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DE NOTAS E
PROTESTOS
Introdução
A compra e venda é uma das modalidades de contrato mais comuns.
Essa modalidade contratual admite a forma de instrumento particular
ou instrumento público, que é realizado mediante escritura pública de
compra e venda. A obrigatoriedade da escritura pública que versa a
respeito de direitos reais sobre imóveis depende do valor do imóvel.
A competência para a realização dessa escritura é do tabelionato de notas.
Como você deve imaginar, a escritura pública de compra e venda
garante mais segurança ao negócio. Em alguns casos, por ser obrigatória,
ela é requisito essencial para a transferência da propriedade imóvel.
A realização da escritura pública confere presunção de verdade ao ne-
gócio, mas pode ser anulada de acordo com algumas hipóteses legais.
Neste capítulo, você vai verificar por que o contrato de compra e
venda se torna mais seguro quando realizado por meio de escritura
pública. Você também vai conhecer as modalidades de transferência de
propriedades imóveis no Brasil. Por fim, vai ver quais são as possibilidades
de anulação das escrituras públicas de compra e venda.
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importante, uma vez que determinados atos e negócios jurídicos, dada a sua
relevância, possuem formas solenes legais, sem as quais não operam todos
os efeitos desejados, seja de modo parcial ou total.
O Art. 108 do Código Civil exige que negócios jurídicos relativos a direitos
reais sobre imóveis, tal como a transferência por meio de contrato de compra e
venda, sejam feitos em escritura pública quando o valor do bem for superior a 30
vezes o salário mínimo vigente no País (BRASIL, 2002). As escrituras públicas
têm seus requisitos estabelecidos na Lei nº. 7.433, de 18 de dezembro de 1985,
regulamentada pelo Decreto nº. 93.240, de 9 de setembro de 1986. Sem o cumpri-
mento dos requisitos elencados nessa norma, a escritura pública não tem validade.
Assim, para que o próprio negócio (no caso, a compra e venda de bem imóvel)
tenha validade jurídica, deve-se observar os requisitos dessas normas legais, além
de outros requisitos específicos aplicáveis às escrituras de bens imóveis.
Uma das principais vantagens da escrituração de contratos de compra e
venda é que dão autenticidade ao documento e validade ao negócio jurídico. A
validade do negócio é garantida também pelo trabalho de controle de legalidade
exercido pelos notários. Ao realizar a escritura pública, os notários verificam o
preenchimento dos requisitos legais do negócio formulado pelas partes, como
a capacidade, a legitimidade, a observância de normas tributárias e a licitude
do objeto. Portanto, a escritura pública de um contrato de compra e venda,
além de dar forma ao negócio, garante o cumprimento das formalidades legais.
A atividade notarial é delegada pelo Estado a um particular que a exerce
em caráter privado. Tal delegação significa ainda o controle do Estado sobre
as atividades notariais e registrais, bem como a exigência de que o notário ou
registrador exerça as suas atividades como se fosse o próprio poder público,
ou mesmo com mais eficiência. Desse modo, as atividades desse profissional
visam a garantir a segurança jurídica do negócio e a obediência aos requisitos
formais. Além dos requisitos formais que a legislação federal exige para a vali-
dade da escritura pública, existem outros de natureza regulamentar formulados
à nível federal pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e à nível local pelas
corregedorias dos estados e do Distrito Federal. Tais normas regulamentam a
lei federal e devem obrigatoriamente ser observadas pelos notários no exercício
de suas atividades (BRASIL, 1994).
A segurança e a validade das escrituras públicas de compra e venda,
e mesmo dos demais atos praticados pelos notários, também dependem da ob-
servância das normas que fiscalizam e regulamentam as atividades notariais e
de registro. Conferir ao Poder Legislativo a atribuição de fixar as competências
e os requisitos legais para o exercício das atividades dos notários e ao Poder
Judiciário a função de fiscalizar essas atividades visa justamente a garantir a
4 Escritura de compra e venda
Um contrato de compra e venda realizado por meio de escritura pública garante maior
segurança jurídica às partes. Afinal, trata-se de um modo mais formal de contrato, cujas
exigências de validade são previamente analisadas pelo tabelião e ratificadas com o
próprio ato da escrituração pública do negócio. Desse modo, a escritura pública de
um contrato de compra e venda é também um meio de prova bastante relevante:
o notário certifica a ocorrência do negócio e faz prova da data em que ocorreu, das
partes envolvidas e de todos os demais aspectos exigidos pela escritura.
As competências dos tabeliães de notas são distintas das competências dos tabeliães
de registros de imóveis, inclusive no que se refere ao aspecto territorial. Como você
já viu, nos casos em que a lei exige, é necessária a realização da escritura pública
para a transferência de imóveis. Os serviços de registro, que incluem os Registros de
Imóveis, estão submetidos a regras de circunscrição geográfica, por isso um Registro de
Imóveis só pode registrar imóveis pertencentes à sua circunscrição. Essa circunscrição
geralmente é definida por um município ou por regiões de um município (no caso de
municípios de médio e grande porte).
Por outro lado, as regras aplicáveis aos tabelionatos de notas são diferentes. A escolha
da serventia de notas é livre. Desse modo, qualquer tabelionato de notas nacional
pode realizar escrituras que tenham a finalidade de transferir imóveis, mesmo que as
partes não residam no domicílio da delegação do tabelionato. Ressalva-se apenas que
a escritura deve ser realizada no local onde se encontra o tabelião de notas eleito pelas
partes, ou seja, o tabelião não pode ir a outro município para realizar os seus serviços.
De acordo com o Código Civil, o valor integral do imóvel deve ser conside-
rado para analisar se a transferência (ou as outras modalidades de alteração de
direitos reais sobre imóveis) exige a escritura pública. Isso significa o seguinte:
mesmo que o negócio seja de valor inferior a 30 salários mínimos, se o valor
de 30 salários mínimos incidir sobre o imóvel, será exigida a escritura pública.
Como exemplo, considere o caso de uma venda de 50% da parte ideal de um
imóvel de valor total de 40 salários mínimos. Nesse caso, o valor do negócio
é de 20 salários mínimos, ou seja, inferior a 30 salários mínimos, mas tal
valor incide sobre um imóvel que vale 40 salários mínimos. Portanto, seria
obrigatória a escritura pública, na medida em que se deve levar em conta o
valor do imóvel, e não o valor do negócio jurídico (BRASIL, 2002).
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Loureiro (2017) aponta que existe uma discussão sobre os casos de modi-
ficação, instituição ou renúncia de direitos limitados, por exemplo, em caso
de usufruto ou venda de uma parte ideal. Segundo o entendimento de alguns,
a obrigatoriedade ou não da escritura deve seguir o valor eleito pelas partes
no negócio jurídico. No exemplo que você acabou de ver, portanto, como as
partes estipularam que o valor do negócio seria inferior a 30 salários mínimos,
poderia ser utilizado o instrumento particular. Contudo, tal interpretação legal
não parece ser a melhor, na medida em que a escolha das formas ficaria a
critério das partes. Assim, como seria possível estipular, por exemplo, o valor
de um usufruto? Nesses casos, a imposição legal acerca da forma do negócio
poderia não respeitar o que a legislação preceitua, mesmo em se tratando de
imóvel de valor superior ao limite legal. A exigência da forma legal deve-se
à relevância do negócio jurídico. Por isso, o legislador optou por requerer a
forma solene, exigindo a prévia análise da legalidade do ato pelo tabelião,
assim como dotando tal ato da publicidade necessária.
Portanto, parece mais adequada a interpretação segundo a qual, inde-
pendentemente do valor do negócio jurídico, o que importa para se analisar
a obrigatoriedade ou não da forma solene é o valor venal do imóvel. Nesse
sentido, veja o que afirma Loureiro (2017, p. 1.062):
Essas hipóteses legais não são as únicas existentes. Há outras possibilidades previstas
na legislação nacional que facultam a transferência mediante escritura pública ou
particular.
As hipóteses definidas nesse artigo são defeitos sérios nos negócios jurídi-
cos, por isso a ocorrência de qualquer uma delas leva à nulidade. A nulidade
pode ser total — ou seja, todo o ato é considerado inválido — ou parcial —
quando apenas parte do ato é considerada nula, nas hipóteses em que a lei
permite.
Trata-se de hipóteses gerais, cabíveis a todo e qualquer negócio jurídico.
Se qualquer um desses fatos ocorrer para a realização de uma escritura pública,
esta deverá ser anulada. Afinal, se o negócio jurídico é nulo, a escritura pública
que o descreve também o é. Por isso, deve ser anulada para que não seja capaz
de produzir qualquer efeito legal.
O ascendente é livre para vender e dispor de seus bens da maneira que desejar,
inclusive vendendo-os a terceiros. Porém, a nulidade do negócio ocorre quando
verificada a intenção de simular a compra e venda e interpor terceiro no negócio com
o fim de, efetivamente, realizar a transferência do imóvel a um de seus descendentes
em detrimento dos demais.
Ação de nulidade
Nesses casos, a venda do bem não pode ocorrer, sob pena de nulidade. Os
sujeitos elencados nesse dispositivo são aqueles que claramente, em razão de
suas posições em relação ao vendedor, estão em condição de obter vantagens
no negócio, inclusive com enriquecimento ilícito. Logo, a escritura de compra e
venda nesses casos também é anulável mediante ação própria para essa finalidade.
BRASIL. Decreto nº. 93.240, de 9 de setembro de 1986. Regulamenta a Lei nº. 7.433, de 18
de dezembro de 1985, que ‘’dispõe sobre os requisitos para a lavratura de escrituras
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BRASIL. Lei nº. 4.380, de 21 de agosto de 1964. Institui a correção monetária nos contratos
imobiliários de interêsse social, o sistema financeiro para aquisição da casa própria, cria
o Banco Nacional da Habitação (BNH), e Sociedades de Crédito Imobiliário, as Letras
Imobiliárias, o Serviço Federal de Habitação e Urbanismo e dá outras providências.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L4380.htm. Acesso em: 13
abr. 2020.
BRASIL. Lei nº. 6.766, de 19 de dezembro de 1979. Dispõe sobre o Parcelamento do Solo
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LEIS/L6766.htm. Acesso em: 13 abr. 2020.
BRASIL. Lei nº. 7.433, de 18 de dezembro de 1985. Dispõe sobre os requisitos para a lavratura
de escrituras públicas e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.
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residenciais de propriedade da União, e dos vinculados ou incorporados ao FRHB,
situados no Distrito Federal, e dá outras providências. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8025.htm. Acesso em: 13 abr. 2020.
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nível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9514.htm. Acesso em: 13 abr. 2020.
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FERREIRA, P. R. G.; RODRIGUES, F. L. Tabelionato de notas II: atos notariais em espécie. 2.
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LOUREIRO, L. G. Registros públicos: teoria e prática. 8. ed. Salvador: Juspodivm, 2017.
VENOSA, S. S. Direito civil: contratos. 17. edição. São Paulo: Atlas, 2017a.
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Leituras recomendadas
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www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 13 abr. 2020.
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18 Escritura de compra e venda
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