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III: TEORIA
GERAL DOS
CONTRATOS
Introdução
Os negócios jurídicos não se formam sem a vontade das pessoas. Essa
vontade, inicialmente interna, subjetiva, é a propulsora do contratar.
Todavia, essa vontade não tem, em geral, como ser apreendida e adequa-
damente tutelada pelo Direito. Assim, o mundo jurídico, normalmente,
preocupa-se com a vontade declarada, aquela objetiva, externada pelas
partes de modo a chegar em um consenso e concluir o negócio desejado.
Por outro lado, mesmo que externalizem a sua vontade, raramente as
partes conseguirão exprimir, por meio dos contratos, todas as vicissitudes
ou eventualidades que poderão fazer parte do seu processo negocial.
Além disso, não raro, será necessário que se valham de ferramentas para
interpretar ou complementar as disposições contratuais por elas firmadas.
Neste capítulo, você vai ler sobre a formação dos contratos e as fer-
ramentas capazes de auxiliar as partes e os juízes na interpretação e
integração contratual.
O professor Clóvis do Couto e Silva (2007), na obra A obrigação como processo, assevera
que a obrigação não pode ser compreendida apenas como um vínculo jurídico que
une credor e devedor por meio de prestações de dar, fazer ou não fazer, mas que a
relação obrigacional é algo que se encadeia, que se desdobra em direção à satisfação
dos interesses do credor, logo, em direção ao adimplemento. Considerando que os
contratos são a fonte mais notória das obrigações, nada mais coerente do que examiná-
-los por esse prisma, isto é, compreendê-los como um processo.
A fase de negociações preliminares não vincula as partes a uma relação jurídica — ainda
não há nem a proposta, nem a conclusão do contrato.
A pessoa presente é aquela que mantém contato direto e simultâneo com a outra — caso
em que o aceitante toma ciência da oferta quase instantaneamente — como a comuni-
cação realizada por um chat (sala virtual de comunicação), Skype, telefone, entre outros.
A pessoa ausente é aquela que não mantém contato direto nem imediato com a outra
— há, assim, um decurso de tempo, um lapso, entre a proposta, a ciência e a resposta do
aceitante — como a comunicação realizada por cartas, telegrama, e-mail, entre outros.
Aceitação e oblação
É a fase de formação ou de conclusão do contrato, ou seja, quando se dá a
celebração do contrato. Em razão da sua relevância, a fase da aceitação será
analisada em tópico específico.
Aceitação
Como o próprio nome indica, a aceitação é a fase em que o oblato, aceitante
ou policitado responde afirmativamente à proposta de contratar.
No momento em que o oblato aceitar a proposta, o contrato é perfectibili-
zado. A aceitação poderá se dar de forma expressa ou tácita, como dispõe o
art. 432 do Código Civil: “Art. 432 Se o negócio for daqueles em que não seja
costume a aceitação expressa, ou o proponente a tiver dispensado, reputar-
-se-á concluído o contrato, não chegando a tempo a recusa” (BRASIL, 2002,
documento on-line).
Será expressa, assim como na proposta, quando declarada pelo aceitante
por meio de gestos, palavra escrita ou sinais. Será tácita quando da conduta
do aceitante se puder concluir pela aceitação. Por exemplo, quando, embora
não tenha expressamente se manifestado, o aceitante envia o bem objeto da
compra e venda.
A aceitação, quando realizada fora do prazo ou com alterações na pro-
posta, configurará contraproposta, que necessitará de aceitação, agora, da
outra parte. Nesse sentido: “Art. 431 A aceitação fora do prazo, com adições,
restrições, ou modificações, importará nova proposta” (BRASIL, 2002,
documento on-line).
Outrossim, para que o aceitante consiga voltar atrás em sua aceita-
ção, deverá fazê-lo antes ou concomitantemente à aceitação, sob pena
de vincular-se ao negócio jurídico, como expressa o art. 433 do Código
Civil: “Art. 433 Considera-se inexistente a aceitação, se antes dela ou
com ela chegar ao proponente a retratação do aceitante” (BRASIL, 2002,
documento on-line).
Ainda, a boa-fé objetiva deverá pautar a conduta das partes em todas as
fases da formação do contrato (bem como após sua conclusão). O art. 430 do
Código Civil corrobora essa afirmação (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO,
2008), impondo o dever de informar ao proponente, como segue: “Art. 430
Se a aceitação, por circunstância imprevista, chegar tarde ao conhecimento
do proponente, este comunicá-lo-á imediatamente ao aceitante, sob pena de
responder por perdas e danos” (BRASIL, 2002, documento on-line).
Significa que, caso a aceitação, por motivos alheios à vontade das partes,
venha a ser recebida fora do prazo, é dever do proponente comunicar o aceitante
para não ser responsabilizado.
Tempo da aceitação
Quando presentes as partes, não há dificuldades de determinar o momento da
aceitação, pois ela se dará no momento da resposta do aceitante. Entretanto,
estando ausentes as partes, não é tarefa tão singela determinar esse momento.
O art. 434 do Código Civil dispõe sobre o momento da aceitação, isto é,
pode-se considerar concluído o contrato quando as partes não se encontram
presentes. Segue transcrição:
Art. 434 Os contratos entre ausentes tornam-se perfeitos desde que a aceitação
é expedida, exceto:
I — no caso do artigo antecedente;
II — se o proponente se houver comprometido a esperar resposta;
III — se ela não chegar no prazo convencionado. (BRASIL, 2002, documento
on-line).
Lugar da aceitação
Sobre o lugar da formação dos contratos, o Código Civil, de modo mais
simplificado, dispõe que: “Art. 435 Reputar-se-á celebrado o contrato no lugar
em que foi proposto” (BRASIL, 2002, documento on-line).
Diante disso, o contrato entre presentes é considerado formado no local em
que as partes se encontram (policitante e policitado). Por sua vez, o contrato
entre ausentes ou no qual as partes estejam distantes fisicamente (chat, por
exemplo) é considerado formado no local da realização da proposta — segundo
a regra do art. 435 do Código Civil — considerando não haver disposição
expressa das partes em outro sentido (PEREIRA, 2017).
O local de formação do contrato tem relevância para a determinação da
jurisdição competente e até mesmo para a fixação da lei aplicável, no caso
dos contratos internacionais. Nesse sentido, determina o § 2º do art. 9º da Lei
de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB): “Art. 9º [...] § 2º A
obrigação resultante do contrato reputa-se constituída no lugar em que residir
o proponente” (BRASIL, 1942, documento on-line).
Integração
Integrar um contrato é preencher as suas lacunas e os pontos omissos (GON-
ÇALVES, 2010). Para tanto, serão utilizadas normas supletivas, aquelas que
terão lugar na ausência de deliberação das partes acerca de determinado tema
(lugar da contratação, o momento da conclusão do contrato entre ausentes,
entre outros). As normas supletivas podem ser tanto as regras contidas nas leis
(Código Civil, CDC, entre outros) quanto os princípios que regem os negócios
jurídicos, como a boa-fé objetiva, a função social, os usos e costumes. Segundo
Carlos Roberto Gonçalves (2010, p. 62), a integração:
Interpretação
Interpretar um negócio jurídico é “[...] precisar o sentido e alcance do conteúdo
da declaração de vontade” (GONÇALVES, 2010, p. 62). A interpretação tem
como escopo apurar a real vontade das partes, “[...] não a verdade psicológica,
mas a vontade objetiva, o conteúdo, as normas que nascem da sua declaração”
(GONÇALVES, 2010, p. 62).
[...] o que tem de procurar o hermeneuta é a vontade das partes. Mas como
exprime pela declaração, viajará através dela, até atingir aquela [...] A segurança
social aconselha que o intérprete não despreze a manifestação de vontade ou
vontade declarada, e procure, já que o contrato resulta do consentimento,
qual terá sido a intenção comum dos contratantes, trabalho que nem por ser
difícil pode ser olvidado (PEREIRA, 2017, p. 45).
Com relação à interpretação, ainda sobre o art. 112 do Código Civil, im-
portante mencionar que esse dispositivo exprime o que se entende por regra
de caráter subjetivo ou regra relativa à manifestação de vontade, posto que
busca a compreensão adequada do que aparenta ser a vontade dos contra-