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PORQUE

VIVEMOS itiman
OUTUBRO 2019 | #1

NÚMERO 1
REVISTA PORQUE VIVEMOS / OUTUBRO 2019 #1

EDITORIAL

PORQUE VIVEMOS: Além do desenvolvimento pessoal, a necessidade


da busca pelo desenvolvimento humano

Buda Shakyamuni, o precursor do budismo, ensi- dos que vivem com conforto material, tendo uma
nou que existem três tipos de milionários neste casa para morar, comida na mesa todos os dias e
mundo. roupas adequadas para as quatro estações do ano.

(1) Milionário de bens materiais Este é o perfil da pessoa e o significado mais


comum e descrito nos dicionários para a palavra
(2) Milionário de saúde
“milionário”. Muitas pessoas acreditam que ten-
(3) Milionário da mente
do dinheiro, grande parte dos problemas da vida
O “milionário de bens materiais” representa as serão solucionados e que poderão ser felizes.
pessoas que possuem dinheiro e posses. São to-
Mas Shakyamuni disse que “ter e não ter são

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ITIMAN

O “milionário de saúde” é alguém equilibrado física e men-


talmente, que vive um dia de cada vez, não apenas para
a mesma coisa”, pois em qualquer dessas duas o próprio bem-estar, mas sempre esforçando se também
condições, nossa incapacidade de escapar do so- para ajudar as pessoas. Ou seja, é um indivíduo do bem,
frimento não se altera. que vive feliz consigo e com as pessoas ao seu redor, de
maneira bondosa e prazerosa.
Se não temos dinheiro e bens materiais, somos
infelizes, e, se temos, sofremos por conta deles. O budismo ensina que precisamos nos esforçar para ser-
Quem possui riquezas está preso com uma cor- mos “milionários de bens materiais” e “milionários de
rente de ouro, e quem não possui está preso com saúde”, pois sem ter dinheiro para comer, morar, vestir, e
uma corrente de ferro. Seja qual for o material saúde para desfrutar do que a vida tem de melhor, é muito
das correntes, o sofrimento de estar preso não difícil sentir-se satisfeito e feliz.
muda. Em outras palavras, mesmo sendo um Por essa razão, todos os campos de conhecimento humano,
“milionário de bens materiais”, não conseguire- tecnologias, trabalho, práticas e terapias de saúde e bem-
mos ser plenamente felizes. -estar são muito importantes para uma vida feliz e cada
O “milionário de saúde” é aquela pessoa que tem qual contribui para que isso seja viável, dentro de sua es-
saúde física e mental, e que por isso, tem quali- pecialidade.
dade de vida e vive não apenas para trabalhar e Um bom exemplo é a medicina. A partir do avanço dos es-
ter uma estabilidade financeira e material, mas tudos médicos, o ser humano tem conseguido viver cada
que também quer viver cada dia da melhor ma- vez mais e melhor.
neira possível e esforça-se para isso.
Mas será que ter uma vida mais longa é garantia de uma
É a pessoa que a partir de cuidados com a ali- vida feliz? Ou ainda, mesmo que a pessoa tenha sido feliz
mentação, com o seu eu interior e com uma vida a maior parte da vida ou sinta-se feliz neste momento, até
saudável, é capaz de encontrar no seu cotidiano, quando essa felicidade irá continuar?
momentos de paz interior, felicidade e prazer,
Mesmo sendo inconveniente e desagradável, essa é uma
mesmo em meio às intempéries da vida.
pergunta que de maneira muito subtil mas persistente, es-
teve, está e estará presente dentro dos corações daqueles
que pensam seriamente na vida.

Para a filosofia budista, tema principal desta revista,


os bens materiais, o dinheiro, a saúde física e mental, o
bem-estar, a satisfação e serenidade em viver cada dia
da melhor maneira possível são importantes ingredientes
para o tempero de uma vida feliz. Mas ela também lança
uma questão crucial para a felicidade humana: qual é a
dosagem adequada de cada ingrediente para que o sabor

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REVISTA PORQUE VIVEMOS / OUTUBRO 2019 #1

final da vida garanta uma satisfação plena e


duradoura?

Shakyamuni respondeu essa pergunta com o


“milionário da mente”.

Este terceiro tipo de milionário é a pessoa


que, nesta vida, obteve a felicidade plena e A Revista “Porque vivemos” tem como objetivo

duradoura. Mesmo com todo o conforto de publicar conteúdos voltados para um público

uma vida saudável, mais longa e rica material- que, além de ter uma vida confortável, bem-es-

mente que o progresso científico e tecnológi- tar e saúde, sentem a necessidade e almejam

co proporcionou à humanidade, a verdadeira algo a mais. Pessoas que além de tornarem-se

felicidade ainda continua sendo uma utopia “milionários de bens materiais e de saúde”

para aqueles que desconhecem esse tipo de querem, também, ser “milionários da mente”.

riqueza ensinado há mais de 2600 anos, pelo Esperamos que leiam, gostem e partilhem nos-
buda Shakyamuni na Índia. sos textos com seus amigos e familiares. Afinal,

O desenvolvimento pessoal é necessário, pois a base da felicidade humana e o início da sua

proporciona que as pessoas consigam ser busca está em encontrar a nossa alegria na

“milionários de bens materiais e de saúde”, alegria dos outros, pela prática das boas ações

mas a felicidade plena e duradoura que toda para si mesmo e para as pessoas.

a humanidade almeja só deixará de ser uma Antes de encerrar, expresso os meus sinceros
utopia, para tornar-se na mais incontestável agradecimentos ao grande amigo João Maga-
realidade quando chegarmos ao desenvolvi- lhães, que teve uma enorme e decisiva contribui-
mento humano. ção para que esta revista se tornasse realidade.

Ficaremos muito agradecidos e honrados se re-


cebermos vossas opiniões, críticas e perguntas
sobre os nossos textos.

Boa leitura!

Mauro Nakamura, Presidente, Itiman

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ITIMAN

P R O F. K E N T E T S U TA K A M O R I

Y U TAK A YAMA A Z AK I

MESTRE RENNYO

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PROFESSOR KENTETSU TAKAMORI

A educação escolar exerce grande influência na formação do


caráter humano, mas acima de tudo é importante a educação
recebida em casa, ou seja, aquela que vem das atitudes e do
caráter dos pais.
TRECHO DO PREFÁCIO DE "UM CAMINHO DE FLORES"

Kentetsu Takamori é professor de budismo e pre- Entre as suas obras, destacam-se Um caminho de
sidente da Associação Jodo Shinshu Shinrankai, flores e Sementes do coração, coletâneas de his-
instituição com sede na província de Toyama – tórias que trazem ensinamentos para uma vida
Japão, que se dedica a difundir os ensinamentos melhor e mais feliz.
do mestre Shinran, grande expoente do budismo
Honestidade, esforço, gratidão e felicidade são
no Japão.
alguns dos assuntos abordados nos seus livros,
Mais de cinquenta anos dedicados ao budismo e temas relevantes não só na formação das crian-
a um caminho para uma vida feliz ças, mas essenciais para todos os adultos que
têm a responsabilidade de educar.
Há mais de meio século que o professor Kentet-
su Takamori dá palestras em vários países e é
autor de diversos best-sellers no Japão. Além do
Porque vivemos, os seus principais livros já fo-
ram traduzidos para o inglês, português, chinês,
coreano e publicados em diversos países da Ásia,
Brasil e Estados Unidos.

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YUTAKA YAMAZAKI

Yutaka Yamazaki é autor de vários livros japo- "Cresci no interior do Japão e,


neses de contos, narrativas e romances históri- em pequeno, o meu hobby era
cos, típicos da milenar cultura japonesa. Além de vasculhar campos e montanhas à
escrever, é diretor-presidente e editor-chefe da procura de fósseis, instrumentos
Ichimannendo Publishing Co. Ltd. de pedra e utensílios de barro
Yamazaki é um investigador da vida de olhar úni-
utilizados pelos nossos ancestrais
co e múltiplo, que faz compilações de histórias
há milhares de anos. Tempos depois,
de samurais, provérbios, biografias, fábulas oci-
descobri a literatura e, nela, os
dentais e orientais. Onde se vê empreendedoris-
romances históricos. Daí em diante,
mo, Yamazaki observa um exemplo de recomeço;
li diversos romances e passei a
na carreira vitoriosa de um político, uma lição de
pesquisar a história da humanidade,
humildade; na oportunidade de vingança, a opor-
colecionando narrativas que
tunidade de estender a mão.
pudessem ajudar as pessoas a viver
melhor e mais felizes nos dias atuais.”
Na recente visita a Portugal, relatou:

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PROFESSOR MAURO NAKAMURA

Mauro Nakamura é gestor da ITIMAN e diretor in- da Agência Inova – Centro Paula Souza e inves-
ternacional da Ichimannendo Publishing Co. Ltd. tigador do Grupo de Estudos Organizacionais da
Pequena Empresa (GEOPE) – Escola de Engenha-
Além das atividades editoriais e de gestão, é pro-
ria de São Carlos (EESC), da Universidade de São
fessor de Budismo com formação de cinco anos
Paulo (USP).
no Japão. Atualmente realiza, em Portugal, cur-
sos presenciais e palestras sobre o tema e livros Realizou estudos e projetos na área de Adminis-
da editora, além de ser um empreendedor social tração, com ênfase em gestão de pequenas em-
no âmbito da qualidade de vida nas comunidades. presas, evolução do pensamento administrativo,
administração escolar, empreendedorismo social
No Brasil, foi docente de graduação e pós-gra-
e qualidade de vida.
duação em faculdades de Administração e Ges-
tão Empresarial, coordenador local de inovação

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REVISTA PORQUE VIVEMOS / OUTUBRO 2019 #1

HISASHI OHTA

Hisashi Ohta nasceu na província de Shimane, Japão, em


1970. Graduou-se pelo Departamento de Biologia Molecu-
lar da Universidade de Nagoya e formou-se na Escola de
Animação Yoyogi. Entre os seus trabalhos, destacam-se os
mangás “A história de Buda”, já publicado no Brasil e Espa-
nha e “Mestres do oriente”, publicado no Brasil.

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REVISTA PORQUE VIVEMOS / OUTUBRO 2019 #1

E B O O K G R AT U I T O
DAR E RECEBER, A HARMONIA NA
H U M A N I D A D E , U M A C O L E TÂ N E A
DE TEXTOS

A ITIMAN publicou um ebook que oferece a todos os seus subscritores sobre


um dos temas fulcrais da nossa humanidade – o Dar e Receber.
Neste ebook encontrarão textos do prof. Mauro Nakamura, de Yutaka
Yamazaki, do prof. Kentetsu Takamori e ainda os ensinamentos de Shinran.

Dar e Receber – a chave da mudança para uma vida feliz A busca pela felicidade é algo inerente ao ser humano. Não
há ninguém neste mundo que viva para sofrer. Todos, sem
Muitos sentem a necessidade de mudar e renovar, mas não
exceção, vivem à procura da felicidade. Mas, por que, embora
sabem como.
se esforcem, muitas pessoas não conseguem ser felizes?
De que maneira é possível iniciar um processo de mudança
Acreditamos que tendo dinheiro, bens, uma boa família e saú-
na vida?
de seja suficiente para uma vida feliz. Mas, pensando bem,
O primeiro passo é refletir sobre as atitudes e a nossa pos-
quantas pessoas possuem tudo e nem por isso são felizes?
tura mental. Sem reflexão, não há como mudar as nossas
ações. Sem mudar as ações, as consequências que teremos
na vida serão sempre as mesmas.

Por que é tão difícil conseguir a felicidade?

Vivemos numa sociedade materialista, onde as pessoas


são educadas e formadas para procurar a felicidade nos
ganhos materiais e esquecem-se de si mesmas.

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AÇÃO SOCIAL
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AÇÃO SOCIAL EM GUIMARÃES

Reunião na Câmara Municipal de Guimarães define participação da ITIMAN


em importante projeto social

No dia 4 de abril de 2019 foi realizada uma re- Esses cursos, que serão realizados pelo Mauro
união na Câmara Municipal de Guimarães em M. Nakamura, presidente da ITIMAN e profes-
que ficou decidido que a ITIMAN atuará no Pla- sor de budismo, tem como objetivo explicar o
no Municipal para a Integração de Migrantes do conteúdo da filosofia budista e sua importância
Concelho de Guimarães. prática no nosso cotidiano, ao mesmo tempo
em que irá reforçar a compreensão cultural
Essa possibilidade da ITIMAN contribuir para
mútua e a promoção do diálogo intercultural e
uma sociedade melhor para todos e, principal-
inter-religioso.
mente, para os migrantes, surgiu a partir de
uma consulta feita pela Sra. Manuela Freitas,
da Divisão de Ação Social, a Silvia Oliveira, do
CENIF Guimarães, sobre a necessidade de uma
pessoa com conhecimentos sobre budismo
para disponibilizar cursos de formação na área
de religião.

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AÇÃO SOCIAL

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ENSINAMENTOS BUDISTAS
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SABER DA CAUSA DO PROBLEMA É


MEIO CAMINHO PARA A SOLUÇÃO
PROF. MAURO NAKAMURA

Algumas pessoas estão sempre sorridentes, de bem com a vida e parecem não
ter nenhum sofrimento. Mas, será que realmente existem pessoas assim?
O budismo ensina que embora todos os seres humanos busquem a felicidade,
a vida é repleta de sofrimentos. Isso significa que mesmo uma pessoa que
aparenta ser plenamente feliz, no seu íntimo, carrega algum tipo de sofrimento.

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ENSINAMENTOS BUDISTAS

Problemas de relacionamento familiar ou no tra-


balho, desilusões amorosas, dificuldades no es-
tudo e, até, momentos em que nos perguntamos
para que estamos vivendo fazem parte do rol de
angústias das quais estamos vulneráveis. Quem
nunca passou por essas situações?

No entanto, em meio a tudo isso, notamos algo


muito interessante e positivo. Ao entendermos a
razão de passarmos por um momento difícil, só
pelo fato de tomarmos consciência da causa do
sofrimento sentimos um alívio. Ao contrário, por
não saber porque sofremos, sentimos uma inse-
gurança além normal ou ficamos nos martirizan-
do com a ira até perder o equilíbrio emocional.

Por exemplo, quando não estamos bem fisi-


camente e não sabemos ao certo se estamos
doentes, ficamos inseguros. Isso faz com que
imaginemos diversas doenças, fazendo com que
a nossa cabeça fique cheia de dúvidas obscuras.

Entretanto, se resolvemos ir ao médico e recebe-


mos o diagnóstico, não haverá mais necessidade
para angústias, pois bastará fazer o tratamen-
to para se curar. Só pelo fato de compreender
corretamente a raiz do sofrimento, já teremos
avançado metade do caminho até a solução.

Ao se deparar com alguma dificuldade, pare,


pense e reflita:

afinal, por que estou a sofrer? Se a causa da


nossa angústia ficar clara, mesmo que ainda não
se chegue a uma solução, nos sentiremos mais
leves e o caminho à nossa frente se abrirá.

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ERRAR É FUNDAMENTAL
PROF. MAURO NAKAMURA

Todo ser humano erra. Isso é um facto.


Mas é verdade, também, que ninguém gosta de errar.

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ENSINAMENTOS BUDISTAS

Quando erramos, não queremos admitir que a culpa


é nossa e sofremos por isso. Tentamos encontrar a
causa em outras pessoas ou na situação do momento.

Embora a nossa razão se esforce em nos convencer


de que boas ações geram boas consequências, más
ações provocam más consequências e que tudo é
resultante das nossas próprias ações, no íntimo não
aceitamos esse princípio da causalidade.

Outro dia, a caminho de Brasília, li numa revista de


bordo a entrevista com Bernardinho, antigo técnico
da seleção brasileira de vôlei masculino, em que um
trecho me chamou a atenção:

“Errar é fundamental. Quando você erra, você se ques-


tiona. O questionamento gera mudança. Mudança gera O Prof. Kentetsu Takamori nos encoraja nesse processo
crescimento, e crescimento traz satisfação. Mas é de aprendizado a partir dos erros com palavras sábias.
preciso assumir a responsabilidade. No Brasil, cultu- “Todos nós cometemos muitos erros. Aprender com
ralmente, as pessoas assumem pouco. “Foi o governo eles ou ignorá-los depende da profundidade com que
que não fez”, “o adversário era melhor”. A responsabi- refletimos sobre nossos atos. O melhor é refletir até
lidade é sempre do outro. Se você não assume, nunca chegar às lágrimas”.
vai entender por que errou nem se corrigir.”
Sementes do coração, Dinalivro: 2013
Revista Gol, Trip Editora
“A luta é sempre uma luta consigo mesmo: uma luta
que tem de ser travada sem trégua. Assim como trei-
Para toda consequência, com certeza existe uma nar os músculos, aprimorar a mente é também um
causa. E essa causa não está nas outras pessoas ou processo extremamente doloroso. É preciso resistir
na sociedade. Mas em cada um de nós. e perseverar. Coisas tangíveis podem ser roubadas,
desintegrar-se, quebrar, desaparecer. O tesouro in-
Errar é fundamental. Mas é preciso aprender a errar
visível da mente é indestrutível. Qualquer que seja a
com responsabilidade.
dor, ela será plenamente recompensada. Belos frutos
A partir do momento em que o princípio da causalida- serão colhidos”.
de entrar na vida de cada um de nós, a sociedade não
Um caminho de flores, Satry: 2012
será mais a mesma. Pois as pessoas entenderão que o
mundo é o reflexo fiel das nossas próprias ações. “Lapidar a si mesmo é o verdadeiro segredo do su-
cesso. Se você brilha, atrai naturalmente as pessoas
e as riquezas. Buscar apenas o sucesso, sem se aper-
feiçoar, é o caminho direto para o fracasso.”

Um caminho de flores, Satry: 2012

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REVISTA PORQUE VIVEMOS / OUTUBRO 2019 #1

SOMOS TODOS VÍTIMAS DO DESEJO


PROF. MAURO NAKAMURA

Dentre os inúmeros sentimentos humanos, o desejo é, com certeza, um


dos mais intensos. Ele está presente todos os dias e, praticamente, a todo
momento. Desde quando acordamos, ou melhor, mesmo antes de acordarmos
ele se manifesta a partir do sono, da vontade de querer dormir e descansar
um pouco mais.
Mas o nosso desejo não para por aí. Diariamente sentimos o Quem nunca teve carro, se satisfaz com qualquer popular
desejo de comer, de obter dinheiro, de ter relacionamentos em bom estado. Mas isso é algo momentâneo. Com o passar
amorosos e de ser elogiado e bem visto pelas pessoas. Em do tempo o desejo por um carro melhor torna-se cada vez
quaisquer desses casos, quando não possuímos, desejamos mais forte, fazendo o indivíduo a trabalhar para consegui-lo,
ter. Se já temos, queremos mais ainda. Essa é a essência do e assim por diante.
desejo humano.

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ENSINAMENTOS BUDISTAS

Aliás, essa é a mola propulsora que fez, faz e sempre fará com assim que o dia começou a nascer e logo encontrou
que a humanidade avance, buscando sempre uma vida mais con- um ponto de partida para sua terra. Aos poucos, foi
fortável e feliz. Não há nada de errado nisso, podemos pensar. acelerando o passo.

Mas se observarmos essa questão por um outro ângulo, per- Depois de avançar muitos quilómetros, marcou
ceberemos que existe uma grande contradição: o ser humano, outro canto.
independente de países ou época, tenta satisfazer um desejo
Por fim, rompeu numa corrida, impulsionado pela
ilimitado com uma vida limitada. Afinal, não viveremos eterna-
ideia de que, quanto mais depressa fosse, mais ter-
mente. Por mais que a esperança de vida de portuguesas e por-
ras possuiria.
tugueses tenha chegado a uma média de 80,78 anos, segundo o
Chegou a um ponto que julgou um local razoável para
Instituto Nacional de Estatística (INE), ainda assim ela continua
voltar, mas seguiu em frente, instigado pela ambi-
sendo limitada.
ção. Por fim, surpreso por ver o sol já muito alto,
SERÁ POSSÍVEL SER REALMENTE FELIZ PROCURANDO marcou o último canto e se pôs a correr de volta ao
SATISFAZER UM DESEJO ILIMITADO COM UMA VIDA ponto de partida.
LIMITADA? Mal teve tempo de almoçar. No meio da tarde, estava
Um conto muito interessante de Liev Tolstói (1828-1910), fa- exausto, porém jogou fora o paletó e as botas e con-
moso escritor russo, discute essa questão e ensina que “a co- tinuou a corrida. O céu estava vermelho com o pôr do
biça mata a todos”, segundo escreve o Prof. Kentetsu Takamori sol. Seus pés estavam machucados, ensanguentados,
no livro Um caminho de flores (Editora Satry, 2012). e seu coração, a ponto de explodir. No entanto, se
tombasse agora, todo o esforço teria sido em vão.
QUANTO BASTA? Correu o mais que pôde, com os olhos no ponto de

Há um conto de Liev Tolstói (1828-1910) sobre um camponês chegada.

que ambicionava muitas terras e ouviu falar de um país tão Seu esforço foi recompensado, porque ele chegou de
vasto que, para possuir terras lá, bastava pedir. volta bem a tempo. Mas infelizmente tombou morto

Ele foi até esse país e descobriu que era verdade. Os habitantes como uma pedra. O governante mandou seu criado

e o governante, todos lhe deram as boas-vindas. fazer uma cova e enterrá-lo. No fim, toda a terra que
esse camponês conseguiu foi uma campa de dois
O governante disse ao camponês que ele podia tomar posse de
metros por trinta centímetros.
quantas terras quisesse: tantas quanto pudesse percorrer a pé
num único dia. O camponês de Tolstói não é o único ser ambicioso. A
cobiça mata a todos.
“Só existe uma condição”, acrescentou ele. “O senhor tem de
partir ao nascer do sol e voltar ao ponto de partida antes do pôr
do sol. Comece onde quiser e vá marcando os cantos. Percorra Kentetsu Takamori
a distância que quiser, mas volte a tempo, senão não ganhará
nada”.

Naquela noite, o camponês ficou acordado, entusiasmado com


a ideia das vastas terras à sua espera. De manhã, ele partiu

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AFINAL, PORQUE VIVEMOS?


PROF. MAURO NAKAMURA

É comum ouvirmos a afirmação de que “os jovens são o futuro do país”.


Apesar disso, sabe-se pouco sobre o que eles realmente pensam a respeito da
vida, principalmente se levarmos em conta os estudantes universitários.

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ENSINAMENTOS BUDISTAS

Com esta preocupação inicial, foi realizada uma pesquisa que se realmente gosta” ou “trabalhar naquilo que propor-
com estudantes de uma grande universidade, em que a per- ciona prazer e possa ajudar as demais pessoas”.
gunta principal era: “Qual é o objetivo da vida?”.
Nota-se que nessas duas primeiras opções, o fator prepon-
Indagados sobre esta questão, muitos não souberam res- derante é o trabalho, pois sem trabalhar, as pessoas não
ponder. Entre essas pessoas, as respostas mais frequentes conseguem o tão desejado e necessário dinheiro. Ao mes-
foram: mo tempo, a realização pessoal, na maioria das vezes, está
intimamente relacionada à realização profissional.
“Nunca pensei nisso antes”
Se perguntarmos às pessoas por que elas trabalham, de
“Depende de pessoa para pessoa”
modo geral, responderão que o fazem, entre outras coisas,
“Isso não é relevante. O importante é viver cada dia e apro- principalmente para ganhar dinheiro. Mas ganhar dinheiro
veitar ao máximo”. para que? Para satisfazer as três necessidades básicas do
Aqueles que conseguiram dizer algo a respeito, respon- ser humano: alimentação, vestuário e moradia. Afinal de
deram baseados na experiência pessoal, ou seja, deram contas, se não comermos não conseguiremos viver. Mas por
respostas muito particulares que variavam de pessoa para que precisamos viver?
pessoa. Entretanto, existia um ponto em comum nas res- Esta é uma pergunta que nós temos uma grande dificuldade
postas dadas: o desejo de conseguir a felicidade. “Se não em responder. Podemos desdobrar esta grande questão em
conseguirmos ser felizes, de nada adiantará todo o nosso outras duas:
esforço nesta vida”, disse um dos estudantes. Com certeza
Por que nascemos?
não há ninguém que discorde desta afirmação.
Por mais que a vida seja sofrida, por que temos que conti-
Desse modo, podemos concluir que todas as nossas ações,
nuar vivendo?
em essência, voltam-se para a busca dessa felicidade. Em
outras palavras, o objetivo da vida é conseguir a felicidade. Afinal, qual é o objetivo da vida?
Tendo isso em mente, as pessoas esforçam-se de várias Sem encontrar uma resposta satisfatória, a maior parte
maneiras para alcançar a felicidade. das pessoas foge dessa reflexão e volta-se ao trabalho e às
atividades cotidianas.
Observando particularmente os estudantes universitários,
em síntese, podemos distinguir três opções mais comuns Portanto, o dinheiro e a realização pessoal não garantem
adotadas para a consecução deste objetivo: uma resposta para o objetivo da vida. Nesse sentido, pode-
mos considerar que são insuficientes para nos conduzir à
• Dinheiro
verdadeira felicidade.
• Realização pessoal
• Filosofia Há, ainda, pessoas que procuram um outro caminho: a filoso-
fia.
Boa parte das pessoas buscam a felicidade através do di-
nheiro, acreditando estar nele a solução de todos os pro- Praticamente desde o começo da civilização, os filósofos
blemas. Isto é, a satisfação de todos os seus desejos como: vêm pensando e discutindo um problema essencial para a
fortuna, fama, poder, saúde, uma boa casa para morar e felicidade humana: “descobrir quem somos e por que vive-
uma família harmoniosa. mos”, segundo as palavras do escritor norueguês Jostein
Gaarder, autor do livro “O Mundo de Sofia”, entre outros.
Distanciando-se dessa opção, por acreditarem ser uma vi-
são demasiadamente materialista da vida, outras pessoas Porém, neste livro, assim como em toda filosofia ocidental,
buscam a felicidade através da realização pessoal, conven- discute-se o ser humano e a razão de sua existência, mas
cidas de que apenas o dinheiro não é suficiente para satis- não há qualquer indício de uma resposta sobre o objetivo
fazê-las. Desse modo, julgam ser primordial “fazer aquilo da vida.

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REVISTA PORQUE VIVEMOS / OUTUBRO 2019 #1

Da mesma forma, todos os grandes filósofos como Sócrates,


Platão, Pascal, Kierkegaard, Nietzche e Heidegger dedicaram
suas vidas à busca dessa resposta. Mas nenhum deles chegou
a uma conclusão.
Assim, a filosofia ainda não conseguiu solucionar a questão
“por que vivemos”.
Normalmente as pessoas ficam presas ao ciclo vicioso da vida
cotidiana, sem saber por que trabalham, ganham dinheiro, sa-
tisfazem as três necessidades básicas (alimentação, vestuário,
moradia) e continuam a viver.
E para continuarem vivendo, apegam-se às felicidades que se
apoiam no dinheiro, no status, no poder, nos bens, na família,
na saúde e nos amigos, entre outras coisas.
Embora possam durar por algum tempo, essas felicidades não
permanecem para sempre, pois dependem de algo para exis-
tirem, ou seja, as pessoas sentem-se felizes enquanto seus
desejos são satisfeitos. Mas quando algum desses desejos
não é saciado, essa felicidade se desfaz. Por isso, esse tipo de
felicidade não continua para sempre, pois depende de coisas
inconstantes.
Assim, essas felicidades, ao mesmo tempo em que proporcio-
nam um sentimento de bem-estar momentâneo, estão cons-
tantemente causando sofrimento ao ser humano devido a dois
motivos:

• Desejo ilimitado gera INSATISFAÇÃO


• Felicidade momentânea gera INSEGURANÇA
O exemplo a seguir será útil para entendermos melhor o que foi
dito até aqui. Fazendo uma analogia, “viver” pode ser compara-
do a “voar de avião”. A descolagem de um aeroporto significa o
nosso nascimento em algum lugar (no caso, nossa terra natal).
Enquanto estamos vivendo, estamos “voando”. Dentro do avião
podemos viajar na classe econômica ou executiva, optar entre
vários tipos de comida, dormir, ler um livro, conversar, ouvir
música, assistir um filme, etc. Essas opções variam de pessoa
para pessoa, ou seja, dos desejos de cada um. E assim, pode-
mos viajar tranquilamente, desfrutando do bom e do melhor.
As escolhas correspondem ao “modo de viver” das pessoas,
isto é, aos “meios e motivações de vida”, que proporcionam
felicidades momentâneas, conforto e bem-estar. Apesar de se-

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ENSINAMENTOS BUDISTAS

rem importantes, os “meios de vida” não são suficientes para


nos conduzir a uma felicidade verdadeira e plena, pois mes-
mo tendo uma vida digna e alegre, possuindo dinheiro, status,
saúde, casa, amigos e família, todas as pessoas terão que se
defrontar com a morte algum dia. Isso significa que tudo o que
a pessoa adquiriu ao longo de sua vida e que sustenta suas
felicidades atuais irá desmoronar algum dia, com certeza.
Este é o grande equívoco da humanidade: acreditar que a felici-
dade atual permanecerá para sempre. Pensando no exemplo do
avião, esta situação é análoga ao comportamento de um pas-
sageiro que mesmo não sabendo do destino do avião para um
pouso tranquilo e seguro, continua se divertindo e se deliciando
de guloseimas. Ao permanecer assim, fatalmente o combustível
do avião irá se esgotar e então, só restará a queda.
Da mesma forma, as pessoas que vivem somente o ciclo vicioso
da vida cotidiana, isto é, voltados apenas aos meios de vida, estão
somente caminhando para a morte, sem saber o objetivo da vida.
Por isso é necessário obter uma felicidade que proporcione sa-
tisfação e segurança plena, ao mesmo tempo em que buscamos
os meios de vida, que também são importantes, uma vez que
sem eles não conseguimos viver.
Há aproximadamente 2600 anos, o buda Shakyamuni desco-
briu o caminho para a plena felicidade. Durante os 45 anos de
sua vida, dos 35 anos (quando atingiu o grau máximo de ilumi-
nação) até os 80 anos, ele indicou o caminho para a verdadeira
felicidade, que é o objetivo final de termos nascido e estarmos
vivendo. A nossa caminhada até a felicidade plena passa pela
descoberta do verdadeiro eu, ou seja, da natureza humana.

O buda Shakyamuni ensina sobre a natureza humana a partir de


uma fábula muito famosa, mas isso é assunto para um outro artigo.

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REFLEXÃO: O BEM E O MAL


PROF. MAURO NAKAMURA

Ainda vale a pena ser honesto nos dias atuais?


Com tantos escândalos de desvio de dinheiro público e outras irregularidades
divulgadas pela mídia, muitas pessoas chegam a duvidar se agir sempre
corretamente é a melhor postura a tomar.
Dois episódios narrados pelo Prof. Kentetsu Takamori, autor do livro “Porque
vivemos”, ajuda-nos a refletir sobre essa questão muito importante para a
formação humana.

Um samurai estava a viajar. Como seu criado ficara secar na beira da estrada.”
para trás, ele fez uma pausa e esperou. Por fim, o cria-
“Pediu permissão?”
do veio correndo, sem fôlego.
“Não”, disse o criado. “Ninguém vai se importar para
“O que estava fazendo?”, perguntou o samurai.
dois ou três caules de palha de arroz. E toda a gente faz
“Minha sandália de palha arrebentou e eu estava a isso o tempo todo”.
consertar”.
“Não admito essa atitude. Toda a gente pode permitir
“Quem lhe deu a palha?” isso, mas eu não. Volte e peça permissão ao proprietá-
rio”, disse o samurai.
“Ninguém. Peguei de uns pés de arroz que estavam a

32
ENSINAMENTOS BUDISTAS

O samurai sabia que essas duas desculpas – “toda a gente Ao estacionar o carro num local proibido por falta de tempo
faz” e “é tão pouco que não faz diferença” – estão sempre ou utilizar o comboio sem validar adequadamente o título
na boca do demónio. de transporte, mesmo sabendo que isso não está correto,
fazemos com base nessas justificativas.
Kentetsu Takamori
Mas será que realmente “é tão pouco que não faz diferen-
O senhor feudal japonês Tokugawa Mitsukuni (1628-1701)
ça”? E, se “toda a gente faz”, mesmo algo incorreto passa-
estava numa viagem de inspeção em seus domínios. Um
rá a ser correto ou, no mínimo, aceitável?
aldeão, famoso por maltratar a mãe, ao saber que o se-
nhor daquelas terras recompensaria qualquer pessoa que São indagações que precisamos fazer a nós mesmos, antes
demonstrasse respeito aos pais, e desejando receber o prê- de apontar o dedo aos condenados da Operação Marquês.
mio, carregou sua mãe nas costas e juntou-se à multidão
Há um provérbio japonês que diz: “Ao ver apenas uma par-
que saudava o ilustre visitante.
te, podemos deduzir o todo”. Isso significa que ao ver uma
Mitsukuni viu aquele homem carregando a própria mãe e ação ou atitude, podemos inferir como é a postura e o ca-
mandou um auxiliar dar-lhe uma recompensa. ráter de uma pessoa. Ou ainda, que a nossa personalidade
está sendo constantemente construída a cada ação que
“O senhor não devia fazer isso”, disse o auxiliar. “Esse su-
praticamos, por menor que ela seja.
jeito é famoso por maltratar a mãe o tempo todo. Ele só
está aqui hoje com a mãe nas costas para tentar enganar o Não podemos menosprezar a força que cada ação prati-
senhor e receber alguma coisa.” cada exerce sobre a nossa vida cotidiana, pois como até a
Ciência já comprovou, para toda ação sempre existirá uma
Mitsukuni ouviu, pensativo, e disse:
consequência. Isso não aplica-se apenas à Física, mas a to-
“Que diferença faz isso? Mesmo que ele tenha tomado
das as esferas da nossa vida, tanto no âmbito profissional
essa atitude com segundas intenções, e mesmo que seja
quanto pessoal, familiar e social.
apenas hoje, o importante é que, ao menos desta vez, ele
Todos nós cometemos erros; e não poderia ser diferente.
demonstrou o devido respeito. Dê ao homem uma boa re-
Afinal, somos humanos.
compensa”.
Mas precisamos ter a sabedoria e humildade de sempre
Quem toca em tinta vermelha fica manchado de vermelho.
nos esforçar ao máximo para plantar boas sementes, pois
Quem se associa com gente boa sentirá um desejo natural
só assim colheremos bons frutos. Mesmo que seja só na
de fazer o bem. Faça o bem, mesmo que seja só por imitação.
aparência, pois isso já será o primeiro passo para uma mu-
Kentetsu Takamori dança feliz.

Diante de determinadas situações, podemos pensar: não


seria melhor “dançar conforme a música” e deixar de ser
o “certinho e bonzinho” e ser mais “flexível e esperto”?
Afinal de contas, “toda a gente faz” e, “é tão pouco que não
faz diferença”.

Pensamentos e argumentos desse tipo estão muito mais


presentes em nosso cotidiano do que imaginamos. E não se
relacionam apenas ao dinheiro ou bens materiais.

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REVISTA PORQUE VIVEMOS / OUTUBRO 2019 #1

LIVRO: INSTRUMENTO SUPREMO


PARA O DESENVOLVIMENTO
PROF. MAURO NAKAMURA

O livro, assim como tudo na vida, mudou e evoluiu ao longo das épocas. Dos
manuscritos aos impressos, passando pelos audiolivros, diversas modificações
ocorreram em seu formato até chegarmos aos modernos e-books. Mas ainda
há algo que se mantém intacto: o conteúdo.

34
ENSINAMENTOS BUDISTAS

Ele é o coração, a alma de um livro. Seja no papel ou nos Por isso, o livro seja, talvez, uma das invenções humanas
ecrãs, é o conteúdo do livro que possui o poder transfor- mais antigas e, ao mesmo tempo, mais revolucionárias
mador para nos tornarmos pessoas melhores e, conse- que temos atualmente.
quentemente, mais felizes.
No dia do livro, a Itiman reafirma seu compromisso de
As palavras de um livro possuem a força para nos trans- publicar livros com conteúdos relevantes para a formação
portar a lugares incríveis, mesmo sem sair de casa. Fer- e crescimento das pessoas como seres humanos, influen-
nando Pessoa, um mestre nessa arte, escreveu: ciando para a construção de comunidades mais saudáveis
e positivas, com ensinamentos que serão lidos por várias
“Viajar? Para viajar basta existir. Vou de dia para o dia,
e várias gerações.
como de estação para estação, no comboio do meu corpo,
ou do meu destino, debruçado sobre as ruas e as praças, A Itiman deseja que portuguesas e portugueses de todas
sobre os gestos e os rostos, sempre iguais e sempre dife- as idades possam adquirir importantes valores com seus
rentes, como, afinal, as paisagens são. (…) livros e levar consigo um tesouro para toda a vida.

Para quê viajar? Em Madrid, em Berlim, na Pérsia, na


China, nos pólos ambos, onde estaria eu senão em mim
mesmo, e no tipo e género das minhas sensações?

A vida é o que fazemos dela. As viagens são os viajantes. O


que vemos, não é o que vemos, senão o que somos”.

É o conteúdo do livro que possibilita ao ser humano co-


nhecer, saber, compreender e refletir, para então, buscar,
a partir de novas ações inspiradas no conhecimento par-
tilhado no livro, uma mudança feliz. São as palavras con-
tidas no livro que fazem mover um indivíduo, uma família,
um país, um mundo inteiro para uma vida melhor.

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REVISTA PORQUE VIVEMOS / OUTUBRO 2019 #1

A CHAVE DA MUDANÇA
PROF. MAURO NAKAMURA

Muitas pessoas sentem a necessidade de mudar e renovar, mas enfrentam


dificuldades. Como é possível iniciar um processo de mudança na vida?

36
ENSINAMENTOS BUDISTAS

O primeiro passo é refletir sobre as atitudes e a nossa pos- O século passado provou para a humanidade que dinheiro,
tura mental. Sem reflexão, não há como mudar as nossas bens e conforto, embora muito importantes para se viver,
ações. Sem mudar as ações, as consequências que teremos não são suficientes para proporcionar a verdadeira felici-
na vida serão sempre as mesmas. dade.

Por que, nos dias de hoje, é tão difícil conseguir a felicidade? O Buda Shakyamuni ensinou que “ter e não ter são a mes­
ma coisa”: em qualquer dessas duas condições, nossa
Vivemos numa sociedade materialista, onde as pessoas são
inca­pacidade de escapar do sofrimento não se altera. A
educadas e formadas para buscar a felicidade a partir de
pessoa que não possui dinheiro ou bens sofre tentando ob-
ganhos materiais e esquecem-se de si mesmas.
tê-los e quem já possui também sofre para admi­nistrá-los
A busca pela felicidade é algo inerente ao ser humano. Não
e mantê-los.
há ninguém nesse mundo que viva para sofrer. Todos, sem
O mesmo se aplica a todo o tipo de posses: se não temos,
exceção, desejam a felicidade. Mas, por que, embora se es-
somos infelizes, e, se temos, sofremos por conta delas.
forcem, as pessoas não conseguem ser felizes?
Quem tem está preso com uma corrente de ouro, e quem
Acreditamos que tendo dinheiro, bens, uma boa família e
não tem está preso com uma corrente de ferro. Seja qual
saúde seja suficiente para uma vida feliz. Mas, pensando
for o material das correntes, o sofrimento por elas causado
bem, quantas pessoas possuem tudo e, nem por isso, são
é igualmente real.
felizes?
Mesmo que todos os nossos desejos de posse sejam satis-
Um exemplo clássico é o da Princesa Diana. Ela tinha tudo o
feitos, a menos que encaremos a raiz do sofrimen­to e que
que uma pessoa poderia desejar. Mesmo assim, fala-se que
ela seja erradicada, jamais obteremos uma felicidade plena
ela tentou o suicídio por 5 vezes, sem sucesso. Uma pessoa
e duradoura.
realmente feliz jamais tentaria de suicidar.
A chave para a felicidade não está fora, mas dentro de cada
Outro exemplo é do inventor no nylon, Wallace Hume Ca-
um de nós.
rothers. A empresa americana Dupont, na qual Carothers
Por mais que a sociedade mude, ainda assim, o ser humano
trabalhava, como um meio de assegurar o sigilo industrial
continuará a sentir que falta algo mais para se considerar
da invenção, fechou um contrato de exclusividade em que
plenamente feliz.
pagaria todas as despesas pessoais de Carothers pelo resto
da vida. Mesmo assim, aos 41 anos, Carothers suicidou-se. Voltar os olhos para si e redirecionar a forma de pensar e
agir. Aqui começa o caminho que nos conduzirá a um mun-
Se observarmos a História, veremos que não são raros ca-
do novo e feliz.
sos assim.

O século XX foi aquele em que a humanidade conheceu um


avanço científico e tecnológico jamais visto, proporcionan-
do uma vida de conforto e bem-estar. Mas, também nos
mostrou o outro lado da moeda, ou seja, que a causa do
sofrimento humano não está na falta de bens materiais ou
de uma vida mais confortável.

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REVISTA PORQUE VIVEMOS / OUTUBRO 2019 #1

NÃO CULPAR O DESTINO É O


PRIMEIRO PASSO PARA TER UMA
VIDA SAUDÁVEL E FELIZ
PROF. MAURO NAKAMURA

Qual é a nossa reação quando algo inesperado acontece?


Se for um acontecimento bom, nos consideramos uma pessoa de sorte, que por
acaso teve um bom destino. Mas no caso de infelicidade, pensamos: por que
justo eu tenho que passar por isso?

38
ENSINAMENTOS BUDISTAS

Quando não conseguimos compreender por que algo acon- No passado, muitas doenças contagiosas causaram epide-
tece, logo achamos que é “coisa do destino” ou que acon- mias e mortes. Com o avanço das pesquisas na medicina,
teceu por acaso. chegou-se à cura das mesmas e, com isso, muitas delas
foram exterminadas do planeta.
Algo ocorrer por acaso significa que aconteceu casual-
mente, ou seja, sem nenhuma causa. Mas será que nesta Se não existisse uma causa para as doenças, jamais seria
vida realmente existe algum fato que aconteça sem ne- possível fazer o tratamento e curá-las. A investigação das
nhuma causa? causas é a mola propulsora do desenvolvimento científico
e tecnológico da humanidade.
Há mais de 2600 anos, buda Shakyamuni, o precursor do
budismo, já ensinava que para toda e qualquer consequên- Se a medicina não considerasse que para toda consequên-
cia, com certeza existiu uma causa, que não há nada que cia, com certeza, houve uma causa, o que seria de nós?
aconteça sem uma causa. Isso é chamado de princípio da Certamente a expectativa média de vida ainda estaria
causa e efeito, ou causalidade. abaixo dos 50 anos, como na idade média.

A palavra “causalidade“ refere-se à relação de causa e Por isso, se culparmos o destino toda vez que ocorrer uma
consequência. O termo “princípio“ significa uma verdade situação indesejável, deixaremos de pensar nas causas que
que é válida em qualquer época e lugar. Não há nada que geraram essa consequência.
ocorra sem uma causa. Se existir uma causa, certamen-
Nesses momentos, não culpar o destino e refletir e sobre a
te surgirá uma consequência. Resumindo, a semente não
“semente“ que gerou esse fato faz toda a diferença. Aqui
plantada jamais germinará. Da mesma forma, a semente
está a chave para a vida saudável e feliz que todos nós
plantada certamente um dia germinará e crescerá, não
almejamos.
importa quanto tempo demore para acontecer.

Em 2012, cientistas russos fizeram uma flor nascer a par-


tir de uma semente que ficou conservada por 32 mil anos
numa toca de esquilos na Sibéria, perto do Pólo Norte. Isso
é um exemplo de que para toda consequência, com certe-
za, houve uma causa. Mesmo na Ciência, esse princípio se
verifica. Aliás, todos os campos de conhecimento humano
partem desse pressuposto básico.

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FILMES
REVISTA PORQUE VIVEMOS / OUTUBRO 2019 #1

PORQUE VIVEMOS
EXIBIÇÃO NA SUÉCIA

GOTEMBURGO
No dia 19 de Dezembro, a Itiman em parceria com a BIO, exibiu o filme Porque Vivemos na cidade
de Gotemburgo onde participaram 107 pessoas, com bastante entusiasmo por este filme histórico. O
Professor Mauro Nakamura fez uma introdução à história e valores do filme.

O nosso muito obrigado a todos na RIO e a todos os incríveis participantes.

42
FILMES

ESTOCOLMO
No dia 20 de Dezembro o Prof. Mauro Takamu-
ra este em Estocolmo, para a exibição do filme
Porque Vivemos, em parceria com a Bio.

Estiveram presentes 91 participantes e quere-


mos agradecer aos nossos parceiros, a todos
os participantes e à ajuda de Sílvia Magalhães
pelas traduções e apoio logístico.

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REVISTA PORQUE VIVEMOS / OUTUBRO 2019 #1

ANIME PORQUE VIVEMOS APRESENTADO


EM MADRID

NO DIA 17 DE MARÇO, O PROF. MAURO NAKAMURA


ESTEVE EM MADRID PARA A EXIBIÇÃO DO FILME
PORQUE VIVEMOS NO PEQUEÑO CINE ESTÚDIO.

Um muito obrigado à Editora Divalentis e a todos os


participantes deste filme.

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FILMES

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REVISTA PORQUE VIVEMOS / OUTUBRO 2019 #1

46
FILMES

ESTREIA DO FILME PORQUE


VIVEMOS EM LISBOA

A 30 de Maio, no Cinema City Alvalade, foi a estreia do filme Porque Vivemos.

Este filme, animado pelo Studio Deen, do monge Rennyo. Ele dá a resposta a to Marple) é o seu primeiro papel num
conta a história do jovem Ryoken que, “porque vivemos”, como revelado pelo filme anime, dando voz a Rennyo, ain-
no infortúnio de várias situações da monge Shinran. Ao descobrir um novo da Katsuyuki Konishi como Ryōken,
vida, descobre “Porque Vivemos”. significado para a vida, Ryōken torna-se Hideyuki Tanaka, Ayumi Fujimura, e
o discipulo de Rennyo. Takaaki Seki.
Um filme histórico sobre um período
conturbado da história do Japão medie- Perturbados com o aumento de segui- Ichimannendo produziu e vendeu um
val onde a sabedoria dos ensinamentos dores em Honnodera, as outras escolas milhão de cópias do livro original em ja-
do mestre Rennyo trazem várias refle- Budistas perseguem Rennyo e Ryōken, ponês, foi também publicada a tradução
xões que ainda hoje nos fazem desper- até sairem de Quioto. em inglês com o nome You Were Born
tar e responder à grande questão de for a Reason: The Real Purpose of Life.
“Porque Vivemos”. Ao procurarem o novo local para a es-
cola budista, ambos chegam a Yoshizaki De 1992 a 1999, AIC produziu Sekai no
A história gira à volta de Ryōken, um (Fukui) na região de Hokuriku. Hikari: Shinran Seijin, uma série em
jovem que lamenta o seu infortúnio e anime, em seis partes, sobre a vida do
que desprezava os templos e monges. Hideaki Oba (Alice in the Country of monge Shinran.
Colocou toda a sua esperança no seu Hearts: Wonderful Wonder World, Pan-
filho por nascer, mas infelizmente um dalian, Omakase Scrappers) dirige este
acidente levou tudo dele. Neste tempo filme, Kentetsu Takamori e Kiyoto Wada
de desespero e sofrimento na escuridão, escreveram em conjunto o guião. Ma-
Ryōken cruza-se com os ensinamentos saaki Kannan (Hetalia – Axis Powers,
Oishinbo, Gifū Dōdō!! Kanetsugu to Kei-
ji) desenharam os personagens e Suur-
kiitos tem a distribuição do filme.

O elenco conta com o ator Kotaro Sato-


mi (Agatha Christie no Meitantei Poirot

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REVISTA PORQUE VIVEMOS / OUTUBRO 2019 #1

48
FILMES

PORQUE VIVEMOS EM EXIBIÇÃO


NA HOLANDA
UTRECHT
No dia 15 de Março, o prof. Mauro Na-
kamura esteve em Utrecht, na Holanda,
para a exibição do filme Porque Vive-
mos, perante uma plateia bastante inte-
ressada e motivada pelos temas do filme.

AMESTERDÃO
No dia 14 de Março, o Prof. Mauro Na-
kamura esteve em Amesterdão, o filme
Porque Vivemos foi exibido no Teatro
Munganga, com uma plateia de 30 pes-
soas muito interessadas pelos vários te-
mas abordados.

Queremos ainda prestar um enorme


agradecimento a Ana Cristina Tavares
Berntz por todo o apoio e intermediação
para a exibição do filme em Amesterdão
e Utrecht. Ana Berntz é escritora e resi-
de atualmente em Utrecht.

Também o nosso agradecimento a Clau-


dia Maoli e a Carlos, que no dia da exi-
bição nos recebeu e deu todo o apoio no
Teatro Munganga.

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LIVROS
REVISTA PORQUE VIVEMOS / OUTUBRO 2019 #1

PORQUE VIVEMOS – UM LIVRO


COM A RESPOSTA FULCRAL DA
VIDA, POR KENTETSU TAKAMORI

Muitas vezes percorremos a nossa vida incons- Quando começamos a questionar a razão da nos-
cientemente. Procuramos satisfazer as neces- sa vida, o “Porque Vivemos”, começa então um
sidades que sentimos e queremos alcançar o percurso de despertar e uma inquietude inicial
sucesso, vida e protagonismo que outros têm. que nos traz uma felicidade maior.
Alguns, apenas procuram ser felizes, mas parece
Porque Vivemos é um best seller, com mais de
que nada os leva a essa condição.
um milhão de exemplares vendidos, pelo Prof.
Mesmo quando uma pessoa encontra Kentetsu Takamori, Daiji Akehashi e Kentaro
algo com que se absorver totalmente, Ito, que nos trazem várias histórias e reflexões
nada continua para sempre. reais, para o nosso entendimento desta razão e
propósito de viver.
Kentetsu Takamori

52
LIVROS

QUAL É O SENTIDO DA VIDA? frente até atingirmos esse estado. As nove décadas da vida
de Shinran foram dedicadas a transmitir essa mensagem.
Esta é uma pergunta intemporal que exige uma resposta
clara. Os avanços científicos permitem-nos levar uma vida Em Porque Vivemos, um professor de budismo, um psicote-
cada vez mais longa e confortável. Será que este progres- rapeuta e um filósofo apontam um caminho possível para
so trouxe felicidade, todavia? Os sinais parecem indicar o encontrarmos a paz interior e enfrentarmos as contrarie-
contrário, já que o mundo moderno parece ter trazido so- dades do quotidiano, a partir do legado de Shinran. Este li-
lidão e vazio. vro ensina-nos que a felicidade não está onde normalmente
procuramos. E ajuda-nos a encontrar o real sentido da vida.
O eminente monge budista Shinran (1173-1263) explicou o
propósito da vida e insistiu para que o procurássemos com a «Um livro brilhante que é um roteiro para a compreensão
maior urgência. Devemos, para isso, destruir a raiz do sofri- das boas razões de vivermos e de como viver em pleno.» –
mento e conquistar a imensa alegria de estar vivo. Por mais João Magalhães, presidente da Associação Portuguesa de
dura que seja a nossa vida, é necessário que sigamos em Reiki

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REVISTA PORQUE VIVEMOS / OUTUBRO 2019 #1

A ADAPTAÇÃO DO LIVRO PORQUE


VIVEMOS – UMA ENTREVISTA A
ISABEL COUTO

Isabel Couto é formadora, Mestre em Gestão de Empresas na especialidade em


Planeamento e Estratégia Empresarial. Tem vindo a fazer um longo percurso
de desenvolvimento pessoal nas mais diversas áreas e foi uma das revisoras
da versão de brasileira para a adaptação à versão portuguesa do livro Porque
Vivemos, do professor Kentetsu Takamori, na preparação da entrega do livro à
Editora Nascente.

54
LIVROS

Nesta entrevista, procuramos descobrir o que a cativou O QUE ACHASTE DO CAPÍTULO “VIVER PARA TRA-
neste livro. BALHAR OU TRABALHAR PARA VIVER?…..”
É o espelho da sociedade que se tornou hedonista. Uma
COMO FOI ESTA EXPERIÊNCIA DE REVER UM LI-
chamada de atenção para tomarmos consciência do nosso
VRO BUDISTA?
verdadeiro propósito de vida e para vivermos a vida em
Colaborar neste projeto foi um grande desafio pessoal e
plenitude. Quando o propósito da vida se torna evidente,
uma experiência bastante enriquecedora a todos os níveis.
todas as atividades – estudar, trabalhar, cuidar da saúde
Este livro deu-me a possibilidade de aprofundar um pouco – adquirem significado, e a vida se enche-se de alegria e
mais, o meu conhecimento da filosofia budista. satisfação.

QUAL O TERMO QUE SE MOSTROU MAIS DESA- TIVESTE TAMBÉM OPORTUNIDADE DE VER O FIL-
FIANTE PARA TI? ME EM ANIMAÇÃO “PORQUE VIVEMOS”, O QUE
Houve vários, pois não queremos mudar o sentido do texto ACHASTE?
e alguns são bastante diferentes, até pejorativos em Por- O filme de animação “Porque vivemos” aborda o budismo
tugal, por exemplo: seita = escola; fazer a correspondência no Japão há mais de 500 anos e as questões internas de
entre os níveis de ensino; entre outros. um camponês, que era revoltado e não valorizava a família.
A vida encarrega-se de lhe ensinar qual o seu verdadei-
ro propósito com o Mestre Rennyo. As várias histórias e
Houve também termos bastante exigentes como:
personagens são cativantes e promovem a reflexão sobre
ICHINEN… os temas como valorizar a família, desapego, felicidade,

MUMYO NO YAMI – ESCURIDÃO DA MENTE, MENTE ESCU- missão de vida, altruísmo, entre outros. Um conteúdo pro-

RIDÃO CICLO DE NASCIMENTO E DE MORTE… fundo abordado de forma leve e delicada.

todos eles são muito profundos e requereram reflexão e QUE CONSELHO QUERES DEIXAR AOS NOSSOS
aprofundamento. LEITORES SOBRE ESTE TEMA DE PORQUE VIVE-
MOS?
PARTILHA CONNOSCO UM DOS ENSINAMENTOS
QUE MAIS TE TOCOU NESTE LIVRO, PARA A TUA Um excelente livro, de fácil leitura, que poderá dar algumas

VIDA? respostas a quem procura o verdadeiro sentido da vida.

Uma verdade universal que perpassa toda a doutrina bu-


dista. Boas acções produzem bons resultados (felicidade);
por oposição, más acções acarretam maus resultados (in-
felicidade, desastre). A lei da causalidade, também conhe-
cida como “lei do carma”, preceitua que tudo o que nos
acontece, de bom e de ruim, igualmente, é determinado
pelas nossas acções.

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REVISTA PORQUE VIVEMOS / OUTUBRO 2019 #1

PORQUE VIVEMOS, UMA


PERSPETIVA DO LIVRO PELO PROF.
MAURO NAKAMURA
Esta é uma entrevista ao prof. Mauro Nakamura, Presidente da Itiman e
diretor internacional da Ichimannendo Publishing, sobre o livro Porque
Vivemos, do prof. Kentetsu Takamori..

56
LIVROS

O QUE LEVOU À ESCRITA DESTE LIVRO PORQUE PORQUE FOI CRIADO UM FILME DE ANIMAÇÃO A
VIVEMOS E QUAL A RAZÃO DO SEU TÍTULO? PARTIR DA HISTÓRIA DO LIVRO?
No ano 2000, foi publicado no Japão, um livro com o título Com o grande sucesso do livro “Porque vivemos”, que des-
“Objetivo da vida”, no qual seu autor afirmava que não ha- de o seu lançamento em 2001 já vendeu mais de um milhão
via um objetivo para se viver. Para um país em que a taxa de exemplares no Japão, a Itiman iniciou um novo projeto,
de suicídio é uma das mais altas do mundo, um livro com desta vez com filmes animados inspirados em seus livros
essa conclusão não é apenas irresponsável, mas algo que mais lidos.
não faz o menor sentido para a própria existência humana.
QUAL A PASSAGEM MAIS MARCANTE PARA TI?
Com o intuito de mostrar esse equívoco e indicar que exis-
te, sim, um objetivo para vivermos, o professor Kentetsu Eu gosto muito do trecho “vender os dias da vida”, na pá-
Takamori escreveu o livro “Porque vivemos”, que dá uma gina 67, que diz: “A vida de cada um é o tempo que lhe foi
resposta clara para a questão fulcral do ser humano. concedido. Para as crianças privilegiadas do Japão, país em
que a expectativa de vida bate recordes, isso significa oi-
QUE ENSINAMENTOS TIVERAM NA ORIGEM DO LIVRO? tenta anos ou mais. Em que se deve gastar tamanho tesou-
ro? O estudante universitário que trabalha num emprego
O livro tem seu conteúdo baseado no budismo. Segundo a
de meio período para pagar uma viagem ao exterior gasta
filosofia budista, há um nobre e único objetivo para o ser
essas horas do total das que lhe restam de vida. Pouco a
humano nascer e estar a viver. Todas as pessoas vivem em
pouco, vendemos nossas vidas para obter o que queremos”.
busca da felicidade. Muito mais que isso, vivem todos os
dias para obter, o quanto antes, a verdadeira felicidade,
uma felicidade duradoura.
Temos muitos tesouros em nossa vida, mas acredito que o
Um dos maiores nomes do budismo, o mestre Shinran, afir- mais valioso deles seja o tempo que dispomos no dia a dia.
ma que ““O propósito da vida não é juntar dinheiro e tesou- Precisamos utilizar o nosso tempo naquilo que realmente
ros, nem conquistar honras e status. É erradicar a fonte de vale a pena, em algo que nos aproxime da felicidade pró-
sofrimento e encher-se de alegria, rejubilando-se por ter pria e alheia. E isso é possível de se fazer ao mesmo tempo.
nascido humano e viver em plenitude sem fim”. O livro ensina também sobre isso.

QUEM É O AUTOR DESTE LIVRO? A QUEM RECOMENDARIAS LER ESTE LIVRO?


Há mais de 60 anos o professor Kentetsu Takamori dá Recomendo o livro a todas as pessoas que desejam estudar
palestras e conferências sobre o budismo no Japão e em e conhecer mais sobre a vida e o ser humano, para aqueles
vários países, especificamente sobre os ensinamentos do que um dia já se questionaram: “Afinal, para que nasci e
mestre Shinran. Além disso, é autor de vários best-sellers estou a viver?”, para os que buscam uma vida verdadeira-
no Japão, com versões publicadas em inglês, português, mente feliz, com plena satisfação e tranquilidade.
chinês, coreano e espanhol.

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REVISTA PORQUE VIVEMOS / OUTUBRO 2019 #1

MARIA SIERRA DÁ A SUA


PERSPETIVA SOBRE O LIVRO
PORQUE VIVEMOS

Maria Sierra, 42 anos formação académica na área de Gestão de empresas,


Mestre de Reiki, atualmente terapeuta de Reiki e em conjunto com a ARCJ
através do projeto Aprender a Ser leva a prática de Reiki e meditação às
escolas.

58
LIVROS

ACHAS QUE ESTA QUESTÃO “PORQUE VIVEMOS”


É IMPORTANTE NA ATUALIDADE?
Sim, a questão “Porque Vivemos” é bastante importante
nos dias de hoje, porque vivemos numa sociedade de con-
sumismo e que nos leva enquanto seres humanos a perder
os nossos valores morais e pessoais. E esta questão obriga-
-nos a parar e olhar para nós e para o nosso interior.

De que forma já sentiste esta pergunta na tua vida?

Todos dias tenho a presença dessa pergunta na minha vida,


na forma como relaciono com os outros, na forma como me
vejo a mim e tudo ao meu redor.

QUAL O ENSINAMENTO OU HISTÓRIA QUE MAIS


TE TOCOU NO LIVRO?
Esta pergunta é difícil de responder todo o livro foi para
mim um pleno ensinamento e todas as histórias me toca-
ram. Mas vou falar aqui do Capítulo 1 “A Frágil felicidade
– A luta contra a doença“, pois esta aplica-se a mim num
momento da minha vida fui confrontada com uma situação
de saúde em que estive muito mal com grandes possibili-
dades de não recuperar, mas foi me concedida uma nova
oportunidade, a qual embora na altura ninguém me tenha
perguntado, mas eu agarrei com todas as forças e tenho
vivido em busca do meu crescimento pessoal e a ser feliz.

PARTILHA CONNOSCO PORQUE ACHAS QUE VIVE-


MOS?
Nós vivemos para apreciar o que a vida tem de bom para
nos dar, nós vivemos para sermos felizes.

59
REVISTA PORQUE VIVEMOS / OUTUBRO 2019 #1

PORQUE VIVEMOS, UMA


PERSPETIVA DO LIVRO ATRAVÉS DO
OLHAR ATENTO DA JUVENTUDE

Beatriz Gonçalves tem 19 anos e é uma estudante de engenharia informática e


de computadores, que participou na adaptação do livro Porque Vivemos, para
português.

60
LIVROS

COMO FOI TERES PARTICIPADO NA ADAPTAÇÃO SERÁ QUE OS JOVENS DA TUA IDADE ANDAM À
DO LIVRO PARA PORTUGUÊS? PROCURA DE UMA RESPOSTA SOBRE PORQUE
Foi uma experiência fantástica, aprofundei o meu conheci-
VIVEMOS?
mento sobre a filosofia budista, tendo também descoberto Com toda a certeza que sim! Como jovem, concluo que o
mais sobre porque realmente vivemos e como devemos livro me ajudou muito a definir mais concretamente o meu
levar a nossa vida para que sejamos e façamos os outros caminho. Por vezes, temos muitas dúvidas e incertezas de-
felizes. Por vezes, não é preciso muito para viver uma vida vido ao facto de não conhecermos o nosso propósito de
plena e cheia de alegria. vida, pelo que este livro é um grande guia na nossa vida,
ajudando-nos também a crescer com as diversas histórias
QUE TIPO DE QUESTÕES ESTE LIVRO TE SUSCI- que contém.
TOU?
Fiquei com algumas questões, nomeadamente, como colo-
QUE MENSAGEM GOSTARIAS DE DEIXAR A TODOS
car em prática todos os ensinamentos presentes no livro,
SOBRE PORQUE VIVEMOS?
pois nem sempre é fácil viver em busca do meu crescimen- Porque Vivemos é um livro muito fácil de ler e, essencial-
to pessoal, procurando a felicidade e abstraindo-me dos mente, um guia para uma vida plena. Recomendo a sua lei-
problemas. Sinto que ainda tenho muito para aprender e tura a todos, especialmente a quem procura o seu sentido
para crescer. de vida e algumas respostas sobre crescimento pessoal e
encontro da felicidade.
QUAL A PARTE DO LIVRO OU HISTÓRIA QUE TE FEZ
MAIS SENTIDO OU ENTUSIASMOU?
O livro é rico em histórias que me tocaram, pelo que é uma
pergunta difícil. No entanto, o capítulo “Viver para traba-
lhar ou trabalhar para viver?” chamou-me à atenção, pois
sou jovem e, por vezes, é complicado encontrar motivação
para estudar, trabalhar, entre outras coisas que faço no
meu dia a dia. No entanto, este capítulo ajudou-me a to-
mar consciência do meu verdadeiro propósito de vida que
enche de significado e alegria todas as atividades que me
são propostas, sendo que, depois do livro, as realizo com
mais satisfação.

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REVISTA PORQUE VIVEMOS / OUTUBRO 2019 #1

PORQUE VIVEMOS PELO OLHAR DE


DANIELA OLIVEIRA

Daniela Oliveira, de 29 anos, é Marketer Digital há 5 anos. Apesar do seu gosto


pelo digital, tenta equilibrar o seu tempo offline.

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LIVROS

O QUE TE LEVOU A LER ESTE LIVRO DO PROF. TA- O QUE MAIS TE MARCOU COMO CITAÇÃO?
KAMORI? “Quando se conquista o propósito da vida, todo o sofrimen-
A assertividade do título. Existem cada vez mais livros de to é recompensado: cada lágrima derramada regressa a nós
auto-ajuda, no entanto, este livro só pelo título e resumo como uma pérola.”Já quase no final do livro esta citação
chamou-me a atenção. No resumo foca uma ideia interes- marcou-me. Depois de toda a reflexão feita durante o livro
sante, que é: temos uma vida cada vez mais longa e confor- é um incentivo ler que apesar de ser um caminho árduo,
tável, no entanto existe cada vez mais pessoas a sentirem para além de possível, será recompensado.
solidão e vazio.
QUE SEMENTES SOBRE ESTE LIVRO GOSTARIAS DE
SENDO A CULTURA JAPONESA DIFERENTE DA POR- DEIXAR AOS NOSSOS LEITORES?
TUGUESA, ACHAS QUE EXISTEM PONTOS EM CO- Se estão numa fase que questionam o sentido da vida e/ou
MUM? DE QUE FORMA? querem encontrar a vossa paz interior, comecem por o livro
Na minha opinião, existem alguns pontos em comum. No- “Porque Vivemos”. Terão a sensação de “é isto que sinto”
meadamente, o orgulho pelas nas nossas tradições e histó- e poderão refletir sobre cada situação até perceberem o
ria, passando este sentimento para as gerações seguintes. vosso caminho e o propósito da vida.
Também, damos bastante importância ao trabalho e à fa-
mília, lutamos por ter um bom trabalho e temos o costume
de conviver muito em família.

QUE TIPO DE MENSAGEM SENTISTE QUE O LIVRO


TE TRANSMITIU?
A mensagem que mais me marcou é que existem dois ti-
pos de felicidade a duradoura e a passageira (por exemplo,
os objetivos imediatos que temos durante a nossa vida), e
temos a tendência de procurar o propósito da vida na feli-
cidade passageira.

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REVISTA PORQUE VIVEMOS / OUTUBRO 2019 #1

PORQUE VIVEMOS, UMA REFLEXÃO


DE NUNO MARTINS

Nuno Martins foi um dos muitos leitores do livro Porque Vivemos, que aceitou
o nosso desafio de ser entrevistado sobre as suas impressões deste livro de
reflexão e transformação sobre a vida, do Prof. Kentetsu Takamori.

64
LIVROS

O QUE TE LEVOU A LER PORQUE VIVEMOS? PARTILHA CONNOSCO UMA MENSAGEM SOBRE
O que me levou a ler o livro foi a curiosidade, a vontade
O SENTIDO DE PORQUE VIVEMOS?
de responder a eterna pergunta. Vivemos para sermos nós, para preenchermos a nossa
existência de coisas boas, não importa seres rico, in-
NUM ASPETO GERAL, O QUE TE TROUXERAM OS fluente ou todo-poderoso se não usares esses “bens”
TEXTOS DO PROF. KENTETSU TAKAMORI? para os outros. Importa procurares a felicidade em ti, no
Trouxeram muita reflexão sobre a minha vida, reavaliei que fazes, no que dizes e no que demonstras.
os pensamentos, reavaliei atitudes e todo o nosso modo
de estar na vida. Fez-me imaginar uma ou várias linhas
de vida que poderia ter, linhas de vida que passam muito
longe da linha de vida que tenho actualmente, mostrou-
-me que há muito mais do que o que acreditamos ser o
caminho verdadeiro, seguro e de confiança, e o nosso
caminho actual é certamente um dos 1000 possíveis que
poderia ter seguido.

QUAL FOI A PARTE DO LIVRO QUE MAIS TE


TROUXE REFLEXÃO?
A parte que mais me tocou e que terá haver com um dos
princípios base da minha educação foi sobre o capítulo
“Viver para trabalhar ou trabalhar para viver?”

Sou filho de Pais emigrantes que dedicaram grande par-


te da vida a trabalhar, logo um dos pilares de educação
que tive foi a dedicação ao trabalho para poder ser “al-
guém”, ganhar dinheiro para poder ser independente e
ter as minhas coisas. Aliás foi o que fiz, com uns altos
e baixos, foi a vida profissional a que mais me dediquei,
foi trabalhar e foi estudar a noite. Esta parte do livro fe-
z-me reflectir que por vezes ter uma carreira de sucesso
ou superar as nossas próprias expectativas não nos trás
mais felicidade, pois o propósito de superação só nos
trará felicidade do momento da conquista, tudo passa, e
depois só ficas tu.

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REVISTA PORQUE VIVEMOS / OUTUBRO 2019 #1

UM LIVRO QUE FAZ DE NÓS


PESSOAS MELHORES

“Um livro que faz de nós pessoas melhores, ou pessoas que querem ser
melhores, que contribuirão para um mundo também melhor”, afirma Cláudia
Dias Silva
Com o objetivo de cumprir o compromisso de oferecer conteúdos relevantes para a
vida das pessoas, a Itiman quer muito saber a opinião dos leitores.
Cláudia Dias Silva, mestre em Psicologia Social e das Organizações, que
atualmente trabalha em Lisboa como assistente administrativa, foi uma das
muitas pessoas que nos enviaram um depoimento sobre o livro “Porque Vivemos”,
do Prof. Kentetsu Takamori (Nascente – 2020 Editora, 2019).
Agradecemos à Cláudia pela gentileza e desejamos muita paz e felicidade em sua
jornada pela vida.

66
LIVROS

JÁ TINHA PENSADO SOBRE A QUESTÃO “PORQUE VIVEMOS”?


Sim, sempre me lembro de pensar nisso desde que era bem jovem.
Sempre me lembro de me questionar e interrogar sobre o propósito
de vivermos, para que estamos aqui, como tudo surgiu? Ainda que
isso não significasse que não visse um sentido na vida – pois, na ver-
dade, eu vivo uma vida com sentido e considero-me uma pessoa feliz,
com vontade de viver, considerando a vida uma verdadeira benção
e gostando de a viver ao máximo e com proveito – essa pergunta
sempre ecoou na minha cabeça: afinal, para quê tudo isto? Uma per-
gunta, algumas vezes com mais angústia, outras vezes, sem tanta
angústia, mas sim com mais esperança. Mas é uma pergunta para a
qual efectivamente nunca encontrei resposta. Em algumas fases da
vida atormentou-me mais, outras menos. Agora atormenta-me menos,
mas ainda dou por mim a pensar, muitas vezes… “mas para quê, tudo
isto?”. E prossigo com a vida! Porque gosto de vivê-la! Mesmo com
essa pergunta, que faz parte.

Infelizmente, acho que cada vez menos hoje em dia as pessoas se


perguntam isto a si mesmas. Porquê? Porque vivemos? É para ga-
nhar dinheiro e conquistar coisas materiais? O que é que significa
esse dinheiro e essas coisas materiais? É para vivermos como se não
houvesse amanhã, tipo carpe diem, e fazer tudo hoje? É viver inten-
samente, no limite, na loucura, no risco? Talvez subestime o que as
pessoas da minha geração/que me rodeiam pensam sobre isto, ou
se pensam sequer sobre isto, mas infelizmente tenho a ideia (talvez
errada, espero que errada), que grande parte das pessoas é um pouco
“oca” neste sentido, vive apenas para aquilo que é supérfluo, impor-
tante naquele momento, nunca parando um segundo para pensar, na
“big picture”, no que significa tudo isto, todas as nossas vivências, e
o porquê de cá andarmos.

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REVISTA PORQUE VIVEMOS / OUTUBRO 2019 #1

DE QUE MANEIRA O LIVRO CONTRIBUIU PARA A


SUA VIDA?
Sendo que nunca fui nem pretendo ser religiosa, gosto de
adquirir conhecimento e considero que tenho uma mente
aberta para pelo menos escutar e conhecer as diversas
propostas que cada pessoa/corrente tem sobre, afinal, o
que é que significa isto de vivermos, de termos esta passa-
gem terrena tão efémera e passageira, tão cheia e vazia ao
mesmo tempo. Por isso, o livro “Porque Vivemos”, aguçou
ainda mais a questão, deixou-me ainda mais curiosa para
saber a “resposta” que o Budismo dá a esta questão eter-
namente humana. Aguçou ainda mais a minha curiosidade
e sede de conhecimento e aprendizagem.

QUAL PARTE DO LIVRO QUE TE FEZ MAIS SENTIDO


OU TE ENTUSIASMOU?
A parte que fala sobre o sofrimento, sobre como o sofri-
mento sempre estará presente na nossa vida e sobre como
uma das “chaves” para encontrar o sentido da vida é aca-
bando com o mesmo. Só ainda não percebi como o fazer,
daí, a minha curiosidade sobre aprofundar mais o tema.
Neste momento, e até hoje, sempre tive uma abordagem de
aceitação. Aceitar que o sofrimento e a tristeza existem,
que as emoções negativas no geral existem, saber lidar
com elas, digeri-las, e integrá-las de forma funcional nas
nossas vidas. É a forma que tem funcionado comigo e eu
considero-me uma pessoa feliz, pois também encaro o es-
tado de “felicidade” como algo permanente e interno, um
lugar íntimo quase intocável que é imune às alterações de
circunstâncias externas. Ou seja, mesmo que haja aconte-
cimentos e/ou situações que são fontes de tristeza, stress,
angústia… Se soubermos manter esse “lugar íntimo”, o tal
sofrimento torna-se relativo. Mas este livro levantou a pon-
ta do véu sobre como é possível eliminar o tal sofrimento,
como um todo, e fiquei curiosa com isso e em saber mais
sobre isso. Por isso, a ideia entusiasmou-me.

68
LIVROS

VOCÊ RECOMENDARIA A LEITURA DO LIVRO? POR QUE? QUE MENSAGEM GOSTARIA DE DEIXAR AOS LEI-
Sim, completamente. Porque acho que todos nós – inde-
TORES E PESSOAS QUE AINDA NÃO TIVERAM A
pendentemente do sexo, faixa etária, classe social ou até
OPORTUNIDADE DE LER O LIVRO?
mesmo interesses pessoais – devemo-nos questionar sobre Penso que já disse tudo o que tinha a dizer, mas essen-
o que andamos cá a fazer. A busca permanente por um sen- cialmente, é essa a mensagem que quero deixar: somos
tido maior para a vida, e a vontade de querer saber mais, seres em constante construção e só temos a ganhar em
torna-nos seres humanos mais completos. E seres huma- nos questionar sobre certas coisas, não viver a vida levia-
nos mais completos são melhores pessoas, para os outros namente, pois ela é demasiado preciosa. Não ficar angus-
e para o mundo. Além disso, o facto de ter interesse em ler tiado porque não encontramos “o” propósito ou “o” sentido
este livro, e ter interesse em aprofundar estas questões da vida hoje nem amanhã, mas sim tentar sempre ir um
mais filosóficas/existenciais, é prova de que é uma pessoa pouco mais além! Viver uma vida que nos faz sentido, a
que se esforça e quer ser melhor, através do exercício da nós (apenas a nós, não segundo o que os outros acham ou
auto-reflexão. Por isso, em última análise, considero que pensam!), segundo as nossas verdades, no dia a dia, mas ter
ler este livro faz de nós pessoas melhores, ou pessoas que este “trabalho de vida” que é ir-nos construindo enquanto
querem ser melhores, e isso significa, que contribuirão seres humanos, ao longo da mesma. E isso passa por tirar
para um mundo, também ele, melhor. a melhor aprendizagem de todas as situações, circunstân-
cias, pessoas que passam pela nossa vida… E também pelo
conhecimento, reflexão, leitura sobre temas que nos ele-
vam o espírito.

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REVISTA PORQUE VIVEMOS / OUTUBRO 2019 #1

LA VIDA DE BUDA – UM MANGA EM


ESPANHOL

A Editora Divalentis publicou La Vida de Buda, el momento se puede adquirir


um manga que relata a história do Buda Shak- entiendas especializadas de cómic.
yamuni, para encontrar a sua espiritualidade e Este primer volumen promete ser
verdadeiro sentido de vida. el inicio de una gran trayectoria
del manga por parte de la editorial
Ichimannendo tanto en Europa como
Acompaña al príncipe Sidarta en su en España.
búsqueda de la verdad. El manga
La vida de Buda reconstruye la Este manga está editado en formato
peregrinación del joven príncipe que kanzenban, con 248 páginas en
abandona su vida palaciega para blanco y negro, encuadernado en
encontrar en la espiritualidad el formato rústico con solapas sin
verdadero sentido de la vida. sobrecubierta por 14€. Pero además,
lo que caracteriza a este título es que
Tras la presentación oficial en está correctamente occidentalizado.
Madrid de La vida de Buda, primer Es decir, las viñetas están cambiadas
manga que editará Divalentis de orden para que se lea de la
Editorial en España, que por

70
LIVROS

forma occidental, y no como


ocurre con otros mangas editados
anteriormente en España que están
espejados.
«¿Qué es la felicidad? ¿Por qué debo
vivir repitiendo las mismas cosas día
tras día?».
Hace dos mil seiscientos años,
cuando Buda Sakyamuni aún era
joven, se atormentaba con las
mismas preguntas a las que los seres
humanos nos enfrentamos hoy en
día. Él nunca se desanimó ni desistió
en su empeño de encontrar una
respuesta. Buscó insistentemente el
significado de la vida y esa búsqueda
se convirtió en el punto de partida
del Budismo. Gracias a su constancia
y perseverancia, Buda alcanzó una
felicidad de un nivel superior que
nadie hasta entonces había conocido.
Acompaña al príncipe Sidarta en su
búsqueda de la verdad. El manga
La vida de Buda reconstruye la
peregrinación del joven príncipe
que abandona su vida palaciega
para encontrar en la espiritualidad
el verdadero sentido de la vida. En
nuestro deseo de vivir con salud y
alegría, la vida de Buda nos servirá,
ciertamente, como ejemplo y
orientación.

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CURSOS E WORKSHOPS
REVISTA PORQUE VIVEMOS / OUTUBRO 2019 #1

CURSO SOBRE A NATUREZA DO


SER HUMANO TROUXE CLAREZA E
ORIENTAÇÃO PARA A VIDA

Nos dias 27 de Junho e 4 de Julho, Mauro Na- O tema foi também apresentado no Seminário
kamura, professor de Budismo, esteve a falar de Práticas do CENIF, na Agência DNA Cascais,
sobre a Natureza Humana e a forma como ela é com o apoio da Câmara Municipal de Cascais e
descrita pelo Buda Shakyamuni. da Associação São Francisco de Assis.

Foram umas aulas muito esclarecedoras que As inscrições para as aulas com o professor
proporcionaram aos participantes temas de re- Mauro Nakamura, no CENIF Amadora, podem ser
flexão sobre a Natureza Humana e qual o nosso marcadas diretamente com ele, através do email
propósito de vida. Estas aulas continuarão o seu mauro.nakamura@itiman.eu
tema às quintas-feiras.

74
CURSOS E WORKSHOPS

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REVISTA PORQUE VIVEMOS / OUTUBRO 2019 #1

AULA ESPECIAL SOBRE A


PERSPECTIVA DO BUDISMO SOBRE
A DOENÇA

No dia 14 de dezembro, a partir das 19 horas, foi realizada uma aula especial sobre a perspectiva do
Budismo sobre a doença, no CENIF Amadora, pelo professor Mauro Nakamura.

76
CURSOS E WORKSHOPS

A Perspetiva do Budismo sobre a Doença

Foram explicados os quatro sofrimentos inerentes ao ser hu-


mano que o buda Shakyamuni ensinou há 2600 anos, mas que
continuam atuais e presentes nas nossas vidas: o sofrimento de
viver, de envelhecer, de adoecer e de morrer.

Para toda consequência, com certeza, existe uma causa. Essa é


a base da filosofia budista conhecida como Princípio da Causa
e Efeito. Ou seja, se o sofrimento existe, há uma causa básica
para isso.

Conhecer a causa básica do sofrimento humano e buscar a


sua solução o quanto antes, essa é a proposta do budismo e
a postura com a qual devemos enfrentar esses sofrimentos. O
buda Shakyamuni ensinou que precisamos tomarmos ciência
da causa básica do sofrimento porque existe uma solução para
o sofrimento.

A doença é algo inevitável ao ser humano, mas existe uma feli-


cidade que não se destrói mesmo diante de qualquer doença. E
essa felicidade pode ser alcançada por todas as pessoas, nesta
vida.

Essa foi a mensagem deixada aos participantes nesta aula es-


pecial.

Aos que desejam saber mais sobre a filosofia budista, convida-


mos para os cursos oferecidos no CENIF. Mais informações para
o nosso email info@itiman.eu

77
EVENTOS
REVISTA PORQUE VIVEMOS / OUTUBRO 2019 #1

“PORQUE VIVEMOS” CHEGA AO


ALENTEJO E ELVAS RECEBE O
EVENTO DE APRESENTAÇÃO DO
LIVRO E WORKSHOP

Com muito entusiasmo e alegria foi realizado no dia 4 de maio de 2019, no Centro Cultural de Terru-
gem, o evento de apresentação e workshop sobre o livro “Porque vivemos”.

80
EVENTOS

Mais de 60 pessoas prestigiaram o en-


contro promovido pelo PADMA – Centro
Terapeutico, dirigido pela Sra. Bertila
Ribeiro, que desde o início trabalhou in-
cansavelmente pela realização do evento.
Registramos aqui o nosso mais sincero
agradecimento pela construtiva parceria.

Os presentes tiveram a oportunidade de


ouvir sobre a importância de saber do
objetivo pelo qual nascemos como seres
humanos e estamos a viver, tema central
do livro, assim como, de que maneira essa
consciência influencia a nossa vida coti-
diana e prática.

Como utilizar da melhor maneira nossos


três recursos essenciais: os bens mate-
riais, a saúde e, principalmente, o nosso
tempo?

Porque, afinal, pouco a pouco vendemos o


tempo das nossas vidas para obtermos o
que queremos.

Já pensou sobre isso?

Deixamos, aqui, um convite para a leitura


do livro.

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REVISTA PORQUE VIVEMOS / OUTUBRO 2019 #1

LANÇAMENTO DO LIVRO PORQUE


VIVEMOS EM LISBOA

No dia 25 de Janeiro, pelas 19h30, realizamos o lançamento do livro Porque


Vivemos, do prof. Kentetsu Takamori, na FNAC do Colombo. Contamos com a
participação de Jorge Silva, editora da Nascente, Prof. Mauro Nakamura e João
Magalhães.

82
EVENTOS

O autor deste livro, o professor Kentetsu Takamori tem 89 Depois de lançado no Japão em 2001, todos os anos o livro
anos, atualmente vive no Japão e ainda realiza palestras entrou para a lista dos mais vendidos e tornou-se um long
sobre o Budismo no Japão, com públicos superiores a 4 mil seller, com mais de um milhão de livros vendidos. Em 2016,
pessoas, em Toyama, no Japão. a Ichimannendo Publishing produziu o filme inspirado no
livro, sendo que o mesmo ficou 29 semanas consecutivas,
Ele é o autor de inúmeros livros sobre budismo e desen-
nas salas de cinema japonesas.
volvimento pessoal. O professor Takamori escreveu o livro
“Porque vivemos” para mostrar, a partir da filosofia budis- Além do livro, a Itiman Publishing lançará nos cinemas de
ta, que há sim um objetivo para termos nascido e estarmos Portugal o filme “Porque vivemos“, sendo que a estreia
a viver. está prevista para 21 de março, nos cinemas City.

E vocês, sabem porque vivem?


Como viver é, em certo sentido, igual a nadar,
a Pessoa que declara «Vivo por viver» é igual
àquela que declara «Nado por nadar». Mas
o que acontece com uma planta flutuante?
É lançada sem rumo, para um lado e para o
outro, nas ondas, até apodrecer. O infortúnio
do nadador sem rumo ou sem propósito é o
mesmo.
Viver desta maneira pode ser comparado a
um avião que «voa por voar».
Kentetsu Takamori

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REVISTA PORQUE VIVEMOS / OUTUBRO 2019 #1

LANÇAMENTO EM MADRID DO
LIVRO POR QUÉ VIVIMOS

No dia 16 de Março realizou-se o lançamento do Muito obrigado a todos os participantes e ao ca-


livro Por Qué Vivimos, em Madrid, em La Casa rinho recebido em Espanha por este livro.
Del Libro, com a participação de Sergio Guinot,
Editor da Divalentis.

84
EVENTOS

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REVISTA PORQUE VIVEMOS / OUTUBRO 2019 #1

FNAC LEIRIA TAMBÉM FOI PALCO


DE MAIS UM WORKSHOP SOBRE O
LIVRO “PORQUE VIVEMOS”

Em Leiria, aproximadamente 30 pessoas participaram do Workshop com apresentação do livro no


auditório da Fnac, pelo Prof. Mauro Nakamura, no dia 13 de julho de 2019.

Foi quase uma hora de um debate saudável e animado sobre a qualidade da nossa vida na sociedade
atual, a partir do texto da introdução do livro.

86
EVENTOS

“O progresso tornou-nos mais ricos, mas não garante a nos- Nos próximos workshops e cursos da ITIMAN, esse e outros
sa felicidade, nem nos fornece uma sensação sólida de que temas essenciais da nossa vida prática serão abordados.
os avanços foram significativos. Pelo contrário: parece que Fiquem atentos à programação dos nosso eventos e artigos
a vida moderna provoca senti- mentos mais agudos de iso- do site.
lamento, solidão e vazio. Por que razão, embora gozemos de
saúde e de um estilo de vida confortável, não conseguimos
encontrar a paz interior?”

A filosofia budista descrita no livro sugere que o propósito


universal da vida consiste em destruir a raiz do sofrimento

e conquistar a imensa alegria de estar vivo, para que se


possa alcançar a grande alegria de ter nascido humano e
viver em eterna felicidade.

Mas, afinal qual é a raiz do sofrimento humano? Não seria


isso o que mais queremos saber?

87
REVISTA PORQUE VIVEMOS / OUTUBRO 2019 #1

IBERANIME – A NATUREZA DO
SER HUMANO – WORKSHOP DE
BUDISMO PARA JOVENS

No dia 19 de Maio, o Prof. Mauro Nakamura esteve no Iberanime de Lisboa a apresentar o workshop A
Natureza do Ser Humano, especialmente vocacionada a jovens.

O que é a vida, porque vivemos, porque nos mantemos na ilusão?

São alguns dos esclarecimentos que surgem através deste workshop.

88
EVENTOS

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REVISTA PORQUE VIVEMOS / OUTUBRO 2019 #1

WORKSHOP “PORQUE VIVEMOS”


NA FNAC DO MARSHOPPING

No dia 6 de julho, foi a Fnac MarShopping, em Matosinhos, que abriu as suas portas para o Workshop
“Porque vivemos – A resposta à questão fulcral da vida, segundo a filosofia budista”, com a explica-
ção e discussão do capítulo 5 do livro – “Viver para trabalhar ou trabalhar para viver?”, pelo Prof.
Mauro Nakamura.

90
EVENTOS

Neste capítulo, o Prof. Kentetsu Takamori escre-


veu: “Sem trabalhar, não se come. Sem comer,
morremos. No entanto, mesmo comendo, mor-
remos. Sem um propósito claro do que fazer na
vida, trabalhar não faz o menor sentido.”

As mais de 20 pessoas que estiveram no wor-


kshop ouviram as explicações baseadas na filo-
sofia budista e debateram sobre essa questão
tão atual e pertinente para as nossas vidas.

Além de apresentar o livro, os eventos que a ITI-


MAN realiza nas livrarias são workshops gratui-
tos em que o conteúdo é explicado e discutido,
com o intuito de partilhar o conhecimento sobre
o ser humano, para uma vida com um propósito
claro e plenamente feliz.

Participa dos nossos workshops e descubra um


novo horizonte.

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REVISTA PORQUE VIVEMOS / OUTUBRO 2019 #1

LANÇAMENTO DO LIVRO PORQUE


VIVEMOS NA FNAC DE GUIMARÃES

No dia 10 de Março de 2019 o Prof. Mauro Nakamura fez a apresentação do livro Porque Vivemos, na
FNAC de Guimarães.

O nosso agradecimento à equipa da FNAC de Guimarães, à Editora Nascente por estar sempre presen-
te e a todos os participantes.

92
EVENTOS

Quem conhece o propósito da vida


enfrenta o sofrimento
Quando o propósito da vida se torna
evidente, todas as atividades —
estudar, trabalhar, tratar da saúde —
adquirem significado, e a vida enche-
se de alegria e satisfação. Mesmo em
situações em que o indivíduo sofre
com uma doença, com uma disputa
em família ou com uma derrota, a
força de viver leva-o a superar todas
as dificuldades a fim de realizar o
grande propósito da vida.
Prof. Kentetsu Takamori

93
REVISTA PORQUE VIVEMOS / OUTUBRO 2019 #1

ITIMAN NA FESTA DO JAPÃO 2019

No dia 22 de Junho a Itiman esteve presente na Festa do Japão, organizada pela Câmara do Comércio
da Indústria Luso-Japonesa e a Embaixada do Japão.

Recriou-se o ambiente de “Matsuri” (festival), no Japão, através da apresentação da cultura japonesa


com demonstrações das várias áreas culturais, tais como Ikebana, Origami, Haiku, Cosplay, Artes
Marciais, bem como música e ritmos do Japão… e muito mais.

94
EVENTOS

O Prof. Mauro Nakamura este presente ao longo


do dia para responder a questões e ajudar nas
respostas a “Porque Vivemos”.

O livro Porque Vivemos teve um grande sucesso,


foram vendidos todos os 38 livros que havia, as-
sim como versões em inglês, espanhol e japonês,
mostrando a procura do público por este livro do
Prof. Kentetsu Takamori.

Muitos perguntaram também pelo anime Porque


Vivemos, que esteve durante duas semanas em
sala no Cinema City de Lisboa e esperamos que
brevemente possam haver mais exibições.

A todos, muito obrigado pela vossa participação.

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2018 EM PERSPETIVA
REVISTA PORQUE VIVEMOS / OUTUBRO 2019 #1

APRESENTAÇÃO DO FILME
PORQUE VIVEMOS NA
COMIC CON 2018

No dia 8 de Setembro de 2018, o Sr. Yutaka


Yamazaki, presidente da Editora Ichimanendo
esteve presente na Comic Con que se realizou no
Passeio Marítimo de Algés, em conjunto com o
Professor Mauro Nakamura, diretor Internacio-
nal da Editora e Gestor da Itiman.

Porque Vivemos é um filme dirigido por Hideaki Oba.

98
EVENTOS

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REVISTA PORQUE VIVEMOS / OUTUBRO 2019 #1

PORQUE VIVEMOS – UMA


APRESENTAÇÃO NA FEIRA
ALTERNATIVA DE LISBOA
A recepção foi muito positiva sobre esta apre- “Por maior que seja o sofrimento,
sentação do filme e os participantes ficaram existe um propósito na vida. Sem
entusiasmados com o tema e com a notícia da conhecer a essência da vida, não
exibição que será realizada em Janeiro de 2019. podemos levar nada deste mundo”,
O filme apresenta reflexões sobre vida e mor-
mestre Rennyo Shonin.
te, felicidade, sofrimento, escolhas, desapegos Mestre Rennyo (1415-1499) foi o grande divul-
e outras ideias fundamentais á Vida, tendo por gador dos ensinamentos de Shinran, fundador da
base os ensinamentos do mestre Rennyo Shonin. Escola da Verdadeira Terra Pura, uma vertente
do budismo tida como a mais difundida nos dias
de hoje.

“Por que vivemos” é uma animação que narra


sua trajetória e as diversas perseguições que
sofreu à medida que foi adquirindo adeptos e
despertando a inveja de outros monges.

100
EVENTOS

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PORQUE VIVEMOS Revista Semestral

itiman

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