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DIREITO PENAL
1. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA
1.1. Reiteração criminosa no crime de descaminho e princípio da insignificância –
(Info 575) – IMPORTANTE!!! – (MPAC-2014)
OBS2: Além do valor do tributo (critério objetivo), existem outros aspectos que devem
ser considerados pelo julgador? SIM. Para a aplicação do princípio da insignificância
aos crimes de descaminho, o STJ afirma que devem ser preenchidos 2 requisitos: 1º)
objetivo: valor inferior a R$ 10 mil (STJ) ou R$ 20 mil (STF); 2º) subjetivo: em regra, o
agente não pode se tratar de criminoso habitual (reiteração criminosa).
ATENÇÃO: se esse tema for cobrado em prova, você deverá responder que NÃO é
possível a aplicação do princípio, uma vez que o referido precedente da 1ª Turma do
STF não formou jurisprudência.
2. CONFISSÃO
2.1. Emprego da confissão qualificada como atenuante – (Info 586)
Obs: por serem muito próximos os conceitos, alguns autores apresentam a confissão
parcial e a qualificada como sinônimas.
Como o último julgado do STF sobre o tema é relativamente antigo (2013), em provas,
é mais provável que seja cobrado o entendimento do STJ.
CONFISSÃO RETRATADA: Ocorre quando o agente confessa a prática do delito e,
posteriormente, se retrata, negando a autoria. Ex: durante o inquérito policial, João
confessa o crime, mas em juízo volta atrás e se retrata, negando a imputação e dizendo
que foi torturado pelos policiais.
Neste caso, o juiz deverá aplicar a atenuante do art. 65, III, “d”, do CP? SIM.
Como o último julgado do STF sobre o tema é relativamente antigo (2014), em provas,
é mais provável que seja cobrado o entendimento do STJ.
Desse modo, a Súmula 545 do STJ vale tanto para casos de confissão parcial, de
confissão qualificada e confissão com retratação posterior. Em suma, se o juiz utilizou
a confissão como fundamento (elemento de argumentação) para embasar a
condenação, ele, obrigatoriamente, deverá aplicar a atenuante prevista no art. 65,
inciso III, alínea “d”, do CP.
Ora, a confissão é um fato processual que gera um ônus e um bônus para o réu. O
ônus está no fato de que isso será utilizado contra ele como elemento de prova no
momento da sentença. O bônus foi concedido pela lei e consiste na atenuação de sua
pena. Não seria justo que o magistrado utilizasse a confissão apenas para condenar o
réu, sem lhe conferir o bônus, qual seja, o reconhecimento da confissão.
Obs: em provas de concurso, penso que irão cobrar, durante um bom tempo, a mera
redação da Súmula 545 do STJ. Algo como: “segundo o entendimento sumulado do
STJ...”.
Situação 1:
O fato de o denunciado por furto qualificado pelo rompimento de obstáculo ter
confessado a subtração do bem, apesar de ter negado o arrombamento, é
circunstância suficiente para a incidência da atenuante da confissão espontânea
(art. 65, III, "d", do CP). Isso porque mesmo que o agente tenha confessado
parcialmente os fatos narrados na denúncia, deve ser beneficiado com a atenuante
genérica da confissão espontânea.
STJ. 5ª Turma. HC 328.021-SC, Rel. Min. Leopoldo de Arruda Raposo
(Desembargador convocado do TJ-PE), julgado em 3/9/2015 (Info 569).
Situação 2:
O fato de o denunciado por roubo ter confessado a subtração do bem, negando,
porém, o emprego de violência ou grave ameaça, é circunstância que não enseja a
aplicação da atenuante da confissão espontânea (art. 65, III, "d", do CP). Isso porque
a atenuante da confissão espontânea pressupõe que o réu reconheça a autoria do
fato típico que lhe é imputado. Ocorre que, no caso, o réu não admitiu a prática do
roubo denunciado, pois negou o emprego de violência ou de grave ameaça para
subtrair o bem da vítima, numa clara tentativa de desclassificar a sua conduta para
o crime de furto. Nesse contexto, em que se nega a prática do tipo penal apontado
na peça acusatória, não é possível o reconhecimento da circunstância atenuante.
STJ. 5ª Turma. HC 301.063-SP, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 3/9/2015 (Info
569).
3. MAUS ANTECEDENTES
3.1. Condenação por fato posterior ao crime em julgamento não gera maus
antecedentes – (Info 535)
4. DOSIMETRIA DA PENA
4.1. Compatibilidade entre a agravante do art. 62, I, do CP e a condição de mandante
do delito – (Info 580)
João, mesmo não tendo apertado o gatilho, deverá ser condenado por homicídio? SIM,
é claro. João é autor intelectual do delito (mandante), devendo responder pelo crime.
Segundo classificação feita pela doutrina alemã, João, neste caso, seria o autor de
escritório, ou seja, "o agente que transmite a ordem a ser executada por outro autor direto,
dotado de culpabilidade e passível de ser substituído a qualquer momento por outra pessoa, no
âmbito de uma organização ilícita de poder. Exemplo: o líder do PCC (Primeiro Comando da
Capital), em São Paulo, ou do CV (Comando Vermelho), no Rio de Janeiro, dá as ordens a serem
seguidas por seus comandados. É ele o autor de escritório, com poder hierárquico sobre seus
'soldados' (essa modalidade de autoria também é muito comum nos grupos terroristas)."
(MASSON, Cleber. Direito Penal esquematizado. São Paulo: Método, 2014, p. 541-542).
O mandante do crime deverá sempre ser punido com a agravante do art. 62, I, do CP?
NÃO. O mandante do crime somente deverá ser punido com a agravante se, no caso
concreto, houver elementos que sirvam para caracterizar a situação descrita pelo
inciso I do art. 62, ou seja, é necessário que fique demonstrado que ele promoveu,
organizou o crime ou dirigiu a atividade dos demais agentes. Em outras palavras, o
mandante poderá responder pela agravante do inciso I do art. 62 do CP, mas isso nem
sempre acontecerá, dependendo das circunstâncias do caso concreto.
É possível compensar a atenuante da confissão espontânea (art. 65, III, "d", do CP)
com a agravante da promessa de recompensa (art. 62, IV).
STJ. 5ª Turma. HC 318.594-SP, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 16/2/2016 (Info
577).
OBS:
Imagine a seguinte situação: o réu praticou o crime porque outra pessoa lhe prometeu
uma recompensa. Isso configura uma agravante (art. 62, IV, do CP). No entanto, ele
confessou a prática do crime, o que é uma atenuante (art. 65, III, "d"). Diante disso,
qual dessas circunstâncias irá prevalecer? Nenhuma delas. Elas irão se compensar.
O fato de o réu ter bons antecedentes pode ser considerado como uma atenuante
inominada do art. 66 do CP?
NÃO. Não caracteriza circunstância relevante anterior ao crime (art. 66 do CP) o fato
de o condenado possuir bons antecedentes criminais. Isso porque os antecedentes
criminais são analisados na 1ª fase da dosimetria da pena, na fixação da pena-base,
considerando que se trata de uma circunstância judicial do art. 59 do CP.
STJ. 6ª Turma. REsp 1405989/SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Rel. p/ Acórdão
Min. Nefi Cordeiro, julgado em 18/08/2015 (Info 569).
O réu praticou o crime com violência contra a mulher. Isso configura uma agravante
(art. 61, I, "f", do CP). No entanto, ele confessou a prática do crime, o que é uma
atenuante (art. 65, III, "d"). Diante disso, qual dessas circunstâncias irá prevalecer?
Nenhuma delas. Elas irão se compensar. Segundo decidiu o STJ, compensa-se a
atenuante da confissão espontânea (art. 65, III, "d", do CP) com a agravante de ter
sido o crime praticado com violência contra a mulher (art. 61, II, "f", do CP).
STJ. 6ª Turma. AgRg no AREsp 689.064-RJ, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura,
julgado em 6/8/2015 (Info 568).
O réu foi denunciado por homicídio culposo na direção de veículo automotor (art.
302 do CTB).
Ficou provado que ele estava em alta velocidade e que dirigia o carro
imprudentemente porque estava com pressa para levar drogas a uma festa.
O juiz pode aumentar a pena-base com fundamento na excessiva velocidade?
NÃO. Na primeira fase da dosimetria da pena, o excesso de velocidade não deve
ser considerado na aferição da culpabilidade (art. 59 do CP) do agente que pratica
delito de homicídio e de lesões corporais culposos na direção de veículo automotor.
O excesso de velocidade não constitui fundamento apto a justificar o aumento da
pena-base pela culpabilidade, por ser inerente aos delitos de homicídio culposo e
de lesões corporais culposas praticados na direção de veículo automotor,
caracterizando a imprudência, modalidade de violação do dever de cuidado
objetivo, necessária à configuração dos delitos culposos.
O juiz pode aumentar a pena-base com fundamento no fato de que o réu estava
transportando droga no carro para levá-la a uma festa?
SIM. O juiz, na análise dos motivos do crime (art. 59 do CP), pode fixar a pena-base
acima do mínimo legal em razão de o autor ter praticado delito de homicídio e de
lesões corporais culposos na direção de veículo automotor, conduzindo-o com
imprudência a fim de levar droga a uma festa. Isso porque o fim de levar droga a
uma festa representa finalidade que desborda das razoavelmente utilizadas para
esses crimes, configurando justificativa válida para o desvalor.
STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 153.549-DF, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em
2/6/2015 (Info 563).
Caso o réu tenha confessado a prática do crime (o que é uma atenuante), mas seja
reincidente (o que configura uma agravante), qual dessas circunstâncias irá
prevalecer?
1ª) Posição do STJ: em regra, reincidência e confissão se COMPENSAM. Exceção:
se o réu for multirreincidente, prevalece a reincidência. (MPRR-2017)
4.8. Aumento da pena-base pelo fato de a corrupção passiva ter sido praticada por
Promotor de Justiça – (Info 552)
O fato de o crime de corrupção passiva ter sido praticado por Promotor de Justiça
no exercício de suas atribuições institucionais pode configurar circunstância
judicial desfavorável na dosimetria da pena. Isso porque esse fato revela maior
grau de reprovabilidade da conduta, a justificar o reconhecimento da acentuada
culpabilidade, dadas as específicas atribuições do promotor de justiça, as quais são
distintas e incomuns se equiparadas aos demais servidores públicos “latu sensu”.
STJ. 5ª Turma. REsp 1.251.621-AM, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 16/10/2014
(Info 552).
4.9. As agravantes genéricas podem ser aplicadas aos crimes preterdolosos – (Info
541)
O condenado que recebeu pena restritiva de direitos e ainda nem sequer iniciou
seu cumprimento não tem o direito de escolher cumprir a pena privativa de
liberdade que foi originalmente imposta.
A reconversão da pena restritiva de direitos em pena privativa de liberdade
depende da ocorrência dos requisitos legais (descumprimento das condições
impostas pelo juiz da condenação), não cabendo ao condenado, que nem sequer
iniciou o cumprimento da pena, escolher ou decidir a forma como pretende cumprir
a sanção, pleiteando aquela que lhe parece mais cômoda ou conveniente.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.524.484-PE, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, j. 17/5/16
(Info 584).
6. EFEITOS DA CONDENAÇÃO
6.1. PERDA DO CARGO: A pena de perdimento deve ser restrita ao cargo ocupado
no momento do delito, salvo se o novo cargo tiver relação com as atribuições anteriores
– (Info 599) – IMPORTANTE!!!
Imagine que, quando o réu praticou o crime, ele estava ocupando o cargo público
“X”. No entanto, anos mais tarde, no momento em que foi prolatada a sentença
condenatória, ele já estava em outro cargo público (“Z”). O juiz poderá condenar o
réu à perda do atual cargo público (“Z”) mesmo sendo ele posterior à prática do
delito?
REGRA: não. Em regra, a pena de perdimento deve ser restrita ao cargo público
ocupado ou função pública exercida no momento da prática do delito.
Assim, a pena de perdimento deve ser restrita ao cargo ocupado ou função pública
exercida no momento do delito, à exceção da hipótese em que o magistrado,
motivadamente, entender que o novo cargo ou função guarda correlação com as
atribuições anteriores.
STJ. 5ª Turma. REsp 1452935/PE, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, j. 14/03/17
(Info 599).
OBS: Pena de perdimento de cargo, função ou mandato: O art. 92, I, do CP prevê, como
efeito extrapenal específico da condenação, o seguinte:
Art. 92. São também efeitos da condenação:
I - a perda de cargo, função pública ou mandato eletivo:
a) quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo
igual ou superior a um ano, nos crimes praticados com abuso
de poder ou violação de dever para com a Administração
Pública;
b) quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo
superior a 4 (quatro) anos nos demais casos.
Exemplo 1: Em 2010, João, quando ocupava emprego público nos Correios, praticou o
crime de concussão (art. 316 do CP). Em 2013, antes que o processo fosse julgado, João
foi aprovado em concurso público e tomou posse como servidor da Universidade
Federal, deixando o emprego na ECT. Em 2016, João foi condenado pelo crime
imputado. Nesta hipótese, em princípio, o juiz não deverá determinar a perda do
cargo na Universidade Federal, considerando que este novo cargo não tem relação
com as atribuições do anterior.
Réu, servidor público, foi denunciado pela prática de crime contra a Administração
Pública. Durante o curso do processo criminal, ele se aposenta. O juiz profere
sentença, condenando-o à pena de 5 anos de reclusão.
É possível que o juiz o condene também à perda da aposentadoria com base no art.
92, I, do CP?
NÃO. Ainda que condenado por crime praticado durante o período de atividade, o
servidor público não pode ter a sua aposentadoria cassada com fundamento no art.
92, I, do CP, mesmo que a sua aposentadoria tenha ocorrido no curso da ação penal.
O rol do art. 92 do CP é taxativo e nele não está prevista a perda da aposentadoria.
STJ. 5ª Turma. REsp 1.416.477-SP, Rel. Min. Walter de Almeida Guilherme
(Desembargador convocado do TJ/SP), julgado em 18/11/2014 (Info 552).
6.3. Promotor de Justiça condenado e regras especiais sobre a perda do cargo – (Info
552) – IMPORTANTE!!!
7. REGIME PRISIONAL
7.1. Regime inicial fechado e circunstâncias judiciais desfavoráveis – (TJPI-2015)
7.3. Circunstâncias judiciais favoráveis e regime inicial mais gravoso que o cabível
em razão da sanção imposta – (Info 548)
7.4. Regime inicial da pena no caso de crimes hediondos e equiparados – (Info 540)
7.5. Regime inicial de cumprimento de pena para o condenado por crime hediondo
ou equiparado
Qual é o regime inicial de cumprimento de pena do réu que for condenado por
crime hediondo ou equiparado?
O regime inicial nas condenações por crimes hediondos ou equiparados (como é o
caso do tráfico de drogas) não tem que ser obrigatoriamente o fechado, podendo
ser também o regime semiaberto ou aberto, desde que presentes os requisitos do
art. 33, § 2º, alíneas “b” e “c”, do Código Penal.
STF. Plenário. HC 111840/ES, rel. Min. Dias Toffoli, 27/6/2012.
STJ. 3ª Seção. EREsp 1.285.631-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Junior, julgado em
24/10/2012.
8. PENA DE MULTA
8.1. Extinção da punibilidade independentemente do adimplemento da pena de
multa – (Info 568)
João foi condenado a 3 anos de reclusão (pena privativa de liberdade) e a 200 dias-
multa. Após cumprir integralmente a pena privativa de liberdade, João foi solto e
a Defensoria Pública peticionou ao juízo requerendo a extinção da punibilidade.
O juiz extinguiu a pena privativa de liberdade pelo seu integral cumprimento;
todavia, determinou que fosse oficiada a Procuradoria da Fazenda Pública para
cobrança da pena de multa e afirmou que a extinção da punibilidade só poderia ser
decretada quando houvesse o pagamento do valor.
Agiu corretamente o magistrado? O inadimplemento da pena de multa impede a
extinção da punibilidade mesmo que já tenha sido cumprida a pena privativa de
liberdade ou a pena restritiva de direitos?
NÃO. Nos casos em que haja condenação a pena privativa de liberdade e multa,
cumprida a primeira (ou a restritiva de direitos que eventualmente a tenha
substituído), o inadimplemento da sanção pecuniária não obsta o reconhecimento
da extinção da punibilidade.
Em outras palavras, o que importa para a extinção da punibilidade é o cumprimento
da pena privativa de liberdade ou da restritiva de direitos. Cumpridas tais sanções,
o fato de o apenado ainda não ter pago a multa não interfere na extinção da
punibilidade. Isso porque a pena de multa é considerada dívida de valor e,
portanto, possui caráter extrapenal, de modo que sua execução é de competência
exclusiva da Procuradoria da Fazenda Pública (Súmula 521-STJ).
Assim, cumprida a pena privativa de liberdade (ou restritiva de direitos), extingue-
se a execução penal e, se restar ainda pendente o pagamento multa, esta deverá ser
cobrada pela Fazenda Pública, no juízo competente, tendo se esgotado, no entanto,
a jurisdição criminal.
STJ. 3ª Seção. REsp 1.519.777-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em
26/8/2015 (recurso repetitivo) (Info 568).
9. CRIME CONTINUADO
9.1. Impossibilidade de aplicação concomitante da continuidade delitiva comum e
específica – (Info 573)
Se reconhecida a continuidade delitiva específica entre estupros praticados contra
vítimas diferentes, deve ser aplicada exclusivamente a regra do art. 71, parágrafo
único, do Código Penal, mesmo que, em relação a cada uma das vítimas,
especificamente, também tenha ocorrido a prática de crime continuado.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.471.651-MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em
13/10/2015 (Info 573).
Não há continuidade delitiva entre os crimes do art. 6º da Lei 7.492/86 (Lei dos
Crimes contra o Sistema Financeiro Nacional) e os crimes do art. 1º da Lei
9.613/1998 (Lei dos Crimes de "Lavagem" de Dinheiro). Não incide a regra do crime
continuado na hipótese, pois os crimes descritos nos arts. 6º da Lei 7.492/86 e 1º da
Lei 9.613/98 não são da mesma espécie.
STJ. 6ª Turma. REsp 1405989/SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Rel. p/ Acórdão
Min. Nefi Cordeiro, julgado em 18/08/2015 (Info 569).
No caso de crime continuado, o art. 71 do CP prevê que o juiz deverá aplicar a pena
de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em
qualquer caso, de 1/6 a 2/3.
O STJ entende que, em regra, a escolha da quantidade de aumento de pena deve
levar em consideração o número de infrações praticadas pelo agente.
Porém, nem sempre será fácil trazer para os autos o número exato de crimes que
foram praticados, especialmente quando se trata de delitos sexuais. É o caso, por
exemplo, de um padrasto que mora há meses ou anos com a sua enteada e contra
ela pratica constantemente estupro de vulnerável. Nessas hipóteses, mesmo não
havendo a informação do número exato de crimes que foram cometidos, o juiz
poderá aumentar a pena acima de 1/6 e, dependendo do período de tempo, até
chegar ao patamar máximo.
Assim, constatando-se a ocorrência de diversos crimes sexuais durante longo
período de tempo, é possível o aumento da pena pela continuidade delitiva no
patamar máximo de 2/3 (art. 71 do CP), ainda que sem a quantificação exata do
número de eventos criminosos.
STJ. 5ª Turma. HC 311.146-SP, Rel. Min. Newton Trisotto (Desembargador convocado
do TJ-SC), julgado em 17/3/2015 (Info 559).
11. PRESCRIÇÃO
11.1. Interrupção de prescrição de pretensão punitiva em crimes conexos – (Info 568)
– IMPORTANTE!!!
No caso de crimes conexos que sejam objeto do mesmo processo, havendo sentença
condenatória para um dos crimes e acórdão condenatório para o outro delito, tem-
se que a prescrição da pretensão punitiva de ambos é interrompida a cada
provimento jurisdicional (art. 117, § 1º, do CP).
STJ. 5ª Turma. RHC 40.177-PR, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em
25/8/2015 (Info 568).
12. HOMICÍDIO
12.1. Incompatibilidade entre dolo eventual e a qualificadora de motivo fútil – (Info
583)
A qualificadora do motivo fútil (art. 121, § 2º, II, do CP) é compatível com o
homicídio praticado com dolo eventual? A pessoa que cometeu homicídio com dolo
eventual pode responder pela qualificadora de motivo fútil?
1ª corrente: SIM. O fato de o réu ter assumido o risco de produzir o resultado morte,
aspecto caracterizador do dolo eventual, não exclui a possibilidade de o crime ter
sido praticado por motivo fútil, uma vez que o dolo do agente, direto ou indireto,
não se confunde com o motivo que ensejou a conduta, mostrando-se, em princípio,
compatíveis entre si. STJ. 5ª Turma. REsp 912.904/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, j.
06/03/2012.
2ª corrente: NÃO. A qualificadora de motivo fútil é incompatível com o dolo, tendo
em vista a ausência do elemento volitivo. STJ. 6ª Turma. HC 307.617-SP, Rel. Min.
Nefi Cordeiro, Rel. para acórdão Min. Sebastião Reis Júnior, j. 19/4/16 (Info 583).
STJ. 6ª Turma. HC 307.617-SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Rel. para acórdão Min.
Sebastião Reis Júnior, julgado em 19/4/2016 (Info 583).
OBS: Antes desta última decisão da 6ª Turma, prevalecia no STJ a primeira corrente,
ou seja, a compatibilidade entre dolo eventual e motivo fútil. Vamos aguardar a
definição do tema e qualquer novidade, você será avisado(a).
12.2. Inexistência de motivo fútil em homicídio decorrente da prática de "racha" –
(Info 583)
Não incide a qualificadora de motivo fútil (art. 121, § 2º, II, do CP), na hipótese de
homicídio supostamente praticado por agente que disputava "racha", quando o
veículo por ele conduzido - em razão de choque com outro automóvel também
participante do "racha" - tenha atingido o veículo da vítima, terceiro estranho à
disputa automobilística.
Motivo fútil corresponde a uma reação desproporcional do agente a uma ação ou
omissão da vítima. No caso de "racha", tendo em conta que a vítima (acidente
automobilístico) era um terceiro, estranho à disputa, não é possível considerar a
presença da qualificadora de motivo fútil, tendo em vista que não houve uma
reação do agente a uma ação ou omissão da vítima.
STJ. 6ª Turma. HC 307.617-SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Rel. para acórdão Min.
Sebastião Reis Júnior, j. 19/4/16 (Info 583).
OBS1: Existem entendimentos em sentido diverso, mas, como este é o último julgado
sobre o tema, é provável que seja cobrado assim na prova.
Requisitos:
1) O crime deve ter sido praticado sem violência ou grave ameaça à pessoa: Se o
agente praticou violência contra a coisa: pode receber o benefício. Se o agente
praticou, culposamente, violência contra a pessoa: pode receber o benefício. O
art. 16 vale para todos os crimes com que ele seja compatível, sem distinção,
inclusive contra a Administração Pública. Assim, é errado pensar que o
arrependimento posterior aplica-se apenas para os crimes contra o patrimônio.
Feita esta breve revisão, imagine a seguinte situação hipotética: João, na condução de
um veículo automotor, atropelou Pedro, causando-lhe a morte. Duas semanas depois
do ocorrido, João e os herdeiros de Pedro celebraram composição civil por meio do
qual o autor do homicídio pagou indenização à família da vítima. Passadas mais
algumas semanas, o MP denunciou João pela prática de homicídio culposo na direção
de veículo automotor (art. 302 do CTB).
Diante disso, indaga-se: João poderá ser beneficiado com a causa de diminuição de
pena do art. 16 do CP? O arrependimento posterior pode ser aplicado para o
homicídio culposo na direção de veículo automotor? NÃO. O delito do art. 302 do
CTB não é um crime patrimonial ou de efeito patrimonial. O bem jurídico por ele
tutelado é a vida. Não se pode reconhecer o arrependimento posterior porque é
impossível a reparação do dano cometido contra o bem jurídico "vida". Além disso, a
vítima não poderá aproveitar a composição financeira realizada entre a sua família e
o autor do crime. Sendo assim, inviável o reconhecimento do arrependimento
posterior na hipótese de homicídio culposo na direção de veículo automotor.
13.2. A morte instantânea da vítima nem sempre irá afastar a causa de aumento de
pena do § 4º do art. 121 do CP – (Info 554) – IMPORTANTE!!!
Não é inepta a denúncia que se fundamenta no art. 129, § 9º, do CP – lesão corporal
leve –, qualificada pela violência doméstica, tão somente em razão de o crime não
ter ocorrido no ambiente familiar.
Ex: João agrediu fisicamente seu irmão na sede da empresa onde trabalham,
causando-lhe lesão corporal leve. O agente deverá responder pelo art. 129, § 9º do
CP. Sendo a lesão corporal praticada contra ascendente, descendente, irmão,
cônjuge ou companheiro, deverá incidir a qualificadora do § 9º não importando
onde a agressão tenha ocorrido.
STJ. 5ª Turma. RHC 50.026-PA, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, j. 3/8/17 (Info
609).
OBS:
Lesão corporal qualificada pela violência doméstica: O crime de lesão corporal é
previsto no art. 129 do Código Penal:
Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de
outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano.
O § 9º do art. 129 prevê uma qualificadora caso a lesão corporal seja decorrente de
violência doméstica:
Violência Doméstica
§ 9º Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente,
irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou
tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das
relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. (Redação
dada pela Lei nº 11.340/06)
Obs: vale ressaltar que a pena prevista no § 9º (3 meses a 3 anos) somente se aplica em
caso de lesão corporal leve. Se a lesão for grave, gravíssima ou seguida de morte,
deverão ser aplicadas as penas dos §§ 1º, 2º e 3º, respectivamente, com a causa de
aumento do § 10 do art. 129.
Mas, por favor, não confunda: a Lei Maria da Penha, seus institutos e regras, não se
aplicam quando a vítima for homem. A Lei Maria da Penha somente se aplica para
vítimas mulheres.
Qualificadora do § 9º do art. 129 do CP: pode ser aplicado quando a vítima
for mulher ou homem;
Lei Maria da Penha: somente pode ser aplicada quando a vítima for mulher.
Ex: filho empurrou seu pai que, com a queda, sofreu lesões corporais leves. Em tese,
esse filho praticou o delito do art. 129, § 9º, do CP. Apesar disso, não se aplicará a Lei
Maria da Penha neste caso porque a vítima é homem.
14.2. Perda de dois dentes configura lesão grave (e não gravíssima) – (Info 590) –
IMPORTANTE!!!
A lesão corporal que provoca na vítima a perda de dois dentes tem natureza grave
(art. 129, § 1º, III, do CP), e não gravíssima (art. 129, § 2º, IV, do CP).
A perda de dois dentes pode até gerar uma debilidade permanente (§ 1º, III), ou
seja, uma dificuldade maior da mastigação, mas não configura deformidade
permanente (§ 2º, IV).
§ 1º Se resulta: III - debilidade permanente de membro, sentido ou função;
§ 2º Se resulta: IV - deformidade permanente;
STJ. 6ª Turma. REsp 1.620.158-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, j. 13/9/16 (Info
590).
OBS:
Lesão corporal grave e gravíssima: O art. 129 do Código Penal prevê o crime de lesão
corporal:
Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de
outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano.
No § 2º, por sua vez, estão elencadas as hipóteses chamadas pela doutrina de lesão
corporal gravíssima. Veja o que diz o inciso IV:
Art. 129 (...)
§ 2º Se resulta:
I - Incapacidade permanente para o trabalho;
II - enfermidade incuravel;
III - perda ou inutilização do membro, sentido ou função;
IV - deformidade permanente;
V - aborto:
Pena - reclusão, de dois a oito anos.
Imagine agora a seguinte situação hipotética: João estava dirigindo seu veículo
quando discutiu com um motoqueiro. O motoqueiro seguiu seu caminho na rua, mas
João, de forma raivosa e descontrolada, o seguiu acelerando o carro e, de forma
voluntária e consciente, jogou seu veículo na traseira da motocicleta, acarretando a
sua queda e arrastamento. Em virtude do ocorrido, o motoqueiro perdeu dois dentes
e sofreu inúmeras escoriações. Segundo o exame de corpo de delito, a vítima sofreu a
perda de elementos dentários, especificamente, o "incisivo central superior esquerdo"
e o "incisivo lateral superior esquerdo". De acordo com os peritos, a lesão corporal
noticiada resultou em deformidade permanente do ofendido.
Qual o crime praticado, em tese, por João? A depender das circunstâncias do caso
concreto, João poderia responder por:
Tentativa de homicídio (se ficasse demonstrado que agiu com animus necandi,
ou seja, com intenção de matar, ainda que na forma de dolo eventual); ou
Lesão corporal dolosa.
Vale ressaltar que não há possibilidade de o agente responder pelo delito do art. 303
do CTB considerando que ele agiu com dolo (e não de forma culposa).
O MP, com base no laudo pericial, denunciou o autor por lesão corporal gravíssima,
afirmando que a perda dos incisivos superiores acarretou "deformidade permanente",
nos termos do art. 129, § 4º, IV. O STJ concordou com esta tipificação? NÃO. A
deformidade permanente prevista no art. 129, § 2º, IV, do CP é aquela irreparável,
indelével. A perda da dentição pode implicar redução da capacidade mastigatória e
até, eventualmente, dano estético. No entanto, não se pode considerar que se trate de
algo tão grave a ponto de se dizer que se trata de uma pessoa "deformada". Desse
modo, a perda dos dois dentes pode até gerar uma debilidade permanente, ou seja,
uma dificuldade maior da mastigação, mas não configura deformidade permanente.
A debilidade permanente é hipótese apenas de lesão corporal grave (§ 1º, III).
15.2. Diferença entre a injúria comum (art. 140 do CP) e a injúria prevista no art. 326
do CE – (Info 543 e 545)
Compete à Justiça Comum Estadual, e não à Eleitoral (art. 326 do CE), processar e
julgar injúria cometida no âmbito doméstico e desvinculada, direta ou
indiretamente, de propaganda eleitoral, embora motivada por divergência política
às vésperas da eleição.
STJ. 3ª Seção. CC 134.005-PR, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, j. 11/6/14 (Infos 543 e
545).
OBS:
A caracterização do crime de injúria previsto no Código Eleitoral exige, como
elementar do tipo, que a ofensa seja perpetrada na propaganda eleitoral ou vise fins
de propaganda (TSE, HC 187.635-MG, DJe de 16/2/11), sob pena de incorrer-se no
crime de injúria comum. No caso concreto, a injúria foi praticada no ambiente
doméstico e desvinculada, direta ou indiretamente, de propaganda eleitoral, embora
motivada por divergência política às vésperas da eleição.
15.3. Advogado não comete calúnia se não ficar provada sua intenção de ofender a
honra – (Info 539)
Isso significa que se o advogado, em uma petição, indicar que alguém praticou um
crime, ele deverá necessariamente ser punido por calúnia? NÃO. A manifestação do
advogado em juízo para defender seu cliente não configura crime de calúnia se
emitida sem a intenção de ofender a honra. Assim, o advogado somente cometerá
calúnia se ficar demonstrado que ele preencheu todos os requisitos necessários para a
configuração do delito, dentre eles o elemento subjetivo, ou seja, o dolo.
Para configurar o delito do art. 149 do Código Penal (redução a condição análoga à
de escravo) NÃO É imprescindível a restrição à liberdade de locomoção dos
trabalhadores.
O delito pode ser praticado por meio de outras condutas como no caso em que os
trabalhadores são sujeitados a condições degradantes, subumanas.
STJ. 3ª Seção. CC 127.937-GO, Rel. Min. Nefi Cordeiro, j. 28/5/14 (Info 543).
18. FURTO
18.1. Momento consumativo – (Info 572) – IMPORTANTE!!!
Consuma-se o crime de furto com a posse de fato da res furtiva, ainda que por breve
espaço de tempo e seguida de perseguição ao agente, sendo prescindível a posse
mansa e pacífica ou desvigiada.
STJ. 3ª Seção. REsp 1.524.450-RJ, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 14/10/2015
(recurso repetitivo) (Info 572).
18.2. Furto praticado no interior de estabelecimento comercial equipado com
mecanismo de vigilância e de segurança – (Info 563) – IMPORTANTE!!!
18.3. Causa de aumento do § 1º pode ser aplicada tanto para furto simples como
qualificado – (Info 554) – IMPORTANTE!!! Mudança de entendimento!
18.4. Para que configure a qualificadora da destreza, é necessário que o agente tenha
subtraído o bem com excepcional habilidade sem ser descoberto – (Info 554) –
IMPORTANTE!!!
No crime de furto, não deve ser reconhecida a qualificadora da “destreza” (art. 155,
§ 4º, II, do CP) caso inexista comprovação de que o agente tenha se valido de
excepcional – incomum – habilidade para subtrair a coisa que se encontrava na
posse da vítima sem despertar-lhe a atenção.
Destreza, para fins de furto qualificado, é a especial habilidade física ou manual
que permite ao agente subtrair bens em poder direto da vítima sem que ela perceba
o furto. É o chamado “punguista”.
STJ. 5ª Turma. REsp 1.478.648-PR, Rel. para acórdão Min. Newton Trisotto
(desembargador convocado do TJ/SC), julgado em 16/12/2014 (Info 554).
19. ROUBO
19.1. Súmula 582-STJ – (Info 590) – IMPORTANTE!!!
OBS:
Em que momento se consuma o crime de roubo? Existem quatro teorias sobre o tema:
1ª) Contrectacio: segundo esta teoria, a consumação se dá pelo simples contato entre
o agente e a coisa alheia. Se tocou, já consumou.
2ª) Apprehensio (amotio): a consumação ocorre no momento em que a coisa subtraída
passa para o poder do agente, ainda que por breve espaço de tempo, mesmo que o
sujeito seja logo perseguido pela polícia ou pela vítima. Quando se diz que a coisa
passou para o poder do agente, isso significa que houve a inversão da posse. Por isso,
ela é também conhecida como teoria da inversão da posse. Vale ressaltar que, para
esta corrente, o crime se consuma mesmo que o agente não fique com a posse mansa
e pacífica. A coisa é retirada da esfera de disponibilidade da vítima (inversão da
posse), mas não é necessário que saia da esfera de vigilância da vítima (não se exige
que o agente tenha posse desvigiada do bem).
3ª) Ablatio: a consumação ocorre quando a coisa, além de apreendida, é transportada
de um lugar para outro.
4ª) Ilatio: a consumação só ocorre quando a coisa é levada ao local desejado pelo
ladrão para tê-la a salvo.
Qual foi a teoria adotada pelo STF e STJ? A teoria da APPREHENSIO (AMOTIO).
Nos países cujos Códigos Penais utilizam expressões como “subtrair” ou “tomar” para
caracterizar o furto e o roubo (Alemanha e Espanha, por exemplo), predomina, na
doutrina e na jurisprudência, a utilização da teoria da apprehensio (ou amotio). Foi a
corrente também adotada no Brasil.
Exemplo concreto: João apontou a arma de fogo para a vítima e disse: “perdeu, passa
a bolsa”.
A vítima entregou o aparelho e o assaltante subiu em cima de uma moto e fugiu. Duas
ruas depois, João foi parado em uma blitz da polícia e, como não conseguiu explicar o
motivo de estar com uma bolsa feminina e uma arma de fogo, acabou confessando a
prática do delito. Assim, por ter havido a inversão, ainda que breve, da posse do bem
subtraído, o fato em tela configura roubo consumado.
Situação 1: o sujeito entra no ônibus e, com arma em punho, exige que oito
passageiros entreguem seus pertences. Esse agente irá responder por oito roubos
majorados (art. 157, § 2º, I, do CP) em concurso formal (art. 70). Não se trata de crime
único.
Situação 2: o sujeito entra no ônibus e, com arma em punho, subtrai apenas os bens
que estavam na posse do cobrador de ônibus: 30 reais e um aparelho celular,
pertencentes ao funcionário, e 70 reais que eram da empresa de transporte coletivo.
Esse agente terá praticado um único crime (art. 157, § 2º, I, do CP). Segundo decidiu
o STJ, em caso de roubo praticado no interior de ônibus, o fato de a conduta ter
ocasionado violação de patrimônios distintos (o da empresa de transporte coletivo
e o do cobrador) não descaracteriza a ocorrência de crime único se todos os bens
subtraídos estavam na posse do cobrador.
STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1.396.144-DF, Rel. Min. Walter de Almeida Guilherme
(Desembargador Convocado do TJ/SP), julgado em 23/10/2014 (Info 551).
(TJRJ-2016-VUNESP): José adentra a um bar e pratica roubo contra dez pessoas
que ali estavam presentes em dois grupos distintos de amigos, subtraindo para si
objetos de valor a elas pertencentes. Nesta hipótese, segundo a jurisprudência
dominante mais recente do Superior Tribunal de Justiça, José praticou os crimes
(dez crimes de roubo) em concurso formal. BL: Info 551, STJ.
O inciso III do § 2º do art. 157 do Código Penal prevê que a pena do delito de roubo
é majorada se a vítima estava em serviço de transporte de valores e o agente
conhecia essa circunstância.
Quando o dispositivo fala em “transporte de valores” não se restringe a dinheiro
em espécie, abrangendo outros bens e produtos que possuam expressão econômica.
No caso concreto, o STJ reconheceu que incide a majorante prevista no inciso III do
§ 2º do art. 157 do CP na hipótese em que o autor praticou o roubo ciente de que as
vítimas, funcionários dos Correios, transportavam grande quantidade de produtos
cosméticos de expressivo valor econômico e liquidez.
STJ. 5ª Turma. REsp 1.309.966-RJ, Min. Rel. Laurita Vaz, julgado em 26/8/2014 (Info
548).
Quais são os requisitos para que se configure o furto de uso? Segundo Cleber Masson
(Direito Penal esquematizado. Vol. 2, p. 345), o furto de uso depende dos seguintes
requisitos:
a) subtração de coisa alheia móvel infungível;
b) intenção de utilizar momentaneamente a coisa subtraída (requisito subjetivo);
c) restituição da coisa depois do uso momentâneo, imediatamente, ao seu possuidor
originário (requisito objetivo).
É necessário que a arma utilizada no roubo seja apreendida e periciada para que
incida a majorante do art. 157, § 2º, I, do Código Penal?
NÃO. O reconhecimento da referida causa de aumento prescinde (dispensa) da
apreensão e da realização de perícia na arma, desde que o seu uso no roubo seja
provado por outros meios de prova, tais como a palavra da vítima ou mesmo de
testemunhas.
STF. 1ª Turma. HC 108034/MG, rel. Min. Rosa Weber, 7/8/2012.
20. EXTORSÃO
20.1. A extorsão pode ser praticada mediante a ameaça feita pelo agente de causar
um "mal espiritual" na vítima – (Info 598) – IMPORTANTE!!!
21. DANO
21.1. Crime de dano praticado contra a Caixa Econômica é simples – (Info 567) –
IMPORTANTE!!!
22. ESTELIONATO
22.1. Aumento de pena-base fundado na confiança da vítima no autor de estelionato
– (Info 576)
O magistrado agiu corretamente? Ele poderia ter utilizado este argumento para
aumentar a pena? SIM.
João, famoso estelionatário que mora em Belo Horizonte MG), ligou para a casa de
Maria, uma senhora que reside em Campo Grande (MS). Na conversa, João afirmou
que trabalhava no Governo e que Maria tinha direito de receber de volta R$ 10 mil
de impostos pagos a mais. Para isso, no entanto, ela precisaria apenas depositar
previamente R$ 1 mil a título de honorários advocatícios em uma conta bancária
cujo número ele forneceu. Maria, toda contente, depositou o valor na conta
bancária, pertencente a João, que no dia seguinte, foi até a sua agência, em Belo
Horizonte (MG) e sacou a quantia. João praticou o crime de estelionato (art. 171 do
CP).
Quem será competente para processar e julgar o crime: a vara criminal de Campo
Grande (lugar onde ocorreu o prejuízo) ou a vara criminal de Belo Horizonte
(localidade em que o estelionatário recebeu o proveito do crime)?
Belo Horizonte (local em que houve a obtenção da vantagem indevida).
Compete ao juízo do foro onde se encontra localizada a agência bancária por meio
da qual o suposto estelionatário recebeu o proveito do crime processar a persecução
penal instaurada para apurar crime de estelionato no qual a vítima teria sido
induzida a depositar determinada quantia na conta pessoal do agente do delito. A
competência não é do local onde existia a agência da vítima.
No caso do estelionato, o crime se consuma no momento da obtenção da vantagem
indevida, ou seja, no instante em que o valor é depositado ("cai") na conta corrente
do autor do delito, passando, portanto, à sua disponibilidade.
STJ. 3ª Seção. CC 139.800-MG, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em
24/6/2015 (Info 565).
O art. 9º da Lei 10.684/03 prevê que o pagamento integral do débito fiscal realizado
pelo réu é causa de extinção de sua punibilidade.
Imagine que determinado indivíduo tenha praticado estelionato contra o INSS,
conhecido como estelionato previdenciário (art. 171, § 3º do CP). Antes do
recebimento da denúncia, o agente paga integralmente o prejuízo sofrido pela
autarquia. Isso poderá extinguir sua punibilidade, com base no art. 9º da Lei
10.684/2003?
NÃO. Não extingue a punibilidade do crime de estelionato previdenciário (art. 171,
§ 3º, do CP) a devolução à Previdência Social, antes do recebimento da denúncia,
da vantagem percebida ilicitamente.
O art. 9º da Lei 10.684/2003 menciona os crimes aos quais são aplicadas suas regras:
a) arts. 1º e 2º da Lei nº 8.137/90; b) art. 168-A do CP (apropriação indébita
previdenciária); c) Art. 337-A do CP (sonegação de contribuição previdenciária).
Repare, portanto, que o estelionato previdenciário (art. 171, § 3º do CP) não está
listado nessa lei.
Mesmo sem o estelionato previdenciário estar previsto, não é possível aplicar essas
regras por analogia em favor do réu?
NÃO. O art. 9º da Lei 10.684/2003 somente abrange crimes tributários materiais,
delitos que são ontologicamente distintos do estelionato previdenciário e que
protegem bens jurídicos diferentes. Dessa forma, não há lacuna involuntária na lei
penal a demandar analogia.
O fato de o agente ter pago integralmente o prejuízo trará algum benefício penal?
SIM. O agente poderá ter direito de receber o benefício do arrependimento
posterior, tendo sua pena reduzida de 1/3 a 2/3 (art. 18 do CP).
STJ. 6ª Turma. REsp 1.380.672-SC, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em
24/3/2015 (Info 559).
Como essa prática é cada vez mais comum, havendo, inclusive, “feiras” fiscalizadas
pelo Poder Público onde esse comércio ocorre livremente, a Defensoria Pública alegou
que não haveria crime, com base no princípio da adequação social. Essa tese é
acolhida pela jurisprudência? NÃO. Tanto o STF como o STJ entendem que é típica,
formal e materialmente, a conduta de expor à venda CDs e DVDs falsificados. Em
suma, é crime. O fato de, muitas vezes, haver tolerância das autoridades públicas em
relação a tal prática não significa que a conduta não seja mais tida como típica, ou que
haja exclusão de culpabilidade, razão pela qual, pelo menos até que advenha
modificação legislativa, incide o tipo penal, mesmo porque o próprio Estado tutela o
direito autoral. Não se pode considerar socialmente tolerável uma conduta que causa
sérios prejuízos à indústria fonográfica brasileira e aos comerciantes legalmente
instituídos, bem como ao Fisco pelo não pagamento de impostos. Nesse sentido: STF
HC 98898, julgado em 20/04/2010.
Justamente para que não houvesse mais dúvidas, o STJ editou um enunciado:
Súmula 502-STJ: Presentes a materialidade e a autoria,
afigura-se típica, em relação ao crime previsto no artigo 184,
parágrafo 2º, do Código Penal, a conduta de expor à venda
CDs e DVDs piratas.
Outra tese alegada pela defesa é a de que deveria ser aplicado o princípio da
insignificância. Tal argumentação é aceita pelos Tribunais? NÃO. Não se aplica o
princípio da insignificância ao crime de violação de direito autoral. Em que pese a
aceitação popular à pirataria de CDs e DVDs, com certa tolerância das autoridades
públicas em relação a tal prática, a conduta, que causa sérios prejuízos à indústria
fonográfica brasileira, aos comerciantes legalmente instituídos e ao Fisco, não escapa
à sanção penal, mostrando-se formal e materialmente típica (STJ. 6ª Turma. AgRg no
REsp 1380149/RS, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 27/08/2013).
Art. 273 do CP tem espectro mais amplo e completo que o tráfico de drogas:
Realmente, na farmácia do agente eram vendidos alguns medicamentos que
continham, em sua composição, substâncias que estão previstas na Portaria da
ANVISA como substâncias psicotrópicas no Brasil (exs: diazepam, zopiclona,
zolpidem, bromazepam). Desse modo, é inegável que, dentre as substâncias
encontradas, havia aquelas que, em princípio, caracterizariam o tráfico de drogas. A
empreitada criminosa, no entanto, não foi dirigida para a prática do tráfico de drogas.
A conduta do réu, desde o seu início, foi voltada para montar uma farmácia de fachada
e com isso ser possível falsificar, manter em depósito e vender produtos falsificados
destinados a fins terapêuticos e medicinais. Assim, a conduta do réu se amolda
perfeitamente ao delito do art. 273 do CP e este delito possui espectro mais amplo e
mais completo do que o tráfico de drogas. Por essa razão, o delito do art. 273 do CP
deve absorver o crime do art. 33 da Lei 11.343/06. O fato punido pelo art. 33 da Lei
11.343/06 encontra-se, na inteireza, também sancionado pelo art. 273 do CP que
deverá, portanto, prevalecer.
O exercício da acupuntura por indivíduo que não é médico não configura o delito
previsto no art. 282 do CP (exercício ilegal da medicina, arte dentária ou
farmacêutica).
Não existe lei federal prevendo que a acupuntura é uma atividade privativa de
médico (art. 22, XVI, da CF/88).
STJ. 6ª Turma. RHC 66.641-SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 3/3/2016 (Info
578).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João Lin mantém, há anos, um consultório em
sua casa chamado de "Centro de Acupuntura Chinesa", onde atua como
acupunturista. João não possui faculdade de Medicina. O MP, ao saber da existência
da clínica, denunciou João pela prática de exercício ilegal da medicina, crime previsto
no art. 282 do CP, alegando que a acupuntura é considerada uma especialidade
médica segundo o Conselho Federal de Medicina.
A denúncia do MP deverá ser julgada procedente? João praticou o crime do art. 282
do CP? NÃO.
Norma penal em branco: O tipo penal descrito no art. 282 do CP é norma penal em
branco e, por isso, deve ser complementado por lei ou ato normativo em geral para
que se discrimine e detalhe as atividades exclusivas de médico, dentista ou
farmacêutico. A complementação do art. 282 deve ser feita por meio de lei federal que
regulamenta as profissões de médico, dentista ou farmacêutico. Acupuntura não é
privativa de médico
a) Lei nº 12.842/2013;
b) Lei nº 3.268/57;
c) Decreto nº 20.931/32 (que tem status de lei).
Atividades privativas de médico (Lei 12.842/13): Vale ressaltar que a Lei 12.842/13,
em seu art. 4º, traz um rol de atividades que são privativas de médico. O inciso II do
§ 4º do art. 4º previa como atividade privativa de médico:
O objetivo velado deste inciso era fazer com que a acupuntura se tornasse atividade
privativa de médico. Ocorre que o dispositivo foi vetado pela Presidente da
República.
Acupuntura não é ainda regulamentada em lei: Não existe ainda lei federal
regulamentando a prática da acupuntura, sendo da União a competência privativa
para legislar sobre o tema, nos termos do art. 22, XVI, da CF/88 (STJ. 2ª Turma. RMS
11.272-RJ, DJ 4/6/2001).
Voltando ao nosso caso concreto, como não existe lei afirmando que a acupuntura é
ato privativo de médico, está ausente a complementação da norma penal em branco e
o fato narrado é atípico.
Observação: O Conselho Federal de Medicina (CFM) há anos pleiteia em ações
movidas no Poder Judiciário para que a acupuntura seja reconhecida como uma
prática exclusiva médica, sob o argumento de que é uma técnica que trata doenças e o
diagnóstico e tratamento de doenças são atividades exclusivas de médicos. O tema
ainda não foi decidido, de forma definitiva, pelo STJ ou STF. O julgado acima
explicado, apesar de ser de uma turma que julga matéria criminal (6ª Turma do STJ) é
um importante precedente em sentido contrário aos interesses do CFM. Vamos
aguardar os desdobramentos do tema.
Imagine que o réu tenha utilizado uma nota de R$ 100 falsificada para pagar uma
dívida. Após alguns dias, descobriu-se que a cédula era falsa e, antes que houvesse
denúncia, o agente ressarciu o credor por seus prejuízos. O réu praticou o crime de
moeda falsa. É possível aplicar a ele o benefício do arrependimento posterior (art.
16 do CP)?
NÃO. Não se aplica o instituto do arrependimento posterior ao crime de moeda
falsa. No crime de moeda falsa – cuja consumação se dá com a falsificação da
moeda, sendo irrelevante eventual dano patrimonial imposto a terceiros –, a vítima
é a coletividade como um todo, e o bem jurídico tutelado é a fé pública, que não é
passível de reparação. Desse modo, os crimes contra a fé pública, semelhantes aos
demais crimes não patrimoniais em geral, são incompatíveis com o instituto do
arrependimento posterior, dada a impossibilidade material de haver reparação do
dano causado ou a restituição da coisa subtraída.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.242.294-PR, Rel. originário Min. Sebastião Reis Júnior, Rel. para
acórdão Min. Rogerio Schietti Cruz, j. 18/11/14 (Info 554).
30.2. Aplicação das agravantes do art. 61, II, “e” e “h” do CP – (Info 546) –
ATENÇÃO!!! CONCURSOS FEDERAIS!!!
Nos casos de prática do crime de introdução de moeda falsa em circulação (art. 289,
§ 1º, do CP), se a nota falsificada é repassada para “ascendente, descendente, irmão
ou cônjuge” ou para “criança, maior de 60 (sessenta) anos, enfermo ou mulher
grávida”, incidirá as agravantes previstas nas alíneas "e" e "h" do inciso II do art. 61
do CP. Isso o sujeito passivo desse delito não é apenas o Estado, mas também a
pessoa lesada com a introdução da moeda falsa.
STJ. 6ª Turma. HC 211.052-RO, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Rel. para acórdão Min.
Rogerio Schietti Cruz, j. 5/6/14 (Info 546).
OBS:
Art. 289. Falsificar, fabricando-a ou alterando-a, moeda
metálica ou papel-moeda de curso legal no país ou no
estrangeiro:
Pena - reclusão, de três a doze anos, e multa.
§ 1º - Nas mesmas penas incorre quem, por conta própria ou
alheia, importa ou exporta, adquire, vende, troca, cede,
empresta, guarda ou introduz na circulação moeda falsa.
(...)
O juiz, na sentença, aplicou as agravantes tipificadas nas alíneas “e” e “h” do inciso
II do art. 61 do CP:
Inclusão do parágrafo único do art. 298 foi apenas para reforçar: Assim, a inserção do
§ único no art. 298 do Código Penal apenas ratificou e tornou explícito o entendimento
jurisprudencial da época, quanto ao alcance do elemento normativo "documento",
clarificando que cartão de crédito/débito é considerado documento. Não houve,
portanto, uma ruptura conceitual que justificasse considerar, somente a partir da
edição da Lei 12.737/12, cartão de crédito ou de débito como documento. A Lei
12.737/12, neste ponto, foi apenas uma lei interpretativa que veio em apoio à própria
jurisprudência já então dominante. Como a jurisprudência era uníssona em
reconhecer que cartão bancário era documento para fins do caput do art. 298 do
Código Penal, podemos concluir que a Lei 12.737/12 apenas reproduziu, com palavras
mais inequívocas, os julgados daquela época, tratando-se, portanto, de lei
interpretativa exemplificativa.
Não é típica a conduta de inserir, em currículo Lattes, dado que não condiz com a
realidade. Isso não configura falsidade ideológica (art. 299 do CP) porque:
1) currículo Lattes não é considerado documento por ser eletrônico e não ter
assinatura digital;
2) currículo Lattes é passível de averiguação e, portanto, não é objeto material de
falsidade ideológica. Quando o documento é passível de averiguação, o STJ
entende que não há crime de falsidade ideológica mesmo que o agente tenha nele
inserido informações falsas.
STJ. 6ª Turma. RHC 81.451-RJ, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, j. 22/8/17
(Info 610).
OBS:
Art. 299. Omitir, em documento público ou particular,
declaração que dele devia constar, ou nele inserir ou fazer
inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita,
com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a
verdade sobre fato juridicamente relevante:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento
é público, e reclusão de um a três anos, e multa, se o
documento é particular.
Parágrafo único - Se o agente é funcionário público, e comete
o crime prevalecendo-se do cargo, ou se a falsificação ou
alteração é de assentamento de registro civil, aumenta-se a
pena de sexta parte.
Muita atenção a este julgado porque se trata de tema constantemente cobrado nas
provas, especialmente nos concursos da Defensoria Pública.
34.2. Desnecessidade de prova pericial para condenação por uso de documento falso
– (Info 553) – IMPORTANTE!!!
É possível a condenação pelo crime de uso de documento falso (art. 304 do CP) com
fundamento em documentos e testemunhos constantes do processo, acompanhados
da confissão do acusado, sendo desnecessária a prova pericial para a comprovação
da materialidade do crime, especialmente se a defesa não requereu, no momento
oportuno, a realização do referido exame.
O crime de uso de documento falso se consuma com a simples utilização de
documento comprovadamente falso, dada a sua natureza de delito formal.
STJ. 5ª Turma. HC 307.586-SE, Rel. Min. Walter de Almeida Guilherme
(Desembargador convocado do TJ/SP), julgado em 25/11/2014 (Info 553).
35. PECULATO
35.1. Os valores apropriados possuem natureza semelhante a de tributos, devendo
ser suspensa a ação penal enquanto perdurar o parcelamento da dívida – (Info 611)
A ação penal que apura a prática de crime de peculato de quantia de natureza sui
generis com estreita derivação tributária, por suposta apropriação, por Tabelião, de
valores públicos pertencentes a Fundo de Desenvolvimento do Judiciário deve ser
suspensa enquanto o débito estiver pendente de deliberação na esfera
administrativa em razão de parcelamento perante a Procuradoria do Estado.
STJ. 6ª Turma. RHC 75.768-RN, Rel. Min. Antônio Saldanha Palheiro, j. 15/8/17 (Info
611).
OBS: O julgado acima foi proferido com base em peculiaridades do caso concreto.
Não se pode afirmar, de forma geral, que o STJ passou a admitir a aplicação da SV 24
para o peculato. Aplicou-se neste caso em razão da natureza sui generis dos valores
do fundo.
Antes do art. 217-A, ou seja, antes da Lei 12.015/09, as condutas de praticar conjunção
carnal ou ato libidinoso com menor de 14 anos já eram consideradas crimes? SIM.
Tais condutas poderiam se enquadrar nos crimes previstos no art. 213 c/c art. 224, “a”
(estupro com violência presumida por ser menor de 14 anos) ou art. 214 c/c art. 224,
“a” (atentado violento ao pudor com violência presumida por ser menor de 14 anos),
todos do Código Penal, com redação anterior à Lei 12.015/09. Desse modo, apesar dos
arts. 213, 214 e 224 do CP terem sido revogados pela Lei 12.015/09, não houve abolitio
criminis dessas condutas, ou seja, continua sendo crime praticar estupro ou ato
libidinoso com menor de 14 anos. No entanto, essas condutas, agora, são punidas pelo
art. 217-A do CP. O que houve, portanto, foi a continuidade normativa típica, que
ocorre quando uma norma penal é revogada, mas a mesma conduta continua sendo
crime no tipo penal revogador, ou seja, a infração penal continua tipificada em outro
dispositivo, ainda que topologicamente ou normativamente diverso do originário.
Antes da Lei 12.015/09, se o agente praticasse atentado violento ao pudor (ex: coito
anal) com um adolescente de 13 anos, haveria crime mesmo que a vítima consentisse
(concordasse) com o ato sexual? Haveria crime mesmo que a vítima já tivesse tido
outras relações sexuais com outros parceiros anteriormente? Essa presunção de
violência era absoluta? SIM. A presunção de violência nos crimes contra os costumes
cometidos contra menores de 14 anos, prevista na antiga redação do art. 224, alínea
“a”, do CP (antes da Lei 12.015/09), possuía caráter absoluto, pois constituía critério
objetivo para se verificar a ausência de condições de anuir com o ato sexual. Assim,
essa presunção absoluta não podia ser afastada (relativizada) mesmo que a vítima
tivesse dado seu “consentimento” porque nesta idade este consentimento seria
viciado (inválido). Logo, mesmo que a vítima tivesse experiência sexual anterior,
mesmo que fosse namorado do autor do fato, ainda assim haveria o crime. A
presunção de violência era absoluta nos casos de estupro/atentado violento ao pudor
contra menor de 14 anos. Nesse sentido: STJ. 3ª Seção. EREsp 1152864/SC, Rel. Min.
Laurita Vaz, julgado em 26/02/2014.
E, atualmente, ou seja, após a Lei 12.015/09? Continua sendo crime praticar conjunção
carnal ou qualquer outro ato libidinoso contra menor de 14 anos. Isso está expresso no
art. 217-A do CP e não interessa se a vítima deu consentimento, se namorava o autor
do fato etc. A discussão sobre presunção de violência perdeu sentido porque agora
a lei incluiu a idade (menor de 14 anos) no próprio tipo penal. Manteve relação
sexual com menor de 14 anos: estupro de vulnerável. A Lei 12.015/09 acrescentou o
art. 217-A ao Código Penal, criando um novo delito, chamado de “estupro de
vulnerável”:
Estupro de vulnerável
Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato
libidinoso com menor de 14 (catorze) anos:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.
A fim de que não houvesse mais dúvidas sobre o tema, o STJ pacificou a questão,
fixando a seguinte tese em recurso especial repetitivo:
Para a caracterização do crime de estupro de vulnerável
previsto no art. 217-A, caput, do CP, basta que o agente tenha
conjunção carnal ou pratique qualquer ato libidinoso com
pessoa menor de 14 anos.
O consentimento da vítima, sua eventual experiência sexual
anterior ou a existência de relacionamento amoroso entre o
agente e a vítima não afastam a ocorrência do crime.
STJ. 3ª Seção. REsp 1.480.881-PI, Rel. Min. Rogerio Schietti
Cruz, j. 26/8/2015 (Info 568).
Além disso, agora foi editada a Súmula 593 do STJ com redação semelhante.
O que acontece se um garoto de 13 anos praticar sexo consensual com a sua namorada
de 12 anos? Haverá o que a doutrina denomina de estupro bilateral. Assim, ocorre o
“estupro bilateral” quando dois menores de 14 anos praticam conjunção carnal ou
outro ato libidinoso entre si. Em outras palavras, tanto o garoto como a garota, neste
exemplo, serão autores e vítimas, ao mesmo tempo, de ato infracional análogo ao
crime de estupro de vulnerável.
36.2. Beijo roubado em contexto de violência física pode caracterizar estupro – (Info
592)
Praticar conjunção carnal ou qualquer outro ato libidinoso contra menor de 14 anos
é crime.
Antes da Lei 12.015/2009, tais condutas poderiam se enquadrar nos crimes previstos
no art. 213 c/c art. 224, “a” (estupro com violência presumida por ser menor de 14
anos) ou art. 214 c/c art. 224, “a” (atentado violento ao pudor com violência
presumida por ser menor de 14 anos).
Depois da Lei 12.015/2009, essa conduta é criminalizada como estupro de
vulnerável (art. 217-A do CP).
Se o agente pratica conjunção carnal ou atentado violento ao pudor com um
adolescente de 13 anos, existe crime mesmo que a vítima consinta com o ato sexual?
Mesmo que a vítima e o adulto sejam namorados? Mesmo que a vítima já tenha
tido outras experiências sexuais?
SIM. Antes ou depois da Lei 12.015/2009, quem manteve ou mantiver relação sexual
com menor de 14 anos comete crime e não importa se a vítima consentiu, se
mantinham relacionamentos ou se a vítima já tinha tido outros atos sexuais
pretéritos.
O STJ, em sede de recurso repetitivo, fixou a seguinte tese:
"Para a caracterização do crime de estupro de vulnerável previsto no art. 217-A,
caput, do Código Penal, basta que o agente tenha conjunção carnal ou pratique
qualquer ato libidinoso com pessoa menor de 14 anos. O consentimento da vítima,
sua eventual experiência sexual anterior ou a existência de relacionamento amoroso
entre o agente e a vítima não afastam a ocorrência do crime."
STJ. 3ª Seção. REsp 1.480.881-PI, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, j. 26/8/2015 (recurso
repetitivo) (Info 568).
36.5. Meios de comprovação da menoridade da vítima nos crimes sexuais – (Info 563)
Nos crimes sexuais contra vulnerável, quando inexiste certidão de nascimento
atestando ser a vítima menor de 14 anos na data do fato criminoso, o STJ tem
admitido a verificação etária a partir de outros elementos de prova presentes nos
autos.
Em suma, a certidão de nascimento não é o único meio idôneo para se comprovar a
idade da vítima, podendo o juiz valer-se de outros elementos.
No caso concreto, mesmo não havendo certidão de nascimento da vítima, o STJ
considerou que esta poderia ser provada por meio das informações presentes no
laudo pericial, das declarações das testemunhas, da compleição física da vítima e
das declarações do próprio acusado.
STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 12.700-AC, voto vencedor Rel. Min. Walter de
Almeida Guilherme (Desembargador convocado do TJ/SP), Rel. para acórdão Min.
Gurgel de Faria, julgado em 10/3/2015 (Info 563).
No caso de crime continuado, o art. 71 do CP prevê que o juiz deverá aplicar a pena
de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em
qualquer caso, de 1/6 a 2/3.
O STJ entende que, em regra, a escolha da quantidade de aumento de pena deve
levar em consideração o número de infrações praticadas pelo agente.
Porém, nem sempre será fácil trazer para os autos o número exato de crimes que
foram praticados, especialmente quando se trata de delitos sexuais. É o caso, por
exemplo, de um padrasto que mora há meses ou anos com a sua enteada e contra
ela pratica constantemente estupro de vulnerável. Nessas hipóteses, mesmo não
havendo a informação do número exato de crimes que foram cometidos, o juiz
poderá aumentar a pena acima de 1/6 e, dependendo do período de tempo, até
chegar ao patamar máximo.
Assim, constatando-se a ocorrência de diversos crimes sexuais durante longo
período de tempo, é possível o aumento da pena pela continuidade delitiva no
patamar máximo de 2/3 (art. 71 do CP), ainda que sem a quantificação exata do
número de eventos criminosos.
STJ. 5ª Turma. HC 311.146-SP, Rel. Min. Newton Trisotto (Desembargador convocado
do TJ-SC), julgado em 17/3/2015 (Info 559).
36.7. O que é considerado ato libidinoso diverso da conjunção carnal? – (Info 555) –
IMPORTANTE!!!
Praticar conjunção carnal ou qualquer outro ato libidinoso contra menor de 14 anos
é crime.
Antes da Lei 12.015/2009, tais condutas poderiam se enquadrar nos crimes previstos
no art. 213 c/c art. 224, “a” (estupro com violência presumida por ser menor de 14
anos) ou art. 214 c/c art. 224, “a” (atentado violento ao pudor com violência
presumida por ser menor de 14 anos).
Depois da Lei 12.015/2009, essa conduta é criminalizada como estupro de
vulnerável (art. 217-A do CP).
Se o agente pratica conjunção carnal ou atentado violento ao pudor com um
adolescente de 13 anos, existe crime mesmo que a vítima consinta com o ato sexual?
SIM. Antes ou depois da Lei 12.015/2009, quem manteve ou mantiver relação sexual
com menor de 14 anos comete crime e não importa se a vítima consentiu ou se já
tinha tido outros atos sexuais pretéritos.
O art. 225 do CP prevê que, nos crimes sexuais, em regra, a ação penal é
condicionada à representação.
Existem duas exceções previstas no parágrafo único:
1) Se a vítima é menor de 18 anos: INCONDICIONADA.
2) Se a vítima é pessoa vulnerável: INCONDICIONADA.
A interpretação que deve ser dada a esse parágrafo único é a de que, em relação à
vítima possuidora de incapacidade permanente de oferecer resistência à prática dos
atos libidinosos, a ação penal seria sempre incondicionada. Mas, em se tratando de
pessoa incapaz de oferecer resistência apenas na ocasião da ocorrência dos atos
libidinosos, a ação penal permanece condicionada à representação da vítima.
Assim, procede-se mediante ação penal condicionada à representação no crime de
estupro praticado contra vítima que, por estar desacordada em razão de ter sido
anteriormente agredida, era incapaz de oferecer resistência apenas na ocasião da
ocorrência dos atos libidinosos.
STJ. 6ª Turma. HC 276.510-RJ, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 11/11/2014
(Info 553).
O estupro (art. 213 do CP), com redação dada pela Lei 12.015/2009, é tipo penal misto
alternativo. Logo, se o agente, no mesmo contexto fático, pratica conjunção carnal e
outro ato libidinoso contra uma só vítima, pratica um só crime do art. 213 do CP.
A Lei 12.015/2009, ao revogar o art. 214 do CP, não promoveu a descriminalização
do atentado violento ao puder (não houve abolitio criminis). Ocorreu, no caso, a
continuidade normativo-típica, considerando que a nova Lei inseriu a mesma
conduta no art. 213. Houve, então, apenas uma mudança no local onde o delito era
previsto, mantendo-se, contudo, a previsão de que essa conduta se trata de crime.
É possível aplicar retroativamente a Lei 12.015/2009 para o agente que praticou
estupro e atentado violento ao pudor, no mesmo contexto fático e contra a mesma
vítima, e que havia sido condenado pelos dois crimes (arts. 213 e 214) em concurso.
Segundo entende o STJ, como a Lei 12.015/2009 unificou os crimes de estupro e
atentado violento ao pudor em um mesmo tipo penal, deve ser reconhecida a
existência de crime único na conduta do agente, caso as condutas tenham sido
praticadas contra a mesma vítima e no mesmo contexto fático, devendo-se aplicar
essa orientação aos delitos cometidos antes da vigência da Lei 12.015/2009, em face
do princípio da retroatividade da lei penal mais benéfica.
STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1262650/RS, Rel. Min. Regina Helena Costa, j.
05/08/14.
STJ. 6ª Turma. HC 212.305/DF, Rel. Min. Marilza Maynard (Des. Conv. TJ/SE),
julgado em 24/04/2014 (Info 543).
Essa decisão vale apenas para o inciso V do § 1º-B do art. 273 ou também para os
demais incisos?
O caso concreto apreciado pelo STJ envolvia um habeas corpus impetrado em favor
de réu condenado pelo inciso V. Assim, no dispositivo do acórdão, menciona-se
apenas este inciso. No entanto, pela leitura dos votos dos Ministros, percebe-se que
eles trataram do tema de forma genérica, abrangendo todo o § 1º-B. Logo, minha
opinião pessoal é no sentido de que essa decisão vale para todos os incisos do § 1º-
B.
40. CONCUSSÃO
40.1. Momento da consumação e flagrante delito – (Info 564) – IMPORTANTE!!!
O STF concorda com a Súmula 599 do STJ? NÃO. No STF, há julgados admitindo a
aplicação do princípio mesmo em outras hipóteses além do descaminho, como foi o
caso do HC 107370, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 26/04/2011 e do HC 112388,
Rel. p/ Acórdão Min. Cezar Peluso, julgado em 21/08/2012.
42.2. "Lucro fácil" e “cobiça” não podem ser usados como argumentos para aumentar
a pena da concussão e da corrupção passiva – (Info 608)
Esse argumento é válido? O juiz poderia ter decidido dessa forma? SIM. É possível a
valoração negativa da circunstância judicial da culpabilidade com base em elementos
concretos e objetivos, constantes dos autos, que demonstrem que o comportamento
do réu é merecedor de maior reprovabilidade, de maneira a restar caracterizado que
a conduta delituosa extrapolou os limites naturais próprios à execução do crime.
45. DESACATO
45.1. Desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão dela
continua a ser crime – (Info 607) – IMPORTANTE!!!
O bem jurídico protegido é o respeito da função pública. Tanto isso é verdade que a
vítima primária deste delito é o Estado. O servidor ofendido é apenas o sujeito passivo
secundário.
Em 1995, a Comissão afirmou que as leis de desacato se prestam ao abuso, como meio
para silenciar ideias e opiniões consideradas incômodas pelo establishment, bem assim
proporcionam maior nível de proteção aos agentes do Estado do que aos particulares,
em contravenção aos princípios democrático e igualitário (CIDH, Relatório sobre a
compatibilidade entre as leis de desacato e a Convenção Americana sobre Direitos
Humanos, OEA/Ser. L/V/II.88, doc. 9 rev., 17 de fevereiro de 1995, 197-212).
Desacato não viola a liberdade de expressão: A figura penal do desacato não prejudica
a liberdade de expressão, pois não impede o cidadão de se manifestar, “desde que o
faça com civilidade e educação”. A responsabilização penal por desacato existe para
inibir excessos e constitui uma salvaguarda para os agentes públicos, expostos a todo
tipo de ofensa no exercício de suas funções.
Corte IDH admite que excessos na liberdade de expressão sejam punidos: Apesar da
posição da Comissão Interamericana de Direitos Humanos ser contrária à
criminalização do desacato, a Corte Interamericana de Direitos Humanos, órgão que
efetivamente julga os casos envolvendo indivíduos e Estados, já deixou claro em mais
de um julgamento que o Direito Penal pode punir as condutas que representem
excessos no exercício da liberdade de expressão.
Assim, o Poder Judiciário brasileiro deve continuar a repudiar reações arbitrárias
eventualmente adotadas por agentes públicos, punindo pelo crime de abuso de
autoridade quem, no exercício de sua função, reagir de modo autoritário a críticas e
opiniões que não constituam excesso intolerável do direito de livre manifestação do
pensamento.
Alguns de vocês podem estar pensando: mas eu li em algum lugar que o STJ havia
considerado que o desacato não é mais crime...: É verdade... houve uma decisão do
STJ neste sentido no final de 2016:
O crime de desacato não mais subsiste em nosso ordenamento
jurídico por ser incompatível com o artigo 13 do Pacto de San
José da Costa Rica.
A criminalização do desacato está na contramão do
humanismo, porque ressalta a preponderância do Estado -
personificado em seus agentes - sobre o indivíduo.
A existência deste crime em nosso ordenamento jurídico é
anacrônica, pois traduz desigualdade entre funcionários e
particulares, o que é inaceitável no Estado Democrático de
Direito preconizado pela CF/88 e pela Convenção Americana
de Direitos Humanos.
STJ. 5ª Turma. REsp 1640084/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas,
julgado em 15/12/2016.
O STF possui algum precedente sobre o tema? Ainda não. O tema, contudo, será em
breve apreciado pelo STF. Enquanto isso não ocorre, desacato continua sendo crime.
O crime de desacato não mais subsiste em nosso ordenamento jurídico por ser
incompatível com o artigo 13 do Pacto de San José da Costa Rica.
A criminalização do desacato está na contramão do humanismo, porque ressalta a
preponderância do Estado - personificado em seus agentes - sobre o indivíduo.
A existência deste crime em nosso ordenamento jurídico é anacrônica, pois traduz
desigualdade entre funcionários e particulares, o que é inaceitável no Estado
Democrático de Direito preconizado pela CF/88 e pela Convenção Americana de
Direitos Humanos.
STJ. 5ª Turma. REsp 1640084/SP, Re. Min. Ribeiro Dantas, j. 15/12/16.
(DPESP-2015): Sobre a compatibilidade do crime de desacato, tipificado no artigo
331 do Código Penal brasileiro, com os tratados internacionais de direitos
humanos, é correto afirmar a Comissão Interamericana já entendeu que as leis que
punem a manifestação ofensiva dirigida a funcionários públicos, geralmente
conhecidas como “leis de desacato”, atentam contra a liberdade de expressão e o
direito à informação.
OBS:
Previsão do desacato no direito brasileiro: O Código Penal prevê o crime de desacato
no art. 331:
Art. 331. Desacatar funcionário público no exercício da função
ou em razão dela:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
O bem jurídico protegido é o respeito da função pública. Tanto isso é verdade que a
vítima primária deste delito é o Estado. O servidor ofendido é apenas o sujeito passivo
secundário.
Em 1995, a Comissão afirmou que as leis de desacato se prestam ao abuso, como meio
para silenciar ideias e opiniões consideradas incômodas pelo establishment, bem assim
proporcionam maior nível de proteção aos agentes do Estado do que aos particulares,
em contravenção aos princípios democrático e igualitário (CIDH, Relatório sobre a
compatibilidade entre as leis de desacato e a Convenção Americana sobre Direitos
Humanos, OEA/Ser. L/V/II.88, doc. 9 rev., 17 de fevereiro de 1995, 197-212).
Existe algum precedente no Brasil acolhendo esta tese?. SIM. A 5ª Turma do STJ, REsp
1640084/SP.
Obs.: na época em que a CADH foi aprovada no Brasil, ainda não havia a previsão do
§ 3º do art. 5º da CF/88.
Invalidade do desacato: Vale ressaltar que o Pacto de San José da Costa Rica, por ser
hierarquicamente superior ao Código Penal, não revogou o art. 331, mas sim o tornou
inválido, conforme entendimento do STJ:
"No plano material, as regras provindas da Convenção
Americana de Direitos Humanos, em relação às normas
internas, são ampliativas do exercício do direito fundamental
à liberdade, razão pela qual paralisam a eficácia normativa da
regra interna em sentido contrário, haja vista que não se trata
aqui de revogação, mas de invalidade" (STJ REsp 914.253/SP)
Ofensor poderá ser punido por outros tipos penais: Vale ressaltar que o fato de o
desacato não mais ser punido não significa que o indivíduo que ofendeu a honra de
um servidor público não possa ser responsabilizado. A depender da situação concreta
e das palavras proferidas ou gestos praticados, o ofensor poderá responder por
calúnia, difamação ou injúria. Neste caso, contudo, a vítima será a pessoa física, ou
seja, o próprio servidor ofendido (e não mais o Estado).
O que a CIDH repudia é um tratamento penal mais gravoso para ofensas praticadas
contra servidores públicos porque isso representaria uma restrição à liberdade de
expressão e de controle social sobre as atividades da Administração Pública.
Decisão da 5ª Turma: Por fim, importante ressaltar que o precedente acima foi tomado
pela 5ª Turma do STJ, não havendo ainda decisões do Supremo Tribunal Federal sobre
o tema. É provável, no entanto, que a Corte siga o mesmo entendimento.
João afirmou que realmente comunicou um crime que não ocorreu. Alegou, contudo,
que Pedro não teve qualquer prejuízo, considerando que não foi indiciado pela
autoridade policial. Desse modo, argumentou que a sua conduta não se enquadra no
art. 339, mas sim no delito do art. 340 do CP:
Comunicação falsa de crime ou de contravenção
Art. 340. Provocar a ação de autoridade, comunicando-lhe a
ocorrência de crime ou de contravenção que sabe não se ter
verificado:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
A tese da defesa foi aceita pelo STJ? Afinal de contas, João praticou denunciação
caluniosa (art. 339) ou comunicação falsa de crime (art. 340)? NÃO. A tese da defesa
não foi aceita. João praticou denunciação caluniosa (art. 339 do CP).
Nesse sentido: MASSON, Cleber. Direito Penal esquematizado. Vol. 3. São Paulo:
Método, 2014, p. 847.
47. CONTRABANDO
47.1. Importação de colete à prova de balas configura contrabando – (Info 577) –
IMPORTANTE!!!
Diante disso, indaga-se: qual foi o crime praticado por João? Contrabando.
Ocorre que colete à prova de balas não pode ser considerado acessório. Isso porque a
palavra "acessório" mencionada no art. 18 é acessório de arma de fogo, ou seja, algo
que complementa, que se agrega à arma de fogo para melhorar o seu funcionamento
ou desempenho. Exs: silenciador, mira telescópica etc. O colete à prova de balas é uma
proteção contra armas de fogo e não um acessório desta.
48. DESCAMINHO
48.1. O falso pode ser absorvido pelo descaminho – (Info 587) – IMPORTANTE!!!
O descaminho é crime tributário FORMAL. Logo, para que seja proposta ação penal
por descaminho não é necessária a prévia constituição definitiva do crédito
tributário.
Não se aplica a Súmula Vinculante 24 do STF.
O crime se consuma com a simples conduta de iludir o Estado quanto ao pagamento
dos tributos devidos quando da importação ou exportação de mercadorias.
No entanto, ainda que o descaminho seja delito de natureza formal, a decisão
administrativa ou judicial que conclui pela inexistência de importação irregular de
mercadorias e anula o auto de infração repercute na própria tipicidade do fato. Em
simples palavras, não tendo havido importação irregular, não há crime.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.343.463-BA, Rel. para acórdão Min. Rogerio Schietti Cruz, j.
20/3/14 (Info 548).
STJ. 6ª Turma. REsp 1413829/CE, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, j.
11/11/2014.
Para que se caracterize o crime do art. 345 do CP, é necessário que a pretensão
discutida possa ser buscada no Poder Judiciário: O exercício arbitrário das próprias
razões é um crime contra a administração da justiça. Em virtude disso, a doutrina
afirma que este crime só se configura quando o agente poderia buscar aquele direito
(pretensão) no Poder Judiciário, mas, em vez disso, decide fazer "justiça com as
próprias mãos".
Esse foi o grande ponto que gerou debate neste processo: a prostituição pode ser
considerada uma atividade lícita? Se o cliente da prostituta deixa de pagar pelo
serviço praticado, ela poderá ingressar com ação judicial para cobrar essa quantia?
Veja que esta resposta é muito importante porque, segundo a doutrina, só existe o
crime do art. 345 se a pretensão exigida por conta própria poderia ter sido cobrada
por meio do Poder Judiciário. E então, o crédito poderia, em tese, ter sido exigido por
meio de ação de cobrança? SIM. Conforme explica Nucci:
"Na órbita do Direito Civil, a prostituição deve ser
reconhecida como um negócio como outro qualquer (...) O
comércio sexual entre adultos envolve agentes capazes. Como
já se deixou claro, reconhecida a atividade no rol das
profissões do Ministério do Trabalho, o objeto é perfeitamente
lícito, pois é um contrato sexual, mediante remuneração, entre
agentes capazes. Seria o equivalente a um contrato de
massagem, mediante remuneração, embora sem sexo. Não há
forma prescrita em lei para tal negócio, que pode ser verbal
(...).
Desse modo, não se pode negar proteção jurídica àquelas (e àqueles) que oferecem
serviços de cunho sexual em troca de remuneração, desde que, evidentemente, essa
troca de interesses não envolva incapazes, menores de 18 anos e pessoas de algum
modo vulneráveis e desde que o ato sexual seja decorrente de livre disposição da
vontade dos participantes e não implique violência (não consentida) ou grave ameaça.
Resumindo: Como a pretensão que foi cobrada pela ré "com suas próprias mãos" poderia
ter sido exigida mediante ação judicial e como o seu dolo não era o de roubar, mas sim
o de cobrar o cliente pelo serviço que ela prestou regularmente, tem-se que a prostituta
considerava estar exercendo pretensão legítima, de sorte que deverá responder pelo
crime do art. 345 do CP (e não por roubo).
O crime previsto no art. 56, caput, da Lei 9.605/98 é de perigo abstrato, sendo
dispensável a produção de prova pericial para atestar a nocividade ou a
periculosidade dos produtos transportados, bastando que estes estejam elencados
na Resolução 420/2004 da ANTT.
Art. 56. Produzir, processar, embalar, importar, exportar,
comercializar, fornecer, transportar, armazenar, guardar,
ter em depósito ou usar produto ou substância tóxica,
perigosa ou nociva à saúde humana ou ao meio ambiente,
em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou
nos seus regulamentos:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.439.150-RS, Rel. Min. Rogério Schietti Cruz, j. 5/10/17 (Info
613).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João estava dirigindo seu caminhão quando
foi parado pela Polícia Rodoviária Estadual, que constatou que ele transportava
Dimilin, Vitavax-Thiram e Carbomax, espécies de fungicida, produtos considerados
perigosos pela Resolução 420/04 da Agência Nacional de Transporte Terrestre
(ANTT). Esta Resolução faz uma série de exigências para que tais produtos sejam
transportados. Ocorre que João estava transportando os produtos sem cumprir as
exigências, ou seja, em desacordo com a Resolução. Diante disso, ele foi denunciado
pelo Promotor de Justiça pela prática do crime tipificado no art. 56 da Lei 9.605/98
(Lei dos Crimes Ambientais):
Art. 56. Produzir, processar, embalar, importar, exportar,
comercializar, fornecer, transportar, armazenar, guardar, ter
em depósito ou usar produto ou substância tóxica, perigosa
ou nociva à saúde humana ou ao meio ambiente, em
desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou nos seus
regulamentos:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
A defesa de João pediu que fosse realizada perícia nos produtos apreendidos com o
objetivo de se aferir se eles são realmente nocivos ou não ao meio ambiente. O juiz
indeferiu a perícia e condenou o réu. O condenado interpôs recurso alegando que
houve cerceamento de defesa.
Norma penal em branco: O art. 56 da Lei nº 9.605/98 é uma norma penal em branco.
Repare na parte final do dispositivo: “em desacordo com as exigências estabelecidas em leis
ou nos seus regulamentos”. Assim, a conduta ilícita prevista no dispositivo depende da
edição de outras normas, que definam o que venha a ser o elemento normativo do tipo
“produto ou substância tóxica, perigosa ou nociva à saúde pública ou ao meio ambiente”. No
caso de transporte de tais produtos ou substâncias, o complemento do art. 56 é o
Regulamento para o Transporte Rodoviário de Produtos Perigosos (Decreto
96.044/88) e a Resolução 420/2004 da ANTT. Tais normas indicam os produtos e
substâncias cujo transporte rodoviário é considerado perigoso.
Crime de dano e de perigo: Existe uma classificação dos delitos que os distinguem em
crimes de dano e de perigo.
a) Crimes de DANO: somente se consumam com a efetiva lesão do bem jurídico (ex:
homicídio).
b) Crimes de PERIGO: são aqueles que se consumam com a mera possibilidade de
dano. Em simples palavras, não precisa que ocorra dano para a consumação, basta que
se verifique o perigo de dano.
52.2. Pesca de um único peixe que é devolvido, ainda vivo, ao rio em que foi
pescado: princípio da insignificância – (Info 602)
52.3. O crime do art. 64 da Lei 9.605/98 absorve o delito do art. 48 – (Info 597)
O Ministério Público alegou que a área era "não edificável" em razão de seu valor
ecológico, o que denota a conduta prevista no art. 64 da Lei de Crimes Ambientais. O
enquadramento no art. 48 se deu em razão de que a edificação promovida estava
impedindo que a regeneração da vegetação natural ocorresse no local.
Quando a pessoa constrói em local de floresta não pratica dois crimes com único
intento (hipótese de concurso formal). Há apenas um crime cometido. De igual forma,
não se trata de concurso material, pois para isso, os crimes precisariam ser autônomos
e com desígnios independentes. No caso, os delitos dos arts. 48 e 64 não são
autônomos.
53.2. Delegado de Polícia que mantém arma em sua casa sem registro no órgão
competente pratica crime de posse irregular de arma de fogo – (Info 597)
É típica e antijurídica a conduta de policial civil que, mesmo autorizado a portar ou
possuir arma de fogo, não observa as imposições legais previstas no Estatuto do
Desarmamento, que impõem registro das armas no órgão competente.
STJ. 6ª Turma. RHC 70.141-RJ, Rel. Min. Rogério Schietti Cruz, j. 7/2/17 (Info 597).
53.3. Porte de arma de fogo por vigia após o horário de expediente – (Info 581)
53.4. Magistrado que mantém sob sua guarda arma ou munição de uso restrito não
comete crime – (Info 572) – IMPORTANTE!!!
Conselheiro do Tribunal de Contas Estadual que mantém sob sua guarda arma ou
munição de uso restrito não comete o crime do art. 16 da Lei 10.826/2003 (Estatuto
do Desarmamento).
Os Conselheiros dos Tribunais de Contas são equiparados a magistrados e o art.
33, V, da LC 35/79 (LOMAN) garante aos magistrados o direito ao porte de arma de
fogo.
STJ. Corte Especial. APn 657-PB, Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 21/10/15 (Info
572).
53.5. Atipicidade da conduta de posse ilegal de arma de fogo de uso permitido com
registro vencido – (Info 572) – IMPORTANTE!!! Atualize o Info 570!!!
Não configura o crime de posse ilegal de arma de fogo (art. 12 da Lei nº 10.826/2003)
a conduta do agente que mantém sob guarda, no interior de sua residência, arma de
fogo de uso permitido com registro vencido.
Se o agente já procedeu ao registro da arma, a expiração do prazo é mera
irregularidade administrativa que autoriza a apreensão do artefato e aplicação de
multa. A conduta, no entanto, não caracteriza ilícito penal.
Ex: a Polícia, ao realizar busca e apreensão na casa de João, lá encontrou um revólver,
de uso permitido. João apresentou o registro da arma de fogo localizada, porém ele
estava vencido há mais de um ano. João não praticou crime de posse ilegal de arma
de fogo (art. 12 da Lei nº 10.826/2003).
STJ. Corte Especial. APn 686-AP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 21/10/15 (Info
572).
STJ. 5ª Turma. HC 294.078/SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 26/08/14.
53.6. Tipicidade da conduta de posse ilegal de arma de fogo de uso permitido com
registro vencido - (Info 570) – Vide Info 572, supra.
53.7. Atipicidade da conduta de porte ilegal de arma de fogo ineficaz - (Info 570) –
IMPORTANTE!!!
Para que haja condenação pelo crime de posse ou porte NÃO é necessário que a
arma de fogo tenha sido apreendida e periciada. Assim, é irrelevante a realização de
exame pericial para a comprovação da potencialidade lesiva do artefato. Isso porque
os crimes previstos no arts. 12, 14 e 16 da Lei 10.826/2003 são de mera conduta ou de
perigo abstrato, cujo objeto jurídico imediato é a segurança coletiva.
No entanto, se a perícia for realizada na arma e o laudo constatar que a arma não
tem nenhuma condição de efetuar disparos não haverá crime. Para o STJ, não está
caracterizado o crime de porte ilegal de arma de fogo quando o instrumento
apreendido sequer pode ser enquadrado no conceito técnico de arma de fogo, por
estar quebrado e, de acordo com laudo pericial, totalmente inapto para realizar
disparos. Assim, demonstrada por laudo pericial a total ineficácia da arma de fogo
e das munições apreendidas, deve ser reconhecida a atipicidade da conduta do
agente que detinha a posse do referido artefato e das aludidas munições de uso
proibido, sem autorização e em desacordo com a determinação legal/regulamentar.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.451.397-MG, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, j.
15/9/15 (Info 570).
53.8. Policiais civis aposentados não têm porte de arma – (Info 554)
O porte de arma de fogo a que têm direito os policiais civis não se estende aos
policiais aposentados. Isso porque, de acordo com o art. 33 do Decreto 5.123/2004,
que regulamentou o art. 6º da Lei 10.826/2003, o porte de arma de fogo está
condicionado ao efetivo exercício das funções institucionais por parte dos policiais,
motivo pelo qual não se estende aos aposentados.
STJ. 5ª Turma. HC 267.058-SP, Rel. Min. Jorge Mussi, j. 4/12/14 (Info 554).
53.10. Transporte de arma de fogo por praticante de tiro desportivo – (Info 540)
Pratica o crime do art. art. 14 da Lei 10.826/03 o praticante de tiro desportivo que
transporta, municiada, arma de fogo de uso permitido em desacordo com os termos
de sua guia de tráfego, a qual autorizava apenas o transporte de arma
desmuniciada.
STJ. 6ª Turma. RHC 34.579-RS, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, j. 24/4/14.
(Info 540).
Medida assecuratória (art. 4º): Uma das formas mais eficazes de combater o crime
organizado e a lavagem de dinheiro é buscar, ainda durante a investigação ou no início
do processo, a indisponibilidade dos bens das pessoas envolvidas, o que faz com que
elas tenham menos poder econômico para continuar delinquindo. A experiência
mostra que a prisão preventiva sem a indisponibilidade dos bens é de pouca utilidade
nesse tipo de criminalidade porque a organização criminosa continua atuando. Os
líderes, mesmo presos, comandam as atividades de dentro das unidades prisionais ou
então a organização escolhe substitutos que continuam a praticar os mesmos crimes,
considerando que ainda detêm os recursos financeiros para a empreitada criminosa.
Desse modo, é indispensável que sejam tomadas medidas para garantir a
indisponibilidade dos bens e valores pertencentes ao criminoso ou à organização
criminosa, ainda que estejam em nome de interpostas pessoas, vulgarmente
conhecidas como “laranjas”. O art. 4º da Lei de Lavagem trata justamente dessas
medidas assecuratórias destinadas à arrecadação cautelar e posterior confisco dos
bens, direitos ou valores do investigado, do acusado ou das interpostas pessoas.
Confira a redação do dispositivo legal:
Art. 4º (...)
§ 2º O juiz determinará a liberação total ou parcial dos bens,
direitos e valores quando comprovada a licitude de sua
origem, mantendo-se a constrição dos bens, direitos e valores
necessários e suficientes à reparação dos danos e ao
pagamento de prestações pecuniárias, multas e custas
decorrentes da infração penal.
§ 3º Nenhum pedido de liberação será conhecido sem o
comparecimento pessoal do acusado ou de interposta pessoa
a que se refere o caput deste artigo, podendo o juiz determinar
a prática de atos necessários à conservação de bens, direitos
ou valores, sem prejuízo do disposto no § 1º.
Cabia apelação no presente caso? Qual é o instrumento cabível contra decisão penal
que implique em constrição de bens determinada por medidas assecuratórias de
arresto e sequestro? SIM. O indivíduo que sofreu os efeitos da medida assecuratória
prevista no art. 4º da Lei nº 9.613/98 tem a possibilidade de postular diretamente ao
juiz a liberação total ou parcial dos bens, direitos ou valores constritos. No entanto,
isso não proíbe que ele decida não ingressar com esse pedido perante o juízo de 1º
instância e queira, desde logo, interpor apelação contra a decisão proferida, na forma
do art. 593, II, do CPP.
Concurso formal
Art. 70. Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão,
pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplica-se-lhe a
mais grave das penas cabíveis ou, se iguais, somente uma
delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até
metade. As penas aplicam-se, entretanto, cumulativamente,
se a ação ou omissão é dolosa e os crimes concorrentes
resultam de desígnios autônomos, consoante o disposto no
artigo anterior.
Parágrafo único - Não poderá a pena exceder a que seria
cabível pela regra do art. 69 deste Código.
O réu recorreu pedindo para afastar o concurso formal entre os dois crimes de
corrupção de menores, alegando que deveria ser reconhecido crime único. Em outras
palavras, João afirmou o seguinte: eu deveria ter sido condenado por roubo em
concurso com uma só corrupção de menores (e não com duas). Houve um só crime de
corrupção de menores, mesmo tendo havido a participação de dois adolescentes.
No que isso interfere? No quantum da pena. Isso porque, segundo o STJ (HC
319.513/SP), o critério para a escolha do aumento de pena previsto no art. 70 do CP é
o número de crimes praticados:
2 crimes – aumenta 1/6
3 crimes – aumenta 1/5
4 crimes – aumenta 1/4
5 crimes – aumenta 1/3
6 crimes – aumenta 1/2
Logo, pela decisão do juiz (três crimes: um roubo e duas corrupções de menores), o
aumento fica em 1/5; pela tese da defesa (sendo apenas 2 delitos), o aumento do art.
70 ficaria em 1/6.
A sentença do juiz foi mantida? SIM. O bem jurídico tutelado pelo art. 244-B do ECA
é a formação moral da criança e do adolescente a fim de que eles não ingressem ou
permaneçam no mundo da criminalidade. Se o bem jurídico tutelado pelo crime de
corrupção de menores é a formação moral da criança e do adolescente, caso duas
crianças/adolescentes tiverem seu amadurecimento moral violado, em razão de
estímulos a praticar o crime ou a permanecer na seara criminosa, dois foram os bens
jurídicos violados. Da mesma forma, dois são os sujeitos passivos atingidos, uma
vez que a doutrina é unânime em reconhecer que o sujeito passivo do crime de
corrupção de menores é a criança ou o adolescente submetido à corrupção. O
entendimento perfilhado também se coaduna com os princípios da prioridade
absoluta e do melhor interesse da criança e do adolescente, vez que trata cada criança
ou adolescente como sujeitos de direitos. Ademais, seria desarrazoado atribuir a
prática de crime único ao réu que corrompeu dois adolescentes, assim como ao que
corrompeu apenas um.
(MPGO-2014): Incorre no tipo penal previsto no art. 102 da Lei 10.741/03 (Estatuto
do Idoso) – e não no tipo penal de furto (art. 155 do CP) – o estagiário de instituição
financeira que se utiliza do cartão magnético e da senha de acesso à conta de
depósitos de pessoa idosa para realizar transferências de valores para sua conta
pessoal, sendo despiciendo perquirir qual seria a real destinação desses valores
(finalidade). BL: STJ, REsp 1358865/RS.
OBS:
Delito do art. 102 do Estatuto do Idoso: Art. 102. Apropriar-se de ou desviar bens,
proventos, pensão ou qualquer outro rendimento do idoso, dando-lhes aplicação
diversa da de sua finalidade: Pena – reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa.
O autor do delito desviou bens da vítima (2ª figura do art. 102). Para a prática dessa
conduta, não há necessidade que o agente tenha tido prévia posse dos bens. A prévia
posse somente é exigida na 1ª figura do tipo penal (apropriar-se). Quando o agente
transferiu os valores da conta bancária da vítima para a sua conta pessoal ele desviou
os bens da idosa, dando-lhes aplicação diversa da sua finalidade.
Pouco importa qual seria a finalidade que a idosa daria aquele dinheiro. Com certeza
essa finalidade não era doar o dinheiro para o agente. Logo, independente de qual
fosse o fim a ser empregado, o certo é que o dinheiro foi desviado dessa finalidade, ao
ser, por meio de fraude, transferido para a conta do autor.
Se a vítima não fosse idosa, qual crime teria sido praticado? Se a vítima não fosse
idosa, João teria praticado o crime de furto mediante fraude (art. 155, § 4º, II, do CP).
Como você pode ter ficado em dúvida entre furto e estelionato, vejamos as diferenças
entre os dois, valendo-se, para a elaboração do quadro abaixo, dos ensinamentos de
Cleber Masson (Direito Penal Esquematizado. P. Especial. V. 2. São Paulo: Método,
2014, p. 369-71):
Essa distinção acima é adotada pelo STJ: (...) No furto qualificado, a fraude tem o
escopo de reduzir/burlar a vigilância da vítima para que, em razão dela, não perceba
que a coisa lhe está sendo subtraída, enquanto no crime de estelionato a fraude visa
induzir a vítima a erro e, assim, entregar o bem, espontaneamente, ao agente. (...) (STJ.
6ª Turma. RHC 21.412/SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 06/05/2014).
Por outro lado, vejamos um exemplo de estelionato: (Juiz Federal TRF1 2013 CESPE):
Ao sair de uma festa, Celestino entregou o ticket de estacionamento ao manobrista e
aguardou a chegada do automóvel. O manobrista, por engano, entregou-lhe outro
veículo, muito mais novo e, portanto, mais valioso. Mesmo sabendo que aquele não
era o seu automóvel, Celestino o recebeu e o levou consigo. Nessa situação, Celestino
não provocou o engano, mas também não o desfez, incorrendo no crime de
estelionato. (CERTO)
A defesa alegou que o agente não chegou a atravessar a fronteira de nenhum Estado,
de forma que não houve tráfico "entre Estados da Federação". Logo, não deveria
incidir a causa de aumento do inciso V. Essa tese é aceita pela jurisprudência? Para
incidir essa causa de aumento, é necessário que o agente atravesse as fronteiras?
NÃO.
Para que incida a causa de aumento de pena prevista no inciso
V do art. 40, não se exige a efetiva transposição da fronteira
interestadual pelo agente, sendo suficiente a comprovação de
que a substância tinha como destino localidade em outro
Estado da Federação.
STF. 1ª Turma. HC 122791/MS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado
em 17/11/2015 (Info 808).
STJ. 6ª Turma. REsp 1370391/MS, Rel. Min. Rogerio Schietti
Cruz, julgado em 03/11/2015.
De quem é a competência para julgar este delito? Justiça Federal, considerando que
ficou provado o caráter transnacional do delito, nos termos do art. 109, V, da CF/88 e
art. 70 da Lei 11.343/2006:
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
V - os crimes previstos em tratado ou convenção internacional,
quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha ou
devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente;
O STJ concordou com a tese da defesa? SIM. O magistrado fez incidir a causa de
aumento do art. 40, V, sob o argumento de que a droga atravessou mais de um Estado
da Federação, considerando que entrou no Brasil no Estado do Mato Grosso do Sul,
passou pelo Estado de Goiás e chegou até o Distrito Federal. Ocorre que não existe
nenhum indício de que a intenção do agente fosse difundir o entorpecente em mais de
um Estado da Federação.
A droga, adquirida na Bolívia, atravessou a fronteira com o MS e perpassou outro
Estado rumo ao DF (destino final), por imperativos de ordem geográfica e pela própria
lógica da importação, de modo que, sem a existência de elementos concretos acerca da
intenção do paciente de pulverizar a droga em outros Estados do território nacional,
não há como condenar o réu pela majorante do inciso V do art. 40 da Lei nº
11.343/2006 em concomitância com a causa especial de aumento relativa à
transnacionalidade do delito, sob pena de bis in idem.
Veja precedente do STJ neste sentido:
Embora possível a cumulação das causas de aumento
referente a internacionalidade e interestadualidade do tráfico
ilícito de entorpecentes, esta última poderá incidir somente
quando houver, pelo menos, a comprovação do interesse em
difusão da droga em mais de um Estado da Federação. Assim,
não se revela admissível sua incidência em hipóteses de mero
transporte terrestre da mercadoria proveniente do exterior
com destino final certo em localidade estranha ao Estado
fronteiriço pelo qual ingressou.
STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1273754/MS, Rel. Min. Felix
Fischer, julgado em 23/10/2014.
O art. 400 do CPP prevê que o interrogatório deverá ser realizado como último ato
da instrução criminal.
Essa regra deve ser aplicada:
• nos processos penais militares;
• nos processos penais eleitorais e
• em todos os procedimentos penais regidos por legislação especial (ex: lei de
drogas).
Essa tese acima exposta (interrogatório como último ato da instrução em todos os
procedimentos penais) só se tornou obrigatória a partir da data de publicação da
ata de julgamento do HC 127900/AM pelo STF, ou seja, do dia 11/03/2016 em diante.
Os interrogatórios realizados nos processos penais militares, eleitorais e da lei de
drogas até o dia 10/03/2016 são válidos mesmo que tenham sido efetivados como o
primeiro ato da instrução.
STF. Plenário. HC 127900/AM, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 3/3/16 (Info 816).
STJ. 6ª Turma. HC 397382-SC, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, j. 3/8/17 (Info
609).
O fato de o agente transportar droga, por si só, não é suficiente para afirmar que ele
integre a organização criminosa.
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João foi preso enquanto transportava 100kg
de maconha, tendo sido denunciado pela prática de tráfico de drogas (art. 33, caput,
da Lei 11.343/06). A defesa alegou que o réu é primário, possui bons antecedentes e
que agiu na condição de “mula”, de forma que merece ser beneficiado com a
minorante prevista no § 4º do art. 33:
Art. 33 (...) § 4º Nos delitos definidos no caput e no § 1º deste
artigo, as penas poderão ser reduzidas de um sexto a dois
terços, vedada a conversão em penas restritivas de direitos,
desde que o agente seja primário, de bons antecedentes, não
se dedique às atividades criminosas nem integre organização
criminosa.
Se o réu não preencher algum desses requisitos, não terá direito à minorante.
No mesmo sentido: STJ. 5ª Turma. HC 387.077-SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado
em 6/4/2017 (Info 602).
A pessoa presa como “mula” deverá receber a diminuição da pena em seu patamar
máximo (2/3 de redução)? NÃO. O argumento de que o papel das "mulas" é
imprescindível na cadeia delitiva da organização criminosa destinada ao tráfico
internacional de drogas pode ser utilizado para se aplicar a causa de diminuição de
pena do art. 33, § 4º, da Lei 11.343/06, no patamar de 1/6 (um sexto), ou seja, no menos
vantajoso (STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 970.484/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas,
julgado em 09/05/2017).
57.4. Inquéritos policiais e ações penais em cursos podem ser utilizados para afastar
o benefício do tráfico privilegiado – (Info 596)
O tráfico ilícito de drogas na sua forma privilegiada (art. 33, § 4º, da Lei nº
11.343/2006) não é crime equiparado a hediondo e, por conseguinte, deve ser
cancelado o Enunciado 512 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça.
STJ. 3ª Seção. Pet 11.796-DF, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, j. 23/11/16
(recurso repetitivo) (Info 595).
O que dizia a Súmula 512-STJ: "A aplicação da causa de diminuição de pena prevista
no art. 33, § 4º, da Lei n. 11.343/2006 não afasta a hediondez do crime de tráfico de
drogas."
57.6. Agente que pratica delitos da Lei de Drogas envolvendo criança ou adolescente
responde também por corrupção de menores? – (Info 595) – IMPORTANTE!!!
Caso o delito praticado pelo agente e pelo menor de 18 anos não esteja
previsto nos arts. 33 a 37 da Lei de Drogas, o réu responderá pelo crime da
Lei de Drogas e também pelo delito do art. 244-B do ECA (corrupção de
menores).
Caso o delito praticado pelo agente e pelo menor de 18 anos seja o art. 33,
34, 35, 36 ou 37 da Lei nº 11.343/2006: ele responderá apenas pelo crime da
Lei de Drogas com a causa de aumento de pena do art. 40, VI. Não será
punido pelo art. 244-B do ECA para evitar bis in idem.
Na hipótese de o delito praticado pelo agente e pelo menor de 18 anos não estar
previsto nos arts. 33 a 37 da Lei de Drogas, o réu poderá ser condenado pelo crime
de corrupção de menores, porém, se a conduta estiver tipificada em um desses
artigos (33 a 37), não será possível a condenação por aquele delito, mas apenas a
majoração da sua pena com base no art. 40, VI, da Lei nº 11.343/2006.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.622.781-MT, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j. 22/11/16 (Info
595).
OBS:
DELITO ENVOLVENDO MENOR DE 18 ANOS E CONCURSO COM CORRUPÇÃO
DE MENORES
Imagine a seguinte situação hipotética: João (com 20 anos de idade) e Maikon (com
16 anos), mediante grave ameaça, subtraem a carteira de uma vítima. Vale ressaltar
que, antes desse evento, Maikon já respondia a cinco ações socioeducativas pela
participação em outros atos infracionais equiparados a roubo. O Promotor de Justiça
oferece denúncia contra João pela prática de dois crimes em concurso:
Roubo circunstanciado (art. 157, § 2º, II, do CP); e
Corrupção de menores (art. 244-B do ECA).
A defesa de João pediu a sua absolvição quanto ao delito do art. 244-B do ECA,
argumentando que o tipo penal fala em “corromper” menor de 18 anos. No entanto,
no caso concreto, o adolescente já estaria “corrompido”, considerando que tinha
participado de outros atos infracionais equiparados a crime (era infrator contumaz).
Logo, disse o advogado, não foi o réu (João) quem corrompeu o menor. A tese defensiva
é aceita pela jurisprudência? NÃO. A configuração do crime previsto no artigo 244-B
do ECA independe da prova da efetiva corrupção do menor, por se tratar de delito
formal (Súmula 500 do STJ). Assim, pouco importa se houve ou não a corrupção
efetiva do menor.
... o legislador estabeleceu que ele deverá responder pelo crime praticado com a pena
aumentada de 1/6 a 2/3 pelo fato de ter se utilizado de um menor de 18 anos para o
cometimento do delito. Isso foi previsto expressamente no art. 40, VI, da Lei nº
11.343/2006.
Se o julgador, além de aplicar a causa de aumento do art. 40, VI, da Lei de Drogas,
condenar o réu também pela prática do crime de corrupção de menores (art. 244-B do
ECA), estará punindo duas vezes o agente pela mesma circunstância (utilizar menor
de 18 anos na prática de um crime).
Qual deverá ser a imputação neste caso? O agente responderá apenas pelo crime
previsto na Lei de Drogas com a causa de aumento do art. 40, VI. Em nosso exemplo,
Pedro responderia apenas pelo art. 33 c/c art. 40, VI, da Lei nº 11.343/2006.
Por que o art. 244-B do ECA deverá ser afastado? Como vimos acima, o juiz não pode
aplicar o art. 40, VI, da LD e também o art. 244-B do ECA porque estaria punindo duas
vezes o réu pela mesma circunstância. Logo, só uma delas deverá prevalecer. No caso,
deverá incidir o art. 40, VI, por ser esta previsão específica para os crimes envolvendo
drogas. Assim, prevalece o art. 40, VI, em atenção ao princípio da especialidade.
De quem é a competência para julgar este delito? Justiça Federal, considerando que
ficou provado o caráter transnacional do delito, nos termos do art. 109, V, da CF/88 e
art. 70 da Lei 11.343/2006:
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
V - os crimes previstos em tratado ou convenção internacional,
quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha ou
devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente;
57.9. O fato de o réu ter ocupação lícita não significa que terá direito,
necessariamente, à minorante do § 4º do art. 33 da LD – (Info 582)
Ainda que o réu comprove o exercício de atividade profissional lícita, se, de forma
concomitante, ele se dedicava a atividades criminosas, não terá direito à causa
especial de diminuição de pena prevista no art. 33, § 4º, da Lei 11.343/06.
O tráfico de drogas praticado por intermédio de adolescente que, em troca da
mercancia, recebia comissão, evidencia (demonstra) que o acusado se dedicava a
atividades criminosas, circunstância apta a afastar a incidência da causa especial de
diminuição de pena prevista no art. 33, § 4º, da Lei 11.343/06.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.380.741-MG, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, j. 12/4/16 (Info
582).
Assim, o conceito é técnico-jurídico e só será considerada droga o que a lei (em sentido
amplo) assim reconhecer como tal. Mesmo que determinada substância cause
dependência física ou psíquica, se ela não estiver prevista no rol das substâncias
legalmente proibidas, ela não será tratada como droga para fins de incidência da Lei
11.343/06 (ex: álcool).
Este rol existe? Onde ele está previsto? O rol das substâncias que são consideradas
como "droga", para fins penais, continua previsto na Portaria SVS/MS nº 344/1998,
considerando que ainda não foi editada uma nova lista.
Estamos diante de uma norma penal em branco heterogênea (em sentido estrito ou
heteróloga). O complemento do que seja droga é fornecido por um ato normativo
elaborado por órgão diverso daquele que editou a Lei. A Lei 11.343/06 foi editada
pelo Congresso Nacional e o seu complemento é dado por uma portaria, editada pela
ANVISA, autarquia ligado ao Poder Executivo.
Diante do cenário acima, a defesa de João alegou que ele não praticou o crime previsto
no art. 33 da Lei 11.343/06, considerando que a cabaninoide não está prevista na lista
da ANVISA e tendo em vista que não foi encontrada THC na substância apreendida.
Esta tese foi acolhida pelo STJ? NÃO. A Lista E da Portaria nº 344/98 traz o rol de
plantas que podem originar substâncias entorpecentes e/ou psicotrópicas. A
Cannabis sativa integra a Lista E da referida portaria, de forma que ela é considerada
droga. Os exames realizados pelos peritos concluíram que, no material apreendido e
analisado, "foi constatada a presença de canabinoides, característica da espécie vegetal
Cannabis sativa". Portanto, irrelevante, para a comprovação da materialidade do
delito, o fato de o laudo pericial não haver revelado a presença de tetrahidrocanabiol
(THC) – um dos componentes ativos da Cannabis sativa – na substância, porquanto
constatou-se que a substância apreendida contém canabinoides, característicos da
espécie vegetal Cannabis sativa, que causam dependência e integram a Lista E da
Portaria nº 344/98.
Duas ou mais pessoas: Para configurar o crime do art. 35, basta que o agente se una,
de forma estável e permanente, com mais uma pessoa, exigindo-se um número mínimo
de duas pessoas. Para caracterizar esse delito, não importa que uma das pessoas seja
inimputável. De igual forma, haverá o crime mesmo que o outro associado não seja
identificado pela polícia, desde que se tenha certeza que havia, no mínimo, duas
pessoas associadas.
Pedro convidou Lucas (15 anos) para auxiliá-lo, de forma estável e permanente, na
prática do tráfico de drogas. Como contrapartida, prometeu "pagar" pelo serviço
dando 100g de cocaína por semana para que ele consumisse. Foram presos quando
estavam vendendo droga. Pedro foi denunciado por tráfico de drogas (art. 33) e
associação para o tráfico (art. 35), com a causa de aumento do art. 40, VI. Em uma
situação assemelhada a esta, o STJ concluiu que:
I - A causa de aumento de pena do art. 40, VI, da Lei nº 11.343/2006 pode ser aplicada
tanto para agravar o crime de tráfico de drogas (art. 33) quanto para agravar o de
associação para o tráfico (art. 35) praticados no mesmo contexto. Não há bis in idem
porque são delitos diversos e totalmente autônomos, com motivação e finalidades
distintas.
II - O fato de o agente ter envolvido um menor na prática do tráfico e, ainda, tê-lo
retribuído com drogas, para incentivá-lo à traficância ou ao consumo e dependência,
justifica a aplicação, em patamar superior ao mínimo, da causa de aumento de pena
do art. 40, VI, da Lei nº 11.343/2006, ainda que haja fixação de pena-base no mínimo
legal. A aplicação da causa de aumento em patamar acima do mínimo é plenamente
válida, desde que fundamentada na gravidade concreta do delito.
STJ. 6ª Turma. HC 250.455-RJ, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 17/12/2015 (Info
576).
OBS:
A causa de aumento de pena do art. 40, VI, da LD irá incidir sobre os dois crimes ou
sobre apenas um deles? A pena a ser aumentada será apenas a do art. 33, a do art. 35
ou dos dois? Será aplicada sobre os dois delitos.
57.15. Livramento condicional no caso de associação para o tráfico (art. 35) – (Info 568)
– IMPORTANTE!!!
O art. 83 do CP prevê que o condenado por crime hediondo ou equiparado que não
for reincidente específico poderá obter livramento condicional após cumprir 2/3 da
pena. Os condenados por crimes não hediondos ou equiparados terão direito ao
benefício se cumprirem mais de 1/3 da pena (não sendo reincidentes em crimes
dolosos) ou se cumprirem mais de 1/2 da pena (se forem reincidentes em crimes
dolosos).
O crime de associação para o tráfico de drogas, previsto no art. 35 da Lei 11.343/2006,
não é hediondo nem equiparado. No entanto, mesmo assim, o prazo para se obter o
livramento condicional é de 2/3 porque este requisito é exigido pelo parágrafo único
do art. 44 da Lei de Drogas.
Dessa forma, aplica-se ao crime do art. 35 da LD o requisito objetivo de 2/3 não por
força do art. 83, V, do CP, mas sim em razão do art. 44, parágrafo único, da LD.
Vale ressaltar que, no caso do crime de associação para o tráfico, o art. 44, parágrafo
único, da LD prevalece em detrimento da regra do art. 83, V, do CP em virtude de
ser dispositivo específico para os crimes relacionados com drogas (critério da
especialidade), além de ser norma posterior (critério cronológico).
Uma última observação: se o réu estiver cumprindo pena pela prática do crime de
associação para o tráfico (art. 35), o requisito objetivo para que ele possa obter
progressão de regime será de 1/6 da pena (quantidade de tempo exigida para os
"crimes comuns"). Os condenados por crimes hediondos ou equiparados só têm
direito de progredir depois de cumpridos 2/5 (se primário) ou 3/5 (se reincidente).
STJ. 5ª Turma. HC 311.656-RJ, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 25/8/2015 (Info
568).
A condenação por porte de drogas para consumo próprio (art. 28 da Lei 11.343/2006)
transitada em julgado gera reincidência. Isso porque a referida conduta foi apenas
despenalizada pela nova Lei de Drogas, mas não descriminalizada (abolitio
criminis).
STJ. 6ª Turma. HC 275.126-SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 18/9/2014 (Info
549).
O art. 40, III, da Lei de Drogas prevê como causa de aumento de pena o fato de a
infração ser cometida em transportes públicos.
Se o agente leva a droga em transporte público, mas não a comercializa dentro do
meio de transporte, incidirá essa majorante?
NÃO. A majorante do art. 40, II, da Lei 11.343/06 somente deve ser aplicada nos
casos em que ficar demonstrada a comercialização efetiva da droga em seu interior.
É a posição majoritária no STF e STJ.
STF. 1ª Turma. HC 122258-MS, Rel. Min. Rosa Weber, j. 19/08/2014.
STF.2ª Turma. HC 120624/MS, Red. p/ o acórdão, Min. Ricardo Lewandowski, j.
3/6/14 (Info 749).
STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1.295.786-MS, Rel. Min. Regina Helena Costa, j. 18/6/14
(Info 543).
STJ. 6ª Turma. REsp 1.443.214-MS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j. 22/09/2014.
OBS:
A causa de aumento do art. 40, III, da LD: “Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37
desta Lei são aumentadas de um sexto a dois terços, se: III - a infração tiver sido cometida nas
dependências ou imediações de estabelecimentos prisionais, de ensino ou hospitalares, de sedes
de entidades estudantis, sociais, culturais, recreativas, esportivas, ou beneficentes, de locais de
trabalho coletivo, de recintos onde se realizem espetáculos ou diversões de qualquer natureza,
de serviços de tratamento de dependentes de drogas ou de reinserção social, de unidades
militares ou policiais ou em transportes públicos;
É possível que alguém seja condenado pelo art. 35 e, ao mesmo tempo, pelo art. 37,
da Lei de Drogas em concurso material, sob o argumento de que o réu era associado
ao grupo criminoso e que, além disso, atuava também como “olheiro”?
NÃO. Segundo decidiu o STJ, nesse caso, ele deverá responder apenas pelo crime
do art. 35 (sem concurso material com o art. 37).
Considerar que o informante possa ser punido duplamente (pela associação e pela
colaboração com a própria associação da qual faça parte), contraria o princípio da
subsidiariedade e revela indevido bis in idem, punindo-se, de forma extremamente
severa, aquele que exerce função que não pode ser entendida como a mais relevante
na divisão de tarefas do mundo do tráfico.
STJ. 5ª Turma. HC 224.849-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 11/6/13 (Info 527)
(MPGO-2016): Para o STJ (HC 224.849), o tipo penal trazido no art. 37 da Lei de
Drogas se reveste de verdadeiro caráter de subsidiariedade, só ficando preenchida
a tipicidade quando não se comprovar a prática de crime mais grave. Considerar,
pois, que o informante possa ser punido duplamente, pela associação e pela
colaboração com a própria associação da qual faz parte, além de contrariar o
princípio da subsidiariedade, revela indevido bis in idem.
Se o agente financia ou custeia o tráfico, mas não pratica nenhum verbo do art. 33:
responderá apenas pelo art. 36 da Lei de Drogas.
Se o agente, além de financiar ou custear o tráfico, também pratica algum verbo do
art. 33: responderá apenas pelo art. 33 c/c o art. 40, VII da Lei de Drogas (não será
condenado pelo art. 36).
STJ. 6ª Turma. REsp 1.290.296-PR, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, j.
17/12/13 (Info 534).
Para que fique caracterizado o crime de associação para o tráfico (art. 35 da Lei
11.343/2006) exige-se que o agente tenha o dolo de se associar com PERMANÊNCIA
e ESTABILIDADE. Dessa forma, é atípica a conduta se não houver ânimo
associativo permanente (duradouro), mas apenas esporádico (eventual).
STJ. 6ª Turma. HC 139.942-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, j. 19/11/12.
58. TORTURA
58.1. Ausência de bis in idem na aplicação do art. 1º, § 4º, II, da Lei de Tortura em
conjunto com a agravante do art. 61, II, "f", do Código Penal – (Info 589)
A defesa alegou que houve bis in idem no caso concreto. Este argumento foi aceito
pelo STJ? NÃO. A majorante prevista no art. 1º, § 4º, II, da Lei 9.455/97 busca punir
de forma mais rígida o autor de crime que demonstrou maior covardia porque
cometeu o crime se favorecendo da menor capacidade de resistência da vítima (que é
uma criança). Há um nexo lógico entre a conduta desenvolvida e o estado de
fragilidade da vítima. Por outro lado, a agravante prevista no art. 61, II, "f" do Código
Penal pune com maior rigor o agente pelo fato de ele ter demonstrado maior
insensibilidade moral, já que violou o dever de apoio mútuo que deve existir entre
parentes e pessoas ligadas por liames domésticos, de coabitação ou hospitalidade.
Desse modo, esses dispositivos tratam de circunstâncias e objetivos distintos, razão
pela qual não há que falar na ocorrência de bis in idem.
Coabitação significa morar sob o mesmo teto. É possível a aplicação da Lei Maria da
Penha (Lei nº 11.340/2006) mesmo que não haja coabitação entre autor e vítima? SIM.
É possível que haja violência doméstica mesmo que agressor e vítima não convivam
sob o mesmo teto (não morem juntos). Isso porque o art. 5º, III, da Lei afirma que há
violência doméstica em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva
ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação.
Exemplos:
Ex1: violência praticada por irmão contra irmã, ainda que eles nem mais morem sob o
mesmo teto (STJ. 5ª Turma. REsp 1239850/DF, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em
16/02/2012);
Ex2: é possível que a agressão cometida por ex-namorado configure violência
doméstica contra a mulher ensejando a aplicação da Lei nº 11.340/2006 (STJ. 5ª Turma.
HC 182.411/RS, Rel. Min. Adilson Vieira Macabu (Des. Conv. do TJ/RJ), j. 14/8/12).
Surgiu uma tese defensiva afirmando que se o casal se reconciliasse durante o curso
do processo criminal, o juiz poderia absolver o réu com base no chamado “princípio
da bagatela imprópria”. Essa tese é aceita pelos Tribunais Superiores? NÃO. Assim
como ocorre com o princípio da insignificância, também não se admite a aplicação do
princípio da bagatela imprópria para os crimes ou contravenções penais praticados
contra mulher no âmbito das relações domésticas, tendo em vista a relevância do bem
jurídico tutelado (STJ. 6ª Turma. AgInt no HC 369.673/MS, Rel. Min. Rogerio Schietti
Cruz, julgado em 14/02/2017).
59.3. Não cabe pena restritiva de direitos nos crimes ou contravenções penais
cometidos contra a mulher com violência ou grave ameaça no ambiente doméstico –
(Info 610)
Veja, portanto, que esse dispositivo proíbe que o juiz aplique as seguintes penas
restritivas de direitos à pessoa que praticou violência doméstica e familiar contra a
mulher:
Pena de "cesta básica";
Quaisquer espécies de prestação pecuniária (art. 45, §§ 1º e 2º);
Pagamento isolado de multa (art. 44, § 2º do CP).
Diante disso, alguns doutrinadores sustentaram a tese de que o art. 17, ao proibir
apenas esses tipos de penas, teria, a contrario sensu, permitido que fossem aplicadas
outras espécies de penas restritivas de direitos.
Vale ressaltar que a Lei nº 9.099/95 não se aplica para os delitos praticados com
violência doméstica contra a mulher, por força do art. 41 da Lei nº 11.340/2006:
Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e
familiar contra a mulher, independentemente da pena
prevista, não se aplica a Lei nº 9.099, de 26 de setembro de
1995.
A ação penal nos crimes de lesão corporal leve cometidos em detrimento da mulher,
no âmbito doméstico e familiar, é pública incondicionada.
STJ. 3ª Seção. Pet 11.805-DF, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, j. 10/5/17 (recurso
repetitivo) (Info 604).
Súmula 542-STJ: A ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de
violência doméstica contra a mulher é pública incondicionada.
59.5. Cabimento de HC para questionar a legalidade de medida protetiva da Lei
Maria da Penha – (Info 574) – IMPORTANTE!!!
59.8. Aplicação da Lei Maria da Penha para agressão de filha contra a mãe – (Info
551) – IMPORTANTE!!!
Resumindo:
Regra: se na Lei, houver previsão de sanção civil ou administrativa para o caso
de descumprimento da ordem dada, não se configura o crime de
desobediência.
Exceção: haverá delito de desobediência se, na Lei, além da sanção civil ou
administrativa, expressamente constar uma ressalva de que não se exclui a
sanção penal.
O fato de a vítima ser figura pública renomada não afasta a competência do Juizado
de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher para processar e julgar o delito.
Isso porque a situação de vulnerabilidade e de hipossuficiência da mulher,
envolvida em relacionamento íntimo de afeto, revela-se ipso facto, sendo
irrelevante a sua condição pessoal para a aplicação da Lei Maria da Penha. Trata-se
de uma presunção da Lei.
STJ. 5ª Turma. REsp 1.416.580-RJ, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 1º/4/2014 (Info 539).
59.11. Não é cabível transação penal nem para crimes nem para contravenções penais
praticadas com violência doméstica – (Info 539) – IMPORTANTE!!!
É possível a aplicação da Lei Maria da Penha para violência praticada por irmão
contra irmã, ainda que eles nem mais morem sob o mesmo teto.
STJ. 6ª Turma. HC 184.990-RS, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 12/06/2012.
Entendendo melhor o perdão judicial: O Código Penal prevê que o homicídio culposo
pode trazer consequências tão negativas para o agente que não é justo que a ele seja
aplicada a pena por esse crime. Desse modo, o juiz, mesmo reconhecendo que existem
provas suficientes para condenar o réu, não aplica a ele nenhuma pena, declarando
extinta a sua punibilidade. A isso se chama perdão judicial.
Ex.1: pai que, agindo culposamente, causa a morte de seu amado filho.
Ex.2: sujeito que, agindo culposamente, causa um acidente no qual um terceiro morre
e ele próprio fica tetraplégico.
Nesses dois exemplos, as consequências do crime atingem o agente de forma tão forte
e cruel que a sanção penal é desnecessária e seria até desumana. A vida e o destino já
puniram o sujeito.
Consequências físicas ou morais: Para a aplicação do perdão judicial, o agente
responsável pelo crime deve ter sofrido, em razão do fato, graves consequências físicas
(ex.: tetraplegia) ou morais/psicológicas (ex.: perda de um ente querido).
Para concessão do perdão judicial com base nas consequências psicológicas exige-se
um vínculo prévio entre o autor e a vítima: Para aplicação do perdão judicial baseado
no sofrimento psicológico do agente, o STJ tem exigido a existência de um vínculo, de
um laço prévio de conhecimento entre os envolvidos, para que seja "tão grave" a
consequência do crime ao agente. Assim, a interpretação dada, na maior parte das
vezes, é no sentido de que só sofre intensamente o réu que, de forma culposa, matou
alguém conhecido e com quem mantinha laços afetivos. Entender pela desnecessidade
do vínculo seria abrir uma fenda na lei, que reputo não haver desejado o legislador,
pois, além de difícil aferição – o tão grave sofrimento –, serviria como argumento de
defesa para todo e qualquer caso de delito com vítima fatal. STJ. 6ª Turma. REsp
1455178/DF, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, DJe 06/06/2014.
Qual é a natureza jurídica do § 5º do art. 121 do CP? Trata-se de perdão judicial, que
é uma causa de extinção da punibilidade (art. 107, IX do CP).
É possível que o perdão judicial seja reconhecido pelo juiz ainda na fase de inquérito
policial ou na decisão de absolvição sumária? NÃO. Prevalece que o perdão judicial
apenas pode ser reconhecido no momento da sentença. Isso porque somente será
aplicado o perdão judicial se existirem provas suficientes para a condenação, análise
que deve ser feita após toda a instrução. Se houver motivos para absolver o réu, deve-
se prolatar sentença absolutória (e não de perdão judicial), afinal de contas, se ele não
é culpado pelo crime, não há motivo para ser “perdoado”.
Obs.: o perdão judicial é previsto para outros crimes além do homicídio culposo (ex.:
art. 129, § 8º do CP).
A tese da defesa foi acolhida pelo STJ? NÃO. Não é possível a extensão do efeito de
extinção da punibilidade pelo perdão judicial concedido em relação a um delito para
outro crime tão-somente por terem sido praticados em concurso formal.
O perdão judicial é uma causa de extinção da punibilidade de índole excepcional, de
forma que somente pode ser concedido quando presentes os seus requisitos, devendo-
se analisar cada delito de per si (isoladamente), e não de forma generalizada, como
quando ocorre a pluralidade de delitos decorrentes do concurso formal de crimes.
Em sua defesa, João alegou que Igor não causou nenhum tipo de perigo porque sabe
dirigir há anos e estava em velocidade compatível no local, não tendo os agentes de
trânsito observado qualquer condução irregular do veículo por sua parte.
Os argumentos da defesa poderão ser aceitos? NÃO. Para o STJ, o delito previsto no
art. 310 do CP é crime de perigo ABSTRATO. Assim, não é exigível, para o
aperfeiçoamento do delito, a ocorrência de lesão ou de perigo de dano concreto na
conduta de quem permite, confia ou entrega a direção de veículo automotor a pessoa
não habilitada, com habilitação cassada ou com o direito de dirigir suspenso, ou ainda
a quem, por seu estado de saúde, física ou mental, ou por embriaguez, não esteja em
condições de conduzi-lo com segurança.
O art. 310, mais do que tipificar uma conduta idônea a lesionar, estabelece um dever
de garante ao possuidor do veículo automotor. Neste caso, estabelece-se um dever de
não permitir, confiar ou entregar a direção de um automóvel a determinadas pessoas,
indicadas no tipo penal, com ou sem habilitação, com problemas psíquicos ou físicos,
ou embriagadas, ante o perigo geral que encerra a condução de um veículo nessas
condições.
STJ. 3ª Seção. REsp 1.485.830-MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Rel. para acórdão
Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 11/3/2015 (recurso repetitivo) (Info 563).
STJ. 6ª Turma. REsp 1.468.099-MG, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 19/3/2015
(Info 559).
60.3. O fato de o condutor estar com a CNH vencida não se enquadra na causa de
aumento do inciso I do § 1º do art. 302 do CTB – (Info 581) – IMPORTANTE!!!
O réu se defendeu afirmando que a causa de aumento não se aplica ao caso porque
ele possuía (e possui) Carteira de Habilitação. Ela simplesmente estava vencida no
momento do acidente. O fato de estar vencida não pode ser equiparada à inexistência
de CNH.
Dirigir sem possuir CNH é uma conduta diferente de dirigir com CNH vencida. Isso
fica muito claro ao se analisar o art. 162 do CTB, onde são previstas as infrações
administrativas de trânsito. Confira:
No Direito Penal não se admite a analogia in malam partem, de modo que não se pode
inserir no rol das circunstâncias que agravam a pena (art. 302, § 1º) uma conduta que
não foi prevista expressamente.
60.4. Denúncia no caso de homicídio culposo deve apontar qual foi a conduta
negligente, imprudente ou imperita que ocasionou a morte da vítima – (Info 553) –
(MPRR-2017)
A conduta prevista no art. 21, Lei 7.492/86, pressupõe fraude que tenha o potencial
de dificultar ou impossibilitar a fiscalização sobre a operação de câmbio, com o
escopo de impedir a constatação da prática de condutas delitivas diversas ou mesmo
eventuais limites legais para a aquisição de moeda estrangeira.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.595.546-PR, Rel. Min. Nefi Cordeiro, j. 2/5/17 (Info 604).
Conclusões do STJ sobre o que pode ou não ser utilizado para majorar a pena do
crime de gestão temerária na 1ª fase da dosimetria:
1) Somente pode ser sujeito ativo do crime de gestão temerária de instituição
financeira alguma das pessoas mencionadas no art. 25 da Lei 7.492/86. Por essa razão,
não se pode aumentar a pena-base do delito argumentando que a culpabilidade do
réu é elevada em virtude de ele ocupar umas das funções ali mencionadas. Essa
condição é ínsita (própria) ao tipo penal praticado.
2) Na condenação pela gestão temerária, é vedado agravar a pena do réu alegando
que ele agiu com ganância, que violou as regras regentes da atividade financeira ou
que sua conduta abalou a credibilidade do sistema financeiro, pois essas
circunstâncias são, todas elas, intrínsecas a esse tipo penal.
3) Para a consumação do delito de gestão temerária não se exige que tenha havido
prejuízo à instituição financeira. No entanto, esta circunstância pode ser utilizada
na 1ª fase da dosimetria para aumentar a pena-base, considerando que se trata de
consequência negativa do crime. (MPDFT-2015)
STJ. 6ª Turma. REsp 1.613.260-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, j. 9/8/16
(Info 588).
Está presente o dolo do delito de gestão temerária (art. 4º, § único, da Lei 7.492/86)
na realização, por alguma das pessoas mencionadas no art. 25 da Lei 7.492/86, de atos
que transgridam, voluntária e conscientemente, normas específicas expedidas pela
CVM, CMN ou Bacen.
O agente pratica o crime de gestão temerária quando viola deveres impostos por
normas jurídicas voltadas aos administradores de instituições financeiras e que
prevêem limites de risco aceitáveis.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.613.260-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, j. 9/8/16
(Info 588).
OBS:
O art. 4º da Lei nº 7.492/86 prevê dois crimes:
Caput: gestão fraudulenta;
Parágrafo único: gestão temerária.
Art. 4º Gerir fraudulentamente instituição financeira:
Pena - Reclusão, de 3 (três) a 12 (doze) anos, e multa.
Parágrafo único. Se a gestão é temerária:
Pena - Reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa.
Por que punir estas condutas como crime? As instituições financeiras captam,
administram e aplicam recursos de terceiros, além de serem um importante
instrumento de estímulo da economia do país. Logo, deve-se ter lisura e seriedade na
gestão das atividades financeiras, sob pena de eventuais desvios ou imprudências
causarem abalo nos recursos da população que estão ali investidos e na economia em
geral.
Sujeito ativo: Trata-se de crime próprio, considerando que só pode ser praticado por
uma das pessoas elencadas no art. 25 da Lei nº 7.492/86. Assim, o agente deverá ser:
o controlador ou administrador de instituição financeira (diretores e gerentes);
equiparam-se aos administradores de instituição financeira o interventor, o
liquidante ou o síndico.
O fato de o delito de gestão temerária ser crime próprio impede que outras pessoas
(não previstas no art. 25) também pratiquem essa infração? NÃO. Porque o crime
próprio admite tanto a figura do partícipe como do coautor. Assim, é possível a
participação de terceiras pessoas que não integrem o rol taxativo previsto na lei na
prática do delito, desde que se demonstre o nexo de causalidade entre a conduta dessa
pessoa e a realização do fato típico. É necessária, ainda, a presença do elemento
subjetivo, consubstanciado no ajuste de vontades entre os dois agentes, que desejam
a ocorrência do resultado que a lei visa reprimir.
Ex: é possível imputar àquele que emitiu parecer opinativo favorável à realização de
determinado investimento a participação em crime de gestão temerária, desde que
demonstrado o vínculo subjetivo entre o agente e o fato delituoso (STJ. 6ª Turma. RHC
18.667-DF, Rel. Min. Og Fernandes, j. 9/10/2012).
Elemento subjetivo: Os delitos do art. 4º são punidos a título de dolo. Não se exige
elemento subjetivo especial ("dolo específico"). Mas vale ressaltar que, para configurar
o delito de gestão fraudulenta há necessidade de que, na conduta do agente, haja a
utilização de ardil ou de astúcia, imbricada com a má-fé, no intuito de dissimular o
real objetivo de um ato ou de um negócio jurídico, cujo propósito seria o de ludibriar
as autoridades monetárias ou mesmo aquelas com quem mantém eventual relação
jurídica (v.g. investidores). Portanto, a má-fé é elemento essencial para a configuração
da fraude (STJ. 6ª Turma. HC 285.587-SP, Rel. Rogerio Schietti Cruz, j. 15/3/2016. Info
580).
Não existe modalidade culposa: O crime de gestão temerária, apesar de ser
conceituado como sendo o ato de gestão praticado de forma imprudente,
irresponsável etc., não é considerado um delito culposo. Assim, tanto a gestão
fraudulenta como a temerária são crimes dolosos.
Na gestão temerária, para que se configure o dolo é necessário provar que o agente
queria agir de forma temerária? NÃO. “Para a caracterização do elemento subjetivo
do delito não é necessária a vontade de atuar temerariamente; o que se exige é que o
agente, conhecendo as circunstâncias de seu agir, transgrida voluntariamente as
normas regentes da sua condição de administrador da instituição financeira.” (Min.
Maria Thereza de Assis Moura, REsp 1.613.260-SP). O que deve ser comprovado é a
que ele sabe que está descumprindo regras do Banco Central, da CVM etc., ainda que
ele ache que isso é correto e produtivo. Quem decide o que é temerário ou não são os
atos normativos expedidos pelos órgãos competentes, não interessando o julgamento
interno daqueles atos feito pelo próprio agente.
Se o agente pratica vários atos de gestão fraudulenta, ele irá responder por vários
delitos em concurso ou continuidade? NÃO. O crime de gestão fraudulenta pode ser
visto como crime habitual impróprio, em que uma só ação tem relevância para
configurar o tipo, ainda que a sua reiteração não configure pluralidade de crimes.
Portanto, a sequência de atos fraudulentos perpetrados já integra o próprio tipo penal,
razão pela qual não há falar, na espécie, em crime continuado (STJ. 6ª Turma. AgRg
no AREsp 608.646/ES, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j. em 20/10/15).
Competência: Da Justiça Federal (art. 109, VI, da CF/88 c/c art. 26 da Lei 7.492/86).
Lei 7.492/86: Diante dessa relevância, o legislador entendeu ser necessária a edição de
uma lei específica para punir condutas que atentem contra o bom funcionamento do
Sistema Financeiro Nacional. Atualmente, os crimes contra o Sistema Financeiro
Nacional são previstos na Lei 7.492/86. Vale ressaltar que essa Lei continua em vigor,
tendo sido recepcionada pela CF/88 (STF. 1ª Turma. RHC 84182, Rel. Min. Marco
Aurélio, julgado em 24/08/2004).
Sujeito ativo: Trata-se de crime próprio, considerando que só pode ser praticado por
uma das pessoas elencadas no art. 25 da Lei 7.492/86. Assim, o agente deverá ser:
o controlador ou administrador de instituição financeira (diretores e gerentes);
equiparam-se aos administradores de instituição financeira o interventor, o
liquidante ou o síndico.
O fato de o delito de gestão temerária ser crime próprio impede que outras pessoas
(não previstas no art. 25) também pratiquem essa infração? NÃO. Porque o crime
próprio admite tanto a figura do partícipe como do coautor. É possível a participação
de terceiras pessoas que não integrem o rol taxativo previsto na lei na prática do delito,
desde que se demonstre o nexo de causalidade entre a conduta dessa pessoa e a
realização do fato típico. É necessária, ainda, a presença do elemento subjetivo,
consubstanciado no ajuste de vontades entre os dois agentes, que desejam a ocorrência
do resultado que a lei visa reprimir.
Ex: é possível imputar àquele que emitiu parecer opinativo favorável à realização de
determinado investimento a participação em crime de gestão temerária, desde que
demonstrado o vínculo subjetivo entre o agente e o fato delituoso (STJ. 6ª Turma. RHC
18.667-DF, Rel. Min. Og Fernandes, j. em 9/10/12).
(...) O delito de gestão fraudulenta, capitulado no art. 4º da Lei 7.492/86, muito embora
seja crime próprio, não impede que um terceiro, estranho à administração da
instituição financeira, venha a ter participação no delito, desde que ancorado no art.
29 do Código Penal (...) (STJ. 5ª Turma. HC 292.979/DF, Rel. Min. Felix Fischer, j. em
28/04/15).
Elemento subjetivo: Os delitos do art. 4º são punidos a título de dolo. Não se exige
elemento subjetivo especial ("dolo específico"). Mas vale ressaltar que, para configurar
o delito de gestão fraudulenta há necessidade de que, na conduta do agente, haja a
utilização de ardil ou de astúcia, imbricada com a má-fé, no intuito de dissimular o
real objetivo de um ato ou de um negócio jurídico, cujo propósito seria o de ludibriar
as autoridades monetárias ou mesmo aquelas com quem mantém eventual relação
jurídica (v.g. investidores). Portanto, a má-fé é elemento essencial para a configuração
da fraude (STJ. 6ª Turma. HC 285.587-SP, Rel. Rogerio Schietti Cruz, julgado em
15/3/2016. Info 580).
Se o agente pratica vários atos de gestão fraudulenta, ele irá responder por vários
delitos em concurso ou continuidade? NÃO. O crime de gestão fraudulenta pode ser
visto como crime habitual impróprio, em que uma só ação tem relevância para
configurar o tipo, ainda que a sua reiteração não configure pluralidade de crimes.
Portanto, a sequência de atos fraudulentos perpetrados já integra o próprio tipo penal,
razão pela qual não há falar, na espécie, em crime continuado (STJ. 6ª Turma. AgRg
no AREsp 608.646/ES, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j. em 20/10/2015).
Competência: Da Justiça Federal (art. 109, VI, da CF/88 c/c art. 26 da Lei nº 7.492/86).
A absolvição pelo delito do art. 7º significa que ele deva também ser absolvido pela
prática de gestão fraudulenta? NÃO. A realização do crime de gestão fraudulenta de
instituição financeira, contido no art. 4º da Lei 7.492/86, não possui relação de
dependência com o delito de emissão, oferecimento ou negociação de títulos sem
registro ou irregularmente registrados (fraudulentos), previsto no art. 7º, II, da
referida lei, embora seja possível que este último integre a cadeia de toda a gestão
efetivada de forma fraudulenta, hipótese esta que poderia eventualmente atrair a
incidência do princípio da consunção (o desvalor da gestão englobaria o desvalor da
emissão, do oferecimento ou da negociação). Vale ressaltar que, no caso concreto, os
atos de gestão fraudulenta descritos na denúncia não se relacionavam
necessariamente com a colocação de títulos eivados de irregularidades no mercado,
sendo imputadas outras condutas.
62.3. A extinção do crédito tributário pela prescrição não influencia na ação penal
por crime contra a ordem tributária – (Info 579) – IMPORTANTE!!!
Sob o ponto de vista penal, não. Como a pena máxima do delito é de 5 anos, a
pretensão punitiva somente prescreve em 12 anos, conforme previsto no art.
109, III, do CP:
Diante disso, a defesa de João impetrou habeas corpus contra a decisão do juiz
criminal alegando que a prescrição tributária tem duplo efeito:
processual, porque extingue a possibilidade de cobrança judicial da dívida
(art. 174 do CTN); e
material, considerando que a prescrição no direito tributário extingue o
próprio crédito tributário, nos termos do art. 156, V, do CTN:
Por essa razão, uma vez regular e definitivamente constituído o crédito tributário, sua
eventual extinção na esfera tributária, pela prescrição (art. 156 do CTN), em nada
afeta o jus puniendi estatal, que também resta ileso diante da prescrição para a ação
de cobrança do referido crédito (art. 174 do CTN).
Tese defensiva 2: O outro argumento sustentado pela defesa foi o de que o Fisco
conseguiu arbitrar o valor do tributo devido mesmo na falta da declaração. Logo,
segundo alegou o réu, essa declaração era desnecessária para a constituição do crédito
tributário, não tendo o condão de evitar o pagamento do tributo.
Quanto à tese 1: O art. 1º, I, da Lei 8137/90 não pune apenas a conduta do contribuinte
que presta a declaração e nela omite informação ou presta informação falsa que leve à
supressão ou redução de tributo. Referido tipo penal pune também a conduta do
contribuinte que deixa de prestar a declaração que devia prestar, acarretando, da
mesma forma, com sua conduta omissiva a supressão ou redução de tributo, como no
caso.
Se, ao praticar uma dessas duas espécies de omissão, o agente atingir o resultado
almejado (supressão ou redução de tributo), o crime estará consumado.
A tese da defesa não merece prosperar, já que não tem lógica punir quem apresenta a
declaração, mas omite alguma informação e livrar aquele que nem sequer apresenta a
declaração.
Quanto à tese 2: O Fisco sempre possuirá meios de apurar o valor do tributo devido
mesmo que o contribuinte tenha deixado de prestar a declaração. Isso porque a
administração tributária cria mecanismos para evitar a evasão fiscal. Vale ressaltar, no
entanto, que o simples fato de existirem tais mecanismos não significa que a omissão
do contribuinte seja atípica, até porque eles podem falhar e, de fato, ocorrer a
supressão do tributo.
Além disso, o arbitramento realizado pelo Fisco para constituir o crédito tributário
diante da omissão do contribuinte em declarar o fato gerador é uma medida para
reparar o dano causado pela omissão, sendo uma evidência de que a conduta omissiva
gerou uma supressão ou redução do tributo.
62.5. Termo inicial do prazo prescricional do crime previsto no art. 2º, I, da Lei
8.137/90 – (Info 568)
Quando o produto vendido for medicamento vencido, será possível aplicar a causa
de aumento prevista no art. 12, III, da Lei nº 8.137/90 na dosimetria da pena do crime
previsto no art. 7º, IX, da mesma Lei.
Art. 7º Constitui crime contra as relações de consumo: IX - vender, ter em depósito
para vender ou expor à venda ou, de qualquer forma, entregar matéria-prima ou
mercadoria, em condições impróprias ao consumo;
Art. 12. São circunstâncias que podem agravar de 1/3 (um terço) até a metade as
penas previstas nos arts. 1º, 2º e 4º a 7º: III - ser o crime praticado em relação à
prestação de serviços ou ao comércio de bens essenciais à vida ou à saúde.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.207.442-SC, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 1º/12/2015
(Info 574).
A Lei de Ação Civil Pública (Lei 7.347/85) prevê como crime a seguinte conduta:
Art. 10. Constitui crime, punido com pena de reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos, mais
multa de 10 (dez) a 1.000 (mil) Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional -
ORTN, a recusa, o retardamento ou a omissão de dados técnicos indispensáveis à
propositura da ação civil, quando requisitados pelo Ministério Público.
O crime consiste na conduta da pessoa que recebeu uma requisição do MP que
exigia determinado documento e/ou informação e o destinatário, em vez de cumpri-
la, recusa, retarda ou se omite.
O STJ entende que se as informações requisitadas pelo MP não forem
INDISPENSÁVEIS à propositura da ACP, não haverá crime. Ex: o MP instaurou IC
e requisitou determinadas informações do Secretário de Saúde. Este prestou as
informações fora do prazo assinalado, de forma que houve retardamento. Em tese,
o agente público teria praticado o crime do art. 10. Ocorre que, após receber as
informações, o MP decidiu arquivar o IC por entender que não houve qualquer
violação a direitos transindividuais. Por via de consequência, não existiu o crime do
art. 10, já que as informações retardadas não eram indispensáveis à propositura de
ACP.
STJ. 5ª Turma. HC 303.856-RJ, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 7/4/2015 (Info 560).
Cambista é a pessoa que vende ingressos com ágio, fora das bilheterias dos teatros,
estádios etc. O cambista comete o delito previsto no art. 41-F da Lei 10.671/2003
(Estatuto do Torcedor): “Vender ingressos de evento esportivo, por preço superior
ao estampado no bilhete”.
Para a configuração do crime de cambismo, não é necessário provar que, no
momento da oferta, não havia ingressos disponíveis na bilheteria.
O tipo penal não exige essa circunstância e o simples fato de oferecer o ingresso
com preço superior ao da face já é conduta que ofende o bem jurídico protegido.
O cambismo é comportamento dotado de reprovabilidade penal pela simples razão
de envolver a exploração, artificiosa, de um bem finito: a quantidade de lugares nos
estádios.
STJ. 6ª Turma. RHC 47.835-RJ, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em
9/12/2014 (Info 554).
Este art. 27-D foi introduzido pela Lei nº 10.303/2001 com o objetivo de que todos os
investidores tenham o direito à igualdade de informação, fazendo com que possam
confiar no mercado de capitais, já que se não houver esta confiança não se conseguirá
atrair investidores para as grandes companhias. Como se trata de um crime recente e
de pouca ocorrência na prática, não existe, ainda, no Brasil, um posicionamento
jurisprudencial pacífico acerca da conduta descrita no aludido dispositivo, tampouco
consenso doutrinário a respeito do tema.
De igual modo, o insider que detiver informações relevantes sobre sua companhia,
deverá informá-las ao mercado tão logo seja possível (arts. 3º da Instrução Normativa
n. 358/2002 da CVM e 157, § 4º, da Lei n. 6.404/1976), ou, no caso em que não puder
fazê-lo, por entender que sua revelação colocará em risco interesse da empresa (art. 6º
da Instrução Normativa), deverá abster-se de negociar com os valores mobiliários
referentes às informações privilegiadas, enquanto não forem divulgadas.
Informação relevante: A legislação penal brasileira não definiu o que vem a ser
informação relevante, fazendo com que o intérprete tenha que recorrer a outras leis
ou atos normativos para saber o alcance da norma incriminadora. Segundo a doutrina,
informação relevante é toda aquela capaz de "influir, de modo ponderável, na decisão
dos investidores do mercado", gerando "apetência pela compra ou venda de ativos",
de modo a "influenciar a evolução da cotação" (CASTELLAR, João Carlos. Insider
Trading e os novos crimes corporativos Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2008, p. 112-113).
Existem três requisitos para que a informação possa ser considerada relevante, para
os fins do tipo penal em questão. Informação relevante é aquela que: a) não foi tornada
pública; b) é capaz de influir de modo ponderável na cotação de títulos ou valores
mobiliários (price sensitive); c) seja precisa ou concreta. (BALTAZAR JUNIOR, José
Paulo. Crimes Federais. 10ª ed., São Paulo: Saraiva, 2015, p. 572).
OBS: Esta foi a primeira condenação ocorrida no Brasil pela prática do crime do art.
27-D da Lei nº 6.385/76 (julgado do STJ).
68.2. Aumento da pena pelo fato de o réu exercer cargo de alta importância – (Info
577) – IMPORTANTE!!!