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inadimplemento
Assim, o direito canônico é que teria precisado que, em certos contratos bilaterais –
os sinalagmáticos –, as prestações se vinculam não apenas no instante de sua gênese, mas
também no de sua execução. Registre-se ainda: os canonistas, ao desfazerem a distinção
entre contrato e pacto nu, deixaram estabelecido que do simples acordo de vontades
promanava o vínculo contratual.
Serpa Lopes adere à corrente conciliatória, assinalando que a exceptio non adimpleti
contractus "é uma forma de justa recusa ao cumprimento de uma prestação dependente do
concomitante cumprimento da que toca à outra parte contratante, oriunda, geneticamente,
do mesmo contrato e funcionalmente vinculadas as prestações uma à outra" (07). É um ato
passivo, de defesa, pelo qual o excipiente visa a paralisar a ação do excepto faltoso.
Outrossim, cumpre consignar que a exceptio non adimpleti contractus não se aplica
indistintamente a todo e qualquer contrato bilateral, posto que de um mesmo contrato desse
tipo podem emanar prestações diversas que não sejam correspectivas. É o que diz Pontes de
Miranda: "Nem todas as dívidas e obrigações que se originam dos contratos bilaterais são
dívidas e obrigações bilaterais, em sentido estrito, isto é, em relação de reciprocidade. (...)
A bilateralidade – prestação - contraprestação – faz ser bilateral o contrato; mas o ser
bilateral o contrato não implica que todas as dívidas e obrigações que deles se irradiam
sejam bilaterais" (10).
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Em sua obra monumental vertida para o espanhol, Ennecerus T. Kipp & Wolff
lembram que "el contrato o la ley pueden determinar quien tiene que hacer primero la
prestación en un contrato bilateral" (11). Na mesma esteira do primeiro SALEILLES,
defende que as obrigações nestes contratos devem ser uma em razão da outra.
Deve ser essa a razão pela qual os civilistas aconselham que os contratos consignem
com a maior clareza a cronologia das respectivas prestações, pois sem simultaneidade das
prestações não há que se falar em exceptio non adimpleti contractus.
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3 - CONDIÇÕES DE APLICAÇÃO
Os unilaterais são aqueles que em sua constituição, são geradas obrigações para
apenas uma das partes. Além do que "o peso" nos contratos unilaterais, no dizer de Venosa,
"onera só uma das partes". Não há reciprocidade de prestações, como ocorre nos contratos
bilaterais, nos quais, existem obrigações para ambas as partes.
Com efeito, o contrato bilateral para fins de aplicação da exceptio são aqueles "que
exigem, para sua caracterização, a presença de prestações e contraprestações interligadas
genética e funcionalmente" (12).
De acordo com o artigo 476 do Código Civil apenas aos contratos bilaterais pode
ser aplicada a exceção do contrato não cumprido. Logo, fica excluída a aplicação aos
contratos unilaterais, tendo como justificativa de que nestes não há contraprestação para
uma das partes.
Assim sendo, a exceção de contrato não cumprido somente poderá ser exercida
quando a legislação ou o contrato não dispuser sobre a quem cabe cumprir primeiro a
obrigação. Pacificado é tal entendimento, pois cada um dos contraentes é simultaneamente
credor e devedor um do outro, uma vez que as respectivas obrigações têm por causa as do
seu co-contratante, e, assim, a existência de uma é subordinada a da outra parte" (14).
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Esse princípio está cristalino no Código Civil em seu artigo 477, dando autorização
ao devedor para que este peça uma garantia ao outro contratante do cumprimento da
prestação. Para ilustrar o instituto temos o exemplo de Venosa, no qual um contratante
entra com o capital e materiais para o fim de uma empreitada e vem a ter conhecimento de
que o empreiteiro tem costume de envolver-se em operações arriscadas, que colocam em
risco sua credibilidade. Adimplir com o capital nesta ocasião seria correr um enorme risco
de não ver completada a obrigação.
Outra condição a ser observada é o objetivo da exceptio, ou seja, tem esta eficácia
apenas dilatória. Tem o demandado conquista o direito de não cumprimento da sua
prestação até o adimplemento da contraprestação pela parte contrária.
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Essa cláusula age em sentido contrário a exceção do contrato não cumprido, pois a
exceção age no sentido de paralisar a ação do autor condicionando o pagamento da outra
prestação devida ao réu, sendo que a "solve et repete" paralisa qualquer oposição do réu,
que nessas condições não outra saída terá de solver o debito, com a possibilidade de que em
outra ação possa reaver o que indevidamente pagou.
A "solve et repete" foi uma modalidade contratual nascida da jurisprudência, que foi
introduzida na pratica de assegurar ao contraente, que se desapossa da coisa, que executa de
imediato a sua prestação a possibilidade de receber seguramente a contraprestação em
determinado lapso de tempo.
De acordo com Giorgi, compete ao réu provar que o autor não cumpriu sua
obrigação, ou a cumpriu imperfeitamente.
Enneccerus, sustenta que não é dever do réu provar o seu direito de exceção, que,
segundo ele, se funda por si mesmo na medida em que seu nascimento se dá com o
surgimento mesmo do contrato bilateral alegado pelo autor, restando a este a incumbência
de se contrapor à exceção, por meio de contra-exceção. Esta é a posição adotada por Serpa
Lopes.
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A construtora, tendo entregue o imóvel considerou que sua obrigação principal, qual
seja, a de entregar o imóvel em condições de habitabilidade, estava cumprida, motivo pelo
qual pleiteava o recebimento do valor devido.
No caso, entretanto, não se deve ater apenas à exceptio non adimpleti contractus,
mas também a outros institutos da teoria geral dos contratos e das obrigações. A exceção do
contrato não cumprido deve ser situada, também, com relação aos princípios gerais dos
contratos.
Entretanto, a pacta sunt servanda sofre uma restrição. Embora signifique a criação
de um contrato com força de lei entre as partes, e que determine que o que foi contratado
deve ser cumprido, é restringida quando da aplicação da exceptio, pois a parte que não
cumprir sua parte no contrato, alegando a defesa deste instituto, fica inadimplente sem que
a ela possa ser aplicada uma sanção pelo seu descumprimento.
Por fim, deve-se lembrar que no julgamento do caso, ainda foi mencionada a
EQÜIDADE das obrigações entre as partes. O desequilíbrio pode causar diminuição no
patrimônio de uma das partes – agora previsto no art. 477, CC – e o enriquecimento ilícito
da outra (também previsto com a entrada em vigor do novo código).
Tomando por verdadeira a afirmação de que existe lateralidade das obrigações e não
hierarquia, chega-se à conclusão que estas devem ser entendidas como um "ente unitário".
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BIBLIOGRAFIA
BRITO, Edvaldo. "Direito Civil". In: MARTINS, Ives Gandra, PASSOS, Fernando
(coords.). Manual de iniciação ao Direito. São Paulo: Ed. Pioneira, 1999.
COELHO, Fábio Ulhôa. Curso de Direito Comercial. 6a ed, revista, atual.. São
Paulo: Ed. Saraiva, 2003. Vol. 2.
COELHO, Fábio Ulhôa. Manual de Direito Comercial. 7a ed, revista, atual.. São
Paulo: Saraiva, 1996.
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. 17a ed. São Paulo: Saraiva,
2002. Vol. 3: Teoria das Obrigações Contratuais e Extracontratuais.
JÚNIOR, Humberto Theodoro. O contrato e seus princípios. 2a ed. São Paulo: Aide,
1999.
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. 10a ed. Rio de
Janeiro: Forense, 1998. Vol. III: Fontes das Obrigações; Contratos – Declaração Unilateral
de Vontade – Responsabilidade Civil.
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil. São Paulo: Atlas, 2003. Vol. II: Teoria
Geral das Obrigações e Teoria Geral dos Contratos.
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Notas
01 Citado por Caio Mário da Silva Pereira, Instituições de Direito Civil, 10a ed.,
Rio de Janeiro, Forense, 1998, vol. III, p. 96.
02 Citado por Caio Mário da Silva Pereira, Instituições de Direito Civil, 10a ed.,
Rio de Janeiro, Forense, 1998, vol. III, p. 96.
04 Caio Mário da Silva Pereira, Instituições de Direito Civil, 10a ed., Rio de
Janeiro, Forense, 1998, vol. III, pp. 96 e 97.
10 Citado por Humberto Theodoro Jr., O contrato e seus princípios, 2a ed.,... , Aide,
1999, p. 85.
12 cit. por Humberto Theodoro Júnior, " O Contrato e seus Princípios", ED. Aide,
2ª Ed., 1999, p.83
13 cit. Por Jônatas Nilhomens e Geraldo Magela Alves, "Manual Prático dos
Contratos, ED. Forense, 5ª Ed., 2000, nº 8, p. 54
16 ORLANDO GOMES, "Contratos", 18ª ed., Ed. Forense, p.93, nota, 1998
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Sobre os autores:
Fabio Costa Pereira, Thaís Regina Toro Garreta, Juliana Senise Rosa Madureira, Kelly
Gabrielly da Silva Gama, Ricardo Oliveira Costa, Paulo Marcelo de Aquino Lopes, Cecilia
Lemos Nozima, Gilberto de Faula Moura
E-mail: Entre em contato
Sobre o texto:
Texto inserido no Jus Navigandi nº 800 (11.9.2005).
Elaborado em 03.2005.
Informações bibliográficas:
Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este
texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma:
PEREIRA, Fabio Costa; GARRETA, Thaís Regina Toro et al. Exceção de contrato não
cumprido . Jus Navigandi, Teresina, a. 9, n. 800, 11 set. 2005. Disponível em:
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=7260>. Acesso em: 27 dez. 2005.