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Índice [Ocultar]
• 1 O que é e para que serve a Escritura Pública?
• 2 Em quais situações uma escritura pública pode ou deve ser utilizada?
• 3 Requisitos
• 4 O que não pode faltar?
• 5 Documentos necessários para a escritura pública que envolva bens
imóveis
• 6 Diferença entre escritura e registro
• 7 A importância da escritura pública para a venda de imóveis
• 8 Quanto custa a escritura pública?
• 9 Quanto dura a escritura pública?
• 10 O que fazer quando há erros na escritura pública?
• 11 Escrituração de imóvel financiado
• 12 Tipos especiais de escritura pública
o 12.1 Escritura pública de promessa de compra e venda
o 12.2 Escritura pública distrato de compra e venda
o 12.3 Escritura pública de compra e venda de fração ideal
o 12.4 Escritura Pública de compra e venda de imóvel com dação em
pagamento
• 13 Cuidados necessários
o 13.1 Conferir a documentação necessária
o 13.2 Verificar a quitação de todos os débitos referentes ao imóvel
o 13.3 Verificação dos antecedentes do outro contratante
• 14 Como regularizar imóveis sem matrícula?
• 15 Conclusão
O que é e para que serve a Escritura Pública?
A escritura pública é a interpretação formal ou instrumental de ato ou negócio
jurídico, feita por notário público, a pedido das partes interessadas, em consonância
com os preceitos legais.
Para que qualquer negócio jurídico (ou seja, qualquer acto ou facto que seja
capaz de produzir efeitos no mundo jurídico) seja considerado válido, o artigo 104 do
Código Civil exige três requisitos:
(i) o(s) agente(s) deve(m) ser capaz(es),
(ii) o objecto deve ser lícito, possível e determinado ou determinável e
(iii) a forma adoptada para o negócio deve ser aquela prescrita ou não defesa
(não proibida) por lei.
A capacidade, primeiro requisito, se relaciona a uma característica da própria
pessoa que está realizando aquele negócio jurídico.
Basicamente, ela deve ser maior de idade (acima de 18 anos ou, do contrário,
ser representada — abaixo de 16 anos — ou assistida — entre 16 e 18 anos — por
seus representantes legais, quase sempre os pais) e estar em pleno gozo de suas
faculdades mentais, ou seja, precisa compreender inteiramente aquilo que está
fazendo.
Por isso, pessoas com doenças mentais, em regra, não podem contratar
sozinhas, sem a assistência ou representação de terceiros, a depender do nível do
transtorno.
As exigências quanto ao objecto, segundo ponto, se relacionam àquilo que está
sendo contratado pelas Partes. No caso de uma compra e venda de imóvel, é o próprio
bem.
A lei, como visto, requer que esse objecto seja lícito (não posso, por exemplo,
contratar validamente os serviços de um assassino, já que o objecto “matar alguém”,
obviamente, é ilícito), possível (não posso vender um terreno na lua, pelo menos não
actualmente) e determinado ou determinável (ou seja, claramente identificado de forma
individualizada ou, pelo menos, que seja passível de sê-lo; um exemplo de objecto
ainda não determinado, mas determinável, seria a safra futura de grãos de uma
fazenda).
Para o assunto que hoje estudamos, a escritura pública, o requisito mais
importante a se observar é a forma do negócio jurídico.
A forma prescrita é aquela que a lei indica, expressamente, como sendo a única
ou uma das possíveis para que seja considerado válido o negócio.
A forma não defesa em lei é aquela que não é expressamente proibida.
Parece ser um senso comum o fato de que, para vender ou comprar imóveis, a
escritura pública é um documento indispensável. Mas vezes há que nos perguntamos
por quê?
É que o artigo 108 do Código Civil traz uma forma prescrita especificamente
para esse negócio jurídico:
Art. 108. Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à
validade dos negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou
renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário
mínimo vigente no País.
Assim, para qualquer negociação de imóvel (não apenas compra e venda, mas
qualquer outra que venha a constituir um direito real sobre ele, como uma hipoteca) à
qual seja atribuído um valor superior a 30 vezes o maior salário mínimo vigente no
país, a escritura pública é obrigatória.
Tomando por base os valores de 2023, em que o salário mínimo na função
publica, por exemplo, foi fixado em 8 758,00mt..
Assim, pela determinação do artigo 108 do Código Civil, qualquer negociação de
imóvel por preço acima de 262 740,00mt deveria ser, em regra, feita por escritura
pública. Outras leis federais (como a que regula a alienação fiduciária em garantia)
podem permitir, ressalve-se, a negociação de imóveis por contrato particular, ainda que
o preço seja superior ao limite.
Embora os contratos feitos com instituições financeiras (na quase totalidade das
vezes envolvendo o oferecimento do próprio imóvel em garantia, via alienação
fiduciária) possam ser feitos por instrumento particular, a verdade é que a grande
maioria das transacções de imóvel em Moçambique, hoje, quando feita entre
particulares, demanda a forma pública, ou seja, o registo de uma escritura pública.
Qual é, então, o conceito de escritura pública?
De forma simplificada, é um contrato feito na presença de um tabelião de
cartório de notas, no qual as partes declaram suas vontades para a realização de um
negócio jurídico, ou validam uma situação jurídica relevante.
A realização perante o tabelião é o que garante ao documento a fé pública, uma
“autenticação da verdade” conferida pelo agente público competente certificado por lei
para dar validade ao ato (artigo 3º, da Lei 8.935/94).
O Provimento 100/2020 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) implementou um
novo sistema, denominado E-Notariado, totalmente digital e integrado, que permite a
realização de qualquer acto notarial. Essa plataforma visa a abranger, num futuro
próximo, todos os tabelionatos de notas em mocambique!
Podemos entender melhor essas características da escritura pública por meio do
artigo 215 do Código Civil
Art. 215. A escritura pública, lavrada em notas de tabelião, é documento doptado
de fé pública, fazendo prova plena.
Destacamos o trecho final, que demonstra que esse documento é utilizado em
situações em que se busca a comprovação plena do acto ou naquelas em que a
própria lei determina sua realização como requisito essencial para a validade do ato.
Assim, o Registro por meio de escritura pública confere ao acto autenticidade e
fé pública, sendo considerado verdade para todos os efeitos. Tudo isso garante às
partes a segurança jurídica de que esse acordo de vontades valerá perante terceiros e
dificilmente será desconstituído judicialmente.
Sem dúvidas, na prática, os negócios em que esse instrumento costuma ter
maior aplicação e utilização são aqueles envolvendo bens imóveis.
Por essa razão, nos tópicos seguintes, explicaremos detalhadamente algumas
situações previstas em lei e os riscos advindos de negligenciar a importância da
escritura pública para a formalização de seus negócios jurídicos.