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DIREITO COMERCIAL Ii

CORRECÇÃO DO I TESTE

Aula 12 – 01/11/2022
Por: José Alfredo Lobato Zacarias
SUMÁRIO
 FONTES DO DIREITO COMERCIAL
 CONTEÚDO DOS CONTRATOS
 CONTEÚDO DO DEVER DE INFORMAÇÃO – problemática
jurídica envolvida
 CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS MISTOS
 IMPORTÂNCIA JURÍDICA DAS COLIGAÇÕES DE
CONTRATOS
 DEVER DE NÃO-CONCORRÊNCIA EM COLIGAÇÕES DE
CONTRATOS
1. “A lei civil não é fonte do Direito Comercial”. Comente a
afirmação, justificando devidamente a sua posição. (2 val.)

R: A afirmação é falsa, pois, apesar de a nível da doutrina haver polémica


sobre isso, a lei civil em Moçambique, é fonte subsidiária do Direito
Comercial, como resulta do art. 12 do Cód. Com., aprovado pelo Decreto-
Lei nº 1/2022, de 25 de Maio, que determina o seguinte:

 “Os casos não previstos neste Código são regulados segundo as normas
desta lei aplicável ao caso análogo e, na sua falta, pelas normas do Direito
Civil que não forem contrárias aos princípios do Direito Comercial”.
1. “A lei civil não é fonte do Direito Comercial”. Comente a
afirmação, justificando devidamente a sua posição. (2 val.)

 No art. 594 do D/L nº 3/2022, de 25 de Maio, que aprovou o RJCC, está


reforçado este posicionamento:

 “Os casos não previstos nesta lei são regulados segundo as normas
aplicáveis aos casos análogos, e, na sua falta, pelas normas do Direito
Civil que não forem contrárias aos princípios do Direito Comercial.”
2. “A Assembleia da República é fonte formal do direito comercial moçambicano”. Comente a
expressão e fundamente a sua resposta. (2 val)

 R: A expressão “fonte em sentido formal” indica-nos o modo de revelação das


normas jurídicas, isto é, como é que elas se manifestam.

 A expressão fonte em sentido material ou orgânico, indica-nos o órgão que elabora


as normas. Nestes termos, a afirmação não corresponde à verdade, pois uma fonte
em sentido formal significa o modo de revelação das normas jurídicas.

 Ora, a Assembleia da República é um órgão que elabora as normas jurídicas, não é


um modo de revelação de normas, mas sim, fonte em sentido material ou orgânico.
3. “Os empresários em Moçambique podem adoptar contratos comerciais que apenas constem em legislação
estrangeira, sem qualquer preocupação”. Comente a afirmação e fundamente a sua resposta. (2 val.)

 R: A expressão não corresponde totalmente à verdade. Apesar de existir o


princípio da autonomia privada no Direito Comercial e as partes contratantes
poderem adoptar contratos comerciais que exclusivamente constem em leis
estrangeiras, esse princípio:

 Encontra um limite que é a lei, começando no art. 405 do CC em termos gerais e,


de modo especial, no nº 2 do art. 6 do D/L 3/2022, de 25 de Maio que nos remete
para o título III, em especial ao art. 583 do mesmo diploma legal que determina:
3. “Os empresários em Moçambique podem adoptar contratos comerciais que apenas constem em legislação
estrangeira, sem qualquer preocupação”. Comente a afirmação e fundamente a sua resposta. (2 val.)

 “Não obstante o previsto no número 1 (do art. 6 do RJCC), as partes podem


acordar a aplicação de lei estrangeira, independentemente do lugar da
formação ou execução do contrato, e nos termos do Titulo III do presente
regime.”
4. A, num contrato-promessa de compra e venda, prometeu vender a B uma vivenda que
estava hipotecada a favor de C, tendo deliberadamente omitido este facto. Analise a
omissão de A, indicando qual o dever violado e qual a sua incidência. (3 val.)

 R: A hipótese pretende avaliar os conhecimentos do estudante sobre o


CONTEÚDO DO DEVER DE INFORMAÇÃO em que se concretiza o
PRINCÍPIO DA BOA-FÉ NA FASE PRÉ-CONTRATUAL.

 Mais concretamente, A PROBLEMÁTICA JURÍDICA QUE AFECTA O


OBJECTO DO NEGÓCIO, conhecida apenas por A. (1 val.)
4. A, num contrato-promessa de compra e venda, prometeu vender a B uma vivenda que
estava hipotecada a favor de C, tendo deliberadamente omitido este facto. Analise a
omissão de A, indicando qual o dever violado e qual a sua incidência. (3 val.)

 De acordo com o princípio da boa-fé na fase preliminar da celebração dos


contratos, A deveria ter comunicado a B que incidia uma hipoteca sobre a
casa que pretendia vender-lhe, de modo que B pudesse ajuizar sobre as
consequências desse facto para a conclusão de um negócio pacífico. (1 val.)
4. A, num contrato-promessa de compra e venda, prometeu vender a B uma vivenda que
estava hipotecada a favor de C, tendo deliberadamente omitido este facto. Analise a
omissão de A, indicando qual o dever violado e qual a sua incidência. (3 val.)

Ao omitir deliberadamente tal informação a B, A VIOLOU O SEU DEVER


DE INFORMAÇÃO, CUJO CONTEÚDO INCIDE SOBRE A
PROBLEMÁTICA JURÍDICA QUE ENVOLVIA O OBJECTO DO
NEGÓCIO (hipoteca sobre a casa que pretendia vender a B). (1 val.)
5. O banco D celebrou com E um mútuo bancário, tendo exigido como garantia desse empréstimo
que E oferecesse em hipoteca a sua casa.
Classifique doutrinariamente os contratos celebrados entre D e E. (3 val.)

R: A hipótese pretende avaliar os conhecimentos do estudante sobre a


CLASSIFICAÇÃO DE CONTRATOS MISTOS QUE SE COMPLETAM.

 Mais concretamente, pretende saber COMO É QUE A DOUTRINA CLASSIFICA


O CONTRATO DE HIPOTECA EXIGIDO PELO BANCO RELATIVAMENTE AO
CONTRATO DE MÚTUO. (1 val.)
5. O banco D celebrou com E um mútuo bancário, tendo exigido como garantia desse empréstimo
que E oferecesse em hipoteca a sua casa.
Classifique doutrinariamente os contratos celebrados entre D e E. (3 val.)

 Em sede doutrinária, o CONTRATO DE MÚTUO BANCÁRIO, é o


CONTRATO PRINCIPAL, pois trata do negócio principal celebrado entre as
partes: o empréstimo de um valor monetário.

 Para que este contrato fique completo, o banco D exige a E celebração de


um CONTRATO DE HIPOTECA que constitui a garantia desse mútuo. (1
val.)
5. O banco D celebrou com E um mútuo bancário, tendo exigido como garantia desse empréstimo
que E oferecesse em hipoteca a sua casa.
Classifique doutrinariamente os contratos celebrados entre D e E. (3 val.)

 Já o CONTRATO DE HIPOTECA, é um CONTRATO COMPLEMENTAR


do contrato de mútuo, porque só encontra a sua razão de ser neste. (1 val.)
6. Indique, explicando, os 3 aspectos jurídicos que evidenciam a importância das
coligações de contratos comerciais. (5 val.)

 R: Os três aspectos jurídicos que evidenciam a importância das coligações de contratos comerciais manifestam-se nos
domínios da VALIDADE, CONTEÚDO e INTERPRETAÇÃO. (1 val.)

 Assim, QUANTO À VALIDADE, nas uniões verticais, pode acontecer que contratos ulteriores vejam a sua
validade dependente da validade dos anteriores contratos, por uma das seguintes vias:

 LEGITIMIDADE (uma coligação de contratos pode estruturar-se de tal modo que a LEGITIMIDADE para a celebração de um
segundo contrato DEPENDA DA IDONEIDADE DE UM PRIMEIRO); (0,5 val.)

 VÍCIO NA FORMAÇÃO DA VONTADE (um dos contratos é celebrado na convicção da existência válida de outro. Assim, uma
falha a nível deste último, afecta o primeiro, por VÍCIO NA FORMAÇÃO DA VONTADE.); (0,5 val.)

 ILICITUDE (que se traduz em ocorrências nas quais um primeiro contrato inviabilize a celebração de certos negócios). (0,5 val.)
6. Indique, explicando, os 3 aspectos jurídicos que evidenciam a importância das
coligações de contratos comerciais. (5 val.)

 QUANTO AO CONTEÚDO: as coligações de contratos também relevam de 3 modos: 

 Por REMISSÃO: quando um contrato, de modo implícito ou explícito, remeta para outro, quanto às regras que
estabeleça; (0,5 val.) 

 Por CONDICIONAMENTO: quando um contrato, na sua regulamentação não possa ir além de certos limites
estabelecidos em contrato anterior ou deva seguir vias pré-determinadas por contrato anterior; (0,5 val.)

 Por POTENCIAÇÃO: dá-se sempre que os contratos unidos sejam necessários para a obtenção de objectivos
comuns, os quais ficarão perdidos na falha de algum deles. (0,5 val.)
6. Indique, explicando, os 3 aspectos jurídicos que evidenciam a importância das
coligações de contratos comerciais. (5 val.)

 QUANTO À INTERPRETAÇÃO:

 As uniões têm um papel na interpretação, pois, PERANTE CONTRATOS UNIDOS EM


CADEIA OU EM CASCATA,

 A INTERPRETAÇÃO DAS DECLARAÇÕES EM QUESTÃO DEVE


CONSIDERAR TODO O CONJUNTO E NÃO APENAS UM DELES. (1 VAL.)
7. F e G celebraram um pacto nos termos do qual nem F nem G poderiam celebrar contratos sobre
actividades concorrentes com as da outra parte. F é exportador de batata rena e G exportador de camarão.
F, celebrou com H, um contrato de exportação de camarão. Quid júris? (3 val.)

R: A hipótese pretende avaliar os conhecimentos do estudante sobre o


DEVER DE NÃO CONCORRÊNCIA decorrente de acordo entre as partes
EM SEDE DE COLIGAÇÃO DE CONTRATOS (pacto de não-concorrência
entre F e G e o contrato de exportação entre F e H) e o princípio “pacta sunt
servanda” (art. 2 do Ccom. - D/L nº 1/2022, de 25 de 2022). (1 val.)
7. F e G celebraram um pacto nos termos do qual nem F nem G poderiam celebrar contratos sobre
actividades concorrentes com as da outra parte. F é exportador de batata rena e G exportador de camarão.
F, celebrou com H, um contrato de exportação de camarão. Quid júris? (3 val.)

 Com efeito, F e G celebraram um pacto de não-concorrência, validamente


concluído, que condiciona a celebração de contratos ulteriores que qualquer
das partes pretenda realizar com terceiros, em termos de estes últimos não
terem como objecto as actividades concorrentes de ambos.

 Esse contrato, por ter sido validamente concluído por F e G, é vinculativo


para ambas as partes (art. 2 do Ccom. - D/L nº 1/2022, de 25 de 2022), o que
significa que F estava obrigado a não celebrar o contrato de exportação de
camarão que indevidamente subscreveu com H. (1 val.)
7. F e G celebraram um pacto nos termos do qual nem F nem G poderiam celebrar contratos sobre
actividades concorrentes com as da outra parte. F é exportador de batata rena e G exportador de camarão.
F, celebrou com H, um contrato de exportação de camarão. Quid júris? (3 val.)

 F, ao celebrar com H um contrato de exportação de camarão, violou o


referido PACTO DE NÃO-CONCORRÊNCIA, facto que INVALIDA ESTE
ÚLTIMO CONTRATO POR ILICITUDE decorrente daquela violação.

 Assim, G pode intentar uma acção judicial contra F, invocando a invalidade


do contrato que aquele celebrou com H, com fundamento na sua ilicitude. (1
val.)

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