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CONTRATOS EMPRESARIAIS
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os neutros são aqueles onde está ausente a conotação patrimonial. Para a
formalidade, os negócios serão solenes quando exigirem forma específica
prevista em lei e não solenes quando não. Quanto ao conteúdo, poderão ser
patrimoniais, relacionados a questão suscetíveis de avaliação econômica, ou
extrapatrimoniais, quando vinculados a direitos personalíssimos ou direito de
família. A manifestação de vontade pode ser unilateral, bilateral ou plurilateral, a
depender do número de pessoas envolvidas e da manifestação de vontade de
cada um (o contrato, por excelência, é bilateral ou plurilateral). Os negócios
acarretam consequência durante a vida dos interessados, são inter vivos, ou após,
causa mortis. Podem, ainda, gerar efeitos constitutivos, oportunidade em que sua
eficácia opera-se com a conclusão, ou declarativos, que só se efetiva no momento
em que se operou o fato vinculado à declaração de vontade. Os negócios, na
sequência, podem ser principais, quando existirem por si só ou quando
independente de outros, ou acessórios, como subordinam-se aos principais. Por
fim, os negócios de disposição implicam o exercício de amplos poderes sobre o
bem, e os de administração, apenas o exercício de direitos restritos, sem alteração
da substância da coisa administrada (Diniz, 2012).
A validade de qualquer negócio jurídico e, portanto, de qualquer contrato,
depende da conjugação de três elementos principais, previstos no art. 104 do
Código Civil, quais sejam: agente capaz, objeto lícito, possível e determinado (ou
determinável) e forma prescrita ou não defesa em lei. Quanto à capacidade, diz o
art. 3º e 4º do Código Civil, que são absolutamente incapazes para os atos da vida
civil os menores de 16 (dezesseis) anos e que, relativamente incapazes os
maiores de 16 (dezesseis) e menores de 18 (dezoito), os ébrios habituais e
aqueles que possuam vícios em tóxicos, os pródigos e aqueles que, em geral, por
causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade. Portanto,
como regra geral, os contratos dependem da maioridade e da possibilidade de
externar, sem vícios, a sua vontade. O contrato, além da capacidade das partes,
deve envolver objeto lícito, possível e determinado ou determinável. De início,
importante dizer que a licitude do objeto significa que as partes não poderão
promover negociais ilegais, como a compra e venda de drogas ilícitas, por
exemplo. O objeto também deve ser possível, concretizável por uma das partes,
e determinado, específico, ou determinável ao longo da relação contratual, como,
por exemplo, em relação ao preço, pode-se desde logo arbitrá-lo (determinado)
ou deixá-lo ao arbítrio de terceiro (determinável), o que não é lícito é lançar mão
de objetos indetermináveis, tendo em vista que isso acarretará a impossibilidade
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de cumprimento da obrigação. Quanto à forma, devem ser observadas as
solenidades prescritas na legislação, como a escritura pública, como antes
estudados. Além disso, a forma não pode ser proibida pela legislação atual,
considerando a regra de que, nas relações privadas, os particulares podem fazer
tudo aquilo que a legislação não proibir.
Os contratos em geral, além dos elementos obrigatórios, podem estar
vinculados a elementos acidentais, cuja presencia não é obrigatória, mas por
vezes é importante para o estabelecimento dos direitos e obrigações. Os
elementos acidentais são a condição, o termo e o encargo. A condição é a
cláusula que subordina a eficácia de determinado negócio jurídico a um evento,
que deve ser futuro e incerto, nas diretrizes do art. 121 do Código Civil, podendo
ser suspensiva ou resolutiva. O termo, por sua vez, estabelece a data em que se
inicia ou se extingue, vinculando também a eficácia do negócio, sendo os mais
comuns o termo inicial e termo final. A contagem dos prazos, como regra, nas
relações civis e empresariais é feita com a exclusão do dia do começo e inclusão
do dia de vencimento, como previsto no art. 132 do Código Civil. Por fim, o
encargo não prejudica o exercício do direito vinculado ao negócio, exceto se
contiver condição suspensiva expressa, estando relacionado à imposição de um
ônus a parte contratante.
Os negócios jurídicos, uma vez realizados, devem ser interpretados
consoante à boa-fé e aos usos e costumes do lugar onde celebrados, atendendo-
se mais à intenção das partes do que a sua tradução contratual, como lançado
nos arts. 112 e 113 do Código Civil. A partir da Lei n. 13.874/2019, foram incluídos
no referido Código a forma de interpretação, o que veio a auxiliar o trabalho do
intérprete. Agora, a interpretação do negócio deve atribuir um sentido a ele, que
pode ser auferido por meio da avaliação do comportamento das partes no
momento posterior ao negócio, os usos e costumes, ou ainda as práticas de
mercados relativamente aceitas para a espécie de negócio realizado; ainda, ao
conceito de boa-fé, que será trabalhado em seguida, ou em casos de dúvidas, de
acordo com o sentido que mais beneficiar a parte que não redigiu o contrato; por
fim, conforme o que seria razoável esperar-se da negociação e a racionalidade
econômica das partes envolvidas, que são consideradas de acordo com as
informações que elas possuíam no momento da celebração. O parágrafo 2º do
art. 113, inserido na legislação de 2019, também possibilitou que as próprias
partes pudessem livremente pactuar as regras para a interpretação dos seus
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negócios, para o suprimento de lacunas, que podem ou não ser as mesmas
previstas na legislação ordinária, o que privilegia os seus interesses.
Desse modo, vistos o conceito, classificação e o regramento geral para a
formação dos contratos, espécies de negócios jurídicos, além das modalidades e
forma de interpretação da vontade das suas partes plasmada, o caso é de avançar
nos estudos, avaliando os defeitos dos seus negócios e a forma de extinção.
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ponto que efetivamente força uma das partes a aderir ao negócio quando
sopesando os bens jurídicos envolvidos.
O estado de perigo configura-se quando, visando proteger a si mesmo ou
alguém de sua família de grave dano conhecido pela parte contrária, assume uma
prestação excessivamente onerosa, ferindo, de todo modo, a comutatividade
contratual. Um das partes, portanto, aproveita-se da outra, impondo-lhe de
maneira inescusável uma prestação incompatível com a contraprestação. A lesão
ocorre quando uma pessoa, por necessidade ou inexperiência, se obriga a uma
prestação desproporcional à contraprestação, podendo ser convalidado em caso
de adequação dos valores ou do proveito econômico, compatibilizando-o ao real
valor do negócio. Por fim, a fraude contra credores é evidenciada pela transmissão
gratuita de bens ou pela remissão de dívida quando o devedor já está em estado
de insolvência, ou seja, reduzido a tanto em razão do negócio, lesando credores
quirografários, que são aqueles sem qualquer espécie de garantia ou privilégio.
Isso traduz-se pelo agir malicioso, de má-fé, quando uma parte utiliza de negócios
jurídicos para desviar parcela ou a totalidade de seu patrimônio para que
eventuais credores não possam alcançá-lo, o que pode ser objeto de ação
anulatória (no caso, a ação chamada de pauliana). O Superior Tribunal de Justiça
esclarece os requisitos legais para o reconhecimento judicial da fraude, assim
como o privilégio que se dá ao terceiro de boa-fé, nos seguintes termos:
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que, anulado o ato, restituir-se-ão as partes ao estado, em que antes
dele se achavam, e não sendo possível restituí-las, serão indenizadas
com o equivalente. 3. “Quanto ao direito material, a lei não tem
dispositivo expresso sobre os efeitos do reconhecimento da fraude,
quando a ineficácia dela decorrente não pode atingir um resultado útil,
por encontrar-se o bem em poder de terceiro de boa-fé. Cumpre, então,
dar aplicação analógica ao art. 158 do Código Civil [similar ao art. 182
do Código Civil de 2002], que prevê, para os casos de nulidade, não
sendo possível a restituição das partes ao estado em que se achavam
antes do ato, a indenização com o equivalente. Inalcançável o bem em
mãos de terceiro de boa-fé, cabe ao alienante, que adquiriu de má fé,
indenizar o credor… (Brasil, 2013)
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notificação ou aviso, ou ainda pode ser tácita, oportunidade em que é
imprescindível dar-se ciência à parte contrária.
A jurisprudência, reconhecendo em parte a regra da exceção de contrato
não cumprido, prevista no art. 476 do Código Civil e que estabelece a
impossibilidade de uma parte exigir o cumprimento do negócio sem antes de
cumprido a sua própria prestação, assim como, dentro da função econômica do
contrato, a importância da sua manutenção, adota a teoria do adimplemento
substancial como hipótese negativa para a resolução do elo contratual. Por essa
teoria, “o adimplemento substancial constitui um adimplemento tão próximo ao
resultado final, que, tendo-se em vista a conduta das partes, exclui-se o direito de
resolução, permitindo-se tão somente o pedido de indenização e/ou adimplemento
(Brasil, 2017). É o caso, por exemplo, de uma parte deixar de pagar apenas uma
das dezenas de parcelas de um contrato.
Há também a possibilidade de rescisão do contrato. O Código Civil lança
mão da rescisão em casos específicos, como de vícios redibitórios ou evicção,
inexistindo, mesmo na doutrina, um conceito único sobre essa modalidade de
extinção dos negócios jurídicos. Para esclareceres, os vícios redibitórios são
aqueles defeitos ocultos da coisa que a tornem impróprio par ao uso ou
destinação, ou ainda que lhe diminuam o valor, nos termos do art. 441 do Código
Civil. Não requerendo o abatimento proporcional do preço, o adquirente lesado
poderá pleitear a rescisão do contrato em razão do referido vício. O mesmo ocorre
com a evicção, descrita como a perda do bem alienado de um bem em razão de
ato de autoridade, como em leilão ou hasta pública; aqui, o art. 455 do Código
Civil expressamente menciona que se a evicção for parcial, o prejudicado pode
pleitear a rescisão do contrato e a restituição parcial do preço, dando a entender,
portanto, que os casos de rescisão são vinculados a fatores pretéritos cujas
consequências são lançadas no decorrer da relação contratual.
Na conclusão, resumindo o ponto, temos que o termo resilição é utilizado
para as modalidades de extinção dos negócios jurídicos pela vontade unilateral
ou bilateral das partes, que a resolução conecta-se ao descumprimento do
contrato, de pleno direito ou não, com ou sem indenização. Ainda, o vocábulo
rescisão muitas vezes é utilizado como sinônimo de uma ou outra forma de
extinção do negócio, servindo igualmente para os casos de vícios de nulidade ou
ainda para defeitos anteriores à formação dos contratos, como os vícios
redibitórios ou evicção. Passaremos, então, à avaliação dos princípios que regem
os contratos em geral.
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TEMA 3 – OS PRINCÍPIOS DOS CONTRATOS EM GERAL
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JURISPRUDENCIAL NÃO COMPROVADO. AGRAVO NÃO PROVIDO.
1. A jurisprudência desta Corte é firme no sentido de que, nos contratos
agrícolas, o risco é inerente ao negócio, de forma que eventos como
seca, estiagem, pragas, ferrugem asiática, entre outros, não são
considerados fatores imprevisíveis ou extraordinários que autorizem a
adoção da Teoria da Imprevisão. Precedentes. 2. A Segunda Seção
desta Corte consolidou o entendimento de que a devolução em dobro
dos valores pagos pelo consumidor somente é possível quando
demonstrada a má-fé do credor, o que não é o caso dos autos, conforme
preceituou o Tribunal a quo… (Brasil, 2020)
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inseridos; igualmente, no caso de contratos empresariais, outros princípios
poderão ser aplicados em conjunto ou separadamente com os acima vistos, como
estudaremos nos itens subsequentes.
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destinatário final, diferenciando-se o consumidor do empresário pelo fato do último
adquirir e utilizar de bens de forma temporária, visando essencialmente o
desenvolvimento da atividade empresarial (o desenvolvimento da empresa,
portanto). Para Sérgio Cavalieri Filho, surgem duas importantes teorias, a
maximalista ou objetiva e a finalista ou subjetivista.
Na primeira, o empresário poderá ser caracterizado como consumidor
quando existir ato de consumo, a aquisição de bens ou serviços de forma final,
excluindo-os definitivamente do mercado sem reingresso na cadeia de produção
ou distribuição. E, na segunda, o critério é subjetivo, lastreado na vulnerabilidade
das partes envolvidas, significando que o empresário poderá ser consumidor
quando presente a vulnerabilidade técnica, jurídica ou econômica perante o outro
contratante (Cavalieri Filho, 2011, p. 60-63).
Na prática, a jurisprudência nacional acabou por fixar uma tese
intermediária, chamada de teoria finalista mista, atenuada ou mitigada, em que é
possível a aplicação do regime consumerista ao contrato empresarial, desde que
a aquisição do bem ou do serviço seja feita como destinatário final e que existe
na situação concreta vulnerabilidade de uma das partes. A essa respeito, recente
julgamento do Superior Tribunal de Justiça:
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não pode ser aquele tratado como destinatário final. Todavia, existindo
vulnerabilidade do produtor rural em relação ao empresário vendedor ou mesmo
em comparação à instituição financeira com quem emprestou os montantes
necessários, mitiga-se a regra geral e possibilita-se a aplicação das regras
específicas (e mais benéficas) previstas na legislação consumerista.
Assim sendo, quando um empresário estabelece um vínculo negocial com
outro, a resolução de eventuais pendências, a discussão do contrato ou sua
execução podem ir além do âmbito civil ou empresarial imaginado por eles no
momento da negociação, incluindo o microssistema consumerista. Nesses casos,
haverá uma gama de novos direitos materiais e processuais que devem inclusive
ser antecipados pelos empresários envolvidos, já que acarretam a imposição de
riscos e custos extraordinários.
A título de exemplo, no campo do direito material (o conteúdo do contrato,
por exemplo), a transmutação do contrato empresarial em contrato de consumo
implica a vedação (ou a decretação de nulidade) de determinadas práticas, como
a venda casada, a recusa ao atendimento (recusa de venda), a adequação de
produtos a determinadas normas, mudanças em relação ao termo contratual e as
possibilidades de indenização ou ressarcimento, ou ainda a devolução em dobro
em caso de cobranças indevidas, como previsto nos arts. 39 e 42 do Código de
Defesa do Consumidor. No âmbito do processo, o reconhecimento da relação de
consumo pode implicar a nulidade da cláusula de eleição de foro, já que o
empresário consumidor poderá ajuizar a ação em sua sede, na regra do art. 101,
I, do Código; ainda, no campo das provas, é possível a inversão do ônus
probatório, conforme art. 6º, VIII, do Código, o que implica em custos adicionais
aos envolvidos, como a necessidade de provas complexas, perícias e outras, que,
se não produzidas, poderão acarretar maiores dificuldades para comprovação da
sua tese processual; por fim, e talvez mais grave, o art. 28 do Código de Defesa
do Consumidor possibilita a desconsideração da personalidade jurídica pelo
simples inadimplemento de uma obrigação, pelo não pagamento, por exemplo, de
uma indenização.
A respeito da possibilidade de desconsideração, o caso merece um maior
detalhamento. No âmbito das relações civis e empresariais, o sócio de uma
sociedade personificada, como uma sociedade limitada, tem patrimônio diverso
do ente do qual faz parte; ou seja, pelas dívidas sociais responde a sociedade,
pessoa jurídica de direito privado, e pelas dívidas pessoais responde o sócio,
pessoa natural ou também pessoa jurídica. A dívida social não afeta o patrimônio
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do sócio, exceto em caso de abuso da personalidade jurídica, como no caso de
utilização da sociedade para fins fraudulentos, o desvio de finalidade ou mesmo a
confusão patrimonial, como diz o art. 50 do Código Civil. Portanto, somente no
âmbito de um processo, com todas as cautelas e desde que provadas as
hipóteses legais, é que poderá o sócio ser chamado a arcar com ônus oriundos
da sociedade da qual faz parte, desconsiderando-se, temporariamente e para
certa obrigações, essa separação patrimonial. Porém, quando alterado o viés para
o caso consumerista, o simples inadimplemento contratual é suficiente para essa
desconsideração, já que a hipótese é de que, se a personalidade jurídica for
obstáculo, pode ser desconsiderada. Parece óbvio que os empresários, quando
da feitura de contratos, devem avaliar esse risco e as consequências para a
relação contratual que pretende entabular.
Forte na exposição, é possível dizer que os contatos empresariais seguem
as diretrizes gerais do Código Civil ou ainda a legislação especial a eles vinculada;
porém, a depender da caracterização da vulnerabilidade de um dos empresários,
podem ser atraídas regras específicas do Código de Defesa do Consumidor, que,
se por um lado propiciarão a melhor defesa do vulnerável em juízo, por outro terão
como consequência o aumento dos riscos do negócio jurídico ou mesmo sua
inviabilidade, como antes visto. Apesar disso, algumas recentes mudanças
legislativas, como a Lei n. 13.874/2019, buscaram mitigar esses riscos,
estabelecendo diretrizes gerais de interpretação, inclusive que os contratos,
quando envolvem empresários, presume-se realizado entre partes iguais e,
portanto, não vulneráveis, o que é alvo do tópico seguinte.
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que, no âmbito civil e empresarial, presumem-se paritários e simétricos os
contratos entabulados, ressalvado eventuais regimes especiais ou a existência de
prova que afaste essa presunção, como lançado no novo art. 421-A, do Código
Civil. O mesmo artigo também autoriza que as partes negociantes estabeleçam
os parâmetros objetivos para a interpretação das cláusulas do contrato, assim
como as condições para a revisão ou extinção pelo inadimplemento da outra parte
(além das cláusulas legais, portanto); ainda, que definam a alocação de riscos,
que devem ser respeitados, além de limitar a possibilidade de revisão do pacto,
considerando que a mesma deve ocorrer apenas de maneira excepcional. A
própria liberdade contratual, que não é absoluta, como antes visto, continua com
um elo básico com a função social do contrato; porém, quando diante de relações
privadas, o novo parágrafo único do art. 421, do Código Civil, estabelece um
princípio de intervenção mínima e, novamente, a excepcionalidade da revisão do
negócio.
Para Paula Andréa Forgioni, a revogação formal do Código Comercial de
1850 pelo atual Código Civil não tem o condão de extirpar do sistema jurídico a
metodologia de interpretação própria do regime mercantil, já tão enraizada nas
entranhas do direito brasileiro e que podiam ser encontradas no art. 131 do Código
revogado, quais sejam: a boa-fé objetiva (e não a subjetiva); a força normativa dos
usos e costumes; a vontade objetiva e o desprezo pela intenção individual de cada
um dos contratantes; a necessidade de buscar-se o espírito do contrato, formado
pela vontade comum dos contratantes; a interpretação em favor do polo passivo
da relação e o respeito ao princípio da autonomia privada (Forgioni, 2009, p. 228).
O art. 131 assim dizia:
Para a mesma autora, a técnica lançada pelo art. 131 do Código Comercial
torna possível reconhecer que, nos contratos empresariais, a função econômica
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do contrato assume uma importância fundamental, porque possibilita uma análise
do comportamento das partes, além de reconhecer as suas legítimas
expectativas. A racionalidade econômica do empresário deve ser levada em
consideração nas decisões judiciais, porque vinculada à boa-fé e na proteção da
legítima expectativa do empresário negociante; ainda, a proteção da eficiência das
decisões empresariais, considerando que a manutenção de um padrão mínimo de
segurança, previsibilidade e, enfim, da lógica empresarial, são essenciais para o
próprio desenvolvimento da atividade e para o benefício de todos, inclusive para
terceiros ou para a coletividade, que são afetados por essas decisões particulares
(Forgioni, 2009, p. 229).
Para Fábio Tokars, a única exceção a esse regime interpretativo, que, por
reconhecer a paridade dos envolvidos, privilegia a liberdade de contratar, a
autonomia da vontade e limita a revisão do pacto, está relacionada ao tratamento
diferenciado para os microempresários. E isso porque, nas suas relações
contratuais, estão de fato mais próximos da hipossuficiente e vulnerabilidade
típicas das relações consumeristas do que do profissionalismo inerente à
atividade empresarial (Tokars, 2007, p. 227).
Desse modo, podemos concluir que, apesar de inexistir uma legislação
especial, a revogação do Código Comercial não extirpou as diretrizes gerais,
tampouco excluiu do ordenamento o método de interpretação dos contratos
empresariais, disciplina importante no cotidiano empresarial.
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REFERÊNCIAS
DINIZ, M. H. Curso de Direito Civil Brasileiro: teoria geral do Direito Civil. 29.
ed. São Paulo: Saraiva, 2012.
PEREIRA, C. M. da S. Instituições de Direito Civil. vol. III, atual. atual. 21. ed.
Rio de Janeiro: Forense, 2017.
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TOKARS, F. Primeiros Estudos de Direito Empresarial: teoria geral, direito
societário, título de crédito, direito falimentar, contratos empresariais. São Paulo:
LTr, 2007.
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