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PARTE ESPECIAL
UNIASSELVI-PÓS
Programa de Pós-Graduação EAD
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (047) 3281-9000/3281-9090
Equipe Multidisciplinar da
Pós-Graduação EAD: Profa. Hiandra B. Götzinger Montibeller
Profa. Izilene Conceição Amaro Ewald
Profa. Jociane Stolf
345
K299d Kelner, Lenice
Direito penal II : parte especial / Lenice Kelner;
Rodrigo Koenig França. Indaial : Uniasselvi, 2012.
200 p. : il.
Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-7830-514-7
1. Direito penal.
I. Centro Universitário Leonardo da Vinci.
Lenice Kelner
APRESENTAÇÃO...................................................................... 7
CAPÍTULO 1
Crimes Contra a Pessoa......................................................... 9
CAPÍTULO 2
Crimes Contra o Patrimônio................................................ 39
CAPÍTULO 3
Crimes Contra a Honra........................................................ 77
CAPÍTULO 4
Crimes Contra o Sentimento Religioso e Contra o
Respeito aos Mortos ........................................................... 91
CAPÍTULO 5
Crimes Contra a Dignidade Sexual....................................123
CAPÍTULO 6
Crimes Contra a Família ..................................................... 147
CAPÍTULO 7
Crimes Contra a Administração Pública ..........................165
CAPÍTULO 8
Crimes Ambientais – Lei nº 9.605/98....................................185
APRESENTAÇÃO
Caro(a) pós-graduando(a):
7
C APÍTULO 1
Crimes Contra a Pessoa
Contextualização
Neste capítulo, estudaremos os “Crimes contra a pessoa”, que são aqueles
delitos que ofendem a vida e a integridade física das pessoas. São eles: Homicídio
(CP, art. 121), Participação em Suicídio (CP, art. 122), Infanticídio (CP, art. 123),
Aborto (CP, art. 125, 126, 127 e 128) e Lesões Corporais (art. 129 do CP). O
estudo dos crimes contra a pessoa é de primordial importância, pois trata do bem
jurídico mais importante a ser tutelado, que é a vida humana.
Homicídio
O homicídio, já na época de Roma, em 753 a. C. era considerado um crime
público. A Lei das XII Tábuas (450 a. C) já previa a designação de juízes especiais
para julgamento do delito de homicídio. Conferimos que na Idade Média, o
homicídio era usualmente punido com a pena de morte. Conferindo a legislação
brasileira com as Ordenações Filipinas, o crime de homicídio tinha pena aplicada
a critério do julgador, que punia seus autores com pena de morte, imposição de
mutilação e confisco de bens. Já desde o Código Penal do Império em 1830 e
o Código Penal em vigor (1940) prescrevem, como a punição aos autores dos
crimes de homicídio, a pena privativa de liberdade.
a) Conceituação
b) Classificação Doutrinária
http://pt.scribd.com/doc/39843090/Penal
www.senado.gov.br
d) Homicídio Simples
e) Homicídio qualificado
e) Homicídio culposo
§ 3º - Se o homicídio é culposo:
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Direito Penal II - Parte Especial
buscar pelo novo Código de Trânsito Brasileiro (Lei n. 9.503, de 23-9-97). Eis a
redação do crime:
www.jusbrasil.com.br/topicos/297796/principio-da-especialidade
O Código Penal Brasileiro prevê em seu art. 121, parágrafo 4º, a possibilidade
de o homicídio culposo ser qualificado, e nesses casos a pena será aumentada
em 1/3:
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Capítulo 1 Crimes Contra a Pessoa
• Aumento de pena
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Direito Penal II - Parte Especial
Atividade de Estudos:
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Capítulo 1 Crimes Contra a Pessoa
a) Conceituação
Porém, Capez (2011, p. 121) nos ensina que, “Embora o Código Penal não
incrimine o ato de dispor da própria vida, [...], considera crime toda e qualquer
conduta tendente a destruir a vida alheia”.
b) Tipo Penal
O sujeito ativo, ou seja, aquele que pode praticar o delito, nesse caso pode
ser qualquer pessoa, exceto o suicida. Por esse motivo, classifica-se de crime
comum.
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Direito Penal II - Parte Especial
homicídio. Ex.: um adulto fala para uma criança de 10 anos pular de um cobertura
e ela pula e morre, será homicídio e não o tipo penal desse artigo.
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Capítulo 1 Crimes Contra a Pessoa
Se o crime é
A pena é duplicada: praticado por motivo
egoístico.
I - se o crime é praticado por motivo egoístico (ex.: para ficar com
a herança da vítima, com o seu cargo); Se a vítima é menor
ou tem diminuída,
por qualquer causa,
II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa,
a capacidade de
a capacidade de resistência (ex.: vítima está embriagada, com resistência
depressão).
Fonte: <http://www.ebah.com.br/content/ABAAAAKrwAD/
direito-penal-parte-especial>. Acesso em: 10 dez. 2011.
Atividade de Estudos:
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Capítulo 1 Crimes Contra a Pessoa
Infanticídio
Estudaremos agora o crime de Infanticídio, ou seja, a morte do filho pela mãe
sob a influência do estado puerperal. Conferimos que, no Direito Romano, a morte
dada ao filho pela mãe era equiparada ao crime de homicídio. Temos registro que,
na Lei das XII Tábuas (século V a.C.), havia permissão para que o pai matasse o
filho que nascesse disforme ou de aspecto monstruoso, mediante o julgamento de
cinco vizinhos. A lei penal atual não tem mais o mesmo entendimento, e determina
punição para qualquer pessoa que matar seu filho.
a) Conceituação
Enfim, Prado (2010, p. 108) alerta que “admite-se qualquer meio de execução
hábil a produzir a morte do ser humano nascente ou recém-nascido (delito de
forma livre).”
b) Tipo Penal
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Capítulo 1 Crimes Contra a Pessoa
Atividade de Estudos:
Aborto
Estudaremos agora o crime de aborto, ou seja, a morte do feto pela própria
gestante. Porém, o aborto também poderá ser praticado por médico, pelo marido,
pelo namorado, tendo ou não o consentimento da gestante.
Verificamos que, em Roma, nos primeiros tempos, o aborto não era tratado
como crime. Para os romanos, o feto era tido como parte do corpo da gestante e
esta poderia dele livremente dispor. Porém, sob a influência do Cristianismo, por
volta de 374 d.C., o Direito Canônico reprovou a prática do aborto, entendendo
que o feto, ou o nascituro, morreria sem ser batizado.
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Direito Penal II - Parte Especial
a) Conceituação
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Capítulo 1 Crimes Contra a Pessoa
c) Tipo Penal
O art. 124 do Código Penal Brasileiro prevê o aborto provocado pela gestante
(autoaborto) ou com seu consentimento. Vejamos:
Perceba que a gestante que consente, incide nesse artigo, enquanto o terceiro
que executa o aborto, com concordância da gestante, responde pelo art. 126.
Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores (arts. 125 e
126) são aumentadas de 1/3, se, em consequência do aborto ou dos meios
empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza
grave; e são duplicadas se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte.
Para Greco (2010, p. 235), “no caso do aborto necessário, também conhecido
por aborto terapêutico ou profilático, não temos dúvida em afirmar que se trata de
uma causa de justificação correspondente ao estado de necessidade”.
e) Aborto sentimental
Atividade de Estudos:
Lesões Corporais
Estudaremos agora o crime de lesões corporais, ou seja, a ofensa à
integridade física da vítima.
a) Conceituação
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Direito Penal II - Parte Especial
b) Tipo Penal
O crime de lesão corporal pode ser assim classificado pelo Código Penal
Brasileiro:
§ 1º - Se resulta:
II - perigo de vida;
IV - aceleração de parto:
TIPOS DE LESÕES
CARACTERIZAÇÃO
GRAVES
É quando o ofendido não pode retornar a todas as suas comuns
Incapacidade para as atividades corporais antes de transcorridos 30 dias, contados da
ocupações habituais por data da lesão; a incapacidade não precisa ser absoluta, basta
mais de 30 dias que a lesão caracterize perigo ou imprudência no exercício das
ocupações habituais por mais de 30 dias.
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Capítulo 1 Crimes Contra a Pessoa
§ 2º - Se resulta:
II - enfermidade incurável;
IV - deformidade permanente;
V – aborto
TIPOS DE LESÕES
CARACTERIZAÇÃO
GRAVÍSSIMAS
Incapacidade permanente É caracterizada pela inabilitação ou invalidez de duração in-
para o trabalho calculável, mas não perpétua, para todo e qualquer trabalho.
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Direito Penal II - Parte Especial
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Capítulo 1 Crimes Contra a Pessoa
O crime de lesão corporal culposa está previsto no art. 129, parágrafo 6º,
confira:
§ 6º - Se a lesão é culposa:
Atividade de Estudos:
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Direito Penal II - Parte Especial
Algumas Considerações
Neste capítulo, estudamos os crimes contra a pessoa, especialmente a
abordagem dos crimes de homicídio, participação em suicídio, infanticídio, aborto
e lesão corporal. .
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Capítulo 1 Crimes Contra a Pessoa
Referências
ALMEIDA JR., A., COSTA JUNIOR, J. B. O. Lições de Medicina Legal. 14. ed.
São Paulo: Nacional, 1977.
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: parte especial. 11. ed. São Paulo:
Saraiva, 2011. v. 2
ESTEFAM, André. Direito Penal: Parte especial. São Paulo: Saraiva, 2010. v. 2
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: parte especial. 7. ed. Rio de Janeiro:
Impetus, 2010. v. 2.
MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal: parte especial. 28. ed. São
Paulo: Atlas, 2011. v. 2
PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro. 9. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2010. v. 2
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C APÍTULO 2
Crimes Contra o Patrimônio
Contextualização
Neste capítulo, estudaremos os “Crimes contra o patrimônio”, que são
aqueles delitos que ofendem o patrimônio das pessoas. São eles: furto (CP, art.
155), roubo (CP, art. 157), latrocínio (CP, art. 157, parágrafo 3º.), extorsão (CP, art.
158), extorsão mediante sequestro (CP, art. 159), apropriação indébita (CP, art.
168), estelionato (CP, art. 171) e receptação (CP, art. 180).
Do Furto
Estudaremos agora o crime de furto, que pode ocorrer de várias formas,
algumas vezes de formas simples, com a simples subtração da coisa alheia,
e em outras vezes mais elaborado, como furto com destreza, em concurso de
mais pessoas, com arrombamento, escalada, destreza, enfim, modalidades mais
elaboradas de subtrair o patrimônio alheio.
a) Conceituação
Mas observem que a subtração pode acontecer até mesmo à vista deles.
Por exemplo, o sujeito que entra em uma loja e, sob vigilância do comerciente, se
apodera da mercadoria, saindo em fuga depois.
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Direito Penal II - Parte Especial
No Código Penal Brasileiro, o furto simples é previsto no art. 155, caput, com
a seguinte redação:
Fonte: Os autores.
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Capítulo 2 Crimes Contra o Patrimônio
A lei equiparou à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha
valor econômico.
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Direito Penal II - Parte Especial
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Capítulo 2 Crimes Contra o Patrimônio
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Direito Penal II - Parte Especial
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Capítulo 2 Crimes Contra o Patrimônio
Atividade de Estudos:
Roubo
Estudaremos agora o crime de roubo, que pode ocorrer de várias maneiras,
mas sempre existindo a subtração de coisa alheia com o emprego de violência
contra a pessoa.
Pode-se dizer que o crime de roubo pode ser classificado como simples, ou
seja, há subtração e o emprego de violência contra a pessoa. Mas em outras
circunstâncias o crime de roubo pode ser classificado como qualificado, pois
acontece com o emprego de arma de fogo, ou em concurso de várias pessoas, ou
quando o veículo subtraído é transportado para outro Estado ou país.
a) Conceituação
Para Capez (2011, p. 461), “o crime de roubo constitui crime complexo, pois
é composto por fatos que individualmente constituem crimes”. São eles: furto,
mais constrangimento ilegal, mais lesão corporal leve.
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Direito Penal II - Parte Especial
Por outro lado, Greco (2010, p. 54) esclarece que “o que torna o roubo
especial em realção ao furto é justamente o emprego de violência à pessoa ou
da grave ameaça, com a finalidade de subtrair a coisa alheia móvel para si ou
para outrem”.
Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante
grave ameaça ou violência à pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer
meio, reduzido à impossibilidade de resistência:
Enfim, a lei apresenta que haja qualquer outro meio que reduza
O roubo é um a vítima à incapacidade de resistência. Diante disso, podemos dar
crime complexo, como exemplo o uso de soníferos, hipnose, superioridade numérica etc.
pois atinge mais de
um bem jurídico:
o patrimônio e a Podemos concluir que o roubo é um crime complexo, pois atinge
liberdade individual mais de um bem jurídico: o patrimônio e a liberdade individual (no caso
ou a integridade de ser empregada “grave ameaça”) ou a integridade corporal (nas
corporal.
hipóteses de “violência”).
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Capítulo 2 Crimes Contra o Patrimônio
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Direito Penal II - Parte Especial
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Capítulo 2 Crimes Contra o Patrimônio
Atividade de Estudos:
Latrocínio
Capez (2011, p. 481) define o crime de latrocínio:
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Capítulo 2 Crimes Contra o Patrimônio
Fonte: Os autores.
Atividade de Estudos:
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Direito Penal II - Parte Especial
Extorsão
Estudaremos agora o crime de Extorsão, sendo considerado por vários
autores o crime em que há emprego de ameaça para a obtenção de vantagem,
pelo temor que se infundia à vítima.
a) Conceituação
No mesmo sentido, Prado (2010, p. 373) nos ensina que “a extorsão também
é um delito complexo, porque atinge a pessoa e o patrimônio. Em consequência,
a tutela penal abrange ambos os bens jurídicos violados pela ação delituosa.
Protegem-se o patrimônio e a integridade física e psíquica do ser humano”.
Confira como a lei penal descreve o crime de extorsão e qual a pena que se
aplica.
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Capítulo 2 Crimes Contra o Patrimônio
EXTORSÃO E PENA
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Direito Penal II - Parte Especial
a) Conceituação
Mirabete (2011, p. 221) ensina que “uma extorsão [pode] ser praticada [...]
como meio para a obtenção da vantagem econômica a privação de liberdade de
uma pessoa”.
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Capítulo 2 Crimes Contra o Patrimônio
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Direito Penal II - Parte Especial
§ 3º - Se resulta a morte:
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Capítulo 2 Crimes Contra o Patrimônio
Atividade de Estudos:
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Direito Penal II - Parte Especial
Apropriação Indébita
A apropriação indébita é um crime em que o bem jurídico protegido é a
inviolabilidade patrimonial, ou seja, protege-se o direito de propriedade contra
eventuais abusos do possuidor, que possa ter a intenção de dispor da coisa alheia
como se fosse sua.
a) Conceituação
b) Tipo objetivo
APROPRIAÇÃO INDÉBITA
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Capítulo 2 Crimes Contra o Patrimônio
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Direito Penal II - Parte Especial
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Direito Penal II - Parte Especial
Estelionato
Estudaremos agora o crime de estelionato, ou seja, o crime em que o autor
usa de fraude, mentira, engodo para conseguir proveito injusto com dano alheio.
a) Conceituação
Bitencourt (2011, p. 270) nos ensina que “no estelionato, há dupla relação
causal: primeiro, a vítima é enganada mediante fraude, sendo esta a causa e
o engano o efeito; segundo, nova relação causal entre o erro, como causa, e a
obtenção de vantagem ilícita e o respectivo prejuízo, como efeito”.
Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita (de natureza
econômica; se lícita o crime será o de “exercício arbitrário das próprias razões”),
em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante
artifício (é a utilização de algum aparato ou objeto para enganar a vítima - ex.:
disfarce, efeitos especiais, documentos falsos), ardil (é a conversa enganosa), ou
qualquer outro meio fraudulento (qualquer outra artimanha capaz de enganar a
vítima - ex.: o silêncio):
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Capítulo 2 Crimes Contra o Patrimônio
Defraudação de penhor
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Capítulo 2 Crimes Contra o Patrimônio
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Direito Penal II - Parte Especial
Receptação
O bem jurídico protegido no crime de receptação é o patrimônio, público
ou privado. O objeto da receptação somente pode ser a coisa móvel. O objeto
material do crime de receptação há de ser produto de crime, isto é, há de ser o
resultado, mediato ou imediato, de um fato definido como crime.
a) Conceituação
RECEPTAÇÃO
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Direito Penal II - Parte Especial
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Direito Penal II - Parte Especial
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Capítulo 2 Crimes Contra o Patrimônio
Fonte: <http://www.buscalegis.ufsc.br/revistas/files/anexos/11475-
11475-1-PB.htm>. Acesso em: 10 jan. 2012.
Atividade de Estudos:
Algumas Considerações
Neste capítulo, estudamos os crimes contra a o patrimônio, especialmente
a abordagem dos crimes de furto, roubo, extorsão, extorsão mediante sequestro,
latrocínio, apropriação indébita, estelionato e receptação.
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Capítulo 2 Crimes Contra o Patrimônio
Referências
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: Parte especial 2. 11.
ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: parte especial. 11. ed. São Paulo:
Saraiva, 2011. v. 2
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: parte especial. 7. ed. Rio de Janeiro:
Impetus, 2010. v. 2
MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal: parte especial. 28. ed.
São Paulo: Atlas, 2011. v. 2
PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro. 9. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2010. v. 2
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C APÍTULO 3
Crimes Contra a Honra
Contextualização
Neste capítulo, estudaremos os “Crimes contra a honra”, que são aqueles
delitos que ofendem bens imateriais da pessoa humana, no caso, a sua honra
pessoal. São eles: calúnia (CP, art. 138), difamação (CP, art. 139) e injúria (CP,
art. 140).
a) Conceituação
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Direito Penal II - Parte Especial
Mas quem pode praticar os crimes contra a honra? Quem será o sujeito
ativo?
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, exceto aquelas que gozam de
imunidades, como os parlamentares (deputados e senadores quando no exercício
do mandato) (art. 53, CF); os vereadores nos limites do Município onde exercem
suas funções (art. 29, VIII, CF). Os advogados, quando no exercício regular de
suas atividades, não praticam “difamação” e “injúria”, sem prejuízo das sanções
disciplinares elencadas no Estatuto da OAB (NAZARENO, 2011).
Imputa falsamente (se verdadeira, o fato é atípico) fato definido como crime;
CALÚNIA atinge a honra objetiva - ex.: foi você que furtou o dinheiro da carteira de João
ontem à noite.
Imputa fato (não se exige que a imputação seja falsa) não criminoso ofensi-
DIFAMAÇÃO vo à reputação; atinge a honra objetiva - ex.: você não sai daquela boate de
prostituição.
Não se imputa fato, atribui-se uma qualidade negativa; ofensiva à dignidade ou
INJÚRIA
decoro da vítima; atinge a honra subjetiva - ex. você é cego e chifrudo.
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Capítulo 3 Crimes Contra a Honra
• Calúnia
Perceba que o art. 138 do Código Penal prevê a calúnia contra os mortos.
Importante ressaltar que o morto não é sujeito passivo de delito, mas o sujeito
passivo são os familiares.
1) imputação de um fato;
2) esse fato deve ser qualificado como crime;
3) essa imputação deve ser falsa.
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Capítulo 3 Crimes Contra a Honra
• Difamação
Desta forma não deve o fato imputado ser criminoso, pois, do contrário,
restará configurado o crime de calúnia.
Capez (2011, p. 299) nos alerta que o “fato deve ser concreto, determinado,
não sendo preciso, contudo, descrevê-lo em minúcias. Por outro lado, a imputação
vaga e imprecisa, ou seja, em termos genéricos, não configura difamação”.
• Injúria
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Capítulo 3 Crimes Contra a Honra
Pena - detenção, de
• Injúria Real 3 meses a 1 ano, e
multa, além da pena
O Código Penal Brasileiro prevê a injúria real como uma forma correspondente
à violência.
qualificada do crime, atribuindo pena superior:
85
Direito Penal II - Parte Especial
No crime de injúria real, dois são os bens ofendidos pelo crime, ou seja:
a honra individual e a incolumidade física.
Perceba que neste crime será necessário acontecer juntamente com a injúria,
a violência ou vias de fato.
Já as vias de fato são ofensas físicas que não produzem lesões e não deixam
vestígios, como por exemplo: bofetadas, puxão de cabelo, levantar a saia, rasgar
a roupa etc.
Resta claro que o crime de injúria por preconceito ocorre quando a intenção é
humilhar, com a intenção de demonstrar uma inferioridade do indivíduo em virtude
da raça.
Disposições Comuns
Para todos os crimes contra a honra, quer sejam de calúnia, dimação ou
injúria, as penas serão aumentadas de 1/3 se o crime é cometido:
Atividade de Estudos:
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Capítulo 3 Crimes Contra a Honra
Algumas Considerações
Neste capítulo, estudamos os crimes contra a honra, especialmente a
abordagem dos crimes de calúnia, difamação e injúria.
Referências
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: volume 2, parte especial. 11 ed. São
Paulo: Saraiva, 2011.
MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal: parte especial. 28 ed. São
Paulo: Atlas, 2011. v. 2
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C APÍTULO 4
Crimes Contra o Sentimento
Religioso e Contra o
Respeito aos Mortos
Contextualização
Neste capítulo, estudaremos os “crimes contra o sentimento religioso e
contra o respeito aos mortos”, que são aqueles delitos que ofendem o sentimento
do culto religioso e respeito aos mortos.
tem um fundo religioso. Por esse motivo, o legislador de 1940 optou por classificar,
em um mesmo título, os crimes praticados com relação ao sentimento religioso e
os praticados contra os mortos (BITENCOURT, 2011, p.446).
b) Sujeitos do Crime
c) Tipo Objetivo
• 1ª Escarnecer
• 2ª Impedir
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Direito Penal II - Parte Especial
• 3ª Vilipendiar
d) Tipo Subjetivo
f) Consumação e Tentativa
g) Classificação Jurídica
h) Ação Penal
i) Aumento de Pena
Para Greco (2010, p. 443), trata-se neste caso de um bis in idem. Não nos
parece, contudo, acertada essa visão. Nesta visão, Bitencourt indaga a respeito
da possibilidade de a violência não configurar crime autônomo e, portanto, não se
dê o cúmulo material compulsório apregoado pela norma? A resposta é afirmativa,
posto que a violência utilizada pode constituir somente vias de fato (artigo 21 do
Decreto-Lei 3.688/41).
Art. 208
Para a configuração do artigo 208, é necessário que o escárnio seja dirigido a de-
terminada pessoa, sendo que a assertiva de que determinadas religiões traduzem
1ª PARTE
“possessões demoníacas” ou “espíritos imundos” espelham tão somente posições
ideológicas, dogmáticas ou crenças religiosas (TACrSP, RJDTACr 23/374).
98
Capítulo 4 Crimes Contra o
Sentimento Religioso e
Contra o Respeito aos Mortos
Foi abusivo o ato do réu que [...] desbordou por escândalo, vociferando em
público, de maneira a interromper o ato que se realizava no templo repleto de fiéis.
Desrespeitou a garantia constitucional do livre exercício do culto religioso e sua
liturgia (TACrSP, APCR 534.549-2). Efetuar disparos de arma de fogo diante da
capela em que o sacerdote proferia o sermão da missa, perturbando, deste modo,
o culto, configura o delito do artigo 208 do CP, que exige apenas o dolo eventual
(TACrSP, RT 419/293). Incide no sermão do artigo 208 do CP aquele que, embria-
2ª PARTE
gado e de short, ingressa na igreja no momento da celebração da missa, pertur-
bando a cerimônia com palavrões (TACrSP. RT 491/318). Incide no artigo 208 do
CP, porque, animado, põe evidente dolo, o agente que, agindo com o intuito de
perturbar o culto religioso, entre outros artifícios, direciona possantes alto-falantes
para o prédio da igreja e liga os aparelhos em altíssimo volume com músicas car-
navalescas e, em outras oportunidades, faz uso de estampido de bombas juninas,
tudo para impedir as orações de os cânticos dos fiéis (TACrSP, BNJ 81/13).
Fonte: Os autores.
Impedimento ou Perturbação de
Cerimônia Funerária
De acordo com o CP:
Art. 209 - Impedir ou
Art. 209 - Impedir ou perturbar enterro ou
perturbar enterro ou
cerimônia funerária:
cerimônia funerária:
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa.
Pena - detenção, de
Parágrafo único - Se há emprego de violência, a um mês a um ano,
pena é aumentada de um terço, sem prejuízo da ou multa.
correspondente à violência.
Parágrafo único -
a) Considerações Iniciais Se há emprego de
violência, a pena é
Segunda Cunha (2010, p. 244), ao dar suas considerações aumentada de um
terço, sem prejuízo
acerca do tipo penal em tela, leciona que “a cultura de respeito aos
da correspondente
mortos se reporta às mais primitivas formas de vivência em sociedade, à violência.
tendo sido-lhes sempre conferido notável acatamento em virtude,
99
Direito Penal II - Parte Especial
Leciona ainda que a tutela penal atua neste caso em favor do sentimento de
respeito aos mortos. O respeito aos mortos é um relevante valor ético-social, e
como tal, um interesse digno, por si mesmo, da tutela penal.
Relata ainda o autor que calha a lembrar que a Lei 9.434/97, relativa à
retirada de tecidos, órgãos ou partes do corpo humano para fins de transplantes e
outros objetivos terapêuticos, preconiza a necessidade de se respeitar a vontade
dos familiares quanto à destinação dos restos mortais, incriminando diversos atos
daí decorrentes, inclusive o fato de deixar de recompor condignamente o cadáver
ou seus restos para ser entregue aos familiares, visando ao seu sepultamento.
Reforça este diploma, portanto, o valor acima traçado, consistente no sentimento
de dignidade à pessoa morta.
100
Capítulo 4 Crimes Contra o
Sentimento Religioso e
Contra o Respeito aos Mortos
d) Tipo Objetivo
e) Tipo Subjetivo
Crê-se, entretanto, que é mister esse outro dolo, que é o fim ou o escopo de
transgredir ou violar o sentimento de piedade para os que não mais vivem. É o
que especifica o crime. Se por exemplo um parente do morto, indignado com a
empresa funerária pela má qualidade do esquife enviado, o danifica ou destrói,
não cremos haver praticado o delito em apreço, pois o objetivo da pessoa é
justamente protestar contra o que se reputa falta de consideração ou deferência
para o ente querido. A jurisprudência tem decidido que basta o dolo eventual, a
consciência de que perturba, com sua conduta, a cerimônia funerária (TACrSP,
RT 410/313).
f) Forma culposa
g) Consumação e Tentativa
h) Classificação Jurídica
102
Capítulo 4 Crimes Contra o
Sentimento Religioso e
Contra o Respeito aos Mortos
Mirabete (2011, p. 374) entende que pode ocorrer o delito “por omissão”,
como no caso de não se fornecer o esquife, a viatura para transporte e as chaves
do túmulo por exemplo.
i) Ação Penal
j) Aumento de Pena
Bitencourt (2011, p. 455) ensina que “não há forma qualificada com novos
limites mínimo e máximo, mas somente uma majorante especial, isso é, quando
praticado mediante violência, nesse sentido, o delito neste parâmetro é idêntico
ao artigo 208 do diploma estudado”.
k) Confronto
Violação de Sepultura
De acordo com o
De acordo com o CP:
CP:
Art. 210 - Violar ou profanar sepultura ou urna
funerária: Art. 210 - Violar ou
profanar sepultura
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa. ou urna funerária:
Pena - reclusão, de
a) Considerações Iniciais um a três anos,
e multa.
103
Direito Penal II - Parte Especial
b) Transação Penal
Tendo em vista que, a exemplo do que já fizera a Lei dos Juizados Especiais
Criminais Federais (Lei n° 10.259/01), o artigo 61 da Lei dos Juizados Especiais
Criminais Estaduais (Lei nº 9.099/95), modificado pela Lei n° 11.313/2006,
considera-se infrações penais de menor potencial ofensivo as contravenções e os
crimes com pena máxima não superior a dois anos, assim, aquele que pratica o
delito in casu não fará jus ao benefício da transação penal.
c) Sujeitos do Crime
d) Tipo Objetivo
e) Tipo Subjetivo
f) Forma Culposa
g) Consumação e Tentativa
Por outro lado, Estefam (2009, p. 120) acredita que a mera e simples violação
pode, em tese, configurar tentativa. Assim, expõe um exemplo: “Uma pessoa pode
ser surpreendida pelo zelador do cemitério prestes a conspurcar a lápide de um
túmulo, não consumando por isso seu intento”.
h) Classificação Jurídica
O delito sob exame pode ser definido como crime de forma livre ou onímodo
(comporta qualquer modo de execução), comum (não se exige qualquer
condição especial do sujeito ativo), monossubjetivo ou de concurso eventual
(pode ser praticado por uma pessoa ou por várias em comunhão de desígnios),
plurissubsistente (seu iter criminis permite fracionamento em dois ou mais
atos executórios,), material (depende do resultado naturalístico para efeito de
consumação), e instantâneo (ESTEFAM 2009).
i) Ação Penal
j) Excludentes de Ilicitude
Por outro lado, o ato de inumar ou exumar cadáver, com infração das
disposições legais, não pode ser considerado como excludente, mas sim como
contravenção penal, pois seus atos devem ser punidos mediante prisão simples
de um mês a um ano, ou multa (art. 67 do Decreto-Lei n° 3.688/41).
k) Concurso de Crimes
A solução para a quaestio, segundo o autor, deve ser pautada pela análise da
finalidade a que se dirige a conduta, ou seja, pelo elemento subjetivo do injusto.
Quando alguma pessoa viola o local em que se encontram os restos mortais
de alguém, visando ao apoderamento destes, atua animus rem sibi habendi e,
portanto, não deve responder pelo crime do artigo 210, mas por subtração de
cadáver (art. 211) ou furto (art. 155), conforme a natureza do objeto material (por
107
Direito Penal II - Parte Especial
exemplo: se a res for o cadáver ou parte deste, dar-se-á o crime do artigo 211, se
for algo que ornamenta a sepultura, como uma placa de bronze, ou restos mortais
que não mais guardem conexão simbólica com a pessoa falecida, haverá furto).
Atividade de Estudos:
108
Capítulo 4 Crimes Contra o
Sentimento Religioso e
Contra o Respeito aos Mortos
a) Considerações Iniciais
b) Transação Penal
Tendo em vista que, a exemplo do que já fizera a Lei dos Juizados Especiais
Criminais Federais (Lei n° 10.259/01), o artigo 61 da Lei dos Juizados Especiais
Criminais Estaduais (Lei nº 9.099/95), modificado pela Lei n° 11.313/2006,
consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo as contravenções e
os crimes com pena máxima não superior a dois anos, assim, aquele que pratica
o delito in casu não fará jus ao benefício da transação penal.
c) Sujeitos do Crime
d) Tipo Objetivo
Bitencourt (2011, p. 464) ensina que: para uma corrente, o natimorto e o feto
não são cadáveres por lhes faltar o elemento essencial para caracterizá-los como
tais: vida extrauterina autônoma. Para essa concepção, portanto, cadáver refere-
se aos
e) Tipo Subjetivo
110
Capítulo 4 Crimes Contra o
Sentimento Religioso e
Contra o Respeito aos Mortos
f) Forma culposa
g) Consumação e Tentativa
h) Classificação Jurídica
Trata-se de crime doloso, de ação múltipla ou conteúdo varado (uma vez que
a norma penal contém diversos verbos nucleares, alternativamente capazes de
caracterizar o crime), comum (qualquer pessoa pode figurar como sujeito ativo),
monossubjetivo ou de concurso eventual (pode ser cometido por uma pessoa
ou várias em concurso), plurissubsistente (o comportamento criminoso pode ser
cindido em mais de um ato), instantâneo (salvo na modalidade “ocultar”, em que
111
Direito Penal II - Parte Especial
i) Ação Penal
j) Distinção
k) Concurso de Crimes
112
Capítulo 4 Crimes Contra o
Sentimento Religioso e
Contra o Respeito aos Mortos
l) Jurisprudência
• Feto: O feto que não atingiu maturidade para ser expulso a termo não pode
ser considerado cadáver (TJMS, RT 624/355; contra, tendo o feto dois meses:
TJSP, RJTJSP 118/516, ou nove meses: TJSP, mv – RJTJSP 164/290).
Configura-se o crime se o feto teve vida extrauterina (TJSP, RT 478/308,
463/339). O natimorto, expulso a termo, é cadáver (TJSP, RJTJSP 72/352).
• Cadáver com Aparência Humana: Para fins deste art. 211, os restos
humanos em estado quase completo de esqueletização não são considerados
cadáveres (TJSP, RT 479/304).
Vilipêndio a Cadáver
De acordo com o De acordo com o CP:
CP:
Art. 212 - Vilipendiar cadáver ou suas cinzas:
Art. 212 -
Vilipendiar cadáver Pena - detenção, de um a três anos, e multa.
ou suas cinzas:
c) Sujeitos do Crime
Na realidade, a definição de quem pode ser sujeito passivo desse crime deve
estar intimamente vinculada ao bem jurídico tutelado e, na medida em que se
admite que esse bem jurídico é “o sentimento dos parentes e amigos do morto
e não o próprio de cujus”, o sujeito passivo direto só podem ser os parentes e
amigos, restando a coletividade, secundariamente, como titular passivo. Por mais
que se queira argumentar, nenhuma coletividade, por mais harmônica, integrada
e coesa que seja, sentirá mais perda de um de seus membros que os próprios
familiares, não sendo, portanto, justo nem sensato que aquela e não estes sejam
sujeito passivo deste crime (BITENCOURT, 2011).
d) Tipo Objetivo
115
Direito Penal II - Parte Especial
Luiz Régis Prado (2010, p. 243), ao discorrer sobre o objeto material do delito
(cadáver ou suas cinzas), faz o seguinte apontamento:
Noronha (1994, p. 88-89) nos ensina que “deve-se entender que, neste delito,
igualmente, podem ser objetos do delito os esqueletos, pois se a lei menciona
tanto o cadáver, quanto suas cinzas, ou seja, os extremos, não há motivo para se
desconsiderar que se encontra entre essas duas situações”.
e) Tipo Subjetivo
116
Capítulo 4 Crimes Contra o
Sentimento Religioso e
Contra o Respeito aos Mortos
f) Forma culposa
g) Consumação e Tentativa
h) Classificação Jurídica
i) Ação Penal
117
Direito Penal II - Parte Especial
k) Concurso de Crimes
Toma-se este exemplo: “fulano, que agora jaz, sempre foi um imoral, pois
nunca respeitou seu leito conjugal, em que fornicava com sua vizinha Beltrana”
– trata-se de injúria que reflexamente fere a honra da vizinha. Há, em tal caso,
vilipêndio a cadáver e injúria (art. 140 do CP). Nesse caso em específico, os
sujeitos passivos são, respectivamente, a família e os amigos do de cujus e a
vizinha acusada de adultério (ESTEFAM, 2011).
118
Capítulo 4 Crimes Contra o
Sentimento Religioso e
Contra o Respeito aos Mortos
• Erro de Tipo (CP, art. 20): Como deve-se enquadrar penalmente o ato de
vilipendiar sobre um corpo inerente, acreditando o agente equivocadamente
que a pessoa faleceu, quando, na verdade, ainda vive? Estefam (2011)
sustenta haver erro sobre a pessoa, devendo aplicar-se, portanto, o atual art.
20, parágrafo 3º, do CP, ou seja, imputar-se-ia ao agente o crime do art. 212
do CP, tratando-se o episódio como erro acidental (incapaz de excluir o dolo).
O próprio autor discordava dessa solução, aduzindo que deveria ser aplicado
o artigo 17 do CP, o que seria equivalente ao art. 20 do mesmo diploma legal,
ou seja, erro de tipo essencial. Correta a resposta do saudoso mestre. A falsa
percepção da realidade, na hipótese formulada, atinge elementar do crime e,
destarte, retira o dolo da conduta. Não há falar-se em vilipêndio a cadáver se o
autor da conduta crê, erroneamente, que a pessoa se encontrava viva. Falta-
lhe o elemento subjetivo do tipo, correspondente à vontade e consciência de
realizar a conduta típica (ofensa a um falecido).
l) Jurisprudência
119
Direito Penal II - Parte Especial
120
Capítulo 4 Crimes Contra o
Sentimento Religioso e
Contra o Respeito aos Mortos
Atividade de Estudos:
Algumas Considerações
Neste capítulo, estudamos os crimes contra a o sentimento religioso e os
crimes contra o respeito aos mortos.
121
Direito Penal II - Parte Especial
Referências
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal 3 – Parte Especial. 7ª
ed. – São Paulo: Saraiva, 2011.
CUNHA, Rogério Sanches. Direito Penal - Parte Especial. 3ª ed. rev. e atual –
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010.
DELMANTO, Celso, et al. Código Penal Comentado – 8ª ed. rev. e atual. - São
Paulo: Saraiva, 2010.
ESTEFAM, André. Direito Penal – Parte Especial (arts. 184 a 285). Volume 3. –
São Paulo: Saraiva, 2011.
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: parte especial, volume 2. 7ª ed. Rio
de Janeiro: Impetus, 2010.
JESUS. Damásio E. Direito Penal: parte especial, volume 3, 15ª ed. - São Paulo:
Ed. Saraiva, 2002.
NORONHA, E. Magalhães. Direito Penal: dos crimes contra a pessoa. 26ª ed.
São Paulo, Saraiva, 1994, v. 3.
PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro: volume 2. 9ª ed. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2010.
122
C APÍTULO 5
Crimes Contra a Dignidade Sexual
Contextualização
Neste capítulo, serão analisados alguns dos principais crimes sexuais
previstos no Código Penal, bem como as alterações advindas da Lei nº 12.015/09,
compatibilizando os dispositivos penais à Constituição Federal de 1988.
Estupro
De acordo com Art. 213 do CP,
De acordo com Art.
Art. 213. Constranger alguém, mediante violência 213 do CP,
ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a Art. 213.
praticar ou permitir que com ele se pratique outro Constranger alguém,
ato libidinoso: mediante violência
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos. ou grave ameaça, a
ter conjunção carnal
Os crimes contra a liberdade sexual atingem a dignidade da ou a praticar ou
pessoa humana, impingindo à vítima sofrimento físico e moral, sendo permitir que com ele
o estupro uma das condutas mais repugnantes descritas no Código se pratique outro ato
libidinoso:
Penal brasileiro.
Pena - reclusão, de
6 (seis) a 10
Com o advento da Lei 12.015, de 7 de agosto de 2009, efetivou- (dez) anos.
se a unificação das figuras anteriormente denominadas estupro e
atentado violento ao pudor, ampliando-se o conceito de estupro,
passando a abranger tanto a conjunção carnal quanto a prática de outros atos
libidinosos.
125
Direito Penal II - Parte Especial
a) Tipo Objetivo
126
Capítulo 5 Crimes Contra a Dignidade Sexual
127
Direito Penal II - Parte Especial
128
Capítulo 5 Crimes Contra a Dignidade Sexual
O ato libidinoso pode ser caracterizado por diversas formas, inclusive sem o
contato de órgãos sexuais (RT 429/380). Tem-se como exemplo o caso do agente
que, utilizando-se de violência, beija a vítima de forma lasciva, ou apalpa seus
seios ou nádegas. Entretanto, há doutrinadores que não aceitam a tipificação
da conduta como estupro em sentido lato, diante da desproporcionalidade da
reprimenda penal com o ato praticado.
d) Sujeitos do Crime
e) Elemento Subjetivo
f) Consumação e Tentativa
g) Concurso de Pessoas
h) Resultados Qualificadores
131
Direito Penal II - Parte Especial
Sobre o tema:
132
Capítulo 5 Crimes Contra a Dignidade Sexual
i) Ação Penal
A ação penal nos crimes contra a liberdade sexual é, com a alteração trazida
pela Lei nº 12.015/2009, pública condicionada à representação, ao que, em se
tratando de vítima com idade inferior a dezoito anos ou pessoa vulnerável, a ação
é pública incondicionada.
133
Direito Penal II - Parte Especial
Atividade de Estudos:
Estupro de Vulnerável
De acordo com o CP:
De acordo com o
CP:
Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso
com menor de 14 (catorze) anos:
Art. 217-A. Ter
conjunção carnal Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.
ou praticar outro
ato libidinoso § 1º Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas
com menor de 14 no caput com alguém que, por enfermidade ou deficiência
(catorze) anos: mental, não tem o necessário discernimento para a prática
do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer
Pena - reclusão, resistência.
de 8 (oito) a 15
(quinze) anos. O artigo 224 do Código Penal, que arrolava os casos em que
se presumia a violência, foi expressamente revogado pela Lei nº
12.015/09. Destarte, não será mais possível a utilização de norma de
extensão para que o agente incida nas penas do artigo 213.
134
Capítulo 5 Crimes Contra a Dignidade Sexual
135
Direito Penal II - Parte Especial
a) Tipo Objetivo
A ação típica é ter conjunção carnal ou praticar qualquer ato libidinoso com
menor de quatorze anos (caput), tipificando-se a conduta quando o agente se
utiliza da inocência da vítima para manter consigo atos de libidinagem, não sendo
requisito obrigatório o emprego de violência ou grave ameaça.
b) Sujeitos do Crime
c) Elemento Subjetivo
d) Consumação e Tentativa
e) Resultados Qualificadores
Assédio Sexual
De acordo com o CP
De acordo com o
CP Art. 216-A. Constranger alguém com o intuito de obter
Art. 216-A. vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente
Constranger da sua condição de superior hierárquico ou ascendência
alguém com o inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função.
intuito de obter
Pena: detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos.
vantagem ou
favorecimento § 2º A pena é aumentada em até um terço se a vítima é menor
sexual, de 18 (dezoito) anos.
prevalecendo-
se o agente da Caracterizado pela pluriofensividade, são bens jurídicos protegidos
sua condição de no dispositivo a dignidade e liberdade sexual do homem ou mulher, bem
superior hierárquico
como a dignidade na relação trabalhista, impedindo que o exercício de
ou ascendência
sua atividade se torne um constante embaraço ou suplício.
inerentes ao
exercício de
emprego, cargo ou A Lei nº 12.015/09 apenas acrescentou o § 2º ao tipo penal, não
função. alterando o caput.
Pena: detenção, de
1 (um) a 2 (dois)
anos. a) Tipo Objetivo
§ 2º A pena é
aumentada em Para Cezar Roberto Bitencourt (2009, p. 31), assediar sexualmente,
até um terço se a ou melhor, constranger, implica em importunação séria, grave, ofensiva,
vítima é menor de chantagista ou ameaçadora a alguém subordinado de uma relação de
18 (dezoito) anos.
hierarquia ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo
138
Capítulo 5 Crimes Contra a Dignidade Sexual
139
Direito Penal II - Parte Especial
c) Elemento Subjetivo
d) Consumação e Tentativa
e) Resultados Qualificadores
A pena é aumentada em até um terço se a vítima é menor de 18 (dezoito)
140
Capítulo 5 Crimes Contra a Dignidade Sexual
Favorecimento da Prostituição ou
outra Forma de Exploração Sexual
De acordo com o CP: De acordo com o
CP:
Art. 228. Induzir ou atrair alguém à prostituição
ou outra forma de exploração sexual, facilitá-la, Art. 228. Induzir
impedir ou dificultar que alguém a abandone: ou atrair alguém à
prostituição ou outra
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
forma de exploração
sexual, facilitá-la,
Sabe-se que a prostituição é fato atípico, indiferente ao Direito impedir ou dificultar
Penal; contudo, a lei pune aqueles que estimulam a existência do que alguém a
comércio carnal, com ou sem finalidade de lucro, tutelando-se a abandone:
moralidade pública sexual, com o objetivo de evitar o incremento e o Pena - reclusão, de
desenvolvimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual. 2 (dois) a 5 (cinco)
anos, e multa.
Com a Lei nº 12.015/2009, o legislador incluiu no artigo 228 o
termo exploração sexual, criminalizando um rol maior de condutas. Considerando
o termo exploração sexual mais amplo que prostituição, o professor Rogério
Sanches da Cunha, citando Eva Faleiros, traz a seguinte definição:
141
Direito Penal II - Parte Especial
a) Tipo Objetivo
Se há emprego
de violência Se há emprego de violência (vis corporalis), grave ameaça (vis
(vis corporalis), comlulsiva) ou fraude (ardil, artifício), a pena será de quatro a dez anos,
grave ameaça além da pena correspondente à violência (§ 2º).
(vis comlulsiva)
ou fraude (ardil,
artifício), a pena b) Sujeitos do Crime
será de quatro
a dez anos, Trata-se de crime comum, podendo ser praticado por qualquer
além da pena
pessoa, homem ou mulher, ao que eventual qualidade especial do
correspondente à
violência (§ 2º). agente em relação à vítima (ascendente, descendente, tutor etc.),
qualifica o crime (§ 1º).
142
Capítulo 5 Crimes Contra a Dignidade Sexual
Sujeito passivo pode ser qualquer pessoa, homem ou mulher, não menor
de 18 anos (hipótese que poderá configurar o crime previsto no artigo 218-B
do Código Penal), inclusive os já prostituídos, quando a tenha sido facilitada ou
impedido de deixar a prostituição, independentemente da opção sexual.
c) Elemento Subjetivo
d) Consumação e Tentativa
e) Resultados Qualificadores
143
Direito Penal II - Parte Especial
Atividade de Estudos:
Algumas Considerações
No presente capítulo estudamos os crimes contra a dignidade sexual e
as alterações advindas com a Lei 12.015/2009. Muitas questões polêmicas
permanecem em aberto, notadamente quanto à classificação do artigo 213 do
Código Penal – Tipo Misto Alternativo ou Tipo Misto Cumulativo, interferindo no
quantum de pena que será imposto ao sujeito ativo que praticar coitos ou atos
libidinosos distintos na vítima, no mesmo contexto.
144
Capítulo 5 Crimes Contra a Dignidade Sexual
Referências
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal. Parte especial 2. 11
ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: parte especial. 11 ed. São Paulo:
Saraiva, 2011. v. 2.
ESTEFAM, André. Direito Penal: Parte especial. São Paulo: Saraiva, 2010. v. 2.
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: parte especial. 7 ed. Rio de Janeiro:
Impetus, 2010. v. 2.
PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro: volume 2. 9 ed. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2010.
145
C APÍTULO 6
Crimes Contra a Família
Contextualização
No capítulo anterior, analisamos os crimes contra a dignidade sexual, bem
como toda divergência doutrinária e jurisprudencial quanto às alterações advindas
com a Lei nº 12.015/2009.
Bigamia
De acordo com o CP:
CP:
Art. 235 - Contrair alguém, sendo casado, novo
casamento: Art. 235 - Contrair
alguém, sendo
Pena - reclusão, de dois a seis anos. casado, novo
casamento:
§ 1º - Aquele que, não sendo casado, contrai Pena - reclusão, de
casamento com pessoa casada, conhecendo dois a seis anos.
essa circunstância, é punido com reclusão ou § 1º - Aquele que,
detenção, de um a três anos.
não sendo casado,
contrai casamento
[...]
com pessoa casada,
conhecendo essa
O Brasil adota a monogamia como forma de organização familiar. circunstância, é
O termo bigamia é dirigido somente àquele que, sendo casado, contrai punido com reclusão
novo casamento. Isso significa que o outro cônjuge que contraiu ou detenção, de um
casamento sem conhecimento do óbice legal não pratica a infração a três anos.
penal sob análise, sendo considerado, em regra, um dos sujeitos
passivos do delito de bigamia.
149
Direito Penal II - Parte Especial
a) Tipo Objetivo
A lei não exige que o casamento anterior seja válido, desde que vigente, ao
que em sendo nulo ou anulável, até que se declare a nulidade, produzirá seus
efeitos e servirá para caracterizar o crime de bigamia.
150
Capítulo 6 Crimes Contra a Família
b) Concurso de Crimes
• Poligamia
151
Direito Penal II - Parte Especial
c) Sujeitos do Crime
O caput tem como sujeito ativo a pessoa já casada. Cuida-se de crime próprio
de concurso necessário, demandando duas pessoas para sua execução, mesmo
que uma delas não seja culpável. Por essa razão é denominado crime bilateral ou
de encontro.
Para Luiz Régis Prado (2010, p. 681), “as testemunhas que afirmam a
inexistência de impedimento, sabendo que um dos nubentes é pessoa casada,
respondem como partícipe”. Sujeito passivo é o Estado, bem como o cônjuge do
primeiro casamento e o contraente de boa-fé.
d) Elemento Subjetivo
e) Consumação e Tentativa
A ação penal será pública incondicionada. Se houver ação civil em curso que
trata da nulidade do primeiro casamento, a ação penal deve ser suspensa, pois
se trata de questão prejudicial, aplicando-se o disposto no artigo 92 do Código de
Processo Penal.
h) Prescrição
a) Tipo Objetivo
Dispõe o artigo 1.550, inciso VI, do Código Civil, que o casamento realizado
nessas circunstâncias (por autoridade incompetente) é anulável, reconhecendo,
assim, a boa-fé dos noivos, induzidos ao erro pelo falso celebrante.
b) Sujeitos do Crime
Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo do crime, não se exigindo nenhuma
condição especial do autor, podendo inclusive ser funcionário público. Sujeito
passivo será o Estado, bem como os cônjuges que contraírem o falso casamento
de boa-fé.
c) Elemento Subjetivo
d) Consumação e Tentativa
e) Ação Penal
154
Capítulo 6 Crimes Contra a Família
Simulação de Casamento
De acordo com o CP:
De acordo com o
Art. 239 - Simular casamento mediante engano CP:
de outra pessoa:
Art. 239 - Simular
Pena - detenção, de um a três anos, se o fato não casamento mediante
constitui elemento de crime mais grave. engano de outra
pessoa:
A instituição do matrimônio e a organização familiar (artigo 226 da Pena - detenção, de
Constituição Federal de 1988) não são os únicos bens juridicamente um a três anos, se
protegidos pelo delito, ao que, ainda, o tipo penal visa proteger a o fato não constitui
elemento de crime
segurança jurídica da celebração do casamento.
mais grave.
a) Tipo Objetivo
b) Sujeitos do Crime
Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo do crime, não se exigindo nenhuma
condição especial do autor. Sujeito passivo é o Estado, bem como o cônjuge que
contraiu casamento enganado. Luiz Régis Prado (2010, p.695) alerta que “todos
os que participem do casamento, tendo ciência da simulação, serão havidos como
coautores do delito”.
c) Elemento Subjetivo
155
Direito Penal II - Parte Especial
d) Consumação e Tentativa
e) Ação Penal
a) Tipo Objetivo
b) Sujeitos do Crime
Qualquer pessoa pode praticar o delito. Segundo Luiz Régis Prado (2010, p.
698), é bem possível que o sujeito ativo seja pessoa estranha à família ou, ainda, o
oficial do Registro Civil. O médico que fornece o atestado de nascimento inexistente
e as testemunhas do suposto nascimento podem figurar como partícipes do crime.
156
Capítulo 6 Crimes Contra a Família
c) Elemento Subjetivo
d) Consumação e Tentativa
157
Direito Penal II - Parte Especial
a) Tipo Objetivo
• A terceira ação criminosa se verifica quando o agente deixar, sem justa causa,
de socorrer descendente ou ascendente, gravemente enfermo. Não se trata de
omitir os meios de subsistência que devem ser garantidos ao sujeito passivo,
mas o amparo de que necessita em razão de grave enfermidade (física ou
mental), como medicamentos, acompanhamento médico, acomodação
hospitalar etc. O legislador, nesta figura, deixou de incluir os cônjuges ou
parentes colaterais.
aquele que abandona o emprego, mas também que de qualquer modo frustra ou
ilide o adimplemento da pensão.
c) Sujeitos do Crime
d) Elemento Subjetivo
e) Consumação e Tentativa
159
Direito Penal II - Parte Especial
g) Ação Penal
Abandono Intelectual
De acordo com o CP:
De acordo com o
CP: Art. 246 - Deixar, sem justa causa, de prover à instrução
primária de filho em idade escolar:
Art. 246 - Deixar,
sem justa causa, de Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.
prover à instrução
primária de filho em
idade escolar: Bem jurídico tutelado é o direito à instrução fundamental dos filhos
Pena - detenção, em idade escolar, consistente no dever de cuidados dos genitores
de quinze dias a um (artigo 229 da Constituição Federal de 1988).
mês, ou multa.
a) Tipo Objetivo
160
Capítulo 6 Crimes Contra a Família
b) Sujeitos do Crime
c) Elemento Subjetivo
d) Consumação e Tentativa
161
Direito Penal II - Parte Especial
e) Ação Penal
Atividade de Estudos:
Algumas Considerações
Neste capítulo estudamos os crimes contra o casamento e contra a
assistência familiar, bem como sua inter-relação com os outros ramos do direto,
notadamente o direito civil.
Referências
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: Parte especial 2. 11
ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: parte especial. 11.ed. São Paulo:
Saraiva, 2010. v. 2
ESTEFAM, André. Direito Penal: Parte especial. São Paulo: Saraiva, 2010. v. 2
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: parte especial. 7 ed. Rio de Janeiro:
Impetus, 2010.
PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro. 9 ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2010. v. 2
163
C APÍTULO 7
Crimes Contra a
Administração Pública
Contextualização
Neste capítulo estudaremos os crimes contra a administração pública,
notadamente os crimes funcionais, que somente podem ser praticados de forma
direta por funcionário público, no exercício de suas funções ou em razão dela.
Crimes dessa natureza, segundo Rogério Sanches Cunha (2009), afetam sempre
a probidade administrativa, promovendo a desvirtuação da administração pública
nas suas várias camadas, ferindo, dentre outros, os princípios basilares esculpidos
no artigo 37 da Constituição Federal de 1988. Os crimes funcionais são divididos
em duas espécies: a) Crimes Funcionais Próprios: quando, faltando a qualidade
de servidor do agente, o fato deixa de ser crime – Atipicidade Absoluta. Ex:
Prevaricação (artigo 319); b) Crimes Funcionais Impróprios: faltando a qualidade
de servidor do agente, o fato deixa de ser crime funcional, mas permanece crime
– Atipicidade Relativa. Exemplo: Peculato-Furto (artigo 312, § 1º).
168
Capítulo 7 Crimes Contra a
Administração Pública
Peculato
De acordo com o CP:
Peculato culposo
169
Direito Penal II - Parte Especial
a) Tipo Objetivo
170
Capítulo 7 Crimes Contra a
Administração Pública
171
Direito Penal II - Parte Especial
Por fim, “tratando-se de crime funcional, como peculato p. ex., não incide
a agravante relativa à violação de dever funcional. Segundo a regra exceptiva
constante da parte final do caput do art. 61, do CP, em decorrência de princípio no
bis in idem, não se agrava a pena quando a circunstância constitui elementar do
crime” (MIRABETE; FABBRINI, 2010, p. 259).
b) Objeto Material
172
Capítulo 7 Crimes Contra a
Administração Pública
c) Sujeitos do Crime
d) Elemento Subjetivo
173
Direito Penal II - Parte Especial
e) Consumação e Tentativa
174
Capítulo 7 Crimes Contra a
Administração Pública
[...]
a) Tipo Objetivo
a) Sujeitos do Crime
c) Elemento Subjetivo
d) Consumação e Tentativa
e) Ação Penal
Corrupção Passiva
De acordo com o CP:
O CP:
Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para
outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora Art. 317 - Solicitar ou
da função ou antes de assumi-la, mas em razão receber, para si ou
dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de para outrem, direta
tal vantagem: ou indiretamente,
ainda que fora da
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e função ou antes
multa.
de assumi-la, mas
em razão dela,
§ 1º - A pena é aumentada de um terço, se, em
consequência da vantagem ou promessa, o vantagem indevida,
funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ou aceitar promessa
ato de ofício ou o pratica infringindo dever de tal vantagem:
funcional. Pena – reclusão, de
2 (dois) a 12 (doze)
§ 2º - Se o funcionário pratica, deixa de praticar anos, e multa.
ou retarda ato de ofício, com infração de dever
funcional, cedendo a pedido ou influência de
outrem:
177
Direito Penal II - Parte Especial
humana na Terra. “A Lei das XII Tábuas já reprimia com extraordinária severidade
a venalidade dos juízes, que era criminalizada como corrupção, aplicando a pena
de morte ao magistrado que recebesse pecúnia” (BITENCOURT, 2009, p. 76).
a) Tipo Objetivo
178
Capítulo 7 Crimes Contra a
Administração Pública
b) Sujeitos do Crime
Fiscal que exige ou solicita dinheiro para não cobrar tributo ou contribuição
social pratica o crime previsto no artigo 3°, inciso II, da Lei nº 8.137/90 (crime
contra a ordem tributária). A testemunha ou perito não oficial que recebe dinheiro
para cometer falso testemunho ou falsa perícia incorrem em crime do artigo 342,
§ 2° do Código Penal.
c) Elemento Subjetivo
d) Consumação e Tentativa
179
Direito Penal II - Parte Especial
g) Ação Penal
Prevaricação
De acordo com o CP:
De acordo com o
CP: Art. 319 - Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato
de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para
Art. 319 - Retardar satisfazer interesse ou sentimento pessoal:
ou deixar
de praticar, Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
indevidamente,
ato de ofício, A prevaricação, “em sua origem latina – praevaricatio –, tinha o
ou praticá-lo
sentido de alguém que tem ‘as pernas tortas ou cambaias’, significando
contra disposição
expressa de lei, – etimologicamente, praevaricator – andar de forma oblíqua ou
para satisfazer desviando-se do caminho correto” (BITENCOURT, 2009, p. 98). Os
interesse ou romanos conheceram o ato de prevaricar como patrocínio infiel,
sentimento pessoal: concepção que fora mantida no direito medieval, ampliando-a, contudo,
Pena - detenção, para abranger o comportamento de quem se tornasse infiel ao próprio
de três meses a um cargo, descumprindo os deveres inerentes ao seu ofício (BITENCOURT,
ano, e multa.
2009).
a) Tipo Objetivo
180
Capítulo 7 Crimes Contra a
Administração Pública
b) Sujeitos do Crime
c) Elemento Subjetivo
d) Consumação e Tentativa
A Lei nº 11.466/2007 criou nova figura ilícita no artigo 319-A do Código Penal,
punido com a mesma pena da prevaricação a conduta de “deixar o Diretor de
Penitenciária e/ou agente público, de cumprir seu dever de vedar ao preso o
acesso a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a comunicação com
outros presos ou com o ambiente externo”.
f) Ação Penal
Atividade de Estudos:
Algumas Considerações
Para Cezar Roberto Bitencourt (2009), os crimes praticados contra a
administração pública não são adequadamente punidos pelo legislador pátrio, vez
que são condutas que atentam contra a organização do Estado. Crimes contra a
administração pública refletem em todas as pessoas, vez que é a coletividade que
sustenta toda a estrutura do Estado.
Assim, como conceber que alguns crimes contra o erário são passíveis
de extinção de punibilidade simplesmente com o pagamento da contribuição
previdenciária apropriada indevidamente, como no caso do artigo 337-A do
Código Penal?
A lei penal não deve ser criada como incentivo para prática de crimes, mas
deve atuar como inibidora deles, ao que não se pode admitir a aplicação da teoria
do direito penal mínimo contra condutas que atentem contra toda coletividade.
183
Direito Penal II - Parte Especial
Referências
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: Parte especial. 2 11
ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: parte especial. 11 ed. São Paulo:
Saraiva, 2011. v. 2
ESTEFAM, André. Direito Penal: Parte especial. São Paulo: Saraiva, 2010.
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: parte especial. 7 ed. Rio de Janeiro:
Impetus, 2010. v. 2
MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal: parte especial. 28 ed. São
Paulo: Atlas, 2011.
PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro. 9 ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2010.
184
C APÍTULO 8
Crimes Ambientais – Lei nº 9.605/98
Contextualização
A vida humana está diretamente ligada à preservação do meio ambiente, ao
que não se deve colocar o desenvolvimento econômico acima da preservação da
natureza e das espécies. O meio ambiente ecologicamente equilibrado é um dos
direitos fundamentais da pessoa humana, justificando a imposição de sanções
penais às agressões ao direito à sadia qualidade de vida (MILARÉ, 2009).
187
Direito Penal II - Parte Especial
Sujeitos do Crime
Tanto a pessoa física quanto a pessoa jurídica podem praticar crimes
ambientais, nos termos da Constituição Federal de 1988 e da Lei nº 9.605/98.
O sujeito ativo dos crimes ambientais pode ser qualquer pessoa, ao que
“considera-se imputável toda pessoa que tem capacidade de entender a ilicitude
do fato e de agir de acordo com esse entendimento” (SIRVINSKAS, 2010, p. 793).
188
Capítulo 8 Crimes Ambientais – Lei nº 9.605/98
c) Sujeito Passivo
Nos delitos ambientais, o sujeito passivo direto será a coletividade, por ser
o bem ou o interesse tutelado considerado de uso comum do povo, segundo
o disposto no artigo 225 da Constituição Federal de 1988. Mas é possível que
pessoa certa e determinada acabe também lesada ou ameaçada em seus bens
por conta de aspectos particulares do dano, figurando como sujeito passivo
indireto, secundário ou por via reflexa. Logo, sujeito passivo principal permanece
sempre a sociedade, titular do bem que constitui a objetividade jurídica dos crimes
contra o meio ambiente.
Aplicação da Pena
Às infrações penais ambientais aplicam-se as penas privativas de liberdade,
189
Direito Penal II - Parte Especial
190
Capítulo 8 Crimes Ambientais – Lei nº 9.605/98
até três vezes, tendo em vista o valor da vantagem econômica auferida (artigo 18
da Lei nº 9.605/98).
c) Circunstâncias atenuantes
191
Direito Penal II - Parte Especial
d) Circunstâncias agravantes
192
Capítulo 8 Crimes Ambientais – Lei nº 9.605/98
Crimes em Espécie
A maioria dos crimes ambientais são normas penais em branco, sendo
complementadas por atos administrativos ou por outra lei. A doutrina entende que
essa técnica é inevitável nas infrações penais. Os crimes ambientais protegem
o meio ambiente em sentido amplo: natural (fauna e flora); artificial (construções
e edificações feitas pelo homem); cultural (patrimônios históricos, artísticos,
paisagísticos e arqueológicos).
193
Direito Penal II - Parte Especial
194
Capítulo 8 Crimes Ambientais – Lei nº 9.605/98
Por fim, o artigo 34 da Lei nº 9.605 pune a pesca em período no qual seja
proibida ou em lugares interditados por órgão competente. Incorre nas mesmas
penas quem: I - pesca espécies que devam ser preservadas ou espécimes
com tamanhos inferiores aos permitidos; II - pesca quantidades superiores às
permitidas, ou mediante a utilização de aparelhos, petrechos, técnicas e métodos
não permitidos; III - transporta, comercializa, beneficia ou industrializa espécimes
provenientes da coleta, apanha e pesca proibidas. Também, pune-se a pesca
mediante a utilização de: I - explosivos ou substâncias que, em contato com a
água, produzam efeito semelhante; ou II - substâncias tóxicas, ou outro meio
proibido pela autoridade competente.
A tutela penal da flora era prevista no artigo 26, letras “a” à “q”, da Lei nº
195
Direito Penal II - Parte Especial
O artigo 40, por sua vez, prevê pena de reclusão de 1 (um) a 5 (cinco)
anos, àquele que causar dano direto ou indireto às Unidades de Conservação
e às áreas de que trata o art. 27 do Decreto nº 99.274, de 6 de junho de 1990,
independentemente de sua localização.
196
Capítulo 8 Crimes Ambientais – Lei nº 9.605/98
197
Direito Penal II - Parte Especial
Atividade de Estudos:
Algumas Considerações
A Lei de Crimes Ambientais é um poderoso instrumento para proteção dos
recursos naturais e da biodiversidade, com dispositivos próprios e inovadores para
responsabilização civil, criminal e administrativa de pessoas físicas e jurídicas que
atentem contra o meio ambiente.
Referências
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal. 3 ed. São Paulo: Ed.
Saraiva, 2009. v. 4
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. 8 ed. São Paulo: Saraiva, 2010. v. 3
De JESUS. Damásio E. Direito Penal: parte especial. 15 ed. São Paulo: Saraiva,
2002. v. 3
GOMES, Luiz Flávio; MOLINA, Antonio García-Pablos de. Direito Penal: Parte
Geral. São Paulo: Ed. RT, 2009. v. 2.
199
Direito Penal II - Parte Especial
MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente. 6 ed. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2009.
MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. São Paulo: Atlas, 2010. v. 2
PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro. 8 ed. São Paulo: Ed.
RT, 2010.
200