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Edição 2022

Lei 9.455/1997
Lei de Tortura

Edição 2023.1
Revisada
Atualizada
Ampliada

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LEI DE TORTURA – LEI 9.455/97
APRESENTAÇÃO................................................................................................................................ 2
CONSIDERAÇÕES INICIAIS .............................................................................................................. 3
1. DIPLOMAS NORMATIVOS .......................................................................................................... 3
DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS (DUDH) ................................... 3
CONVENÇÃO CONTRA A TORTURA E OUTROS TRATAMENTOS OU PENAS
CRUÉIS, DESUMANOS OU DEGRADANTES ............................................................................... 3
CONVENÇÃO INTERAMERICANA PARA PREVENIR E PUNIR A TORTURA ................. 3
CONSTITUIÇÃO FEDERAL ................................................................................................. 4
2. TORTURA CONTRA CRIANÇA E ADOLESCENTE ................................................................... 4
3. SISTEMA NACIONAL DE PREVENÇÃO E COMBATE À TORTURA........................................ 6
4. TEORIA DO CENÁRIO DA BOMBA RELÓGIO .......................................................................... 6
5. COMPETÊNCIA ........................................................................................................................... 7
6. PRESCRIÇÃO .............................................................................................................................. 7
DOS CRIMES ...................................................................................................................................... 9
1. OBSERVAÇÕES GERAIS ......................................................................................................... 10
AÇÃO PENAL...................................................................................................................... 10
ELEMENTO SUBJETIVO ................................................................................................... 10
BEM JURÍDICO TUTELADO .............................................................................................. 10
2. TORTURA-PROBATÓRIA, TORTURA-CRIME E TORTURA-DISCRIMINATÓRIA ................ 10
PREVISÃO LEGAL ............................................................................................................. 10
OBJETIVIDADE JURÍDICA................................................................................................. 11
OBJETO MATERIAL ........................................................................................................... 11
NÚCLEO DO TIPO.............................................................................................................. 11
SUJEITO ATIVO ................................................................................................................. 12
SUJEITO PASSIVO ............................................................................................................ 13
ELEMENTO SUBJETIVO ................................................................................................... 14
2.7.1. Tortura-probatória ........................................................................................................ 14
2.7.2. Tortura-crime................................................................................................................ 15
2.7.3. Tortura-discriminatória ................................................................................................. 16
CONSUMAÇÃO .................................................................................................................. 16
MATERIALIDADE ............................................................................................................... 17
LEI 9.099/95 ........................................................................................................................ 17
3. TORTURA-CASTIGO OU TORTURA-PUNIÇÃO ...................................................................... 17
PREVISÃO LEGAL ............................................................................................................. 17
OBJETIVIDADE JURÍDICA................................................................................................. 18
OBJETO MATERIAL ........................................................................................................... 18
NÚCLEO DO TIPO.............................................................................................................. 18
SUJEITO ATIVO ................................................................................................................. 18
SUJEITO PASSIVO ............................................................................................................ 19
ELEMENTO SUBJETIVO ................................................................................................... 19
CONSUMAÇÃO .................................................................................................................. 19
TENTATIVA ......................................................................................................................... 20
DISTINÇÃO EM RELAÇÃO AOS CRIMES DE MAUS TRATOS ...................................... 20
LEI 9.099/95 ........................................................................................................................ 21
4. TORTURA DE PRESO OU DE PESSOA SUJEITA A MEDIDA DE SEGURANÇA ................. 21
PREVISÃO LEGAL E CONSIDERAÇÕES ......................................................................... 21
OBJETIVIDADE JURÍDICA................................................................................................. 21
OBJETO MATERIAL ........................................................................................................... 21

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NÚCLEO DO TIPO.............................................................................................................. 21
SUJEITO ATIVO ................................................................................................................. 22
SUJEITO PASSIVO ............................................................................................................ 23
ELEMENTO SUBJETIVO ................................................................................................... 23
CONSUMAÇÃO .................................................................................................................. 23
TENTATIVA ......................................................................................................................... 23
LEI 9.099/95 ........................................................................................................................ 24
5. OMISSÃO NA APURAÇÃO DA TORTURA ............................................................................... 24
PREVISÃO LEGAL E CONSIDERAÇÕES INICIAIS ......................................................... 24
NÃO-EVITAÇÃO DA PRÁTICA DE QUALQUER DAS MODALIDADES DE TORTURA . 24
NÃO-APURAÇÃO DA PRÁTICA DE QUALQUER DAS MODALIDADES DE TORTURA 24
OBJETIVIDADE JURÍDICA................................................................................................. 25
OBJETO MATERIAL ........................................................................................................... 25
NÚCLEO DO TIPO.............................................................................................................. 25
SUJEITO ATIVO ................................................................................................................. 26
SUJEITO PASSIVO ............................................................................................................ 26
ELEMENTO SUBJETIVO ................................................................................................... 26
CONSUMAÇÃO .................................................................................................................. 26
TENTATIVA ......................................................................................................................... 26
LEI 9.099/95 ........................................................................................................................ 26
CONFRONTO COM O CRIME DE PREVARICAÇÃO ....................................................... 27
6. FIGURA QUALIFICADA ............................................................................................................. 27
7. CAUSAS DE AUMENTO DE PENA ........................................................................................... 27
CRIME COMETIDO POR AGENTE PÚBLICO .................................................................. 28
CRIME COMETIDO CONTRA CRIANÇA, GESTANTE, PORTADOR DE DEFICIÊNCIA,
ADOLESCENTE OU MAIOR DE 60 ANOS................................................................................... 28
SE O CRIME É COMETIDO MEDIANTE SEQUESTRO ................................................... 28
8. EFEITOS DA CONDENAÇÃO ................................................................................................... 28
9. VEDAÇÃO À LIBERDADE PROVISÓRIA COM FIANÇA E (IM)POSSIBILIDADE DE
CONCESSÃO DE LIBERDADE PROVISÓRIA SEM FIANÇA CUMULADA COM AS MEDIDAS
CAUTELARES DIVERSAS DA PRISÃO ........................................................................................... 30
10. (DES)NECESSIDADE DE DEFESA PRELIMINAR NOS PROCEDIMENTOS PENAIS
REFERENTES AO CRIME DE TORTURA ....................................................................................... 30
11. INSUSCETIBILIDADE DE GRAÇA, ANISTIA E INDULTO ................................................... 31
12. REGIME INICIAL DE CUMPRIMENTO DE PENA ................................................................ 32
13. EXTRATERRITORIALIDADE DA LEI PENAL ....................................................................... 34

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APRESENTAÇÃO

Olá!

Inicialmente gostaríamos de agradecer a confiança em nosso material. Esperamos que seja


útil na sua preparação, em todas as fases. Quanto mais contato temos com uma mesma fonte de
estudo, mais familiarizados ficamos, o que ajuda na memorização e na compreensão da matéria.

O Caderno Legislação Penal Especial – Tortura possui como base as aulas do professor
Cleber Masson, do Curso G7 Jurídico. Posteriormente, complementado com as aulas do Prof.
Renato Brasileiro, também do G7 Jurídico.

Dois livros foram utilizados para complementar nosso CS de Legislação Penal Especial: a)
Legislação Criminal para Concursos (Fábio Roque, Nestor Távora e Rosmar Rodrigues Alencar),
ano 2017 e b) Legislação Criminal Comentada (Renato Brasileiro), ano 2020, ambos da Editora
Juspodivm.

Na parte jurisprudencial, utilizamos os informativos do site Dizer o Direito


(www.dizerodireito.com.br), os livros: Principais Julgados STF e STJ Comentados, Vade Mecum de
Jurisprudência Dizer o Direito, Súmulas do STF e STJ anotadas por assunto (Dizer o Direito).
Destacamos: é importante você se manter atualizado com os informativos, reserve um dia da
semana para ler no site do Dizer o Direito.

Ademais, no Caderno constam os principais artigos da lei, mas, ressaltamos, que é


necessária leitura conjunta do seu Vade Mecum, muitas questões são retiradas da legislação.

Como você pode perceber, reunimos em um único material diversas fontes (aulas + doutrina
+ informativos + súmulas + lei seca + questões) tudo para otimizar o seu tempo e garantir que você
faça uma boa prova.

Por fim, como forma de complementar o seu estudo, não esqueça de fazer questões. É muito
importante! As bancas costumam repetir certos temas.

Vamos juntos! Bons estudos!

Equipe Cadernos Sistematizados.

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CONSIDERAÇÕES INICIAIS

1. DIPLOMAS NORMATIVOS

O crime de tortura é regulamentado pela Lei 9.455/1997. É importante destacar o contexto


que a referida lei surgiu, apontando os diplomas que serviram de influência para sua edição.

DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS (DUDH)

Como se sabe, a DUDH foi proclamada pela Assembleia das Nações Unidas, em 10 de
dezembro de 1948.

Seu art. 5º prevê, claramente, que ninguém poderá ser submetido a tortura e a nenhuma
pena ou tratamento desumano, cruel e degradante:

Art. 5º - ninguém será submetido a tortura e nem a penas ou tratamentos


cruéis, desumanos ou degradantes.

O espírito da DUDH é a proteção da dignidade da pessoa humana.

CONVENÇÃO CONTRA A TORTURA E OUTROS TRATAMENTOS OU PENAS


CRUÉIS, DESUMANOS OU DEGRADANTES

A Convenção foi adotada pela Assembleia Geral da ONU em 1984 e entrou em vigor em
1987, sendo ratificada pelo Brasil em 1989.

Está dividida em 3 partes:

1) 1ª Parte: diz respeito aos sujeitos ativos e passivos da tortura, sua definição e as
medidas a serem tomadas pelos Estados que a ela aderirem;

2) 2ª Parte: trata do Comitê e sua atuação, tais como membros, duração do mandato,
relatórios, posicionamentos sobre casos apresentados;

3) 3ª Parte: cuida da adesão dos Estados-partes à Convenção, bem como emendas que
possam vir a sugerir.

CONVENÇÃO INTERAMERICANA PARA PREVENIR E PUNIR A TORTURA

Foi editada em 1985.

A definição de tortura, na Convenção Interamericana, é mais abrangente do que a trazida


no documento do Sistema Universal, pois não a restringe a dores ou sofrimento de natureza
“aguda”.

Destaca-se que as penas ou sofrimentos físicos e mentais, decorrentes de sanções


legítimas, não serão considerados torturas, nos termos do art. 2º:

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Artigo 2 - Para os efeitos desta Convenção, entender-se-á por tortura todo ato
pelo qual são infligidos intencionalmente a uma pessoa penas ou sofrimentos
físicos ou mentais, com fins de investigação criminal, como meio de
intimidação, como castigo pessoal, como medida preventiva, como pena ou
com qualquer outro fim. Entender-se-á também como tortura a aplicação,
sobre uma pessoa, de métodos tendentes a anular a personalidade da vítima,
ou a diminuir sua capacidade física ou mental, embora não causem dor física
ou angústia psíquica.
Não estarão compreendidos no conceito de tortura as penas ou sofrimentos
físicos ou mentais que sejam unicamente consequência de medidas legais ou
inerentes a elas, contanto que não incluam a realização dos atos ou a
aplicação dos métodos a que se refere este artigo.

CONSTITUIÇÃO FEDERAL

A CF, em seu art. 5º, III, prevê que ninguém será submetido a tortura e nem a tratamento
desumano e degradante. É o direito fundamental do ser humano de não ser torturado.

Além disso, o art. 5º, XLIII, considera a tortura um crime inafiançável e insuscetível de graça
e anistia. Portanto, a Lei de Tortura atende a um mandado expresso de criminalização. É um crime
equiparado a hediondo (recebe o mesmo tratamento).

Art. 5º, XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça


ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins,
o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os
mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem.

Obs.: nem todos os crimes da Lei de Tortura são considerados


hediondos, a exemplo da tortura omissão.

Segundo o STF:

A tortura constitui a negação arbitrária dos direitos humanos, pois reflete –


enquanto prática ilegítima, imoral e abusiva – um aceitável ensaio de atuação
estatal tendente a asfixiar e, até mesmo, a suprimir a dignidade, a autonomia
e a liberdade com que o indivíduo foi dotado, de maneira indisponível, pelo
ordenamento positivo. (HC 70389/SP, Rel. Min. Celso de Mello, DJ
10/08/2001).

Salienta-se, ainda, que o art. 5º, XLIII é verdadeiro mandado de criminalização, o qual impõe
ao legislador, para o seu devido cumprimento, o dever de observância do princípio da
proporcionalidade como proibição de excesso e como proibição de proteção insuficiente.

2. TORTURA CONTRA CRIANÇA E ADOLESCENTE

O art. 233 do ECA foi o primeiro diploma infraconstitucional a tipificar o crime de tortura,
pautando-se na seguinte redação legal:

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Art. 23 Submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou
vigilância a tortura.

Pena - reclusão de um a cinco anos.

Contudo, o supramencionado dispositivo normativo sofreu duras críticas, pois foi


considerado um tipo penal extremamente aberto, uma vez que não define o que é considerado
tortura e quais são os atos de torturas (bater, xingar, castigo). Em razão disso, muitos o
consideravam inconstitucional, por violação ao princípio da taxatividade. Além disso, incriminava
apenas a tortura contra menores de 18 anos.

Infere-se, à vista disso, que até a revogação do dispositivo em 1997, o STF considerava o
art. 233 do ECA constitucional. Assim segue:

O crime de tortura, desde que praticado contra criança ou adolescente,


constitui entidade delituosa autônoma cuja previsão típica encontra
fundamento jurídico no art. 233 da Lei nº 8.069/90. Trata-se de preceito
normativo que encerra tipo penal aberto suscetível de integração pelo
magistrado, eis que o delito de tortura - por comportar formas múltiplas de
execução - caracteriza- se pela inflição de tormentos e suplícios que
exasperam, na dimensão física, moral. ou psíquica em que se projetam
os seus efeitos, o sofrimento da vítima por atos de desnecessária,
abusiva e inaceitável crueldade. - A norma inscrita no art. 233 da Lei nº
8.069/90, ao definir o crime de tortura contra a criança e o adolescente,
ajusta-se, com extrema fidelidade, ao princípio constitucional da tipicidade
dos delitos (CF, art. 5º, XXXIX). O Brasil, ao tipificar o crime de tortura contra
crianças ou adolescentes, revelou-se fiel aos compromissos que assumiu na
ordem internacional, especialmente àqueles decorrentes da Convenção de
Nova York sobre os Direitos da Criança (1990), da Convenção contra a
Tortura adotada pela Assembleia Geral da ONU (1984), da Convenção
Interamericana contra a Tortura concluída em Cartagena (1985) e da
Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa
Rica), formulada no âmbito da OEA (1969). Mais do que isso, o legislador
brasileiro, ao conferir expressão típica a essa modalidade de infração
delituosa, deu aplicação efetiva ao texto da Constituição Federal que impõe
ao Poder Público a obrigação de proteger os menores contra toda a forma de
violência, crueldade e opressão (art. 227, caput, in fine). (...). (STF, Pleno, HC
70.389/SP, Rel. Min. Celso de Mello, j. 23/06/1994, DJ 10/08/2001).

Ocorre que, em sequência, a Lei de Tortura revogou expressamente o referido dispositivo:

Lei 9.455/1997 - Art. 4º Revoga-se o art. 233 da Lei nº 8.069, de 13 de julho


de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente.

Obs.: a conduta típica do art. 233 do ECA migrou para a Lei de Tortura,
consagrando o princípio da continuidade normativa-típica, não
havendo, portanto, abolitio criminis.

Em matéria penal, a nova lei que redefine a conduta criminal, editada no curso
do processo, não provoca o fenômeno da abolitio criminis, ensejando,
todavia, a ultratividade da lei penal antiga mais benigna. - Embora o art.
233 da Lei nº 8.069/90 (ECA), que tipificava o crime de tortura contra

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menores, tenha sido revogado pelo art. 4º da Lei nº 9.455/97, esta conduta
recebeu definição criminal neste novo diploma legal, de forma mais gravosa,
impondo-se, portanto, a aplicação da lei anterior, mais benéfica. - Recurso
ordinário desprovido. (...). (STJ, 6ª Turma, RHC 10.049/CE, Rel. Min. Vicente
Leal, j. 06/12/2001, DJ 18/02/2002 p. 494).

3. SISTEMA NACIONAL DE PREVENÇÃO E COMBATE À TORTURA

A Lei 12.847/2013 instituiu o Sistema Nacional de Prevenção e Combate à Tortura, criou o


Comitê Nacional de Prevenção e Combate à Tortura e o Mecanismo Nacional de Prevenção e
Combate à Tortura.

Art. 1º Fica instituído o Sistema Nacional de Prevenção e Combate à Tortura-


SNPCT, com o objetivo de fortalecer a prevenção e o combate à tortura, por
meio de articulação e atuação cooperativa de seus integrantes, dentre
outras formas, permitindo as trocas de informações e o intercâmbio de
boas práticas.

Art. 2º O SNPCT será integrado por órgãos e entidades públicas e


privadas com atribuições legais ou estatutárias de realizar o
monitoramento, a supervisão e o controle de estabelecimentos e unidades
onde se encontrem pessoas privadas de liberdade, ou de promover a defesa
dos direitos e interesses dessas pessoas.

Como exemplos de mecanismos de combate à tortura, pode-se citar a audiência de custódia


e a fiscalização/visitas aos estabelecimentos prisionais.

4. TEORIA DO CENÁRIO DA BOMBA RELÓGIO

De origem norte-americana, está relacionada com o Direito Penal do inimigo e com a tortura.

No cenário da bomba relógio, o terrorista já implantou a bomba e a polícia possui sua


identificação, porém não se sabe a localização da bomba. Diante do silêncio do terrorista, o direito
norte-americano autoriza a utilização de tortura, com o objetivo de evitar a explosão e,
consequentemente, o dano a inúmeras pessoas.

Diante disso, indaga-se: a proibição da tortura é absoluta ou relativa?

Um primeiro entendimento, com base na CF, afirma que a proibição da tortura é absoluta.

Contudo, há quem defenda, seguindo o modelo de outros países, que como a proibição da
tortura é um direito fundamental, de modo que sua vedação é relativa, assim como os demais
direitos fundamentais, a exemplo do direito à vida (admite-se a legítima defesa no Brasil),
preservando-se, portanto, bens jurídicos de maior valor.

Imagine que João, por vingança, sequestra o filho de seus ex-empregadores. A polícia, após
a ligação de João solicitando o resgate, consegue localizá-lo em uma lanchonete. João nega-se a
informar o local do cativeiro, sendo irônico com o Delegado, e afirma que não irá falar a localização.

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Diante disso, o Delegado passa a torturar João, filmando tudo, obtendo a localização do cativeiro.
O Delegado será indiciado por tortura? A resposta dependerá do entendimento adotado.

Obs.: em um concurso para Defensoria, recomenda-se adotar a


proibição absoluta. Já em concurso para Delegado, sugere-se adotar
a proibição relativa.

Por fim, ressalta-se que o art. 2º, item 2, da Convenção Contra a Tortura e Outros
Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes, promulgada pelo Decreto 40/1991,
dispõe que: “em nenhum caso poderão invocar-se circunstâncias excepcionais tais como ameaça
ou estado de guerra, instabilidade política interna ou qualquer outra emergência pública como
justificação para a tortura”.

5. COMPETÊNCIA

Como regra, compete à Justiça Comum Federal ou Estadual.

Ademais, aplica-se o art. 70, caput, do CPP, a competência fixada pelo local da consumação:

Art. 70. A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se


consumar a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado
o último ato de execução.

Importante destacar que a depender da autoridade que praticou o crime de tortura, o


processo e julgamento poderá ser de competência originária dos tribunais, quando praticado
durante o exercício das funções e guardar relação ao exercício funcional.

Por fim, até o advento da Lei 13.491/2017, a tortura, mesmo quando praticada por militar,
não era julgada pela Justiça Militar, uma vez que não estava arrolada como crime militar.
Atualmente, a conduta praticada pelo agente, para ser crime militar com base no inciso II do art. 9º
do Código Penal Militar, pode estar prevista na legislação penal especial militar ou na legislação
penal “comum”, de modo que eventual tortura será julgada pela Justiça Militar.

6. PRESCRIÇÃO

O Estatuto de Roma (Decreto 4.388/02), em seu art. 7º, prevê que a tortura é um crime
contra a humanidade, quando cometida em ataque generalizado e sistemático, contra a população
civil, sendo imprescritível (art. 29), conforme apontado abaixo:

Art. 7º Crimes contra a Humanidade


1. Para os efeitos do presente Estatuto, entende-se por "crime contra a
humanidade", qualquer um dos atos seguintes, quando cometido no quadro
de um ataque, generalizado ou sistemático, contra qualquer população civil,
havendo conhecimento desse ataque:
f) Tortura;
Artigo 29 Imprescritibilidade
Os crimes da competência do Tribunal não prescrevem.

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Em razão disso, surgiram 2 correntes acerca da imprescritibilidade dos crimes de tortura:

1) 1ª Corrente: por conta da previsão do Estatuto de Roma, o crime de tortura é


imprescritível. Fundamenta-se no princípio pro homine, em que havendo aparente
contradição entre normas de direito interno e internacional, deve prevalecer aquela que
maior protege os direitos humanos.

É a corrente minoritária, adotada pelo doutrinador Rogério Greco.

2) 2ª Corrente: o crime de tortura é prescritível. Em nenhum momento, a Constituição


Federal consagrou a imprescritibilidade da tortura, prevendo apenas que é um crime
inafiançável e insuscetível de graça ou anistia. Portanto, aplicam-se os prazos
prescricionais do Código Penal.

Trata-se da corrente majoritária, adotada pelos doutrinadores Eduardo Cabette e


Francisco Sannini e, também, pelo STF, in verbis:

STF – Extradição 1.278: (...) 2. Crimes de tortura, homicídio, sequestro


qualificado e desaparecimento forçado de pessoas. 3. Atendimento dos
requisitos formais. 4. Dupla tipicidade. Desaparecimento forçado de pessoas.
Análise da dupla tipicidade com base no delito de sequestro. Entendimento
adotado na EXT 974/Argentina. 5. Prescrição dos crimes de tortura e
homicídio, segundo o ordenamento jurídico brasileiro. 6. Pedido de
extradição deferido sob a condição de que o Estado requerente assuma, em
caráter formal, o compromisso de comutar eventual pena de prisão perpétua
em pena privativa de liberdade, com o prazo máximo de 30 anos. 7.
Extraditando que responde a processo penal no Brasil por crime diverso
daquele que versa o pedido de extradição. 8. Discricionariedade do Chefe do
Poder Executivo para ordenar a extradição ainda que haja processo penal
instaurado ou mesmo condenação no Brasil (art. 89 da Lei 6.815/1980). 9.
Pedido de extradição deferido parcialmente (somente em relação aos crimes
de sequestro). (STF - Ext: 1278 DF, Relator: Min. GILMAR MENDES, Data
de Julgamento: 18/09/2012, Segunda Turma, Data de Publicação:
ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-195 DIVULG 03-10-2012 PUBLIC 04-10-
2012).

Salienta-se que as ações cíveis de indenização por tortura NÃO estão sujeitas à prescrição,
conforme entendimento do STF:

As ações indenizatórias por danos morais decorrentes de atos de


tortura ocorridos durante o Regime Militar de exceção são
imprescritíveis. Inaplicabilidade do prazo prescricional do art. 1º do Decreto
20.910/1932. Precedentes do STJ. O Brasil é signatário do Pacto
Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos das Nações Unidas –
incorporado ao ordenamento jurídico pelo Decreto-Legislativo 226/1991,
promulgado pelo Decreto 592/1992 –, que traz a garantia de que ninguém
será submetido à tortura, nem a pena ou a tratamentos cruéis, desumanos
ou degradantes, e prevê a proteção judicial para os casos de violação de
direitos humanos. A Constituição da República não estipulou lapso
prescricional à faculdade de agir, correspondente ao direito inalienável
à dignidade. Agravo Regimental não provido. 4. Agravo regimental

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DESPROVIDO. (STF, 1ª Turma, RE 715.268 AgR/RJ, Rel. Min. Luiz Fux, j.
06/05/2014, DJe 98 22/05/2014).

DOS CRIMES

CS – TORTURA 2023.1 9

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1. OBSERVAÇÕES GERAIS

AÇÃO PENAL

TODO crime de tortura é de ação penal pública incondicionada.

ELEMENTO SUBJETIVO

É o dolo.

Não existe tortura culposa.

BEM JURÍDICO TUTELADO

Tutela a integridade física e psíquica, bem como a dignidade da pessoa humana.

2. TORTURA-PROBATÓRIA, TORTURA-CRIME E TORTURA-DISCRIMINATÓRIA

PREVISÃO LEGAL

Estão previstas nas alíneas do art. 1º, I da Lei de Tortura, nos seguintes termos:

Art. 1º Constitui crime de tortura:


I - Constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça,
causando-lhe sofrimento físico ou mental:
a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de
terceira pessoa; → TORTURA-PROBATÓRIA
b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa; → TORTURA-
CRIME
c) em razão de discriminação racial ou religiosa. → TORTURA-
DISCRIMINATÓRIA

CS – TORTURA 2023.1 10

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PROBATÓRIA: com o fim de obter informação, declaração ou confissão

TORTURA
da vítima ou de terceira pessoa

CRIME: para provocar ação ou omissão de natureza criminosa

DISCRIMINATÓRIA: em razão de discriminação racial ou religiosa

OBJETIVIDADE JURÍDICA

Os 3 tipos de tortura protegem a incolumidade física da vítima em sentido amplo, ou seja, a


integridade corporal, mental e a saúde da pessoa.

Além disso, segundo Cleber Masson, tutelam garantias constitucionais e legais das pessoas
em geral frente aos arbítrios cometidos por funcionários públicos e por particulares.

OBJETO MATERIAL

O objeto material é a pessoa ou a coisa sobre a qual recai a conduta criminosa.

Dito isso, nos 3 tipos de tortura do inciso I, do art. 1º, o objeto material é a pessoa física que
suporta a tortura, seja ela probatória, crime ou discriminatória.

NÚCLEO DO TIPO

O núcleo do tipo é nada mais do que o(s) verbo(s) do crime. No caso do inciso I, art. 1º, é
CONSTRANGER.

Por constranger entende-se a conduta de obrigar alguém a fazer algo contra a sua vontade,
retirando a sua liberdade de autodeterminação.

Para constranger a vítima, o agente se vale de alguns meios de execução, quais sejam:

• Violência à pessoa: emprego de força física contra a vítima, mediante lesão corporal ou
vias de fato.

• Grave ameaça: promessa da realização de um mal grave (relevante, de grandes


proporções), iminente (em vias de ocorrer) e verossímil (possível de ser concretizado).

Como elemento normativo do tipo penal, tem-se a provocação de sofrimento físico (corporal)
ou mental (psicológico) à pessoa. Assim, o agente constrange a vítima, mediante violência à pessoa
ou grave ameaça, causando-lhe um sofrimento físico ou mental.

CS – TORTURA 2023.1 11

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Destaca-se que o sofrimento mental é aquele que se processa por meio de um estado de
angústia e estresse infligido à vítima por outros meios que não a agressão física.

Por outro lado, a ausência do sofrimento físico ou mental é causa de exclusão da tortura e,
consequentemente, de reconhecimento de delito menos grave, a exemplo da lesão corporal,
constrangimento ilegal, ameaça etc.

Por fim, ressalta-se que no crime de tortura o legislador vinculou sua ocorrência a três
finalidades (alíneas “a”, “b” e “c”), o que provoca uma limitação do alcance da lei, bem como deixa
outras hipóteses de tortura sem punição, a exemplo da pessoa que tortura por prazer ou sadismo.

Como o tema foi cobrado em concurso?


(PC-PB - Delegado - CESPE - 2022): A configuração do crime de tortura
exige a prática de violência. Errado.

(PC-PB - Delegado - CESPE - 2022): Para a caracterização do delito de


tortura, é necessário que a conduta criminosa se destine a atingir um fim
específico, como a obtenção de informação, declaração ou confissão sobre
determinado fato. Errado.

SUJEITO ATIVO

Trata-se de crime comum ou geral, podendo ser praticado por qualquer pessoa. Por isso,
também é conhecida como crime jabuticaba, já que nos demais países, a tortura só pode ser
praticada por funcionário público.

Salienta-se que parcela da doutrina sustenta a inconvencionalidade do crime de tortura como


crime comum. Entendem que seria obrigatoriamente um crime próprio de agentes públicos, com
base no art. 1º.1 da Convenção contra a Tortura e outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos
ou degradantes da ONU:

Convenção contra a Tortura e outros tratamentos ou penas cruéis,


desumanos ou degradantes da ONU
ARTIGO 1º 1. Para os fins da presente Convenção, o termo "tortura" designa
qualquer ato pelo qual dores ou sofrimentos agudos, físicos ou mentais, são
infligidos intencionalmente a uma pessoa a fim de obter, dela ou de uma
terceira pessoa, informações ou confissões; de castigá-la por ato que ela ou
uma terceira pessoa tenha cometido, ou seja, suspeita de ter cometido; de
intimidar ou coagir esta pessoa ou outras pessoas; ou por qualquer motivo
baseado em discriminação de qualquer natureza; quando tais dores ou
sofrimentos são infligidos por um funcionário público ou outra pessoa
no exercício de funções públicas, ou por sua instigação, ou com o seu
consentimento ou aquiescência. Não se considerará como tortura as dores
ou sofrimentos que sejam consequência unicamente de sanções legítimas,
ou que sejam inerentes a tais sanções ou delas decorram.

Contudo, quando o delito for cometido por agente público, haverá a incidência de uma causa
de aumento da pena:

Art. 1º, § 4º Aumenta-se a pena de um sexto até um terço:


I - se o crime é cometido por agente público.

CS – TORTURA 2023.1 12

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Verifica-se o entendimento do STJ, que confirma como crime comum:

1. O conceito de tortura, tomado a partir dos instrumentos de direito


internacional, tem um viés estatal, implicando que o crime só poderia ser
praticado por agente estatal (funcionário público) ou por um particular no
exercício de função pública, consubstanciando, assim, crime próprio. 2. O
legislador pátrio, ao tratar do tema na Lei n. 9.455/1997, foi além da
concepção estabelecida nos instrumentos internacionais, na medida em que,
ao menos no art. 1º, I, ampliou o conceito de tortura para além da
violência perpetrada por servidor público ou por particular que lhe faça
às vezes, dando ao tipo o tratamento de crime comum. 3. A adoção de
uma concepção mais ampla do tipo, tal como estabelecida na Lei n.
9.455/1997, encontra guarida na Convenção contra a Tortura e outros
Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes, que ao tratar do
conceito de tortura estabeleceu -, em seu art. 1º, II -, que: o presente artigo
não será interpretado de maneira a restringir qualquer instrumento
internacional ou legislação nacional que contenha ou possa conter
dispositivos de alcance mais amplo; não há, pois, antinomia entre a
concepção adotada no art. 1º, I, da Lei n. 9.455/1997 - tortura como crime
comum - e aquela estatuída a partir do instrumento internacional
referenciado. (...). (STJ, 6ª Turma, Resp 1.738.264/DF, Rel. Min. Sebastião
Reis Júnior, j. 23/08/2018, DJe 14/09/2018).

Como o tema foi cobrado em concurso?


(PC-RR - Delegado - VUNESP - 2022): Somente o agente público pode ser
autor de crime de tortura. Errado.

(MPE-SE - Promotor de Justiça - CESPE - 2022): Qualquer indivíduo pode


ser sujeito ativo dos crimes de tortura, já que todos eles são comuns. Errado.

(PC-PB - Delegado - CESPE - 2022): Não se exige que o sujeito ativo da


tortura seja agente público para a caracterização dessa infração penal.
Correto.

(MPE-SE - Promotor de Justiça - CESPE - 2022): Todos os crimes de tortura


são próprios, por isso só agentes públicos serão considerados sujeitos ativos
desses delitos. Errado.

(DPE-GO - Defensor Público - FCC - 2021): O crime de tortura possui


eficácia preventiva escassa, por restringir a autoria a agente público, e faz
com que o Brasil descumpra suas obrigações internacionalmente acordadas.
Errado.

SUJEITO PASSIVO

A Lei de Tortura refere-se a “alguém”, de modo que este alguém será qualquer pessoa física.

Ademais, o sujeito passivo pode ser a pessoa contra quem se dirige a violência ou a grave
ameaça, bem como qualquer outra pessoa prejudicada pela conduta criminosa. Assim, é

CS – TORTURA 2023.1 13

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perfeitamente possível a unidade do crime de tortura com a pluralidade de vítimas. Ex.: torturar o
filho para que o pai confesse o crime.

ELEMENTO SUBJETIVO

É o dolo acrescido do especial fim de agir de cada uma das alíneas (finalidade específica).

Segundo Cleber Masson, há uma limitação indevida da aplicabilidade dos tipos penais
previstos na Lei 9.455/1997. Ex.: excesso de maldade e sadismo não irão incorrer no crime de
tortura.

2.7.1. Tortura-probatória

É também chamada de tortura persecutória, tortura prova, tortura-confissão, tortura


institucional ou tortura inquisitorial.

A finalidade específica da tortura probatória é a obtenção de informação, declaração ou


confissão da vítima ou de terceira pessoa, pouco importa a natureza do fato (penal, comercial ou
pessoal).

Conforme já mencionado, está prevista na alínea “a” do inciso I do art. 1º:

Art. 1º Constitui crime de tortura:


I - constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça,
causando-lhe sofrimento físico ou mental:
a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou
de terceira pessoa.

Segundo Masson, é a tortura que ainda está presente no dia a dia policial. Obviamente,
trata-se de prova ilícita, devendo ser desentranhada dos autos, segundo disposto no inciso LVI do
art. 5º da Constituição Federal:

Art. 5º, LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios
ilícitos.

Salienta-se, ainda, que o art. 1º, I, “a” da Lei de Tortura não se confunde com o art. 13, III da
Lei de Abuso de Autoridade, que possui a seguinte redação legal:

Art. 13. Constranger o preso ou o detento, mediante violência, grave ameaça


ou redução de sua capacidade de resistência, a:
III - produzir prova contra si mesmo ou contra terceiro:
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, sem prejuízo da pena
cominada à violência.

Para melhor visualização das diferenças entre os tipos penais, elaborou-se o quadro
comparativo abaixo:

CS – TORTURA 2023.1 14

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ABUSO DE AUTORIDADE TORTURA -CONFISSÃO
(art. 13, III) (art. 1º, I, a)
Crime próprio, nos termos do art. 2º, ou Crime comum (pode ser praticado por
seja, praticado por agente público. qualquer pessoa).

Praticado com violência, grave ameaça


Praticado com violência ou grave
ou violência imprópria (retira a
ameaça.
capacidade de resistência da vítima).

Não há necessidade de produzir Necessário que o resultado cause


sofrimento físico ou mental. sofrimento físico ou mental.

Deve estar presente o especial fim de Deve estar presente o especial fim de
agir de prejudicar outrem ou beneficiar a obter informação, declaração ou
si mesmo ou a terceiro, ou, ainda, por confissão da vítima ou de terceira
mero capricho ou satisfação pessoal. pessoa.

Como o tema foi cobrado em concurso?


(MPE-SE - Promotor de Justiça - CESPE - 2022): O crime de tortura-prova
é próprio, só podendo ser configurado se praticado por funcionário público no
exercício do cargo. Errado.

2.7.2. Tortura-crime

Na tortura-crime a finalidade é provocar ação ou omissão de natureza criminosa, ou seja,


através da tortura obriga-se alguém a praticar um crime.

Ressalta-se que não haverá tortura quando a prática for de contravenção penal.

Relembre-se a previsão legal da tortura-crime:

Art. 1º Constitui crime de tortura:


I - constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça,
causando-lhe sofrimento físico ou mental:
b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa.

Obs.: a coação moral irresistível, prevista no art. 22 do CP, exclui a


culpabilidade, considerando que se retira do agente a exigibilidade de
conduta diversa.

Nessa conduta, há 3 pessoas envolvidas: o COATOR, o COAGIDO e


a VÍTIMA do crime.

Assim, frisa-se que não há concurso de pessoas, de modo que


somente o coator responderá pelo crime praticado pelo coagido e, no
que se refere ao presente tema, responderá por tortura. O coagido,
por outro lado, ficará isento de pena.

CS – TORTURA 2023.1 15

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Art. 22 - Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência
a ordem, não manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o
autor da coação ou da ordem.

2.7.3. Tortura-discriminatória

Na tortura-discriminatória, a finalidade específica é a discriminação racial ou religiosa, de


acordo com o disposto na alínea “c” do inciso I do art. 1º:

Art. 1º Constitui crime de tortura:


I - constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça,
causando-lhe sofrimento físico ou mental:
c) em razão de discriminação racial ou religiosa.

Aqui, ao que parece, a lei não reclama a prática de nenhuma conduta por parte da vítima.
Contudo, segundo o doutrinador Cleber Masson, o dispositivo foi mal redigido, tendo em vista que
se exige uma ação ou omissão da vítima, em virtude da discriminação racial ou religiosa. Ex.: vítima
que deixa de entrar em determinado restaurante porque é ameaçada por conta de sua cor ou de
sua crença religiosa.

O conceito de discriminação racial encontra-se no art. 1ª, parágrafo único, I, do Estatuto da


Igualdade Racial (Lei 12.288/2010), in verbis:

Art. 1°, I - discriminação racial ou étnico-racial: toda distinção, exclusão,


restrição ou preferência baseada em raça, cor, descendência ou origem
nacional ou étnica que tenha por objeto anular ou restringir o reconhecimento,
gozo ou exercício, em igualdade de condições, de direitos humanos e
liberdades fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural ou
em qualquer outro campo da vida pública ou privada.

Já discriminação religiosa é a discriminação em razão da crença (católico, umbandista,


evangélico, espírita, budista, etc).

Ressalta-se que este dispositivo NÃO engloba outras formas de discriminação, tais como
ideológica e/ou política.

Em relação à discriminação decorrente de homofobia e transfobia, na ADO 26/DF e no MI


4.733/DF, o STF reconheceu a mora do Congresso Nacional em editar lei que criminalizasse tais
atos. Determinou, também, até que seja colmatada essa lacuna legislativa, a aplicação da Lei
7.716/89 (que define os crimes resultantes de preconceito ou de cor) às condutas de discriminação
por orientação sexual ou identidade de gênero, com efeitos prospectivos e mediante subsunção.

Por fim, quando ocorrer o crime de tortura discriminatória, estará caracterizado o concurso
com algum delito da Lei 7.716/1989, que define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de
cor.

CONSUMAÇÃO

CS – TORTURA 2023.1 16

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São crimes formais, de consumação antecipada ou de resultado cortado. Ou seja, o tipo
penal contém conduta e resultado naturalístico, mas dispensa a ocorrência deste para sua
consumação.

Segundo Cleber Masson, consumam-se no momento em que se inicia o constrangimento,


com emprego de violência ou grave ameaça, apto a causar sofrimento físico ou mental à vítima,
independentemente da obtenção da informação, declaração ou confissão almejadas (tortura-
probatória), da realização da ação ou omissão criminosa pelo torturado (tortura-crime) ou do
comportamento em razão da discriminação racial ou religiosa (tortura-discriminatória).

É perfeitamente possível a tentativa, trata-se de crime plurissubsistente.

Ademais, é admissível a desistência voluntária quando o agente interromper


voluntariamente sua conduta, antes que a vítima tenha algum sofrimento físico ou psíquico. Nesse
caso, poderá subsistir a prática de crime de constrangimento ilegal.

Frisa-se, contudo, que não é admissível no crime de tortura o arrependimento eficaz.

MATERIALIDADE

O exame de corpo de delito, havendo vestígios, deve ser realizado. Contudo, não havendo
vestígios não é obrigatório, utiliza-se prova testemunhal, documental, a fim de suprir a ausência.

Nesse sentido, o entendimento do STJ:

O crime previsto no artigo 1º, inciso I, letra a, da Lei 9.455/1997 pressupõe o


suplício físico ou mental da vítima, não se podendo olvidar que a tortura
psicológica não deixa vestígios, não podendo, consequentemente, ser
comprovada por meio de laudo pericial, motivo pelo qual a materialidade
delitiva depende da análise de todo o conjunto fático-probatório
constante dos autos, principalmente do depoimento da vítima e de
eventuais testemunhas. Precedentes. (...). (STJ, 5ª Turma, HC 214.770/DF,
Rel. Min. Jorge Mussi, j. 01/12/2011, DJe 19/12/2011).

LEI 9.099/95

Aos crimes de máximo potencial ofensivo, a CF exigiu um tratamento mais severo. Por isso,
os crimes de tortura são incompatíveis com os institutos da Lei 9.099/95.

3. TORTURA-CASTIGO OU TORTURA-PUNIÇÃO

PREVISÃO LEGAL

Está prevista no art. 1º, II da Lei de Tortura:

Art. 1º Constitui crime de tortura:

CS – TORTURA 2023.1 17

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II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de
violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma
de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo.
Pena - reclusão, de dois a oito anos.

OBJETIVIDADE JURÍDICA

Protege-se a incolumidade física e mental das pessoas sob guarda, poder ou autoridade do
agente, submetida a castigo pessoas ou caráter preventivo.

OBJETO MATERIAL

É a pessoa castigada, sobre a qual recai a conduta criminosa.

NÚCLEO DO TIPO

O núcleo do tipo é “submeter”, ou seja, sujeitar alguém a determinado comportamento,


minando sua resistência. O agente se vale, mais uma vez, de violência à pessoa ou de grave
ameaça (meios de execução).

A doutrina é unânime em afirmar que a expressão “intenso” sofrimento físico e mental é


quase impossível de ser mensurada. É muito subjetiva, ainda mais em relação ao sofrimento mental.

Por fim, destaca-se que a finalidade do agente é aplicar castigo pessoal (ação repressiva)
ou medida de caráter preventivo. Essas duas hipóteses são indicativas de correção e disciplina a
cargo de quem tem a obrigação ou o dever de vigilância, guarda ou autoridade sobre a vítima.

SUJEITO ATIVO

Trata-se de crime próprio ou especial, tendo em vista que somente pode ser autor desse
crime quem tiver a guarda da vítima ou exercer sobre ela alguma espécie de poder ou autoridade,
ainda que de forma momentânea.

Nesse liame, definiu o STJ que:

O crime de tortura, na forma do art. 1º, II, da Lei n. 9.455/1997 (tortura-


castigo), ao contrário da figura típica do inciso anterior, não pode ser
perpetrado por qualquer pessoa, na medida em que exige atributos
específicos do agente ativo, somente cometendo essa forma de tortura
quem detiver outra pessoa sob sua guarda, poder ou autoridade (crime
próprio). A expressão guarda, poder ou autoridade denota um vínculo
preexistente, de natureza pública, entre o agente ativo e o agente passivo do
crime. Logo, o delito até pode ser perpetrado por um particular, mas ele deve
ocupar posição de garante (obrigação de cuidado, proteção ou vigilância)
com relação à vítima, seja em virtude da lei ou de outra relação jurídica.
(...).Ampliar a abrangência da norma, de forma a admitir que o crime possa
ser perpetrado por particular que não ocupe a posição de garante, seja em
decorrência da lei ou de prévia relação jurídica, implicaria uma interpretação
desarrazoada e desproporcional, também não consentânea com os

CS – TORTURA 2023.1 18

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instrumentos internacionais que versam sobre o tema. No caso, embora a
vítima estivesse subjugada de fato, ou seja, sob poder dos recorridos,
inexistia uma prévia relação jurídica apta a firmar a posição de garante dos
autores com relação à vítima, circunstância que obsta a tipificação da conduta
como crime de tortura, na forma do art. 1º, II, da Lei n. 9.455/1997. (STJ, 6ª
Turma, Resp 1.738.264/DF, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j. 23/08/2018,
DJe 14/09/2018).

Cita-se, como exemplo, o pai contra o filho; tutor contra tutelado; professor em relação ao
aluno.

Como o tema foi cobrado em concurso?


(MPE-SE - Promotor de Justiça - CESPE - 2022): O crime de tortura-castigo
é próprio, devendo o agente exercer guarda, poder ou autoridade sobre a
vítima. Correto.

SUJEITO PASSIVO

O tipo penal reclama um sujeito passivo qualificado. Por isso, a tortura castigo é considerada
um crime bipróprio, cujos sujeito ativo e sujeito passivo exigem qualidade especial.

Refere-se à pessoa que está sob guarda, poder ou autoridade exercida pelo sujeito ativo,
mesmo que de fato e em caráter momentâneo, a exemplo do filho, do interdito, do preso e do aluno.

Obs.: é possível a tortura no âmbito do matrimônio (ou da união


estável)? Não, de acordo com interpretação do artigo 226, § 5º da
Constituição Federal abaixo colacionado:

Art. 226, § 5º Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são


exercidos igualmente pelo homem e pela mulher.

Contudo, destaca-se que há uma exceção, podendo ser vislumbrada na hipótese em que há
submissão da vítima, pelo agente, ao seu poder de fato, não por força da questão de gênero ou do
matrimônio (ou união estável). Ex.: marido que castiga a mulher porque ela zombou do seu time de
futebol.

ELEMENTO SUBJETIVO

É o dolo, mas também se reclama um elemento subjetivo específico, qual seja, “como forma
de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo”.

Representa, portanto, o animus corrigendi.

CONSUMAÇÃO

Trata-se de crime material ou causal (depende de resultado naturalístico), consuma-se no


instante em que a pessoa sob guarda, poder ou autoridade é submetida, com emprego de violência
ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou
medida de caráter preventivo.

CS – TORTURA 2023.1 19

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TENTATIVA

Considerando que é um crime plurissubsistente, de modo que a conduta é composta de


vários atos e, portanto, pode ser fracionada, é possível a tentativa.

DISTINÇÃO EM RELAÇÃO AOS CRIMES DE MAUS TRATOS

O art. 136 do Código Penal prevê o crime de maus tratos. Assim segue:

Art. 136 - Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade,
guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia,
quer privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-
a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de meios de correção
ou disciplina:
Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou multa.
§ 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena - reclusão, de um a quatro anos.
§ 2º - Se resulta a morte:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
§ 3º - Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado contra pessoa
menor de 14 (catorze) anos.

Assim, para visualizar a distinção entre os delitos, tem-se o seguinte quadro comparativo:

MAUS TRATOS TORTURA-CASTIGO

A própria lei especifica a Crime de forma livre, uma vez


TIPO OBJETIVO conduta. Portanto, trata-se de que o legislador não descreve
crime de forma vinculada. como será praticada.

DOLO DE Trata-se de crime de dano, ou


PERIGO/DOLO DE Trata-se de crime de perigo. seja, exige um efetivo dano ao
DANO sujeito passivo.

ESPECIAL FIM DE Fins de educação, ensino,


Não exige especial fim de agir.
AGIR tratamento ou custódia.

Vislumbra-se o entendimento do STJ acerca do assunto:

Para que se configure o delito de maus tratos é necessária a demonstração


de que os castigos infligidos tenham de pôr fim a educação, o ensino, o
tratamento ou a custódia do sujeito passivo, circunstâncias que não se
evidenciam na hipótese. Precedente desta Corte. 2. A conduta verificada nos
autos encontra melhor adequação típica na descrição feita pelo art. 1o., II da
Lei 9.455/97 - tortura, o que não exclui a possibilidade de outra definição do
fato se verificado, depois de realizada mais aprofundada cognição probatória,
serem outras as circunstâncias delitivas. (...). (STJ, 3ª Seção, CC
102.833/MG, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 26/08/2009, DJe
10/09/2009).

CS – TORTURA 2023.1 20

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LEI 9.099/95

Crime de máximo potencial ofensivo. Portanto, incompatível com os benefícios da Lei


9099/1995.

Não cabe transação penal, suspensão condicional do processo, rito sumaríssimo.

4. TORTURA DE PRESO OU DE PESSOA SUJEITA A MEDIDA DE SEGURANÇA

PREVISÃO LEGAL E CONSIDERAÇÕES

Está previsto no art. 1º, § 1º da Lei de Tortura:

Art. 1º, § 1º Na mesma pena incorre quem submete pessoa presa ou sujeita
a medida de segurança a sofrimento físico ou mental, por intermédio da
prática de ato não previsto em lei ou não resultante de medida legal.

Infere-se que o preso está cerceado de inúmeros direitos e, destarte, é incabível a tortura.

Perceba que o tipo penal não faz referência à violência à pessoa ou grave ameaça.

A LEP, em seu art. 3º, garante ao preso e ao internado todos os direitos que não forem
atingidos pela sentença, visto que o preso suporta a perda temporária do direito à liberdade.

Há perda temporária do direito à liberdade “versus” o respeito à integridade física e moral


(art. 40 da LEP), o direito fundamental à saúde (art. 14 da LEP) e vários outros (art. 41 da LEP).

OBJETIVIDADE JURÍDICA

Protege-se a incolumidade física e mental dos presos e das pessoas sujeitas a medida de
segurança.

OBJETO MATERIAL

É o preso ou pessoa submetida a medida de segurança atingida pela conduta criminosa.

NÚCLEO DO TIPO

Novamente, utiliza-se o verbo “submeter”. É uma figura equiparada ao caput, mas possui
autonomia em relação ao delito do caput.

“Submeter” é sujeitar alguém, forçosamente, a determinado comportamento. Por exemplo,


obrigar o preso a ingressar em cela escura, solitária ou em regime disciplinar diferenciado, sem
ordem judicial.

CS – TORTURA 2023.1 21

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O tipo penal possui elemento normativo, já que a conduta criminosa recai sobre a pessoa
presa ou sujeita a medida de segurança (internação em hospital de custódia de tratamento
psiquiátrico ou tratamento ambulatorial).

Pode ser qualquer tipo de prisão, bastando que seja lícita (uma vez que a prisão ilícita
EXCLUI esse crime):

• Civil: pelo inadimplemento do pagamento de alimentos;

• Criminal: pelo cometimento de um crime;

• Definitiva: condenação com trânsito em julgado;

• Provisória: condenação sem trânsito em julgado.

Imagine, por exemplo, que policiais façam a detenção ilegal de uma pessoa, simplesmente
em razão de seu “estereótipo criminoso” e, dentro da viatura, resolvem castigá-la com choques. Por
qual crime eles respondem? Como a prisão é ilegal, responderão pelo art. 1º, II da Lei de Tortura,
e não pelo art. 1º, § 1º. Os policiais valeram-se da autoridade de seus cargos para deter a pessoa
e castigá-la. Não houve prisão propriamente dita, e sim uma restrição ilegal da liberdade.

Frisa-se que no presente delito não há emprego de violência ou grave ameaça. A submissão
da vítima ao sofrimento físico ou mental ocorre “por intermédio da prática de ato não previsto em lei
ou não resultante de medida legal”.

Nesse liame, tem-se que ato não previsto em lei pode ser qualquer ação ou omissão
constrangedora e contrária à legislação em geral. Ex.: deixar o preso em cela escura e
extremamente fria.

Por outro lado, ato não resultante de medida legal é toda ação ou omissão abusiva, porque
desvinculada de fundamento legal. Ex.: sanção disciplinar de isolamento do preso na própria cela,
sem ato motivado do diretor do estabelecimento prisional (art. 53, inciso IV, da LEP).

Como o tema foi cobrado em concurso?


(DPE-PR - Defensor Público - INSTITUTO AOCP - 2022): Não caracteriza
o crime de tortura a conduta do carcereiro que constrange o preso, mediante
grave ameaça, a submeter-se à situação vexatória não autorizada em lei.
Correto.

SUJEITO ATIVO

Em relação ao sujeito ativo, há 2 correntes:

1) 1ª Corrente: trata-se de crime próprio ou especial, pois o tipo penal pressupõe que tenha
o autor poder sobre a pessoa presa ou submetida a medida de segurança. A conduta
somente pode ser cometida por agente público.

2) 2ª Corrente: o crime é comum ou geral, embora normalmente seja praticado pelo


funcionário público. Ex.: um preso (ou grupo de presos) submete outro detento,
integrante de facção rival, a sofrimento físico e mental, como na hipótese em que o
ofendido é mantido trancafiado no interior da rede de esgoto da penitenciária.

CS – TORTURA 2023.1 22

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SUJEITO PASSIVO

Somente o preso ou a pessoa sujeita a medida de segurança.

Obs.: os adolescentes são submetidos a medidas socioeducativas.


Não há, tecnicamente falando, prisão.

ELEMENTO SUBJETIVO

É o dolo, sem qualquer finalidade específica.

Nesse sentido, há o seguinte entendimento do STJ:

PENAL. RECURSO ESPECIAL. CRIME DE TORTURA. ART. 1º, § 1º DA LEI


Nº 9.455/97. REVALORAÇÃO DO CONJUNTO PROBATÓRIO.
POSSIBILIDADE. TIPO QUE NÃO EXIGE ESPECIAL FIM DE AGIR.
SOFRIMENTO FÍSICO INTENSO IMPOSTO À VÍTIMA (PRESO).
RESTABELECIMENTO DA CONDENAÇÃO. I - A revaloração da prova ou de
dados explicitamente admitidos e delineados no decisório recorrido, quando
suficientes para a solução da quaestio, não implica o vedado reexame do
material de conhecimento (Precedentes). II - Consta no v. acórdão
vergastado que a vítima foi agredida por policial civil enquanto se encontrava
presa. Dessas agressões resultaram lesões graves conforme atestado por
laudo pericial. A vítima, dessa forma, foi submetida a intenso sofrimento
físico. Em tal contexto, não há como afastar-se a figura típica referente à
tortura prevista no art.1º, § 1º da Lei nº 9.455/97. III - Referida modalidade
de tortura, ao contrário das demais, não exige, para seu
aperfeiçoamento, especial fim de agir por parte do agente, bastando,
portanto, para a configuração do crime, o dolo de praticar a conduta
descrita no tipo objetivo. IV - O Estado Democrático de Direito repudia o
tratamento cruel dispensado pelo seus agentes a qualquer pessoa, inclusive
aos presos. Impende assinalar, neste ponto, o que estabelece a Lex
Fundamentalis, no art. 5º, inciso XLIX, segundo o qual os presos conservam,
mesmo em tal condição, o direito à intangibilidade de sua integridade física e
moral. Desse modo, é inaceitável a imposição de castigos corporais aos
detentos, em qualquer circunstância, sob pena de censurável violação aos
direitos fundamentais da pessoa humana. Recurso especial provido. (REsp
856.706/AC, Rel. Ministra LAURITA VAZ, Rel. p/ Acórdão Ministro FELIX
FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 06/05/2010, DJe 28/06/2010).

CONSUMAÇÃO

Trata-se de crime material ou causal, consumando-se no instante em que a vítima é


submetida a sofrimento físico ou mental.

TENTATIVA

Por ser crime plurissubsistente, admite a tentativa.

CS – TORTURA 2023.1 23

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LEI 9.099/95

Trata-se de crime de máximo potencial ofensivo, razão pela qual não se aplicam os
benefícios da Lei 9.099/95.

Também é um crime equiparado a hediondo.

5. OMISSÃO NA APURAÇÃO DA TORTURA

PREVISÃO LEGAL E CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Também é chamado de tortura imprópria ou tortura anômala.

NÃO é crime equiparado a hediondo.

Está previsto no § 2º do art. 1º da Lei de Tortura:

Art. 1º, § 2º Aquele que se omite em face dessas condutas, quando tinha o
dever de evitá-las ou apurá-las, incorre na pena de detenção de um a quatro
anos.

NÃO-EVITAÇÃO DA PRÁTICA DE QUALQUER DAS MODALIDADES DE TORTURA

Está prevista na primeira parte do art. 1º, § 2º, da Lei de Tortura.

Imagine, por exemplo, que um Delegado de Polícia escuta que os policiais estão torturando
um preso na cela da delegacia. O Delegado possui a obrigação de evitar a ocorrência, de modo que
se não fizer nada, irá responder por tortura omissão.

Salienta-se que o tipo penal do art. 1º, § 2º funciona como norma especial em relação ao
art. 13, § 2º, do CP, já que o garantidor terá uma pena mais branda, conforme apontado abaixo:

Art. 13, § 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e


podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem:
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;
b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado;
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado.

O dever de evitação é aplicável àquele que tinha o dever de evitar, podia evitar e se omitiu.

NÃO-APURAÇÃO DA PRÁTICA DE QUALQUER DAS MODALIDADES DE TORTURA

Prevista no art. 1º, § 2º, in fine, da Lei de Tortura.

Aqui, não há um ato de tortura propriamente dito, eis que o agente se omite quanto à
apuração de um crime de tortura já praticado.

CS – TORTURA 2023.1 24

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Trata-se do dever de apuração àquele que tinha o dever de apurar, podia apurar e não
apurou, respondendo pelo crime do art. 1º, § 2º da Lei de Tortura.

Frisa-se que o § 2º do art. 1º da Lei de Tortura contém um equívoco, uma vez que tipifica
como crime menos grave a conduta de quem tem o dever de evitar a tortura e deixa de fazê-lo. Ora,
nos termos do art. 13, § 2º, do Código Penal, responde pelo resultado, na condição de partícipe,
aquele que deve e pode agir para evitá-lo e não o faz.

Por consequência, quando uma pessoa tortura a vítima para obter dela uma confissão, e
outra, que podia e devia evitar tal resultado, se omite, ambas respondem pelo crime de tortura do
art. 1º, I, a, da Lei 9.455/97 (que é delito mais grave), e não por este crime descrito no § 2º. Essa
solução atende ao preceito constitucional que estabelece que também responde pela tortura aquele
que, podendo evitar o resultado, deixa de fazê-lo (art. 5º, XLIII, da CF).

Dessa forma, o § 2º da Lei 9.455/97 somente será aplicável àquele que tem o dever jurídico
de apurar a conduta delituosa e não o faz. Como tal dever jurídico incumbe às autoridades policiais
e seus agentes, torna-se evidente a impossibilidade de aplicação do aumento do § 4º, I, da Lei
(crime cometido por agente público), já que isso constituiria bis in idem.

Como o tema foi cobrado em concurso?


(PC-PB - Delegado - CESPE - 2022): O agente que se omite em face das
condutas previstas na Lei dos Crimes de Tortura quando tinha o dever de
apurá-las incorre nas mesmas penas previstas para os crimes nela descritos.
Errado.

OBJETIVIDADE JURÍDICA

Protege-se a Administração da Justiça, uma vez que seus interesses não se compactuam
com o comportamento do funcionário público que não cumpre com seus deveres, ao se omitir diante
de um fato bárbaro, nada obstante tenha o dever de agir.

OBJETO MATERIAL

É a pessoa torturada.

NÚCLEO DO TIPO

O verbo é “omitir”, que significa a abstenção do agente público frente à atuação que lhe
competia em razão da sua posição funcional.

Trata-se de um crime omissivo próprio ou puro, eis que a omissão está descrita no próprio
tipo penal. Além disso, é crime acessório (de fusão ou parasitário), pois não existe de forma
isolada no mundo jurídico, depende da prática de um crime anterior. Ex.: houve um crime de tortura
e o funcionário público que tinha o dever de apurá-lo se omitiu.

Destaca-se que o dever de apurar não se confunde com o dever de instaurar procedimento
investigatório, pois o dever de apuração é mais abrangente do que o dever de simplesmente
instaurar um procedimento investigatório. É deixar de adotar as medidas para movimentar o
inquérito judicial.

CS – TORTURA 2023.1 25

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Por outro lado, o dever de instaurar procedimento investigatório resume-se na coleta de
dados para a apuração do delito.

SUJEITO ATIVO

É crime próprio ou especial, qualquer funcionário público que, tendo o dever jurídico de
apurar a prática da tortura, em qualquer de suas modalidades (art. 1º, inc. I, “a”, “b”, “c”, inc. II, e §
1º, da Lei 9.455/1997), queda-se inerte.

Como o tema foi cobrado em concurso?


(MPE-SE - Promotor de Justiça - CESPE - 2022): A tortura-omissão é crime
comum, razão por que é irrelevante a função pública do agente. Errado.

(DPE-GO - Defensor Público - FCC - 2021): O crime de tortura pode ser


praticado por omissão daquele que tem o dever de apurar a conduta de quem
submete pessoa presa a sofrimento físico ou mental, por intermédio da
prática de ato não previsto em lei, e não o faz. Correto.

SUJEITO PASSIVO

É o Estado, a quem incumbe o dever de investigar e punir a tortura, conforme preleciona a


Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes,
de 1984.

Trata-se, ainda, de crime contra a Administração da Justiça.

ELEMENTO SUBJETIVO

É o dolo, independentemente de qualquer finalidade específica.

Não se admite a modalidade culposa.

CONSUMAÇÃO

É crime formal, de consumação antecipada ou de resultado cortado, consumando-se com a


inércia dolosa no tocante à apuração da tortura, e não exige a produção de qualquer resultado
naturalístico.

TENTATIVA

É crime omissivo próprio (puro), por isso não admite tentativa.

Outrossim, é crime unissubsistente, não há como fracionar a conduta.

LEI 9.099/95

CS – TORTURA 2023.1 26

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É um crime de médio potencial ofensivo, portanto, cabe a suspensão condicional do
processo, se presentes todos os requisitos do art. 89 da Lei 9.099/1995.

CONFRONTO COM O CRIME DE PREVARICAÇÃO

O crime de prevaricação, previsto no art. 319 do CP, é de omissão geral:

Art. 319 Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou


praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou
sentimento pessoal.

Ao passo que no delito de prevaricação o ato é praticado para alcançar interesse ou


sentimento pessoal, no crime de tortura por omissão, o ato praticado não tem fim específico,
bastando que seja evidenciado o dolo.

6. FIGURA QUALIFICADA

Estão previstas no art. 1º, § 3º da Lei de Tortura:

Art. 1º, § 3º Se resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, a pena


é de reclusão de quatro a dez anos; se resulta morte, a reclusão é de oito a
dezesseis anos.

A morte, a lesão corporal de natureza gravíssima e a lesão corporal de natureza grave


qualificam a tortura, pois são produzidas a título de culpa (crime preterdoloso). Por outro lado, a
lesão corporal de natureza leve é absorvida pela tortura, pois não há previsão legal e a violência é
meio de execução da tortura.

Havendo dolo no resultado agravador, ou seja, no tocante a lesão grave ou gravíssima e na


morte, o agente responderá por concurso entre tortura e homicídio ou entre tortura e lesão.

Ressalta-se que as qualificadoras não se aplicam ao crime de omissão na apuração de


tortura. Primeiro, em razão da falta de proporcionalidade e, segundo, porque não há tortura
propriamente dita.

Obs.: o doutrinador Renato Brasileiro entende que a penalidade


aplicada no § 3º do art. 1º se aplica a todas as modalidades de tortura,
levando-se em consideração que a lei não as restringiu.

Por fim, a tortura qualificada pela morte não se confunde com o homicídio qualificado pelo
emprego de tortura, em que há o animus necandi.

7. CAUSAS DE AUMENTO DE PENA

Estão previstas nos incisos do § 4º do art. 1º.

CS – TORTURA 2023.1 27

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Salienta-se, a priori, que podem elevar a pena acima do máximo legal e incidem na terceira
fase da dosimetria da pena.

CRIME COMETIDO POR AGENTE PÚBLICO

A pena será aumentada de um 1/6 até um 1/3 quando for praticada por agente público
(conceito está no art. 324 do CP).

Exige-se nexo de causalidade entre a posição funcional do agente e o crime de tortura.

O crime pode ser praticado no exercício da função ou em razão dela.

CRIME COMETIDO CONTRA CRIANÇA, GESTANTE, PORTADOR DE DEFICIÊNCIA,


ADOLESCENTE OU MAIOR DE 60 ANOS

Para incidir a majorante, o agente deve conhecer essa peculiar característica da vítima.

Baseia-se, portanto, na:

1) Fragilidade da vítima;

2) Facilidade encontrada pelo agente para cometer o delito;

3) Indiscutível covardia do agente.

Como o tema foi cobrado em concurso?


(DPE-SE - Defensor Público - CESPE - 2022): A conduta de submeter uma
vítima com 61 anos de idade, sob seu poder, com emprego de violência, a
intenso sofrimento físico, como forma de aplicar castigo pessoal constitui
crime de tortura com causa de aumento de pena. Correto.

SE O CRIME É COMETIDO MEDIANTE SEQUESTRO

O sequestro é privação da liberdade por tempo juridicamente relevante.

Aqui, tem-se a privação da liberdade como modo de execução da tortura, ou seja, utiliza-se
o sequestro para submeter a vítima a sofrimento físico ou mental.

A privação da liberdade deve ser o modo de execução da tortura para que incida essa
majorante. Quando a privação da liberdade se limita ao tempo necessário à realização da tortura,
não incide a majorante.

Como o tema foi cobrado em concurso?


(DPE-GO - Defensor Público - FCC - 2021): O crime de tortura enseja o
reconhecimento do concurso material de crimes, se cometido mediante
sequestro. Errado.

8. EFEITOS DA CONDENAÇÃO

CS – TORTURA 2023.1 28

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Previsto no art. 1º, § 5º da Lei de Tortura, assim segue:

Art. 1º, § 5º A condenação acarretará a perda do cargo, função ou emprego


público e a interdição para seu exercício pelo dobro do prazo da pena
aplicada.

Ressalta-se que não basta a perda do cargo, o agente deverá ficar impedido de realizar a
função pelo dobro do tempo da pena.

Somente após reabilitação poderá prestar novo concurso para a função. Ademais, os efeitos
da condenação só serão aplicados após o trânsito em julgado da condenação.

A finalidade da perda do cargo é extirpar da Administração Pública aquele que revelou


inidoneidade moral e grave desvio ético para o exercício da função pública, demonstrando-se, de
forma inequívoca, que o agente público violou seus deveres funcionais de uma tal forma que o
Estado e a sociedade não podem mais confiar em seus serviços.

De acordo com a maioria da doutrina, a interdição é impossibilidade de ocupação de


qualquer cargo público (em sentido amplo), com efeitos futuros, pelo dobro do prazo da pena
aplicada.

Os efeitos extrapenais automáticos não precisam ser declarados na sentença condenatória


e independem da quantidade de pena cominada ou aplicada. Diferentemente do que ocorre no
Código Penal, em que o efeito não é automático. Trata-se de norma especial em relação ao que é
previsto no CP.

Por fim, salienta-se que os efeitos da condenação alcançam os crimes de tortura praticados
por policiais militares, de acordo com entendimento jurisprudencial do STF e STJ:

SEGUNDO AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO


COM AGRAVO. PENAL E PROCESSUAL PENAL. CRIME DE TORTURA.
POLICIAIS MILITARES. PERDA DO POSTO E DA PATENTE COMO
CONSEQUÊNCIA DA CONDENAÇÃO. APLICABILIDADE DO ARTIGO 1º, §
5º, DA LEI 9.455/1997. ALEGADA VIOLAÇÃO DO ARTIGO 125, § 4º, DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL. INOCORRÊNCIA. PRECEDENTE. 1. A
condenação de policiais militares pela prática do crime de tortura, por ser
crime comum, tem como efeito automático a perda do cargo, função ou
emprego público, por força do disposto no artigo 1º, § 5º, da Lei 9.455/1997.
É inaplicável a regra do artigo 125, § 4º, da Carta Magna, por não se tratar de
crime militar. Precedentes. 2. In casu, o acórdão recorrido assentou: “PENAL
E PROCESSUAL PENAL. RECURSO DO MINISTÉRIO PÚBLICO.
TORTURA. AUTORIA E MATERIALIDADE COMPROVADAS QUANTUM
SATIS. CONDENAÇÃO DOS APELADOS QUE SE IMPÕE. PRESCRIÇÃO
DA PRETENSÃO PUNITIVA, MODALIDADE RETROATIVA, ARTIGO 109,
INCISO V, C/C ARTIGO 110, AMBOS DO CÓDIGO PENAL, EM RELAÇÃO
AOS APELANTES ANTÔNIO MARCOS DE FRANÇA E ELENILSON NUNES
DA SILVA. CONHECIMENTO E PROVIMENTO PARCIAL DO RECURSO.”
3. Agravo regimental DESPROVIDO. (STF, ARE 799102 AgR-segundo,
Relator(a): Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em 09/12/2014,
ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-026 DIVULG 06-02-2015 PUBLIC 09-02-
2015).

CS – TORTURA 2023.1 29

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(...) 3. O art. 1°, $ 5°, da Lei 9.455/1997, estabelece a aplicação da perda do
cargo, função ou emprego público como efeito automático da condenação
pelo crime de tortura, prevalecendo esta regra especial sobre a geral prevista
no art. 92, L, do Código Penal. (...) Diante de todo o exposto, a decisão
monocrática recorrida está em consonância com a jurisprudência desta Corte
Superior e do próprio STF, devendo ser mantido, por conseguinte, o
restabelecimento do acórdão proferido pela Terceira Câmara Criminal no
julgamento na data de 4/3/2015, condenando o acusado, também, à perda
do cargo público. (...). (STJ, Agravo em REsp n° 1131443 – MT. Min. Rel.
Jorge Mussi. 28 de abril de 2022).

Como o tema foi cobrado em concurso?


(PC-PB - Delegado - CESPE - 2022): A perda do cargo público não é efeito
automático da sentença que condena o servidor público pela prática do crime
de tortura. Errado.

(PC-RR - Delegado - VUNESP - 2022): A condenação acarretará a perda do


cargo, função ou emprego público e a interdição para seu exercício pelo triplo
do prazo da pena aplicada. Errado.

9. VEDAÇÃO À LIBERDADE PROVISÓRIA COM FIANÇA E (IM)POSSIBILIDADE DE


CONCESSÃO DE LIBERDADE PROVISÓRIA SEM FIANÇA CUMULADA COM AS
MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS DA PRISÃO

A Lei de Tortura, no art. 1º, § 6º, prevê que a tortura é inafiançável, repetindo a previsão
constitucional. Portanto, a tortura não admite liberdade provisória com fiança.

Diante disso, indaga-se: admite-se liberdade provisória sem fiança? Durante muitos anos,
prevaleceu o entendimento que não caberia liberdade provisória sem fiança. Atualmente, este
entendimento está superado, considerando que o legislador não pode limitar a concessão em
abstrato para determinados delitos, mesmo que sejam hediondos ou equiparados. Portanto, admite-
se liberdade provisória sem fiança.

Em razão disso, a doutrina sustenta que a concessão de liberdade provisória sem fiança
para crimes hediondos e equiparados deve ser cumulada com aplicação das medidas cautelares
diversas da prisão, sob pena de tratamento mais benéfico a um crime mais grave.

10. (DES)NECESSIDADE DE DEFESA PRELIMINAR NOS PROCEDIMENTOS PENAIS


REFERENTES AO CRIME DE TORTURA

A defesa preliminar é a manifestação defensiva antes do recebimento da peça acusatória,


ou seja, espécie de contraditório prévio ao juízo de admissibilidade da peça acusatória.

Está prevista em alguns procedimentos especiais, a exemplo do art. 514 do CPP:

Art. 514. Nos crimes afiançáveis, estando a denúncia ou queixa em devida


forma, o juiz mandará autuá-la e ordenará a notificação do acusado, para
responder por escrito, dentro do prazo de quinze dias.

CS – TORTURA 2023.1 30

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Parágrafo único. Se não for conhecida a residência do acusado, ou este se
achar fora da jurisdição do juiz, ser-lhe-á nomeado defensor, a quem caberá
apresentar a resposta preliminar.

Destaca-se, todavia, que o art. 514 do CPP não se aplica aos crimes de tortura, tendo em
vista que só se aplica aos crimes funcionais típicos, conforme precedente do STJ:

O procedimento especial previsto no Capítulo II, do Título II, do Código de


Processo Penal, apenas se aplica aos crimes próprios e impróprios previstos
no Código Penal, não abarcando outros ilícitos comuns, ainda que a
qualidade de funcionário público os qualifique ou caracterize causa de
aumento de pena. 3. No caso, o paciente foi condenado pelos crimes
descritos no art. 1º, inciso I, alínea a, c/c o § 4º, da Lei n.º 9.455/1997, e no
art. 299 do Código Penal, situação que afasta a obrigatoriedade de
oferecimento de resposta antes do recebimento da denúncia, nos termos do
art. 514 do Código de Processo Penal. Precedentes. (...). (STJ, 5ª Turma, HC
167.503/MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 21/05/2013, DJe
29/05/2013).

11. INSUSCETIBILIDADE DE GRAÇA, ANISTIA E INDULTO

A Lei 8.072/90 prevê que para os crimes hediondos, tráfico, terrorismo e tortura não será
possível a concessão de anistia, graça e indulto, nos seguintes termos:

Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de


entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis de:
I - anistia, graça e indulto.

Por outro lado, a Lei de Tortura prevê que não será possível a concessão de graça ou anistia.

Art. 1º, § 6º O crime de tortura é inafiançável e insuscetível de graça ou


anistia.

Diante disso, questiona-se: é possível a concessão de indulto? Há 3 correntes que discutem


o tema:

1) 1ª Corrente: o indulto é cabível apenas para a tortura, tendo em vista que o § 6º é uma
norma especial e posterior à Lei de Crime Hediondos.

2) 2ª Corrente: o indulto também é cabível para os demais crimes hediondos e


equiparados. Fundamenta seu entendimento no princípio da isonomia.

3) 3ª Corrente: não cabe indulto, nem mesmo para a tortura. Entende-se que graça é
gênero, do qual o indulto é espécie. Trata-se da corrente que prevalece na
jurisprudência, conforme os seguintes julgados do STF:

A jurisprudência deste Supremo Tribunal Federal é firme no sentido de que o


instituto da graça, previsto no art. 5.º, inc. XLIII, da Constituição Federal,
engloba o indulto e a comutação da pena, estando a competência privativa
do Presidente da República para a concessão desses benefícios limitada pela
vedação estabelecida no referido dispositivo constitucional. (...). (STF, 2ª

CS – TORTURA 2023.1 31

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Turma, HC 115.099/SP, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 19/02/2013, DJe 49
13/03/2013).

Revela-se inconstitucional a possibilidade de que o indulto seja


concedido aos condenados por crimes hediondos, de tortura, terrorismo
ou tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, independentemente do lapso
temporal da condenação. (...). (STF, Pleno, ADI 2.795 MC/DF, Rel. Min.
Maurício Corrêa, j. 08/05/2003).

Como o tema foi cobrado em concurso?


(PC-RR - Delegado - VUNESP - 2022): O crime de tortura é inafiançável e
insuscetível de graça ou anistia. Correto.

(DPE-GO - Defensor Público - FCC - 2021): O crime de tortura é inafiançável


e insuscetível de aplicação de penas restritivas de direitos em substituição à
pena privativa de liberdade. Errado.

12. REGIME INICIAL DE CUMPRIMENTO DE PENA

Pertinente destacar que a redação original da Lei de Crimes Hediondos previa o regime
integralmente fechado:

Redação Original
Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis de:
(...)
§1º A pena por crime previsto neste artigo será cumprida integralmente em
regime fechado.

Em 1997, editou-se a Lei de Tortura que previu o regime inicialmente fechado, salvo para a
tortura omissão que poderá ser aberto ou semiaberto:

Art. 1º Constitui crime de tortura:


(...)
§ 7º O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo a hipótese do § 2º,
iniciará o cumprimento da pena em regime fechado.

Em razão disso, a doutrina passou a sustentar que o mesmo tratamento deveria ser
dispensado aos crimes hediondos e equiparados, afirmando, ainda, que o art. 1º, § 7º da Lei de
Tortura havia revogado tacitamente o § 1º do art. 2º da Lei de Crimes Hediondos.

A jurisprudência, à época, entendeu que houve revogação, tendo inclusive sumulado o seu
entendimento nos seguintes moldes:

Súmula 698 do STF: Não se estende aos demais crimes hediondos a


admissibilidade de progressão no regime de execução da pena aplicada ao
crime de tortura.

CS – TORTURA 2023.1 32

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Contudo, no julgamento do HC 82.959, o STF declarou a inconstitucionalidade do regime
inicial fechado, em razão da violação do princípio da individualização da pena:

Súmula vinculante 26: Para efeito de progressão de regime no cumprimento


da pena por crime hediondo ou equiparado, o juízo da execução observará a
inconstitucionalidade do art. 2º da Lei n. 8.072/90, sem prejuízo de avaliar se
o condenado preenche, ou não, os requisitos objetivos e subjetivos do
benefício, podendo determinar, para tal fim, de modo fundamento, a
realização de exame criminológico.

Posteriormente, a Lei de Crimes Hediondos foi alterada passando a prever o regime


inicialmente fechado:

Art. 2º, § 1º A pena por crime previsto neste artigo será cumprida inicialmente
em regime fechado.
§2º A progressão de regime, no caso dos condenados pelos crimes previstos
neste artigo, dar-se-á após o cumprimento de 2/5 da pena, se o apenado for
primário, e de 3/5, se reincidente. (Revogado pela Lei n. 13.964/19 – Pacote
Anticrime)
LEP, Art. 112. A pena privativa de liberdade será executada em forma
progressiva com a transferência para regime menos rigoroso, a ser
determinada pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao menos: (Redação
dada pela Lei n. 13.964, de 2019)
V – 40% (quarenta por cento) da pena, se o apenado for condenado pela
prática de crime hediondo ou equiparado, se for primário;
VI – 50% (cinquenta por cento) da pena, se o apenado for:
a) Condenado pela prática de crime hediondo ou equiparado, com
resultado morte, se for primário, vedado o livramento condicional;
VII – 60% (sessenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente na
prática de crime hediondo ou equiparado;
VIII – 70% (setenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente em
crime hediondo ou equiparado com resultado morte, vedado o livramento
condicional.

Novamente, o STF, no julgamento do HC 111.840, declarou a inconstitucionalidade do


cumprimento da pena em regime inicialmente fechado. Portanto, na visão do STF, para crimes
hediondos não necessariamente deve ser o regime inicial fechado, podendo ser o semiaberto ou
aberto.

Diante disso, indaga-se: considerando que o STF declarou a inconstitucionalidade do regime


inicial fechado para os crimes hediondos, para a tortura continua sendo possível o regime inicial
fechado ou aplica-se o entendimento do HC 111.840?

De acordo com a doutrina, a própria CF impõe tratamento uniforme aos crimes hediondos e
equiparados, por isso o mesmo raciocínio deve ser aplicado ao crime de tortura. Nesse sentido, o
entendimento do STJ:

É flagrante o constrangimento ilegal em relação à fixação do regime inicial


fechado com base no art. 1.º, § 7.º, da Lei de Tortura. 4. Com a declaração
pelo Pretório Excelso da inconstitucionalidade do regime integral
fechado e do § 1.º do art. 2.º da Lei de Crimes Hediondos, com redação
dada pela lei n.º 11.464/2007 - também aplicável ao crime de tortura -, o

CS – TORTURA 2023.1 33

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cumprimento da pena passou a ser regido pelas disposições gerais do Código
Penal. Porém, consideradas desfavoráveis as circunstâncias judiciais do
caso concreto, cabível aplicar inicialmente o regime prisional semiaberto,
atendendo ao disposto no art. 33, c/c o art. 59, ambos do Código Penal. (...).
(STJ, 5ª Turma, HC 286.925/RR, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 13/05/2014, DJe
21/05/2014).

Porém, a 1ª Turma do STF possui entendimento diverso, afirmando que o § 7º do art.1º da


Lei de Tortura é norma especial, razão pela qual se aplica o regime inicial fechado:

O regime de cumprimento da pena é fixado a partir do período


correspondente e as circunstâncias judiciais. PENA – REGIME DE
CUMPRIMENTO – PREVISÃO LEGAL. Se a lei de regência prevê o regime
inicial de cumprimento da pena, impõe-se a observância, independente
das circunstâncias judiciais. (STF, 1ª Turma, HC 123.316/SE, Rel. Min.
Marco Aurélio, j. 09/06/2015, DJe 154 05/08/2015).

13. EXTRATERRITORIALIDADE DA LEI PENAL

Significa a aplicação da lei brasileira a crimes de torturas praticados fora do território


nacional. Assim sendo, a Lei de Tortura poderá ser aplicada a crimes de tortura praticados no
exterior.

Possui previsão legal no art. 2º da Lei 9.455/97:

Art. 2º - O disposto nesta Lei aplica-se ainda quando o crime não tenha sido
cometido em território nacional, sendo a vítima brasileira (princípio da
personalidade) ou encontrando-se o agente em local sob jurisdição brasileira
(princípio do domicílio).

Infere-se que incidem os princípios da personalidade passiva e do domicílio, 2 possibilidades


de extraterritorialidade incondicionada, em que não se exige nenhuma condição peculiar.

Portanto, para que o dispositivo seja aplicado é necessário que ocorra uma das 2 hipóteses
descritas: que a vítima seja brasileira ou que o autor da tortura esteja em local em que a legislação
pátria seja aplicável.

CS – TORTURA 2023.1 34

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