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01 Introdução à
Medicina Legal
01.1 - Introdução
Noções Gerais
Origens:
A Medicina Legal, embora não sendo reconhecida como ciência, já foi observada na
Mesopotâmia e na antiga Roma. Na Idade Média, a Igreja também passou a estabelecer
certos exames periciais, como no caso do cancelamento de casamento em que tenham os
noivos copulado antes da cerimônia. Mas somente na Itália, no século XVI, perícias médicas
foram exigidas para a constatação de diversos delitos. Os dois primeiros livros sobre o
assunto foram escritos no início do século XVI, por Ambrois Parré e Paulo Zachia.
Na busca da solução dos problemas judiciais, a Medicina Legal, socorre-se das mais diversas
fontes. Podemos citar: Física (fotografia, radiografia, balística), Química (toxicologia, exames
laboratoriais), Anatomia (normal e patológica), Biologia, Microbiologia, Patologia,
Parasitologia, Psicologia, Psiquiatria, etc.
Perícias
Noções Iniciais:
Via de regra, para um julgamento são necessárias provas, e, em muitos casos, são elas
obtidas através de perícias. A perícia então pode ser entendida como uma modalidade de
prova que exige conhecimentos especializados para a sua produção. A perícia pode ser
relativa à pessoa (viva ou morta) ou à coisa, implicando na apreciação, interpretação e
descrição de fatos ou circunstâncias de presumível ou de efetivo interesse jurídico.
Para Flamínio Fávero, perícia ou diligência médico-legal é toda sindicância promovida por
autoridade policial ou judiciária, acompanhada de exame em que, pela natureza do mesmo, os
peritos são ou devem ser médicos.
Modalidades de Perícias:
Cada ramo do direito possui modalidades específicas de perícia:
Direito Penal: a perícia é meio de prova (CPP, arts. 158 a 184);
Direito Civil: a perícia é instrumento de informação para certas decisões, como o
momento da morte para fins sucessórios, por exemplo.
Direito do Trabalho e Previdenciário: a perícia ocorre em diversas situações, tais
como na verificação de insalubridade do local de trabalho (CLT, art. 189) ou no caso de
acidentes de trabalho.
Código de Para a realização do exame: Regra: o mais rápido possível (art. 6º).
Processo Penal Exceções: prazo mínimo de 6 horas após a
morte para a realização do exame necroscópico
(art. 162)
Lesões corporais: prazo de 30 dias após a data
do fato para o exame complementar (art. 168).
Espécies de Perícias:
A perícia pode ser:
direta: é o exame direto do corpo de delito (CPP, art. 158);
indireta: o exame de corpo de delito indireto ocorre quando os vestígios tiverem sido
destruídos (CPP, art. 158 e 172, parágrafo único);
contraditória: quando diferentes peritos apresentam conclusões divergentes sobre a
mesma matéria (CPP, arts. 180 e 182 e CPC, arts. 436 e 437);
O exame de corpo de delito é a somatória de elementos vestigiais encontrados nos locais dos
fatos, nos instrumentos, peças ou pessoas físicas (vivas ou mortas) relacionados com o crime.
Não é apenas o exame realizado em corpo de pessoa, mas sim em tudo que for relacionado
com o fato criminoso, inclusive aqueles feitos no local e os exames subsequentes realizados
nos laboratórios da Polícia Técnico-Científica.
Classificação:
Em relação ao objeto, as perícias podem ser:
Perícias em vivos: violências sexuais em geral, conjunção carnal, atos libidinosos,
gravidez, parto, lesão corporal, estimativa da idade, dosagem alcoólica, exames
toxicológicos, infortúnios do trabalho e outros.
Perícias em cadáveres: realidade da morte, causa da morte, necropsia em mortes
violentas e suspeitas, cronologia da morte, identificação, exames toxicológicos das
vísceras e outros complementares.
Perícias em esqueletos: identificação antropológica (diagnóstico da espécie), sexo,
estatura, idade, achados de violência.
Perícias em animais: exames que podem ajudar nos casos em animais que guardam
alguma relação com crimes, inclusive ambientais.
Perícias em locais e objetos: impressões digitais, armas de fogo, manchas em vestes e
em instrumentos.
Falsa Perícia:
A realização de perícia falsa é crime previsto pelo art. 342 do Código Penal e vale tanto para
as perícias realizadas por peritos oficiais ou ad hoc. Na falsa perícia o especialista
propositadamente faz afirmação falsa ou nega a verdade ou silencia sobre fato relevante.
Número de Peritos:
Na esfera criminal, as perícias deverão ser realizadas por perito oficial, portador de diploma
de curso superior (CPP, art. 159). Na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2
pessoas idôneas (peritos ad hoc), portadoras de diploma de curso superior
preferencialmente na área específica, dentre as que tiverem habilitação técnica relacionada
com a natureza do exame (CPP, art. 159, § 1º).
Peritos Oficiais:
O perito oficial é aquele a serviço do Poder Judiciário (art. 159 do Código de Processo
Penal). Conforme a Lei 12.030/2009, que regulamente a profissão de perito criminal, são
peritos de natureza criminal os peritos criminais (Instituto de Criminalística), peritos
médico-legistas e peritos odontolegistas (Instituto Médico Legal) com formação superior
específica detalhada em regulamente, de acordo com a necessidade de cada órgão e por área
de atuação profissional. Os peritos oficiais de natureza criminal estão sujeitos a regime
especial de trabalho, observada a legislação específica de cada ente a que se encontrem
vinculados.
Se possível, o perito ad hoc deve possuir habilitação técnica relacionada com a natureza do
exame. Por exemplo, para uma perícia de desabamento deverá ser nomeado um engenheiro,
mas não um biólogo.
Assistentes Técnicos:
O assistente técnico também é um perito, sendo na verdade um perito de confiança da parte.
Somente pode ser assistente aquele com formação universitária plena e os nomes devem ser
homologados pelo juiz. A função do assistente é de acompanhar o perito do juiz e caso
desacordar, deverá elaborar um laudo. A sua participação é possível somente na esfera cível
e trabalhista (não há assistentes técnicos no foro penal).
Noções Gerais
Noções Iniciais:
Documentos médico-legais são todas as informações de conteúdo médico, apresentadas por
médico, verbalmente ou por escrito, e que tenham interesse judicial. Somente aquele com
diploma de conclusão de faculdade de medicina oficial ou reconhecida pelo MEC poderá
prestar estas informações. Deve também ser registrado no Conselho Regional de Medicina.
O documento médico-legal pode ser resultado do pedido de pessoa interessada ou fruto de
cumprimento de encargo deferido pela autoridade competente.
Características:
São características dos documentos médico-legais:
são emitidos por médicos habilitados;
decorrem de exames médicos;
são apresentados geralmente por escrito;
objetivam o esclarecimento de questão judicial.
Modalidades de Documentos:
Hélio Gomes aponta cinco categorias de documentos: atestado, relatório, consulta, parecer e
depoimento oral. Na classificação de Flamínio Fávero, porém, são discriminadas apenas três
modalidades principais: atestados, relatórios e pareceres.
Atestados
Noções:
O atestado é uma afirmação simples e por escrito de um fato médico e suas consequências.
Apresentam certas particularidades conforme o caso a que se destinam. Vejamos a seguir os
principais atestados emitidos por médico legista.
Atestados Clínicos:
Não há maior formalidade para sua obtenção, basta que o interessado o solicite a
profissional competente e que tenha praticado o correspondente procedimento médico.
Assim, os pré-requisitos são poucos: solicitação do interessado, profissional em exercício
regular da profissão e prática do ato médico motivador do atestado. O documento deve ser
preenchido em papel timbrado, com o nome do médico, seu endereço profissional e seu
número de registro no Conselho de Medicina. Deve conter, além da qualificação do
atestante, os elementos identificadores da pessoa, registrar de modo sucinto a matéria
médica, excluindo o diagnóstico, por motivo de sigilo profissional; as consequências práticas
e legais decorrentes da matéria médica; data e assinatura do profissional atestante.
Relatórios
Noções:
Os relatórios dividem-se em autos médico-legais e laudos médico-legais. A diferença se dá
em relação à forma: se for ditado logo após o exame será auto e se for redigido
posteriormente pelos peritos será laudo.
Auto Médico-Legal:
É o relatório elaborado pelo perito após o exame de corpo de delito e reduzido a termo ao
escrivão ou ao escrevente na presença do delegado ou do juiz. É o mais comum dos
relatórios e geralmente elaborado pelos peritos ad hoc.
Laudo Médico-Legal:
O laudo médico-legal é o documento já apresentado por escrito pelo médico. Os laudos são
relatórios escritos e pormenorizados de tudo o que os peritos julgarem útil informar à
Pareceres
Noções Iniciais:
O parecer é uma resposta, por escrito, à consulta formulada a peritos especialistas na área
médica para utilização judicial (criminal, cível ou trabalhista) ou administrativo. São
documentos oficiosos, particulares, encomendados pelas partes para reforçar sua tese e, por
isto, devem ser analisados com cautela e raramente se sobrepõem aos exames oficiais. São
lidos, analisados e respeitados porque seus autores já provaram previamente sua capacidade
e tirocínio. Por estas razões, somente os amadurecidos, cultos e reconhecidos são
procurados para prolatá-los. Os pareceres valem pelo seu conteúdo científico, pelos
argumentos bem postos e fundamentados, pela clareza de raciocínio e pelo seu espírito
jurídico.
Estrutura do Parecer:
Como documento médico-legal, em sua estrutura, o parecer pode seguir de certa forma o
roteiro indicado para os laudos. É composto por quatro partes:
Preâmbulo: qualificação do médico consultado.
Exposição: transcrição dos quesitos e do objeto da consulta.
Discussão: é parte mais importante do parecer, onde os fatos apresentados e
analisados em minúcias.
Conclusão: conclusão do parecerista, com as respostas aos quesitos formulados.
02 - (Delegado/MG - 2007) Quando dois peritos não chegam, na perícia criminal, a um ponto de vista
comum, cada um apresentará à parte o seu próprio relatório. Chama-se a isso de perícia:
( ) a) nula;
( ) b) contraditória;
( ) c) complementar;
( ) d) sucinta.
05 - (Delegado/SP – 1998) No que tange aos laudos e atestados médicos, podemos afirmar que
( ) a) são equivalentes.
( ) b) tratam das mesmas questões.
( ) c) cada um deles trata de questões específicas.
( ) d) o laudo tem valor jurídico maior que o atestado.
Bibliografia
Curso Básico de Medicina Legal Medicina Legal
Odon Ramos Maranhão Hélio Gomes
Revista dos Tribunais Freitas Bastos
Medicina Legal
01 – Introdução à Medicina Legal
Atualizada em 10.12.2011