violência em âmbito familiar ou
Violência por relação íntima de afeto.
II – menos prezo ou discriminação à condição de mulher
Não há que se falar em caráter objetivo, apenas subjetivo, pois a pessoa morre por seu
mulher.
MAJORANTES DO FEMINICÍDIO: § 7º - A pena do feminicidio é aumentada de 1/3 até a
metade se o crime for praticado
I – durante a geração ou nos 3 primeiros meses após o parto.
Responde a pena com aumento mesmo se o feto sobreviver, o simples fato da mulher estar
grávida gera o aumento.
II – contra pessoa menor de 14 anos, maior de 60 ou com deficiência.
III – na presença de descendente ou ascendente da vítima.
VII – Contra autoridade ou agente descrito nos artigos 142 (forças armadas) e 144 (policiais)
da CF, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no
exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente
consanguíneo, até terceiro grau, em razão dessa condição.
Em relação a função. O entendimento é objetivo, ou seja, o policial militar não é morto por
que é simplesmente um policial. O PM será morto por que, exercendo sua função, prendeu
A.
- Homicídio culposo
Art. 121, § 3º, CP: Se o homicídio é culposo: Pena de 1 a 3 anos.
Ou 302 do CTB: veículo automotor – código de trânsito brasileiro.
Constitui a modalidade culposa do delito do homicídio. Diz-se crime culposo
quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligencia ou
imperícia. Na conduta culposa, há uma ação voluntária dirigida a uma finalidade lícita, mas,
pela quebra do dever de cuidado a todos exigidos, sobrevém um resultado ilícito não
querido, cujo risco nem sequer foi assumido (obs:. Se assumisse o risco seria dolo eventual,
caracterizado como homicídio doloso).
O convívio social exige de todos o chamado dever de cuidado Impõe-se assim, uma conduta
normal, a conduta normal é ditada pelo senso comum. Se a conduta do agente afastar-se
daquela prevista na norma social, haverá quebra do dever de cuidado, e consequentemente,
a culpa.
Não se fala em homicídio doloso no Código de Trânsito Brasileiro, quando se tratar desse
tipo penal, será reputado crime ao art. 121 do Código Penal. Só há de se falar
em CTB quando houver culpa, se houver dolo, falar-se-á no Código Penal.
Então, se for no trânsito, art. 302 da Lei 9.503/97. Exige-se ainda que seja na condução de
veículo automotor + via pública (princípio da especialidade).
Elementos do fato típico do homicídio culposo.
A-) A conduta humana voluntária e fazer ou não fazer: o fato inicia-se com a prática
voluntária de uma conduta, positiva ou negativa, uma ação ou uma omissão.
B-) Inobservância do cuidado objetivo manifestada através da imprudencia, negligência ou
imperícia. O indivíduo agiu discuidadamente quando nas circunstancias de fato lhe era
possível prever as consequências e, portanto, agir de forma prudente, porém não o fez.
A inobservância do cuidado objetivo pode se manifestar através dos seguintes fatores:
Imprudência: é a prática de um fato perigoso. O sujeito pratica uma conduta que a cautela
indica que não deve ser realizada. Ex.: dirigir uma lancha em excesso de velocidade próximo
a pessoas.
Negligência: É a culpa na sua forma omissiva. Implica na abstenção de um comportamento
que era devido. O negligente deixa de tomar, antes de agir, as cautelas que deveria. O sujeito
deixa de fazer alguma coisa que a prudência impõe seja feita. Ex.: deixar arma de fogo nas
mãos de uma criança.
Imperícia: é a falta de aptidão para o exercício de arte ou profissão.
Causa de aumento de pena no homicídio culposo – MAJORANTES.
§ 4º - No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3, se o crime resulta de inobservância
de regra técnica ou profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar socorro imediato
à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato ou foge para evitar prisão em
flagrante.
Inobservância de regra técnica ou profissão: no caso, o agente conhece a regra técnica,
porém, deixa de observá-la. Não se confunde com imperícia, onde o agente não conhece a
regra, não domina conhecimentos técnicos.
O agente deixa de prestar socorro imediato à vítima: o agente, após dar causa ao evento ilícito
de forma culposa, omite-se no socorro necessário a evitar que a vítima continue a correr
perigo de vida ou de saúde. O agravamento visa repreender esse comportamento desumano,
egoísta.
Se o agente foge para evitar prisão em flagrante: essa medida de aumento de pena nessa
circunstancia, visa impedir que o agente deixe o local da infração, dificultando o trabalho
Justiça e buscando a impunidade.
Somatório de penas
Crime formal próprio: A conduta do agente gera dois resultados, entretanto, esse a gente não
quer os dois resultados, que no máximo um. Responde portanto, por um resultado, com o
aumento de 1/6 até a metade.
Crime formal impróprio: Uma conduta gera dois resultados, querendo o agente esses dois.
Tem-se a soma das penas dos dois crimes.
Material: Soma-se as penas.
v Perdão judicial – apenas para homicídio culposo
O perdão judicial está previsto no artigo 121, § 5º do CP:
“Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as consequências da infração
atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária”.
Trata-se de causa de extinção da punibilidade aplicável somente à modalidade culposa do
delito de homicídio. Aplica-se em casos restritos, expressamente previstos em lei. (CP,
art. 107, IX).
O promotor irá denunciar, comprovar que houve culpa e o juiz analisará discrionariamente
se as circunstâncias especiais estão presentes, ou seja, se trata-se de homicídio culposo, se as
consequências da infração atingiram o agente de forma muito grave e que a vitima e o
vitimidar tenham certa afetividade. Caso entenda que sim, o agente terá direito público
subjetivo ao benefício legal.
Ex: Em um acidente, o pai mata a filha e a mulher por dirigir acima da velocidade permitida.
O pai foi imprudente, ou seja, o homicídio mesmo culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a
pena por entender que as consequências da infração o atigiram de forma tão grave por perder
os seus familiares, que a sanção penal torna-se desnecessária.
Art. 120: “ A sentença que conceder perdão judicial não será considerada para efeitos de reincidência”.
Ou seja, se o indivíduo praticar outro crime depois de concedido o perdão judicial pelo juiz
e extinta a pena do primeiro crime, por não ter o efeito de reincidência, ele será réu primário,
entretanto, é necessário de fato, uma sentença condenatória.
A posição majoritária, entretanto, prevalece que a sentença não é condenatória, ou seja, basta
que o juiz declare o perdão a qualquer momento, sendo meramente declaratória. (Súmula 18
do STJ). Essa Súmula vem por uma questão humanitária, pois é evidente que não será
aplicado a pena e por economia processual, é promovido o arquivamento, o juiz homologa
e não há nem processo. É importante ressaltar que a aplicação da súmula cabe em casos
extremamente evidentes, visto que pode haver dúvida se as consequências da infração
atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária.
- Homicídio praticado por militar no exercício de suas funções
Tal crime é previsto nos artigos 205 e 206 do COM, em razão do princípio da especialidade.
Por exemplo, se um militar matar um cível, o Tribunal do Juri julgará, por ser a vítima cível.
Se um militar matar outro militar, quem julgará será a Justiça Militar, ou ser a vítima um
militar.
Ø Induzimento, instigação ao auxílio ao suicídio – Art. 122 CP
“Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça:
Pena – se o suicídio se consumar: pena reclusão de 2 a 6 anos.
Se da tentativa de suicídio resulta lesão grave: reclusão de 1 a 3 anos”.
Embora o bem maior protegido no artigo é a vida, o referido artigo acima também protege
a integridade física da pessoa, ou seja, aquela pessoa que tentou auxiliar outrem, mas a morte
não foi consumada, gerando lesões graves a vítima, responderá por uma pena de 1 a 3 anos.
Entretanto, se aquele que auxilia, instiga ou induz alguém se matar e a morte não é
consumada e não há lesões graves, apenas lesões leves ou mesmo que não haja lesão, será
um irrelevante penal, não há de se falar em condenação.
A tentativa não é admitida, pois o legislador condiciona a imposição da pena à produção do
resultado grave ou morte (art. 122).
Ou seja, o crime é de resultado, seja ele a morte ou a lesão grave.
O suicídio é a deliberada destruição da própria vida. Suicida, segundo o Direito,
somente aquele que busca direta e voluntariamente a própria morte. Apesar de o
suicídio não ser ilícito penal, é um fato antijurídico, dado que a vida é um bem público
disponível, justamente pelo fato de que a ninguém é dado o direito de dispor da própria vida.
A lei, portanto, não pune o suicídio nem a tentativa de lesar a si próprio, ato da pessoa tirar
sua própria vida, mas pune o comportamento de quem induz, instiga ou auxilia outrem a
suicidar-se. O ordenamento jurídico veda qualquer forma de auxilio à eliminação da vida
humana, ainda que esteja presente o consentimento do ofendido.
Objetividade jurídica: proteção do direito à vida. Contudo, para que se consume o delito,
o tipo penal exige que a vítima morra (consumação do suicídio auxiliado, instigado ou
induzido) ou sofra lesões corporais de natureza grave.
A participação em suicídio pode ser moral, mediante induzimento ou instigação,
ou material, que é realizada por meio de auxilio.
O delito é também classificado como crime de ação livre, pois não exige o tipo qualquer
forma especial de execução do delito, podendo este ser praticado por qualquer meio,
comissivo ou omissivo.
Ação nuclear: o tipo é composto por três verbos, induzir, investigar ou auxiliar. O agente,
ainda que realize todas as condutas, responde por um só crime. O crime de
induzimento, instigação ou auxilio é crime contra a vida, portanto, será julgado pelo Tribunal
do Juri. (Tribunal do júri: O julgamento é feito por pessoas do povo, composto por 7
indivíduos, que julgam crimes dolosos contra a vida, consumados ou tentados).
A-) Induzir: significa suscitar a ideia, sugerir o suicídio. Tal ideia é inserida na mente suicida,
que não havia desenvolvido o pensamento por si só. PARTICIPAÇÃO MORAL.
Ex: Individuo perde o emprego e é sugestionado pelo seu colega a suicidar-se, por ser a única
forma de solucionar os seus problemas. Ou seja, a pessoa não pensava anteriormente em se
matar, mas vem B e induz, implanta essa ideia inexistente.
B-) Instigar: significa reforçar, estimular, encorajar um desejo já existente. O sujeito ativo
potencializa a ideia de suicídio que já havia na mente da vítima. PARTICIPAÇÃO MORAL.
C-) Auxiliar: significa dar suporte MATERIAL, por exemplo, dar a arma para B se matar.
o Crime por omissão do agente no tipo penal do art. 122, é possível?
Para a doutrina majoritária não é possível, pois o tipo penal fala em induzir, instigar ou prestar
auxílio, expressões indicativas de conduta de franca atividade.
Para a minoria, é possível, desde que o agente tenha o dever jurídico de evitar o resultado,
nos termos do art. 13, § 2º, CP. Ex: bombeiro que não tenta convencer o agente a não pular
do prédio; diretor do presídio que não obsta a morte do preso por greve de fome; o pai que
não impede o suicídio do filho menor. Essa corrente entende que o autor responde pela
conduta de se omitir, equiparando-se a conduta de induzir, instigar e auxiliar.
o Autoria imediata
Da-se a causa por um intermediário.
Ex: Individuo A para para um criança de 8 anos, que como não conseguiu aprovação na
escola, ele era burro e deveria se matar, e essa o faz.
Esse crime é participação de suicídio ou homicídio? Se a pessoa não tiver a capacidade de
entender o ato, ou seja, que se ele fizer o que está sendo instigado ele irá morrer, é
considerado homicídio doloso qualificado (motivo fútil de a criança não passar na prova).
Pena de 12 a 30 anos (por haver qualificadora) com majorante, por ser vítima menor de 14
anos, podendo ser aumentada de 1/3.
Entretanto, se a pessoa tem capacidade para percepção da consequência de tal ato, é
considerado suicídio. Pena de 2 a 6 anos.
Elemento subjetivo: O elemento subjetivo do delito de participação em suicídio é somente
o dolo, direto ou eventual, que consiste na vontade livre e consciente de concorrer para que
a vítima se suicide. “É a vontade livre e consciente de induzir, instigar ou auxiliar outrem a
suicidar-se, com o fim de que este se efetive, não pelas próprias mãos, mas pelas dele, o que
constitui a essência do crime”.
Então como regra, o crime de induzir, instigar ou auxiliar alguém ao suicídio,
art. 122, CP, é doloso, comente quando comprovado a culpa. Nesse artigo não há a
modalidade culposa, somente dolosa.
Se alguém, portanto, por culpa da causa a que alguém se suicide, não responderá pelo crime
em tela. Há posicionamento na doutrina no sentido de que nesse caso, poderá estar
caracterizado crime de homicídio culposo, se o evento morte for previsível. (Pena – detenção
de 1 a 3 anos).
*Dolo eventual: Se resume à previsibilidade do suicídio por parte do autor, assume o risco
do evento.
* Dolo: é o elemento psicológico da conduta. É a vontade e a consciência de realizar os
elementos constantes do tipo legal, isto é, de praticar o verbo e produzir o resultado. É a
vontade manifestada pela pessoa humana de realizar a conduta.
MAJORANTES – DUPLICA-SE A PENA
A-) O ato ocorrer por motivo egoístico: relacionado a ideia de obtenção de uma vantagem
pessoa por parte do agente. Ex: sujeito induz a vítima a suicidar-se para ficar com sua
herança.
B-) Se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de
resistência:
*Não pode haver total ausencia de resistência, por que nesse caso, será considerado crime de
homicídio.
Para a maior parte da doutrina, trata-se de vítima menor de 18 anos e maior de 14.
Nos crimes sexuais, tem-se o crime chamado estupro de vulnerável, que é manter relação
sexual com menor de 14 anos. Quem tem menos de 14 anos não pode consentir para a
prática sexual. Como o próprio Código Penal, artigo 217 – A, o consentimento abaixo de 14
anos, é portanto inválido, por que essa pessoa não tem capacidade.
Tem-se adotado o seguinte critério no artigo 122: se a vítima tiver a capacidade do
consentimento da prática sexual, ela também tem capacidade de saber sobre o crime. Se ela
tiver menos que 14 anos, não teria o consentimento válido de que estaria se suicidando. A
pessoa que a instigou responderia por homicídio doloso, com majorante de essa vítima ser
menor de 14 anos.
Se a vítima ser maior de 14 anos e menor de 18, entende-se que ela pode consentir com a
pratica sexual, podendo, portanto, tomar conhecimento do crime. Para aquele que instiga a
vítima dentro dessa, tem-se o entendimento que o agente induziu a vitima ao suicídio, e por
ser ela menor, terá a pena dobrada. Ou seja, se a pena quando o suicídio resultou em morte,
é de 2 a 6 anos de reclusão, tem-se a pena dobrada por ter essa majorante.
Hipóteses praticas:
- “duelo americano ou roleta russa”, os sobreviventes respondem por participação em
suicídio, pois induzem, instigam ou auxiliam a vítima a se matar.
- “Pacto de morte” (ambicídio). Ex: casal de namorados combinam de se matar. Para tanto,
trancam-se num quarto fechado, com uma torneira de gás letal.
- Testemunha e Jeová que não aceita transfusão de sangue necessária para sua sobrevivência.
Para Rogério Grecco, o médico, na posição de garantidor, tem o dever jurídico de evitar o
resultado, pois no contrário, pratica o crime do art. 122 por omissão.
Infanticídio – Art. 123
Art. 123: “Matar, sob influencia do estado puerperal, o próprio filho, durante parto ou logo após”.
Pena: detenção de 2 a 6 anos.
Importante destacar que se o fato é cometido pela mãe durante o parto ou logo após dele e
sob a influencia do estado puerperal, cuida-se de infanticídio. Entretando, se for praticado
antes de iniciado o parto, trata-se de aborto. Por fim, se praticado em período diverso,
responde a mãe por homicídio.
Trata-se de uma espécie de homicídio doloso privilegiado, cujo privilégio é concedido em
virtude da “influencia do estado puerperal”, sob qual encontra-se a parturiente (privilegio:
diminuição da pena de 1/6 a 1/3).
Objetividade jurídica: protege o direito à vida. Tanto a do neonato (feto que acabou de
nascer) quanto o do nascente (que é morto durante o parto).
Sujeito ativo: trata-se de um crime próprio, visto que somente pode ser cometido pela mãe.
Sujeito passivo: só pode ser o neonato, aquele que acabou de nascer, ou o nascente que é
morto durante o parto.
A consumação portanto, verifica-se com a morte do neonato ou nascente. Como o crime é
material, admite a tentativa.
Estado puerperal: É o conjunto de perturbações psicológicas e físicas sofridas pela
mulher em face do fenômeno do parto. Acarreta distúrbios psíquicos na genitora, os quais
diminuem a sua capacidade de entendimento ou atoinibição, levando-a a eliminar a vida do
neonato ou do nascente, durante o parto ou logo após.
É necessário que haja uma relação de causalidade entre a morte do nascente ou neonato e o
estado puerperal. Exigi-se que a mãe mate a vítima “sob a influencia do estado puerperal”.
Elemento subjetivo dolo – o crime pode ser pratico pela mãe a título de dolo direto
ou eventual.:
Não há modalidade culposa no crime de infanticídio. Desse modo, se a mãe, culposamente,
matar o filho, durante o parto ou logo após, sob influencia do estado puerperal, o fato será
penalmente atípico, visto que não há como exigir da parturiente perturbada psicologicamente
que aja de acordo com as cautelas comuns de conduzir-se de acordo com as normas sociais.
E para alguns responderá pelo delito de homicídio culposo.
Infanticídio e inimputabilidade
Três hipóteses podem ocorrer:
1. Em decorrência do estado puerperal, a mulher vem a ser portador de doença
mental, causando a morte do próprio filho. (Obs:. Estado puerperal não é doença mental,
são distúrbios psicológicos e físicos sofridos pela mulher em face do fenômeno do parto;
essa doença mental é duradoura, não se trata do estado pueperal que dura algumas horas
durante ou após o parto).
Nesse caso, aplica-se o artigo 26, CP, ou seja, a mãe fica isenta da pena (inimputabilidade). A
pessoa não consegue entender o que ela mesmo fez, não tem a capacidade para isso.
2. Em decorrência do estado puerperal, a mulher vem a ser portadora de perturbação
da saúde mental, que não lhe retire a inteira capacidade de entendimento e de
autodeterminação: Nesse caso aplica-se o art. 26 § único:
“A pena pode ser reduzida de 1 a 2/3 se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por
desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era interamente capaz de entender o caráter ilícito do
fato ou de determinar-se de acordo com esse intendimento”.
Ou seja, responderá o autor por infanticídio com pena atenuada de 1 a 2/3.
3. Em decorrência do estado puerperal, a mulher vem a sofrer uma simples influencia
psíquica que se amolde também a regra do art. 26 § único: Nesse caso a autora
responderá por infanticídio sem redução da pena.
O infanticídio é um delito de forma livre, ou seja, pode ser cometido por intermédio de
qualquer meio de execução. A mãe pode matar o neonato ou nascente de várias
formas. Admite-se inclusive por omissão, ex: no caso que a mãe deixa de cortar o cordão
umibilical, com o intuito de provocar a morte do filho.
Concurso de agentes/pessoas
O crime de infanticídio como visto é caracterizado em a mãe que mata o filho, durante o
parto ou logos após sob a influencia do estado puerperal. Pena detenção de 2 a 6 anos.
Excluido algum dos dados constantes do infanticídio, a figura típica deixará de existir como
tal, passando a ser outro crime. Portanto, os componentes do tipo, são elementares desse
crime. Sendo elementares, comunicam-se ao couator ou ao partícipe.
Três situações possíveis:
1. Mae que mata o próprio filho, contando com o auxilio de terceiro: a mãe é autora do
infanticídio, e as elementares desse crime comunicam-se ao partícipe, que assim, responde
também por infanticídio. – Doutrina majoritária.
Entretanto, há uma vertente, minoritária, que defende que o estado puerperal é
personalíssimo, somente a parturiente pode agir sob influencia. Logo, ela pratica o
infanticídio e o terceiro homicídio.
2. Mae que sob influencia do estado puerperal mata outra criança supondo tratar-se
do próprio filho: Infanticídio putativo – Art. 20, § 3ºCP.
“O erro quanto à pessoa contra o qual o crime é praticado, não isenta de pena. Não se consideram, neste
caso, as condições ou qualidades da vítima, senão as da pessoa contra quem o agente queria praticar o crime”.
3.Mae sob influencia do estado puerperal mata adulto: homicídio

LESÕES CORPORAIS – PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAUDE – RIXA


- DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
Dos crimes conta as pessoas, no seu capítulo III (Periclitação da vida e da saúde). Periclitação
vem de periclitar, que quer dizer estar em perigo; perigar; ameaçar perigo ou ruína. Nos
Crimes de perigo e de dano, este consuma-se com a efetiva lesão a um bem juridicamente
tutelado e aquele contenta-se com a mera probabilidade de dano. Então para se configurar
um crime de dano será exigida uma efetiva lesão ao bem jurídico protegido e nos crimes de
perigo basta à possibilidade do dano, ou seja, a exposição do bem a perigo de dano.
2 - PERIGO DE CONTÁGIO VENÉREO
Art. 130 – Expor alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer ato libidinoso, a contágio
de moléstia venérea, de que se sabe ou deve saber que está contaminado:
Pena – Detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa.
§ 1º – se é intenção do agente transmitir a moléstia:
Pena – Reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
§ 2º – Somente se procede mediante representação.
Em seu tempo, Aníbal Bruno, já fazia duras e justificadas críticas a este artigo, como uma
infração penal autônoma e independente de outras ameaças e espécies de lesões corporais,
pois ele admitia que, no passado, as doenças venéreas tinham um tratamento diferenciado,
mas que nesta segunda metade do século, com a evolução da medicina e dos medicamentos
que estão no mercado a criminalização desse delito já estaria superada, esse entendimento se
reforça pelas atitudes das vítimas que hoje preferem a medicação para manter sua privacidade
a se expor diante os órgãos da justiça.
Analisando o tipo penal, segundo DAMASIO, o legislador estaria protegendo a saúde física
da pessoa humana, apesar de tratar-se de delito de perigo, conforme o § 1º, o legislador
definiu um crime formal (aquele que o tipo descreve o comportamento e o resultado, mas
não exige a produção, bastando à exposição ao perigo de dano). A conduta descrita no caput
do artigo é crime de perigo e a do parágrafo 1º seria de dano, pois, encontramos no § 1º sua
forma qualificada, pois a intenção do agente qualifica o crime, embora não precise
concretizar-se, e se concretizar o sujeito responderá somente pelo previsto no § 1º.
Para o doutrinador ROGÉRIO GRECO, esse tipo penal precisa ser esclarecido pela
medicina - a chamada moléstia venérea – já para Bitencourt, o texto legal fala, genericamente,
em moléstia venérea, sem qualquer outra definição ou limitação. Assim, a exemplo do que
ocorre com as substancias
entorpecentes (que causam dependência física ou psíquica), são admitidas como moléstias
venéreas, para os efeitos penais, somente aquelas que o Ministério da Saúde catalogar. Esse
Art. Trata de crime de perigo, pois que não exige o dano ao bem juridicamente tutelado, que
ocorreria com a efetiva transmissão da moléstia venérea. Basta ser exposto ao contágio.
A EXPOSIÇÃO PODE SER:
- Por meio de relações sexuais;
- Por meio de qualquer ato de libidinagem.
Núcleo do tipo: Expor significa colocar em perigo ou deixar a descoberto.
Objeto da conduta: contágio de moléstia venérea.
Relação sexual: É o coito. Guilherme de Souza Nucci ensina que é a união estabelecida entre
duas pessoas através da prática sexual, abrangendo o sexo anal, vaginal ou oral;
Ato libidinoso: Entende-se qualquer ato que dá ao outro prazer e satisfação sexual, abrange
qualquer ato que seja passível de transmitir doenças.
Moléstia venérea: Doença transmissível através de contato sexual. No caso concreto, o
magistrado nomeará perito (médico Cadastrado no CRM) para a avaliação da enfermidade a
utilização de preservativo não configurará o crime, pois, não existe a conduta de colocar em
perigo o sujeito passivo.
Para a efetivação do delito será necessário que o núcleo do tipo se concretize – expor – o
que somente se dá, se o sujeito ativo atuar sem prudência.
A sistemática hoje é a elementar “sabe” que está contaminado significa ter consciência de
que é um agente transmissor, isto é, ter consciência de um elemento do tipo, e a elementar
“deve saber”, por sua vez, significa a possibilidade de ter essa consciência, é pura presunção.
Dolo eventual: a expressão “deve saber” que está contaminado, o agente percebe alguns
sinais de doença, mas não tem certeza de sua infecção, mas, no entanto, mantem a relação
sexual sem tomar qualquer precaução, expondo alguém a perigo.
Dolo direto: outra expressão “sabe” que está contaminado, isto é, quando tem plena certeza
consciência de seu estado e de que cria, com a sua ação, uma situação de risco para a vítima,
mas não deixa de praticar o ato. Não quer transmitir a moléstia, mas tem plena consciência
e vontade de expor a vitima a perigo de contagiar-se.
Existe 3 figuras típicas:
- de que se sabe que está contaminado
- de que deve saber que está contaminado
- ter a intenção de transmitir a moléstia; §º 1 -Qualificadora
CRIME DE PERIGO ABSTRATO E PERIGO CONCRETO
Subdividem-se os crimes de perigo em crimes de perigo concreto e crimes de perigo abstrato,
diferenciando-se um do outro porque naqueles há a necessidade da demonstração da situação
de risco sofrida pelo bem jurídico penal protegido, o que somente pode ser reconhecível por
uma valoração subjetiva da probabilidade de superveniência de um dano. Por outro lado, no
crime de perigo abstrato, há uma presunção legal do perigo, que, por isso, não precisa ser
provado.
Perigo concreto
Exige a comprovação do risco ao bem protegido. O tipo penal requer a exposição a perigo
da vida ou da saúde de outrem. Ex: crime de maus-tratos (art. 136).
Perigo abstrato
Não exige a comprovação do risco ao bem protegido.
Há uma presunção legal do perigo, que, por isso, não precisa ser provado.
Ex. Embriaguez ao volante.
OBJETO MATERIAL E JURÍDICO:
Objeto Material: é a pessoa que mantém relação com o contaminado;
Objeto Jurídico: o bem jurídico protegido é incolumidade física e a saúde da pessoa, visam a
saúde, segurança e bem-estar da coletividade, por isso, são objetos de interesse público.
CLASSIFICAÇÃO:
Crime Próprio: demanda sujeito ativo qualificado que é a pessoa contaminada; Formal: delito
que não exige necessariamente a ocorrência de um resultado naturalístico;
Instantâneo: não se prolonga no tempo;
Crime Unissubjetivo: pode ser praticado por um só agente;
Crime Plurissubsistente: vários atos podem integrar a conduta;
SUJEITO ATIVO E PASSIVO:
Ativo: qualquer pessoa contaminada por doença sexualmente transmissível;
Passivo: qualquer pessoa que não esteja contaminada, pois, poderia configurar crime
impossível ou erro de tipo por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade
do objeto.
MODALIDADE CULPOSA:
Não há consenso a respeito dessa modalidade, pois uma doutrina sustenta a possibilidade
dela existir quando o agente agir com negligência referente a sua saúde, não tomando os
devidos cuidados, e referente aos outros doutrinadores afirmam que não há forma culposa,
pois não encontram-se o tipo legal desses elementos na modalidade culposa (imprudência,
negligência e imperícia), pois a culpa deve-se apresentar expressa na lei penal, e não poderia
estar na forma de presunção.
CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
Admite-se a tentativa, pois esse crime trata-se de simples perigo, o crime consuma-se com a
prática de atos de libidinagem, capazes de transmitir a moléstia, que poderá ocorrer ou não
e como já foi dito, basta a simples exposição ao perigo.
DOLO DE DANO
Vontade de produzir uma lesão efetiva a um bem jurídico (Fernando Capez. Curso de Direito
Penal, Parte Geral). Em seu § 1º, do art. 130 do CP, que refere-se ao dolo de dano, onde o
agente tem as seguintes afirmações:
- Está contaminado;
- Sabe que está contaminado;
- Quer transmitir a doença.
Havendo ou não o contágio, responderá pelo art. 130, § 1º. Porém, se tem a vontade de
transmitir a doença e caso tenha êxito, e atinge nas formas mais graves de lesão, deverá
responder por lesão grave ou gravíssima e até por lesão corporal seguida de morte (art. 129,
§ 3º), conforme o caso. Se ocorrer lesão corporal leve, fica absorvida pelo delito mais grave,
que é a forma descrita no art. 130, § 1º.
TIPO DA AÇÃO
Será a Ação Pública Condicionada a representação do agente passivo, onde o Ministério
Público só poderá agir dessa forma. Se ocorrer às modalidades dos Art. 129 e 121 a figura
será mudada para a Ação Pública Incondicionada.
Para GUILHERME NUCCI:
Contagio venéreo constitui lesão corporal.
Dolo direto – de que sabe
Dolo eventual – deve saber
Tentativa – é admissível
Forma Simples – Caput, detenção de 3 meses a 1 ano, ou multa.
Forma Qualificada - § 1º, reclusão de 1 a 4 anos, e multa.
Ação pública condicionada a representação da vítima.
CONTROVÉRSIAS
Se o ofendido sabe da contaminação e causa perturbação leve, e a vitima vem a consentir,
então afasta a ocorrência do delito, para outra corrente, não pode ser consentida a
contaminação, e, portanto, seria crime independentemente do consentimento.
Se causar lesão corporal de natureza grave, ou vindo a ocorrer à morte, o consentimento da
vítima não será válido.
Tem-se entendido majoritariamente pela necessidade de contato pessoal, não se configura,
por exemplo, mandar esperma pelos correios, os atos devem ser sexuais, ou seja, aqueles que
têm por finalidade deixar aflorar a libido, o desejo sexual do agente. Então nesse aspecto:
- No exercício da prostituição, não exclui o delito.
- No aperto de mão, ingestão de alimentos ou utilização de objeto, em regra não.
- Na ama de leite, terá que se averiguar a intenção.

PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE DE OUTREM - CRIMES DE PERIGO

Neste capitulo são tratadas condutas que colocam a vida ou a saúde em perigo.
Trata-se de crimes de perigo.

Não há necessidade de um dano efetivo. Basta o perigo.

1. Para que haja crime, precisa se de um fato típico antijurídico.

2. Fato típico é a ação/omissão que leva a um resultado (típico)

3. Este resultado pode ser de dano ou de perigo

4. O perigo pode ser abstrato ou concreto.

5. a ação/ omissão deve ser doloso (ou culposo se a lei assim previr).

Perigo Concreto: O perigo necessita ser comprovado pelo Órgão acusador. Ex. dar um tiro
na direção de alguém: Expor a vida ou a saúde de uma pessoa a um perigo direto e iminente
(deve-se provar a situação fática); além de ter que se demonstrar que o tiro passou perto da
pessoa, ou seja, deve-se provar o perigo.

Perigo abstrato: Número indeterminado de pessoas. São os crimes de perigo coletivo. Perigo
Coletivo: Incolumidade Pública – Art. 250º, CP .

O perigo é presumido pela lei e independe de prova pelo Órgão acusador, porque o
legislador, baseando-se em fatos reais, extraiu a conclusão de que determinada conduta leva
a perigo. Ex. tráfico de entorpecentes.
Perigo individual: Uma só pessoal ou um número determinado de pessoas.
Perigo coletivo: incolumidade pública.

Art. 130 - Expor alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer ato libidinoso, a contágio
de moléstia venérea, de que sabe ou deve saber que está contaminado:

Perigo de contágio venéreo: (venéreo= sexual, genital):

1) Basta a exposição ao perigo, não é necessário que haja contágio.

2) A moléstia tem que ser venérea (genital - sexual). Apesar disso não é levado muito em
serio pela Jurisprudência. Tanto AIDS como sífilis não são moléstias venéreas, pois podem
ser transmitidos de diversas formas não sexuais.

Mesmo assim, a jurisprudência entende que tanto AIDS, e também HIV, como sífilis, para
fins penais, são moléstias venéreas.

Evidentemente isso é aplicação de analogia proibida, mas tem sempre a lógica prevalece
diante do bom senso.

3) O autor do crime tem que saber que é infectado, ou ao menos deve saber (dolo eventual).
Se não sabe, e não tem por que deveria saber, não é crime, por ausência de dolo.

4) O consentimento da vitima é irrelevante no que concerne à tipicidade, por causa da


indisponibilidade do bem jurídico tutelado, porém como a ação é publica condicionada,
depende da representação. Assim, se a vitima consentiu, possível, embora não garantido, que
não represente. Porém, nada impede, que mude de idéia, ou seja, consentiu na relação, se
arrepende, e representa.

5) Enquanto AIDS era mortal a doutrina e Jurisprudência entendeu, que a transmissão


intencional de AIDS mediante relação sexual era crime de homicídio (tentado, ou
consumado, se a vitima morreu). Hoje, não me parece mais adequado esta tipificação, já que
AIDS e mais ainda HIV tem cura. Portanto, transmissão de HIV configura este artigo.
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.

§ 1º - Se é intenção do agente transmitir a moléstia:

É dolo direto, mas não precisa transmitir a moléstia, basta ter a intenção de fazê-lo.

Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

§ 2º - Somente se procede mediante representação.

Art. 131 - Praticar, com o fim de transmitir a outrem moléstia grave de que está contaminado,
ato capaz de produzir o contágio:

Perigo de contágio de moléstia grave:

Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

A diferença é que neste artigo a moléstia não é venérea, e a intenção deve ser a de transmitir
a doença, no caso, a moléstica grave.
A forma de transmissão pode ser qualquer uma, inclusive o ato sexual, desde que a moléstia
não seja venérea.

Assim, se entendermos, que HIV não é moléstia venérea, a transmissão intencional de HIV
pelo ato sexual ainda seria abrangido por este artigo. Porém não tutela este artigo a prática
de atos que possibilitam a transmissão, se não há intenção de transmissão da moléstia.

Ou seja, se HIV não é considerado moléstia venérea, a simples relação sexual sem proteção,
porém praticada sem intenção de transmitir a doença não seria crime.

Assim, no caso concreto, se o portador de Tuberculose tosse na face de outra pessoa


transmitindo lhe Tuberculose, sem ter à intenção de fazê-lo, não responde por este ato.
Porém, se sua intenção é a transmissão, o tipo se configura.

Art. 132 - Expor a vida ou a saúde de outrem (pessoa certa) a perigo direto e iminente:
Perigo para a vida ou saúde de outrem:

O perigo deve ser concreto, não basta a simples possibilidade.

Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não constitui crime mais grave.
Crime subsidiário, se configura outro crime não se aplica o tipo.

Parágrafo único. A pena é aumentada de um sexto a um terço se a exposição da vida ou da


saúde de outrem a perigo decorre do transporte de pessoas para a prestação de serviços em
estabelecimentos de qualquer natureza, em desacordo com as normas legais. ( Incluído pela
Lei nº 9.777, de 29.12.1998)
Abandono de incapaz: Art. 133 - Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guarda,
vigilância ou autoridade, e, por qualquer motivo, incapaz de defender-se dos riscos
resultantes do abandono:

Crime próprio, só pode ser autor, quem tiver obrigação de zelar pelo incapaz. Não abandona,
quem vigia escondido. Ou seja, a mulher que coloca seu filho recém nascido em frente da
casa de outros, observando escondido, se alguém o pega, não abandonou o filho. Só
abandona, se for embora, antes que alguém resgate a criança.

Pena - detenção, de seis meses a três anos.

§ 1º - Se do abandono resulta lesão corporal de natureza grave:

Pena - reclusão, de um a cinco anos.

§ 2º - Se resulta a morte:

Pena - reclusão, de quatro a doze anos.

Aumento de pena

§ 3º - As penas cominadas neste artigo aumentam-se de um terço:


I - se o abandono ocorre em lugar ermo;
II - se o agente é ascendente ou descendente, cônjuge, irmão, tutor ou curador da vítima.

III - se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos (Incluído pela Lei nº 10.741, de 2003)

Exposição ou abandono de recém-nascido

Art. 134 - Expor ou abandonar recém-nascido, para ocultar desonra própria:

Privilegia o crime anterior, pelo motivo. Normalmente se aplica a mãe solteira ou adultera,
mas também o pai incestuoso, ou adultero pode se beneficiar da privilegiadora, desde que a
intenção é a ocultação da desonra própria.

A Jurisprudência entende, que se a mulher não tem honra a proteger, como prostituto, ou
mãe solteira, que já é conhecida como mãe solteira, ou adúltera conhecida, não se aplica a
privilegiadora. Isso é questionável, já que a honra é subjetiva, e pode ser que uma mulher se
orgulhe de ser prostituta, prestando um serviço relevante à sociedade, porém se sente
desonrada ao ter um filho, fruto de um estupro.

Não querendo abortar, resolve abandonar o recém nascido. Embora crime, não se vê motivo
para não aplicar a privilegiadora.

Pena - detenção, de seis meses a dois anos.


§ 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:

Pena - detenção, de um a três anos.

§ 2º - Se resulta a morte:

Pena - detenção, de dois a seis anos.

Omissão de socorro: Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem
risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao
desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da
autoridade pública:

Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.

Se alguém tiver medo de se contaminar, ou de ser vitima de um assalto, e por isso não ajuda
em caso de acidente, tem a obrigação de chamar a autoridade competente. A omissão de
chamar socorro é inescusável.

Ninguém tem obrigação de tocar uma vitima sangrenta, ou parar em lugar ermo, para
socorrer, porque isso pode colocar sua vida em perigo, todavia, não exime o agente de
chamar socorro.

Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de


natureza grave, e triplicada, se resulta a morte.
Maus-tratos: Art. 136 - Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda
ou vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de
alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou
inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina:

Leves tapas educacionais, não expõem a saúde ou a vida a perigo, portanto são permitidos,
mas qualquer castigo, além disso, configura o crime.

Se a intenção é satisfazer tendências sadistas, o crime é de tortura.

Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou multa.

§ 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:

Pena - reclusão, de um a quatro anos.

§ 2º - Se resulta a morte:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
§ 3º - Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado contra pessoa menor de 14
(catorze) anos. (Incluído pela Lei nº 8.069, de 1990).

LESÕES CORPORAIS

Conceito de lesão.
Do teor do caput, do art. 129: ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem. Pena - detenção, de
três meses a um ano, verifica-se que a expressão ‘lesão corporal’ compreende tanto a integridade
física da vítima, com a ofensa à sua saúde.
a) Por ofensa à integridade física entende-se qualquer alteração anatômica prejudicial ao
corpo humano. Exs.: fraturas, cortes, escoriações, luxações, queimaduras, etc.
Equimose constitui lesão. Trata-se de rouxidão decorrente do rompimento de pequenos vasos
sangüíneos sob a pelé ou sob as mucosas.
Hematomas também são considerados lesões. É uma espécie de equimose com inchaço e,
portanto, mais grave.
Eritemas não constituem lesão corporal, já que se trata de mera vermelhidão passageira da
pelé.
A simples dor não constitui lesão.
A existência da lesão física é demonstrada por vestígios sensíveis, cuja ausência pode
importar vias de fato (art. 21, da Lei das Contravencoes Penais) ou modalidade de injúria real
(art. 140, § 2º, CP). Conseqüentemente são lesões corporais a bofetada violenta, o soco, o
pontapé, etc.
O corte de cabelo sem autorização da vítima pode constituir, dependendo dos motivos, crime
de lesões corporais ou injúria real (caso haja intenção de envergonhar a vítima).
b) Por ofensa à saúde entende-se que já não se tem em conta a anatomia humana, mas o
equilíbrio funcional do organismo. Abrange, assim, a provocação de perturbações
fisiológicas, como vômitos, paralisia corporal momentânea, transmissão intencional de
doença, impedimento ao sono.
Assim, por exemplo, se o agente à custa de ameaças, produz na vítima choque nervoso,
convulsões ou outras alterações psíquicas, pratica lesão corporal, por ofender sua saúde
mental.
2. Objetividade jurídica.
A incolumidade da pessoa em sua integridade física e psíquica.
3. Sujeito ativo. Qualquer pessoa.
4. Sujeito passivo. Qualquer pessoa. É o homem vivo. As lesões corporais produzidas em
um cadáver só podem ser punidas a outro título.
A lei refere-se à ofensa corporal ou à saúde de outrem; logo, não pode o sujeito passivo ser
ao mesmo tempo ativo. Não se pune, portanto, a autolesão, salvo se o agente pretendeu
fraudar o recebimento de seguro (art. 171, § 2º, V, do CP) ou criação de incapacidade para
se furtar ao serviço militar (art. 184, do Código Penal Militar). Porém, nesses casos, o sujeito
passivo não é a pessoa que se autolesionou.
5. Meio de execução.
Ofender é o núcleo do tipo. É causar a lesão corporal em outrem. O meio comumente
empregado é a violência, quer física, quer moral.
O crime pode ser praticado mediante ação (mais comum) ou por omissão, v. G., deixar de
alimentar uma pessoa, zelar pela higiene de certo lugar, etc.
A pluralidade de lesões no mesmo fato não importa pluralidade de delitos de lesões corporais.
Exs.: um agente desfere duas ou três marretadas numa pessoa, ou se lhe atira uma pedra e
depois lhe dá uma cacetada, responderá por um só crime de lesões corporais. Só haverá
multiplicidade de delito se os fatos foram diversos.
6. Consumação e tentativa.
Delito de dano que é, a consumação ocorre no momento da ofensa à integridade física ou
corporal de outrem, ou seja, com a lesão ao corpo ou à saúde da vítima.
Apesar de controvérsia no passado, atualmente é pacífico a admissibilidade do conatus. Exs.:
o agente, com a intenção de ofender a integridade física da vítima, desfere um soco nesta,
mas um terceiro o apara e não permite a agressão; o agente procura, com uma faca, golpear
a vítima no seu corpo, mas esta se esquiva e evita a perfuração.
A distinção de tentativa de lesões corporais da contravenção penal de vias de fato
(art. 21, LCP)é que nesta o agente agride sem a intenção de lesionar a vítima, enquanto que
naquela, tem o dolo, a intenção de machucar, mas não consegue, por circunstâncias alheias
à sua vontade.
7. Elemento subjetivo.
É o dolo, direto ou eventual, ou seja, é a vontade livre e consciente de produzir uma lesão,
um dano ao corpo ou à saúde de outrem. É o animus laedendi ounocendi.
Assim, se uma pessoa dá um forte abraço num amigo, ignorando que ele tem uma ferida nas
costas, e ela se abre, não pratica o delito em questão, pois não havia o objetivo da lesão, ou
seja, não havia, por parte daquela, a vontade livre e consciente de produzir a lesão. Não houve
dolo.
8. Ação penal.
Desde o advento da Lei n. 9.099/95, a ação passou a ser pública condicionada à
representação (art. 88, desta lei).
9. Qualificação doutrinária.
Crime material, de dano, comissivo ou omissivo, comum, instantâneo e simples.
Material, pois para a consumação é necessário a produção do resultado; de dano, uma vez que
só há a consumação com a efetiva lesão ao bem jurídico; comum, pois pode ser praticado por
qualquer pessoa; instantâneo, porque a consumação se dá num determinado instante (num só
momento), sem continuidade temporal; e simples, pois é descrito em sua forma fundamental.
10. As lesões corporais podem ser dolosas ou culposas.
10. 1. A lesão corporal dolosa subdivide-se em:
a) Lesões leves (art. 129, caput);
b) Lesões graves (art. 129, § 1º);
c) Lesões gravíssimas (art. 129, § 2º);
d) Lesões corporais seguidas de morte (art. 129, § 3º).
O § 4º, do artigo 129, trata-se de causa especial de diminuição de pena; o § 5º é uma faculdade
do juiz para substituir a pena de detenção pela de multa, desde que ocorra, ou a situação do
inciso I, ou do inciso II.
10. 2. A lesão corporal culposa vem descrita no artigo 129, § 6º, do Código Penal: se a lesão é
culposa; pena - detenção de 02 (dois) meses a 1 (um) ano.
O § 7º, do artigo 129, trata-se de causa (especial) de aumento de pena; e o § 8º é o perdão
judicial nas lesões corporais.
11. LESÕES CORPORAIS DOLOSAS
11.1. LESÕES CORPORAIS LEVES
É o dano ao corpo ou à saúde que não chegou a ser lesão grave (§ 1º) ou gravíssima (§ 2º);
difere das vias de fato, que se caracterizam pela violência sem dano corpóreo e sem animus
vulnerandi.
11.1. LESÕES CORPORAIS GRAVES
São as definidas no § 1º, do artigo 129, do Código Penal. A pena, em todos os casos, é de
reclusão de um a cinco anos.
Inciso I - se resulta incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias.
Entende-se por ocupação habitual não só o trabalho, mas a atividade costumeira da vítima,
como andar, trabalhar, praticar esportes, e assim, a criança e o ancião (o aposentado) podem
ser sujeitos passivos.
Para a comprovação dessa espécie de lesão grave é exigível a realização de exame de corpo
de delito complementar após o trigésimo dia da data dos fatos, conforme preceitua o § 2º,
do artigo 168, do Código de Processo penal.
A simples vergonha de praticar os atos habituais não caracteriza lesão grave; a incapacidade
pode ser física ou psíquica (mental); não é necessário que o agente queira criar tal
incapacitação, abrangendo, assim, hipóteses preterdolosas.
Inciso II - se resulta perigo de vida.
Perigo de vida é a possibilidade grave e imediata de morte. Deve ser um perigo efetivo,
concreto, comprovado por perícia médica, onde os médicos devem especificar qual o perigo
sofrido pela vítima. Não basta, pois, dizer que houve tal situação de perigo. O laudo, em
verdade, deve dizer em que ele consistiu, como, por exemplo, que houve perigo de vida
decorrente de grande perda de sangue, de ferimento em órgão vital, de necessidade de
cirurgia de emergência etc.
Trata-se de crime preterdoloso, ou seja, o resultado qualificador adveio além do dolo inicial
do agente, já que se este agiu com intenção de matar e não conseguiu, o crime será de
homicídio (tentado).
Inciso III. Se resulta debilidade permanente de membro, sentido ou função.
Membros são as partes do corpo que se prendem ao tronco: braço, antebraço e mão
(superiores) e coxa, perna e pé (inferiores).
Sentidos são os mecanismos sensoriais através dos quais percebemos o mundo exterior: vista,
audição, paladar, tato e olfato.
Função é a atuação própria de um órgão, ou seja, função respiratória, circulatória digestiva,
secretora, locomotora, reprodutora e sensitiva.
Nélson Hungria entende que o legislador foi redundante ao ser referir a sentido e função.
Bastava tão-somente o emprego deste último vocábulo, pois função abrangia, compreendia
o sentido.
A lei fala em debilidade, isto é, enfraquecimento, redução, diminuição, decapacidade que deve
ser permanente ou duradoura, não, porém perpétua.
Quanto aos dentes, é necessário que a perícia, no caso concreto, determine, tendo em vista
as condições do ofendido, se a perda de um ou outro produziu debilidade do órgão da
mastigação.
Inciso IV - se resulta aceleração de parto.
O que se exige é uma antecipação do parto, ou seja, um nascimento prematuro, que o fruto
da concepção nasça vivo e continue a viver, pois caso contrário, ocorreria a hipótese do
inciso V, § 2º (lesões gravíssimas).
Também é necessário que o agente saiba que a mulher está grávida.
11. 2. LESÕES CORPORAIS GRAVÍSSIMAS
Estão previstas no § 2º, do artigo 129, cuja pena é de reclusão de 02 (dois) a 08 (oito) anos.
O legislador não utiliza a expressão “lesões gravíssimas”, tendo esse termo advindo da
doutrina, para diferenciá-las das lesões graves (§ 1º), já que as penas são distintas.
Caracteriza essas lesões a maior permanência ou mesmo a irreparabilidade do efeito.
Inciso I - se resulta incapacidade permanente para o trabalho.
Ao contrário do que dispôs em idêntico inciso do § 1º, a lei fala aqui em trabalho e não
ocupações habituais. Trata-se, conseqüentemente, de profissão, emprego ou ofício, lucrativo,
excluindo-se, pois, a criança ou o aposentado.
A jurisprudência, quase de forma majoritária, entende que tal incapacidade para o trabalho
possa ser genérica, ou seja, para qualquer tipo de labor, uma vez que a lei se refere à palavra
“trabalho” sem fazer ressalvas.
Inciso II - se resulta enfermidade incurável.
Trata-se de alteração permanente da saúde por processo patológico que não tem cura;
transmissão intencional de uma doença para a qual não existe cura no estágio atual da
medicina. A incurabilidade é declarada pela ciência médica. Não é mister a certeza absoluta,
basta a probabilidade séria de não haver cura.
A enfermidade também é considerada incurável se a cura somente é possível através de
cirurgia, posto que ninguém é obrigado a se submeter a intervenção cirúrgico; a lei
compreende tanto a enfermidade do corpo com a da mente.
A transmissão intencional de AIDS caracteriza a lesão gravíssima, porém, se o agente pratica
ato com intenção de transmitir tal doença mas não consegue, não responde pela tentativa,
porque existem crimes específicos descritos no artigo 130, § 1º, do Código Penal (se a
exposição a perigo se deu mediante contato sexual) ou no artigo 131 (se por outro meio
qualquer). Há, entretanto, entendimento no sentido de que, com ou sem a efetiva
transmissão, o crime seria o de tentativa de homicídio, já que a doença tem a morte com
conseqüência natural.
Inciso III - se resulta perda ou inutilização de membro, sentido ou função.
É circunstância mais grave do que a do § anterior, já que este fala emdebilidade e não
em perda ou inutilização.
A perda pode ocorrer por mutilação ou amputação.
A mutilação ocorre no momento da ação delituosa: com um machado, ou serra elétrica,
alguém secciona o braço, ou a mão, de outrem.
A amputação se apresenta na intervenção cirúrgica imposta pela necessidade de salvar a vida
do ofendido, ou para impedir conseqüências mais funestas, nocivas ou graves: o
seccionamento cirúrgico de um braço gangrenado pela faca que o ofendido recebeu.
Na inutilização, o membro permanece ligado ao corpo, mas incapaz de sua atividade própria
ou função, como, por exemplo, quando a vítima passa a ter paralisia total de um braço ou
perna.
Observações:
a) A perda de parte do movimento do braço é lesão grave pela debilidade do membro. A
perda de todo movimento é lesão gravíssima pela inutilização. A perda de um dedo
caracteriza lesão grave, enquanto a perda de uma mão tipifica inutilização do membro
(gravíssima). Por fim, a perda de todo o braço constitui lesão gravíssima pela perda de
membro.
b) A extirpação do pênis caracteriza lesão gravíssima em face da perda da função reprodutora
e, também, pela deformidade permanente.
c) A vasectomia e a ligadura das trompas não caracterizam crime de lesão gravíssima (perda
da função reprodutora) por parte do médico que a realiza, desde que haja consentimento da
pessoa, uma vez que a matéria está atualmente regulamentada pela Lei n. 9.263/96. Trata-se,
pois de exercício regular de direito.
d) No caso de cirurgia transexual, entende-se não haver crime se fica plenamente
demonstrado que a pessoa tinha todas as características do sexo feminino e a cirurgia
somente lhe trouxe benefícios físicos e psicológicos. Considerando que dano à integridade
corporal, por definição, é a alteração anatômica prejudicial ao corpo humano, conclui-se que
não há dolo de lesionar, mas sim intenção de reduzir o sofrimento físico e mental da pessoa,
e, assim, não há crime.
e) A provocação de cegueira em um só olho ou surdez em um só ouvido caracteriza mera
debilidade de sentido (lesão grave). É que, por se tratar de sentido que se opera através de
dois órgãos, a lesão gravíssima pela sua perda somente ocorrerá quando ambos forem
atingidos, pois, só assim, a vítima se torna efetivamente surda ou cega.
Inciso IV - se resulta deformidade permanente.
É o dano estético, de certa monta, permanente, visível e capaz de provocar impressão
vexatória.
A deformidade, portanto, há de ser permanente; não basta que o dano estético seja visível
ou de certo vulto, porque deve ser também indelével ou irreparável. Há lesões que a princípio
desfiguram a pessoa, como por exemplo, socos violentos no rosto, mas que depois de certo
período - duas ou três semanas - desaparecem, voltando o semblante do ofendido ao aspecto
normal. Nesse caso, não há se falar em lesão gravíssima, pois a deformidade, apesar de visível
e de certo vulto, não foi permanente.
O dano estético pode ter sido causado por qualquer forma. As mais comuns são queimaduras
com fogo ou com ácido, provocação de cicatrizes através de cortes profundos, arrancamento
de orelha ou parte dela; não abrange apenas deformidades no rosto, mas também nas pernas,
nos braços etc.; entretanto, a deformidade deve ser visível, requisito atualmente interpretado
com certa liberalidade para excluir apenas situações em que a lesão atinge parte do corpo rara
ou praticamente nunca vista por outras pessoas.
Mesmo que a deformidade venha a ser dissimulada, por exemplo, um olho de vidro, não perde
o caráter de permanente; a correção através de prótese não afasta a aplicação da qualificadora.
É pacífico, atualmente, que a correção por cirurgia plástica afasta a aplicação dessa
qualificadora, mas, se a cirurgia for possível e a vítima se recusa a realizá-la, haverá a lesão
gravíssima, uma vez que a vítima não está obrigada a submeter-se à intervenção cirúrgica.
A deformidade deverá ser capaz de causar impressão vexatória, ou seja, capaz de causar má
impressão nas pessoas que olham para a vítima, e esta, conseqüentemente, se sinta
incomodada com a deformidade.
Na prática, exige-se que a vítima seja fotografada - além do laudo de exame de corpo de
delito - para que se possa melhor avaliar a extensão das lesões e a existência de seus requisitos.
Inciso V - se resulta aborto.
Trata-se de crime preterdoloso, ou seja, o agente queria somente agredir a vítima e não quer
causar o aborto, mas o provoca de maneira culposa; caso contrário, se desde o início, queria
provocar o aborto na vítima, não é o caso do crime em questão, mas do já estudado
artigo 127, 1ª parte, do Código Penal.
O agente deve saber que a vítima está grávida, para que não ocorra punição decorrente de
responsabilidade penal objetiva (responsabilidade sem culpa).
11. 3. LESÕES CORPORAIS SEGUIDAS DE MORTE
Diz o artigo 129, § 3º - se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado,
nem assumiu o risco de produzi-lo: pena - reclusão, de quatro a doze anos.
Trata-se, também, de crime (exclusivamente) preterdoloso, em que o agente apenas quer
lesionar a vítima e acaba provocando sua morte de forma não intencional, ou seja, culposa;
caso contrário, se desde o início, queria a morte da vítima, não é o caso do crime em questão,
mas de homicídio (art. 121, CP).
11. 4. FORMA PRIVILEGIADA
Artigo 129, § 4º - se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral ou sob
o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de
um sexto a um terço.
O privilegium, nas lesões corporais, aplica-se apenas às lesões dolosas, sendo, portanto,
incabível nas lesões culposas. Nas lesões dolosas, de outra parte, pode ser feita qualquer que
seja a natureza - leve, grave, gravíssima ou seguida de morte.
No mais, vide comentários em relação ao homicídio privilegiado.
11. 5. SUBSTITUIÇÃO DA PENA
Diz o artigo 129, § 5º - o juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a pena de detenção pela
de multa:
Inciso I - se ocorre qualquer das hipóteses do § anterior.
Assim, em se tratando de lesões leves, o juiz tem duas opções nas hipóteses de relevante
valor social, moral ou de violenta emoção. Pode reduzir a pena de um sexto a um terço (§
4º) ou substituí-la por multa (§ 5º).
Inciso II - se as lesões são recíprocas.
O dispositivo em questão somente se aplica quando uma pessoa agride a outra e, cessada a
agressão, ocorre a retorsão.
É pacífico o entendimento que se um, apenas se defendendo, causou lesões no outro, não
há se falar em lesões recíprocas, já que essas são lícitas, ou seja, o sujeito agiu em legítima
defesa.
11. 6. CAUSA DE AUMENTO DE PENA
O artigo 129, § 7º, do Código Penal, com a redação dada pelo Estatuto da Criança e do
Adolescente, estabelece que a pena da lesão corporal dolosa, de qualquer natureza, sofrerá
acréscimo de um terço se a vítima é menor de 14 anos.
12. LESÕES CORPORAIS CULPOSAS
Artigo 129, § 6º - se a lesão é culposa; pena - detenção, de dois meses a um ano.
O crime de lesões corporais culposas tem a mesma sistemática do crime de homicídio
culposo, modificando-se apenas o resultado, já que, nesse caso, a vítima não morre.
Compreendem a lesão leve, grave ou gravíssima. Assim, ao contrário do que ocorre nas
dolosas, não há distinção no que tange à gravidade das lesões; o crime será sempre o mesmo
(lesões culposas) e a gravidade será levada em consideração por ocasião da fixação da pena-
base (artigo 59 do CP).
Nos termos do artigo 88, da Lei n. 9099/95 (Juizados Especiais Criminais), a ação penal é
pública condicionada a representação do ofendido (vítima). Além disso, a composição acerca
dos danos civis, homologada pelo juiz, implicará renúncia ao direito de representação e, por
conseqüência, extinção da punibilidade do autor da infração.
O artigo 129, § 7º, do Código Penal estabelece que a pena da lesão culposa será aumentada
em um terço quando o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, quando foge para
evitar prisão em flagrante, quando não procura diminuir as conseqüências de seu ato e, por
fim, quando o crime resulta da inobservância de regra técnica de arte, profissão ou ofício
(vide comentários ao artigo 121, § 4º).
Por fim, o § 8º, do artigo 129 estabelece que aplica-se à lesão culposa o instituto do perdão
judicial, quando as conseqüências do crime tiverem atingido o agente de forma tão grave que
a imposição da pena se torne desnecessária (vide art. 121, § 5º, do Código Penal).

Art. 129 - Lesão corporal


1. Objeto material – O tipo do artigo 129 do Código Penal acaba por tutelar a integralidade
corporal da pessoa, responsabilizando aquele que, por sua conduta, causa dano às funções
biológicas, anatômicas, fisiológicas ou psíquicas de terceiro (da vítima).
Novamente o legislador deixa de estabelecer uma conduta determinada para que o crime se
configure, bastando um nexo causal entre uma ação do autor (que não está predefinida pela
lei) e a efetiva ofensa à integridade corporal da vítima.
Embora o verbo nuclear do tipo exija uma conduta positiva, uma ofensa à integridade
corporal de outrem, compreende-se que o autor também pode responder quando deixa de
fazer, quando se omite, nas hipóteses em que a lei lhe impõe o dever jurídico de garantir a
integridade física da vítima, situação em que restará caracterizado o crime comissivo por
omissão (omissivo-impróprio), na forma do artigo 12, § 2.º, do Código Penal.
Quando a conduta do autor se limitar apenas a causar dor na vítima, sem que disso resulte
ofensa à integridade física dela, prevalece o entendimento jurisprudencial e doutrinário de
que isso não configurará o crime de lesão corporal, por se considerar que a dor é apenas um
fenômeno de índole subjetiva.
As intervenções cirúrgicas, mesmo que resultem em ofensa à integridade corporal do
paciente, encontram respaldo no exercício regular de um direito, enquanto tratamentos
curativos voltados à melhora das suas condições físicas. Portanto, considera-se excluída a
ilicitude de tais atuações médicas.
Dentro do delito de lesão corporal, o enquadramento da conduta do autor deve ocorrer em
razão da gravidade do resultado sobre a vítima.
É possível dizer, assim, que quando não demonstrada qualquer consequência, dentre aquelas
previstas nos parágrafos 1.º a 3.º e 9.º do artigo 129, restará caracterizado o delito em sua
forma simples, prevista no caput do dispositivo, o que se apura através de um raciocínio
lógico de exclusão.
Assim, exemplificadamente, quando a lesão corporal resultar morte, incidirá a hipótese do §
3.º; quando resultar incapacidade permanente da vítima para o trabalho, enquadrar-se-á na
prevista no § 2.º (inciso I); quando resultar em incapacidade para as ocupações habituais, por
mais de 30 dias, capitula-se a conduta tão somente pelo previsto no § 1.º (inciso I); e se
nenhuma das hipóteses anteriores for a incidente no caso, restará caracterizada apenas a lesão
corporal leve, contida no caput do artigo 129 do Código Penal.
Obs¹: O reconhecimento da insignificância da conduta, quanto à lesão muito branda, recebe
resistência da jurisprudência, pois se compreende que a integridade física é bem jurídico
superior que não comporta relativizações.
2. – Sujeito ativo – O sujeito ativo do delito pode ser qualquer pessoa, já que a lei não exige
alguma condição especial daquele que ofende a integridade corporal de outrem.
Considerando-se criminosa apenas a ofensa física provocada em outrem, conclui-se que a
autolesão não é crime. Assim, a pessoa que ataca seu próprio corpo não responde pelo crime
de lesão corporal.
No entanto, se a autolesão tiver o intuito de permitir o recebimento de indenização ou valor
de seguro, a conduta será criminosa, enquadrando-se, então, como estelionato, previsto no
artigo 171, § 2.º, inciso V, do Código Penal.
Aquele que causa lesão em pessoa morta (em cadáver) não responde pelo crime do artigo
129 do Código Penal, mas sua conduta pode se enquadrar nos artigos 211 ou 212 da precitada
lei, pela violação do respeito aos mortos.
3. – Sujeito passivo - Qualquer pessoa física pode ser sujeito passivo do crime, excluindo-
se, pelas razões já citadas, o autor que provoca lesões em si mesmo.
O cadáver também não pode ser considerado vítima do crime de lesões corporais, por já não
ser sujeito de direito.
4. – Elemento subjetivo – Constitui-se no animus nocendi, na vontade agredir fisicamente,
que resta demonstrada quando o autor do fato pratica conduta que resultará na ofensa à
integridade corporal de terceiro, atuando conscientemente nesse sentido.
Há espaço para o dolo eventual e a conduta culposa também é admitida, estando prevista no
§ 6.º do artigo 129 do Código Penal.
Obs¹: As lesões corporais graves, gravíssimas e as que resultam morte (§§1.º a 3.º do artigo
129 do Código Penal) podem ser consideradas preterdolosas ou preterintencionais. Elas
exigem, portanto, que o resultado mais grave (a lesão corporal grave, gravíssima ou a morte
da vítima) seja ao menos previsível ou evitável pelo autor do fato, ainda que não pretendido.
Caso o autor sequer consiga prever o resultado de sua conduta, não se poderá responsabilizá-
lo pelo ato. Do contrário, estaríamos admitindo autêntica responsabilidade objetiva na
hipótese de lesão corporal, o que colide com a disciplina do artigo 19 do Código Penal.
5. – Consumação:
O delito se consuma quando a agressão do autor resulta na efetiva ofensa à integridade física
ou à saúde da vítima, comprovando-se a lesão pelo auto de exame de lesões corporais.
Cogita-se possível a tentativa quando, apesar de não alcançado o resultado lesivo, o efetivo
dano corporal, prevalecer na conduta do autor o elemento subjetivo de ofender a integridade
corporal ou a saúde de outrem.
Se a vítima não restar ofendida em sua integridade física ou em sua saúde, e também faltar
elementos para demonstrar o intuito do autor nesse sentido, o seu dolo, a conduta pode
caracterizar residualmente vias de fato, prevista no artigo 21 da Lei das Contravenções
Penais.
6. – Lesões corporais graves (§1.º): São as consideradas em razão do resultado da ação do
agressor, repreendidas com mais rigor que as lesões leves quando a vítima restar lesionada
na forma dos incisos do § 1.º do artigo 129 do Código Penal:
Inciso I – A incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias, não alcança
apenas as atividades profissionais da vítima, mas também outras tarefas e rotinas de seu
cotidiano, como o lazer, as ocupações domésticas etc.
Se a incapacidade para as ocupações habituais se der por período inferior a trinta dias, então
a lesão corporal será leve, na forma do caput, do artigo aqui analisado.
Apesar de se exigir o prolongamento dos efeitos lesão por período superior a trinta dias, ela
ainda deve ser temporária. Se for perene (permanente), pode ser enquadrada na hipótese do
inciso III, por debilidade permanente de membro, sentido ou função, ou até mesmo como
gravíssima, por possível incapacidade permanente para o trabalho, perda ou inutilização de
membro, sentido ou função e/ou deformidade permanente (incisos I, III, ou IV do § 2.º do
artigo 129 do Código Penal).
Inciso II – O perigo de vida previsto no inciso II deve ser concreto, demonstrável mediante
realização de prova técnica na situação de fato (o auto de exame de lesões corporais), que
seja conclusivo pela efetiva exposição da vida da vítima a perigo.
Inciso III – A debilidade contida no inciso III está relacionada à redução de uma capacidade
atribuída aos membros, sentidos ou função da vítima, sendo que a permanência da
debilidade, sua continuidade, estabelece-se em oposição às lesões curáveis.
Membros são os apêndices do corpo, dividem-se em membros superiores e inferiores.
Os sentidos são atributos, atividades desempenhadas pelo organismo em sua correlação com
o meio ambiente, como são a audição, a visão, o tato, o paladar e o olfato.
As funções são as atividades fisiológicas desenvolvidas pelo organismo, como são as funções
respiratória, circulatória, renal, neurológica, digestiva, cardíaca etc.
A redução de tais atributos fisiológicos, em razão da conduta do autor, caracteriza a lesão
corporal grave. A perda deles, de outro lado, destaca a lesão corporal gravíssima.
Obs.: Nas hipóteses envolvendo perda de um dos órgãos duplos (rins, pulmões etc.) admite-
se que a lesão provocou a redução das funções do organismo, não se cogitando perda delas,
já que a função desempenhada por eles (renal, respiratória etc.) ainda se manterá. Nesses
casos, então, a lesão não chega a ser gravíssima.
Inciso IV – A lesão corporal que resulta em aceleração de parto impõe o nascimento do feto
com vida. Se por conta da lesão resultar natimorto, então a hipótese será de aborto,
configurando-se lesão corporal gravíssima, na forma do inciso V do § 2.º deste artigo.
7. – Lesão corporal gravíssima (§2.º): As consequências arroladas aqui afetam mais
severamente a vítima, pelo que entendeu o legislador em cominar penas mais graves nestas
hipóteses.
Inciso I – Trata da lesão corporal que resulta em incapacidade permanente para o trabalho,
em que se considera a capaz de impedir o exercício de qualquer atividade profissional
remunerada, não se limitando apenas àquela habitualmente exercida pela vítima.
Inciso II – A enfermidade incurável se caracteriza justamente pela inexistência de terapia
consagrada pela medicina, apta a reestabelecer a saúde da vítima.
A existência de terapias experimentais não descaracteriza a hipótese do inciso II, já que a
vítima não pode ser obrigada a se aventurar em tratamentos inconclusivos quanto aos riscos
e eficácia.
Obs¹: A transmissão de doenças venéreas, por ato sexual, não caracteriza a hipótese do inciso
II do artigo 129, ainda que alguma seja cediçamente incurável. No caso, a situação violará a
norma do artigo 130 do Código Penal, já que neste a conduta do autor encontrará todos os
elementos de sua definição legal.
Obs²: A transmissão pura e simples de doenças incuráveis, que não se enquadrar nas
hipóteses dos artigos 130 e 131 do Código Penal, pode caracterizar lesão corporal gravíssima.
Inciso III – A hipótese deste inciso difere da prevista no inciso III do § 1.º por se tratar,
aqui, da efetiva perda ou inutilização do membro, sentido ou função, aplicando-se, assim,
sanções mais severas que as previstas para os casos de redução funcional da vítima.
Inciso IV – A deformidade permanente é a que causa alteração no aspecto físico da vítima,
que pode lhe resultar em vexame ou desagrado. Sua constatação se dá por meio de exame
pericial, seguido de confrontação entre imagens anteriores e posteriores à lesão.
Inciso V – A lesão corporal que resulta em aborto impõe que o autor do fato tenha
conhecimento do estado de gravidez da vítima. Por se tratar de conduta preterintencional,
em tendo consciência da gravidez da vítima, pode se considerar que assumiu risco de causar
a morte do feto, mesmo que não tenha pretendido isso diretamente.
No entanto, se também houve dolo na provocação do aborto, deve se cogitar a incidência
dos artigos 125 a 127 do Código Penal.
Obs¹: Para a caracterização do crime, impõe-se a prova do nexo causal entre a agressão e o
aborto, mediante laudo pericial.
§ 3.º - Lesão corporal seguida de morte – A doutrina destaca que o § 3.º do artigo 129 do
Código Penal contém uma hipótese de homicídio preterintencional (preterdoloso), em que a
lesão corporal causada pelo autor resulta na morte da vítima.
Neste caso, embora a morte não tenha sido pretendida (não se conclua pela existência de
dolo na morte da vítima), a responsabilidade por ela é imputada ao autor na forma deste
parágrafo, desde que previsível em face das circunstâncias.
Em todos os casos, o nexo causal entre a conduta do autor e a morte da vítima deve sempre
estar presente.
§ 4.º - Lesão Corporal privilegiada - O § 4.º do artigo 129 repete, em seus fundamentos e
no método de redução, as privilegiadoras contidas no § 1.º do artigo 121, ambos do Código
Penal. As duas situações consideram que o crime motivado por relevante valor social ou
moral, assim como aquele em que o agente atua mediante violenta emoção, quando seguida
de injusta provocação da vítima, acomodam redução da pena, de um sexto (1/6) a um terço
(1/3)
O relevante valor social é aquele que aproveita a coletividade.
O relevante valor moral é o que vem em defesa da conduta ética, em acordo com os costumes
aceitos na comunidade.
A violenta emoção é o estado emotivo que domina o autor ao ponto de reduzir o juízo crítico
de sua conduta, que se justifica na hipótese quando seguido de uma provocação injusta da
vítima.
Recomenda-se uma leitura dos apontamentos a respeito do artigo 121, § 1.º, em que a matéria
foi apreciada.
Substituição da pena - § 5.º - Há no delito de lesões corporais leves (no qual as lesões não
são graves) uma hipótese especial de substituição da pena privativa de liberdade por pena de
multa, ela incide quando a lesão corporal for privilegiada (§ 4.º do artigo 129 do Código
Penal) e também quando as lesões são recíprocas.
Lesão corporal culposa - § 6.º - Ocorre quando da imprudência, da negligência ou da
imperícia do autor advém apenas ofensa à integridade corporal corporal da vítima.
Independentemente da gravidade das lesões, por não terem sido pretendidas pelo autor do
fato (já que ausente o dolo), a pena aplicável é apenas a privativa de liberdade de dois meses
a dois anos.
Lesão corporal culposa qualificada ou decorrente da atuação de milícia de segurança
ou grupo de extermínio - § 7.º - O parágrafo em questão amplia a incidência da lesão
corporal às hipóteses previstas em dois dispositivos que sofreram significativas alterações
recentes, os §§ 4.º e 6.º do artigo 121 do Código Penal, que já foram estudadas no artigo 121
do Código Penal.
Então, há previsão legal à lesão corporal culposa qualificada, assim como previsto ao delito
de homicídio culposo qualificado, quando ela decorre de inobservância de norma técnica de
profissão, arte ou ofício, se omite socorro à vítima ou foge para evitar a prisão em flagrante,
em situações equivalentes às previstas no § 4.º do artigo 121 do Código Penal.
Além disso, a lesão corporal decorrente da atuação de milícia que presta serviço de segurança
e a oriunda a atuação de grupo de extermínio também se tornaram qualificadas (§6.º do artigo
121 do Código Penal).
Perdão judicial na lesão corporal culposa - § 8.º - Previu aqui o legislador a hipótese de
perdão judicial na lesão corporal culposa quando a ação culposa do autor resultar em tal
sofrimento pessoal seu que, por si só, já implica em punição pela lesão causada a terceiro, em
situações equivalentes àquelas previstas no § 5.º do artigo 121 do Código Penal.
Lesão corporal qualificada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou
companheiro, ou com quem convivia ou tenha convivido, ou, ainda, na prevalência
das relações domésticas, de habitação ou de hospitalidade - § 9.º - A hipótese de lesão
corporal aqui qualificada foi incorporada ao diploma penal por força da Lei n.º 11.340/06,
destacando-se das lesões corporais leves do caput porque considera as condições pessoais da
vítima, notadamente a proximidade do vínculo familiar entre ela e o autor do fato (qualquer
parente dele em linha reta – ascendentes ou descendentes, colaterais até o segundo grau –
irmãos e cônjuge ou companheiro), bem como nos casos em que se prevalece o delinquente
das relações domésticas, de habitação ou de hospitalidade mantidas com a vítima.
Causa de aumento de pena prevista no § 10 – Caso as lesões sejam qualificadas pelas
hipóteses dos §§ 1.º a 3.º e as circunstâncias do § 9.º coexistirem no caso concreto, estas já
não incidirão como qualificadoras, mas como causas de aumento, em 1/3 (um terço), na
dosimetria da pena.
Causa de aumento de pena na lesão corporal qualificada do § 9.º - § 11 - O § 11 do
artigo 129 do Código Penal reservou uma última causa de aumento da pena na hipótese de
lesão corporal qualificada do § 9.º, quando a vítima for portadora de deficiência.
A reserva legal da lei impõe que a deficiência da vítima só incida como causa de aumento nas
situações previstas no § 9.º do artigo 129 do Código Penal, excluindo-a em face das demais.
Contudo, nada obsta, em outros casos, seja considerada no agravamento da pena, conforme
artigo 61, alínea h, do Código Penal, quando reconhecida a deficiência como enfermidade.

Lesão corporal
Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano.
Lesão corporal de natureza grave
§ 1º Se resulta:
I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias;
II - perigo de vida;
III - debilidade permanente de membro, sentido ou função;
IV - aceleração de parto:
Pena - reclusão, de um a cinco anos.
§ 2° Se resulta:
I - Incapacidade permanente para o trabalho;
II - enfermidade incuravel;
III - perda ou inutilização do membro, sentido ou função;
IV - deformidade permanente;
V - aborto:
Pena - reclusão, de dois a oito anos.
Lesão corporal seguida de morte
§ 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quís o resultado, nem
assumiu o risco de produzí-lo:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
Diminuição de pena
§ 4° Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral ou
sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz
pode reduzir a pena de um sexto a um terço.
Substituição da pena
§ 5° O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a pena de detenção pela de
multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis:
I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior;
II - se as lesões são recíprocas.
Lesão corporal culposa
§ 6° Se a lesão é culposa:
Pena - detenção, de dois meses a um ano.
Aumento de pena
§ 7o Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se ocorrer qualquer das hipóteses dos §§ 4o e
6o do art. 121 deste Código.
§ 8º - Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do art. 121.
Violência Doméstica
§ 9o Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou
companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente
das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos.
§ 10. Nos casos previstos nos §§ 1o a 3o deste artigo, se as circunstâncias são as indicadas no
§ 9o deste artigo, aumenta-se a pena em 1/3 (um terço).

§ 11. Na hipótese do § 9o deste artigo, a pena será aumentada de um terço se o crime for
cometido contra pessoa portadora de deficiência.
DA RIXA

Hoje passaremos algumas dicas sobre o crime de Rixa previsto no artigo 137 do Código
Penal. O delito em estudo é de suma importância, uma vez que em sua modalidade
qualificada há um dos últimos resquícios de responsabilidade penal objetiva no âmbito penal
brasileiro.

Passaremos ao estudo do crime, vejamos:


O tipo penal do artigo 137 do CP prevê: Participar de rixa, salvo para separar os
contendores. Pena — detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa.
Conceito: A Rixa trata-se de uma luta, uma briga desordenada e de forma generalizada,
envolvendo troca de agressões entre três ou mais pessoas, em que os lutadores visam todos
os outros indistintamente.
Em suma, é uma luta, contenda entre três ou mais pessoas; briga esta que envolva vias de
fato ou violências físicas recíprocas, praticadas por cada um dos contendores (rixosos,
rixentos) contra os demais, generalizadamente.
ATENÇÃO: Para sua configuração, basta a participação dos rixosos no entrevero, no
mínimo três, de modo a não ocorrer se houver a identificação da atividade de cada um. Se
for perfeitamente possível individualizar a responsabilidade de cada um do grupo
pelos atos praticados, não há que se falar no crime de rixa. Em tal hipótese, serão
eles responsabilizados individualmente pelos fatos praticados (lesão corporal,
homicídio, contravenção penal de vias de fato).
Perceba que a ação nuclear do tipo é o verbo “participar”, que significa tomar parte, no caso,
de briga, contenda. A conduta de participar da rixa será típica tanto na hipótese de atuação
desde o início da contenda quanto na de ingresso durante ela. Cessada a briga, não há que se
falar em participação na rixa.
Objetividade jurídica: A vida e a incolumidade física e mental, bem como, de forma mediata,
a ordem pública.
Veja que a Exposição de Motivos do Código Penal estabelece que “a ratio essendi da
incriminação é dupla: a rixa concretiza um perigo à incolumidade pessoal (e nisto se
assemelha aos ‘crimes de perigo contra a vida e a saúde’) e é uma perturbação da ordem e
disciplina da convivência civil”.
Dessa forma, não há rixa quando existem dois grupos contrários, perfeitamente
definidos, lutando entre si, porque, nessa hipótese, os integrantes de cada grupo
serão responsabilizados pelas lesões corporais causadas nos integrantes do grupo
contrário.
Como pode surgir a rixa? Segundo a doutrina pátria, poderá surgir de duas formas, vejamos:
a) preordenada ou “ex proposito”: é a planejada; por exemplo: os rixosos combinam de
encontrar-se em determinado dia, local e hora para se desafiarem;
b) de improviso ou “ex improviso”: é aquela que surge de súbito, de forma inesperada, quando
as condutas são desordenadas, sem que haja previsão anterior dos participantes; por exemplo:
pessoas que assistem a um show de música, em que alguns dos integrantes da plateia se
engalfinham com os demais dando início a um entrevero.

Note-se que há posicionamento isolado na jurisprudência no sentido de que a rixa


deve sempre ser imprevista, surgir sem acordo prévio, mas tal entendimento não é o
mesmo adotado pela doutrina.
Sujeito ativo e passivo: Trata-se de crime comum (pode ser praticado por qualquer pessoa).
É crime de concurso necessário (pluressubjetivo) cuja configuração exige uma participação
de, no mínimo, três pessoas (ainda que alguns sejam menores de idade ou doentes mentais)
na troca de agressões.
Os rixosos ou contendores são os sujeitos ativos; no mínimo, três. É irrelevante que, dentro
do número mínimo, que é de três rixosos, um deles seja inimputável ou não identificado, ou
tenha morrido. Trata-se, assim, de delito plurissubjetivo ou de concurso necessário, só se
configurando se houver pluralidade de agentes.

ATENÇÃO: Trata-se de delito de condutas contrapostas.


Elemento subjetivo: é sempre o dolo na modalidade direta ou indireta. É irrelevante o motivo
que levou ao surgimento da rixa. É o dolo, consistente na vontade livre e consciente de
tomar parte na rixa. É o denominado animus rixandi.

ATENÇÃO: Se houver, por parte do agente, além do ânimo de participar na rixa, o dolo de
dano, ou seja, a intenção de ferir ou matar alguém, e se esse desiderato se materializar de
forma identificável, o agente responderá por crime, tentado ou consumado, de lesão corporal
ou de homicídio em concurso com a rixa qualificada ou simples. Por óbvio, os demais
contendores responderão somente pelo crime de rixa na forma qualificada.

Não há forma culposa!


Cuidado: Não é participante de rixa quem nela interfere para separar os contendores.
É que nessa hipótese a intenção pacificadora do agente exclui o animus rixandi.
O crime de rixa é crime de perigo abstrato. Aquele que não exige a lesão de um bem jurídico
ou a colocação deste bem em risco real e concreto. São os tipos penais que descrevem apenas
um comportamento, uma conduta, sem apontar um resultado específico como elemento
expresso do injusto.
Como pode se dar a participação no crime de rixa? Poderá ser de duas formas, vejamos:
a) material — por parte daqueles que realmente tomam parte na luta através dos chutes,
socos etc.;
b) moral — por parte daqueles que incentivam os demais através de induzimento, instigação
ou qualquer outra forma de estímulo.

Atenção: O partícipe moral, todavia, deve ser, no mínimo, a quarta pessoa, já que a rixa exige
pelo menos três na efetiva troca de agressões.
Consumação: Com a efetiva troca de agressões.
Tentativa: Em regra não é possível, pois, ou ocorre a rixa e o crime está consumado,
ou ela não se inicia, e, nesse caso, não há crime.
Cuidado: Em sentido contrário, Damásio E. de Jesus, entende ser possível a tentativa na
chamada rixa ex proposito (preordenada), em que três lutadores combinam uma briga entre si,
na qual cada um lutará com qualquer deles, sendo que a polícia intervém no exato momento
em que iriam iniciar-se as violências recíprocas.
CUIDADO: Não é possível se alegar legítima defesa na rixa, pois quem dela participa
comete ato antijurídico.
ATENÇÃO (QUESTÃO TÍPICA DE PROVA DE CONCURSOS E OAB) Se, durante a
rixa, uma pessoa empunha um revólver para atingir outro rixoso e este se defende, matando
o primeiro, responde pela rixa por que este crime já havia se consumado anteriormente. Há
legítima defesa apenas em relação ao homicídio.
Quando haverá a rixa qualificada? Prevê o art. 137, parágrafo único do CP que se ocorrer
a morte ou lesão corporal de natureza grave, aplica-se, pelo fato da participação na rixa,
a pena de detenção, de seis meses a dois anos.
Primeiramente, cabe relembrar, que pelo princípio da responsabilidade pessoal subjetiva,
que há a impossibilidade de recepção, pelo Direito Penal, da responsabilidade objetiva, isto
é, a aplicação de uma pena ao sujeito ativo de uma conduta apenas em virtude do resultado
lesivo a um bem jurídico, pela mera existência de uma relação causal entre o comportamento
e o dano realizado.
Assim, não basta a existência do nexo causal tipicamente relevante, devendo existir, também,
um vínculo psicológico, consistente na vontade consciente de realização da conduta proibida
(dolo) ou ao menos uma tal negligência (culpa), que seja determinante para a ocorrência do
dano social previsto como crime.
Sabe-se que tal princípio encontra-se previsto no Código Penal brasileiro, em seu art. 18, que
dispõe haver unicamente duas espécies de crime: Doloso, quando o agente quis o resultado
ou assumiu o risco de produzi-lo; Culposo, quando o agente deu causa ao resultado por
imprudência, negligência ou imperícia (requisitos da culpa), devendo, contudo, estar
expressamente prevista a modalidade culposa para tanto.
CUIDADO: Pela leitura do dispositivo previsto no art. 137, parágrafo único do CP,
percebe-se que há uma situação de responsabilidade penal independentemente da
culpa ou do dolo. Isso porque, havendo lesão corporal grave ou morte, todos os
rixosos por ele responderão, “pelo fato da participação na rixa”.
Destarte, o mero fato de participar de uma rixa na qual ocorra uma lesão corporal
grave ou morte impõe um pena mais severa, mesmo para aquele rixoso que não a
previu ou quis participar da mesma.
Importante: Observe que até mesmo a vítima das lesões corporais graves responderá
pela pena agravada. Por outro lado, se for descoberto o autor do resultado agravador,
ele responderá pela rixa qualificada em concurso material com o crime de lesões
corporais graves ou homicídio (doloso ou culposo, dependendo do caso), enquanto
todos os demais continuarão respondendo pela rixa qualificada.

CUIDADO: Se ocorrer lesões corporal leve ou tentativa de homicídio não há que se falar
em Rixa Qualificada.
NOSSA POSIÇÃO SOBRE A RIXA QUALIFICADA: É no sentido de que a pessoa
identificada como responsável pelo resultado agravador responderá pelas lesões graves ou
morte em concurso com rixa simples, pois puni-la pela rixa qualificada constituiria bis in
idem (dupla punição pelo mesmo fato).
É indiferente que o resultado tenha ocorrido em um dos integrantes da rixa ou em terceira
pessoa.
Se ocorrerem várias mortes, haverá crime único de rixa qualificada, devendo a circunstância
ser levada em conta na fixação da pena – base (as circunstâncias judiciais do artigo 59 do
CP).
Ambas, a rixa simples e a rixa qualificada são infrações penais de menor potencial ofensivo.
Destarte, autorizam o benefício da transação penal do artigo 76 da Lei nº 9. 099/95.
O processo e julgamento desses crimes seguem o rito sumaríssimo

Art. 137 CP - Rixa

Conceito: Rixa seria um conflito desordenado e generalizado entre vários agentes (mínimo
de três).
Onde não é fácil identificar quem cometeu qual delito. Pune-se portanto pela simples
participação na rixa, já que não identifica exatamente quem foi, de fato, autor do crime de
cada lesão.

Elementos:
- A necessidade de três agentes.
- A rixa não tem necessidade de comprovação de um dano, mas no mínimo tem que ter vias
de fato, é um crime de perigo.
- No contexto da rixa é necessário que haja violência voltada para seu interesse pessoal.

Bem jurídico tutelado (Exp. Motivo item 48):


A proteção visa dois elementos, a incolumidade pessoal das pessoas na contenda ou que
podem ser atingidas por, e secundariamente falando se pensa na proteção da ordem ou paz
pública.

Tipo objetivo: toda conduta violenta desencadeada pelo agente dentro daquele conflito,
desde vias de fato (um simples tapa), a lesões corporais leves, homicídio, etc...

Tipo subjetivo: A participação na rixa não pode ser culposa, pois é um crime de perigo e a
ação culposa neste não tem previsão, tem que se ter “animus rixandi” (vontade consciente e
livre do agente em formar uma rixa.
Agentes: Como a questão é primeiro se verificar se o delito foi cometido, se exige apenas a
participação de três pessoas, pode-se ter até mesmo dois inimputáveis na rixa para fins de
contagem, onde estes não são considerados rixosos por suas particularidades mas contam
para fim de caracterização do crime.

Formas qualificadas (§ único)


2.1. Agente ingressa antes do dano: Se um agente ingressa na rixa, ele responde como os
outros. Não podendo se retirar sua responsabilidade mesmo que um este resolva sair da rixa
posteriormente. Havendo a verificação de que houve um dano qualificador depois, este
responderá, ja que sua participação deu força a rixa.
2.2. Agente ingressa depois do dano: Ingressando depois do dano qualificador, o agente
responde apenas por rixa simples, ja que não entra na qualificação pois em tese não
contribuiu pelo resultado.

3. Questões divergentes
3.1. Lesão corporal leve: Se conseguirmos identificar o agente que praticou a lesão corporal
leve contra outro indivíduo, pensaremos uma hipótese de concurso de crimes. Esse agente
responde pela rixa em concurso material com a lesão corporal leve (haverá o cúmulo
material), enquanto que os outros respondem por rixa. Já que a lesão corporal leve esta dentro
do crime de rixa se não for identificado o autor respondem todos por rixa simples.
3.2. Rixa qualificada: agente identificado – Os participantes sempre respondem pela rixa
qualificada quando ela assim for (autonomia- pune pelo resultado mediante mera
participação da rixa), e se conseguirem identificar o autor do homicídio na participação da
rixa, o autor responde pela rixa simples + homicídio (entre outros crimes acima de vias de
fato), para evitar a punição dupla deste que seria dada se respondesse por rixa qualificada
+ homicídio ou lesão grave, etc
3.3. Rixa qualificada: agente desconhecido – todos respondem pela qualificação.
3.4. Rixa qualificada: vitima – A vitima da qualificação responde pela rixa simples, até porque
o direito penal não pune a auto-lesão, se ele foi a vitima, ele responde pelo que efetivamente
fez, a rixa simples.

4. Legitima defesa
4.1. Modificação dos meios: a desproporcionalidade no meio da briga, como no exemplo
onde alguém puxa uma arma, e outro mata este. O que matou a pessoa armada responde
apenas pela rixa que participou, a legitima defesa exclui a ilicitude do crime homicídio.
Respondendo pela rixa, onde o ato licito não pode gerar consequências punitivas nem para
agente nem para terceiros (se o único resultado qualificador tenha sido esta morte).
4.2. Separar contendores (terceiro que se insere em meio a rixa com a finalidade de separar): o
próprio tipo penal exclui a responsabilidade do agente que se insere apenas para separar briga.
Se neste momento alguém vier ameaçar de agredi-lo, ele pode retrucar para se defender.
4.3. Defender rixoso (item 48, EXP. Motivo PE/CP). – diz respeito a defender uma pessoa
apenas. Também considerado legitima defesa ao permitir a este se defender ao ser atacado,
na medida das lesões que lhe são dadas.

ANIMUS NECANDI
Termo em latim que significa dolo, vontade. É a intenção de matar, ou seja, de tirar a vida
de outra pessoa.
Fundamentação:
Artigo 121, do Código Penal
ANIMUS É LAENDENDI
Animus laedendi
(Lê-se: ánimus ledéndi.) Intenção de atacar, ferir, ofender, produzir lesões corporais (CP, art.
129).

animus furandI - disposição para furtar, praticar roubo.

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