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Direito empresarial: Títulos de Crédito

Prof. Fernanda Mara Gibran Bauer


Aula 07
✓ Contratos mercantis: teoria geral
✓ Compra e Venda mercantil
NA ÚLTIMA AULA

Teoria Geral do Direito Cambiário

Títulos impróprios
Contratos Mercantis – Teoria Geral

Para o Direito, contrato é normalmente tido como um


acordo entre duas ou mais pessoas, para entre si, constituir,
regular ou extinguir uma relação jurídica de natureza
patrimonial.
Empresário é aquele que exerce profissionalmente
atividade econômica organizada para a produção ou
circulação de bens e serviços.
Contratos Mercantis – Teoria Geral

Conceito:

O contrato celebrado entre empresas é chamado de


contrato empresarial e por estar inserido num contexto
diverso do contrato celebrado entre particulares, exige uma
compreensão e um tratamento diferenciado que prestigie
as suas especificidades e função.
O Código Civil Brasileiro disciplina a matéria de contratos na Parte
Especial, Livro I, sendo que no Título V trata “Dos Contratos em
Geral” e Título VI disciplina “Das Várias Espécies de Contratos”.
Contratos Mercantis – Teoria Geral

Conceito:

O conceito jurídico de contrato pode ser definido um


acordo de duas ou mais partes para entre si, constituir,
regular, modificar ou extinguir uma relação jurídica de
natureza patrimonial disponível, ou como “instrumento de
compatibilização de direitos disponíveis na busca de sua
harmonização, para que deem origem a negócios jurídicos”,
segundo Marcia Carla Pereira Ribeiro e Irineu Galeski Junior
(2015).
Contratos Mercantis – Teoria Geral

Conceito:
O elemento volitivo é o elemento essencial para o contrato,
propriamente dito, entretanto, a ideia de contrato, na
atualidade, deve ser compreendida dentro de um contexto
histórico que lhe antecede, especialmente no que diz
respeito ao papel da vontade, qual seja, da autonomia da
Vontade (RIBEIRO; GALESKI JUNIOR, 2015).
Contratos Mercantis – Teoria Geral

Evolução do direito contratual, em três modelos históricos:


✓ Modelo liberal, caracterizado pela prevalência da vontade das
partes, o segundo (Autonomia da Vontade)
✓ Modelo neoliberal, caracterizado pela interferência do Estado,
substituindo, muitas vezes, a vontade manifestada pelas partes,
por regras de direito positivo (Autonomia Privada);
✓ Modelo reliberalizante, que é o modelo da atualidade, ainda em
formação, caracterizado pela distinção entre o contrato firmado
pelos iguais e o contrato firmado entre desiguais, prestigiando a
vontade das partes naquele, e protegendo o economicamente
mais fraco neste (COELHO, 2010)
Princípios aplicáveis (RIBEIRO; GALESKI JUNIOR,
2015):
✓ autonomia privada – liberdade limitada pela aplicação de
princípios e da função social do contrato.
Contudo, nos contratos empresariais é de se esperar que os
empresários, partes no contrato, estejam em condições semelhantes
de conhecimento técnico e profissionalismo para melhor definirem
seus interesses.
✓ força obrigatória – pacta sunt servanda
✓ boa-fé objetiva – Previsto no art. 422 do Código Civil Brasileiro:
Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão
do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e
boa-fé.
Princípios aplicáveis (RIBEIRO; GALESKI JUNIOR,
2015):
✓ função social do contrato - Previsto no art. 421 do Código Civil
Brasileiro.
Art. 421. A liberdade contratual será exercida nos limites da função
social do contrato. Parágrafo único. Nas relações contratuais privadas,
prevalecerão o princípio da intervenção mínima e a excepcionalidade
da revisão contratual. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
✓ reequilíbrio econômico financeiro do contrato
O equilíbrio teórico entre as partes pode sofrer influência relativa à
assimetria de informações ou de poder econômico que poderá
interferir de forma significativa no equilíbrio de forças, produzindo a
prevalência injustificada de uma das partes em detrimento da outra,
desajustando o equilíbrio esperado, de modo que alguma adequação
poderá ser necessária e deverá ocorrer principalmente pelas vias
oferecidas pelo sistema de defesa da concorrência.
Requisitos de validade

Art. 104. A validade do negócio jurídico requer:


I - agente capaz;
II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável;
III - forma prescrita ou não defesa em lei.

O consentimento dos interessados, e requisitos particulares, que são


específicos de determinadas espécies de contratos, por serem
ligados à sua forma. (RIBEIRO; GALESKI JUNIOR, 2015).
Classificação dos Contratos

Segundo RIBEIRO; GALESKI JUNIOR, 2015:

1. Quanto à estrutura: Unilateral, bilateral;


2. Quanto à constituição: Consensuais, Reais ou Solenes;
3. Quanto à vantagem econômica: Onerosos ou Gratuitos;
4. Quanto à execução: comutativos ou aleatórios;
5. Quanto à sua tipicidade: típicos ou atípicos;
6. Quanto à forma de execução: instantâneos e contínuos;
7. Quanto à liberdade de contratação: voluntários ou necessários;
Quanto ao ramo de regência: Cível; Administrativo; Empresarial;
Trabalhista; Consumo.
Classificação dos Contratos

Para Fábio Ulhoa Coelho, os contratos podem ser classificados quanto


à estrutura ligada ao dever obrigacional em
a) unilaterais, quando apenas um dos contratantes tem obrigações a
cumprir, como ocorre na doação pura, comodato, fiança e mútuo e
b) bilaterais, se todos os contratantes têm obrigação a cumprir, como
por exemplo a compra e venda, doação com encargo, o depósito e o
seguro. Os contratos bilaterais, por sua vez, podem ser subdivididos
em
(i) sinalagmáticos, quando se opera com equivalência entre as
obrigações dos contratantes e
(ii) dispares, se a equivalência não existe. Essa classificação não é
usual na doutrina, por se considerar comumente que todos os
contratos bilaterais são sinalagmáticos.
Classificação dos Contratos

Segundo à forma de sua constituição, os contratos são divididos em


✓ Consensuais, para cuja constituição é suficiente o encontro de
vontades;
✓ Formais (ou solenes), em que o aperfeiçoamento do negócio
depende de um instrumento escrito:
Art. 108. Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é
essencial à validade dos negócios jurídicos que visem à constituição,
transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis
de valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no
País.
Art. 109. No negócio jurídico celebrado com a cláusula de não valer
sem instrumento público, este é da substância do ato.
✓ Reais, que se constituem apenas com a tradição da coisa móvel,
objeto de contrato de uma parte à outra.
Classificação dos Contratos

Quanto à vantagem econômica, os contratos podem ser


divididos em:
✓ onerosos, quando a regular execução do contrato
implica vantagem econômica para todos, como por
exemplo, compra e venda e locação;
✓ gratuitos, quando uma das partes não aufere vantagem
econômica imediata.
Classificação dos Contratos

Quanto à execução dos Contratos:


Os contratos onerosos, ainda, podem ser subdivididos em:
✓comutativos, quando todas as partes, presumivelmente
auferem vantagem econômica e
✓aleatórios, quando apenas um dos contratantes terá
vantagem econômica, não podendo saber
antecipadamente, qual deles será, em face do risco de
sorte ou de azar (álea)
Classificação dos Contratos

Segundo sua tipicidade os contratos podem ser:

✓ típicos, que são aqueles em que os direitos e obrigações dos


contratantes estão, em parte, disciplinados na lei, por normas
cogentes ou supletivas, não se esgotando nas previsões contratuais
definidas pelas partes;
✓ atípicos, que são regidos exclusivamente pelo que as partes
convencionaram no contrato, nos limites da função social e da boa-
fé, e finalmente, os
✓ mistos, que se situam na transição entre os típicos e atípicos, ou
seja, as partes criam um negócio contratual não tipificado em lei
com o aproveitamento de normas de um ou mais
✓ contratos típicos.
Classificação dos Contratos

Os contratos classificados segundo a forma de execução:

✓ Instantâneos, quando a obrigação da parte corresponde a um só


ato;
✓ Contínuos, quando pelo menos um dos contratantes cumpre a
obrigação com uma sucessão de atos.

O contrato empresarial também se caracteriza fortemente pelo


elemento de não territorialidade, já que é da natureza da atividade
empresarial o aspecto de internacionalização por ser normalmente
desejável e natural que determinados negócios extrapolem os limites
territoriais do Estado, submetendo-se, inclusive, à aplicação de leis de
outros países ou normas internacionais (RIBEIRO; GALESKI JUNIOR,
2015)
Classificação dos Contratos
Quanto à liberdade de contratação:

✓ voluntários, são aqueles perante os quais as partes têm alternativa


de não contratar;
✓ necessários, nestes contratos não existe a opção de não contratar,
pelo menos para uma das partes, como por exemplo o contrato de
seguro DPVAT.

Quanto ao ramo de regência:


✓ Cível;
✓ Administrativo;
✓ Empresarial;
✓ Trabalhista;
✓ Consumo.
Contrato empresarial e direito contratual

A busca por uma noção de contrato empresarial perpassa pela


constatação da essencialidade do instrumento contratual para a
própria prática empresarial, do sem número de vínculos que são
associados a esta prática.
Estes vão desde o contrato de trabalho firmado com o colaborador,
até os contratos de compra e venda de matéria prima e de colocação
dos bens e serviços no mercado, sem que se possa desconsiderar os
contratos dos quais depende a gênese da atividade empresarial,
como o contrato de sociedade e de franquia (RIBEIRO; GALESKI
JUNIOR, 2015).
Interpretação dos contratos empresariais

Aplicação da regra de interpretação em favor das liberdades econômicas nas


relações contratuais empresariais:
Três exemplos:
a) Exclusividade: é uma estipulação inserida nos mais variados contratos e,
embora assuma uma pluralidade de significados, geralmente estabelece a
proibição de a parte realizar negócios com terceiros, por certo período;
b) Vedação à concorrência na alienação de estabelecimento empresarial –
art. 1.147, CC/02: cláusula obrigacional de não reestabelecimento ou de
não concorrência. Por meio dela, aquele que aliena fica proibido de oferecer
concorrência ao comprador, por determinado período em certo mercado.
c) Trespasse de estabelecimento e alienação de controle: pode ser definida
como uma limitação ao alienante de exercer sua liberdade empresarial no
seu antigo campo de atuação (ramo do negócio) por um determinado
período de tempo e em determinada área geográfica. Art. 1.147, CC/02
Interpretação
Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os
usos do lugar de sua celebração.
§ 1º A interpretação do negócio jurídico deve lhe atribuir o sentido que:
I - for confirmado pelo comportamento das partes posterior à celebração do
negócio;
II - corresponder aos usos, costumes e práticas do mercado relativas ao tipo de
negócio;
III - corresponder à boa-fé;
IV - for mais benéfico à parte que não redigiu o dispositivo, se identificável; e
V - corresponder a qual seria a razoável negociação das partes sobre a questão
discutida, inferida das demais disposições do negócio e da racionalidade econômica
das partes, consideradas as informações disponíveis no momento de sua
celebração.
§ 2º As partes poderão livremente pactuar regras de interpretação, de
preenchimento de lacunas e de integração dos negócios jurídicos diversas daquelas
previstas em lei. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
Interpretação

Art. 423. Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou


contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente.

Art. 476. Nos contratos bilaterais, nenhum dos contratantes, antes de cumprida a
sua obrigação, pode exigir o implemento da do outro.
Contrato Empresarial
Os contratos empresariais são contratos celebrados por empresários, no
exercício
de sua atividade profissional, e que tem por vocação a execução continuada
além
de terem o risco como seu elemento essencial.
NOÇÃO DE EMPRESÁRIO
O Código Civil brasileiro optou for definir no caput do art. 966 quem pode
ser considerado empresário: “considera-se empresário quem exerce
profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou
circulação de bens e serviços”.

Quanto aplica-se o Código de Defesa do Consumidor?


Relação de consumo (8.078/90)
1ª. Leva em conta as pessoas envolvidas (consumidor e fornecedor);
2ª. Se relaciona à matéria do contrato: CLT, contratos com administração
pública, franquia, representação comercial autônoma estão fora. Vez que há
regulação própria.
Relação de Consumo:
O CDC (Lei 8.078/90) não define relação de consumo, mas define os atores
e o objeto de uma relação jurídica por excelência:
Quem é consumidor
Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza
produto ou serviço como destinatário final.
Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas,
ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo.
Empresário equiparado a consumidor art. 17. Para os efeitos desta Seção,
equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do evento (Da
Responsabilidade pelo Fato do Produto e do Serviço)
Empresário equiparado a consumidor art. 29, CDC. “Para os fins deste
Capítulo e do
seguinte, equiparam-se aos consumidores todas as pessoas determináveis
ou não, expostas às práticas nele previstas.”
Teorias sobre o conceito de consumidor destinatário final:
✓ Maximalista
✓ Finalista
✓ Finalismo Aprofundado ou Mitigado
Relação de Consumo:
O CDC (Lei 8.078/90) não define relação de consumo, mas define os atores
e o objeto de uma relação jurídica por excelência:
Quem é fornecedor:
Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada,
nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que
desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção,
transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de
produtos ou prestação de serviços.
Objeto:
§ 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial (artigo
3º)
§ 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo,
mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de
crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter
trabalhista.
Contrato Empresarial

O empresário, portanto, poderá se valer do CDC, mesmo que


não se enquadre no art. 2º, desde que exposto a situações
abaixo:
1. incorreção quanto ao conteúdo da oferta;
2. publicidade enganosa ou abusiva;
3. exercício de práticas comerciais abusivas;
4. submissão a constrangimento ou ameaça;
5. inclusão de informações em bancos de dados;
6. cláusulas contratuais abusivas;
7. contratos de adesão;
8. Quando for vítima de um evento de consumo danoso.
Contrato Empresarial
AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO
REVISIONAL. ART. 535 DO CPC/1973. VIOLAÇÃO. NÃO OCORRÊNCIA.
PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA Nº 211/STJ. PROVA TESTEMUNHAL.
INDEFERIMENTO. PRINCÍPIO DO LIVRE CONVENCIMENTO MOTIVADO.
REVISÃO. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA Nº 7/STJ. CONTRATOS
DERIVATIVOS. SWAP CAMBIAL. CÓDIGO DE DEFESA DO
CONSUMIDOR. NÃO INCIDÊNCIA. TEORIA DA IMPREVISÃO.
INAPLICABILIDADE. ONEROSIDADE EXCESSIVA. REVISÃO JUDICIAL.
IMPOSSIBILIDADE. PRESUNÇÃO DE VERACIDADE. MATÉRIA FÁTICO-
PROBATÓRIA. REEXAME. SÚMULAS NºS 5 E 7/STJ. DIVERGÊNCIA
JURISPRUDENCIAL PREJUDICADA. (...)
6. As normas protetivas do CDC não incidem nas relações jurídicas
interempresariais que envolvam contratos derivativos, categoria na qual
estão incluídos os contratos de ajuste de fluxos de caixa (swaps), em
discussão nos autos.
7. Não há falar em violação do princípio da boa-fé quando a empresa
contratante demonstrar plena ciência dos riscos envolvidos na operação,
ainda que haja exposição desigual das partes aos riscos do contrato.
Contrato Empresarial

8. Os contratos derivativos não são passíveis de revisão judicial por


onerosidade excessiva a partir da aplicação da teoria da imprevisão, pois os
riscos e o desequilíbrio são componentes próprios da natureza do contrato.
9. Na hipótese, o tribunal de origem, a partir da análise de circunstâncias
fático-probatórias e de cláusulas contratuais, não reconheceu a presunção
de veracidade, a vulnerabilidade técnica da empresa agravante, a existência
de onerosidade excessiva do contrato e, tampouco, a existência de má-fé do
banco agravado, o que não pode ser revisto no recurso especial devido à
incidência das Súmulas nºs 5 e 7/STJ.
(...)
11. Agravo interno não provido.
(AgInt no AREsp n. 1.052.586/RS, relator Ministro Ricardo Villas Bôas
Cueva, Terceira Turma, julgado em 18/5/2020, DJe de 26/5/2020.)
Contrato Empresarial
STJ. CONSUMIDOR. DEFINIÇÃO. ALCANCE. TEORIA FINALISTA.
REGRA. MITIGAÇÃO. FINALISMO APROFUNDADO. CONSUMIDOR POR
EQUIPARAÇÃO. VULNERABILIDADE.
1. A jurisprudência do STJ se encontra consolidada no sentido de que a
determinação da qualidade de consumidor deve, em regra, ser feita
mediante aplicação da teoria finalista, que, numa exegese restritiva do art.
2º do CDC, considera destinatário final tão somente o destinatário fático e
econômico do bem ou serviço, seja ele pessoa física ou jurídica.
2. Pela teoria finalista, fica excluído da proteção do CDC o consumo
intermediário, assim entendido como aquele cujo produto retorna para as
cadeias de produção e distribuição, compondo o custo (e, portanto, o preço
final) de um novo bem ou serviço. Vale dizer, só pode ser considerado
consumidor, para fins de tutela pela Lei nº 8.078/90, aquele que exaure a
função econômica do bem ou serviço, excluindo-o de forma definitiva do
mercado de consumo.
Contrato Empresarial
3. A jurisprudência do STJ, tomando por base o conceito de consumidor por
equiparação previsto no art. 29 do CDC, tem evoluído para uma aplicação
temperada da teoria finalista frente às pessoas jurídicas, num processo que
a doutrina vem denominando finalismo aprofundado, consistente em se
admitir que, em determinadas hipóteses, a pessoa jurídica adquirente de um
produto ou serviço pode ser equiparada à condição de consumidora, por
apresentar frente ao fornecedor alguma vulnerabilidade, que constitui o
princípio-motor da política nacional das relações de consumo, premissa
expressamente fixada no art. 4º, I, do CDC, que legitima toda a proteção
conferida ao consumidor.
4. A doutrina tradicionalmente aponta a existência de três modalidades de
vulnerabilidade: técnica (ausência de conhecimento específico acerca do
produto ou serviço objeto de consumo), jurídica (falta de conhecimento
jurídico, contábil ou econômico e de seus reflexos na relação de consumo) e
fática (situações em que a insuficiência econômica, física ou até mesmo
psicológica do consumidor o coloca em pé de desigualdade frente ao
fornecedor). Mais recentemente, tem se incluído também a vulnerabilidade
informacional (dados insuficientes sobre o produto ou serviço capazes de
influenciar no processo decisório de compra).
Contrato Empresarial
5. A despeito da identificação in abstracto dessas espécies de
vulnerabilidade, a casuística poderá apresentar novas formas de
vulnerabilidade aptas a atrair a incidência do CDC à relação de consumo.
Numa relação interempresarial, para além das hipóteses de vulnerabilidade
já consagradas pela doutrina e pela jurisprudência, a relação de
dependência de uma das partes frente à outra pode, conforme o caso,
caracterizar uma vulnerabilidade legitimadora da aplicação da Lei nº
8.078/90, mitigando os rigores da teoria finalista e autorizando a
equiparação da pessoa jurídica compradora à condição de consumidora.
Contrato Empresarial
6. Hipótese em que revendedora de veículos reclama indenização por danos
materiais derivados de defeito em suas linhas telefônicas, tornando inócuo o
investimento em anúncios publicitários, dada a impossibilidade de atender
ligações de potenciais clientes. A contratação do serviço de telefonia não
caracteriza relação de consumo tutelável pelo CDC, pois o referido serviço
compõe a cadeia produtiva da empresa, sendo essencial à consecução do
seu negócio.Também não se verifica nenhuma vulnerabilidade apta a
equipar a empresa à condição de consumidora frente à prestadora do
serviço de telefonia. Ainda assim, mediante aplicação do direito à espécie,
nos termos do art. 257 do RISTJ, fica mantida a condenação imposta a título
de danos materiais, à luz dos arts. 186 e 927 do CC/02 e tendo em vista a
conclusão das instâncias ordinárias quanto à existência de culpa da
fornecedora pelo defeito apresentado nas linhas telefônicas e a relação
direta deste defeito com os prejuízos suportados pela revendedora de
veículos.
7. Recurso especial a que se nega provimento.
(REsp n. 1.195.642/RJ, relatora Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma,
julgado em 13/11/2012, DJe de 21/11/2012.)
Extinção do Contrato

A extinção dos contratos pode ocorrer por: invalidade e ineficácia.


INVALIDADE
✓ Por invalidade o contrato se extingue por nulidade (art. 166 e 167)
ou anulabilidade (art. 171).
✓ Tanto as hipóteses de nulidade, como as de anulabilidade, dizem
respeito a causas originárias. Toda invalidade deve estar prevista
em lei. Caso não tenha previsão legal, será causa de ineficácia.
✓ O efeitos da sentença retroage à data de realização do ato (ex
tunc (retroage); pode ser declarada de ofício (impede a ratificação
posterior do ato); nulidade da obrigação principal gera nulidade
aos atos acessórios; imprescritível).
Extinção do Contrato

✓ Superada as etapas referente à indagação da existência e da


validade do ato e do negócio jurídico.
✓ Eficaz é todo ato que produz os efeitos necessários para realização
de uma operação jurídica. Anulável é o ato ineficaz. Decorre do
desvio da declaração de vontade por vicio de consentimento. Este
ato pode ser convalidado; o efeito é ex nunc é eficaz até o
reconhecimento judicial; prescreve; não pode ser declarada de
ofício.
✓ Por ineficácia o contrato se extingue por decorrência de uma
causa superveniente, ulterior à formação do contrato
(originariamente, o contrato se formou validamente).
✓ Pode decorrer de erro, ignorância, dolo, coação, lesão, estado de
perigo
Extinção do Contrato
✓ Vontade das partes
✓ Quando o contrato se extingue por vontade das partes a extinção é
denominada de resilição. A resilição, a sua vez, divide-se em duas:
por vontade de ambas as partes (distrato) ou por vontade de uma
das partes (denúncia).
✓ O distrato, enquanto antítese do contrato, não gera maiores
repercussões. Por outro lado, a denúncia pode gerar perplexidade,
na medida em que é pode se imaginar que confronta com a força
obrigatória dos contratos.
✓ Por isso, somente será possível a denúncia quando houver
expressa previsão no contrato (autorização do contrato), ou pela
natureza do contrato.
Contrato de Compra e Venda Mercantil
NATUREZA MERCATINAL DA COMPRA E VENDA:
Segundo Fabio Ulhoa Coelho (2014):
A compra e venda é mercantil quando comprador e vendedor são
empresários. Trata-se do contrato elementar da atividade
empresarial. Numa esquematização simples, o comércio pode ser
explicado como a sucessão de contratos de compra e venda. O
importador compra o produto do fabricante sediado no exterior e o
revende ao atacadista, que o revende ao varejista e assim por diante.

Pode acontecer por meio de um contrato de fornecimento: Ex. o


supermercado pode contratar com o atacadista de algum produto a
aquisição dessa mercadoria por um ano, fixando as condições básicas
para o conjunto de contratos de compra e venda que celebrarão
naquele período (por exemplo: quantidade, preço, locais de entrega).
REGIME JURÍDICO: CC, CDC.
Contrato de Compra e Venda Mercantil
FORMAÇÃO DO CONTRATO DE COMPRA E VENDA MERCANTIL:
O regime jurídico da compra e venda mercantil, em razão da uniformização
legislativa do direito privado, é basicamente o mesmo de qualquer outro
contrato de compra e venda cível. Entre a compra e venda mercantil e a
cível a única diferença na delimitação dos direitos e obrigações dos
contratantes diz respeito às consequências da instalação da execução
concursal do patrimônio do comprador. Enquanto na compra e venda cível a
insolvência do comprador dá direito ao vendedor de sobrestar a entrega da
coisa e exigir caução (CC, art. 495), na mercantil esse direito não existe,
porque a matéria está sujeita a regramento específico da legislação
falimentar. Justifica-se o tratamento diferenciado da compra e venda
mercantil quando se instaura a execução concursal do patrimônio do
comprador — que é, nesse caso, a falência, porque os contratantes aqui
são necessariamente empresários. Como as mercadorias e insumos
representam importantes elementos do estabelecimento de qualquer
empresário, a execução do contrato pelo vendedor, mediante a entrega das
coisas vendidas, interessa a todos os credores da massa. (ROVAI, 2018)
Contrato de Compra e Venda Mercantil
FORMAÇÃO DO CONTRATO DE COMPRA E VENDA MERCANTIL:
É contrato consensual, basta acordo de vontade quanto à coisa e ao
preço;
É contrato comutativo.
Pode se tratar de qualquer tipo de bem, desde que não se tratem de
insuscetíveis de apropriação e os legalmente inalienáveis:
✓ móvel, imóvel, semovente;
✓ Corpóreo ou incorpóreo;
✓ Coisa própria ou alheia (desde que preenchidos os requisitos de
legitimidade e/ou diga respeito a bem ainda não adquirido pelo
vendedor, mas que deverá fazê-lo, em razão da atividade
econômica por ele exercida.

Pagamento = dinheiro, senão configura troca.


Moeda corrente nacional, a não ser que seja, importação ou
exportação (Dec. Lei 857/69, art. 2º, I)
Contrato de Compra e Venda Mercantil
FORMAÇÃO DO CONTRATO DE COMPRA E VENDA MERCANTIL:
Fixação de preço
Plena liberdade das partes, de acordo com o modelo neoliberal
estabelecido pela Constituição;
Mas para o combate a inflação, já se editaram leis estabelecendo
tabelamento, controle ou congelamento de preços, com a finalidade
de ser estabelecido uma política de combate à inflação.
Contrato de Compra e Venda Mercantil
OBRIGAÇÃO DAS PARTES
✓ Celebrado o contrato de compra e venda, o comprador assume a
obrigação de pagar o preço e o vendedor a de transferir o domínio,
ou seja, proceder a entrega da coisa no prazo (art. 475 CC):
Art. 475. A parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a resolução
do contrato, se não preferir exigir-lhe o cumprimento, cabendo, em
qualquer dos casos, indenização por perdas e danos.
Não concede um direito real (reivindicar a coisa), mas cabe execução
específica.
✓ Responde por vícios redibitórios (441 CC):
Art. 441. A coisa recebida em virtude de contrato comutativo pode
ser enjeitada por vícios ou defeitos ocultos, que a tornem imprópria
ao uso a que é destinada, ou lhe diminuam o valor.
✓ Responde por evicção (447CC);
Art. 447. Nos contratos onerosos, o alienante responde pela evicção.
Subsiste esta garantia ainda que a aquisição se tenha realizado em
hasta pública.
Contrato de Compra e Venda Mercantil
OBRIGAÇÃO DAS PARTES
✓ Quanto a responsabilidade pelo transporte (490 CC)
Art. 490. Salvo cláusula em contrário, ficarão as despesas de escritura
e registro a cargo do comprador, e a cargo do vendedor as da tradição.
✓ Quanto ao transporte internacional:
Os International Commercial Terms ou Termos de Comércio
Internacional (Incoterms) são regras internacionais que descrevem as
condições de entrega de mercadoria em transações globais (ainda
que alguns países já estejam implementando-os de maneira local),
facilitam o comércio e ajudam os parceiros de diferentes países a se
entender. Não são obrigatórios e as companhias têm a possibilidade
de acordar suas próprias condições e especificações. (Solistica, 2022)
Contrato de Compra e Venda Mercantil
OBRIGAÇÃO DAS PARTES
✓ Quanto a responsabilidade pelo transporte (490 CC)
Art. 490. Salvo cláusula em contrário, ficarão as despesas de escritura
e registro a cargo do comprador, e a cargo do vendedor as da tradição.
✓ Quanto ao transporte internacional:
Os International Commercial Terms ou Termos de Comércio
Internacional (Incoterms) são regras internacionais que descrevem as
condições de entrega de mercadoria em transações globais (ainda
que alguns países já estejam implementando-os de maneira local),
facilitam o comércio e ajudam os parceiros de diferentes países a se
entender. Não são obrigatórios e as companhias têm a possibilidade
de acordar suas próprias condições e especificações. (Solistica, 2022).
A Câmara de Comércio Internacional de Paris foi quem criou estas
práticas em 1936 e as renova a cada 10 anos. A Ultima foi de 2020:
Contrato de Compra e Venda Mercantil
OBRIGAÇÃO DAS PARTES
✓ Quanto a responsabilidade pelo transporte (490 CC)
Art. 490. Salvo cláusula em contrário, ficarão as despesas de escritura
e registro a cargo do comprador, e a cargo do vendedor as da tradição.
✓ Quanto ao transporte internacional:
Os International Commercial Terms ou Termos de Comércio
Internacional (Incoterms) são regras internacionais que descrevem as
condições de entrega de mercadoria em transações globais (ainda
que alguns países já estejam implementando-os de maneira local),
facilitam o comércio e ajudam os parceiros de diferentes países a se
entender. Não são obrigatórios e as companhias têm a possibilidade
de acordar suas próprias condições e especificações. (Solistica, 2022).
A Câmara de Comércio Internacional de Paris foi quem criou estas
práticas em 1936 e as renova a cada 10 anos. A Ultima foi de 2020
(Solistica, 2022). :
Contrato de Compra e Venda Mercantil
✓ Quanto ao transporte internacional, modalidades:

• Em relação ao contrato de partida:

Ex-Works ou Em fábrica (EXW): o vendedor coloca a mercadoria a disposição


do comprador em suas próprias instalações (fábrica ou armazém) e ele é quem
assumirá todos os riscos e gastos de transporte, obrigações e seguros. O preço
de fábrica não inclui o carregamento de mercadorias em um meio de
transporte, e não são feitas concessões para o despacho nas aduanas.
Contrato de Compra e Venda Mercantil
✓ Quanto ao transporte internacional, modalidades:
• Em relação ao contrato de transporte não pago:
•Free Alongside Ship ou Livre no costado do navio (FAS): o vendedor
entrega a mercadoria no porto combinado, a despacha e a coloca junto
ao navio no porto de exportação definido. O comprador é responsável
por carregar as mercadorias no navio e por pagar os custos relacionados
com o envio.
•Free On Board ou Livre a bordo do Navio (FOB): neste caso o vendedor
deve deixar a mercadoria carregada no navio definido pelo comprador,
assumindo novamente a gestão aduaneira. O comprador é o
encarregado pelos custos e riscos a partir deste ponto.
•Free Carrier Livre transportador (FCA): o vendedor deve entregar a
mercadoria no lugar definido pelo comprador no país de origem e deve
gerenciar as aduanas na origem. Este lugar pode ser um armazém, um
porto, uma estação de trem ou nas instalações de um operador
logístico. Desde este ponto, os gastos e os riscos são responsabilidade
do vendedor. É o Incoterm mais utilizado (40 porcento).
Contrato de Compra e Venda Mercantil
✓ Quanto ao transporte internacional, modalidades:
• Em relação ao contrato de transporte pago:
Cost and Freight ou Custo e frete (CFR): o vendedor assume todos os gastos
de transporte até que a mercadoria chegue ao destino final; no entanto, o
risco é passado ao comprador assim que a mercadoria seja carregada no navio.
Cost, Insurance and Freight ou Custo, seguro e frete (CIF): é igual ao CRF, só
que o vendedor é quem deve pagar o seguro da mercadoria até que chegue ao
porto destino. Este Incoterm pode ser utilizado apenas quando o transporte
internacional é realizado pelo menos parcialmente por mar.
Carriage Paid To ou Transporte pago até (CPT): o vendedor deve pagar todos
os gastos de transporte até um ponto combinado com o comprador; não
obstante, o risco é responsabilidade do comprador quando a mercadoria chega
ao primeiro transportador no país de destino.
Carriage and Insurance Paid ou Transporte e seguros pagos até (CIP): é igual
ao CPT mas se agrega ao vendedor a obrigação de pagar o seguro da
mercadoria até o destino. Apesar de que o seguro seja contratado pelo
vendedor, o beneficiário é o comprador.
Contrato de Compra e Venda Mercantil
✓ Quanto ao transporte internacional, modalidades:

• Em relação aos contratos de chegada:


•Delivered at Terminal ou Entregue no terminal (DAT): o vendedor é
responsável pelos custos, riscos e processos até que se descarregue a
mercadoria no terminal (porto, aeroporto, central de transportes etc.)
combinado com o comprador. Depois do descarregamento, os gastos e
riscos correm sob responsabilidade do comprador.
•Delivered at Place ou Entrega em um ponto (DAP): o risco passa do
vendedor para o comprador quando se descarrega a mercadoria em um
lugar definido previamente no acordo de entrega, que não tem que ser
necessariamente um terminal.
•Delivered Duty Paid ou Entrega com impostos pagos (DDP): o vendedor
se encarrega de todos os gastos e processos até que a mercadoria seja
entregue no ponto cominado, o que inclui transporte, seguro, aduanas
etc. O único ao que não está obrigado é o descarregamento no ponto
final.
REFERÊNCIAS:

COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de Direito Comercial. 26 ed. São Paulo: Saraiva, 2014.
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial, vol. 3: Direito de empresa. 11 ed. São Paulo:
Saraiva, 2010
CC/02. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm, acesso
em 07 maio de 2023.
RIBEIRO, Marcia Carla Pereira; GALESKI JUNIOR, Irineu. Teoria geral dos contratos: contratos empresariais e análise
econômica. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015.
ROVAI, Armando Luiz. Compra e venda mercantil. Enciclopédia jurídica da PUC-SP. Celso Fernandes Campilongo,
Alvaro de Azevedo Gonzaga e André Luiz Freire (coords.). Tomo: Direito Comercial. Fábio Ulhoa Coelho, Marcus
Elidius Michelli de Almeida (coord. de tomo). 1. ed. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2017.
Disponível em: https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/239/edicao-1/compra-e-venda-mercantil
SOLISTICA. Tudo sobre Incoterms em logística. Disponível em: https://blog.solistica.com/pt-br/tudo-sobre-
incoterms-em-logística, acesso em 07 meio de 2023.
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