Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Aula 03
Obs. Podem alguns autores trazer algumas funções novas da boa-fé objetiva. Entretanto,
basicamente, são essas três funções as exigidas em provas de concurso público.
A função interpretativa está fundamentada no artigo 113 do Código Civil, e representa um meio de
interpretação dos negócios jurídicos, vejamos:
Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos
do lugar de sua celebração.
Neste sentido, havendo contratos com cláusulas contraditórias, ambíguas, ou, por muitas vezes,
omissos em determinados aspectos, a decisão do juiz deve acontecer na forma de atender a boa-fé objetiva
dos contratos.
Exemplo: Contrato de locação que possui duas cláusulas ambivalentes. Uma cláusula diz que se o
locatário fizer benfeitorias úteis e necessárias no imóvel não terá direito à indenização, enquanto a outra diz
o oposto, que, caso sejam feitas benfeitorias úteis e necessárias, o locatário será indenizado. Como o juiz
deve decidir?
Neste caso, o juiz deve decidir de forma a atender a boa-fé objetiva (art. 113 do CC).
Segundo o art. 1219 do CC, o possuidor de boa-fé (locatário) tem direito a ser indenizado pelas
benfeitorias.
1
Página
A função criadora dos deveres anexos é também conhecida como função criadora dos deveres
laterais, e está fundamentada no artigo 422 do Código Civil.
Consiste em dizer que as partes contratantes devem guardar durante a execução do contrato a
probidade e a boa-fé.
Neste sentido, cláusulas implícitas que trazem deveres implícitos/anexos, ainda que não escritos no
contrato, devem ser respeitados.
São eles:
a) Dever de informação
b) Dever de Proteção
c) Dever de Confiança
d) Dever de Cooperação
e) Dever de Lealdade
O desrespeito a qualquer desses deveres é chamado de Violação Positiva do Contrato, pois ocorre a
quebra dos deveres anexos, o que consiste em uma nova forma de inadimplemento contratual, ao lado dos
inadimplementos absoluto e relativo.
Exemplo: A entrega de coisa prometida na data pactuada, mas que tenha violado os deveres anexos
do contrato, pela não proteção do parceiro contratual devido à ausência de determinada informação, pode
gerar resolução contratual por inadimplemento (compra de imóvel).
Essa função tem a característica de limitar o exercício abusivo de um direito (ato ilícito), e tem sede
legal no artigo 187 do Código Civil.
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou
pelos bons costumes.
2
A conduta civilmente ilícita que viola a boa-fé objetiva quando do exercício de um direito
contratualmente estabelecido, e enseja a responsabilidade civil objetiva, dispensando a perquirição do
elemento subjetivo da conduta.
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica
obrigado a repará-lo.
Tal entendimento é abordado no Enunciado 24 do Conselho da Justiça Federal, que é claro no sentido
de que a violação da boa-fé objetiva caracteriza inadimplemento, cuja responsabilidade deve ser auferida de
maneira objetiva.
Para esse tema, o Enunciado 25 do Conselho da Justiça Federal, também indica que tal
responsabilidade civil ocorrerá nas fases pré-contratual e pós-contratual.
Enunciado 25 CJF – O art. 422 do Código Civil não inviabiliza a aplicação pelo julgador
do princípio da boa-fé nas fases pré-contratual e pós-contratual.
Posto que os deveres anexos/laterais devem ser respeitados tanto na fase contratual, quanto nas fase
pré-contratual e pós-contratual, o entendimento da doutrina e da jurisprudência é de que a
responsabilidade civil abrange todas as fases do contrato (Enunciados 24 e 25 do CJF).
No Brasil, o primeiro caso em que foi tratada a responsabilidade civil fora da fase contratual ocorreu
na década de 90, num julgamento do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul que tinha como partes a
empresa CICA (fabricante de extratos de tomate) e agricultores produtores de tomates na região.
A decisão do TJRS foi responsabilizar a empresa CICA por desrespeito aos deveres implícitos e anexos
ao contrato de doação de sementes de tomates aos produtores locais, considerando que foi quebrado o
dever de lealdade e cooperação desta empresa junto aos agricultores, tendo em vista que da relação jurídica
foi gerou-se uma expectativa legítima de escoamento da produção de tomates quando foram fornecidas as
sementes gratuitamente pela empresa. Assim, a violação da boa-fé objetiva gerou a responsabilidade civil
pré-contratual, e por fim, o dever de indenizar.
O autor Antonio Junqueira de Azevedo traz um exemplo de responsabilidade civil na fase pós-
contratual.
Ele descreve o caso de um hotel que decide comprar na fábrica carpetes novos que serão instalados
em substituição aos antigos existentes. Porém, a fábrica de carpetes não indica o produto adequado para a
correta instalação dos mesmos. A utilização de um produto químico não compatível com o material dos
carpetes gerou prejuízo ao hotel, uma vez que a utilização de uma cola inadequada causou uma reação
química e estragou os carpetes ainda novos.
Casos de contratos de compra e venda de imóvel, havendo violação do princípio da boa-fé, também
são exemplos típicos de responsabilidade civil pós-contratual, principalmente quando são frustradas
expectativas do comprador em relação à vizinhança no local, ou quando os imóveis possuem restrições
administrativas e essas podem ser alteradas após a realização do negócio jurídico.
3
Página
É assim, que o Princípio da Boa-Fé Objetiva aparece como tópico de extrema relevância para o estudo
para concursos, considerando também que já foi abordado em vários certames em diferentes estados do
Brasil, tais como: MP-RJ, Magistratura-SP, MP-MG, Defensoria-RJ.
QUADRO-RESUMO
BOA-FÉ OBJETIVA
Interpretativa
(art. 113 CC)
FUNÇÕES Limitadora
DA BOA-FÉ Abuso de Direito
(art. 187 CC) c/c art. 927 CC)
OBJETIVA