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TEORIA DO ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL.

Gabriel Nascimento de Carvalho


Simone Helen Drumond Ischkanian

A Teoria do Adimplemento Substancial consiste, basicamente, no reconhecimento do devido


adimplemento da dívida por parte do devedor em casos em que a obrigação, apesar de não ter sido
cumprida de forma perfeita e completa, o foi em seus aspectos fundamentais, satisfazendo, efetivamente, o
credor. A origem do adimplemento substancial do contrato, recentemente recepcionada pela doutrina e
jurisprudência pátrias, tem sua origem no sistema do Common Law, na Inglaterra do século XVIII. Os
Tribunais ingleses, objetivando alcançar a justiça, relativizaram a exigência do exato e estrito cumprimento
de um contrato celebrado.
A teoria do adimplemento substancial, também conhecida como teoria do cumprimento
substancial, é um princípio jurídico aplicado no direito contratual. Essa teoria estabelece que, mesmo que
uma parte não cumpra integralmente suas obrigações contratuais, ela ainda pode ser considerada como
tendo cumprido o contrato de forma substancial se o não cumprimento for insignificante ou irrelevante. As
formas de adimplemento são: direta: pagamento em dinheiro ou na realização de alguma obrigação de
fazer; e indireta: imputação do pagamento, dação em pagamento, novação, compensação, transação, entre
outras.
Em outras palavras, a teoria do adimplemento substancial reconhece que, em certas circunstâncias,
a parte que não cumpriu completamente suas obrigações ainda pode ser considerada como tendo cumprido
o contrato se o descumprimento não for material o suficiente para prejudicar substancialmente a outra
parte.
Essa teoria é baseada no princípio da equidade contratual e na ideia de que o direito não deve ser
excessivamente formalista. Ela busca evitar que pequenas falhas ou inadimplementos mínimos levem à
resolução do contrato ou a penalidades desproporcionais.
No entanto, é importante ressaltar que a aplicação da teoria do adimplemento substancial pode
variar de acordo com a legislação e a jurisprudência de cada país. Alguns sistemas jurídicos podem adotar
essa teoria de forma mais ampla, enquanto outros podem ter critérios mais rigorosos para determinar
quando o adimplemento é substancial o suficiente.
É sempre recomendável consultar um advogado ou especialista em direito contratual para obter
informações mais precisas sobre a aplicação da teoria do adimplemento substancial em um determinado
contexto jurídico.

TEORIA DO ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL


O art. 475 do Código Civil prevê que a parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a resolução
do contrato, se não preferir exigir-lhe o cumprimento, cabendo, em qualquer dos casos, indenização por
perdas e danos.
Dessa forma, podemos perceber que enquanto o art. 475 prescreve o direito de resolução por parte
do credor, em caso de inadimplemento, a doutrina e a jurisprudência limitam sua utilização, por meio do
princípio do adimplemento substancial.
Assim, o direito de resolução do contrato não pode ser utilizado indiscriminadamente frente a
qualquer inadimplemento, uma vez que deve observar os princípios gerais do Direito Civil.
Destacadamente, a função social do contrato e a boa-fé objetiva.
Diante da falta de ínfima parte do pagamento, o credor não poderia exigir a resolução contratual,
mas a regularização em juízo dos pagamentos, acrescidos de perdas e danos.

Os princípios da teoria do adimplemento substancial são: substancial é derivado da


interpretação dos princípios da boa-fé objetiva, função social do contrato e vedação ao abuso de direito e
ao enriquecimento sem causa.
Conforme definido pelo enunciado 361 da IV Jornada de Direito Civil:
O adimplemento substancial decorre dos princípios gerais contratuais, de modo a fazer
preponderar a função social do contrato e o princípio da boa-fé objetiva, balizando a aplicação do art. 475.
O princípio da boa-fé objetiva exige que as partes de um contrato observem regras de
comportamento, agindo com lisura, honestidade e correção. Isso se faz necessário para que as partes não
frustrem a legítima confiança.
Por sua vez, a função social do contrato relaciona-se com a função social da propriedade (art. 5º,
XXIII, da Constituição Federal). Entende-se que as relações contratuais devem respeitar e proteger
direitos fundamentais, como a dignidade da pessoa humana. Conforme reza o art. 2.035 do Código Civil:
Art. 2.035 A validade dos negócios e demais atos jurídicos, constituídos antes da entrada em vigor
deste Código, obedece ao disposto nas leis anteriores, referidas no art. 2.045, mas os seus efeitos,
produzidos após a vigência deste Código, aos preceitos dele se subordinam, salvo se houver sido prevista
pelas partes determinada forma de execução.
Parágrafo único. Nenhuma convenção prevalecerá se contrariar preceitos de ordem pública, tais
como os estabelecidos por este Código para assegurar a função social da propriedade e dos contratos.
No mesmo sentido, o caput do art. 421 do Código Civil:
Art. 421. A liberdade contratual será exercida nos limites da função social do contrato.
Já a vedação ao abuso de direito determina que mesmo os direitos devem ser exercidos dentro dos
parâmetros estabelecidos pelo ordenamento jurídico. Assim, se há desrespeito às formas delimitadas pelo
direito, teremos o abuso de direito. Conforme dita o art. 187 do Código Civil:
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons
costumes.
Finalmente, o enriquecimento sem causa é tratado no art. 884 do Código Civil. Observe:
Art. 884. Aquele que, sem justa causa, se enriquecer à custa de outrem, será obrigado a restituir o
indevidamente auferido, feita a atualização dos valores monetários.
Parágrafo único. Se o enriquecimento tiver por objeto coisa determinada, quem a recebeu é
obrigado a restituí-la, e, se a coisa não mais subsistir, a restituição se fará pelo valor do bem na época em
que foi exigido.

O adimplemento substancial corre quando: não possui previsão legal, sendo uma construção
doutrinária e jurisprudencial, há relevante divergência acerca da configuração do instituto nas relações
contratuais. Isso ocorre também porque a verificação da importância do inadimplemento será estritamente
relacionada ao caso concreto.
Conforme o magistério de Eduardo Luiz Bussata: “A indagação quanto à extensão, à intensidade e
às demais características do inadimplemento é que conduz à sua adjetivação como sendo ou não de
„escassa importância‟. É o que se buscará neste momento.
Contudo, antes disso, é necessário fazer uma advertência: a verificação da importância ou não
importância do inadimplemento há de ser feita diante do caso concreto, ou seja, diante da situação de fato
ocorrida, ponderando os interesses em jogo, a conduta das partes e de todas as demais circunstâncias que
no caso se mostrarem relevantes. ” (BUSSATA, 2008. p. 106)

Critério Quantitativo: conforme o critério quantitativo, o inadimplemento deve ser insignificante


frente à integralidade do contrato. Isto é, a falta no pagamento não possui o condão de frustrar os efeitos
esperados pelo acordo entre as partes.
No julgamento do REsp 1.581.505/SC, o relator Ministro Antonio Carlos Ferreira, elencou alguns
dos critérios utilizados no âmbito do Tribunal da Cidadania para definição de quanto seria o
adimplemento substancial. São eles:
 Atraso na última parcela: REsp. 76.362/MT.
 Inadimplemento de 2 parcelas: REsp. 912.697/GO.
 Inadimplemento de valores correspondentes a 20% do valor total do bem: REsp.
469.577/SC.
 Inadimplemento de 10% do valor total do bem: AgRg no AgREsp 155.885/MS.
 Inadimplemento de 5 parcelas de um total de 36, correspondendo a 14% do total devido:
Resp. 1.051.270/RS.

Critério Qualitativo: além do critério quantitativo, é utilizado o critério qualitativo. Firmemente


embasado no entendimento de que cada caso apresenta a sua peculiaridade que confirmará a relevância do
adimplemento parcial.
No âmbito do Superior Tribunal de Justiça, foram definidos alguns elementos que devem compor
a análise do adimplemento substancial. São eles:
 A existência de expectativas legítimas geradas pelo comportamento das partes (exemplo
disso está no recebimento reiterado de parcelas em atraso no contrato de seguro e a posterior mudança de
atitude quando do último pagamento, o que quebraria essas expectativas legítimas e levaria a um
comportamento contraditório;
 O pagamento faltante há de ser ínfimo em se considerando o total do negócio (correlação é
que permite formular um juízo sobre o caráter substancial do adimplemento realizado);
 Deve ser possível a conservação da eficácia do negócio sem prejuízo ao direito do credor de
pleitear a quantia devida pelos meios ordinários. (REsp 76.362/MT).

As formas de adimplemento: adimplemento é a execução espontânea que põe fim à relação


contratual. Em regra, a prestação será quitada exatamente como ajustada, tanto com relação ao objeto
quanto às formas determinadas.
Do outro lado, o inadimplemento pode ser absoluto ou relativo. O inadimplemento relativo ocorre
quando o atraso não compromete sobremaneira o objeto do contrato, de forma que o adimplemento,
mesmo atrasado, ainda será útil ao credor.
Por sua vez, o inadimplemento absoluto resulta na impossibilidade ou inconveniência de
cumprimento posterior do contrato.
As diferentes formas de inadimplemento geram diferentes efeitos jurídicos. Isto é, no
inadimplemento absoluto somente caberá a responsabilização patrimonial cumulada com a resolução
contratual. No caso do inadimplemento relativo, será possível a purgação da mora com acréscimo de
juros, correção monetária, além da implicação financeira. Caso não seja solucionada, será cabível a
extinção contratual. Possibilidade que é limitada pelo adimplemento substancial.

A função da doutrina do adimplemento substancial: o adimplemento substancial cumpre a


função de restringir os efeitos da faculdade de resolução de um contrato pelo credor, em caso de
inadimplemento do devedor, levando em consideração que não seria razoável, em determinadas
circunstâncias. Com isso, evita-se que haja enriquecimento ilícito de uma das partes em detrimento da
outra. É uma forma de se obter a justiça contratual e preservar as relações.

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