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Fontes das Obrigações Baseadas em Princípios Gerais

Introdução

Diz-se fonte de obrigação o facto jurídico de onde nasce o vínculo obrigacional. Trata-
se da realidade sub specie iuris que dá vida à relação creditória: o contrato, o negócio
unilateral, o facto ilícito, etc.

A fonte tem uma importância especial na vida da obrigação, por virtude da atipicidade
da relação creditória.

Chama-se fonte de uma obrigação ao facto jurídico de que emerge essa obrigação, ao
facto jurídico constitutivo da obrigação.

A sistematização das fontes das obrigações foi feita, ao longo dos séculos, de maneiras
diversas. Uma primeira classificação:

a) Contratos;

b) Quase contratos;

c) Delitos;

d) Quase delitos.

Actualmente, face à nossa lei, são fontes das obrigações:

- Os Contratos (art. 405º segs. CC);

- Os Negócios Jurídicos Unilaterais (arts. 457º segs. CC);

- A Gestão de Negócios (arts. 464º segs. CC);

- Enriquecimento Sem Causa (arts. 473º segs. CC;

- Responsabilidade Civil (arts. 483º segs. CC).

Contratos

Diz-se contratos o acordo vinculativo assente sobre duas ou mais declarações de


vontade (oferta ou proposta, de um lado; aceitação, do outro), contrapostas, mas
perfeitamente harmonizáveis entre si, que visam estabelecer uma composição unitária
de interesses.
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O Código Civil português vigente na define expressamente a figura do contrato, além
de admitir a constituição de obrigações com prestação de carácter não patrimonial
(art. 398º/2 CC), considera expressamente como contratos o casamento (art. 1577º
CC), do qual brotam relações essencialmente pessoais, bem como o pacto sucessório
(arts. 1701º, 2026º, 2028º CC), que é fonte de relações mortis causa.

O contrato pode ser hoje, por conseguinte, não só fonte de obrigações (da sua
constituição, transferência, modificação ou extinção), mas de direitos reais, familiares
e sucessórios.

O contrato é essencialmente um acordo vinculativo de vontades opostas, mas


harmonizáveis entre si.

O seu elemento fundamental é o mútuo consenso. Se as declarações de vontade das


partes, apesar de opostas, não se ajustam uma à outra, não há contrato, por que falta
o mútuo consentimento.

Se a resposta do destinatário da proposta contratual não for de pura aceitação, haverá


que considerá-la, em homenagem à vontade do proponente, como rejeição da
proposta recebida ou como formulação de nova proposta, até se alcançar o pleno
acordo dos contraentes (art. 223º CC).

As vontades integram o acordo contratual, embora concordantes ou ajustáveis entre


si, têm que ser opostas, animadas de sinal contrário.

Se as declarações de vontade são concordantes, mas caminham no mesmo sentido,


reflectindo interesses paralelos, não há contrato, mas acto colectivo ou acordo.

O contrato é um negócio jurídico bilateral ou plurilateral, isto é, integrado pela


manifestação de duas ou mais vantagens diversas que se conjugam para a realização
de um objectivo comum.

A única razão porque se fala em vontades contrapostas, mas convergentes para a


produção de um certo efeito, é para distinguir os contratos dos negócios jurídicos
unilaterais em que há mais de que um sujeito. E aí as declarações de vontade já não
são contrapostas, mas são paralelas.

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A liberdade de contratual encontra-se consagrada no art. 405º CC, e corresponde a
esta ideia muito simples: as partes são livres de celebrar ou não celebrar o contrato
que quiserem.

A liberdade contratual tem, portanto, duas vertentes, ou componentes: a liberdade de


celebração e liberdade de estipulação.

O princípio da liberdade contratual

É uma aplicação da regra da liberdade negocial, sendo ambos eles um corolário do


princípio da autonomia privada, só limitando, em termos gerais, nas disposições dos
arts. 280º e segs. CC (art. 398º CC) e em termos especiais, na regulamentação de
alguns contratos.

Em virtude deste princípio, ninguém pode ser compelido à realização de um contrato.


Esta regra tem também excepções (ex. art. 410º segs. CC).

O princípio da liberdade contratual desdobra-se em vários aspectos:

a) A possibilidade de as partes contratarem ou não contratarem, como melhor lhes


aprouver;

b) A faculdade de, contratando, escolher cada uma delas, livremente, o outro


contraente;

c) A possibilidade de, na regulamentação convencional dos seus interesses, se


afastarem dos contratos típicos ou paradigmáticos disciplinados na lei ou de incluírem
em qualquer destes contratos paradigmáticos cláusulas divergentes da
regulamentação supletiva contida no Código Civil.

Formação do contrato sem declaração de aceitação

A lei civil (art. 234º CC) ajuda a compreender e enquadrar uma parte importante desse
fenómeno negocial.

Trata-se, por conseguinte, de casos em que, mercê de circunstâncias especiais, a lei


tem o contrato por concluído sem declaração de aceitação, embora se não prescinda
da vontade da aceitação.

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São situações em que, dispensando-se a declaração de aceitação, mas não se
prescindindo da vontade de aceitação, esta se demonstra as mais das vezes por actos
de execução da vontade.

Um dos problemas que os contratos celebrados com base em cláusulas contratuais


gerais colocam é desde logo o aderente ao contrato não reconhecer a totalidade do
clausulado contratual.

A lei, impõe ao predisponente das cláusulas contratuais gerais um dever de


comunicação, na integra das cláusulas dos seus destinatários. Esse dever de
comunicação, que está expressamente consagrado no art. 5º, consubstancia uma
reafirmação do dever de comunicação que existe, para qualquer contraente, em
qualquer contrato que queira celebrar, de comunicar ao outro contraente o conteúdo
do contrato que pretende concluir.

Por cláusulas contratuais gerais entende o diploma (art. 1º), as elaboras antes do
contrato em que são insertas e que os proponentes ou destinatários indeterminados
se limitam, respectivamente, a subscrever ou aceitar.

Responsabilidade pré-contratual, a culpa in contrahendo e o princípio da boa fé

O art. 227º CC, segundo o qual “quem negoceia com outrem para conclusão de um
contrato deve, tanto nos preliminares como na formação dele, proceder segundo
regras de boa-fé, sob pena de responder pelos danos que culposamente causar à outra
parte”.

A lei, consagra a tese da responsabilidade civil pré-contratual pelos danos


culposamente causados à contraparte tanto no período de negociações como no
momento decisivo da conclusão do contrato, abrangendo, por conseguinte a tese
crucial da relação final das cláusulas do contrato.

Em segundo lugar, a responsabilidade das partes não se circunscreve, à cobertura dos


danos culposamente causados à contraparte pela invalidade do negócio. A
responsabilidade pré-contratual, com a amplitude que lhe dá a redacção do art. 277º
CC, abrange os danos provenientes de esclarecimento e de lealdade em que se
desdobra o amplo aspecto negocial da boa-fé.

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Em terceiro lugar, além de indicar o critério pelo qual se deve pautar a conduta de
ambas as partes, a lei portuguesa aponta concretamente a sanção aplicável à parte
que, sob qualquer forma, se afasta da conduta exigível: a reparação dos danos
causados à contra parte.

Em quarto lugar, a lei não se limita a proteger a parte contra o malogro da expectativa
de conclusão do negócio, cobrindo-a de igual modo contra outros danos que ela sofra
no inter negotii.

Contratos

Diz-se contratos o acordo vinculativo assente sobre duas ou mais declarações de


vontade (oferta ou proposta, de um lado; aceitação, do outro), contrapostas, mas
perfeitamente harmonizáveis entre si, que visam estabelecer uma composição unitária
de interesses.

O Código Civil português vigente na define expressamente a figura do contrato, além


de admitir a constituição de obrigações com prestação de carácter não patrimonial
(art. 398º/2 CC), considera expressamente como contratos o casamento (art. 1577º
CC), do qual brotam relações essencialmente pessoais, bem como o pacto sucessório
(arts. 1701º, 2026º, 2028º CC), que é fonte de relações mortis causa.

O contrato pode ser hoje, por conseguinte, não só fonte de obrigações (da sua
constituição, transferência, modificação ou extinção), mas de direitos reais, familiares
e sucessórios.

O contrato é essencialmente um acordo vinculativo de vontades opostas, mas


harmonizáveis entre si.

O seu elemento fundamental é o mútuo consenso. Se as declarações de vontade das


partes, apesar de opostas, não se ajustam uma à outra, não há contrato, por que falta
o mútuo consentimento.

Se a resposta do destinatário da proposta contratual não for de pura aceitação, haverá


que considerá-la, em homenagem à vontade do proponente, como rejeição da
proposta recebida ou como formulação de nova proposta, até se alcançar o pleno
acordo dos contraentes (art. 223º CC).

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As vontades integram o acordo contratual, embora concordantes ou ajustáveis entre
si, têm que ser opostas, animadas de sinal contrário.

Se as declarações de vontade são concordantes, mas caminham no mesmo sentido,


reflectindo interesses paralelos, não há contrato, mas acto colectivo ou acordo.

O contrato é um negócio jurídico bilateral ou plurilateral, isto é, integrado pela


manifestação de duas ou mais vantagens diversas que se conjugam para a realização
de um objectivo comum.

A única razão porque se fala em vontades contrapostas, mas convergentes para a


produção de um certo efeito, é para distinguir os contratos dos negócios jurídicos
unilaterais em que há mais de que um sujeito. E aí as declarações de vontade já não
são contrapostas, mas são paralelas.

Analisados os contratos como fontes de obrigações, passamos aos quase-contratos,


geradores das obrigações ex quasi contractu.

Conceito

Quase-contratos são os fatos jurídicos voluntários lícitos que criam relações


obrigacionais, semelhantes às obrigações contratuais, sem que estas tenham acordado
a respeito. São dois os principais quase-contratos: a gestão de negócios e o
enriquecimento sem causa.

Gestão de negócios

A gestão de negócios se assemelha ao mandato, no sentido de que alguém se


encarrega de praticar atos no interesse de outrem, mas ocorre de forma espontânea,
sem que este o tenha incumbido de assim agir. É um exemplo o vizinho que
espontaneamente conserta o telhado na casa do vizinho, danificado pela chuva
enquanto este se encontra em viagem.

O dono da coisa pode exigir a ultimação do ato, a prestação de contas,a entrega dos
frutos ou do lucro auferido e a indenização de danos causados dolosa ou
culposamente. Já o gestor pode exigir, em ação contraria, o reconhecimento dos

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gastos e a indenização das despesas e danos — desde que a sua intervenção seja útil e
não tenha sido previamente proibida pelo dono.

Enriquecimento sem causa

O enriquecimento sem causa decorre do recebimento de pagamento não devido, não


se tratando de doação. Quem recebe fica obrigado à devolução. Os meios processuais
do credor pra obtê-la eram as condictiones, que se dividiam de acordo com o que
levou ao enriquecimento.

Condictio indebiti: pagamento indevido feito erroneamente.

Condictio ob causam datorum: pagamento tendo em vista contraprestação que não foi
realizada.

Condictio ob iniustam: pagamento a título de causa ilícita, como juros exorbitantes.

Condictio ob turpem causam: pagamento realizado por motivo imoral.

Condictio sine causa: todos os casos de enriquecimento sem causa que não se
enquadram nas categorias acima.

Responsabilidade civil

Em suma, o conceito de responsabilidade civil está intimamente relacionado ao


conceito de não prejudicar o outro.

No primeiro momento, a responsabilidade pode ser definida como a tomada de


medidas para forçar alguém a reparar os danos causados a terceiros por suas ações ou
omissões.

Em princípio, toda atividade que acarreta prejuízo gera responsabilidade ou dever de


indenizar (…) O termo responsabilidade é utilizado em qualquer situação na qual
alguma pessoa, natural ou jurídica, deva arcar com as consequências de um ato, fato
ou negócio danoso.

Qual a diferença entre obrigação e responsabilidade?

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Segundo Cavalieri Filho, enquanto o primeiro, a obrigação, é sempre um dever
originário; o segundo, a responsabilidade, é um dever sucessivo, consequente à
violação do primeiro instituto.

Portanto, os conceitos se relacionam, mas se divergem em deveres originários ou


sucessivos.

Quais são os tipos de responsabilidade civil?

Em síntese, a responsabilidade civil é classificada pela doutrina tanto em função da


culpa (responsabilidade objectiva e subjectiva), como também em função da natureza
(responsabilidade contratual e extracontratual).

Responsabilidade civil: subjetiva X objetiva

A diferença é que na responsabilidade civil subjectiva a vítima precisa provar a culpa


do agente, enquanto que na responsabilidade civil objectiva não há necessidade
comprobatória de culpa.

Em um primeiro momento, na sociedade, surgiu a responsabilidade civil subjectiva,


conceito clássico, no qual a vítima só poderia obter indenização se provasse a culpa do
agente.

E até certo ponto da história, a responsabilidade civil subjectiva era suficiente para
dirimir os conflitos da sociedade.

Entretanto, o surgimento das máquinas e de outras invenções tecnológicas promoveu


o desenvolvimento da indústria e o crescimento populacional. O impacto disso foi a
criação de uma nova situação que não pôde mais ser sustentada pela culpa puramente
tradicional, clássica.

A necessidade de maior proteção à vítima fez nascer a culpa presumida, de sorte a


inverter o ônus da prova e solucionar a grande dificuldade daquele que sofreu um
dano demonstrar a culpa do responsável pela ação ou omissão.

O próximo passo foi desconsiderar a culpa como elemento indispensável, nos casos
expressos em lei, surgindo a responsabilidade objetiva, quando então não se indaga se
o ato é culpável.

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Haverá obrigação de reparar o dano, independente de culpa, nos casos especificados
em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar,
por sua natureza, risco para os direitos de outrem.

Qual a diferença entre responsabilidade civil contratual e extracontratual?

A responsabilidade civil pode ser dividida em contratual ou extracontratual de acordo


com a natureza do dever jurídico violado.

Primeiramente, na responsabilidade civil contratual, configura o dano causado em


decorrência do que consta em contrato ou negócio jurídico unilateral.

A responsabilidade por atos unilaterais de vontade, como a promessa de recompensa


é também contratual, por assemelhaça, uma vez que os atos unilaterais só geram
efeitos e, portanto, responsabilidade, após se bilateralizarem, Se um indivíduo
promete pagar uma recompensa a que lhe restitui os documentos perdidos, só será
efetivamente responsável, se e quando alguém encontrar e restituir os documentos,
ou seja, depois da bilaterização da promessa. Entretanto, a responsabilidade
extracontratual, também denominada Aquiliana, se baseia em obrigações legais
derivadas da lei ou do ordenamento jurídico.

Em suma, o dever jurídico violado não está previsto em contrato e não existe relação
jurídica anterior entre a vítima e o lesante.

Um exemplo disso é a obrigação de reparar danos causados por acidente entre


veículos. Não houve um contrato prévio.

Dessa maneira, tanto a responsabilidade contratual como a extracontratual têm as


mesmas consequências jurídicas: a obrigação de reparar o dano.

Portanto, a diferença entre elas está na natureza dessas responsabilidades.

Quais são as excludentes de responsabilidade civil?

Em resumo, as excludentes de responsabilidade civil são:

- o nexo causal (vínculo da conduta do agente com o resultado);

- a culpa exclusiva da vítima;

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- o fato de terceiro;

- o caso fortuito (fato humano alheio à vontade da parte) e;

- a força maior (fato ou ocorrência difícil ou imprevisível de prever que gera efeitos
inevitáveis).

Já no campo contratual, caso exista a cláusula de não indenizar, ela pode ser uma
excludente de responsabilidade civil também.

Como apresentado, conhecer os detalhes da responsabilidade civil é muito


importante, pois te dá segurança para ter uma atuação eficaz, que respeite o Direito e
construa autoridade no seu nome.

Condição resolutiva tácita

Se a impossibilidade da prestação proceder de facto imputável ao devedor, tem o


credor a faculdade de resolver o contrato e de exigir a restituição da sua prestação por
inteiro, se porventura a tiver já realizado (art. 810º/2 CC).

É a principal sanção apontada contra o inadimplemento da obrigação nos contratos


bilaterais, medida que assenta sobre a chamada condição resolutiva tácita. A
designação de condição resolutiva tácita, repousa sobre a ideia de que, atento o nexo
de interdependência psicológica existente entre as prestações integradoras do
contrato bilateral, cada uma das partes se reserva a faculdade de resolver o contrato
(fazendo cessar a sua eficácia) se a outra não quiser ou não puder cumprir.

Contrato a favor de terceiro

É o contrato em que um dos contraentes (promitente) atribui, por conta e à ordem do


outro (promissário), uma vantagem a um terceiro (beneficiário) estranho à relação
contratual.

A vantagem traduz-se em regra numa prestação assente sobre o respectivo direito de


crédito; mas pode consistir outro sim na liberação de um débito, na constituição,
modificação ou extinção de um direito real.

Essencial ao contrato a favor de terceiro, como figura típica autónoma, é que os


contraentes procedam com a intenção de atribuir, através dele, um direito (de crédito

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ou real) a terceiro ou que dele resulte, pelo menos, uma atribuição patrimonial
imediata para o beneficiário.

Contrato para pessoa a nomear (art. 452º CC)

É o contrato em que uma das partes se reserva a faculdade de designar uma outra
pessoa que assuma a sua posição na relação contratual, como se o contrato tivesse
sido celebrado com esta última.

Não há no contrato para pessoa a nomear nenhum desvio ao princípio da eficácia


relativa (inter partes) dos contratos. O contrato para pessoa a nomear produz todos os
seus efeitos apenas entre os contraentes. Só que, enquanto não há designação do
animus electu, os contraentes são os outorgantes do contrato. Depois da designação, o
contraente passa a ser, de acordo com o conteúdo do contrato, já não o outorgante,
mas a pessoa designada (art. 455º/1 CC).

Este contrato tem o seu campo principal de incidência na compra e venda. E tanto
pode ser posteriormente nomeado o comprador, como o vendedor.

Ou a pessoa a nomear aceita o negócio e considera-se contraente o que o foi


originariamente, salvo, neste último caso, se houver estipulação em contrário. Admite-
se assim, dentro dos princípios da autonomia privada, que se deixe o negócio sob
condição, ou seja, ineficaz se a pessoa a nomear não o ratificar.

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