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Contratos em geral:

transação, compromisso
e pagamento indevido

Transação
Entende-se por transação as concessões mútuas, feitas pelos interessados, para ter-
minar ou prevenir o litígio (CC, art. 840). A transação, portanto, pode ser extintiva (quan-
do se busca terminar litígio já existente) ou preventiva (quando a intenção é a de prevenir
o litígio, não deixando que se instale).

A transação só é cabível quanto a direitos patrimoniais privados (CC, art. 841),


e por isso não pode ser admitida em relação ao estado da pessoa, ao direito pessoal de
família, aos direitos da personalidade etc. Além disso, a interpretação da transação deve
ser restritiva, não servindo para transmitir direitos, mas apenas para declará-los ou
reconhecê-los (art. 843). Ou seja: o direito reconhecido a uma das partes transigentes
não lhe foi atribuído pela transação, pois na realidade sempre lhe pertenceu – a transa-
ção apenas o declarou.

A transação é negócio jurídico solene e por isso deve ser ajustada por escrito,
adotando a escritura pública nos casos em que a lei a exige para a obrigação transigida
(CC, art. 842), e além disso é indivisível (art. 848), ou seja, se uma de suas cláusulas for
nula, toda a transação o será, por não haver como separar apenas a parte válida.

Deve haver dúvida sobre a relação jurídica sobre a qual se transige, caso contrá-
rio não se tratará de transação, mas sim de renúncia. Assim, por exemplo, se já existe
decisão judicial passada em julgado, mas uma das partes não a conhece, a transação será
nula, pois já não havia mais dúvidas sobre a relação (CC, art. 850).

Se houver a evicção da coisa renunciada por um dos transigentes, nesse caso a


solução se dará em perdas e danos, mas a obrigação continuará extinta (CC, art. 845).

Do compromisso
Compromisso é a convenção judicial ou extrajudicial para submeter o litígio à
apreciação de árbitros, só podendo ser firmado entre pessoas que têm capacidade para
contratar (CC, art. 851). Só se admite o compromisso quanto a direitos patrimoniais

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disponíveis (art. 852), não sendo possível quanto a questões de estado da pessoa, de
direitos pessoais de família, ou outras que não sejam de caráter estritamente patrimo-
nial.

Pode ser árbitro qualquer pessoa capaz, bastando que tenha a confiança das par-
tes (Lei 9.307/96, art. 13). Logo, não se exige do árbitro curso superior, ou alguma
formação especializada, ou qualquer habilidade específica: basta que seja capaz e que as
partes confiem nele. E nada impede que as partes escolham vários árbitros, em vez de
se contentarem com apenas um.

Entende-se por cláusula compromissória aquela cláusula contratual pela qual as


partes se comprometem, caso surjam divergências no contrato, a submetê-las à arbitra-
gem (CC, art. 853). Nos contratos de adesão, a cláusula compromissória só será válida
se ao aderente se deixar a iniciativa da arbitragem (Lei 9.307, art. 4.º, §2.º).

Além disso, é abusiva, nas relações de consumo, a cláusula que estipule a arbitra-
gem compulsória (CDC, art. 51, VII).

A sentença arbitral, ou seja, o laudo proferido pelo árbitro, faz coisa julgada. Se
condenatória, servirá como título executivo (Lei 9.307, art. 31). As partes não podem
recorrer ao Judiciário para modificar a decisão do árbitro, só podendo buscar a via judi-
cial se for nula a sentença, como por exemplo na hipótese de o árbitro ser incapaz (Lei
9.307, art. 33).

Pagamento indevido
O pagamento será indevido quando a dívida não existia (por exemplo, já havia
sido paga por outra pessoa ou era nula), se o solvens não era o verdadeiro devedor ou se
o accipiens não era o verdadeiro credor. Também se terá pagamento indevido no caso de
ser recebida dívida condicional antes de cumprida a condição (CC, art. 876).

Mas veja-se que é daquele que pagou voluntariamente o ônus de provar que o fez
por erro, pois poderia estar efetivamente praticando uma liberalidade.

O accipiens é obrigado a restituir o que indevidamente recebeu (repetição do in-


débito), mas não haverá tal repetição se tratava-se de dívida prescrita, se a obrigação era
judicialmente inexigível ou se o pagamento foi efetuado para obter fim ilícito, imoral ou
proibido por lei (CC, arts. 882 e 883).

Dívida prescrita ou judicialmente inexigível são, na verdade, hipóteses de obriga-


ções naturais, ou seja, hipóteses nas quais o credor não pode exigir o pagamento, mas
a dívida existe e por isso o seu pagamento não é indevido e não dá direito ao pedido
de repetição. Se o pagamento foi para obter fim ilícito ou imoral, o solvens não poderá

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pleitear-lhe a devolução, mas também não deverá ficar com o accipiens, e por isso deverá
reverter em favor de estabelecimento de beneficência, a critério do juiz (CC, art. 883,
parágrafo único).

Contratos: disposições preliminares


Contrato é negócio jurídico bilateral (bifronte), o que não deve ser confundido
com o conceito de contrato bilateral. O contrato é negócio bilateral porque haverá dois
polos emissores da vontade. O contrato bilateral, por sua vez, é aquele em que os
dois contratantes têm obrigações a cumprir, como ocorre por exemplo na compra e
venda; o vendedor tem a obrigação de entregar a coisa, enquanto o comprador tem a
obrigação de pagar o preço. Nos contratos unilaterais, por sua vez, apenas um dos con-
tratantes tem obrigação a cumprir, como ocorre na doação, na qual apenas o doador tem
obrigação, que é a de transferir o domínio da coisa ao donatário.

Os princípios básicos do direito contratual são autonomia da vontade, relativida-


de das convenções, obrigatoriedade das convenções, probidade e boa-fé.

Em relação à autonomia da vontade, convém observar que ela não é absoluta, sen-
do limitada pelas normas de ordem pública e pela função social do contrato, ou seja,
pela indispensabilidade de que o contrato cumpra a finalidade social a que se destina e
que seja mantido o equilíbrio contratual. A autonomia da vontade fica muito clara na
autorização, expressa no CC, para que as partes possam celebrar contratos atípicos (CC,
art. 425).

Quanto à relatividade das convenções, veja-se que em princípio os efeitos dos con-
tratos dizem respeito apenas aos próprios contratantes, não afetando terceiros que se-
jam estranhos ao pacto.

No que se refere à obrigatoriedade das convenções (pacta sunt servanda), ela é limita-
da pela cláusula rebus sic stantibus (teoria da imprevisão), ou seja, em princípio as partes
contratantes devem cumprir o contrato como foi ajustado, mas se por fato supervenien-
te e imprevisto uma das prestações se tornar excessivamente onerosa, poderá ser pedida
a revisão ou mesmo a extinção do contrato.

Sobre os princípios da probidade e da boa-fé, pode-se apontar que ambos devem


ser observados não apenas no momento de contratar, mas ao longo de toda a execução
do contrato. Tais princípios impõem, por exemplo, a rejeição das cláusulas abusivas e
podem ser descritos como o comportamento que se pode legitimamente esperar da
pessoa honesta. Logo, como se mostra evidente, o significado de tais princípios varia de
uma situação para outra.

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É importante ressaltar que há algumas restrições no contrato de adesão:


■■ a cláusula ambígua deve ser interpretada em favor do aderente (CC, art. 423),
e portanto em desfavor da parte que a redigiu;
■■ é nula a cláusula que importe em renúncia antecipada, pelo aderente, a direito
inerente àquele tipo de negócio (CC, art. 424).

E como restrição geral, ou seja, que se impõe a qualquer espécie de contrato,


temos a vedação do pacta corvina (CC, art. 426), ou seja, a proibição de que se celebre
contrato sobre a herança de pessoa viva. Não pode o filho, por exemplo, celebrar con-
trato de cessão de direitos sobre a cota hereditária que espera vir a herdar de seu pai,
que ainda está vivo.

Classificação dos contratos: principais aspectos


■■ Unilaterais e bilaterais: unilaterais são os contratos em que apenas um dos
contratantes tem obrigações a cumprir (ex.: doação); bilaterais, por sua vez,
são os contratos nos quais as obrigações aparecem para ambos os contratantes
(ex.: locação e compra e venda).
■■ Onerosos e gratuitos: onerosos são os contratos em que há sacrifício patrimo-
nial para ambos os contratantes (ex.: troca ou locação); gratuitos, por sua vez,
são os contratos em que apenas um dos contratantes tem sacrifício patrimo-
nial, como no caso da doação ou do comodato.
■■ Solenes e não solenes: solenes são os contratos em relação aos quais a lei im-
põe, para a sua validade, a observância de determinada forma, como ocorre na
compra e venda de imóvel cujo valor supere os 30 salários mínimos; não solenes
são os contratos em relação aos quais a lei não exige qualquer formalismo, sen-
do válidos até mesmo quando verbais, como é o caso da troca de bens móveis.
Convém lembrar que no nosso direito a regra geral é a da liberdade de forma,
ou seja, a validade dos atos jurídicos não depende de forma especial, a não ser
nos casos em que a lei a exige (CC, art. 107).
■■ Comutativos e aleatórios: comutativos são os contratos em que ambos os con-
tratantes já conhecem previamente as suas próprias prestações, ou seja, cada
um deles sabe o que vai entregar e o que vai receber, havendo equilíbrio entre
as prestações recíprocas; aleatórios são aqueles contratos em que uma das pres-
tações é desconhecida, e portanto se caracteriza o risco (álea = “risco”), pois
não se sabe quem terá lucro e quem terá prejuízo.
■■ Consensuais e reais: consensuais são os contratos que se aperfeiçoam com o
simples consentimento entre os contratantes, como ocorre na compra e venda
pura, que estará perfeita tão logo as partes cheguem a acordo sobre a coisa e

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sobre o preço (CC, art. 482), pouco importando se a coisa já foi entregue ou se
o preço já foi pago. O contrato real, por sua vez, só se aperfeiçoa com a efetiva
entrega da coisa, como ocorre no contrato de comodato (art. 579). Mas não se
deve confundir o contrato real com o contrato de efeitos reais, que não existe no
nosso direito: no nosso ordenamento, todo contrato gera efeitos apenas obri-
gacionais, e não reais, ou seja, o contrato por si só não transfere o domínio,
gerando apenas a obrigação de transferi-lo.
■■ Paritários e de adesão: paritários são os contratos cujas cláusulas são elabora-
das por ambos os contratantes, que em situação de igualdade as discutem até
chegarem em um ponto que a ambos atenda. Os contratos de adesão, por sua
vez, são aqueles cujas cláusulas são elaboradas por apenas um dos contratan-
tes, sendo que ao outro cabe apenas aderir ao contrato ou não contratar, não
lhe sendo permitida a discussão das cláusulas.

Formação dos contratos


A formação do contrato passa, necessariamente, por duas fases distintas: a pro-
posta e a aceitação. A proposta, em regra, vincula o proponente, como veremos logo em
seguida, enquanto a aceitação vincula o oblato (aquele que aceita). Quando ambos esti-
verem vinculados, ter-se-á o contrato.

A proposta obriga o proponente, se o contrário não resultar de seus termos ou


das circunstâncias do negócio (CC, art. 427). Ela, portanto, é uma declaração receptícia
da vontade, ou seja, é manifestação unilateral, dirigida a alguém, e que tem o efeito de
vincular o que a fez, tão logo chegue ao conhecimento do destinatário.

Entre presentes, a proposta deve ser aceita na hora (ou dentro do prazo dado
pelo que a fez), senão libera o proponente. Mas veja-se que presente é aquele que pode
responder de imediato, o que inclui a resposta por telefone ou por meio de comunicação
semelhante (CC, art. 428, I).

Entre ausentes, por sua vez, a proposta deixa de ser obrigatória se não for
expedida no prazo a aceitação ou se junto com ela ou antes dela chegar a retratação do
proponente (CC, art. 428).

A oferta ao público será considerada como proposta, desde que contenha todos os
elementos do contrato (CC, art. 429), mas pode ser revogada pela mesma via por meio
da qual foi divulgada, se foi ressalvada essa faculdade pelo próprio proponente.

Sobre a aceitação, o aspecto mais importante a ser ressaltado é que ela deve im-
plicar uma adesão integral à proposta, pois se contiver alguma restrição, condição ou
modificação, na verdade não se tratará de aceitação, mas sim de uma nova proposta
(CC, art. 431).

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Quando se trata de contrato entre ausentes, a aceitação aperfeiçoa o contrato no


momento em que for expedida, exceto se antes dela ou junto com ela chegar ao propo-
nente a retratação do aceitante, ou então se o proponente se comprometeu a esperar a
resposta, pois nesse caso o contrato se aperfeiçoará quando a resposta for recebida (CC,
arts. 433 e 434).

Em relação ao momento da formação do contrato, há duas teorias distintas: a da


cognição (ou informação) e a da agnição (ou declaração), sendo que esta última se subdi-
vide em três subteorias: agnição pura e simples, expedição e recepção.

Como já pudemos perceber acima, nosso Código adotou, como regra, a teoria
da agnição, subteoria da expedição (ou seja, o contrato entre ausentes se aperfeiçoa no
momento em que a aceitação é expedida), mas permite às partes elegerem a subteoria da
recepção (CC, art. 434), e nesse caso o aperfeiçoamento só ocorrerá quando a aceitação
for recebida pelo proponente.

Quanto ao lugar da formação do contrato, considera-se como tal o local onde foi
feita a proposta (CC, art. 435).

Promessa de fato de terceiro


Aquele que prometeu fato de terceiro (promitente) responderá por perdas e
danos caso o terceiro não cumpra o fato prometido. Mas se o terceiro tiver concordado
com o cumprimento da obrigação, o promitente por nada responderá, ainda que o ter-
ceiro não cumpra a prestação prometida (CC, arts. 439 e 440).

Da mesma forma, o promitente por nada responderá se o terceiro for o seu pró-
prio cônjuge, de cuja anuência depende a validade do ato praticado e se a indenização
puder recair sobre seus bens (CC, art. 439, parágrafo único).

Vícios redibitórios
São os vícios ou defeitos ocultos, já existentes no momento da tradição da coisa
adquirida em virtude de contrato comutativo ou de doação onerosa, e que tornam essa
coisa imprópria ao uso normal a que se destina ou lhe diminuem o valor.

O adquirente poderá enjeitar a coisa que contém o vício, pois o alienante tem o
dever de garantia da coisa alienada, de modo a que sempre seja mantido o equilíbrio das
prestações recíprocas. Logo, em se tratando do dever de manter o equilíbrio, a respon-
sabilidade do alienante não depende de sua boa ou má-fé, ou seja, não depende de se
perquirir se ele (o alienante) sabia ou não da existência do vício.

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No entanto, há diferenças de ordem prática. Se não sabia, apenas terá que devol-
ver o valor pago pela outra parte e mais as despesas do contrato. Se sabia da existência
do vício, ou seja, se estava de má-fé, além do valor e das despesas, ainda terá que arcar
com o pagamento de perdas e danos (CC, art. 443).

O adquirente dispõe das chamadas ações edilícias: ação redibitória, cuja finalidade
é desfazer (redibir) o contrato, e ação estimatória (quanti minoris), cuja finalidade não é o
desfazimento do contrato, mas apenas a obtenção de abatimento no preço que foi pago.
A opção entre uma ou outra das ações é do adquirente, como se vê no artigo 442 do CC.

Para que se caracterize o vício como redibitório, ele deve existir ao tempo da
tradição, sendo irrelevante, para que se concretize a responsabilidade do alienante, que
a coisa venha a perecer quando já estava em poder do adquirente (CC, art. 444).

O prazo decadencial, para a propositura da ação redibitória escolhida pelo adqui-


rente, será de 30 dias, caso se trate de bem móvel, e de um ano na hipótese de bem
imóvel. Esse prazo é contado a partir da efetiva entrega do bem (CC, art. 445). No en-
tanto, se o vício só puder ser conhecido mais tarde, o prazo deverá ser contado a partir
do momento em que o adquirente tiver ciência dele (art. 445, §1.º).

Se o adquirente já estava na posse da coisa, no momento da aquisição (ou seja,


se foi o caso de tradição brevi manu), nesse caso os prazos mencionados acima serão
reduzidos à metade (CC, art. 445).

Não correm os prazos na constância de cláusula de garantia, nos termos do ar-


tigo 446. Mas se o defeito se manifestar, o adquirente deverá indicá-lo ao alienante nos
30 dias seguintes à sua descoberta.

Leia os princípios do direito contratual, especialmente o da boa-fé. Além disso,


devem ser lidos, com redobrada atenção, os artigos 427 a 435, referentes à formação dos
contratos.

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