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PSICOPATOLOGIA I

Aula 1

Objetivo: Estudar a
história da
Psicopatologia
- História curta da psicopatologia
- Dificuldades para se estabelecer: interfaces com
psiquiatria, psicanálise, psicologia clínica
1 – Psicopatologia: termo empregado inicialmente em
alemão em 1878 por Emminghaus, mas equivalia à
Psiquiatria clínica. P. 1
Emminghaus
2 - A psicopatologia, enquanto
disciplina com características
próprias nasceu mais tarde, na
França, início do séc. XX.
Ribot criou o método patológico
(compreensão da psicologia normal
a partir do estudo de um fato
patológico) p. 2
3 – Mais tarde, Jaspers, 1913, na
Alemanha, publica
“Psicopatologia Geral”, muito
diferente de Ribot, precursor do
existencialismo.
Jaspers
4- Mas Freud, em
1901, escreveu
“Psicopatologia da
vida cotidiana”p.2

Ler item 5, p. 3 a
respeito da
Psicanálise
Freud
“Psicopatologia da vida cotidiana”, 1901
Fechner
Schopenhauer Nietzsche
6 – A psicopatologia está no seio da
psicologia e, por isso, pode-se dizer que é
apenas o ramo da psicologia que estuda os
fenômenos patológicos e neste sentido há
que se ter claro que não há um corte radical
entre normal e patológico, mas isto
também não quer dizer que a patologia não
exista. p. 4
7 – O campo de estudo da psicopatologia é o
mesmo da psiquiatria, mas difere em meios e
fins.
- A psiquiatria busca a terapêutica, a profilaxia e
a readaptação.
- A psicopatologia busca a compreensão clínica
da patologia
8 - A respeito da história da psicopatologia:

- suas origens: como se abordou e reconheceu o


patológico e sua inserção em modelos explicativos
- seu nascimento: psicologia científica. p.5 Correntes
psicopatológicas: Organicistas, fenomenológicas,
psicanalítica e psicossociológica
AS ORIGENS

9 -Durante toda a existência


humana tentou-se compreender e
explicar as doenças, que por muito
tempo permaneciam inexplicáveis.
A- Concepção mágica da doença
mental
a- manifestações ‘anormais’
exteriores, mas empíricas (uma
comida) ou
b - influências malévolas,
sobrenaturais (espíritos malévolos)
Conclusão:
- substâncias nocivas ou espíritos
hostis entram ou influenciam o
corpo.
- explicação irracional
10) -Aqui encontramos
(
duas tendências:

1ª - Aceitação da
diferença face à maioria
reconhecendo à sua
realidade um valor
relevante - o desviante
pode ser considerado
um enviado dos deuses
ou um mediador do
destino dos seu
congêneres, um criador
de oráculos, um
feiticeiro ou gestor de
significações
sobrenaturais;
2ª- Condenação da subversão – os
representantes do poder
institucional, geralmente um
homem a quem se atribui o poder
de relacionar-se com o estranho
(feiticeiro, curandeiro, sacerdote)
recorrem a uma série de
metodologias como a exortação,
tortura, confissão pública, catarse,
transe ou libertação para resolver
estes problemas. Sempre há
alguma coisa ruim a ser extraída,
purificada, etc..
Nesta época o ‘distúrbio
psicológico’ era meticulosamente
estudado nas “ciências
demonológicas.”
Ver item 12 e
13, p 8 e 9 a
respeito de
como são
“enfrentadas” as
forças
misteriosas.
Paramos aquii
11 - “A atitude em relação ao doente é muito
ambivalente: ele pode ser respeitado como um
enviado dos deuses ou temido como um portador
de espíritos malévolos ou, talvez, como castigado
pela cólera dos deuses. O doente mental tanto
pode ser consultado como um oráculo quanto
queimado como feiticeiro. O comportamento
ligado ao doente modifica-se em função dos
contextos socioeconômicos e culturais”.

BEAUCHESNE, H, História da Psicopatologia Trad. Álvaro Cabral São Paulo:


Martins Fontes, 1999. p.8.
12 – “Para enfrentar as forças misteriosas desse
mundo animista, os homens tentam apaziguá-las
ou controlá-las mediante práticas mágicas ou
religiosas, utilizando meios psicológicos, como a
sugestão, a confissão, a suplicação, a
intimidação, a corrupção ou rituais e magia.
Essas práticas são freqüentemente confiadas a um
homem a quem se atribui o poder de uma relação
com os espíritos – o feiticeiro, o curandeiro ou o
sacerdote”.
BEAUCHESNE, H, História da Psicopatologia Trad. Álvaro Cabral São Paulo:
Martins Fontes, 1999. p.8.
“Os princípios em que essas práticas se assentam
decorrem diretamente das crenças explicativas e podem
ser reagrupadas em algumas categorias: há sempre
qualquer coisa de ruim a extrair, matéria ou espírito;
agindo sobre um objeto, é possível obter um efeito sobre
uma parte doente por intermédio de uma relação secreta
de contiguidade; ao exercer uma influência sobre uma
coisa é possível ter uma ação sobre uma coisa é possível
ter uma ação sobre uma outra coisa por efeito da
semelhança; o mal cura o mal ou o seu contrário”.
BEAUCHESNE, H, História da Psicopatologia Trad. Álvaro Cabral São Paulo:
Martins Fontes, 1999. p.8.
“Por conseguinte, as práticas são exercidas quer
sobre o próprio doente, que sobre partes
separadas de seu corpo (unhas, cabelos ...), quer
sobre efígies ou objetos, quer enfim, sobre o
próprio feiticeiro, simulando a doença e a cura..
Elas têm lugar, na maioria das vezes, no âmbito de
cerimônias em que a dimensão coletiva não é
desprezível, devendo o doente reintegrar a
comunidade dos indivíduos saudáveis. A eficácia
dessas práticas é simbólica (Levi-Strauss)?”
BEAUCHESNE, H, História da Psicopatologia Trad. Álvaro Cabral São Paulo:
Martins Fontes, 1999. p.8.
• Lévi-Strauss em Mato
Grosso, em 1938,
experiência com indígenas
foi a base de "Tristes
Trópicos", obra-prima do
antropólogo
• Mais que um livro de viagem, é
um livro sobre a viagem. Além de
trazer detalhes pitorescos das
sociedades indígenas do Brasil
central, o livro discute as relações
entre o Velho e o Novo Mundo, e
o significado da civilização e do
progresso.
• “Não há, pois, razão de duvidar da
eficácia de certas práticas mágicas.
Mas, vê-se ao mesmo tempo, que a
eficácia da magia implica na crença
da magia, e que esta se apresenta
sob três aspectos complementares:
existe, inicialmente, a crença do
feiticeiro na eficácia de suas
técnicas; em seguida, a crença do
doente que ele cura, ou a vítima que
ele persegue, no poder do próprio
feiticeiro; finalmente, a confiança e
as exigências da opinião coletiva,
que formam a cada instante uma
espécie de campo de gravitação no
qual se definem e se situam as
relações entre o feiticeiro e aqueles
que ele enfeitiça”.

• Levi-Strauss C. Antropologia
estrutural Rio de Janeiro, Tempo
Brasileiro .1975. p. 194.
Questão para o portfólio

Faça uma narrativa onde esteja implícito


a concepção mágica ou mágica religiosa
como forma explicativa da
doença/sofrimento.

Dicas: Relembre estórias pessoais,


familiares ou de conhecidos ou que
observou ou ficou sabendo
B- O pensamento hipocrático (Hipócrates 460 AC ao
séc. XIX), domina o primado do equilíbrio/homeostase.

A doença mental é consequência de desequilíbrios ou


rupturas entre as regras/ necessidades da pessoa e as
regras da natureza ou como uma ruptura do
equilíbrio entre os diferentes componentes/fluídos do
corpo.
As metodologias de tratamento deste período passam
pela purificação da alma e do corpo, regulação das
significações do doente, libertação de tensões pela
catarse, etc..
Hipócrates
Ver ítem16 – o Homem como micro-cosmo

- Pítagoras: os números eram o princípio, a fonte


e raiz de tudo

- Empédocles e os 4 elementos (fogo, vapor/ar,


água, cinza/terra correspondiam aos 4 humores)

- Hipócrates adotou a teoria dos humores: seco,


quente, frio, úmido)
EMPÉDOCLES PITÁGORAS
Item 17: sobre a
homeostase. p.
10 e 11.

o rompimento do
equilíbrio
ver item 19 sobre como Galeno juntou
a teoria dos humores com o
pneumatismo. P. 12
Galeno – 131-211
dC
Na idade média, a medicina derivada da
medicina romana conferiu mais importância
aos espíritos ( naturais, vitais, animais)
herdeiros do antigo pneuma. Item 20, p 14.
- domínio do corpo para o domínio religioso
(concepção demoníaca das doenças)
- Kramer (1846) caça às feiticeiras no final da
idade média
Filme: O nome da Rosa
Kramer
Nos períodos conturbados:
- caça às bruxas: queda de Bizâncio, 1453.

Ao final do séc. XVI, a loucura era uma


possessão.
Ver p. 15.
Cura: por meio da astrologia,
quiromancia, imposição das mãos,
sugestão, fumigações e a fogueira.
Curiosamente, será
em oposição à
demonologia que
surgirá indícios da
psiquiatria, ou pelo
menos alguns
pensadores que
defendem os loucos
acusados de
feitiçaria.
A Nau dos Loucos - Bosch
A partir de então, a
doença mental
passa para o
domínio médico,
ver item 22, p 16
A partir do séc. XVII,
a metafísica é
destronada pela
medicina
experimental

ver item 23 sobre as


novas explicações
físico-químicas e
mecânicas que
surgem.
Séc. XVII
a respeito das
contribuições da
anatomia e da
fisiologia
Bichat (1771-1802)
ver item 24 e 25 p 18
e 19
a loucura perde seu
caráter mágico, mas
virou loucura
Bichat
(1771-
1802)
O séc. XVIII assiste ao nascimento da filantropia:
a sociedade deveria reparar seus erros.

A loucura como perda da razão numa sociedade


em que a racionalidade imperava
Mas houve
experiências que
nada tinham de
científico: o
mesmerismo.
A respeito das
formas de
tratamento neste
longo período.
Ver item 28, p. 22 e
23
Princípios do tratamento (era um misto de racionalidade científica, magia e sugestão):
- princípio da consolidação: faltava a razão ao indivíduo e cumpria reforçá-la;
- princípio da purificação: o indivíduo deveria ser purificado das mais diversas maneiras;
- princípio da regulação: diante do desregramento, cumpria introduzir o apaziguamento (com a
música, por exemplo).
- princípio do despertar da consciência: a cs estava obscurecida e precisava ser despertada por
estimulações, se necessário com ferro em brasa.
- princípio da exteriorização das emoções;
Questão para o portifólio:

Considerando nossos estudos:

1- que compreensão podemos


ter acerca das práticas
terapêuticas antigas e a prática
do psicólogo.
2 - Há inovações terapêuticas?
3 - Qual a contribuição de Levi-
Strauss para compreendermos a
questão?
4 - Como você avalia a utilização
de práticas não reconhecidas por
psicólogos?
5 - Qual a posição do CFP acerca
desta questão?
O NASCIMENTO
DA PSIQUIATRIA
Onde está a mente?
Como a mente e o corpo se
relacionam?
Se existe mente, como ela
funciona?
O que nos faz ser como
somos, qual a natureza
humana?
Rev. Francesa, 1793, Hosp.
De Bicêtre/Paris
Pinel liberta os alienados....
ver fotos
Philippe Pinel
1745-1826

• 1ª Revolução da
“psiquiatria”
• Os loucos eram
doentes e não
criminosos.
• - melhoria das
condições de vida
dos alienados
Philippe Pinel (1745-1826)
- Um homem de seu tempo.
- A observação como a base da clínica
Expôs seu método no livro Nosographie
Philosophique (1798)
- Observação como base da clínica
Método nosográfico
Livro do Pinel Nosographie
Philosopique (1798)
Tratamento moral
Ver item 31 e 32, p. 26
Pinel abrindo o hospício
Simbolicamente este gesto de
Pinel representou o início da
modernidade; os doentes
mentais deveriam ser
considerados doentes e não
criminosos ou outra coisa
qualquer.
Depois de Pinel:
Observação clínica
sistemática, concepção
psicodinâmica das relações
entre o físico e o moral, a
alienação não é nada mais
que um desvio do normal,
descrição das síndromes.
Esquirol (1772-1840) deu
continuidade aos estudos
semiológicos e
nosográficos de Pinel.
Falret (1794-1870)
Falret (1794-1870) descreveu a
loucura circular
(mania/melancolia)

- evocou o automatismo
A escola alemã se desenvolve no contexto cultural do
romantismo, oposto ao espírito iluminista, valorizava o
aspecto irracional, prenúncio da psicanálise. (ver item
36, p. 30)

Os Psychiker (psicologistas)
versus
Os somatiker (somatistas)
A escola alemã
Iluminismo X Romantismo
Razão X Irracionalidade
Somatiker X Psychiker
ver item 35 p. 28 e 29
Na segunda metade do século XIX,
a ambição da psiquiatria nascente
consistia em reconhecer as
doenças, tal como os demais ramos
da medicina. Por isso desenvolveu-
se uma corrente marcada pelo
organicismo e apoiada na
nosografia. A psicodinâmica
sucumbiu.
As teorias anatomo-fisiológicas

1822 – Bayle descobriu a causa


anatômica de um estado de alienação.
A meningite, causada pela sífilis,
produzia delírio de grandeza e de
riqueza.
As descobertas neurológicas e
neuroanatômicas vieram apoiar a visão
organicista da doença mental.
Desenvolveu-se a idéia de que existiriam
localizações funcionais no cérebro.
Neurologistas

Korsakov
Alzheimer
Pick
Morel, a teoria
da
degenerescência
ea
hereditariedade
p. 35
Para Morel, a degenerescência é um
desvio em relação ao tipo humano
normal, o qual é transmitido pela
hereditariedade e se agrava pouco a
pouco, até a extinção da família.

Um indivíduo instável daria origem a


outro muito instável, depois um
psicótico e um alienado grave.
A noção de
degenerescência
prosperou:
- noções de atavismo,
- fatalidade hereditária,
- herança psicológica,
Efeitos da teoria da degenerescência

- Criminologia: César Lombroso


(1836 – 1909)
A ocasião não faria o ladrão, mas revela-lo-ia.
- Criminalóide: tamanho do cérebro, cabelo mais escuro, grande
impulsividade.
- criminologia/estigmas biológicos p. 36
O mérito da teoria da degenerescência
foi o de se opor ao anatomoclínicos e
trazer as concepções de mudanças, de
evolução, influência do meio, etc.
Os clínicos;
- os alienistas, associados à anatomoclínica.

- os dinâmicos, descendentes de Mesmer:


Liebault, Bernheim e o uso da hipnose.
O conteúdo mental inconsciente poderia
influenciar o comportamento.
Charcot e as histéricas
A lição de Charcot
Jean-Martin Charcot, francês (1825-
1893)
Charcot pertenceu a um seleto grupo
de médicos que fundou, no Hospital de
Salpêtrière, em Paris, uma clínica
neurológica que se tornou célebre no
século XIX.    Considerado um dos
fundadores da neurologia moderna, foi
o primeiro a ocupar, em Salpêtrière, no
ano de 1862, a cátedra “Clínica das
Doenças do Sistema Nervoso”.
A partir de 1860 ministrou, na Universidade de Paris, a
disciplina Anatomia Patológica. Alguns anos mais tarde,
vai dedicar-se, primordialmente, ao estudo da histeria
que acreditava ser o resultado de um sistema
neurológico frágil e hereditário.  Pensou, mesmo ter
descoberto uma nova enfermidade que denominou
histero-epilepsia que seria uma doença da mente e da
inteligência.
Charcot descreveu como que por meio da
hipnose os sintomas histéricos eram reproduzidos
segundo a representação mental que o paciente
tinha deles.

Sua grande contribuição foi a de demonstrar a


existência de fatores inconscientes nas neuroses.
As grandes correntes psicopatológicas:
- organicista
- psicanalítica
- fenomenológica: a patologia deixou de ser entendida em
referência a normas e passou a ser considerada como um estreitamento
existencial, a uma alteração do ser no mundo, à incapacidade de
transcendência.
(Binswanger, Minkowski, Ey, Jaspers)
- abordagem psicossociológica
(Korney, Fromm, Watzlawick, Laing, Moreno)
- Na contemporaneidade: tendência à
fragmentação
FIM

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