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DECLARAÇÃO DE VONTADE E SILÊNCIO NO NEGÓCIO JURIDICO

Atividade complementar entregue


como requisito para nota de Tópicos
Especiais em Direito Privado

Santana de Parnaíba – SP
2023
A declaração de vontade e o silêncio são conceitos fundamentais no âmbito do
negócio jurídico. Eles se referem às formas pelas quais as partes expressam ou
omitem sua vontade durante o processo de formação de um contrato ou acordo
legal.
A declaração de vontade é o ato pelo qual uma pessoa manifesta sua intenção de
celebrar um negócio jurídico específico. Essa manifestação pode ser expressa
verbalmente, por escrito ou até mesmo por meio de condutas ou ações. A
declaração de vontade deve ser clara, inequívoca e direcionada à outra parte no
negócio. Ela é essencial para estabelecer o consentimento mútuo entre as partes e
a validade do contrato.
O princípio fundamental que rege a declaração de vontade é o princípio da
autonomia da vontade. Isso significa que as partes têm liberdade para celebrar
contratos e determinar os termos e condições que consideram apropriados, desde
que não violem a lei ou os princípios gerais do direito. A declaração de vontade é a
expressão dessa autonomia e a base para a formação de um contrato válido.
No entanto, uma declaração de vontade pode ser confirmada por diferentes
elementos que podem influenciar sua validade ou interpretação. Alguns elementos
desses incluem vícios de consentimento, como erro, dolo, coação ou fraude. Esses
vícios podem tornar a declaração de vontade inválida ou passível de anulação. Por
exemplo, se uma das partes induzir a outra ao erro de forma intencional para obter
vantagem no contrato, uma declaração de vontade pode ser anulada.
Além disso, a declaração de vontade também pode ser condicionada por requisitos
legais específicos. Em alguns casos, a lei pode exigir que determinados contratos
sejam formalizados por escrito ou que sigam certas formalidades para serem
válidos. Por exemplo, contratos de compra e venda de imóveis geralmente exigem
forma escrita e registro público para serem válidos.
Por outro lado, o silêncio refere-se à falta de manifestação expressa de vontade. Em
geral, o silêncio não é considerado uma forma válida de declaração de vontade, pois
a lei geralmente requer uma expressão ativa para estabelecer um contrato. No
entanto, existem algumas diferenciadas a essa regra, dependendo do contexto e da
legislação aplicável.
É de se destacar que a lei prevê hipóteses de aceitação tácita no caso do silêncio,
como acontece na aceitação da herança, em que a vontade pode ser tacitamente
manifestada pelos atos do herdeiro (artigo 1.805 do CC), ou quando a lei estabelece
presunções de vontade para certas condutas, como, por exemplo, ocorre na doação,
quando se presume do silêncio do donatário, sua vontade em aceitá-la (artigo 539
do CC).

Do mesmo modo, em casos de locação de imóvel, o silêncio pode ser entendido


pelas partes como exteriorização tácita de vontade para prorrogar a locação por
prazo indeterminado, nos termos dos artigos 46, §1º e 50 da Lei nº 8.245/91 (Lei de
Locações). Neste caso, ao silêncio se soma o comportamento ativo do locatário em
permanecer no imóvel e do locador em não ofertar oposição à continuidade da
relação negocial.

Excepcionalmente, o silêncio também pode ser interpretado como manifestação


tácita de vontade, por disposição contratual [convenção particular]. É o caso, por
exemplo, de existir previsão no contrato de locação de imóvel, pela qual o silêncio
pode ser entendido pelas partes como exteriorização tácita de vontade para
renovação "automática" do prazo de vigência, por igual período.

Um importante é o chamado contrato de adesão, no qual uma das partes estabelece


as condições contratuais de exceção e outra parte apenas aderente a elas. Nesse
caso, o silêncio pode ser interpretado como uma aceitação válida das condições
propostas. Isso ocorre porque a parte que oferece o contrato de adesão geralmente
estabelece que o silêncio será considerado como recebido, a menos que a outra
parte se manifeste expressamente em contrário.

Outra situação em que o silêncio pode ter efeito jurídico é nos processos por
comportamento concluídos. Isso acontece quando as partes agem de tal forma que
fica claro que ambos concordam com os termos do contrato, mesmo que não haja
uma manifestação expressa de vontade. Por exemplo, se uma pessoa encomenda
um produto online e recebe o produto em sua casa, isso pode ser interpretado como
uma aceitação tácita do contrato de compra e venda.
É importante ressaltar que a interpretação da declaração de vontade e do silêncio no
negócio jurídico pode variar de acordo com o sistema jurídico e as leis específicas
de cada país. Cada jurisdição pode ter suas próprias regras e princípios para
determinar a validade e interpretação dos contratos. Portanto, é sempre
aconselhável obter aconselhamento jurídico adequado ao celebrar qualquer tipo de
negócio ou acordo jurídico, a fim de compreender as nuances e exigências
específicas da legislação aplicável.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANDRADE, Érico. O silêncio no ato e no negócio jurídico. Revista Brasileira de


Estudos Políticos, páginas 99/118. Disponível em
<https://pos.direito.ufmg.br/rbep/index.php/rbep/article/view/70/68>. Acesso em maio
de 2023

CICIVIZZO, Flávio Augusto. O silêncio como manifestação de vontade. Disponível


em <https://www.conjur.com.br/2013-fev-06/flavio-cicivizzo-silencio-manifestacao-
vontade>. Acesso em maio de 2023

FERRIANI, Adriano. Quem cala consente? Disponível em


<https://www.migalhas.com.br/coluna/civilizalhas/185168/quem-cala-consente>.
Acesso em maio de 2023

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume 1: parte geral— 10. ed.
São Paulo: Saraiva, 2012.

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