Você está na página 1de 6

2º Teste – Teoria Geral de Direito Civil

Acordo de negociação
Pode ser um instrumento útil na negociação de contratos complexos.

Acordo de base
Modalidade utilizada em negociações de grande complexidade em que as partes
podem, desde logo, identificar uma base contratual comum entre as suas vontades e
fazer revestir essa base comum por via de um acordo mútuo.

As negociações hão de prosseguir a um nível mais técnico para clarificar e esclarecer


determinados aspetos regulamentares que não afetarão o acordo já obtido sobre
aquela base do contrato pretendido.

Acordo quadro
Apresenta a particularidade de traduzir também uma manifestação contratual que
constitui a cobertura sob a qual serão realizados no futuro outros contratos.
Por exemplo: acordo bancário, normalmente, de abertura de conta que constitui o
enquadramento onde todos os outros contratos que venham a ser desejados pelas
partes envolvidas poderão ser celebrados (concessão de crédito, prestação de
serviços, negócio bancário).

A modalidade nestes contratos apresenta a obrigação, ou melhor, a celebração dos


outros contratos ao abrigo desse contrato quadro pode ser uma obrigação vinculativa
ou não vinculativa.

Pode definir a obrigatoriedade para as partes de celebrar os futuros contratos dentro


daquele enquadramento ou pode conceder apenas a faculdade desses contratos
vierem a ser celebrados, sem ser fixado às partes uma qualquer obrigação de celebrar
os futuros contratos.

Protocolo complementar
A celebração de um contrato essencial, nuclear que depois será complementado em
determinados aspetos particulares. Visa única e exclusivamente a regulamentação que
já foi estipulada para o contrato nuclear.

Acordos mitigados
Não traduz uma menor relevância jurídica para este tipo de contratos, a expressão não
visa indiciar que estes contratos estabelecem uma vinculação menor do que a de
outros contratos base propriamente ditos.

Pretende significar é que os vínculos que resultam desta contratação mitigada sejam
vínculos diferentes daqueles que são estabelecidos no âmbito dos contratos principais.
Definem os comportamentos e as manifestações de vontade das partes, mas essa
vinculação nesse sentido mantem-se igual àquela que vigora nos contratos principais.

Acordos de cortesia e acordos de cavalheiro


Os acordos de cortesia normalmente não têm uma finalidade de produção de efeitos
jurídicos, são acordos que são estabelecidos no âmbito da convencia social, mas
relativamente aos quais as partes não pretendem atribuir qualquer efeito jurídico.
Por exemplo: acordo encontrar-me num parque àquelas horas para tomar uma
refeição, traduz um acordo de cortesia – é uma área onde o direito não intervém, o
direito entende que não há qualquer necessidade de intervir. Não resulta daqui
qualquer consequência jurídica.

O acordo de cavalheiro a situação coloca-se com alguma diferença, porque podem dar
lugar, em certas circunstâncias, à verificação de uma proteção jurídica. Essa proteção
jurídica, no entanto, pode assumir uma forma muito linear, técnica.
Por exemplo: art.º 809 Código Civil – obrigações naturais e, ainda, art.º 402 Código
Civil. São deixados pelo direito fundamentalmente no âmbito da consciência da
palavra de atos, as partes são pessoas que respeitam a palavra dada e pautam a sua
vida pelo cumprimento das responsabilidades que assumem independentemente de
elas serem juridicamente demandáveis ou não.

Razão de solidade
A solidade que a lei impõe a certas declarações negociais dão mote, importância do
negócio a ser celebrado. É um negócio que revela o ponto de vista da vivência social,
uma relevância assinalada.

Três patamares
Forma legal – é aquela que é exigida pela própria lei para garantir a validade de
determinada declaração negocial.
Forma voluntária – embora não seja exigida por lei ou por convenção, no entanto, o
declarante adota-a livremente consoante a sua vontade.
Forma convencional – forma que será utilizada por acordo entre as partes.

Formas especiais – podemos estabelecer entre o Código Civil e o Código do Notariado.

Fase Pré Contratual


Esta fase pré contratual implica o cumprimento do dever de comportamento segundo
o princípio da boa-fé.

Chegou-se a esta conclusão com um escrito fundamental feito por um jurista alemão
do século 19, cujo nome é Rudolph Von Jhering. Este senhor, com base nas
informações que recolhei a propósito dos contributos feitos pelos juristas romanos
antes de Cristo, criou um mecanismo onde chegou à conclusão que mesmo no período
de formação do contrato, enquanto o contrato ainda não está concluído, isso não
significa que as partes envolvidas possam atuar de qualquer maneira. Então,
identificou dois pilares para sustentar este mecanismo: pilar da culpa e pilar da
responsabilidade, ou seja, quem, durante esse período, atue com culpa pode vir a ser
responsabilizado pelos danos que tenha causado à outra parte por via do seu
comportamento culposo.

Este sistema fundamentava-se, desde logo, numa ideia de que mesmo no período pré
contratual existe a necessidade de tutelar a confiança mútua, isto é, quando as partes
negoceiam para virem a celebrar um contrato, é natural que se entenda que todas elas
assentam numa base de confiança mútua. Porque se essa confiança não existir
provavelmente as negociações nem terão início. Quando se define um nível de
confiança para interpelar negociações, então deve também ser tutelada essa mesma
confiança evitando que as partes adotem comportamentos que ofendam essa
confiança, que manchem essa confiança.

Por outro lado, há a questão relativa à primazia da materialidade subjacente, isto é,


no uso da sua liberdade negocial/no uso da sua autonomia da vontade, as partes só
celebram os contratos que quiserem quando quiserem e da forma que quiserem,
com o conteúdo que quiserem. Então, se, de acordo com o princípio da autonomia da
vontade, chegue à conclusão de que as partes só celebram o contrato quando querem,
como querem e com o conteúdo que querem, não faz sentido que durante o período
pré contratual não se comportem de um modo legítimo e, porventura, conduzem o
seu comportamento negocial de forma que a outra parte possa a vir sofrer danos. Isto
fundamentou a ideia da criação deste mecanismo da culpa da formação dos contratos,
ou como é genericamente conhecida, ‘’culpa in contrahendo’’ (culpa no período até
que se forme o contrato).

As razões em que assenta a necessidade de tutelar o período pré negocial são: a tutela
da confiança (as partes depositam confiança uma nas outras, tendo em vista a
celebração de um contrato) e tutela da primazia da materialidade subjacente a esse
período.

É evidente que, para justificar a intervenção da culpa e intervenção da


responsabilidade, teria de ser encontrado um aferidor que permitisse identificar
quando é que haveria culpa ou não.
Por exemplo: cai um livro no chão e alguém diz ‘’você é culpado’’, eu digo que o livro
está numa ponta da sala e eu noutra, isto é, teve de se encontrar uma medida padrão
pela qual fosse possível aferir a culpa no comportamento das partes. Não podia deixar
de ser outra que não o princípio da boa-fé.

No seio das sociedades humanas em geral, é entendido como um quadro de


honestidade, honradez, lealdade e esse quadro constitui aquilo que a teoria seria a
boa-fé objetiva.
Boa-fé subjetiva e objetiva
Boa-fé subjetiva
A verificação de que o sujeito no seu comportamento se pauta pelos valores que
identificam a boa-fé objetiva.
Há manifestações de uma e de outra situação na nossa lei – comparar o conteúdo do
art.º 227, n.º 1 e art.º 1260, n.º 1 do Código Civil.

Boa-fé objetiva
Art.º 227, n.º 1 do Código Civil – refere-se à pauta de conduta em abstrato, que vai
permitir que lhe seja subsumido o comportamento do sujeito e seja possível apurar se
o sujeito está a agir de boa-fé ou não.
Art.º 1260, n.º 1 do Código Civil.

O princípio da boa-fé apresentou-se como o aferidor natural da verificação da natureza


do comportamento adotado pelos sujeitos na fase pré contratual, ao agirem,
contatarem, negociaram a celebração do contrato, as partes devem completar-se com
os princípios da boa-fé objetiva. Depois verificar-se-á se o comportamento em
concreto de cada sujeito se pode ser subsumido a este quadro geral de valores que é
fornecido pela boa-fé subjetiva.

Por exemplo: situação em que alguém manifesta a intenção de comprar um veículo


automóvel: incute no vendedor a ideia razoável de que o automóvel será comprado
por aquele sujeito.
- Aparecem outros interessados e o vendedor recusa a venda do automóvel a esses
outros interessados na base da confiança que lhe foi suscitada pelo comprador que o
contactou em primeiro lugar e lhe deu a indicação séria de que iria adquirir o
automóvel.
- De repente, o potencial comprador contacta o vendedor e afinal não gosta da cor e
não vai comprar.
- Podemos admitir que este seria um comportamento de acordo com o princípio da
boa-fé? O potencial comprador alguma vez no início do contacto fez uma referência
especial à cor do automóvel?
- Quando o vendedor lhe exibe o automóvel, o potencial comprador nada refere
apenas acena. Sem nada que se faça prever, invoca o elemento cor para colocar fim à
negociação e virar costas e ir embora PODERÁ ser uma situação em que se verifica que
o comportamento pré negocial não respeitou o princípio da boa-fé. Esse desrespeito
pelo princípio da boa-fé pela parte do potencial comprador provocou danos no
vendedor, esses danos terão de ser indemnizados por via do funcionamento dos
mecanismos da responsabilidade.
- O acionamento da culpa in contrahendo não é automático, podendo ser da
verificação de um comportamento culposo que provocando danos aciona a
responsabilidade.
- Se não houver comportamento culposo, a existência de danos para a outra parte é
irrelevante porque aconteceram sem qualquer intervenção de um dos negociantes. Se
houve comportamento culposo, mas desse comportamento não resultaram quaisquer
danos para a outra parte, o assunto também fica morto à nascença.
- A responsabilidade só pode ser acionada se existir comportamento culposo e
verificar-se danos na esfera jurídica da outra parte.

O que é que fundamenta esta responsabilidade?


Foram atentadas duas soluções explicativas para justificar esta responsabilidade.

A primeira é a de que essa responsabilidade resultava dos princípios da


responsabilidade obrigacional, isto é, resultava do facto de logo no período pré
negocial intenderem sobre as partes que negociam a celebração do contrato, a
adstrição do cumprimento de certas obrigações.
A outra teoria indicou-se que a responsabilidade pré contratual resultava única e
exclusivamente de uma imposição legal.

De acordo com o que está fixado no nosso código, a solução adotada permite concluir
que de facto a responsabilidade pré contratual tem uma natureza obrigacional.
Até porque o próprio art.º 227, n.º 2 refere que a responsabilidade prescreve nos
termos do art.º 498 – este último artigo verifica que se encontra numa subsecção
relacionada com a responsabilidade por factos ilícitos, isto é, responsabilidade por
incumprimento contratual.

A responsabilidade pré contratual funciona de acordo com as regras da


responsabilidade obrigacional e não apenas por derivação de uma qualquer imposição
legal expressa.

Princípio da boa-fé em sentido objetivo e subjetivo


Boa-fé em sentido subjetivo – tem em vista a situação de quem julga atuar em
conformidade com o direito, por desconhecer ou ignorar, designadamente, qualquer
vício ou circunstância anterior.
Por exemplo:
 Art.º 243, n.º 2 Código Civil, ao dizer que ‘’a boa-fé consiste na ignorância da
simulação’’;
 Art.º 291, n.º 3 Código Civil, ao considerar de boa-fé o terceiro que
‘’desconhecia, sem culpa, o vício do negócio nulo ou anulável’’;
 Art.º 612 Código Civil, ao entender por má-fé ‘’a consciência do prejuízo que o
ato causa ao credo’’;
 Art.º 1260, n.º 1 Código Civil, ao dizer que a posse é de boa-fé ‘’quando o
possuidor ignorava, ao adquiri-la, que lesava o direito de outrem’’.

Boa-fé em sentido objetivo – constitui uma regra de conduta segundo a qual os


contraentes devem agir de modo honesto, correto e leal, não só impedindo assim
comportamento desleais como impondo deveres de colaboração entre eles.
Por exemplo:
 Art.º 227, n.º 1 Código Civil, fala das ‘’regras de boa-fé’’;
 Art.º 239 Código Civil, apela aos ‘’ditames da boa-fé’’;
 Art.º 334 Código Civil, menciona os ‘’limites impostos pela boa-fé’’;
 Art.º 437, n.º 1 Código Civil, consagra o ‘’princípio da boa-fé’’;
 Art.º 762, n.º 2 Código Civil, manda os contraentes proceder de ‘’boa-fé’’.

Você também pode gostar